Você está na página 1de 14

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA

Instrumentação para o ensino de Matemática-I -CB0620


Perı́odo: 2023-1- Data-21/03/2023-Primeira parte
Professor: Abdênago Barros

1 Programa
1. Conjuntos numéricos: N, Z, Q e R.

2. Sequências de números reais.

3. Séries númericas.

4. Representação decimal de números reais.

5. Representação de números reais numa base {b}.

1.1 Avaliação da disciplina


1. Exercı́cios semanais.

2. Exposição sobre representação de números reais numa base {b 6= 10}.

3. Um trabalho final para ser entregue até o dia 13 de julho de 2023.

1.2 Nota da disciplina


A nota será calculada pelas atividades apresentadas nos itens anteriores, sendo que cada ativi-
dade terá o mesmo peso na computação da nota.

2 Introdução
Supondo que já conhecemos os números racionais, vamos iniciar com a seguinte soma:

1 1 1 1 1
S =1+ + + + + + ... (1)
2 4 8 16 32
Multiplicando esta soma por 2 e usando a distributividade obtemos

1 1 1 1 1
2S = 2 + 1 + + + + + + . . . = 2 + S. (2)
2 4 8 16 32
Daı́ deduzimos que S = 2.
Agora consideremos a soma

S = 1 + 2 + 4 + 8 + 16 + 32 + . . . (3)

Multiplicando esta soma por 2 e usando novamente a distributividade obtemos


2S = 2 + 4 + 8 + 16 + 32 + . . . = −1 + 1 + 2 + 4 + 8 + 16 + 32 + . . . = −1 + S (4)

Daı́ deduzimos que S = −1.


Outro exemplo similar é o seguinte:

S = 1 − 1 + 1 − 1 + 1 − 1 + 1 − 1 + ... (5)

Fatorando o sinal obtemos


S = 1 − 1 − 1 + 1 − 1 + 1 − 1 + 1 − 1 + . . . = 1 − S. (6)

Daı́ deduzimos que

1
S= (7)
2
Por outro lado podemos escrever

S = (1 − 1) + (1 − 1) + (1 − 1) + (1 − 1) + . . . = 0 + 0 + 0 + 0 + . . . = 0. (8)

Ao invés disto também podemos escrever

S = 1 + (−1 + 1) + (−1 + 1) + (−1 + 1) + (−1 + 1) + . . . = 1 + 0 + 0 + 0 + 0 + . . . = 1. (9)

Pergunta 1. Existe alguma afirmação correta?

2
2.1 Decimais
Definição 1. Uma decimal é uma sequência cujos elementos pertencem ao conjunto dos alga-
rismos A = {0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9}.

Dado um número real x ∈ [0, 1] podemos sempre representá-lo na forma de uma decimal

x = 0, a1 a2 a3 . . . , (10)

onde a1 , a2 , a3 . . . pertencem ao conjunto dos algarismos A = {0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9}.

Exemplo 1. Dados os números x = 0, 100 . . ., y = 0, 0999 . . . e z = 0, 333 . . . eles são diferen-


tes?

2.2 Soma especial


Seja x ∈ X de maneira que exista uma soma e uma multiplicação em X e 1 ∈ X. Vamos denotar
por S a soma
n
X
S =1+ xk .
k=1

Supondo que podemos multiplicar por 1


1−x = (1 − x)−1 deduzimos que
n
X 1 − xn+1 1 xn+1
1+ xk = = − . ?
1−x 1−x 1−x
k=1

3 Números Naturais N
O conjunto dos números naturais N é caracterizado pelos seguintes fatos os quais são chamados
axiomas de Peano:

Axioma 1 Existe uma função injetiva s : N → N. A imagem s(n) de cada número natural n ∈ N
chama-se sucessor de n.

Axioma 2 Existe um único número natural, denotado por 1 ∈ N, tal que s(n) 6= 1 para todo n ∈ N.

