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EM UMA VARIÁVEL
E APLICAÇÕES
Luis T. Magalhães
Julho de 2021
1 Plano
omplexo 1
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Estrutura algébri
a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.3 Estrutura métri
a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.4 Estrutura topológi
a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2 Funções 11
2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2.2 Representação geométri
a de funções . . . . . . . . . . . . . . 11
2.3 Funções polinomiais e funções ra
ionais . . . . . . . . . . . . 16
2.4 Função exponen
ial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.5 Funções trigonométri
as e hiperbóli
as . . . . . . . . . . . . . 17
2.6 Logaritmos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.7 Potên
ias e exponen
iais de base
omplexa . . . . . . . . . . . 22
2.8 Funções trigonométri
as inversas . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.9 Limite e
ontinuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
3 Derivada 27
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3.2 Diferen
iabilidade e derivada . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3.3 Transformações
onformes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
4 Integral 51
4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
4.2 Integral em
aminho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
4.3 Primitiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
4.4 Teorema de Cau
hy lo
al em
onjuntos
onvexos . . . . . . . 61
4.5 Índi
e de
aminho fe
hado e homotopia de
aminhos . . . . . 62
4.6 Fórmula de Cau
hy lo
al em
onjuntos
onvexos . . . . . . . 65
5 Funções analíti
as 69
5.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
5.2 Su
essões e séries de números
omplexos . . . . . . . . . . . . 71
5.3 Su
essões e séries de funções uniformemente
onvergentes . . 72
5.4 Séries de potên
ias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
5.5 Denição e propriedades bási
as de funções analíti
as . . . . . 77
5.6 Zeros de funções analíti
as . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
iv ÍNDICE
Apêndi
es 371
I. Elementos de topologia geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 371
II. Espaços de homologia e teorema da
urva de Jordan . . . . . . 401
Bibliograa 411
Prefácio
Este é prin
ipalmente um livro de apoio ao estudo ini
ial de Análise Com-
plexa. Centra-se nos aspe
tos bási
os de funções
omplexas de uma variável,
in
luindo os da teoria geométri
a destas funções, e de dinâmi
a denida
por iteração de funções ra
ionais
omplexas, estes num
apítulo nal, quase
um quarto do livro, invulgar em textos de ini
iação ao estudo de funções
omplexas. Este
apítulo, além de tratar de um tema
om aspe
tos de auto-
semelhança, estrutura fra
tal e
aos que têm fas
inado muitas pessoas e tive-
ram importantes
ontribuições re
entes, é parti
ularmente apropriado para
fe
har o livro porque utiliza
om fertilidade muito do que é desenvolvido em
apítulos anteriores.
A Análise Complexa de Uma Variável tem três
ara
terísti
as parti
u-
larmente interessantes: (1) ideias simples uni
adoras de
on
eitos que apa-
re
em em análise real sem relações dire
tas ou
ompli
ados, (2) fertilidade
para o desenvolvimento de outras áreas da matemáti
a, e (3) relevân
ia para
apli
ações a outras
iên
ias e a engenharia.
A ideia orientadora prin
ipal ao longo do livro é revelar
om
lareza estas
três
ara
terísti
as e iluminá-las, mostrando
omo muitos
on
eitos férteis
que levaram ao desenvolvimento de novos
ampos de Matemáti
a na reali-
dade emergiram no estudo de Análise Complexa de Uma Variável, em par-
ti
ular em Topologia, Geometria Diferen
ial, Geometria Algébri
a, Análise
Harmóni
a, Equações Diferen
iais Elípti
as, Cál
ulo de Variações, Sistemas
Dinâmi
os. Estou
onvi
to que é muitíssimo útil para estudantes serem in-
troduzidos a estes
on
eitos neste
ontexto mais simples em que emergiram
antes de os aprofundar em estudos mais avançados e espe
ializados,
omo é
hoje em dia
omum.
Foram publi
ados muitos livros de ini
iação neste tópi
o e alguns são
ex
elentes. Por isso, tem de haver boas razões para publi
ar mais um outro
livro. Além da in
lusão já men
ionada de uma ini
iação a dinâmi
a
omplexa
que
orresponde a
er
a de um quarto do livro, e a ideia orientadora ao longo
do livro que se a
abou de men
ionar, há várias razões para tal:
Em primeiro lugar, o livro foi
on
ebido
om a exibilidade de ser uma
boa base para uma primeira dis
iplina de meio semestre em Análise
Complexa
omo fundação sólida para estudos subsequentes (em apenas
um pou
o mais de 100 páginas de texto e 40 páginas de exer
í
ios,
in
luindo mais de 100 guras), mas também, em
apítulos adi
ionais,
uma dis
iplina de um semestre e para estudo individual de a
ordo
om
os interesses e a
uriosidade do leitor.
viii Análise e Dinâmica Complexa em Uma Variável
dade deste ou daquele tópi
o para apli
ações imediatas devem ser integrados
em obje
tivos mais ambi
iosos e nun
a devem ser tomados
omo obje
tivos
dominantes a adquirir por simples automatização. Treinar alunos num re
ei-
tuário de
ál
ulo sem ensinar os ra
io
ínios que os fundamentam não ajuda a
prepará-los para a
ompanharem o progresso da
iên
ia e da te
nologia,
on-
tribuírem para o seu desenvolvimento ou apli
ação, e até para se ajustarem
a mudanças de a
tividades ao longo da vida. Além disso, a formação de tipo
ex
lusivamente utilitário é geralmente feita em
ondições em que os alunos
não
onseguem identi
ar as limitações dos métodos usados nem adaptá-los
a situações que não sejam de rotina es
olar. Do ponto de vista de formação
geral é mais importante ensinar ideias e
on
eitos que se revelaram férteis e
ilustrar a sua inuên
ia noutras a
tividades, em parti
ular em áreas rela
i-
onadas
om as de espe
ialização dos alunos, do que insistir num tratamento
ex
lusivamente virado para a ginásti
a de
ál
ulo. A fertilidade de
on
eitos
demonstrada histori
amente é o úni
o
ritério sólido para es
olha de tópi
os
a estudar.
Este livro teve uma gestação prolongada e
om longas interrupções. Os
primeiros 8
apítulos foram testados,
omo manus
ritos, em aulas para alu-
nos do 2o ano dos
ursos de engenharia, físi
a e matemáti
a do IST da Uni-
versidade Té
ni
a de Lisboa (que entretanto se juntou
om a Universidade
de Lisboa) durante um período de vários anos anterior a 1997. Retomei o
texto depois de uma ausên
ia de
in
o anos em
argo na
ional de adminis-
tração de
iên
ia e te
nologia, ampliando-o e modi
ando-o durante o ensino
de um honours course no semestre de Primavera de 2002/03, altura em que
os primeiros oito
apítulos foram pela primeira vez disponibilizados a alunos
aproximadamente na forma que têm presentemente. Infelizmente, não tive
então oportunidade de
ompletar a preparação do texto para publi
ação de-
vido a outra ausên
ia da Universidade por seis anos e meio para outro
argo
de administração públi
a de
iên
ia e te
nologia, agora para
oordenar as
políti
as na
ionais de te
nologias digitais e a sua apropriação so
ial. Só pude
retomar a preparação do texto há dois anos, o que,
ontudo, teve a vantagem
de poder in
luir alguns resultados importantes obtidos na segunda metade
do sé
. XX e de ganhar tempo para perspe
tivar melhor resultados obtidos
nas últimas dé
adas desse período.
Introdução
Men
ionou-se no prefá
io que a Análise Complexa de Uma Variável tem três
ara
terísti
as parti
ularmente interessantes: ideias simples unificadoras
de
on
eitos que em análise real apare
em
omo distintos ou
ompli
ados,
fertilidade para o desenvolvimento de outras áreas da matemáti
a, e rele-
vância para aplicações a outras
iên
ias e a engenharia.
As
ara
terísti
as uni
adoras e expli
ativas de
on
eitos e situações en-
ontrados em álgebra e análise real elementares que se tornam evidentes no
quadro
omplexo, são visíveis em exemplos simples:
(i) Todo número real ou
omplexo diferente de zero tem exa
tamente n
raízes
omplexas de ordem n , igualmente espaçadas numa
ir
unferên-
ia
entrada na origem do plano
omplexo, enquanto um número real
pode ter 0, 1 ou 2 raízes reais3 .
(ii) Equações polinomiais de grau n
om
oe
ientes reais ou
omplexos
têm n soluções
omplexas,
ontando multipli
idades, enquanto até po-
dem não ter qualquer solução real, mesmo
om todos
oe
ientes reais4.
(iii) Funções trigonométri
as
omplexas podem ser expressas em termos
da função exponen
ial e as funções hiperbóli
as são iguais a funções
trigonométri
as sob um simples rotação da variável, uni
ando funções
que no quadro real apare
em desligadas.
(iv) Séries de Taylor5 de funções
omplexas diferen
iáveis num ponto
on-
vergem absolutamente para o valor da função em pontos a distân
ia
menor do que um raio de
onvergên
ia, que é a distân
ia do ponto aos
pontos mais próximos em que a função não é diferen
iável ou não está
denida, e divergem em pontos a distân
ia maior, enquanto a série
de Taylor de uma função real indenidamente diferen
iável pode não
onvergir para a função sem haver pontos em que deixe de ser inde-
nidamente diferen
iável6 . As funções analíti
as7
omplexas são as fun-
ções diferen
iáveis, enquanto uma função real pode ser indenidamente
diferen
iável sem ser analíti
a. Uma função
omplexa diferen
iável é
3 √ √ √
Resp., 2k a, com a < 0 e k ∈ N , 2k+1 a, com a < 0 e k ∈ N ou ± 2k a, com a > 0 e k ∈ N .
Abrevia-se “respectivamente” por “resp.” em todo o texto.
4
e.g. x2k +1 = 0 , com k ∈ N .
5
Taylor, Brook (1685-1731).
6 1
e.g. a função real 1+x 2 é indefinidamente diferenciável em R , mas tem série de Taylor
convergente se |x| < 1 e divergente se |x| > 1 , enquanto a função complexa definida pela √ mesma
fórmula é indefinidamente diferenciável para |x| < 1 , mas não está definida nos pontos ± −1, que
têm valor absoluto 1, o que explica que o raio de convergência seja 1.
7
i.e. representáveis por séries de potências num conjunto aberto.
xii Análise e Dinâmica Complexa em Uma Variável
(dando o
ontext em que esta área foi ini
iada e
ontribuindo para uma parte
substan
ial da teoria bási
a, in
luindo a noção de
onjugação, linearização
em pontos de equilíbrio ou periódi
os, a
onsideração de pontos e órbitas
periódi
as atra
tores, ba
ias de atra
ção, pontos e órbitas periódi
as repul-
sores, o papel de pontos
ríti
os, a
onsideração de órbitas homo
líni
as, a
noção de hiperboli
idade, o papel de pequenos denominadores em pontos de
equilíbrio neutros que está na base da Teoria KAM14 , a utilização de To-
pologia Algébri
a no estudo da dinâmi
a de sistemas, a noção de
onjunto
atra
tor e a questão da sua dimensão)15 .
As origens de Topologia Algébri
a, Geometria Algébri
a, Geometria Ri-
emanniana, Sistemas Dinâmi
os, Análise Harmóni
a, Equações Diferen
iais
Par
iais elípti
as
ruzam-se
om Análise Complexa de tal modo que é muito
bené
o pre
eder o estudo dessas áreas por um aprofundamento do estudo
de Análise Complexa nessas dire
ções, pois é neste
ontexto que surgem num
quadro natural e relativamente simples, o que fa
ilita muito a apreensão dos
on
eitos bási
os envolvidos e o estudo espe
ializado desses assuntos.
A Análise Complexa tem muitas apli
ações. O seu desenvolvimento ini-
ial
onfundiu-se
om o de
ertas áreas de apli
ação
omo
artograa, hi-
drodinâmi
a, aerodinâmi
a, elasti
idade, ele
troestáti
a, ele
tromagnetismo,
pro
essos de difusão em quími
a e em biologia. A ligação da Análise Com-
plexa a áreas de outras
iên
ias e de engenharia é tão íntima que o pró-
prio desenvolvimento de várias dessas áreas se
onfundiu
om os métodos
de Análise Complexa, por exemplo no
ál
ulo do movimento de uidos, da
elasti
idade em sólidos, dos
ampos elé
tri
os e ele
tromagnéti
os resultan-
tes de distribuições de
arga e
orrente elé
tri
as, da força de sustentação de
asas de aviões, de sistemas de
ontrolo, de análise e pro
essamento de sinais.
Houve até uma épo
a em que o termo Matemáti
a Apli
ada era prati
amente
sinónimo de métodos de análise
omplexa e equações diferen
iais.
Com estas
ara
terísti
as, não é surpreendente que vários dos mais des-
ta
ados matemáti
os de toda História se tenham interessado pela Análise
Complexa. En
ontramos não só
ontribuições dos 15 notáveis da história
da matemáti
a que
ontribuíram espe
ialmente para a Análise Complexa de
funções de uma variável
ujas biograas são resumidas no apêndi
e IV
Euler,Gauss,Cau
hy,Weierstrass,Riemann,Klein,S
hwarz,Poin
aré,Pi
ard,
Goursat,Carathéodory,Montel,Löwner,NevanlinnaeAhlfors16
omo de ou-
14
Designação dada em 1968 por Felix Izrailev (1941-) e Boris Chirikov (1928-2008) com as
iniciais dos últimos nomes de Andrei Nikolaevich Kolmogorov (1903-1987), Vladimir Igorevich
Arnold (1937-2010) e Jürgen Moser (1928-1999), que a desenvolveram inicialmente. Foi criada
com motivação na questão de Mecânica Celeste de estabilidade do Problema de 3 Corpos – Sol,
Terra e Lua.
15
Laplace, Pierre-Simon (1749-1827). Dirichlet, Johann Peter Gustav Lejeune (1805-1859).
Riemann, Bernhard (1826-1866). Euler, Leonhard (1707-1783).
16
Gauss, Carl Friedrich (1777-1855). Cauchy, Augustin-Louis (1789-1857). Weierstrass, Karl
(1815-1897). Klein, Felix (1849-1925). Schwarz, Hermann (1843-1921). Poincaré, Henri (1854-
1912). Picard, Charles Émile (1856-1941). Goursat, Édouard (1858-1936). Carathéodory, Cons-
tantin (1873-1950). Montel, Paul Antoine (1876-1975). Löwner, Karl (1893-1968), mudou o nome
xiv Análise e Dinâmica Complexa em Uma Variável
bilidade adi
ional de superfí
ie esféri
a. Para a prova deste teorema, são
introduzidas as importantes noções em Topologia de grupo fundamental
e de espaço de revestimento e função de revestimento, estas últimas
noções
riadas em 1882 por H.S
hwarz pre
isamente para provar o Teorema
de Uniformização. Prova-se que curvas planas afins relacionam-se na-
turalmente com Superfı́cies de Riemann compactas, e
onsidera-se
o Método de Perron em Superfí
ies de Riemann inspirado no método
om o
mesmo nome para funções harmóni
as. Estabelece-se que toda Super-
fı́cie de Riemann admite uma métrica de Riemann conforme com
curvatura de Gauss constante e que o
orrespondente espaço métri
o
é
ompleto e lo
almente
ompa
to; prova-se que uma funções holomorfas
entre Superfí
ies de Riemann
om tal métri
a
om
urvatura negativa são
ontra
ções (Teorema de Pick). In
luem-se no nal do
apítulo o Teo-
rema de Riemann-Roch e o Teorema de Abel-Jacobi para Superfí
ies
de Riemann
ompa
tas; o primeiro rela
iona a topologia de uma Superfí-
ie de Riemann, através da Caracterı́stica de Euler ou do Género,
om
as dimensões dos espaços lineares de possíveis funções meromorfas denidas
na Superfí
ie
om pólos e zeros
om ordens majoradas por números espe-
i
ados; o último dá uma
ondição me
essária e su
iente in termos da
lo
alização e das ordens de zeros e pólos para existên
ia de Funções Mero-
morfas. Em 1969 D. Mumford e em 1976 P. Griths estenderam as ideias
de N.H. Abel asso
iadas ao Teorema de Abel-Ja
obi para obter resultados
importantes em Geometria Algébri
a31 .
Con
lui-se
om um
apítulo (
er
a de 1/4 do livro) sobre Dinâmica
Complexa de iteração de funções holomorfas, em parti
ular de funções ra-
ionais,
om propriedades da dinâmi
a na vizinhança de pontos de equilíbrio
ou órbitas periódi
as e dos conjuntos de Julia, Fatou e Mandelbrot32.
Es
olheu-se este tema para nalizar o livro por várias razões: utiliza grande
parte dos aspe
tos geométri
os apresentados nos últimos
apítulos anteri-
ores, é uma ex
elente base para o estudo de sistemas dinâmi
os de outros
tipos, eviden
ia o poder da Análise Complexa num
ontexto interessante e
om aspe
tos difí
eis e surpreendentes, teve
ontribuições importantes em
dé
adas re
entes e
ontinua a ser um tema em que se levantam questões que
desaam alguns dos melhores matemáti
os da a
tualidade33 .
As primeiras
ontribuições para Dinâmi
a Complexa foram em 1870-
1920, mas houve um renas
imento a partir 1965, espe
ialmente vigoroso
depois de 1982 e que ainda prossegue, muito em
onsequên
ia da
uriosidade
31
Pick, Georg (1859-1942). Roch, Gustav (1839-1866). Abel, Niels Henrik (1802-1829). Carl
Gustav Jacobi (1804-1851). Griffiths, Philip (1928-). Mumford, David (1937-), recebeu a Fields
Medal em 1974 por contribuições para a teoria de variedades de modulos e para a teoria de
superfı́cies algébricas.
32
Julia, Gaston (1893-1978). Fatou, Pierre (1878-1929). Mandelbrot, Benoit (1924-2010).
33
Inclusivamente vários laureados com a Medalha Fields: J. Milnor (1962), A. Connes (1982),
W. Thurston (1982), J.-C. Yoccoz (1994), C. McMullen (1998), S. Smirnov (2010), A. Avila (2014),
M. Mirzakhani (2014).
xxii Análise e Dinâmica Complexa em Uma Variável
38
Brooks, Robert (1952-2002). Matelski, John Peter. Ekhad, Shalosh. Zeilberger, Doron
(1950-). Lebedev, Nikolai Andreevich (1919-1982). Milin, Isaac (1919-1992). Robertson,
Malcolm (1906-1998). Mañé, Ricardo (1948-1995). da Rocha, Luiz Fernando. Eremenko, Alexan-
dre (1954-). Sodin, Mikhail. Harnack, Carl Gustav Alex (1851-1930). Lewis, John L. Naı̌shul’,
V.A. Gambaudo, Jean-Marc (1958-). Le Calvez, Patrice (1958-). Pécou, Élisabeth.
Capı́tulo 1
Plano complexo
1.1 Introdução
Os números
omplexos
omeçaram por ser introduzidos para dar sentido à
resolução de equações polinomiais do 2o grau
om
oe
ientes reais
omo,
por exemplo, x2 +1 = 0 . Como os quadrados de números reais são sempre
maiores ou iguais a zero, esta equação não tem soluções reais. Resolvê-la
orresponde a introduzir números que sejam raízes quadradas de números
reais negativos. A primeira referên
ia a esta possibilidade pare
e ter sido em
1545 por H. Cardano. Foi seguida da exposição das propriedades algébri
as
destes
√ números por R. Bombelli em 1572, que também introduziu o símbolo
−1 . Em 1748, L. Euler designou por i este símbolo, a que se
hamou
unidade imaginária. Foi também L.Euler que introduziu em 1747 a expressão
eiθ = cos θ + i sin θ , de que obteve
omo
aso parti
ular a
uriosa relação
eiπ = −1 que rela
iona numa igualdade os números 1, e, π, i que surgiram em
ontextos muito diferentes39 .
A
onsideração de números
omplexos não só apare
eu
omo ne
essária
para resolver
ertas equações polinomiais do 2o grau
om
oe
ientes reais
omo forne
eu todas as possíveis soluções de equações polinomiais de qual-
quer grau, tanto
om
oe
ientes reais
omo
omplexos. A 1a formulação
lara deste resultado, hoje
onhe
ido por Teorema Fundamental da Álge-
bra, foi publi
ada por L. Euler em 1743 para o
aso parti
ular de equações
polinomiais
om
oe
ientes reais e a propósito da resolução de equações
diferen
iais lineares
om
oe
ientes
onstantes. O Teorema Fundamental
da Álgebra e as
orrespondentes observações históri
as apare
em mais deta-
lhadamente no
apítulo 6, em que é provado
om Análise Complexa.
O termo número
omplexo deve-se a C.F. Gauss tal
omo a dissemina-
ção da
on
epção dos números
omplexos
omo pontos de um plano, no
seguimento de uma publi
ação sua em 1831. Esta relação está implí
ita na
tese de doutoramento de C.F. Gauss de 1799 sobre o Teorema Fundamental
da Álgebra e apare
e
laramente numa
arta que enviou a F.W. Bessel em
1811, mas a representação geométri
a dos números
omplexos num plano
39
Cardano, Hieronimo (1501-1576). Bombelli, Rafael (1526-1572).
2 Plano complexo
1.14 Prove: Uma transformação em C que deixa a origem fixa e preserva distâncias é
uma rotação ou uma rotação seguida de uma reflexão em relação ao eixo real.
42
1.15 Prove: Identidade de Lagrange para números complexos
Pn Pn 2 Pn 2 Pn
z k w k
= |z k | |w k | − 1≤j≤k≤n |zj wk −zk wj |2 .
k=1 k=1 k=1
1.16 Assim
omo os números reais podem ser representados numa
ir
unferên
ia em
que um dos pontos representa ∞ (re
ta real estendida R∞ ) também os números
omplexos podem ser representados numa superfí
ie esféri
a
om o pólo Norte
or-
respondente a ∞ (plano complexo estendido C∞ ).
a) Determine uma representação deste tipo na superfí
ie esféri
a em R3
(x1 )2 + (x2 )2 + (x3 )2 = 1 ,
dada pela
orrespondên
ia biunívo
a entre os números
omplexos z representados
no plano equatorial x3 = 0 (
om o eixo dos x1 identi
ado
om o eixo real e o eixo
dos x2
om o eixo imaginário) e os pontos da superfí
ie esféri
a que perten
em a
uma mesma re
ta que passa pelo pólo Norte, provando que (Figura 1.6)
2
x1 +ix2 z+z z−z 1−|z|
1−x3
, x1 = 1+|z| 2 , x2 = 1+|z| 2 , x2 = − 1+|z| 2 .
42
Lagrange, Joseph-Louis (1736-1813).
8 Plano complexo
Funções
2.1 Introdução
Neste
apítulo
onsideram-se vários exemplos de funções
omplexas e
ilustram-se representações geométri
as destas funções que
ontribuem para
a apreensão geométri
a dos seus efeitos e para a
ompreensão de
omo po-
dem estender funções reais. O exemplo mais importante é o da exponen
ial
omplexa, em asso
iação natural
om funções logaritmo que são inversas da
exponen
ial restrita a
onjuntos em que esta é uma função inje
tiva.
Consideram-se ainda outras funções
omplexas denidas
om a exponen-
ial,
omo funções trigonométri
as, hiperbóli
as, potên
ias e exponen
iais.
Para o leitor que só lidou
om estas funções no âmbito de números reais
pode pare
er surpreendente que as funções trigonométri
as possam ser ob-
tidas das funções exponen
iais, dada a grande diferença de grá
os destas
funções no
aso real (em
ara
terísti
as
omo monotonia, periodi
idade, si-
nal, limitação, domínio) e porque originaram em
ontextos muito diferentes.
L. Euler identi
ou a relação de funções trigonométri
as e exponen
ial
numa
arta de 1740 a J. Bernoulli46 em que es
reveu 2 cos θ = eiθ +e−iθ .
A exponen
ial
omplexa, além do
res
imento geométri
o da exponen
ial
real,
ontém as os
ilações das funções trigonométri
as reais seno e
oseno.
Como funções
omplexas, as funções hiperbóli
as
oin
idem
om as funções
trigonométri
as mediante uma simples rotação de variáveis. Este é um 1o
exemplo do poder uni
ador e simpli
ador do
ontexto
omplexo em
om-
paração
om o real que se en
ontra em várias outras situações.
O
apítulo termina
om as noções de limite e
ontinuidade.
2.2 Representação geométrica de funções
As funções
omplexas são denidas num
onjunto de números
omplexos e
têm valores
omplexos, f : S → C
om S ⊂ C . Para z = x+iy ∈ S , x, y ∈ R , a
função pode-se es
rever f (x+iy) = u(x, y)+iv(x, y) ,
om u(x, y), v(x, y) ∈ R .
Chama-se às funções u, v, resp., parte real e parte imaginária da função
f , e es
reve-se f = (u, v) .
46
Bernoulli, Johann (1667-1748).
12 Funções
2i 2i
i 2 i 1
3
1
7 6 2
4 5 5
8 Re 6 Re
-2 -1 0 1 2 -2 -1 8 1 2
7
4
-i
3 -i
-2i
-2i
Im Im
5
2i 2i
8 7i 6 5 1
6 i
4 3 2 1 2
Re Re
-2 -1 0 1 2 -2 -1 30 1 2
7
-i -i 4
-2i 8 -2i
Figura 2.3: Gráficos das partes real e imaginária de f (z) = z 2 para Im z > 0
Também se pode representar geometri
amente uma função
omplexa f
pelos conjuntos de nı́vel das partes real e imaginária de f , o que
orresponde a determinar os
onjuntos de pontos do domínio que são trans-
formados em re
tas verti
ais u = u0 e em re
tas horizontais v = v0 , que neste
exemplo são, resp., os ar
os de hipérboles de equações
artesianas x2−y2 = u0,
om y > 0, e o ar
o de hipérbole xy = v2 ,
om y > 0 . São hipérboles equilá-
0
Figura 2.4: Curvas de nı́vel das partes real e imaginária de f (z) = z 2 para Im z > 0
1
(2.2) Exemplo: A função complexa f (z) = z−1 .
O domínio de f é C\{1}. Com z = (x, y) e w = f (z) = u(x, y), v(x, y) ,
1 (x−1)−iy
u(x, y)+iv(x, y) = (x−1)+iy = (x−1)2 +y 2
.
O
onjunto de pontos transformados na
ir
unferên
ia
om
entro na origem
e raio r0 ,
om equação
artesiana x2 + y2 = (r0 )2 , é a
urva
om equação
artesiana (x− 1)2 + y2 = (r1) ; logo, é uma
ir
unferên
ia
om
entro em
0
2
6
2i 2i
i 3 i
7 1
5 2
8
Re 4 Re
-2 -1 0 1 2 -2 -1 8 1 2
4 1 6
3 5
-i -i 7
-2i
2
-2i
1
Figura 2.6: Transformação definida por f (z) = z−1
O relevo de f é o grá
o da função (x, y) 7→ |f (x + iy)| , indi
ado na
Figura 2.7. O grá
o do argumento prin
ipal de f pode ser obtido notando
que Arg f (x+iy) = (x−1)+iy
1
= Arg (x−1, y) (ver Figura 2.7).
1
Figura 2.7: Relevo e gráfico do argumento principal de f (z) = z−1
16 Funções
Im
-π -π/2 -π/2 π
2 1 -1.5 1 1 -1.5 -0.52
1.5 -1 -1.5
1.5
0
-1 0.5
-2 -1 0 0 0.5 -2
-π -π/2 -π/2 π
Figura 2.11: Curvas de nı́vel das partes real (a grosso)
e imaginária (a fino) do coseno complexo
Im
Re
-2 -1 1 2
-1
-2
É
laro que
cosh z = cos(iz) , sinh z = −i sin(iz) , tanh z = −i tan(iz) .
Portanto, as funções
omplexas
oseno hiperbóli
o e seno hiperbóli
o são
periódi
as de período i2π, a tangente hiperbóli
a é periódi
a de período iπ
e estes são os seus úni
os períodos mínimos. O
oseno hiperbóli
o pode ser
obtido por uma rotação de π2 em torno da origem seguida da apli
ação do
oseno trigonométri
o. O seno hiperbóli
o e a tangente hiperbóli
a podem
ser obtidos por uma rotação de π2 em torno da origem seguida da apli
ação
da
orrespondente função trigonométri
a e, depois, uma rotação de − π2 em
torno da origem, sendo esta última equivalente a tro
ar a parte real
om a
imaginária e, no nal, mudar o sinal da parte imaginária. Estas observações
são fa
ilmente identi
adas nos grá
os dados nas guras. Veri
a-se
cosh2 z − sinh2 z = 1
4 (ez +e−z )2 −(ez −e−z )2 = 1 ,
i.e. cosh2 z−sinh2 z = 1 para z ∈ C , estendendo a fórmula válida para z ∈ R .
20 Funções
2.6 Logaritmos
Dado um número
omplexo em representação polar z = reiθ 6= 0 , uma vez
que z = eln r eiθ = eln r+iθ , dene-se o seu logaritmo por
ln z = ln r + iθ ,
em que ln r designa o logaritmo real de r < 0 (Figuras 2.18 e 2.19). Como
o
ontradomínio da exponen
ial é C \ {0}, todos números
omplexos 6= 0
têm logaritmos. Em parti
ular, os números reais negativos têm logaritmos
omplexos, apesar de não terem logaritmos reais.
2.6 Logaritmos 21
Diz-se que f é contı́nua num ponto z0 ∈ S se z→z lim f (z) = f (z0 ) . Diz-se
que f é contı́nua num conjunto C ⊂ S se é
ontínua em
ada ponto de C ,
0
2.7 Prove que para a ∈ R e −π < θ ≤ π é (cos θ+i sin θ)a= cos(aθ)+i sin(aθ) e mostre que
a restrição aos valores de θ é ne
essária. Mostre que se a ∈ Z , a fórmula veri
a-se
49
para todo θ ∈ R ; neste
aso é
onhe
ida por fórmula de De Moivre .
2.8 Determine equações
artesianas para os
onjuntos do plano
omplexo que são trans-
formados em re
tas paralelas aos eixos
oordenados pela função
omplexa denida
z
por z+e e represente-os gra
amente.
z n z
2.9 Mostre que lim 1+ n existe para todo z ∈ C e é igual a e .
n→+∞
2.10 Determine o
ontradomínio da restrição da função
omplexa tan z à faixa verti
al do
π
plano
omplexo |Re z| ≤ e indique as imagens das re
tas verti
ais e dos segmentos
4
de re
tas horizontais desta faixa.
49
A fórmula de De Moivre apareceu publicada pela primeira vez em 1748 no livro de L. Euler
Introductio. De Moivre, Abraham (1667-1754).
Capı́tulo 3
Derivada
3.1 Introdução
O 1o estudo sistemáti
o das funções
omplexas e das suas apli
ações a proble-
mas de análise matemáti
a, hidrodinâmi
a e
artograa deve-se a L. Euler,
em 1776-77. Funções deste tipo tinham sido anteriormente
onsideradas,
prin
ipalmente por J.R. d'Alembert50 que utilizou funções
omplexas em
1752 no estudo do movimento de uidos. L.Euler obteve então as
ondições
de Cau
hy-Riemann ne
essárias para diferen
iabilidade de uma função
om-
plexa, mas não as explorou. Estas
ondições resultam da
orrespondên
ia
bási
a de diferen
iabilidade de uma função num ponto e a possibilidade de
a aproximar bem numa vizinhança do ponto por uma função linear.
Cer
a de 1825 A.-L.Cau
hy deu um sentido pre
iso a derivada de função,
om uma noção rigorosa de limite da sua razão in
remental, seguindo uma
ideia de d'Alembert
er
a de 1752. A.-L. Cau
hy avançou de
isivamente o
estudo de funções
omplexas
om base nas
ondições ne
essárias de diferen-
iabilidade obtidas por L. Euler, mas só
om trabalho de B. Riemann em
1851 estas
ondições
omeçaram a ser plenamente exploradas; é por isso que
são
hamadas
ondições de Cau
hy-Riemann. PoSão equações que rela
io-
nam as derivadas par
iais das partes real e imaginária da função em relação
às partes real e imaginária da variável independente estabele
endo que a
diferen
iabilidade de funções
omplexas impli
a uma forte interligação das
partes real e imaginária da função, ausente para diferen
iabilidade de funções
de R2 em R2 que restringe severamente funções
ompelxas diferen
iáveis em
omparação
om funções diferen
iáveis de R2 em R2.
As
ondições de Cau
hy-Riemann são ne
essárias para diferen
iabilidade
de funções
omplexas num
onjunto aberto e são su
ientes para funções
om partes real e imaginária C 1
omo funções das partes real e imaginária
da variável independente, pois tais funções são diferen
iáveis
omo funções
de variável em R2, mas ainda são su
ientes se a função é
ontínuas no
onjunto aberto
onsiderado,
omo provado por D. Men
ho51 em 1935.
50
d’Alembert, Jean le Rond (1717-1783).
51
Menchoff, Dmitrii (1892-1988). A prova usa integral de Lebesgue e categoria de Baire.
28 Derivada
(3.2) Exemplos:
P
1. As funções polinomiais complexas P (z) = nk=0 ck z k são inteiras, pois
são somas de produtos de constantes por potências de expoentes inteiros
não negativos, que são funções
Pn−1 inteiras. As regras de derivação de operações
′ k
de funções dão P (z) = k=0 (k+1)ck+1 z . Logo, a derivada de uma função
polinomial de grau n é uma função polinomial de grau n−1 .
P (z)
2. As funções racionais Q(z) , em que P, Q são funções polinomiais e Q
não é o polinómio zero, são holomorfas no resp. domı́nio, i.e. no conjunto
de pontos em que o denominador Q(z) não é zero, pois são quocientes de
funções inteiras. As derivadas de funções racionais podem ser calculadas
com a regra de derivação do quociente de funções e a fórmula de derivação
de polinómios do exemplo precedente.
Se f : Ω → C ,
om Ω ⊂ C , é uma função diferen
iável no ponto z0 , a
função denida por
, se z 6= z0
f (z)−f (z0 )−f ′ (z0 )(z−z0 )
z−z0
, se z = 0
(3.3) E(z, z0 ) =
0
satisfaz z→z
lim E(z, z0 ) = 0 e a função Tz : C → C tal que Tz (z) = f ′ (z0 ) z
0 0
(3.11) Exemplos:
1. Considera-se a função complexa f (z) = ez . Com f = (u, v) e z = (x, y) , é
ez = ex (cos y+sin y) , pelo que u(x, y) = ex cos y, v(x, y) = ex sin y, e
∂u ∂u ∂v ∂v
∂x = ex cos y , ∂y = −ex sin y , ∂x = ex sin y , ∂y = ex cos y .
Estas funções são contı́nuas e satisfazem as equações de Cauchy-Riemann
em C . Logo, do resultado precedente, a exponencial complexa é uma função
inteira, com derivada
∂u ∂v
(ez )′ = ∂x +i ∂x = ex cos y + i ex sin y = ez .
A derivada da exponencial é a exponencial, tal como da exponencial real.
2. As funções complexas cos z = 12 (eiz + e−iz ) e sin z = 2i 1 iz
(e − e−iz ) são
inteiras, pois somas, produtos e composições de funções inteiras são inteiras,
e têm derivadas ′
(cos z)′ = 12 (eiz +e−iz ) = 12 (i eiz − i e−iz ) = − sin z ,
′
(sin z)′ = 2i (e −e−iz ) = 2i
1 iz 1
(i eiz + i e−iz ) = cos z .
Logo, a derivada do coseno complexo é o simétrico do seno e a derivada do
seno complexo é o coseno, tal como para as correspondentes funções reais.
sin z
Como a tangente complexa tan z = cos z é um quociente de funções in-
teiras, é holomorfa no seu domı́nio, i.e. no conjunto em que o denominador
cos z não se anula, C\{ π2 +kπ, k ∈ Z} . A derivada é
sin z ′ 2 z + sin2 z
(tan z)′ = cos z = cos cos 2z = cos12 z ,
que também é a fórmula de derivação da tangente real.
3. Obtém-se analogamente que as funções complexas coseno hiperbólico
e seno hiperbólico são funções inteiras com derivadas (cosh z)′ = sinh z e
(sinh z)′ = cosh z , e a tangente hiperbólica é holomorfa no seu domı́nio, em
1
que tem derivada (tanh z)′ = cosh 2 .
z
4. Viu-se na secção sobre logaritmos do capı́tulo precedente que o logaritmo
de números complexos pode ser definido por escolhas em infinitos valores,
mas podem-se considerar funções dadas por cada ramo do logaritmo ln z ,
e.g. ln z +i(Arg z+k2π) , com k ∈ Z fixo. Cada um destes ramos do logaritmo
complexo está definido em C\{0} e é descontı́nuo no semieixo real negativo,
com a parte imaginária a aproximar-se de (2k + 1)π quando os pontos do
domı́nio se aproximam deste semieixo pelo semiplano complexo superior
Im z > 0 e de (2k − 1)π quando se aproximam pelo semiplano complexo
inferior Im z < 0 . As partes real e imaginária de cada um destes ramos
são, em coordenadas polares, z = reiθ com θ ∈ ](2k − 1)π, (2k + 1)π] , resp.
U (r, θ) = ln r e V (r, θ) = θ . Verifica-se
∂U
∂r = 1r , ∂U
∂θ =0 , ∂V
∂r =0 , ∂U
∂θ =1 .
Estas funções são contı́nuas e satisfazem as equações de Cauchy-Riemann
em coordenadas polares em {(r, θ) ∈ [0, +∞[×](2k−1)π, (2k+1)π] }, que em
34 Derivada
56
Designa-se R+ = ]0, +∞[ .
3.2 Diferenciabilidade e derivada 35
definir uma função correspondente a um ramo desta relação há que escolher
o sinal, escolher um ramo da raiz quadrada e um ramo do logaritmo. Pode-
se escolher o valor principal do logaritmo, o ramo da raiz quadrada definido
no plano sem o semieixo real negativo e que assume valores de parte imagi-
nária positiva, e o sinal negativo. Para que 1−z 2 não esteja no semieixo real
negativo, excluem-se do domı́nio √ os números reais z da união de intervalos
] − ∞, −1] √∪ [1, +∞[ . Se z + i 1−z 2 pertence ao semieixo real negativo,
como z −i 1−z 2 é o seu recı́proco, também este pertence ao semieixo real
negativo e a soma dos dois 2z é um número real negativo. Como√o intervalo
] − ∞, −1] 2
√ está excluı́do, resta verificar que para z ∈ ] − 1, 0[ é 1−z > 0
2
e z + i 1−z não é √real, para concluir que se pode considerar a função
2
arccos z = −i ln z +i 1−z definida na região C\ ]−∞, −1] ∪ [1, +∞[
com o valor principal do logaritmo (ver Figura 2.22). Para números reais
z ∈ [−1, 1] o valor desta função é o mesmo da função real arccos , que tem
contradomı́nio [0,π] . A função é definida por composições, produtos e so-
mas de funções holomorfas, pelo que é holomorfa em Ω . A derivada desta
função arccos z calcula-se facilmente pela regra de derivação de operações
com funções diferenciáveis, obtendo-se
p
′
(arccos z)′ = −i ln z+i 1−z 2 = −i z + i√11−z 2 1+i 2√−2z
1−z 2
√
i 1−z 2 − iz 1
= − z + i 1−z 2
√ √
1−z 2
= − 1−z 2 ,
√
2 2
1 1
0 Re 0 Re
-1 -1
-2 -2
-2 -1 0 1 2 -2 -1 0 1 2
Im
Im
3
1.5
2 1
1 0.5
0 Re 0 Re
-1 -0.5
-2 -1
-1.5
-3 -1.5-1-0.5 0 0.5 1 1.5
-3 -2 -1 0 1 2 3
Im Im
3 3
2 2
1 1
0 Re 0 Re
-1 -1
-2 -2
-3 -3
-3 -2 -1 0 1 2 3 -3 -2 -1 0 1 2 3
Figura 3.1: Intersecção ortogonal de curvas de nı́vel das partes real (a grosso)
e imaginária (a fino) de funções holomorfas (z 2 , 1z , ez , tan z, ln z, arccos z )
3.3 Transformações conformes 37
Uma vez que as rectas horizontais são ortogonais às rectas verticais, têm
imagens que têm de ser curvas ortogonais, pois (ez )′ = ez 6= 0 para z ∈ C , o
que se confirma pelas semirectas que passam pela origem serem ortogonais
às circunferências de centro na origem.
A exponencial transforma biunivocamente rectângulos de altura inferior
a 2π em sectores de coroas circulares (Figura 3.5). Rectângulos de altura
superior a 2π são transformados em coroas circulares não injectivamente.
2. Transformações de Möbius
Chama-se transformação de Möbius57 a uma função complexa
az + b
f (z) = cz + d ,
em que a, b, c, d ∈ C e ad−bc 6= 0 (o exemplo (2.2) é o caso particular com
a = 0, b = c = 1, d = −1 ). Vê-se num dos capı́tulos finais que estas transforma-
ções desempenham um papel fundamental no esclarecimento da diversidade
possı́vel das transformações conformes.
Com as regras de derivação de operações obtém-se
a(cz+d) − c(az+b)
f ′ (z) = (cz+d)2 = ad − bc
(cz + d)2 ,
se cz+d 6= 0 . Logo, se c 6= 0 , a derivada existe C\ − dc ; se c = 0 ,
e f ′ 6= 0 em
a derivada existe e f ′ 6= 0 em C . Portanto, as transformações
de Möbius
com c = 0 são conformes em C, e com c 6= 0 são conformes em C\ − dc .
Verifica-se
w = az+b dw−b
cz+d ⇐⇒ czw+dw = az+b ⇐⇒ z(cw−a) = −dw+b ⇐⇒ z = −cw+a .
em que
caz + cb − acz − ad cb − ad
cw−a = c az +b
cz + d − a = cz + d = cz + d 6= 0 .
