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Séries de Números Reais

Definições e Consequências
Algumas séries de relevo
Resultados sobre convergência
Séries de termos positivos
Convergência simples e absoluta
Séries alternadas
Nesta última parte do curso vamos lidar com expressões envolvendo somas com um
número infinito de parcelas. O objectivo é o de atribuir significado matemático a este
tipo de somas, recorrendo ao conceito de limite. Iremos ver, em particular, que apenas
em alguns casos estas somas podem ser calculadas.

1 Introdução
No sentido de motivar a necessidade de um quadro matemático rigoroso para o estudo
de somas com uma infinidade de parcelas, suponhamos que pretendemos calcular o valor
da soma
S = 1 − 1 + 1 − 1 + 1 − 1 + ···

Associando as parcelas duas a duas, escreverı́amos

S = (1 − 1) + (1 − 1) + (1 − 1) + · · ·

e serı́amos levados a concluir que S = 0. Se agora destacarmos a primeira parcela e


associarmos as restantes duas a duas, escrevemos

S = 1 + (−1 + 1) + (−1 + 1) + (−1 + 1) + · · ·

e já somos levados a pensar que será S = 1. E poderı́amos ainda destacar simplesmente
a primeira parcela, resultando

S = 1 − (1 − 1 + 1 − 1 + · · · ) = 1 − S,

donde S = 1/2. É então claro que estas “manobras” não levaram a qualquer conclusão
sobre o valor de S. Aquilo que somos levados a pensar é que, a propriedade associativa
não pode ser válida, em geral, quando estendemos a adição a um número infinito de
parcelas. Para dar sentido a expressões como a anterior, encaramos estas somas como um
limite de certas somas parciais quando o número de parcelas aumenta sucessivamente,
tornado-se arbitrariamente grande. Vamos formalizar estas ideias.

71
2 Definições e consequências
Considere-se uma sucessão (un )n de números reais. À expressão u1 + u2 + · · · + un + · · · ,
que representa uma soma com um número infinito de parcelas, chamamos série numérica
de termo geral un ou série numérica gerada por un . Usamos as notações
+∞
X X X X
un , un , un , un , (120)
n=1 n≥1 n∈N n

realçando que uma tal soma pode ter inı́cio em qualquer inteiro não negativo diferente
de 1; por exemplo, considera-se frequentemente n a variar de 0 até +∞. Relativamente
à série representada por qualquer uma das expressões (120), a sucessão (un )n diz-se a
sucessão geradora da série. Para averiguarmos se a soma subjacente a uma tal série pode
ser efectuada, construimos a sucessão (sn )n das somas parciais, ou sucessão associada
da série, pondo
s1 = u1 ,
s2 = u1 + u2 ,
s3 = u1 + u2 + u3 ,
.. (121)
.
sn = u1 + u2 + · · · + un ,
..
.
e procuramos S = lim sn = lim(u1 + u2 + · · · + un ). Quando este limite existir (em R),
n n X
dizemos que a série de (120) é convergente e escrevemos S = un , chamando a S a
n≥1
soma da série. Por outro lado, quando aquele limite não existe, em particular quando a
soma em causa tende para ±∞, dizemos que a série é divergente.

Exemplo 1
X
(a) Consideremos a série (−1)n−1 = 1 − 1 + 1 − 1 + · · ·
n≥1

A correspondente sucessão geradora é un = (−1)n−1 , n ∈ N, e a sucessão das somas


parciais é sn = 1 − 1 + · · · + (−1)n−1 , n ∈ N. Então sn = 0, se n é par, e sn = 1,
se n é ı́mpar, pelo que (sn )n não tem limite. Logo, a série é divergente.

X  1 n 1
 2  3
1 1
(b) Consideremos agora a série = + + + ···
3 3 3 3
n≥1
 n
1
A sucessão geradora é un = , n ∈ N, e a sucessão das somas parciais é sn =
3 n
 2  n−1
1 1 1 1 1 − 13 1 1−0 1
+ +···+ = · 1 , n ∈ N. Então lim sn = · 1 = ,
3 3 3 3 1− 3 n 3 1− 3 2
e a série é convergente, possuindo soma S = 1/2 .

72
X
(c) Consideremos finalmente a série n = 1 + 2 + 3 + ···
n≥1
1+n
Tem-se un = n, n ∈ N, e sn = 1 + 2 + · · · + n = , n∈N .
2
Então lim sn = +∞ e a série é divergente.
n

Das definições apresentadas extraem-se os seguintes resultados.

Propriedade 1
X X
Sejam un e vn séries convergentes de somas S e T , respectivamente. Então:
n≥1 n≥1
X
(a) a série (un + vn ) converge e tem soma S + T ;
n≥1
X
(b) a série αun converge e tem soma αS, ∀α ∈ R.
n≥1
X X
De facto, se (sn )n e (tn )n forem as sucessões das somas parciais das séries un e vn ,
X
respectivamente, então (sn +tn )n será a sucessão das somas parciais de (un + vn ) e
X
(αsn )n a de αun . Como lim sn = S e lim tn = T , vem lim sn +tn = S+T e lim αsn = αS.
n n n n

Propriedade 2
X X
Se a série un é divergente então, dado α ∈ R\{0}, a série αun também é divergente.
n≥1 n≥1

X X1
Se a série αun , com α 6= 0, fosse convergente, também o seria a série (αun ),
X X α
ou seja, a série un , contrariando a hipótese. Logo αun é divergente.

Propriedade 3
X X
Sejam un uma série convergente e vn uma série divergente. Então uma série
n≥1 n≥1
X
(un + vn ) é divergente.
n≥1
X X
Se (un + vn ) fosse convergente, também [(un + vn ) − un ] seria convergente, o que
X
é falso. Logo, a série (un + vn ) é divergente.

Observação 1
X X
Se as séries un e vn forem divergentes, nada se pode concluir, em geral, sobre a
X
natureza da série (un + vn ). De facto, mais adiante, será fácil reconhecer que as séries
X 1 X −1 X 1 X1 1

, e são divergentes, que a série − é convergente e
n n +1 n+
 2 n n+1
X 1 1
que a série + é divergente.
n n+2

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3 Resultados sobre algumas séries particulares
Vamos agora estudar, a partir da definição, algumas séries clássicas de relevo. Como
iremos ver ao longo de todo este capı́tulo, o conhecimento da natureza destas séries será
muito útil no estudo de outras séries.
A - Série geométrica
Chama-se série geométrica de razão r a uma série do tipo
+∞
X
rn−1 , r ∈ R. (122)
n=1

A sucessão geradora, (un )n , é definida por un = rn−1 , n ∈ N, e a sucessão das somas


parciais, (sn )n , é definida por sn = 1 + r + r2 + · · · + rn−1 . Para r = 1 tem-se sn = n e
para r 6= 1, como também rsn = r + r2 + r3 + · · · + rn , sai que sn − rsn = 1 − rn , donde

 n se r = 1

sn = n (123)
 1−r

se r 6= 1.
1−r
Da definição de convergência de uma série sai que:

r = 1 =⇒ série divergente, porque lim sn = lim n = +∞;


n n
r > 1 =⇒ série divergente, porque lim sn = +∞, já que lim rn = +∞;
n n
r ≤ −1 =⇒ série divergente, porque 6 ∃ lim sn , já que também 6 ∃ lim rn ;
n n
1 1
−1 < r < 1 =⇒ série convergente com soma S = , porque lim sn = ,
1−r n 1−r
já que lim rn = 0.
n

Conclusão A
A série geométrica de razão r definida pela expressão (122) é convergente se e só se
1
|r| < 1. Em caso de convergência, a sua soma é S = .
1−r
Exemplo 2
X
(a) Seria imediato concluir que (−1)n−1 do Exemplo 1 é divergente, por se tratar
n≥1
de uma série geométrica de razão r = −1.

