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Universidade de Aveiro

Departamento de Fı́sica

Sistemas de comunicação óptica


por solitões: análise com base na teoria
de perturbações

Margarida Facão

Março de 1999
Conteúdo

1 Solitões 6
1.1 Resenha histórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.2 Solitões em fibras ópticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

2 Propagação não linear de impulsos em fibras ópticas 11


2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2.2 Propagação dispersiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.3 Propagação dispersiva e não linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.4 Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

3 Atenuação e amplificação de solitões em fibras ópticas 24


3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
3.2 Amplificação localizada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
3.2.1 Solitão de centro guiado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3.3 Amplificação distribuı́da . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3.4 Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

4 Técnicas de controlo da propagação de solitões 33


4.1 Efeito de Gordon-Haus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
4.2 Amplificação com filtragem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
4.2.1 Filtros de frequência deslizante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
4.3 Amplificação com ganho não linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
4.4 Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

5 Interacção entre solitões 51


5.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
5.2 Interacção entre dois solitões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
5.3 Técnicas de supressão da interacção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
5.3.1 Amplificação e filtragem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
5.3.2 Propagação perto do zero de dispersão . . . . . . . . . . . . . . . 59
5.3.3 Amplificação não linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
5.4 Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

1
6 Solitões ultracurtos 65
6.1 Dispersão Raman intrapulso - auto desvio da frequência . . . . . . . . . 65
6.2 Difusão temporal na chegada de solitões ultracurtos . . . . . . . . . . . 66
6.3 Técnicas de controlo da propagação de solitões ultracurtos . . . . . . . . 68
6.3.1 Amplificação com largura limitada da curva de ganho . . . . . . 68
6.3.2 Amplificação não linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
6.4 Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

7 Conclusões 74

Apêndice 77

A Método de Dispersão Inverso e Teoria das Perturbações 77


A.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
A.2 Método de dispersão inverso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
A.3 Teoria das perturbações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87

Bibliografia 91

2
Lista de Acrónimos

ADFS Auto-Desvio da Frequência do Solitão


AFDE Amplificadores de Fibra Dopada com Érbio
AFDED AFDE-Distribuı́dos
AFDEL AFDE-Localizados
DRI Dispersão Raman Intrapulso
ECGL Equação Complexa de Ginzburg-Landau
ENLS Equação Não Linear de Schrödinger
ENLSP Equação Não Linear de Schrödinger Perturbada

3
Lista de Sı́mbolos

Sı́mbolo Designação do Sı́mbolo Pág.

A amplitude média de dois solitões vizinhos 53


Aef área efectiva do núcleo da fibra 20
α coeficiente de absorção 16
α0 velocidade de deslizamento da frequência do filtro 38
B densidade de fluxo magnético 16
B frequência média de dois solitões vizinhos 53
β constante de propagação do modo 19
βj parâmetro de dispersão de ordem j 20
c velocidade da luz no vazio 16
cn coeficientes da curva de ganho de Raman 65
χ(j) tensor susceptibilidade de ordem j 16
E campo eléctrico 16
ε constante dieléctrica 18
ε0 permitividade eléctrica do vazio 16
D densidade de fluxo eléctrico 16
D constante de dispersão 35
d parâmetro de alteração da frequência 43
∆A diferença de amplitudes entre solitões vizinhos 53
∆B diferença de frequências entre solitões vizinhos 53
∆T separação entre solitões vizinhos 53
∆φ diferença de fase entre solitões vizinhos 53
G ganho normalizado do amplificador 26
g ganho do amplificador 26
Γ pârametro de absorção normalizado 21
γ parâmetro da não linearidade da fibra 20
H campo magnético 16
η amplitude do solitão 23
Jl densidade de corrente livre 16
k número de onda do campo óptico 12
κ velocidade e frequência do solitão 23
l distância de transmissão 34
λ comprimento de onda do campo óptico 35
λD comprimento de onda do zero de dispersão 14
M polarização magnética 16
µ0 permeabilidade magnética do vazio 16
µj coeficientes de ganho não linear 41

4
N0 número de fotões por unidade de energia 33
n ı́ndice de refracção linear 18
n2 ı́ndice de refracção não linear 18
ν centro guiado da envolvente do campo elétrico 27
P polarização eléctrica 16
q envolvente do campo eléctrico normalizada 21
R taxa de transmissão digital 28
r0 constante de acoplamento de Raman 29
ρ0 parâmetro normalizado do excesso de ganho linear 35
ρ1 parâmetro normalizado de não ressonância entre
as frequências centrais do solitão e do filtro 69
ρ2 parâmetro normalizado da filtragem 36
ρ3 parâmetro normalizado da dispersão de terceira ordem 60
ρl densidade de carga livre 16
σ parâmetro normalizado de terceira ordem da filtragem 39
ς0 , ϕ0 fase inicial do solitão 23
T0 posição inicial do solitão 23
TR parâmetro normalizado da dispersão de Raman 66
τ0 largura inicial do impulso 21
τB duração do bit 28
τs largura a meia altura do impulso 34
ω frequência do campo óptico 12
ω0 frequência central do campo óptico 17
ωf frequência central do filtro 38
Za distância normalizada entre amplificadores 26
Zc distância de colisão normalizada 53
z0 comprimento de dispersão 21
za distância entre amplificadores ou estações de bombeamento 26

5
Capı́tulo 1

Solitões

1.1 Resenha histórica


A palavra solitão foi usada pela primeira vez por Zabusky e Kruskal em 1964 [1] quando
discutiam o comportamento de soluções numéricas da equação de Korteweg de Vries
(KdV). Embora o interesse por fenómenos idênticos já tivesse cerca de 130 anos, e
apesar do solitão estar ligado à investigação de muitas outras equações de onda não
lineares e sistemas fı́sicos por estas modelados, a equação de Korteweg de Vries conserva
o protagonismo sempre que se quer falar ou escrever sobre solitões.
A primeira referência ao fenómeno solitão é de Agosto de 1834 feita pelo engenheiro
escocês John Scott Russel. Russel trabalhava no Departamento de Filosofia Natural
em Edinburgh quando foi convidado para investigar a possibilidade de navegação a
vapor no Union Canal. Foi nessa altura que ele viu o que depois denominou de onda
solitária de translacção. À semelhança de muitos outros textos sobre solitões, parece
interessante incluir um extracto do relatório de Russel, que constitui o primeiro registo
de uma observação deste fenómeno:

I was observing the motion of a boat which was rapidly drawn along a
narrow channel by a pair of horses when the boat suddenly stopped - not so
the mass of water in the channel which it had put in motion: it accumulated
round the prow of the vessel in a state of violent agitation, then suddenly
leaving it behind, rolled forward with great velocity, assuming the form of a
large solitary elevation, a rounded smooth and well defined heap of water,
which continued its course along the channel apparently without change of
form or diminuation of speed. I followed it on horseback, and overtook it
still rolling on at a rate of some eight or nine miles an hour, preserving
its original figure some thirty feet long and a foot to a foot and a half in
height. Its height gradually diminushed and after a chase of one or two miles
I lost it in the windings of the channel. Such, in the month of August 1834,
was my first chance interview with the singular and beautiful phenomenon
which I have called the Wave of Translation, ... John Scott Russel, Report
on Waves (1844)

6
O interesse despertado em Russel por esta onda de translacção continuou e estimu-
lou novas experimentações:

To study minutely this phenomenon with a view to determining accu-


ratly its nature and laws, I have adopted other more convenient modes of
producing it than that which I just described, and have employed various
methods of observation. A description of these will probably assist me in
conveying just conception of the nature of this wave. John Scott Russel,
Report on Waves (1844)

As experimentações de Russel foram no sentido de catalogar os diversos tipos de movi-


mentos ondulatórios em fluidos, entre os quais estava a sua onda solitária de translacção,
que caracterizou mesmo em termos quantitativos. A expressão onda solitária evidencia
o carácter isolado e não oscilatório deste fenómeno ondulatório. É ainda interessante
reportar o que Russell escreveu no seu livro The Modern System of Naval Arquitecture
de 1865, que revela o seu fascı́nio por este fenómeno:

This is the most beautiful and extraordinary phenomenon: the first day
I saw it was the happiest day of my life. Nobody had ever had the good
fortune to see it before or, at all events, to know what it meant. It is
now known as the solitary wave of translation. No one before had fancied
a solitary wave as a possible thing. When I described this to Sir John
Herschel, he said ’It is merely half of a common wave that has been cut off’.
But it is not so, because the common waves go partly above and partly
below the surface level; and not only that but its shape is different. Instead
of being half a wave it is clearly a whole wave, with this difference, that
the whole wave is not above and below the surface alternately but always
above it. So much for what a heap of water does: it will not stay where it
is but travels to a distance.

Na altura da sua publicação, as observações de Russell aparentemente contradiziam


a teoria ondulatória não linear de Airy para águas superficiais [2]. Esta teoria não previa
a propagação sem alteração de forma de uma onda com elevação de amplitude finita,
mas sim a sua transformação numa onda escarpada com eventual separação em duas
novas ondas. Por outro lado, Stokes [3] mostrou que ondas de amplitude finita e forma
permanente são possı́veis em águas profundas mas quando são periódicas. No entanto,
a contradição aparente entre as observações de Russell e a teoria de Airy devia-se à
ausência do efeito de dispersão na sua teoria ondulatória não linear. Joseph Boussinesq
[4] e, de forma independente, Lord Rayleigh [5] contribuı́ram para o entendimento
das ondas solitárias. Estes mostraram que, se ignorarmos processos de dissipação, o
aumento na velocidade da onda associado a uma amplitude finita é balançado por
uma diminuição associada à dispersão, permitindo a existência de uma onda de forma
permanente. Ambos verificaram, também, que a onda solitária tinha a forma de sech.
Em 1895 Korteweg e de Vries derivaram a equação depois baptizada com os seus
próprios nomes. Esta equação modelava a propagação unidireccional de ondas longas

7
em águas de pequena profundidade. Korteweg e de Vries mostraram que poderiam
encontrar-se, de forma fechada, soluções periódicas, a que chamaram ondas cnoidais.
Além disso, encontraram uma solução localizada que representava uma elevação positiva
singular e que pode ser entendida como uma onda cnoidal no limite de comprimentos de
onda infinitos. Esta solução corresponde à onda solitária descoberta experimentalmente
por Russel.
A história remota dos solitões ficou por aqui. Existe hoje a opinião de que a de-
scrição de Russel da onda solitária, já nessa altura compreendia os fundamentos essen-
ciais nos quais a teoria actual dos solitões se baseia [6].
A segunda época da investigação em solitões começou em 1955 com o trabalho
de E. Fermi, J. Pasta e S. Ulam [7] no estudo da transferência de calor num sólido
modelado por uma rede unidimensional. Fermi, Pasta e Ulam pretendiam verificar,
através de simulações computacionais, a hipótese de que as interacções não lineares
entre os átomos pudessem explicar a equipartição de energia, isto é, a partilha da
energia inicial por todos os graus de liberdade da rede. No entanto não confirmaram a
hipótese e verificaram que a energia retomava periodicamente aos modos inicialmente
excitados e alguns outros modos vizinhos.
Estes resultados inesperados motivaram N. Zabusky e M. Kruskal [1] a reinvesti-
gar o problema. A descrição da rede unidimensional discreta através de um modelo
contı́nuo levou-os no sentido da equação de KdV. Através de simulações numéricas, eles
descobriram que, num sistema modelado por aquela equação, podiam propagar-se on-
das tipo impulso. A caracterı́stica mais extraordinária destas ondas estava no facto de
poderem passar umas pelas outras preservando a sua forma. Foi esta caracterı́stica que
lhes valeu o nome de solitão, o qual evidencia a semelhança deste comportamento com
o comportamento das partı́culas. O nome solitão descreve então um impulso coerente
de grande amplitude ou uma onda solitária muito estável, que preserva a sua forma e
a sua velocidade após a colisão com outras ondas do mesmo tipo. À partida seria de
prever que uma forte não linearidade durante a colisão pudesse quebrar os impulsos.
Esta independência entre soluções elementares é um efeito conhecido em processos gov-
ernados por equações diferenciais parciais lineares, onde o princı́pio de sobreposição é
aplicável. Contudo, ela era de alguma forma inesperada em processos governados por
equações diferenciais parciais não lineares, como é o caso da equação de KdV [8]. No
entanto, pode verificar-se que, na região da colisão, a amplitude máxima é menor que
a amplitude da maior onda, facto que, desde logo, aponta para uma sobreposição de
carácter não linear [9].
Em 1967 Gardner, Greene, Kruskal e Miura (GGKM) [10] iniciaram um novo marco
na história dos solitões ao descobriram um método analı́tico para resolver a equação
KdV denominado método de dispersão inverso. Se a forma inicial da onda for suficiente-
mente localizada, a onda evoluirá em tempos suficientemente longos para um conjunto
de solitões e um resto na forma de onda dispersiva de pequena amplitude. O número
total de solitões depende da amplitude e forma inicial da onda. Com o desenvolvimento
deste método foi dada consistência matemática à onda solitária de Russell e ao solitão
numérico de Zabusky e Kruskal.
O método de dispersão inverso foi um grande avanço da fı́sica matemática, pela

8
sua ligação a uma grande variedade de equações, que sendo agora integráveis, alargam
bastante o conjunto de equações, em fı́sica, com solução analı́tica. Estas, embora
abrangendo muitas áreas da fı́sica, têm em comum o facto de modelarem fenómenos
ondulatórios não lineares. A Equação Não Linear de Schrödinger (ENLS), descoberta
por vários autores e em vários contextos nos finais dos anos cinquenta e princı́pios
dos anos sessenta, descreve a evolução temporal e espacial da envolvente de uma onda
quase monocromática num sistema fracamente não linear e fortemente dispersivo. A
sua aplicação está, por exemplo, na modulação de sinais electromagnéticos de grande
intensidade em meios onde o ı́ndice de refração é dependente da amplitude ou no
desdobramento de envolventes de ondas gravı́ticas em águas profundas. Era neste
último contexto que Zakharov e Shabat trabalhavam quando, em 1972, publicaram um
artigo, onde mostraram que a ENLS pode ser integrada pelo método de dipersão inverso
[11]. Nesta altura, estes autores usaram ideias, entretanto formuladas por Lax [12], que
generalizavam os principais resultados de GGKM numa notação de operadores. Eles
mostraram que as soluções eram solitões e que um trem de ondas inicial evoluia para
formar um número de solitões envolventes e um resto na forma de onda dispersiva que
decai. Estas soluções foram demonstradas experimentalmente por Yuen e Lake em 1975
[13].
Uma vez demonstrado por Zakharov e Shabat que o método de GGKM poderia
funcionar em equações que não a equação de Korteweg-deVries, outras equações foram
reinvestigadas e resolvidas com sucesso. Wadati [14] resolveu a equação de Korteweg-de
Vries modificada, e Ablowitz, Kaup, Newell e Segur [15, 16, 17], Lamb [18] e um pouco
mais tarde Faddeev e Takhtajan [19] resolveram a equação de sine-Gordon. São estas
três equações (equações de Korteweg-de Vries, equação não linear de Schrödinger e a
equação de sine-Gordon) que fazem a história do método de dispersão inverso e dos
solitões. As equações atrás referidas apresentam, além do termo não linear, um termo
dispersivo ou um termo dissipativo. O solitão é o resultado do balanço entre efeitos
não lineares, por um lado, e efeitos dispersivos ou dissipativos, por outro. Quando esse
balaço acontece, os efeitos isolados de ambos os fenómenos, muitas vezes desvantajosos
em termos de propagação de energia localizada, não se verificam.

1.2 Solitões em fibras ópticas


Em 1973, Hasegawa e Tapert [20] mostraram teoricamente que um impulso óptico numa
fibra dieléctrica não linear pode resultar num solitão, uma vez que a propagação deste
impulso satisfaz a equação não linear de Schrödinger. Apenas 7 anos mais tarde, em
1980, Mollenauer et al. [21] demonstraram experimentalmente a propagação de solitões
em fibras (usando um laser de centro colorido).
Em 1984, Hasegawa sugere a utilização de solitões para comunicações transoceânicas
sem repetidores. Usualmente, as comunicações por fibra óptica usam repetidores para
reconstruir, periodicamente, a informação digital. O repetidor detecta o sinal, regenera-
o electronicamente e reconverte-o em sinal óptico, o qual é transmitido no ramo seguinte
da fibra. Hasegawa sugeriu o desenvolvimento de um sistema de comunicação por fibra

9
óptica que, aproveitando a indeformabilidade dos solitões, prescindisse dos repetidores
e apenas necessitasse de um método de amplificação para compensar as perdas da fibra.
Na altura, o método de amplificação sugerido aproveitava o próprio ganho Raman da
fibra.
Gordon e Haus analisaram o efeito do ruı́do criado pela amplificação e descobriram
um novo efeito não linear, hoje conhecido por efeito de Gordon-Haus [22]. Este efeito
consiste na alteração aleatória da frequência do solitão em resultado da sua interacção
com o ruı́do. Como consequência verifica-se a aleatoriedade no tempo de chegada
de cada impulso, que impõe limites à distância máxima de propagação e à taxa de
transmissão.
Entretanto, em 1987, foram descobertos os Amplificadores de Fibra Dopada com
Érbio (AFDE), bombeados por dı́odos laser, tendo Nakazava demonstrado o seu uso
na transmissão de solitões [23, 24]. Mollenauer e o seu grupo, utilizando igualmente
amplificadores de fibra dopada com érbio, demonstraram experimentalmente o efeito
de Gordon-Haus [25, 26, 27].
Nakazawa e o seu grupo adoptaram moduladores de amplitude para evitar a aleato-
riedade no tempo de chegada provocada pelo efeito de Gordon-Haus. Mas a dificuldade
de implementar tais sistemas fez surgir uma outra técnica. Esta foi sugerida de forma
independente por dois grupos (Mecozzi et al. [28] e Kodama e Hasegawa [29]) e con-
siste na inserção de um filtro junto de cada amplificador. Os filtros usados tinham uma
largura cerca de 10x a largura do impulso e eram do tipo Fabry-Perot. Mesmo assim, a
distância máxima de transmissão estava limitada pelo crescimento do ruı́do constituı́do
por ondas dispersivas, que neste caso é mais acentuado uma vez que é necessário pro-
porcionar um ganho adicional para compensar as perdas que a filtragem provoca nas
bandas laterais do solitão. Para ultrapassar este problema, o grupo de Mollenauer
propôs o uso de filtros de frequência deslizante [30] [31] que apenas são seguidos pelo
solitão e eliminam essas ondas dispersivas.
A informação digital é constituı́da por um trem de 0’s e 1’s que se constrói à custa
de ausência ou presença de solitões. Assim, a interação entre solitões vizinhos constitui
um outro problema que impõe limites à taxa de transmissão, pelo que tem sido alvo de
intensa investigação. Para aumentar a taxa de transmissão pode diminuir-se a largura
temporal do impulso, processo que, no entanto, põe em evidência efeitos de ordem
superior, que devem ser devidamente controlados.
É devido à potencial aplicação dos solitões em comunicações ópticas de grande
distância, que continuam os trabalhos de investigação em vários pontos do mundo.
Todos estes trabalhos fazem-se no sentido de ultrapassar os diversos problemas que
têm surgido e de melhorar os métodos já propostos, na perspectiva de encontrar um
sistema de comunicação solitónico capaz de competir comercialmente com os sistemas
actuais de comunicação linear.

10
Capı́tulo 2

Propagação não linear de


impulsos em fibras ópticas

2.1 Introdução
Uma fibra óptica permite guiar um raio luminoso através do fenómeno de reflexão
interna total. Este fenómeno é conhecido desde o século XIX, e se já por volta de
1920 se fabricavam fibras de vidro simples, só nos anos 50 surgem as fibras revestidas
com grande melhoramento das suas caracterı́sticas [32]. Na sua forma mais simples,
uma fibra óptica consiste num núcleo central revestido por uma camada em material
cujo ı́ndice de refracção é ligeiramente inferior ao do núcleo. Inicialmente, as fibras
tinham como propósito principal a transmissão de imagens. Estas primeiras fibras
possibilitavam uma transmissão com perdas elevadas (cerca de 1000 dB/km em fibras
tı́picas). Só em 1970 estas perdas foram reduzidas para cerca de 20 dB/km e, em 1979,
os avanços na tecnologia de fabricação baixaram este valor para 0.2 dB/km. O material
escolhido para estas fibras de baixas perdas é vidro de sı́lica fabricado pela fusão de
moléculas de SiO2 . As perdas numa fibra devem-se à absorção por parte do material
e à dispersão de Rayleigh, e têm valores diferentes para diferentes comprimentos de
onda da luz propagante. Estas fibras de baixas perdas apresentam o seu mı́nimo de 0.2
dB/km perto do comprimento de onda de 1.55 µm.
A disponibilidade de fibras com tão baixo nı́vel de perdas provocou uma revolução
nos sistemas de comunicação por fibra óptica. Neste tipo de sistemas de comunicação,
a informação é transmitida ao longo de uma fibra usando uma sequência de impulsos
ópticos. A atenuação é o principal efeito fı́sico que limita a comunicação por fibra óptica.
Ela coloca um limite máximo à distância percorrida pela luz, que é definido como a
distância na qual a potência transmitida é reduzida ao valor mı́nimo detectável [33].
Assim, facilmente se percebe como a diminuição do valor das perdas pode influenciar
tanto a eficiência de um sistema de comunicação por fibra óptica.
Outra grande consequência deste avanço foi a valorização de pequenos efeitos tais
como a não-linearidade apresentada pelo material. Este facto determinou um novo
interesse por comunicações em fibras, uma vez que a não linearidade pode compensar

11
a dispersão, a outra grande limitação posta às comunicações ópticas. A dispersão em
causa é a dispersão de segunda ordem, associada à variação da velocidade de grupo com
o comprimento de onda. Esta provoca o alargamento dos impulsos e eventualmente a
sua sobreposição determinando deste modo a perda da mensagem que é codificada por
uma sequência de impulsos.
O balanço da dispersão pela não-linearidade já tinha sido proposto por Hasegawa e
Tappert em 1973 [20]. Na altura, estes investigadores demonstraram que a onda envol-
vente que se propaga na fibra sem perdas satisfaz a equação não linear de Schrödinger,
tendo, por isso, soluções tipo solitão. Os solitões aparecem como impulsos ideais para
a representação de sinais digitais, uma vez que se propagam sem alteração de forma e,
ainda, apresentam uma grande estabilidade perante pequenas perturbações.

