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Departamento de Filosofia
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
Universidade de São Paulo
2020
1
Sumário
2 Relações 13
2.1 Pares ordenados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.2 Produto cartesiano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.3 Relações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.4 Relações de equivalência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.5 Relações de ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.6 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
3 Funções 24
3.1 Conceituação de função . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
3.2 Propriedades de funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
3.3 Aplicação canônica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3.4 Função caracterı́stica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3.5 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
4 Conjuntos infinitos 31
4.1 Princı́pios de indução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
4.2 Boa ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
4.3 Conjuntos contáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
4.4 Conjuntos não contáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
4.5 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
5 Linguagens proposicionais 40
5.1 Linguagens formalizadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
5.2 A linguagem proposicional LP . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
2
5.3 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
6 Funções de verdade 47
6.1 Funções de verdade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
6.2 Funções de verdade especiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
6.3 Composição de funções de verdade . . . . . . . . . . . . . . . 49
6.4 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
8 Tautologias e consequência 64
8.1 Valorações para conjuntos de fórmulas . . . . . . . . . . . . . 64
8.2 Tautologias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
8.3 Consequência tautológica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
8.4 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
9 Compacidade 72
9.1 Satisfatibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
9.2 Demonstração do teorema da compacidade . . . . . . . . . . 74
9.3 O Lema de Teichmüller-Tukey . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
9.4 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
10 Sequentes 80
10.1 Sistemas formais abstratos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
10.2 O sistema SEQP . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
10.3 Teoremas de SEQP . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
10.4 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
11 Adequação de SEQP 89
11.1 Correção de SEQP . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
11.2 Implicação axiomática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
11.3 Completude de SEQP . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
11.4 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
3
12 Lógica quantificacional 99
12.1 A linguagem quantificacional LQ . . . . . . . . . . . . . . . . 99
12.2 Semântica para LQ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
12.3 Definição de verdade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
12.4 Variáveis livres e ligadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
12.5 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
4
Capı́tulo 1
Elementos de teoria de
conjuntos
5
Um princı́pio básico que vige entre conjuntos indica qual é a relação que
há entre pertinência e igualdade. Trata-se do:
Princı́pio de extensionalidade. Dois conjuntos são iguais se
e somente se eles possuem os mesmos elementos.
Assim, o que determina um conjunto são apenas os seus elementos e mais
nada!
A tı́tulo de exemplificação, vamos rever alguns conjuntos de números
que, em geral, se estuda no ensino médio.
N é o conjunto dos números naturais: 0, 1, 2, ...
? Além? disso,
Repare que o número 1 é elemento de todos estes conjuntos.
temos que 0 P N, 0 R N , 3 R N, 3 P Z, 1{2 P Q, 1{2 R Z, 2 R Q, 2 P R,
π P R, i R R e p2 3iq P C.
Dizemos que um conjunto A é subconjunto de B se todo elemento de A é
também elemento de B. Dizemos também que A está incluı́do em B. Para
isso, utilizamos a notação
A B.
Repare que, nos conjuntos de números acima, temos:
N N Z Q R C.
Se A B e A B, dizemos que A é um subconjunto próprio de B.
Nesse caso, utilizamos a notação A B. Veja, então, que A B se e
somente se A B e existe x P B tal que x R A.
6
i. Se A B e B A, então todo elemento de A é elemento de B, e
também todo elemento de B é elemento de A. Ou seja, A e B possuem
os mesmos elementos. Logo, pelo princı́pio de extensionalidade, A B.
(Se um conjunto é subconjunto de outro e vice-versa, então eles são o
mesmo conjunto.) Então, A B se e somente se A B e B A, e
isto é outro modo de enunciar o princı́pio de extensionalidade.
tx P A : x x u.
7
Como nunca ocorre que x x, esse conjunto não possui elementos e, pelo
princı́pio de extensionalidade, ele é único. Esse conjunto será denominado
o conjunto vazio e será denotado pelo sı́mbolo I.
A Y B : tx P X : x P A ou x P B u.
8
A intersecção de A e B é o conjunto denotado por A X B dado por
A X B : tx P X : x P A e x P B u.
A B : tx P X : x P A e x R B u.
Ac : tx P X : x R Au.
A Y pB X C q pA Y B q X pA Y C q A X pB Y C q pA X B q Y pA X C q
A Y Ac X A X Ac I
p A Y B qc Ac X B c pA X B q c Ac Y B c
X A Ac AX I
A pB Y C q pA B q X pA C q A pB X C q pA B q Y pA C q
Xc I Ic X
Algumas propriedades que serão utilizadas mais adiante no texto são as
seguintes.
9
Se A C e B C, então A Y B C.
Se C A e C B, então C A X B.
Se A B, então B c Ac .
e £
Ai : tx P X : x P Ak para todo k P N u.
P
i N
10
e £
Ai A0 X A1 X A2 X ...
P
i N
¤ £ £ ¤
B Ai p B Ai q e B Ai p B Ai q
P
i N P
i N P
i N P
i N
e £
xP Ai ô x P Ak , para todo k P N.
P
i N
1.3 Exercı́cios
Exercı́cio 1. Considere o conjunto X t1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10u e sejam
os seguintes subconjuntos de X: A t1, 2, 3, 4, 5, 6u, B t2, 4, 6u, C
t1, 3, 5u. Calcule os conjuntos: A Y B, A X C, A B, A C, C A, Ac,
pC B qc, B X C, C Y C, A A e B Y B.
Exercı́cio 2. Considere os conjuntos: A t1, 2u, B tt3, 4u, 1, 7u, C
tt3, 4u, 1, 2u, D tt1, 3u, 4, 7u, E tt1, 3u, 1, 7u, F tt1, 3u, 1, 2u, G
tt1, 2u, 1, 7u, H tt1, 2u, 1, 2u, I tt1, 2u, t1u, t2uu. Calcule a união e a
intersecção do conjunto A com cada um dos outros conjuntos.
Exercı́cio 3. Calcule: I X tIu, tIu X tIu, tI, tIuu I, tI, tIuu tIu,
tI, tIuu ttIuu.
Exercı́cio 4. Considere os conjuntos: A t1u, B t1, t1uu, C t1, 2u,
D t1, 2, t1uu e E t1, t1, t1uuu.
1
O sı́mbolo ô abrevia a expressão “se e somente se”.
11
Calcule: A X B, A Y B, pA Y B qX C, tAuY B, pC Y Dq D, pA X Dq E,
tB u X E, ptAu Y Dq X pE C q.
Verifique quais sentenças são verdadeiras: A P B, A B, B P E,
B E, C P D, C D, B D, pB Aq P D, pE B q A.
12
Capı́tulo 2
Relações
13
Lema. Se tA, B u tA, C u, então B C.
Prova. Temos dois casos: A B ou A B. Se A B, então, como
C P tA, C u tA, B u tAu (pois, A B), segue-se que C A B.
Se A B, então, como B P tA, B u tA, C u, devemos ter B C.
Assim, em qualquer caso, B C e temos o resultado. l
Vamos, agora, usar o Lema para provar a propriedade fundamental.
Prova da Propriedade Fundamental. A parte (ð) é fácil, utilizando-
se o princı́pio de extensionalidade. Se A C e B D, então tAu
tC u e tB u tDu, e também, tA, B u tC, Du. Assim, ttAu, tA, B uu
ttC u, tC, Duu, isto é, xA, B y xC, Dy.
Para a parte (ñ), observe que
14
2.2 Produto cartesiano
Vamos, agora, introduzir uma nova e fundamental operação entre conjuntos.
Dados os conjuntos A e B, definimos um conjunto formado por todos
os pares ordenados em que o primeiro elemento do par é um elemento de
A o segundo elemento do par é um elementos de B. Este conjunto é dito
o produto cartesiano de A por B (nessa ordem), e é denotado por A B.
Assim, temos que:
A B : txa, by : a P A e b P B u.
Se A B e A, B I, então A B B A.
A I I A I.
pA Y B q C pA C q Y pB C q e, também C pA Y B q pC
Aq Y p C B q .
pA X B q C pA C q X pB C q e, também C pA X B q pC
Aq X p C B q .
An : loooooooomoooooooon
A A ... A .
n vezes
15
2.3 Relações
Vamos introduzir o conceito fundamental de relações definidas em conjuntos.
Considere os conjuntos A e B. Uma relação (binária) R de A em B é
qualquer subconjunto R A B. Portanto, uma relação não vazia de A
em B é sempre um conjunto de pares ordenados xa, by tal que a P A e b P B.
Quando A B, dizemos que R A A A2 é uma relação em A.
Vamos introduzir uma notação especial para lidar com elementos de
relações. Se R A B é uma relação de A em B, denotaremos o fato de
que xa, by P R, simplesmente por aRb.
Se considerarmos a relação “ser maior que” no conjunto de seres hu-
manos escrevemos “João é maior que Pedro” ao invés de xJoão,Pedroy P
“é maior que”.
Apresentamos, agora, uma série de propriedades que relações em um
conjunto podem possuir. Se R A A é uma relação em A, definimos:
1. R tx1, 1y, x2, 2y, x3, 3y, x4, 4y, x5, 5y, x6, 6yu. Esta é a relação de
identidade em A. Ela reflexiva, simétrica, antissimétrica e transitiva.
Portanto, é uma relação de equivalência e de ordem parcial.
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2. R txa, by P A A : a bu. Esta é a relação usual de “menor que”
em A. Neste caso, a relação não é reflexiva, não é simétrica, mas é
irreflexiva, antissimétrica (por vacuidade, dado que nunca ocorre a b
e b a) e transitiva. Portanto, é uma relação de ordem estrita.
3. R¤ txa, by P A A : a ¤ bu. Esta é a relação usual de “menor que
ou igual a” em A. Neste caso, a relação é reflexiva, antissimétrica e
transitiva. Portanto, é uma relação de ordem parcial.
4. R tx1, 1y, x2, 2y, x3, 3y, x4, 4y, x5, 5y, x6, 6y, x1, 2y x2, 1y, x1, 3y, x3, 1y,
x2, 3y, x3, 2y, x4, 5y, x5, 4yu é reflexiva, simétrica e transitiva. Portanto,
é uma relação de equivalência.
Podemos, também, generalizar a noção de relação em um conjunto A a
fim de admitir relações que contenham n-uplas de elementos de A. Assim,
A A ... A An .
uma relação n-ária em A é um subconjunto R loooooooomoooooooon
n vezes
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i. Para todo a P A, tem-se que a P rasR . (Todo elemento de A pertence à
sua própria classe de equivalência.)
ii. Suponha que a P rbsR . Então, temos que bRa e, por simetria, aRb.
Logo, b P rasR .
iii. Suponha que rasR X rbsR I. Temos que mostrar que rasR rbsR .
Como rasR XrbsR I, seja c P rasR XrbsR . Então, c P rasR e c P rbsR , isto
é, aRc e bRc. Vamos mostrar que rasR rbsR . Se x P rasR , então aRx
e, por simetria, xRa. Como aRc, temos, por transitividade, que xRc.
Novamente, por simetria, temos cRx. Como bRc, por transitividade,
bRx e bRa, isto é a P rbsR . Logo, rasR rbsR . Para mostrar a inclusão
inversa rbsR rasR , o argumento é análogo. Temos, então, que rasR
rbsR e rbsR rasR . Por extensionalidade, obtemos rasR rbsR .
E isso conclui a prova. l
Seja, agora, R uma relação de equivalência em A. Definimos o conjunto
quociente de A por R, denotado por A{R, como o conjunto de todas as
R-classes de equivalência de todos os elementos de A. Isto é:
18
i. P A.
ii. Se P1 , P2 P P, então P1 P2 ou P1 X P2 I.
Assim, uma partição de A é um conjunto de subconjuntos de A dois a dois
disjuntos e que “cobrem” A.
Teorema. Seja R uma relação de equivalência em A. Então, o conjunto
quociente A{R é uma partição de A.
Prova. O resultado segue diretamente do Lema acima. Para a propriedade
(i), como aP rasR , temos que a união das R-classes de equivalência cobrem
A, isto é, A{R A. Além disso, a propriedade (ii) é exatamente o item
(iii) do Lema. l
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Exemplo. Seja A t1, 2, 3u. Nesse caso podemos fazer um diagrama do
conjunto das partes de A dispondo seus subconjuntos de modo a indicar a
relação de inclusão.
t1, 2, 3u ..
....... ......... .......
..... .........
..... .... .....
..... .....
..
......
. ...
.. .....
.....
...
..... ... ....
.
.......
......... .......... ........
.... ......
..... .....
..... ... .....
.....
..... ... ..
......
..... .... ....
....
I
.
20
No conjunto parcialmente ordenado do exemplo acima, I e A são os
elementos mı́nimo e máximo de ℘pAq, respectivamente. O conjunto A é
também um elemento maximal. Suponha que tirássemos o elemento A do
conjunto das partes ℘pAq. Nesse caso, ainda terı́amos um conjunto parcial-
mente ordenado dado pelo seguinte diagrama:
t1u
.
t2u
.