Axioma 3 Se um conjunto S ⊂ N é tal que 1 ∈ S e n ∈ S ⇒ s(n) ∈ S, então S = N. Este axioma é


conhecido como princı́pio da indução.

Como consequência destes axiomas vamos apresentar os seguinte teoremas.

Teorema 1. Dado um número natural q ∈ N com q 6= 1, existe um único p ∈ N tal que s(p) = q.

3
Demonstração. Vamos supor que s(p) 6= q para todo p ∈ N. Comparando com o Axioma 2
deduzimos que esse q tem a mesma propriedade do número 1. Pela unicidade do número 1 temos
que q = 1. Como estamos supondo q 6= 1 concluı́mos que existe p ∈ N tal que s(p) = q. Além
disso, se s(n) = q deduzimos que s(p) = s(n). Agora aplicamos o Axioma 1 para concluirmos
que p = n, pois s é injetiva.

Teorema 2. Dado um número natural q ∈ N temos que s(q) 6= q.

Demonstração. Seja S = {n ∈ N : n 6= s(n)}. Pelo Axioma 2 vemos que 1 ∈ S. Sendo s injetiva


se n ∈ S, i.e. n 6= s(n), então s(n) 6= s(s(n)), ou seja s(n) ∈ S. Logo pelo princı́pio da indução
S = N.

3.1 Operações em N
No conjunto N dos números naturais estão definidas duas operações fundamentais: a adição
associando a cada par (m, n) sua soma +(m, n) = m + n, e a multiplicação associando a cada
par (m, n) seu produto .(m, n) = m.n. Estas operações são caracterizadas pelos seguintes
axiomas:
m + 1 = s(m);
m + s(n) = s(m + n);
m.1 = m;
m.(n + 1) = m.n + m.1 = m.n + m.
Usando o princı́pio da indução demonstramos as seguintes propriedades destas operações:
associatividade: (m + n) + p = m + (n + p) (m.n).p = m.(n.p);
distributividade: m.(n + p) = m.n + m.p;
comutatividade: m + n = n + m m.n = n.m;
lei do corte: m + n = m + p ⇒ n = p m.n = m.p ⇒ n = p.

Exemplo 2. Vamos provar que 1 + n = n + 1 para todo n ∈ N. Com efeito, seja

S = {n ∈ N : n + 1 = 1 + n}.

Veja que 1 ∈ S pois 1 + 1 = 1 + 1. Se n ∈ S tem-se 1 + n = n + 1. Pela definição da soma temos


que 1 + s(n) = s(1 + n). Mas como n ∈ S temos que s(1 + n) = s(n + 1) = s(s(n)) = s(n) + 1.
Logo, 1 + s(n) = s(1 + n) = s(n) + 1. Ou seja, s(n) ∈ S. Pelo princı́pio da indução concluı́mos
que S = N.

Exemplo 3. Vamos provar que m + n = n + m para todo m, n ∈ N. Com efeito, fixado m ∈ N


seja
Y = {n ∈ N : m + n = n + m}.

4
Veja que 1 ∈ Y pelo Exemplo (2). Se n ∈ Y tem-se m + n = n + m. Pela definição da soma
temos que

m + s(n) = s(m + n)
= s(n + m)
= (n + m) + 1
= n + (m + 1)
= n + (1 + m)
= (n + 1) + m
= s(n) + m,

i.e. m + s(n) = s(n) + m. Mas isto implica que s(n) ∈ Y. Usando o princı́pio da indução
deduzimos que Y = N. Agora, usamos a arbritariedade de m para concluir que tal propriedade
vale para todos m, n ∈ N.

Denotando 2 = s(1), 3 = s(2) e assim sucessivamente, usaremos a notação clássica para o


conjunto dos números naturais:

N = {1, 2, 3, 4, . . . , n, . . .}.

3.2 Ordem em N
Existe uma relação de ordem em N assim definida: dizemos que m é menor que n e escrevemos
m < n se existe p ∈ N tal que n = m + p. A notação m ≤ n significa que m < n ou m = n.
Inicialmente vamos provar o seguinte teorema.