2.2 Propagação dispersiva


No regime linear e na ausência de dispersão qualquer perturbação electromagnética
unidimensional é governada pela seguinte equação de onda [34]

∂2u 1 ∂2u
− =0 (2.1)
∂z 2 v 2 ∂t2
sendo v a velocidade de propagação da onda. Esta equação tem como solução ondas
planas monocromáticas do tipo

uα (z, t) ∼ exp[i(ωα t ± kα z)] (2.2)

sendo ωα a frequência e kα o número de onda . No entanto, não existem na na-


tureza ondas puramente monocromáticas. Os impulsos que são usados para transmitir
informação são ondas quase-monocromáticas que, na aproximação linear, podem ser
representadas como uma sobreposição de ondas planas monocromáticas de frequências
diferentes, mas dentro de um intervalo curto em torno de uma frequência central
X
u(z, t) = uα (z, t) (2.3)
α

Neste regime, todas as componentes harmónicas do impulso satisfazem a mesma relação


de dispersão kα = ωα /c, viajando com a mesma velocidade c. O que significa que, na
ausência de dispersão, o impulso se propaga sem qualquer distorção de forma. No
entanto, na presença de dispersão e de dissipação o número de onda pode apresentar
uma dependência com a frequência mais complicada

k(ω) = kr (ω) + iki (ω) (2.4)

A dispersão da velocidade de fase acontece quando vf = ω/kr (ω) varia com a frequência
e daı́ resulta uma alteração na forma do impulso, uma vez que as diferentes componentes
espectrais viajam a velocidades diferentes. Como as diferenças de fase entre elas variam
no tempo, o resultado da sua interferência varia igualmente. Também o facto de ki ter

12
uma dependência com a frequência provoca uma deterioração do impulso, porque a
taxa de decaimento é diferente para cada componente espectral.
A equação que incorpora a dispersão e a dissipação é
∂2u 1 ∂2u
− + K̂(u) = 0 (2.5)
∂z 2 v 2 ∂t2
sendo K̂ um operador linear. Um impulso à entrada com um espectro de frequências
estreito pode ser representado por

u0 (t) = A0 (t) exp(−iω0 t) (2.6)

onde ω0 é a frequência média e A0 (t) é a amplitude complexa da envolvente que tem


uma variação temporal lenta, ¯ ¯
¯ dA0 ¯
¯ ¯
¯ dt ¯ ¿ ω0 |A0 | (2.7)

Como o espectro é estreito, podemos escrever k(ω) como um desenvolvimento em série


de Taylor em torno de ω0
µ ¶ Ã !
dk 1 d2 k
k(ω) = k0 + (ω − ω0 ) + (ω − ω0 )2 + · · · (2.8)
dω ω0 2 dω 2 ω0

A solução geral de 2.5 é

u(t, z) = A(t, z) exp[−i(ω0 t − k0 z)] (2.9)

onde
Z +∞ Z +∞
1 ©
A(t, z) = A0 (t0 )dt0 exp −[i(t − t0 ) − i(dk/dω)ω0 z](ω − ω0 )
2π −∞ −∞
o
+i/2(d2 k/dω 2 )ω0 z(ω − ω0 )2 + · · · dω (2.10)
Na teoria de dispersão de primeira ordem k(ω) é aproximado na forma
µ ¶
dk
k(ω) = k0 + (ω − ω0 ) (2.11)
dω ω0

e consequentemente a amplitude complexa fica

A(t, z) = A0 (t − (dk/dω)ω0 z) = A0 (t − z/vg ) (2.12)

logo satisfaz a seguinte equação diferencial


∂A 1 ∂A
+ =0 (2.13)
∂z vg ∂t
o que significa que o impulso se propaga sem alteração de forma, com uma velocidade
de grupo
1
vg =
(dk/dω)ω0

13
A energia do impulso, que é proporcional a |A|2 , propaga-se também à velocidade de
grupo.
No entanto, a propagação de um impulso sem deterioramento de forma só acontece
na teoria da dispersão de primeira ordem. O termo de segunda ordem da equação
2.8 é designado por dispersão da velocidade de grupo porque d2 k/dω 2 = d/dω(1/vg ).
Considerando este termo a expressão para a amplitude complexa da envolvente, dada
em 2.10, reduz-se à forma
Z +∞ Ã !
1 0 (τ − τ 0 )2
A(t, z) = √ A0 (τ ) exp −i dτ 0 (2.14)
−2iπzk 00 −∞ 2zk 00

onde τ = t − z/vg e k 00 ≡ (d2 k/dω 2 )ω0 . Pode verificar-se que esta amplitude complexa
satisfaz a seguinte equação diferencial

∂A 1 00 ∂ 2 A
+ ik =0 (2.15)
∂z 2 ∂τ 2
que é uma equação parabólica com um coeficiente de difusão imaginário

D̄ = −ik 00 (2.16)

Pela natureza imaginária deste coeficiente podemos concluir que ocorre, não apenas
uma alteração do perfil da amplitude da envolvente, mas também um processo de
modulação de fase que provoca o alargamento do impulso. Este fenómeno intensifica-se
com a distância. A distância até à qual a distorção do impulso pode ser desprezada
depende da intensidade da dispersão e da duração temporal desse impulso.
O alargamento dos impulsos num regime dispersivo limita muito a taxa de trans-
missão de informação digital. De facto, o alargamento dos impulsos pode ser tal que
a sua sobreposição ocorra ao fim de uma certa distância. Uma alternativa para ultra-
passar esta limitação consiste em fazer a propagação no zero da dispersão de grupo,
λD = 1.3µm para fibras de sı́lica. No entanto, os comprimentos de onda correspon-
dentes ao zero da dispersão e ao mı́nimo das perdas não coincidem.
A dispersão de grupo total nas fibras tem duas parcelas: a dispersão do material e
a dispersão causada pela guiagem de ondas (dispersão do guia de ondas). Assim, pode
fabricar-se fibras com uma geometria e com ı́ndices de refracção tais que o zero da
dispersão e o mı́nimo de perdas coincidam. Estas são as chamadas fibras com desvio da
dispersão. Mesmo assim, verificou-se ser extremamente difı́cil controlar o comprimento
de onda do laser emissor de modo a satisfazer este valor. Além disso, mesmo para este
valor de comprimento de onda, surgem efeitos de dispersão de ordem superior, que se
tornam particularmente relevantes no caso de impulsos ultracurtos.

2.3 Propagação dispersiva e não linear


Com a sugestão de Hasegawa e Tappert [20], surgiu a possibilidade de usar de forma
positiva a não linearidade do material das fibras ópticas, contrabalançando a dispersão

14
e permitindo a propagação de impulsos na forma de solitões. As experiências de Mol-
lenauer et al [21] provaram que a ideia era realizável.
A resposta de qualquer dieléctrico torna-se não linear para campos electromagnéticos
intensos. De uma forma básica, podemos atribuir a resposta não linear ao movimento
anarmónico dos electrões ligados quando sujeitos ao campo eléctrico. Este fenómeno é
modelado pelo dependência não linear da polarização induzida P com o campo elétrico
E.
Existem dois tipos de respostas não lineares [32]: aquelas que conduzem apenas a
alterações temporais e espectrais na onda óptica sem alterar a sua energia, e as que
geram novas ondas ópticas através da transferência de energia com o meio não linear.
Estas últimas são designadas por dispersões inelásticas estimuladas, sendo conhecidos
dois efeitos diferentes pertencentes a este tipo: dispersão de Brillouin estimulada e dis-
persão de Raman estimulada. Em ambos os fenómenos, um fotão de radiação incidente
(geralmente designada por radiação de bombeamento) é aniquilado para criar um outro
fotão com uma frequência inferior (fotão de Stokes), ou com uma frequência superior
(fotão de anti-Stokes), e um fonão com a energia e o momento certos de forma a que se
dê conservação de energia e momento. A diferença entre estes dois fenómenos está no
tipo de fonões que participam no processo; na dispersão de Raman participam fonões
ópticos e na dispersão de Brillouin participam fonões acústicos. As diferentes relações
de dispersão dos fonões ópticos e acústicos conduzem às diferenças entre os dois efeitos.
A dispersão de Brillouin só ocorre em sentido contrário ao da onda incidente, enquanto
que a dispersão de Raman ocorre de forma preferencial no mesmo sentido da onda
incidente.
O fenómeno de refracção não linear, também conhecido por efeito de Kerr, inclui-
se no tipo de fenómenos não lineares em que não se verifica troca de energia com o
meio. Este fenómeno traduz-se no aumento do ı́ndice de refracção proporcionalmente
à intensidade da luz, o que provoca um grande número de efeitos não lineares. Auto-
modulação de fase e modulação cruzada de fase são dois exemplos. A auto modulação de
fase é responsável pelo alargamento espectral dos impulsos ultracurtos e como veremos
a seguir é o efeito não linear aproveitado para a propagação de solitões. A modulação
cruzada de fase consiste na alteração da fase numa onda luminosa induzida por uma
outra onda co-propagante com um comprimento de onda diferente.
De seguida analisaremos a propagação de um impulso numa fibra dieléctrica monomodo
que apresenta dispersão e refracção não linear. Consideraremos os efeitos tridimen-
sional e de guiagem da fibra. O efeito de guiagem da fibra introduz duas importantes
modificações. Uma ocorre no valor do parâmetro de dispersão. De facto, a dispersão
não é apenas determinada pelas caracterı́sticas do material constituinte da fibra, mas
também pela estrutura do modo de luz guiado, sendo este efeito designado por dis-
persão de guiagem. A outra modificação é a redução do coeficiente não linear devido à
variação da intensidade do campo eléctrico na secção da fibra. A propagação do campo
óptico em fibras é governada pelas equações de Maxwell [32]

∂B
∇×E=− (2.17)
∂t

15
∂D
∇ × H = Jl + (2.18)
∂t
∇ · D = ρl (2.19)
∇·B=0 (2.20)
onde E e H são os campos vectoriais eléctrico e magnético e D e B são as correspon-
dentes densidades de fluxo que são o resultado da resposta do meio aos campos E e H
propagantes. D e B podem relacionar-se com E e H, respectivamente, pelas seguintes
relações constitutivas
D = ε0 E + P (2.21)
B = µ0 H + M (2.22)
sendo P e M as polarizações eléctrica e magnética respectivamente. Na equação 2.18
Jl é o vector densidade de corrente livre, na equação 2.19 ρl é a densidade de carga
livre, e nas duas últimas equações ε0 é a permitividade eléctrica do vazio e µ0 é a
permeabilidade magnética do vazio. Uma fibra óptica é um meio não condutor, não
carregado e não magnético, logo Jl = 0, ρl = 0 e M = 0. Toda a informação sobre a
resposta do material da fibra está contida no vector polarização P.
Através das equações de Maxwell podemos obter a equação de onda para o campo
eléctrico que descreve a propagação da luz

1 ∂2E ∂2P
∇×∇×E=− − µ0 (2.23)
c2 ∂t2 ∂t2
onde c é a velocidade da luz no vácuo . Longe das ressonâncias do meio, como é o caso
das fibras ópticas na gama de comprimentos de onda 0.5 a 2 µm, podemos escrever a
relação entre a polarização P e o campo eléctrico E da seguinte forma
h i
P = ε0 χ(1) ∗ E + χ(2) ∗ E.E + χ(3) ∗ E.E.E + · · · (2.24)

em que χ(j) é o tensor susceptibilidade de ordem j . A susceptibilidade linear χ(1)


constitui a contribuição dominante e os seus efeitos são geralmente descritos pelo ı́ndice
de refracção n e pelo coeficiente de atenuação α . A susceptibilidade de ordem 2 é
responsável por efeitos não lineares como geração de segundo harmónico e geração da
frequência soma. Usualmente χ(2) é desprezável numa fibra de sı́lica, uma vez que
a molécula de SiO2 apresenta simetria de inversão. A susceptibilidade de ordem 3,
χ(3) , é responsável pela geração do terceiro harmónico, mistura de quatro ondas e
refracção não linear. No entanto, a não ser que seja realizado algum esforço intencional
para se conseguir acoplamento de fase, os processos que envolvem a geração de novas
frequências não são eficientes em fibras ópticas, e apenas a refracção não linear se torna
importante. As várias parcelas que compõem o segundo membro da equação 2.24 são
integrais de correlação do tipo
Z +∞
χ(1) ∗ E = χ(1) (t − t0 )E(r, t0 )dt0 (2.25)
−∞

16
Z +∞
.
χ(3) ∗ E.E.E = χ(3) (t − t1 , t − t2 , t − t3 )..E(r, t1 )E(r, t2 )E(r, t3 )dt1 dt2 dt3 (2.26)
−∞
O problema da propagação da luz nas fibras ópticas, considerando os efeitos não
lineares de ordem mais baixa, encontra-se formulado nas equações 2.23-2.26. Se es-
crevermos P como a soma de duas parcelas, uma linear e outra não linear

P = PL (r, t) + PN L (r, t) (2.27)

onde
PL (r, t) = ε0 χ(1) ∗ E(r, t) (2.28)
PN L (r, t) = ε0 χ(3) ∗ E.E.E (2.29)
a equação de onda 2.23 pode ser reescrita na forma

1 ∂2E ∂ 2 PL ∂ 2 PN L
∇2 E − 2 2
= µ0 2
+ µ0 (2.30)
c ∂t ∂t ∂t2
Na obtenção da equação acima considerámos ∇ · E = 0, o que não é exactamente
correcto numa fibra já que o ı́ndice de refracção não é homogéneo.
Para resolver a equação necessitamos de fazer algumas aproximações. PN L é tratado
como perturbação a PL e assume-se que a luz mantém a sua polarização ao longo da
fibra (o que valida uma abordagem escalar). Por último, assume-se que o campo é
quase-monocromático, isto é, que o seu espectro, centrado em ω0 , tem uma largura
∆ω tal que ∆ω/ω0 ¿ 1. Assim E(r, t) pode escrever-se como
1 £ ¤
E(r, t) = x̂ Ē(r, t) exp(−iω0 t) + c.c. (2.31)
2
onde Ē(r, t) é uma função de variação lenta com o tempo (relativamente ao perı́odo
óptico) e c.c. designa o complexo conjugado. As componentes PL e PN L podem
expressar-se de maneira semelhante
1 £ ¤
PL (r, t) = x̂ P̄L (r, t) exp(−iω0 t) + c.c. (2.32)
2
1 £ ¤
PN L (r, t) = x̂ P̄N L (r, t) exp(−iω0 t) + c.c. (2.33)
2
Pela definição de PL dada na equação 2.28 temos
Z +∞
P¯L (r, t) = ε0 χ(1) 0 0 0
xx (t − t )Ē(r, t ) exp[iω0 (t − t )]dt
0
−∞
Z +∞
ε0
= χ̃(1)
xx (ω)Ẽ(r, ω − ω0 ) exp[−i(ω − ω0 )t]dω (2.34)
2π −∞

onde Ẽ(r, ω) e χ̃xx (ω) são as transformadas de Fourier de Ē(r, t) e χxx (t), respectiva-
mente.

17
Outra simplificação do problema consiste em considerar que a resposta não linear
é instantânea, o que permite escrever
.
PN L (r, t) = ε0 χ(3) ..E(r, t)E(r, t)E(r, t) (2.35)

Esta simplificação implica o desprezo da dispersão de χ(3) e é justificável para impulsos


com largura superior a 0.1 ps, uma vez que a contribuição electrónica para χ(3) ocorre
em tempos da ordem de 1-10 fs. Quando substituı́mos E(r, t) na expressão 2.35 para
PN L encontramos um termo que oscila em ω0 e outro termo que oscila no terceiro
harmónico 3ω0 , sendo o último termo desprezável em fibras ópticas. Fazendo uso das
últimas considerações, P̄N L na equação 2.33 é dado por

P̄N L (r, t) = ε0 εN L Ē(r, t) (2.36)

onde εN L é a contribuição não linear da constante dieléctrica, que é definida por


3
εN L = χ(3) |Ē(r, t)|2 (2.37)
4 xxxx
Atendendo à aproximação de variação lenta para a envolvente do campo e ao
carácter perturbativo de PN L , o parâmetro εN L pode ser considerado constante na
derivação da equação de propagação para a envolvente Ē(r, t). Com esta aproximação
a equação 2.30 fica linear e pode ser resolvida no domı́nio de Fourier. Assim a trans-
formada de Fourier de Ē(r, t) dada por
Z +∞
Ẽ(r, ω − ω0 ) = Ē(r, t) exp[i(ω − ω0 )t]dt (2.38)
−∞

satisfaz a equação
∇2 Ẽ + ε(ω)k02 Ẽ = 0 (2.39)
(1)
onde k0 = ω0 /c e ε(ω) = 1 + χ̃xx (ω) + εN L . A constante dieléctrica pode ser usada
para definir o ı́ndice de refracção n̄ e o coeficiente de absorção ᾱ

ε(ω) = (n̄(ω) + iᾱ(ω)c/2ω)2 (2.40)

ficando
1 3
n̄(ω) = n(ω) + n2 |Ē|2 = 1 + Re[χ̃(1)
xx (ω)] + Re[χ(3)
xxxx ]|Ē|
2
(2.41)
2 8n(ω)
ω 3ω0
ᾱ(ω) = α(ω) + α2 |Ē|2 = Im[χ̃(1)
xx (ω)] + Im[χ(3)
xxxx ]|Ē|
2
(2.42)
n(ω)c 4n(ω)c
onde n é o ı́ndice de refracção linear e n2 o não linear . Como α2 é relativamente
pequeno para fibras de sı́lica então fica ᾱ ' α.
A equação 2.39 pode ser resolvida usando o método de separação de variáveis. Se
assumirmos uma solução da forma

Ẽ(r, ω − ω0 ) = F (x, y)Ã(z, ω − ω0 ) exp(iβ0 z) (2.43)

18
encontramos as seguintes equações para F (x, y) e Ã(z, ω)

∂2F ∂2F
+ + [ε(ω)k02 − β̄ 2 ]F = 0 (2.44)
∂x2 ∂y 2

∂ Ã
2iβ0 + (β̄ 2 − β02 )Ã = 0 (2.45)
∂z
onde β̄(ω) é a constante de propagação do modo e β0 o seu valor para ω0 . Na obtenção
da última equação desprezámos a segunda derivada ∂ 2 Ã/∂z 2 uma vez que assumimos
que Ã(z, ω) é uma função de variação suave com z. A equação 2.44 é resolvida com
as condições fronteira apropriadas numa fibra. Se escrevermos ε da seguinte forma
aproximada
ε = (n + ∆n)2 ' n2 + 2n∆n (2.46)
onde ∆n é uma pequena perturbação dada por

∆n = n2 |Ē|2 + (2.47)
2k0
a equação 2.44 pode ser resolvida usando a teoria de perturbações de primeira ordem.
Fazendo ∆n = 0, obtemos a distribuição modal F (x, y) e a correspondente constante
de propagação β(ω) . Para uma fibra monomodo, F (x, y) corresponde à distribuição
modal do modo fundamental HE11 , dada por

F (x, y) = J0 [(n2 k02 − β 2 )ρ], ρ ≤ a


q
F (x, y) = (a/ρ)1/2 J0 [(n2 k02 − β 2 )a] exp[− β 2 − n2b k02 (ρ − a)], ρ > a (2.48)

onde J0 é a função de Bessel de ordem zero, ρ = (x2 + y 2 )1/2 é a distância radial,


a é o raio do núcleo e nb o ı́ndice de refracção da bainha da fibra. Uma vez que
esta distribuição modal é de difı́cil tratamento, o modo fundamental é muitas vezes
aproximado por uma gaussiana da forma
" #
x2 + y 2
F (x, y) = exp − (2.49)
w2

onde a largura w é determinada pelo ajuste da distribuição exacta, dada pela equação
2.48, a uma gaussiana. Na teoria de perturbações de primeira ordem, ∆n não afecta
a distribuição modal. No entanto, a constante de propagação β̄ é afectada e fica na
forma
β̄(ω) = β(ω) + ∆β (2.50)
onde R R +∞
k0 2
−∞ ∆n|F (x, y)| dxdy
∆β = R R +∞ (2.51)
−∞ |F (x, y)|2 dxdy

19
Agora podemos resolver a equação 2.45

∂ Ã
= i[β(ω) + ∆β − β0 ]Ã (2.52)
∂z
onde aproximámos β̄ 2 − β02 por 2β0 (β̄ − β0 ). A transformada de Fourier inversa da
equação 2.52 dá a equação de propagação da envolvente do campo eléctrico A(z, t) o
qual será dado por
1
E(r, t) = x̂ {F (x, y)A(z, t) exp[i(β0 z − ω0 t)] + c.c.} (2.53)
2
Para obtermos a equação de propagação para A(z, t) é conveniente expandirmos β(ω)
em desenvolvimento de Taylor em redor da frequência central ω0
µ ¶ Ã ! Ã !
dβ 1 d2 β 1 d3 β
β(ω) = β0 +(ω−ω0 ) + (ω−ω0 )2 + (ω−ω0 )3 +· · · (2.54)
dω ω0 2 dω 2 ω0
6 dω 3 ω0

Se tomarmos apenas os três primeiros termos e substituirmos na equação 2.52, a equação


de propagação de A(z, t) fica

∂A ∂A i ∂2A
= −β1 − β2 2 + i∆βA (2.55)
∂z ∂t 2 ∂t
onde βn = (dn β/dω n )ω=ω0 e ∆β inclui os efeitos de perdas e não linearidade, podendo
então ser escrito como
α
∆β = i + γ|A|2 (2.56)
2
sendo γ = n2 ω0 /cAef com
hR R i2
+∞
−∞ |F (x, y)|2 dxdy
Aef = R R +∞
−∞ |F (x, y)|4 dxdy

Aef é designado por área efectiva do núcleo que, se a distribuição modal for aproximada
por uma gaussiana, pode ser facilmente avaliado, sendo dado por

Aef = πw2 (2.57)

A equação de propagação para A pode ser reescrita na forma

∂A ∂A i ∂2A α
+ β1 + β2 2 + A = iγ|A|2 A (2.58)
∂z ∂t 2 ∂t 2
β1 e β2 traduzem o efeito de dispersão; β1 é o parâmetro de dispersão de primeira
ordem, que é igual ao inverso da velocidade de grupo e β2 é o parâmetro de dispersão
da velocidade de grupo dado por β2 = −1/vg2 (dvg /dω). Os parâmetros α e γ traduzem
os efeitos das perdas e da não-linearidade, respectivamente. O parâmetro de dispersão
da velocidade de grupo pode ser positivo ou negativo, dependendo do comprimento

20
de onda de propagação estar abaixo ou acima do zero de dispersão. Para cada uma
destas regiões fala-se de um regime de dispersão normal e anómalo, respectivamente.
Para λ=1.5µm, que é o comprimento de onda em que se verifica menores perdas, β2 é
negativo.
Convém dizer que esta equação não é apropriada para descrever a propagação de
qualquer impulso numa fibra óptica. Alguns efeitos não lineares, como as dispersões
estimuladas de Raman e Brillouin, não foram contempladas durante a sua derivação.
Esta equação também não descreve adequadamente a propagação de impulsos ultra-
curtos, de largura inferior a 100 fs, para os quais a resposta não linear já não pode ser
considerada instantânea. Este facto produz um efeito conhecido por dispersão Raman
intrapulso o qual provoca o auto-desvio da frequência central do impulso. Poderı́amos
também incluir termos de dispersão de ordem superior. Por exemplo, o termo de dis-
persão de terceira ordem mostra-se bastante importante quando estamos a estudar
a propagação para um comprimento de onda perto do zero de dispersão, que ocorre
tipicamente para λD = 1.3µm em fibras de sı́lica.
A adicionar a estes termos de ordem superior, outros são necessários para que a
equação descreva o efeito de perturbações externas, tais como a existência de ampli-
ficação, filtragem espectral, ganho não linear, etc.
Nos capı́tulos seguintes faremos a apresentação de alguns destes efeitos de ordem
superior e perturbações externas, discutindo-se então os respectivos termos adicionais
que terão que figurar na equação de propagação da envolvente do campo eléctrico.
A equação 2.58 pode ser apresentada numa forma normalizada mais simples. É útil
usar um referencial que se mova com o impulso à velocidade de grupo. Considerando
então a nova variável
τ = t − z/vg = t − β1 z (2.59)
obtemos
∂A i ∂2A α
+ β2 2 + A = iγ|A|2 A (2.60)
∂z 2 ∂τ 2
Fazendo à !1/2
γτ02 z τ
q=A , Z= , T = (2.61)
|β2 | z0 τ0
onde
τ02
z0 = (2.62)
|β2 |
é o chamado comprimento de dispersão e τ0 é a largura do impulso incidente, obtemos
a forma normalizada
∂q sgn(β2 ) ∂ 2 q
i − + |q|2 q = −iΓq (2.63)
∂Z 2 ∂T
onde Γ = ατ02 /2|β2 | é o parâmetro da absorção normalizado. Quando Γ = 0, caso de
uma fibra sem perdas, esta equação fica

∂q sgn(β2 ) ∂ 2 q
i − + |q|2 q = 0 (2.64)
∂Z 2 ∂T 2

21
que é a chamada Equação Não Linear de Schrödinger (ENLS).
Esta equação admite soluções do tipo solitão em qualquer dos regimes de dispersão:
anómalo ou normal. Os solitões no regime anómalo são designados por solitões bril-
hantes e são estes que têm sido mais investigados para efeitos de comunicações ópticas.
As soluções do tipo solitão em regime normal são designadas por solitões escuros. Esta
designação deve-se ao facto destas ondas solitárias corresponderem à ausência de luz
numa onda luminosa contı́nua.
Como se mostra em apêndice, para o caso em que sgn(β2 ) < 0, a ENLS pode
ser resolvida para qualquer impulso inicial q(T, 0) pelo método de dispersão inverso.
A solução geral é composta por solitões e ondas contı́nuas que se extinguem quando
|T | → ∞. Neste capı́tulo chegaremos apenas à solução solitão singular de uma forma
particular [34].
Consideremos o regime de dispersão anómalo. Uma solução do tipo onda propagante
cujas velocidades de fase e da envolvente sejam vf e ve , respectivamente, é dada pela
forma geral

q(T, Z) = ψ(θ) exp[iϕ(ξ)] com θ = T − ve Z, ξ = T − vf Z (2.65)

Substituindo esta solução na equação não linear de Schrödinger 2.64 obtemos o seguinte
sistema de equações diferenciais ordinárias para ψ e ϕ
1
−ve ψθ + ϕθ ψξ + ψϕξξ = 0 (2.66)
2
1 1
vf ψϕψ + ψθθ − ψϕ2ξ + ψ 3 = 0 (2.67)
2 2
Os ı́ndices θ e ξ designam derivação parcial relativamente a essa variável, o número
de vezes que o ı́ndice aparece indica a ordem da derivada. Esta notação será usada
habitualmente no decorrer deste texto. Da equação 2.66 obtemos

ψ 2 (ϕξ − ve ) = const. (2.68)

Fazendo a constante igual a zero, obtemos a igualdade

ϕ ξ = ve (2.69)

Usando este resultado na equação 2.67 e integrando em θ obtemos

ψθ = B0 ψ 2 − ψ 4 + C2 , B0 = ve2 − 2ve vf (2.70)

onde C2 é a constante de integração, que fazemos igual a zero porque procuramos


soluções para as quais (ψ, ψθ ) → 0 quando |T | → ∞. Integrando novamente, obtemos
para ψ p p
ψ(T, Z) = B0 sech[ B0 (T − T0 − ve Z)] (2.71)
e para ϕ, a partir da equação 2.66
1 1
ϕ(T, Z) = ve T + B0 Z − ve2 Z + ϕ0 (2.72)
2 2

22
Assim, o solitão brilhante pode ser escrito da forma
i i
qs (T, Z) = q0 sech[q0 (T − T0 − ve Z)] exp[ q02 Z − ve2 Z + ive T + iϕ0 ] (2.73)
2 2
√ √
onde B0 = q0 é a amplitude do solitão. Se fizermos B0 = η e ve = −κ obtemos a
forma canónica do solitão singular
i
qs (T, Z) = η sech[η(T + κZ − T0 )] exp[−iκT + (η 2 − κ2 )Z + iϕ0 ] (2.74)
2
que é caracterizado por quatro parâmetros; η é a amplitude e também o inverso da
largura da onda, κ é a frequência e o inverso da velocidade, T0 é a posição inicial e
ϕ0 é a fase inicial. De notar que, relativamente às variáveis originais, κ representa os
desvios do solitão envolvente à velocidade de grupo e à frequência do campo [35].
Poderı́amos, de forma idêntica, encontrar a solução solitão escuro que tem a forma
i
qse (T, Z) = η tanh[η(T + κZ − T0 )] exp[−iκT + (η 2 − κ2 )Z + iϕ0 ] (2.75)
2

2.4 Conclusão
Este capı́tulo pretendeu mostrar, de uma forma simplificada, como a propagação de
impulsos numa fibra caracterizada por dispersão da velocidade de grupo e refracção
não linear (efeito de Kerr) pode ser descrita pela equação não linear de Schrödinger.
Este objectivo foi conseguido na secção 2.3, servindo a secção 2.2 para mostrar como a
dispersão da velocidade de grupo altera a forma dos impulsos ao longo da propagação.
Mostrou-se que uma das soluções da ENLS é o chamado solitão singular. Este impulso
não sofre deformação porque resulta do balanço entre os efeitos de alargamento tempo-
ral, decorrente da dispersão, e de alargamento espectral, provocado pela refracção não
linear e conhecido por auto-modulação de fase.

