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Operadores
2011
Conteúdo
3
4 CONTEÚDO
3 Fundamentos de álgebras C ∗ 97
3.1 Álgebras C ∗ . Propriedades elementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
3.2 1o Teorema de Gelfand-Naimark. Cálculo funcional contı́nuo . . . . . . 102
3.3 Elementos positivos em álgebras C ∗ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
3.4 A álgebra C ∗ dos operadores lineares limitados . . . . . . . . . . . . . . 110
3.4.1 Operadores de projecção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
3.4.2 Isometrias parciais. Decomposição polar . . . . . . . . . . . . . 113
3.5 Teorema espectral para operadores normais . . . . . . . . . . . . . . . . 116
3.5.1 Medidas espectrais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
3.5.2 Álgebras C ∗ comutativas e medidas espectrais . . . . . . . . . . 120
3.5.3 Teorema espectral para operadores normais. Cálculo funcional
de Borel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127
3.6 Construção de álgebras C ∗ . Álgebra limite indutivo . . . . . . . . . . . 129
3.7 Álgebras C ∗ sem unidade. Unitalização e aproximação da unidade . . . 134
3.7.1 Unitalização de uma álgebra C ∗ . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135
3.7.2 Aproximação da unidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140
3.8 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145
7
8 CAPÍTULO 1. TEORIA ESPECTRAL EM ÁLGEBRAS DE BANACH
ab = ba, a, b ∈ A.
ea = ae = a, a ∈ A.
É fácil verificar que a identidade, se existir, é única, já que supondo que existiam dois
elementos unidade, e e e′ ,
e′ = e′ e = e.
Sistematicamente designar-se-á pelo sı́mbolo “e” a identidade da uma álgebra, caso
exista. Se uma álgebra A tem unidade, e a ∈ A é um elemento diferente de zero,
define-se a0 := e.
Exemplo 1.1.1. O espaço {0}, de dimensão nula, forma uma álgebra trivial quando
munido da multiplicação 0.0 := 0. Nesta álgebra o elemento nulo e o elemento identi-
dade coincidem. Esta é a única álgebra onde essa propriedade se verifica.
Exemplo 1.1.2. Um corpo K é sempre uma álgebra sobre ele próprio com respeito às
operações de corpo. O conjunto Mn (K) de todas as matrizes n × n com elementos em
K forma uma álgebra com unidade, quando munido das operações matriciais habituais.
Definição 1.1.4. Uma subálgebra J de uma álgebra A diz-se um ideal esquerdo (di-
reito) em A se quaisquer que sejam a ∈ A, j ∈ J ,
aj ∈ J (ja ∈ J ).
Definição 1.1.5. Uma álgebra diz-se normada se nela se fixar uma norma ∥.∥ tal que,
∥a b∥ ≤ ∥a∥ ∥b∥, a, b ∈ A.
Definição 1.1.6. Seja A um espaço de Banach. Diz-se que A é uma álgebra de Banach
se existir uma multiplicação A × A → A que torne A uma álgebra (Definição 1.1.1) e
tal que:
(iv) ∥ab∥ ≤ ∥a∥∥b∥ para a, b ∈ A;
10 CAPÍTULO 1. TEORIA ESPECTRAL EM ÁLGEBRAS DE BANACH
∥xy − ab∥ = ∥xy − xb + xb − ab∥ = ∥x(y − b) + (x − a)b∥ ≤ ∥x∥∥(y − b)∥ + ∥(x − a)∥∥b∥.
∥Φ(a)∥A2 = ∥a∥A1 , a ∈ A1
∥Φ(a)∥A2 ≤ ∥a∥A1 , a ∈ A1
.
Definição 1.1.8. Sejam A uma álgebra de Banach com unidade e, e a1 , . . . , an ∈ A.
Representa-se por alg{a1 , . . . , an }, e chama-se álgebra gerada pelos elementos a1 , a2 ,
..., an e pela unidade e, a menor subálgebra fechada de A que contém a unidade de A
e os elemento a1 , . . . , an .
Exemplo 1.1.6. As álgebras dos dois exemplos anteriores são na realidade subálgebras
fechadas da álgebra L∞ (X), álgebra das classes de funções mensuráveis essencialmente
limitadas em X, em que se identificam funções que se diferenciam apenas num conjunto
de medida nula (medida de Haar à esquerda). A norma nesta álgebra é definida por
∥f ∥ := sup ess |f |, que corresponde à norma do supremo no caso de a função ser
contı́nua.
Sendo X um espaço localmente compacto, diz-se que uma função contı́nua f ∈ C(X) se anula no
2
infinito se para qualquer ε > 0 existe um conjunto compacto K ⊆ X tal que |f (x)| < ε para qualquer
x ∈ X \ K.
1.2. INVERTIBILIDADE E ESPECTRO 11
∑
+∞ ∑
+∞
f (ξ) = n
fn ξ com |fn | < ∞.
n=−∞ n=−∞
Sendo f definida por uma série de Fourier absolutamente convergente que tem como
termos funções contı́nuas, pelo critério de Weierstrass , a série é uniformemente con-
vergente e f é uma função contı́nua.
Com a adição, multiplicação por escalares e multiplicação em W definidas ponto a
ponto, W é uma álgebra de Banach com a norma
∑
+∞ ∑
+∞
∥f ∥W = ∥ fn ξ ∥W :=
n
|fn |.
n=−∞ n=−∞
Teorema 1.2.1 (Série de Neumann). Seja A uma álgebra de Banach com unidade. Se
u ∈ A e ∥u∥ < 1 então
∑
(i) e − u é invertı́vel, com o inverso (e − u)−1 = ∞ n
n=0 u ;
12 CAPÍTULO 1. TEORIA ESPECTRAL EM ÁLGEBRAS DE BANACH
Dem. Pela propriedade (iv) da ∑ definição de álgebra de Banach tem-se que ∥un ∥ ≤
∥u∥ e consequentemente a série ∞
n n
n=0 u∑ é absolutamente convergente. Considere-
n=0 u . Como A é completo como espaço
k n
se a sucessão das somas parciais vk :=
topológico, vk converge para um limite v ∈ A. Tem-se
(e − u)vk = vk (e − u) = e − uk+1 → e,
k→∞
∑∞
concluindo-se que v = n=0 un = (e − u)−1 e que
∑
∞
1
−1
∥(e − u) ∥ ≤ ∥u∥n = .
n=0
1 − ∥u∥
Dem. Tem-se
y = ey = (xx−1 )y = x(x−1 y)
1
∥yn−1 ∥ = ∥(e + hn )−1 ∥ ≤ → 1.
1 − ∥hn ∥
Exemplo 1.2.3. Seja A a álgebra Mn (C) das matrizes n×n com elementos complexas.
O espectro de uma matriz corresponde ao conjunto dos seus valores próprios.
O conjunto ρA (a) é então aberto e a função R(a) é uma função analı́tica em ρA (a).
Exemplo 1.2.4. Seja A a álgebra C(T). Recordando o Exemplo 1.2.2, o raio espectral
de uma função f ∈ C(T) é
Com o resultado que se segue assegura-se que para cada elemento a ∈ A a noção de
raio espectral está bem definida, coincidindo assim com o raio do menor disco fechado
no plano complexo com centro em 0 que contém o espectro do elemento a.
Teorema 1.2.6. Sendo A uma álgebra de Banach complexa com unidade, então o
espectro de um elemento a ∈ A, σA (a), é não vazio e compacto.
Dem. Seja a ∈ A. Se |λ| > ∥a∥ então ∥ λ1 a∥ < 1 e pelo Teorema 1.2.1 conclui-se que
λe − a = λ(e − λ−1 a) é invertı́vel. Como consequência, atendendo à Definição 1.2.3
tem-se que r(a) ≤ ∥a∥ e que σA (a) é limitado. Como o resolvente do elemento a ∈ A
é um conjunto aberto em C, então o espectro σ(a) é fechado e consequentemente é
compacto. Falta-nos provar que σA (a) é não vazio. Para tal suponha-se que σA (a) é
vazio e mostre-se que este facto conduz a um absurdo. Se σA (a) = ∅ então ρA (a) = C
e pela Proposição 1.2.5 a função resolvente R(a) é uma função inteira. Assim R(a)
16 CAPÍTULO 1. TEORIA ESPECTRAL EM ÁLGEBRAS DE BANACH
é limitada uma vez que é contı́nua no disco |λ| < ∥a∥ e para |λ| > ∥a∥, tem-se do
Teorema 1.2.1 que,
Observe-se que o resultado anterior não é em geral verdadeiro para álgebras reais, se
usarmos a definição “natural” de espectro de um elemento de uma álgebra real, como
o conjunto { }
σA (a) := λ ∈ R : λe − a ∈ GA .
Exemplo 1.2.5. Sejam A a álgebra M2 (R) das matrizes 2 × 2 com elementos reais, e
[ ]
0 −1
A= .
1 0
[ ]
λ 1
O espectro de A é vazio uma vez que, λe−A é não invertı́vel se e só se det = 0,
−1 λ
o que é equivalente a resolver em R a equação impossı́vel λ2 + 1 = 0.
Teorema 1.2.7. Se A é uma álgebra de Banach complexa com unidade então, para
qualquer elemento a ∈ A,
1
r(a) = lim ∥an ∥ n .
n→∞
1
Dem. Comece-se por mostrar que r(a) ≥ lim sup ∥an ∥ n . Considere-se a função
resolvente R(a), que é analı́tica em ρA (a) e o conjunto aberto
1( a )−1 1 ∑ ( a )n
∞
Rλ (a) = e− = . (1.1)
λ λ λ k=0 λ
visto R(a) ser uma função analı́tica em Λ0 ⊂ ρA (a). Como se trata de uma série de
potências em λ−1 então o seu raio de convergência é, pela fórmula de Hadamard,
1
r= 1 ,
lim sup ∥an ∥ n
o que significa que a série converge se |λ−1 | < r e diverge se |λ−1 | > r. Ora, atendendo
a que o desenvolvimento é válido para |λ| ≥ r(a), tem-se
1 1
≤r= 1
r(a) lim sup ∥an ∥ n
1
concluindo-se que r(a) ≥ lim sup ∥an ∥ n .
1
Mostre-se em seguida que r(a) ≤ lim inf ∥an ∥ n . Tem-se que
λn ∈ ρA (an ) ⇒ λ ∈ ρA (a)
e consequentemente,
λ ∈ σA (a) ⇒ λn ∈ σA (an ).
Para qualquer λ ∈ σA (a) tem-se pois
logo, para n ∈ N,
1
|λ| ≤ ∥an ∥ n ,
1
o que implica r(a) ≤ lim inf ∥an ∥ n .
Tem-se finalmente que
1 1
r(a) ≤ lim inf ∥an ∥ n ≤ lim sup ∥an ∥ n ≤ r(a)
Dem. Seja A uma álgebra nas condições do teorema. Se a ∈ A, então pelo teorema
anterior existe λ ∈ C tal que λe − a não é invertı́vel. Como o único elemento não
invertı́vel na álgebra é o 0 então λe − a = 0, ou seja, a = λe. Como o raciocı́nio
anterior é válido para qualquer a ∈ A, conclui-se que A = {λe : λ ∈ C}, ou seja,
A é o conjunto dos múltiplos escalares de e. A aplicação λe 7→ λ é obviamente um
isomorfismo isométrico de A em C, pois ∥λe∥ = |λ|.
Corolário 1.2.10. Sejam A uma álgebra de Banach com unidade, B uma subálgebra
de Banach unital de A e a ∈ B um divisor topológico de zero em B. Então a ̸∈ GA .
Dem. Qualquer sucessão (an ) em B tal que ∥an ∥ = 1, limn→∞ aan = 0 e limn→∞ an a =
0 é uma sucessão em A com as mesmas propriedades. Ou seja um divisor topológico
de zero em B é um divisor topológico de zero em A.
∥x−1
n x∥ ∥(x−1
n x − e) + e∥ ∥x−1
n x − e∥ 1
∥an x∥ = = ≤ + −1
∥xn ∥
−1 ∥xn ∥
−1 ∥xn ∥
−1 ∥xn ∥
∥x−1 ∥∥x − xn ∥ 1 1
≤ n −1 + −1 = ∥x − xn ∥ + −1 .
∥xn ∥ ∥xn ∥ ∥xn ∥
Quanto n → ∞ a primeira parcela tende para zero. Analise-se a segunda. Sabe-se que
x−1 −1
n x ̸∈ GA , pois xn (xn x) = x e xn ∈ GA e consequentemente tem-se que
∥e − x−1
n x∥ ≥ 1
1 ≤ ∥e − x−1 −1
n x∥ ≤ ∥xn ∥∥x − xn ∥
e
1
≤ ∥x − xn ∥ → 0.
∥x−1
n ∥
Conclui-se assim que an x → 0. Logo x é divisor topológico de zero esquerdo. A
demonstração de que xan → 0 é análoga.
Proposição 1.2.12. Sejam A uma álgebra de Banach complexa com unidade, B uma
subálgebra de Banach unital de A e a ∈ B. Então:
A proposição anterior indica que quando se passa de uma subálgebra B para uma
álgebra que a contenha, o espectro de um elemento só pode reduzir-se à custa de pontos
interiores, não perdendo pontos fronteiros. Inversamente, ao passar de uma álgebra
para uma subálgebra, o espectro de um elemento, σA (a) , só pode aumentar pela
supressão de “buracos”, componentes conexas do resolvente ρA (a) que são limitadas,
não aumentando a fronteira.
Teorema 1.2.13. Sejam A uma álgebra de Banach complexa com unidade, B uma sua
subálgebra fechada e unital e a ∈ B.
Note-se que o Teorema 1.2.7 mostra que o raio espectral de um elemento não se
altera ao passar para uma subálgebra, apesar do espectro poder ser alterado. Impondo
certas condições nas álgebras e nas suas subálgebras, pode acontecer que nenhum ele-
mento altere o seu espectro. Esta é uma propriedade importante, que é caracterı́stica
de uma classe de álgebras a analisar no Capı́tulo 3.
22 CAPÍTULO 1. TEORIA ESPECTRAL EM ÁLGEBRAS DE BANACH
Definição 1.2.5. Sejam A uma álgebra de Banach com unidade e, e B uma subálgebra
fechada de A contendo e. Diz-se que B é fechada para a inversão se, para qualquer
a ∈ B, a invertibilidade de a em A implica a invertibilidade de a em B.
Proposição 1.3.1 (Lemma de Krull). Seja A uma álgebra com unidade. Então todo
o ideal (esquerdo, direito, bilateral) próprio está contido num ideal maximal (esquerdo,
direito, bilateral).
(ii) O fecho de um ideal (esquerdo, direito, bilateral) próprio é um ideal próprio (es-
querdo, direito, bilateral);
Dem. (i) Admita-se que a é invertı́vel à esquerda e que existe um ideal esquerdo
maximal J ⊂ A tal que a ∈ J . Então ba = e para algum b ∈ A, o que implicaria
e ∈ J , logo J = A, o que é absurdo pois J é um ideal próprio. Por outro lado
considere-se a ∈ A não invertı́vel à esquerda. Defina-se
J := Aa = {xa, x ∈ A}.
a + J := {a + j, j ∈ J }.
(ii) λ(a + J ) := λa + J ;
(iii) (a + J )(b + J ) := ab + J ,
Observe-se que na definição anterior o produto está bem definido pois se a′ ∈ a+J ,
b′ ∈ b + J , então a′ b′ ∈ ab + J . Naturalmente, a classe de equivalência e + J será a
unidade na álgebra quociente.
Dem. O espaço A/J é completo uma vez que J é fechado. Resta apenas provar
que,
∥(a + J )(b + J )∥AJ ≤ ∥a + J ∥AJ ∥b + J ∥AJ , a, b ∈ A,
o que se conclui de:
Definição 1.3.2. Uma álgebra A diz-se simples se não possui ideias próprios não
nulos, ou seja, se os únicos ideais de A são os triviais, {0} e A.
Teorema 1.3.5. Um ideal próprio fechado M de uma álgebra de Banach A com uni-
dade, é maximal se e só se a álgebra quociente A/M é simples.
e = l + ya ⇔ l = e − ya.
Pode pois concluir-se que l é invertı́vel, logo invertı́vel à esquerda, o que é uma con-
tradição.
O resultado acima confirma o que foi afirmado no inicio da secção, que os elementos
do radical podem ser ignorados ao estudar invertibilidade numa álgebra. Estes elemen-
tos podem mesmo não existir em ágebras com certas propriedades de simetria, como
as que serão estudadas no Capı́tulo 3. Uma álgebra com radical trivial é designada por
álgebra semi-simples:
Dem. Dado que W é linear tem-se que o seu núcleo é um subespaço linear. Se
x ∈ Ker W e a ∈ A1 então
Definição 1.4.1. Seja A uma álgebra sobre um corpo K. Uma aplicação linear ϕ :
A → K diz-se um funcional linear. Se ϕ for também um homomorfismo então designa-
se por funcional linear multiplicativo em A.
Dem. De imediato se estabelece (i) já que se existir a ∈ A tal que ϕ(a) ̸= 0, tem-se
ϕ(a) = ϕ(ea) = ϕ(e)ϕ(a). Quanto a (ii) note-se que se a ∈ A, ϕ(a)e − a está no
núcleo de ϕ, que é um ideal próprio de A, concluindo-se que ϕ(a)e − a não pode ser
invertı́vel. Finalmente, o núcleo de um funcional linear multiplicativo é um hiperplano
de codimensão 1 no espaço linear A. Assim, sendo um ideal, o núcleo de um funcional
multiplicativo não nulo tem que ser maximal.
Teorema 1.4.3. Qualquer funcional linear multiplicativo não nulo sobre uma álgebra
de Banach com unidade e, é limitado e tem norma 1.
Dem. Admita-se que existe um elemento a ∈ A tal que ∥a∥ = 1 e |ϕ(a)| > 1. Então
ϕ(a)e − a é invertı́vel e
( ) ( )
1 = ϕ(e) = ϕ (ϕ(a)e − a)(ϕ(a)e − a)−1 = ϕ ((ϕ(a)e − a)) ϕ (ϕ(a)e − a)−1 = 0
Dados dois funcionais lineares ϕ1 e ϕ2 , diz-se que estes são proporcionais se existir
uma constante diferente de zero α ∈ K tal que ϕ1 = αϕ2 .
Lema 1.4.4. Dois funcionais sobre uma álgebra A têm o mesmo núcleo se e só se são
proporcionais.
1.4. FUNCIONAIS LINEARES MULTIPLICATIVOS 29
Conclui-se do lema anterior que dois funcionais lineares têm o mesmo núcleo se e só
se forem proporcionais. Ora, uma vez que para qualquer funcional linear multiplicativo
ϕ se tem ϕ(e) = 1, dois funcionais lineares multiplicativos serão iguais se os seus núcleos
coincidirem. Existe pois uma relação estreita - de um para um - entre os ideais maximais
de uma álgebra e os funcionais lineares multiplicativos definidos nessa álgebra. Pode-se
então obter o seguinte resultado:
Teorema 1.4.5. Seja A uma álgebra de Banach comutativa com unidade. O núcleo de
um funcional linear multiplicativo em A é um ideal maximal e reciprocamente, qualquer
ideal maximal em A é o núcleo de um e um só funcional linear multiplicativo em A.
Dem. A primeira parte é um caso particular da Proposição 1.4.2. Na demonstração
da segunda parte, considere-se um ideal maximal M em A. Então A/M é um corpo
pelo Teorema 1.3.6, isometricamente isomorfo ao corpo K dos escalares da álgebra:
A/M = {λ(e + M) : λ ∈ K} ∼
= K.
z 7→ f (z)(ze − a)−1 ,
∑
n
f (zi )(zi e − a)−1 (zi+1 − zi )
i=0
∑
n
f (a) := lim f (zi )(zi e − a)−1 (zi+1 − zi ).
max |zi+1 −zi |→0
i=0
Pelo Teorema de Cauchy para integrais de linha, f (a) não depende da curva C. Sim-
bolicamente pode-se então escrever
∫
1
f (a) = f (z)(ze − a)−1 dz,
2πi C
Então:
eh é a identidade e de A;
(ii) A imagem da função z 7→ 1 por Γ
eh é o elemento a.
(iii) A imagem da função z 7→ z por Γ
1.5. CÁLCULO FUNCIONAL HOLOMORFO 33
Dem. (i) Que a aplicação f 7→ f (a) é linear é imediato. Mostre-se que f (a)g(a) =
(f g)(a) para f e g duas funções holomorfas no aberto U.
Considere-se C1 e C2 duas curvas simples em U contendo σA (a) na sua região
interior e tais que C2 está na região interior a C1 . Tem-se
( ∫ )( ∫ )
1 −1 1 −1
f (a)g(a) = f (z)(ze − a) dz g(ξ)(ξe − a) dξ
2πi C1 2πi C2
∫ ∫
1
= − 2 f (z)g(ξ)(ze − a)−1 (ξe − a)−1 dξ dz
4π C1 C2
∫ ∫
1 1 ( )
= − 2 f (z)g(ξ) (ξe − a)−1 − (ze − a)−1 dξ dz
4π C1 C2 z−ξ
∫ ∫ ∫ ∫
1 f (z)g(ξ) −1 1 f (z)g(ξ)
= − 2 (ξe − a) dξ dz + 2 (ze − a)−1 dξ dz,
4π C1 C2 z − ξ 4π C1 C2 z − ξ
tendo-se para a segunda parcela
∫ (∫ )
1 g(ξ)
dξ f (z)(ze − a)−1 dz = 0,
4π 2 C1 C2 z − ξ
uma vez que g(ξ)/(z − ξ) é holomorfa na região interior a C2 se z ∈ C1 . Assim,
∫ ( ∫ )
1 1 f (z)
f (a)g(a) = dz g(ξ)(ξe − a)−1 dξ
2πi C2 2πi C1 z − ξ
∫
1
= f (ξ)g(ξ)(ξe − a)−1 dξ
2πi C2
= (f g)(a).
uma vez que para n > 0 a função integranda é primitivável numa vizinhança de C, e
o integral tem o valor 0. Analogamente se demonstra (iii).
Dem. (i) Defina-se b := f (a). Se µ ̸∈ f (σA (a)), então h(z) := 1/(f (z) − µ) é
holomorfa num aberto contendo σA (a). Seja c := h(a). Tem-se pelo Teorema 1.5.1 que
concluindo-se que µ pertence ao resolvente de b. Por outro lado, se µ ∈ f (σA (a)), então
µ = f (λ0 ) para algum λ0 ∈ σA (a). Existe pois uma função h, holomorfa num aberto
contendo σA (a) tal que
f (λ) − µ = (λ − λ0 )h(λ).
Uma vez que a − λ0 e é não invertı́vel então b − µe é também não invertivel, donde
µ ∈ σA (b). A proposição (i) está assim demonstrada.
(ii) Escolham-se curvas simples fechadas C1 e C2 tais que f (σA (a)) esteja contido
na região interior de C1 , C1 esteja contida no domı́nio de g, e a imagem inversa de
C1 através de f esteja contida na região interior de C2 que deverá estar contida no
1.6. CLASSES DE ÁLGEBRAS DE BANACH 35
domı́nio de f . Tem-se
∫
1
(g ◦ f )(a) = (g ◦ f )(z)(ze − a)−1 dz
2πi C1
∫ (∫ )
1 −1
= − 2 g(ξ)(ξ − f (z)) dξ (ze − a)−1 dz
4π C1 C2
∫ (∫ )
1 −1 −1
= − 2 g(ξ) (ξ − f (z)) (ze − a) dz dξ
4π C2 C1
∫
1
= g(ξ)(ξe − f (a))−1 dξ
2πi C2
= g(f (a)).
Nos espaços de Banach X com dimensão infinita, existe uma classe importante
de operadores que são quase invertı́veis, no sentido de que são invertı́veis módulo um
operador compacto. Esta classe é a dos operadores de Fredholm que se passa a definir:
(i) Im T é fechada;
chama-se ı́ndice de T.
σess (T ) ⊂ σ(T )
Dada uma sucessão (Tn )n∈N em L(X), diz-se que (Tn ) converge uniformemente para
T ∈ L(X) se ∥Tn − T ∥L(X) → 0. Neste texto, sempre que nada se diga em contrario,
representa-se a convergência uniforme de (Tn )n∈N para T, simplesmente por lim Tn = T
n→∞
à convergência de redes. Dada uma sucessão (Tn )n∈N em L(X) , diz-se que (Tn ) converge
fortemente para T, representando-se por lim Tn = T (SOT), se ∥Tn x − T x∥L(X) → 0
n→∞
para qualquer x ∈ X.
Finalmente defina-se a topologia fraca. A topologia que se vai considerar não é
a topologia fraca de L(X) como espaço de Banach, gerada directamente pela famı́lia
de semi-normas {∥ · ∥φ }φ∈L∗ , com ∥T ∥φ := |φ(T )|, onde L∗ designa o dual topológico
de L(X), ou seja, o espaço dos funcionais lineares contı́nuos em L(X). Em vez de
L∗ , considera-se o dual topológico, X ∗ , de X. Na literatura inglesa designa-se esta
topologia por “Weak Operator Topology” (WOT) e é mais fraca que a topologia fraca
de Banach.
Definição 1.6.6. Chama-se topologia fraca em L(X), à topologia gerada pela famı́lia
de semi-normas {∥ · ∥x,φ }x∈X,φ∈X ∗ , com ∥T ∥x,φ := |φ(T x)|.
Dada uma sucessão (Tn )n∈N em L(X), diz-se que (Tn ) converge fracamente para T ∈
L(X, e representa-se por lim Tn = T (WOT), se |φ(Tn x − T x)| → 0 para qualquer x ∈
n→∞
∗
X, φ ∈ X . É imediato verificar que a convergência uniforme implica a convergência
forte e que esta implica a convergência fraca. As implicações no sentido contrário não
se verificam.
Dem. Admita-se que existe um funcional linear multiplicativo ϕ : C(X) → C tal que
ϕ ̸= ϕx para qualquer x ∈ X, ou seja, suponha-se que
Ker ϕ ̸⊂ Ker ϕx , x ∈ X.
fx (x) = ϕx (fx ) ̸= 0.
Uma vez que fx ∈ C(X) existe uma vizinhança Vx de x na qual fx (y) ̸= 0 para y ∈ Vx ,
ou seja,
|fx (y)|2 = fx (y)fx (y) ̸= 0 para y ∈ Vx .
Como X é compacto, é possı́vel considerer uma cobertura de X com um número finito
de vizinhanças Vxk , com x1 , . . . , xn ∈ X, e funções fx1 , . . . , fxn ∈ Ker ϕ por forma a
que
|fxk (y)|2 ̸= 0 para y ∈ Vxk .
Assim,
∑
n
f (y) := |fxk (y)|2 > 0, y ∈ X,
k=1
constitui uma função contı́nua em X cujo inverso em C(X) é g := 1/f . Tem-se então
que ( n )
∑ ∑
n
( )
1 = ϕ(f g) = ϕ fxk fxk g = ϕ (fxk ) ϕ fxk ϕ (g) = 0
k=1 k=1
o que é absurdo. Conclui-se que Ker ϕ ⊂ Ker ϕx para algum x ∈ X, e uma vez que
ambos são ideais maximais, tem-se Ker ϕ = Ker ϕx e consequentemente, ϕ = ϕx para
algum x ∈ X.
40 CAPÍTULO 1. TEORIA ESPECTRAL EM ÁLGEBRAS DE BANACH
1.7 Exercı́cios
Exercı́cio 1.2. Duas normas, ∥.∥1 e ∥.∥2 , definidas sobre o mesmo conjunto A, dizem-
se equivalentes se exitir uma constante positiva C tal que para cada a ∈ A se tem
C −1 ∥a∥1 ≤ ∥a∥2 ≤ C∥a∥1 .
(i) Mostre que a equivalência de normas é uma relação de equivalência;
(ii) Mostre que a propriedade (v) da definição de álgebra de Banach (Definição 1.1.6)
não é essencial, ou seja, mostre que se ∥.∥ é uma norma que verifica (iv), mas
não (v), então é possı́vel definir uma norma equivalente que verifique ambas as
propriedades.
(ii) Considere o espaço de Banach l1 das sucessões (αn )n∈N de termos em C tais que
∑
∥(αn )∥l1 = |αn | < ∞.
n∈N
(iii) Prove que A1 é fechada em L(A) para a norma ∥La ∥ = sup∥x∥<1 ∥ax∥.
1.7. EXERCÍCIOS 41
Exercı́cio 1.6. Prove que o espaço L1 (R) com a norma habitual e a multiplicação
definida pela convolução
∫ +∞
(f ∗ g)(t) := f (t − x)g(x) dx
−∞
é uma álgebra de Banach comutativa. Tem unidade?
Exercı́cio 1.7. Seja A uma álgebra sem unidade sobre um corpo K. Considere no
produto cartesiano A := {(a, λ) : a ∈ A, λ ∈ K} a estrutura vectorial habitual e a
operação de multiplicação dada por
(a, α)(b, β) := (ab + βa + αb, αβ).
Prove que munida da norma ∥(a, λ)∥ := ∥a∥ + |λ|, Ae é uma álgebra de Banach com
unidade.