Portanto, a função f é injectiva e a inversa é
f −1 (w) = dw − b
−cw + a .
Como da−(−b)(−c) = ad−bc 6= 0 , a inversa de uma transformação de Möbius
também é uma transformação de Möbius.
É especialmente simples de analisar o caso a = d = 0 , b = c = 1 , nome-
adamente a função recı́proco R(z) = 1z , que tem domı́nio e contradomı́nio
iguais a C\{0}. Como R(iz) = −iz , a imagem pela função R da rotação de
um conjunto S ⊂ C de ângulo π2 em torno da origem é a rotação de ângulo
− π2 de S. Para ver como R transforma rectas e circunferências, como estas
têm equações cartesianas que, com z = (x, y) , podem ser escritas
(3.17) A(x2 +y 2 ) + Bx + Cy + D = 0 .
São rectas que passam na origem se (A = 0 , B 6= 0) ou (A = 0 , C 6= 0 ). Se
A 6= 0, completando quadrados de somas pode-se escrever a equação como
B 2
C 2 2 2
x+ 2A + y+ 2A = B +C4A−4AD
2 ,
57
Também são conhecidas por transformações homográficas, transformações lineares
fraccionárias ou transformações bilineares fraccionárias.
42 Derivada
u2 +v 2 = ww , u = 21 (w+w) , 1
v = i2 (w−z) ,
a equação (3.17) transforma-se sucessivamente em
B C
Azz + 2 (z+z) + i2 (z−z) + D = 0.
1 B 1 1
C 1 1
A ww + 2 w+w + i2 w − w + D = 0.
B C
A+ 2 (w+w) + i2 (w−w) + Dww = 0 .
(3.18) D(u2 +v 2 ) + Bu − Cv + A = 0 .
A última equação tem a forma de (3.17) com coeficientes diferentes, pelo
que é a equação cartesiana de rectas que passam na origem se (D = 0 , B 6= 0)
ou (C = 0 , C 6= 0 ), ou de circunferências se D 6= 0 e B 2 + C 2 − 4AD > 0 .
Portanto, as imagens de rectas que passam na origem ou circunferências
pela função R(z) = z1 são rectas que passam na origem ou circunferências.
Em particular, rectas verticais x = −D (da forma (3.17) com A = C = 0 ,
B = 1 ) transformam-se na recta u = 0 se D = 0 , ou em circunferências
D(u2 +v 2 )+u = 0 se D6= 0 . Por analogia com (3.17) estas circunferências
1 1
têm centro em − 2D , 0 e raio 2|D| (Figura 3.6).
pelo que
X2 Y2
1
(r+ 1 2
)
+ 1
(r− 1 2
)
= 1.
4 r 4 r
1 1
r r
1 1
Figura 3.8: Gráficos das funções 1
2 r+ r 1
e 12 r− r1
Da fórmula (3.19) também se obtém, para θ ∈ R tal que cos θ 6= 0 e
X2 Y2
sin θ 6= 0 , cos 2 θ + sin2 θ = 1 , pelo que as rectas de declive com valor absoluto
| tan θ| que passam na origem são transformadas na hipérbole com semieixo
real de comprimento | cos θ| ao longo do eixo real e eixo transverso de com-
primento | sin θ| ao longo do eixo imaginário (Figura 3.9). Estas hipérboles
são ortogonais às elipses acima consideradas, pois são imagens de curvas
ortogonais por uma transformação conforme.
O eixo real (excluindo a origem) é transformado na união das semirectas
que se obtêm retirando ao eixo real o segmento de recta com extremida-
des nos números ±1 , e cada um dos semieixos imaginários {iy : y > 0},
{iy : y < 0} é transformado em todo o eixo imaginário (Figuras 3.9). Os
conjuntos {iy : y > 1}, {iy : −1 < y < 0} são transformados no semieixo
imaginário {iy : y < 0} e os conjuntos {iy : 0 < y < 1}, {iy : y < −1} são
transformados no semieixo imaginário positivo.
Com w = f (z) , obtém-se
w−1 z + 1/z − 2 z 2 − 2z + 1 z−1 2
w + 1 = z + 1/z + 2 = z 2 + 2z + 1 = z + 1 .
w−1 ζ +1
Como w 7→ w + 1 é uma transformação de Möbius com inversa ζ 7→ ζ − 1 , a
transformação de Joukovski w = J(z) resulta da composição de três trans-
formações, w = (M −1 ◦Q◦M )(z) , em que
−1
M : z 7→ z1 = zz + 1, Q : z1 7→ z2 = (z1 )2 , M −1 : z2 7→ w = zz22 −
+1
1,
Im Im
Re Re
3 -2 -1 1 2 3 -2 -1 1 2
Im Im
Re Re
-1 1 -2 -1 1 2
com a semirecta com origem neste ponto contida no semieixo real positivo
(Figura 3.10), obtém-se que a transformação de Joukovski J é uma função
bijectiva conforme do interior do cı́rculo delimitado por S para U = C \ C
e o arco de circunferência C faz um ângulo 2α com a semirecta de origem
neste ponto contida no semieixo real positivo. Também se obtém que J é
uma função bijectiva conforme do exterior desse cı́rculo para U . A transfor-
mação de Joukovski transforma a região delimitada pela circunferência S e
por uma outra qualquer circunferência tangente a S no ponto 1 numa região
semelhante ao perfil clássico da asa de um avião planador (Figura 3.10).
Exercı́cios
3.1 Determine o
onjunto em que a função
omplexa dada é holomorfa:
3.3 Determine a função inteira f = (u, v) tal que v(x+iy) = 3x2−y 3 , x, y ∈ R , e f (0) = 1 .
− 14
3.4 Mostre que f (z) = e z prolongada por
ontinuidade a 0 satisfaz as
ondições de
Cau
hy-Riemann em C e não é diferen
iável em 0 .
5
z
3.5 Mostre que f (z) = |z| 4 prolongada por
ontinuidade a 0 é uma função
ontínua em
C que satisfaz as
ondições de Cau
hy-Riemann em 0 e não é diferen
iável em 0 .
3.6 Seja Ω⊂C aberto. Prove: f ∈ H(Ω) se e só se g ∈ H(Ω) com g(z) = f (z) .
3.7 Dena uma função numa região apropriada que seja a soma de raizes quadradas de
1+z e 1−z ,
om z
omplexo, pro
urando uma região tão grande quanto possível.
Determine o
onjunto em que a função é holomorfa.
3.8 Resolva o exer
í
io pre
edente para uma
omposição de dois logaritmos
omplexos.
2
3.9 Seja Ω ⊂ C uma região e f ∈ H(Ω) tal que |f −1| < 1 em Ω . Mostre que Re f > 0
ou Re f < 0 em Ω .
60
3.10 Prove o truque de Herglotz : toda função f ∈ H BR (0) ⊂ C para algum R > 1
que satisfaz satisfaz a fórmula de duplicação 2f (2z) = f (z)+f z+ 12 , para todo
1
z, z+ 2 , 2z ∈ Br (0), é constante. .
(Sugestão: Obtenha 4 maxB |f ′ | ≤ 2 maxB |f ′ | para B = Br (0)
om 0 < r < R).
3.11 Prove: Se f ∈ H(C\Z) é uma função ı́mpar (i.e. f (−z) = −f (z)) tal que (z − p)f (z)
é holomorfa numa vizinhança de cada p ∈ Z que satisfaz a fórmula de duplicação do
exercı́cio precedente em C\Z , então f (z) = π cot(πz) .
(Sugestão: Come
e por obter tan z = cot z −2 cot(2z) e tan(πz) = cot z + 12 .
3.12 Diz-se que uma função
om valores reais u é harmónica num
onjunto aberto
Ω ⊂ C se satisfaz a equação de Laplace em
ada ponto (x, y) ∈ Ω , i.e. se
def ∂ 2 u 2
∆u = ∂2 x
+ ∂∂ 2 uy =0 .
a) Determine as funções polinomiais de duas variáveis reais
om todos os termos
de grau 3 que são funções harmóni
as em C.
b) Prove: u é harmónica em Ω se e só se v(z) = u(z) é harmónica em Ω .
) Prove: As partes real e imaginária de uma função holomorfa com derivada con-
tı́nua num conjunto aberto são harmónicas nesse conjunto.
3.13 Mostre que se z1 , z2 , . . . , zn ∈ C estão situados do mesmo lado de uma re
ta que
Pn Pn −1
passa na origem, então k=1 zk 6= 0 , e se k=1 (zk ) = 0 , então os pontos não
podem estar situados do mesmo lado de uma re
ta que passa na origem.
Qn
3.14 Prove: Todos os zeros da derivada de uma função polinomial P (z) = k=1 (z −zk )
pertencem ao invólucro convexo dos zeros dessa função polinomial, i.e. ao menor
61
onjunto
onvexo que os
ontém (que é um polígono
onvexo em que os vérti
es
são zeros da função polinomial).
60
Em inglês diz-se Herglotz trick. Gustav Herglotz (1881-1953) incluı́a-o nas suas lições, mas
não o publicou. Apareceu publicado em 1950 na 1a edição do livro de C. Carathéodory referido na
bibliografia final. Anteriormente, tinha sido incluı́do em notas de lições sobre funções complexas
de várias variáveis de Solomon Bochner (1899-1982) de 1936. Foi usado em 1964 por Emil Artin
(1898-1962) para a Função Gamma.
61
Diz-se que S ⊂ C é um conjunto convexo se todos os segmentos de recta com extremidades
em S estão totalmente contidos em S.
48 Derivada
3.20 a) Prove: Uma transformação de Möbius tem 0 e ∞ como únicos pontos fixos se e
só se é uma expansão uniforme.
b) Prove: Uma transformação de Möbius tem ∞ como único ponto fixo se e só se
é uma translação.
3.21 Prove: Uma transformação de Möbius comuta com uma transformação de Möbius
T diferente da identidade se tem os mesmos pontos fixos de T .
3.22 Identique as transformações de Möbius
orrespondentes a rotações da Superfí
ie
Esféri
a de Riemann (ver exer
í
io 1.16) em torno de diâmetros.
3.23 Prove: Para cada par ordenado de ternos (z1 , z2 , z3 ) e (w1 , w2 , w3 ) de pontos dis-
tintos de C existe uma e só uma transformação de Möbius que transforma cada zk
em wk , para k = 1, 2, 3 . (Sugestão: Come
e por provar para (w1 , w2 , w3 ) = (0, 1, ∞) ).
62
Cayley, A. (1821-1895).
Exercı́cios do capı́tulo 3 49
3.26 Considere f (z) = arccos z
omo poten
ial
omplexo (ver exer
í
io anterior) em
ele
troestáti
a, mostre que as linhas equipoten
iais e as linhas de
orrente são as
representadas na Figura 3.13 e des
reva
omo este poten
ial permite obter
ada um
dos
ampos elé
tri
os seguintes:
3. Entre folhas
onexas de duas superfí
ies
ondutoras
ilíndri
as
om se
ções or-
togonais hiperbóli
as
onfo
ais, ou entre uma destas e um semiplano
ondutor
om
aresta a passar pelo fo
o e perten
ente ao plano de simetria da superfí
ie
ilíndri
a;
Figura 3.13: Linhas de nı́vel das partes real e imaginária de f (z) = arccos z
Capı́tulo 4
Integral
4.1 Introdução
Uma 1a referên
ia a integral de função
omplexa e a algumas das suas apli
a-
ções apare
e num trabalho de L.Euler apresentado na A
ademia das Ciên
ias
de S. Petersburgo em 1777. A noção não era rigorosa nem era men
ionado
que o integral é sobre
aminhos no plano
omplexo, pois ainda não se
onhe-
ia a identi
ação dos números
omplexos
om pontos de um plano.
A 1a referên
ia a uma noção de integrais de funções
omplexas sobre
a-
minhos
om preo
upação de rigor apare
e numa
arta de C.F.Gauss a F.W.
Bessel em 1811, que também men
iona um resultado de independên
ia do
integral em
aminhos de integração
om as mesmas extremidades, equiva-
lente ao Teorema de Cau
hy. Estes resultados nun
a foram publi
ados, mas
C.F. Gauss usou integrais
omplexos em 1816 num dos seus artigos
om o
obje
tivo de provar o Teorema Fundamental da Álgebra.
A 1a publi
ação
om integrações de funções
omplexas foi de S.D. Pois-
son63 em 1813.
Em 1814 A.-L. Cau
hy apresentou na A
ademia das Ciên
ias de Paris
uma memória que referia integrais de funções
omplexas analogamente a L.
Euler em 1777, que só foi publi
ada em 1825
om uma nota adi
ionada por
A.-L.Cau
hy em 1822 men
ionando que os integrais sobre a fronteira de um
re
tângulo de lados paralelos aos eixos
oordenados são nulos para funções
omplexas
ontinuamente diferen
iáveis no fe
ho do re
tângulo. Este resul-
tado, que pode ser obtido do Teorema de Green64 para funções reais denidas
em sub
onjuntos de R2, é um
aso parti
ular do Teorema de Cau
hy, embora
om a hipótese ex
essivamente forte de
ontinuidade das derivadas da função
integranda.
A denição rigorosa de integral, mesmo de funções reais
ontínuas num
intervalo limitado e fe
hado, só apare
eu em 1823, também por A.-L. Cau-
hy. Em 1854, B. Riemann estendeu esta noção de integral a funções reais
63
Poisson, Siméon Dénis (1781-1840).
64
A 1a afirmação e utilização do Teorema de Green, embora sem prova, foi em 1846 por A.-L.
Cauchy, precisamente no contexto de Análise Complexa. Green, George (1793-1841).
52 Integral
limitadas num intervalo limitado e fe
hado de números reais sem exigir
on-
tinuidade e, em 1902, H. Lebesgue estendeu a noção de integral de funções
reais na tese de doutoramento que apresentou
om o título Intégrale, Lon-
geur, Aire.
O Teorema de Cau
hy estabele
e que integrais em
aminhos fe
hados
num
onjunto em que a função itegranda é holomorfa são zero, sob
ertas
ondições topológi
as ou geométri
as relativas ao
onjunto e aos
aminhos
onsiderados. Esta propriedade equivale a igualdade dos integrais em
a-
minhos no
onjunto
om o mesmo par ordenado de pontos ini
ial e nal.
Portanto, a validade do Teorema de Cau
hy num
onjunto equivale à inva-
riân
ia do integral em
lasses de
aminhos
om o mesmo par ordenado de
pontos ini
ial e nal obtidos por deformações
ontínuas possíveis sem deixar
o
onjunto, logo à propriedade referida na
arta de C.F.Gauss a F.W.Bessel
a
ima men
ionada. Esta é a propriedade que A.-L. Cau
hy
onsidera para
aminhos bem mais gerais do que fronteiras de re
tângulos na Mémoire sur
les intégrales définies prises entre des limites imaginaires, também publi
ada
em 1825, ainda
om a hipótese de
ontinuidade das derivadas das funções
integrandas. O mesmo trabalho in
lui uma denição rigorosa de integrais
omplexos que, embora
orrespondam aos integrais sobre
aminhos, são aí
denidos sem qualquer referên
ia geométri
a e
onsiderados relativamente a
funções auxiliares que se viu forçado a introduzir para tornar
onsistente a
denição. Pare
e
laro que A.-L. Cau
hy des
onhe
ia na altura a identi
a-
ção dos números
omplexos
om pontos de um plano, que, embora tivesse
apare
ido em 1799 num trabalho de C. Wessel e esteja implí
ita na tese de
doutoramento de C.F.Gauss do mesmo ano, e apare
esse em 1806 em publi-
ações de J.-R. Argand e A.-Q. Buée, só
ou amplamente
onhe
ida após
disseminação de um artigo de C.F. Gauss publi
ado em 1831.
Em 1900 E. Goursat provou uma versão do Teorema de Cau
hy sem a
hipótese de
ontinuidade da derivada da função e abriu o
aminho para es-
tabele
er que funções holomorfas num
onjunto aberto são indenidamente
diferen
iáveis. Outra
onsequên
ia interessante é que a existên
ia de primi-
tiva de uma função
omplexa
ontínua num
onjunto aberto impli
a que a
função é holomorfa e, portanto, indenidamente
ontinuamente diferen
iável
no
onjunto. Estas propriedades
ontrastam fortemente
om as de funções
de variáveis reais.
Neste
apítulo estabele
e-se uma versão lo
al do Teorema de Cau
hy
em
onjuntos
onvexos e no
apítulo 7 uma versão global. Do Teorema de
Cau
hy de
orre a Fórmula de Cau
hy, que dá os valores de uma função
holomorfa num
onjunto de pontos fora de uma
urva fe
hada por integrais
que só envolvem os valores da função sobre a
urva. Para
ir
unferên
ias,
esta fórmula foi obtida em 1831 pelo próprio A.-L. Cau
hy numa memória
dedi
ada a Me
âni
a Celeste. Uma
onsequên
ia da Fórmula de Cau
hy é
a Propriedade de Valor Médio de funções holomorfas que estabele
e que o
valor de uma função no
entro de um
ír
ulo fe
hado em que é holomorfa
4.2 Integral em caminho 53
quando os integrais
das funções reais no lado direito da fórmula existem .
67
4.3 Primitiva
Diz-se que uma função F é primitiva de uma função f num
onjunto aberto
Ω ⊂ C se F ′ = f em Ω . É imediato da denição que as funções que se
obtêm somando constantes a uma primitiva de uma função f também são
primitivas de f . Em regiões de C a re
ípro
a também é verdadeira.
Dem. Seja {a0 , . . . , an } uma partição finita de [a, b] tal que a restrição de
γ a cada subintervalo [ak−1 , ak ], k = 1, . . . , n , é regular. Como F ′ = f é
contı́nua em Ω , F é C 1 em Ω . Da regra de derivação da função composta
e da regra de Barrow para funções reais, é
Z Z Z b Z b Xn Z ak
′ ′
′ ′
f (z) dz = F (z) dz = F γ(t) γ (t) dt = (F ◦γ) = (F ◦γ)′
γ γ a a k=1 ak−1
n
X
= F γ(ak ) −F γ(ak−1 ) = F γ(b) −F γ(a) .
k=1
Se γ é fechado, γ(b) = γ(a) e o lado direito da fórmula é zero. Q.E.D.
A continuidade de f garante que qualquer que seja ε > 0 existe δ > 0 tal que
|f (ζ)−f (z0 )| < ε se |z−z0 | < δ . Logo,
F (z)−F (z0 ) 1
z−z0 −f (z0 ) ≤ |z−z 0|
|z−z0 | ε = ε , se |z−z0 | < δ ,
F (z)−F (z0 )
e, portanto, lim z−z0 = f (z0 ) para z0 ∈ Ω , pelo que F ∈ H(Ω) e F ′ = f .
z→z0
Logo, F é uma primitiva de f em Ω . Q.E.D.
∂∆, e verifica-se Z
n
|J| ≤ 4 f (z) dz , n ∈ N .
∂∆n
Como f é holomorfa em ∆ , qualquer que seja ε > 0 existe r > 0 tal que
|f (z)−f (z0 )−f ′ (z0 )(z−z0 )| ≤ ε|z−z0 | , z ∈ Br (z0 ) .
Para n grande é ∆n ⊂ Br (z0 ) , e |z−z0 | < L2−n para z ∈ ∆n . Como
Z
[f (z)−f (z0 )−f ′ (z0 )(z−z0 )] dz
∂∆n Z Z Z Z
= f (z) dz − f (z0 ) 1 dz − f ′ (z0 ) z dz + f ′ (z0 ) z0 1 dz ,
∂∆n ∂∆n ∂∆n ∂∆n
de (4.4), os integrais no lado direito são nulos com excepção do 1o pelo que
Z Z
f (z) dz = [f (z)−f (z0 )−f ′ (z0 ) (z−z0 )] dz .
∂∆n ∂∆n
presentes condições é usada para provar o resultado imediatamente depois do resultado seguinte
de existência de primitiva e para provar a Fórmula de Cauchy no final deste capı́tulo, que são
ambos usados para provar o resultado mencionado do capı́tulo 6.
60 Integral
lado
Z
direitoZZe as equações de Cau
hy-Riemann
ZZ
para
ZZ
f dão
ZZ
∂v
f (z) dz = − ∂x − ∂u
∂y dxdy +i
∂u ∂v
∂x − ∂y dxdy = 0 dxdy + 0 dxdy = 0 .
γ D D D D
O
onjunto D pode não ser
onvexo, mas a exigên
ia de f ser C 1 é ex
es-
sivamente forte, pelo que se prefere generalizar no
apítulo 7 a formulação
lo
al em
onjuntos
onvexos anterior para um resultado global.
Este resultado estabele
ido
om base no Teorema de Green tem a vanta-
gem de tornar dire
tamente visível a ligação entre a anulação dos integrais
sobre
aminhos fe
hados e as equações de Cau
hy-Riemann, e eviden
ia que
a anulação dos integrais sobre
aminhos fe
hados é uma expressão integral
71
Usa-se este resultado no capı́tulo 6 para provar que as funções holomorfas são sempre inde-
finidamente diferenciáveis e representáveis por séries de potências, que são usados no capı́tulo 7
para estabelecer uma versão global do Teorema de Cauchy.
72
Um domı́nio regular com cantos D ⊂ R2 é um conjunto aberto que é o interior do seu
fecho com fronteira que é uma curva seccionalmente regular fechada. O Teorema da Curva de
Jordan é que toda curva de Jordan separa o plano em 2 conjuntos conexos abertos, um ilimitado
e outro limitado. O conjunto limitado é um domı́nio regular com fronteira a curva de Jordan.
A existência de pelo menos 2 componentes conexas no complementar de uma curva de Jordan
seccionalmente regular em que uma e só uma é ilimitada é uma consequência dos resultados da
secção seguinte, mas é mais difı́cil provar que só há 1 componente conexa limitada. Este teorema
só é usado neste texto no capı́tulo 10 (apenas para fins primos) e pontualmente no último capı́tulo.
No apêndice II dá-se uma prova com homologia e indica-se nos exercı́cios como obter outra prova.
62 Integral
θ+4π
θ
z Arg
75 ∂h2
Diz-se que h = (h1 , h2 ) : S → R2 , S ⊂ R2 , é um campo fechado se ∂x
= ∂h
∂y
1 em S .
66 Integral
Exercı́cios
R
4.1 Com (x, y) = z ∈ C ,
al
ule
γ
x dz , em que γ é um
aminho regular simples que
per
orre:
4.3 Cal
ule uma primitiva da função
omplexa f (x +iy) = 2x(1−y) + i(x2 +2y −y 2 ) ,
om x, y ∈ R .
R
4.4 Mostre que
γ
f (z) f ′ (z) dz é um imaginário puro, para todo
aminho fe
hado se
-
1 ∗
ionalmente regular γ e toda função f C numa região que
ontém γ .
R f ′ (z)
4.5 Mostre que
γ f (z)
dz = 0 para todo
aminho fe
hado se
ionalmente regular γ
1
numa região em que a f é C e satisfaz |f −1| < 1 .
R
4.6 Des
reva
ondições em que se veri
a
γ
ln z dz = 0 .
4.7 Cal
ule os integrais seguintes, em que γr é um
aminho regular simples que per
orre
a
ir
unferên
ia
om raio r > 0 e
entro na origem:
R ez R 1
R ez R sin z R sin z
a)
γ1 z
dz , b)
γ2 1+z 2
dz ,
)
γ1 z n
dz , d)
γ1 z 3
dz , e)
γ1 z
dz .
4.8 Prove: Se f ∈ H BR (p)\{p} , lim (z−p) f (z) = 0 e γp,r é um
aminho se
ionalmente
z→p
regular fe
hado simples que des
reve a
ir
unferên
ia
om
entro p e raio r , então
R R
γp,r
f (z) dz = 0 para todo 0 < r < R . (Sugestão: γp,s |z−p|1
dz = ±2π , 0 < s < R ).
4.9 Prove que o Teorema de Cau
hy lo
al em
onjuntos
onvexos abertos (4.8) pode
ser estendido enfraque
endo a hipótese sobre a função f para, em vez de holomorfa
em todos pontos ex
epto possivelmente um em que é
ontínua, ser holomorfa ex-
a
epto possivelmente num
onjunto nito {p1 , . . . , pn } em que lim (z−pj ) f (z) = 0 ,
z→pj
om 0 < a < 1 ; além disso, se esta
ondição não se veri
a em alguns dos pontos
indi
ados mas nesses pontos o limite indi
ado é 0
om a=1, os integrais sobre
a-
minhos fe
hados se
ionalmente regulares que não passam nestes pontos são nulos.
(Sugestão: Use o resultado do exer
í
io pre
edente).
Capı́tulo 5
Funções analı́ticas
5.1 Introdução
As funções analíti
as são as representáveis por séries de potên
ias.
Até meados do sé
.XVII a noção de função
onfundia-se
om a de fórmula
algébri
a
om variáveis, envolvendo somas, diferenças, produtos, quo
ientes
e raízes de qualquer ordem. A partir da des
oberta de uma série de po-
tên
ias para o logaritmo em 1668, independentemente por N.Mer
ator e W.
Broun
ker, foram des
obertas séries para muitas funções, nomeadamente por
J.Gregory, I.Newton, G.W.Leibniz, entre outros, embora a
onvergên
ia de
séries ainda não fosse um
on
eito rigoroso. J. Gregory sugere
laramente
em 1668 a identi
ação de função
om fórmula que envolve expressões al-
gébri
as e séries destas expressões. A obtenção de séries de potên
ias para
ertas funções ra
ionais e trigonométri
as e a des
oberta por J. Gregory em
1671 das séries de Taylor de funções levaram a que neste período a noção
de função se
onfundisse
om a de função analíti
a, mesmo sem se dispor de
um es
lare
imento
abal da
onvergên
ia de séries77 .
Em 1748, após importantes
ontribuições para o
ál
ulo de somas de
er-
tas séries numéri
as e do
omportamento assimptóti
o de séries divergentes
(em parti
ular a relação do logaritmo
om a série dos re
ípro
os dos números
naturais,
onhe
ida por série harmóni
a), L. Euler publi
ou séries de potên-
ias para, entre outras, as funções exponen
ial, seno e
oseno. Em 1755, L.
Euler apli
ou séries de Taylor para desenvolver o
ál
ulo diferen
ial e utilizou
as séries
omo instrumento uni
ador da Teoria de Números e da Análise,
utilizando-as para obter propriedades de números,
omo a distribuição dos
números primos
om a Função Zeta de Riemann que, para um dado valor
da variável, dá a soma da série dos re
ípro
os dos números naturais elevados
a esse valor. Em 1812, C.F. Gauss estudou sistemati
amente a
onvergên
ia
da série hipergeométri
a e obteve séries para uma ampla
lasse de funções.
O
on
eito de
onvergên
ia de su
essões e séries só foi estabele
ido ri-
gorosamente em 1821 por A.-L. Cau
hy no Cours d’Analyse Algébrique da
77
Mercator, Nicholas (1620-1687). Brouncker, William (1620-1684). Gregory, James (1638-
1675). Leibniz, Gottfried Wilhelm (1646-1716).
70 Funções analı́ticas
limite, qualquer que seja ε > 0 existe N ∈ N tal que U ⊂ Un e |fn (z)−f (z)| < ε
para todos n > N, z ∈ U (ou seja |fn(z)−f (z)| < ε pode ser uniformemente
assegurada em todos pontos z ∈ U , porP84 n > N ).
Diz-se que uma série de funções ∞ n=0 fn (z) é uma série uniforme-
mente P convergente num
onjunto U ⊂ C se a su
essão das somas par
iais
Sn (z) = nk=0 fk (z) é uniformemente
onvergente em U .
Os dois resultados seguintes estabele
em que limites de su
essões e sé-
ries uniformemente
onvergentes num
onjunto U ⊂ C
om termos que são
funções
ontínuas em U são funções
ontínuas em U e podem ser integradas
termo a termo sobre
aminhos se
ionalmente regulares em U .
(5.1) Se {fn } é uma sucessão de funções com cada fn definida e con-
tı́nua em Un ⊂ C , fn → f uniformemente em U ⊂ C , e γ é um cami-
nho
R fechado seccionalmente
R regular em U , então f é contı́nua em U e
γ fn (z) dz → γ f (z) dz .
Dem. A prova baseia-se no teste da raiz para convergência de séries, que, por
seu lado, se baseia na convergência de progressões geométricas de números
reais com razão < 1 e divergência com razão ≥ 1 .
5.4 Séries de potências 75
p
1. Se 0 < r < r ′ < R , existe M ∈ N tal que n > M implica
n
|cn | < r1′ .
n r n
Portanto,
P∞ para z ∈ Br (a) é |z −a| < r e |cn (z −a)| < r′ r para n > M . A
r n
série n=0 r′ é uma progressão
P geométrica de razão r′ < 1 , pelo que é
convergente. Logo, a série ∞ n
n=0 n −a) é absolutamente convergente e,
c (z
do teste-M de Weierstrass no final da secção precedente, é uniformemente
convergente em Br (a) com 0 < r < R .
2. Foi provada na prova de 1) no parágrafo precedente.
3. Se z ∈ C\BR (a) e R < ρ < |z −a| , existe n ∈ N arbitrariamente grande tal
p n
que n |cn | > ρ1 . Logo, |cn (z−a)n | > |z−a|
ρn > 1 para infinitos termos, pelo que
P
{cn (z−a)n } não converge para 0 e ∞ n
n=0 cn (z−a) diverge.
|cn+1 | |cn+1 (z−a)n+1 |
Se L = lim existe, é lim |cn (z−a)n | = L|z−a| , e o teste da razão
n→+∞ |cn | n→+∞ P
para séries reais implica convergência de ∞ n
n=0 |cn (z −a) | se
L|z − a| < 1 e
divergência se L|z−a| > 1 , pelo que, dos pontos precedentes, R = L1 . Q.E.D.
P∞
Chama-se raio
p de convergência da série de potên
ias n=0 cn (z−a)
n
(5.7) Exemplos:
P (−1)n+1 n P
1. Considera-se a série de potências ∞ n=1 n z , que é ∞ n
n=1 cn z com
(−1)n+1 c
cn = n . De (5.5), como L = lim cn = lim n+1
n+1 n
= 1 , o raio de conver-
(−1)n+1 n ′ n−1
gência da série é R = 1 . Como z = (−z) e a série geométrica
P∞ n−1
n
n=1 (−z) é uma série de funções contı́nuas uniformemente convergente
em Br (0) , com 0 < r < 1 , de (5.2), pode ser integrada termo a termo em
qualquer caminho seccionalmente regular em Br (0) . Como para |z| < 1 é
P∞ n−1 = 1 , integrando ambos os lados no caminho γ : [−x, 0] → C
n=1 (−z) 1+z R0 R0 1
P
tal que γ(t) = t , com 0 < x < 1 , ∞ n=1 (−t)n−1 dt = −x 1+t dt , o que dá
P∞ 1 n −x P∞ 1 n
n=1 n x = −ln(1−x) . Como a série alternada com x = −1 , n=1 n (−1) ,
1
éPconvergente porque lim n = 0 , do teorema de limite de Abel precedente,
∞ 1 n
n=1 n (−1) = −x→−1lim ln(1−x) = − ln 2 , e
X∞
(−1)n+1
n = ln 2 .
P n=1 (−1)k+1 2k−1 P∞ k+1
2. A série de potências ∞ k=1 2k−1 z é n=1 cn z n com c2k−1 = (−1)2k−1
p p 1
e c2k = 0 , k ∈ N , e lim n |cn | = lim 2k−1 2k−1 = 1 , pelo que o raio de conver-
(−1)k+1 2k−1 ′
gência é R = 1 . Como 2k−1 z = (−1)k+1 z 2(k−1) = (−z 2 )k−1 , analo-
P∞ 1
gamente ao exemplo 1, considera-se k=1 (−z 2 )k−1 = 1+z 2 . Integrando am-
5.5 Definição e propriedades básicas de funções analı́ticas 77
P (−1)k+1 2k−1
bos os lados desta igualdade no caminho γ , ∞ k=1 2k−1 x = arctan x .
Para x = −1 a série no lado esquerdo desta igualdade é a série alternada
P∞ (−1)k 1
k=1 2k−1 , que converge pois lim 2k−1 = 0 , e, do teorema de limite de
P∞ (−1)k
Abel, k=1 2k−1 = lim arctan x = arctan(−1) = − π4 , e
x→−1 ∞
X (−1)k−1 π
2k−1 = 4 .
k=1
P
3. A série de potências geométrica
P∞ k de razão z , ∞ k
k=1 z é convergente se e
1
só se |z| < 1 e neste caso k=1 z = 1−z . Apesar da divergência da série fora
do disco aberto com raio 1 e centro na origem, a função no lado direito está
definida e é holomorfa em C\{1}, pelo que pode ser que uma função possa
ser estendida como função holomorfa para além do cı́rculo de convergência
de uma sua série de potências.
z−a
Dem. Se Br (a) ⊂ Ω \ γ ∗ , como w−a ≤ |z−a| < 1 para z ∈ Br (a) e
r
w ∈ γ ∗ , para cada z ∈ Br (a) fixo a série geométrica em função de w,
P∞ (z−a)n 1 ∗ 1
n=0 (w−a)n+1 = w−z converge uniformemente em γ . Com Sz (w) = w−z
PN (z−a) n
e Sz,N = n=0 (w−a) n+1 , qualquer que seja ε > 0 existe M ∈ N tal que para
∗
N > M e w ∈ γ é |Sz,N (w)−Sz (w)| < ε e
Z Z Z Z
Sz,N (w) g(w) dw − S(w) g(w) dw ≤ |Sz,N (w)−S(w)| |g(w)| dw ≤ ε |g(w)| dw .
γ γ γ γ
Logo, Z ∞ Z
X
g(w) g(w)
f (z) = w−z dw = (w−a)n+1
dw (z−a)n , z ∈ Br (a) ,
γ n=0 γ
Este resultado garante que uma função analíti
a numa região é univo
a-
mente determinada pelos seus valores em qualquer
onjunto que tenha pelo
menos um ponto limite da sua região de analiti
idade.
Em
onsequên
ia, duas funções diferentes analı́ticas numa região
Ω ⊂ C só podem coincidir num conjunto finito de pontos em cada subcon-
junto compacto de Ω , e num conjunto numerável de pontos de Ω . Em re-
giões des
onexas
om innitas
omponentes
onexas duas funções analíti
as
diferentes podem
oin
idir num
onjunto numerável de pontos.
P
Dem. Define-se90 g(θ) = f (a+reiθ ) = ∞ n inθ . Para 0 < r < R esta série
n=0 cn r e
é uniformemente convergente com θ ∈ [−π, π] . Considera-se o produto in-
terno para
R funções contı́nuas em [−π, π] definido por
1 π
hϕ, ψi = 2π −π ϕψ . Das propriedades do produto interno e como séries
90
Com (xn , yn ) = cn , é uma série trigonométrica complexa com partes real e imaginária que são
séries trigonométricas reais:
X∞ X∞
cn r n einθ = cn r n xn cos(nθ)−yn sin(nθ) +i xn sin(nθ)+xn cos(nθ) .
n=0 n=0
82 Funções analı́ticas
n=0 −π
Dem. Seja Br (a) ⊂ Ω , com r > 0 , tal que |f (a+ reiθ )| ≤ |f (a)|, para todo
θ ∈ [0, 2π] . Da Fórmula de Parseval para séries de potências em (5.15) é
X∞ Z π
|cn | r = 2π |f (a+reiθ )|2 dθ ≤ |f (a)|2 = |c0 |2 ,
2 2n 1
n=0 −π
e, portanto, cn = 0 para n ∈ N , e f (z) = c0 = f (a) para z ∈ Br (a) . Da
Unicidade de funções analı́ticas (5.14), f é constante em Ω .
Como |f | é contı́nua no conjunto compacto K, do teorema de Weiertrass
para extremos de funções contı́nuas, assume um valor máximo em K. Este
valor não pode ser assumido no interior de K porque |f | teria máximos locais
em pontos interiores a Ω . Logo, o valor máximo é assumido em ∂K. Q.E.D.
O Prin
ípio de Módulo Máximo pode ser provado dire
tamente para fun-
ções holomorfas numa região R Ω ⊂ C
om a Propriedade de Valor Médio (4.13),
que impli
a |f (a)| ≤ 2π −π |f (a+reiθ)|dθ se Br (a) ⊂ Ω , pois, se |f | tem um
1 π
Exercı́cios
5.1 Prove: Uma função analı́tica em C que satisfaz |f (z)| ≤ |z|n , para algum n ∈ N e
todo z ∈ C tal que |z| é suficientemente grande é polinomial.
1
5.2 Desenvolva
1+z 2
em série de potên
ias
entrada em
ada a∈R e determine o raio
de
onvergên
ia.
P
5.3 Prove: Se Pf (z) = ∞ k
k=0 ak z , em que a série tem raio de convergência R > 1 ,
n k
e Sn (z) = k=0 ak z , então o valor mı́nimo do desvio quadrático médio de um
R 2π P
1
polinómio de P de grau n ∈ N a f , 2π 0
|f (eiθ )−P (eiθ )|2 dθ , é ∞ 2
k=0 |an+k | e é
assumido se e só se P = Sn .
5.4 Determine todos os valores de C para os quais a série dada é
onvergente:
P∞ k P∞ zk
P∞ zk
P∞
−z k
P∞ z
k P∞ kz
a) k=0 z b) k=0 k
) k=0 k2 d) k=0 z−2 e) k=0 z+1 f) k=0 e .
f ) Obtenha os
oe
ientes das fórmulas de Taylor no ponto 0 para tan z e para a
z 93
extensão por
ontinuidade de a z = 0 em termos dos números de Bernoulli .
sin z (−1)n
1
5.7 Mostre que se f é analíti
a numa vizinhança de 0, existe n ∈ N tal que f n 6= .
n3
5.8 Prove: Se f, g são funções analı́ticas numa região de C onde f g = 0 , pelo menos
uma é 0 na região.
5.9 Prove: Se f, g, f g são funções analı́ticas numa região de C, f = 0 ou g é constante
na região.
5.10 Prove: Uma função analı́tica em C tal que as representações em série de potências
centradas em qualquer ponto de C têm pelo menos um coeficiente 0 é polinomial.
5.11 Prove: Se f, g são funções analı́ticas e sem zeros num cı́rculo aberto Br (a) contı́nuas
em Br (a) e |f | = |g| em ∂Br (a) , f = λg em Br (a) para algum λ ∈ C com |λ| = 1 .
′ ′ ′
5.12 Prove: Se f é analı́tica em Br (a) e |f (z)−f (a)| < |f (a)| para z ∈ Br (a)\{a}, f é
injectiva em Br (a) .
Q
y−a
y+a
f (x+ iy) = 4π
ln (x2 +(y−a)2 )(x2 +(y+a)2 +i2 arctan x
+arctan x
.
(Sugestão: Sobreposição da fonte dada
om uma fonte auxiliar que é a sua imagem si-
métri
a em relação ao eixo real. Este método é
onhe
ido por método das imagens).
Figura 5.3: Fonte ou sumidouro, fonte e sumidouro, dipolo (com sentido inverso)
e) Oval de Rankine. Considere um es
oamento sobreposição linear de uma fonte
e um sumidouro pontuais de magnitudes ±Q nos pontos ±a do eixo real, e um
es
oamento uniforme (velo
idade re
tilínea
onstante) de magnitude V∞ na paralelo
ao eixo real. Mostre que um poten
ial
omplexo é (Figura 5.4 ao
entro)
h i h i
Q (x+a)2 +y 2 Q 2ay
f (x+ iy) = V∞ x+ 4π ln (x−a) 2 +y 2 + i V∞ y− 2π arctan x2 +y 2 −a2 .
Mostre que uma das linhas de
orrente é oval. Observe que a
orrente exterior à
oval é a em torno de um obstá
ulo
ilíndri
o
om se
ção que é a oval se a velo
idade
no innito é
onstante na dire
ção e no sentido do eixo real positivo.
Unificação de holomorfia,
teorema de Cauchy e
analiticidade
6.1 Introdução
O
erne deste
apítulo é a uni
ação de holomora, validade do Teorema de
Cau
hy analiti
idade, que foram
onsideradas separadamente nos três
apí-
tulos pre
edentes
om base em, resp., derivada, integral e série de potên
ias.
É uma ilustração elegante e útil do
ará
ter espe
ial das funções
omplexas.
A possibilidade de representação de funções holomorfas em
ír
ulos por
séries de potên
ias foi
omuni
ada por A.-L.Cau
hy à A
ademia das Ciên
ias
de Turim em 1831. A.-L.Cau
hy não justi
ou a integração termo a termo de
uma série usada na prova, o que levou P.Chebyshev95 a assinalar em 1844 que
tal só é possível em
asos parti
ulares, di
uldade que foi ultrapassada
om
onvergên
ia uniforme,
omo referido na introdução do
apítulo pre
edente.
Em 1886 J. Morera96 provou um re
ípro
o do Teorema de Cau
hy, es-
tabele
endo que funções
omplexas
om integrais nulos sobre as fronteiras
dos triângulos fe
hados
ontidos no
onjunto de
ontinuidade da função in-
tegranda são holomorfas no interior do
onjunto.
Com a
ontribuição de E. Goursat em 1900 que permitiu provar o Teo-
rema de Cau
hy para funções holomorfas sem a hipótese de
ontinuidade das
derivadas foi possível estabele
er a equivalên
ia de holomora e analiti
idade,
e destas
om a existên
ia de primitivas lo
ais.
Neste
apítulo também se prova o Teorema Fundamental da Álgebra
(todo polinómio real ou
omplexo não
onstante tem pelo menos um zero
omplexo). Este teorema tem uma longa história. Foi previsto para polinó-
mios
om
oe
ientes reais por A.Girard em 1629 e foi formulado
laramente
em 1743 por L. Euler para utilização na resolução de equações diferen
iais
ordinárias lineares
om
oe
ientes
onstantes (no ano anterior tinha es
rito
95
Chebyshev, Pafnuty (1821-1894).