23
Capı́tulo 3

Atenuação e amplificação de
solitões em fibras ópticas

3.1 Introdução
A propagação não linear de impulsos numa fibra óptica pode ser do tipo solitónico,
se ignorarmos as perdas da fibra e se considerarmos apenas os primeiros termos que
descrevem a dispersão e a não linearidade. Este facto, que foi mostrado no capı́tulo 2,
motivou um grande esforço de investigação sobre a possibilidade de estabelecer sistemas
de comunicação por fibra óptica a longa distância usando solitões.
Contudo, a atenuação provocada pela fibra, embora seja pequena (cerca de 0.2
dB/km), causa a degradação do solitão. O decréscimo de energia que daı́ resulta provoca
o alargamento do solitão, uma vez que reduz a amplitude do pico e consequentemente
enfraquece o efeito não linear, o qual na situação ideal balança de uma forma exacta a
dispersão da velocidade de grupo.
A equação que descreve a propagação de solitões na presença da atenuação da fibra
já foi derivada no capı́tulo 2, sendo dada por
1
iqZ + qT T + |q|2 q = −iΓq (3.1)
2
Supondo que as perdas são tais Γ ¿ 1, ou seja, considerando que elas constituem uma
perturbação εiR[q] = −iΓq, podemos determinar a evolução dos parâmetros do solitão
através da teoria de pertubações. Seja, então, o solitão dado por
q(T, Z) = η(Z)sech [η(Z)(T − T0 (Z))] exp(−iκ(Z)T + iς(Z)) (3.2)
A evolução dos seus parâmetros é dada pelas equações A.69-A.72, encontradas em
apêndice e que aqui se reescrevem
Z ∞

=ε Re {R[qs ] exp(−iϕ)} sechτ dτ (3.3)
dZ −∞
Z ∞

= −ε Im {R[qs ] exp(−iϕ)} tanh τ sechτ dτ (3.4)
dZ −∞

24
Z ∞
dT0 ε
= −κ + 2 Re {R[qs ] exp(−iϕ)} τ sech τ dτ (3.5)
dZ η −∞
Z ∞
dς 1 dκ ε
= (η 2 − κ2 ) + T0 + Im {R[qs ] exp(−iϕ)} sechτ (1 − τ tanh τ )dτ (3.6)
dZ 2 dZ η −∞
que nos dão os seguintes resultados para a evolução dos parâmetros do solitão

η(Z) = η(0)e−2ΓZ ≡ η0 e−2ΓZ (3.7)

κ(Z) = κ(0) ≡ κ0 (3.8)


T0 (Z) = −κ0 Z + T0 (0) (3.9)
1 η2
ς(Z) = − κ20 Z + 0 (1 − e−4ΓZ ) + ς0 (3.10)
2 8Γ
A equação 3.7 mostra o decaimento exponencial da amplitude do solitão ao longo da
fibra.
Para manter a propagação de solitões nas fibras reais necessitamos de amplificar
o sinal periódica ou continuamente, em qualquer dos casos, de forma a compensar
as perdas. A amplificação periódica também se designa por localizada ou discreta,
enquanto que a amplificação contı́nua também se designa por distribuı́da.

3.2 Amplificação localizada


O esquema de amplificação mais simples, que é usado em sistemas de comunicação
lineares, consiste na utilização de amplificadores ópticos colocados periodicamente ao
longo da fibra, sendo o seu ganho ajustado ao valor das perdas entre amplificadores.
Num sistema como este, o espaçamento entre amplificadores deve ser o maior possı́vel
para minimizar os custos. No entanto, as comunicações por solitões impõem um limite
máximo a esse espaçamento, limite este que é menor que nas comunicações lineares.
De facto, quando o espaçamento é grande, o solitão é bastante perturbado pela elevada
amplificação local, desperdiçando energia sob a forma de ondas dispersivas no seu pro-
cesso subsequente de auto-ajuste. Estas ondas dispersivas acumular-se-ão em sucessivas
amplificações, degradando a razão sinal/ruı́do e podendo interagir destrutivamente com
o solitão.
Os Amplificadores de Fibra Dopada com Érbio (AFDE), descobertos em 1987,
evidenciaram-se pelo facto de operarem no comprimento de onda de menor perda da
fibra (1.55 µm) [36] [37], com a vantagem de exigirem potências de bombeamento rel-
ativamente baixas. Neste caso, o núcleo da fibra é dopada com iões de érbio Er3+
actuando como um laser amplificador. Estes amplificadores mostraram-se igualmente
úteis nos sistemas de comunicação por solitões [26].
A equação 3.1 pode ser alterada de modo a descrever a amplificação, bastando
adicionar um termo semelhante ao termo referente às perdas mas de sinal contrário
1
iqZ + qT T + |q|2 q = −iΓq + iG(Z)q (3.11)
2

25
onde G(Z) = g(z)z0 sendo g o ganho do amplificador e z0 o comprimento de dispersão
dado pela expressão 2.62.
No caso da amplificação localizada, G torna-se localmente muito maior que um e
não podemos, neste caso, considerar o ganho como uma perturbação pequena capaz de
ser tratada de uma forma adiabática. Alguns estudos numéricos e resultados experi-
mentais mostraram que era possı́vel uma propagação estável do solitão mesmo quando
na amplificação G > 1 e entre amplificações Γ > 1, desde que a amplificação tivesse
um perı́odo espacial za muito menor que o comprimento de dispersão z0 . Hasegawa e
Kodama [38] [39] estudaram analiticamente esta situação e encontraram semelhanças
com o movimento de uma partı́cula carregada num campo electromagnético de variação
lenta. Neste caso, a posição instantânea da partı́cula oscila rapidamente mas o centro
do movimento, designado por centro guiado, move-se lentamente. Desta analogia re-
sulta a designação de solitão de centro guiado para o impulso não linear que se propaga
de forma estável numa fibra com elevada amplificação local.

3.2.1 Solitão de centro guiado


A equação que descreve a propagação numa fibra com perdas e com amplificação local-
izada de perı́odo Z = Za , sendo Za = za /z0 , é
XN
1
iqZ + qT T + |q|2 q = −iΓq + i [exp[ΓZa ] − 1] × δ(Z − nZa )q (3.12)
2 n=1

onde (exp[ΓZa ] − 1) é o ganho de cada um dos N amplificadores e δ a função delta de


Dirac. No amplificador n a amplitude de q(T, nZa ) aumenta da forma q(T, nZa + 0) =
exp(ΓZa )q(T, nZa − 0), de modo que as perdas entre amplificadores sejam totalmente
compensadas.
No tratamento da equação 3.12 vamos seguir de perto o procedimento de Hasegawa
e Kodama [38], embora um tratamento semelhante se possa fazer através de uma trans-
formação de Lie e de sucessivos cálculos de equações médias, como foi feito pelos mesmos
autores num outro trabalho [39]. Para o efeito, factorizemos q(T, Z) usando duas novas
variáveis a(Z) e ν̄
q(T, Z) = a(Z)ν̄(Z, T ) (3.13)
onde a(Z) é uma amplitude de variação rápida satisfazendo a seguinte equação
N
X
aZ = −Γa + [exp[ΓZa ] − 1] × δ(Z − nZa )a (3.14)
n=1

Esta última equação tem como solução


(
an−1 e−Γ[Z−(n−1)Za ] para (n − 1)Za < Z < nZa
a(Z) = (3.15)
an−1 ≡ an em Z = nZa + 0
Usando as equações 3.13-3.15 na equação 3.12 obtem-se
1
iν̄Z + ν̄T T + a2 (Z)|ν̄|2 ν̄ = 0 (3.16)
2

26
Podemos escrever ν̄ e a(Z)2 como a soma de duas quantidades; uma média calculada
ao longo da distância entre amplificadores e uma quantidade que contem a variação
entre amplificadores, cuja média é igual a zero

ν̄ = ν + ν̃ (3.17)

a2 (Z) = A0 + Ã(Z) (3.18)


Usando a equação 3.15 em 3.18 obtemos o seguinte valor para A0
a20
A0 =< a2 (Z) >= [1 − exp(−2ΓZa )] (3.19)
2ΓZa
onde a0 é a amplitude de q em Z = 0. Se usarmos as novas definições de ν̄ e a2 (Z)
em 3.16 e fizermos uma média ao longo da distância entre amplificadores obtemos a
seguinte equação para ν
1
iνZ + νT T + A0 |ν|2 ν+ < termos não lineares em ν̃ >= 0 (3.20)
2
Pode chegar-se ao seguinte resultado para ν̃

ν̃ = iÃ1 (Z)|ν|2 ν + O(Za2 ) (3.21)

onde Ã1 (Z) é uma função periódica definida da seguinte forma diferencial

dÃ1 (Z)
= Ã(Z) (3.22)
dZ
Sabendo que Ã1 (Z) = O(Za ), então a correcção na equação 3.20 é da ordem de O(Za2 ),
assumindo a forma
1
iνZ + νT T + A0 |ν|2 ν + O(Za2 ) = 0 (3.23)
2
A equação 3.23 para a quantidade média ν é, a menos da correcção, a equação não
linear de Schrödinger. Assim, a solução para ν pode ser aproximada por uma solução
tipo solitão desde que a correcção seja pequena o que acontece para Za ¿ 1 (ou seja
za ¿ z0 ). A esta solução para ν, Hasegawa e Kodama designaram por solitão de centro
guiado. Contudo, fugindo à analogia com o movimento de uma partı́cula, ela também
se designa por solitão médio. O coeficiente A0 pode ser igual a um, bastando para isso
que amplitude inicial de q seja
· ¸1/2
2ΓZa
a0 = (3.24)
1 − exp(−2ΓZa )
Finalmente a solução para 3.12 entre amplificadores fica

q(Z, T ) = a0 exp[−Γ(Z − (n − 1)Za )](ν + ν̃) para (n − 1)Za < Z < nZa (3.25)

Podemos dizer que embora não tenhamos uma solução solitónica para q temo-la para
ν, que corresponde ao chamado centro guiado. Assim, o centro guiado do impulso

27
pode propagar–se sem distorção mesmo quando o parâmetro das perdas Γ e o ganho
G são muito maiores que um, bastando para isso que a amplificação localizada tenha
perı́odo inferior à distância de dispersão e que a amplitude inicial seja escolhida de
modo conveniente. Esta amplitude inicial ideal é superior à necessária para formar um
solitão numa fibra sem perdas.
Podemos compreender de seguinte forma relativamente simples o facto do centro
guiado poder ser um solitão. A amplitude do impulso varia de a0 até a0 exp(−ΓZa )
entre dois amplificadores devido às perdas. Uma vez que za ¿ z0 o termo dispersivo
não tem tempo de fazer efeito pelo que, entre amplificadores, o impulso varia a sua
amplitude mas a sua largura varia pouco. Assim, em cada ponto entre amplificadores
o impulso não é do tipo solitão (amplitude × largura 6= constante), mas quando a
amostragem é feita a distâncias múltiplas de za , a forma do impulso é a mesma e
sendo do tipo solitão. No entanto, quando za se aproxima de z0 , surgem ressonâncias
entre as perturbações periódicas e as frequências caracterı́sticas do solitão que induzem
a geração de ondas dispersivas e/ou a formação de dois ou mais solitões a partir do
solitão original.
A grande desvantagem dos amplificadores localizados é a necessidade de curtas
distâncias entre amplificadores, de modo a satisfazer a relação za ¿ z0 . Podemos
traduzir esta condição em termos da largura inicial do impulso τ0 e da taxa de trans-
missão digital R. Usando a expressão 2.62 para o comprimento de dispersão, a condição
pode escrever-se na forma q
τ0 À |β2 |za (3.26)
A taxa de transmissão relaciona-se com τ0 da forma
1 1
R= = (3.27)
τB 2r0 τ0
onde τB é a duração do bit e 2r0 = τB /τ0 é a separação normalizada entre solitões
vizinhos (r0 deve ser suficiente para que o solitão esteja suficientemente distanciado
dos seus vizinhos). Assim, a limitação imposta pelo regime do solitão médio fica

R2 za ¿ (4r02 |β2 |)−1 (3.28)

Escolhendo valores tı́picos: β2 = −0.5ps2 /km, za = 50km e r0 = 5 obtemos τ0 À 5ps


e R ¿ 20GHz. Querendo aumentar a taxa de transmissão somos levados a considerar
valores demasiado baixos para a distância entre amplificadores. Note-se que embora
outros estudos indiquem que, usando técnicas de controlo, se pode aumentar za , esta
nunca poderá exceder o comprimento de dispersão [40].

3.3 Amplificação distribuı́da


Considerando a equação 3.11 onde G e Γ ¿ 1 a evolução de η(Z) fica
à Z !
Z
η(Z) = η0 exp 2 [G(Z) − Γ]dZ (3.29)
0

28
Num esquema de amplificação distribuı́da, o sistema é projectado de forma a que G(Z)
faça anular o expoente em 3.29 permitindo a propagação ideal do solitão.
Um exemplo de amplificação distribuı́da consiste no método sugerido por Hasegawa
[41] e Dianov et al [42] especificamente para sistemas solitónicos, que usa a dispersão
estimulada de Raman da própria fibra. O princı́pio básico deste método é o seguinte:
faz-se a propagação simultânea do solitão num comprimento de onda da região de dis-
persão anómala e de uma radiação de bombeamento na região de dispersão normal.
Esta última viaja mais depressa que o solitão e prepara para este um meio excitado
capaz de interagir com ele, amplificando-o. O comportamento do campo eléctrico do
solitão, Es , sob a influência do campo eléctrico de bombeamento, Eb , pode ser de-
scrito pelas seguintes equações acopladas para as respectivas amplitudes envolventes
complexas As e Ab [41]
· ¸
∂Ab αb ∂Ab 1 ∂ 2 Ab
i + ( + r0 |As |2 )Ab + βb1 − βb2 2 + γ|Ab |2 Ab = 0 (3.30)
∂z 2 ∂t 2 ∂t
· ¸
∂As αs ∂As 1 ∂ 2 As
i + ( − r0 |Ab |2 )As − βs1 + βs2 2 + γ|As |2 As = 0 (3.31)
∂z 2 ∂t 2 ∂t
onde r0 é o coeficiente de acoplamento de Raman, o qual está relacionado com o coefi-
ciente da não linearidade γ. Essa relação para fibras de sı́lica é dada por

r0 ' 0.2γ (3.32)

Os restantes sı́mbolos são os mesmos do capı́tulo 2 e os ı́ndices s e b referem-se a


quantidades do solitão e da radiação de bombeamento, respectivamente. A diferença
entre a frequência da radiação de bombeamento e a frequência do solitão deve ser igual
ao incremento de Raman (cerca de 13.2 THz para fibras de sı́lica). Normalizando a
equação que descreve a propagação do solitão (eq. 3.31), de forma semelhante à que
utilizámos no capı́tulo 2, obtemos
1
iqZ + qT T + |q|2 q = −iΓs q + irIq (3.33)
2
onde
r = r0 /γ = 0.2 (3.34)
I = 109 πn2 |Ab |2 (3.35)
A amplificação de Raman distribui-se ao longo da fibra e poderia compensar local-
mente as perdas pela escolha conveniente da intensidade da radiação de bombeamento
I, não fosse a atenuação que esta radiação também experimenta. De facto a intensidade
da radiação de bombeamento satisfaz a seguinte equação diferencial
dI
= −2Γb I − 4rIs I (3.36)
dZ
onde Is é a potência média do solitão. Para ultrapassar este problema é necessário
repetir periodicamente o bombeamento. Neste caso, o solitão não experimenta grande

29
atenuação, podendo considerar-se ZΓs ¿ 1, sendo Z medido relativamente à última
estação de bombeamento. Assim, a solução para 3.36 pode ser aproximada por

I = I0 exp(−JZ) (3.37)

onde J é a taxa de atenuação efectiva para a radiação de bombeamento dada na forma


J = 2Γb + 4rIs0 . Is0 é a potência média do solitão e I0 é a intensidade da radiação
de bombeamento, ambas para Z = 0. Admitindo um bombeamento bidireccional a
distâncias Z = nZa e ajustando a potência de bombeamento de forma a compensar as
perdas entre estações de bombeamento, podemos chegar ao seguinte valor para I0
JΓs Za
I0 = (3.38)
2r[1 − exp(−JZa )]
As primeiras experiências de transmissão de solitões a longas distâncias usavam ampli-
ficação de Raman, mas a obtenção de um laser que emitisse potências suficientemente
elevadas no comprimento de onda da radiação de bombeamento (perto de 1.45µm)
constituı́da a principal dificuldade.
Os amplificadores de fibra dopada com érbio, embora inicialmente usados como
amplificadores localizados, foram posteriormente projectados também numa versão de
amplificação distribuı́da, designando-se então por AFDE-distribuı́dos (AFDED). Neste
caso, toda a fibra é levemente dopada com iões de Er3+ e bombeada periodicamente de
forma a que o ganho se distribua ao longo da fibra e compense localmente as perdas.
A grande vantagem dos amplificadores distribuı́dos, face aos amplificadores discre-
tos, está no facto de reduzirem bastante as variações de energia do sinal. Embora
idealmente as variações de energia neste sistema sejam nulas, elas existem em sistemas
reais porque, como foi dito a propósito da amplificação de Raman, o meio não é uni-
formemente transparente devido às perdas sofridas pela radiação de bombeamento.
Este bombeamento pode ser efectuado de três formas; no mesmo sentido do sinal,
no sentido contrário ou nos dois sentidos simultaneamente. Demonstrou-se experi-
mentalmente que, para uma concentração de dopagem constante ao longo da fibra, o
bombeamento mais vantajoso é o bidireccional com igual potência de entrada nos dois
extremos [43] [44].
As variações residuais de energia do solitão Es podem ser estudadas através da
equação
dEs
= [−αs + g(z)]Es (3.39)
dz
onde g é o coeficiente de ganho, o qual, num esquema de bombeamento bidireccional
com igual potência de entrada nos dois extremos, pode ser aproximado por

g(z) = g0 {exp(−αb z) + exp[−αb (za − z)]} (3.40)

onde za é o espaçamento entre estações de bombeamento e g0 é o ganho ideal do AFDED


relativamente à potência de bombeamento usada. Integrando a equação 3.39 obtemos
µ ¶ µ ¶
Es (z) sinh[αb (z − za /2)] + sinh(αb za /2) z
ln = αza − (3.41)
Ein 2 sinh(αb za /2) za

30
Figura 3.1: Variações da potência do sinal ao longo de 100 km. A linha a cheio corre-
sponde a uma fibra com dois amplificadores AFDEL e a linha a tracejado corresponde
a um AFDED bombeado nos dois extremos [47].

onde Ein é a energia do solitão à entrada da fibra. Apesar das variações de energia
aumentarem com za , elas podem ser muito menores que nos sistemas com amplificação
discreta, mesmo para valores de za muito maiores que o comprimento de dispersão
(za À z0 ). A figura 3.1 mostra a variação da potência do sinal nos dois tipos de am-
plificação. Estes resultados têm sido confirmados quer analiticamente, usando a teoria
de perturbações, quer numericamente [45] [46]. De salientar o trabalho de Rottwitt et
al [45], onde a estabilidade do solitão num sistema que usa AFDE é analisada através
de um valor estimado para a energia perdida sob a forma de radiação. Para assegu-
rar a estabilidade numa dada distância de transmissão estes autores previram 10 vezes
mais secções com AFDE-localizados (AFDEL) do que estações de bombeamento num
AFDED.

3.4 Conclusão
Neste capı́tulo verificámos como as perdas intrı́nsecas da fibra podem atenuar e alargar
o solitão e com isto degradar o sinal digital. Apercebemo-nos da necessidade da ampli-
ficação e discutimos duas modalidades de amplificação: localizada e distribuı́da. O uso
de amplificação distribuı́da permite ultrapassar a limitação do curto espaçamento entre
amplificadores que se verifica para ritmos de transmissão elevados no regime do solitão
médio caracterı́stico da amplificação localizada. Outra vantagem da amplificação dis-
tribuı́da é o facto do impulso manter razoavelmente a sua forma inicial ao longo de
toda a fibra, ao contrário do que acontece com amplificação discreta onde apenas em

31
determinados pontos se encontra o impulso sem distorção. Uma desvantagem da am-
plificação distribuı́da reside na necessidade de uma maior potência de bombeamento e
no maior custo de fabricação deste tipo de fibras.
Apesar da grande utilidade da amplificação, ela traz um novo problema à imple-
mentação de sistemas de comunicação por solitões em fibras. Referimo-nos a um efeito
não linear conhecido por efeito de Gordon-Haus, porque foi previsto por estes dois
autores em 1986 [22]. O fenómeno é provocado pelo ruı́do que resulta da radiação
emitida espontaneamente pelo amplificador. Este ruı́do é em parte incorporado pelo
solitão, alterando aleatoriamente a sua frequência e, devido à dispersão da velocidade
de grupo, também a sua velocidade. Verifica-se, em consequência, uma difusão tempo-
ral na chegada do trem de solitões, ocasionando erros na transmissão digital e impondo
um limite máximo à capacidade do sistema. No capı́tulo seguinte ocupar-nos-emos da
descrição deste efeito e ainda da descrição de técnicas que permitem controlá-lo.

32
Capı́tulo 4

Técnicas de controlo da
propagação de solitões

Como foi dito no final do capı́tulo anterior o efeito de Gordon-Haus apresenta-se como
outra limitação a combater, depois de compensada a atenuação própria da fibra pelos
processos de amplificação. O efeito de Gordon-Haus tem origem no ruı́do de emissão
espontânea que, num regime não linear como este, não tem apenas um comportamento
aditivo. Neste capı́tulo propomo-nos descrever o efeito de Gordon-Haus e algumas
técnicas de controlo que permitam melhorar os sistemas de comunicação óptica por
solitões.

