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Universidade Federal do Ceará

Departamento de Matemática

Notas de aula em

Matemática Discreta
Prof. Júlio Araújo

Última atualização em:


22 de Junho de 2022
2
Prefácio

O objetivo destas notas é resumir o conteúdo ministrado na disciplina “CB


0661 - Matemática Discreta” ofertada pelo Departamento de Matemática da
Universidade Federal do Ceará.
Estas notas de aula foram fortemente inspiradas nos livros dos autores Vel-
leman [5], Rosen [3], Morgado et al. [1] e West [6].
Por se tratar de um resumo, este texto não deve ser usado como única fonte
de referência.

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Conteúdo

1 Introdução à Lógica 7
1.1 Lógica Proposicional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.1.1 Proposições Compostas e Conectivos . . . . . . . . . . . . 8
1.1.2 Equivalências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.1.3 Fórmulas bem-formadas e a precedência . . . . . . . . . . 11
1.2 Lógica de 1ª Ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

2 Teoria de Conjuntos 15
2.1 Conceitos básicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.2 Operações entre conjuntos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.3 O Paradoxo de Russell . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.4 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

3 Técnicas de Prova 21
3.1 Condicional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
3.1.1 Prova Direta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
3.1.2 Prova pela contra-positiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
3.1.3 Modus ponens e modus tollens . . . . . . . . . . . . . . . 23
3.2 A negação e a prova por absurdo . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3.3 O quantificador universal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3.4 O quantificador existencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
3.5 Conjunção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
3.6 Duplo condicional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3.7 Disjunção e a prova por casos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3.7.1 Disjunção exclusiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3.8 Existência e unicidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3.9 Mais exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3.10 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

4 Relações 31
4.1 Fechos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
4.2 Relações de Equivalência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
4.3 Relações de Ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
4.4 Funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
4.5 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

5
6 CONTEÚDO

5 Os Números Naturais e a Indução 49


5.1 Números Naturais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
5.2 Indução Fraca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
5.3 Indução Forte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
5.4 Princı́pio da Boa Ordenação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
5.5 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

6 Sequências, Recorrências e Séries 59


6.1 Sequências e Recorrências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
6.2 Ordem de grandeza de funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
6.3 Resolução de equações de recorrência . . . . . . . . . . . . . . . . 60
6.4 Séries . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
6.5 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

7 Enumerabilidade e Diagonalização 63
7.1 Idempotência aos Naturais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
7.2 O método da diagonalização de Cantor . . . . . . . . . . . . . . . 69
7.3 O Teorema de Cantor-Schröder-Bernstein . . . . . . . . . . . . . 70
7.4 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

8 Análise Combinatória 73
8.1 Permutações Simples . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
8.2 Permutações Circulares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
8.3 Permutações com Repetições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
8.4 Princı́pio da Reflexão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
8.5 Arranjos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
8.6 Combinações Simples . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
8.7 Combinações Completas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
8.8 Lemas de Kaplansky . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
8.9 Propriedades dos Números Binomiais . . . . . . . . . . . . . . . . 78
8.9.1 Binômio de Newton . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
8.9.2 Polinômio de Leibniz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
8.10 Princı́pio da Inclusão-Exclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
8.11 Permutações Caóticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
8.12 Princı́pio da Casa dos Pombos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
8.13 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81

9 Introdução à Teoria dos Grafos 87


9.1 Isomorfismos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
9.2 Algumas definições básicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
9.4 Grafos Eulerianos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
9.5 Árvores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
9.6 Coloração de Grafos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
9.7 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

A Álgebra Booleana 93

B Teoria Axiomática de Conjuntos 95


Capı́tulo 1

Introdução à Lógica

1.1 Lógica Proposicional


Definição 1. Uma proposição é uma sentença declarativa, ou seja, cuja inter-
pretação é sempre ou verdadeira ou falsa.

Exemplo 1.1. As sentenças:

(a) “Está frio.”;

(b) “O lápis está quebrado.”;

(c) “O pássaro voou.”;

são exemplos de proposições, já que as mesmas podem ser interpretadas como
verdadeiras ou falsas. Já as frases:

(a) “Vá buscar o remédio.”;

(b) “O que aconteceu?”;

não podem ser interpretadas como verdadeiras ou falsas e, portanto, não são
proposições.
Já expressões como “a + b = c” são, do ponto de vista puramente linguı́stico,
proposições já que a interpretação do sı́mbolo = como “é igual a” leva apenas
a análise de tal expressão como verdadeiro e falso. Entretanto, nesse exemplo
tı́pico do contexto matemático, vale salientar que só saberemos se a sentença
é verdadeira ou falsa em função do que a, b e c representam. Considerando
essa hipótese, há quem diga que tal expressão não seria uma proposição já
que só podemos afirmar que a mesma é verdadeira ou falta se conhecermos os
objetos que a, b e c representam. Esse tratamento funcional de proposições será
apresentado na Seção 1.2. ♦

Definição 2. Uma variável proposicional é uma variável que representa uma


proposição. Consequentemente, uma variável proposicional pode assumir ape-
nas um de dois valores: V ou F. Tais valores são chamados de valores-verdade.

7
8 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO À LÓGICA

Uma variável proposicional também é usualmente chamada de booleana, em


homenagem a George Boole1 . Além disso, no lugar de utilizar-se V ou F, é
frequente o uso dos algarismos 0 e 1 como valores de tais variáveis (0 para
representar F e 1 para representar V), sobretudo quando se estuda a Lógica
Proposicional como uma álgebra: a Álgebra Booleana (veja o Apêndice A). Esta
também é uma das mais básicas relações entre a matemática e a computação.
Há uma ı́ntima relação entre Lógica Proposicional e Circuitos Digitais, como é
exibido em disciplinas com este nome.

1.1.1 Proposições Compostas e Conectivos


Definição 3. Uma proposição composta é uma proposição formada por outras
proposições mais simples.

Exemplo 1.2. “O gato miou e a caneta é verde” é uma proposição composta,


pois tal sentença é exclusividade verdadeira ou falsa e seu valor-verdade depende
do valor-verdade das proposições: “o gato miou” e “a caneta é verde”. ♦
Por serem proposições, também usamos as variáveis proposicionais para
representar proposições compostas. Além disso, vamos introduzir conectivos
lógicos para representar proposições compostas.

Negação: ¬p
Seja p uma variável proposicional. Então, ¬p corresponde a proposição “Não é
verdade que p” e o valor-verdade de ¬p é obtido a partir do valor-verdade de p
de acordo com Tabela 1.1.

p ¬p
V F
F V

Tabela 1.1: Tabela-verdade da negação.

Conjunção: p ∧ q
Se p e q são proposições, então p ∧ q corresponde a proposição composta “p e
q”. O valor-verdade de p ∧ q está representado na Tabela 1.2.

p q p∧q
V V V
V F F
F V F
F F F

Tabela 1.2: Tabela-verdade da conjunção.

1 (1815–1864) Matemático britânico que introduziu a chamada Álgebra Booleana em seus

livros The Mathematical Analysis of Logic (1847) e An Investigation of the Laws of Thought
(1854).
1.1. LÓGICA PROPOSICIONAL 9

Disjunção: p ∨ q
De modo análogo ao anterior, a disjunção de p e q, p∨q corresponde a proposição
“p ou q” e tem como tabela-verdade a que está representada na Tabela 1.3.

p q p∨q
V V V
V F V
F V V
F F F

Tabela 1.3: Tabela-verdade da disjunção.

Disjunção exclusiva: p Y q
A disjunção exclusiva de p e q, p Y q corresponde a proposição “ou p ou q” e sua
tabela-verdade é apresentada na Tabela 1.4.

p q pYq
V V F
V F V
F V V
F F F

Tabela 1.4: Tabela-verdade da disjunção exclusiva.

Há inúmeras notações na literatura para representar a disjunção exclusiva,


como, por exemplo, ∨¯ , 4, ⊕, ∨∨, etc.

Condicional: p ⇒ q
A expressão lógica p ⇒ q corresponde a proposição “se p, então q”. Também
a chamamos de implicação e dizemos que “p implica q”. Dizemos que p é a
hipótese ou premissa e que q é a conclusão ou tese.
A interpretação lógica dessa expressão corresponde à Tabela 1.5.

p q p⇒q
V V V
V F F
F V V
F F V

Tabela 1.5: Tabela-verdade do condicional.

Vale salientar que as duas últimas linhas da Tabela 1.5 correspondem ao caso
em que a hipótese p é falsa. Nesse caso, dizemos então que a implicação é “ver-
dadeira, por vacuidade”. Ou seja, a implicação p ⇒ q representa a afirmação
10 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO À LÓGICA

“se p é verdadeiro, então q deve ser verdadeiro”. Essa afirmação não se refere ao
caso em que p é falso, logo considera-se que p ⇒ q é verdadeira, por vacuidade.
Além disso, supondo que p ⇒ q é verdadeira, note que saber que p é verdade
é suficiente para deduzirmos que q também é verdade. Portanto, dizemos que
p é condição suficiente para que q seja verdade. Por outro lado, ainda supondo
que p ⇒ q é verdadeira, se soubermos que q falsa, então podemos deduzir pela
Tabela 1.5 que p é necessariamente falsa. Logo, para que p seja verdade, é
necessário que q seja verdade. Portanto, dizemos que q é condição necessária
para que p seja verdade.
Dizemos que a proposição q ⇒ p é a conversa de p ⇒ q. A contra-positiva
de p ⇒ q é ¬q ⇒ ¬p. Finalmente, a inversa de p ⇒ q é a implicação ¬p ⇒ ¬q.

Duplo Condicional: p ⇐⇒ q
Para representar a proposição “p se, e somente se, q” usamos a expressão lógica
p ⇐⇒ q. A interpretação dessa proposição está representada na Tabela 1.6.

p q p ⇐⇒ q
V V V
V F F
F V F
F F V

Tabela 1.6: Tabela-verdade do duplo condicional.

Em outras palavras, supondo que p ⇐⇒ q é satisfeito, podemos ver que


se p é verdadeiro, então q também o será, assim como se p for falso, q também
deverá ser. Consequentemente, p é condição necessária e suficiente para q (e
vice-versa).

1.1.2 Equivalências
Definição 4. Uma proposição composta é:

• uma tautologia se seu valor-verdade é sempre V;

• uma contradição se seu valor-verdade é sempre F;

• é satisfatı́vel se não é uma contradição, ou seja, se existe um conjunto


de valores-verdade para suas variáveis proposicionais que a tornam verda-
deira;

• uma contingência se não é nem uma tautologia, nem uma contradição.

Definição 5. Dizemos que duas proposições (compostas) p e q são equivalentes


se p ⇐⇒ q é uma tautologia. Denotamos por p ≡ q a proposição “p e q são
equivalentes”.

Exemplo 1.3. Prove que:

(a) Uma implicação é equivalente à sua contra-positiva;


1.1. LÓGICA PROPOSICIONAL 11

(b) A conversa e a inversa de uma implicação são equivalentes.



A seguir, resumimos uma lista de equivalências lógicas na Tabela 1.7.

Lei Equivalência
Associatividade x ∨ (y ∨ z) ≡ (x ∨ y) ∨ z
x ∧ (y ∧ z) ≡ (x ∧ y) ∧ z
Comutatividade x∨y ≡y∨x
x∧y ≡y∧x
Distributividade x ∧ (y ∨ z) ≡ (x ∧ y) ∨ (x ∧ z)
x ∨ (y ∧ z) ≡ (x ∨ y) ∧ (x ∨ z)
Identidade x∨F≡x
x∧V≡x
Dominação x∧F≡F
x∨V≡V
Idempotência x∨x≡x
x∧x≡x
Absorção x ∧ (x ∨ y) ≡ x
x ∨ (x ∧ y) ≡ x
Complementação x ∨ ¬x ≡ V
x ∧ ¬x ≡ F
Dupla negação ¬(¬x) ≡ x
DeMorgan ¬x ∨ ¬y ≡ ¬(x ∧ y)
¬x ∧ ¬y ≡ ¬(x ∨ y)

Tabela 1.7: Equivalências Lógicas.

Além dessa lista, vale observar também as seguintes equivalências:

(p ⇒ q) ≡ ((¬q) ⇒ (¬p))
≡ (¬p) ∨ q
≡ ¬(p ∧ (¬q)) (1.1)

(p ⇐⇒ q) ≡ (p ⇒ q) ∧ (q ⇒ p) (1.2)
≡ (p ⇒ q) ∧ ((¬p) ⇒ (¬q))

((p ⇒ q) ∧ (q ⇒ r)) ⇒ (p ⇒ r) (1.3)

p Y q ≡ (p ∧ ¬q) ∨ (¬p ∧ q) (1.4)

1.1.3 Fórmulas bem-formadas e a precedência


Em um tratamento mais preciso de Lógica Matemática, há a formalização
de fórmulas (i.e. proposições) bem formadas (do inglês well-formed formu-
las (WFF)). Grosso modo, é descrito formalmente quais expressões, i.e. quais
sequências de caracteres, correspondem a fórmulas bem formadas em uma dada
12 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO À LÓGICA

lógica, de acordo com uma descrição bem precisa que normalmente força a uti-
lização de parênteses a cada proposição composta.
Para simplificar a escrita, sem criar ambiguidades, é convencionada a se-
guinte precedência nos conectivos proposicionais, que nos permite não escrever
todos os parênteses de cada expressão:

1. ¬;

2. ∨, ∧, Y;

3. ⇒, ⇐⇒ .

Exemplo 1.4. Uma fórmula lógica (bem formada) como

(((¬x) ∨ y) ⇒ ((x ∨ (¬y)) ∨ z))

pode ser representada de modo equivalente e sem ambiguidades, dada a ordem


de predência descrita, como:

¬x ∨ y ⇒ x ∨ ¬y ∨ z.

Em particular, note que a associatividade de ∨ nos permite omitir os parênteses


na conclusão da implicação.
Porém, uma fórmula como ¬x ∨ y ∧ z ⇒ x ⇐⇒ z é ambı́gua, já que não
saberemos qual dos conectivos ∨ e ∧ deve ser aplicado primeiro. O mesmo
problema ocorre com relação aos conectivos ⇒ e ⇐⇒ . Portanto, tal fórmula
carece necessariamente de parênteses para não ter ambiguidades. ♦

1.2 Lógica de 1ª Ordem


No Exemplo 1.1, afirmamos que a sentença “a+b = c” não pode ser interpretada,
se não possuirmos valores para a, b e c.

Definição 6. Dizemos que um predicado (ou função proposicional ) P (x1 , . . . , xn )


em x1 , . . . , xn é uma sentença que, ao atribuirmos valores às variáveis x1 , . . . , xn ,
passa a ser uma proposição e, portanto, a ter um valor-verdade.

Exemplo 1.5. Se P (x) representa a sentença x é primo, qual o valor-verdade


de P (2) e P (10)? ♦
Com bastante frequência, enunciamos sentenças como “Todo número real é
um número racional ou um número irracional” ou “Existe um número primo
que é par”. Note que estas sentenças são proposições, pois sua interpretação
é exclusivamente verdadeira ou falsa. Para tentar representar tais proposições,
podemos definir predicados:

• R(x) := “x é racional”;

• I(x) := “x é irracional”;

• P r(x) := “x é primo”;

• P ar(x) := “x é par”.
1.2. LÓGICA DE 1ª ORDEM 13

Desse modo, R(x) ∨ I(x) representa “x é um número racional ou um número


irracional” e P r(x) ∧ P ar(x) representa “x é número primo e é par”. Porém,
como representar “Todo número real”? E “Existe um número”?
Para representar tais sentenças usando lógica, introduziremos a noção de
quantificadores.
O quantificador universal ∀ representa a noção de “para todo”. A sentença
∀x P (x) é uma proposição que será verdadeira se, e somente se, P (x) possuir
valor-verdade V para todo valor de x no universo de discurso.
Definição 7. O universo de discurso (ou domı́nio de discurso) de uma sentença
é o conjunto de valores que as variáveis podem assumir no contexto da sentença.
No caso de “Todo número real é um número racional ou um número irra-
cional”, o universo de discurso é o conjunto de números reais e, portanto, a
sentença acima pode ser formalmente representada como:

∀x ∈ R(R(x) ∨ I(x)).
Já o quantificador existencial ∃ representa “existe” e uma proposição ∃x P (x)
tem valor-verdade V se, e somente se, existir algum elemento c no universo de
discurso tal que P (c) ≡ V.
Desse modo, a sentença “Existe um número primo que é par” pode ser escrita
como:

∃x(P r(x) ∧ P ar(x)).


Observe que uma proposição ∀x P (x) é falsa quando existir algum valor
no domı́nio tal que P (x) seja falsa. Deste raciocı́nio, deduzimos a seguinte
equivalência lógica.

¬(∀x P (x)) ≡ ∃x (¬P (x)). (1.5)


Definição 8. Um valor c é dito um contra-exemplo para a proposição ∀x P (x),
se P (c) ≡ F.
Por outro lado, veja que a proposição ∃x P (x) é falsa se, e somente se, para
todos os valores de x no universo de discurso temos que P (x) não é verdadeiro.
Consequentemente, deduz-se que:

¬(∃x P (x)) ≡ ∀x (¬P (x)). (1.6)


Além dos quantificadores universal e existencial, é bastante útil o quantifi-
cador de unicidade ∃!, que representa “existe um único”. Ou seja, para repre-
sentarmos a sentença “Existe um único número real x tal que x+y = x, para
todo y”, podemos utilizar:

∃!x ∈ R∀y ∈ R(x + y = x).


Por definição, veja que as seguintes equivalências são válidas:
∃!x P (x) ≡ (∃x P (x)) ∧ (∀x1 ∀x2 ((P (x1 ) ∧ P (x2 ) ⇒ x1 = x2 ))
≡ (∃x P (x)) ∧ ¬(∃x1 ∃x2 ((x1 6= x2 ) ⇒ (P (x1 ) ∧ P (x2 ))).
14 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO À LÓGICA

Deve-se tomar muito cuidado com relação à ordem em que os quantificadores


são apresentados em uma proposição. O sentido, e portanto o valor-verdade da
proposição, pode mudar completamente.
Exemplo 1.6. Se P (x, y, z) é o predicado “x + y = z”, determine o valor
verdade de:

(a) ∀x ∈ R∀y ∈ R∀z ∈ R P (x, y, z);


(b) ∀x ∈ R∀y ∈ R∃z ∈ R P (x, y, z);
(c) ∀x ∈ R∃y ∈ R∀z ∈ R P (x, y, z);
(d) ∃x ∈ R∀y ∈ R∃z ∈ R P (x, y, z);

(e) ∃x ∈ R∃y ∈ R∃z ∈ R P (x, y, z).



Capı́tulo 2

Teoria de Conjuntos

Neste capı́tulo, apresentamos as noções da Teoria (Ingênua) de Conjuntos pro-


posta por Georg Cantor 1 , assim como suas limitações.

2.1 Conceitos básicos


Definição 9. Um conjunto é uma coleção (não-ordenada) de objetos chamados
elementos (ou membros). Se um elemento x pertence a um conjunto A denota-
mos esta relação por x ∈ A. Caso x não seja elemento de A, usa-se a notação
x∈ / A.

Costumeiramente, usam-se letras maiúsculas para representar conjuntos e


minúsculas para representar elementos de um conjunto.

Definição 10. O conjunto vazio, denotado por ∅ ou {}, é o conjunto que não
possui elementos. Um conjunto é chamado de unitário se possui exatamente
um elemento. O conjunto universo, denotado por U , é o conjunto que possui
todos os elementos do contexto em estudo.

Para representar um conjunto, podemos listar seus elementos entre chaves,


separados por vı́rgulas.
Exemplo 2.1. Por exemplo, a notação A = {a, b, c} representa um conjunto A
que possui os elementos a, b e c. ♦
Quando o conjunto possui elementos que seguem algum padrão, é comum o
uso de reticências.
Exemplo 2.2. P = {0, 2, 4, 6, 8, 10, . . .} pode representar o conjunto de números
naturais pares. ♦
Entretanto, tal representação não é precisa, já que não temos garantia de que
o próximo número na sequência é 12, por exemplo. Para formalizar esse tipo de
conjunto, há outra notação que usa uma fórmula lógica para representar quais
elementos pertencem ao conjunto. Nessa notação, coloca-se uma barra entre as
chaves. Entre a primeira chave e a barra, escreve-se uma lei de formação do
elemento do conjunto, que pode depender de um conjunto de variáveis. Após a
barra, escreve-se um predicado no mesmo conjunto de variáveis. Sempre que o
1 (1845–1918) Matemático russo conhecido como fundador da Teoria de Conjuntos.

15
16 CAPÍTULO 2. TEORIA DE CONJUNTOS

predicado for satisfeito para um conjunto de valores, o elemento correspondente


pertencerá ao conjunto.
Exemplo n 2.3. P = {2i | i ∈oN} é o conjunto de números naturais pares.
Q = pq | p, q ∈ Z ∧ q 6= 0 é o conjunto de números racionais. ♦
Na literatura, também é frequente o uso de dois pontos, no lugar da barra.
Muitas vezes é útil ter uma representação gráfica de conjuntos. Para tanto,
usa-se Diagramas de Venn. Comumente, denota-se o conjunto universo com
um retângulo e cada conjunto com uma elipse. Elementos no interior de uma
elipse correspondem aos elementos que pertencem ao conjunto correspondente.
Veja na Figura 2.1 uma representação dos conjuntos A = {a, b, c}, B = {a, d} e
C = {d, e}, quando o universo é o conjunto das seis primeiras letras do alfabeto.

A B

a
b,c

d
e

C
f

Figura 2.1: Exemplo de Diagrama de Venn.

Definição 11. Sejam A e B dois conjuntos.


O conjunto A está contido no conjunto B, denotado por A ⊆ B, se

∀x(x ∈ A ⇒ x ∈ B).

Se A ⊆ B, dizemos que A é subconjunto de B, B é superconjunto de A e


que B contém A, denotado por B ⊇ A. Quando A não for subconjunto de B,
denotaremos por A * B.
Os conjuntos A e B são iguais, se a proposição

∀x(x ∈ A ⇐⇒ x ∈ B)

é tautologia. Se A e B não são iguais, dizemos que A e B são distintos, e


denotamos por A 6= B.
A é um subconjunto próprio de (ou está contido propriamente em) B, deno-
tado por A ⊂ B, se A ⊆ B e A 6= B.

Exemplo 2.4. Prove que A 6= B ≡ ∃x((x ∈ A ∧ x ∈ / B) ∨ (x ∈ B ∧ x ∈ / A)). ♦


A notação de contenção de conjuntos não é universal. Há diversos autores
que preferem utilizar os sı́mbolos ⊂ e ( para as relações de contenção e contenção
própria, respectivamente.
Observe que ∅ é subconjunto de qualquer conjunto, porém não é verdade
que ∅ pertence a qualquer conjunto.
2.2. OPERAÇÕES ENTRE CONJUNTOS 17

Definição 12. Uma famı́lia é um conjunto cujos elementos são conjuntos.


Para salientar que uma famı́lia é um conjunto de conjuntos, normalmente
usa-se uma letra maiúscula caligráfica para representá-la.
Definição 13. Se A é um conjunto, então o conjunto das partes (ou conjunto
potência) de A é a famı́lia:

P(A) = {B | B ⊆ A}.

O conjunto das partes de um conjunto A é também frequentemente denotado


por 2A , em uma clara referência a cardinalidade de P(A), como veremos no
Capı́tulo 8.

2.2 Operações entre conjuntos


A igualdade e a contenção entre conjuntos são relações de equivalência e de or-
dem parcial, respectivamente, como veremos no Capı́tulo 4. A seguir, definimos
algumas operações entre conjuntos:
Definição 14. Sejam A e B dois conjuntos. Então:
• a união de A e B é:

A ∪ B = {x | x ∈ A ∨ x ∈ B};

• a interseção de A e B é:

A ∩ B = {x | x ∈ A ∧ x ∈ B};

• a diferença A menos B é:

A − B = A \ B = {x | x ∈ A ∧ x ∈
/ B};

• a diferença simétrica A diferença simétrica B é:

A4B = (A ∪ B) \ (A ∩ B) = {x | (x ∈ A) Y (x ∈ B)};

• o complementar de A é: Ā = U \ A = {x | x ∈
/ A}.
Observe que se A e B são dois conjuntos distintos, ou seja A 6= B, não temos
a garantia de que eles não possuam nenhum elemento em comum.
Definição 15. O conjunto A é disjunto do conjunto B, se A ∩ B = ∅.
Como as definições de união, interseção e complementar são intrinsecamente
relacionadas aos conectivos ∨, ∧ e ¬, respectivamente, a Tabela 2.1 resume
diversas propriedades dessas operações.
De modo mais geral, podemos definir a união e a interseção de uma famı́lia.
Definição 16. Se F é uma famı́lia tal que F 6= ∅, então:
S
(a) F = {a | ∃F ∈ F(a ∈ F )};
18 CAPÍTULO 2. TEORIA DE CONJUNTOS

Propriedade Igualdade
Associatividade A ∪ (B ∪ C) = (A ∪ B) ∪ C
A ∩ (B ∩ C) = (A ∩ B) ∩ C
Comutatividade A∪B =B∪A
A∩B =B∩A
Distributividade A ∩ (B ∪ C) = (A ∩ B) ∪ (A ∩ C)
A ∪ (B ∩ C) = (A ∪ B) ∩ (A ∪ C)
Identidade A∪∅=A
A∩U =A
Dominação A∩∅=∅
A∪U =U
Idempotência A∪A=A
A∩A=A
Absorção A ∩ (A ∪ B) = A
A ∪ (A ∩ B) = A
Complementação A∪A=U
A∩A=∅
Dupla negação (A) = A
DeMorgan A ∪ B = (A ∩ B)
A ∩ B = (A ∪ B)

Tabela 2.1: Propriedades de Conjuntos.

T
(b) F = {a | ∀F ∈ F(a ∈ F )}.
S
Note que se F = {A, B}, onde A e B são conjuntos quaisquer, então F =
A ∪ B. Uma dedução análoga pode ser feita para o caso da interseção.
Deve-se também enfatizar que a restrição de F = 6 ∅ é frequentemente uti-
lizada nas definições de interseção e união de uma famı́lia. Isso porque
S se
F =T ∅, note que para qualquer x no universo de discurso, temos T que x ∈
/ F e
x ∈ S F, por vacuidade. Em particular, deduzirı́amos que ∅ = U , enquanto
que ∅ = ∅!
Um conceito extremamente útil em Teoria de Conjuntos, é o de partição. A
ideia é geral é “fatiar” o conjunto em partes não vazias.

Definição 17. Seja A um conjunto e F ⊆ P(A). Dizemos que F é uma partição


de A se:
S
(a) F = A;

(b) ∀F1 , F2 ∈ F(F1 6= F2 ⇒ F1 ∩ F2 = ∅);

(c) ∀F ∈ F(F 6= ∅).

2.3 O Paradoxo de Russell


Bertrand Russell2 mostrou que a Teoria Ingênua de Conjuntos é inconsistente,
ou seja, nos permite construir contradições a partir de suas definições. Pelo
2 (1872-1970) Influente matemático e filósofo britânico, conhecido pela sua postura pacifista.
2.4. EXERCÍCIOS 19

que foi definido ao longo deste capı́tulo, veja que podemos construir a seguinte
famı́lia:

A = {M | M ∈
/ A}.
Ou seja, A é uma famı́lia de conjuntos M que não são elementos de A. Como
A é também um conjunto, observe que:

• se A ∈
/ A, então A ∈ A;

• se A ∈ A, então A ∈
/ A.

Ambas implicações são contraditórias, ou seja, em ambos os casos obtemos uma


contradição.

Definição 18. Um axioma é uma proposição que pressupõe-se ser verdadeira


(seja por princı́pios da consciência, seja por experimentos) e, portanto, não
precisa ser demonstrada.