X  1 n−1 1 1 e
(b) − é convergente, porque r = − , com soma S = 1 = .
e e 1+ e
e+1
n≥1

X  2 n  
2 X 2 n−1 2 1
(c) = é convergente com soma S = 2 = 2.
3 3 3 3 1− 3
n≥1 n≥1

74
X  5 n 5X
 n−1
5 5
(d) − =− − é divergente porque r = − e , portanto, |r| > 1.
4 4 4 4
n≥1 n≥1

X (−1)n + 4n+1
(e) é divergente porque esta série pode escrever-se na forma
3n+2
n≥1
"  n−1  n−1 #
X 1 1 42 4
− 3 − + 3 ,
3 3 3 3
n≥1

X  1 n−1 X  4 n−1
onde − é convergente e é divergente (Propriedade 3).
3 3
n≥1 n≥1

Observação 2
Mais em geral, uma série geométrica de razão r apresenta a forma
+∞
X
arn+k , a, r ∈ R , a 6= 0 , p ∈ N , k ∈ Z , (124)
n=p

representando a soma

arp+k + arp+k+1 + arp+k+2 + · · · = arp+k 1 + r + r2 + · · · ,
+∞
X +∞
X
n+k
e tem a mesma natureza que as séries r e rn−1 . Então a série (124) converge
n=p n=1
1
se e só se |r| < 1 . Em caso de convergência, a sua soma é S = arp+k .
1−r
Exemplo 3
+∞    5
X 3 n+2 3 1 35
5 − é convergente com soma S = 5 − 3
 =− .
7 7 1 − −7 2 · 74
n=3

B - Série telescópica
Chama-se série telescópica a uma série do tipo
+∞
X
(an − an+p ) , p ≥ 1, (125)
n=1

onde (an )n é uma sucessão qualquer. O exemplo tı́pico é o da série de Mengoli, habitu-
almente apresentada numa das formas equivalentes (cf. o Exemplo 4)
+∞ +∞  
X 1 X 1 1
ou − . (126)
n(n + 1) n n+1
n=1 n=1

75
Outros exemplos são
+∞   +∞  
X 1 1 X sen n sen(n + 3)
√ −√ , − . (127)
n n+5 n3 (n + 3)3
n=1 n=1

Para estas séries, é possı́vel estudar a sucessão das somas parciais de uma forma muito
simples. Vejamos um caso. Todos os outros se estudam da mesma forma.

Exemplo 4
+∞
X 1
A série converge e tem soma S = 3/4.
n(n + 2)
n=1

(i) Comecemos por escrever a série dada noutra forma, procurando constantes reais
A e B tais que
1 A B
= − , ∀n ∈ N.
n(n + 2) n n+2
Existindo tais constantes, deveremos ter
 
A−B =0 A = 1/2
1 = A(n + 2) − Bn ⇐⇒ 1 = (A − B)n + 2A ⇐⇒ ⇐⇒
2A = 1 B = 1/2
+∞   +∞  
X 1/2 1/2 1 X 1 1
pelo que a série assume a forma − = − .
n n+2 2 n n+2
n=1 n=1

(ii) Para a sucessão das somas parciais, vem


"       
1 1 1 1 1 1 1 1
sn = 1− + − + − + − + ···
2 3 2 4 3 5 4 6
     #
1 1 1 1 1 1
+ − + − + − ,
n−2 n n−1 n+1 n n+2

ou seja,  
1 1 1 1
sn = 1+ − − , (128)
2 2 n+1 n+2
donde lim sn = 3/4 e conclui-se que a série dada é convergente com soma S = 3/4.
n

Exercı́cio
Verificar que a série de Mengoli definida em (126) converge e tem soma S = 1.

Exemplo 5
Para a série com a expressão geral (125), vem

sn = (a1 − ap+1 ) + (a2 − ap+2 ) + (a3 − ap+3 ) + · · ·


+ (ap − a2p ) + (ap+1 − a2p+1 ) + (ap+2 − a2p+2 ) + · · ·
+ (an−2 − an+p−2 ) + (an−1 − an+p−1 ) + (an − an+p ) ,

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ou seja,
sn = a1 + a2 + · · · + ap − (an+1 + an+2 + · · · an+p ), (129)

pelo que, existe lim sn se e só se existe lim(an+1 + an+2 + · · · an+p ) , ou seja, se e só
n n
se existe lim an . Então a série converge quando e só quando a sucessão (an )n também
n
converge, caso em que a soma da série é precisamente o valor S do limite da expressão
que define o segundo membro da equação (129).

Conclusão B
A série de Mengoli definida pela expressão (125) é convergente se e só se a correspondente
sucessão (an )n é convergente. Em caso de convergência, a soma da série é

S = a1 + a2 + · · · + ap − p lim an . (130)
n

C - Série harmónica
Trata-se da série com a forma
+∞
X 1 1 1 1
= 1 + + + + ··· (131)
n 2 3 4
n=1

1
com sucessão geradora, (un )n , de termos positivos, definida por un = , n ∈ N, e sucessão
n
das somas parciais, (sn )n , crescente e definida por
1 1 1
sn = 1 + + + ··· + . (132)
2 3 n
1
Os termos da série, ou seja as parcelas , n ∈ N, decrescem e tendem para 0, mas mesmo
n
assim esta série diverge lentamente para +∞, porque lim sn = +∞. Vamos mostrar
n
que, de facto, é assim, por dois processos diferentes: o primeiro, de carácter geométrico
e bastante intuitivo, que envolve um integral impróprio; o segundo, puramente analı́tico
mas muito interessante, baseado na definição de convergência de uma série.

(i) Para cada n ∈ N, fixo, podemos interpretar sn como a área do domı́nio plano An
y
constituı́do por n re-
giões rectangulares de 1
largura 1 e altura su-
cessivamente igual a 1, y1x
1 1 1 1
2 , 3 , . . ., n
(Figura 49). 
2
Consideremos agora a
1
função f (x) = , x > 0,
x x
e a região sob o seu 1 2 3 4 5 6 7 ... n n1

gráfico,
Figura 49: Sucessão das somas parciais da série harmónica.

