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Belém - Pará
2013
1
Sumário
1 Preliminares 5
1.1 Notação Fatorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.1.1 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.2 Notação Somatório . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.2.1 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.3 Notação Produtório . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.3.1 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.4 Triângulo de Pascal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.4.1 Número Binomial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.4.2 O Triângulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.4.3 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.5 Indução Matemática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.5.1 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2 Divisibilidade 20
2.1 Divisores de um Inteiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.2 Algorı́tmo da Divisão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.3 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2
4.4 MMC de Vários Inteiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
4.5 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
5 Números Primos 39
5.1 Primos e Compostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
5.2 O Teorema Fundametal da Aritmética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
5.3 Crivo de Eratóstenes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
5.4 Primos Gêmeos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
5.5 A conjectura de Goldbach e o método de fatoração de Fermat . . . . . . . . . . . . 43
5.6 Desertos de Primos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
5.7 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
6 Equações Diofantinas 47
6.1 Generalidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
6.2 Existência de Solução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
6.3 Resolvendo uma Equação Diofantina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
6.4 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
7 Congruência 51
7.1 Inteiros Congruentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
7.2 Propriedades das Congruências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
7.3 Sistemas Completos de Restos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
7.4 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
8 Congruências Lineares 57
8.1 Generalidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
8.2 Existência de Solução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
8.3 Resolvendo uma Congruência Linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
8.4 Resolução de Equações Diofantinas por Congruência . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
8.5 Inverso de um Inteiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
8.6 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
9 Sistema de Congruências 64
9.1 Generalidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
9.2 Teorema do Resto Chinês . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
9.3 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
3
10.2 Wilson . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
10.3 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
A Respostas 71
Bibliografia 74
4
Capı́tulo 1
Preliminares
Nosso objetivo com esse texto é fazer uma breve introdução à Teoria do Números. Vamos ex-
plorar algumas propriedades do conjunto dos inteiros positivos N = {1, 2, 3, 4, 5, ...}. Neste capı́tulo
estudaremos algumas ferramentas e notações que ocorrem com frequência em Teoria dos Números.
n! = 1 · 2 · 3 · 4 · ... · n
5
Em alguns casos, trabalharemos com expressões usando fatorial em que não aparecem explicita-
mente números, mas apenas variáveis. Nesses casos, será útil lembrar que, por exemplo, o sucessor
de n é n + 1, o sucessor de n + 1 é n + 2 e assim sucessivamente. Do mesmo modo, devemos ter em
mente que o antecessor de n é n − 1, o antecessor de n − 1 é n − 2 e assim por diante. Por exemplo,
podemos escrever que n! = n · (n − 1) · (n − 2) · ... · 1. Vejamos um exemplo mais elaborado.
n!
Exemplo 1.3. Simplifique a expressão .
(n − 2)!
Notando que n é maior do que n − 2, podemos desenvolver o numerador até obter um valor igual
ao denominador. Temos:
n! n · (n − 1) · (n − 2)!
= = n · (n − 1)
(n − 2)! (n − 2)!
1.1.1 Exercı́cios
1. Calcule
(a) 7! (b)6! (c)5! (d)4! (e)3!
2. Simplifique
7! 10! 8! 6!
(a) (b) (c) (d)
2! · 5! 3! · 7! 3! · 5! 2! · 4!
5! 9! 10! 20!
(e) (f) (g) (h)
2! · 3! 4! · 5! 5! · 5! 12! · 8!
(II) 12 + 22 + 32 + ... + n2
1 1 1 1
(III) + + + ... +
2 3 4 n
A notação somatório usa o sı́mbolo Σ, letra maiúscula do alfabeto Grego chamada sigma. Po-
demos reescrever as somas anteriores do seguinte modo:
∑
2013
(I) i (lê-se: soma de i, com i variando de 1 a 2013)
i=1
∑
n
(II) i2 (lê-se: soma de i ao quadrado, com i variando de 1 a n)
i=1
6
∑
n
1
(III) (lê-se: soma de 1 sobre i, com i variando de 1 a n)
i=1
i
∑
n
De um modo geral, escrevemos ai para significar am + am+1 + am+2 + ... + an , m ≤ n. A
i=m
letra i é chamada ı́ndice do somatório e as letras m e n são, respectivamente os limites inferior e
superior do somatório. Temos:
∑
n
ai = am + am+1 + am+2 + ... + an
i=m
∑
5
Exemplo 1.4. Calcule i2 .
i=1
∑
5
Temos i2 = 12 + 22 + 32 + 42 + 52 = 1 + 4 + 9 + 16 + 25 = 55
i=1
Notemos que não aparece o ı́ndice i do somatório. Significa que cada parcela é constante. Temos
∑
4
3 = 3 + 3 + 3 + 3 = 12
i=1
A seguir veremos algumas propriedades da notação somatório. Essas propriedades são úteis
quando precisamos manipular fórmulas com somatórios.