96
Morera, Jacinto (1856-1909).
90 Unificação de holomorfia, teorema de Cauchy e analiticidade
P∞ n
A unicidade dos coeficientes cn das séries de potências n=0 cn (z − a)
centradas num ponto a que representam uma mesma função, estabelecida
em (5.9), garante que se obtém a mesma série de potências centrada em
a para Rf (z) Indγ (z) qualquer que seja γ com as propriedades indicadas, e
f (w)
cn = i2π
1
γ (w−a)n+1 dw . Esta representação em série de potências centrada em
a é válida para z ∈ Br (a) ⊂ Ω\γ ∗ , pelo que f é analı́tica em Ω\γ ∗. Para pontos
de z ∈ γ ∗ aplica-se o que foi estabelecido com o caminho γ , substituindo-o
por um caminho γ e seccionalmente regular fechado em Ω\γ ∗.
A fórmula para as derivadas de f obtém-se directamente de (5.9). Q.E.D.
Deste resultado, o raio de convergência da série de Taylor centrada num
ponto a de uma função f ∈ H(Ω) é a distância de ∂Ω ao ponto a .
Portanto, a úni
a obstrução à
onvergên
ia da série de Taylor
entrada
num ponto a de uma função diferen
iável
omplexa para o
orrespondente
valor da função a partir de uma
erta distân
ia de a é a função não estar
denida ou não ser holomorfa num ponto a essa distân
ia de a . Isto
on-
trasta
om funções reais diferen
iáveis e permite expli
ar a limitação de raios
de
onvergên
ia destas séries pela o
orrên
ia de pontos no plano
omplexo
fora do eixo real em que as extensões
omplexas naturais das funções reais
onsideradas não são diferen
iáveis. Um exemplo simples é o da função real
1
2referida na introdução deste livro.
Com (6.1) também se obtém que as derivadas de qualquer ordem de
1+x
De (6.2), f′ é contı́nua em
′Ω , pelo que ′para qualquer ε > 0 existe δ > 0 tal
que z, w ∈ Bδ (a) implica f γw,z (t) −f (a) < ε , pois γw,z (t) ∈ Bδ (a) para
R1
t ∈ [0, 1] . Logo, |g(w, z)−g(a, a)| ≤ 0 ε = ε , e g é contı́nua em (a, a) .
Resta provar diferenciabilidade das funções de uma variável com a outra
fixa. Para cada w ∈ Ω , a função definida em Ω por z 7→ g(w, z) é diferenciável
em todos pontos z 6= w das regras de derivação das operações usuais de
funções. De (6.1), funções holomorfas são analı́ticas e, como a representação
de uma função analı́tica por série de potências centrada num ponto é a série
de Taylor da função nesse ponto, para cada w ∈ Ω ,
1 ′
lim 1 [g(w, w+h)−g(w, w)] = lim 1
2 [f (w)−f (w+h)]− h f (w)
h→0 h h→0 h
X
∞ ∞
X
f (n) (w) ′ h2 f (n+2) (w)
=lim h12 n!
n
h −f (w)−f (w)h = lim 2 (n+2)! hn = 21 f ′′ (w).
h→0 h→0 h
n=0 n=0
Dem. Prova-se 1o que se P não tivesse qualquer zero, seria constante. Nesse
caso, P1 seria holomorfa em C . Como lim |P (z)| = +∞ , para qualquer
|z|→+∞
ε > 0 existe R > 0 tal que 1 < ε se |z| > R . Do Teorema de Weierstrass
P
de extremos de funções contı́nuas100 , a função contı́nua |P1 | teria máximo no
conjunto compacto BR (0) . Logo, a função inteira P1 seria majorada e, do
Teorema de Liouville (5.17), seria constante.
Como por hipótese P não é constante, tem pelo menos um zero z1 em
C . De (5.13), é P (z) = (z −z1 )m1 P1 (z) , com P1 polinómio de grau n−m1 .
Se n−m1 > 0 , aplica-se a P1 o argumento anterior, e assim sucessivamente,
obtendo zeros zj de ordens mj até que P (z) = (z −z1 )m1 · · · (z −zk )mk Pk (z)
P
com Pk de grau n− kj=1 mk = 0 , logo uma constante, que é an . Q.E.D.
100
Ver apêndice 1.
6.4 Estrutura local de funções holomorfas 95
Dem. Com (u, v) = ϕ e (x, y) = z, (x, y) 7→ u(x, y), v(x, y) como função de
variáveis reais é C 1 e, das equações de Cauchy-Riemann, tem jacobiano
∂u 2
∂v 2
J(u, v) = ∂u ∂v ∂u ∂v
∂x ∂y − ∂y ∂x = ∂x + ∂x = |ϕ′ |2 ,
101
Em alternativa, pode-se substituir o Princı́pio de Módulo Máximo pela Propriedade de Va-
lor Médio. Agora não só temos uma prova do Teorema Fundamental da Álgebra com Análise
Complexa como três variantes baseadas em propriedades diferentes de funções analı́ticas comple-
xas. No final da secção seguinte dá-se uma 4a variante baseada na contagem de zeros de funções
holomorfas.
96 Unificação de holomorfia, teorema de Cauchy e analiticidade
resultado pre
edente, uma função f holomorfa e não
onstante numa re-
gião é, numa vizinhança V de
ada ponto z0 da região, uma função de m
para 1 em V \ {z0 } sobre Br (w0)\{w0 } , em que w0 , m, r são
omo no enun-
m
Dem. Os pontos em quef assume w0 são os zeros def−w0 . Como (f−w0 )′= f ′,
basta provar para w0 = 0 , o que corresponde a contar o no de zeros de f
em Br (a) . Como os zeros de uma função holomorfa não constante são
pontos isolados e Br (a) é compacto, o no de zeros de f em Br (a) é fi-
nito. Como, por hipótese, f não tem zeros em γ ∗ , os zeros em Br (a) e
em Br (a) são os mesmos. Portanto, pode-se designar os zeros de f em
Br (a) , sem repetições,
P por z1 , . . . , zk , e as resp. ordens por m1 , . . . , mk , e
Nw0 f ; Br (a) = kj=1 mj . As funções holomorfas são analı́ticas, pelo que
para cada zero z0 de f de ordem m0 , o desenvolvimento de f em série de
potências centrada em z0 dá f (z) = (z − z0 )m g0 (z) , em que g0 ∈ H(Ω) e
g0 (z0 ) 6= 0 . Aplicando sucessivamente esta ideia para todos os zeros de f
em Br (a) , obtém-se f (z) = (z −z1 )m1 · · · (z −zk )mk g(z) , em que g ∈ H(Ω) e
g(z) 6= 0 para todos z ∈ Br (a) . Portanto, verifica-se
f ′ (z) m1 mk g ′ (z)
f (z) = z−z1 + · · · + z−zk + g(z) , z ∈ Br (a) .
100 Unificação de holomorfia, teorema de Cauchy e analiticidade
Com γ : [0, 2π] → Ω tal que γ(θ) = a+reiθ , o Teorema de Cauchy em conjuntos
R ′ R ′ P
convexos (4.8) implica γ gg , e γ ff = (i2π) kj=1 mj Indγ (zj ) . Como Br (a)
é uma componente conexa de C\γ ∗ , de (4.9), Indγ é constante em Br (a) , e,
R ′ P
de (4.10), Indγ (a) = 1 . Logo, γff = i2π kj=1 mj = i2πN0 f ; Br (a) . Q.E.D.
Com este resultado dá-se uma prova do Teorema Fundamental da Ál-
gebra diferente
R (z) das três referidas em (6.6): se P é um polinómio R de grau
n , i2π γ PP (z) dz pode ser arbitrariamente aproximado por i2π γ nz dz = n ,
′
contı́nua |f | tem um mı́nimo m > 0 no conjunto compacto ∂Br (a) , pelo que
para n ∈ N suficientemente grande é
1 1 |fn −f | |fn −f |
|fn −f | > m |fn | > |f |− m m − =
2 , 2 ≥ 2 , fn f |fn ||f | < m2 /2 .
Como fn → f uniformemente em ∂Br (a) , tem-se f1n → f1 uniformemente em
′ ′
∂Br(a) . De
1 ′
(6.14), também (fn ) → f uniformemente
1 ′
R em ∂Br (a) R . Logo,
fn → f uniformemente em ∂B r (a) , e, de (5.1), f
∂Br (a) n → ∂Br (a) f .
De (6.13), como as funções Rfn não têm zeros em Br (a) , têm integrais em
∂Br (a) nulos, e, portanto, ∂Br (a) f = 0 . De (6.13), f não tem zeros em
Br (a) . Como a ∈ Ω é arbitrário, f não tem zeros em Ω . Q.E.D.
O resultado seguinte é
onsequên
ia imediata deste teorema.
(6.17) Teorema de Injecção de Hurwitz:
Se {fn } é uma sucessão de funções analı́ticas num conjunto aberto Ω ⊂ C
e fn → f uniformemente em subconjuntos compactos de Ω :
1. Se as funções fn são injectivas em Ω , f é injectiva em Ω .
2. Se fn (Ω) ⊂ S ⊂ Ω e f não é constante em Ω , então f (Ω) ⊂ S.
Exercı́cios
z
6.1 Determine o maior
ír
ulo em que o prolongamento por
ontinuidade de sin z tem
desenvolvimento em série de potên
ias
entrada na origem.
6.2 Determine o maior
ír
ulo
entrado na origem em que a função dada é inje
tiva:
2 z
a) z +z b) e .
1
Prove: A constante de Bloch B satisfaz 72
≤ B ≤ 1.
111
d) Chama-se constante de Landau a L = inf{λ(f ) : f ∈ F }, em que
λ(f ) = sup{r : f B1 (0)
ontém um
ír
ulo aberto de raio r }.
Prove: As constantes de Bloch e de Landau satisfazem B ≤ L ≤ 1 .
e) Prove: Se f ∈ F , f B1 (0) contém um cı́rculo aberto com raio L .
o
a diferença entre os n s de mudanças de sinal na m-pla ordenada P1 (x), . . . , Pm (x)
quando x → +∞ e quando x → −∞ .
114 P′
Prove : Se (P1 , . . . , Pm ) é uma cadeia de Sturm generalizada, I P
= ∆S(P ) .
d) Considere o polinómio
omplexo
om
oe
ientes reais
P (z) = an z n +bn−1 z n−1 +an−2 z n−2 +bn−3 z n−3 + ··· .
Chama-se tabela de Routh a
a0 a1 a2 · · · ··· a n
2
b0 b1 b2 ··· b
n− n
2
c0 c1 c2 ···
d0 d1 d2 ···
. . .
. . .
. . .
n n a
em que 2
é o menor inteiro ≥ 2 e os elementos de
ada linha a partir da 2 são
obtidos das duas linhas pre
edentes subtraindo aos elementos da penúltima linha
anterior os elementos
orrespondentes da última linha anterior multipli
ados pelo
o a
n tal que a diferença obtida na 1
oluna seja nula, omitindo depois esta diferença
nula
om o
orrespondente deslizamento de uma posição para a esquerda de todas
as outras diferenças
al
uladas.
115
Prove o critério de Routh : Todos zeros de um polinómio têm partes reais
negativas se e só se todos elementos na qa coluna da tabela de Routh correspondente
são 6= 0 e do mesmo sinal. (Sugestão: Considere um
aminho que per
orre o ar
o
da
ir
unferên
ia no semiplano
omplexo direito
om
entro na origem e raio R → +∞
e o
orrespondente diâmetro
ontido no eixo imaginário, mostre que o aumento de um
argumento
ontínuo de P (iω) quando iω per
orre o eixo imaginário de baixo para
ima é
πI(R) , em que I(R) é o índi
e de Cau
hy de
b0 ω n−1 −b1 ω n−3 +b2 ω n−5 −···
R(ω) = a0 ω n −a1 ω n−2 +a2 ω n−4 −···
,
e
al
ule I(R)
om base na alínea b)).
v̂0
Figura 6.5: Módulo e argumento de v̂i
para o circuito da Figura 6.4
b) Chama-se largura de banda de um ltro passa-baixo à frequên
ia FB = ω2πB
121
em que o sinal é atenuado a −3dB do seu valor em ω = 0 . Mostre que para o
2
ir
uito
onsiderado ωB é aproximadamente 3RC . Cal
ule o valor de RC de modo
ao ltro ter largura de banda de 100 Hz.
121
dB designa decibéis. É uma medida logarı́tmica de amplitude de sinais que foi introduzida
em acústica para quantificar a intensidade sonora: um sinal de amplitude A tem 20 log10 A dB.
Capı́tulo 7
7.1 Introdução
O Teorema de Cau
hy Global é des
rito neste
apítulo em termos de homo-
logia de
i
los, denida
om a noção de Índi
e de um
aminho fe
hado em
relação a um ponto, segundo uma ideia de E.Artin de 1951 que
orresponde
a estender o Teorema de Cau
hy a um sistema de
aminhos fe
hados (
i
los)
om soma zero de índi
es em relação a
ada ponto exterior a um
onjunto
onde a função é holomorfa (i.e. homólogo a zero). A prova aqui dada do
Teorema e Fórmula de Cau
hy globais deve-se a J.D. Dixon122 em 1971.
O
aso de
onjuntos simplesmente
onexos foi
onsiderado por A.-L.Cau-
hy em 1825 para funções
om derivada
ontínua e por E. Goursat em 1900
sem exigir
ontinuidade da derivada. O
aso de
onjuntos multiplamente
onexos é
onsiderado no nal do
apítulo
om a noção de
one
tividade de
onjuntos introduzida para superfí
ies por B. Riemann em 1857.
As noções de
adeia,
i
lo e homologia devem-se a H. Poin
aré em 1895-
1904, quando
ontribuiu de
isivamente para ini
iar a Topologia Algébri
a ao
estudar propriedades topológi
as de superfí
ies
om métodos algébri
os.
Na parte nal do
apítulo in
luem-se extensões do Prin
ípio de Módulo
Máximo para funções holomorfas em regiões ilimitadas, in
lusivamente
om
res
imento moderado no innito, obtidas
om o Prin
ípio de Phragmén-
Lindelöf estabele
ido por L. Phragmén e E. Lindelöf em 1908.
O
apítulo termina
om uma se
ção sobre ordem e tipo de funções in-
teiras. Além de propriedades gerais destes
on
eitos sobre
res
imento no
innito de funções inteiras in
lui-se uma prova da Conje
tura de Denjoy, de
A.Denjoy em 1907, armando que o no de valores assimptóti
os de uma fun-
122
Ver E. Artin, Collected Papers, Addison-Wesley Publishing Co., 1965. E. Artin resolveu em
1927 o 17o Problema de Hilbert, sobre funções reais polinomiais semidefinidas positivas em n
variáveis reais serem uma soma de quadrados de funções racionais; D. Hilbert tinha provado a
existência de tais funções polinomiais que não são a soma de quadrados de polinómios, mas o 1o
exemplo explı́cito só foi dado em 1967 por Theodore Motzkin (1908-1970): z 6+x4 y 2+x2 y 4−3x2 y 2 z 2 .
Dixon, John D. (1937-).
108 Teorema e fórmula de Cauchy globais
ção inteira sobre
urvas que tendem para ∞ é majorado pelo dobro da ordem
da função. Esta
onje
tura permane
eu em aberto 21 anos, resistindo às in-
ursões de vários matemáti
os experientes. O úni
o progresso notável nesse
período foi de T. Carleman em 1921 quando obteve o majorante π4 ≈ 2,5 2
Figura 7.2: Ilustração para prova de (7.1), Indγ (z) = Indγ (w)+1
Um ciclo homólogo a zero em Ω ⊂ C é um Γ tal que IndΓ = 0 em
C \ Ω (Figura 7.3 à esquerda). Diz-se que
i
los Γ e Σ em Ω são ciclos
homólogos em Ω se Γ−Σ é
i
lo homólogo a zero em Ω , i.e. se IndΓ = IndΣ
em C\Ω (Figura 7.3 à direita). A homologia é uma relação de equivalên
ia
no
onjunto dos
i
los em Ω ⊂ C ; às
lasses de equivalên
ia
hama-se classes
de homologia de Ω .
125
John D. Dixon, A brief proof of Cauchy’s integral theorem, Proc. Amer. Math. Society, 29
(1971), 625-626.
7.4 Invariância de integrais de funções holomorfas 113
e, portanto, tem todos
oe
ientes zero. Por isso, diz-se que os
i
los Γj ,
j = 1, . . . , n−1 , são uma base de homologia para a região Ω de
one
ti-
vidade n . Bases de homologia de uma região multiplamente
onexa Ω ⊂ C
não são úni
as, mas, tal
omo para bases de espaços lineares, todas bases de
homologia
R de Ω têm a mesma
ardinalidade. Do Teorema de Cau
hy Global
n−1 R
(7.3), Γ f (z) dz = PR j=1 cj Γ f (z) dz para f ∈ H(Ω) . Em
ertos
asos os va-
lores dos integrais Γ f (z) dz sobre os elementos de uma base de homologia
j
avaliar muitos integrais sem fazer integrações explí
itas, o que se explora no
apítulo seguinte
om o Teorema dos Resíduos.
7.6 Extensões do Princı́pio de Módulo Máximo
Se Ω = R+i[− π2 , π2 ] ,
om z = x+iy , x, y ∈ R , a função f (z) = ee satisfaz
z
π
f x± i π = eex e±i 2 = | e±iex | = 1 , x
lim ee = +∞ ,
2 x→+∞
pelo que |f | é ilimitada em Ω apesar de ser 1 em ∂Ω . Portanto, embora
do Prin
ípio de Módulo Máximo (5.19) se f é uma função analíti
a num
sub
onjunto limitado e fe
hado K de uma região Ω ⊂ C , o máximo de |f | em
K é assumido em ∂K , tal pode falhar se K é ilimitado. É possível estender
o resultado a regiões ilimitadas se na vizinhança de ∞ |f | é majorada pelo
máximo de |f | em ∂Ω . Prova-se um resultado um pou
o mais geral.
(7.9) Se f é uma função analı́tica numa região Ω ⊂ C e existe M > 0
tal que para cada b ∈ ∂Ω∪{∞} se Ω é ilimitada, existe uma vizinhança
Vb ∩ Ω de b em que |f | ≤ M , então |f | ≤ M em Ω .
Portanto,
Sfb−a (x) ≤ max{Sf (a), Sf (b)}b−x max{Sf (a), Sf (b)}x−a = max{Sf (a), Sf (b)} , x ∈ [a, b] ,
e |f | ≤ max{Sf (a), Sf (b)} em Ω .
Se Sf (a) = 0 , f = 0 em toda a recta vertical Re z = a , do Princı́pio de
Simetria (ver exercı́cio 6.10), f pode ser estendida a uma função holomorfa
na faixa vertical aberta limitada pelas rectas verticais Re z = a − (b − a) e
Re z = b que é 0 na recta Re z = a , é 0 em toda essa faixa vertical e, portanto,
em Ω , pelo que o resultado é trivialmente válido neste caso. Q.E.D.
Também é possível uma extensão a
onjuntos ilimitados sem exigir |f |
uniformemente limitada em vizinhanças de pontos em ∂Ω ∪ {∞} , mas res-
tringindo o
res
imento de |f (z)| quando z tende para esses pontos, analo-
gamente à extensão do Teorema de Liouville a funções ilimitadas sublineares
(5.18), por apli
ação do Prin
ípio de Phragmén-Lindelöf que, em geral,
on-
siste em multipli
ar uma função f holomorfa numa região ilimitada Ω por
uma função hǫ tal que ε→0
lim hε = 1 , de modo a limitar o produto |f hε | < M
na fronteira de uma região limitada Ωe ⊂ Ω e apli
ar o Prin
ípio de Módulo
Máximo para obter que f hε é limitada em Ωe , expandindo depois a região Ωe
para Ω e estabele
endo que f hε é limitada em Ω , e fazer ε → 0 para obter
f hε → f e
on
luir que f é limitada em Ω .
Dem. Seja K > 0 tal que |ϕ| ≤ K em Ω . Como εϕε−1 ∈ H(Ω) , de (7.7), tem
primitiva holomorfa em Ω , que é um ramo de ϕε . F = f ϕε K −ε é analı́tica
e |F | ≤ M max{1, K −ε } em Ω . De (7.11), |f | ≤ |ϕ|−εM max{1, K −ε } em Ω .
Como ε > 0 é arbitrário, |f | ≤ M em Ω . Q.E.D.
π
(7.13) Corolário: Se f é função analı́tica em Ω = {reiθ : r > 0, |θ| < 2a },
1
com a ≥ 2 , existe M > 0 tal que para cada b ∈ ∂Ω existe uma vizinhança
Vb de b tal que |f | ≤ M em Vb ∩ Ω e para cada ε > 0 existe C > 0 tal que
a
|f (z)| ≤ Ceε|z| para z ∈ Ω com |z| grande, é |f | ≤ M em Ω .
a
Dem. Sejam δ > ε > 0 arbitrários e g = f e−δz . Existe C > 0 tal que
a
para x > 0 é lim |g(x)| ≤ Ce(ε−δ)x = 0 . Logo, {|g(x)| : x > 0} é um
x→+∞
subconjunto majorado de R e, portanto, tem um supremo M1 . Designa-se
π
M2 = max{M1 , M } e Ω± = {reiθ : r > 0 , 0 < ±θ < 2a } . O corolário precedente
pode ser aplicado com g em vez de f , Ω± em vez de Ω e M2 em vez de M , pois
cada um dos conjuntos Ω± é, a menos de uma rotação em torno da origem,
um sector do tipo considerado nesse corolário, obtendo-se |g| ≤ M2 em cada
um dos sectores Ω± e, portanto, também no sector inicial Ω , pois Ω\(Ω−∪Ω+ )
é o semieixo real positivo e aı́ |g| ≤ M1 ≤ M2 . Se fosse M2 = M1 > M , |g|
assumiria o seu valor máximo M1 em algum ponto xmax > 0 e considerando
sectores limitados e fechados contidos em Ω ∩ {reiθ : 0 < r < R} ∪ {0} com
R > |xmax | , do Princı́pio de Módulo Máximo, g é constante nestes sectores,
logo, constante em Ω , e, portanto, |g| = M1 = M em Ω , em contradição com
a
M1 > M . Logo, M2 = M e |g| ≤ M em Ω , pelo que |f | ≤ M eδRe z para z ∈ Ω .
Como δ > ε > 0 são arbitrários, |f | ≤ M em Ω . Q.E.D.
A
ondição de limitação de
res
imento no innito |f (z)| ≤ Ceε|z| deste a
resultado
é óptima,
pois
om f (z) = ez , em pontos da fronteira de Ω é
a
funções inteiras não identi
amente nulas são isolados, fb não pode ser nula
em qualquer intervalo real, em parti
ular as funções de variável real f e fb
não podem ambas anular-se fora de intervalos limitados. A transformada de
Fourier deZ uma gaussiana f (t) = KeZ− ,
om K, σ > 0 , é
t2
2σ
σ2
ω2 − 1
(t+i √1 σω)2 √ σ2 2
fb(ω) = f (t) e−iωt dt = Ke− 2 e 2σ 2 2 dt = Kσ 2π e− 2 ω ,
R R
que é uma fun
ção gaussiana; portanto, fun
ções gaussianas estão igualmente
lo
alizadas no tempo e na frequên
ia. O Prin
ípio da In
erteza de Hardy
estabele
e que a máximalo
alização no tempo e na frequên
ia smulanea-
mente veri
a-se para funções gaussianas.
(7.15) Princı́pio de Incerteza de Hardy: Se fb é a transformada
2
de Fourier de f ∈ L1 (R) e existem C, a > 0 tais que |f (t)| ≤ Ce−at ,
1 2 2
|fb(ω)| ≤ Ce− a ω , t, ω ∈ R , então f (t) = Ke−at para algum K > 0 .
√
Dem. Com mudanças de variáveis t′ = at e ω ′ = √ωa e multiplicando f por
1
√
C π
pode-se supor, sem perda de generalidade, a = 1 e C = √1π . Devido ao
decaimento supraexponencial no infinito de f , fb pode ser estendida a C e
esta extensão é uma função inteira. Como para x, y ∈ R é
Z Z Z
b −i(x+iy)t 2
|f (x+iy)| = f (t) e dt ≤ |f (t)| e dt ≤ √1π e−t eyt dt
yt
RZ R Z
y
2 R
2 −yt) y 2 y 2
1 −(t 1 ( ) − t− 2 dt = e( 2 ) .
= √π e dt = √π e 2 e
R R
z 2
Logo, a função inteira F (z) = e( 2 ) fb(z) é tal que a restrição de |F | aos eixos
imaginário e real é majorada por 1 e
x+iy 2 y 2 x 2 y 2 xy y 2 x 2
|F (x+iy)| ≤ e( 2 ) e( 2 ) = e[( 2 ) −( 2 ) +i 2 ] e( 2 ) = e( 2 ) .
Do Princı́pio de Phragmén-Lindelöf (7.11) com Ω = C \ {x : x ≤ 0 }, M = 1 e
x 2
ϕ(x + iy) = e−( 2 ) , é |F | ≤ 1 em C . Logo, F é uma função inteira limi-
tada, pelo que, do Teorema de Liouville, é constante, e existe k ∈ R tal que
z 2
fb(z) = ke−( 2 ) para z ∈ C , que é uma função gaussiana. Do que se viu antes
1 2
do enunciado deste resultado, f (t) = K ′ e− 2 t para algum K ′ ∈ R . Invertendo
2
as mudanças de variáveis, f (t) = Ke−at para algum K > 0 . Q.E.D.
Z Z Z Z Z Z
2 2 2 2
∂2 u ∂2 u
ϕ′′
j (x) = 2 ∂u
∂x
dy+2 u ∂x2
dy = 2 ∂u
∂x
dy−2 u ∂y 2
dy = 2 ∂u
∂x
dy+2 ∂u
∂y
dy ,
Sj,x Sj,x Sj,x Sj,x Sj,x Sj,x
2a 3a
em que a igualdade é porque u é harmónica e a resulta de integração
R por
partes. A Desigualdade de Cauchy-Schwarz Inequality para hf, gi = Sj,xf g
aplicada à fórmula para ϕ′j dá
Z ′ 2
2
∂u 1 [ϕj (x)]
2 ∂x dy ≥ 2 ϕ′ (x) .
j
Sj,x
122 Teorema e fórmula de Cauchy globais
R 2
Para minorar o termo 2 Sj,x ∂u ∂y
dy na fórmula para ϕ′′j (x) observa-se que
se V ∈ C 1 ]− π2 , π2 [ , R é limitada,
Z π h i Z π
2
V (θ) ′ 2 2
0≤ sin θ
2
sin θ dθ = 1
sin2 θ
[V ′ (θ) sin θ−V (θ) cos θ ]2 dθ
− π2 − π2
Z π Z π
2 ′ 2 2
= (V ) −V 2 + V 2 (θ)(cot2 θ+1)−2V (θ)V ′ (θ) cot θ ] dθ
− π2 − π2
Z π Z π Z π
2 ′ 2 2
′
2
= 2 2
(V ) −V − [V (θ) cot θ ] dθ = (V ′ )2 −V 2 .
− π2 − π2 − π2
Para U ∈ C 1 ]a, b[ , R limitada e V (t) = U b−a t+ a+b , é V ′ (t) = U ′ b−a
π t+
a+b b−a b−a
π 2
a+b
2 π e com a mudança de variáveis s = π t+ 2 ,
Z b Z π Z π Z
′ 2 π
2
′ 2 π
2
2 π 2
b 2
(U ) (s) ds = b−a (V ) (t) dt ≥ b−a V (t) dt = b−a (U ) (s) ds ;
a − π2 − π2 a
π
Rb 2 R b
i.e. para U ∈ C 1 ]a, b[ , R limitada, é a (U ′ )2 ≥ b−a 2
a U , o que é uma
das versões das desigualdades de Wirtinger128 , obtidas em 1904 by W.
Wirtinger. Com esta desigualdade,
Z 2Z 2
2
∂u π 2 π
∂y dy ≥ ℓj (x) u (x, y) dy = ℓj (x) ϕj (x) .
Sj,x Sj,x
128
Wirtinger, Wilhelm (1865-1945).
Exercises of chapter 7 123
De (7.16.1), para todo ε > 0 existe b > 0 tal que ϕj (x) ≤ bx2(ρ(f )+ε) e,
portanto, ψj (x) ≤ 2(ρ(f ) + ε)x+O(1) quando x → +∞ . Logo,
Z x Xn
1 2
2π (x−s) ℓj (s) ds ≤ n2(ρ(f ) + ε)x + O(x) , x → +∞ .
x0 j=1
Da Desigualdade
Pn 1de Cauchy-Schwarz
P para
Pn o produto interno canónico em
n 2 n
R , n ≤ j=1 ℓj j=1 ℓj , e como j=1 ℓj ≤ 2π , da desigualdade as-
simptótica precedente, n x ≤ n2(ρ(f ) + ε)x2 + O(x) quando x → +∞ , e,
2 2
Exercises
7.1 Prove: Se Ω ⊂ C é aberto e compacto e f ∈ H(Ω) , existe um ciclo Γ em Ω\K tal
1
R f (w)
que se verifica a Fórmula de Cauchy f (z) = i2π Γ w−z
dw, para z ∈ K.
(Sugestão: Construa um
i
lo Γ em Ω\K e aplique o Teorema de Cau
hy Global).
7.2 Mostre que em qualquer região simplesmente
onexa que não
ontém a origem
podem ser denidas funções holomorfas que são ramos de:
a z
a) ln z b) z
) z
7.3 Mostre que em toda a região Ω⊂C tal que os pontos ±1 perten
em a uma mesma
omponente
onexa de C \ Ω pode ser denida uma função holomorfa que é um
2 1/2
R 1
ramo de (1−z ) . Quais são os valores possíveis de dz , em que γ é
γ (1−z 2 )1/2
um
aminho fe
hado se
ionalmente regular em Ω ?
P 2n
7.4 Mostre que f (z) = n=0 z é analíti
a em B1 (0) , mas não tem prolongamento
analíti
o a uma região que
ontenha propriamente este
ír
ulo.
7.5 Prove: Toda função f ∈ H Br (a) tem um prolongamento analı́tico a um cı́rculo
aberto BR (a) ⊃ Br (a) .
′
7.6 Prove: Se f ∈ H Br (a) , f (a) = b, f (a) 6= 0 e |f − b| ≤ M ∈ R em Br (a), então
f Br (a) ⊃ BR (b) com R = 6M r |f (a)|2 .
1 2 ′
7.10 Prove: Se f, fb∈ L1 (R) e fb tem suporte num intervalo compacto [−τ, τ ] (i.e. fb tem
valor 0 em R \ [−τ, τ ] ), em que fb designa a transformada de Fourier de f (ver
exercı́cio 6.22), a extensão complexa da fórmula de inversão da transformada de
R
Fourier, g(t) = 2π1
R
fb(ω) eiωt dω (g = f q.t.p. em R) é uma função inteira de ordem
ρ ≤ 1 e, quando ρ ≤ 1 , é de tipo σ ≤ τ (
ompare
om exer
í
io 6.22).
(Sugestão: Aplique o Teorema de Morera e majore o integral).
7.11 Prove o teorema dos três cı́rculos de Hadamard: Se f é holomorfa na coroa circular
aberta Cr1 ,r2 limitada pelas circunferências com centro na origem e raios r2 > r1 > 0 ,
S(r) = maxθ∈[0,2π] |f (r iθ )| e r1 < a < r < b < r2 ,
log S(b/r) log S(r/a)
log S(r) ≤ log b/a
log S(a) + log b/a
log S(b) .
.
Exercı́cios com aplicações a análise e controlo de sistemas lineares
7.12 Considere o problema de valor ini
ial para uma equação diferen
ial ordinária linear
es
alar de ordem n∈N
om
oe
ientes
omplexos
onstantes, termo independente
que é
ombinação linear do valor e das derivadas de uma função r e
ondições
ini
iais nulas
y (n) +an−1 y (n−1) + · · · + a1 y ′ +a0 y = bn−1 r (n−1) (t)+ · · · +b1 r ′ (t)+b0 r(t) ,
y (n−1) (0) = · · · = y ′ (0) = y(0) = 0 .
Mostre que,
om Y = L [y], R = L [r] e T (s) = YR(s)
(s)
se obtém
bn−1 s(n−1) + ··· +b1 s+b0
T (s) = sn +an−1 s(n−1) + ··· +a1 s+a0
.
A função T sistema linear denido pela equação diferen
ial e é
ara
teriza o
onhe
ida por função de transferência do sistema. É usual
onsiderar r(t)
omo
sinal de entrada e y(t)
omo sinal de saı́da ou resposta do sistema, e representar
o sistema por um diagrama de blo
os
omo na Figura 7.9.
Figura 7.9: Diagrama de blocos para sistema linear com função de transferência T
a) Mostre que,
om
ondições ini
iais diferentes de zero, a resposta do sistema a
uma entrada é a soma da resposta
om
ondições ini
iais nulas à entrada
onside-
rada adi
ionada à resposta
om as
ondições ini
iais
onsideradas e entrada nula.
Chama-se a estas
omponentes aditivas da resposta, resp., resposta forçada e
resposta natural ou resposta livre do sistema.
1
Figura 7.11: Diagrama de Bode para função de transferência T (s) = s2 +2s+2
) Analogamente à representação grá
a de transformadas de Fourier em análise
e pro
essamento de sinais (ver exer
í
io 6.23), representa-se gra
amente a função
de transferên
ia T ω por grá
os
de um sistema linear em função da frequên
ia
do módulo e de um argumento de T (iω) em função de ω (ou, na linguagem de
análise de sistemas, amplitude (ou ganho) e fase da função de transferên
ia).
133
A este tipo de representação grá
a
hama-se diagrama de Bode do sistema;
tal
omo para sinais (exer
í
io 6.23), é usual adoptar es
alas logarítmi
as para a
amplitude e para a frequên
ia angular em de
ibéis (dB) e uma es
ala linear para
a fase. Mostre que o diagrama de Bode do sistema linear das duas últimas alíneas
do exer
í
io pre
edente é o indi
ado na Figura 7.11.
R(s) Y(s)
T1 (s) T2 (s)
KG
sistemas lineares (ver os dois últimos exer
í
ios anteriores) eK > 0 , é T = 1+KHG .
K1
) Considere o sistema linear
om função de transferên
ia G(s) = 10s+1 e o sistema
linear
om retroa
ção da Figura 7.14. Determine a resposta ao escalão unitário
(u(t) = 0 para t < 0 , u(t) = 1 para t ≥ 0 ) do sistema em malha aberta
om função
135
de transferên
ia G e do sistema
om retroa
ção
onsiderado, para K1 = Kt = 1 e
Ka = 100 (Figura 7.15).
135
Esta função de transferência pode ser de um motor de corrente contı́nua em que a saı́da y(t) é
a velocidade. O sistema com retroacção indicado corresponde a realimentar a velocidade observada
por um tacómetro com ganho Ksubtraindo-a à entrada r(t) , que é a velocidade pretendida.
136
Em inglês diz-se steady state error.
Capı́tulo 8
Singularidades,
funções meromorfas e
teorema dos resı́duos
8.1 Introdução
Nos
apítulos anteriores en
ontraram-se diversas manifestações de proprie-
dades bastante restritivas de funções holomorfas, entre outras as equações
de Cau
hy-Riemann, o Teorema de Liouville, o Teorema de Uni
idade, a
Propriedade de Valor Médio, o Prin
ípio de Módulo Máximo e o Teorema
de Cau
hy. Uma outra manifestação deste tipo é que uma função holomorfa
num
onjunto aberto limitado
om fronteira su
ientemente regular é
om-
pletamente determinada pelos valores na fronteira (o que
a mais
laro no
apítulo seguinte). Neste
ontexto assumem parti
ular interesse os pontos
isolados da fronteira do
onjunto em que a função é holomorfa nos quais a
função tem singularidades. Há três tipos de singularidades isoladas: removí-
veis (a função é prolongável ao ponto de modo a também ser aí holomorfa),
pólos (a função tende para innito
omo potên
ias inteiras negativas das di-
ferenças ao ponto de singularidade) e essen
iais (os valores da função numa
vizinhança da singularidade são densos em C ). Em 1868, independente-
mente, Y. Sohotsky (na tese de doutoramento) e F. Casorati, estabele
eram
que estas eram as úni
as possibilidades de singularidades isoladas e oito anos
depois K. Weierstrass deu outra prova deste resultado. Como o trabalho de
Y. Sohotsky demorou algum tempo a ser
onhe
ido na Europa o
idental, o
resultado
ou
om o nome de Teorema de Casorati-Weierstrass. O nome
pólo foi introduzidoem 1857 por C. Briot e J. Bouquet137 .
Se a singularidade isolada é essen
ial ou um pólo, a função não é extensí-
vel na vizinhança da singularidade a uma função holomorfa, e não tem aí uma
representação em série de potên
ias
entrada na singularidade
om expoen-
tes não negativos. Contudo, a função pode ser representada na vizinhança
destas singularidades por uma série de potên
ias
entrada na singularidade
137
Sohotsky, Yulian (1842-1927). Casorati, Felice (1835-1890).
130 Singularidades, funções meromorfas e teorema dos resı́duos
Dem. Se não se verifica 3, existem r, δ > 0 e w ∈ C tais que |f (z)− w| > δ
para z ∈ Br (a)\{a}. g(z) = f (z)1− w satisfaz g ∈ H Br (a)\{a} e |g| < 1δ em
Br (a)\{a}, pelo que, do resultado precedente, g é extensı́vel a uma função
holomorfa em Br (a) , que se continua a designar por g .
Se g(a) 6= 0 , f = w + 1g define uma extensão de f em Bρ (a) para algum
ρ > 0 Logo, f tem uma singularidade removı́vel em a e verifica-se 1.
Se g(a) = 0 e m ∈ N é a ordem deste m
zero de g , é g(z) = (z1 − a) g1 (z)
para z ∈ Br (a) , em que g1 ∈ H Br (a) e g1 (a) 6= 0 . Com h = g em Br (a)
1
e ρ > 0Ptal que g1 não se anula em Bρ (a) , é h ∈ H Bρ (a) e, portanto,
h(z) = ∞ n
n=0 bn (z −a) , para z ∈ Bρ (a) , com b0 6= 0 pois h não tem zeros, e,
para z ∈ Br (a)\{a} , é ∞ m ∞
X X X
1
f (z) = w + g(z) =w+ bn (z−a)n−m = c−k (z−a)−k + cj (z−a)j ,
n=0 k=1 j=0
em que c−k = bm−k , c0 = w+bm , cj = bm+j , pelo que se verifica 2. Q.E.D.
132 Singularidades, funções meromorfas e teorema dos resı́duos
(8.5) Se f ∈ H BR2 (a) \ BR1 (a) , com a ∈ C e R2 > R1 ≥ 0 , para
z ∈ BR2 (a)\BR1 (a) f tem desenvolvimento em série de Laurent único
+∞
X Z
n 1 f (w)
f (z) = cn (z−a) , com cn = i2π (w−a) n+1 dw , n∈Z ,
n=−∞ γ
1
(8.6) Exemplo: f (z) = (z−1)(z−2) é holomorfa em cada uma das coroas
circulares B1 (0)\{0}, B2 (0)\B1 (0), C\B2 (0) . Para obter séries de Laurent
1 1
de f nestas coroas circulares, observa-se que f (z) = z−2 − z−1 e
∞
X
1
z n
z−r = − 1r 1−z/r
1
= − 1r r , z ∈ Br (0) ,
n=0
∞
X ∞
X
1 1 1 1
r n
z −n
z−r = z 1−r/z = z z = 1r r , z ∈ C\Br (0) ,
n=0 n=1
Logo, obtêm-se as séries de Laurent
∞
X ∞ ∞
1
X
z n n
X
1
n
f (z) = − 2 2 + z = 1− 2n+1 z , z ∈ B1 (0) ,
n=0 n=0 n=0
X∞ X∞
z n
f (z) = − 12 2 − z −n , z ∈ B2 (0)\B1 (0) ,
n=0 n=1
X∞ X∞ ∞
X
z −n
−n
f (z) = 1
2 2 − z −n = 1
1− 2−n+1 z , z ∈ C\B2 (0) ,
n=1 n=1 n=1
Portanto, f não tem parte singular em B1 (0)\{0} (i.e. é holomorfa em B1 (0))
e não tem parte regular em C\B2 (0) , enquanto em B2 (0)\B1 (0) tem tanto
parte singular como parte regular diferentes de zero.
As séries de Fourier de funções periódi
as holomorfas numa faixa do
plano
omplexo entre re
tas paralelas na dire
ção do período obtêm-se di-
re
tamente das séries de Laurent por uma simples mudança de variáveis,
mostrando que séries de Fourier de funções periódi
as são apenas uma visão
alternativa das suas séries de Laurent, e revelando no quadro
omplexo uma
ligação dire
ta entre séries de Fourier e séries de potên
ias inatingível no
quadro real.
(8.7) Série de Fourier: Se τ ∈ C \ {0}, a < b ≤ +∞ , Sa,b é a faixa
entre rectas paralelas (ou o semiplano) Sa,b = {z ∈ C : a < 2π Im τz < b} e
F ∈ H(Sa,b ) é periódica com perı́odo τ , para z ∈ Sa,b é
+∞
X Z
F (z) = cn ei2πz/τ
, com cn = τ F (z) e−i2πz/τ dz , n ∈ Z ,
1
n=−∞ γz0 ,τ
em que γz0 ,τ : [0, 2π] → C é qualquer caminho seccionalmente regular em
Sa,b de um ponto z0 ao ponto z0 +τ . Rτ
Em particular, se adicionalmente τ ∈ R , cn = τ1 0 F (t) e−i2πt/τ dt.