Uma teoria axiomática é um conjunto de proposições que podem ser dedu-


zidas a partir de um conjunto bem definido de axiomas.
Após a observação de Bertrand, várias novas definições de conjunto foram
propostas. A que atualmente é utilizada é a de Zermelo-Fraenkel, descrita no
Apêndice B.
Para as proposições que serão demonstradas aqui, as definições da Teoria
Ingênua de Conjuntos são suficientes e as utilizaremos.

2.4 Exercı́cios
Questão 1. Prove as seguintes equivalências lógicas. Primeiro use a Tabela
Verdade e em seguida use as equivalências vistas em sala.
(a) A ↔ B ≡ (A ∧ B) ∨ (¬A ∧ ¬B)
(c) (x ∨ y) → z ≡ (x → z) ∧ (y → z)
(b) A ↔ B ≡ ¬A ↔ ¬B
Questão 2. Simplifique as expressões a seguir usando equivalências lógicas.
(a) ¬(¬x ∧ ¬y)
(b) (x ∧ y) ∨ (x ∧ ¬y) (f) (x ∧ (x → y)) → y
(c) (x ∨ y) ∨ (x ∨ ¬y) (g) ((x → y) ∧ (y → z)) → (x → z)
(d) x ∧ (x → y) ∧ (¬y) (h) (x ∨ y) ∧ (x ∨ ¬y) ∧ (¬x)
(e) (x → y) ∧ ((¬x) → y) ∧ (¬y)
Questão 3. Escreva as sentenças abaixo e suas negações usando linguagem
lógica.

(a) Todo inteiro é primo.

(b) Há um inteiro que não é primo nem composto.

(c) Existe um inteiro cujo quadrado é 2.

(d) Para todo inteiro x, existe um inteiro y tal que xy = 1.


20 CAPÍTULO 2. TEORIA DE CONJUNTOS

(e) Existe um inteiro que quando multiplicado por qualquer outro inteiro sem-
pre resulta em 0.

Questão 4. Considerando como universo de discurso o conjunto dos números


naturais N, as afirmações a seguir são verdadeiras ou falsas?
(a) ∀x∃y(2x − y = 0) (c) ∀x∃y(x − 2y = 0)
(b) ∃y∀x(2x − y = 0) (d) ∀x(x < 10 → ∀y(y < x → y < 9))
Questão 5. Use o diagrama de Venn para verificar se as seguintes equivalências
estão corretas. Em caso afirmativo, prove-as. Caso contrário, exiba um contra-
exemplo.
(a) (A ∪ B) \ B = A
(d) A ∪ (B \ C) = (A ∪ B) \ C
(b) A \ (A ∩ B) = A \ B
(e) (A4B) ∩ C = (A ∩ B)4(B ∩ C)
(c) (A ∪ B) \ C = (A \ C) ∪ (B \ C)
Questão 6. Complete o último parêntese de tal maneira que a expressão seja
verdadeira.

(a) (A4B) ∩ C = (C \ A)4( )


(b) (B \ A)4C = (A4C)4( )

Questão 7. Para cada afirmação a seguir, prove ou apresente um contra-


exemplo.

(a) P(A ∪ B) = P(A) ∪ P(B)


T T T
(b) ( F) ∩ ( G) = (F ∪ G)
Capı́tulo 3

Técnicas de Prova

Neste capı́tulo, apresenta-se como formalmente escrever demonstrações de enun-


ciados escritos usando os conectivos e quantificadores apresentados no Capı́tulo 1.
Exemplifica-se as técnicas com resultados em Teoria de Conjuntos, cujas de-
finições básicas estão no Capı́tulo 2, e Teoria dos Números.
Os exemplos neste capı́tulo são bem elementares, utilizados sobretudo para
ilustrar como se deve escrever demonstrações formais.

Definição 19. Uma argumentação é uma sequência1 de proposições. Todas


as proposições, exceto a última, são chamadas de premissas (ou hipóteses). A
última proposição é denominada de conclusão (ou tese).
Uma argumentação é válida se sempre que todas as premissas forem verda-
deiras a conclusão também será. Uma argumentação inválida é também conhe-
cida como falácia.

Se P1 , . . . , Pn , C são proposições, então veja que uma argumentação pode


ser descrita como: (P1 ∧ . . . ∧ Pn ) ⇒ C, onde P1 , . . . , Pn são as premissas ou
hipóteses da proposição e C é a sua conclusão ou tese. Tal argumentação é
válida se a implicação (P1 ∧ . . . ∧ Pn ) ⇒ C é uma tautologia. Portanto, para a
argumentação ser uma falácia é necessário que a implicação seja falsa, ou seja,
que seja possı́vel satisfazer todas as premissas P1 , . . . , Pn e que a conclusão C
seja falsa.
Para auxiliar o processo de escrita de uma argumentação válida, afim de de-
monstrar que uma proposição é correta, apresentamos a cada conectivo e quan-
tificador o que deve ser feito para usá-lo, caso ele apareça em alguma hipótese,
ou para demonstrá-lo, caso ele esteja presente na conclusão.

3.1 Condicional
Como não se produz conhecimento a partir do vazio, todos os enunciados são,
mesmo que implicitamente, proposições que possuem um conectivo condicional.
Sempre há um conjunto de hipóteses que assumimos (às vezes, apenas um con-
junto de axiomas elementares), para deduzirmos uma conclusão. É exatamente
o que diz a Definição 19 sobre uma argumentação válida.
1A definição formal de sequência é apresentada no Capı́tulo 6.

21
22 CAPÍTULO 3. TÉCNICAS DE PROVA

Vamos primeiro argumentar como fazer uma demonstração de uma pro-


posição do tipo p ⇒ q e, em seguida, argumentamos como usar uma proposição
p ⇒ q, caso ela apareça como hipótese.
Como dissemos, essencialmente todo enunciado é formado por um conec-
tivo condicional. Logo, as formas de demonstrar uma proposição envolvendo
um condicional são as formas mais gerais de se fazer a demonstração de uma
proposição e, por isso, recebem uma nomenclatura especial que destacamos nos
nomes das próximas subseções.

3.1.1 Prova Direta


Se p e q são proposições quaisquer, para se demonstrar, por uma prova direta,
uma proposição do tipo p ⇒ q deve-se supor que p é verdadeira e, usando
exclusivamente essa hipótese, deduzir que q também deve ser verdadeira.

Exemplo 3.1. Vamos demonstrar que “se A 6= ∅, então A ∪ B 6= ∅, para


todo B”. Primeiramente, reescrevendo esta sentença como uma formula lógica,
temos:
∀A((A 6= ∅) ⇒ ∀B(A ∪ B 6= ∅)).

Detalhamos a demonstração de uma proposição iniciada pelo quantificador


universal na Seção 3.3. Para fazermos uma prova direta, vamos supor que A 6= ∅,
e usar essa informação para deduzirmos que ∀B(A ∪ B 6= ∅).

Proposição 1. Se A 6= ∅, então A ∪ B 6= ∅, para todo conjunto B.

Demonstração. Seja A um conjunto qualquer e suponha que A 6= ∅. Seja B


um conjunto qualquer. Como A 6= ∅, temos que existe x ∈ A. Logo, x ∈ A ∪ B.
Consequentemente, A ∪ B 6= ∅. ♦

3.1.2 Prova pela contra-positiva


Dissemos na Subseção 1.1.2 que uma implicação p ⇒ q é logicamente equiva-
lente à sua contra-positiva ¬q ⇒ ¬p. Consequentemente, para demonstrar uma
proposição p ⇒ q pela contra-positiva, devemos supor ¬q e deduzir ¬p.

Exemplo 3.2. Vamos demonstrar a Proposição 1 pela contra-positiva. Ou seja,


devemos supor ¬(∀B(A ∪ B 6= ∅)) e deduzir que ¬(A 6= ∅). Pelas equivalências
de quantificadores vistas na Seção 1.2, temos que

¬(∀B(A ∪ B 6= ∅)) ≡ ∃B¬(A ∪ B 6= ∅) ≡ ∃B(A ∪ B = ∅).

Devemos deduzir que ¬(A 6= ∅) ≡ A = ∅.

Proposição 1. Se A 6= ∅, então A ∪ B 6= ∅, para todo conjunto B.

Demonstração. Seja A um conjunto qualquer. Pela contra-positiva, su-


ponha que existe conjunto B tal que A ∪ B = ∅. Seja B ∗ um conjunto tal
que A ∪ B ∗ = ∅. Como A ∪ B ∗ = ∅, deduzimos que A = ∅. ♦
3.2. A NEGAÇÃO E A PROVA POR ABSURDO 23

3.1.3 Modus ponens e modus tollens


Nesta subseção, mostramos como usar uma proposição p ⇒ q quando esta é
uma hipótese. A seguinte tautologia é conhecida como modus ponens 2 :

(p ∧ (p ⇒ q)) ⇒ q.

Logo, caso tenhamos como hipótese as proposições p e p ⇒ q, esta tautologia


nos permite então deduzir que q é verdadeira. Também podemos usar a contra-
positiva de modo análogo. A tautologia modus tollens 3 é:

(¬q ∧ (p ⇒ q)) ⇒ ¬p.

Ou seja, se possuirmos como hipóteses p ⇒ q e ¬q, podemos deduzir ¬p.


Essa argumentação também é conhecida como prova indireta.

3.2 A negação e a prova por absurdo


Na Subseção 3.1.3, exemplificamos como usar uma proposição do tipo ¬p,
quando aplicamos o argumento modus tollens.
Entretanto, uma proposição do tipo ¬p, pode facilmente ser vista como uma
proposição q onde q ≡ ¬p. Logo, não há uma argumentação especial para usar
uma proposição ¬p, seja quando esta aparece como hipótese, seja quando esta
é a conclusão desejada.
A grande utilidade do conectivo de negação é para se fazer demonstrações
por contradição ou absurdo.
Para se demonstrar uma proposição p por absurdo (ou por contradição),
deve se supor ¬p e deduzir alguma contradição, ou seja, alguma proposição cujo
valor-verdade é sempre falso.
Exemplo 3.3. Vamos novamente demonstrar a Proposição 1, mas agora usando
a prova por absurdo. Ou seja, para um conjunto A qualquer, vamos supor, por
absurdo, que a implicação A 6= ∅ ⇒ ∀B(A ∪ B 6= ∅) é falsa.
Lembre que na Subseção 1.1.1, mostramos que uma implicação é falsa se, e
somente se, a hipótese for verdadeira e a conclusão for falsa. Logo, vamos supor
que A 6= ∅ e que ¬∀B(A ∪ B 6= ∅).

Proposição 1. Se A 6= ∅, então A ∪ B 6= ∅, para todo conjunto B.

Demonstração. Seja A um conjunto qualquer. Por absurdo, suponha que


A 6= ∅ e que existe conjunto B tal que A ∪ B = ∅. Seja B ∗ um conjunto
tal que A ∪ B ∗ = ∅. Como A ∪ B ∗ = ∅, deduzimos que A = ∅. Isso contradiz a
hipótese de que A 6= ∅. ♦

3.3 O quantificador universal


Para demonstrar uma proposição ∀x P (x), é necessário supor que x é um ele-
mento arbitrário e, em função deste elemento arbitrário, deduzir que P (x) é
verdadeiro.
2 Do latim modus ponendo ponens, que significa “modo que afirma afirmando”.
3 Do latim modus tollendo tollens, que significa “modo que nega por negação”.
24 CAPÍTULO 3. TÉCNICAS DE PROVA

Exemplo 3.4. Vamos analisar a proposição “Todo número natural é a metade


de um número natural”. Se definirmos um predicado M (x, y) para representar
a sentença “x é a metade de y”, então a proposição pode ser representada pela
fórmula:
∀x ∈ N∃y ∈ N M (x, y).

Note que tal fórmula é equivalente a:

∀x(x ∈ N ⇒ (∃y ∈ N M (x, y))).

Para demonstrar tal afirmação, deve-se então tomar um elemento x ar-


bitrário e supor que ele pertence ao conjunto dos números naturais (note que
essa hipótese traz bastante informação, pressupondo-se o conhecimento prévio
da definição do conjunto dos naturais e das operações algébricas entre seus ele-
mentos). Então, deve-se deduzir que “∃y ∈ N M (x, y)”. Apesar de só explicar-
mos como fazer a demonstração de uma conclusão iniciada por um quantificador
existencial na Seção 3.4, completaremos a demonstração a seguir.

Proposição 2. Todo número natural é a metade de um número natural.

Demonstração. Seja x um número natural qualquer. Tome y = 2x. Note


que como 2 ∈ N e x ∈ N, temos que y ∈ N, uma vez que o produto de números
naturais é um número natural. Por fim, observe que x = y2 . ♦
Quando houver proposição ∀x P (x) como uma hipótese de uma proposição
composta condicional, para usar esta hipótese pode-se deduzir que P (x) é ver-
dadeiro, para qualquer x utilizado na argumentação. Para tanto, fazemos uma
instanciação universal , que consiste em tomarmos um x qualquer (ou arbitrário)
e demonstrarmos P (x).

Exemplo 3.5. Vamos demonstrar que “Para quaisquer dois conjuntos A e B,


se A ∩ B = A, então A ⊆ B”. Reescrevendo a sentença como uma fórmula
lógica, usando as definições vistas no Capı́tulo 2, temos:

∀A∀B (∀x(x ∈ A ∩ B ⇐⇒ x ∈ A) ⇒ ∀x (x ∈ A ⇒ x ∈ B)).

Escrita desta forma, queremos demonstrar uma proposição que é iniciada


por ∀A∀B. Então, devemos começar a demonstração supondo que A e B são
conjuntos arbitrários. Isto feito, deveremos provar que ∀x(x ∈ A ∩ B ⇐⇒ x ∈
A) ⇒ ∀x (x ∈ A ⇒ x ∈ B).
Para tanto, observe que temos um conectivo condicional e a expressão ∀x(x ∈
A ∩ B ⇐⇒ x ∈ A), que constitui a hipótese. Portanto, para qualquer x que
tomarmos, poderemos deduzir que x ∈ A ∩ B ⇐⇒ x ∈ A.

Proposição 3. Para quaisquer conjuntos A e B, se A ∩ B = A, então A ⊆ B.

Demonstração. Sejam A e B conjuntos quaisquer. Suponha que A ∩ B = A.


Suponha que x ∈ A. Pela hipótese, temos que x ∈ A, se e somente se,
x ∈ A ∩ B. Logo deduzimos que x ∈ A ∩ B e, consequentemente, x ∈ B.
Portanto, provamos que A ⊆ B. ♦
3.4. O QUANTIFICADOR EXISTENCIAL 25

3.4 O quantificador existencial


Quando possuı́mos uma proposição como ∃x P (x) como hipótese, para usar-
mos essa hipótese devemos fazer uma instanciação existencial . Isto consiste
em tomarmos um elemento x∗ tal que P (x∗ ) é verdadeiro. Por hipótese, esse
elemento existe. Logo, poderemos usar a hipótese que P (x∗ ) é verdade. Reveja
o Exemplo 3.3 e note que foi feita uma instanciação existencial.
Para se demonstrar uma proposição ∃x P (x) há inúmeras técnicas. A mais
elementar consiste em descobrir um valor a tal que P (a) é verdade. Consequen-
temente, deduz-se que ∃x P (x) é uma tautologia.
Exemplo 3.6. Vamos mostrar que para todo x ∈ R, se x > 0, então existe
um y ∈ R tal que y(y + 1) = x. Transcrevendo este enunciado em uma fórmula
lógica, temos:
∀x ∈ R(x > 0 ⇒ ∃y ∈ R(y(y + 1) = x).
Logo, vamos assumir que x é um número real arbitrário e, provando a im-
plicação de maneira direta, vamos supor também que x > 0. Deveremos por-
tanto deduzir ∃y ∈ R(y(y +1) = x). Neste momento, deveremos descobrir algum
valor para y que satisfaça a equação. Note que y(y +1) = √x ⇐⇒ y 2 +y −x = 0.

Como x > 0, 1 + 4x está definido e, portanto, y = −1+ 21+4x satisfaz a igual-
dade. Na escrita da demonstração, não se precisa demonstrar como y foi obtido,
mas apenas que o y escolhido satisfaz a proposição.
Proposição 4. Para todo x ∈ R, se x > 0, então existe um y ∈ R tal que
y(y + 1) = x.

Demonstração. Seja x ∈ R tal que x > 0. Tome y = −1+ 21+4x . Observe que:
√  √ 
−1 + 1 + 4x −1 + 1 + 4x
y(y + 1) = +1
2 2
√ √
1 + 4x − 1 1 + 4x + 1
= ·
2 2
1 + 4x − 1
= = x.
4

Na Seção 8.12, exibiremos outra forma de demonstração de proposições en-
volvendo o quantificador existencial através do Princı́pio da Casa dos Pombos.

3.5 Conjunção
Se uma proposição composta como p ∧ q é tida como verdadeira, então tanto
p quanto q devem necessariamente ser verdadeiros. Portanto, quando p ∧ q for
hipótese, podemos usar tanto que p é verdadeiro, quanto que q é verdadeiro,
para deduzir o que for preciso.
Exemplo 3.7. Dizemos que x divide y, denotado por x|y, se ∃k ∈ Z(y = x · k).
Se x|y, dizemos que x é divisor de y e que y é múltiplo de x.
Vamos provar que se a, b e c são números inteiros tais que a|b e b|c, então
a|c. Reescrevendo como uma fórmula lógica, temos:
∀a, b, c ∈ Z(a|b ∧ b|c ⇒ a|c).
26 CAPÍTULO 3. TÉCNICAS DE PROVA

Para demonstrar tal proposição, tomaremos a, b e c números inteiros quais-


quer e então deveremos provar a implicação a|b ∧ b|c ⇒ a|c. Para exemplificar o
uso de uma implicação envolvendo uma conjunção como hipótese, faremos uma
prova direta. Ou seja, vamos supor que a|b ∧ b|c, e deveremos deduzir que a|c.
Note que a definição de x|y usa o quantificador existencial, ou seja, teremos duas
hipóteses com o quantificador existencial, e deveremos provar uma proposição
com o mesmo quantificador. Logo, faremos instanciações existenciais para usar
as hipóteses, e deveremos encontrar um valor de kZ tal que a · k = c.

Proposição 5. Se a, b e c são números inteiros tais que a|b e b|c, então a|c.

Demonstração. Sejam a, b e c são números inteiros quaisquer. Suponha que


a|b e b|c. Como a|b, seja k1 ∈ Z tal que a · k1 = b. Sabendo que b|c, seja k2
tal que b · k2 = c. Tome k = k1 · k2 . Como k1 , k2 ∈ Z, temos que k ∈ Z. Além
disso, observe que:
a · k = a · k1 · k2 = b · k2 = c.
Portanto, a|c. ♦
Já para a demonstração de uma proposição p ∧ q, como esta só é verdadeira
se ambos p e q forem verdadeiros, é necessário demonstrar a partir da hipótese
que tanto p quanto q são verdadeiros.
Exemplo 3.8. Vamos a seguir provar que se A ⊆ B e A e C são disjuntos,
então A ⊆ B \ C. Faremos uma prova direta para termos mais um exemplo
de proposição com uma conjunção na hipótese, mas agora também observe que
deveremos provar uma conjunção. Isso se deve ao fato que deveremos mostrar
que um elemento de A deve necessariamente pertencer a B e não pertencer a
C.
Reescrevendo a proposição com lógica, temos:

∀A, B, C((A ⊆ B) ∧ (A ∩ C = ∅) ⇒ (A ⊆ B \ C)).

Logo, começamos por instanciações universais, tomando A, B e C como


conjuntos quaisquer. Vamos supor que (A ⊆ B) ∧ (A ∩ C = ∅) e deveremos
então provar que A ⊆ B \ C). Por definição, isso quer dizer que ∀x x ∈ A ⇒
x ∈ (B \ C).
Portanto, novamente de modo direto, tomaremos um x arbitrário e vamos
supor que ele é elemento de A. Deveremos então deduzir que x ∈ B e que x ∈
/ C.

Proposição 6. Se A ⊆ B e A e C são disjuntos, então A ⊆ B \ C.

Demonstração. Sejam A, B e C conjuntos quaisquer tais que A ⊆ B e


A ∩ C = ∅. Seja x ∈ A. Como A ⊆ B, deduzimos que x ∈ B. Pela hipótese
A ∩ C = ∅, concluı́mos que x ∈
/ C. Portanto, x ∈ B \ C. Logo, A ⊆ B \ C.

3.6 Duplo condicional


Para usarmos como hipótese ou provarmos uma proposição p ⇐⇒ q, usamos
a equivalência:
p ⇐⇒ q ≡ (p ⇒ q) ∧ (q ⇒ p).
3.7. DISJUNÇÃO E A PROVA POR CASOS 27

No caso de provar uma proposição p ⇐⇒ q, a menos que se prove a


equivalência de modo direto usando outras equivalências, é comum chamar uma
implicação p ⇒ q de “ida” e a conversa q ⇒ p de “volta”.
Exemplo 3.9. Um número inteiro x é par se é múltiplo de 2. Caso contrário,
ele é ı́mpar . Provaremos que um número inteiro é par se, e somente se, seu
quadrado o é. Usaremos a equivalência e primeiro provaremos que se x é par,
então x2 é par. Em seguida, vamos provar que se x2 é par, então x é par.
A primeira implicação vamos provar de modo direto, enquanto que a segunda
será provada pela contra-positiva.
Proposição 7. Seja z um número inteiro. Então z é par se, e somente se, z 2
é par.
Demonstração. (⇒) Suponha que z é par. Consequentemente, existe k ∈ Z tal
que z = 2 · k. Seja k ∗ ∈ Z tal que 2 · k ∗ = z. Logo, z 2 = 4 · (k ∗ )2 = 2 · (2 · (k ∗ )2 ).
Como k ∗ é inteiro, 2 · (k ∗ )2 também o é. Portanto, z 2 é par.
(⇐) Suponha que z é ı́mpar. Logo, existe k ∈ Z tal que z = 2 · k + 1.
Seja k ∗ ∈ Z tal que 2 · k ∗ + 1 = z. Observe que z 2 = 4 · (k ∗ )2 + 4 · k ∗ + 1 =
2(2 · (k ∗ )2 + 2 · k ∗ ) + 1. Como k ∗ ∈ Z, deduzimos que 2 · (k ∗ )2 + 2 · k ∗ também
é um número inteiro e, portanto, z 2 é ı́mpar. ♦

3.7 Disjunção e a prova por casos


Para se usar uma proposição p ∨ q que aparece como hipótese, como temos que
p ou q é verdadeiro, pode-se fazer uma prova por casos e primeiro supor que
p é verdadeiro, deduzir a conclusão e, em seguida supor que q é verdadeiro e,
usando apenas essa hipótese, provar que a conclusão deve ser verdadeira.
Exemplo 3.10. Vamos a seguir demonstrar que se A ⊆ C e B ⊆ C, então
A ∪ B ⊆ C. Por uma prova direta, note que teremos como hipótese que A ⊆ C,
B ⊆ C e que x ∈ A ∪ B, para um x arbitrário. Logo, teremos que x ∈ A ou
x ∈ B. Faremos então uma análise de casos para deduzir que, em ambos, x ∈ C.
Proposição 8. Se A ⊆ C e B ⊆ C, então A ∪ B ⊆ C.
Demonstração. Sejam A, B e C conjuntos quaisquer tais que A ⊆ C e B ⊆ C.
Seja x um elemento qualquer tal que x ∈ A ∪ B. Logo x ∈ A ou x ∈ B.
Caso 1. Suponha que x ∈ A. Como A ⊆ C, temos que x ∈ C.
Caso 2. Finalmente, suponha que x ∈ B. De modo similar, como B ⊆ C,
deduzimos que x ∈ C.
Portanto, x ∈ C. ♦

3.7.1 Disjunção exclusiva


Para provarmos ou usarmos uma proposição p Y q em uma demonstração, basta
lembrarmos das equivalências lógicas:

p Y q ≡ (p ∧ ¬q) ∨ (¬p ∧ q)
≡ (p ∨ q) ∧ ¬(p ∧ q)
28 CAPÍTULO 3. TÉCNICAS DE PROVA

Portanto, podemos usar ou demonstrar uma disjunção exclusiva com os ar-


gumentos usados para conjunções e disjunções.

3.8 Existência e unicidade


Para usarmos ou demonstrarmos uma proposição do tipo ∃!xP (x), usamos a
definição que:

∃!xP (x) ≡ ∃xP (x) ∧ ∀x1 ∀x2 (P (x1 ) ∧ P (x2 ) ⇒ x1 = x2 )

Consequentemente, tal proposição é uma composição e para usá-la, ou de-


monstrá-la, podemos usar as estratégias sugeridas na Seção 3.5.
Em tais demonstrações, normalmente dividimos em duas tarefas. Primeiro
devemos provar a existência, ou seja que ∃x P (x) e, então provamos a unicidade,
ou seja que ∀x1 ∀x2 (P (x1 ) ∧ P (x2 ) ⇒ x1 = x2 ).

3.9 Mais exemplos


Proposição 9. Sejam A, B e C conjuntos. Mostre que (A4C) ∩ (B4C) = ∅
se, e somente se, A4C ⊆ A4B.

