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A CHEGADA DO POWERPC ESQUENTA

A GUERRA DOS CH/PS*

Ricardo Brinco"

1 - Introdução

o presente artigo busca examinar alguns aspectos da crescente competição que


s e estabeleceu no c a m p o dos microprocessadores, nos últimos anos. A a b o r d a g e m é
naturalmente não exaustiva, sendo dada ênfase a determinadas estratégias de atuação
d a e m p r e s a líder, a I n t e l , e a o s d e s a f i o s à s u a h e g e m o n i a c o l o c a d o s p o r f a b r i c a n t e s
q u e t r a b a l h a m c o m u m a diferente tecnologia d a q u e v e m s e n d o por e l a adotada. N e s s e
a s p e c t o , o e x a m e d o m i c r o p r o c e s s a d o r P o w e r P C , há p o u c o introduzido, resulta e s p e -
c i a l m e n t e ilustrativo.
P o d e - s e iniciar o a s s u n t o a p a r t i r d a c o n s t a t a ç ã o d a g e n e r a l i z a d a p r e s e n ç a d o s
m i c r o p r o c e s s a d o r e s n o quotidiano deste final de século. A i n d a q u e a p e r c e p ç ã o m a i s
imediata a e s s e respeito t e n d a a fixar-se na idéia de s u a utilização privilegiada e m
equipamentos de processamento de dados, c o m o os microcomputadores, o fato é que
s u a u b i q ü i d a d e a s s u m e caráter b e m m a i s amplo. Ocorre q u e os usuários, muitas v e z e s ,
n e m c h e g a m a s e dar c o n t a d a b a n a l i z a ç ã o d o u s o já atingida, a partir d a i n c o r p o r a ç ã o
g e n e r a l i z a d a d e s s e t i p o d e d i s p o s i t i v o a u m rol i n f i n d á v e l d e e q u i p a m e n t o s : t e l e f o n e s ,
televisores, sistemas d e áudio e vídeo, eletrodomésticos e m geral, automóveis, aviões,
c o m a n d o s n u m é r i c o s c o m p u t a d o r i z a d o s , robôs, e t c , a p e n a s para citar exemplos
tomados ao acaso.
Na base dessa proliferação desenfreada dos processadores embutidos, encon-
tram-se as v a n t a g e n s a s s o c i a d a s à extrema flexibilidade proporcionada aos sistemas
a q u e s e r v e m , c e r t a m e n t e o principal fator d e a d e q u a ç ã o ao atendimento d e u m a
e x t e n s a g a m a de n e c e s s i d a d e s . Isso torna-se possível pela v a r i e d a d e de f u n ç õ e s d e
controle eletrônico assim viabilizadas.
O fato é que u m a grande parte das transformações tecnológicas ocorridas nesta
s e g u n d a metade d o s é c u l o X X está, de uma forma ou de outra, intimamente relacionada
a o s a v a n ç o s da microeletrônica. N a s suas origens, encontra-se a invenção d o transistor,
cujo desenvolvimento remonta aos anos 1947-48. Tratava-se já de u m componente de
d i m e n s õ e s muito c o m p a c t a s , t e n d o c o m o substrato u m material semicondutor, e q u e
v i r i a a c o n s t i t u i r o p r i m e i r o d i s p o s i t i v o d a física d e e s t a d o s ó l i d o a p t o a m o d u l a r , a m p l i f i c a r
e retificar s i n a i s e l e t r ô n i c o s . S u a i n t r o d u ç ã o c o m e r c i a l n o m e r c a d o p o s s i b i l i t o u s u b s t i t u i r
a s v o l u m o s a s válvulas a v á c u o até então e m uso nos circuitos eletrônicos.

o autor agradece aos colegas Flavio Fligenspan, Daisy D. S. Zeni e André L. F. Scherer pelas sugestões
feitas a uma versão preliminar deste texto.
Economista da FEE.
Outro m a r c o significativo do desenvolvimento da microeletrônica está vinculado à
introdução d o circuito integrado c o m tecnologia bipolar e m 1959, q u a n d o se tornou
possível aglomerar transistores, diodos e componentes passivos e m u m a pastilha
constituída de u m material semicondutor. Desde então, não cessou de crescer o número
d e c o m p o n e n t e s i n c o r p o r a d o s a u m ú n i c o chip, d e t e r m i n a n d o u m n í v e l d e i n t e g r a ç ã o
dos circuitos integrados que, no caso dos microprocessadores, tem, historicamente,
d o b r a d o a c a d a a n o , c o m repercussões extremamente positivas n o tocante à elevação
da capacidade de processamento.
N e s t e p o n t o , é c o n v e n i e n t e a c r e s c e n t a r , p a r a fins d e m e l h o r c o m p r e e n s ã o d o
texto, q u e a d e n o m i n a ç ã o s e m i c o n d u t o r engloba diversos tipos d e dispositivos, inclu-
sive c o m p o n e n t e s discretos, que são aqueles capazes de executar u m a só função
lógica, a e x e m p l o de transistores, diodos, etc. A b r a n g e igualmente os chamados
circuitos monolíticos, lineares e digitais, estes últimos diferenciando-se pela possibili-
dade de desempenharem várias funções.
O universo d o s circuitos digitais, por s u a vez, é representado por dois g r a n d e s
grupos d e microestruturas, a saber, os circuitos integrados de m e m ó r i a e os micropro-
c e s s a d o r e s , a l é m d o s assim d e n o m i n a d o s circuitos lógicos. O uso d a s expressões
c i r c u i t o i n t e g r a d o e chip (pastilha) é equivalente, estando associadas, no p r e s e n t e
artigo, especificamente aos microprocessadores.

2 - Sobre as origens da liegemonia da Intel

o m i c r o p r o c e s s a d o r p o d e s e r definido, d e f o m i a expedita, c o m o s e n d o constituído


