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Universidade Federal de Santa Catarina

Departamento de Engenharia Elétrica

Curso de Graduação em
Engenharia Elétrica

INTRODUÇÃO A SISTEMAS DE ENERGIA


ELÉTRICA

Prof. R. S. Salgado

Florianópolis - SC
2022.
Sumário

1 Fundamentos 1
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Diagrama unifilar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.3 Máquinas sı́ncronas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.3.1 Modos de operação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.3.2 Curva de capabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.4 Sistemas trifásicos balanceados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.4.1 Carga conectada em Y . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
1.4.2 Carga conectada em ∆ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
1.5 Sistema por unidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
1.5.1 Seleção dos valores base . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
1.5.2 Base em termos de valores trifásicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
1.5.3 Mudança de base . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
1.6 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

2 Representação dos Sistemas de Potência 43


2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
2.2 Transformadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
2.2.1 Transformador monofásico de dois enrolamentos . . . . . . . . . . . 43
2.2.2 Autotransformador monofásico de dois enrolamentos . . . . . . . . 47
2.2.3 Transformadores trifásicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
2.2.4 Transformadores monofásicos de três enrolamentos . . . . . . . . . 57
2.2.5 Transformadores com tape variável . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
2.3 Linhas de transmissão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
2.4 Cargas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
2.4.1 Modelo exponencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
2.4.2 Modelo polinomial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
2.5 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

3 Operação das Linhas de Transmissão 79


3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
3.2 Representação das linhas de transmissão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
3.3 Equações diferenciais da linha de transmissão . . . . . . . . . . . . . . . . 81
3.4 Transferência de Potência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
3.4.1 Análise baseada nos parâmetros do quadripolo . . . . . . . . . . . . 89
3.4.2 Análise baseada no fluxo de potência . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
3.5 Curva PV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
ii SUMÁRIO

3.6 Linhas de transmissão com perdas desprezı́veis . . . . . . . . . . . . . . . . 98


3.7 Compensação de Linhas de Transmissão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
3.8 Desempenho das linhas de transmissão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
3.9 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114

4 Fluxo de Potência 119


4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
4.2 Preliminares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
4.3 Conceitos Básicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
4.4 Equações Estáticas da Rede Elétrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125
4.5 Formulação do Problema de Fluxo de Potência . . . . . . . . . . . . . . . . 129
4.6 Métodos de Solução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134
4.7 Ajustes e Controles . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147
4.8 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150

5 Análise de Curto Circuito 157


5.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157
5.2 Curto-Circuito em Sistemas de Potência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157
5.3 Máquina Sı́ncrona sob Curto-Circuito Trifásico . . . . . . . . . . . . . . . . 158
5.4 Curto-Circuito Trifásico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163
5.5 Componentes Simétricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173
5.6 Representação no Domı́nio de Seqüência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175
5.7 Faltas Assimétricas num Gerador à Vazio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183
5.8 Análise de Faltas Assimétricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 191
5.9 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 199
Capı́tulo 1

Fundamentos

1.1 Introdução
Este capı́tulo apresenta os conceitos preliminares para o estudo da operação das redes
de energia elétrica em regime permanente. Inicialmente, mostra-se a representação da
rede elétrica através do diagrama unifilar, o qual fornece uma idéia sobre a estrutura e
a conexão dos componentes do sistema, e à partir do qual é possı́vel determinar o dia-
grama de impedâncias. Apresenta-se a seguir, o modelo analı́tico e os modos de operação
da máquina sı́ncrona em regime permanente, com ênfase no funcionamento da mesma
como gerador sı́ncrono. O capı́tulo é concluı́do com uma revisão dos principais conceitos
dos circuitos trifásicos equilibrados e com a introdução da representação no sistema por
unidade.

1.2 Diagrama unifilar


O diagrama unifilar é um tipo de representação dos sistemas de potência que fornece de
maneira concisa as informações significativas sobre o mesmo. Os padrões utilizados para
este tipo de representação foram instituı́dos pela ANSI (American National Standards
Institute) e pelo IEEE (Institute of Electrical and Electronic Engineers). Alguns dos
principais sı́mbolos utilizados para construir o diagrama unifilar são mostrados na tabela
1.1.

Ex. 1.1 Considere o diagrama unifilar mostrado na figura 1.2, para o qual são feitas as
seguintes suposições:

• as impedâncias dos enrolamentos das MS são desprezı́veis;

• as LT’s são representadas apenas pela impedância série no circuito π-equivalente;

O circuito monofásico equivalente é o da figura 1.3.

Ex. 1.2 No diagrama unifilar da figura 1.5, os ı́ndices 1 e 2 nas linhas verticais indicam
as duas barras do sistema. As bobinas da armadura dos geradores G1 , G2 e G3 estão
conectadas em Y com o neutro aterrado através das impedâncias Zng1 , Zng2 e Zng3 . Os
2 Capı́tulo 1: Fundamentos

Maquina rotativa Conexao Delta

Transformador de Conexao Y
dois enrolamentos sem aterramento
Transformador de
três enrolamentos Conexao Y
aterrado com Zn
Disjuntor

Transformador de Conexao Y
potencial solidamente aterrado

Figura 1.1: Diagrama unifilar - Sı́mbolos comuns

1 2
G1
LT1

Carga

3
G2
LT2

Figura 1.2: Diagrama unifilar - Exemplo 1.1

1 2 3
G1 LT1 LT2 G2

Carga

Figura 1.3: Circuito monofásico equivalente - Exemplo 1.1

geradores G1 e G2 e a carga 1 estão conectados ao mesmo barramento e portanto sujeitos


a mesma tensão. De maneira análoga, o gerador G3 impõe a tensão na barra 2, à qual
está conectada a carga 2. Suponha que:

1. a linha de transmissão que conecta os transformadores T1 e T2 é representada por


um circuito π (nominal ou equivalente);
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2. cada transformador é representados por um circuito T ;


3. as cargas são modeladas analiticamente em termos de potência constante.

1 2

Zng1 Zng3
G1 T1 T2 G3

Zng2 G2 LT

Carga 1 Carga 2

Figura 1.4: Diagrama unifilar - Exemplo

O circuito monofásico equivalente ao diagrama unifilar é mostrado na figura 1.5.Observe


que sob condições de operação balanceada em regime permanente a impedância de ater-
ramento dos geradores conectados em Y não é considerada, pois a corrente que flui do
neutro dos geradores para a terra é nula.
Barra 1 Carga 1 Barra 2

Geradores 1 e 2 Trafo 1 Linha de transmissão Trafo 2 Carga 2 Gerador 3

Figura 1.5: Circuito monofásico equivalente - Exemplo 1.2

1.3 Máquinas sı́ncronas


A placa da máquina sı́ncrona geralmente apresenta as seguintes informações nas quais é
baseada a sua operação:
• potência aparente nominal (Snom , Volt-Ampére), tensão nominal (Vnom , Volt, com
o tipo de conexão das bobinas da armadura (Y ou ∆)); corrente nominal √ (Inom ,
Ampére). A máquina sı́ncrona trifásica é balanceada, e portanto Snom = 3Vnom Inom .
• frequência nominal (f , Hz) e velocidade angular nominal (ω, rpm), as quais são

estabelecidas de acordo com a equação f = , onde p denota o número de pólos
2 60
da máquina sı́ncrona;
4 Capı́tulo 1: Fundamentos

• cosφ: fator de potência;

• impedâncias de sequência positiva Z1 , negativa Z2 e zero Z0 , expressas em Ω/f ase


ou em valores percentuais, as quais são utilizadas em estudos de regime permanente
e de curto circuito. O valor percentual corresponde a 100 × o valor por unidade, na
base dos dados de placa do equipamento.

• Zn (Ω/f ase ou valor percentual): impedância de aterramento do neutro, no caso de


conexão Y aterrada. Este parâmetro é utilizado apenas em cálculos requeridos na
operação desbalanceada do sistema de potência.

• corrente (contı́nua) de campo (If em A), cujo valor não deve ser ultrapassado, sob
risco da ocorrência de sobreaquecimento do enrolamento de campo.
Observe que:
• A potência de saı́da da máquina sı́ncrona é limitada pela injeção de potência mecânica
no eixo e pela corrente de armadura (por causa do aquecimento das bobinas);

• a corrente de campo indica uma faixa de operação viável e pode ser interpretada
como um limite superior recomendado;

• os valores nominais da máquina sı́ncrona informam sobre a condição para a qual


o equipamento foi projetado para operar. Entretanto, o gerador sı́ncrono não ne-
cessariamente opera na rede elétrica com valores nominais simultâneos de potência
aparente, tensão e corrente.

1.3.1 Modos de operação


A máquina sı́ncrona pode operar como gerador (fornecendo potência ativa), motor (absor-
vendo potência ativa) ou compensador (teoricamente sem fornecer ou absorver potência
ativa). Em cada um desses modos, este equipamento pode fornecer potência reativa
(sobre-excitação) ou absorver potência reativa (sub-excitação). Os limites de geração e
absorção de potência são determinados com auxı́lio da curva de capabilidade da máquina.

Gerador sı́ncrono e motor sı́ncrono


Os circuitos monofásicos equivalentes da máquina sı́ncrona de rotor cilı́ndrico funcionando
como gerador e como motor são mostrados na figura 1.6.
As equações que representam a geração de potência são obtidas supondo-se as tensões
terminais Vg = Vg ∠00 e de excitação Eg = Eg ∠δg , e separando-se as partes real e ima-
ginária do produto Sg = Vg I∗g . Isto fornece as potências ativa e reativa liberadas pelo
gerador, as quais são expressas respectivamente por
Vg Eg Vg
Pg = sin δg Qg = (Eg cos δg − Vg ) (1.1)
Xg Xg

onde δg é denominado ângulo de carga (ou potência) da máquina sı́ncrona. Desde que Eg >
0, Vg > 0 e Xg > 0, o sentido (sinal) da potência gerada, e portanto o modo de operação
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jXg
+

+
Ig Vg = Vg ∠0o
Eg ∠δg

-
Barramento
infinita

Figura 1.6: Circuitos equivalentes do gerador sı́ncrono e do motor sı́ncrono

como gerador ou motor, depende do ângulo de carga ou, em termos fı́sicos, da injeção de
potência mecânica no eixo da máquina. Ou seja, se δg > 0, a máquina opera como gerador,
e se δg < 0 a máquina opera como motor. Por outro lado, o fornecimento e a absorção
de potência reativa dependem do termo (Eg cos δg − Vg ); isto é, se (Eg cos δg − Vg ) > 0
a máquina opera sobre-excitada (Qg > 0), e se (Eg cos δg − Vg ) < 0, a máquina opera
subexcitada (Qg < 0).
No circuito equivalente mostrado na figura 1.6(b), observe que o sentido da corrente
é invertido, pois a máquina sı́ncrona opera como motor. Desta forma, as potências ativa
e reativa absorvidas pelo motor sı́ncrono possuem a mesmo sentido que a corrente na
armadura e são dadas por,
Vm Em Vm
Pm = − sin δm Qm = (Vm − Em cos δm ) (1.2)
Xm Xm
onde, considerando que o ângulo da tensão terminal do motor (Vm ) é adotado como
referência, o ângulo de carga (δm ) é negativo. Neste caso, o motor sı́ncrono opera subex-
citado quando (Vm − Em cos δm ) > 0 e sobre-excitado quando (Vm − Em cos δm ) < 0.
Para estabelecer os diagramas fasoriais do gerador sı́ncrono e do motor sı́ncrono, con-
sidere que duas máquinas sı́ncronas semelhantes são interligadas, e operam uma como um
gerador e a outra como um motor, conforme mostra a figura 1.8.
No primeiro caso, supõe-se que o motor opera com fator de potência atrasado; ou seja,
o gerador sı́ncrono fornece potência ativa e reativa a uma carga de natureza indutiva, tal
que a corrente Ig = Im nos seus terminais está atrasada (pelo ângulo φ) com relação a
tensão terminal Vg = Vm . As equações que modelam esses equipamentos são mostradas
a seguir.

Eg = Xg Ig + Vg
(1.3)
Em = − Xm Im + Vm

As Eqs. (1.3) são representadas simultaneamente no diagrama da figura 1.8, onde


6 Capı́tulo 1: Fundamentos

Ig Im
Xg Xm

+ + + +

Eg ∠δg Vg = Vg ∠00 Vm = Vm ∠00 Em ∠δm

- - - -

Figura 1.7: Operação simultânea gerador/motor sı́ncrono

podem ser observadas as relações:


Eg cos δg > Vg
(1.4)
Em cos δm < Vm
as quais indicam que:
• o gerador sı́ncrono opera sobre-excitado; isto é, fornece potência reativa com fator
de potência em atraso nos seus terminais;

• o motor sı́ncrono opera sub-excitado; isto é, absorve potência reativa com fator de
potência em atraso nos seus terminais.
O caso em que o motor sı́ncrono opera com fator de potência em avanço é representado
na figura 1.9. Com base nas Eqs. (1.3), e considerando que a corrente Ig = Im nos
terminais dos equipamentos está adiantada (pelo ângulo φ) com relação a tensão terminal
Vg = Vm , a análise do diagrama fasorial indica que,
• Eg cos δg < Vg , tal que o gerador sı́ncrono opera sub-excitado; isto é, absorve
potência reativa com fator de potência em avanço nos seua terminais;

• Em cos δm > Vm , e portanto o motor sı́ncrono opera sobre-excitado; isto é, fornece
potência reativa com fator de potência em avanço nos seua terminais.

Controle de potência do gerador sı́ncrono


A potência complexa liberada nos terminais do gerador sı́ncrono é dada por,
Sg = Pg + jQg
= Vg I∗g
= Vg Ig (cos φ + j sin φ)
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 7

Eg

−Ig
Xg Ig
δg
δm V g = Vm

Ig
−Xm Im

Em

Em cos δm

V g = Vm

Eg cos δg

Figura 1.8: Operação simultânea gerador/motor sı́ncrono - motor subexcitado

onde φ é o ângulo do fator de potência da carga conectada ao gerador sı́ncrono, tal que,
Pg = Vg Ig cos φ
(1.5)
Qg = Vg Ig sin φ

O controle de potência ativa é realizado através de uma máquina primária acoplada ao


eixo da máquina sı́ncrona. A variação da potência mecânica injetada no eixo do gerador
resulta numa variação da velocidade angular do rotor, e consequentemente da frequência
e do ângulo de carga ou potência (entre os fasores tensão terminal e força eletromotriz
interna) da máquina. Uma quantidade maior de potência ativa na saı́da da máquina
está associada a um aumento do ângulo de carga, o que requer uma injeção de potência
mecânica mais elevada. O governador de velocidade é o componente que controla a
injeção de potência mecânica para que o gerador forneça a quantidade de potência ativa
requisitada. Em resumo, este componente monitora a velocidade angular do rotor, a qual
é utilizada como sinal de realimentação para controlar as potências mecânica de entrada
e elétrica de saı́da.
Se a máquina sı́ncrona está conectada a uma barra infinita, a magnitude e a freqüência
da sua tensão terminal permanecem inalteradas. Entretanto, a corrente de excitação e o
torque de entrada no eixo podem ser utilizados para controlar as potências ativa e reativa
da máquina sı́ncrona.
Se o ângulo do fator de potência da carga é positivo (φ > 0), a potência reativa liberada
pelo gerador é positiva, e portanto a carga é de natureza indutiva. Se a potência ativa de
saı́da e a tensão terminal são constantes, então o termo Ig cos φ também é constante. Ou
8 Capı́tulo 1: Fundamentos

Eg

Ig = Im Xg Ig

δg Vg = V m

δm −Xm Im

−Im

Em

Eg cos δg

Vg = V m

Em cos δm

Figura 1.9: Operação simultânea gerador/motor sı́ncrono - motor sobre-excitado

seja, caso o fator de potência da carga se modifique, a magnitude da força eletromotriz


interna pode ser ajustada através da corrente de excitação do campo para que a corrente
fornecida pelo gerador compense a variação do fator de potência.
A excitação normal da máquina é definida como aquela para a qual Eg cos δg = Vg . A
máquina sı́ncrona é considerada estar superexcitada ou subexcitada conforme Eg cos δg >
Vg ou Eg cos δg < Vg , respectivamente. Quando o gerador sı́ncrono está superexcitado, ele
supre potência reativa através dos seus terminais, tal que sob o ponto de vista do sistema
ele atua como um elemento de natureza capacitiva. O diagrama fasorial da figura 1.8
ilustra esta situação.
O controle da magnitude da tensão terminal do gerador é feito pelo regulador de
tensão, através do sistema de excitação das bobinas de campo do gerador sı́ncrono. A
tensão terminal da máquina é utilizada como sinal de realimentação para o regulador de
tensão, com o auxı́lio de um transformador de potencial e um retificador para monitorar
a magnitude da tensão (ou corrente) de excitação do enrolamento de campo. A excitatriz
é o dispositivo que supre corrente contı́nua para o enrolamento de campo dos geradores
sı́ncronos. Esta bobina é excitada por um gerador de corrente contı́nua, através de anéis
de escorregamento e escovas coletoras. Alternativamente, excitatrizes estáticas ou sem
escova também podem ser utilizadas. Neste caso, a potência em corrente alternada obtida
diretamente dos terminais do gerador ou de uma estação de serviço externa é retificada
via tiristores e transferida ao rotor via anéis de escorregamento e escovas coletoras.
O controle de tensão adota basicamente o seguinte procedimento: a magnitude da
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 9

tensão terminal do gerador é comparada com a magnitude da tensão de referência (es-


tabelecida previamente) para fornecer o sinal de erro de magnitude da tensão, o qual é
enviado ao regulador. Este aplica uma tensão na excitatriz, tal que a saı́da desta é a
tensão contı́nua aplicada nas bobinas de campo do gerador para ajustar a magnitude de
tensão terminal.
A figura 1.10 mostra os dois controles básicos de um gerador sı́ncrono; isto é, o regu-
lador de tensão e o governador de velocidade.

Gerador sı́ncrono
Governador
de velocidade Campo P ref
P mec ω +
Máquina
Primária Excitatriz Ef
Eixo
-
V ref
Armadura

Regulador Retificador
de tensão Filtro
Transformador
de potencial

Figura 1.10: Controles P f e QV

Ex. 1.3 Considere um gerador sı́ncrono com valores nominais 635 MVA, fator de potência
0,90, 60 Hz, 3600 rpm, 24 kV e reatância sı́ncrona 1,5639 Ω/fase, conectado a uma barra
infinita (magnitude da tensão e frequência constantes).

1. Supondo que esta máquina opera sob condições nominais, determine a magnitude e
o ângulo da tensão interna do gerador e as potências ativa e reativa correspondentes
ao modelo analı́tico da máquina sı́ncrona:

(a) com fator de potência 0,9 atrasado;


(b) com fator de potência 0,9 adiantado;
(c) com fator de potência unitário;

2. Determine as condições de operação da máquina sı́ncrona:

(a) quando a mesma opera no limite de estabilidade em regime permanente, su-


pondo que a máquina opera sob condições nominais;
(b) supondo que a magnitude da tensão interna é igual a da tensão terminal.
10 Capı́tulo 1: Fundamentos

Barra
Xg infinita
+

+
Ig Vg = Vg ∠00
Eg ∠δg

infinita

Figura 1.11: Circuito monofásico equivalente do exemplo 1.3

1. condições nominais de operação do gerador sı́ncrono representado pelo circuito da


figura 1.11:

Sg = 211, 66 M V A1φ Vg = 13, 85 kVf Ig = 15, 27 kA cos φ = 0, 9

(a) operação com fator de potência atrasado:

Vg = 13, 85∠0o kVf Ig = 15, 27∠ − 25, 84o kA


Eg = Xg Ig + Vg = 32, 42∠41, 53o kVf
Sg = 190, 50 + j92, 26 M V A1φ Sg = 571, 50 + j276, 79 M V A3φ
Sx = Xg Ig2 = j364, 93 M V Ar1φ (na reatância sı́ncrona)
Sf = Eg I∗g = 190, 50 + j457, 20 M V A1φ (na fonte independente)

(b) operação com fator de potência adiantado:

Vg = 13, 85∠0o kVf Ig = 15, 27∠25, 84o kA


Eg = Xg Ig + Vg = 21, 77∠80, 90o kVf
Sg = 190, 50 − j92, 26 M V A1φ Sg = 571, 50 − j276, 79 M V A3φ
Sx = Xg Ig2 = j364, 93 M V Ar1φ (na reatância sı́ncrona)
Sf = Eg I∗g = 190, 50 + j272, 67 M V A1φ (na fonte independente)

Observe que para manter a potência ativa gerada constante, as variações da


tensão interna (relacionada a corrente de excitação do gerador) são comple-
mentadas pelas variações do ângulo de potência ou de carga (relacionado ao
torque mecânico imposto pela máquina primária).
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 11

(c) operação com fator de potência unitário:


Vg = 13, 85∠0o kVf Ig = 15, 27∠0o kA
Eg = Xg Ig + Vg = 27, 61∠59, 88o kVf
Sg = 211, 67 + j0, 00 M V A1φ Sg = 635 + j0, 00 M V A3φ
Sx = 000, 00 + j364, 93 M V Ar1φ (na reatância sı́ncrona)
Sf = 211, 67 + j364, 93 M V A1φ (na fonte independente)

2. condições de operação no limite da estabilidade (δg = 900 ):


(a) condições nominais de potência aparente:
Vg2
Qg = − = −122, 77 M V Ar Sg = 211, 66 M V A1φ
Xg
q
Pg = Sg2 − Q2g = 172, 42 M W (Sg = 635∠ − 35, 4o M V A3φ )
Pg X g
Eg = = 19, 46 kV Ig = (Sg /Vg )∗ = 15, 27∠35, 4o kA
Vg
Sg = 172, 42 − j122, 77 M V A1φ Sg = 517, 27 − j368, 31 M V A3φ
Sx = 000, 00 + j364, 93 M V Ar1φ (na reatância sı́ncrona)
Sf = 172, 42 + j242, 16 M V A1φ (na fonte independente)

(b) magnitude da tensão interna igual a da tensão terminal:


Eg = Vg = 13, 85 kV δg = 90o ⇒ Pg = 122, 77 M W1φ
Qg = −122, 77 M V A1φ (Sg = 520∠ − 45o M V A3φ )
Ig = (Sg /Vg )∗ = 12, 53∠45o kA
Sg = 122, 77 − j122, 77 M V A1φ Sg = 368, 31 − j368, 31 M V A3φ
Sx = 000, 00 + j245, 54 M V Ar1φ (na reatância sı́ncrona)
Sf = 122, 77 + j122, 77 M V A1φ (na fonte independente)

A tabela 1.3.1 resume a operação do gerador sı́ncrono sob condições nominais, com
diferentes fatores de potência.
Quando o gerador sı́ncrono operação com fator de potência atrasado (sobre-excitado),
observa-se que a variação do fator de potência do gerador desde zero até a unidade implica:
• no aumento da potência ativa gerada e no decréscimo da potência reativa gerada;
• no aumento no ângulo de potência, o que é feito basicamente através do ajuste da
injeção de potência mecânica da máquina primária acoplada ao eixo da MS;
• na redução na força eletromotriz interna, através do ajuste da corrente contı́nua de
excitação injetada no enrolamento de campo da MS;
• em variações de mesmo sentido do ângulo do fator de potência (φg ) e do ângulo de
carga ou potência (δg ). O primeiro varia de -90o até zero, enquanto o segundo cresce
de zero até 59,8o .
12 Capı́tulo 1: Fundamentos

cosφ φ Ig Sg Pg Qg Eg δg
(atrasado) (graus) (kA) (MVA) (MW) (MVAR) (kV) (graus)
0,00 -90,0 15,27 635 0,00 635,00 37,74 0,0
0,20 -78,4 15,27 635 127,00 622,17 37,56 7,3
0,40 -66,4 15,27 635 254,00 581,98 37,00 14,9
0,60 -53,1 15,27 635 381,00 508,00 35,94 23,4
0,80 -36,8 15,27 635 508,00 381,00 34,05 34,1
1,00 0,0 15,27 635 635,00 0,00 27,61 59,8
cosφ
(adiantado)
1,00 0,0 15,27 635 635,0 0.00 27,61 59,8
0,80 36,8 15,27 635 508,0 -381,00 19,11 91,4
0,60 53,1 15,27 635 381,0 -508,00 15,26 110,1
0,40 66,4 15,27 635 254,0 -581,98 12,48 130,0
0,20 78,4 15,27 635 127,0 -622,17 10,67 153,4
0,00 90,0 15,27 635 0.00 -635,00 10,03 180,0

Tabela 1.1: Operação do GS do exemplo 1.3: variação do fator de potência

No caso do gerador sub-excitado, a variação do fator de potência desde a unidade até


zero (adiantado) resulta:

• na redução da potência ativa gerada e no acréscimo da potência reativa absorvida


pelo gerador sı́ncrono;

• no aumento do ângulo de potência e na redução da força eletromotriz interna da


MS;

• na operação no limite de estabilidade em regime permanente, com o fator de potência


0,81 adiantado (35,4o ). Após este ponto, a operação estável em regime permanente
é inviável, devido à MS ter atingido o seu limite de subexcitação;

Ex. 1.4 Repita a análise feita no exemplo 1.3, considerando a operação da máquina
sı́ncrona como motor. O circuito monofásico equivalente do motor sı́ncrono conectado a
barra infinita é mostrado na figura 1.12.

1. condições nominais de operação do motor sı́ncrono (semelhantes as do gerador


sı́ncrono mostradas anteriormente);

(a) operação com fator de potência 0,9 atrasado:

Vm = 13, 85∠0o kVf Im = 15, 27∠ − 25, 84o kA


Em = −Xm Im + Vm = 21, 77∠ − 80, 90o kVf
Sm = 190, 50 + j92, 26 M V A1φ Sm = 571, 50 + j276, 79 M V A3φ
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 13

Barra
Xg infinita
+

+
Ig Vg = Vg ∠00
Eg ∠δg

infinita

Figura 1.12: Circuito monofásico equivalente do exemplo 1.3

(b) operação com fator de potência 0,9 adiantado:

Vm = 13, 85∠0o kVf Im = 15, 27∠25, 84o kA


Em = −Xm Im + Vm = 32, 42∠ − 41, 54o kVf
Sm = 190, 50 − j92, 26 M V A1φ Sm = 571, 50 − j276, 79 M V A3φ

(c) operação com fator de potência unitário:

Vm = 13, 85∠0o kVf Im = 15, 27∠0o kA


Em = Xm Im + Vm = 27, 61∠ − 59, 88o kVf
Sm = 211, 67 + j0, 00 M V A1φ Sm = 635 + j0, 00 M V A3φ

2. no limite da estabilidade (δg = −900 )

(a) sob condições nominais:

Vm2
Qm = = 122, 77 M V Ar Sm = 211, 66 M V A1φ
X
pm
Pm = Sm 2 − Q2 = 172, 42 M W
m (Sg = 635∠35, 4o M V A3φ )
Pm X m
Em = = 19, 46 kV Im = (Sm /Vm )∗ = 15, 27∠ − 35, 4o kA
Vm
Sm = 172, 42 + j122, 77 M V A1φ Sm = 517, 27 + j368, 31 M V A3φ

(b) com fator de potência zero atrasado, operando como compensador sı́ncrono,
sob condições nominais:

Qm = 211, 66 M V A1φ (Sm = 635∠90o M V A3φ ) Im = 15, 27∠ − 90o kA


Em = −Xm Im + Vm = 10, 03∠180o kVf
Vm2
Qm > e δm < −90o ⇒ operação instável
Xm
14 Capı́tulo 1: Fundamentos

(c) com fator de potência zero atrasado, operando como compensador sı́ncrono,
sob condições limite de subexcitação:

Vm2
Qm = = 122, 77 M V Ar Sm = 211, 66 M V A1φ
Xm
Pm = 0 (Sg = 368, 31∠90o M V A3φ )
Im = (Sm /Vm )∗ = 8, 86∠ − 90o kA
Em = −Xm Im + Vm = 0, 0

A operação do motor sı́ncrono sob condições nominais, com diferentes fatores de


potência é mostrada na tabela 1.4.

cosφ φ Ig Sg Pg Qg Eg δg
(atrasado) (graus) (kA) (MVA) (MW) (MVAR) (kV) (graus)
0,00 -90,00 15,27 635 0,00 635,00 10,03 180.0
0,20 -78,46 15,27 635 127,00 622,17 10,67 -153.4
0,40 -66,42 15,27 635 254,00 581,98 12,48 -130.0
0,60 -53,13 15,27 635 381,00 508,00 15,26 -110.1
0,80 -36,87 15,27 635 508,00 381,00 19,11 -91.4
1,00 -0,00 15,27 635 635,00 0,00 27,61 -59.8
cosφ
(adiantado)
0,00 -90,00 15,27 635 0,00 -635,00 37,74 0,0
0,20 -78,46 15,27 635 127,00 -622,17 37,56 -7,3
0,40 -66,42 15,27 635 254,00 -581,98 37,00 -14,9
0,60 -53,13 15,27 635 381,00 -508,00 35,94 -23,4
0,80 -36,87 15,27 635 508,00 -381,00 34,05 -34,1
1,00 -0,00 15,27 635 635,00 0,00 27,61 -59,8

Tabela 1.2: Operação da MS do exemplo 1.3 como motor: variação do fator de potência

Compensadores sı́ncronos
Quando a máquina sı́ncrona opera como um Compensador Sı́ncrono, a potência ativa
suprida ou absorvida é teoricamente zero. Na prática, a potência ativa oriunda de uma
fonte externa supre as perdas internas da máquina, e o compensador sı́ncrono opera
fornecendo ou absorvendo potência reativa. Este modo de funcionamento é o mesmo de
um motor sı́ncrono operando sem carga mecânica. Ou seja, a corrente alternada é suprida
através das bobinas da armadura, e dependendo da corrente de excitação o dispositivo
pode gerar ou absorver potência reativa. Desde que as perdas neste tipo de dispositivo
são consideráveis, se comparadas às dos Capacitores Estáticos, o fator de potência com
que operam os compensadores sı́ncronos não é exatamente igual a zero.
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 15

Quando operam em conjunto com os reguladores de tensão, os compensadores sı́ncronos


podem automaticamente funcionar superexcitados (sob condição de carga pesada) ou su-
bexcitados (sob condições de carga leve). Em termos analı́ticos, estas condições são es-
tabelecidas considerando as Eqs. (1.3) e lembrando que o ângulo de carga é zero. No
caso do motor sı́ncrono, o ângulo de carga é igual a zero (δm = 00 ), e as Eqs. (1.2) são
re-escritas como,
Vm
Pm = 0 Qm = (Vm − Em ) (1.6)
Xm
tal que, (Vm > Em ) indica a absorção (subexcitação) e (Vm < Em ) indica o fornecimento
(sobre-excitação) de potência reativa pela máquina sı́ncrona.
Os diagramas fasoriais da máquina sı́ncrona operando como compensador são mostra-
dos na figura 1.13. Nos dois casos as tensões Vg = Vm , Eg e Em estão alinhadas por
causa do valor do ângulo de carga. A corrente I está defasada de 900 da tensão terminal
do compensador.

−Im Ig

Em Vg = V m Eg φ Eg Vg = Vm Em

φ jXm Im jXg Ig jXg Ig jXm Im

Ig −Im

(a) GS sobre−excitado, MS subexcitado (b) GS subexcitado, MS sobre−excitado

Figura 1.13: Operação do compensador sı́ncrono

A principal vantagem do compensador sı́ncrono é a sua flexibilidade de operação. A


geração de potência reativa pode variar continuamente de uma maneira simples (porém
mais lenta do que a dos Compensadores Estáticos), modificando-se a tensão de excitação
da máquina sı́ncrona. A desvantagem deste tipo de operação é que em geral o equipamento
está situado longe dos pontos de consumo e necessita de elementos de transporte para
atingir a demanda, ocasionando perda de potência.
As condições de operação da máquina sı́ncrona do exemplo anterior quando a mesma
opera como um compensador sı́ncrono conectado a uma barra infinita são apresentadas
na tabela 1.3.1.
Observa-se nesta tabela, que quando a tensão interna do compensador sı́ncrono é zero,
a máquina opera com fator de potência atrasado (subexcitada), no limite de estabilidade.
Esta condição de subexcitação permanece para valores da tensão interna até 13,85 kV.
Após este ponto, a máquina começa a operar sobre-excitada; isto é, com fator de potência
adiantado. Estes pontos também podem ser observados nas curvas V , apresentadas na
figura 1.3.1, as quais indicam para o motor sı́ncrono operando com fatores de potência
16 Capı́tulo 1: Fundamentos

Ecs Ics φcs Scs Pcs Qcs


(kV) (kA) (graus) (MVA) (MW) (MVAR)
0,00 8,86 -90,0 368,30 0.0 368,30
5,00 5,66 -90,0 235,40 0.0 235,40
10,00 2,46 -90,0 102,50 0.0 102,50
13,00 0,54 -90,0 22,76 0.0 22,76
14,00 0,09 +90,0 38,16 0.0 -3,81
15,00 0,73 +90,0 303,97 0.0 -30,39
16,00 1,37 +90,0 569,77 0.0 -56,97
18,00 2,64 +90,0 110,13 0.0 -110,13
19,00 3,28 +90,0 136,71 0.0 -136,71
19,40 3,54 +90,0 147,35 0.0 -147,35

Tabela 1.3: Operação da MS do exemplo 1.3 como compensador: variação da tensão


interna.

distintos, a variação da corrente da armadura assim como da condição de excitação da


máquina em função da tensão interna da máquina sı́ncrona.

Curvas V da MS
16
0,90
0,80

0,70
14

Fatores de potência 0,60

12 0,50

0,40
Corrente na armadura (kA)

0,30
10
0,20
0,10

Motor síncrono subexcitado Motor síncrono sobre-excitado


2

Fator de potência = 0 (atrasado) Fator de potência = 0 (adiantado)

0
0 5 10 15 20 25 30
Tensão de excitação (kV)

Figura 1.14: Operação da MS do exemplo 1.3 como motor: curvas V, variação do fator
de potência
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1.3.2 Curva de capabilidade


A curva de capabilidade ou carta de potência é um diagrama que mostra todas as condições
de operação normal de uma máquina sı́ncrona conectada a uma barra infinita. Este
diagrama é de extrema utilidade para o planejamento da operação da máquina sı́ncrona
no sistema de energia elétrica. A sua elaboração requer basicamente a consideração das
correntes máximas que podem circular nas bobinas da armadura e do campo, os limites
de potência da máquina primária, e o aquecimento do núcleo da armadura. Para a sua
determinação, as seguintes suposições são feitas:

• o gerador opera com a magnitude da tensão terminal constante;

• as perdas Joule nas bobinas do estator (e portanto a resistência da armadura) são


desprezı́veis;

A construção do diagrama pode ser sumarizada nas etapas descritas a seguir [1, 2].

1. Determine o diagrama fasorial da máquina sı́ncrona, considerando que a mesma


opera sob condições nominais de tensão, corrente e fator de potência.
Neste caso, a corrente complexa nos terminais do gerador é Ig = Ig ∠φ, tal que o mo-
delo analı́tico deste equipamento é dado pela Eq. (1.3). A representação geométrica
desta equação é mostrada na figura 1.15, onde é ressaltada a decomposição em
quadratura da queda de tensão Xg Ig .

Volts

Eg
Xg Ig

φ Xg Ig cos φ

δg Vg
Volts
φ Xg Ig sin φ

Ig

Figura 1.15: Curva de capabilidade - Diagrama fasorial do gerador sı́ncrono

2. Faça o escalonamento de cada componente do diagrama da figura 1.15 utilizando o


Vg
fator . Conforme mostra a figura 1.16, após o escalonamento,
Xg
18 Capı́tulo 1: Fundamentos

• os eixos cartesianos indicam as potências ativa e reativa de saı́da do gerador;


• o segmento de reta correspondente a queda de tensão na impedância do gerador
representa a potência aparente nominal trifásica Sg = 3Vg Ig , cuja decomposição
fornece as potências ativa Pg = 3Vg Ig cos φ e reativa geradas Qg = 3Vg Ig sin φ;
3Vg2
• o segmento de reta correspondente a tensão nominal escalonada é , sendo
Xg
esta grandeza igual a magnitude da potência gerada na condição do limite de
estabilidade;
3Vg Eg
• o escalonamento da força eletromotriz interna resulta na grandeza , a
Xg
qual pode ser interpretada como a potência correspondente ao limite da tensão
de excitação.
Visando expressar as grandezas da curva de capabilidade em termos de potências
trifásicas todos os componentes do diagrama da figura 1.16 são multiplicados pelo
fator 3.
kW
3Eg Vg
Xg
3Vg Ig

φ P = 3Vg Ig cos φ
3Vg2
Xg
kVAr
φ Q = 3Vg Ig sin φ

Figura 1.16: Curva de capabilidade - Escalonamento do diagrama fasorial do gerador


sı́ncrono

3. Determine os pontos de operação do gerador sı́ncrono com corrente de excitação


constante.
A Eq. (1.1) pode ser re-escrita como,
Vg2
 
Eg Vg Eg Vg
Pg = sin δg Qg + = cos δg
Xg Xg Xg
cuja soma quadrática fornece,
2 2
Vg2
 
Eg Vg
Pg2 + Qg + = (1.7)
Xg Xg
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 19

 
Eg Vg
A Eq. (1.7) representa geometricamente um cı́rculo de raio (magnitude
Xg
Vg
da tensão interna da máquina escalonada pelo fator do passo 2, centrado no
Xg
Vg2
 
ponto 0; − , o qual é interpretado como o conjunto de pontos correspondentes
Xg
a operação do gerador sı́ncrono com a corrente de excitação constante, conforme
mostra a figura 1.17.
3Eg Vg
Semi-cı́rculo, raio =
Xg
kW

Cı́rculo, raio = 3Vg Ig

3Vg2

Xg kVAr

Figura 1.17: Curva de capabilidade - lugar geométrico dos limites do gerador sı́ncrono

4. Determine os pontos de operação do gerador sı́ncrono com magnitude da corrente


da armadura constante.
O lugar geométrico desses pontos é um cı́rculo centrado na origem e com raio igual
a Sg = Vg Ig , proporcional a um valor fixo da corrente de armadura. Desde que
a tensão terminal é suposta constante, os pontos de operação representados neste
cı́rculo correspondem a uma potência aparente de saı́da com magnitude constante,
conforme mostra a 1.17.

5. Determine os pontos de operação limitados pela capacidade da máquina primária.


A potência ativa gerada é expressa como Pg = Vg Ig cos φ, e portanto os pontos de
operação caracterizados pela geração constante de potência ativa situam-se num
segmento de reta horizontal, cuja distância ao eixo vertical é Vg Ig cos φ. O segmento
de reta usado para representar o limite de geração de potência ativa decorrente da
20 Capı́tulo 1: Fundamentos

capacidade da máquina primária é paralelo ao eixo que representa a geração de


potência reativa. A figura 1.17 indica esta condição.
6. Determine os pontos de operação do gerador sı́ncrono com potência reativa de saı́da
constante.
A potência reativa de saı́da é expressa como Qg = Vg Ig sin φ. De maneira análoga
à potência ativa, um segmento de reta vertical representa o lugar geométrico dos
pontos de operação potência reativa de saı́da constante. No caso da operação com
fator de potência unitário, esses pontos estão situados no segmento de reta vertical
que passa pela origem. Para operação com fator de potência atrasado (adiantado) a
potência reativa de saı́da é positiva (negativa) e os pontos de operação estão situados
nos semi-planos localizados nos dois lados do eixo vertical.
7. Determine os pontos de operação correspondentes ao limite de subexcitação do
gerador.
De acordo com a Eq. (1.1), quando a máquina opera no limite de estabilidade,
Vg2
Qg = − , condição na qual o gerador sı́ncrono está subexcitado. O segmento de
Xg
Vg2
 
reta entre o ponto − ; 0 e o ponto de intercessão dos dois semi-cı́rculos relativos
Xg
as operações com a corrente de excitação constante (passo 2) e com a corrente de
armadura constante (passo 3) representa o limite de subexcitação da máquina.
8. A linha radial com raio igual a Sg = Vg Ig e inclinação φ é o lugar geométrico dos
pontos de operação para os quais o fator de potência é constante. Na figura 1.17,
o ângulo φ representa a condição na qual o gerador sı́ncrono supre uma carga com
fator de potência atrasado. No caso do fator de potência unitário (φ = 00 ), os pontos
de operação são representados ao longo do eixo vertical. O semi plano situado à
esquerda deste eixo corresponde a cargas com fator de potência adiantado.
O exemplo apresentado a seguir ilustra a elaboração da curva de capabilidade através
dos passos descritos anteriormente.
Ex. 1.5 Determine a curva de capabilidade de um gerador sı́ncrono trifásico com valores
nominais 635 MVA, 24 kV (Y), fator de potência 0,9 e reatância sı́ncrona 1,5639 Ω/f ase,
3600 rpm (dados da referência [1]).
1. (Passo 1) Para a determinação do diagrama fasorial da figura 1.15, a tensão no-
minal (fase-neutro) é 13,85 kV, a corrente nominal da armadura é Ig = 15, 27 kA,
e o ângulo do fator de potência é 25, 840 . A magnitude da tensão interna do gera-
dor sı́ncrono (considerada limite de excitação) nesta condição de operação é Egmax
é 32,42 kV (fase-neutro), com ângulo de carga (fator de potência nominal) igual a
41, 530 .
Vg
2. (Passo 2) O fator de escalonamento , referido no passo 2, é 8,86, tal que no
Xg
gráfico da figura 1.16, a tensão fase-neutro nos terminais do gerador escalonada
pelo fator (3 × 13, 85k × 8, 86) vale 368,31.
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 21

 
Vg
3. (Passo 3) A potência reativa (3Eg ) correspondente ao limite de excitação é
Xg
(3 × 32, 42k × 8, 86k = 861, 84M V Ar. O centro do cı́rculo de raio Egmax escalonado,
é o ponto (-368,31; 0). Este conjunto de pontos representa operação do gerador
sı́ncrono com a tensão de excitação limite.

4. (Passo 4) O cı́rculo centrado na origem e com raio igual a 635 MVA representa os
pontos de operação do gerador sı́ncrono com magnitude da corrente da armadura
constante. Este cı́rculo e o do passo anterior se interceptam nos pontos (571.50
MW; ± 276.79 MVAr), correspondente a figura 1.17, os quais representam os valores
limites simultâneos relativos a corrente de armadura nominal e a força eletromotriz
interna do gerador sı́ncrono, para o fator de potência nominal. A magnitude do
ângulo de carga correspondente é ±48, 460 .

5. Não são considerados o limite imposto pela máquina primária e os pontos de operação
com geração de potência reativa constante, e portanto os passos 5 e 6 não são exe-
cutados.

6. (Passo 7) O limite da operação do gerador sı́ncrono imposto por subexcitação é


representado pelo segmento de reta que une os pontos (-368,31; 0) e (-276,79 MVAr;
571,50 MW), o qual é expresso pela equação Qg = 0, 16Pg − 368, 31 (MVAr).
A execução destes passos fornece o diagrama de capabilidade mostrado na figura
1.18.

800

700 Região de sub−excitação Região de sobre−excitação


Limite devido a Ig
600
Potência Ativa (MW)

500

400 Limite devido a sub−exc.

300

200
φg
100 Limite devido a Eg

δg
0
−800 −600 −400 −200 0 200 400 600 800
Potência Reativa (MVAr)

Figura 1.18: Curva de capabilidade do gerador sı́ncrono do exemplo 1.5

A tensão interna correspondente a tensão nominal de saı́da é calculada multiplicando-


Eg Vg Xg
se o valor de potência expresso por pelo fator de escalonamento . Se a tensão
Xg 3Vg
22 Capı́tulo 1: Fundamentos

Vs2
de operação é diferente da tensão nominal, o fator de escalonamento é (onde Vs é a
Xg
magnitude da tensão de operação). Esta mudança altera o escalonamento da figura 1.18,
de tal forma que as quantidades obtidas através do diagrama devem ser re-escalonadas,
de modo a fornecer os valores efetivos de potência ativa e reativa da operação.
Ex. 1.6 Se o gerador do exemplo 1.5 está conectado a uma barra infinita e fornecendo
458,47 MW e 114,62 MVAr na tensão de 22,8 kV, calcule a tensão interna da máquina
utilizando o diagrama de capabilidade.
A figura 1.19 mostra a localização do ponto (114,62 MVAr, 458,47 MW) no diagrama
de capabilidade, cuja distância até o ponto limite de subexcitação (-368,31; 0) é a hipote-
nusa do triângulo retângulo indicado na figura; isto é,
Vg Eg p
= (458, 47 M )2 + ((114, 62 + 368.30) M )2 = 665, 88 M
Xg
tal que,  
665, 88 M 1, 5639
Eg = × = 25, 05 kV (tensão fase-neutro)
3 13, 85 k
ou alternativamente,
 
1, 5639
Eg = 665, 88 M × = 43, 39 kV (tensão de linha)
24 k

800

700 Região de sub−excitação Limite devido a Ig Região de sobre−excitação

600
Potência Ativa (MW)

500 (114,62; 458,42)

400 Limite devido a sub−exc. Limite devido a Eg

300

200

100

0
−800 −600 −400 −200 0 200 400 600 800
Potência Reativa (MVAr)

Figura 1.19: Curva de capabilidade - exemplo 1.4

1.4 Sistemas trifásicos balanceados


A teoria de sistemas trifásicos é usada no estudo da operação das redes de energia elétrica
em regime permanente. As máquinas sı́ncronas que operam nos sistemas de potência
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 23

geram tensões trifásicas, o que justifica a aplicação da teoria apresentada nesta seção.
O texto a seguir sumariza alguns dos principais aspectos da representação dos circuitos
trifásicos.

1.4.1 Carga conectada em Y


A figura 1.20 mostra uma carga trifásica equilibrada conectada em Y com o neutro so-
lidamente aterrado, suprida com tensões balanceadas; ou seja, iguais em magnitude e
defasadas de 1200 . Considerando a seqüência de fase positiva (ou abc) e tomando o fasor

a
Ia

b
Ib
Zy Zy
Van Vbn

In

Zy Vcn

Ic
c

Figura 1.20: Carga trifásica balanceada conectada em Y

Van como referência, as tensões complexas são expressas por

Van = Van ∠00 = Vf ∠00


Vbn = Vbn ∠ − 1200 = Vf ∠ − 1200
Vcn = Vcn ∠1200 = Vf ∠1200

onde Vf é a magnitude da tensão fase-neutro.


Do circuito da figura 1.20, as tensões de linha (ou fase-fase) são dadas por

Vab = Van − Vbn = 3Vf ∠300

Vbc = Vbn − Vcn = 3Vf ∠ − 900

Vca = Vcn − Van = 3Vf ∠1500

tal que,

Vab = 3Van ∠300

Vbc = 3Vbn ∠300 (1.8)

Vca = 3Vcn ∠300
24 Capı́tulo 1: Fundamentos


ou seja, os fasores tensão de linha
√ possuem módulo igual a 3 0vezes a magnitude dos
fasores tensão fase-neutro (VL = 3Vf ) e estão adiantados de 30 em relação aos corres-
pondentes fasores tensão fase-neutro, conforme é ilustrado no diagrama fasorial da figura
1.21.

Vca Vcn −Vbn Vab

300
Van

Vbn

Vbc

Figura 1.21: Carga 3φ balanceada, conexão Y , diagrama fasorial das tensões de seq. +
(abc)

Desde que as tensões de linha formam um caminho fechado,

Vab + Vbc + Vca = 0

e portanto,
Van + Vbn + Vcn = 0
Supondo que a impedância de cada ramo da carga conectada em Y é Zy = Zy ∠θ, as
correntes de linha são dadas por,

Van Vf ∠00
Ia = = = IL ∠ − θ
ZY ZY ∠θ
Vbn Vf ∠ − 1200
Ib = = = IL ∠ − 1200 − θ
ZY ZY ∠θ
Vcn Vf ∠ + 1200
Ic = = = IL ∠ + 1200 − θ
ZY ZY ∠θ
Vf
onde IL = é a magnitude da corrente de linha. Essas correntes são iguais em magni-
ZY
tude e defasadas de 1200 , tal que,

In = Ia + Ib + Ic = 0

indicando que se o sistema é balanceado, as correntes de linha serão balanceadas, e ne-


nhuma corrente flui no neutro da carga.
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 25

A potência complexa em cada ramo da carga é dada por

Sa = Van I∗a = Vf IL ∠θ
Sb = Vbn I∗b = Vf ∠ − 1200 IL ∠1200 + θ = Vf IL ∠θ
Sc = Vcn I∗c = Vf ∠ + 1200 IL ∠ − 1200 + θ = Vf IL ∠θ

e a potência complexa trifásica é expressa como



S3φ = Sa + Sb + Sc = 3VL IL ∠θ (1.9)

1.4.2 Carga conectada em ∆


A figura 1.22 mostra uma carga trifásica conectada em ∆, representada por três im-
pedâncias Z∆ = Z∆ ∠θ.

