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Ricardo Brinco"
1 - Introdução
o autor agradece aos colegas Flavio Fligenspan, Daisy D. S. Zeni e André L. F. Scherer pelas sugestões
feitas a uma versão preliminar deste texto.
Economista da FEE.
Outro m a r c o significativo do desenvolvimento da microeletrônica está vinculado à
introdução d o circuito integrado c o m tecnologia bipolar e m 1959, q u a n d o se tornou
possível aglomerar transistores, diodos e componentes passivos e m u m a pastilha
constituída de u m material semicondutor. Desde então, não cessou de crescer o número
d e c o m p o n e n t e s i n c o r p o r a d o s a u m ú n i c o chip, d e t e r m i n a n d o u m n í v e l d e i n t e g r a ç ã o
dos circuitos integrados que, no caso dos microprocessadores, tem, historicamente,
d o b r a d o a c a d a a n o , c o m repercussões extremamente positivas n o tocante à elevação
da capacidade de processamento.
N e s t e p o n t o , é c o n v e n i e n t e a c r e s c e n t a r , p a r a fins d e m e l h o r c o m p r e e n s ã o d o
texto, q u e a d e n o m i n a ç ã o s e m i c o n d u t o r engloba diversos tipos d e dispositivos, inclu-
sive c o m p o n e n t e s discretos, que são aqueles capazes de executar u m a só função
lógica, a e x e m p l o de transistores, diodos, etc. A b r a n g e igualmente os chamados
circuitos monolíticos, lineares e digitais, estes últimos diferenciando-se pela possibili-
dade de desempenharem várias funções.
O universo d o s circuitos digitais, por s u a vez, é representado por dois g r a n d e s
grupos d e microestruturas, a saber, os circuitos integrados de m e m ó r i a e os micropro-
c e s s a d o r e s , a l é m d o s assim d e n o m i n a d o s circuitos lógicos. O uso d a s expressões
c i r c u i t o i n t e g r a d o e chip (pastilha) é equivalente, estando associadas, no p r e s e n t e
artigo, especificamente aos microprocessadores.
A m a n u t e n ç ã o d a h e g e m o n i a d a e m p r e s a líder t e m s i d o a s s e g u r a d a g r a ç a s a
p e s a d o s investimentos, c o n s t a n t e m e n t e renovados. O fato é q u e projetar e fabricar u m
m i c r o p r o c e s s a d o r no "estado da arte" implica o c o m p r o m e t i m e n t o d e recursos finan-
c e i r o s e m a t e r i a i s d e v e r a s s i g n i f i c a t i v o s . Isso f i c a b e m e v i d e n c i a d o n o c a s o d o P e n t i u m ,
o m a i s n o v o m e m b r o d a l i n h a g e m Intel, q u e d e v e r á c o n s u m i r U S $ 5 b i l h õ e s e m g a s t o s
c o m a realização d o ciclo c o m p l e t o de pesquisa e desenvolvimento e c o m a s instala-
ções produtivas.
É importante enfatizar o a s p e c t o d a vertiginosa e s c a l a d a d e c u s t o s q u e v e m m a r c a n d o
a d i n â m i c a d e s s e s e t o r industrial, fato q u e s e evidencia a i n d a m a i s c l a r a m e n t e q u a n d o d a
p a s s a g e m d e u m a g e r a ç ã o d e dispositivos p a r a outra. O d e s e n v o l v i m e n t o c o m p l e t o d o 4 8 6 ,
p o r e x e m p l o , c u s t o u " a p e n a s " U S $ 1 bilhão, o u seja, u m quinto do v o l u m e d e i n v e s t i m e n t o s
a s s o c i a d o s a o m i c r o p r o c e s s a d o r seguinte, o P e n t i u m . S e g u i n d o n a m e s m a linha d e racio-
cínio, v e j a - s e q u e a Intel t e m p l a n o s de aplicar c e r c a d e U S $ 2,4 bilhões ao longo d e 1 9 9 4 ,
3 3 % a m a i s d o q u e n o a n o anterior, cifra q u e , diga-se d e p a s s a g e m , e x c e d e o d i s p ê n d i o
c o n j u n t o a n u n c i a d o p e l a s q u a t r o outras maiores e m p r e s a s d o setor ( G M , 1.2.94).