Demonstração. (→) Suponha que (A4C) ∩ (B4C) = ∅. Seja x ∈ A4C. Logo,


x∈
/ B4C. Vamos provar que x ∈ A4B. Note que:

x ∈ A4C ∧ x ∈
/ B4C ⇐⇒
(x ∈ (A ∪ C) ∧ x ∈
/ (A ∩ C)) ∧ ¬(x ∈ (B ∪ C) ∧ x ∈
/ (B ∩ C)) ⇐⇒
(x ∈ (A ∪ C) ∧ x ∈
/ (A ∩ C)) ∧ (x ∈
/ (B ∪ C) ∨ x ∈ (B ∩ C)) ⇐⇒
(x ∈ A ∨ x ∈ C) ∧ ¬(x ∈ A ∧ x ∈ C) ∧ (¬(x ∈ B ∨ x ∈ C) ∨ (x ∈ B ∧ x ∈ C)) ⇐⇒
(x ∈ A ∨ x ∈ C) ∧ (x ∈
/ A∨x∈
/ C) ∧ ((x ∈
/ B∧x∈
/ C) ∨ (x ∈ B ∧ x ∈ C)) ⇐⇒
(x ∈ A ∨ x ∈ C) ∧ (x ∈
/ A∨x∈
/ C) ∧ ((x ∈
/ B∧x∈
/ C) ∨ (x ∈ B ∧ x ∈ C)) ⇐⇒

Caso 1: suponha que x ∈ C. Como x ∈ / A∨x ∈/ C, deduzimos que, x ∈


/ A. Além
disso, de (x ∈/ B∧x∈ / C) ∨ (x ∈ B ∧ x ∈ C), obtemos que x ∈ B.
Caso 2: suponha que x ∈ / C. Sabendo que x ∈ A ∨ x ∈ C, concluı́mos que x ∈ A.
Já de (x ∈
/ B∧x∈ / C) ∨ (x ∈ B ∧ x ∈ C), pode-se deduzir que x ∈/ B.
Pela análise de casos, anterior, deduzimos que (x ∈ B ∧x ∈
/ A)∨(x ∈ A∧x ∈ /
B), ou seja x ∈ A4B.
(←) Suponha agora que A4C ⊆ A4B. Vamos provar que (A4C) ∩
(B4C) = ∅.
Por absurdo, seja x tal que x ∈ (A4C) ∩ (B4C). Logo, temos que:
3.10. EXERCÍCIOS 29

x ∈ (A4C) ∧ x ∈ (B4C) ∧ x ∈ (A4B) ⇐⇒


(x ∈ (A ∪ C) ∧ x ∈
/ (A ∩ C)) ∧ (x ∈ (B ∪ C) ∧ x ∈
/ (B ∩ C)) ∧ (x ∈ (A ∪ B) ∧ x ∈
/ (A ∩ B)) ⇐⇒
(x ∈ A ∨ x ∈ C) ∧ (x ∈
/ A∨x∈
/ C) ∧ (x ∈ B ∨ x ∈ C) ∧ (x ∈
/ B∨x∈
/ C) ∧ (x ∈ A ∨ x ∈ B) ∧ (x ∈
/ A∨ ∈
/ B) ⇐⇒
(x ∈ A ∨ x ∈ C) ∧ (x ∈ B ∨ x ∈ C) ∧ (x ∈ A ∨ x ∈ B) ∧ (x ∈
/ A∨x∈
/ C) ∧ (x ∈
/ B∨x∈
/ C) ∧ (x ∈
/ A∨ ∈
/ B) ⇐⇒
((x ∈ A ∧ x ∈ B) ∨ x ∈ C) ∧ (x ∈ A ∨ x ∈ B) ∧ ((x ∈
/ A∧x∈
/ B) ∨ x ∈
/ C) ∧ (x ∈
/ A∨ ∈
/ B) ⇐⇒
((x ∈ A ∧ x ∈ B) ∨ x ∈ C) ∧ (x ∈ A ∨ x ∈ B) ∧ (¬(x ∈ A ∨ x ∈ B) ∨ x ∈
/ C) ∧ ¬(x ∈ A∧ ∈ B) ⇐⇒
((x ∈ A ∧ x ∈ B) ∨ x ∈ C) ∧ ¬(x ∈ A∧ ∈ B) ∧ (x ∈ A ∨ x ∈ B) ∧ (¬(x ∈ A ∨ x ∈ B) ∨ x ∈
/ C) ⇐⇒

Escrevendo p = (x ∈ A ∧ x ∈ B) e q = (x ∈ A ∨ x ∈ B), temos:

((x ∈ A ∧ x ∈ B) ∨ x ∈ C) ∧ ¬(x ∈ A∧ ∈ B) ∧ (x ∈ A ∨ x ∈ B) ∧ (¬(x ∈ A ∨ x ∈ B) ∨ x ∈


/ C) ⇐⇒
(p ∨ x ∈ C) ∧ ¬p ∧ q ∧ (¬q ∨ x ∈
/ C) ⇐⇒
((p ∧ ¬p) ∨ (x ∈ C ∧ ¬p)) ∧ ((q ∧ ¬q) ∨ (q ∧ x ∈
/ C)) ⇐⇒
(x ∈ C ∧ ¬p) ∧ (q ∧ x ∈
/ C) ⇐⇒

Como x ∈ C e x ∈
/ C, temos uma contradição.

Proposição
T S 10. Suponha que F e G são famı́lias tais que F ∩ G =
6 ∅. Então,
F ⊆ G.

Demonstração. Como F ∩ G 6= ∅, seja H ∗ tal que H ∗ ∈ F ∩ G. Seja a ∈ F


T
qualquer. Pela Definição 16 na Página 17, temos que ∀F ∈ F(a ∈ F ). Em
particular, temos que a ∈ H ∗ já que H ∗ ∈ F. Como S a ∈ H ∗ e H ∗ ∈ G,
S que ∃G ∈ G(a ∈ G). Portanto, a ∈
deduzimos
T G e, consequentemente,
F ⊆ G.
S
Proposição 11. Se F ⊆ B, então F ⊆ P(B).
S
Demonstração. Suponha que F ⊆ B. Seja F ∈ F qualquer. Devemos provar
que F ∈ P(B), ou seja,
S que F ⊆ B. Seja S a ∈ F . Como a ∈ F e F ∈ F,
deduzimos que a ∈ F. Pela hipótese F ⊆ B, deduzimos que a ∈ B e,
portanto, F ⊆ B.

3.10 Exercı́cios
Questão 8. Reescreva cada uma das seguintes afirmações usando linguagem
lógica e, em seguida, apresente para cada uma delas uma prova ou um contra-
exemplo.

(a) Se n é um número natural maior que 2 e n não é um número primo, então


2n + 13 não é um número primo.

(b) Suponha que (A \ B) ⊆ (C ∩ D) e que x ∈ A. Dessa forma, se x ∈


/ D, então
x ∈ B.
30 CAPÍTULO 3. TÉCNICAS DE PROVA

(c) Sejam x e y números reais tais que x 6= 3 e x2 y = 9y. Consequentemente,


y = 0.

(d) Se P é verdade, então Q → ¬(Q → ¬P ) também o é.


(e) Suponha que A \ B é disjunto de C e que x ∈ A. Logo, se x ∈ C, então
x ∈ B.
(f) Se x + y = 2y − x e x e y não são ambos iguais a zero, então y 6= 0.

(g) Para todo número real x, se x > 2, então existe um número real y tal que
y + y1 = x.

(h) Sejam B um conjunto e F uma famı́lia de conjuntos. Se F ⊆ P(B), então


∪F ⊆ B.
(i) Se ∀x ∈ A(x 6= 0) e A ⊆ B, então ∀x ∈ B(x 6= 0).
(j) Suponha que F e G são famı́lias de conjuntos. Se ∪F e ∪G são disjuntos,
então F e G também são disjuntos.
(k) ∀x¬P (x) ⇐⇒ ¬∃xP (x).
(l) ∀x(P (x) ∧ Q(x)) ⇐⇒ (∀xP (x)) ∧ (∀xQ(x))
(m) Se x e y são inteiros ı́mpares, então xy também o é.

(n) Se m é um inteiro par e n é um inteiro ı́mpar, então n2 − m2 = n + m.


(o) Suponha que F and G são famı́lias de conjuntos. Então ∪(F ∩ G) ⊆ ((∪F) ∩
(∪G)).
(p) Para todo inteiro n, 15|n se, e somente se, 3|n e 5|n.

(q) Se A ∩ C ⊆ B ∩ C e A ∪ C ⊆ B ∪ C, então A ⊆ B.
(r) Para todo número real x, se |x − 3| > 3, então x2 > 6x .
(s) Para quaisquer conjuntos A, B e C, temos que A \ C ⊆ (A \ B) ∪ (B \ C).

(t) Para quaisquer conjuntos A, B e C, temos que (A ∩ B)4C ⊆ (A4C) ∩


(B4C).
(u) Se ∀xP (x) → ∃xQ(x), então ∃x(P (x) → Q(x)).
(v) Para todo número real x existe um único número real y tal que x2 y = x − y.

(w) Para todo número real x, se x 6= 0 e x 6= 1, então existe um único número


real y tal que y/x = y − x.
Questão 9. Prove que para quaisquer conjuntos A, B, C e D, se A×B e C ×D
são disjuntos, então ou A e C são disjuntos ou B e D são disjuntos.
Capı́tulo 4

Relações

Definição 20. Uma n-upla é uma coleção ordenada de n objetos quaisquer


a1 , . . . , an que representamos por (a1 , . . . , an ). Dizemos que ai é a i-ésima co-
ordenada da n-upla. De modo geral, chamamos uma n-upla de tupla, para
qualquer n ∈ N∗ .
Qualquer 2-upla é chamada de par ordenado.

Como a ordem é importante, duas n-uplas (a1 , . . . , an ) e (b1 , . . . , bn ) são


iguais se, e somente se, ai = bi , para todo i ∈ N∗ .

Definição 21. Dados conjuntos A e B, o produto cartesiano 1 de A por B é:

A × B = {(a, b) | (a ∈ A) ∧ (b ∈ B)}.

Teorema 1. Se A, B, C e D são conjuntos, então:

(a) A × (B ∩ C) = (A × B) ∩ (A × C);

(b) A × (B ∪ C) = (A × B) ∪ (A × C);

(c) (A × B) ∩ (C × D) = (A ∩ C) × (B ∩ D);

(d) (A × B) ∪ (C × D) ⊆ (A ∪ C) × (B ∪ D);

(e) A × ∅ = ∅ × A = ∅;

(f ) A × B = B × A se, e somente se, A = ∅ ou B = ∅ ou A = B.

Demonstração. Para demonstrarmos o item (a), observe que:

A × (B ∩ C) = {(a, x) | a ∈ A ∧ x ∈ B ∩ C}
= {(a, x) | a ∈ A ∧ x ∈ B ∧ x ∈ C}
= {(a, x) | a ∈ A ∧ x ∈ B ∧ a ∈ A ∧ x ∈ C}
= {(a, x) | (a, x) ∈ A × B ∧ (a, x) ∈ A × C}
= (A × B) ∩ (A × C).

A demonstração do item (b) é análoga.


1 Em homenagem ao matemático francês René Descartes (1596–1650).

31
32 CAPÍTULO 4. RELAÇÕES

Para a demonstração do item (c), poderı́amos usar igualdade de conjuntos,


como feito anteriormente. Vamos mudar ligeiramente a argumentação. Seja
(x, y) ∈ (A × B) ∩ (C × D) arbitrário. Note que, pela definição de interseção
de conjuntos, (x, y) ∈ (A × B) ∩ (C × D) se, e somente se, (x, y) ∈ (A × B)
e (x, y) ∈ (C × D). Logo, pela definição de produto cartesiano, temos que
(x, y) ∈ (A × B) e (x, y) ∈ (C × D) se, e somente se, x ∈ A, y ∈ B, x ∈ C e
y ∈ D. Aplicando a comutatividade da conjunção e a definição de interseção,
temos que x ∈ A, y ∈ B, x ∈ C e y ∈ D se, e somente se, x ∈ A ∩ C e y ∈ B ∩ D.
Finalmente, pela definição de produto cartesiano, x ∈ A ∩ C e y ∈ B ∩ D se, e
somente se, (x, y) ∈ (A ∩ C) × (B ∩ D).
Para provarmos o item (d), seja (x, y) ∈ (A × B) ∪ (C × D) qualquer.
Logo, (x, y) ∈ A × B ou (x, y) ∈ C × D. Pela definição de produto cartesi-
ano, deduzimos que (x ∈ A ∧ x ∈ B) ou (x ∈ C ∧ x ∈ D). Vamos provar
que x ∈ A ∪ C. Suponha que x ∈ / A. Logo, por hipótese, não é verdade que
(x ∈ A ∧ x ∈ B) e deduzimos que (x ∈ C ∧ x ∈ D). Em particular, x ∈ C.
Portanto, x ∈ A ∨ x ∈ C. De modo análogo, pode-se deduzir que y ∈ B ∪ D.
Consequentemente, (x, y) ∈ (A ∪ C) × (B ∪ D).
O item (e) segue direto da definição de produto cartesiano, já que o conjunto
vazio não possui elementos.
Vamos finalmente demonstrar cada implicação do item (f).
(⇐) Suponha que A = ∅ ou B = ∅ ou A = B. Caso A = ∅ ou B = ∅, pelo
item (e) temos que A × B = B × A = ∅. Caso A = B, a dedução é trivial.
(⇒) Suponha então que A × B = B × A. Suponha que não é verdade que
A = ∅ ou B = ∅. Devemos deduzir que A = B. Por hipótese, existe pelo
menos um elemento a ∈ A e pelo menos um elemento b ∈ B. Sejam a ∈ A e
b ∈ B elementos quaisquer. Logo, (a, b) ∈ A × B, pela definição do produto
cartesiano. Como A × B = B × A, deduzimos que (a, b) ∈ B × A. Portanto,
a ∈ B e b ∈ A. Sabendo que a e b eram elementos arbitrários de A e B,
respectivamente, deduzimos que A = B.
Definição 22. Sejam A e B conjuntos quaisquer. Dizemos que R é uma relação
de A em B se R ⊆ A × B.

Exemplo 4.1. Se A = {a, b, c, d, e} e B = {α, β}, são exemplos de relações de


A em B:
• R1 = ∅;
• R2 = {(a, α), (a, β), (b, α), (e, β)};
• R3 = A × B.

Se R é uma relação de um conjunto A em um conjunto B, a pertinência
(a, b) ∈ R pode também ser denotada por aRb ou R(a) = b, sendo esta última
forma mais comumente usada para funções, que, como veremos, é um caso
particular de relações.
Para representarmos uma relação de A em B, tomamos um ponto para cada
elemento de A ∪ B e ligamos uma seta do ponto relativo a a ∈ A até o ponto
b ∈ B sempre que (a, b) ∈ R.
Exemplo 4.2. Para representarmos a relação R2 do Exemplo 4.1, fazemos
como na Figura 4.1. ♦
33

b α

d β

e .. ..
. .

Figura 4.1: Exemplo de representação da relação R2 .

Definição 23. Sejam A, B e C conjuntos quaisquer. Se R é uma relação de A


em B e S é uma relação de B em C, então:

(a) o domı́nio de R é:

Dom(R) = {a ∈ A | ∃b ∈ B(aRb)};

(b) a imagem de R é:

Im(R) = {b ∈ B | ∃a ∈ A(aRb};

(c) a relação inversa de R é:

R−1 = {(b, a) ∈ B × A | (a, b) ∈ R};

(d) a composição de R e S é:

S ◦ R = {(a, c) ∈ A × C | ∃b ∈ B(aRb ∧ bSc)};

(e) a relação identidade de A é:

idA = {(a, a) ∈ A × A | a ∈ A}.

Em uma relação R de A em B, o conjunto B é comumente chamado contra-


domı́nio.
Exemplo 4.3. Com respeito a relação R2 do Exemplo 4.1, observe que:
Dom(R2 ) = {a, b, e}, Im(R2 ) = {α, β} = B e R2−1 = {(α, a), (α, b), (β, a), (β, e)}.
Além disso, se C = {1, 2, 3} e S = {(α, 1), (α, 2)}, então a composta S ◦ R =
{(a, 1), (a, 2), (b, 1), (b, 2)} (veja Figura 4.2).
Já a relação idA = {(a, a), (b, b), (c, c), (d, d), (e, e)} tomando o mesmo con-
junto A do Exemplo 4.1.

Teorema 2. Sejam A, B e C conjuntos arbitrários. Se R é uma relação de A


em B e S é uma relação de B em C, então:
34 CAPÍTULO 4. RELAÇÕES

a 1

b α

c 2

d β

e 3

Figura 4.2: Exemplo de representação da composição S ◦ R2 .

(a) (R−1 )−1 = R;

(b) Dom(R) = Im(R−1 );

(c) Im(R) = Dom(R−1 );

(d) T ◦ (S ◦ R) = (T ◦ S) ◦ R;

(e) (S ◦ R)−1 = R−1 ◦ S −1 .

Demonstração. Para demonstrarmos o item (a), observe que, pela definição de


relação inversa, (a, b) ∈ R se, e somente se, (b, a) ∈ R−1 . Aplicando essa
definição mais uma vez, temos que (b, a) ∈ R−1 se, e somente se, (a, b) ∈
(R−1 )−1 .
O item (b) segue direto das definições de de domı́nio, imagem e relação
inversa. Seja a ∈ Dom(R). Logo, existe b ∈ B tal que (a, b) ∈ R. Seja b∗ ∈ B
tal que aRb∗ . Se (a, b∗ ) ∈ R, então (b∗ , a) ∈ R−1 . Isso nos leva a deduzir que
existe b ∈ B tal que (b, a) ∈ R−1 . Como R−1 é relação de B em A, temos que
a ∈ Im(R−1 ).
A prova do item (c) é análoga.
Para demonstrarmos o idem (d), suponha primeiro que (a, d) ∈ T ◦ (S ◦ R).
Logo, existe c ∈ C tal que (a, c) ∈ S ◦ R e (c, d) ∈ T . Seja c∗ ∈ C tal que
(a, c∗ ) ∈ S ◦R e (c∗ , d) ∈ T . Novamente usando a definição de relação composta,
temos que (a, c∗ ) ∈ S ◦ R se existe b ∈ B tal que (a, b) ∈ R e (b, c∗ ) ∈ S. Seja
b∗ ∈ B tal que (a, b∗ ) ∈ R e (b∗ , c∗ ) ∈ S. Como (b∗ , c∗ ) ∈ S e (c∗ , d) ∈ T ,
temos que (b∗ , d) ∈ T ◦ S. Pela hipótese que (a, b∗ ) ∈ R, deduzimos então que
(a, d) ∈ (T ◦ S) ◦ R. A demonstração de que se (a, d) ∈ (T ◦ S) ◦ R, então
(a, d) ∈ T ◦ (S ◦ R) é análoga.
Suponha então, para provarmos o item (e), que (c, a) ∈ (S ◦ R)−1 . Portanto,
temos que (a, c) ∈ S ◦ R e, consequentemente, existe b ∈ B tal que (a, b) ∈ R
e (b, c) ∈ S. Seja b∗ ∈ B satisfazendo tais condições. Logo, (c, b∗ ) ∈ S −1 e
(b∗ , a) ∈ R−1 . Deduzimos então que (c, a) ∈ R−1 ◦ S −1 . Mais uma vez, a
demonstração de que se (c, a) ∈ R−1 ◦ S −1 , então (c, a) ∈ (S ◦ R)−1 é análoga e
deixamos a cargo do leitor.

Dizemos que se R é uma relação de A em A, ou seja, se R ⊆ A × A, então


R é uma relação em A.
35

Definição 24. Se R é uma relação em um conjunto A, então:


(a) R é reflexiva se:
∀a ∈ A(aRa).

(b) R é irreflexiva se:


∀a ∈ A¬(aRa).

(c) R é simétrica se:


∀a, b ∈ A(aRb ⇒ bRa).

(d) R é assimétrica se:


∀a, b ∈ A(aRb ⇒ ¬bRa).

(e) R é anti-simétrica se:

∀a, b ∈ A(aRb ∧ bRa ⇒ a = b).

(f) R é transitiva se:


∀a, b, c ∈ A(aRb ∧ bRc ⇒ aRc).

Teorema 3. Se R é uma relação em A, então:


(a) R é reflexiva se, e somente se, idA ⊆ R.
(b) R é simétrica se, e somente se, R = R−1 .
(c) R é transitiva se, e somente se, R ◦ R ⊆ R.
Demonstração. Sejam A um conjunto arbitrário e R ⊆ A × A uma relação de
em A.
Para provarmos o item (a), suponha primeiro que R é reflexiva. Seja (a∗ , a∗ ) ∈
idA qualquer. Logo, por definição da relação identidade, a∗ ∈ A. Por hipótese,
como R é reflexiva, temos que (a∗ , a∗ ) ∈ R e, consequentemente, idA ⊆ R. Su-
ponha então que idA ⊆ R. Seja a ∈ A um elemento arbitrário. Por definição
da relação identidade, (a, a) ∈ idA . Pela hipótese que idA ⊆ R, temos que
(a, a) ∈ R. Logo, R é reflexiva.
Vamos então demonstrar que a proposição em (b) é uma tautologia. Suponha
que R é simétrica. Seja (a, b) ∈ R um elemento qualquer. Como R é simétrica,
(b, a) ∈ R. Logo, pela definição de relação inversa, (a, b) ∈ R−1 . Portanto,
R ⊆ R−1 . De modo análogo, pode-se demonstrar que R−1 ⊆ R. Portanto, se
R é simétrica, temos que R = R−1 . Suponha finalmente que R = R−1 . Sejam
a, b ∈ A elementos tais que (a, b) ∈ R. Como R = R−1 , deduzimos que (a, b) ∈
R−1 . Logo, pela definição de relação inversa, temos que (b, a) ∈ (R−1 )−1 = R,
pelo Teorema 2. Portanto, R é reflexiva.
Por último, devemos demonstrar que R é transitiva se, e somente se, R ◦ R ⊆
R. Suponha então que R é transitiva e seja (a, c) ∈ R◦R qualquer. Pela definição
de composição de relações, seja b∗ ∈ A tal que (a, b∗ ) ∈ R e (b∗ , c) ∈ R. Como
a relação R é transitiva, deduzimos que (a, c) ∈ R. Portanto, R ◦ R ⊆ R.
Suponha finalmente que R ◦ R ⊆ R. Sejam a, b, c ∈ A elementos tais que
(a, b) ∈ R e (b, c) ∈ R. Pela definição de composição de relações, deduzimos
que (a, c) ∈ R ◦ R. Como R ◦ R ⊆ R, temos que (a, c) ∈ R. Portanto, R é
transitiva.
36 CAPÍTULO 4. RELAÇÕES

4.1 Fechos
Definição 25. Seja R uma relação em um conjunto A. Então, o fecho reflexivo
(simétrico, transitivo) é uma relação S em A tal que:
(a) R ⊆ S;
(b) S é reflexiva (respectivamente, simétrica, transitiva);
(c) para toda relação T ⊆ A × A, se R ⊆ T e T é reflexiva (resp., simétrica,
transitiva), então S ⊆ T .
Ou seja, o fecho reflexivo de uma relação R é a menor relação reflexiva
(com respeito a inclusão) que contém R e é reflexiva. As definições para fechos
simétricos e transitivo são similares.
Teorema 4. Se R é uma relação em A, então:
(a) o fecho reflexivo de R é:
R ∪ idA ;
(b) o fecho simétrico de R é:
R ∪ R−1 ;
(c) o fecho transitivo de R é:
\
{T ⊆ A × A | (R ⊆ T ) ∧ (T é transitiva)}.

Demonstração. Seja R uma relação em um conjunto A. Vamos provar cada


item do enunciado de modo independente, verificando que as três condições da
Definição 25 são satisfeitas.
(a) Obviamente, R ⊆ R ∪ idA . Pelo Teorema 3, temos que R ∪ idA é reflexiva.
Finalmente, seja T uma relação em A tal que T é reflexiva e contém R. Pelo
Teorema 3, note que idA ⊆ T . Logo, R ∪ idA ⊆ T e, portanto, R ∪ idA é
fecho reflexivo de R.
(b) É mais uma vez óbvio que R ⊆ R∪R−1 e que, pelo Teorema 3, R∪R−1 é uma
relação simétrica. Finalmente, seja T uma relação simétrica que contém R.
Como T é simétrica, deduzimos que T = T −1 pelo Teorema 3. Seja (a, b) ∈
R−1 . Logo, (b, a) ∈ R e como o R ⊆ T , temos que (b, a) ∈ T . Portanto,
(a, b) ∈ T −1 . Como T = T −1 , temos que (a, b) ∈ T . Consequentemente,
R−1 ⊆ T e, logo R ∪ R−1 ⊆ T . Dessa forma, R ∪ R−1 é fecho simétrico de
R.
(c) Seja TT = {T ⊆ A × A | (R ⊆ T ) ∧ (T é transitiva)}. Devemos mostrar que
S = T é fecho transitivo de R. Pela definição de T , observe que R ⊆ T ,
para todo T em T . Consequentemente, pela Definição 16, R ⊆ S. Vamos
então provar que S é relação transitiva. Sejam a, b, c ∈ A tais que (a, b) ∈ S e
(b, c) ∈ S. Pela definição de S, temos que (a, b) ∈ T e (b, c) ∈ T , para todo T
em T . Como cada elemento de T é uma relação transitiva, temos portanto
que (a, c) ∈ T , para todo T ∈ T . Consequentemente, pela Definição 16,
(a, c) ∈ S. Finalmente, Seja T ∗ uma relação transitiva que contém R.
Devemos mostrar que S ⊆ T ∗ . Seja (a, b) ∈ S. Pela Definição 16, temos
que (a, b) ∈ T , para todo T ∈ T . Em particular, temos que (a, b) ∈ T ∗ , já
que T ∗ ∈ T .
4.2. RELAÇÕES DE EQUIVALÊNCIA 37

Pode-se demonstrar também que os fechos reflexivo e simétrico também po-


dem ser obtidos como o fecho transitivo do Teorema 4. Mais formalmente, os
fechos reflexivo e simétrico de uma relação R em A são, respectivamente:
\
{T ⊆ A × A | (R ⊆ T ) ∧ (T é reflexiva)};
\
{T ⊆ A × A | (R ⊆ T ) ∧ (T é simétrica)}.
Além disso, em vista do Teorema 3, pode-se demonstrar que o fecho transi-
tivo de uma relação R em A pode ser obtido de R, adicionando a R iterativa-
mente os pares ordenados de R ◦ R que não pertencem a R.

4.2 Relações de Equivalência


Nesta seção, estudaremos a generalização dos conceitos de =, ∼
=, ≡, ∼, ...
Definição 26. Se R é uma relação em A, então dizemos que R é uma relação
de equivalência em A se todas as seguintes afirmações são verdadeiras:
(a) R é reflexiva;
(b) R é simétrica;
(c) R é transitiva.
Definição 27. Se R é uma relação de equivalência em A e a ∈ A, então a classe
de equivalência de a em R é:

[a]R = {b ∈ A | aRb}.

Definição 28. Se R é uma relação de equivalência em A, então o conjunto A


módulo R é a famı́lia de classes de equivalência dos elementos de A, ou seja:

A/R = {[a]R | a ∈ A}.

Lema 1. Se R é uma relação de equivalência em A, então:


(i) ∀a ∈ A (a ∈ [a]R );
(ii) ∀a, b ∈ A (b ∈ [a]R ⇐⇒ [a]R = [b]R ).
Demonstração. Sejam A um conjunto qualquer e R uma relação de equivalência
em A. Para demonstrarmos o item (a), seja a ∈ A um elemento qualquer. Como
R é reflexiva, temos que (a, a) ∈ R. Logo, a ∈ [a]R .
Para o item (b), sejam a, b ∈ A elementos quaisquer. Suponha primeiro
que b ∈ [a]R . Logo, por definição de classe de equivalência, (a, b) ∈ R. Como
R é reflexiva, também temos que (b, a) ∈ R. Note que se c ∈ [a]R , então
(a, c) ∈ R. Como (b, c) ∈ R e R é transitiva, temos que (b, c) ∈ R e, portanto,
c ∈ [b]R . De modo similar, se c ∈ [b]R , temos que (b, c) ∈ R. Como (a, b) ∈ R
e R é transitiva, deduzimos (a, c) ∈ R e, consequentemente, c ∈ [a]R . Logo,
[a]R = [b]R . Finalmente, suponha que [a]R = [b]R . Pelo item (i), temos que
b ∈ [b]R . Logo, b ∈ [a]R .
38 CAPÍTULO 4. RELAÇÕES

Antes de prosseguir ao próximo resultado, reveja a Definição 17, sobre


partições, na página 18.

Teorema 5. Se R é uma relação de equivalência em A, então A/R é uma


partição de A.

Demonstração. Sejam A um conjunto qualquer e R uma relação de equivalência


em A. Pela definição de classe de equivalência, se a ∈ A, então [a]R ⊆ A.
Portanto, pela definição de A/R, temos que A/R ⊆ P(A).
Seja F ∈ A/R qualquer. Logo, existe a ∈ A tal que F = [a]R . Pelo
Lema 1(a), temos que a ∈ F , logo F 6= ∅.
Sejam F1 , F2 ∈ A/R tais que F1 6= F2 . Por absurdo, suponha que F1 ∩ F2 6=
∅. Ou seja, existem a, b, c ∈ A tais que F1 = [a]R , F2 = [b]R e c ∈ [a]R ∩ [b]R .
Como c ∈ [a]R e c ∈ [b]R , pelo Lema 1(b), temos que [c]R = [a]R e [c]R = [b]R .
S que F1 6= F2 .
Logo, [a]R = [b]R . Isso contradiz a hipótese
Finalmente, devemos mostrar
S que A/R = A. Como dito inicialmente,
A/R ⊆ P(A) e, portanto, A/R ⊆ A. Dessa forma, seja a ∈ A um elemento
S temos queSa ∈ [a]R . Ou seja, existe F ∈ A/R tal que
qualquer. Pelo Lema 1(a),
a ∈ F . Portanto, a ∈ A/R e A ⊆ A/R.

Teorema 6. Se F é partição de A, então existe uma relação de equivalência R


em A tal que A/R = F.