4.1 Efeito de Gordon-Haus


Em sistemas com amplificação coerente temos sempre geração de ruı́do de emissão
espontânea. Apenas o ruı́do com o mesmo comprimento de onda e no mesmo estado de
polarização do solitão acaba por propaga-se com este. Uma parte desse ruı́do perturba o
solitão, provocando alterações à sua amplitude, δη, à sua posição, δT0 , à sua frequência,
δκ, e à sua fase, δϕ. Uma outra parte apresenta-se sob a forma de radiação que acaba
por dispersar-se. O termo de perturbação à ENLS pode escrever-se da forma [22] [48]

iεR[q] = in(Z, T ) = i[n1 (Z, T ) + in2 (Z, T )] exp(−iκT + iς) (4.1)

onde n1 e n2 são as componentes em fase e em quadratura, respectivamente, que sat-


isfazem as seguintes relações
1G−1
< ni (Z, T )nj (Z, T ) >= δij δ(T − T 0 )δ(Z − Z 0 ) i, j = 1, 2 (4.2)
2 N0
< ni (Z, T ) >= 0 (4.3)
onde G é o ganho do amplificador, N0 = P τ0 /h̄ω0 é o número de fotões por unidade de
energia (τ0 é a largura do solitão e P a potência do campo), o sı́mbolo δij é o delta de
Kronecker e o sı́mbolo δ designa a função δ de Dirac.

33
Usando as equações da teoria de perturbações A.69-A.72 aplicadas a um amplifi-
cador obtemos, para as alterações dos parâmetros do solitão, médias iguais a zero e
variâncias dadas por
G−1
< δη 2 >= η (4.4)
N0
G−1
< δκ2 >= η (4.5)
3N0
π2 G − 1
< δT02 >= (4.6)
12η N0
à !
2 1 π2 G−1
< δϕ >= +1 (4.7)
3η 12 N0
Após N = Z/Za amplificadores distanciados de Za a variância da frequência fica na
forma
(G − 1)η Z
< δκ2 (Z) >= (4.8)
3N0 Za
Na obtenção do último resultado assumimos que as perturbações induzidas pelos vários
amplificadores têm correlação nula. Para a alteração na posição existem duas con-
tribuições. A contribuição mais importante, como veremos a seguir, é a proveniente
das flutuações na frequência; estas manifestam-se em flutuações da velocidade, devido
à dispersão da velocidade de grupo, as quais por sua vez vão produzir alterações na
posição do solitão A outra contribuição é a induzida directamente pelo amplificador,
dada pela equação 4.6. Usando dT0 /dZ = −κ(Z), obtemos para < δT02 (Z) > o seguinte
resultado à !
2 (G − 1) η Z 3 π2 Z
< δT0 (Z) >= + (4.9)
N0 9 Za 12η Za
O segundo termo é pequeno relativamente ao primeiro quando consideramos sistemas
de comunicação de grande distância. Sendo assim, a difusão no tempo de chegada é
dominada pelo primeiro termo que tem origem nas pequenas flutuações da frequência,
tendo-se
(G − 1)η Z 3
< δT02 (Z) >= (4.10)
9N0 Za
A esta difusão temporal dá-se o nome de difusão de Gordon-Haus
Vejamos de que forma esta difusão do tempo de chegada limita o produto distância
de propagação×taxa de transmissão. Seja R a taxa de transmissão (R−1 é a separação
entre solitões), τs a largura a meia altura do solitão, l a distância de transmissão e 2τj a
janela do detector. Para garantir uma taxa de erro inferior a 10−9 , isto é, garantir uma
probabilidade do solitão chegar fora da janela do detector inferior a 10−9 , e assumindo
uma distribuição Gaussiana, precisamos que < δT02 (Z) >≤ (Tj /6.1)2 (Tj = τj /τ0 ).
Então para RL (L = l/z0 ) temos a condição

(RL)3 ≤ 0.1372Ts Tj2 R3 N0 Za /(G − 1) (4.11)

34
onde Ts = τs /τ0 = 1.763/η. Sendo o ganho ajustado de forma a compensar as perdas
entre amplificadores, ele é da forma G = exp(αza ), onde α é a atenuação da fibra. Se
as perdas forem pequenas podemos escrever G − 1 ' αza . Tomando esta aproximação
em consideração, e escrevendo a expressão acima em unidades reais, obtemos

(Rl)3 ≤ 0.1372τs τj2 R3 Aef /hn2 αD (4.12)

onde usámos as relações P = cAef /z0 n2 ω0 e τ02 /z0 = −β2 = Dλ0 /ω0 sendo Aef a área
efectiva da secção recta da fibra e D a constante de dispersão.
Considerando um sistema de comunicação em que λ = 1.56µm, Aef = 25µm2 ,
α = 0.0462km−1 (0.2dB/km), n2 = 3.18 × 10−16 cm2 /W, D = 3ps/km/nm, τs R = 0.1
e τj R = 1/3, ficamos com Rl = 23600GHz.km. Um sistema como este, com uma taxa
de transmissão de 10GHz, pode transmitir a uma distância de 2360km com uma taxa
de erro inferior a 10−9 .
De seguida descrevemos algumas técnicas que permitem o controlo do efeito de
Gordon-Haus.

4.2 Amplificação com filtragem


O uso de amplificadores com ganho dependente da frequência e/ou o uso de filtragem
mostra-se eficiente na supressão do efeito de Gordon-Haus. Este método foi proposto
por Kodama e Hasegawa [29], verificando-se que ele resulta no controlo da amplitude
η e frequência (ou velocidade) κ do solitão.
Consideremos um amplificador de ganho g(ω), que expandido em torno da frequência
central do solitão ω0 se escreve
µ ¶ Ã !
∂g 1 ∂2g
g(ω) = g(ω0 ) + (ω − ω0 ) + (ω − ω0 )2 + · · · (4.13)
∂ω ω0 2 ∂ω 2 ω0

onde g, ∂g/∂ω e ∂ 2 g/∂ω 2 são controláveis, por exemplo, pela combinação de um am-
plificador e um filtro conveniente. Assumiremos ainda ∂g/∂ω = 0 em ω = ω0 , o que
corresponde à coincidência entre a frequência central da curva de ganho e a frequência
central do solitão. A equação de propagação normalizada fica
1
iqZ + qT T + |q|2 q = −i(Γ − G)q − iG00 qT T (4.14)
2
onde G = g(ω0 )z0 e G00 = g 00 (ω0 )z0 /2τ02 . Considerando um sistema amplificado pe-
riodicamente, tal que za ¿ z0 , é conveniente estudar o comportamento do solitão de
centro guiado que obedecerá à seguinte equação
1
iνZ + νT T + |ν|2 ν = iρ0 ν + iρ2 νT T (4.15)
2
onde ρ0 é a média do excesso de ganho necessário para amplificar as bandas laterais do
impulso, que de outra forma sofreriam o efeito das perdas devido ao uso dos filtros, e ρ2

35
1.04 0.6

1
0.4
η
0.96 κ
0.2
0.92

0.88 0
0 20 40 0 20 40

Figura 4.1: Evolução dos parâmetros do solitão η e κ com a distância de propagação


normalizada quando ρ0 = 0.05 e ρ2 = 0.15 para valores iniciais de (η0 , κ0 ) = (1, 0.5).

(ρ2 > 0) é a média de −G00 (Z), ambas as médias calculadas ao longo do espaçamento
entre amplificadores.
A partir das equações de perturbação A.69 e A.70, e assumindo uma perturbação
tal que iεR[q] = iρ0 ν + iρ2 νT T , obtemos as seguintes equações de evolução para os
parâmetros η e κ do solitão A.63
dη 1
= 2ρ0 η − 2ρ2 ( η 3 + κ2 η) (4.16)
dZ 3
dκ 4
= − ρ2 η 2 κ (4.17)
dZ 3
A figura 4.1 mostra a evolução destes parâmetros para valores de ρ0 e ρ2 que fazem
estabilizar a amplitude η no valor unitário. A partir das equações 4.16 e 4.17 mostra-se
que o valor de equilı́brio para a frequência é zero e que ρ2 = 3ρ0 é a condição que
permite amplitude de equilı́brio unitária.
A partir das últimas equações de evolução podemos construir um diagrama de
evolução dos parâmetros η e κ. Este tipo de diagramas são semelhantes p aos usados
em dinâmica de fluidos. É conveniente introduzir novas variáveis x = 3/2κ, y = η e
s = 2ρ2 Z/3, para as quais podemos escrever

dx ∂φ
= −2xy 2 ≡ − (4.18)
ds ∂x
dy 3ρ0 ∂φ
= y − y 3 − 2x2 y ≡ − (4.19)
ds ρ2 ∂y
dx/ds e dy/ds são as coordenadas de um campo de velocidades ao qual está associado
um potencial
2ρ0 2 1 4
φ=− y + y + x2 y 2 (4.20)
2ρ2 4

36
1.5

0.5

0
-1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5
x
Figura 4.2: Linhas do campo (dx/ds, dy/ds) dadas pelas equações 4.18-4.19. Os
parâmetros perturbativos são tais que ρ0 = 3ρ2 .

Deste tipo de análise podemos obter os pontos de equilı́brio, que correspondem a ex-
tremos do potencial, e, particularmente, os pontos de equilı́brio estável, que correspon-
dem a mı́nimos do potencial. A figura 4.2 representa as linhas do campo de velocidades
(linhas de fluxo) no plano x − y para o caso em que ρ2 = 3ρ0 . A figura é simétrica rela-
tivamente à frequência. De notar o ponto de equilı́brio estável em (y, x) = (1, 0) que é
ponto de atracção para impulsos dentro de uma região limitada. Por exemplo, o ponto
(y, x) = (1, 1.5) está fora dessa zona de atracção, a linha de campo que passa nesse
ponto não evolui no sentido do ponto de equilı́brio, mas sim no sentido de ponto de am-
plitude nula, ou seja y = 0. Nesta figura podemos ainda verificar que ondas de pequena
amplitude são amplificadas evoluindo também para o ponto (1, 0). Transportando estes
resultados para o espaço dos parâmetros η e κ, podemos dizer que solitões que apre-
sentem inicialmente amplitude e frequência dentro de determinado intervalo evoluem
no sentido do solitão com η = 1 e κ = 0. A desvantagem deste sistema está no facto
de ondas dispersivas de pequena amplitude poderem ser amplificadas, problema que se
discutirá em futuras secções.
A amplificação com filtragem permite um controlo efectivo do efeito de Gordon-
Haus [29]. Demonstra-se que a função de distribuição de probabilidade para η e κ tem,
para grandes distâncias, uma solução limitada cujo máximo coincide
p com o mı́nimo do
potencial 4.20. Considerando o ponto de equilı́brio (ηe , κe ) = ( 3ρ0 /|ρ2 |, 0) chega-se
ainda ao seguinte resultado para a variância do tempo de chegada do solitão
(G − 1)η Z 3
< δT02 (Z) >= f (4ρ0 Z) (4.21)
9N0 Za
onde
3
f (x) = [2x − 3 + 4 exp(−x) − exp(−2x)] (4.22)
2x3
é a função que representa a redução da difusão de Gordon-Haus. Para x À 1 (ou
Z À 1/ρ0 ), f (x) ∼ 3x−2 e < δT02 (Z) >∼ (G − 1)ηZ/48N0 Za ρ20 . Daqui se depreende

37
que a filtragem reduz significativamente a difusão de Gordon-Haus que, na ausência
desta técnica, dependia do cubo da distância, passando agora a depender linearmente
da mesma.

4.2.1 Filtros de frequência deslizante


O uso de filtros obriga à utilização de excesso de ganho para compensar a atenuação das
bandas laterais do solitão e este excesso de ganho amplifica o ruı́do constituı́do por ondas
dispersivas. As ondas dispersivas podem crescer exponencialmente com a distância
e degradar a razão sinal-ruı́do ou mesmo destruir o solitão, efeitos conhecidos por
instabilidade de fundo. Este problema pode resolver-se com a diminuição do excesso de
ganho, o que por sua vez impõe um limite máximo à largura do filtro e logo limita a real
redução do efeito de Gordon-Haus. Em alternativa pode usar-se filtros cuja frequência
central varie ao longo do sistema, os chamados filtros de frequência deslizante [30].
Com esta técnica consegue-se estabelecer um sistema de transmissão que é bastante
mais opaco ao ruı́do mas continua transparente para o solitão.
Expandindo em série de Taylor o logaritmo da função resposta do filtro obtemos

ln F (ω − ωf ) = iα1 (ω − ωf ) − α2 (ω − ωf )2 − iα3 (ω − ωf )3 + · · · (4.23)

onde ωf é a frequência central do filtro e as constantes αi são todas reais positivas. O


primeiro termo pode ser ignorado pois produz uma alteração linear da fase que apenas
desloca o impulso em tempo. Tendo em consideração apenas o termo de segunda ordem,
obtem-se a seguinte equação de propagação normalizada
µ ¶2
1 ∂
iqZ + qT T + |q|2 q = i(Γ − G)q − iα2 i − ωf (Z) q (4.24)
2 ∂T
Novamente, se a amplificação for periódica é conveniente descrever o comportamento
do centro guiado pela equação seguinte
µ ¶2
1 ∂
iνZ + νT T + |ν|2 ν = iρ0 ν − iρ2 i − ωf (Z) ν (4.25)
2 ∂T
sendo ρ2 a média de α2 calculada ao longo da distância entre amplificadores.
Se a frequência central do filtro variar com a distância de uma forma linear

ωf (Z) = −α0 Z (4.26)

podemos fazer a seguinte mudança de variáveis


" #
α2 Z 3
u(T , Z ) = ν(T, Z) exp −iα0 ZT + i 0
0 0
(4.27)
3

onde T 0 = T − α0 Z 2 /2 e Z 0 = Z. A equação de propagação para u é uma ENLSP na


forma
1
iuZ 0 + uT 0 T 0 + |u|2 u − α0 T 0 u = iρ0 u + iρ2 uT 0 T 0 (4.28)
2

38
Então para u é válida a solução não perturbada tipo solitão singular, sendo a evolução
dos seu parâmetros dada pela teoria de perturbações, na seguinte forma
à !
dη η2
= 2ρ0 η − 2ρ2 η + κ2 (4.29)
dZ 3

dκ 4
= α0 − ρ2 η 2 κ (4.30)
dZ 3
Estas equações têm dois, um ou nenhum ponto de equilı́brio consoante o valor de α0 .
Para determinados valores de ρ0 e ρ2 pode definir-se um valor de α0 crı́tico,
r
8 ρ0
αc = ρ0 (4.31)
3 3ρ2

de tal forma que, se |α0 | < αc existem dois pontos de equilı́brio, um estável (ηe , κe ) e
outro instável (ηi , κi ), se |α0 | = αc existe apenas um ponto de equilı́brio e se |α0 | > αc
não existe nenhum ponto de equilı́brio.
À semelhança do tratamento feito acima pode definir-se um potencial

3ρ0 2 y 4 2 2 3 3α0
φ=− y + +x y − √ x (4.32)
2ρ2 4 2 2ρ2

que corresponde ao campo de velocidades (dx/ds, dy/ds) dado pelas equações 4.29 e
4.30 após a mesma mudança de variáveis. Além da existência de um valor crı́tico para
α0 , e analisando o comportamento do potencial definido acima pode mostrar-se que
se queremos um valor estacionário parapa amplitude, ηe = 1, ρ0 e ρ2 têm que ser
tais que 2 < ρ2 /ρ0 < 3 e α0 = ±4/3ρ2 ρ0 /ρ2 − 1/3. A figura 4.3 mostra as linhas
de fluxo quando ρ0 = 0.05, ρ2 = 0.13 e α0 = 0.039. De notar que a figura não é
simétrica relativamente à frequência contrapondo-se à situação analisada na figura 4.2.
Verificamos a existência de dois pontos de equilı́brio, um ponto de equilı́brio estável
que corresponde ao valor esperado, (ηe , κe ) = (1, 0.23), e um outro instável. Na figura
4.4 mostra-se a evolução da amplitude e da frequência do solitão quando os valores
iniciais são (η, κ) = (1, 0). Ainda na figura 4.3, não se observa o crescimento de ondas
de pequena amplitude. Assim, como esperávamos, o uso de filtros deslizantes permite
ultrapassar o problema da instabilidade de fundo.
Verificou-se experimentalmente que o filtro de frequência deslizante crescente é pre-
ferı́vel ao filtro de frequência deslizante decrescente. Uma análise com base na teoria de
perturbações que temos vindo a utilizar não mostra qualquer assimetria relativamente
a valores positivos ou negativos de α0 . Contudo Golovchenko et al [49] demonstraram
que esta assimetria pode ser prevista se considerarmos o termo de terceira ordem na
expansão feita em 4.23. De facto este termo não é desprezável para valores tı́picos de
filtros de Fabry-Perot. Mesmo considerando esse termo, que é semelhante ao termo de
dispersão de terceira ordem, −iσqT T T , a teoria de perturbações não detecta vantagem
em nenhum dos sentidos do deslizamento do filtro. A análise feita por Golovchenko et
al baseia-se num método de perturbação que parte de uma equação mais extensa que

39
1.5

0.5

0
-1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5
x
Figura 4.3: Linhas do campo (dx/ds, dy/ds). Os parâmetros perturbativos são ρ0 =
0.05, ρ2 = 0.13 e α0 = 0.039.

1.05 0.25

1.04
0.2
1.03
0.15
η 1.02 κ
0.1
1.01

1 0.05

0.99 0
0 50 100 0 50 100

Figura 4.4: Evolução dos parâmetros do solitão η e κ com a distância de propagação


normalizada quando ρ0 = 0.05, ρ2 = 0.13 e α0 = 0.039.

40
a equação não linear de Schördinger. Essa análise permite verificar que o termo de
terceira ordem introduz uma alteração extra da frequência ∆κ > 0. Como o impulso
apresenta uma certa inércia para acompanhar a frequência central do filtro, aquela
alteração extra da frequência, sendo positiva, é vantajosa para filtros de frequência
crescente e prejudicial para filtros de frequência decrescente. No primeiro caso o termo
de terceira ordem leva o impulso para o centro do filtro (região de menor perda) e no
segundo caso acontece o contrário.

4.3 Amplificação com ganho não linear


Outra forma de reduzir o excesso de ganho linear que é necessário pela introdução de
filtros consiste no uso de amplificadores com ganho não linear como foi sugerido por
Kodama et al [50]. O ganho não linear pode ser conseguido unicamente à custa das
propriedades do amplificador ou pela inserção de dispositivos de absorção saturável,
como ciclos de espelhos ópticos não lineares, ciclos de espelhos de amplificação não
linear, absorventes de múltiplos poços quânticos ou fibra birrefringente não linear com
polarizadores [51].
Os termos que descrevem o ganho não linear podem ser diferentes consoante o
mecanismo utilizado para o implementar. Em muitos casos, a utilização de ganho não
linear pode ser descrita por termos que são proporcionais à segunda e à quarta potência
da amplitude, ficando para a propagação do centro guiado a seguinte equação
1
iνZ + νT T + |ν|2 ν = iρ0 ν + iρ2 νT T + iµ1 |ν|2 ν + iµ2 |ν|4 ν (4.33)
2
sendo µ1 e µ2 coeficientes normalizados e médios ao longo do espaçamento entre am-
plificadores.
As equações de evolução para a amplitude η e frequência κ ficam
à !
dη η2 4 16
= 2ρ0 η − 2ρ2 η + κ2 + µ1 η 3 + µ2 η 5 (4.34)
dZ 3 3 15

dκ 4
= − ρ2 η 2 κ (4.35)
dZ 3
Neste caso, e com a mesma mudança de variáveis usada na secção 4.2, obtem-se a
seguinte forma para o potencial
µ ¶
3ρ0 2 1 2µ1 4µ2 6
φ=− y + x2 y 2 − − 1 y4 − y (4.36)
2ρ2 4 ρ2 15ρ2
Como anteriormente, os pontos de equilı́brio estável correspondem a mı́nimos do po-
tencial.
Consideremos primeiro o caso em que o ganho não linear é descrito apenas pelo
termo proporcional ao quadrado da amplitude, p isto é, µ1 6= 0 e µ2 = 0. Existe um
ponto de equilı́brio estável, (ηe , κe ) = ( 3ρ0 /(ρ2 − 2µ1 ), 0), nas seguintes condições

41
1.15

1.1 (c)

η
1.05
(b)
(a)

1
0 25 50 75 100

Figura 4.5: Evolução da amplitude do solitão com parâmetros iniciais (η, κ) = (1, 0)
na presença de amplificação não linear e filtragem obedecendo a 4.38. ρ2 = 0.06 e
ganhos linear e não linear determinados pelo parâmetro k: (a) k = 0.5, (b) k = 0.8 e
(c) k = 0.9946.

ρ0 > 0, ρ2 > 0
µ1 < ρ2 /2 (4.37)
Sem perda de generalidade, escolhamos um ponto de equilı́brio com amplitude unitária
ηe = 1, que nos conduz para a seguinte relação entre os três parâmetros [52] [53]

2µ1 + 3ρ0 − ρ2 = 0 (4.38)

Fixando ρ2 , podemos estudar a propagação do solitão para várias relações entre os


ganhos linear e não linear. Para isso, introduzimos o parâmetro k que quantifica a
contribuição do ganho não linear, da seguinte forma

ρ0 = (1 − k)ρ2 /3 µ1 = kρ2 /2 0 ≤ k ≤ 1 (4.39)

Nesta análise o valor de ρ2 determina a grandeza geral da perturbação e k determina


a sua forma particular. Para k = 0 existe apenas ganho linear e para k = 1 apenas
ganho não linear.
O gráfico da figura 4.5 mostra a evolução da amplitude η, partindo de um valor
inicial η0 = 1.1, para três valores de k. Como se pode ver, quanto maior o valor de
k (que corresponde a uma maior contribuição do ganho não linear) maior é a lentidão
do sistema para alcançar o estado estacionário. Estes resultados podem também ser
ilustrados pelas figuras das linhas de campo (ver figura 4.6). Nestas últimas é evidente
que ondas de pequena amplitude podem ainda ser amplificadas de modo significativo,
embora, um aumento de µ1 limite o intervalo de x para o qual as ondas de pequena
amplitude são amplificadas.
A equação 4.33, quando µ2 = 0, denomina-se Equação Complexa de Ginzburg-
Landau (ECGL) na forma cúbica. Esta equação tem uma solução estacionária na

42
(a) k=0.5 (b) k=0.9946
1.5 1.5

1 1
y y

0.5 0.5

0 0
-1 0 1 -1 0 1
x x

Figura 4.6: Linhas do campo (dx/ds, dy/ds). Os parâmetros perturbativos são os


mesmos da figura 4.5; (a) k = 0.5, (b) k = 0.9946.

forma de impulso com frequência alterada, dada por [53] [54]

ν(T, Z) = U0 sech(²T ) exp{i[d ln(U0 sech(²T )) + ΩZ]} (4.40)

onde a amplitude U0 , o inverso da largura ², o parâmetro de alteração da frequência d


e a constante de propagação não linear Ω são dados por

|U0 |2 = ²2 (2 − d2 )/2 + 3²2 ρ2 d (4.41)

²2 = ρ0 /(ρ2 d2 + d − ρ2 ) (4.42)
p
3(1 + 2µ1 ρ2 ) − 9(1 + 2µ1 ρ2 )2 + 8(µ1 − 2ρ2 )2
d= (4.43)
2µ1 − 4ρ2
ρ0 (1 − d2 + 4ρ2 d)
Ω= (4.44)
2(d − ρ2 + ρ2 d2 )
À solução dada pelas equações 4.40-4.44 dá-se o nome de solitão de amplitude fixa,
uma vez que U0 é determinada de forma única pelos parâmetros do sistema.
Em publicações sobre este assunto considera-se que estas soluções exactas dão uma
correcção aos resultados da teoria das perturbações da ordem das próprias perturbações,
ou seja neste caso, U0 = ηe + O1 (ρ2 ), ² = ηe + O2 (ρ2 ) e d = O3 (ρ2 ). Assim para
pequenas perturbações as correcções são pequenas e no limite de ρ2 → 0 a solução 4.40
transforma-se na solução solitão singular. Ocorre, no entanto, uma excepção. De facto,
a solução 4.40 existe em todo o plano (ρ2 , µ1 ) à excepção da linha S dada por
q
3 1 + 4ρ22 − 1
µ1 = ρ2 (4.45)
4 + 18ρ22

