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Indução Matemática

André Rodrigues da Cruz


andre@decom.cefetmg.br

Departamento de Computação
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais

Matemática Discreta

André Rodrigues da Cruz (CEFET-MG) Indução Matemática Matemática Discreta 1 / 17


Indução Matemática

Definição
Princı́pio da Indução Matemática: Para demonstrar que P(n) é
verdadeira para todos os números inteiros n, em que P(n) é uma função
proposicional, completamos dois passos:
• Passo Base: Verificamos que P(1) é verdadeira.
• Passo de Indução: Mostramos que a proposição condicional
P(k) → P(k + 1) é verdadeira para todos os números inteiros
positivos k.

1 Mostra-se o passo base;


2 Supõe-se P(k) (hipótese indutiva) e mostra-se P(k + 1).

• Prova-se teoremas do tipo ∀nP(n) (n ∈ N∗ );


• Regra de inferência: [P(1) ∧ ∀k(P(k) → P(k + 1))] → ∀nP(n).

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Indução Matemática

• Lembre-se:
I Em uma demonstração por indução matemática, no passo indutivo,

não assumimos que P(k) seja verdadeira para todos os números


inteiros positivos!
Mostramos que se assumimos que P(k) é verdadeira, então devemos
concluir que P(k + 1) também é verdadeira;
I Uma demonstração por indução matemática não pode ser vista como
um caso de usar o que se quer demonstrar, ou um argumento circular.
• Aplicações:
I Validação de fórmulas fechadas conjecturadas de funções recursivas;
I Não se usa para encontrar fórmulas de somatório, mas para validá-las;
I Provar se um programa gera sempre saı́das corretas.

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Indução Matemática

Exemplo
Mostre que se n for um número inteiro positivo, então
n
X n(n + 1)
i = 1 + 2 + ... + n = .
2
i=1

Considere P(n) a proposição que afirma que a soma dos n primeiros números inteiros positivos é
n(n + 1)/2. Para mostrar que P(n) é verdadeira para n = 1,2,3, . . ., mostraremos que a
proposição P(1) e a condicional P(k) → P(k + 1) para k = 1,2,3, . . ., são verdadeiras.

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Indução Matemática

Exemplo
1(1 + 1)
Passo Base: P(1) é verdadeira, pois 1 = .
2
Passo de indução: Assuma que P(k) é verdadeira, ou seja, assumimos que
k(k + 1)
1 + 2 + ... + k = .
2
Considerando essa hipótese, devemos mostrar que P(k + 1) é verdadeira, ou seja, que
(k + 1) [(k + 1) + 1] (k + 1)(k + 2)
1 + 2 + . . . + k + (k + 1) = =
2 2
também é verdadeira. Quando adicionamos k + 1 elementos nos dois lados da equação em
P(k), obtemos
k(k + 1)
1 + 2 + . . . + k + (k + 1) = + (k + 1) pela hipótese indutiva
2
k(k + 1) + 2(k + 1)
= aplicando o mı́nimo múltiplo comum
2
(k + 1)(k + 2)
= colocando k + 1 em evidência
2
Mostramos que P(k + 1) é verdadeira se P(k) é verdadeira.
Assim, por indução matemática, demonstramos que 1 + 2 + . . . + n = n(n + 1)/2 para todos os
números inteiros positivos n.

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Indução Matemática

Exemplo
Conjecture uma fórmula para a soma dos primeiros n números inteiros
positivos e ı́mpares. Depois demonstre sua conjectura usando indução
matemática.
As somas dos primeiros n números inteiros positivos e ı́mpares para n = 1, 2, 3, 4, 5, 6 são

1=1 1+3=4 1+3+5=9


1 + 3 + 5 + 7 = 16 1 + 3 + 5 + 7 + 9 = 25 1 + 3 + 5 + 7 + 9 + 11 = 36

É razoável conjecturar que essa soma é n2 , ou seja, 1 + 2 + 3 + . . . + (2n − 1) = n2 .


Considere P(n) a proposição: a soma dos n primeiros inteiros positivos ı́mpares é n2 .
Provemos via indução matemática.

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Indução Matemática

Exemplo
Passo Base: P(1) é verdadeira, pois 1 = 12 .
Passo de indução: Assuma que P(k) é verdadeira, ou seja, assumimos que
1 + 3 + 5 + . . . + (2k − 1) = k 2 .
Pois, note que o k-ésimo inteiro positivo ı́mpar é 2k − 1. Considerando essa hipótese, devemos
mostrar que P(k + 1) é verdadeira, ou seja, que
1 + 3 + 5 + . . . + (2k − 1) + (2k + 1) = (k + 1)2 .
também é verdadeira. Deste modo, temos
1 + 3 + . . . + (2k − 1) + (2k + 1) = k 2 + (2k + 1) pela hipótese indutiva
= k 2 + 2k + 1 removendo os parênteses
= (k + 1)2 simplificando
Mostramos que P(k + 1) é verdadeira se P(k) é verdadeira.
Assim, por indução matemática, demonstramos que 1 + 3 + 5 + . . . + (2n − 1) = n2 para todos
os números inteiros positivos n.

