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DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA
1 Programa
1. Conjuntos numéricos: N, Z, Q e R.
3. Séries númericas.
2 Introdução
Supondo que já conhecemos os números racionais, vamos iniciar com a seguinte soma:
1 1 1 1 1
S =1+ + + + + + ... (1)
2 4 8 16 32
Multiplicando esta soma por 2 e usando a distributividade obtemos
1 1 1 1 1
2S = 2 + 1 + + + + + + . . . = 2 + S. (2)
2 4 8 16 32
Daı́ deduzimos que S = 2.
Agora consideremos a soma
S = 1 + 2 + 4 + 8 + 16 + 32 + . . . (3)
2S = 2 + 4 + 8 + 16 + 32 + . . . = −1 + 1 + 2 + 4 + 8 + 16 + 32 + . . . = −1 + S (4)
S = 1 − 1 + 1 − 1 + 1 − 1 + 1 − 1 + ... (5)
S = 1 − 1 − 1 + 1 − 1 + 1 − 1 + 1 − 1 + . . . = 1 − S. (6)
1
S= (7)
2
Por outro lado podemos escrever
S = (1 − 1) + (1 − 1) + (1 − 1) + (1 − 1) + . . . = 0 + 0 + 0 + 0 + . . . = 0. (8)
2
2.1 Decimais
Definição 1. Uma decimal é uma sequência cujos elementos pertencem ao conjunto dos alga-
rismos A = {0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9}.
Dado um número real x ∈ [0, 1] podemos sempre representá-lo na forma de uma decimal
x = 0, a1 a2 a3 . . . , (10)
3 Números Naturais N
O conjunto dos números naturais N é caracterizado pelos seguintes fatos os quais são chamados
axiomas de Peano:
Axioma 1 Existe uma função injetiva s : N → N. A imagem s(n) de cada número natural n ∈ N
chama-se sucessor de n.
Axioma 2 Existe um único número natural, denotado por 1 ∈ N, tal que s(n) 6= 1 para todo n ∈ N.
Teorema 1. Dado um número natural q ∈ N com q 6= 1, existe um único p ∈ N tal que s(p) = q.
3
Demonstração. Vamos supor que s(p) 6= q para todo p ∈ N. Comparando com o Axioma 2
deduzimos que esse q tem a mesma propriedade do número 1. Pela unicidade do número 1 temos
que q = 1. Como estamos supondo q 6= 1 concluı́mos que existe p ∈ N tal que s(p) = q. Além
disso, se s(n) = q deduzimos que s(p) = s(n). Agora aplicamos o Axioma 1 para concluirmos
que p = n, pois s é injetiva.
3.1 Operações em N
No conjunto N dos números naturais estão definidas duas operações fundamentais: a adição
associando a cada par (m, n) sua soma +(m, n) = m + n, e a multiplicação associando a cada
par (m, n) seu produto .(m, n) = m.n. Estas operações são caracterizadas pelos seguintes
axiomas:
m + 1 = s(m);
m + s(n) = s(m + n);
m.1 = m;
m.(n + 1) = m.n + m.1 = m.n + m.
Usando o princı́pio da indução demonstramos as seguintes propriedades destas operações:
associatividade: (m + n) + p = m + (n + p) (m.n).p = m.(n.p);
distributividade: m.(n + p) = m.n + m.p;
comutatividade: m + n = n + m m.n = n.m;
lei do corte: m + n = m + p ⇒ n = p m.n = m.p ⇒ n = p.
S = {n ∈ N : n + 1 = 1 + n}.
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Veja que 1 ∈ Y pelo Exemplo (2). Se n ∈ Y tem-se m + n = n + m. Pela definição da soma
temos que
m + s(n) = s(m + n)
= s(n + m)
= (n + m) + 1
= n + (m + 1)
= n + (1 + m)
= (n + 1) + m
= s(n) + m,
i.e. m + s(n) = s(n) + m. Mas isto implica que s(n) ∈ Y. Usando o princı́pio da indução
deduzimos que Y = N. Agora, usamos a arbritariedade de m para concluir que tal propriedade
vale para todos m, n ∈ N.
N = {1, 2, 3, 4, . . . , n, . . .}.