.
t3u
........
........ .......... .......
.. ......
..... ... .....
.....
..... .. ..
......
..... ...
..... ... .....
... .....
I
Obeserve que, aqui, não temos elemento máximo, mas temos três ele-
mentos maximais: t1, 2u, t1, 3u e t2, 3u.
Proposição. Considere o conjunto parcialmente ordenado x℘pX q, y para
algum conjunto X. Sejam A, B subconjuntos de X. Então, vale que:
i. X é o maior elemento de ℘pX q.
2.6 Exercı́cios
Exercı́cio 1. Considere o conjunto E t1, 2, 3, 4, 5, 6u e a seguinte relação
de equivalência:
R tx1, 1y, x2, 2y, x3, 3y, x4, 4y, x5, 5y, x6, 6y, x1, 3y, x3, 1y, x1, 5y, x5, 1y,
21
x3, 5y, x5, 3y, x4, 6y, x6, 4yu.
Calcule as classes de equivalência de cada elemento de E e escreva qual
é o conjunto quociente E {R.
Exercı́cio 2. Considere o conjunto F t1, 2, 3, 4u. Quantas relações
binárias podem ser definidas em F ? Quantas delas são relações de equi-
valência?
Exercı́cio 3. Seja R a relação de identidade em E, isto é, R txx, xy : x P
E u. Nesse caso, como fica o quociente E {R? E se R fosse E E?
4. Seja P uma
Exercı́cio partição
de E e A um elemento de P. Calcule:
P, P, A X P, A X P, A Y P.
Exercı́cio 5. Seja o conjunto E t1, 2, 3, 4, 5, 6, 7u. Considere a partição
de E dada por P tt1, 2, 5u, t4u, t3, 6, 7uu. Encontre uma relação de equi-
valência R em E tal que E {R P. Será que existe outra relação que faria
o mesmo trabalho?
Exercı́cio 6. Prove que dada uma partição P de um conjunto E, existe
uma única relação de equivalência R em E tal que E {R P.
Exercı́cio 7. Mostre que as propriedades de reflexividade, simetria e tran-
sitividade são todas independentes entre si. Isto é, encontre relações que
possuem apenas uma delas e não as outras duas e relações que possuem
duas delas e não a restante. Note que você deve fornecer seis exemplos.
Exercı́cio 8. Sejam R e S duas relações de equivalência em um conjunto
E. Mostre que R X S é também uma relação de equivalência em E. Será
que o resultado vale para a união R Y S?
Exercı́cio 9. Seja E um conjunto não vazio e I um subconjunto não vazio
de E. Defina uma relação R em E dada por xx, y y P R se e somente se x y
ou ambos x e y pertencem a I.
a) Prove que R é uma relação de equivalência em E.
b) Como são as classes de equivalência?
Tente raciocinar a partir de exemplos.
Exercı́cio 10. (Importante!) Seja R uma relação binária em um conjunto
X que é reflexiva e transitiva. Defina uma nova relação binária em X tal
que: x y ô xRy e yRx.
Mostre que:
(1) é uma relação de equivalência.
(2) Se a a1 e b b1 , então aRb ô a1 Rb1 .
(3) Defina a relação ¤ em X { tal que: ras ¤ rbs ô aRb.
22
Pela parte (2), esta relação está bem definida (isto é, não depende do
representante da classe r s ). Mostre, então, que xX { , ¤y é um conjunto
parcialmente ordenado.
23
Capı́tulo 3
Funções
f AB
tal que as seguintes condições são satisfeitas:
24
elemento b P B é determinado por a, permite escrever f paq b no lugar de
xa, by P f . Nesse caso, dizemos que b é o valor da função f no argumento a.
Quando f : A Ñ B, já definimos que o domı́nio de f é A. O conjunto
B é dito o contradomı́nio de f , denotado por Codomf . Além disso, deno-
minamos a imagem de f como o conjunto dos valores que f pode assumir.
Isto é,
Imf : tb P B : existe a P A, f paq bu.
Assim, Imf B.
Importante! Vamos convencionar que para que duas funções
sejam iguais elas precisam ter o mesmo domı́nio, o mesmo con-
tradomı́nio e para todo argumento no domı́nio elas forneçam o
mesmo valor no contradomı́nio.
3. Dizemos que f é bijetora (ou que é uma bijeção, ou ainda que é uma
correspondência biunı́voca) se f é injetora e também sobrejetora.
Há situações em que se pode definir naturalmente uma função por meio
de duas funções dadas.
Considere as funções A Ñ B Ñ C. (Repare que o contradomı́nio da f é
f g
gf
.....
.....
.....
..... ..........
...
... g
.......... .
C
Observe que a composição de funções é associativa.
ph g q f h p g f q.
Prova. Em primeiro lugar, repare que ambas as funções ph g q f e h pg f q
possuem o mesmo domı́nio A e contradomı́nio D.
f
A .................................. B ...
hg
..... ... .....
..... ... .....
..... .....
gf
.....
.....
.....
..... ..........
...
... g .....
.....
.....
.....
.. .
....... . ..........
h
...............................
C D
Tome um elemento a P A. Temos:
rph gq f spaq rph gqspf paqq
hpgpf paqqq
hprg f spaqq
rh pg f qspaq.
Logo, segue-se que ph g q f h pg f q. l
Com respeito à composição de funções, valem os seguintes resultados
quando temos a situação dada por A Ñ B Ñ C:
f g
26
Seja f : A Ñ B uma função bijetora. Podemos, então, definir uma
função f 1 : B Ñ A, dita a inversa da função f dada por:
f 1 pbq a ô f paq b,
f 1
..... ...
..... ...
.....
f 1 f
..... ...
.....
..... ..........
.. .
....... .
A
Então, para todo a P A com f paq b, temos que rf 1 f spaq f 1 pf paqq
f 1 pbq a IdA paq. Logo, f 1 f IdA . Para a outra equação a prova é
análoga. l
27
É claro que é uma relação de equivalência. Tome, agora, o conjunto
quociente A{ e a aplicação canônica π : A Ñ A{ .
Defina, agora, uma nova função f : A{ Ñ B tal que:
f pras q b ô f paq b.
Repare que esta função está bem definida e, além disso, é injetora. Veja,
então, que a nossa função f original é a composição:
f
A .................................................................................... B
..... .......
.....
..... ......
.....
f
.....
.....
π .....
.....
.......
...... .....
.
...
.....
.
..
A{
I I Y tIu tIu.
pI q tIu Y ttIuu tI, tIuu.
Vamos dar nomes especiais para estes conjuntos.
0 : I.
1 : 0 tIu t0u.
2 : 1 tI, tIuu t0, 1u.
28
Seja X um conjunto e A X. Definimos, então, uma função
3.5 Exercı́cios
Exercı́cio 1. Sejam A t0, 1, 2, 3u e B t4, 5, 6, 7, 8u. Justificar porque
as relações abaixo não são funções de A em B.
(1) R tx0, 5y, x1, 6y, x2, 7yu.
(2) S tx0, 4y, x1, 5y, x1, 6y, x2, 7y, x3, 8yu.
Exercı́cio 2. Seja X t1, 2, 3u. Quantas bijeções de X em X existem? Se
um conjunto finito A tem n elementos, quantas bijeções existem de A em
A?
Exercı́cio 3. Sejam os conjuntos X t1, 2, 3, 4u e Y ta, b, cu. Seja
a função f : X Ñ Y tal que f p1q a, f p2q b, f p3q b e f p4q c
(“desenhe” a função!). Responda: 1) f é injetora? 2) f é sobrejetora? 3)
Qual é o valor de f no argumento 4? 4) Para os conjuntos X e Y dados,
haveria uma função injetora g : X Ñ Y ? 5) Para A t1, 2u, o que é f pAq?
6) Quantas funções de X em Y existem? E de Y em X? 7) Se um conjunto
A tem n elementos e um conjunto B tem k elementos, quantas funções de
A em B existem?
29
Exercı́cio 4. Seja f : A Ñ B e D, E A. Mostre que:
(1) Se D E, então f pDq f pE q;
(2) f pD X E q f pDq X f pE q;
(2) f pD Y E q f pDqY f pE q. Dê um exemplo que mostre que a inclusão
contrária não vale.
Exercı́cio 5. Considre as funções A Ñ B Ñ C. Mostre que:
f g
30
Capı́tulo 4
Conjuntos infinitos
N t1, 2, 3, ...u.
Vamos apresentar uma técnica, denominada Princı́pio de Indução, que
serve para demonstrar certas propriedades de elementos N. Seja S pnq uma
propriedade qualquer dos inteiros positivos. Para mostrar que todos os in-
teiros positivos têm a propriedade S procedemos de acordo com os seguintes
passos:
31
Com base nestes dois passos, o princı́pio de indução nos permite concluir que
todo inteiro positivo n tem a propriedade S. No passo indutivo, a suposição
de que n tem a propriedade S é denominada hipótese de indução.
Observe que propriedades de elementos de N podem ser identificadas
com subconjuntos de N . Assim, o princı́pio de indução poderia ser resumido
na seguinte propriedade:
n pn 1q
1 2 ... n .
2
Prova. Temos que proceder em dois passos:
np n 1q
1 2 ... n .
2
Para n 1, temos:
1 2 ... n pn 1q p q n 1
n n 1
p q 2n 2
2
n n 1
npn 1q 2pn 1q
2
pn 1qpn2 2q
pn 1qpp
2
n 1q 1q
2
32
Logo, pelo princı́pio de indução, segue-se o resultado. l
Existe uma outra forma de indução denominada princı́pio de indução
completa (ou indução no curso de valores). Aqui, S ainda é uma propriedade
de inteiros positivos e temos os seguintes passos:
Com base nestes dois passos, o princı́pio de indução completa nos permite
concluir que todo inteiro positivo n tem a propriedade S.
Vejamos também uma aplicação matemática.
Proposição. (Fatorização em números primos2 ). Todo número inteiro
n ¡ 1 é um produto de números primos.
Prova. Seja S pnq a propriedade “n é um produto de primos”.
Prova da base. A base começa com 2. Temos que S p2q vale pois 2 é
primo. (Aceitamos que um número primo é um “produto” de primos.)
Passo indutivo. Supomos que S p2q, S p3q, ..., S pnq (que é a nossa
hipótese de indução), ou seja, que 2, 3, ..., n são produto de primos.
Considere n 1. Se n 1 é primo, então n 1 é um produto de
primos. Se n 1 não é primo, tem-se que n 1 é um produto a b,
em que ambos a e b não são nem 1 nem n. Como a e b são tais que
1 a, b n, segue-se, da hipótese de indução, que a e b são produto
de primos. Como n 1 a b, tem-se que n 1 é um produto de
primos.
33
¤ satisfaz as condições dadas na seção 2.5.
No entanto, esta relação tem
uma propriedade adicional: Para todo n, m P N , tem-se que n ¤ m ou
m ¤ n. Isto torna a relação ¤ uma ordem total em N .
Um resultado útil relacionado com os princı́pios de indução é dado por:
P N : k ¤ n u.
In : tk
34
Temos que mostrar que S vale para todo n P N . Considere o conjunto
A tn P N : S pnq valeu.
Assim, temos que:
1. 1 P A.
2. Se t1, 2, ..., nu A, então n 1 P A.
É preciso mostrar que A N . Suponha, por absurdo, que A N . Então,
Ac , o complementar de A com respeito a N , é não vazio. Pelo axioma
da boa ordenação, Ac tem um menor elemento k. Mas, nesse caso, o con-
junto t1, 2, ..., k 1u é um subconjunto de A e, por (2), temos que k P A
(contradição!). Logo, segue-se que A N e temos que (ii) ñ (iii). l
4.3 Conjuntos contáveis
Dois conjuntos A e B são ditos equipotentes, em sı́mbolos A B, se existe
uma função bijetora de A em B. Dito de modo informal, dois conjuntos são
equipotentes quando possuı́rem a “mesma quantidade de elementos”.
Proposição. Equipotência entre conjuntos possui as mesmas propriedades
de relações de equivalência. Isto é, para todo conjunto A, B e C, temos:
i. A B.
ii. Se A B, então B A.
iii. Se A B e B C, então A C.
Prova. Para (i), a função identidade em A é bijetora. Para (ii), se f : A Ñ
B é uma bijeção, então a função inversa f 1 : B Ñ A é uma bijeção. Para
(iii), a composição de funções bijetoras é uma função bijetora. l
Um conjunto A é dito finito se A I ou existe n P N tal que A
t0, 1, ..., nu. Se A é um conjunto finito e A t0, 1, ..., n 1u, dizemos que A
tem n elementos. Um conjunto que não é finito é denominado infinito. Um
conjunto A é contável se A é finito ou A N. Finalmente, um conjunto A
é não contável se ele não é contável.
Lema. Se A é contável e A B, então B é contável.
Prova. O resultado segue da transitividade da relação de equipotência entre
conjuntos. l
Vejamos três importantes resultados sobre conjuntos contáveis.
