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1
Mathieu Molitor
e-mail: pergame.mathieu@gmail.com
1 Análise no Rn 1
1.1 Norma euclidiana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Conjuntos abertos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.3 Pontos de acumulação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.4 Limites . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.5 Continuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.6 Diferenciabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.7 Derivadas parciais e matriz jacobiana . . . . . . . . . . . . . . 15
1.8 Conjuntos conexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2 Funções holomorfas 23
2.1 Notação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.2 Limites . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.3 Continuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.4 Derivação complexa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.5 Equações de Cauchy-Riemann . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.6 Outras propriedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
3 Funções analı́ticas 35
3.1 Sequências numéricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.2 Séries numéricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.3 Convergência absoluta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.4 Soma e produto de séries numéricas . . . . . . . . . . . . . . . 48
3.5 Sequências de funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
3.6 Séries de funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
3.7 Séries de potências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
3.8 Soma, produto e quociente de séries de potências . . . . . . . 66
3.9 Analiticidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
iii
iv CONTEÚDO
4 Teoria de Cauchy 87
4.1 Caminhos em C . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
4.2 Integração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
4.3 Primitivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
4.4 Índice de um caminho fechado . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
4.5 Teoremas de Cauchy . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
4.6 Aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
4.6.1 Analiticidade das funções holomorfas . . . . . . . . . . 117
4.6.2 Teorema de Liouville . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
4.6.3 Teorema fundamental da Álgebra . . . . . . . . . . . . 119
4.6.4 Compostas e inversões de funções analı́ticas . . . . . . 120
4.6.5 Forma local das funções holomorfas . . . . . . . . . . . 122
4.6.6 Teorema do módulo máximo . . . . . . . . . . . . . . . 126
4.6.7 Lema de Schwarz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127
4.7 Versões homológicas dos Teoremas de Cauchy . . . . . . . . . 128
5 Resı́duos 137
5.1 Singularidades removı́veis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137
5.2 Pólos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139
5.3 Singularidades essenciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 144
5.4 Funções meromorfas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145
5.5 O Teorema dos resı́duos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150
5.6 Cálculo dos resı́duos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 152
Capı́tulo 1
Análise no Rn
a) se kxk = 0, então x = 0,
isto é,
1
2 CAPÍTULO 1. ANÁLISE NO RN
onde hx, yi := nk=1 xk yk . O membro direito pode ser visto como um po-
P
linômio de grau 2 na variável λ. Esse polinômio é positivo qualquer que seja
o valor de λ. Logo o seu discriminante deve ser negativo, isto é, ∆ ≤ 0, onde
∆ = 4(hx, yi2 − kxk2 kyk2 ),
o que significa que
|hx, yi| ≤ kxk kyk. (1.2)
Usando as desigualdades λhx, yi ≤ |λhx, yi| e (1.2) em (1.1) obtemos
kx + λyk2 ≤ kxk2 + 2|λ| kxk kyk + λ2 kyk2 = (kxk + |λ| kyk)2 ,
donde
kx + λyk ≤ kxk + |λ| kyk.
Tomando λ = 1 otemos a desigualdade desejada.
Observação 1.1.3.
a) Em geral, uma aplicação Rn → R+ satisfazendo as condições a), b) e c)
da Definição 1.1.1 é chamada norma.
b) Fazendo λ = 0 e λ = −1 em b) vê-se que k0k = 0 e k − xk = kxk para
todo x ∈ Rn .
c) A aplicação Rn × Rn → R, (x, y) 7→ hx, yi := x1 y1 + ... + xn yn que aparece
na demonstração da Proposição 1.1.2 é chamada produto euclidiano,
ou produto escalar, de Rn .
d) No decorrer da demonstração da Proposição 1.1.2 mostramos a desigual-
dade de Cauchy-Schwarz: para todo par x, y ∈ Rn , tem-se:
|hx, yi| ≤ kxk kyk.
Proposição 1.1.4. Para todos x, y ∈ Rn , tem-se
kxk − kyk ≤ kx − yk.
Demonstração. Pela desigualdade do triângulo, kxk = ky + (x − y)k ≤ kyk +
kx − yk e portanto
kxk − kyk ≤ kx − yk. (1.3)
O mesmo argumento invertendo x e y e multiplicando por −1 mostra que
−kx − yk ≤ kxk − kyk. (1.4)
Comparando (1.3) e (1.4) obtemos a desigualdade desejada.
1.2. CONJUNTOS ABERTOS 3
Demonstrações.
a) Óbvio.
ky − ak = ky − x + x − ak
≤ ky − xk + kx − ak (desigualdade do triângulo)
< δ + kx − ak ( y ∈ B(x, δ))
= r − kx − ak + kx − ak (definição de δ)
= r.
Exemplo 1.3.2.
a) Se X = U ⊆ Rn é aberto, então X ⊆ X 0 .
Demonstrações.
b) Análogo.
1) Se x ∈ (a, b). Como (a, b) é aberto (já que é uma bola), temos pelo
Examplo 1.2.6 que (a, b) ⊆ (a, b)0 . Logo x ∈ (a, b)0 .
2) Se x ∈ {a} ∪ {b}. Suponha x = a. Dado ε > 0 arbitrário, é claro que
B ∗ (a, ε) ∩ (a, b) = (a, min{ε, b − a}) 6= ∅. Logo a ∈ (a, b)0 . De maneira
análoga mostra-se que b ∈ (a, b)0 .
3) Se x ∈ R − [a, b]. Se x < a, então B ∗ (x, a−x
2
) ∩ (a, b) = ∅ e portanto
x 6∈ (a, b)0 . Analogamente, se x > b, então x 6∈ (a, b)0 .
1.4 Limites
Seja a ∈ Rn um ponto de acumulação do conjunto X ⊆ Rn .
6 CAPÍTULO 1. ANÁLISE NO RN
Observação 1.4.2.
Assim kl1 − l2 k < ε qualquer que seja ε > 0. Isso implica kl1 − l2 k = 0, ou
seja, l1 = l2 .
Demonstração.
1.4. LIMITES 7
ε
k(λf )(x) − (λl)k = |λ| kf (x) − lk < |λ| |λ| =ε
Demonstração.
(⇐) Seja ε > 0 arbitrário. Dado i = 1, ..., m, limx→a fi (x) = li implica que
existe δi > 0 tal que |fi (x) − li | < mε para todo x ∈ X satisfazendo
8 CAPÍTULO 1. ANÁLISE NO RN
1.5 Continuidade
Seja X ⊆ Rn um conjunto não vazio.
Proposição 1.5.3.
a) Se f, g : X → Rm são contı́nuas em a ∈ X, então f + g é contı́nua em a.
• a ∈ X 0 e b ∈ Y.
Se limx→a f (x) = b e se g é contı́nua em b, então limx→a (g ◦ f )(x) = g(b).
Demonstração. Seja ε > 0 arbitrário. Pela continuidade de g em b, existe
δ > 0 tal que
Por outro lado, lim f (x) = b implica que existe η > 0 tal que
x→a
Segue-se que
Demonstração. Óbvio.
b) A aplicação identidade Rn → Rn , x 7→ x.
c) Rn → R, x 7→ kxk.
Demonstrações.
c) |f (x) − f (a)| = |kxk − kak| ≤ kx − ak, logo |f (x) − f (a)| < ε sempre que
kx − ak < δ = ε.
d) kf (t) − f (a)k = ktu − tak = |t − a| kuk, logo kf (t) − f (a)k < ε sempre
ε
que |t − a| < δ = kuk .
1.6 Diferenciabilidade
Seja f : U → Rm uma aplicação definida no conjunto aberto U ⊆ Rn .
Definição 1.6.1. A aplicação f : U → Rm é diferenciável no ponto a ∈ U
se existem uma aplicação linear L : Rn → Rm e uma aplicação ε : U → Rm ,
a qual é contı́nua em a, tais que ε(a) = 0 e
f (x) = f (a) + L(x − a) + kx − ak ε(x)
para todo x ∈ U. Neste caso, dizemos que a aplicação linear L é uma deri-
vada de f no ponto a.
Proposição 1.6.2. Se f : U → Rm é diferenciável em a ∈ U , então f é
contı́nua em a.
Demonstração. Por definição da diferenciabilidade, existe uma aplicação li-
near L : Rn → Rm e ε : U → Rm , contı́nua em a, tais que f (x) =
f (a) + L(x − a) + kx − ak ε(x) para todo x ∈ U. Logo f é a soma de três
aplicações contı́nuas em a e portanto é contı́nua em a.
12 CAPÍTULO 1. ANÁLISE NO RN
para todo |t| < η, t 6= 0. Isso mostra que limt→0 V (t) = L(u).
Proposição 1.6.4. A aplicação f : U → Rm é diferenciável em a ∈ U se e
somente se suas funções coordenadas fi : U → R são todas diferenciáveis em
a. Neste caso,
Dfa (u) = (Df1 )a (u), ..., (Dfm )a (u)
para todo u ∈ Rn .
1.6. DIFERENCIABILIDADE 13
Demonstração.