Exercı́cio 1.9. Estenda a noção de isomorfismo entre álgebras dada na Definição 1.1.2
para o caso em que as álgebras são definidas sobre diferentes corpos K1 e K2 , em que
K1 ⊂ K2 . Verifique se a álgebra de Banach dos números reais, com as operações usuais,
sobre o corpo Q dos números racionais, é “isomorfa”à álgebra de Banach dos números
reais sobre o corpo R.
Exercı́cio 1.10. Considere numa álgebra com unidade A, o conjunto dos seus elemen-
tos invertı́veis, GA . Prove que GA com a multiplicação normal da álgebra define um
grupo.
Exercı́cio 1.11. Seja A uma álgebra com unidade. Considere a, b dois elementos de
A. Mostre que, se ab é ba são elementos invertı́veis então a e b são também elementos
invertı́veis.
Exercı́cio 1.12. Seja l2 o espaço de Hilbert das sucessões (αn )n∈N de termos em C
tais que v
u∞
u∑
∥(αn )∥l2 = t |αi |2 < ∞.
i=1
42 CAPÍTULO 1. TEORIA ESPECTRAL EM ÁLGEBRAS DE BANACH
Prove que Sr ∈ L(l2 ) e determine a sua norma. Verifique que Sr é invertı́vel à esquerda
mas não invertı́vel à direita.
Exercı́cio 1.14. Seja A uma álgebra com unidade, e (an ) uma sucessão de termos em
A convergente para um elemento a ∈ A. Prove que se (αn ) constituir uma sucessão de
escalares tais que αn ∈ σA (an ), para n ∈ N, e αn → α, então α ∈ σA (a).
Exercı́cio 1.15. Seja A uma álgebra com unidade. Prove, sem recorrer ao Teorema
1.5.2, que:
r(a2 ) = r2 (a);
Verifique que:
a) Para
∑∞ qualquer a ∈ A, a exponencial de a está bem definida, ou seja, que a série
an
n=0 n! é absolutamente converge;
b) Para qualquer a ∈ A,
∥ exp(a)∥ ≤ exp(∥a∥);
Exercı́cio 1.19. Seja A uma álgebra de Banach não comutativa. Uma subálgebra
comutativa maximal de A é uma subálgebra comutativa de A tal que qualquer outra
subálgebra de A que a contém estritamente já não é comutativa. Seja B ⊂ A uma
subálgebra comutativa maximal de A. Se b ∈ B, prove que σB (b) = σA (b).
Exercı́cio 1.20. Seja A uma álgebra de Banach com unidade, B uma subálgebra
unital de A e J ⊂ B um ideal bilateral de A. Prove que se a álgebra quociente B/J
é fechada para a inversão em A/J , então B é fechada para a inversão em A.
Exercı́cio 1.23. Seja A uma álgebra sobre um corpo K com unidade e, e seja p ̸= e
um idempotente não nulo de A.
a) Mostre que alg{p} é constituı́da pelos elementos da forma αp + β(e − p) com
α, β ∈ K;
Exercı́cio 1.27. Sejam A uma álgebra de Banach com unidade, B uma subálgebra
unital de A e J ⊂ B um ideal bilateral de A. Prove que se a álgebra quociente B/J
é fechada para a inversão em A/J , então B é fechada para a inversão em A.
1.7. EXERCÍCIOS 45
Exercı́cio 1.28. Sejam A uma álgebra de Banach com unidade e J um ideal bilateral
fechado de A. Mostre que o homomorfismo canónico ΦJ : a 7→ a + J , de A na álgebra
quociente A/J , tem norma 1.
Exercı́cio 1.29. Seja A uma álgebra de Banach com unidade e. Considere o ideal
direito
R′A := ∩D, D ideal maximal direito de A.
a) Prove o Lema 1.3.9 com RA substituı́do por R′A ;
Exercı́cio 1.30. Seja A uma álgebra de Banach com unidade. Mostre que um elemento
r ∈ A pertence ao radical RA se e só se σ(a) = σ(a + r) para qualquer a ∈ A.
Sugestão: Fixando a ∈ A, comece por provar que o conjunto
é um ideal esquerdo de A.
Exercı́cio 1.31. Dada uma álgebra de Banach A, mostre que a álgebra quociente
A/RA é semi-simples.
Exercı́cio 1.33. Considere o espaço de Banach l∞ constituido pelas sucessões (αn )n∈N
de termos em C que são limitadas, ou seja, tais que
Sejam lc∞ e l0∞ os subespaços de l∞ constituidos pelas sucessões com limite finito e com
limite 0, respectivamente.
46 CAPÍTULO 1. TEORIA ESPECTRAL EM ÁLGEBRAS DE BANACH
a) Mostre que l∞ e lc∞ , com a multiplicação pontual, são álgebras de Banach comu-
tativas;
AK := {a ∈ A : σ(a) ⊂ K}.
Mostre que se f é uma função holomorfa num aberto contendo K, então o cálculo
funcional
AK → A, a 7→ f (a)
é contı́nuo.
Exercı́cio 1.37. Mostre, utilizando o cálculo funcional, que o inverso de uma matriz
invertı́vel está na álgebra (fechada ou não) por ela gerada.
b) Mostre, com um exemplo, que no caso geral nem sempre a−1 ∈ alg{a}. Calcule,
para esse exemplo os espectros σA (a) e σalg{a} (a)
função holomorfa em K, então existe uma sucessão de polinómios que aproxima uniformemente f em
K.
1.7. EXERCÍCIOS 47
b) σA (a + b) ⊂ σA (a) + σA (b).
Exercı́cio 1.43. Considere o espaço lp , 1 ≤ p < ∞, das sucessões (αn )n∈N tais que
∑
n |xn | < ∞. Seja I o operador identidade, Sr o operador
p
Sr : (α1 , α2 , α3 , . . .) 7→ (0, α1 , α2 , α3 , . . .)
e Sl o operador
Sl : (α1 , α2 , α3 , . . .) 7→ (α2 , α3 , . . .).
b) Considere a sucessão de operadores (Sn )n∈N com Sn := Srn . Estude a sua con-
vergência fraca, forte e uniforme.
Representações de álgebras de
Banach
49
50 CAPÍTULO 2. REPRESENTAÇÕES DE ÁLGEBRAS DE BANACH
ϕJ : b 7→ ϕJ (b)
fb : B∗ → C, φ 7→ φ(b)
contı́nuas, com b ∈ B.
Teorema 2.1.1. Seja B uma álgebra de Banach complexa comutativa e com unidade.
Então o espaço dos ideais maximais MB é um espaço de Hausdorff compacto.
ϕ(b1 b2 ) = lim ϕα (b1 b2 ) = lim ϕα (b1 )ϕα (b2 ) = lim ϕα (b1 ) lim ϕα (b2 ) = ϕ(b1 )ϕ(b2 ),
α α α α
Definição 2.1.3. Sendo B uma álgebra de Banach complexa comutativa e com uni-
dade, à aplicação
b : B → C(MB ) , b 7→ bb
chama-se transformação de Gelfand de B .
1
Teorema de Alaoglu: Sejam A um espaço de Banach e A∗ o seu dual topológico. Tem-se que
a bola unitária fechada de A∗ , B01 (A∗ ) := {φ ∈ A∗ : ∥φ∥ ≤ 1}, constitui um conjunto fracamente
compacto em A∗ .
2
Por simplicidade de notação substitui-se no que segue a notação J , escolhida para designar um
ideal maximal de MB , por x.
52 CAPÍTULO 2. REPRESENTAÇÕES DE ÁLGEBRAS DE BANACH
Teorema 2.1.2 (Teorema de Gelfand). Seja B uma álgebra de Banach complexa co-
mutativa e com unidade e. Então
(i) a transformação de Gelfand é um homomorfismo contı́nuo;
Proposição 2.1.4. Seja B uma álgebra de Banach complexa comutativa e com unidade.
Para b ∈ B, são equivalentes as seguintes condições:
(i) ∥b2 ∥ = ∥b∥2 ;
Dem. De (i) tem-se que ∥b2k ∥ = ∥b∥2k para qualquer natural k. Aplicando a fórmula
para o raio espectral (Teorema 1.2.7) obtém-se
1 1
r(b) = lim ∥bn ∥ n = lim ∥b2k ∥ 2k = lim ∥b∥ = ∥b∥.
n→∞ k→∞ k→∞
A proposição (i) conduz assim a (ii). Ora, pelo teorema da aplicação espectral, se
λ ∈ σB (b), então λ2 ∈ σB (b2 ). Obtém-se então ∥b2 ∥ = r(b2 ) = r(b)2 = ∥b∥2 , concluı́ndo-
se assim que (ii) implica (i). Da condição (v) do Teorema 2.1.2 tem-se a equivalência
entre (ii) e (iii).
f (x) = exp(itx), x ∈ R.
f (x) = exp(λx)
Dem. Do Lema 2.1.6 tem-se que Θ transforma R num subconjunto de ML1 (R) , espaço
dos funcionais lineares multiplicativos não nulos de L1 (R).
Mostre-se que Θ é uma aplicação sobrejectiva. Seja φ ∈ ML1 (R) que em particular
constitui um funcional linear do dual topológico de L1 (R). Seja hφ ∈ L∞ (R) tal que
∫
φ(f ) = f (x)hφ (x) dx, f ∈ L1 (R).
R
o que juntamente com (2.3) permite concluir que, para qualquer f ∈ L1 (R), a igualdade
φ(fy )
hφ (y) = (2.5)
φ(f )
φ(f )hφ (x + y) = φ(g)hφ (x) = φ(fy )hφ (x) = φ(f )hφ (y)hφ (x),
ou seja, que
hφ (x + y) = hφ (y)hφ (x), x, y ∈ R.
Existe assim t ∈ R tal que, hφ (x) = eitx para qualquer x ∈ R, Lema 2.1.7, con-
cluı́ndo-se que φ = φt logo Θ é sobrejectiva.
Quanto à injectividade de Θ repare-se que se Θ(t) = Θ(t′ ) então, para qualquer
f ∈ L1 (R), ∫
′
f (x)(eitx − eit x ) dx = 0.
R
Em particular, fazendo {
e−itx , x ∈ [0, 1]
f (x) = ,
0, x∈/ [0, 1]
obtém-se ∫ 1
′
(1 − ei(t −t)x ) dx = 0
0
′
o que permite afirmar que t = t .
Verifique-se finalmente que Θ é um homeomorfismo. Se tα → t em R então, para
qualquer f ∈ L1 (R), φtα (f ) → φt (f ) e consequentemente Θ(tα ) → Θ(t) em ML1 (R) .
Por outro lado, se para qualquer f ∈ L1 (R) se tem
∫
lim f (x)(eitα x − eitx ) dx = 0
α R
com ∫
fb(t) := f (x) exp(itx) dx,
R
Quando o espaço X for evidente, este é por vezes omitido falando-se simplesmente
da representação π. A representação (X, π) diz-se fiel se o núcleo de π for apenas
constituı́do pelo elemento nulo. Neste caso π é um isomorfismo algébrico de A para
uma subálgebra de L(X). Sempre que π ̸= 0 diz-se que a representação (X, π) é não
nula.
O homomorfismo
LJ : A → L(A/J ), a 7→ LJa (2.8)
designa-se por representação regular esquerda de A induzida por J .
π(a)Y ⊆ Y,
Definição 2.2.3. Uma representação não nula (X, π) de uma álgebra A diz-se alge-
bricamente irredutı́vel se {0} e X são os únicos subespaços invariantes para π.
Pode-se mostrar que a representação regular esquerda induzida por um ideal maxi-
mal esquerdo J é irredutı́vel (ver Exercı́cio 2.7).
Lema 2.2.1 (Lema de Schur). Seja (X, π) uma representação algebricamente irre-
dutı́vel da álgebra A e T ̸= 0 um operador linear em X. Se para qualquer a ∈ A,
T π(a) = π(a)T,
então T é invertı́vel.
Dem. A condição T π(a) = π(a)T implica que Ker T e Im T são subespaços invari-
antes para π. Atendendo a que π é irredutı́vel e dado que por hipótese Ker T ̸= X e
Im T ̸= {0}, obtém-se que Ker T = {0} e Im T = X. Assim, T é injectivo e sobrejec-
tivo, logo invertı́vel.
Definição 2.2.4. Sendo A uma álgebra de Banach complexa, designa-se por repre-
sentação de A o par (X, π), onde X é um espaço de Banach complexo e π é um
homomorfismo de A na álgebra L(X) dos operadores lineares limitados sobre X.
Corolário 2.2.3. Seja A uma álgebra de Banach com unidade e, J um ideal esquerdo
maximal de A, e LJ : A → L(A/J ) a representação regular esquerda induzida por J .
Seja ainda T um operador linear, não necessáriamente limitado, em A/J . Se T LJa =
LJa T para qualquer a ∈ A, então T é um múltiplo escalar do operador identidade.
Dem. Dado x ∈ A/J escolha-se a ∈ A tal que ∥a∥ ≤ 2∥ΦJ (a)∥ e ΦJ (a) = x. Assim,
Ψx : A → X, a 7→ π(a)x.
O núcleo de Ψx ,
J := {j ∈ A : π(j)x = 0}
é um ideal esquerdo de A. Prova-se de seguida que é maximal. Suponha-se que existe
um outro ideal próprio I que o contém. Então existirá um elemento a ∈ I tal que
2.2. REPRESENTAÇÕES DE ÁLGEBRAS 61
Ker LJ = {a ∈ A : LJa = 0} = {a ∈ A : ab ∈ J , b ∈ A}
= {a ∈ A : Ψx (ab) = 0, b ∈ A}
= {a ∈ A : π(ab)x = 0, b ∈ A}
= {a ∈ A : π(a)π(b)x = 0, b ∈ A}
= {a ∈ A : π(a)X = 0} = {0}.
Dem. Sendo A uma álgebra primitiva, existe pela Proposição 2.2.4 um ideal esquerdo
maximal J de A para o qual a representação regular esquerda induzida, LJ , é injectiva.
Represente-se por ΦJ : A → A/J a aplicação linear canónica, a 7→ a+J . Sejam I ⊂ J
um ideal e a ∈ I. Para qualquer x ∈ A, tem-se que
ou seja, LJa é o operador nulo. Uma vez que LJ é injectivo, a = (LJ )−1 (LJa ) = 0. O
ideal I é assim o ideal nulo.
Reciprocamente, suponha-se que J é um ideal esquerdo maximal de A que não
contém ideais não triviais. Se LJ (a) = 0 para algum a ∈ A, então ax ∈ J para
quaisquer elementos x ∈ A. Defina-se I := {b ∈ A : bA ⊂ J }. Ora, o conjunto I é
claramente um ideal de A contido em J tendo-se a ∈ I. Como consequência a = 0 e
a representação LJ é fiel.
contidos em J . É neste contexto que surge a noção de ideal primitivo de uma álgebra
de Banach A, que generaliza a noção de ideal maximal para o caso de álgebras não
comutativas.
(J : A) := {a ∈ A : aA ⊂ J }.
Designando por PrimA o conjunto dos ideais primitivos de A, tem-se por definição
que
PrimA := {(J : A) : J ∈ EA },
sendo EA o conjunto dos ideais maximais esquerdos de A.
MA ⊂ PrimA ;
(J : A) ⊂ J e I ⊂ (J : A).
MA = PrimA
uma vez que todo o ideal primitivo de A é também um ideal maximal. Efectivamente,
se J é um ideal esquerdo maximal da álgebra comutativa A, então J é um ideal ma-
ximal de A tal que J A ⊂ J . Assim, J ⊂ (J : A) tendo-se J = (J : A).
Teorema 2.2.9. Sendo A uma álgebra de Banach com unidade e, defina-se AP := A/P
e aP := a + P para a ∈ A e P ∈ PrimA . Se a ∈ A, então
J = {a ∈ A : πa (x0 ) = 0}.
U (a + J ) = πa (x0 ), a ∈ A.
Fixando bJe ∈ JeJ tal que bJe ̸= 0, obtém-se de (2.10) e do facto de πA (U (bJe)) = X que
LJAJ (bJe) = AJ , pois U é um isomorfismo. Assim,
o que implica A = Je, logo uma contradição. Tem-se para o ideal P que P = (J : A)
com J um ideal maximal, logo P é primitivo.
Para provar a inclusão contrária vai mostrar-se que todo o ideal primitivo P ∈
PrimA é a intersecção de uma famı́lia {Jb }b∈A\{0} de ideais maximais esquerdos de A.
Caso tal aconteça então,
∩ P= ∩ ( ∩ Jb ) ⊃ RA ,
P∈PrimA P∈PrimA b∈A\{0}
66 CAPÍTULO 2. REPRESENTAÇÕES DE ÁLGEBRAS DE BANACH
P = {a ∈ A : LJa = 0} = {a ∈ A : ab + J = 0 + J , b ∈ A}
= {a ∈ A : ab ∈ J , b ∈ A}
= ∩ {a ∈ A : ab ∈ J }.
b∈A
Definição 2.2.8. Seja (X, +) um grupo comutativo e A uma álgebra. Diz-se que X é
um A-módulo esquerdo se existir uma operação de A×X em X tal que, para quaisquer
a, b ∈ A, x, y ∈ X, se tem:
Um módulo diz-se fiel se para qualquer elemento a ∈ A \ {0} existe x ∈ X tal que
ax ̸= 0. Um subgrupo Y ⊂ X diz-se submódulo do módulo X se AY ⊂ Y . Diz-se que
um A-módulo esquerdo X tem dimensão n ∈ N se existem elementos x1 , x2 , ..., xn ∈ X
tais que qualquer elemento x ∈ X admite uma representação na forma,
x = a1 x1 + a2 x2 + ... + an xn ,
com a1 , a2 , ..., an ∈ A.
2.2. REPRESENTAÇÕES DE ÁLGEBRAS 67
Proposição 2.2.12. Sejam A uma álgebra e (X, π) uma sua representação. Considere-
se o A-módulo esquerdo associado a (X, π). Então,
(i) (X, π) é fiel se e só se o A-módulo esquerdo associado é fiel;
(ii) (X, π) é irredutı́vel 3 se e só se os únicos submódulos do A-módulo esquerdo
associado são {0} e X.
Dem. (i) Suponha-se que π injectiva. Assim, para a ∈ A com a ̸= 0 tem-se que
π(a) ̸= 0. Como consequência, existe x ∈ X tal que π(a)x ̸= 0, ou seja, existe x ∈ X
tal que ax ̸= 0 e X é um A-módulo esquerdo fiel.
Reciprocamente, se X é A-módulo esquerdo fiel e π(a) = 0, então ax = 0 para
qualquer x ∈ X. Tem-se assim que a = 0 e a representação (X, π) é fiel.
(ii) Suponha-se que (X, π) é irredutı́vel. Considere-se Y um submódulo de X. Tem-se
que AY ⊂ Y, ou seja, para qualquer a ∈ A,
aY ⊂ Y ⇔ π(a)Y ⊂ Y.
O subgrupo Y é assim invariante para π que sendo irredutı́vel implica que Y = {0} ou
Y = X.
Reciprocamente, suponha-se que os únicos submódulos de X são os triviais. Assim,
se Y ⊂ X é um subgrupo invariante para π então π(a)Y ⊂ Y para qualquer a ∈ A, ou
seja, AY ⊂ Y. Da hipótese conclui-se que Y = {0} ou Y = X podendo afirmar-se que
π é irredutı́vel.
Lema 2.3.1. O centro de uma álgebra de Banach A com unidade e, é uma subálgebra
fechada de A, comutativa, fechada para a inversão e contendo a unidade.
Seja A uma álgebra de Banach com unidade. Diz-se que uma subálgebra B ⊂ A é
uma subálgebra central de A, se for uma subálgebra fechada do centro de A contendo
a unidade. Obviamente, B é uma álgebra de Banach comutativa com unidade, e pode
representar-se por MB o seu espaço de ideais maximais. A cada ideal maximal x ∈ MB
associe-se o menor ideal bilateral fechado Ix de A que contém x, e represente-se por Φx
o homomorfismo canónico de A para A/Ix . Ao contrário do caso em que A é comuta-
tiva, as álgebras quociente A/Ix não são em geral iguais, dependendo de x ∈ MB . Em
particular pode acontecer que Ix = A para alguns valores de x. Nesse caso Φx (a) = ax
é invertı́vel em A/Ix e ∥Φx (a)∥ = 0 para cada a ∈ A.
definidas no espaço dos ideais maximais de B são, pelo Teorema 2.3.3 (ii), superiormente
semicontı́nuas. Assim,
∥Φy (ab − e)∥ < 1/2 e ∥Φy (ba − e)∥ < 1/2
e uma vez que Φ(e) é o elemento identidade em A/Iy , pelo Teorema 1.2.1 conclui-se
que Φy (a) é invertı́vel em A/Iy e
∥Φy (a)−1 Φy (b)−1 ∥ ≤ 2 ⇒ ∥Φy (a)−1 ∥ ≤ 2∥Φy (b)∥ para qualquer y ∈ U ′ .
Finalmente, aplicando a semicontinuidade superior mais uma vez, obtém-se
∥Φy (b)∥ ≤ 2∥Φx (b)∥ = 2∥Φx (a)−1 ∥
para qualquer y numa vizinhança U ⊆ U ′ de x.
Dem. Seja λ um elemento do conjunto lim supy→x σ(Φy (a)). Por definição, existe
uma sucessão (yn ) ∈ MB com yn → x e números λn ∈ σ(Φyn (a)) tais que λn → λ.
Considerem-se os elementos a − λn e que convergem para a − λe, e suponha-se que a
classe Φx (a − λe) é invertı́vel. Da Proposição 2.3.4, as classes locais Φyn (a − λn e) são
invertı́veis para n suficientemente grande, o que contradiz a hipótese inicial. Conse-
quentemente, s ∈ σ(Φx (a)).
Definição 2.3.2. Seja A uma álgebra de Banach real ou complexa com unidade e.
Diz-se que um subconjunto M ⊂ A é uma classe localizadora se M não contém o
elemento 0 e dados dois elementos arbitrários f1 , f2 ∈ M , existe sempre um terceiro
elemento f ∈ M tal que fj f = f fj = f, j = 1, 2.
Seja M uma classe localizadora. Dois elementos a, b ∈ A dizem-se M -equivalentes
à esquerda (resp. à direita) se
b1 a 2 h = b1 a1 h − b1 (a1 − a2 )h
= b1 a1 f h − b1 (a1 − a2 )gh
= f h − b1 (a1 − a2 )gh
= h − b1 (a1 − a2 )gh.
b1 a2 h = (e − u)h.
∑
m
s := b τ j fτ j
j=1
obtém-se
∑
m ∑
m ∑
m
sa = b τ j fτ j a = bτj afτj = fτ j .
j=1 j=1 j=1
∑m
Tem-se assim que ( j=1 fτj )−1 s é um inverso à esquerda de a.
(ii) Se aτ é invertı́vel à esquerda em A/Z τ , para qualquer τ ∈ X, da Proposição 2.3.8
e do anterior ponto (i) conclui-se que a é invertı́vel à esquerda em A. A demonstração
no sentido contrário é trivial.
(iii) Considere-se τ0 ∈ X e ϵ > 0. Escolha-se z ∈ Z τ tal que ∥a + z∥ < ∥aτ0 ∥ + ϵ/2. Uma
vez que z é Mτ0 -equivalente a zero à esquerda, existe um f ∈ Mτ0 tal que ∥zf ∥ < ϵ/2.
Como f ∈ Mτ0 implica f ∈ Mτ para qualquer τ numa vizinhança de τ0 , devido à
propriedade de sobreposição, deduz-se que f ∈ Mτ para qualquer τ numa vizinhança
U (τ0 ) de τ0 . Defina-se y := z − zf . Se τ ∈ U (τ0 ), então existe um g ∈ Mτ tal que
f g = g. Tem-se então que yg = zg − zf g = zg − zg = 0. Uma vez que pela definição
de Z τ e devido à propriedade de sobreposição se tem que y ∈ F ′ , então y ∈ Z τ para
qualquer τ ∈ U (τ0 ). Assim, ∥aτ ∥ ≤ ∥a + y∥ para τ ∈ U (τ0 ) e portanto, se τ ∈ U (τ0 ),
então
ϵ ϵ ϵ
∥aτ ∥ − ∥aτ0 ∥ < ∥a + y∥ − ∥a + z∥ + ≤ ∥y − z∥ + = ∥zf ∥ + < ϵ,
2 2 2
76 CAPÍTULO 2. REPRESENTAÇÕES DE ÁLGEBRAS DE BANACH
Note-se que o Teorema 2.3.9 se mantém verdadeiro se o termo ”à esquerda” for
substituı́do pelo termo ”à direita.”
0 = P ( . . . , ai + aj , . . . , ai + aj , . . . )
= P ( . . . , ai , . . . , ai , . . . ) + P ( . . . , ai , . . . , aj , . . . )
+ P ( . . . , a j , . . . , ai , . . . ) + P ( . . . , a j , . . . , aj , . . . )
= P ( . . . , ai , . . . , aj , . . . ) + P ( . . . , aj , . . . , ai , . . . ).
Lema 2.4.2. Se uma álgebra A satisfaz uma identidade polinomial de grau k, então
também satisfaz uma identidade multilinear de grau menor ou igual a k.
Dem. Suponha-se que A satisfaz o polinómio P de grau k em n variáveis. Se P não
for linear na primeira variável, isto é, se o grau da primeira variável for maior que 1,
considere-se o polinómio
∆1 P(a1 , . . . , an , an+1 )
= P(a1 + an+1 , a2 , . . . , an ) − P (a1 , a2 , . . . , an ) − P (an+1 , a2 , . . . , an ).
78 CAPÍTULO 2. REPRESENTAÇÕES DE ÁLGEBRAS DE BANACH
Lema 2.4.3. A álgebra das matrizes Mn (K) sobre o corpo K não satisfaz nenhuma
identidade polinomial de grau menor que 2n.
Dem. Atendendo ao lema 2.4.2 basta apenas verificar que Mn (K) não satisfaz
nenhuma identidade multilinear de grau menor que 2n. Por absurdo, suponha-se que
Mn (K) satisfaz uma identidade multilinear Pm de grau m < 2n. Sejam Ep,q ∈ Mn (K)
matrizes com zeros em todas as entradas com excepção da entrada (p, q), que tem o
valor 1. Considerem-se os elementos
{
E i+1 , i+1 se i é ı́mpar
ai = 2 2
,
E i , i+2 se i é par
2 2
Corolário 2.4.5. Se
∑
P(a1 , . . . , a2n ) = sgnσ[aσ1 , aσ2 ] . . . [aσ2n−1 , aσ2n ],
σ∈Σ2n
com q(1) = −1, q(1,1) = 1/2 e q(2) = −1/2, uma vez que
1 1
Pa (a) = a2 − (tr a)a + (tr a)2 − tr (a2 ).
2 2
a soma ∑ ( )
0= sgnσ ′ (∆P) [aσ1′ , aσ2′ ], . . . , [aσ2n−1
′ ′ ]
, aσ2n .
∑
σ′ ∈ 2n
Pelo Lema 2.4.6, cada um dos termos da soma é 0. Logo, P′ (a1 , . . . a2n ) = 0 tendo-se
S2n (a1 , . . . a2n ) = 0.
Considere-se agora a situação geral para o corpo C e sejam ai ∈ Mn (C). Cada
∑ (i)
matriz ai pode ser escrita como uma combinação linear ai = j,k ajk Ej,k onde Ej,k são
matrizes com a entrada (j, k) igual a 1 e as outras zero. Dada a multilinearidade de
S2n , basta mostrar que
S2n (c1 e1 , . . . , c2n e2n ) = 0
para qualquer escolha dos elementos c1 , . . . , c2n em C e das matrizes e1 , . . . , e2n de
Mn (Q) com apenas uma entrada não nula e igual a 1. Identificando cada elemento c de
82 CAPÍTULO 2. REPRESENTAÇÕES DE ÁLGEBRAS DE BANACH
Definição 2.4.5. Seja {πx }x∈X uma famı́lia de representações de A tal que πx (a) ∈
Ml(x) (C) para cada a ∈ A. Diz-se que a famı́lia {πx }x∈X gera um sı́mbolo matricial de
ordem n para B em A se, para qualquer b ∈ B, b é invertı́vel em A se e só se πx (b) é
invertı́vel para qualquer x ∈ X.
LJa (y) = x. Pode-se verificar facilmente que B está bem definido e satisfaz as condições
do Corolário 2.2.3. Como consequência, B é um operador escalar, ou seja, B = λI com
λ complexo, e para qualquer LJa ∈ L tem-se
Mas pela hipótese, se LJa (ξ) = 0 para qualquer LJa ∈ L, então ξ ∈ E0 . Assim
z − λy ∈ E0 , o que contradiz a escolha de z ∈ E \ E1 .
Dem. Sendo A uma álgebra primitiva então, pelo Proposição 2.2.4, A possui um
ideal esquerdo maximal J para o qual a correspondente representação regular esquerda
LJ : A → {LJa : a ∈ A} é um isomorfismo. Mostre-se que se A ∈ SI2n então
dim E ≤ n com E := A/J . Suponha-se que dim E > n. Se e1 , . . . , en+1 forem
elementos linearmente independentes em E defina-se, para i, j, k = 1, . . . , n + 1,
(ij)
vk := δjk ei
onde δjk representa o sı́mbolo de Kronecker. Existem elementos ai,j ∈ A tais que
LJai,j ek = vk (Lema 2.4.9). Fazendo um cálculo simples,
(ij)
donde
J J J J J
∥Sm
2n (Lan+1,n , Lan,n−1 , . . . , La2,1 , La1,2 , . . . , Lan,n+1 )∥ ≥ 1,
84 CAPÍTULO 2. REPRESENTAÇÕES DE ÁLGEBRAS DE BANACH
para qualquer m. Dado que LJ é contı́nuo e por hipótese A ∈ SI2n obtém-se uma
contradição. Como consequência, dim E ≤ n e obviamente L(E) ≡ Ml (C), para
algum 1 ≤ l ≤ n.
