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Relações de Recorrência

André Rodrigues da Cruz


andre@decom.cefetmg.br

Departamento de Computação
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais

Matemática Discreta

André Rodrigues da Cruz (CEFET-MG) Relações de Recorrência Matemática Discreta 1 / 37


Definições Recursivas
Definição Recursiva
Define-se uma função recursiva em duas etapas:
• Passo Base: Especifique o valor inicial da função.
• Passo Recursivo: Forneça uma regra para encontrar seu valor em
um número inteiro a partir dos valores nos números inteiros menores.

Exemplos
Calcule f (2) e f (4), se a função recursiva f é definida por

f (0) = 2,
f (n + 1) = 2f (n) + 3.

f (2) = 2f (1) + 3
f (4) = 2f (3) + 3
= 2 [2f (0) + 3] + 3
= 2(2f (2) + 3) + 3 = 4f (2) + 9
= 4f (0) + 9
= 4 · 17 + 9 = 68 + 9
= 4·2+9
= 77
= 17

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Definições Recursivas

Exemplos
Dê uma definição recursiva das seguintes funções:
a) F (n) = n!, o fatorial de n inteiro não negativo.
F (n) = n · F (n − 1), F (0) = 1.

b) s(n) = ni=0 ai , em que a é um número real e n um inteiro não


P
negativo.
Pn−1 P0
s(n) = an + i=0 ai , s(0) = i=0 ai = a0 .

c) an , em que a é um número real diferente de zero e n um inteiro não


negativo.
an = a · an−1 , a0 = 1.

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Definições Recursivas

Definição
Os números de Fibonacci f0 , f1 , f2 , . . . são definidos da seguinte forma

f0 = 0, f1 = 1 n = 0, 1
fn = fn−1 + fn−2 n = 2, 3, . . .

Exemplo
Encontre os números de Fibonacci f2 , f3 , f4 , f5 e f6 .

f2 = f1 + f0 =1+0=1
f3 = f2 + f1 =1+1=2
f4 = f3 + f2 =2+1=3
f5 = f4 + f3 =3+2=5
f6 = f5 + f4 =5+3=8

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Relação de Recorrência

Exemplo
Juros Compostos. Suponha que uma pessoa deposite R$10.000,00 em
uma poupança com uma taxa de 11% ao ano, com taxa de juros
compostos anual. Que valor terá na poupança depois de 30 anos?
Seja Pn a quantia na poupança após n anos. A quantia na poupança depois de n anos é igual à
quantia depois de n − 1 anos mais os juros do n-ésimo ano. A sequência {Pn }, com
P0 = 10.000, satisfaz a relação de recorrência
Pn = Pn−1 + 0,11Pn−1 = (1,11)Pn−1 .
Podemos desenvolver a sequência para encontrar a fórmula fechada de Pn :

P1 = (1,11)P0
P2 = (1,11)P1 = (1,11)2 P0
P3 = (1,11)P2 = (1,11)3 P0
..
.
Pn = (1,11)Pn−1 = (1,11)n P0 .

Quando insere-se a condição inicial P0 = 10.000, é obtida a fórmula Pn = (1,11)n 10.000, que
precisa ser validada. . .

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Relação de Recorrência

Exemplo
Para validar a fórmula Pn podemos usar indução matemática.
Passo Base: A fórmula é válida para o caso n = 0, que é uma consequência da condição inicial
(P0 = 10.000).
Passo Indutivo: Assuma que Pn = (1,11)n 10.000. Então, a partir da relação de recorrência e da
hipótese indutiva,

Pn+1 = (1,11)Pn = (1,11)(1,11)n 10.000 = (1,11)n+1 10.000.

Isto mostra que a fórmula explı́cita para Pn é válida.

Inserir n = 30 na fórmula Pn = (1,11)n 10.000, mostra que depois de 30 anos, a poupança terá
P30 = (1,11)30 10.000 = R$ 228.922,97.

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Relação de Recorrência

Exemplo
Encontre a fórmula fechada da relação de recorrência

S(1) = 2
S(n) = 2S(n − 1) para n ≥ 2.

