Você está na página 1de 79

1 2 3 4 6

22a aula

5 de Dezembro de 2022
1 2 3 4 6

Polinómios de Taylor
Consideremos n ∈ N ∪ {0} e uma função f que é n vezes derivável
num ponto a ∈ R se n > 1 e contı́nua em a se n = 0.

Para 0 6 k 6 n, definem-se os números

f (k) (a)
ak =
k!
sendo f (0) = f . De seguida, construimos o polinómio

Pn,f ,a (x) = an (x − a)n + · · · + a1 (x − a) + a0


f 00 (a) f (n) (a)
= f (a) + f 0 (a) (x − a) + (x − a)2 + · · · + (x − a)n .
2! n!
Chama-se polinómio de Taylor de f em a de ordem n.
1 2 3 4 6

Para que servem os polinómios de Taylor?

Para além de f e Pn, f , a terem o mesmo valor e as mesmas


derivadas até ordem n em a, o que torna este polinómio especial?

O polinómio de Taylor de ordem n em a de f não permite, em


geral, determinar o valor de f , nem os das suas derivadas, em
pontos distintos de a.

Esperamos, contudo, que, para algumas funções, sirva para obter


boas aproximações dos valores de f em pontos próximos de a.
1 2 3 4 6

Exemplo 1

• x ∈ R 7→ exp (x) e a = 0.

Como exp(k) = exp para todo o k ∈ N ∪ {0}, tem-se

exp(k) (0) 1
ak = = ∀ k ∈ N ∪ {0}.
k! k!
Logo
x2 x3 xn
Pn, exp, 0 (x) = 1 + x + + + ··· + .
2! 3! n!
1 2 3 4 6

Exemplo 2
• x ∈ R 7→ sen (x) e a = 0.

Tem-se sen (0) = 0 e sen0 (x) = cos (x) para todo o x ∈ R. Logo

sen0 (0) = cos (0) = 1


sen00 (x) = cos0 (x) = − sen (x)
sen00 (0) = − sen (0) = 0
sen000 (x) = − sen0 (x) = − cos (x)
sen000 (0) = − cos (0) = −1
sen(4) (x) = − cos0 (x) = sen (x)
sen(4) (0) = sen (0) = 0.
1 2 3 4 6

Consequentemente:

 0 se k é par
sen(k) (0)  1
ak = = k! se k = 2n + 1 com n ∈ N ∪ {0} par
k! 
 1
− k! se k = 2n + 1 com n ∈ N ı́mpar.

Logo, para todo o n ∈ N ∪ {0},

x3 x5 x 2n+1
P2n+1, sen, 0 (x) = x − + − · · · + (−1)n
3! 5! (2n + 1)!

(que é função ı́mpar e igual a P2n+2, sen, 0 ).


1 2 3 4 6

Exemplo 3
• x ∈ R 7→ cos (x) e a = 0.

Tem-se

cos(k) (0)  0
 se k é ı́mpar
1
ak = = k! se k = 2n com n ∈ N ∪ {0} par
k!  1
− k! se k = 2n com n ∈ N ı́mpar.

Logo, para todo o n ∈ N ∪ {0},

x2 x4 x 2n
P2n, cos, 0 (x) = 1 − + − · · · + (−1)n
2! 4! (2n)!

(que é função par e igual a P2n+1, cos, 0 ).


1 2 3 4 6

Exemplo 4
• x > 0 7→ log (x) e a = 1.

Tem-se log (1) = 0 e

log0 (x) = x1 log0 (1) = 1 = 0!


log00 (x) = − x12 log00 (1) = −1 = −1!
log000 (x) = x23 log000 (1) = 2 = 2!
log(4) (x) = − 2.3
x4
log(4) (1) = −2.3 = −3!
log(5) (x) 2.3.4
= x5 log(5) (1) = 2.3.4 = 4!
log(6) (x) = − 2.3.4.5
x6
log(6) (1) = −2.3.4.5 = −5!
log(7) (x) 2.3.4.5.6
= x7 log(7) (1) = 2.3.4.5.6 = 6!
1 2 3 4 6

Em geral, para todo o k ∈ N,

(−1)k−1 (k − 1)!
log(k) (x) =
xk
logo
log(k) (1) = (−1)k−1 (k − 1)!

e
(
log(k) (1) 0 se k = 0
ak = = (−1)k−1 (k−1)! (−1)k−1
k! k! = k se k > 1.

