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J A R Ortigão
Introdução
Este capítulo versa sobre a estabilidade de taludes em rocha que teve um avanço considerável nos
últimos vinte anos principalmente quanto aos métodos de se estimar a resistência dos maciços
rochosos, do efeito das descontinuidades e métodos de análise. O assunto é muito bem descrito nos
seguintes trabalhos Hoek (1998), Hoek e Bray (1981), Wyllie e Norish (1996 a & b), Norish e
Wyllie (1996), Giani (1992) entre outros.
Este capítulo apresenta um resumo para os tipos de problemas mais encontrados no Rio de Janeiro.
1
Taludes em rocha
Tabela 1 Problemas típicos, características, métodos de análise e critérios de aceitação da segurança de taludes
em rocha (adaptado de Hoek, 1998)
Deslizamentos Ruptura com geometria Fraturas regionais Equilíbrio limite O Fator de Segurança
complexa com superfícies Resistência ao com superfícies (FS) absoluto tem
de ruptura circulares ou cisalhamento dos de ruptura pouco significado, mas
poligonais envolvendo materiais ao longo das circulares e a variação do mesmo
deslizamento nas descontinuidades poligonais permite julgar as
descontinuidades soluções de
Poropressões,
estabilização
particularmente sob
chuvas intensas A monitoração de
movimentos e
poropressões é o
único meio seguro e
prático de julgar a
eficiência da obra de
estabilização
Maciço de solo ou rocha Ruptura circular em forma Altura e inclinação do Método de FS > 1.5 para taludes
estruturado por severas de concha através de solo talude equilíbrio limite com grande risco
descontinuidades ou rocha intensamente Resistência ao bidimensionais
fraturada cisalhamento ao longo com pesquisa
da superfície de ruptura automática da
superfície crítica
Poropressões
Rocha fraturada Cunha deslizando ao Altura do talude, Equilíbrio limite de FS > 1.5 para taludes
longo das inclinação e orientação cunhas com grande risco
descontinuidades da Mergulho e orientação
rocha das descontinuidades
Poropressões
Rocha com fraturas Queda de colunas ou Altura do talude, Métodos Não há critério
verticais blocos condicionados por inclinação e orientação simplificados de universalmente aceito,
fraturas verticais na rocha Mergulho e orientação investigação de mas é fácil identificar o
das descontinuidades potencialidade de potencial de ruptura.
ruptura Recomenda-se
Poropressões
monitorar
deslocamentos
Mecanismos de ruptura
O principais mecanismos de ruptura em taludes rochosos estão apresentados nas Figura 1 a Figura
5.
2
Taludes em rocha
• A ruptura planar é governada por uma descontinuidade principal que mergulha na direção do
talude (Figura 1).
• A ruptura em cunha envolve duas descontinuidades planares cuja interseção mergulha em
direção do talude (Figura 2).
• A ruptura por tombamento envolve lajes verticais ou colunas que mergulham quase
verticalmente próximas à face do talude (Figura 3).
• A ruptura circular, cuja superfície de deslizamento tem forma de concha, ocorre em massas
rochosas muito fraturadas ou em solos (Figura 4).
• A queda de blocos soltos consiste no deslizamento e ou tombamento de blocos que se projetam
ou deslizam no talude (Figura 5).
Figura 1 Mecanismo de ruptura planar: queda de blocos no Rio de Janeiro (Fotos GeoRio)
3
Taludes em rocha
4
Taludes em rocha
1
Obtido através da Rocscience Ltd, rocscience.com
5
Taludes em rocha
6
Taludes em rocha
7
Taludes em rocha
8
Taludes em rocha
τ
σn
τ τ
φr
δ σ
(φb+ i)
σn
9
Taludes em rocha
Estimativa de JRC
O coeficiente de rugosidade da rocha JRC é um número que é
avaliado comparando a aparência da superfície com perfis
publicados por Barton e outros. A Figura 12 e a Figura 13 permitem
estimar este coeficiente.