A realização d e investimentos desse porte está diretamente associada a u m d o s
t r a ç o s mais característicos desse s e g m e n t o da indústria d e semicondutores, qual seja,
a rápida obsolescência atingindo sucessivas gerações de microprocessadores. Quedas
acelerèdas de preço e aposentadoria precoce dos dispositivos — rapidamente transfe-
ridas a o s s i s t e m a s q u e os incorporam — s ã o contrapartidas naturais d e s s e processo.
M a i s a i n d a , r e f l e t e m , e m b o a m e d i d a , a s d e c i s õ e s d e política e a s m u d a n ç a s n a e s t r u t u r a
d e c o m e r c i a l i z a ç ã o d e p r o d u t o s d e u m a ú n i c a g r a n d e e m p r e s a , a Intel. É v e r d a d e q u e
essas decisões surgem, c a d a vez mais, c o m o resposta ao acirramento da competição
d e s e n c a d e a d a p o r o u t r o s f a b r i c a n t e s d e chips, de posição técnica e comercial consoli-
d a d a n o m e r c a d o , c o m o a A m e r i c a n Micro Devices (AMD) e a Cyrix.
N a r e a l i d a d e , a Intel v e m t r a b a l h a n d o h á j á b a s t a n t e t e m p o c o m a e s t r a t é g i a d e
"canibalização" d o s m e m b r o s mais antigos d e s u a família de produtos, c o m b a s e no
e n c u r t a m e n t o d e s e u ciclo d e vida, c h e g a n d o a colocar no m e r c a d o d e z e n a s d e n o v a s
variantes de processadores ao ano. Isso faz c o m q u e , dada a constante renovação
i m p o s t a à s u a lista d e p r o d u t o s — i n c l u s i v e c o m o l a n ç a m e n t o d e v á r i a s v e r s õ e s d e n t r o
de u m a m e s m a geração — , seja uma questão de pouco tempo (com freqüência, alguns
m e s e s ) p a r a q u e m e s m o o s m o d e l o s top-ofline fiquem superados, passando a ser
comercializados a preços muito inferiores a o s d e lançamento.
J á foi u m a questão relativamente simples escolher a U C P de u m sistema c o m p a -
t í v e l I B M P C , n a é p o c a e m q u e u m l e q u e restrito d e d i s p o s i t i v o s , d e performance
claramente diferenciada, estava disponível. Assim, a opção já esteve circunscrita a o
8 0 8 8 ( o " m o t o r " d o X T ) , s e n d o , d e p o i s , a m p l i a d a c o m a i n t r o d u ç ã o d o 2 8 6 (o A T ) , e o
m e s m o voltando a ocorrer c o m os lançamentos do 386 e do 486. T o d o s eram produtos
d a I n t e l , s e n d o a p e n a s o f e r e c i d o s c o m d i f e r e n t e s v e l o c i d a d e s d e clocl^. É o que
j u s t i f i c a v a a i d e n t i f i c a ç ã o d o P C c o m o u m a s i m p l e s commodity. N o s dias d e hoje, o
" m e n u " d e dispositivos oferecido é muito farto, envolvendo mais de u m modelo dentro
de c a d a geração de microprocessadores: SX, SL, DX, DX2 e DX4. É interessante
observar que essa proliferação de versões, independentemente das motivações
m e r c a d o l ó g i c a s q u e e s t i v e r a m n a o r i g e m d e u m a o u o u t r a , reflete u m a s e g m e n t a ç ã o
d e f a t o do mercado de microprocessadores.
A s s i m , o s chips SX, de baixo custo, tornaram-se os dispositivos mais a d e q u a d o s
para os c h a m a d o s sistemas de entrada no mercado de PCs, sendo imediatamente
seguidos pelos D X no atendimento a maiores necessidades de processamento. Os S L
estão direcionados ao m e r c a d o dos sistemas portáteis — q u e deixaram d e formar u m
nicho d e mercado e j á concorrem c o m os modelos de m e s a — , e m função de sua baixa
v o l t a g e m e de sua capacidade de gerenciamento do c o n s u m o de energia. Por sua vez,
os D X 2 — e c o m ainda maior ênfase os D X 4 — s ã o usados e m sistemas d e alta
performance, c o m o estações d e trabalho e sen/idores de rede.
E s s a estratégia s u s t e n t a d a p e l a Intel d e inundar o m e r c a d o c o m n o v a s U C P s t e m
l e v a d o , c o n f o r m e j á referido, à a d o ç ã o d e ciclos d e d e s e n v o l v i m e n t o d e p r o d u t o s c a d a v e z
m a i s c u r t o s . N e s s e c o n t e x t o , a e m p r e s a - l i d e r t e m p r o c u r a d o "empun-ar", s i s t e m a t i c a m e n t e
e d e f o r m a c a d a v e z m a i s c é l e r e , a "fronteira técnica", d e m o d o a s e g u i r i s o l a d a n a o f e r t a
dos produtos mais avançados e continuar auferindo, dessa forma, as correspondentes
m a r g e n s e l e v a d a s d e lucro.
