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Matemática Discreta (MA12)

UFRJ - 2024/1

Aula #02 - 22 de março de 2024

Princı́pio da Indução Matemática: Aplicações


e outras formas do princı́pio

Progressão Aritmética

- Definição, termo geral, somas finitas

- Progressões aritméticas de ordem superior

- Somas polinomiais

1
Uso de recorrência para definir somatório e
produtório

n
X
sn = ai = a1 + a2 + · · · + an
i=1
n
Y
pn = ai = a1 · a2 · · · an
i=1

Definição por recorrência da soma dos n primeiros


termos de uma sequência (somatório):
(
s1 = a1
[1]
sn+1 = sn + an+1

Definição por recorrência do produto dos n


primeiros termos de uma sequência (produtório):
(
p1 = a1
[2]
pn+1 = pn · an+1
2
Demonstração de igualdades

Exemplo 1: Prove que


2  3 n
(n+1)n
  
1+1
1
1
1+2 1 1
1 + 3 ··· 1 + n = n!

para todo n ∈ N.

Demonstração de desigualdades

Exemplo 2: Prove que

(1 + h)n ≥ 1 + nh
para todo h > −1 e qualquer que seja n ∈ N.

Exemplo 3: Prove que

1 · 3 · 5 · · · 2n−1 ≤ √ 1 para todo n ∈ N.


2 4 6 2n 2n+1

3
Resolução de problemas com o método da
indução

Exemplo 4: Torre de Hanoi

Qual é o número mı́nimo de movimentos para


transferir todos os discos para uma outra haste,
respeitando sempre a restrição de que um disco
nunca seja colocado sobre um disco de diâmetro
menor?

Uma estratégia de solução desse problema, con-


siderando que há n discos (n ∈ N, n > 1), é a
redução do problema para n − 1 discos. Se
sabemos transferir n − 1 discos de uma haste
para a outra, também sabemos transferir n dis-
cos.
4
De fato, para transferir n discos da haste 1
para a haste 3, primeiro transferimos n − 1 dis-
cos para a haste 2. Depois transferimos o disco
maior para a haste 3 e, em seguida, os n − 1
discos para a haste 3.

Assim, se hn é o número de movimentos para


n discos, segue que podemos definir hn por
recorrência da seguinte forma:
(
h1 = 1
hn = 2hn−1 + 1, n>1

Estudaremos, na unidade 4, estratégias de solu-


ção para recorrências de primeira e segunda
ordem.

A solução desse problema particular é dada por


hn = 2n − 1, de modo que para n = 5, tem-se
h5 = 31.

5
Exemplo 5: Pizza de Steiner

Qual é o número máximo de regiões em que o


plano pode ser dividido por n retas?

Equivalentemente, qual é o número máximo de


pedaços em que uma pizza pode ser dividida
por n cortes retilı́neos?

Note que o número de regiões é máximo quando


cada reta intercepta todas as demais em
pontos distintos.

6
Para valores pequenos de n podemos facilmente
contar.
num. de cortes n num. de regiões rn acréscimo
1 2 —
2 4 2
3 7 3
4 11 4

A observação da tabela sugere que o número


de regiões aumenta n unidades quando se faz
o enésimo corte.

Para validar essa observação, suponha que os


primeiros n cortes tenham sido feitos de modo
a assegurar o número máximo rn de regiões, ou
seja, de modo que cada corte intercepte todos
os demais em pontos distintos.

7
O corte n+1 deve satisfazer essa condição. Ou
seja ele deverá interceptar os n já existentes em
n pontos distintos.

Estes n pontos subdividem a reta correspon-


dente ao (n+1)-ésimo corte em n+1 partes (n-
1 segmentos e duas semirretas), como ilustrado
a seguir.

Cada uma dessas partes subdivide uma região


existente em duas, aumentando o número de
regiões em n + 1. Assim, temos

rn+1 = rn + (n + 1), para todo n ∈ N.


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Usando recorrência, tem-se

(
r1 = 2
rn = rn−1 + n, n>1

No capı́tulo 4, veremos que a solução dessa


recorrência é dada por
n2 + n + 2
rn =
2

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Outras formas do Princı́pio da Indução

PIM2: Seja P (n) uma propriedade relativa a


um número natural n e seja n0 ∈ N. Suponha

(1) P (n0) é verdadeira.

(2) Para todo n ≥ n0, a veracidade de P (n),


implica na veracidade de P (n + 1).

Então, P (n) é verdadeira para todo natural n


com n ≥ n0.

Observe que o Princı́pio da Indução Matemática


(PIM) é um caso particular de PIM2, quando
n0 = 1.

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Demonstração: vamos usar o axioma da indução.

Defina X subconjunto de N, X ⊂ N, tal que

X = {n ∈ N|P (n0 + n − 1) é verdadeira}

Observe que 1 ∈ X, pois P (n0 +1−1) = P (n0)


é verdadeira.

Seja k ∈ X, k > 1 tal que P (n0 + k − 1) é


verdadeira. Observe que n0 + k − 1 > n0, pois
k > 1. Logo, n0 + (k + 1) − 1 = n0 + k > n0 e
por (2) em PIM2 P (n0 + k) é verdadeira.

Assim, se k ∈ X, então k + 1 ∈ X.

Logo, X = N.

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Exemplo 6: Mostre que

2n > n 2
para todo n ≥ 5.