77

A∗n = (x, y) ∈ R2 : 0 ≤ y ≤ f (x) ∧ 1 ≤ x ≤ n + 1 .
Temos então (Figura 49)

área A∗n < área An = sn ,

com
Z n+1 h in+1
1
área A∗n = dx = ln x = ln(n + 1) e lim ln(n + 1) = +∞,
1 x 1 n

pelo que lim sn = +∞, concluindo-se que a série harmónica diverge para +∞.
n

(ii) Alternativamente, não é difı́cil reconhecer que lim sn = +∞, analisando a sucessão
que extraimos de (sn )n considerando apenas os termos de ordens 2, 22 , 23 , etc, ou
seja, a sucessão (s2n )n cujos termos são s2 , s4 , s8 , s16 , s32 , s2n , . . . . De facto,
1 1 1 1 1 1 1
s2 = 1 + , s4 = 1 + + + , s8 = 1 + + + · · · +
2 2 3 4 2 3 8
· · · · · ·    
1 1 1 1 1 1 1 1 1
s2n = 1+ + + + + + + + + ··· +
2 3 4 5 6 7 8 9 16
| {z } | {z } | {z }
2 parcelas 22 parcelas 23 parcelas
   
1 1 1 1
+ + ··· + +··· + + ··· + n
17 32 2n−1 + 1 2
| {z } | {z }
24 parcelas 2n−1 parcelas

Notando que, em cada bloco de s2n , a última parcela é a menor, podemos escrever
1 1 1 1 1 1 1
s2n > 1 + +2 +4 +8 + 16 + · · · + 2n−1 n = 1 + n .
2 4 8 16 32 2 2
 1
Mas lim 1 + n = +∞, donde lim s2n = +∞, e também lim sn = +∞.
n 2 n n
Logo, a série harmónica diverge para +∞.

Conclusão C
A série harmónica, definida pela expressão (131), é divergente (para +∞).

D - Série de Riemann
Chama-se série de Riemann (de expoente r > 0) a uma série da forma
+∞
X 1
, r ∈ R+ , (133)
nr
n=1

1
cuja sucessão geradora (de termos positivos) é definida por un = , n ∈ N . A corres-
nr
pondente sucessão das somas parciais, (sn )n , é crescente e dada por
1 1 1
sn = 1 + + r + ··· + r . (134)
2r 3 n

78
(i) Se r = 1 então a série (133) reduz-se à série harmónica e, portanto, é divergente.

(ii) Se 0 < r < 1 então


1 1 1
sn = 1 + r
+ r + ··· + r
2 3 n
1 1 1
> 1 + + + ··· + . (135)
2 3 n
Então lim sn = +∞ porque, como se viu no parágrafo C sobre a série harmónica,
 n 
1 1
lim 1 + + · · · + = +∞. A correspondente série de Riemann é divergente.
n 2 n

(iii) Para r > 1, consideremos a sucessão que se extrai de (sn )n tomando apenas os
termos s1 , s3 , s7 , s15 , s31 , . . ., s2n −1 , . . . Atendendo a que
1 1 1
s2n −1 = 1 + r
+ r + ··· + n
2 3 (2 − 1)r
     
1 1 1 1 1 1
= 1+ + r + + ··· + r + + ··· + r
2r 3 4r 7 8r 15
| {z } | {z } | {z }
2 parcelas 22 parcelas 23 parcelas
 
1 1
+··· + + ··· + n ,
(2n−1 )r (2 − 1)r
| {z }
2n−1 parcelas

e a que, em cada bloco, a parcela maior é a primeira, podemos escrever


1 1 1 1
s2n −1 < 1 + 2 r
+ 22 r + 23 r + · · · + 2n−1 n
2 4 8 (2 − 1)r

2 22 23 2n−1
= 1+ r
+ 2 r + 3 r + · · · + n−1 r
2 (2 ) (2 ) (2 )

2 n
 2  3  n−1 1−
2 2 2 2 2r def
= 1+ + + + ··· + = = wn .
2r 2r 2r 2r 2
1− r
2
 
2 n
Como r > 1, resulta que lim = 0 e, portanto, lim wn = 1/(1 − 2/2r ). Conse-
n 2r n
quentemente, (wn )n é uma sucessão convergente sendo, em particular, uma su-
cessão limitada. Assim, serão também limitadas as sucessões (s2n −1 )n e (sn )n .
Sendo monótona e limitada, a sucessão (sn )n é convergente. Conclui-se, final-
mente, que, para r > 1, a correspondente série de Riemann é convergente (não
determinamos a soma da série).

Conclusão D
A série de Riemann (de expoente r > 0), definida pela expressão (133), é convergente
se e só se r > 1 .

79
Exemplo 6
X 2 X 1
(a) A série 5
converge porque é uma série de Riemann convergente.
n n5
n≥1 n≥1
X 1
(b) A série √ diverge porque é uma série de Riemann de expoente 1/2 .
n
n≥1
√ √
X 2 3 n5 + 3√n 3
2 n5 + 3 n

2 3
(c) A série diverge, porque = 1/3 + 3/2 , sendo
n2 n2 n n
n≥1
X 1 X 1
uma série de Riemann divergente e uma série de Riemann con-
n≥1
n1/3 n≥1
n3/2
vergente.
X 8 1
 X 1
(d) A série 5
+ n
converge porque é uma série de Riemann conver-
3n 4 n5
n≥1 n≥1
X 1
gente e é uma série geométrica convergente.
4n
n≥1

4 Primeiros resultados sobre convergência


Começamos esta secção com um resultado fundamental, muito útil no estudo da con-
vergência de séries. Em termos muito gerais, este resultado estabelece que, para que
uma série possa ser convergente, é necessário que a parcela genérica – ou seja, o termo
geral da série – tenda para zero. Se assim não for, o que acontece é que a soma que se
obtém juntando sucessivamente mais uma parcela, e mais outra e mais outra . . ., não
converge para limite algum (real), eventualmente “explode” para ∞.
X
De facto, consideremos uma série un , que supomos ser convergente. Significa que se
(sn )n for a correspondente sucessão das somas parciais, então existe S ∈ R tal que

lim sn = lim(u1 + u2 + · · · + un ) = S.
n n

Como também lim sn−1 = lim(u1 + u2 + · · · + un−1 ) = S, vem lim un = lim (sn − sn−1 ) =
n n n n
S − S = 0. Podemos, assim, estabelecer o seguinte resultado.

Teorema 1 [Condição necessária de convergência]


X
Se a série un é convergente então lim un = 0.
n
n≥1
X
Em geral, pretendemos estudar a natureza da série un , pelo que o Teorema 1 é útil
quando o passamos à seguinte forma equivalente.

Corolario 1 [Condição suficiente de divergência (ou teste da divergência)]


X
Se a sucessão (un )n não tem limite ou se lim un = ℓ, com ℓ 6= 0, então a série un é
n
n≥1
divergente.

80
Observação 3
O recı́proco do Teorema 1 é obviamente falso. Isto é,
X
lim un = 0 =⇒6 un convergente. (136)
n
n≥1

Cf. o exemplo clássico do parágrafo 3 C, relativo à série harmónica (131).

