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9a aula

13 de Outubro de 2023
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Depois da aula passada, já sabemos como operar com sucessões


convergentes. Vejamos mais alguns exemplos.
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Exemplo

Consideremos r ∈ R e a sucessão (r n )n ∈ N .

Caso 1: r =0 ou r =1

A sucessão (r n )n ∈ N é constante, igual a 0 se r = 0 e igual a 1 se


r = 1.

Logo tem limite 0 se r = 0, e limite 1 se r = 1.


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Caso 2: r = −1

Já mostrámos que a sucessão ((−1)n )n ∈ N é limitada mas não tem


limite.
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Caso 3: 0<r <1

A sucessão (r n )n ∈ N é decrescente e minorada por 0 uma vez que


se tem

0<r <1 ⇒ 0 < r2 < r < 1


⇒ 0 < r3 < r2 < r < 1
⇒ ···
⇒ 0 < r n+1 < r n < 1 ∀ n ∈ N.

Logo converge, digamos para ` ∈ R. Que ` é este?


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Note-se que r n+1 = r .r n e

• limn → +∞ r .r n = r `

• limn → +∞ r n+1 = `.

Como o limite de qualquer sucessão, se existe, é único, devemos ter


` = r `, ou seja, ` (1 − r ) = 0. Sendo r 6= 1, concluı́mos que ` = 0.
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ATENÇÃO
Tem-se limn → +∞ r .r n = r ` porque

lim r =r e lim rn = `
n → +∞ n → +∞

e, como se mostrou, o limite do produto (r .r n )n é o produto dos


limites.

Só falta confirmar que limn → +∞ r n+1 = `.

Lema: Se uma sucessão (an )n ∈ N tem limite e k ∈ N, então a


sucessão (an+k )n ∈ N tem limite e

lim an = lim an+k .


n → +∞ n → +∞
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Notem que a igualdade

∀k ∈ N lim an = lim an+k .


n → +∞ n → +∞

indica que excluindo um número finito de termos da sucessão o


limite não se altera.

Observem ainda que, se an = r n e k = 1, então an+1 = r n+1 ,


confirmando-se com este Lema que

lim r n+1 = `.
n → +∞
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Demonstração do Lema
Fixemos k ∈ N e suponhamos que limn → +∞ an = ` ∈ R. Dado
ε > 0, existe p ∈ N tal que

n>p ⇒ ` − ε < an < ` + ε.

Então n + k > n > p, e portanto também se tem

` − ε < an+k < ` + ε.

O que confirma que

lim an = lim an+k .


n → +∞ n → +∞
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Se limn → +∞ an = +∞, dado ε > 0, existe p ∈ N tal que

n>p ⇒ an > ε

logo n + k > n > p, e portanto também se tem an+k > ε.

Argumento análogo quando limn → +∞ an = −∞.


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Caso 4: −1 < r < 0

A sucessão (r n )n ∈ N não é monótona (pois é alternadamente


positiva e negativa), mas tem-se

r n = (−1)n |r n | = (−1)n |r |n .

Como a sucessão ((−1)n )n ∈ N é limitada e limn → +∞ |r |n = 0


porque 0 < |r | < 1, já sabemos que

lim (−1)n |r |n = 0.
n → +∞
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Observe-se que poderı́amos também ter usado o facto já provado


de que
lim an = 0 ⇔ lim |an | = 0
n → +∞ n → +∞

uma vez que já sabemos que, sendo |r | < 1, se tem

lim |r |n = 0.
n → +∞
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Caso 5: r >1

A sucessão (r n )n ∈ N é estritamente crescente porque


r > 1 ⇒ ∀n ∈ N r n+1 > r n .
Mas não é majorada:
• Existe h > 0 tal que r = 1 + h.

• r n = (1+h)n = 1+C1n h+C2n h2 +· · ·+Cn−1


n hn−1 +hn > 1 + n h.
• Como N não é majorado, dado M ∈ R+ existe n ∈ N tal que
M−1
n> h .
• Logo r n > 1 + n h > M.

Consequentemente, limn → +∞ r n = +∞.


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Caso 6: r < −1

A sucessão (r n )n ∈ N não é monótona e não tem limite.