O teorema que se segue pode ser visto como uma generalização da teoria de Gelfand
para álgebras que satisfazem a identidade polinomial standard.
Teorema 2.4.11. Seja A ∈ SI2n uma álgebra de Banach com unidade e. Então
(i) a álgebra quociente Ax := A/x é isomorfa a Ml(x) (C), para cada ideal maximal x
de A, com l(x) ≤ n;
Dem. (i) Se a álgebra A for primitiva, pelo Teorema 2.4.10 é imediatamente isomorfa
a Ml (C) para algum l ≤ n. Caso contrário, para qualquer x em MA a álgebra quociente
Ax é primitiva e pertence a SI2n . Pelo Teorema 2.4.10 obtém-se o resultado.
(ii) Se a ∈ A é um elemento invertı́vel então é imediato que πx (a) é também invertı́vel
para qualquer x ∈ MA . Para mostrar a implicação no sentido contrário, suponha-se
que πx (a) é invertı́vel para qualquer x ∈ MA . Tem-se evidentemente que a + x é
invertı́vel em Ax , para qualquer x ∈ MA . Suponha-se, com vista a um absurdo, que
a não é invertı́vel à esquerda. Pela Proposição 1.3.2, a pertence a um ideal esquerdo
maximal J de A. Seja LJ a representação regular esquerda induzida por J e defina-se
I := Ker LJ . É evidente que I é um ideal contido em J , que a álgebra quociente
A/I é primitiva, e que A/I ∈ SI2n . Do Teorema 2.4.10 conclui-se então que A/I é
isomorfa a Ml (C), com l ≤ n, donde resulta a maximalidade de I. Seja x0 := I ∈ MA .
Uma vez que x0 é um subconjunto de J , a imagem Jx0 := Φx0 (J ) é novamente um
ideal esquerdo, agora de Ax0 := A/x0 , com Φx0 (a) ∈ Jx0 . Assim, Φx0 (a) não pode
ser invertı́vel em Ax0 , o que contradiz a suposição. Tem-se então que a tem de ser
invertı́vel à esquerda.
Mostre-se agora que a também é invertı́vel à direita. Dado que a é invertı́vel à
esquerda, existe um elemento b ∈ A tal que ba = e tendo-se πx (b)πx (a) = πx (e), para
qualquer x ∈ MA . Dado que πx (a) é invertı́vel em Ax , tem-se ainda que πx (a)πx (b) =
πx (e), ou seja, ab − e ∈ x para qualquer x ∈ MA . Pela Proposição 2.2.5, cada ideal
esquerdo maximal de A contém um ideal maximal e o elemento r = ab − e pertence
2.4. ÁLGEBRAS COM IDENTIDADE POLINOMIAL 85
Teorema 2.4.12. Seja A uma álgebra de Banach com unidade e. As seguintes afirmações
são equivalentes:
Dem. (i) ⇒ (ii). Suponha-se que existe uma famı́lia de homomorfismos matriciais hx
sobre A, identificados pelos elementos de um conjunto X, tal que um elemento a ∈ A
é invertı́vel em A se e só se as matrizes hx (a) são invertı́veis para todos os x ∈ X.
Mostra-se que se a ∈ A é invertı́vel então a + S2n (a1 , . . . , a2n ) é invertı́vel para
qualquer escolha dos elementos a1 , . . . , a2n de A. Ora, dado que
e todos os elementos hx (ak ) são matrizes quadradas de ordem l, pelo Teorema 2.4.7
conclui-se
hx (S2n (a1 , . . . , a2n )) = 0
para qualquer x ∈ X. Assim,
para qualquer x ∈ X, e dado que {hx }x∈X constitui um sı́mbolo matricial, tem-se que
a+S2n (a1 , . . . , a2n ) é invertı́vel sempre que o mesmo acontece a a ∈ A. Pela Proposição
1.3.10, S2n (a1 , . . . , a2n ) está no radical de A, o que termina a demonstração. (ii)⇒(i).
86 CAPÍTULO 2. REPRESENTAÇÕES DE ÁLGEBRAS DE BANACH
Suponha-se que A/RA satisfaz uma identidade multilinear. Logo possui sı́mbolo de
invertibilidade de ordem n pelo Teorema 2.4.11. Dado que a ∈ A é invertı́vel se e só
se a + RA é invertı́vel em A/RA , a existência de um sı́mbolo matricial para A/RA
conduz obviamente à existência de um simbolo matricial para A.
Por vezes também se designam as álgebras com sı́mbolo matricial como álgebras-QI
(Quasi-Indentity).
Exemplo
∑∞ 2.4.2. Seja l2 o espaço de Banach das sucessões (αn ) de termos em C tais
que i=1 |αi |2 < ∞. Represente-se por A0 a subálgebra de L(l2 ) constituı́da por todos
os operadores lineares limitados A ∈ L(l2 ) tais que os coeficientes da representação
matricial (aij )∞
i,j=1 de A com respeito à base canónica são tais que:
{
0 se i > j,
a) aij =
0 se i < j e apenas num número finito de excepções;
polinomiais.
Proposição 2.5.1. Seja B uma álgebra gerada por uma unidade e, e por dois idempo-
tentes, p e r. Então B satisfaz a identidade polinomial standard S4 .
Dem. O elemento
p r pr
p p pr pr
r c − e + p + r − pr r cr
pr cp pr cpr
S4 (b1 , b2 , b3 , b4 ) = 0.
Ora, se dois dos elementos bi coincidirem então é óbvio que S4 (b1 , b2 , b3 , b4 ) = 0. Caso
contrário, um dos bi tem de ser o elemento identidade. Seja por exemplo b1 = e. Tem-se
então que S4 (e, a2 , a3 , a4 ) = 0 para quaisquer elementos a2 , a3 , a4 de B.
Corolário 2.5.2. Se B é uma álgebra de Banach gerada por uma unidade e, e por dois
idempotentes, p e r, então B satisfaz a identidade polinomial standard S4 .
Seja então B uma álgebra de Banach que é gerada pela identidade, e, e pelos dois
idempotentes p e r. Do corolário 2.5.2 e do Teorema 2.4.11 tem-se que, para cada ideal
maximal x de B,
B/x ∼= M1 (C) = C ou B/x ∼ = M2 (C).
Represente-se por Mi , i = 1, 2, o conjunto dos ideais maximais x de B com B/x ∼
=
Mi (C). Para cada x ∈ Mi escolha-se um isomorfismo ξx de B/x em Mi (C) e defina-se
πx : B → Mi (C), a 7→ ξx (a + x).
que tem a propriedade de que π̃x (a) é invertı́vel se e só se πx (a) for invertı́vel. Considere-
se [ ]
α β
π̃x (r) =:
γ δ
com α, β, γ e δ números complexos. Tem-se obrigatoriamente βγ ̸= 0, pois caso
contrário
alg{π̃x (e), π̃x (p), π̃x (r)}
seria uma álgebra de matrizes triangulares (superiores ou inferiores) que não coincidiria
com M2 (C). Ora, da idempotência de π̃x (r) concluı́-se que
[ √ ]
α ϵ α(1 − α)
π̃x (r) = −1 √ x
ϵx α(1 − α) 1−α
√
em que ϵ√x é número complexo não nulo, e α(1 − α) representa um número complexo
tal que ( α(1 − α)) = α(1 − α).
2
Defina-se [ ] [ ]
1 0 1 0
Ψx : B → M2 (C), a 7→ π̃ (a) .
0 ϵx x 0 ϵ−1
x
90 CAPÍTULO 2. REPRESENTAÇÕES DE ÁLGEBRAS DE BANACH
Então Ψx é um isomorfismo tal que Ψx (a) é invertı́vel se e só se πx (a) o for, bem como
[ ] [ ]
1 0 1 0
Ψx (e) = , Ψx (p) =
0 1 0 0
e
[ √ ]
α α(1 − α)
Ψx (r) = √
α(1 − α) 1−α
b := p + 2r e c = e − p − r + pr + rp,
e que nenhum dos números 0, 1, 2, 3 está no espectro de Fα (b) := Fα (p) + 2Fα (r) se
α ̸∈ {0, 1}. Uma vez que todos os pontos do espectro de b têm de ser obtidos como
pontos do espectro de πx (b), para x ∈ M1 , ou do espectro de Ψx (b), para x ∈ M2 , pode
então concluir-se que cada elemento m em
σ(b) ∩ {0, 1, 2, 3}
tem de ser obtido por uma representação unidimensional, existindo uma bijecção entre
M1 e σ(b) ∩ {0, 1, 2, 3}, uma vez que apenas Gm (b) tem por imagem m.
Analogamente se verifica que para o elemento c,
pertence a {0, 1} para cada escolha de m ∈ {0, 1, 2, 3}. Os elementos em σ(c) \ {0, 1}
podem somente ser obtidos por representações bidimensionais Ψx (c). Dado que
[ ]
α 0
Fα (c) := Fα (e) − Fα (p) − Fα (r) + Fα (p)Fα (r) + Fα (r)Fα (p) = ,
0 α
2.5. ÁLGEBRAS GERADAS POR DUAS PROJECÇÕES 91
cada elemento α ∈ σ(c)\{0, 1} induz um dos homomorfismos Fα e, por outro lado, cada
um dos homomorfismos Fα (e como consequência, cada um dos Ψx ) pode contribuir
apenas com um elemento para σ(c) \ {0, 1}. Existe assim entre M2 e σ(c) \ {0, 1} uma
bijecção.
Para finalizar resta considerar a situação em que 0 ou 1 pertence a σ(c) mas não
é um elemento isolado de σ(c). Suponha-se que 0 tem esta propriedade. Existe então
uma sucessão (xn ) de termos em σ(c) \ {0} tal que xn → 0 quando n → ∞. Se se
determinar o espectro de Fxn (b), isto é, as soluções da equação
[ √ ]
2x
√ n + 1 − λ 2 xn (1 − xn )
det
2 xn (1 − xn ) 2(1 − xn ) − λ
= (2xn + 1 − λ)(2 − 2xn − λ) − 4xn (1 − xn ) = 0,
uma vez que as raı́zes de um polinómio dependem continuamente dos coeficientes, essas
soluções λn e µn tendem para as soluções da equação (1 − λ)(2 − λ) = 0 que se obtém
da equação anterior fazendo xn convergir para 0. Assim, λn → 1 e µn → 2, donde
1, 2 ∈ σ(b). Analogamente se mostra que 0, 3 ∈ σ(b) se 1 está em σ(c) e não é um
ponto isolado de σ(c).
Teorema 2.5.3 (Teorema das duas projecções). Seja A uma álgebra de Banach com
unidade e, e sejam p e r idempotentes em A. Seja B := alg{e, p, r} a subálgebra fe-
chada de A gerada pelos elementos p, r e e, então:
Fx : {e, p, r} → M2 (C),
definida por
[ ] [ ] [ √ ]
1 0 1 0 x x(1 − x)
Fx (e) = , Fx (p) = , Fx (r) = √ ,
0 1 0 0 x(1 − x) 1−x
√ (√ )2
onde x(1 − x) representa qualquer número em que x(1 − x) = x(1 − x),
pode ser estendida a um homomorfismo contı́nuo de B em M2 (C) que se representa
pelo mesmo sı́mbolo Fx ;
Gm : {e, p, r} → C,
92 CAPÍTULO 2. REPRESENTAÇÕES DE ÁLGEBRAS DE BANACH
definida por
G0 (e) = 1, G0 (p) = G0 (r) = 0, G1 (e) = G1 (p) = 1, G1 (r) = 0,
G2 (e) = G2 (r) = 1, G2 (p) = 0, G3 (e) = G3 (p) = G3 (r) = 1
pode ser estendida a um homomorfismo contı́nuo de B para C;
(iii) um elemento a ∈ B é invertı́vel em B se e só se as matrizes Fx (a) são invertı́veis
para qualquer x ∈ σB (e − p − r + pr + rp) \ {0, 1} e se os números Gm (a) não se
anulam para m ∈ σB (p + 2r) ∩ {0, 1, 2, 3}.
(iv) se 0 e 1 não são pontos isolados do espectro de c então existe cada um dos homo-
morfismos Gm , m = 0, 1, 2, 3.
Pode-se estabelecer ainda o seguinte corolário.
2.6 Exercı́cios
Exercı́cio 2.3. Recorde o Exercı́cio 1.33. Seja M (l∞ ) o espaço dos funcionais lineares
multiplicativos de l∞ , com a topologia w∗ . Dado u ∈ l∞ , defina-se
b(ϕ) := ϕ(u),
u ϕ ∈ M (l∞ ).
Note que M (l∞ ) é um espaço de Hausdorff compacto.
b define um isomorfismo algébrico isométrico de l∞
a) Mostre que a aplicação u 7→ u
em C(M (l∞ ));
b, para qualquer u ∈ l∞ ;
b=u
b) Mostre que u
d) Conclua que lc
∞ = C(M (l ∞ ))
Exercı́cio 2.5. Prove o Lema 2.3.1, ou seja, mostre que o centro de uma álgebra de
Banach A com unidade e, é uma subálgebra fechada de A, comutativa, fechada para a
inversão e contendo a unidade.
L : A → L(A), a 7→ La ,
LJ : A → L(A/J ), a 7→ LJa ,
Exercı́cio 2.8. Prove a Proposição 2.2.6, ou seja, sendo A é uma álgebra de Banach
com unidade e, e J é um ideal esquerdo de A, prove que o quociente (J : A) é o maior
ideal bilateral de A contido em J .
U : AJ → X, aJ := a + J 7→ πa (x).
∀a ∈ A, πa U = U LJa .
∀a ∈ A, π
ea U = U π
ea .
a) (X, π) é irredutı́vel;
Exercı́cio 2.12. Prove que qualquer álgebra de dimensão finita A, com dim A < n
(n ∈ N), satisfaz a identidade standard de ordem n.
96 CAPÍTULO 2. REPRESENTAÇÕES DE ÁLGEBRAS DE BANACH
Exercı́cio 2.15. Determine o menor número l ∈ N tal que M2 (C) é gerada por l
idempotentes. Responda à mesma questão para Mn (C) com n > 2.
Exercı́cio 2.16. Considere o teorema das duas projecções (Teorema 2.5.3). Para cada
subconjunto M de {0, 1, 2, 3}, encontre um exemplo onde σB (p + 2r) = M . Podem
assim ocorrer todas as possı́veis combinações de representações unidimensionais. Prove
o resultado correspondente para as representações bidimensionais.
Capı́tulo 3
Fundamentos de álgebras C ∗
Este capı́tulo tem por objectivo central estabelecer os fundamentos da teoria das
álgebras C ∗ . Introduzidos alguns conceitos básicos, mostra-se para uma álgebra C ∗
comutativa o 1o teorema de Gelfand-Naimark e estabelecem-se, em álgebras C ∗ , as
propriedades fundamentais de uma importante classe de elementos, os designados ele-
mentos positivos.
Na álgebra C ∗ dos operadores lineares limitados num espaço de Hilbert H, L(H),
analisam-se propriedades dos operadores de projecção e das isometrias parciais, es-
tabelecendo-se a decomposição polar dos operadores de L(H). Sendo X um espaço
de Hausdorff compacto, considera-se um homomorfismo-∗ unital de C(X) em L(H)
e mostra-se que existe uma medida espectral que permite representar as imagens do
homomorfismo-∗ na forma integral. Mostra-se que é possivel representar qualquer ope-
rador normal de L(H) a partir de uma medida espectral definida nos subconjuntos de
Borel do espectro do operador, estabelecendo assim o teorema espectral para este tipo
de operadores.
Indicam-se processos de construção de álgebras C ∗ a partir de álgebras C ∗ mais
simples. Define-se a soma directa, o produto directo e o limite indutivo de álgebras
C ∗ . Conclui-se o capı́tulo analisando, na ausência de unidade da álgebra C ∗ , vias para
ultrapassar essa dificuldade nomeadamente a unitarização da álgebra e o conceito de
aproximação da unidade.
97
98 CAPÍTULO 3. FUNDAMENTOS DE ÁLGEBRAS C ∗
(iii) (ab)∗ = b∗ a∗ .
Uma álgebra complexa A onde está definida uma involução diz-se uma álgebra
com involução ou, simplesmente, álgebra-∗. Ao longo do presente capı́tulo, excepto
na Secção 3.7, consideram-se sempre álgebras-∗ com unidade que se designa como ha-
bitualmente por e. Note-se que como e∗ a = (e∗ a)∗∗ = (a∗ )∗ = a e ae∗ = a, devido à
unicidade da unidade tem-se e∗ = e.
∗ : C(X) 7→ C(X), f 7→ f ,
Exemplo 3.1.2. Sendo H um espaço de Hilbert, a álgebra L(H) dos operadores linea-
res limitados T : H 7→ H com a norma habitual de operadores,
Por analogia com a representação álgebrica dos números complexos, aos hermitianos
h e k da representação (3.1) designam-se geralmente por parte real e parte imaginária
100 CAPÍTULO 3. FUNDAMENTOS DE ÁLGEBRAS C ∗
(iii) σA (a) ⊆ R.
Dem. Da identidade C ∗ é claro que sendo a hermiteano, ou seja a = a∗ , se tem (i).
Estabelecida a igualdade (i), da Proposição 2.1.4 obtém-se de imediato (ii).
Demonstre-se (iii). Seja b = exp(ia). Da definição de exponencial de um elemento
da álgebra,
∑∞
(ia)n ∑∞
(−ia∗ )n
b= e b∗ = .
n=0
n! n=0
n!
Assim b∗ = exp(−ia) e bb∗ = b∗ b = e. O elemento b é pois um elemento unitário e
consequentemente
1 = ∥e∥ = ∥bb∗ ∥ = ∥b∥2 .
Assim,
∥b∥ = ∥b∗ ∥ = ∥b−1 ∥ = 1
o que permite concluir que se λ ∈ σA (b) então |λ| = 1. Ora, pelo teorema da aplicação
espectral, σA (b) = σA (exp(ia)) = exp(iσA (a)) e como qualquer λ ∈ σ(b) tem módulo
unitário então σ(a) ⊂ R.
Corolário 3.1.3. Se A é uma álgebra-∗ com unidade então existe no máximo uma
norma em A que a torna uma álgebra C ∗ .
Dem. Sejam ∥.∥1 , ∥.∥2 normas na álgebra-∗ que a tornam uma álgebra C ∗ . Assim,
para qualquer a ∈ A,
Na Secção 1.2.5 verificou-se que sendo B uma subálgebra de Banach unital de uma
álgebra de Banach A então, para um elemento a ∈ B tem-se que σA (a) ⊆ σB (a) sendo
a diferença dos espectros obtida, na passagem da álgebra A para a álgebra B, pela
supressão de ”buracos” não aumentando a fronteira de σB (a). Mostra-se de seguida
que caso A e B sejam álgebras C ∗ então σA (a) = σB (a) verificando-se assim invariância
nos espectros.
σB (a) = σA (a).
b := a − λe ∈ GA ⇒ b∗ = a∗ − λe ∈ GA ,
σB (bb∗ ) = σA (bb∗ ),
b−1 = [b∗ (b∗ )−1 ]b−1 = b∗ [(b∗ )−1 b−1 ] = b∗ (bb∗ )−1 ∈ B,
ϕ(a∗1 ) = (ϕ(a))∗2 .
unidade de A2 . Ao longo deste capı́tulo, quando nada for dito em contrário, assume-se
sempre que os homomorfismos-∗ são unitais.
∥Ψ(a)∥ ≤ ∥a∥,
ab∗ = (h\
− ik) = b b =b
h − ik h − ib
k = h\
+ ik = b
a.
∥b
a∥2 = ∥b
ab c∗ ∥ = r(aa∗ ) = ∥aa∗ ∥ = ∥a∥2 .
a∥ = ∥aa
e a transformação é sobrejectiva.
Corolário 3.2.2. Toda a álgebra C ∗ comutativa e com unidade é uma álgebra semi-
simples.
Ψ : Aa → BΨ(a) .
ΨM : MBΨ(a) → MAa , φ′ 7→ φ′ ◦ Ψ,
Se para qualquer elemento hermiteano a ∈ A se tem ∥a∥ = ∥Ψ(a)∥ então, para qualquer
elemento c ∈ A,
∥Ψ(c)∥2 = ∥Ψ(c∗ c)∥ = ∥c∗ c∥ = ∥c∥2 ,
ou seja, o homomorfismo-∗ injectivo Ψ é isométrico.
b
a : MAa → σA (a), ϕ 7→ b
a(ϕ) := ϕ(a), (3.3)
a)−1 ,
Ψ : C(MAa ) → C(σA (a)), f 7→ Ψ(f ) := f ◦ (b (3.4)
estabelecendo-se o pretendido.
Na álgebra C(X) das funções contı́nuas num espaço Hausdorff compacto X, os ele-
mentos positivos são as funções reais não negativas. São fáceis de verificar as seguintes
proposições:
√
(i) Se f ∈ C(X) é positivo então g : x 7→ f (x) é o único elemento positivo de
C(X) que satisfaz f = g 2 ;
(ii) Se f ∈ C(X) é uma função real e ∥f − λ∥∞ ≤ λ, para algum real λ ≥ 0, então f
é positivo;
Proposição 3.3.1. Seja A uma álgebra C ∗ com unidade e. Dado um elemento positivo
a de A, existe um e um só elemento positivo q ∈ A tal que
q 2 = a. (3.7)
Verifique-se que q é único. Para tal considere-se q1 ∈ A um outro elemento positivo tal
que q12 = a. Tem-se,
q1 a = q1 q12 = q12 q1 = aq1 ,
ou seja, q1 comuta com a, logo com todos os elementos de Aa . Como q ∈ Aa então a
álgebra C ∗ gerada por q, q1 e pela identidade de A, U := alg (q, q1 ), é um álgebra C ∗
comutativa. Considere-se a transformação Gelfand da álgebra C ∗ comutativa U,
b : U → C(MU ),
Im qb = σU (q) = σA (q) ⊂ R+
0 e Im qb1 = σU (q1 ) = σA (q1 ) ⊆ R0 ,
+
e como
a = (qb12 ) = (qb1 )2 ,
q )2 = qb2 = b
(b
tem-se qb = qb1 , logo q = q1 .
√
Sendo A uma álgebra C ∗ e a ≥ 0 um elemento√positivo, representa-se por a o
único elemento q ≥ 0 tal que a = q 2 . Ao elemento a = q chama-se raiz quadrada do
elemento a ≥ 0. Repare-se que sendo a ∈ A um qualquer elemento, então a√∗ a ≥ 0
fazendo sentido definir o módulo do elemento a como sendo o elemento |a| := a∗ a.
A Proposição 3.1.1 permite afirmar que numa álgebra-∗ qualquer elemento é uma
combinação linear de elementos hermiteanos. Com o auxı́lio do cálculo funcional
contı́nuo pode agora estabelecer-se que numa álgebra C ∗ unitária qualquer elemento é,
em última analise, uma combinação linear de elementos positivos.
a = a+ − a− e a+ a− = 0. (3.8)
1 1
a+ = (|a| + a) e a− = (|a| − a). (3.9)
2 2
3.3. ELEMENTOS POSITIVOS EM ÁLGEBRAS C ∗ 109
Proposição 3.3.4. Sejam A uma álgebra C ∗ com unidade e A+ o conjunto dos seus
elementos positivos. Tem-se as seguintes proposições:
(i) Se a, b ∈ A+ então a + b ∈ A+ ;
Dem. (i) Sejam a, b dois elementos positivos de A. Substituı́ndo λ por ∥a∥ e ∥b∥,
resulta da condição (ii) do Lema 3.3.3, que a − ∥a∥e ≤ ∥a∥ e b − ∥b∥e ≤ ∥b∥.
Consequentemente,
(iv) Se P ̸= 0 então ∥P ∥ = 1.
PM : H → H, x = m + m⊥ 7→ m,
Ker PM = M ⊥ e Im PM = M,
PM T PM x = T PM x.
T x = T PM x = PM T PM x ∈ M,
3.4. A ÁLGEBRA C ∗ DOS OPERADORES LINEARES LIMITADOS 113
pelo que T (M ) ⊆ M.
(ii) Suponha-se que M é redutor para T . Nestas condições, M é invariante simul-
taneamente para T e T ∗ vindo de (i) que
T PM = PM T PM e T ∗ PM = PM T ∗ PM .
T ∗ PM = PM T ∗ PM ⇔ (PM T )∗ = (PM T PM )∗ ⇔ PM T = PM T PM ,
então T PM = PM T.
Reciprocamente, se T PM = PM T então
2
PM T PM = PM T = PM T = T PM ,
PM T ∗ PM = T ∗ PM .
∥V x∥ = ∥x∥.
2
Exemplo 3.4.1. No espaço
∑∞ de 2Hilbert l , espaço das sucessões x = (x1 , x2 , ..., xn , ...)
em C tais que a série n=1 |xn | é convergente, o operador linear
Sl : l2 → l2 , (x1 , x2 , ..., xn , ...) 7→ (x2 , x3 , ..., xn , ...),
é uma isometria parcial cujo espaço inicial é
(Ker Sl )⊥ = {x ∈ l2 : x = (0, x2 , x3 , ..., xn , ...), xi ∈ K, i ∈ N}.
Ax1 = Ax2 ⇒ T x1 = T x2 .
Efectivamente,
Ax1 = Ax2 ⇒ A2 x1 = A2 x2 ⇔ T ∗ T x1 = T ∗ T x2 ,
⟨T ∗ T x1 , x⟩ = ⟨T ∗ T x2 , x⟩ ⇔ ⟨T x1 , T x⟩ = ⟨T x2 , T x⟩ ⇔ ⟨T (x1 − x2 ), T x⟩ = 0,
logo T x1 = T x2 .
Verifica-se ainda que V0 se pode estender por continuidade a uma isometria V em
Im A, pois
Um dos dos objectivos da actual secção é generalizar este resultado a espaços de Hil-
bert de dimensão infinita, o que vai ser possı́vel recorrendo à noção de medida espectral.
3.5. TEOREMA ESPECTRAL PARA OPERADORES NORMAIS 117
∑
n ∑
∞ ∑
∞
⟨P (∆)g, h⟩ = lim ⟨P (∆i )g, h⟩ = ⟨P (∆i )g, h⟩ = ⟨ P (∆i )g, h⟩,
n→∞
i=1 i=1 i=1
ou seja,
⟨( ∑
∞
⟩
P (∆)g − P (∆i )g), h = 0,
i=1
∑
∞
P (∆) = P (∆i ),
i=1
∑
∞
P (∆)g = P (∆i )g.
i=1
∑
n
Tu − u(xk )P (∆k ) ≤ ε. (3.10)
k=1 L
Tem-se,
∑n ∑n ∑n
j=1 |Pg,h (Ωj )| = j=1 αj ⟨P (Ωj )g, h⟩ = ⟨ j=1 αj P (Ωj )g, h⟩
∑n (3.13)
≤ j=1 αj P (Ωj )g ∥h∥.
Ora, para i ̸= j
pelo que {αj P (Ωj )g : j ∈ {1, . . . , n}} é constituı́do por vectores ortogonais entre si.
Assim,
2
∑n ∑ n
2 ( ) 2
αj P (Ωj )g = P (Ωj )g = P ∪nj=1 Ωj g ≤ ∥g∥2 ,
j=1 j=1
2
Sendo H1 , H2 espaços de Hilbert, uma aplicação I : H1 × H2 → C linear na primeira variável
e linear conjugada na segunda diz-se uma forma sesquilinear. Diz-se que I é limitada se existir
K ∈ R+ tal que |I(x, y)| ≤ K∥x∥∥y∥ para x ∈ H1 , y ∈ H2 . Demonstra-se que, [20], se I é uma forma
sesquilinear limitada por K então existem operadores lineares únicos T ∈ L(H1 , H2 ) e S ∈ L(H2 , H1 )
tais que I(x, y) = ⟨T x, y⟩ = ⟨x, Sy⟩ para quaisquer x ∈ H1 , y ∈ H2 , sendo ∥T ∥ = ∥S∥ ≤ K (teorema
da representação de Riesz para formas sesquiliniares).
120 CAPÍTULO 3. FUNDAMENTOS DE ÁLGEBRAS C ∗
obtendo-se de (3.13) que Pg,h é uma medida com varição total limitada com ∥Pg,h ∥ ≤
∥g∥∥h∥. A condição (3.12) é agora consequência imediata da definição (3.11). Sendo
Iu uma forma sesquilinear limitada existe, pelo teorema da representação de Riesz, um
único operador Tu ∈ L(H) tal que, para quaisquer g, h ∈ H,
∫
Iu (g, h) := ⟨Tu g, h⟩ = u dPg,h (3.14)
X
e ∥Tu ∥L ≤ ∥u∥∞ .