Exemplo 7
X
(a) Relativamente à série (−1)n−1 Exemplo 1, tem-se que 6 ∃ lim(−1)n−1 .
n
n≥1

X  3 n  n
3
(b) A série é divergente porque lim = +∞.
2 n 2
n≥1
X
(c) A série (−1)n sen n é divergente porque 6 ∃ lim (−1)n sen n.
n
n≥1
X n n 1
(d) A série é divergente porque lim = .
2n + 5 n 2n + 5 2
n≥1
X 1 1
(e) A série cos é divergente porque lim cos = 1.
n n n
n≥1

(f) Do Teorema 1, nada se pode concluir, por exemplo, sobre a natureza das séries
X1 X 1 1 1
e 2
, já que lim = 0 e lim 2 = 0 .
n n n n n n
n≥1 n≥1

Outro resultado muito útil obtém-se da definição de convergência de uma série e do facto
de o limite de uma sucessão não depender de um determinado número finito de termos,
por muito grande que seja esse número de termos.

Teorema 2
Sejam (un )n e (vn )n duas sucessões que diferem, quando muito, num número finito de
X X
termos. Então as séries un e vn têm a mesma natureza.
n≥1 n≥1

Observação 4
O Teorema 2 estabelece que se uma das séries converge então a outra também converge
e se uma diverge então a outra também diverge. Isto significa que a natureza de uma
série não depende dos seus k primeiros termos, por maior que seja k .

Exemplo 8

X n se n ≤ 2008
(a) A série un com un = n é divergente.
(3/2) se n > 2008
n≥1

De facto, pelo Teorema 2, conclui-se que a série proposta tem a mesma natureza
que a série estudada no Exemplo 7 (b).

81

X (−1)n se n ≤ 100
(b) A série wn com wn = é convergente.
(1/3)n se n > 100
n≥1

Esta série é da mesma natureza (Teorema 2) que a série do Exemplo 1 (b).

5 Séries de termos não negativos


Neste parágrafo, vamos concentrar-nos num tipo particular de séries,
X
un , com un ≥ 0 , ∀n ∈ N, (137)
n≥1

para as quais a sucessão (sn )n das somas parciais é monótona crescente, já que

sn = sn−1 + un ≥ sn−1 , ∀n ∈ N.

Da definição de convergência de uma série e de alguns resultados sobre sucessões, mostra-


se que uma série do tipo (137) é convergente se e só se a correspondente sucessão (sn )n
é majorada. De facto,
X
un convergente ⇐⇒ (sn )n convergente
n≥1
⇐⇒ (sn )n limitada [porque (sn )n é monótona]
⇐⇒ (sn )n majorada [porque (sn )n é crescente] (138)

Apesar de a convergência de uma série de termos não negativos se poder traduzir pela
majoração da correspondente sucessão das somas parciais, a tarefa de estudar a natureza
de uma série não fica suficientemente simplificada, porque esta sucessão não tem uma
definição nada simples. No entanto, pelo facto de estarmos perante séries de termos
não negativos, vai ser possı́vel estabelecer alguns resultados que permitirão averiguar a
natureza da série a partir do estudo da sucessão geradora. Do ponto de vista intuitivo,
alguns destes resultados podem ser explicados com base na representação gráfica da
sucessão (sn )n das somas parciais (Figura 50).
y

u4

u5

u2 u6

u3 u7
u1
u8

un
...
x
1 2 3 4 5 6 7 8 n1 n

Figura 50: Sucessão das somas parciais de uma série de termos não negativos.

82
Cada termo un , sendo não negativo, pode ser interpretado como a área de uma região
rectangular de largura unitária e altura un . O termo sn = u1 + u2 + · · · + un representa a
área do domı́nio plano A constituı́do pela totalidade das regiões rectangulares indicadas
na Figura 50. Dizer que a série com a expresssão (137) converge equivale a dizer que
existe e é finito o limite

lim sn = lim (u1 + u2 + · · · + un ) , (139)


n n

ou seja, que é finita a área do domı́nio A. Analogamente, dizer que a série (137) diverge
equivale a dizer que

lim sn = lim (u1 + u2 + · · · + un ) = +∞ (140)


n n

e que, portanto, a área de A é infinita. Esta é a ideia intuitiva subjacente aos resultados
de que falaremos a seguir.

A - Critérios de comparação
X X
Sejam un e vn duas séries de termos não negativos para as quais existe uma
n≥1 n≥1
ordem p ∈ N a partir da qual se tem un ≤ vn , ou seja,

un ≤ vn , para todo n ≥ p.

Graficamente, significa que se tem uma situação como a da Figura 51, ficando claro que:

• se a área total interior aos rectângulos de alturas vp , vp+1 , . . . , vn é finita, então


também será finita a área total interior aos rectângulos de alturas up , up+1 , . . . , un ;

• se a área total interior aos rectângulos de alturas up , up+1 , . . . , un não é finita,


então também não será finita a área total interior aos rectângulos de alturas
vp , vp+1 , . . . , vn .

y
vp

vp1
up
vp2
... up1
up2
vn
un
...
x
p1 p p1 p2 n

Figura 51: Comparação entre as sucessões das somas parciais de duas séries.

83
X X
Assim, se (sn )n e (tn )n forem as sucessões das somas parciais das séries un e vn ,
n≥1 n≥1
respectivamente, para n > p, tem-se

sn = (u1 + · · · + up ) +(up+1 + · · · + un ) ≤ sp + (vp+1 + · · · + vn ) = sp + tn − tp ,


| {z } | {z }
sp tn −tp

donde
sn ≤ sp + tn . (141)
X
Consequentemente, se vn é convergente então (tn )n é majorada e, por (141), também
X
(sn )n é majorada, sendo a correspondente série, un , uma série convergente. Por outro
X X
lado, se un for agora divergente, supondo que vn seria convergente, concluir-se-ia
X X
que também un seria convergente, o que é absurdo. Logo, a série vn é divergente.
Pelo que acabamos de ver, vale o seguinte resultado.

Teorema 3 [Primeiro Critério de Comparação]


X X
Sejam un e vn séries de termos não negativos tais que
n≥1 n≥1
∃p ∈ N : n ≥ p =⇒ un ≤ vn .
X X
(a) Se vn converge então un também converge.
n≥1 n≥1
X X
(b) Equivalentemente, se un diverge então vn também diverge.
n≥1 n≥1

Recorrendo a uma comparação com o termo geral de uma série conhecida, a aplicação
do primeiro critério permite concluir, de forma muito simples, a natureza de uma vasta
classe de séries numéricas.

