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10a aula

18 de Outubro de 2023
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Para o cálculo do limite de uma sucessão é por vezes útil analisar


restrições da sucessão a subconjuntos bem escolhidos de N. Por
exemplo, na sucessão de termo geral

an = n + (−1)n n

destacamos que
• se n é par, então an = 2n

• se n é ı́mpar, então an = 0.
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E, como N = {naturais pares} ∪ {naturais ı́mpares}, conhecemos


deste modo todos os termos da sucessão.

E ficamos a saber de imediato que se trata de uma sucessão que


não é monótona, que é minorada mas não é majorada (logo não
converge) e que também não tem limite +∞ nem −∞. E,
portanto, (an )n ∈ N não tem limite.
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Subsucessões

Dada uma sucessão (an )n , uma subsucessão de (an )n obtém-se


escolhendo infinitos termos da sucessão (an )n

an1 , an2 , an3 , · · · , ank , · · ·

tal que nk ∈ N para todo o natural k e

n1 < n2 < n3 < · · · < nk < nk+1 < · · · ∀ k ∈ N.


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Notem que uma sucessão é subsucessão de si mesma: corresponde


a escolher todos os termos, isto é,

n1 = 1 < n2 = 2 < n3 = 3 < · · · < nk = k ∀ k ∈ N.


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Importante

n1 ∈ N ⇒ n1 > 1
n2 > n1 > 1 ⇒ n2 > 2
n3 > n2 > 2 ⇒ n3 > 3
..
.
nk+1 > nk > k ⇒ nk+1 > k + 1 ∀ k ∈ N.

Logo
lim nk = +∞.
k → +∞
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Exemplos
Consideremos uma sucessão constante (C )n ∈ N . Então todas as
subsucessões são iguais à sucessão. Não há qualquer vantagem em
considerar subsucessões.

Consideremos agora a sucessão (an )n ∈ N = ( √1n )n ∈ N . Então a


subsucessão dos termos a1 , a22 , a32 , a42 , · · · , ak 2 , · · · é
1 1 1 1
1, , , , ··· , , ···
2 3 4 k
e a subsucessão dos termos a2 , a23 , a25 , a27 , · · · , a22k−1 , · · · é
1 1 1 1 1
√ , √ , √ , √ , ··· , √ , ···
2 2 2 4 2 8 2 2 k−1 2
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Limites das subsucessões

Teorema: Se (an )n ∈ N tem limite L ∈ R ∪ {+∞, −∞} e (ank )k ∈ N


é uma sua subsucessão, então

lim ank = L.
k → +∞

Em particular, uma sucessão tem limite L se e só se toda a sua


subsucessão tem limite L.
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Demonstração
Caso 1: L∈R

Seja (an )n ∈ N uma sucessão com limite L ∈ R e (ank )k ∈ N uma sua


subsucessão. Consideremos ε > 0. Como limn → +∞ an = L, existe
p ∈ N tal que
n > p ⇒ |an − L| < ε.

Ora

k >p ⇒ nk > k > p


⇒ |ank − L| < ε

o que confirma que limk → +∞ ank = L.


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Caso 2: L = +∞ (o caso em que L = −∞ é análogo)

Seja (an )n ∈ N uma sucessão com limite +∞ e (ank )k ∈ N uma sua


subsucessão. Consideremos ε > 0. Como limn → +∞ an = +∞,
existe p ∈ N tal que

n>p ⇒ an > ε.

Então

k >p ⇒ nk > k > p


⇒ ank > ε

o que mostra que limk → +∞ ank = +∞.


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Este resultado indica que:

• Para provarmos que uma sucessão não tem limite, basta exibir
duas subsucessões com limites distintos.

É o caso da sucessão (an ) = ((−1)n )n : a subsucessão (a2n )n


dos termos de ordem par é a sucessão constante e igual a 1,
logo converge para 1; a subsucessão (a2n−1 )n dos termos de
ordem ı́mpar é a sucessão constante e igual a −1, logo
converge para −1; por isso, a sucessão (an )n não tem limite.

• Se já sabemos que uma sucessão tem limite, para o calcular


basta considerar uma subsucessão.
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Exemplo 1

Consideremos um número real positivo b e a sucessão de termo


geral (
b se n = 1
an = √n
b se n > 2

Verifiquemos que, para todo o b > 0, esta sucessão é monótona e


limitada, logo convergente, e calculemos o limite usando uma
subsucessão.
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Note-se que, se b > 1, então b < b, ou seja, a2 < a1 .

Além disso, para todo o n ∈ N \ {1}, tem-se

b>1 ⇒ b n+1 > b n > 1



n+1
⇒ b > bn > 1
√ n
√ n
n+1
⇒ ( b )n > ( b) > 1
√n

n+1
⇒ b > b > 1
⇔ an > an+1 > 1.

E, portanto, se b > 1, a sucessão (an )n ∈ N é decrescente (logo é


majorada por a1 = b) e minorada por 1.
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Se 0 < b < 1, uma conta análoga à anterior mostra que a sucessão


(an )n ∈ N é crescente (logo minorada por a1 = b) e majorada por 1.

