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Análise Real:

Para Além do Infinito

João Macedo Alencar1


Gustavo Henrique Oliveira1
Vitória Alves Tavares1

10 de novembro de 2023

1UPE, Petrolina, PE, Brasil, 56300-000.


Capítulo 1

Indução Matemática

Axioma 1.1 (Princípio da Boa-Ordem). Seja S ⊂ N tal que S ̸= ∅, então S possui um menor
elemento.

Teorema 1.1 (Princípio da Indução Matemática). Seja S ⊂ N que possui as seguintes proprie-
dades

1. 1 ∈ S

2. Para todo k ∈ N, se k ∈ S, então k + 1 ∈ S.

Então, temos S = N.

Demonstração. Suponha, por absurdo, que S ̸= N. Então N \ S ̸= ∅, então pela Propriedade


de Boa-Ordenação, N \ S possui um menor elemento m. Como 1 ∈ S, segue que m > 1.
Mas isso implica que m − 1 ∈ N. Como m − 1 < m e que m é o menor elemento em N tal
que m ∈/ S, concluímos que m − 1 ∈ S. Pela segunda propriedade de S, como o elemento
k := m − 1 ∈ S, segue que k + 1 = m ∈ S, mas isso é uma contradição, pois m ∈ / S.
Portanto, N \ S é vazio, ou seja, S = N.

Teorema 1.2. Seja P (n) uma afirmação sobre o número natural n ∈ N. Suponha que:

1. P (1) é verdadeira.

2. Para todo k ∈ N, se P (k) é verdadeira, então P (k + 1) é verdadeira.

Então, P (n) é verdadeira para todo n ∈ N.

Demonstração. Basta definir S := {n ∈ N : P (n) é verdadeira} e aplicar o teorema 1.

A afirmação se P (k) é verdadeira é comumente chamada de hipótese de indução.

2
Teorema 1.3. Sejam n0 ∈ N e P (n) uma afirmação sobre o número natural n ≥ n0 . Suponha que:

1. P (n0 ) é verdadeira.

2. Para todo k ≥ n0 , se P (k) é verdadeira, então P (k + 1) é verdadeira.

Então P (n) é verdadeira para todo n ≥ n0 .

Exercício 1.1. Demonstre o Teorema 3.


Resolução: Basta definir um conjunto S ⊂ N tal que S = {n ∈ N; P (n+n0 −1) é verdadeira}.
Com efeito, 1 ∈ S pois P (n0 ) é verdadeira. Por outro lado, temos que, se n ∈ S, P (n + n0 − 1) é
verdadeira então P (n + n0 ) é verdadeira. Portanto, S = N

Exercício 1.2. a) Prove que 2n > 2n + 1 para todo n ∈ N com n ≥ 3.

Resolução: Seja X ⊂ N tal que X = {n ∈ N; 2n > 2n + 1, ∀n ≥ 3}. 3 ∈ X pois

23 > 2 · 3 + 1
8>7

Suponha agora que, para algum k > 3 tem-se k ∈ X. Devemos mostrar que k + 1 ∈ X.
Com efeito, temos

2k+1 = 2k · 2
> (2k + 1) · 2
= (2 · 2k + 2)
> 2k + 3 = 2(k + 1) + 1.

Portanto, pelo princípio da indução (Teorema 3), tem-se X = N.

b) Se r ∈ R, r ̸= 1, e n ∈ N, então

1 − rn+1
1 + r + r2 + · · · + rn =
1−r

3
Resolução: Seja X ⊂ N tal que X = {n ∈ N; p(n) é verdade}. Verificamos que
1 − r2
n=1: 1+r =
1−r
1 − rk+1
n=k: 1 + r + r2 + · · · + rk =
1−r
1 − rk+2
n=k+1: 1 + r + r2 + · · · + rk + rk+1 =
1−r