7
Teorema 1.1. Suponhamos que α, ai , bi e bj são números inteiros quaisquer e que n é um inteiro
positivo. Valem as seguintes igualdades:
∑
n ∑
n ∑
n
(a) (ai + bi ) = ai + bi (soma de somatórios)
i=1 i=1 i=1
∑
n ∑
n
(b) α · ai = α ai (produto de somatório por constante)
i=1 i=1
∑
n ∑
m ∑
n ∑
m
(c) a i · bj = ai · bj (somatório duplo)
i=1 j=1 i=1 j=1
∑
3
(a) (2i + 3i )
i=1
∑
5
(b) 3 · 2i
i=1
∑
5 ∑
3
(c) 2i · 3j
i=1 j=1
= 14 + 39 = 53.
∑
5 ∑
5
i
No ı́tem (b), temos 3·2 = 3· 2i = 3·(21 +22 +23 +24 +25 ) = 3·(2+4+8+16+32) = 186.
i=1 i=1
Finalmente, para o ı́tem (c), vemos que
∑
5 ∑
3 ∑
5 ∑
3
2i · 3j = 2i · 3j = (21 + 22 + 23 + 24 + 25 ) · (31 + 32 + 33 ) = 62 · 39 = 2.418
i=1 j=1 i=1 j=1
1.2.1 Exercı́cios
1. Desenvolva as seguintes somas:
∑
5 ∑
8 ∑
20 ∑
100
i
(a) 3i (b) 5 (c) 3 (d) i3
i=1 i=2 i=0 i=1
∑
5 ∑
10 ∑
10
2 ∑
5
(e) 2(i + 1) (f) (5 − i) (g) (h) (i + 1)(2i + 1)
i=1 i=2 i=0
1+i i=1
∑
10
1 ∑
1000 ∑
20 ∑
10
(g) (h) (2 − 2
i i−1
) (i) (5i + 2) (j) (i + 1)(i − 1)
i=1
i(i + 1) i=1 i=1 i=1
8
2. Reescreva as somas a seguir usando a notação somatório.
(a) 22 + 24 + 26 + ... + 210 (b) 6 + 9 + 12 + 15 + 18 + 21 + 24 + 27
1 1 1 1 1 1
(c) −1 + 2 − 3 + 4 − 5 + 6 − 7 + 8 (d) + + + + +
2 3 4 5 6 7
1 2 3 4
(e) 1 + 3 + 5 + 7 + 9 + 11 + 13 + 15 (f) + + +
2·5 3·6 4·7 5·8
1 2 3 4
(g) 4 + 4 + 4 + 4 + 4 + 4 + 4 (h) + + +
3 8 13 18
(i) −1 + 1 − 1 + 1 − 1 + 1 − 1 + 1 (j) −4 + 6 − 8 + 10 − 12 + 14
∏
n
ai = am · am+1 · am+2 · ... · an
i=m
Trabalhamos com produtórios de modo análogo ao que se faz com somatórios, mas usando produto
em vez de soma. Temos o seguinte:
∏
5
(a) (2 + i) = (2 + 1) · (2 + 2) · (2 + 3) · (2 + 4) · (2 + 5) = 3 · 4 · 5 · 6 · 7
i=1
∏
4
(b) 2i = 20 · 21 · 22 · 23 · 24 = 1 · 2 · 4 · 8 · 16
i=0
∏
6
(c) 3 = 3 · 3 · 3 · 3 · 3 = 35
i=2
Em geral, não há exigência em se calcular o valor resultante das expressão obtidas como no
exemplo acima. Muitas vezes é mais prático deixar essas expressões em forma expandida para
eventuais simplificações.
A principal utilidade de produtórios é reescrever produtos de um modo mais compacto, como
no exemplo a seguir.