Teorema 3. Dado n ∈ N não existe m ∈ N tal que n < m < s(n).

Demonstração. Vamos supor que exista m ∈ N tal que n < m < s(n). Usando que m > n temos
que existe p ∈ N tal que m = n + p. Mas s(n) > m implica que s(n) = m + q para algum q ∈ N.
Logo n + 1 = s(n) = m + q = (n + p) + q, ou seja n + 1 = n + (p + q). Pela lei do corte temos
que 1 = p + q. Se q = 1 terı́amos 1 = p + 1 = s(p) contrariando o Axioma 2. Logo q 6= 1. Pelo
Teorema (1) existe r ∈ N tal que s(r) = q. Daı́ concluı́mos que 1 = p + s(r) = s(p + r) que
contradiz novamente o Axioma 2.

3.2.1 Elemento mı́nimo


Vamos provar que existe um elemento mı́nimo em N.

Teorema 4. O número 1 é o menor elemento de N.

5
Demonstração. Vamos supor que exista p ∈ N tal que p < 1. Isto significa que 1 = p + q para
algum q ∈ N. Como p < 1 aplicando o Teorema (1) obtemos r ∈ N tal que s(r) = p. Assim
podemos escrever 1 = p + q = s(r) + q = s(r + q) contrariando novamente o Axioma 2.

Teorema 5. O número 2 = s(1) é diferente do número 4 = s(3).

Demonstração. Vamos supor que 2 = 4, ou seja s(1) = s(3). Usando a injetividade de s dada
pelo Axioma 1, deduzimos que 1 = 3 = s(2). Mas isto contradiz novamente o Axioma 2. Logo
2 6= 4.

3.3 Exemplo
Usando o princı́pio da indução discutiremos a seguinte propriedade:

2 1 + 2 + · · · + n = n.(n + 1) ∀n ∈ N. (11)
De fato, seja S = {n ∈ N : (11) é verdadeira}.
 Observe que 1 ∈ S, pois 2.1 = 1.(1 + 1) = 1.2.
Supondo n ∈ S, i.e. 2 1 + 2 + · · · + n = n.(n + 1) vamos mostrar que s(n) ∈ S. Com efeito,
usando o Teorema (3) sabemos que após n teremos s(n). Assim temos

 
2 1 + 2 + · · · + n + s(n) = 2 1 + 2 + · · · + n + (n + 1)

= 2(1 + 2 + · · · + n + 2(n + 1)
= n(n + 1) + 2(n + 1)
= (n + 1)(n + 2)
= (n + 1)(n + 1 + 1)
= s(n)(s(n) + 1),

i.e. s(n) ∈ S. Pelo Axioma da 3 deduzimos que S = N.


Observação: em geral esta propriedade é apresentada da seguinte maneira:

n(n + 1)
1 + 2 + ··· + n = .
2
Convém observar que a última linha apresenta uma divisão que não está definida em N.
Usando o princı́pio da indução provamos a seguinte proposição que é conhecida como o
princı́pio da boa ordenação:

Teorema 6. Todo subconjunto não vazio A ⊂ N possui um menor elemento, i.e. existe k ∈ A
tal que k ≤ n para todo n ∈ A.

6
Demonstração. Se 1 ∈ A temos pelo Teorema (4) que 1 ≤ n para todo n ∈ A. Caso contrário,
seja B = {x ∈ N : x ≤ n, ∀ n ∈ A}. Como 1 ∈ B temos que B 6= Φ. Observe que se

a ∈ A ⇒ s(a) > a ⇒ s(a) ∈


/ B ⇒ B 6= N.