Ia
Vab
b

Iab Z∆ Ibc
Ib
Z∆ Z∆
Vca
Vbc
Ica

Ic
c

Figura 1.22: Carga trifásica balanceada conectada em ∆

Adotando-se a seqüência de fases positiva e a mesma referência angular do caso ante-


rior, a corrente nos ramos da conexão ∆ são dadas por,

Vab 3Vf ∠300
Iab = =
Z∆ Z ∠θ
√ ∆
Vbc 3Vf ∠ − 900
Ibc = =
Z∆ Z ∠θ
√ ∆
Vca 3Vf ∠1500
Ica = =
Z∆ Z∆ ∠θ

As correntes de linha são determinadas através da aplicação da lei das correntes de


26 Capı́tulo 1: Fundamentos

Kirchhoff; isto é,



Ia = Iab − Ica = 3If ∠ − θ

Ib = Ibc − Iab = 3If ∠ − θ − 1200

Ic = Ica − Ibc = 3If ∠ − θ − 2400

ou, alternativamente,

Ia = 3Iab ∠ − 300

Ib = 3Ibc ∠ − 300 (1.10)

Ic = 3Ica ∠ − 300

Portanto, para uma carga balanceada conectada em ∆ e suprida com tensões trifásicas
balanceadas
√ em seqüência de fase positiva, a magnitude das correntes de linha é igual a
3 vezes a magnitude das correntes nos ramos da conexão ∆, e os fasores correntes de
linha estão atrasados de 300 em relação aos fasores correspondentes às correntes nas fases
do ∆, conforme ilustra o diagrama fasorial da figura 1.23.
Ic

Ica

Iab

300

Ib Ibc Ia

Figura 1.23: Carga 3φ balanceada, conexão ∆, diagrama fasorial das correntes de seq. +
(abc)

No caso da carga equilibrada conectada em ∆, a potência complexa em cada fase é


dada por

Sab = Vab I∗ab = VL ∠300 If ∠ − 300 + θ = VL If ∠θ


Sbc = Vbc I∗bc = VL ∠ − 900 If ∠ + 900 + θ = VL If ∠θ
Sca = Vca I∗ca = VL ∠1500 If ∠ − 1500 + θ = VL If ∠θ

e a potência complexa trifásica é expressa como



S3φ = Sa + Sb + Sc = 3VL IL ∠θ

que é a mesma representada pela Eq. (1.9).


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Das equações deduzidas anteriormente, o módulo da impedância da carga conectada


em Y é dada por
Vf
ZY = √
3If
e da carga conectada em ∆ é expressa como

3Vf
Z∆ =
If
Se as cargas conectadas em Y e ∆ são equivalentes, então
Z∆
ZY =
3
Na solução de circuitos trifásicos balanceados, apenas uma fase precisa ser analisada.
As conexões ∆ são convertidas em Y , com o neutro das cargas e dos geradores aterrados
por um condutor de impedância infinita. Com este artifı́cio, o circuito correspondente a
uma fase é resolvido e as correntes e tensões nas outras fases são iguais em magnitude a
da fase em análise e defasadas de 1200 .
Ex. 1.7 A figura 1.24 mostra um sistema trifásico balanceado, no qual dois geradores co-
nectados a barramentos distintos suprem uma carga através de duas linhas de transmissão,
cada uma com impedância igual a 0,1+j1,0 Ω/fase. A carga absorve 30 kW, com fator
de potência 0,8 atrasado. Suponha que o gerador G1 supre 15 kW, com fator de potência
0,8 atrasado, na tensão de 380 V. Adotando a seqüência positiva de fases e o fasor Van
como referência, determine:
1. os fasores tensão de linha nos terminais da carga;
2. os fasores tensão de linha nos terminais do gerador G2 , a potência complexa suprida
pelo gerador G2 e o correspondente fator de potência;
3. as perdas de potência ativa e reativa nas linhas de transmissão;
4. a potência complexa suprida a carga por cada linha de transmissão;
5. a compensação reativa necessária para a correção do fator de potência da carga para
0,95 atrasado e as impedâncias equivalentes a esta compensação, supondo que as
mesmas estão conectadas em ∆ e sujeitas a tensão da carga calculada no item (1);
6. a magnitude da corrente fornecida pela compensação reativa, supondo que a magni-
tude da tensão calculada no item (1) é mantida constante.

• Sequência de fases: positiva (abc), Referência angular: Van ;


• Operação do gerador 1:
Sg1 = 15, 00 + j11, 25 = 18, 75∠36, 860 kV A3φ
VL = 380V, Van = 220∠00 V = Vg1 (f ase − neutro)
∗ !

S

Sg1 g
Ig1 = = 28, 48∠ − 36, 860 A Ig1 = √ 1
Vg 1 3VL
28 Capı́tulo 1: Fundamentos

1 2
G1
LT1

0,1+j1,0 Ω
15 kW, cos φ = 0,8 at
220 V

3 30 kW, cos φ 0,8 at


G2
LT2

0,1+j1,0 Ω

Figura 1.24: Diagrama unifilar do exemplo 1.7

Fase a:
1 Ig 2 Ig2 3
1
G1 G2

+ + +

220∠00 V Vcr Icr V g2

- - -

Figura 1.25: Circuito monofásico equivalente do exemplo 1.7

• Circuito monofásico equivalente:

1. Carga: 30 kW, cos φ 0,8 at, Scr = 30, 00 + j22, 5kV A3φ ;

Vcr = −Ig1 (0, 1 + j1, 0) + Vg1 = 201, 13∠ − 6, 010 V


Vab = 348, 37∠23, 980 kV
Vbc = 348, 37∠ − 96, 010 kV
Vca = 348, 37∠143, 980 kV

2. Gerador 2:
 ∗
Scr
Icr = = 62, 14∠ − 42, 880 A
Vcr
Ig2 = −Ig1 + Icr = 33, 95∠ − 47, 930 A
Vg2 = Ig2 (0, 1 + j1, 0) + Vcr = 227, 50∠ − 0, 210 V
Vab = 394, 04∠29, 780 kV
Vbc = 394, 04∠ − 90, 210 kV
Vca = 394, 04∠149, 780 kV
Sg2 = 15, 58 + j17, 14kV A3φ (cos φg2 = 0, 67 atrasado).
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3. Perdas nas LT’s:


Slt1 = 3(28, 48)2 (0, 1 + j1, 0) = 0, 24 + j2, 43 kV A3φ
Slt2 = 3(33, 95)2 (0, 1 + j1, 0) = 0, 34 + j3, 45 kV A3φ
Sltt = 0, 58 + j5, 88kV A3φ

4. Potência complexa suprida por cada LT:

Scr = 3Vcr I∗cr = 3Vcr (Ig1 + Ig2 )∗ = 3Vcr I∗g1 + 3Vcr I∗g2
Scr1 = 3Vcr I∗g1 = 14, 75 + j8, 81 kV A3φ (suprida por LT1 )
Scr2 = 3Vcr I∗g2 = 15, 24 + j13, 68 kV A3φ (suprida por LT2 )
Scr = 29, 99 + j22, 49kV A3φ

5. Geração:

Sg1 = 15, 00 + j11, 25 kV A3φ


Sg2 = 15, 58 + j17, 14 kV A3φ
Sgt = 30, 58 + j28, 39kV A3φ

6. Compensação da potência reativa da carga:

• A carga é de natureza indutiva, e portanto o aumento do fator de potência


(de 0,8 para 0,95) requer que a compensação seja realizada com um banco de
capacitores.
• Circuito monofásico equivalente:

Fase a:
1 Ig 2 Ig2 3
1
G1 G2

+ +
+
Vg 2 Icr Vg 2
Vcr
- -
-

Comp. reat.

• Carga compensada:

Vcr = 201, 13∠ − 6, 010 V


cos φcomp = 0, 95 atrasado (φcomp = 18, 190 )
Scomp
cr = 30, 00 + jQcomp
cr kV A3φ
comp comp comp
30, 00kW3φ = Scr cos φ = Scr (0, 95)
comp
Scr = 31, 57 kV A3φ
Qcomp
cr
comp
= Scr sin φcomp = 9, 86 kV Ar3φ
30 Capı́tulo 1: Fundamentos

• Observações:
– Qcomp
cr = 9, 86 kV Ar3φ é a soma das potências reativas (1) absorvida ori-
ginalmente pela carga (Qcr = 22, 5 kV Ar3φ ) e (2) fornecida pelo banco de
compensação Qcomp ;
– Qcomp = −12, 62 kV Ar3φ S comp = −j12, 62 kV A3φ ;
– O sinal negativo indica que esta potência é fornecida pelo banco de com-
pensação (está entrando na barra onde está instalada a carga).
– Impedância (por fase) do banco:
∗ Potência complexa do banco: Scomp = −j4, 21 kV A1φ ;
V2
∗ Desde que S = ∗ ;
Z
∗ Banco de compensação conectado em Y ,

comp
Vf2
S = ∗ ⇒ ZY = −j9, 60Ω
ZY

∗ Banco de compensação conectado em ∆,

VL2
Scomp = ⇒ Z∆ = −j28, 80Ω
Z∗∆
– Corrente fornecida a carga:
∗ antes da compensação: Vcr = 201, 13∠ − 6, 010 V;
 ∗
Scr
Icr = = 62, 14∠ − 42, 880 A
Vcr

∗ após a compensação: Vcr = 201, 13∠00 V;


 comp ∗
comp Scr
Icr = = 52, 33∠ − 18, 190 A
Vcr

Por efeito da compensação reativa, parte da potência reativa será fornecida


pelo banco de capacitores e portanto há uma redução na corrente fornecida
pelos geradores.

Ex. 1.8 Considere o sistema trifásico representado no diagrama unifilar da figura 1.26,
com os dados correspondentes mostrados na tabela 1.4. Assuma que o gerador 1 supre 20
kW com fator de potência 0,8 atrasado e tensão 5% acima da nominal.
Adote a sequência de fases positiva, o fasor tensão Van do gerador como referência, e
determine:

1. o circuito monofásico equivalente;

2. a corrente da carga 1;

3. a tensão e a potência complexa suprida pelo gerador 2;


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1 2 3
C1 G2

C2 C3
G1 LT1 LT2
Figura 1.26: Diagrama unifilar do exemplo 1.8

Gerador Snom Vnom cos φ Conexão


(kVA) (V)
1 25 460 0,8 atrasado Y
2 35 460 0,9 atrasado ∆
Carga Sd Pd cos φ Conexão
(kVA) (kW)
1 20 0,8 atrasado Y
2 12 0,9 adiantado ∆
3 15 0,8 atrasado Y
LT’s Vnom R X
(V) Ω/f ase Ω/f ase
LT12 460 0,5 0,7
LT23 460 0,6 0,8

Tabela 1.4: Dados do exemplo 1.8


Fase a:
1 2 3
Ig1 I32 Ig2
G1 G2

+ +
Ic1 Ic2
Vg1 Ic3 V g2

- -

Figura 1.27: Circuito monofásico equivalente do exemplo 1.8

1. O circuito monofásico equivalente é mostrado na figura 1.27.

2. Gerador 1:

Sg1 = 20, 00 + j15, 00 = 25∠36, 860 kV A3φ


VL = 1, 05(460) → 483∠300 V, Vg1 = 278, 86 ∠00 V
∗ !

S

Sg1 g
Ig1 = = 29, 88∠ − 36, 860 A; Ig1 = √ 1
Vg 1 3VL
32 Capı́tulo 1: Fundamentos

3. Carga 1:

Sc1 = 20, 00 + j15, 00 = 25∠36, 860 kV A3φ


Vc1 = 254, 47∠ − 1, 740 V, VcL1 = 440, 76∠28, 260 V
 ∗
Sc1
Ic1 = = 32, 74∠ − 38, 610 A
Vc 1

4. Carga 2:

Sc2 = 10, 80 − j5, 23 = 12∠ − 25, 84o kV A3φ


Vc2 = 254, 47∠ − 1, 74o V, VcL2 = 440, 76∠28, 26o V
 ∗
Sc2
Ic2 = = 15, 71∠24, 09o A
V
 c2 
15, 71
I∆
c2 = √ ∠(24, 09o + 300 ) A (na fase da conexão∆)
3

5. Carga 3:

I32 = Ic1 + Ic2 − Ig1 = 16, 49∠13, 70o A


Sc3 = 12, 00 + j9, 00 = 15∠36, 860 kV A3φ
Vc3 = 260, 95∠1, 620 V, VcL3 = 451, 98∠31, 620 V
 ∗
Sc3
Ic3 = = 19, 16∠ − 35, 240 A
V c3

6. Gerador 2:
Vg2 = 260, 95∠1, 620 V
Ig2 = I32 + Ic3 = 32, 47∠ − 12, 710 A
Sg2 = 24, 62 + j6, 29 kV A3φ , cos φg2 = 0, 96 atrasado

1.5 Sistema por unidade


Uma quantidade no sistema por unidade (pu) é definida como a razão entre o valor real
da grandeza e o valor base da mesma grandeza selecionado como referência; isto é

V alor real (volts, amps, ohms, watts, ...)


Quantidade em p.u. =
V alor base (volts, amps, ohms, volt − ampère, ...)

Com relação a esta definição, os seguintes aspectos devem ser observados:

• a quantidade em pu é adimensional;

• o valor base é sempre um número real;

• o ângulo de uma quantidade em pu é sempre o mesmo da quantidade verdadeira;


R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 33

• valor percentual = Valor p.u. × 100.

O sistema percentual é mais conveniente para expressar valores de impedância (ou ad-
mitância). No caso do cálculo de tensões, correntes etc, o uso do sistema percentual pode
resultar em valores discrepantes, sendo portanto o sistema por unidade mais adequado
para esta finalidade. Por exemplo, uma corrente de 1,0 pu através de uma impedância de
0,02 pu resulta numa queda de tensão de 0,02 pu (ou 2%). A utilização dos correspon-
dentes valores percentuais (corrente de 100% e impedância de 2%) resulta numa queda
de tensão de 200%, o que é um valor incorreto.

1.5.1 Seleção dos valores base


A escolha dos valores base é feita considerando um elemento genérico de circuito, no qual
quatro quantidades inter-relacionadas (tensão, corrente, impedância e potência) definem
a referida especificação. O seguinte procedimento é adotado:

1. dois valores base (entre tensão, corrente, impedância e potência) são arbitrariamente
selecionados num determinado ponto do sistema;

2. os outros dois valores base são calculados utilizando-se as relações entre tensão, cor-
rente, impedância e potência num circuito monofásico. Por exemplo, em sistemas de
energia elétrica geralmente a tensão (Vb ) e a potência são escolhidas como grandezas
base (Sb ). Então os valores de corrente base (Ib ) e impedância base (Zb ) são dados
por, por
Sb Vb V2
Ib = Zb = ou Zb = b
Vb Ib Sb

Isto permite interpretar a impedância base Zb como um elemento de circuito mo-


nofásico, o qual submetido a uma tensão base de valor Vb fornecerá uma corrente base de
valor Ib e uma potência base igual a Sb .
É importante ressaltar que a quantidade adotada como base para o cálculo da potência
ativa e da potência reativa no sistema por unidade é a potência aparente base, isto é,

Pb = Qb = Sb

expressa em Volt-Ampère (VA). De maneira análoga, a quantidade base para o cálculo


da resistência e da reatância no sistema por unidade é a impedância base, isto é,

Rb = Xb = Zb

expressa em Ohms (Ω); e a admitância base é dada por

1
Yb =
Zb

é expressa em Siemens (S).


34 Capı́tulo 1: Fundamentos

1.5.2 Base em termos de valores trifásicos


Redes de energia elétrica geralmente são sistemas trifásicos. Por esta razão, os valores base
são especificados em termos de quantidades trifásicas, isto é, potência trifásica, tensão de
linha e corrente de linha. Denotando
• Sb1φ : a potência base do circuito monofásico;

• Vbf : a tensão base do circuito monofásico (fase-neutro);

• Sb3φ : a potência base do circuito trifásico;

• VbL : a tensão base do circuito trifásico (fase-fase ou de linha);


e lembrando que em sistemas trifásicos equilibrados

Sb3φ = 3Sb1φ VbL = 3Vbf

as seguintes relações podem ser estabelecidas:


Sb1φ Sb3φ VbL S
Ib = = √ = √ b3φ
Vbf 3 3 3VbL
2
Vbf VbL Sb3φ VbL
Zb = = √ √ =
Ib 3 3VbL Sb3φ
Num sistema de potência trifásico, as seguintes regras são adotadas para a especificação
das quantidades base:
1. o valor de potência aparente trifásica base Sb3φ é o mesmo ao longo de todo o sistema;

2. a relação entre as tensões de linha base nos lados do transformador é igual aquela
entre os valores nominais da tensão do transformador, ou seja, a tensão de linha base
passa através do transformador trifásico segundo a sua relação nominal de tensões
de linha.

Ex. 1.9 Resolva o problema do exemplo 1.8 adotando os valores de placa do gerador 1
como base. Adicionalmente, mostre o circuito equivalente com as correspondentes grande-
zas expressas no sistema por unidade e calcule a queda de tensão na linha de transmissão
1-2 em pu e em unidades reais. Observe que o diagrama unifilar e o circuito monofásico
equivalente da rede do sistema elétrico em questão são apresentados nas figuras 1.26 e
1.27.
1. cálculos preliminares:

• Base selecionada: Sb3φ = 25 kVA, VbL =460 V


Sb3φ 25k
Ib = √ =√ = 31, 37 A
3VbL 3(460)
V2 4602
Zb = bL = = 8, 46 Ω
Sb3φ 25k
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 35


Sg1 = 25 kV A3φ
• Gerador 1: 20 kW3φ , cos φg1 0,8 atrasado
Qg1 = 15kV A3φ

Sg1 = 1, 00∠36, 860 = 0, 80 + j0, 60 pu(kV A)


460
Vg1 = V1 = 1, 05( ) → 1, 05∠00 pu(V )
 ∗ 460
Sg1
Ig1 = = 0, 95∠ − 36, 860 pu(A)
V g1

• Linhas de transmissão:
0, 50 + j0, 70
Zlt1 = = 0, 054 + j0, 082 pu(Ω)
8, 46
0, 60 + j0, 80
Zlt2 = = 0, 070 + j0, 094 pu(Ω)
8, 46

• Cargas:
20k + j15k
Sc1 = = 0, 80 + j0, 60 pu(kV A)
25k
10, 8k − j5, 23k
Sc2 = = 0, 43 − j0, 20 pu(kV A)
25k
12k + j9k
Sc3 = = 0, 48 + j0, 36 pu(kV A)
25k
2. Cargas 1 e 2:
Vc1 = V2 = 0, 958∠ − 1, 740 pu (×460∠30o VL )
 ∗
Sc1
Ic1 = = 1, 043∠ − 35, 240 pu (×31, 37) A
Vc 1
Sc2 = 0, 43 − j0, 20 pu
Vc2 = V2 = 0, 958∠ − 1, 740 pu
 ∗
Sc2
= 0, 50∠24, 090 pu 15, 71∠24, 090 A

Ic2 =
Vc 2
15, 71
Iab
c2 = √ ∠24, 090 + 30o A
3

3. Carga 3 e gerador 2:

I32 = Ic1 + Ic2 − Ig1 = 0, 52∠13, 700 pu


Vc3 = V3 = 0, 982∠1, 620 pu (×460∠30o VL )
 ∗
Sc3
Ic3 = = 0, 61∠ − 35, 240 pu
Vc 3
Vg2 = V3 = 0, 982∠1, 620 pu
Ig2 = I32 + Ic3 = 1, 03∠ − 12, 710 pu
Sg2 = 0, 98 + j0, 25pu (×25 kV A3φ ) , cos φg2 = 0, 96atrasado
36 Capı́tulo 1: Fundamentos

4. Circuito monofásico equivalente: fluxos de potência nas linhas de transmissão:

Slt1 = V2 I∗12 = 0, 746 + j0, 525 pu( suprindo a barra 2)


Slt2 = V2 I∗32 = 0, 485 − j0, 134 pu( suprindo a barra 2)

Fase a:
1, 05∠0o pu 0, 95∠ − 1, 74o pu 0, 98∠1, 62o pu
1 2 3
0,80+j0,60 pu 0,50-j0,11 pu 0,98+j0,25 pu
G1 G2

+ +
0,80+j0,60 pu 0,43-j0,20 pu
Vg1 ∠0o 0,48+j0,36 pu Vg2 ∠δ2

- -

5. Queda de tensão na LT 12:

∆V12 = Ig1 Zlt1 = 0, 096∠17, 59o pu


 real   real 
pu I Z
∆V =
Ib Zb

2
Sb3φ VbL
Ib = √ , Zb =
3VbL Sb3φ

I real Z real
 
pu
∆V =
Vbf
 
460
∆V12 = 0, 096 √ (V /f ase).
3

1.5.3 Mudança de base


Em geral, os equipamentos dos sistemas de potência apresentam na sua placa o valor per-
centual da impedância, calculada com base nos valores nominais do próprio equipamento.
Desde que os componentes do sistema de energia elétrica possuem valores nominais dife-
rentes, para se fazer cálculos no sistema por unidade é necessário referir todas as grandezas
a uma base comum. Para efetuar esta mudança de base, suponha que a impedância do
equipamento (em pu) seja expressa como

Zreal Sb antiga
Zpu
b antiga = = Zreal
Zb antiga Vb2 antiga
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 37

e que é necessário referir este valor a uma nova base, tal que
Sb nova
Zpu
b nova = Z
real
Vb2 nova

A combinação dessas duas últimas equações fornece


  2
pu pu Sb nova Vb antiga
Zb nova = Zb antiga
Sb antiga Vb nova

que é a relação utilizada para efetuar a mudança de base 


requerida.
Vb antiga
Observe que, no caso dos transformadores a relação deve ser calculada
Vb nova
com valores base correspondentes a um mesmo lado do transformador.

Ex. 1.10 A placa de um gerador sı́ncrono trifásico apresenta os seguintes valores: 50


MVA; 13,8 kV; 20 %. Calcular:

1. a reatância deste equipamento no sistema por unidade na base 100 MVA, 12 kV;

2. o valor da reatância em unidades reais.

  2   2
Sb nova Vb antiga 100M 13, 8k
Zpu
b nova = Zpu
b antiga = j0, 20
Sb antiga Vb nova 50M 12k

1.6 Exercı́cios
1.1 Um gerador sı́ncrono trifásico, com as bobinas da armadura conectadas em ∆ e
valores de placa 30 kVA, 500 V, fator de potência 0,8, e reatância sı́ncrona de 24%, supre
um motor sı́ncrono com as bobinas de armadura conectadas em ∆ e valores nominais 20
kVA, 460 V, 20%, fator de potência 0,9, através de um circuito com reatância 2Ω/f ase.
O motor consome 18 kVA com fator de potência 0,85 em atraso, operando sob tensão
nominal e sequência positiva de fases. Adotando a tensão de linha nos terminais do
motor como referência e utilizando grandezas reais:

1. calcule a potência complexa trifásica fornecida pelo gerador e o seu fator de potência;

2. determine as tensões internas de linha na fase a do gerador e do motor.

3. Além disso, indique a condição de excitação do gerador e do motor (subexcitação


ou sobreexcitação). Justifique a sua resposta

1.2 Considere um motor sı́ncrono trifásico sendo suprido por um gerador sı́ncrono através
de uma linha de transmissão com perdas desprezı́veis. Os valores nominais do gerador,
do motor e da linha de transmissão são mostrados na tabela 1.5. Suponha que o motor
opera com tensão nominal, absorvendo 60 kW, com tensão de excitação 1,7 kV/fase por
fase. Adote os valores nominais de potência aparente e tensão do gerador como base, e
determine (em pu e em unidades reais):
38 Capı́tulo 1: Fundamentos

1. o ângulo de potência (ou carga), a corrente de entrada e a potência complexa com


que opera o motor;

2. o fator de potência, a tensão terminal e a potência complexa suprida pelo gerador;

3. mantendo constante a magnitude da tensão de excitação e da tensão terminal do


gerador, qual a potência ativa máxima que pode ser suprida ao conjunto LT-carga;

4. para a condição estabelecida no item anterior, calcule a tensão terminal e a potência


complexa suprida ao motor.

Faça os cálculos no sistema Por Unidade.

Tabela 1.5: Dados dos componentes do sistema da questão 1.2


Componente Snom Vnom Ef X
(kVA) (kV) (kV/fase) (Ω/f ase)
Gerador sı́ncrono 150 2,3(Y) 22
Motor sı́ncrono 112 2,3(∆) 1,7 34
Linha de transmissão 2,3 5

1.3 Considere o diagrama unifilar da figura 1.28. Os valores nominais dos componentes
deste sistema são apresentados na tabela 1.6.

1 2 3
Carga

Gerador 1

Motor 1 Gerador 2 Motor 2

Figura 1.28: Diagrama unifilar do problema 1.3

A condição de operação destes equipamentos é a seguinte:

1. o motor sı́ncrono 1 consome 10 kW com fator de potência 0,8 em avanço;

2. o gerador sı́ncrono 2 produz 50 kW com fator de potência 0,9 em atraso;

3. o motor sı́ncrono 2 consome 45 kW com fator de potência 0,9 em atraso, na tensão


nominal.

Adote a sequência de fases positiva (abc) e a tensão fase-neutro (fase a) da barra 3


como referência, e determine:
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 39

Tabela 1.6: Dados dos componentes do sistema da questão 1.3


Componente Snom Vnom Z cosφ
(kVA) (V) (Ω/f ase)
Gerador sı́ncrono 1 50 480(∆) 3, 0 0,8 atrasado
Gerador sı́ncrono 2 60 480(Y) 1, 0 0,8 atrasado
Motor sı́ncrono 1 50 460(∆) 3, 0 0,8 atrasado
Motor sı́ncrono 2 50 480(Y) 1, 0 0,9 atrasado
Linha de transmissão 1-2 0,03+0, 08
Linha de transmissão 2-3 0,03+0, 08
Carga (conexão Y) 5,50+4, 00

1. a potência complexa total absorvida na barra 3 e a corrente complexa nas fases da


carga em unidades reais;

2. a tensão complexa na barra 2 em unidades reais e a magnitude da corrente nas


linhas 1-2 e 2-3 em unidades reais;

3. a potência complexa total fornecida pelo gerador 2 em unidades reais;

4. a magnitude da tensão interna no gerador 1 e no motor 1 em unidades reais;

5. a potência complexa total fornecida pelo gerador 1 em unidades reais;

1.4 Os valores nominais de um gerador sı́ncrono trifásico são 50 kVA, 480 V (Y), fator
de potência 0,8 atrasado; 60 Hz, 6 polos, reatância sı́ncrona 1,0 Ω/f ase. Suponha que o
gerador está conectado a uma turbina a vapor capaz de suprir até 45 MW. As perdas por
atrito e ventilação totalizam 1,5 kW e as perdas no cobre valem 1,0 kW.

1. Determine o diagrama de capabilidade deste gerador;

2. Verifique se este gerador pode suprir uma corrente de linha de 56 A com fator de
potência 0,70 atrasado.

3. Qual a máxima quantidade de potência reativa que este gerador pode produzir?

4. Se o GS fornece 30 kW, qual a máxima quantidade de potência reativa que pode ser
suprida simultaneamente?

1.5 Num sistema trifásico, uma fonte supre uma carga trifásica de 100 MVA com fator
de potência 0,8 em avanço, na tensão 16 kV, através de um sistema de transmissão
de impedância desprezı́vel. Adotando a seqüência de fases positiva, o fasor Van como
referência, e a base 200 MVA, 16 kV, calcule em pu e em unidades reais:

1. os fasores corrente de linha que suprem a carga;

2. a impedância por fase correspondente à carga, supondo esta conectada em ∆;


40 Capı́tulo 1: Fundamentos

3. a potência complexa fornecida pelo gerador e o correspondente fator de potência;

4. a compensação reativa necessária pata tornar o fator de potência da carga compen-


sada igual a 0,95 adiantado.

1.6 Um gerador sı́ncrono trifásico supre uma carga de 25 kW, 360 V, fator de potência
0,9 atrasado, através de um sistema de transmissão com impedância de 0,1 + j0,4 Ω/
fase. Adote a seqüência de fases positiva e o fasor tensão de linha entre as fases a e b da
carga como referência.

1. determine a condição de operação do gerador sı́ncrono (fasores tensão de linha e


correntes, potências ativa e reativa, e fator de potência nos terminais de saı́da do
gerador);

2. as perdas totais de potência ativa e reativa no sistema de transmissão;

3. a compensação reativa necessária para tornar unitário o fator de potência da carga


(em termos de potência reativa e da impedância de uma conexão ∆);

4. a magnitude da corrente de linha da carga compensada, supondo que a tensão de


360 V é mantida.

1.7 Uma fonte trifásica operando na tensão de 380 V supre duas cargas trifásicas balan-
ceadas cujas caracterı́sticas são:

1. carga 1: 15 kW, fator de potência 0,6 atrasado;

2. carga 2: 10 kVA, fator de potência 0,8 adiantado;

Adotando a base trifásica de 10 kVA e 380 V na fonte, determine:

1. o circuito monofásico equivalente no sistema por unidade;

2. o valor da corrente fornecida pela fonte em pu e em ampères;

3. o valor da reatância em pu/fase e em Ω/fase, da compensação reativa necessária


para tornar unitário o fator de potência da carga composta, supondo constante a
magnitude da tensão da fonte;

4. o valor da corrente fornecida pela fonte após a compensação reativa em pu e em


unidades reais.

1.8 Determine a corrente fornecida por uma linha de transmissão trifásica, com im-
pedância igual a 0,3+j1,0 Ω/fase, a um motor de 15 HP operando a plena carga, com
rendimento de 90%, fator de potência de 0,80 em atraso e tensão de 440 V. Calcule
a magnitude da tensão e a potência complexa na entrada da linha de transmissão, e a
potência complexa absorvida pela mesma. Adote os valores de operação do motor como
base. (1 HP(Horse Power) = 745,7 watts.)
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 41

1.9 Uma carga trifásica absorve 250 kW com um fator de potência de 0,707 em atraso
através de uma linha de transmissão trifásica de 400 V. Esta carga está conectada em
paralelo com um banco trifásico de capacitores de 60 kVAr. Determinar a corrente total
fornecida pela fonte e o fator de potência resultante. Repita estes cálculos excluindo o
banco de capacitores e mantendo a tensão na carga, e compare os valores da corrente
fornecida pela fonte. Adote a base de 250 kVA, 400 V

1.10 Um gerador supre duas cargas trifásicas conectadas em paralelo através de uma
linha de transmissão de impedância igual a 0,1+j1,0 Ω/fase. A primeira carga é um motor
de 7,5 kW, operando com potência nominal na tensão de 440 V, com rendimento de 90%
e fator de potência 0,8 em atraso. A segunda carga é representada por três impedâncias
de 20,0+j50,0 Ω/fase, conectadas em ∆. Adote a base 10 kVA, 440 V, e calcule (em pu
e valores reais):

1. a corrente de linha qua alimenta a carga total;

2. o valor da tensão na fonte;

3. as perdas de potência ativa e reativa (por fase) na linha de transmissão;

4. a potência complexa fornecida pela fonte com o correspondente fator de potência;

5. o diagrama fasorial das correntes e tensões na carga total.

1.11 Um gerador trifásico operando na tensão de 380 volts supre, através de uma linha
de transmissão com impedância 0,1 + j1,0 Ω/fase, uma carga trifásica que absorve uma
corrente de 50 Ampéres com fator de potência 0,8 em atraso. Supondo seqüência de
fases positiva e tomando o fasor tensão fase-neutro na fase a da carga como referência,
determinar em pu (na base 10 kVA, 380 V) e em valores reais:

1. os fasores tensão de fase e de linha na carga e no gerador;

2. as potências ativa e reativa na carga e no gerador;

3. a impedância por fase de uma conexão ∆, que associada em paralelo com a carga
torna unitário o fator de potência desta;

4. a magnitude da corrente fornecida pelo gerador após a adição da compensação rea-


tiva, supondo constante a magnitude da tensão do gerador.

1.12 Deseja-se supir uma carga trifásica através de uma linha de transmissão de im-
pedância de 0,1 +j 0,05 Ω/fase. A tensão de entrada na linha de transmissão é 380 V e
a corrente absorvida pela carga é 250 A, com fator de potência 0,7 indutivo. Adotando os
valores base de 165 kVA e 380 V, determine

1. a tensão complexa na carga no sistema por unidade;

2. as potências ativa e reativa na entrada do sistema de transmissão, absorvida pela


carga trifásica e pelo sistema de transmissão, no sistema por unidade;
42 Capı́tulo 1: Fundamentos

3. o valor em unidades reais da impedância de um banco trifásico de capacitores que


deve ser ligado em paralelo com a carga a fim de que a carga compensada opere com
fator de potência 0,9 atrasado;

4. as potências ativa e reativa na entrada do sistema de transmissão, nas condições


de operação do item anterior, supondo que as tensões na entrada do sistema de
transmissão e na carga compensada pemanecem as mesmas do item anterior.
Capı́tulo 2

Representação dos Sistemas de


Potência

2.1 Introdução
Em estudos de redes elétricas em regime permanente, os sistemas trifásicos equilibrados
são modelados analiticamente pelo diagrama de impedâncias de uma fase do circuito Y
equivalente. Cada elemento constituinte do diagrama unifilar é representado por um cir-
cuito monofásico de seqüência positiva, com os parâmetros e variáveis da rede elétrica
expressos no sistema por unidade. Este capı́tulo mostra como este circuito é determi-
nado. Para esta finalidade, dois aspectos fundamentais são apresentados. O primeiro é a
representação dos diversos tipos de transformadores no sistema por unidade, o que visa
facilitar os cálculos de correntes e tensões no circuito elétrico. O segundo é a modela-
gem analı́tica de outros componentes básicos da rede elétrica em termos de elementos de
circuitos. Isto permite obter um modelo do sistema de potência em termos de equações
obtidas aplicando-se as leis de circuitos elétricos, cuja solução fornece os subsı́dios para a
análise da rede elétrica.

2.2 Transformadores
2.2.1 Transformador monofásico de dois enrolamentos
O diagrama esquemático de um transformador 1φ convencional é mostrado na figura
2.2.1. Não há conexão elétrica entre as bobinas, as quais são acopladas apenas por efeito
de indução magnética. Cada bobina possui seus valores nominais (potência aparente,
tensão e corrente) e a sua polaridade.
O circuito equivalente do transformador monofásico de dois enrolamentos é mostrado
na figura 2.2.1. Os parâmetros R1 , X1 , R2 e X2 são os componentes das impedâncias dos
enrolamentos, enquanto Gc e Bm representam a admitância do núcleo.
Em geral, a corrente de magnetização dos transformadores utilizados em sistemas de
potência é reduzida (aproximadamente 5% da corrente nominal), razão pela qual costuma-
se desprezar o ramo correspondente ao núcleo. Isto possibilita utilizar o circuito equi-
valente mostrado na figura 2.3. De forma similar, a resistência dos enrolamentos dos
44 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência

I1 I2

+ +
V1 V2
− −
a:1

Figura 2.1: Diagrama esquemático do transformador monofásico de dois enrolamentos


0 0
I1 R1 jX1 jX2 R2 I2
0

+ +

V1 Rc jXm V2
0

− −

Figura 2.2: Circuito equivalente do transformador monofásico de dois enrolamentos

transformadores com potência aparente nominal maior do que 500 kVA é desprezı́vel com
relação as reatâncias de dispersão, o que permite desprezar o efeito resistivo no circuito
da figura 2.3. onde, os parâmetros do transformador referidos ao lado 1 são dados por,

0
I1 I2
Req jXeq

+ +
0
V1 V2

− −

Figura 2.3: Circuito equivalente do transformador para estudos em sistemas de potência

 2  2
N1 N1
Req = R1 + R2 Xeq = X1 + X2
N2 N2
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 45

Valores base em transformadores monofásicos


A seleção dos valores base para os transformadores monofásicos é feita através do seguinte
procedimento:
• um valor de potência aparente (denotado Sb ) é especificado como base, o qual é
comum aos dois enrolamentos;
• os valores base de tensão e corrente nos dois lados do transformador monofásico
estão relacionados da mesma forma que os valores nominais dessas quantidades,
isto é,
VbAT VnAT IbAT InAT
= =
VbBT VnBT IbBT InBT
• os valores de impedância base são dados por,
(VbAT )2 (VbBT )2
ZbAT = ZbBT =
Sb Sb
tal que
 AT 2
ZbAT Vb
BT
=
Zb VbBT
de forma que a impedância do transformador expressa em pu não se modifica quando
referida aos lados de alta tensão ou de baixa tensão. Evita-se desta forma os erros
de cálculos provenientes de se referir as grandezas a um dos lados do transformador
Ex. 2.1 Um transformador monofásico de 2 enrolamentos, com valores nominais 25 kVA,
380/220 V, 60 Hz e impedância equivalente de 0,031+j0,146 Ω referida ao lado de baixa
tensão, supre uma carga nominal conectada no lado de BT, com fator de potência 0,8
atrasado, na tensão nominal. Selecione os valores base de potência e de tensão, e deter-
mine:
• a tensão, a corrente, a potência aparente e o fator de potência na entrada no trans-
formador;
• o rendimento e a regulação do transformador operando nesta condição.
• a compensação de potência reativa necessária para tornar o fator de potência da
carga igual a 0,9 atrasado, e a impedância equivalente a esta compensação, supondo
que a tensão na carga é mantida;
• a corrente fornecida pelo gerador e pela compensação reativa, supondo que a tensão
na carga é mantida;
Os valores nominais do transformador monofásico de 25 kVA, 380:220 V são os se-
guintes:
25k 25k
Inbt = = 113, 63A; Inat = = 65, 78A
220 380
 2
380
Zbt
t = 0, 031 + j0, 146 Ω;
at
Zt = Zt bt
= 0, 093 + j0, 437 Ω
220
46 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência

1 It 2

+ +
Zt
Vg V c , Sc
Ic
- -

Gerador Transformador Carga

Adotando-se 25 kVA e 220 V no lado da BT do transformador como valores base,


então,

Sb = 25kV A, Vbbt = 220 V, Vbat = 380 V


Sb Sb
Ibbt = bt = 113, 64 A, Ibat = at = 65, 78 A
Vb Vb
bt 2
(V ) (V at )2
Zbbt = b = 1, 936 Ω, Zbat = b = 5, 776 Ω
Sb Sb
As condições de operação da carga nominal são: 25 kVA, cos φc 0,8 atrasado, 220 V,
e portanto,
20k + j15k
Sc = 20 + j15 kV A ⇒ = 0, 80 + j0, 60 pu(kV A)
25k  ∗
220 o Sc
Vc = ( ) → 1, 00∠0 pu(V ) Ic = = 1, 00∠ − 36, 86o pu(A)
220 Vc

A impedância do transformador no sistema por unidade é dada por,


0, 031 + j0, 146
Zt = = 0, 016 + j0, 075 pu (pelo lado de BT)
1, 936
0, 093 + j0, 437
Zt = = 0, 016 + j0, 075 pu (pelo lado de AT)
5, 776
de forma que na entrada do transformador,

Vg = Ic Zt + Vc = 1, 059∠2, 75o pu
Ig = Ic = 1, 00∠ − 36, 86o pu
Sg = Vg I∗g = 0, 816 + j0, 675 pu, cos φ = 0, 77 (atrasado)

A potência absorvida pelo transformador e a correspondente queda de tensão são, respec-


tivamente,

Szt = Zt Ig2 = 0, 016 + j0, 075 pu


∆Vzt = Zt Ig = 0, 077∠41, 14o pu

Os valores dessas grandezas em unidades reais são:


R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 47

• Corrente no transformador:

– Ibt o
t = 1, 00∠ − 36, 86 (× 113,63) A (pelo lado de BT).

– Iat o
t = 1, 00∠ − 36, 86 (× 65,78) A (pelo lado de AT)

• Entrada do transformador:

– Vg = 1, 059∠2, 75o (× 380) V (pelo lado de AT);


– Ig = 1, 00∠ − 36, 86o (× 65,78) A (pelo lado de AT);
– Sg = 0, 816 + j0, 675(× 25k) VA .

• Potência absorvida pelo transformador:

– Szt = 0, 016 + j0, 075(× 25k) VA ; .


– ∆Vzt = 0, 077∠41, 14o pu; .

2.2.2 Autotransformador monofásico de dois enrolamentos


Conforme mencionado previamente, as bobinas do transformador convencional represen-
tado na figura 2.2.1 são acopladas apenas por efeito de indução magnética. O autotrans-
formador é um dispositivo no qual as bobinas são acopladas elétrica e magneticamente.
Isto representa a principal diferença entre este tipo de equipamento e o transformador con-
vencional. Os valores nominais deste equipamento dependem da forma de conexão elétrica
entre as bobinas. As figuras 2.4 e 2.5 ilustram duas possı́veis estruturas de um autotrans-
formador monofásico construı́do à partir do transformador convencional da figura ??.
Em ambas as estruturas, as bobinas mantém a polaridade especificada no transformador
convencional e operam com os seus valores nominais de corrente e tensão.
Sob condições nominais, a corrente que circula nos enrolamentos é a mesma do trans-
formador convencional, e portanto ambos possuem o mesmo valor de perdas nas bobinas.
Devido a conexão elétrica entre os enrolamentos, uma quantidade maior de potência é
transferida de um terminal ao outro do autotransformador, tal que o mesmo possui uma
eficiência maior do que a do transformador convencional. A corrente de excitação é mais
baixa e o seu custo é mais reduzido (se a relação de transformação não é demasiadamente
elevada). Uma desvantagem do autotransformador é que, devido a conexão elétrica dos
enrolamentos, as sobretensões transitórias passam mais facilmente através deste equipa-
mento.

Valores base em autotransformadores monofásicos


A seleção das quantidades base no autotransformador é feita da mesma forma que no
transformador convencional. A potência aparente base é a mesma em ambos os lados
do autotransformador e a relação entre as tensões base é igual àquela entre as tensões
nominais. Observe que os valores nominais do autotransformador e do transformador
48 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência

I1

+ +

V1
I1 + I2
− V 1 + V2

I2 V2
− −

Figura 2.4: Estrutura básica do autotransformador (a)

I1

− +

V1
I1 − I2
+ −V1 + V2

I2 V2
− −

Figura 2.5: Estrutura básica do autotransformador (b)

convencional são distintos, e portanto os valores das impedâncias em por unidade também
serão diferentes. Note ainda, que a relação de tensões usada na mudança de base deve
ser aquela correspondente ao lado em que os mesmos valores são determinados para a
impedância em unidades reais através dos ensaios de CA e CC, conforme ilustrado a
seguir.
A impedância de um transformador convencional em unidades reais conectado como
autotransformador não se modifica por efeito da conexão elétrica. Porém, desde que os
valores nominais do autotransformador e do transformador convencional são distintos, as
impedâncias destes equipamentos expressas em por unidade também serão diferentes. O
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 49

valor da impedância de dispersão (em unidades reais) a ser dividido pelo valor base deve
ser o mesmo em ambos os casos, ou seja, aquele que seria determinado no ensaio de curto
circuito em ambos os transformadores. No caso do autotransformador, este ensaio pode
ser feito apenas através de um lado do equipamento, aquele que fornece o mesmo valor
de impedância que o ensaio do transformador convencional.
Da mesma forma que no caso do transformador convencional, a estimativa das im-
pedâncias do autotransformador é baseada nas medidas coletadas no ensaios de CA
(parâmetros do núcleo) e CC (parâmetros dos enrolamentos). A figura 2.6 mostra o
diagrama esquemático do ensaio de CA no transformador convencional. As principais
caracterı́sticas deste ensaio, são as seguintes:
• não há corrente fluindo na bobina 2;
• a bobina 1 é submetida a tensão nominal;
• os parâmetros do núcleo são estimados (referidos ao lado 1);
• o ensaio pode ser feito em qualquer lado do transformador;
• norma técnica: ensaio de CA deve ser feito no lado de BT do trafo.

Wattimetro
1 2

W A
Amperimetro
G V

Fonte Voltimetro
Transformador

Figura 2.6: Ensaio CA no transformador convencional

No caso do autotransformador, a figura 2.7 apresenta o diagrama do ensaio CA. Neste


caso,
• não há corrente fluindo na bobina 1;
• a bobina 2 é submetida a tensão nominal;
• os parâmetros do núcleo estimados são referidos ao lado da bobina 2;
• o ensaio pode ser feito apenas do lado da bobina 2 do autotransformador.
As figuras 2.8 e 2.9 mostram os diagramas do ensaio de CC no transformador conven-
cional e no auto transformador, respectivamente. Com relação ao ensaio com o transfor-
mador convencional, observa-se que:
50 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência

I1 = 0

Wattimetro V1


W A
+
Amperimetro
G V V2

Fonte Voltimetro Transformador

Figura 2.7: Ensaio CA no autotransformador

Wattimetro
2 1

W A

Amperimetro
∼ V

Fonte Voltimetro
Transformador

Figura 2.8: Ensaio CC no transformador convencional

• a tensão na bobina 1 é zero;

• a bobina 2 é submetida a corrente nominal;

• os parâmetros dos enrolamentos são estimados (referidos ao lado da bobina 2);

• o ensaio pode ser feito em qualquer lado do transformador;

• norma técnica recomenda que o ensaio de CC seja feito no lado de AT do trafo.


enquanto o esquema do ensaio CC com o autotransformador possui as seguintes carac-
terı́sticas:
• não há tensão na bobina 2;
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 51

I1

Wattimetro

W A
+
Amperimetro
G V V2

Fonte Voltimetro Transformador

Figura 2.9: Ensaio CC no autotransformador

• a bobina 1 é submetida a corrente nominal;


• os parâmetros do núcleo estimados são referidos ao lado da bobina 1;
• o ensaio pode ser feito apenas do lado da bobina 1 do autotransformador.
Ex. 2.2 No ensaio de curto circuito do transformador monofásico do exemplo 2.1 foram
medidas as seguintes grandezas: 402,721 watts, 29,442 V e 65,789 A.
1. Determine os valores de placa e o circuito monofásico equivalente no sistema por
unidade, de um autotransformador com relação de transformação 220/600 V, cons-
truı́do à partir deste transformador monofásico.
2. Calcule as perdas de potência ativa e reativa (em pu e em unidades reais) quando
estes equipamentos suprem as respectivas cargas nominais com fator de potência 0,8
atrasado, na tensão nominal nos respectivos lados de baixa tensão.
• Valores nominais do trafo 1φ (220:380 V):
St = 25kV A Itbt = 113, 64 A, Itat = 65, 78 A
Zbt
t = 0, 031 + j0, 146 Ω (ensaio CC pelo lado de BT)
at
Zt = 0, 093 + j0, 437 Ω (ensaio CC pelo lado de AT)
Zt = 0, 016 + j0, 075 pu

• Valores nominais do autotrafo 1φ (220:600 V):


Sa = 600(65, 78) = 220(179, 43) = 39, 47kV A
Itbt = 179, 43 A, Itat = 65, 78 A
Zat
a = 0, 093 + j0, 437 Ω (ensaio CC pelo lado de AT)
52 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência

65,78 A 113,64 A

+ +
380 V 220 V
- -
1: a

Figura 2.10: Transformador 1φ convencional

65,78 A

+ +

380 V
179,43 A
− 600 V

+ +

220V 113,64 A 220 V


− −

Figura 2.11: Autotransformador 1φ:

• Cálculo da impedância do autotrafo em pu (forma convencional):

6002 0, 093 + j0, 437


Zat
b = = 9, 12 Ω Za = = 0, 010 + j0, 047 pu
39, 47k 9, 12

• Por mudança de base:

Transformador monofásico : Zt = 0, 016 + j0, 075 pu (na base 25kVA, 380 V)


Base do autotrafo : 39, 47 kV A, 600 V
  2
39, 47k 380
Za = 0, 016 + j0, 075 = 0, 010 + j0, 047 pu
25k 600

2.2.3 Transformadores trifásicos


Um banco trifásico de transformadores é constituı́do alternativamente pela conexão de
três transformadores monofásicos idênticos ou pela conexão adequada de um mı́nimo de
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 53

seis bobinas iguais dispostas num mesmo núcleo. Cada um dos lados do banco trifásico
pode ser conectado em Y ou em ∆, conforme ilustram as figuras 2.12 e 2.13. A placa

A a

A1 al

B b

B1 bl

C c

C1 cl

Figura 2.12: Conexões do transformador trifásico (a)

do banco trifásico apresenta os valores nominais de potência aparente trifásica, tensões


de linha com os correspondentes tipos de ligação (Y ou ∆), e valor da impedância (no
sistema por unidade ou no sistema percentual).
O circuito equivalente de um transformador trifásico apresenta as seguintes caracte-
rı́sticas:

1. Nas conexões ∆∆ e Y Y, as bobinas são rotuladas de tal maneira que não há defa-
sagem angular entre as grandezas dos lados de AT e BT . O circuito equivalente é
portanto semelhante ao do transformador monofásico convencional.

2. Nas conexões ∆Y e Y ∆, um deslocamento de fase é incluı́do no diagrama de


sequência positiva. De acordo com a Norma Técnica, as tensões e correntes em
sequência de fases positiva do lado de AT de um transformador Y ∆ estão adianta-
das de 30o das suas correspondentes grandezas do lado de BT .

O circuito equivalente (ou de sequência positiva) dos transformadores trifásicos com


conexão Y-∆ é mostrado na figura 2.14. Note que neste tipo de conexão o deslocamento
angular de 30o deve ser levado em consideração.
54 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência

A a

A1 al

B b

B1 bl

C c

C1 cl

Figura 2.13: Conexões do transformador trifásico (b)

AT BT 0
I1 0 I2
Req Xeq ej30 : 1, 0

+ +

0
V1 V2

− −

0
Req = R1 + R2 Transformador
Xeq = X1 + X2
0 Defasador

Figura 2.14: Circuito de sequência positiva - conexão Y-∆

Valores base em bancos trifásicos


A seleção de quantidades base para transformadores trifásicos é feita através do seguinte
procedimento:

1. Uma potência aparente trifásica base é selecionada para ambos os lados (alta tensão
e baixa tensão) do transformador;

2. A relação entre as tensões-base nos dois lados do transformador é igual a relação


entre as tensões nominais de linha.
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 55

Ex. 2.3 Três transformadores monofásicos de 2 enrolamentos, cada um com valores no-
minais 25 kVA, 380/220 V, 60 Hz e impedância equivalente de 0,031+j0,146 Ω referida
ao lado de baixa tensão devem ser conectados para formar um banco trifásico. Mostre as
conexões trifásicas BT(Y):AT(Y) e BT(∆):AT(Y) e determine o correspondente circuito
equivalente de cada alternativa no sistema por unidade.