Exemplo 9
X 1
(a) é convergente, porque:
2n + 1
n≥1

1 1
• < n, ∀n ∈ N;
2n + 1 2
X 1
• é uma série gemétrica de razão 1/2, logo convergente.
2n
n≥1

X 1
(b) é divergente, porque:
ln n
n≥2

1 1
• > , ∀n ≥ 2;
ln n n
X1
• é uma série divergente (harmónica).
n
n≥1

84
X 2 + (−1)n
(c) é convergente, porque:
n3
n≥1

2 + (−1)n 3
• ≤ 3, ∀n ∈ N;
n3 n
X 3
• é convergente (série de Riemann de expoente 3).
n3
n≥1

X 3n
(d) é convergente, porque:
n3 + 1
n≥1

3n 3n 3
• < 3 = 2, ∀n ∈ N;
n3 +1 n n
X 1
• é convergente (série de Riemann de expoente 2).
n2
n≥1

X log √n
(e) é divergente, porque:
n
n≥1

log n 1 X1
• > , para n ≥ 8, e é divergente (série harmónica).
n n n
n≥1

X 1 1 1
(f) Sobre a série , fazendo a comparação < , ∀n ∈ N, o primeiro
n+1 n+1 n
n≥1
critério de comparação não permite estabelecer qualquer conclusão, uma vez que a
X1 X 1
série é divergente. O mesmo se passa, por exemplo, com a série √ ,
n 1+ n
n≥1 n≥1
1 1 X 1
fazendo a comparação √ < √ , ∀n ∈ N, uma vez que a série √ é
1+ n n n
n≥1
1 1
divergente, já que √ > , ∀n ∈ N.
n n

Na prática, nem sempre é fácil usar o primeiro critério de comparação (Teorema 3)


porque ele depende fortemente de uma comparação da do tipo apresentado no enunciado.
É o caso dos Exemplos 9 (f). Por esta razão, resulta muito útil a sua formulação em
termos de limite.

Teorema 4 [Segundo Critério de Comparação]


X X un
Sejam un e vn séries de termos positivos tais que ℓ = lim , onde ℓ ∈ [0, +∞].
n vn
n≥1 n≥1
X X
(a) Se ℓ 6= 0 e ℓ 6= +∞ então as séries un e vn têm a mesma natureza.
n≥1 n≥1

85
X X
(b) Se ℓ = 0 e vn converge então un também converge.
n≥1 n≥1
X X
Equivalentemente, se ℓ = 0 e un diverge então vn também diverge.
n≥1 n≥1
X X
(c) Se ℓ = +∞ e vn diverge então un também diverge.
n≥1 n≥1
X X
Equivalentemente, se ℓ = +∞ e un converge então vn também converge.
n≥1 n≥1

Exemplo 10
X 1
(a) é divergente.
n+1
n≥1
1
X1 n
Como é uma série divergente e lim n + 1 = lim = 1 , o segundo
n n 1 n n+1
n≥1
n
critério de comparação permite concluir que a série apresentada é divergente.
X 1
(b) √ é divergente.
1+ n
n≥1
1
X 1 √ √
1+ n n
Como √ é uma série divergente e lim = lim √ = 1,
n n 1 n 1+ n
n≥1 √
n
conclui-se (segundo critério de comparação) que a série apresentada é divergente.
X 2n + 1
(c) é convergente.
3n − 1
n≥1
X  2 n
Basta notar que é uma série geométrica convergente e que
3
n≥1
 n
2n + 1 1
n (2n + 1) n + 3n 1+
n 3 6 2
lim 3 −n1 = lim n n = lim n = lim  n = 1.
n 2 n 2 (3 − 1) n 6 − 2n n 1
1−
3 3
X n
(d) é convergente.
1 + n3
n≥1
n
X 1 3
Como é uma série de Riemann convergente e lim 1 + n3 = lim n = 1,
n2 n 1 n 1 + n3
n≥1
n2
o segundo critério de comparação permite concluir que a série dada é convergente.

86
X n
(e) √ é convergente.
n≥1
1 + n5
X n X 1
Vamos comparar com a série de Riemann √ = , que é convergente.
n≥1 n5 n≥1 n3/2
Tem-se

n
√ r
1 + n5 n5/2 n5
lim = lim √ = lim = 1,
n 1 n 1 + n5 n 1 + n5
n3/2
donde, pelo segundo critério de comparação, sai que a série dada é convergente.

X 1 sen(1/n) X 1
(f) sen é divergente, porque: lim = 1e é divergente.
n n 1/n n
n≥1 n≥1

X log n
(g) é convergente.
n2
n≥1
log n
2 X 1
• Por ser lim n = lim log n = +∞ e uma série de Riemann convergente,
n 1 n n2
n≥1
n2
o segundo critério de comparação não permite estabelecer conclusões sobre a na-
tureza da série dada.
log n
2 log n X1
• Analogamente, por ser lim n = lim =0e uma série divergente,
n 1 n n n
n≥1
n
o segundo critério de comparação também nada permite concluir.
log n
2 log n X 1
• Mas lim n = lim √ = 0 e é uma série convergente.
n 1 n n n3/2
n≥1
n3/2
Logo, pelo segundo critério de comparação, caso (b), conclui-se que a série proposta
é convergente.

B - Critério de D’Alembert (ou da razão)


X
Este critério é motivado pela simplicidade das séries geométricas, digamos an com
an+1
an = rn−1 , que apresentam a propriedade de a razão an ser constantemente igual a r
e que convergem quando e só quando |r| < 1. Mostra-se que, dada uma série arbitrária
X
de termos positivos, digamos un , ainda que a razão uun+1
n
não seja constante, se ela
tender para certo ℓ < 1, então essa série será convergente. Analogamente, se a razão
un+1
un tender para uma constante ℓ > 1, então a série será divergente.

87
Teorema 5 [Critério de D’Alembert (ou da razão)]
un+1
Seja (un )n uma sucessão de termos positivos e suponha-se que existe ℓ = lim .
n un
X
(a) Se ℓ < 1 então a série un é convergente.
n≥1
X
(b) Se ℓ > 1 então a série un é divergente.
n≥1
X
(c) Se ℓ = 1 nada se pode concluir quanto à natureza da série un .
n≥1

Observação 5
O caso referido na lı́nea (c) do teorema não é conclusivo, porque há casos em que ℓ = 1
e a série converge e casos em que ℓ = 1 e a série diverge. Basta pensar na série gerada
por (un )n com un = 1/n, que é divergente, e na série gerada por (wn )n com wn = 1/n2 ,
un+1 wn+1
que é convergente, para as quais se tem lim = lim =1.
n un n wn
Exemplo 11
X 1
(a) é convergente. De facto,
n!
n≥1

1
(n + 1)! n! n! 1
lim = lim = lim = lim = 0 < 1.
n 1 n (n + 1)! n (n + 1) n! n n+1
n!
X (n!)2
(b) é convergente. De facto,
(2n)!
n≥1

[(n + 1)! ]2
[2(n + 1)]! (n + 1)2 (n!)2 (2n)! n+1 1
lim 2 = lim 2
= lim = < 1.
n (n!) n 2(n + 1) (2n + 1) (2n)! (n!) n 2(2n + 1) 4
(2n)!
X nn
(c) é divergente. Basta ter em conta que
n!
n≥1