E, portanto,

(x − 1)2 (x − 1)3 (−1)n−1 (x − 1)n


Pn, log, 1 (x) = (x−1)− + −· · ·+ .
2 3 n
1 2 3 4 6

Exemplo 5
• f : x > −1 7→ log (1 + x) e a = 0.

Tem-se f (0) = log 1 = 0 e

f 0 (x) = log0 (1 + x) (1 + x)0 = log0 (1 + x)


f 0 (0) = log0 (1) = 1
f 00 (x) = log00 (1 + x) (1 + x)0 = log00 (1 + x)
f 00 (0) = log00 (1) = −1
f 000 (x) = log000 (1 + x) (1 + x)0 = log000 (1 + x)
f 000 (0) = log000 (1) = 2
1 2 3 4 6

Se k ∈ N,

(−1)k−1 (k − 1)!
f (k) (x) = log(k) (1 + x) =
(1 + x)k

f (k) (0) = log(k) (1) = (−1)k−1 (k − 1)!


1 2 3 4 6

Logo, se k ∈ N,

f (k) (0) (−1)k−1 (k − 1)! 1


ak = = = (−1)k−1
k! k! k
e, portanto,

x2 x3 (−1)n−1 x n
Pn, log (1+x), 0 (x) = x − + − ··· + .
2 3 n
1 2 3 4 6

Observação 1
Pode acontecer que conheçamos o polinómio de Taylor de f em a
de ordem n sem ter calculado explicitamente as derivadas
sucessivas de f em a. Nesse caso, o polinómio permite calcular
essas derivadas em a.

Por exemplo, suponhamos que f : R → R é tal que

P4, f , 0 (x) = 1 + x + x 2 + x 3 + x 4 .

Então sabemos que:

f (0) = 1, f 0 (0) = 1, f 00 (0) = 2, f 000 (0) = 6, f (4) (0) = 24.


1 2 3 4 6

Observação 2
O polinómio de Taylor de ordem n em a de f não permite
determinar o valor de derivadas de ordem superior a n em a. Por
exemplo, a função exponencial e a função

x2 x3
g: x ∈R 7→ 1+x + + + x4 − x7
2! 3!
têm os mesmos polinómios de Taylor de ordem 3 em 0, dado por

x2 x3
1+x + + .
2! 3!
Mas as suas derivadas de ordem 4 em 0 não coincidem:

exp(4) (0) = exp(0) = 1 e g (4) (0) = 4!.


1 2 3 4 6

Algumas propriedades dos polinómios de Taylor

Sejam f : R → R e g : R → R funções n vezes deriváveis num


ponto a.

• Se c ∈ R, então

Pn, f (c x), a (x) = Pn, f , c a (c x) ∀ x ∈ R.


1 2 3 4 6

Verificação
Como
 0
f (c x) = c f 0 (c x)
 00
f (c x) = c 2 f 00 (c x)
 000
f (c x) = c 3 f 000 (c x)
..
.

tem-se
f 00 (c a)
Pn, f (c x), a (x) = f (c a) + c f 0 (c a)(x − a) + c 2 (x − a)2 +
2!
f (n) (c a)
+ · · · + cn (x − a)n .
n!
1 2 3 4 6

Por outro lado,


f 00 (c a)
Pn, f , c a (c x) = f (c a) + f 0 (c a)(c x − c a) + (c x − c a)2 +
2!
f (n) (c a)
··· + (c x − c a)n
n!
f 00 (c a)
= f (c a) + c f 0 (c a)(x − a) + c 2 (x − a)2 +
2!
f (n) (c a)
+ · · · + cn (x − a)n .
n!

E, portanto, são iguais.


