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Taludes em rocha

Análise de estabilidade de taludes em rochas

J A R Ortigão

Introdução
Este capítulo versa sobre a estabilidade de taludes em rocha que teve um avanço considerável nos
últimos vinte anos principalmente quanto aos métodos de se estimar a resistência dos maciços
rochosos, do efeito das descontinuidades e métodos de análise. O assunto é muito bem descrito nos
seguintes trabalhos Hoek (1998), Hoek e Bray (1981), Wyllie e Norish (1996 a & b), Norish e
Wyllie (1996), Giani (1992) entre outros.
Este capítulo apresenta um resumo para os tipos de problemas mais encontrados no Rio de Janeiro.

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Taludes em rocha

Tabela 1 Problemas típicos, características, métodos de análise e critérios de aceitação da segurança de taludes
em rocha (adaptado de Hoek, 1998)

Figura Problemas típicos Parâmetro críticos Métodos de Critérios de


análise aceitação

Deslizamentos Ruptura com geometria Fraturas regionais Equilíbrio limite O Fator de Segurança
complexa com superfícies Resistência ao com superfícies (FS) absoluto tem
de ruptura circulares ou cisalhamento dos de ruptura pouco significado, mas
poligonais envolvendo materiais ao longo das circulares e a variação do mesmo
deslizamento nas descontinuidades poligonais permite julgar as
descontinuidades soluções de
Poropressões,
estabilização
particularmente sob
chuvas intensas A monitoração de
movimentos e
poropressões é o
único meio seguro e
prático de julgar a
eficiência da obra de
estabilização
Maciço de solo ou rocha Ruptura circular em forma Altura e inclinação do Método de FS > 1.5 para taludes
estruturado por severas de concha através de solo talude equilíbrio limite com grande risco
descontinuidades ou rocha intensamente Resistência ao bidimensionais
fraturada cisalhamento ao longo com pesquisa
da superfície de ruptura automática da
superfície crítica
Poropressões

Rocha fraturada Cunha deslizando ao Altura do talude, Equilíbrio limite de FS > 1.5 para taludes
longo das inclinação e orientação cunhas com grande risco
descontinuidades da Mergulho e orientação
rocha das descontinuidades
Poropressões

Rocha com fraturas Queda de colunas ou Altura do talude, Métodos Não há critério
verticais blocos condicionados por inclinação e orientação simplificados de universalmente aceito,
fraturas verticais na rocha Mergulho e orientação investigação de mas é fácil identificar o
das descontinuidades potencialidade de potencial de ruptura.
ruptura Recomenda-se
Poropressões
monitorar
deslocamentos

Queda de blocos Deslizamento, rotação e Geometria do talude Estimativa da O mapeamento


queda de blocos soltos em Ocorrência de blocos trajetória de superficial, fotos
um talude soltos queda aéreas poderão
Coeficiente de permitir avaliação do
restituição dos materiais risco e soluções de
estabilização

Mecanismos de ruptura
O principais mecanismos de ruptura em taludes rochosos estão apresentados nas Figura 1 a Figura
5.

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Taludes em rocha

• A ruptura planar é governada por uma descontinuidade principal que mergulha na direção do
talude (Figura 1).
• A ruptura em cunha envolve duas descontinuidades planares cuja interseção mergulha em
direção do talude (Figura 2).
• A ruptura por tombamento envolve lajes verticais ou colunas que mergulham quase
verticalmente próximas à face do talude (Figura 3).
• A ruptura circular, cuja superfície de deslizamento tem forma de concha, ocorre em massas
rochosas muito fraturadas ou em solos (Figura 4).
• A queda de blocos soltos consiste no deslizamento e ou tombamento de blocos que se projetam
ou deslizam no talude (Figura 5).

Figura 1 Mecanismo de ruptura planar: queda de blocos no Rio de Janeiro (Fotos GeoRio)

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Taludes em rocha

Figura 2 Ruptura em cunha (foto Norish e Wyllie, 1996)

Figura 3 Ruptura por tombamento (foto Norish e Wyllie, 1996)

Figura 4 Ruptura circular (foto Norish e Wyllie, 1996)

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Taludes em rocha

Figura 5 Queda de blocos soltos

Representação gráfica de descontinuidades


A representação gráfica e análise das descontinuidades é realizada através da técnica de projeção
estereográfica (Figura 6 e Figura 7). A primeira figura, apresenta a nomenclatura empregada e a
segunda, a representação de planos e retas.
A técnica representação estereográfica sofreu um grande avanço com o uso dos computadores. Um
dos programas mais populares é o Dips (Hoek et al, 1995)1, apresentado na Figura 8. Para um
determinado talude a analisar, Dips importa um arquivo com os dados digitalizados das
descontinuidades, plota os pontos correspondentes aos pólos dos planos representados e permite
analisar estatisticamente os dados.

