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Eduardo V. Castro
2021-22
Contents
I Oscilações 3
1 Movimentos periódicos 4
1.1 Oscilações sinusoidais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.2 Representação por vetor em rotação . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.3 Vetores em rotação como números complexos . . . . . . . . . . . 6
1.4 Exponencial complexa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2 Sobreposição de movimentos periódicos 8
2.1 Sobreposição de duas frequências diferentes . . . . . . . . . . . . 8
2.1.1 Períodos comensuráveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.1.2 Batimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.2 Sobreposição de duas frequências iguais . . . . . . . . . . . . . . 10
2.3 Sobreposição de N oscilações sinusoidais com frequência igual,
mesma amplitude, e desfasamento consecutivo δ . . . . . . . . . . 12
2.4 Sobreposição de duas oscilações perpendiculares . . . . . . . . . . 14
1
3 Oscilações livres e seu amortecimento 17
3.1 Oscilações livres não amortecidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
3.2 Oscilações livres amortecidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
3.2.1 Caso γ = 0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
3.2.2 Caso γ 6= 0 (subamortecimento, γ/2 < ω0 ) . . . . . . . . . 20
3.2.3 Caso γ 6= 0 (sobre-amortecimento, γ/2 > ω0 ) . . . . . . . 24
3.2.4 Caso γ 6= 0 (amortecimento crítico, γ/2 = ω0 ) . . . . . . . 25
4 Oscilações forçadas e ressonância 26
4.1 Regime estacionário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
4.2 Regime transitório . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
4.3 Potência absorvida no oscilador forçado . . . . . . . . . . . . . . 31
5 Osciladores acoplados e modos normais 33
5.1 Dois pêndulos acoplados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
5.2 Modos normais: abordagem analítica no caso geral . . . . . . . . 36
5.3 Muitos osciladores idênticos acoplados . . . . . . . . . . . . . . . 43
II Ondas 47
6 Modos normais de sistemas contínuos 48
6.1 N osciladores acoplados 1D no limite N → ∞ . . . . . . . . . . . 48
6.2 Análise de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
6.3 Corda vibrante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
6.4 Outros sistemas 1D . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
6.4.1 Barra metálica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
6.4.2 Coluna de ar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
6.5 Equação de onda em 2D e 3D . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
7 Ondas progressivas 65
7.1 Ondas progressivas em 1D . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
7.1.1 Ondas progressivas sinusoidais . . . . . . . . . . . . . . . 66
7.1.2 Sobreposição de ondas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
7.1.3 Dispersão, velocidade de fase e de grupo . . . . . . . . . . 70
7.1.4 Reexão e transmissão de ondas . . . . . . . . . . . . . . 71
7.1.5 Energia de uma onda sinusoidal . . . . . . . . . . . . . . . 75
7.2 Ondas progressivas em 2D e 3D . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
7.2.1 2D . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
7.2.2 3D . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
7.2.3 Intensidade da onda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
8 Interferência e difração 81
8.1 Dupla fenda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
8.2 Múltiplas fendas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
8.3 Interferência devido a uma única fenda difração . . . . . . . . 90
2
III Fluidos 92
9 Hidrostática 93
9.1 Pressão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
9.2 Equilíbrio num campo de forças . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
9.3 Fluido incompressível no campo gravitacional . . . . . . . . . . . 95
9.4 Princípio de Arquimedes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
9.5 Aplicações de hidrostática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
9.5.1 Princípio de Pascal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
9.5.2 Princípio dos vasos comunicantes . . . . . . . . . . . . . . 98
9.5.3 Medidores de pressão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
9.5.4 Paradoxo hidrostático . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
10 Noções de Hidrodinâmica 100
10.1 Descrição do escoamento dum uido e diferentes regimes . . . . . 100
10.2 Conservação da massa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
10.3 Equação de Bernoulli . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
10.4 Viscosidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
10.5 Exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
10.5.1 Planos paralelos na ausência de gradiente de pressão . . . 110
10.5.2 Planos paralelos parados na presença de um gradiente de
pressão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
10.5.3 Lei de Poiseuille . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
IV Elasticidade 112
11 Introdução à teoria da elasticidade 112
11.1 Lei de Hooke . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113
11.2 Deformações uniformes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
11.2.1 Expansão ou compressão . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
11.2.2 Tensão de corte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
11.2.3 Barra encastrada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
11.3 Torção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122
11.4 Flexão de uma barra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124
A Coordenadas normais e o método matricial 128
B Pressão como função de ponto 130
3
Part I
Oscilações
1 Movimentos periódicos
Os fenómenos oscilatórios periódicos são incontáveis, ocorrendo em sistemas
muito variados e às mais diversas escalas. O exemplo da massa presa a uma
mola é paradigmático e será usado neste curso inúmeras vezes. Outro bem
conhecido na física é o movimento do pêndulo, quer simples quer físico. Todos
os instrumentos de cordas, ao emitirem o seu som mais melodioso, fazem vibrar
alguma ou várias das suas cordas. As asas de um mosquito oscilam com uma
periodicidade característica, gerando uma onda sonora que por nós detetada
porque os nossos tímpanos oscilam. De facto, no corpo humano ocorrem diversos
movimentos oscilatórios periódicos essenciais, a começar pelo bater do coração
e pela oscilação dos pulmões.
Note-se que poderíamos igualmente ter escrito a função x(t) na Eq. (1) com
4
cosseno. De facto, as duas expressões são equivalentes, bastando alterar a fase
inicial ϕ0 para usarmos uma ou outra:
sin(ωt + ϕ0 ) = cos(ωt + ϕ0 − π/2) = cos(ωt + ϕ̃0 ),
obtendo-se
r v 2
0
A= x20 +
ω
x0 ω
ϕ0 = tan−1 .
v0
1 Como é característico das equações diferenciais ditas de segunda ordem, que terão/tiveram
oportunidade de estudar em disciplinas de matemática.
5
1.2 Representação por vetor em rotação
Consideremos o movimento circular uniforme representado na gura em baixo.
É assim possível usar o vetor de posição ~r = x~ex + y~ey dum movimento circular
uniforme para representar uma oscilação. Referimos-nos a
x(t) = A cos(ωt + θ0 ) como a parte real
y(t) = A sin(ωt + θ0 ) como a parte imaginária.
onde
x ≡ deslocamento paralelo a xx
y ≡ deslocamento paralelo a yy.
onde a letra ”i” deve ser entendida como uma rotação de 90◦ . Isto é,
iy ≡ deslocamento y na direção xx + rotação de 90◦ .
6
Na gure seguinte aplicam-se duas vezes o ”i” a b, ou seja, aplicam-se duas
rotações de 90◦ ao deslocamento b em xx.
7
Voltando ao número complexo z , vericamos que o podemos escrever como
z = Aeiθ .
A exponencial complexa ”eiθ ” deve ser entendida como uma rotação de θ. Isto
é,
z = Aeiθ ≡ deslocamento A na direção xx + rotação de θ.
Por exemplo, fazendo θ = π , vem
eiπ = −1 ⇔ eiπ + 1 = 0,
8
2.1.1 Períodos comensuráveis
Os períodos das oscilações x1 e x2 são comensuráveis se existirem os inteiros n1
e n2 tais que
n1 T1 = n2 T2 = T. (3)
Por outras palavras, a razão T1 /T2 ou ω1 /ω2 será um número racional. Se isto
acontecer, a oscilação repete-se exatamente e nas mesmas condições ao m de T
em simultâneo para x1 e x2 , pelo que se repete também para a soma x = x1 +x2 .
Logo, a oscilação x(t) correspondente à sobreposição será periódica, com período
T . Note-se, contudo, que a oscilação já não será sinusoidal.
2.1.2 Batimentos
Considere-se A1 = A2 ≡ A na Eq. (2). Seja
ω1 + ω2 ω1 − ω2
ω̄ = e ∆ω = ,
2 2
e seja
α1 + α2 α1 − α2
ᾱ = e ∆α = ,
2 2
o que permite escrever
ω1 = ω̄ + ∆ω, ω2 = ω̄ − ∆ω, α1 = ᾱ + ∆α, α2 = ᾱ − ∆α.
Substituindo na Eq. (2), vem para a sobreposição
x = A cos((ω̄ + ∆ω)t) + ᾱ + ∆α) + A cos((ω̄ − ∆ω)t) + ᾱ − ∆α)
= A cos(ω̄t + ᾱ + ∆ωt + ∆α) + A cos(ω̄t + ᾱ − ∆ωt − ∆α).
Fazendo uso da relação trigonométrica
cos (a ± b) = cos a cos b ± sin a sin b
obtém-se
x = 2A cos(∆ωt + ∆α) cos(ω̄t + ᾱ).
Se ∆ω ω̄ , estamos na presença do fenómeno de batimento. Ou seja, a
oscilação tem o comportamento de uma oscilação sinusoidal com frequência
angular rápida, ω̄ , mas com uma amplitude modelada de frequência baixa, ∆ω .
A gura em baixo mostra isso mesmo.
9
A melhor forma de perceber o fenómeno, é experimentando-o. Na página
moodle da UC podem encontrar um exemplo sonora. Nesta caso, a sobreposição
x(t) descreve a oscilação do nosso tímpano.
O tempo que decorre entre dois máximos da envolvente designa-se por período
do batimento, Tb . No caso do exemplo sonoro estes são dois instantes consecutivos
em que o nosso tímpano oscila com amplitude máxima. É aí que a intensidade
do som é máxima para o ouvinte. Note-se que Tb é metade do período da
envolvente,
1 2π 2π
Tb = = .
2 |∆ω| |ω1 − ω2 |
Como ω = 2πf , também podemos escrever
1
Tb = e fb = |f1 − f2 |.
|f1 − f2 |
Rera-se que o caso A1 6= A2 tem uma fenomenologia idêntica. A diferença
é que o valor mínimo da amplitude, em vez de zero, corresponde à diferença das
amplitudes, Amin = |A1 − A2 |.
10
a sua soma também roda com velocidade angular ω , podendo ser escrita como
z = Aei(ωt+α1 +β) ,
sendo A o comprimento de OP e α1 + β o ângulo que OP faz com a horizontal
(ver gura em cima). Não há dúvidas de que a parte real de z descreve uma
oscilação sinusoidal:
x = A cos(ωt + α),
onde se deniu α = α1 + β . Resta apenas determinar A e β .
Determinação de A e β :
z = z1 + z2 ⇔ Aei(ωt+α1 +β) = A1 ei(ωt+α1 ) + A2 ei(ωt+α2 )
⇔ ei(ωt+α1 ) Aeiβ = ei(ωt+α1 ) A1 + A2 ei(α2 −α1 )
⇔ Aeiβ = A1 + A2 ei(α2 −α1 ) .
11
Esta equação diz-nos que, dependendo de δ , a amplitude resultante da sobreposição
pode ser máxima (interferência construtiva) ou mínima (interferência destrutiva):
δ = 0 ⇒ interferência construtiva ⇒ A é máximo
e
X
zn = A0 ei(ωt+nδ) z= zn .
n
Tal como no caso de duas oscilações com a mesma frequência, a sobreposição será
uma oscilação sonusoidal de frequência ω . Sem perda de generalidade podemos
escrever,
z = Aei(ωt+α) . (5)
A gura em baixo representa o caso particular de 3 oscilações, mas a análise
é idêntica para qualquer N .
12
Cada um dos fasores zn está representado por um segmento azul de comprimento
A0 . O fasor z correspondente à soma está representado pelo segmento vermelho
OP de comprimento A. Podemos-nos convencer dos seguintes factos: o polígono
resultante pode sempre ser circunscrito a um círculo com centro em C e raio que
vamos designar por R; os três triângulos com vértice em C e uma das arestas
A0 são idênticos, sendo que uma rotação de δ mapeia um triângulo no seguinte;
o ângulo OCB
\ é δ e o ângulo OCP \ é N δ.
Usando as propriedades de triângulos com dois lados iguais (isósceles), podemos
escrever
A0 δ
= R sin
2 2
A Nδ
= R sin .
2 2
Fazendo a divisão das duas equações, eliminamos a incógnita R e podemos
escrever A como
sin N2δ
A = A0 .
sin 2δ
Resta agora determinar a fase α na Eq. (5). Uma vez mais usando propriedades
de triângulo isósceles, vem
\ = π−δ
COB
2
π − Nδ
COP =
\ .
2
N −1
α= δ.
2
13
Finalmente, podemos escrever
sin N2δ
N −1
x = Re[z] = A0 cos ωt + δ .
sin 2δ 2
Esta expressão diz-nos que teremos interferência destrutiva sempre que o seno
no numerador for zero, ou seja, N δ = 2πn com n ∈ N. Isto acontece sempre
que os pontos O e P na gura coincidem, formando-se um polígono regular.
Esta sobreposição poderá parecer um exercício meramente académico. Mas
veremos mais adiante, quando discutirmos difração, que este resultado será aí
de grande utilidade.
14
do ponto P repete-se ao m do tempo T = n1 T1 = n2 T2 . As guras formadas
pelo ponto P no caso comensurável são designadas guras de Lissajous. Alguns
exemplos estão representadas na gura em baixo.
15
A trajetória é uma reta com declive B/A.
δ=π
Neste caso a Eq. (6) adquira a forma
y2 x2 xy y x 2 y x
2
+ 2
+ 2 = 0 ⇔ + =0 ⇒ =− .
B A AB B A B A
A trajetória é uma reta com declive −B/A.