Exemplo 1.10. Reescreva os produtos a seguir, usando a notação produtório.
1 1 1 1 1
(a) 1 · 2 · 3 · 4 · 5 · ... · n (b) · · · · ... ·
2 3 4 5 n
Temos o seguinte:
9
∏
n
(a) 1 · 2 · 3 · 4 · 5 · ... · n = i
i=1
1 ∏1
n
1 1 1 1
(b) · · · · ... · =
2 3 4 5 n i=2 i
Notamos que no ı́tem (a) do exemplo acima também poderı́amos ter escrito 1·2·3·4·5·...·n = n!
usando a notação fatorial estudada na primeira seção. De fato, a notação fatorial é apenas um caso
particular da notação produtório. Entretanto, existem casos em que só podemos usar a notação
produtório, como ocorre no ı́tem (b) do mesmo exemplo.
Agora vejamos algumas propriedades da notação produtório.
Teorema 1.2. Suponhamos que α, ai , bi e bj são números inteiros quaisquer e que n é um inteiro
positivo. Valem as seguintes igualdades:
( n ) ( n )
∏
n ∏ ∏
(a) a i · bi = ai · bi
i=1 i=1 i=1
∏
n ∏
n
(b) α · a1 = α n · ai
i=1 i=1
( n )α
∏
n ∏
(c) aαi = ai
i=1 i=1
∏
3 ∏
3
(b) 3i = 3 · 3
i = 33 · (1 · 2 · 3)
i=1 i=1
( )2
∏
4 ∏
4
(c) (1 + i)2 = (1 + i) = (2 · 3 · 4 · 5)2
i=1 i=1
Insistimos em enfatizar que, em geral, não há exigência em calcular o valor numérico resultante
nos exemplos acima. Vale ressaltar também que o exemplo acima serve apenas para ilustrar o uso
das propriedades da notação produtório. Dito explicitamente, não precisamos usar as propriedades
dadas para calcular esses valores. Poderı́amos ter desenvolvido o produtório simplesmente usando
a definição.
10
1.3.1 Exercı́cios
1. Desenvolva os seguintes produtórios
∏
5 ∏
4 ∏
6 ∏
5
1
2
(a) (2i + 1) (b) 2i (c) 2i (d)
i=1 i=1 i=1 i=2
i
∏
10 ∏
20 ∏
10 ∏ 10
5(i + 1)
(e) 2i (f) i(i − 1) (g) 2(i + 1) 3
(h)
i=1 i=1 i=1 i=2
i
11
1.4.2 O Triângulo
O quadro seguinte
( )
0
...................................................................................... linha 0
0
( ) ( )
1 1
...................................................................... linha 1
0 1
( ) ( ) ( )
2 2 2
...................................................... linha 2
0 1 2
( ) ( ) ( ) ( )
3 3 3 3
...................................... linha 3
0 1 2 3
( ) ( ) ( ) ( ) ( )
4 4 4 4 4
...................... linha 4
0 1 2 3 4
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
5 5 5 5 5 5
...... linha 5
0 1 2 3 4 5
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
coluna 0 coluna 1 coluna 2 coluna 3 coluna 4 coluna 5
Formado pelos infinitos números binomiais que podem ser obtidos, dispostos na forma su-
gerida acima é conhecido como triângulo de Pascal. As colunas são numeradas de cima para
baixo, começando da linha 0. Por outro lado, as colunas são contadas
( ) da esquerda para a direita,
3
começando da coluna 0. Assim, por exemplo, o número binomial encontra-se no cruzamento
2
da linha 3 com a coluna 2.
Calculando cada número binomial desse quadro, obtemos o seguinte.
1
1 1
1 2 1
1 3 3 1
1 4 6 4 1
1 5 10 10 5 1
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
12
Proposição 1.2. (Equidistante dos extremos) Em uma mesma linha do triângulo de Pascal, ele-
mentos equidistantes dos extremos são iguais.
Proposição 1.3. (Relação de Stifel) No triângulo de pascal, a soma de dois elementos adjacentes
é igual ao elemento que se encontra abaixo do segundo elemento. Isso significa que
( ) ( ) ( )
n n n+1
+ =
p p+1 p+1
com n ≥ p ≥ 1.