1
Obtido através da Rocscience Ltd, rocscience.com

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Taludes em rocha

Figura 6 Mapeamento de descontinuidades e representação estereográfica (Hoek e Bray, 1981)

Figura 7 Representação estereográfica de planos e retas (Hoek e Bray, 1981)

As técnicas de mapeamento e cadastramento de descontinuidades são objeto de outro capítulo deste


Manual.

Figura 8 Análise estereográfica através do programa Dips

A representação estereográfica de um talude permite caracterizar o tipo de ruptura, conforme


indicado na Figura 9.

6
Taludes em rocha

Figura 9 Representação estereográfica de cada tipo de ruptura (Hoek e Bray, 1981)

Resistência ao cisalhamento de descontinuidades


Todas massas rochosas contém descontinuidades que consistem em
planos de foliação, juntas, justas de cisalhamento e falhas. A

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pequenas profundidades onde as tensões são baixas, a possibilidade


de ruptura da rocha em si é mínima e o comportamento do maciço é
controlado pela não-rocha, ou seja, as descontinuidades. Para a
análise da estabilidade de um sistema de blocos individuais de
rocha é necessário entender os fatores que controlam a resistência
das descontinuidades.

Resistência ao cisalhamento de superfícies planas


Seja uma amostra de rocha a ser submetida a ensaio de
cisalhamento. Cada corpo-de-prova extraído desta amostra contém
um plano de foliação ao longo do qual a será cisalhado, cuja
superfície está cimentada e uma força de tração será aplicada para
provocar a separação das partes que compõem o corpo-de-prova. O
plano de foliação é absolutamente planar, sem irregularidades ou
ondulações.
A Figura 10 apresenta um esquema do ensaio de cisalhamento onde se
aplica a tensão normal σn ao plano de foliação e se mede a tensão
cisalhante τ necessária para causar o deslocamento δ. A tensão τ
aumenta rapidamente até atingir o pico da curva. Corresponde à
soma da resistência ao cisalhamento entre as duas partes que
compõem o corpo-de-prova mais a resistência do material de
cimentação da foliação. Continuando o ensaio, a tensão τ
decrescerá até atingir um valor residual e aí permanecerá
constante mesmo para grandes deformações. Plotando o diagrama de
Mohr-Coulomb (Figura 10), obtém-se as envoltórias de pico e residual
indicadas. Em superfícies planares, os pontos que compõem as
envoltórias geralmente se alinham segundo retas. A envoltória de
pico tem inclinação φ e intercepto na origem c. A envoltória
residual tem inclinação φr. As equações que representam as
envoltórias de Mohr-Coulomb são:
Envoltória de pico: τ = c + σ n tan φ
Envoltória residual: τ = σ n tan φ r
onde
c = coesão da superfície cimentada
φ = ângulo de atrito de pico
φr= ângulo de atrito residual

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Taludes em rocha

τ
σn

τ τ
φr

δ σ

Figura 10 Ensaio de cisalhamento em descontinuidade

O ângulo de atrito de pico φ pode ser considerado como constituído


de duas parcelas:
φ = φb + i
Onde φb é denominado atrito básico entre suas superfícies planares e
i corresponde à influência da rugosidade. Este conceito é
semelhante à analogia do dente de serra e serve para explicar o
efeito da dilatância das areias compactas que consta de vários
textos de mecânica dos solos (e.g. Ortigão, 1995).

(φb+ i)

σn

Figura 11 Analogia do dente de serra (Patton, 1966)

O critério de ruptura de Barton


Barton e colaboradores (1973, 1976, 1977, 1990) estudaram o
comportamento das rochas e propuseram a seguinte equação para a
envoltória de resistência ao cisalhamento:
  JCS 
τ = σ n tan φb + JRC log 
  σ n 
onde:

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Taludes em rocha

JRC = coeficiente de rugosidade da rocha


JCS = resistência à compressão

Estimativa de JRC
O coeficiente de rugosidade da rocha JRC é um número que é
avaliado comparando a aparência da superfície com perfis
publicados por Barton e outros. A Figura 12 e a Figura 13 permitem
estimar este coeficiente.

