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Critérios de Resistência em Projetos Mecânicos

Prof. Jucélio Tomás Pereira, D.Sc.

1. INTRODUÇÃO

• Teste de tração uniaxial (problema real):

σ σ
σr
σr
σe Modelo
aproximado

E E
1 1
ε ε
(a) (b)
Figura 1 - Curvas aproximadas de tensão-deformação para testes de tração uniaxial para
materiais dúctil (a) e frágil (b).

• σ e : tensão de escoamento do material


• σ r : tensão de ruptura do material

⇒ Estes valores são utilizados como valores limites para o dimensionamento de componentes
mecânicos submetidos a carregamento (quase-) estático.
Formato geral de um problema da Mecânica Estrutural:

Exemplo de estrutura mecânica submetida a


um conjunto de esforços externos.

Exemplos:

1. Ponta do semi-eixo de transmissão de automóvel.

Malha de elementos finitos (AnSYS r. 6.0).

Campo de tensões cisalhantes σ xx .


2
2. Tubo sob pressão interna e/ou exerna.

Campos de tensões radiais e


circunferenciais em tubo sob
pressão interna.

Campos de tensões radiais e


circunferenciais em tubo sob
pressão externa.

3
Conjunto de equações a ser resolvido:

1. Equações diferenciais de equilíbrio

∂ σ ij ∂ 2 ui
+ bi = ρ ⋅ 2 (1)
∂ xj ∂t

Esta equação garante o equilíbrio


(estático ou dinâmico) de cada
elemento de material.

Definições:

σ ij = σ ij ( x ) : campo matricial de tensões ao longo da estrutura;


bi = bi ( x ) : campo vetorial de forças de corpo distribuídas ao longo da estrutura por unidade de
volume (p.e. peso específico da estrutura);
ui = ui ( x ) : campo vetorial de deslocamentos da estrutura decorrentes do processo de
deformação da estrutura;
ρ = ρ(x) : campo escalar de densidades de massa.

4
Equações constitutivas (nesse caso, a Lei de Hooke Generalizada)

2⋅G
σ ij = 2 ⋅ G ⋅ ε ij + ⋅ε ⋅δ (2)
1 − 2 ⋅ ν kk ij

Esta equação fornece a relação entre os esforços internos (matriz de tensões σ) e a matriz de
deformações ε , para todos os pontos da estrutura.

2. Equações cinemáticas (considerando pequenos deslocamentos e deformações)

1 ⎛ ∂u ∂u j ⎞
ε ij = ⎜ i +
2 ⎝ ∂x j ∂xi ⎟⎠
(3)

y, v

Esta equação fornece a relação entre a ∂ u dy


matriz de deformações ε e o campo y + dy +
+ v + dv
∂ v dx
∂y

vetorial de deslocamentos u , para todos ∂x

os pontos da estrutura. y + dy + v ∂ v dy
∂y
v
y + dy

∂ v dx
y+v ∂x
v ∂ u dx
y ∂x
Esquema representativo dos ∂ u dy
gradientes de deslocamentos u. ∂y x, u
u u
x x+u x + dx x + dx + u + du
x + dx + u
5
Condições de contorno de Neumann

σ ij n j = ti = ti (4)

Esta equação é válida para todo ponto do contorno da estrutura onde são conhecidos os
carregamentos de superfície e garante o equilíbrio entre o campo de tensões (esforços internos)
e o carregamento de superfície aplicado (esforços externos).

ti = ti ( x ) : campo de forças externas de superfície por unidade de área aplicadas (e


conhecidas) sobre o contorno;

3. Condições de contorno de Dirichlet

ui = ui (5)

Esta equação é válida para todo ponto


do contorno da estrutura onde são
conhecidos os deslocamentos (vínculos
da estrutura), garantindo a inexistência
de deslocamento de corpo rígido.