Sejam ε > 0 e {∆1 , ∆2 , . . . , ∆n } uma qualquer partição de X nas condições do
enunciado. Tem-se, para quaisquer g, h ∈ H e xk elementos arbitrariamente fixados
em ∆k para k = 1, 2, ..., n,
∑ ∑
|⟨[Tu − nk=1 u(xk )P (∆k )]g, h⟩| = |⟨Tu g, h⟩ − nk=1 u(xk )⟨P (∆k )g, h⟩|
∫ ∑ ∫
= X u dPg,h − nk=1 ∆k u(xk )dPg,h (x)
∑n ∫
= k=1 ∆k (u(x) − u(xk ))dPg,h (x)
∑n ∫
≤ k=1 ∆k |u(x) − u(xk )| d|Pg,h |(x)
∫
< ε X d|Pg,h |(x) ≤ ε∥g∥ ∥h∥, .
Tomando o supremo sobre todos os elementos g, h ∈ H de norma um, obtém-se como
pretendido a desigualdade (3.10). Repare-se que a unicidade do operador Tu é con-
sequência imediata da condição (3.10). Efectivamente, se exitir um outro operador Tu′
satisfazendo (3.10) então ∥Tu − Tu′ ∥ ≤ 2ε para qualquer ε > 0, logo Tu = Tu′ .
Proposição 3.5.2. Sendo P uma medida espectral em (X, H), então a aplicação
∫
∞
T : B (X) → L(H), u 7→ Tu = u dP,
X
∑
n
Tf − f (xk )P (∆k ) < ε, f ∈ {u1 , u2 , u1 u2 }, (3.17)
k=1 L
122 CAPÍTULO 3. FUNDAMENTOS DE ÁLGEBRAS C ∗
T : C(X) → L(H)
e : B ∞ (X) → L(H)
T
e )∈
Para cada função f ∈ B ∞ (X) existe assim um único operador linear limitado T(f
L(H) tal que ∫
e
⟨T(f )g, h⟩ = f dµg,h , g, h ∈ L(H). (3.20)
X
e
De (3.19) e (3.20) tem-se que T(u) = T(u) para u ∈ C(X), pelo que Te constitui uma
e define um homomorfismo-∗
extensão da aplicação linear T. Verifica-se a seguir que T
∞
de B (X) em L(H):
Teorema da representação de Riesz: Se X é um espaço Hausdorff compacto e ϕ : C(X) → C é
3
um funcional linear limitado então existe uma medida de Borel complexa finita e regular µ tal que,
∫
ϕ(u) = f dµ, u ∈ C(X).
X
A variação total, ∥µ∥, da medida µ é dada por ∥µ∥ = ∥ϕ∥. Caso ϕ seja um funcional linear positivo
então a medida µ é positiva, [32].
124 CAPÍTULO 3. FUNDAMENTOS DE ÁLGEBRAS C ∗
concluı́ndo-se,
e i s) → T(f
T(u e s)(WOT), s ∈ B ∞ (X), (3.22)
i
T(u e )(WOT),
e i ) → T(f (3.23)
i
e, se u ∈ C(X),
e i u) = T(ui u) = T(ui )T(u) → T(f
T(u e )T(u)(WOT). (3.24)
i
4
Teorema: Se X é um espaço compacto e f é uma função de Borel limitada definida em X,
então
∫ existe∫ uma rede {ui } de funções contı́nuas em X tal que ∥ui ∥∞ ≤ ∥f ∥∞ para todo o i e
u dµ → X f dµ para toda a medida de Borel complexa e regular µ em X,[9].
X i i
3.5. TEOREMA ESPECTRAL PARA OPERADORES NORMAIS 125
e i ) ⇀ T(ϕ),
ou seja, T(u e resultando da unicidade de limite que, para f ∈ B ∞ (X),
i
e ) = T(f
T(f e )∗ .
Considere-se a aplicação
e ∆ ),
P : R(X) → L(H), ∆ 7→ P (∆) := T(χ (3.27)
e ∆ )T(χ
P (∆)2 = T(χ e ∆ ) = T(χ
e ∆ ) = P (∆),
e ∆ )∗ = T(χ
P (∆)∗ = T(χ e e
∆ ) = T(χ∆ ) = P (∆),
126 CAPÍTULO 3. FUNDAMENTOS DE ÁLGEBRAS C ∗
Para ∆1 , ∆2 ∈ R(X),
e ∆ χ∆ ) = T(χ
P (∆1 ∩ ∆2 ) = T(χ e ∆ )T(χ
e ∆ ) = P (∆1 )P (∆2 ),
1 2 1 2
e se ∆1 ∩ ∆2 = ∅, então
e ∆ + χ∆ ) = T(χ
P (∆1 ∪ ∆2 ) = T(χ e ∆ ) + T(χ
e ∆ ) = P (∆1 ) + P (∆2 ).
1 2 1 2
As condições (i)–(iv) da Definição 3.5.1 estão assim satisfeitas e para estabelecer (v)
basta observar que para g, h ∈ H, de acordo com (3.26),
e ∆ )g, h⟩ = µg,h (∆), ∆ ∈ R(X),
Pg,h (∆) = ⟨P (∆)g, h⟩ = ⟨T(χ
ou seja, Pg,h = µg,h . A aplicação P é assim uma medida espectral em (X, H).
Para verificar que P satisfaz a condição (3.25) observe-se que se f ∈ B ∞ (X), ε > 0
e {∆1 , ∆2 , . . . , ∆n } é uma partição de X nas condições da Proposição 3.5.1, então
∑
n
f− f (xk )χ∆k ≤ε
k=1 ∞
e (f − ∑n f (xk )χ∆ )
T e ) − ∑n f (xk )P (∆k )
= T(f
k=1 k k=1
L L
e f− ∑
≤ ∥T∥ k=1 f (xk )χ∆k ∞ ≤ ε.
n
ec (z) = T,
uma vez que Γ
Observe-se que dado o cálculo funcional contı́nuo para o operador normal T ∈ L(H),
ec : C(σ(T )) → AT , u 7→ u(T )
Γ
onde AT := alg∗ {T } é a subálgebra C ∗ de L(H) gerada por T e IH , de acordo com
a demonstração do Teorema 3.5.7 a resolução da identidade E é exactamente a única
medida espectral em (σ(T ), H), tal que
∫
u(T ) = u dE, u ∈ C(σ(T )),
σ(T )
Assim,
eb (u) = u(T ) = Γ
Γ ec (u), u ∈ C(σ(T )),
eb a extensão de Γ
sendo Γ ec à álgebra B ∞ (σ(T )), referida no Lema 3.5.4.
∗
Se {A1 , A2⊕
, ..., An } constitui um conjunto
∏n finito de álgebras C , designa-se por
soma directa, i=1 Ai , ou produto directo, i=1 Ai , das álgebras A1 , A2 , ..., An , a al-
n
gebra C ∗
⊕ ⊕ ⊕ { }
A1 A2 ... An = A1 × A2 × ... × An := (ai )ni=1 : ai ∈ Ai , i = 1, 2, ..., n ,
⊕ { }
Ai := (ai ) = (ai )i∈I : lim ∥ai ∥ = 0, ai ∈ Ai , i ∈ I
i→∞
i∈I
Saliente-se que relativamente à soma directa, dizer que lim ∥ai ∥ = 0 significa que para
i→∞
cada ε > 0, existe um número finito de elementos i ∈ I para os quais se tem ∥ai ∥ ≥ ε.
⊕
Ai coincide com o fecho na norma (3.30) do ideal J .
i∈I
ψi,j : Ai → Aj , i ≤ j,
onde
ψi,j = ψk,j ◦ ψi,k , i ≤ k ≤ j,
ou seja, tais que seja comutativo o diagrama
ψi,j
Ai ..........................................................Aj
... .....
... ......
.....
... .....
...
..
......
.
...
.....
ψi,k ...
...
... .....
....
.....
.....
.........
...
.. .....
.
...
.
.. ψk,j
.....
.. .....
....
Ak
lim(Ai , ψi,j ),
−→
132 CAPÍTULO 3. FUNDAMENTOS DE ÁLGEBRAS C ∗
Li : Ai → lim(Ai , ψi,j ),
−→
Li = Lj ◦ ψi,j , i < j,
ei : Ai → A0 , ai 7→ (e
L aj )j∈I ,
onde
ai , se j = i
e
aj = ψi,j (ai ), se i < j ,
0, caso contrário,
definem, para cada i ∈ I, homomorfismos-∗ de Ai em A0 e, sendo ΦJ0 : A0 → A0 /J0
o homomorfismo canónico de A0 em A0 /J0 , as aplicações
ei ,
Li : Ai → lim(Ai , ψi,j ), com Li = ΦJ0 ◦ L i ∈ I,
−→
constituem homomorfismos-∗ das álgebras Ai para o limite indutivo lim(Ai , ψi,j ), com-
−→
patı́veis com a famı́lia de homomorfismos-∗ {ψi,j : i, j ∈ I, i ≤ j}.
lim(An , ψn,m ) ∼
= A.
−→
designa o homomorfismo-∗ que a cada matriz A de Mn (C) associa a matriz de Mn+k (C)
que tem A no canto superior esquerdo e as restantes entradas da matriz nulas. Pode
mostrar-se que para o limite indutivo lim(Mn (C), Tn,m ) se tem
−→
onde K(H) designa o ideal dos operadores compactos num espaço de Hilbert H, se-
parável e de dimensão infinita.
Ae = {(a, λ) : x ∈ A, λ ∈ C}.
e a norma
∥(a, λ)∥ = ∥a∥ + |λ|. (3.32)
e que se designa por unitalização de
Com a involução e a norma indicadas a álgebra A,
A, constitui uma álgebra de Banach-∗ com unidade. Ae não é no entanto uma álgebra
C ∗ uma vez que a norma (3.32) não satisfaz a identidade C ∗ .
define a única norma em Ae que a torna numa álgebra C ∗ e que satisfaz ∥(a, 0)∥ = ∥a∥
para qualquer a ∈ A.
Dem. A unicidade da norma é consequência imediata do Corolário 3.1.3. Que a
aplicação (3.33) define um seminorma em A não traz dificuldades deixando-se como
exercı́cio. Fixando a ∈ A, tem-se
a∗
uma vez que ∥ax∥ ≤ ∥a∥∥x∥. Se a = 0 então ∥(a, 0)∥ = ∥a∥. Se a ̸= 0, fazendo x = ,
∥a∥
a∗ ∥aa∗ ∥
∥ax∥ = a = = ∥a∥,
∥a∥ ∥a∥
Efectivamente,
obtendo-se a condição (3.34) um vez que, para qualquer x ∈ A tal que ∥x∥ ≤ 1, se tem
∥a(bx + µx) + λ(bx + µx)∥ ≤ ∥(a, λ)∥∥bx + µx∥ ≤ ∥(a, λ)∥∥(b, µ)∥.
e Para tal suponha-se
Prova-se agora que (3.33) define de facto uma norma em A.
que ∥(a, λ)∥ = 0. Assim, para qualquer x ∈ A,
ax + λx = 0. (3.35)
ex = x.
Tem-se então que para qualquer x ∈ A, xe∗ = x, pelo que A admite uma unidade
esquerda, e, e uma unidade direita, e∗ . Então e = e∗ é uma unidade de A o que
contradiz a hipótese. Assim, λ = 0, logo (a, 0) = (0, 0). Conclui-se que (3.33) define
uma norma em Ae que constitui assim uma álgebra-∗ normada.
Mostra-se de seguida que a identidade C ∗ é satisfeita. Tome-se um qualquer ele-
e De acordo com (3.34) tem-se que
mento (a, λ) ∈ A.
Para mostrar a desigualdade contrária, suponha-se que ∥(a, λ)∥ = 1. Para qualquer
0 < δ < 1 existe x ∈ A com ∥x∥ ≤ 1 tal que ∥(a, λ)(x, 0)∥ ≥ δ. Atendendo a que
∥x∥ ≤ 1, então
∥(a, λ)∗ (a, λ)∥ ≥ ∥(x, 0)∗ (a, λ)∗ (a, λ)(x, 0)∥ = ∥[(a, λ)(x, 0)]∗ [(a, λ)(x, 0)]∥
= ∥(ax + λx, 0)∗ (ax + λx, 0)∥ = ∥(ax + λx)∗ (ax + λx)∥
= ∥ax + λx∥2 = ∥(a, λ)(x, 0)∥2 ≥ δ 2 .
Tomando uma sucessão (δn ) de elementos em (0, 1) tal que δn → 1, fica garantido que
para ∥(a, λ)∥ = 1 se tem
∥(a, λ)∗ (a, λ)∥ ≥ ∥(a, λ)∥2 ,
e facilmente se constata que a condição anterior se pode estender a qualquer elemento
e Para finalizar basta notar que atendendo ao facto de A e C serem espaços
(a, λ) ∈ A.
completos então o mesmo sucede a A. e
Saliente-se que uma vez construı́da a álgebra Ae então a álgebra A pode ser inter-
pretada como uma sua subálgebra C ∗ por meio da isometria
a 7→ (a, 0), a ∈ A.
Proposição 3.7.2. Sejam A uma álgebra C ∗ sem unidade e MA o conjunto dos fun-
cionais lineares multiplicativos não nulos de A. Tem-se que:
(i) Se A é comutativa então MA é não vazio existindo para cada elemento não nulo,
a ∈ A, um funcional multiplicativo ϕa ∈ MA tal que
ϕa (a) = ∥a∥;
[
b : Ae → C(MAe), (b, λ) → (b, λ),
[
∥(a, 0)∥∞ = ∥(a, 0)∥ = ∥a∥
[
|φa (a, 0)| = (a, 0)(φa ) = ∥a∥.
ϕe : Ae → C, (a, λ) 7→ ϕ(a) + λ,
e De
é um funcional linear multiplicativo que estende o funcional ϕ a toda a álgebra A.
acordo com o Teorema 3.1.5, para qualquer (a, λ) ∈ A, e
tendo-se ∥ϕ∥ ≤ 1.
Teorema 3.7.3. Sejam A uma álgebra C ∗ comutativa e sem unidade e MA o espaço dos
funcionais lineares multiplicativos não nulos de A com a topologia de Gelfand. Então
MA é um espaço Hausdorff e localmente compacto e a transformação de Gelfand
c : A → C0 (MA ), a 7→ b
a, (3.36)
onde
b
a(ϕ) = ϕ(a), ϕ ∈ MA , (3.37)
é um isomorfismo-∗ isométrico de A sobre C0 (MA ).
Dem. À semelhança da demonstração do Teorema 2.1.1 tem-se que MA constitui
um espaço de Hausdorff. Mostre-se que MA é localmente compacto. Para tal fixe-
se ϕ ∈ MA . Sendo ϕ um funcional multiplicativo não nulo então ϕ não se anula em
todos os elementos positivos de A. Seja a ∈ A um elemento positivo tal que ϕ(a) > 1.
Considere-se o conjunto
Kϕ = {ω ∈ MA : ω(a) ≥ 1}.
Sejam {ωα } uma rede em Kϕ e υ um funcional linear em A tal que lim ωα = υ na
α
topologia w∗ do dual de A. Para quaisquer c, d ∈ A tem-se que,
e ainda
υ(a) = lim ωα (a) ≥ 1,
α
Kε = {ω ∈ MA : ω(a) ≥ ε},
isométrico.
Note-se que no caso A ter unidade então qualquer rede constantemente igual à
unidade e ∈ A define uma aproximação da unidade de A.
Teorema 3.7.4. Sejam A uma álgebra C ∗ com unidade e J um ideal bilateral e au-
toadjunto de A. Então existe uma rede {eα } de elementos positivos eα ∈ J tal que
Para cada α ∈ ∆ seja Avα := alg∗ {vα } a álgebra C ∗ gerada por vα e pela unidade
ec,α : C(σA (vα )) → Avα o cálculo funcional contı́nuo associado a vα
e ∈ A. Seja ainda Γ
e definido como em (3.6). Considere-se fα a função real contı́nua definida em σA (vα )
por
t
fα (t) = n ≥ 0, (3.38)
1 + nt
e seja
eα = nvα (e + nvα )−1 (3.39)
ec,α ,
o elemento de Avα associado à função fα por meio do cálculo funcional contı́nuo Γ
ou seja, eα = Γec,α (fα ). Observe-se que eα ∈ J uma vez que vα ∈ J e J é um ideal
ec,α preserva elementos positivos,
bilateral em A. Como 0 ≤ fα ≤ 1 para t ∈ σA (vα ), e Γ
então para cada α ∈ ∆,
0 ≤ eα ≤ e e ∥eα ∥ ≤ 1. (3.40)
Dado que a função gα definida em σA (vα ) por
1
gα (t) = , (3.41)
1 + nt
é também contı́nua e toma valores entre 0 e 1, então
Para as funções (3.38) e (3.41) é simples verificar que, para t ∈ σA (vα ), se tem
e
ec,α [gα (t)tgα (t)] = (e + nvα )−1 vα (e + nvα )−1 ,
Γ
obtém-se de (3.43), (3.42) e (3.40) que
A rede {eα }, cujos elemetos eα estão definidos em (3.39), satisfaz assim as condições
(i) e (ii).
Teorema 3.7.5. Para qualquer álgebra C ∗ A, com ou sem unidade, existe uma aproxi-
mação da unidade de A constituı́da por elementos positivos.
Dem. (i) Comece-se por supor que A tem unidade e considere-se I := J ∩ J ∗ com
J ∗ = {x∗ : x ∈ J }. É fácil constatar que I é um ideal bilateral autoadjunto de A
3.7. ÁLGEBRAS C ∗ SEM UNIDADE. UNITALIZAÇÃO E APROXIMAÇÃO DA UNIDADE143
e pelo Teorema 3.7.4 existe uma rede {eα } de elementos positivos que constitui uma
aproximaçã da unidade de I. Dado x ∈ J então o elemento x∗ x ∈ I, logo
lim∥x∗ xeα − x∗ x∥ = 0.
α
Assim,
lim∥xeα − x∥2 = lim∥x − xeα ∥2 = lim∥(x − xeα )∗ (x − xeα )∥
α α α
= lim∥(e − eα )x∗ x(e − eα )∥ ≤ lim∥e − eα ∥∥x∗ x(e − eα )∥ (3.46)
α α
≤ 2 lim∥x∗ xeα − x∗ x∥ = 0,
α
0 = lim∥xeα − x∥ = lim∥eα x∗ − x∗ ∥.
α α
Conclui-se que
lim eα x∗ = x∗
α
Sendo A uma álgebra C ∗ com unidade, termina-se esta secção mostrando-se como
a noção de aproximação da unidade permite garantir que as álgebras quociente por
ideais bilaterais fechados são ainda algebras C ∗ . Se J é um ideal bilateral fechado de
A sabe-se já que com a norma quociente a álgebra A/J é uma álgebra de Banach.
Mostre-se que A/J é uma álgebra C ∗ .
144 CAPÍTULO 3. FUNDAMENTOS DE ÁLGEBRAS C ∗
∥a + J ∥2 ≤ ∥(a + J )(a + J )∗ ∥.
3.8 Exercı́cios
Exercı́cio 3.2. Mostre que se A é uma álgebra C ∗ com unidade então, para qualquer
a ∈ A, √
∥a∥ = r(a∗ a).
Exercı́cio 3.5. Seja A uma álgebra C ∗ cim unidade. Mostre que qualquer ideal
esquerdo e autoadjunto de A é um ideal bilateral.
Exercı́cio 3.7. Sejam A e B duas álgebras C ∗ comutativas e com unidade. Mostre que
se A e B são isometricamente isomorfas, então os espaços dos seus funcionais lineares
multiplicativos não nulos, respectivamente MA e MB , são homeomorfos.
146 CAPÍTULO 3. FUNDAMENTOS DE ÁLGEBRAS C ∗
Exercı́cio 3.9. Mostre que uma algebra C ∗ comutativa e com unidade contém opera-
dores de projecções não triviais se e só se o seu espaço dos ideais maximais é desconexo.
apresentado em (3.6).
ec (f1 ) = e e Γ
Mostre que Γ ec (fz ) = a.
Exercı́cio 3.11. Considere a álgebra C(X) das funções complexas e contı́nuas num
espaço de Hausdorff compacto X. Sendo f ∈ C(X), mostre que:
b) Se a ≥ 0 então ∥a∥a ≥ a2 ;
c) Se a ≥ b ≥ 0 então c∗ ac ≥ c∗ bc ≥ 0;
b) Mostre que existem elementos positivos A, B ∈ M2 (C) tais que AB não é positivo.
A=P e B = P + Q,
onde ( ) ( 1 1
)
1 b 2 2
p= , q= 1 1 .
0 0 2 2
a) Justifique que
1
h = ((te + a + b)(te + a − b) + (te + a − b)(te + a + b)).
2
d) Mostre que
1 + ih− 2 kh− 2 = h− 2 (h + ik)h− 2
1 1 1 1
Justifique que −t ∈/ σA (b − a)
e) Conclua que b ≥ a.
b) Im T = (Ker T ∗ )⊥ e Im T ∗ = (Ker T )⊥ .
a) Se T é hermiteano então,
⟨T x, x⟩ = 0 para qualquer x ∈ H ⇒ T = 0.
Mostre que V é uma isometria parcial cujo espaço inicial é H1 e o espaço final é H2 .
Exercı́cio 3.26. Seja H um espaço de Hilbert e V ∈ L(H). Mostre que são equivalentes
as seguintes proposições:
a) V = V V ∗ V ;
b) V ∗ V é uma projecção;
c) V é um isometria parcial.
aI : H → H, f 7→ af,
b) A aplicação
E : B(X) → L(H), ∆ 7→ χ∆ I,
onde χ∆ I designa o operador de multiplicação em H pela função caracteristica
χ∆ do conjunto ∆, define uma medida espectral sobre (X, H).
Exercı́cio 3.28. Seja H um espaço de Hilbert e K(H) o ideal dos operadores compactos
de L(H).
3.8. EXERCÍCIOS 151
Exercı́cio 3.29. Seja C0 (X) a álgebra das funções complexas definidas num espaço
localmente compacto X e que se anulam no infinito, com as operações de soma e
produto pontuais. Considere-se em C0 (X) a norma
b) Mostre que C0 (X) é uma álgebra C ∗ , que só possui unidade se e só se X é
compacto.
Exercı́cio 3.30. Seja A um álgebra C ∗ com ou sem unidade. Justifique que sendo J
um ideal bilateral de A então existe em J uma aproximação da unidade em J .
∥Ψ(a)∥ ≤ ∥a∥.
Representações de álgebras C ∗
Chap4 Chap4
O capı́tulo 4 é dedicado à teoria de representações de álgebras C ∗ . A estrutura adicional
introduzida pela convolução permite que as representações de algebras C ∗ possam ser
vistas como transformações lineares actuando em espaços de Hilbert, em vez de apenas
espaços de Banach.
Os principais resultados do capı́tulo são, tendo por base a teoria de representações
de álgebras de Banach introduzida na capı́tulo 2 e propriedades das álebras C ∗ , a
construção de Gelfand-Naimark-Segal (GNS) que a cada funcional linear positivo de
uma álgebra C ∗ associa uma representação cı́clica da álgebra, a chamada representação
de Gelfand-Naimark-Segal associada ao funcional, e o 2o teorema de Gelfand-Naimark
que estabelece que qualquer álgebra C ∗ com unidade é uma subálgebra C ∗ de L(H).
As noções de estado puro numa álgebra C ∗ e de irredutibilidade da representação
de Gelfand-Naimark-Segal associada estão intimamente relacionadas, estabelecendo-se
que um estado é puro se e só se a a correspondente representação é irredutı́vel.
Recentemente a classificação das álgebras C ∗ tem-se vindo a desenvolver indepen-
dentemente da teoria das representações. Apesar deste facto apresentam-se neste
capı́tulo classes de álgebras C ∗ cuja definição tem por base a natureza das suas re-
presentações: as álgebras CCR e GCR. Conclui-se o capı́tulo introduzindo algumas
classes de álgebras C ∗ universais: as álgebras de Cuntz, as álgebras de rotação e as
álgebras de Toeplitz.
1
2 CAPÍTULO 4. REPRESENTAÇÕES DE ÁLGEBRAS C ∗
A noção de funcional linear positivo pode assim ser entendida como uma generalização
da noção de funcional linear multiplicativo preservando mesmo algumas das suas pro-
priedades.
Chap3:19 Proposição 4.1.1. Se A é uma álgebra C ∗ então qualquer funcional linear positivo
em A é um funcional contı́nuo.
Começa-se por mostrar que nas condições anterior ϕ é um funcional limitado cuja
norma satisfaz kϕk ≤ 4K. p3
Fixe-se a ∈ A um elemento hermiteano tal que kak ≤ 1. Pela Proposição ??, a
admite uma representação na forma a = a −a− com a± elementos positivos de a. Como
Chap3:20 +
kak ≤ 1 então, de acordo com (??), ka± k ≤ 1 tendo-se a± ∈ A+
1 . Consequentemente,
Considerando p1
agora a ∈ A um qualquer elemento de A tal que kak ≤ 1, tem-se da
Cap3:200
h + ik com h e k hermiteanos de A tais que
Proposição ?? e da condição (??) que a =Cap4:41
khk ≤ 1 e kkk ≤ 1. Assim, atendendo a (4.1),
|ϕ(a)| ≤ 4Kkak
4.1. FUNCIONAIS LINEARES POSITIVOS. ESTADOS PUROS 3
o que é impossı́vel. Fica assim demonstrado que qualquer funcional linear positivo é
limitado.
Cap4:46
é real. Substituı́ndo em (4.3), sucessivamente λ = 1 e λ = i obtém-se sem dificuldade
aCap3:21
igualdade (i). Satisfeita a condição (i), substituı́ndo na forma quadrática positiva
(4.2),
λ = ρ(a∗ b)/ρ(a∗ a),
obtém-se a desigualdade (ii) no caso de a 6= 0. Para a = 0 o resultado é obviamete
satisfeito.
l1
Como consequências do Lema 4.1.2 obtém-se um critério para identificação dos
funcionais lineares positivos numa álgebra C ∗ com unidade.
t8 Proposição 4.1.3. Seja A uma álgebra C ∗ com unidade e. Um funcional linear limi-
Cap3:30
tado ρ em A é positivo se e só se kρk = ρ(e).
Reciprocamente, seja ρ um funcional linear limitado tal que kρk = ρ(e). Sendo
a ∈ A um elemento hermiteano tal que kak ≤ 1, prove-se que ρ(a) é real.
Faça-se ρ(a) = α + iβ com α, β ∈ R e comece-se por supor que β ≤ 0. Para cada
n ∈ N,
ka − inek2 = k(a − ine)(a + ine)k = ka2 + n2 ek ≤ 1 + n2 ,
donde
|ρ(a − ine)|2 ≤ kρk2 (1 + n2 ). (4.5) cap3:22
4.1. FUNCIONAIS LINEARES POSITIVOS. ESTADOS PUROS 5
Atendendo a que
|ρ(a − ine)|2 = |ρ(a) − inkρk|2 = |α + iβ − inkρk|2
= α2 + β 2 − 2nβkρk + n2 kρk2 ,
cap3:22
de (4.5) obtém-se,
ou seja,
−2nβkρk ≤ −α2 − β 2 + kρk2 .
Dado que a última desigualdade é válida para qualquer n ∈ N com β ≤ 0, então tem-se
β = 0, o que permite concluir que ρ(a) ∈ R. Caso β ≥ 0 então ρ(−a) = −α + i(−β) e
analogamente se conclui que β = 0, logo ρ(a) ∈ R.
Considerando agora a um qualquer elemento positivo não nulo de A, e fazendo
Cap3:5
ã = a/kak, resulta da condição (ii) do Lema ?? que ke − ãk ≤ 1. Consequentemente,
obtém-se do parágrafo anterior que
e, sendo ρ limitado,
ρ(e − ã) ≤ kρkke − ãk ≤ kρk,
concluı́ndo-se que ρ(ã) ≥ 0, logo, ρ(a) ≥ 0. O funcional linear limitado ρ é assim um
funcional linear positivo.
Cap3:30
A Proposição 4.1.3 permite obter sem dificuldade a norma da soma e a norma de
uma combinação linear convexa de quaisquer dois funcionais lineares positivos numa
álgebra C ∗ com unidade.
Cap3:31 Corolário 4.1.4. Sejam A uma álgebra-C ∗ com unidade e, e ρ1 , ρ2 dois funcionais
lineares positivos em A. Tem-se que:
(i) ρs = ρ1 + ρ2 é um funcional linear positivo cuja norma é dada por
ρc = λρ1 + (1 − λ)ρ2
Dem. Sendo ρ1 e ρ2 funcionais lineares positivos e λ ∈ [0, 1], é claro que λρ1 e
(1 − λ)ρ2 são ainda funcionais positivos, o mesmo sucedendo às somas ρs = ρ1 + ρ2 e
Cap3:30
ρc = λρ1 + (1 − λ)ρ2 . Consequentemente, obtém-se da Proposição 4.1.3 que
kρ1 + ρ2 k = ρ1 (e) + ρ2 (e) = kρ1 k + kρ2 k,
estabelecendo-se assim a proposição (i). De forma análoga se estabelece (ii).
Cap3:30
A Proposição 4.1.3 permite
SS-GNS
ainda estabelecer o resultado que se segue, de especial
importância na Secção 4.2.3.
Cap3:32 Corolário 4.1.6. Sejam A uma álgebra C ∗ com unidade e, e ρ um funcional linear
positivo em A.