δ = π/2
Neste caso a Eq. (6) adquira a forma
y2 x2
2
+ 2 = 1.
B A
A trajetória é uma elipse percorrida no sentido horário. Note-se que em
t = 0 temos P = (A, 0) e em t = T /4 temos P = (0, −B), donde se conclui
o sentido do movimento.
δ = 3π/2
Neste caso a elipse é percorrida no sentido anti-horário.
16
Outros valors de δ
Elipse com eixos inclinados.
Fim da 2ª aula.
pêndulo de torção :
17
O sistema está representado na gura ao lado: um disco
com momento de inércia I está ligado rigidamente a uma
vareta cuja extremidade oposta está xa no ponto de
suspensão; rodando o disco de θ imprimi-se uma torção
na vareta; a vareta torcida dá origem a um torque de
restauro no disco, τz = −Kθ, sendo K uma constante.
(A torção será estudada mais à frente quando falarmos
de elasticidade.)
Da equação da dinâmica para a rotação, ~τ = dL/dt
~ , vem
dLz d
τz = = I θ̇ = I θ̈.
dt dt
Logo, I θ̈ = −Kθ, ou seja,
r
K
θ̈ + ω θ = 0 com ω =
2
.
I
O sistema conserva energia mecânica. A prova faz-se de forma análoga ao
caso anterior.
pêndulo simples e pêndulo físico 3 :
Em ambos os casos, a equação diferencial de movimento adquire, para
pequenos ângulos (θ 1), a forma
θ̈ + ω 2 θ = 0. (7)
Para o pêndulo simples com o de comprimento l,
r
g
ω= .
l
Para o pêndulo físico, massa M , momento de inércia relativamente ao eixo
de rotação I , distância mínima do centro de massa ao eixo de rotação d,
vem r
dM g
ω= .
I
Uma vez mais a energia mecânica é conservada. Note-se que aqui a única
força que realiza trabalho é a força gravítica, que é conservativa.
circuito LC :
Um circuito elétrico com um condensador (capacitância C ) e uma bobina
(indutância L) apresenta uma equação diferencial para a corrente (ou
para pa carga no condensador) exatamente equivalente à Eq. (7), com
ω = 1/(LC). Também aqui há conservação de energia.
Na próxima secção vamos introduzir amortecimento. A energia deixa de se
conservar.
3 Qualquer corpo a oscilar em torno de um eixo xo.
18
3.2 Oscilações livres amortecidas
O tipo de amortecimento que iremos estudar é aquele que dá origem a um termo
proporcional a ẋ na equação diferencial de movimento. Em sistemas mecânicos,
isto corresponde a uma força resistiva F~R proporcional à velocidade,
F~R = −b~v , (8)
sendo b a constante de proporcionalidade. É o que acontece quando uma massa
se desloca num meio uido a velocidade sucientemente baixa. A força que um
uido exerce num corpo que nele se desloca é bem descrita por F~R = −(a1 v +
a2 v 2 )v̂ , com v̂ = ~v /||~v ||. Esta força também é conhecida por arrasto. A Eq. (8)
obtém-se no caso em que o primeiro termo domina, a1 v a2 v 2 , ou seja, v
a1 /a2 .
Consideremos o exemplo paradigmático do sistema massa-mola. O movimento
é unidimensional e vamos assumir que ocorre na direção x. A força resistiva
neste caso adquire a forma,
F~R = −bẋ~ex .
Aplicando a 2ª lei de Newton, mẍ = −kx − bẋ, obtém-se a equação diferencial
de movimento,
ẍ + γ ẋ + ω02 x = 0, (9)
com γ = b/m e ω02 = k/m. Note-se que a equação está dimensionalmente
correta, pois [γ] = T−1 e [ω02 ] = T−2 . Resta agora encontrar a solução da
Eq. (9).
19
3.2.2 Caso γ 6= 0 (subamortecimento, γ/2 < ω0 )
A Eq. (9) no plano complexo é
z̈ + γ ż + ω02 z = 0. (10)
Vamos tentar uma solução do tipo exponencial complexa,
z = Aei(pt+α) . (11)
A diferença relativamente ao caso γ = 0 é a presença do termo ż na equação
diferencial. Como quer a segunda derivada da função exponencial quer a primeira
são proporcionais à própria função, há uma forte possibilidade desta tentativa
dar frutos.
Substituindo a Eq. (11) na Eq. (10) vem,
(ip)2 + ipγ + ω02 z = 0 (ip)2 + ipγ + ω02 = 0. (12)
⇒
O lado esquerdo da equação obtida é complexo, pelo que a equação só pode ser
satisfeita se quer a parte real quer a parte imaginária se anularem4 . A única
solução possível com p ∈ R é p = 0. Portanto, p terá de ser um complexo,
p = n + is, com n, s ∈ R. (13)
Substituindo na Eq. (12) para p, vem
−p2 + iγp + ω02 = 0 ⇔ −n2 + s2 − 2ins + iγn − γs + ω02 = 0.
20
de p = n + is. O caso γ/2 < ω0 é conhecido por subamortecimento, ou
amortecimento subcrítico. O caso γ/2 > ω0 será analisado mais adiante.
Finalmente, a solução encontrada pode ser escrita como
z = Aei(nt+ist+α) = Ae−st ei(nt+α) ,
Torna-se evidente que a energia não é conservada, uma vez que o fator
exponencial e− 2 t na solução garante que a oscilação irá desaparecer ao nal
γ
De facto, a oscilação amortecida pode ser entendida como uma oscilação sinusoidal
com uma amplitude que diminui com o tempo,
x(t) = A(t) cos(ωt + α), (16)
21
com γ
A(t) = A0 e− 2 t , (17)
onde A0 = A(0).
Fazendo uso da analogia com a oscilação sinusoidal (movimento harmónico
simples - MHS), podemos determinar a taxa à qual a energia é dissipada (energia
dissipada por unidade de tempo ou potência dissipada). No MHS a energia
mecânica pode escrever-se à custa da amplitude como
1
MHS ⇒ E = kA2 .
2
Substituindo por A(t),
γ 1 2 −γt
A(t) = A0 e− 2 t ⇒ E(t) = kA e = E0 e−γt .
2 0
A potência dissipada em cada instante é então,
dE
P (t) = = −γE(t), (18)
dt
onde o sinal negativo indica apenas que a energia no sistema está a diminuir.
Esta expressão é válida quando γ ω , pois só neste caso é que a analogia com
o MHS faz sentido5 .
Fim da 3ª aula.
22
disso, aproveitamos para escrever a pseudo-frequência angular ω tem termos de
Q: r r
γ2 1
ω= ω02 − = ω0 1− .
4 4Q2
Para Q sucientemente grande, podemos aproximar ω por ω0 . De facto, mesmo
para Q = 2 o erro que cometemos ao aproximar ω ≈ ω0 é cerca de 3%.
A0
A(τ ) = . (19)
e
Podemos perguntar quantas oscilações é que o sistema realiza durante o tempo
τ . Para isso, introduzamos a variável N ≡ t/T que conta oscilações, sendo T
o pseudo-período. Note-se que N é um número real e não necessariamente um
inteiro. Para t = τ temos
2π
Nτ = τ /T ⇒ τ = Nτ T = Nτ .
ω
Como τ = 2/γ , vem
2 2π ω/γ
= Nτ ⇒ Nτ = .
γ ω π
Para um bom oscilador temos Q 1 e ω ≈ ω0 , vindo
ω0 /γ Q
Nτ ≈ = .
π π
23
3.2.3 Caso γ 6= 0 (sobre-amortecimento, γ/2 > ω0 )
Recordemos que para a solução da Eq. (10) propusemos z = Aei(pt+α) [ver
Eq. (11)]. Chegamos à conclusão de que necessariamente p ∈ / R, assumindo
assim p = n + is com n, s ∈ R na Eq. (13). O resultado que se obtém para n da
Eq. (14) é r
γ2
n = ± ω02 − . (20)
4
No caso subamortecido
q temos ω0 > γ/2 e n foi interpretado como uma frequência
na Eq. (15), ω = ω02 − γ4 . Escolhemos a solução positiva porque a negativa
2
24
Nota matemática : A Eq. (21) é conhecida por polinómio característico. Pode
ser usado para determinar a solução não só q quando γ/2 > ω0 mas também
quando ω0 > γ/2. Neste último caso β = γ4 − ω02 passa a ser imaginário e
2
recuperamos
q a solução encontrada quando há subamortecimento fazendo β = iω
com ω = ω02 − γ4 .
2
Fim da 4ª aula.
25
4 Oscilações forçadas e ressonância
Se empurrarmos um baloiço periodicamente, notamos que há uma frequência
particular para a qual a amplitude de oscilação aumenta consideravelmente sem
termos que aumentar a força periódica que aplicamos. Quando o tambor duma
máquina de lavar roupa entra em rotação e a sua velocidade angular aumenta
progressivamente, ocorre uma vibração mais vigorosa para um certo valor da
velocidade do tambor. Nesta secção iremos perceber que estamos perante o
mesmo fenómeno.
26
Separando a equação para a parte real e imaginária, temos
F0
Imag : γωA = sin δ
m
F0
Real: (ω02 − ω 2 )A = cos δ.
m
Fazendo a soma dos quadrados:
2 F2 F2
(Imag) + (Real)
2 2 2
⇒ (γωA) + (ω02 − ω 2 )A = 02 cos2 δ + sin2 δ = 02
m m
F0 /m
⇒ A= p 2 . (22)
(ω0 − ω 2 )2 + (γω)2
Fazendo a razão:
(Imag) γωA γω sin δ
⇒ = 2 =
(Real) (ω02 − ω 2 )A (ω0 − ω 2 ) cos δ
γω
⇒ tan δ = 2 . (23)
(ω0 − ω 2 )
pertinentes:
27
ω=0
Da Eq. (22) obtém-se A(0) = F0ω/m2 = Fk0 . Neste caso não há oscilação
0
e o sistema encontra-se em equilíbrio. A amplitude é simplesmente a
elongação da mola necessária para equilibrar a força F0 , isto é, F0 = kA.
ω→∞
Da Eq. (22) obtém-se A(∞) = 0. Se a frequência externa for demasiado
elevada, o sentido da força varia tão rapidamente que a massa m não
consegue iniciar o seu movimento. A amplitude tende para zero como
1/ω 2 .
ω = ωm
No gráco da gura A(ω) tem claramente um máximo para uma frequência
ωm próxima de ω0 . Analisemos esta situação com mais detalhe.
28
Manipulando as expressão obtidas,
podemos reescrever ωm e A(ωm ) em
termos do fator de qualidade Q:
r
1
ωm = ω0 1− ,
2Q2
F0 Q
A(ωm ) = q .
k 1− 1
4Q2
29
4.2 Regime transitório
Na ausência de força externa, todos os movimentos oscilatórios que encontrámos
dependiam das condições iniciais. Ou seja, a solução continha duas constantes
por determinar, que permitiam ajustar a solução às condições iniciais. Na
Eq. (24) não há constantes por determinar. O que é que aconteceu às condições
iniciais no oscilador forçado?
Vamos designar a solução indicada na Eq. (24) por solução particular,
xp (t) = A(ω) cos [ωt + δ(ω)] .
30
A título de exemplo, no caso do oscilador subamortecido, a solução geral do
movimento incluindo o regime transitório é
γ
x(t) = Be− 2 t cos(ω 0 t + α) + A(ω) cos [ωt + δ(ω)] ,
caso
de se vericar ω 0 ≈ ω , o regime transitório ocorre em forma de batimento.
Fim da 5ª aula.
31
Usando a seguinte relação trigonométrica (válida para 0 < δ < π ),
s
tan2 δ
sin δ = ,
1 + tan2 δ
e a Eq. (23), obtém-se
1 γω
P̄ (ω) = F0 ωA(ω) p 2
2 (ω0 − ω 2 )2 + (γω)2
F02 ω 2 γ
= ,
2m (ω02 − ω 2 )2 + (γω)2
onde, na última equação, usámos a Eq. (22) para A(ω). A última expressão
pode ainda ser manipulada de forma a escrevermos
F02 γ
P̄ (ω) = 2 .
2m
ω0 ω
ω02 ω − ω0 + γ2
32
Máximo em ω0 dado por
F02
Pmax = P̄ (ω0 ) = .
2mγ
33
Há dois casos de simples, como representado na gura em baixo: os dois
pêndulos são desviados da mesma quantidade e no mesmo sentido relativamente
à posição de equilíbrio, xA = xB (à esquerda); os dois pêndulos são desviados da
mesma quantidade relativamente à posição de equilíbrio, mas no sentido oposto,
xA = −xB (à direita).
xA = xB
Neste caso a mola mantém o comprimento de equilíbrio, não exercendo
força. Cada pêndulo oscila livremente como pêndulo simples. A frequência
da oscilação é conhecida, r
g
ω− = .
l
O movimento segundo x é simplesmente
xA = xB = C− cos(ω− t + α− ).
34
obtemos
T − mg ' 0 ⇒ T = mg.
Substituindo este resultado para T na Eq. (27), e levando em conta que
podemos escrever sin θ = xB /l, vem
xB g k
mẍ = −mg − 2kxB ⇔ ẍB + +2 xB = 0.
l l m
35
Do anulamento das velocidades em t = 0 resulta α+ = α− = 0. Substituindo
nas posições e usando a condição inicial, obtém-se
( (
C
C = C− + C+ C− = 2
⇒ C
0 = C− − C+ C+ = 2 .
36
3. Procurar soluções do tipo modo normal,
xA = C cos(ωt)
xB = C 0 cos(ωt).