(m−1)
1
(8.11) Res(f ; a) = (m−1)! lim ddzm−1 (z −a)m f (z) , se o pólo em a é de ordem m.
z→a
Esta fórmula é um
aso parti
ular do Teorema dos Resíduos que se se-
gue. Este teorema foi estabele
ido no
aso de funções C 1 por A.-L. Cau
hy
num trabalho publi
ado em 1826, seguido de vários artigos
om apli
ações.
Permite
al
ular integrais de funções meromorfas em
aminhos fe
hados por
somas nitas de quantidades lo
ais dadas pelos resíduos da função num no
nito de pólos e tem amplas apli
ações.
1
R
Figura 8.2: Pólos ak e resı́duos Res(f ; ak ) = i2π γkf (z) dz de f ∈ M (Ω)
(8.14) Exemplos:
1
1. Para calcular o integral de f (z) = (z−1)(z−2) , considerada no Exem-
plo (8.6), em caminhos γa,r : [0, 2π] → C tais que γa,r (θ) = a + r eiθ , com
a ∈ C\{1, 2}, r ∈ R+{|a−1|, |a−2|}, nota-se que, de (8.10), Res(f ; 1) = −1 e
Res(f ; 2) = 1 , pelo que o Teorema dos Resı́duos dá (Figura 8.3)
0 , se 0 < r < min{|a−1|, |a−2|}
Z
Res(f ; 1) = −1 , se |a−1| < r < |a−2|
f (z) dz =
γa,r
Res(f ; 2) = 1 , se |a−2| < r < |a−1|
Res(f ; 1)+Res(f ; 2) = 0 , se r > max{|a−1|, |a−2|} .
8.3 Funções meromorfas e teorema dos resı́duos 137
π
O integral de f no caminho λ : [0, 2π] → C com λ(ϕ) = 23 +3 cos(ϕ) e−i 4 sin ϕ é
Z
f (z) dz = Res(f ; 1) − Res(f ; 2) = −1 − 1 = −2 .
λ
1
Figura 8.3: Valores I dos integrais de f (z) = (z−1)(z−2) em
circunferências em C\{1, 2} no caminho λ indicado
R 2π
2. Integrais de funções racionais de senos e cosenos 0 R(cos θ, sin θ) dθ,
em que R é uma função racional de duas variáveis, podem ser facilmente
calculados com o Teorema dos Resı́duos. Também podem ser calculados por
iθ −iθ
primitivação, mas, em geral, com muito mais trabalho. Como cos θ = e +e2
iθ −iθ
e sin θ = e −e2i
, com γ : [0, 2π] → C tal que γ(θ) = eiθ , a substituição z = eiθ ,
e o Teorema dos Resı́duos, permitem escrever o integral na forma
Z 2π Z X
1
R(cos θ, sin θ) dθ = 1i R 21 z+ z1 , 2i z− z1 z1 dz = 2π Res(f ; a) ,
0 γ a∈A
1 11
em que f (z) = R 2 z + , 2i z z − z1 1z e A é o conjunto de pólos de f no
cı́rculo com raio 1 e centro na origem B1 (0) . Rπ 1
Como exemplo concreto calcula-se o integral 0 a+cos θ dθ , para a > 1 .
Como cos(2π−θ) = cos θ ,
Z π Z 2π Z Z
1 1 1 1 1 z dz = i 2 1
1 1
a+cos θ dθ = 2 a+cos θ dθ = i2 1 1
dz .
z +2az+1
0 0 γ a+ 2i z+ z γ
O denominador na função integranda no último termo desta√equação pode
ser factorizado na forma (z −z+ )(z −z− ) , em que z± = −a± a2 −1 . Como
1
z− < −1 < z+ < 0 , é A = {z+ } e, com f (z) = (z−z+ )(z−z −)
,
1 1 √1
Res(f ; z+ ) = lim [ (z−z+ ) f (z) ] = lim z−z −
= z+ −z− = 2 a2 −1
.
z→z+ z→z+
Rπ 1
Portanto, 0 a + cos θ dθ = √aπ2 −1 .
138 Singularidades, funções meromorfas e teorema dos resı́duos
f (z) = (1+z1 8 )2 tem uma singularidade removı́vel no infinito, pois g(z) = f 1z
é extensı́vel a uma função holomorfa numa vizinhança da origem com o
valor 0 na origem, e este zero Rtem ordem 16, pelo que, com h(z) = f 1z z12 ,
é Res(f ; ∞) = Res(h; 0) = 0 , e γ (1+z1 8 )2 dz = 0 .
1
Figura 8.4: Pólos de (1+z 8 )2
itz
e
Figura 8.5: Pólos de ft (z) = 1+z 2 , para t ∈ R , e caminhos de
(8.22) Exemplos:
1. O método do exemplo (8.19) com o Lema de Jordan permite calcular
R +∞
os integrais −∞ R(x) eix dx , em que R é uma função racional com o grau
do denominador
R +∞ pelo menos duploP do numerador e sem pólos no eixo real,
obtendo-se −∞ R(x) eix dx = i2π a∈A Res(f ; a) , com f (z) = R(z) eiz e A o
conjunto dos pólos de f no semiplano complexo superior.
141
Apareceu pela 1a vez em 1894 no Cours d’Analyse da École Polytechnique de C. Jordan.
8.3 Funções meromorfas e teorema dos resı́duos 141
R +∞
3. Para calcular 0 sinx x dx procede-se como no exemplo (8.20). A ex-
tensão natural da função integranda ao plano complexo é a função complexa
eiz −e−iz eiz −iz
f (z) = sinz
z = 2iz . As funções 2iz e e2iz têm uma única singularidade,
situada na origem. Portanto, é natural evitar a origem considerando a in-
tegração num caminho seccionalmente regular simples que percorre sucessi-
vamente a semi-circunferência com raio r > 0 e centro na origem contida no
semiplano superior de C , o segmento de recta no eixo real que liga os pontos
r e R > 0 , a semi-circunferência com raio R e centro na origem contida no
semiplano superior de C e o segmento de recta no eixo real que liga os pontos
−R e −r (Figura 8.8). Obtém-se
Z R Z R ix Z R Z R ix Z −r
sinx 1 e e−ix 1 e eix
x dx = i2 x dx − x dx = i2 x dx + x dx ,
r r r r −R
e designando γr , γR as partes do caminho que percorrem as semi-circunferências
de raio, resp., r e R , do Teorema de Cauchy,
Z R Z Z −r Z
eix eiz eix eiz
x dx + z dz + x dx + z dz = 0 .
r γR −R γr
∗ é 1 ≤ 1 , o Lema de Jordan implica que o limite do
Como, para z ∈ γR z R
2o integral na fórmula tende para zero quando R → +∞ . Logo, das duas
últimas fórmulas,
Z +∞ Z R Z Z Z
sin x sinx 1 eiz eiz 1 eiz
x dx = lim x dx = − i2 lim z dz + lim z dz = − i2 lim z dz.
0 R→+∞ r R→+∞ γR r→0 γr r→0 γ
r
r→0
iz
g(z) = e z−1 tem uma singularidade removı́vel na origem. Do Teorema de
Weierstrass de extremos de funções contı́nuas, |g| é majorado no cı́rculo
R iz
B1 (0) por algum K > 0 . Logo, γr e z−1 dz ≤ πrK, que tendem para 0
quando r → 0 . Portanto,
Z +∞ Z Z π Z π
sin x 1 1 1 − sin θ+i cos θ 1
x dx = − i2 lim z dz = 2 lim i(cos θ+i sin θ) dθ = 2 lim 1 dθ = π2 .
0 r→0 γr r→0 0 r→0 0
eiz
Figura 8.8: Pólo de z e caminho de integração do exemplo (8.22.3)
N p (f ; Ω) ,
ontando multipli
idades de a
ordo
om as ordens dos zeros e
pólos da função f . O resultado seguinte dá a diferença dos nos de zeros
e polos de funções meromorfas numa região por apli
ação do Teorema dos
Resíduos, estendendo o resultado (6.13) de
ontagem de zeros de funções
holomorfas.
O Teorema de Rou
hé pode ser apli
ado para obter uma
urta prova do
Teorema Fundamental da Álgebra (a 5a variante de prova neste livro). Se P
é um polinómio
omplexo de grau n ∈ N e
oe
iente
P (z) de maior grau cn 6= 0 ,
lim cP (z)
z = 1
n . Logo, para R > 0 grande, é
c z −1 < 1 para |z| < R ; em
n
parti
ular, p não tem zeros fora de BR (0) . O Teorema de Rou
hé pode ser
n n
|z|→+∞
em que log |f (reiθ )| − log r e arg f (reiθ ) − nθ são funções analı́ticas reais
definidas em [0, 2π] , cada uma com valores iguais nos extremos deste in-
tervalo, resp., log |f (r)| − log r e 0 , e pode-se definir log f (z) − log z n de
modo
R a ser uma função holomorfa em C(r1 , r2 ) . Do Teorema de Cauchy,
1 n 1
i2π γr [ log f (z) − log z ] z dz é independente de r ∈ ]r1 , r2 [ . Logo,
Z Z 2π
1 n 1 1 n
Re i2π [ log f (z)−log z ] z dz = Re 2π [ log f (z)−log z ] dθ
γr 0
Z 2π
1 n
= 2π | log f (z)|−| log z | dθ = Af (r)−Apn (r) ,
0
também independente de r ∈ ]r1 , r2 [ , em que pn (z) = z n e na 1a igualdade se
usou γr′ (θ) = ireiθ = iγr (θ) . Como Apn (r) = n log r, a função log r 7→ Af (r) é
afim com declive n para r ∈ ]r1 , r2 [ .
Af (r) está definida e é contı́nua em ]0, 1[ mesmo em valores de r que
sejam raios de circunferências com centro em 0 onde f tem zeros de qualquer
ordem n , pois, como (x log |x|−x)′ = log |x| para x 6= 0 , é
Z b Z b
log xn dx = n log x dx = nlim (b log b−b−ε log ε−ε) = nb log b−nb , b > 0 ,
0 0 ε→0
obtém-se facilmente a continuidade de r 7→ Af (r) . Q.E.D.
Exercises
8.1 Determine e
lassique todas as singularidades da função dada e indique o raio de
onvergên
ia da resp. série de Taylor no ponto a .
2
(z−1)(z+1)
a)
1
1+z 3
, a=1 b) 2
z
z −z−2
, a=0
1
) z−2 e , a=1 z
d) z−1 e−z , a=0
8.2 Classique a singularidade na origem da função dada. Se for removível, dena a
função na origem de modo a ser holomorfa numa vizinhança da origem. Se for um
pólo, determine a parte prin
ipal da função na origem Se for essen
ial,
al
ule a
imagem de
ír
ulos de raios su
ientemente pequenos
entrados na origem.
sin z cos z−1 1 ln(1+z) 1 1 n 1
a) b)
) e z d) e) z cos z f ) 1−ez g) z +sin z , N∪{0}
z z z2
1
8.3 Determine os desenvolvimentos de z(z−1)(z−2) em série de Laurent nos
onjuntos:
(Sugestão: Mostre que F −Γ pode ser estendida a uma função meromorfa em C
om singu-
laridades removíveis, note que Γ é limitada na faixa
onsiderada, obtenha que F −Γ pode
ser estendida a uma função inteira limitada e aplique o Teorema de Liouville).
Q P∞
b) Se 1 + un 6= 0 para todo n ∈ N , ∞n=1 (1 + un ) converge ⇐⇒ n=1 log(1 + un ) ,
considerando o ramo principal do logaritmo.
Q∞ P∞
)
Q∞ convergente ⇐⇒ n=1 un é absolutamente con-
n=1 (1+un ) é absolutamente
dada uma su
essão arbitrária de números
omplexos
om módulos que tendem para
innito existe uma função inteira
ujos zeros são os termos da su
essão (também
analogamente ao que é garantido pelo Teorema Fundamental da Álgebra para fun-
ções polinomiais). Para produtos innitos
onvergirem é ne
essário que os termos
onvirjam para 1, pelo que os fa
tores elementares a
onsiderar para
ada n∈N
devem ser funções
om exa
tamente um zero num ponto pres
rito zn e
om valo-
res noutros pontos
ada vez mais próximos de 1 à medida que n
res
e. Para tal
onvém
onsiderar uma su
essão de funções {En }
om esta propriedade e zero em
z
1, pois En z terá a propriedade desejada
om zero em zn 6= 0 . Observando que
P
n
zk
ln(1−z) = − ∞ k=1 k , para |z| < 1 , pode-se denir os factores elementares
151
Pn z k
por E0 = (1−z) , En (z) = (1−z) exp k=1 k , para n ∈ N . Prove:
n+1
a) |1−En (z)| ≤ |z | , para n ∈ N , e z ∈ C tal que |z| ≤ 1 .
b) Se {zn } ⊂ C\{0} é tal que |zn | → +∞ quando n → +∞ e {mn } ⊂ N é tal que
P∞ mn +1 Q
1
n=1 1+mn |zn |
r
converge qualquer que seja r > 0 , P (z) = ∞n=1 Emn zn
z
é
uma função inteira cujos zeros são os termos de {zn }, em que um zero tem multi-
plicidade m se e só se ocorre m vezes nos termos de {zn }.
152
) Teorema de Factorização de Weierstrass : Se f é uma função inteira e
z1 , z2 , . . . são os zeros de f fora da origem, repetidos de acordo com as resp. mul-
tiplicidades, existe Q inteira g e uma sucessão {mn } ⊂ N ∪ {0} tais que
uma função
f (z) = z p eg(z) n∈N Emn zzn , em que p é a ordem do zero de f na origem, caso
exista, ou é p = 0 caso contrário, QN e N ézN ou um conjunto finito de 1 s números
o
p
naturais.. A
ada função z n=1 Emn zn
hama-se produto de Weierstrass.
8.27 Prove
152 : Toda função meromorfa em C é um quociente de funções inteiras.
151
Estes factores elementares foram descobertos em 1851 por James Joseph Sylvester (1814-1897)
e redescobertos por K. Weierstrass em 1868.
152
Foi publicado por K. Weierstrass em 1876.
153
Na literatura em inglês diz-se genus.
154
Este resultado generaliza o Teorema de Factorização de Weierstrass (ver exercı́cio 8.26.c) para
funções holomorfas em subconjuntos abertos de C , estabelecida em 1884 por Mittag-Leffler.
152 Singularities, meromorphic functions and residue theorem
2n
i) ζ(2n) = (−1)n−1 (2π)
2(2n)!
B2n para n∈N , em que B2n
são os números de Bernoulli
B
(ver exer
í
io 5.6). Verique que estes números alternam de sinal, | 2(n+1)
B2n
| → +∞ e
o raio de
onvergên
ia da série de Taylor na origem para a extensão por
ontinuidade
z
de z a z = 0 é 2π . (Sugestão: Compare os
oe
ientes da série de Laurent para z cot z
e −1
em 0
om os da série do exer
í
io 5.6.e).
Grigoriy Perelman (1966-) em 2002-03. G. Pereleman foi um dos 4 laureados com a Medalha Fields
em 2006, por contribuições para a geometria e ideias revolucionárias sobre a estrutura analı́tica e
geométrica do fluxo de Ricci. Ricci-Curbastro, Gregorio (1853-1925).
Exercises of chapter 8 155
(Sugestão: Mostre que existem δ, ρ > 0 tal que para todo z ∈ R
om |z| < ρ é Bδ|z| (z) ⊂ S e
aplique uma estimativa de Cau
hy de |f ′ (z)| para todo z que satisfaz as
ondições a
ima.)
S P∞ n R P∞
b) Se R e S são como em a), f ∈ H(S) e f (z) ∼ n=0 cn z , é f ′ (z) ∼ n=0 ncn z n−1.
(Sugestão: Aplique a).)
S P∞ n (n)
) Se R e S são como em a), f ∈ H(S) e f (z) ∼ n=0 cn z , é lim f|R (z) = ncn
z→0
para n ∈ N . (Sugestão: Aplique b) n vezes.)
8.37 Prove o Teorema de Ritt166 : Se S ⊂ C é um subconjunto aberto de um sector
circular aberto com vértice em 0 e abertura angular < 2π, para qualquer série de po-
P S P
tências n=0 cn z n (convergente ou não) existe f ∈ H(S) tal que f (z) ∼ n=0 cn z n.
(Sugestão: Considere 1o que S é todo o se
tor
ir
ular. Construa uma su
essão de funções
P
hn tais que f (z) = ∞ n=0 cn hn (z)z
om a série uniformemente
onvergente em sub
on-
n
juntos
ompa
tos de S , para o que deve hn (z) → 0 su
ientemente rapidamente quando
n → +∞ , e a série seja uma expansão assimptóti
a de f no ponto 0 , para o que deve
hn (z) → 1 su
ientemente rapidamente quando z → 0 . Sem perda de generalidade pode-se
supor que S é um se
tor angular simétri
o em relação √ ao eixo real e que não in
lui o semi-
√
eixo real negativo. Podem ser usadas hn (z) = 1−e−an / z ,
onsiderando o ramo de z
om
argumento prin
ipal, e an = n!|c 1
n|
se cn 6= 0 e an = 0 se cn = 0 . Mostre que |hn (z)| ≤ |√
an
z|
para z ∈ S e lim z1k [1 − hn (z)] = 0 para todo m ∈ N, domine a série
onsiderada
om as
z→0
desigualdades obtidas e aplique o Teorema de Weierstrass de séries (6.15).
8.38 Prove a existên
ia de funções C ∞ de R em R
om valor e derivadas num ponto
167
arbitrariamente espe
i
adas e analíti
as no
omplementar desse ponto : Para
∞
qualquer sucessão {cn } ⊂ R existem funções C f : R → R analı́tica
P em R\{0} com
f (n) (0) = cn para n ∈ N∪{0}. Um exemplo concreto√ é f (x) = ∞ 1
n=0 n! cn hn (x)√xn se
x 6= 0 e f (0) = a0 , em que hn (x) = 1−e−an / x se x > 0 e hn (x) = 1−cos an / −x
se x < 0 e an = n!|c1 n | se cn 6= 0 e an = 0 se cn = 0 .
(Sugestão: Considere um se
tor S
om vérti
e em 0 e abertura angular < 2π que
ontenha
o eixo real e aplique o Teorema de Ritt do exer
í
io pre
edente para obter f ∈ H(S)
om
P∞ 1
expansão assimptóti
a em 0 n=0 n! cn z . Mostre que a restrição de f a R \ {0} tem
n
8.39 Seja S⊂C um se
tor
ir
ular aberto
om vérti
e em 0 e abertura angular <π
simétri
o em relação ao eixo real e
ontendo o semieixo real positivo. Prove:
168
R +∞ z −t S P∞ n n+1
a) f (z) = 0 1+zt e dt ∼ n=0 (−1) n! z .
169
R z −t 2 S P ∞
b) f (z) = √π 0 e dt ∼ √π n=0 (−1) (2n+1)n! z 2n+1 .
2 2 n 1
165
Para estes sectores circulares a propriedade geométrica na condição suficiente do exercı́cio
8.35.e) é sempre satisfeita pelo que uma condição suficiente para existência de expansão assimp-
tótica em 0 é simplesmente a existência dos limites lim f (n) (z) , n ∈ N∪{0} .
z→a
166
Foi provado em 1916 por Joseph Ritt (1893-1951). É notável que mesmo que a uma série
de potências centrada num ponto seja fortemente divergente é expansão assimptótica de alguma
função holomorfa em qualquer sector circular com vértice no ponto e abertura angular < 2π.
167
No essencial foi obtido por E. Borel em 1893, na tese de doutoramento. É mais um exemplo
de um resultado difı́cil no quadro real que pode ser obtido com relativa facilidade passando a
funções complexas. O resultado só interessa se as derivadas especificadas no ponto dão uma série
de Taylor nesse ponto que não é convergente em R , pois caso contrário esta série define a função.
168
Foi a 1a expansão assimptótica por série de potências divergente, obtida em 1754 por L. Euler.
R 2 R 1 2
169
A restrição de f ao semieixo real positivo f (x) = √2π 0x e−t dt = √1π 0x e− 2 t dt é a função
156 Singularities, meromorphic functions and residue theorem
de erro que dá a probabilidade de uma variável aleatória com distribuição normal de média 0 e
variância 12 pertencer a [−x, x] .
170
A ideia deste método, que se deve a P.-S. Laplace em 1820, é que se uma função g : [a, b] → R
assume um máximo absoluto estrito num ponto, o máximo de eg(t)/z é mais acentuado para
valores de z com partes reais cada vez mais pequenas, pelo que as contribuições principais para o
integral são de uma vizinhança do ponto de máximo.
171
Descoberta para factorial de naturais por A. De Moivre em 1773. Stirling, James (1692-1770).
172
Foi provado em 1918 por George Watson (1886-1965).
Exercises of chapter 8 157
e t 7→ eβt|tα ψ(t)| é limitada em [δ, b[ para alguma constante β > 0 e f : S → C tal que
Z b
t
f (z) = tα ψ(t) e− z dt ,
então ∞
0
S
X Γ(α+n+1)
f (z) ∼ n!
ψ (n) (0) z α+n+1 .
n=0
(Sugestão: Para a parte do integral em [0, δ] use a fórmula de Taylor de ϕ em 0
om resto de
δ R t
Lagrange a a Função Gama. Prove que, para β > −1 , z 7→ eRe( z ) 0δ tβ e− z dt−Γ(β+1) z β+1
é limitada em S e use esta propriedade).
k) Prove o Método de ponto de sela para expansões assimptóticas173 :
Se a abertura angular de S é < π2 , Ω ⊂ C é uma região, g, ϕ ∈ H(Ω) e G(s) = Re g(s)
z
tem um único ponto de sela em Ω , no ponto s0 ∈ Ω , G′′ (s0 ) 6= 0 , e f : S → C com
Z
g(s)
f (z) = ϕ(s) e z ds ,
γ
em que γ é um caminho seccionalmente regular simples em S tal que nas extremi-
dades de γ G é < G(s0 ) , então ∞
g(s0 ) X 1
S
f (z) ∼ e z Γ n+ 12 c2n z n+ 2 ,
n=0
em que c2n = e−i(n+1/2)Arg z a2k e a2k são os coeficientes de ordem par da série de
Taylor
q em 0 para a função (ϕ◦h) h′ , com h a inversa da restrição da função real
t 7→ e−iArg z [ g(s0 )−g γ(t+t0 ) ] , em que s0 = γ(t0 ) , a uma vizinhança de 0 ; em
g(s0 ) q
particular, o 1o termo da expansão assimptótica no ponto 0 é ϕ(s0 ) e z 2πz
− ′′
g (s )
.
0
Nota: Pode ser adaptado para pontos de sela de ordem maior, ou mais de um
ponto de sela em que G assume o máximo em pontos de sela (somando as resp.
ontribuições), ou é assumido em extremidades de γ (
omo em d), e), f )).
(Sugestão: Do Teorema de Cau
hy, o integral é invariante em
aminhos homotópi
os em Ω ,
pelo que se pode es
olher em Ω um
aminho de integração
om os mesmos pontos ini
ial
g(s) g(s)
e nal em que seja mais fá
il obter a expansão assimptóti
a. Como e z = eRe z ,
para obter um ponto em torno do qual as
ontribuições para o integral são tanto mais
dominantes quanto menor for o valor de |z|
onvém um
aminho γ em que G assume um
máximo mais a
entuado nesse ponto s0 . Tem de ser g ′ (s0 ) = 0 , (x0 , y0 ) = s0 ponto de
sela de G(x, y) e γ tangente à
urva de nível de Im g(s)
z
em s0 (se ϕ tem valores
om
argumento
onstante, γ ∗ é esta
urva de nível numa vizinhança de s0 ,
ujos pontos têm
argumento
onstante, e também se diz que é o método de fase estacionária. Aplique
o método de Lapla
e de d)).
174
l) Mostre que para a função de Bessel de ordem n
Z
1 z(s− 1 ) −(n+1)
1
Jn (z) = i2π e 2 s s ds ,
γ
173
Também é conhecido por método de descida por declive máximo (em inglês, steepest
descent). Foi publicado pela 1a vez em 1909 por P.Debeye, para aproximações de funções de Bessel,
que indicou que tinha aparecido numa nota de B. Riemann de 1863 sobre funções hipergeométricas
que não foi publicada. O método foi encontrado em 1932 por C.L. Siegel em notas anteriores de
B. Riemann, da década com inı́cio em 1950 e também não publicadas, para obter uma fórmula
assimptótica para o erro da equação funcional aproximada para a Função Zeta de Riemann, agora
chamada fórmula de Riemann-Siegel. Debeye, Peter (1884-1966) foi laureado com o Prémio
Nobel da Quı́mica em 1936 pelo trabalho em estrutura molecular sobre momentos de um dipolo
e difracção de raios-X e electrões em gases.
174
As funções de Bessel foram introduzidas por Daniel Bernoulli (1700-1782) e estendidas por
F. Bessel. No plano, dão soluções da equação de Laplace e da equação de Helmoltz lap u+k 2 u = 0
com simetria circular, em que k > 0 é chamado número de onda. Esta equação surge na
resolução da equação de onda por separação das variáveis de tempo e espaço e corresponde à
componente independente do tempo de soluções da equação de onda. Por isso, as funções de
Bessel têm ampla aplicação tanto para soluções de equilı́brio como de propagação de ondas, em
mecânica dos meios contı́nuos, como difusão de calor, electromagnetismo, gravidade, fluı́dos ideais
incompressı́veis,elasticidade linear de membranas. Helmholtz, Hermann Ludwig von (1821-1894).
158 Singularities, meromorphic functions and residue theorem
182
Em inglês diz-se root locus. Foi introduzido na análise e projecto de sistemas de controlo em
1948 por Walter Evans (1920-1999) quando trabalhava na North American Aviation.
183
PID abrevia “Proporcional-Integral-Derivada”. Estes controladores são amplamente aplicados
em controlo de processos industriais. Foram introduzidos em 1922 por Elmer Sperry (1860-1930)
e Nicholas Minorsky (1885-1970) em sistemas de manutenção de rumo de navios, por inspiração
na observação de como os “homens de leme” mantinham o rumo de navios combinando acções
proporcionais, correctoras de desvios médios, e preditivas de tendências.
184
Um sistema deste tipo pode ser um sistema de controlo de um veı́culo autónomo.
185
Em inglês diz-se overshoot.
186
Em inglês diz-se settling time.
162 Singularities, meromorphic functions and residue theorem
Figura 8.19: Traço das raı́zes do sistema com controlador PID da Figura 8.18
8.46 Dado um sistema linear de
ontrolo
om equação
ara
terísti
a ∆(s) = 1+L(s) = 0
(ver exer
í
ios 8.43 e 8.44), contorno de Nyquist é o
aminho ΓL = L◦γ , em que
γ é um
aminho de Jordan se
ionalmente regular que per
orre no sentido negativo
a semi
ir
unferên
ia
om
entro na origem
ontida no semiplano
omplexo direito
om raio R ≈ +∞ e diâmetro no eixo imaginário, ex
epto na vizinhança de pólos
no eixo imaginário, que
ontorna sobre semi
ir
unferên
ias
entradas nesses pólos
ontidas no semiplano
omplexo esquerdo
om raios r ≈ 0 .
187
a) Mostre que o
ontorno de Nyquist do sistema linear de
ontrolo na Figura
8.20 são
omo na Figura 8.21. Mostre que os
orrespondentes diagramas de Bode
do sistema
om função de transferên
ia L = 1 −∆ , em que ∆(s) = 0 é a equação
ara
terísti
a do sistema linear de
ontrolo
onsiderado, são
omo na Figura 8.22.
8.47 Considere o sistema linear
om retroa
ção e o sistema a que se adi
ionou um com-
pensador
om função de transferên
ia190 Gc (s) da Figura 8.24.
Figura 8.24: Sistema linear de controlo com retroacção, sem e com compensador
a) Mostre que o traço das raízes do sistema
om um
ompensador de ganho simples
om função de transferên
ia Gc (s) = K > 0 é o indi
ado na Figura 8.25 (o sistema
sem
ompensador
orresponde a K = 1 ) e
al
ule o ganho K de modo ao sistema
ter pólos dominantes (i.e. os pólos
om maior parte real ex
luindo o pólo no zero)
o o
nas bisse
trizes dos 2 e 3 quadrantes do plano
omplexo.
/4
0
/6
-5
/12
-10
Figura 8.27: Traço das raı́zes do sistema linear de controlo da Figura 8.24
com compensador de avanço de fase Gc (s) = K(s−z)
s−p
Figura 8.28: Traço das raı́zes do sistema linear de controlo da Figura 8.24
com compensador PD Gc (s) = K +Kds
d) Considere um
ompensador
om função de transferên
ia Gc (s) = K+Kd s, a que
se
hama compensador PD191 . Mostre que a in
lusão deste
ompensadora
res-
enta 1 zero ao sistema. Considere o zero em z = −10 de modo a
an
elar o pólo
dominante de G(s) e
al
ule os ganhos K, Kd de modo ao sistema ter pólos domi-
nantes que satisfaçam o obje
tivo de lo
alização de a) ). Mostre que o
an
elamento
do pólo dominante de G(s) transforma o traço das raízes no da Figura 8.28.
e) Mostre que as respostas ao es
alão unitário dos sistemas sem e
om
ompensa-
dores de ganho simples, de avanço de fase e PD, em, resp., a),
), d), são
omo na
Figura 8.29. É possível melhorar o desempenho
om zeros e pólos adi
ionais.
191
PD abrevia “Proporcional-Derivada” (comparar com o controlador PID do exercı́cio 8.45).
166 Singularities, meromorphic functions and residue theorem
Figura 8.29: Respostas ao escalão unitário dos sistemas (1) sem compensador,
(2) com compensador de ganho simples, (3) com compensador de avanço de fase
e (4) com compensador PD, considerados, resp., nas alı́neas a), c), d)
Capı́tulo 9
Funções harmónicas
9.1 Introdução
As funções harmóni
as num sub
onjunto aberto de C são as que
satisfazem nesse
onjunto a equação de Lapla
e ∆f (x, y) = 0 , em que
f . Como as funções holomorfas são indenidamente diferen-
∂ 2 ∂ 2
∆f = ∂x f+ ∂y
2 2
iáveis, as derivadas de 2a ordem em relação às duas variáveis são iguais nas
duas ordens possíveis, o que
onjugado
om as equações de Cau
hy-Riemann
dá que funções holomorfas são harmóni
as. É
laro que uma função
om-
plexa é harmóni
a se e só se as partes real e imaginária são harmóni
as;
assim, o o que se segue nesta introdução é para funções harmóni
as
om
valores reais. Para funções
om valores reais denidas em sub
onjuntos de
R2 a noção de função harmóni
a é a que, no quadro
omplexo,
orresponde
naturalmente à noção de função holomorfa; assim, funções harmóni
as reais
e funções holomorfas têm várias propriedades semelhantes.
As funções harmóni
as são importantes para apli
ações em físi
a, quí-
mi
a, biologia, engenharia porque
orrespondem a poten
iais de
ampos
ve
toriais
onservativos192
om divergên
ia nula193 . Por isso, a teoria das
funções harmóni
as também é
onhe
ida por Teoria de Poten
ial. Em apli-
ações em meios
ontínuos nas áreas me
ionadas, funções que
orrespondem
a equilíbrio são muitas vezes harmóni
as, e.g. para
ampo gravita
ional num
onjunto sem massas,
ampo elé
tri
o num
onjunto sem
argas elé
tri
as,
ampo de velo
idades de um uido in
ompressível esta
ionário e irrota
ional,
densidade em pro
essos de difusão (em físi
a, quími
a, biologia). Portanto,
as funções harmóni
as têm um amplo âmbito de apli
ação.
A equação de Lapla
e apare
eu em 1752 numa publi
ação de L. Euler
sobre hidrodinâmi
a, e depois em Mécanique Céleste de P.-S.Lapla
e, publi-
192
Campos vectoriais conservativos são os cujo trabalho (i.e. os seus integrais de linha) em
caminhos seccionalmente regulares com o mesmo par ordenado de pontos inicial e final; do Teorema
Fundamental do Cálculo, os campos vectoriais conservativos são os gradiente de funções C 1 . Para
campos de forças contı́nuos newtonianos (i.e. iguais a massa vezes aceleração em movimentos de
massa) a energia cinética menos um potencial do campo (a energia total: cinética mais potencial)
é conservada.
193
Um campo vectorial tem divergência nula num conjunto se o fluxo para dentro e para fora de
domı́nios regulares contidos no conjunto através da fronteira se cancelam, dando fluxo total zero.
168 Funções harmónicas
ado em vários volumes entre 1799 e 1825. S.D. Poisson
ontribuiu de
isiva-
mente para o estudo das funções harmóni
as em 1811-12 e em 1820 obteve
a Fórmula de Poisson que dá os valores de uma função
ontínua harmóni
a
no interior de um
ír
ulo fe
hado em função de valores dados na fronteira
por uma função
ontínua. Inspirado nos trabalhos de P.-S. Lapla
e em me-
âni
a
eleste, G. Green, nas suas próprias palavras
onsiderando quanto
desejável era que um poder de a
ção universal,
omo a ele
tri
idade, fosse,
tanto quanto possível, submetido à possibilidade de ser
al
ulado, ini
iou
em 1828 uma teoria matemáti
a do ele
tromagnetismo
om o trabalho Es-
say on the Application of Mathematical Analysis to Theories of Electricity
and Magnetism, em que
ontribuiu para o estudo das funções harmóni
as
e estabele
eu as bases para o
aminho que levou à uni
ação dos
ampos
elétri
o e magnéti
o por J.C. Maxwell meio sé
ulo depois.
Em 1839 e 1840 C.F.Gauss ini
iou a Teoria de Poten
ial
om uma publi-
ação sobre forças
entrais inversamente propor
ionais ao quadrado da dis-
tân
ia (
omo o
ampo gravita
ional e o
ampo elé
tri
o). Nesta altura C.F.
Gauss des
onhe
ia o trabalho de G.Green já referido que só
ou
onhe
ido
após W.Thomson194 promover uma reimpressão em 1846. Há sobreposições
nos trabalhos de C.F. Gauss e G. Green, ao ponto de ambos
hamarem po-
ten
ial à função harmóni
a
om gradiente que é o
ampo de forças. Uma
importante
ontribuição de C.F. Gauss neste âmbito foi a Propriedade de
Valor Médio de uma função harmóni
a numa região dando em
ada ponto
valor igual à média da função em
ada
ir
unferên
ia da região
entrada no
ponto. Assim, uma função harmóni
a
orresponde a uma situação natural
de equilíbrio expressa pelo valor em
ada ponto ser a média em
onjuntos de
pontos equidistantes desse ponto.
O problema da determinar uma função harmóni
a num dado
onjunto
om valores na fronteira dados por uma função
ontínua foi
onsiderado desde
edo, pois
orresponde ao problema práti
o importante de obter os valores
de soluções de equilíbrio em apli
ações
om as men
ionadas a
ima a partir
dos valores osbervados na fronteira. Foi
hamado por B. Riemann em 1851
Problema de Diri
hlet pela razão que se refere mais abaixo. As pessoas que
trabalhavam na área a
reditavam que o problema tinha solução úni
a, visto
orresponder a situações que poderiam ser realizadas si
amente xando os
valores na fronteira de um
onjunto limitado e, portanto, uma deveria existir
uma solução. Contudo, a existên
ia de solução do Problema de Diri
hlet foi
provada para regiões
ir
ulares só em 1872, apesar da Fórmula de Poisson
que dá uma função harmóni
a pela sua média na
ir
unferên
ia fronteira do
ír
ulo estar disponível desde 1820. A di
uldade era provar que a função
denida pela Fórmula de Poisson no interior do
ír
ulo é
ontínua na fronteira
se a função que dá os valores na fronteira é
ontínua, e só foi ultrapassada em
1872 por H.A.Shwarz. Também é ne
essário provar que não há mais soluções,
194
Thomson, William, Lord Kelvin (1824-1907).
9.1 Introdução 169
só foi estabele
ida rigorosamente por volta de 1910, por vários matemáti
os,
em que se desta
aram D.Hilbert, H.Weyl e R.Courant196 ,
om metodologias
que exigiram novas importantes
ontribuições de Análise Fun
ional para ul-
trapassar di
uldades no problema de minimização. Este resultado é a base
dos
hamados Métodos Varia
ionais em Equações Diferen
iais.
pelo que as funções holomorfas são harmóni
as. Além disso, se u é uma
função real harmóni
a e C 2 em Ω , f = ∂u
∂x −i ∂y satisfaz
∂u
(9.1) Para S ⊂ C :
1. Uma função com valores complexos é harmónica em S se e só se
as suas partes real e imaginária são harmónicas em S.
2. As funções holomorfas em S são harmónicas em S.
3. Se u é uma função com valores reais harmónica e C 2 em S,
a função com valores complexos f = ∂u ∂u
∂x −i ∂y é holomorfa em S.
ou, o que é equivalente,
om γZ: [0, 2π] → C tal que γ(θ) = eiθ ,
1 P (z,w)
(9.15) F (z) = i2π w f (w) dw , z ∈ B1 .
O Integral de Poisson de f existe sempre que a função θ 7→ f (eiθ ) é absolu-
γ
blema de Diri
hlet em
ír
ulos. Foi provado em 1872 por H.A. S
hwarz.
(9.16) Propriedades básicas do Integral de Poisson:
def
Se f : S 1 = ∂B1 → K (K = C, resp., R) e θ 7→ f (eiθ ) é absolutamente
integrável em [0, 2π] , o integral de Poisson P [f ] de f é uma função
harmónica em B1 e lim P [f ](z) = f (w) para w ∈ S 1 em que f é contı́nua.
z→w
P é uma transformação linear do espaço linear complexo (resp., real)
das funções f : S 1 → K tais que θ 7→ f (eiθ ) é absolutamente integrável em
[0, 2π] no espaço linear complexo (resp., real) das funções harmónicas
com valores complexos (resp., reais).
*
e 2
*
e 1
e 1
e 2
∗ iθ −iθ∗ iθ∗
dθ e (e −z) e −z 1−|z|2
dθ = −iθ∗ (eiθ −z) = eiθ−z = |eiθ −z|2
.
e
Logo,
Z 2π Z 2π ∗ Z 2π
1−|z|2 ∗
P [f ](z) = 1
2π |eiθ −z|2
f (eiθ ) dθ = 1
2π f (eiθ ) dθ
dθ dθ =
1
2π f (eiθ ) dθ .
0 0 0
Dem. De (9.3) e como funções harmónicas com valores reais são localmente
a parte real de funções holomorfas, logo indefinidamente diferenciáveis, as
funções harmónicas em Ω têm a Propriedade de Valor Médio em Ω . Como
combinações lineares de funções harmónicas são harmónicas, basta provar
a recı́proca para funções com valores reais. Se B é um cı́rculo aberto com
B ⊂ Ω e f é contı́nua em B e satisfaz a Propriedade de Valor Médio em B,
de (9.22), é harmónica em B e, como B é um cı́rculo aberto arbitrário com
fecho contido em Ω , obtém-se que f é harmónica em Ω . Q.E.D.
Dem. Como as partes real e imaginária de uma função harmónica são har-
mónicas, a validade para funções com valores complexos resulta da validade
para funções com valores reais, pelo que se supõe ser este o caso. Se g é
harmónica em Ω e g = f em ∂Ω , h = g−f é harmónica em Ω e nula em ∂Ω .
Do Princı́pio de Máximo para funções harmónicas com valores reais (9.24),
o máximo e o mı́nimo de h são em ∂Ω , pelo que h = 0 em Ω . Q.E.D.
Portanto, se for possível obter, de qualquer modo mesmo que por adivi-
nhação, uma função que satisfaz as
ondições, sabe-se que é a úni
a solução.
A garantia de existên
ia de solução exige a espe
i
ação de
ondições na
fronteira do
onjunto. Na se
ção seguinte apresenta-se o Método de Perron,
simultaneamente simples e muito geral, que permite obter existên
ia e uni
i-
dade de solução do Problema de Diri
hlet em qualquer
onjunto aberto
om
omplementar sem
omponentes
onexas
om apenas um ponto.
Há
lasses mais vastas de
onjuntos em que Problemas de Diri
hlet po-
dem ser resolvidos
om base em soluções em
ír
ulos, pois sempre que se
resolva o Problema de Diri
hlet num
onjunto,
a-se a saber resolvê-lo em
todas as suas imagens por transformações
onformes. Para já pode-se resol-
ver o Problema de Diri
hlet nos
onjuntos imagem de B1 por transformações
onformes. O
apítulo seguinte destina-se a es
lare
er o âmbito de apli
ação
desta ideia. Ver-se-á
om o Teorema do Mapeamento de Riemann que toda
região simplesmente
onexa propriamente
ontida em C é imagem de B1 por
uma transformação
onforme, pelo que
a garantida a existên
ia e uni
i-
dade de solução do Problema de Diri
hlet em qualquer região simplesmente
onexa
om fronteira a que seja possível prolongar por
ontinuidade a trans-
formação
onforme. Este método permite determinar soluções do Problema
de Diri
hlet em situações diversas, mas requer o
onhe
imento
on
reto de
uma transformação
onforme apropriada, o que nem sempre é fá
il.
9.8 Existência de solução do Problema de Dirichlet
Limites de su
essões de funções holomorfas num
onjunto aberto Ω ⊂ C
uniformemente
onvergentes em sub
onjuntos
ompa
tos de Ω são funções
holomorfas em Ω . Veri
a-se o análogo para su
essões de funções harmóni-
as (
om valores reais ou
omplexos) e
om valores reais é possível assegurar
onvergên
ia uniforme em
onjuntos
ompa
tos de su
essões
res
entes
on-
vergentes. O resultado seguinte foi obtido por A. Harna
k em 1887.
(9.26) Teorema de Harnack: Seja {un } uma sucessão de funções
(com valores reais ou complexos) harmónicas em Ω ⊂ C aberto. Então:
1. Se un → u uniformemente em subconjuntos compactos de Ω , u é
harmónica em Ω .