• Valores nominais do trafo 1φ (220:380 V):

St = 25kV A Itbt = 113, 64 A Itat = 65, 78 A


Zbt bt
t = 0, 031 + j0, 146 Ω (Zb = 1, 936 Ω)
Zat at
t = 0, 093 + j0, 437 Ω (Zb = 5, 776 Ω)
Zt = 0, 016 + j0, 075 pu

• Valores nominais do banco 3φ - conexão BT(Y ):AT(Y ):

St = 3(25) = 75kV A
√ √
Vtbt = 220 3 = 381, 05 V Vtat = 380 3 = 658, 18 V
Itbt = 113, 64 A Itat = 65, 78 A
Zbt bt
t = 0, 031 + j0, 146 Ω (Zb = 1, 936 Ω)
Zat at
t = 0, 093 + j0, 437 Ω (Zb = 5, 776 Ω)
Zt = 0, 016 + j0, 075 pu

• Valores nominais do banco 3φ - conexão BT (∆):AT(Y ):

St = 3(25) = 75kV A

Vtbt = 220 V Vtat = 380 3 = 658, 18 V

Itbt = 113, 64 3 = 196, 82 A Itat = 65, 78 A
0, 031 + j0, 146
Zbt
t = Ω = 0, 010 + j0, 048 Ω (∆ − Y )
3
Zbt bt
t = 0, 010 + j0, 048 Ω (Zb = 0, 645 Ω)
Zat at
t = 0, 093 + j0, 437 Ω (Zb = 5, 776 Ω)
Zt = 0, 016 + j0, 075 pu

Ex. 2.4 Um transformador trifásico com valores de placa 210 MVA, 345(∆)/34,5(Y ) kV,
8 %, opera como um elo, conectando um sistema de transmissão de 345 kV e um sistema
de distribuição de 34,5 kV. Determine os valores nominais e o circuito equivalente dos
três transformadores monofásicos, que conectados adequadamente seriam equivalentes ao
transformador trifásico em questão. Supondo que uma carga uma carga trifásica de valor
140 MVA, com fator de potência 0,8 atrasado é suprida por este transformador na tensão
34,5 kV, calcule os valores de tensão, corrente, potência aparente e fator de potência nos
terminais de entrada do transformador em pu e em unidades reais.
56 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência

• Valores nominais do banco 3φ:

St = 210M V A 345(∆) : 34, 5(Y ) kV 8%


210M 210M
Itbt = √ = 3514, 30 A Itat = √ = 351, 43 A
334, 5k 3345k
(34, 5k)2
Zbbt = = 5, 66 Ω Zbtt = j0, 452 Ω
210M
(345k)2
Zbat = = 566 Ω Zat t = j45, 2(×3) = 135, 6 Ω
210M

• Valores nominais de um trafo 1φ do banco trifásico:


210M 34, 5
St = = 70 M V A √ = 19, 91 kV : 345 kV
3 3
351, 43
Itbt = 3514, 30A Itat = √ A
3
Zbt
t = j0, 452 Ω Zat
t = j135, 6 Ω
Zt = j0, 08 pu

• Base selecionada: valores nominais do banco trifásico:

Sb = 210 M V A Vbbt = 34, 5 kV Vbat = 345 kV


Ibbt = 3514, 30 A Ibat = 351, 43 A
Zbbt = 5, 66 Ω Zbat = 566 Ω

• Circuito equivalente:
0 0
I1 I2
AT BT I1 j0, 08

+ + +
0
V1 V1 V2

− −
o
e30 : 1

• Carga nominal: 140 MVA, cos φc 0,80 atrasado, 34,5 kV:

Sc = 112 + j84 M V A ⇒ 0, 533 + j0, 400 pu(M V A)


Vc = 1, 00∠0o pu(kV )
 ∗
Sc
Ic = = 0, 667∠ − 36, 86o pu(A)
Vc
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 57

• Transformador defasador:
– Saı́da:
0
V1 = I2 Zt + V2 = 1, 032∠2, 36o pu
0
I1 = 0, 667∠ − 36, 86o pu
0 0
S1 = V1 (I1 )∗ = 0, 533 + j0, 435pu cos φ = 0, 77 (atrasado)
Szt = Zt I22 = j0, 035 pu (Potência absorvida pelo transformador)

– Entrada:
0
V1 = V1 (1∠30o ) = 1, 032∠32, 36o pu (fase-neutro, Y fictı́cio)
0
I1 = 0, 667∠ − 6, 86o pu
345k √
V1ab = 1, 032∠32, 36o ( √ )( 3)∠30o ) pu (fase-fase, ∆)
3

2.2.4 Transformadores monofásicos de três enrolamentos


O transformador monofásico de três enrolamentos consiste em três bobinas dispostas sobre
um mesmo núcleo. Os terminais dessas bobinas são denotados por BT (baixa tensão),
M T (média tensão) e AT (alta tensão) (ou 1, 2 e 3 (primário, secundário e terciário)), de
acordo com os seus valores nominais. Sua principal vantagem é a opção de dois valores
de tensão na sua saı́da. Em geral, os valores nominais deste tipo de transformador são
dados individualmente para cada bobina; isto é,
bobina 1 : Snom1 Vnom1
bobina 2 : Snom2 Vnom2
bobina 3 : Snom3 Vnom3
A figura 2.15 mostra o diagrama esquemático de um transformador monofásico de três
enrolamentos. Supondo que o mesmo é ideal, as seguintes relações são estabelecidas:

I2
I1
+

N2 V2
+

N1 I3
V1
+
N3
− V3

Figura 2.15: Transformador monofásico de três enrolamentos

V1 V2 V3
N1 I1 = N2 I2 + N3 I3 = =
N1 N2 N3
58 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência

0 0
R2 jX2

R1 jX1 +
0 0
R3 jX3
+
0
+ V2
V1 Rc jXm
0
V3

− −

Figura 2.16: Transformador monofásico de três enrolamentos: circuito equivalente (a)

Desde que as bobinas estão dispostas sobre um mesmo núcleo, apenas um ramo de
magnetização é incluı́do na representação do circuito monofásico. Os parâmetros corres-
pondentes ao núcleo são determinados através do ensaio de circuito aberto convencional.
A figura 2.16 mostra o circuito monofásico equivalente do transformador de três enrola-
mentos.
Em geral, o modelo analı́tico dos transformadores de três enrolamentos utilizados em
estudos de sistemas de energia elétrica considera apenas os ramos correspondentes às
impedâncias dos enrolamentos, as quais são determinadas através do ensaio de curto-
circuito. Considerando o circuito equivalente da figura 2.17, onde

Z1 = R1 + jX1 , Z2 = R2 + jX2 Z3 = R3 + jX3

os seguintes parâmetros são determinados:


Z2
Z1
+
Z3
+
+ V2
V1
V3

− − −

Figura 2.17: Transformador monofásico de três enrolamentos circuito equivalente (b)

• impedância de dispersão medida do enrolamento 1 com a bobina 2 curtocircuitada


e a bobina 3 em circuito aberto: Z12 = Z1 + Z2 (referida ao lado 1);

• impedância de dispersão medida do enrolamento 1 com a bobina 3 curtocircuitada


e a bobina 2 em circuito aberto: Z13 = Z1 + Z3 (referida ao lado 1);

• impedância de dispersão medida do enrolamento 2 com a bobina 3 curtocircuitada


e a bobina 1 em circuito aberto: Z23 = Z2 + Z3 (referida ao lado 2);
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 59

Estas equações constituem um sistema linear, cuja solução é o conjunto de parâmetros


do circuito equivalente do transformador de três enrolamentos; isto é,
1
Z1 = (Z12 + Z13 − Z23 )
2
1
Z2 = (Z12 + Z23 − Z13 )
2
1
Z3 = (Z13 + Z23 − Z12 )
2
onde Z12 , Z13 , e Z23 devem estar referidas ao mesmo lado do transformador (se os cálculos
forem efetuados em unidades reais), ou a bases correspondentes (se os cálculos forem feitos
no sistema por unidade).
Transformadores monofásicos idênticos de três enrolamentos também podem ser co-
nectados para formar um banco trifásico. O circuito equivalente do bando trifásico é
semelhante ao do transformador monofásico de três enrolamentos. No caso das conexões
Y − ∆, o deslocamento de fase (de 30o ) deve ser incluı́do no modelo.

Valores base em transformadores monofásicos de três enrolamentos


A seleção das quantidades base para o transformador monofásico de três enrolamentos é
feita através do seguinte procedimento:

• uma base comum de potência aparente Sb é selecionada para todos os terminais;

• as tensões Vbat , Vbmt e Vbbt são selecionadas de acordo com as relações nominais de
tensão do transformador.

Ex. 2.5 Os valores nominais de um transformador monofásico de três enrolamentos e os


resultados do ensaio de curto circuito neste transformador são mostrados nas tabelas 2.1
e 2.2.

Enrolamento Tensão nominal Potência nominal Corrente nominal


(V) (kVA) (A)
Primário 440 35 79,545
Secundário 380 25 65,789
Terciário 220 25 113,640

Tabela 2.1: Transformador de 3 enrolamentos - valores nominais

1. Determine o circuito monofásico equivalente do transformador no sistema por uni-


dade, na base 25 kVA e tensões nominais;

2. Três destes transformadores são conectados em Y(AT)/∆(MT)/∆(BT) para formar


um banco trifásico. Mostre o circuito monofásico equivalente desta conexão.
60 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência

Ensaio Enrolamento Enrolamento Tensão Corrente Potência


No. excitado curto-circuitado aplicada no enrolamento no enrolamento
(V) (A) (W)
1 Primário Secundário 81,475 79,545 1347,5
2 Primário Terciário 71,590 79,545 1184,0
3 Secundário Terciário 35,539 65,789 486,1

Tabela 2.2: Transformador de 3 enrolamentos - ensaio de curto circuito

3. Considere que as seguintes cargas estão conectadas nos terminais do transformador


trifásico:

• média tensão: carga nominal com fator de potência 0,85 atrasado, e tensão 5%
abaixo da nominal;
• baixa tensão: 3 impedâncias de 1, 936∠ − 25, 84o Ω/f ase, conectadas em Y.

Calcule a tensão, a corrente, a potência complexa e o fator de potência na entrada


do transformador.

1. Circuito monofásico equivalente:

• Do ensaio de curto circuito:


81, 47
q
1347, 50 = (79, 542 )R12 2
= Z12 = R12 2
+ X12
79, 54
71, 59
q
1184, 00 = (79, 542 )R13 2
= Z13 = R13 2
+ X13
79, 54
35, 53
q
486, 10 = (65, 782 )R23 2
= Z23 = R23 2
+ X23
65, 78

Z12 = 0, 213 + j1, 001Ω : referida ao lado 1 (AT)


Z13 = 0, 187 + j1, 880Ω : referida ao lado 1 (AT)
Z23 = 0, 112 + j0, 528Ω : referida ao lado 2 (MT))

• Impedâncias base (25 kVA, tensões nominais) e valores pu:

4402 3802
Zb1 = = 7, 744 Ω Zb2 = = 5, 776 Ω
25k 25k
0, 213 + j1, 001
– Z12 = = 0,027+j0,129 pu;
7, 744
0, 187 + j1, 880
– Z13 = = 0,024+j0,113 pu;
7, 744
0, 112 + j0, 528
– Z23 = = 0,019+j0,091 pu.
5, 776
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 61

• Impedâncias das bobinas em pu (base: 25 kVA, tensões nominais):


1
Z1 = (Z12 + Z13 − Z23 ) = 0,016+j0,075 pu
2
1
Z2 = (Z12 + Z23 − Z13 ) = 0,011+j0,053 pu
2
1
Z3 = (Z13 + Z23 − Z12 ) = 0,008+j0,037 pu
2
• Circuito monofásico equivalente (sem incluir defasagem de 30o proveniente da
conexão ∆Y):
0,011+j0,053 pu
0,016+j0,075 pu
+
0,008+j0,037 pu
+
+ V2
V1
V3

− − −

2. Banco trifásico:

• Valores nominais do trafo 1φ:


– bobina 1: 35 kVA, 440 V, 79,54 A;
– bobina 2: 25 kVA, 380 V, 65,78 A;
– bobina 3: 25 kVA, 220 V, 113,63 A;
• Valores nominais do banco 3φ:

– primário: 105 kVA, 440 3= 762,10 (Y) V, 79,54 A;

– secundário: 75 kVA, 380 V, 65,78 3 A;

– terciário: 75 kVA, 220 V, 113,63 3 A;
– Circuito 1φ equivalente: igual ao do trafo 1φ, na base 75 kVA e tensões
nominais do banco 3φ.

3. Operação do banco trifásico:

• Base selecionada: 75 kVA; 762,10 V; 380 V e 220 V;


• Carga no secundário: 75 kVA; 0,85 atrasado, (0,95)380 V:
75k
– Sc2 = (0, 850 + j0, 526) pu ⇒ 0, 850 + j0, 526 pu(kVA);
75k
– V2 = 0, 95∠0o pu(V);
62 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência

 ∗
Sc2
– I2 = = 1, 052∠ − 31, 78o pu(A).
V2

• Circuito 1φ equivalente:

Z2 = R1 + jX1 +
I1
Vn I2

+
Z1 = R1 + jX1 Z3 = R1 + jX1
V2
V1 I3 + Carga Sc2

V3
Carga Zc3
− −

• Carga no terciário: Zc3 = 1, 936∠ − 25, 84o Ω:


1, 936∠ − 25, 84o
– Zc3 = = 3, 0∠ − 25, 84o pu(Ω);
0, 645
– Vn = I2 Z2 + V2 = 0, 990∠2, 40o pu(V);
 
Vn
– I3 = = 0, 331∠27, 52o pu(A);
Zc3 + Z3
– V3 = I3 Zc3 = 0, 993∠1, 68o pu(V);
– Sc3 = 0,296+j0,143 pu(kVA);
• Enrolamento primário:
– I1 = I2 + I3 = 1, 254∠ − 18, 66o pu(A);
– V1 = 1, 047∠6, 86o pu(V);
– S1 = 1,185+j0,566 pu(kVA);

2.2.5 Transformadores com tape variável


Os transformadores reguladores (ou com tap variável) são geralmente utilizados para
controlar a magnitude (ajustes de ±10% )e a fase (ajustes de ±3 graus) da tensão. Sob
certas condições, esses transformadores também são utilizados para controlar os fluxos
de potência ativa e reativa. No caso do ajuste da magnitude da tensão, são utilizados
basicamente os taps do transformador enquanto que para monitorar o fluxo de potência
ativa é necessário que conexões adicionais sejam feitas, de forma a modificar a defasagem
entre os fasores tensão nos terminais do equipamento.
No caso do controle da magnitude da tensão, um dos lados do transformador possui
uma bobina com tapes, utilizados para variar o número de espiras, o que permite mo-
dificar a relação de transformação das tensões. A figura 2.18 mostra o esquema de um
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 63

equipamento deste tipo, com relação nominal de tensões 220 V/380 V. Os taps estão no
lado de 380 V, para ajustar a magnitude da tensão em ±10% do valor nominal, em passos
de 5%.
1,1
1,05
1,00 Taps
0,95
0,90

220 V 0, 9 × 380V 380 V 1, 1 × 380V

Figura 2.18: Transformadores com tap variável - diagrama esquemático

Os Transformadores com Comutação sob Carga (Load Tap Changing (LTC) ou Tap
Changing Under Load (TCUL)) permitem o ajuste do tape enquanto o transformador está
energizado. Este ajuste é operado por servo-motores comandados por relés ajustados de
forma a manter a tensão num determinado nı́vel. Circuitos eletrônicos especiais permitem
esta mudança sem interrupção de corrente.
A representação de um transformador monofásico com tape variável é mostrada na
figura 2.19. O transformador ideal com razão a : 1 indica a relação variável entre os
fasores tensão. O parâmetro a pode ser um número real ou complexo. No primeiro
caso, apenas a magnitude da tensão é ajustada. Se o equipamento opera com valores
nominais de tensão, a = 1 e o modelo analı́tico mostrado na figura 2.19 se reduz ao
circuito monofásico equivalente convencional.

Ii Yeq 1:a Ij

+ + +
Vj
Vi Vj
a
- - -

Transformador
ideal

Figura 2.19: Transformador de tap variável - modelo analı́tico

O modelo analı́tico deste transformador é dado por,


    
Ii Yii Yij Vi
= (2.1)
Ij Yji Yjj Vj
64 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência

observando-se que no transformador ideal da figura 2.19,


 
Vj
Si = I∗i , Sj = Vj I∗j e Ii = −a∗ Ij
a

onde a é um número complexo.


A combinação dessas equações fornece
 
Vj Yeq
Ii = Vi − Yeq = Vi Yeq − Vj
a a
Yeq Yeq Yeq Yeq
Ij = −Vi ∗ + Vj ∗ = −Vi ∗ + Vj 2
a aa a |a|

tal que os componentes da matriz de coeficientes do sistema linear da Eq. (2.1) são,

Yeq Yeq Yeq


Yii = Yeq , Yij = − Yji = − e Yjj = (2.2)
a a∗ |a|2

Se o parâmetro a é um número complexo, Yij 6= Yji e portanto a matriz dos coefici-


entes não é simétrica. Por outro lado, se o parâmetro a é um número real, a matriz dos
coeficientes é simétrica, tal que
Yeq Yeq Yeq
Yii = Yeq , Yij = − = Yji = − e Yjj = (2.3)
a a a2
e o transformador é representado pelo circuito π-equivalente, com parâmetros A, B e C,
conforme mostrado na figura 2.20.

Yeq
A=
Ii a Ij
- 

+ +
   
a−1 1−a
Vi B= Yeq C = Yeq Vj
a a2
− −

Figura 2.20: Circuito π-equivalente de um transformador com tap variável

Ex. 2.6 Considere um transformador trifásico de 75 kVA, 220 V(∆):658,18 V(Y), reatância
de dispersão igual a 0,093+j0.437 Ω/f ase referida ao lado de AT. As bobinas de BT do
transformador possuem taps com variação ± 20%.

1. Determinar o circuito equivalente deste transformador no sistema por unidade,

• quando o tap é ajustado no valor nominal;


R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 65

• quando o tap é ajustado em 5% acima do valor nominal.

2. Determine as condições de operação na entrada do transformador, quando este


opera nas condições do item anterior, suprindo uma carga de 70 kVA, com fator
de potência 0,8 atrasado, na tensão de 220 V.

1. Circuito monofásico equivalente:

• tap ajustado no valor nominal (a = 1, 0):


– St = 75 kVA; 220(∆) : 658,18(Y ) V, 196,82 : 65,78 A;
2202
– Zbbt = = 0, 645 Ω, Zbt
t = 0, 031 + j0, 146 Ω (em ∆);
75k
0, 031 + j0, 146
– Zbt
t = = 0,010+j0,048 Ω (em Y);
3
0, 010 + j0, 048
– Zbt
t = = 0,016+j0,075 pu;
0, 645
– Zat at
t = 0, 093 + j0, 437 Ω (Zb = 5, 776 Ω ⇒) 0,016+j0,075 pu.
0
I1 I2
0,016 j0,075

+ +
0
V1 V2

− −

• tap ajustado no valor (a = 1, 05):


– Zeq = 0,016+j0,075 pu; Yeq = 2,691-j12,644 pu(S)
Yeq
– A= =2,562-j12,042 pu(S)
a 
a−1
– B= Yeq = 0,128 -j0,602 pu(S);
a
 
1−a
– C= Yeq = -0,122 +j0,573 pu(S);
a2

AT BT
I1 0 I2
ej30 : 1, 0
A

+ +

V1 B C V2



Transformador
Defasador
66 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência

2. condições de operação com carga:

• Base selecionada: valores nominais do trafo 3φ;


• Sb = 75 kVA, Vbbt =220 V, Vbat =658,18 V;
• Ibbt = 196,82 A, Ibat = 65,78 A;
• Zbbt = 0,645 Ω, Zbat = 5,776 Ω;
• Carga nominal: 70 kVA, cos φc 0,80 atrasado, 220 V:
– Sc = 56 + j42 kVA ⇒ 0, 746 + j0, 560 pu(kVA);
– Vc = 1, 00∠0o pu(V);
 ∗
Sc
– Ic = = 0,933 ∠ − 36, 86o pu(A).
Vc

• Solução via circuito π:

AT
0
I1 A I2 = 0, 933∠ − 36, 86o pu

+ +
0
V1 B C V2 = 1, 00∠0o pu

− −
Sc = 0, 746 + j0, 560 pu(kVA)

0
– IC = CV2 = 0, 586∠102, 01o pu;
0
– IA = I2 + IC = 0, 624∠1, 23o pu;
IA
– V1 = + V2 = 1, 010∠2, 82o pu;
A
– IB = BV1 = 0, 622∠ − 75, 15o pu;
– I1 = IB + IA = 0, 980∠ − 36, 86o pu;
– S1 = V1 (I1 )∗ = 0, 762 + j0, 632 pu, cos φ = 0, 76 atrasado

• Potência absorvida pelo trafo 3φ:


IA2
– SA = = 0, 007 + j0, 031 pu;
A
IB2
– SB = = 0, 130 + j0, 615 pu;
B
I2
– SC = C = −0, 122 − j0, 573 pu;
C
– Potência total absorvida pelo trafo St = 0, 015 + j0, 073 pu;
• Potência absorvida pela carga: Sc = 0, 746 + j0, 560 pu;
• Potência na entrada do trafo: S1 = 0, 762 + j0, 632 pu;
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 67

• Solução baseada no modelo do quadripolo:



 Yii = Yeq Yeq

Ii
 
Yii Yij

Vi
 Yjj = 2
= a
Ij Yji Yjj Vj  Yeq
 Yij = Yji = −
a

Ii Yeq 1:a Ij

+ + +
Vj
Vi Vj
a
- - -

Transformador Carga
ideal

• Desde que, Yeq = 2,691-j12,644 pu(S) e a = 1, 05, então,


– Yii = 2,677-j12,650 pu, Yjj = 2,440-j11,469 pu;
– Yij = Yji =-2,562+j12,042 pu.
• Condições de operação na carga:
0
– Ij = −I2 = −0, 933∠ − 36, 86o pu;
0
– Vj = V2 = 1, 00∠0o pu;
• Equação do quadripolo:
    
Ii Yii Yij Vi
=
−0, 933∠ − 36, 86o Yji Yjj 1, 00∠0o

• Solução: Vi = 1, 010∠2, 82o pu, Ii = 0, 980∠ − 36, 86o pu

2.3 Linhas de transmissão


Uma linha de transmissão é caracterizada pelos seguintes parâmetros:

• Resistência série: que representa as perdas por efeito Joule, causadas pela corrente
que flui através do condutor;

• Indutância série: que representa o campo magnético criado pela corrente que per-
corre o condutor;

• Condutância shunt: que representa as perdas por efeito Joule, causadas pela dife-
rença de potencial no meio que circunda os condutores;

• Capacitância shunt: que representa o campo elétrico resultante da diferença de


potencial entre os condutores.
68 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência

Em geral, as linhas de transmissão são representadas por um circuito π, conforme


mostra a figura 2.21, na qual z e y são a impedância série e a admitância shunt da linha,
expressas como parâmetros distribuı́dos e l é o comprimento da linha de transmissão. Ape-
sar de menos freqüentemente, o circuito T também pode ser utilizado para esta finalidade.

Ie Z = zl Ir

+ +
Y yl Y yl
Ve = = Vr
2 2 2 2
- -

Figura 2.21: Circuito π-nominal da linha de transmissão

Tomando como referência o comprimento da linha de transmissão, as seguintes consi-


derações podem ser feitas:

• Linhas curtas (l ≤ 80 km): apenas os parâmetros série da linha são levados em conta,
com a impedância série da linha de transmissão sendo expressa por Z = R + jX.
Os parâmetros shunt da linha são desprezados.

• Linhas médias (80 km < l ≤ 240 km): neste caso, a linha de transmissão é repre-
sentada por um circuito denominado π-nominal, no qual

Z = R + jX Ω

Y = jB S

• Linhas longas (l > 240 km): neste caso, a linha é representada por um circuito
denominado π-equivalente , no qual são aplicados fatores de correção nos valores da
impedância série e da admitância shunt, baseados nas caracterı́sticas de propagação
das ondas eletromagnéticas da linha de transmissão.

No presente capı́tulo, apenas as linhas de transmissão curtas serão representadas. O


capı́tulo seguinte apresenta a modelagem generalizada das linhas de transmissão.

2.4 Cargas
Os estudos da operação do sistemas de potência em regime permanente requerem uma mo-
delagem adequada da carga, tanto em termos quantitativos como em termos qualitativos.
Numa barra tı́pica, alguns dos componentes da demanda geralmente são:

• motores de indução;
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 69

• aquecimento e iluminação;

• motores sı́ncronos.

A potência absorvida pela demanda depende da natureza da carga e permite os três


tipos de representação descritos a seguir.

1. Representação em termos de potência constante, onde os M W e M V Ar especifica-


dos são supostos constantes, sendo a carga representada analiticamente por

Sd = Pd + Qd

onde Pd e Qd são as potências ativa e reativa demandadas. Esta forma, geralmente


utilizada nos estudos de Fluxo de Potência, requer valores de corrente e tensão que
resultem no valor de potência especificado. Portanto, se a tensão na carga tem
valor baixo, um alto valor de corrente é necessário para que o requisito de potência
especificada seja satisfeito.

2. Representação em termos de corrente constante, onde a corrente na carga é expressa


como
P − jQ
I=
V∗
= I∠(δ − φ)

onde, V e δ são respectivamente a magnitude e a fase da tensão complexa V, e


φ = arc tg ( Q
P
) é o ângulo do fator de potência da carga. Neste caso, a demanda é
especificada em termos da magnitude da corrente e do fator de potência.

3. Representação em termos de impedância constante, a qual é a forma mais frequen-


temente utilizada nos estudos de estabilidade. Se as potências ativa e reativa da
carga são conhecidas e devem permanecer constantes, a impedância equivalente é
dada por
V V2
Z= =
I P − jQ
e a admitância equivalente é expressa por
I P − jQ
Y= =
V V2

Os estudos da operação das redes elétricas em regime permanente fornecem resultados


consideravelmente dependentes da modelagem da carga. A determinação de um modelo
matemático que represente adequadamente a demanda é uma tarefa complexa, pois ge-
ralmente as cargas são resultado da agregação de dispositivos de diferentes caracterı́sticas
de operação. Os dois aspectos principais desta representação são a identificação da com-
posição da carga em um dado momento e a modelagem analı́tica das parcelas agregadas.
Uma grande parte da demanda doméstica e alguma parte da demanda industrial consistem
de aquecimento e iluminação, tal que os primeiros modelos de carga representavam estas
70 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência

demandas como impedâncias constantes. Equipamentos rotativos costumavam ser mode-


lados na forma simples de máquinas sı́ncronas em regime permanente e cargas compostas
eram modeladas como uma combinação das cargas anteriormente descritas [3].
Os modelos estáticos de carga desenvolvidos para estudos de fluxo de potência conven-
cional consideram que a mesma varia com a magnitude da tensão e é independente das
variações de freqüência. Os dois modelos mais freqüentemente utilizados nesses estudos
são descritos a seguir.

2.4.1 Modelo exponencial


Neste caso, a carga é representada por:
 α  β
V V
Pd = Pd 0 Qd = Qd0 (2.4)
V0 V0

onde V0 é a tensão nominal de referência e os expoentes α e β dependem do tipo de carga.


Os termos Pd0 e Qd0 são as potências ativa e reativa consumidas no nı́vel de tensão V
igual à tensão de referência V0 . O ajuste dos termos exponenciais das Eqs. (2.4) permite
representar a carga em termos de potência constante, corrente constante ou impedância
constante, isto é,

• se a carga for representada como injeção de potência constante, α = β = 0, 0;

• se a carga for representada como injeção de corrente constante (I), α = β = 1, 0;

• se a carga for representada como impedância constante (Z), α = β = 2, 0;

A tabela 2.3 apresenta valores tı́picos dos expoentes α e β de algumas cargas carac-
terı́sticas. No caso de cargas compostas, a especificação do expoente α é geralmente feita
na faixa entre 0,5 e 1,8 enquanto que o valor de β assume valores na faixa entre 1,5 e 6,0.
Devido à saturação magnética dos transformadores de distribuição e à carga composta de
motores, o expoente β varia como função não linear da tensão.

Componentes da carga α β
Lâmpadas incandecentes 1,54 -
Condicionadores de ar 0,50 2,50
Ventiladores de forno 0,08 1,60
Carregadores de bateria 2,59 4,06
Fluorescentes compactas eletrônicas 0,95 - 1,03 0,31 - 0,46
Fluorescentes convencionais 2,07 3,21

Tabela 2.3: Valores tı́picos dos expoentes de carga


R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 71

2.4.2 Modelo polinomial


O modelo polinomial tem sido tradicionalmente usado para representar a carga em estudos
de fluxo de potência e de estabilidade transitória. Este modelo também é conhecido
como ZIP (parcelas de impedância constante, corrente constante e potência constante
e representa a dependência da carga com relação à tensão). A carga em cada barra é
representada analiticamente por
"  2 #
V V
P = P 0 ap + b p + c p (2.5)
V0 V0
"  2 #
V V
Q = Q0 aq + b q + c q (2.6)
V0 V0
onde P e Q são as potências absorvidas pela carga na tensão V e P0 e Q0 são os valores
nominais de potência ativa e reativa, respectivamente, para a tensão nominal V0 (geral-
mente 1,0 pu). Os ı́ndices ap , bp , cp , aq , bq e cq representam as parcelas de injeção de
potência, injeção de corrente e impedância constante, respectivamente, e satisfazem as
seguintes condições:

ap + bp + cp = 1, 0
aq + bq + cq = 1, 0

De maneira análoga ao caso anterior, o ajuste conveniente dos coeficientes a, b e c


deste modelo permite representar a demanda de diferentes formas. Por exemplo,

• se a carga for representada como injeção de potência constante, os coeficientes bp ,


cp , bq e cq são selecionados iguais a zero e ap e aq assumem valores unitários;

• se a carga for representada como injeção de corrente constante, os coeficientes ap ,


cp , aq e cq são selecionados iguais a zero e bp e bq assumem valores unitários;

• se a carga for representada como impedância constante, os coeficientes ap , bp , aq e


bq são selecionados iguais a zero e cp e cq assumem valores unitários;

Ex. 2.7 Analise a representação de uma carga constituı́da por um chuveiro elétrico, cujos
valores nominais são 2400 W, 220 V, submetido a uma tensão de 240 V através de um
condutor com reatância indutiva igual a 1 Ω.

2.5 Exercı́cios
2.1 Os valores nominais de um transformador trifásico de três enrolamentos são: primário
(1), 66kV (Y ), 20M V A; secundário (2), 13, 2kV (Y ), 15M V A; terciário (3), 2, 3kV (∆),
5M V A. As reatâncias de dispersão são: X12 = 8% (na base 15M V A, 66kV ), X13 = 10%
(na base 15M V A, 66kV ) e X23 =9% (na base 10M V A, 13, 2kV ). Determine o circuito
equivalente deste transformador em pu, na base 15 MVA, 66 kV nos terminais primários.
72 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência

2.2 Um alimentador conectado ao primário do transformador do exercı́cio 2.1 supre


cargas puramente resistivas de 7,5 MW a 13,2 kV e 5 MW a 2,3 kV conectadas nos
terminais secundário e terciário. Mostre o diagrama de impedâncias em pu, na base
15 MVA, 66 kV nos terminais primários. Determine a potência aparente e a corrente
fornecidas pelo alimentador. Calcule as perdas de potência no transformador.
2.3 Um transformador trifásico de três enrolamentos 132 kV/33 kV/6,6 kV, 50 Hz, 30
MVA possui os seguintes valores de impedância medidos num ensaio de curto-circuito:
Z12 = j0, 15pu, Z13 = j0, 09 pu, Z23 = j0, 08pu. A bobina de 6,6 kV supre uma carga
trifásica balanceada, com uma corrente de 2000 A a um fator de potência 0,8 atrasado. A
bobina de 33 kV alimenta uma carga trifásica balanceada, conectada em Y de j50 Ω/fase.
Determine a tensão da fonte nos terminais de 132kV , para manter 6, 6kV nos terminais
do terciário. Calcule a potência ativa fornecida pela fonte.
2.4 Dois transformadores trifásicos com valores de placa 20 MVA, 115 kV(Y)/13,2
kV(∆), 9% e 15 MVA, 115 kV(Y)/13,2 kV(∆), 7 %, operam em paralelo para suprir
uma carga de 35 MVA, com fator de potência 0,8 atrasado, a uma tensão de 13,2 kV.
Determine a magnitude da a tensão na entrada dos transformadores e a potência apa-
rente fornecida ao conjunto transformadores-carga em pu e em unidades reais. Calcule a
corrente fornecida por cada transformador à carga. Verifique como o balanço de potência
é satisfeito nessa condição.
2.5 Um transformador com valores de placa 15 kVA, 220/380 V, reatância de dispersão
igual a 20 % e com o tap variável no lado de alta tensão ajustado em 1,05 conecta um
gerador com tensão 230 V a uma carga de 12,62 + j 9,46 Ω (no lado de alta tensão).
Tomando como base os valores 10 kVA e 230 V nos terminais do gerador, determine:
1. o circuito monofásico equivalente no sistema por unidade;

2. a magnitude da tensão na carga em pu e em volts;

3. a potência aparente suprida pelo gerador em pu e em unidades reais;

4. as perdas no transformador em pu e em unidades reais.

2.6 Considere o diagrama do sistema trifásico da figura 2.22, para o qual são fornecidos
os seguintes dados:
• gerador G1 : 150 MVA, 13,8(Y) kV, Xg1 = 30%;

• transformador T1 : três transformadores monofásicos de dois enrolamentos, cada


um com 50 MVA, 8 kV/72 kV, Xt1 = 20%, conectados como um banco trifásico de
autotransformadores 13,8 kV(Y)/138 kV(Y);

• transformador T2 : 200 MVA, 140 kV(Y)/20 kV (∆), Xt2 = 10%;

• linha de transmissão: comprimento de 80 km, reatância indutiva de 0,50 Ω/km/fase.


Desprezando a resistência dos enrolamentos, a reatância de magnetização e o desloca-
mento angular, e considerando como base os valores nominais do gerador 1, determinar:
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 73

Gerador Transformador 1 LT Transformador 2 Carga

YY Y∆

Figura 2.22: Diagrama unifilar - exercı́cio 2.6

1. o circuito monofásico equivalente no sistema por unidade;

2. a tensão do gerador 1 em pu e o fator de potência com que o mesmo opera, supondo


que a carga absorve 100 MW a 20 kV e fator de potência 0,8 atrasado;

3. sob estas condições é possı́vel o gerador suprir a carga? Justifique.

4. Refazer os itens anteriores considerando a defasagem angular dos bancos trifásicos


Y-∆.

2.7 [4] Três transformadores monofásicos de dois enrolamentos, cada um de 3 kVA,


220/110 V, 60 Hz e reatância de dispersão igual a 0,10 pu, são conectados como um
banco trifásico de autotransformadores, segundo o tipo de ligação ∆-estendido ilustrado
na figura 2.23. Determine os valores nominais das tensões de linha no lado de alta tensão
do banco trifásico.

Ha Hb Hc

220 V
Xa Xb Xc

110 V

Figura 2.23: Conexão do autotransformador trifásico - exercı́cio 2.7

2.8 Os valores de placa de um transformador trifásico de três enrolamentos são:


• primário (1): 66 kV(Y), 15 MVA;
74 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência

• secundário (2): 13,2 kV(Y), 10 MVA;

• terciário (3): 2,3 kV(∆), 5 MVA;


As impedâncias de dispersão obtidas no ensaio de curto circuito são:
• Z12 = 7%, na base 15 MVA, 66 kV;

• Z13 = 9%, na base 15 MVA, 66 kV;

• Z23 = 8%, na base 10 MVA, 13,2 kV;


Através deste transformador, uma fonte de tensão constante supre uma carga de fator
de potência unitário, de 5 MW, 2,3 kV nominais e um motor sı́ncrono de 7,5 MVA, 13,2
kV, com reatância sı́ncrona de 20%. Tomando a base trifásica de 66 kV, 15 MVA no
primário do transformador, a) determinar o circuito equivalente no sistema por unidade
e b) o valor da resistência da carga em pu.
2.9 Os dados do sistema trifásico da figura 2.24 são os seguintes:
• gerador G1 : 12,5 MVA, 13,8 kV(Y), Xg1 = 110%;

• gerador G2 : 15 MVA, 13,2 kV(Y), Xg1 = 90%;

• transformador T1 : 15 MVA, 13,8 kV(Y)/69 kV(∆), Zt1 = 1 + j8%;

• transformador T2 : 10 MVA, 13,8 kV(∆)/138 kV (Y), Zt2 = 1 + j10%;

• linha de transmissão (1-4): comprimento de 80 km, 0,28 + j0,61 Ω/km/fase;

• linha de transmissão (2-3): comprimento de 80 km, 0,15 + j0,60 Ω/km/fase;

• carga L1 : corrente de 52,3 A com fator de potência 0,707 atrasado;

• carga L5 : 10 kVA com fator de potência 0,8 atrasado;


Selecionando a base trifásica de 5 MVA e 69 kV na barra 2, determinar o circuito
equivalente monofásico no sistema pu.
2.10 Um transformador monofásico de 100 kVA, 2400/240 V, X = 10 %, é conectado
para operar como um autotransformador, com relação de transformação 2400/2160 V.
1. Determinar o diagrama de conexão e os valores de placa do autotransformador;

2. determinar o circuito equivalente do autotransformador no sistema pu;

3. suponha que o transformador original tem uma eficiência de 95 % à plena carga.


Qual a eficiência do autotransformador à plena carga?

2.11 Um transformador monofásico de 20 kVA, 220/380 V, 40%, possui tap variável no


lado de AT. Uma carga de 10 kVA é suprida através de uma fonte de 230 V através deste
transformador. Calcular em que valor deve ser ajustado o tap, para que a tensão na carga
seja 360 V, caso a carga seja:
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 75

Gerador 1 Transformador 1 LT23

Y∆ Y∆
LT14 Transformador 2 Carga L5

Gerador 2
∆Y

Carga L1

Figura 2.24: Diagrama unifilar - exercı́cio 2.9

1. indutiva pura;

2. capacitiva pura.

Adotar como base os valores 10 kVA e 380 V no lado de AT do trafo.

2.12 Considere o sistema cujo diagrama unifilar é mostrado na figura 2.25. Os valores
nominais dos equipamentos são:

• Gerador: 30 MVA, 13,8 kV, 15 %;

• Transformadores 1 e 2: 35 MVA, 115/13,2 kV, 10 %;

• Linha de transmissão: 80 Ω;

• Motor 1: 20 MVA, 12,5 kV, 20 %;

• Motor 2: 10 MVA, 12,5 kV, 20 %, Zn = j2 Ω;

Supondo as grandezas base Sbase = 50 M V A e Vbase = 115 kV , referidas a linha de


transmissão, determine:

1. o circuito monofásico equivalente no sistema por unidade;

2. o circuito equivalente de Thévenin, obtido a partir da barra 1, supondo que esta


barra opera na tensão de 1,02 pu.

2.13 Um transformador trifásico com valores de placa 200 MVA, 345(∆)/34,5(Y ) kV,
8 %, opera como um elo, conectando um sistema de transmissão de 345 kV e um sistema
de distribuição de 34,5 kV.
76 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência

1 2 3 4 M1
G

T1 LT T2 M2

Figura 2.25: Diagrama unifilar do sistema

1. Determine os valores de placa e o circuito equivalente dos três transformadores


monofásicos, que conectados adequadamente seriam equivalente ao transformador
trifásico em questão.
2. Supondo que uma carga uma carga trifásica de valor 180 MVA, na tensão 33 kV e
fator de potência 0,8 atrasado, é suprida por este transformador. Calcule os valores
de tensão corrente, potência aparente e fator de potência nos terminais de entrada
do transformador em pu e em unidades reais.
3. Determine a queda de tensão no transformador para as condições do item anterior,
em pu e em unidades reais.
2.14 No sistema trifásico da figura abaixo, os parâmetros das duas linhas de transmissão
são 0,163 (LT1 ) e 0,327 (LT2 ) Ω/km por fase, com respectivos comprimentos de 220 km
(LT1 ) e 150 km (LT2 ).
3 Trafo 2 4 MS
2
1 2
M S1 Trafo 1 LT1
5 Trafo 3 6
LT2

Adotando como valores base a tensão 13,2 kV e a potência de 2000 MVA na barra 1,
determinar:
1. o circuito equivalente na representação por fase, no sistema por unidade;
2. a tensão terminal, a corrente, a potência aparente e o fator de potência da máquina
sı́ncrona M S2 , supondo que a máquina sı́ncrona M S1 opera suprindo tensão e cor-
rente nominais, com fator de potência 0,8 atrasado;
3. o circuito equivalente de Thévenin visto da barra 6, para as condições de operação
do item anterior.
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 77

Componente Snom Vnom X


(MVA) (kV) (%)
MS 1 2000 13,8 (Y aterrado) 20
MS 2 2000 230 (Y aterrado) 20
Trafo 1 2200 13,8(∆):500(Y aterrado) 10
Trafo 2 500 500(Y aterrado):230(Y aterrado) 10
Trafo 3 1000 500(Y aterrado):138(Y aterrado) 12
78 Capı́tulo 2: Representação dos Sistemas de Potência
Capı́tulo 3

Operação das Linhas de Transmissão

3.1 Introdução
Este capı́tulo apresenta a modelagem analı́tica das linhas de transmissão para o estudo
da operação em regime permanente. Primeiramente, representa-se a linha de transmissão
por um quadripolo, definido por quatro constantes calculadas com base nos parâmetros da
linha. A seguir, estuda-se o problema do máximo carregamento que a linha pode suprir,
com enfoque na construção e na análise da curva PV. Posteriormente, mostra-se como
os parâmetros da linha podem ser utilizados em cálculos rápidos, com nı́vel de precisão
satisfatório apesar das aproximações adotadas em alguns casos. O capı́tulo é finalizado
enfocando aspectos relacionados aos fluxos de potência e a compensação reativa das linhas
de transmissão.

3.2 Representação das linhas de transmissão


Uma linha de transmissão é caracterizada pelos seguintes parâmetros:
• Resistência série: que representa as perdas por efeito Joule, causadas pela corrente
que flui através do condutor;

• Indutância série: que representa o campo magnético criado pela corrente que per-
corre o condutor;

• Condutância shunt: que representa as perdas por efeito Joule, causadas pela dife-
rença de potencial no meio que circunda os condutores;

• Capacitância shunt: que representa o campo elétrico resultante da diferença de


potencial entre os condutores.
Com base no comprimento l, três tipos de linha de transmissão são distingüidos:
• linhas de transmissão longas: l > 240km;

• linhas de transmissão médias: 80km < l ≤ 240km;

• linhas de transmissão curtas: l ≤ 80km.


80 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

Zser

Ysh Ysh
2 2

Figura 3.1: Circuito π representativo da linha de transmissão

As linhas de transmissão são representadas genericamente por um circuito π, conforme


mostra a figura 3.1. Neste circuito, a impedância série está relacionada à resistência e
à indutância da linha enquanto a admitância corresponde a condutância e capacitância
shunt.
Alternativamente, as linhas de transmissão podem ser representadas por um quadri-
polo, com as tensões e correntes nos seus terminais indicados conforme mostra a figura
3.2, onde e e r denotam os terminais emissor e receptor, respectivamente.
Ie Ir

+ +
Ve Quadripolo Vr
- -

Figura 3.2: Representação da linha de transmissão por um quadripolo

As relações entre as variáveis tensão e corrente nos terminais do quadripolo são ex-
pressas pela equação
Ve = AVr + BIr
(3.1)
Ie = CVr + DIr
ou na forma matricial pela expressão
    
Ve A B Vr
=
Ie C D Ir
onde, A, B, C e D são parâmetros que dependem das constantes das linhas de trans-
missão. No caso de circuitos lineares passivos e bilaterais, como o da linha de transmissão,
a relação
AD − BC = 1
é satisfeita. Esses parâmetros são números complexos, com A e D adimensionais, B
expresso em ohms (Ω) e C expresso em siemens (S).
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 81

3.3 Equações diferenciais da linha de transmissão


Considere o circuito mostrado na figura 3.3, o qual representa a seção de uma linha de
transmissão de comprimento ∆x.