37
C
Basta agora determinar os valores próprios ω 2 e os vetores próprios
C0
da matriz
(ωe2 + ω02 ) −ωe2
M= 2 .
−ωe (ωe + ω02 )
2
Note-se que o resultado CC0 = ±1 é válido para qualquer sistema com dois
Como esta solução contém quatro constantes por determinar, sendo elas C− ,
C+ , α− e α+ ,10 conseguimos ajustar a qualquer condição inicial. Ou seja,
descrevemos todos os movimentos possíveis.
Para o caso do sistema constituído
pelos dois pêndulos acoplados, onde CC0 ± = ±1, obtém-se a solução geral que
já escrevemos em cima, Eqs. (28) e (29). Essa solução é válida para qualquer
10 Estando a razão C± /C 0± xa, basta determinar C± para sabermos C±
0 .
38
sistema
com dois osciladores idênticos.
Fim da 7ª aula.
Coordenadas normais
A importância dos modos normais torna-se ainda mais evidente se introduzirmos
o conceito de coordenada normal. As coordenadas normais são combinações
lineares das coordenadas originais com a seguinte característica: quando escritas
em termos das coordenadas normais, as equações de movimento do sistema
transformam-se nas equações dum sistema de osciladores não acoplados com
frequências naturais idênticas às dos modos normais. Vejamos o que signica
isto no caso concreto do sistema de dois pêndulos que temos vindo a usar.
As equações de movimento, já derivadas acima, são
(
ẍA + (ωe2 + ω02 )xA − ωe2 xB = 0 (∗)
ẍB + (ωe2 + ω02 )xB − ωe2 xA = 0 . (∗∗)
e
(∗) − (∗∗) → (xA ¨− xB ) + (ωe2 + ω02 )(xA − xB ) − ωe2 (−xA + xB ) = 0
→ (xA ¨− xB ) + (2ω 2 + ω 2 )(xA − xB ) = 0 .
e 0
Ou seja, denindo
q 1 = xA + xB e q 2 = xA − xB , (30)
obtém-se ( (
q̈1 + ω02 q1 = 0 2
q̈1 + ω− q1 = 0
⇔
q¨2 + (2ωe2 + ω02 )q2 = 0 2
q¨2 + ω+ q2 = 0 .
A solução para q1 e q2 é conhecida:
q1 (t) = A− cos(ω− t + α− ) q2 (t) = A+ cos(ω+ t + α+ ).
39
que dene a coordenada normal dependem dos coecientes C e C 0 dos modos
normais. Em geral, podemos sempre escrever
(
xA = C− q1 + C+ q2
0 0
(31)
xB = C − q1 + C+ q2 ,
onde a única restrição é que CC0 ± seja exatamente a razão das amplitudes
40
obtém-se
( ( (
q̈1 + 2ω02 q1 − ω02 q1 = 0 q̈1 + ω02 q1 = 0 2
q̈1 + ω− q1 = 0
⇔ ⇔
q̈2 + 2ω02 q2 − ω02 (−q2 ) = 0 q̈2 + 3ω02 q2 = 0 2
q̈2 + ω+ q2 = 0 .
Vamos agora impor que o ponto C oscile de forma sinusoidal sendo a variação
da sua posição dada por
XC = X0 cos(ωt).
As equações de movimento sofrem a seguinte alteração,
( (
mẍA = −k(xA −XC ) − k(xA − xB ) ẍA + 2ω02 xA − ω02 xB = ω02 X0 cos(ωt)
⇔
mẍB = k(xA − xB ) − kxB ẍB + 2ω02 xB − ω02 xA = 0 .
Comparando as equações obtidas com o sistema na Eq. (33), vemos que o efeito
de oscilar sinusoidalmente o extremo C é análogo ao da aplicação de uma força
externa na massa A, sendo portanto uma forma equivalente de forçar o sistema
de osciladores. Passando para coordenadas normais, somando e subtraindo as
equações, vem (
2
q̈1 + ω− q1 = ω02 X0 cos(ωt)
2
q̈2 + ω+ q2 = ω02 X0 cos(ωt) .
Ou seja, em termos das coordenadas normais o sistema comporta-se como dois
osciladores forçados desacoplados. Sendo a frequência natural destes osciladores
efetivos ω− e ω+ , e uma vez que não há amortecimento, os sistema entra em
ressonância exatamente à frequência dos modos normais de oscilação.
Não é difícil generalizar esta análise para o caso de dois osciladores não
equivalentes acoplados. Bastaria usar as coordenadas normais da Eq. (32).
A conclusão seria idêntica: o sistema entra em ressonância à frequência dos
modos normais. Em boa verdade, qualquer sistema de osciladores acoplados,
independentemente do número de osciladores e da sua dimensionalidade, entra
em ressonância à frequência dos modos normais na ausência de amortecimento.
41
há quatro graus de liberdade: xA , xB , yA e yB . O número de modos normais é
também quatro.
Em geral, o número de modos normais é igual ao número de graus
de liberdade do sistema.
Devemos aqui deixar a seguinte nota. Se o sistema estiver isolado, ou seja,
quando não há molas com extremos xos, nem todos os modos normais serão
de vibração. Neste caso temos de levar em conta que o sistema também se
pode mover como um corpo rígido: movimento esse que pode ser decomposto
em translações do centro de massa mais rotações em torno deste. Tomemos
como exemplo uma molécula diatómica. A ligação entre os dois átomos, para
pequenos desvios relativamente à posição de equilíbrio, pode ser substituída por
uma mola.11 Quantos modos normais de vibração há? O número de graus
de liberdade é seis: três para cada átomo no espaço tridimensional. Como
a molécula está isolada, o centro de massa pode mover-se uniformemente em
qualquer direção do espaço tridimensional, como um corpo rígido, contabilizando
três modos independente de movimento. A molécula pode ainda rodar em torno
do centro de massa como um corpo rígido. Há três eixos ortogonais que passam
pelo centro de massa, mas um deles coincide com o eixo da molécula diatómica.
Como estamos a considerar átomos pontuais, toda a massa ocorre em cima do
eixo da molécula pelo que não há movimento de rotação em torno deste. Temos
então dois modos independentes de rotação. Como temos apenas seis graus
de liberdade e já identicamos cinco modos de movimento, sobre apenas um
possível modo de vibração.
Para um sistema isolado contendo M osciladores, cada um com n
graus de liberdade em D dimensões, o número de modos normais é
n × M . Destes, D são de translação do centro de massa e outros
11 Usando uma aproximação clássica, a energia potencial V (x) do sistema deve apresentar
um mínimo em função da distância x entre os dois átomos na molécula. Para pequenos desvios
em torno da distância de equilíbrio xeq podemos expandir em séria de Taylor,
1
V (x) ' Veq + k(x − xeq )2 + . . .
2
com Veq = V (xeq ) e constante k = d2 V /dx2 avaliada em xeq . O termo de primeira ordem na
expansão em série de Taylor é nulo por estarmos a expandir em torno do equilíbrio (a força é
nula no equilíbrio). A menos de uma constante, temos a energia potencial de uma mola. Esta
aproximação é conhecida por aproximação harmónica.
42
D de rotação. O número de modos de vibração é nM − 2D. Para
sistemas em que toda massa se dispõe ao longo dum eixo, o número
de modos de rotação é D − 1, pelo que o de vibração é nM − 2D + 1.
Fim da 8ª aula.
43
Atendendo aos triângulos retângulos identicados na gura, podemos escrever
sin αp−1 e sin αp como
yp − yp−1 yp+1 − yp
sin αp−1 ' e sin αp ' .
l l
Substituindo na equação de movimento, passando todos os termos para o lado
direito e dividindo por m, vem
ÿp + 2ω02 yp − ω02 (yp+1 + yp−1 ) = 0, (34)
onde ω02 ≡ lm
T
. Esta equação de movimento para p é, de facto, válida para todas
as massas p = 1, . . . , N , desde que sejam impostas as condições
y0 = 0 e yN +1 = 0.
Modos normais
Queremos encontrar soluções que correspondem a movimento do tipo modo
normal, ou seja,
yp = Cp cos(ωt).
Substituindo na Eq. (34), obtém-se
−ω 2 Cp + 2ω02 Cp − ω02 (Cp+1 + Cp−1 ) = 0,
44
Note-se que com esta dependência em p vem
Cp+1 + Cp−1 = Aei(p+1)θ + Aei(p−1)θ = Aeipθ (eiθ + e−iθ ) = 2Ae ipθ
| {z } cos θ,
Cp
ou seja,
Cp+1 + Cp−1
= 2 cos θ, (36)
Cp
que é já independente de p. Resta apenas determinar o que é que pode ser θ.
A solução deve respeitar as condições de fronteira:
C0 = Re[C0 ] = Re[Aei0×θ ] = Re[A] = 0;
| {z }
=0
nπ
= −Im[An ] sin p .
N +1
45
e (36), ou seja,
−ω 2 + 2ω02 −ωn2 + 2ω02
nπ
= 2 cos θ ⇒ = 2 cos , n∈Z
ω02 ω02 N +1
nπ
⇔ ωn2 = 2ω02 1 − cos , n∈Z
N +1
nπ
⇔ ωn2 = 4ω02 sin2 , n ∈ Z.
2(N + 1)
46
n=3 yp,3 = A3 sin cos(ω3 t),
3π
N +1 p
Há movimento oscilatório. Mesma solução para n = 3 ± (N + 1), 3 ±
2(N + 1), 3 ± 3(N + 1), . . . A diferença entre cada um destes casos
é, no máximo, um sinal.
...
n=N yp,N = AN sin Nπ
N +1 p cos(ωN t),
Há movimento oscilatório. Mesma solução para n = N ±(N +1), N ±
2(N + 1), N ± 3(N + 1), . . . A diferença entre cada um destes casos
é, no máximo, um sinal.
Assim se demonstra que as soluções correspondentes a movimentos das massas
sicamente distintos correspondem a n = 1, 2, 3, . . . , N , sendo todos os outros
casos repetições destes. Como pictoricamente se pretende ilustrar com a gura
em baixo, todos os possíveis valores de n foram especicados em cima.
n=2 yp,2 = A2 sin 2π
N +1 p cos(ω2 t)
Fim da 9ª aula.
47
Part II
Ondas
6 Modos normais de sistemas contínuos
6.1 N osciladores acoplados 1D no limite N → ∞
Consideremos novamente o sistema representado na gura em baixo. Todos os
osciladores são equivalentes: têm massa m e distam entre si de uma distância l.
L = (N + 1)l e M = N m.
Tal só é possível fazendo o comprimento dos segmentos e cada uma das massas
tenderem para zero, l → 0 e m → 0. Passamos a ter um sistema que apresenta
um contínuo de massa no comprimento L, caracterizado pela densidade de massa
µ,
M N m m
µ= = → .
L (N + 1) l l
As frequências normais deste sistema podem ser obtidas da Eq. (38) que
aqui se reproduz,
nπ
ωn = 2ω0 sin , n ∈ {1, 2, . . . , N },
2(N + 1)
48
onde se usou a denição de ω0 e de densidade de massa µ. Como l(N + 1) = L,
obtém-se da expressão acima, tomando os limites N → ∞, l → 0 e m → 0, as
frequências normais,
s
π T
ωn = n = nω1 , n ∈ {1, 2, . . . , ∞}. (39)
L µ
onde denimos as constantes Cn = An sin (kn x0 ) cos αn e Dn = −An sin (kn x0 ) sin αn ,
e introduzimos o período T associado ao modo de mais baixa frequência (frequência
fundamental), ω1 = 2π/T .
49
As Eqs. (41) e (42) são representações do Teorema de Fourier.
Teorema de Fourier
Em 1807 e matemático Francês J. B. Fourier (1758-1830) anunciou o seguinte
Teorema: Qualquer função bem comportada 14 num intervalo pode ser representada
por uma série de Fourier (soma de senos e cossenos) nesse intervalo.
É óbvio que a função está denida em x ∈ [−∞, +∞], sendo uma função
periódica de período L,
f (x + L) = f (x).
A série de Fourier para f (x) contempla os casos das Eqs. (41) e (42) que
obtivemos anteriormente. Em particular, a Eq. (42) é recuperada da série de
Fourier fazendo x → t, L → T e a0 = 0. O valor da constante a0 = 0 signica
que a função oscila tem torno de zero. Quanto à Eq. (41), devemos primeiro
notar que
π 2π 2π
=n
kn = n =n .
L 2L L
Ou seja, o período da função é 2L. Como no nosso sistema a função y(x) está
denido apenas em x ∈ [0, L], coloca-se a questão de saber o que devemos usar
para x ∈ [−L, 0]. Depois basta repetir a função de 2L em 2L para termos uma
função com período L = 2L. Para que a nossa Eq. (41) seja dada pela série de
Fourier devemos usar
(
y(x) 0≤x<L
f (x) = ,
−y(−x) −L ≤ x < 0
50
nulos (a função cosseno é uma função par).
onde
an − ibn an + ibn
c0 = a 0 , cn = , c−n = .
2 2
Fazendo −kn = k−n ,podemos escrever a série numa forma mais compacta,
+∞
X
f (x) = cn eikn x .
n=−∞
Logo, Z L
1
a0 = f (x)dx ≡ f¯,
L 0
51
Para determinar an e bn podemos usar a seguinte propriedade das funções
sinusoidais,
Z L
cos(kn x) sin(km x)dx = 0
0
Z L
L
cos(kn x) cos(km x)dx = δm,n
0 2
L
L
Z
sin(kn x) sin(km x)dx = δm,n .