Teorema da Enumeração. Seja A um conjunto contável não vazio. Então,
os elementos de A podem ser enumerados como a0 , a1 , a2 ...; em outras pa-
lavras, A pode ser escrito como A tai : i P Nu. Além disso, se A é infinito
podemos assumir que am an sempre que m n.
35
Prova. Assuma, primeiramente, que A N e seja f : N Ñ A uma bijeção.
Como f é sobrejetora, temos que A tf pnq : n P Nu. Assim, se fizermos
an f pnq, para todo n P N, então A tai : i P Nu. Além disso, como f é
injetora, vale que am an sempre que m n.
Assuma, agora, que A é finito e não vazio. Nesse caso, há uma bijeção f
que mostra que t0, 1, ..., k u A, para algum k P N. Novamente, A pode
ser escrito como A tf pnq : n 0, 1, ...k u e, tomando f pnq an , para
n 0, 1, ..., k, obtemos que A tai : 0 ¤ i ¤ k u . Agora, se fizermos
an ak , para n ¥ k, obtemos A tai : i P Nu (os elementos para n ¥ k são
todos repetidos). l
Teorema do Subconjunto. Todo subconjunto de um conjunto contável é
contável.
Prova. Seja A B com B contável. O caso em que B é finito será deixado
como exercı́cio.
Vamos provar o resultado primeiramente para B N. A demonstração será
informal. Se A é finito, então A é contável e o resultado vale.
Suponha, então, que A é um subconjunto infinito de N. Construa uma
sequência crescente
a0 a1 a2 ... an ...
a0 o menor elemento de A
a1 o menor elemento de A ta0 u
..
.
an 1 o menor elemento de A ta0 , a1 , ..., an u
..
.
A tan : n P Nu
36
o domı́nio da bijeção f . Assim, C N e, usando o argumento acima, C é
contável. Além disso, restringindo o contradomı́nio de f para C, obtemos
uma bijeção de A em C. Assim, A C e C é contável. Pelo Lema, segue-se
que A é contável. l
Teorema da Injeção. Seja A um conjunto. Assim, se existe um conjunto
contável B e uma função injetora f : A Ñ B, então A é contável.
Prova. Seja C f pAq, o domı́nio da f . Como f é injetora, restringindo o
contradomı́nio de f para C, temos uma bijeção de A em C, isto é A C.
Mas C B e B é contável. Logo, pelo teorema do subconjunto, C é contável.
Assim, A C e C é contável. Então, pelo Lema, A é contável. l
B N.
B An , para todo n P N.
37
Continuando o mesmo raciocı́nio, construı́mos B N tal que B An, para
todo n P N.
Vamos, agora à prova que formaliza o argumento acima.
Seja B tn P N : n R An u. Mostremos que B An , para todo n P N. Tome
um certo n P N qualquer. Temos dois casos:
B ta P A : a R f paqu.
Como B P ℘pAq e f é sobrejetora, existe k P A tal que f pk q B. Verifique-
mos se k P B. Temos dois casos:
4.5 Exercı́cios
Exercı́cio 1. Forneça uma prova mais detalhada do Lema da seção 4.3.
Exercı́cio 2. Encontre um argumento que prove que o conjunto N é infinito.
Mostre que a união de dois conjuntos finitos é um conjunto finito. Generalize
o resultado para uma união finita de conjuntos finitos. (Use indução.)
38
Exercı́cio 3. Dê um exemplo de um conjunto A e um subconjunto próprio
B A tal que A B.
Exercı́cio 4. Mostre que:
a. N N;
b. Z N.
Exercı́cio 5. Seja A um subconjunto infinito de N e defina f : A Ñ N
como f pk q número de elementos do conjunto t0, 1, ..., k u X A (i.e., f pk q é
o número de elementos do conjunto A que são menores ou iguais a k).
a. Mostre que f é injetora. Mais precisamente, mostre que se i j,
então f piq f pj q;
b. Mostre que f é sobrejetora. (Use indução. Para começar, use o
princı́pio de boa ordem para escolher o menor k P A e mostre que f pk q 1.q
Exercı́cio 6. Teorema da Sobrejeção. (Hodel (XXXX), exercı́cio 9, pag
25.) Sejam A um conjunto contável e f : A Ñ B uma função sobrejetora.
Mostre que B é contável. (Para cada b P B, escolha ab P A tal que f pab q b.
Defina g : B Ñ A tal que g pbq ab . Mostre que g é injetora e use o teorema
da injeção).
Exercı́cio 7. Mostre, usando um argumento informal, que N N é contável.
Exercı́cio 8. (Hodel (XXXX), exercı́cio 10, pag 25.) Seja tAn : n P Nu uma
contável de conjuntos tais que cada conjunto An é contável. Mostre
coleção
que nPN An é contável.(Uma vez que cada An é contável, An txnk : k P
Nu; defina f : N N Ñ nPN An por f pn, k q xnk . Use os exercı́cios 6 e 7.)
Exercı́cio 9. Seja X um conjunto infinito e F pX q a coleção de todas as
funções de X em t0, 1u. Mostre que F pX q é não contável. (Lembre-se das
funções caracterı́sticas e use um teorema de Cantor.)
Exercı́cio 10. Mostre que:
a. A coleção de todos os subconjuntos finitos de N é contável. (O
argumento pode ser informal.)
b. A coleção de todos os subconjuntos infinitos de N é não contável.
(Use a parte a. e os resultados provados anteriormente.)
39
Capı́tulo 5
Linguagens proposicionais
40
subconjunto do conjunto das expressões de L cujos elementos são ditos as
fórmulas de L. Este conjunto será denotado por F ORL . Repare que
EXPL.
F ORL
41
5.2 A linguagem proposicional LP
Vamos, agora, descrever uma linguagem LP que será denominada linguagem
proposicional .
A linguagem LP possui os seguintes conjuntos de sı́mbolos:
pα β q abrevia a fórmula p α _ β q.
42
pα β q abrevia a fórmulappα ^ β q _ p α ^ β qq.
Uma fórmula do tipo pα β q é dita a implicação (material) de α e β. A
fórmula α é o antecedente da implicação e β é o consequente da implicação.
Uma fórmula do tipo pα β q é dita a equivalência (material) de α e β.
Assim, uma fórmula do tipo
pα pβ αqq
é uma abreviação de
p α _ p β _ αqq.
Enquanto que
ppα β q αq
é uma abreviação de
p p α _ β q _ α q.
Convenções. Para facilitar a leitura das fórmulas introduzimos algumas
convenções sem afetar a leitura das mesmas. Por exemplo, parênteses exter-
nos serão omitidos. Assim, escrevemos α _pβ ^ γ q ao invés de pα _pβ ^ γ qq.
Outras convenções serão introduzidas oportunamente.
Teorema. (Princı́pio de indução em fórmulas.) Seja P uma propriedade
qualquer de fórmulas. Assim, para provar que todas as fórmulas possuem a
propriedade P é suficiente mostrar que:
(1) Toda variável proposicional possui a propriedade P.
(2) Se α é β e β tem a propriedade P, então α tem a propriedade P.
(3) Se α é pβ _ γ q ou pβ ^ γ q e β e γ têm a propriedade P, então α tem
a propriedade P.
Prova. (Por indução completa.) Suponha que (1), (2) e (3) acima valem.
Seja n um número natural e considere o seguinte enunciado que é uma
propriedade de números naturais.
Vamos mostrar, por indução completa, que S pnq vale para todo número
natural n, o que implicará que toda fórmula tem a propriedade P.
Prova da base. S p0q afirma que toda fórmula sem conectivos lógicos
tem a propriedade P. Mas uma fórmula sem conectivos lógicos é uma
variável proposicional e, então, S p0q vale por (1).
43
Passo indutivo. Suponha que S p0q, S p1q, ..., S pnq valem (hipótese de
indução) e seja α uma fórmula com n 1 conectivos. Então, α pode
ser de três formas: β, pβ _ γ q ou pβ ^ γ q.
Se α é β, então β tem n conectivos e, pela hipótese de indução, S pnq
vale. Logo, por (2), α tem a propriedade P e S pn 1q vale.
Se α é pβ _ γ q ou pβ ^ γ q, então β e γ têm menos que pn 1q conectivos.
Pela hipótese de indução, segue-se que β e γ têm a propriedade P.
Assim, por (3), α tem a propriedade P e S pn 1q vale.
Portanto, em qualquer caso, S pn 1q vale.
Então, p é fórmula.
Então, pq ^ pq é fórmula.
Então, pq ^ pq é fórmula.
Então, pp _ pq ^ pqq é fórmula.
44
Isso, nos fornece uma espécie de árvore de desconstrução de fórmulas.
pp _ pq ^ pqq ...
...
...
...
..........
.
pp _ pq ^ pqq .....
...
..... .....
..... .....
..
......
. .....
.....
... .....
......... ...........
........
p pq ^ p q ...
...
...
...
..........
.
p q ^ pq
.... .....
..... .....
..... .....
..
......
.
.....
.....
... .....
....... .
........ ...........
q p
...
...
...
...
.........
.
5.3 Exercı́cios
Exercı́cio 1. Invente e descreva uma linguagem formalizada definindo
o conjunto de sı́mbolos, exemplos de expressões, definição e exemplos de
fórmulas.
Exercı́cio 2. Decida se as seguintes expressões são fórmulas. Em caso
afirmativo, desenhe a árvore de desconstrução da mesma.
a. ppp _ q q ^ rq
b. p p _ p q qq
c. pp _ q ^ rq
Exercı́cio 3. Considere a fórmula α dada por:
ppp _ qq ^ pq.
a. Qual é o comprimento de α?
b. Quantas variáveis proposicionais α possui?
c. Quantas ocorrências de variáveis proposicionais α possui?
d. De que tipo é essa fórmula: uma variável proposicional, uma negação,
uma disjunção ou uma conjunção?
Exercı́cio 4. Considere a “expressão” dada por:
ppp qq _ p r pqq.
45
Elimine os sı́mbolos definidos obtendo a fórmula genuı́na que essa expressão
abrevia.
Exercı́cio 5. Dê exemplo de fórmula que:
a. Seja uma conjunção de disjunções de variáveis proposicionais.
b. Seja uma dupla negação de uma conjunção de negações de variáveis
proposicionais.
c. Seja uma disjunção de negações de conjunções.
Exercı́cio 6. Prove que toda fórmula tem o mesmo número de parênteses
à esquerda e à direita.
Exercı́cio 7. Prove que toda fórmula tem pelo menos uma ocorrência de
variável proposicional.
Exercı́cio 8. Prove que toda fórmula com n ocorrências de variáveis pro-
posicionais tem n 1 ocorrências de conectivos binários _ e ^.
Exercı́cio 9. Seja F OR o conjunto das fórmulas da linguagem proposicional
como definido. Considere o conjunto
∆ tα P F OR : α é uma conjunçãou.
46
Capı́tulo 6
Funções de verdade
0 I
1 t 0u
2 t0, 1u
Vamos denominar os elementos do conjunto 2 t0, 1u, que são os números
0 e 1, de valores de verdade. O número 1 é o valor de verdade verdadeiro e
o número 0 é o valor de verdade falso.
Seja n um número natural positivo. Uma função de verdade n-ária é
uma função
H : t0, 1un Ñ t0, 1u.
O número n é dito o grau ou a aridade da função.
Assim, uma função de verdade n-ária H atribui um valor 0 ou 1 para
cada n-upla de valores de verdade xx1 , ..., xn y. O valor de H em xx1 , ..., xn y,
isto é H pxx1 , ..., xn yq, será denotado simplesmente por H px1 , ..., xn q.
47
Uma função de verdade de grau 3 pode ser descrita por uma tabela:
x1 x2 x3 H px1 , x2 , x3 q
1 1 1 1
1 1 0 0
1 0 1 0
1 0 0 1
0 1 1 0
0 1 0 0
0 0 1 1
0 0 0 0
48
Função conjunção. É uma função de grau 2 do tipo H^ : t0, 1u2 Ñ
t0, 1u. Sua tabela é dada por:
x1 x2 H^ px1 , x2 q
1 1 1
1 0 0
0 1 0
0 0 0
50
Assim, para n 3, temos as seguintes tabelas.
x1 x2 x3 H px1 , x2 , x3 q
1 1 1 1 ð
1 1 0 0
1 0 1 0
1 0 0 1 ð
0 1 1 0
0 1 0 0
0 0 1 1 ð
0 0 0 0
Para cada linha em que H tem valor 1, construa uma conjunção generalizada
de grau 3 (o grau de H) incluindo negações onde o argumento na respectiva
linha é 0.
2 px , x , x q .
Linha 1: Hc,3 1 2 3
4 px , H
Linha 4: Hc,3 px2q, H px3qq.
1
7 pH px q, H px q, x q.
Linha 7: Hc,3 1 2 3
Hd,3 pHc,3
1
px1, x2, x3q, Hc,3
4
px 1 , H px2q, H px3qq, Hc,3
7
pH px1q, H px2q, x3qq.