(i) Dado a ∈ A, ρ(a∗ a) = 0 se e só se ρ(ba) = 0 para qualquer b ∈ A;
(ii) Para quaisquer a, b ∈ A tem-se que ρ(b∗ a∗ ab) ≤ ka∗ akρ(b∗ b).
Dem. (i) Fixe-se a ∈ A. Se ρ(ba) = 0 para todo o b ∈ A então é imediato que
ρ(a∗ a) = 0. Reciprocamente, se ρ(a∗ a) = 0 então, resulta da desigualdade de Cauchy-
Schwartz que, para todo o b ∈ A,
|ρ(ba)| = |ρ((b∗ )∗ a)| ≤ ρ(bb∗ )ρ(a∗ a) = 0.
(ii) Fixe-se a, b ∈ A. Se ρ(b∗ b) = 0, obtém-se de (i) que ρ(b∗ a∗ ab) = ρ((b∗ a∗ a)b) = 0
pelo que a condição (ii) é obviamente satisfeita. Para analisar o caso em que ρ(b∗ b) > 0
considere-se o funcional linear positivo
ρb : A → C, c 7→ ρb (c) = ρ(b∗ cb)/ρ(b∗ b).
4.1. FUNCIONAIS LINEARES POSITIVOS. ESTADOS PUROS 7
Cap3:30
Conclui-se da Proposição 4.1.3 que,
t9 Proposição 4.1.7. Se A é uma álgebra-C ∗ com unidade e, então para qualquer ele-
mento normal a ∈ A com a 6= 0 existe um funcional linear positivo ρa : A → C tal que
ρa ∈ EA e
|ρa (a)| = kak.
kak = kb
ak∞ = |b ρ)| = |e
a(e ρ(a)|.
Atendendo a que o conjunto dos elementos normais de uma álgebra C ∗ com unidade
é não vazio, o resultado anterior garante que EA , o conjunto dos estados em A, é não
vazio. Tem-se ainda o seguinte resultado:
Cap4:19 Proposição 4.1.8. Se A é uma álgebra C ∗ com unidade e, então para qualquer ideal
esquerdo fechado I de A existe um estado ρ ∈ EA tal que
ρ(x∗ x) = 0, x ∈ I.
A0h := {λe + a : λ ∈ R, a ∈ Ih },
ρe : A0h → R, λe + a 7→ ρe(λe + a) := λ,
x − λe = a ∈ Ih ⊂ I,
o que permite afirmar que x − λe é não invertı́vel em A, ou seja, que λ ∈ σA (x). Como
x ∈ A+ então λ ∈ σA (x) ⊂ R+
0 e
ρe(x) = ρe(λe + a) = λ ≥ 0.
ρeh : Ah → R
ρ(a) := ρe(h) + ie
ρ(k), a = h + ik ∈ A. (4.7)
O funcional ρ constitui uma extensão de ρe à álgebra A e é positivo uma vez que para
qualquer a ∈ A, dado que a∗ a ∈ A+ ,
ρ(a∗ a) = ρe(a∗ a) = 0.
3
Teorema de Krein-Milman: Seja X um espaço vectorial de Hausdorff localmente convexo. Se
C 6= Ø é um subconjunto compacto e convexo de X, então o conjunto dos seus pontos extremos,
ext C, é não vazio e o fecho do envólucro convexo de ext C coincide com C, C = Co(ext C). Se S é
um subconjunto fechado de C tal que C = Co(S) então S ⊇ ext C. Recorde-se se chama envolucro Mu1990
convexo de S ⊂ X, e designa-se por Co(S), ao menor subconjunto convexo de X que contém S, [?].
10 CAPÍTULO 4. REPRESENTAÇÕES DE ÁLGEBRAS C ∗
Conclui-se pois que kϕk ∈]0, 1[. Fazendo t = kϕk tem-se que
ϕ ρ−ϕ
ρ=t + (1 − t) ,
kϕk kρ − ϕk
ϕ
e como ρ é ponto extremo de EA então ρ = kϕk , ou seja, ϕ = kϕkρ, com kϕk ∈]0, 1[.
Assim, ρ ∈ PA . Finalmente, obtém-se do teorema de de Krein-Milman que EA é o fecho
fraco do envolucro convexo de PA .
chap3:26 Proposição 4.1.10. Seja A uma álgebra C ∗ com unidade. Então, para qualquer ele-
mento não nulo a ∈ A, existe ρ ∈ PA tal que
ρ(a∗ a) = kak2 .
4.1. FUNCIONAIS LINEARES POSITIVOS. ESTADOS PUROS 11
Cap4:2 Proposição 4.1.12. Se A é uma álgebra C ∗ com unidade e, e B é uma sua subálgebra
C ∗ com a mesma unidade, então para qualquer estado puro ρB em B existe um estado
puro ρA em A que é uma extensão de ρB .
Sejam ρe1 e ρe2 , respectivamente, a restrição dos estados ρ1 e ρ2 à álgebra B. Tem-se que
ρe1 e ρe2 são estados em B tais que
ρ1 + (1 − λ)e
ρB = λe ρ2 , com λ ∈ (0, 1),
e dado que ρB é um estado puro em B então ρB = ρe1 = ρe2 pelo que os estados ρ1 e ρ2
pertencem a EρB . Sendo ρA um ponto extremo de EρB , então ρA = ρ1 = ρ2 . Fica assim
provado que ρA é um ponto extremo de EA , logo um estado puro em A.
Cap4:13 Proposição 4.1.13. Se A é uma álgebra C ∗ com unidade e, então para qualquer ideal
esquerdo maximal I de A existe um estado puro ρI ∈ PA tal que
I = LρI .
4.1. FUNCIONAIS LINEARES POSITIVOS. ESTADOS PUROS 13
ρ(x∗ x) = 0, x ∈ I.
Assim,
I ⊆ Lρ := {x ∈ A : ρ(x∗ x) = 0},
concluindo-se da maximalidade de I que I = Lρ .
Represente-se por KI o subconjunto de EA definido por
KI := {ν ∈ EA : I = Lν },
Cap4:15
com Lν definido como em (4.9) para o estado ν. Como ρ ∈ KI então KI é não vazio.
Dados ρ1 , ρ2 ∈ KI e λ ∈]0, 1[, é imediato que para o estado
ρe = λρ1 + (1 − λ)ρ2
I = LρI ⊆ Lνi , i = 1, 2,
J := Aa = {xa : x ∈ A}.
Cap4:13
Sendo IJ o ideal esquerdo maximal de A que contém J , segue da Proposição 4.1.13
que existe um estado puro ρ ∈ PIJ tal que
Cap4:14
Como corolário da Proposição 4.1.14 obtém-se de imediato o resultado:
Termina-se esta secção com a caracterização dos estados puros das subálgebras
∗
C de L(H), a álgebra dos operadores lineares limitados num espaço de Hilbert H.
Comece-se por considerar o resultado auxiliar:
Cap4:11 Lema 4.1.16. Seja A uma álgebra C ∗ com unidade e S ⊆ EA um subconjunto não
vazio de estados em A para o qual se tenha que se a ∈ A é um elemento hermitiano
tal que ρ(a) ≥ 0 para todo o ρ ∈ S então a ∈ A+ . Então:
∗
(i) EA é o fecho fraco do envolucro convexo de S, EA = Co(S) ;
∗
(ii) O fecho fraco de S contém os estados puros de A, S ⊇ PA .
∗
Dem. (i) Seja C = Co(S) o fecho fraco do envólucro convexo de S. Dado que
S ⊆ EA então C ⊂ EA . Para mostrar a inclusão contrária suponha-se que existe um
/ C. Nestas condições, da teoria geral da Análise Funcional4 ,
estado ρ ∈ EA tal que ρ ∈
4
Teorema: Sejam X um espaço vectorial localmente convexo e C 6= ∅ um subconjunto de X fechado
e convexo, e x ∈ X \ C. Então existe um funcional linear Mu1990
contı́nuo τ definido em X e um número real
t tal que Re(τ (y)) < t < Re(τ (x)) para qualquer y ∈ C, [?].
4.1. FUNCIONAIS LINEARES POSITIVOS. ESTADOS PUROS 15
pelo que
ϕ(λe − h) = λ − ϕ(h) > 0.
Assim, atendendo a que λe − h é hermitiano, da hipótese do resultado conclui-se que
λe − h ∈ A+ e consequentemente ρ(λe − h) ≥ 0. Então
5
Teorema: Se X é um espaço vectorial normado sobre C e θ : X ∗ → C é um funcional linear Mu1990
fracamente contı́nuo então existe x ∈ X tal que θ = x b(ϕ) = ϕ(x) para qualquer ϕ ∈ X ∗ , [?].
b, com x
16 CAPÍTULO 4. REPRESENTAÇÕES DE ÁLGEBRAS C ∗
hT ζ, ζi ≥ 0, para todo ζ ∈ H,
Cap4:11
ou seja, T é um operador positivo. Assim, segue do Lema 4.1.16 que se ρ é um estado
puro em B então ρ está no fecho fraco do conjunto SB existindo assim umaCap4:12
rede {ρB,ξα }
em SB fracamente convergente para ρ, ou seja, satisfazendo a condição (4.12).
Ker π = {0}.
[π(A)H] = H.
Repare-se que da proposição anterior se conclui que caso A seja uma álgebra C ∗
com unidade e, então uma representação (H, π) é não-degenerada se e só se π(e) = IH .
π(A)ξ0 = {π(a)ξ0 : a ∈ A}
é denso em H.
(H, π) são os triviais, ou seja, são penas H e {0}. Em álgebras de Banach estas duas
noções são em geral distintas. Surpreendentemente, quando A é uma álgebra C ∗ então
as duas noções coincidem falando-se apenas em representação irredutı́vel. A demons-
tração deste facto necessita do teorema da densidade de Kaplansky, de forma que será
exposta como aplicação dos resultados do próximo capı́tulo. No entanto passaremos
desde já neste capı́tulo a utilizar apenas a formulação representação irredutı́vel.
O resultado seguinte fornece duas caracterizações alternativas para as representações
irredutı́veis de uma álgebra C ∗ com unidade.
t15 Proposição 4.2.2. Sejam A uma álgebra C ∗ com unidade e (H, π) uma representação
(não nula) de A. São equivalentes as seguintes proposições:
(i) (H, π) é irredutı́vel;
De acordo com a proposição anterior, sendo A uma álgebra C ∗ e (H, π) uma sua
representação (não nula), tem-se a cadeia de relações:
(H, π) é irredutı́vel ⇔ (H, π) é cı́clica ⇒ (H, π) é não-degenerada. (4.13)
A última implicação não tem recı́proco direto, mas mostra-se a seguir que qualquer
representação não degenerada de uma álgebra C ∗ pode ser entendida como a “soma”
de representações cı́clicas. Comece-se por introduzir a noção de soma directa de repre-
sentações.
L L
É fácil verificar que (H, π) := ( α∈I Hα , α∈I πα ) é de facto uma representação da
álgebra C ∗ A que se designa por soma directa da famı́lia de representações {(Hα , πα )}α∈I .
Cap4:29 Teorema 4.2.3. Sejam A uma álgebra C ∗ e (H, π) uma sua representação não-degenerada.
Então π é a soma directa de uma famı́lia de representações cı́clicas de A.
onde π|H1 (a) designa a restrição do operador π(a) ao espaço de Hilbert H1 . Como
H1 6= H então o seu ortogonal H1⊥ é não nulo. Fixe-se ξ2 ∈ H1⊥ tal que ξ2 6= 0 e
considere-se o subespaço invariante para π,
onde π|H2 (a) designa a restrição do operador π(a) ao espaço de Hilbert H2 . Dado que
para quaisquer a, b ∈ A,
são cı́clicas. O conjunto F é claramente não vazio, uma vez que {H1 , H2 } está em F,
e com a relação de inclusão define um conjunto parcialmente ordenado. É obvio que
qualquer cadeia constituı́da por familias {Hα } ∈ F possui uma famı́lia majorante, dada
4.2. REPRESENTAÇÕES. CONSTRUÇÃO DE GELFAND-NAIMARK-SEGAL 21
pela união dos conjuntos de todas as famı́lias da cadeia, e assim, de acordo com o Lema
de Zorn, F tem uma famı́lia maximal {Hα : α ∈ Λ}. Tem-se que
M
H= Hα , (4.15) Cap4:3
α∈Λ
L
pois caso contrário existiria um elemento ξ0 6= 0 no ortogonal da soma directa α∈Λ Hα
e, considerando o subespaço H0 := π(A)ξ0 = {π(a)ξ0 : a ∈ A}, a famı́lia {Hα : α ∈
Λ}∪{H
Cap4:3 0
} estaria em F, contradizendo o facto de {Hα : α ∈ Λ} ser maximal. A condição
(4.15) é então satisfeita e a representação (H, π) é a soma directa das representações
da famı́lia
cap4:4
{(Hα , πα ) : α ∈ Λ}, onde πα designa a representação cı́clica defininida como
em (4.14), dada pelas restrições dos operadores π(a) ao espaço de Hilbert Hα .
π2 (a) = U π1 (a)U ∗ , a ∈ A.
Dados A uma álgebra C ∗ e (H, π) uma sua representação, para cada ξ ∈ H fica
bem definido em A o funcional linear positivo,
Dem. Um simples cálculo permite afirmar que (i) implica (ii). Reciprocamente
suponha que se tem (ii), ou seja, que para qualquer a ∈ A se tem
hπ1 (a)ξ1 , ξ1 i = hπ2 (a)ξ2 , ξ2 i.
Defina-se o operador linear
U0 : π1 (A)ξ1 → H2 , π1 (a)ξ1 7→ π2 (a)ξ2 , a ∈ A,
que é isométrico uma vez que para qualquer a ∈ A,
kπ2 (a)ξ2 k2 = hπ2 (a∗ a)ξ2 , ξ2 i = hπ1 (a∗ a)ξ1 , ξ1 i = kπ1 (a)ξ1 k2 .
O operador U0 admite assim uma extensão única a um operador isométrico U : H1 →
H2 . Dado que U (π1 (A)ξ1 ) = π2 (A)ξ2 e os subespaços π1 (A)ξ1 e π2 (A)ξ2 são respecti-
vamente densos em H1 e H2 , então U (H1 ) = H2 e U é um operador unitário.
Para quaisquer a, b ∈ A, tem-se
(U π1 (a))π1 (b)ξ1 = U0 π1 (ab)ξ1 = π2 (ab)ξ2 = π2 (a)U0 π1 (b)ξ1 = (π2 (a)U )π1 (b)ξ1 ,
concluindo-se por densidade que U π1 (a) = π2 (a)U, logo π2 (a) = U π1 (a)U ∗ para qual-
quer a ∈ A. Observe-se que U ξ1 = ξ2 uma vez que
π2 (a)U ξ1 = U π1 (a)ξ1 = π2 (a)ξ2 ,
implica
π2 (a)(U ξ1 − ξ2 ) = 0,
para todo a ∈ A, e dado que π2 é não-degenerada então U ξ1 − ξ2 = 0.
4.2. REPRESENTAÇÕES. CONSTRUÇÃO DE GELFAND-NAIMARK-SEGAL 23
Lρ = {a ∈ A : ρ(a∗ a) = 0} .
Cap3:32
Sendo, do Corolário 4.1.6, Lρ um ideal esquerdo e fechado de A considere-se o espaço
quociente A/Lρ e a aplicação
ρ(dc1 ) = ρ(dc2 ) = 0,
donde,
ha + c1 + Lρ , b + c2 + Lρ iρ = ρ((b + c2 )∗ (a + c1 ))
= ρ(b∗ a) + ρ(b∗ c1 ) + ρ(c∗2 a) + ρ(c∗2 c1 )
= ρ(b∗ a) = ha + Lρ , b + Lρ iρ .
que constitui um operador limitado em A/Lρ já que, atendendo à condição (ii) do
Cap3:32
Corolário 4.1.6, se tem para qualquer b ∈ A,
oncluı́ndo-se que kπ(a)k ≤ kak. O operador π(a) pode assim ser estendido a um ope-
rador linear limitado em Hρ que se representa por πρ (a),
πρ : A → L(Hρ ), a 7→ πρ (a).
e
hπρ (a)(b + Lρ ), c + Lρ iρ = hab + Lρ , c + Lρ iρ = ρ(c∗ ab)
= hb + Lρ , a∗ c + Lρ iρ = hb + Lρ , πρ (a∗ )(c + Lρ )iρ ,
pelo que
πρ (ab) = πρ (a)πρ (b) e πρ (a∗ ) = πρ (a)∗ , a, b ∈ A.
πρ : A → L(Hρ ),
tal que
(i) ρ(a) = hπρ (a)ξρ , ξρ iρ , para qualquer a ∈ A;
4.2. REPRESENTAÇÕES. CONSTRUÇÃO DE GELFAND-NAIMARK-SEGAL 25
ξρ = e + Lρ .
ρJ : A/J → C, a + J 7→ ρ(a).
Sendo (HρJ , πρJ ) uma representação cı́clica de A/J com vector cı́clico ξρJ , então
(HρJ , πρJ ◦ Φ) é uma representação cı́clica de A com o mesmo vector cı́clico. Assim,
26 CAPÍTULO 4. REPRESENTAÇÕES DE ÁLGEBRAS C ∗
Cap4:9 Cap4:5
atendendo à igualdade (4.20) e à Proposição 4.2.4, as representações (HρJ , πρJ ◦ Φ) e
(Hρ , πρ ) são unitariamente equivalentes. Como consequência,
ρ(J ) = {0} ⇒ (πρJ ◦ Φ)(J ) = {0} ⇒ πρ (J ) = {0},
ou seja, J ⊆ Ker πρ .
ρ(a∗ a) = hπρ (a∗ a)ξρ , ξρ iρ = hπρ (a)ξρ , πρ (a)ξρ iρ = kπρ (a)ξρ k2ρ = 0.
chap3:26
No entanto, de acordo com a Proposição 4.1.10, se a for não nulo então existe em A
um estado ρ satisfazendo
ρ(a∗ a) = ka∗ ak,
obtendo-se uma contradição. Conclui-se assim que a = 0 e o homomorfismo πu , sendo
cIsomHom
injectivo, é isometrico pelo Corolário ??.
Toda a álgebra C ∗ com unidade admite pois, de acordo com o 2o teorema de Gelfand-
Naimark, uma realização como subálgebra C ∗ de uma álgebra de operadores lineares
limitados L(H), com H um espaço de Hilbert. Assim, do 1o e 2o Teoremas de Gelfand-
Naimark conclui-se que as álgebras C ∗ de funções contı́nuas em espaços de Haudorff
compactos, C(X), e as subálgebras C ∗ das álgebras de operadores lineares limitados
L(H), com H espaços de Hilbert, são modelos para as álgebras C ∗ com unidade.
pelo que Iρ,w define uma forma sesquilinear limitada que admite uma extensão a uma
forma sesquilinear eIρ,w definida em Hρ e satisfazendo kĨρ,w k = kIρ,w k ≤ 1. Pelo
teorema da representação de Riesz, existe um operador Tρ,w ∈ L(Hρ ) tal que
donde,
hTρ,w (a + Lρ ), a + Lρ iρ = w(a∗ a) ≥ 0,
para quaisquer a ∈ A, e assim Tρ,w é um operador positivo. Como kTρ,w k ≤ 1 então
σ(Tρ,w ) ⊆ [0, 1] e σ(IHρ − Tρ,w ) = 1 − σ(Tρ,w ) ⊆ [0, 1] concluindo-se que também
IHρ − Tρ,w é positivo. O operador Tρ,w verifica assim a afirmação (i).
4.2. REPRESENTAÇÕES. CONSTRUÇÃO DE GELFAND-NAIMARK-SEGAL 29
Para mostrar que Tρ,w satisfaz (ii), ou seja, que Tρ,w pertence ao comutante de
πρ (A), observe-se que para quaisquer a, b, c ∈ A,
estabelecendo-se (iii).
θ1 : A → C, a 7→ hT πρ (a)ξρ , ξρ iρ ,
θ2 : A → C, a 7→ h(IHρ − T )πρ (a)ξρ , ξρ iρ ,
com kθ1 k =
6 0 e kθ2 k =
6 0 já que T 6= 0 e T 6= IHρ . Consequentemente,
com kθ1 k−1 θ1 e kθ2 k−1 θ2 estados em A. Como os estados puros de A são pontos extre-
mos de EA , o conjunto dos estados em A, então
hT (a + Lρ ), b + Lρ iρ = hT πρ (a)ξρ , πρ (b)ξρ iρ
= hT πρ (b∗ a)ξρ , ξρ iρ = hkθ1 kπρ (b∗ a)ξρ , ξρ iρ
= hkθ1 kπρ (a)ξρ , πρ (b)ξρ iρ = hkθ1 kI(a + Lρ ), b + Lρ iρ ,
Ora, sendo T ∈ L(Hρ ) um operador positivo tal que T 6= 0 e T ∈ [πρ (A)]0 , escolhendo
K > 0 suficientemente grande tem-se que TK = K1 T satisfaz TK 6= 0, TK 6= IHρ ,
0 ≤ TK ≤ I e TK ∈ Com(πρ (A)). O parágrafo anterior permite então garantir que
TK ∈ CIHρ , ou seja, que T ∈ CIHρ . Se todos os operadores p3
positivos pertencentes a
0
[πρ (A)] estão em CIHρ então, com auxı́lio da Proposições ??, conclui-se que qualquer
Cap3:76
operador hermitiano em [πρ (A)]0 ainda está em CIHρ e usando a Proposição ?? o
resultado estende-se a todos os operadores de [πρ (A)]0 . Tem-se assim que [πρ (A)]0 ⊂
CIHρ , ou seja,
t15
Com(πρ (A)) = CIHρ e a reprepresentação (Hρ , πρ ) é, de acordo com a
Proposição 4.2.2, uma representação irredutı́vel.
Reciprocamente, suponha-se que (Hρ , πρ ) é uma representação irredutı́vel, ou seja,
admita-se que Com(πρ (A)) = CIHρ e prove-se que ρ é um estado puro em A. Considere-
se então w um funcional linear positivo tal que
ρ ≥ w.
Cap3:35
De acordo com o Lema 4.2.10, existe Tρ,w ∈ L(Hρ ) tal que 0 ≤ Tρ,w ≤ IHρ , T ∈ [πρ (A)]0
e satisfaz, para qualquer a ∈ A,
Se Tρ,w ∈ [πρ (A)]0 então Tρ,w = λIHρ com λ ∈ C. Dado que 0 ≤ T ≤ IHρ então λ ∈ [0, 1]
tendo-se, para qualquer a ∈ A,
w(a) = hT πρ (a)ξρ , ξρ iρ = hλπρ (a)ξρ , ξρ iρ
= λhπρ (a)ξρ , ξρ iρ = λρ(a).
O estado ρ é então um estado puro em A e o resultado esta estabelecido.
Cap3:36 Cap4:10
Deduz-se do Teorema 4.2.11 e da Proposição 4.2.7 que caso se pretenda obter um
estado puro em A, basta para tal considerar um coeficiente de uma representação
irredutı́vel A associado a um elemento unitário do espaço de representação:
CorXX Corolário 4.2.12. Se A é uma álgebra C ∗ com unidade e (H, π) é uma sua repre-
sentação irredutı́vel então, para qualquer ξ ∈ H com kξkCap4:6
= 1, o coeficiente da repre-
sentação π associado ao elemento ξ, definido como em (4.16) por
ρπ,ξ : A → C, a 7→ hπ(a)ξ, ξi,
é um estado puro em A.
pelo que a ∈ Ker w. Tem-se que Ker ρ ⊆ Ker w e sendo a0 ∈ A \ {0} um elemento tal
que ρ(a0 ) = 1, então
a − ρ(a)a0 ∈ Ker ρ ⊆ Ker w,
logo
w(a) = w(a0 )ρ(a), a ∈ A.
Fazendo λ = w(a0 ) tem-se então que w = λρ. Dado que ρ(a0 ) = 1, da multiplicatividade
de ρ tem-se que ρ(a∗0 a0 ) = 1, e a condição 0 ≤ w(a∗0 a0 ) ≤ ρ(a∗0 a0 ) = 1 implica
0 ≤ w(a∗0 a0 ) = λρ(a∗0 a0 ) = λ ≤ 1.
Assim se conclui que os únicos funcionais lineares positivos majorados por ρ são do
tipo λρ, com λ ∈ [0, 1], ou seja, ρ ∈ PA .
Sendo A uma álgebra C ∗ e (H, π) uma sua representação, é claro que se B designar
uma subálgebra C ∗ de A e X um subespaço fechado de H invariante para o conjunto
π(B), ou seja, tal que π(b)X ⊂ X para qualquer b ∈ B, então a aplicação
onde π(b)|X designa a restrição do operador π(b) ao espaço X, define uma representação
da álgebra B no espaço de Hilbert X. À representação (X, πB,X ) chama-se subrepre-
sentação de (H, π) associada à subálgebra B e ao espaço de Hilbert X. Quando A = B
escreve-se, por simplicidade de notação, πB,X = πX e (X, πB,X ) = (X, πX ). Quando
X = H escreve-se πB,X = πB e (X, πB,X ) = (X, πB ). Naturalmente dize-se que a re-
sentação (H, π) é uma extensão de (X, πB,X ).
4.2. REPRESENTAÇÕES. CONSTRUÇÃO DE GELFAND-NAIMARK-SEGAL 33
Dem. Comece-se por observar que uma vez que J é umCap4:28 ideal bilateral de A então
qualquer extensão (H, π) de (H, πJ ) satisfaz a condição (4.23). Efectivamente, para
quaisquer a ∈ A e b ∈ J ,
Assim,
Cap4:27
e dado que πJ (J )ξ0 = H, então a aplicação linear em (4.25) admite uma única extensão
Cap4:27
a um operador linear limitado π(a) ∈ L(H) com kπ(a)kCap4:26 ≤ 1. De acordo com (4.25)
é fácil verificar que operador π(a) satisfaz a igualdade (4.24) para os vectores z ∈ H
34 CAPÍTULO 4. REPRESENTAÇÕES DE ÁLGEBRAS C ∗
Cap4:26
da forma z = πJ (c)ξ0 , com c ∈ J . Por densidade conclui-se que a igualdade (4.24) é
verdadeira para qualquer elemento de H. A aplicação
π : A → L(H), a 7→ π(a),
Cap4:28
satisfaz assim a condição (4.23). Como consequência, para quaisquer c, b ∈ J tem-se
π(c)πJ (b)ξ0 = πJ (cb)ξ0 = πJ (c)πJ (b)ξ0 , c ∈ J,
pelo que π(c) = πJ (c), uma vez que ξ0Cap4:26 é vector cı́clico de (H, πJ ), sendo π uma
extesão do homorfismo-∗ πJ . A condição (4.24) permite ainda garantir que π preserva as
operações algébricas e a involução em A e assim (H, π) é uma extensão da representação
(H, πJ ).
Sendo π e : A → L(H) um outro homomorfismo-∗ que satisfaça π e(a)πJ (b) = πJ (ab)
para quaisquer a ∈ A, b ∈ J , então
π
e(a)πJ (b)ξ0 = πJ (ab)ξ0 = π(a)πJ (b)ξ0 ,
tendo-se π(a) = π e(a) para qualquer a ∈ A. O homomorfismo-∗ π é assim o único
Cap4:28
homomorfismo-∗ que estende πJ e satisfaz (4.23). Cap4:29
No caso de (H, πJ ) ser não-degenerada, de acordo com o Teorema 4.2.3 a repre-
sentação (H, πJ ) é a soma directa de representações cı́clicas, (H, πJ ) = (⊕α Hα , ⊕α πJ ,α ).
Para cada representação cı́clica (Hα , πJCap4:28
,α ) existirá então uma única extensão (Hα , πα )
satisfazendo uma condição análoga a (4.23) e (H, π) := (⊕α Hα , ⊕α πα ) será a extensão
de (H, πJ ) referida no enunciado da proposição.
(i) Se (H, π) é uma representação irredutı́vel de ACap4:30 π(J ) 6= {0}, então a su-
tal queCap4:31
brepresentação (HJ , πJ ,HJ ) definida como em (4.26)–(4.27) é também irredutı́vel.
Além disso tem-se que
π(J )H = HJ = H.
4.2. REPRESENTAÇÕES. CONSTRUÇÃO DE GELFAND-NAIMARK-SEGAL 35
Cap4:33
O resultado que se segue vai generalizar o Teorema 4.2.14 ao resolver o problema
da extensão de representações partindo-se subálgebras C ∗ de A que não sejam neces-
sariamente ideais bilaterais. Neste caso o espaço de Hilbert da extensão não coincide
em geral com o espaço de Hilbert da representação da subálgebra e a extensão tem de
ser entendida recorrendo ‘à noção de equivalencia unitária.
Cap4:17 Teorema 4.2.16. Sejam A uma álgebra C ∗ com unidade e B uma sua subálgebra C ∗
com a mesma unidade. Se (X, πB ) é uma representação não-degenerada de B então
existe uma representação não-degenerada (H, π) de A e um subespaço fechado X 0 de
H, invariante para π(B), por forma a que a representação (X, πB ) seja unitariamente
equivalente à subrepresentação (X 0 , πB,X 0 ). Se (X, πB ) for uma representação cı́clica
(irredutı́vel) de B então a representação (H, π) de A pode ser escolhida de modo a ser
também (cı́clica) irredutı́vel.