I(x + ∆x) z∆x I(x)

+ +

V(x + ∆x) y∆x V(x)

- -

x + ∆x x
Tensão e corrente Tensão e corrente
na posição x + ∆x na posição x
(terminal emissor) (terminal receptor)
Figura 3.3: Modelo incremental da linha de transmissão

Os parâmetros distribuı́dos indicados na figura 3.3 são


z = r + jx (Ω/m)
y = = g + jb (S/m)
e as equações que caracterizam esta linha são
V(x + ∆x) = V(x) + (z∆x)I(x)
I(x + ∆x) = I(x) + (y∆x)V(x + ∆x)
ou, alternativamente,
V(x + ∆x) − V(x)
zI(x) =
∆x (3.2)
I(x + ∆x) − I(x)
yV(x + ∆x) =
∆x
Se ∆x → 0, as Eqs. (3.2) são re-escritas como
dV(x)
zI(x) =
dx (3.3)
dI(x)
yV(x) =
dx
As Eqs. (3.3) são diferenciais de primeira ordem e homogêneas. Elas possuem duas
incógnitas, sendo a sua solução dada por
V(x) = A1 e+γx + A2 e−γx
A1 e+γx − A2 e−γx (3.4)
I(x) =
Zc
82 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão


onde γ = zy, denominada constante de propagação, pode ser expressa em termos da
constante de atenuação α (néper/metro ou decibéis/metro) e da constante de fase (radi-
anos/metro) por
γ = α + jβ
O termo Zc , denominado impedância caracterı́stica da linha de transmissão, é expresso
como r
z
Zc = (Ω)
y
As constantes A1 e A2 são calculadas observando-se que no terminal receptor (x = 0)

Vr = V(0) Ir = I(0)

tal que

V r = A1 + A 2
A 1 − A2
Ir =
Zc
o que fornece
Vr + Zc Ir
A1 =
2 (3.5)
Vr − Zc Ir
A2 =
2
Agrupando-se convenientemente os termos das Eqs. (3.4) e (3.5), obtêm-se as ex-
pressões que fornecem a tensão e a corrente em qualquer ponto x da linha de transmissão;
isto é,

V(x) = cosh(γx)Vr + Zc sinh(γx)Ir


1 (3.6)
I(x) = sinh(γx)Vr + cosh(γx)Ir
Zc
onde
expγx + exp−γx
cosh(γx) =
2
expγx − exp−γx
sinh(γx) =
2
A forma matricial das equações do quadripolo que representa uma linha de transmissão
de comprimento l, com parâmetros série e shunt distribuı́dos z(Ω/m) e y(S/m) é
    
Ve (x) A(x) B(x) Vr (x)
= (3.7)
Ie (x) C(x) D(x) Ir (x)

onde, Ve (x) e Ie (x) são a tensão e a corrente no terminal emissor (de entrada) e Vr (x)
e Ir (x) são a tensão e a corrente no terminal receptor (de saı́da), expressos em função
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 83

da distância x, medida de um ponto qualquer da linha de transmissão até o terminal


receptor. Da comparação das Eqs. (3.6) e (3.7), obtém-se

A(x) = D(x) = cosh(γx) (pu)


B(x) = Zc sinh(γx) (Ω)
(3.8)
1
C(x) = sinh(γx) (S)
Zc

Ie Z
0 Ir

+ +
0 0
Y Y
Ve Vr
2 2

- -

Figura 3.4: Circuito π-equivalente da linha de transmissão

Para representar uma linha de transmissão com parâmetros concentrados

Z = zl = R + jX (Ω)
(3.9)
Y = yl = G + jB (S)

pelo circuito π-equivalente da figura 3.4, cujas equações caracterı́sticas são


 0 
Y 0
Ve = Ir + Vr Z + Vr
2
 0
Y (Ve − Vr )
Ie = Ve +
2 Z0
 0 
Y 1 (Vr )
= + 0 Ve −
2 Z Z0
0 0
onde Z e Y são os parâmetros série e shunt que compõem o circuito π-equivalente da
linha de transmissão da figura 3.4.
A combinação dessas equações fornece
 0 0
YZ 0
Ve = 1 + Vr + Z Ir
2
 0 0  0 0
0 YZ YZ
Ie = Y 1 + Vr + 1 + Ir
4 2
84 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

e portanto
0 0
ZY
A(x) = D(x) = cosh(γx) = 1 +
2
0
B(x) = Zc sinh(γx) = Z (3.10)
 0 0
1 0 ZY
C(x) = sinh(γx) = Y 1 +
Zc 4
A segunda das Eqs. (3.10) pode ser escrita como
r r
0 z zl z
Z = Zc sinh(γx) = sinh(γx) = sinh(γx)
y zl y
resultando
0 sinh(γl)
Z =Z (3.11)
γl
De forma semelhante, a primeira das Eqs. (3.10) fornece
0
Y cosh(γx) − 1
=
2 Z0
tal que,
0
Y Y tanh(γl/2)
= (3.12)
2 2 (γl/2)
sinh(γl) tanh(γl/2)
Os termos e , denominados fatores de correção, são utilizados
γl (γl/2)
para converter a impedância série e a admitância shunt (Z e Y) do circuito π-nominal
0 0
nos correspondentes parâmetros (Z e Y ) do circuito π-equivalente. As Eqs. (3.10),
(3.11) e (3.12) representam uma linha de transmissão de qualquer comprimento. Nas
linhas longas, os efeitos de propagação de onda são consideráveis, tal que a impedância e
a admitância são submetidas a correção indicada pelas Eqs. (3.11) e (3.12) e este tipo de
linha é representado pelo circuito da figura 3.4.
No caso das linhas médias, a perda na condutância shunt é desprezı́vel porém o efeito
capacitivo é levado em conta. Por esta razão, estas linhas são representadas pelo circuito
π-nominal, no qual a impedância série e a admitância shunt são calculados com base nos
parâmetros distribuı́dos fornecidos pelo fabricante e no comprimento da linha. O modelo
analı́tico das linhas médias é mostrado na figura 3.5.
As equações de quadripolo que caracterizam este circuito são semelhantes àquelas
obtidas para uma linha de transmissão genérica, ou seja,
ZY
A= D=1+ pu
2
B= Z Ω
 
ZY
C= Y 1+ S
4
onde Z e Y são os parâmetros concentrados da Eq. (3.9) .
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 85

Ie Z = zl Ir

+ +
Y yl Y yl
Ve = = Vr
2 2 2 2
- -

Figura 3.5: Circuito π-nominal da linha de transmissão média

Nas linhas curtas a perda na condutância shunt e o efeito capacitivo entre os condutores
(ou entre os condutores e a terra) não é acentuado, e portanto apenas os parâmetros
série da linha são levados em conta. A representação deste tipo de linha de transmissão
considera apenas os parâmetros série, conforme ilustrado na figura 3.6. tal que as equações
Ie Z = zl Ir

+ +

Ve Vr

- -

Figura 3.6: Circuito representativo da linha de transmissão curta

de quadripolo que representam analiticamente este tipo de linha de transmissão são


Ve = Vr + ZIr
Ie = Ir
ou na forma matricial,     
Ve 1 Z Vr
=
Ie 0 1 Ir
e portanto
A = D = 1 pu
B= Z Ω
C= 0 S
Para linhas médias e curtas, a relação AD−BC = 1 é válida. Se a linha de transmissão
possui a mesma configuração quando vista de qualquer um dos extremos, então A = D.
A linha de transmissão curta é um caso particular da linha de transmissão média, onde
os parâmetros shunt são desprezados, o que resulta em Y = 0 e A = D = 1 e B = Z.
86 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

Ex. 3.1 Seja uma linha de transmissão trifásica, composta de condutores ACSR 127000
CMil 54/3, com espaçamento assimétrico, transposta, com com resistência série, in-
dutância série e capacitância shunt iguais respectivamente a 0,0165 Ω/f ase/km, 0,8769
mH/fase/km e 0,01239 µF/fase/km, respectivamente. Calcule os parâmetros do circuito
π e do quadripolo que representam linhas com comprimentos de 300 km, 160 km e 50 km.
Supondo que a linha de 300 km supre uma carga de 3301,2 MVA, com fator de potência
0,986 adiantado, na tensão de 728,67 kV, determine as condições de operação da mesma.
A especificação dos condutores é interpretada a seguir.
• Condutor ACSR 127000 CMil 54/3:
– ACSR: Aluminum Cable Steel Reinforced;
– CMil: área de um cı́rculo com diâmetro igual a um milésimo de polegada;
– 54/3: número de fios de alumı́nio e de aço;
– r=0,0165 Ω/f ase/km, L=0,8769 mH/fase/km e C=0,01239 µF/fase/km: parâmetros
distribuı́dos.
• Espaçamento assimétrico: as distâncias entre os condutores da linha de transmissão
são diferentes, o que requer a transposição da mesma, conforme mostrado na figura
3.7.
Ia
a c b
r

D12
b
a c
D13 r

Ib
D23
c b
r
a
Ic
l l l
3 3 3

Figura 3.7: Transposição de uma linha de transmissão trifásica

A tabela 3.1 mostra os parâmetros que representam esta linhas de transmissão, consi-
derando comprimentos iguais a 300 km, 160 km e 50 km. O efeito dos fatores de correção
sobre determinados parâmetros é reduzido na medida que o comprimento da linha diminui.
Por exemplo, a diferença entre os valores nominais e equivalente da reatância indutiva da
linha de 300 km (99,18 Ω e 96,9 Ω) é de 2,28 Ω (2,30%). o que resultaria num erro de
aproximadamente 2% no cálculo da queda de tensão ao longo da linha, se os parâmetros
série desta linha não fossem corrigidos. No caso das linhas de 160 e 50 km, a diferença
entre os valores nominais e corrigidos é insignificante, indicando que não há necessidade
de se utilizar o circuito π-equivalente da linha. Com relação à admitância shunt, no caso
especı́fico desta linha o fator de correção não tem efeito considerável, tal que os valores
nominais e corrigidos são semelhantes. Entretanto, nota-se que efeito capacitivo aumenta
0
com o comprimento da linha, conforme indicam as diferenças ente Y (ou Y ) para os di-
ferentes comprimentos de linha. Nota-se ainda, que tanto a impedância caracterı́stica
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 87

l 300 km 160 km 50 km
Z(Ω) 4,95 + j99,18 2,64 + j52,89 0,82 + j16,53
0
Z (Ω) 4,72 + j96,90 2,60 + j52,54 0,82 + j16,51
Y(S) j0,0014 j0,00074 j0,00023
0
Y (S) j0,0014 j0,00074 j0,00023
Zc (Ω) 266,15 - j6,63 266,15 - j6,63 266,15 - j6,63
γ(km−1 ) j0,0012 j0,0012 j0,0012
A(pu) 0,9313 + j0,0034 0,9803 + j0,001 0,9981 + j0,0001
B(Ω) 4,72 + j96,90 2,60 + j52,54 0,82 + j16,51
C(S) j0,0014 j0,00074 j0,00023

Tabela 3.1: Parâmetros das linhas de transmissão × comprimento

como a constante de propagação não variam com o comprimento da linha de transmissão,


pois estas constantes são definidas com base nos parâmetros distribuı́dos da linha.
As condições de operação da LT quando a mesma supre uma carga de 3301,2 MVA,
com fator de potência 0,986 adiantado, na tensão de 728,67 kV, são apresentadas a seguir.

• Parâmetros distribuı́dos:

– z = r + j2πf L= 0,0165 + j0,3306 Ω/km;


– y = j2πf C= j4,6739×10−6 S/km;

• Circuito π-nominal:

– Z = zl = 4, 95 + j99, 17 = 99, 30∠87, 14o Ω;


– Y = yl= j14,02×10−4 S;
ZY
– A=D=1+ = 0, 9305∠0, 214o pu;
2
– B = Z = 99, 30∠87, 14o Ω;
 
ZY
– C=Y 1+ = 1, 35 × 10−3 ∠90o S;
4
• Caracterı́sticas de propagação:

– Constante de propagação: γ = zy = 0, 00003 + j0, 0012 km−1 ;
z
r
– Impedância caracterı́stica: Zc = = 266, 1∠ − 1, 43o Ω;
y
• Circuito π-equivalente:
0 sinh(γl)
– Z =Z = 4, 73 + j96, 88 = 97, 0∠87, 2o Ω;
γl
0 tanh(γl/2)
– Y =Y = j14, 15 × 10−4 S;
(γl/2)
88 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

0
– Obs. à rigor Y = (0, 034 + j14, 15) × 10−4 S;
0 0
ZY
– A=D=1+ = 0, 9313∠0, 209o pu;
2
0
– B = Z = 97, 0∠87, 2o Ω;
 0 0
0 ZY
– C=Y 1+ = 1, 37 × 10−3 ∠90o S;
4

• Carga: 3301,2 MVA, com fator de potência 0,986 (φ = 9, 59o ) adiantado, na tensão
de 728,67 kV;

728, 67
– Sr =3255,43-j550,55 M V A3φ , Vr = √ = 420,70 kV;
3
– Ir = 2616, 0∠9, 59o ;
    
Ve 0, 9313∠0, 209o 97, 0∠87, 2o 420, 70k∠0o
= −3
Ie j1, 37 × 10 0, 9313∠0, 209o 2616, 0∠9, 59o

– Solução:
∗ Ve = 441, 64∠35, 01o kV ⇒ 765 kV;
∗ Ie = 2596, 6∠22, 44o A;
∗ Se = 3357, 8 − j748, 93 MVA3φ ;
– Perdas nas LT’s:
∗ SZ = 33, 97 + j697, 0 MVA1φ ;
∗ SYe = j138, 35 MVA1φ ;
∗ SYr = j125, 54 MVA1φ ;
∗ Total absorvida nas LT’s: Slt = 101.91 + j1299, 33 MVA3φ ;

• Balanço de potência:

– Terminal receptor: Sr =3255,43-j550,55 M V A3φ ;


– Total absorvida nas LT’s: Slt = 101.91 + j1299, 33 MVA3φ ;
– Terminal emissor: Se = 3357, 8 + j748, 93 MVA3φ ;

• Rendimento:
3255, 43M
η(%) = × 100 = 96%
3357, 80M

• Regulação:
(765k/0, 9313) − 728, 67k
R(%) = × 100 = 12, 72%
728, 67k
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 89

3.4 Transferência de Potência


3.4.1 Análise baseada nos parâmetros do quadripolo
Supondo que as tensões terminais e os os parâmetros do quadripolo que representa a linha
0
de transmissão são respectivamente Ve = Ve ∠δ, Vr = Vr ∠00 , A = A∠θa , B = Z ∠θz e
C = C∠θc , a corrente e a potência aparente supridas à linha de transmissão pelo terminal
emissor são respectivamente dadas por

Ie = CVr + DIr
 
Ve − AVr
= CVr + D
B
AVe ej(θa +δ−θz ) − A2 Vr ej(2θa −θz )
= CVr ejθc +
Z0
Se = (Ve ∠δ)I∗e
∗
AVe ej(θa +δ−θz ) − A2 Vr ej(2θa −θz )

jθc
= Ve ∠δ CVr e +
Z0
∗
AVe2 ej(θa −θz ) − A2 Ve Vr ej(2θa −θz −δ)

j(θc −δ)
= CVe Vr e +
Z0

Expressando esta equação na forma retangular e separando a mesma em partes real e


imaginária, obtêm-se

AVe2 cos(θa − θz ) A2 Ve Vr cos(2θa − θz − δ)


Pe = CVe Vr cos(θc − δ) + −
Z0 Z0
(3.13)
AVe2 2
sin(θa − θz ) A Ve Vr sin(2θa − θz − δ)
Qe = −CVe Vr sin(θc − δ) − +
Z0 Z0
que representam as potências ativa e reativa supridas pelo terminal emissor da linha de
transmissão. Nessas potências estão incluı́das as parcelas correspondentes às perdas na
linha de transmissão e ao terminal receptor.
De maneira análoga, lembrando que
 
Ve − AVr
Ir =
B

a potência aparente suprida ao terminal receptor é dada por

Sr = Vr I∗r
 jδ ∗
Ve e − AVr ejθa
= Vr
Z 0 ejθz

Vr Ve ej(θz −δ) − AVr2 ej(θz −θa )


=
Z0
90 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

Separando a última equação em partes real e imaginária, as potências ativa e reativa


suprida à carga são expressas por
Vr Ve AVr2
Pr = 0 cos(θz − δ) − cos(θz − θa )
Z Z0
(3.14)
Vr Ve AVr2
Qr = 0 sin(θz − δ) − sin(θz − θa )
Z Z0
ocorrendo a máxima transferência de potência ativa quando δ = θz ; ou seja,
Vr Ve AVr2
PrM ax = − cos(θz − θa )
Z0 Z0
sendo a potência reativa correspondente expressa como
AVr2
QM
r
axp
=− sin(θz − θa )
Z0
Ex. 3.2 Considere a linha de transmissão do Exemplo 3.1.
As tensões terminais e os parâmetros do quadripolo calculados anteriormente são:
• Ve = 441, 64∠35o kV, Ve = 420, 70∠0o kV;

• A = D = 0, 9313∠0, 209o pu;

• B = 97, 0∠87, 2o Ω;
tal que a tranferência de potência nestas condições é dada por,
Vr Ve AVr2
• Pr = 0 cos(θz − δ) − cos(θz − θa ) = 1085,1 MW;
Z Z0
Vr Ve AVr2
• Qr = 0 sin(θz − δ) − sin(θz − θa )= -183,49 MVAr;
Z Z0
A máxima transferência de potência ocorre para δ = θz = 87, 2o :
Vr Ve AVr2
• PrM ax = − cos(θz − θa )=1826,2 MW;
Z0 Z0
M axp AVr2
• Qr =− sin(θz − θa )= 1696,7 MVAr .
Z0

3.4.2 Análise baseada no fluxo de potência


A figura 3.8 mostra o circuito π de uma linha de transmissão conectando duas barras i e
j, onde
• Vi = Vi ∠δi e Vj = Vj ∠δj são os fasores que representam as tensões nodais;

• Z = R + jX e Y = jB são respectivamente a impedância série e a admitância shunt


da linha de transmissão;
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 91

• Sij = Pij + jQij e Sji = Pji + jQji são os fluxos de potência aparente que saem das
barras i e j, respectivamente.

Vi ∠δi Vj ∠δj
0 0
i Pij Pji j
Qij ? ?Pij -
Z = R + jX

Pji
? ?Qji
- 
Qshi ? Q0ij ?Qshj
0
Qji
Y
2
= j B2 Y
2
= j B2

Figura 3.8: Circuito π representativo da linha de transmissão conectando as barras i e j

A corrente que flui da barra i em direção a barra j através da impedância série da


linha de transmissão é dada por
Vi − Vj
Iij =
R + jX
e o correspondente fluxo de potência aparente é expresso por
 ∗
Vi − Vj∗

0 0 0 ∗
Sij = Pij + jQij = Vi Iij = Vi
R − jX
1
= (V 2 − Vi Vj ∠(δi − δj )
R − jX i
cuja expansão fornece
0 R + jX  2 
Sij = 2 2
Vi − Vi Vj (cos δij + j sin δij ) (3.15)
R +X
onde δij = (δi − δj ) representa a defasagem entre os fasores Vi e Vj .
Da separação da Eq. (3.15) em partes real e imaginária resulta,
0 1
Pij = (RVi2 − RVi Vj cos δij + XVi Vj sin δij )
R2 + X 2
0 1
Qij = (XVi2 − XVi Vj cos δij − RVi Vj sin δij )
R2 + X 2
Desde que a condutância shunt da linha de transmissão é desprezı́vel, nenhuma potência
ativa flui pelo ramo paralelo da linha, e portanto
0
Pij = Pij

No caso do fluxo de potência reativa,


0
Qij = Qij + Qshi
92 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

A potência aparente que flui no ramo shunt relativo a barra i é dada por
∗
V 2B

∗ Vi Y
Sshi = Vi Ishi = Vi = −j i
2 2

e então
Vi2 B
Qshi = −
2
Portanto, os fluxos de potência ativa e reativa numa linha de transmissão são expressos
como
1
Pij = (RVi2 − RVi Vj cos δij + XVi Vj sin δij )
+ X2R2
(3.16)
V 2B 1
Qij = − i + 2 (XVi2 − XVi Vj cos δij − RVi Vj sin δij )
2 R + X2
De maneira análoga, como sen δij = −sen δji e cos δij = cos δji , os fluxos de potência
ativa e reativa da barra j para a barra i são
1
Pji = (RVj2 − RVi Vj cos δij − XVi Vj sin δij )
R2
+ X2
(3.17)
Vj2 B 1
Qji = − + 2 (XVj2 − XVi Vj cos δij + RVi Vj sin δij )
2 R + X2
O fluxo máximo de potência ativa que é injetado na barra j é obtido derivando-se
Pr = −Pji com relação a δji e igualando-se o resultado a zero, isto é,

∂(−Pji )
= −RVi Vj sin δij + XVi Vj cos δij = 0
∂δji

o que fornece
X
tan(δij ) =
R
e portanto δ = θz , conforme observado no final da subseção 3.4.1.
As perdas de potência ativa e reativa são dadas respectivamente por

PL = Pij + Pji
QL = Qij + Qji
 
R
(Vi2 + Vj2 ) − 2Vi Vj cos δij

Pij + Pji =
R + X2
2

ou seja,  
R
Pij + Pji = |Vi − Vj |2
R + X2
2

onde o termo |Vi − Vj | representa a magnitude da queda de tensão no elemento série da


linha de transmissão, e portanto a soma dos fluxos de potência em sentidos opostos pode
ser identificada como a perda ôhmica de potência na LT.
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 93

De maneira análoga a soma dos fluxos de potência reativa fornece


 
B 2 2 X
Qij + Qji = − (Vi + Vj ) + 2 2
(Vi2 + Vj2 − 2Vi Vj cos δij )
2 R +X
ou seja,  
B 2 2 X
Qij + Qji = − (Vi + Vj ) + |Vi − Vj |2
2 R2 + X 2
O primeiro termo desta equação corresponde a geração de potência reativa nos ele-
mentos shunt, enquanto que o segundo representa a perda de potência reativa no elemento
série da linha de transmissão.

Ex. 3.3 Considere a linha de transmissão do Exemplo 3.1, sob as condições de operação
determinadas anteriormente. Os fluxos de potência na LT, calculados com auxı́lio das
Eqs. (3.16) e (3.17) são indicados na figura 3.9.

Vi =441,64∠35o kV Vj =420,70∠0o kV
i j
P 1119,1 MW 0 -1085,1 MW Pji
249,51 MVAr ? ? ij - Z  ? ?183,49 MVAr
- 
-138,35 MVAr ?387,85 MVAr 309,03 MVAr ?-125,54 MVAr
0 0
Y Y
2 2

Figura 3.9: Fluxos de potência na linha de transmissão longa do exemplo anterior

tal que,
0 0
• Potência reativa absorvida por X=Qij + Qji : 696,88 MVAr;
• Potência reativa fornecida por B: 263,88 MVAr.
• Potência ativa (perdas Joule na LT):
 
R
(Vi2 + Vj2 ) − 2Vi Vj cos δij = 33, 96 M W

Pij + Pji = 2 2
R +X

• Potência reativa fornecida nos extremos da LT:


 
B 2 2 X
Qij + Qji = − (Vi + Vj ) + (Vi2 + Vj2 − 2Vi Vj cos δij ) = 433, 0 M V Ar
2 R2 + X 2

• Máxima transferência de potência (δ = θz = 87, 2o ):


PrM ax = −Pji = 1826, 2 M W, para a qual corresponde QM
r
axp
= −Qji = 1696, 7M V Ar
.
94 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

Ex. 3.4 Considere uma rede trifásica, onde uma linha de transmissão de 80 km, com
parâmetros 0,080 Ω/km e 0,720 mH/km, supre uma carga de 40 MVA com fator de
potência 0,8 atrasado. Um compensador sı́ncrono está instalado no terminal receptor,
para manter a tensão em ambos os extremos da linha em 69 kV. Determine as condições
de operação (tensão, corrente, potência, fator de potência e perdas) nos extremos da LT.
O diagrama da figura 3.10 mostra o circuito equivalente da LT suprindo carga e com-
pensador sı́ncrono.

Ie Ir , Sr

+ +
Ve Quadripolo Vr
Scs Scr
- -

Compensador Carga
Linha de transmissao sincrono

Figura 3.10: Transmissão de potência entre duas barras

Considerando que a linha de transmissão é curta (l ≤ 80km), o efeito capacitivo


(shunt) é desprezado (Y = 0), tal que na frequência de 60 Hz,

• r = 0, 080 Ω/km, L = 0, 720 mH/km;

• Z = (r + j2πf L)l= 6,400 + j21,714= 22,63 ∠73, 57o Ω/km;

• A = D = 1,0 pu; C = 0; B = 22, 63∠73, 57o Ω, ;

As condições de operação na carga são:


32, 0 + j24, 0
• Scr = = 10,66 +j8,00 MVA1 φ;
3
69
• Vcr = √ = 39, 83∠0o kV, Icr = 334, 69∠ − 36, 87o A;
3
tal que na saı́da da LT:
Vr Ve AVr2
• Pr = Pcr = cos(θz − δ) − cos(θz − θa );
Z Z
• δ = 9, 35o , Ve = 33, 83∠9, 35o kV;
Vr Ve AVr2
• Qr = sin(θz − δ) − sin(θz − θa );
Z Z
• Qr = -4,11 MVAr ⇒ Sr = 10,66 - j4,11 MVAr;

• Da figura: Sr = Scs + Scr ⇒ Scs = -j12,11 MVArr1φ ;


R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 95

 ∗
Sr
• Ir = = 286,99 ∠21, 09o A;
Vr
e portanto a equação do quadripolo é dada por:
    
Ve 1, 0 22, 63∠73, 57o 33, 83∠0o kV
=
Ie 0 1, 0 286, 99∠21, 09o
cuja solução fornece,
• Ve = 39, 83∠9, 35o kV; Ie = 286, 99∠21, 09o A;
• Se = 11, 19 − j2, 32 MVA1φ , cosφ = 0,97 adiantado;
• Perda na LT: Slt = 0,52 + j1,78 MVA (por fase)
• Carga: Scr = 10,66 +j8,00 MVA1 φ;
• CS: Scs = j12,11 MVAr1 φ;
A figura 3.11 mostra os fluxos de potência na condição de operação definida previamente.

11,19-j2,32 MVA 10,66-j4,11 MVAr

10,66+j8,00 MVA
+ +
Ve Quadripolo Vr
-j12,11 MVAr
- -

Compensador Carga
Linha de transmissao sincrono

Figura 3.11: Fluxos de potência entre duas barras

3.5 Curva PV
A magnitude da tensão no terminal receptor é determinada re-escrevendo-se a Eq. (3.14)
como
Vr Ve AVr2
0 cos(δ − θz ) = Pr + cos(θz − θa )
Z Z0
(3.18)
Vr Ve AVr2
0 sin(δ − θz ) = Qr + sin(θz − θa )
Z Z0
e somando o quadrado dessas duas expressões, cujo re-arranjo do resultado fornece

A2 Vr4 + 2A [Pr cos(θz − θa ) + Qr sin(θz − θa )] − Ve2 Vr2 + Pr2 + Q2r Z 02 = 0 (3.19)


 
96 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

Fazendo-se y = Vr2 e

a = A2

2A [Pr cos(θz − θa ) + Qr sin(θz − θa )] − Ve2



b=

Pr2 + Q2r Z 02

c=

a Eq. (3.19) pode ser re-escrita como uma equação de segundo grau em y, tendo como
raı́zes

s −b + b2 − 4ac
y =
2a
(3.20)

−b − b2 − 4ac
yi =
2a
√ p
tal que duas magnitudes da tensão com significado fı́sico são Vrs = y s e Vri = y i .
A curva PV de uma barra é obtida fixando-se a tensão no terminal emissor, variando-se
a demanda no terminal receptor sem alterar o fator de potência da mesma, e resolvendo-se
a Eq. (3.19) para cada valor da demanda (caso mais simples). Nos casos práticos, esta
curva é traçada com base em sucessivas soluções do fluxo de potência correspondentes à
variação gradativa da demanda do sistema com o fator de potência mantido constante.
Para cada nı́vel de potência ativa demandada existem duas soluções de magnitude de
tensão, o que torna possı́vel uma analogia com a curva Pδ da estabilidade transitória do
ângulo do rotor em regime permanente. Ambas as curvas apresentam regiões de operação
estável e instável.

Ex. 3.5 A figura 3.12 mostra as curvas PV obtidas para cargas com diferentes fatores
de potência, com a tensão no terminal emissor fixada no valor nominal, para a linha de
transmissão referida anteriormente. Desta figura, observa-se que:

• para cada fator de potência, existe uma potência máxima que pode ser transmitida;

• para cada demanda especificada abaixo do valor máximo, existem duas possı́veis
soluções para Vr (duas raı́zes da Eq. (3.19));

• sob condições normais, o sistema de potência opera sempre na parte superior da


curva, dentro da faixa estreita dos limites de magnitude da tensão;

• se P = Q = 0, então Ve = Vr cos θ, o que representa a condição de circuito aberto;


neste caso, Vr > Ve .

• o perfil plano de tensão ocorre para a carga de fator de potência unitário, caso no
qual P < 1, 0 pu e Vr = Ve = 1, 0 pu.
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 97

Curva P x V − LT com perdas

1.2

fp unitário fp capacitivo
1

Modulo da Tensão (pu)


fp indutivo
0.8

0.6

0.4

0.2

0
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3
Potência Ativa (pu)

Figura 3.12: Curva PV - cargas com diferentes fatores de potência

Na região superior da curva PV da figura 3.12, um aumento na demanda resulta num


desbalanço de potência reativa, tal que a magnitude da tensão do sistema tende a dimi-
nuir. Para corrigir esta redução, medidas corretivas aumentam a magnitude da tensão
no terminal emissor até que um ponto de equilı́brio seja alcançado (região estável ). Na
parte inferior da curva, um aumento na demanda resulta numa elevação da magnitude
da tensão do sistema e a medida corretiva também causa decréscimo na magnitude da
tensão, o que indica que o sistema está operando num ponto de equilı́brio instável (região
instável ). Para qualquer nı́vel de carga inferior ao nı́vel máximo de potência a ser trans-
mitida, duas soluções em termos de magnitude da tensão no terminal receptor podem ser
encontradas. A solução mais próxima ao ponto de equilı́brio estável é o correspondente
ponto de equilı́brio instável. Estes pontos de equilı́brio se aproximam um do outro con-
forme a demanda aumenta, até a condição de operação onde somente uma única solução
do fluxo de potência existe. Esta condição caracteriza o ponto extremo da curva, o qual
é denominado ponto crı́tico ou ponto de bifurcação sela-nó. A partir deste ponto, não
existem soluções reais para as equações da rede elétrica.
O efeito do comprimento no carregamento da linha de transmissão pode ser observado
determinando as soluções da Eq. (3.19) mantendo-se a carga (injeções de potência ativa
(P ) e reativa (Q)) constante e variando-se o comprimento da LT. A figura 3.13 mostra
linhas de transmissão com comprimentos variando entre 50 km e 300 km, para cargas com
fatores de potência unitário.
Nesta figura observa-se que, devido às acentuadas variações na magnitude da tensão,
a operação de linhas longas não compensadas é impraticável para toda a faixa de variação
do fator de potência. Portanto, mesmo quando a linha de transmissão longa supre uma
demanda reduzida, condição em que as magnitudes das tensões nos terminais emissor e
receptor podem ser controladas para atingir nı́veis toleráveis, a tensão no terminal receptor
é extremamente sensı́vel a qualquer variação na potência ativa da carga.
98 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

Curva P x V − Carga Resistiva

SIL = 0.9996 pu(MW)


1

0.8
Modulo da Tensão (pu)

300 km 150 km 75 km 50 km
0.6

0.4

0.2

0
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Potência Ativa (pu)

Figura 3.13: Curva PV em função do comprimento da linha de transmissão - fator de


potência unitário

3.6 Linhas de transmissão com perdas desprezı́veis


Expressões mais simples são obtidas e os conceitos apresentados anteriormente são mais
facilmente aplicáveis se as perdas de potência ativa no sistema de transmissão forem
desprezadas. Desde que as linhas de transmissão são projetadas para operar com valor de
perda reduzido, as equações e os conceitos mostrados a seguir podem ser utilizados para
cálculos rápidos, com razoável nı́vel de precisão, no planejamento preliminar da operação
das linhas de transmissão.
0
Is X Ir

+ +
0 0
B B
Vs = Vs ∠δ   Vr = Vr ∠00
2 2

- -

Figura 3.14: Linha de transmissão sem perdas

A figura 3.14 mostra a representação de uma linha com a resistência série e a con-
dutância shunt desprezadas (R = G = 0). Os parâmetros relativos à propagação das
ondas de tensão e corrente na linha são apresentados a seguir.
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 99

• Impedância caracterı́stica: r
L
Zc = Ω
C
• Constante de propagação:

γ = jβ = jω LC m−1

• Comprimento de onda - distância requerida para mudar a fase da onda de tensão


ou da onda de corrente por 2π radianos. Desde que nas linhas sem perda

V(x) = cos(βx)Vr + jZc sin(βx)Ir


sin(βx)
I(x) = j Vr + cos(βx)Ir
Zc

então V(x) e I(x) mudam de fase por 2π radianos quando x = (ou seja, atinge-se
β
um comprimento de onda) e portanto
2π 1
λ= = √
β f LC

1
O termo √ representa a velocidade de propagação das ondas de tensão e corrente
LC
1
ao longo da linha de transmissão sem perda. Em linhas aéreas √ ≈ 3×108 m/s,
LC
e na freqüência de 60 Hz, λ ≈ 5 × 106 m; ou seja, comprimentos tı́picos de linhas
de transmissão são apenas uma fração de λ = 5000 km (lembrar que µ0 = 4π ×
10−7 H/m e 0 = 8, 85 × 10−12 F/m).

Os parâmetros do quadripolo são dados por

A(x) = D(x) = cos(βx)


B(x) = jZc sin(βx)
sin(βx)
C(x) = j
Zc
onde A(x) e D(x) são números reais e B(x) e C(x) são números imaginários puros.
Os parâmetros do circuito π-equivalente da linha são expressos por

0 0 sin(βl)
Z = jX = jX
βl
0 0
Y B B tan(βl/2)
= j =j
2 2 2 (βl/2)

A Surge Impedance Loading - SIL, denominada potência natural, representa a potência


liberada por uma linha de transmissão sem perda a uma carga de fator de potência unitário
100 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

de valor igual a impedância caracterı́stica da linha. Se uma linha de transmissão sem


perdas supre uma carga de valor igual à SIL, então a corrente no terminal receptor é dada
por
Vr
Ir =
Zc
tal que a corrente e a tensão ao longo da linha de transmissão são expressas por
V(x) = [cos(βx) + j sin(βx)] Vr
Vr (3.21)
I(x) = [j sin(βx) + cos(βx)]
Zc
A análise das Eqs. (3.21) indica que, desde que k cos(βx) + j sin(βx)k = 1, as mag-
nitudes da tensão e da corrente no terminal receptor (x = 0) e ao longo da linha de
transmissão são respectivamente,

Vr
|V(x)| = |Vr | e |I(x)| =
Zc
Portanto, se a carga é igual à SIL, o perfil de tensão é horizontal, isto é, a magnitude da
tensão e da corrente em qualquer ponto da linha sem perda é constante. Por esta razão, a
potência real suprida à carga também permanece constante ao longo da linha. A potência
reativa que flui do terminal emissor ao terminal receptor é nula, como conseqüência de
que os Mvar gerados pela capacitância shunt são iguais aqueles consumidos pela reatância
indutiva série.
Na tensão nominal, a potência real liberada é dada por
2
Vnom
SIL =
Zc
onde Vnom é a tensão nominal da linha de transmissão (de fase ou de linha, dependendo
do valor de potência desejado). A tabela 3.2 apresenta valores tı́picos da impedância
caracterı́stica e da potência natural (SIL) para linhas de transmissão aéreas operando na
freqüência de 60 Hz.
r
2
L Vnom
Vnom (kV) Zc = (Ω) SIL = (MW)
C Zc
69 366-400 12-13
138 366-405 47-52
230 365-395 134-145
345 280-366 325-425
500 233-294 850-1075
750 254-266 2200-2300

Tabela 3.2: Valores tı́picos SIL e Zc

Na prática, a demanda conectada nos terminais receptores das linhas de transmissão


de potência não é igual à SIL das linhas. Dependendo do comprimento e da compensação
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 101

da linha, a carga pode variar de uma pequena fração (durante os perı́odos de carga leve)
até múltiplos da SIL (durante os perı́odos de carga pesada). Isto faz com que o perfil de
tensão ao longo da linha seja peculiar a cada tipo de carga, conforme mostra o exemplo
a seguir.
Ex. 3.6 A figura 3.15 mostra o perfil de tensão na linha de transmissão do Exemplo 3.1,
desprezando as perdas, para diferentes tipos de carga conectadas ao terminal receptor,
com a tensão no terminal emissor mantida constante no valor nominal. A impedância
Curva V x Comprimento

circuito aberto
SIL
1

carga indutiva 1

0.8
Modulo da Tensão (pu)

0.6

carga indutiva 2
0.4

0.2

carga indutiva 3

0
0 50 100 150 200 250 300
Distância (km)

Figura 3.15: Perfil de tensão da linha de transmissão para diferentes tipos de carga

caracterı́stica, a SIL e a constante de propagação desta linha valem respectivamente 266,1


Ω; 2199,3 MW e 0.0012 rad/m. As grandezas estão expressas no sistema por unidade,
na base 765 kV e 2199,5 MVA. Com relação a esta figura, observa-se que:
• na condição à vazio, a corrente que supre o terminal receptor é nula, isto é, Ir0 = 0,
tal que a tensão ao longo da linha aumenta de 1,0 pu (no terminal emissor) até
1,0733 pu (no terminal receptor), segundo a expressão Ve0 (x) = cos(βx)Vr0 ;
• se a impedância da carga é igual à (SIL), o perfil de tensão é horizontal no valor da
magnitude da tensão no terminal emissor, igual a 1,0 pu no presente caso;
• a magnitude da tensão no terminal receptor depende da especificação da carga, e em
geral está situado entre o perfil plano e a tensão de curto circuito;
• Variando-se a impedância da carga de (1, 0+j1, 0)Zc a (0, 01+j0, 01)Zc , a magnitude
da tensão decresce ao longo da linha, de 0,8865 pu até 0,0380 pu.
• se a impedância da carga é nula (curto circuito), Vrcc = 0 e Vcc (x) = (Zc sin(βx)) Ircc ;
isto é, a tensão decresce de Vs = (Zc sin(βl)) Ircc no terminal emissor até Vrcc = 0
no terminal receptor;
102 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

Com relação à potência liberada no terminal receptor de uma linha sem perda, con-
siderando que A possui apenas a componente real (e portanto θa = 0 grau) e Z e Y
possuem apenas as componentes imaginárias (e portanto θz = θy = 90 graus), as Eqs.
(3.14) se tornam
Vr Ve
Pr = sin δ
X0 (3.22)
Vr Ve AVr2
Qr = cos δ −
X0 X0
0 0
XB
e, desde que A = D = 1 − ,
2
0
Vr2 Vr Ve
 
B 2
Qr = V − − cos δ (3.23)
2 r X0 X0
onde a primeira parcela representa a potência reativa gerada pela suceptância shunt e
a segunda parcela é a potência reativa absorvida pela reatância série. Estas expressões
podem ser obtidas através das Eqs. (3.17), com R = G = 0.
Se a linha supre a potência natural (SIL), então Vr = Ve e,
Vr2 Vr2
Pr = sin δ e Pr =
X0 Zc

r
L 0 sin(βl)
e desde que Zc = , X = (ωLl) e β = ω LC, então,
C βl
√ sin(βl)
(ω L2 l) √
βl sin(βl)
sin δ = r = (ω LCl) = sin(βl)
L βl
C
e portanto δ = βl.
A máxima potência que pode ser transferida ao terminal receptor sem perda de esta-
bilidade em regime permanente ocorre quando δ = 900 e vale
Vr Ve
Prmax =
X0
com a correspondente potência reativa igual a
 0 
B 1
Qr (Prmax ) = Vr2 − 0
2 X
A figura 3.16 mostra a variação do fluxo de potência ativa em função da abertura
angular numa linha de transmissão sem perdas. A análise desta figura permite as seguinte
observações:
• desde que Vi > 0, Vj > 0 e X > 0, o sentido do fluxo de potência ativa depende da
abertura angular da LT (δij );
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 103

Curva Pij x Delta

3 Pmax

Pij x Delta
2

Fluxo de potência ativa (pu)


1 Região instável Região estável Região estável Região instável

-90
0
0 90

-1

-2

-3 -Pmax

-4
-150 -100 -50 0 50 100 150
Abertura angular da LT (graus)

Figura 3.16: Curva Pδ - linhas de transmissão sem perdas

• a quantidade máxima de potência ativa que pode fluir numa LT sem perdas, cor-
responde a uma abertura angular de 90o , o que indica que o limite de estabilidade
estática da operação da mesma foi atingido;

• Se a abertura angular ultrapassar 90 graus (δ > 900 ), o sincronismo entre as barras


é perdido e a potência ativa transmitida decresce com o aumento da defasagem
angular;
Ve Vr
• o termo Pr = é, denominado potência de escape ou capacidade de transmissão,
X0
representa a potência máxima que a linha pode transmitir sem ultrapassar o limite
de estabilidade estática. Ele aumenta com o quadrado da magnitude da tensão de
transmissão e decresce com o aumento da reatância da linha. Isto explica porque
é desejável utilizar altas tensões de transmissão em sistemas com baixos valores de
reatâncias série.

• a região na qual a abertura angular da LT é menor do que 90o é a região de operação


estável da LT;

• a região na qual a abertura angular da LT é maior do que 90o é a região de operação


instável da LT;

Ex. 3.7 Considerando a linha de transmissão da seção anterior, com as perdas despreza-
das, a qual tem reatância série e susceptância shunt nominais iguais a 99,18 Ω e 0,0014
S, respectivamente, reatância série e susceptância shunt equivalentes iguais a 96,90 Ω
e 0,0014 S, impedância caracterı́stica igual a 266,1 Ω, constante de propagação igual a
j0,0012 m−1 e comprimento de onda igual a 5000 km. Supondo que a magnitude das
tensões terminais são fixas no valor nominal, o ângulo de fase δ aumenta de 00 a 900 ,
conforme a potência ativa liberada pela linha aumenta. Quando a abertura angular da
linha é zero, a potência ativa suprida ao terminal receptor é zero, porém uma pequena
104 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

quantidade de potência ativa é gerada pela capacitância da linha, conforme pode ser veri-
ficado com auxı́lio da Eq. (3.23).
A figura 3.17 mostra a representação geométrica da potência ativa transmitida em
função da variação da diferença angular entre as tensões terminais da linha. Note que,
neste caso a potência máxima transmitida ao terminal receptor através da linha de trans-
missão sem perdas ocorre quando a abertura angular entre as tensões terminais da linha
é 900 . Quando a abertura angular da linha é zero, não há fluxo de potência através do

Curvas P x Delta e Q x Delta − LT sem perdas


3

P x Delta
2

1
Potência Ativa (Reativa) (pu)

Q x Delta
−1

−2

−3

−4

−5

−6
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Ângulo da Tensão (graus)

Figura 3.17: Curvas Pδ e Qδ - linhas de transmissão sem perdas

elemento série da linha de transmissão, apenas os elementos shunt da LT geram 0,1886


pu(Mvar). Na abertura angular de 21,35 graus, a linha transmite 1,0 pu(MW) e 0,0
pu(Mvar); isto é, a carga é igual a SIL da LT. A transferência de potência ativa máxima
de 2,7465 pu(MW) ocorre em 90 graus, com a correspondente potência reativa igual a
-2,5579 pu(Mvar). Na abertura angular de 180 graus, o fluxo de potência ativa através
da LT é zero e o de potência reativa é igual a -5,3044 pu(Mvar).
Com relação à variação da magnitude da tensão no terminal receptor em função da
variação da potência ativa da carga, no caso da linha de transmissão sem perdas a equação
do quadripolo relativa à tensão é dada por

Ve = Vr cos(βl) + jZc sin(βl)Ir

onde a impedância caracterı́stica Zc é um número real, o qual por simplificação será


denotado nesta subseção por Zc .
Se a carga do terminal receptor é representada por uma injeção de potência constante
P + jQ, a injeção de corrente corrente correspondente é dada por
P − jQ
Ir =
Vr∗
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 105

e a tensão no terminal emissor é expressa por


 
P − jQ
Ve = Vr cos(βl) + jZc sin(βl) (3.24)
Vr∗

Supondo que a tensão no terminal emissor é mantida constante, a Eq. (3.24) pode ser
re-escrita como
Vr∗ Ve = Vr∗ Vr cos(βl) + jZc sin(βl) (P − jQ)
= Vr2 cos(βl) + Zc Q sin(βl) + jZc P sin(βl)

onde Vr é a magnitude do fasor tensão Vr . Em termos de módulo,


2
Vr2 Ve2 = Vr2 cos(βl) + Zc Q sin(βl) + (Zc P sin(βl))2
= Vr4 cos2 (βl) + 2Vr2 Zc Q cos(βl) sin(βl) + Zc2 Q2 + P 2 sin2 (βl)


cujo re-arranjo fornece

Vr4 cos2 (βl) + Vr2 2Zc Q cos(βl) sin(βl) − Ve2 + Zc2 Q2 + P 2 sin2 (βl) = 0
 

onde fazendo y = Vr2 , obtém-se a equação quadrática

ay 2 + by + c = 0 (3.25)

onde a = cos2 (βl), b = (2Zc Q cos(βl) sin(βl) − Ve2 ) e c = Zc2 (Q2 + P 2 ) sin2 (βl).
Da mesma forma que no caso da Eq. (3.19), a magnitude da tensão no terminal
receptor é obtida resolvendo-se a Eq. (3.25), a qual a rigor possui quatro soluções, duas
das quais com significado fı́sico.
A figura 3.18 mostra as curvas PV obtidas para cargas com diferentes fatores de
potência, com a tensão no terminal emissor fixada no valor nominal, para a linha de
transmissão da seção anterior. No caso da linha sem perdas, observa-se que quando a
carga é igual à potência natural (SIL) com fator de potência unitário, o perfil de tensão
é plano em 1,0 pu. Observe que neste caso a potência ativa máxima correspondente à
demanda crı́tica é superior àquela correspondente ao caso das linhas de transmissão com
perdas.

Ex. 3.8 Considere uma linha de transmissão trifásica de 300 km de comprimento, 500
kV e 60 Hz, suprindo carga com tensão nominal em seu terminal receptor. Supondo que
que os parâmetros da linha são 0,97 mH/km e 0,0115 µF /km e que as perdas de potência
ativa na LT são desprezı́veis,
1. determine a tensão, a corrente e as potências ativa e reativa para uma carga igual
a SIL da linha de transmissão;

2. determine as potências reativas absorvida e fornecida pelos parâmetros (série e


shunt), a regulação e o rendimento da linha de transmissão no caso anterior.

3. repita os itens anteriores para uma carga igual a 0,5 vezes a SIL da linha de trans-
missão, com fator de potência 0,95 atrasado e tensão 5% acima da nominal.
106 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

Curva P x V − LT sem perdas

fp capacitivo
1.2

fp unitário
1

Modulo da Tensão (pu)


fp indutivo
0.8

0.6

0.4

0.2

0
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3
Potência Ativa (pu)

Figura 3.18: Curva PV - cargas com diferentes fatores de potência

De acordo com os dados da LT, na frequência de 60 Hz,

• z = j(2πf L)= j0,3657 Ω/km, Z = zl = j109, 70Ω;

• y = j(2πf C)= j4,3354 ×10−6 S/km, Y = yl = j0, 0013 S;



• γ = j(2πf LC)= j0,0012 rad/km ⇒ βl = 22, 34o ;
r
L (500k)2
• Zc = = 290,42 Ω ⇒ SIL = = 860,80 MW3φ ;
C 290, 42
• Z = jZc sin(βl) = j107, 11Ω (valor nominal ajustado);
sin(βl)
• Y=j = j0, 0013 S (valor nominal ajustado);
Zc
• A = D = cos(βl) = 0, 9295 pu;
 
ZY
• B = Z, C = Y 1 + = j0, 0013 S
4
O circuito monofásico equivalente é mostrado na figura 3.19.

1. Carga igual a potência natural (SIL) na tensão nominal:


860, 80 500k
• Sr = = 286,93 MW1φ , Vr = √ = 288, 68∠0o kVf ;
3 3
286, 93M
• Ir = = 993, 96∠0o A;
288, 68k
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 107

Ie Ir

+ Linha de transmissão +
Sr = SIL
Ve Vr Vr = Zc Ir
A, B, C, D
- -

Carga

Figura 3.19: Circuito monofásico equivalente - Exemplo 3.8

• Ve = (0, 9295)(288, 68∠0o ) + (j107, 11)(993, 96∠0o );


• Ie = (j0, 0013)(288, 68∠0o ) + (0, 9295)(993, 96∠0o );
• Solução: Ve = 288, 68∠21, 64o kV, Ie = 993, 96∠21, 64o A;

2. Condição de operação da LT:


Ve − Vr 2

• Sz = Z = j109,69 MVAr;
Z
Y
• Sye = Ve2 = -j54,84 MVAr;
2
Y
• Syr = Vr2 = -j54,84 MVAr;
2
Ve
• tensão de circuito aberto Vro = = 310,57 kV, tensão de plena carga Vrpc =
A
288,68 kV;
• R(%) = 7,58 %.

3. Carga = 0,50 SIL, cos φ= 0,95 atrasado e tensão 5% acima da nominal


453, 05M ∠18, 19o 1, 05(500k)
• Sr = = 143,47 + j47,15 MVA 1φ , Vr = √ =
3 3
303, 95, 68∠0o kVf ;
453, 05M
• Ir = √ = 498, 23∠ − 18, 19o A;
31, 05(500k)
• Ve = 302, 68∠9, 64o kV, Ie = 501, 30∠28, 64o A;;
• Se = 151, 74∠19, 00o = 143, 47 − j49, 40 MVA1φ ;
• cos φ = 0,94 adiantado;
• Regulação: R(%) = 7,43 % ;
• Potência complexa na LT:
108 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

– Sz = j24,20 MVAr1φ ;
– Sye = -j60,30 MVAr1φ ;
– Syr = -j60,50 MVAr1φ ;
4. Balanço de potência reativa:

• Linha de transmissão: Stot


lt = -j96,60 MVAr1φ ;

• Terminal receptor: Sr = 143,47 + j47,15 MVA1φ


• Terminal emissor: Se = 143,47 - j49,40 MVA1φ ;

3.7 Compensação de Linhas de Transmissão


Esquemas de compensação de uma linha de transmissão são mostrados nas figuras 3.20
e 3.21. A linha de transmissão é representada por um circuito π-equivalente, no qual a
impedância série é Z = R + jX e a admitância shunt é Y = G + jB. Cada metade da
compensação reativa é instalada em um extremo da linha de transmissão. As grandezas
Nc e Nl representam respectivamente as quantidades percentuais de compensação reativa
expressas em função da reatância série e da susceptância shunt da linha de transmissão.
X Nc X Nc
Terminal −j( 2 )( 100 ) Z = R + jX −j( )( ) Terminal
2 100
receptor emissor

Y Y
2 2

Figura 3.20: Compensação reativa série de linhas de transmissão

A compensação série é utilizada para elevar a capacidade de carregamento das linhas


de transmissão longas. Os bancos de capacitores são instalados em série com cada fase
do sistema de transmissão. O seu efeito é reduzir a impedância série da linha de trans-
missão (e portanto a queda de tensão ao longo da linha), aumentando assim o limite de
estabilidade em regime permanente. O uso dos capacitores série é recomendado quando a
reatância da linha de transmissão é elevada. Se os requisitos de potência reativa da carga
são reduzidos, os capacitores série são de pouca utilidade, apesar de que o uso desses
dispositivos resulta numa redução da corrente na linha de transmissão. Se esta corrente
é limitada por considerções térmicas, pouca vantagem é obtida com o uso deste tipo de
compensação (neste caso capacitores shunt deveriam ser utilizados). Se a queda de tensão
e o aumento da transferência de potência são os fatores considerados, os capacitores série
são bastante efetivos. A desvantagem deste tipo de equipamento é que dispositivos au-
tomáticos de proteção têm que ser instalados para desviar as altas correntes durante a
ocorrência de faltas e re-inserir o banco de capacitores após a falta. O uso do banco de
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 109

capacitores série pode provocar o aparecimento de oscilações de baixa freqüência, origi-


nando o fenômeno chamado ressonância subsı́ncrona. Estas oscilações podem danificar o
eixo da turbina e do gerador. A despeito disso, estudos têm mostrado que a compensação
série pode aumentar a capacidade de carregamento das linhas de transmissão longas a
uma pequena fração do custo de um sistema de transmissão novo.