(⇒) Seja i = 1, ..., m arbitrário. Se f é diferenciável em a ∈ U , então existe
ε : U → Rm , contı́nua em a, tal que ε(a) = 0 e tal que f (x) = f (a) +
L(x − a) + kx − ak ε(x) para todo x ∈ U, onde L = Dfa : Rn → Rm .
Compondo com a projeção πi : Rn → Rm , (x1 , ..., xi , ..., xm ) 7→ xi ,
obtemos
fi (x) = fi (a) + Li (x − a) + kx − ak εi (x)
para todo x ∈ U , onde Li = πi ◦ L : Rn → R e εi := πi ◦ ε : U → R.
Obviamente Li é linear, εi (a) = πi (ε(a)) = πi (0) = 0 e pela Proposição
1.4.5, limx→a εi (x) = 0. Segue-se que fi é diferenciável em a e que
(Dfi )a = Li = πi ◦ Dfa .
(⇐) Suponha que todas as funções coordenadas de f sejam diferenciáveis
em a ∈ U . Então para todo i = 1, ..., m existe εi : U → R, contı́nua em
a, tal que εi (a) = 0 e tal que fi (x) = fi (a) + Li (x − a) + kx − ak εi (x)
para todo x ∈ U, onde Li = (Dfi )a . Pondo L : Rn → Rm , x 7→
(L1 (x), ..., Lm (x)) e ε : U → Rm , x 7→ (ε1 (x), ..., εm (x)), vê-se que
f (x) = f (a) + L(x − a) + kx − ak ε(x) para todo x ∈ U . Obviamente
L é linear, ε(a) = (ε1 (a), ..., εm (a)) = (0, ..., 0) = 0, e pela Proposição
1.5.6, ε é contı́nua em a. Segue-se que f é diferenciável em a e que
Dfa = (L1 , ..., Lm ) = (Df1 )a , ..., (Dfm )a .
lim kfkx−ak
(x)−bk
ε2 (f (x)) = 0. (1.7)
x→a
donde,
kf (x)−bk
kx−ak
≤ M + kε1 (x)k
1.7. DERIVADAS PARCIAIS E MATRIZ JACOBIANA 15
< (M + ) M+ = ,
∂f
Observação 1.7.2. O sı́mbolo “xi ”aparecendo na notação “ ∂x i
(a)” refere-
se às variáveis usadas para definir f . Quando estas variáveis não aparecem
∂f
explicitamente na definição de f , escreve-se às vezes ∂i f (a) em vez de ∂x i
(a).
O resultado segue.
• f : U → Rm e g : V → Rp tais que f (U ) ⊆ V .
∂j (gi ◦ f )(a) = m
P
k=1 ∂k gi (f (a))∂j fk (a).
A proposição segue.
c) Diz-se que X é conexo se não admite outra cisão além das cisões triviais.
Noutros termos: se X = A ∪ B com A, B ∈ TX , e se A ∩ B = ∅, então
A = ∅ ou B = ∅.
Definição 1.8.2. Um conjunto I ⊆ R é um intervalo se para todos x, y ∈ I
e todo z ∈ R,
x≤z≤y ⇒ z ∈ I.
{a}, (a, b), (a, b], [a, b), (−∞, a), (−∞, a], (a, ∞), [a, ∞), R,
onde a, b ∈ R, a < b.
Demonstração.
(⇐) Seja I ⊆ R um intervalo não vazio. Suponha por absurdo que exista
uma cisão não trivial (A, B) de I. Seja x ∈ B. Definimos
A−
x := A ∩ (−∞, x) e A+
x := A ∩ (x, ∞).
Como A = A− + − +
x ∪ Ax 6= ∅, necessariamente Ax 6= ∅ ou Ax 6= ∅. Sem
perda de generalidade, podemos supor A− x 6= ∅ (senão o raciocı́nio é
−
análogo). Então Ax é um conjunto não vazio e limitado superiormente
por x, e portanto, possui um supremo α := sup (A− x ). Lembramos que
−
α é por definição o menor dos majorantes de Ax . Logo
a≤α≤x (1.8)
α ∈ A−
x.
(α − η, α + η) ∩ I ⊆ A−
x.
J ∩I ⊆V ∩I =B ⇒ J ∩I ∩A⊆B∩A=∅
⇒ J ∩ A = ∅.
• εx > 0 tal que B(f (x), εx ) ⊆ U (εx existe pois f (x) ∈ U e U é aberto),
• δx > 0 tal que f (B(x, δx )∩X) ⊆ B(f (x), εx ) (δx existe pois f é contı́nua
em x).
Demonstração. Seja (A, B) uma cisão de f (X). Pelo Lema 1.8.5, o par
(f −1 (A), f −1 (B)) é uma cisão do conjunto conexo X, e portanto f −1 (A) = ∅
ou f −1 (B) = ∅. Logo A = ∅ ou B = ∅.
Definição 1.8.8.
1.8. CONJUNTOS CONEXOS 21
Exemplo 1.8.13.
Funções holomorfas
2.1 Notação
• i2 = −1,
• C = {z = x + iy | x, y ∈ R}, x = Re z, y = Im z; C∗ = C − {0},
p
• |z| = x2 + y 2 é o módulo de z = x + iy,
2.2 Limites
Seja z0 ∈ C um ponto de acumulação do conjunto aberto U ⊆ C.
23
24 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES HOLOMORFAS
• o limite é único.
Demonstração.
ε
z ∈ U, 0 < |z − z0 | < δ1 ⇒ |f (z) − l| < 2(|m|+1)
,
ε
e z ∈ U, 0 < |z − z0 | < δ2 ⇒ |g(z) − m| < min 2(|l|+1) ,1 .
o que implica
1
= 1l .
Logo limz→z0 f (z)
Exemplo 2.2.3.
a) Seja c ∈ C. Se f (z) ≡ c on U , então limz→z0 f (z) = c pois |f (z) − c| =
|c − c| = 0 < ε qualquer que seja ε > 0.
2.3 Continuidade
Sejam U ⊆ C e U1 ⊆ C dois conjuntos abertos.
Demonstração.
b) Decorre de a).
d) C∗ → C, z 7→ 1
zn
, n ∈ N − {0},
e) f (z) = z.
para todo z ∈ U .
Além disso, se uma (logo as duas) das asserções a) ou b) é satisfeita, então
l = f 0 (z0 ).
Demonstração.
(a ⇒ b) Suponha que f seja C-derivável em z0 . Defina ε : U → C pondo
f (z)−f (z0 )
z−z0
− f 0 (z0 ) se z ∈ U − {z0 },
ε(z) :=
0 se z = z0 .
b) f g ∈ H(U ) e (f g)0 = f 0 g + f g 0 ,
30 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES HOLOMORFAS
f f 0 f 0 g−f g 0
c) se Z(g) = {z ∈ U | g(z) = 0}, então g
∈ H(U − Z(g)) e g
= g2
.
Demonstração.
1
c) Basta considerar g
:
quando z → z0 .
a) f é C-derivável em z0 .
∂u ∂v ∂u ∂v
= , =− ,
∂x ∂y ∂y ∂x
em z0 .
Demonstração.
onde ε1 = Re ε : U → R e ε2 = Im ε : U → R. Definimos
L1 : C → C, (x, y) 7→ l1 x − l2 y,
L2 : C → C, (x, y) 7→ l2 x + l1 y,
e φ1 : U → C e φ2 : U → C pondo
(
ε1 (z)(x−x0 )−ε2 (z)(y−y0 )
|z−z0 |
se z = x + iy ∈ U − {z0 },
φ1 (z) :=
0 se z = z0 ,
(
ε2 (z)(x−x0 )+ε1 (z)(y−y0 )
|z−z0 |
se z = x + iy ∈ U − {z0 },
φ2 (z) :=
0 se z = z0 .
32 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES HOLOMORFAS
Temos então que f (z) = f (z0 )+l(z −z0 )+φ(z)(z −z0 ) para todo z ∈ U,
e como limz→z0 φ(z) = 0 (já que |φ(z)| = |ε(z)| e limz→z0 ε(z) = 0),
deduz-se que f é C-derivável em z0 e que f 0 (z0 ) = l.
2.6. OUTRAS PROPRIEDADES 33
(f ◦ γ)0 (t) = D(f ◦ γ)t (1) = Dfγ(t) ◦ Dγt (1) = Dfγ(t) (γ 0 (t)) = f 0 (γ(t))γ 0 (t),
Funções analı́ticas
Neste caso, diz-se que l é um limite de (zn )n∈N e que (zn )n∈N converge
para l. Escreve-se então limn→∞ zn = l ou zn → l. Quando (zn )n∈N não é
convergente, diz-se que (zn )n∈N diverge, ou que é divergente.
c) Uma sequência (zn )n∈N em C é limitada quando existe A > 0 tal que
|zn | ≤ A para todo n ∈ N.
d) Seja (zn )n∈N uma sequência em C. Uma subsequência de (zn )n∈N é
uma sequência da forma (zϕ(n) )n∈N , onde ϕ : N → N é uma aplicação
estritamente crescente.