Campo de tensões efetivas de Von


Mises em um modelo por FEM de uma
biela de motor de Kart.
6
Considerações:

Em problemas gerais da mecânica estrutural (2D ou 3D), para materiais elásticos lineares e sob
pequenos deslocamentos, os estados de tensões aumentam proporcionalmente com o
carregamento aplicado.

Para um valor determinado deste estado de tensões (chamado σ ijf ), o material falha (inicia
escoamento ou rompe-se por ruptura frágil). Pode-se inferir que o estado de tensões no início da
falha relaciona-se com o valor da tensão de escoamento (ou de ruptura) do material. Esta relação é
denominada critério de escoamento.

Estes critérios de escoamento são baseados em algumas grandezas físicas, representativas do


nível de solicitação dos estados de tensões (e de deformações). Exemplos de critérios de
escoamento:

• tensão normal máxima


• tensão de cisalhamento máxima
• deformação normal máxima
• máxima energia de deformação
• máxima energia de distorção

Normalmente, o procedimento consiste em calcular uma das grandezas acima (aquela escolhida
por ser a mais adequada ao material que está sendo analisado) e comparar com o valor desta
mesma grandeza obtida em um teste de tração uniaxial.

7
σ11 σ12 σ13 Critério de
σ22 σ23 σ33 G6 G1
Escoamento

Figura 2 - Representação gráfica do processo de aplicação de um critério de escoamento a um


dado ponto material.

G6 - Valor da grandeza correspondente ao estado de tensões 3D;


G1 - Valor da grandeza obtida em um teste de tração uniaxial (1D), no início da falha do material;

Um critério de escoamento poderá indicar que um ponto material irá falhar para dado estado de
tensões, enquanto outro critério poderá indicar que não irá falhar.

UM CRITÉRIO DE ESCOAMENTO REPRESENTA UM MODELO MATEMÁTICO DAS VARIÁVEIS


QUE INFLUENCIAM O PROCESSO DE FALHA (ESCOAMENTO OU RUPTURA) DOS MATERIAIS.

Serão discutidos três critérios de escoamento principais:

1. Máxima tensão cisalhante (critério de Tresca) (para materiais dúcteis);


2. Máxima energia de distorção ou teoria de cisalhamento octaédrico (critério de von Mises) (para
materiais dúcteis);
3. Máxima tensão normal (critério de Rankine) (para materiais frágeis);

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2. CONCEITOS IMPORTANTES

σ ij - estado de tensões 3D em um ponto material qualquer;


ε ij - estado de deformações correspondente.

• Relação constitutiva para material elástico linear (Lei de Hooke Generalizada)

ν
σ ij = 2 ⋅ G ⋅ ⎡⎢ ε ij + ⎛⎜ ⎞ ⋅ε ⋅δ ⎤
⎟ kk ij ⎥ (6)
⎣ ⎝ 1 − 2 ⋅ν ⎠ ⎦

• Deformação volumétrica

Deformação volumétrica (ε v ) é uma medida de variação relativa do volume de um elemento


infinitesimal de volume material. Da Resistência dos Materiais sabe-se que

ε v = ε kk = ε 11 + ε 22 + ε 33 (7)

Conhecido o estado de tensões (σ ij ), o objetivo é determinar a deformação volumétrica diretamente


a partir deste. Assim,

E
σ 11 + σ 22 + σ 33 = ⋅ε (8)
( 1 − 2 ⋅ν ) v
A deformação volumétrica ( ε v ) é diretamente proporcional à soma das componentes de tensões
normais do estado de tensões, podendo ser obtida diretamente através da expressão acima.
9
• Estado de tensões hidrostático: σ ij = − p ⋅ δ ij
Define-se estado de tensões hidrostático como aquele obtido pela aplicação de uma pressão
uniforme (p) sobre o elemento de volume material, resultando em um estado de deformações que
provoca somente variação de volume, sem qualquer distorção do mesmo. Neste caso, o traço do
tensor de tensões é