Terminal Z = R + jX Terminal
receptor emissor

Y Y
2 2

B Nl B Nl
−j( )( ) −j( )( )
2 100 2 100

Figura 3.21: Compensação reativa shunt de linhas de transmissão

De maneira análoga, bancos de capacitores e indutores shunt podem ser utilizados


para aumentar a capacidade de carregamento das linhas de transmissão, assim como para
manter a magnitude da tensão próxima do valor nominal. Eles podem ser instalados
nos barramentos, em ambos os nı́veis de transmissão e distribuição, ao longo das linhas
de transmissão, ou nas subestações e cargas. Esses dispositivos constituem um meio
de fornecer potência reativa localmente, sendo possı́vel conectá-los permanentemente ou
chaveá-los para atuar de acordo com as variações de carga do sistema. Este chaveamento
pode ser manual ou automático, controlado por relógio ou pelos requisitos de tensão e/ou
potência reativa do sistema.
Os reatores shunt são utilizados para consumir potência reativa gerada por linhas com
baixo carregamento. Os reatores shunt são geralmente instalados em pontos selecionados
ao longo das linhas de transmissão de Extra Alta Tensão, de cada fase ao neutro. Os
indutores absorvem potência reativa e reduzem as sobretensões durante os perı́odos de
carga leve e/ou resultantes de surtos de chaveamentos. Entretanto, sob condições de plena
carga é necessário remover o seu efeito da linha de transmissão a fim de que a capacidade
de carregamento da mesma não seja reduzido. Por outro lado, os capacitores shunt são
utilizados para gerar potência reativa em sistemas com alto consumo de reativo e/ou muito
carregados, com o objetivo de elevar a tensão num dos terminais da linha de transmissão
durante os perı́odos de carga pesada. No caso da conexão desses bancos em paralelo com
uma carga indutiva, os capacitores shunt fornecem uma parte ou o suprimento total da
potência reativa. Nesta condição, eles reduzem a corrente transmitida para suprir a carga
e portanto a queda de tensão na linha de transmissão. Conseqüentemente, as perdas de
potência ativa são reduzidas, melhorando o fator de potência da carga e com isto uma
quantidade de potência ativa maior pode ser transmitida pela linha de transmissão. Tanto
no caso dos capacitores shunt como no caso dos reatores shunt, a variação na magnitude da
tensão implica na potência reativa envolvida por estes dispositivos. No caso particular dos
110 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

capacitores, em perı́odos de carga leve, a potência reativa gerada por estes equipamentos
pode fazer com que a magnitude da tensão aumente ainda mais, com o risco de exceder
os limites.
Sob o ponto de vista da representação da linha de transmissão por um quadripolo,
os esquemas de compensação série e shunt podem ser vistos como um agrupamento de
quadripolos, da forma mostrada na figura 3.22. O quadripolo 2 representa a linha de
transmissão enquanto que os quadripolos 1 e 3 são iguais e representam a compensação
reativa. Os parâmetros correspondentes à compensação série são dados por

A1 = A3 = 1
X Nc
B1 = B3 = −j( )( )
2 100 (3.26)
C1 = C3 = 0
D1 = D3 = A1

e no caso da compensação shunt

A1 = A3 = 1
B1 = B3 = 0
B Nl (3.27)
C1 = C3 = −j( )( )
2 100
D1 = D3 = A 1

Ie I1 I2 Ir

+ Quadripolo 1 + Quadripolo 2 + Quadripolo 3 +


Ve A1 , B1 , V1 A2 , B2 , V2 A3 , B3 Vr
- C 1 , D1 - C 2 , D2 - C 3 , D3 -

Figura 3.22: Compensação reativa - linhas de transmissão

As relações entre as tensões e correntes na entrada e na saı́da do quadripolo são


estabelecidas observando-se que na figura 3.22,
    
Ve A1 B1 V1
=
Ie C 1 D1 I1
    
V1 A2 B2 V2
=
I1 C 2 D2 I2
    
V2 A3 B3 Vr
=
I2 C 3 D3 Ir

e portanto       
Ve A1 B1 A2 B2 A3 B3 Vr
= (3.28)
Ie C1 D1 C 2 D2 C3 D3 Ir
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 111

Ex. 3.9 Reatores shunt idênticos são conectados de cada fase ao neutro em ambos os
terminais da linha de transmissão trifásica do Exemplo 3.1. Durante as condições de
carga leve, eles fornecem uma compensação reativa de 75%. Os reatores são removidos
durante o perı́odo de plena carga. A plena carga é 3301,2 MVA, com fator de potência
0,986 adiantado. Supondo que a tensão no terminal transmissor é mantida constante.
Determine a regulação percentual da linha compensada.
Dos cálculos anteriores,

• Ve = 765 kV e Vr = 728,67 kV, tal que R(%) = 12,72 % (LT não compensada).

A compensação shunt de 75% implica numa redução da admitância da LT dada por,


0
Yeq = 0, 25(j14, 15 × 10−4 ) = j3, 50 × 10−4 S

o que resulta na seguinte modificação do parâmetro A do quadripolo:


0 0
Z Yeq
A=1+ = 0, 983∠0, 209o pu
2
e portanto no novo valor da regulação, dado por,
(765k/0, 983) − 728, 67k
R(%) = × 100 = 6, 81%
728, 67k

Ex. 3.10 Capacitores série idênticos são instalados em cada fase de ambos os extremos
da LT do Exemplo 3.1, fornecendo 30 % de compensação. Supondo que a tensão nos
extremos da LT é 765 kV, determine a potência ativa máxima que a linha compensada
pode liberar e compará-lo com aquele da LT não compensada.
Para a LT não compensada:
0 0
• Z = 4, 73 + j96, 88 = 97, 0∠87, 2o Ω, Y = j14, 15 × 10−4 S;

• A2 = D2 = 0, 9313∠0, 209o pu; B2 = 97, 0∠87, 2o Ω, C2 = 1, 37 × 10−3 ∠90o S;

A compensação série de 30% (Nc = 30) implica em:


  
96, 88 30
• Zcap = −j = Zcap = -j14,53 Ω (em cada extremo da LT);
2 100
• A1 = A3 = D1 = D3 = 1 pu, C1 = C3 = 0, B1 = B3 = -j14,53 Ω;

tal que a matriz do quadripolo equivalente é dada por,


     
Aeq Beq A 1 B1 A2 B2 A3 B3
=
Ceq Deq C1 D1 C2 D2 C 3 D3
 
0, 951∠0, 205o 69, 70∠86, 02o
=
1, 37 × 10−3 ∠90, 06o 0, 951∠0, 205o

o que resulta numa potência máxima transmitida dada por,


112 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

Vr Ve AVr2
• PrM ax = − cos(θz − θa )
Z0 Z0
M axp AVr2
• Qr =− sin(θz − θa ) (correspondente a PrM ax ).
Z0
consideravelmente maior do que o valor calculado com a LT não compensada; ou seja,
M axp
• PrM ax = 5478,9 MW3 φ, Qr = -5090,0 MVArV3 φ;

com a LT compensada:
M axp
• PrM ax = 7145,8 MW3 φ, Qr = -7226,4 MVArV3 φ;

3.8 Desempenho das linhas de transmissão


Durante a operação em regime permanente, o desempenho das linhas de transmissão pode
ser avaliado com base nas seguintes figuras de mérito:

• regulação de tensão;

• rendimento;

• nı́vel de carregamento.

A regulação de tensão de uma linha de transmissão é definida como a variação de


tensão no terminal receptor, quando a carga varia da condição a vazio até a plena carga
com um fator de potência especificado e a tensão no terminal emissor mantida constante;
isto é,
|Vr0 | − Vrpc
RV (%) =
Vrpc
× 100

onde, RV (%) é a regulação percentual de tensão,


|Vr0 | é a magnitude da tensão no
terminal receptor na condição a vazio e Vrpc é a magnitude da tensão no terminal
receptor na condição de plena carga.
As figuras 3.23 e 3.24 mostram os diagramas fasoriais da tensão nos terminais de
uma linha de transmissão considerando apenas os parâmetros série da linha, quando a
linha supre cargas indutiva e capacitiva, respectivamente. A tensão a vazio é obtida das
equações do quadripolo, fazendo-se a corrente no terminal receptor igual a zero (Ir = 0),
o que resulta em
Ve
Vr0 =
A
No presente caso, a corrente na linha de transmissão é zero na condição à vazio (Ir0 = 0),
tal que Vs = Vr0 .
Nas figuras 3.23 e 3.24, observa-se que a regulação mais elevada tende a ocorrer no
caso do fator de potência em atraso. Um valor mais reduzido da regulação (as vezes até
negativo) pode ser obtido no caso de fator de potência em avanço. A regulação de tensão
é uma figura de mérito relativamente fácil de se calcular e fornece uma medida escalar
da queda de tensão ao longo da linha. O valor exato desta queda de tensão é obtido
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 113

V s = Vr 0

Vrpc jXIrpc

RIrpc
Irpc

Figura 3.23: Regulação - carga indutiva

V s = Vr 0

jXIrpc
Irpc

RIrpc
Vrpc

Figura 3.24: Regulação - carga capacitiva

através da diferença entre os fasores tensão nos terminais emissor e receptor da linha de
transmissão.
O rendimento de uma linha de transmissão é definido como:
Pr Pe − Pl
η(%) = = × 100
Pe Pe
onde, Pr é a potência ativa de saı́da, Pe é a potência ativa de entrada e Pl é o valor das
perdas de potência ativa na linha de transmissão. Estas perdas compreendem basicamente
as perdas Joule nas resistências série das linhas de transmissão.
O nı́vel de carregamento das linhas de transmissão pode ser caracterizado de três
formas:
• através do limite térmico;

• através da queda de tensão;

• através do limite de estabilidade em regime permanente.


O limite térmico está relacionado à máxima temperatura que o condutor pode supor-
tar, a qual afeta o arco formado no seu vão (entre as torres de sustentação) e a sua rigidez
térmica. A temperatura do condutor depende:
• da magnitude da corrente que o percorre;
114 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

• do tempo de duração da magnitude da corrente que o percorre;

• da temperatura ambiente;

• da velocidade do vento;

• da condição da superfı́cie do condutor.

Se a temperatura é alta demais, o requisito de distância prescrita entre o condutor e


a terra pode não ser satisfeito ou o limite de elasticidade do condutor pode ser excedido,
de tal forma que ele não possa retornar ao seu estado original após resfriado. O limite de
carregamento das linhas curtas em geral é determinado pelo limite térmico do condutor,
ou pelos valores nominais limites dos equipamentos conectados nos terminais da linha de
transmissão (disjuntores etc).
Em linhas mais longas, com comprimento até 300 km, o carregamento depende do
limite estabelecido para a queda de tensão máxima permitida. Em geral, uma queda de
tensão de aproximadamente ±5%, ou seja, 0, 95Ve ≤ Vr ≤ 1, 05Ve é aceita na prática
como razoável. Na prática, a tensão nas linhas de transmissão decresce na condição de
carga pesada e aumenta na condição de carga leve. Nos sistemas de Extra Alta Tensão
(EAT), a magnitude das tensões deve ser mantida dentro da faixa de ±5% em torno do
valor nominal, correspondendo a uma regulação em torno de 10%. Este valor de regulação
também é considerado adequado para linhas de transmissão com nı́veis de tensão mais
baixos (incluindo transformadores).
O carregamento de linhas de transmissão com comprimento maior do que 300 km
é estabelecido com base nos estudos de estabilidade em regime permanente (habilidade
das máquinas sı́ncronas do sistema permanecerem em sincronismo), os quais fornecem
os limites para as aberturas angulares das linhas de transmissão, necessários (mas não
suficientes) para que o sistema de potência permaneça estável.

3.9 Exercı́cios
3.1 Seja uma linha de transmissão com uma reatância série de 30 Ω/fase. Com o
objetivo de aumentar a sua capacidade de transmissão, deseja-se reduzir a sua impedância
por fase em 40 %, inserindo-se compensação série em cada fase. A corrente de maior
intensidade que pode fluir na linha é 1,0 kA. Considerando que a freqüência do sistema é
60 Hz,

1. calcule a capacitância que deve ser instalada em cada fase, a fim de que seja feita a
compensação série desejada;

2. suponha que os capacitores disponı́veis na praça comercial tem valores de placa 50


A, 2 kV. Como devem ser combinadas essas unidades num banco a fim de efetuar
a citada compensação?

3. se a corrente que flui na linha atinge o seu valor máximo, qual a potência produzida
por cada unidade? Qual a potência reativa total produzida pela compensação da LT?
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 115

3.2 Considere uma linha de transmissão trifásica, de 130 km, com resistência e in-
dutância séries e e capacitância shunt de 0,036 Ω/km, 0,8 mH/km e 0,0112 µF/km por
fase, respectivamente. Determine a impedência série e a admitância shunt do circuito
π-nominal que representa esta linha, e os parâmetros E, F, G e H da equação matricial
    
Vr E F Ve
=
Ir G H Ie

supondo que a mesma opera na freqüência de 60 Hz.

3.3 As constantes de uma linha de transmissão trifásica, 230 kV, 370 km de compri-
mento, em 60 Hz são: A = D = 0, 8904∠1, 340 pu, B = 186, 78∠79, 460 Ω e C =
0, 001131∠900 S.

1. Determine a tensão, a corrente e a potência no terminal emissor quando esta linha


supre uma demanda de 125 MW com fator de potência 0,8 em atraso, a 215 kV.

2. Calcule as perdas de potência ativa e reativa e o rendimento do sistema de trans-


missão.

3. Calcule a tensão no terminal receptor quando esta linha opera em circuito aberto,
com 230 kV no terminal emissor.

4. Determine a compensação reativa no terminal receptor, para que na condição do


item anterior a tensão neste terminal seja 230 kV.

3.4 Uma linha de transmissão trifásica de 480 km supre uma carga de 300 MVA, na
tensão de 500 kV, com fator de potência 0,8 atrasado. Os parâmetros de quadripolo desta
linha são: A = D = 0,8180 ∠1, 30 pu; B = 62,2 ∠84, 20 Ω e C = 0.0054 ∠90, 50 S.

1. determine a tensão, a corrente e a potência aparente no terminal emissor e a queda


de tensão na linha de transmissão;

2. determine as mesmas grandezas do item anterior para a condição à vazio;

3. calcule a regulação de tensão desta linha.

3.5 Considere uma linha de transmissão trifásica sem perdas, 60 Hz, 500 kV, 300 km,
com parâmetros 0,97 mH/km e 0,0115 µF/km.

1. determinar a constante de propagação, a impedância caracterı́stica da linha e os


parâmetros do quadripolo que representa a linha;

2. determinar o limite de estabilidade em regime permanente quando a tensão nos dois


extremos da linha é igual a 500 kV.

3. Determinar a tensão, a corrente e a potência aparente no terminal emissor quando


a linha de transmissão supre:

• uma carga igual a potência natural (SIL) na tensão de 500 kV;


116 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

• uma carga de 400 MVA, na tensão de 500 kV e com fator de potência unitário;
• uma carga de 1600 MVA, na tensão de 500 kV e com fator de potência unitário;

Interprete os resultados.

3.6 Discorra sobre os seguintes aspectos relacionados a modelagem e análise de desem-


penho da linha de transmissão:

1. Modelos de linha de transmissão curta, média e longa e respectivos efeitos conside-


rados;

2. Potência natural (SIL) de uma linha de transmissão e aspectos relevantes da operação


com carregamento igual, superior e inferior a SIL;

3. Tipos de compensação reativa utilizados e seus respectivos efeitos. Justifique.

3.7 Considere uma linha de transmissão trifásica, 60 Hz, 280 km, impedância série igual
a 35 + j140 Ω e admitância shunt igual a 930 ×10−6 ∠900 S. Supondo que esta linha está
suprindo 40 MW, na tensão de 220 kV, com fator de potência 0,90 atrasado,

1. determine a tensão, a corrente e a potência aparente no terminal emissor:

• adotando as aproximações de uma linha curta;


• adotando as aproximações de uma linha média;
• adotando as equações de uma linha longa;

2. Suponha que a tensão no terminal emissor permanece constante. Calcule o rendi-


mento e a regulação de tensão desta linha para cada suposição do item anterior.

3. Qual o valor da compensação reativa que fará com que esta linha se comporte como
uma linha curta?

3.8 A tensão no terminal emissor de uma linha de transmissão trifásica, 60 Hz, 400 km,
é 220 kV. Os parâmetros da linha são: resistência série igual a 0,125 Ω/km, reatância
série igual a 0,500 Ω/km e susceptância shunt igual a 3,312 µS/km.

1. determine a corrente no terminal emissor quando o terminal receptor está operando


à vazio;

2. determine a corrente, a tensão e a potência aparente no terminal emissor quando


o terminal receptor está suprindo uma carga de 80 MW em 220 kV, com fator de
potência unitário.

3. Suponha que a tensão no terminal emissor é mantida constante no valor calculado


para o suprimento da carga. Calcule o rendimento e a regulação de tensão da linha
para esta condição.
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 117

3.9 Considere uma linha de transmissão trifásica com as seguintes caracterı́sticas: 100
km, 230 kV e 60 Hz, com resistência série de 0,088 Ω/km, reatância série de 0,4654
Ω/km por fase, susceptância shunt igual a 3.524 µS/km e corrente em regime normal de
operação igual a 900 A. Tomando como base a potência de 100 MVA e a tensão nominal
da linha, determine:

1. a potência da linha de transmissão em MVA, em regime normal de operação;

2. a impedância caracterı́stica e a constante de propagação da LT em grandezas di-


mensionais;

3. os parâmetros do circuito π-equivalente e do quadripolo que representam a linha de


transmissão em valores por unidade;

4. a potência natural (SIL) da LT em valores por unidade;

5. a potência natural, caso o comprimento da LT fosse 600 km;

6. a potência máxima que pode ser transmitida pela LT desprezando as perdas.

3.10 Considere uma linha de transmissão com os mesmos valores nominais da LT da


questão anterior e comprimento igual a 500 km. Desprezando as perdas e a admitância
shunt, qual o percentual de compensação série requerida para que seja possı́vel transmitir
potência máxima igual 565,9 MW? Especifique a capacidade de compensação em regime
permanente em termos de potência, corrente e tensão.

3.11 Considere uma linha de transmissão com parâmetros série Z = j3 % e shunt


Y = j180%, conectando um gerador que opera na tensão 1,0 pu(kV) com fator de potência
0,9 atrasado e uma carga de 5,0 + j2,0 pu(MVA).

1. Supondo a ausência de compensação shunt no terminal emissor da linha de trans-


missão, qual a compensação no terminal receptor necessária para viabilizar esta
situação?

2. Qual a compensação shunt nos dois extremos da linha, necessária para manter a
tensão de 1,0 pu no gerador e na carga.

3.12 Considere uma linha de transmissão trifásica com as seguintes caracterı́sticas: 300
km, 230 kV e 60 Hz, com perdas desprezı́veis, reatância série de 0,48 Ω/km por fase,
susceptância shunt igual a 2,25 µS/km. Determine:

1. os parâmetros do circuito π-equivalente e do quadripolo que representam a linha de


transmissão; e a potência natural (SIL) desta linha;

2. a tensão, a corrente e a potência aparente na entrada da linha de transmissão quando


esta supre uma demanda igual a potência natural, na tensão nominal;

3. no caso anterior, qual a potência reativa produzida pelos parâmetros série e shunt
da linha?
118 Capı́tulo 3: Operação das Linhas de Transmissão

3.13 Considere uma linha de transmissão trifásica, 345 kV, comprimento de 320 km,
dois condutores 795000 CMil por fase, 60 Hz, resistência, reatância e susceptância res-
pectivamente de 0,0369 Ω/km, 0,3675 Ω/km e 4,5×10−6 S/km. Despreze as perdas de
potência ativa e determine:

1. a constante de propagação, a impedância caracterı́stica, a potência natural (SIL),


os parâmetros do circuito π-equivalente e do quadripolo representativos da LT;

2. a magnitude da tensão no terminal receptor, quando o mesmo opera em circuito


aberto com tensão nominal aplicada no terminal emissor;

3. a magnitude da tensão no terminal receptor, quando a linha supre uma carga igual
a SIL, com tensão nominal aplicada no terminal emissor. Justifique.

4. a tensão, a corrente, a potência no terminal emissor, a regulação e o rendimento,


quando a linha supre uma carga de 200 Mw com fator de potência 0,8 atrasado, com
tensão de 345 kV no terminal receptor;

5. comente sobre os valores de potência reativa nos terminais emissor e receptor da


linha de transmissão, para a condição de operação do item anterior.
Capı́tulo 4

Fluxo de Potência

4.1 Introdução
Este capı́tulo aborda o problema de fluxo de potência, com ênfase em três aspectos.
O primeiro é a representação analı́tica da operação do sistema de potência em regime
permanente por um conjunto de equações algébricas não lineares. Para a determinação
deste modelo, assume-se que o sistema trifásico é balanceado e a rede de transmissão é
representada pelas correspondentes impedâncias de seqüência positiva. O segundo aspecto
enfocado diz respeito a descrição dos métodos básicos de solução para determinar as
tensões complexas ao longo da rede elétrica, e a partir destas calcular outras grandezas de
interesse tais como a corrente e os fluxos de potência nas linhas de transmissão, as injeções
de potência etc. O terceiro aspecto mostra como as soluções do fluxo de potência devem
ser ajustadas visando servir de referência a operação do sistema em regime permanente
sob o ponto de vista prático.

4.2 Preliminares
O estudo do fluxo de potência visa a determinação da condição de operação das redes
de energia elétrica em regime permanente (estático) equilibrado. Para isto, é necessário
usar o modelo analı́tico de cada componente do sistema de potência; isto é, máquinas
sı́ncronas, transformadores, linhas de transmissão, cargas. Os cálculos são efetuados no
sistema por unidade e consistem basicamente de duas etapas:

• determinação das equações da rede elétrica em regime permanente através da lei de


Kirchhoff;

• o cômputo da solução das equações não lineares da rede elétrica através de métodos
iterativos (Newton, Gauss etc).

A solução iterativa das equações não lineares da rede elétrica fornece a tensão complexa
em todas as barras do sistema, o que possibilita calcular qualquer outra variável da
operação em regime permanente (fluxos e injeções de corrente, de potência etc). O ajuste
dos controles do sistema de potência neste estudo visa o suprimento da demanda integral,
120 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência

com o perfil de tensão dentro dos limites e a operação dos componentes do sistema sem
sobrecarga. As suposições adotadas para este propósito são as seguintes:

• o sistema de potência opera em regime permanente balanceado;

• as linhas de transmissão são representadas por um circuito π;

• a geração é modelada por injeções de potência;

• a carga é modelada por injeções de potência e/ou impedâncias constantes.

Para ilustrar como é procedida esta análise, considere a determinação da condição de


operação de um gerador sı́ncrono para suprir uma carga estática através de uma linha de
transmissão, supondo disponı́veis os seguintes dados:

• Gerador sı́ncrono:

– Pgmin = 0 pu, Qmin


g = -0,20 pu, Vgmin = 0,950 pu;
– Pgmax = 2,10 pu, Qmax
g = 0,50 pu, Vgmax = 1,050 pu;

• Linha de transmissão: Z= 0,08+j0,37 pu, Y = j0,03 pu;

• Carga: Sd = 0,30+j0,18 pu (MVA);

As restrições de operação estabelecem que a magnitude da tensão na carga deve sa-


tisfazer os limites de 0,95 e 1,05 pu e que o limite de capacidade dos equipamentos deve
ser respeitado. O diagrama unifilar desta rede é apresentado na figura 4.1

Sg = Pg + jQg

V1 = V1 ∠δ1 V2 = V2 ∠δ2
Barra 1 Barra 2
(referência)
LT
Z = 0, 08 + j0, 37 pu, Y = j0, 03 pu
Sd = 0, 30 + j0, 18 pu

Figura 4.1: Diagrama unifilar do sistema de duas barras

Um total de 12 variáveis associadas ao sistema de duas barras; ou seja, magnitude e


ângulo da tensão (V , δ), geração de potência ativa e reativa (Pg , Qg ), demanda de potência
ativa e reativa (Pd , Qd ) para cada barra, das quais as seguintes 7 variáveis possuem o seu
valor especificado a priori:

• carga da barra 1: Pd1 = Qd1 =0;

• geração da barra 2: Pg2 = Qg2 =0;

• carga da barra 2: Pd2 = 0, 30 pu, Qd2 = 0, 18 pu;


R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 121

Adicionalmente, um ângulo da tensão nodal é adotado como referência (neste exemplo


o da barra 1), e as variáveis fisicamente controláveis na máquina sı́ncrona são a potência
ativa gerada (através do torque mecânico da máquina primária) e a magnitude da tensão
terminal (através da corrente de excitação). Portanto é possı́vel especificar a magnitude
da tensão na barra 1 é especificada em 1,0 pu, por exemplo, tal que a tensão complexa
na barra 1 é V1 = 1, 0∠00 pu. Consequentemente, as variáveis a serem determinadas são
Pg1 , Qg1 , V2 e δ2 . Entretanto, desde que Pg1 e Qg1 são funções de V1 , δ1 , V2 e δ2 , apenas
duas variáveis (V2 e δ2 ) precisam ser determinadas. Assim, considerando que,
• V1 = 1, 0 pu, δ1 = 00 ;

• R = 0,08 pu, X=0,37 pu e B=0,03 pu;

• P21 = −Pd = -0,30 pu e Q21 = −Qd = -0,18 pu;


a solução das equações não lineares que expressam o fluxos de potência complexa entre
as barras 1 e 2,
1
P21 = (RV22 − RV1 V2 cos δ12 − XV1 V2 sin δ12 )
R2+X 2

V22 B 1
Q21 = − + 2 (XV22 − XV1 V2 cos δ12 + RV1 V2 sin δ12 )
2 R + X2
é dada por,
• V2 = 0, 898∠ − 6, 24o pu;

• S1 = 0, 3117 + j0, 2071 pu;


Nesta solução, observa-se que a magnitude da tensão na barra 2 é menor do que
o limite mı́nimo estabelecido anteriormente (V2 < 0, 950 pu), o que requer um ajuste
no perfil de tensão do sistema através da magnitude da tensão na barra 1 (corrente
de excitação da máquina sı́ncrona). A tabela 4.1 mostra as duas soluções obtidas com
diferentes especificações da tensão no gerador sı́ncrono.

V1 V2 δ2 Pg Qg
(pu) (pu) (o ) (pu) (pu)
1,00 0,898 -6,24o 0,3117 0,2071
1,05 0,955 -5,59o 0,3103 0,1974

Tabela 4.1: Condições de operação do sistema de duas barras - caso base e solução
corretiva

4.3 Conceitos Básicos


Considere uma barra genérica i, conforme mostrado na figura 4.2, a qual estão associadas
as seguintes variáveis complexas:
122 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência

• injeções de potência e corrente, denotadas Sgi e Igi , respectivamente, corresponden-


tes ao gerador e relacionadas segundo a equação,
S∗gi Pg − jQgi
Igi = ∗
= i
Vi Vi ∠ − δi

• injeções de potência e corrente, denotadas Sdi e Idi , respectivamente, corresponden-


tes a carga e relacionadas de acordo com a expressão,
S∗di Pd − jQdi
Idi = ∗
= i
Vi V i ∠ − δi

• tensão complexa na barra i, denotada Vi = Vi ∠δi ;


• fluxos de potência complexa saindo da barra i,
Sil = Pil + jQil em direção a barra l;
Sij = Pij + jQij em direção a barra j;
Sik = Pik + jQik em direção a barra k;
os quais são funções das tensões complexas nas barras terminais das correspondentes
linhas de transmissão.

Sgi Sdi
(Igi ) (Idi )

Barra i Vi

Sil = Pil + Qil Sik = Pik + Qik

Sij = Pij + Qij

para a barra l para a barra j para a barra k

Figura 4.2: Barra genérica

Para simplificar a representação do circuito equivalente, reduz-se o número de variáveis


por barra agrupando-se as potências geradas e consumidas, resultando deste procedimento
a chamada injeção lı́quida de potência da barra; isto é,
Si = Sgi − Sdi = (Pgi − Pdi ) + j(Qgi − Qdi ) = Pi + jQi
à qual corresponde a injeção lı́quida de corrente
Ii = Igi − Idi = (Igi p − Idi p ) + j(Igi q − Qdi q ) = Iip + jIiq
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 123

e portanto
S∗i
Ii =
Vi∗
O balanço de potência aparente na barra i pode ser estabelecido observando-se na
figura 4.2
Sgi = Sdi + Sij + Sik + Sil
ou seja
Pgi + jQgi = Pdi + jQdi + Pij + jQij + Pik + jQik + Pil + jQil
tal que, separando as partes real e imaginária, obtém-se
Pgi = Pdi + Pij + Pik + Pil ⇒ Pgi − Pdi = Pij + Pik + Pil
Qgi = Qdi + Qij + Qik + Qil ⇒ Qgi − Qdi = Qij + Qik + Qil
ou alternativamente
Pi = Pij + Pik + Pil
Qi = Qij + Qik + Qil
Ex. 4.1 Considere a operação do sistema mostrado na figura 4.3, com a magnitude da
tensão plana em 1,0 pu, com 75 % da demanda de potência ativa da barra 2 suprida através
da linha 1-2. Suponha que há um compensador sı́ncrono instalado na barra 2, para manter
o nı́vel da magnitude da tensão nesta barra em 1,0 pu. Os valores por unidade mostrados
no diagrama estão na base 100 MVA. As cargas das barras 1, 2 e 3 são respectivamente 40
MVA com fator de potência 0,80 atrasado, 200 MVA com fator de potência 0,80 atrasado
e 20 MVA com fator de potência 0,85 atrasado. Analise a possibilidade da operação com
a magnitude da tensão plana em 1,0 pu.
Conforme mostrado no capı́tulo anterior, o fluxo potência numa linha de transmissão
sem perdas e com reatância série igual a X é dado por
Vi Vj
Pij = sin δij
X (4.1)
Vi
Qij = (Vi − Vj cos δij)
X
Desde que a magnitude da tensão é a mesma em todas as barras, os fluxos de potência
reativa que saem das barras 1, 2 e 3 são todos iguais e positivos. Por esta razão, não
seria possı́vel operar o sistema plano em 1,0 pu de tensão sem os dispositivos de geração
de potência reativa instalados nas barras 1, 2 e 3. As demandas de potência complexa nas
barras 1, 2 e 3 são respectivamente
• Sd1 = 0,3200 + j0,2400 pu; Sd2 = 1,6000 + j1,2000 pu; Sd3 = 0,1700 + j0,1054 pu;
tal que os fluxos de potência ativa nas linhas de transmissão são:
V1 V2 sin δ12
P12 = 0, 75(1, 6) = 1, 20 = ⇒ δ2 = −3, 43o
X
V1
Q12 = Q21 = (V1 − V2 cos δ12 ) = 0.036pu
X
P23 = −0, 400pu ⇒ δ23 = −0, 5730o , δ3 = −2, 86o
Q23 = Q32 = 0, 002pu
P13 = 0, 249pu, Q13 = Q31 = 0, 006pu
124 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência

G1 CS
Sg1 Sg2

1 V1 = 1, 0∠00 pu 2 V2 = 1, 0∠δ2 pu
Sd1 Sd2
Z12 = j0, 05 pu

Z13 = j0, 20 pu Z23 = j0, 025 pu

3 V3 = 1, 0∠δ3 pu
Sd3
Sg3

G3
Figura 4.3: Sistema de 3 barras - diagrama unifilar

As injeções de potência resultantes nas barras são,

• P1 = 1,200+0,249 = 1,449 pu, P2 = -1,6000 pu; P3 = 0,400 -0.249 =0,151 pu;

• Q1 = 0,036+0,006= 0,042 pu, Q2 =0,036+0,002= 0,038 pu;

• Q3 = 0,006+0,002=0,008 pu;

com a seguinte geração de potência nas barras:

• Pg1 =1,200+0,249 + 0,3200 = 1, 769 pu, Pg2 = 0;

• Pg3 = -0.249 + 0,400 +0,1700 = 0,321 pu;

• Qg1 = 0,036+0,006+0,2400 = 0,282 pu; Qg2 =0,036+0,002+1,200 = 1,238 pu;

• Qg3 =0,006+0,002+0,1054 = 0,113 pu;

A soma total das injeções de potência nas barras fornece as perdas no sistema de
transmissão; isto é,,

• P1 + P2 + P3 = 1,449 - 1,6000 +0,151= 0 pu;

• Q1 + Q2 + Q3 = 0,042 + 0,038 + 0,008 = 0,088 pu

e a geração total e a carga total de potência nas barras são as seguintes:

• Pg1 + Pg2 + Pg3 =1, 769 + 0 + 0,321 = 2,10 pu;

• Qg1 + Qg2 + Qg3 = 0,282 + 1,238 + 0,113 = 1,633 pu;


R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 125

• Pd1 + Pd2 + Pd3 =0,32 + 1,60 + 0,17 = 2,09 pu;

• Qd1 + Qd2 + Qd3 = 0,24 + 1,20 + 0,105 = 1,545 pu;

tal que a perda total nas linhas de transmissão é,

• Pl12 + Pl13 + Pl23 = 0 pu;

• Ql12 + Ql13 + Ql23 = 2(0,036)+2(0,002) +2(0,006) = 0,088 pu;

4.4 Equações Estáticas da Rede Elétrica


Considere a barra genérica i mostrada na figura 4.4.

Sgi Sdi
(Igi ) (Idi )

Barra i Vi

Sil = Pil + jQil Sik = Pik + jQik


ysh yshik
Iil = (Vi − Vl )yil + Vi il Iik = (Vi − Vk )yik + Vi
2 2
Sij = Pij + jQij
yshij
Iij = (Vi − Vj )yij + Vi
2
para a barra l para a barra j para a barra k

Figura 4.4: Barra genérica - fluxos de corrente e de potência

O balanço de corrente na barra i é dado por,

Ii − Idi = Iij + Iik + Iil

onde Ii = Igi − Idi é a injeção lı́quida de corrente na barra i e Iij , Iik , Iil são são os fluxos
de corrente saindo da barra i em direção as barras l, j e k, tal que,

Ii = Iij + Iik + Iil

Os fluxos de corrente saindo da barra i são expressos em função das tensões complexas
nas barras; ou seja,
yshij ysh ysh
Iij = (Vi − Vj )yij + Vi Iik = (Vi − Vk )yik + Vi ik Iil = (Vi − Vl )yil + Vi il
2 2 2
e portanto,
yshij yshik yshil
Ii = (yij + + yik + + yil + )Vi − yij Vj − yik Vk − yil Vl
2 2 2
126 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência

onde yij , yshij , yik , yshik , yil , e yshil são as admitâncias série e shunt das linhas incidentes
na barra i.
ysh ysh ysh
A somatória yij + ij +yik + ik +yil + il é denotada Yii e denominada admitância
2 2 2
própria da barra i. Os termos −yij , −yik e −yil são denotados respectivamente por Yij ,
Yik e Yil e denominados admitâncias de transferência da barra i.
Na forma compacta,

Ii = Yii Vi + Yij Vj + Yik Vk + Yil Vl

tal que, a generalização deste procedimento p para as barras j, k e l fornece,

Ij =Yji Vi + Yjj Vj + Yjk Vk + Yjl Vl


Ik =Yki Vi + Ykj Vj + Ykk Vk + Ykl Vl
Il =Yli Vi + Ylj Vj + Ylk Vk + Yll Vl

Observe que, yij = yji , yik = yki , yil = yli etc (e de forma similar, para todas as
admitâncias de transferência).
Para estabelecer as equações não lineares resolvidas no problema de fluxo de potência,
considere o diagrama unifilar mostrado na figura 4.5.

G1 G2
Sg1 Sg2
Ig1 Ig2

1 V1 V2 2
Sd1 Sd2
LT1
Id1 Id2

LT2 LT3

V3 3
Sd3
Id3

Figura 4.5: Sistema de 3 barras - diagrama unifilar

As injeções lı́quidas de potência nas barras são dadas por

S1 = Sg1 − Sd1 = (Pg1 − Pd1 ) + j(Qg1 − Qd1 ) = P1 + jQ1


S2 = Sg2 − Sd2 = (Pg2 − Pd2 ) + j(Qg2 − Qd2 ) = P2 + jQ2
S3 = Sg3 − Sd3 = (Pg3 − Pd3 ) + j(Qg3 − Qd3 ) = P3 + jQ3
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 127

e expressas em termos das injeções de corrente por


S1 = V1 I∗1
S2 = V2 I∗2
S3 = V3 I∗3
O circuito equivalente ao sistema de três barras é mostrado na figura 4.6. As ad-
mitâncias y1 , y2 , e y3 incluem as susceptâncias shunt das linhas de transmissão 1 − 2,
1 − 3 e 2 − 3.

y5

1 y4 2 y6 3

S1 S2 S3
I1 y1 I2 y2 I3 y3

(0) nó de referência

Figura 4.6: Sistema de 3 barras - circuito equivalente

A aplicação da lei dos nós de Kirchhoff ao circuito mostrado na figura 4.6 resulta nas
seguintes equações:
    
I1 (y1 + y4 + y5 ) −y4 −y5 V1
 I2  =  −y4 (y2 + y4 + y6 ) −y6   V2  (4.2)
I3 −y5 −y6 (y3 + y5 + y6 ) V3
ou, na forma compacta,
Ibarra = Ybarra Vbarra
Vbarra = Zbarra Ibarra
onde, Ibarra é o vetor das injeções de correntes nas barras; Ybarra é a matriz admitância
de barra e Vbarra é o vetor das tensões de barra.
Os termos da matriz admitância de barra da Eq. (4.2) são genericamente expressos
como
Xn
Yii = yij
j=0 (4.3)
Yij = −yij
128 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência

onde 0 é o nó de referência e yij é a admitância do elemento de ligação entre os nós i


e j. Portanto, a somatória mostrada na Eq. (4.3) inclui todos os elementos de ligação
incidentes na barra i.
A matriz impedância de barra é definida como o inverso da matriz admitância de
barra; isto é,
−1
Zbarra = Ybarra
A matriz admitância de barra é esparsa e portanto Zbarra é uma matriz geralmente
densa. Os seus termos são interpretados da seguinte forma:
• o elemento Zii é denominado impedância própria (driving point impedance) da barra
i e representa todos os caminhos entre a barra i e a terra;
• o elemento Zik é chamado impedância de transferência entre as barras i e k;
Considerando que
S∗1 P1 − jQ1
I1 = ∗
=
V1 V1∗
S∗ P2 − jQ2
I2 = 2∗ =
V2 V2∗
S∗ P3 − jQ3
I3 = 3∗ =
V3 V3∗
é possı́vel expressar as Eqs. (4.2) em termos de potência elétrica, isto é,
P1 − jQ1
    

(y1 + y4 + y5 ) −y4 −y5 V1

 P − V1    
 2 jQ  
2   
∗ = −y4 (y2 + y4 + y6 ) −y6   V2  (4.4)
V
    
 P3 − 2jQ3  
   
−y5 −y6 (y3 + y5 + y6 ) V3
V3∗
A Eq. (4.4) pode ser expressa na forma generalizada por
n
X
Pi − jQi = Vi∗ Yij Vj (4.5)
j=1

a qual é usada para calcular as injeções de potência ativa e reativa em função das tensões
complexas nodais. Um sistema genérico de n barras possui 6n variáveis e n equações não
lineares e complexas, semelhantes a Eq. (4.5), ou alternativamente 2n equações reais e
não lineares.
As Eqs. (4.5) representam o modelo estático do sistema de potência de 3 barras
mostrado na figura 4.5. Estas equações são algébricas e não lineares, e a sua solução
requer o uso de métodos numéricos iterativos. Note que a freqüência aparece implicita-
mente através dos parâmetros da rede elétrica. Estas equações relacionam um total de 18
variáveis e podem ser decompostas em 6 equações reais. Desde que o número de equações
é menor do que o de incógnitas, 12 variáveis devem ter o seu valor especificado, o que é
feito observando-se que:
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 129

• as demandas de potência ativa e reativa são conhecidas e portanto podem ser con-
sideradas variáveis especificadas;
• a magnitude da tensão (ou opcionalmente a geração de potência reativa) das barras
de geração é uma variável fisicamente controlada, e portanto pode ter o seu valor
especificado;
• um ângulo é adotado como referência, de forma que todos os outros são expressos
em relação a este ângulo;
• as perdas de potência nas linhas de transmissão não são conhecidas e portanto não
é possı́vel especificar a priori a potência de todos geradores simultaneamente. Uma
geração deve permanecer em aberto para completar o balanço total de potência do
sistema após conhecidas as perdas.

4.5 Formulação do Problema de Fluxo de Potência


Conforme mostrado na seção anterior, a injeção de corrente na barra i e a injeção lı́quida
de potência aparente correspondente são dadas respectivamente por
n
S∗ X
Ii = i∗ = Yij Vj
Vi j=1
n
X
S∗i = Vi∗ Yij Vj
j=1

Desde que
n
X
S∗i = (Vi ∠ − δi ) Yij (Vj ∠δj )
j=1

então n
X
S∗i = Vi Yij (Vj ∠δji )
j=1

onde δji = δj − δi , tal que separando esta equação em partes real e imaginária, obtém-se
as expressões das injeções de potência ativa e reativa em função do ângulo e da magnitude
das tensões nodais, isto é,
n
X
Pi (V, δ) = Vi (Gij cos δij + Bij sin δij )Vj
j=1
n (4.6)
X
Qi (V, δ) = Vi (Gij sin δij − Bij cos δij )Vj
j=1

onde Gij e Bij são elementos da matriz admitância de barra.


Considerando que

Si = (Pgi − Pdi ) + j(Qgi − Qdi ) = Pi + jQi


130 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência

então o balanço de potência na i-ésima barra é dado por


n
X
∆Pi = (Pgi − Pdi ) − Vi (Gij cos δij + Bij sin δij )Vj
j=1
n (4.7)
X
∆Qi = (Qgi − Qdi ) − Vi (Gij sin δij − Bij cos δij )Vj
j=1

onde ∆Pi e ∆Qi são denominados discordâncias (desbalanços, resı́duos, desvios) de potência,
e representam a diferença entre a injeção de potência oriunda da geração e da carga e a
potência que flui nas linhas de transmissão que incidem na barra i. No processo itera-
tivo do fluxo de potência, a tensão complexa de cada barra é calculada de forma que a
magnitude das diferenças ∆Pi e ∆Qi tenda a zero. Geralmente o critério de convergência
utilizado é
• |∆Pi | ≤  para todas as barras P V e P Q;
• |∆Qi | ≤  para todas as barras P Q.
onde  é uma tolerância pré-especificada, tipicamente na faixa de 0,01 a 10,0 (MW ou
Mvar).

Classificação das Barras


A Eq. (4.7) associa quatro variáveis (Pi , Qi , Vi e δi ) a cada barra do sistema. Conforme
visto nas seções anteriores, duas dessas variáveis devem ser especificadas de forma que
as outras duas possam ser calculadas como solução das equações da rede elétrica. Para
especificar as duas variáveis de cada barra, deve-se levar em conta que esta solução deve
ser fisicamente realizável, isto é, a solução analı́tica indica como operar o sistema sob o
ponto de vista fı́sico. Para esta finalidade, as barras são divididas nos três tipos descritos
a seguir.
• Barra PQ ou de Carga - Neste tipo de barra há predominância da demanda sobre
as outras variáveis, não existindo, na grande maioria dos casos, geração de potência
na barra. As injeções de potência ativa e reativa são especificadas e a magnitude
e o ângulo da tensão nodal são calculados através da solução das equações da rede
elétrica. Portanto para uma barra de carga
Si = (Pgiesp − Pdiesp ) + j(Qesp esp
gi − Qdi )
= Piesp + jQesp
i

• Barra PV ou de tensão controlada - Neste tipo de barra, a injeção de potência ativa


e a magnitude da tensão são especificados e o ângulo da tensão nodal e a injeção
de potência reativa são calculados. Para viabilizar esta especificação é necessário
que um dispositivo de controle da magnitude da tensão (compensador sı́ncrono,
compensador estático de Var etc) esteja instalado na barra. Numa barra de tensão
controlada,
Pi = Pgiesp − Pdiesp
Vi = Viesp
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 131

• Barra de folga, ou swing, ou slack ou de referência: Desde que as perdas no sistema


de transmissão são conhecidas apenas após a obtenção da solução das equações da
rede, deve-se selecionar uma barra para suprir as perdas de potência nas linhas de
transmissão e completar o balanço total de potência do sistema. Conseqüentemente,
as injeções de potência ativa e reativa não são especificadas nesta barra. Além
disso, a solução de circuitos de corrente alternada requer a escolha de um nó de
referência angular. Assim, neste tipo de barra a magnitude e o ângulo da tensão são
especificados e as injeções de potência ativa e reativa são calculadas como resultado
da solução das equações da rede elétrica, isto é,

δi = δiesp
Vi = Viesp

Observe que para completar o balanço de potência um gerador deve estar instalado
na barra de folga.

Para ilustrar a determinação do modelo analı́tico da rede elétrica operando em regime


permanente, considere o sistema cujo diagrama unifilar é mostrado na figura 4.7. Os
dados das linhas de transmissão e das barras para este sistema são mostrados nas tabelas
4.2 e 4.3.
Pd1 + jQd1
Gb3
1 2 3

4
Gb4

Pd4 + jQd4
Figura 4.7: Diagrama do sistema de 4 barras

Barra V δ Pg Pd Qg Qd P min P M ax Qmin QM ax


(pu) (graus) pu pu pu pu pu pu pu pu
1 0,00 0,80 0,00 0,20
2 0,00 0,00 0,00 0,00
3 0,00 0,00 0,00 0,0 0,80 -0,10 0,20
4 0,20 0,10 0,0 0,60 -0,05 0,10

Tabela 4.2: Dados do sistema de 4 barras


132 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência

Ysh
Linha Zser Yser
2
(pu) (pu) (pu)
1-2 0,02 + j 0,06 5,0 - j 15,0 j0,03
2-3 0,06 + j 0,18 1,66 - j5,0 j 0,02
2-4 0,06 + j 0,18 1,66 - j5,0 j 0,02
3-4 0,01 + j0,03 10,0 - j30,0 j 0,01

Tabela 4.3: Dados do sistema de 4 barras

• Especificação das Barras

A análise do sistema mostrado na figura 4.7 indica que as barras 1 e 2 podem ser
especificadas apenas como barras PQ enquanto que as barras 3 e 4 podem ser de
folga, PV ou PQ.

Para estabelecer as equações a serem resolvidas, suponha que as barras 3 e 4 sejam


especificadas como folga e PV, respectivamente, com V3 = 1, 03 pu, δ3 = 0, 00 ,
Pg4 = 0, 40 pu, V4 = 1, 02 pu. Note que as tensões nas barras de geração devem ser
especificadas entre os limites 0,95 pu(V) e 1,05 pu(V).

As variáveis a serem determinadas como solução do problema de fluxo de potência


são: δ1 , δ2 , δ4 , V1 , V2 , P3 , Q3 e Q4 . Observe que as três últimas variáveis são deter-
minadas à partir do conhecimento do módulo e ângulo da tensão complexa em todas
as barras do sistema. Isto significa que numa primeira etapa, é necessário resolver
apenas as equações necessárias para a determinação do ângulo e da magnitude da
tensão nas barras (5 incógnitas e portanto 5 equações). No estágio subseqüente,
as injeções de potência ativa e reativa na barra de folga e as injeções de potência
reativa das barras PV são calculadas.

• Matriz Admitância

De acordo com a Eq. (4.3), a matriz admitância de barra é dada por

 
+5, 00 − j14, 97 −5, 00 + j15, 0
 −5, 00 + j15, 00 +8, 32 − j24, 9 −1, 66 + j5, 00 −1, 66 + j5, 00 
Ybarra = 
 −1, 66 + j5, 0 +11, 6 − j34, 97 −10, 0 + j30, 0 
−1, 66 + j5, 0 −10, 0 + j30, 0 +11, 6 − j34, 97

• Equações do Fluxo de Potência

A aplicação da Eq. (4.5) fornece a forma generalizada das equações complexas do


R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 133

sistema-exemplo na operação em regime permanente, isto é,

P1 − jQ1
= Y11 V1 + Y12 V2
V1∗
P2 − jQ2
= Y21 V1 + Y22 V2 + Y23 V3 + Y24 V4
V2∗
P3 − jQ3
= Y32 V2 + Y33 V3 + Y34 V4
V3∗
P4 − jQ4
= Y42 V2 + Y43 V3 + Y44 V4
V4∗

As injeções de potência ativa e reativa expressas em termos do ângulo e da magnitude


das tensões complexas são obtidas com o auxı́lio da Eq. (4.6), isto é

P1 (V, δ) = 5, 0V12 + V1 V2 (−5, 0 cos δ12 + 15, 0 sin δ12 )


Q1 (V, δ) = 14, 97V12 + V1 V2 (−5, 0 sin δ12 − 15, 0 cos δ12 )

P2 (V, δ) = 8, 32V12 + V2 V1 (−5, 0 cos δ21 + 15, 0 sin δ21 )


+ V2 V3 (−1, 66 cos δ23 + 5, 0 sin δ23 )
+ V2 V4 (−1, 66 cos δ24 + 5, 0 sin δ24 )
Q2 (V, δ) = 24, 93V12 + V2 V1 (−5, 0 sin δ21 − 15, 0 cos δ21 )
+ V2 V3 (−1, 66 sin δ23 − 5, 0 cos δ23 )
+ V2 V4 (−1, 66 sin δ24 − 5, 0 cos δ24 )
(4.8)
P3 (V, δ) = 11, 66V32
+ V3 V2 (−1, 66 cos δ32 + 5, 0 sin δ32 )
+ V3 V4 (−10, 0 cos δ34 + 30, 0 sin δ34 )
Q3 (V, δ) = 34, 97V32 + V3 V2 (−1, 66 sin δ32 − 5, 0 cos δ32 )
+ V3 V4 (−10, 0 sin δ34 − 30, 0 cos δ34 )

P4 (V, δ) = 11, 66V42 + V4 V2 (−1, 66 cos δ42 + 5, 0 sin δ42 )


+ V4 V3 (−10, 0 cos δ43 + 30, 0 sin δ43 )
Q4 (V, δ) = 34, 97V42 + V4 V2 (−1, 66 sin δ42 − 5, 0 cos δ42 )
+ V4 V3 (−10, 0 sin δ43 − 30, 0 cos δ43 )

e o conjunto completo das equações de balanço de potência ativa e reativa em cada


134 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência

barra são expressas por


P1esp −P1 (V, δ) = 0
Qesp
1 −Q1 (V, δ) = 0
P2esp −P2 (V, δ) = 0
Qesp
2 −Q2 (V, δ) = 0
P3esp −P3 (V, δ) = 0
Qesp
3 −Q3 (V, δ) = 0
P4esp −P4 (V, δ) = 0
Qesp
4 −Q4 (V, δ) = 0

onde
P1esp = Pg1 − Pd1 = −0, 80
Qesp
1 = Qg1 − Qd1 = −0, 20
P2esp = Pg2 − Pd2 = −0, 00
Qesp
2 = Qg2 − Qd2 = −0, 00
P4esp = Pg4 − Pd4 = +0, 20
e os termos Pi (V, δ) e Qi (V, δ) são dados pela Eq. (4.8).