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Indução Matemática

Exemplo
Demonstre que 2n < n! para todos os números inteiros positivos n ≥ 4 (A
inequação é falsa para n = 1, 2, 3).
Considere P(n) a proposição 2n < n!.
Passo Base: P(4) é verdadeira, pois 24 = 16 < 24 = 4!.
Passo de Indução: Assuma a hipótese de que P(k) é verdadeira para todo inteiro positivo k ≥ 4,
ou seja, 2k < k!. Mostremos então que se 2k < k! então 2k+1 < (k + 1)!. Assim, temos que,

2k < 2 · 2k um inteiro positivo é menor que seu dobro


< 2 · k! pela hipótese de indução
< (k + 1)k! pois 2 < k + 1
= (k + 1)! pela definição de fatorial

Isso mostra que P(k + 1) é verdadeira quando P(k) é verdadeira, o que completa o passo de
indução da demonstração.
Como completamos o passo base e o de indução, concluı́mos que 2n < n! para todos os números
inteiros positivos n ≥ 4.

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Indução Matemática

Exemplo
Mostre que n3 − n é divisı́vel por 3 sempre que n ∈ Z∗+ .
Considere P(n) a proposição “n3 − n é divisı́vel por 3”.
Passo Base: Temos que P(1) é verdadeira, pois 13 − 1 = 0 é divisı́vel por 3.
Passo de Indução: Assuma P(k) como verdadeira, ou seja, que k 3 − k é divisı́vel por 3. Dado
esta hipótese, devemos então mostrar que P(k) → P(k + 1). Note que,

(k + 1)3 − (k + 1) = (k 3 + 3k 2 + 3k + 1) − (k + 1)
= (k 3 − k) + 3(k 2 + k).

Ambos os termos são divisı́veis por 3, pois o primeiro é dado pela hipótese e o segundo é
múltiplo de 3. Segue então, que (k + 1)3 − (k + 1) é divisı́vel por 3.
Como completamos o passo base e de indução, pelo princı́pio da indução matemática sabemos
que n3 − n é divisı́vel por 3 sempre que n ∈ Z∗+ .

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Indução Completa
Definição
Princı́pio da Indução Completa: Para demonstrar que P(n) é verdadeira
para todos os números inteiros n, em que P(n) é uma função
proposicional, completamos dois passos:
• Passo Base: Verificamos que P(1) é verdadeira.
• Passo de Indução: Mostramos que a proposição condicional
[P(1) ∧ P(2) ∧ . . . ∧ P(k)] → P(k + 1) é verdadeira para todos os
números inteiros positivos k.

1 Mostra-se o passo base;


2 Supõe-se P(1), P(2), . . . , P(k) (hipótese indutiva) e mostra-se P(k + 1).

• Prova-se teoremas do tipo ∀nP(n) (n ∈ N∗ );


• Regra de inferência: [P(1) ∧ ∀k(P(k) → P(k + 1))] → ∀nP(n);
• Chamada também de segundo princı́pio da indução ou indução
completa.
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Indução Completa

• Utilizada quando não se pode provar com indução matemática;


• No passo indutivo, assume-se que P(1), P(2), . . . , P(k) é verdadeiro,
ao invés de somente P(k), para mostrar P(k + 1);
• Indução matemática e indução completa são equivalentes;
• Qualquer demonstração por indução matemática pode ser feita por
indução completa, e vice-versa.

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Quando Usar Indução Matemática ou Indução Completa

• Não há uma resposta direta;


• Pontos úteis:
I Usar indução matemática quando conseguir uma demonstração direta

de P(k) → P(k + 1) de todos os números inteiros k;


I Usar indução completa quando perceber como demonstrar que

P(k + 1) é verdadeira a partir da hipótese que afirma que P(j) é


verdadeira para todos os números inteiros positivos j, não excedentes a
k, mas não perceber como demonstrar que P(k + 1) é uma
consequência apenas de P(k).