σ kk = −3 ⋅ p (9)

e a deformação volumétrica pode ser obtida por

( 1 − 2 ⋅ν )
εv = ⋅ ( −3 ⋅ p ) (10)
E

• Decomposição do estado de tensões

Como a deformação volumétrica de um ponto material está relacionada diretamente com o traço do
tensor de tensões neste, será feita a decomposição deste estado de tensões. O objetivo é a
decomposição do estado de tensões em uma parcela responsável somente pela deformação
volumétrica, sem distorção angular do elemento (estado de tensões hidrostático), e uma parcela
responsável somente pela distorção, sem gerar variação do volume (estado de tensões desviador).

Assim, tem-se

σ kk
σ ij = Sij + ⋅ δ ij = Sij + H ij (11)
3
10
Neste caso

Sij - ESTADO DE TENSÕES DESVIADOR

responsável pela deformação distorcional (deformação volumétrica nula)

H ij - ESTADO DE TENSÕES HIDROSTÁTICO

responsável pela deformação volumétrica (distorção angular nula)

O estado de tensões desviador pode ser obtido diretamente do tensor de tensões através da
expressão

Sij = σ ij − H ij = σ ij −
σ kk ⋅ δ (12)
ij
3

σ kk
Definindo : p=−
3
p: pressão hidrostática média no ponto

Pode-se rescrever a eq. (12) como

⎡ σ 11 σ 12 σ 13 ⎤ ⎡ σ 11 + p σ 12 σ 13 ⎤ ⎡ − p 0 0 ⎤
⎢ σ 21 σ 22 σ 23 ⎥ = ⎢ σ 21 σ 22 + p σ 23 ⎥ + ⎢ 0 − p 0 ⎥ (13)
⎣⎢ σ 31 σ 32 σ 33 ⎦⎥ ⎣⎢ σ 31 σ 32 σ 33 + p ⎦⎥ ⎣⎢ 0 0 − p ⎦⎥

11
• Componentes de tensões em uma direção qualquer

Seja um problema da mecânica estrutural onde é conhecido completamente o campo de tensões


ao longo do domínio (Ω) do corpo, inclusive sobre o contorno (Γ) do mesmo. Este campo de
tensões deve satisfazer as condições de contorno de carregamento.

Neste caso, t é o vetor tração (força por unidade de superfície), que atua sobre o contorno e n é o
vetor unitário normal ao contorno no ponto em análise.

Assim, em um problema bidimensional (estado plano de tensões ou de deformações), pode-se


mostrar que o equilíbrio estático do elemento infinitesimal de material (realçado na figura abaixo)
requer a satisfação do seguinte conjunto de equações:

tα = σ β α n β (14)

Γ t2
n

t1
σ11
σ12
Representação de um estado de tensões σ21
em um ponto sobre o contorno – problema
bidimensional.
Ω σ22
12
A mesma análise pode ser feita para um ponto interior qualquer, onde neste caso, o vetor t
representa as forças por unidade de área atuantes em uma superfície de corte, passando pelo
ponto referido, cuja normal unitária é n.

Neste caso, o equacionamento matemático é o mesmo. Assim, para um problema de tensões


tridimensionais (figura 4), esta equação pode ser expandida, resultando em

ti = σ ji n j (16)

ti : vetor tensão que atua sobre uma face com normal unitária n (componentes de tensões nas
direções cartesianas);
ni : vetor normal unitário indicando a direção da face.

t2
n
t1 x

Corte imaginário de um elemento de


t3
volume representando o estado de tensões Plano
em um ponto material interior ao sólido. z de corte

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• Definição:

ESTADO DE TENSÕES PRINCIPAIS:

Estado de tensões caracterizado pelo fato das tensões cisalhantes serem nulas e as tensões
normais extremas (máxima e mínima). Este estado está associado, para um ponto material
qualquer, a três direções cartesianas ortogonais entre si que indicam a direção normal a cada face
do elemento de volume.