3.2 Ordem em N
Existe uma relação de ordem em N assim definida: dizemos que m é menor que n e escrevemos
m < n se existe p ∈ N tal que n = m + p. A notação m ≤ n significa que m < n ou m = n.
Inicialmente vamos provar o seguinte teorema.
Demonstração. Vamos supor que exista m ∈ N tal que n < m < s(n). Usando que m > n temos
que existe p ∈ N tal que m = n + p. Mas s(n) > m implica que s(n) = m + q para algum q ∈ N.
Logo n + 1 = s(n) = m + q = (n + p) + q, ou seja n + 1 = n + (p + q). Pela lei do corte temos
que 1 = p + q. Se q = 1 terı́amos 1 = p + 1 = s(p) contrariando o Axioma 2. Logo q 6= 1. Pelo
Teorema (1) existe r ∈ N tal que s(r) = q. Daı́ concluı́mos que 1 = p + s(r) = s(p + r) que
contradiz novamente o Axioma 2.
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Demonstração. Vamos supor que exista p ∈ N tal que p < 1. Isto significa que 1 = p + q para
algum q ∈ N. Como p < 1 aplicando o Teorema (1) obtemos r ∈ N tal que s(r) = p. Assim
podemos escrever 1 = p + q = s(r) + q = s(r + q) contrariando novamente o Axioma 2.
Demonstração. Vamos supor que 2 = 4, ou seja s(1) = s(3). Usando a injetividade de s dada
pelo Axioma 1, deduzimos que 1 = 3 = s(2). Mas isto contradiz novamente o Axioma 2. Logo
2 6= 4.
3.3 Exemplo
Usando o princı́pio da indução discutiremos a seguinte propriedade:
2 1 + 2 + · · · + n = n.(n + 1) ∀n ∈ N. (11)
De fato, seja S = {n ∈ N : (11) é verdadeira}.
Observe que 1 ∈ S, pois 2.1 = 1.(1 + 1) = 1.2.
Supondo n ∈ S, i.e. 2 1 + 2 + · · · + n = n.(n + 1) vamos mostrar que s(n) ∈ S. Com efeito,
usando o Teorema (3) sabemos que após n teremos s(n). Assim temos
2 1 + 2 + · · · + n + s(n) = 2 1 + 2 + · · · + n + (n + 1)
= 2(1 + 2 + · · · + n + 2(n + 1)
= n(n + 1) + 2(n + 1)
= (n + 1)(n + 2)
= (n + 1)(n + 1 + 1)
= s(n)(s(n) + 1),
n(n + 1)
1 + 2 + ··· + n = .
2
Convém observar que a última linha apresenta uma divisão que não está definida em N.
Usando o princı́pio da indução provamos a seguinte proposição que é conhecida como o
princı́pio da boa ordenação:
Teorema 6. Todo subconjunto não vazio A ⊂ N possui um menor elemento, i.e. existe k ∈ A
tal que k ≤ n para todo n ∈ A.
6
Demonstração. Se 1 ∈ A temos pelo Teorema (4) que 1 ≤ n para todo n ∈ A. Caso contrário,
seja B = {x ∈ N : x ≤ n, ∀ n ∈ A}. Como 1 ∈ B temos que B 6= Φ. Observe que se
b ≤ n, ∀ n ∈ A. (12)
Se b ∈
/ A então b < n ∀ n ∈ A. Daı́ deduzimos que s(b) ≤ n ∀ n ∈ A, pois não existe elemento
entre b e s(b). Ou seja, s(b) ∈ B. Mas vimos que s(b) ∈
/ B. Portanto, b ∈ A e este é o menor
elemento de A.
4 Exercı́cios
1. Prove que (m + n) + p = m + (n + p) para todo m, n, p ∈ N.
Os exercı́cios devem ser resolvidos e devolvidos até o dia 3 de dezembro obdecendo a seguinte or-
dem correspondente ao número de matrı́cula: 1-408536; 2-427829;3-421972;4-369380;5-422321;6-
427420.
0 + n = n + 0 = n, ∀ n ∈ N ∪ {0},
0.n = n.0 = 0, ∀ n ∈ N ∪ {0},
0 < n, ∀ n ∈ N.