JRC = 0 - 2
JRC = 2 - 4
JRC = 4 - 6
JRC = 6 - 8
JRC = 8 - 10
JRC = 10 - 12
JRC = 12 - 14
JRC = 14 - 16
JRC = 16 - 18
JRC = 18 - 20
0 5 cm 10
10
Taludes em rocha
amplitude da rugosidade
comprimento
400 20
300 16
12
200 10
8
6
JRC
100 5
4
3
50
2
30
amplitude da rugosidade (mm)
20 1
10 0.5
0.5
0.4
0.3
0.2
0.1
0.1 0.2 0.3 0.5 1 2 3 4 5 10
comprimento (m)
Estimativa de JCS
O coeficiente JCS deve ser estimado de acordo com o método sugerido pela International Society
for Rock Mechanics (ISRM, 1978). O esclerômetro de Schmidt foi proposto por Deere e Miller
(1966) para estimar a resistência à compressão da superfície da junta, conforme ilustrado na Figura
14. Este equipamento é semelhante ao empregado na avaliação de propriedades do concreto e
consta de um cilindro que contém um pistão ou martelo acionado por uma mola. Quando esta é
disparada, faz com que o pistão bata sobre a superfície da rocha e retroceda. O retrocesso do
mesmo é medido por um dispositivo simples e é utilizado, conforme indicado na Figura 14.
11
Taludes em rocha
400
350 32
24
150
22
20
100
90
80
70
60
50
40
30
20
orientação do
martelo
10
0 10 20 30 40 50 60
0 10 20 30 40 50 60
0 10 20 30 40 50 60
0 10 20 30 40 50 60
12
Taludes em rocha
Lupini et al ( 1981)
30º
Fleisher ( 1972)
Ângulo de atrito residual , φ'res.
20º
φ'res = 46.6/ (IP) 0,446
10º
0º
0 20 40 60 80 100
13
Taludes em rocha
Figura 15 Estimativa de ângulo de atrito residual em argilas em função do índice de plasticidade (IP), (Kanji,
1998)
φi
c'
σ
Figura 16 Parâmetros Mohr-Coulomb equivalentes
Retroanálise de rupturas
A retroanálise de rupturas é a maneira mais confiável de se obter valores de parâmetros de
resistência. O valor do FS é conhecido e os resultados podem ser representados com os da Figura
15.
14
Taludes em rocha
58º superfície
de ruptura
50 m
20º
200
150
coesão (kPa)
100
50
5 10 15 20 25 30
Análise de estabilidade
As técnicas de análise de estabilidade de taludes em rocha serão vistas neste item abrangendo:
ruptura planar, em cunha, tombamento e queda de blocos.
Ruptura planar
A ruptura planar consiste no deslizamento de uma massa de solo segundo uma superfície de
deslizamento que se aproxima de um único plano. É um caso muito comum no Rio de Janeiro.
O método de análise consiste numa análise bidimensional de uma cunha conforme indicado na
Figura 18. O fator de segurança é calculado somente com as equações de equilíbrio de forças
horizontais e verticais.