Rugosidade da superfície JRC

JRC = 0 - 2

JRC = 2 - 4

JRC = 4 - 6

JRC = 6 - 8

JRC = 8 - 10

JRC = 10 - 12

JRC = 12 - 14

JRC = 14 - 16

JRC = 16 - 18

JRC = 18 - 20

0 5 cm 10

Figura 12 Estimativa de JRC (Barton e Choubey, 1977)

10
Taludes em rocha

amplitude da rugosidade

comprimento

400 20
300 16
12
200 10
8
6

JRC
100 5
4
3

50
2
30
amplitude da rugosidade (mm)

20 1

10 0.5

0.5
0.4
0.3

0.2

0.1
0.1 0.2 0.3 0.5 1 2 3 4 5 10

comprimento (m)

Figura 13 Método alternativo para estimativa de JRC (Barton , 1982)

Estimativa de JCS
O coeficiente JCS deve ser estimado de acordo com o método sugerido pela International Society
for Rock Mechanics (ISRM, 1978). O esclerômetro de Schmidt foi proposto por Deere e Miller
(1966) para estimar a resistência à compressão da superfície da junta, conforme ilustrado na Figura
14. Este equipamento é semelhante ao empregado na avaliação de propriedades do concreto e
consta de um cilindro que contém um pistão ou martelo acionado por uma mola. Quando esta é
disparada, faz com que o pistão bata sobre a superfície da rocha e retroceda. O retrocesso do
mesmo é medido por um dispositivo simples e é utilizado, conforme indicado na Figura 14.

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Taludes em rocha

400
350 32

peso específico da rocha (kN/m 3)


300
30
250 28
200
26
resistência a compressão uniaxial (MPa)

24
150
22
20
100
90
80
70
60

50

40

30

20

orientação do
martelo
10
0 10 20 30 40 50 60

0 10 20 30 40 50 60

0 10 20 30 40 50 60

0 10 20 30 40 50 60

Figura 14 Estimativa da resistência à compressão da superfície da junta com o esclerômetro de Schmidt

Correção de JRC e JCS devido à escala


Barton e Bandis (1982) propuzeram correções de escala em JRC através da seguinte equação:
−0.02 JRC0
L 
JRCn = JRC0  n 
 L0 
onde JRC0 e L0 (comprimento) correspondem a corpos-de-prova de laboratório com 100 mm de
comprimento e JRCn e Ln correspondem ao tamanho do bloco in situ
O outro fator de escala a ser considerado (Barton e Bandis, 1982) leva em conta a redução de JCS
através de equação:
−0.03 JCS0
L 
JCS n = JCS 0  n 
 L0 

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Taludes em rocha

onde JCS0 e L0 (comprimento) correspondem a corpos-de-prova de laboratório com 100 mm de


comprimento e JCSn e Ln correspondem ao tamanho do bloco in situ

Resistência de descontinuidades preenchidas


Se a descontinuidade da rocha for preenchida com solos, isso terá
grande influência na resistência. Barton (1974) apresenta revisão
bastante abrangente do assunto, resumida na Tabela 2.

Tabela 2 Resistência ao cisalhamento de descontinuidaes preenchidas (adaptado de Barton, 1974)

Material Descrição Pico Residual

c (MPa) φ (o) c (MPa) φ (o)


Bentonita Veio de bentonita em calcário 0.015 7.5
Camada fina 0.09 – 0.12 12 - 17
Ensaio triaxial 0.06 – 0.1 9 - 13
Argilas Argila pré-consolidadada 0 – 0.18 12 - 18 0 – 0.03 10 -16
Granito Descontinuidade preenchida com 0 – 0.1 24 - 45
argila
Idem areia 0.05 40
Zona de falha em granito muito 0.24 42
fraturado

A tabela indica grande dispersão de resultados, entre 24 e 45


graus, se a descontinuidade for preenchida com argila. Se a
superfície da rocha for rugosa, a ruptura ocorrerá no solo com
ângulo de atrito residual. A resistência poderá ser estimada
através da Figura 15.

Kanji ( 1970, 1974)

Lupini et al ( 1981)
30º
Fleisher ( 1972)
Ângulo de atrito residual , φ'res.