Começamos expandindo S(n):

S(n) = 2S(n − 1) = 21 S(n − 1)


= 21 [2S(n − 2)] = 22 S(n − 2)
= 22 [2S(n − 3)] = 23 S(n − 3)
Observando o padrão, conjecturamos que após k expansões, a equação tem a forma
S(n) = 2k S(n − k).
A expansão dos elementos de S para quando n − k = 1, isto é, k = n − 1. Neste ponto, tem-se
S(n) = 2n−1 S( n − (n − 1) )
= 2n−1 S(1) = 2n−1 · 2
= 2n .
Agora é necessário verificar via indução matemática a fórmula S(n) = 2n , n ≥ 1.

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Relação de Recorrência

Exemplo
Seja P(n) a proposição S(n) = 2n , para n ≥ 1.
Passo Base: Para a base de indução, tem-se que P(1) é verdadeiro, pois o valor da condição
inicial é S(1) = 21 = 2.
Passo Indutivo: Suponha que P(k) é verdadeira, ou seja, S(k) = 2k . Provaremos assim que
P(k + 1) é verdadeira. Assim, temos

S(k + 1) = 2S(k) pela definição da relação de recorrência


= 2 · 2k pela hipótese de indução
= 2k+1 .

Isto prova que S(n) = 2n , n ≥ 1.

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Relação de Recorrência Linear

Definição
Uma relação de recorrência linear possui a forma

S(n) = f1 (n)S(n − 1) + f2 (n)S(n − 2) + . . . + fk (n)S(n − k) + g (n),

em que fk (n) 6= 0 e os coeficientes fi (n) e g (n) podem ser funções de n ou


valores constantes. S(n) é linear pois é escrito como a soma dos termos
anteriores da sequência multiplicados por uma função de n.

• A relação de recorrência:
I Possui coeficientes constantes se todos os f (n) forem constantes;
i
I É homogênea se g (n) = 0;
I É de primeira ordem (grau 1) se o n-ésimo termo depende apenas do

termo n − 1;
I É de grau k se S(n) for expresso em até k termos anteriores da

sequência (ou seja, S(n − k));

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Relação de Recorrência Linear

Exemplo
Encontre a solução geral da relação de recorrência de primeira ordem com
coeficientes constantes, dados a, c ∈ R, j0 , n ∈ Z, com j0 ≤ n.

S(n) = cS(n − 1) + g (n), S(j0 ) = a.

Ao expandir S(n) teremos

S(n) = cS(n − 1) + g (n) = cS(n − 1) +g (n)


= c[cS(n − 2) + g (n − 1)] = c 2 S(n − 2) +cg (n − 1) + g (n)
= c 2 [cS(n − 3) + g (n − 2)] = c 3 S(n − 3) +c 2 g (n − 2) + cg (n − 1) + g (n)

Após k expansões, conjecturamos que


k−1
X
S(n) = c k S(n − k) + c i g (n − i)
i=0
= c k S(n − k) + g (n) + cg (n − 1) + c 2 g (n − 2) + . . . + c k−1 g (n − (k − 1))
A expansão de S para quando n − k = j0 , isto é, k = n − j0 . Neste ponto, tem-se. . .

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Relação de Recorrência Linear

Exemplo
Após k expansões, conjecturamos que
k−1
X
S(n) = c k S(n − k) + c i g (n − i)
i=0
= c k S(n − k) + g (n) + cg (n − 1) + c 2 g (n − 2) + . . . + c k−1 g (n − (k − 1))
= c k S(n − k) + g (n) + cg (n − 1) + c 2 g (n − 2) + . . . + c k−1 g (n − k + 1)
A expansão de S para quando n − k = j0 , isto é, k = n − j0 . Neste ponto, tem-se

S(n) = c n−j0 S(j0 ) + g (n) + cg (n − 1) + c 2 g (n − 2) + . . . + c n−j0 −1 g (j0 + 1)


= c n−j0 S(j0 ) + g (n) + cg (n − 1) + c 2 g (n − 2) + . . . + c n−j0 −1 g (n − (n − j0 − 1))
n−j
X 0 −1 n
X
= c n−j0 S(j0 ) + c i g (n − i) = c n−j0 S(j0 ) + c n−j g (j)
i=0 j=j0 +1
n
X
n−j
= c n−j0 a + c g (j)
j=j0 +1

Agora é necessário verificar via indução matemática que a solução geral de S(n) é válida.