51
Se o leitor fizer uma tabela da função de verdade acima, verá que é a mesma
tabela dada pela função de verdade H. Assim, H pode ser escrita como
uma composição das funções Hd,3 , Hc,3 e H .
Vejamos, agora, como descrever o procedimento acima em termos for-
mais2 .
Seja H px1 , ..., xn q uma função de verdade. Para cada atribuição de ver-
dade v i pv1i , ..., vni q P t0, 1un com 1 ¤ i ¤ 2n , defina as funções de verdade
dadas por:
H i px1 , ..., xn q : Hc,n pH1i px1 q, ..., Hni pxn qq
em que, para 1 ¤ k ¤ n temos
"
Hki pxk q
xk se vki 1,
H pxk q se vki 0.
(O que foi feito aqui é ligeiramente diferente do que foi feito acima. Cons-
truı́mos um H i para cada linha i da tabela sem considerar o valor de H na
linha.)
Lema. Para 1 ¤ i, j ¤ 2n , tem-se que H i pv j q 1 ô i j.
Prova. pðq Se i j, então
Se vli 0, então Hli pxl q H pxl q e, assim, Hli pvlj q H pvlj q H p1q 0.
Se vli 1, então Hli pxl q pxl q e, assim, Hli pvlj q pvlj q H p1q 0.
Assim Hli pvlj q 0, o que implica que H i pv j q Hc,n pH1i pv1i q, ..., Hni pvni qq 0.
E o lema fica demonstrado. l
Se H é a função constante H px1 , ..., xn q 0, então H Hc,2 px1 , H px1qq
que também é constante igual a 0.
Em caso contrário, considere o conjunto finito e não vazio
52
Correspondentes a esses v iu temos as funções já definidas H iu , para
1 ¤ u ¤ m. Seja, então, a função de verdade:
53
Teorema. (Post) Toda função de verdade pode ser escrita em termos das
funções de verdade H_ , H^ e H .
Dizemos que um conjunto de funções com essa propriedade é funcional-
mente completo.
6.4 Exercı́cios
Exercı́cio 1. Liste todas as possı́veis funções de verdade unárias.
Exercı́cio 2. Conte o número de funções de verdade binárias e descreva
duas que sejam diferentes de H , H_ , H^ , H e H .
Exercı́cio 3. Mostre que:
a. H px, y q H^ pH px, y q, H py, xqq.
b. H^ px, y q H pH_ pH pxq, H py qqq.
c. H_ px, y q H pH^ pH pxq, H py qqq.
d. Idt0,1u pxq H pH pxqq.
e. H_ px, y q H pH pxq, y q.
f. H px, y q H pH^ px, H py qqq.
Exercı́cio 4. Mostre que os seguintes conjuntos são funcionalmente com-
pletos. Use os resultados da seção 6.3.
a. tH , H u
b. tH , H_ u
c. tH , H^ u
Exercı́cio 5. Considere a função de verdade de grau 2, S : t0, 1u2 Ñ t0, 1u
dada pela seguinte tabela:
x1 x2 S px1 , x2 q
1 1 0
1 0 0
0 1 0
0 0 1
54
de grau 2, P : t0, 1u2 Ñ t0, 1u dada pela seguinte tabela:
x1 x2 P px1 , x2 q
1 1 0
1 0 1
0 1 1
0 0 1
x1 x2 x3 H px1 , x2 , x3 q
1 1 1 0
1 1 0 1
1 0 1 1
1 0 0 0
0 1 1 1
0 1 0 0
0 0 1 1
0 0 0 0
55
Capı́tulo 7
7.1 Valorações
Lembremos que 2 t0, 1u é o conjunto de valores de verdade e que o valor
de verdade 1 é dito verdadeiro e 0 é o falso.
Toda a semântica para a linguagem proposicional LP é baseada em um
único conceito que chamaremos de valoração. Lembremos, também, que
P ROP e F ORM denotam os conjuntos das variáveis proposicionais e das
fórmulas de LP , respectivamente.
56
Nesse caso, temos que v é a função caracterı́stica de A P ROP , isto é,
v χA .
Assim, valorações podem ser consideradas como funções caracterı́sticas de
subconjuntos de P ROP .
Vejamos, agora, como estender uma valoração v para o conjunto de
fórmulas de LP .
57
Proposição Fundamental. Se duas valorações v1 e v2 concordam em
todas as variáveis proposicionais que ocorrem em uma fórmula α, então
v 1 p α q v 2 pα q.
Prova. Por indução em fórmulas.
v 1 pα q v1 p β q
H pv1 pβ qq cláusula (ii)
H pv2 pβ qq hipótese de indução
v2 p β q cláusula (ii)
v 2 pα q.
v 1 pα q v1 pβ _ γ q
H_ pv1 pβ q, v1 pγ qq cláusula (iii)
H_ pv2 pβ q, v2 pγ qq hipótese de indução
v2 pβ _ γ q cláusula (iii)
v2 pαq.
v 1 pα q v1 pβ ^ γ q
H^ pv1 pβ q, v1 pγ qq cláusula (iv)
H^ pv2 pβ q, v2 pγ qq hipótese de indução
v2 pβ ^ γ q cláusula (iv)
v2 pαq.
58
Então, valem as seguintes condições:
i. v pα q v p α q
ii. v pα _ β q 1 ô v pαq 1 ou v pβ q 1 (ou ambos)
v pα _ β q 0 ô v pα q v pβ q 0
iii. v pα ^ β q 1 ô v pαq v pβ q 1
v pα ^ β q 0 ô v pαq 0 ou v pβ q 0 (ou ambos)
iv. v pα β q 1 ô v pαq 0 ou v pβ q 1 (ou ambos)
v pα β q 0 ô v pα q 1 e v pβ q 0
v. v pα β q 1 ô v pαq v pβ q
v pα β q 0 ô v pα q v pβ q.
59
utilizar a proposição anterior nestas verificações.
i. αPV ô v pα q 1
ô v p αq 0
ô α R V.
ii. α_β P V ô v pα _ β q 1
ô vpαq 1 ou vpβ q 1
ô α P V ou β P V.
iii. α ^ β P V ô v pα ^ β q 1
ô v pα q 1 e v pβ q 1
ô α P V e β P V.
Logo, segue-se o resultado. l
Proposição. Se V F OR é um conjunto verdade, então χV , a função
caracterı́stica de V , é uma valoração.
Prova. Seja V um conjunto verdade e seja v a função caracterı́stica de V ,
isto é:
v : F OR Ñ t0, 1u
é tal que "
1 se α P V
v pα q
0 se α R V.
Mostremos que v é uma valoração. Para isto, basta verificar as três primeiras
cláusulas da última proposição da seção anterior.
i. v p αq 1 ô αPV
ô αRV
ô vpαq 0. Isto é, v pαq v p αq.
ii. v pα _ β q 1 ô α_β PV
ô α P V ou β P V
ô vpαq 1 ou vpβ q 1.
iii. v pα ^ β q 1 ô α^β PV
ô αPV eβPV
ô vpαq 1 e vpβ q 1.
Logo, v é uma valoração para LP e segue-se o resultado. l
Os resultados acima mostram que há uma correspondência biunı́voca
entre valorações para LP e conjuntos verdade.
60
7.3 Tabelas de verdade
Vamos mostrar que toda fórmula de LP está associada a uma função de
verdade que representa a tabela de verdade da fórmula. Utilizaremos as letras
em negrito p1 , p2 , ... como variáveis sintáticas que representam variáveis
proposicionais quaisquer.
Seja α uma fórmula de LP com as variáveis proposicionais p1 , ..., pn .
Assim, a função de verdade determinada por α é a função de grau n
61
Dizemos que duas fórmulas α e β são equivalentes, em sı́mbolos α β 1 ,
se para toda valoração v para LP , tem-se que v pαq v pβ q.
Vejamos que fórmulas equivalentes determinam a mesma função de ver-
dade.
Proposição. Sejam α e β fórmulas com variáveis proposicionais p1 , ..., pn .
Assim, se α β, então Hα Hβ .
Prova. Assuma que α β e considere xx1 , ..., xn y P t0, 1un . Seja v uma
valoração tal que v ppk q xk , para 1 ¤ k ¤ n. Assim, por definição,
Logo, Hα Hβ . l
7.4 Exercı́cios
Exercı́cio 1. Mostre que se V1 e V2 são conjuntos verdade e V1 V2, então
V1 V2 .
Exercı́cio 2.Existem fórmulas α tais que v pαq 1 para toda valoração v?
Se sim, dê um exemplo.
Exercı́cio 3. Encontre as funções de verdade que estão associadas às se-
guintes fórmulas:
a. p _ p.
b. p pq pq.
c. pp _ q q p.
d. pp q q p p ^ q q.
e. p pq _ rq.
Exercı́cio 4. Dê exemplos de pares de fórmulas equivalentes.
Exercı́cio 5. Verifique se os seguintes pares de fórmulas são casos de equi-
valência (α β):
a) α pβ γ q e pα ^ β q γ.
b) α ^ pβ αq e α.
c) α pβ γ q e pα β q γ.
1
Não confundir com a noção de equipotência de conjuntos que utiliza o mesmo sı́mbolo.
O contexto da discussão determinará o significado.
62
Exercı́cio 6. Mostre que a noção de equivalência entre fórmulas é uma
relação de equivalência.
Exercı́cio 7. Demonstre a conversa da proposição da seção 7.3. Se α e β
são fórmulas com as variáveis proposicionais p1 , ..., pn e Hα Hβ , então
α β.
Exercı́cio 8. É possı́vel encontrar dois conjuntos verdade que sejam dis-
juntos? Explique.
Exercı́cio 9. Faça uma demonstração da primeira proposição da seção 7.1.
Para toda valoração v P 2P ROP , existe uma única extensão
v : F OR Ñ t0, 1u,
63
Capı́tulo 8
Tautologias e consequência
Neste capı́tulo, introduzimos alguns conceitos que são centrais para a lógica
proposicional. Repare que todas as definições são sempre baseadas na noção
de valoração (ou, o que dá no mesmo, em conjuntos verdade) introduzido
no capı́tulo anterior.
V al : tv
P 2F OR : v é uma valoraçãou.
Se α é uma fórmula de LP , denotamos por V alpαq o conjunto de todas
as valorações v tais que α é verdadeira em v, isto é:
64
ii. V alpα ^ β q V alpαq X V alpβ q.
iii. V alp αq V alpαqc V al V alpαq.
Prova. As verificações são diretas.
v P V alpα _ β q ô vpα _ β q 1
ô vpαq 1 ou vpβ q 1
ô v P V alpαq ou v P V alpβ q
ô v P V alpαq Y V alpβ q
Logo, V alpα _ β q V alpαq Y V alpβ q.
ii. Temos:
P V alpα ^ β q ô vpα ^ β q 1
v
ô v pα q 1 e v pβ q 1
ô v P V alpαq e v P V alpβ q
ô v P V alpαq X V alpβ q
Logo, V alpα ^ β q V alpαq X V alpβ q.
iii. Temos:
vP V alp αq ô vp αq 1
ô v pα q 0
ô v R V alpαq
ô v P V alpαqc
Logo, V alp αq V alpαqc .
66
Da mesma forma, sejam Γ um conjunto de fórmulas e α uma fórmula.
Dizemos que Γ implica tautologicamente α, em sı́mbolos Γ ( β, se e somente
se para toda valoração v tal que v pγ q 1 para toda γ P Γ, tem-se que
v pαq 1. Isso é o mesmo que afirmar que: V alpΓq V alpαq.
Teorema A. Sejam α, β e γ fórmulas de LP . Então, valem os seguintes
resultados:
1. α ^ β ( α e α ^ β ( β.
2. α ( α _ β e β ( α _ β.
3. α(α e α( α.
4. α ^ pβ _ γ q ( pα ^ β q _ pα ^ γ q.
5. pα _ β q ^ α ( β.
Prova. As demonstrações são consequências diretas da proposição da seção
8.1 e das proriedades da inclusão, união, intersecção e complemento de con-
juntos. Por exemplo:
67
Portanto, segue-se o resultado. l
Teorema B. Sejam α, β, γ, α1 , α2 , β1 , β2 fórmulas de LP . Então, valem os
seguintes resultados:
1. Se α ( β e β ( γ, então α ( γ.
2. Se α ( β1 e α ( β2 , então α ( β1 ^ β2 .
3. Se α1 ( β e α2 ( β, então α1 _ α2 ( β.
4. Se α ( β, então β ( α.
Prova. Fazemos os mesmos raciocı́nios da prova do teorema anterior usando
a proposição da seção 8.1.
1. Se α ( β e β ( γ, então V alpαq V alpβ q e V alpβ q V alpγ q, o que
implica que V alpαq V alpγ q, isto é, α ( γ.