Utilizando essas propriedades, podemos construir rapidamente o triângulo em sua forma numérica.
Digamos que se queira obter o triângulo até a linha 3. Começamos escrevendo a linha 0, colocando
o número 1. Temos:
A seguir, para a linha 1, escrevemos 1 e 1, pois toda linha começa com 1. Ficamos com:
1
1 1
Para a linha 2, começamos com 1 e obtemos o elemento seguinte, no caso 2, somando os dois
elementos que estão na linha acima deste (Relação de Stifel). Em seguida finalizamos com 1.
Obtemos:
1
1 1
1 2 1
Finalmente para obter a linha 3, começamos com 1 e usamos a relação de Stifel para obter o
valor seguinte, 3. Chegamos a:
1
1 1
1 2 1
1 3
1
1 1
1 2 1 1
1 3 3 1
A seguir veremos mais uma propriedade não tão triviais do triângulo de Pascal.
13
Proposição 1.4. (Soma de uma linha) A soma dos elementos da linha n do triângulo de pascal é
igual a 2n .
1 = 20 = 1
1 +1 = 21 = 2
1 +2 +1 = 22 = 4
1 +3 +3 +1 = 23 = 8
1 +4 +6 +4 +1 = 24 = 16
1 + 5 + 10 + 10 + 5 + 1 = 25 = 32
Para finalizar vejamos mais alguns exemplos.
14
1.4.3 Exercı́cios
1. Calcule os seguintes números binomiais.
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
5 7 8 10 1532 253
(a) (b) (c) (d) (e) (f)
3 4 6 2 0 1
2. Descreva a linha 10 do triângulo de Pascal usando números binomiais.
10. Determine, numericamente, a linha 8 do triângulo de Pascal, sem calcular as linhas anteriores.
11. Descreva, usando a forma numérica, o triângulo de Pascal até a linha 10.
15
seja, 62 . Somos induzidos a supor que a soma dos n primeiros números ı́mpares seja n2 . Mas por
enquanto, isso é apenas uma suposição. Chamamos isso de conjectura. Mais a frente voltaremos a
esse exemplo.
O princı́pio da indução matemática, também conhecido como princı́pio de indução finita (PIF)
consiste em uma valiosa ferramenta que serve para demonstrar propriedades a respeito de intei-
ros positivos, como no exemplo que inicia essa seção. Entretanto, antes de enunciarmos o PIF,
precisamos estabelecer o conceito de elemento mı́nimo e o princı́pio da boa ordenação.
Exemplo 1.16. O conjunto dos inteiros positivos N = {1, 2, 3, ...} tem elemento mı́nimo 1. Escre-
vemos minN = 1.
Exemplo 1.18. O conjunto do números inteiros Z = {... − 2, −1, 0, 1, 2, 3, ...} não possui elemento
mı́nimo.
Agora vamos enunciar um resultado famoso em Teria dos Números. O chamado princı́pio da boa
ordenação, que será enunciado como axioma. Isso significa que vamos admiti-lo sem demonstração.
Com base no princı́pio da boa ordenação é que demonstramos o princı́pio de indução finita.
Axioma 1.1. (Princı́pio da boa ordenação) Todo conjunto não vazio de inteiros não negativos
possui elemento mı́nimo.
Teorema 1.3. (PIF) Seja P (n) uma propriedade relativa a números inteiros. Suponhamos que:
(b) Supondo que a propriedade P (n) é verdadeira para n = k, conseguimos deduzir sua validade
para n = k + 1.
Então P (n) é verdadeira qualquer que seja n ≥ 1.
(a) No primeiro passo, verificamos a validade da fórmula para n = 1. Basta substituir 1 em ambos
os membros da igualdade e verificar se, de fato, temos uma igualdade. Vejamos:
1(1 + 1)
1= é, de fato, uma igualdade.
2
(b) O segundo passo é chamado hipótese de indução. Primeiramente supomos que a igualdade dada
seja verdadeira para n = k. Essa é a hipótese de indução (HI).
16
k(k + 1)
HI 1 + 2 + 3 + 4 + ... + k =
2
Agora, usando essa igualdade tentamos provar que a afirmação dada é válida para n = k + 1.