Demonstração. Seja A um conjunto qualquer e F uma partição de A. Tome


[
R= (F × F ).
F ∈F

Vamos primeiro demonstrar que R é relação de equivalência em A. Primeiro,


observa-se que R de fato é relação em A, já que como F é partição de A, temos
que F é um subconjunto de A, para cada F ∈ F, pela Definição 17. Portanto,
F × F ⊆ A × A, para cada F ∈ F.

(a) Para demonstrarmos que R é reflexiva, seja a ∈ A. Como F é partição


de A, pela Definição 17, existe F ∈ F tal que a ∈ F . Consequentemente,
(a, a) ∈ F × F . Como F × F ⊆ R, deduzimos que (a, a) ∈ R, para todo
a ∈ A.

(b) Suponha a, b ∈ A tais que (a, b) ∈ R. Pela definição de R, deduzimos que


existe F ∈ F tal que (a, b) ∈ F × F , já que os pares ordenados em R
são obtidos de tais produtos cartesianos. Portanto, concluı́mos que a ∈ F
e b ∈ F e, por conseguinte, (b, a) ∈ F × F . Sabendo que F × F ⊆ R,
deduzimos que (b, a) ∈ R.

(c) Sejam a, b, c ∈ A tais que (a, b) ∈ R e (b, c) ∈ R. Com raciocı́nio análogo


ao caso anterior, deduzimos que existem F, F 0 ∈ F, tais que (a, b) ∈ F × F
e (b, c) ∈ F 0 × F 0 . Logo, temos que a ∈ F , b ∈ F ∩ F 0 e c ∈ F 0 . Como
F é partição de A, pela Definição 17, temos que F1 ∩ F2 = ∅, sempre que
F1 6= F2 , para quaisquer F1 , F2 ∈ F. Logo, deduzimos que F = F 0 e que
a, b, c ∈ F . Portanto, (a, c) ∈ F × F e, então, (a, c) ∈ R.

Devemos por último demonstrar que A/R = F. Seja S ∈ A/R, ou seja


S = [a]R , para algum a ∈ A. Seja F ∗ ∈ F tal que a ∈ F ∗ . Vamos mostrar que
4.3. RELAÇÕES DE ORDEM 39

S = F ∗ e, portanto, S ∈ F. De fato, pela definição de R, note que F ∗ ⊆ S, já


que F ∗ × F ∗ ⊆ R e a ∈ F ∗ . Além disso, como F é partição de A, não existe
F ∈ F tal que F 6= F ∗ e a ∈ F . Portanto, não existe (a, b) ∈ R tal que b ∈
/ F ∗.
Logo, A/R ⊆ F. Seja então F ∈ F e a ∈ F . Note que F 6= ∅, pela Definição 17
e, portanto, a existe. Vamos demonstrar que F = [a]R e, portanto F ∈ A/R.
Como previamente dito, pela definição de R, temos que F ⊆ [a]R , já que a ∈ F
e F × F ⊆ R. Além disso, não há par (a, b) ∈ R tal que b ∈/ F . Logo, F = [a]R
e, portanto, F ⊆ A/R.

4.3 Relações de Ordem


Nesta seção, estudaremos a generalização dos conceitos de ≤, ⊆, <, ⊂,...
Definição 29. Se R é uma relação em A, então dizemos que R é uma ordem
parcial em A se todas as seguintes afirmações são verdadeiras:
(a) R é reflexiva;
(b) R é anti-simétrica;
(c) R é transitiva.
Se R é uma ordem parcial em A, então o par (A, R) é um conjunto parcial-
mente ordenado, ou simplesmente, dizemos que A é parcialmente ordenado por
R.
Definição 30. Se R é uma ordem parcial em A, então dizemos que R é uma
ordem total em A se:
∀a, b ∈ A(aRb ∨ bRa).
Definição 31. Se R é uma ordem parcial em A, B ⊆ A e b ∈ B, então dizemos
que:
(a) b é elemento R-mı́nimo de B se:

∀b0 ∈ B(bRb0 );

(b) b é elemento R-minimal de B se:

@b0 ∈ B(b0 Rb ∧ b0 6= b);

(c) b é elemento R-máximo de B se:

∀b0 ∈ B(b0 Rb);

(d) b é elemento R-maximal de B se:

@b0 ∈ B(bRb0 ∧ b0 6= b).

Quando a ordem parcial R estiver implı́cita no contexto, com frequência se


omite “R-” da notação R-mı́nimo e R-minimal. Além disso, quando não se
explicita o subconjunto B ⊆ A e menciona-se simplesmente R-mı́nimo ou R-
minimal, subentende-se que B = A. O mesmo se aplica para elementos máximos
e maximais.
40 CAPÍTULO 4. RELAÇÕES

Teorema 7. Se R é ordem parcial em A e B ⊆ A, então:

(a) se B possui elemento R-mı́nimo, então ele é único;

(b) se b é elemento R-mı́nimo de B, então b é o único R-minimal de B;

(c) se R é uma ordem total em A e b é R-minimal de B, então b é R-mı́nimo


de B.

Demonstração. Sejam A, B conjuntos tais que B ⊆ A e seja R uma ordem


parcial em A.

(a) Por absurdo, sejam b1 e b2 elementos R-mı́nimos de B tais que b1 6= b2 .


Como b1 é R-mı́nimo e b2 ∈ B, temos que (b1 , b2 ) ∈ R. De modo análogo,
deduzimos que (b2 , b1 ) ∈ R. Isso contradiz a anti-simetria de R, já que
b1 6= b2 .

(b) Seja b um elemento R-mı́nimo de B. Primeiro, provaremos que b é R-


minimal em B. Por absurdo, suponha que existe b0 ∈ B tal que (b0 , b) ∈ R
e b0 6= b. Como b é R-mı́nimo, temos que (b, b0 ) ∈ R. Isso contradiz a
anti-simetria de R. Portanto, b é R-minimal em B. Para mostrarmos que
ele é o único, observe que como (b, b0 ) ∈ B, para todo b0 ∈ B, temos que
nenhum b0 distinto de b pode ser R-minimal.

(c) Suponha que R é uma ordem total em A e que b é R-minimal. Como R é


uma ordem total, todos os pares de elementos de B são comparáveis. Em
particular, (b, b0 ) ∈ R ou (b0 , b) ∈ R, para todo b0 ∈ B. Como b é R-minimal,
o segundo caso não pode ocorrer quando b0 6= b. Portanto, temos que para
todo b0 ∈ B o par (b, b0 ) ∈ R. Ou seja, b é necessariamente R-mı́nimo.

Definição 32. Se R é uma ordem parcial em A, B ⊆ A e a ∈ A, então dizemos


que:

(a) a é limitante inferior de B se:

∀b ∈ B(aRb);

(b) a é limitante superior de B se:

∀b ∈ B(bRa).

É importante salientar que a única diferença entre as definições de elemento


mı́nimo e limitante inferior é a pertinência do elemento do elemento ao subcon-
junto B. Enquanto que o elemento mı́nimo, caso exista, deve necessariamente
pertencer a B, tal exigência não se faz a um limitante inferior.
É frequente o uso de dos termos cota ou ainda limite no lugar de limitante.
A utilização do segundo termo não é recomendada, visto que o mesmo já possui
outra interpretação matemática no Cálculo.

Definição 33. Sejam R uma ordem parcial em A e B ⊆ A. Se S(B) e I(B)


são os conjuntos de limitantes superiores e inferiores de B em R, então:
4.3. RELAÇÕES DE ORDEM 41

(a) o supremo de B, denotado por sup(B), é o mı́nimo de S(B), caso ele exista;

(b) o ı́nfimo de B, denotado por inf(B), é o máximo de I(B), caso ele exista.

Teorema 8. Seja A um conjunto, F ⊆ P(A) e F = 6 ∅. Considere


T o conjunto
parcialmente
S ordenado (P(A), ⊆). Então, o ı́nfimo de F é F e o supremo de
F é F.

Demonstração. Sejam A um T conjunto eSF ⊆ P(A) tal que F = 6 ∅. Primeiro,


deve-se observar que tanto F quanto F são subconjuntos de A e, portanto,
são elementos de P(A), dados a Definição 16Te o fato que F ⊆ P(A).
Vamos primeiro T mostrar que inf(F) = F. Para tanto, vamos primeiro
argumentar que F é um limitanteT inferior para F. Devemos então provar
que, para cada F ∈ F, temos F ⊆ F . Seja F ∈ FTum elemento qualquer, que
T F 6= ∅. Pela Definição 016, temos que F = {x |0 ∀F ∈ F(x ∈ F )}.
existe já que
Seja x ∈ F. Logo, T para todo F ∈ F, temos que x ∈ F . Em particular, T
x ∈ F . Portanto, F ⊆ F , para todo F ∈ F. Vamos então provar que F é
elemento máximo no conjunto de limitantes inferiores para F. Seja S ∈ P(A)
tal que, para todo F ∈ F, temos que T S ⊆ F . Ou seja, S é um limitante inferior
para F. Vamos provar que S ⊆ F. De fato, seja x ∈ S qualquer. Como
S ⊆ TF , para todo F ∈ F, temos que T x ∈ F , para T todo F ∈ F. Portanto,
x ∈ F. Consequentemente, S ⊆ F e, então, F é elemento máximo de
inf(F). S
Finalmente,
S provaremos que F é supremo de F. Pela Definição
S 16, temos
que F = {x | ∃F ∈ F(x ∈ F )}. Vamos provar primeiro que F éSlimitante
superior para F, ou seja, que, para todo F ∈ F, temos que F ⊆ F. S Seja
F ∈ F qualquerS e seja x ∈ F . Como x ∈ F e F ∈ F, deduzimos que x ∈S F.
Logo, F ⊆ F, para todo F ∈ F. Por último, vamos mostrar que F é
o elemento mı́nimo no conjunto de limitantes superiores. Seja S ∈ P(A) um
limitante
S superior para F, ou seja, para todo F ∈ F, temos que F ⊆ S. Seja
x ∈ F. Logo, existe F ∈ F tal que x ∈ F . Como S é limitante S superior de F,
temos que F ⊆ S e, portanto x ∈ S. Consequentemente, F ⊆ S, para todo
limitante superior S de F.

Definição 34. Dizemos que uma relação R em A é uma ordem parcial estrita
se as seguintes afirmativas são satisfeitas:

(a) R é irreflexiva;

(b) R é transitiva.

Teorema 9. Seja R uma relação transitiva em A. Então, R é irreflexiva se, e


somente se, R é assimétrica.

Demonstração. Seja R uma relação transitiva em A. Suponha primeiro que


R é irreflexiva. Por absurdo, suponha que R não é assimétrica. Logo, existe
(a, b) ∈ R tal que (b, a) ∈ R. Como R é transitiva, temos então que (a, a) ∈ R.
Isso contradiz a irreflexividade de R.
Suponha agora que R é assimétrica. Pela Definição 24, note que, na definição
de uma relação assimétrica, não se faz hipótese de que a 6= b. Logo, não é
possı́vel existir (a, a) ∈ R, pois, pela assimetria, deverı́amos ter (a, a) ∈
/ R, uma
contradição. Logo, R é irreflexiva.
42 CAPÍTULO 4. RELAÇÕES

Definição 35. Uma ordem parcial estrita R em A é dita uma ordem total
estrita em A se:
∀a, b ∈ A(aRb ∨ bRa ∨ a = b).

4.4 Funções
Definição 36. Seja f uma relação de A em B. Dizemos que f é uma função
de A em B se:
∀a ∈ A∃!b ∈ B((a, b) ∈ f ).

Denotamos uma função de A em B por f : A → B. Além disso, como para


cada a ∈ A, o elemento b ∈ B com qual a se relaciona é bem determinado,
usamos a notação f (a) = b para indicar que (a, b) ∈ f .
Observe que, pela definição de domı́nio de uma relação (vide Definição 23,
na página 33), se f : A → B, então Dom(f ) = A.

Teorema 10. Sejam f e g funções de A em B. Então:

f = g ⇐⇒ ∀a ∈ A(f (a) = g(a)).

Demonstração. Suponha primeiro que f = g, ou seja, que, para todo (a, b) ∈


A × B, temos que (a, b) ∈ f se e somente se, (a, b) ∈ g. Seja a ∈ A um elemento
arbitrário. Como f e g são funções, existem únicos b1 e b2 tais que (a, b1 ) ∈ f e
(a, b2 ) ∈ g. Pela hipótese, deduzimos que (a, b1 ) ∈ g. Como em g a se relaciona
a um único elemento, temos que b1 = b2 . Portanto, f (a) = b1 = b2 = g(a).
Suponha agora que para todo a ∈ A, temos que f (a) = g(a). Note que
(a, b) ∈ f se, e somente se, f (a) = b. Por hipótese, temos que f (a) = b se
e somente se g(a) = b. Isso ocorre se, e somente se, (a, b) ∈ g. Portanto,
f = g.

Na Definição 23, definimos de modo geral a composição de duas relações. A


seguir, provamos que a composição de duas funções é também uma função.

Teorema 11. Se f : A → B e g : B → C, então g ◦ f : A → C e ∀a ∈


A(g ◦ f (a) = g(f (a))).

Demonstração. Vamos provar que para todo a ∈ a, existe um único c ∈ C tal


que g ◦ f (a) = c. Seja portanto a ∈ A um elemento arbitrário.
Existência: Como f é função de A em B, seja b ∈ B tal que (a, b) ∈ f .
Sabendo que g é função de B em C, seja c ∈ C tal que (b, c) ∈ g. Portanto,
pela Definição 23 sobre a composição de relações, temos que (a, c) ∈ g ◦ f . Além
disso, observe que g ◦ f (a) = c = g(b) = g(f (a)).
Unicidade: Suponha então que g ◦ f (a) = c1 e que g ◦ f (a) = c2 , ou seja que
(a, c1 ) ∈ g ◦ f e que (a, c2 ) ∈ g ◦ f . Logo, pela Definição 23, temos que existem
b1 e b2 tais que (a, b1 ) ∈ f , (b1 , c) ∈ g, (a, b2 ) ∈ f e (b2 , c) ∈ g. Como f é função,
deduzimos que b1 = b2 . Como g é função, deduzimos então que c1 = c2 .

Definição 37. Seja f : A → B uma função. Então:

(a) f é uma função injetiva se:

∀a1 , a2 ∈ A(f (a1 ) = f (a2 ) ⇒ a1 = a2 );


4.4. FUNÇÕES 43

(b) f é uma função sobrejetiva se:

∀b ∈ B∃a ∈ A(f (a) = b).

(c) f é uma função bijetiva se é injetiva e sobrejetiva.


Em lı́ngua portuguesa, é também frequente o uso de injetora, sobrejetora e
bijetora para as definições acima.
Teorema 12. Seja f : A → B. Então:
(a) f é injetiva se, e somente se, @a1 , a2 ∈ A(a1 6= a2 ∧ f (a1 ) = f (a2 )).
(b) f é sobrejetiva se, e somente se, Im(f ) = B.
Demonstração. Vamos demonstrar cada item separadamente.
(a) Note que, pelas Equivalências (1.1) e (1.5), temos que:

∀a1 , a2 ∈ A(f (a1 ) = f (a2 ) ⇒ a1 = a2 ) ⇐⇒


⇐⇒ ¬¬∀a1 , a2 ∈ A(f (a1 ) = f (a2 ) ⇒ a1 = a2 )
⇐⇒ ¬∃a1 , a2 ∈ A¬(f (a1 ) = f (a2 ) ⇒ a1 = a2 )
⇐⇒ ¬∃a1 , a2 ∈ A(f (a1 ) = f (a2 ) ∧ a1 6= a2 )

(b) Pela Definição 23, temos que Im(f ) ⊆ B, já que f é função de A em B.
Suponha primeiro que f é sobrejetiva. Basta então mostrarmos que B ⊆
Im(f ). Como f é sobrejetiva, pela Definição 37, temos que para todo b ∈ B
existe a ∈ A tal que f (a) = b. Portanto, todo elemento de B é também
elemento de Im(f ).
Suponha então que Im(f ) = B. Pela Definição 23 sobre a imagem de uma
função, deduzimos que para todo b ∈ B existe a ∈ A tal que f (a) = b. Logo,
f é sobrejetiva.

Teorema 13. Suponha f : A → B e g : B → C. Então:


(a) Se f e g são injetivas, então g ◦ f é injetiva;
(b) Se f e g são sobrejetivas, então g ◦ f é sobrejetiva.
Demonstração. Sejam f e g funções de A em B e de B em C, respectivamente.
(a) Suponha que f e g são injetivas. Devemos mostrar que para todos a1 , a2
em A, se g ◦ f (a1 ) = g ◦ f (a2 ), então a1 = a2 . Logo, sejam a1 , a2 em
A arbitrários tais que g ◦ f (a1 ) = g ◦ f (a2 ). Pelo Teorema 11, temos que
g(f (a1 )) = g(f (a2 )). Como g é uma função injetiva, deduzimos que f (a1 ) =
f (a2 ). Sabendo que f é injetiva, deduzimos então que a1 = a2 .
(b) Suponha que f e g são funções sobrejetivas. Devemos mostrar que para
todo c ∈ C, existe a ∈ A tal que g ◦ f (a) = c. Seja c∗ ∈ C qualquer. Como
g é sobrejetiva, seja b∗ ∈ B tal que g(b∗ ) = c∗ . Como f é sobrejetiva, seja
a∗ ∈ A tal que f (a∗ ) = b∗ . Como (a∗ , b∗ ) ∈ f e (b∗ , c∗ ) ∈ g, deduzimos que
(a∗ , c∗ ) ∈ g ◦ f . Ou seja, g ◦ f (a∗ ) = c∗ .
44 CAPÍTULO 4. RELAÇÕES

Assim como no caso da composição de relações, definimos a inversa de uma


relação qualquer na Definição 23, na página 33. A seguir, verificamos que f ser
injetiva e sobrejetiva ao mesmo tempo é condição necessária e suficiente para
que f −1 seja também uma função.
Comecemos demonstrando que tal condição é suficiente:

Teorema 14. Se f : A → B é uma função bijetiva, então a relação inversa


f −1 ⊆ B × A é também uma função, chamada de função inversa de f .

Demonstração. Pela Definição 36, devemos mostrar que para todo b ∈ B, existe
um único a ∈ A tal que (b, a) ∈ f −1 . Seja b∗ ∈ B qualquer. Como comentado
na Seção 3.8, vamos primeiro provar que existe a ∈ A tal que (b, a) ∈ f −1 e, em
seguida, demonstramos que tal a é único.
Note que como f é sobrejetiva, temos que para todo b ∈ B, existe a ∈ A tal
que (a, b) ∈ f . Seja a∗ ∈ A tal que (a∗ , b∗ ) ∈ f . Pela Definição 23, deduzimos
que (b∗ , a∗ ) ∈ f −1 .
Sejam a1 e a2 tais que (b∗ , a1 ) ∈ f −1 e (b∗ , a2 ) ∈ f −1 . Pela Definição 23,
deduzimos então que (a1 , b∗ ) ∈ f e que (a2 , b∗ ) ∈ f . Como f é uma função
injetiva, temos que a1 = a2 .

Para mostrar que a mesma é necessária, vamos provar resultados auxiliares:

Teorema 15. Suponha que f : A → B e que f −1 : B → A. Então f −1 ◦f = idA


e f ◦ f −1 = idB .

Demonstração. Vamos provar que f −1 ◦ f = idA . A outra conclusão é análoga.


Seja (a1 , a2 ) ∈ f −1 ◦ f . Pela Definição 23, seja b∗ ∈ B tal que (a1 , b) ∈ f e
(b, a2 ) ∈ f −1 . Como (a1 , b) ∈ f , temos que (b, a1 ) ∈ f −1 . Como f −1 é função,
deduzimos que a1 = a2 . Logo, (a1 , a2 ) ∈ idA .
Seja (a∗ , a∗ ) ∈ idA , para algum a∗ ∈ A. Como f é função, seja b∗ ∈ B tal que
(a , b ) ∈ f . Logo, (b∗ , a∗ ) ∈ f −1 . Consequentemente, (a∗ , a∗ ) ∈ f −1 ◦ f .
∗ ∗

Teorema 16. Se f : A → B e g : B → A, então:

(a) se g ◦ f = idA , então f é injetiva;

(b) se f ◦ g = idB , então f é sobrejetiva.

Demonstração. Sejam f e g funções de A em B e de B em A, respectivamente.

(a) Suponha que g ◦ f = idA . Sejam a1 , a2 ∈ A tais que f (a1 ) = f (a2 ). Seja
b∗ ∈ B tal que f (a1 ) = f (a2 ) = b∗ . Como g ◦ f = idA , então g(f (a1 )) = a1
e g(f (a2 )) = a2 . Ou seja, g(b∗ ) = a1 = a2 .

(b) Suponha que f ◦ g = idB . Seja b∗ ∈ B qualquer. Como g é função, seja


a∗ ∈ A tal que g(b∗ ) = a∗ . Pela hipótese que f ◦ g = idB , deduzimos que
f (g(b∗ )) = b∗ = f (a∗ ).
4.5. EXERCÍCIOS 45

O seguinte teorema afirma que três proposições (i), (ii) e (iii) são equivalen-
tes. Para demonstrá-lo, a argumentação básica seria provar que (i) ⇐⇒ (ii),
(i) ⇐⇒ (iii) e (ii) ⇐⇒ (iii). Isso corresponde a demonstrar seis implicações,
segundo a Equivalência (1.2).
Entretanto, graças a Equivalência (1.3), é suficiente provar que (i) ⇒ (ii),
(ii) ⇒ (iii) e (iii) ⇒ (i). Note que a Equivalência (1.3), combinada aplicada
em pares dessas implicações, nos fornece as outras três implicações necessárias.
Teorema 17. Suponha que f : A → B. Então, as seguintes afirmações são
equivalentes:
(i) f é injetiva e sobrejetiva;
(ii) f −1 : B → A é função;
(iii) ∃g : B → A tal que g ◦ f = idA e f ◦ g = idB .
Demonstração. Suponha que f é uma função de A em B. Note que a implicação
(i) ⇒ (ii) corresponde ao Teorema 14. Já a implicação (ii) ⇒ (iii) corresponde
ao Teorema 15. Finalmente, o Teorema 16 prova a implicação (iii) ⇒ (i).
Teorema 18. Se f : A → B e g : B → A são funções tais que g ◦ f = idA e
f ◦ g = idB , então g = f −1 .
Demonstração. Seja (b, a) ∈ g. Como f (g(b)) = b, já que f ◦ g = idB , temos
que f (a) = b, ou seja (a, b) ∈ f . Portanto, (b, a) ∈ f −1 , pela Definição 23.
Por outro lado, seja (b, a) ∈ f −1 . Logo, (a, b) ∈ f , ou seja f (a) = b. Como
g ◦ f = idA , temos que g(f (a)) = a, ou seja g(b) = a. Portanto, (b, a) ∈ g.
Deve-se notar que o Teorema 18 mostra que a função inversa f −1 é a única
que quando composta com f resulta na identidade, apesar de não termos como
hipótese que f é bijetiva.
Além disso, note que:
Corolário 1. Se f : A → B é uma função bijetiva, então f −1 : B → A também
é uma função bijetiva.
Demonstração. Basta combinar os Teoremas 16, 17 e 18, usando o fato que
(f −1 )−1 = f .

4.5 Exercı́cios
Questão 10. Sejam A = {1, 2, 3}, B = {4, 5}, C = {6, 7, 8}, R = {(1, 7), (3, 6), (3, 7)}
e S = {(4, 7), (4, 8), (5, 6)}.
(a) Represente as relações R e S por meio de grafos direcionados.
(b) Determine os domı́nios, imagens e relações inversas de R e S.
(c) Determine S −1 ◦ R e R−1 ◦ S.
Questão 11. Sejam R e S relações de A para B. Prove ou mostre um contra-
exemplo para os itens:
(a) R ⊆ Dom(R) × Im(R).
46 CAPÍTULO 4. RELAÇÕES

(b) Se R ⊆ S, então R−1 ⊆ S −1 .


(c) (R ∪ S)−1 = R−1 ∪ S −1 .

Questão 12. Sejam R1 e R2 relações em A. Prove ou mostre um contra-


exemplo para:
(a) Se R é reflexiva, então R−1 é reflexiva.
(b) Se R é simétrica, então R−1 é simétrica.

(c) Se R é transitiva, então R−1 é transitiva.


(d) Se R1 e R2 são reflexivas, então R1 ∪ R2 é reflexiva.
(e) Se R1 e R2 são simétricas, então R1 ∪ R2 é simétrica.
(f) Se R1 e R2 são transitivas, então R1 ∪ R2 é transitiva.

Questão 13. Quais das seguintes relações são de equivalência? Para as que
são, quais suas classes de equivalência?
(a) R = {(x, y) ∈ R × R | x − y ∈ N}.
(b) S = {(x, y) ∈ R × R | x − y ∈ Q}.

(c) T = {(x, y) ∈ R × R | ∃n ∈ Z(y = x · 10n )}.


Questão 14. Sejam R e S duas relações de equivalência em A. Prove que:
(a) Se A/R = A/S, então R = S.

(b) Se T = R ∩ S, então T é relação de equivalência em A.


Questão 15. Seja F uma partição de A e G uma partição de B. Prove que se
A e B são disjuntos, então F ∪ G é uma partição de A ∪ B.
Questão 16. Seja m ∈ Z. Prove que, para quaisquer inteiros a, b, c e d, se a ≡
c (mod m) e b ≡ d (mod m), então a + b ≡ c + d (mod m) e ab ≡ cd (mod m).
Questão 17. Uma relação R em A é assimétrica se ∀a ∈ A∀b ∈ A((a, b) ∈ R →
(b, av) ∈
/ R).
(a) Mostre que se R é assimétrica, então R é anti-simétrica.

(b) Mostre que se R é uma ordem parcial estrita, então R é assimétrica.


Questão 18. Sejam A = {1, 2, 3}, B = {4, 5} e C = {6, 7, 8}. Sejam R =
{(1, 7), (3, 6), (3, 7)} e S = {(4, 7), (4, 8), (5, 6)} relações em A ∪ C e em B ∪ C,
respectivamente. Determine os fechos reflexivos, simétricos e transitivos de R e
S.

Questão 19. Seja R uma ordem parcial estrita em A e S o seu fecho reflexivo.
Mostre que:
(a) S é uma ordem parcial em A;
(b) Se R é uma ordem total estrita, então S é uma ordem total.
4.5. EXERCÍCIOS 47

Questão 20. Seja R uma relação em A e S o seu fecho reflexivo. Mostre que:
(a) Se R é simétrica, então S é simétrico;
(b) Se R é transitiva, então S é transitivo.
Questão 21. Mostre que existe uma única relação em A que é, ao mesmo
tempo, uma relação de equivalência em A e uma função de A para A.
Questão 22. Seja f : A → B uma função e C ⊆ A. A restrição de f a C é:

f C = f ∩ C × B.

Prove que:
(a) f C é uma função de C em B;
(b) para todo c ∈ C, f C (c) = f (c);
(c) se g : C → B, então g = f C se, e somente se, g ⊆ f .
Questão 23. Uma função f : A → A é constante se, para todo x ∈ A, f (x) = a.
Prove que:
(a) Se f : A → A é constante, então, para todo g : A → A, temos f ◦ g = f .
(b) Se, para todo g : A → A, temos f ◦ g = f , então f é uma função constante.
x+1
Questão 24. Seja A = R \ {1} e f : A → A tal que f (x) = x−1 . Mostre que:
(a) f é bijetiva.
(b) f ◦ f = iA .
Questão 25. Sejam f : A → B e g : B → C funções. Mostre que:
(a) Se g ◦ f é sobrejetiva, então g é sobrejetiva.
(b) Se g ◦ f é injetiva, então f é injetiva.
Questão 26. Seja f : A → B e C ⊆ A. Mostre que se f é injetiva, então f C
também é injetiva.
Questão 27. Seja f : A → B uma função constante. Mostre que:
(a) Se A tem mais de um elemento, então f não é injetiva.
(b) Se B tem mais de um elemento, então f não é sobrejetiva.
3x
Questão 28. Seja f : A → B uma função, A = R \ {2}, tal que f (x) = x−2 .