Por outro lado existe b ∈ B : s(b) ∈


/ B pois caso contrário B = N. Observe que s(b) ∈
/ B ⇒
∃ a ∈ A : a ≤ s(b). Como b ∈ B temos que

b ≤ n, ∀ n ∈ A. (12)

Se b ∈
/ A então b < n ∀ n ∈ A. Daı́ deduzimos que s(b) ≤ n ∀ n ∈ A, pois não existe elemento
entre b e s(b). Ou seja, s(b) ∈ B. Mas vimos que s(b) ∈
/ B. Portanto, b ∈ A e este é o menor
elemento de A.

4 Exercı́cios
1. Prove que (m + n) + p = m + (n + p) para todo m, n, p ∈ N.

2. Prove que (m.n).p = m.(n.p) para todo m, n, p ∈ N.

3. Prove que m.n = n.m para todo m, n ∈ N.

4. Prove que m.(n + p) = m.n + m.p para todo m, n, p ∈ N.

5. Prove que m + n = m + p ⇒ n = p para todo m, n, p ∈ N.

6. Prove que m.n = m.p ⇒ n = p para todo m, n, p ∈ N.

Os exercı́cios devem ser resolvidos e devolvidos até o dia 3 de dezembro obdecendo a seguinte or-
dem correspondente ao número de matrı́cula: 1-408536; 2-427829;3-421972;4-369380;5-422321;6-
427420.

5 O conjunto dos números inteiros Z


Adicionamos o elemento 0 a N e definimos as seguintes propriedades:

0 + n = n + 0 = n, ∀ n ∈ N ∪ {0},
0.n = n.0 = 0, ∀ n ∈ N ∪ {0},
0 < n, ∀ n ∈ N.

7
Dados n, m em N com n < m sabemos que existe p ∈ N tal que n + p = m. Definimos −p
com a seguinte propriedade: m + (−p) = n. Então o conjunto dos números inteiros denotado
por Z é definido por:

Z = {−p : p ∈ N} ∪ {0} ∪ {N}.


Propriedades semelhentes àquelas de N são válidas para Z. Ou seja,
associatividade: (m + n) + p = m + (n + p) e (m.n).p = m.(n.p);
distributividade: m.(n + p) = m.n + m.p;
comutatividade: m + n = n + m e m.n = n.m;
lei do corte :m + n = m + p ⇒ n = p e m.n = m.p ⇒ n = p.v;
elemento neutro: m + 0 = 0 + m = m;
elemento simétrico: m + (−m) = 0.

6 Exercı́cios
1. Prove que (m + n) + p = m + (n + p) para todo m, n, p ∈ Z.

2. Prove que (m.n).p = m.(n.p) para todo m, n, p ∈ Z.

3. Prove que m.n = n.m para todo m, n ∈ Z.

4. Prove que m.(n + p) = m.n + m.p para todo m, n, p ∈ Z.

5. Prove que m + n = m + p ⇒ n = p para todo m, n, p ∈ Z.

6. Prove que m.n = m.p ⇒ n = p para todo m, n, p ∈ Z.

7 Conjunto especial
Vamos definir F = {(m, n) ∈ Z × Z∗ } com as seguintes propriedades:
•F 1 : (m, n) = (p, q) ⇔ mq = np
•F 2 : (m, n) + (p, q) = (mq + np, nq)
•F 3 : (m, n) × (p, q) = (mp, nq)

7.1 Multiplicação
Observe que para todo k ∈ Z∗ temos (m, n) = (km, kn). De fato, por F1 (m, n) = (km, kn) ⇔
m(kn) = n(km), mas isto ocorre em Z∗ . Logo temos que

(m, n) = (km, kn) (13)

8
Em particular, se k ∈ Z∗ então temos que vale o seguinte:

(1, 1) = (k, k). (14)


Agora observe que (m, n) × (1, 1) = (m.1, n.1) = (m, n), ou seja

(m, n) × (1, 1) = (m, n) (15)

para todo (m, n) ∈ Z × Z∗


Considerando agora (m, n) ∈ Z∗ × Z∗ temos que

(m, n) × (n, m) = (mn, nm)


= (1, 1)

onde usamos a relação (14).