0 2
Transformada de Fourier
É possível generalizar a série de Fourier para funções não periódicas. De
facto, a função de período L, para a qual f (x) = f (x+L), deixa de ser periódica
no limite L → ∞.
Seja
Z L/2
c(kn ) = Lcn = f (x)e−ikn x dx.
−L/2
52
A expressão para a série de Fourier de f (x) pode ser reescrita como
+∞
1 X
f (x) = c(kn )eikn x δkn .
2π n=−∞
Fim da 10ª aula.
53
Vamos considerar, como até agora, pequenas oscilações.16 O ponto de
equilíbrio estático da corda corresponde à sua conguração horizontal.17 Pequenos
desvios da corda relativamente ao equilíbrio correspondem por isso a θ 1.
Expandindo cos(θ + ∆θ) e sin(θ + ∆θ) nas equações de movimento vem, em
primeira ordem,
yy : ∆mÿ ' T (θ + ∆θ) − T θ
xx : ∆mẍ ' T − T = 0.
54
Para θ 1, que é o caso de interesse aqui, vem
∂2y
∆θ ' ∆x.
∂x2
Substituindo na Eq. (44), obtém-se
T ∂2y
ÿ∆x ' ∆x. (45)
µ ∂x2
O fator ∆x cancela na equação, pelo que podemos tomar o limite ∆x → 0 e
escrever a equação
∂2y T ∂2y
= .
∂t2 µ ∂x2
Podemos vericar facilmente que a razão T /µ tem dimensões de velocidade ao
quadrado. Por isso vamos denir
s
T
v≡ , (46)
µ
∂x2 v 2 ∂t2
Esta equação é designada por Equação de Onda e é um dos resultados mais
importantes desta unidade curricular. Esta versão unidimensional, bem como
a sua generalização para duas e três dimensões espaciais, têm uma importância
fundamental na descrição de variadíssimos fenómenos físicos: ondas que se
propagam nas cordas de uma guitarra, ondas na superfície de um lago quando
atiramos uma pedra, ondas sonoras, ondas eletromagnéticas, etc.
55
Substituindo na equação de onda, os fatores em cos(ωt) cancelam, obtendo-se
d2 f ω2 d2 f ω2
2
= − 2 f (x) ⇔ 2
+ 2 f (x) = 0. (49)
dx v dx v
A solução desta equação é já bem nossa conhecida,
ω ω
f (x) = A sin x + B cos x . (50)
v v
Tal como no caso de N osciladores acoplados analisado anteriormente, há
também aqui condições de fronteira que a solução deve satisfazer. Para a corda
com extremos xos na posição de equilíbrio y = 0, vem
y(x = 0, t) = y(x = L, t) = 0,
56
n=1 π
y1 (x, t) = A1 sin Lx cos(ω1 t)
n=2 2π
y2 (x, t) = A2 sin L x cos(ω2 t)
Além dos extremos, quando a corda oscila num certo modo normal podem
aparecer posições que não oscilam (ver caso n = 2 em cima). São designados
por nodos. Os pontos onde se observa oscilação máxima são antinodos.
57
Impondo as condições de fronteira,
f (0) = C ⇒ B = C
ω ω
ext ext
f (L) = 0 ⇒ A sin L + B cos L = 0.
v v
Substituindo B por C na segunda e resolvendo em ordem a A, obtém-se
cos ωext
v L
A = −C .
sin ωext
v L
Concluímos então que a corda apresenta uma ressonância para todas as suas
frequências
normais.
Fim da 11 ª aula.
58
À esquerda o segmento está em repouso pois a barra está na conguração de
equilíbrio. À direita, representa-se o segmento no instante t quando a barra
se encontra em oscilação. O extremo esquerdo do segmento, originalmente na
posição x, está agora na posição x + ξ(x, t). Ou seja, a função ξ(x, t) mede de
quanto se moveu o ponto x da barra relativamente ao equilíbrio. O extremo
direito do segmento, inicialmente em x + ∆x, encontra-se agora na posição
x + ∆x + ξ(x + ∆x, t), com ξ(x + ∆x, t) = ξ(x, t) + ∆ξ .
A variação de comprimento do segmento, que inicialmente é ∆x, caracteriza
uma propriedade elástica do material. Todos os materiais apresentam alguma
elasticidade até atingiram pontos de deformação permanente ou mesmo de
rotura. No capítulo da Elasticidade, que iremos estudar na parte nal deste
curso, veremos que a relação entre a força e a deformação obedece à lei de
Hooke: transpondo para o nosso caso, podemos escrever
∂ξ(x, t) ∂ξ(x + ∆x, t) ∂ξ(x, t) ∂ 2 ξ(x, t)
F1 = aY , F2 = aY ' aY + aY ∆x,
∂x ∂x ∂x ∂x2
onde Y é um coeciente de elasticidade do material, conhecido por módulo de
Young, e a é a área da secção transversal da barra.
Podemos agora aplicar a 2ª lei de Newton. A aceleração é a segunda derivada
temporal do deslocamento do segmento. O deslocamento do segmento, no limite
em ∆x se torna tão pequeno quanto quisermos, é dado simplesmente por ξ(x, t),
sendo a aceleração ∂ 2 ξ/∂t2 . Aplicando a 2ª lei de Newton,
∂2ξ ∂2ξ
∆m 2
= F2 − F1 = aY ∆x.
∂t ∂x2
Introduzindo a densidade volúmica de massa ρ, vem ∆m = ρa∆x. Substituindo
na equação em cima, obtém-se
∂2ξ ρ ∂2ξ 1 ∂2ξ
2
= 2
= 2 2,
∂x Y ∂t v ∂t
concluindo a derivação a que nos propusemos. A única diferença entre a equação
de onda que descreve oscilações da barra ep
a que descreve oscilações na corda,
além da velocidade que na barra vale v = Y /ρ, é que na corda as oscilações
são transversais e na barra são longitudinais. Além disto, não há qualquer
diferença.
A procura de modos normais faz-se agora de forma totalmente análoga ao
caso da corda:
Impõe-se solução tipo modo normal, ξ(x, t) = f (x) cos(ωt);
Aplicam-se as condições de fronteira.
No caso da corda de extremos xos e que se estende entre x = 0 e x = L, as
condições de fronteira são
ξ(x = 0, t) = ξ(x = L, t) = 0.
59
Estas são condições ditas de extremo fechado. No caso da barra surge uma
condição de fronteira nova.
Consideremos que o ponto de suspensão da barra se encontra em x = 0. A
barra, de comprimento L, estende-se de x = −L/2 a x = L/2, como representado
na gura em baixo.
6.4.2 Coluna de ar
As oscilações das moléculas de ar contidas numa coluna, como a representada
na gura em baixo,
60
das moléculas relativamente à posição de equilíbrio x no instante t, a equação
de movimento é 2 2
∂ ξ 1 ∂ ξ
2
− 2 2 = 0,
∂x v ∂t
com v = B/p0 , sendo B o módulo de elasticidade (adiabático) do uido, neste
p
ou aberto,
∂ξ
= 0.
∂x x=x0
Como serão as condições de fronteira em termos da quantidade ∆p? A resposta
será dada num dos problemas da série.
61
O lado esquerdo teve origem na força que atua na corda e o lado direito na
aceleração que aparece na 2ª lei de Newton. Se considerarmos uma membrana
no plano xy , que oscila na direção perpendicular z , a equação de movimento é
dada pela equação de onda 2D que escrevemos em cima,
∂2z ∂2z 1 ∂2z
2
+ 2 = 2 2.
∂x ∂y v ∂t
A origem do lado esquerdo continua a ser a força total aplicada segundo z a
um elemento da membrana e a do lado direito a aceleração. No caso 1D o
sistema estende-se segundo x e a força em y é proporcional a ∂ 2 y/∂x2 , como
vimos na Eq. (45). Em 2D, o sistema estende-se quer segundo x, havendo uma
força proporcional a ∂ 2 z/∂x2 , quer segundo y , havendo uma força proporcional
a ∂ 2 z/∂y 2 . A soma destas duas contribuições para a força total é a origem dos
termos com derivadas espaciais na equação de onda.
Aproveitamos para introduzir aqui uma notação mais compacta para os
termos com derivadas espaciais, que será usada nesta UC no contexto dos uidos
e que irá aparecer noutras UCs. A notação habitual é,
∂2ψ ∂2ψ ∂2ψ
+ + ≡ ∇2 ψ,
∂x2 ∂y 2 ∂z 2
onde
∂2 ∂2 ∂2
∇2 = 2
+ 2+ 2
∂x ∂y ∂z
é designado por Laplaciano ou operador de Laplace. A equação de onde em 3D
pode assim ser escrita como
1 ∂ψ
∇2 ψ − = 0.
v 2 ∂t2
Por vezes a notação ∇2 ≡ ∆ também é usada.
62
No exemplo da gura com o lme de sabão (ver legenda da imagem), é
evidente que os modos excitados têm nodos. Uma observação mais atenta
revela que esses nodos correspondem a linhas nodais paralelas a uma das arestas
do retângulo. Neste caso a posição dos nodos depende apenas de uma das
coordenadas, por exemplo da coordenada x. Faz por isso sentido procurar
soluções do tipo
f (x, y) = g(x)h(y). (54)
Se g(x0 ) = 0, temos f (x0 , y) = 0 para qualquer y , como observado nos nodos.
Substituindo a Eq. (54) na Eq. (53), obtém-se
d2 g d2 h ω2
h(y) 2
+ g(x) 2 = − 2 g(x)h(y).
dx dy v
Dividindo ambos os lados por g(x)h(y), vem
1 d2 g ω2 1 d2 h
2
+ 2 =− .
g dx v h dy 2
Este método de resolver equações diferenciais designa-se por método de separação
de variáveis : na equação acima, o lado esquerdo só depende da variável x
enquanto o direito só depende da variável y . A única forma da equação ser
satisfeita para todo o x e todo o y (na região onde existe membrana, claro está)
é nenhum dos lados depender de x e y . Ou seja, sem perda de generalidade,
devemos ter
1 d2 g 1 d2 h
2
= −k 2
x e 2
= −ky2 ,
g dx h dy
63
com kx e ky constantes a determinar. As frequências dos modos normais serão
dadas pela equação
ω 2 = v 2 (kx2 + ky2 ).
As equações que determinam as funções g(x) e h(y) são nossas conhecidas,
d2 g d2 h
+ kx2 g = 0 e + ky2 h = 0.
dx2 dy 2
São equações totalmente equivalentes à encontrada para a corda na Eq. (49).
Uma vez que as condições de fronteira também são as mesmas, a solução também
é a mesma:
n1 π
gn1 (x) =Gn1 sin(kx,n1 x), kx,n1 = , n1 = 1, 2, 3, . . .
Lx
n2 π
hn2 (y) =Hn2 sin(ky,n2 y), ky,n2 = , n2 = 1, 2, 3, . . .
Ly
onde Gn1 e Hn2 são constantes. Denindo Gn1 Hn2 ≡ Cn1 n2 , a solução para os
modos normais da membrana é então,
n1 π n2 π
z(x, y, t) = Cn1 ,n2 sin x sin y cos(ω12 t),
Lx Ly
com " 2 2 #1/2
n1 π n2 π
ω12 = v + e n1 , n2 = 1, 2, 3, . . .
Lx Ly
E. F. Chladni (1756-1827) desenvolveu um método para visualizar as vibrações
de uma placa metálica em vibração: areia na espalhada pela placa acaba por
se acumular nas linhas nodais, onde a placa não se move. A vibração da placa,
na versão moderna da experiência, pode ser obtida suportando-a num motor
que faz oscilar o ponto de apoio verticalmente com frequência ω , como ilustrado
na gura em baixo, onde se mostram também algumas linhas nodais.
Fim da 12ª aula.
64
7 Ondas progressivas
As soluções que procurámos até agora para a equação de onda eram do tipo
modo normal. Todos os pontos do meio contínuo oscilam com a mesma frequência.
Mas não é óbvia que algo esteja propagar-se com a velocidade v que gura na
equação de onda. Neste capítulo vamos estudar uma outra solução da equação
de onda: as ondas progressivas, caracterizadas pela velocidade de propagação
v.
Vamos assumir que a forma do perl não se alterou durante o seu deslocamento.
Esta aproximação não está muito longe daquilo que acontece na realidade. Se
o perl não se modicou, apenas se deslocou, então verica-se
f (x, t0 ) = f (x − vt0 , 0).
Este resultado indica que deverão existir soluções da equação de onda onde as
variáveis x e t aparecem combinadas na forma x ± vt, sendo o caso com sinal +
o do perl que se desloca no sentido oposto ao do eixo. Temos então de vericar
se uma função do tipo
f (x, t) = f (x ∓ vt)
é solução da equação de onda.
A equação de onda para um sistema 1D é,
∂2f 1 ∂2f
2
= 2 2.
∂x v ∂t
65
Vamos denir a variável X ≡ x ∓ vt. Ou seja, f (x, t) = f (x ∓ vt) = f (X). As
derivadas são:
Derivada espacial
∂2f d2 f
∂ df dX = ∂
df d df dX
= = =
∂x2 ∂x dX |{z}
dx ∂x dX dX dX dx
|{z} dX 2
=1 =1
Derivada temporal
∂2f 2
∂ df dX = ∓v ∂
df d df dX 2 d f
= = ∓v = (∓v) .