De facto, como r 2 > 1,

lim r 2n = lim (r 2 )n = +∞
n → +∞ n → +∞

e
(−1) 2 n
lim r 2n−1 = lim (−1) |r |2n−1 = lim (r ) = −∞.
n → +∞ n → +∞ n → +∞ |r |

e, portanto, (r n )n ∈ N nem converge (não é sequer limitada), nem


tem limite +∞, nem tem limite −∞.
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Em resumo:

r Limite de (r n )n
r =0 0
0<r <1 0
−1 < r < 0 0
r = −1 −
r =1 1
r >1 +∞
r < −1 −
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Consequência:

Se |r | < 1, então

1 − rn 1
lim 1 + r + r 2 + · · · + r n−1 = lim = .
n → +∞ n → +∞ 1−r 1−r

Em particular,

1 1 1 1 − 21n 1
lim 1+ + 2 + · · · + n−1 = lim 1
= 1
= 2.
n → +∞ 2 2 2 n → +∞ 1− 2 1− 2
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Limites e a ordem em R

Se

(1) limn → +∞ an = ` ∈ R

(2) limn → +∞ bn = L ∈ R

(3) ∃ N0 ∈ N : n > N0 ⇒ an 6 bn

então ` 6 L.
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Demonstração
`−L
Se, pelo contrário, se tivesse ` > L, então dado ε = 2 >0
existiriam p ∈ N e q ∈ N tais que

n>p ⇒ ` − ε < an < ` + ε

n>q ⇒ L − ε < bn < L + ε.

Logo, se n > max {p, q, N0 }, obterı́amos

`−L L+` `−L


bn < L + = =`− < an
2 2 2
o que contradiz a hipótese (3).
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Em particular, fica provado que se

(1) limn → +∞ an = ` ∈ R

(2) ∃ C, D ∈ R ∃ N0 ∈ N : n > N0 ⇒ C 6 an 6 D

então C 6 ` 6 D.
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Observação

Se

(1) limn → +∞ an = ` ∈ R

(2) limn → +∞ bn = L ∈ R

(3) ∃ N0 ∈ N : n > N0 ⇒ an < bn

então ` 6 L, mas não podemos em geral afirmar que ` < L.


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Por exemplo, se
1
an = 1 − e bn = 1
n
então tem-se
(1) limn → +∞ an = 1

(2) limn → +∞ bn = 1

(3) ∀n ∈ N an < bn .
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Analogamente se prova que:

Se

(1) limn → +∞ an = +∞

(2) ∃ N0 ∈ N : n > N0 ⇒ an 6 b n

então limn → +∞ bn = +∞.


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Sucessões enquadradas

Se

(1) limn → +∞ an = ` ∈ R

(2) limn → +∞ bn = `

(3) ∃ N0 ∈ N : n > N0 ⇒ an 6 cn 6 bn

então a sucessão (cn )n ∈ N converge e limn → +∞ cn = `.


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Demonstração
Dado ε > 0 existem p ∈ N e q ∈ N tais que

n>p ⇒ ` − ε < an < ` + ε

e
n>q ⇒ ` − ε < bn < ` + ε.
Logo, se n > max {p, q, N0 }, obtemos

` − ε < an 6 cn 6 bn < ` + ε

o que mostra que, se n > max {p, q, N0 } ∈ N, então

` − ε < cn < ` + ε

confirmando-se que limn → +∞ cn existe e é `.


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Exemplo 1
Dado r ∈ ] − 1, 1[, qual o limite da sucessão (n r n )n ∈ N ?

Se r = 0, limn → +∞ n r n = limn → +∞ 0 = 0.

1
Se 0 < r < 1, existe h > 0 tal que r = 1 + h, e portanto, se n > 2,

 1 n
0 < n rn = n
1+h !
1
= n n(n−1) 2
1+nh + 2 h + ... + hn
n
< n(n−1) 2
.
2 h
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Ou seja,
1
∀n > 2 0 < n rn < n
n(n−1)
2n2
h2

Como h 6= 0,
1
n 0
lim = h2
= 0
n → +∞ n(n−1) h2
2n2 2

concluı́mos, pelo enquadramento das sucessões, que

lim n r n = 0.
n → +∞
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Se −1 < r < 0, tem-se

−n |r |n 6 n r n 6 n |r |n

e como se tem

lim n |r |n = lim −n |r |n = 0
n → +∞ n → +∞

de novo com o enquadramento das sucessões obtemos

lim n r n = 0.
n → +∞
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Em resumo:

r Limite de (n r n )n
r =0 0
0<r <1 0
−1 < r < 0 0
r = −1 −
r =1 +∞
r >1 +∞
r < −1 −
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Exemplo 2
Consideremos agora a sucessão de termo geral
1 1 1 1
an = + 3 + 3 + ··· + 3 .
n3 +1 n +2 3 n +3 3 n + n3
Qual é o limite de (an )n ∈ N ?

Temos uma soma de n parcelas positivas, cada uma das quais é


menor ou igual à primeira, n31+1 .