1 2 3 4 6

Exemplo

(5x)2 25 2
P2, cos (5x), 0 (x) = P2, cos (x), 0 (5x) = 1 − =1− x .
2! 2

x2
Porque P2, cos, 0 (x) = 1 − 2! , e

(5x)2
P2, cos, 0 (5x) = 1 − .
2!
1 2 3 4 6

• Se k ∈ N, então

Pkn, f (x k ), 0 (x) = Pn, f , 0 (x k ) ∀ x ∈ R.


1 2 3 4 6

Exemplo

P12, exp (x 3 ), 0 (x) = P4, exp, 0 (x 3 )

x 6 x 9 x 12
= 1 + x3 + + +
2! 3! 4!

porque

x2 x3 x4
P4, exp, 0 (x) = 1 + x + + + .
2! 3! 4!
1 2 3 4 6

• Pn, f +g , a = Pn, f , a + Pn, g , a .


1 2 3 4 6

Exemplo

 x3   x2 x3  x2
P3, sen (x)+exp (x), 0 (x) = x − + 1+x + + = 1+2x + .
3! 2! 3! 2!
1 2 3 4 6

• Sejam c0 , c1 , . . . , c2n constantes reais tais que


2n
X
Pn, f , a (x) . Pn, g , a (x) = ck (x − a)k ∀ x ∈ R.
k=0

Então
n
X
Pn, fg , a (x) = ck (x − a)k ∀ x ∈ R.
k=0
1 2 3 4 6

Exemplo

P2, exp (x) cos (x), 0 (x) = 1 + x

porque
 x2   x2  x3 x4
1+x + 1− =1+x − + .
2! 2! 2! 2! 2!
1 2 3 4 6

 0
• Pn, f 0 , a = Pn+1, f , a
1 2 3 4 6

Exemplo

0
P2n, cos, 0 = P2n+1, sen, 0

ou seja,

x2 x4 x 2n  x3 x5 x 2n+1 0
1− + −· · ·+(−1)n = x− + −· · ·+(−1)n .
2! 4! (2n)! 3! 5! (2n + 1)!
1 2 3 4 6

• Se G é uma primitiva de f , então Pn, G , a é a primitiva de


Pn−1, f , a que toma o valor G (a) em a.
1 2 3 4 6

Exemplo

P6, R x sen2 (t) dt, 0 =?


0

Pelo Teorema Fundamental do Cálculo, tem-se


Z x 0
sen2 (t) dt = sen2 (x) ∀ x ∈ R.
0
Rx
E, sendo G (x) = 0 sen2 (t) dt, tem-se G (0) = 0.
1 2 3 4 6

Além disso,
x3 x5
P5, sen, 0 (x) = x − +
3! 5!
logo
x4
P5, sen2 , 0 (x) = x 2 −
3
porque
 x3 x5   x3 x5  x4
x− + . x− + = x2 − 2 + α x 6 + β x 8 + γ x 10 .
3! 5! 3! 5! 3!
Consequentemente,

x3 x5
P6, R x sen2 (t) dt, 0 (x) = − .
0 3 15
1 2 3 4 6

O que caracteriza os polinómios de Taylor?

Teorema: Dados n ∈ N ∪ {0}, consideremos uma função f com n


derivadas em a, se n > 1, e contı́nua em a se n = 0. Seja Pn, f , a o
seu polinómio de Taylor de ordem n em a. Então:
f (x)−Pn, f , a (x)
(a) limx → a (x−a)n = 0.

(b) Pn, f , a é o único polinómio de grau menor ou igual a n que


satisfaz a igualdade da alı́nea (a).

Por causa da alı́nea (a), diz-se que f e Pn, f , a são tangentes em a


até ordem n.
1 2 3 4 6

Atenção
Seja f : R → R a função
(
x3 se x ∈ Q
f (x) =
0 se x ∈
/Q

Esta função é contı́nua em 0 (e só em 0) e derivável em 0 (e só em


0). Por isso, não tem segunda derivada em 0.