68
3. Seja v P V alp∆q. Como ∆ ( γ para todo γ P Γ, temos que V alp∆q
V alpγ q para todo γ P Γ. Então, V alp∆q tV alpγ q : γ P Γu. Pelo mesmo
Lema parte (b), temos que V alp∆q V alpΓq. Como, por hipótese, temos
que Γ ( α, isto é, V alpΓq V alpαq; segue-se que V alp∆q V alpαq, isto é,
∆ ( α. l
8.4 Exercı́cios
Exercı́cio 1. Seja α uma fórmula. Mostre que:
a) α é tautologia se e somente se α é contradição.
b) α é contingente se e somente se α é contingente.
Exercı́cio 2. Sejam as fórmulas α e β. Mostre que:
a) α ( β se e somente se ( α β.
b) α β se e somente se ( α β.
Exercı́cio 3. Sejam Γ, ∆ conjuntos de fórmula. Mostre que:
1. (Inclusão) Γ CnpΓq.
2. (Monotonicidade) Se Γ ∆, então CnpΓq Cnp∆q.
3. (Idempotência) CnpCnpΓqq CnpΓq.
Exercı́cio 4. Seja α uma tautologia com variáveis proposicionais p1 , ..., pn .
Sejam β1 , β2 , ..., βn fórmulas quaisquer. Seja δ a fórmula obtida a partir de
α substituindo-se pi por βi para 1 ¤ i ¤ n. Mostre que δ é uma tautologia.
(Use indução nas fórmulas.)
Exercı́cio 5. Verifique se as seguintes fórmulas são tautologias, contradições
ou contingências:
a) pp pq rqq ppp q q pp rqq.
b) pp q q ppp q q pq.
c) p pq ^ pq.
d) pp ^ q q ^ pp q q.
Exercı́cio 6. Seja α uma fórmula e considere Hα a função de verdade
determinada por α (Capı́tulo 7). Mostre que:
a) α é tautologia se e somente se Hα é constante igual a 1.
b) α é contradição se e somente se Hα é constante igual a 0.
Exercı́cio 7. Mostre que:
a) Se α é tautologia, então β ( α para toda fórmula β.
b) Se α é contradição, então α ( β para toda fórmula β.
c) Se α ( γ e α ( γ, então α é uma contradição.
d) Se α ( γ e α ( γ, então α ( β para toda fórmula β.
69
Exercı́cio 8. Um argumento é um conjunto de sentenças em que uma
delas é a conclusão e as outras são as premissas (vamos supor que em um
argumento o número de premissas é sempre finito). Se α1 , α2 , ..., αn são as
premissas e β é a conclusão, então indicamos o argumento como:
α1 , α2 , ..., αn
.
β
Dizemos que um argumento é válido se ocorrer que o conjunto das premissas
implica tautologicamente a conclusão, isto é:
70
a) Escreva explicitamente as tabelas de verdade dessas funções.
b) Defina valoração exatamente como definido para o caso clássico exceto
que a função passa a ser v : F OR Ñ t0, 1{2, 1u. Defina que uma fórmula
α é uma tautologia se para toda valoração v, tem-se que v pαq 1. Nesse
caso, p _ p é uma tautologia? Existiriam tautologias nessa lógica?
c) Como definir, nessa caso, as contradições?
d) E se redefinı́ssemos a noção de tautologia de modo que: α é uma
tautologia se para toda valoração v, tem-se que v pαq 1 ou v pαq 1{2. O
que aconteceria nesse caso?
71
Capı́tulo 9
Compacidade
9.1 Satisfatibilidade
Um conjunto Γ de fórmulas é dito satisfatı́vel se e somente se existe uma
valoração v tal que para todo γ P Γ tem-se que v pγ q 1. Caso contrário, Γ
é dito insatisfatı́vel. Assim, temos que:
Γ é satisfatı́vel ô V alpΓq I.
Γ é insatisfatı́vel ô V alpΓq I.
72
É claro que todo conjunto satisfatı́vel é f-satisfatı́vel. Nosso problema
consiste em investigar a questão inversa: Suponha que todas as partes fini-
tas de um conjunto possuem valorações que torna as fórmulas destas partes
todas verdadeiras. Segue-se daı́ que podemos encontrar uma valoração que
torne todas as fórmulas do conjunto verdadeiras? Para que isso fosse o caso,
as valorações das partes finitas deveriam concordar em suas intersecções.
Seria isso possı́vel? O resultado que estudaremos no presente Capı́tulo res-
ponde afirmativamente a essas questões.
Teorema da Compacidade para a Lógica Proposicional Clássica.
Todo conjunto f-satisfatı́vel de fórmulas de LP é satisfatı́vel.
Um conjunto Γ de fórmulas é dito f-satisfatı́vel maximal se e somente
se Γ é f-satisfatı́vel e nenhuma extensão própria de Γ é f-satisfatı́vel. (Uma
extensão própria de um conjunto S é um conjunto M tal que S é subconjunto
de M e existe um elemento de M que não está em S, isto é, S M .) Isso
é o mesmo que afirmar que: Γ é f-satisfatı́vel maximal se e somente se Γ é
f-satisfatı́vel e se Γ1 é f-satisfatı́vel e Γ Γ1 , então Γ Γ1 . Assim, temos
que:
73
Isso conclui a prova. l
Vamos, na próxima seção, provar que vale também a conversa da pro-
posição acima. Para isto, precisamos de um resultado preliminar.
Proposição. Seja Γ um conjunto de fórmulas. Então, vale que:
(a) Se Γ é f-satisfatı́vel, então, para qualquer fórmula α, pelo menos um
dos dois conjuntos Γ Y tαu ou Γ Y t αu é f-satisfatı́vel.
(b) Se Γ é f-satisfatı́vel maximal, então, para qualquer fórmula α, ou
α P Γ ou α P Γ.
Prova. (a) Seja Γ f-satisfatı́vel e considere α P F OR. Suponha, por ab-
surdo, que Γ Y tαu e Γ Y t αu não são f-satisfatı́veis. Então, existe um
subconjunto finito Γ1 Γ tal que Γ1 Y tαu é insatisfatı́vel e, também,
existe um subconjunto finito Γ2 Γ tal que Γ2 Y t αu é insatisfatı́vel.
Seja Γ Γ1 Y Γ2 . Então, os conjuntos Γ Y tαu e Γ Y t αu são ambos
insatisfatı́veis. (Pois cada um deles incluem um conjunto insatisfatı́vel.)
Afirmação: Γ é insatisfatı́vel. Pois, em caso contrário, se uma valoração v
é tal que v P V alpΓ q, então ou v pαq 1 ou v p αq 1, e isto faria com que
um dos conjuntos, Γ Y tαu ou Γ Y t αu, fosse satisfatı́vel.
Mas, Γ Γ1 Y Γ2 é finito (pois é uma união de conjuntos finitos) e Γ Γ.
Assim, Γ não é f-satisfatı́vel, o que é contrário à nossa hipótese. Segue-se
que pelo menos um dos dois conjuntos Γ Y tαu ou Γ Y t αu é f-satisfatı́vel.
(b) Seja Γ f-satisfatı́vel maximal e considere α P F OR. Pela parte (a), temos
que pelo menos um dos dois conjuntos Γ Y tαu ou Γ Y t αu é f-satisfatı́vel.
Como Γ é maximal, segue-se que ou α P Γ ou α P Γ. l
9.2 Demonstração do teorema da compacidade
Vejamos, então, dois resultados fundamentais para a demonstração do te-
orema da compacidade. O primeiro deles é a conversa de um resultado
provado na seção anterior.
Lema Fundamental. Todo conjunto f-satisfatı́vel maximal é um conjunto
verdade.
Prova. Seja Γ F OR, um conjunto f-satisfatı́vel maximal. Vamos mostrar
que Γ é um conjunto verdade. Para isto, temos que verificar as três cláusulas
da definição de conjunto verdade (ver seção 7.2).
i. Como Γ é f-satisfatı́vel, para uma fórmula α qualquer, vale que α R Γ
ou α R Γ. (Pois se α, α P Γ, então Γ não seria f-satisfatı́vel.) Por
outro lado, como Γ é f-satisfatı́vel maximal, pela parte (b) da proposição
acima, tem-se que α P Γ ou α P Γ. Assim, vale que: α P Γ ô α R Γ.
74
ii. Suponha que α _ β P Γ. Como Γ é f-satisfatı́vel, existe uma valoração
v tal que v pα _ β q 1. Mas, então, temos que v pαq 1 ou v pβ q 1.
Como Γ é maximal, segue-se que α P Γ ou β P Γ.
Suponha que α P Γ. Então, existe uma valoração v tal que v pαq 1.
Como Γ é maximal, temos que α _ β P Γ. Com o mesmo raciocı́nio,
mostramos que: se β P Γ, então α _ β P Γ.
Assim, vale que: α _ β P v ô α P Γ ou β P Γ.
iii. Considere a fórmula α ^ β. Então, temos que:
α ^ β P Γ ô existe valoração v, v pα ^ β q 1
ô existe valoração v, vpαq 1 e vpβ q 1
ô α P Γ e β P Γ (pois Γ é maximal.)
Assim, vale que: α ^ β P v ô α P Γ e β P Γ.
Segue-se, então, que Γ é um conjunto verdade. l
O Lema Fundamental é um dos ingredientes para a demonstração do
teorema da compacidade. O outro ingrediente é o seguinte resultado.
Lema de Lindenbaum. Qualquer conjunto f-satisfatı́vel pode ser esten-
dido a um conjunto f-satisfatı́vel maximal.
Vamos deixar a demonstração do Lema de Lindenbaum para a próxima
seção. Vejamos, agora, que o teorema da compacidade é decorrência direta
dos dois resultados acima.
Prova da Teorema da Compacidade. Seja Γ um conjunto f-satisfatı́vel.
Pelo Lema de Lindenbaum, existe Γ f-satisfatı́vel maximal tal que Γ
Γ . Pelo Lema Fundamental, Γ é um conjunto verdade. Pela segunda
proposição da seção 7.2, a função caracterı́stica v de Γ é uma valoração.
Assim, para todo γ P Γ , tem-se que v pγ q 1. Como Γ Γ , temos que
v P V alpΓq. Logo, Γ é satisfatı́vel. l
9.3 O Lema de Teichmüller-Tukey
Resta, então, provar o Lema de Lindenbaum. Vamos fazer isso mostrando
que esse lema é um caso particular de um resultado da teoria de conjuntos,
denominado Teorema de Teichmüller-Tukey.
Uma propriedade P de conjuntos é dita de caráter finito, se para qual-
quer conjunto S, tem-se que S tem a propriedade P se e somente se to-
dos os subconjuntos finitos de S têm a propriedade P. Mostremos que a
f-satisfatibilidade é uma propriedade de caráter finito.
75
Proposição. Vale que:
(a) Um conjunto finito é f-satisfatı́vel se e somente se ele é satisfatı́vel.
(b) Um conjunto (possivelmente finito) é f-satisfatı́vel se e somente se
todos os seus subconjuntos finitos são f-satisfatı́veis.
Prova. (a) Seja Γ um conjunto finito. Se Γ é f-satisfatı́vel, como Γ é finito
e Γ Γ, segue-se que Γ é satisfatı́vel.
Por outro lado, se Γ é satisfatı́vel, então todo subconjunto de Γ é satisfatı́vel
e, então, Γ é f-satisfatı́vel.
(b) Suponha que Γ é f-satisfatı́vel. Então, por definição, todo subconjunto
finito de Γ é satisfatı́vel. Assim, pela parte (a), todo subconjunto finito de
Γ é f-satisfatı́vel.
Por outro lado, se todo subconjunto finito de Γ é f-satisfatı́vel, então, pela
parte (a), todo subconjunto finito de Γ é satisfatı́vel. Isto é, tem-se que Γ é
f-satisfatı́vel. l
Corolário. Para conjuntos de fórmulas da linguagem proposicional, temos
que a f-satisfatibilidade é uma propriedade de caráter finito.
Prova. Decorrência direta da parte (b) da proposição. l
Passemos ao resultado da teoria de conjuntos mencionado acima. Seja
U um conjunto arbitrário e vamos considerar apenas subconjuntos de U.
Seja, então, P uma propriedade de subconjuntos de U. Dizemos que um
subconjunto S U é P-maximal se e somente se S tem a propriedade P
e nenhuma extensão própria de S (subconjunto de U) a possui. (Compare
com a definição de f-satisfatı́vel maximal.) O Teorema de Teichmüller-Tukey
é simplesmente a afirmação de que: Todo subconjunto de U que tem uma
propriedade P de caráter finito possui uma extensão P-maximal.
Tal como está, a prova desse resultado envolve certas ferramentas da
teoria de conjuntos, a saber: o axioma da escolha ou, equivalentemente, o
Lema de Zorn. Vamos apresentar uma formulação do resultado que dispensa
essas técnicas, fazendo uma restrição no conjunto U.
Teorema de Teichmüller-Tukey para o caso contável. Para qualquer
conjunto contável U e para qualquer propriedade P de caráter finito de
subconjuntos de U, todo subconjunto S U que tenha a propriedade P
pode ser estendido a um subconjunto de U que é P-maximal.
Prova. Sejam U um conjunto contável e S U um conjunto com um
propriedade de caráter finito P.