∂t2 ∂t dX |{z}
dt ∂t dX dX dX dt
|{z} dX 2
=∓v =∓v
66
Para x xo sabemos que a onda se repete ao m de um período:
t → t + T ⇒ y(x, t + T ) = y(x, t).
ou seja
2π
kvT = 2π ⇔ kv = = ω.
T
Acabamos de encontrar uma relação importante:
ω = vk,
Fim da 13ª aula.
67
Sobreposição de ondas e modos normais
Consideremos duas ondas sinusoidais com igual amplitude e frequência que
se propagam em sentidos opostos:
y1 (x, t) = A sin(kx − ωt)
y2 (x, t) = A sin(kx + ωt).
Usando a relação trigonométrica sin(a + b) = sin a cos b + sin b cos a, vem para a
sobreposição
y ≡ y1 + y2 = 2A sin(kx) cos(ωt).
Impondo a condição de fronteira
y(x = L, t) = 0,
encontramos todos os modos normais da corda:
nπ
y(x = L, t) = 0 ⇒ sin(kL) = 0 ⇒ kn = , n = 1, 2, 3, . . .
L
Como ω = vk, temos
vπ
ωn = vkn = n , n = 1, 2, 3, . . .
L
que é exatamente a expressão para as frequências dos modos normais da corda
de extremos xos [ver Eq. (51)].
Descobrimos assim que os modos normais de um sistema contínuo 1D não
são mais do que a sobreposição de duas ondas progressivas sinusoidais, de igual
amplitude e frequência, que se propagam em sentidos opostos à velocidade v
a velocidade que aparece na equação de onda. Em meios contínuos os modos
normais também são conhecidos por ondas estacionárias.
68
As duas situações estão representadas de forma pictórica em baixo, interferência
construtiva à esquerda e destrutiva à direita.
69
7.1.3 Dispersão, velocidade de fase e de grupo
O que é que acontece se, no caso em que a sobreposição originou batimentos
(frequência diferente, mas próximas), as velocidades de propagação forem diferentes?
Consideremos novamente as duas ondas sinusoidais com igual amplitude:
y1 (x, t) = A sin(k1 x − ω1 t)
y2 (x, t) = A sin(k2 x + ω2 t).
70
Num meio dispersivo existe uma relação entre ω e k que não é linear. A função
ω(k) é chamada de relação de dispersão. Dene-se velocidade de grupo como o
declive da reta tangente a esta curva,
dω
vg = .
dk
Como representado na gura em baixo, num meio dispersivo podemos ter
quer vf < vg quer vf > vg . Na corda, se levarmos em conta a sua rigidez, temos
vf < vg . Para ondas sonoras num sólido ou ondas superciais que se propagam
na água, temos vf > vg .
71
no direito a propagarem-se em sentidos opostos, chegarão ambos ao ponto
intermédio x = L no mesmo instante. Admitindo que o vale tem o perl obtido
por inversão do monte, ou seja, fazendo x → −x e y → −y , como se pretende
representar pela gura em baixo, quando o monte passa pelo vale em x = L
obtém-se a sobreposição nula,
y(x = L) = 0.
72
A experiência mostra que se enviarmos um monte a reexão é igualmente
um monte. Se enviarmos um vale, a reexão é um vale. No ponto x = L
onde se encontra o extremo aberto, a chegada do impulso incidente dá origem
a uma oscilação da argola com uma amplitude superior à do próprio impulso,
aparecendo de seguida o impulso reetido. Na página da UC há um vídeo a
demonstrar o efeito.
Uma vez mais, a explicação encontra-se na condição de fronteira que é
necessário satisfazer. Se a corda tivesse um comprimento 2L, e simultaneamente
aparecesse um monte quer no extremo esquerdo quer no direito a propagarem-se
em sentidos opostos, chegariam ambos ao ponto intermédio x = L no mesmo
instante. Admitindo que os montes têm um perl simétrico um do outro, como
representado na gura em baixo, a sobreposição em x = L satisfaz a condição
de fronteira ∂y/∂x = 0. Se a amplitude do impulso incidente for A, como se
ilustra na gura, em x = L a amplitude atinge um valor máximo de 2A.
Fim da 14ª aula.
73
Usando i para onda incidente, r para onda reetida e t para transmitida,
podemos escrever
yi = Ai sin(ω1 t − k1 x) incidente, propaga-se no meio 1 com velocidade v1 = ω1 /k1
e no sentido positivo
yr = Ar sin(ω1 t + k1 x) reetida, propaga-se no meio 1 com velocidade v1 = ω1 /k1
e sentido negativo
yt = At sin(ω2 t − k2 x) transmitida, propaga-se no meio 2 com velocidade v2 = ω2 /k2
e no sentido positivo.
A frequência de oscilação tem de ser a mesma nas duas cordas. Só dessa forma
o ponto de união oscila da mesma forma para as duas cordas, isto é,
ω1 = ω2 , pelo que ω1 = v1 k1 = v2 k2 .
Da primeira condição de fronteira, vem
yi (x = 0, t) + yr (x = 0, t) = yt (x = 0, t)
Ai sin(ω1 t) + Ar sin(ω1 t) = At sin(ω2 t).
Como ω1 = ω2 , a dependência temporal é a mesma em todos os termos, obtendo-
se a seguinte condição para as amplitudes,
Ai + Ar = At . (55)
Da segunda condição de fronteira, vem
∂yi ∂yr ∂yt
+ =
∂x x=0 ∂x x=0 ∂x x=0
−Ai k1 sin(ω1 t) + Ar k1 sin(ω1 t) = −At k2 sin(ω2 t).
Mais uma vez, como ω1 = ω2 , a dependência temporal é a mesma em todos os
termos, obtendo-se a seguinte condição,
−k1 Ai + k1 Ar = −k2 At ⇔ (−Ai + Ar )v2 = −At v1 (56)
Assumindo que a amplitude da onda incidente Ai é conhecida, podemos
determinar Ar e At das Eqs. (55) e (56):
Ar v2 − v1 Ar 2v2
= = .
Ai v2 + v1 Ai v2 + v1
Indicam-se alguns casos particulares a título de exemplo:
µ2 → ∞ ⇒ v2 → 0
Ar At
= −1, =0
Ai Ai
µ1 > µ2 ⇒ v2 > v1
Ar At
> 0, >0
Ai Ai
µ1 = µ2 ⇒ v2 = v1
Ar At
= 0, = 1.
Ai Ai
74
7.1.5 Energia de uma onda sinusoidal
Uma onda progressiva transporta energia. Este transporte de energia é feito
sem que haja transporte de massa. Os painéis solares tiram partido disso: a
energia é produzida no Sol por reações nucleares e é transportada até ao painel
numa onda, neste caso uma onda eletromagnética.
Considere-se uma onda progressiva sinusoidal que se propaga na corda:
y(x, t) = A sin(kx − ωt).
Na imagem em baixo está representada parte da onda num certo instante.
Analisemos o elemento dx da corda, identicado na gura.
À medida que a onda se propaga, este elemento da corda sobe e desce com
velocidade segundo y dada por
∂y
vy ≡ = −Aω cos(kx − ωt) = −Avk cos(kx − ωt), (57)
∂t
onde usámos a relação ω = vk. A sua energia cinética é
2
1 1 ∂y
2
dEc = (µdx) vy = µ dx. (58)
2 2 ∂t
Este mesmo elemento dx da corda tem também energia potencial. Basta
ver que à medida que o segmento se move o seu comprimento varia. Tal como
numa mola, quando o seu comprimento aumenta a sua energia potencial também
aumenta. Podemos determinar a energia potencial da corda através do trabalho
que a tensão T realiza para fazer aumentar o comprimento do elemento dx para
ds. A situação está ilustrada na gura em baixo.
75
Esse trabalho realizado pela tensão é convertido em energia potencial do segmento,
isto é
dW = dEp = T (ds − dx).
A ampliação do segmento dx na gura em cima permite escrever,
q
2 2
ds = (dx) + (dy) .
Para o instante considerado, dy relaciona-se com dx da forma
∂y
dy = dx,
∂x
vindo para ds a expressão
s 2
∂y
ds = dx 1+ .
∂x
Para pequenos desvios, temos ∂y/∂x 1, permitindo expandir em série de
Taylor a raiz na expressão em cima,
" 2 #
1 ∂y
ds = dx 1 + + ... .
2 ∂x
76
Substituindo nas expressões vem
1 2
dEc = µv 2 (f 0 ) dx
2
1 2
dEp = T (f 0 ) dx.
2
Como na corda v = T /µ, ca demonstrada a igualdade dEc = dEp .
p
77
Há uma diferença importante relativamente ao caso da onda progressiva. Na
onda estacionária a energia está continuamente a ser convertida de energia
cinética para potencial e vice versa. Basta notar que quando o modo normal
apresenta máxima amplitude, todos os pontos da corda têm velocidade nula e
a corda só tem energia potencial. Por outro lado, na passagem por equilíbrio, a
corda encontra-se na horizontal, com ∂y/∂x = 0, pelo que apenas existe energia
cinética na corda nesse instante.
Potência transmitida
A energia que passa por unidade de tempo num ponto da corda pode ser obtida
dividindo a energia contida num comprimento de onda E|1λ pelo tempo que um
comprimento de onda demora a passar, ou seja, um período T = λ/v :
E|1λ 2A2 π 2 T v 1
P̄ = = 2
= µvω 2 A2 .
T λ 2
Fim da 15ª aula.
Ondas sinusoidais
Se a função f acima for um seno ou cosseno, estamos na presença de ondas
sinusoidais em 2D. De modo a que o argumento da função sinusoidal seja
adimensional, podemos introduzir o número de onda k,
ψ(x, y, t) = A cos [k(αx + βy − vt)]
= A cos(kx x + ky y − kvt)
= A cos(~k · ~r − ωt).
78
formam frentes de onda: pontos de fase constante num certo instante. Em 2D
as frentes de onda formam linhas retas, perpendiculares ao vetor de onda ~k, que
se propagam com velocidade v , como representado na gura em baixo.
Coordenadas polares
Temos escrito a equação de onda em coordenadas cartesianas, x e y , bem como a
função de onda ψ(x, y, t). Em 2D podemos também usar coordenadas polares,
ψ(r, θ, t). A equação de onda em 2D admite soluções que só dependem da
distância radial r a um ponto, ψ(r, t). A equação de onda toma então a forma,
∂ 2 ψ 1 ∂ψ 1 ∂2ψ
ψ ≡ ψ(r, t) ⇒ 2
+ = 2 2.
∂r r ∂r v ∂t
As soluções
√ desta equação designam-se por funções especiais de Bessel. Decaem
com 1/ r para r → ∞, variando a longas distâncias como
C
ψ(r, t) ' √ cos(kr − ωt). (59)
r
As frentes de onda, denidas por
kr = const,
7.2.2 3D
A equação de onda em 3D é
∂2ψ ∂2ψ ∂2ψ 1 ∂2ψ
+ + = .
∂x2 ∂y 2 ∂z 2 v 2 ∂t2
Facilmente se verica que a função
ψ(x, y, z, t) = f (αx + βy + γz − vt)
79
Ondas sinusoidais ou ondas planas
Se a função f acima for um seno ou cosseno, estamos na presença de ondas
sinusoidais em 3D. De modo a que o argumento da função sinusoidal seja
adimensional, podemos uma vez mais introduzir o número de onda k,
ψ(x, y, z, t) = A cos [k(αx + βy + γz − vt)]
= A cos(~k · ~r − ωt)
~
= ARe[ei(k·~r−ωt) ].
80
A diferença relativamente ao caso 2D é subtil (pré-fator do termo ∂ψ/∂r), mas
suciente para obter soluções exatas para qualquer r (e não apenas no limite
r → ∞) que decaem com 1/r:
C
ψ(r, t) ' cos(kr − ωt).
r
As frentes de onda, denidas por
kr = const,
8 Interferência e difração
O fenómeno de interferência associado à sobreposição de ondas sinusoidais foi
já referido no contexto das ondas 1D: ondas em fase (desfasamento δ = 0)
interferem construtivamente, dando origem a uma onda reforçada; ondas de
igual amplitude e frequência, desfasadas de δ = π , interferem destrutivamente
originando o cancelamento da onda. Em 2D e 3D, a situação é mais rica pois
a interferência pode ser construtiva em certos pontos do espaço e destrutiva
noutros.
81
A onda em P pode ser representada por
ψP = A1 cos(kr1 − ωt) + A2 cos(kr2 − ωt).
não dependendo do tempo. Duas fontes com uma relação de fase independente
do tempo dizem-se coerentes.
Tal como no caso 1D, δ determina se a onda em P é uma onda reforçada
ou diminuída. Isto é, se a amplitude da onda ψP apresenta um máximo ou um
mínimo no ponto P . Dizemos que há
interferência construtiva quando
δ = 2πn, n∈Z
δ = π(2n + 1), n ∈ Z.
82
Entre cada duas hipérboles correspondentes a máximos consecutivos da amplitude
há uma hipérbole correspondente a um mínimo da amplitude. Ao padrão de
máximos e mínimos resultante da interferência de duas ou mais ondas damos o
nome de padrão de interferência.
Fim da 16ª aula.
83
parte inferior da imagem, abaixo do anteparo, se propagar uma onda sinusoidal
plana (frentes de onda são linhas retas em 2D) em vez de uma onda circular.
Por isso podemos substituir os pontos de uma frente de onda por fontes de
ondas secundárias circulares (em 2D) ou esféricas (em 3D) independentemente
da frente de onda ser circular/esférica ou plana.