1 Trata-se de um circuito eletrônico que serve para regular a sincronização dos fluxos de informação que se
deslocam através dos canais internos de comunicação de um computador. Para tanto, gera pulsos
uniformemente espaçados, à velocidade de milhões de ciclos por segundo.
O fato é que, na indústria de PCs, as empresas integradoras de sistemas e os
usuários se acostumaram a conviver com uma nova geração de processadores a
c a d a três a n o s . O s f u t u r o s m e m b r o s d a família, no e n t a n t o , d e v e m surgir e m p r a z o
menor, algo e m torno de dois anos. A questão que se coloca é saber até q u a n d o
u m ritmo frenético d e s s e s poderá ser sustentado, e m função tanto de aspectos
técnicos c o m o de mercado. Por um lado, é sabido q u e os avanços das técnicas d e
fabricação dos circuitos integrados tendem a responder c o m alguma defasagem às
n o v a s e x i g ê n c i a s c o l o c a d a s pelos d e s e n v o l v i m e n t o s a nível de projeto. Por outro,
o ciclo d e vida decrescente dos dispositivos repercute e m termos d a m a n u t e n ç ã o
d a s m a r g e n s de lucro e do próprio encurtamento do prazo para recuperação dos
i n v e s t i m e n t o s r e a l i z a d o s c o m u m d e t e r m i n a d o dispositivo. Isso p a r a n ã o falar,
naturalmente, dos problemas colocados pela obsolescência precoce dos PCs para
fabricantes e usuários, que são apenas parcialmente contornados pela adoção da
t é c n i c a d o upgrade, isto é, d a atualização prevista d e e q u i p a m e n t o s c o m b a s e e m
u m a troca da UCP.
A Intel t e m sido m o t i v a d a , n e s s e particular de introduzir mais r a p i d a m e n t e o s
novos processadores, por dois tipos de a m e a ç a s à s u a hegemonia.A primeira t e m
origem naqueles fabricantes que trabalham c o m projetos que t ê m como base os
d i s p o s i t i v o s Intel. S ã o o s c h a m a d o s clones^, c o m p o n e n t e s f u n c i o n a l m e n t e c o m p a -
t í v e i s e q u e c o s t u m a m s e c a r a c t e r i z a r p o r p r e ç o s c o m p e t i t i v o s e performances até
m e s m o superiores, e m função da facilidade de incorporação aos m e s m o s dos
aportes tecnológicos mais recentes, não disponíveis quando da realização do
projeto original.
É preciso acrescentar que o poder de fogo demonstrado por esse tipo de
c o m p e t i d o r e s é m u i t o e f e t i v o , c o n s o l i d a n d o - s e à m e d i d a q u e c o n s e g u e m ir r e d u z i n d o ,
m a i s p r o n t a m e n t e , o gap t e c n o l ó g i c o q u e o s s e p a r a d o s p r o d u t o s d e p o n t a d a e m p r e -
s a - l í d e r . A s s i m , n o c a s o d o P e n t i u m , a Intel c e r t a m e n t e n ã o p o d e r á c o n t a r c o m o m e s m o
t e m p o d e desfrute isolado de mercado que teve c o m o 486, u m a vez que tanto a A M D
c o m o a Cyrix já anunciaram o lançamento, para breve, d e suas próprias versões
compatíveis do Pentium.
A i n d a a s s i m , e n ã o s e m u m a certa ironia, a a m e a ç a m a i s consistente e n f r e n t a d a
p e l a Intel n ã o p r o c e d e p r o v a v e l m e n t e d e s s a s d u a s c o m p a n h i a s o u d e a l g u m a outra
q u e trabalhe c o m microprocessadores da família X86. Afinal, nesse caso, as vendas
d o s c o n c o r r e n t e s " j o g a m á g u a n o m e s m o m o i n h o " , isto é , t a m b é m c o l a b o r a m p a r a
f o r t a l e c e r a i m e n s a b a s e i n s t a l a d a d e m á q u i n a s d e a r q u i t e t u r a Intel, c a m p o e m q u e a
c o m p a n h i a , m e s m o s e vier a ter algo comprometida s u a fatia de mercado, continuará
s e n d o u m a participante d e peso.