p o r u m c o n j u n t o d e circuitos eletrônicos q u e , d e f o r m a s e q ü e n c i a l , e x e c u t a m g r u p o s d e
i n s t r u ç õ e s e c o n t r o l a m u n i d a d e s auxiliares d e c o m u n i c a ç ã o e a r m a z e n a m e n t o d e infor-
m a ç õ e s ( o s c h a m a d o s periféricos). O dispositivo a t u a , n e s s a s c o n d i ç õ e s , c o m o o v e r d a -
d e i r o " c é r e b r o " d o c o m p u t a d o r , isto é, s u a U n i d a d e Central d e P r o c e s s a m e n t o ( U C P ) .
T r a t a - s e d e u m ú n i c o chip, q u e o f e r e c e a inestimável característica d e viabilizar
m ú l t i p l a s a p l i c a ç õ e s , s e n d o s u a flexibilidade d e u s o d e t e r m i n a d a p r e c i s a m e n t e p e l a p o s s i -
b i l i d a d e d e p r o g r a m a ç ã o . E é e m f u n ç ã o d a n a t u r e z a n ã o d e d i c a d a — isto é, n ã o
e s p e c i a l i z a d a — d o m i c r o p r o c e s s a d o r q u e s e t o m o u possível trabalhar c o m e l e v a d a s
e s c a l a s e m s u a p r o d u ç ã o , fato q u e s e traduziu e m q u e d a t e n d e n c i a l d o s p r e ç o s d e v e n d a
d e s s e d i s p o s i t i v o e e m c r i a ç ã o d e m a i o r e s estímulos à e x p a n s ã o d e s u a d e m a n d a .
O p r i m e i r o m i c r o p r o c e s s a d o r c o m e r c i a l m e n t e identificado c o m o tal foi o c h a m a d o 4 0 0 4 ,
introduzido a o final d e 1 9 7 1 . E s s e d e s e n v o l v i m e n t o pioneiro e s t e v e a c a r g o d a c o m p a n h i a
n o r t e - a m e r i c a n a Intel, t e n d o sido c o n c e b i d o s o b e n c o m e n d a d e u m a e m p r e s a j a p o n e s a
fabricante d e calculadoras. E s s e dispositivo, d e b a i x a escala d e integração ( c o m 2 . 2 5 0
transistores) e arquitetura d e q u a t r o bits, reproduzia a s f u n ç õ e s d e u m a U C P d e u m
c o m p u t a d o r . Q u a n d o a s s o c i a d o a outros chips q u e a s s e g u r a v a m a s f u n ç õ e s d e m e m ó r i a e
controle d e e n t r a d a e/ou saída, f i c a v a viabilizada a m o n t a g e m d e u m m i c r o c o m p u t a d o r
E m 1972, a Intel c o l o c o u n o m e r c a d o u m n o v o c o m p o n e n t e , q u e p a s s o u a f i g u r a r
n o s e u c a t á l o g o d e p r o d u t o s c o m o o 8 0 0 8 . O r e f e r i d o chip teve várias versões
posteriores, transformando-se no 8 0 8 0 , 8 0 8 5 e 8086. De forma a melhor adequar este
ú l t i m o d i s p o s i t i v o à s c o n d i ç õ e s d o m e r c a d o , a Intel " r e p r o j e t o u - o " p a r a c r i a r o 8 0 8 8 ,
q u e contribuiria n a definição de u m padrão para a nascente indústria de c o m p u t a d o r e s
de mesa.
Com efeito, e m 1 9 8 0 , a IBIVI c o m p l e t o u o desenvolvimento de seu mi-
c r o c o m p u t a d o r P e r s o n a l C o m p u t e r ( P C ) o r i g i n a l , t e n d o , p a r a t a n t o , s e l e c i o n a d o a Intel
c o m o f o r n e c e d o r a d a U n i d a d e Central de P r o c e s s a m e n t o . Para esta última, foi c o m o
tirar a sorte g r a n d e , n a m e d i d a e m q u e significou a estreita associação c o m u m s i s t e m a
q u e viria a ser n o t a v e l m e n t e b e m - s u c e d i d o do ponto de vista comercial. O fato é q u e ,
até a introdução do IBM P C e a explosão de suas vendas, a produção de microcompu-
t a d o r e s tinha u m caráter a m a d o r í s t i c o , s e n d o s u a clientela Constituída b a s i c a m e n t e de
aficcionados d a eletrônica, e não havendo penetração no m u n d o empresarial. A
situação m u d o u completamente c o m o fulminante sucesso alcançado pelo novo produ-
to. Inesperado até m e s m o para a IBM, e consolidou-se c o m o rápido aparecimento d o s
fabricantes de equipamentos compatíveis e c o m a proliferação de fornecedores
independentes de componentes e acessórios para o sistema.
E s t a v a m a s s i m e s t a b e l e c i d a s a s c o n d i ç õ e s materiais iniciais viabilizadoras d a
d o m i n a ç ã o d o s m e m b r o s d a c h a m a d a família 8 0 X 8 6 — e , por c o n s e q ü ê n c i a , d a própria
Intel — s o b r e a indústria d e c o m p u t a d o r e s . P a r a tanto, à é p o c a , a e m p r e s a p r e c i s o u
vencer competidores do porte da Motorola, da National Semiconductors, da T e x a s
I n s t r u m e n t s e d a Zilog, f a t o q u e lhe a s s e g u r o u u m q u a s e - m o n o p ó l i o e u m a posição
h e g e m ô n i c a q u e s ó recentemente c o m e ç o u a ser contestada. Para se ter u m a idéia
m a i s precisa d o real significado d e s s e domínio, b a s t a dizer q u e , d o total d e 140 milhões
d e P C s q u e s e e s t i m a existirem no M u n d o , mais d e 8 0 % ostentam o selo Intel inside.
N a t u r a l m e n t e , o f a t u r a m e n t o d a e m p r e s a e s p e l h a tal realidade, t e n d o a l c a n ç a d o U S $
8,8 bilhões e m 1993, representando u m crescimento d e 5 0 % e m relação a o ano
precedente. D a m e s m a f o r m a , s ã o impressionantes os lucros obtidos no exercício, na
faixa d o s U S $ 2,3 bilhões, refletindo u m e x p a n s ã o d e 1 1 5 % s o b r e o período anterior
(Business Week, 1994).

3 - Sobre as estratégias de atuação da Intel

A m a n u t e n ç ã o d a h e g e m o n i a d a e m p r e s a líder t e m s i d o a s s e g u r a d a g r a ç a s a
p e s a d o s investimentos, c o n s t a n t e m e n t e renovados. O fato é q u e projetar e fabricar u m
m i c r o p r o c e s s a d o r no "estado da arte" implica o c o m p r o m e t i m e n t o d e recursos finan-
c e i r o s e m a t e r i a i s d e v e r a s s i g n i f i c a t i v o s . Isso f i c a b e m e v i d e n c i a d o n o c a s o d o P e n t i u m ,
o m a i s n o v o m e m b r o d a l i n h a g e m Intel, q u e d e v e r á c o n s u m i r U S $ 5 b i l h õ e s e m g a s t o s
c o m a realização d o ciclo c o m p l e t o de pesquisa e desenvolvimento e c o m a s instala-
ções produtivas.
É importante enfatizar o a s p e c t o d a vertiginosa e s c a l a d a d e c u s t o s q u e v e m m a r c a n d o
a d i n â m i c a d e s s e s e t o r industrial, fato q u e s e evidencia a i n d a m a i s c l a r a m e n t e q u a n d o d a
p a s s a g e m d e u m a g e r a ç ã o d e dispositivos p a r a outra. O d e s e n v o l v i m e n t o c o m p l e t o d o 4 8 6 ,
p o r e x e m p l o , c u s t o u " a p e n a s " U S $ 1 bilhão, o u seja, u m quinto do v o l u m e d e i n v e s t i m e n t o s
a s s o c i a d o s a o m i c r o p r o c e s s a d o r seguinte, o P e n t i u m . S e g u i n d o n a m e s m a linha d e racio-
cínio, v e j a - s e q u e a Intel t e m p l a n o s de aplicar c e r c a d e U S $ 2,4 bilhões ao longo d e 1 9 9 4 ,
3 3 % a m a i s d o q u e n o a n o anterior, cifra q u e , diga-se d e p a s s a g e m , e x c e d e o d i s p ê n d i o
c o n j u n t o a n u n c i a d o p e l a s q u a t r o outras maiores e m p r e s a s d o setor ( G M , 1.2.94).
A realização d e investimentos desse porte está diretamente associada a u m d o s
t r a ç o s mais característicos desse s e g m e n t o da indústria d e semicondutores, qual seja,
a rápida obsolescência atingindo sucessivas gerações de microprocessadores. Quedas
acelerèdas de preço e aposentadoria precoce dos dispositivos — rapidamente transfe-
ridas a o s s i s t e m a s q u e os incorporam — s ã o contrapartidas naturais d e s s e processo.
M a i s a i n d a , r e f l e t e m , e m b o a m e d i d a , a s d e c i s õ e s d e política e a s m u d a n ç a s n a e s t r u t u r a
d e c o m e r c i a l i z a ç ã o d e p r o d u t o s d e u m a ú n i c a g r a n d e e m p r e s a , a Intel. É v e r d a d e q u e
essas decisões surgem, c a d a vez mais, c o m o resposta ao acirramento da competição
d e s e n c a d e a d a p o r o u t r o s f a b r i c a n t e s d e chips, de posição técnica e comercial consoli-
d a d a n o m e r c a d o , c o m o a A m e r i c a n Micro Devices (AMD) e a Cyrix.
N a r e a l i d a d e , a Intel v e m t r a b a l h a n d o h á j á b a s t a n t e t e m p o c o m a e s t r a t é g i a d e
"canibalização" d o s m e m b r o s mais antigos d e s u a família de produtos, c o m b a s e no
e n c u r t a m e n t o d e s e u ciclo d e vida, c h e g a n d o a colocar no m e r c a d o d e z e n a s d e n o v a s
variantes de processadores ao ano. Isso faz c o m q u e , dada a constante renovação
i m p o s t a à s u a lista d e p r o d u t o s — i n c l u s i v e c o m o l a n ç a m e n t o d e v á r i a s v e r s õ e s d e n t r o
de u m a m e s m a geração — , seja uma questão de pouco tempo (com freqüência, alguns
m e s e s ) p a r a q u e m e s m o o s m o d e l o s top-ofline fiquem superados, passando a ser
comercializados a preços muito inferiores a o s d e lançamento.
J á foi u m a questão relativamente simples escolher a U C P de u m sistema c o m p a -
t í v e l I B M P C , n a é p o c a e m q u e u m l e q u e restrito d e d i s p o s i t i v o s , d e performance
claramente diferenciada, estava disponível. Assim, a opção já esteve circunscrita a o
8 0 8 8 ( o " m o t o r " d o X T ) , s e n d o , d e p o i s , a m p l i a d a c o m a i n t r o d u ç ã o d o 2 8 6 (o A T ) , e o
m e s m o voltando a ocorrer c o m os lançamentos do 386 e do 486. T o d o s eram produtos
d a I n t e l , s e n d o a p e n a s o f e r e c i d o s c o m d i f e r e n t e s v e l o c i d a d e s d e clocl^. É o que
j u s t i f i c a v a a i d e n t i f i c a ç ã o d o P C c o m o u m a s i m p l e s commodity. N o s dias d e hoje, o
" m e n u " d e dispositivos oferecido é muito farto, envolvendo mais de u m modelo dentro
de c a d a geração de microprocessadores: SX, SL, DX, DX2 e DX4. É interessante
observar que essa proliferação de versões, independentemente das motivações
m e r c a d o l ó g i c a s q u e e s t i v e r a m n a o r i g e m d e u m a o u o u t r a , reflete u m a s e g m e n t a ç ã o
d e f a t o do mercado de microprocessadores.
A s s i m , o s chips SX, de baixo custo, tornaram-se os dispositivos mais a d e q u a d o s
para os c h a m a d o s sistemas de entrada no mercado de PCs, sendo imediatamente
seguidos pelos D X no atendimento a maiores necessidades de processamento. Os S L
estão direcionados ao m e r c a d o dos sistemas portáteis — q u e deixaram d e formar u m
nicho d e mercado e j á concorrem c o m os modelos de m e s a — , e m função de sua baixa
v o l t a g e m e de sua capacidade de gerenciamento do c o n s u m o de energia. Por sua vez,
os D X 2 — e c o m ainda maior ênfase os D X 4 — s ã o usados e m sistemas d e alta
performance, c o m o estações d e trabalho e sen/idores de rede.
E s s a estratégia s u s t e n t a d a p e l a Intel d e inundar o m e r c a d o c o m n o v a s U C P s t e m
l e v a d o , c o n f o r m e j á referido, à a d o ç ã o d e ciclos d e d e s e n v o l v i m e n t o d e p r o d u t o s c a d a v e z
m a i s c u r t o s . N e s s e c o n t e x t o , a e m p r e s a - l i d e r t e m p r o c u r a d o "empun-ar", s i s t e m a t i c a m e n t e
e d e f o r m a c a d a v e z m a i s c é l e r e , a "fronteira técnica", d e m o d o a s e g u i r i s o l a d a n a o f e r t a
dos produtos mais avançados e continuar auferindo, dessa forma, as correspondentes
m a r g e n s e l e v a d a s d e lucro.