Observação 3.1.2.
a) O conjunto das sequências em C é naturalmente um espaço vetorial com-
plexo.
35
36 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES ANALÍTICAS
i) limn→∞ zn = l.
ii) limn→∞ |zn − l| = 0.
iii) Para todo ε > 0, existe N ∈ N tal que zn ∈ D(l, ε) sempre que
n ≥ N.
• o limite é único;
Proposição 3.1.3. Sejam (zn )n∈N e (wn )n∈N duas sequências em C que con-
vergem para l ∈ C e m ∈ C, respectivamente. Valem as seguintes afirmações.
n≥N ⇒ |zn | ≥ A.
• Se q = 1, então obviamente q n = q = 1 → 1.
1
• Se 0 < |q| < 1, então p := |q| > 1 e portanto pn → ∞ (pelo primeiro ponto
acima). Segue-se que |q n | = |q|n = p1n → 0. Logo limn→∞ q n = 0. Se
q = 0, então q n = 0 → 0.
P n0 ∈ N tal que aP
Observação 3.2.2. Às vezes existe n = 0 para todo 0 ≤
n ≤ n0 . Neste caso, escrevemos n≥n0 an no lugar de n≥0 an .
P
Definição 3.2.3. Diz-se que a série n≥0 an
Se Sn → S ∈ C ∪ {∞}, escreve-se
∞
X
S= an .
n=0
Exemplo 3.2.4.
3.2. SÉRIES NUMÉRICAS 39
q n converge, pois
P
a) Seja q ∈ C. Se |q| < 1, então a série geométrica n≥0
n
X 1 − q n+1
k 1
Sn = q = → .
k=0
1−q 1−q
n
P
b) No caso da série n≥0 (−1) , temos que
1 se n = 2k, k ∈ N,
Sn =
0 se n = 2k + 1, k ∈ N.
As subsequências (S2n )n∈N e (S2n+1 )n∈N convergem mas têm limites di-
ferentes (respectivamente
P 1 e 0),n o que implica que (Sn )n∈N não pode
convergir. Resulta que n≥0 (−1) diverge.
Demonstração.
P
a) Seja ε > 0 arbitrário. Por hipótese, n≥0 bn converge, o que implica pelo
critério de Cauchy que existe N ≥ n0 tal que | m
P
k=n+1 k | < ε sempre que
b
m > n ≥ N . Logo
Xm X m m
X
|ak | ≤ bk = bk < ε
k=n+1 k=n+1 n+1
P
sempre que m > n ≥ N. Pelo critério de Cauchy, n≥0 |an | converge.
Lembrete 3.3.4.
• Seja (xn )n∈N uma sequência de números reais limitada superiormente. Para
todo n ∈ N, o conjunto {xk | k ≥ n} é limitado superiormente, e por-
tanto possui um supremo sn := sup{xk | k ≥ n}. A sequência (sn )n∈N é
uma sequência de números reais decrescente. Logo é convergente se e
somente se é limitada inferiormente, e se não converga, então sn → −∞.
Conclusão: limn→∞ sn sempre existe e pertence ao conjunto [−∞, ∞[.
• Seja (xn )n∈N uma sequência de números reais qualquer. Para todo n ∈ N,
ponhamos sn := sup{xk | k ≥ n} ∈ R. O limite superior de (xn )n∈N
é o elemento s ∈ R = R ∪ {−∞, ∞} definido por:
limn→∞ sn se (xn )n∈N é limitada superiormente,
s :=
∞ caso contrário,
Escreve-se s = lim supn→∞ xn .
Proposição 3.3.5 (Caracterização do limite superior). Seja (xn )n∈N
uma sequência de números reais e seja s = lim supn→∞ xn ∈ R. Valem as
seguintes afirmações.
a) Existe uma subsequência (xϕ(n) )n∈N que converge para s, isto é, xϕ(n) → s.
b) Para todo r > s, existe N ∈ N tal que n ≥ N implica xn < r.
Além disto, s é o único elemento de R que satisfaz as condições a) e b).
Demonstração. Para todo n ∈ N, ponhamos sn := sup{xk | k ≥ n} ∈ R.
Vamos estabelecer a) e b) separadamente. Cada caso será subdivido em
subcasos.
a) 1. Se (xn )n∈N é limitada superiormente. Neste caso, sn ∈ R para todo
n ∈ N, e (sn )n∈N é uma sequência decrescente que converge para s ∈
R ∪ {−∞}. Sendo s0 o supremo de {xk | k ≥ 0}, existe um inteiro
ϕ(0) ≥ 0 tal que s0 − 1 < xϕ(0) ≤ s0 . Sendo sϕ(0)+1 o supremo de
{xk | k ≥ ϕ(0) + 1}, existe um inteiro ϕ(1) > ϕ(0) tal que sϕ(0)+1 −
1
2
< xϕ(1) ≤ ϕ(0) + 1. Continuando assim, obtemos uma aplicação
ϕ : N → N estritamente crescente que satisfaz
1
sϕ(n−1)+1 − n+1
< xϕ(n) ≤ sϕ(n−1)+1 (3.3)
para todo n ≥ 1. Se s ∈ R, então o Teorema do sanduı́che implica que
xϕ(n) → s. Se s = −∞, então a segunda desigualdade em (3.3) implica
que xϕ(n) → −∞. Em todos os casos, (xϕ(n) )n∈N converge para s.
3.3. CONVERGÊNCIA ABSOLUTA 43
2. Se (xn )n∈N não é limitada superiormente. Neste caso, (xn )n∈N possui
uma subsequência (xϕ(n) )n∈N que converge para infinito, isto é, xϕ(n) →
∞. Mas isto implica que xϕ(n) → s, já que s = ∞ nesse caso.
xn ≤ sN < s + ε = s + (r − s) = r,
b) Seja (xϕ(n) )n∈N uma subsequência de (xn )n∈N . Se limn→∞ xϕ(n) = l, então
l ≤ s.
Demonstração.
a) Decorre do item a) da Proposição 3.3.5 e do seguinte fato geral: se (yn )n∈N
é uma sequência em R satisfazendo limn→∞ yn = l ∈ R, então para qual-
quer subsequência (yϕ(n) )n∈N , tem-se limn→∞ yϕ(n) = l.
sempre que n ≥ N . Isto implica que (an )n∈N não é convergente para
0P(pois possui uma subsequência que não converge para 0) e portanto
n≥0 an diverge.
2
Exemplo 3.3.10. Vamos determinar todos os z ∈ C tal que n≥1 (1+ n1 )n z n
P
2
seja absolutamente convergente. Sejam an := (1 + n1 )n z n , n ≥ 1, e s :=
p
lim supn→∞ n |an |. Temos que
1 1 1 1 1
− 2 + 2 ε( )
p n ln 1+ n
n 1 n
|an | = (1 + n ) |z| = e n |z| = e n 2n n n |z|
1 1 1
= e1− 2n + n ε( n ) |z| → e|z| = s,
2
onde usamos a fórmula de Taylor ln(1+x) = x− x2 +x2 ε(x), com limx→0 ε(x) =
0. Segue-se que n≥1 an converge absolutamente quando |z| < 1e e diverge
P
n ≥ 3. Se z 6= 0, então
n+1
n+1 (n+1)!
a
n+1 3
|z| (n−2)!3! n+1
= n = n! |z| = |z| → |z|.
an |z|n n−2
3 (n−3)!3!
P
Portanto n≥3 an converge absolutamente quando |z| < 1. Se |z| ≥ 1,
então | an+1 n+1 n+1
P
an
| = n−2
|z| ≥ n−2
≥ 1 para todo n ≥ 3. Logo n≥3 an diverge
para todo |z| ≥ 1.
b) Sejam a, b ∈ R tais que 0 < a < b. Dado n ∈ N, ponhamos c2n := an bn+1
e c2n+1 := an+1 bn+1 . Assim c0 = b, c1 = ab, c2 = ab2 , c3 = a2 b2 , c4 = a2 b3 ,
etc. Então
(
p
n
a1/2 b1/2+1/(2k) se n = 2k,
|cn | =
a(k+1)/(2k+1) b(k+1)/(2k+1) se n = 2k + 1,
√
donde n |cn | → ab. Por outro lado, | c2n+1
p c2n
c2n
| = a e | c2n−1 | = b, o
cn+1
que implica lim supn→∞ | cn | = b. Em particular, se a = 3 e b = 43 ,
2
q
< 1 e lim supn→∞ | cn+1
p 8
então lim supn→∞ |cn | =
n
9 cn
| = 43 > 1. Pelo
P
teste da raiz, concluı́mos que n≥0 cn converge absolutamente, embora
lim supn→∞ | cn+1
cn
| > 1.
P
Definição 3.3.14. Uma reordenação da série n≥0 an é uma série da forma
∞
X
aϕ(n) ,
n=0
∞
X ∞
X ∞
X
(λan + µbn ) = λ an + µ bn .
n=0 n=0 n=0
Demonstração.