Deve ser observado que o emprego do termo clone neste contexto é um pouco forçado. Na verdade, está
sendo aplicado a um produto que não é uma cópia exata do original e que nem poderia sê-lo, tendo em
conta o fato de a Intel, após o 286, não ter autorizado nenhum outro fabricante a atuar como secondsource
oficial. Nessas condições, a empresa que realiza a clonagem poderia apenas oferecer, em tese e de forma
a ficar ao abrigo da lei, uma cópia compatível com o produto da Intel. Sendo eminentemente controvertida
essa área das patentes, dos direitos autorais e dos acordos de transferência de tecnologia, não é
surpreendente constatar a transformação do Judiciário norte-americano em campo de árduas e reincidentes
batalhas, com o julgamento de ações impetradas não só pela Intel como por seus próprios concorrentes.
J á u m a presença potencialmente b e m mais ameaçadora, pelo m e n o s a médio
p r a z o , p r e n d e - s e à r e c e n t e a s c e n s ã o d o s chips R e d u c e d Instruction Set C o m p u t i n g
(RISC) no mercado dos computadores de mesa, abrindo u m a segunda frente de ataque
à h e g e m o n i a d a Intel. D e fato, o q u e está e m j o g o é a possibilidade d e surgir, n e s s e
c a m p o , u m d i s p o s i t i v o c o m b i n a n d o b a i x o p r e ç o e e x c e l e n t e performance, o que
poderia t o m a r precocemente obsoleto o Pentium, o produto mais recente da compa-
nhia-líder.
' Trata-se de uma seção muito rápida da memória que é destinada ao armazenamento temporário das
infonnações mais freqüentemente acessadas pelo microprocessador.
S P A R C , d a S u n M i c r o s y s t e m s Inc., d u r a n t e m u i t o t e m p o , líder e m v o l u m e d e u n i d a d e s
comercializadas; o PA/RISC, da Hewlett-Packard; o RS/6000, da IBM; o MIPS, da
S i l i c o n G r a p h i c s ; e o 8 8 1 1 0 , d a M o t o r o l a . N e m a Intel e s c a p o u d e i n t r o d u z i r , h á a l g u n s
a n o s a t r á s , s e u p r ó p r i o chip i n t e g r a l m e n t e R I S C , o 1860, q u e t e v e p e q u e n a p e n e t r a ç ã o
n o m e r c a d o . É f á c i l c o m p r e e n d e r q u e , d a d a t a l p r o f u s ã o d e p r o c e s s a d o r e s , n ã o foi
p o s s í v e l e s t a b e l e c e r — a e x e m p l o d o o c o r r i d o c o m o s m i c r o s d e a r q u i t e t u r a Intel — ,
u m m e r c a d o d e commodities n o c a m p o d a s workstations. E m contrapartida, a criação
d e m e r c a d o s cativos permitiu, diga-se de passagem, aos fabricantes RISC manterem
m a r g e n s de lucro elevadas durante u m longo tempo.
D e qualquer forma, o fato é que as e m p r e s a s q u e p r o d u z e m dispositivos RISC
trabalham c o m escalas d e produção d a ordem de centenas de milhares, enquanto a
I n t e l e o s d e m a i s f a b r i c a n t e s d e chips C I S C c o m p a t í v e i s a t u a m n a f a i x a d a s d e z e n a s
d e milhões, o que lhes permite oferecer u m menor custo por unidade de capacidade
computacional e lhes t e m assegurado u m a folgada liderança na disputa c o m os
componentes RISC.
Outro fator limitador à conquista de u m m e r c a d o de massa por parte dos chips
R I S C está associado à circunstância de todos rodarem alguma variante do Unix, u m
s i s t e m a o p e r a c i o n a l p o r t á v e l ( i s t o é, q u e f u n c i o n a e m d i v e r s a s p l a t a f o r m a s d e hardwa-
re), n ã o c o m p a t í v e l c o m o M S - D O S , o s i s t e m a m a i s d i f u n d i d o . N e s s e c o n t e x t o , n e n h u m
deles foi t a m b é m c a p a z de acumular, n e m remotamente, u m a biblioteca d e softwares
c a p a z de fazer face àquela criada para os micros CISC, rodando sob o M S - D O S / W I n -
d o w s 3.x d a M i c r o s o f t . N a v e r d a d e , e s s a r e s t r i ç ã o n a o f e r t a d e a p l i c a t i v o s r e v e l o u - s e
s e m p r e u m fator decisivo para a p e q u e n a d i s s e m i n a ç ã o das m á q u i n a s R I S C , determi-
n a n d o s e u b a i x o a p e l o c o m e r c i a l , n ã o o b s t a n t e o s a t r a t i v o s d e performance oferecidos.