É muito útil sempre escrever o que se quer demonstrar para visualisar, a priori, onde se
pretende chegar. Queremos mostrar que
(k + 1)(k + 2)
1 + 2 + 3 + 4 + ... + k + (k + 1) =
2
Para isso, escrevemos a hipótese de indução. temos
k(k + 1)
1 + 2 + 3 + 4 + ... + k =
2
A seguir, somamos (k+1) em ambos os membros dessa igualdade para obter:
k(k + 1)
1 + 2 + 3 + 4 + ... + k + (k + 1) = + (k + 1)
2
Agora efetuamos a soma do lado direito dessa igualdade. Temos:
k(k + 1) + 2(k + 1)
1 + 2 + 3 + 4 + ... + k + (k + 1) =
2
Segue-se, colocando (k + 1) em evidência, que:
(k + 1)(k + 2)
1 + 2 + 3 + 4 + ... + k + (k + 1) = como querı́amos
2
demonstrar. Isso encerra o segundo passo. Portanto, pelo pricı́pio de indução finita, a fórmula
dada é válida qualquer que seja n ≥ 1.
2 3 xn+1 − 1
n
1 + x + x + x + ... + x =
x−1
Usaremos indução sobre n.
x1+1 − 1
(a) Tomando n = 1, temos que: 1 + x1 = . Por outro lado, desenvolvendo apenas o lado
x−1
direito dessa igualdade veremos que:
x2 − 1 (x + 1)(x − 1)
= = x + 1. Logo a igualdade dada é válida para n = 1.
x−1 x−1
(b) Tomaremos como hipótese de indução a seguinte igualdade.
xk+1 − 1
1 + x + x2 + x3 + ... + xk =
x−1
Obtida da igualdade dada, tomando n = k. A seguir, queremos provar que
xk+2 − 1
1 + x + x2 + x3 + ... + xk + xk+1 =
x−1
Para isso, tomamos a hipótese de indução e somamos xk+1 em ambos os membros. Obtemos:
xk+1 − 1
1 + x + x2 + x3 + ... + xk + xk+1 = + xk+1
x−1
Agora, manipulamos apenas o segundo membro da igualdade obtida. Temos:
17
xk+1 − 1 xk+1 − 1 + xk+1 (x − 1) xk+1 (1 + x − 1) − 1 xk+1 x − 1 xk+2 − 1
+ xk+1 = = = =
x−1 x−1 x−1 x−1 x−1
Mas isso é exatamente o que querı́amos demonstrar. Segue-se do princı́pio de indução que a
igualdade dada é válida, qualquer que seja o número n ≥ 1.
Para finalizar vamos enunciar e resolver o exemplo que usamos como motivação no inı́cio desta
seção.
Exemplo 1.21. Prove que a soma dos n primeiros números ı́mpares é n2 . Dito de outro modo,
demonstre que
1 + 3 + 5 + 7 + ... + (2n − 1) = n2
1 + 3 + 5 + 7 + ... + (2k − 1) = k 2
Para isso, tomamos a hipótese de indução e somamos (2k + 1) (que é o ı́mpar seguinte na
sequência) em ambos os membros. Obtemos
k 2 + (2k + 1) = (k + 1)2
Como querı́amos demonstrar. Portanto, pelo princı́pio de indução finita, concluı́mos que a
igualdade dada é válida qualquer que seja n ≥ 1.
Exemplo 1.22. Mostre que 10n > n, qualquer que seja o inteiro n ≥ 1.
Para n = 1, a proposição é verdadeira, pois
101 > 1
Suponhamos que a desigualdade dada seja válida para n = k. Ou seja, suponhamos que
10k > k
18
Essa é a hipótese de indução. Devemos agora, a partir dessa hipótese, usando algum argumento
válido para a matemática, mostrar que 10k+1 > k + 1. Para isso, multiplicamos por 10 ambos os
membros da hipótese 10k > k e obtemos: 10k · 10 > k · 10. Logo 10k+1 > 10k. Mas 10k > k + 1.
Segue-se que 10k+1 > k + 1, como querı́amos demonstrar. Portanto, a proposição dada é válida
qualquer que seja n ≥ 1.