1 − rk+1
1 + r + r2 + · · · + rk + rk+1 = + rk+1
1−r
1 − rk+1 + rk+1 (1 − r)
=
1−r
k+1
1 + (r − rk+1 ) − rk+2
=
1−r
k+2
1−r
=
1−r
Portanto, pelo princípio da indução na versão do Teorema 2, verificamos que X = N.
Teorema 1.4 (Princípio Forte de Indução). Seja S ⊆ N tal que:
1. 1 ∈ S.
2. Para todo k ∈ N, se {1, 2, . . . , k} ⊆ S, então k + 1 ∈ S.
Então S = N.
Demonstração. Suponha, por absurdo, que S ̸= N, então N/S ̸= ∅. Logo, pela propriedade
de Boa-Ordenação, N/S possui um elemento mínimo m. Como m > 1, segue que m − 1 ∈
N. Logo, m − 1 ∈ S. Segue disso que {1, 2, . . . , m − 1} ⊆ S. Pela segunda propriedade de
S, com k := m − 1, segue que m ∈ S, o que é uma contradição.

h i2
n(n+1)
Exercício 1.3. a) Prove que 13 + 23 + 33 + . . . + n3 = 2
para todo n ∈ N.
Resolução:
2
1(1 + 1)
3
n=1: 1 =
2
 2
3 3 3 k(k + 1)
n=k: 1 + 2 + ... + k =
2
 2
3 3 3 3 (k + 1)(k + 2)
n = k + 1 :1 + 2 + . . . + k + (k + 1) =
2

4
 2
3 3 3 3 k(k + 1)
1 + 2 + . . . + k + (k + 1) = + (k + 1)3
2
k 2 (k + 1)2
= + (k + 1)2 (k + 1)
4
(k + 1)2 (k 2 + 4(k + 1))
=
4
(k + 1)2 (k + 2)2
=
4
 2
(k + 1)(k + 2)
=
2

b) Prove que 12 − 22 + 32 − 42 + · · · + (−1)n+1 n2 = (−1)n+1 n(n+1)


2
para todo n ∈ N.
Resolução:
1(1 + 1)
n=1 12 = (−1)2
2
k(k + 1)
n=k 12 − 22 + 32 − 42 + · · · + (−1)n+1 n2 = (−1)k+1
2
(k + 1)(k + 2)
n=k+1 12 − 22 + 32 − 42 + · · · + (−1)k+1 k 2 + (−1)n+2 (k + 1)2 = (−1)k+2
2
k(k + 1)
12 − 22 + 32 − 42 + · · · + (−1)k+1 k 2 + (−1)n+2 (k + 1)2 = (−1)k+1 + (−1)k+2 (k + 1)2
 2 
k+2 2 k(k + 1)
= (−1) (k + 1) −
2
2
2(k + 1) − k(k + 1)
= (−1)k+2
2
(k + 1)(2(k + 1) − k)
= (−1)k+2
2
(k + 1)(k + 2)
= (−1)k+2
2

c) Prove que n3 + (n + 1)3 + (n + 2)3 é divisível por 9.


Resolução: Desenvolvendo a expressão, descobrimos a nossa conjectura:
n3 +(n+1)3 +(n+2)3 = n3 +(n3 +3n2 +3n+1)+(n3 +6n2 +12n+8) = 3.(n3 +3n2 +5n+3)
Reduzimos a conjectura para 3|(n3 + 3n2 + 5n + 3), por indução em n, temos:
n=1: 3.13 + 9.12 + 15.1 + 9 = 3 + 9 + 15 + 9 = 36
n=k: 3|(k 3 + 3k 2 + 5k + 3)
n=k+1: 3|((k + 1)3 + 3(k + 1)2 + 5(k + 1) + 3)

5
Novamente, utilizaremos a hipótese de indução sobre a conjectura e operamos para verificar
se a afirmação se mantém válida para o sucessor de k:

((k + 1)3 + 3(k + 1)2 + 5(k + 1) + 3) = (k 3 + 3k 2 + 3k + 1) + 3.(k 2 + 2k + 1) + (5k + 5) + 3

Continuando a operação, temos:

(k 3 + 3.k 2 + 5.k + 3) + (3.k 2 + 9.k + 9) = (k 3 + 3.k 2 + 5.k + 3) + 3.(k 2 + 3.k + 3)

A primeira parcela é a hipótese de indução, que supomos divisível por 3; verificamos que a
segunda também o é, pois tem um fator 3. Assim, completamos a demonstração.

d) Prove que 2n < n! para todo n ≥ 4, n ∈ N.


Resolução: Novamente, indução em n. Utilizamos aqui o teorema da indução transfinita.

n=4: 24 = 16 < 24 = 4!
n=k: 2k < k!
n=k+1: 2k+1 < (k + 1)!

2k+1 = 2.2k
< 2.k!
< (k + 1).k!
= (k + 1)!

Exercício 1.4. Conjecture uma fórmula para a soma


1 1 1 1
+ + + ... + ,
1·3 3·5 5·7 (2n − 1)(2n + 1)

e prove sua conjectura usando Indução Matemática.


Resolução: Primeiro, operamos para encontrar uma conjectura de forma sintética.
Queremos reescrever a fração em partes, gerando, assim, frações parciais. Mas temos que
preservar uma condição: (i) a soma das partes tem que ser igual ao todo.

1 A B A(2n + 1) + B(2n − 1)
= + =
(2n − 1).(2n + 1) (2n − 1) (2n + 1) (2n − 1)(2n + 1)

Agora analisemos o que conseguimos:

2n.(0) + 1.(1) 2n(A + B) + 1.(A − B))


=
(2n − 1).(2n + 1) (2n − 1)(2n + 1)

6
Deduzimos assim os valores assumidos por A e B:
(
A+B =0
A−B =1
1
Assim, A = −B = .
2
1 1 1
= −
(2n − 1).(2n + 1) 4n − 2 4n + 2
Vamor verificar alguns termos da soma. Vejamos s3 :
     
1 1 1 1 1 1
− + − + −
4.1 − 2 4.1 + 2 4.2 − 2 4.2 + 2 4.3 − 2 4.3 + 2
   
1 1 1 1 1 1
+ − + + − + −
4.1 − 2 4.1 + 2 4.2 − 2 4.2 + 2 4.3 − 2 4.3 + 2
   
1 1 1 1 1 1
+ − + + − + −
4.1 − 2 4+2 8−2 8 + 2 12 − 2 4.3 + 2
1 1

4.1 − 2 4.3 + 2
Notamos que sobrou apenas o primeiro e o último termo. Conjecturamos:
1 1 1 1 1 1
+ + + ... + = −
1·3 3·5 5·7 (2n − 1)(2n + 1) 2 4n + 2
Seguimos os passos de indução:
   
1 1 1 1 1 1 1 1 2 1
(i) n = 1 : = − = − = 1− = =
1.3 4−2 4+2 2 6 2 3 2 3 3
1 1 1 1
(ii) n = k : + ··· + = −
1.3 (2k − 1).(2k + 1) 2 4k + 2
1 1 1 1
(iii) n = k + 1 : + ··· + = −
1.3 (2(k + 1) − 1).(2(k + 1) + 1) 2 4(k + 1) + 2
Basta iniciar de um lado da indução, usar a hipótese e operar algébricamente até chegar
ao outro lado.
1 1 1 1 1
+ ··· + = − +
1.3 (2(k + 1) − 1).(2(k + 1) + 1) 2 4k + 2 (2(k + 1) − 1).(2(k + 1) + 1)
Já operamos anteriormente algo semelhante a terceira parcela dessa soma na busca da
conjectura, a fração na forma parcial:
1 1 1 1
− + −
2 4k + 2 4(k + 1) − 2 4(k + 1) + 2