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Relação de Recorrência Linear
Exemplo
Seja P(n): S(n) = c n−j0 a + nj=j0 +1 c n−j g (j) é uma solução geral para n ≥ j0 .
P

Passo Base: P(j0 ) é de acordo com a definição da relação de recorrência, pois

j0
X
S(j0 ) = c j0 −j0 a + c j0 −j g (j) = a.
j=j0 +1

Passo Indutivo: Assuma verdadeiro P(k), para algum inteiro k ≥ j0 . Ou seja,


S(k) = c k−j0 a + kj=j0 +1 c k−j g (j) é uma fórmula fechada válida para k ≥ j0 . Mostraremos que
P

P(k + 1) é verdadeiro, ou seja, a fórmula S(k + 1) = c k+1−j0 a + k+1 k+1−j g (j) é válida.
P
j=j0 +1 c
Assim, temos que

S(k + 1) = cS(k) + g (k + 1) definição da relação de recorrência


= c[c k−j0 a + kj=j0 +1 c k−j g (j)] + g (k + 1)
P
hipótese de indução
= c k+1−j0 a + kj=j0 +1 c k+1−j g (j) + g (k + 1)
P
multiplicando por c
= c k+1−j0 a + k+1 k+1−j g (j)
P
j=j0 +1 c agregando g (k + 1) ao somatório

Isto conclui a prova. Portanto, S(n) = c n−j0 a + nj=j0 +1 c n−j g (j) uma solução geral da relação
P

de recorrência S(n) = cS(n − 1) + g (n), com S(j0 ) = a.

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Solução de Relação de Recorrência
Exemplo
Encontre uma solução em forma fechada para a relação de recorrência

T (n) = T (n − 1) + (n + 1) n ≥ 2
T (1) = 2.

Esta relação de recorrência é da forma T (n) = cT (n − 1) + g (n), em que c = 1, g (n) = n + 1 e


j0 = 1 com T (j0 ) = a = 2. A solução geral é

= c n−j0 a + nj=j0 +1 c n−j g (j)


P
T (n)
= 1n−1 2 + nj=1+1 1n−j (j + 1)
P

= 2 + nj=2 (j + 1)
P
(n − 1)(3 + (n + 1))
=2+
2
(n − 1)(n + 4)
=2+
2
= (4 + n2 + 4n − n − 4)/2
2
= (n + 3n)/2

Logo, T (n) = (n2 + 3n)/2, para n ≥ 1.

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Solução de Relação de Recorrência
Para resolver relações de recorrência da forma S(n) = cS(n − 1) + g (n)
sujeito à condição inicial S(j0 ):
Método Passos
Expandir, conjecturar, 1. Use a relação de recorrência repetidamente até
verificar poder adivinhar o padrão.
2. Decida qual será o padrão quando n − k = j0 .
3. Verifique a fórmula resultante por indução ma-
temática.
Fórmula da solução 1. Coloque a relação de recorrência na forma
S(n) = cS(n − 1) + g (n).
2. Use c, g (n) e S(j0 ) na fórmula
n
X
S(n) = c n−j0 S(j0 ) + c n−j g (j)
j=j0 +1

3. Calcule o somatório resultante para obter a


expressão final.
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Solução de Relação de Recorrência Linear e Homogênea
com Coeficientes Constantes

• T (n) = r n é uma solução para

T (n) = c1 T (n − 1) + c2 T (n − 2) + . . . + ck T (n − k)

se e somente se

r n = c1 r n−1 + c2 r n−2 + . . . + ck r n−k .

• Quando divide-se ambos os lados da equação por r n−k e subtrai-se os


termos pelo lado esquerdo obtém-se a equação caracterı́stica da
relação de recorrência

r k − c1 r k−1 − c2 r k−2 − . . . − ck−1 r − ck = 0.

• A sequência T (n) = r n é uma solução se e somente se r for uma raiz


caracterı́stica da relação de recorrência.
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Solução de Relação de Recorrência Linear e Homogênea
com Coeficientes Constantes

Teorema
Considere c1 e c2 como números reais. Suponha que r 2 − c1 r − c2 = 0
tenha duas raı́zes distintas r1 e r2 . Então, a sequência T (n) é uma solução
para a relação de recorrência T (n) = c1 T (n − 1) + c2 T (n − 2) se e
somente se T (n) = α1 r1n + α2 r2n para n = 1, 2, . . ., em que α1 e α2 são
constantes.