DETERMINAÇÃO DA DIREÇÕES DE TENSÕES PRINCIPAIS:

Portanto, buscam-se 3 direções (n) de


corte no elemento de volume, de tal
forma que o vetor tração (t) seja normal
à face. Portanto, o vetor t é proporcional
ao vetor unitário n. Assim, considerando
a equação (16) tem-se

ti = σ ji n j = σ ni (17) (11)

14
Rearranjando a eq. (17)

σ ji n j − σ ⋅ δ ij ⋅ n j = ( σ ji − σ ⋅ δ ij ) ⋅ n j = 0 (18)

Note-se que a equação acima corresponde a um sistema linear e homogêneo de 3 equações


simultâneas, dado por

⎡ σ 11 − σ σ 12 σ 13 ⎤ ⎧⎪ n1 ⎫⎪ ⎧⎪ 0 ⎫⎪
⎢ σ 21 σ 22 − σ σ 23 ⎥ ⎨ n2 ⎬ = ⎨ 0 ⎬ (19)
⎢⎣ σ 31 σ 32 σ 33 − σ ⎥⎦ ⎪⎩ n3 ⎭⎪ ⎩⎪ 0 ⎭⎪

Este é um problema de autovalores/autovetores que possui três soluções.

Uma solução poderia ser a solução trivial dada por n1 = n2 = n3 = 0 .


Entretanto, n12 + n22 + n32 = 1 .

Uma outra solução é quando o determinante da matriz dos coeficientes for nulo. Ou seja

σ ij − σ ⋅ δ ij = 0 (20)

Com isto obtém-se o polinômio característico, dado por

σ 3 − I1 ⋅ σ 2 + I 2 ⋅ σ − I 3 = 0 (21)

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Polinômio característico, associado ao estado de tensões dado:

σ 3 − I1 ⋅ σ 2 + I 2 ⋅ σ − I 3 = 0

onde:
I 1 = 1o invariante do tensor tensão;
traço do tensor de tensões de Cauchy;
I 2 = 2o invariante do tensor tensão;
soma dos cofatores dos termos da diagonal do tensor de tensões;
I 3 = 3o invariante do tensor tensão;
determinante do tensor de tensões.

Os invariantes de tensão são dados por:

I1 = σ kk = σ 11 + σ 22 + σ 33 (22.a)

σ 22 σ 23 σ 11 σ 12 σ 11 σ 13
I2 = + + (22.b)
σ 32 σ 33 σ 21 σ 22 σ 31 σ 33
σ 11 σ 12 σ 13
I 3 = σ 21 σ 22 σ 23 (22.c)
σ 31 σ 32 σ 33

As três raízes do polinômio característico são as tensões principais deste estado de


tensões (σ 1 , σ 2 e σ 3 ).
16
A OBTENÇÃO DO VALOR DAS TENSÕES PRINCIPAIS DE UM DADO ESTADO DE TENSÕES RECAIU NA SOLUÇÃO
DE UM PROBLEMA DE AUTOVALORES-AUTOVETORES ASSOCIADO À MATRIZ DE TENSÕES.

Neste caso,

autovalores ⇒ tensões principais deste estado de tensões;


autovetores ⇒ direções associadas a cada valor de tensão principal.

Com isso tem-se:

Tensão principal 1: σ 1
Direção principal: n( 1 )

Tensão principal 2: σ 2
Direção principal: n( 2 )

Tensão principal 3: σ 3
Direção principal: n( 3 )

17
EXERCÍCIO

Um problema da Mecânica dos Sólidos, após a solução, tem que em determinado ponto crítico o
estado de tensões é dado pelo tensor de tensões abaixo (unidades em MPa). O material é um aço
estrutural onde o módulo de elasticidade longitudinal é 207 GPa e o coeficiente de Poisson é 0.3.