36 CAPÍTULO 4. REPRESENTAÇÕES DE ÁLGEBRAS C ∗
e, para qualquer b ∈ B,
hπB,X 0 (b)ξρ , ξρ i = hπρ (b)ξρ , ξρ i = ρ(b) = ρπB ,ξ0 (b) = hπB (b)ξ0 , ξ0 i.
Cap4:5
Satisfeita a igualdade anterior para qualquer b ∈ B, da Proposição 4.2.4 conclui-se que
as representações (X, πB ) e (X 0 , πB,X 0 ) são unitariamente equivalentes. t15
Observe-se que caso (X, πB ) seja irredutı́vel, e portanto ciclica pela Proposição 4.2.2,
então
CorXX
o estado ρπB ,ξ0 define
Cap4:2
um estado puro em B, como foi estabelecido no Corolário
4.2.12. A Proposição 4.1.12 permite agora supor que o t19 estado ρ, extensão de ρπB ,ξ0 à
álgebra A, é um estado puro concluı́ndo-se do Teorema 4.2.11 que (H, π) := (Hρ , πρ ) é
irredutı́vel. Cap4:29
Suponha-se agora que (X, πB ) é não-degenerada. Pelo Teorema 4.2.3 tem-se que
(X, πB ) é a soma directa,
M M
(X, πB ) = ( Xα , πB,α ),
α∈I α∈I
de uma famı́lia {(Xα , πB,α )}α∈I de representações cı́clicas de B. De acordo com o es-
tabelecido atrás, para cada indice α ∈ I existe uma representação cı́clica (Hα , πα ) de
A e um subespaço fechado Xα0 de Hα , invariante para πα (B), por forma a que a re-
presentação (Xα , πB,α ) seja unitariamente equivalente a (Xα0 , πB,Xα0 ), onde (Xα0 , πB,Xα0 )
designa a subrepresentação de (Hα , πα ) associada à álgebra B e ao espaço de Hilbert
Xα0 . Sendo (H, π) a soma directa das representações da famı́lia {(Hα , πα )}α∈I ,
M M
(H, π) := ( Hα , πα ),
α∈I α∈I
tem-se que (H, π) é não-degenerada, uma vez que todas as representações (Hα , πα ) o
são, e o espaço de Hilbert X 0 , L
dado pela soma directa dos espaços de Hilbert mutu-
0 0 0
amente ortogonais Xα , X := α∈I Xα , é invariante para π(B). Representando por
4.3. CLASSES DE ÁLGEBRAS C ∗ 37
Cap4:17
Saliente-se que um resultado análogo Teorema 4.2.16 pode ser estabelecido para o
caso de álgebras sem unidade, seguindo a demonstração do resultado uma orientação
análoga à apresentada anteriormente.
(iv) Se (Tn ) é uma sucessão em K(H) e T ∈ L(H) tal que kTn − T k → 0, então
T ∈ K(H).
Definição 4.3.1. Sendo A uma álgebra C ∗ , diz-se que A é uma álgebra CCR ou
liminal se toda a sua representação irredutı́vel (H, π) satisfaz
Uma representação (H, π) de uma álgebra C ∗ diz-se de dimensão finita sempre que
for finita a dimensão do espaço de Hilbert H. Para as algebras CCR com unidade
tem-se o seguinte resultado:
Dem. Sendo A uma álgebra CCR com unidade e (H, π) uma sua representação
não nula e irredutı́vel então π(A) ⊆ K(H). Como (H, π) é também uma representação
Cap4Id
não-degenerada, de acordo com a observação que precede a Proposição 4.2.1 tem-se
que π(e) = IH , ou seja, IH ∈ K(H), o que acontece apenas quando dim(H) é finita.
Como se verá a seguir, sendo A uma álgebra CCR então todas as suas subálgebras
C ∗ bem como todas as suas álgebras quociente, obtidas por ideias bilaterais fechados,
são ainda álgebras CCR.
Cap4:20 Teorema 4.3.3. Toda a subálgebra C ∗ de uma álgebra CCR é ainda CCR.
Dem. Sejam A uma álgebra CCR, B uma sua subálgebra C ∗ e (X, πB ) uma repre-
sentação irredutı́vel de B. Verifique-se
Cap4:17
de seguida que πB (B) ⊆ K(X).
De acordo com o Teorema 4.2.16, existe uma representação irredutı́vel (H, π) de
A e um subespaço fechado X 0 de H tal que (X, πB ) é unitariamente equivalente a
(X 0 , πB,X 0 ). Como A é uma álgebra CCR então π(A) ⊆ K(H), o que permite concluir
que πB,X 0 (B) ⊆ K(X 0 ), pois a restrição de operadores compactos é ainda um operador
compacto. Assim se garante que πB (B) ⊆ K(X), uma vez que (X, πB ) é unitariamente
equivalente a (X 0 , πB,X 0 ).
ΦJ
A .............................................................AJ
..... ...
..... ...
..... ...
..... ...
.....
..... ...
.....
.....
.....
...
... π
πΦJ .....
.....
.....
.....
...
...
..
...... ..........
.
....... .
L(H)
O resultado seguinte mostra que toda a álgebra C ∗ tem uma ”parte”que é uma
álgebra CCR.
40 CAPÍTULO 4. REPRESENTAÇÕES DE ÁLGEBRAS C ∗
CCR Teorema 4.3.5. Seja A uma álgebra C ∗ com unidade. Representando por R(A) o
conjunto de todas as representações irredutı́veis de A, para qualquer representação
(H, π) ∈ R(A) seja n o
Cπ := a ∈ A : π(a) ∈ K(H) .
Então o conjunto \
CCR(A) := Cπ
(H,π)∈R(A)
define um ideal bilateral fechado de A, constitui uma álgebra CCR e é o maior ideal
bilateral fechado de A nestas condições.
Dem. Que J := CCR(A) define um ideal bilateral fechado de A é consequência
do facto de serem contı́nuas as representaçõess de álgebras C ∗ e ser fechado o ideal
dos operadores compactos num dado espaço de Hilbert. Mostre-se então que J é uma
álgebra CCR.Cap4:33
Para tal fixe-se uma representação irredutı́vel
Cap4:34
(H, πJ ) de J . Atendendo
à Proposição 4.2.14 e à condição (ii) da Proposição 4.2.15, existe uma representação
irredutı́vel (H, π) de A que é extensão da representação (H, πJ ). Assim, por definição
da álgebra J , e dado que (H, π) é irredutı́vel, tem-se que π(J ) ⊆ K(H), ou seja,
πJ (J ) ⊆ K(H).
Finalmente considere-se I um ideal bilateral fechado de A que seja CCR e mostre-
se que I ⊆ J , ou seja, que para toda a representação irredutı́vel (H, π) de A se tem
que π(I) ⊆ K(H). Fixe-se (H, π) uma representação irredutı́vel de A e considere-se
(HI , πI ), com H I := π(I)H, a representação irredutı́vel de I referida na condição (i)
Cap4:34
do Proposição 4.2.15. Como I é CCR, πI (I) ⊆ K(HI ). Assim, dado que para b ∈ I
o operador πI (b) é compacto em HI se e só se π(b) é compacto em H, uma vez que
π(J )(HJ⊥ ) = {0}, obtém-se como pretendido que π(I) ⊆ K(H).
Saliente-se que não se garante no teorema anterior que o ideal CCR(A) seja dife-
rente de {0}. No entanto, caso existam ideais bilaterais fechados CCR então os mesmos
estarão contidos em CCR(A) que é constituı́do pelos elementos de A cujas imagens
por todas as representações irredutı́veis são sempre operadores compactos. Surge a
seguinte definição:
Definição 4.3.2. Sendo A uma álgebra C ∗ , diz-se que A é anti-liminal se A não tem
ideias bilaterais fechados não nulos que sejam CCR, ou seja, se CCR(A) = {0}.
O facto de uma álgebra C ∗ A admitir ideais bilaterais fechados J , não nulos, tais
que J e A/J sejam CCR não implica que A seja também uma álgebra CCR (ver
Cap4:22
Exercı́cio 4.15). No entanto, para a classe de álgebras que se definem a seguir, e que
generalizam a noção de álgebra CCR, a relação com os seus ideais bilaterias fechados
e as correspondentes álgebras quociente é mais estrita.
4.3. CLASSES DE ÁLGEBRAS C ∗ 41
Definição 4.3.3. Sendo A uma álgebra C ∗ , diz-se que A é uma álgebra GCR ou
pós-liminal, se toda a sua representação irredutı́vel (H, π) satisfaz
Observe-se que de acordo com a nota que precede a definição das álgebras CCR, a
Cap4:24
condição (4.29) é equivalente à condição π(A) ∩ K(H) 6= {0}.
Claramente toda a álgebra CCR é também GCR. As álgebras GCR surgem por
vezes na literatura definidas como aquelas álgebras C ∗ cujos quocientes A/J , com
J =6 A ideal bilateral fechado, satisfazem CCR(A/JDix1977
) 6= {0}, ou seja, admitem ideais
bilaterais fechados não nulos que são CCR, [?].
Teorema 4.3.6. Sejam A uma álgebra C ∗ e J um seu ideal bilateral fechado. São
equivalentes as seguintes proposições:
(i) A é uma álgebra GCR;
(ii) J e A/J são álgebras GCR.
Dem. (i) ⇒ (ii). Sendo A uma álgebra GCR considere-se (H, πJ ) uma representação
irredutı́vel de J e (H, π) a sua extensão única à álgebra A. Da condição (ii) da Pro-
Cap4:34
posição 4.2.15 tem-se que (H, π) é irredutı́vel e como A é GCR então K(H) ⊆ π(A).
Mostre-se a seguir que se tem ainda K(H) ⊆ πJ (J ).
Fixe-se ξ ∈ H um elemento não nulo e seja
Pξ : H → Cξ
Pξ ξ = ξ = πJ (b)ξ = πJ (b)Pξ ξ,
Teorema 4.3.7. Se A é uma álgebra GCR e (H1 , π1 ) e (H2 , π2 ) são duas repre-
sentações irredutı́veis de A, então (H1 , π1 ) e (H2 , π2 ) são unitariamente equivalentes
se e só se Ker π1 = Ker π2 .
o que implica que dim (Im Qξ ) = 1. Dado que o fecho do espaço linear gerados pelas
projeções unidimensionais coincide com o ideal dos operadores compactos, tem-se
Ψ(K(H1 )) ⊆ K(H2 ),
Ψ : K(H1 ) → K(H2 ),
é pois um isomorfismo-∗Mu1990
e nestas condições, da teoria geral dos operadores compactos
em espaços de Hilbert, [?], sabe-se que existe um operador unitário U : H1 → H2 tal
que para qualquer V ∈ K(H1 )
Ψ(V ) = U V U ∗ .
Mostre-se por fim que as representações (H1 , π1 ) e (H2 , π2 ) são unitariamente equiva-
lentes. Sejam a ∈ A e W ∈ K(H2 ). Então existem V ∈ K(H1 ) e b ∈ A tais que
V = π1 (b) e Ψ(V ) = W.
Dado que π1 (a)V ∈ K(H1 ), pois K(H1 ) é um ideal bilateral de L(H1 ), tem-se
o que tem como consequência que π2 (a) = Ψ(π1 (a)) = U π1 (a)U ∗ , para a ∈ A. Assim
se garante a equivalência unitária das representações (H1 , π1 ) e (H2 , π2 ).
CCS
Depois de estabelecido o Teorema ??, que garante a existência de uma subálgebra
CCR em qualquer álgebra C ∗ , termina-se esta secção salientando que toda a álgebra
C ∗ admite também uma ”parte”que é GCR. Efectivamente,
Teorema 4.3.8. Se A é uma álgebra C ∗ , então existe em A um ideal bilateral fechado
GCR(A) que constitui o maior ideal bilateral de A que é GCR, e o menor ideal bilateral
Dix1977
de A tal que A/GCR(A) é anti-liminal, [?].
ai1 , ai2 , ..., ain , a∗i1 , a∗i2 , ..., a∗in , em que ai1 , ai2 , ..., ain ∈ G
Definição 4.3.4. A álgebra universal C ∗ (G, R), gerada pelas n isometrias s1 , s2 , ..., sn
que têm por soma a unidade de A, designa-se por álgebra de Cuntz e representa-se por
On .
4.3. CLASSES DE ÁLGEBRAS C ∗ 45
A álgebra de Cuntz On é assim uma álgebra C ∗ com unidade. Além disso é infinita
e simples. Sendo H um espaço de Hilbert separável e S1 , S2 ,..., Sn isometrias em L(H)
cujos contradomı́nios sejam dois a dois ortogonais e que satisfaçam a relação
Uma álgebra C ∗ universal mais geral que a álgebra de Cuntz é a álgebra de Cuntz-
Krieger definida como a álgebra universal gerada por n ≥ 2 isometrias parciais s1 , s2 , ..., sn
que satisfazem as relações
s∗i si (s∗j sj ) = 0, i 6= j
e n
X
s∗i si = aij sj s∗j , 1 ≤ i ≤ n,
j=1
onde A = [aij ]n×n é uma matriz n × n que tem por entradas zeros e uns e onde cada
linha tem pelo menos um elemento diferente de zero. Esta álgebra representa-se por
OA e caso A seja constituı́da só por uns pode mostrar-se que OA é isometicamente
isomorfa a On .
vu = e2πiθ uv.
Mais geralmente designa-se por torus não comutativo à álgebra universal gerada
por n elementos unitários u1 , u2 , ..., un tais que
uj uk = e2πiθkj uk uj , θkj ∈ R.
de acordo com o tipo de ideias que possuem, o tipo de projecções, o tipo de repre-
sentações irredutı́veis que admitem e o tipo de produto cruzado que representam.
4.4 Exercı́cios
Exercı́cio 4.1. Seja A uma álgebra C ∗ com unidade. Mostre que se ρ e ϕ são funcionais
lineares positivos em A tais que kρk = 1, ρ 6= ϕ e ρ ≥ ϕ, então kϕk ∈]0, 1[.
Cap4:1
Cap4:Cl Exercı́cio 4.2. Considere a Proposição 4.1.5, estabelecido para álgebras C ∗ com
unidade. Estabeleça o mesmo resultado para o caso geral onde não se assume que A
tenha unidade, ou seja, mostre que se A é uma álgebra C ∗ e B é uma sua subálgebra
C ∗ então para qualquer funcional linear positivo ρB em B existe um funcional linear
positivo ρA em A que é uma extensão de ρB satisfazendo kρA k = kρB k.
Exercı́cio 4.3. Seja A uma álgebra C ∗ com unidade. Mostre que se ρ e ϕ são funcionais
lineares positivos em A tais que kρk = 1, ρ 6= ϕ e ρ ≥ ϕ, então kϕk ∈]0, 1[.
Exercı́cio 4.4. Sejam A uma álgebra C ∗ e (H, π) uma sua representação. Para ξ ∈ H,
considere-se o funcional linear definido por
ρπ,ξ : A → C, a 7→ hπ(a)ξ, ξi.
4.4. EXERCÍCIOS 47
Exercı́cio 4.5. Sejam A uma álgebra C ∗ com unidade, ρ um funcional linear positivo
em A e (Hρ , πρ ) a representação de GNS associda a ρ. Mostre que se J é um ideal
bilateral tal que J ⊆ Ker ρ então J ⊆ Ker πρ .
Exercı́cio 4.6. Seja (H, π) uma representação de uma álgebra C ∗ com unidade. Mostre
que são equivalentes as seguintes condições:
(i) A representação (H, π) é fiel;
(iii) π(a) é positivo e não nulo em L(H) sempre que a seja positivo e não nulo em A.
Exercı́cio 4.7. Sejam A uma álgebra C ∗ com unidade e (H, π) uma sua representação
cı́clica. Sendo ξ0 um vector cı́clio da representação (H, π) e ξ ∈ H tal que
\
ξ∈ Ker π(a),
a∈A
∗
e7 Exercı́cio 4.8. Considere A uma álgebra-C com unidade, ρ um funcional linear
positivo em A e (Hρ , πρ ) a representação de Gelfand-Naimark-Segal associada a ρ.
Supondo que α é um automorfismo-∗ em A tal que
ρ(α(a)) = ρ(a) , a ∈ A,
U (a + Lρ ) = α(a) + Lρ , a ∈ A,
mostre que
πρ (α(a)) = U πρ (a)U ∗ , a ∈ A.
ρ(α(f )) = ρ(f ).
c) Mostre que existe uma transformação com unidade v no espaço de Hilbert Hρ tal
que para qualquer f ∈ C(Γ)
πρ (α(f )) = vπρ (f )v ∗
e que se u = πρ (z)
vu = ei2πθ uv.
Exercı́cio 4.11. Seja H um espaço de Hilbert e K(H) o ideal dos operadores compactos
de L(H).
(ii) Mostre que K(H) tem unidade se e só se H tem dimensão finita.
Exercı́cio 4.12. Recorde que uma álgebra de Banach se diz primitiva algprim
se admite uma
representação fiel que seja algebricamente irredutı́vel (Definição ??). Mostre que:
(ii) Mostre que C0 (X) é uma álgebra-C ∗ , que só possui unidade se e só se X é com-
pacto.
Exercı́cio 4.14. Seja A um álgebra C ∗ com ou sem unidade. Justifique que sendo J
um ideal bilateral de A então existe em J uma aproximação da unidade de J .
πJ ,2 (b) = U πJ ,1 (b)U ∗ , b ∈ J.
cap4:21
Cap4:22 Exercı́cio 4.15. O Teorema ?? garante que as álgebras quociente de uma álgebra
CCR são ainda álgebras CCR. Mostre que o reciproco deste resultado não é em geral
válido. Para tal consider H um espaço de Hilbert de dimensão infinita, justifique que
a álgebra C ∗
A = K(H) + CI
não é CCR mas admite uma subálgebra C ∗ que é CCR.
Cap4:40 Exercı́cio 4.16. Sejam H um espaço de Hilbert e K(H) o ideal dos operadores com-
pactos de L(H). Mostre que se T ∈ L(H) é um operador tal que T K(H) = {0} então
T = 0.
Capı́tulo 5
1
2 CAPÍTULO 5. INTRODUÇÃO ÀS ÁLGEBRAS DE VON NEUMANN
kTα − T kL(X) → 0,
α
Cap1.002
por (??) tem-se que a rede (Tα ) converge fortemente T, escrevendo-se Tα → T (SOT),
α
se e só se, para qualquer x ∈ X, se tem
kTα x − T xk → 0,
α
Cap1.003
e, finalmente de (??) e atendendo ao teorema de representação de Riesz em espaços de
Hilbert1 , a rede (Tα ) converge fracamente para T, escrevendo-se Tα → T (WOT) se e
α
só se, para quaiquer x, y ∈ H, se tem
|hTα x, yi − hT x, yi| → 0.
α
1
Teorema da representação de Riesz em espaços de Hilbert: Se H é um espaço de Hilbert então
para qualquer funcional linear limitado ϕ ∈ H ∗ , existe um e um só y ∈ H tal que
Com o exemplo que se segue mostra-se que a passagem ao operador adjunto não consti-
tui uma função contı́nua quando se considera em L(H) a topologia forte de operadores.
Cap5:060 Exemplo 5.1.1. Seja H um espaço de Hilbert de dimensão infinita que admite uma
base ortonormada S = {en : n ∈ N}. Para cada n ∈ N considere-se o operador
Un : H → H definido por
Un (x) = hx, en ie1 , x ∈ H.
Sabendo que para qualquer x ∈ X a série ∞ 2
P
n=1 |hx, en i| é convergente, tem-se que
Un → 0(SOT),
n
sendo 0 o operador nulo, uma vez que kUn (x)k → 0 para qualquer x ∈ H. Tem-se ainda
n
que Un∗ : H → H é dado por
com kUn∗ (x)k = |hx, e1 i|. Assim, dado que kUn∗ (e1 )k = 1,
Un∗ 9 0(SOT).
n
é um exercı́cio simples constatar que tanto para a topologia forte ou fraca de operadores
Cap5:02
a aplicação (5.2) é separadamente contı́nua, ou seja, continua em cada uma das variáveis
uma vez fixada a outra. Ao contrário do que acontece para a topologia da norma, em
Cap5:02
geral a aplicação (5.2) não é contı́nua quando se consideram em L(H) as topologias
forte ou fraca de operadores. Relativamente à topologia fraca de operadores deixa-se
o exemplo que se segue.
4 CAPÍTULO 5. INTRODUÇÃO ÀS ÁLGEBRAS DE VON NEUMANN
satisfaz Tn → 0(WOT) e Tn∗ → 0(WOT) mas Tn Tn∗ = IL2 (T) 9 0(WOT). Repare-se
ainda que Tn 9 0(SOT) o que garante que em espaços de dimensão infinita as duas
topologias, forte e fraca de operadores, não coincidem em geral.
Dem. Comece-se por admitir que ϕ é fracamente contı́nuo. Sendo (Tα ) uma rede em
L(H) tal que Tα → T (SOT), com T ∈ L(H), então, dado que Tα → T (WOT), tem-se
α α
que ϕ(Tα ) → ϕ(T ) em C o que garante que (i) ⇒ (ii).
α
Mostre-se que (ii)⇒(iii) e para tal suponha-se que ϕ é fortemente contı́nuo. De
Cap1.222
acordo com a Definição ?? a topologia forte de operadores em L(H) é gerada pela
famı́lia de seminormas {k.kx }x∈H , definidas por kT kx := kT xk para T ∈ L(H) e
x ∈ H. Esta famı́lia de seminormas é separadora2 e do estudo dos espaços localmente
convexos3 sabe-se que existe uma constante C > 0 e vectores x1 , x2 , ..., xn em H tais
2
Uma famı́lia de seminormas, F := {k.ki }i∈I , definidas num espaço vectorial X diz-se separadora
se para cada vector não nulo x ∈ X, existe i0 ∈ I por forma a que kxki0 6= 0
3
Teorema: Se X é um espaço vectorial topológico cuja topologia é induzida por uma famı́lia
separadora de seminormas F := {k.ki }i∈I , então um funcional linear ϕ em X é contı́nuo se e só se
existe uma constante C > 0 e existem elementos i1 , i2 , ...in ∈ I por forma a que, para qualquer x ∈ X,
Cap5:01
Considere-se M um subconjunto de L(H). Conclui-se da cadeia de implicações (??)
que
(SOT) (WOT)
M⊂M ⊂M ,
6 CAPÍTULO 5. INTRODUÇÃO ÀS ÁLGEBRAS DE VON NEUMANN
(WOT) (SOT)
onde M eM designam, respectivamente, o fecho fraco e o fecho forte
Cap5:010
de M em L(H). Na Proposição 5.1.1 indica-se uma condição suficiente para que se
tenha a igualdade dos fechos de M nas duas topologias.
Cap5:011 Proposição 5.1.2. Se H é um espaço de Hilbert e M é um subconjunto convexo de
L(H), então
(SOT) (WOT)
M =M .
Dem. Como L(H), com a topologias forte ou fraca de operadores, constitui um
espaço vectorial topológico localmente convexo e M é, por hipótese, um subconjunto
(SOT)
convexo de L(H), sabe-se da teoria geral de espaços localmente convexos que M
(WOT)
eM são caracterizados pelo tipo de funcionais lineares contı́nuos definidos em
Cap5:010
L(H) para cada uma das topologias4 . Acontece que pela Proposição 5.1.1 os funcionais
lineares definidos em L(H) que são contı́nuos para a topologia fraca de operadores
coincide com aqueles que são contı́nuos para a topologia forte de operadores. Deste
facto obtém-se de imediato a igualdade pretendida.
(SOT) (WOT)
Neumann. Efectivamente, dado que A = A então estas álgebras são
fechadas para a operação de involução sendo ainda álgebras C ∗ . Particularmente, se
T ∈ L(H) é um operador normal então AT := alg∗ {T }, a álgebra C ∗ gerada por T,
(SOT) (WOT)
T ∗ e por IH , é uma álgebra C ∗ comutativa tendo-se que AT e AT são
álgebras de von Neumann.
Por definição as álgebras de von Neumann são subálgebras C ∗ de L(H) com uma
condição topológica adicional. No que se segue vai mostrar-se que nas álgebras de von
Neumann a condição topológica relativa ao seu fecho forte pode ser substituı́da por
uma condição puramente algébrica. Para estabelecer este facto começa-se por recordar
o conceito de comutante de um conjunto, introduz-se a noção de duplo comutante e
analisam-se algumas das propriedades destes dois conceitos.
M0 := {T ∈ L(H) : T S = ST, S ∈ M} .
(i) M ⊆ M00 ;
(iii) M0 = (M00 )0 ;
Observe-se que a condição (v) acima permite afirmar que o comutante A0 de uma
álgebra de von Neumann A é também uma álgebra de von Neuman.
A(x)
n x − T x → 0.
n
kAn xi − T xi k → 0.
n
PM A = APM ,
5.1. DEFINIÇÃO DE ÁLGEBRA DE VON NEUMANN. TEOREMA DO BICOMUTANTE9
kAn x − T xk → 0,
n
k
M
Ψ : L(H) → L(H k ), S 7→ S,
i=1
onde
k
M
S : H k → H k , (ξ1 , ξ2 , ..., ξk ) 7→ (Sξ1 , Sξ2 , ..., Sξk ).
i=1
logo,
kTn xi − T xi k → 0, para 1 ≤ i ≤ k.
n
(i) A = A00 ;
Cap5:08
Dem. (i) ⇒ (ii) é consequência, atendendo à condição (iv) da Proposição 5.1.3, do
facto dos comutantes serem fracamente fechados. Cap5:011
(ii) ⇒ (iii) é consequência imediata da Proposição 5.1.2.
Mostre-se que (iii) ⇒ (i). Dado que A ⊂ A00 prove-se A00 ⊂ A. Para tal considere-se
T ∈ A00 e fixe-se V (T ; x1 , x2 , ..., xk ; ) a vizinhança de T definida por
kTn xi − T xi k → 0.
(SOT)
A00 ⊂ A .
provar que M00 é a menor álgebra de von Neumann nestas condições, considere-se
A uma outra álgebra de von Neumann que contém M. Assim, A0 ⊂ M0 Cap5:000
pelo que
M00 ⊂ A00 . Sendo A uma álgebra de von Neumann, segue do Corolário 5.1.6 que
A00 = A, logo M00 ⊂ A.
Comece-se por recordar que, à semelhança do que sucede numa qualquer álgebra
∗
C , se escreve T ≥ 0 para representar que um operador T ∈ L(H) é positivo. Assim,
T ≥ S ou S ≤ T significa que T − S ≥ 0, para T, S ∈ L(H). Diz-se que uma famı́lia
de operadores {Tα }α∈I em L(H) é majorada se existe um operador T ∈ L(H) tal que
Tα ≤ T para qualquer α ∈ I, e diz-se minorada se existe um operador S ∈ L(H) tal
que S ≤ Tα para qualquer α ∈ I. Uma rede (Tα )α∈I de operadores de L(H) diz-se
crescente caso Tα ≤ Tβ sempre que α ≤ β e diz-se decrescente se Tβ ≤ Tα sempre que
α ≤ β.
Cap5:014 Teorema 5.2.1 (Teorema de Vigier). Sejam H um espaço de Hilbert, A uma álgebra
de von Neumann que actua em L(H) e (Tα ) uma rede de operadores autoadjuntos em
L(H). São verdadeiras as seguintes afirmações:
(i) Se (Tα ) é majorada e crescente então existe um operador autoadjunto T ∈ A tal
que Tα → T (SOT); o operador T é o menor majorante da famı́lia {Tα };
α
Dem. Procede-se apenas à demonstração da condição (i) já que (ii) pode ser obtida
por aplicação de (i) à rede (−Tα ). Sendo (Tα ) uma rede de operadores autoadjuntos
majorada, suponha-se sem perda de generalidade (Tα ) é também minorada (caso tal
não aconteça basta substituir a rede (Tα ) por (Tα )α≥α0 e considerar como minorante
o operador Tα0 ). Admita-se ainda que todos os operadores Tα são positivos (caso
12 CAPÍTULO 5. INTRODUÇÃO ÀS ÁLGEBRAS DE VON NEUMANN
contrário basta considerar a rede (Tα − Tα0 )). Nas condições indicadas existe uma
constante C ≥ 0 tal que kTα k ≤ C para qualquer α. Efectivamente, dado que os
operadores Tα são autoadjuntos e admitem Te ∈ L(H) como um majorante, então
Como consequência, para qualquer x ∈ H, a rede crescente (hTα x, xi) é limitada su-
periormente por Ckxk2 sendo portanto convergente.
Cap3:4
Como cada operador Tα é um
operador
√ positivo, sabe-se da Proposição
√ √ ?? que para cada α, existe um operador po-
sitivo Tα ∈ A tal que Tα = Tα Tα . Como consequência, para quaisquer x, y ∈ H
tem-se que p p
hTα x, yi = h Tα (x), Tα (y)i,
e por cálculo directo obtém-se
3
1X k p p
hTα x, yi = i h Tα (x + ik y), Tα (x + ik y)i,
4 k=0
logo
3
1X k
hTα x, yi = i hTα (x + ik y), x + ik yi.
4 k=0
É fácil constatar que τ define uma forma sesquilinear em H. Como τ é limitada pois,
para quaisquer x, y ∈ H,
então
kT x − Tα xk → 0.