2. Se Ω é uma região, as funções un têm valores reais e para z ∈ Ω
{un (z)} é crescente, {un } converge uniformemente em subconjun-
tos compactos de Ω para uma função harmónica ou para +∞ .
182 Funções harmónicas
pelo que 0
Z 2π Z 2π
R−r 1 iθ iψ R+r 1 iθ
R+r 2π v(a+re ) dθ ≤ v(a+re ) ≤ R−r 2π v(a+re ) dθ .
0 0
Da Propriedade de Valor Médio de funções harmónicas (9.23), a média de v
em ∂BR (a) é v(a) , e obtém-se a Desigualdade de Harnack198
R−r R+r
(9.27) R+r v(a) ≤ v(z) ≤ R−r v(a) , z ∈ BR (a) , |z| = r .
Aplicando esta desigualdade com v = un e calculando supremos,
R−r R+r
R+r u(a) ≤ u(z) ≤ R−r u(a) , z ∈ BR (a) , |z| = r ,
em que pode haver termos +∞ . Portanto, u(z0 ) ∈ R para algum z0 ∈ BR (a)
se e só se u(z) ∈ R para todo z ∈ BR (a) . Logo, tanto A como C são conjuntos
abertos com união Ω , que é conexo, pelo que é um desses conjuntos. Se
Ω = C , un (z) → +∞ para z ∈ Ω ; se Ω = A , un (z) → u(z) ∈ R para z ∈ Ω .
Para obter uniformidade da convergência, aplica-se a Desigualdade de
R+r
Harnack com v = un − um e n ≥ m . A função r 7→ R−r é crescente em
R
[0, R[ e tem o valor 3R em r = 2 . Logo, un (z)−um (z) < 3R[un (a)−um (a)]
para z ∈ B R (a) . Portanto, em B R (a) a sucessão {un } tende uniformemente
2 2
para +∞ se C = Ω , e para u se A = Ω . A convergência uniforme em
conjuntos compactos K ⊂ Ω obtém-se nos dois casos com o argumento usual
de compacidade, considerando uma cobertura aberta por cı́rculos centrados
em cada ponto de K em que a convergência é uniforme e uma subcobertura
finita de K. Se Ω = A , como a convergência é uniforme em conjuntos
compactos, un = P [un ] → u = P [u] em cada cı́rculo fechado BR (a) ⊂ Ω . De
(9.17), u é harmónica em Ω . Q.E.D.
198
Esta desigualdade dá limitações para os valores de uma função arbitrária harmónica num
cı́rculo que são assumidos sobre qualquer circunferência contida no cı́rculo, em termos dos valores
da função no centro do cı́rculo e dos raios do cı́rculo e da circunferência, pelo que é útil noutras
circunstâncias. Foi obtida por A. Harnack em 1887.
9.8 Existência de solução do Problema de Dirichlet 183
Dem. Supõe-se que para todas funções com valores reais h harmónicas numa
e u−h satisfaz o Princı́pio de Máximo em Ω
região qualquer Ω, e . Considera-se
um cı́rculo aberto arbitrário B com B ⊂ Ω e uma função v com valores reais
harmónica em B e contı́nua em B tal que u ≤ v em ∂B. Se u > v em algum
a ∈ B, é u−v ≤ 0 < u(a)−v(a) em ∂B, e, como u−v é contı́nua no conjunto
compacto B , do Teorema de Weierstrass de extremos de funções contı́nuas,
assume um máximo em B num ponto de B. Como u−v satisfaz o Princı́pio
de Máximo em B, é constante em B, pelo que, da continuidade de u−v em
∂B, teria de ser u(a)−v(a) ≤ 0 , o que contradiz u > v em a . Logo, u ≤ v em
B. Portanto, u é subharmónica em Ω .
9.8 Existência de solução do Problema de Dirichlet 185
a) Prove: f = ∂u
∂x
−i ∂u
∂y
é holomorfa em Ω e f dz = ∂u ∂x
dx+ ∂u
∂y
dy +i − ∂u
∂y
dx+ ∂u
∂x
dy .
b) Diz-se que uma função
om valores reais v é uma função harmónica conju-
gada de u se a função
om valores
omplexos (u, v) é holomorfa em Ω .
Mostre que u pode não ter uma função harmóni
a
onjugada. Mostre que se v é
uma função harmóni
a
onjugada de u , f dz = du+idv .
⋆ ∂u ∂u
) Chama-se diferencial harmónico conjugado de du a du =− ∂y dx+ ∂x dy , de
⋆ ⋆ 199
modo a ser sempre f dz = du+i du . A du 7→ du
hama-se operador de Hodge .
R⋆
Prove: Para todo ciclo Γ homólogo a zero em Ω é du = 0 .
Γ
R ∂uSe γ é um caminho
Rd)⋆ Prove: ⋆
seccionalmente regular simples em Ω , então
∂u
γ
du = γ ∂n
ds, em que du é o diferencial harmónico conjugado de du e ∂n é
1 ′ ′
a derivada direccional de u na direcção normal a γ, n = kγ ′ k −γ2 , γ1 e o último
integral é em relação ao comprimento de arco.
e) Prove: Se u1 , u2 são funções de valores reais harmónicas numa região Ω ⊂ C ,
R
então Γ u1 ⋆du2−u2 ⋆du1 , para todo ciclo Γ homólogo a zero em Ω . Em notação clás-
R
sica, a última igualdade escreve-se γ u1 ∂u ∂n
2
ds, para todo caminho seccionalmente
regular fechado γ em Ω .
9.9 Mostre que |z|α (α > 0), log(1+|z|2 ) são funções subharmónicas (i.e. têm valores
reais, em todo
ír
ulo aberto B são ≤ a toda função
om valores reais harmóni
a
em B e em pontos de ∂B ≥ à função
onsiderada).
9.10 Prove: Se Ω ⊂ C é aberto e f ∈ H(Ω) , |f (z)|α (α > 0), log(1+|f (z)|2 ) são funções
subharmónicas em Ω .
9.11 Prove: Uma função
om valores reais u C2 num
onjunto aberto Ω⊂C é subhar-
móni
a se e só se ∆u ≥ 0 .
(Sugestão: Para su
iên
ia prove 1o que u(x)+ ε2 x é subharmóni
a para todo o ε > 0 e
explore a Propriedade de Valor Médio).
9.12 Prove: Se Ω1 , Ω1 ⊂ C são conjuntos abertos, u é uma função subharmónica em Ω1
e T : Ω2 → Ω1 é conforme, então u◦T é subharmónica em Ω2 .
9.13 Prove:
R 2π
a)
1
Se f ∈ H Br (0) não tem zeros, log |f (0)| = 2π 0
log |f (reiθ )| dθ .
(Sugestão: Note que é harmóni
a e aplique a Propriedade de Valor Médio).
b) Se f ∈ H Br (0) só tem zeros em ∂Br (0) , a fórmula em
R
a) permanece válida.
π
(Sugestão: Para
ada zero z0 = reiθ divida f (z) por z−reiθ0 e use 0 log sin x dx = −π log 2 ,
integral que pode ser
al
ulado
om o Teorema dos Resíduos).
)Se os zeros de f ∈ H Br (0) em Br (0) são z1 , . . . , zN , repetidos de acordo com
multiplicidade, Z 2π
N
X
log |f (0)| = − log |zrn | + 2π
1
log |f (reiθ )| dθ
n=1 0
r 2 (z−a)
(Sugestão: Para
ada a ∈ Br (0) a Transformação de Möbius r 2 −az
transforma B1 (0) e
Q r 2 −az
∂B1 (0) em, resp., Br (0) e ∂Br (0) . Aplique b) a f (z) Nn=1 r 2 (z−a) ).
d) Fórmula de Jensen200 : Se f ∈ H Br (0) tem zero na origem de multiplicidade
m (ou não tem zero na origem e m = 0 ) e os outros zeros em Br (0) são z1 , . . . , zN ,
repetidos de acordo com multiplicidades (ou não existem e N = 0 ),
N
X Z 2π
(m)
log |f m!(0)| + m log r = − log |zrn | + 2π
1
log |f (reiθ )| dθ .
n=1 0
9.14 Prove a Fórmula de Poisson-Jensen: Se os zeros de f ∈ H Br (0) em Br (0)
são z1 , . . . , zN , repetidos de acordo com multiplicidades, para |z| < r e f (z) 6= 0 ,
XN Z 2π
r 2 −zn z reiθ +z
log |f (z)| = − log r(z−z n)
+ 1
2π
Re re iθ −z log |f (reiθ )| dθ .
n=1 0
(Sugestão: Aplique o método de prova sugerido no exer
í
io 9.13 à Fórmula de Poisson em
vez da Propriedade de Valor Médio).
9.15 Prove o Teorema de Factorização de Hadamard201 : Se uma função inteira
tem género µ e ordem202 ρ , é µ ≤ ρ ≤ 1 .
(Sugestão: No exer
í
io 8.24.b) estabele
e-se ρ ≤ µ+1 . Para a outra desigualdade quando
f tem ordem nita e zeros {zn } ⊂ C ordenados por módulos
res
entes,
onsidere µ o maior
inteiro ≤ ρ e designe ν(r) o no de zeros em Br (0) . Aplique a Propriedade de Valor Médio e
os exer
í
ios 9.13.e), 8.26 e 8.27 para obter, qualquer que seja ε > 0 , n ≤ ν(|an |) < |an |ρ+ε ,
para n su
ientemente grande e f (z) = eg(z) P (z) , em que g é uma função inteira e P é
o produto
anóni
o de género µ. Para provar que g é polinomial de grau ≤ µ, aplique
o operador diferen
ial ∂x ∂ ∂
+ i ∂y à Fórmula de Poisson-Jensen do exer
í
io pre
edente e
′ ′ (µ) ′ (µ)
al
ule a derivada de ordem µ de ff , para obter g µ+1 = ff − PP = 0 ).
9.16 Considere a su
essão
res
ente dos números primos
P {pj } . Prove:
a) g(x) = j:pj ≤x log pj
om x∈R satisfaz g(x) = O(x) , x → +∞.
2n Q
(Sugestão203 : Mostre que 22n ≥
n j=n+1 pj ).
≥ 2n
P∞
log pj 1
b) Φ(z) = j=1 pz é meromorfa em Re > 2
om pólos apenas em z =1 e nos
1
zeros da Função Zeta de Riemann, e Φ(z)− z−1 é holomorfa em Re ≥ 1 .
(Sugestão: Use 0 exer
í
io 8.34 b) e
)).
R +∞ g(x)−x
)
1 x2
dx existe. (Sugestão: Aplique o exer
í
io 7.7.a)).
d) g de a) satisfaz g(x) ∼ x , x → +∞ .
(Sugestão: Mostre que se para x arbitrariamente grande fosse g(x) ≥ cx
om c > 1 ou
g(x) ≤ cx
om c < 1 , o integral em
) não existiria).
e) Teorema dos Números Primos204 : O no P (x) de números primos ≤ x ∈ R
satisfaz P (x) ∼ logx x , x → +∞ . (Sugestão: Aplique d)).
205
9.17 a) Prove : Toda função inteira de ordem finita inteira assume todos os valores
complexos excepto possivelmente um.
b) Prove: Toda função inteira de ordem finita não inteira assume cada valor com-
plexo infinitas de vezes.
Exercı́cios com aplicações a elasticidade
9.18 Em elasti
idade linear, o
omportamento estáti
o de um corpo elástico206 iso-
trópi
o,
ilíndri
o
om se
ção ortogonal simplesmente
onexa R , na ausên
ia de
201
Este resultado foi obtido em 1893 por J. Hadamard. Dá uma factorização para uma função
inteira de ordem finita ρ (ver exercı́cios 8.23 a 8.26). Se ρ não é inteiro, o género µ , e portanto o
produto canónico na factorização, fica determinado univocamente; se ρ é inteiro, há ambiguidade.
J. Hadamard usou este resultado em 1896 para, na sequência de consideração da Função Zeta de
Riemann como função de variável complexa por B. Riemann em 1851 (ver exercı́cio 8.31), provar
o Teorema dos Números Primos (ver exercı́cio 9.16).
202
Ver os exercı́cios 8.24 a 8.26, e 6.15.
203
A prova indicada nesta sugestão deve-se no essencial a P. Chebyshev em 1848 e 1850.
204
Este teorema foi conjecturado em 1797 ou 1798 por A.-M. Legendre e foi provado pela 1a vez
um século depois, em 1896, independentemente por J. Hadamard e Charles de la Valée Poussin
(1866-1962). A prova aqui sugerida é bastante mais simples do que as outras conhecidas e foi
obtida em 1980 por Donald Newman (1930-2007).
205
Este resultado é um caso particular do Pequeno Teorema de Picard válido para qualquer
função inteira, independentemente da sua ordem (capı́tulo 11).
206
Chama-se corpo elástico a um corpo com lei constitutiva que dá o tensor de tensão de
Cauchy em cada ponto (ver exercı́cio 8.32) em função da derivada da deformação (usualmente cha-
mada gradiente da deformação). Em elasticidade linear (também designada elasticidade
infinitesimal) essa relação é uma transformação linear. Ver, e.g. M.E. Gurtin, An Introduction
to Continuum Mechanics, Academic Press, New York, 1981. Gurtin, Morton (1934-).
192 Harmonic function
forças internas e num estado de deformação plana, é
ara
terizado pelas equações
3,3
seguintes relativas às
omponentes de uma representação matri
ial Sjk j,k=1 do
tensor de tensão de Piola-Kirchoff207 numa base ortonormal:
∂2 ∂2
(1) ∂x2
(S11 +S22 )+ ∂y 2 (S11 +S22 ) = 0 , (2) ∂
∂x
∂
(S11 )+ ∂y (S22 ) = 0 ,
(3) ∂
∂x
∂
(S21 )+ ∂y (S22 ) = 0 , (4) S12 = S21 ,
(5) S13 = S31 = S23 = S32 = 0 , (6) S33 = ν(S11 +S22 ) ,
em que 0 < ν/2 é a razão de Poisson208 . Se S é C 2 , o deslo
amento u = (u1 , u2 , 0)
e o gradiente da deformação F = 12 [(∇u)+(∇u)t ] obtêm-se do tensor de tensão de
Piola-Kir
ho por:
(7) F11 = 2µ
1
S11 −ν(S11 +S22 ) , (8) F22 = 2µ
1
S22 −ν(S11 +S22 ) ,
(9) F12 = F21 = 2µ1
S12 , (10) F11 = ∂u
∂x
1 ,
∂u2 ∂u1
(11) F22 = ∂y , (12) F12 = 21 ∂x
+ ∂u
∂y
2
,
em que µ>0 é o módulo de deslizamento, e a tra
ção t = (t1 , t2 , 0) em
ada
ponto da fronteira
om normal exterior unitária n = (n1 , n2 , 0) é dada por:
(13) t1 = (S11 , S12 ) · (n1 , n2 ) , (14) t2 = (S21 , S22 ) · (n1 , n2 ) .
(a) Mostre que existe uma função C 4
om valores reais ϕ, a que se
hama função
2
∂2 ϕ ∂2ϕ
da tensão de Airy, tal que S11 = ∂∂yϕ2 , S12 = S21 = − ∂x∂y , S22 =
∂x2
e ϕ satisfaz
4 4 4
∂ ϕ ∂ ϕ ∂ ϕ
a equação biharmónica ∆(∆(ϕ)) , i.e. 4 +2 2 2 + 4 . Diz-se que ϕ é uma
∂x ∂x ∂y ∂y
função biharmónica.
4
(b) Prove: Uma função ϕ C em R é biharmónica se e só se existem ψ, χ ∈ H(R)
tais que 2ϕ(z) = z ψ(z) = z ψ(z)+χ(z)+χ(z) , em que (x, y) = z ∈ C .
(
) Mostre que o deslo
amento
orrespondente às funções ψ, χ ∈ H(R) de b) satisfaz
2µ(z) = (3 − 4ν)ψ(z)−zψ ′ (z)−zχ′ (z) .
(d) Mostre que para a tra
ção num segmento da fronteira entre dois pontos A e B ,
no sentido positivo, é (t1 , t2 ) = −i ψ(B)+Bψ ′ (B)+χ′ (B) − ψ(A)+Aψ ′ (A)+χ′ (A) .
(e) Mostre que ψ1 , χ1 e ψ2 , χ2 são dois pares de funções holomorfas em R que
orres-
pondem às mesmas tensões se e só se ψ1 (z) = ψ2 (z)+iCz+A e χ1 (z) = χ2 (z)+iBz+D,
em que A, B, C, D ∈ C são
onstantes. Mostre que tal a
onte
e se e só se a diferença
de deslo
amentos é um deslo
amento de um
orpo rígido.
Im Im
Re Re
-1 1 -1 1
Figura 9.6: Displacements for ψ(z) = P2z , χ(z) = 0 and for ψ(z) = 0 ,
2
χ(z) = i Qz2 , P, Q ∈ R , with the same rectangular section R
207
O tensor de tensão de Piola-Kirchoff descreve numa configuração de referência fixa a relação
tensão-deformação descrita pelo tensor da tensão de Cauchy no próprio corpo deformado (ver
exercı́cio 8.32). Piola, Gabrio (1791-1850).
208
A razão de Poisson foi introduzida no estudo da elasticidade em 1830 por S.D. Poisson.
Capı́tulo 10
Transformações conformes
10.1 Introdução
O obje
tivo
entral deste
apítulo é identi
ar
ondições para existên
ia de
transformações
onformes entre duas regiões dadas diz-se que tais regiões
são
onformes e propriedades rela
ionadas. Outros obje
tivos importantes
das se
ções nais são: (i) a uni
ação de
ara
terizações de regiões simples-
mente
onexas do plano
omplexo por propriedades de regions de natureza
muito diferente (topológi
as da região, topológi
as do
omplementar da re-
gião, analíti
as, algébri
as), e (ii) propriedades bási
as de funções holomorfas
inje
tivas, in
luindo uma prova da Conje
tura de Bieberba
h em 1985 e 1991.
As transformações
onformes surgiram em 1777 nos trabalhos de L.Euler
sobre
artas geográ
as da Rússia,
omo referido na introdução do
apítulo 3.
L. Euler
hamou-lhes transformações innitesimamente semelhantes para
expressar a ideia de no limite em
ada ponto preservarem semelhança de
triângulos, i.e. ângulos permane
em iguais e distân
ias expandem/
ontraem
por uma razão diferente de zero independente da dire
ção e possivelmente
diferente em pontos diferentes. O nome transformação
onforme só surgiu
em 1789
om F.T. S
hubert e foi adoptado por C.F. Gauss em 1822.
Viu-se no
apítulo 3 que transformações
onformes são holomorfas e fun-
ções holomorfas
om derivadas sem zeros são transformações
onformes.
Como se viu no
apítulo 6 que derivadas de funções holomorfas inje
tivas
num
onjunto aberto não têm zeros, no
onjunto das funções
omplexas in-
je
tivas num dado
onjunto aberto transformações
onformes
oin
idem
om
funções holomorfas. Do Teorema da Função Inversa, inversas de transforma-
ções
onformes inje
tivas também são transformações
onformes inje
tivas.
Como
omposições de funções harmóni
as
om funções holomorfas são
harmóni
as, transformações
onformes são muito úteis para obter funções
harmóni
as num
onjunto (e.g. soluções do Problema de Diri
hlet) por mu-
danças de variáveis de funções harmóni
as
al
uladas noutro
onjunto (e.g.
num
ír
ulo ver
apítulo 9). Isto foi muito importante para áreas em que
funções harmóni
as des
revem equilíbrio,
omo hidrodinâmi
a, ele
troestá-
ti
a, elasti
idade e pro
essos de difusão em quími
a, biologia, et
.
194 Transformações conformes
221
Littlewood, John Edensor (1885-1977). Basilewitsch, J.. FitzGerald, Horowitz, David. Carl.
Garabedian, Paul (1927-2010). Schiffer, Menahem (1911-1957). Pederson, Roger (1931-1996).
Ozawa, Mitsuru. Study, Eduard (1862-1930). Dieudonné, Jean (1906-1992).
10.2 Transformações e conjuntos conformes 199
de Taylor em 0 destas funções é Pnk=1(n+1−k) k|dk |2 − k4 ≤ 0 e provou que
esta impli
a a validade da Conje
tura de Robertson. L. de Branges provou
em 1985 a Conje
tura de Milin, estabele
endo a validade da Conje
tura de
Bieberba
h em
onsequên
ia dos resultados de I. Milin e M. Robertson refe-
ridos. Em 1991 L. Weinstein obteve uma prova mais dire
ta da Conje
tura
de Milin, simpli
ada in 1994 por S. Ekhad e D. Zeilberger; é esta prova que
termina o
apítulo.
Curiosamente, os ingredientes prin
ipais das provas da Conje
tura de Bi-
eberba
h por L. de Branges em 1985 e L. Weinstein em 1991 são aspe
tos
desenvolvidos por três autores em alturas diferentes (a 1a e a última sepa-
radas de meio sé
ulo) ao provaram a validade da Conje
tura de Bieberba
h
para
oe
ientes espe
í
os an das fórmulas de Taylor em 0 de funções sch-
licht de ordens baixas n , majorações desses
oe
ientes para todo n ∈ N ou
majorações análogas para sub
onjuntos espe
í
os dessas funções, designa-
damente: (1)
adeias de Löwner em 1923 a propósito de obter |a3 | ≤ 3 (que
usou para obter uma prova alternativa de |a2 | ≤ 2 ) e usadas em 1955 por P.
Garabedian e I.S
hier para obter |a4 | ≤ 4 ; (2) Conje
tura de Robertson em
1936 a propósito de repli
ar
om um método uni
ado as majorações ópti-
mas |an | ≤ 1 obtidas em 1917 por K. Löwner para funções schlicht
onvexas
e em 1920 por R. Nevanlinna para provar a Conje
tura de Bieberba
h para
funções schlicht em estrela; (3) Conje
tura de Milin em 1971 a propósito de
obter as majorações |an | ≤ 1,243 n para funções schlicht em 1965.
Uma parte dos exer
í
ios nais do
apítulo é sobre funções elípti
as, que
são as funções meromorfas biperiódi
as no plano
omplexo,
om propriedades
bási
as desta importante
lasse de funções e a função-℘ de Weierstrass.
10.2 Transformações e conjuntos conformes
Sabe-se do estudo de sub
onjuntos de Rn, e.g. superfí
ies e variedades dife-
ren
iais, que é útil identi
ar
onjuntos topologi
amente idênti
os, i.e. que
podem ser deformados um no outro sem dobragens ou
ortes
omo se fossem
obje
tos elásti
os, ideia tornada pre
isa pelo
on
eito de homeomorsmo.
Diz-se que f : Ω1 → Ω2
om Ω1 , Ω2 ⊂ C é um homeomorfismo de Ω1
em Ω2 se é uma bije
ção
ontínua
om inversa
ontínua; se um tal home-
omorsmo existe, diz-se que Ω1 e Ω2 são conjuntos homeomorfos. A
homeomora de sub
onjuntos de C é uma relação de equivalên
ia, pelo que
estabele
e no
onjunto de todos sub
onjuntos de C
lasses de equivalên
ia
hamadas classes de homeomomorfia. Homeomorsmos têm um papel
entral em topologia. Chama-se propriedade topológica a uma propri-
edade invariante sob homeomorsmos. Portanto, propriedades topológi
as
são as propriedades de
lasses de homeomora.
En
ontraram-se várias propriedades topológi
as de
onjuntos222 nos
apí-
222
Também já se encontraram propriedades topológicas de funções, e.g. continuidade, e de
relações entre conjuntos de caminhos fechados seccionalmente regulares (resp., rectificáveis) ou de
200 Transformações conformes
Classe de conformidade
Classe de homeomorfia
Conjunto dos subconjuntos de números complexos
Dem. Como f ∈ H(B1 ) , g(z) = f (z) z pode ser estendida a uma função
′
g ∈ H(B1 ) com g(0) = f (0) . Para cada r ∈ ]0, 1[ , do Princı́pio do Mó-
(w)|
dulo Máximo (5.19), |g(z)| ≤ max |f|w| : |w| = r ≤ 1r para z ∈ Br (0) .
Fazendo r → 1 obtém-se |g(z)| ≤ 1, i.e. |f (z)| ≤ |z| para z ∈ B1 . Logo,
|f ′ (0)| = |g(0)| ≤ 1 . Se |f ′ (0)| = 1 ou |f (z)| = |z| para algum z ∈ B1 \{0}, |g|
tem o máximo 1 em 0 ou em z . Do Princı́pio de Módulo Máximo, g é uma
constante, λ ∈ C e |λ| = 1 . Q.E.D.
O Lema de S
hwarz permite para quaisquer a, b ∈ B1 xos determinar o
máximo do módulo da derivada em a de funções holomorfas f: B1 → B1
om
f (a) = b (o Lema de S
hwarz
orresponde a a = b = 0) e para que funções
esse máximo é atingido. Estas funções são surpreendentemente simples: são
transformações de Möbius obtidas por
omposições de rotações em torno de
0
om transformações de Möbius do tipo Ta (z) = 1−az z−a
, para algum a ∈ B1 ,
onsiderado na se
ção 9.4 ao
onstruir a Fórmula de Poisson, em que se
observou que Ta(0) = 0 , (Ta )−1 = T−a e T (S 1 ) = S 1 (Figura 10.3).
z−a
Figura 10.3: Transformações de Möbius Ta (z) = 1−az , with a ∈ B1
Con
lui-se das observações que pre
edem este resultado que o
onjunto
dos automorsmos
onformes no
ír
ulo fe
hado B1 é análogo ao de B1 ,
sendo a úni
a diferença os elementos neste
aso serem restrições a B1 dos
automorsmos de B1 estendidos
omo transformações de Möbius a um
on-
junto aberto
ontendo B1 , o que é sempre possível.
10.4 Famı́lias normais de funções holomorfas
Na se
ção seguinte prova-se o Teorema do Mapeamento de Riemann, de
existên
ia de homeomorsmos
onformes entre quaisquer duas regiões sim-
plesmente
onexas propriamente
ontidas em C, ou seja essas regiões sim-
plesmente
onexas perten
em à mesma
lasse de
onformidade. Como se
referiu na introdução a este
apítulo, a prova que se apresenta baseia-se na
existên
ia de solução de um problema varia
ional garantida
omo limite de
uma su
essão de funções maximizantes, i.e. uma su
essão de funções que
onverge para uma função em que é assumido o valor máximo. Para provar
a existên
ia de uma tal su
essão é ne
essário usar propriedades de famílias de
funções que são muito úteis noutras
ir
unstân
ias, pelo que se
onsideram
aqui espe
i
amente.
Diz-se que uma família F de funções
omplexas denidas em Ω ⊂ C é:
famı́lia normal224 se toda su
essão de funções em F tem uma subsu
es-
são uniformemente
onvergente em sub
onjuntos
ompa
tos de Ω ; famı́lia
pontualmente limitada se para
ada z ∈ Ω existe um número M (z) > 0 tal
que |f (z)| ≤ M (z) para todo f ∈ F ; famı́lia localmente uniformemente
limitada se para
ada
ompa
to K ⊂ Ω existe um número N (K) > 0 tal
que |f (z)| ≤ N (K) para todos z ∈ K e f ∈ F ; famı́lia equicontı́nua se
para
ada ε > 0 existe δ > 0 tal que |f (z) − f (w)| < ε para todos z, w ∈ Ω
om |z −w| < δ e f ∈ F ; famı́lia localmente equicontı́nua se para
ada
ompa
to K ⊂ Ω e
ada ε > 0 existe δ > 0 tal que |f (z)−f (w)| < ε para todos
z, w ∈ K
om |z−w| < δ e f ∈ F .
A razão dos nomes lo
almente limitada e lo
almente equi
ontínua
deve-se à validade destas propriedades lo
almente em alguma vizinhança
de
ada ponto de um
onjunto impli
ar a validade em todos sub
onjuntos
ompa
tos (por toda
obertura aberta ter sub
obertura nita) e vi
e-versa.
224
A propriedade de uma famı́lia de funções ser normal é muitas vezes referida como “propriedade
de compacidade de conjuntos de funções”. Uma caracterização de conjuntos compactos em espaços
métricos é pela chamada Propriedade de Bolzano-Weierstrass, i.e. toda sucessão no conjunto tem
uma subsucessão convergente para um ponto do conjunto. Considerando o espaço das funções
complexas contı́nuas definidas em Ω com uma métrica (que existe) correspondente à convergência
uniforme em conjuntos compactos, verifica-se que uma famı́lia é normal se e só se o seu fecho é um
conjunto compacto na métrica referida. O apêndice I, sobre aspectos básicos da Topologia Geral,
contém os resultados gerais essenciais sobre conjuntos e espaços compactos.
10.4 Famı́lias normais de funções holomorfas 205
numa região simplesmente
onexa sem zeros tem uma raiz quadrada holo-
morfa na região, o que é
onsequên
ia dire
ta da existên
ia de primitivas de
funções holomorfas em regiões simplesmente
onexas estabele
ida em (7.7),
omo se mostra no resultado auxiliar seguinte.
(10.9) Se Ω ⊂ C é uma região, cada uma das condições abaixo implica
as que se lhe seguem:
1. Todas f ∈ H(Ω) têm primitiva em Ω .
2. Se f ∈ H(Ω) não tem zeros, existe g ∈ H(Ω) tal que f = eg em Ω .
3. Se f ∈ H(Ω) não tem zeros, existe g ∈ H(Ω) tal que f = h2 em Ω .
′
Dem. (1 ⇒ 2) Se f ∈ H(Ω) não tem zeros, ff ∈ H(Ω) , e, de 1, existe h ∈ H(Ω)
′
tal que h′ = ff em Ω . Como (f e−h )′ = f ′ e−h −f e−h h′ = 0 , f e−h ∈ H(Ω) , e
como Ω é conexo, f e−h é constante em Ω . Se esta constante é 1, f = eh ;.
Caso contrário, fixando a ∈ Ω e b ∈ C tal que eb = f (a) e−h(a) , com g = h+b ,
eg(a) = eh eb = f (a) , f e−g = f e−h e−b = f (a) e−h(a) e−b = 1 , em Ω .
g
Logo, f = e em Ω .
(2 ⇒ 3) Se f ∈ H(Ω) não tem zeros, de 2, existe g ∈ H(Ω) tal que f = eg em
g
Ω . Logo, com h = e 2 ∈ H(Ω) é h2 = eg = f . Q.E.D.
A prova que se segue do Teorema do Mapeamento de Riemann227 é a
simpli
ação de C.Carathéodory em 1929 que se seguiu à sua prova de 1912
e às
ontribuições de P. Koebe em 1912 e de L. Fejér e F. Riesz em 1922.
(10.10) Teorema do Mapeamento de Riemann: Todas regiões sim-
plesmente conexas propriamente contidas em C são conformes a B1 ;
para cada a numa tal região Ω existe uma transformação conforme f de
Ω sobre B1 com f (a) = 0 .
Dem. Sem perda de generalidade a = 0 (pois tal pode ser assegurado por
composição com a translação de 0 para a e a sua inversa). Seja F a famı́-
lia das funções holomorfas injectivas de Ω em B1 que são holomorfas que
transformam 0 em 0 . Pretende-se provar que F tem algum elemento com
contradomı́nio B1 . A prova continua em 4 passos228 :
1) F 6= ∅ . Seja b ∈ C\Ω . f (z) = z−b é holomorfa e não tem zeros em Ω . Logo,
de (7.7) e (10.9), existe h ∈ H(Ω) tal que f = h2 em Ω . Se h(z1 ) = h(z2 ) , é
f (z1 ) = f (z2 ) e, portanto, de z1 = z2 , ou seja h é injectiva. Do Teorema da
Aplicação Aberta (6.12), h(Ω) contém algum cı́rculo aberto Br (c) , em que
r pode ser escolhido de modo a 0 < r < |c| . Como (−h) 2 2
r 1 1
= h = f é injectiva,
B(−c) não intersecta h(Ω) . Logo, g = 2 h+c − h(0)+c é holomorfa e injectiva
r 1 1
em Ω e |g| ≤ 2r |h+c|1 1
+ |h(0)+c| ≤ 2 r + r = 1, pelo que g ∈ F .
227
Em inglês diz-se Riemann Mapping Theorem.
228
A. Ostrowski também apresentou em 1929 uma prova com passos semelhantes, mas com F
definida sem exigir de f (0) = 0 e considerando a maximização de |f ′ (0)| para para f ∈ F em vez
da maximização de f (p) , em que p é um ponto fixado em Ω\{0}.
10.5 Regiões simplesmente conexas conformes 211
Dem. Com b = h1 (a) = h2 (a) , T = Tb ◦h2 ◦(h1 )−1 ◦T−b ∈ Aut B1 e T (0) = 0 .
1 1
De (10.4), T (z) = λz , com λ ∈ S 1 . Como T ′ (0) = 1−|b| ′ 2
2 h2 (0) h′ (a) (1−|b| ) = 1,
1
pelo que λ = 1 , T (z) = z para z ∈ B1 , e, portanto, h1 = h2 . Q.E.D.
Interessa obter
ondições em que se possa estender uma transformação
onforme de uma região simplesmente
onexa Ω $ C sobre o
ír
ulo aberto
B1 a um homeomorsmo de Ω em B1 , o que é útil por exemplo para resolver
o Problema de Diri
hlet em Ω a partir da solução do problema em B1.
Em parti
ular, é pre
iso garantir a possibilidade de extensão
ontínua da
transformação
onforme à fronteira de Ω , o que depende de propriedades da
fronteira. Os resultados seguintes foram obtidos por C. Carathéodory em229
1913.
229
O 1o par de resultados é para a situação mais simples de pontos na fronteira. O caso geral
envolve a noção de fim primo (em inglês diz-se prime end) considerada na secção seguinte.
212 Transformações conformes
(u, v) = f (r cos θ, r sin θ) no integral que dá a área de Dr0 , como o jacobiano
associado é o produto do jacobiano |f ′ |2 da função com variável e valores em
R2 correspondente a f pelo jacobiano r da mudança de coordenadas polares
para cartesianas e com o Teorema de Fubini,
ZZ ZZ Z rZ0 θ2 (r) Z r0
d2
1 du dv = |f ′ (r cos θ, r sin θ)|2 r drdθ = |f ′ ◦γr |2 r dθ dr ≥ 2π 1
r dr = +∞ ,
Dr0 Qr0 0 θ1 (r) 0
o que contradiz Dr0 ⊂ B1 . Logo, verifica-se a alternativa (i). Portanto, Dr
converge para {b} quando r → 0 . Definindo f (a) = b obtém-se uma extensão
contı́nua de f a Ω ∪{a} . Q.E.D.
N2
C
N1
A3
IC
A1 IB
C3
IA B1
B2 C2
B3
A2 C1
D1 D2 Dn
ID
Figura 10.10: Cadeias fundamentais numa região simplesmente conexa e
resp. impressões: as impressões das cadeias fundamentais que consistem nas
vizinhanças geometricamente menores das sucessões de cortes transversais
{An }, {Bn }, {Cn }, {Dn } são, resp., um segmento de recta vertical IA , um
segmento de recta vertical IB , a união dos lados de um rectângulo IC e um
ponto ID . As outras possı́veis impressões de cadeias fundamentais desta
região são qualquer um dos outros pontos da fronteira da região. IB também
é a impressão de uma cadeia fundamental análoga mas construı́da com cortes
a partir de cima semelhantes aos de {Bn }. Estas duas cadeias fundamentais
pertencem a fins primos distintos que têm a mesma impressão
A impressão de
ada
adeia fundamental ou m primo de um sub
onjunto
simplesmente
onexo de C∞
om #∂Ω ≥ 2 pode ser um só ponto z ∈ ∂Ω ,
omo
no último
aso na Figura 10.10 e então diz-se que a
adeia fundamental ou
o m primo converge para o ponto z , o que a
onte
e se e só se o diâmetro
de Nj tende para 0 quando j → +∞ , ou pode ser um continuum,
omo
nos 3 outros
asos na gura. Diferentes ns primos podem
onvergir para
um mesmo ponto,
omo no 2o
aso na gura. Em baixo na gura, perto
do meio, a fronteira da região
ontém um segmento de re
ta verti
al de
uja
extremidade superior P emanam segmentos de re
ta radiais; se os segmentos
de re
ta radiais são em no nito N , há N + 1 ns primos
om impressão
{P } ; se são innitos
om todos os de
lives inteiros positivos ou negativos e
omprimentos minorados por algum m > 0 , existe um
onjunto numerável
innito de ns primos
om a mesma impressão {P } .
(10.16) Cadeias fundamentais num aberto simplesmente conexo Ω ⊂ C∞
com #∂Ω ≥ 2 são equivalentes ou eventualmente disjuntas.
Dem. Se {Nj } e {Nj′ } são cadeias fundamentais em Ω que não são even-
tualmente disjuntas, é Nj ∩ Nk′ 6= ∅ para todos j, k ∈ N . Seja j ∈ N fixo.
237
Ver (I.27) no apêndice I.
218 Transformações conformes
i
Q
L (y)
y
] 0, [ x{y}
0
Figura 10.11:Ilustração para Desigualdade Comprimento-Área de Quadrado (10.17)
pelo que Z δ Z
1
δ ρ2 (x+iy) dx dy = Aδ ,
L2δ (y) dy ≤
Z δ Z p 0 Z Qδ
2
2
δ Aδ ≥ Lδ > 2Aδ = 2Aδ 1 = 2Aδ [δ−ℓ(S)] ,
R 0 [0,δ]\S [0,δ]\S
e ℓ(S) = S 1 > δ2 . Q.E.D.
1
seria A(r) < 4π (log ε) ℓ(E) para r > 0 suficientemente perto de 1. Portanto,
lim A(r) = −∞ . Da Desigualdade de Jensen (8.26), f (0) = 0 e A(r) = 0 para
r→1
0 < r < 1 . Logo, em cada circunferência com centro em 0 existe pelo menos
um ponto em que f é 0 e considerando circunferências com raios n1 , n ∈ N,
238
Riesz, Marcel (1886-1969).
220 Transformações conformes
Dem. As imagens dos dois raios unidas com o resp. limite radial comum
são uma curva de Jordan Γ que separa C∞ em subconjuntos abertos U1 , U2 ,
e os pontos em que os raios terminam em ∂B1 separam esta circunferência
em dois arcos. Do Teorema de Fatou-Riesz,Riesz precedente, f transforma
o raio de B1 que termina nesse ponto numa curva com extremidade em ∂Ω
diferente de z . Como Γ ∩ ∂Ω = {z}, z separa ∂Ω \ {z} em dois conjuntos
disjuntos abertos relativamente a ∂Ω ; logo, ∂Ω\{z} é desconexo. Q.E.D.
É agora possível obter as relações pretendidas entre ns primos de uma
região simplesmente
onexa Ω $ C e de B1.
(10.22) Se f é uma transformação conforme de B1 sobre uma região
simplesmente conexa Ω ⊂ C∞ com #∂Ω ≥ 2 :
1. Para cada z ∈ ∂B1 existe uma cadeia fundamental {Nj } em B1 con-
vergente para z tal que {f (Nj )} é uma cadeia fundamental em Ω .
2. f −1 transforma cada caminho em Ω , γ : [0, 1[→ Ω , convergindo para
um ponto de ∂Ω em 1 num caminho convergindo para um ponto de
∂B1 em 1, caminhos que convergem para pontos distintos de ∂Ω em
caminhos que convergem para pontos distintos de ∂B1 , e cadeias fun-
damentais em Ω em cadeias fundamentais em B1 .
3. f induz uma correspondência biunı́voca dos fins primos de B1 nos de
Ω , e dos pontos de ∂B1 nas impressões de fins primos de Ω .
'
1
'
2
1 1
0 0 R1
228 Transformações conformes
[Lρ (γ ∗ )]2 1 R2
Portanto, dS (C1 , C2 ) ≥ Aρ (S) = 2π log R1 . Com qualquer métrica, da De-
R 2πR R
sigualdade de Cauchy-Schwarz para hf, gi = 0 R12f (reiθ ) g(reiθ ) drdθ , mu-
dança de variáveis de integração e Teorema de Fubini,
Z 2π 2 Z 2πZ R2 2 Z 2πZ R2 √ 2
′
Lρ (α∗θ ) dθ = ρ αθ (r) |αθ (r)| drdθ = √1
r
r ρ re iθ
drdθ
0 0 R1 0 R1
Z 2πZ R2 Z 2πZ R2
≤ 1
r
drdθ ρ2 reiθ r drdθ = 2π log R2
A (S) .
R1 ρ
0 R1 0 R1
Logo, se Γ é o conjunto de curvas rectificáveisR 2π em S com uma extremidade
[L (Γ)]2
em C1 e a outra em C2 , (2π)Lρ (Γ) ≤ 0 Lρ (α∗θ ) dθ e Aρρ (S) ≤ 2π 1
log R2
R1
para todas métricas possı́veis, com igualdade se e só se há igualdade na
√
Desigualdade de Cauchy-Schwarz, i.e. se e só se rρ(reiθ ) = k √1r para al-
k
guma constante k , ou seja se e só se ρ(z) = |z| , que, mudando variáveis de
integração com a transformação conforme ′ considerada de Q sobre R cor-
responde à métrica inicial ser ρ = k ff com k > 0 constante). Portanto,
1
dS (C1 , C2 ) = 2π log R
R1 .