(a) Determine B de modo a que f seja bijetiva.


(b) Encontre uma fórmula para f −1 : B → A.
Questão 29. Seja f : A → B e g : B → A. Mostre que:
(a) Se f é injetiva e f ◦ g = iB , então g = f −1 .
(b) Se f é sobrejetiva e g ◦ f = iA , então g = f −1 .
48 CAPÍTULO 4. RELAÇÕES
Capı́tulo 5

Os Números Naturais e a
Indução

5.1 Números Naturais


O conjunto dos números naturais N, de acordo com a Teoria Axiomática de
Conjuntos de Zermelo-Fraenkel (vide Apêndice B), é definido em termos de
conjuntos da seguinte forma:

0=∅
1 = {0} = {∅}
2 = {0, 1} = {∅, {∅}}
3 = {0, 1, 2} = {∅, {∅}, {∅, {∅}}}
..
.

Já Peano, definiu o conjunto dos naturais a partir dos seguintes axiomas:

1. 0 ∈ N;

2. existe uma função S (chamada de função sucessor ) tal que:

(a) ∀n ∈ N(S(n) ∈ N);


(b) S é injetiva;
(c) @n ∈ N(S(n) = 0);

3. (Axioma da Indução) Se C é um conjunto tal que 0 ∈ C e ∀n ∈ C(S(n) ∈


C), então N ⊆ C.

5.2 Indução Fraca


Se virmos o conjunto C no Axioma da Indução como um conjunto de elementos
que satisfazem um predicado P (x), então para demonstrarmos ∀n ∈ N(P (n)),
é suficiente demonstrar:

49
50 CAPÍTULO 5. OS NÚMEROS NATURAIS E A INDUÇÃO

(a) P (0);
(b) ∀n ∈ N(P (n) ⇒ P (S(n)).

Logo, para demonstrarmos uma proposição do tipo ∀n ∈ N(P (n)), podemos


recorrer a uma demonstração por indução. Para tanto, primeiro provamos o
caso base, ou seja, que P (0) é verdade. Em seguida, supomos que n ∈ N e que
P (n) é verdade. Tal hipótese é chamada de hipótese de indução. Finalmente,
usando essa hipótese, devemos demonstrar que P (S(n)) é verdadeiro, ou seja,
que P (n + 1). Essa última demonstração é chamada de passo indutivo.
Pn
Exemplo 5.1. Prove que i=0 2i = 2n+1 − 1.
Pn
Demonstração. Por indução em n, provaremos que S(n) = i=0 2i = 2n+1 − 1.
Caso Base: n = 0. P
0
Note que S(0) = i=0 2i = 20 = 1 = 20+1 − 1.
Hipótese Indutiva: suponha que
n
X
S(n) = 2i = 2n+1 − 1,
i=0

para algum n ∈ N.
Passo Indutivo: Note que
n+1 n
!
X X
i i
S(n + 1) = 2 = 2 + 2n+1 .
i=0 i=0

Aplicando a hipótese indutiva, temos que:


n
!
X
S(n + 1) = 2 + 2n+1 = 2n+1 − 1 + 2n+1 = 2(n+1)+1 − 1.
i

i=0


3
Exemplo 5.2. Prove que para todo n ∈ N, temos que 3|(n − n).
Demonstração. Lembre que a|b se existe k ∈ N tal que ak = b. Logo, devemos
mostrar que para todo n ∈ N, existe k ∈ N tal que 3k = n3 − n. Provaremos
por indução em n.
Caso Base: n = 0.
Observe que se tomarmos k = 0, teremos:

3k = 3 · 0 = 03 − 0 = n3 − n.

Hipótese Indutiva: Seja n ∈ N e suponha que existe k ∈ N tal que 3k = n3 − n.


Passo Indutivo: Observe que:

(n + 1)3 − (n + 1) = n3 + 3n2 + 3n + 1 − n − 1
= 3(n2 + n) + (n3 − n)

Aplicando a hipótese indutiva, temos que:


5.2. INDUÇÃO FRACA 51

(n + 1)3 − (n + 1) = 3(n2 + n) + (n3 − n)


= 3(n2 + n) + 3k
= 3(n2 + n + k)

Logo, basta tomarmos k 0 = n2 + n + k e observarmos que k 0 ∈ N, já que n, k ∈ N


e que 3k 0 = (n + 1)3 − (n + 1).


Em muitos casos, como no Exemplo 5.3, o primeiro valor que desejamos
provar que a propriedade (ou predicado) P (n) é válida(o) não é o zero. Ou seja,
desejamos provar que ∀n ∈ N(n ≥ k ⇒ P (n)), para algum k ∈ N. Para tanto,
devemos mudar o caso base para o primeiro valor que deve tornar tal predicado
verdadeiro, isto é, o caso base será n = k.
Exemplo 5.3. Demonstre que se n ∈ N e n ≥ 5, então 2n > n2 .

Demonstração. Provaremos por indução em n. Caso Base: n = 5. Note que:

25 = 32 > 25 = 52 .

Hipótese Indutiva: seja n ≥ 5 e suponha que 2n > n2 .


Passo Indutivo: Observe que 2n+1 = 2 · 2n . Logo, aplicando a hipótese indutiva,
temos:

2n+1 = 2 · 2n
> 2n2
= n2 + n · n (5.1)
2
≥ n + 5n (5.2)
2
= n + 2n + 3n (5.3)
2
≥ n + 2n + 15 (5.4)
2
> n + 2n + 1
= (n + 1)2

onde as passagens de (5.1) para (5.2) e de (5.3) para (5.4) se devem ao fato que
n ≥ 5.


A seguir, mostraremos exemplos de como usar indução para fazer demons-
trações sobre o número de elementos de um conjunto, caso este conjunto seja
finito. Precisamos, portanto, formalizar tais noções.
Para todo n ∈ N, denotamos por In ou por [n] o conjunto {i ∈ N∗ | i ≤ n}.
Note que I0 = ∅, enquanto que In = {1, . . . , n} se n > 0.

Definição 38. Um conjunto A é dito finito, se existe n ∈ N e existe bijeção


f : In → A. Neste caso, dizemos que a cardinalidade de A é n e denotamos por
|A| = n. Dizemos que um conjunto A é infinito, caso ele não seja finito.
52 CAPÍTULO 5. OS NÚMEROS NATURAIS E A INDUÇÃO

Observe que se A é vazio, então |A| = 0 já que o único n ∈ N tal que
conseguimos uma função bijetiva f : In → A é n = 0.
Enunciados sobre conjuntos finitos, embora possam não mostrar explicita-
mente um número natural n ao qual possamos aplicar indução, com frequência
podem ser demonstrados com essa técnica. A ideia é demonstrar por indução
na cardinalidade do conjunto, que é um número natural.
Teorema 19. Se R é uma ordem parcial em A, B ⊆ A, B 6= ∅ e B é finito,
então B possui elemento R-minimal.
Demonstração. Seja R uma ordem parcial em um conjunto qualquer A e seja
B ⊆ A tal que B é finito e não vazio.
Vamos demonstrar por indução em n = |B| que B possui um elemento R-
minimal. Como B não é vazio, teremos o seguinte caso base.
Caso Base: n = 1. Seja b o único elemento de B. Logo, não existe b0 6= b tal
que b0 ∈ B e (b0 , b) ∈ R. Portanto, b é R-minimal.
Hipótese Indutiva: suponha que se |B| = n ≥ 0, então B possui elemento R
minimal.
Passo Indutivo: seja B tal que |B| = n+1 ≥ 1. Seja b ∈ B. Defina B 0 = B \{b}.
Por definição, |B 0 | = n. Pela hipótese indutiva, B 0 possui elemento R-minimal.
Seja b0 um elemento R-minimal de B 0 . Note que se (b, b0 ) ∈ / R, então b0 é
elemento R-minimal de B.
Caso contrário, ou seja, se (b, b0 ) ∈ R, vamos provar que b é elemento R-
minimal de B. Por absurdo, suponha a existência de um elemento b00 ∈ B tal
que b00 6= b e (b00 , b) ∈ R. Observe que b00 6= b0 , já que b0 6= b, (b, b0 ) ∈ R
e a relação R é anti-simétrica. Logo, como (b00 , b) ∈ R, (b, b0 ) ∈ R e R é
transitiva, deduzimos que (b00 , b0 ) ∈ R. Como b00 ∈ B 0 e b00 6= b0 , isso contradiz a
minimalidade de b0 em B 0 .
Teorema 20. Se A é um conjunto finito e R é uma ordem parcial em A, então
existe uma ordem total T em A tal que R ⊆ T .
Demonstração. Por indução em |A|.
Caso Base: |A| = 0. Nesse caso, note que R = ∅. Tome T = R. Por vacuidade,
T é ordem total em R e R ⊆ T .
Hipótese Indutiva: Seja k ∈ N∗ . Suponha que para todo conjunto A tal que
|A| = k − 1 e para toda ordem parcial R em A, existe uma ordem total T em A
tal que R ⊆ T .
Passo Indutivo: Seja A um conjunto tal que |A| = k e seja R uma ordem
parcial em A.
Note que k ≥ 1, ou seja A é finito e não vazio. Pelo Teorema 19, seja a ∈ A
um elemento R-minimal de A. Seja A0 = A \ {a}. Seja R0 = R ∩ (A0 × A0 ). Note
que R0 é ordem parcial de A0 . Como |A0 | = k − 1, pela hipótese indutiva existe
uma ordem total T 0 de A0 tal que R0 ⊆ T 0 .
Defina T = T 0 ∪ {(a, a0 ) | a0 ∈ A0 } ∪ {(a, a)}. Afirmamos que T é ordem total
em A. De fato, note que T é reflexiva, já que T 0 é ordem total de A0 e (a, a) ∈ T .
T também é anti-simétrica, pois para T 0 é anti-simétrica, e não há dois pares
(a, a0 ) e (a0 , a) em T , com a0 6= a. T é transitiva, pela transitividade de T 0 , e
pelo fato que a é elemento mı́nimo de T , pela sua definição. Pela definição de T ,
como T 0 é ordem total de A0 , também observamos que para quaisquer x, y ∈ A,
temos que xT y ou yT x. Portanto, T é ordem total de A. Por último, observe
que R ⊆ T já que R0 ⊆ T 0 e a é R-minimal de A.
5.3. INDUÇÃO FORTE 53

Exemplo 5.4. Se n ≥ 3 pontos distintos de um cı́rculo são conectados por seg-


mentos de reta, então a soma dos ângulos internos do polı́gono convexo formado
é (n − 2)π. ♦
Exemplo 5.5. Para todo n ∈ N∗ , uma grade 2n × 2n com um ladrilho faltando
pode ser coberta por cerâmicas em forma de L. ♦

5.3 Indução Forte


Note que quando demonstramos na seção anterior que ∀n ∈ N(P (n)), o fato de
que P (10) é verdade, decorre diretamente do fato que P (9) é verdadeiro. Que
por sua vez, decorre do fato que P (8) é verdadeiro e assim sucessivamente, até
P (0) que de fato demonstramos ser verdadeiro.
Ou seja, para demonstrarmos P (10) usamos apenas a informação que P (9)
é verdade, porém já sabemos nesse momento que P (n) é verdade para todo
0 ≤ n ≤ 9. Portanto, podemos fortalecer a nossa hipótese de indução.
Dessa forma, para demonstrar ∀n ∈ N(P (n)) por indução (chamada de forte,
nesse caso) primeiro provamos o caso base, ou seja, que P (0) é verdade. Em
seguida, supomos que n ∈ N e que P (k) é verdade para todo 0 ≤ k < n.
Tal hipótese é chamada de hipótese de indução forte. Finalmente, usando essa
hipótese, devemos demonstrar que P (n) é verdadeiro.

Teorema 21. Todo número natural maior que 1 ou é um número primo ou é


o produto de números primos.

Demonstração. Vamos provar por indução em n que, se n ∈ N e n > 1, então n


é primo ou é produto de números primos.
Caso Base: n = 2. Neste caso, n é primo.
Seja n ∈ N tal que n > 2.
Hipótese Indutiva: Suponha que para todo k ∈ N tal que 2 ≤ k < n temos que
k é primo ou k é produto de primos.
Passo Indutivo: Devemos mostrar que n é primo ou produto de primos. Caso
n seja primo, não há o que demonstrar. Suponha então que n não é primo.
Por definição, existem naturais k, k 0 tais que n = k · k 0 e 2 ≤ k, k 0 < n. Pela
hipótese indutiva, deduzimos que k e k 0 são primos ou produto de números
primos. Portanto, n é o produto de números primos.

Teorema 22. Para quaisquer n, m ∈ N, se m > 0, então existem q, r ∈ N tais


que n = mq + r e 0 ≤ r < m.

Demonstração. Seja m ∈ N arbitrário. Caso m > n, tome q = 0 e r = n.


Observe que n = m · 0 + n e 0 ≤ n < m.
Suponha portanto que n ≥ m. Vamos provar por indução em n que existem
q, r ∈ N tais que n = mq + r e 0 ≤ r < m.
Caso Base: n = m. Nesse caso, tome q = 1 e r = 0. Note que n = m · 1 + 0 e
que 0 < m.
Suponha então que n > m.
Hipótese Indutiva: suponha que para todo m ≤ k < n existem q 0 , r0 tais que
k = q 0 m + r0 e 0 ≤ r0 < m.
Passo Indutivo: como m > 0 e n > m, observe que 0 ≤ n − m < n. Pela
hipótese indutiva, temos que existem q 0 , r0 tais que n − m = q 0 m + r0 , onde
54 CAPÍTULO 5. OS NÚMEROS NATURAIS E A INDUÇÃO

0 ≤ r0 < m. Portanto, n = (q 0 + 1)m + r0 . Basta então tomarmos q = q 0 + 1 e


r = r0 . Observe que n = mq + r e 0 ≤ r < m.
Definição 39. Os números de Fibonacci são definidos da seguinte forma:

0
 , n = 0;
F (n) = 1 , n = 1;

F (n − 1) + F (n − 2) , n ≥ 2.

Teorema 23. Para todo n ∈ N, temos que:


 √ n  √ n
1+ 5
2 − 1−2 5
F (n) = √
5
Demonstração. Vamos provar por indução em n.
Caso Base: Observe que:

 √ 0  √ 0
1+ 5
2 − 1−2 5
F (0) = 0 = √
5
e que:
 √ 1  √ 1
1+ 5
2 − 1−2 5
F (1) = 1 = √
5
Suponha que n ≥ 2.
Hipótese Indutiva: suponha que para todo 0 ≤ k < n temos
 √ k  √ k
1+ 5
2 − 1−2 5
F (k) = √ .
5
Passo Indutivo: Por definição, observe que F (n) = F (n − 1) + F (n − 2), já que
n ≥ 2. Aplicando a hipótese indutiva, temos:

F (n) = F (n − 1) + F (n − 2)
 √ n−1  √ n−1  √ n−2  √ n−2
1+ 5
2 − 1−2 5 1+ 5
2 − 1−2 5
= √ + √
5 5
 √ n−2 h √ i  √ n−2 h √ i
1+ 5 1+ 5
2 2 + 1 − 1−2 5 1− 5
2 +1
= √
5
 √ n−2  √ 2  √ n−2  √ 2
1+ 5 1+ 5
2 2 − 1−2 5 1− 5
2
= √
5
 √ n  √ n
1+ 5
2 − 1−2 5
= √
5
5.4. PRINCÍPIO DA BOA ORDENAÇÃO 55

5.4 Princı́pio da Boa Ordenação


Teorema 24 (Princı́pio da Boa Ordenação). Todo subconjunto não-vazio S ⊆ N
possui elemento mı́nimo (com respeito a ordem total ≤).

Demonstração. Seja S um subconjunto não-vazio de N. Por absurdo, suponha


que S não possui elemento mı́nimo, com relação a ordem total ≤. Vamos provar
por indução que, para todo número natural n, n ∈ / S. Isso contradirá o fato que
S não é vazio.
Caso Base: n = 0. Note que 0 ∈ / S, caso contrário, ele seria o elemento mı́nimo
de S.
Suponha que n > 0.
Hipótese Indutiva: suponha que para todo 0 ≤ k < n temos que k ∈ / S.
Passo Indutivo: sabemos, pela hipótese indutiva, que para todo 0 ≤ k < n
temos que k ∈ / S. Logo, deduzimos que n ∈ / S, caso contrário n seria elemento
mı́nimo de S.

O Teorema 24 pode ser utilizado para demonstrações por absurdo que usam o
chamado contra-exemplo mı́nimo. Novamente, essa técnica é útil para demons-
trações de proposições do tipo ∀n ∈ N(P (n)). A ideia é supor, por absurdo, que
existem números naturais n tais que ¬P (n). Portanto, pode-se definir um con-
junto S = {n | ¬P (n)} de contra-exemplos à afirmação ∀n ∈ N(P (n)). Como
S ⊆ N e S 6= ∅, pelo Princı́pio da Boa Ordenação, S possui um elemento mı́nimo
n∗ . Esse é o chamado contra-exemplo mı́nimo.
Note que se n∗ é contra-exemplo mı́nimo para ∀n ∈ N(P (n)), então ¬P (n∗ ) e,
para todo 0 ≤ k < n∗ , temos P (k). Veja que essa segunda hipótese é exatamente
a mesma que possuı́mos ao fazermos uma demonstração por indução (forte).
Portanto, as duas técnicas de prova são equivalentes.

Teorema 25. 2 é irracional.

Demonstração.
√ Por absurdo, suponha√que existem p ∈ Z e q ∈ N∗ tais que
2 = q . Seja S = {q ∈ N∗ | ∃p ∈ Z( 2 = pq )} ⊆ N. Como, por hipótese S é
p

não-vazio, seja q ∗ o elemento mı́nimo de S, com relação a ordem total ≤. Note


que q ∗ existe, pelo Princı́pio da Boa Ordenação (vide Teorema 24). Seja p∗ ∈ Z
√ ∗
tal que 2 = pq∗ . Note que:

2
√ p∗

( 2)2 =
q∗
2(q ∗ )2 = (p∗ )2 .

Portanto, pela Proposição 7, concluı́mos que p∗ é par, já que seu quadrado o é.
Seja p0 ∈ Z tal que p∗ = 2p0 . Podemos então observar que:

2(q ∗ )2 = (p∗ )2
2(q ∗ )2 = (2p0 )2
2(q ∗ )2 = 4(p0 )2
(q ∗ )2 = 2(p0 )2 .
56 CAPÍTULO 5. OS NÚMEROS NATURAIS E A INDUÇÃO

Novamente devido a Proposição 7, deduzimos que q ∗ é par. Seja q 0 ∈ Z tal que


q ∗ = 2q 0 . Como q ∗ ∈ N∗ , veja que q 0 ∈ N∗ e que q 0 < q. Além disso, observe
que:
√ p∗ 2p0 p0
2 = ∗ = 0 = 0.
q 2q q
Isso contradiz o fato que q ∗ é elemento mı́nimo de S.

Definição 40. Seja R uma relação em A. Defina:


(
n R , n = 1;
R =
Rn−1 ◦ R , n ≥ 2.

Lema 2. Para quaisquer m, n ∈ N∗ , temos que Rm+n = Rm ◦ Rn .

Demonstração. Sejam m ∈ N∗ qualquer. Vamos provar por indução em n ∈ N∗


que Rm+n = Rm ◦ Rn .
Caso Base: n = 1. Pela Definição 40, temos que Rn = R1 = R. Note que
m + n = m + 1 e, como m ≥ 1, temos que m + n ≥ 2. Pela Definição 40
concluı́mos que Rm+n = Rm+1 = R(m+1)−1 ◦ R = Rm ◦ Rn .
Hipótese Indutiva: Assuma que Rm+n = Rm ◦ Rn , para algum n ∈ N∗ .
Passo Indutivo: Assuma que n ≥ 2. Vamos provar que Rm+(n+1) = Rm ◦
Rn+1 . Note que, pela Definição 40, temos que Rm+(n+1) = R(m+n)+1 = Rm+n ◦
R, já que m + n ≥ 2. Pela hipótese indutiva, deduzimos que Rm+(n+1) =
(Rm ◦ Rn ) ◦ R. Dada a associatividade da composição de relações, provada
no Teorema 2, Página 33, concluı́mos que Rm+(n+1) = Rm ◦ (Rn ◦ R). Como
n ≥ 2, a Definição 40 nos permite concluir que Rm+(n+1) = Rm ◦ (Rn ◦ R) =
Rm ◦ (Rn+1 ).

Teorema 26. Se R é uma relação em A, então o fecho transitivo de R é


n
S
n∈N∗ R .
i ∗
S n
S Seja F = {R | i ∈ N }. A notação do enunciado corresponde a
Demonstração.
n∈N∗ R = S F. Devemos portanto demonstrar que o fecho transitivo S de R
satisfaz S = F.
Lembre-se daSDefinição 25, na Página 36, sobre fecho transitivo. Devemos
provar que S = F satisfaz:

(a) R ⊆ S;

(b) S é uma relação transitiva em A;

(c) para toda relação T ⊆ A × A, se R ⊆ T e T é transitiva, então S ⊆ T .

Pela Definição 40, R1 = R e, portanto, R ⊆ S = F.


S
Sejam u, v, w ∈ A tais que (u, w) ∈ S e (w, v) ∈ S. Portanto, existem s, t ∈
N∗ tais que (u, w) ∈ Rs e (w, v) ∈ Rt . Pelo Lema 2, temos que (u, v) ∈ Rn ◦ Rm
e, consequentemente, (u, v) ∈ S. Logo, S é transitiva.
Seja T uma relação transitiva tal que R ⊆ T . Vamos provar que S ⊆ T .
Para tanto, provaremos por indução em n que Rn ⊆ T , para todo n ∈ N∗ .
Caso base: n = 1. Note que R1 = R ⊆ T , por hipótese.
Hipótese indutiva: Suponha que Rn ⊆ T , para algum n ≥ 1.
5.5. EXERCÍCIOS 57

Passo indutivo: Assuma que n ≥ 1. Vamos provar que Rn+1 ⊆ T . Seja


(u, v) ∈ Rn+1 . Pela Definição 40, temos que (u, v) ∈ Rn ◦ R. Ou seja, existe
w ∈ A tal que (u, w) ∈ Rn e (w, v) ∈ R. Como Rn ⊆ T , por hipótese indutiva,
assim como R ⊆ T , pela definição de T , temos que (u, v) ∈ T , já que T é
transitiva. Logo, Rn+1 ⊆ T .

5.5 Exercı́cios
Questão 30. Prove por indução que:
(a) Para todo n ∈ N:
Pn
(i) i=0 i = n(n + 1)/2;
Pn 2
(ii) i=0 i = n(n + 1)(2n + 1)/6;
Pn
(iii) i=0 i(i + 1) = n(n + 1)(n + 2)/3;
(iv) 2|(n2 + n).
(b) Se A é um conjunto com n elementos, então P(A) tem 2n elementos.
(c) Se R é uma ordem total em A e A, então todo subconjunto finito e não-vazio
B ⊆ A contém um elemento R-mı́nimo.

Questão 31. Seja a0 , a1 , . . . , an uma sequência definida recursivamente tal que


a0 = 0 e, para todo n ∈ N, an+1 = 2an + n. Prove que an = 2n − n − 1.
Pn
Questão 32. Para todo número natural positivo n, seja Hn = i=1 1i o n-
ésimo número harmônico. Prove que para quaisquer números naturais positivos
n e m, se n ≥ m, então Hn − Hm ≥ n−m n .
Dica: Suponha m qualquer e faça indução em n.

Questão 33. Seja F = {A1 , . . . , An } conjuntos tais que n ≥ 2 e, para todo


i ∈ {1, . . . , n} e para todo j ∈ {1, . . . , n}, Ai ⊆ Aj ou Aj ⊆ Ai . Mostre que
existe um conjunto em F que é subconjunto de todos os conjuntos de F.

Questão 34. Prove que 6 é irracional.
58 CAPÍTULO 5. OS NÚMEROS NATURAIS E A INDUÇÃO
Capı́tulo 6

Sequências, Recorrências e
Séries

6.1 Sequências e Recorrências


Definição 41. Uma sequência (infinita) de elementos de um conjunto A é uma
função f : N∗ → A que associa a cada natural n ∈ N∗ um elemento an = f (n)
de A, chamado de n-ésimo termo da sequência.
Uma sequência é representada por (a1 , a2 , . . . , an , . . .) ou, de modo resumido,
por (an ).
Exemplo 6.1. Vimos no Capı́tulo 5 alguns exemplos de sequências. A mais
famosa é a sequência de Fibonacci (0, 1, 1, 2, 3, 5, 8, . . .). Progressões aritméticas
e geométricas também são exemplos de sequências no conjunto dos naturais. ♦
O n-ésimo termo da sequência de Fibonacci (vide Definição 39, na Página 54)
é definido por uma relação de recorrência.
Uma relação de recorrência é uma forma de definir sequências de objetos
matemáticos (sequências de números, de conjuntos, de matrizes, etc.) por meio
de duas partes:
• As condições iniciais; e
• Uma equação de recorrência.
Uma equação de recorrência é uma equação utilizada para definir o termo
de uma sequência, através de termos antecessores na sequência.
No caso de Fibonacci, as condições iniciais são que F0 = 0 e que F1 = 1, e a
equação de recorrência é tal que Fn = Fn−1 + Fn−2 , sempre que n ≥ 2.
Há vários exemplos de sequências definidas por relações de recorrência no
Capı́tulo 5. Não é à toa que o método de indução é o mais utilizado para
demonstrar fórmulas exatas para o n-ésimo termo de uma sequência.
Porém, há relações de recorrência mais complicadas, para as quais é mais
difı́cil obter uma fórmula exata para o n-ésimo termo da sequência associada.
Nestes casos, vamos ao menos tentar estimar a ordem de grandeza de tal termo,
isto é, se os termos da sequência estão crescendo linearmente, ou exponencial-
mente, etc. Para tanto, precisamos introduzir uma notação bastante usual no
cálculo, utilizada para comparar funções.

59
60 CAPÍTULO 6. SEQUÊNCIAS, RECORRÊNCIAS E SÉRIES

6.2 Ordem de grandeza de funções


Definição 42. Dada uma função g : R → R, definimos:

(a) Θ(g(x)) = {f (x) | ∃c1 , c2 , x0 ∈ R∗+ (∀x ≥ x0 (0 ≤ c1 g(x) ≤ f (x) ≤ c2 g(x)))};

(b) Ω(g(x)) = {f (x) | ∃c1 , x0 ∈ R∗+ (∀x ≥ x0 (0 ≤ c1 g(x) ≤ f (x))};

(c) O(g(x)) = {f (x) | ∃c2 , x0 ∈ R∗+ (∀x ≥ x0 (0 ≤ f (x) ≤ c2 g(x)))}.