• Solução para a relação de recorrência linear e homogênea com


coeficientes constantes de grau 2, cujas raı́zes são distintas
(podendo ser reais ou complexas);

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Exemplo

Exemplo
Encontre a fórmula direta para a sequência de Fibonacci,
F (n) = F (n − 1) + F (n − 2) com F (0) = 0 e F (1) = 1.
A equação√caracterı́stica da relação
√ de recorrência é r 2 − r − 1 = 0, que possui raı́zes
r1 = (1 + 5)/2 e r2 = (1 − 5)/2 (utilize a fórmula de Báskara). Assim,
√ !n √ !n
1+ 5 1− 5
F (n) = α1 + α2 ,
2 2
para as constantes α1 e α2 . A partir das condições iniciais, temos que

F (0) = α1 + α2 = 0 !
√ √ !
1+ 5 1− 5
F (1) = α1 + α2 = 1.
2 2
√ √
Resolvendo o sistema, tem-se que α1 = 1/ 5 e α2 = −1/ 5. Logo, a solução da relação de
recorrência é √ !n √ !n
1 1+ 5 1 1− 5
F (n) = √ −√ .
5 2 5 2

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Solução de Relação de Recorrência Linear e Homogênea
com Coeficientes Constantes

Teorema
Considere c1 e c2 6= 0 como números reais. Suponha que r 2 − c1 r − c2 = 0
tenha apenas uma raiz r0 . Então, a sequência T (n) é uma solução para a
relação de recorrência T (n) = c1 T (n − 1) + c2 T (n − 2) se e somente se
T (n) = α1 r0n + α2 nr0n para n = 1, 2, . . ., em que α1 e α2 são constantes.

• Solução para a relação de recorrência linear e homogênea com


coeficientes constantes de grau 2, cujas raı́zes são iguais (podendo
ser real ou complexa);

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Exemplo

Exemplo
Qual a solução da relação de recorrência, T (n) = 6T (n − 1) − 9T (n − 2)
com T (0) = 1 e T (1) = 6?
A equação caracterı́stica da relação de recorrência é r 2 − 6r + 9 = 0 possui raiz única r0 = 3.
Assim, temos que
T (n) = α1 3n + α2 n3n ,
para as constantes α1 e α2 . Usando as condições iniciais, temos que

F (0) = α1 = 1
F (1) = 3α1 + 3α2 = 6.
Resolvendo o sistema, tem-se que α1 = 1 e α2 = 1. Logo, a solução da relação de recorrência é

T (n) = 3n + n3n .

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Solução de Relação de Recorrência Linear e Homogênea
com Coeficientes Constantes

Teorema
Considere c1 , c2 , . . . , ck como números reais. Suponha que a equação
caracterı́stica r k − c1 r k−1 − . . . − ck = 0 tenha k raı́zes distintas
r1 , r2 , . . . , rk . Então, a sequência T (n) é uma solução para a relação de
recorrência T (n) = c1 T (n − 1) + c2 T (n − 2) + . . . + ck T (n − k) se e
somente se T (n) = α1 r1n + α2 r2n + . . . + αk rkn para n = 1, 2, . . ., em que
α1 , α2 , . . . , αk são constantes.

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Exemplo

Exemplo
Encontre a solução para a relação de recorrência
T (n) = 6T (n − 1) − 11T (n − 2) + 6T (n − 3) com T (0) = 2, T (1) = 5 e
T (2) = 15.
O polinômio caracterı́stico da relação de recorrência é
r 3 − 6r 2 + 11r − 6 = (r − 1)(r − 2)(r − 3), que possui raı́zes caracterı́sticas r = 1, r = 2 e
r = 3. Assim, a solução desta relação de recorrência possui a forma

T (n) = α1 1n + α2 2n + α3 3n .

Usando as condições iniciais, resolve-se o sistema


T (0) = α1 + α2 + α3 = 2
T (1) = α1 + 2α2 + 3α3 = 5
T (2) = α1 + 4α2 + 9α3 = 15
encontrando α1 = 1, α2 = −1 e α3 = 2. Assim, a única solução para esta relação de recorrência
com as condições iniciais dadas é
T (n) = 1 − 2n + 2 · 3n .