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Dados n, m em N com n < m sabemos que existe p ∈ N tal que n + p = m. Definimos −p
com a seguinte propriedade: m + (−p) = n. Então o conjunto dos números inteiros denotado
por Z é definido por:
6 Exercı́cios
1. Prove que (m + n) + p = m + (n + p) para todo m, n, p ∈ Z.
7 Conjunto especial
Vamos definir F = {(m, n) ∈ Z × Z∗ } com as seguintes propriedades:
•F 1 : (m, n) = (p, q) ⇔ mq = np
•F 2 : (m, n) + (p, q) = (mq + np, nq)
•F 3 : (m, n) × (p, q) = (mp, nq)
7.1 Multiplicação
Observe que para todo k ∈ Z∗ temos (m, n) = (km, kn). De fato, por F1 (m, n) = (km, kn) ⇔
m(kn) = n(km), mas isto ocorre em Z∗ . Logo temos que
8
Em particular, se k ∈ Z∗ então temos que vale o seguinte:
7.2 Soma
Inicialmente observemos que (0, 1) = (0, k) para todo k ∈ Z∗ . Com efeito, (0, 1) = (0, k) ⇔
0.k = 1.0 Mas isto ocorre para todo k ∈ Z∗ . Consequentemente, temos a seguinte relação:
(m, n) + (0, 1) = (m.1 + n.0, n.1) = (m, n). Ou seja
para todo (m, n) ∈ Z×Z∗ . Além disso, (m, n)+(−m, n) = (m.n+n.(−m), n.n) = (0, n2 ) = (0, 1).
Consequentemente temos o seguinte:
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Exercı́cio 2. Prove as seguintes propriedades em F:
1. associatividade: (x + y) + z = x + (y + z) e (xy)z = x(yz);
3. comutatividade: x + y = y + x e xy = yx;
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Vamos mostrar a sobrejetividade. Dado z ∈ Z vamos encontrar n ∈ N : b1 (n) = z. Se
z = 2m > 0 escolha n = 4m + 1 ∈ N. Assim temos 2b1 (n) = n − 1 = 4m ⇒ b1 (n) = 2m = z.
Se z = 2m < 0 escolha n = −4m ∈ N. Assim temos 2b1 (n) = −n = 4m ⇒ b1 (n) = 2m = z.
Por outro lado, se z = 2m + 1 > 0 escolha n = 4m + 3 ∈ N. Assim temos 2b1 (n) = n − 1 =
4m + 2 ⇒ b1 (n) = 2m + 1 = z. Se z = 2m + 1 < 0 escolha n = −4m − 2 ∈ N. Assim temos
2b1 (n) = −n = 4m + 2 ⇒ b1 (n) = 2m + 1 = z. Com isso, concluı́mos que b1 é sobrejetiva.
Logo b1 é uma bijeção. Isto mostra que os conjuntos N e Z possuem a mesma quantidade de
elementos.
De maneira inteiramente análoga ao caso anterior provamos que b2 é uma bijeção. Com efeito,
consideremos o caso em que n e m são ı́mpares. Sejam n = 2k + 1 e m = 2q + 1 com
k 6= q. Neste caso temos 2b2 (n) = n + 1 = 2k + 2 6= 2b2 (m) = m + 1 = 2q + 2. Ou seja
2b2 (n) 6= 2b2 (m) ⇒ b2 (n) 6= b2 (m). Agora suponhamos que n e m são pares. Sejam n = 2k e
m = 2q com k 6= q. Neste caso temos 2b2 (n) = −n = −2k 6= 2b2 (m) = −m = −2q. Ou seja
2b2 (n) 6= 2b2 (m) ⇒ b2 (n) 6= b2 (m). O caso n par e m ı́mpar é semelhante ao caso anterior. Daı́
deduzimos que b2 é injetiva.
Vamos mostrar a sobrejetividade. Dado z ∈ Z vamos encontrar n ∈ N : b2 (n) = z. Se z =
2m+2 > 0 escolha n = 4m+3 ∈ N. Assim temos 2b2 (n) = n+1 = 4m+4 ⇒ b2 (n) = 2m+2 = z.
Se z = 2m < 0 escolha n = −4m ∈ N. Assim temos 2b2 (n) = −n = 4m ⇒ b2 (n) = 2m = z.