Contudo,
f (x) − 0
lim =0
x →0 x2

ou seja, f e polinómio nulo são tangentes em 0 até ordem 2.


1 2 3 4 6

Demonstração de (a)
Para n = 0,

lim f (x) − P0, f , a (x) = lim f (x) − f (a) = 0


x →a x →a

por f ser contı́nua em a.

Para n = 1,
f (x) − P1, f , a (x) f (x) − f (a) − f 0 (a)(x − a)
lim = lim
x →a x −a x →a x −a
f (x) − f (a)
= lim − f 0 (a)
x →a x −a
= 0

por f ser derivável em a.


1 2 3 4 6

Mais geralmente, para calcular

f (x) − Pn, f , a (x)


lim (1)
x →a (x − a)n
notemos que

lim f (x) − Pn, f , a (x) =


x →a
f (n) (a)
lim f (x) − f (a) + f 0 (a) (x − a) + · · · + (x − a)n = 0
 
=
x →a n!
porque f é contı́nua em a.

Apliquemos então a Regra de L’Hôpital ao cálculo do limite (1).


1 2 3 4 6

f (x) − Pn, f , a (x)


lim =
x →a (x − a)n
f (n) (a)
f (x) − f (a) − f 0 (a) (x − a) − · · · − n! (x − a)n
= lim
x →a (x − a)n
f (n) (a)
f 0 (x) − f 0 (a) − f 00 (a) (x − a) − · · · − (n−1)! (x − a)n−1
= lim .
x →a n (x − a)n−1
1 2 3 4 6

Se n > 2, podemos repetir a aplicação da Regra de L’Hôpital:

f (x) − Pn, f , a (x)


lim
x →a (x − a)n
f (n) (a)
f (x) − f (a) − f 0 (a) (x − a) − · · · − n! (x − a)n
= lim
x →a (x − a)n
f (n) (a)
f 0 (x) − f 0 (a) − f 00 (a) (x − a) − · · · − (n−1)! (x − a)n−1
= lim
x →a n (x − a)n−1
f (n) (a)
f 00 (x) − f 00 (a) − · · · − (n−2)! (x − a)n−2
= lim .
x →a n (n − 1) (x − a)n−2
1 2 3 4 6

E, ao fim de n − 1 usos da Regra de L’Hôpital, obtemos:

f (x) − Pn, f , a (x)


lim
x →a (x − a)n
f (n) (a)
f (x) − f (a) − f 0 (a) (x − a) − · · · − n! (x − a)n
= lim
x →a (x − a)n
f (n) (a)
f 0 (x) − f 0 (a) − f 00 (a) (x − a) − · · · − (n−1)! (x − a)n−1
= lim
x →a n (x − a)n−1
f (n) (a)
f 00 (x) − f 00 (a) − · · · − (n−2)! (x − a)n−2
= lim
x →a n (n − 1) (x − a)n−2
..
.
1 2 3 4 6

..
.
..
.
f (n−1) (x) − f (n−1) (a) − f (n) (a) (x − a)
= lim
x →a n! (x − a)
" #
1 f (n−1) (x) − f (n−1) (a) (n)
= lim − f (a)
n! x → a x −a
= 0.
1 2 3 4 6

Demonstração de (b)

1◦ Verifica-se primeiro que, se Q1 e Q2 são polinómios em


(x − a) de grau menor ou igual a n e tangentes até ordem n em a,
então Q1 = Q2 .

2◦ De seguida, mostra-se que, se um polinómio Q em (x − a) de


grau menor ou igual a n é tangente a f até ordem n em a, então Q
e Pn, f , a são tangentes entre si até ordem n em a. Logo, por 1◦ , os
polinómios Q e Pn, f , a são iguais.
1 2 3 4 6

1◦
Consideremos o polinómio R = Q1 − Q2 . Este é um polinómio em
(x − a) de grau menor ou igual a n,

R(x) = b0 + b1 (x − a) + b2 (x − a)2 + · · · + bn (x − a)n .

E satisfaz
R(x)
lim = 0.
x →a (x − a)n

Queremos provar que R ≡ 0.