Note que cada um dos conjuntos definidos anteriormente, são conjuntos de


funções. Portanto, a notação correta seria f (x) ∈ O(g(x)), por exemplo, mas
é frequente o uso da notação f (x) = O(g(x)), ou mesmo dizermos que f (x) é
O(g(x)).
O primeiro desses conjuntos, Θ(g(x)), é constituı́do por funções que, assin-
toticamente (ou seja, para valores suficientemente grandes de x), tem a mesma
ordem de g, já que a partir de um x0 o valor de g(x) difere de f (x), para
qualquer f (x) ∈ Θ(g(x)), apenas por constantes.
O conjunto Ω(g(x)) contém as funções que são assintoticamente limitadas
inferiormente por g(x). Finalmente, O conjunto O(g(x)) é formado por funções
que são limitadas, a menos de um fator constante, superiormente pela função
g(x). Essa última notação é bastante utilizada em análise de algoritmos, quando
se estuda o pior caso de execução de um algoritmo. Diz-se por exemplo, que
o tempo de execução de um algoritmo é O(n2 ) se a quantidade de operações
que serão executadas por este algoritmo correspondem, no pior caso, a uma
função f (n) ∈ O(n2 ). Para mais informações sobre algoritmos e análise de
complexidade, recomenda-se a leitura de [2].
Há ainda notações para representar funções de ordem inferior a g(x) ou de
ordem superior a g(x):

Definição 43. Dada uma função g : R → R, definimos:

(a) o(g(x)) = {f (x) | ∀c ∈ R∗+ ∃x0 ∈ R∗+ (∀x ≥ x0 (0 ≤ f (x) < cg(x)))};

(b) ω(g(x)) = {f (x) | ∀c ∈ R∗+ ∃x0 ∈ R∗+ (∀x ≥ x0 (0 ≤ cg(x) < f (x)))}.

Tais conjuntos também são definidos por alguns autores em temos de limites:
 
f (x)
o(g(x)) = f (x) | lim =0 ;
x→∞ g(x)
 
f (x)
ω(g(x)) = f (x) | lim =∞ .
x→∞ g(x)

6.3 Resolução de equações de recorrência


Seja (an ) uma sequência definida por uma relação de recorrência. Uma relação
de recorrência de i-ésima ordem é quando o termo an é definido em função dos
seus i antecessores. Há alguns métodos bem conhecidos para resolver equações
de recorrência. Uma explicação mais detalhada pode ser encontrada, por exem-
plo, no Capı́tulo 4, Seções 4.3 a 4.5 de [2].
O Teorema Mestre, resume a análise de vários casos de resolução de equações
de recorrência lineares de primeira ordem.
6.4. SÉRIES 61

Teorema 27 (Teorema Mestre). Sejam a, b ∈ N tais que a ≥ 1 e b > 1. Seja


f (n) : N → N e T (n) = a · T nb + f (n), onde nb pode ser interpretado como
b nb c ou d nb e. Então:
(a) se f (n) = O(nlogb (a−) ) para algum  > 0, então T (n) = Θ(nlogb a );
(b) se f (n) = Θ(nlogb a ), então T (n) = Θ(nlogb a log n);
(c) se f (n) = Ω(nlogb (a+) ) para algum  > 0, e se af ( nb ) ≤ cf (n) para algum
c < 1, então T (n) = Θ(f (n)).

6.4 Séries
Dada P
uma sequência (an ) de números reais, a sequência (sn ) definida como
n
sn = i=0 an é uma série. Dizemos que sn é a reduzida ou a soma parcial,
enquanto que a parcela an é o termo geral da série (sn ).
Deve-se notar que as séries podem ser definidas de maneira recursiva:
(
a0 , se n = 0;
sn =
sn−1 + an , caso contrário.
Como visto em vários exemplos do Capı́tulo 5, pode-se usar indução para
demonstrar uma fórmula para a soma parcial sn . Para tanto, é necessário obter
a fórmula, para poder aplicar a indução e verificar que a mesma está correta.
Para se obter a fórmula, nem sempre a tarefa é trivial. No caso de séries cujo
termo geral é um polinômio em n, podemos usar os números binomiais (vide
Capı́tulo 8, Página 78) para tanto.
Exemplo 6.2. Seja (sn ) a série definida pela soma dos quadrados do números
naturais de 0 a n, ou seja, a série cujo termo geral é an = n2 . Para encontrarmos
uma fórmula para a reduzida sn , a estratégia é converter o polinômio n2 em uma
soma de naturais consecutivos.
Note que n2 = n(n − 1) + n. Portanto:

n
X
sn = i2
i=0
n
X
= (i(i − 1) + i)
i=0
n
X n
X
= i(i − 1) + i
i=0 i=0
n n
X i(i − 1) (i − 2)! X i (i − 1)!
= 2! · · + 1! · ·
i=0
2! (i − 2)! i=0
1! (i − 1)!
n   n  
X i X i
= 2! · + 1! ·
i=0
2 i=0
1
"    n
#   n  
0 1 X i
0 X i
=2· + + + +
2 2 i=2
2 1 i=1
1
62 CAPÍTULO 6. SEQUÊNCIAS, RECORRÊNCIAS E SÉRIES

Sabemos que se n < k, então nk = 0. Além disso, usando o Teorema das




Colunas (vide Teorema 49, Página 78), deduzimos que:


"    n  
#   n  
0 1 X i 0 X i
sn = 2 · + + + +
2 2 i=2
2 1 i=1
1
    
n+1 n+1
=2· 0+0+ +0+
3 2
(n + 1)n(n − 1) (n + 1)n
=2· +
3·2·1 2·1
(n + 1)n[2(n − 1) + 3]
=
6
(n + 1)n(2n + 1)
=
6

6.5 Exercı́cios
Questão 35. Resolva as seguintes equações de recorrência:
(
0 , i = 1;
(a) ai =
an−1 + 4 , caso contrário.
(
0 , n = 1;
(b) T (n) =
T (n − 1) + 2n , caso contrário.

0
 , x = 0;
(c) f (x) = 4 , x = 1;

2f (x − 1) + 3f (n − 2) , caso contrário.

Questão 36. Sejam f e g funções assintoticamente não-negativas. Prove que


max(f (n), g(n)) = Θ(f (n) + g(n)).
Questão 37. Mostre que para quaisquer números reais constantes a e b tais
que b > 0, temos que (n + a)b = Θ(nb ).
Questão 38. É verdade que 2n+1 = O(2n )? E que 22n = O(2n )? Justifique.
(
Θ(1) ,n = 1
Questão 39. Mostre que se T (n) = , então T (n) =
2T (n/2) + Θ(n) , n > 1
Θ(n log n).
Capı́tulo 7

Enumerabilidade e
Diagonalização

Neste capı́tulo, na busca de comparar o tamanho de conjuntos (não necessari-


amente finitos), demonstraremos se existem funções bijetivas entre os mesmos.
Na Seção 7.1 mostramos bijeções de diversos conjuntos a conjuntos finitos ou
ao conjunto do números naturais. Em seguida, na Seção 7.2, mostramos uma
técnica para demonstrar que tais bijeções não existem. Finalmente, na Seção 7.3,
mostramos uma ferramenta poderosa para encontrarmos bijeções entre conjun-
tos arbitrários.

7.1 Idempotência aos Naturais


Ao compararmos conjuntos, sobretudo quando estes não são finitos, buscare-
mos encontrar uma função bijetiva entre eles para estimarmos que ambos tem
“o mesmo tamanho”. Esta noção de tamanho é formalizada pela noção de
idempotência.

Definição 44. Dizemos que um conjunto A é idempotente a um conjunto B se


existir uma função bijetiva f : A → B. Neste caso, denotamos A ∼ B.

A noção de idempotência reflete a noção de “igualdade” de “tamanho”. Não


à toa, tal relação entre conjuntos é uma relação de equivalência:

Teorema 28. Seja F uma famı́lia qualquer. Então, ∼ é uma relação de equi-
valência em F.

Demonstração. Pela Definição 26, devemos mostrar que ∼ é reflexiva, simétrica


e transitiva em F.
Seja F ∈ F. Note que F ∼ F já que idF é uma função bijetiva de F em F .
Portanto, ∼ é uma relação reflexiva.
Sejam F1 , F2 ∈ F. Suponha que F1 ∼ F2 . Pela Definição 44, seja f : F1 →
F2 uma função bijetiva. Logo, pelo Corolário 1, f −1 : F2 → F1 é função bijetiva
e então F2 ∼ F1 . Por conseguinte, ∼ é simétrica.
Suponha finalmente F1 , F2 , F3 ∈ F tais que F1 ∼ F2 e F2 ∼ F3 . Pela De-
finição 44, sejam f : F1 → F2 e g : F2 → F3 funções bijetivas. Pelo Teorema 13,

63
64 CAPÍTULO 7. ENUMERABILIDADE E DIAGONALIZAÇÃO

deduzimos que g ◦ f : F1 → F3 é função bijetiva. Consequentemente, F1 ∼ F3 e


∼ é transitiva.

O Teorema 13 usado na demonstração do Teorema 28 é essencial ao longo


deste capı́tulo.
Como é de se esperar, dois conjuntos finitos serão idempotentes, se suas
cardinalidades forem iguais:
Teorema 29. Sejam A e B conjuntos finitos. Então A ∼ B se, e somente se,
|A| = |B|.
Demonstração. Já que A e B são finitos, pela Definição 38 na Página 51, sejam
n, m ∈ N tais que |A| = n e |B| = m. Ou seja, existem bijeções fA : In → A e
fB : Im → B.
Assuma primeiro que A ∼ B e, por esta hipótese, considere uma função
bijetiva g : A → B. Note que g −1 ◦ fB é uma função bijetiva de Im em A e,
portanto, |A| = n = m = |B|.
Suponha agora que |A| = n = m = |B|. Note que fB ◦ fA−1 é função bijetiva
de A em B e, portanto, A ∼ B.
Além disso, não há bijeção entre um conjunto finito e um conjunto infinito:

Teorema 30. Sejam A e B dois conjuntos. Se A é finito e A ∼ B, então B é


finito e |A| = |B|.
Demonstração. Sejam n ∈ N e f : In → A uma função bijetiva, uma vez que A
é finito. Como A ∼ B, seja g : A → B uma função bijetiva. Note que g ◦ f é
uma função bijetiva de In em B. Portanto, B é finito e |B| = n = |A|.

Ao estudarmos conjuntos infinitos, primeiro nos questionaremos quais con-


juntos são idempotentes aos naturais. Tais conjuntos chamaremos de enu-
meráveis.
Definição 45. Dizemos que um conjunto A é enumerável se A ∼ N.

Definição 46. Um conjunto A é dito contável se A é finito ou A é enumerável.


Um conjunto que não é contável é chamado de incontável.
Da Definição 46, note que um conjunto incontável é um conjunto infinito e
não-enumerável.
É importante salientar que essa nomenclatura não é uniformizada. Há di-
versos livros nos quais a definição de enumerável é a de um conjunto finito ou
idempotente aos naturais. Nestes livros, em geral, não se usa a definição de
contável.
Teorema 31. N, N∗ , Z e N∗ × N∗ são enumeráveis.
Demonstração. Pela Definição 45, devemos demonstrar bijeções destes conjun-
tos com o conjuntos dos naturais. Deixamos ao leitor o exercı́cio de provar que
as funções apresentadas a seguir são de fato bijetivas.
O fato que N é enumerável é trivial. Basta observar que a função identidade
idN : N → N é bijetiva.
Para mostrar que N∗ é enumerável, pode-se usar a função f : N∗ → N tal
que f (n) = n − 1.
7.1. IDEMPOTÊNCIA AOS NATURAIS 65

Para demonstrarmos que Z é enumerável, um exemplo de função bijetiva


g : Z → N é a seguinte:
(
2z, se z ≥ 0;
g(z) =
−2z − 1, caso contrário.

Um caminho para demonstrarmos que N∗ × N∗ é enumerável, é usar a in-


formação anterior de que existe uma função bijetiva f : N∗ → N. Note que a
seguinte função h : N∗ × N∗ → N∗ é bijetiva:

(i + j − 2)(i + j − 1)
h(i, j) = + i.
2
Logo, observe que a função f ◦ h : N∗ × N∗ → N é bijetiva, pelo Teorema 13.

Teorema 32. Sejam A, B, C e D conjuntos tais que A ∼ B e C ∼ D. Então:

(a) A × C ∼ B × D;

(b) Se A ∩ C = ∅ e B ∩ D = ∅, então A ∪ C ∼ B ∪ D.

Demonstração. Como A ∼ B e C ∼ D, sejam f : A → B e g : C → D funções


bijetivas.
Tome h : A × C → B × D como:

h(a, c) = (f (a), g(c)).


Vamos provar que a função h é bijetiva e, portanto, A × C ∼ B × D.
Sejam (a, c), (a0 , c0 ) ∈ A × C quaisquer. Suponha que h(a, c) = h(a0 , c0 ).
Pela definição da função h, temos que (f (a), g(c)) = (f (a0 ), g(c0 )). Ou seja,
f (a) = f (a0 ) e g(c) = g(c0 ). Como as funções f e g são injetivas, deduzimos que
a = a0 e c = c0 . Portanto, (a, c) = (a0 , c0 ) e deduzimos que h é injetiva.
Seja (b, d) ∈ B × D arbitrário. Como f e g são sobrejetivas, existem a ∈ A e
c ∈ C tais que f (a) = b e g(c) = d. Logo, note que h(a, c) = (f (a), g(b)) = (b, d).
Consequentemente, h é sobrejetiva.
Suponha agora que A ∩ C 6= ∅ e que B ∩ D 6= ∅. Devemos mostrar que existe
uma função ` : A ∪ C → B ∪ D bijetiva. Tome ` como sendo a função:
(
f (x), se x ∈ A;
`(x) =
g(x), caso contrário.

Vamos provar que ` é bijetiva. Sejam x, y ∈ A ∪ C tais que `(x) = `(y). Como
A ∩ C = ∅, os seguintes casos podem ocorrer:

• Caso 1: x, y ∈ A. Neste caso, note que, pela definição de ` e pela hipótese


de `(x) = `(y), temos que f (x) = f (y). Como f é injetiva, deduzimos que
x = y.

• Caso 2: x, y ∈ C. O raciocı́nio é análogo ao anterior.

• Caso 3: x ∈ A e y ∈ C. Como x ∈ A, temos que `(x) = f (x) ∈ B.


Analogamente, `(y) = g(y) ∈ D. Como B ∩ D = ∅, esse caso sequer pode
ocorrer, uma vez que `(x) = `(y).
66 CAPÍTULO 7. ENUMERABILIDADE E DIAGONALIZAÇÃO

• Caso 4: x ∈ C e y ∈ A. Análogo ao anterior.

Logo, deduzimos que ` é injetiva.


Para demonstrarmos que ` é sobrejetiva, tome x ∈ B ∪ D. Se x ∈ B, como f
é sobrejetiva, existe a ∈ A tal que f (a) = `(a) = x. De modo análogo, podemos
analisar o caso em que x ∈ D. Logo, ` é sobrejetiva.

Teorema 33. Se A ∼ B, então P(A) ∼ P(B).

Demonstração. Seja f : A → B uma função bijetiva. Defina g : P(A) ∼


P(B) tal que g(S) = {f (a) | a ∈ S}. Vamos provar que g é bijetiva. Sejam
S, S 0 ∈ P(A) tais que S 6= S 0 . Sem perda de generalidade, assuma que existe
a ∈ S \ S 0 . Logo, f (a) ∈ g(S), mas f (a) ∈
/ g(S 0 ). Portanto, g(S) 6= g(S 0 ) e,
consequentemente, g é injetiva. Seja R ∈ P(B). Como f é bijetiva, seja S ⊆ A
tal que S = {a ∈ A | ∃b ∈ R(f −1 (b) = a)}. Pela definição de g, note que
g(S) = R e, portanto, g é sobrejetiva.

Corolário 2. N × N e Z × N∗ são enumeráveis.

Demonstração. Pelo Teorema 31, sabemos que N∗ ∼ N. Tomando A = C = N∗


e B = D = N, deduzimos, pelo Teorema 32, que N∗ × N∗ ∼ N × N. Como
N∗ × N∗ ∼ N, pelo Teorema 31, deduzimos que N × N ∼ N, pela transitividade
da relação de equivalência de idempotência, demonstrada no Teorema 28.
De modo análogo, pelos Teoremas 31 e 32, podemos deduzir que Z×N∗ ∼ N,
ao usarmos que Z ∼ N e N∗ ∼ N.

Definição 47. Seja A um conjunto qualquer. Então, para k ∈ N∗ , defina:


(
A , k = 1;
Ak = k−1
A × A , k ≥ 2.

Teorema 34. Para todo k ∈ N∗ , Nk e Zk são conjuntos enumeráveis.

Demonstração. Vamos demonstrar, por indução em k que Nk e Zk são enu-


meráveis.
Caso base: k = 1. Nesse caso, Nk = N e Zk = Z são enumeráveis, pelo
Teorema 31.
Hipótese indutiva: suponha que Nk e Zk são enumeráveis, para algum k ≥ 1.
Passo indutivo: seja k ∈ N∗ . Vamos provar que Nk+1 e Zk+1 são enumeráveis.
Pela Definição 47, temos que Nk+1 = Nk × N e Zk+1 = Zk × Z. Pela hipótese
indutiva, temos que Nk ∼ N. Pelo Teorema 31, temos que N∗ ∼ N. Usando a
simetria e a transitividade da relação ∼, demonstradas no Teorema 28, temos
que N ∼ N∗ e então que Nk ∼ N∗ . Pelo Teorema 32, deduzimos a partir das
hipóteses Nk ∼ N∗ e N ∼ N∗ , ao tomarmos A = Nk , C = N e B = D = N∗ ,
que Nk × N ∼ N∗ × N∗ . O Teorema 31 nos diz que N∗ × N∗ ∼ N. Logo, a
transitividade de ∼ implica que Nk+1 = (Nk × N) ∼ N. A demonstração que
Zk+1 também é enumerável é análoga.

Teorema 35. Se S ⊆ N, então S é contável.


7.1. IDEMPOTÊNCIA AOS NATURAIS 67

Demonstração. Se S for finito, não há o que provar. Suponha que S ⊆ N é


infinito. Vamos provar que existe função bijetiva f : S → N. Defina:
(
S, se i = 0;
Si =
Si−1 \ {mi−1 }, caso contrário.

onde mi = min{n ∈ N | n ∈ Si }, pelo Princı́pio da Boa Ordenação (Teorema 24).


Note, portanto, que S = {mi | i ∈ N}, já que todo elemento m ∈ S é o elemento
mı́nimo de S \ {n ∈ N | n < m}. Consequentemente, é direto observar que a
função f (mi ) = i é uma função bijetiva de S em N.

Teorema 36. Seja A um conjunto qualquer. As seguintes afirmações são equi-


valentes:

(i) A é contável;

(ii) A = ∅ ou existe função f : N → A sobrejetiva;

(iii) Existe função g : A → N injetiva.

Demonstração. Vamos primeiro provar a implicação (i) → (ii). Suponha que A


seja contável. Caso A seja finito, ou A = ∅, como requerido em (ii), ou existe
n ∈ N∗ e uma função bijetiva f : In → A. Assuma então que A 6= ∅ e seja
a ∈ A. Note que como f é bijetiva, a função
(
f (k), se 1 ≤ k ≤ n;
g(k) =
a, caso contrário;

é uma função sobrejetiva de N em A, uma vez que f ⊆ g.


Vamos agora provar (ii) → (iii). Suponha que A = ∅ ou que existe função
sobrejetiva f : N → A. Se A = ∅, note que a função g = ∅ é uma função
injetiva de A em N, por vacuidade. Suponha então que A 6= ∅. Por hipótese,
seja f : N → A uma função sobrejetiva. Pelo Princı́pio da Boa Ordenação
(Teorema 24, Página 55), denote por m(a) o elemento mı́nimo do conjunto
D(a) = {n ∈ N | f (n) = a}. Intuitivamente, D(a) é o subconjunto de elementos
do domı́nio de f cuja imagem é a (alguns autores denotariam D(a) = f −1 ({a})).
Dentre estes, m(a) é o menor natural cuja imagem é a. Como f é sobrejetiva,
note que D(a) 6= ∅ e que, portanto, m(a) é bem definido, para todo a ∈ A.
Considere a função g(a) = m(a) de A em N. Note que g é injetiva, pois, caso
contrário, existiria um número natural k = m(a) = m(b) tal que f (m) = a e
f (m) = b, para a 6= b. Contrariando a hipótese de f ser uma função.
Por último, demonstraremos que (iii) → (i). Seja g : A → N uma função
injetiva. Note que se considerarmos g como uma função de A em Im(A), então
g é função bijetiva de A em Im(A) e, portanto, A ∼ Im(A). Caso Im(A) seja
finito, então existirão n ∈ N e f : In → Im(A) bijetiva. A composição de g −1 ◦ f
será então uma função bijetiva de In em A, nos levando a concluir que A será
finito. Suponha então que Im(A) é infinito. Pelo argumento anterior e pelo
Teorema 30, deduzimos que A é infinito. Como Im(A) ⊆ N e Im(A) é infinito,
pelo Teorema 35, temos que Im(A) é enumerável. Logo, existe função bijetiva
f : Im(A) → N. Analogamente, f ◦ g será uma função bijetiva de A em N,
implicando neste caso que é A enumerável.
68 CAPÍTULO 7. ENUMERABILIDADE E DIAGONALIZAÇÃO

Teorema 37. Q é enumerável.

Demonstração. Pelo Corolário 2, seja g : Z×N∗ → N bijetiva. Seja f : Z×N∗ →


Q tal que:
p
f (p, q) = .
q
Note que f é sobrejetiva, pela própria definição do conjunto dos números raci-
onais. Logo, pelo Teorema 13, deduzimos que f ◦ g −1 é uma função sobrejetiva
de N em Q. Pelo Teorema 36, deduzimos que Q é enumerável, já que é um
conjunto contável infinito.

Corolário 3. Qk é enumerável, para todo k ∈ N∗ .

Demonstração. A prova é análoga à demonstração do Teorema 34.

Teorema 38. Se A e B são contáveis, então A × B e A ∪ B são contáveis.

Demonstração. Se A e B são contáveis, sejam f : A → N e g : B → N funções


injetivas, pelo Teorema 36. Como na demonstração do Teorema 32, podemos
observar que a função h : A × B → N × N onde h(a, b) = (f (a), g(b)) é injetiva.
De modo análogo ao Teorema 31, podemos demonstrar que N × N é enumerável.
Logo, existe função bijetiva g : N × N → N. Consequentemente, o Teorema 13
implica que g ◦ h é uma função injetiva de A × B em N e, portanto, A × B é
contável, pelo Teorema 36.
Vamos agora provar que A ∪ B é contável. Defina ` : A ∪ B → Z tal que:
(
f (x), se x ∈ A;
`(x) =
−g(x) − 1, se x ∈ B \ A.

Vamos provar que ` é injetiva. Sejam x, y ∈ A ∪ B tais que `(x) = `(y). Caso
`(x) = `(y) ≥ 0, pela definição de ` temos que f (x) = `(x) = `(y) = f (y). Como
f é injetiva, deduzimos que x = y. Caso `(x) = `(y) < 0, temos que −g(x)−1 =
`(x) = `(y) = −g(y) − 1. Portanto g(x) = g(y). Como g é injetiva, deduzimos
novamente que x = y. Logo, ` é injetiva. Pelo Teorema 31, existe uma função
bijetiva g 0 : Z → N. Pelo Teorema 13, note que g 0 ◦ ` : A ∪ B → N é uma função
injetiva. Logo, pelo Teorema 36, deduzimos que A ∪ B é contável.
S
Teorema 39. Se F é uma famı́lia contável de conjuntos contáveis, então F
é contável.
S
Demonstração. Se F = ∅, F = ∅ e portanto o resultado segue. Assuma então
que F 6= ∅.
0
S S 0
Caso ∅ ∈ F, note S que se F = F \ ∅, então F = F . Portanto, para
demonstrarmos que F é contável, vamos admitir que ∅ ∈ / F.
Como F é contável, seja f : N → F uma função sobrejetiva, pelo Teorema 36
e pela hipótese que F 6= ∅. Desse modo, podemos usar a função f para associar
a cada número natural, ou seja a cada ı́ndice i ∈ N, um elemento de F, f (i). Ou
seja, podemos descrever F = {F0 , F1 , F2 , . . .} (note que F pode ser um conjunto
finito).
Pelo mesmo argumento, como cada elemento Fi de F é contável e não-vazio,
podemos tomar uma função gi : N → Fi sobrejetiva. Isso nos permite indexar
7.2. O MÉTODO DA DIAGONALIZAÇÃO DE CANTOR 69

os elementos de Fi = {a0i , a1i , a2i , . . .} (novamente, observe que cada Fi pode ser
um conjunto finito). Note que F = {aji | i, j ∈ N}.
S

Defina h : N × N → F tal que h(i, j) = aji , ou seja h(i, j) é o elemento


S

gi (j) pertencente à Fi = f (i) ∈ F. Como F = {aji | i, j ∈ N}, observe que h


S
é sobrejetiva.
−1
S Corolário 2, seja ` : N × N → N uma função bijetiva. Note
Pelo S que h ◦ ` :
N → F é uma função sobrejetiva, pelo Teorema 13. Logo, F é contável,
pelo Teorema 36.

7.2 O método da diagonalização de Cantor


Teorema 40 (Cantor). P(N) é incontável.

Demonstração. Por absurdo, admita a existência de uma função f : N → P(N)


sobrejetiva. Seja Si ∈ P(N) tal que Si = f (i), para todo i ∈ N. Defina
S ∗ ∈ P(N) tal que i ∈ S ∗ se, e somente se, i ∈ / f (i), para todo i ∈ N.
Como f é sobrejetiva, existe j ∈ N tal que f (j) = S ∗ . Logo, S ∗ = S j . Note
que:
Caso 1: j ∈ S ∗ . Pela definição de S ∗ , deduzimos que j ∈ / f (j) = Sj = S ∗ , uma
contradição.
Caso 2: j ∈ / S ∗ . Novamente pela definição de S ∗ , como S ∗ = Sj = f (j) e

j ∈ S , temos que j ∈ / S ∗ . Temos novamente uma contradição.
Como não existe função sobrejetiva f : N → P(N) e P(N) 6= ∅, deduzimos
pelo Teorema 36 que P(N) é incontável.

Teorema 41. Para todo conjunto A, temos que A  P(A).

Demonstração. Por absurdo, seja f : A → P(A) uma função bijetiva. Defina


S ⊆ A tal que S ∗ = {a ∈ A | a ∈ / f (a)}. Como f é sobrejetiva, seja a∗ tal que
∗ ∗
f (a ) = S .
Caso 1: a∗ ∈ S ∗ . Pela definição de S ∗ , deduzimos que a∗ ∈/ f (a∗ ) = S ∗ , uma
contradição.
Caso 2: a∗ ∈ / S ∗ = f (a∗ ). Novamente pela definição de S ∗ , deduzimos que
∗ ∗
a ∈ S , novamente uma contradição.

Teorema 42. R é incontável.

Demonstração. Seja f : P(N) → R tal que f (S) = 0, d0 d1 d2 . . . onde di = 1, se


i ∈ S, ou di = 2, caso contrário, para todo i ∈ N. Note que f é injetiva.
Por absurdo, suponha que R é contável. Pelo Teorema 36, seja g : R → N
uma função injetiva. Pelo Teorema 13, deduzimos que g ◦ f : P(N) → N é
uma função injetiva, logo P(N) é contável, pelo Teorema 36. Isso contradiz o
Teorema 40.

Corolário 4. O conjunto dos números irracionais R \ Q é incontável.

Demonstração. Pelo Teorema 37, temos que Q é um conjunto contável. Por


absurdo, suponha que R \ Q é contável. Pelo Teorema 38, deduzimos que Q ∪
R \ Q = R é contável, contradizendo o Teorema 42.
70 CAPÍTULO 7. ENUMERABILIDADE E DIAGONALIZAÇÃO

7.3 O Teorema de Cantor-Schröder-Bernstein


Definição 48. Se A e B são conjuntos, então dizemos que B domina A se
existir uma função injetiva f : A → B. Nesse caso, denotamos por A - B.
Dizemos ainda que B domina estritamente A se A - B e A  B.

Teorema 43 (Cantor-Shröder-Bernstein). Sejam A e B conjuntos quaisquer.