α
Cap5:013
Dado que A é fortemente fechada então T ∈ A. De acordo com (5.5), se Te é um
majorante da famı́lia de operadores {Tα } então, para qualquer x ∈ H,
Observe-se que caso (Pα ) seja uma rede de operadores de projecção em L(H),
fortemente convergente para um operador P ∈ L(H), então P é ainda um operador
de projecção. Efectivamente, se Pα → P (SOT) então Pα → P (WOT) logo, para
α α
quaisquer x, y ∈ H,
Cap5:012 Corolário 5.2.2. Sejam H um espaço de Hilbert e (Pα ) uma rede de operadores de
projecção numa álgebra de von Neumann A ⊂ L(H). São verdadeiras as seguintes
afirmações:
Uma famı́lia {Tα }α∈I de operadores em L(H) diz-se ortogonal sempre que Tα Tβ = 0
para α 6= β, ou seja, se (Im Tα ) ⊥ (Im Tβ ) para α 6= β. Diz-se fortemente somável se
a rede !
X
Tα ,
α∈F F
onde F percorre os subconjuntos finitos de I, é fortemente convergente para um ope-
rador T ∈ L(H) escrevendo-se
X
T = Tα (SOT).
α∈I
Cap5.ggg Proposição 5.2.3. Sejam H um espaço de Hilbert, A ⊂ L(H) uma álgebra de von
Neumann e {Pα }α∈I uma famı́lia ortogonal e não vazia de operadores de projeccção
em A. Tem-se que a famı́lia {Pα }α∈I é fortemente somável, existindo um operador de
projecção P ∈ A tal que X
P = Pα (SOT).
α∈I
P
vazio F de I defina-se o operador de projecção PF := α∈F Pα . É claro que a rede
(P F )F constitui uma rede crescente de operadores de projecção em A. Do Corolário
Cap5:012
5.2.2 conclui-se então que existe um operador de projecção P ∈ A tal que
X
PF := Pα → P (SOT).
F
α∈F
Assim, dado que a famı́lia {Pα }α∈F é ortogonal, para qualquer x ∈ H, tem-se que
X X
kP xk2 = limkPF (x)k2 = lim kPα (x)k2 = kPα xk2 ,
F F
α∈F α∈I
Uma das caracterı́sticas das álgebras de von Neumann é serem ricas em projecções.
O próximo resultado vai permitir afirmar que numa álgebra de von Neumann A = 6 CIH
existem sempre operadores de projecção não triviais.
Cap5:015 Lema 5.2.4. Se H é um espaço de Hilbert, A ⊂ L(H) é uma álgebra de von Neumann
1
e T é um operador positivo em A tal que 0 ≤ T ≤ IH , então a sucessão Tn é
crescente e existe um operador de projecção PT ∈ A tal que
1
T n → PT (SOT).
n
pois
1 1
k(T n − PT )xk → 0 e k(T n − PT )PT xk → 0,
n n
2
então T n → PT2 (SOT). Passando à subsucessão dos termos de ordem par conclui-se que
n
1
T n → PT2 (SOT) logo, pela unicidade de limite, PT = PT∗ = PT2 . Fica assim estabelecido
n
que PT é um operador de projecção.
1
Como cada função z n ∈ C(σ(T )) é o limite uniforme de uma sucessão de polinómios
1
em z cujos termos independentes são nulos, então cada operador T n é também o limite
(na topologia da norma) de uma sucessão de polinómios em T sem termos constantes.
Assim, 1
(T x = 0) ⇒ T nx = 0 ⇒ (PT x = 0) ,
Im T = (Ker T )⊥ = (Ker PT )⊥ = Im PT ,
Cap5:042 Corolário 5.2.5. Se A é uma álgebra de von Neumann que actua num espaço de
Hilbert H então
PT ∈ A,
para qualquer operador T ∈ A.
1
Te := ∗
TT∗
kT T k
5.2. ÁLGEBRAS DE VON NEUMANN E PROJECÇÕES 17
Cap5:015
é positivo e satisfaz 0 ≤ Te ≤ IH . De acordo com a Proposição 5.2.4 então o operador
PTe , o operador de projecção sobre Im Te, pertence à álgebra A. Atendendo a que
hT T ∗ x, xi = kT ∗ xk2 , x ∈ H,
então Ker T ∗ = Ker Te, pelo que
As álgebras de von Neumann não só possuem muitas projecções como estas per-
mitem caracterizar própria álgebra. Recorrendo ao cálculo funcional de Borel para
Sub3.5.2
operadores normais (Subsecção ??), mostra-se de seguida como o conjunto das com-
binações lineares finitas das projecções de uma álgebra A é denso em A.
Cap5:019 Teorema 5.2.6. Sejam H um espaço de Hilbert e A uma álgebra de von Neumann
que actua em H. Sendo {Pα : α ∈ I} o conjunto de todos os operadores de projecção
de A então
A = span{Pα : α ∈ I},
onde span{Pα : α ∈ I} designa o fecho na topologia da norma de operadores do conjunto
span{Pα : α ∈ I} das combinações lineares finitas dos elementos de {Pα : α ∈ I}.
Dem. Para cada operador normal T ∈ A denote-se por E T a resolução da identidade
t3.2.5
de T (Teorema ??) e seja
Z
−1 ∞
ΓT : B (σ(T )) → L(H), f 7→ f (T ) :=
e f dE T , (5.6) Cap5:016
σ(T )
Cap3:90
o cálculo funcional de Borel para o operador T introduzido na Definição ??. Recorde-se
que sendo AT := alg{T }∗ at3.2.5
subálgebra C ∗ de A ⊂ L(H) gerada por T, T ∗ e IH , então,
de acordo com o Teorema ??, E T é a única medida espectral em (σ(T ), H) tal que
Z
−1
Γ (u) = u dE T , u ∈ C(σ(T )),
σ(T )
com
Γ−1 : C(σ(T )) → AT , u → u(T ),
o cáculo funcional contı́nuo para o operador T .
Sendo f uma qualquer função em B ∞ (σ(T )), à semelhança da demonstração do
Cap3:80
Lema ?? existe uma rede (uα ) de funções contı́nuas de C(σ(T )) tal que kuα k∞ ≤ kf k∞
e tal que, para quaisquer x, y ∈ H,
Z Z
T T
hf (T )x, yi = f dEx,y = lim uα dEx,y = lim huα (T )x, yi.
σ(T ) α σ(T ) α
18 CAPÍTULO 5. INTRODUÇÃO ÀS ÁLGEBRAS DE VON NEUMANN
não é em geral fortemente contı́nua. Inicia-se esta secção garantindo-se que a restrição
desta aplicação ao conjunto dos operadores normais de L(H) já é fortemente contı́nua.
Dem. Sejam (Tα ) uma rede de operadores normais de L(H) e T ∈ L(H) um operador
5.3. TEOREMA DA DENSIDADE DE KAPLANSKY 19
kTα xk → kT xk,
α
T 7→ f (T ),
Denote-se por CH (R) o subconjunto de C(R) constituı́do pelas funções que são
fortemente contı́nuas num espaço de Hilbert H. O conjunto CH (R) é claramente um
subespaço vectorial de C(R).
Cap5:061 Proposição 5.3.2. Seja C∞ (R) := L∞ (R) ∩ C(R) a subálgebra de C(R) constituı́da
pelas funções contı́nuas em R que são limitadas para a norma do supremo. Se f1 , f2 ∈
CH (R) e alguma destas funções fi pertencer a C∞ (R), então a função produto f1 .f2
também pertence a CH (R).
20 CAPÍTULO 5. INTRODUÇÃO ÀS ÁLGEBRAS DE VON NEUMANN
Dem. Considere (Tα ) uma rede de operadores autoadjuntos de L(H) tal que Tα →
α
T (SOT), com T ∈ L(H) um operador autoadjunto, e suponha que f1 ∈ C∞ (R). Nestas
condições, para qualquer x ∈ H, tem-se
kf1 .f2 (Tα )x − f1 .f2 (T )xk = kf1 (Tα )f2 (Tα )x − f1 (T )f2 (T )xk
≤ kf1 (Tα )kL f2 (Tα )x − f2 (T )x + f1 (Tα ) − f1 (T ) f2 (T )x
≤ kf1 k∞ f2 (Tα )x − f2 (T )x + f1 (Tα ) − f1 (T ) f2 (T )x ,
logo, atendendo a que f1 , f2 ∈ CH (R), então
f2 (Tα )x − f2 (T )x → 0, f1 (Tα ) − f1 (T ) f2 (T )x → 0
α α
pelo que kf1 f2 (Tα )x − f1 f2 (T )xk → 0. Assim se demonstra que caso f1 ∈ C∞ (R) então
α
f1 .f2 ∈ CH (R). Analogamente se procede no caso de f2 ∈ C∞ (R).
uma vez que f (Tα ) → f (T ), o que permite concluir que f ∈ C0H (R).
α
Considerem-se agora as funções f1 , f2 ∈ C0 (R) dadas por
f1 (t) = (1 + t2 )−1 , f2 (t) = tf1 (t), t ∈ R. (5.7) Cap5:018
Mostre-se que f1 , f2 ∈ C0H (R). Para tal suponha-se que Tα → T (SOT) onde T e
α
todos os operadores Tα são operadores autoadjuntos de L(H). Recorrendo ao cálculo
funcional contı́nuo associado a cada um dos operadores indicados, tem-se
f2 (Tα ) − f2 (T ) = Tα (IH + Tα2 )−1 − T (IH + T 2 )−1
e dado que
então
pelo que,
f2 (Tα )x − f2 (T )x → 0.
α
Como consequência f2 ∈ C0H (R). Além disso, atendendo a que f2 é uma função limitada
em CH (R), z : t 7→ t é uma função em CH (R) e f1 se pode escrever na forma f1 = 1−zf2 ,
Cap5:061
resulta da Proposição 5.3.2 que f1 ∈ C0H (R). Dado que para quaisquer dois elementos
x, y ∈ R se tem f1 (x) 6= f1 (y) ou f2 (x) 6= f2 (y), então a álgebra C0H (R) separa os
pontos de R. Atendendo a que C0H (R) é uma subálgebra fechada e autoadjunta de
C0 (R) que separa os pontos de R e contém a função f1 que satisfaz f1 (t) > 0 para
qualquer t ∈ R, conclui-se do teorema de Stone-Weierstrass que C0H (R) = C0 (R), ou
seja, C0 (R) ⊂ CH (R).
Dada uma qualquer função f ∈ C∞ (R), atendendo a que f.f1 e f.f2 estão em C0 (R)
então f.f1 e f.f2 estão em CH (R). A função produto z.f.f2 está ainda em CH (R) uma
vez que z ∈ CH (R) e f.f2 ∈ C∞ (R) ∩ CH (R). Assim, dado que
com f.f1 e z.f.f2 em CH (R), então f ∈ CH (R) já que CH (R) é um subespaço de C(R).
Tem-se que:
22 CAPÍTULO 5. INTRODUÇÃO ÀS ÁLGEBRAS DE VON NEUMANN
(iii) A bola unitária fechada de A, B01 (A) := {A ∈ A : kAkL ≤ 1}, é o fecho forte da
bola unitária fechada de B, B01 (A) := {B ∈ B : kBkL ≤ 1},
(SOT)
B01 (A) = B01 (B) .
(SOT)
Dem. (i) Que Bau ⊂ Aau é um exercı́cio simples. Quanto à inclusão contrária,
considere-se T ∈ Aau e (Tα ) uma rede em B tal que Tα → T (SOT). Assim, Tα →
α α
T (WOT) e Tα∗ → T (WOT) pelo que a rede (Aα ), defininda por
α
1
Aα := (Tα + Tα∗ ),
2
é então uma rede em Bau tal que Aα → T (WOT). Como A é um conjunto convexo,
α
Cap5:011 (SOT)
conclui-se da Proposição 5.1.2 que Aα → T (SOT) logo T ∈ Bau .
α
(SOT)
(ii) Mostra-se sem dificuldade que B01 (Bau ) ⊂ B01 (Aau ). Quanto à inclusão
(SOT)
contrária, considere-se T ∈ B01 (Aau ) e mostre-se que T ∈ B01 (Bau ) . Por (i),
existe uma rede (Tα ) de operadores em Bau tal que Tα → T (SOT). Sendo f ∈ C(R) a
α
função contı́nua definida por
f (t) := t para t ∈ [−1, 1] e f (t) := 1/t para t ∈ R \ [−1, 1],
Cap5:020
tendo em conta que f ∈ C0 (R) então, de acordo com a Proposição 5.3.3, f ∈ CH (R)
tendo-se f (Tα ) → f (T )(SOT). Como T é autoadjunto e kT kL ≤ 1, então σ(T ) ⊂
α
[−1, 1] obtendo-se da definição de f que f (T ) = T. Assim, dado que (f (Tα )) constitui
uma rede de operadores autoadjuntos de B com norma k(f (Tα )k = kf k∞ ≤ 1 então
(SOT)
T ∈ B01 (Bau ) .
(iii) Considere o espaço de Hilbert H 2 := H ⊕ H e sejam M2 (A) e M2 (B) as
subálgebras de L(H 2 ) definidas, respetivamente, por
A B A B
M2 (B) := : A, B, C, D ∈ B , M2 (A) := : A, B, C, D ∈ A .
C D C D
5.3. TEOREMA DA DENSIDADE DE KAPLANSKY 23
(SOT)
Sendo A := B então M2 (A) é o fecho forte de M2 (B) em L(H 2 ). Para mostrar
SOT
que B01 (A) ⊂ B01 (B) considere-se T ∈ A com kT kL ≤ 1 e defina-se em M2 (A) o
operador
0 T
T :=
e .
T∗ 0
Claramente Te constitui um operador autoadjunto de M2 (A) com norma kTekL(H 2 ) ≤
1. Recorrendo a (ii), existe uma rede (Teα ) de operadores autoadjuntos na bola unitária
fechada de M2 (B) tal que Teα → Te(SOT). Os operadores Teα são necessariamente da
α
forma
A α Tα
Teα =
Tα∗ Bα ,
com Aα , Bα operadores autoadjuntos de B e onde (Tα ) é uma rede de operadores em
B, com norma kTα kL ≤ 1, tal que Tα → T (SOT). Assim se conclui que B01 (A) ⊂
α
(SOT)
B01 (B) .
Cap5.222 Corolário 5.3.5. Sejam H um espaço de Hilbert, A uma subálgebra C ∗ de L(H) que
contém IH e B01 (A) := {A ∈ A : kAkL ≤ 1} a bola unitária fechada de A. Tem-se que
A é uma álgebra de von Neumann se e só se
(SOT)
B01 (A) = B01 (A) ,
ou seja, se e só se a bola unitária fechada de A é fortemente fechada em L(H).
(SOT)
Dem. Sendo A uma álgebra de von Neumann é claro que A = A . Assim,
de acordo com a condição (iii) do teorema da densidade de Kaplansky, tem-se que
(SOT) (SOT) (SOT)
B01 (A ) = B01 (A) , ou seja, B01 (A) = B01 (A) .
(SOT)
Reciprocamente suponha-se que B01 (A) = B01 (A) . Recorrendo novamente
(SOT) (SOT)
ao teorema da densidade de Kaplansky tem-se que B01 (A ) = B01 (A) e
(SOT)
consequentemente B01 (A) = B01 (A ). Uma simples observação permite agora
(SOT)
concluir que A é uma álgebra de von Neumann uma vez que A = A .
Saliente-se que nas condições do resultado anterior, dado que o conjunto B01 (A)
24 CAPÍTULO 5. INTRODUÇÃO ÀS ÁLGEBRAS DE VON NEUMANN
dado que L(H) é uma álgebra de von Neumann então B01 (L(H)) é um conjunto fraca-
mente fechado em L(H). Termina-se esta secção mostrando-se que B01 (L(H)) é mesmo
um conjunto fracamente compacto em L(H), facto que se mostrará de grande im-
portância no estudo das álgebras de von Neumann comutativas.
Cap5:039 Proposição 5.3.6. Se H é um espaço de Hilbert, então a bola unitária fechada B01 (L(H))
é fracamente compacta em L(H).
recı́proca de tal afirmação é ainda verdadeira no caso da álgebra de Banach ser uma
álgebras C ∗ . Para estabelecer este facto apresentam-se a seguir alguns resultados au-
xiliares, o primeiro dos quais que permitirá
t15
clarificar a demonstração da implicação de
(i) para (ii) indicada no Teorema ??.
Cap5.yyy Proposição 5.3.7. Se A é uma álgebra C ∗ com unidade e (H, π) é uma sua repre-
sentação (não nula) topologicamente irredutı́vel então
(SOT)
[π(A)]0 = CIH , [π(A)]00 = L(H) e π(A) = L(H).
Dem.
Se A é uma álgebra C ∗ e (H, π) é uma sua representação
Cap5:08
de A então π(A) é uma
∗
acordo com a Proposição 5.1.3, [π(A)]0 é uma álgebra de
subálgebra C de L(H) e, de Cap5:019
von Neumann. Do Teorema 5.2.6 conclui-se então [π(A)]0 é gerada pelos operadores
de projecção que lhe pertencem. Ora, se P é uma projecção em [π(A)]0 então P π(a) =
π(a)P para qualquer a ∈ A e assim, dado que P é o operador de projecção de H sobre
o subespaço fechado M := P (H) ⊂ H,
PM π(a) = π(a)PM , a ∈ A,
Cap3:84
e M é em particular invariante para π (Proposição ??). Como (H, π) é irredutı́vel
então M = {0} ou M = H e assim P = PM = 0 ou P = PM = IH . Como consequência
tem-se que [π(A)]0 = CIH . Este facto implica de imediato que [π(A)]00 = L(H) e como
(SOT)
π(A) ⊂ π(A) ⊂ L(H) então
00
00 (SOT)
[π(A)] ⊂ π(A) ⊂ L(H)
00
(SOT)
e assim π(A) = L(H). Do teorema do bicomutante conclui-se que
(SOT)
π(A) = L(H)
(SOT)
uma vez que π(A) define uma álgebra de von Neumann em L(H).
Cap5.sss Lema 5.3.8. Sejam H um espaço de Hilbert, {ξ1 , ξ2 , ..., ξn } um conjunto ortonormado
em H e z1 , z2 , ..., zn elementos de H. Nestas condições, sendo L > 0 um qualquer real
positivo tal que
kzi k ≤ L, i = 1, 2, ..., n,
então existe um operador T ∈ L(H) tal que
√
kT k ≤ nL e T ξi = zi para i = 1, 2, ...n.
26 CAPÍTULO 5. INTRODUÇÃO ÀS ÁLGEBRAS DE VON NEUMANN
n n
! 21 n
! 12
X X X
≤L |hPM x, ξj i| ≤ L |hPM x, ξj i|2 1
j=1 j=1 j=1
n
! 21
√ X
≤L n |hPM x, ξj i|2 . (5.8) Cap5.op1
j=1
Cap5.yyy Cap5.sss
Juntado a Proposição 5.3.7, o Lema 5.3.8 e o teorema da densidade de Kaplansky
pode agora estabelecer-se o importante resultado.
5.3. TEOREMA DA DENSIDADE DE KAPLANSKY 27
Cap5.www Teorema 5.3.9. Sejam A uma álgebra C ∗ com unidade e (H, π) uma sua repre-
sentação (não nula) topologicamente irredutı́vel. Se z1 , z2 , ..., zn são elementos do
espaço de Hilbert H então para qualquer conjunto ortonormado {ξ1 , ξ2 , ..., ξn } em H
existe um elemento a ∈ A tal que
π(a)ξi = zi , i = 1, 2, ...n.
T0 ξi = zi , i = 1, 2, ...n.
Cap5.yyy
Sendo (H, π) topologicamente irredutı́vel, tem-se da Proposição 5.3.7 que π(A) é for-
temente fechado em L(H) e como consequência é possı́vel fixar um elemento a0 ∈ A
por forma a que
1
kπ(a0 )ξi − T0 ξi k = kπ(a0 )ξi − zi k < √ , i = 1, 2, ..., n.
2 n
(1) Cap5.sss
Definindo zi := zi −π(a0 )ξi para i = 1, 2, ..., n, e recorrendo novamente ao Lema 5.3.8,
fixe-se T1 ∈ L(H) por forma a que kT1 k ≤ 12 e
(1)
T1 ξi = zi , i = 1, 2, ..., n.
com
1 1
kπ(ak )k ≤ k e kπ(ak )ξi − Tk ξi k ≤ k+1 √ , i = 1, 2, ..., n. (5.12)
2 2 n
Dado que a série ∞
P
j=0 π(aj ) é convergente em π(A), pois é absolutamente convergente
e π(A) é espaço de Banach, então existe um elemento a ∈ A tal que
∞
X
π(a) = π(aj ).
j=0
ou seja, π(a)ξi = zi .
Cap5.www
Como consequência do Teorema 5.3.9 obtém-se para algebras C ∗ a equivalência,das
noções de representação algebricamente irredutı́vel e topologicamente irredutı́vel.
Cap4F Proposição 5.3.10. Se A é uma álgebra C ∗ então qualquer representação topologica-
mente irredutı́vel (não nula) de A é também algebricamente irredutivel.
Dem. Sejam (H, π) uma representação topologicamente irredutı́vel de A e K ⊂ H
um seu subespaço invariante não nulo. Tem-se que π(a)K ⊂ K para qualquer Cap5.www
a ∈ A.
Sendo ξ um qualquer elemento de H e ζ ∈ K \ {0} sabe-se do Teorema 5.3.9 que existe
um elemento a ∈ A tal que π(a)ζ = ξ. Como consequência, ξ ∈ K e assim K = H.
Se os únicos subespaços invariantes da representação (H, π) são os triviais então esta
é algebricamente irredutı́vel.
Denote-se por L∞ (X, µ) a subálgebra-∗ de L(L2 (X, µ)) constituı́do por todos os
operadores de multiplicação por funções de L∞ (X, µ),
Da comutatividade L∞ (X, µ) tem-se L∞ (X, µ) ⊂ (L∞ (X, µ))0 . Para mostrar a inclusão
contrária fixe-se um operador T ∈ (L∞ (X, µ))0 e mostre-se que existe uma função
f ∈ L∞ (X, µ) tal que T = Mf . Sejam 1 ∈ L2 (X, µ) a função constantemente igual
ao número real 1 e f ∈ L2 (X, µ) a função definida por f := T (1). Para qualquer
g ∈ L∞ (X, µ) ⊂ L2 (X, µ), dado que Mg ∈ L∞ (X, µ) e T ∈ (L∞ (X, µ))0 , então
e como consequência,
kgf k2 = kT (g)k2 ≤ kT kL kgk2 . (5.18) Cap5:026
Para cada n ∈ N seja ∆n o boreliano
∆n = {x ∈ X : |f (x)| ≥ n}
Cap5:026
e gn a função gn := χ∆n ∈ L∞ (X, µ). De acordo com (5.18) tem-se que
Z
2 2 2
kT kL µ(∆n ) = kT kL kgn k2 ≥ kgn f k2 = |f |2 dµ ≥ n2 µ(∆n ).
∆n
L(L2 (X, µ)) constituı́da pelos operadores de multiplicação pelas funções de L∞ (X, µ),
é uma álgebra de von Neumann comutativa maximal. No que se segue vai mostrar-se
que qualquer álgebra de von Neumann que actue num espaço de Hilbert separável é
isomorfa-∗ a uma álgebra L∞ (X, µ) para algum espaço Hausdorff compacto X com
µ uma medida de Borel regular e finita. Para estabelecer este facto começam-se por
introduzir os conceitos de vector cı́clico e vector separador para uma álgebra de von
Neumann.
Definição 5.4.1. Sejam H um espaço de Hilbert e A uma subálgebra C ∗ de L(H).
Diz-se que um vector ξ0 ∈ H é cı́clico para A sempre que ξ0 seja um vector cı́clico
Sub4i
para a representação dada pela injecção canónica de A em L(H) (ver Subsecção ??),
ou seja, se e só se o conjunto
Aξ0 := {T ξ0 : T ∈ A}
é denso em H.
Um vector ξ0 ∈ H diz-se separador para A sempre que a aplicação linear de A em
H definida por
T 7→ T ξ0
é injectiva, ou seja, se e só se o único operador T ∈ A tal que T ξ0 = 0 é T = 0.
Exemplo 5.4.1. Para a álgebra de von Neumann L∞ (X, µ) ⊂ L(L2 (X, µ)), com X
Hausdorff compacto e µ uma medida de Borel regular e finita, a função 1 ∈ L2 (X, µ),
função constantemente igual ao número real 1, constitui um vector cı́clico pois L∞ (X, µ)
é denso em L2 (X, µ). Dado que C(X), a álgebra C ∗ das funções contı́nuas em X, é
também densa em L∞ (X, µ) então a função 1 define ainda um vector cı́clico para a
álgebra C ∗
C(X, µ) := {Mu : u ∈ C(X)} ⊂ L∞ (X, µ).
Para as álgebras L∞ (X, µ) e C ∞ (X) a função 1 é também um vector separador.
T Aξ0 = AT ξ0 = 0.
PM A = APM , A ∈ A,
Cap5:028 Cap5:029
Juntando à Proposição 5.4.4 a Proposição 5.4.1 obtém-se para subálgebras comu-
tativas de L(H) que contenham a identidade IH ∈ L(H) o seguinte resultado:
Cap5:111 Proposição 5.4.5. Sejam H um espaço de Hilbert, A uma subálgebra C ∗ comutativa
de L(H) tal que IH ∈ L(H) e ξ0 ∈ H. Tem-se que,
(i) se ξ0 é cı́clico para A então ξ0 é também separador para A;
(ii) se A é uma álgebra de von Neumann comutativas maximal então ξ0 é cı́clico para
A se e só se ξ0 é separador para A.
Cap5:028
Dem. (i) Se ξ0 ∈ H é um vector cı́clico para A obtém-se da Proposição 5.4.4 que ξ0
é um vector separador para A0 . Como A é comutativa então A ⊂ A0 e em particular
ξ0 é separador para A. Cap5:029
(ii) Da Proposição 5.4.1 tem-se que se A é algebra de von Neumann comutativa
Cap5:028
0
maximal então A = A. Assim, obtém-se da Proposição 5.4.4 que ξ0 é cı́clico para A
se e só se ξ0 é separador para A0 = A.
Observe-se que P(H) 6= ∅ uma vez contém todos os subconjuntos singulares de ele-
mentos de B01 (H). Ordenando P(H) com a relação de inclusão é fácil concluir que
existe em P(H) um conjunto maximal uma vez que são satisfeitas as condições do
lema de Zorn. Sendo J0 esse conjunto maximal, se y ∈ B01 (H) é tal que y⊥ Aξ para
algum ξ ∈ J0 então, dado que A é auto-adjunta, tem-se que Ay⊥L Aξ para ξ ∈ J0 e
da maximalidade de J0 então y ∈ J0 . Assim, uma vez que H ⊃ Aξ, tem-se que
ξ∈J0
H = ⊕ξ∈J0 Aξ, ou seja, H é a soma directa ortogonal dos espaços de Hilbert Aξ com
ξ ∈ J0 . Como H é separável então o conjunto ortogonal J0 é necessariamente contável.
Suponha-se que J0 = {ξn : n ∈ N} com ξn 6= ξm para n 6= m, e seja ξ0 o elemento de
H definido por
∞
X ξn
ξ0 := n
.
n=1
3
Observe-se que ξ0 está bem definido uma vez que é dado pela soma de uma série
absolutamente convergente.
Mostre-se a seguir que ξ0 é um vector separador para A. Suponha-se que T ξ0 = 0
para algum T ∈ A \ {0}. Assim, dado que
∞
X T ξn
0 = T ξ0 =
n=1
3n
Corolário 5.4.7. Se A é uma álgebra de von Neumann comutativa maximal que actua
num espaço de Hilbert separável H, então existe em H um vector cı́clico para A.
Cap5:111
Dem. Cap5:030
Consequência imediata da afirmação (ii) da Proposição 5.4.5 aliáda à Pro-
posição 5.4.6.
Cap5:036 Teorema 5.4.8. Se A uma álgebra de von Neumann comutativa que actua num espaço
de Hilbert H e ξ0 ∈ H é um vector cı́clico para A, então existe um espaço Hausdorff
5.4. ÁLGEBRAS DE VON NEUMANN COMUTATIVAS 35
compacto X, uma medida de Borel positiva regular e finita µ definida nos borelianos
de X, e um operador unitário U : H → L2 (X, µ) tal que
U AU ∗ = L∞ (X, µ),
onde U AU ∗ := {U AU ∗ : A ∈ A} e L∞ (X,Cap5:025
µ) é a álgebra de von Neumann dos opera-
dores de multiplicação definida como em (5.15).
Além disso a aplicação
Πξ0 : A → L(L2 (X, µ)), A 7→ U AU ∗
é uma representação isométrica de A no espaço de Hilbert L2 (X, µ).
Dem. Seja X := MA o espaço dos funcionais lineares multiplicativos não nulos
definidos em A. Com a topologia de Gelfand X é um espaço Hausdorff compacto. Seja
b: A → C(X), A 7→ A
b
é um isomorfismo-∗ isométrico entre as álgebras L(H) e L(L2 (X, µ)) logo um home-
omorfismo fortemente contı́nuo. Como consequência, U AU ∗ é uma álgebra de von
Neumann em L(L2 (X, µ)).
seguida que U AU ∗ = L∞ (X, µ). Dados T e A quaisquer dois opera-
Mostra-se de Cap5:031
dores em A, de (5.19) tem-se que
tendo-se
U AU ∗ = {Mf : f ∈ C(X)}.