4.6 Métodos de Solução


Solução via Método de Gauss-Seidel

Considere que o sistema de equações a ser resolvido é expresso por


f (x) = 0 (4.9)
onde f é um vetor coluna, de dimensão n, cujos componentes são funções não lineares
das n variáveis componentes do vetor x, isto é,

 f1 (x1 , x2 , x3 . . . , xn )

 f2 (x1 , x2 , x3 . . . , xn )



f (x) = f3 (x1 , x2 , x3 . . . , xn ) (4.10)
 .. ..



 . ... .
 f (x , x , x . . . , x )
n 1 2 3 n

e 0 é um vetor nulo de dimensão n.


Supondo que a Eq. (4.10) é convertida para a forma
x1 = F1 (x1 , x2 , x3 . . . , xn )
x2 = F2 (x1 , x2 , x3 . . . , xn )
x3 = F3 (x1 , x2 , x3 . . . , xn ) (4.11)
.. ..
. ... .
xn = Fn (x1 , x2 , x3 . . . , xn )
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 135

onde cada variável do vetor x é expressa em função das outras variáveis (e da própria
variável, se for necessário); o método iterativo de Gauss consiste em executar os
seguintes passos:

– estimativa inicial do vetor x;


– atualização do vetor x:
x(k) = F(x(k−1) )
onde k é o número da iteração corrente;
– Teste de convergência nas variáveis - o processo é encerrado quando a diferença
entre os valores de cada variável em duas iterações consecutivas for menor do
que uma tolerância especificada , isto é,

|x(k) − x(k−1) | ≤ 

Com o objetivo de obter maior rapidez de convergência no processo iterativo, o


método de Gauss-Seidel utiliza o valor mais atualizado de cada variável na Eq.
(4.11). Por exemplo, na iteração k a variável x3 é dada por
(k) (k) (k) (k−1)
x3 = F3 (x1 , x2 , x3 . . . , x(k−1)
n )

Podem ser usados ainda fatores de aceleração baseados em extrapolação linear,


como a estratégia descrita a seguir. Definindo o incremento na variável xi entre
duas iterações como
(k) (k) (k−1)
∆xi = xi − xi
a atualização da variável com a aplicação do fator de aceleração α é dada por
(k) (k−1) (k)
xiac = xi + α∆xi

onde α = 1, 0 implica no processo de convergência natural e a convergência acelerada


requer que α seja maior do que 1, 0.
No caso do problema de fluxo de potência, o método de Gauss-Seidel é aplicado
re-escrevendo as equações estáticas do fluxo de potência na forma generalizada re-
presentada pela Eq. (4.5) como
Pi − jQi
= Yi1 V1 + Yi2 V2 + . . . + Yin Vn
Vi∗
tal que a tensão complexa da barra i é dada por
n
!
1 Pi − jQi X
Vi = − Yik Vk , i = 1, 2, . . . , n (4.12)
Yii Vi∗ k=1, k6=i

Um conjunto de equações da forma (4.12) é resolvido através do método de Gauss-


Seidel. Cada uma dessas equações é estabelecida de acordo com o tipo da barra em
questão, conforme descrito a seguir.
136 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência

– Barras P Q - Neste tipo de barra, a injeção de potência complexa é especificada


e a tensão complexa é calculada. Portanto, a equação que caracteriza as barras
de PQ é da forma

n
!
(k) 1 Piesp − jQesp
i
X
Vi = (k−1)∗
− Yij Vjat (4.13)
Yii Vi j=1, j6=i

onde Vjat representa o último valor disponı́vel da tensão complexa Vj .

– Barras P V : Numa barra P V , a injeção de potência ativa e a magnitude da


tensão são especificadas enquanto que o ângulo da tensão e a injeção de potência
reativa são calculados considerando inicialmente a equação

n
!
(k) 1 Piesp − jQcalc
i
X
Vi = (k−1)∗
− Yik Vkat , i = 1, 2, . . . , n (4.14)
Yii Vi k=1, k6=i

onde a injeção de potência reativa na barra P V é calculada com o auxı́lio da


equação
n

X
Qcalc
i = −Im{Viat Yij Vjat } (4.15)
j=1

utilizando os valores mais atualizados das tensões complexas.


A equação (4.14) fornece a tensão complexa

(k) (k) (k)


Vi = Vi ∠δi

e, desde que o valor da magnitude da tensão na barra i é especificado a priori,


apenas o valor do ângulo é utilizado. A partir deste ponto o valor da tensão
(k)
complexa na barra P V passa a ser Viesp ∠δi durante a iteração corrente.

No caso do sistema de 4 barras mostrado na figura 4.7, o sistema de equações a ser


resolvido através do método de Gauss-Seidel é dado por

 
1 P1 − jQ1
V1 = − Y12 V2
Y11 V1∗
 
1 P2 − jQ2
V2 = − Y21 V1 − Y23 V3 − Y24 V4
Y22 V2∗
 
1 P4 − jQ4
V4 = − Y42 V2 − Y43 V3
Y44 V4∗
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 137

ou em termos numéricos,
 
1 −0, 80 + j0, 20
V1 ∠δ1 = − (−5, 0 + j15, 0)V2 ∠δ2
5, 0 − j14, 97 V1 ∠ − δ 1


1 0, 0 − j0, 0
V2 ∠δ2 = − (−5, 0 + j15, 0)V1 ∠δ1 −
8, 32 − 24, 9 V2 ∠ − δ 2
(−1, 66 + j5, 0)1, 03∠δ3 − (−1, 66 + j5, 0)1, 02∠δ4 )

 
1 0, 20 − jQ4
1, 02∠δ4 = − (−1, 66 + j5, 0)V2 ∠δ2 − (−10, 0 + j30, 0)(1, 03∠00 )
11, 6 − j34, 9 1, 02∠ − δ4
(4.16)

No caso da aplicação do método de Gauss-Seidel ao problema de fluxo de potência, o fator


de aceleração é dado por

(k) (k−1) (k) (k−1)


Vi = +Vi + α(Vi − Vi ) (4.17)

onde α é o fator de aceleração, o qual é especificado em geral dentro da faixa 1, 4 ≤ α ≤ 1, 8.

Limites de Potência Reativa

Para representar a capacidade fı́sica dos geradores, limites de potência reativa são estabe-
lecidos para cada nı́vel de potência ativa especificada. Esses limites, os quais são obtidos
com auxı́lio da curva de capabilidade dos geradores sı́ncronos, podem ser representados
através da inequação
Qmin
gi ≤ Qgi ≤ Qgi
max

onde Qmin
gi e Qmaxgi são os limites mı́nimo e máximo de geração de potência reativa. De-
pendendo do nı́vel de carregamento do sistema de potência, a especificação da magnitude
da tensão (valores demasiadamente altos ou baixos) pode levar à violações desta restrição
de desigualdade no processo iterativo. O procedimento adotado para o tratamento deste
tipo de restrição de potência consiste no seguinte:

– caso durante o processo iterativo o limite de potência reativa gerada for violado, a
barra correspondente é convertida em barra de carga. Isto é, a injeção de potência
reativa é fixada no limite e a magnitude da tensão passa a ser uma variável adicional
calculada ao longo das iterações.

Teste de Convergência

A convergência do processo iterativo na solução do fluxo de potência via método de Gauss-


Seidel é realizada em duas etapas. A primeira consiste em verificar a cada iteração se as
variações na magnitude e no ângulo da tensão complexa são significativos. Ou seja, se

|Viv − Viv−1 | ≤ V
138 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência

onde V é uma tolerância pré-especificada para a tensão complexa, para todas as barras
de carga (P Q) e de tensão controlada (P V ) envolvidas no processo. Caso este teste seja
satisfeito, um teste semelhante é efetuado para os resı́duos de potência ativa e reativa, isto

|Pesp
i − Pcalc
i | ≤ P (barras P V e P Q)
|Qesp
i − Qcalc
i | ≤ Q (barras P Q)
onde P e Q são as tolerâncias pré-especificadas para os resı́duos de potência ativa e
reativa.
A verificação da convergência é feita tomando-se inicialmente uma tolerância relativamen-
te elevada para as tensões. Quando esta for satisfeita, efetua-se o teste de convergência nos
resı́duos de potência ativa e reativa. Caso estes não satisfaçam as tolerâncias de potência, o
processo iterativo é reinicializado com uma tolerância reduzida para as tensões. Procede-se
desta forma até que ambos os testes sejam satisfeitos.
Existem muitos esquemas alternativos para a aplicação do método de Gauss-Seidel ao
problema do fluxo de potência, cada um com um número de vantagens e desvantagens
associadas. Em geral, a maior vantagem do método de Gauss-Seidel reside no fato de
que o número de elementos no termo relativo correspondente à somatória é pequeno e
corresponde ao número de linhas de transmissão do sistema de potência. Portanto, ambos,
os requisitos de memória e os cálculos envolvidos nas iterações são reduzidos. Por outro
lado, a maior desvantagem inerente a este método é a sua convergência lenta, o que
pode ser atribuı́do ao fraco acoplamento (sob o ponto de vista matemático) entre as
barras. A taxa de convergência é também dependente dos valores relativos dos termos
diagonais da matriz admitância de barra e da seleção da barra de referência. Para sistemas
numericamente bem condicionados a solução pode ser obtida em torno de 50 iterações.
No caso de sistemas com mal condicionamento numérico (por exemplo, sistemas com alto
nı́vel de compensação série), a solução pode requerer várias centenas de iterações, e em
alguns casos não ser obtida.

Algoritmo

O procedimento para resolver as equações não lineares do fluxo de potência através do


método de Gauss-Seidel podem ser sumarizados no seguinte algoritmo: k = 0, especificar
os valores iniciais das tensões nas barras e formar a matriz admitância de barra,

1. Para i = 1, n, calcule a tensão complexa de acordo com o tipo de barra:


– Barra P V : calcule a potência reativa gerada utilizando a Eq. (4.15) e verifique
os limites correspondentes, isto é,
∗ se Qcalc
i está dentro dos limites, compute a magnitude da tensão Vi através
da Eq. (4.14) e atualize apenas o ângulo da tensão complexa da barra;
∗ se Qcalc
i está fora dos limites, especifique a geração de potência reativa
no limite violado, converta a barra PV para barra PQ e calcule a tensão
complexa na barra utilizando a Eq. (4.13);
– Barra P Q: calcule a tensão complexa na barra utilizando a Eq. (4.13);
2. Teste de convergência nas tensões complexas: se |Viv − Viv−1 | ≤ V para todas as
barras, prossiga ao próximo passo; caso contrário, atualize as tensões complexas
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 139

aplicando o fator de aceleração através da Eq. (4.17); faça k = k + 1 e retorne ao


passo (1);
3. Calcule as injeções de potência ativa e reativa nas barras utilizando a Eq. (4.6) e
faça o teste de convergência nas injeções de potência: se
|Pesp
i − Pcalc
i | ≤ P (barras P V e P Q)
|Qesp
i − Qcalc
i | ≤ Q (barras P Q)
a convergência foi alcançada; caso contrário, selecione nova tolerância para as tensões,
faça k = k + 1 e retorne ao passo (1).

Solução via Método de Newton-Raphson

O método de Newton-Raphson é baseado numa seqüência de aproximações de primeira


ordem em série de Taylor, em torno de uma série de pontos calculados ao longo do processo
iterativo. Se uma raiz estimada x(k) de uma simples equação algébrica não-linear f (x) é
conhecida, então uma aproximação melhor pode ser obtida através de
x(k+1) = x(k) + ∆x
onde
f (x(k) )
∆x = −
f 0 (x(k) )
0
e f (x(k) ) é a primeira derivada de f (x) com relação a x calculada no ponto x(k) .
No caso de um conjunto de n equações não lineares com n incógnitas, da forma
 
f1 (x1 , x2 , . . . , xn )
 f2 (x1 , x2 , . . . , xn ) 
f (x) = 
 ...
=0
... ... 
fn (x1 , x2 , . . . , xn )

supondo que uma estimativa inicial x(k) é conhecida, uma nova aproximação da solução é
dada por
x(k+1) = x(k) + ∆x
ou  −1
∂f (x)
∆x = − f (x(k) ) = −J(x(k) )−1 f (x(k) ) (4.18)
∂x x=x(k)

onde J(x(k) ) é uma matriz de primeiras derivadas, de ordem n, denominada Jacobiana,


calculada no ponto (x(k) ). O elemento (i, j) desta matriz é definido como ∂fi /∂xj .
No caso do problema de fluxo de potência, o sistema de equações não lineares f (x) = 0
corresponde ao balanço de potência representado pela Eq. (4.7), isto é,

– para uma barra P Q:


n
X
∆Pi = (Pgi − Pdi ) − Vi (Gij cos δij + Bij sin δij )Vj
j=1
n (4.19)
X
∆Qi = (Qgi − Qdi ) − Vi (Gij sin δij − Bij cos δij )Vj
j=1
140 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência

– para uma barra P V :


n
X
∆Pi = (Pgi − Pdi ) − Vi (Gij cos δij + Bij sin δij )Vj (4.20)
j=1

O sistema linear resolvido a cada iteração do método de Newton-Raphson aplicado ao


problema de fluxo de potência é dado por
    
∆Ppv,pq H N ∆δ pv,pq
= (4.21)
∆Qpq M L ∆Vpq

onde
∂Ppv,pq ∂Ppv,pq
H= N=
∂δ pv,pq ∂Vpq

∂Qpq ∂Qpq
M= L=
∂δ pv,pq ∂Vpq

Os elementos das submatrizes H, N, M e L são obtidos diferenciando-se a Eq. (4.7) e


observando que
∂ cos δij ∂ cos δij
= − sin δij = sin δij
∂δi ∂δj

∂ sin δij ∂ sin δij


= cos δij = − cos δij
∂δi ∂δj

o que resulta em
n
X
Hii = −Vi (−Gik sen δik + Bik cos δik )Vk
k=1, k6=i
(4.22)
= −Qcalc
i − Vi2 Bii
Hik = Vi (Gik sen δik − Bik cos δik )Vk

∂∆Qi
Mii =
∂δi
n
X
= −Vi (Gik cos δik + Bik sen δik )Vk (4.23)
k=1, k6=i

= Picalc − Vi2 Gii


Mik = −Vi (Gik cos δik + Bik sen δik )Vk
n
X
Nii = + Vk (Gik cos δik + Bik sen δik ) + Vi Gii
k=1, k6=i

(Picalc + Vi2 Gii ) (4.24)


=
Vi
Nik = Vi (Gik cos δik + Bik sen δik )
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 141

n
X
Lii = (Gik sen δik − Bik cos δik )Vk − Vi Bii
k=1, k6=i

(Qcalc − Vi2 Bii ) (4.25)


i
=
Vi
Lik = Vi (Gik sen δik − Bik cos δik )

Algoritmo

O processo iterativo para a solução do problema de fluxo de potência via método de


Newton-Raphson pode ser sumarizado no seguinte algoritmo: k = 0, especifique valores
(k) (k)
iniciais para a magnitude e ângulo das tensões Vi e δi ,

1. Faça k = k + 1;
2. Calcule os desbalanços de potência ativa e reativa utilizando as Eqs. (4.19) e (4.20);
3. Verifique a convergência do processo iterativo: se

|Pesp
i − Pcalc
i | ≤ P (barras P V e P Q)
|Qesp
i − Qcalc
i | ≤ Q (barras P Q)

a convergência foi alcançada; caso contrário, prossiga ao próximo passo;


4. Forme a matriz Jacobiana (Eqs. (4.22) a (4.25));
5. Resolva o sistema linear da Eq. (4.21) para obter ∆V e ∆δ;
6. Atualize os valores de V(k) = V(k−1) + ∆V e de δ (k) = δ (k−1) + ∆δ;
7. Calcule as injeções de potência ativa e reativa nas barras. Para as barras P V ,
verifique os limites de geração de potência reativa:
– se a geração de potência reativa da barra i está fora dos limites, fixar Qgi no
limite violado e converter a barra PV para barra PQ. A partir deste ponto a
magnitude e o ângulo da tensão na barra i são calculados através do processo
iterativo;
8. Retorne ao passo (1).

Uma das vantagens do método de Newton-Raphson é a sua taxa de convergência quadrática,


o que em geral o torna mais rápido do que a maior parte dos outros métodos. Em termos
de confiabilidade, este algoritmo é menos sensı́vel a fatores que perturbam a convergência
do processo iterativo, tais como a escolha da barra de folga, a existência de compensação-
série em nı́vel elevado etc. A formulação do problema de fluxo de potência em coordenadas
polares ou em coordenadas retangulares pode ser utilizada, porém em ambos os casos deve
ser feita a separação em módulo e ângulo ou partes real e imaginária. Em geral, as soluções
são obtidas num número de iterações variando de 2 a 6.
A principal desvantagem desta técnica é a necessidade de formular e fatorar a matriz
Jacobiana. Entretanto, desde que a estrutura desta matriz possui um padrão de esparsi-
dade idêntico ao da matriz admitância de barra, técnicas de compactação e esparsidade
podem ser usadas no processo de fatoração da mesma. Outra desvantagem do método
de Newton-Raphson é que ele é aplicável apenas a funções convexas e portanto converge
142 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência

sempre à solução mais próxima da estimativa inicial. Teoricamente, o problema de fluxo


de potência possui tantas soluções quanto o número de barras do sistema. Na prática
porém, a solução aceitável é bem distinta das outras, tal que ou a solução correta é obtida
após um número de iterações em geral reduzido ou a solução diverge.
Para ilustrar a aplicação deste método, considere o sistema da figura 4.7. A determinação
das variáveis do fluxo de potência (V1 , δ1 , V2 , δ2 e δ4 ) é feita resolvendo-se as seguintes
equações:

P1esp −P1 (V, δ) = 0


Qesp
1 −Q1 (V, δ) = 0
P2esp −P2 (V, δ) = 0
Qesp
2 −Q2 (V, δ) = 0
P4esp −P4 (V, δ) = 0

tal que na forma explı́cita o conjunto de equações não lineares a ser resolvido é expresso
por

−0, 80 − 5, 0V12 + V1 V2 (−5, 0 cos δ12 + 15, 0 sin δ12 ) = 0, 00


 

−0, 20 − 14, 97V12 + V1 V2 (−5, 0 sin δ12 − 15, 0 cos δ12 ) = 0, 00


 

0, 00 − 8, 32V12 + V2 V1 (−5, 0 cos δ21 + 15, 0 sin δ21 )




+V2 V3 (−1, 66 cos δ23 + 5, 0 sin δ23 )


+V2 V4 (−1, 66 cos δ24 + 5, 0 sin δ24 )] = 0, 00
0, 00 − 24, 93V12 + V2 V1 (−5, 0 sin δ21 − 15, 0 cos δ21 )


+V2 V3 (−1, 66 sin δ23 − 5, 0 cos δ23 )


+V2 V4 (−1, 66 sin δ24 − 5, 0 cos δ24 )] = 0, 00

0, 20 − 11, 66V42 + V4 V2 (−1, 66 cos δ42 + 5, 0 sin δ42 )




+V4 V3 (−10, 0 cos δ43 + 30, 0 sin δ43 )] = 0, 00

Adotando o perfil plano de tensões como solução inicial, na primeira iteração o vetor
dos desbalanços de potência é dado por
   
∆P1 −0, 8000
 ∆P2   0, 0833 
   
 ∆P4  =  0, 0455 
   
 ∆Q1   −0, 1700 
∆Q2 0, 3200

e a matriz Jacobiana é expressa por


 
15, 00 −15, 00 0, 00 5.00 −5.00

 −15, 00 25, 25 −5.15 −5.00 8.25 

J=
 0, 00 −5.15 36, 66 0, 00 −1.71 

 −5.00 5.00 0, 00 14, 94 −15, 00 
5.00 −8.41 1.71 −15, 00 24, 61
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 143

tal que a solução do sistema linear fornece


   
∆δ1 −0, 1164
 ∆δ2  
   −0, 0718 

 ∆δ4  = 
   −0, 0090 

 ∆V1   −0, 0348 
∆V2 −0, 0080
No final da primeira iteração, as variáveis atualizadas são
   
δ1 −0, 1164
 δ2   −0, 0718 
   
 δ4  =  −0, 0090 
   
 V1   0, 9651 
V2 0, 9914
e o resultado do fluxo do fluxo de potência obtido em 3 iterações é mostrado na tabela 4.5.

Barra Tipo V δ Pg Qg Pd Qd
(V) graus MW Mvar MW Mvar
1 PQ 0,955 -6,91 0,00 0,00 80,00 20,00
2 PQ 0,984 -4,19 0,00 0,00 0,00 0,00
3 folga 1,020 0,00 63,81 -36,42 0,00 0,00
4 PV 1,030 -0,56 40,00 62,02 20,00 10,00

No balanço de potência do sistema, a geração total de potência é 103.81 MW e 25.60 Mvar


e a demanda total é 100.00 MW e 30.00 Mvar, tal que a perda de potência ativa no sistema de
transmissão é 3.8075 MW.

Solução via Métodos Desacoplados


As equações básicas do método de Newton-Raphson são derivadas da expansão em série de
Taylor, omitindo-se os termos de 2a ordem em diante. As correções a cada iteração são, por-
tanto, aproximações, porém o valor da função é calculado de forma exata a cada iteração.
Assim, a solução desejada pode ser obtida com qualquer grau de precisão continuando-se o
processo iterativo, e a mesma não é dependente da precisão da correção. Isto implica numa
aproximação alternativa dos termos (envolvendo a 1a derivada) da matriz Jacobiana. Um teste
simples que permite observar certas caracterı́sticas peculiares, consiste em resolver uma equação
quadrática pelo método de Newton-Raphson substituindo a 1a derivada por uma constante ar-
bitrária. Nota-se que, a despeito desta aproximação uma boa convergência pode ser alcançada,
se a constante deve ser selecionada de forma que as equações ainda mantenham as propriedades
de convergência. Desde que a não-linearidade das equações envolvidas no problema de fluxo
de potência não é acentuada e estas equações são bem definidas em termos de caracterı́sticas
numéricas, a estratégia de solução pode explorar com vantagem essas particularidades.

Desacoplamento entre as Variáveis


Uma caracterı́stica inerente a qualquer sistema de potência é a forte dependência entre os fluxos
de potência ativa e os ângulos das tensões nas barras, e entre os fluxos de potência reativa e a
magnitude das tensões nas barras. De uma forma geral, pode ser observado que:
144 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência

• Uma variação ∆P em P implica numa variação semelhante ∆δ em δ e tem pequeno efeito


sobre a magnitude da tensão (∆V ≈ 0);

• Uma variação ∆Q em Q resulta numa modificação ∆V na magnitude da tensão e tem


pequeno efeito sobre o ângulo de tensão (∆δ ≈ 0).

Algebricamente, essas aproximações podem ser representadas pela expressão

∆P = H∆δ
∆Q = L∆V

Generalizando as caracterı́sticas de desacoplamento para um sistema de potência multi-


máquinas, as submatrizes N e J na equação (4.21) podem ser desprezadas, o que resulta em
    
∆Ppv,pq H 0 ∆δ pv,pq
=
∆Qpq 0 L ∆Vpq /V

O procedimento para obter a solução das equações da rede aplicando estas aproximações
consiste em resolver alternadamente os sistemas lineares resultantes, isto é, separar o problema
principal em subproblemas P δ e QV . Isto resulta num número maior de iterações para a
convergência, porém com menor esforço computacional.
Baseando-se nas suposições mencionadas anteriormente, outras aproximações podem ser fei-
tas na matriz Jacobiana. Assim, considerando que

• δij é pequeno (menor do que 200 );

• cos δij ≈ 1, 0;

• sin δij ≈ δij .

a expressão
Hij = Vi (Gij sin δij − Bij cos δij )Vj

se transforma em
Hij = Vi (Gij δij − Bij )Vj

e desde que Vi = Vj = 1,0 pu e Gij  Bij ,

Hij = −Bij

2 + X 2 ) é constante.
onde Bij = −Xij /(Rij ij
De maneira análoga,
Lij = Vi (Gij sin δij − Bij cos δij )

e com as aproximações anteriormente mencionadas,

Lij = −Bij

O método Desacoplado Rápido é formulado com base nestas aproximações. Dois sistemas
0 00
lineares independentes são resolvidos, cujas matrizes de coeficientes, denotadas B e B , são
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 145

calculadas desprezando-se a resistência das linhas de transmissão na determinação dos elementos


0
de B e utilizando-se as seguintes expressões
0 1 0
X 1
Hij ⇒ Bij = − Hii ⇒ Bii =
Xij Xij
jΩi

(4.26)
00 Xij 00
X 1
Lij ⇒ Bij = − 2 + X 2 ) = −Bij Lii ⇒ Bii = = −Bii
(Rij ij Xij
jΩi

Melhoramentos adicionais na convergência podem ser obtidos fazendo-se as seguintes sim-


plificações:
0
• Omissão na matriz B dos elementos que afetam as variações em ∆Q, isto é, capacitores
shunt e transformadores com comutação sob carga;
00
• Omissão na matriz B dos elementos que afetam as variações em ∆P, ou seja, transfor-
madores defasadores etc.

Algoritmo
0 00
As aproximações vistas na seção anterior resultam em matrizes B e B reais, simétricas esparsas
e constantes. Elas são constantes e portanto necessitam ser fatoradas apenas uma única vez no
processo iterativo. Os passos para a solução das equações da rede elétrica via método desacoplado
rápido são sumarizados a seguir.

1. Faça k = 0;

2. Calcule os desbalanços de potência ativa e reativa utilizando as Eqs. (4.19) e (4.20);

3. Verifique a convergência do processo iterativo: se

|Pesp
i − Pcalc
i | ≤ P (barras P V e P Q)
|Qesp
i − Qcalc
i | ≤ Q (barras P Q)

a convergência foi alcançada; caso contrário, prossiga ao próximo passo;


0 0
4. Determine a matriz B (Eq. (4.26) e resolva o sistema linear ∆P = B δ para obter ∆δ;

5. Atualize os valores de δ (k) = δ (k−1) + ∆δ;

6. Calcule os desbalanços de potência reativa utilizando a Eq. (4.20);


00 00
7. Faça k = k+1, determine a matriz B (Eq. (4.26) e resolva o sistema linear ∆Q = B ∆V
para obter ∆V;

8. Atualize os valores de V(k) = V(k−1) + ∆V;

9. Calcule as injeções de potência ativa e reativa nas barras. Para as barras P V , verifique
os limites de geração de potência reativa:

• se a geração de potência reativa da barra i está fora dos limites, fixar Qgi no limite
violado e converter a barra PV para barra PQ. A partir deste ponto a magnitude e
o ângulo da tensão na barra i são calculados através do processo iterativo;
146 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência

10. Retorne ao passo (2).


Apesar da aproximação da matriz Jacobiana, ao final do processo iterativo os desbalanços
de potência satisfazem à tolerância especificada. Portanto a solução obtida é tão precisa quanto
àquela obtida através do método de Newton-Raphson. A única diferença é que no método
desacoplado rápido o gradiente (que representa a inclinação das curvas representadas pelas
funções não lineares) das equações é mantido constante. Esta aproximação resulta numa taxa de
convergência mais lenta do que aquela do método de Newton-Raphson, porém isto é compensado
pelo menor esforço computacional por iteração.

Fluxo de Potência Linearizado


Uma solução do fluxo de potência utilizada freqüentemente em estudos onde não se requer
demasiada precisão da solução, é aquela baseada num modelo representado por um conjunto de
equações lineares. Para estabelecer este modelo, supõe-se que:
• as aberturas angulares das linhas de transmissão são pequenas, tal que

– cos δij ≈ 1, 0;
– sin δij ≈ δij (em radianos).

• a magnitude da tensão ao longo do sistema é igual a 1, 0 pu e portanto a malha QV não


é considerada;

• a relação X/R das linhas de transmissão é alta (Xij  Rij ), de forma que a resistência
série (e portanto as perdas de potência ativa) nas linhas de transmissão são desprezadas.
Com estas aproximações, o fluxo de potência ativa numa linha sem perda é dado por
δi − δj
Pij = (4.27)
Xij
e a injeção de potência na barra i é dada por
n
X n
X
Pi = Pij = (1/Xij )(δi − δj )
j=1 j=1

n
X n
X
Pi = − Bij δi + Bij δj
j=1 j=1
n
X n
X
Pi = −δi Bij + Bij δj
j=1 j=1

ou, em forma matricial,


P = Bδ (4.28)
onde os elementos da matriz B são dados por
n
X 1 1
Bii = Bij = − (4.29)
Xij Xij
j=1

A Eq. (4.28) considera todas as barras da rede elétrica e, desde que as perdas de potência
ativa nas linhas de transmissão são desprezadas, é possı́vel expressar a injeção de potência ativa
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 147

de uma barra como combinação linear das injeções de potência nas outras barras. Isto implica em
que a matriz B é singular e o sistema linear representado pela Eq. (4.28) não tem solução. Isto
também indica que o conjunto de equações lineares é redundante, de forma que se o ângulo de
uma barra for selecionado como referência, a equação correspondente pode ser excluı́da daquele
conjunto de equações. Utilizando este procedimento, obtém-se um novo sistema linear dado por
0
P=Bδ (4.30)
0
onde B é resultante da eliminação da linha e da coluna correspondentes a barra de referência
na matriz B.
Desprezando-se as resistência das linhas de transmissão do sistema mostrado na figura 4.7,
a matriz de coeficientes do sistema linear da Eq. (4.30) é expressa por
 
16, 67 −16, 67 0, 00 0, 00
 −16, 67 27, 77 −5, 55 −5, 55 
B= 
 0, 00 −5, 55 38, 88 −33, 33 
0, 00 −5, 55 −33, 33 38, 88

e o vetor das injeções de potência é dado por


   
P1 −80, 00
 P2   0, 00 
 P3  =  60, 00 MW
   

P4 20, 00

Eliminando-se a linha e a coluna correspondentes respectivamente à barra e ao ângulo de


referência, a solução do sistema linear fornece
   
δ1 −0, 1227
 δ2  =  −0, 0747  radianos
δ4 −0, 0055

e os fluxos nas linhas de transmissão, calculados com a Eq. (4.27), são dados por
   
P12 −0, 8000
 P23   −0, 4154 
 P24  =  −0, 3846 pu
   

P34 0, 1846

4.7 Ajustes e Controles


O cálculo do fluxo de potência é um dos importantes estudos requeridos na análise dos sistemas de
energia elétrica em regime permanente. Os resultados deste cálculo são utilizados nos estágios
de projeto, planejamento e operação dos sistemas de potência. O objetivo deste problema é
determinar a solução das equações da rede elétrica em regime permanente, de forma que:

• a demanda seja satisfeita;

• o perfil de tensão esteja dentro de limites pré-especificados;

• as linhas de transmissão e os equipamentos operem sem sobrecarga;


148 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência

Os programas de Fluxo de Potência convencional desenvolvidos para aplicações múltiplas


incluem a modelagem de dispositivos de controle automático, tais como transformadores com
comutação sob carga (tap variável), transformadores defasadores, transformadores com o tap fora
do valor nominal, intercâmbio de potência entre áreas, etc. Estes programas também consideram
os limites em variáveis tais como a geração de potência reativa, a magnitude das tensões nas
barras e os fluxos de potência nas linhas de transmissão. Alguns desses ajustes são efetuados
durante o processo iterativo, incluindo-se testes adicionais na lógica do programa. O processo
de correção também pode ser executado através da utilização de relações de sensibilidade entre
as variáveis do sistema elétrico, as quais fornecem informações quantitativas sobre o efeito da
variação das variáveis controladas (magnitude das tensões geradas, potências ativas geradas,
taps, etc) sobre as variáveis dependentes (em geral, magnitude das tensões nas barras de geração,
fluxos de potência, etc).
Para ilustrar como são feitos os ajustes de uma solução do fluxo de potência, considere o
sistema da figura 4.8, cujos dados são mostrados nas tabelas 4.4 e 4.5.

Pd1 + jQd1 Pd3 + jQd3

GS
1 4 1 : t34 3

T34

1 : t56

6 5 2
T56

GS
Pd6 + jQd6 Pd5 + jQd5 Pd2 + jQd2

Figura 4.8: Sistema de 6 barras - exemplo 4.7

Por ser a barra com maior capacidade de geração de potência ativa, a barra 1 foi selecionada
como barra de folga do sistema. A demanda total de potência ativa é 135 MW, os quais devem
ser supridos pelos geradores das barras 1 e 2. Visando manter uma certa margem (reserva)
com relação ao limite máximo de geração, a potência gerada na barra 2 foi especificada em
50 MW. A magnitude da tensão nas barras 1 e 2 foi especificada em 1,0 pu. As reatâncias
dos elementos de transmissão conectando as barras 3-4 e 5-6 correspondem a transformadores
com tap variável, cuja finalidade é controlar a magnitude da tensão nessas barras. A faixa de
variação da magnitude da tensão nas barras e dos taps é 0,90 a 1,10 pu, tendo sido ambos os taps
selecionados inicialmente em 1,0 pu. Com estas especificações, a solução do fluxo de potência
através do método de Newton-Raphson é mostrada na tabela 4.6.
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 149

Barra Tipo Pgmin PgM ax Qmin


g QM
g
ax Pd Qd Shunt
(MW) (MW) (Mvar) (Mvar) (MW) (Mvar) (Mvar)
1 folga 0.00 150.00 -20.00 40.00 0.00 0.00
2 PV 0.00 100.00 -20.00 40.00 0.00 0.00
3 PQ 55.00 13.00
4 PQ 0.00 0.00
5 PQ 30.00 18.00
6 PQ 50.00 5.00

Tabela 4.4: Sistema-exemplo de 6 barras - Dados das barras

De P ara R(%) X(%) Bsh (%)


1 4 8.00 37.00 3.00
1 6 12.30 51.80 4.20
2 3 72.30 105.0 0.00
2 5 28.20 64.00 0.00
3 4 0.00 13.30 0.00
4 6 9.70 40.70 3.00
5 6 0.00 30.00 0.00

Tabela 4.5: Dados das linhas de transmissão - sistema de 6 barras

Barra Tipo V δ Pg Qg Pd Qd
(V) graus MW Mvar MW Mvar
1 folga 1,000 0,0000 97,44 49,35 - -
2 PV 1,000 -3,87 50,0 21,15 - -
3 PQ 0,844 -15,27 - - 55,0 13,0
4 PQ 0,867 -11,20 - - 0,00 0,00
5 PQ 0,814 -14,69 - - 30,0 18,0
6 PQ 0,847 -14,16 - - 50,0 5,00

Tabela 4.6: Resultado do fluxo de potência - sistema de 6 barras

A análise da solução mostrada na tabela 4.6 indica que a magnitude da tensão nas barras
de carga está fora da faixa de variação permitida. As perdas totais de potência ativa nas linhas
de transmissão são de 12,44 MW, correspondendo a 8,44 % da geração total de potência ativa.
Os controles disponı́veis para corrigir este baixo nı́vel de tensão são os taps dos transformadores
e a magnitude da tensão gerada nas barras 1 e 2. Ajustando-se o tap do transformador T56
para 1,05 e a magnitude da tensão na barra 1 para 1,1, a nova solução do fluxo de potência é
apresentada na tabela 4.7.
150 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência

Barra Tipo V δ Pg Qg Pd Qd
(V) graus MW Mvar MW Mvar
1 folga 1,100 0,0000 96,14 63,29 - -
2 PV 1,000 -0,90 50,0 2,72 - -
3 PQ 0,921 -12,26 - - 55,0 13,0
4 PQ 0,951 -8,84 - - 0,00 0,00
5 PQ 0,896 -11,27 - - 30,0 18,0
6 PQ 0,921 -11,03 - - 50,0 5,00

Tabela 4.7: Solução ajustada do fluxo de potência - sistema de 6 barras

Na tabela 4.7, observa-se uma melhoria considerável no nı́vel da magnitude da tensão das
barras de carga, apesar de que ajustes adicionais precisam ser realizados para que a magnitude
da tensão de todas as barras se situe dentro da faixa recomendável. Nota-se ainda que com o
aumento no nı́vel de magnitude da tensão, as perdas de potência ativa nas linhas de transmissão
foram reduzidas a 11.1437 MW, o que corresponde a 7,62 % da geração total de potência ativa.

4.8 Exercı́cios
4.1 A tabela 4.8 apresenta os dados do sistema mostrado na figura 4.9. Os valores das
reatâncias estão na base 100 MVA e correspondentes tensões nominais. Um gerador e dois
compensadores sı́ncronos estão instalados respectivamente nas barras 1, 3 e 5.

Tabela 4.8: Dados das barras do problema 4.1


Barra Tipo V(pu) ang(0) Pd(MW) Qd(Mvar)
1 Vδ 1,000 0,00 0 0
2 PQ 0 0
3 PV 1,000 160 120
4 PQ 0 0
5 PV 1,000 80 -60

CS1

1 2 3 4 5
j0, 2pu j0, 04pu j0, 1pu

j0, 2pu

G1 j0, 2pu j0, 04pu j0, 1pu


j0, 2pu

230 kV 138 kV 69 kV
CS2

Figura 4.9: Diagrama unifilar do problema 4.1


R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 151

1. Utilize o modelo linear das equações do fluxo de potência e determine as injeções de


potência ativa em todas as barras e os fluxos de potência ativa no sistema de transmissão;

2. Use as equações não lineares do fluxo de potência e calcule:

• as injeções de potência ativa e reativa nas barras 1, 3 e 5;


• a magnitude da tensão nas barras 2 e 4;
• os fluxos de potência ativa e reativa nas linhas 2-3;

4.2 Uma linha de transmissão com perdas de potência ativa desprezı́veis, possui uma reatância
série de 0,03 pu(Ω) e susceptância capacitiva shunt total de 1,8 pu(S). Ela interliga um gerador
a uma carga de 5,0 + j2,0 pu(MVA). Foram instalados dois reatores iguais em paralelo, um em
cada extremidade da linha. Para manter a tensão na barra de carga em 1,0 pu(kV) é necessário
regular a tensão do gerador em 1,05 pu(kV). Mostre o balanço de potência deste sistema.

4.3 Para a rede de transmissão cujos dados são apresentados na tabela 4.9, determinar a
matriz admitância de barra em por unidade utilizando a análise nodal, adotando a base 100
MVA, 120kV.

Linha zser (Ω) yshunt (µS)


1−2 2, 88 + j8, 64 j416, 67
1−3 11, 52 + j34, 56 j347, 22
2−3 8, 64 + j25, 92 j277, 78
2−4 8, 64 + j25, 92 j277, 78
2−5 5, 76 + j17, 28 j208, 33
3−4 1, 44 + j4, 32 j138, 89
4−5 11, 52 + j34, 56 j347, 22

Tabela 4.9: Dados para o problema 4.3

4.4 Considere um sistema de potência de 4 barras, cujos dados são apresentados na tabela
4.10. Suponha que entre as barras 2 e 3 há um transformador com reatância de dispersão 0,75
pu(Ω) e tap ajustado em 0,98 no lado da barra 3.

Linha Zser Barra V δ Pg Pd Qg Qd


(pu) (pu) (graus) pu pu pu pu
1-2 j 1,00 1 1,02 00
1-4 j 1,25 2 1,05 1,20 0,50 0,5
3-4 j 1,00 3 0,00 0,00 0,00 0,00
- - 4 0,00 1,50 0,00 0,50

Tabela 4.10: Dados do sistema de 4 barras - problema 4.4


152 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência

1. Determine a matriz admitância de barra do sistema.

2. Estabeleça as equações dos desbalanços de potência a serem resolvidas via método de


Newton-Raphson em coordenadas polares.

3. Calcule os fluxos de potência entre as barras 2 e 3, considerando V2 = 1, 03∠00 pu e


V3 = 1, 00∠ − 100 pu.

4.5 Considere o sistema de três barras e três linhas de transmissão cujos dados (no sistema
por unidade) são mostrados na talela 4.11.

Barra Tipo P Q V δ Linha rser xser bshunt


1 Vδ - - 1, 0 0, 00 1−2 0, 10 1, 00 0, 01
2 PQ -0, 005 -0, 002 - - 1−3 0, 20 2, 00 0, 02
3 PV -0, 15 - 0, 98 - 2−3 0, 10 1, 00 0, 01

Tabela 4.11: Dados para o problema 4.5

1. determine a matriz Ybarra via análise nodal;

2. determine as equações da rede elétrica que modelam o problema de fluxo de potência;

3. calcule a solução do fluxo de potência utilizando o método de Newton-Raphson (utilize o


programa computacional de fluxo de potência);

4. calcule os fluxos de potência ativa e reativa e as perdas de potência ativa e reativa nas
linhas de transmissão;

5. se a barra de tensão controlada for convertida em barra de carga, com uma injeção de
potência reativa especificada em −0, 016 pu de Mvar, com a mesma injeção de potência
ativa, qual será a nova solução das equações da rede (utilize o programa computacional
de fluxo de potência)?

6. determine a solução das equações da rede através do método de fluxo de potência lineari-
zado e compare a mesma com aquela obtida para o modelo não linear da rede elétrica.

4.6 Considere o sistema da figura 4.10.

1. especifique o tipo de cada barra e mostre a lista de variáveis a serem calculadas diretamente
na solução do fluxo de potência;

2. estabeleça as equações relacionadas a potência reativa diretamente envolvidas no processo


iterativo da solução via Newton-Raphson;

3. mostre a estrutura de não-zeros da submatriz H da matriz Jacobiana, indicando as cor-


respondentes derivadas envolvidas;

4. comente sobre a possibilidade de selecionar a barra 4 como barra de folga;


R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 153

Pd1 + jQd1 Pd3 + jQd3

GS CS
1 4 1 : t34 3

T34

1 : t56

6 5 2
T56

GS
Pd6 + jQd6 Banco de Capacitores Pd2 + jQd2

Figura 4.10: Diagrama para o problema 4.6

5. comente sobre a possibilidade de classificar a barra 5 como barra P V .

4.7 Para o sistema da figura 4.11, adote 100 MVA como a base de potência, e suponha que
as impedâncias das linhas de transmissão estão expressas em pu numa base comum. Os dados
das barras são os seguintes: (barra 1, V1 = 1, 05∠00 pu), (barra 2, Potência ativa gerada = 25
MW, Potência ativa consumida = 50 MW, Potência reativa consumida = 25 Mvar, Magnitude
da tensão = 1,02 pu, limites de potência reativa: -10 e 30 Mvar), (barra 3, Potência ativa gerada
= 0,0 MW, Potência reativa gerada = 0,0 Mvar, Potência ativa consumida = 60 MW, Potência
reativa consumida = 30 MW). Determine as injeções de potência ativa e reativa envolvidas no
modelo não linear do fluxo de potência.

4.8 Responda as seguintes questões:

1. Explique qual a diferença em termos de precisão numérica entre as soluções do fluxo de


potência obtidas pelos métodos de Gauss-Seidel e Newton-Raphson.

2. Comente, utilizando ilustração gráfica se necessário, sobre as formas como são obtidas as
convergências dos métodos Desacoplado Rápido e Newton-Raphson.

3. Comente sobre a razão da existência de múltiplas soluções para o problema de fluxo de


potência e sobre a possibilidade de utilização das mesmas.

4. Quais as funções da barra de folga na formulação do problema de fluxo de potência?

5. Considere uma barra com demandas de potência ativa e reativa nulas e onde esteja insta-
lado um Compensador Estático de potência reativa. Na formulação do problema de fluxo
de potência, esta barra pode ser classificada como uma barra PQ? Esta barra pode ser
classificada como uma barra PV?
154 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência

1 V1 2 V2
Sd2
Z12 = j0, 25 pu

Z13 = j0, 15 pu Z23 = j0, 25 pu

3 V3
Sd3

Figura 4.11: Diagrama para o problema 4.7

4.9 Uma concessionária dispõe de duas subestações de 130 kV supridas por uma barra de
geração através de um sistema de transmissão. A rede elétrica equivalente possui três barras e
três linhas de transmissão, com configuração em triângulo. As impedâncias série de cada linha e
os respectivos comprimentos são dadas na tabela 4.12, sendo desprezado o seu efeito capacitivo.
O resultado de um estudo de fluxo de potência, também mostrado na tabela 4.12, indicou a
necessidade de compensação reativa na barra 3 para manter a tensão nesta barra no nı́vel de
magnitude desejado (1,00 pu). Tomando como base trifásica 100 MVA e 130 kV,

1. determine a potência aparente suprida pelo gerador da barra 1;

2. determine a compensação reativa a ser instalada na barra 3;

3. determine a matriz admitância de barra do sistema;

4. calcule as perdas de potência ativa e reativa no sistema de transmissão;

5. mostre (e justifique) uma possı́vel classificação para as barras deste sistema, considerando
a instalação de um compensador sı́ncrono na barra 3 para a compensação desejada;

Linha zser Comprimento Barra V δ Pd Qd


(Ω/km) (km) (pu) (graus) pu pu
1-2 0,26+j0,52 13 1 1,000 0 0,00 0,00
1-3 0,26+j0,52 9,75 2 0,990 −1, 7401 0,900 0,300
2-3 0,26+j0,52 6,5 3 1,000 −1, 7412 0,600 0,200

Tabela 4.12: Dados do sistema de 3 barras - problema 4.9


R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 155

4.10 A tabela 4.13 mostra os dados de um sistema de três barras e o correspondente resultado
do fluxo de potência. Despreze o efeito capacitivo das linhas de transmissão e considere a
existência de um gerador na barra 1 e de um compensador sı́ncrono na barra 3.
1. determine a potência do compensador sı́ncrono instalado na barra 3;
2. determine a potência aparente gerada na barra de folga;
3. calcule as perdas de potência ativa e reativa do sistema de transmissão;
4. na formulação do problema de fluxo de potência, a barra 3 poderia ser classificada como
uma barra PV? Justifique a sua resposta;
5. determine a matriz admitância de barra deste sistema.

Linha Zser Barra V δ Pd Qd


(pu) (pu) (graus) pu pu
1-2 0,020 + j 0,040 1 1,000 0 0,00 0,00
1-3 0,015 +j 0,030 2 0,990 −1, 7401 0,900 0,300
2-3 0,010 +j 0,020 3 1,000 −1, 7412 0,600 0,200

Tabela 4.13: Dados do sistema de 3 barras - problema 4.10

4.11 Seja um sistema de potência de três barras, conectadas em anel através de três linhas de
transmissão de resistências desprezı́veis e reatâncias X12 = 0, 33 pu, X13 = 0, 50 pu e X23 = 0, 50
pu. As demandas de potência ativa nas barras 2 e 3 são respectivamente 0,5 pu(MW) e 1,0
pu(MW). Considerando a barra 1 como referência angular e utilizando o modelo de fluxo de
potência linearizado,
1. determine os fluxos de potência nas linhas de transmissão, supondo uma compensação
reativa série de 30 % na linha de transmissão;
2. calcule o valor da compensação reativa série que deve ser utilizada na linha 1-3, de modo
que o fluxo de potência ativa na linha 1-2 não ultrapasse 0,5 pu(MW);
3. calcule o valor da compensação reativa série que deve ser utilizada na linha 1-3, de modo
que o fluxo de potência ativa na linha 2-3 seja 0,5 pu(MW);
4.12 Considere um sistema de quatro barras, conectadas em anel por linhas de transmissão
com reatâncias X12 = X13 = X24 = X34 = 0, 01 pu (Ω). Suponha que unidades geradoras estão
instaladas nas barras 1 e 3 e que as cargas das barras 2, 3 e 4 são respectivamente Sd2 = 1,0 +
j0,0 pu(MVA), Sd3 = 0,25 + j0,0 pu(MVA) e Sd4 = 1,0 + j0,0 pu(MVA). Adotando a barra 1
como referência angular,
1. Determine a matriz admitância nodal e as equações do modelo de fluxo de potência line-
arizado.
2. Usando as equações não lineares do fluxo de potência, calcule as potências aparentes ge-
radas nas barras 1 e 3, supondo que as tensões complexas nessas barras são V1 = V3 =
1, 0∠00 pu.
3. Determine as perdas reativas nas linhas de transmissão para as condições do item anterior.
156 Capı́tulo 4: Fluxo de Potência
Capı́tulo 5

Análise de Curto Circuito

5.1 Introdução
Este capı́tulo apresenta a base teórica do estudo do curto-circuito em sistemas de energia elétrica.
Inicialmente, descreve-se o fundamento analı́tico da análise de faltas simétricas, ou seja, daque-
las cuja ocorrência não causa desbalanço entre as fases do sistema trifásico. Este tipo de curto
circuito envolve simultaneamente as três fases do sistema elétrico e a sua formulação analı́tica
é de grande auxı́lio para a compreensão do estudo de curto circuito. Posteriormente, enfoca-se
a análise do curto circuito desbalanceado. Para esta finalidade, utiliza-se o conceito de decom-
posição em componentes simétricos. Um dos principais aspectos enfocados é a análise do gerador
sı́ncrono operando em vazio submetido a faltas assimétricas, e a sua correlação com os circuitos
equivalentes de Thévenin das redes de seqüência. Isto forma a base do procedimento tradicional
do estudo de faltas em sistemas de potência.