⎡ −80 16 0 ⎤
σ = ⎢ 16 26 0 ⎥
⎢⎣ 0 0 −36 ⎥⎦

Com relação a este estado de tensões:

1) obtenha a deformação volumétrica total;


2) obtenha o tensor de tensões hidrostático;
3) obtenha o tensor de tensões desviador ;
4) obtenha o polinômio característico associado ao problema de autovalores/autovetores;
5) obtenha as tensões principais deste estado de tensões.

18
ENERGIA DE DEFORMAÇÃO
t A
~

b
~ μ
~
y

Corpo elástico, inicialmente


indeformado, é submetido a um
sistema de forças aplicadas. x

1 a lei da termodinâmica:

Wext + Q = Δ E (23)

onde:

Wext : trabalho realizado pelas forças externas (forças de corpo e de superfície) aplicadas durante o
processo de carregamento;
Q : calor absorvido pela estrutura a partir de sua vizinhança
ΔE : variação de energia associada com o corpo, como resultado do carregamento, e associada às
variações de energia cinética (ΔEc) e interna (ΔU).

19
Considerações:

• processo de deformação adiabático (Q = 0);


• processo de aplicação da carga é lento, com a velocidade de cada ponto material devido
alteração da geometria sendo muito baixa e, consequentemente, variação da energia cinética é
desprezável (ΔEc = 0), logo ΔE = ΔU.

Wext = U (24)

Energia de deformação para um elemento de volume infinitesimal:

dx 3

σ11 σ11
dx2
x2
dx1 ε11 dx1 Elemento de volume submetido
à tensão normal σ 11 .

x3 x1 20
As componentes de tensão (σ 11 ) e deformações (ε 11 , ε 2 2 e ε 3 3 ) variam entre zero e seus valores
finais. Assim, durante o processo de deformação total ε 11 o elemento infinitesimal de volume
absorve, sob a forma de energia de deformação, o infinitésimo de energia

ε11 ε11
dU = ∫0 σ 11 d ε 11 dx1 dx2 dx3 = ∫
0
σ 11 d ε 11 dV (25)

onde:

σ 11 dx2 dx3 = dF1 : força infinitesimal na direção do alongamento;


d ε 11 dx1 = du1 : alongamento infinitesimal do elemento de volume.

Integrando a equação acima sobre todo o volume V da estrutura e considerando um problema 3D:

⎛ ε11 ε 22 ε 33
U = ∫ ⎜ ∫ σ 11 dε 11 + ∫ σ 22 dε 22 + ∫ σ 33 d ε 33 +

V ⎝ 0 0 0
ε12 ε13 ε 23
+ ∫ σ 12 dε12 + ∫ σ 13 dε13 + ∫ σ 23 d ε 23 +
0 0 0
ε 21 ε 31 ε 32 ⎞ ⎛ ε ij ⎞
+ ∫ σ 21 d ε 21 + ∫ σ 31 d ε 31 + ∫ σ 32 d ε 32 ⎟ dV = ∫

⎜ ∫ σ ij d ε ij
⎜ 0
⎟ dV

(26)
0 0 0 ⎠ V ⎝ ⎠

21
Considerando um material elástico linear e isotrópico:

ν
σ ij = 2G ⎛⎜ ε ij + ε kk δ ij ⎞⎟ (27)
⎝ ( 1 − 2ν ) ⎠

tem-se energia de deformação total (U) da estrutura em função do estado de tensões corrente
como

U = ∫
V
( 1
σ σ
4G ij ij
ν
− 2 E σ kk σ kk ) dV (28)

Assim, pode-se notar que a energia de deformação por unidade de volume, associada a cada
ponto material, é dada por

dU =
1 ⎛
σ σ
4G ⎜⎝ ij ij
− 1 ν+ ν σ kkσ kk ⎞⎟ = U (29)

A partir deste ponto, é associado à energia de deformação por unidade de volume o símbolo U.