(n + 1)n+1
   
(n + 1)! (n + 1)n (n + 1)n! n+1 n 1 n
lim = lim = lim = lim 1 + = e > 1.
n nn n nn (n + 1)n! n n n n
n!
X 1
(d) Por aplicação do Crtitério de D’Alembert, seria imediato concluir que é
2n
n≥1
X
convergente e que 2n é divergente.
n≥1

88
C - Critério de Cauchy (ou da raı́z)

Outro critério de aplicação muito frequente, motivado também pela simplicidade das
séries geométricas, é o que passaremos a apresentar neste parágrafo. Para tal, repare-se
que dada uma série geométrica convergente, de termos positivos, digamos
X
rn , com r ∈ [0, 1[ ,
n
X
também será convergente toda a série un tal que un ≤ rn , ou equivalentemente, tal
n
√ X
que n un ≤ r < 1. Por outro lado, se acontecer que para uma dada série un , se tem
√ n
n u > 1, então u > 1 e não se poderá ter-se u −→ 0, pelo que a série diverge.
n n n

As ideias que acabamos de expor conduzem a um resultado importante no capı́tulo das


séries, que quando formulado em termos de limite, apresenta a seguinte forma.

Teorema 6 [Critério de Cauchy (ou da raı́z)]



Seja (un )n uma sucessão de termos não negativos e suponha-se que existe ℓ = lim n
un .
n
X
(a) Se ℓ < 1 então a série un é convergente.
n≥1
X
(b) Se ℓ > 1 então a série un é divergente.
n≥1
X
(c) Se ℓ = 1 então nada se pode concluir quanto à natureza da série un .
n≥1

Observação 6
Novamente no teorema anterior, o caso referido na lı́nea (c) não é conclusivo, porque
há casos em que ℓ = 1 e a série converge e casos em que ℓ = 1 e a série diverge. Basta
pensar na série gerada por (un )n com un = 1/n, que é divergente, e na série gerada por
√ √
(wn )n com wn = 1/n2 , que é convergente, para as quais se tem lim n un = lim n wn = 1.
n n

Exemplo 12
X n
n2
(a) A série é convergente. Basta atender a que
n3 + 3n
n≥1
s n
n2 n2
lim n
= lim = 0 < 1.
n n3 + 3n n n3 + 3n

89
! √ $n2
X 2
(b) 1+ é divergente, porque
n
n≥1
v
u! √ $n2 ! √ $n √
u 2 2
= e 2 > 1.
n
lim t 1 + = lim 1 +
n n n n

X 1
(c) Por aplicação do Crtitério de Cauchy, seria imediato concluir que é conver-
2n
n≥1
X
n
gente e que 2 é divergente.
n≥1

6 Convergência absoluta e convergência simples.


X
Consideremos uma série un cujos termos têm sinal arbitrário. Formemos a correspon-
X
dente série dos módulos, |un |, que é obviamente uma série de termos não negativos,
para a qual valem todos os resultados apresentados na Secção 5. Vejamos que a con-
X X
vergência de |un | implica a convergência de un . Não podemos aplicar o primeiro
X
critério de comparação à série un , mas se separarmos os seus termos numa parte
positiva e numa parte negativa, podemos contornar este problema. Assim, definimos
duas novas séries de termos não negativos:
X
• a série dos termos positivos, pn , pondo

pn = un , se un ≥ 0, e pn = 0, se un < 0; (142)

X
• a série dos simétricos dos termos negativos, qn , pondo

qn = −un , se un ≤ 0, e qn = 0, se un > 0. (143)

Exemplo 13
Consideremos a série
X X (−1)n 1 1 1 1 1 1 1
un = = −1 + − + − + − + − ···
n 2 3 4 5 6 7 8
n≥1 n≥1

A série dos módulos é


X X1 1 1 1 1 1 1 1
|un | = = 1 + + + + + + + + ···
n 2 3 4 5 6 7 8
n≥1 n≥1

Formamos a série da parte positiva usando os termos positivos e substituindo os nega-


tivos por zero,
X 1 1 1 1
pn = 0 + + 0 + + 0 + + 0 + + ··· (144a)
2 4 6 8
n≥1

90
e formamos a série da parte negativa usando os simétricos dos termos negativos e subs-
tituindo os positivos por zero,
X 1 1 1
qn = 1 + 0 + + 0 + + 0 + + 0 + ··· (144b)
3 5 7
n≥1

Das definições, bem como do Exemplo 13, vemos que pn ≤ |un |, ∀n ∈ N, e que qn ≤ |un |,
∀n ∈ N, e ainda que (cf. as expressões (144a) e (144b))

u n = pn − q n , |un | = pn + qn , ∀n ∈ N. (145)
X X X
Então, se |un | for convergente, também convergem as séries pn e qn (primeiro
X X
critério de comparação), convergindo também a série un = (pn −qn ). Isto justifica
o seguinte resultado.

Teorema 7
X X
Se a série |un | é convergente então a série un também é convergente.

O teorema anterior estabelece que uma série não pode ser divergente se a sua série dos
módulos for convergente, facto que motiva as seguintes definições.
X
Dizemos que uma série un é absolutamente convergente quando a correspondente
X
série dos módulos, |un | , é convergente. Quando uma série é convergente mas não é
absolutamente convergente, dizemos que ela é simplesmente convergente.

Exemplo 14

(a) Uma série convergente com termos de sinal constante é absolutamente convergente.

X 1
(b) (−1)n+1 é absolutamente convergente, porque a correspondente série dos
n2
n≥1
X 1
módulos, , é uma série de Riemann convergente.
n2
n≥1

X sen n sen n 1 X 1

(c) é absolutamente convergente, porque 7 ≤ 7 , ∀n ∈ N, e é
n7 n n n7
n≥1 n≥1
uma série de Riemann convergente.

X (−1)n+1
(d) A série harmónica alternada, , não é absolutamente convergente por-
n
n≥1
que a sua série dos módulos é a série harmónica, que é divergente. Na próxima
secção veremos que esta série é simplesmente convergente.

91
7 Séries alternadas
Entre as séries com termos de sinal variável, destacam-se aquelas cujos termos são
alternadamente positivos e negativos. Estas séries apresentam a forma geral
X
(−1)n+1 an = a1 − a2 + a3 − a4 + a5 − · · ·
n≥1
ou (146)
X
(−1)n an = −a1 + a2 − +a3 + a4 − a5 + · · ·
n≥1

onde an > 0, ∀n ∈ N, e designam-se por séries alternadas. Quanto à natureza de uma série
X
alternada, pode acontecer que (−1)n+1 an seja absolutamente convergente, quando a
corespondente série dos módulos é convergente, seja simplesmente convergente, quando
a série dos módulos é divergente mas a série alternada converge, ou seja divergente. Um
resultado muito útil para estudar séries alternadas, sobretudo quando a correspondente
série dos módulos é divergente, é o seguinte.

Teorema 8 [Critério de Leibnitz (condição suficiente de convergência das séries alternadas)]


X
Seja (an )n uma sucessão decrescente e tal que lim an = 0. Então a série (−1)n+1 an
n
n≥1
é convergente.