Usando o teorema da enumeração (seção 4.3), considere uma enumeração
fixa dos elemento de U:
U tX1 , X2 , X3 , ...u.
76
Vamos construir uma sequência contável de subconjuntos de U, denotada
por S0 , S1 , S2 , S3 ..., de acordo com as seguintes cláusulas:
S0 S"
S1 SS00 Y tX1u se esse conjunto tem P
" caso contrário.
S2 S1 Y tX2u
S1
se esse conjunto tem P
caso contrário.
..
. "
Sn Y tXn u
Sn 1 Sn
1 se esse conjunto tem P
caso contrário.
..
.
Segue-se, por construção, que S0 S1 S2 ... Sn Sn 1 ....
Mostremos, por indução finita, que para todo n P N, Sn tem a propriedade
P.
Prova da base. S0 S tem P por hipótese.
Passo indutivo. Suponha que Sn tem a propriedade P (hipótese de
indução). Temos dois casos:
77
Como X P U, existe k P N tal que X Xk 1 . Logo, como M Y tXk 1 u
tem a propriedade P, segue-se que Sk Y tXk 1 u tem a propriedade P. (Pois,
todos os subconjuntos de um conjunto M que tem P também devem ter
a propriedade P, dado que os subconjuntos finitos de subconjuntos de M
também são subconjuntos de M .) Assim, por construção, Sk 1 Sk Y
tXk 1u e, portanto, X Xk 1 P Sk 1. Agora, como Sk 1 M , segue-se
que X P M . Portanto, M é P-maximal e isso completa a demonstração do
teorema. l
Resta, finalmente, mostrar que o Lema de Lindenbaum é consequência
do Teorema de Teichmüller-Tukey.
Prova do Lema de Lindenbaum. O Teorema de Teichmüller-Tukey para
o caso contável afirma que: Para qualquer conjunto contável U e para qual-
quer propriedade P de caráter finito de subconjuntos de U, todo subconjunto
S U que tenha a propriedade P pode ser estendido a um subconjunto de
U que é P-maximal. Para o Lema de Lindenbaum, o universo U é o conjunto
F OR das fórmulas de LP (que é contável, pelo corolário do teorema da seção
5.1) e P é a propriedade de f-sastisfatibilidade, que é de caráter finito, pelo
corolário da proposição acima. Assim, todo subconjunto de F OR que é f-
satisfatı́vel pode ser estendido a um subconjunto de F OR que é f-satisfatı́vel
maximal; e temos o Lema. l
9.4 Exercı́cios
Exercı́cio 1. Mostre que:
(a) Todo conjunto satisfatı́vel é f-satisfatı́vel.
(b) Todo conjunto f-insatisfatı́vel é insatisfatı́vel.
(b) Se Γ é satisfatı́vel e ∆ Γ, então ∆ é satisfatı́vel.
(b) Se Γ é insatisfatı́vel e Γ ∆, então ∆ é insatisfatı́vel.
Exercı́cio 2. Dê exemplos de conjuntos de fórmulas que são insatisfatı́veis
e não possuem contradições.
Exercı́cio 3. Mostre que:
(a) Se α é contraditória e α P Γ, então Γ é insatisfatı́vel.
(b) Γ ( α se e somente se Γ Y t αu é insatisfatı́vel.
Exercı́cio 4. Mostre que o conjunto da fórmulas de LP que não possuem
o sı́mbolo de negação é satisfatı́vel. (Use indução em fórmulas.)
Exercı́cio 5. Mostre que Γ é um conjunto verdade se e somente se Γ
é satisfatı́vel maximal. Faça duas provas: uma diretamente a partir das
78
definições e outra utilizando o teorema da compacidade.
Exercı́cio 6. Seja M axSat o conjunto formado pelos conjuntos de fórmulas
de LP que são satisfatı́veis maximais. Calcule o que é o conjunto M axSat.
Exercı́cio 7. Mostre que se Γ é um conjunto satisfatı́vel maximal de
fórmulas de LP , então temos que CnpΓq Γ. (Veja a definição de CnpΓq
no final da seção 8.3.)
Exercı́cio 8. (a) Mostre que a noção de satisfatibilidade é de caráter finito,
isto é, se Γ é satisfatı́vel, então todo subconjunto finito de Γ é satisfatı́vel.
(b) Demonstre o Lema de Lindenbaum para o caso da satisfatibilidade:
todo subconjunto de F OR que é satisfatı́vel pode ser estendido a um subcon-
junto de F OR que é satisfatı́vel maximal. (Use o Teorema de Teichmüller-
Tukey e a parte (a).)
Exercı́cio 9. Prove o Lema de Lindenbaum diretamente, sem usar o Te-
orema de Teichmüller-Tukey. (A ideia é fazer a construção empregada no
teorema diretamente para a noção de f-satisfatibilidade.)
Exercı́cio 10. Seja xX, ¤y um conjunto parcialmente ordenado. Um sub-
conjunto A X é dito uma cadeia se para todo a, a1 P A tem-se que a ¤ a1
ou a1 ¤ a. O Lema de Zorn é um resultado da teoria de conjuntos que afirma
que: Se xX, ¤y é um conjunto parcialmente ordenado tal que toda cadeia tem
um limitante superior, então X tem um elemento maximal. Por outro lado,
vimos no texto que o Teorema de Teichmüller-Tukey, no caso geral, afirma
que: Todo subconjunto de U que tem uma propriedade P de caráter finito
possui uma extensão P-maximal. Prove o Teorema de Teichmüller-Tukey
utilizando o Lema de Zorn. (Considere o conjunto dos subconjuntos de U
que têm a propriedade P parcialmente ordenado por inclusão.)
79
Capı́tulo 10
Sequentes
80
são denominados axiomas de F e Reg é um conjunto finito de regras de
inferência sobe S.
Os teoremas (ou teses) de um sistema formal F xS, Ax, Reg y são os
elementos de S que decorrem das seguintes cláusulas:
Um axioma de F é um teorema de F .
81
Seja A um elemento de S. Uma prova de A é uma prova em F (portanto,
uma sequência finita de fórmulas) cujo último elemento é A.
Proposição. Seja F xS, Ax, Reg y um sistema formal abstrato. Então,
um elemento A de S é um teorema se e somente se existe uma prova de A
em F .
Prova. (ð) Suponha que A1 , ..., An é uma prova de A. Segue-se de i. e ii.
da definição de prova que, para todo i 1, ..., n, Ai é um teorema. Como A
é An , então A é um teorema.
(ñ) A prova é por indução em teoremas.
αÑβ
82
Vamos escolher, entre os elementos de S um conjunto de axiomas. Esses
axiomas serão selecionados por meio de esquemas de sequentes. Assim,
sejam α, β, γ elementos quaisquer de F OR.
Os axiomas serão sequentes dos seguintes tipos:
1. Axiomas de Simplificação (SIMP): α ^ β Ñ α e α ^ β Ñ β.
2. Axiomas de Adição (AD): α Ñ α _ β e β Ñ α _ β.
3. Axiomas de Dupla Negação (DN): α Ñ α e α Ñ α.
4. Axiomas de Distribuição (DIST): α ^ pβ _ γ q Ñ pα ^ β q _ pα ^ γ q.
5. Axiomas de Silogismo Disjuntivo (SD): pα _ β q ^ α Ñ β.
O conjunto de todos os axiomas será denotado por Ax.
Vejamos, agora como serão as regras de inferência. Essas regras também
serão selecionadas por meio de esquemas de sequentes.
Sejam α, β, γ, α1 , α2 , β1 , β2 fórmulas quaiquer de LP .
1. Regra de Corte (COR). Inferir α Ñ γ a partir de α Ñ β e β Ñ γ.
αÑβ βÑγ
αÑγ
COR
83
10.3 Teoremas de SEQP
Vejamos, agora uma série de teoremas de SEQP . Cada teorema será seguido
de uma prova do mesmo no sistema. Lembre-se que, para mostrar que um
sequente é um teorema do sistema, precisamos encontrar uma sequência
finita de sequentes cujo último elemento é o sequente que desejamos provar.
Cada elemento da sequência que constitui uma prova será acompanhado de
uma justificativa baseada na definição de prova da seção anterior. Algumas
provas serão acompanhadas também de diagramas em forma de árvore que é
uma reconstrução dos passos da prova. Como o leitor perceberá, as provas,
de fato, serão esquemas de provas, de modo que um esquema demonstrado
representará uma quantidade infinita de teoremas que possuem a forma do
esquema.
I. α Ñ α é um teorema de SEQP .
1. α Ñ α (DN)
2. α Ñ α (DN)
3. α Ñ α 1, 2, (COR)
αÑ α αÑα
αÑα COR
α^β Ñα β^αÑβ
α^β Ñβ^α
COR
Vejamos dois exemplos mais elaborados. São algumas das leis associati-
vas para a conjunção e disjunção.
III. α ^ pβ ^ γ q Ñ pα ^ β q ^ γ é um teorema de SEQP .
1. α ^ pβ ^ γ q Ñ β ^ γ (SIMP)
2. β^γ Ñβ (SIMP)
3. α ^ pβ ^ γ q Ñ β 1, 2, (COR)
4. α ^ pβ ^ γ q Ñ α (SIMP)
5. α ^ pβ ^ γ q Ñ α ^ β 3, 4, (CONJ)
6. β^γ Ñγ (SIMP)
7. α ^ pβ ^ γ q Ñ γ 1, 6, (COR)
8. α ^ pβ ^ γ q Ñ pα ^ β q ^ γ 5, 7, (CONJ)
84
Fica para o leitor a construção da respectiva árvore da prova.
IV. α _ pβ _ γ q Ñ pα _ β q _ γ é um teorema de SEQP .
1. αÑα_β (AD)
2. α _ β Ñ pα _ β q _ γ (AD)
3. α Ñ pα _ β q _ γ 1, 2, (COR)
4. β Ñα_β (AD)
5. β Ñ pα _ β q _ γ 2, 4, (COR)
6. γ Ñ pα _ β q _ γ (AD)
7. β _ γ Ñ pα _ β q _ γ 5, 6, (DISJ)
8. α _ pβ _ γ q Ñ pα _ β q _ γ 3, 7, (DISJ)
1. αÑ α (DN)
2. αÑα (DN)
3. αÑα 1, 2, (COR)
4. α^β Ñα (SIMP)
5. α _ pα ^ β q Ñ α 3, 4, (DISJ)
αÑ α αÑα
αÑα COR α^β Ñα
α _ pα ^ β q Ñ α
DISJ
1. α Ñ α Teorema I
2. α ^ β Ñ α (SIMP)
3. α _ pα ^ β q Ñ α 1, 2, (DISJ)
A árvore ficaria:
Teorema I
αÑα α^β Ñα
α _ pα ^ β q Ñ α
DISJ
85
Vamos, agora, para uma outra forma da lei distributiva.
VI. α _ pβ ^ γ q Ñ pα _ β q ^ pα _ γ q é um teorema de SEQP .
1. β^γ Ñβ (SIMP)
2. β Ñα_β (AD)
3. β^γ Ñα_β 1, 2, (COR)
4. αÑα_β (AD)
5. α _ pβ ^ γ q Ñ pα _ β q 3, 4, (DISJ)
6. αÑα_γ (AD)
7. β^γ Ñγ (SIMP)
8. γ Ñα_γ (AD)
9. β^γ Ñα_γ 7, 8, (COR)
10. α _ pβ ^ γ q Ñ pα _ γ q 6, 9, (DISJ)
11. α _ pβ ^ γ q Ñ pα _ β q ^ pα _ γ q 5, 10, (CONJ)
Fica para o leitor a construção da respectiva árvore da prova.
Vamos, agora, aos Princı́pios de de Morgan.
VII. pα ^ β q Ñ α _ β é um teorema de SEQP .
1. αÑ α_ β (AD)
2. p α _ βq Ñ α 1, (CONTR)
3. αÑα (DN)
4. p α _ βq Ñ α 2, 3, (COR)
5. β Ñ α_ β (AD)
6. p α _ βq Ñ β 5, (CONTR)
7. βÑβ (DN)
8. p α _ βq Ñ β 6, 7, (COR)
9. p α _ βq Ñ α _ β 4, 8, (CONJ)
10. pα _ β q Ñ p α _ β q 9, (CONTR)
11. p α _ βq Ñ α _ β (DN)
12. pα ^ β q Ñ α _ β 10, 11, (COR)
Fica para o leitor a construção da respectiva árvore da prova.