1 Trata-se de um circuito eletrônico que serve para regular a sincronização dos fluxos de informação que se
deslocam através dos canais internos de comunicação de um computador. Para tanto, gera pulsos
uniformemente espaçados, à velocidade de milhões de ciclos por segundo.
O fato é que, na indústria de PCs, as empresas integradoras de sistemas e os
usuários se acostumaram a conviver com uma nova geração de processadores a
c a d a três a n o s . O s f u t u r o s m e m b r o s d a família, no e n t a n t o , d e v e m surgir e m p r a z o
menor, algo e m torno de dois anos. A questão que se coloca é saber até q u a n d o
u m ritmo frenético d e s s e s poderá ser sustentado, e m função tanto de aspectos
técnicos c o m o de mercado. Por um lado, é sabido q u e os avanços das técnicas d e
fabricação dos circuitos integrados tendem a responder c o m alguma defasagem às
n o v a s e x i g ê n c i a s c o l o c a d a s pelos d e s e n v o l v i m e n t o s a nível de projeto. Por outro,
o ciclo d e vida decrescente dos dispositivos repercute e m termos d a m a n u t e n ç ã o
d a s m a r g e n s de lucro e do próprio encurtamento do prazo para recuperação dos
i n v e s t i m e n t o s r e a l i z a d o s c o m u m d e t e r m i n a d o dispositivo. Isso p a r a n ã o falar,
naturalmente, dos problemas colocados pela obsolescência precoce dos PCs para
fabricantes e usuários, que são apenas parcialmente contornados pela adoção da
t é c n i c a d o upgrade, isto é, d a atualização prevista d e e q u i p a m e n t o s c o m b a s e e m
u m a troca da UCP.
A Intel t e m sido m o t i v a d a , n e s s e particular de introduzir mais r a p i d a m e n t e o s
novos processadores, por dois tipos de a m e a ç a s à s u a hegemonia.A primeira t e m
origem naqueles fabricantes que trabalham c o m projetos que t ê m como base os
d i s p o s i t i v o s Intel. S ã o o s c h a m a d o s clones^, c o m p o n e n t e s f u n c i o n a l m e n t e c o m p a -
t í v e i s e q u e c o s t u m a m s e c a r a c t e r i z a r p o r p r e ç o s c o m p e t i t i v o s e performances até
m e s m o superiores, e m função da facilidade de incorporação aos m e s m o s dos
aportes tecnológicos mais recentes, não disponíveis quando da realização do
projeto original.
É preciso acrescentar que o poder de fogo demonstrado por esse tipo de
c o m p e t i d o r e s é m u i t o e f e t i v o , c o n s o l i d a n d o - s e à m e d i d a q u e c o n s e g u e m ir r e d u z i n d o ,
m a i s p r o n t a m e n t e , o gap t e c n o l ó g i c o q u e o s s e p a r a d o s p r o d u t o s d e p o n t a d a e m p r e -
s a - l í d e r . A s s i m , n o c a s o d o P e n t i u m , a Intel c e r t a m e n t e n ã o p o d e r á c o n t a r c o m o m e s m o
t e m p o d e desfrute isolado de mercado que teve c o m o 486, u m a vez que tanto a A M D
c o m o a Cyrix já anunciaram o lançamento, para breve, d e suas próprias versões
compatíveis do Pentium.
A i n d a a s s i m , e n ã o s e m u m a certa ironia, a a m e a ç a m a i s consistente e n f r e n t a d a
p e l a Intel n ã o p r o c e d e p r o v a v e l m e n t e d e s s a s d u a s c o m p a n h i a s o u d e a l g u m a outra
q u e trabalhe c o m microprocessadores da família X86. Afinal, nesse caso, as vendas
d o s c o n c o r r e n t e s " j o g a m á g u a n o m e s m o m o i n h o " , isto é , t a m b é m c o l a b o r a m p a r a
f o r t a l e c e r a i m e n s a b a s e i n s t a l a d a d e m á q u i n a s d e a r q u i t e t u r a Intel, c a m p o e m q u e a
c o m p a n h i a , m e s m o s e vier a ter algo comprometida s u a fatia de mercado, continuará
s e n d o u m a participante d e peso.