1.5.1 Exercı́cios
1. Demonstre as seguintes igualdades usando o princı́pio de indução finita.
n(n + 1)(2n + 1)
(a) 12 + 22 + 32 + 42 + 52 + ... + n2 =
6
n(n + 1)(n + 2)
(b) 1 · 2 + 2 · 3 + 3 · 4 + 4 · 5 + ... + n · (n + 1) =
3
1 1 1 1 n
(c) + + + ... + =
1·2 2·3 3·4 n · (n + 1) n+1
1 1 1 1
(d) (1 + ) · (1 + ) · (1 + ) · ... · (1 + ) = n + 1
1 2 3 n
n2
(e) 13 + 23 + 33 + 43 + ... + n3 = (n + 1)2
4
2. Mostre que n2 > 2n + 1, qualquer que seja o inteiro n ≥ 3.
19
Capı́tulo 2
Divisibilidade
(c) 2 - 15, pois não existe um inteiro q, tal que 15 = 2 · q. (15 não é múltiplo de 2)
(f ) Temos 0 | 0, pois 0 = 1 · 0.
O ı́tem (f ) do exemplo acima pode parecer estranho à primeira vista, mas está correto no sentido
da definição dada sobre divisibilidade. Dizer que 0 | 0 significa apenas que 0 é um múltiplo de 0.
Usamos esse recurso para evitar excessões no enunciado das propriedades de divisibilidade. Como
veremos isso não muda o sentido usual de divisão de inteiros. Quando considerarmos o quociente
de dois inteiros a por b, vamos supor b ̸= 0.
A relação de divisibilidade em Z possui algumas propriedades importantes. Vejamos algumas.
Proposição 2.1. Considere os números inteiros a, b e c. As seguintes afirmações são verdadeiras.
(1) Temos a | 0, 1 | a e a | a;
(3) Se a | b e c | d, então ac | bd
20
(4) Se a | b e b | c, então a | c; (transitividade)
(5) Se a | b e b | a, então a = ±b;
(6) Se a | b e b ̸= 0, então | a |≤ |b|
D(a) = {x ∈ Z∗ ; x | a}
Exemplo 2.3. São exemplos de conjuntos de divisores:
Denotando por D(a, b) o conjunto dos divisores comuns de a e b, vemos que segue diretamente
da definição acima que
É simples verificar que D(a, b) nunca é vazio, pois os inteiros 1 e −1, são divisores comuns de
dois inteiros quaisquer a e b. Portanto, pelo menos 1, −1 ∈ D(a, b), quaisquer que sejam a, b ∈ Z.
Exemplo 2.4. Considere, por exemplo, os inteiros −16 e 12.
Temos:
D(−16) = {±1, ±2, ±4, ±8, ±16} e D(12) = {±1, ±2, ±3, ±4, ±6, ±12}. Logo
21
2.2 Algorı́tmo da Divisão
Teorema 2.1. Sejam a e b dois inteiros, com b ̸= 0. Existem e são únicos os inteiros q e r, tais
que
a = bq + r, com 0 ≤ r < |b|
r r r r
0 r b a
r r r r
0 2 3 47
Exemplo 2.6. Determinar o quociente e o resto na divisão de 47 por −3.
Precisamos determinar inteiros q e r, de modo que:
47 = (−3)q + r, com 0 ≤ r < | − 3|, ou seja,
47 = −3q + r, com 0 ≤ r < 3, pois | − 3| = 3.
Usando o exemplo (2.5), temos
47 = 3 · 15 + 2
Usando um pequeno ”truque algébrico”, reescrevemos essa igualdade do seguinte modo:
47 = (−3) · (−15) + 2 (usamos o fato 3 · 15 = (−3) · (−15))
Logo o quociente é q = −15 e o resto é r = 2.
Exemplo 2.7. Determinar o quociente e o resto na divisão de −47 por 3.
Precisamos determinar inteiros q e r, de modo que:
−47 = 3q + r, com 0 ≤ r < 3
Usando o exemplo (2.5), temos
47 = 3 · 15 + 2
Usando um pequeno ”truque algébrico”, reescrevemos essa igualdade do seguinte modo:
−47 = 3 · (−15) − 2 (a equação foi multiplicada por −1)
Notemos que devemos obter 0 ≤ r < 3, logo o valor −2 não serve como resto. Usamos mais um
”truque algébrico”para obter
22
−47 = 3 · (−15) − 2 + 3 − 3 (somamos e subtraı́mos 3)
Logo
−47 = 3 · (−15) − 2 + 3 − 3 = [3 · (−15) − 3] − 2 + 3 = 3 · (−15 − 1) + 1 (colocando 3 em evidência)
Segue-se que
−47 = 3 · (−16) + 1
Logo o quociente é q = −16 e o resto é r = 1.