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PIM3: Seja P (n) uma sentença aberta relativa
ao natural n. Suponha que

(1) P (1), P (2), · · · , P (k) são verdadeiras, com


k ∈ N.

(2) Para todo n ∈ N, a veracidade de

P (n), P (n + 1), · · · , P (n + k − 1), implica na ve-


racidade de P (n + k).

Então, P (n) é verdadeira para todo n ∈ N.

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Demonstração: Para demonstrar o PIM3 va-
mos recorrer à seguinte estratégia: no lugar de
estabelecer uma proposição P (n) vamos esta-
belecer uma proposição Q(n) dada por

P (n), P (n + 1), · · · , P (n + k − 1), k∈N

e usar o axioma da indução.

Seja X ⊂ N tal que X = {n|Q(n) é verdadeira}

1 ∈ X, pois por (1) vale P (1), P (2), ..., P (k).

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Suponha que n0 ∈ X.

Vamos verificar se n0 + 1 também pertence a


X.

Se n0 ∈ X então vale

Q(n0) : P (n0), P (n0 + 1), · · · , P (n0 + k − 1).

Mas, por (2), segue que vale P (n0 + k) e, por-


tanto, Q(n0 + 1) é verdadeira. Logo, 1 ∈ X e
se n0 ∈ X então n0 + 1 ∈ X.

Segue, do axioma da indução, que X = N

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Exemplo 7: Problema de Fibonacci

Suponha que um casal de coelhos demore dois


meses para procriar. A partir daı́, a cada mês
produz um novo casal de coelhos. Começando
no mês 1 com um único casal, qual é o número
de casais de coelhos no mês n?

Solução: Para valores pequenos de n podemos


contar manualmente.

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Seja Fn o número de casais no n-ésimo mês.
Observe que F1 = F2 = 1.

F3 = F2 + 1 = F2 + F1 = 2, sendo 1 casal
maduro e outro não, de modo que

F4 = F3 + 1 = F3 + F2 = 3, sendo dois casais


maduros e o outro não.

De modo geral, para n ≥ 3, tem-se

Fn = Fn−1 + Fn−2.

Trata-se de uma definição por recorrência de


segunda ordem.
(
F1 = 1, F2 = 1
[1]
Fn = Fn−1 + Fn−2, n>2

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Veremos na unidade 4, como resolver recorrên-
cias de segunda ordem e encontrar a solução
geral para Fn dada por
 √ n  √ n
1+ 5 1− 5
2 − 2

5

PIM4: Seja P (n) uma propriedade relativa ao


número natural n. Suponha que

(1) P (1) é verdadeira.

(2) Para todo n ∈ N, a veracidade de P (k),


para todo k ≤ n, implica na veracidade de
P (n + 1).

Então, P (n) é verdadeira para todo n ∈ N.

Esse princı́pio da Induç~


ao é chamado princı́pio
da induç~
ao completa ou forte.
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Demonstração: Defina Q(n) : P (n) é ver-
dadeira para todo k ≤ n, n, k ∈ N.

Por (1), observe que Q(1) vale, pois P (1) é


verdadeira.

Suponha que Q(n0) seja verdadeira para algum


n0 ∈ N. Segue que P (n) é verdadeira para todo
k ≤ n0. Logo, por (2), segue que P (n0 + 1) é
verdadeira.

Portanto vale Q(n0 + 1), o que completa o


passo da indução.

Logo, P (n) vale para todo n ∈ N.

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Exemplo 8: Seja an uma sequência definida
n
X
ak
por a0 = 2 e an+1 = k=0 , n ∈ N. Qual é o
n+2
termo geral dessa sequência?

Solução: an = 1, para todo n ∈ N.

a1 = a20 = 1.

Suponha ak = 1 para todo k ≤ n.

n
X
ak
k=0 2+n·1
an+1 = = =1
n+2 n+2

Logo, an+1 = 1.

Assim, o PIM4 assegura que an = 1 para todo


n ∈ N.

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Exemplo 9: Prove, usando PIM4, que

todo subconjunto n~ ao vazio de N tem um menor


elemento.(Princı́pio da Boa Ordenação).

Solução: Vamos mostrar que se X ⊂ N não


possui menor elemento, então X é necessari-
amente o vazio, ou seja, que o complementar
de X (X c) é o próprio conjunto dos números
naturais.

Suponha que X seja subconjunto de N que não


possui menor elemento. Seja X c o complemen-
tar de X tal que X ∪ X c = N e X ∩ X c = ∅.

Defina a propriedade P (n) : n ∈ X c.

Observe que P (1) é verdadeira, pois 1 ∈ / X,


pois se pertencesse a X seria o menor elemento
de X, mas estamos supondo que X não possui
menor elemento. Logo, 1 ∈ X c.
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Suponha agora que P (k) seja válida para todo
k ≤ n. Isso implica que k ∈ X c para todo k ≤ n,
ou seja, {1, 2, · · · , n} ⊂ X c e, portanto, nenhum
desses naturais pertence a X. Mas isso implica
que n + 1 não pode pertencer a X, pois se per-
tencesse seria o menor elemento de X que por
hipótese não possui menor elemento. Logo,
n + 1 ∈ X c, o que mostra que P (n + 1) vale.

Assim, se vale P (k) para todo k ≤ n, então


vale P (n + 1). Portanto, por PIM4, P (n) vale
para todo n ∈ N.

Logo X c = N tal que X = ∅.

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