7.2 Soma
Inicialmente observemos que (0, 1) = (0, k) para todo k ∈ Z∗ . Com efeito, (0, 1) = (0, k) ⇔
0.k = 1.0 Mas isto ocorre para todo k ∈ Z∗ . Consequentemente, temos a seguinte relação:
(m, n) + (0, 1) = (m.1 + n.0, n.1) = (m, n). Ou seja

(m, n) + (0, 1) = (m, n) (16)

para todo (m, n) ∈ Z×Z∗ . Além disso, (m, n)+(−m, n) = (m.n+n.(−m), n.n) = (0, n2 ) = (0, 1).
Consequentemente temos o seguinte:

(m, n) + (−m, n) = (0, 1) (17)


para todo (m, n) ∈ Z × Z∗ .

7.3 A equação x2 = (2, 1)


Vamos mostrar que não existe x = (m, n) ∈ F : x2 = (2, 1). Podemos supor sem perda de
generalidade que m, n ∈ N. Além disso, se existem (m, n) ∈ N × N podemos usar o Princı́pio
da Boa Ordenação para garantir que existem m e n menores elementos em N gozando de tal
propriedade. Ora se existisse, terı́amos (m, n) × (m, n) = (m2 , n2 ) = (2, 1) ⇔ m2 .1 = n2 .2.
Se m = n ⇒ m2 = 2m2 ⇒ 1 = 2 = s(1), contradizendo o Axioma 1 de Peano. Logo
m = n + p ⇒ n2 + p2 + 2np = 2n2 ⇒ p2 + 2np = n2 ⇒ n = p + q ⇒ m = 2p + q ⇒
2p2 + 2pq = q 2 + 2pq ⇒ 2p2 = q 2 com q < m, contradizendo que m era o menor elemento com
tal propriedade.

Exercı́cio 1. Prove que a equação x2 + (1, 0) = (0, 1) não tem solução em F.

9
Exercı́cio 2. Prove as seguintes propriedades em F:
1. associatividade: (x + y) + z = x + (y + z) e (xy)z = x(yz);

2. distributividade: x(y + z) = xy + xz;

3. comutatividade: x + y = y + x e xy = yx;

4. lei do corte : x + y = x + z ⇒ y = z e x.z = y.z ⇒ x = y se z 6= (0, 1);


Teorema 7 (Teorema Fundamental da Aritmétrica). Todo número ineiro positivo é escrito
como produto números primos.
Demonstração. Suponha que o teorema seja válido para 1 < n < N ; note que isso é verdadeiro
para N = 2. Seja p o menor divisor de N maior que 1. Então p deve ser primo (por quê?.)
N
Agora, se n = então n < N . Logo, ou n = 1, ou então, por hipótese, n é um produto de
p
primos. Em qualquer caso, segue-se que N = np é um produto de primos. Portanto por indução
todo número inteiro maior que 1 é um produto de números primos.

8 N, Z, e F têm a mesma quantidade de elementos


O objetivo desta seção é mostrar que existe uma aplicação sobrejetiva ϕ : N → F.

8.1 Bijeção entre N e Z


Inicialmente observe que existe uma bijeção entre N e Z. Com efeito, definimos a função b1 :
N → Z pondo: 
n − 1, se n é ı́mpar;
2b1 (n) =
−n, se n é par.
Convém observar que b1 está bem definida pois as operações que aparecem são realizadas
em Z. Por exemplo,

2b1 (1) = 1 − 1 = 0; 2b1 (2) = −2 ⇒ f (2) = −1; 2b1 (3) = 3 − 1 = 2 ⇒ b1 (3) = 1.

Vamos supor inicialmente que n e m são ı́mpares. Sejam n = 2k + 1 e m = 2q + 1 com k 6= q.