7
O que temos a fazer é mostrar que as duas parcelas centrais dessas se cancelam mutua-
mente, isso caracteriza uma soma telescópica.
1 1 1 1
− + −
2 4k + 2 + (2 − 2) 4(k + 1) − 2 4(k + 1) + 2
Após somar zero, reescrevemos:
 
1 1 1 1
+ − + −
2 4(k + 1) − 2 4(k + 1) − 2 4(k + 1) + 2

Agora evidenciamos isso:


1 1

2 4(k + 1) + 2

Exercício 1.5. Sejam os números reais xn definidos como segue:

x1 = 1,
x2 = 2,
1
xn+2 = (xn+1 + xn ) ∀n ∈ N.
2
a) Determinação de x10 .

b) Use o Princípio Forte de Indução para mostrar que 1 ≤ xn ≤ 2.


Resolução: Essa lei recursiva resulta no número de ouro que representa a razão dos termos
da sequência de fribonacci.
(a): A dificuldade de escrita recursivamente é superada com o auxílio de algum software.
    
1 1 1 1 1 1 1
x10 = (x7 + x6 ) + (x6 + x5 ) + (x6 + x5 ) + (x5 + x4 ) = 1, 66796875.
2 2 2 2 2 2 2

(b): Precisamos dividir a prova em duas partes que serão resolvidas por indução em n.

(1°) Fazemos a hipótese de que 1 ≤ xn , ∀n ∈ N.

n=1: 1 ≤ x1
n≤k: 1 ≤ xk
n = k + 1 : 1 ≤ xk+1

Agora, aplicamos a lei de recursividade:


1
1 ≤ xk+1 = (xk + xk−1 )
2
8
Aqui, utilizamos o Teorema de Indução Forte para garantir que xk−1 também atende a conjectura
pela hipótese de indução. Como 1 ≤ xk e 1 ≤ xk−1 , então existem números reais ck , ck−1 > 0 de
modo que xk = 1 + ck e xk−1 = 1 + ck−1 . Reescrevemos a relação como:

1 1 ck + ck+1
((1 + ck ) + (1 + ck−1 )) = (2 + (ck + ck−1 )) = 1 +
2 2 2
O que acabamos de mostra foi que:
ck + ck+1
1≤1+
2
É verdadeiro, pois ck , ck+1 > 0. Assim, 1 ≤ xk+1 é verdade.

(2°) Agora, finalizamos com a hipótese de que xn ≤ 2, ∀n ∈ N. O argumento é totalmente


análogo. Porém, com uma observação, que é evidenciada no final da demonstração.

n=1: x1 ≤ 2
n≤k: xk ≤ 2
n = k + 1 : xk+1 ≤ 2

Inicialmente, aplicamos a lei de recorrência.

1
xk+1 = (xk + xk−1 ) ≤ 2
2
De modo análogo, existem 0 < ck ≤ 1 e 0 < ck−1 ≤ 1 tal que, por hipótese de indução, temos
xk = 2 − ck e xk−1 = 2 − ck−1 . Assim, reescrevemos a relação:

1 1 (ck + ck−1 )
(xk + xk−1 ) = ((2 − ck ) + (2 − ck−1 ) = 2 −
2 2 2
O que acabamos de mostrar foi que:

(ck + ck−1 )
2− ≤2
2
Desse modo, é verdade de que xk+1 ≤ 2. Note que tivemos o cuidado de escolher ck ≤ 1 e c ≤ 1
para não contradizer a primeira hipótese que tinhamos assumido. Portanto, concluimos ser verdade
que 1 ≤ xn ≤ 2, ∀n ∈ N.

