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Universidade Federal do Delta do Parnaíba

Licenciatura em Matemática
Disciplina : Análise Matemática para Licenciatura

Prof .: Cleyton N. L. de C. Cunha

Demonstrações em Matemáticas

Indução Matemática
(Princípio de Indução) Uma propriedade P(n), que depende do número natural n, é verdadeira para todos

os números naturais, se provarmos que:

(i) P(1) é verdadeira;

(ii) Se P(k) for verdadeira para algum número natural k, então P(k + 1) é verdadeira.

Exemplos
2 n(n + 1)(2n + 1)
1. 1 + 22 + 32 + ... + n2 = , ∀ n ⩾ 1.
6

2 n(n + 1)(2n + 1)
Demonstração. Seja P(n) : 1 + 22 + 32 + ... + n2 = , ∀ n ⩾ 1.
6

Para mostrar que P(n) é verdadeira devemos vericar inicialmente se P(n) é verdadeira para n = 1.

Vejamos:

Para n=1 temos que:

2 1(1 + 1)(2 · 1 + 1) 6
(i) 1 =1= = =1
6 6

De fato P(1) é verdadeira.

(ii) Devemos mostrar agora que se P(n) é válida para um certo k, P(n) é valida para k + 1.

Por hipótese temos que:

2 k(k + 1)(2k + 1)
1 + 22 + 32 + ... + k2 = (I)
6

(Tese)

2 (k + 1)(k + 2)(2k + 3)
1 + 22 + 32 + ... + k2 + (k + 1)2 = (II)
6

Vamos prosseguir da seguinte maneira, desenvolveremos o primeiro membro da equação e chegaremos na

conrmação da tese.

1
Temos:

2 k(k + 1)(2k + 1)
1 + 22 + 32 + · · · + k2 + (k + 1)2 = + (k + 1)2
6
k(k + 1)(2k + 1) + 6(k + 1)2 )
=
6
(k + 1)[(k(2k + 1) + 6(k + 1)]
=
6
(k + 1)(k + 2)(2k + 3)
= .
6

Como a igualdade é válida, P(n) é verdadeira, ∀n ⩾ 1 ∈ N, ou seja, P(n) é verdadeira para N∗ .

2. Prove, por indução, que

n · (n + 1) · (n + 2)
1 · 2 + 2 · 3 + · · · + n · (n + 1) = , ∀n ⩾ 1. (1)
3

Demonstração. Primeiramente, reconheceremos armação P(n) como a identidade em (1). Agora, pelo

Primeiro princípio de indução, devemos vericar duas condições da indução. Vejamos,

(i) P(1) é verdadeira.


1 · (1 + 1) · (1 + 2)
De fato, 1 · (1 + 1) = 2 = .
3
(ii) Para cada r ⩾ 1, se P(r) é verdadeira, então P(r+1) é verdadeira.

De fato,

r · (r + 1) · (r + 2)
1 · 2 + 2 · 3 + · · · + (r + 1) · (r + 2) = + (r + 1) · (r + 2)
3
r · (r + 1) · (r + 2) + 3 · (r + 1) · (r + 2)
=
3
(r + 1) · (r + 2) · (r + 3)
= .
3

Portanto, como as duas condições da indução são vericadas, então pelo princípio de indução tem-se que

(1) é verdadeira.

3. Considere h + 1 > 0, mostre que (1 + h)n ⩾ 1 + nh para todo n ∈ N.

Demonstração. (i) Condição inicial: P(n0 ) = P(1): Para n0 = 1, temos (1 + h)1 ⩾ 1 + 1 · h. De fato,

1 + h ⩾ 1 + h. Logo, P(n) é verdadeira para n = 1;

(ii) Passo indutivo: se a fórmula é verdadeira para n=k então deve ser verdadeira para n = k + 1, isto

é, P(k) ⇒ P(k + 1). Suponha que a fórmula seja verdadeira para n = k, isto é,

P(k) : (1 + h)k ⩾ 1 + kh [hipótese indutiva].

Deve-se mostrar que P(k + 1) : (1 + h)(k+1) ⩾ 1 + h(k + 1), é verdadeira. Com efeito, multiplicando

(1 + h) em ambos
k
os membros da desigualdade (1 + h) ⩾ 1 + kh temos,

(1 + h)(1 + h)k ⩾ 1 + kh(1 + h)


(1 + h)(k+1) ⩾ 1 + h + kh + kh2
⩾ 1 + h + kh, (kh2 ⩾ 0).

Segue que: (1 + h)(k+1) ⩾ 1 + h + kh. Logo, por indução, a desigualdade é verdadeira.

2
4. Quantos subconjuntos existem em um conjunto com n elementos?

Demonstração. Primeiramente, faremos uma conjectura sobre a resposta. Em seguida, usaremos argu-

mentação por indução para provar tal conjectura. Vejamos algumas situações:


(A) Se X = {a}, então existem P(X) = ∅; {a} .

(B) Se X = {a, b}, então existem P(X) = ∅; {a}; {b}; {a, b} .

(C) Se X = {a, b, c}, então existem P(X) = ∅; {a}; {b}; {c}; {a, b}; {a, c}; {b, c}; {a, b, c} .

(D) Se X = {a, b, c, d}, então existem P(X) = ∅; {a}; {b}; {c}; {d}; {a, b};

{a, c}; {b, c}; {a, d}; {b, d}; {c, d}; {a, b, c}; {a, b, d}; {a, c, d}; {b, c, d}; {a, b, c, d} .