P PSejam (An )n∈N e (Bn )n∈N as sequências das somasPparciais
de n≥0 an Pe n≥0 bn respectivamente.
Pn Por hipótese, A n → A := n≥0 an e
Bn → B := n≥0 bn . Logo k=0 (λak + µbk ) = λAn + µBn → λA + µB.
P P
Definição 3.4.2. O produto de Cauchy de
P n≥0 an por n≥0 bn é a série
n≥0 cn , onde
n
X
cn := ak bn−k
k=0
∞
X ∞
X ∞
X
cn = an bn .
n=0 n=0 n=0
An = a0 + a1 + ... + an , A := limn→∞ An ∈ R,
Bn = b0 + b1 + ... + bn , B := limn→∞ Bn ∈ R,
Cn = c0 + c1 + ... + cn .
Cn = c0 + c1 + c2 + ... + cn
= (a0 b0 ) + (a0 b1 + a1 b0 ) + (a2 b0 + a1 b1 + a0 b2 ) + ...
... + (a0 bn + a1 bn−1 + ... + an b0 )
= a0 (b0 + b1 + ... + bn ) + a1 (b0 + b1 + ... + bn−1 ) + ...
... + an−1 (b0 + b1 ) + an b0
Pn
= k=0 ak Bn−k ,
C2n = 2n
P Pn Pn
e k=0 ak B2n−k ≥ k=0 ak B2n−k ≥ k=0 ak Bn = An Bn ,
donde
Cn ≤ An Bn ≤ C2n (3.6)
Note que:
0
P P P
• n≥0 cn é o produto de Cauchy de n≥0 |an | por n≥0 |bn |, o que implica
pelo primeiro caso que C 0 = limn→∞ Cn0 = A0 B 0 ;
|Bn − Bm | ≤ Bn0 − Bm
0
,
Definição 3.5.2.
unif.
Neste caso, escreve-se fn → f e diz-se que (fn )n∈N converge uniforme-
mente para f em X.
Observação 3.5.5.
unif.
a) Se fn → f em X ⊆ U , então fn → f em X.
unif.
b) fn → f em X ⊆ U se e somente se σn → 0, onde
Exemplo 3.5.6.
52 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES ANALÍTICAS
e portanto
e portanto σn = Rn → 0.
Demonstração.
(⇒) Suponha que (fn )n∈N convirja uniformemente em X. Seja ε > 0 ar-
unif.
bitrário. Como fn → f em X para uma certa função f : X → C,
existe N ∈ N tal que z ∈ X e n ≥ N implicam |fn (z) − f (z)| < 2ε .
Portanto
ε ε
|fm (z) − fn (z)| ≤ |fm (z) − f (z)| + |f (z) − fn (z)| < 2
+ 2
=ε
sempre que z ∈ X e m, n ≥ N .
Como limz→z0 fn (z) = ln , tem-se também que para todo n ∈ N, existe R(n) >
0 tal que
e como ln → l, existe N3 ∈ N
n ≥ N3 ⇒ |ln − l| < 3ε .
Então f é contı́nua.
P
e diz-se que n≥0 fn converge pontualmente
P para S em X. Quando
a convergência é uniforme, diz-se que n≥0 fn converge uniformemente
para S em X.
Exemplo 3.6.3.
n
P
a) A série geométrica n≥0 z converge pontualmente em D(0, 1) para a
1
função S(z) = 1−z (veja Exemplo 3.2.4). A convergência não é uniforme
em D(0, 1), pois
n k 1 − z n+1
X n+1
1 1 z
z − = − =
1 − z ,
k=0
1 − z 1−z 1 − z
donde
n+1
z
σn = sup |Sn (z) − S(z)| = sup = ∞,
z∈D(0,1) 1 − z
z∈D(0,1)
o que implica σn → ∞ =
6 0.
e portanto σn → 0.
56 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES ANALÍTICAS
b) exista uma sequência de números complexos (ln )n∈N tal que limz→z0 fn (z) =
ln para todo n ∈ N.
P P
Então n≥0 ln converge e limz→z0 S(z) = n≥0 ln . Noutros termos,
∞
X ∞
X
lim fn (z) = lim fn (z).
z→z0 z→z0
n=0 n=0
3.7. SÉRIES DE POTÊNCIAS 57
fn (z) = an (z − z0 )n .
Observação 3.7.4.
Exemplo 3.7.5.
n
P
a) n≥0 n!z , R = 0.
n
P
b) n≥0 z , R = 1.
zn
P
c) n≥0 n! , R = ∞.
n! tn = (1 × 2 × 3 × ... × N ) × (N + 1) × (N + 2) × ... × n tn
≥ N !N n−N tn = N !tN (N t)n−N .
para todo n ≥ 0. Como | z−z | < 1,Pa série geométrica n≥0 C| z−z 0 n
P
t
0
t
|
n
converge. Pelo teste de comparação, n≥0 |an (z − z0 ) | converge.
b) Suponha 0 < s < R. Seja t ∈ R tal que s < t < R. Como t ∈ A, existe
C ∈ R tal que |an tn | ≤ C para todo n ∈ N. Dado z ∈ D(z0 , s) e n ∈ N
arbitrários, vem então que
n z−z n
0 ≤ C s n .
|an (z − z0 )n | = |an tn | z−z
t
0
≤ C t t
60 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES ANALÍTICAS
Demonstração.
Observação 3.7.10. A Proposição 3.7.9 pode ser usada para estimar o raio
de convergência R, da seguinte maneira. Dado z ∈ C,
• se a série numérica n≥0 an (z − z0 )n converge, então R ≥ |z − z0 |,
P
todo z ∈ C.
Se s 6∈ N, então ns 6= 0 para todo n ∈ N e portanto podemos aplicar o
Logo n≥0 ns z n converge se |z| < 1 e diverge se |z| > 1, o que implica
P
R = 1.
p
Proposição 3.7.12 (Fórmula de Hadamard). Seja s := lim supn→∞ n |an | ∈
[0, ∞]. Então,
∞ se s = 0,
1
R= se 0 < s < ∞,
s
0 se s = ∞.
an (z − z0 )n é continua no
P
Proposição 3.7.13. A função soma S(z) = n≥0
seu disco de convergência D(z0 , R).
têm o mesmo
P∞ raio de convergência. A segunda série é chamada série deri-
n
vada de n=0 an (z − z0 ) .
(⇒) Suponha (an tn )n∈N limitada. Por definição, isto significa que t pertence
ao conjunto A, o qual é da forma [0, R[ ou [0, R]. Logo t < R. Seja
s ∈ R tal que t < s < R. Como s ∈ A, existe C ∈ R tal que |an sn | ≤ C
para todo n ∈ N, e portanto
t n
≤ C n+1 t n
|an+1 (n + 1)tn | = |an+1 sn+1 | n+1
s s s s
(3.8)
A : D(0, R) → C, z 7→ ∞ n
P
n=0 an+1 (n + 1)z ,
Pn
An : C → C z 7→ k=0 ak+1 (k + 1)z k .
Pelo Lema 3.7.14, a função A está bem definida, e para todo z ∈ D(0, R),
An (z) → A(z). Seja w ∈ D(0, R) arbitrário. Devemos mostrar que S é
C-derivável em w e que S 0 (w) = A(w).
Escolhamos s ∈ R tal que |w| < s < R. Dados z ∈ D(0, s), z 6= w e
n ≥ 2, tem-se
Sn (z)−Sn (w)
z−w
− An (w)
Sn (z)−Sn (w) Pn k
= z−w
− k=0 ak+1 (k + 1)w
z k −wk
Pn Pn k−1
= k=1 ak z−w − k=1 kak w − an+1 (n + 1)wn
z k −wk
Pn
= k=2 ak z−w
− kwk−1 − an+1 (n + 1)wn
= (z − w) nk=2 ak
Pk−2 k−2−j j
+ 1)wn ,
P
j=0 (j + 1)z w − an+1 (n
64 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES ANALÍTICAS
+ 2)(n + 1)an+2 z n .
P
n≥0 (n (3.10)
S (n) (z0 )
an = .
n!
Demonstração. Tome z = z0 em (3.11).
Definição 3.7.19. A ordem da série n≥0 an (z −z0 )n é o menor inteiro não
P
negativo m tal que am 6= 0 (se an = 0 para todo n ∈ N, convencione-se que a
ordem é ∞). Denotaremos por o(S) a ordem da série S = n≥0 an (z − z0 )n .
P
onde (Sen )n∈N denota a sequência das somas parciais de n≥0 an+m (z − z0 )n .
P
Pela Observação 3.7.10, estas séries têm o mesmo raio de convergência. To-
mando o limite quando l → ∞ em (3.13), obtemos (3.12).
Proposição 3.7.22. Considere as seguintes condições:
i) a função soma S é identicamente nula num conjunto aberto contendo z0 ;
ii) existe uma sequência (wn )n∈N de pontos wn ∈ D∗ (z0 , R) tal que wn → z0
e S(wn ) = 0 para todo n ∈ N.