Deve ser observado que o emprego do termo clone neste contexto é um pouco forçado. Na verdade, está
sendo aplicado a um produto que não é uma cópia exata do original e que nem poderia sê-lo, tendo em
conta o fato de a Intel, após o 286, não ter autorizado nenhum outro fabricante a atuar como secondsource
oficial. Nessas condições, a empresa que realiza a clonagem poderia apenas oferecer, em tese e de forma
a ficar ao abrigo da lei, uma cópia compatível com o produto da Intel. Sendo eminentemente controvertida
essa área das patentes, dos direitos autorais e dos acordos de transferência de tecnologia, não é
surpreendente constatar a transformação do Judiciário norte-americano em campo de árduas e reincidentes
batalhas, com o julgamento de ações impetradas não só pela Intel como por seus próprios concorrentes.
J á u m a presença potencialmente b e m mais ameaçadora, pelo m e n o s a médio
p r a z o , p r e n d e - s e à r e c e n t e a s c e n s ã o d o s chips R e d u c e d Instruction Set C o m p u t i n g
(RISC) no mercado dos computadores de mesa, abrindo u m a segunda frente de ataque
à h e g e m o n i a d a Intel. D e fato, o q u e está e m j o g o é a possibilidade d e surgir, n e s s e
c a m p o , u m d i s p o s i t i v o c o m b i n a n d o b a i x o p r e ç o e e x c e l e n t e performance, o que
poderia t o m a r precocemente obsoleto o Pentium, o produto mais recente da compa-
nhia-líder.

4 - Sobre os elementos em jogo na disputa RISC X CISC

O s chips RISC, o u C o m p u t a ç ã o por Conjunto de Instruções Reduzidas, foram


t r a d i c i o n a l m e n t e u t i l i z a d o s p a r a e q u i p a r a s c h a m a d a s worl<stations, isto é , a s e s t a ç õ e s
d e trabalho direcionadas para aplicações no c a m p o do desenvolvimento d e software,
dos trabalhos científicos e da c o m p u t a ç ã o gráfica. Equipam, portanto, c o m p u t a d o r e s
que t ê m c o m o exigência primeira o processamento de uma grande m a s s a de números
e m t e m p o m u i t o e x í g u o e q u e , p a r a t a n t o , p r e c i s a m o f e r e c e r performance superior à
q u e t r a d i c i o n a l m e n t e p o d i a s e r o b t i d a e m e q u i p a m e n t o s b a s e a d o s e m chips Intel o u
c o m p a t í v e i s , q u e d e p e n d e m d a tecnologia C o m p l e x Instruction Set C o m p u t i n g (CISC),
o u C o m p u t a ç ã o por Conjunto de Instruções Complexas.
A d i f e r e n ç a b á s i c a e n t r e u m chip C I S C e u m R I S C r e s i d e n o f a t o d e o p r i m e i r o
dispor d e u m amplo conjunto de instruções complexas incorporadas, sendo o m e s m o
reduzido funcionalmente ao mínimo no segundo. U m conjunto de instruções nada mais
é d o q u e u m a r e l a ç ã o d e c o m a n d o s inteligíveis p a r a o m i c r o p r o c e s s a d o r e a o s q u a i s
este reage. O uso de instruções complexas, obtidas através da combinação de várias
instruções simples, corresponde à maneira tradicional c o m o os computadores v ê m
s e n d o c o n s t r u í d o s d e s d e o s a n o s 5 0 . T e c n i c a m e n t e , tal orientação e n c o n t r a v a justifi-
cativa n o fato d e a s m e m ó r i a s t e r e m sido, durante bastante tempo, c o m p o n e n t e s muito
caros, levando os projetistas a buscarem incorporar o máximo possível de instruções
n o p r ó p r i o hardware da u n i d a d e c e n t r a l d e p r o c e s s a m e n t o , r e d u z i n d o , a s s i m , a n e c e s -
sidade de armazená-las na memória.
À m e d i d a q u e o g r u p o de instruções introduzidas nos c o m p o n e n t e s C I S C foi s e
expandindo, estes tornaram-se crescentemente complexos e especializados. Todavia,
n a prática, u m a g r a n d e parte dessas instruções a c a b a s e n d o pouco utilizada, ainda
q u e , por necessidade de manutenção da compatibilidade entre sucessivas gerações
d a família d e microprocessadores CISC, não possam as m e s m a s ser descartadas dos
dispositivos mais atualizados, permanecendo c o m o "entulho".
O r e s u l t a d o é u m chip C I S C d i s p o n d o d e u m a s p o u c a s c e n t e n a s d e i n s t r u ç õ e s
c o m p l e x a s e m b u t i d a s , q u e e x i g e m v á r i o s c i c l o s d e c/oc/c p a r a s e r e m e x e c u t a d a s . J á
um R I S C opera c o m a l g u m a s d e z e n a s de instruções simples, as mais usadas,
otimizando-as de maneira a serem processadas muito rapidamente, muitas delas e m
u m s ó c i c l o d e cloclc Na verdade, esse é o "segredo" da tecnologia RISC; maximizar a
velocidade c o m base e m instruções suficientemente simples, suprindo as que foram
excluídas por meio de combinações das remanescentes.
C o m o t r a b a l h a m c o m i n s t r u ç õ e s s i m p l e s , o s chips RISC exigem circuitos igual-
m e n t e e l e m e n t a r e s p a r a a e x e c u ç ã o d a s f u n ç õ e s b á s i c a s e, p o r t a n t o , r e q u e r e m m e n o s
transistores. C o m isso, s o b r a espaço para a c o m o d a r outros circuitos c a p a z e s de
otimizar o desempenlio, a exemplo das chamadas memórias cache^. Conseguem,
a s s i m , o f e r e c e r e x c e l e n t e performance, mantendo sob controle o c o n s u m o de energia
e, e m decorrência, t a m b é m os níveis d e temperatura, precisamente u m d o s g r a v e s
p r o b l e m a s enfrentados pelos atuais dispositivos CISC mais velozes. A m e n o r c o m p l e -
x i d a d e d o s circuitos R I S C reflete-se t a m b é m e m custos mais baixos d e projeto e d e
fabricação das próprias pastilhas. U m a contrapartida negativa da simplificação própria
à arquitetura RISC, contudo, está associada ao fato d e os programadores serem
o b r i g a d o s a e s c r e v e r p r o g r a m a s extensos e c o m p l e x o s (a c h a m a d a p r o g r a m a ç ã o d e
baixo nível), d e t e r m i n a n d o custos elevados no desenvolvimento do software.
J á os microprocessadores de tecnologia CISC, para assegurar a extensa g a m a
de funções antigas e novas previstas, v ê m recebendo u m número crescente de
transistores, ocupando, assim, mais espaço e aumentando o tamanho do semicondutor.
O s sinais elétricos, e m decorrência, precisam percorrer distâncias maiores, tornando o
c o m p o n e n t e mais lento, o q u e é c o m p e n s a d o pela adição d e novos circuitos — o u seja,
de mais transistores — , d e forma a acelerar o desempenho do conjunto.
Concretamente, veja-se o caso do microprocessador CISC mais atualizado exis-
t e n t e n o m e r c a d o , o P e n t i u m , q u e p o s s u i 3,1 m i l h õ e s d e t r a n s i s t o r e s e s e d e s t a c a p e l o
a u m e n t o expressivo de densidade e m relação ao seu predecessor, o 486, que agrupava
s o m e n t e 1,2 m i l h ã o . A i n d a m a i s e x p r e s s i v o s s e m o s t r a m t a i s r e s u l t a d o s s e a r e f e r ê n c i a
for o 3 8 6 , q u e contava c o m 2 7 5 mil, e o 286, c o m 130 mil. A s n o v a s gerações e m
g e s t a ç ã o — a d o 6 8 6 e a d o 7 8 6 — , p o r s u a v e z , d e v e r ã o i g u a l m e n t e refletir g a n h o s
adicionais e m t e r m o s d e integração a nível d a pastilha, prevendo-se q u e c h e g u e m a 7
e a 20 milhões de transistores respectivamente.
O fato é q u e , n o c ô m p u t o geral, verifica-se q u e os projetistas C I S C t ê m sido
bastante b e m - s u c e d i d o s na tarefa de oferecer dispositivos c o m c a d a vez maior c a p a -
cidade de processamento e que, com alguma defasagem temporal, vêm conseguindo
manter d e s e m p e n h o s muito próximos aos dos RISC mais velozes. É verdade que, para
t a n t o , t ê m s i d o p a r c i a l m e n t e a d o t a d a s t é c n i c a s d o c a m p o rival. O s r e s u l t a d o s d e t a l
orientação materializam-se e m dispositivos C I S C c r e s c e n t e m e n t e híbridos, q u e incor-
p o r a m circuitos R I S C na unidade básica d e processamento, contribuindo para tornar
m a i s difusa a fronteira s e p a r a n d o u m e outro tipo d e dispositivo. N o c a s o d a Intel, isso
p a s s o u a o c o r r e r a partir d a g e r a ç ã o do 4 8 6 e fortaleceu-se significativamente c o m o
Pentium.
A i n d a a s s i m , o u s o d e t é c n i c a s R I S C p o r chips que continuam sendo definidos
c o m o d e t e c n o l o g i a C I S C t e m c o n s e q ü ê n c i a s a nível d o u s o d e u m m a i o r n ú m e r o d e
transistores. Por exemplo, no caso do 486, cerca de 1 5 % dos seus circuitos s e r v e m
a p e n a s para garantir a compatibilidade c o m as gerações precedentes, d e f o r m a a
continuar utilizando o software antigo.
N ã o obstante o s óbvios atrativos associados à tecnologia RISC, o fato é q u e s e u
s u c e s s o c o m e r c i a l foi até hoje relativamente modesto. O p r o b l e m a é q u e existem vários
t i p o s d e chips R I S C no m e r c a d o , incompatíveis entre si, n e n h u m deles t e n d o c o n -
seguido impor-se c o m o padrão. Dentre os mais bem-sucedidos, p o d e m ser citados o