Se A - B e B - A, então A ∼ B.

Demonstração. Sejam f : A → B e g : B → A funções injetivas. Observe que a


função g : B → Im(g) é bijetiva, logo g −1 : Im(g) → B existe e a utilizaremos.
Defina: (
A \ Im(g) , se i = 1;
Ai =
g(f (Ai−1 )) , caso contrário;
onde g(f (Ai )) = {a ∈ A | ∃a0 ∈ Ai (g(f (a0 )) = a)}. Defina X = i∈N∗ Ai e
S
Y = A \ X. Defina:
(
f (a) , se a ∈ X;
h(a) = −1
g (a) , caso contrário.

Vamos provar que h é bijetiva e, portanto, A ∼ B. Vamos primeiro argumentar


que h é injetiva. Sejam a, a0 ∈ A tais que h(a) = h(a0 ).
Caso 1: a ∈ X e a0 ∈ Y . Logo, pela definição da função h, temos que
f (a) = h(a) = h(b) = g −1 (b). Consequentemente, g(f (a)) = g(g −1 (b)) = b.
Como a ∈ X, pela definição de X deduzimos que a ∈ An , para algum n ∈ N∗ .
Logo, pela definição de Ai , concluı́mos que b ∈ An+1 ⊆ X. Como X ∩ Y = ∅,
deduzimos que este caso não ocorre.
Caso 2: a, a0 ∈ X. Neste caso, temos que f (a) = h(a) = h(b) = f (b) e
deduzimos que a = a0 pela injetividade de f .
Caso 3: a, a0 ∈ Y . Concluı́mos que g −1 (a) = h(a) = h(b) = g −1 (b). Portanto,
a = a0 pela injetividade de g −1 .
Vamos agora demonstrar que h é sobrejetiva. Seja b ∈ B arbitrário.
Caso 1: g(b) ∈ X. Pela definição de X, seja n ∈ N∗ tal que g(b) ∈ An .
Como A1 = A \ Im(g), observe que n ≥ 2. Logo, existe a ∈ An−1 tal que
g(f (a)) = g(b). Pela injetividade de g, deduzimos que f (a) = b. Além disso,
como a ∈ An−1 ⊆ X, temos que h(a) = f (a) = b.
Caso 2: g(b) ∈ Y . Nesse caso, note que h(g(b)) = g −1 (g(b)) = b.

Corolário 5. R ∼ P(N).

Demonstração. Na demonstração do Teorema 42 apresentamos uma função in-


jetiva f : P(N) → R, logo P(N) - R.
Para mostrarmos uma função injetiva g : R → P(N), vamos primeiro provar
que: para todo par x, y ∈ R tais que x < y, existe q ∈ Q tal que x ≤ q ≤ y.
1
Seja k ∈ Z qualquer inteiro tal que k > y−x . Como y > x, note que k ≥ 1.
1
Além disso, k < y − x. Sejam m, n ∈ Z quaisquer inteiros tais que m < x < n.
Defina S = j ∈ N | m + kj > x . Note que m + k(m−n)

k = n > x. Logo S ⊆ N
e S 6= ∅. Pelo Princı́pio da Boa Ordenação 24, seja j ∗ o elemento mı́nimo de S.
Como m < x, então m + k0 < x. Portanto, j ∗ ≥ 1. Pela minimalidade de j ∗ ,
∗ ∗ ∗
temos que m + jk > x e m + j k−1 ≤ x. Seja q = m + jk . Note que q ∈ Q, já
7.4. EXERCÍCIOS 71

que m, j ∗ , k ∈ Z e k > 0. Já observamos que q > x. Note também que, como
j ∗ ≥ 1, k > 0 e k1 < y − x, temos:

j∗ j∗ − 1 1
x<q =m+ =m+ + < x + (y − x) = y.
k k k
Defina g : R → P(Q) tal que g(x) = {q ∈ Q | q < x}. Pela afirmação
anterior, note que se x, y ∈ Q e x < y, então g(x) é subconjunto próprio, e
portanto distinto, de g(y). Logo, g é injetiva. Pelos Teoremas 33 e 37, temos
que P(Q) ∼ P(N). Logo, seja h : P(Q) → P(N) uma função bijetiva. Note que
h ◦ g : R → P(N) é injetiva, pelo Teorema 13, e portanto R - P(N).
Como P(N) - R e R - P(N), temos que P(N) ∼ R, pelo Teorema 43.

7.4 Exercı́cios
Questão 40. Prove ou apresente um contra-exemplo para as seguintes afirmações:
(a) Para todos n e m naturais, se In ∼ Im , então n = m.

(b) Se A é finito, então existe um único n ∈ N tal que In ∼ A.


(c) Suponha que A e B são conjuntos e que A é finito. Prove que A ∼ B se, e
somente se, B é finito e |A| = |B|.
(d) (Princı́pio da Casa dos Pombos) Suponha que A e B são conjuntos
finitos e seja f : A → B. Logo, se |A| > |B|, então f não é injetiva.

(e) Se B ⊆ A e A é contável, então B é contável.


(f) Se B ⊆ A e A e B são infinitos, então A \ B é infinito.
(g) Se A é enumerável e R é ordem parcial em A, então R pode ser estendida
a uma ordem total de A.
Dica: Veja questão 17 da seção 7.1 do Livro “How to prove it”.

(h) Se A e B são finitos, então A × B é finito e |A × B| = |A| · |B|.


(i) (R \ Q) ∼ R

Questão 41. Prove que os seguintes conjuntos são enumeráveis:


(a) O conjunto de todos os números inteiros pares
(b) Z × N
(c) O conjunto de potências de base 2.
72 CAPÍTULO 7. ENUMERABILIDADE E DIAGONALIZAÇÃO
Capı́tulo 8

Análise Combinatória

O Princı́pio da Adição afirma que:

Teorema 44. Se A e B são conjuntos tais que A ∩ B = ∅, |A| = a e |B| = b,


então |A ∪ B| = a + b.

Ou seja, se devemos contar de quantas formas podemos escolher um objeto


ou tomar uma decisão, dentre as possı́veis escolhas em A ou em B, sabendo que
A e B não tem interseção, então podemos fazer essa escolha de a + b modos.
Já o Princı́pio da Multiplicação é útil para contar de quantas formas po-
demos escolher um objeto, ou tomar uma decisão, em A e um(a) outro(a) em
B.

Teorema 45. Se A e B são conjuntos tais que |A| = a e |B| = b, então


|A × B| = a · b.

Basta ver que a quantidade de modos para se escolher um elemento em A e


outro em B corresponde à quantidade de pares ordenados de A × B.
Exemplo 8.1. Para se fazer o trajeto Rio-SP-Rio, pode-se usar 4 meios de
transporte: carro, avião, ônibus e trem. De quantas formas pode-se escolher os
transportes de modo que não se use o mesmo meio de transporte na volta que
o utilizado na ida? ♦ 4 × 3 = 12.
Exemplo 8.2. Deve-se colorir uma bandeira com quatro listras paralelas de
cores preto, branco e amarelo. De quantos modos podemos colorir a bandeira?
♦ 3 × 2 × 2 × 2 = 24.
Exemplo 8.3. Quantos são os números naturais (na base 10) com exatamente
três algarismos? ♦ 9 × 9 × 8 = 648.
Exemplo 8.4. Quantos são os números naturais com exatamente quatro alga-
rismos (na base 10) que sejam menores que 5000, divisı́veis por 5 e escritos com
apenas os algarismos 2,3,4 e 5? ♦ 3 × 4 × 4 × 1 = 48.
Exemplo 8.5. Quantos são os números naturais pares (na base 10) com exa-
tamente três elementos? ♦ Com zero na última posição: 1 × 9 × 8 = 72.
Caso contrário: 4 × 8 × 8 = 256. Total: 328. Outra forma, contar com zero na
primeira posição e depois descontar: 5 × 9 × 8 − 1 × 4 × 8 = 328.

73
74 CAPÍTULO 8. ANÁLISE COMBINATÓRIA

8.1 Permutações Simples


Número de formas de ordenar os objetos de um conjunto com n elementos (em
fila):
Pn = n!.

Exemplo 8.6. Quantos são os anagramas de “PRÁTICO” que começam e


terminam por consoante? ♦ 4 × 3 × 5! = 1440.
Exemplo 8.7. De quantos modos podemos formar uma roda com cinco crianças?
♦ 5!
5 = 4! = 24.

Exemplo 8.8. De quantos modos pode-se colocar cinco rapazes e cinco moças
em cinco bancos de modo que em cada banco fique um casal? (Considerar que
assentos dos bancos são numerados.) ♦ 10 × 8 × 6 × 4 × 2 × 5! = 460800.
Exemplo 8.9. Número de formas de separar oito pessoas em dois grupos de
8!
quatro? ♦ 2×4!×4! = 35.

8.2 Permutações Circulares


Número de modos de ordenar os objetos de um conjunto com n elementos em
cı́rculo, ou seja, considerando o último elemento vizinho do primeiro:

n!
(PC)n = = (n − 1)!.
n

Exemplo 8.10. Qual a quantidade de rodas de ciranda a serem formadas com


8 crianças? ♦ (PC)8 = 7!.
Exemplo 8.11. De quantos modos podemos colocar n casais para sentar em
cı́rculo, de modo que cada pessoa sente ao lado de seu par? ♦
(PC)n · 2n = (n − 1) · 2n .

8.3 Permutações com Repetições


Seja n = p1 + . . . + pn , onde pi ∈ N, para todo i ∈ In . O número de modos
que podemos ordenar (em fila) p1 cópias do objeto a1 , p2 cópias de a2 , . . . , pn
cópias de an é:
n!
Pnp1 ,...,pn = .
p1 ! · . . . · pn !

Exemplo 8.12. Quantos são os anagramas da palavra MATEMÁTICA? ♦


P2,3,2,1,1,1
10 = P2,3,2
10
10!
= 2!·3!·2! .
Exemplo 8.13. Observe a grade representada na Figura 8.1. Uma partı́cula
deve se mover de a para b sempre se movendo para a direita e para cima.
Quantos caminhos a partı́cula pode usar para:

(a) se mover de a para b?

(b) se mover de a para b passando por c?


8.4. PRINCÍPIO DA REFLEXÃO 75

Figura 8.1: Número de caminhos de a para b passando por c.

(a) Número de anagramas de DDDDDDDDCCCCCCCC. P8,8


16 .

(b) P93,6 · P5,2


7 .

8.4 Princı́pio da Reflexão


Considere que uma partı́cula se move sobre diagonais de uma grade, ou seja, de
uma posição (x, y) a mesma pode ir para posições (x + 1, y + 1) ou (x + 1, y − 1).
Uma primeira pergunta natural é: quantos são as trajetórias possı́veis da
partı́cula para que ela saia de (0, 0) a (8, 4)?
Veja na Figura 8.2 dois exemplos de percursos possı́veis: um em verde e um
em vermelho.
Veja que há apenas dois movimentos possı́veis. Se a partı́cula se mover de
(x, y) para (x + 1, y + 1), interpretaremos como um movimento de subida e
representaremos pela letra S. De modo análogo, um movimento de (x, y) para
(x + 1, y − 1) será representado pela letra D, por ser uma descida.
Observe também que a soma de subidas e descidas é 8 − 0 = 8, enquanto
que a diferença é 4 − 0 = 4. Logo, há uma bijeção entre tais trajetórias, e os
anagramas da palavra SSSSSSDD. Essa quantidade é P6,2 8 = 28.
Uma outra pergunta interessante é quantas trajetórias contém algum ponto
da reta y = −1 (podendo apenas tocá-la, ou mesmo atravessá-la).
Veja que ambos os caminhos vermelho e verde na Figura 8.2 devem ser
considerados, já que ambos tocam a reta y = 1.
76 CAPÍTULO 8. ANÁLISE COMBINATÓRIA

(8,4)

(0,0)

(0,-2)

Figura 8.2: Exemplos de deslocamentos da partı́cula.

Para contar tais caminhos, usaremos o Princı́pio da Reflexão. Tal princı́pio


observa que já uma bijeção entre tais caminhos, e os caminhos obtidos por uma
reflexão sobre a reta y = −1.
Desse modo, o ponto de partida agora será a reflexão do ponto de partida
sobre a reta y = −1. Portanto, no lugar de partirmos de (0, 0), consideraremos
caminhos que partem de (0, −2). Além disso, refletiremos sobre a reta y = −1
todos os movimentos até o primeiro momento em que a reta y = −1 for tocada.
Essa reflexão sobre o caminho vermelho está representada na Figura 8.2 pelas
setas tracejadas.
Portanto, para contarmos os caminhos de (0, 0) a (8, 4) que contém algum
ponto da reta y = −1, contaremos o número de caminhos de (0, −2) a (8, 4).
Para tanto, devemos contar o número de anagramas da palavra SSSSSSSD
que é P7,1
8 = 8.

8.5 Arranjos
Número de modos de escolher p objetos de um conjunto com n objetos de modo
ordenado é:
n!
Apn = n · (n − 1) · . . . · (n − p + 1) = .
(n − p)!

Exemplo 8.14. Em uma corrida há 10 competidores. De quantos modos pode-


mos formar um pódio de premiação, sabendo que os 3 melhores são premiados?
♦ A310 = 10!
7! = 10 · 9 · 8 = 720.
8.6. COMBINAÇÕES SIMPLES 77

8.6 Combinações Simples


Número de modos de escolher um subconjunto (ou seja, a ordem entre os ele-
mentos não importa) com p elementos em um conjunto que possui n elementos:
 
p n n · (n − 1) · . . . · (n − p + 1) n!
Cn = = = .
p p · (p − 1) · . . . · 1 p!(n − p)!

Exemplo 8.15. Sejam R e R0 duas retas paralelas (distintas). Dados cinco


pontos (distintos) em R e oito (distintos) em R0 , quantos são os triângulos cujos
vértices são esses pontos? ♦ C25 ×8 + C28 ×5 = 220.
Exemplo 8.16. Número de formas de separar oito pessoas em dois grupos de
C4
quatro? ♦ 28 = 35.

8.7 Combinações Completas


O número de soluções para a equação x1 + . . . + xn = p, onde xi ∈ N para todo
i ∈ In é:
 
(n−1),p (n + p − 1)! n+p−1
CRpn = Pn+p−1 = = .
(n − 1)! · p! p
Note que as soluções dessa equação podem ser interpretadas o número de
modos de se formar um conjunto com p objetos, quando se pode tomar com
repetições os elementos a1 , . . . , an , de modo que xi corresponde ao número de
cópias de ai , para todo i ∈ In .
Para se deduzir a fórmula, basta observar que existe uma bijeção entre essas
soluções e o número de anagramas de B . . . BT . . . T , com p B’s e (n − 1) T ’s. A
quantidade de B’s antes do primeiro T corresponde a x1 , a quantidade de B’s
entre o primeiro e o segundo T ’s corresponde a x2 , e assim sucessivamente.
Exemplo 8.17. De quantos modos podemos comprar 5 carros em uma loja
que possui 3 modelos? ♦ CR53 = P72,5 = C27 = 21.

8.8 Lemas de Kaplansky


O número de subconjuntos de In com p elementos sem números consecutivos é:
 
n−p+1
f(n, p) = Cpn−p+1 = .
p
Para entender a fórmula acima, note que cada subconjunto pode ser represen-
tado como uma sequência de S’s e N’s, com n caracteres, representando na
posição i da sequência, se o elemento i ∈ N∗ pertence ou não ao subconjunto.
Para garantir que não haja dois S’s consecutivos, primeiro coloca-se os n − p
N’s e então há n − p + 1 posições entre os N’s (incluindo antes do primeiro N e
depois do último N) para alocarmos os S’s dentre as quais devemos escolher p.
Já o número de subconjuntos de In com p elementos sem números consecu-
tivos ao considerarmos que 1 e n são consecutivos é:
 
n n−p
g(n, p) = f(n − 3, p − 1) + f(n − 1, p) = .
n−p p
78 CAPÍTULO 8. ANÁLISE COMBINATÓRIA

Para a compreensão da fórmula acima, note que basta analisarmos dois casos:
quantos destes subconjuntos contém o número 1, e quantos não contém.

8.9 Propriedades dos Números Binomiais


Os valores de np são conhecidos como números binomiais, coeficientes binomiais


ou números combinatórios.
Como np corresponde ao número de subconjuntos com p elementos de um
conjunto que possui n elementos, podemos deduzir que np = 0 se p < 0 ou


p > n.
Os números binomiais são representados pelo Triângulo de Pascal:
0

1 0

1 1
 
1 1 0 1

1 2 1 2 2 2
  
0 1 2

1 3 3 1 3 3 3 3
   
0 1 2 3

1 4 6 4 1 4 4 4 4 4
    
0 1 2 3 4

1 5 10 10 5 1 5
 5
 5
 5
 5
 5

0 1 2 3 4 5

1 6 15 20 15 6 1 6
 6
 6
 6
 6
 6
 6

.. 0 1 2 3 4 5 6
. ..
.

Teorema 46 (Relação de Stifel). Para todos p, n ∈ N, temos que:


     
n n−1 n−1
= + .
p p p−1
Teorema 47 (das Relações Complementares).
   
n n
= .
p n−p
Teorema 48 (das Linhas).
n  
X n
= 2n .
p=0
p

Teorema 49 (das Colunas).


p    
X n+k n+p+1
= .
n n+1
k=0

Teorema 50 (das Diagonais).


p    
X n+k n+p+1
= .
0+k p
k=0
n n n n
Teorema 51. Se p < n−1 n−1
   
2 , então p < p+1 e se p > 2 , então p > p+1 .
8.10. PRINCÍPIO DA INCLUSÃO-EXCLUSÃO 79

8.9.1 Binômio de Newton


Teorema 52. Para quaisquer a, b ∈ R e para qualquer n ∈ N, temos que:
n  
n
X n i n−i
(a + b) = ab .
i=0
i

8.9.2 Polinômio de Leibniz


Teorema 53. Para quaisquer x1 , . . . , xn ∈ R e para qualquer n ∈ N, temos que:
X n!
(x1 + . . . + xn )n = xi1 xi2 · . . . · xinn ,
i1 ! · . . . · in ! 1 2
sabendo que a soma é efetuada para as soluções inteiras não-negativas de i1 +
. . . + in = n.

8.10 Princı́pio da Inclusão-Exclusão


Teorema 54. Seja Ω um conjunto finito qualquer. Sejam A1 , . . . , An subcon-
juntos de Ω. Defina:
S0 = |Ω|
X
S1 = |Ai |
i∈In
X
S2 = |Ai ∩ Aj |
i,j∈In ,i<j
X
S3 = |Ai ∩ Aj ∩ Ak |
i,j,k∈In ,i<j<k
..
.
Sn = |A1 ∩ . . . ∩ An |.
Então:
(a) O número de elementos que pertencem a pelo menos um dos conjuntos
A1 , . . . , An é:
| ∪i∈In Ai | = S1 − S2 + S3 − . . . (−1)n+1 Sn ;

(b) O número de elementos que pertencem a exatamente p dos conjuntos A1 , . . . , An ,


para qualquer p ∈ {0, . . . , n} é:
n−p
X
ap = (−1)k Ckp+k Sp+k ;
k=0

(c) O número de elementos que pertencem a pelo menos p dos conjuntos A1 , . . . , An ,


para qualquer p ∈ {0, . . . , n} é:
n−p
X
ap = (−1)k Ckp+k−1 Sp+k .
k=0
80 CAPÍTULO 8. ANÁLISE COMBINATÓRIA

8.11 Permutações Caóticas


Uma permutação de {1, . . . , n}, ou seja, uma ordem sobre In , é uma n-upla
σ = (a1 , . . . , an ), onde ai ∈ In e ai 6= aj sempre que i 6= j. Geralmente
denotamos ai por σ(i).
Uma permutação σ de In é caótica se σ(i) 6= i, para todo i ∈ In .
Exemplo 8.18. Veja que σ = (2, 1, 3) não é uma permutação caótica (de I3 ),
uma vez que σ(3) = 3. Veja também que as únicas permutações caóticas de I3
são: (2, 3, 1) e (3, 1, 2). ♦
O número de permutações caóticas de In é:
 
1 1 1 1 1
(D)n = n! − + − + . . . (−1)n .
0! 1! 2! 3! n!

Exemplo 8.19. Seja A um conjunto com n elementos.

(a) Quantas são as funções f : A → A tais que f (x) 6= x, para todo x ∈ A?

(b) Quantas são as funções bijetivas f : A → A tais que f (x) 6= x, para todo
x ∈ A?

(a) (n − 1)n .

(b) Dn

8.12 Princı́pio da Casa dos Pombos


Em sua versão mais simples, o princı́pio afirma que: “Se (pelo menos) n pombos
devem ser colocadas em (no máximo) n-1 casas, então existirá (pelo menos) uma
casa com (pelo menos) dois pombos.”
O mesmo princı́pio frequentemente chamado de Princı́pio de Dirichlet e no
lugar de se usar os termos “pombos” e “casas” usa-se “meias” e “gavetas”,
respectivamente. Também é comum a utilização abreviada como PCP.
Exemplo 8.20. Em um grupo com 8 pessoas, há pelo menos duas que nasceram
no mesmo dia da semana. ♦ Como há 7 dias na semana, segue direto do PCP.
Exemplo 8.21. Em um grupo com n pessoas, há sempre duas que conhece o
mesmo número de pessoas no grupo. ♦ Cada pessoa conhece de 0 a n − 1
outras pessoas. Porém, não é possı́vel ter no grupo pessoas que não conheçam
ninguém e pessoas que conheçam n − 1 outras ao mesmo tempo. Logo, há no
máximo n − 1 possı́veis valores de quantas pessoas cada pessoa conhece.
Uma versão mais geral do PCP segue da simples ideia que se a quantidade
de pombos for muito grande, então haverá não só um, mas vários pombos em
uma mesma casa.
“Se n pombos devem ser colocados em m casas, então haverá uma casa com
pelo menos n−1

m + 1 pombos.”
Exemplo 8.22. Em um grupo com 70 pessoas, há pelo menos 6 que fazem
69
aniversário no mesmo mês. ♦ Veja que b 12 c + 1 = 6.
8.13. EXERCÍCIOS 81

Em uma versão ainda mais refinada, observa-se que se a média de n números


inteiros for pelo menos um certo valor µ, então deve existir um desses números
que é maior ou igual a µ. P
ai
“Se colocamos ai pombos na casa i, para todo i ∈ In , e se µ = i∈Inn ,
então existe uma casa com pelo menos dµe pombos.”

8.13 Exercı́cios
Questão 42. De quantos modos 3 pessoas podem sentar-se em 5 cadeiras em
fila?
Solução. 2.1-5: 53 · 3! = 60.


Questão 43. O conjunto A tem 4 elementos e o conjunto B 7 elementos.


Quantas são as funções f : A → B? Quantas destas são injetoras? Agora
generalize sua resposta para |A| = m e |B| = n.
Solução. 2.1-7: 2401; 840.
Questão 44. Quantos são os números naturais de 4 dı́gitos que possuem ao
menos dois dı́gitos iguais?
Solução. 2.1-9: 4464.
Questão 45. De um baralho comum sacam-se sucessivamente 3 cartas sem
reposição. Quantas extrações são tais que a primeira é de copas, a segunda é
um rei e a terceira não é uma dama?
Solução. 2.1-13: 2350.
Questão 46. Escrevem-se os inteiros de 1 a 222 222. Quantas vezes o algarismo
0 é escrito?
Solução. 2.1-18: 108642.
Questão 47. Escrevem-se números usando-se 5 cinco dı́gitos em cartões, colo-
cando 0 no inı́cio caso necessário (Ex: 47 seria escrito como 00047). Como 0, 1
e 8 não se alteram de cabeça pra baixo, e como 9 pode virar 6 virando o cartão,
alguns cartões podem representar mais de um número. Qual é a quantidade
mı́nima de cartões para representar todos os números entre 1 e 99 999?
Solução. 2.1-23: 98475.
Questão 48. Quantos números de seis algarismos não tem três algarismos
consecutivos iguais?
Solução. Não tem no livro:
Total de números com 6 dı́gitos: 9 × 105 = 900000.
Total com exatamente 6 consecutivos iguais: 9, visto que não podem ser
todos iguais a zero.
Total com exatamente 5 consecutivos iguais: 162.
• Começando mais à esquerda: 9 × 9 = 81;
• Começando no segundo: 9 × 9 = 81;
82 CAPÍTULO 8. ANÁLISE COMBINATÓRIA

Total com exatamente 4 consecutivos iguais: 2349.

• Começando mais à esquerda: 9 × 9 × 10 = 810;

• Começando no segundo: 9 × 9 × 9 = 729;

• Começando no terceiro: 9 × 10 × 9 = 810;

Total com exatamente 3 consecutivos iguais: 30699.

• Começando no segundo: 9 × 9 × 9 × 10 = 7290;

• Começando no terceiro: 9 × 10 × 9 × 9 = 7290;

• Começando mais à esquerda ou no quarto: 9 × 9 × 10 × 10 + 9 × 10 × 10 ×


9 − 9 × 9 = 16119.

Consequentemente, a resposta será: 900000−9−162−2349−30699 = 866781.

Questão 49. De quantos modos é possı́vel sentar 7 pessoas em fila de modo


que duas pessoas especı́ficas, A e B, não fiquem juntas?

Solução. 2.2-3: 3600.

Questão 50. Quantas são as permutações dos números (1, · · · , 10) nas quais o
5 está à direita do 2 e à esquerda do 3? E se as posições não forem sucessivas?

Solução. 2.2-6: 604800.

Questão 51. Em um torneio, cada participante enfrenta todos os demais exa-


tamente uma vez. Se são jogadas 780 partidas, quantos participantes existem?

Solução. 2.3-6: 40.

Questão 52. Tem-se 5 pontos sobre uma reta R e 8 sobre uma reta R0 . Quantos
quadriláteros convexos com vértices em 4 destes 13 pontos existem?

Solução. 2.3-5: 280.

Questão 53. Seja Im = {1, · · · , m} e In = {1, · · · , n}, com m ≤ n. Quantas


funções f : Im → In são estritamente crescentes?
n

Solução. 2.3-7: m .

Questão 54. Quantos são os subconjuntos de {a1 , · · · , an } de tamanho p onde:


(a) a1 figura?
(d) a1 ou a2 figuram?
(b) a1 não figura?
(e) ou a1 ou a2 figura?
(c) a1 e a2 figuram?
n−1 n−1 n−2 n−2 n−2
    
Solução. 2.3-11: (a) p−1 ; (b) p ; (c) p−2 ; (d) 2 p−1 + p−2 ; (e)
n−2

p−1 .

Questão 55. Quantos são os anagramas da palavra CARAGUATATUBA?


Quantos começam por vogal?

Solução. 2.3-17: 12972960; 6985440.


8.13. EXERCÍCIOS 83

Questão 56. De quantas maneiras 5 meninos e 5 meninas podem formar uma


ciranda? E se não for permitido que duas crianças do mesmo sexo fiquem juntas?

Solução. 2.4-1: 2880.

Questão 57. Uma partı́cula, estando no ponto (x, y), pode mover-se para o
ponto (x + 1, y) ou (x, y + 1). Quantos caminhos a partı́cula pode tomar para,
estando no ponto (0, 0), chegar no ponto (a, b), onde a > 0 e b > 0?
(a+b)!
Solução. 2.5-3: a!b! .

Questão 58. Quantas são as soluções inteiras não negativas de x+y+z+w = 3?

Solução. 2.6-1: 20.

Questão 59. Quantos números entre 1 e 100000, inclusive, tem a propriedade:


cada dı́gito é menor ou igual ao seu sucessor?

Solução.
2.6-16: 2001.

Questão 60. Quantos números inteiros entre 1 e 1000 inclusive:

(a) São divisı́veis por pelo menos três dos números 2, 3, 7 e 10?