66 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES ANALÍTICAS
Portanto, a série numérica n≥0 (λan + µbn )z n converge sempre que |z| <
P
r. Pela Observação 3.7.10, isso implica RP≥ r. Segue também de (3.14)
que a função soma da série de potências n≥0 (λan + µbn )z n em D(0, r) é
λf + µg.
Dado n ∈ N, ponhamos
n
X
cn = ak bn−k .
k=0
P P P
Note que n≥0 cn é o produto de Cauchy de n≥0 an por n≥0 bn .
P
Proposição 3.8.2. O raio de convergência Rc da série de potências n≥0 cn (z−
z0 )n satisfaz Rc ≥ r := min{Ra , Rb }, e sua função soma em D(z0 , r) é f g.
t|b0 |
o que implica pela fórmula de Hadamard que Rd ≥ [ 1t (1 + C
|b0 |
)]−1 = C+|b0 |
>
0.
∞
X
h(z) = dn (z − z0 )n , z ∈ D(z0 , Rd ).
n=0
= an .
3.9 Analiticidade
Definição 3.9.1. Seja f : U → C uma função definida num conjunto aberto
U ⊆ C. Diz-se que f é
n
P
potências n≥0 an (z − zn ) com raio de convergência R ≥ ε tais que
D(z0 , ε) ⊆ U e
∞
X
f (z) = an (z − z0 )n
n=0
b) f (z) = z, U = C.
c) f (z) = z1 , U = C∗ .
Demontração. Seja z0 ∈ U arbitrário.
a) Dado z ∈ C, f (z) = c = ∞ n
P
n=0 an (z − z0 ) , onde a0 := c e an = 0 para
todo n ≥ 1.
b) Dado z ∈ C, f (z) = z = z0 + (z − z0 ) = ∞ n
P
n=0 an (z − z0 ) , onde a0 := z0 ,
a1 = 1 e an = 0 para todo n ≥ 2.
1 1 1
P∞ −1 n
f (z) = = = n=0 (z − z0 )n .
z
z0 1 − z−z
−z0
0 z0 z0
Então,
P
a) para todo i ∈ N, a série numérica j≥0 αij converge absolutamente,
P
b) para todo j ∈ N, a série numérica i≥0 αij converge absolutamente,
3.9. ANALITICIDADE 71
P P P P
c) As séries numéricas i≥0 j≥0 αij e j≥0 i≥0 αij convergem ab-
solutamente e têm a mesma soma.
Demonstração. A condição a) decorre imediatamente da hipótese i). Seja
X := { n1 ∈ C | n = 1, 2, 3, ...} ∪ {0} ⊆ C. Dado i ∈ N, definimos fi : X → C
pondo
Pn
j=0 αij se z = n1 , n ≥ 1,
fi (z) =
P∞ α se z = 0.
j=0 ij
P
Note que a convergência da série j≥0 αij implica a continuidade de fi em
0. P
Considere agora a série P de funções i≥0 fi . Pela hipótese i), |fi (z)| ≤ βi
para todo z P ∈ X, e como i≥0 βi converge por ii), o teste de Weierstrass
implica que i≥0 fi converge uniformemente em X. Seja S : X → C a sua
função soma,
S(z) = ∞
P
i=0 fi (z), z ∈ X.
Então,
= (z − w0 )j n−j i+j
P i
i=0 ai+j j (w0 − z0 )
Pn−j
= (z − w0 )j j!1 i=0 ai+j (i+j)!
i!
(w0 − z0 )i .
para todo z ∈ D(w0 , R−|w0 −z0 |). Isso mostra que S é analı́tica em w0 e que
o raio de convergência de (3.20) é maior do que ou igual a R − |w0 − z0 |.
Corolário 3.9.5. Seja f : U → C uma função definida num conjunto aberto
U ⊆ C. Então o conjunto dos pontos z ∈ U tal que f é analı́tica em z é
aberto.
Demonstração. Decorre da definição de uma função analı́tica e do Teorema
3.9.4.
Seja U ⊆ C um conjunto aberto não vazio. Denotaremos por A(U ) o
conjunto das funções complexas analı́ticas em U .
Proposição 3.9.6. Sejam f, g ∈ A(U ). Valem as seguintes afirmações.
a) Para todos λ, µ ∈ C, λf + µg ∈ A(U ).
b) f g ∈ A(U ).
74 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES ANALÍTICAS
f
c) g
∈ A(U − Z(g)), desde que Z(g) 6= U .
d) f é homolorfa e f 0 ∈ A(U ).
Demonstração. Decorre das propriedades das séries de potências.
Exemplo 3.9.7. Decorre da Proposição 3.9.6 que
a) as funções polinomiais P (z) = a0 + a1 z + ... + an z n , ak ∈ C, são analı́ticas
em C;
P (z)
b) as funções racionais, isto é, as funções da forma f (z) = Q(z) , onde P e
Q são duas funções polinomiais, são analı́ticas em C − Z(Q).
onde an = m
n
(w0 − z0 )m−n se n ≤ m e an = 0 senão. Se w0 6= z0 , então
m
a0 = (w0 − z0 ) 6= 0, donde o(f, w0 ) = 0. Se w0 = z0 , então a0 = a1 = ... =
am−1 = 0 e am = m m
00 = 1 6= 0. Assim,
0 se w0 6= z0 ,
o(f, w0 ) =
m se w0 = z0 .
3.10. ZEROS DE UMA FUNÇÃO ANALÍTICA 75
o(f g, z0 ) = m + m0 .
0
Demonstração. Se m = mP = 0, então o resultado é óbvio. Suponha então
0
m 6= 0 ou m 6= 0. Sejam n≥0 an (z − z0 ) e n≥0 bn (z − z0 )n as séries que
n
P
representam f e g em z0 , respectivamente. Sabemos P que a série de potências
n
que representa
Pn f g em z0 é o produto de Cauchy n≥0 cn (z − z0 ) , onde
cn = k=0 ak bn−k . Devemos mostrar que cm+m0 6= 0 e que cn = 0 para todo
0 ≤ n < m + m0 . Sejam k, n ∈ N tais que 0 ≤ k ≤ n ≤ m + m0 . Afirmamos
que
am bm0 se n = m + m0 e k = m,
ak bn−k =
0 senão.
2. Se k ≥ m, então n − k ≤ n − m ≤ m0 , donde n − k ≤ m0 .
am bm0 se n = m + m0 ,
cn =
0 senão.
f (z) = (z − z0 )m g(z)
para todo z ∈ U .
76 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES ANALÍTICAS
Comparando (3.21) e (3.22), vê-se que g(z) = S(z)e para todo z ∈ D(z0 , ε).
Logo g é analı́tica em z0 . Finalmente, é fácil ver que g satisfaz todas as
outras condições do enunciado.
Seja Z(f ) o conjunto dos pontos z ∈ U tais que f (z) = 0. Elementos de
Z(f ) são chamados zeros da função f .
Corolário 3.10.6. Seja z0 ∈ U tal que o(f, z0 ) < ∞. Valem as seguintes
afirmações.
a) Existe ε > 0 tal que D(z0 , ε) ⊆ U e o(f, z) < ∞ para todo z ∈ D(z0 , ε).
A = {z ∈ U | o(f, z) = ∞}
e B = {z ∈ U | o(f, z) < ∞}
f (z) = f (z)
para todo z ∈ U . Com efeito, sabemos que a função g(z) = f (z) é analı́tica
em U , e como f ≡ g em R ∩ U , segue do Teorema 3.10.9 que f ≡ g em U .
ez+w = ez ew .
A resultado segue.
Corolário 3.11.3.
a) Para todo z ∈ C, ez 6= 0 e e−z = 1
ez
.
ez
b) Para todos z, w ∈ C, ez−w = ew
.
A proposição segue.
80 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES ANALÍTICAS
ez = ex (cos(y) + i sin(y)),
Obviamente h é uma função real, isto é, h(x) ∈ R para todo x ∈ R. Também,
resulta da analiticidade de expC que h, u e v são de classe C ∞ . Note que
expC (0) = h(0) = u(0) = 1 e v(0) = 0.
Primeiro, vamos mostrar que h = expR . Por um lado, segue da Ob-
servação 2.5.3 que
(expC )0 = ∂
∂x
(hu) ∂
+ i ∂x (hv) = ∂h
∂x
(u + iv).
Comparando, obtemos
∂h
∂x
(u + iv) = h(u + iv). (3.26)
(expC )0 = ∂
∂y
(hv) ∂
− i ∂y ∂v
(hu) = h( ∂y − i ∂u
∂y
).
Em particular, ∂u∂y
∂v
(0) = 0 e ∂y (0) = 1. Derivando na primeira equação em
(3.27) em relação a y e levando em conta a segunda, obtemos a equação
diferencial
∂ 2u
+u=0
∂y 2
c) ez = 1 se e somente se z ∈ 2πiZ.
d) ez = ew se e somente se z − w ∈ 2πiZ.
Demonstração. Decorre da Proposição 3.11.5.