1 2 3 4 6

De
R(x)
lim = 0.
x →a (x − a)n

resulta que, para todo o 0 6 j 6 n, se tem

R(x) R(x)
lim j
= lim (x − a)n−j = 0.
x →a (x − a) x → a (x − a)n

Para j = 0, esta igualdade indica que

lim R(x) = b0 = 0.
x →a

Logo

R(x) = b1 (x − a) + b2 (x − a)2 + · · · + bn (x − a)n .


1 2 3 4 6

Para j = 1, esta igualdade indica que

R(x)
lim = b1 = 0.
x →a x −a
Logo
R(x) = b2 (x − a)2 + · · · + bn (x − a)n .

Continuando deste modo, concluı́mos que

b0 = b1 = · · · = bn = 0

isto é, R é o polinómio nulo.


1 2 3 4 6

2◦
Seja Q um polinómio em (x − a) de grau menor ou igual a n e
tangente a f até ordem n em a, isto é, tal que
f (x) − Q(x)
lim = 0.
x →a (x − a)n
Como também se tem (pela alı́nea (a) do Teorema)
f (x) − Pn, f , a (x)
lim =0
x →a (x − a)n
concluı́mos que Q e Pn, f , a são tangentes até ordem n em a:
Q(x) − Pn, f , a (x) Q(x) − f (x) + f (x) − Pn, f , a (x)
lim = lim
x →a (x − a)n x →a (x − a)n
Q(x) − f (x) f (x) − Pn, f , a (x)
= lim n
+
x →a (x − a) (x − a)n
= 0 + 0 = 0.
1 2 3 4 6

Logo, pelo que vimos em 1◦ ,

Q = Pn, f , a .
1 2 3 4 6

Aplicação 1 deste Teorema


1
Seja f : R → R a função dada por f (x) = 1+x 2
.

Da igualdade, válida para r 6= 1,

1 − r n+1 1 r n+1
1 + r + r2 + · · · + rn = = −
1−r 1−r 1−r
concluı́mos que, para todo o x ∈ R,

1 2n+2
2 4 6 n 2n n+1 x
= 1 − x + x − x + · · · + (−1) x + (−1)
1 + x2 1 + x2
uma vez que
r = −x 2 6= 1 ∀ x ∈ R.
1 2 3 4 6

Além disso, se Q(x) = 1 − x 2 + x 4 − x 6 + · · · + (−1)n x 2n , tem-se

1 x 2n+2
1+x 2
− Q(x) (−1)n+1 1+x 2
lim = lim
x →0 x 2n x →0 x 2n
(−1)n+1 x 2n+2
= lim
(1 + x 2 ) x 2n
x →0

(−1)n+1 x 2
= lim
x →0 1 + x2

= 0.

Logo, pelo Teorema, Q = P2n, 1


,0 . Ou seja,
1+x 2

P2n, 1
,0 (x) = 1 − x 2 + x 4 − x 6 + · · · + (−1)n x 2n .
1+x 2
1 2 3 4 6

Consequência
Das igualdades, válidas para todo o x ∈ R e para todo o n ∈ N,

P2n, 1
,0 (x) = 1 − x 2 + x 4 − x 6 + · · · + (−1)n x 2n
1+x 2

f 00 (0) 2 f (2n) (0) 2n


= f (0) + f 0 (0) x + x + ··· + x
2! (2n)!
1
deduzimos agora que, para f (x) = 1+x 2
, se tem

f (0) = 1
f (2n−1) (0) = 0 ∀n ∈ N
(2n) n
f (0) = (−1) (2n)! ∀ n ∈ N.
1 2 3 4 6

Aplicação 2 deste Teorema


Recorde-se que temos, para todo o x ∈ R,
Z x
1
arctg (x) = 2
dt
0 1+t

e, para todo o t ∈ R,

1 t 2n+2
2
= 1 − t 2 + t 4 − t 6 + · · · + (−1)n t 2n + (−1)n+1 .
1+t 1 + t2

Então, podemos obter os polinómios de Taylor de arctg em 0 sem


ter de calcular as derivadas desta função em 0 usando o método
seguinte.
1 2 3 4 6