Bloqueemos uma onda sinusoidal plana com um anteparo paralelo à frente de
onda e contendo duas aberturas, como se demonstra na gura em baixo. Para
aberturas pequenas o suciente, podemos considerar que estamos a permitir que
apenas se propaguem as ondas secundárias de dois pontos da mesma frente de
onda. As duas ondas secundárias circulares estão em fase por pertencerem à
mesma frente de onda, e por isso são idênticas às ondas geradas por duas fontes
pontuais coerentes colocadas nas posições onde o anteparo tem as aberturas. O
padrão de interferência da dupla fenda é por isso idêntico ao ao de duas fontes
coerentes, como se demonstra na gura em baixo.
84
O ponto P está à distância r1 da fenda 1 e à distância r2 da fenda 2. Vimos
anteriormente que será um ponto de interferência construtiva se r2 − r1 = nλ e
destrutiva se r2 − r1 = λ2 (2n + 1). Se se cumprir a condição
r1 , r2 d,
85
Obtém-se então
ψP ' A0 cos(kr1 − ωt) + A0 cos(kr2 − ωt)
| {z } | {z }
θ1 θ2
com
θ1 + θ2 r1 + r2
θ= =k − ωt = kr̄ − ωt
2 2
e
θ2 − θ1 r2 − r1
∆θ = =k .
2 2
Finalmente, usando cos(a + b) = cos a cos b − sin a sin b, vem
r2 − r1
ψP ' 2A0 cos k cos (kr̄ − ωt) .
2
86
A onda num ponto P longínquo será a sobreposição das ondas que emanam das
várias fendas. Usando o princípio de Huygens, podemos aproximar essas ondas
emanadas das fendas como: ondas circulares no caso 2D; ondas cilíndricas no
caso 3D com fendas longas na direção perpendicular ao plano da gura; ondas
esféricas no caso 3D em que as fendas são substituídas por pequenos orifícios.
Em qualquer dos casos anteriores, podemos escrever a sobreposição das ondas
no ponto P como:
ψP = ψ1 +ψ2 +ψ3 +· · · = A1 cos(kr1 −ωt)+A2 cos(kr2 −ωt)+A3 cos(kr3 −ωt)+. . .
Com base na gura acima, podemos mesmo escrever para a diferença de caminho
percorrido entre a onda que sai da fenda 1 e a onda que sai da fenda 1 + n a
seguinte expressão:
r1 − r1+n ' nd sin θ.
A onda em P vem então
N
X −1
ψ P ' A0 cos(kr1 − ωt + nδ),
n=0
onde se deniu δ como a diferença de fase entre as ondas que saem de fendas
consecutivas,
2π
δ = k(ri − ri+1 ) ' d sin θ,
λ
87
e N é o número de fendas. Fazendo uso do plano complexo, vem
"N −1 #
ψP = A0 Re
X
i(kr1 −ωt+nδ)
e .
n=0
"N −1 # " N −1
#
ψP = A0 Re = A0 Re e
X X
i(kr1 −ωt+nδ) i(kr1 −ωt) inδ
e e
n=0 n=0
−1
" N
#
iδ n
= A0 Re e
X
i(kr1 −ωt)
e
n=0
1 − eiN δ
= A0 Re ei(kr1 −ωt) .
1 − eiδ
Escrevendo
Nδ
1 − eiN δ sin δ
iδ
= 2
δ
ei(N −1) 2 ,
1−e sin 2
88
obtém-se para a amplitude uma expressão idêntica à obtida pelo método geométrico,
Nδ
sin 2
A(δ) = A0 δ
.
sin 2
89
Os máximos são obtidos quando
δ = 2πn ⇔ d sin θ = nλ, n ∈ Z,
ou seja, sempre que os vetores no plano complexo estão todos alinhados. Esta
condição é independente de N , concluindo-se que a condição de interferência
construtiva é a mesma para qualquer sistema de N fendas.
Os mínimos são obtidos quando
2π n
δ= n ⇔ d sin θ = λ, n ∈ Z,
N N
ou seja, sempre que os vetores no plano complexo formam guras fechadas,
como indicado na gura em cima à direita. Entre dois máximos principais
sucessivos há N − 1 mínimos. Entre dois mínimos sucessivos há necessariamente
um máximo, mas de muito menor amplitude (intensidade), e por isso designados
máximos secundários.
90
e aproximar o denominador por sin ϕ ϕ
quando N → ∞. Obtém-se
2N ' 2N
assim
sin (ϕ/2) sin (ϕ/2)
A(ϕ) = N Ã0 = A0 ,
ϕ/2 ϕ/2
onde se deniu A0 ≡ N Ã0 , que não é mais do que a amplitude da onda na
região frontal à fenda, ou seja, em θ = 0. O mesmo resultado pode ser obtido
geometricamente se reconhecermos que a gura acima da Eq. (62) se torna, no
limite N → ∞, na gura mais à esquerda do conjunto em baixo.
91
máximo da amplitude ocorre para ϕ = 0 (isto é θ = 0), sendo que o valor dos
restantes máximos locais decai com 1/ϕ. Na gura em baixo à esquerda está
representada a amplitude e o seu valor absoluto (onde α ≡ ϕ/2). À direita pode
observar-se o padrão de difração devido a uma fenda real na superfície da água.
São evidentes as linhas nodais correspondentes ao primeiro zero do padrão de
difração. Estas ocorrem para o ângulo θm tal que
λ
ϕ = 2π ⇔ sin θm = .
b
Fim da 17ª aula.
Part III
Fluidos
Vamos iniciar o estudo do terceiro tema desta unidade curricular: uidos. Se
aplicarmos uma força tangencial a um sólido, como exemplicado na gura em
baixo, o sólido sofre uma deformação elástica (assumindo que não há deslizamento
e que o limite de elasticidade, a estudar no nal desta unidade, não é ultrapassado).
Ao deformação elástica dá origem a uma força interna que contraria a força
tangencial aplicada. Quando a força elástica iguala a força externa, atinge-se o
equilíbrio e a deformação para.
92
Pelo contrário, se aplicarmos uma força tangencial a um uido, por mais pequena
que essa força seja, a deformação não para pois dá-se início a um processo de
escoamento como representado na gura em baixo. O uido ui.
9 Hidrostática
Comecemos por analisar uidos em repouso. No uido em repouso não há
forças tangenciais. Se essas aparecerem, ocorre um processo de escoamento e a
velocidade do uido é não nula. Logo,
~v = 0 ⇒ F~tangenciais = 0.
9.1 Pressão
Apesar de não existirem forças tangenciais a atuar em superfícies num uido
em repouso,22 há forças normais. Consideremos um volume V do uido contido
numa superfície S , como se representa na gura em baixo.
Numa pequena área ∆S atua uma força normal, dirigida de fora para dentro do
volume V , exercida pelo uido na parte exterior da superfície S e proporcional à
área ∆S . Se for n̂ a normal à superfície no ponto em que se centra ∆S , podemos
escrever a força como
∆F~ = −p∆S n̂,
22 Pode ser uma superfície interna, com uido de ambos os lados.
93
denindo-se assim a pressão através do seguinte limite
∆F~
dF~
p = lim
=
.
∆S→0
∆S
dS
94
A pressão e as forças tangenciais que referimos acima não são forças de
volume, mas sim forças de superfície. São forças que resultam da interação
entre uma dada porção do meio contínuo, limitada por uma superfície S , com
as porções adjacentes. São forças interatómicas, de curto alcance, transmitidas
através da superfície S . No caso do elemento de volume cilíndrico da gura
acima, por se encontrar em repouso, apenas atua a força supercial associada
à pressão. A componente segundo z resulta da força supercial nas superfícies
que contêm o ponto P e P 0 , e pode ser escrita como
dFzsup = [−p(P ) + p(P 0 )] dS
p(x, y, z) − p(x, y, z + dz)
=− dSdz
dz
∂p
= − dSdz.
∂z
O elemento de volume encontra-se em equilíbrio, pelo que
dF~ vol + dF~ sup = 0.
95
Substituindo na Eq. (63) acima para o uido em equilíbrio, vem
∂p ∂p ∂p
fz = −ρg = , = = 0 ⇒ p ≡ p(z).
∂z ∂x ∂y
Como a pressão apenas depende de z , podemos escrever
dp
= −ρg, (64)
dz
e obter p(z) por integração. Porém, tal exigiria conhecer como é que a densidade
de massa ρ varia com a posição.
Um uido no qual a densidade de massa não varie de ponto para ponto é
dito incompressível,
ρ = const ⇒ uido incompressível.
conhecida como lei de Stevin: a pressão no interior dum uido aumente linearmente
com a profundidade.
96
O mesmo Stevin da lei enunciada no nal da última secção avançou, em
1586, com uma explicação para este fenómeno. Consideremos o volume de uido
representado na gura em baixo. Esse volume de uido encontra-se submerso
em uido idêntico e em equilíbrio.
Por se encontrar em equilíbrio, o somatório das forças que nele atuam é nulo,
X X
F~V + F~S = 0.
O somatório das forças de volume é, neste caso, o peso do líquido P~l . Vamos
designar por B
~ o somatório das forças de superfície. É esta a força de impulsão
que Arquimedes descobriu. Substituindo acima, vem
P~l + B
~ =0 ⇔ B
~ = −P~l .
pois esta é a força exercida pelo uido exterior e não foi alterada pela substituição.
O sólido está por isso sujeito a uma força de impulsão dirigida de baixo para
cima e igual ao peso do volume de uido deslocado. Esta ideia de Stevin é
conhecida por princípio da solidicação.
97
Para os dois pontos 1 e 2 identicados na gura acima, podemos escrever
p1 = p0 + ρgh1 e p2 = p0 + ρgh2 .
A diferença de pressão entre os dois pontos é
p2 − p1 = ρg(h2 − h1 ).
Uma vez que h2 − h1 não variou durante o processo, a variação de pressão entre
os dois pontos tem de ser a mesma.
Um exemplo de aplicação deste princípio é a prensa hidráulica (ou macaco
hidráulico). Como se representa na gura em baixo, o aumento de pressão do
lado 1 devido à aplicação da força F1 tem de ser compensado por igual aumento
da pressão no lado 2 aplicando a força F2 .
Ou seja,
F1 F2
∆p1 = ∆p2 ⇒ = ,
A1 A2
o que signica que podemos equilibrar uma força F2 > F1 desde que A1 < A2
de tal forma que
A1
F1 = F2 .
A2
98
Como a superfície do uido se encontra à pressão atmosférica p0 , o uido
sobe exatamente até à mesma altura em todos os ramos (princípio dos vasos
comunicantes).
O caso de dois uidos imiscíveis, densidades ρ1 6= ρ2 , está representado na
gura em cima à direita. Os pontos à profundidade h1 no ramo da esquerda e
h2 no ramo da direita estão à mesma pressão por se encontrarem à mesma cota
e pertencerem ao mesmo uido (densidade ρ1 ). Podemos então escrever,
h1 ρ1
p = p0 + ρ1 gh1 = p0 + ρ2 gh2 ⇒ ρ1 h1 = ρ2 h2 ⇔ = ,
h2 ρ2
tornando evidente que se ρ1 6= ρ2 , então h1 6= h2 .
99
Como a altura h é a mesma, a pressão exercida no fundo de cada recipiente
também é. Sendo a área A igual nos três, a força exercida na base também
será. Porém, os recipientes contém um volume diferente de uido porque a sua
forma é distinta (paredes oblíquas). Por isso, para equilibrar cada recipiente
numa balança de pratos temos de usar pesos diferentes. Mas não dissemos que
a força exercida na base pelo uido era a mesma?
É este o paradoxo hidrostático. A sua resolução será discutida nas aulas
teórico-práticas.
Fim da 18ª aula.
10 Noções de Hidrodinâmica
10.1 Descrição do escoamento dum uido e diferentes regimes
Para descrevermos o escoamento do uido poderíamos tentar seguir cada partícula,
isto é, cada elemento de volume do meio contínuo. Para isso teríamos de indicar
a posição ~r de cada elemento a cada instante t. Essa posição dependeria da
posição ~r0 num certo instante de referência t0 , pelo que em geral seria necessário
especicar a função vetorial
~r = ~r(t, ~r0 , t0 ).
100
É possível traçar as linhas que em cada ponto são tangentes ao campo vetorial
num dado instante, como representado na gura em cima à direita. Estas linhas
são conhecidas por linhas de campo, ou no caso dos uidos, linhas de corrente.
Há duas características importantes das linhas de corrente:
Não se cruzam no ponto de cruzamento seria possível identicar duas
tangentes, logo dois vetores ~v , mas em cada ponto só há um vetor ~v ;
Maior densidade de linhas numa região implica maior velocidade do uido
nessa região.
Quando o campo de velocidades não varia com o tempo, ou seja, quando a
velocidade não varia com o tempo
~v = ~v (~r),
No regime estacionário o tubo de uxo não varia no tempo. Não iremos aqui
analisar o regime não estacionário, em que as linhas de corrente variam a cada
instante.
101
Durante o intervalo ∆t entra no tubo a porção de massa ∆m1 , identicada à
esquerda no tubo, e irá sair a massa ∆m2 , assinalada à direita. No regime
estacionário, além do campo de velocidades também a densidade ρ do uido é
constante. Por isso a massa que entra no tubo tem de ser igual à massa que dele
sai, caso contrário, assumindo que não há massa a ser criada ou a desaparecer
no tubo, a densidade ρ não seria constante. Deve então vericar-se
∆m1 = ∆m2 ,
ρ1 A1 v1 ∆t = ρ2 A2 v2 ∆t ⇔ ρ1 A1 v1 = ρ2 A2 v2 .
