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16 de Janeiro de 2012
Ou seja, dado um número qualquer c < 1, sabemos que a partir de certa ordem de
grandeza N todos os termos un , para n > N , satisfazem c < un < 1.
É isto que significa a frase: os termos desta sucessão vão-se aproximando cada vez mais
de 1. Não interessa quão perto de 1 nos colocamos; o certo é que a partir de certa altura,
todos os termos da sucessão estarão mais perto do 1 do que nós estamos.
Usando a notação matemática, que é muito prática, e usando os módulos (que signi-
ficam distância) chegamos a esta ideia fundamental:
1
Diz-se que a sucessão (un ) converge para 1 se para todo o número ε > 0 temos que a
partir de certa ordem N , a distância de un a 1 vai ser menor que ε: ou seja, |1 − un | < ε,
para todo o n > N .
pelo que nos basta responder a esta pergunta: será que a partir de certa ordem temos
−n
10 menor que o ε que nos foi dado?
−n
Bom: quando é que temos 10 < ε? Pelo módulo de logaritmos sabemos que
−n −1
10 < ε ⇔ −n < log10 ε ⇔ n > − log10 ε ⇔ n > log10 ε .
Ou seja, dado qualquer ε > 0 existe uma ordem N (igual ao primeiro natural maior
−1
ou igual a log10 ε ) e tal que para todo o n > N temos a nossa propriedade: |1 − wn | < ε.
Agora sim, está provado que wn se vai aproximando cada vez mais de 1 pelo que o
“limite” de wn é 1.
2
Exercı́cio 2.
3
1. Prove que a sucessão un = 1 − 2n
converge para 1.
1
2. Prove que a sucessão un = 10n
não converge para 1.
2 Convergência de sucessões
Na secção anterior vimos o que significa uma sucessão convergir para o número 1. Mas
como é evidente o número 1 não tem nada de particular. Da mesma forma, podemos ter
sucessões a convergir para qualquer número b.
Diz-se que a sucessão (un ) converge para b se para todo o número ε > 0 temos que a
partir de certa ordem N a distância de un a b vai ser menor que ε: ou seja, |b − un | < ε,
para todo o n > N a .
(Também se usam, por vezes, as frases “un tende para b quando n tende para +∞”, ou
“o limite de un , quando n tende para +∞, é igual a b” em alternativa a “(un ) converge
para b”.)
Utilizamos a notação
lim un = b ou un −−−−→ b,
n→+∞ n→+∞
para exprimir o facto de que o “limite” de un quando n tende para +∞ (que se lê “mais
infinito”) é igual a b.
a
isto significa que, dado um qualquer ε > 0, há apenas um número finito de termos da sucessão fora
do intervalo ]b − ε, b + ε[.
Exercı́cio 3.
3
1. Prove que a sucessão un = −3 − 2n
converge para −3.
1
3. Prove que lim = 0.
n→+∞ n
1
4. Calcule lim .
n→+∞ n + 1
3
É claro que usar a definição no cálculo de limites é impraticável, a não ser
em casos muito simples. Mas a definição permite provar coisas sobre limites (não o
faremos aqui), como a proposição que se segue.
Na prática (por exemplo, no exame), para calcular limites usamos alguns limites muito
simples, como os do exercı́cio acima (3.2 e 3.3), e as seguintes propriedades dos limites:
Proposição 4. Sejam (un ) e (vn ) duas sucessões convergentes e seja c uma constante.
Então
(a) lim c = c;
n→+∞
un lim un
n→+∞
(e) lim = , desde que lim vn 6= 0;
n→+∞ vn lim vn
n→+∞
√ q
(f ) lim p
un = p lim un , desde p seja ı́mpar ou un > 0.
n→+∞ n→+∞
(Claro que (a) e (d) implicam (c), pelo que poderı́amos omitir (c).)
3
Aplicação 5. Diga qual o valor de lim (1 + ).
n→+∞ 1+n
Resolução Usando as regras acima e o resultado do exercı́cio 3.4 temos:
3 3 1
lim (1 + ) = lim 1 + lim = 1 + lim 3 · lim = 1 + 3 · 0 = 1.
n→+∞ 1+n n→+∞ n→+∞ 1 + n n→+∞ n→+∞ 1 + n
2n2 + 3
Aplicação 6. Diga qual o valor de lim .
n→+∞ n2 + n
3 1
Pela parte (e) da proposição acima, basta calcular lim (2 + ) e lim (1 + ):
n→+∞ n2 n→+∞ n
4
3 1 1 1
lim (2 + 2
) = 2 + 3( lim 2 ) = 2 + 3( lim ) · ( lim ) = 2 + 3 × 0 × 0 = 2;
n→+∞ n n→+∞ n n→+∞ n n→+∞ n
1 1
lim (1 + ) = lim 1 + lim = 1 + 0 = 1;
n→+∞ n n→+∞ n→+∞ n
2n2 + 3 2
Então lim = = 21.
n→+∞ n2 + n 1
Exercı́cio 7.