(b) Não são divisı́veis por nenhum dos números 2, 3, 7 e 10?

(c) São divisı́veis por exatamente um dos números 2, 3, 7 e 10?

(d) São divisı́veis por pelo menos um dos números 2, 3, 7 e 10?

Solução. 3.1-1: (a) 62; (b) 286; (c) 419; (d) 714.

Questão 61. Determine o número de permutações de (1, 2, 3, 4, 5, 6) onde o 4o


elemento é diferente de 4 e o 6o diferente de 6.

Solução. 3.1-6: 504.

Questão 62. Dizemos que uma permutação de (1, · · · , n) é caótica se, para
todo i ∈ {1, . . . , n}, o i-ésimo elemento é diferente de i. Quantas permutações
caóticas de (1, · · · , n) existem?
Pn
Solução. 3.2: Dn = n! i=0 (−1)i i!1 .

Questão 63. Seja A finito. Quantas são as funções f : A → A tais que a


equação f (x) = x não possui solução? Quantas dessas funções são bijetivas?

Solução. 3.2-1: (n − 1)n ; Dn .

Questão 64. Dois médicos devem examinar, durante a mesma hora, 6 paci-
entes, gastando 10 minutos com cada paciente. Cada um dos 6 pacientes deve
ser examinado pelos 2 médicos. De quantos modos pode ser feito um horário
compatı́vel?

Solução. 3.2-8: 190800.


84 CAPÍTULO 8. ANÁLISE COMBINATÓRIA

Questão 65. Há quatro grandes grupos de pessoas, cada um com mil membros.
Dois quaisquer desses grupos tem cem membros em comum. Três quaisquer
desses grupos têm dez membros em comum. E há uma pessoa em todos os
quatro grupos. Quantas pessoas há no total?

Solução. Não tem no livro:


   
4 4
|G1 ∪ . . . ∪ G4 | = 4 × 1000 − × 100 + × 10 − 1
2 3
= 4000 − 600 + 40 − 1
= 3439.

Questão 66. Um total de 63.127 candidatos compareceram a uma prova de


seleção onde cada questão era de múltipla escolha, havendo 5 alternativas por
questão. Considere a afirmação: pelo menos dois candidatos responderam de
modo idêntico as k primeiras questões. Para que valores de k esta afirmação será
sempre verdadeira? E se considerarmos 4 candidatos em vez de 2? Generalize
o resultado.

Solução. 3.5-2: 6.

Questão 67. Prove que todo subconjunto do conjunto {1, · · · , 2n} com n + 1
elementos possui um par de elementos tal que um divide o outro.

Solução. 3.5-6: Todo número pode ser escrito como 2x · t, onde t é ı́mpar.
Nesse conjunto há apenas n possı́veis valores para t.

Questão 68. Prove que em qualquer conjunto de 6 pessoas, sempre existem 3


que se conhecem, ou 3 que não se conhecem entre si.

Solução. Não tem no livro: Tome uma pessoa p1 qualquer. Pelo PCP, há pelo
menos três outras pessoas que conhecem p1 ou que não conhecem p1 . Suponha
que o primeiro caso ocorre. Se algum par dessas três pessoas se conhecer, o
resultado segue. Senão, também, já que elas não se conhecerão mutuamente. O
segundo caso é análogo.

Questão 69. Prove que todo número natural possui um múltiplo formado
somente com os algarismos 0 e 1.

Solução. 3.5-7: Tome os restos das divisões dos n números 1, 11, 111, 1111,
... por n.

Questão 70. De quantos modos é possı́vel colocar 8 torres brancas em um


tabuleiro de xadrez 8 × 8 de modo que nenhuma torre fique na diagonal branca
e não haja duas torres na mesma linha ou na mesma coluna?

Solução. 3.2-4: 14833.

Questão 71. 5 pessoas devem se sentar em 15 cadeiras colocadas em torno de


uma mesa circular. De quantos modos isso pode ser feito se não deve haver
ocupação simultânea de duas cadeiras adjacentes?

Solução. 3.3-1: 45360.


8.13. EXERCÍCIOS 85

Questão 72. Numa fila de cinema, m pessoas tem notas de R$ 5,00 e n (n < m)
pessoas tem notas de R$ 10,00. A entrada custa R$ 5,00. Quantas são as filas
que terão problemas de troco se a bilheteria começar a trabalhar sem troco?
Quantas são as filas que terão problemas de troco se a bilheteria começar a
trabalhar com duas notas de R$ 5,00?
n n(n−1)(n−2)
Solução. 3.4-1: m+1 (n + m)!; (n + m)! (m+3)(m+2)(m+1) .

Questão 73. Calcule


n   
X n
k2 .
k
k=0

n−2
Solução. 4.1-13: n(n + 1)2 .

Questão 74. Prove, usando um argumento combinatório, a fórmula de Euler:


          
m h m h m h m+h
+ + ... + = .
0 p 1 p−1 h 0 p

Solução. Quantas formas de escolher p elementos ao total dentre m de uma


primeira sacola e h de outra.
86 CAPÍTULO 8. ANÁLISE COMBINATÓRIA
Capı́tulo 9

Introdução à Teoria dos


Grafos

Um grafo G é definido por um par ordenado (V, E) e por uma função ϕ tais
que V e E são conjuntos quaisquer e ϕ associa a cada elemento de E um par
não-ordenado de elementos de V que não são necessariamente distintos.
Os elementos de V são chamados vértices e os elementos de E são chamados
de arestas. Comumente se omite a função ϕ da notação e denotamos por e = uv,
se u e v são os elementos de V associados a e, sendo e ∈ E.
Além disso, é frequente o uso da notação V (G) e E(G) para representar os
conjuntos V e E, respectivamente, quando os mesmos não estão definidos no
contexto.
Um grafo G é dito finito se V (G) e E(G) são conjuntos finitos. Neste
capı́tulo, somente faremos referência a grafos finitos.
Note que, formalmente, os grafos G1 = (V1 , ∅) e G2 = (V2 , ∅), onde V1 = {a}
e V2 = {b} são grafos distintos, uma vez que V1 6= V2 . Ao estudarmos grafos
normalmente estamos mais interessados em como os vértices estão conectados,
do que quais são os “nomes” dos vértices. Para evitar esse problema, a noção
de isomorfismo é essencial.

9.1 Isomorfismos
Para podermos formalmente ignorar os “nomes” dos vértices, precisamos ser
capazes de identificar quando dois grafos, apesar de não terem o mesmo conjunto
de vértices, têm a mesma estrutura. Esse formalismo é possı́vel através na noção
de isomorfismo de grafos.
Definição 49. Dois grafos G e H são ditos isomorfos se existe uma bijeção
f : V (G) → V (H) tal que uv ∈ E(G) se, e somente se, f (u)f (v) ∈ E(H).
Usamos a notação G ∼
= H para representar que G e H são isomorfos.
Teorema 55. Seja G uma famı́lia qualquer de grafos. A relação de isomorfismo
em G é uma relação de equivalência.
Como visto na Seção 4.2, existirá então uma partição de G em classes de
equivalência. Observe que os elementos de uma mesma classe de equivalência
são isomorfos, e, portanto, têm a mesma estrutura.

87
88 CAPÍTULO 9. INTRODUÇÃO À TEORIA DOS GRAFOS

Os argumentos usados a seguir não dependerão dos nomes dos vértices, mas
somente da estrutura do grafo. Dessa forma, o resultado servirá para qualquer
grafo na mesma classe de equivalência.
Dessa forma, nos referimos a um grafo sem rótulos como a classe de equi-
valência à qual esse grafo pertence. Todos os resultados a seguir são válidos
para grafos não rotulados.

9.2 Algumas definições básicas


O número de vértices de G é chamado de ordem de G e denotado por n(G), ou
simplesmente n quando G está claro no contexto. O número de arestas de G é
o tamanho de G e denotado por m(G), ou somente m.
Um grafo sem arestas é chamado de vazio. Um grafo vazio com apenas um
vértice é chamado de trivial .
Se e = uu, para algum u ∈ V (G) e e ∈ E(G), então dizemos que e é um laço.
Se e1 = uv, e2 = uv (observe que isso não implica que e1 = e2 , mas apenas
que a função ϕ não é injetiva) e e1 6= e2 , então dizemos que e1 e e2 são arestas
múltiplas. Um grafo G é simples se G não possui laços nem arestas múltiplas.
Se e = uv, então dizemos que u e v são as extremidades de e, que e é
incidente a u e a v e que u e v são adjacentes.
O grau de um vértice v ∈ V (G), denotado por dG (v), é o número de vezes
que u é extremidade de uma aresta de G. Note que um laço e = vv adiciona
duas unidades ao grau de v. Um vértice de grau zero é chamado de isolado.
A vizinhança de v ∈ V (G) em G, denotada por NG (v), é o conjunto de
vértices u ∈ V (G) para os quais existe uma aresta e = uv em E(G). Observe
que G é simples se, e somente se, |NG (v)| = dG (v), para todo v ∈ V (G).
Se G e H são grafos, dizemos que H é subgrafo de G se V (H) ⊆ V (G) e
E(H) ⊆ E(G).
Observação 9.3. Note que aqui usamos o mesmo sı́mbolo ⊆, que já havı́amos
definido anteriormente para a contenção de conjuntos, para denotar a relação
de subgrafo, com um evidente abuso de notação, já que as duas definições são
diferentes. Entretanto, as duas relações compartilham uma propriedade comum,
como vemos a seguir.

Teorema 56. Seja G uma famı́lia de grafos. Então, a relação de subgrafo é


uma ordem parcial em G.

H é um subgrafo gerador de G se H é subgrafo de G e V (H) = V (G). Se


S ⊆ V (G), então H é o subgrafo induzido por S se V (H) = S e E(H) = {e =
uv ∈ E(G) | u ∈ S e v ∈ S} e denotamos por H = G[S].
Um passeio é uma sequência v0 e1 v1 . . . vk−1 ek vk tal que ei = vi−1 vi , para
todo i ∈ {1, . . . , k}. Um passeio fechado é um passeio tal que v0 = vk . Uma
trilha é um passeio sem repetição de arestas, ou seja ei 6= ej , para todos i, j ∈
{1, . . . , k} com i 6= j. Um caminho é um passeio sem repetição de vértices e,
portanto, vi 6= vj , para todos i, j ∈ {0, . . . , k} com i 6= j. Também é comum
denotarmos um caminho por v0 , vn -caminho e considerarmos v0 e vn como as
extremidades do caminho. Um ciclo em G é um v0 , vn -caminho em que (se
permite e se exige que) v0 = vn .
9.4. GRAFOS EULERIANOS 89

O comprimento de um v0 e1 v1 . . . vk−1 ek vk passeio (e, consequentemente, tri-


lha, caminho, ciclo) é k. Um ciclo é dito ı́mpar se o seu comprimento é ı́mpar,
senão ele é par .
Um grafo que não possui ciclos é chamado de acı́clico ou floresta.
Um grafo é dito conexo se, para todos u, v ∈ V (G), existe u, v-caminho em
G. Se G não é conexo, o chamamos de desconexo.
H é uma componente de um grafo G se H é um subgrafo maximal conexo
de G. A maximalidade se refere a relação de subgrafo que é uma ordem parcial
na famı́lia de todos os subgrafos de G (vide Teorema 56).
Um subconjunto de vértices S ⊆ V (G) é um conjunto independente, ou
estável , se para todos u, v ∈ V (G) existe aresta e = uv. Dizemos que S é uma
clique se para todos u, v ∈ V (G) não existe aresta e = uv. Dado um grafo G,
denotamos por α(G) e ω(G) os tamanhos do maior conjunto independente e da
maior clique de G, respectivamente.

9.4 Grafos Eulerianos


Um dos resultados mais antigos que se modela com grafos é o problema de
pontes de Königsberg. Alguns autores citam como o trabalho que fundou a
área de Teoria dos Grafos.
O célebre matemático Leonhard Euler respondeu a questão se era possı́vel
atravessar todas as pontes da cidade de Königsberg uma única vez, retornando
a posição inicial, em 1736. Veja na Figura 9.1 uma representação das pontes da
cidade e o grafo associado.

Figura 9.1: Representação das pontes da cidade de Königsberg (atualmente


conhecida como Kaliningrado).

Um grafo G é Euleriano se G possui uma trilha fechada contendo todas as


arestas de G. Ou seja, um grafo é Euleriano se há um passeio fechado pelo qual
percorremos todas as suas arestas, passando por cada uma delas exatamente
uma vez.
Observe que na Figura 9.1 as arestas correspondem às pontes de Königsberg.
Portanto, Euler mostrou que tal percurso sobre as arestas no grafo a direta da
Figura 9.1 não existe, pois:

Teorema 57 (Euler, 1736). G é Euleriano se, e somente se, G possui no


máximo uma componente não trivial e todos os vértices de G têm grau par.
90 CAPÍTULO 9. INTRODUÇÃO À TEORIA DOS GRAFOS

9.5 Árvores
Um grafo acı́clico é chamado de floresta. Um grafo acı́clico e conexo é uma
árvore. Por definição, note que toda floresta é um grafo simples. Um vértice
de grau igual a um em uma floresta é chamado de folha. Um vértice que não é
uma folha em uma floresta é chamado de nó. Devido a nomenclatura em inglês,
geralmente usaremos a letra T para representar uma árvore.

Teorema 58. Se T é uma árvore e n(G) ≥ 2, então T possui pelo menos duas
folhas.

Teorema 59. Seja T um grafo. As seguintes afirmações são equivalentes:

(a) T é uma árvore;

(b) T é conexo e m(T ) = n(T ) − 1;

(c) T é acı́clico e m(T ) = n(T ) − 1;

(d) Para todos u, v ∈ V (T ) existe um único u, v-caminho.

Se árvores são grafos acı́clicos, há uma outra classe de grafos caracterizada
por restrições nos ciclos que possui.
Um grafo é dito bipartido se seu conjunto de vértices pode ser particionado
em no máximo dois conjuntos independentes.

Teorema 60 (König, 1936). G é bipartido se, e somente se, G não possui ciclos
ı́mpares.

9.6 Coloração de Grafos


Uma k-coloração (de vértices) de um grafo G = (V, E) é uma função c : V (G) →
{1, . . . , k}. Uma k-coloração é própria se c(u) 6= c(v), sempre que houver aresta
e = uv.
Note que uma k-coloração própria só é bem definida em um grafo sem laços.
Além disso, arestas múltiplas não trazem informações adicionais, quando se
busca obter uma coloração própria de um grafo. Portanto, quando se estuda
colorações próprias de grafos, admite-se que os grafos são simples.
Dado um grafo simples G = (V, E), o número cromático de G, denotado por
χ(G), é o menor número natural k tal que G admite uma k-coloração própria.
Se ∆(G) = maxv∈V (G) dG (v), então:

Teorema 61. Para todo grafo simples G, temos:

ω(G) ≤ χ(G) ≤ ∆(G) + 1.

Um grafo planar é um grafo que admite uma representação no plano sem


cruzamento de arestas. Um dos mais famosos resultados em Teoria dos Grafos
é o Teorema das Quatro Cores:

Teorema 62 (Appel & Haken, 1976). Se G é um grafo simples e planar, então


χ(G) ≤ 4.
9.7. EXERCÍCIOS 91

9.7 Exercı́cios
Questão 75. Seja G = (V, E) um grafo simples e defina δ(G) = min{dG (v) |
v ∈ V (G)}. Mostre que se δ(G) ≥ 2, então G possui um ciclo como subgrafo.
Questão 76. Seja G = (V, E) um grafo. Mostre que as seguintes afirmações
são equivalentes:
(i) G é uma árvore;
(ii) G é conexo e m(G) = n(G) − 1;
(iii) m(G) = n(G) − 1 e G não possui ciclos;

(iv) para todos u, v ∈ V (G), existe um único uv-caminho.


Questão 77. Uma k-coloração própria de um grafo G = (V, E) é uma função
c : V (G) → {1, . . . , k} tal que se uv ∈ E(G), então c(u) 6= c(v). Mostre que G
é bipartido se, e somente se, G possui uma 2-coloração própria.

Questão 78. Encontre um grafo G tal que χ(G) = 4 e ω(G) = 2.


Questão 79. Um grafo G é chamado de k-crı́tico, se χ(G) = k e, para todo
subgrafo próprio H ⊂ G, temos χ(H) < k. Mostre que se χ(G) ≥ k, então G
possui um subgrafo k-crı́tico.

Questão 80. Seja G um grafo e {S1 , . . . , Sχ(G) } uma partição de V (G) tal
que Si é um conjunto independente, para todo i ∈ {1, . . . , χ(G)}. Mostre que
para todo i ∈ {1, . . . , χ(G)}, existe v ∈ Si tal que NG (v) ∩ Sj 6= ∅, para todo
j ∈ {1, . . . , χ(G)} \ {i}.
92 CAPÍTULO 9. INTRODUÇÃO À TEORIA DOS GRAFOS
Apêndice A

Álgebra Booleana

Diferente da Álgebra Elementar, onde trabalhamos com números e as operações


de soma e multiplicação, em Álgebra Booleana, as variáveis só podem assumir os
valores 0 e 1 e possuı́mos três operadores básicos ∨, ∧ e ¬, sendo os dois primeiros
binários, enquanto que o terceiro é unário. Esses operadores satisfazem:

• x ∨ y = 1 se, e somente se, x = 1 ou y = 1;

• x ∧ y = 1 se, e somente se, x = 1 e y = 1;

• ¬x = 1 se, e somente se, x = 0.

Logo, uma fórmula em Álgebra Booleana possui como resultado 0 ou 1,


correspondendo ao valor verdade da fórmula.
Note também que, graças às Leis de DeMorgan, é suficiente definir o operador
de negação e um dos dois outros operadores, já que:

• x ∨ y = ¬(x ∧ y);

• x ∧ y = ¬(x ∨ y).

Leis
As seguintes leis de Álgebra Elementar são válidas para Álgebra Booleana,
quando fazemos a correspondência do operador ∨ com a adição e do operador
∧ com a multiplicação:

1. Associatividade de ∨ : x ∨ (y ∨ z) = (x ∨ y) ∨ z;

2. Associatividade de ∧ : x ∧ (y ∧ z) = (x ∧ y) ∧ z;

3. Comutatividade de ∨ : x ∨ y = y ∨ x;

4. Comutatividade de ∧ : x ∧ y = y ∧ x;

5. Distributividade de ∧ sobre ∨ : x ∧ (y ∨ z) = (x ∧ y) ∨ (x ∧ z);

6. Identidade para ∨ : x ∨ 0 = x;

93
94 APÊNDICE A. ÁLGEBRA BOOLEANA

7. Identidade para ∧ : x ∧ 1 = x;
8. Elemento neutro para ∧ : x ∧ 0 = 0.

As seguintes Leis de Álgebra Booleana satisfazem a correspondência citada


anteriormente.

9. Elemento neutro para ∨ : x ∨ 1 = 1;


10. Idempotência de ∨ : x ∨ x = x;

11. Idempotência de ∧ : x ∧ x = x;
12. Absorção: x ∧ (x ∨ y) = x;
13. Absorção II : x ∨ (x ∧ y) = x;

14. Distributividade de ∨ sobre ∧ : x ∨ (y ∧ z) = (x ∨ y) ∧ (x ∨ z).

Por fim, as seguintes leis completam o conjunto de axiomas que definem a


Álgebra Booleana:

15. Complementação: x ∨ ¬x = 1;

16. Complementação II: x ∧ ¬x = 0;


17. Dupla negação: ¬(¬x) = x;
18. DeMorgan: ¬x ∨ ¬y = ¬(x ∧ y);
19. DeMorgan II: ¬x ∧ ¬y = ¬(x ∨ y).
Apêndice B

Teoria Axiomática de
Conjuntos

Atualmente, a Teoria de Conjuntos é baseada nos 9 axiomas propostos por


Ernst Zermelo e Abraham Fraenkel. A ideia básica do conjunto de axiomas é
não haver distinção entre elementos e conjuntos. Todos os elementos do universo
de discurso são conjuntos. Também não se permite a existência de um conjunto
universal que contenha todos os conjuntos.

1. Axioma da Extensionalidade: Dois conjuntos são iguais se, e somente


se, possuem os mesmos elementos.

∀x∀y(∀w(w ∈ x ⇐⇒ w ∈ y) ⇒ x = y)

2. Axioma da Regularidade: Todo conjunto não-vazio possui um ele-


mento que é disjunto de si.

∀x(∃a(a ∈ x) ⇒ ∃y((y ∈ x) ∧ ¬∃z((z ∈ y) ∧ (z ∈ x)))

3. Axioma da Especificação: Todo conjunto z possui um subconjunto y


que satisfaz uma propriedade ϕ.

∀z∀w1 . . . ∀wn ∃y∀x(x ∈ y ⇐⇒ ((x ∈ z) ∧ ϕ(z, x, w1 , . . . , wn )))

Note que se ϕ(A, x) é a proposição x ∈ A ∧ ¬(x ∈ A), então o Axioma


da Especificação mostra que o conjunto vazio é subconjunto de qualquer
conjunto. Em particular, pode-se definir ∅ = {x ∈ A | (x ∈ A)∧¬(x ∈ A)},
para qualquer conjunto A.
4. Axioma do Par: Para quaisquer dois conjuntos, existe um conjunto que
os possui como elementos.

∀x∀y∃z((x ∈ z) ∧ (y ∈ z))

5. Axioma da União: Para cada famı́lia F, existe um conjunto A cujos


elementos são os elementos dos elementos de F.

∀F∃A∀Y ∀x(((x ∈ Y ) ∧ (Y ∈ F)) ⇒ x ∈ A)

95
96 APÊNDICE B. TEORIA AXIOMÁTICA DE CONJUNTOS

Obviamente, A ∪ B pode então ser definido como o conjunto obtido do


Axioma da União quando F = {A, B}.

6. Axioma da Substituição: O conjunto imagem de qualquer função ϕ


existe.

∀A∀w1 , . . . , ∀wn (∀x(x ∈ A ⇒ ∃!y(ϕ(x, w1 , . . . , wn , y))) ⇒


⇒ ∃B∀x(x ∈ A ⇒ ∃y((y ∈ B) ∧ ϕ(x, w1 , . . . , wn , y))))

7. Axioma do Infinito: Existe um conjunto infinito.

∃X((∅ ∈ X) ∧ ∀y(y ∈ X ⇒ (y ∪ {y}) ∈ X))

8. Axioma da Potência: Todo conjunto A possui um conjunto potência


(ou conjunto das partes) P .

∀A∃P ∀B(B ∈ P ⇐⇒ ∀C(C ∈ B ⇒ C ∈ A))

9. Teorema da Boa Ordenação: Para todo conjunto A, existe uma ordem


parcial R em A(Veja definição na Seção 4.3).

∀A∃R(R é ordem parcial em A)

Esse teorema é equivalente ao Axioma da Escolha.

Para mais detalhes, veja [4].


Glossário de Termos

n-upla, 31 disjuntos, 17
distintos, 16
aresta, 87 iguais, 16
incidente, 88 contenção de conjuntos, 16
múltipla, 88 contingência, 10
argumentação, 21 contra-domı́nio, 33
válida, 21 contra-exemplo, 13
axioma, 19 mı́nimo, 55
contra-positiva, 22
cardinalidade, 51 contradição, 10
caso base, 50, 53 cota, 40
ciclo, 88
par, 89 diferença de conjuntos, 17
ı́mpar, 89 diferença simétrica de conjuntos, 17
classe de equivalência, 37 divisor, 25
clique, 89 domı́nio, 33
coloração, 90 domı́nio de discurso, 13
própria, 90
complementar, 17 elemento
componente, 89 maximal, 39
composição minimal, 39
de relações, 33 máximo, 39
conclusão, 9, 21 mı́nimo, 39
condição equação
necessária, 10 de recorrência, 59
suficiente, 10 extremidades, 88
conjunto, 15 de um caminho, 88
contável, 64
das partes, 17 falácia, 21
enumerável, 64 famı́lia, 17
estável, 89 fecho
finito, 51 reflexivo, 36
incontável, 64 simétrico, 36
infinito, 51 transitivo, 36
parcialmente ordenado, 39 floresta, 89, 90
potência, 17 folha, 90
unitário, 15 função, 42
universo, 15 bijetiva, 43
vazio, 15 injetiva, 42
conjunto independente, 89 inversa, 44
conjuntos proposicional, 12

97
98 GLOSSÁRIO DE TERMOS

sobrejetiva, 43 número cromático, 90


sucessor, 49 número de Fibonacci, 54

grafo, 87 ordem
acı́clico, 89 de um grafo, 88
bipartido, 90 parcial, 39
conexo, 89 parcial estrita, 41
desconexo, 89 total, 39
Euleriano, 89 total estrita, 42
finito, 87
planar, 90 par
sem rótulos, 88 ordenado, 31
simples, 88 partição, 18
trivial, 88 passeio, 88
vazio, 88 passo indutivo, 50
grau, 88 permutação
caótica, 80
hipótese, 9, 21 pertinência, 15
de indução, 50 predicado, 12
de indução forte, 53 premissa, 9, 21
princı́pio
idempotente, 63 da adição, 73
imagem, 33 da multiplicação, 73
implicação, 9 produto
contra-positiva, 10 cartesiano, 31
conversa, 10 proposição, 7
inversa, 10 composta, 8
indução, 50 equivalente, 10
forte, 53 prova
instanciação direta, 22
existencial, 25 indireta, 23
universal, 24 pela contra-positiva, 22
interseção de conjuntos, 17 por absurdo, 23
isomorfismo, 87 por casos, 27
por contra-exemplo mı́nimo, 55
laço, 88 por contradição, 23
limitante
inferior, 40 relação, 32, 34
superior, 40 anti-simétrica, 35
limite, 40 assimétrica, 35
composta, 33
membro, 15 de equivalência, 37
modus de recorrência, 59
ponens, 23 identidade, 33
tollens, 23 inversa, 33
múltiplo, 25 irreflexiva, 35
reflexiva, 35
nó, 90 simétrica, 35
número transitiva, 35
par, 27
ı́mpar, 27 satisfatı́vel, 10
GLOSSÁRIO DE TERMOS 99

sequência, 59
subconjunto, 16
próprio, 16
subgrafo, 88
gerador, 88
induzido, 88
superconjunto, 16
supremo, 41
série, 61
reduzida, 61

tamanho
de um grafo, 88
tautologia, 10
tese, 9
trilha, 88
tupla, 31

universo de discurso, 13
união de conjuntos, 17

vacuidade, 9
valor-verdade, 7
variável
booleana, 8
proposicional, 7
vizinhança, 88
vértice, 87
adjacente, 88
isolado, 88

árvore, 90
ı́nfimo, 41
100 GLOSSÁRIO DE TERMOS
Bibliografia

[1] Carvalho, P. C. P., Morgado, A. C., Fernandez, P., and de Car-


valho, J. B. P. Análise Combinatória e Probabilidade, 10 ed. SBM, 2016.
[2] Cormen, T. H., Leiserson, C. E., Rivest, R. L., and Stein, C. In-
troduction to Algorithms, Third Edition, 3rd ed. The MIT Press, 2009.

[3] Rosen, K. Discrete mathematics and its applications. McGraw-Hill, 2003.


[4] Studies in logic and the foundations of mathematics. In Foundations of Set
Theory, Y. B.-H. Abraham A. Fraenkel and A. Levy, Eds., vol. 67 of Studies
in Logic and the Foundations of Mathematics. Elsevier, 1973, pp. ii –.

[5] Velleman, D. J. How to Prove It: A Structured Approach, 2 ed. Cambridge


University Press, Cambridge, England, Jan. 2006.
[6] West, D. B. Introduction to Graph Theory, 2nd ed. ed. Prentice Hall, New
Delhi, 2001.

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