Corolário 3.11.7. A função exponencial é periódica de perı́odo 2πi, isto é,
para todo z ∈ C e todo k ∈ Z, tem-se:
ez+2πik = ez .
É claramente uma bijeção de classe C ∞ (no sentido real) cuja matriz jacobi-
ana num ponto arbitrário (r, t) ∈ R∗+ ×] − π, π[ é dada por:
cos(t) −r sin(t)
. (3.29)
sin(t) r cos(t)
b) Óbvio.
Vê-se pelo teste da razão que o raio de convergência desta série é R = |z0 |, e
um cálculo simples mostra que S 0 (z) = z1 para todo z ∈ D(z0 , |z0 |). Segue-se
que (g − S)0 ≡ 0 numa vizinhança conexa de z0 . Pelo Teorema 2.6.2, g − S
é constante nesta vizinhança. Como (g − S)(z0 ) = 0, deduzimos que g ≡ S
nessa vizinhança de z0 . Isso implica que g é analı́tica em z0 .
86 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES ANALÍTICAS
Capı́tulo 4
Teoria de Cauchy
4.1 Caminhos em C
Seja X ⊆ C um conjunto não vazio.
Exemplo 4.1.2.
87
88 CAPÍTULO 4. TEORIA DE CAUCHY
x
4.1. CAMINHOS EM C 89
√
b) O caminho γ : [0, 1] → C definido por γ(t) = i t não é de classe C 1 pois
a derivada à direita em t = 0 de γ não existe.
c) Considere o caminho γ : [−1, 1] → C definido por γ(t) = t + i|t|. No
conjunto [−1, 0], γ(t) = t − it é de classe C 1 , e no conjunto [0, 1], γ(t) =
t + it também é de classe C 1 . Logo γ é de classe C 1 por partes.
y
1 γ(t)
x
−1 1
4.2 Integração
Definição 4.2.1. Seja f = u + iv : [a, b] → C uma função complexa. Diz-
se que f é integrável no sentido de Riemann, ou simplesmente que é
integrável, se as funções reais u e v o são. Neste caso, definimos a integral
de f como sendo o número complexo
Z b Z b Z b
f (t)dt = u(t)dt + i v(t)dt.
a a a
Resulta daı́ e das desigualdades Re z ≤ |Re z| ≤ |z|, as quais valem para todo
z ∈ C, que
Rb Rb Rb
| a f (t)dt| ≤ a |e−iθ f (t)|dt = a |f (t)|dt.
O resultado segue.
Definição 4.2.4. Seja γ : [a, b] → C um caminho de classe C 1 e seja f : Γ →
C uma função contı́nua em Γ = γ ∗ . A função [a, b] → C, t 7→ f (γ(t))γ 0 (t)
sendo contı́nua, é integrável. A sua integral é chamada integral de f ao
longo do caminho γ e é denotada por
Z Z b
f (z)dz = f (γ(t))γ 0 (t)dt.
γ a
92 CAPÍTULO 4. TEORIA DE CAUCHY
Exemplo 4.2.5.
z2
R
Note que γ
zdz = F (γ(1)) − F (γ(0)), onde F (z) = 2
.
1
b) Seja R > 0. A integral da função f (z) = z
ao longo do caminho γ(t) =
Reit , t ∈ [0, 2π], é dada por:
2π 2π
Rieit
Z Z Z
dz
= dt = i dt = 2πi.
γ z 0 Reit 0
c) a = t0 < t1 < ... < tn−1 < tn = b uma partição do segmento [a, b] tal que
para todo j = 0, ..., n − 1, a restrição γj := γ|[tj ,tj+1 ] é de classe C 1 .
t + 1 se t ∈ [−2, 0]
γ(t) =
eit se t ∈ [0, π].
γ1
i
•
2
−1 γ0 1
1
Vamos calcular a integral de f (z) = z−i/2
ao longo de γ. Sejam γ0 := γ|[−2,0]
e γ1 = γ|[0,π] . Por definição,
dz
R R R
γ z−i/2
= γ0
f (z)dz + γ1
f (z)dz.
94 CAPÍTULO 4. TEORIA DE CAUCHY
1/5
= i π2 + 3 52 i −4/5 v2 +(3/5)
dv
R
2 (v := u − 4/5)
1/5
= i π2 + 3 52 i 53 arctan( 35 v) −4/5
= i π2 + 2i(arctan(1/3) + arctan(4/3)).
Somando, obtemos
π
R
γ
f (z)dz = 2
i + 2i arctan(2) + arctan(1/3) + arctan(4/3) .
Para simplificar esta expressão, relembramos que para todo par x, y ∈ R,
x+y
arctan(x) + arctan(y) = arctan( 1−xy ) + kπ,
onde k = 1 se xy > 1 e x > 0; k = −1 se xy > 1 e x < 0; k = 0 se xy < 1.
Daı́, um cálculo simples mostra que
3π
arctan(2) + arctan(1/3) + arctan(4/3) = 4
,
e portanto,
Z
dz
= 2iπ.
γ z − 2i
4.2. INTEGRAÇÃO 95
O resultado segue.
Proposição 4.2.14. Sejam γ : [a, b] → C um caminho de classe C 1 por
partes e ϕ : Γ → C uma função contı́nua em Γ = γ ∗ . Seja f a função
complexa definida em U := C − Γ por
Z
ϕ(u)
f (z) := du.
γ u−z
Se z0 ∈ U e r >
P0 são tais que D(z0 , r) ⊆ U , então para todo z ∈ D(z0 , r),
tem-se f (z) = n≥0 an (z − z0 )n , onde
Z
ϕ(u)
an = n+1
du. (n ∈ N)
γ (u − z0 )
Em particular, f é analı́tica em U .
4.2. INTEGRAÇÃO 97
ϕ(u) z − z0 k
k
ϕ(u) k r
(u − z0 )k+1 (z − z0 ) = u − z0 u − z0 < M s
4.3 Primitivas
Seja f : U → C uma função definida num conjunto aberto U ⊆ C.
Por um argumento análogo ao do Lema 2.6.1, vê-se que f (γj (t))γj (t) =
(F ◦ γj )0 (t) para todo t ∈ [tj , tj+1 ], e portanto
R tj+1 R tj+1
tj
f (γj (t))γj0 (t)dt = tj
(F ◦ γj )0 (t)dt
= F (γj (tj+1 ) − F (γj (tj )) = F (γ(tj+1 ) − F (γ(tj )),
f (z)dz = n−1
R P
γ j=0 F (γ(tj+1 ) − F (γ(tj )) = F (γ(b)) − F (γ(a)).
Demonstração.
donde
R
F (w) − F (z) = σz,w
f (u)du.
onde [z, w] = (σz,w )∗ . Como [z, w] ⊆ D(z, δ), segue de (4.3) que |f (u)−
f (z)| < 2ε para todo u ∈ [z, w]. Logo supu∈[z,w] |f (u) − f (z)| ≤ 2ε < ε, e
então
F (z)−F (w)
z−w
− f (z)<ε
γ
i
•
2
Top. ind.
Lembrete 4.4.3. Seja X ⊆ C um conjunto não vazio.
a) A componente conexa de x ∈ X é o maior conjunto conexo de X que
contém x; este conjunto é denotado por C(x). Equivalentemente, C(x) é
a reunião de todos os subconjuntos conexos de X que contém x.
y
C3
C1 C2
γ(t)
Demonstração.
a) Seja z0 ∈ Ω arbitrário. Pela Proposição 4.2.14, aP função Indγ é analı́tica
em Ω e a série que a representa em z0 é a série n≥0 an (z − z0 )n , onde
1 du
R
an = 2πi γ (u−z0 )n+1
, n ∈ N. Em particular,
Z
0 1 du
(Indγ ) (z0 ) = a1 = . (4.4)
2πi γ (u − z0 )2
b) Seja R > 0 tal que Γ ⊆ D(0, R). Dados |z| > R e u ∈ Γ, temos que
|z| ≤ |z − u| + |u| ≤ |z − u| + R, donde |z − u| ≥ |z| − R, e portanto
1 1
≤ .
|u − z| |z| − R
Resulta daı́ e do Corolário 4.2.12 que
Z
1 du ≤ 1 L(γ) .
Indγ (z) =
γ u−z
2πi 2π |z| − R
4.4. ÍNDICE DE UM CAMINHO FECHADO 105
= n−1
R du P
Note que γ u−z j=0 gj (tj+1 ) e que gj (tj ) = 0. Exatamente como no
caso real, mostra-se que gj é diferenciável e que
γj0 (t)
gj0 (t) =
γj (t) − z
para todo t ∈ [tj , tj+1 ]. Seja Gj : [tj , tj+1 ] → C a função definida por
G0j (t) γj0 (t)e−gj (t) − (γj (t) − z)e−gj (t) gj0 (t)
=
Gj (t) (γj (t) − z)e−gj (t)
γj0 (t)
= − gj0 (t) = 0,
γj (t) − z
e portanto, Gj é constante em [tj , tj+1 ]. Segue-se que Gj (tj ) = Gj (tj+1 )
para todo j = 0, ..., n − 1, ou seja, que
γ(tj+1 ) − z
= egj (tj+1 )
γ(tj ) − z
106 CAPÍTULO 4. TEORIA DE CAUCHY
θ(b) − θ(a)
Ind(γ, z) = .