Z x
1
arctg (x) = dt
0 1 + t2
x x
t 2n+2
Z   Z
2 4 n 2n
= 1 − t + t − · · · + (−1) t dt + (−1)n+1 dt
0 0 1 + t2
x
x3 x5 x 2n+1 t 2n+2
Z
= x− + − · · · + (−1)n + (−1)n+1 dt.
3 5 2n + 1 0 1 + t2
1 2 3 4 6

Além disso, se

x3 x5 x 2n+1
Q(x) = x − + − · · · + (−1)n
3 5 2n + 1
tem-se

t 2n+2
Rx
arctg (x) − Q(x) (−1)n+1 0 1+t 2 dt
lim = lim
x →0 x 2n+1 x →0 x 2n+1

= 0

porque
1 2 3 4 6

x
t 2n+2 x 2n+2 |x|2n+3
Z Z
n+1

0 6 (−1)
dt 6 t dt =
0 1 + t2 0 2n + 3
e
|x|2n+3
1
lim 2n+3 = lim |x|2 = 0.
x → 0 |x|2n+1 x →0 2n + 3

Logo
(−1)n+1 R x t 2n+22 dt |x|2n+3

0 1+t 2n+3
06 6 2n+1

x 2n+1 |x|
de onde concluı́mos que
t 2n+2
Rx
(−1)n+1 0 1+t 2 dt
lim = 0.
x →0 x 2n+1
1 2 3 4 6

E, portanto, pelo Teorema, conhecemos o polinómio de Taylor de


ordem 2n + 1 de arctg em 0:

x3 x5 x 2n+1
P2n+1, arctg, 0 (x) = x − + − · · · + (−1)n .
3 5 2n + 1
1 2 3 4 6

Consequência 1
Das igualdades, válidas para todo o x ∈ R e para todo o n ∈ N,

x3 x5 x 2n+1
P2n+1, arctg, 0 (x) = x − + − · · · + (−1)n
3 5 2n + 1
00
f (0) 2 f (2n+1) (0) 2n+1
= f (0) + f 0 (0) x + x + ··· + x
2! (2n + 1)!

deduzimos agora facilmente que

arctg (0) = 0
arctg(2n) (0) = 0 ∀n ∈ N
arctg(2n+1) (0) = (−1)n 2n !

∀ n ∈ N ∪ {0}.
1 2 3 4 6

Consequência 2
Note-se ainda que, da estimativa
Z x 2n+2
|x|2n+3

n+1 t
0 6 (−1)

2
dt 6
0 1+t 2n + 3

e do facto de, quando |x| 6 1, se ter

|x|2n+3
lim =0
n → +∞ 2n + 3
resulta que, se |x| 6 1,
x
t 2n+2
Z
lim arctg (x) − P2n+1, arctg, 0 (x) = lim (−1)n+1 dt
n → +∞ n → +∞ 0 1 + t2
= 0.
1 2 3 4 6

Ou seja, fixado x tal que |x| 6 1, a sucessão


 
P2n+1, arctg, 0 (x)
n∈N

fornece aproximações de arctg (x), tão melhores quanto maior for o


valor de n.
1 2 3 4 6

Por exemplo,

π
lim P2n+1, arctg, 0 (1) = arctg (1) =
n → +∞ 4
isto é,
 
π 1 1 1 n 1
= lim 1 − + − + · · · + (−1)
4 n → +∞ 3 5 7 2n + 1

o que permite obter aproximações racionais de π:

π 1 1 1 1
≈ 1 − + − + · · · + (−1)n
4 3 5 7 2n + 1

se n é suficientemente grande.
1 2 3 4 6

Além disso, de
x
t 2n+2
Z
n+1
arctg (x) − P2n+1, arctg, 0 (x) = (−1) dt
0 1 + t2

e de
x
t 2n+2 |x|2n+3
Z
n+1

0 6 (−1)
dt 6
0 1 + t2 2n + 3

sabemos que o erro que se comete ao tomar o racional


 
1 1 1 n 1
4 1 − + − + · · · + (−1)
3 5 7 2n + 1
1
em vez de π é inferior a 2n+3 .
1 2 3 4 6