43
Para assegurar a existência da solução; o ganho linear, ρ0 , deve ser negativo acima da
linha S e positivo abaixo. A linha S separa também duas regiões de carácter diferente.
De facto, simulações numéricas mostram que a solução solitão de amplitude fixa é
estável abaixo da linha S e instável acima da mesma linha [54]. Quando o ponto (ρ2 , µ1 )
pertence à linha S verifica-se a existência de uma singularidade e U0 e ² tendem para
infinito. Esta singularidade não é prevista pela teoria de perturbações. Por exemplo,
para o valor de ρ2 considerado nas figuras 4.5 e 4.6 a singularidade ocorre para o valor
ks = 0.9946, o qual foi analisado nas mesmas figuras. Como se depreende deste facto,
a teoria de perturbações não prevê a existência desta singularidade. Reparemos ainda
que a linha S se reduz a µ1 ∼ ρ2 /2 para ρ2 pequeno e a µ1 ∼ 1/3 para ρ2 grande.
Assim, para ρ2 pequeno, situação em que a teoria de perturbações é válida, a linha S
coincide com o limite da condição de estabilidade dada por esta teoria.
Apesar da solução 4.40 não existir na linha S, podemos, neste caso, obter uma
solução exacta, desde que o ganho linear seja nulo (ρ0 = 0). Essa solução é dada por

ν(T, Z) = aQ0 sech(aT ) exp{i[d ln(aQ0 sech(aT )) + ΩZ]} (4.46)

onde a é um parâmetro positivo arbitrário, Q0 , d e Ω são dados por


v q
u
u d 1 + 4ρ2
t 2
Q0 = (4.47)
2µ1
q
1 + 4ρ22 − 1
d= (4.48)
2ρ2
1 + 4ρ22 2
Ω=d a (4.49)
2ρ2
Sendo a um parâmetro arbitrário então esta solução representa um solitão de amplitude
arbitrária. A estabilidade destas soluções foi provada numericamente [54]. Além disso,
nesta situação, as ondas de pequena amplitude não são amplificadas uma vez que ρ0 = 0.
A teoria de perturbações também prevê estes solitões de amplitude arbitrária quando
ρ0 = 0 e ρ2 = 2µ1 . Lembremos que ρ2 = 2µ1 é o limite da linha S para ρ2 pequeno.
Um último tipo de solução da equação complexa de Ginzburg-Landau cúbica é o
solitão sem alteração da frequência, dado por
q q
ν(T, Z) = −ρ0 /ρ2 sech −ρ0 /ρ2 T exp(iΩZ) (4.50)

que acontece quando µ1 = 2ρ2 . A constante de propagação, neste caso, é dada por
Ω = ρ/2ρ2 . Este solitão, uma vez que não tem alteração de frequência, é uma solução
prevista pela teoria de perturbações, solução instável porque µ1 > ρ2 /2. Simulações
numéricas provam essa mesma instabilidade [54].
Consideremos agora o caso em que µ2 6= 0, correspondendo à forma quı́ntica da
ECGL. Neste caso podem existir dois pontos de equilı́brio estável; o ponto (ηe , κe ) =
(0, 0) e um ponto (ηe , κe ) = (ηe , 0). A existência do ponto estável com amplitude

44
nula é uma diferença relativamente ao caso em que µ2 = 0 e significa a supressão da
instabilidade de fundo. Para que isso se verifique basta que os parâmetros obedeçam
às seguintes condições:
ρ0 < 0, µ2 < 0, 8µ2 ηe4 < 15ρ0
5(2µ1 − ρ2 )2 > 96µ2 ρ0 (4.51)
sendo ηe dado pela equação 8µ2 ηe4 + 5(2µ1 − ρ2 )ηe2 + 15ρ0 = 0. Para o caso especial de
ηe = 1, as condições resumem-se a ρ0 < 0, µ2 < 0, 8µ2 < 15ρ0 e 8µ2 + 5(2µ1 − ρ2 ) +
15ρ0 = 0. Tendo presente estas últimas condições, consideremos dois novos parâmetros
k1 e k2 da seguinte forma
ρ2 5
µ1 = k1 , µ2 = ρ2 (1 − k1 )k2
2 8
ρ2 1
ρ0 = (1 − k1 )(1 − k2 ), k1 > 1, < k2 < 1 (4.52)
3 2
A figura 4.7 mostra as linhas de campo para ρ2 = 0.08 e para (k1 , k2 ) = (2, 0.6), (2, 0.9),
(1.2, 0.6) e (1.2, 0.9). Para o mesmo k1 (µ1 fixo) verifica-se que uma diminuição de ρ0
em valor absoluto provoca um melhor aprisionamento do solitão no estado de equilı́brio.
Façamos também uma análise para uma amplitude de equilı́brio arbitrária, do
seguinte modo
ρ2 ρ2
µ1 = k, ρ0 = (1 − k)
2 3
5
µ2 > − ρ2 (k − 1), k > 1 (4.53)
32
Na figura 4.8 ilustramos a forma das linhas de campo para ρ2 = 0.3 e k = 1.5, 1.6, 1.7, 1.8
sendo µ2 = −0.022, um valor que obedece à ultima condição para todos os valores
de k. Podemos verificar que à medida que k aumenta (maior valor absoluto para
µ1 e ρ0 ) melhor é o aprisionamento do solitão, embora a amplitude de equilı́brio ηe
vá aumentando. O mesmo se pode verificar nas figuras de potencial (ver figura 4.9)
onde podemos observar que o mı́nimo de amplitude não nula se acentua à medida
que k aumenta. Além disso, aumenta a separação entre este mı́nimo e o máximo
imediatamente antes, mostrando que o intervalo de amplitudes para as quais existe
atracção no sentido do ponto de equilı́brio também aumenta. Na figura 4.10 mostramos
as linhas de campo nas mesmas condições da figura 4.8 à excepção de µ2 , o qual varia
tendo em cada caso um valor limite que obedece à última das condições de 4.53. Neste
caso, verificamos que embora a amplitude de equilı́brio permaneça mais ou menos
constante, um maior valor de k não favorece o aprisionamento do solitão, antes pelo
contrário.
As análises efectuadas no âmbito da teoria de perturbações mostram como esta
técnica (uso de amplificação não linear) é bastante versátil para estabelecer propagação
de solitões de forma estável. Com escolha conveniente dos parâmetros perturbativos
temos a grande vantagem de reduzir a instabilidade de fundo, uma vez que as ondas
de pequena amplitude nunca são amplificadas [53] [51].

45
(a) (b)
1.5 1.5

1 1
y y

0.5 0.5

0 0
-1 0 1 -1 0 1
x x

(c) (d)
1.5 1.5

1 1
y y

0.5 0.5

0 0
-1 0 1 -1 0 1
x x

Figura 4.7: Linhas do campo (dx/ds, dy/ds). Os parâmetros perturbativos estão de


acordo com a análise 4.52 sendo ρ2 = 0.08 e (k1 , k2 ): (a) (2, 0.6), (b) (2, 0.9), (c)
(1.2, 0.6) e (d) (1.2, 0.9).

46
(a) k=1.5 (b) k=1.6
2.5 2.5

2 2

1.5 1.5
y y
1 1

0.5 0.5

0 0
-1 0 1 -1 0 1
x x

(c) k=1.7 (d) k=1.8


2.5 2.5

2 2

1.5 1.5
y y
1 1

0.5 0.5

0 0
-1 0 1 -1 0 1
x x

Figura 4.8: Linhas do campo (dx/ds, dy/ds). Os parâmetros perturbativos estão de


acordo com a análise 4.53 sendo ρ2 = 0.3, µ2 = −0.022 e vários valores para k.

47
(a) k=1.5 (b) k=1.6
1 1

0.8 0.8

0.6 0.6
φ φ
0.4 0.4

0.2 0.2

0 0
0 0.5 1 1.5 2 0 0.5 1 1.5 2
y y

(c) k=1.7 (d) k=1.8


0.5
0.2

φ 0 φ -0.2

-0.4

-0.6
-0.5
0 0.5 1 1.5 2 0 0.5 1 1.5 2
y y

Figura 4.9: p
Potencial φ descrito na expressão 4.36 em função da amplitude y = η
quando x = 3/2κ = 0. Os parâmetros perturbativos são os mesmos da figura 4.8.

48
(a) (b)
2 2

1.5 1.5

y 1 y 1

0.5 0.5

0 0
-1 0 1 -1 0 1
x x

(c) (d)
2 2

1.5 1.5

y 1 y 1

0.5 0.5

0 0
-1 0 1 -1 0 1
x x

Figura 4.10: Linhas do campo (dx/ds, dy/ds). Os parâmetros perturbativos estão de


acordo com a análise 4.53 sendo ρ2 = 0.3 e (a) k = 1.5 e µ2 = −0.022, (b) k = 1.6 e
µ2 = −0.027, (c) k = 1.7 e µ2 = −0.032 e (d) k = 1.8 e µ2 = −0.037.

49
A ECGL na forma quı́ntica pode escrever-se na seguinte forma geral
1
iνZ + νT T + |ν|2 ν = iρ0 ν + iρ2 νT T + iµ1 |ν|2 ν + iµ2 |ν|4 ν − ξ|ν|4 ν (4.54)
2
Esta equação acrescenta à equação 4.33 o termo −ξ|ν|4 ν que descreve uma correcção de
ordem superior à não-linearidade da fibra. Akhmediev et al [54] encontraram soluções
exactas para esta equação, as quais, no entanto, não são adaptadas para o caso em
que ξ = 0 e µ2 tem valor pequeno, como é o caso abordado acima pela teoria de
perturbações.

4.4 Conclusão
Neste capı́tulo analisámos o efeito de Gordon-Haus, verificando que a difusão temporal
dos solitões aumenta com o cubo da distância. De seguida, abordámos algumas técnicas
que permitem o controlo de tal efeito. A filtragem mostra-se eficiente na redução deste
efeito; no entanto, implica o uso de excesso de ganho linear, o que provoca instabilidade
de fundo. Verificámos, ainda, como a filtragem de frequência deslizante e a amplificação
não linear, principalmente a de ordem quatro, reduzem ou eliminam a instabilidade de
fundo. No caso da amplificação não linear, além dos resultados dados pela teoria de
perturbações, apresentámos algumas soluções analı́ticas exactas da respectiva equação
de propagação.

50
Capı́tulo 5

Interacção entre solitões

5.1 Introdução
A informação digital que é transmitida através de uma fibra óptica é constituı́da por
trens de 10 s e 00 s, representados pela presença de impulso e ausência de impulso, respec-
tivamente. Quando a comunicação por fibra óptica é realizada no regime não linear,
isto é, através de solitões, surge o problema da interacção entre solitões vizinhos. A
interacção ocorre porque estamos num regime não linear e é tanto maior quanto menor
for a distância entre solitões vizinhos. Assim, este fenómeno coloca um limite máximo
à taxa de transmissão porque impõe um mı́nimo à distância entre solitões. Trata-se
portanto de um assunto importante quando decidimos investigar a implementação de
comunicações ópticas por solitões.
Num trabalho publicado em 1983, Gordon [55] mostrou que o comportamento de
solitões vizinhos com amplitudes semelhantes pode ser previsto se considerarmos forças
de interacção que decaem exponencialmente com a distância de separação entre eles
e variam sinusoidalmente com a sua fase relativa. Desde então, muitos outros tra-
balhos foram realizados e publicados. Alguns são de carácter analı́tico, no sentido de
melhor compreender e prever a interacção de solitões, bem como de sugerir técnicas
de supressão da interacção. Outros são de caracter numérico ou reportam resultados
experimentais.
Um contributo teórico importante foi dado por Karpman e Solov’ev [56], ao estu-
darem a interacção tendo por base a teoria de perturbações que temos vindo a utilizar.
Esta abordagem é conhecida na literatura por aproximação de quasi-partı́culas. Ela tem
a vantagem de poder ser usada mesmo quando a propagação está sujeita a perturbações.
Outra abordagem é a baseada no próprio método de dispersão inverso e consiste essen-
cialmente em comparar um campo q que contenha dois impulsos solitónicos, da forma

q(T, 0) = A1 sech[A1 (T − ∆T0 /2)]eiφ1 + A2 sech[A2 (T − ∆T0 /2)]eiφ2 (5.1)

com a solução exacta da ENLS que corresponde ao solitão de ordem 2. Na expressão


5.1 A1 e A2 são as amplitudes, φ1 e φ2 são as fases e ∆T0 o intervalo de tempo entre
os dois solitões consecutivos. A investigação da evolução em casos particulares de 5.1

51
é descrita à custa do conhecimento dos valores próprios que correspondem à solução
solitão de ordem 2 mais aproximada.
Okamawari et al [57] sugeriram, entretanto, uma nova abordagem teórica da in-
teracção entre solitões. Estes autores usaram uma técnica que designaram por 2 soli-
ton PIST (perturbed inverse scatering transform), que corresponde ao método de per-
turbações cuja solução do estado fundamental é o solitão de ordem 2. Esta abordagem
também permite descrever a interacção na presença de perturbações. Partindo de uma
solução inicial tipo solitão de ordem 2, encontram-se os valores próprios aproximados.
Usando a teoria de perturbações determina-se a evolução dos dados de dispersão. No
entanto, as equações de evolução dos dados de dispersão não se podem escrever de
forma explı́cita, tendo que se resolver numericamente. Usando o método de dispersão
inverso regressamos ao campo q e a partir dele estudamos a interacção.
Neste trabalho usaremos a abordagem de Karpman e Solov’ev, que difere da anteri-
ormente descrita, essencialmente porque se baseia na teoria de perturbações do método
de dispersão inverso aplicada à solução solitão singular, usando por isso resultados ap-
resentados no Apêndice A. Há que notar que este método é aplicável apenas quando
a distância entre solitões é suficientemente grande, não sendo aplicável na altura da
colisão.

5.2 Interacção entre dois solitões


Dois impulsos tipo solitão podem ser descritos por uma sobreposição linear de dois
solitões singulares
q(T, Z) = q1 (T, Z) + q2 (T, Z) (5.2)
com
ql (T, Z) = Al sech[Al (T − Tl )] exp[−iBl (T − Tl ) + iδl ] l = 1, 2 (5.3)
onde Al , Bl , Tl e δl são funções da distância. Se introduzirmos a solução 5.2 na equação
não linear de Schrödinger perturbada A.55 obtemos duas equações, uma para q1 e outra
para q2 , do tipo

∂ql 1 ∂ 2 ql
i + + |ql |2 = −(ql2 ql̄∗ + 2|ql |2 ql̄ ) + iεR[ql , ql̄∗ ] (5.4)
∂Z 2 ∂T 2
onde ¯l = 3−l. Esta última equação é uma ENLSP cuja perturbação se deve à interacção
e a outros efeitos descritos no termo iεR[ql , ql̄∗ . Assim, usando as equações da teoria de
perturbações A.69-A.72 obtemos
dAl
= (−1)l+1 4A3 e−A∆T sin(∆φ) + εMl (5.5)
dZ
dBl
= (−1)l+1 4A3 e−A∆T cos(∆φ) + εNl (5.6)
dZ
dTl
= −Bl − 2Ae−A∆T sin(∆φ) + εQl (5.7)
dZ

52
dδl 1
= (A2l + Bl2 ) + 2ABe−A∆T sin(∆φ) + 6A2 e−A∆T cos(∆φ) + εPl (5.8)
dZ 2
onde ∆φ = B∆T + ∆δ, ∆T = T1 − T2 > 0, ∆δ = δ1 − δ2 , A = (A1 + A2 )/2,
B = (B1 + B2 )/2 e Ml , Nl , Ql e Pl são dados pelos integrais das equações A.69-A.72
com o respectivo termo perturbativo R[ql , ql∗ ]. Ao derivarmos estas equações assumimos
que ∆A = A1 − A2 , ∆B = B1 − B2 e ∆T são tais que

|∆A| ¿ A |∆B| ¿ 1 A∆T À 1 |∆A|∆T ¿ 1 (5.9)

Na ausência de perturbações adicionais à própria interacção, pode obter-se as seguintes


equações para as varáveis médias A, B, ∆A, ∆B, ∆T e ∆φ
dA
=0 (5.10)
dZ
dB
=0 (5.11)
dZ
d(∆A)
= 8A3 e−A∆T sin(∆φ) (5.12)
dZ
d(∆B)
= 8A3 e−A∆T cos(∆φ) (5.13)
dZ
d(∆T )
= −∆B (5.14)
dZ
d(∆φ)
= A∆A (5.15)
dZ
Com base nestas equações pode considerar-se três casos particulares [35]:

1. Solitões em fase e de igual amplitude, para os quais os dados iniciais são:

A0 = 1 B0 = 0

∆A0 = 0 ∆B0 = 0
∆T0 = ∆T0 ∆φ0 = 0
¯ ³ ´¯
¯ ¯
Pode mostrar-se que, neste caso, ∆T = ∆T0 + 2 ln ¯cos 2e−∆T0 /2 Z ¯ pelo que os
impulsos colidem quando Z = Zc ' π4 e∆T0 /2 . Verifica-se deste resultado que se
pode adiar a colisão aumentando a separação inicial ∆T0 (ver figura 5.1).

2. Solitões desfasados com igual amplitude, para os quais

A0 = 1 B0 = 0

∆A0 = 0 ∆B0 = 0
∆T0 = ∆T0 ∆φ0 = φ0

53
12

10
∆T0=10
8

∆Τ 6
∆T0=8
4

2 ∆T0=6

0
0 50 100 150

Figura 5.1: Evolução da separação entre solitões vizinhos inicialmente em fase e de


igual amplitude para várias separações iniciais.

16
∆φ0=π /2

12

∆Τ ∆φ0=π /4
8

4 ∆φ0=0.0384

0
0 50 100 150

Figura 5.2: Evolução da separação entre solitões vizinhos com igual amplitude e difer-
entes desfasamentos iniciais.

Neste caso, mostra-se que se pode evitar a colisão desde que a diferença de fase
inicial seja maior que um certo valor mı́nimo definido à custa da separação inicial
∆T0 , de acordo com a condição
φ0 1
tan > cosh−1 (1 + 2e−∆T0 ) (5.16)
2 π
No entanto, para diferenças de fase superiores, os impulsos separam-se de uma
forma monótona (ver figura 5.2), efeito também indesejável em comunicações
ópticas. Resultados semelhantes foram encontrados por Anderson e Lisak [58],
tendo estes autores sugerido a utilização de impulsos iniciais convenientemente
desfasados de forma a minimizar a interacção ao longo da fibra.

3. Solitões em fase com amplitudes diferentes, para os quais


1 + A1
A0 = B0 = 0
2

54
D E
8 10

8 ∆A0=0.2
6
∆A0=0.1
∆A0=0.2 6
∆Τ 4 ∆A0=0.1 ∆φ
(π 4
2
∆A0=0.01 2 ∆A0=0.01

0 0
0 50 100 150 0 50 100 150

Figura 5.3: Evolução da separação e fase relativa de solitões vizinhos inicialmente em


fase com amplitudes diferentes.

∆A0 = A1 − 1 ∆B0 = 0
∆T0 = ∆T0 ∆φ0 = 0
Neste caso pode obter-se o seguinte resultado para a separação mı́nima entre
solitões " µ ¶ #
1 A0 2
∆Tmin = ∆T0 − ln 1 + 16 exp (−A0 ∆T0 ) (5.17)
A0 ∆A0
Verifica-se, deste resultado, que para uma dada separação inicial ∆T0 , a separação
mı́nima aproxima-se da inicial à medida que ∆A0 aumenta. A figura 5.3(a) cor-
robora este resultado e mostra ainda que a estabilização de ∆T é melhor para
valores maiores de ∆A0 . Esta técnica permite, portanto, um controlo efectivo da
interacção, apesar de algumas dificuldades na sua implementação prática [59]. Ex-
istem evidências para atribuir a propagação estável, conseguida com esta técnica,
aos efeitos que ela produz na fase relativa dos dois solitões. Na figura 5.3(b)
mostra-se a evolução de ∆φ, que é tanto mais monótona quanto melhor é a esta-
bilização de ∆T .

5.3 Técnicas de supressão da interacção


Como se estudou no capı́tulo anterior, a propagação de solitões em fibras reais está
sujeita a perdas e a efeitos de ordem superior. Interessa, pois, investigar a interacção
de solitões numa fibra real tendo em conta estes efeitos e todas as técnicas aplicáveis
para os suprimir. Além disso, interessa considerar novas técnicas com o objectivo de
prevenir essa interacção. Verificar-se-á que as técnicas já descritas no capı́tulo 4 se
mostram também convenientes na prevenção da interacção.

55
8

ρ2=0.9
6

∆Τ 4
ρ2=0.3

2 ρ2=0.15

0
0 50 100 150

Figura 5.4: Evolução de ∆T para solitões vizinhos na presença de amplificação e fil-


tragem tais que ρ0 = ρ2 /3 para uma separação inicial ∆T0 = 7.

5.3.1 Amplificação e filtragem


Numa primeira análise, convém estudar o efeito da introdução de ganho e filtragem
espectral. As equações de evolução para as variáveis médias, quando os termos de
perturbação adicionais são iρ0 q + iρ2 qT T , ficam
dA 1
= 2ρ0 A − 2ρ2 A( A2 + B 2 ) (5.18)
dZ 3
dB 4
= − ρ2 A2 B (5.19)
dZ 3
d(∆A) h i
= 8A3 e−A∆T sin(∆φ) + 2ρ0 − 2ρ2 (A2 + B 2 ) ∆A − 4ρ2 AB∆B (5.20)
dZ
d(∆B) 8 4
= 8A3 e−A∆T cos(∆φ) − ρ2 AB∆A − ρ2 A2 ∆B (5.21)
dZ 3 3
d(∆T )
= −∆B (5.22)
dZ
d(∆φ) 4
= A∆A − ρ2 A2 B∆T (5.23)
dZ 3
As duas primeiras equações são semelhantes às equações de evolução para η e κ estu-
dadas na secção 4.2. Como foi visto nessa secção, existe um ponto de equilı́brio estável
(A, B) = (1, 0) quando ρ2 = 3ρ0 . Por integração numérica das equações podemos deter-
minar a evolução de ∆T e concluir que a introdução de filtros apenas atrasa a colisão,
sendo esse atraso tanto maior quanto maior for ρ2 (ver figura 5.4). No entanto, a um
maior valor de ρ2 corresponde um maior valor de ρ0 , o que não é desejável uma vez que
isso provoca uma maior instabilidade de fundo.
O uso de filtros deslizantes na prevenção da interacção também foi estudado por
diversos autores [60, 61]. Podemos fazer a mesma mudança de variáveis efectuada na

56
secção 4.2.1. Assim, as equações de evolução para as quantidades médias são as mesmas
que as apresentadas acima à excepção da equação para B que fica
dB 4
= α0 − ρ2 A2 B (5.24)
dZ 3
Também neste caso as equações de evolução para A e B são semelhantes às equações
para η e κ obtidas na secção 4.2.1. Podemos então aproveitar resultados já conhecidos
e dizer que um ponto de equilı́brio estável é dado pela intersecção das curvas

A2 ρ0
+ B2 = (5.25)
3 ρ2
4
α0 = ρ2 A2 B (5.26)
3
e acontece se r
8 ρ0
|α0 | ≤ ρ0 (5.27)
3 3ρ2
6A4 − 6ρ0 /ρ2 A2 − 18B 2 A2 > 0 (5.28)
Particularmente para Aeq = 1 temos

2 < ρ2 /ρ0 < 3 (5.29)


q
α0 = ±4/3ρ2 ρ0 /ρ2 − 1/3 (5.30)

−ρ32 + 3ρ0 ρ22 − 4ρ30 ≤ 0 (5.31)


ρ2 > 2ρ0 (5.32)
Se considerarmos ρ2 = 0.1, o excesso de ganho poderá variar no intervalo ]0.033, 0.05[.
Na figura 5.5 apresentamos alguns dos resultados da integração numérica das equações
de evolução para valores de excesso de ganho ρ0 = 0.035, 0.04, 0.045 e de separação
inicial ∆T0 = 7 e 5. Como se pode observar, os filtros deslizantes são eficientes na
estabilização da separação entre os solitões, desde que a separação inicial seja suficien-
temente alta. De notar o caso em que ∆T0 = 5, onde se observa uma atracção inicial,
situação que poderia resultar em colisão se a separação inicial fosse inferior. Verificamos
que quanto maior é o valor de ρ0 menor é a atracção inicial, logo menor o risco de co-
lisão. Embora estabilizando, ∆T tem um comportamento oscilatório que se deve ao
comportamento da diferença de fase relativa. Esta varia de uma forma genericamente
monótona com a distância. Quando tem valores aproximadamente entre 0 + 2kπ e
π + 2kπ (k ∈ Z)a interacção é atractiva e entre π + 2kπ e 2π + 2kπ (n ∈ Z) a interacção
é repulsiva (ver figura 5.6). É este tipo de efeito que permite a propagação estável dos
dois impulsos.
Como foi referido na secção 4.2, Golovchenko et al verificaram diferenças no compor-
tamento do solitão consoante a evolução da frequência central do filtro seja crescente ou
decrescente [49]. Estes autores verificaram vantagens no uso de filtros cuja frequência

57
9 0

8 ρ0=0.035
ρ0=0.035 -4
(a) ∆φ
∆Τ 7 0.04 0.04
(π)
-8
0.045
6 0.045

5 -12
0 50 100 150 0 50 100 150


16 0
0.045
0.04 ρ0=0.035
12
-6
(b) ρ0=0.035 ∆φ 0.04
∆Τ 8
(π)
-12
4 0.045

0 -18
0 50 100 150 0 50 100 150

Figura 5.5: Evolução da separação temporal e da fase entre solitões vizinhos para
separações iniciais ∆T0 = (a) 7 e (b) 5. Os parâmetros perturbativos são ρ2 = 0.1,
ρ0 = 0.035, 0.04, 0.045 e α0 obedecendo à expressão 5.30.