22
DECOMPOSIÇÃO DA ENERGIA DE DEFORMAÇÃO

Como discutido anteriormente, um estado de tensões (σ ) pode ser decomposto em:

σ kk
σ ij = Sij + ⋅ δ ij = Sij + H ij (30)
3

Sij - responsável pela deformação distorcional (volume constante)


H ij - responsável pela deformação volumétrica (distorção nula)

Pode-se decompor a energia de deformação específica total, associada a este estado de tensões,
em duas parcelas:

US : energia de deformação associada ao estado de tensões desviador (energia de deformação de


distorção) e

U H : energia de deformação associada ao estado de tensões hidrostático (energia de deformação


volumétrica).

Ou seja:

U = US +UH (31)
23
A - Densidade de energia de deformação total:

U=
1 ⎡
σ σ
4 ⋅ G ⎢⎣ ij ij
− 1 ν+ ν ( σ kk )2 ⎤⎥ (32)

B - Densidade de energia de deformação volumétrica:

σ kk
Estado de tensões: H ij = ⋅ δ ij = − p ⋅ δ ij (33)
3

Substituindo na eq. (26) tem-se

1 − 2 ⋅ν 2
UH = ⋅ σ kk (34)
6⋅E

C - Densidade de energia de deformação distorcional (desviadora):

Estado de tensões: Sij = σ ij − H ij (35)

Substituindo na eq. (26) tem-se

US =
1 ⎛
σ σ
4 ⋅ G ⎜⎝ ij ij
− 13 σ kk2 ⎞⎟ (36)

24
3. CRITÉRIOS DE ESCOAMENTO PARA MATERIAIS DÚCTEIS

Bridgeman, através de procedimentos experimentais, mostrou que, para a maioria dos materiais
metálicos, a tensão de escoamento não é dependente da tensão hidrostática (c.f. Hill [1950]).

3.1 Critério da Máxima Tensão Cisalhante - Critério de Tresca (1864)

O escoamento em um ponto material inicia quando a máxima tensão cisalhante neste


ponto igualar-se a um parâmetro k, característico do material.

Estado de tensões conhecido no ponto: σ ij


Tensões principais deste estado de tensões: (σ 1 ,σ 2 e σ 3 )

Critério de Tresca:

τ max = max { σ 1 −2 σ 2 ;
σ1 − σ 3
2
;
σ2 − σ3
2 } ≤k (37)

Determinação da constante material k:

Teste de tração uniaxial:

⎡σ 1 0 0 ⎤
[σ ] = ⎢ 0 0 0 ⎥ (38)
⎢⎣ 0 0 0 ⎥⎦
25
Máxima tensão cisalhante no estado de tensões no início do escoamento (τ e ):

σ e −0 σ e −0 σe
τe = = = =k (39)
2 2 2

Critério de Tresca:

τ max = max { σ1 − σ 2
2
;
σ1 − σ 3
2
;
σ2 −σ3
2 } ≤
σe
2
(40)

Representação no Círculo de Mohr:

Estado de tensões tridimensional: Tensões principais: σ1 ≥ σ2 ≥ σ3


τ

σ* 3 τmáx = k
σ3 σ2 σ1 σ* 2 σ* 1 σ τmáx = k

σ0
Representação, no Círculo de Mohr, da região de falha, considerando o critério de falha de Tresca.
26
3.2 Critério da Máxima energia de Distorção
Critério de von Mises - Hencky

O escoamento em um ponto material inicia quando o valor da densidade de energia de


distorção neste ponto igualar-se a um parâmetro k, característico do material.