' Trata-se de uma seção muito rápida da memória que é destinada ao armazenamento temporário das
infonnações mais freqüentemente acessadas pelo microprocessador.
S P A R C , d a S u n M i c r o s y s t e m s Inc., d u r a n t e m u i t o t e m p o , líder e m v o l u m e d e u n i d a d e s
comercializadas; o PA/RISC, da Hewlett-Packard; o RS/6000, da IBM; o MIPS, da
S i l i c o n G r a p h i c s ; e o 8 8 1 1 0 , d a M o t o r o l a . N e m a Intel e s c a p o u d e i n t r o d u z i r , h á a l g u n s
a n o s a t r á s , s e u p r ó p r i o chip i n t e g r a l m e n t e R I S C , o 1860, q u e t e v e p e q u e n a p e n e t r a ç ã o
n o m e r c a d o . É f á c i l c o m p r e e n d e r q u e , d a d a t a l p r o f u s ã o d e p r o c e s s a d o r e s , n ã o foi
p o s s í v e l e s t a b e l e c e r — a e x e m p l o d o o c o r r i d o c o m o s m i c r o s d e a r q u i t e t u r a Intel — ,
u m m e r c a d o d e commodities n o c a m p o d a s workstations. E m contrapartida, a criação
d e m e r c a d o s cativos permitiu, diga-se de passagem, aos fabricantes RISC manterem
m a r g e n s de lucro elevadas durante u m longo tempo.
D e qualquer forma, o fato é que as e m p r e s a s q u e p r o d u z e m dispositivos RISC
trabalham c o m escalas d e produção d a ordem de centenas de milhares, enquanto a
I n t e l e o s d e m a i s f a b r i c a n t e s d e chips C I S C c o m p a t í v e i s a t u a m n a f a i x a d a s d e z e n a s
d e milhões, o que lhes permite oferecer u m menor custo por unidade de capacidade
computacional e lhes t e m assegurado u m a folgada liderança na disputa c o m os
componentes RISC.
Outro fator limitador à conquista de u m m e r c a d o de massa por parte dos chips
R I S C está associado à circunstância de todos rodarem alguma variante do Unix, u m
s i s t e m a o p e r a c i o n a l p o r t á v e l ( i s t o é, q u e f u n c i o n a e m d i v e r s a s p l a t a f o r m a s d e hardwa-
re), n ã o c o m p a t í v e l c o m o M S - D O S , o s i s t e m a m a i s d i f u n d i d o . N e s s e c o n t e x t o , n e n h u m
deles foi t a m b é m c a p a z de acumular, n e m remotamente, u m a biblioteca d e softwares
c a p a z de fazer face àquela criada para os micros CISC, rodando sob o M S - D O S / W I n -
d o w s 3.x d a M i c r o s o f t . N a v e r d a d e , e s s a r e s t r i ç ã o n a o f e r t a d e a p l i c a t i v o s r e v e l o u - s e
s e m p r e u m fator decisivo para a p e q u e n a d i s s e m i n a ç ã o das m á q u i n a s R I S C , determi-
n a n d o s e u b a i x o a p e l o c o m e r c i a l , n ã o o b s t a n t e o s a t r a t i v o s d e performance oferecidos.
A c h e g a d a d o W i n d o w s NT, sistema operacional cliente-servidor d a Microsoft,
alterou profundamente os dados do problema, na medida e m que funciona tanto e m
chips I n t e l c o m o e m a l g u n s chips RISC. Na atualidade, o MIPS da Silicon Graphics, o
A l p h a d a D E C e o P o w e r P C d a IBM-AppIe-Motorola são oficialmente suportados pelo
W i n d o w s NT, estando t a m b é m prevista a inclusão do PA/RISC da Hewlett-Packard
nessa relação.
O fato é q u e , até agora, as estações RISC não p o d i a m processar diretamente
aplicações desenvolvidas para máquinas CISC. Havia duas possibilidades d e superar
tal inconveniente, a primeira delas consistindo n a e m u l a ç ã o , u m procedimento que
d e g r a d a bastante o d e s e m p e n h o do sistema e q u e praticamente só s e tornou viável
c o m a c h e g a d a d a s novas gerações de processadores muito rápidos. Trata-se, nesse
caso, d a reprodução (imitação), por u m programa ou equipamento, das funções
próprias a outro programa ou equipamento.
A s e g u n d a alternativa, por sua vez, está ligada à p o r t a b i l i d a d e , ou seja, à
r e p r o g r a m a ç ã o d e u m d a d o software, de modo a adaptá-lo a uma segunda plataforma
d e hardware. Essa é precisamente a qualidade oferecida pelo W i n d o w s NT, c o m a
d i f e r e n ç a d e q u e , c o m o s e t r a t a d e u m s i s t e m a o p e r a c i o n a l , t o d o software c o m ele
compatível passa t a m b é m a sê-lo, automaticamente, e m qualquer máquina funcionan-
d o s o b o m e s m o sistema. J á é efetivamente possível rodar, naqueles p r o c e s s a d o r e s
R I S C anteriormente citados, programas desenvolvidos para o ambiente M S - D O S / W i n -
d o w s 3 . X ( e m 1 6 bits) e p a r a o p r ó p r i o W i n d o w s N T ( e m 3 2 bits). E isso ocorre e m
c o n d i ç õ e s d e performance muito boas, similares às alcançadas e m máquinas equipa-
das c o m o Pentium e certamente muito superiores às que podiam ser obtidas via
e m u l a ç ã o d e software s o b o sistema operacional Unix. C o m isso, tornaram-se mais
transparentes a s vantagens inerentes aos dispositivos RISC, viabilizando aos usuários
a troca d a tecnologia s e m precisarem abandonar a biblioteca de aplicativos c o m q u e
estão familiarizados.
Por f i m , c a b e acrescentar que as estações de trabalho m o n t a d a s c o m chips
R I S C c o s t u m a v a m ser bastante caras, posto que, estando dirigidas praticamente a
nichos de mercado, não se viabilizava uma produção e m maior escala. Além disso,
a exigência de incorporação de placas e outros componentes multo rápidos contri-
buía para a elevação dos custos gerais de montagem dos sistemas, C o m a queda
das cotações desse tipo de insumos e c o m a própria maior concorrência no c a m p o
d o s dispositivos R I S C registradas nos últimos a n o s , p a s s o u a existir t a m b é m oferta
d e c o m p u t a d o r e s RISC a preços mais acessíveis. O fato é que, ao m e s m o t e m p o
e m que os PCs de ponta cresceram em desempenho e se aproximaram, nesse
aspecto, dos sistemas baseados e m dispositivos RISC, t a m b é m estes últimos
r e d u z i r a m a s d i f e r e n ç a s , a nível d e p r e ç o s , q u e o s s e p a r a v a m d o s P C s . Isso v e m
t o r n a n d o a s workstations RISC cada vez mais competitivas, criando expectativas
de, t a m b é m nesse domínio, chegar-se a trabalhar c o m escalas de produção indus-
trial e m m a s s a .