VIII. α_ β Ñ pα ^ β q é um teorema de SEQP .
1. α ^ β Ñ α (SIMP)
2. α Ñ pα ^ β q 1, (CONTR)
3. α ^ β Ñ β (SIMP)
4. β Ñ pα ^ β q 3, (CONTR)
5. α _ β Ñ pα ^ β q 2, 4, (DISJ)
A árvore fica:
86
α^β Ñα α^β Ñβ
α Ñ pα ^ β q β Ñ pα ^ β q
CONTR CONTR
α _ β Ñ pα ^ β q
DISJ
1. α^ αÑα (SIMP)
2. α Ñ α _ βq (AD)
3. α^ αÑα_β 1, 2, (COR)
4. α^ αÑ α (SIMP)
5. α ^ α Ñ pα _ β q ^ α 3, 4, (CONJ)
6. pα _ β q ^ α Ñ β (SD)
7. α^ αÑβ 5, 6, (COR)
A árvore fica:
α ^αÑα α Ñ α _ βq
α^ αÑα_β ^ Ñ
COR
α α α
α ^ α Ñ pα _ β q ^ pα _ β q ^ Ñβ
CONJ
α α
α ^ α Ñβ COR
10.4 Exercı́cios
Exercı́cio 1. Dê um exemplo de um sistema formal abstrato simples espe-
cificando os conjuntos S, Ax e Reg. Dê exemplos de teoremas desse sistema
apresentando suas provas.
Exercı́cio 2. Formule argumentos para mostrar as propriedades (P1)-(P4)
da noção de prova em um sistema forma abstrato.
Exercı́cio 3. Na simplificação da prova que fizemos no Teorema V do texto
foi utilizado uma propriedade da noção de prova. Qual é essa propriedade?
Justifique.
Exercı́cio 4. Mostre que α _ β Ñ β _ α é um teorema do sistema SEQP .
Exercı́cio 5. Mostre que as seguintes leis associativas são teoremas de
SEQP :
(a) pα _ β q _ γ Ñ pα _ β q _ γ.
87
(b) pα ^ β q ^ γ
Ñ pα ^ β q ^ γ.
Exercı́cio 6. Mostre que α Ñ α ^pα _ β q é um teorema do sistema SEQP .
Exercı́cio 7. Mostre que pα _ β q ^ pα _ γ q Ñ α ^ pβ _ γ q é uma tese do
sistema SEQP . Difı́cil! Você terá que fazer uso do axioma de distribuição
original.
Exercı́cio 8. Mostre que as seguintes leis de de Morgan são teses de SEQP :
(a) α _ β Ñ pα ^ β q.
(b) α ^ β Ñ pα _ β q.
Exercı́cio 9. Mostre que o outro Princı́pio de Lewis, α Ñβ_ β, é um
teorema do sistema SEQP .
Exercı́cio 10. Mostre por indução em teoremas que se um sequente α Ñ β é
uma tese de SEQP , então α implica tautologicamente β. (Este é o Teorema
da Correção que será demonstrado no próximo Capı́tulo.)
88
Capı́tulo 11
Adequação de SEQP
89
Passo indutivo. Temos que mostrar que se as hipótese de uma regra
de inferência são casos de implicação tautológica, então a conclusão
da regra também é um caso de implicação tautológica. Assim, temos
que mostrar que:
1. Corte. Se α ( β e β ( γ, então α ( γ.
2. Conjunção. Se α ( β1 e α ( β2 , então α ( β1 ^ β2 .
3. Disjunção. Se α1 ( β e α2 ( β, então α1 _ α2 ( β.
4. Contraposição. Se α ( β, então β ( α.
Mas, isso foi demonstrado no Teorema B da seção 8.3.
90
Assim, temos que o sequente ψ1 ^ pψ2 ^ ... ^ ψnq...qq Ñ α pode ser
representado simplesmente como:
ψ1 ^ ψ2 ^ ... ^ ψn
Ñ α.
Proposição 2. tαu $ β se e somente se α Ñ β é tese de SEQP .
Prova. Imediata a partir da definição de implicação axiomática. l
Proposição 3. (Inclusão.) Se α P Γ, então Γ $ α.
Prova. Como α P Γ e, pelo Teorema I do Capı́tulo anterior, temos que o
sequente α Ñ α é teorema de SEQP , segue-se que Γ $ α. l
Proposição 4. (Monotonicidade.) Se Γ $ α e Γ ∆, então ∆ $ α.
Prova. Como Γ $ α, existe tψ1 , ψ2 , ..., ψn u Γ tal que o sequente
ψ1 ^ ψ2 ^ ... ^ ψn Ñα
é tese de SEQP . Mas, como Γ ∆, temos que tψ1 , ψ2 , ..., ψn u ∆. Logo,
segue-se que que ∆ $ α. l
Proposição 5. Se Γ é finito, então Γ $ α se e somente se γ Ñ α é teorema
de SEQP em que γ é uma conjunção de todas as fórmulas de Γ.
Prova. Imediata a partir da definição de implicação axiomática e da Pro-
posição 1 acima. l
Proposição 6. (Finitude.) Γ $ α se e somente se existe um subconjunto
finito Γ1 Γ tal que Γ1 $ α.
Prova. Decorrência direta da definição de implicação axiomática e da Pro-
posição 5 acima. l
Utilizaremos estas propriedades na prova do teorema da completude a
ser desenvolvida na próxima seção.
91
Vamos começar com uma construção1 e provaremos vários lemas com
base na mesma.
Sejam α e β fórmulas de LP tais que α Ñ β não é um teorema de SEQP .
(Tais fórmulas existem pelo corolário do teorema da correção.)
Usando o teorema da enumeração (seção 4.3), considere uma enumeração
fixa das fórmulas de LP :
F OR tγ1 , γ2 , γ3 , ...u.
Γ0 t"αu
Γ1 ΓΓ00 Y tγ1u se Γ0 Y tγ1 u & β
" caso contrário.
Γ2 Γ1 Y tγ2u
Γ1
se Γ1 Y tγ2 u & β
caso contrário.
..
. "
Γn Y tγn u se Γn Y tγn 1 u & β
Γn 1 Γn
1
caso contrário.
..
.
92
Passo indutivo. Suponha que Γi & β (hipótese de indução). Para
Γi 1 temos dois casos:
ψ1 ^ ψ2 ^ ... ^ ψn Ñψ
é um teorema de SEQP . Como ψ é uma fórmula de LP , então, na enu-
meração de F OR fixada, ψ γi para algum i P N. Como ψ γi R Γ, então,
por construção, ψ R Γi e Γi1 Y tψ u $ β. Logo, existe tθ1 , .., θm u Γi1 tal
que
θ1 ^ ... ^ θm ^ ψ Ñ β
é tese de SEQP . (A fórmula ψ deve ocorrer na conjunção pois, pelo Lema
2, temos que Γi1 & β.)
93
Afirmação. Vale a seguinte regra de inferência derivada:
ϕÑψ θ^ψ Ñβ
ϕ^θ Ñβ
Para ver isso, considere a seguinte prova na forma de árvore:
hipótese
ϕ^θ Ñϕ ϕÑψ
ϕ^θ Ñθ ϕ^θ Ñψ
COR
hipótese
ϕ^θ Ñθ^ψ θ^ψ Ñβ
CONJ
ϕ^θ Ñβ
COR
ψ1 ^ ψ2 ^ ... ^ ψn ^ θ1 ^ ... ^ θm ^ ψ Ñψ
é também um teorema de SEQP . Mas, então, como tψ1 , ψ2 , ..., ψn u Γ
e tθ1 , .., θm u Γi1 Γ, temos que tψ1 , ψ2 , ..., ψn , θ1 , .., θm u Γ. Assim,
Γ $ β, o que contradiz o Lema 3. Logo, ψ P Γ e segue-se o resultado. l
Vamos, agora, mostrar que Γ é um conjunto verdade. Para isso, pre-
cisamos mostrar que valem as três propriedades da definição de conjunto
verdade (seção 7.2).
Lema 6. O conjunto Γ é bem comportado com respeito à conjunção. Isto
é: para toda fórmula ϕ e ψ vale que: ϕ ^ ψ P Γ ô ϕ P Γ e ψ P Γ.
Prova. (ñ) Suponha que ϕ ^ ψ P Γ. Então, pela proposição 3, temos
Γ $ ϕ ^ ψ. Logo, existe tα1 , ..., αn u Γ tal que o sequente
α1 ^ ... ^ αn Ñϕ^ψ
é um teorema de SEQP .
Afirmação. Valem as seguintes regras de inferência derivadas:
αÑϕ^ψ αÑϕ^ψ
αÑϕ αÑψ
e
hipótese
αÑϕ^ψ ϕ^ψ Ñϕ
αÑϕ COR
94
e, também,
hipótese
αÑϕ^ψ ϕ^ψ Ñψ
αÑψ
COR
αÑϕ βÑψ
α^β Ñϕ^ψ
Para ver isso, considere as seguinte prova em forma de árvore.
hipótese hipótese
α^β Ñα αÑϕ α^β Ñβ βÑψ
α^β Ñϕ α^β Ñ ψ CONJCOR
COR
α^β Ñϕ^ψ
Assim, como α1 ^ ... ^ αn Ñ ϕ e β1 ^ ... ^ βm Ñ ψ são teoremas de SEQP ,
então, pela regra acima, temos que α1 ^ ... ^ αn ^ β1 ^ ... ^ βm Ñ ϕ ^ ψ
é teorema de SEQP . Mas, como tα1 , ..., αn , β1 , ..., βm u Γ, segue-se que
γ $ ϕ ^ ψ. Pelo Lema 5, temos que ϕ ^ ψ P Γ.
Assim, ϕ ^ ψ P Γ ô ϕ P Γ e ψ P Γ e segue-se o resultado. l
Lema 7. O conjunto Γ é bem comportado com respeito à disjunção. Isto
é: para toda fórmula ϕ e ψ vale que: ϕ _ ψ P Γ ô ϕ P Γ ou ψ P Γ.
Prova. (ð) Suponha que ϕ P Γ ou ψ P Γ.
Se ϕ P Γ, então, pela proposição 2, tem-se que Γ $ ϕ. Então, existe
tα1, ..., αnu Γ tal que o sequente
α1 ^ ... ^ αn Ñϕ
é um teorema de SEQP .
Considere a seguinte prova:
95
hipótese
α1 ^ ... ^ αn Ñ ϕ ϕÑϕ_ψ
α1 ^ ... ^ αn Ñϕ_ψ COR
Se ψ P Γ, o argumento é análogo.
Concluı́mos, então, que ϕ _ ψ P Γ.
(ñ) Seja ϕ _ ψ P Γ e suponha, por absurdo, que ϕ R Γ e ψ R Γ. Como ϕ e
ψ são fórmula de LP , existem i, j P N tais que ϕ γi e ψ γj .
Como ϕ γi R Γ, segue-se que γi R Γi . Logo, Γi1 Ytγi u $ β. Assim, existe
tθ1, ..., θnu Γi1 tal que o sequente θ1 ^ ... ^ θn ^ γi Ñ β é uma tese de
SEQP 2 . Fazendo θ θ1 ^ ... ^ θn , temos que o sequente θ ^ γi Ñ β é uma
tese de SEQP . Por um argumento similar, temos que θ1 ^ γj Ñ β é uma
tese de SEQP .
Agora, usando a regra de disjunção, temos que
pθ ^ γ i q _ p θ 1 ^ γ j q Ñ β
é uma tese de SEQP .
Usando distributividade e transitividade, segue-se que
pθ ^ θ 1 q ^ p γ i _ γ j q Ñ β
é uma tese de SEQP .
Como γi _ γj ϕ _ ψ P Γ, segue-se que Γ $ β, o que contradiz o Lema 3.
Logo, temos que ϕ P Γ ou ψ P Γ.
Assim, ϕ _ ψ P Γ ô ϕ P Γ ou ψ P Γ e segue-se o resultado. l
Lema 8. O conjunto Γ é bem comportado com respeito à negação. Isto é:
para toda fórmula ϕ vale que: ϕ P Γ ô ϕ R Γ.
Prova. Mostremos, primeiramente, que não pode ocorrer ϕ, ϕ P Γ. Se
esse fosse o caso, como o sequente ϕ ^ ϕ Ñ β é uma tese de SEQP (ver
Teorema IX da seção 10.2), temos que Γ $ β, contradizendo o Lema 3.
Mostremos, agora, que ϕ P Γ ou ϕ P Γ. Temos que α Ñ ϕ _ ϕ é um
teorema de SEQP (ver exercı́cio 9 do Capı́tulo 10) e como, pelo Lema 1,
α P Γ, segue-se que Γ $ ϕ _ ϕ. Pelo Lema 5, temos que ϕ _ ϕ P Γ e,
pelo Lema 7, segue-se que ϕ P Γ ou ϕ P Γ.
2
Obeserve que estamos empregando o mesmo argumento usado no inı́cio da demons-
tração do Lema 5.
96
Assim, obtemos: ϕ P Γ ô ϕ R Γ. l
Corlorário. O conjunto Γ é um conjunto verdade.
Prova. Decorrência direta dos Lemas 6, 7 e 8. l
Podemos, finalmente, demonstrar o teorema da Completude para o sis-
tema SEQP .
Prova da Teorema da Completude. Vamos fazer a demonstração pela
contrapositiva. Suponha que α Ñ β não é uma tese de SEQP . Por meio da
construção do inı́cio da seção, obtemos um conjunto Γ de fórmulas tal que
valem os Lemas 1-8. Pelo corolário, Γ é um conjunto verdade. Assim, pela
segunda proposição da seção 7.2, a função caracterı́stica v χΓ de Γ é uma
valoração. Mas, pelos Lemas 1 e 4, temos que α P Γ e β R Γ. Assim, v pαq 1
e v pβ q 0 e temos que α * β, isto é, α não implica tautologicamente β.