Estado de tensões conhecido no ponto: σ ij


Tensões principais deste estado de tensões: (σ 1 ,σ 2 e σ 3 )

Critério de von Mises - Hencky:

1
US = ⋅ ⎡⎣ ( σ 1 − σ 2 )2 + ( σ 1 − σ 3 )2 + ( σ 2 − σ 3 )2 ⎤⎦ ≤ k (41)
max 12 ⋅ G

Determinação da constante material k:

Teste de tração uniaxial:

⎡σ 1 0 0 ⎤
[σ ] = ⎢ 0 0 0 ⎥ (42)
⎢⎣ 0 0 0 ⎥⎦

Densidade de energia de distorção no estado de tensões no início do escoamento:

1
US e = ⋅ σ e2 = k (43)
6 ⋅G
27
Critério de von Mises:

- Em termos das tensões principais, o critério pode ser escrito como:

( σ 1 − σ 2 )2 + ( σ 1 − σ 3 )2 + ( σ 2 − σ 3 )2 ≤ 2 ⋅ σ e2 (44)

Rearranjando essa Equação, pode-se definir a tensão efetiva de escoamento


segundo o critério de von Mises σ vM e reescrever esse critério como

⎡ ( σ 1 − σ 2 )2 + ( σ 1 − σ 3 )2 + ( σ 2 − σ 3 )2 ⎤⎦ ≤ σ e
1
σ vM =
2⎣
(45)

- Em termos de um estado genérico de tensões tridimensionais, tem-se:

⎛σ σ
⎜ ij ij − 13 σ kk2 ⎞⎟ ≤ 32 ⋅ σ e2 (46)
⎝ ⎠
Novamente, rearranjando essa Equação, pode-se definir a tensão efetiva de
escoamento segundo o critério de von Mises σ vM e reescrever esse critério como

σ vM =
3⎛
σ σ
2 ⎜⎝ ij ij
− 31 σ kk2 ⎞⎟ ≤ σ e (47)

28
Representações geométricas de Círculos de Mohr e de superfícies de
escoamento

a. Superfície de Escoamento de Tresca

σ2 σ2= σ e
σe
(σ2− σ1) = σe τ σ1= σ e
τ σ
σ

-σ e τ
σe σ1
τ
σ
σ
σ 1= σ e (σ1− σ2) = σe
- σe
σ 2= σ e
Representação geométrica de Círculos de Mohr e da superfície de escoamento de Tresca.
29
b. Superfície de Escoamento de Hencky - von Mises

( σ 1 − σ 2 )2 + ( σ 1 − σ 3 )2 + ( σ 2 − σ 3 )2 ≤ 2 ⋅ σ e2 (46)

Consideração: Estado Plano de Tensões ⇒ σ3 = 0


Superfície de escoamento no espaço de tensões (1, 2), em E.P.T.:

σ 12 − σ 1 ⋅ σ 2 + σ 2 2 = σ e2 (47)

Esta equação corresponde a uma elipse centrada na origem e girada de 45 graus no sentido anti-
horário.

σ2
Superfície de escoamento
σe de Hencky-von Mises

− σe σe σ1 Representação geométrica da
superfície de escoamento de

− σe
von Mises - Hencky.

30
Visualização 3D das Superfícies de Escoamento de Tresca e von Mises:

• Considerando o espaço de tensões principais:

σ1 von Mises

Tresca

σ3

σ2 Plano π

Representação das superfícies de escoamento de Tresca e von Mises - Hencky no espaço de


tensões principais.

31
4. CRITÉRIO DE FALHA PARA MATERIAIS FRÁGEIS

Critérios que levam em consideração a pressão hidrostática média.

4.1 Teoria da Máxima Tensão Normal - Critério de Rankine

A ruptura frágil do material inicia quando a máxima (ou mínima) tensão normal no ponto
material igualar-se a um parâmetro k, característico do material.

Estado de tensões conhecido no ponto: σ ij


Tensões principais deste estado de tensões: (σ 1 ,σ 2 e σ 3 )

Critério de Rankine:

σ máx ≤ kt = σ u tração

σ mín ≥ kc = σ u compressão

32
Visualização:
• Estado Plano de Tensões ⇒ σ3 = 0

σ2

σu tração

σu compressão σu tração

σ1

Visualização da região de falha de

σu compressão
um material frágil através do
critério de Rankine (estado plano
de tensões).

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