Por exemplo, se queremos um valor aproximado de π com erro


inferior a 10−4 , basta considerar um natural K tal que
1
< 10−4
2K + 3
ou seja, K ∈ N tal que

104 − 3
K>
2
e calcular
1 1 1 1
1− + − + · · · + (−1)K .
3 5 7 2K + 1
1 2 3 4 6

O que vamos mostrar de seguida é que este uso dos polinómios de


Taylor pode ser estendido a outras funções.
1 2 3 4 6

Uso dos polinómios de Taylor


Seja f uma função com n derivadas em a. Defina-se

Rn, f , a = f − Pn, f , a .

Chama-se resto de Taylor de f de ordem n em a.

Note-se que

Rn, f , a (a) = f (a) − Pn, f , a (a)


f (n) (a)
= f (a) − f (a) − f 0 (a)(a − a) − · · · − (a − a)n
n!
= 0.

E quando x 6= a ?
1 2 3 4 6

Quando x 6= a,

f 00 (a) f (n) (a)


Rn, f , a (x) = f (x)−f (a)−f 0 (a)(x−a)− (x−a)2 −· · ·− (x−a)n
2! n!

é o erro que se comete ao tomar a aproximação Pn, f , a (x) em vez


de f (x).

Gostarı́amos de majorar o valor absoluto deste erro.


1 2 3 4 6

Teorema de Taylor-Lagrange: Dados n ∈ N e x 6= a,


suponhamos que f (n+1) está definida no intervalo fechado de a a
x. Então existe β entre a e x tal que

f (n+1) (β)
Rn, f , a (x) = (x − a)n+1 .
(n + 1)!
1 2 3 4 6

Exemplo

Consideremos a função seno. Temos, para todo o x ∈ R,

x3 x5 x 2n+1
sen (x) = x − + − · · · + (−1)n + R2n+1, sen, 0 (x).
3! 5! (2n + 1)!

Pelo Teorema de Taylor-Lagrange, dado x ∈ R \ {0}, existe β entre


0 e x tal que

f (2n+2) (β) 2n+2


R2n+1, sen, 0 (x) = x .
(2n + 2)!
1 2 3 4 6

E, portanto,
f (2n+2) (β)
R2n+1, sen, 0 (x) = x 2n+2

(2n + 2)!
sen(2n+2) (β)
= x 2n+2

(2n + 2)!

1
6 |x|2n+2 .
(2n + 2)!
1 2 3 4 6

Ora, já provámos que, para todo o x ∈ R,

|x|2n+2
lim = 0.
n → +∞ (2n + 2)!

Logo, para todo o x ∈ R,

sen (x) = lim P2n+1, sen, 0 (x)


n → +∞
 x3 x5 x 2n+1 
= lim x− + − · · · + (−1)n .
n → +∞ 3! 5! (2n + 1)!
1 2 3 4 6

Por exemplo,

 π3 π5 π 2n+1 
sen (π) = 0 = lim π− + − · · · + (−1)n .
n → +∞ 3! 5! (2n + 1)!
1 2 3 4 6

A igualdade, válida para para todo o x ∈ R,

sen (x) = lim P2n+1, sen, 0 (x)


n → +∞
 x3 x5 x 2n+1 
= lim x− + − · · · + (−1)n .
n → +∞ 3! 5! (2n + 1)!

e a fórmula para o resto de Taylor permitem-nos obter


aproximações da função seno usando os polinómios de Taylor, e
estimar o erro que se comete nessas aproximações.
1 2 3 4 6

Mais precisamente, fixados x ∈ R \ {0} e ε > 0, se escolhermos


N ∈ N suficientemente grande de modo que

|x|2N+2

(2N + 2)!

então o valor do polinómio de Taylor P2N+1, sen, 0 em x é uma


aproximação de sen (x) com erro que não ultrapassa ε, isto é,

sen (x) − P2N+1, sen, 0 (x) < ε.