5.2 Curto-Circuito em Sistemas de Potência


O estudo das faltas nas redes de energia elétrica visa determinar as correntes e tensões resultantes
da ocorrência de um curto circuito. Essas faltas podem ser de vários tipos, envolvendo um ou
mais elementos do sistema de potência, sendo geralmente classificadas em ordem decrescente de
freqüência de ocorrência. Nos sistemas de transmissão de Alta Tensão, esta ordem geralmente
é a seguinte:
1. falta fase-terra;

2. falta fase-fase;

3. falta fase-fase-terra;

4. falta trifásica.
As faltas podem ainda ser permanentes ou transitórias. As primeiras são irreversı́veis, de
tal modo que mesmo após a atuação da proteção o fornecimento de energia elétrica não é
restabelecido sem que sejam efetuados os devidos reparos na rede defeituosa. Esse tipo de falta
pode ocorrer, por exemplo, devido ao rompimento dos condutores. As faltas transitórias são
aquelas que ocorrem sem danos fı́sicos ao sistema de potência, e portanto a operação normal da
rede elétrica pode ser restabelecida sem maiores dificuldades após a atuação da proteção, cujo
estudo envolve basicamente:
158 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

• a calibração dos relés sensı́veis a falta, que comandam os equipamentos de proteção;

• a capacidade dos equipamentos que devem modificar o fluxo de corrente na linha com
defeito (disjuntores, religadores automáticos, chaves fusı́veis etc);

• a caracterı́stica desejável nos equipamentos (geradores, transformadores, barramentos) no


que diz respeito a suportar os esforços impostos durante o defeito.

Para se ajustar adequadamente os relés, determinar as caracterı́sticas de interrupção dos


disjuntores e estimar os esforços sobre os equipamentos do sistema é necessário calcular algumas
grandezas básicas para esta finalidade, tais como:

• a corrente de falta;

• as tensões pós-falta em todas as barras do sistema;

• as correntes pós-falta ao longo de toda a rede;

O texto a seguir descreve os fundamentos teóricos usados na análise de curto circuito.

5.3 Máquina Sı́ncrona sob Curto-Circuito Trifásico


A modelagem analı́tica da máquina sı́ncrona para a análise de faltas é feita com base no seu
comportamento sob condições de um curto circuito trifásico nos seus terminais. A figura 5.1
mostra o circuito monofásico equivalente de um gerador sı́ncrono operando em vazio, sujeito a
um curto circuito trifásico sólido.1

R L
i(t)

+
e(t) Chave fecha
em (t = 0)
-

Figura 5.1: Máquina sı́ncronas sujeita a um curto circuito trifásico

Quando a chave S fecha em t = 0, a corrente elétrica correspondente à tensão

e(t) = Vm sin(ωt + α)


Rt
 
Vm −
sin(ωt + α − θ) − sin(α − θ) exp L 
i(t) =
Z

√ ωL
onde Z = R2 + ω 2 L2 e θ = arctan( ).
R
1
O texto a seguir é baseado nas referências [1, 4, 5].
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 159

A corrente de curto circuito é expressa por

i(t) = iac (t) + icc (t)

Vm Vm Rt
onde iac (t) = sin(ωt + α − θ) e icc (t) = − sin(α − θ) exp− L são denominadas respectiva-
Z Z
mente componente alternada e componente contı́nua da corrente de curto circuito. Em geral a
componente contı́nua existe em t = 0 e sua magnitude pode ser tão grande quanto a da corrente
de regime permanente.

O valor da corrente de curto circuito i(t) depende do ângulo α, da onda de tensão. Como
o instante em que ocorre a falta não é previsto, α não é conhecido a priori. Além disso, desde
que as tensões trifásicas do gerador sı́ncrono estão defasadas de 1200 , cada fase terá um valor
diferente da componente de corrente contı́nua. Esta componente decresce rapidamente, em geral
dentro de 8 a 10 ciclos.

O valor da indutância L é suposto constante, apesar de que à rigor imediatamente após a


ocorrência da falta a reatância da máquina sı́ncrona varia com o tempo. Assim, costuma-se
representar o gerador sı́ncrono por uma tensão constante em série com uma impedância variante
no tempo, a qual consiste basicamente da reatância indutiva, desde que a resistência das bobinas
da armadura é muito menor em magnitude do que a reatância do eixo direto.

A forma da corrente de falta, que pode ser registrada por um oscilógrafo, representação na
qual freqüentemente a componente contı́nua da corrente é removida. Nesses registros, pode ser
verificado que a amplitude da forma senoidal decresce de um valor inicial alto até um valor de
regime permanente mais baixo. Observa-se que o fluxo magnético associado às correntes de curto
circuito na armadura (ou pela fmm resultante na armadura) inicialmente percorre os caminhos
de alta relutância que não enlaçam o enrolamento de campo ou os circuitos amortecedores
da máquina. Segundo o Teorema dos Fluxos de Dispersão Constante, o enlace de fluxo num
caminho fechado não pode variar instantaneamente. A indutância da armadura é inversamente
proporcional a relutância, e portanto seu valor é inicialmente baixo. Na medida em que o fluxo
percorre os caminhos de relutância mais baixa, a indutância da armadura aumenta.

Uma interpretação alternativa indica que o fluxo magnético através do entreferro da máquina
possui valor elevado no instante de tempo em que a falta ocorre, após o qual começa a decrescer.
Quando a falta ocorre nos terminais da máquina sı́ncrona, algum tempo é necessário até a
redução do fluxo através do entreferro. Desde que a tensão produzida pelo fluxo no entreferro
regula a corrente, enquanto o fluxo decresce a corrente da armadura também decresce.

A componente alternada da corrente de falta iac (t) pode ser modelada como a resposta de
um circuito RL série com indutância ou reatância variantes no tempo L(t) ou X(t) = ωL(t),
conforme mostra a figura 5.2.
160 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

Sub-transitório Transitório Regime Permanente

Figura 5.2: Curto circuito trifásico na máquina sı́ncrona - corrente e reatância da máquina
sı́ncrona

De acordo com o intervalo de tempo considerado, a reatância da máquina sı́ncrona é carac-


terizada da seguinte forma:
00
• a reatância subtransitória de eixo direto, denotada Xd , que predomina durante o primeiro
ciclo após a ocorrência da falta (até 0,05-0,10 segundos). Este valor inclui a reatância de
dispersão das bobinas do estator e do rotor do gerador, as influências dos enrolamentos
amortecedores e as partes sólidas consideradas na dispersão do rotor;
0
• a reatância transitória de eixo direto, denotada Xd , que predomina durante alguns ciclos
em 60 Hz (até 0,2-2,0 segundos). Este valor inclui a reatância de dispersão do estator e as
0 00 0 00
bobinas de excitação do gerador. Em geral Xd > Xd , ou Xd ≈ Xd (se os pólos do rotor
são laminados e não possuem enrolamentos amortecedores).
• a reatância sı́ncrona de eixo direto, denotada Xd , que predomina em regime permanente.
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 161

Este valor inclui a reatância de dispersão do estator e a reatância de reação da armadura


00 0
da máquina sı́ncrona, tal que Xd < Xd < Xd .

Apesar da sua variação inicial, valores constantes de reatância são utilizados nos diferentes tipos
00
de modelagem. Assim, a reatância subtransitória Xd é usada na análise de curto circuito, a
0
reatância transitória Xd é usada em estudos de estabilidade transitória e a reatância sı́ncrona
Xd é utilizada em estudos de regime permanente.

Na máquina de pólos salientes, o ı́ndice d se refere a uma posição do rotor em que o eixo das
bobinas do rotor coincide com o eixo das bobinas do estator, tal que o fluxo magnético passa
diretamente através da face polar, razão pela qual este eixo é denominado eixo direto. Por outro
lado, o eixo em quadratura está defasado 900 elétricos do eixo direto adjacente, sendo associado
00 0
às grandezas Xq , Xq e Xq . Porém, se a resistência da armadura é pequena as reatâncias do
eixo em quadratura não afetam significativamente a corrente de curto circuito e portanto não
são relevantes para o cálculo da corrente de falta. Nas máquinas de rotor cilı́ndrico, os valores
de Xd e Xq são aproximadamente iguais, e portanto não há necessidade da diferenciação. As

Curto circuito trifásico − corrente na fase "a" δ = 0°


15

10

5
ia, A

−5

−10

−15
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8
t, sec

Figura 5.3: Curto circuito trifásico na máquina sı́ncrona - corrente na fase a

figuras 5.3, 5.4 e 5.5 ilustram a variação da corrente nas fases de uma máquina sı́ncrona de pólos
salientes, com valores nominais 500 MVA, 30 kV, 60 Hz, sujeita a um curto circuito trifásico
sólido nos terminais da armadura (ver referência [6], página 327, para maiores detalhes sobre a
obtenção dessas curvas).
162 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

Curto circuito trifásico − corrente na fase "b" δ = 0°


25

20

15

ib, A
10

−5
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8
t, sec

Figura 5.4: Curto circuito trifásico na máquina sı́ncrona - corrente na fase b

Curto circuito trifásico − corrente na fase "c" δ = 0°


5

−5
ic, A

−10

−15

−20

−25
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8
t, sec

Figura 5.5: Curto circuito trifásico na máquina sı́ncrona - corrente na fase c

Observa-se nestas figuras, que a magnitude da corrente é alta no instante imediato após a
ocorrência da falta e tende a se manter constante após um determinado intervalo de tempo. Os
diferentes valores da reatância da máquina sı́ncrona durante o curto circuito trifásico são dados
por
00 Emax 0 Emax Emax
Xd = 00 Xd = 0 Xd =
Imax Imax Imax

onde Emax é a tensão máxima fase-neutro pré-falta do gerador.


R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 163

5.4 Curto-Circuito Trifásico


Na análise de curto circuito, supõe-se que antes da falta ocorrer o sistema está operando em
regime permanente equilibrado, tal que o fluxo de potência nas linhas de transmissão e as
tensões complexas nas barra são conhecidos. Se um curto-circuito trifásico ocorre na barra j,
a determinação das correntes que circulam na rede elétrica requer a definição das premissas
sumarizadas nas subseções a seguir.

Condição de operação pré-falta


À rigor, a condição de operação da rede elétrica antes da falta é representada pelas correntes e
tensões nodais obtidas na solução do problema de fluxo de potência. Porém, em funcionamento
normal as tensões são mantidas próximas ao seu valor nominal, de forma que as correntes pré-
falta são quase que puramente reais. Por outro lado, a variação da corrente nas linhas devida
a falta é predominantemente reativa. Assim, a corrente total, que é a expressa como a soma
vetorial de duas correntes (pré e pós-falta) defasadas de quase 900 , é praticamente igual à maior
dessas duas correntes. Isto equivale a ignorar as cargas e as admitâncias shunt e adotar as
seguintes hipóteses simplificadoras:

• as correntes pré-falta são nulas;

• as tensões pré-falta são todas iguais a 1∠00 pu (ou a um valor pré-especificado).

Representação da rede elétrica


Para determinar o circuito equivalente da rede antes da falta, deve-se inicialmente modelar
analiticamente cada componente do sistema, basicamente as linhas de transmissão, os geradores
e motores sı́ncronos e de indução, os transformadores e as cargas.
Em geral, a susceptância em derivação e a resistência série das linhas de transmissão são
desprezadas e portanto as linhas são representadas pelas sua reatância série equivalente (de
seqüência positiva).
Os geradores e motores sı́ncronos são representados por uma força eletromotriz interna cons-
tante em série com a reatância subtransitória, conforme ilustrado na figura 5.6. Geralmente,
a resistência da armadura, a saliência dos pólos e os efeitos de saturação são desprezados. Os
motores de indução de pequeno porte (potência menor do que 50 HP) não são considerados e
os de grande porte (potência maior do que 50 HP) são representados de forma semelhante a das
máquinas sı́ncronas.

Vi
00
Zgi = jXd

Vi +
Ef i
G -
Sgi = Pgi + jQgi

Figura 5.6: Representação das máquinas sı́ncronas


164 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

Os transformadores são representados pela sua reatância de dispersão, conforme mostrado na


figura 5.7. A resistência dos enrolamentos, as admitâncias shunt correspondentes aos parâmetros
transversais e os deslocamentos de fase ∆ − Y são desprezados.

jXt
Vi Vj

Figura 5.7: Representação dos transformadores

Geralmente todas as cargas não rotativas são desprezadas. Porém, cargas significativas
podem ser representadas por uma admitância em derivação, conforme mostrado na figura 5.8.

Vi Vi

Idi
Idi
Pdi − jQdi
Yd i =
Sdi = Pdi + jQdi Vi2

Figura 5.8: Representação das cargas

A simplificação resultante dessas suposições não é válida para todos os casos da análise de
faltas. Por exemplo, as linhas de distribuição primária e secundária possuem valor de resistência
série que pode reduzir significativamente a magnitude das correntes de falta e portanto não
devem ser desprezadas no cálculo das correntes de curto circuito.

Análise por Redução de Circuito


Para mostrar a análise de um curto circuito trifásico, considere o sistema mostrado na figura 5.9.
Antes da falta trifásica ocorrer, este sistema é suposto estar operando em regime permanente
equilibrado, sendo representado pelo circuito monofásico equivalente mostrado na figura 5.10.
As tensões complexas nas barras são V11 , V21 , V31 , V41 , V51 e V61 .
Suponha que ocorre um curto circuito trifásico sólido na barra 2, condição na qual a tensão
nesta barra se anula. Isto é representado analiticamente por duas fontes opostas e de mesma
magnitude conectadas em série, conforme mostra a figura 5.11. A magnitude da tensão em
ambas as fontes é V21 .
A solução do circuito elétrico mostrado na figura 5.11, para o cálculo da corrente de falta
pode ser obtida aplicando-se o Teorema da Superposição. Para isto, dois circuitos são resolvidos.
O primeiro, mostrado na figura 5.12, modela a condição pré-falta. A tensão na barra 2 é
representada por uma fonte de tensão independente indicada na figura 5.12. Este circuito fornece
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 165

1 T1 2 3 T2 4
G LT1 M

100 MVA LT2 LT3 100 MVA


23 kV 23 kV
100 MVA 100 MVA
23(∆)/230(Y) kV 23(∆)/230(Y) kV
5

100 MVA
T3
23(∆)/230(Y) kV

Figura 5.9: Sistema exemplo

1 2 3 4
jXLT1
jXg jXT1 jXT2 jXm
jXLT2 jXLT3

+ +

Eg Em
5
- -
jXT3

Figura 5.10: Circuito monofásico equivalente pré-falta

as correntes pré-falta Ig1 , IF1 e Im


1 . Desde que os circuitos apresentados nas figuras 5.10 e 5.12

são equivalentes, a fonte de tensão conectada entre a barra 2 e o nó de referência não exerce
nenhum efeito sobre o sistema em termos de corrente; isto é, a contribuição à corrente de falta
IF1 é nula. As tensões internas das máquinas Eg e Em , são consideradas constantes mesmo após
a ocorrência da falta.
O segundo circuito, mostrado na figura 5.13, fornece a resposta a quarta fonte de tensão, Ig2 ,
2
IF e Im 2 . Observe que sob o ponto de vista do cálculo da corrente de falta, este circuito pode

ser interpretado como o equivalente de Thévenin visto da barra onde ocorre a falta.
A corrente subtransitória de falta é simplesmente
IF = IF2
e as contribuições do gerador e do motor à corrente de falta são respectivamente
Ig = Ig1 + Ig2
1 2
Im = Im + Im
166 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

1 2 3 4
jXLT1
jXg jXT1 jXT2 jXm
jXLT2 jXLT3

+ +

Eg + Em
V21 5
- -
-
jXT3
-
V21
6
+

Figura 5.11: Representação da falta trifásica

1 2 3 4
jXLT1
jXg jXT1 jXT2 jXm
jXLT2 jXLT3

+ +
+
Eg Em
V21 IF1 5
- -

- jXT3

Figura 5.12: Circuito equivalente 1 - Teorema da Superposição

onde o cálculo de Ig1 e Im1 é baseado no circuito da figura 5.12, e para a determinação de I 2 e
g
2
Im é utilizado o circuito da figura 5.13.

Ex. 5.1 Considere o diagrama unifilar da figura 5.9. Suponha que o motor está operando sob
condições nominais, com fator de potência 0,8 atrasado. Os dados para a análise de faltas na
base 100 MVA e 23 kV na barra 1, são os seguintes:
• Gerador 1: Xg = 0,20 pu;
• Motor: Xm = 0,20 pu;
• Transformadores: Xt1 = Xt2 = Xt3 = 0,05 pu;
• Linhas de transmissão: Xlt1 = Xlt2 = Xlt3 = 0,10 pu.
Considere a ocorrência de uma falta trifásica sólida na barra 2. Calcule os valores no sistema
por unidade e em unidades reais,
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 167

1 2 3 4
jXLT1
jXg jXT1 jXT2 jXm
jXLT2 jXLT3

- jXT3
I2F
V21
6
+

Figura 5.13: Circuito equivalente 2 - Teorema da Superposição

• da corrente subtransitória de falta;

• das correntes subtransitórias do gerador e do motor, considerando as correntes pré-falta;


1 = V1 = 1, 0∠00
Condições pré-falta: o motor opera sob condições nominais, e portanto Vm 4
1 1 0 0
pu, Im = I34 = 1, 0∠ − 36, 86 pu e Sm = 1, 0∠36, 86 pu. As tensões pré-falta são:

V11 = I1m (Zt1 + Zeq 1 0


23 + Zt2 ) + V4 = 1, 108∠6, 91 pu
V21 = I1m (Zeq 1 0
23 + Zt2 ) + V4 = 1, 074∠4, 98 pu
V31 = I1m (Zt2 ) + V41 = 1, 030∠2, 220 pu

onde Zeq
23 representa as associações série-paralelo das imped[ancias das linhas de transmissão,
cujo valor é 0,0667 pu. As tensões V51 e V61 são iguais e valem 1, 052∠3, 630 pu.
A impedância equivalente vista do ponto onde ocorre a falta é (ver figura 5.13)

Zth = jXth = j0, 1397 pu

e a tensão pré-falta é V21 = 1, 074∠4, 980 pu.


A corrente de falta é portanto
V21
IF = = 7, 688∠ − 85, 010 pu.
Zth
Se as correntes pré-falta não são consideradas, as contribuições do gerador e do motor à
corrente de falta são, respectivamente,

I2g =4, 296∠ − 85, 010 pu


I2m =3, 391∠ − 85, 010 pu

As correntes pré-falta no gerador e no motor são iguais e valem I1g = I1m = 1, 0∠ − 36, 860
pu, tal que as contribuições do gerador e do motor à corrente de falta são respectivamente,

Ig = I1g + I2g = 5, 01∠ − 76, 480 pu


Im = I1m + I2m = 2, 82∠ − 100, 30 pu
168 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

Neste caso, a corrente de falta é


IF = 5, 01∠ − 76, 480 + 2, 82∠ − 100, 30 = 7, 688∠ − 85, 010 pu
Observa-se que as correntes pré-falta não afetam significativamente o valor da corrente de
curto circuito. Em geral essas correntes possuem valor reduzido e podem ser desprezadas no
cálculo das contribuições a corrente de falta de cada ramo.

Uso da Matriz Impedância de Barra


A operação em regime permanente é representada genericamente pela equação
Vbarra = Zbarra Ibarra (5.1)
onde Vbarra é o vetor das tensões complexas nas barras; Ibarra é o vetor das injeções de corrente
−1
nas barras; e Zbarra = Ybarra é uma matriz densa, cujos termos diagonais representam as
impedâncias dos circuitos equivalentes de Thévenin visto de cada barra.
De acordo com o Teorema da Superposição, as tensões pós-falta nas barras são dadas por
pf 1 2
Vbarra = Vbarra + Vbarra
1
onde Vbarra 2
é o vetor das tensões nodais pré-falta e Vbarra representa a modificação nas tensões
pré-falta resultante da falta trifásica. Em termos da Eq. 5.1,
pf
Vbarra = Zbarra I1barra + Zbarra I2barra (5.2)
onde, I1barra e I2barra são os vetores das injeções de corrente nas barras nas condições pré-falta e
pós-falta, respectivamente. A Eq. (5.2) pode ser re-escrita como,
Vpf = Vbarra
1
+ Zbarra I2barra (5.3)
Quando ocorre o curto circuito trifásico sólido na barra j, a tensão pós-falta nesta barra é
nula (ver o circuito da figura 5.11), porém a injeção de corrente é diferente de zero (ver o circuito
da figura 5.13); isto é,
Vjpf = 0
Vj1
I2Fj =
Zjj
onde −I2Fj é a injeção de corrente na barra j; Vj1 é a tensão pré-falta na barra j; e Zjj é o
elemento diagonal da matriz Zbarra correspondente a barra j.
Com relação ao circuito representado na figura 5.13, o segundo termo da Eq. (5.3) pode ser
00
visto como uma fonte que injeta uma corrente igual a −IF2 na barra 2 (segundo elemento do
vetor I2barra ), enquanto que todos os outros elementos do vetor das injeções de corrente I2barra )
são nulos. Ou seja, há injeção de corrente não nula apenas na barra onde ocorre a falta trifásica.
No caso do curto circuito trifásico na barra genérica j, o segundo termo da Eq. (5.3) é expresso
por,
 2    
V1 Z11 Z12 · · · Z1j · · · Z1n 0
 V2   Z21 Z22 · · · Z2j · · · Z2n   0 
 2  
..   .. 
 
 ..   .. .. ..
··· ···  . 
2
 .   . . . .   
Vbarra =  V2  =  Zj1 Zj2 · · · Zjj · · · Zjn   −I2F  ← pos. j
  (5.4)
 j    j 
 ..   .. .. ..  . 
 .   . . ··· .   .. 
Vn2 Zn1 Zn2 · · · Znj · · · Znn 0
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 169

e a variação da tensão em cada barra devida ao curto circuito na barra j é dada por,

−Z1j I2Fj
 2   
V1
 V2  
 2   −Z2j I2Fj 

 ..    .. 
 .   .

 2 = 
 V   −Zjj I  2
 j   Fj 
 ..   ..

 .   .


Vn2 −Znj I2Fj

ou seja, apenas a j-ésima coluna da matriz Zbarra é necessária para se calcular a variação da
magnitude da tensão em cada barra quando ocorre um curto circuito trifásico sólido na barra j.
Em termos genéricos, a queda de tensão induzida na barra k por efeito da corrente I2Fj é dada
por,  
2 Zkj
Zkj IFj = Vj1
Zjj
Se a corrente pré-falta é desprezada, a tensão pós-falta na barra k é dada por,
 
Zkj
Vkpf = 1 − Vj1 (5.5)
Zjj

A figura 5.14 mostra a representação do curto circuito trifásico na barra j, quando o mesmo
ocorre através de uma impedância de falta ZF .

Vj j

IFj
ZF

Figura 5.14: Representação da falta na barra j

Neste caso, a tensão pós-falta é dada por,

Vjpf = Vj1 + Vj2


= ZF I2Fj

e
Vj1
I2Fj =
(ZF + Zjj )
tal que,
−Zkj
Vk2 = V1 k = 1, 2, . . . , n
(ZF + Zjj ) j
170 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

e, desde que
Vkpf = Vk1 + Vk2
então
Zkj
Vkpf = Vk1 − V1
(ZF + Zjj ) k
ou seja,  
Zkj
Vkpf = 1− Vj1
ZF + Zjj
e, no caso particular da barra j,
 
ZF
Vkpf = Vj1
ZF + Zjj

Após o cálculo da tensão pós-falta em cada barra, é possı́vel determinar a corrente pós-falta
em todos os componentes da rede elétrica. Por exemplo, a corrente na linha de transmissão que
interliga as barras i e j é dada por
 
Vipf − Vjpf
Ipf
ij =
Zserij

onde Zserij é a impedância série da linha de transmissão.

Capacidade de Curto-Circuito
Considere a seção genérica de um sistema de potência mostrada na figura 5.15, e suponha que em
um dado instante ocorre um curto-circuito trifásico sólido na barra k. A corrente subtransitória

Gi Gj

i j
00 00
IFik IFjk

Dk1 Dk2
k

Carga

Figura 5.15: Seção genérica de um sistema de potência

de falta é dada por


Vk1
IFk =
Zkk
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 171

A magnitude da tensão nesta barra, que antes da falta era Vk1 pu, será reduzida instantane-
amente a zero. As barras i e j, contendo fontes ativas, imediatamente começarão a alimentar a
falta com as correntes IFik e IFjk , através das linhas i − k e j − k, respectivamente. A magnitude
dessas correntes depende do valor da impedância das respectivas linhas de transmissão, atingindo
geralmente valores superiores aos valores nominais da corrente de operação. Os disjuntores Dk1
e Dk2 são controlados pelos respectivos relés para isolar a barra sujeita à falta. A magnitude da
tensão em todas as barras da rede será reduzida durante a ocorrência do curto-circuito. O valor
dessa queda de tensão é uma indicação da força da barra. Quanto menos for reduzida a tensão
quando ocorrer um curto-circuito em outra barra, mais forte é a barra considerada. A medida
dessa força é feita através da grandeza denominada Capacidade de Curto Circuito (CCC), a
qual é usada na especificação dos disjuntores e definida como o produto da tensão antes da falta
(Vk1 ) pela corrente de falta (IFk ), quando o curto circuito ocorre na barra k, ou seja,

CCC = Vk1 IFk pu(MVA)

Desde que em geral Vk1 = 1, 0 pu, então

CCC = IFk pu(MVA)

tal que no caso do curto-circuito sólido

Vk1
IFk =
Zjj
e
1
CCC =
Zjj

Ex. 5.2 Considere o sistema do exemplo 5.1, onde a tensão pré-falta na barra 2 é 1, 074∠4, 980
pu. As matrizes admitância e impedância de barra são respectivamente

−25, 00 +20, 00
 
0, 00 0, 00 0, 00 0, 00
 20, 00 −40, 00 10, 00 0, 00 10, 00 0, 00 
 
 0, 00 +10, 00 −40, 00 20, 00 10, 00 0, 00 
Ybarra =  
 
 0, 00 0, 00 20, 00 −25, 00 0, 00 0, 00 

 0, 00 10, 00 10, 00 0, 00 −40, 00 20, 00 
0, 00 0, 00 0, 00 0, 00 20, 00 −20, 00
 
0, 1294 0, 1118 0, 0882 0, 0706 0, 1000 0, 1000

 0, 1118 0, 1397 0, 1103 0, 0882 0, 1250 0, 1250 

 0, 0882 0, 1103 0, 1397 0, 1118 0, 1250 0, 1250 
Zbarra =  

 0, 0706 0, 0882 0, 1118 0, 1294 0, 1000 0, 1000 

 0, 1000 0, 1250 0, 1250 0, 1000 0, 1750 0, 1750 
0, 1000 0, 1250 0, 1250 0, 1000 0, 1750 0, 2250
A corrente subtransitória de falta é dada por

V21
IF = = 7, 688∠ − 85, 010 pu
Z22
a as tensões nas barras são dadas por,

Vpf = Vbarra
1
+ Zbarra I2barra
172 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

onde,

1, 108∠6, 910
 
 1, 074∠4, 980 
1, 030∠2, 220
 
1
 
Vbarra = 

 1, 000∠00 

 1, 052∠3, 630 
1, 052∠3, 630

e a variação na tensão pré-falta é,

  
0, 1294 0, 1118 0, 0882 0, 0706 0, 1000 0, 1000 0

 0, 1118 0, 1397 0, 1103 0, 0882 0, 1250 0, 1250 
 −7, 688∠ − 85, 010 

0, 0882 0, 1103 0, 1397 0, 1118 0, 1250 0, 1250 0
Zbarra I2barra
  
=   

 0, 0706 0, 0882 0, 1118 0, 1294 0, 1000 0, 1000 
 0 

 0, 1000 0, 1250 0, 1250 0, 1000 0, 1750 0, 1750  0 
0, 1000 0, 1250 0, 1250 0, 1000 0, 1750 0, 2250 0

tal que,

0, 251∠13, 510
 
 0, 0 
0.188∠ − 10, 300
 
Vpf
 
= 

 0.329∠ − 10, 300 

 0.094∠ − 10, 300 
0.094∠ − 10, 300

A contribuição dos componentes do sistema à corrente subtransitória de falta é dada por

V1pf − V2pf
I12 = = 5, 01∠ − 76, 480 pu
j0.050
V2pf − V3pf
I23 = = 1, 88∠79, 690 pu (LT1 )
j0.067
V2pf − V5pf
I25 = = 0, 94∠79, 690 pu (LT2 )
j0.100
V3pf − V4pf
I34 = = 2, 82∠79, 690 pu
j0.050

e as contribuições do gerador e do motor à corrente subtransitória de falta são,

Ig = I12
Im = −I34

1
Desprezando as correntes pré-falta, e considerando as tensões pré-falta Vbarra mostradas
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 173

anteriormente, as correntes de falta trifásica solida em cada barra são,


1, 108∠6, 910
 
= 8, 5622∠ − 83, 08  0

 0, 1294 
 1, 074∠4, 98 0 
 = 7, 6880∠ − 85, 01  0

 0, 1397 

 1, 030∠2, 220 
 = 7, 3782∠ − 87, 77 0 
IF = 

 0, 1397 
 pu(A)
1, 000∠0 0 
0
 0, 1294 = 7, 7273∠ − 90
 

 1, 052∠3, 630
 

 = 6, 0121∠ − 86, 36 0 
 0, 1750 
 1, 052∠3, 630
 
0

= 4, 6761∠ − 86, 36
0, 2250
e a correspondente Capacidade de Curto Circuito é dada por
1, 108 × 8, 5622 = 9, 4874
 
 1, 074 × 7, 6880 = 8, 2574 
 
 1, 030 × 7, 3782 = 7, 6053 
CCC =    pu(MVA)
 1, 000 × 7, 7273 = 7, 7273 

 1, 052 × 6, 0121 = 6, 3254 
1, 052 × 4, 6761 = 4, 9198
o que indica a barra 1 como a mais robusta com relação a um curto circuito trifásico sólido.

5.5 Componentes Simétricos


Quando um sistema de potência opera sob condições desequilibradas (por ocorrência de faltas
ou suprimento de cargas assimétricas) as correntes e tensões são desbalanceadas. Neste caso, a
aplicação de métodos convencionais para a determinação da solução desses circuitos, baseados no
uso direto da análise de malhas ou de nós, resulta num aumento de complexidade do problema.
Entretanto as dificuldades encontradas neste tipo de análise podem ser superadas utilizando-se
a Decomposição em Componentes Simétricas, proposta por C. L. Fortescue em 1918.
Segundo o Teorema de Fortescue, três fasores desequilibrados podem ser decompostos em
três sistemas de fasores equilibrados, caracterizados da seguinte forma:
• componentes de seqüência positiva, representados por um sistema de três fasores de mesmo
módulo, defasados de 1200 entre si e com a mesma seqüência de fase dos fasores originais.
• componentes de seqüência negativa, representados por um sistema de três fasores de mesmo
módulo, defasados de 1200 entre si e com seqüência de fase oposta à dos fasores originais.
• componentes de seqüência zero, representados por três fasores iguais (isto é, de mesmo
módulo e mesmo ângulo).
A figura 5.16 mostra a representação dos três sistemas de componentes simétricas.
O fasor original é definido como a soma dos componentes correspondentes em cada sistema.
As correntes trifásicas de linha são expressas por
Ia = Ia0 + Ia1 + Ia2
Ib = Ib0 + Ib1 + Ib2 (5.6)
Ic = Ic0 + Ic1 + Ic2
174 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

Vc1

Vc0
Vc2 Vb2
Va0
Va1
Vb0

Va2

Vb1

Seqüência positiva Seqüência negativa Seqüência zero

Vb2 Vc

Vb
Va1 Vc1
Vb0
Va Vc0
Va0 Vc2
Va2 Vb1

fase a fase b fase c

Sistema desbalanceado

Figura 5.16: Representação dos componentes simétricos

onde os fasores Ia , Ib e Ic pertencem ao domı́nio de fase e os fasores Ia0 , Ia1 , Ia2 , Ib0 , Ib1 , Ib2 ,
Ic0 , Ic1 e Ic2 pertencem ao domı́nio de seqüência. Observe que conhecendo-se as componentes
de seqüência de uma fase, as componentes de seqüência das outras fases são automaticamente
determinadas com base no Teorema de Fortescue.
Visando simplificar a Eq. (5.6), seja o operador a definido como
a = 1∠1200
= cos 1200 + j sin 1200

1 3
= − +j
2 2
o qual aplicado a um fasor gira o mesmo de 1200 sem alterar o seu módulo. As componentes de
seqüência podem ser expressas em função das grandezas correspondentes à fase a, tal que a Eq.
(5.6) é re-escrita como
Ia = Ia0 + Ia1 + Ia2
Ib = Ia0 + a2 Ia1 + aIa2 (5.7)
2
Ic = Ia0 + aIa1 + a Ia2
ou em forma matricial,     
Ia 1 1 1 Ia0
 Ib  =  1 a2 a   Ia1  (5.8)
Ic 1 a a2 Ia2
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 175

e na forma compacta,
If = AIs (5.9)
onde If e Is são vetores coluna de ordem 3 × 1, cujos componentes são os fasores corrente dos
domı́nios de fase e seqüência, respectivamente; e A é uma matriz de ordem 3 × 3 expressa por
 
1 1 1
A =  1 a2 a 
1 a a2

As Eqs. (5.8) e (5.9) podem ser re-escritas como


    
Ia0 1 1 1 Ia
1
 Ia1  =  1 a a2   Ib  (5.10)
3
Ia2 1 a2 a Ic
e
Is = A−1 If (5.11)
Portanto, A e A−1 são matrizes de transformação, que convertem respectivamente fasores
do domı́nio de seqüência para o domı́nio de fase e vice-versa.
No caso dos fasores tensão, as expressões correspondentes as Eqs. (5.8), (5.9), (5.10) e (5.11)
são     
Van 1 1 1 Va0
Vf = AVs ⇒  Vbn  =  1 a2 a   Va1  (5.12)
Vcn 1 a a 2 Va2
e     
Va0 1 1 1 Van
Vs = A−1 Vf ⇒  Va1  = 1  1 a a2   Vbn  (5.13)
3
Va2 1 a2 a Vcn
onde as componentes de seqüência das Eqs. (5.12) e (5.13) referem-se aos fasores tensão fase-
neutro. Observe que expressões semelhantes a essas equações podem ser escritas para os fasores
tensão de linha (fase-fase), utilizando as mesmas matrizes de transformação.

Ex. 5.3 Calcular os componentes simétricos:

1. das tensões trifásicas fase-neutro de magnitude 380 V, tomando o fasor Van como re-
ferência e seqüência de fases positiva;

2. das correntes de linha trifásicas de magnitude 15 A, tomando o fasor Ia como referência


e seqüência de fases positiva;

3. das correntes fasoriais de linha Ia = 10∠300 , Ib = 15∠1500 e Ic = 10∠ − 1200 .

5.6 Representação no Domı́nio de Seqüência


Os modelos dos principais componentes do sistema de potência utilizados para a aplicação da
decomposição em componentes simétricas são apresentados a seguir. O procedimento para
estabelecer estes modelos consiste basicamente em determinar as relações tensão-corrente que
representam analiticamente o componente no domı́nio de fase e converter essas grandezas para
o domı́nio de seqüência utilizando as Eqs. (5.8) e (5.12).
176 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

Cargas Estáticas
Seja uma carga constituı́da de três impedâncias Zy , conectadas em Y , aterrada através da
impedância Zn , conforme mostra a figura 5.17.
a
Ia

b
Ib
Za Zb

Zc
Zn
In
Ic
c

t - nó de terra

Figura 5.17: Carga conectada em Y -aterrado

Os fasores tensão de cada fase ao nó de terra são dados por


Vat = (Za + Zn )Ia + Zn Ib + Zn Ic
Vbt = Zn Ia + (Zb + Zn )Ib + Zn Ic (5.14)
Vct = Zn Ia + Zn Ib + (Zc + Zn )Ic
tal que, o re-arranjo dos termos resulta na seguinte equação matricial:
    
Vat (Za + Zn ) Zn Zn Ia
 Vbt  =  Zn (Zb + Zn ) Zn   Ib  (5.15)
Vct Zn Zn (Zc + Zn ) Ic
a qual é expressa na forma compacta como
V f = Zf I f (5.16)
onde o ı́ndice f indica que os componentes desta equação pertencem ao domı́nio de fase.
As tensões e correntes dos domı́nios de fase e seqüência são relacionadas por
Vf = AVs If = AIs
de forma que a Eq. (5.16) pode ser re-escrita como
V s = Zs I s
onde Vs e Is são vetores cujos termos são os componentes simétricos da tensão fase-terra e da
corrente de linha, e Zs = A−1 Zf A é a matriz impedância convertida ao domı́nio de seqüência,
a qual é dada por
Za + Zb + Zc + 9Zn Za + a2 Zb + aZc Za + aZb + a2 Zc
 
1
Zs =  Za + aZb + a2 Zc Za + Zb + Zc Za + a2 Zb + aZc  (5.17)
3 2 2
Za + a Zb + aZc Za + aZb + a Zc Za + Zb + Zc
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 177

e portanto

Za + a2 Zb + aZc Za + aZb + a2 Zc
    
Va0 Za + Zb + Zc + 9Zn Ia0
 Va1  = 1  Za + aZb + a2 Zc Za + Zb + Zc Za + a2 Zb + aZc   Ia1  (5.18)
3
Va2 Za + a2 Zb + aZc Za + aZb + a2 Zc Za + Zb + Zc Ia2

As Eqs. (5.15) e (5.18) representam analiticamente o sistema da figura 5.17 nos domı́nios de
fase e seqüência, respectivamente. Se a carga é balanceada,

Za = Zb = Zc = Zy

e a Eq. (5.18) é re-escrita como


    
Va0 Zy + 3Zn 0 0 Ia0
 Va1  =  0 Zy 0   Ia1  (5.19)
Va2 0 0 Zy Ia2

A Eq. (5.19) consiste de três equações desacopladas, que podem ser representadas em termos
de circuitos monofásicos de seqüência positiva, negativa e zero, conforme mostra a figura 5.17.

Zy Ia1 Zy Ia2 Zy Ia0

+ + +

Va1 Va2 3Zn Va0

- - -

Sequencia Positiva Sequencia Negativa Sequencia Zero

Figura 5.18: Circuitos de seqüência da carga conectada em Y-aterrado

No domı́nio de fase, a corrente que flui no neutro do sistema trifásico é dada por

In = Ia + Ib + Ic

e desde que

Ia1 + Ib1 + Ic1 = 0


Ia2 + Ib2 + Ic2 = 0

então
Ia + Ib + Ic = 3Ia0
e portanto
In = 3Ia0
As cargas conectadas em Y solidamente aterrado, Y sem aterramento e ∆ são casos parti-
culares da carga conectada em Y -aterrado. Nos dois primeiros casos, as impedâncias do neutro
178 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

valem respectivamente Zn = 0 e Zn = ∞. A carga em ∆ é equivalente a uma carga conectada


em Y sem aterramento, casos nos quais a soma fasorial das correntes de linha é zero; isto é,

Ia + Ib + Ic = 0

o que implica em
Ia0 = 0
Portanto, as correntes de seqüência zero existem apenas em sistemas trifásicos desequilibra-
dos e com neutro aterrado.

Impedâncias Série das Linhas de Transmissão


A figura 5.19 mostra uma linha de transmissão na qual apenas os parâmetros série (sem o efeito
das indutâncias mútuas) são considerados.

Zlt
a ā
Zlt
b b̄
Zlt
c c̄

Figura 5.19: Linha de transmissão

A queda de tensão no domı́nio de fase é dada por


      
Vaā Van − Vān Zlt 0 0 Ia
 Vbb̄  =  Vbn − Vb̄n  =  0 Zlt 0   Ib  (5.20)
Vcc̄ Vcn − Vc̄n 0 0 Zlt Ic

ou na forma compacta
Vf − Vf¯ = Zf If
De forma análoga ao caso da carga estática,

Vf = AVs
Vf¯ = AVs̄
If = AIs

tal que
Vs − Vs̄ = A−1 Zf AIs
e portanto     
Va0 − Vā0 Z0 0 0 Ia0
 Va1 − Vā1  =  0 Z1 0   Ia1  (5.21)
Va2 − Vā2 0 0 Z2 Ia2
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 179

onde Va0 , Vā0 , Va1 , Vā1 , Va2 e Vā2 são as componentes de seqüência das tensões complexas
na entrada e na saı́da da linha de transmissão, respectivamente; Z0 , Z1 e Z2 são as impedâncias
de seqüência da linha de transmissão (em geral fornecidas pelos fabricantes ou determinadas
através de ensaios apropriados), e Ia0 , Ia1 e Ia2 são as componentes de seqüência das correntes
de linha. As componentes da Eq. (5.21) são desacopladas e podem ser representadas pelos
circuitos da figura 5.20.

Ia1 Z1 Ia2 Z2 Ia0 Z0

+ + + + + +

Va1 Vā1 Va2 Vā2 Va0 Vā0

- - - - - -

Sequencia Positiva Sequencia Negativa Sequencia Zero

Figura 5.20: Circuitos de seqüência da linha de transmissão

A linha de transmissão é um componente estático do sistema de potência e portanto suas


impedâncias de seqüência positiva e negativa são iguais. É difı́cil determinar com precisão a
sua impedância de seqüência zero porque as correntes de seqüência zero podem retornar pelos
mais variados caminhos, tais como o cabo de cobertura, o aterramento, as torres da linha etc.
Além disso, a impedância da terra depende do tipo de solo, umidade e outros fatores, tal que no
cálculo desta impedância costuma-se se fazer hipóteses simplificadoras em relação à distribuição
das correntes. Por esta razão, o valor da impedância de seqüência zero é o parâmetro com menor
precisão em estudos de curto circuito, sendo recomendável obter esse parâmetro por meio de
ensaios de campo. Em primeira aproximação pode-se tomar Z0 = 3 a 3,5 Z1 .

Máquina Sı́ncronas
A figura 5.21 mostra um gerador sı́ncrono, com as bobinas da armadura conectadas em Y -
aterrado. Cada fase é composta por uma fonte de tensão independente, representando a tensão
interna do gerador Ef e a impedância da bobina da armadura Zg .
Neste caso, o fasor tensão da fase a ao nó de terra é dado por

Vat = −Zg Ia + Efa − Zn In

onde a corrente no neutro é expressa por

In = Ia + Ib + Ic

e portanto
Vat = −(Zg + Zn )Ia + Efa − Zn Ib − Zn Ic (5.22)
180 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

a
Ia
b
Zg Zg Ib
+ +
E fa E fb
- -

In +
E fc
Zn
-
Zg

Ic
t: nó de terra c

Figura 5.21: Gerador sı́ncrono com as bobinas da armadura conectadas em Y -aterrado.

Expressões semelhantes à Eq. (5.22) podem ser estabelecidas para as fases b e c, tal que a
seguinte equação matricial é obtida:
      
Vat (Zg + Zn ) Zn Zn Ia Ef a
 Vbt  = −  Zn (Zg + Zn ) Zn   Ib  +  E fb  (5.23)
Vct Zn Zn (Zg + Zn ) Ic E fc

a qual representa analiticamente o gerador sı́ncrono da figura 5.21 e pode ser expressa na forma
compacta no domı́nio de fase como

Vf = −Zf If + Ef (5.24)

Expressando as tensões e correntes da Eq. (5.24) no domı́nio de seqüência obtém-se


      
Va0 Zg0 + 3Zn 0 0 Ia0 0
 Va1  = −  0 Zg1 0   Ia1  +  Efa  (5.25)
Va2 0 0 Z g2 Ia2 0

onde Zg1 , Zg2 e Zg0 são as impedâncias se seqüência positiva, negativa e zero, respectivamente,
do gerador sı́ncrono. Essas impedâncias são determinadas em ensaios baseados na relação tensão-
corrente da máquina sı́ncrona. Por exemplo, a impedância de seqüência positiva é determinada
através do ensaio de curto circuito no gerador sı́ncrono. De maneira análoga, as impedâncias de
seqüência negativa e zero são determinadas submetendo-se este equipamento às tensões trifásicas
de seqüência negativa e zero, respectivamente. Esses valores são geralmente fornecidos pelos
fabricantes.
A Eq. (5.25) representa analiticamente o gerador sı́ncrono da figura 5.21 no domı́nio de
seqüência. É fácil observar que as equações correspondentes às componentes de seqüência posi-
tiva, negativa e zero são desacopladas, podendo cada uma ser representada por um circuito de
seqüência, conforme mostra a figura 5.22.
Observe que estes circuitos são simplificados, sendo desprezados os efeitos de saliência de
pólos, saturação e outros fenômenos transitórios mais complexos. Os circuitos de seqüência
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 181

Zg1 Ia1 Zg2 Ia2 Z g0 Ia0

+ + + +

E fa Va1 Va2 3Zn Va0

- - - -

Sequencia Positiva Sequencia Negativa Sequencia Zero

Figura 5.22: Circuitos de seqüência do gerador sı́ncrono

do motor sı́ncrono são semelhantes aos do gerador, exceto pelo sentido das componentes de
seqüência da corrente em cada circuito. No caso do motor de indução, desde que o enrolamento
de campo (rotor) destes equipamentos não é excitado por corrente contı́nua, a fonte independente
que representa a força eletromotriz interna é removida (substituı́da por uma impedância nula
ou curtocircuitada).

Ex. 5.4 Considere um sistema trifásico onde as seguintes três cargas conectadas em paralelo
são supridas por um a alimentador operando na tensão de 380 V:
• carga 1: conectada em ∆ e constituı́da por três impedâncias iguais a 24 + j18 Ω/f ase;

• carga 2: conectada em Y solidamente aterrado e constituı́da por três reatâncias capacitivas


iguais a 5 Ω/f ase;

• carga 3: conectada em Y aterrado por uma reatância indutiva igual a 2 Ω e constituı́da


por três impedâncias iguais a 12 + j9 Ω/f ase;
As impedâncias de seqüência da linha de transmissão que conecta a fonte à carga são iguais a
Z1 = Z2 = 0,087 + j0,996 Ω/fase, e Z0 = 0,25 + j2,88 Ω/fase.
1. determine os circuitos de seqüência que representam este sistema;

2. calcule os fasores corrente de linha que suprem cada carga;

3. as potências complexas absorvida pela carga total e fornecida pela fonte, a perda de
potência ativa e reativa no sistema de transmissão;

4. os fatores de potência com que operam a fonte e a carga;

5. o balanço de potência do sistema trifásico;

Transformadores
Um modelo simplificado consistindo apenas de uma reatância é adotado para representar o
transformador. Desde que os transformadores são equipamentos estáticos, a impedância de
dispersão não variará se a seqüência de fase for alterada. Por esta razão, a impedância de
seqüência positiva deste equipamento é igual à sua impedância de dispersão, a qual é obtida
através do ensaio de curto-circuito, isto é,

Z1 = Z2 = jXt
182 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

A impedância de seqüência zero dos transformadores depende da forma de conexão dos


enrolamentos (Y , Y aterrado ou ∆). Os diversos casos possı́veis de conexão são mostrados a
seguir.

Conexão Y − Y com aterramento em ambos os lados


Quando o neutro de ambos os lados do transformador está aterrado, há um caminho que permite
que as correntes de seqüência zero circulem nos dois lados do transformador. O circuito de
seqüência zero do transformador trifásico com conexão Y -aterrado/Y -aterrado é apresentado na
figura 5.23.
O transformador com conexão Y −Y solidamente aterrada nos dois lados é um caso particular
do anterior. A rede de seqüência zero correspondente a este tipo de conexão é a mesma da figura
5.23, com ZN = Zn = 0 e Z0 = Z1 = Z2 = jXt

3ZN Z0 3Zn

Figura 5.23: Transformador trifásico com conexão Y -aterrado/Y -aterrado - circuito de


seqüência zero

Se o transformador trifásico possui conexão Y − Y sem aterramento, ZN = Zn = ∞, o que


pode ser interpretado como um circuito aberto substituindo as impedâncias de aterramento.
Neste caso, a inexistência de aterramento impede que as correntes de seqüência zero circulem
no transformador.
No caso da conexão Y -solidamente aterrado / Y -sem aterramento, ZN = 0 e Zn = ∞, ou
seja, há um circuito aberto entre as duas partes do sistema ligadas pelo transformador, o que
impede que as correntes de seqüência zero circulem em qualquer seção do transformador.
Se o transformador trifásico possui conexão Y -aterrado - ∆, as correntes de seqüência zero
tem um caminho que as possibilita fluir para a terra, pois as correntes induzidas correspondentes
podem circular na conexão ∆. Entretanto, nenhuma corrente de seqüência zero sairá pelos
terminais do secundário e portanto não haverá circulação de correntes de seqüência zero nas
linhas conectadas a ligação ∆. Por esta razão, o circuito equivalente inclui um caminho a partir
da linha do lado Y até a barra de referência. Assim, nenhuma corrente de seqüência zero é
injetada nos terminais da conexão ∆. O circuito de seqüência zero correspondente a este tipo
de conexão inclui um circuito aberto no lado da conexão ∆. Estas considerações são modeladas
na rede de seqüência zero apresentada na figura 5.24.
Os transformadores trifásicos com conexões Y -solidamente aterrado / ∆ e Y não aterrado /
∆ são casos particulares da conexão Y aterrado / ∆ com ZN = 0 e ZN = ∞, respectivamente.
No caso do transformador trifásico com conexão ∆ / ∆, não existe caminho de retorno para
as correntes de seqüência zero e portanto elas não podem circular fora do transformador, embora
possam circular internamente nos enrolamentos da conexão ∆. A figura 5.25 mostra o circuito
de seqüência zero deste tipo de transformador.
Se o transformador trifásico possui três enrolamentos por fase, o circuito equivalente de
seqüência zero é obtido combinando-se os modelos anteriores. Por exemplo, se o primário está
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 183

3ZN Z0

Figura 5.24: Transformador trifásico com conexão Y aterrado / ∆ - circuito de seqüência


zero

Z0

Figura 5.25: Transformador trifásico com conexão ∆ / ∆ - circuito de seqüência zero

conectado em Y solidamente aterrado, o secundário em Y solidamente aterrado e o terciário em


∆, o circuito de seqüência zero é semelhante aquele apresentado na figura 5.26.

jXp jXs
P
S

T
jXt

Figura 5.26: Transformadores trifásicos de três enrolamentos com conexão Y aterrado/∆


/Y aterrado - circuito de seqüência zero

As redes de seqüência são circuitos monofásicos determinados com os componentes de um


mesmo tipo de seqüência. Em termos de elemento passivo os componentes do sistema de potência
são caracterizados pelas suas respectivas impedâncias de seqüência positiva, negativa e zero.