Por outro lado, se z = 2m + 1 > 0 escolha n = 4m + 1 ∈ N. Assim temos 2b2 (n) = n + 1 =
4m + 2 ⇒ b2 (n) = 2m + 1 = z. Se z = 2m + 1 < 0 escolha n = −4m − 2 ∈ N. Assim temos
2b2 (n) = −n = 4m + 2 ⇒ b2 (n) = 2m + 1 = z. Com isso, concluı́mos que b2 é sobrejetiva.
Logo b2 é uma bijeção. Isto mostra que os conjuntos N e Z possuem a mesma quantidade de
elementos.
(b1 (n), b2 (m)) = (b1 (p), b2 (q)) ⇒ b1 (n) = b1 (p) e b2 (m) = b2 (q) ⇒ n = p e m = q ⇒ (n, m) = (p, q).
Ou seja b é injetiva.
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Agora dado (x, y) ∈ Z×Z∗ sabemos que existe n ∈ N : b1 (n) = x e existe m ∈ N : b2 (m) = y,
pois as funções b1 e b2 são bijeções. Isto mostra que b é sobrejetiva também. Daı́ deduzimos
que b é bijeção.
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8.7 Sobrejeção entre N e F
Observemos o diagrama formado pelas aplicações dadas anteriormente.
#
(m, n) ∈ N × N
b / (kp, kq) ∈ Z × Z∗ .
b3 s
ϕ
xk,p,q ∈ N / p ∈F
q
" !
(18)
Observe que devemos ter b1 (m) = kp e b2 (n) = kq. Mas b1 (m) = m−12 = kp ⇒ m = 2kp + 1
ou b1 (m) = − m 2 = kp ⇒ m = −2kp. Prossegue de maneira semelhante para escolha de
b2 (n) = kq. Daı́ b3 (m, n) = 2m−1 (2n − 1) = xk,p,q .
Como b3 é bijetiva se definirmos ϕ = s ◦ b ◦ b−1
3 : N → Q temos que ϕ é sobrejetiva. Ou seja
N ×O N
b / Z × Z∗ .
b−1
3
s
ϕ
N /F
(19)
6
Exemplo 4. Dado o número 7 vamos encontrar o menor elemento em N que faz o dia-
grama (19) comutar.
Demonstração. Veja que s−1 ( 67 ) = (6k, 7k) com k ∈ Z∗ . Agora , b(x, y) = (6k, 7k) ⇔ b1 (x) = 6k
e b2 (y) = 7k.
Caso 1. Vamos supor que x é ı́mpar. Nesse caso devemos ter 2b1 (x) = x − 1 = 12k, ou
seja x = 12k + 1. Ora como x ∈ N devemos ter k > 0. Por outro lado, se y é ı́mpar, nesse
caso devemos ter 2b2 (y) = y + 1 = 14k, ou seja y = 14k − 1. Agora se y é par, nesse caso
devemos ter 2b2 (y) = −y = 14k, ou seja y = −14k. Sendo k > 0 temos que y ∈ / N. Assim,
se x é ı́mpar y também será ı́mpar. Ou seja x = 12k + 1 e y = 14k − 1. Agora observe que
b3 (12k + 1, 14k − 1) = 212k (2(14k − 1) − 1) = 212k (28k − 3).
Caso 2. Vamos supor que x é par. Nesse caso devemos ter 2b1 (x) = −x = 12k, ou seja
x = −12k. Ora como x ∈ N devemos ter k < 0. Por outro lado, se y é ı́mpar, nesse caso
devemos ter 2b2 (y) = y + 1 = 14k, ou seja y = 14k − 1 ∈ N. Sendo k < 0 isso não pode
ocorrer. Assim, y é par. Nesse caso devemos ter 2b2 (y) = −y = 14k, ou seja y = −14k.
Fazendo −k = j > 0 temos que x = 12j e y = 14j. Agora observe que b3 ((12j − 1) + 1, 14j) =
212j−1 (2(14j) − 1) = 212j−1 (28j − 1), com j ∈ N.
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Usando os dois casos, e trocando k por j no primeiro caso, concluı́mos que
6
ϕ−1 = {212j (28j − 3), 212j−1 (2(14j) − 1), j ∈ N}.
7
Agora observe que o menor valor deste conjunto é o número
Exercı́cio 3. Dados os elementos {(2, 3); (3, 4)} encontre o menor elemento em N que faz o
diagrama (19) comutar.
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