Logo, segue-se o resultado. l
11.4 Exercı́cios
Exercı́cio 1. Dê uma demonstração completa das proposições 2, 5 e 6
referentes ao conceito do implicação axiomática.
Exercı́cio 2. Mostre que Γ $ α se e somente se Γ Y t αu é insatisfatı́vel.
Exercı́cio 3. Prove o Lema 4 a partir dos Lemas 3 e 5.
Exercı́cio 4. Complete a demostração do Lema 7 mostrando que vale uma
regra de infrência derivada do tipo:
pθ ^ ϕq _ pθ1 ^ ϕ1q Ñ ψ
pθ ^ θ1q ^ pϕ _ ϕ1q Ñ ψ
Use associatividade e distributividade.
Exercı́cio 5. Um conjunto Γ de fórmula é dito consistente se existe uma
fórmula α tal que Γ & α. Caso contrário, Γ é dito inconsistente. Mostre que
Γ é inconsistente se e somente se existe uma fórmula α tal que Γ $ α ^ α.
Use um Princı́pio de Lewis.
Exercı́cio 6. Mostre que se um conjunto de fórmulas Γ é satisfatı́vel, então
ele é consistente.
Exercı́cio 7. Mostre que se um conjunto de fórmulas Γ é consistente, então
ele é satisfatı́vel. Use o teorema da completude.
97
Exercı́cio 8. Mostre que todo conjunto consistente pode ser estendido
para um conjunto consistente maximal, isto é, um conjunto consistente que
não é subconjunto próprio de um conjunto consistente. (Este resultado é
conhecido também como Lema de Lindenbaum.)
Exercı́cio 9. Faça uma nova demonstração do teorema da compacidade
usando a noção de implicação axiomática e o teorema da completude.
Exercı́cio 10. Esboce uma maneira de formalizar o conceito de tautologia
por meio de um sistema formal abstrato.
98
Capı́tulo 12
Lógica quantificacional
Parênteses: p e q.
Uma linguagem quantificacional fica determinada quando se escolhe os
seus sı́mbolos de predicado. Esses são sı́mbolos especı́ficos da linguagem
99
denominados simbolos não lógicos. Todos os outros sı́mbolos, ditos sı́mbolos
lógicos, pertencerão à todas as linguagens quantificacionais.
Como antes, expressões de LQ são sequências finitas de sı́mbolos de LQ .
Vamos continuar a usar u e v como variáveis sintáticas para expressões de
LQ . Usaremos as letras em negrito x, x1 , ..., y, y1 , ..., z, z1 , ... como variáveis
sintáticas para variáveis individuais. Os sı́mbolos Π, Π1 , ... são variáveis
sintáticas para sı́mbolos de predicado.
As fórmulas de LQ são os elementos do menor (no sentido da inclusão)
subconjunto F OR das expressões de LQ que satisfaz as seguintes cláusulas:
i. Se Π é um sı́mbolo de predicado de grau 1 e x1 é uma variável individual,
então Πx1 é elemento de F OR.
Se Π é um sı́mbolo de predicado de grau 2 e x1 , x2 são variáveis indivi-
duais então Πx1 x2 é elemento de F OR.
Em geral, se Π é um sı́mbolo de predicado de grau n e x1 , ..., xn são n
variáveis individuais então Πx1 ...xn é elemento de F OR.
100
Uma fórmula do tipo Dxα é dita a quantificação existencial da fórmula
α com respeito à variável individual x.
Exemplo. Vamos considerar uma linguagem quantificacional com apenas
três sı́mbolos de predicado.
P : um sı́mbolo de predicado de grau 1.
Q: um sı́mbolo de predicado de grau 1.
R: um sı́mbolo de predicado de grau 2.
Algumas fórmulas atômicas dessa linguagem seriam: P x14 , Qx17 , Rx5 x2 ,
P x21 .
Outras fórmulas seriam: P x4 , pQx1 _ Rx2 x3 q, pP x1 ^ Qx1 q.
Ou ainda: @x2 P x2 , @x1 pQx1 _ Rx2 x2 q, Dx2 Rx1 x2 .
101
Exemplo. Vamos construir uma interpretação para a linguagem exemplifi-
cada na seção anterior. Fazemos:
D N t0, 1, 2, ...u.
F pP q tn P N : n é paru t0, 2, 4, ...u.
F pQq t1, 5, 13u.
F pRq txn, my P N N : n mu.
f px14 q 14.
102
14 é par.
f px17 q 17.
103
uma interpretação Ax xD, F, f x y que difere de A no máximo no valor que
a função f atribui a x. Assim, Ax tem o mesmo universo D de A, mesma
função F que interpreta os sı́mbolos de predicado de LQ e a função f x é tal
que para toda variável individual y com y x, tem-se que f x pyq f pyq.
Assim, para avaliar o valor de verdade de @x2 P x2 na interpretação A
acima, devemos considerar o valor de verdade de P x2 em todas as inter-
pretações x2 -variante de A. Mas, já sabemos que uma função f x2 3, faz a
fórmula P x2 ser falsa. Assim, @x2 P x2 é falsa na interpretação considerada.
Isso motiva a seguinte cláusula para fórmulas com quantificadores:
@xα é verdadeira na interpretação considerada A se e somente se α é
verdadeira em todas as interpretações Ax , que são x-variantes de A.
Podemos, então, sumarizar as cláusulas acima introduzindo uma de-
finição de verdade para fórmulas de uma linguagem quantificacional segundo
uma interpretação dada.
Definição. (Tarski.) Seja A xD, F, f y uma interpretação
para uma linguagem quantificacional LQ . Para cada fórmula
de LQ vamos atribuir um valor de verdade 0 ou 1 segundo a
interpretação A. Assim, vamos definir uma função:
vA : F OR Ñ t0, 1u
de acordo com as seguintes cláusulas:
Se α é a fórmula Πx1 ...xn em que Π é um predicado de grau
n e x1 , ..., xn são n variáveis individuais, então
vA pαq 1 ô xf px1 q, ..., f pxn qy P F pΠq.
Se α é β, então vA pαq H pvA pβ qq.
Se α é pβ _ γ q, então vA pαq H_ pvA pβ q, vA pγ qq.
Se α é pβ ^ γ q, então vA pαq H^ pvA pβ q, vA pγ qq.
Se α é @xβ, então vA pαq 1 se e somente se vAx pβ q 1,
em todas as interpretações Ax , que são x-variantes de A.
Vejamos algumas consequências dessa definição.
1. Se α é @xβ, então temos que:
vA p α q 0 ô vA p@xβ q 0
ô não é o caso que para toda interpretação Ax ,
x-variante de A, tem-se que vAx pβ q 1
ô existe uma interpretação Ax ,
x-variante de A, tal que vAx pβ q 0.
104
2. Se α é Dxβ, então temos que:
vA p α q 1 ô vA pDxβ q 1
ô vA p @x β q 1
ô vA p@x β q 0
ô existe uma interpretação Ax ,
x-variante de A, tal que vAx p β q 0
ô existe uma interpretação Ax ,
x-variante de A, tal que vAx pβ q 1.
D t0, 1, 2u;
F pP q t1, 2u;
F pQq t3u;
105
Nesse caso, temos que V alA p@x1 pP x1 _ Qx1 qq 1. Pois,
@x1pP x1 _ Qx2q.
Aqui, todas as ocorrência de x1 são ligadas e a ocorrência de x2 é livre.
Dx1pP x1 _ Qx1q _ P x1 .
106
Uma fórmula que não possui variáveis livres é dita uma sentença. Um
resultado interessante sobre o cálculo de valores de verdade para sentenças
é dado a seguir.
Teorema. Seja α uma sentença de uma linguagem quantificacional LQ e
A xD, F, f y uma interpretação para essa linguagem. Então, o valor de
verdade segundo a interpretação A não depende da função f . Isto é, se
A1 xD, F, f 1 y é uma outra interpretação para LQ (com os mesmos D e F ),
então V alA pαq V alA pαq.
1
12.5 Exercı́cios
Exercı́cio 1. Construa uma linguagem quantificacional e dê exemplos de
fórmulas para essa linguagem.
Exercı́cio 2. Construa uma interpretação para a linguagem do exercı́cio 1
e dê cinco exemplos de fórmulas vedadeiras e cinco de falsas.
Exercı́cio 3. Considere a interpretação dada no final da seção 12.2.
@x1Rx1x1
@x1@x2pRx1x2 Rx2x1q
107
@x1@x2@x3ppRx1x2 ^ Rx2x3q Rx1x3q
Que tipo de relação a interpretação de R deve ser?
Exercı́cio 6. Encontre uma interpretação que dê verdadeiro para Dx1 P x1
e Dx1 Qx1 e falso para Dx1 pP x1 ^ Qx1 q.
Exercı́cio 7. Encontre uma interpretação que dê verdadeiro para a fórmula
@x1Dx2Rx1x2 e falso para Dx2@x1Rx1x2.
Exercı́cio 8. Considere uma linguagem quantificacional com um único
sı́mbolo não lógico R, um predicado de grau 2. Encontre fórmulas que
expressem os seguintes significados:
108
Capı́tulo 13
Sequentes para LQ
13.1 Validade
O conceito de tautologia que estudamos para a lógica proposicional possui
um correlato na lógica quantificacional que é a noção de fórmula válida.
Dizemos que uma fórmula α de uma linguagem quantificacional LQ é
válida se e somente se para toda interpretação A xD, F, f y para LQ tem-
se que vA pαq 1.
Vejamos que existem muitas fórmulas de linguagens quantificacionais que
são válidas.
Seja ψ pp1 , ..., pn q uma tautologia da linguagem proposicional LP que
possui as variáveis proposicionais p1 , ..., pn . Dizemos que uma fórmula α
de uma linguagem quantificacional LQ tem a forma de ψ se α é obtida de
ψ substituindo-se uniformemente as variáveis proposicionais p1 , ..., pn por
fórmulas de LQ . (É claro que cada ocorrência de pi é substituı́da sempre
pela mesma fórmula, para i 1, ..., n.)
Temos, assim, o seguinte resultado:
Proposição. Toda fórmula da uma linguagem quantificacional que tenha a
forma de uma tautologia proposicional é válida.
Segue-se da proposição acima que P x1 _ P x1 e P x1 pQx2 P x1q
são exemplos de fórmulas válidas.
109
No entanto, em uma linguagem quantificacional, existem fórmulas que
não possuem a forma de uma tautologia proposicional, mas que são válidas.
Um exemplo de uma tal fórmula é: Dx1 @x2 Rx1 x2 @x2 Dx1 Rx1 x2 . Observe
que a conversa dessa implicação não é válida (ver exercı́cio 7 do Capı́tulo
12).
1
Note que estamos utilizando o mesmo sı́mbolo de implicação tautológica. O contexto
dirá qual é o caso.
110
Exercı́cio 1. Demonstre a proposição da seção
111
Índice Remissivo
112
função caracterı́stica, 29 ordem total, 34
função composta, 26
Função conjunção, 49 par ordenado, 13, 14
função de verdade, 47 partição, 18
função de verdade determinada por pertinência, 5
fórmula, 61 Princı́pio de especificação, 7
Função disjunção, 48 Princı́pio de extensionalidade, 6
Função implicação, 49 Princı́pio de Indução, 31
função injetora, 25 princı́pio de indução completa, 33
função inversa, 27 Princı́pio de indução em fórmulas, 43
Função negação, 48 produto cartesiano, 15
função sobrejetora, 25 produtos cartesianos finitos, 15
funções de verdade definı́veis, 50 propriedades da inclusão, 7
grau, 47 reflexividade, 16
relação n-ária, 17
identidade em um conjunto, 27 relação (binária), 16
igualdade, 5 relação de equivalência, 16
imagem, 25 relação de ordem, 19
implicação (material), 43 relação de ordem estrita, 16
inclusão, 6 relação de ordem parcial, 16
indução no curso de valores, 33 relação em um conjunto, 16
injeção, 25
intersecção, 9 sı́mbolo de negação, 42
intersecções generalizadas, 10 sı́mbolos, 40
irreflexividade, 16 sı́mbolos de conjunção, 42
sı́mbolos de disjunção, 42
Lema da Leitura Única, 44 simetria, 16
limitante inferior, 20 sobrejeção, 25
limitante superior, 20 subconjunto, 6
linguagem formalizada, 40 subconjunto próprio, 6
linguagem proposicional, 42 supremo, 20
113
Teorema sobre número de expressões,
41
transitividade, 16
união, 8
uniões generalizadas, 10
valor, 25
valoração, 56
valores de verdade, 47, 56
variáveis proposicionais, 42
variáveis sintáticas para expressões,
42
variáveis sintáticas para fórmulas, 42
verdadeiro, 47, 56
114