15
Taludes em rocha
αW
U
H T
θ zw
W 1/2 zw
ψf ψp
γ H2
W = (cot ψ p − cot ψ f )
2
γ w H w2
U=
4 sin ψ p
b
ψs
z
αW V zw
W
T U
θ
H
ψf
16
Taludes em rocha
Um caso particular e com grande redução no valor do FS é a ocorrência de uma trinca de tração no
topo do talude, principalmente se preenchida com água (Figura 19). Nesse caso, as equações para o
álculo do FS são:
c A + (W (cos Ψ p − α sen Ψ p ) − U − V senΨ p + T cos θ ) tan φ
FS =
W (senΨ p + α cos Ψ p ) + V cos Ψ p − T senθ
onde:
z = H + b tan Ψs − (b + H cot Ψ f ) tan Ψ p
A = ( H cot Ψ f + b) sec Ψ p
X = 1 − tan Ψ p cot Ψ f
γ w zw A
U=
2
γ w z w2
V =
2
H Altura do talude m
Ψf Inclinação da face do talude graus
Ψs Inclinação da parte superior do talude ou berma graus
Ψp Inclinação da superfície de ruptura graus
b Distância da trinca de tração da crista do talude m
α Coeficiente de aceleração horizontal, devido à explosão próxima ou
sismicidade, dado em relação à aceleração da gravidade
T Força de ancoragem (se existir) por metro linear MN/m
θ Ângulo de inclinação da ancoragem em relação à normal à superfície de graus
ruptura
c Coesão na superfície de ruptura MPa
φ Ângulo de atrito da superfície de ruptura graus
3
γ Peso específico da rocha MN/m
3
γw Peso específico da água MN/m
zw Altura de água na trinca de tração m
z Profundidade da trinca de tração m
U Força de submersão da água por metro linear MN/m
V Esforço instabilizante da água por metro linear MN/m
W Peso do bloco de rocha por metro linear MN/m
2
A Área da superfície de ruptura por metro linear m
17
Taludes em rocha
Exemplo
Seja um talude com 12 m de altura cuja geometria é apresentada na Figura
20. O demais dados estão apresentados na Tabela 4. O valor do FS
calculado sem a força de ancoragem é de 0.6. O valor da força T foi
incrementado, calculando-se of FS’s correspondentes. Os resultados estão
apresentados na Figura 21, mostrando que para atingir um FS de 1.5,
necessita-se de uma força de ancoragem de 0.4 MN/m.
5m
15º
8.86 m
3m
W
12 m U
0 MN/m
20º
80º
18
Taludes em rocha
H Altura do talude 12 m
Ψf Inclinação da face do talude 80 graus
Ψs Inclinação da parte superior do talude ou berma 11 graus
Ψp Inclinação da superfície de ruptura 30 graus
b Distância da trinca de tração da crista do talude 5m
α Coeficiente de aceleração horizontal 0
T Força de ancoragem por metro linear (Variável) 0 MN/m
θ Ângulo de inclinação da ancoragem em relação à normal à superfície de 20 graus
ruptura
c Coesão na superfície de ruptura 0 MPa
φ Ângulo de atrito da superfície de ruptura 25 graus
3
γ Peso específico da rocha 0.027 MN/m
3
γw Peso específico da água 0.01 MN/m
zw Altura de água na trinca de tração 3m
z Profundidade da trinca de tração (Calculado) 8.86 m
U Força de submersão da água por metro linear (Calculado) 0.123 MN/m
V Esforço instabilizante da água por metro linear (Calculado) 0.045 MN/m
W Peso do bloco de rocha por metro linear (Calculado) 1.63 MN/m
2
A Área da superfície de ruptura por metro linear (Calculado) 8.22 m
2.0
FS
1.5
1.0
0.5
0.0
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6
T (MN/m)
Ruptura em cunha
A ruptura de uma cunha de deslizamento é tratada como um problema de um bloco rígido
deslizando sobre os dois planos que a formam. Este assunto é vastamente explorado por vários
autores, especialmente no livro de Hoek e Bray (1981) que apresentam todo o desenvolvimento
matemático do problema. Não é objetivo deste manual apresentar todas as equações para a análise
de estabilidade. O assunto será tratado resumidamente através de um exemplo com programa de
computador Swedge2, desenvolvido da Universidade de Toronto. Este programa importa
2
Disponível através da empresa Rocscience Ltd (www.rocscience.com)
19
Taludes em rocha
Foliação 48 168
Fraturamento 45 265
Deseja-se cortar o talude com altura de 12 m, face mergulhando a 76 graus com direção do
mergulho de 196 graus. A resistência ao cisalhamento nos planos de foliação e fraturamento foi
estimada com ângulo de atrito de 30 graus e coesão nula.