1 2 3 4 6

É precisamente esta propriedade que os computadores utilizam


para determinarem valores aproximados da função seno.
1 2 3 4 6

Outro exemplo

Consideremos a função exponencial. Temos, para todo o x ∈ R,

x2 x3 xn
exp (x) = 1 + x + + + ··· + + Rn, exp, 0 (x).
2! 3! n!

Pelo Teorema de Taylor-Lagrange, dado x ∈ R \ {0}, existe β entre


0 e x tal que

exp(n+1) (β) n+1


Rn, exp, 0 (x) = x .
(n + 1)!
1 2 3 4 6

Logo, se x ∈ R \ {0},
exp(n+1) (β) n+1
Rn, exp, 0 (x) = |x|

(n + 1)!

exp (β)
= |x|n+1
(n + 1)!
 exp (x)

 (n+1)! |x|n+1 se x > 0

<

1
|x|n+1


(n+1)! se x < 0.
1 2 3 4 6

Como, para todo o x ∈ R, se tem

exp (x) |x|n+1


lim |x|n+1 = exp (x) lim = 0
n → +∞ (n + 1)! n → +∞ (n + 1)!

concluı́mos que, para todo o x ∈ R,


 x2 x3 xn 
exp (x) = lim 1+x + + + ··· + .
n → +∞ 2! 3! n!
1 2 3 4 6

Em particular,
 1 1 1
exp (1) = lim 1+1+ + + ··· + .
n → +∞ 2! 3! n!

Mas já provámos que


 n
 1 1 1 1
lim 1+1+ + +···+ = e = lim 1+ .
n → +∞ 2! 3! n! n → +∞ n
1 2 3 4 6

Conclusão:
exp (1) = e

sendo e o número de Neper e exp (1) o tal número real cujo


logaritmo é 1.

E
exp (x) = e x ∀ x ∈ R.
1 2 3 4 6

Mais um exemplo

Também podemos afirmar agora que a sucessão


 1 1 1
1−1+ − + · · · + (−1)n
2! 3! n! n ∈ N
que sabemos que é convergente

(estudámo-la na 10a aula, a propósito das sucessões de Cauchy)

tem limite igual a


 1 1 1 1
lim 1−1+ − + · · · + (−1)n = exp (−1) = .
n → +∞ 2! 3! n! e
1 2 3 4 6

Uma estimativa melhor do valor de e


Recorde-se que já sabemos que 2 < e 6 3.
 
1 1 1
Como a sucessão 1 + 1 + 2! + 3! + · · · + n! é estritamente
n∈N
crescente, tem-se
 1 1 1
e − 1 + 1 + + + ··· + >0 ∀n ∈ N
2! 3! n!
isto é,
0 < Rn, exp, 0 (1) ∀ n ∈ N.

Consequentemente,
3
0 < Rn, exp, 0 (1) 6 ∀n ∈ N
(n + 1)!
1 2 3 4 6

Em particular,
3 1
0 < R4, exp, 0 (1) 6 =
5! 40
o que implica que
 1 1 1
e = 1+1+ + + + R4, exp, 0 (1)
2! 3! 4!
 1 1 1 3
6 1+1+ + + +
2! 3! 4! 5!

65 1
6 +
24 40

< 2, 734.
1 2 3 4 6

E, portanto,

2 < e < 2, 8.
1 2 3 4 6

Observação
Da igualdade,
 1 1 1
exp (1) = lim 1+1+ + + ··· + .
n → +∞ 2! 3! n!
 
1 1 1
e do facto de a sucessão 1 + 1 + 2! + 3! + ··· + n! n ∈ N ser
estritamente crescente, sabemos que
e > 1+1=2
1
e > 1+1+ = 2, 5
2!
1 1
e > 1+1+ + > 2, 66
2! 3!
1 1 1
e > 1+1+ + + > 2, 7
2! 3! 4!
1 2 3 4 6

E, portanto,

2, 7 < e < 2, 8.

Você também pode gostar