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Solução de Relação de Recorrência Linear e Homogênea
com Coeficientes Constantes
Teorema
Considere c1 , c2 , . . . , ck como números reais. Suponha que a equação
caracterı́stica r k − c1 r k−1 − . . . − ck = 0 tenha t raı́zes distintas
r1 , r2 , . . . , rt com multiplicidades m1 , m2 , . . . , mt , respectivamente, sendo
mi ≥ 1, para i = 1, 2, . . . , t e m1 + m2 + . . . + mt = k. Então, a sequência
T (n) é uma solução para a relação de recorrência
T (n) = c1 T (n − 1) + c2 T (n − 2) + . . . + ck T (n − k) se e somente se

T (n) = (α1,0 + α1,1 n + . . . + α1,m1 −1 nm1 −1 )r1n +


(α2,0 + α2,1 n + . . . + α2,m2 −1 nm2 −1 )r2n +
..
. +
(αt,0 + αt,1 n + . . . + αt,mt −1 nmt −1 )rtn

para n = 1, 2, . . ., em que αi,j são constantes para 1 ≤ i ≤ t e


0 ≤ j ≤ mi − 1.
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Exemplo

Exemplo
Suponha que as raı́zes da equação caracterı́stica de uma relação de
recorrência linear e homogênea sejam 2, 2, 2, 5, 5 e 9. Qual é a forma da
solução geral?
A forma geral da solução é

(α1,0 + α1,1 n + α1,2 n2 )2n + (α2,0 + α2,1 n)5n + α3,0 9n .

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Exemplo

Exemplo
Encontre a solução para a relação de recorrência
T (n) = −3T (n − 1) − 3T (n − 2) − T (n − 3) com T (0) = 1, T (1) = −2 e
T (2) = −1.
O polinômio caracterı́stico da relação de recorrência é r 3 + 3r 2 + 3r + 1 = (r + 1)3 , que possui
uma raiz única r = −1 de multiplicidade 3 na equação caracterı́stica. Assim, a solução geral
desta relação de recorrência possui a forma

T (n) = α1,0 (−1)n + α1,1 n(−1)n + α1,2 n2 (−1)n .

Usando as condições iniciais, resolve-se o sistema


T (0) = α1,0 = 1
T (1) = −α1,0 − α1,1 − α1,2 = −2
T (2) = α1,0 + 2α1,1 + 4α1,2 = −1
encontrando α1,0 = 1, α1,1 = 3 e α1,2 = −2. Assim, a única solução para esta relação de
recorrência com as condições iniciais dadas é
T (n) = (1 + 3n − 2n2 )(−1)n .

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Solução de Relação de Recorrência Linear e Heterogênea
com Coeficientes Constantes

• Forma: an = c1 an−1 + c2 an−2 + . . . + ck an−k + F (n),


ci ∈ R, i = 1, . . . , k, e F (n) uma função não nula de n.

Exemplos
I T (n) = T (n − 1) + 2n .
I S(n) = S(n − 1) + S(n − 2) + n2 + 1.
I an = 3an−1 + n3n .

• Existe solução para determinadas famı́lias.


• Parte homogênea associada: an = c1 an−1 + c2 an−2 + . . . + ck an−k .
• Fórmula fechada: Soma de uma solução particular com uma solução
da relação de recorrência associada homogênea e linear.

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Solução de Relação de Recorrência Linear e Heterogênea
com Coeficientes Constantes

Teorema
(p)
Se {an } é uma solução particular para a relação de recorrência linear e
heterogênea com coeficientes constantes

an = c1 an−1 + c2 an−2 + . . . + ck an−k + F (n),


(p) (h)
então, toda solução se apresenta sob a forma de {an + an }, em que
(h)
{an } é uma solução para a relação de recorrência associada homogênea

an = c1 an−1 + c2 an−2 + . . . + ck an−k .

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Exemplo

Exemplo
Encontre todas as soluções de an = 3an−1 + 2n.
(h)
As soluções da parte homogênea an = 3an−1 possui a forma an = α1 3n , com α constante.
(p)
Sendo F (n) = 2n um polinômio de grau um, uma possı́vel solução é an = cn + d, para c e d
constantes. Substituindo tais termos na relação de recorrência, tem-se

cn + d = 3(c(n − 1) + d) + 2n.

Simplificando e organizando os dados, tem-se (2 + 2c)n + (2d − 3c) = 0. Com isso, cn + d é


uma solução se e somente se 2 + 2c = 0 e 2d − 3c = 0. Isso mostra que que cn + d é uma
(p)
solução se e somente se c = −1 e d = −3/2. Consequentemente, an = −n − 3/2 é uma
solução particular. Pelo teorema anterior, as soluções de tal relação de recorrência possui a forma

an = −n − (3/2) + α3n .