9
Capítulo 2

O Corpo Ordenado Completo dos


Números Reais

Discutiremos as propriedades essenciais dos números reais R. Embora, seja possível


fornecer uma construção formal desse conjunto por meio dos números naturais N ou dos
números racionais Q, não seguiremos por esse caminho. Ao invés disso, apresentaremos
uma lista de propriedades fundamentais associadas com os números reais e provaremos
como estas propriedades nos levam a resultados mais profundos.
Começaaremos com uma breve discussão a respeito da estrutura algébrica dos números
reais. Listaremos, brevemente, as propriedades básicas da adição e da multiplicação em
R das quais derivam muitas outras como teoremas. Essas propriedades conferem a R a
estrutura algébrica de um corpo.
No conjunto R dos números reais existem duas operações binárias, que atende a
definição de função, denotadas por + : R × R → R de modo que a, b ∈ R e (a, b) 7→ a + b,
e · : R × R → R tal que a, b ∈ R e (a, b) 7→ a · b chamadas de adição e multiplicação,
respectivamente. Essas operações satisfazem as seguintes propriedades:

A1) (Comutatividade) a + b = b + a, para todos a, b ∈ R.


A2) (Associatividade) (a + b) + c = a + (b + c), para todos a, b, c ∈ R.
A3) (Elemento neutro) Existe um elemento 0 ∈ R tal que a + 0 = a para todo a ∈ R.
A4) (Inverso) Para cada a ∈ R, existe um elemento −a ∈ R tal que a + (−a) = 0.

M1) (Comutatividade) a · b = b · a, para todos a, b ∈ R.


M2) (Associatividade) (a · b) · c = a · (b · c), para todos a, b, c ∈ R.
M3) (Elemento neutro) Existe um elemento 1 ∈ R tal que a · 1 = a para todo a ∈ R.
M4) (Inverso) Para cada a ̸= 0 em R, existe um elemento a−1 ∈ R tal que a · a−1 = 1.

10
D) (Distributividade) a · (b + c) = a · b + a · c, para todos a, b, c ∈ R.

Exercício 2.1. Sejam a, b ∈ R.

a) Mostre que se a · b = 0, então a = 0 ou b = 0.

b) Mostre que (−a) · (−b) = ab.

Definição 2.1. Os elementos de R que podem ser escritos na forma ab com a ∈ Z e b ∈ Z∗ são
chamados de números racionais. O conjunto dos números racionais de R será denotado
por Q. Um número a ∈ R \ Q é chamado de número irracional.
A existência de números irracionais será estabelecida no exemplo a seguir.
Exemplo 2.1. Não existe um número racional r tal que r2 = 2.
 2
Resolução: Suponha, por absurdo, que existam inteiros p, q ∈ Z tais que pq = 2.
Podemos assumir que p e q são inteiros positivos que não possuem nenhum fator em
comum exceto 1 (ou sejam, são primos relativos). Como p2 = 2q 2 , concluímos que p2 é
par. Isso implica que p também é par (pois se p = 2n − 1, então p2 = 2(2n2 − 2n + 1) − 1
seria ímpar). Logo, como 2 não é um fator comum a p e q, segue que q é ímpar. Por outro
lado, como p é par, existe m ∈ N, tal que p = 2m e daí 4m2 = 2q 2 , ou seja, q 2 = 2m2 . Logo,
q 2 é par, o que implica que q é par. Isso é uma contradição, pois q não pode ser ímpar e
par simultaneamente.
Definição 2.2. Existe um subconjunto não vazio P ⊂ R, chamado de conjunto dos números
positivos, que possui as seguintes propriedades:
1) Se a, b ∈ P, então a + b ∈ P e a · b ∈ P.

2) (Tricotomia) Se a ∈ R, então exatamente uma das afirmações a seguir é válida:

a∈P a=0 −a∈P

Definição 2.3. Sejam a, b elementos de R.


(i) Se a − b ∈ P, então escrevemos a > b ou b < a.

(ii) Se a − b ∈ P ∪ {0}, então escrevemos a ≥ b ou b ≤ a.

Proposição 2.1. Sejam a, b, c ∈ R.


a) Se a > b e b > c, então a > c.