A c h e g a d a d o W i n d o w s NT, sistema operacional cliente-servidor d a Microsoft,
alterou profundamente os dados do problema, na medida e m que funciona tanto e m
chips I n t e l c o m o e m a l g u n s chips RISC. Na atualidade, o MIPS da Silicon Graphics, o
A l p h a d a D E C e o P o w e r P C d a IBM-AppIe-Motorola são oficialmente suportados pelo
W i n d o w s NT, estando t a m b é m prevista a inclusão do PA/RISC da Hewlett-Packard
nessa relação.
O fato é q u e , até agora, as estações RISC não p o d i a m processar diretamente
aplicações desenvolvidas para máquinas CISC. Havia duas possibilidades d e superar
tal inconveniente, a primeira delas consistindo n a e m u l a ç ã o , u m procedimento que
d e g r a d a bastante o d e s e m p e n h o do sistema e q u e praticamente só s e tornou viável
c o m a c h e g a d a d a s novas gerações de processadores muito rápidos. Trata-se, nesse
caso, d a reprodução (imitação), por u m programa ou equipamento, das funções
próprias a outro programa ou equipamento.
A s e g u n d a alternativa, por sua vez, está ligada à p o r t a b i l i d a d e , ou seja, à
r e p r o g r a m a ç ã o d e u m d a d o software, de modo a adaptá-lo a uma segunda plataforma
d e hardware. Essa é precisamente a qualidade oferecida pelo W i n d o w s NT, c o m a
d i f e r e n ç a d e q u e , c o m o s e t r a t a d e u m s i s t e m a o p e r a c i o n a l , t o d o software c o m ele
compatível passa t a m b é m a sê-lo, automaticamente, e m qualquer máquina funcionan-
d o s o b o m e s m o sistema. J á é efetivamente possível rodar, naqueles p r o c e s s a d o r e s
R I S C anteriormente citados, programas desenvolvidos para o ambiente M S - D O S / W i n -
d o w s 3 . X ( e m 1 6 bits) e p a r a o p r ó p r i o W i n d o w s N T ( e m 3 2 bits). E isso ocorre e m
c o n d i ç õ e s d e performance muito boas, similares às alcançadas e m máquinas equipa-
das c o m o Pentium e certamente muito superiores às que podiam ser obtidas via
e m u l a ç ã o d e software s o b o sistema operacional Unix. C o m isso, tornaram-se mais
transparentes a s vantagens inerentes aos dispositivos RISC, viabilizando aos usuários
a troca d a tecnologia s e m precisarem abandonar a biblioteca de aplicativos c o m q u e
estão familiarizados.
Por f i m , c a b e acrescentar que as estações de trabalho m o n t a d a s c o m chips
R I S C c o s t u m a v a m ser bastante caras, posto que, estando dirigidas praticamente a
nichos de mercado, não se viabilizava uma produção e m maior escala. Além disso,
a exigência de incorporação de placas e outros componentes multo rápidos contri-
buía para a elevação dos custos gerais de montagem dos sistemas, C o m a queda
das cotações desse tipo de insumos e c o m a própria maior concorrência no c a m p o
d o s dispositivos R I S C registradas nos últimos a n o s , p a s s o u a existir t a m b é m oferta
d e c o m p u t a d o r e s RISC a preços mais acessíveis. O fato é que, ao m e s m o t e m p o
e m que os PCs de ponta cresceram em desempenho e se aproximaram, nesse
aspecto, dos sistemas baseados e m dispositivos RISC, t a m b é m estes últimos
r e d u z i r a m a s d i f e r e n ç a s , a nível d e p r e ç o s , q u e o s s e p a r a v a m d o s P C s . Isso v e m
t o r n a n d o a s workstations RISC cada vez mais competitivas, criando expectativas
de, t a m b é m nesse domínio, chegar-se a trabalhar c o m escalas de produção indus-
trial e m m a s s a .
Até o momento, segundo infonnações da própria Apple, Já estão disponíveis 50 aplicativos desenvolvidos
especificamente para o Power Macintosh.