3n + 2
1. Calcule lim ;
n→+∞ 2n + 1
2n2 + 1
2. Calcule lim √ ;
n→+∞ n4 + n
2
(n2 +1)−n 1
= √
n2 +1+n
= √
n2 +1+n
1 1
= √
2
n
= r n
n +1+n n2 +1 n
n 2 +n
n
1
= q n
1+ 12 +1
n
Portanto,
√ 1
n 0
lim n2 + 1 − n = lim q =√ = 0.
n→+∞ n→+∞
1+ 1
+1 1+0+1
n2
5
√
Aplicação 9. Calcule lim n2 + n − n.
n→+∞
√ √
( n2 +n−n)( n2 +n+n)
= √
n2 +n+n
2 n
(n2 +n)−n n
= √
n2 +n+n
= √
n2 +n+n
= √ n
n2 +n+n
n
1 1 1
= √
n2 +n
= r = r
2
+n n2 +n n n
n n 2 +1 2 + 2 +1
n n n
= √ 1
1
.
1+ n +1
Portanto,
√ 1
lim n2 + n − n = lim q
n→+∞ n→+∞
1 + n1 + 1
limn→+∞ 1
= √ 1
limn→+∞ 1+limn→+∞ n
+limn→+∞ 1
= √ 1 = 1
.
1+0+1 2
Exercı́cio 10.
√
1. Calcule lim n2 + 3 − n
n→+∞
√
2. Calcule lim n2 + 2n − n
n→+∞
√
3. Calcule lim 2n2 + 1 − 4n Errata: Na questão 10-3), considere o seguinte limite
n→+∞ lim \sqrt(4n^2+1)-2n, em vez do apresentado.
n
Do texto ”Potências, Exponenciais e Logaritmos”sabemos o que significa a m , quando
a é um número real positivo e n e m são números inteiros (com m > 0):
n √
m
am = an .
6
Esta definição é consistente com as propriedades das potências de expoente inteiro (nota:
√ √4
m
an é o único número positivo x que verifica xm = an , por exemplo, 23 é o único
número positivo que depois de elevado à quarta fica igual a 8).
Sendo assim, quando a é um número real positivo, sabemos calcular ax desde que
n
existam inteiros m e n tais que m
= x (nesse caso diz-se que x é um número racional).
314159 √
100000
3.14159
Por exemplo, sabemos que 10 = 10 100000 = 10314159 .
Quer isto dizer que (para a > 0) já sabemos calcular ax ? Quase: o problema é que
n
existem números reais que não se podem escrever na forma m
= x. São os chamados
números irracionais. Mas, mesmo para esses, é sempre possı́vel encontrar um número da
n
forma m
que está muito próximo. Por exemplo, π é um número irracional (a demostração
314159
existe, mas não a faremos) que é aproximadamente igual a 100000
.
Melhor ainda, se pensarmos na sucessão 3, 3.1, 3.14, 3.141, 3.1415, 3.14159, . . ., ou seja,
31 314
3, 10 , 100 , . . . teremos uma sucessão de racionais que converge para π, e é sempre possı́vel
fazer isto para qualquer número irracional.
E qual é o valor de aπ ? É o número para onde converge a sucessão a3 , a3.1 , a3.14 , a3.141 , . . ..
Para qualquer número irracional x, ax pode obter-se de forma semelhante.
Observação: há duas questões que se podem pôr na definição anterior; será que
a3 , a3.1 , a3.14 , a3.141 , . . . converge mesmo? E será que escolhendo outra sucessão, (vn ), con-
vergente para π, o limite de (avn ) continua a ser igual? A resposta a ambas as questões é
afirmativa, mas não iremos demonstrar isso neste curso.
1
2. lim
n→+∞ 3n + 1
1
3. lim 3(sen n )
n→+∞
7
3 Limites de funções
n
Uma sucessão, por exemplo un = π , pode ser vista como uma função cujo domı́nio são os
2
números naturais e cujas imagens estão no conjunto dos números reais: u1 = π, u2 = π ,
etc.
Já sabemos calcular o limite de sucessões. Vamos agora aprender a calcular o limite
de funções em geral, f (x), funções com domı́nio e conjunto de chegada formados por
números reais. A ideia intuitiva é esta: a função f : R → R tem limite igual a b quando
x tende para +∞ se, à medida que o valor de x vai aumentando, o valor de f (x) se vai
aproximando de b.