5 - Os chips R I S C que desafiam o poder da Intel

São aqui examinados alguns processadores RISC que, na atualidade, oferecem


p o t e n c i a l i d a d e s t é c n i c a s d e c o m p e t i r e m , e m tese, por a l g u m a fatia d e m e r c a d o d a Intel.
V a l e a p e n a lembrar que, independentemente de suas qualidades intrínsecas, esses
chips se c a r a c t e r i z a m p o r a p r e s e n t a r c o m p a t i b i l i d a d e c o m o W i n d o w s N T , o q u e
constitui u m fator a considerar na "alavancagem" de suas vendas. De fato, conforme já
observado, fica, assim, aberta a possibilidade de rodarem aplicativos próprios à família
X 8 6 a v e l o c i d a d e s razoáveis. É v e r d a d e q u e , por si s ó , isso n ã o é garantia suficiente
para u m s u c e s s o comercial mais expressivo. De fato, é ainda relativamente p e q u e n a
a base instalada do Windows NT no mercado, bem como é também diminuta a
p r o b a b i l i d a d e d e o m e s m o vir a a d q u i r i r u m a p o p u l a r i d a d e s e q u e r p r ó x i m a d a a l c a n ç a d a
p e l a d u p l a M S - D O S / W i n d o w s 3.X o u m e s m o d a q u e l a previsível para o futuro sistema
operacional que substituirá esta última, o W i n d o w s Chicago.
Essas limitações aparentemente definem b e m as possibilidades de mercado dos
processadores Mips e Alpha e m sua condição de eventuais desafiantes dos proces-
s a d o r e s Intel. D e v e - s e t a m b é m levar e m conta o fato d e as e m p r e s a s fabricantes
desses semicondutores não terem conseguido até a g o r a , obter u m a p o i o mais
expressivo por parte dos integradores de sistemas, impedindo a sua produção e m
escala mais ampla.
O c h a m a d o microprocessador M I P S R4000 constitui u m dispositivo RISC de 6 4
bits, c o m velocidade interna de 100MHz e externa de 5 0 M H z , sendo, atualmente,
f a b r i c a d o p e l a S i l i c o n G r a p h i c s . S u a performance é equivalente à de um Pentium
6 6 M H z , o c u p a n d o m e n o s da metade dos transistores e custando, igualmente, m e n o s
d a m e t a d e d o p r e ç o d e s t e último ( c o n s i d e r a n d o a s c o t a ç õ e s d e l a n ç a m e n t o dos
dispositivos). J á o modelo M I P S R4400 opera a 1 5 0 M H z / 7 5 M H z e conta c o m 2,3 milhões
d e transistores, contra u m Pentium que roda a 100MHz na sua versão mais recente e
c o n t a c o m 3,1 m i l h õ e s d e t r a n s i s t o r e s .
O u t r o c o n c o r r e n t e n e s s e seleto clube d o s p r o c e s s a d o r e s d e alto d e s e m p e n h o traz a
m a r c a d a Digital E q u i p m e n t C o r p o r a t i o n ( D E C ) , u m d o s m a i s tradicionais fabricantes d e
c o m p u t a d o r e s . T r a t a - s e d o A l p h a A X P , u m chip R I S C d e 6 4 bits, c o m 1,7 milhão d e
transistores, q u e foi introduzido c o m e r c i a l m e n t e n a m e t a d e d e 1993 e s e destina a o m e r c a d o
d o s c o m p u t a d o r e s p e s s o a i s d e m e s a e d a s worl(stations d e g r a n d e c a p a c i d a d e . O A l p h a é,
d e fato, u m a plataforma d e p r o c e s s a m e n t o muito sofisticada, a p r e s e n t a d a e m c i n c o m o d e l o s ,
c o m velocidades variando de 6 6 a 200MHz, estando já anunciadas duas novas versões, que
d e v e r ã o rodar a 2 2 5 e 2 7 5 M H z . N e s s a s c o n d i ç õ e s , destaca-se, indiscutivelmente, c o m o o
m i c r o p r o c e s s a d o r m a i s rápido d a atualidade. É t a m b é m bastante caro, c o m a v e r s ã o d e
2 0 0 M H z t e n d o s i d o l a n ç a d a a U S $ 1.200 e m lotes d e 1.000 unidades.
N ã o obstante s e u s óbvios atributos técnicos, esse microprocessador não conse-
guiu alcançar g r a n d e penetração no mercado. A s u a baixa d e m a n d a c h e g o u m e s m o a
forçar a D E C , a f i m de reduzir a ociosidade de sua planta produtiva na Escócia, a
estabelecer u m a c o r d o c o m a A M D , pelo qual passou a produzir, s o b e n c o m e n d a ,
clones do 4 8 6 para esta última.
Enfim, c a b e considerar o chip R I S C c o m melhores chances d e conquistar u m e s p a ç o
m a i s expressivo no disputado s e g m e n t o dos microprocessadores, o u seja, o P o w e r P C . Resulta
d o s esforços conjuntos de três grandes e conceituadas e m p r e s a s — A p p l e Computer Inc., IBM
e Motorola Inc. —-, q u e decidiram, assim, compartilhar o s elevados custos d e desenvolvimento
e d e fabricação próprios às modernas gerações de microprocessadores. É preciso observar
q u e a c o r d o s d e s s e tipo v ê m - s e t o m a n d o c a d a vez mais usuais, refletindo a crescente
interdependência forjada entre o s participantes desse mercado de alta tecnologia.

6 - 0 PowerPC: nosso próximo microprocessador?