A representação estereográfica da maior cunha formada no talude é obtida pelo Swedge e consta da
Figura 22. Os círculos indicados correspondem respectivamente à foliação (círculo 1), fraturamento
(círculo 2) e face do talude (FS = face slope). O passo seguinte é o cálculo do valor do fator de
segurança. O cálculo pelo Swedge fornece fator de segurança de 0.67 e massa da cunha de 2018
toneladas.
Para estabilizar o talude, aumentando-se o FS até valores seguros, Swedge permite utilização de
ancoragens ou chumbadores. São introduzidos a partir da tela de cálculo apresentada na Figura 23.
Neste exemplo, empregou-se um chumbador com carga de 30 MN, capaz de elevar o fator de
segurança para 1.25.
20
Taludes em rocha
Figura 23 Programa Swedge: cunha analisada, cálculo do fator de segurança adotando-se ancoragem
Tombamento de blocos
O tombamento é uma situação de instabilidade freqüente no caso de massas rochosas subdivididas
em blocos e lajes, ou no caso de colunas de rocha formadas por fraturamento paralelo à face do
talude. Hoek e Bray (1981) subdivide as formas de tombamento em primárias e secundárias (Figura
24 e Figura 25).
21
Taludes em rocha
Tombamento de blocos em
rocha dura
22
Taludes em rocha
Não há critérios de análise universalmente aceitos, sendo que uma discussão detalhada foge do
escopo deste manual.
A estabilização de taludes sujeitos ao tombamento pode ser realizada através de: redução da altura,
corte para implantação de banquetas, fixação de blocos ou lajes por ancoragens ou chumbadores e
preenchimento de fraturas verticais com calda de cimento.
Queda de blocos
A queda de blocos ou lascas é um problema tradicional no Rio de Janeiro e muitas obras da GeoRio
foram realizadas por conta deste fenômeno. Na maioria das vezes a queda está associada às chuvas
intensas de verão. Alguns casos clássicos serão comentados a seguir:
Uma situação de grande risco no Rio de Janeiro são as construções próximas aos taludes das antigas
pedreiras. Há casos clássicos como as Pedreiras do Morro da Providência, próxima à Cidade Nova
(Figura 26). Foi explorada no século passado e foi ocupada por barracos pelos soldados e
sobreviventes que retornaram da Guerra de Canudos. O local começou, então, a ser chamado de
Morro da Favela, em alusão a um dos morros que circundavam o povoado de Canudos. Este fato
deu origem ao nome favela.
23
Taludes em rocha
Figura 26 Escarpa rochosa deixada por antiga pedreira no Morro da Providência (Fotos GeoRio)
24
Taludes em rocha
Outro caso clássico é a Estrada Grajaú-Jacarepaguá, que atravessa a Serra do Mateus na zona norte
da cidade. Foi construída na década de 50 e duplicada nos anos 70. A estrada atravessa região
montanhosa e de talus, com quantidade muito grande de blocos soltos, alguns dos quais com
dimensões de 10 m ou maiores. Foram registrados muitos deslizamentos neste local nas grandes
chuvas no Rio. A quantidade de blocos soltos é tal que a estabilização por fixação individual é
impossível.
Dependendo da inclinação do talude o deslocamento do bloco pode ser por rolamento, deslizamento
ou queda livre (Figura 29). Em casos complexos, a trajetória de um bloco pode ser simulada
numericamente por computador. Um exemplo essa simulação através é apresentado na Figura 30.
Foi empregado o programa Grocks3, desenvolvido na Universidade de Toronto.
A partir do momento que o movimento de um bloco começa, o fator mais importante que controla a
trajetória do mesmo é a geometria do talude. Superfícies do talude em rocha sã de granito e gneiss,
casos freqüentes no Rio de Janeiro, não amortecem a queda, como aconteceria em solos, e facilitam
o deslocamento da massa rochosa.
3
Disponível através da Rocscience Ltd, www.rocscience.com
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Taludes em rocha
30 graus
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