7.6 0

-1
7.2

-2
∆φ
∆Τ 6.8
(π)
-3

6.4
-4

6 -5
0 50 100 150

Figura 5.6: Gráfico conjunto da evolução da separação temporal e da fase para um dos
casos da figura 5.5; ρ0 = 0.035, ρ2 = 0.1 e α0 = 0.0172.

58
D E
7.1 8

α0+ α0+
∆ 6.8


∆ 7.9


α0- α0-
6.5 7.8
0 50 100 150 0 50 100 150


Figura 5.7: Evolução de ∆T para solitões vizinhos com separações iniciais ∆T0 (a) 7
e (b) 8 na presença de amplificação e filtragem deslizante sendo os filtros descritos até
ao termo de terceira ordem ρ0 = 0.04, ρ2 = 0.1, σ = 0.05 e α0 = ±0.0344.

central deslize no sentido crescente e conseguiram explicar o efeito ao considerar o termo


de terceira ordem para a descrição do filtro. Na perspectiva do estudo da interacção,
aplicamos a aproximação de Karpman e Solov’ev a uma equação de propagação que
contivesse amplificação e filtros deslizantes, sendo estes últimos descritos até ao termo
de terceira ordem, −iσqT T T . As equações de evolução para as quantidades médias
ficam iguais às equações 5.18-5.23 à excepção das duas últimas que ficam na forma

d(∆T )
= −∆B − 2σ(A∆A + 3B∆B) (5.33)
dZ
d(∆φ) 4 (∆B)3 (∆A)2
= A∆A − ρ2 A2 B∆T − 2σ(A2 ∆B + 5AB∆A − + ∆B) (5.34)
dZ 3 4 4
Os parâmetros ρ0 , ρ2 e α0 foram novamente escolhidos de forma a obter um ponto de
equilı́brio estável (A, B) = (1, 0). Pode-se observar na figura 5.7 que ∆T não chega a
valores tão baixos quando α0 > 0, o que corresponde a um deslizamento no sentido de
frequências decrescentes, uma vez que assumimos ωf = −α0 Z. Contudo a diferença
não é significativa.

5.3.2 Propagação perto do zero de dispersão


No contexto da interacção de solitões já tem sido estudada a propagação perto do zero
de dispersão, onde o termo de dispersão de terceira ordem toma importância [62, 63, 64].
A equação de propagação que descreve a amplificação, filtragem espectral e dispersão
de terceira ordem toma a seguinte forma
1
iqZ + qT T + |q|2 q = +iρ0 q + iρ2 qT T iρ3 qT T T (5.35)
2

59
onde o parâmetro da dispersão de terceira ordem normalizado é ρ3 = β3 /6|β2 |τ0 . As
equações de evolução para as quantidades médias A, B, ∆A, ∆B, ∆T e ∆φ são
dA 1
= 2ρ0 A − 2ρ2 A( A2 + B 2 ) (5.36)
dZ 3
dB 4
= − ρ2 A2 B (5.37)
dZ 3
d(∆A) h i
= 8A3 e−A∆T sin(∆φ) + 2ρ0 − 2ρ2 (A2 + B 2 ) ∆A − 4ρ2 AB∆B (5.38)
dZ
d(∆B) 8 4
= 8A3 e−A∆T cos(∆φ) − ρ2 AB∆A − ρ2 A2 ∆B (5.39)
dZ 3 3
d(∆T )
= −∆B + 2ρ3 (A∆A + 3B∆B) (5.40)
dZ
d(∆φ) 4 (∆B)3 (∆A)2
= A∆A − ρ2 A2 B∆T + 2ρ3 (A2 ∆B + 5AB∆A − + ∆B) (5.41)
dZ 3 4 4

20

(a)

∆ 10


(b)

0
0 50 100 150

Figura 5.8: Evolução de ∆T para solitões vizinhos quando ρ3 = 0.05. (a) na ausência
de outras técnicas, (b) na presença de filtragem com ρ2 = 0.09 e ρ0 = 0.03.

Na figura 5.8(a) pode verificar-se que a dispersão de terceira ordem evita a colisão
mas promove uma separação crescente entre os dois solitões. No entanto, na presença
de amplificação e filtros esta repulsão é atenuada (ver figura 5.8(b)). Segundo a dis-
cussão apresentada por Uzunov [63] a aproximação de Karpman e Solov’ev falha quando
a dispersão de terceira ordem é elevada porque leva à criação de radiação que não é
considerada em tal aproximação. Mas, segundo os mesmos autores, o uso de ampli-
ficação e filtragem evita a propagação de radiação ressonante pelo que a aproximação
de Karpman e Solov’ev acaba por descrever razoavelmente a situação.

5.3.3 Amplificação não linear


No capı́tulo anterior foi abordado o uso de amplificação não linear para ultrapassar o
problema da instabilidade de fundo. Nesta secção estudaremos o seu uso na prevenção
da interacção.

60
D E
8 2.5
µ1=0.07
µ1=0.07
2
µ1=0.06
µ1=0.06
∆ 4



1.5

µ1=0.045 1
µ1=0.045
0 0.5
0 50 100 150 0 50 100 150

Figura 5.9: Evolução de ∆T e A para solitões vizinhos na presença de amplificação


linear e não linear e filtragem ρ0 = 0.02, ρ2 = 0.15 e diferentes valores de µ1 .

Introduzindo um termo de ganho não linear proporcional à segunda potência da


amplitude, iµ1 |q|2 q, juntamente com amplificação linear e filtragem, e partindo das
equações 5.5-5.8, chegamos às seguintes equações de evolução para as variáveis médias
dA 1 4
= 2ρ0 A − 2ρ2 A( A2 + B 2 ) + µ1 A3 (5.42)
dZ 3 3
dB 4
= − ρ2 A2 B (5.43)
dZ 3
d(∆A) h i
= 8A3 e−A∆T sin(∆φ) + 2ρ0 − 2ρ2 (A2 + B 2 ) ∆A − 4ρ2 AB∆B + 4µ1 A2 ∆A
dZ
(5.44)
d(∆B) 8 4
= 8A3 e−A∆T cos(∆φ) − ρ2 AB∆A − ρ2 A2 ∆B (5.45)
dZ 3 3
d(∆T )
= −∆B (5.46)
dZ
d(∆φ) 4
= A∆A − ρ2 A2 B∆T (5.47)
dZ 3
De forma idêntica à encontrada na secção 4.3, existe um ponto de equilı́brio estável
quando ρ0 > 0, ρ2 > 0 e µ1 < ρ2 /2. Para que esse ponto de equilı́brio seja (A, B) =
(1, 0) os parâmetros devem ainda obedecer à condição 2µ1 + 3ρ0 − ρ2 = 0. Quaisquer
que sejam os pares de valores ρ0 e µ1 que obedeçam a esta condição, os resultados não
mostram nenhuma melhoria relativamente à ausência de ganho não linear. Pode-se
observar a mesma distância de colisão nas figuras 5.4 (caso em que ρ2 = 0.15) e 5.9(a)
(caso em que µ1 = 0.045).
Estudou-se casos para os quais a condição anterior não é obedecida. Verifica-se que
a um aumento de µ1 corresponde um aumento da distância de colisão (ver figura 5.9(a)

61
para os restantes casos). Deve notar-se, no entanto, que, neste caso, se verifica um
aumento do valor estacionário de A (ver figura 5.9(b)).
Alguns estudos numéricos demonstraram que, obedecendo à condição 2µ1 + 3ρ0 −
ρ2 = 0, a distância de colisão é significativamente maior que o valor previsto pela
teoria de perturbações. Uzunov et al [65] avançaram com uma explicação para este
comportamento. Como se viu na secção 4.3, neste caso a equação que descreve a
propagação do solitão é a equação complexa de Ginzburg-Landau na forma cúbica,
que tem como soluções exactas solitões com alteração de frequência. As caudas deste
tipo de solitão exibem um comportamento oscilante que previne a interacção com os
solitões vizinhos. Os mesmos autores mostraram que, nas mesmas condições, um trem
de solitões equidistantes se propaga sem interacção se a separação inicial for superior a
um valor crı́tico. Abaixo deste valor, a interacção pode também ser significativamente
reduzida se os impulsos adjacentes tiverem amplitudes diferentes, o que, como vimos
na secção 5.2, já por si só permite um bom controlo da interacção.
Este último resultado motivou-nos a estudar o caso usando a teoria de perturbações.
Assim, os gráficos da figura 5.10 mostram a evolução de ∆T , ∆φ e ∆A para solitões
com amplitudes iniciais ligeiramente diferentes, para diferentes valores de ρ0 e µ1 veri-
ficando a condição 2µ1 + 3ρ0 = 0.15. O caso (a) corresponde à ausência de ganho não
linear (ρ2 = 3ρ0 ), onde se observa que a colisão é evitada. O caso (b) mostra que o uso
de ganho não linear pode melhorar o sistema uma vez que diminui a atracção inicial
entre os solitões vizinhos. Nestes casos, a diferença de fase tende para o valor π, como
aliás é referido no mesmo artigo de Uzunov et al. A evolução de ∆T no caso (c) é sub-
stancialmente diferente. Quase que não se observa atracção inicial e a separação entre
os solitões quase que estabiliza mantendo, no entanto, um comportamento oscilatório.
Este comportamento é semelhante ao observado para o caso de filtros deslizantes. Ele
será vantajoso, embora se note uma tendência decrescente em ∆T que, para distâncias
maiores, pode conduzir à colisão. Podemos observar a evolução de ∆φ, no gráfico cor-
respondente da mesma figura, e notar o seu crescimento mais ou menos monótono, ao
contrário da estabilização no valor π que acontece nos outros casos. Esta evolução da
diferença de fase acontece também no caso dos filtros deslizantes.
A mudança de comportamento no caso (c) levou-nos às equações de evolução 5.42-
5.47. A estabilização da diferença de fase deve-se ao valor de equilı́brio nulo para
∆A. Se atendermos à equação de evolução para ∆A (equação 5.44) notamos que, na
condição ρ2 = 2µ1 + 3ρ0 , esta se pode escrever na forma
d(∆A)
= 8A3 e−A∆T sin(∆φ) − (6A2 − 2)ρ0 ∆A (5.48)
dZ
Esta equação apresenta um termo de amortecimento que depende do valor de ρ0 . Assim,
para valores suficientemente pequenos de ρ0 não é possı́vel reduzir ∆A a zero e conse-
quentemente fazer estabilizar o valor de ∆φ (ver gráfico correspondente na figura 5.10).
Devemos, no entanto, notar que as equações médias foram derivadas na aproximação
de ∆A ¿ A. Como se observa no mesmo gráfico, esta condição não é válida no caso
(a) perto de Z = 40 e no caso (c) perderá a validade para maiores distâncias. Assim,
para melhor prever o comportamento dos solitões, neste caso, teremos que investigar

62
9 12

(b)
6 8 (c)
(c) ∆φ
∆7
(π)
3 (a) 4
(a)
(b)
0 0
0 50 100 150 0 50 100 150

1.5
(a)
1

(c)
∆$ 0.5

0
(b)
-0.5
0 50 100 150

Figura 5.10: Evolução de ∆T , ∆φ e ∆A para solitões vizinhos com amplitudes iniciais


diferentes, ∆A0 = 0.01, na presença de amplificação linear e não linear e filtragem tais
que (a)(ρ0 , µ1 , ρ2 ) = (0.05, 0, 0.15), (b) (0.02,0.045,0.15) e (c) (0.0002, 0.0747, 0.15).

63
as equações individuais 5.5-5.8.

5.4 Conclusão
Neste capı́tulo abordámos o problema da interacção entre solitões vizinhos que formam
o trem de informação digital. A interacção foi abordada na perspectiva da aproximação
de quasi-partı́culas de Karpman e Solov’ev. O primeiro estudo referiu-se ao compor-
tamento interactuante na ausência de perturbações adicionais à própria interacção e
só depois foram estudadas algumas técnicas de supressão desta. Obtivemos resultados
positivos, no que respeita à redução da interacção, em várias técnicas. Entre estas, a
filtragem deslizante mostrou-se mais vantajosa. Ao longo da discussão feita no capı́tulo
teve-se sempre em conta a interacção entre dois solitões vizinhos. No entanto, a uti-
lização dos solitões para comunicações ópticas implica a propagação de um grande trem
de solitões, onde o código é feito à custa da presença ou ausência de solitões ou à custa
de solitões de diferentes amplitudes. Cabe-nos salientar a necessidade de, ao investigar
a interacção, tentar o quanto possı́vel abranger o caso geral de um trem de solitões de
diferentes amplitudes e arbitrariamente dispostos [59].

64
Capı́tulo 6

Solitões ultracurtos

A equação não linear de Schrödinger deixa de ser adequada quando se pretende de-
screver a propagação de impulsos fento-segundo de alta potência. Neste caso, alguns
efeitos de ordem superior tornam-se importantes podendo, no entanto, ser modelados
por perturbações à ENLS. Os principais efeitos são: a dispersão de terceira ordem
e a dispersão Raman intrapulso (DRI), esta última provocando um auto desvio da
frequência do solitão (ADFS).

6.1 Dispersão Raman intrapulso - auto desvio da frequência


Foi observado experimentalmente que os impulsos ultracurtos viam a sua frequência
desviada de quantidades superiores à sua largura espectral após algumas centenas de
metros de propagação. O efeito foi atribuı́do à dispersão Raman intrapulso, fenómeno
não linear que transfere energia das frequências mais altas para as mais baixas, o qual
se torna possı́vel para impulsos fento-segundo uma vez que a sua largura espectral é
suficientemente grande. Gordon estudou teoricamente o problema e conseguiu explicar
os resultados experimentais [66]. A dispersão Raman intrapulso pode ser introduzida
na equação de propagação, de uma forma simplificada, substituindo o termo não linear
por outro que considere uma resposta atrasada, ou seja
Z
|q|2 q → q(T ) dsf (s)|q(T − s)|2 (6.1)

onde f (s) é a função resposta causal. Expandindo |q(T − s)|2 em série de Taylor em
torno de T fica ( )
2 2 ∂|q|2 1 ∂ 2 |q|2
|q| q = q |q| − c1 + c2 + ··· (6.2)
∂T 2 ∂T 2
R
onde os coeficientes cn = sn f (s)ds podem ser determinados a partir da curva de ganho
de Raman caracterı́stica do material da fibra. Geralmente só se considera o primeiro
termo da expansão acima.
Como referimos no inı́cio do capı́tulo, também a dispersão de terceira ordem se torna
importante quando tratamos solitões ultracurtos. Assim, consideremos a equação de

65
propagação que tem em conta os dois efeitos, que é:
1
iqZ + qT T + |q|2 q = TR (|q|T )2 q + iρ3 qT T T (6.3)
2
onde TR = c1 /τ0 e ρ3 = β3 /6|β2 |τ0 são os parâmetros normalizados. Usando as equações
A.69-A.71, e considerando o segundo membro da equação acima como perturbação, o-
btemos as seguintes equações de evolução para os parâmetros do solitão

=0 (6.4)
dZ
dκ 8
= − TR η 4 (6.5)
dZ 15
dT0
= −κ + ρ3 (η 2 + 3κ2 ) (6.6)
dZ
A equação 6.5, para a evolução de κ, traduz a taxa do auto-desvio da frequência
provocado pela dispersão Raman intrapulso.

6.2 Difusão temporal na chegada de solitões ultracurtos


Como sabemos da secção 4.1, a emissão espontânea que ocorre durante a amplificação
perturba os parâmetros do solitão. No caso de solitões de duração na gama dos picosse-
gundos, apenas a alteração da frequência é importante para o valor final da difusão
temporal apresentada pelo trem de solitões. Esse fenómeno é designado por efeito de
Gordon-Haus. No caso de solitões ultracurtos ocorre o auto-desvio da frequência o
qual, como se depreende da equação 6.5, é proporcional à quarta potência da ampli-
tude η. Assim, as flutuações de amplitude causadas pela emissão espontânea durante o
processo de amplificação têm, neste caso, uma maior importância, uma vez que podem
reflectir-se em alterações de frequência e, consequentemente, em alterações na posição
de chegada.
Consideremos um sistema de comunicação com amplificação periódica tal que o
ganho compense exactamente as perdas [67, 68]. As equações de evolução para os
parâmetros do solitão são dadas pelas expressões acima 6.4-6.6. A solução para 6.5,
assumindo uma amplitude fixa η0 é dada por
8
κ(Z) = − TR η04 Z + κ0 (6.7)
15
onde κ0 é o valor inicial de κ. Usando esta solução na equação 6.6, temos o seguinte
resultado para a posição do solitão
4 64 8
T0 (Z) = TR η04 Z 2 −κ0 Z +ρ3 η02 Z + ρ3 TR2 η08 Z 3 − ρ3 TR η04 κ0 Z 2 +3ρ3 κ20 Z +T0i (6.8)
15 225 5
onde T0i é o valor inicial de T0 . A alteração da posição do solitão após um amplificador
situado em Zn = nZa , sendo Za a distância entre amplificadores consecutivos, obtem-se

66
(a) 20 ps (b) 3 ps
40 4
Difusão temporal (ps)

Difusão temporal (ps)


30 3

20 2

10 1

0 0
0 1 2 3 0 0.5 1 1.5 2
Distância real (m) x 10
7 Distância real (m) x 10
6

(c) 1 ps
Difusão temporal (ps)

0.8

0.6

0.4

0.2

0
0 1 2 3
Distância real (m) x 10
5

Figura 6.1: Difusão temporal de um trem de solitões em função da distância. Os diver-


sos traços correspondem às diferentes contribuições: (—) difusão total; (ooo) flutuações
de amplitude; (+++) flutuações de frequência; (xxx) flutuações de posição. As larguras
a meia altura do solitão são (a) τs = 20 ps, (b) τs = 3 ps e (c) τs = 1 ps.

diferenciando 6.8, sendo dada por


µ ¶
16 512 32
δT0 (Zn ) = TR η03 Z 2 + 2ρ3 η0 Z + ρ3 TR2 η07 Z 3 − ρ3 TR η03 κ0 Z 2 δη(Zn )+
15 225 5
µ ¶
8
+ − ρ3 TR η04 Z 2 + 6ρ3 κ0 Z − Z δκ(Zn ) + δT0i (Zn ) (6.9)
5
A alteração da posição do solitão no final do sistema de comunicação obtem-se
somando as alterações δT0 (Zn ) em cada um dos N = Z/Za amplificadores. Substituindo
a soma por uma integração (substituição de maior validade se N for muito grande) e
desprezando parcelas que contenham os parâmetros perturbativos ρ3 e/ou TR de ordem

67
superior a dois, obtemos para a variância da posição
à !
256 2 6 Z 5 4 2 2 Z 3 16 Z4
< δT02 (Z) >= TR η0 + ρ3 η0 + ρ3 TR η04 < δη 2 > +
1125 Za 3 Za 15 Za
à !
2 Z4 1 Z3 Z
+ ρ3 TR η04 + < δκ2 > + 2
< δT0i > (6.10)
5 Za 3 Za Za
Onde se assumiu que as alterações dos parâmetros δη(Zn ), δκ(Zn ) e δT0i (Zn ) que ocor-
rem nos vários amplificadores são não correlacionadas. As variâncias das flutuações dos
parâmetros são dadas pelas expressões 4.4-4.6 referidas na secção 4.1. Na figura 6.1
mostra-se a difusão temporal em função da distância para várias larguras do solitão.
Aos parâmetros são dados valores tı́picos, ou seja, N0 = 8.38 × 10−6 /τs s−1 , α = 0.046
km−1 , β2 = −0.5 ps2 km−1 , β3 = 0.05 ps3 km−1 e c1 = 6 fs e assumiu-se G − 1 ' αza .
Podemos notar que para um trem de solitões de duração 20 ps a difusão temporal
à chegada é dominada por flutuações da frequência, o que corresponde ao efeito de
Gordon-Haus, discutido na secção 4.1. Para solitões de 3 ps temos uma situação in-
termédia, em que ambas as contribuições, flutuações da amplitude e flutuações da
frequência, são importantes. Finalmente, para solitões de 1 ps, a contribuição da flu-
tuação de amplitude domina de uma forma que torna o efeito de Gordon-Haus de-
sprezável. De notar que esta contribuição das flutuações de amplitude é transportada
para flutuações de frequência e posição principalmente através da dispersão intrapulso
de Raman (ver expressão 6.10 onde a parcela que cresce com Z 5 tem como coeficiente
TR2 ).
Na perspectiva da implementação de sistemas de comunicação de alta taxa de trans-
missão, usando solitões ultracurtos, torna-se importante o controlo desta acrescida di-
fusão da posição que o trem de solitões apresenta à chegada. As técnicas de controlo
são o tema da secção seguinte.

6.3 Técnicas de controlo da propagação de solitões ultra-


curtos
6.3.1 Amplificação com largura limitada da curva de ganho
Uma das técnicas usadas na supressão do auto-desvio da frequência consiste no aproveita-
mento da própria largura finita da curva de ganho. Neste método, a frequência central
do solitão não sofre um desvio contı́nuo, estacionando num valor abaixo do pico da
curva de ganho mas ainda dentro desta [69]. Nakazawa et al [70] reportam o sucesso
da propagação de solitões fento-segundo usando AFDEs. Para valores moderados de
ganho o impulso mantém as suas propriedades solitónicas (ou seja a amplificação faz-se
de uma forma adiabática) e o auto desvio da frequência é compensado pela largura
finita da curva de ganho.
Considerando uma curva de ganho parabólica, o efeito da sua largura finita pode
ser modelado de forma semelhante ao apresentado na secção 4.2. O conjunto deste

68
1.5 0

η


-0.7

0.5

0 -1.4
0 100 200 300 400 0 100 200 300 400

Figura 6.2: Evolução de η e κ para um solitão ultracurto quando ρ0 = 0.014, ρ2 = 0.01


e TR = 0.026.

efeito com a DRI resulta numa perturbação que se escreve da seguinte forma

iεR[q] = iρ0 q + ρ1 qT + iρ2 qT T + TR |q|2T q (6.11)

onde ρ0 = G − Γ é o excesso de ganho, ρ1 = −g 0 (ω0 )z0 /τ0 refere-se à não ressonância


entre as frequências centrais do solitão e da curva de ganho e ρ2 = −G00 refere-se à
forma da curva de ganho. Neste caso, as equações de evolução para η e κ ficam
à !
dη η2
= 2ρ0 η − 2ρ1 ηκ − 2ρ2 η + κ2 (6.12)
dZ 3

dκ 2 4 8
= − η 2 ρ1 − ρ2 η 2 κ − TR η 4 (6.13)
dZ 3 3 15
Considerando o caso em que as frequências centrais do solitão e da curva de ganho
são ressonantes, ρ1 = 0, as equações 6.12 e 6.13 apresentam um ponto de equilı́brio
estável. Para que a amplitude nesse ponto seja unitária é necessário satisfazer a seguinte
condição
ρ2 4 TR2
ρ0 − − =0 (6.14)
3 25 ρ2
sendo a frequência de equilı́brio, neste caso, κe = −2TR /5ρ2 . Na figura 6.2 verifica-se
a estabilização da amplitude no valor unitário e da frequência no valor previsto, após
alguma oscilação inicial. Este comportamento comprova o efeito de controlo que a
largura finita da curva de ganho tem sobre o auto desvio da frequência.
Pode ilustrar-se o efeito da não concordância entre as frequências centrais do solitão
e da curva de ganho através do gráficos da figura 6.3. Para ρ1 < 0, que corresponde ao
caso em que a frequência central do solitão se situa na banda de frequências inferiores
da curva de ganho, a frequência de equilı́brio está mais perto do valor inicial. Como
se pode observar, este termo produz efeito essencialmente na frequência do solitão. A

69
1.24 0
(c)

(a) -0.2
1.16
(c) (b)
η κ -0.4

1.08
-0.6 (a)
(b)
1 -0.8
0 50 100 150 0 50 100 150

Figura 6.3: Evolução de η e κ para um solitão ultracurto de largura τ0 = 0.23ps quando


ρ0 = 0.0155, ρ2 = 0.0316, TR = 0.026 e (a) ρ1 = 0.017 (b) ρ1 = 0 (c) ρ1 = −0.017.

amplitude estabiliza para os três casos, no entanto, para ρ1 positivo a sua variação
inicial é mais acentuada.
À semelhança do que acontecia com os solitões pico-segundo, o excesso de ganho
amplifica ondas lineares que causam instabilidade de fundo. No regime pico-segundo
foram sugeridas duas técnicas para controlar esta instabilidade, filtros de frequência
deslizante e ganho não linear. Esta última técnica é preferı́vel no regime fento-segundo
uma vez que a curva de ganho não é, em geral, suficientemente larga para permitir o
deslizamento da frequência central do filtro [51].