20º
φ'res = 46.6/ (IP) 0,446

10º


0 20 40 60 80 100

Índice de plasticidade , IP (%)

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Taludes em rocha

Figura 15 Estimativa de ângulo de atrito residual em argilas em função do índice de plasticidade (IP), (Kanji,
1998)

Efeito da pressão da água


A pressão da água ou poropressões no maciço rochoso atua nas descontinuidades reduzindo a
tensão normal de contato σn. A resistência ao cisalhamento deve, então, ser tomada em relação às
pressões normais efetivas ( σ n′ ) de acordo com equação de Terzaghi σ n′ = σ n − u .

Parâmetros de resistência equivalentes de Mohr-Coulomb


Os engenheiros geotécnicos estão acostumados a empregar os
parâmetros de Mohr-Coulomb, em lugar dos de Barton descritos
anteriormente. Esta equação, entretanto, não é linear e, por
isso, só é possível obter parâmetros equivalentes de Mohr-Coulomb
correspondentes a determinados níveis de tensão normal (Figura 16).

φi

c'

σ
Figura 16 Parâmetros Mohr-Coulomb equivalentes

Os parâmetros instantâneos de Mohr-Coulomb (ci e φi) são dados pelas


seguintes equações:
 ∂τ 
φi = arctan 
∂σ
 n
ci = τ − tan φ i
onde:
∂τ  JCS  π JRC  2  JCS  
= tan JRC log + φ b  −  tan  JRC log + φ b  + 1
∂σ n  σn  180 ln 10   σn  

Retroanálise de rupturas
A retroanálise de rupturas é a maneira mais confiável de se obter valores de parâmetros de
resistência. O valor do FS é conhecido e os resultados podem ser representados com os da Figura
15.

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Taludes em rocha

58º superfície
de ruptura

50 m
20º

200

150
coesão (kPa)

100

50

5 10 15 20 25 30

ângulo de atrito (graus)

Figura 17 Exemplo de retroanálise de ruptura

Análise de estabilidade
As técnicas de análise de estabilidade de taludes em rocha serão vistas neste item abrangendo:
ruptura planar, em cunha, tombamento e queda de blocos.

Ruptura planar
A ruptura planar consiste no deslizamento de uma massa de solo segundo uma superfície de
deslizamento que se aproxima de um único plano. É um caso muito comum no Rio de Janeiro.
O método de análise consiste numa análise bidimensional de uma cunha conforme indicado na
Figura 18. O fator de segurança é calculado somente com as equações de equilíbrio de forças
horizontais e verticais.

15
Taludes em rocha

αW

U
H T
θ zw
W 1/2 zw
ψf ψp

Figura 18 Ruptura planar

O fator de segurança é obtido pelas seguintes equações:


c A + (W (cos Ψ p − α sen Ψ p ) − U + T cos θ ) tan φ
FS =
W (sin Ψ p + α cos Ψ p ) − T sin θ
onde:
H
A=
sin ψ p

γ H2
W = (cot ψ p − cot ψ f )
2
γ w H w2
U=
4 sin ψ p

b
ψs

z
αW V zw
W
T U
θ
H

ψf

Figura 19 Ruptura planar com trinca de tração com água

16
Taludes em rocha

Um caso particular e com grande redução no valor do FS é a ocorrência de uma trinca de tração no
topo do talude, principalmente se preenchida com água (Figura 19). Nesse caso, as equações para o
álculo do FS são:
c A + (W (cos Ψ p − α sen Ψ p ) − U − V senΨ p + T cos θ ) tan φ
FS =
W (senΨ p + α cos Ψ p ) + V cos Ψ p − T senθ
onde:
z = H + b tan Ψs − (b + H cot Ψ f ) tan Ψ p

A = ( H cot Ψ f + b) sec Ψ p

W = 0.5 γ ( H 2 cot Ψ f X + bHX + bz )

X = 1 − tan Ψ p cot Ψ f

γ w zw A
U=
2
γ w z w2
V =
2

Tabela 3 Simbologia e unidades empregadas

Símbolo Descrição Unidade

H Altura do talude m
Ψf Inclinação da face do talude graus
Ψs Inclinação da parte superior do talude ou berma graus
Ψp Inclinação da superfície de ruptura graus
b Distância da trinca de tração da crista do talude m
α Coeficiente de aceleração horizontal, devido à explosão próxima ou
sismicidade, dado em relação à aceleração da gravidade
T Força de ancoragem (se existir) por metro linear MN/m
θ Ângulo de inclinação da ancoragem em relação à normal à superfície de graus
ruptura
c Coesão na superfície de ruptura MPa
φ Ângulo de atrito da superfície de ruptura graus
3
γ Peso específico da rocha MN/m
3
γw Peso específico da água MN/m
zw Altura de água na trinca de tração m
z Profundidade da trinca de tração m
U Força de submersão da água por metro linear MN/m
V Esforço instabilizante da água por metro linear MN/m
W Peso do bloco de rocha por metro linear MN/m
2
A Área da superfície de ruptura por metro linear m