Finalmente, se b = 1, a sucessão (an )n ∈ N é constante e igual a 1.


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Consequentemente, para todo o b > 0, a sucessão (an )n ∈ N


converge, sendo

 sup {a1 , a2 , · · · , an , · · · } ∈ ]b, 1]
 se 0 < b < 1
lim an = 1 se b = 1
n → +∞ 
inf {a1 , a2 , · · · , an , · · · } ∈ [1, b[ se b > 1.

Em particular, o limite é positivo, qualquer que seja o valor de


b > 0.
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Designemos por Lb > 0 esse limite e consideremos a subsucessão


de (an )n ∈ N dada por

n(n+1)
( b )n ∈ N

Então
√ 1 1 1
b n(n+1) = lim b n − n+1
n(n+1)
lim b = lim
n → +∞ n → +∞ n → +∞
√n
b L
= lim √ = b = 1.
n+1
n → +∞ b Lb

Concluı́mos assim, usando o Teorema anterior, que para todo o


b>0
√n
lim b = 1.
n → +∞
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Exemplo 2

Consideremos agora a sucessão de termo geral


(
1 se n = 1
cn = √n
n se n > 2

Os termos desta sucessão são maiores ou iguais a 1. Isto é, a


sucessão é minorada por 1. Mas não é monótona, porque
√ √
3

4
c1 = 1 < c2 = 2 < c3 = 3 > c4 = 4.
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c1 c2 c3 c4 c5 c6 c7

2

3

4

5

6

7
1 2 3 4 5 6 7
1 ≈ 1.414 ≈ 1.442 ≈ 1.414 ≈ 1.379 ≈ 1.348 ≈ 1.320
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Contudo, os termos da sucessão (cn )n ∈ N decrescem a partir da


ordem 3 porque

n

n+1 n
n> n+1 ⇔ n > (n + 1) n+1
⇔ nn+1 > (n + 1)n
 n + 1 n
⇔ n>
n
 1 n
⇔ n > 1+
n
e já provámos que
 1 n
∀n ∈ N 1+ < 3.
n
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Como o limite não se altera se ignorarmos os 2 primeiros termos da


sucessão (cn )n ∈ N , e ela é minorada e decresce a partir do terceiro
termo, então converge. Seja ` o limite.

Sabemos que ` > 1 porque



n
∀ n ∈ N \ {1} n > 1.
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Consideremos a subsucessão
√ 
2n
2n
n∈N

Então
√ 2

2 
= `2
2n 2n
lim 2n = lim 2n
n → +∞ n → +∞
√  √ √ 
n n
= lim 2n = lim 2 nn
n → +∞ n → +∞
√ √
  
n n
= lim 2 lim n = `.
n → +∞ n → +∞
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E, portanto, como o limite de uma sucessão é único, tem-se

`2 = `.

Tendo em conta que ` 6= 0, concluı́mos desta equação que ` = 1,


ou seja,
√n
lim n = 1.
n → +∞
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Outra aplicação do Teorema

Já sabemos que:

(an )n ∈ N é monótona e limitada ⇒ (an )n ∈ N converge.

Podemos agora acrescentar que:

Exercı́cio: Se (an )n ∈ N é uma sucessão monótona e tem uma


subsucessão limitada, então (an )n ∈ N converge.
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Resolução do exercı́cio
Suponhamos que (an )n ∈ N é crescente (a prova para sucessões
decrescentes é idêntica), isto é,

a1 6 a2 6 · · · 6 an 6 an+1 6 · · ·

Seja (ank )k ∈ N uma subsucessão limitada de (an )n ∈ N . Então


também é crescente. De facto, como

n1 < n2 < · · · < nk < nk+1 < · · ·

tem-se
an1 6 an2 6 · · · 6 ank 6 ank+1 6 · · ·
Daqui resulta que (ank )k ∈ N converge, uma vez que é monótona e
limitada. Seja ` o seu limite: ` = limk → +∞ ank .
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Consideremos agora R ∈ R+ tal que

∀k ∈ N − R 6 ank 6 R.

Sabemos que, para todo o N ∈ N, se tem

nN > N

logo, como a sucessão (an )n ∈ N é crescente,

anN > aN .

E, portanto,

∀N ∈ N a1 6 aN 6 anN 6 R.

Ou seja, (aN )N ∈ N é limitada: a1 é um minorante e R é um


majorante de todos os termos da sucessão.
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Consequentemente, (an )n ∈ N é convergente, porque é monótona e


limitada.

E qual é o limite de (an )n ∈ N ?

Pelo Teorema, é igual a ` = limk → +∞ ank .