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Exemplo

Exemplo
Encontre todas as soluções de T (n) = 5T (n − 1) − 6T (n − 2) + 7n .
As soluções da parte homogênea T (n) = 5T (n − 1) − 6T (n − 2) possui a forma
T (n)(h) = α1 3n + α2 2n , com α1 , α2 constantes. Sendo F (n) = 7n , uma possı́vel solução é
T (n)(p) = c7n , para c constante. Substituindo tais termos na relação de recorrência, tem-se

c7n = 5c7n−1 − 6c7n−2 + 7n .


Dividindo a equação por 7n−2 , tem-se 49c = 35c − 6c + 49, implicando em 20c = 49 ou
c = 49/20. Logo, T (n)(p) = (49/20)7n é uma solução particular. Pelo teorema anterior, as
soluções de tal relação de recorrência possui a forma

T (n) = α1 3n + α2 2n + (49/20)7n .

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Solução de Relação de Recorrência Linear e Heterogênea
com Coeficientes Constantes

Teorema
Suponha que {an } satisfaça a relação de recorrência linear e heterogênea
an = c1 an−1 + c2 an−2 + . . . + ck an−k + F (n),

sendo ci ∈ R, i = 1, . . . , k, e F (n) = (bt nt + bt−1 nt−1 + . . . + b1 n + b0 )s n ,


com s, bj ∈ R, j = 0, . . . , t. Quando s não for uma raiz da equação
caracterı́stica da relação de recorrência associada linear e homogênea,
haverá uma solução particular na forma
(pt nt + pt−1 nt−1 + . . . + p1 n + p0 )s n .

Quando s for uma raiz dessa equação caracterı́stica e sua multiplicidade


for m, haverá uma solução particular na forma
nm (pt nt + pt−1 nt−1 + . . . + p1 n + p0 )s n .

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Exemplo

Exemplo
Qual a forma de uma solução particular da relação de recorrência linear e
heterogênea an = 6an−1 − 9an−2 + F (n), quando F (n) = 3n , F (n) = n3n ,
F (n) = n2 2n e F (n) = (n2 + 1)3n .
A equação caracterı́stica associada a parte linear homogênea é r 2 − 6r + 9 = (r − 3)2 , com a
raiz 3 de multiplicidade 2. Ao aplicar o teorema com F (n) na forma P(n)s n , em que P(n) é um
polinômio e s uma constante, que deve ser avaliada para saber se é ou não uma raiz da equação
caracterı́stica.
Como s = 3 é uma raiz com multiplicidade m = 2, mas s = 2 não é uma raiz, pelo teorema,
uma solução particular possui a forma
• p0 n2 3n se F (n) = 3n ;
• n2 (p1 n + p0 )3n se F (n) = n3n ;
• (p2 n2 + p1 n + p0 )2n se F (n) = n2 2n ; e
• n2 (p2 n2 + p1 n + p0 )3n se F (n) = (n2 + 1)3n .

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Propriedades do Logaritmo

• loga (xy ) = loga x + loga y


• loga (x/y ) = loga x − loga y
• loga x m = m loga x

n m
m
• loga x m = loga x n = n loga x
logc a
• logb a = logc b
• aloga x = x

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Relações de Recorrência de Divisão e Conquista

• Relações do tipo:
f (n) = af (n/b) + g (n)
• Usado para modelar algoritmos de divisão e conquista;
• O problema de dimensão n é dividido em a subproblemas;
• Cada subproblema possui dimensão n/b;
• Em cada subproblema, g (n) operações são realizadas.

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Exemplo

Exemplo
Expanda, conjecture e verifique a fórmula fechada da relação de
recorrência T (n) = T (n/2) + 2, em que T (1) = 0.
Considere n = 2k , com k inteiro. Assim, k = log2 n e T (1) = T (20 ) = 0. Expandindo, temos

T (2k ) = T (2k−1 ) + 2 = T (2k−1 ) + 1 · 2


= T (2k−2 ) + 2 + 2 = T (2k−2 ) + 2 · 2
= T (2k−3 ) + 2 + 2 + 2 = T (2k−3 ) + 3 · 2
Após j iterações
= T (2k−j ) + j · 2

A condição de parada é k − j = 0 → k = j. Com isto, conjecturamos que


T (2k ) = T (2k−k ) + k · 2
= T (20 ) + k · 2
= T (1) + 2 · k
= 0+2·k
= 2·k
Temos assim, T (2k ) = 2 · k, ou seja, T (n) = 2 · log2 n. Agora, precisamos verificar.