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Taludes em rocha

Exemplo
Seja um talude com 12 m de altura cuja geometria é apresentada na Figura
20. O demais dados estão apresentados na Tabela 4. O valor do FS
calculado sem a força de ancoragem é de 0.6. O valor da força T foi
incrementado, calculando-se of FS’s correspondentes. Os resultados estão
apresentados na Figura 21, mostrando que para atingir um FS de 1.5,
necessita-se de uma força de ancoragem de 0.4 MN/m.

5m

15º
8.86 m

3m
W

12 m U
0 MN/m
20º

80º

Figura 20 Exemplo de análise de estabilidade de cunha com trinca de tração

Tabela 4 Dados do exemplo de análise de estabilidade de cunha com trinca de tração

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Taludes em rocha

Símbolo Descrição Valor

H Altura do talude 12 m
Ψf Inclinação da face do talude 80 graus
Ψs Inclinação da parte superior do talude ou berma 11 graus
Ψp Inclinação da superfície de ruptura 30 graus
b Distância da trinca de tração da crista do talude 5m
α Coeficiente de aceleração horizontal 0
T Força de ancoragem por metro linear (Variável) 0 MN/m
θ Ângulo de inclinação da ancoragem em relação à normal à superfície de 20 graus
ruptura
c Coesão na superfície de ruptura 0 MPa
φ Ângulo de atrito da superfície de ruptura 25 graus
3
γ Peso específico da rocha 0.027 MN/m
3
γw Peso específico da água 0.01 MN/m
zw Altura de água na trinca de tração 3m
z Profundidade da trinca de tração (Calculado) 8.86 m
U Força de submersão da água por metro linear (Calculado) 0.123 MN/m
V Esforço instabilizante da água por metro linear (Calculado) 0.045 MN/m
W Peso do bloco de rocha por metro linear (Calculado) 1.63 MN/m
2
A Área da superfície de ruptura por metro linear (Calculado) 8.22 m

2.0

FS
1.5

1.0

0.5

0.0
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6

T (MN/m)

Figura 21 Exemplo: Estudo de sensibilidade do FS ao valor da carga de ancoragem aplicada

Ruptura em cunha
A ruptura de uma cunha de deslizamento é tratada como um problema de um bloco rígido
deslizando sobre os dois planos que a formam. Este assunto é vastamente explorado por vários
autores, especialmente no livro de Hoek e Bray (1981) que apresentam todo o desenvolvimento
matemático do problema. Não é objetivo deste manual apresentar todas as equações para a análise
de estabilidade. O assunto será tratado resumidamente através de um exemplo com programa de
computador Swedge2, desenvolvido da Universidade de Toronto. Este programa importa

2
Disponível através da empresa Rocscience Ltd (www.rocscience.com)

19
Taludes em rocha

diretamente os resultados da análise estereográfica do Dips e os apresenta graficamente na dados na


tela. Permite selecionar para a análise os sistemas de juntas que formam cunhas, simular juntas de
tração preenchidas com água e a aplicação de ancoragens e chumbadores para estabilizar o talude.
O exemplo seguinte demonstra o uso do Swedge. Seja uma investigação de campo que identificou
as seguintes descontinuidades em um talude em rocha:

Conjunto de fraturas Mergulho (graus) Direção do mergulho (graus)

Foliação 48 168
Fraturamento 45 265
Deseja-se cortar o talude com altura de 12 m, face mergulhando a 76 graus com direção do
mergulho de 196 graus. A resistência ao cisalhamento nos planos de foliação e fraturamento foi
estimada com ângulo de atrito de 30 graus e coesão nula.
A representação estereográfica da maior cunha formada no talude é obtida pelo Swedge e consta da
Figura 22. Os círculos indicados correspondem respectivamente à foliação (círculo 1), fraturamento
(círculo 2) e face do talude (FS = face slope). O passo seguinte é o cálculo do valor do fator de
segurança. O cálculo pelo Swedge fornece fator de segurança de 0.67 e massa da cunha de 2018
toneladas.
Para estabilizar o talude, aumentando-se o FS até valores seguros, Swedge permite utilização de
ancoragens ou chumbadores. São introduzidos a partir da tela de cálculo apresentada na Figura 23.
Neste exemplo, empregou-se um chumbador com carga de 30 MN, capaz de elevar o fator de
segurança para 1.25.