Neste caso temos 2b1 (n) = n − 1 = 2k 6= 2b1 (m) = m − 1 = 2q. Ou seja 2b1 (n) 6= 2b1 (m) ⇒
b1 (n) 6= b1 (m). Agora suponhamos que n e m são pares. Sejam n = 2k e m = 2q com k 6= q.
Neste caso temos 2b1 (n) = −n = −2k 6= 2b1 (m) = −m = −2q. Ou seja 2b1 (n) 6= 2b1 (m) ⇒
b1 (n) 6= b1 (m). Finalmente, vamos supor que n = 2k e m = 2r + 1 e 2b1 (n) = 2b1 (m). Pela
definição de b1 deverı́amos ter −2k = 2r ⇒ r = −k. Como r e k pertencem ao conjunto N isso
não pode ocorrer. Consequentemente, deduzimos que b1 é injetiva.

10
Vamos mostrar a sobrejetividade. Dado z ∈ Z vamos encontrar n ∈ N : b1 (n) = z. Se
z = 2m > 0 escolha n = 4m + 1 ∈ N. Assim temos 2b1 (n) = n − 1 = 4m ⇒ b1 (n) = 2m = z.
Se z = 2m < 0 escolha n = −4m ∈ N. Assim temos 2b1 (n) = −n = 4m ⇒ b1 (n) = 2m = z.
Por outro lado, se z = 2m + 1 > 0 escolha n = 4m + 3 ∈ N. Assim temos 2b1 (n) = n − 1 =
4m + 2 ⇒ b1 (n) = 2m + 1 = z. Se z = 2m + 1 < 0 escolha n = −4m − 2 ∈ N. Assim temos
2b1 (n) = −n = 4m + 2 ⇒ b1 (n) = 2m + 1 = z. Com isso, concluı́mos que b1 é sobrejetiva.
Logo b1 é uma bijeção. Isto mostra que os conjuntos N e Z possuem a mesma quantidade de
elementos.

8.2 Bijeção entre N e Z∗


Denotando Z∗ = Z\{0} defina b2 : N → Z∗ por

n + 1, se n é ı́mpar;
2b2 (n) =
−n, se n é par.

De maneira inteiramente análoga ao caso anterior provamos que b2 é uma bijeção. Com efeito,
consideremos o caso em que n e m são ı́mpares. Sejam n = 2k + 1 e m = 2q + 1 com
k 6= q. Neste caso temos 2b2 (n) = n + 1 = 2k + 2 6= 2b2 (m) = m + 1 = 2q + 2. Ou seja
2b2 (n) 6= 2b2 (m) ⇒ b2 (n) 6= b2 (m). Agora suponhamos que n e m são pares. Sejam n = 2k e
m = 2q com k 6= q. Neste caso temos 2b2 (n) = −n = −2k 6= 2b2 (m) = −m = −2q. Ou seja
2b2 (n) 6= 2b2 (m) ⇒ b2 (n) 6= b2 (m). O caso n par e m ı́mpar é semelhante ao caso anterior. Daı́
deduzimos que b2 é injetiva.
Vamos mostrar a sobrejetividade. Dado z ∈ Z vamos encontrar n ∈ N : b2 (n) = z. Se z =
2m+2 > 0 escolha n = 4m+3 ∈ N. Assim temos 2b2 (n) = n+1 = 4m+4 ⇒ b2 (n) = 2m+2 = z.
Se z = 2m < 0 escolha n = −4m ∈ N. Assim temos 2b2 (n) = −n = 4m ⇒ b2 (n) = 2m = z.
Por outro lado, se z = 2m + 1 > 0 escolha n = 4m + 1 ∈ N. Assim temos 2b2 (n) = n + 1 =
4m + 2 ⇒ b2 (n) = 2m + 1 = z. Se z = 2m + 1 < 0 escolha n = −4m − 2 ∈ N. Assim temos
2b2 (n) = −n = 4m + 2 ⇒ b2 (n) = 2m + 1 = z. Com isso, concluı́mos que b2 é sobrejetiva.
Logo b2 é uma bijeção. Isto mostra que os conjuntos N e Z possuem a mesma quantidade de
elementos.