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Exemplo

Exemplo
Faremos a indução em k.
Seja a proposição P(k) : T (2k ) = 2 · k.
Passo Base: O passo base é verdadeiro de acordo com a base de indução, pois quando k = 0,
temos T (1) = T (20 ) = 2 · 0 = 0.
Passo Indutivo: Devemos provar P(k) → P(k + 1). Ou seja, supondo que T (2k ) = 2 · k é
verdadeira, devemos chegar a conclusão de que T (2k+1 ) = 2 · (k + 1) é verdadeira também.
Seja P(k) : T (2k ) = 2 · k a hipótese de indução. Assim, temos

T (2k+1 ) = T (2k ) + 2 por definição da relação de recorrência


= 2·k +2 pela hipótese de indução
= 2(k + 1) colocando 2 em evidência

Logo, a indução está feita e concluı́mos que T (2k+1 ) = 2 · (k + 1) se T (k) = 2k .


Substituindo k = log2 n, concluı́mos que T (n) = 2 log2 n.

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Exemplo
Exemplo
Encontre a fórmula fechada da relação de recorrência f (n) = 2f (n/2) + n,
com f (2) = 1.
Uma vez que em cada iteração n é dividido por 2, seja n = 2k , k ∈ Z. Assim, k = log2 n e a
condição de parada se dá quando f (2) = f (21 ) = 1, ou seja, k = 1. Expandindo, temos

f (2k ) = 2f (2k−1 ) + 2k = 21 f (2k−1 ) + 2k


= 2[2f (2k−2 ) + 2k−1 ] + 2k = 22 f (2k−2 ) + 2 · 2k
= 22 [2f (2k−3 ) + 2k−2 ] + 2 · 2k = 23 f (2k−3 ) + 3 · 2k
Após j iterações
= 2j f (2k−j ) + j · 2k
A condição de parada se dá quando k − j = 1 → j = k − 1. Assim, conjecturamos que
f (2k )
= 2k−1 f (2k−(k−1) ) + (k − 1)2k
= 2k−1 f (21 ) + (k − 1)2k
= 2k−1 f (2) + (k − 1)2k
= 2k−1 · 1 + (k − 1)2k
= 2k−1 + (k − 1)2k
Temos assim, f (2k ) = 2k−1 + (k − 1)2k , ou seja, f (n) = 2−1 n + (log2 n − 1)n. Verifiquemos a
validade da fórmula fechada via indução matemática em k.

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Exemplo

Exemplo
Seja a proposição P(k) : f (2k ) = 2k−1 + (k − 1)2k .
Passo Base: O passo base é verdadeiro de acordo com a base de indução, pois quando k = 1,
temos f (2) = f (21 ) = 21−1 + (1 − 1)21 = 20 = 1.
Passo Indutivo: Devemos provar P(k) → P(k + 1). Ou seja, supondo que
f (2k ) = 2k−1 + (k − 1)2k é verdadeira, devemos chegar a conclusão de que
f (2k+1 ) = 2k+1−1 + (k + 1 − 1)2k+1 = 2k + k2k+1 é verdadeira também.
Seja P(k) : f (2k ) = 2k−1 + (k − 1)2k a hipótese de indução. Assim, temos

f (2k+1 ) = 2f (2k ) + 2k+1 pela definição da relação de recorrência


= 2(2k−1 + (k − 1)2k ) + 2k+1 pela hipótese de indução
= 2 · 2k−1 + 2 · (k − 1)2k + 2k+1 multiplicando por 2 dentro do parênteses
= 2k + (k − 1)2k+1 + 2k+1 soma de expoentes (mesma base)
= 2k + k2k+1 − 2k+1 + 2k+1 expande multiplicação
= 2k + k2k+1 elimina termos opostos

Logo, a indução está feita e concluı́mos que 2k + k2k+1 se f (2k ) = 2k−1 + (k − 1)2k .
n
Substituindo k = log2 n, concluı́mos que f (n) = 2−1 n + (log2 n − 1)n = n log2 n − .
2

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