Para justificarmos o teorema anterior, consideremos a sucessão (sn )n das somas parciais
X
da série (−1)n+1 an ,
n≥1

sn = a1 − a2 + a3 − a4 + · · · + (−1)n+1 an , n ∈ N.

Como a sucessão (an )n , de termos positivos, é decrescente, não é difı́cil reconhecer


(Figura 52) que os termos de (sn )n avançam e recuam, mas a diferença entre eles é cada
vez menor. Isto leva a concluir, por um lado, que 0 ≤ s2 ≤ sn ≤ s1 , ∀n ∈ N, e, por
outro lado, que a sucessão (s2n )n dos termos de ordem par é monótona crescente e que
a sucessão (s2n−1 )n dos termos de ordem ı́mpar é monótona decrescente.

a6 
- a5
a4 
- a3
a2 
- a1
s s s s s s s -
0 s2 s4 s6 ··· s5 s3 s1

Figura 2: Comportamento da sucessão das somas paraciais da série alternada do Teorema 8.

92
Então (s2n )n e (s2n−1 )n são limitadas e monótonas, logo convergentes. Sejam ℓ1 e ℓ2 os
respectivos limites. Como s2n − s2n−1 = a2n , vem que lim(s2n − s2n−1 ) = lim a2n , ou seja
n n
ℓ1 − ℓ2 = limn a2n . Mas lim a2n = 0, pelo que ℓ1 = ℓ2 . Assim, (s2n )n e (s2n−1 )n convergem
n
para um mesmo limite, resultando que (sn )n também converge para esse limite comum.
X
Consequentemente, a série (−1)n+1 an é convergente.
n

Observação 7
O resultado enunciado no Teorema 8 continua válido quando a sucessão (an )n é de-
crescente apenas a partir de uma certa ordem p ∈ N. Basta atender ao Teorema 2 e à
correspondente Observação 4.

Observação 8
X
Para estudar uma série alternada, (−1)n+1 an , recomenda-se, em geral, que sejam
percorridos os passos seguintes.

(i) Começa-se com o teste da divergência, Corolário 1 do Teorema 1, calculando


 
lim (−1)n+1 an ,
n

que poderá não existir ou então, existindo, seré nulo, uma vez que (−1)n+1 an n
é uma sucessão alternada. No primeiro caso, a série diverge. No segundo caso, é
necessário continuar o estudo da série.
X X
(ii) Estuda-se a série dos módulos, |(−1)n+1 an | = an , podendo recorrer-se aos
n
resultados da Secção 5. Se a série dos módulos for convergente, então a série
alternada é absolutamente convergente (Teorema 7). Se a série dos módulos for
divvergente, então nada se pode concluir sobre a série alternada. É necessário
prolongar o estudo.

(iii) Estuda-se a série alternada, recorrendo ao critério de Leibnitz (Teorema 8). Neste
caso, havendo convergência, ela será simples.

Exemplo 15
X (−1)n+1
(a) A série é simplesmente convergente.
n
n≥1

O passo (i) não conduz a conclusão alguma. O passo (ii) foi cumprido no Exemplo
14 (d) e não foi conclusivo. Passamos ao passo  (iii) e aplicamos o critério de
1 1
Leibnitz, sendo imediato que lim = 0 e que é uma sucessão decrescente,
n n n n
já que o denominador é crescente. Logo, a série é convergente (simplesmente).

93
X (−1)n+1
(b) A série √ é simplesmente convergente.
n
n≥1
Os passos (i) e (ii) não são conclusivos. Aplicamos o critério de Leibnitz, passo
(iii), e a conclusão é imediata (semelhante ao exemplo anterior).

X
n+1 n
(c) A série (−1) é simplesmente convergente.
n+5
n≥1

n
O passo (i) não é conclusivo, porque lim = 0.
n n+5

Vamos para o passo (ii) e estudamos a série dos módulos, que é divergente, como se
X 1
conclui do segundo critério de comparação recorrendo à série de Riemann √ .
n
n≥1

n
Vamos para o passo (iii) e aplicamos o critério de Leibnitz, com an = , n ∈ N.
n+5
Tem-se lim an = 0. Além disso, (an )n é decrescente para n ≥ 5, já que
n
√ r
an+1 n+1 n+5 n+1 n+5
= √ =
an n+6 n n n+6
e, portanto,

a2n+1 (n + 1)(n + 5)2 n3 + 11n2 + 35n + 25 n3 + 11n2 + 35n + 25


2
= 2
= 3 2
= 3
an n(n + 6) n + 12n + 36n (n + 11n2 + 35n) + (n2 + n)

resultando a2n+1 /a2n < 1 desde que 25 < n2 + n, o que acontece para todo n ≥ 5.
Logo, a série dada é simplesmente convergente.

X cos(nπ)
(d) A série converge absolutamente.
logn (nπ)
n≥1
cos(nπ)
Mais uma vez, o passo (i) não é conclusivo, porque lim = 0, já que o
nlogn (nπ)
numerador se mantém limitado entre −1 e 1 e o denominador tende para +∞.
X 1
Vamos para o passo (ii) e estudamos a série dos módulos, n , pois
n
log (nπ)
cos(nπ) = (−1)n , ∀n ∈ N. Usamos o critério de Cauchy (Teorema 6) e sai que
s
1 1
lim n n = lim = 0 < 1,
n log (nπ) n log(nπ)

pelo que a série dos módulos é convergente. Logo a série proposta é absolutamente
convergente.

Observação 9
O resultado do Teorema 8 é uma condição suficiente de convergência, pelo que nada se
poderá concluir quando falha alguma das hipóteses. Saliente-se, no entanto, que quando

94
an −→
6 0, a série alternada é divergente (Corolário 1 do Teorema 1), já que também
(−1)n+1 an −→
6 0. Ver o Exemplo 16 (a). Os casos mais complexos são aqueles em que
an −→ 0 mas não é decrescente. Ver os Exemplos 16 (b) e (c).

Exemplo 16
X n+5 n+5
(a) A série (−1)n+1 é divergente, porque não existe lim(−1)n+1 .
n n n
n≥1


X
n+1 1/n2 se n par,
(b) A série (−1) an , com an = converge absolutamente.
1/n3 se n ı́mpar,
n≥1
1
Basta atender a que a série dos módulos é convergente, uma vez que an ≤ 2 , ∀n ∈
X 1 n
N, e que é uma série de Riemann convergente. A conclusão segue do
n2
n≥1
primeiro critério de comparação,Teorema 3. Repare-se que o critério de Leibnitz
não é aplicável à série proposta, uma vez que a sucessão (an )n não é decrescente
a partir de ordem alguma.