102
10.3 Equação de Bernoulli
Na secção anterior usámos o princípio da conservação da massa. Nesta secção
iremos usar o da conservação da energia. Consideremos o tubo de uxo representado
na gura em baixo, que assumiremos sucientemente no.
103
Notando que as forças de pressão, por serem normais, só realizam trabalho
nas superfícies perpendiculares às linhas de corrente, podemos escrever
Wp = p1 A1 v1 ∆t − p2 A2 v2 ∆t,
| {z }| {z } | {z }| {z }
F1 ∆r1 F2 ∆r2
onde ∆r1,2 são os valores dos deslocamentos e F1,2 os valores das forças.
Relativamente à força gravítica, por ser conservativa, vem Wg = −∆U
pelo que basta calcular a variação da energia potencial gravítica no intervalo
∆t. Como entre 10 e 2 nada se altera, basta considerar o aparecimento da
porção entre 2 e 20 e o desaparecimento da porção entre 1 e 10 :
Wg = −∆U = − (∆m2 gz2 − ∆m1 gz1 ) .
podemos reescrever
1 2 1 2 p1 − p2 ρA2 v2 ∆t
∆m 2 v2 − ∆m1 v1 = ρA1 v1 ∆t +
∆m 1 gz1 −
∆m 2 gz2 .
2 2 ρ |
{z } ρ | {z }
∆m1 ∆m2
10.4 Viscosidade
Iremos nalmente levar em conta que o uido não é perfeito e que existem
forças tangenciais que têm origem na viscosidade do uido. Para descrevermos
o comportamento hidrodinâmico do uido neste caso, é necessário incluir as
104
forças de viscosidade na equação de movimento do uido. Aplicando a 2ª lei de
Newton a um elemento de volume ∆V do uido, obtém-se
∆F~ = ∆m × ~a.
Dividindo pelo volume ∆V , vem
f~ = ρ~a,
onde a densidade de força é composta por forças de volume e forças de superfície,
f~ = f~vol + f~sup . Para a densidade de forças de volume, neste caso, contribui
apenas a força gravítica,
f~sup = −∇u
~ = −ρg ~ez .
Coeciente de viscosidade
Considere-se a situação ilustrada na gura em baixo.
105
Todos os uidos conhecidos, quer líquidos quer gasosos, satisfazem a observação 1.
Relativamente à observação 2, os uidos que vericam esta relação empírica são
designados por uidos Newtonianos, sendo que a maioria dos uidos comuns,
quer líquidos quer gasosos, são deste tipo.
A equação de movimento que iremos encontrar vai permitir determinar o
perl de velocidades que se estabelece entre as duas superfícies.
Por analogia com o resultado empírico anterior, podemos escrever para a força
∆Fx que é exercida na superfície superior do elemento ∆V representado,
∆Fx ∆vx
'η .
∆A ∆y
Esta é a força por unidade de superfície exercida pelo uido que está imediatamente
acima dessa superfície. Vamos designar esta força por unidade de área τx , ou
seja, τx ≡ ∆Fx /∆A. No limite ∆y, ∆A → 0 vem τx = η∂vx /∂y .24
Se τx (y + ∆y) é a força por unidade de área exercida na superfície superior
pelo uido acima desta, então τx (y) é a força por unidade de área exercida na
superfície inferior pelo uido acima desta. Como queremos a força de viscosidade
exercida no elemento ∆V , precisamos da força exercida na superfície inferior
pelo uido abaixo e não acima. Mas pela 3ª lei de Newton, estas formam um par
ação-reação. Ou seja, a força exercida na superfície inferior pelo uido abaixo
é o simétrico de τx (y), isto é, −τx (y). Podemos então escrever a densidade de
24 O Feynman aproveita para denir o tensor simétrico
∂vy ∂vx
Sxy = η + ,
∂x ∂y
que tem a vantagem de ser nulo (Sxy = 0) numa rotação uniforme, pois nesse caso todo o
uido roda como um corpo rígido e não há forças de viscosidade.
106
força de viscosidade devido às superfícies do elemento ∆V perpendiculares a y
como
∆Fx (y + ∆y) − ∆Fx (y) ∆Fx (y + ∆y) − ∆Fx (y)
(fvisc )x = =
∆V ∆A∆y
τx (y + ∆y) − τx (y)
=
∆y
∂vx
∂y − ∂v x
∂y
y+∆y y
'η .
∆y
2
No limite ∆A, ∆y → 0 obtém-se (fvisc )x = η ∂∂yv2x .
Repare-se, porém, que apenas contabilizamos duas das seis superfícies do
elemento ∆V para a densidade de força segundo x. As contribuições vindas
das superfícies perpendiculares a z e a x são, respetivamente, η∂ 2 vx /∂z 2 e
η∂ 2 vx /∂x2 . A primeira pode ser derivada de forma inteiramente análoga, substituindo
y → z na análise acima, pois tem origem nas forças tangenciais que ocorrem
nas faces do paralelepípedo perpendiculares a z . A segunda ocorre nas faces
perpendiculares a x, tendo por isso origem em forças normais a estas, e não a
iremos motivar.25 A contribuição total para (fvisc )x é assim
∂ 2 vx ∂ 2 vx ∂ 2 vx
(fvisc )x = η 2
+ η 2 + η 2 = η∇2 vx .
∂x ∂y ∂z
Finalmente, podemos facilmente obter as componentes da densidade de força
segundo y e z , bastando fazer vx → vy e vx → vz . A densidade de força de
viscosidade é então dada por
f~visc = η∇2~v .
Há termos adicionais se ρ 6= const. Ou seja, a expressão acima só é válida
para o uido incompressível. Mais ainda, assumiu-se η = const, que também
é uma aproximação. Por exemplo, falha se a temperatura do uido variar de
ponto para ponto. Contudo, a aproximação de uido incompressível e η = const
permite já analisar muitas situações de interesse.
Equação de movimento
A equação de movimento para o uido viscoso, incompressível e com η = const
é
~ − ∇p
−∇u ~ + η∇2~v = ρ~a.
É conveniente reescrever a equação apenas em termos do campo de velocidades.
Iremos demonstrar em baixo que
~ ~v + ∂~v .
~a = ~v · ∇ (65)
∂t
25 O Feynman também não motiva esta contribuição. Uma discussão mais detalhada sobre
a relação entre forças e gradientes de velocidade no uido pode ser encontrada em Schlichting,
H., Boundary-Layer Theory, Eighth Edition, McGraw-Hill, New York, 2000. A meio do
terceiro capítulo percebemos porque é que este termo tem de lá estar.
107
A equação de movimento para o uido viscoso, incompressível com η = const é
habitualmente apresentada como
1~
~ ~v + ∂~v = − 1 ∇u
~ − 1 ∇p
~ + η ∇2~v .
~a = f ⇔ ~v · ∇
ρ ∂t ρ ρ ρ
Esta equação é conhecida por equação de Navier-Stokes, e iremos aplicá-la a
três exemplos concretos. Mas antes disso, demonstremos a Eq. (65).
DEMO
Na nossa descrição da dinâmica do uido, optámos por olhar para o campo de
velocidades ~v (~r, t) em cada instante, em vez de seguir os elementos de volume.
Porém, o vetor ~a que entra na equação de movimento é a aceleração do elemento
de volume, o mesmo que está sujeito às forças discutidas acima. Temos pois de
analisar este elemento de volume.
No instante t este elemento ocupa a posição ~r(t) e tem a velocidade dos
elementos que nesse instante passam por ~r, ou seja,
~r(t) −→ ~v (~r, t).
Passado um intervalo de tempo ∆t, este mesmo elemento encontra-se na posição
~r(t + ∆t) com a velocidade que o campo vetorial apresenta nesse ponto nesse
instante,
~r(t + ∆t) = ~r(t) + ∆~r −→ ~v (~r(t + ∆t), t + ∆t) = ~v (~r + ∆~r, t + ∆t).
A aceleração é, por denição,
~v (~r + ∆~r, t + ∆t) − ~v (~r, t)
~a = lim .
∆t→0 ∆t
No limite em que ∆t se torna tão pequeno quanto quisermos, podemos
aproximar
~v (~r + ∆~r, t + ∆t) = ~v (x(t) + ∆x, y(t) + ∆y, z(t) + ∆z, t + ∆t)
∂~v ∂~v ∂~v ∂~v
' ~v (x(t), y(t), z(t), t) + ∆x + ∆y + ∆z + ∆t
∂x ∂y ∂z ∂t
~ ~v + ∂~v ∆t,
= ~v + ∆~r · ∇
∂t
onde, por simplicidade, escrevemos ~v (~r, t) ≡ ~v . Por outro lado, no mesmo limite,
d~r
~r(t + ∆t) ' ~r(t) + ∆t = ~r(t) + ~v ∆t,
dt
ou seja,
∆~r = ~r(t + ∆t) − ~r(t) ' ~v ∆t.
Substituindo no resultado acima para ~v (~r + ∆~r, t + ∆t), vem
~ ~v ∆t + ∂~v ∆t.
~v (~r + ∆~r, t + ∆t) ' ~v + ~v · ∇
∂t
108
Finalmente, substituindo na aceleração, obtém-se
h i
~ ~v +
~v · ∇ ∂~
v
∆t
∂t
~ ~v + ∂~v ,
~a = lim = ~v · ∇
∆t→0 ∆t ∂t
como queríamos demonstrar.
10.5 Exemplos
Os primeiros dois exemplos que iremos estudar dizem respeito ao escoamento
dum uido entre dois planos paralelos, como se representa na gura em baixo.
~ ~v = − 1 ∇u
~ − 1 ∇p
~ + η ∇2~v ,
~v · ∇
ρ ρ ρ
onde levamos já em conta o regime estacionário. Para o lado esquerdo podemos
escrever
~ ∂ ∂ ∂
~
∂vx ∂vy ∂vz
~v · ∇ ≡ vx + vy + vz ⇒ ~v · ∇ ~v = vx , vx , vx ,
∂x |{z} ∂y |{z} ∂z ∂x ∂x ∂x
=0 =0
109
Em suma, estamos à procura de soluções de movimento do uido em que a
aceleração dos elementos de volume é nula. Equivalentemente, a resultante das
densidades de força aplicadas é nula.
Decompondo a equação de movimento em componentes e usando −∇u ~ =
−ρg ~ey (de acordo com o referencial da gura), vem
1 ∂u 1 ∂p η 2 1 ∂p η ∂ 2 vx
x:0=− − + ∇ vx = − +
ρ ∂x ρ ∂x ρ ρ ∂x ρ ∂y 2
1 ∂u 1 ∂p η 2 1 ∂p
y:0=− − + ∇ vy = −g −
ρ ∂y ρ ∂y ρ |{z} ρ ∂y
=0
1 ∂u 1 ∂p η 2 1 ∂p
z:0=− − + ∇ vz = − .
ρ ∂z ρ ∂z ρ |{z} ρ ∂z
=0
110
A função que tem segunda derivada nula é
vx = Ay + B,
111
10.5.3 Lei de Poiseuille
O último exemplo diz respeito ao escoamento por um tubo cilíndrico de raio R,
de comprimento ∆l e sujeito a uma variação de pressão ∆p, como ilustrado na
gura em baixo.
Part IV
Elasticidade
É habitual estudar-se em Mecânica a dinâmica do corpo rígido : sistema de
partículas com distâncias xas entre si, sucientemente próximas para poderem
ser tratadas como um contínuo de massa, sujeitas a forças externas. Ou seja,
o corpo rígido é aproximado por um contínuo de massa indeformável. Neste
último capítulo vamos relaxar esta condição.
112
11.1 Lei de Hooke
Consideremos o sólido em forma de paralelepípedo retangular representado na
gura em baixo, ao qual se aplica uma força F~ que origina uma deformação do
sólido.
Depois de se atingir o novo equilíbrio, com o sólido já deformado sob ação das
forças externas, deve cumprir-se a condição de equilíbrio estático, isto é, a soma
das forças externas tem de ser zero. Se aplicámos na face direita uma força F~ ,
como indicado na gura, então também aplicamos na face esquerda uma força
−F~ , cumprindo-se a condição. Se estas forças dão origem a um aumento de
comprimento do sólido,
l → l + ∆l,
são designadas forças de tração (ou trativas), por oposição a forças de compressão
(ou compressoras).
Verica-se experimentalmente que a variação de comprimento ∆l é proporcional
à força. Ou seja, se duplicarmos a força, duplicamos a variação de comprimento
∆l. A lei empírica
F ∝ ∆l
é conhecida por lei de Hooke. Queremos substituir a proporcionalidade (símbolo
∝) por uma igualdade introduzindo uma constante de proporcionalidade. Porém,
essa constante deve ser uma característica do material que compõe o sólido, não
devendo por isso depender das dimensões do paralelepípedo.
1. Vamos usar dois sólidos idênticos ao da gura acima. Depois de os colar
topo com topo, como representado no esquema em baixo, aplicamos a
mesma força de tração F . Cada metade do sistema aumenta de tamanho
∆l, pois como anteriormente cada metade está sujeita à mesma força de
tração F . Porém, o sistema como um todo aumentou de tamanho 2∆l. Ou
seja, sob a mesma força de tração, o sólido de comprimento 2l aumentou
2∆l.