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Indução Completa

Exemplo
Mostre que se n for um número inteiro maior que 1, então n pode ser
escrito como o produto de números primos.
Considere P(n) como a proposição: n pode ser escrito como o produto de números primos.
Passo Base: P(2) é verdadeira, porque 2 pode ser escrito como o produto de um número primo,
ele mesmo.
Passo de Indução: A hipótese indutiva estabelece que P(j) seja verdadeira para todos os
números inteiros positivos j com j ≤ k, ou seja, a hipótese de que j possa ser escrito como o
produto de números primos sempre que j for um número inteiro positivo, ao menos 2 e não
excedendo a k. Para completar o passo de indução, devemos mostrar que P(k + 1) é verdadeira,
considerando esta hipótese, ou seja, que k + 1 é o produto de números primos.
Há dois casos a considerar, quando k + 1 é primo e quando é composto. Se for primo, vemos
que P(k + 1) é verdadeira. Por outro lado, k + 1 é composto, e pode ser escrito como o
produto de dois números inteiros positivos a e b com 2 ≤ a ≤ b < k + 1. Pela hipótese de
indução, a e b podem ser escritos como o produto de números primos, quais sejam, aqueles
primos obtidos na fatoração de a e aqueles na fatoração de b.
Portanto, se n for um número inteiro maior que 1, então n pode ser escrito como o produto de
números primos.

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Indução Completa

Exemplo
Considere um jogo em que dois jogadores alternam-se para remover
qualquer número positivo de cartas que eles pegam a partir de dois montes
de cartas de baralho. O jogador que tirar a última carta, ganha o jogo.
Mostre que se duas pilhas contêm o mesmo número de cartas inicialmente,
o segundo jogador sempre ganha ou tem uma estratégia para isso.
Considere n como o número de cartas de cada pilha, e seja P(n) a proposição que afirma que o
segundo jogador pode vencer quando houver inicialmente n cartas em cada monte. . .

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Indução Completa

Exemplo
Passo Base: Quando n = 1, o primeiro jogador tem apenas uma escolha, remover uma carta do
monte, deixando um monte com apenas uma carta, que o segundo jogador pode retirar para
vencer o jogo.
Passo de Indução: A hipótese indutiva é a proposição: P(j) é verdadeira para todo j com
1 ≤ j ≤ k, ou seja, a hipótese de que o segundo jogador pode vencer sempre que houver j
cartas, em que 1 ≤ j ≤ k em cada um dos montes no inı́cio do jogo. Precisamos mostrar que
P(k + 1) é verdadeira, ou seja, que o segundo jogador pode vencer quando há inicialmente k + 1
cartas em cada monte, considerando a hipótese de que P(j) é verdadeira para j = 1, 2, 3, . . . , k.
Suponha então que haja k + 1 cartas em cada um dos montes no inı́cio do jogo e que o primeiro
retira r cartas (1 ≤ r ≤ k) a partir de um dos montes, deixando k + 1 − r cartas nesse monte.
Ao remover o mesmo número de cartas do outro monte, o segundo jogador cria a situação em
que há dois montes, cada um com k + 1 − r cartas. Como o número de cartas de cada monte é
1 ≤ k + 1 − r ≤ k, o segundo jogador sempre vence pela hipótese indutiva.
Completamos a demonstração notando que se o primeiro jogador remover todas as k + 1 cartas
de um dos montes, o segundo jogador pode vencer removendo todas as cartas restantes.

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Princı́pio da Boa Ordenação

Princı́pio da Boa Ordenação: Todo conjunto não vazio de inteiros não


negativos contém possui, pelo menos, um menor elemento.

Exemplo
Dado os números inteiros não negativos a e b 6= 0, mostre que existem os
inteiros q e r tais que a = bq + r com 0 ≤ r < b.
Considere S como o conjunto de números inteiros a − bq ≥ 0, com q ∈ Z. Tal conjunto é não
vazio, pois −bq pode ser tão grande quanto se desejar (q pode ser um negativo de alto
módulo). Pela propriedade da boa ordenação, S tem um menor elemento r = a − bq0 .
Vê-se que r ≥ 0 por construção. Também é o caso de que r < b. Se ele não for, então há um
elemento não negativo menor em S, que é a − b(q0 + 1). Para tal, suponha r ≥ b. Como
a = bq0 + r , tem-se que a − b(q0 + 1) = (a − bq0 ) − b = r − d ≥ 0. Portanto, existem números
inteiros q e r com 0 ≤ r < b.
Para a unicidade, sejam inteiros q, q 0 , r , r 0 tais que a = bq + r com 0 ≤ r < b, e a = bq 0 + r 0
com 0 ≤ r 0 < b. Subtraindo as equações, tem-se r − r 0 = b(q 0 − q). Como 0 ≤ r , r 0 < b,
tem-se 0 ≤ r − r 0 < b, e consequentemente, 0 ≤ b(q 0 − q) < b. Como b > 0, tem-se
0 ≤ q 0 − q < 1. Isto implica que q − q 0 = 0, ou seja q = q 0 e r = r 0 .

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