8.3 Bijeção entre N × N e Z × Z∗


A função b : N × N → Z × Z∗ definida por b = (b1 , b2 ) é uma bijeção.
Observe que dado (n, m) 6= (p, q) ∈ N × N temos que b(n, m) = (b1 (n), b2 (m)) e b(p, q) =
(b1 (p), b2 (q)). Ora se b(n, m) = b(p, q) então

(b1 (n), b2 (m)) = (b1 (p), b2 (q)) ⇒ b1 (n) = b1 (p) e b2 (m) = b2 (q) ⇒ n = p e m = q ⇒ (n, m) = (p, q).

Ou seja b é injetiva.

11
Agora dado (x, y) ∈ Z×Z∗ sabemos que existe n ∈ N : b1 (n) = x e existe m ∈ N : b2 (m) = y,
pois as funções b1 e b2 são bijeções. Isto mostra que b é sobrejetiva também. Daı́ deduzimos
que b é bijeção.

8.4 Bijeção entre N × N e N

Defina b3 : N × N → Z pondo b3 (1, n) = 2n − 1 e b3 (m + 1, n) = 2m (2n − 1).


Veja que b3 é injetiva. De fato, se x = (1, m) ∈ N × N e y = (1, q) ∈ N × N então b3 (x) =
b3 (1, n) = 2n − 1 e b3 (y) = b3 (1, q) = 2q − 1. Daı́ b3 (x) 6= b3 (y) se x 6= y. Pela mesma razão se
x = (m + 1, n) ∈ N × N e y = (q + 1, p) ∈ N × N temos que b3 (x) = b3 (m + 1, n) = 2m (2n − 1) e
b3 (y) = b3 (q+1, p) = 2q (2p−1). Daı́ b3 (x) = b3 (y) ⇒ 2m (2n−1) = 2q (2p−1). Pela decomposição
em fatores primos de um número natural teremos m = q e n = p, ou seja x = y. Isto nos diz
que b3 é injetiva. Mas, como n ≥ 1 pois n ∈ N temos que b3 (N × N) = N. Logo, b3 é bijetiva
sobre sua imagem.

8.5 Sobrejeção entre Z × Z∗ e F

Defina s : Z × Z∗ → F pondo s(m, n) = (m, n). É fácil mostrar que s é sobrejetiva. De


fato, dado y = (m, n) ∈ F basta escolher x = (m, n) ∈ Z×Z∗ . Então s(x) = y, ou seja s é
sobrejetiva. Observe que s(m, n) = s(2m, 2n). Assim, s não é injetiva. De fato, se k ∈ Z∗ então
s(m, n) = s(km, kn), pois s(km, kn) = km m
kn = n = s(m, n).
Dada uma aplicação f : X → Y a imagem inversa de um elemento y ∈ Y denotada por
f −1 (y) = {x ∈ X : f (x) = y}. Por exemplo, se f : N × N → Z é dada por f (1, n) = 2n − 1
e f (m + 1, n) = 2m (2n − 1) temos que f −1 (4) = {(n, m) ∈ N × N : f (n, m) = 4}. Neste caso,
(n, m) = (2, 1).

8.6 Bijeção entre N0 × N00 e F

Se considerarmos as aplicações anteriores b e s, veja que a aplicação g : N × N → F dada por


g(x) = s ◦ b(x) é sobrejetiva.
Por outro lado, dado y ∈ F temos g −1 (y) = {(m, n) ∈ N × N : g(m, n) = y}. Ou seja,
g −1 (y) = A × B ⊂ N × N tal que o par (m, n) ∈ A × B é tal que g(m, n) = y. Pelo princı́pio da
boa ordenação existem elementos p ∈ A : p ≤ m ∀ m ∈ A e q ∈ B : q ≤ n ∀ n ∈ B. Considerando
o conjunto C = {(p, q) ∈ A × B} formado por esses elementos mı́nimos temos que a restrição
de g ao conjunto C é uma bijeção. Então N0 = A e N00 = B.