2
de Ω na métri
a asso
iada a ρ é nita. Em parti
ular, tal veri
a-se para a
0
∗
γ1−j para j = 0, 1. Se γ1∗ ∈ / Ω0 , an , cn ∈
/ Ω0 excepto possivelmente para
o ∗
um n finito de n ∈ N , pelo que γ0 ∈ A C z0 ,a ∪ c . Escolhendo bn numa
componente conexa Ωj+2 de Ω\γj∗ que não contém z0 para j = 0 ou j = 1 , é
Ω2 ⊂ Ω3 , pois caso contrário Ω3 conteria um ponto de ∂Ω4 e, portanto, um
ponto de γ4∗ ⊂ Ω0 , em contradição com Ω0 ∩ Ω3 = ∅ . Trocando γ0∗ com γ1∗ ,
γ1∗ ∈ A C z0 ,a ∪ c . Em qualquer caso, γ0∗ ou γ1∗ ou γ0∗∪γ1∗ pertence a A C z0 ,a ∪ c ,
pelo que λ(A C z0 ,a ∪ c ) = 0 , e a∪c é uma sucessão fundamental em Ω . Q.E.D.
Uma
onsequên
ia é que
omprimento extremo zero de uma união de
su
essões, i.e. λ(A C z ,a ∪ b) = 0 , dene uma relação de equivalên
ia de su-
essões a, b numa região simplesmente
onexa Ω $ C ; su
essões a, b ⊂ Ω são
0
P
do Teorema de Harnack (9.26). Portanto, h = j hj é harmónica no semi-
plano complexo direito. Logo, br (z) = h −Lr (z) é harmónica em Ω∩Br (0) .
Resta provar que br pode ser estendida a uma “barreira local” em a = 0 relati-
vamente a Ω , para o que chega provar que br pode ser estendida por continui-
dade a ∂ Ω ∩ Br (0) , anulando-se em a = 0 e sendo > 0 em ∂ Ω ∩ Br (0) \{a}.
Como Re −Lr (z) → +∞ quando z → 0 e, para x > 0 , y ∈ R , é
X X Z +∞ 1/x X
1
h(x+iy) = hj (x+iy) = 1+((y−t)/x)2 dt ≤ x (βj −αj ) ≤ 2π
x ,
j j −∞ j
pelo que lim h(x+ iy) = 0 uniformemente em y ∈ R e, portanto, lim = 0 .
x→+∞ z→0
Logo, br pode ser estendida por continuidade a 0 com o valor 0 . O fecho
de −Lr Ω ∩ Br (0) está contido no semiplano complexo direito fechado e,
quando z → c ∈ ∂ Ω ∩ Br (0) sem Re − Lr (z) tender para 0 , tanto −Lr
como br = h◦(−Lr ) podem ser estendidas por continuidade a c , e é br (c) > 0 ,
pois h(z) > hj (z) > 0 para Re z > 0 .
Resta provar que se z → d ∈ ∂ Ω ∩ Br (0) e Re − Lr (z) → 0 ,
br = h ◦ (−Lr ) tende para um valor 6= 0 . Logo, há que analisar a exis-
tência de limite de h(z) quando z → iθ, com θ ∈ ]αj , βj [ para algum j .
Da fórmula que define hk (z) , este valor é a diferença dos argumentos de
z − iαk e z − iβk . Com uma argumentação elementar que se deixa como
exercı́cio, para Re z > 0 , Im z ∈ ]αj , βj [ ,
X X z−iβ
z−iα
hk (z) ≤ Im z−iα j
, hk (z) ≤ Im z−iβj ,
k∈{k:βk <αj } k∈{k:αk >βj }
P P
em que α = αj − k∈{k:βk <αj } (βk −αk ) , β = βj − k∈{k:αk >βj } (βk −αk ) , e
z−iα z−iβ
0 ≤ h(z)−hj (z) ≤ Im z−iαj
+ Im z−iβj .
Quando z → iθ, θ ∈ ]αj , βj [ para algum j e Re z > 0 , o último termo da
desigualdade converge para 0 e hj (z) → π, pelo que h(z) → π. Logo, br pode
ser estendida por continuidade a d com o valor π. Q.E.D.
Uma
onsequên
ia,
om (9.35), é a
ondição topológi
a seguinte su
iente
para existên
ia de solução do Problema de Diri
hlet.
(10.34) Se Ω ⊂ C é um conjunto aberto tal que nenhuma das componen-
tes conexas do complementar de cada componente conexa é um ponto,
o Problema de Dirichlet em Ω com valores na fronteira dados por uma
função contı́nua em ∂Ω (com valores reais ou complexos) tem solução.
um caminho regular simples γ : [a, b] → C tal que γ(t) = X(t) + iY (t) que
descreve ∂Dr no sentido positivo, com o Teorema de Green obtém-se
Z Z b
z dz = [X(t)−iY (t)][X ′ (t)+iY ′ (t)] dt
γ a
Z Z
= [X(t)X (t)+Y (t)Y (t)]dt + i [−Y (t)X ′ (t)+X(t)Y ′ (t)] dt
′ ′
γ γ
Z Z Z
= 21 [X 2 (t)+Y 2 (t)]′ dt + i −ydx+xdy = i 2 dxdy = 2i Área(Dr ) .
γ ∂Dr Dr
Com mudança de variáveis de integração, usando as séries para g e g ′ ,
Z Z Z ∞
X ∞
X
1
Área(Dr ) = 2i 1
z dz = − 2i g(z) g ′ (z) dz = − 2i
1 1
z
+ cn z n z1 − z1 + ncn z n dz
γ ∂Br ∂Br n=0 n=0
∞
X Z ∞
X ∞
X
1
= 2i 1
r2
− n|cn |2 r 2n 1
z
1
dz = 2i 1
r2
− 2 2n
n|cn | r 1
i2π = π r2 − 2 2n
n|cn | r .
n=0 ∂Br n=0 n=0
P∞
Como Área(Dr ) ≥ 0 , fazendo r → 1 obtém-se n=0 n|cn |2 ≤ 1 . Q.E.D.
O resultado seguinte foi obtido por L. Bieberba
h em 1916.
P ′′
(10.38) Se f ∈ S, é f (z) = z + ∞ n=2 an z n e |a2 | = f 2(0) ≤ 2 , com
z P∞ n i(n−1)θ com θ ∈ R .
igualdade se e só se f (z) = (1−ze iθ )2 = n=1 nz e
P
Dem. É f (z 2 ) = z 2 G(z) , com G(z) = 1+ ∞n=2 an z
2(n−1) , que é uma função
P
Dem. Seja f (z) = z + ∞ n
n=2 an z . Se c ∈ C \ {0} é um valor que não é
cf (z)
1 2
assumido por f em B1 , F (z) = c−f (z) = z + a2 + c z +· · · é holomorfa em
cf (z) cf (w)
B1 e c−f (z) = c−f (w) implica cf (z)−f (z)f (w) = cf (w)−f (z)f (w) . Portanto,
f (z) = f (w) , que, como f é injectiva, implica z 1= w, pelo que F ∈ S. Do
resultado precedente 1 aplicado a
f e F , 2 a2 + c ≤ 2 , e, da1 Desigualdade
|a |,
1 1
Triangular, |c| = c + a2 − a2 ≤ a2 + c + |a2 | ≤ 4 . Se |c| = 4 , é c = 14 e−iθ
para algum θ ∈ R , Como |a2 |, a2 + 1c ≤ 2, é a2 = 2eiθ . Logo do resultado
z ”
precedente, f (z) = (1−ze iθ )2 . Q.E.D.
Chama-se função de Koebe a k : B1 →
∞
C
om
X
k(z) = z
(1−z)2
= nz n .
n=0
A menos de rotação da variável z apare
eu
omo
aso limite nos dois últimos
resultados anteriores. Outras fórmulas para esta função são
1+z 2 1 1+z
k(z) = 14 1−z −1 = 4 1−z −1 1+z 1−z +1 .
Tem-se k ∈ S e k(B1 ) = C\ ] − ∞, − 41 ] . Apesar da in
lusão do
ír
ulo
aberto
om raio 14 e
entro em 0 no
ontradomínio f (B1) de uma qualquer
função f ∈ S ter sido obtida muito simplesmente, é óptima.
Uma
onsequên
ia imediata do Teorema de Um Quarto de Koebe é que
a área do
ontradomínio de uma função schlicht f é maior do que 16π , pois
Área f (B1) ≥ Área B (0) = 16π . 1
w+z
′ 2 ′
Dem. A função gz (w) = f 1+zw é univalente em B1 e gz (0) = (1−|z| )f (a) ,
pelo que Gz (w) = g(1−|z|
z (w)−gz (0)
2 )f ′ (z) é uma função schlicht. Do penúltimo resultado
1
1 2 ′
anterior, 4 ≤ d 0, ∂Gz (B1 ) . Logo, 4 (1−|z| ) |f (z)| ≤ d f (z), ∂f (B1 ) .
A desigualdade à direita é a que precede o enunciado. Q.E.D.
Outra
onsequên
ia de (10.38) é o resultado seguinte
om que se pode
obter o Teorema de Distorção por funções schlicht que se lhe segue. No
essen
ial, foi obtido em 1916 por L. Bieberba
h.
′′ (z) 2|z|2
(10.43) zff ′ (z) −
1−|z|2
≤ 4|z| 2 para z ∈ B1 , f ∈ S.
1−|z|
2r−4 ′ iθ
Portanto, 1−r 2 ≤ ∂r log |f (re )| ≤ 1−r 2 e, integrando de 0 a r, como
∂ 2r+4
Z r Z rh i
2r±4 2r 2 2 2 2 2
1−r 2 dr = 1−r 2 ± 1+r 1−r dr =− log(1−r )±[ log(1+r) −log(1−r) ]
+
0 0
(1±r) 2
1±r
= log (1−r)(1+r)(1∓r)2 = log (1∓r)3 ,
′ iθ
é log (1+r) 3 ≤ log |f (re )| ≤ log (1−r)3 , que, como o logaritmo real é crescente,
1−r 1+r
a
são as 1 s desigualdades no enunciado.
10.9 Funções univalentes 239
Analogamente, ∂r ∂
log |f0 | = 1r Re h ff10 , pelo que |f10 | ∂r ∂
|f0 | = r1 Re h ff01 e
∂
|f0 | = |fr0 | Re h ff01 . Logo, ∂r ∂
|f0 | ≤ |fr0 | |h| |f 1 | = |f | e, da majoração nas 1a s
1
∂r
iθ
|f0 |
r
′ 1+r
desigualdades no enunciado, ∂r |f (re )| ≤ (1−r)3 . Como (1−r)
∂ 1+r
2 = (1−r)3 , in-
r
tegrando de 0 a r , |f (reiθ )| ≤ (1−r) a
2 , que é a majoração nas 2 s desigualdades
no enunciado.
′ Para obter a minoração nestas desigualdades, observa-se que
r 1−r r 1
(1+r)2 = (1+r)3 ≥ 0 para 0 < r < 1 , pelo que (1+r)2 ≤ 4 e, portanto, se
|f (z)| ≥ 41 , a minoração pretendida verifica-se trivialmente; resta prová-la
para o caso de ser |f (z)| < 14 . Neste caso, do Teorema de Um Quarto de
Koebe, o segmento de recta de 0 a z está contido em f (B1 ) , e, como f tem
inversa holomorfa, é a preimagem de uma curva descrita por um caminho
regular simples de 0 a z , γ : [0, 1] → B1 , e f ◦γ descreve o segmento de recta
de 0 a z . Logo, o argumento principal de (f ◦γ)′ = (f ′ ◦γ)γ ′ é constante e
igual ao argumento principal de z e
Z Z 1 Z 1
′ ′
|f (z)| = f (w) dw = (f ◦γ)γ = |(f ′ ◦γ)γ ′ | eiArg z
′
γ 0 0
Z 1 Z 1 Z 1 Z |z|
iArg z ′ ′ ′ ′ 1−|γ| |z|
= e |(f ◦γ)γ | = |f ◦γ||γ | ≥ (1+|γ|)3
|γ ′ | = 1−s
(1+s)3
ds = (1+|z|)2 ,
0 0 0 0
com a mudança de variável de integração s = |γ(t)| na penúltima igualdade.
As últimas desigualdades no enunciado, que são muito melhores
do que as que resultam directamente das anteriores, obtêm-se, tal
como na prova de (10.42),
com a função schlicht Gz (w) = g(1−|z|
z (w)−gz (0)
2 )f ′ (z) , em que
w+z a
gz (w) = f 1+zw , e aplica-se as 2 s desigualdades no enunciado a
−f (z)
z 7→ Gz (−z) . Como Gz (−z) = (1−|z| 2 )f ′ (z) ,
Q.E.D.
P∞ n,
(10.47) Se f ∈ S, com f (z) = n=1 an z |an | ≤ en para n ∈ N .
Dem. Considera-se
p a função schlicht usada na prova de (10.38),
P f (z 2 )
F (z) = z G(z) = ∞ n a2
n=1 bn z , com b1 = 1 e b2 = 2 , em que G(z) = z 2 .
Z 2π Z 4π Z 2π Z 2π ∞
X
|f (ρ2 eiθ )|dθ = 21 |f (ρ2 eiθ )|dθ = |f (ρ2 ei2t )|dt = |F (ρeit )|2 dt = 2π |bn |2ρ2n ,
0 0 0 0 n=1
com a última igualdade da Fórmula de Parseval para séries de potências (5.15).
De (10.36) e da Fórmula de Parseval (5.15), para 0 < r < 1 ,
ZZ Z 2πZ r
′
Área F Br (0) = 2
|F (x, y)| dxdy = |F ′ (reiθ )|2 r drdθ
Br (0) 0 0
Z 2πZ r X∞
2
Z 2πZ r X ∞
iθ 2n−1
= nbn (re ) r drdθ = n2 |bn |2 r 2n−2 r drdθ
0 0 0 0 n=1
n=1
X∞ Z r X∞ X∞
= 2π n2 |bn |2 r 2n−1 dr = 2π n2 |bn |2 2n r = π n|bn |2 r 2n .
1 2n
(a)
0
B1
(a)
(s)
0
B1
Da última igualdade do período pre edente, limsրt log |hst (eiθ )| = −2πα , e t
pólo em ∞ , assume em algum ponto o valor p e,
omo hst não tem valores
em Sst∗ , Sst∗ ⊂ C\Bε λ(t) .
A prova de σst∗ en
olher para λ(s) quando t ց s é a mesma,
om h−1 st em
vez de hst .
Como λ(t) ∈ Sst∗ e λ(s) ∈ σst∗ , a função t 7→ λ(t) é
ontínua.
Con
lui-se assim a argumentação para estabele
er rigorosamente a vali-
dade do Método de Löwner para
ír
ulos
om ranhura.
É útil observar que,
omo t 7→ ft′(0) é estritamente
res
ente, pode-se
es
olher para parâmetro log ft′(0) em vez de t , e então ft′(0) = et . Com este
parâmetro, f0(z) = z e a igualdade a
ima,
Z θst,2
fs′ (0)
log ft′ (0) = 1
2π log |hst (eiθ )| dθ ,
passa a ser
θst,1
Z θst,2
s−t = 1
2π log |hst (eiθ )| dθ ,
θst,1 R st,2
e derivando ambos os lados em ordem a t dá θθst,1 log |hst (eiθ )| dθ = −1 . Por
outro lado, a igualdade a
imaZ
θst,2 iθ
f −1 (w) e +fs−1 (w)
log ft−1 (w) = 1
2π eiθ −fs−1 (w)
log |hst (eiθ )| dθ ,
s
dá
θst,1
Z θst,2 iθ
e +fs−1 (w) ∂
∂
∂t log ft−1 (w) = 1
2π eiθ −fs−1 (w) ∂t
log |hst (eiθ )| dθ
θst,1
Z θst,2
eiθ +fs−1 (w) ∂
= 1
lim 2π eiθ −fs−1 (w) ∂t
log |hst (eiθ )| dθ
sրt θst,1
Z θst,2
λ(t)+ft−1 (w) ∂ λ(t)+f −1 (w)
= 1
lim 2π λ(t)−ft−1 (w) ∂t
log |hst (eiθ )| dθ = − λ(t)−ft−1 (w) ,
sրt θst,1 t
P
pelo que βn = nm=1 mβm δn−m . Da Desigualdade de Cauchy-Schwarz para
o produto interno canónico em Cn ,
Xn Xn n
X n−1
X
2 2 2 2 2 2 2
n |βn | ≤ m |βm | |δn−m | = m |βm | |δn |2 = An Bn ,
m=1 m=1 m=1 m=0
Pn 2 2
Pn−1
com An = m=1 m |βm | , Bn = m=0 |δn |2 .
An −n
An −n
Bn = Bn−1 +|δn |2 ≤ Bn−1 1+ n2 = Bn−1 n+1An n+1 n(n+1)
n 1+ n(n+1) ≤ Bn−1 n e .
Aplicando sucessivamente esta desigualdade recursiva, como β1 = 1 ,
n
!
X Aj −j
Bn ≤ (n+1) exp j(j+1) , n∈N .
j=1
Aplicando a fórmula para somas análoga à de integração por partes
Xn n
X
xj (yj+1 −yj ) = [xn yn+1 −x1 y1 ] − (xj −xj−1 )yj
j=1 j=2
à1a soma na 2a
versão da expressão no enunciado em que a exponencial é
avaliada, com xj = Aj −j e yj = − 1j ,
n
X n
Aj −j n −n
X
j(j+1) = − An+1 +(A1 −1) + (Aj −j)− Aj−1 −(j −1) 1j
j=1 j=2
n
X n
X n
X n
X n
X
1 2 2 2
= n
n+1 −An n+1 + (Aj −Aj−1 ) 1j − 1
j = j|β j | − 1
n+1 j |β j | + n
n+1 − 1
j
j=2 j=2 j=2 j=1 j=2
n
X n
X
1
= n+1 (n+1−j)j|βj |2 +1− n+1
j = 1
n+1 (n+1−j) j|βj |2 − j .
1
j=1 j=1
Usando esta desigualdade na majoração de Bn acima e a fórmula de defi-
nição de Bn , obtém-se a desigualdade no enunciado. A forma alternativa
no enunciado para a expressão em que a exponencial é avaliada obtém-se
trocando a ordem das somas e, depois, calculando a soma em m . Q.E.D.
2) Pn
e G(z) = f (z
z 2 . Como f (z 2 ) = [F (z)]2 , é a =
n j=1 b2(n−j)+1 b2j−1 , da
Desigualdade de Cauchy-Schwarz para o produto interno canónico em Cn ,
n 2 n n
X X X
1 2
|a | =
b2(n−j)+1 b2j−1 ≤ n1 2 1
|b2(n−j)+1 | n |b2j−1 |2 .
n2 n
j=1 j=1 j=1
ϕ P∞ j t ϕ P∞ P∞
= et1−ϕ 2 1+2 j=1 ϕ cos jβ = e 1−ϕ2 +2 j=1 cos jβ
n
n=1 cjn (t)z .
253
Esta é a simplificação por S. Ekhad e D. Zeilberger em 1994 referida antes do resultado.
250 Conformal mappings
Exercises
10.1 Prove: Seja Ω ⊂ C uma região que contém o zero. Uma função h : Ω → B1 é um
homeomorfismo de Ω em B1 com h(0) = 0 se e só se para todas funções holomorfas
injectivas f com f (0) = 0 , é |h| ≥ |f | em Ω e |h(p)| = |f (p)| num ponto p ∈ Ω.
(Sugestão: Aplique o Lema de S
hwarz a f ◦h−1 ).
10.2 Prove o Teorema de Study: Seja f uma transformação conforme de B1 sobre
Ω ⊂ C . Se Ω é um conjunto convexo (resp., em estrela), f Br (0) também é convexo
(resp., em estrela), para 0 < r < 1 . (Sugestão: Aplique o Lema de S
hwarz).
10.3 Prove:
a) Generalização do Lema de Schwarz: Se f ∈ H(B1 ) e a1 , . . . , an ∈ B1 são
Q
zeros distintos de f , |f (z)| ≤ supB1 |f | n j=1 |gaj (z)| para z ∈ B1 , em que
z−a
Qn ga (z) = 1−az
para a, z ∈ B1 , e verifica-se igualdade se e só se f (z) = η supB1 |f | j=1 gaj (z) , em
Q
que η ∈ ∂B1 . (Sugestão: Como na prova do Lema de S
hwarz
om g = hf e h = n j=1 gaj ).
255
b) Desigualdade de Jensen : Se f ∈ H(B1 ) e a1 , . . . , an∈B1 são zeros distintos
de f , |f (0)| ≤ |a1 | · · · |an | supB1 |f | . (Sugestão: Aplique o resultado de a)
om z = 0 .)
10.4 Prove: Se Ω ⊂ C é uma região, a ∈ Ω e f ∈ H(Ω\{a}) é tal que f (Ω\{a}) = D é
limitado, f tem uma singularidade removı́vel em a . Se, além disso, f é injectiva,
f (a) ∈ ∂D.
10.5 Prove: Não existem funções holomorfas injectivas que transformam Br (0)\{0} sobre
a coroa circular {z ∈ C : r < |z| < R}, em que 0 < r < R.
10.6 Prove: Se Ω $ C é uma região simplesmente conexa simétrica em relação ao eixo
real e f é uma transformação conforme de Ω em B1 que transforma um ponto a do
eixo real na origem com f ′ (a) 6= 0 , a imagem da parte de Ω no semiplano complexo
superior está contida em um dos semiplanos complexos superior ou inferior.
254
Os polinómios de Legendre, introduzidos em 1782 por A.-M. Legendre no artigo Sur
l’attraction des sphéroı̈des homogènes de 1785, são úteis em Teoria de Potencial com simetria es-
férica. Embora possam ser definidos de várias maneiras, uma definição é pelos coeficientes Pn (x),
|x| ≤ 1 , da fórmula de Taylor em 0 do potencial de uma carga eléctrica situada em 0 em pontos
a distância 1 da origem
P com projecção ortogonal sobre um plano que passa em 0 à distância x :
(1−2zx+z 2 )−1/2 = ∞ n
n=0 Pn (x)z . O teorema de adição de polinómios de Legendre dá uma fórmula
análoga à do coseno de uma diferença, especificamente:
n
se cos α = cos θ1 cos θ2 +sin θ1 sin θ2 cos β,
X (n−j)!
Pn (cos α) = Pn (cos θ1 )Pn (cos θ1 2)+2 (n+j)! n
P j (cos θ1 )Pnj (cos θ2 )cos jβ ,
j=1 j j
em que Pnj são os polinómios de Legendre associados, Pnj (x) = (1−x2 ) 2 dx
d
j Pn (x) . Encontram-se
provas deste resultado em livros clássicos de Fı́sica-Matemática.
255
Foi obtida independentemente em 1898-99 por J.L. Jensen e em 1899 por Julius Peterson
(1839-1910). A prova aqui sugerida é de C. Carathéodory e L. Fejér em 1907.
Exercises of chapter 10 251
10.7 Prove: Se Ω = {z : Re z > 0}, f ∈ H(Ω) é injectiva, Re f > 0 e f (a) = a para algum
a ∈ Ω , |f ′ (a)| ≤ 1 .
10.8 Prove: A famı́lia das funções holomorfas com partes reais positivas numa região
Ω $ C é normal.
n
10.9 Prove: A famı́lia das funções complexas z 7→ z , com n ∈ N∪{0}, definidas em B1
ou em C\B1 é normal, mas não é normal se as funções são definidas numa região
com pelo menos um ponto de ∂B1 .
10.10 Prove: Seja f ∈ H(C) . A famı́lia das funções complexas f (cz), com c ∈ C, é normal
em cada coroa circular {z ∈ C : r < |z| < R}, em que 0 < r < R, se e só se f é
polinomial.
256
10.11 Prove o Teorema de Convergência de Blaschke
P {fn } ⊂ H(B1 ) é uma
: Se
sucessão limitada e existe uma sucessão {ak } ⊂ B1 tal que ∞ k=1 (1−|ak |) diverge e
lim fn (ak ) existe para todo k ∈ N, {fn } converge uniformemente em subconjuntos
n→+∞
compactos de B1 .
257
10.12 Prove o Teorema de Convergência de Osgood : Se {fn } é uma sucessão
de funções holomorfas numa região Ω ⊂ C que converge pontualmente para
uma função f em Ω (i.e. para cada a ∈ Ω a sucessão numérica {fn (a)} converge
para f (a) ), então {fn } converge uniformemente em subconjuntos compactos de um
subconjunto denso de Ω , e f é holomorfa nesse subconjunto.
(Sugestão: Prove que se F é uma família pontualmente limitada de funções
ontínuas
em Ω , existe Ω
e ⊂ Ω aberto tal que a a família das restrições dos elementos de F a Ω
e é
lo
almente limitada em Ω e aplique o Teorema de Vitali).
e
10.13 Prove: Dado um caminho γ : [a, b] → C e um conjunto aberto Ω ⊂ C , se f : γ ∗× Ω → C
é localmente limitada, para cada w ∈ γ ∗ z 7→ f (w, z) é holomorfa em Ω e para
cada z R∈ Ω w 7→ f (w, z) é integrável à Riemann no caminho γ, então a função
F (z) = γ f (w, z) dw é holomorfa em Ω , para cada z ∈ Ω w 7→ ∂f (w, z) é integrável
R ∂z
à Riemann no caminho γ e F ′ (z) = γ ∂f ∂z
(w, z) dw .
(Sugestão: Aplique o Teorema de Vitali).
10.14 Prove: Coroas circulares são conformes se e só se têm quocientes dos raios iguais.
10.15 Chama-se ponto simples da fronteira de um
onjunto aberto Ω ⊂ C a a ∈ ∂Ω tal
que para toda a su
essão {an } ⊂ Ω
om an → a existe uma
urva em Ω que passa
su
essivamente pelos pontos desta su
essão e termina no ponto a ∈ ∂Ω , ou seja se
existe um
aminho γ : [0, 1] → Ω∪{a}
om γ(t) ∈ Ω para todo t ∈ [0, 1] e uma su
essão
estritamente
res
ente {tn } ⊂ [0, 1]
om tn → 1 tais que γ(tn ) = an .
F (z)−zk = (w −wk )αk Gk (w) , em que Gk é holomorfa e não tem zeros numa vizinhança
Q
de wk . Prove que H(w) = F (w) n k=1 (w−wk )
1−αk é holomorfa e não tem zeros em B , e
1
que é
onstante).
b) Prove: Por qualquer par de pontos-Λ distintos passa uma e só uma recta-Λ.
) Prove: Por um ponto-Λ exterior a uma recta-Λ passam infinitas rectas-Λ que
não intersectam a recta dada.
Portanto, veri
a-se o axioma do paralelismo da Geometria Hiperbólica.
f ) Prove:
1.Uma transformação de Möbius T tal que para algum n ∈ N é T n (z) = z para
todo z ∈ C, é elı́ptica.
2. Uma transformação de Möbius hiperbólica ou loxodrómica T é tal que {T n (z)}
converge para um ponto fixo quando n → +∞ (resp., n → −∞) para todo z ∈ C
que não é ponto fixo; diz-se que o ponto xo é um atractor (resp., repulsor).
n
3. Uma transformação de Möbius parabólica T é tal que tal que {T (z)} converge
para o ponto fixo quando n → ±∞ ; diz-se que o ponto fixo é homoclı́nico.
g) Prove: Os “movimentos” da Geometria Hiperbólica considerados no exercı́cio pre-
cedente — rotações, translações e translações limite de Lobatchevski — são trans-
formações de Möbius, resp., elı́pticas, hiperbólicas e parabólicas.
h) Prove: As representações por matrizes em SL(2, C) de transformações de Möbius
que transformam B1 em si próprio são da forma
1 −γ
±λ , com λ, γ ∈ C, |λ| = 1, |γ| < 1 .
−γ 1
i) Prove:As representações por matrizes em SL(2, C) de transformações de Möbius
que transformam o eixo real em si próprio são as matrizes com componentes reais.
j) Prove: As transformações de Möbius que correspondem a rotações da Superfı́cie
Esférica de Riemann em SL(2, C) têm representação matricial (ver exercı́cio 3.20)
δ −γ
, com δ, γ ∈ C, |δ|2 +|γ|2 = 1 .
γ δ
Observe que
om δ = (p, q) e γ = (r, s) é
δ −γ 1 0 i 0 0 −1 0 −i
=p +q +r +s , com p2 +q 2 +r 2 +s2 = 1 ,
γ δ 0 1 0 −i 1 0 −i 0
que dá a representação
lássi
a do grupo das rotações por quaterniões261 .
261
O corpo dos números complexos C estende o corpo dos números reais R. Qualquer corpo
que estende R também é um espaço linear real. C é um espaço linear real de dimensão 2. Não
há mais corpos que sejam espaços lineares de dimensão finita e estendam R. Enfraquecendo
as propriedades básicas da multiplicação de um corpo sem exigir comutatividade obtém-se a
noção de anel de divisão. Os quaterniões H são um anel de divisão que estende os anéis de
divisão C e R. Qualquer anel de divisão que estende R também é um espaço linear real. H é
um espaço linear real de dimensão 4 ; é o subespaço do espaço linear real das matrizes complexas
2 × 2 gerado pelas quatro matrizes no lado direito da igualdade que precede a referência a esta
nota de pé de página: 1, I, J, K = IJ. As regras básicas da multiplicação (não comutativa) de
quaterniões são: q1 = q = 1q para todo q ∈ H , I2 = J2 = 1, IJ = −IJ = K, JK = −KJ = I,
KI = −IK = J. Os quaterniões foram introduzidos numa publicação de W.R. Hamilton de 1853.
Em 1878 Ferdinand Georg Frobenius (1849-1917) estabeleceu que não há mais anéis de divisão
que são espaços lineares de dimensão finita e estendem R e C. Enfraquecendo ainda mais as
propriedades da multiplicação não exigindo associatividade obtém-se precisamente uma outra
estrutura algébrica que estende R, C e H: os números de Cayley ou octoniões, que apareceram
em 1845 numa publicação de A.Cayley. A prova que não há mais estruturas algébricas de dimensão
finita com as propriedades referidas foi obtida em 1958 conjuntamente por J. Milnor e Raoul Bott
(1923-) e, independentemente, por Michel Kervaire (1927-2007). J. Milnor recebeu a Medalha
Fields em 1962 por ter provado que uma superfı́cie esférica de dimensão 7 pode ter várias estruturas
diferenciais, o que levou à criação da Topologia Diferencial.
Exercises of chapter 10 255
10.21 Seja Ω⊂C uma região tal que nenhuma
omponente
onexa do seu
omplementar
no plano
omplexo estendido C∞ é um ponto, e a ∈ Ω . Chama-se função de
Green265 de Ω
om singularidade em a a z 7→ G(z, a) harmóni
a em Ω\{a} tal que
g(z) = G(z, a)+ log |z−a| é harmóni
a numa vizinhança de a e G(z, a) → 0 quando
z → b ∈ ∂Ω∞ , em que ∂Ω∞ designa a fronteira de Ω em C∞ . Prove:
a) Existência e Unicidade da Função de Green: Existe uma e só uma função
G : {(z, a) ∈ Ω× Ω : z 6= a} → C tal que z 7→ G(z, a) é a função de Green de Ω com
singularidade em a .
b) A função de Green de um cı́rculo Br (a) ⊂ C , em que r > 0 , com singularidade
em a ∈ C é G(z, a) = − log |z−a|
r
(Figura 10.20).
265
As funções de Green foram introduzidas por G. Green em 1828 no trabalho Essay on the
Application of Mathematical Analysis to the Theory of Electricity and Magnets.
266
Como se viu no exercı́cio anterior, com transformações conformes preliminares, se necessário,
é sempre possı́vel conseguir esta situação.
258 Conformal mappings
R R
(Sugestão: Aplique a Fórmula de Green Ω (u∆v−v∆u) = ∂Ω
∂v
u ∂n ∂u
−v ∂n ds , que pode ser
obtida
om o Teorema da Divergên
ia em R2 ).
b)A solução do Problema
R de Dirichlet ∆u = 0 em Ω , u = f em ∂Ω , em que f é C 1
em ∂Ω , é u(z) = γ f ∂G
∂n
(·, z) ds .
Verique que para Ω = BR (a) esta é a Fórmula de Poisson obtida no
apítulo 8.
(Sugestão: Com d(z) = 2R − |z − z0 | , = {z ∈ B2R (z0 ) : u(z) = 0}, F = ∪z∈E Bd(z)/100 (z)
P
e γ = z∈E Md(z)/100 (z) , es
olha z1 ∈ E tal que Md(z1 )/100 (z1 ) ≥ γ/2, designe
d(z )
r = 1001 e es
olha z2 = B10r (z1 ) tal que M10r (z1 ) ≤ 2u(z2 ) . Se z2 ∈ F , mostre que
M10r (z1 ) ≤ 2u(z2 ) ≤ 2γ ≤ 4Mr (z1 ) . Se z2 ∈
/ F ,
onsidere z ∈ F no segmento de re
ta de
z1 a z2 de modo a ser o úni
o ponto do segmento de re
ta de z a z2 em F e mostre que
para
ada ponto w 6= z neste segmento de re
ta É u ≥ 0 em Br/4 (w) . O segmento de
re
ta pode ser
oberto por 80
ír
ulos
om raios r8 e
entros em pontos deste segmento e
use a desigualdade de Harna
k e M10r (z1 ) ≤ 2u(z2 ) para mostrar que existe θ ≥ 1 tal que
M10r (z1 ) ≤ 2u(z2 ) ≤ 2θ 80 u(z) ≤ 4θ 80 Mr (z1 ) .
269
b) Dê uma prova alternativa do Pequeno Teorema de Pi
ard para funções intei-
ras, baseada na Desigualdade de Harna
k e no Teorema de Uni
idade para Funções
Harmóni
as. (Sugestão: Suponha f ∈ H(C) não
onstante que não assume os valores 0 e
1,
onsidere as funções harmóni
as u0 = log |f | e u1 = log |f −1| e dena u+ 0 = max(u0 , 0),
u+ + +
1 = max(u1 , 0). ∃c>0 : |u0 − u1 | ≤ c e max(u0 , u1 ) ≥ −c . Mostre
om a) que existem
su
essões {zn } ⊂ C , {rn }, {Cn } ⊂ ]0, +∞[ tais que Cn → 0 , Cn uj (zn+rn z) → vj (z) quando
n → +∞ para |z| ≤ 1 e j = 0, 1 , em que v0 , v1 são funções harmóni
as não identi
amente
nulas tais que v0+ = v1+ , max(v0 , v1 ) ≥ 0 , v0 (0) = v1 (0) = 0 , e obtenha uma
ontradição
om
a uni
idade de funções harmóni
as).
269
A ideia de uma prova do Pequeno Teorema de Picard a partir de propriedades elementares
de funções harmónicas deve-se a A. Eremenko e Mikhail Sodin, em 1992. O resultado da alı́nea a)
permitiu simplificar a prova.
270
Este integral foi introduzido em 1829 por R C.G. Jacobi. É um caso particular de integral
elı́ptico. Os integrais elı́pticos são da forma R(z, w(z)) dz, em que R é uma função racional e
w 2 (z) é uma função polinomial do 3o ou 4o graus com zeros distintos. Da expansão de funções
racionais emR fracções Rparciais resulta queR os integrais elı́pticos são combinações lineares de integrais
1
dos tipos w(z) dz , (z−a)1k w(z) dz e (z−b)1k w(z) dz , em que w(z) é da forma atrás indicada, a
é um dos zeros de w 2 (z), b é um número complexo que não é zero de w 2 (z) e k ∈ N . A integrais
destes tipos chama-se integrais abelianos, resp., de 1a , 2a e 3a espécie.
271
As funções elı́pticas têm aplicações importantes. Tiveram contribuições importantes de C.F.
Gauss, N.H.Abel, C.Jacobi, J.Liouville, K.Weierstrass, B.Riemann, Charles Hermite (1822-1901).
260 Conformal mappings
d) A soma dos resı́duos de uma função elı́ptica em todos os pólos no seu paralelo-
gramo fundamental é 0 , e uma função elı́ptica não constante tem ordem ≥ 2 .
e) Uma função elı́ptica não constante tem o mesmo n de pólos e zeros no parale-
o
Im
Re
-1 -1/2 1/2 1
Im
iy
i2
i3/2 S
i/2
Re
-1/2 1/2 1
R' R
i/2
Re
-1 -1/2 1/2 1
Figura 10.27: Figura de apoio ao exercı́cio 10.32.d)
Exercı́cios com comprimento extremo e distância extrema
10.33 Determine a máxima distân
ia extrema de um ar
o e um raio de uma
ir
unferên
ia
no plano
omplexo.
10.34 Considere um triângulo topológi
o que
onsiste numa
urva de Jordan
om 3 dis-
tintos dos seus pontos (os vérti
es do triângulo),
om os lados numerados 1,2,3, no
plano
omplexo. Cal
ule o
omprimento extremo do
onjunto das
urvas re
ti
á-
veis
om iní
io no lado 1, m no lado 3 e um ponto no lado 2.
10.35 Cal
ule o
omprimento extremo do
onjunto das
urvas em 8 do plano
omplexo
om índi
e +1 e -1 em torno de pontos, resp., a+ e a− xos.
Capı́tulo 11
Prolongamento analı́tico
e funções analı́ticas globais
11.1 Introdução
É interessante es
lare
er se uma função analíti
a numa região de C pode ser
prolongada a uma função analíti
a num
onjunto maior. O
aso elementar
é o prolongamento da função à união dos
ír
ulos de
onvergên
ia das sé-
ries de Taylor
entradas em
ada ponto da região, o que se rela
iona
om
as noções de fronteira natural de função holomorfa e de domínio de holo-
mora273 , obje
to dos exer
í
ios 11.1 a 11.5. Outros
asos simples vistos em
apítulos anteriores são o Prin
ípio de Simetria e o resultado de H. S
hwarz
de prolongamento de uma função analíti
a através de um ar
o analíti
o274 .
Como base para
onsiderar prolongamentos analíti
os de funções, K.Wei-
erstrass introduziu em 1861 a noção de elemento de função analíti
a
omo
par ordenado de uma função analíti
a numa região e essa região, e
onsiderou
prolongamentos de um elemento de função analíti
a ao longo de
aminhos
por uma
adeia nita de su
essivos elementos de função analíti
a
om as re-
giões asso
iadas aos elementos de função analíti
a a
obrirem a
urva que o
aminho des
reve; também
onsiderou a
onsistên
ia de prolongamento ana-
líti
o ao longo de
aminhos
om o mesmo par de pontos ini
ial e nal que
podem ser
ontinuamente deformados um no outro numa região de C (i.e.
são homotópi
os na região) de tal modo que o elemento de função analíti
a
tem prolongamento analíti
o ao longo dos
aminhos intermédios. Este re-
sultado,
hamado Teorema de Monodromia, só apare
eu publi
ado em 1922
na 2a edição do livro de A. HurwitzVorlesungen Über Allgemeine Funktio-
nentheorie und Elliptische Funktionen, que in
luiu uma se
ção sobre Teoria
de Funções Geométri
a por R. Courant.
Uma função analíti
a global é um
onjunto de elementos de função ana-
líti
a
om
ada dois elementos prolongamento analíti
o do outro. Diz-se que
273
A ideia de funções holomorfas terem fronteiras naturais e de domı́nio de holomorfia foi de K.
Weierstrass, cerca de 1842. Incluiu-a nas suas lições a partir de 1863, mas só a publicou em 1866.
274
Ver exercı́cios 6.7 a 6.10.
266 Prolongamento analı́tico e funções analı́ticas globais
holomorfa numa região contém um cı́rculo com raio pouco menor do que
metade do valor máximo do produto do valor absoluto da derivada da função
em cada ponto pela distância deste ponto à fronteira, que está contido na
imagem de um cı́rculo no domı́nio em que a função é injectiva.
Também apli
ando a sua versão geométri
a do Lema de S
hwarz no artigo
de 1938, L.Ahlfors obteve uma versão quantitativa do Teorema de S
hottky
de 1904 que tinha sido enun
iado: para todo α > 0 e 0 ≤ β ≤ 1 existe uma
constante C(α, β) tal que se Ω ⊂ C é uma região simplesmente conexa que
contém B1 , f ∈ H(Ω) não assume os valores 0 e 1, e |f (0)| ≤ α , então
|f (z)| ≤ C(α, β) para z ∈ Bβ (0) (ver exer
í
io 11.14), dando uma majoração
do módulo de uma função holomorfa em B1 que não assume os valores 0
e 1 em
ada ponto em termos dos módulos do valor da função em 0 e da
distân
ia do ponto a 0 . As 1as versões quantitativas tinham sido obtidas
em 1933 por A. Ostrowski,
om valores muito piores. Em 1935 A. Puger
obteve
om funções modulares uma versão quantitativa da mesma ordem
de grandeza de L. Ahlfors, e R. Robinson em 1939, W. Hayman em 1947, J.
Jenkins em 1955 e S.Zhang em 1990 obtiveram versões su
essivamente mais
fortes. Em 1980 J. Hampel renou as estimativas de W. Hayman e de J.
Jenkins
om um método semelhante ao de L. Alfhors e obteve estimativas
que melhoraram signi
ativamente a estimativa de L. Ahlfors283 .
As funções modulares foram introduzidas por H. S
hwarz em 1873. São
funções meromorfas no semiplano superior
omplexo abertoPinvariantes sob
transformações de Möbius e
om série de Laurent f (z) = ∞ n=−m cn e
i2πnz
1
fk (z) = |z|ei 2 (Arg z+4π) para k = 5, 6 . (f0 , Ω0 ), (f1, Ω1 ), .. . , (f6 , Ω6 ) é uma
2
cadeia de elementos de função analı́tica tal que fk (z) = z para z ∈ Ωk ,
k = 0, . . . , 6 e Ω0 = Ω3 = Ω6 , f6 = f0 6= f3 , Ω1 = Ω4 , f1 6= f4 , Ω2 = Ω5 , f2 6= f5 .
Como funções holomorfas numa região
oin
identes num sub
onjunto
aberto da região são iguais em toda a região e interse
ções de regiões são
onjuntos abertos, duas
adeias de elementos de função analíti
a em que
as regiões em
ada elemento de função analíti
a são iguais duas a duas,
pela mesma ordem,
om as funções dos 1o s elementos de função analíti
a
das duas
adeias iguais, são iguais. Logo, um elemento de função analíti
a
(f1 , Ω1 ) e uma N -pla ordenada de regiões (Ω1 , . . . , ΩN ) tais que Ωk−1 ∩Ωk 6= ∅
para k = 2, . . . , N , determinam univo
amente a
orrespondente
adeia de
elementos de função analíti
a.