Logo, para todo o n ∈ N,


n
0 < an 6 .
n3 + 1
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Além disso,

1
n n2 0
lim 3
= lim 1
= =0
n → +∞ n + 1 n → +∞ 1 + n3 1
e

lim 0 = 0.
n → +∞

Logo, por enquadramento, (an )n ∈ N também converge para 0.


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Exercı́cio

1 1 1 1
lim + + + ··· + =0 ?
n → +∞ n+1 n+2 n+3 n+n
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Resolução do exercı́cio

Não.

Embora não saibamos (ainda) qual é o limite da sucessão


 
1 1 1 1
+ + + ··· +
n+1 n+2 n+3 n + n n∈N

se esse limite existir não pode ser 0, uma vez que

1 1 1 1 1
6 + + + ··· + ∀ n ∈ N.
2 n+1 n+2 n+3 n+n
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Outro exemplo

Consideremos a sucessão de termo geral

1 n
  1  1 2  1 n
bn = 1 + = C0n + C1n + C2n + · · · + Cnn .
n n n n

Comecemos por calcular alguns termos:


b1 = 2
 2  2
b2 = 1 + 12 = 23 = 9
4 = 2.25
 3  3
b3 = 1 + 13 = 34 = 64
27 ≈ 2.37
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Verifiquemos que (bn )n ∈ N é estritamente crescente:

 n
1
bn = 1+ =
n

1 n(n − 1) 1 n(n − 1)(n − 2) 1


= 1+n + + + ···
n 2! n2 3! n3
n(n − 1) · · · 2 . 1 1
+
n! nn

1 1 1  1  2
= 1+1+ 1− + 1− 1− + ··· +
2! n 3! n n
1  1  2   n−1 
+ 1− 1− ··· 1 − .
n! n n n
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 n+1
1
bn+1 = 1+ =
n+1

1 1  1 1  2 
= 1+1+ 1− + 1− 1− + ··· +
2! n+1 3! n+1 n+1
1 1  2   n − 1
+ 1− 1− ··· 1 − +
n! n+1 n+1 n+1

1  1  2   n − 1  n 
+ 1− 1− ··· 1 − 1− .
(n + 1)! n+1 n+1 n+1 n+1
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Além disso,

1 1
1− >1−
n+1 n
 1  2   1  2
1− 1− > 1− 1−
n+1 n+1 n n
..
.
 1  2   n − 1
1− 1− ··· 1 − >
n+1 n+1 n+1
 1  2  n − 1
> 1− 1− ··· 1 −
n n n
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E bn+1 inclui ainda a parcela positiva extra

1  1  2   n − 1  n 
1− 1− ··· 1 − 1− .
(n + 1)! n+1 n+1 n+1 n+1

Logo bn+1 > bn para todo o natural n.


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A sucessão (bn )n ∈ N é majorada:

 n
1
bn = 1+
n

1 1 1  1  2
= 1+1+ 1− + 1− 1− + ··· +
2! n 3! n n
1  1  2   n−1 
+ 1− 1− ··· 1 −
n! n n n

1 1 1
< 1+1+ + + ··· + <3 ( ou < e)
2! 3! n!
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porque
1
0 6 1− <1
n

1 2
0 6 1− 1− <1
n n
..
.
1 2 n − 1
0 6 1− 1− ··· 1 − < 1.
n n n
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Logo (bn )n ∈ N converge.

O limite limn → +∞ bn verifica

2 = b1 < lim bn 6 e
n → +∞

porque (bn )n ∈ N é estritamente crescente,



lim bn = sup bn : n ∈ N
n → +∞

e já vimos que e é um majorante de bn : n ∈ N .

Provemos que limn → +∞ bn = e. Para isso, falta concluir que


limn → +∞ bn > e.
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Fixemos P ∈ N. Temos, para n > P,


1 1 1  1  2
bn = 1 + 1 + 1− + 1− 1− + ··· +
2! n 3! n n
1 1  2  P − 1
+ 1− 1− ··· 1 − + ··· +
P! n n n
1 1  2  n − 1
+ 1− 1− ··· 1 −
n! n n n

1 1 1  1  2
> 1+1+ 1− + 1− 1− + ··· +
2! n 3! n n
1 1  2  P − 1
+ 1− 1− ··· 1 − .
P! n n n
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Mantendo P fixo, deixemos n ir para +∞. Obtemos


1 1 1
lim bn > 1 + 1 + + + ··· + .
n → +∞ 2! 3! P!
Se agora deixarmos P ir para +∞, concluı́mos que
1 1 1
lim bn > lim 1+1+ + + ··· +
n → +∞ P → +∞ 2! 3! P!

= e.
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Conclusão:

1 n
 
1 1 1 1
lim 1 + + + + ··· + = lim 1+ = e.
n → +∞ 1! 2! 3! n! n → +∞ n

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