113
Concluímos que
∆l
F ∝ ,
l
pois desta forma ou duplicarmos l e ∆l a razão mantém-se, pelo que a
força F pode se a mesma.
2. Usemos os mesmos dois sólidos, mas agora colados por uma das faces
laterais, como ilustrado no esquema em baixo. Mantemos as forças de
tração F , como indicado, sendo o comprimento dos sólidos l + ∆l quer
antes de colar quer depois. Porém, o sistema visto como um todo está
sujeito à força de tração 2F , apesar da variação de comprimento continuar
a ser ∆l. O que se alterou foi a área de secção onde é aplicada a força.
A força F atua na área A, enquanto a força 2F atua na área 2A. Ou
seja, duplicando a área e a força, obtém-se a mesma variação relativa de
comprimento ∆l/l.
Concluímos que
∆l
F ∝A ,
l
pois desta forma, ao duplicar a área, temos de duplicar a força para manter
∆l/l.
Finalmente, podemos escrever
∆l
F =YA , Y ≡ módulo de Young,
l
ou, na forma mais usual,
F ∆l
=Y .
A l
114
O lado esquerda da equação acima é uma força por unidade de área e, no
contexto da elasticidade, é designada por tensão ('stress' na literatura em língua
Inglesa). O lado direito envolve a variação relativa do comprimento, ∆l/l, que
é designada por deformação ('strain' na literatura em língua Inglesa). O que a
equação diz é que a tensão é proporcional à deformação, sendo a constante de
proporcionalidade uma constante elástica característica do material o módulo
de Young.
Representado na gura com que abrimos esta secção, podemos também
encontrar o efeito da força de tração F nas dimensões transversais à da aplicação
da força:
w → w + ∆w e h → h + ∆h.
Empiricamente verica-se que
∆l ∆l
∆w ∝ w e ∆h ∝ h .
l l
Verica-se ainda que uma deformação positiva (∆l/l > 0), resultado da força
de tração F , dá origem a uma contração lateral com ∆w, ∆h < 0. Introduzindo
a constante de proporcionalidade σ , podemos escrever
∆w ∆h ∆l
= = −σ , σ ≡ coeciente de Poisson,
w h l
ou 'Poisson ratio' na literatura Inglesa.
Em meio homogéneos e isotrópicos, estas duas constantes elásticas módulo
de Young e coeciente de Poisson determinam completamente as propriedades
elásticas do meio. Poderá ser vantajoso introduzir outras constantes elásticas
nalgumas situações especícas de deformação, como faremos nas secções seguintes.
Mas todas elas admitem ser escritas à custa destas duas constantes.
115
Queremos determinar as deformações ∆l/l, ∆w/w e ∆h/h. Comecemos por
determinar a deformação ∆l/l na direção 1.
Se apenas estivesse presente a força F1 , diríamos imediatamente que
F1 ∆l1
= −Y ,
A1 l
onde o sinal negativo garante que a força de compressão F1 positiva resulta
numa deformação negativa, com ∆l1 < 0. Porém, estão também presentes F2 e
F3 .
Se apenas estivesse presente F2 , viria para a direção 2
F2 ∆h2 ∆l2 ∆h2 σ F2
= −Y , e na direção 1 transfersa = −σ = .
A2 h l h Y A2
Por outro lado, se apenas estivesse presente F3 , viria para a direção 3
F3 ∆w3 ∆l3 ∆w3 σ F3
= −Y , e na direção 1 transfersa = −σ = .
A3 w l w Y A3
A situação que queremos descrever pode ser P interpretada como sendo a
sobreposição do efeito de cada força isolada, ∆l = 3i=1 ∆li . Obtém-se então
∆l X ∆li 1 F1 σ F2 F3
= =− + + , (67)
l i
l Y A 1 Y A2 A3
ou, levando em conta que a pressão é a mesma em todas as faces, ou seja, que
a tensão é uniforme, Fi /Ai = p, obtém-se nalmente
∆l p
= − (1 − 2σ).
l Y
Poderíamos de forma totalmente análoga determinar as deformações totais nas
outras direções. O resultado é idêntico,
∆h ∆w p
= = − (1 − 2σ),
h w Y
pois a tensão é a mesma nas três direções.
116
A variação de volume ∆V /V como efeito da pressão hidrostática também
tem interesse. Para pequenas deformações, podemos aproximar27
∆V ∆l ∆w ∆h
≈ + + .
V l w h
Somando as três contribuições idênticas, vem
∆V p ∆V
= −3 (1 − 2σ) ⇒ p = −K ,
V Y V
com
Y
K= , K ≡ módulo de compressibilidade.
3(1 − 2σ)
O parâmetro elástico K é designado por módulo de elasticidade volumétrico
(bulk modulus na literatura em língua inglesa). O seu inverso é conhecido por
módulo de compressibilidade, 1/K . Note-se que, como K > 0 para qualquer
pressão p, então deverá cumprir-se σ < 1/2.
Fim da 21ª aula.
117
forças seja nula, na base oposta do sólido está a ser exercida uma força −G. A
aplicação destas forças dá origem a uma deformação que pode ser parametrizada
pelo ângulo θ. O objetivo é relacionar g com θ.
Consideremos um cubo com faces de área A. Para garantir que, para além
da força resultante ser nula, também o torque total é zero, aplicamos dois pares
de tensões de corte em quatro das seis faces, como representado na gura em
baixo à esquerda.
118
Se sujeitarmos o paralelepípedo a forças de tração FA e de compressão FB em
direções ortogonais, como indicado na gura, surgem no cubo exatamente as
mesmas tensões que identicámos anteriormente. Ou seja, a deformação do
cubo coincide com a deformação que surge devido às tensões de corte. Porém,
agora, é relativamente simples obter as deformações à custa das constantes
elásticas já conhecidas (módulo de Young e coeciente de Poisson).
A variação do comprimento da diagonal D não é mais do que a variação
do comprimento D do paralelepípedo na direção da força de tração FA , como
representado na gura em cima à direita. A deformação ∆D/D tem duas
contribuições: uma devido diretamente à força de tração FA ,
FA ∆D1
=Y ,
AREA D
e outra devido à força de compressão FB ,
∆D2 ∆w σ FB
= −σ =− .
D w Y AREA
√ √ √
Notando que a área é AREA = 2A, que FA = 2G e que FB = − 2G,
obtém-se
∆D ∆D1 ∆D2 1G σG 1+σ G
= + = + = . (68)
D D D Y A Y A A
Y |{z}
g
119
Com base na análise do gura em cima, o ângulo θ está relacionado com a
altura l do cubo e com o desvio δ por
δ
= tan θ ≈ θ,
l
onde usámos o facto das deformações serem pequenas e por isso θ 1. O
parâmetro δ está relacionado com a deformação ∆D: o pequeno triângulo
retângulo com hipotenusa δ , representado na gura acima, é isósceles com
catetos de comprimento ∆D. Logo,
∆D √
δ= = 2∆D.
cos(π/2)
120
11.2.3 Barra encastrada
Como último exemplo de deformações uniformes, vamos considerar o caso da
barra impedida de se deformar lateralmente por se encontrar encastrada. Se
aplicar uma força de tração Fx segundo a direção x da barra, como representado
na gura em baixo, deverão aparecer forças transversais Fy e Fz que impeçam a
barra de contrair nas direções y e z . O encastre é responsável por essas forças.
Ou seja,
Fx (1 − σ) ∆lx
=Y .
Ax (1 + σ)(1 − 2σ) lx
| {z }
>1
121
Comparando com o caso não encastrado, onde
Fx ∆lx
=Y ,
Ax lx
percebemos que que para aplicar à barra encastrada a mesma deformação temos
de aplicar maior tensão.
11.3 Torção
Este é o primeiro de dois exemplos onde iremos considerar deformações não
uniformes. Neste primeiro exemplo iremos analisar o pêndulo de torção apresentado
na gura em baixo. A vareta de suporte é cilíndrica, com comprimento L
e raio a. Supõe-se que o extremo superior da vareta está xo, enquanto o
extremo inferior está ligado a um disco. Para rodarmos o disco de um ângulo φ
relativamente à posição de equilíbrio, é necessário aplicar um torque proporcional
ao ângulo,
τz = K̃φ.
Esta relação pode ser obtida aplicando a teoria da elasticidade, permitindo
estabelecer a dependência da constante K̃ nas características geométricas da
vareta e constantes elásticas.
122
Para facilitar a análise, vamos decompor a vareta em coroas cilíndricas
de raio r e espessura ∆r, como representado no painel (b) da gura acima.
A deformação será parametrizada pelo ângulo θ na gura, ângulo esse que
^depende de r (quanto menor r menor θ); para cada coroa cilíndrica o raio
está xo e portanto a deformação é uniforme.
O elemento de volume sombreado na secção ∆z da coroa translada e deforma
sob ação da força tangencial ∆F representada na gura. Para a análise elástica
importa apenas a deformação. No painel (c) da gura acima está ilustrada
a deformação do elemento de volume: tensões de corte g dão origem a uma
deformação parametrizada pelo ângulo θ, em total analogia com a análise da
Sec. 11.2.2. A tensão de corte é dada por
∆F
g= ,
∆A
onde ∆A = ∆r∆l é a área da face do elemento de volume onde ocorre a força
∆F . Iremos aplicar a relação que encontramos entre g e θ, Eq. (69).
Designando por ∆S o comprimento de arco rφ assinalado no painel (b) da
gura acima,
∆S = rφ,
podemos escrever
∆S rφ
θ ' tan θ = ⇒θ' .
L L
Aplicando a Eq. (69),
∆F rφ µφ
g = µθ ⇔ =µ ⇒ ∆F = r∆r∆l.
∆r∆l L L
A força ∆F dá origem a um torque elementar
µφ 2
∆τ = ∆F r = r ∆r∆l.
L
Somando sobre todos os torques elementares na coroa,
X µφ 2 X µφ
∆τ = r ∆r ∆l = 2π r3 ∆r.
L | {z } L
2πr
123
obtém-se
πa4
τz = µ φ,
2L
ou seja,
πa4
K̃ = µ
2L
Fim da 22ª aula.
124
Com base no pequeno triângulo ilustrado na gura, podemos também escrever,
∆l
tan θ ' θ ' .
2y
125
A quantidade A y 2 dA tem dimensões de momento de inércia e é designada por
R
126
Vamos usar o seguinte resultado matemático para o raio de curvatura,
1 d2 z/dx2
= .
R [1 + (dz/dx)2 ]3/2
A solução é
Lx2 x3
W
z(x) = − ,
YI 2 6
sendo a deeção máxima dada por
W L3
z(L) = .
YI 3
Fim da 23ª aula.
127
Apêndice
A Coordenadas normais e o método matricial
O método matricial permite uma abordagem sistemática à determinação dos
modos normais de oscilação do sistema bem como das suas coordenadas normais.
Vamos usar como exemplo um sistema de dois osciladores unidimensionais acoplados,
mas o método pode ser usado para qualquer número de osciladores e de qualquer
dimensionalidade.
Para um sistema de dois osciladores acoplados unidimensionais (apenas duas
coordenadas xA e xB ), podemos escrever em geral
m1 ẍ1 = −k1 x1 − k12 x2
m2 ẍ2 = −k2 x2 − k21 x1 ,
onde se admite que as massas dos dois osciladores possam ser diferentes, m1 6=
m2 . O caso m1 = m2 aparecerá como caso particular deste.
As equações de movimento podem ser reescritas da seguinte forma,
ω12 x1 + ω12
2
x2 = −ẍ1 ω12 2
ω12 x1 ẍ1
⇔ 2 =− ,
ω22 x2 + ω21
2
x1 = −ẍ2 ω21 ω22 x2 ẍ2
128
As coordenadas normais podem agora ser facilmente identicadas,
q− x1
=U , (72)
q+ x2
descreve dois osciladores desacoplados. Note-se que invertendo a Eq. (72), vem
x1 q−
= U −1 ,
x2 q+
que, atendendo à denição de U −1 na Eq. (71), não é mais do que a Eq. (31)
do texto principal. Resta então determinar a matriz U .
Se a matriz M for simétrica, então U −1 = U T , obtendo-se
0
T C− C−
U = U −1 = 0 .
C+ C+
Nos casos mais simples M é simétrica, mas nem sempre tal acontece. Por
exemplo, M nunca é simétrica no caso em que m1 6= m2 . Neste caso temos
−1
de usar U = U −1 que, pela inversa de uma matriz, é
−1 1
U = U −1 = AdjU −1 =
det U −1
0
1 C+ −C+
= 0 0 0 .
C− C+ − C+ C− −C− C−
Como uma coordenada normal multiplicada por uma constante continua a ser
uma coordenada normal, podemos escolher
0
q− = C+ x1 − C+ x2 e q+ = −C−
0
x1 + C− x2 ,
ou, equivalentemente,
0
C+ C0
q− = x1 − x2 e q+ = − x1 − x2 ,
C+ C−
129
B Pressão como função de ponto
Consideremos um volume elementar, delimitado por uma superfície cilíndrica
alinhada com o eixo dos zz , e duas superfícies que contêm os pontos P e P 0 ,
como representado na gura em baixo.
A superfície que contém o ponto P tem área dS e normal −n̂, com n̂ = k̂. A
superfície que contém o ponto P 0 tem área dS 0 e normal n̂0 , com orientação tal
que n̂0 · n̂ = n̂0 · k̂ = cos θ.
Se o volume elementar se encontrar em equilíbrio, a soma das forças que
atuam em todas as superfícies é zero,
X
dF~ = 0.
130