O resultado seguinte prossegue a determinação unívo
a de prolongamento
analíti
o ao longo de
aminhos homotópi
os.
(11.2) Teorema de Monodromia: Se γ1 , γ2 : [0, 1] → C são caminhos
homotópicos numa região R ⊂ C com os mesmos pontos inicial e final,
um elemento de função analı́tica (f, Ω) tem prolongamentos analı́ticos
ao longo de todos os caminhos em R com os mesmos pontos inicial e
final de γ1 , γ2 e os prolongamentos ao longo destes caminhos são, resp.,
(f1 , Ω1 ) e (f2 , Ω2 ) , então f1 = f2 em Ω1 ∩ Ω2 .
I 01
0 0
a b a b
1 1
11 I 12
0 0
a b a b
1 1
0 0
a b a b
1 1
0 0
a b a b
Figura 11.2: Subdivisões sucessivas ao meio de subrectângulos de
I0 = [a, b]×[0, 1] para apoio à prova do Teorema de Monodromia
11.3 Funções analı́ticas globais 273
S
U
c' a a'
b b'
c a' c c'
b'
a a'
a
b
e ψ± ± (∞, 1) = (0, ±1) para (z, w) = ±(∞, 1) , pois a restrição de ψ± a
Uc (±∞)\{±(∞, 1)} é uma transformação
onforme sobre
V± (0) = (x, y) ∈ Γ e : 0 < |x| < 1 \{(0, ±1)} ,
c
em que Γe = (x, y) ∈ C2 : y2 − QNk=1(1−xzk ) = 0 e c > |zk | para k = 1, . . . , N .
Diz-se que uma função f denida num sub
onjunto aberto V de uma super-
fí
ie de Riemann S é meromorfa em V se f : V → C ∪ {∞} , f −1 {∞}
é um
onjunto de pontos isolados deV , a restrição de f a V \f −1 {∞} é
holomorfa e para
ada P ∈ f −1 {∞} existe uma
arta (U, ϕ) de S tal que
P ∈ U e a função f ◦ ϕ−1 é meromorfa
omo função
omplexa de variável
omplexa. A
ada elemento de f −1 {∞}
hama-se pólo de f e diz-se que
a ordem de um pólo de f é a ordem do
orrespondente pólo da função
omplexa de variável
omplexa f ◦ϕ−1 . Chama-se zero de f a um zero da
função holomorfa que é a restrição de f a V \ f −1 {∞} e
hama-se ordem
de um zero de f à ordem deste zero dessa função holomorfa. Estas deni-
ções são independentes dos sistemas de
oordenadas adoptados. Designa-se
o
onjunto das funções meromorfas em U por M (U ) .
Se S é uma Superfı́cie de Riemann, H(S) e M (S) com as operações
usuais são espaços lineares complexos e álgebras complexas comutativas (a
multiplicação de elementos de H(S) (resp., M (S)) definida ponto a ponto é
fechada), e M (S) é um corpo.
Diz-se que duas Superfí
ies de Riemann são isomorfas ou conformes se
existe uma bije
ção holomorfa
om inversa holomorfa de uma sobre a outra.
Uma função polinomial não constante P é holomorfa em C e é mero-
morfa na Superfı́cie Esférica de Riemann C∞ .
As propriedades de funções
omplexas holomorfas invariantes sob trans-
formações
onformes passam para funções holomorfas entre Superfí
ies de
Riemann, pois a prova de uma propriedade geral para funções holomorfas
entre Superfí
ies de Riemann a partir da propriedade
orrespondente para
funções
omplexas apenas requer a intermediação de sistemas de
oordena-
das, ou seja de transformações
onformes de
onjuntos abertos de C , e.g. se
R e S são Superfí
ies de Riemann, então:
Se funções f, g ∈ H(R, S) são iguais num subconjunto de R com pontos
limite, são idênticas em R .
Se U ⊂ S é aberto, a ∈ U e f ∈ H(U \ {a}, C) é limitada em V \ {a}
para alguma vizinhança V de a, f pode ser estendida por continuidade
a um elemento de H(U, C) .
Se f ∈ H(R, S) não é constante, a ∈ R e b = f (a) , existem k ∈ N e
sistemas de coordenadas de R e S, resp., ϕ : U → C e ψ : V → C com
a ∈ U , ϕ(a) = 0 , b ∈ V, ψ(b) = 0 , f (U ) ⊂ V e ψ ◦ f ◦ ϕ−1 (z) = z k, z ∈ ϕ(U ) .
Se f ∈ H(R, S) não é constante, f é função aberta.
Se f ∈ H(R, S) é injectiva, f −1 ∈ H f (R), R .
Se f ∈ H(S, C) não é constante, |f | não tem máximo em S.
A propriedade seguinte resulta da
onexidade de Superfí
ies de Riemann.
(11.9) Se R e S são Superfı́cies de Riemann, f ∈ H(R, S) não é cons-
tante e R é compacta, então f é sobrejectiva.
288 Prolongamento analı́tico e funções analı́ticas globais
em V \ϕ(P ) são em C∞ , que é limitado, pelo que f ◦ϕ−1 pode ser estendida
por continuidade a uma função holomorfa em V ; logo, também g ◦f ◦ ϕ−1
pode; portanto f ∈ H(S, C∞ ) . Reciprocamente, se f ∈ H(S, C∞ ) não é
identicamente ∞ , o conjunto em que f tem valor ∞ não tem pontos limite;
logo, é um conjunto de pontos isolados; portanto, f ∈ H(S \P ) . Q.E.D.
11.5 Caracterização algébrica de regiões conformes 289
m
n ∈ N , o que só é possı́vel se va,f (q) = d−1 . Como d ∈ N\{1}, tal é impossı́vel
com m ∈ N . Logo, va,f (1C ) ∈ N ∪ {0} para a ∈ S e f ∈ H(R)\{0} .
Em consequência, oa h(f ) = va (f ) = va (1C ◦f ) = va,f (1C ) ∈ N ∪{0} para
a ∈ S e, portanto, f ∈ H(R)\{0} ⇒ h(f ) ∈ H(S) . Como h(0) é uma função
constante definida em S, também h(0) ∈ H(S) , e h H(R) ⊂ H(S) .
A extensão para superfı́cies de Riemann gerais R, S fica como exercı́cio
de aplicação de cartas locais. Q.E.D.
desigualdade é equivalente a
(1−|z1 |2 ) (1−|z2 |2 )
1 − δ2 (z1 , z2 ) = |1−z1 z2 |2
>0 .
Com z1 a aproximar-se de z2 obtém-se que a métri
a295
om elemento de
omprimento ds = 1−|z| , que é invariante sob automorsmos
onformes de
2 |dz|
2
ed(0,z)/2 − e−d(0,z)/2
ed(0,z) − 1
δ(0, z) = ed(0,z) + 1
=
ed(0,z)/2 + e−d(0,z)/2
= tanh d(0,z)
2 .
Como δ e d são invariantes
onformes, δ = tanh 2 d
z −z
para (z1 , z2 ) ∈ B1 ×B1,
d(z1 , z2 ) = 2 arctanh δ(z1 , z2 ) = 2 arctanh 1−z 1 2
1 z2
, (z1 , z2 ) ∈ B1 ×B1 ,
hamada distância de Poincaré em B1 . À métri
a
om elemento de
om-
primento ds = 1−|z|
2 |dz|
hama-se métrica de Poincaré ou métrica hiper-
2
Re Re
-1 1 -1 1
-i -i
2
(11.16) Se λ : B1→ ]0, +∞[ é C 2 , K(λ) ≤−1, ρ(z) = 1−|z| 2 , então ρ ≥ λ .
com 0 < r < 1 , que satisfaz a condição do perı́odo precedente e tem mé-
trica associada com a mesma curvatura de λ , pelo que ρ(z) ≥ rλ(rz) e, por
continuidade, para r → 1 obtém-se ρ ≥ λ . Q.E.D.
A
ondição de λ > 0 ser C 2 é ex
essivamente restritiva, o que pode
ser resolvido de maneira semelhante ao uso de funções subharmóni
as para
estabele
er existên
ia de solução do Problema de Diri
hlet298 .
Chama-se métrica ultrahiperbólica numa região Ω ⊂ C a uma métri
a
om elemento de
omprimento λ(z) |dz|
om λ : Ω→ ]0, +∞[ tal que:
1. λ é semicontı́nua superior, i.e. w→z
lim λ(w) ≤ λ(z) para todo z ∈ Ω ;
2. para
ada a ∈ Ω
om λ(a) > 0 existe uma métrica de suporte da
métri
a
om elemento de
omprimento λ(z) |dz| , λ0 (z) |dz|
om λ0 > 0
denida e C 2 numa vizinhança V de a tal que λ0 ≤ λ em V , λ0(a) = λ(a)
e ∆ log λ0 ≥ λ20 em V .
(11.17) Se λ(z) |dz| é o elemento de comprimento de uma métrica
2
ultrahiperbólica numa região Ω ⊂ C e ρ(z) = 1−|z| 2 , ρ ≥ λ em Ω .
satisfaz K(λ0 ) = − λ12 ∆ log λ0 = −1, λ0 (z0 ) = λ(z0 ) e λ0 (z) ≤ λ(z) para z
0
próximo de z0 em √ pontos correspondentes a t ∈ [0, δ] com δ ≤ R(w0 ) tais
1
que ϕ(t) = (a2 − t) t é crescente em [0, δ], e, como ϕ′ (t) = 2√ t
a 2 − 3t ,
2
pode-se tomar δ = a3 . Portanto, se a2 > 3β(f ) , a métrica com elemento de
comprimento λ(z) |dz| é ultrahiperbólica.
Do Lema de Schwarz-Pick-Ahlfors (11.18), λ f (z) |f ′ (z)| ≤ 1−|z| 2
2 para
z ∈ B1 , pelo que, com z = 0 , é λ f (0) ≤ 2 e, portanto,
q p
a ≤ 2 a2 −R f (0) R f (0) ≤ 2 a2 −β(f ) β(f ) .
p p p √
Com a → 3β(f ) obtém-se 3β(f ) ≤ 4β(f ) β(f ) , i.e. β(f ) ≥ 14 3 . Q.E.D.
λ 1z = |z|2 λ(z) . Esta extensão de λ é contı́nua em C\{0, 1}. Designando por
L o segmento de recta que separa S1 de S2 sem as extremidades, a restrição
da métrica inicial com elemento de comprimento λ(z) |dz| em Be4 (0)\{0} a
S1∪ L ∪ S2 é uma métrica de suporte da restrição da métrica estendida como
indicado ao mesmo conjunto,
√ se ∂λ
∂x√< 0 em L . A transformação conforme
′
ζ é a função ζ(z) = √1−z+1 , com 1 − z + 1 > 0 , pelo que ζζ = z √11−z e,
1−z−1
′ ′
portanto, log ζζ = 2z(1−z) 3z−2
. Logo, com z = (x, y), x, y ∈ R ,
∂ log λ(x,y) ζ ′ (z) ′ ζ ′ (z) ′ 1
∂x = Re log ζ(z) +Re ζ(z) 4−log |ζ(z)|
1 1 √
= − 4|z| 2 + |z|2 Re z 4−log1|ζ(z)| < 0 ,
√
pois |ζ(z)| < 1 e Re z < 1 . Como ∂ log∂x λ(x,y)
= λ(x,y)1 ∂λ ∂λ
∂x , é ∂x < 0 . Em
consequência das relações de simetria assinaladas, λ é métrica de suporte
de ρ0,1 em C \ {0, 1} e, portanto, ρ0,1 ≥ λ em C \ {0, 1} , que é a desigual-
dade no enunciado. A fórmula assimptótica quando z → 0 no enunciado é
consequência imediata desta desigualdade. Q.E.D.
Im
S2 S1
Re
-1 -1/2 1/2 1
ζ(s)
4−log |ζ(f (z))|
Como ζ (s) ≥ − |ζ| (s), é 1+|z|
4−log |ζ(f (0))| ≤ 1−|z| . Da fórmula para ζ na prova
|ζ(s)|
|s| |s|
do resultado precedente, é |ζ|(s) = |√1−s+1| 2 , pelo que (1+ 2)2 ≤ |ζ(s)| ≤ |s| e
√
1+|z|
−log |ζ(f (w))| < 4−log |ζ(f (w))| ≤ 4−log |ζ(f (0))| 1−|z|
√ 1+|z| 1+|z|
≤ 4−log |f (0)|+2 log(1+ 2) 1−|z| < 6−log |f (0)| 1−|z| .
1+|z|
Logo, − log |f (z)| < 6−log |f (0)| 1−|z| .
Para um caminho no integral considerado no 1o parágrafo que não seja
em S1 mas termine em f (z) ∈ S1 , a 1a estimativa do integral no parágrafo
precedente é válida para o integral que inicia no último ponto do caminho de
f (0) a f (z) tal que w0 ∈ ∂S1 e, como |w0 | ≥ 21 , da última desigualdade do pa-
rágrafo precedente, − log |f (z)| < 6+log 2| 1+|z|
1−|z| , que também é trivialmente
válida se f (z) ∈ S1 .
A conjugação das desigualdades finais dos parágrafos precedentes dá
+
1
1+|z|
− log |f (z)| < 6 + log 2 + log |f (0)| 1−|z| ,
1
que é a desigualdade no enunciado para f . Q.E.D.
O resultado seguinte foi obtido em 1879 por E. Pi
ard
om funções mo-
dulares. A prova aqui dada é de L. Ahlfors
om uma ideia de E. Landau de
1904 modi
ando um argumento da prova dada por E. Borel em 1896.
(11.23) Pequeno Teorema de Picard para Funções Inteiras:
Funções inteiras não constantes assumem todos valores de C excepto
possivelmente um.
1
0 e um deles ∞ e aplica-se a substituição precedente). A função g = f −c é
1 1
inteira e não assume os valores a−c e b−c , pelo que, do resultado precedente,
é constante. Portanto, também f é constante. Q.E.D.
Como os
ontradomínios de ez e tan z são, resp., C\{0} e C\{−i, +i} ,
os pequenos teoremas de Pi
ard pre
edentes são óptimos.
(11.25) Toda função meromorfa em Br (a) \ {a}, com r > 0 , que não
assume três valores de C∞ tem extensão meromorfa a Br (a) .
Dem. Se f ∈ H(Br (a))\{a} para algum r > 0 tem uma singularidade essencial
em a e não assume 2 valores de C , pelo que não assume 3 valores de C∞ , do
resultado precedente, tem uma extensão meromorfa a Br (a) , em contradição
com a singularidade em a ser essencial. Logo, f só pode não assumir um
valor de C . Se f não assume um valor de C , e w ∈ C fosse assumido só um
no finito de vezes, considerando 0 < R < r tal que BR (a) não contém pontos
em que w é assumido, f não assumiria em BR (a) dois valores de C , o que é
impossı́vel; logo, se f não assume em Br (a) um valor de C todos os outros
têm de ser assumidos um infinitas vezes. Analogamente, se f assume todos
valores de C e se existissem dois valores w1 , w2 ∈ C assumidos só um no finito
de vezes, para algum R ∈ ]0, r[ f não assumiria em BR (a) dois valores de C ,
o que é impossı́vel. Logo, se f assume Br (a)\{a} todos valores de C apenas
um pode ser assumido um no finito de vezes. Q.E.D.
Este resultado pode ser usado para provar o Grande Teorema de Pi
ard
om a prova alternativa
seguinte: supondo a singularidade essen
ial na origem
e f ∈ H Br (0)\{0} para algum r > 0 e que f não assume os valores 0 e 1,
a su
essão das funções fn(z) = f nz seria uma família normal
omo função
om valores em C∞ , pelo que existiria uma subsu
essão {fn } uniformemente
onvergente em sub
onjuntos
ompa
tos de Br (0)\{0} para uma função
om
k
valores em C∞ e {fn } ou f 1 seria uma su
essão limitada em ∂B (0) .
k
r
No 1o
aso existiria M > 0 tal que |f (z)| ≤ M para |z| = 2nr para todo k ∈ N .
nk 2
Este argumento prova que se f ∈ H Br (a) \ {0} para alguns r > 0 e
z
a ∈ C tem uma singularidade essencial em a , então f n não é normal
em Br (a)\{0}.
Com o Teorema de Montel-Carathéodory, C. Carathéodory e E. Landau
anaram em 1911 o Teorema de Vitali (10.8) de propagação de
onvergên
ia.
(11.30) Teorema de Carathéodory-Landau: Se {fn } é uma sucessão
de funções holomorfas numa região Ω ⊂ C que não assumem os mesmos
dois valores a, b ∈ C e {fn (z)} é uma sucessão convergente para z num
conjunto com pontos limite em Ω , {fn } converge uniformemente em
subconjuntos compactos de Ω .
Exercı́cios
11.1 Diz-se que uma região Ω ⊂ C é o domı́nio máximo de existência de uma fun-
ção holomorfa f f ∈ H(Ω) e não existe extensão de f a uma função holomorfa
se
numa região que
ontém propriamente Ω . Diz-se que uma região Ω ⊂ C é o domı́-
nio de holomorfia de uma função f se f ∈ H(Ω) e para
ada a ∈ Ω o
ír
ulo de
onvergên
ia da série de Taylor de f
entrada em a está
ontido em Ω . Prove:
a) O domı́nio de holomorfia de uma função complexa f também é o domı́nio má-
ximo de existência da função holomorfa f .
b) Um cı́rculo aberto que é o máximo domı́nio de existência de uma função holo-
morfa também é o seu domı́nio de holomorfia.
) O domı́nio máximo de definição de uma função holomorfa pode ser diferente do
seu domı́nio de holomorfia.
1
P∞ 2n
d) Os domínios de holomora de z , z e n=1 z são, resp., C , C\{0} e B1 .
300
Foi provado em 1916 por M. Riesz.
301
P. Fatou provou o caso particular para arcos de convergência que consistem num único ponto
e a sucessão {nan } é limitada em 1906. O resultado geral foi provado por M. Riesz em 1911.
304 Prolongamento analı́tico e funções analı́ticas globais
11.3 Chama-se ponto fronteiro visı́vel de uma região Ω ⊂ C a a ∈ ∂Ω tal que existe um
ír
ulo aberto B⊂Ω tal que a ∈ ∂Ω∩∂B . Chama-se conjunto bem distribuı́do
de pontos fronteiros de uma região Ω ⊂ C a W ⊂ ∂Ω tal que para
ada b ∈ Ω e
r > 0
om Br (b)∩∂Ω 6= ∅ existe um ponto fronteiro visível de Ω , a ∈ Br (b)∩W , na
omponente
onexa de Br (b) ∩ Ω 6= ∅ que
ontém b .
b) Prove: Todo conjunto bem distribuı́do de pontos fronteiros visı́veis de uma região
Ω ⊂ C é denso em ∂Ω .
) Prove: Se W é um conjunto numerável bem distribuı́do de pontos fronteiros
visı́veis de uma P região Ω ⊂ C , {an } é uma enumeração de W e {bn } ⊂ C \ {0} é
∞ 304
tal que a série
P∞ n=1 |cn | converge , então o domı́nio de holomorfia da função
cn
f (z) = n=1 z−a n
é Ω .
(Sugestão: f (z) → ∞ quando z → cn ao longo de um raio de um
ír
ulo aberto B ⊂ C\∂Ω ).
d) Prove o Teorema de Existência para Domı́nios de Holomorfia305 : Para
toda região Ω ⊂ C existe uma função complexa que tem domı́nio de holomorfia Ω .
(Sugestão: Para Ω 6= C,
onsidere um
onjunto numerável Q ⊂ Ω denso em Ω e para
ada
q ∈ Q
onsidere an (q) ∈ ∂Ω∩Br (q) , em que r > 0 é o maior raio dos dis
os abertos tais que
Br (q) ⊂ C\Ω e aplique b)
om W = {an (q) : q ∈ Q} ).
11.4 Se Ω ⊂ C é uma região e f ∈ H(Ω) , diz-se que a é um ponto de singularidade
de f se em alguma vizinhança V de a não existe qualquer função em H(V ) que
oin
ide
om f numa
omponente
onexa de V ∩ Ω .
Prove: Se Ω ⊂ C é uma região e f ∈ H(Ω) , as condições seguintes são equivalentes:
1. Ω é o domı́nio de holomorfia de f .
2. Se R ⊂ C é uma região que intersecta Ω e C\Ω e g ∈ H(Ω) ,
int {z ∈ R ∩ Ω : f (z) = g(z)} = ∅ .
3. Todos pontos de ∂Ω são pontos de singularidade de f .
(Sugestão: Prove: não 1 ⇒ não 2 ⇒ não 3 ⇒ não 1 ).
11.5 a) Chama-se conjunto periférico numa região Ω ⊂ C a um
onjunto P de pontos
isolados de Ω tal que se C é uma
omponente
onexa de uma região R∩Ω , então
todos pontos de R ∩ ∂C são pontos de a
umulação de P ∩ C .
302
Foi provado por A. Ostrowski em 1921.
303
L. Kronecker deu em 1863 este exemplo mais simples do que os de K. Weierstrass para fun-
ções definidas por série de potências com domı́nio de holomorfia coincidente com o cı́rculo de
convergência da série e obteve o domı́nio de holomorfia de θ utilizando simetrias desta função.
304 P P∞
As séries ∞ cn
n=1 z−an com n=1 |cn | convergente foram consideradas em 1887 por E.Goursat
para construir funções holomorfas com “fronteiras naturais”.
305
K. Weierstrass foi o 1o a afirmar que todas regiões são domı́nios de holomorfia, em 1880. A 1a
prova foi em 1885 por C.D. Runge com o seu teorema de aproximação de funções holomorfas por
funções racionais que foi desenvolvido para este efeito apesar de ter depois tido diversas aplicações
e extensões que lhe deram uma importância própria. Em 1912 W. Osgood publicou uma prova
baseada no Teorema de Factorização de Weierstrass, como a sugerida no exercı́cio 11.5.c. A.
Pringsheim publicou em 1932 a 1a prova com as séries de E. Goursat referidas no exercı́cio 11.3.c
e creditou-a a Friedrich Hartogs (1874-1943). Em 1938, Jean Besse observou que esta prova podia
ser simplificada explorando propriedades da função junto à fronteira do domı́nio, como é sugerido
nesse exercı́cio.
Exercı́cios do capı́tulo 11 305
Prove: Se o conjunto dos zeros Z(f ) de uma função complexa f holomorfa numa
região Ω ⊂ C é periférico em Ω , então Ω é um domı́nio de holomorfia de f .
(Sugestão: Mostre que a existên
ia de a ∈ ∂Ω que não é ponto de singularidade de f
ontradiz Z(f ) ser periféri
o em Ω e aplique o resultado do exer
í
io pre
edente).
b) Prove: Para toda região Ω ⊂ C existem conjuntos periféricos em Ω .
(Sugestão: Considere um
onjunto numerável Q denso em Ω , enumere-o por uma su
essão
{qn } e es
olha um ponto an
om d(an , ∂Ω) < n
1
. Para qualquer região R ⊂ C , C uma
omponente
onexa de R ∩ Ω e p ∈ R ∩ ∂C ,
onsidere Br (p) ⊂ R e um ponto qn ∈ Q em
Br (p) ∩ ∂C su
ientemente próximo de p. Mostre que A = {an } é periféri
o em Ω .
) Dê uma prova alternativa do Teorema de Existên
ia para Domínios de Holomora
(exer
í
io 11.3.d)) utilizando a) e b).
(Sugestão: Aplique a
onsequên
ia do do Teorema de Fa
torização de Weierstrass do
exer
í
io 8.23 para obter f ∈ H(Ω)
om Z(f ) igual ao
onjunto A de b) e aplique a)).
306
11.6 Prove a
ara
terização de regiões simplesmente
onexas : Uma região R ⊂ C é
simplesmente conexa se e só se para todo elemento de função analı́tica (f, Ω) , em
que Ω ⊂ R, com prolongamentos analı́ticos ao longo de todos caminhos em R existe
g ∈ H(R) tal que g = f em Ω .
11.7 Des
reva uma realização geométri
a da Superfí
ie de Riemann das funções analí-
ti
as globais denidas pelo seno elípti
o (exer
í
io 10.18) e pela relação de z para
2 2
w estabele
ida pela equação (w −1) = z . Determine e analise as singularidades
desta última, e obtenha a série de Puiseux em 0 .
306
Ver outras caracterizações em (10.32) e no exercı́cio II.11.e).
307
Foi dada por M. Bonk em 1990.
308
Em 1896, E. Borel provou esta afirmação como propriedade geral de funções inteiras obtida
por métodos elementares e deu uma prova alternativa do Pequeno Teorema de Picard.
306 Prolongamento analı́tico e funções analı́ticas globais
11.13 Prove: Se f é uma função inteira que não é uma translação, f ◦f tem um ponto
fixo. (Sugestão: Aplique o Pequeno Teorema de Pi
ard).
309
11.14 a) Prove : Se Ω ⊂ C é uma região simplesmente conexa e f ∈ H(Ω) não assume
os valores 0 e 1, existe g ∈ H(Ω) tal que f (z) = 21 1−cos π cos(πg(z)) para z ∈ Ω ,
e g(Ω) não contém qualquer cı́rculo com raio 1.
(Sugestão: Come
e por mostrar que uma função holomorfa numa região simplesmente
onexa que não assume os valores ±1 é o
oseno de uma função holomorfa na região).
310
b) Prove : Se Ω ⊂ C é uma região simplesmente conexa e f ∈ H(Ω) não assume
os valores 0 e 1, existe g ∈ H(Ω) tal que f (z) = − exp(iπ cosh 2g(z) para z ∈ Ω , e
g(Ω) não contém qualquer cı́rculo com raio 1.
) Obtenha uma prova alternativa do Pequeno Teorema de Pi
ard para funções
311
inteiras
om a), o que é bastante mais simples do que a prova apresentada em
(11.23) porque não invo
a o Teorema de S
hottky-Ahlfors.
309
Este resultado foi provado por Heinz König (1929-) em 1957 por analogia com o de b).
310
Este resultado foi estabelecido por E. Landau em 1916.
311
Esta prova é uma combinação da prova dada por E. Landau em 1929, em que usou b), com a
prova de a) por H. König em 1957.
312
Foi provado em 1904 de modo diferente, quando não se dispunha do Teorema de Bloch.
313
Este resultado foi publicado por E. Landau em 1904. A função óptima pode ser dada expli-
citamente em termos de uma função modular.
Capı́tulo 12
Uniformização de
superfı́cies de Riemann
12.1 Introdução
L.Ahlfors
onsiderou314 o Teorema de Uniformização para Superfí
ies de Ri-
emann simplesmente
onexas talvez o teorema mais importante em toda a
teoria de funções analíti
as de uma variável. Este resultado é o penúltimo
dos 23 Problemas de Hilbert propostos por D. Hilbert no Congresso Inter-
na
ional de Matemáti
a de 1900 em Paris, que esperava poderem
ontribuir
signi
ativamente para o avanço da Matemáti
a no sé
. XX.
Em 1881 H.Poin
aré provou que toda equação algébri
a em duas variáveis
omplexas F (z, w) = 0 , em que F é uma função polinomial de duas variáveis,
pode ser uniformizada através de duas funções Z e W de uma variável
om-
plexa invariantes sob a a
ção de um grupo, tais que F Z(ζ), W (ζ) = 0 . Por
exemplo, a equação z2 +w2 = 1 pode ser uniformizada, entre outras possibi-
lidade, por Z(ζ) = cos ζ , W (ζ) = sin ζ ou por Z(ζ) = 1−ζ
1+ζ , W (ζ) = 1+ζ . A
2ζ 2
2 2
equação w2= z3+az+b pode ser uniformizada por Z(ζ) = ℘(ζ) , W (ζ) = ℘′(ζ) ,
em que ℘ é a função-℘ de Weierstrass (ver exer
í
ios 10.30 e 10.31.a)). A uni-
formização de funções de uma variável
omplexa
orresponde a generalizar
este resultado para funções analíti
as315 .
O Teorema de Uniformização para Superfí
ies de Riemann simplesmente
onexas estende o Teorema do Mapeamento de Riemann que se apli
a a re-
giões simplesmente
onexas propriamente
ontidas no plano
omplexo. Do
Teorema do Mapeamento de Riemann, as regiões simplesmente
onexas no
plano
omplexo são, a menos de transformações
onformes, apenas o
ír
ulo
aberto B1 ou todo plano C . A extensão para todas Superfí
ies de Riemann
simplesmente
onexas só exige a possibilidade adi
ional da Superfí
ie Esféri
a
de Riemann C∞ . Os três tipos de Superfí
ies de Riemann simplesmente
o-
314
No livro Conformal Invariants – Topics in Geometry Function Theory de 1978 citado na
bibliografia final. Este capı́tulo segue partes dos dois ultimos capı́tulos desse livro.
315
Num trabalho de 1883 H.Poincaré expressou a ideia de uniformização de funções na afirmação:
“Seja y qualquer função analı́tica de x, não unı́voca. É sempre possı́vel encontrar uma variável z
tal que x e y são funções unı́vocas de z”.
308 Uniformização de superfı́cies de Riemann
318
Brill, Alexander Wilhelm von (1842-1935). Noether, Max (1844-1921).
319
Em inglês diz-se covering ou covering map.
12.2 Revestimentos e grupo fundamental 311
suficientemente pequeno, α [t, t + δ] ⊂ V , pelo que a componente conexa
de f −1 (V ) que contém β(t) é uma vizinhança de β(t) em R e, como f é
um homeomorfismo local, β pode ser estendido de maneira única a [0, t+δ].
Logo, T ⊂ [0, 1] é aberto relativamente a [0, 1]. Prova-se analogamente que o
complementar de T em [0, 1] é aberto relativamente a [0, 1], e, portanto, T é
fechado relativamente a [0, 1]. Logo, T é simultaneamente aberto e fechado
relativamente ao conjunto conexo [0, 1] , pelo que só pode ser ∅ ou [0, 1] .
Como se supôs que não é o 1o caso, T = [0, 1] . Q.E.D.
(o
aminho γ per
orrido no sentido oposto), pelo que o
onjunto das
lasses
de homotopia de
aminhos em S que
omeçam e terminam em a
om este
produto é um grupo, designado π1(S, a) e
hamado (1o ) grupo fundamen-
tal323 de S com base em a .
Se a, b ∈ S , os grupos π1(S, a) e π1(S, b) podem ser rela
ionados
om um
aminho λ em S de a para b denido em [0, 1] , que existe porque Superfí
ies
de Riemann são, por denição,
onjuntos abertos
onexos. A função Φ :
π1 (S, a) → π1 (S, b) tal que Φ [γ1 ]S,a = [λ◦γ1 ◦λ−1 ]S,a é um isomorsmo de
grupos. Logo, a menos de isomorfismos uma Superfı́cie de Riemann S tem
um único grupo fundamental, designado π1 (S) .
Uma Superfı́cie de Riemann S é simplesmente conexa se e só se π1 (S, a)
para qualquer a ∈ S tem só um elemento, que é a classe de homotopia do
caminho constante com valor a .
Para as Superfí
ies de Riemann
onsideradas nos 6 exemplos do iní
io
da se
ção e a um ponto qualquer na resp. Superfí
ie de Riemann, têm-se
os isomorsmos de grupos fundamentais seguintes: π1 (R, a) ≈ π1(S, a) ≈
π1 (Q, a) ≈ (Z, +) , π1 (L, a) ≈ (1, .) , π1 (S 1 ×S 1 , a) ≈ π1 (P, a) ≈ (Z×Z, +) .
O resultado seguinte estabele
e uma ligação importante entre revesti-
mentos e o grupo fundamental de uma Superfí
ie de Riemann.
323
Os grupos fundamentais πn com n ∈ N\{1} definem-se analogamente com funções definidas
na superfı́cie esférica unitária de dimensão n em Rn , que é a fronteira da bola de Rn com raio 1
e centro em 0 .
314 Uniformização de superfı́cies de Riemann
tN =1
t3 HQ
t2
HS
t1
t0 =0 t
t0 =0 t1 t2 t3 tN =1
Figura 12.2: Figura auxiliar para a prova de (12.4)
ϕα1 α2 = ϕα1 ◦ ϕα2 para α1 , α2 caminhos em S com ponto inicial a tais que
[α1 ]S,a , [α2 ]S,a ∈ Da,b , e ϕα1 é a identidade se e só se [α1 ]S,a ∈ Da,b . Logo,
α 7→ ϕα induz uma função de N (Da,b )/Da,b no grupo das transformações do
revestimento (R, f ) .
Se ϕ é uma transformação do revestimento (R, f ) de S, β é um caminho
em R de b a ϕ(b) e α = f ◦β, ϕα (b) = ϕ(b) , pelo que ϕα ◦ϕ−1 é uma transfor-
mação do revestimento (R, f ) de S com ponto fixo b , pelo que, do resultado
precedente, é a identidade e, portanto, ϕ = ϕα . Logo, toda transformação
do revestimento (R, f ) de S é da forma ϕα com [α]S,a ∈ N (Da,b ) . Q.E.D.
Chama-se revestimento regular de uma Superfí
ie de Riemann S a
um revestimento (R, f ) de S tal que N (Da,b ) = π1(S, a)
om b ∈ f −1({a}) ,
ou seja π1(S, a) é um subgrupo normal327 de Da,b .
Se (R, f ) é um revestimento regular de uma Superfı́cie de Riemann S,
existe uma transformação ϕα do revestimento (R, f ) correspondente a cada
caminho fechado α em S com ponto inicial e final a , e para cada par de pon-
tos b1 , b2 ∈ R na fibra de a existe uma única transformação do revestimento
(R, f ) que transforma b1 em b2 , ou seja pontos numa mesma fibra de um
revestimento regular de uma Superfı́cie de Riemann são indistinguı́veis. A
propriedade de um revestimento de uma Superfı́cie de Riemann ser regular
é independente dos pontos a, b considerados.
Convém dispor de
ondições simples para denir uma função globalmente
numa Superfí
ie de Riemann S a partir de famílias de funções denidas lo-
almente em
ada
onjunto de uma
obertura aberta de S . A
ondição no
resultado seguinte é para S simplesmente
onexa
om os elementos da
ober-
tura aberta de S
onexos, designadamente que as famílias de funções lo
ais
em elementos da
obertura que se interse
tem tenham funções
oin
identes
na interse
ção e as outras funções nessas famílias não assumam um mesmo
valor em qualquer ponto da interse
ção.
(12.10) Se S é uma Superfı́cie de Riemann simplesmente conexa,
{Ua }a∈A é uma cobertura aberta de S por conjuntos conexos e Φa é
uma famı́lia de funções definidas em Ua tais que para a ∈ A , ϕa ∈ Φa e
Vab é uma componente conexa de Ua ∩ Ub com b ∈ A :
(i) se ϕb ∈ Φb , ϕa = ϕb em Vab ou ϕa e ϕb tem distintos valores em
cada ponto de Vab ,
(ii) existe ϕb ∈ Φb tal que ϕa = ϕb em Vab ,
então existe uma função ϕ definida em S cuja restrição a cada Ua per-
tence a Φa , para todo a ∈ A ; a função ϕ é univocamente determinada
pelos valores que assume num qualquer dos Ua .
327
Chama-se subgrupo normal N de um grupo G a um subgrupo de G invariante sob conju-
gação por qualquer elemento de G, i.e. gng −1 ∈ N para todo g ∈ G, n ∈ N .
322 Uniformização de superfı́cies de Riemann
também nesta estrutura analı́tica, então ϕb◦f◦(ψ|Y )−1 é holomorfa, pelo que
(W, ψ) pertence à estrutura analı́tica anteriormente considerada. Q.E.D.
Tem parti
ular interesse o
aso de Superfí
ies de Riemann denidas por
revestimentos universais (R, f ) de Superfí
ies de Riemann, em que R é sim-
plesmente
onexa que,
omo se verá nas duas se
ções a seguir
om o Teorema
de Uniformização, é
onforme a C , C∞ ou B1.
Se X, Y são Superfí
ies de Riemann e f ∈ H(X, Y ) não é
onstante,
hama-se ı́ndice de ramificação de f em P ∈ X , designado e (f ) à ordem
do zero de f −f (P ) em P . Diz-se que P ∈ X é um ponto de ramificação
P
Ga,b
0
B1
pj (z) = zdj
g(P)
B1
e com (R,
Figura 12.3: Extensão de Superfı́cie de Riemann R e p) revestimento
e
de S \F , S Superfı́cie de Riemann e F finito a R ∪{P } para P ∈ F
Uma
onsequên
ia deste resultado é que a toda
urva algébri
a am pode
ser asso
iada de modo natural uma Superfí
ie de Riemann
ompa
ta.
12.3 Método de Perron em Superfı́cies de Riemann 325
Como ε > 0 é arbitrário, g(p, p1 )+log |F (p)| ≤ 0 e, de g(p, p1 ) =−log |f (p, p1 )|,
é − log |f (p, p1 )|+log |F (p)| ≤ 0 , ou seja |F (p)| ≤ |f (p, p1 )| para p ∈ S. Como
F (p0 ) = f (p1 , p0 ) , é f (p1 , p0 ) ≤ f (p0 , p1 ) , e, como no argumento precedente
se pode trocar p0 com p1 , resulta f (p1 , p0 ) = f (p0 , p1 ) e g(p1 , p0 ) = g(p0 , p1 ) .
Logo, a função p 7→ g(p, p1 )+log |F (p)| ≤ 0 anula-se em p0 , pelo que é uma
função harmónica que assume o valor máximo 0 e, portanto, é identicamente
0, ou seja |F (p)| = |f (p, p1 )| para p ∈ S, pelo que existe θ ∈ R tal que
F (p) = eiθ f (p, p1 ) e é F (p) = 0 se e só se p = p1 , ou seja f (p, p0 ) = f (p1 , p0 ) se
e só se p = p1 , o que prova a injectividade de p 7→ f (p, p0 ) . Q.E.D.
Im
z0
Re
-1 R 1
Figura 12.4: Figura auxiliar para a prova de (12.18)
Dem. Uma função holomorfa entre Superfı́cies de Riemann dos tipos indica-
dos induz uma função holomorfa entre as Superfı́cies de Riemann dos resp.
revestimentos universais, que são conformes a C∞ , C , B1 para Superfı́cies
de Riemann, resp., elı́pticas, parabólicas, hiperbólicas que, do resultado do
inı́cio da secção precedente referido, são constantes, pelo que também são
constantes as funções holomorfas iniciais. Q.E.D.
336 Uniformização de superfı́cies de Riemann
G(C∞ ) com h ∈ G(C∞ ) tal que g(0) = 0 e g(∞) = ∞ , pelo que h(z) z é uma
w)
função limitada holomorfa de C\{0} em C\{0} . Com z = e , w 7→ g(e
w
ew é
uma função holomorfa em C limitada, pelo que, do Teorema de Liouville, é
constante. Portanto, h(z) = cz com c ∈ C , que é um elemento de G(C∞ ) .
2. Todo automorfismo conforme T em C tende para ∞ em ∞ , pelo que a
singularidade em ∞ é removı́vel e T estende-se a um automorfismo conforme
em C∞ . Logo, G(C) é isomorfo ao subgrupo de G(C∞ ) das transformações
de Möbius normalizadas com ponto fixo ∞ , que é o grupo das transforma-
ções afins em C .
3. É imediato que G(B1 ) contém o grupo de transformações de Möbius
indicado. Por outro lado, se T ∈ G(B1 ) , é
|T (z)| < 1 ⇐⇒ (z+b)(z +b) < (1−bz)(1−bz) ⇐⇒ (1−zz)(1−bb) > 0 ,
pelo que para b ∈ B1 é |T (z)| < 1 ⇔ |z| < 1 e, portanto, T (B1 ) = B1 . Se
T é um automorfismo conforme em B1 e b ∈ B1 é o zero de T , a função
z−b
f (z) = −bz+1 é tal que f (b) = 0 e T ◦f −1 é um automorfismo conforme em
B1 com ponto fixo 0, pelo que, do Lema de Schwarz, T ◦f −1 (z) = eiθ z com
θ ∈ [0, 2π[ , e, portanto, T = eiθ f .
Deixa-se como exercı́cio obter os automorfismos de H dos de B1 através
da transformação conforme de H em B1 , que é a Transformação de Cayley
w 7→ i−w i−z
i+w com inversa z 7→ i i+z . Q.E.D.
É útil
ara
terizar os elementos de
ada grupo de automorsmos
on-
formes nas Superfí
ies de Riemann C , C∞ , B1 que
omutam em termos do
onjunto dos resp. pontos xos.
Para f : X → X , designa-se o conjunto dos pontos fixos de f por
Fix(f ) . Chama-se involução num
onjunto X a g : X → X tal que g◦g = 1X .
ponto fixo único p são da forma Tc (z) = c(z−p)+p com c ∈ C\{0}. Como
Tc ◦Tk = c [(k(z−p)+p)−p]+p = ck(z−p)+p ,
todas transformações desta forma comutam. Se Fix(f ) = ∅ , é f (z) = z + c
com c ∈ C \ {0} , ou seja f é uma translação diferente da identidade. As
únicas transformações afins que comutam com uma tal translação também
são uma translação diferente da identidade, e todas as translações comutam.
2. Os pontos fixos de transformações de Möbius normalizadas diferentes da
identidade são zeros de polinómios de 2o grau, que têm 1 ou 2 soluções em
C ou há um único ponto fixo ∞ .