X 1/n2 se n par,
(c) A série (−1)n+1 bn , com bn = é divergente.
1/n se n ı́mpar,
n≥1
X
• Em primeiro lugar, vejamos que a série dos módulos, bn , é divergente.
n≥1
De facto, podemos escrever
 
X 1 1 1 1 1 1 X 1 1
bn = 1 + 2 + + 2 + + 2 + + · · · = +
2 3 4 5 6 7 2n − 1 (2n)2
n≥1 n≥1

X 1
e como é uma série divergente (comparar com a série harmónica através
2n − 1
n≥1
X 1 X 1
do segundo critério de comparação, Teorema 4) e 2
= é uma série
(2n) 4n2
n≥1 n≥1
convergente, a conclusão segue da Propriedade 3 apresentada na Secção 2.

• O critério de Leibnitz, Teorema 8, não é aplicável à série alternada porque a


sucessão (bn )n não é decresente a partir de ordem alguma.

• No entanto, atendendo a que


X 1 1 1 1 1 1 X 1 1

(−1)n+1 bn = 1 − 2 + − 2 + − 2 + − · · · = − ,
2 3 4 5 6 7 2n − 1 (2n)2
n≥1 n≥1

conclui-se, novamente pela Consequêncuia 3, que a série alternada é divergente.

95
8 Comutatividade de séries
A comutatividade da adição com um número finito de parcelas não é preservada, como
veremos a seguir, quando passamos a considerar um número infinto de parcelas. Vere-
mos, em particular, que podemos perder a convergência de uma série se tomarmos as
suas parcelas por uma ordem diferente da inicial.

Exemplo 17
Consideremos a série harmónica alternada (Exemplo 15 (a)), que sabemos ser simples-
mente convergente. Seja S a soma desta série. Então
1 1 1 1 X (−1)n+1
S = 1 − + − + − ··· = (147)
2 3 4 5 n
n≥1

e também (Propriedade 1(b), Secção 2)


S 1 1 1 1 1 X (−1)n+1
= − + − + − ··· = (148)
2 2 4 6 8 10 2n
n≥1

pelo que, acrescentando parcelas nulas na série de (148), vem ainda (Propriedade 1(a),
Secção 2)
S 1 1 1 1 1 X (−1)n+1

=0+ +0− +0+ +0− +0+ − ··· = 0+ . (149)
2 2 4 6 8 10 2n
n≥1

Adicionando ordenadamente as séries das expressões (147) e (149), resulta


3S 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
=1+ − + + − + + − + + − + + ··· (150)
2 3 2 5 7 4 9 11 6 13 15 8 17
que representa uma série com os mesmos termos da série harmónica alternada da expres-
são (147), tomados desta vez por outra ordem, com soma diferente da inicial.

O Exemplo 17 mostra que uma reordenação nos termos de uma série simplesmente
convergente pode conduzir a uma série com soma diferente da inicial. Mais em geral,
vale o seguinte resultado.

Teorema 9 [Riemann]
X
Seja un uma série simplesmente convergente. Então:
n≥1

(a) fixado arbitrariamente um número real s ∈ R, é possı́vel reordenar os termos da


série dada de modo a que a série resultante seja convergente e possua soma s;

(b) é possı́vel reordenar os termos da série dada, de modo a que a série resultante seja
divergente com a correspondente sucessão das somas parciais
(i) a tender para +∞;
(ii) a tender para −∞;
(iii) a ser divergente oscilante.

96
O procedimento que, a partir de uma série simplesmente convergente, permite obter uma
série com uma soma diferente, ou mesmo uma série divergente, assenta na separação
dos termos da série dada nas suas partes positiva e negativa, definidas em (142) e (143).
X
Consideremos então uma série un , simplesmente convergente. Temos lim un = 0.
n
X X
Além disso, as séries pn e qn também são divergentes. De facto, se assim não
X
fosse, então pelo menos uma delas seria convergente, por exemplo pn . Da primeira
igualdade em (145) sairia a convergência da outra (Propriedade 1(a), Secção 2) e da
X
segunda igualdade em (145) sairia a convergência de |un |, o que é absurdo, uma vez
X
que a convergência de un é apenas simples. Assim sendo, tem-se

lim (p1 + p2 + · · · + pn ) = +∞ , lim (−q1 − q2 − · · · − qn ) = −∞, (151)


n n
X
o que significa que é possı́vel somar um número finito de parcelas da série pn e da
X
série qn até obter uma soma qualquer positiva.

(a) Fixemos um número real positivo s, qualquer. Reordenemos os termos da série


dada procedendo da seguinte forma:

• começamos por somar os primeiros termos de (pn )n até à menor ordem, digamos
k1 , para a qual se tem, pela primeira vez,

p1 + p2 + · · · + pk1 > s,

o que é possı́vel pela primeira condição de (151);

• em seguida, somamos os termos de (−qn )n até à menor ordem, digamos k2 , para


a qual se tem, pela primeira vez,

(p1 + p2 + · · · + pk1 ) + (−q1 − q2 − · · · − qk2 ) < s,

o que é possı́vel pela segunda condição de (151);

• somamos novamente os termos de (pn )n , desde a ordem k1+1 até à menor ordem
k3 , para a qual se tem, pela segunda vez,

(p1 + p2 + · · · + pk1 ) + (−q1 − q2 − · · · − qk2 ) + (pk1 +1 + pk1 +2 + · · · + pk3 ) > s.

Prolongando este raciocı́nio, obtém-se a reordenação procurada. Para a série assim


obtida, a sucessão (sn )n das somas parciais oscila em torno de s, com oscilações
de amplitude cada vez menor, convergindo para s.

(b) Para (i), por exemplo, somamos primeiro termos positivos até à ordem k1 para a
qual se tem, pela primeira vez,

p1 + p2 + · · · + pk1 > 1.

97
De seguida, somamos apenas o primeiro termo negativo, −q1 . Agora, somamos
novamente termos positivos até à ordem k2 até obter, pela primeira vez,

(p1 + p2 + · · · + pk1 ) − q1 + (pk1 +1 + pk1 +2 + · · · + pk2 ) > 2.

Somamos apenas o segundo termo negativo, −q2 , e outra vez termos positivos até
obter

(p1 + · · · + pk1 ) − q1 + (pk1 +1 + · · · + pk2 ) − q2 + (pk2 +1 + · · · + pk3 ) > 3.

E assim sucessivamente. Como qn −→ 0, conclui-se que a sucessão das somas


parciais da série resultante desta reordenação itá tender para +∞.

(ii) De maneira semelhante, podemos reordenar os termos da série de modo a que


a correspondente sucessão das somas parciais tenda para −∞.

(iii) Para obter uma série cuja sucessão das somas parciais oscile em torno de dois
números reais, o raciocı́nio é semelhante.

Por outro lado, o Teorema 10 que iremos enunciar garante que uma reordenação nos
termos de uma série absolutamente convergente não modifica a natureza nem a soma
da série.

Teorema 10 [Dirichlet]
X
Seja un uma série absolutamente convergente de soma s. Então qualquer reordenação
n≥1
desta série conduz a uma série absolutamente convergente com a mesma soma s.

O Teorema 10 legitima a propriedade comutativa no contexto das somas com um número


infito de parcelas. Com ele terminamos este capı́tulo.

FIM

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