2π
Assim, Ind(γ, z) pode ser interpretado como o ńumero de voltas efetivas pelo
vetor γ(t) em torno de z quand t varia entre a e b.
O resultado segue.
4.5. TEOREMAS DE CAUCHY 107
{t1 z1 + t2 z2 + t3 z3 ∈ C | 0 ≤ tj ≤ 1, t1 + t2 + t3 = 1}.
Note que:
Logo
R1 R1
0
f (σ(t0 s))(z2 − z1 )t0 ds = 0 f ((1 − s)z1 + sz3 )(z3 − z1 )ds
R
= [a,c] f (z)dz. (4.7)
como querı́amos.
∅ = (Un1 ∪ Un2 ∪ ... ∪ Unk )c = Kn1 ∩ Kn2 ∩ ... ∩ Knk = Kmax{n1 ,...,nk } ,
w = t1 z1 + t2 z2 + t3 z3 , t1 + t2 + t3 = 1,
e então
|z − w| = |(t1 + t2 + t3 )z − (t1 z1 + t2 z2 + t3 z3 )|
≤ |t1 (z − z1 ) + t2 (z − z2 ) + t3 (z − z3 )|
≤ t1 |z − z1 | + t2 |z − z2 | + t3 |z − z3 |
≤ (t1 + t2 + t3 )max{|z − zj | | j = 1, 2, 3|}
≤ max{|z − zj | | j = 1, 2, 3}.
Assim,
z3
b a
z1 c z2
Figura 4.3:
Ponhamos
∆1 = ∆(z1 , c, b),
∆2 = ∆(c, z2 , a),
∆3 = ∆(b, a, z3 ),
∆4 = ∆(a, b, c).
4.5. TEOREMAS DE CAUCHY 111
1
• L(∂Tn ) = 2n
L(∂∆).
que
|I|
(f (z0 ) + f 0 (z0 )(z − z0 ) + ε(z)(z − z0 ))dz|
R R
4n
≤ | ∂Tn
f (z)dz| = | ∂Tn
≤ | ∂Tn (f (z0 ) + f 0 (z0 )(z − z0 ))dz | + | ∂Tn ε(z)(z − z0 )dz|
R R
| {z }
=0 pois possui uma primitiva
≤ L(∂Tn ) supz∈(∂Tn )∗ |ε(z)(z − z0 )|
1
≤ 2n
L(∂∆) supz∈Tn |ε(z)(z − z0 )|
1
≤ 2n
L(∂∆) diam(Tn ) supz∈Tn |ε(z)|.
|I| 1
n
≤ n L(∂∆)2 supz∈Tn |ε(z)|,
4 4
ou seja,
|I| ≤ η.
p
w1 w2
z1 z2
Figura 4.4:
∆1 = ∆(z1 , z2 , w1 ),
∆2 = ∆(z2 , w2 , w1 ),
∆3 = ∆(w1 , w2 , p).
Analogamente ao primeiro caso, vê-se que I = 3j=1 ∂∆j f (z)dz. Pelo pri-
P R
R R
meiro caso, temos que 0 = ∂∆1 f (z)dz = ∂∆2 f (z)dz, donde
R
|I| = | ∂∆3
f (z)dz| ≤ L(∂∆3 ) supz∈∆ |f (z)| ≤ 3ε supz∈∆ |f (z)|.
z3
p
z1 z2
Figura 4.5:
z3
z1 z2
c) X = C, z0 = 0.
d) X = C−] − ∞, 0], z0 = 1.
a = t1 z0 + (1 − t1 )σ,
4.5. TEOREMAS DE CAUCHY 115
onde σ = t21−t
w+t3 z
1
= t2t+t
2
3
w + t2t+t
3
3
z. Note que a ∈ [z0 , σ]. Claramente
σ ∈ [w, z], e como [w, z] ⊆ D(w, r) ⊆ U , obtemos σ ∈ U . Como U é
estrelado com respeito a z0 , segue-se que [z0 , σ] ⊆ U . Logo a ∈ U .
•z
•w
•
z0
Figura 4.6:
Seja 0 < r < δ tal que D(w, r) ⊆ U . Seja z ∈ D(w, r) arbitrário. Sabemos
pelo Lema 4.5.9 queR ∆(z0 , w, z) ⊆ U . Pelo Teorema de Cauchy-Goursat,
obtemos a relação ∂∆(z0 ,w,z) f (z)dz = 0, a qual pode ser reescrita como
R R R
0 = [z0 ,w] f (u)du + [w,z] f (u)du + [z,z0 ] f (u)du
R
= F (w) + [w,z] f (u)du − F (z),
ou seja,
R
F (z) − F (w) = [w,z]
f (u)du.
Supondo z 6= w, vem então que
F (z)−F (w) 1
R
z−w
− f (w) = z−w [w,z]
(f (u) − f (w))du,
4.6 Aplicações
4.6.1 Analiticidade das funções holomorfas
Lema 4.6.1. Sejam z0 ∈ C e r > 0, e seja γ : [0, 2π] → C o caminho definido
por γ(t) = z0 + reit . Então, para todo z ∈ D(z0 , r), tem-se:
Ind(γ, z) = 1.
•z
• z0 γ(t) = z0 + reit
C(z0 , r) = {z ∈ C | |z − z0 | = r}
R
e denotaremos por C(z0 ,r) f (z)dz a integral de uma função f ao longo do
caminho γ(t) = z0 + reit , t ∈ [0, 2π].
Teorema 4.6.2. Toda função holomorfa num conjunto aberto U ⊆ C é
analı́tica em U .
Demonstração. Seja f : U → C uma função holomorfa. Seja z0 ∈ U ar-
bitrário. Escolhamos r, s > 0 tais que r < s e D(z0 , s) ⊆ U . Pela Proposição
4.2.14 (com ϕ = f ), temos que a função
Z
1 f (u)
C − C(z0 , r) → C, z 7→ du
2πi C(z0 ,r) u − z
118 CAPÍTULO 4. TEORIA DE CAUCHY
|f (n) (0)| M
0≤ ≤ n
n! R
qualquer que seja R > 0. Fazendo R → ∞, obtemos f (n) (0) = 0 para todo
n ≥ 1. Segue-se que f ≡ f (0) em C.
a) W := f (V ) é um conjunto aberto,
b) f |V : V → W é bijetiva,
c) (f |V )−1 : W → V é analı́tica.
f ◦ g = Id
⇒ Dfg(w) ◦ Dgw = Id
⇒ Dgw = (Dfz )−1
⇒ Dgw = (multiplicação por f 0 (z))−1
⇒ Dgw = multiplicação por f 01(z) .
a) V := ϕ(U ) é aberto,
4.6. APLICAÇÕES 123
(f ◦ ϕ)(z) = f (z0 ) + z m ,
para todo z ∈ D(z0 , ε). Além disto, dado z ∈ D(z0 , ε), vem que
0 (z)
h0 (z) = µ exp m1 Ln(g(z)) + µ(z − z0 )exp m1 Ln(g(z)) m1 gg(z)
analı́tico sobre o conjunto aberto h(Ve ). Note que 0 ∈ h(Ve ), pois h(z0 ) = 0.
Seja r > 0 tal que D(0, r) ⊆ Ve . Coloquemos V := (h|Ve )−1 (D(0, r)) e
definamos ϕ : D(0, r) → V pondo ϕ(z) = (h|V )−1 (z). Obviamente, ϕ é
um difeomorfismo analı́tico satisfazendo h(ϕ(z)) = z para todo z ∈ D(0, r).
Resulta daı́ e de (4.15) que
onde ∂U = U − U é o bordo de U .
b) |f 0 (0)| ≤ 1.
f (z) = zh(z)
f 0 (0) = h(0).
128 CAPÍTULO 4. TEORIA DE CAUCHY
Seja z ∈ D arbitrário. Dado |z| < r < 1, temos pelo Corolário 4.6.24 e a
hipótese |f | ≤ 1 que
|h(z)| ≤ 1, (4.17)
ω = γ1 + γ2 + ... + γn .
a) A soma de ω e ω 0 é o ciclo
b) O simétrico de ω é o ciclo
D
γ2
γ1
•
0
Então,
a) ω ∼D 0,
b) ω 6∼U 0,
c) ω + ω 0 ∼U 0.
Demonstração.
a) O conjunto C − D é conexo, não limitado e está contido em C − γ1∗ .
Logo C − D está contido na componente conexa não limitada de C − γ1∗ , e
sabemos que neste conjunto, a função Indγ1 se anula. Portanto Ind(ω, z) =
Ind(γ1 , z) = 0 para todo z 6∈ D.