6.3.2 Amplificação não linear


Com o objectivo de estudar o efeito da introdução de amplificação não linear na
propagação de solitões ultracurtos, consideremos a seguinte equação não linear de
Schrödinger perturbada [71]
1
iqZ + qT T + q|q|2 = iρ0 q + ρ1 qT + iρ2 qT T + TR |q|2T q + iµ1 |q|2 q + iµ2 |q|4 q (6.15)
2
As equações de evolução para a amplitude e para a frequência do solitão têm agora a
seguinte forma generalizada

dη η3 η3 η5
= 2η(ρ0 − ρ1 κ − ρ2 κ2 ) − 2ρ2 + 4µ1 + 16µ2 (6.16)
dZ 3 3 15
dκ 2 8
= − η 2 (ρ1 + 2ρ2 κ) − TR η 4 (6.17)
dZ 3 15
Consideremos o caso em que ρ1 = 0. Existe um ponto de equilı́brio estável para o
qual ηe = 1 se
T2
15ρ0 − 5ρ2 + 10µ1 + 8µ2 − 2.4 R = 0 (6.18)
ρ2

70
1.2 0
(a)

1.12 -0.2
(b)
η κ
(c)
1.04 (b) -0.4
(c)
(a)
0.96 -0.6
0 100 200 300 0 100 200 300

Figura 6.4: Evolução de η e κ para um solitão ultracurto para o qual TR = 0.026. (a)
ρ0 = 0.012, ρ2 = 0.02, µ1 = 0 e µ2 = 0 (b) ρ0 = 0.0031, ρ2 = 0.035, µ1 = 0.0175 e
µ2 = 0 (c) ρ0 = −0.005, ρ2 = 0.03, µ1 = 0.05 e µ2 = −0.0276.

O valor estacionário da frequência é κe = −0.4TR /ρ2 . Na figura 6.4 pode observar-se


a estacionaridade alcançada pela amplitude e frequência nos valores previstos Nesta
figura incluı́mos três casos: ausência de ganho não linear, presença de ganho não linear
através apenas de µ1 e presença de ganho não linear através de µ1 e µ2 . Em todos os
casos os parâmetros verificavam a condição 6.18.
Das figuras de fase 6.5 e 6.6 podemos retirar mais informação relativamente à esta-
bilidade das soluções estacionárias. Verificamos que os pontos de equilı́brio são estáveis.
Para µ1 6= 0 e µ2 = 0, o excesso de ganho pode ser reduzido mas a instabilidade de
fundo não é suprimida uma vez que ondas de pequena amplitude podem ser ampli-
ficadas no sentido do ponto estacionário (κe , ηe ) (figura 6.5). No caso em que µ1 e
µ2 6= 0 consegue–se a estabilização de η e κ com ρ0 < 0. Além disso, podemos verificar
a tendência para a extinção das ondas de pequena amplitude. Aliás, resultados semel-
hantes já se tinham verificado no regime dos pico-segundos. A diferença significativa
destes diagramas relativamente aos diagramas da secção 4.3 é a assimetria relativa à
linha x = 0 que se deve ao auto desvio da frequência.

6.4 Conclusão
Neste capı́tulo abordámos a propagação de solitões no regime dos fento-segundo. Este
regime é vantajoso porque permite aumentar a capacidade do sistema de comunicação.
No entanto, efeitos de ordem superior, principalmente a dispersão de terceira ordem e
a dispersão Raman intrapulso, não considerados no regime dos pico-segundos, tornam-
se neste caso significativos. A dispersão Raman intrapulso provoca um auto-desvio
constante da frequência do solitão que o pode levar para fora da curva de ganho. Além
disso, associada à dispersão Raman intrapulso surge uma nova contribuição para a
difusão temporal originada pelo ruı́do de amplificação. Neste caso, em que a largura

71
1.5

0.5

0
-1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5
x
Figura 6.5: Linhas do campo (dx/ds, dy/ds) quando ρ0 = 0.0031, ρ1 = 0, ρ2 = 0.035,
TR = 0.026, µ1 = 0.0175 e µ2 = 0.

1.5

0.5

0
-1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5
x
Figura 6.6: Linhas do campo (dx/ds, dy/ds) quando ρ0 = −0.005, ρ1 = 0, ρ2 = 0.03,
TR = 0.026, µ1 = 0.05 e µ2 = −0.0276.

72
espectral do solitão é grande, a própria largura finita da curva de ganho pode funcionar
como filtro, mostrando-se eficiente na estabilização da frequência do solitão. Neste
regime, a amplificação não linear, que é preferı́vel à filtragem de frequência deslizante,
também se mostra eficiente na redução da instabilidade de fundo.

73
Capı́tulo 7

Conclusões

No presente trabalho pretendemos estudar a propagação de solitões em fibras ópticas na


perspectiva do seu uso para comunicações ópticas usando, essencialmente, um método
de perturbações.
Iniciámos o texto com uma apresentação dos solitões, principalmente sob o ponto de
vista histórico. O solitão evidencia-se como uma onda solitária não linear que não sofre
deformação durante a propagação. Ele aparece como solução das equações de evolução
não lineares que descrevem os sistemas fı́sicos que o suportam. Estas equações têm,
ainda, em comum o facto de poderem ser resolvidas de forma exacta pelo método de
dispersão inverso. Além disso, estas ondas são bastante resistentes a perturbações,
o que, sob o ponto de vista matemático, se traduz pela possibilidade de, a partir da
solução solitónica e usando métodos perturbacionais, se encontrar soluções aproximadas
para equações que diferem ligeiramente das anteriormente consideradas.
O solitão entrou na área de investigação das comunicações ópticas quando, em
1973, Hasegawa e Tappert [20] mostraram que a propagação não linear, dispersiva e
sem perdas de impulsos em fibras ópticas obedece à equação não linear de Schrödinger
(ENLS), uma das equações resolvidas pelo método de dispersão inverso e que apresenta
soluções tipo solitão. De facto, neste trabalho, mostrámos que a envolvente do campo
eléctrico do impulso se propaga na fibra segundo a ENLS.
Desde esta data que os solitões têm sido propostos para comunicações ópticas, uma
vez que se destacam das actuais comunicações lineares onde os impulsos alargam devido
à dispersão. No entanto, antes de implementar sistemas de comunicação por solitões
torna-se necessário investigar os problemas a eles inerentes. Embora este trabalho tenha
já sido feito e tenham sido propostos esquemas que possibilitam ritmos de transmissão
cada vez mais elevados, a implementação prática destes sistemas não se concretizou,
principalmente devido à complexidade e aos altos custos de algumas técnicas propostas.
Mesmo assim, os sistemas de comunicação por solitões ainda se mantêm como potenciais
sucessores dos actuais sistemas lineares.
Numa situação ideal em que se ignoram as perdas e os termos de ordem supe-
rior da dispersão e da não linearidade, os solitões podem propagar-se indefinidamente
numa fibra óptica. O principal desvio relativamente a esta situação é devido às per-

74
das intrı́nsecas da fibra. Verificámos que estas perdas atenuam e alargam o solitão e
com isto degradam o sinal digital. Na sequência, apercebemo-nos da necessidade da
amplificação e discutimos duas modalidades de a implementar: de forma localizada ou
distribuı́da. O uso de amplificação distribuı́da permite ultrapassar a limitação do curto
espaçamento entre amplificadores que se verifica para ritmos de transmissão elevados
no regime do solitão médio, caracterı́stico da amplificação localizada. Outra vantagem
da amplificação distribuı́da é o facto do impulso manter razoavelmente a sua forma
inicial ao longo de toda a fibra, ao contrário do que acontece com amplificação local-
izada, onde apenas em determinados pontos se encontra o impulso sem distorção. Uma
desvantagem da amplificação distribuı́da reside na necessidade de uma maior potência
de bombeamento e o maior custo de fabricação desse tipo de fibras.
Apesar da grande utilidade da amplificação óptica, ela traz um novo problema à
implementação de sistemas de comunicação por solitões em fibras; um fenómeno não
linear conhecido por efeito de Gordon-Haus. O fenómeno é provocado pelo ruı́do que
resulta da radiação emitida espontaneamente pelo amplificador. Este ruı́do é em parte
incorporado pelo solitão, alterando aleatoriamente a sua frequência e, devido à dispersão
da velocidade de grupo, também a sua velocidade. Verifica-se, em consequência, uma
difusão temporal na chegada do trem de solitões, ocasionando erros na transmissão
digital e impondo um limite máximo à capacidade do sistema. Analisámos o efeito de
Gordon-Haus, verificando-se que a difusão temporal dos solitões aumenta com o cubo
da distância. De seguida, abordámos algumas técnicas que permitem o controlo desse
efeito. A filtragem mostra-se eficiente na redução deste efeito. No entanto, esta técnica
implica o uso de excesso de ganho, o que provoca instabilidade de fundo. Verificámos,
ainda, como o uso de filtros de frequência central deslizante e a amplificação não linear,
principalmente a de ordem quatro, reduzem ou eliminam a instabilidade de fundo. No
caso da amplificação não linear, além dos resultados dados pela teoria de perturbações,
apresentámos algumas soluções exactas da equação de propagação, conhecida como
equação complexa de Ginzburg-Landau (ECGL).
Estudámos o problema da interacção entre solitões vizinhos que formam o trem
de informação digital. A interacção foi abordada na perspectiva da aproximação de
quasi-partı́culas de Karpman e Solov’ev [56]. Fizemos um estudo preliminar do com-
portamento interactuante na ausência de perturbações adicionais à própria interacção e
só depois foram estudadas algumas técnicas de supressão da mesma. Obtivemos resul-
tados positivos, no que respeita à redução da interacção, usando várias técnicas. Entre
estas, a filtragem deslizante mostrou-se mais vantajosa.
Estudámos, finalmente, a propagação de solitões no regime dos fento-segundo. Este
regime é vantajoso porque permite aumentar a capacidade do sistema de comunicação.
No entanto, efeitos de ordem superior, principalmente a dispersão de terceira ordem e
a dispersão Raman intrapulso, não considerados no regime dos pico-segundos, tornam-
se neste caso significativos. A dispersão Raman intrapulso provoca um auto-desvio
constante da frequência do solitão que o pode levar para fora da curva de ganho. Além
disso, associada à dispersão Raman intrapulso, surge uma nova contribuição para a
difusão temporal originada pelo ruı́do de amplificação. Neste caso, em que a largura
espectral do solitão é grande, a própria largura finita da curva de ganho pode funcionar

75
como filtro, mostrando-se eficiente na estabilização da frequência do solitão. Neste
regime, a amplificação não linear, que é preferı́vel à filtragem de frequência deslizante,
também se mostra eficiente na redução da instabilidade de fundo.
Neste trabalho abordámos alguns dos principais tópicos de investigação relativo
à propagação de solitões em fibras ópticas. Outros tópicos igualmente importantes
ficaram por estudar, por exemplo: o uso de modulação de fase, de fibras com dis-
persão decrescente, sistemas com controlo da dispersão, a interacção entre solitões não
consecutivos, o problema da propagação de solitões em sistemas multicanal, etc. São
de salientar os sistemas com controlo de dispersão que recentemente têm sido alvo de
intensa investigação, apresentando-se como técnica menos dispendiosa e mais simples
que as analisadas neste trabalho.
A análise realizada neste trabalho foi feita com base na aproximação adiabática
da teoria de perturbações baseada no método de dispersão inverso aplicada à equação
não linear de Schrödinger. Por este motivo apresentámos o método de dispersão in-
verso em apêndice e de forma breve, comparando-o com o método de transformadas de
Fourier para resolver equações lineares e aplicando-o na resolução da ENLS. No mesmo
apêndice abordámos a já referida teoria de perturbações, principalmente a aproximação
denominada de adiabática e encontrámos as equações de evolução dos parâmetros do
solitão na presença de uma perturbação genérica. Estas últimas equações constituı́ram
a ferramenta fundamental para estudar a possibilidade de estabelecer sistemas de co-
municação em fibra óptica usando solitões; o que foi desenvolvido na maior parte do
trabalho.
Esta análise poderá ser alargada sob várias vertentes. Por exemplo: consideração
de aproximações de ordem superior no âmbito da mesma teoria de perturbações (onde
se considera a alteração da forma do solitão e o aparecimento de radiação); aplicação da
teoria de perturbações a equações mais extensas que a ENLS, mas também resolúveis
pelo método de dispersão inverso; uso de métodos variacionais; obtenção de soluções
analı́ticas de algumas das equações de propagação (à semelhança do que foi feito a
propósito da ECGL), etc. A um outro nı́vel pode proceder-se à resolução numérica das
várias equações de propagação, obtendo-se por esse meio soluções não acessı́veis por
outro método analı́tico.

76
Apêndice A

Método de Dispersão Inverso e


Teoria das Perturbações

A.1 Introdução
A importância do método de dispersão inverso já foi mencionada. Ele permitiu re-
solver analiticamente muitas equações da Fı́sica não-linear, e com isso trouxe um maior
entendimento dos fenómenos envolvidos.
Uma perspectiva interessante é a comparação do método de dispersão inverso com
a transformada de Fourier e a sua utilização na resolução de equações diferenciais
lineares. Tendo em conta esta semelhança e o facto da transformada de Fourier ser
bem conhecida, vamos, primeiro, descrever sumariamente este método [72, 73].
Consideremos a equação diferencial parcial linear
µ ¶
∂u(z, t) ∂
= −iK −i u(z, t) (A.1)
∂z ∂t
(onde K é geralmente um polinómio de coeficientes constantes denominado por relação
de dispersão), da qual procuramos a solução u(z, t) caracterizada pela condição inicial

u(0, t) = u0 (t) (A.2)

O par de transformadas de Fourier (directa e inversa) relativamente à variável t é dado


por Z ∞
û(z, ω) = dt exp(−iωt)u(z, t) (A.3)
−∞
Z ∞
1
u(z, t) = dω exp(iωt)û(z, ω) (A.4)
2π −∞

A transformada de Fourier A.4 corresponde a uma expansão de u(z, t) no espaço de


Fourier cujas funções de base são a = 1/2π exp(iωt). Estas funções são solução da
equação
∂a
−i = ωa (A.5)
∂t

77
7UDQVIRUPDGDGH)RXULHU
GLUHFWD
X W XÖ  ω

(YROXomR
QRHVSDoRGH
)RXULHU
7UDQVIRUPDGDGH)RXULHU
LQYHUVD
X ]W XÖ ]  ω

Figura A.1: Representação esquemática do método da transformada de Fourier.

Tomando a transformada de Fourier da equação A.1 podemos obter uma equação


diferencial ordinária linear para û(z, ω)
∂ û(z, ω)
= −iK(ω)û(z, ω) (A.6)
∂z
que por integração imediata dá
û(z, ω) = û(0, ω) exp[−iK(ω)z] (A.7)
onde Z ∞
û(0, ω) = dt exp(−iωt)u(0, t) (A.8)
−∞
Fazendo a transformada de Fourier inversa da equação A.7 temos a solução de A.1 e
A.2 que é dada por
Z ∞
1
u(z, t) = û(0, ω) exp {i[ωt − K(ω)z]} dω (A.9)
2π −∞

O método da transformada de Fourier para resolver equações lineares pode sumariar-


-se nos seguintes passos, esquematizados na figura A.1
1. A condição inicial é transformada para o espaço de Fourier (equação A.8);
2. A evolução espacial no espaço de Fourier é trivial (equação A.6);
3. A solução u(z, t) é conseguida pela transformada de Fourier inversa de û(z, ω)
(equação A.9).
Voltando ao método de dispersão inverso, apresentemos de forma sumária a sua
utilização para resolver a equação de KdV. Sendo a equação de KdV a primeira a ser
resolvida por este método [10], usá-la-emos para melhor explicar o próprio nome método
de dispersão inverso e alguma da terminologia associada. Seja a equação de KdV

ut + 6uuz + uzzz = o (A.10)

78
A esta equação está associada a seguinte equação de valores próprios

d2
[ + u(z)]y(z, λ) = λy(z, λ) (A.11)
dz 2
A equação A.11 pertence a uma famı́lia de equações conhecida, em matemática, por
problemas de Sturm-Liouville. A sua ocorrência mais comum é na mecânica quântica,
onde é conhecida como equação de Schrödinger independente do tempo, e onde se
escreve com factores de escala na forma [−h̄2 /2m∂ 2 /∂z 2 + Q(z)] ψ(z, E) = Eψ(z, E).
A equação de Schrödinger pode ser interpretada como a equação de valores próprios do
operador da energia (também designado Hamiltoneano), −h̄2 /2m∂ 2 /∂z 2 +Q(z), de uma
partı́cula sujeita ao potencial unidimensional Q(z). Resolver este problema equivale a
determinar os valores próprios e os estados próprios da energia da partı́cula em causa.
Na mecânica clássica, o estudo da deflexão de um corpo, proveniente dum ponto distante
segundo uma trajectória rectilı́nea, ao entrar num qualquer campo de forças denomina-
se problema de dispersão. De modo semelhante, em mecânica quântica, ao problema de
Schrödinger denomina-se problema de dispersão, salvaguardando as devidas diferenças
[9].
O espectro da equação A.11 tem duas componentes: o espectro contı́nuo, contendo
todos os valores positivos do valor próprio λ = k 2 ; e um espectro discreto, contendo
um número de valores próprios negativos λ = −kn2 , kn > 0, n = 1, 2, . . . , N .
Para caracterizar a parte contı́nua do espectro consideremos a solução geral da
equação A.11 quando u(z) = 0, que corresponde ao caso de movimento livre

Y (z, k) = b(k)eikz + a(k)e−ikz (k > 0)

Podemos pensar nesta solução como a sobreposição de duas ondas, uma viajando para
a direita, que tem como valor próprio do momento h̄k e outra viajando para a esquerda,
com valor próprio do momento −h̄k. Vejamos agora o caso em que u(z) 6= 0, supondo
que u(z) → 0 quando |z| → ∞. Se uma partı́cula viaja desde z = +∞ com um mo-
mento −h̄k e chega à região onde se encontra o potencial, existe uma probabilidade de
ela penetrar o potencial e viajar com o mesmo valor de momento para z = −∞, onde
é novamente livre. Existe também uma probabilidade de que seja reflectida pelo po-
tencial, viajando de volta para z = +∞ com momento +h̄k. Estas duas possibilidades,
que são mutuamente exclusivas na mecânica clássica, podem coexistir na mecânica
quântica. Se inicialmente a partı́cula em z = +∞ é representada pela função e−ikz ,
teremos que representá-la depois com o termo adicional e+ikz para evidenciar a possi-
bilidade da reflexão. Assim a forma assimptótica da função de onda que representa a
partı́cula em z = +∞ é
e k) ∼ (e−ıkz + R(k)e+ıkz ) z → +∞
φ(z,

A forma assimptótica da função para z → −∞ deve evidenciar apenas a onda que viaja
para a direita e que penetrou através do potencial, logo escreve-se
e k) ∼ T (k)e−ıkz
φ(z, z → −∞

79
As funções R(k) e T (k) são conhecidas como coeficientes de reflexão e transmissão,
respectivamente, e identificam de forma única a função própria φ(z, k). Geralmente, o
comportamento assimptótico da função de onda é escrito da seguinte forma
(
b(k)eıkz + a(k)e−ıkz z → +∞
φ(z, k) ∼
e−ıkz z → −∞

onde a(k) = 1/T (k) e b(k) = R(k)/T (k).


Por seu lado, a cada um dos valores próprios do espectro discreto corresponde um
estado ligado, isto é, localizado em redor do potencial (o análogo quântico da órbita
fechada de um satélite). Este estado é dado por uma função normalizável fn (z), sendo
precisamente o seu coeficiente de normalização, ρn , que a identifica.
É possı́vel definir um conjunto de dados, designado por conjunto de dispersão, dado
por n o
S[u(z)] = [a(k), b(k); −∞ < k < +∞] ; [kn , ρn ]N
n=1 (A.12)
que mantém uma correspondência biunı́voca com o potencial dispersivo u(z). Chama-
se transformada de dispersão directa ao acto de fazer corresponder um conjunto de
dispersão ao potencial, e transformada de dispersão inversa ao acto inverso.
No caso geral podemos considerar uma equação do tipo uα = Ω[u(α, β)] sendo Ω
um operador não linear. Podemos rescrever esta equação na forma iL̂α + [L̂, M̂ ] = 0,
sendo L̂ e M̂ dois operadores diferenciais lineares em β cujos coeficientes são polinómios
em u e suas derivadas relativamente a β. O par (L̂, M̂ ) é conhecido por par de Lax.
No método de dispersão inverso a equação não é resolvida no espaço real (espaço-α)
mas num espaço dos valores próprios do operador L̂ (espaço-λ), ou seja, no espaço da
equação
L̂y = λy (A.13)
Se as suas funções próprias evoluı́rem em α da forma
∂y
= M̂ y (A.14)
∂α
os valores próprios λ são independentes de α.
Ao problema A.13 está associado um conjunto de dispersão S[u(β)] semelhante ao
conjunto A.12. Uma vez que u depende de α, também o conjunto de dispersão depen-
derá de α, S ≡ S[u(α, β)]. No caso de equações resolúveis pelo método de dispersão
inverso, a evolução de S com α é simples, sendo vantajoso conseguir a informação
da evolução de u(α, β) a partir da evolução de S fazendo uso das transformadas de
dispersão directa e inversa.
A analogia entre o método de dispersão inverso para resolver equações não lineares
e o método de transformadas de Fourier para resolver equações lineares está no facto
da variável dependente ser transformada num conjunto de novas variáveis dependentes
(conjunto de dispersão), cuja evolução em α é descrita por uma sequência de equações
diferenciais ordinárias. No caso em que o método é aplicável, estas equações diferen-
ciais ordinárias são separáveis e logo facilmente integráveis. Comparada com a trans-
formada de Fourier, a transformada de dispersão inversa tem duas grandes diferenças.

80
A primeira é que a base já não é fixa, como 1/2π exp(iωt), mas depende da variável
desconhecida. A segunda diferença é que o espectro já não consiste simplesmente no
conjunto contı́nuo dos números reais ω, mas inclui um número finito de números com-
plexos isolados. São estes números complexos que correspondem aos solitões, facto que
torna evidente a sua natureza não linear, sem qualquer entidade linear análoga [6].
Uma questão que tem sido explorada no âmbito do método de dispersão inverso, é a
possibilidade de encontrar a maior classe de equações de evolução que possa ser resolvida
através de um problema de valores próprios particular. Deste modo tem-se conseguido
classificar as equações de evolução de acordo com os problemas de dispersão. Portanto,
em vez de se partir da equação de evolução e se pesquisar sobre a sua integrabilidade,
parte-se de um problema de valores próprios, estuda-se as suas relações de dispersão e
chega-se às equações de evolução não lineares que com ele podemos resolver.
Há que dizer que os outros problemas de valores próprios, que não o problema de
Schrödinger referido a propósito da equação de KdV, usados na resolução de outras
equações de evolução não lineares, não têm qualquer interpretação fı́sica em termos de
dispersão, continuando contudo a chamar-se-lhes problemas de dispersão. É o caso da
equação ENLS que resolveremos na secção A.2.
Um desenvolvimento importante do método é a teoria de perturbações, aplicável
a equações que diferem ligeiramente daquelas que o método resolve de modo exacto,
assunto tratado na secção A.3.