E m 1 9 9 1 , as empresas IBM, Motorola e Apple estabeleceram u m acordo formal,


tendo por objetivo o desenvolvimento da c h a m a d a arquitetura P o w e r P C , destinada a
e s t a b e l e c e r u m n o v o p a d r ã o de hardware e d e software no c a m p o d o s computadores
pessoais. Trata-se do primeiro microprocessador RISC direcionado a esse mercado e
n ã o m a i s e s p e c i f i c a m e n t e ao d a s e s t a ç õ e s de trabalho de alto d e s e m p e n h o .
O P o w e r P C foi definido para ser u m s i s t e m a a b e r t o , o u seja, previsto p a r a ter
a m p l a divulgação d e suas especificações técnicas de referência. C o m isso, resultará
facilitado o trabalho dos projetistas na m o n t a g e m de seus próprios sistemas, s e n d o ,
assim, incentivadas as adesões à nova plataforma de processamento.
O b s e r v e - s e q u e , n e s t e a s p e c t o d o fácil l i c e n c i a m e n t o d a t e c n o l o g i a , a p r o p o s t a
reproduz o c a m i n h o comercialmente bem-sucedido q u e a IBM já havia trilhado q u a n d o
d o l a n ç a m e n t o d o I B M P C e m 1981 e q u e não foi repetido c o m a linha IBM P S . É
interessante observar, t a m b é m , que, no c a s o da Apple, essa orientação traduz u m a
profunda m u d a n ç a de comportamento, u m a vez que a empresa sempre defendera
i n t r a n s i g e n t e m e n t e a filosofia d o s i s t e m a p r o p r i e t á r i o para s u a s próprias m á q u i n a s .
O P o w e r P C surge c o m o o resultado combinado de u m desenvolvimento evolutivo
b a s e a d o n o s m i c r o p r o c e s s a d o r e s R S / 6 0 0 0 e M o t o r o l a 8 8 0 1 0 . 0 p r i m e i r o , u m chip R I S C
d a I B M e q u i p a n d o s i s t e m a s U n i x d e e l e v a d a performance, cedeu sua arquitetura
básica. Quanto ao microprocessador 88010 da Motorola, t a m b é m de tecnologia RISC,
contribuiu c o m as v e r s õ e s melhoradas de sua interface de barramento e tecnologia
cache.
N o s o m a t ó r i o final, a c a b a r a m reunidos o s melhores a s p e c t o s d a s d u a s c o m p a n h i a s ,
m a i s e s p e c i f i c a m e n t e a c a p a c i d a d e d o s projetistas d a IBM e a experiência d a Motorola e m
t é c n i c a s d e p r o d u ç ã o e m m a s s a d e c o m p o n e n t e s d e muito alta e s c a l a d e integração. D e
fato, ficou c o m e s t a última a responsabilidade pela fabricação d o m i c r o p r o c e s s a d o r e m s u a s
próprias instalações, p o d e n d o igualmente comercializá-lo livremente a terceiros.
A M o t o r o l a é o t e r c e i r o f a b r i c a n t e m u n d i a l d e chips, d o m i n a n d o , i n c l u s i v e , g r a n d e
parte do milionário m e r c a d o mundial de microcontroladores, dispositivos incorporados
a equipamentos das mais diversas naturezas, c o m o telefones e fornos de microondas.
A l é m disso, t e m na indústria automobilística d e Detroit u m d e s e u s clientes privilegiados.
O a c o r d o abriu-lhe, todavia, novas perspectivas, na m e d i d a e m q u e sua linha d e
microprocessadores estava envelhecida e s e m condições de enfrentar a concorrência.
D e fato, vinha t r a b a l h a n d o c o m s u a tradicional família C I S C 6 8 0 X 0 (68000, 6 8 0 2 0 ,
6 9 0 3 0 e 6 8 0 4 0 ) , t e n d o a c u m u l a d o s i g n i f i c a t i v o a t r a s o n o d e s e n v o l v i m e n t o d e seu chip
d a categoria d o P e n t i u m , o 6 8 0 6 0 , até hoje comercialmente não lançado.
J á houve é p o c a e m q u e a empresa fornecia a maior parte dos microprocessadores
R I S C (da linha 88000) q u e equipavam as estações de trabalho, contando entre s e u s
clientes c o m n o m e s de peso c o m o a Hewlett-Packard e a S u n Microsystems. Contudo,
desde então, essas e outras companhias desenvolveram seus próprios dispositivos,
t a m b é m d e tecnologia RISC, abandonando os modelos da Motorola, tendo permane-
cido a p e n a s a A p p l e c o m o seu grande cliente. Ora, esta já vinha emitindo inequívocos
sinais de n ã o desejar ser a última companhia a continuar emprestando-lhe seu apoio.
N e s s a s c o n d i ç õ e s , p a r a a Motorola, a colaboração no projeto P o w e r P C revelou-se u m
a c h a d o , ainda q u e a a d e s ã o ao m e s m o não tenha caráter de exclusividade, posto q u e
s e g u e investindo e m s u a própria linha de microprocessadores.
A I B M d á m o s t r a s d e c a u t e l a similar, a o c o n t i n u a r p r o d u z i n d o s u a s p r ó p r i a s m á q u i n a s
R S / 6 0 0 0 , a i n d a q u e t e n d o planos d e , g r a d u a l m e n t e , t a m b é m ir a d o t a n d o o s dispositivos
d e arquitetura P o w e r P C . D e q u a l q u e r fomna, n ã o p r e t e n d e parar d e m o n t a r o s s i s t e m a s
b a s e a d o s n a família Intel X 8 6 , s i n a l inequívoco d e q u e n ã o t e m q u a l q u e r i n t e n ç ã o d e
a b a n d o n a r a e s t r a t é g i a q u e lhe a s s e g u r o u o s u c e s s o d e s e u s c o m p u t a d o r e s d e m e s a .
A mais decidida nessa questão da migração para a nova arquitetura parece ser a
A p p l e . T e n d o s e m p r e trabalhado c o m a linha 6 8 0 X 0 da Motorola, já a n u n c i o u s u a futura
linha de produtos exclusivamente baseada no PowerPC. D e qualquer forma, prevê, da
m e s m a forma, u m a transição gradual para o novo microprocessador, a ser completada
n o p r a z o d e d o i s a n o s , d e v e n d o a i n d a c o m e r c i a l i z a r , por a l g u m t e m p o , s e u s M a c i n t o s h
(MAC) tradicionais.
Observe-se que os novos Apple PowerPC serão t a m b é m modelos Macintosh,
u m a vez q u e , por e m u l a ç ã o , poderão aproveitar todas as aplicações escritas para a
família d o M o t o r o l a 6 8 0 0 0 . É v e r d a d e q u e , por si só, isso não garantirá o e n t u s i a s m o
dos usuários pela troca, posto q u e as aplicações antigas rodarão na n o v a plataforma
a velocidades praticamente iguais às oferecidas pelos velhos, e mais baratos, m o d e l o s
M A C s . D e qualquer forma, a intenção da Apple é incorporar o P o w e r P C a três linhas
diferentes de máquinas, a primeira das quais lançada e m m a r ç o de 1994, e as outras
duas d e v e n d o estar disponíveis no decorrer de 1995.
U m a vez completa, a família do microprocessador PowerPC será composta de
quatro m e m b r o s . O primeiro deles, de menor d e s e m p c i i h o e preço, é o 601 e está
destinado a equipar os c o m p u t a d o r e s pessoais d e mesa. O 603, similar ao primogênito,
d i f e r e n c i a - s e a p e n a s por ser d e baixa v o l t a g e m , s e n d o , portanto, a d e q u a d o para
notebool<s e subnotebooks e m função do baixo consumo de energia. O 604 deverá
dobrar o d e s e m p e n h o do 601 e estabelecer-se, e m se concretizando os desígnios de
s e u s criadores, c o m o o n o v o microprocessador-padrão p a r a a corrente principal d o s
m i c r o s desktop. O 601 j á foi lançado, e o 6 0 3 e o 6 0 4 d e v e r ã o sê-lo durante o s e g u n d o
semestre d e 1994. J á o último m e m b r o d a família, o 620, está programado para 1995,
e s p e r a n d o - s e d e l e a a l t a performance capaz d e qualificá-lo c o m o integrante d e esta-
ções de trabalho e servidores top-of-line.
Paralelamente, a Motorola está desenvolvendo outras versões d o PowerPC, q u e
servirão c o m o microcontroladores e m veículos da Ford Comp., bem c o m o e m outros
e q u i p a m e n t o s diversos, c o m o controladores d e rede, impressoras, televisores digitais
e máquinas de fax.
É e v i d e n t e q u e o e i x o principal d a parceria estabelecida p e l a A p p l e , I B M e Motorola
e s t á a p o i a d o n a idéia d a m o n t a g e m , p o r parte d a s d u a s primeiras, d e m i c r o c o m p u t a d o r e s
d e g r a n d e d e s e m p e n h o e b a i x o custo, b a s e a d o s e m u m m e s m o t i p o d e microprocessador.
C o m efeito, a p e n a s a d e m a n d a d e r i v a d a d a s m á q u i n a s A p p l e e I B M (juntas d e t ê m q u a s e
3 0 % d o m e r c a d o d e micros) j á seria suficiente p a r a g a r a n t i r ã o n o v o c o m p o n e n t e u m a p r o c u r a
c a p a z d e transformá-lo n o chip R I S C m a i s b e m v e n d i d o d e t o d o s o s t e m p o s .
S ã o a s p o t e n c i a l i d a d e s d e s s e m e r c a d o q u e diferenciam efetivamente o n o v o m i c r o -
p r o c e s s a d o r d e s e u s c o n g ê n e r e s R I S C , muito m a i s d o q u e a s i n o v a ç õ e s técnicas introduzi-
d a s , q u e n ã o s ã o p r o v a v e l m e n t e d e g r a n d e m o n t a . D e v e m s e r t a m b é m referidos, c o m o
e l e m e n t o s q u e o individualizam, o v o l u m e d e investimentos p a r a ele j á canalizado, ultrapas-
s a n d o U S $ 1 bilhão, b e m c o m o o apoio declarado d e u m n ú m e r o razoável d e fabricantes d e
hardware e d e software. A s s i m , é certo q u e a s g r a n d e s e m p r e s a s d e software oferecerão
s e u s aplicativos t a m b é m e m v e r s õ e s nativas P o w e r P C , c o m g a n h o s significativos e m t e r m o s
d e performance.'^ A i n d a neste c a m p o d o software, não é possível deixar d e ressaltar
outro p o n t o importante a favor d a plataforma computacional do P o w e r P C e que se refere
à s u a impressionante capacidade de rodar os mais variados sistemas operacionais,
c a p a c i d a d e esta j á viabilizada o u e m vias d e sê-lo e m futuro próximo.^
É c o m base e m atributos dessa ordem que a Apple, primeira e m p r e s a a incorporar
o novo microprocessador, v e m apostando nas suas condições de desafiar os micros
d a linha P C . O principal adversário a enfrentar nessa disputa por u m a parcela significa-
t i v a d e m e r c a d o é c e r t a m e n t e o P e n t i u m d a Intel. P a r a t a n t o , c o n t a o P o w e r P C c o m
alguns p o n t o s positivos, a exemplo d e s u a velocidade d e processamento d e 6 6 M H z n o
m o d e l o 6 0 1 , a m e s m a d a primeira versão do Pentium. Q u a n t o à sua performance
c o m p u t a c i o n a l , i g u a l a - s e à do chip d a Intel n a s o p e r a ç õ e s d e n ú m e r o s i n t e i r o s e o f e r e c e
u m d e s e m p e n h o cerca de 4 0 % maior nas chamadas operações de ponto flutuante,
especialmente decisivas para as aplicações gráficas e de cálculos matemáticos.
Igualmente importante é o s e u funcionamento a 3,6 volts, o q u e implica m e n o r d e m a n d a
d e energia e, e m c o n s e q ü ê n c i a , menor dissipação d e calor residual.