4.7. VERSÕES HOMOLÓGICAS DOS TEOREMAS DE CAUCHY 131
1
Visto que a função u 7→ u−z é holomorfa em U , o Teorema de Cauchy (para
R du
abertos estrelados) implica que cada integral γj u−z é nula. Logo Ind(ω, z) =
0.
Lema 4.7.8. Sejam U ⊆ C um conjunto aberto e γ : [a, b] → C um caminho
de classe C 1 por partes em U . Seja
g : γ ∗ × U → C, (u, z) 7→ g(u, z)
Note que esta fórmula vale também para z1 = z2 ∈ D(a, δ). Levando em
conta (4.18) e a inclusão σ ∗ ⊆ D(a, δ), vem então que
R1
|g(z1 , z2 ) − g(a, a)| = 0 f 0 (σ(t)) − f 0 (a) dt ≤ ε.
1
R
– Afirmação 3: A função h : U → C, z 7→ 2πi ω
g(u, z)du é holomorfa em
U . Isto resulta do Lema 4.7.8.
Agora, considere o conjunto
O = {z ∈ C − ω ∗ | Ind(ω, z) = 0}.
ou seja
1
R f (u)
2πi ω u−z
du − f (z)Ind(ω, z) = 0, (4.20)
Resı́duos
b) U ∪ {a} é aberto.
Demonstração. Óbvio.
Definição 5.1.2.
Exemplo 5.1.3.
137
138 CAPÍTULO 5. RESÍDUOS
Ln : C − I → C,
Note que h é holomorfa em U . Por hipótese, existem r > 0 e M > 0 tais que
D∗ (a, r) ⊆ U e |f (z)| ≤ M para todo z ∈ D∗ (a, r). Logo
h(z) − h(a)
z − a = |(z − a)f (z)| ≤ |z − a| M
para todo z ∈ U ∪ {a}. Comparando (5.1) e (5.2), vê-se que (z − a)m−2 g(z)
é uma extensão analı́tica de f em U ∪ {a}.
1 − cos(z)
f (z) = .
z2
Então 0 é uma singularidade isolada removı́vel. Para ver isto, note que a
ordem da função 1 − cos(z) em 0 é 2, e portanto existe h ∈ H(C) tal que
1 − cos(z) = z 2 h(z) para todo z ∈ C. Logo limz→0 f (z) = limz→0 h(z) = h(0).
5.2 Pólos
Definição 5.2.1. Seja f : X → C uma função definida num conjunto X ⊆ C,
e seja z0 um ponto de acumulação de X. Diz-se que o limite de f quando
z tende a z0 é infinito se para todo M > 0, existe δ > 0 tal que
i) limz→z0 f (z) = ∞.
iii) Existe r > 0 tal que f (z) 6= 0 para todo z ∈ D∗ (z0 , r)∩X e limz→z0 f (z)
1
=
0.
iv) Para toda sequência (wn )n∈N de pontos wn ∈ X tal que limn→∞ wn = z0 ,
limn→∞ f (wn ) = ∞.
Exemplo 5.2.4.
140 CAPÍTULO 5. RESÍDUOS
1
a) Os pólos de f (z) = P (z) , onde P : C → C é um polinômio, são os zeros de
1
P. Com efeito, se P (a) = 0, então limz→a f (z) = limz→a P (z) = P (a) = 0,
e portanto limz→a f (z) = ∞.
ez 1
b) O ponto a = 0 é um pólo de f (z) = z
, pois limz→0 f (z) = limz→0 ezz = 0.
1
g(z) = .
f (z)
1
Visto que limz→a g(z) = limz→a f (z) = 0, segue do Teorema de Riemann que a
é uma singularidade isolada removı́vel de g, o que significa que g possui uma
extensão analı́tica no disco D(a, r), a qual denotaremos também por g. Seja
m = o(g, a)
para todo z ∈ D(a, r). Claramente, h(z) 6= 0 par todo z ∈ D(a, r) e portanto
1
h
está bem definida e é holomorfa no disco D(a, r). Daı́, segue-se que
O resultado segue.
para todo z ∈ U . Seja R > 0 tal que D∗ (a, R) ⊆ U . O fato de h ser holomorfa
em U ∪ {a} ⊇ D(a, R) implica que h coincide com a função soma de uma
certa série no disco D(a, R),
∞
X
h(z) = bn (z − a)n , z ∈ D(a, R). (5.4)
n=0
Comparando (5.3) e (5.4) e lavando em conta o Lema 3.7.21, vem que para
todo z ∈ D∗ (a, R),
para todo z ∈ D∗ (a, R). Note que a−m = b0 = h(a) = limz→a (z − a)m f (z) 6=
0. Isto conclui a demonstração da primeira parte do enunciado.
142 CAPÍTULO 5. RESÍDUOS
O resultado segue.
P−1
em vez de (5.5). A função n=−m an (z − a)n é chamada parte principal
da série de Laurent (5.5).
a) a é um pólo de ordem m de f .
Demonstração.
1
(a ⇒ b) Basta considerar a série de Laurent de f em a e fatorar por (z−a)m
.
5.2. PÓLOS 143
Logo
g 0 (z)(z−a)m −m(z−a)m−1 g(z) g 0 (z)(z−a)−mg(z) h(z)
f 0 (z) = (z−a)2m
= (z−a)m+1
= (z−a)m+1
,
Segue-se de (5.6) que |g(z)| ≤ 1δ para todo z ∈ D∗ (a, ε). Pelo Teorema de
Riemann, a é uma singularidade isolada removı́vel de g. Sendo assim, g
possui uma extensão analı́tica no disco D(a, ε), que denotaremos também
por g.
– 1◦ caso: g(a) 6= 0. Neste caso, g(z) 6= 0 para todo z ∈ D(a, ε). A
1
função z 7→ g(z) sendo contı́nua no compacto D(a, ε/2), é limitada, e como
1
g(z)
= f (z) − z0 para todo z ∈ D∗ (a, ε/2), segue-se que f (z) − z0 é limitada
em D∗ (a, ε/2). Pelo Teorema de Riemann, a é uma singularidade isolada
removı́vel de f (z) − z0 . Logo a é uma singularidade isolada removı́vel de f .
– 2◦ caso: g(a) = 0. Pela Proposição 5.2.12, a é um pólo de g(z)
1
. Visto que
1 ∗
g(z)
= f (z) − z0 para todo z ∈ D (a, ε), a é um pólo de f (z) − z0 . Logo a é
um pólo de f .
Segue-se dos dois casos que a não é uma singularidade isolada essencial.
b) Z ⊆ C.
d) { n1 ∈ C | n ∈ N∗ }.
a) A é discreto e U − A é aberto.
Demonstração.
D(z, ε) ∩ A ⊆ {z}.
(d ⇒ a) Óbvio.
5.4. FUNÇÕES MEROMORFAS 147
Exemplo 5.4.5.
a) A = U − X é localmente finito em U ,
b) f ∈ H(U − A),
e portanto a é removı́vel.
Dada uma função f : X → C meromorfa em U , denotaremos por Af o
conjunto U − X.
5.4. FUNÇÕES MEROMORFAS 149
a) A soma de f e g é a função
U − (Af ∪ Ag ) → C,
f +g :
z 7→ f (z) + g(z).
b) O produto de f e g é a função
U − (Af ∪ Ag ) → C,
fg :
z 7→ f (z)g(z).
= nk − nj=1 nj δjk
P
= nk − nk = 0,
O resultado segue.
Lema
P∞ 5.6.1. Seja a ∈ C − U um pólo de ordem m de f ∈ H(U ). Se
n
n=−m an (z − a) denota a série de Laurent de f em a, então
Res(f, a) = a−1 .
Demonstração. Pelo Teorema 5.2.7,
Z
1
a−1 = f (u)du, (5.7)
2πi C(a,r)
onde r > 0 é qualquer número real tal que D(a, r) − {a} ⊆ U . Por outro
lado, a integral do lado direito de (5.7) é, por definição, o resı́duo de f em
a.
dn g
Dados n ∈ N e g ∈ H(U ), denotaremos por dz n
a derivada de ordem n
de g.
Proposição 5.6.2. Seja a ∈ C − U um pólo de ordem m de f ∈ H(U ).
Então,
dm−1 m
1
Res(f, a) = lim m−1
(z − a) f (z) . (5.8)
z→a dz (m − 1)!
Demonstração. O fato de a ser um pólo de ordem m de f implica que a é
f (z)(z − a)m . Logo existem um disco
uma singularidade isolada removı́vel deP
D(a, ε) ⊆ U ∪ {a} e uma série S(z) = n≥0 bn (z − a)n tais que
(z − a)m f (z) = S(z)
para todo z ∈ D∗ (a, ε). Em particular,
S (m−1) (a) (m−1)
dm−1
= limz→a S (m−1)!(z) = limz→a (z − a)m f (z) 1
bm−1 = (m−1)! dz m−1 (m−1)!
,
isto é,
dm−1 m
1
bm−1 = limz→a dz m−1 (z − a) f (z) (m−1)! . (5.9)
g(a)
Res(f, a) = .
h0 (a)