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6a aula

4 de Outubro de 2023
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Funções reais de variável real

Como já mencionei, o objectivo desta unidade curricular é o estudo


de funções cujo domı́nio é um subconjunto de R e que toma
valores em R, além da descrição dos modos conhecidos de criar
funções que não sejam polinómios ou quocientes de polinómios
(estes resultam directamente da estrutura algébrica do corpo R).
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Uma função é um subconjunto não vazio do produto cartesiano



R × R = (x, y ) : x, y ∈ R

que não contém dois pares ordenados distintos com a mesma


primeira coordenada.

O conjunto de primeiras coordenadas dos pares ordenados da


função chama-se domı́nio da função.

A imagem da função é o conjunto de segundas coordenadas dos


pares ordenados da função.
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Se usarmos a notação f : A → B

A é o domı́nio e B é o conjunto de chegada (que contém a


imagem da função).

Nesta notação,

Imagem de f = f (a) : a ∈ A
= {b ∈ B | ∃ a ∈ A : f (a) = b}

e n o

Gráfico de f = a, f (a) : a ∈ A

que coincide com a função.


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Exemplos

1 6
Polinómios: 1, 3x, x 2 + x + 5, 3x − x, ...

1 x2 x−1
Fracções racionais: x 2 +1
, x 3 −1
, x 4 +2x 2 +5
, ...

Usando a ordenação em R (e a composição de funções):

1
|x|−1 , |x 2 − 2|, |x − 1| + |x| + |x + 1|, max {x, x 2 }, ...

Usando o Axioma do Supremo (e a composição de funções):

1
bxc, bx 3 − 3x − 10c, x − b x1 c, ...
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Exercı́cio

Esboce os gráficos das funções:

(a) x ∈R 7→ max {x, x 2 }

(b) x ∈ R 7→ bx 2 c
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Sucessões
Uma famı́lia particular de funções é a das sucessões.

Uma sucessão de números reais é uma função de domı́nio N com


imagem em R.

Em vez da notação f : N → R e de escrevermos f (n), costumamos


usar
(an )n ∈ N

onde
∀ n ∈ N an = f (n).

Simplificando, an diz-se o termo geral da sucessão (an )n ∈N .


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Outra simplificação: para representar graficamente a função


f : N → R, em vez de usarmos um par de eixos coordenados
utilizaremos apenas o eixo orientado das imagens (que colocamos
na horizontal) onde indicamos os valores an = f (n) para n ∈ N.
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Exemplos de sucessões

n∈N 7→ an = n
n∈N 7→ bn = (−1)n
1
n∈N 7→ cn =
n
(
1 se n = 1 ou n = 2
n∈N 7→ dn =
dn−1 + dn−2 se n > 3
1 1 1
n∈N 7→ en = 1 + + + ··· +
2 3 n
1 1 1 1
n∈N 7→ fn = + + + ··· +
1! 2! 3! n!
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Sucessões monótonas

Uma sucessão de números reais (an )n ∈ N diz-se crescente se

∀n ∈ N an 6 an+1 .

É estritamente crescente se

∀n ∈ N an < an+1 .

Dualmente, uma sucessão (an )n ∈ N diz-se decrescente se a


sucessão (−an )n ∈N for crescente.
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Por exemplo:

• (n)n ∈ N é estritamente crescente.


1

• n n ∈ N é estritamente decrescente.

• (5)n ∈ N é crescente e decrescente (é sucessão constante).

(−1)n n ∈ N não é nem crescente nem decrescente.




r n n ∈ N , com 0 < r < 1, é estritamente decrescente.




1 − 21n n ∈ N é estritamente crescente.




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Sucessões limitadas
Uma sucessão de números reais (an )n ∈ N diz-se majorada se

∃ β ∈ R : ∀ n ∈ N an 6 β.

Ou seja, o conjunto {a1 , a2 , · · · , an , · · · } é majorado.

Diz-se que (an )n ∈ N é minorada se

∃ α ∈ R: ∀ n ∈ N an > α.

Ou seja, o conjunto {a1 , a2 , · · · , an , · · · } é minorado.

Diz-se que (an )n ∈ N é limitada se for majorada e minorada.

Note-se que

(an )n ∈ N é limitada ⇔ ∃ R ∈ R+ : ∀ n ∈ N |an | 6 R.


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Por exemplo, se uma sucessão (an )n ∈ N é crescente,

a1 6 a2 6 · · · 6 an 6 an+1 6 · · ·

então é minorada por a1 .


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Exemplos:

• (−4n)n ∈ N é majorada por −4 mas não é minorada.


(−1)n  1
• n n∈N
é majorada por 2 e minorada por −1.
1 1

• 1− 2n n ∈ N é minorada por 2 e majorada por 1.
1
(−1)n + é minorada por −1 e majorada por 32 .