5.7 Faltas Assimétricas num Gerador à Vazio


Redes elétricas podem ser reduzidas a um circuito equivalente de Thévenin visto de qual-
quer barra. Este conceito pode ser estendido para os sistemas formados pelos componentes
de seqüência, resultando em três circuitos equivalentes de Thévenin, correspondentes as redes
184 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

de seqüência positiva, negativa e zero. De acordo com a modelagem dos componentes dos sis-
temas de potência mostrada na seção 5.6, apenas as redes de seqüência positiva possuem fontes
independentes e portanto o correspondente circuito equivalente de Thévenin possui uma fonte
ativa, sendo os outros dois circuitos constituı́dos apenas de uma impedância equivalente. Assim,
esses circuitos se assemelham aos da figura 5.22, o que possibilita analisar as faltas assimétricas
a partir do gerador sı́ncrono. Para esta finalidade, o seguinte procedimento é adotado:

1. escrever as equações que modelam a condição de falta do gerador sı́ncrono no domı́nio de


fase;

2. converter essas equações ao domı́nio de seqüência através da matriz de transformação;

3. identificar o circuito de seqüência resultante da conversão das equações ao domı́nio de


seqüência;

Curto Circuito Trifásico

Va a

Ic
Vb b
Zy Zy
Ia

IN = 0
Ia + Ib + Ic
Zy ZN
Ib

Vc c

Figura 5.27: Representação do gerador sı́ncrono na falta trifásica

Este tipo de falta, ilustrado na figura 5.27, é caracterizado pelas seguintes equações:

Va = Vb = Vc = 0
Ia + Ib + Ic = 0
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 185

Em termos de componentes de seqüência:


    
Va0 1 1 1 Va
 Va1  = 1  1 a a2   Vb 
3
Va2 1 a2 a Vc

  
1 1 1 0
1
= 1 a a2   0 
3
1 a2 a 0
resultando
Va0 = Va1 = Va2 = 0 (5.26)
Por outro lado
    
Ia0 1 1 1 Ia
 Ia1  = 1  1 a a2   Ib 
3
Ia2 1 a2 a Ic

  
1 1 1 Ia
1
= 1 a a2   a2 Ia 
3
1 a2 a aIa
fornecendo
Ia 1 + a2 + a 
      
Ia0 0
 Ia1  = 1  Ia 1 + a3 + a3  =  Ia 
3
Ia 1 + a4 + a2

Ia2 0
e portanto
Ia0 = 0
Ia1 = Ia (5.27)
Ia2 = 0
De 5.26 e 5.27, observa-se que a condição estabelecida pela equação 5.26 implica em que
todas as redes de seqüência estão em curto, conforme representado na figura 5.28.

+ jX1 Ia1 + jX2 Ia2 + jX0 Ia0 +

Ea1 Va1 Va2 3ZN Va0

- - - -

Figura 5.28: Conexão dos circuitos de seqüência do gerador sı́ncrono na falta trifásica

Se o curto trifásico não envolve a terra, então as condições do defeito são ainda,
Va = Vb = Vc = 0
Ia + Ib + Ic = 0
186 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

Note que, desde que Ia0 = 0, o circuito de seqüência zero também pode ser deixado em
aberto.

Curto-Circuito Fase-Terra
Considere a figura 5.29, a qual representa um gerador sı́ncrono sujeito a um curto circuito sólido
fase-terra na fase a. As equações que modelam este tipo de curto circuito no domı́nio de fase

Va a

Ia
Vb b
Zy Zy
Ib
IF

Zy ZN
Ic
Vc c

Figura 5.29: Representação do gerador sı́ncrono na falta fase-terra

são,

Va = 0
Ib = Ic = 0

Em termos de componentes de seqüência,


    
Ia0 1 1 1 Ia
1
 Ia1  =  1 a a2   Ib 
3
Ia2 1 a2 a Ic

  
1 1 1 Ia
1
=  1 a a2   0 
3
1 a2 a 0

resultando    
Ia0 Ia
 Ia1  = 1  Ia 
3
Ia2 Ia
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 187

ou seja,
Ia0 = Ia1 = Ia2 (5.28)

tal que a corrente que flui para a terra é

IF = Ia = 3Ia0

Por outro lado,


Va = Va0 + Va1 + Va2 = 0 (5.29)

Para que as equações 5.28 e 5.29 sejam simultaneamente satisfeitas, as redes de seqüência
do gerador sı́ncrono devem ser conectados em série, conforme mostra a figura 5.30. As conexões

jX1 Ia1 jX2 Ia2 jX0 Ia0

+ + + +

Ea1 Va1 Va2 3ZN Va0

- - - -

Figura 5.30: Conexão dos circuitos de seqüência do gerador sı́ncrono na falta fase-terra

das redes de seqüência na forma apresentada na figura 5.30 constituem um modo conveniente de
estabelecer as equações para a solução do problema do curto-circuito fase-terra. Por exemplo,
pode-se calcular a componente de seqüência da corrente no circuito da figura 5.30 e então
determinar a corrente de falta IF = Ia = 3I0 . Se o neutro do gerador não estiver aterrado
ZN = ∞ e IF = 0, e portanto não circula corrente na linha a. Isto pode ser visto também pela
simples inspeção do circuito trifásico, pois não existe caminho de retorno para a corrente de
defeito, a menos que o neutro de gerador seja aterrado.

Curto-Circuito Fase-Fase

Este tipo de falta, ilustrado na figura 5.31, é caracterizado pelas seguintes equações no domı́nio
de fase:

Vb = Vc
Ia = 0
Ic = −Ib
188 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

Va a

Ia
Vb b
Zy Zy
Ib

IF = Ib = −Ic
IN = 0

Zy ZN
Ic

Vc c

Figura 5.31: Representação do gerador sı́ncrono na falta fase-fase

Em termos de componentes de seqüência:

    
Ia0 1 1 1 Ia
 Ia1  = 1  1 a a2   Ib 
3
Ia2 1 a2 a Ic

  
1 1 1 0
1
= 1 a a2   Ib 
3
1 a2 a −Ib

o que fornece
   
Ia0 (0 + Ib − Ib)
 Ia1  = 1  aIb − a2 Ib 
3
a2 Ib − aIb

Ia2

ou seja,
Ia0 = 0 (5.30)

e
Ia2 = −Ia1 (5.31)

conforme esperado pois o curto não envolve a terra.


R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 189

Por outro lado


    
Va0 1 1 1 Va
1
 Va1  =  1 a a2   Vb 
3
Va2 1 a2 a Vc

  
1 1 1 Va
1
=  1 a a2   Vb 
3
1 a2 a Vb

resultando    
Va0 (Va + Vb + Vb ) 
1
 Va1  =  Va + aVb + a2 Vb 
3
Va + aVb + a2 Vb

Va2
e portanto
Va1 = Va2 (5.32)
Do circuito de seqüência zero,

Va0 = − (jX0 + 3ZN ) Ia0

poré, desde que Ia0 = 0, então


Va0 = 0 (5.33)
O exame das equações 5.30, 5.31, 5.32 e 5.33 indica que para representar este tipo de falta
os modelos de seqüência positiva e negativa devem ser ligados em paralelo, conforme ilustra a
figura 5.32.

jX0 Ia0

+ jX1 Ia1 + jX2 Ia2 + +

Ea1 Va1 Va2 3ZN Va0

- - - -

Figura 5.32: Conexão dos circuitos de seqüência do gerador sı́ncrono na falta fase-fase

Curto-Circuito Fase-Fase-Terra
Este tipo de curto é representado na figura 5.33. e as condições que descrevem analiticamente a
falta fase-fase-terra no domı́nio de fase são

Vb = Vc = 0
Ia = 0
190 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

Va a

Ia
Va b
Zy Zy
Ib

IF = Ib + Ic
Zy ZN
Ic

Vc c

Figura 5.33: Representação do gerador sı́ncrono na falta fase-fase-terra

Em termos de componentes de seqüência,


    
Va0 1 1 1 Va
1
 Va1  =  1 a a2   Vb 
3
Va2 1 a2 a Vc

  
1 1 1 Va
1
=  1 a a2   0 
3
1 a2 a 0
resultando    
Va0 Va
 Va1  = 1  Va 
3
Va2 Va
ou seja,
Va
Va0 = Va1 = Va2 = (5.34)
3
e
Ia = Ia0 + Ia1 + Ia2 = 0 (5.35)
Para que as equações 5.34 e 5.35 sejam satisfeitas, as redes de seqüência do gerador sı́ncrono
devem ser ligadas em paralelo, conforme mostra a figura 5.27.
Observe-se que,
IF = Ib + Ic
porém,
Ia + Ib + Ic = 3Ia0
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 191

+ jX1 Ia1 + jX2 Ia2 + jX0 Ia0 +

Ea1 Va1 Va2 3ZN Va0

- - - -

Figura 5.34: Conexão dos circuitos de seqüência do gerador sı́ncrono na falta fase-fase-
terra

e desde que neste caso Ia = 0, então

IF = Ib + Ic = 3Ia0

5.8 Análise de Faltas Assimétricas


Para calcular as correntes de uma falta assimétrica numa rede elétrica aplica-se a mesma técnica
utilizada no estudo de faltas assimétricas em geradores sı́ncronos operando a vazio. No presente
caso, substitui-se cada rede de seqüência (positiva, negativa e zero) do sistema pelo respectivo
circuito equivalente de Thévenin, visto do ponto onde ocorre o defeito. As redes de seqüência
de um sistema de potência são determinadas acoplando-se adequadamente, segundo o diagrama
unifilar, as redes equivalentes de cada componente da rede elétrica.
O procedimento para o cálculo das correntes e tensões de curto circuito em sistemas de
potência pode ser resumido nos seguintes passos:

1. Considera-se que as tensões nas barras são iguais (em geral a 1,0 pu ou a um valor
fornecido) e despreza-se todas as correntes pré-falta nas linhas do sistemas.

2. Determina-se os circuitos de seqüência positiva, negativa e zero do sistema, conectando-se


os circuitos de seqüência de cada elemento do sistema de potência segundo o diagrama
unifilar.

3. Determina-se os circuitos equivalentes de Thévenin das redes de seqüência positiva, nega-


tiva e zero vistas do ponto do defeito. Observe que a tensão da fonte independente (no
circuito de seqüência positiva) é a tensão pré-falta referida no item 1. Por outro lado, a
impedância do equivalente de Thévenin pode ser calculada de duas formas:

• por redução de circuito;


• através da matriz impedância de barra.

4. Para se calcular a corrente que flui para o defeito utiliza-se um procedimento análogo
aquele adotado no caso de curto-circuito nos terminais de geradores sı́ncronos funcionando
a vazio; isto é, os circuitos equivalentes de Thévenin das redes de seqüência positiva,
negativa e zero são conectados de acordo com o tipo de falta.
192 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

5. As correntes nos elementos do sistema que fluem para o ponto do onde ocorre o curto
circuito são calculadas desprezando-se as cargas. Estas correntes são portanto devidas
exclusivamente a falta.

6. As tensões de fase e de linha em qualquer ponto da rede devidas exclusivamente ao defeito


são calculadas ã partir da corrente nos elementos do sistema.

7. Se a corrente pré-falta for considerada, as correntes pós-falta nas linhas são obtidas
aplicando-se o Teorema da Superposição.

8. Obtidas as correntes nas linhas pode-se então determinar a capacidade de interrupção dos
diversos disjuntores e os ajustes dos relés de proteção.

Ex. 5.5 Considere o sistema do exemplo 5.1, com os seguintes dados adicionais, adotando a
base de 100 MVA e 23 kV na barra 1:
• Gerador 1: X1 = X2 = 0, 20 pu, X0 = 0, 05 pu, Xn = 0;

• Motor: X1 = X2 = 0, 20 pu, X0 = 0, 05 pu, Xn = 0, 03 pu;

• Transformadores 1, 2 e 3: XT = 0, 05 pu;

• Linhas de transmissão 1, 2 e 3: X1 = X2 = 0, 10 pu, X0 = 0, 25 pu.


As conexões Y dos transformadores 1, 2 e 3 e do gerador 1 são solidamente aterradas. Despreze
as correntes pré-falta e suponha que o motor opera sob condições nominais.
1. Determine os circuitos de seqüência positiva, negativa e zero.

2. Calcule a corrente subtransitória de falta e as correntes e tensões ao longo do sistema (no


sistema por unidade e em unidades reais), nos seguintes casos:

• para um curto circuito fase-terra sólido, na fase a na barra 2;


• para um curto circuito fase-fase sem envolver a terra, nas fases b e c na barra 2;
• para um curto circuito fase-fase-terra sólido, nas fases b e c na barra 2;

• Os circuitos de sequência positiva, negativa e zer são mostrados nas figuras 5.35, 5.36 e
5.37.

1 2 1 3 4
jXLT 1

jXg1 jXT11 jXT12 1


jXm
1 1
jXLT2
jXLT3

+ +

Eg Em
5
- -
jXT13

Figura 5.35: Circuito de sequência positiva


R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 193

1 2 2 3 4
jXLT1

jXg2 jXT21 jXT22 2


jXm
2 2
jXLT2
jXLT3

jXT23

Figura 5.36: Circuito de sequência negativa

1 2 0 3 4
jXLT 1

jXg0 jXT01 jXT02 0


jXm
0 0
jXLT2
jXLT3

jXT03

Figura 5.37: Circuito de sequência zero

• As matrizes admitância de barra e impedância de barra de seqüência positiva são as se-


guintes:

−25, 00 +20, 00
 
0, 00 0, 00 0, 00 0, 00

 20, 00 −40, 00 10, 00 0, 00 10, 00 0, 00 

1
 0, 00 +10, 00 −40, 00 20, 00 10, 00 0, 00 
Ybarra =  

 0, 00 0, 00 20, 00 −25, 00 0, 00 0, 00 

 0, 00 10, 00 10, 00 0, 00 −40, 00 20, 00 
0, 00 0, 00 0, 00 0, 00 20, 00 −20, 00

 
0, 1294 0, 1118 0, 0882 0, 0706 0, 1000 0, 1000

 0, 1118 0, 1397 0, 1103 0, 0882 0, 1250 0, 1250 

0, 0882 0, 1103 0, 1397 0, 1118 0, 1250 0, 1250
Z1barra
 
=  

 0, 0706 0, 0882 0, 1118 0, 1294 0, 1000 0, 1000 

 0, 1000 0, 1250 0, 1250 0, 1000 0, 1750 0, 1750 
0, 1000 0, 1250 0, 1250 0, 1000 0, 1750 0, 2250

• As matrizes admitância de barra e impedância de barra de seqüência negativa são iguais


as de sequência positiva;
194 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

1 2 3 4
j0,20 pu j0,05 pu j0,083 pu j0,083 pu j0,05 pu j0,14 pu

G M
T1 T2
j0,083 pu

j0,05 pu T3

Figura 5.38: Circuito de sequência zero equivalente

• As matrizes admitância de barra e impedância de barra de seqüência zero são dadas por:

−20, 00
 
0, 00 0, 00 0, 00 0, 00 0, 00

 0, 00 −28, 00 4, 00 0, 00 4, 00 0, 00 

0
 0, 00 4, 00 −28, 00 0, 00 4, 00 0, 00 
Ybarra =  

 0, 00 0, 00 0, 00 −7, 14 0, 00 0, 00 

 0, 00 4, 00 4, 00 0, 00 −28, 00 0, 00 
0, 00 0, 00 0, 00 0, 00 0, 00 0, 00

0, 00 ∞
 
0, 05 0, 00 0, 00 0, 00

 0, 00 0, 0375 0, 0063 0, 00 0, 0062 ∞ 
0, 00 0, 0063 0, 0375 0, 00 0, 0062 ∞ 
Z0barra

=  

 0, 00 0, 00 0, 00 0, 14 0, 00 ∞ 

 0, 00 0, 0062 0, 0062 0, 00 0, 0375 ∞ 
∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞

1. Curto circuito fase-terra sólido;

– Corrente subtransitória de falta:

I0F = I1F = I2F

1, 00∠00
I0F =
j(0, 1397 + 0, 1397 + 0, 0375)

= −j3, 1556 pu

IaF
      
1 1 1 −j3, 1556 −j9, 4667
 Ib  =  1 a2 a   −j3, 1556  =  0, 0  pu
F
IFc 1 a a 2 −j3, 1556 0, 0

– Corrente nos elementos de transmissão:


R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 195

Com base nos circuitos de seqência das figuras 5.35, 5.36 e 5.38,
  
0 0 0, 15
I12 = IF = −j2, 3667 

0, 20

Ia12
    
−j5, 8931
  

0, 3167 
I112 = I1F = −j1, 7635  Ib12  =  −j0, 6032  pu
0, 5667
Ic12 −j0, 6032
  

2 2 0, 3167 

I12 = IF = −j1, 7635 

0, 5667

  
0 0 0, 05
I32 = IF = −j0, 7889 

0, 20

Ia32
    
−j3, 5731
  

0, 25 
I132 = I1F = −j1, 3921  Ib32  =  j0, 6032  pu
 5667 
0, 
 Ic32 j0, 6032
0, 25 

I232 = I2F = −j1, 3921 

0, 5667

– Tensões pós-falta via redução de circuitos:

V10 = 0
 a  
0, 2946∠00

 V1
V11 = 1, 00 − I112 (j0, 20) = 0, 6473  V1b  =  0, 8785∠ − 99, 650  pu
2 2
V1 = −I12 (j0, 20) = −0, 3527

V1c 0, 8785∠99, 650

V20 = −I012 (j0, 05) = −0, 1183


 a   
 V2 0
V21 = 1, 00 − I112 (j0, 25) = 0, 5591  V2b  =  0, 8840∠ − 101, 580  pu
2 2
V2 = −I12 (j0, 25) = −0, 4409

V2c 0, 8840∠101, 580
V30 = −I032 (0, 5)(j0, 05) = −0, 0197  V3a 0, 2842∠00
   

V31 = 1, 00 − I132 (j0, 25) = 0, 6520  V3b  =  0, 8829∠ − 101, 210  pu


2 2
V3 = −I32 (j0, 25) = −0, 3527

V3c 0, 8829∠101, 210
V40 = 0
 a   
 V4 0
V41 = 1, 00 − I132 (j0, 20) = 0, 7216  V4b  =  0, 8840∠ − 101, 580  pu
2 2
V4 = −I32 (j0, 20) = −0, 2784

V4c 0, 8840∠101, 580
V50 = −I032 (0, 5)(j0, 05) = −0, 0197

 a  
0, 1914∠00
 
1 1 1 0, 10  V5

V5 = V3 − I32 (j0, 10) = 0, 6056  V5b  =  0, 8750∠ − 98, 230  pu
0, 30
0, 10  Vc

0, 8750∠98, 230
V52 = V32 − I232 (j0, 10) = −0, 3944  5
0, 30
V60 = 0  V6a 0, 2111∠00
   

V61 = V51  V6b  =  0, 8724∠ − 96, 940  pu


2
V6 = V5 2 
V6c 0, 8724∠96, 940
– Tensões pós-falta via matriz Zbarra
Em cada circuito de seqência, as seguintes relações devem ser satisfeitas:
1 pf
Vbarra = Vbarra + Z1barra I1barra
2
Vbarra = Z2barra I2barra (5.36)
0
Vbarra = Z0barra I0barra
pf
onde Vbarra é o vetor das tensões nas barras na condição pré-falta. Note que
o circuito de sequência positiva é o único que possui fontes ativas. Os vetores
196 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

das injeções de corrente I1barra , I2barra e I0barra possuem apenas um elemento não
nulo, que são as componentes de sequência positiva, negativa e zero da corrente
de falta. Por exemplo, em sequência positiva,
 
  
 V11  0, 1294 0, 1118 0, 0882 0, 0706 0, 1000 0, 1000 0
 1   0, 1118 0, 1397 0, 1103 0, 0882 0, 1250 0, 1250   j3, 1556 
 V2    
 1   0, 0882 0, 1103 0, 1397 0, 1118 0, 1250 0, 1250   0 
 V  =   
 3   0, 0706 0, 0882 0, 1118 0, 1294 0, 1000 0, 1000   0 
 V1    
 4   0, 1000 0, 1250 0, 1250 0, 1000 0, 1750 0, 1750   0 
 V1 
5 0, 1000 0, 1250 0, 1250 0, 1000 0, 1750 0, 2250 0
V61
As componentes de sequência da tensão nas barras são portanto,

0
 V1s V2s V3s V4s V5s V6s
Vbarra
0 −0.1183 −0.0197 0 −0.0197 0

1
Vbarra
2 0.6473 0.5591 0.6520 0.7216 0.6056 0.6056
Vbarra

−0.3527 −0.4409 −0.3480 −0.2784 −0.3944 −0.3944
onde Vis denota os componentes de sequência da tensão na barra. Observe que
estes valores são os mesmos obtidos através da redução dos circuitos, e portanto
resultam nos mesmos componentes das tensões nas barras no domı́nio de fase.
– A corrente na impedância do neutro dos transformadores pode ser calculada com
auxı́lio do circuito de seqência zero, isto é,
V20
  
InT1 = 3


j0, 05

  
j7, 1000

0
  
V3

InT2 = 3 =  j1, 1833  pu
j0, 05
j1, 1833


V50
  

InT3 = 3



j0, 05
cuja soma resulta na mesma magnitude da corrente de curto circuito fase-terra
sólido na barra 2.
2. Curto circuito fase-fase-terra sólido;
– Corrente subtransitória de falta:
1, 00∠00
I1F =    = −j5, 9079 pu
0.1397 × 0.0375
j 0.1397 +
0.1397 + 0.0375

 
0.0375
I2F = −I1F = j1, 2503 pu
0.1397 + 0.0375

 
0.1397
I0F = −I1F = j4, 6577 pu
0.1397 + 0.0375

IaF
      
1 1 1 −j5, 9079 0
 Ib  =  1 a2 a   j1, 2503  =  9, 3403∠131, 580  pu
F
IcF 1 a a2 j4, 6577 9, 3403∠48, 410
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 197

Observe que IbF + IcF = j13, 9730 pu é a corrente que flui para a terra no ponto
onde ocorre o curto circuito fase-fase-terra.
– Corrente nos elementos de transmissão:
  
0, 15
I012 = I0F = j3, 4932


0, 20

 Ia12 0, 8903∠90, 00

   
  
0, 3167  Ib12  =  5, 9154∠125, 840  pu
I112 = I1F = −j3, 3016
0, 5667
Ic12 5, 9154∠54, 150
  

0, 3167 

I212 = I2F = j0, 6987 

0, 5667

  
0 0 0, 05
I32 = IF = j1, 1644


0, 20
  a  
0, 8903∠ − 90, 00
 
I32
  

0, 25 
 Ib32  =  3, 5047∠141, 280  pu
I132 = I1F = −j2, 6063
 0, 5667  
 Ic32 3, 5047∠ − 38, 710
2 2 0, 25 

I32 = IF = j0, 5516 

0, 5667

– Tensões pós-falta via redução de circuitos:


V10 = 0
 a  
0, 4794∠00

 V1
V11 = 1, 00 − I112 (j0, 20) = 0.3397  V1b  =  0, 2957∠ − 144, 150  pu
2 2
V1 = −I12 (j0, 20) = 0.1397

V1c 0, 2957∠144, 150

V20 = −I012 (j0, 05) = 0.1747


 a   
 V2 0, 5240
V21 = 1, 00 − I112 (j0, 25) = 0.1746  V2b  =  0  pu
2 2
V2 = −I12 (j0, 25) = 0.1747
 c
V2 0
V30 = −I032 (0, 5)(j0, 05) = 0.0291  V3a 0, 5154∠00
    

V31 = 1, 00 − I132 (j0, 25) = 0.3484  V3b  =  0, 2811∠ − 139, 570  pu


2 2
V3 = −I32 (j0, 25) = 0.1379

V3c 0, 2811∠139, 570
V40 = 0
 a   
 V4 0, 5890
V41 = 1, 00 − I132 (j0, 20) = 0.4787  V4b  =  0, 4342∠ − 132, 710  pu
V42 = −I232 (j0, 20) = 0.1103 V4c 0, 4342∠132, 710

V50 = −I032 (0, 5)(j0, 05) = 0.0291



 V5a
    
0, 10 0, 4469

1 1
V5 = V3 − I32 1 (j0, 10) = 0.2615

0, 30  V5b  =  0, 2016∠ − 153, 120  pu
0, 10 c 0, 2016∠153, 120
 V5

V52 = V32 − I232

(j0, 10) = 0.1563 
0, 30
V6 = 0  V6a
0 0, 4178∠00
   

V61 = V51  V6b  =  0, 2279∠ − 156, 430  pu


2
V6 = V5 2 
V6c 0, 2279∠156, 430
– Tensões pós-falta via matriz Zbarra
Com base nas Eqs. (5.36), as componentes de sequência da tensão nas barras
são portanto,

0
 V1s V2s V3s V4s V5s V6s
Vbarra
0 0.1747 0.0291 0 0.0291 0

1
Vbarra
2 0.3397 0.1746 0.3484 0.4787 0.2615 0.2615
Vbarra

0.1397 0.1747 0.1379 0.1103 0.1563 0.1563
onde as variáveis foram definidas anteriormente.
198 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

– A corrente na impedância do neutro dos transformadores pode ser calculada com


auxı́lio do circuito de sequência zero, isto é,

V20
  
InT1 = 3


j0, 05

  
−j10, 47

0
  
V3

InT2 = 3 =  −j1, 74  pu
j0, 05   −j1, 74
V50
 

InT3 = 3



j0, 05
onde InT1 + InT2 + InT3 = j13, 9730 pu é a corrente total que flui para a terra
no ponto onde ocorre a falta.

• Curto circuito fase-fase sem envolver a terra;

– Corrente subtransitória de falta:

1, 00∠00
I1F = = −j3, 5791 pu
j(0.1397 + 0.1397)

I2F = −I1F = j3, 5791 pu

I0F = 0

IaF
      
1 1 1 0 0
 Ib  =  1 a2 a   −j3, 5791  =  6, 1992∠1800  pu
F
IcF 1 a a2 j3, 5791 6, 1992∠00

– Corrente nos elementos de transmissão:



I012 = 0  
 Ia12
     
0, 3167 
 0
I112 = I1F = −j2, 0000  Ib12  =  3, 4644∠1800  pu
 0, 5667 
0, 3167 Ic12 3, 4644∠00


I212 = I2F = j2, 0000



0, 5667

I032 = 0  
 Ia32
     
1 1 0, 25 
 0
I32 = IF = −j1, 5789  Ib32  =  2, 7348∠1800  pu
 0, 5667 
0, 25 Ic32 2, 7348∠00


I232 = I2F = j1, 5789



0, 5667
– Tensões pós-falta via redução de circuitos:

V10 = 0 V1a 1, 0000∠00


   

V11 = 1, 00 − I112 (j0, 20) = 0, 6000  V1b  =  0, 5291∠ − 160, 890  pu
2 2
V1 = −I12 (j0, 20) = 0, 4000

V1c 0, 5291∠160, 890

V20 = 0 V2a 1, 0000∠00


   

1 1
V2 = 1, 00 − I12 (j0, 25) = 0, 5000  V2b  =  0, 5000∠179, 990  pu
2 2
V2 = −I12 (j0, 25) = 0.5000

V2c 0, 5000∠ − 179, 990
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 199

V30 = 0
 a  
1, 0000∠00

 V3
V31 = 1, 00 − I132 (j0, 25) = 0, 6052  V3b  =  0.5322∠ − 159.960  pu
2 2
V3 = −I32 (j0, 25) = 0, 3948

V3c 0.5322∠159.960
V40 = 0
 a  
1, 0000∠00

 V4
V41 = 1, 00 − I132 (j0, 20) = 0.6842  V4b  =  0.5931∠ − 147.450  pu
2 2
V4 = −I32 (j0, 20) = 0.3158

V4c 0.5931∠147.450
V50 = 0

 a  
1, 0000∠00
 
1 1 1 0, 10  V5

V5 = V3 − I32 (j0, 10) = 0.5526  V5b  =  0, 5082∠ − 169.670  pu
0, 30
0, 10  Vc

0, 5082∠169.670
V52 = V32 − I232 (j0, 10) = 0.4474  5
0, 30
V60 = 0
 a  
1, 0000∠00

 V6
V61 = V51 = 0.5526  V6b  =  0, 5082∠ − 169.670  pu
2 2
V6 = −V5 = 0.4474

V6c 0, 5082∠169.670
– Tensões pós-falta via matriz Zbarra
Com base nas Eqs. (5.36), as componentes de sequência da tensão nas barras são,

0
 V1s V2s V3s V4s V5s V6s
Vbarra
0 0 0 0 0 0

1
Vbarra
2 0.6000 0.5000 0.6052 0.6842 0.5526 0.5526
Vbarra

0.4000 0.5000 0.3948 0.3158 0.4474 0.4474

– A corrente na impedância do neutro dos transformadores é zero, pois a falta não


envolve a terra. As correntes que incidem no ponto onde ocorre a falta, ou seja, no
transformador T1 e nas linhas de transmissão LT1 e LT2 (no domı́nio de fase), são:
!  0

V1f − V2f
IT1 = =  −3, 4644  pu
j0, 05
3, 4644 
!  0
V3f − V2f
ILT1 = =  −1, 8233  pu
j0, 10
1, 8233 
!  0
f f
V5 − V2
ILT2 = =  −0, 9116  pu
j0, 10
0, 9116

tal que,  
0
IT1 + ILT1 + ILT2 =  6, 1992∠1800  pu
6, 1992∠00
que é a corrente de falta calculada anteriormente.

5.9 Exercı́cios
5.1 Considere o sistema trifásico cujo diagrama unifilar é mostrado na figura 5.39.
As tensões pré-falta são todas iguais a 1, 0∠00 pu. Tomando como base os valores nominais
do gerador 1,
200 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

Gerador 1 1 3
j0,76 Ω

50 MVA
13,8 kV
00
Xg1 = 0, 76Ω
j01,90 Ω

Gerador 2

30 MVA 2 j1,52 Ω
13,8 kV
00
Xg2 = 0, 95Ω

Figura 5.39: Diagrama unifilar - exercı́cio 5.1

• determinar o circuito equivalente no sistema em por unidade;

• determinar o equivalente de Thévenin visto da barra 2;

• determinar a matriz impedância de barra;

• calcular a corrente subtransitória de falta para um curto circuito trifásico sólido na barra
2 em pu e em Ampéres;

• determinar a tensão nas barras 1 e 3 sob as condições de falta em pu e em kV;

• determinar a corrente na linha 1-2 nessas condições em pu e em Ampéres;

• calcular a capacidade de curto circuito das barras 1,2 e 3 em pu e em MVA.

5.2 Uma fonte conectada em Y -solidamente aterrado opera com tensões fase-terra iguais a
Vat = 277∠00 V, Vbt = 260∠ − 1200 V e Vct = 295∠1150 V, suprindo uma carga trifásica
representada pela matriz de impedâncias
 
10 + j30 5 + j20 5 + j20
Zf =  5 + j20 10 + j30 5 + j20  Ω
5 + j20 5 + j20 10 + j30

1. Determinar os circuitos de seqüência do sistema trifásico.

2. Calcular os componentes simétricos da tensão fase-terra na entrada da linha de trans-


missão e na carga.

3. Calcular a corrente e a potência complexa nos circuitos de seqüência.


R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 201

4. Determinar as correntes de linha que suprem a carga e a potência complexa suprida a


carga trifásica.

5.3 Uma fase de um gerador trifásico opera em aberto enquanto as outras duas fases são
curto circuitadas à terra, circulando nas mesmas as correntes fasoriais Ib = 1000∠1500 A e
Ic = 1000∠300 A. Determinar os componentes simétricos destas correntes e a corrente que flui
através do neutro do gerador.

5.4 Dadas as tensões fase-terra Vat = 280∠00 V, Vbt = 250∠ − 1100 V e Vct = 290∠1300 V:

1. calcule as componentes de seqüência das tensões fase-terra;

2. calcule as tensões fasoriais de linha e os componentes de seqüência correspondentes;

3. verifique a relação entre as tensões de fase e de linha dos componentes de seqüência das
tensões.

5.5 As correntes fasoriais numa carga conectada em ∆ são: Iab = 10∠00 A, Ibc = 15∠ − 900
A e e Ica = 20∠900 A. Determine:

1. as componentes de seqüência das correntes nas fases da conexão ∆;

2. as correntes de linha que suprem a carga e suas correspondentes componentes de seqüência;

3. verifique a relação entre as correntes de fase e de linha dos componentes de seqüência das
correntes.

5.6 Num sistema trifásico, tensões fase-terra iguais a Vat = 280∠00 V, Vbt = 250∠ − 1100
V e Vct = 290∠1300 V suprem uma carga balanceada conectada em Y solidamente aterrado,
composta de impedâncias iguais a 12 + j16 Ω/fase. Determine os circuitos de seqüência do
sistema e calcule as correntes de linha e suas correspondentes componentes de seqüência.

5.7 Repita o problema anterior para os seguintes casos:

1. supondo que a fonte e a carga são conectadas por uma linha de transmissão de impedância
3 + j4 Ω/fase;

2. supondo que a conexão da carga é Y não aterrado;

3. supondo que a conexão da carga é ∆ consistindo de impedâncias de 12 + j16 Ω/fase;

4. supondo que a carga consiste de uma conexão Y composta de impedâncias de 3+j4 Ω/fase,
com neutro aterrado por uma reatância indutiva de 2 Ω. Considere que a carga é compen-
sada por um banco de capacitores conectado em ∆, composto de reatâncias de 30 Ω/fase.

5.8 Num sistema trifásico, um gerador sı́ncrono supre um motor através de uma linha de
transmissão com impedância 0.5∠800 Ω/fase. O motor absorve 5 kW, na tensão de 200 V, com
fator de potência 0,8 adiantado. As bobinas da armadura do gerador e do motor são conectadas
em Y aterrado, com impedâncias indutivas de 5 Ω. As impedâncias de seqüência das máquinas
são iguais a Z0 = j5, Z1 = j15 e Z2 = j10 Ω. Determine os circuitos de seqüência do sistema
trifásico e calcule as tensões de linha nos terminais do gerador. Considere o motor uma carga
balanceada.
202 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

5.9 Seja um gerador sı́ncrono de 30 MVA, 13,8 kV, reatância subtransitória de eixo direto igual
a 10% e reatâncias de seqüência negativa e zero iguais respectivamente a 13% e 4%. O neutro
do gerador é aterrado através de uma reatância de 0,2 Ω. O gerador está operando em vazio
com tensão nominal nos seus terminais. Determinar a corrente subtransitória (em Ampéres)
que passa pela reatância de aterramento do neutro, quando nos terminais do gerador ocorre um
curto-circuito sólido:
1. monofásico à terra;

2. bifásico sem envolver a terra;

3. bifásico à terra;

4. trifásico à terra.

5.10 Suponha que o o gerador do sistema cujo diagrama unificar é mostrado na figura 5.40,
opera com tensão nominal quando ocorre uma falta. Considere ainda que os transformadores
são do tipo núcleo envolvente e os dados do sistema são os seguintes:
00 00
• gerador: 25 MVA, 10 kV, X1 = X2 = 0,125 pu,X0 = 0,05 pu, X1 = 1,15 pu;

• transformador T1 : 30 MVA, 10 (Y) /20 (Y-solidamente aterrado) kV, X = 0,105 pu;

• linha de transmissão: Z1 = Z2 = 2 + j4 Ω, Z0 = 6 + j12 Ω;

• transformador T2 : 20 MVA, 5 (Y) /20 (∆) kV, X = 0,050 pu;

• carga: 10 MW, 5 Mvar, 5 kV.

Gerador Trafo. T1 LT Trafo. T2 Carga

Y/Y-sol. aterr. ∆/Y

Figura 5.40: Diagrama unifilar - exercı́cio 5.10

Adotando a base de 20 MVA e tensões nominais dos equipamentos, determinar:


• Os diagramas de seqüência positiva negativa e zero e as correntes pré-falta na linha de
transmissão (em ampères).

• A corrente que flui para o defeito e as correntes pós-falta na linha de transmissão (am
Ampères), se ocorre um curto circuito bifásico sólido (sem envolver a terra) na barra de
alta tensão do transformador T2 .

5.11 Seja o diagrama unifilar da figura 5.41.


Faça o estudo completo de um curto fase-terra no meio da linha de transmissão. Adote os
valores nominais do gerador como base. Os transformadores são bancos trifásicos de transfor-
madores monofásicos e os dados do sistema são os seguintes:
• gerador: 30 MVA, 13,8 kV, X1 = X2 = 15 %, X0 = 5 %, Y aterrado, Zn = j2 Ω;
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 203

1 2 3 4 M1
G

Zn
T1 LT T2 M2

Figura 5.41: Diagrama unifilar - exercı́cio 5.11

• transformador T1 : 35 MVA, 13,2(∆)/115(Y solidamente aterrado) kV, X = 10 %;

• linha de transmissão: X1 = X2 = 80 Ω, X0 = 250 Ω;

• transformador T2 : 35 MVA, 115 (Y solidamente aterrado)/13,2 (∆) kV, X = 10 %;

• motor M1 : 20 MVA, 12,5 kV, X1 = X2 = 20 %, X0 = 5 %, Y aterrado, Zn = j2 Ω;

• motor M2 : 10 MVA, 12,5 kV, X1 = X2 = 20 %, X0 = 5 %, Y sem aterramento;

• construir as redes de seqüência positiva, negativa e zero.

• Determinar os circuitos equivalentes de Thévenin das redes de seqüência para defeitos que
ocorram no meio da linha de transmissão.

• Desprezando as correntes de carga e considerando que antes do defeito o gerador trabalhava


com tensão nominal em seus terminais, determinar:

– a corrente que flui para a terra se ocorrer um curto-circuito sólido no meio da linha
de transmissão.
– a corrente que flui para a terra se ocorrer um curto-circuito fase-fase-terra sólido no
meio da linha de transmissão.
– as tensões pós-falta em cada caso.

5.12 Considere o sistema mostrado na figura 5.42. As impedâncias dos componentes são:

1 2
G1 T1 LT1 T2 G2

LT2

13,8 kV 69 kV 13,8 kV

Figura 5.42: Diagrama unifilar do problema 5.12

• Gerador G1 : X1 = 0, 15 pu, X2 = 0, 10 pu, X0 = 0, 05 pu;


204 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

• Gerador G2 : X1 = 0, 30 pu, X2 = 0, 20 pu, X0 = 0, 10 pu;

• Transformador T1 : X1 = X2 = X0 = 0, 10 pu;

• Transformador T2 : X1 = X2 = X0 = 0, 15 pu;

• Linha de transmissão LT1 : X1 = X2 = 0, 30 pu, X0 = 0, 60 pu;

• Linha de transmissão LT2 : X1 = X2 = 0, 30 pu, X0 = 0, 60 pu;

expressas na base 100 MVA, 13,8 kV nos geradores e 69 kV na linha de transmissão.


Supondo que a tensão pré-falta é 1,0 pu e que as correntes pré-falta são desprezadas, deter-
mine:

• os circuitos de seqüência positiva, negativa e zero.

• a matriz admitância de barra correspondente a cada circuito de seqüência.

• as correntes de falta (em pu e em Ampéres) no caso de:

– um curto circuito trifásico sólido na barra 1.


– um curto circuito fase-terra (fase a) na barra 1, com impedância de falta nula.

• Para o curto circuito fase-terra do item anterior, calcule (em pu e em Amperes):

– a corrente no neutro do gerador 1.


– a corrente no neutro do transformador 1.

5.13 Considere o sistema elétrico mostrado na figura 5.43, onde A, B, C, D e E representam


disjuntores.

3 G2
1 2 D
G1
A TR B C
LT

G3

Figura 5.43: Diagrama unifilar - exercı́cio 5.13

Os valores de placa dos equipamentos são os seguintes:


00 00
• gerador G1 : 100 MVA, 13,8 kV, Xg1 = Xg2 = 0,10 pu,Xg0 = 0,33 pu;
00 00
• geradores G2 e G3 : 100 MVA, 138 kV, Xg1 = Xg2 = 0,80 pu,Xg0 = 0,20 pu;
R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 205

• transformador: 100 MVA, 13,8 (∆) kV / 138 (Y -solidamente aterrado) kV, Xt = 0,10
pu;

• linha de transmissão: XLT1 = XLT2 = 0,25 pu, XLT0 = 0,50 pu;


Suponha que as correntes pré-falta são desprezadas e que a tensão pré-falta é 1,0 pu. Considere
ainda que as bobinas da armadura dos três geradores são conectadas em Y solidamente aterrado.
Determinar:
• os circuitos de seqüência positiva, negativa e zero;

• os circuitos equivalentes de Thévenin das redes de seqüência positiva, negativa e zero,


vistos da barra 1;

• as matrizes admitância de barra dos três circuitos de seqüência.

5.14 No sistema trifásico da figura 5.44, suponha que as correntes pré-falta são desprezı́veis
e que as barras operam na tensão nominal antes da ocorrência da falta. As duas linhas de

3 Trafo 2 4 Gerador 2
1 2
Gerador 1 Trafo 1 LT 1
5 Trafo 3 6
LT 2

Figura 5.44: Diagrama unifilar - exercı́cio 5.14

00
Componente Snom Vnom X
(MVA) (kV) (%)
Gerador 1 2000 13,8 (Y aterrado) 20
Gerador 2 2000 230 (Y aterrado) 20
Trafo 1 2200 13,8(∆):500(Y aterrado) 10
Trafo 2 500 500(Y aterrado):230(Y aterrado) 10
Trafo 3 1000 500(Y aterrado):138(Y aterrado) 12

transmissão possuem reatâncias série de 0,163 (LT1) e 0,327 (LT2) Ω/km por fase e compri-
mentos de 220 km (LT1) e 150 km (LT 2). Adotando como valores base as tensões nominais
dos equipamentos e a potência de 1000 MVA, determinar (em valores p.u. e em unidades reais):
• a corrente de curto circuito trifásico sólido num ponto F da linha de transmissão 1, situado
a 30 km da barra 2;

• a corrente que flui nos geradores 1 e 2, conectados às barras 1 e 4, sob as condições de
falta do item anterior;
206 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

• a corrente que flui no lado de AT do trafo 2, sob as condições de falta do item anterior;

• a corrente de curto circuito trifásico no ponto F da linha de transmissão 1, situado a 30


km da barra 2, considerando uma resistência de 5 Ω no ponto de falta;

• a capacidade de curto circuito da barra 1 em unidades reais.

5.15 Considere o sistema mostrado na figura 5.45, cujos dados são mostrados na tabela 5.1.
Supondo que as correntes pré-falta são nulas e que a tensão na barra 2 é 1,0 pu.

1. determine o circuito monofásico equivalente no sistema por unidade, tomando como base
os valores nominais do transformador 1;

2. calcule a corrente de falta no caso da ocorrência de um curto circuito trifásico sólido na


barra 4 em unidades reais;

3. calcule as contribuições do gerador, do motor e de cada elemento de conexão entre as


barras à corrente de falta no sistema por unidade;

4. a magnitude da tensão pós-falta na barra 1 em unidades reais;

5. calcule a capacidade de curto circuito da barra 4.

Gerador Motor
LT1 - 220 kV
Trafo T1 2 3 Trafo T2

1 Trafo T3 5 LT2 - 110 kV 6 Trafo T4 4 ?

Figura 5.45: Diagrama unifilar - exercı́cio 5.15

Elemento Snom (M V A) Vnom (kV ) Reatância


Gerador 80 22 20%
Trafo 1 50 22(Y)/220(∆) 12%
Trafo 2 40 22(Y)/220(∆) 8%
Trafo 3 40 22(Y)/110(∆) 6%
Trafo 4 40 22(Y)/110(∆) 4%
LT 1 220 121 Ω
LT 2 110 42 Ω
Motor 68,85 20 25%

Tabela 5.1: Dados do sistema da figura 5.45


R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 207

5.16 A figura 5.46 mostra um gerador sı́ncrono de 625 kVA, 2,4 kV e reatância subtransitória
de 20%, operando na tensão nominal, suprindo uma carga constituı́da de três motores. Cada
motor possui valores nominais 250 HP, 2,4 kV, fator de potência unitário, rendimento de 90% e
reatância subtransitória de 20%. Supondo que os motores operam todos sob as mesmas condições,
adotando os valores nominais do gerador como base e desprezando as correntes pré-falta,

• calcule a corrente de curto circuito em pu e em unidades reais, que acionaria os disjuntores


A e B na ocorrência de uma falta trifásica no ponto P ;

• repita o item anterior para uma falta trifásica no ponto R. Observação: 1 HP = 746 W.

D
M1

R A C
G M2

B P
M3
Q

Figura 5.46: Diagrama unifilar - exercı́cio 5.16

5.17 A matriz impedância de barra do sistema mostrado na figura 5.47 é dada por
 
0, 0793 0, 0558 0, 0382 0, 0511 0, 0608

 0, 0558 0, 1338 0, 0664 0, 0630 0, 0605 

Zbarra =j
 0, 0382 0, 0664 0, 0875 0, 0720 0, 0603 

 0, 0511 0, 0630 0, 0720 0, 2321 0, 1002 
0, 0608 0, 0605 0, 0603 0, 1002 0, 1301

Despreze as correntes pré-falta e considere que a tensão na barra 1 é 1,0 pu.


• Determine a barra com maior capacidade de curto circuito do sistema e o valor desta.
• Calcule a corrente de falta resultante de um curto circuito trifásico sólido na barra do item anterior;
c) determine a magnitude da tensão em cada barra e a contribuição de cada componente do sistema
à corrente de falta, na condição do item anterior.

5.18 Os dados do sistema do diagrama unifilar da figura 5.48 são mostrados na tabela 5.2.
Todas as quantidades estão em pu na base 1000 MVA e 500 kV referida a barra 1. Desprezando
as correntes pré-falta e supondo que o gerador 1 opera com 1,0 pu de tensão nos seus terminais,

• Determine a Capacidade de Curto Circuito de cada barra (em pu e em unidades reais),


para curtos-circuitos trifásico sólido e fase-terra sólido.

• Calcule as tensões nas barras na condição de corrente de curto circuito fase-terra sólido
na barra 4.
208 Capı́tulo 5: Análise de Curto Circuito

1 3
2
j0, 168 pu j0, 126 pu

1, 0∠00 pu
1, 0∠00 pu j0, 1333 pu + −
− + j0, 1111 pu

5 j0, 210 pu
j0, 126 pu

j0, 252 pu j0, 336 pu


4

Figura 5.47: Circuito equivalente - exercı́cio 5.17

• Determine as correntes no sistema de transmissão.

• Calcule as correntes na impedância do neutra dos geradores e transformadores.

Equipamento Snom Vnom X1 = X2 X0 3Xn


(MVA) (kV) (pu) (pu) (pu)
Gerador 1 500 13,8 0,400 0,080 0,600
Gerador 2 750 18,0 0,240 0,048 0,400
Gerador 3 1000 20,0 0,170 0,034 0,300
Trafo 1 500 13,8/500 0,240 0,240 -
Trafo 2 750 18,0/500 0,133 0,133 -
Trafo 3 1000 20,0/500 0,100 0,100 0,024
LT’s 500 0,200 0,500 -

Tabela 5.2: Dados do sistema teste do exercı́cio 5.18


R. S. Salgado UFSC-EEL-Labspot 209

T1 1 2 3 T3
G1 G3
LT1 LT3

Zng1 LT2 Zng3


Znt3

T2

G2
Zng2

Figura 5.48: Sistema teste do exercı́cio 5.18


Referências Bibliográficas

[1] W. D. Stevenson Jr, J. J. Grainger, Power System Analysis, McGraw-Hill, 1994.

[2] S. J. Chapman, Electric Machinery Fundamentals, McGraw-Hill Book Company, 1985.

[3] J. Arillaga, C. P. Arnold, B. J. Harker, Computer Modelling of Electrial Power Systems,


John Wiley and sons, 1983.

[4] J. D. Glover, M. Sarma, Power System Analysis and Design, PWS Publishers - Boston,
1994.

[5] T. Gönen, Modern Power System Analysis, CRC Press, 1989.

[6] H. Saadat, Power System Analysis, McGraw-Hill Book Company, 1999.

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