12
8.7 Sobrejeção entre N e F
Observemos o diagrama formado pelas aplicações dadas anteriormente.
#
(m, n) ∈ N × N
b / (kp, kq) ∈ Z × Z∗ .

b3 s
 ϕ

xk,p,q ∈ N / p ∈F
q
" !
(18)

Observe que devemos ter b1 (m) = kp e b2 (n) = kq. Mas b1 (m) = m−12 = kp ⇒ m = 2kp + 1
ou b1 (m) = − m 2 = kp ⇒ m = −2kp. Prossegue de maneira semelhante para escolha de
b2 (n) = kq. Daı́ b3 (m, n) = 2m−1 (2n − 1) = xk,p,q .
Como b3 é bijetiva se definirmos ϕ = s ◦ b ◦ b−1
3 : N → Q temos que ϕ é sobrejetiva. Ou seja

 
N ×O N
b / Z × Z∗ .

b−1
3
s
ϕ 
N /F
 
(19)
6
Exemplo 4. Dado o número 7 vamos encontrar o menor elemento em N que faz o dia-
grama (19) comutar.

Demonstração. Veja que s−1 ( 67 ) = (6k, 7k) com k ∈ Z∗ . Agora , b(x, y) = (6k, 7k) ⇔ b1 (x) = 6k
e b2 (y) = 7k.
Caso 1. Vamos supor que x é ı́mpar. Nesse caso devemos ter 2b1 (x) = x − 1 = 12k, ou
seja x = 12k + 1. Ora como x ∈ N devemos ter k > 0. Por outro lado, se y é ı́mpar, nesse
caso devemos ter 2b2 (y) = y + 1 = 14k, ou seja y = 14k − 1. Agora se y é par, nesse caso
devemos ter 2b2 (y) = −y = 14k, ou seja y = −14k. Sendo k > 0 temos que y ∈ / N. Assim,
se x é ı́mpar y também será ı́mpar. Ou seja x = 12k + 1 e y = 14k − 1. Agora observe que
b3 (12k + 1, 14k − 1) = 212k (2(14k − 1) − 1) = 212k (28k − 3).
Caso 2. Vamos supor que x é par. Nesse caso devemos ter 2b1 (x) = −x = 12k, ou seja
x = −12k. Ora como x ∈ N devemos ter k < 0. Por outro lado, se y é ı́mpar, nesse caso
devemos ter 2b2 (y) = y + 1 = 14k, ou seja y = 14k − 1 ∈ N. Sendo k < 0 isso não pode
ocorrer. Assim, y é par. Nesse caso devemos ter 2b2 (y) = −y = 14k, ou seja y = −14k.
Fazendo −k = j > 0 temos que x = 12j e y = 14j. Agora observe que b3 ((12j − 1) + 1, 14j) =
212j−1 (2(14j) − 1) = 212j−1 (28j − 1), com j ∈ N.

13
Usando os dois casos, e trocando k por j no primeiro caso, concluı́mos que
6
ϕ−1 = {212j (28j − 3), 212j−1 (2(14j) − 1), j ∈ N}.
7
Agora observe que o menor valor deste conjunto é o número

212−1 (28 − 1) = 211 (27) < 212 (28 − 3) = 212 25.

Exercı́cio 3. Dados os elementos {(2, 3); (3, 4)} encontre o menor elemento em N que faz o
diagrama (19) comutar.

Exercı́cio 4. Provar que existe uma bijeção ψ : F → N.

Exercı́cio 5. Provar que existe uma bijeção ψ : N × N × N → N.

Exercı́cio 6. Provar que existe uma bijeção ψ : F × F × F → N.

Exercı́cio 7. Provar que existe uma bijeção ψ : F × F × F → F.

14

Você também pode gostar