Se f, g ∈ G(C∞ )\{1C } comutam e #Fix(g) = 2 , como f (Fix(g)) ⊂ Fix(g)
e f é biunı́voca, é Fix(f ) = Fix(g), pelo que f tem os mesmos 2 pontos fixos
de g ou troca-os, e analogamente para g . Sem perda de generalidade (a
menos da composição com um elemento de G(C∞ ) , consideram-se os pontos
fixos em 0 e ∞ . No 1o caso tanto f como g são transformações lineares
não nulas e todas transformações lineares não nulas comutam. No 2o caso,
como f troca os pontos fixos 0 e ∞ é da forma f (z) = zc com c ∈ C \ {0},
pelo que f ◦f (z) = z , ou seja f é uma involução, e, portanto, com g(z) = kz
e k ∈ C \ {0}, é g ◦ f (z) = kc c 2
z e f ◦ g(z) = kz , ou seja k = 1 e g também é
um involução. Todas involuções f, g das formas f (z) = zc e f ◦ g(z) = kz c
,
2
com c, k ∈ C \ {0} e k = 1 , comutam. Se f, g ∈ G(C∞ ) \ {1C } comutam e
#Fix(g) = 1, como f (Fix(g)) ⊂ Fix(g) e f é biunı́voca, é Fix(f ) = Fix(g),
pelo que f tem o mesmo único ponto fixo de g . Sem perda de generalidade
(a menos da composição com um elemento de G(C∞ ) considera-se o ponto
fixo em ∞ , pelo que f e g são translações diferentes da identidade; todas
translações diferentes da identidade comutam.
3. Todo automorfismo conforme f em B1 (ou B1 ) é uma transformação de
Möbius que se pode estender a uma transformação de Möbius F em C∞ e
comuta com g(z) = z1 . g ◦ F ◦ g é holomorfa e coincide com F em ∂B1 e,
portanto, em C∞ , pelo que F tem um ponto fixo p ∈ B1 se e só se tem um
ponto fixo correspondente em C∞\B1 . Se F ∈ G(C∞ ) fosse uma involução,
F ′ seria −1 nos 2 pontos fixos. Como F (B1 ) = B1 , estes pontos fixos não
poderiam pertencer a ∂B1 , pelo que um deles pertenceria a B1 e o outro a
C∞\B1 . Portanto, outra involução que comutasse com F e trocasse os pontos
fixos não poderia transformar B1 em B1 . Logo, F não é uma involução e,
de 2, G ∈ G(B1) comuta com F se e só se FixB1 (f ) = FixB1 (g) . Q.E.D.
A group homomorphism h of (R, +) to (Aut S, ◦) is
alled a one pa-
rameter group of conformal automorphisms de uma Superfí
ies de
Riemann S a uma função
ontínua .
Apli
ando o último resultado anterior pode-se veri
ar que uma Super-
fı́cie de Riemann admite um grupo a um parâmetro de automorfismos con-
formes se e só se tem grupo fundamental comutativo.
Do
apítulo pre
edente, existe uma métri
a de Riemann
onforme numa
região simplesmente
onexa Ω $ C , úni
a a menos de multipli
ação por uma
12.5 Geometria de Superfı́cies de Riemann 339
Outras métri
as úteis para Superfí
ies de Riemann elípti
as são as
ons-
truídas a partir da métri
a dada por
omprimentos de
ordas em C∞
2|z−w|
d(z, w) = √ = 2 sin δ(z,w)
2 ,
(1+|z|2 )(1+|w|2 )
em que δ é a distân
ia esféri
a normalizada em C∞ .
A métri
a de Poin
aré de Superfí
ies de Riemann hiperbóli
as é útil por
distân
ias de Poin
aré não aumentarem
om funções holomorfas.
(12.30) Teorema de Pick para Superfı́cies de Riemann:
Se R, S são Superfı́cies de Riemann hiperbólicas com distâncias
de Poin-
caré, resp., dR e dS , e f ∈ H(R, S) , então dS f (z), f (w) ≤ dR (z, w) para
z, w ∈ R e, em alternativa:
1. f é uma transformação conforme de R sobre S e uma isometria
nas métricas de Poincaré de R e de S.
2. (R, f ) é um revestimento de f (S) , f não é injectiva e é uma iso-
metria local não global nas métricas de Poincaré e a desigualdade
acima é igualdade se z, w são suficientemente próximos.
3. f contrai estritamente distâncias de Poincaré, uniformemente em
cada compacto K ⊂ R com pelo menos dois pontos.
z4 z3 z2
z z1
R S
P e f ∈ M (S)\{0},
hama-se
P ∈P ∪P 1 2
compatibilidade não tem pólos nem zeros e tem divisor 0 , que é um di-
visor canónico em C/Γ. Com esta forma-1 meromorfa a função F que
transforma f ∈ M C/Γ na forma-1 meromorfa
f (z) dz em C/Γ é uma
bijecção de M C/Γ sobre M Ω 1 C/Γ . Como o divisor canónico é 0 ,
div F (f ) = div(f ) . Com esta bijecção df identifica-se com f ′ .
P 1
A função-℘ de Weierstrass334 ℘(z) = z12 + w∈∈Γ\{0} (z−w) 1
2 − w2 é me-
romorfa e periódica com perı́odo Γ em C cujos pólos, todos duplos, são os
pontos de Γ. Para cada P ∈ C/Γ a função-℘ de Weierstrass define uma função
meromorfa ℘P em C/Γ com um só pólo em P , que é duplo, e ℘P ∈ LC\Γ (2P ) .
tante, é dim LC/Γ (2P ) ≤ 2 . De (12.39.1), dim LC/Γ (2P ) ≤ dim LC/Γ (1P )+1,
pelo que dim LC/Γ (2P ) = 2 , ou seja 2P ∈ D. ℘′P é uma função meromorfa
em C/Γ com um pólo triplo em P , pelo que é uma função em LC/Γ (3P ) que
não pertence a LC/Γ (2P ) e dim LC/Γ (3P ) = 3 , ou seja 3P ∈ D. Prosseguindo
com derivadas sucessivas de ℘P obtém-se kP ∈ D para todo k ∈ N .
Para cada
R par de pontos distintos P, Q ∈ C/Γ considera-se a função
℘P,Q (z) = γ ℘P +w (z) dw, com γP,Q um caminho seccionalmente regular
P,Q
em C/Γ de 0 a ζP,Q = Q − P . Como w 7→ ℘P +w (z) tem primitiva, ℘P,Q é
independente da escolha do caminho γP,Q . ℘P,Q é meromorfa em C/Γ com
pólos simples em P e Q e dim LC/Γ (1P+1Q) ≥ 2. Obtém-se analogamente de
(12.39.1) que dim LC/Γ (1P+1Q) = 2 , ou seja 1P+1Q ∈ D . Também se obtém
analogamente que se D é um divisor em C/Γ e P, Q são pontos distintos de
C/Γ tais que D, (D+1P ), (D+1Q) ∈ D, então D+(D+1P )+(D+1Q) ∈ D.
Ficou provado que os divisores ≥ 0 de graus 1 ou 2 em C/Γ pertencem a
D. Obtém-se de modo análogo para divisores de graus sucessivos que todos
divisores ≥ 0 de grau n ∈ N pertencem a D .
Seja B o conjunto dos divisores D de grau 1 em C/Γ com D+D ′ ∈ D para
todo divisor D ′ ≥ 0 em C/Γ. Obteve-se no parágrafo precedente que 1P ∈ B
para todo P ∈ C/Γ. Se D ∈ B e DP,Q = D+1P −1Q , os divisores DP,Q −1P
e DP,Q−1Q não podem ser ambos divisores principais porque 1P − 1Q não é
um divisor principal de C/Γ. Logo, do que foi estabelecido para Superfı́cies
de Riemann compactas a seguir à prova de (12.43), dim LC/Γ (DP.Q−P ) = 0 ou
dim LC/Γ (DP.Q−Q) = 0 e, portanto, de (12.39.1), dim LC/Γ (DP.Q ) ≤ 1 . Como
D ∈ B, é DP,Q+1Q = D+1P ∈ D, pelo que dim LC/Γ (DP.Q+1Q) = 2 . Portanto,
de (12.39.1), DP,Q ∈ D. Para R ∈ C/Γ é DP,Q +1 Q+1 R = D+1 P +1 R ∈ D.
Logo, de (12.39.1), também DP,Q +1 R ∈ D. Aplicando sucessivamente este
argumento obtém-se que DP,Q + D ′ ∈ D para todo divisor D ′ ≥ 0 em C/Γ.
Portanto, todo divisor de grau 1 pertence a B e por iterações sucessivas
todo divisor de grau n ∈ N em C/Γ pertence a B . Q.E.D.
Portanto, para todo divisor D na superfı́cie de um toro complexo C/Γ:
dim LC/Γ (D) − dim LC/Γ (−D) = deg D ,
que é o caso particular do Teorema de Riemann-Roch para C/Γ.
O resultado seguinte só difere do Teorema de Riemann-Ro
h para Super-
fí
ies de Riemann
ompa
tas em geral por se restringir a divisores D ≥ 0 , ter
dim ΩS (0) no lugar de g(S ), e ser uma desigualdade em vez de igualdade.
Dem. Como X \ f −1 (Σ) , f é um revestimento de f (X) \ Σ com d ∈ N
folhas, a preimagem
de uma triangulação de f (X)\Σ é uma triangulação de
X\f −1 (Σ) , f com o no de faces, arestas e vértices d vezes o da triangulação
de f (X)\Σ , pelo que X
χ X \f −1 (Σ) = d χ f (X)\Σ = d χ f (X) −#Σ = d χ f (X) −d 1,
X X X Q∈Σ
χ X \f −1 (Σ) = χ X − #f −1 ({Q}) = χ X − 1,
P Q∈Σ Q∈Σ P ∈f −1 ({Q})
o que, como335 P ∈f −1 ({Q}) eP (f ) = d para Q ∈ f (X) , dá a 1a fórmula.
Se P ∈ X e Q = f (P ) , é ordQ (f ∗ ω) = ordQ (ω) eP (f )+eP (f ) −1 , e
X X
deg(f ∗ ω) = ordQ (f ∗ ω)
Q∈Σ P ∈f −1 ({Q})
X X X X
= ordQ (ω) eP (f ) + [ e (f )−1 ] ,
P
Q∈Σ P ∈f −1 ({Q}) Q∈Σ P ∈f −1 ({Q})
e, portanto, X X
deg(f ∗ ω) = deg(ω) d + [ e (f )−1 ] ,
P
Q∈Σ P ∈f −1 ({Q})
que é a 2a fórmula no enunciado. Q.E.D.
335
Ver os 3 parágrafos que precedem (12.12).
358 Uniformização de superfı́cies de Riemann
X
-1 -1/2 1/2 1
-i
Figura 12.6: Curva real y 2 = x2 +x3 com nó simples em (0,0)
4. Se Z(P ) = {[(z1 , z2 , z3 )] ∈ P2 : P (z1 , z2 , z3 ) = 0} é curva algébrica no
plano projectivo irredutı́vel não singular de grau d, os pontos crı́ticos de
1
f ∈ H Z(P ), P tal que f [(z1 , z2 , z3 )] = [(z1 , z3 )] são [(z1 , z2 , z3 )] ∈ Z(P )
336 (d−1)(d−2)
Se d ∈ N é o grau de um polinómio complexo de várias variáveis, a 2
chama-se
constante de Castelnuovo. Castelnuovo, Guido (1865-1952).
360 Uniformização de superfı́cies de Riemann
j, k ∈ N∪{0} obtém-se
z j wk
w′ j −(z ′ )−2 ′ d−3−j−k (w ′ )k
Portanto, P z (z,w)
w j
dz são formas-1 holomorfas em S se e só se j + k ≤ d− 3.
k
que
Pd−3
j + k = m , o espaço linear gerado por essas formas-1 tem dimensão
Pd−2
m=0 (m + 1) = m=1 m =
(d−1)(d−2)
2 = g(S) . Logo, dim ΩS (0) ≥ g(S) e
omo, do parágrafo pre
edente, dim ΩS (0) ≥ g(S) , é dim ΩS (0) = g(S) e
(z,w) dz: g é um polinómio de grau ≤ n−3 em z, w .
ΩS (0) = Pg(z,w)
No
aso (3) é semelhante pois, do Exemplo (12.49.4), também
w
g(S) = (d−1)(d−2)
2 e se d ≥ 3 , a função zz meromorfa em P1 = [(z1 , z3 )]
1
tem um pólo simples em [(1, 0)] e a sua derivada tem um pólo duplo em
3
[(1, 0)] , pelo que a forma-1 meromorfa d(z1 /z3 ) em S tem pólos duplos em
362 Uniformização de superfı́cies de Riemann
ada uma das d preimagens de [(1, 0)] , que generi
amente são distintos e
não degenerados, e tem um zero simples em
ada um dos d(d−1) zeros de
Pz . Logo, existe um polinómio R(z1 , z2 ) de grau ≤ d−3 tal que a forma-1
2
P (z /z ,z /z ) d z1 /z3 é holomorfa em S e o espaço linear destes polinómios
R(z /z ,z /z )
1 3 2 3
z2 1 3 2 3
O espaço que estas formas-1 geram tem dim ≥ (d−1)(d−2) 2 − δ , mas
omo
dim ΩS (0) ≤ g(S) = (d−1)(d−2)
−δ , essas formas-1 são em número (d−1)(d−2) −δ
e formam uma base de ΩS (0) , pelo que também neste
aso dim ΩS (0) = g(S) .
2 2
Exercı́cios
12.1 Prove que os grupos fundamentais dos 5 exemplos no iní
io da se
ção 3 são os
o
indi
ados no 3 parágrafo a seguir à denição de grupo fundamental.
12.2 Prove: Os grupos fundamentais de uma coroa circular aberta em C e de C\{0} são
isomorfos.
12.3 Determine os revestimentos universais das Superfí
ies de Riemann asso
iadas a
z 2
funções analíti
as globais e , log z , z .
342
Em inglês diz-se Weiertrass Gap Theorem.
343
Em inglês diz-se Noether Gap Theorem. Noether, Emmy (1882-1935).
Apêndice I
I.1 Introdução
Neste apêndi
e reúnem-se aspe
tos bási
os de noções topológi
as de
on-
juntos,
om ênfase em
ompa
idade,
onexidade e nas suas relações
om fun-
ções
ontínuas,
on
eitos usados nos vários
apítulos e que, embora
onhe
i-
dos do estudo usual da Análise Real e fa
ilmente adaptáveis para o
ontexto
da Análise Complexa, bene
iam de uma breve exposição aqui para mais
fá
il referên
ia. Para utilização em
ontextos mais gerais do que C , e dado
que a apresentação não seria mais simples restringindo a este espaço, opta-
se pelo quadro mais geral de espaços métri
os, in
lusivamente identi
ando
no nal o que permane
e válido em espaços topológi
os, mas
onsiderando
apenas propriedades relevantes para C .
J.B.Listing344 , mas já tinha sido usado numa
arta que tinha es
rito em 1836
a um antigo professor, em que também indi
ava que as ideias bási
as sobre
este novo tema tinham sido aprendidas
om C.F. Gauss, embora este não
tenha publi
ado sobre o assunto. B. Riemann teve um papel importante no
desenvolvimento da topologia, nomeadamente a propósito das Superfí
ies de
Riemann que
onsiderou em 1857 no âmbito do estudo de funções
omplexas.
O termo topologia não foi adoptado na altura e o assunto
ou
onhe
ido
por analysis situs, que traduzido à letra signi
a análise do lugar. Foi
om
este título que H. Poin
aré publi
ou em 1895 o 1o trabalho sistemáti
o de
Topologia, em que introduziu as bases da Topologia Algébri
a. O uso do
termo topologia só se generalizou a partir dos trabalhos de S. Lefs
hetz345
do nal da dé
ada de 1920, mais de sessenta anos após ter sido usado pela
1a vez por Listing.
O
on
eito bási
o da Topologia é
onjunto aberto. A ideia de
onjunto
aberto, assim
omo as de
onjunto fe
hado e ponto limite, foi introduzida
para
onjuntos de números reais em 1872 por G. Cantor. A noção de vizi-
nhança de um ponto foi introduzida por K. Weierstrass em 1877 e utilizada
por G.Peano e C.Jordan em 1887, e por D.Hilbert em 1902. A noção de in-
terior, exterior e fronteira de um
onjunto devem-se a G.Peano em 1887. C.
Jordan também refere em 1887, no Cours d’Analyse da École Polytechnique
de Paris, a noção de fronteira de um
onjunto sem men
ionar G. Peano346 ,
não sendo
laro se
hegou a este
on
eito independentemente.
O 1o estudo sistemáti
o de topologia geral foi de M. Fré
het, no
on-
texto de espaços métri
os, noção que introduziu na tese de doutoramento
que apresentou em 1906. Porém, a designação espaço métri
o só apare
eu
em 1914 por F.Hausdor. Um espaço métri
o é um
onjunto não vazio
om
uma função que dá a distân
ia de pares de elementos e satisfaz as proprie-
dades simples de ter valores reais não negativos, ser invariante
om tro
a da
ordem dos elementos, satisfazer a desigualdade triangular e ser zero se e só
se os pontos
oin
idem. Motivado por apli
ações a espaços de funções, M.
Fré
het estudou as propriedades bási
as da topologia de sub
onjuntos de um
espaço métri
o a partir da noção de bola aberta
om
entro num ponto, que
é o
onjunto dos pontos que distam dele menos de um valor
hamado raio
da bola. Os espaços métri
os tiveram grande importân
ia a partir de 1920,
om os trabalhos de S. Bana
h sobre espaços lineares normados de funções
e o desenvolvimento subsequente da Análise Fun
ional. São um quadro par-
ti
ularmente apropriado para
onsiderar
onvergên
ia, em que a noção de
su
essão de Cau
hy,
onsiderada pela 1a vez em 1817 por B. Bolzano e de-
pois por A.-L.Cau
hy em 1824 tem um papel importante; devido à relevân
ia
desta propriedade, quando se veri
a diz-se que o espaço é
ompleto347 .
344
Listing, Johann Benedict (1802-1882).
345
Lefschetz, Solomon (1884-1972).
346
Peano, Giuseppe (1858-1932).
347
Hausdorff, Felix (1868-1942). Banach, Stefan (1892-1945).
Elementos de topologia geral 373
Dem. 1) Necessidade. Como o conjunto das bolas abertas com raio ε > 0
qualquer centradas em cada ponto de um espaço métrico X é uma cobertura
aberta de X, se K ⊂ X é compacto, existe uma subcobertura finita de K,
pelo que K é totalmente limitado. Se {xn } ⊂ K é sucessão de Cauchy e y ∈ K
não é o limite de {xn }, existe ε > 0 tal que d(xn , y) > ε para infinitos n ∈ N .
Como d(xm , y) ≥ d(xn , y)−d(xm , xn ) , tomando N ∈ N tal que d(xm , xn ) < 2ε
para m, n > N e escolhendo n > N tal que d(xn , y) > ε, é d(xm , y) > 2ε para
todo m > N , pelo que a bola aberta Bε/2 (y) contém um no finito de termos
352
Esta condição é conhecida por Propriedade de Heine-Borel.
380 Apêndice I
Dem. Se S não é conexo por caminhos e x, y ∈ S não podem ser ligados por
caminhos em S, designando por A o conjunto de pontos de S que podem
ser ligados a x por caminhos em S, verifica-se x ∈ S e y ∈ / S. Considera-se
f : S → {0, 1} tal que f (z) = 0 se z ∈ A e f (z) = 1 se z ∈ S \A . Se w ∈ S,
como S é aberto, existe uma bola aberta Br (w) ⊂ S. Br (w) é um conjunto
convexo e, portanto, é conexo por caminhos. Se w ∈ A , todos pontos de
Br (w) podem ser ligados a x por caminhos em S, e f Br (w) = {0}. Se
w ∈ S\A , nenhum ponto de Br (w) pode ser ligado a x por caminhos em S, e
f Br (w) = {1}, f Br (y) = {0}. Logo, f é contı́nua em todo w ∈ S, f (x) = 0
e f (y) = 1 , e, de (I.20.2), S é desconexo. Portanto, se S é conexo, é conexo
por caminhos. O recı́proco é imediato do resultado precedente. Q.E.D.
Qualquer
aminho num
onjunto aberto pode ser arbitrariamente apro-
ximado por
aminhos se
ionalmente regulares no
onjunto, e qualquer
a-
minho num sub
onjunto aberto de um espaço métri
o linear de dimensão
nita (e.g. Rn ou Cn) pode ser arbitrariamente aproximado por
aminhos
poligonais simples que são a
on
atenação de segmentos de re
ta paralelos a
ada um dos elementos de uma qualquer base do espaço linear xada (e.g.
no
aso de Rn ou Cn aos ve
tores da base
anóni
a354 .
354
Em alternativa, um caminho num subconjunto aberto de Rn ou Cn pode ser arbitrariamente
aproximado por caminhos poligonais simples concatenação de segmentos de recta não paralelos a
cada um dos elementos de uma qualquer base do espaço linear fixada (e.g. no caso de Rn ou Cn
aos vectores da base canónica).
Elementos de topologia geral 387
aberta Brx (x) ⊂ U com centro em x , pelo que U = ∪x∈U Brx (x) e, como
as bolas de um espaço métrico são conexas, verifica-se 3. As implicações
estabelecidas, com a transitividade de implicações, provam que 1, 2, 3 são
equivalentes. Para provar a equivalência com 4 no caso de S ser compacto,
basta provar que uma das condições 1,2,3 implica 4. Prova-se que 1 ⇒ 4 .
Se O é o conjunto de todos conjuntos conexos abertos relativamente a S
com diâmetro < ε, e δ = inf{d(x, y) : (x, y) ∈ S 2 \∪U ∈O U 2 }, em que d é a
distância do espaço métrico, como S 2 \∪U ∈O U 2 é um subconjunto fechado
do compacto S 2 , também é compacto, pelo que o ı́nfimo é atingido em algum
ponto (x, y) ∈ S 2 \∪U ∈O U 2 , e, de 1, δ > 0 . Q.E.D.
Funções
ontínuas preservam
ompa
idade e
onexidade e em espaços
métri
os também preservam
ompa
idade e
onexidade lo
al simultânea. Em
parti
ular, curvas num espaço métrico descritas por caminhos definidos em
intervalos compactos são conjuntos compactos localmente conexos.
neste espaço que dena a mesma topologia). Neste espaço, uma su
essão
{fn }
onverge para f se e só se
onverge pontualmente para f , ou seja
fn (x) → f (x) qualquer que seja x ∈ [−1, 1] , pelo que se diz que a topologia
denida pela família de seminormas
onsiderada é a topologia da con-
vergência pontual em C 0 B1 (0), C . Outro exemplo útil é a topologia da
onvergên
ia uniforme em
onjuntos
ompa
tos, por exemplo no
onjunto
C 0 (C, C) das funções
ontínuas f : C → C ,
om a família de seminormas
F = {k · kK }K∈K , em que K é o
onjunto dos sub
onjuntos
ompa
tos de C
e para
ada K ∈ K e f ∈ C 0(C, C) , kf kK = max f (K) ,
hamada topologia
compacta-aberto356 em C 0 (C, C) .
Os
on
eitos
onsiderados em espaços métri
os na se
ção 2 são todos de-
nidos em termos de
onjuntos abertos,
om ex
epção das noções de bola
aberta,
onjunto limitado,
onjunto totalmente limitado, diâmetro de
on-
junto, su
essão de Cau
hy, espaço
ompleto, função uniformemente
ontínua
e os
ilação de função, pelo que,
om ex
epção destas 8 noções, podem ser
356
Foi introduzida em 1945 por Ralph Fox (1913-1973). A razão do nome é que uma base da
topologia é o conjunto dos conjuntos V (K, U ) = {f ∈ C 0 (C, C) : f (K) ⊂ U } com K compacto e U
aberto.
394 Apêndice I
onjuntos
onexos por
aminhos. Logo, (I.24) ainda é válida em espaços to-
pológi
os lo
almente
onexos por
aminhos. Um espaço topológi
o pode ser
lo
almente
onexo por
aminhos sem ser
onexo e vi
e versa. É semelhante
para (I.29), substituindo lo
almente
onexo por
aminhos por lo
almente
onexo, o que equivale existir uma base da topologia de
onjuntos
onexos.
A prova de (I.27) exige que para qualquer par de pontos distintos do
espaço haja pares de
onjuntos abertos disjuntos que
ontêm
ada ponto, ou
seja que o espaço topológi
o seja de Hausdor.
(I.30) não é válido para todos espaços topológi
os, mas é válido se existe
uma base numerável da topologia. Se tal se veri
a, diz-se que o espaço topo-
lógi
o satisfaz o 2o axioma de numerabilidade. Nestes espaços qualquer
família de
onjuntos abertos disjuntos é numerável. Pode-se provar que todo
espaço métrico é um espaço topológico que satisfaz o 2o axioma de numera-
bilidade se e só se é separável.
(I.32) e (I.33) não são válidos em todos espaços topológi
os, mas sim em
espaços topológi
os de Hausdor.
A validade do 2o axioma de numerabilidade impli
a a validade do 1o
axioma de numerabilidade, a
ima referido
omo
ondição que assegura a
validade do Teorema de Bolzano-Weierstrass num espaço topológi
o.
A relação entre espaços topológi
os e espaços métri
os é essen
ial, em
parti
ular o es
lare
imento das
ondições em que um espaço topológi
o é
metrizável359 , i.e. em que existe uma distân
ia tal que a topologia que
dene
oin
ide
om a do espaço topológi
o ini
ial. Uma 1a grande
ontri-
buição para esta questão foi o Teorema de Metrização de Uryshon,
que estabele
e que uma
ondição su
iente para um espaço topológi
o ser
metrizável é satisfazer o 2o axioma de numerabilidade e ter a propriedade de
para qualquer par de um ponto e um
onjunto fe
hado que não o
ontenha
existir um par de
onjuntos abertos disjuntos em que um deles
ontém o
ponto e o outro
ontém o
onjunto; quando um espaço topológi
o tem esta
propriedade diz-se que é um espaço regular.
Pode-se veri
ar que
om uma topologia tal que para
ada par ordenado
de pontos distintos existe um
onjunto aberto que
ontém um dos pontos e
não o outro, todos
onjuntos singulares de pontos do espaço são fe
hados.
Logo, esta propriedade é mais fra
a do que a
ondição que dene espaço de
Hausdor, a
ima referida
omo
ondição que assegura a validade de (I.6), e
esta é mais fra
a que a
ondição que dene espaço regular. Portanto, os es-
paços regulares são espaços de Hausdorff e em espaços regulares os conjuntos
com um só ponto são fechados.
Os espaços métri
os são espaços regulares, pelo que a
ondição de um
espaço topológi
o ser regular é ne
essária para ser metrizável. Contudo, a
validade do 2o axioma de numerabilidade não é ne
essária. O Teorema de
359
Para provas dos teoremas de metrização referidos a seguir ver, e.g. o livro de J.R. Munkres
referido na bibliografia final.
396 Apêndice I
Exercı́cios
I.1 Diz-se que duas distân
ias d, d′ denidas num mesmo
onjunto X 6= ∅ são distâncias
equivalentes se existem
onstantes k, K > 0 tais que
k d(z, w) ≤ d′ (z, w) ≤ K d(z, w) , z, w ∈ X .
a) Mostre que as distân
ias na desigualdade a
ima podem ser tro
adas.
b) Prove: Topologias definidas num mesmo conjunto por duas distâncias são iguais
se e só se as distâncias são equivalentes.
I.2 a) Prove que a distân
ia eu
lidiana entre as proje
ções estereográ
as (ver exer
í
io
2|z−w|
1.16) de dois números do plano
omplexo z e w é d(z, w) = , e
(|z|2 +1)1/2 (|w|2 +1)1/2
2
de um número do plano
omplexo z e ∞ é d(z, ∞) = 1/2 .
(|z|2 +1)
b) Prove que a função d de a) é umadistância no plano complexo estendido
C∞ . Mostre que esta distân
ia é ≤ 2 e em
ada sub
onjunto limitado do plano
omplexo é equivalente à distân
ia usual entre números
omplexos.
I.3 Considere o modelo de Geometria de Lobat
hevski des
rito no exer
í
io 10.16.
a) Determine a distância de Lobatchevski entre
ada par ordenado de pontos
de B1 de modo às
ir
unferên
ias de Lobat
hevski serem
onjuntos de pontos equi-
distantes do ponto xo, e os hiper
i
los
om o mesmo par de pontos xos serem
equidistantes. Prove que satisfaz as propriedades gerais de uma distân
ia.
b) Prove: O comprimento de um ciclo e a área de um disco com raio r em geometria
hiperbólica são, resp., 2π sinh r e 4π sinh2 r2 .
I.4 Prove: Se Ω ⊂ C é aberto, existe uma sucessão {Kn } de subconjuntos compactos
de Ω com as propriedades seguintes: 1) Ω = ∪∞ n=1 Kn , 2) Kn ⊂ Kn+1 , 3) se K ⊂ Ω
é compacto, existe n ∈ N tal que K ⊂ Kn , 4) toda componente conexa de C∞ \Kn
contém uma componente conexa de C∞ \Ω .
I.5 Prove o Teorema de Cantor: Um espaço métrico (X, d) é completo se e só se
para toda sucessão {Fn } de subconjuntos fechados não vazios de X, com Fn−1 ⊂ Fn
para n ∈ N, e diam Fn → 0 , a intersecção ∩∞ n=1 Fn tem só um ponto, em que diam Fn
designa o diâmetro de Fn , diam Fn = sup{d(x, y) : x, y ∈ Fn } .
I.6 Diz-se que uma família de
onjuntos F tem a propriedade de intersecção finita
se as interse
ções de quaisquer suas subfamílias nitas não são vazias.
Prove: Um subconjunto K de um espaço métrico é compacto se e só se a intersecção
de todos os elementos de qualquer famı́lia de subconjuntos fechados de K com a
propriedade de intersecção finita é não vazia.
360
Diz-se que uma famı́lia de subconjuntos de um espaço topológico é localmente finita (resp.,
localmente discreta) se todo ponto do espaço tem uma vizinhança que intersecta apenas um
no finito de (resp., no máximo um dos) elementos da famı́lia. A uma união numerável de famı́lias
localmente finitas (resp., localmente discretas) chama-se famı́lia numeravelmente localmente
finita (resp., numeravelmente localmente discreta).
361
Um espaço paracompacto é um espaço topológico de Hausdorff tal que toda a sua cobertura
aberta tem um refinamento aberto localmente finito que cobre o espaço, em que um refinamento
aberto de uma famı́lia de conjuntos é uma famı́lia de conjuntos abertos em que cada elemento
está contido num elemento da famı́lia inicial. Um espaço topológico é localmente metrizável
se todo ponto do espaço tem uma vizinhança em que a topologia induzida é metrizável.
Elementos de topologia geral 397
I.7 Dê uma prova alternativa
om os dois exer
í
ios pre
edentes de: Um espaço métri
o
é
ompa
to se e só se é
ompleto e totalmente limitado.
362
: O produto cartesiano de um n finito de conjuntos compactos é compacto.
o
I.8 Prove
362
A generalização deste resultado para famı́lias infinitas de conjuntos compactos é o Teorema
de Tikhonov, estabelecido pela 1a vez em 1926 por Andrei Nikolaevich Tikhonov (1906-1993).
363
Foi estabelecido em 1885 por C.D. Runge para provar que toda região é domı́nio de holomorfia
de alguma função. A prova aqui sugerida segue o artigo Grabiner, S., A Short Proof of Runge’s
Theorem, Amer. Math. Monthly, 83 (1976), 807-808. Grabiner, Sandy (1939-).
398 Apêndice I
I.14 Prove: Um conjunto S é conexo se e só se não é a união de dois conjuntos não
vazios A e B tais que A∩B = ∅ = A∩B.
I.15 Prove: Um conjunto S é conexo se e só se não existem conjuntos abertos U e V
tais que S ⊂ U ∪V , S ∩V = ∅, S ∩U ∩V = ∅ .
I.16 Prove: Um conjunto S é conexo se e só se os seus subconjuntos simultaneamente
fechados e abertos são só S e ∅ .
I.17 Prove: A união de duas bolas abertas Br (a) e BR (A) de um espaço métrico é conexa
se e só se |a−A| < r +R . O que se pode dizer da
onexidade da união se uma ou
as duas bolas são fe
hadas.
I.21 a) Prove: A união de uma sucessão {Sn } de conjuntos conexos tais que Sn ∩Sn+1 6= ∅
para todo n ∈ N é um conjunto conexo.
b) Prove: Se {Sn } é uma sucessão de conjuntos que intersectam um mesmo conjunto
∞
conexo C, Un=1 Sn é conexo.
I.22 Prove: Se S é um conjunto que intersecta um conjunto conexo C e o seu comple-
mentar, a fronteira de S intersecta C.
I.23 a) Prove: Todo subconjunto próprio conexo de um conjunto conexo tem fronteira
não vazia.
b) O re
ípro
o da armação em a) é verdadeiro?
Apêndice II
Espaços de homologia e
teorema da curva de Jordan
II.1 Introdução
Como denido na se
ção 4.2, uma
urva de Jordan J ⊂ C é a imagem de
um
aminho fe
hado simples. O exemplo mais simples é uma
ir
unferên
ia.
Uma
ir
unferên
ia num plano separa-o em duas
omponentes
onexas: o
ír
ulo aberto que delimita e o
onjunto ilimitado
omplementar no plano
da sua união
om esse
ír
ulo. Da se
ção 4.5, o
omplementar de uma
urva de Jordan se
ionalmente regular em C\J é um
onjunto aberto
om
exa
tamente uma
omponente
onexa ilimitada e pelo menos uma
ompo-
nente
onexa limitada. O Teorema da Curva de Jordan estabele
e que, tal
omo para
ir
unferên
ias, C tem exa
tamente duas
omponentes
onexas,
uma limitada e outra ilimitada, ambas
om fronteira J . Este resultado foi
onsiderado evidente antes de 1817, altura em que B. Bolzano apontou a
ne
essidade de o provar, o que só foi feito 70 anos depois por C. Jordan367 .
As provas mais simples usam Topologia Algébri
a,
om base na noção
de homotopia introduzida pelo próprio C. Jordan em 1893 a propósito deste
mesmo resultado, ou homologia introduzida por H. Poin
aré em 1895. A
prova aqui apresentada baseia-se em espaços de homologia . Nos exer
í
ios
no nal deste apêndi
e II.1, II.2 e II.5 indi
a-se
omo obter uma outra prova.
II.2 Espaços de homologia-1 e de homologia-0
No
apítulo 7
onsideram-se
adeias de
aminhos
om
oe
ientes intei-
ros e grupos de homologia. De modo a tirar partido do que se sabe sobre
dimensão de espaços lineares e evitar introduzir
on
eitos adi
ionais para
367
No livro Cours d’Analyse de l’École Polythécnique. Em 1905 Oswald Veblen (1880-1960)
afirmou que essa prova era insatisfatória e apresentou uma prova alternativa que a partir dessa
data foi amplamente considerada como a 1a prova correcta do resultado, mas em 2007 Thomas
Hales (1958-) reabilitou a prova de C. Jordan (120 depois de apresentada) que é hoje considerada
a 1a prova correcta. O Teorema da Curva de Jordan é de tal modo fundamental que na 1a
metade do séc. XX foram apresentadas muitas provas alternativas e extensões por matemáticos
proeminentes.
402 Apêndice II
1 Γ em relação a um ponto p ∈ C\Γ∗ a IndΓ (p) = rk=1 ck Indγ (p) . Diz-se que
i
los-1 Γ, Σ em Ω são ciclos-1 homólogos em Ω se IndΓ = IndΣ em C\Ω .
k
δα = ∂γ1 = − ∂γ2 , em que ∂γk , k = 1, 2 , designa a
lasse de homologia-
0 em C \ J que
ontém a
adeia-0 ∂γk . Para que δ seja uma função de
H1 (C\{A, B}) em H0 (C \ J) é ne
essário que para γ, γ1 , γ2 e γe, γe1 , γe2
om
as propriedades a
ima, ∂γ1 seja homóloga-0 a ∂eγ1 em C \ J , o que resulta de
(II.3) abaixo. δ é uma transformação linear de H1(C\{A, B}) em H0(C\J) .
P
tais que σj (t) = σ j+t2 . Define-se o bordo ∂S(σ) = 2j=1 ∂σj . S estende-
se linearmente
Pr aP
combinações lineares de caminhos definidos em [0, 1] por
r
S k=1 ck σ k = k=1 ck S(σk ) . É S(∂Rk ) = ∂S(Rk ) (Figura II.3).
Do Lema de Lebesgue (I.10), por um no finito m ∈ N de aplicações do
operador de subdivisão obtém-se S m (∂Rk ) como soma finitaP de bordos-1,
cada um em C\J1 ou C\J2 . Portanto, a cadeia-1 γ −e γ = rk=1 ck ∂Rk , em
C\{A, B} é uma combinação linear finita de bordos-1, cada um em C\J1
ou C\J2 . Designa-se λ1 a cadeia-1 em C\J1 que consiste nos termos que
envolvem bordos-1 em C\J1 , e λ2 a cadeia-1 em C\J1 obtida subtraindo à
combinação linear os termos que envolvem bordos-1 em C\J1 . Como λ1 é
um bordo-1 em C\J1 , é um ciclo-1 e ∂λ1 = 0 . Como
λ1 +λ2 = γ −e γ = γ1 +γ2 −e
γ1 +e
γ2 ,
λ1 −γ1 +e γ1 = −λ2 +γ2 −e γ2 é simultaneamente uma cadeia-1 em C\J1 e em
C\J2 , e, portanto, é uma cadeia-1 em C\J com bordo
∂(λ1 −γ1 +e γ1 ) = ∂λ1 −∂γ1 +∂e γ1 −∂γ1 .
γ1 = ∂e
Logo, ∂eγ1 −∂γ1 é um bordo-0 em C\J e ∂γ1 , ∂e γ1 são cadeias-0 homólogas
em C\J. Q.E.D.
369
Foi provado em 1936 por Samuel Eilenberg (1913-1998).
Espaços de homologia e teorema da curva de Jordan 409
as restrições de P (z) e z n a S 1 e obtenha uma
ontradição. Aplique este
aso parti
ular
Pn−1
a um polinómio qualquer P (z) = z n + k=0 ck z k
om a mudança de variável z = aw
om
a > 0 su
ientemente grande.)
II.7 Prove: Se f : B1 → C \ {0}, em que B1 é a bola em C com raio 1 e centro em
0 , é contı́nua, existem a1 , a2 ∈ S 1 = ∂B1 tais que f (aj ) = cj aj para j = 1, 2 com
c1 < 0 < c2 .
(Sugestão: Suponha que não existe a1
om a propriedade indi
ada. Mostre que a restrição
de f a S 1 é homotópi
a a j : S 1 → C\{0} tal que j(z) = z e obtenha uma
ontradição
om
o resultado do exer
í
io II.1.f).
II.8 Prove o Teorema de Ponto Fixo de Brouwer372 para
ír
ulos no plano: Se
f : B1 → B1 , em que B1 é a bola em C com raio 1 e centro em 0 , é contı́nua, existe
um ponto fixo de f , ou seja um ponto z ∈ B1 tal que f (z) = z .
(Sugestão: Suponha que não existe ponto xo, obtenha uma função a que possa apli
ar o
exer
í
io pre
edente levando a
ontradição).
370
Foi obtido em 1913 por Zygmunt Janiszewski (1888-1920).
371
Será a 7a neste livro.
372
É um caso particular do resultado análogo para qualquer dimensão provado em 1910 por L.
Brouwer. Em dimensão 1 é simples consequência do Teorema de Bolzano, ou seja do teorema de
valor intermédio para funções contı́nuas num intervalo.
Bibliografia
A bibliograa sobre os assuntos deste texto é imensa. Optou-se por indi
ar
uma lista reduzida,
om alguns livros alternativos sobre os temas
onside-
rados e in
luindo, também, livros sobre assuntos aorados mas não apro-
fundados neste texto. Pretende-se, assim, fa
ultar referên
ias possíveis para
a
ontinuação do estudo destes assuntos. Os livros
itados têm referên
ias
bibliográ
as adi
ionais que podem ser úteis.
1. AHLFORS, L.V., Complex Analysis, An Introduction to the Theory
of Analytic Functions of One Complex Variable, 3rd ed., M
Graw-Hill
Book Company, New York, 1978.
2. AHLFORS, L.V., Lectures on Quasiconformal Mappings, 2nd ed. with
additional
hapters by C.J. Earle and I. Kra, M. Shishikura, J.H. Hub-
bard, University Le
ture Series, vol. 38, Ameri
an Mathemati
al So-
iety, Providen
e Rhode Island, 2006.
3. AHLFORS, L.V., Conformal Invariants – Topics in Geometruic Func-
tion Theory, AMS Chelsea Pub., Providen
e, Rhode Island, 2010.
4. AHLFORS, L.V., SARIO, L., Rieman Surfaces, Prin
eton University
Press, Prin
eton, New Jersey, 2016.
5. BOOTHBY, W.M., An Introduction to Differentiable Manifolds and
Riemannian Geometry, REvised 2nd ed., A
ademi
Press, San Diego,
California, 2003.
6. CARATHÉODORY, C., Theory of Functions of a Complex Variable,
(2 vols.), reprinted with
orre
tions, AMS Chelsea Publishing Co., Pro-
viden
e, Rhode Island, 2001.
7. CARLESON, L., GAMELIN, T.W., Complex Dynamics, Springer Ver-
lag, New York, 1993.
8. CHABAT, B., Introduction à L’Analyse Complexe, Tome 1: Fonctions
d’Une Variable, Tome 2: Fon
tions de Plusieurs Variables, Éditions
MIR, Mos
ou, 1990.
9. COHN, H., Conformal Mapping on Riemann Surfaces, Dover Publi-
cations, In
., New York, 1967.
10. CONWAY, J.B., Functions of One Complex Variable, vol. I, 1978; 2nd
edition, vol. II, 1995; Springer-Verlag, New York.
412 Análise e Dinâmica Complexa em Uma Variável e Aplicações