11
b) Se a > b, então a + c > b + c.

c) Se a > b e c > 0, então ca > cb.

d) Se a > b e c < 0, então ca < cb.

Exercício 2.2. (a) Se a ∈ R e a ̸= 0, então a2 > 0.

(b) 1 > 0

(c) Se n ∈ N, então n > 0.

Proposição 2.2. Se a ∈ R e 0 ≤ a < ε para todo ε > 0, então a = 0.

Proposição 2.3. Se a · b > 0, então temos


(i) a > 0 e b > 0, ou

(ii) a < 0 e b < 0.

Exercício 2.3. Se a · b < 0, então temos


(i) a > 0 e b < 0, ou

(ii) a < 0 e b > 0.

√ √
Proposição 2.4. 1) Sejam a ≥ 0 e b ≥ 0. Então a < b ⇔ a2 < b2 e a < b.

2) (Desigualdade entre as médias harmônica, geométrica e aritmética) Sejam a e b números reais


positivos. Mostre que
2 √ a+b
1 1 ≤ ab ≤
a
+b 2
e que a igualdade só é válida se a = b.

Exercício 2.4. (Desigualdade de Bernoulli) Se x > −1, mostre que (1 + x)n ≥ 1 + nx para todo
n ∈ N.

Exercício 2.5. (a) Se a ∈ R satisfaz a · a = a, mostre que a = 0 ou a = 1.

12
(b) Sejam a, b ∈ R tais que a2 + b2 = 0. Mostre que a = b = 0.

(c) Mostre que não existe um número racional s tal que s2 = 6.

(d) Se 0 < c < 1, mostre que 0 < c2 < c < 1.

Definição 2.4. O valor absoluto de um número real a, denotado por |a|, é definido por

a,
 se a > 0,
|a| := −a, se a < 0,

0, se a = 0.

Proposição 2.5. (a) |ab| = |a| · |b| para todos a, b ∈ R.

(b) |a|2 = a2 para todo a ∈ R.

(c) Se c ≥ 0, então |a| ≤ c se, e somente se, −c ≤ a ≤ c.

(d) −|a| ≤ a ≤ |a| para todo a ∈ R.

A desigualdade a seguir, conhecida como desigualdade triangular, será utilizada com


muita frequência.

Teorema 2.1. Se a, b ∈ R, então |a + b| ≤ |a| + |b|.

Corolário 2.1. Se a, b ∈ R, então:

(a) ||a| − |b|| ≤ |a − b|.

(b) |a − b| ≤ |a| + |b|.

(c) Se a1 , a2 , . . . , an ∈ R, então |a1 + a2 + . . . + an | ≤ |a1 | + |a2 | + . . . + |an |.

Uma interpretação geométrica conveniente e familiar do conjunto dos números reais


R é a reta real. Nessa interpretação, o valor absoluto |a| de um elemento a ∈ R é visto
como sendo a distância de a até a origem 0. Mais geralmente, a distância de a e b em R é
dada por |a − b|.

Definição 2.5. A ε-vizinhança de a é o conjunto Vε (a) := {x ∈ R : |x − a| < ε}, a ∈ R, ε > 0.

Teorema 2.2. Seja a ∈ R. Se x pertence à vizinhança Vε (a) para todo ε > 0, então x = a.

13
Exercício 2.6. (a) Se a, b ∈ R, mostre que a + b = |a| + |b| se, e somente se, ab > 0.

(b) Se x, y, z ∈ R e x ≤ z, mostre que x ≤ y ≤ z se, e somente se, |x − y| + |y − z| = |x − z|.


Interprete esse resultado geometricamente.

Exercício 2.7. O maior e o menor entre os números reais a e b são denotados, respectivamente, por
max{a, b} e min{a, b}. Prove que:

a + b + |a − b| a + b − |a − b|
max{a, b} = min{a, b} =
2 2

14

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