Utilizamos a notação
Dizemos que a função x 7→ f (x) tem limite igual a b quando x → +∞, e escrevemos
lim f (x) = b, ou f (x) −−−−→ b, se
x→+∞ x→+∞
para todo o ε > 0, existe um M > 0 tal que (para x ∈ Df ): x > M =⇒ |f (x) − b| < ε.
Sim, não é fácil definir “limite” rigorosamente e quase nunca iremos precisar de usar a
“definição rigorosa”.
O que está aqui em causa é exatamente igual ao que aconteceu com as sucessões; a
3
diferença é que nas sucessões o input era sempre um número natural (u3 = π é o mesmo
3 x
que dizer u(3) = π ), enquanto aqui pode ser qualquer número (podemos ter f (x) = π e
0,5
portanto f (0, 5) = π ).
8
Exemplo 12.
Consideremos a função h : R+ → R definida pela expressão h(x) = x1 , e vejamos o que se
pode dizer quando x → +∞.
Atribuindo alguns valores a x, temos a seguinte tabela:
1
x h(x) = x
1 1
10 0.1
100 0.01
1000 0.001
2000 0.0005
10000 0.0001
Observamos que, à medida que x cresce, os valores de f (x) parecem ter tendência para se
aproximarem de 0.
É portanto natural conjeturar que h(x) −−−−→ 0. Para provar que o limite é de facto
x→+∞
0, temos de mostrar que a seguinte proposição é verdadeira
Para todo o ε > 0, existe M > 0 tal que x > M =⇒ |h(x) − 0| < ε.
Ou seja, não interessa quão próximo estamos de 0 (a nossa distância a zero é ε) porque
a partir de certa ordem (a que chamamos M ) todos os valores de x (maiores que M ) fazem
1
com que h(x) esteja ainda mais perto de 0 do que estava ε. De facto, escolhendo M = ε
1 1
tem-se x > M = ε
⇒ x
< ε.
Exercı́cio 13.
2
1. Prove que lim − = 0;
x→+∞ 10x
3
2. Prove que lim −3 − = −3;
x→+∞ 2x
π
3. Prove que lim π − x = π;
x→+∞ 3
4. Prove que, para c constante, lim c = c;
x→+∞
9
4 Limite em −∞
Quem percebe a definição de limite em mais infinito, percebe seguramente em menos
infinito.
Dizemos que a função x 7→ f (x) tem limite igual a b quando x → −∞, e escrevemos
lim f (x) = b, ou f (x) −−−−→ b, se
x→−∞ x→+∞
para todo o ε > 0, existe um M > 0 tal que x < −M =⇒ |f (x) − b| < ε.
O que isto significa, claro, é que f (x) se vai aproximando de b à medida que x vai
andando para a esquerda na reta real, ou seja, vai ficando cada vez “mais negativo”:
1
por exemplo, limx→−∞ 1+x2
= 0:
Resolução: Como 10x é sempre positivo, basta resolver a inequação 10x < ε e tirar
conclusões:
10x < ε ⇔ x < log10 ε.
Ou seja, para cada ε > 0 a escolha M = − log10 ε garante que x < −M ⇒ 10x < ε.
Proposição 15. Sejam f (x) e g(x) duas funções com limite em +∞ e seja c uma cons-
tante. Então
(a) lim c = c;
x→+∞
10
f (x) lim f (x)
x→+∞
(d) lim = , desde que lim g(x) 6= 0.
x→+∞ g(x) lim g(x) x→+∞
x→+∞
p q
p
(e) lim f (x) = p lim f (x), desde que as raı́zes façam sentido.
x→+∞ x→+∞
x+1
Aplicação 16. Prove que limx→+∞ x
= 1.
1
Resolução Recorde que já provámos antes que limx→+∞ x
= 0. Agora vamos usar as
regras acima para resolver o nosso problema:
x+1 x 1 x 1
lim = lim ( + ) = lim ( ) + lim ( ) = lim 1 + 0 = 1.
x→+∞ x x→+∞ x x x→+∞ x x→+∞ x x→+∞
x−1
2. limx→+∞ 2x
= 12 ;
1
3. limx→+∞ 1+x2
= 0;
1
4. limx→−∞ 1+2x
= 1;
1
5. limx→+∞ 1+2x
=0
√
Exercı́cio 18. 1. limx→+∞ x − x2 + 2x + 3
2. limx→+∞ √ 2x+3
x2 +3x+4
2t3 +3
3. limt→+∞ t4 +3t
1 2 1
4. limt→+∞ 2 + t
+3 2+ t
+4
11