Até o momento, segundo infonnações da própria Apple, Já estão disponíveis 50 aplicativos desenvolvidos
especificamente para o Power Macintosh.
Estão incluídos na relação: System 7, sistema operacional dos microcomputadores Macintosh; SOLaris,
sistema da Sun Microsystems; OS/2, da IBM; Pink, sistema orientado para objeto que a Taligent (acordo
AppIe-IBM) está desenvolvendo; AIX, sistema Unix-like da IBM; DOS/Windows NT da Microsoft- e
PowerOpen, que resultará da unificação dos sistemas IBM AIX e Apple AU/X, atualmente em desenvol-
vimento.
M a s o m a i o r trunfo d o P o w e r P C 6 0 1 é c e r t a m e n t e s e u p r e ç o d e v e n d a , f i x a d o
i n i c i a l m e n t e n a f a i x a d e U S $ 2 8 0 a U S $ 3 7 4 , c o n t r a u m p r e ç o d e l a n ç a m e n t o v a r i a n d o entre
U S $ 8 4 3 e U S $ 9 2 6 p a r a o P e n t i u m e m s u a primeira v e r s ã o ( S A N T A L E S A , 1 9 9 3 , p.206).
O P o w e r P C p o d e s e r v e n d i d o a preços m e n o r e s tanto p o r q u e s e trata d e u m dispositivo
R I S C — portanto, m a i s barato d e produzir q u e u m C I S C — , c o m o p o r utilizar u m n o v o
p r o c e s s o d e f a b r i c a ç ã o b a s e a d o na tecnologia C M O S d e 0.6 m i c r o n , q u e facilita a o b t e n ç ã o
d e transistores a i n d a m e n o r e s . S o m a n d o - s e a isso u m /ayouf otimizado, q u e reduz o e s p a ç o
o c u p a d o c o m a s interfaces e x t e m a s , c h e g a - s e a u m c o m p o n e n t e d e t a m a n h o b e m m a i s
c o m p a c t o q u e o P e n t i u m : 1 2 0 m m ^ c o n t r a 2 6 4 m m ^ respectivamente.® D e s s a f o r m a , é
possível obter u m m a i o r n ú m e r o d e chips a partir d e u m waferúe silicio d e m e s m o t a m a n h o ,
o q u e e q ü i v a l e a dizer q u e s e trabalha c o m u m p r o c e s s o de p r o d u ç ã o m a i s rentável.
Ora, exceto pela questão do preço, as vantagens acima delineadas resultam de
u m a c o m p a r a ç ã o c o m a primeira versão do Pentium, introduzida há cerca de u m ano
a t r á s . T a l s i t u a ç ã o a l t e r o u - s e b a s t a n t e a partir d o m o m e n t o e m q u e a Intel i n i c i o u a
comercialização dos novos modelos Pentium de 90 e 100MHz. De fato, estes são
t a m b é m f a b r i c a d o s c o m t e c n o l o g i a d e 0 . 6 m i c r o n e 3,3 v o l t s , t e n d o s i d o s u p e r a d o o
grave problema d a g e r a ç ã o de calor que comprometia o Pentium d e 6 6 M H z . O anúncio
d a s n o v a s versões de microprocessadores coincidiu, e certamente não por acaso, c o m
o lançamento dos Power Macintosh da Apple, c o m o a lembrar a fabricantes e usuários
q u e a Intel n ã o ficará p a r a l i s a d a e n q u a n t o o s c o n c o r r e n t e s s e a g i t a m , c o n t i n u a n d o a
colocar no mercado u m a sucessão de novos e poderosos chips.
E s s e f a t o j á b a s t a r i a p a r a ilustrar a s d i f i c u l d a d e s q u e , n e s t a s e g u n d a m e t a d e d a
d é c a d a dos a n o s 90, a nova arquitetura PowerPC deverá enfrentar para impor-se. É
inegável q u e t e m b o a s c h a n c e s d e conquistar u m e s p a ç o próprio significativo entre os
m i c r o p r o c e s s a d o r e s , j á n ã o s e n d o t ã o ó b v i o s e u s u c e s s o e n q u a n t o d e s a f i a n t e d a Intel.
Qualquer que seja o desfecho, para integradores de sistemas e usuários, sua mera
existência abre o leque d a s alternativas, contribuindo para minar a ligação unívoca à
família X86. Outra constatação animadora refere-se ao fato d e ser c h e g a d a a hora de
c o l o c a r o p o d e r d e f o g o d a s worl<stations ao alcance dos micros de mesa.

Bibliografia

B R I N C O , Ricardo. A c h e g a d a do power P C esquenta a guerra do chips.

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SANTALESA, Rich (1993). Battie chips. C o m p u t e r S h o p p e r , N e w York: Coastal


A s s o c i a t e s , v . 1 2 , n.5, p . 2 2 8 - 2 3 1 , 2 3 6 - 2 3 7 , 2 4 0 .

^ Veja-se que, mesmo assim, o PowerPC 601 consegue reunir 2,8 milhões de transistores, enquanto o
Pentium conta com 3,1 milhões.

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