Figura 22 Projeção estereográfica da cunha, programa Swedge

20
Taludes em rocha

Figura 23 Programa Swedge: cunha analisada, cálculo do fator de segurança adotando-se ancoragem

Tombamento de blocos
O tombamento é uma situação de instabilidade freqüente no caso de massas rochosas subdivididas
em blocos e lajes, ou no caso de colunas de rocha formadas por fraturamento paralelo à face do
talude. Hoek e Bray (1981) subdivide as formas de tombamento em primárias e secundárias (Figura
24 e Figura 25).

21
Taludes em rocha

Tombamento por flexão em


rocha dura com descontinuidades
quase verticais

Tombamento de blocos em
rocha dura

Tombamento e flexão de colunas


de blocos

Figura 24 Formas de tombamento primário (Hoek e Bray,1981)

22
Taludes em rocha

Tombamento por ruptura da camada superior

Tombamento e deslizamento de colunas de rocha


devido ao intemperismo do material inferior

Tombamento por fraturas de tração


em material coesivo

Figura 25 Formas secundárias de tombamento (Hoek e Bray,1981)

Não há critérios de análise universalmente aceitos, sendo que uma discussão detalhada foge do
escopo deste manual.
A estabilização de taludes sujeitos ao tombamento pode ser realizada através de: redução da altura,
corte para implantação de banquetas, fixação de blocos ou lajes por ancoragens ou chumbadores e
preenchimento de fraturas verticais com calda de cimento.

Queda de blocos
A queda de blocos ou lascas é um problema tradicional no Rio de Janeiro e muitas obras da GeoRio
foram realizadas por conta deste fenômeno. Na maioria das vezes a queda está associada às chuvas
intensas de verão. Alguns casos clássicos serão comentados a seguir:
Uma situação de grande risco no Rio de Janeiro são as construções próximas aos taludes das antigas
pedreiras. Há casos clássicos como as Pedreiras do Morro da Providência, próxima à Cidade Nova
(Figura 26). Foi explorada no século passado e foi ocupada por barracos pelos soldados e
sobreviventes que retornaram da Guerra de Canudos. O local começou, então, a ser chamado de
Morro da Favela, em alusão a um dos morros que circundavam o povoado de Canudos. Este fato
deu origem ao nome favela.

23
Taludes em rocha

Figura 26 Escarpa rochosa deixada por antiga pedreira no Morro da Providência (Fotos GeoRio)

Figura 27 Blocos soltos necessitanto estabilização (Fotos GeoRio)

24
Taludes em rocha

Figura 28 Deslizamento de blocos, Linha Amarela, Rio de Janeiro (Foto GeoRio)

Outro caso clássico é a Estrada Grajaú-Jacarepaguá, que atravessa a Serra do Mateus na zona norte
da cidade. Foi construída na década de 50 e duplicada nos anos 70. A estrada atravessa região
montanhosa e de talus, com quantidade muito grande de blocos soltos, alguns dos quais com
dimensões de 10 m ou maiores. Foram registrados muitos deslizamentos neste local nas grandes
chuvas no Rio. A quantidade de blocos soltos é tal que a estabilização por fixação individual é
impossível.
Dependendo da inclinação do talude o deslocamento do bloco pode ser por rolamento, deslizamento
ou queda livre (Figura 29). Em casos complexos, a trajetória de um bloco pode ser simulada
numericamente por computador. Um exemplo essa simulação através é apresentado na Figura 30.
Foi empregado o programa Grocks3, desenvolvido na Universidade de Toronto.
A partir do momento que o movimento de um bloco começa, o fator mais importante que controla a
trajetória do mesmo é a geometria do talude. Superfícies do talude em rocha sã de granito e gneiss,
casos freqüentes no Rio de Janeiro, não amortecem a queda, como aconteceria em solos, e facilitam
o deslocamento da massa rochosa.

3
Disponível através da Rocscience Ltd, www.rocscience.com

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Taludes em rocha

30 graus

45 graus rolamento de blocos


altura
60 graus
deslizamento de blocos
profundidade
distância
queda de blocos

Figura 29 Queda, deslizamento e rolamento de blocos (FHWA, 1991)

Figura 30 Análise da trajetória de queda, programa Grocks

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