• n n∈N

rn

• n∈N
é minorada por 0 e majorada por r se 0 6 r < 1.
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Outro exemplo

Consideremos a sucessão de termo geral


1 1 1
an = 1 + + + ··· + .
2 3 n

É uma sucessão estritamente crescente, uma vez que


1
∀n ∈ N an+1 − an = > 0.
n+1
Logo é minorada por a1 = 1.
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Quanto a ser ou não majorada, comecemos por calcular alguns


valores da sucessão.
0+1
a1 = a20 = 1 >
2
1 1 1 1+1
a2 = a21 = 1+ > + =
2 2 2 2
1 1 1 1 1 1 1 2 + 1
a4 = a22 = 1+ + + > + + + =
2 3 4 2 2 4 4 2
1 1 1 1 1 1 1
a8 = a23 = 1+ + + + + + +
2 3 4 5 6 7 8
1 1 1 1 1 1 1 1
> + + + + + + +
2 2 4 4 8 8 8 8
3+1
=
2
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Se demonstrarmos que
k +1
∀k ∈ N a2k >
2
então confirmamos que (an )n ∈N não é majorada porque se tem

k +1
∀ β ∈ R+ ∃ k ∈ N: >β
2
uma vez que, como N não é majorado, dado β ∈ R+ existe k ∈ N
tal que k > 2β − 1.
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k+1
Provemos por indução que ∀k ∈ N a2k > 2 .

Quando k = 1, temos
1 3 1+1
a2 = a21 = 1 + = > .
2 2 2
Suponhamos agora que para um natural fixado k se tem
a2k > k+1
2 . Então, para k + 1 podemos afirmar que
 1 1 1 
a2k+1 = a2k + + + · · · +
2k + 1 2k + 2 2k+1
em que a segunda parte desta soma contém

2k+1 − (2k + 1) + 1 = 2k+1 − 2k = 2k (2 − 1) = 2k

1
parcelas que são maiores ou iguais à última, que é 2k+1
.
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Então,  1  1
a2k+1 > a2k + 2k k+1
= a2k +
2 2
e, usando a hipótese de indução, obtemos

1 k +1 1 (k + 1) + 1
a2k+1 > a2k + > + = .
2 2 2 2
Pelo Princı́pio de Indução Finita, a propriedade vale para todo o
k ∈ N.
 
Logo a sucessão 1 + 21 + 13 + · · · + n1 não é majorada apesar
n∈N
1
de a diferença an+1 − an , que é igual a n+1 , ser cada vez menor à
medida que n aumenta.
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Mais um exemplo

Consideremos a sucessão de termo geral


1 1 1
bn = 1 + + 2 + · · · + n−1 .
2 2 2

É uma sucessão estritamente crescente, uma vez que


1
∀n ∈ N bn+1 − bn = > 0.
2n
Logo é minorada por b1 = 1.

Verifiquemos que é majorada.


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Dados r ∈ R \ {1} e n ∈ N, tem-se


1 − rn
1 + r + r 2 + · · · + r n−1 = .
1−r
De facto, se
Sn = 1 + r + r 2 + · · · + r n−1
então
r Sn = r + r 2 + · · · + r n
e, portanto
Sn − r Sn = 1 − r n
1−r n
de onde resulta, dividindo por 1 − r , que Sn = 1−r .

Quando r = 1 e n ∈ N,

1 + r + r 2 + · · · + r n−1 = n.
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Em particular, se r = 12 , obtemos para cada natural n


n
1 1 1 1 − 21
bn = 1 + + 2 + · · · + n−1 =
2 2 2 1 − 21
  1 n 
= 2 1− < 2.
2

O que confirma que (bn )n ∈ N é sucessão majorada.


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Ainda outro exemplo

Consideremos a sucessão de termo geral


1 1 1
cn = 1 + + + ··· + .
1! 2! n!

É uma sucessão estritamente crescente, uma vez que


1
∀n ∈ N cn+1 − cn = > 0.
(n + 1)!

Logo é minorada por c1 = 2.

Verifiquemos que é majorada.


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Para cada natural n, tem-se


1 1 1 1 1
cn = 1 + + + + + ··· +
1! 2! 3! 4! n!
1 1 1 1
= 1+1+ + + + ··· +
2.1 3.2.1 4.3.2.1 n(n − 1) · · · 2.1
 
1 1 1 1
< 1+ 1+ + + + · · · + n−1
2 2.2 2.2.2 2
 
1 1 1 1
= 1 + 1 + + 2 + 3 + · · · + n−1
2 2 2 2

< 1 + 2 = 3.

E, portanto, (cn )n ∈ N é sucessão majorada.

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