A.2 Método de dispersão inverso


Apresentado o método de dispersão inverso, vamos usá-lo na resolução da equação
não linear de Schrödinger que, como vimos no capı́tulo A.15, modela a propagação
dispersiva e não linear de um impulso numa fibra monomodo. Seja então a equação
2.64
1
iqZ + qT T + q|q|2 = 0 (A.15)
2
em que q é uma variável normalizada que representa a envolvente complexa do campo
eléctrico, Z > 0 é a distância normalizada de propagação ao longo da fibra e T é o tempo
num referencial que viaja à velocidade de grupo. A equação não linear de Schrödinger
é uma equação importante em muitas áreas da fı́sica, descrevendo a evolução da envol-
vente de uma onda num meio dispersivo e fracamente não linear. Na maior parte das
aplicações e em trabalhos de ı́ndole teórica, a equação é apresentada com as variáveis
temporal T e espacial Z trocadas relativamente à equação escrita acima. Por este
motivo o desenvolvimento seguinte pode, muitas vezes, parecer diferente de muitos
trabalhos dedicados à ENLS.
A equação não linear de Schrödinger foi a segunda equação resolvida pelo método
de dispersão inverso, o que foi realizado em 1971 por Zakharov e Shabat [11]. Podemos
reescrever esta equação à custa dos operadores de Lax (L̂, M̂ ) na forma

iL̂Z + [L̂, M̂ ] = 0 (A.16)

81
Neste caso os operadores de Lax têm a seguinte forma matricial [11]
" #

i ∂T q∗
L̂ = ∂ (A.17)
−q −i ∂T
" 2 iq ∗
#
∂2
+ |q|2
∂T 2
− 2T − iq ∗ ∂T∂
M̂ = i ∂ ∂ 2 1 2
(A.18)
2 qT + iq ∂T − ∂T 2 − 2 |q|

O problema de dispersão, ou problema de valores próprios do operador L̂ é dado por


(1)
ΨT + iλΨ(1) = iq ∗ (T, Z)Ψ(2)
(2) (A.19)
ΨT − iλΨ(2) = iq(T, Z)Ψ(1)

Se a evolução das funções próprias Ψ = (Ψ(1) , Ψ(2) ) for da forma

ΨZ = M̂ Ψ (A.20)

os valores próprios λ são independentes de Z.


Os operadores L̂ e M̂ foram propostos por Zakharov e Shabat [11], mas em 1973 e
1974 Ablowitz, Kaup, Newell e Segur [17] sugeriram uns operadores mais gerais, referi-
dos à frente, usados para resolver várias equações não lineares através do método de
dispersão inverso. A equação A.19 é um caso particular do correspondente problema de
valores próprios, conhecido na literatura por, problema de Zakharov-Shabat/Ablowitz-
Kaup-Newell-Segur.
Introduzimos dois pares de funções próprias linearmente independentes, que corre-
spondem a valores próprios reais λ, ψ(T, λ) = (ψ (1) , ψ (2) ) e ψ̄(T, λ) = (ψ (2)∗ , −ψ (1)∗ )
e φ(T, λ) = (φ(1) , φ(2) ) e φ̄(T, λ) = (φ(2)∗ , −φ(1)∗ ), apresentando o seguinte comporta-
mento assimptótico
à ! à !
ψ (1) 0
ψ(T, λ) = → eiλT T →∞ (A.21)
ψ (2) 1
à ! à !
φ(1) 1
φ(T, λ) = → e−iλT T → −∞ (A.22)
φ(2) 0
Estas funções são designadas por funções de Jost e relacionam-se pelas expressões

φ(T, λ) = a(λ)ψ̄(T, λ) + b(λ)ψ(T, λ) (A.23)

ψ(T, λ) = b∗ (λ)φ̄(T, λ) − a(λ)φ̄(T, λ) (A.24)


onde os chamados coeficientes de Jost a(λ) e b(λ) estão relacionados pela condição
unitária
|a(λ)|2 + |b(λ)|2 = 1 (A.25)
e
a(λ) = φ(1) (T, λ)ψ (2) (T, λ) − φ(2) (T, λ)ψ (1) (T, λ) (A.26)

82
Será importante enunciar algumas propriedades das funções e coeficientes de Jost que
são úteis na aplicação do método [74] [75]. As funções de Jost ψ e φ admitem con-
tinuação analı́tica no semi-plano superior, Imλ > 0. Consequentemente, e pela equação
A.26, o coeficiente a(λ) também admite continuação analı́tica neste semi-plano, os seus
zeros {λk }N k=1 são os valores próprios discretos para Imλ > 0. Quando λ = λk ψ e φ
são linearmente dependentes

φ(T, λk ) = ρk (T )ψ(T, λk ) (A.27)

com ρk tal que ¯ Z ∞


da ¯¯ ˜ ∗ (T, λ )ψ(T, λ )dT
a0k = = −iρk ψ̄ (A.28)
dλ ¯λ=λk
k k
−∞

˜ se define à custa de ψ da forma ψ̃ = (ψ ∗ , ψ ∗ ). Da mesma forma ψ̄ e φ̄


onde a função ψ̄ 2 1
admitem continuação analı́tica no semi-plano inferior Imλ < 0, assim como a∗ (λ). Os
zeros de a∗ (λ), {λ∗k }N̄
k=1 são os valores próprios para Imλ < 0, e quando λ = λk

φ̄(T, λ∗k ) = ρ̄k (T )ψ̄(T, λ∗k ) (A.29)

O conjunto de dispersão S é constituı́do pelos coeficientes de Jost a(λ), b(λ), a∗ (λ) e


b∗ (λ) com λ real, formando o espectro contı́nuo, e pelos números complexos {λk }N k=1 ,
ρk , {λ∗k }N̄
k=1 e ρ̄k , formando o espectro discreto. Este conjunto subdivide-se em dois
n o
S+ = [a(λ), b(λ); λ = real] ; [λk , ρk ]N
k=1 (A.30)
n o
S− = [a∗ (λ), b∗ (λ); λ = real] ; [λ∗k , ρ̄k ]N̄
k=1 (A.31)

sendo um deles suficiente para reconstruir a função q(T ).


A evolução em Z dos dados de dispersão pode ser obtida a partir da equação A.20,
avaliada em regiões para as quais q(T, Z) → 0, tendo-se

∂a
(λ, Z) = 0 (A.32)
∂Z
∂b
(λ, Z) = −2iλ2 b(λ, Z) (A.33)
∂Z
dλk
=0 (A.34)
dZ
dρk
= −2iλk ρk (A.35)
dZ
Os valores iniciais destes dados obtêm-se a partir da condição inicial da equação não
linear de Schrödinger.
A reconstrução de q(T, Z) faz-se à custa da transformada de dispersão inversa
tomando a variável espacial Z como um parâmetro. Assim mostraremos apenas a
reconstrução de q(T ). Tomemos a transformada de Fourier da equação A.23 dividida

83
por a(λ)(λ − ζ) relativamente a λ. Usando a propriedade a(ζ) → 1 quando ζ → ∞
para Im{ζ} ≥ 0, obtemos as seguintes equações integrais lineares [35]
à ! Z ∞ 0
iλT 1 1 b(λ0 ) eiλ T
ψ̄(T, λ)e = + ψ(T, λ0 )dλ0 +
0 2πi −∞ a(λ0 ) λ0 − λ

N
X ρk eiλk T
+ ψ(T, λk ) (A.36)
k=1
a0k λ − λk
à ! Z ∞
iλ∗n T 1 1 b(λ) eiλT
ψ̄(T, λn )e = + ψ(T, λ)dλ+
0 2πi −∞ a(λ) λ − λ∗n
N
X ρk eiλk T
+ ψ(T, λk ) (A.37)
k=1
a0k λ∗n − λk
Estas equações formam um sistema para ψl (T, λ) e ψl (T, λk ) (l = 1, 2 k = 1, 2, · · · , N ) e
os seus complexos conjugados. Elas são completamente determinadas pelo conjunto de
dispersão S+ . Para relacionar ψ̄ com a função q(T ), basta obter a forma assimptótica
de ψ̄ para λ grande, usando o problema de valores próprios A.19, ficando
à ! à ! µ ¶
iλT 1 1 −q(T ) 1
ψ̄(T, λ)e = + R∞ +O (A.38)
0 2λ i T |q(T 0 )|2 dT 0 λ2

Comparando esta última equação com a equação A.36 obtem-se para q(T ) e |q(T )|2
Z ∞ ∗ N
X
1 b (λ) −iλT (2)∗ ρ∗k −iλ∗ T (2)∗
q(T ) = − ∗
e ψ (T, λ)dλ − 2 0∗ e
k ψ (T, λk ) (A.39)
πi −∞ a (λ) k=1
ak

Z ∞ Z ∞ N
X
0 2 01 b(λ) iλT (1) ρk iλk T (1)∗
|q(T )| dT = e ψ (T, λ)dλ − 2i 0 e ψ (T, λk ) (A.40)
T π −∞ a(λ) k=1
ak
Note-se que a expansão A.39 mostra-nos que a solução geral para q(T, Z) é composta
por uma parte solitónica (2a parcela) e uma parte não solitónica (1a parcela) que decai
com Z como ondas dispersivas.
Em alternativa ao tratamento anterior a função própria ψ pode escrever-se
à ! Z ∞à !
0 iλT K1 (T, T 0 ) 0
ψ(T, λ) = e + 0 eiλT dT 0 (A.41)
1 T K2 (T, T )

sendo K1 e K2 relacionáveis com as funções q(T ) e |q(T )|2 da forma

q(T ) = −2iK1∗ (T, T ) (A.42)


Z ∞
|q(T1 )|2 dT1 = −2iK2∗ (T, T ) (A.43)
T

84
7UDQVIRUPDGDGHGLVSHUVmR
GLUHFWD
T 7 6 

(YROXomRHVSDFLDO
WULYLDO

7UDQVIRUPDGDGHGLVSHUVmR
LQYHUVD 6 =
T 7= =!

Figura A.2: Representação esquemática do método de dispersão inverso.

equações estas que são as equivalentes às fórmulas A.39 e A.40. K1 pode determinar-se
através da seguinte equação linear
Z ∞ Z ∞
K1 (T, T1 ) = F ∗ (T + T1 ) − K1 (T, T100 ) F ∗ (T1 + T10 )F (T10 + T100 )dT10 dT100 , T 1 > T
T T
(A.44)
denominada equação de Gel’fand-Levitan-Marchenko, onde F (T ) é uma função que
contem todos os dados de dispersão, sendo dada por
Z ∞ N
X
1 b(λ) ρk
F (T ) = exp(iλT )dλ − i exp(iλk T ) (A.45)
2π −∞ a(λ) k=1
a0k

O uso das transformadas de dispersão para resolver o problema de valor inicial da


ENLS pode sumariar-se nos seguintes passos (ver figura A.2)
1. Transformada de dispersão directa: partindo de q(T, 0), calculamos os corre-
spondentes dados de dispersão agrupados, por exemplo, no conjunto S+ a que
chamamos S+ (0);

2. A evolução espacial de S é trivial, equações A.32- A.35;

3. Transformada de dispersão inversa: reconstruı́mos q(T, Z) a partir das equações


A.36, A.37, A.39 e A.40 (ou A.45, A.44 e A.42).
Podemos novamente evidenciar a semelhança deste método com o método da trans-
formada de Fourier para resolver equações lineares [35]. A equação não linear de
Schrödinger inclui-se no conjunto de equações resolúveis pelo método de dispersão
inverso com uso do problema de dispersão Zakharov-Shabat/Ablowitz-Kaup-Newell-
Segur. Estas equações podem escrever-se na seguinte forma, semelhante à equação
linear A.1 Ã ! Ã !
∂ −q ∗ + q∗
= iK(L̂ ) (A.46)
∂Z q q

85
onde L̂ é um operador integro diferencial dado por
" R R #

i ∂T − 2iq T∞ dT 0 q ∗ (T 0 ) −2iq ∗ T∞ dT 0 q ∗ (T 0 )
L̂ = R∞ R (A.47)
2iq T dT 0 q(T 0 ) ∂
−i ∂T + 2iq ∗ T∞ dT 0 q(T 0 )

e K(ω) = −ω 2 /2 para a ENLS. A equação de valores próprios para este operador

L̂φ = ωφ (A.48)

é a análoga da equação A.5, aliás pode verificar-se que no limite linear em que q → 0
ela se reduz a i∂φ(1) /∂T = ωφ(1) e −i∂φ(2) /∂T = ωφ(2) . A expansão para q(T, Z),
semelhante à expansão A.9, é dada por
Z ∞ ½ ¾
1 b(Z, ω) (1) 2 ∗ (2)∗ 2
q(T, Z) = − (φ ) (T, Z, ω) + r (Z, λ)(φ ) (T, Z, ω) dω+
π −∞ a(Z, ω)
N
( )
X ρk (Z) (1) 2 ρ∗k (Z) (2)∗ 2
+2i (φ ) (T, Z, ω k ) − 0 (φ ) (T, Z, ωk ) (A.49)
k=1
a0k (Z) ak∗ (Z)
onde neste caso os dados de dispersão são os agrupados no conjunto
n o
S(Z) = [a(Z, ω), b(Z, ω); ω = real]; [ωk , ρk (Z)]N
k=1

Assim, as funções de base da expansão são as funções próprias {(φ(1) )2 , (φ(2)∗ )2 } e sob
este ponto de vista a solução solitónica (2a parcela da expansão) pode ser considerada
uma onda com número de onda complexo.
Voltemos à solução da ENLS dada por A.39 e consideremos o caso especial em que
a condição inicial q(T, 0) é tal que b(λ, 0) = 0 e a função a(λ) tem a seguinte forma
N
Y λ − λl
a(λ) = (A.50)
l=1
λ − λ∗l

sendo N o número de valores próprios discretos. Neste caso a solução é puramente


solitónica, designando-se por solitão de ordem N . Sejam os valores próprios discretos
dados na forma λl = (κl + iηl )/2. Se todos os κl forem diferentes, a forma assimptótica
de q é
N
X i
q(T, Z) = = ηl sech[ηl (T + κl Z − T0l )] exp(−iκl T + (ηl2 − κl )Z + i%0l ) (A.51)
l=1
2

composta por N solitões separados de velocidades κl e frequências ωl = 1/2(ηl2 − κ2l ).


Por outro lado, se algumas das partes reais κl forem iguais, por exemplo κn = κm , a
solução forma um estado ligado com frequência de batimento ωn − ωm . A este tipo de
solitão dá-se o nome de solitão ligado.
Como exemplo de condição inicial, consideremos a forma aproximada do sinal de
saı́da de um laser mode-locked, dada por

q(T, 0) = AsechT (A.52)

86
Os valores próprios discretos podem ser obtidos analiticamente [76]. Eles são dados por
ηn 1
λn = i = i(A − n + ) n = 1, 2, · · · , N (A.53)
2 2
sendo o número de valores próprios N determinado pela amplitude A da forma
1 1
A− <N ≤A+ (A.54)
2 2
Se A for exactamente igual a N então b(λ, 0) = 0; consequentemente a solução é
um solitão de ordem N exacto. De qualquer forma, os valores próprios discretos são
puramente imaginários, sendo as velocidades nulas e a solução contem um solitão ligado
de ordem N . Como cada solitão tem uma frequência caracterı́stica, dada por ηn2 /2, o
solitão ligado oscila com um perı́odo determinado pela frequência de batimento comum
mı́nima. Este perı́odo, no caso especial de A = N tem o valor de Zp = π/2.
Como caso particular do solitão de ordem N temos o solitão singular
i
q(T, Z) = qs (T, Z) = η sech[η(T + κZ − T0 )] exp(−iκT + (η 2 − κ)Z + iς0 )
2
que é usado como aproximação de ordem zero na teoria de perturbações que se descreve
na secção seguinte.

A.3 Teoria das perturbações


A descoberta dos solitões como solução exacta de certas equações não lineares teve
bastante impacto em várias áreas da fı́sica. Tal impacto deve-se à propriedade dos
solitões de preservação da sua identidade após um processo de interacção com outros
solitões idênticos, comportamento que não era esperado em fenómenos não lineares.
No entanto, nem sempre a modelação dos fenómenos fı́sicos se limita àquelas equações
exactamente integráveis. Muitas vezes, para nos aproximarmos daquilo que se passa
realmente no mundo fı́sico, temos que adicionar outros termos às equações anteriores.
Quando o desvio do sistema, relativamente àquele que era modelado pela equação
exactamente integrável, é pequeno, existem bons métodos de perturbação que resolvem
estas equações perturbadas. Neste caso, o solitão continua a ser o ponto de partida para
a obtenção de soluções do sistema. Por outras palavras, o solitão, além da preservação
da identidade em situações ideais, mostra também uma notável resistência a pequenas
perturbações.
Os métodos de perturbação são essencialmente de três tipos [35]. Um deles usa as
leis de conservação. Sabe-se que as equações não lineares, resolvidas pelo método de dis-
persão inverso apresentam um número infinito de invariantes. Na presença de uma per-
turbação elas não se conservam, podendo, no entanto, derivar-se equações descrevendo
a sua evolução, as quais são denominadas leis de conservação modificadas. Numa
aproximação de primeira ordem, estas equações reduzem-se a um pequeno número de
equações independentes que nos dão informação sobre alguns parâmetros do solitão.

87
Um outro método opera uma transformação de Lie sobre o problema perturbado de
forma a obter um problema mais simples para o qual facilmente se encontra solução.
Este método é aplicável quando temos perturbações do tipo hamiltoniano. Finalmente,
o terceiro método é baseado no método de dispersão inverso sendo esse que iremos
abordar ao longo do restante trabalho. O método foi introduzido por Kaup [77] e, in-
dependentemente, por Karpman e Maslov [75]. Uma importante contribuição foi dada
ainda por Kaup e Newell [78].
Seja a equação não linear de Schrödinger perturbada dada sob a forma geral
1
iqZ + qT T + |q|2 q = iεR[q] (A.55)
2
sendo ε um parâmetro pequeno e R um operador que actua em q(T, Z). Sendo o método
de perturbação baseado no método de dispersão inverso, teremos novamente em conta
o problema de valores próprios A.19 que nos permite integrar exactamente a equação
não perturbada. Para a equação perturbada, o problema de valores próprios continua
a admitir funções de Jost e coeficientes de Jost e a função q continua a poder ser escrita
em função destes coeficientes e dos outros dados de dispersão. A diferença está no facto
da perturbação alterar a evolução espacial dos dados de dispersão. As equações que
traduzem esta evolução são conseguidas à custa das derivadas variacionais dos dados
de dispersão em ordem à função q. Pode-se mostrar que para o caso da equação não
linear de Schrödinger estas equações de evolução são uma generalização das equações
A.32-A.35 e assumem a forma [75, 74]
∂a(λ, Z)
= iε[a(λ, Z)ᾱ(λ, λ, Z) + b(λ, Z)α(λ, λ, Z)] (A.56)
∂Z
∂b(λ, Z)
= −2iλ2 b(λ, Z) + iε[a(λ, Z)α∗ (λ, λ, Z) − b(λ, Z)ᾱ(λ, λ, Z)] (A.57)
∂Z
dλk (Z) α(λk , λk , Z)
= ε R +∞ (A.58)
dZ ∗
−∞ ψ̃ (T, λk , Z)ψ(T, λk , Z)dT
dρk (Z) iερk d
= −2iλ2k ρk + 0 [ρk α(λ, λk , Z) − β(λ, λk , Z)]λ=λk (A.59)
dZ ak dλ
onde Z +∞
0
α(λ , λ, Z) = ψ̃ ∗ (T, λ0 , Z)R̂[q]ψ(T, λ, Z)dT (A.60)
−∞
Z +∞
ᾱ(λ0 , λ, Z) = ˜ ∗ (T, λ0 , Z)R̂[q]ψ(T, λ, Z)dT
ψ̄ (A.61)
−∞
Z +∞
β(λ0 , λ, Z) = φ̃∗ (T, λ0 , Z)R̂[q]ψ(T, λ, Z)dT (A.62)
−∞

e as funções til tem a seguinte definição ψ̃ = (ψ2∗ , ψ1∗ ) e φ̃ = (φ∗2 , φ∗1 ). Nas últimas
equações assumimos o integral do produto de funções vectoriais da forma
Z +∞ 2 Z +∞
X
f (x)g(x)dx = fi (x)gi (x)dx
−∞ i=1 −∞

88
(1/6 (1/63
ε  ε≠
0pWRGRGH'LVSHUVmR
7HRULDGHSHUWXUEDo}HV
,QYHUVR

T 7= (YROXomR


ψ,φ  HVSDFLDOGH6 =
6 = QmRWULYLDO

(VWDGRVQmRSHUWXUEDGRV
  Q

TQ 7=
ψ φ Q
6Q =

(VWDGRVSHUWXUEDGRVQD
DSUR[LPDomRGHRUGHPQ

Figura A.3: Representação esquemática do método perturbativo aplicado à ENLS.

e o operador matricial R̂[q], actuando em ψ, está relacionado com o escalar R[q] da


forma à !
0 R∗ [q]
R̂[q] =
−R[q] 0
Estas equações são exactas e são a base da teoria de perturbações abordada neste
trabalho. Em princı́pio, e se ε for um parâmetro pequeno, podemos usar as formas
não perturbadas de q(T, Z) e das funções de Jost para determinar α e β e determinar
depois os dados de dispersão numa aproximação de primeira ordem. Com estes dados
de dispersão podemos reconstruir a aproximação de primeira ordem de q(T, Z). Este
procedimento pode ser iterado de forma a determinar aproximações de q(T, Z) de ordem
superior.
Esta teoria de perturbação pode ainda ser usada numa aproximação denominada
de adiabática. Esta aproximação prevê a evolução de um impulso de entrada tipo
solitão singular qs , não considerando a distorção da forma do solitão nem a formação de
caudas, mas apenas a evolução dos parâmetros que o caracterizam ao longo da distância
de propagação. Os efeitos de distorção de forma e formação de caudas só aparecem
na aproximação de primeira ordem. Neste trabalho usamos apenas a aproximação
adiabática.
Consideremos para uma distância de propagação Z qualquer, um impulso da forma

q(T, Z) = η(Z)sech [η(Z)(T − T0 (Z))] exp(−iκ(Z)T + iς(Z)) (A.63)

89
onde os parâmetros η, κ, e T0 e ς dependem de Z da forma que se irá determinar.
Na aproximação adiabática usamos apenas as equações A.58 e A.59, que correspon-
dem à evolução espacial dos dados de dispersão discretos, uma vez que nesta aprox-
imação não consideramos o aparecimento de radiação. Para resolver estas equações
numa aproximação de primeira ordem usamos a solução não perturbada qs (T, Z) que
é igual à equação acima quando η(Z) = η =const., κ(Z) = κ = const., T0 (Z) =
−κZ + T0 (0) e ς(Z) = 21 (η 2 − κ2 )Z + ς0 . Usamos também as respectivas funções de
Jost ψs e φs que são da forma
" #
exp(iλT ) 1
ψs (T, λ, Z) = 2ηsechτ exp(−iϕ)
(A.64)
λ + κ/2 + iη/2 λ + κ2 + i η2 tanh τ

φs (T, λ, Z) = as (λ, Z)ψ¯s (T, λ, Z) (A.65)


sendo τ = η(T − T0 ), ϕ = −κT + ς e o coeficiente de Jost, as , e o único valor próprio
do espectro discreto, λs , dados por
λ − λs
as (λ, Z) = (A.66)
λ − λ∗s

κ + iη
λs = (A.67)
2
O outro coeficiente de Jost bs é igual a zero. Verifica-se que as funções ψs e φs , para
λ = λs , são proporcionais, φs (T, λs , Z) = ρψs (T, λs , Z), sendo

ρ = i exp(iς + ηT0 ) (A.68)

o outro dado de dispersão do espectro discreto.


Usando estes resultados como aproximação de ordem zero nas equações A.58 e A.59
temos para η(Z), κ(Z), e ξ(Z) e ς(Z) as seguintes expressões
Z ∞

=ε Re {R[qs ] exp(−iϕ)} sechτ dτ (A.69)
dZ −∞
Z ∞

= −ε Im {R[qs ] exp(−iϕ)} tanh τ sechτ dτ (A.70)
dZ −∞
Z ∞
dT0 ε
= −κ + 2 Re {R[qs ] exp(−iϕ)} τ sech τ dτ (A.71)
dZ η −∞
Z ∞
dς 1 dκ ε
= (η 2 − κ2 ) + T0 + Im {R[qs ] exp(−iϕ)} sechτ (1 − τ tanh τ )dτ (A.72)
dZ 2 dZ η −∞

Para muitos tipos de perturbações R[q] estas equações transformam-se num sistema de
equações diferenciais ordinárias facilmente integrado por métodos numéricos, como se
mostra neste trabalho ao estudar a propagação real de solitões em fibra óptica.

90
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