Como C(X) ⊂ L∞ (X, µ) ⊂ L2 (X, µ), então qualquer elemento de L∞ (X, µ) pode ser
aproximado na norma de L2 (X, µ) por uma sucessão de funções em C(X). Este facto
permite garantir que U AU ∗ é fracamente denso em L∞ (X, µ) = {Mf : f ∈ L∞ (X, µ)}.
Como U AU ∗ é fracamente fechado, então
U AU ∗ = L∞ (X, µ).
Teorema 5.4.9. Se A é uma álgebra de von Neumann comutativa que actua num
espaço de Hilbert separável H, então A é isometricamente isomorfa-∗ a alguma álgebra
L∞ (X, µ), com X um espaço Hausdorff compacto e µ uma medida de Borel positiva
regular e finita em X.
Cap5:030
Dem. De acordo com a Proposição 5.4.6 existe em H um vector ξ0 separador para A.
O espaço de Hilbert M := Aξ0 ⊂ H é claramente invariante para todos os operadores
de A tendo-se A(M ) ⊂ M para qualquer A ∈ A. Considere-se o operador linear
Θ : A → L(M ), A 7→ A|M ,
onde A|M designa a restrição do operador A ao subespaço M. É imediato que Θ define
um homomorfismo em A (pela invariância de M para os operadores A ∈ A). Θ é mesmo
um homomorfismo-∗ isométrico. Efectivamente, quanto à injectividade, se T ∈ A é tal
que Θ(T ) = 0 então,
T (Aξ0 ) = Θ(T )(Aξ0 ) = 0, A ∈ A.
Assim, dado que IH ∈ A,
T (ξ0 ) = T (IH ξ0 ) = 0
e como ξ0 é separador para A então T = 0. Além disso, para quaisquer A ∈ A e
ξ1 , ξ2 ∈ M,
hΘ(A∗ )ξ1 , ξ2 i = hA∗ ξ1 , ξ2 i = hξ1 , Aξ2 i = hξ1 , Θ(A)ξ2 i = hΘ(A)∗ ξ1 , ξ2 i,
pelo que Θ(A∗ ) = Θ(A)∗ . Θ é assim um homomorfismo-∗ injectivo, logo isométrico, e
Θ(A) é uma subálgebra C ∗ de L(M ) que admite ξ0 como vector cı́clico. Como Θ é
isométrico, então
Θ(B01 (A)) = B01 (Θ(A)), (5.22) Cap5:035
onde B01 (A) e B01 (Θ(A)) designam, respectivamente, a bola unitária fechada em A
Cap5:034
e em Θ(A). Pelo teorema da densidade de Kaplansky (Teorema 5.3.4), sendo A uma
álgebra de von Neumann então a bola B01 (A) é fracamente fechada em L(H). Assim,
como ACap5:039
é fracamente fechada em L(H) e B01 (L(H)) é fracamente compacta (Pro-
posição 5.3.6) em L(H), então
B01 (A) = A ∩ B01 (L(H)),
em L(H). Como o homomorfismo Θ é claramente fracamente
é fracamente compacta Cap5:035
contı́nuo conclui-se de (5.22) que B01 (Θ(A)) é fracamente compacta em L(M ). Como
B01 (Θ(A)) é um conjunto convexo então é também fortemente compacto e pelo Co-
Cap5.222
rolário 5.3.5 conclui-se que Θ(A) é uma álgebra de von Neumann. Finalmente basta
Cap5:036
observarCap5:023
que Θ(A) está nas condições do Teorema 5.4.8 o qual, juntamente com a Pro-
posição 5.4.2, permite afirmar que A é isometricamente isomorfa-∗ a L∞ (X, µ), logo a
L∞ (X, µ) com (X, µ) nas condições do enunciado.
38 CAPÍTULO 5. INTRODUÇÃO ÀS ÁLGEBRAS DE VON NEUMANN
∨Pα := IH − ∧(IH − Pα ),
α α
O conjunto das projecções de uma álgebra de von Neumann constitui, com a relação
“≤”, um conjunto parcialmente ordenado onde todo o subconjunto não vazio de pro-
jecções tem um infimo e um supremo que é uma projecção na álgebra.
Proposição 5.5.1. Se A é uma álgebra de von Neumann que actua num espaço de
Hilbert H então o conjunto dos operadores de projecção que estão em A define um
reticulado completo.
Dem. Sejam P1 , P2 operadores de projecção em A. Dado T ∈ A0 um qualquer
operador limitado no comutante de A, como
Pi T = T Pi e Pi T ∗ = T ∗ Pi , i = 1, 2,
p3.4.0
resulta da Proposição ?? que Im P1 e Im P2 são subespaços redutores para T e T ∗ . Em
particular o subespaço
Cap3:84
M := Im P1 ∩ Im P2 é invariante para T e T ∗ obtendo-se ainda
da Proposição ??), que
(P1 ∧ P2 )T = T (P1 ∧ P2 ).
Assim, (P1 ∧ P2 ) ∈ A00 e pelo teorema do bicomutante conclui-se que (P1 ∧ P2 ) ∈ A
pois, sendo A uma álgebra de von Neumann, A = A00 . Como IH ∈ A então também a
projecção P1 ∨P2 pertence à álgebra A. O conjunto das projecções de A constitui assim
um reticulado parcialmente ordenado, uma vez que para quaisquer duas projecções
P1 , P2 ∈ A, o infimo e o supremo do conjunto {P1 , P2 } ainda são projecções de A. Este
reticulado é mesmo completo uma vez que se {Pα } constituir uma qualquer famı́lia
de projecções em A então, analogamente ao efectuado anteriormente, mostra-se sem
dificuldade que as projecções ∧ Pα e ∨ Pα ainda estão em A.
α α
A par da relação de ordem parcial “≥” pode definir-se no conjunto das projecções
de uma álgebra de von Neumann uma relação de equivalência.
40 CAPÍTULO 5. INTRODUÇÃO ÀS ÁLGEBRAS DE VON NEUMANN
Cap5:048 Definição 5.5.2. Seja A uma álgebra de von Neumann que actua num espaço de Hil-
bert H. Diz-se que dois operadores de projecção P1 e P2 da álgebra A são equivalentes
em A (Murray-von Neumann equivalentes), representando-se por
P1 ∼A P2 ,
P1 = V ∗ V e P 2 = V V ∗
Cap3:7
Observe-se que de acordo com a Proposição ??, se duas projecções P1 e P2 em A
são equivalentes por meio do operador V ∈ A então V é uma isometria parcial com
espaços inicial e final dados, respectivamente, por
(Ker V )⊥ = Im P1 e Im V = Im P2 .
Cap5.444 Proposição 5.5.2. Seja A uma álgebra de von Neumann que actua num espaço de
Hilbert H. Se P, Q, S são operadores de projecção em A então P ∼A P, se P ∼A Q
então Q ∼A P e finalmente, se P ∼A Q e Q ∼A S então P ∼A S.
Cap3:10
Pelo teorema da decomposição polar em espaços de Hilbert (Teorema ??) sabe-se
que para qualquer operador T ∈ L(H) existem, e são univocamente determinados,
operadores V, A ∈ L(H) tais que
T = V A,
onde V é uma isometria parcial, A é um operador positivo e Ker V = Ker A. No caso
do operador T pertencer a uma álgebra de von Neumann A então o mesmo sucede aos
operadores V e A.
Cap5:044 Teorema 5.5.3 (Decomposição polar em álgebras de von Neumann). Seja A uma álgebra
de von Neumann que actua num espaço de Hilbert H. Se T é um operador em A e
T = V A é a decomposição polar de T, com Ker V = Ker A, então V e A pertencem à
álgebra A.
Cap3:10
Dem. De acordo √ com a demonstração do Teorema ?? o operador positivo A é dado
∗ ∗
por A = |T | := T T . Sendo A uma álgebra C então é imedito que A ∈ A. Pelo
5.5. COMPARAÇÃO DE PROJECÇÕES EM ÁLGEBRAS DE VON NEUMANN41
teorem do bicomutante, para mostrar que V pertence a A basta provar que V ∈ A00 .
Para tal considere-se U ∈ A0 . Dado que A, T ∈ A e U ∈ A0 então, para qualquer x ∈ H,
U V Ax = U T x = T U x = V AU x = V U Ax,
AU x = U Ax = 0,
V U x = 0. (5.27) Cap5:063
Cap5:062 Cap5:063
Ora, de (5.26) e (5.27) conclui-se como pretendido que U V x = V U x para x ∈ Ker V
e, consequentemente,
U V = V U, U ∈ A0 ,
ou seja, V ∈ A00 = A.
Cap5:047 Proposição 5.5.4. Se A é uma álgebra de von Neumann que actua num espaço de
Hilbert H e T ∈ A então,
PT ∼ A PT ∗ ,
onde PT e PT ∗ designam, respectivamente, os operadores de projecção sobre o fecho dos
contradomı́nios dos operadores T e T ∗ .
42 CAPÍTULO 5. INTRODUÇÃO ÀS ÁLGEBRAS DE VON NEUMANN
Cap5:042
Dem. Sendo T um operador em A sabe-se do Corolário 5.2.5 que os operadores PT
e PT ∗ estão também em A. Da demonstração do teorema da decomposição
Cap3:10 √ polar em
espaços de Hilbert (Teorema ??) tem-se que T = V A onde A := T ∗ T e V ∈ A é uma
isometria parcial cujo espaço inicial é
V ∗ V = PT ∗ e V V ∗ = PT ,
Cap5:044
e como pelo Teorema 5.5.3 se tem que V ∈ A então PT ∗ ∼A PT , ou seja, PT ∼A PT ∗ .
= Im P2 ⊕ ((Im P2 )⊥ ∩ (Im P1 )⊥ )
= Im P2 ⊕ (Im P2 ∪ Im P1 )⊥ ,
5.5. COMPARAÇÃO DE PROJECÇÕES EM ÁLGEBRAS DE VON NEUMANN43
designando por P((IH −P2 )P1 ) o operador de projecção sobre Im (IH − P2 )P 1 ⊂ H, então
pelo que
(P1 ∨ P2 ) − P2 = P((IH −P2 )P1 ) . (5.28) Cap5.555
Analogamente, dado que
(Im P1 (IH − P2 ))⊥ = Ker (P1 (IH − P2 ))∗ = Ker (IH − P2 )P1
⊥ ⊥
= Im (IH − P1 ) ⊕ (Im (IH − P1 )) ∩ (Im (IH − P2 ))
= Im (IH − P1 ) ⊕ (Im P1 ∩ Im P2 ),
então
IH − P(P1 (IH −P2 )) = IH − P1 + (P1 ∧ P2 ),
concluı́ndo-se que
estabelecendo-se o resultado.
Cap5.aaa Proposição 5.5.6. Seja A uma álgebra de von Neumann que actua num espaço de
Hilbert H. Se {Pα }α∈I e {Qα }α∈I são duas famı́lias ortogonais de projecções em A tais
que Pα ∼A Qα para qualquer α ∈ I, então
X X
Pα (SOT) ∼A Qα (SOT).
α∈I α∈I
P := ∨ Pα , Q := ∨ Qα .
α∈I α∈I
44 CAPÍTULO 5. INTRODUÇÃO ÀS ÁLGEBRAS DE VON NEUMANN
que as famı́lias de operadores {Pα }α∈I e {Qα }α∈I são ortogonais tem-se, tal como
DadoCap5:065
em (5.25), que X X
P = Pα (SOT), Q = Qα (SOT). (5.30) Cap5.777
α∈I α∈I
Para cada α ∈ I seja Vα a isometria parcial em A tal que
Pα = Vα∗ Vα , Qα = Vα Vα∗ ,
e cujos espaços inicial e final são dados, respectivamente, por
(Ker Vα )⊥ = Im Pα , Im Vα = Im Qα .
Considere-se a famı́lia de todos os subconjuntos finitos e não vazios F de I parcialmente
ordenado com a relação de inclusão. Para cada conjunto finito F ⊂ I defina-se o
operador X
VF := Vα ∈ A.
α∈F
e X
Q= Qα (SOT) = lim VF VF∗ (SOT) = V V ∗ ,
F
α
tendo-se como pretendido que P ∼A Q.
Cen(A) := A ∩ A0 ,
Cap2.111
onde A0 designa o comutantelemcentral
de A (cf. Definição ??).
De acordo como o Lema ?? tem-se que Cen(A) é uma subálgebra C ∗ comutativa
de A. Além disso Cen(A) é fracamente fechado em A pelo que Cen(A) constituı́ndo
assim uma álgebra de von Neumann comutativa.
Cap5.123 Proposição 5.5.10. Se A é uma álgebra de von Neumann e P, Q ∈ A são duas pro-
jecções, tais que:
Z(P ) := ∧Pα ,
α
A projecção central Z(P ) pode ser traduzida como uma projecção supremo.
QA = AQ, A ∈ A,
Z(P )A = AZ(P ), A ∈ A,
p3.4.0
e usando novamente a Proposição ?? conclui-se que Im Z(P ) é invariante para todos
os operadores A ∈ A. Atendendo a que P ≤ Z(P ) então Im P ⊂ Im Z(P ) donde,
Cap5:052 Proposição 5.5.12. Sejam A uma álgebra de von Neumann que actua num espaço de
Hilbert H e P, Q ∈ A duas projecções em A. São equivalentes as seguintes afirmações:
P1 ≤ P, Q1 ≤ Q e P1 ∼A Q1 .
50 CAPÍTULO 5. INTRODUÇÃO ÀS ÁLGEBRAS DE VON NEUMANN
Q1 = V ∗ V, P1 = V V ∗ ,
com
(Ker V )⊥ = Im Q1 , Im V = Im P1 .
Para ξ ∈ (Im Q1 \{0}) 6= ∅ tem-se, atendendo a que Im Q1 ⊂ Im Q e Im P1 ⊂ Im P,
kP V Qξk = kP V ξk = kV ξk = kξk =
6 0,
pelo que P V Q 6= 0.
Dado que as projecções Z(P ) e Z(Q) estão em Cen(A) com
Z(P )P = P e Z(Q)Q = Q,
então
P V Q (Z(P )Z(Q)) = (Z(P )P ) V (Z(Q)Q) = P V Q 6= 0,
logo Z(P )Z(Q) 6= 0.
(i) ⇒ (ii). Suponha-se agora que Z(P )Z(Q) 6= 0. De acordo com a Proposição
Cap5:051
5.5.11 tem-se,
Z(P ) = ∨ P(AP ) , Z(Q) = ∨ P(AQ) ,
A∈A A∈A
e este facto, atendendo a que Z(P )Z(Q) 6= 0, permite afirmar que existem vectores
ξ, ζ ∈ H e operadores A1 , A2 ∈ A tais que
então P1 6= 0, Q1 6= 0 e, Im P1 ⊂ Im P e Im Q1 ⊂ Im Q, tem-se P1 ≤ P e Q1 ≤ Q.
Cap5:047
Recorrendo à Proposição 5.5.4 tm-se ainda que P1 ∼A Q1 .
A relação ”A ” não define em geral uma relação de ordem total (nas classes de equi-
valência definidas por ”∼A ”). Dados dois operadores de projecção P, Q uma álgebra
de von Neumann A, não é claro que se tenha P A Q ou Q A P. O teorema da
comparabilidade vai garantir no entanto que quaisquer duas projecções numa álgebra
de von Neumann A podem ser comparáveis por meio de projecções centrais.
5.5. COMPARAÇÃO DE PROJECÇÕES EM ÁLGEBRAS DE VON NEUMANN51
Pα Pβ = 0, Qα Qβ = 0, α, β ∈ I,
e
Pα ≤ P, Qα ≤ Q e Pα ∼A Qα .
Observe-se que E é não vazio uma vez que contém {(0, 0)}. Considere-se em E a relação
“≤E ” onde
n o n o
{(Pα , Qα )}α∈I ≤E (Peα , Qeα ) ⇔ {(Pα , Qα ) : α ∈ I} ⊂ (Peα , Q
eα ) : α ∈ J .
α∈J
Dado que
então
Im (P − P 0 ) ⊂ (Im Z(Q − Q0 ))⊥ = Im (IH − Z(Q − Q0 ))
pelo que
(IH − Z)(P − P 0 ) = P − P 0 ,
ou seja,
ZP = ZP 0 . (5.45) Cap5.eee
Por definição de suporte central de uma projecção tem-se ainda que
(Q − Q0 ) ≤ Z := Z(Q − Q0 ),
pelo que
Z(Q − Q0 ) = Q − Q0 ≥ 0,
podendo afirmar-se que
ZQ0 ≤ ZQ. (5.46) Cap5.ddd
Cap5.eee
Cap5.ddd Cap5.123
Dado que P 0 ∼A Q0 , obtém-se de (5.45), (5.46) e da afirmação (i) da Proposição 5.5.10
que
tendo-se
P (IH − Z) A Q(IH − Z).
Os factores são um tipo especial de álgebras de von Neumann cujo centro é trivial.
Definição 5.5.6. Sendo H um espaço de Hilbert, diz-se que uma álgebra de von
Neumann A é um factor quando
Cent(A) = CIH .
5.6. DECOMPOSIÇÃO DE ÁLGEBRAS DE VON NEUMANN 53
Note-se que a álgebra L(H) é um factor e que o único factor que é uma álgebra de
von Neumann comutativa é a álgebra CIH .
A = AI ⊕ A1II ⊕ A∞
II ⊕ AIII ,
Cap5:070 Definição 5.6.1. Sejam A uma álgebra de von Neumann que actua num espaço de
Hilbert H e P uma projecção em A. Diz-se que:
Observe-se que caso P ∈ A seja uma projecção tal que dim (Im P ) < ∞ então P
é uma projecção finita. Efectivamente, se P ∼A Q então dim (Im Q) =Von3
dim (Im P ) e
caso Q ≤ P então Im Q ⊂ Im P tendo-se Im Q = Im P (ver exercı́cio 5.10).
Para qualquer projecção P ∈ A observe-se que P AP pode ser interpretado como
uma álgebra de von Neumann que actua no espaço de Hilbert HP := P (H) = Im P ⊂
H e que admite o operador P como a identidade.
P ∼A Q, Q ∼A Q1 , P1 ∼A Q1 ,
Q = V V ∗ Q1 V V ∗ = QQ1 Q.
Esta igualdade juntamente com o facto de que Q1 ≤ Q permite concluir, como preten-
dido, que
Q = QQ1 Q = Q1 .
(iii) Sejam P e Q duas projecção em A tais que P é finita e Q ≤ P. Para mostrar
que Q é finita considere-se Q1 uma outra projecção em A tal que Q ∼A Q1 com Q1 ≤ Q
e verifique-se que Q1 = Q.
Fixe-se V ∈ A uma isometria parcial tal que Q = V ∗ V e Q1 = V V ∗ . Definindo
Ve := P − Q + V tem-se que
Ve ∗ Ve = (P − Q + V ∗ )(P − Q + V )
= (P − Q)(P − Q) + (P − Q)V + V ∗ (P − Q) + V ∗ V
= P − Q + (P − Q)V + V ∗ (P − Q) + Q
= P + (P − Q)V + V ∗ (P − Q) = P
pois (P − Q)V = V ∗ (P − Q) = 0, uma vez que V tem como espaço inicial e final,
respectivamente,
(Ker V )⊥ = Im Q e Im V = Im Q1 (⊂ Im Q),
e
Im (P − Q) = Im P ∩ (Im Q)⊥ ⊂ (Im Q1 )⊥ = Ker V ∗ .
De forma análoga se conclui que
Ve Ve ∗ = P − Q + Q1
Im (P − Q) ⊂ Im P e Im Q1 ⊂ Im P
Cap5:072 Proposição 5.6.2. Seja {Pα }α∈I uma famı́lia de projecções abelianas (resp. finitas)
centralmente ortogononais de uma álgebra de von Neumann A. Então o operador
X
P := Pα (SOT)
α∈I
Z(Pα )Q = Pα , α ∈ I,
e assim,
X X X
Q = QP = Q Pα = Q Z(Pα )Pα = QZ(Pα )Pα
α∈I α∈I α∈I
X X X
= Z(Pα )QPα = Z(Pα )Pα = Pα = P,
α∈I α∈I α∈I
Definição 5.6.3. Seja A uma álgebra de von Neumann que actua num espaço de
Hilbert H. Diz-se que:
(i) A é do tipo I quando toda a projecção central não nula de A majora uma projecção
abeliana não nula de A.
(ii) A é do tipo II quando não existem em A projecções abelianas não nulas mas
qualquer projecção central não nula de A majora alguma projecção finita não
nula de A.
(iii) A diz-se de tipo III quando não existem em A projecções finitas não nulas.
5.6. DECOMPOSIÇÃO DE ÁLGEBRAS DE VON NEUMANN 59
Observe-se que de acordo com a definições anteriores uma álgebra de von Neumann
não pode ser simultaneamente de dois tipos distintos.
Exemplo 5.6.3. Para qualquer espaço de Hilbert H a álgebra de von Neumann dos
operadores lineares limitados L(H) é uma álgebra de tipo I.
Efectivamente, considere-se {eα : α ∈ J} uma base hilbertiana de H e, para cada
α ∈ J, seja PMα o operador de projecção de H sobre Mα := heα i = {βeα : β ∈ C}. É
um exercı́cio simples mostrar que
e assim PMα é uma projecção abeliana para qualquer α ∈ J. Como L(H) é um fac-
tor então a única projecção central não nula de L(H) é IH e esta projecção majora,
obviamente, qualquer das projecções PMα .
(ii) A é do tipo II∞ quando não existem em A projecções centrais finitas e não nulas.
O teorema da decomposição vai assegurar a importância dos anteriores tipos de
álgebras ao assegurar que qualquer álgebra de von Neumann é decomponivel numa soma
directa de álgebras de von Neumann dos tipos considerados, sendo essa decomposição
unica.
Cap5:074 Teorema 5.6.3. (Teorema da decomposição) Toda a álgebra de von Neumann A ad-
mite uma decomposição única na forma
A = AI ⊕ A1II ⊕ A∞
II ⊕ AIII ,
onde AI , A1II , A∞
II e AIII são, respectivamente, álgebras de von Neumann de tipo I,
II1 , II∞ e III.
Dem. Seja A uma álgebra de von Neumann que actua num espaço de Hilbert H.
Considere-se em A uma famı́lia maximal {Pα }α∈I de projecções abelianas e central-
mente ortogonais. Defina-se X
P := Pα (SOT)
α
Cap5:072
que, atendendo à Proposição 5.6.2, se sabe ser uma projecção abeliana em A.
Considere-se Z1 := Z(P ) o suporte central da projecção P e AI := Z1 AZ1 (caso não
existam em A projecções abelianas define-se Z1 := 0 e neste caso A não terá a “parte”
60 CAPÍTULO 5. INTRODUÇÃO ÀS ÁLGEBRAS DE VON NEUMANN
de tipo I). Tem-se que Z1 é uma projeção central não nula de A tal que P ≤ Z1 . Além
disso, por definição de suporte central, Z1 é a menor projecção no centro de A que
majora P .
Mostre-se a seguir que AI é de tipo I e para tal considere-se Z uma qualquer
projecção central não nula em AI . Se Z é um elemento de AI então existe T ∈ A
tal que Z = Z1 T Z1 e este facto permite afirmar que Z ≤ Z1 (pois Im Z ⊂ Im Z1 ).
Observe-se que a projecção P pertence à álgebra AI uma vez que
P = Z1 P = Z1 P Z1 .
0 ≤ (Z1 − Z)(Z1 − P ) = Z1 − Z − P,
o que implica
P ≤ Z1 − Z ≤ Z1 ,
contradizendo-se o facto de Z1 ser a menor projecção central em A que majora P. Fica
assim demonstrado que AI é uma álgebra de von Neumnn de tipo I (que actua em
HI := Im Z1 e admite Z1 como identidade).
Considere-se agora a álgebra Ae := (IH − Z1 )A(IH − Z1 ). Suponha-se que existe em
Ae uma projecções abeliana Q não nula. Se Q está em Ae então Q ≤ (IH − Z1 ) e dado
que
Analise-se ainda a álgebra de von Neumann AII . Fixando {Sα }α∈W uma famı́lia
maximal de projecções centrais e finitas em AII defina-se a projecção finita
X
Z21 := Sα
α∈W
Note-se que em A1II := Z21 AZ21 ⊂ AII não há projecções abelianas não nulas e dado
que Z21 é finita então A1II é uma álgebra de von Neumann de tipo II1 (caso não existam
em AII projecções finitas define-se Z21 := 0 e neste caso A não terá a “parte” de tipo
II1 ). Fazendo Z2∞ := Z2 − Z21 e atendendo à maximalidade da famı́lia {Sα }W então a
álgebra A∞ ∞ ∞
II := Z2 AZ2 não admite projecções finitas não nulas e assim é uma álgebra
de tipo II∞ . Como anteriormente tem-se que
AI ⊕ A1II ⊕ A∞
II ⊕ AIII ,
com
Z1 + Z21 + Z2∞ + Z3 = IH .
Para terminar verifique-se que a decomposição considerada é única. Para tal
suponha-se que existem projecções ortogonais a1 , a12 , a∞
2 e a3 em A tais que a1 + a2 +
1
a∞ 1 ∞
2 + a3 = IH e nas mesmas condições que as projecções Z1 , Z2 , Z2 e Z3 . Suponha-se
que (IH − Z1 ) está em AeI := a1 Aa1 . Caso (IH − Z1 ) seja um projecção não nula então,
atendendo a que (IH − Z1 ) é central e a que AeI é de tipo I, existe em AeI uma pro-
jecção abeliana não nula majorada por (IH − Z1 ). Acontece que por definição (IH − Z1)
não majora projecções não nulas e como tal (IH − Z1) define em AeI uma projecção
nula, logo, a1 (IH − Z1 ) = 0 e então a1 ≤ Z1 . Trocando os papéis de Z1 e a1 conclui-se
analogamente que Z1 ≤ a1 , donde Z1 ≤ a1 Usando argumentos semelhantes conclui-se
igualmente que Z21 = a12 , Z2∞ = a∞2 , e Z3 = a3 e assim é única a decomposição de A.
AI ⊕ A1II ⊕ A∞
II ⊕ AIII .
Por exemplo se A for uma álgebra de von Neumnn de tipo I então Z1 = IH (logo
Z2 = Z3 = 0) e assim A = AI . Obviamente pode acontecer que A = A1II , A = A∞ II ,
A = AIII ou qualquer outra soma directa destes 4 tipos de algebras. Quando A é um
factor então apenas uma das álgebras da decomposição é não nula.
5.7 Exercı́cios
Von1 Exercı́cio 5.1. Sendo H um espaço de Hilbert considere em L(H) a topologia in-
duzida pela norma habitual de L(H) e, respectivamente, a topologias forte e fraca de
operadores em L(H). Justifique que se dim(H) < ∞ então, dado T ∈ L(H) e {Tα }
uma rede em L(H), é verdadeira a cadeia de equivalências
Tα → T ⇔ Tα → T (SOT) ⇔ Tα → T (WOT) .
α α α
Exercı́cio 5.3. Mostre que na álgebra C ∗ das funções contı́nuas C(X), com X um
espaço de Hausdorff compacto e conexo, as únicas projecções são as triviais.
Q ≥ P sse Im P ⊂ Im Q.
Exercı́cio 5.8. Sejam A uma álgebra de von Neumann que actua num espaço de
Hilbert H e P1 , P2 duas projecções em A. Mostre que são equivalentes as afirmações:
a) P1 e P2 são equivalentes;
Cap5.444
Exercı́cio 5.9. Demontre a Proposição 5.5.2.
Von3 Exercı́cio 5.10. Mostre que se P e Q são duas projecções numa álgebra de von
Neumann A tal que P ∼A Q então Im P e Im Q têm a mesma dimensão. Conclua que
se adicionalmente se tem Im P < ∞ e Q ≤ P então P = Q.
c) Se P AQ := {P AQ : A ∈ A} =
6 {0} então existem projecções P1 e Q1 em A tais
que
P1 ≤ P, Q1 ≤ Q e P1 ∼A Q1 .
Exercı́cio 5.15. Dada uma álgebra de von Neumnn A mostre que A é um factor se e
só se A0 é um factor.
Exercı́cio 5.16. Numa algebra de von Neumann A uma projecção P diz-se minimal
se a álgebra de von Neumann P AP satisfaz
P AP = CIHP ,
Exercı́cio 5.17. Sejam P e Q duas projecções numa álgebra de von Neumann A. Mos-
tre que se P ∼A Q então as álgebras AP := P AP e AQ := QAQ são ∗-isometricamente
isomorfas.
exII Exercı́cio 5.18. Sejam P e Q duas projecções numa álgebra de von neumann A tais
que Z(P ) e Q são ortogonais. Moatre que então P e Q são centralmente ortogonais.
Exercı́cio 5.20. Mostre que uma álgebra de von Neumann é maximal se e só se é
Cap5:029
igual ao seu comutante(Teorema 5.4.1).
b) A é uma álgebra tipo I (resp. tipo II, III) se e só se B é uma álgebra de tipo I
(resp. tipo II, III).
exI Exercı́cio 5.23. Sejam A e B duas álgebras de von Neumann tais que A ⊂ B. Seja P
uma projecção em B. Mostre que:
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