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Duas subsucessões especiais


Se uma sucessão (an )n ∈ N é tal que as duas subsucessões (a2k )k ∈ N
e (a2k−1 )k ∈ N têm o mesmo limite L, então
lim an = L.
n → +∞

Caso 1: L∈R

Seja ε > 0. Existem p1 , p2 ∈ N tais que


k > p1 ⇒ |a2k − L| < ε
e
k > p2 ⇒ |a2k−1 − L| < ε.
Consideremos P = 2 max{p1 , p2 }.
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Então:
• n = 2k > P ⇒ k > p1 ⇒ |an − L| = |a2k − L| < ε

• n = 2k − 1 > P ⇒ k > p2 ⇒ |an − L| = |a2k−1 − L| < ε.

E, portanto, limn → +∞ an = L.
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Caso 2: L = +∞ (o argumento é análogo se L = −∞)

Seja ε > 0. Existem p1 , p2 ∈ N tais que

k > p1 ⇒ a2k > ε

e
k > p2 ⇒ a2k−1 > ε.

Consideremos P = 2 max{p1 , p2 }. Então:


• n = 2k > P ⇒ k > p1 ⇒ an > ε

• n = 2k − 1 > P ⇒ k > p2 ⇒ an > ε.

E, portanto, limn → +∞ an = +∞.


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Exemplo

(−1)n+1
A sucessão de termo geral an = 5 + n converge para 5, uma
vez que
1
lim a2k = lim 5− = 5
k → +∞ k → +∞ 2k
e
1
lim a2k−1 = lim 5+ = 5.
k → +∞ k → +∞ 2k − 1
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Do estudo de sucessões que fizemos até agora fica-nos a impressão


de que as sucessões monótonas são especiais, pois têm sempre
limite, que é finito se a sucessão é limitada e ± ∞ caso contrário.

E há mais razões para lhes ser atribuı́da tanta importância.


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Subsucessões monótonas

Teorema: Toda a sucessão de números reais tem uma subsucessão


monótona.
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Exemplos

• A subsucessão de todos os termos da sucessão de termo geral


1
n é estritamente decrescente.
• A subsucessão dos termos de ordem ı́mpar da sucessão de
(−1)n
termo geral n é estritamente crescente.
• A subsucessão dos termos de ordem par da sucessão de termo
geral (−1)n é constante (logo crescente e decrescente).
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Demonstração do Teorema

Seja (an )n ∈ N uma sucessão de números reais. Diz-se que aP é um


pico da sucessão se

∀n > P aP > an .
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Por exemplo, se an = n1 , todos os termos da sucessão são picos:


1 1 1 1
a1 = 1 > a2 = > a3 = > · · · > an = > an+1 = > ··· .
2 3 n n+1

Se bn = (−1)n , nenhum termo da sucessão é pico:

b2 = 1 > b1 = −1 = b3 = · · · = b2n−1 ∀n ∈ N

mas
b2 = 1 = b4 = · · · = b2n ∀ n ∈ N.

Se c1 = 1 e cn = 0 para todo o n > 2, a sucessão (cn )n ∈ N só tem


um pico: c1 .
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Continuemos a demonstração do Teorema.

Caso 1: (an )n ∈ N tem infinitos picos.

Sejam eles
an1 , an2 , an3 , an4 , · · · , ank , · · ·

onde
n1 < n2 < n3 < · · · < nk < nk+1 · · ·

Então (ank )k ∈ N é uma subsucessão de (an )n ∈ N e tem-se

an1 > an2 > an3 > an4 > · · · > ank > ank+1 · · ·

Encontrou-se uma subsucessão estritamente decrescente de (an )n .


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(−1)n
É o que acontece com a sucessão n , cujos picos são
n∈N

1 1 1 1
a2 = , a4 = , a6 = , · · · , a2n = , ···
2 4 6 2n

O argumento anterior fornece a subsucessão estritamente


decrescente dos termos de ı́ndice par.
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Caso 2: (an )n ∈ N tem um número finito N ∈ N ∪ {0} de picos.

Consideremos
(
1 se não há picos
n1 =
max {j1 , · · · , jN } + 1 se há N ∈ N picos: aj1 , · · · , ajN

Como an1 não é pico, existe n2 > n1 tal que

an2 > an1 .

Analogamente, como an2 não é pico, existe n3 > n2 tal que

an3 > an2 .

E assim sucessivamente. Deste modo, obtemos subsucessão


crescente de (an )n ∈ N .
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É o que acontece com a sucessão (−1)n



n∈N
, que não tem picos.

O argumento anterior fornece a subsucessão

a1 = −1, a2 = 1, a4 = 1, · · · , a2n = 1, · · ·

que é crescente.
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Consequência

Corolário: Toda a sucessão limitada de números reais tem uma


subsucessão convergente.
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Observação

A sucessão (n)n ∈ N , que é monótona, não tem subsucessão


convergente.

O que mostra que a hipótese de a sucessão ser limitada é


essencial.
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Demonstração do Corolário

• Se (an )n ∈ N é uma sucessão limitada, todas as suas


subsucessões são limitadas.
• Em particular, é limitada a subsucessão monótona que a
alı́nea (a) do Teorema afirma existir.
• E, como já mostrámos, uma sucessão monótona e limitada
converge.

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