Daí, concluímos que um conjunto com 1 elemento tem 2 subconjuntos, um conjunto com 2 elementos tem

4 subconjuntos, um conjunto com 3 elementos tem 8 subconjuntos e um conjunto com 4 elementos tem

16 subconjuntos. Note ainda que,

2 = 21 , 4 = 22 , 8 = 23 , 16 = 24 .

Portanto, conjecturamos P(n) : conjunto com n elementos tem 2


n subconjuntos. De fato, a primeira

hipótese de indução é imediata pelo item (A). Na segunda hipótese de indução, para cada r⩾1 suponha

que P(r) seja verdadeira. Mostraremos que P(r+1) é verdadeira. Vejamos: Seja X um conjunto com (r + 1)
elementos. Seja x∈X e X
′ = X − {x}. Então, X = X ′ ∪ {x}. Note que, os subconjuntos de X são aqueles
que possuem o elemento x e os que não possuem. Assim,

ˆ os subconjuntos de X que não possuem x são exatamente a quantidade de subconjunto de X ′. Pela


r
hipótese de indução, existem 2 subconjuntos de X ′.
ˆ os subconjuntos de X que possuem x são exatamente os subconjuntos de X ′ unido com {x}. Portanto,
r
2 é a quantidade de subconjuntos de X que possuem x.

Portanto, a quantidade de subconjunto de X é:

2
r
+ 2r = 2 · 2r = 2r+1 .

5. Mostre que o número ótimo de movimentos da torre de Hanói com n discos é (2n − 1).

Demonstração. Vejamos uma situação particular, com n = 3.

3
Figura 1: Torre de Hanói com três discos.

Figura 2: Torre de Hanói com três discos.

Portanto, foram realizados 7 (sete) movimentos. Agora, para o caso geral reconheceremos armação

n
P(n) : Torre com n − discos tem solução ótima 2 − 1. (2)

Para provar (2) pelo primeiro princípio de indução, devemos vericar as duas condições da indução. De

fato, a primeira condição é imediata. Para a segunda condição, suponha que P(r) é verdadeira com r ⩾ 1.
Mostraremos que P(r+1) é verdadeira também. Observe que,

Figura 3: Torre de Hanói com (r+1)-discos.

Daí, tem-se que o número ótimo para a torre com (r+1)-discos será:

(2r − 1) + 1 + (2r − 1) = 2(r+1) − 1.

4
Atividade
′ ′
1. Prove por indução: P(n) : Qualquer número natural n⩾8 pode ser escrito como soma de 3 s e 5 s.

2. (Moeda Falsa) Têm-se 2


n moedas de ouro, sendo uma delas falsa, com peso menor do que as demais.

Dispõe-se de uma balança de dois pratos, sem nenhum peso. Mostre, por indução sobre n, que é possível

achar a moeda falsa com n pesagens.

(xn ) = (x0 , x1 , x2 , · · · , xn , · · · ) denida por: x0 = 1, x1 = 2, x2 =


3. Considere a sequência 3 e

xn = xn−1 + xn−2 + xn−3 , para todo x ⩾ 3. Mostre por indução que xn ⩽ 3n para todo n ∈ N.

4. Sejam a, b ∈ N. Se a ̸= b, mostre que, para todo n ∈ N, n ⩾ 2,


an − b n
= an−1 + an−2 · b + · · · + a · bn−2 + bn−1 .
a−b

5. Analise a seguinte argumentação: Quer-se provar que todo número natural é pequeno. Evidentemente,

1 é um número pequeno. Além disso, se n for pequeno, n+1 também o será, pois não se torna grande

um número pequeno simplesmente somando-lhe uma unidade. Logo, por indução, todo número natural é

pequeno.

6. (O Enigma do Cavalo de Alexandre) Num mosaico romano, Bucéfalo, o cavalo de Alexandre, o Grande, é

representado como um fogoso corcel cor de bronze. Nesse exemplo, vamos provar que isso é uma falácia

(uma grande mentira).

Inicialmente, provaremos que todos os cavalos têm mesma cor. De fato, considere a sentença:

P(n) : Num conjunto com n cavalos, todos têm a mesma cor.

Note que P(1) é obviamente verdadeira. Agora, suponha o resultado válido para conjuntos contendo n
cavalos. Considere um conjunto C = {C1 , C2 , · · · , Cn , Cn+1 }, com n+1 cavalos. Decompomos o conjunto

C numa união de dois conjuntos:

′ ′′
C = C ∪ C = {C1 , · · · , Cn } ∪ {C2 , · · · , Cn+1 } ,

cada um dos quais contém n cavalos. Pela hipótese indutiva, segue-se que os cavalos em C têm mesma
′′
cor, ocorrendo o mesmo para os cavalos em C . Como

′ ′′
C2 ∈ C ∩ C ,

′ ′′
segue-se que os cavalos de C têm a mesma cor dos cavalos de C , permitindo assim concluir que todos

os cavalos em C têm a mesma cor. Assim, a nossa demonstração por indução está terminada, provando

que P(n) é verdadeira para todo n ∈ N.


Agora, todo mundo sabe (você sabia?) que Marengo, o famoso cavalo de Napoleão, era branco. Logo,

Bucéfalo deveria ser branco.

Onde está o erro nessa prova?

(Sugestão: Para achá-lo, sugerimos que você tente provar que, se P(1) é verdadeira, então P(2) é verda-

deira.)

Esse problema foi inventado pelo matemático húngaro George Polya (1887-1985).

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