Estão incluídos na relação: System 7, sistema operacional dos microcomputadores Macintosh; SOLaris,
sistema da Sun Microsystems; OS/2, da IBM; Pink, sistema orientado para objeto que a Taligent (acordo
AppIe-IBM) está desenvolvendo; AIX, sistema Unix-like da IBM; DOS/Windows NT da Microsoft- e
PowerOpen, que resultará da unificação dos sistemas IBM AIX e Apple AU/X, atualmente em desenvol-
vimento.
M a s o m a i o r trunfo d o P o w e r P C 6 0 1 é c e r t a m e n t e s e u p r e ç o d e v e n d a , f i x a d o
i n i c i a l m e n t e n a f a i x a d e U S $ 2 8 0 a U S $ 3 7 4 , c o n t r a u m p r e ç o d e l a n ç a m e n t o v a r i a n d o entre
U S $ 8 4 3 e U S $ 9 2 6 p a r a o P e n t i u m e m s u a primeira v e r s ã o ( S A N T A L E S A , 1 9 9 3 , p.206).
O P o w e r P C p o d e s e r v e n d i d o a preços m e n o r e s tanto p o r q u e s e trata d e u m dispositivo
R I S C — portanto, m a i s barato d e produzir q u e u m C I S C — , c o m o p o r utilizar u m n o v o
p r o c e s s o d e f a b r i c a ç ã o b a s e a d o na tecnologia C M O S d e 0.6 m i c r o n , q u e facilita a o b t e n ç ã o
d e transistores a i n d a m e n o r e s . S o m a n d o - s e a isso u m /ayouf otimizado, q u e reduz o e s p a ç o
o c u p a d o c o m a s interfaces e x t e m a s , c h e g a - s e a u m c o m p o n e n t e d e t a m a n h o b e m m a i s
c o m p a c t o q u e o P e n t i u m : 1 2 0 m m ^ c o n t r a 2 6 4 m m ^ respectivamente.® D e s s a f o r m a , é
possível obter u m m a i o r n ú m e r o d e chips a partir d e u m waferúe silicio d e m e s m o t a m a n h o ,
o q u e e q ü i v a l e a dizer q u e s e trabalha c o m u m p r o c e s s o de p r o d u ç ã o m a i s rentável.
Ora, exceto pela questão do preço, as vantagens acima delineadas resultam de
u m a c o m p a r a ç ã o c o m a primeira versão do Pentium, introduzida há cerca de u m ano
a t r á s . T a l s i t u a ç ã o a l t e r o u - s e b a s t a n t e a partir d o m o m e n t o e m q u e a Intel i n i c i o u a
comercialização dos novos modelos Pentium de 90 e 100MHz. De fato, estes são
t a m b é m f a b r i c a d o s c o m t e c n o l o g i a d e 0 . 6 m i c r o n e 3,3 v o l t s , t e n d o s i d o s u p e r a d o o
grave problema d a g e r a ç ã o de calor que comprometia o Pentium d e 6 6 M H z . O anúncio
d a s n o v a s versões de microprocessadores coincidiu, e certamente não por acaso, c o m
o lançamento dos Power Macintosh da Apple, c o m o a lembrar a fabricantes e usuários
q u e a Intel n ã o ficará p a r a l i s a d a e n q u a n t o o s c o n c o r r e n t e s s e a g i t a m , c o n t i n u a n d o a
colocar no mercado u m a sucessão de novos e poderosos chips.
E s s e f a t o j á b a s t a r i a p a r a ilustrar a s d i f i c u l d a d e s q u e , n e s t a s e g u n d a m e t a d e d a
d é c a d a dos a n o s 90, a nova arquitetura PowerPC deverá enfrentar para impor-se. É
inegável q u e t e m b o a s c h a n c e s d e conquistar u m e s p a ç o próprio significativo entre os
m i c r o p r o c e s s a d o r e s , j á n ã o s e n d o t ã o ó b v i o s e u s u c e s s o e n q u a n t o d e s a f i a n t e d a Intel.
Qualquer que seja o desfecho, para integradores de sistemas e usuários, sua mera
existência abre o leque d a s alternativas, contribuindo para minar a ligação unívoca à
família X86. Outra constatação animadora refere-se ao fato d e ser c h e g a d a a hora de
c o l o c a r o p o d e r d e f o g o d a s worl<stations ao alcance dos micros de mesa.
Bibliografia
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do próximo ano. São Paulo, p.11.
^ Veja-se que, mesmo assim, o PowerPC 601 consegue reunir 2,8 milhões de transistores, enquanto o
Pentium conta com 3,1 milhões.