Exemplo 2.8. (Solução Alternativa) O exemplo acima pode ser resolvido de outro modo. Considere,
novamente, o problema de determinar o quociente e o resto na divisão de −47 por 3. Queremos
determinar q e r, de modo que
−47 = 3q + r, com 0 ≤ r < 3
Isolamos r na equação −47 = 3q + r e obtemos r = −47 − 3q. Substituindo esse valor na
desigualdade 0 ≤ r < 3, temos 0 ≤ −47 − 3q < 3. Resolvendo essa desigualdade obtemos q = −16.
Substituindo esse valor na igualdade −47 = 3q + r, obtemos r = −47 − 3(−16) = 1.
Agora que já conhecemos o algorı́tmo da divisão, finalizamos esse capı́tulo fazendo uma breve
exposição sobre o que denominamos paridade de um inteiro.
Na divisão de um inteiro qualquer a por 2, temos apenas duas possibilidades para o resto: r = 0
ou r = 1. Caso seja r = 0, temos a = 2q. Nesse caso, dizemos que a é um inteiro par. Na segunda
possibilidade, temos r = 1. Nesse caso, o inteiro a = 2q + 1 é chamado ı́mpar.
Exemplo 2.9. Seja a um inteiro qualquer. Mostre que na divisão de a2 por 4 os únicos valores
possı́veis para o resto são 0 ou 1.
Temos duas possibilidades para a. Ou a é par, ou a é ı́mpar. Analisemos cada caso separada-
mente.
(a) Suponhamos que a seja par. Temos a = 2q, para algum inteiro q. Logo a2 = (2q)2 = 4q 2 . Ou
seja, a2 = 4q1 , com q1 = q 2 .
(b) Por outro lado, se a for ı́mpar, teremos a = 2q + 1, para algum inteiro q. Nesse caso, a2 =
(2q + 1)2 = 4q 2 + 4q + 1 = 4(q 2 + q) + 1 = 4q2 + 1, com q2 = q 2 + q.
Concluı́mos que em qualquer caso, a2 é da forma 4q1 + 0, ou da forma 4q2 + 1. Ou seja, o
resto na divisão de a2 por 4 é 0 ou 1.
23
2.3 Exercı́cios
1. Sejam a e c, inteiros positivos, tais que a | 3 e 3 | c. Mostre que a | c.
3. Sejam a e b inteiros não nulos, tais que a | 5 e b | 13. Mostre que a · b | 65.
4. Suponha que a é divisı́vel por 3 e por 5 simultaneamente. Mostre que a é divisı́vel por 15.
11. Dê exemplo de inteiros a, b e c, tais que a | (b + c), mas não se tem a | b, nem a | c.
12. Seja a um inteiro qualquer. Mostre que um dos inteiros a, a + 2 ou a + 4 é divisı́vel por 3.
(a) 2 | a(a + 1)
(b) 3 | a(a + 1)(a + 2)
19. Na divisão de 427 por um inteiro positivo b o quociente é 12 e o resto é r. Determine o divisor
b e o resto r.
24
20. Na divisão do inteiro 525 por um inteiro positivo o resto é 27. Determinar o divisor e o
quociente.
21. Na divisão de dois inteiros positivos o quociente é 16 e o resto é o maior possı́vel. Determinar
os dois inteiros, sabendo que sua soma é 341.
24. Sejam a e b inteiros quaisquer. Mostre que a e a + 2b são ambos pares, ou ambos ı́mpares.
28. Seja a um número ı́mpar. Mostre que a(a2 − 1) é divisı́vel por 24.
25
Capı́tulo 3
(a) d | a e d | b;
Façamos algumas observações importantes a respeito do mdc(a, b). Primeiro notamos que
mdc(a, b) = mdc(b, a) = mdc(−a, b) = mdc(a, −b) = mdc(−a, −b). A seguir é importante es-
clarecer que mdc(0, 0) não existe, visto que todo inteiro é divisor de 0. Por fim, ressaltamos alguns
fatos que facilitam o cálculo do mdc(a, b). Temos que:
(a) mdc(a, 1) = 1
Temos por exemplo que mdc(247, 1) = 1. Ou ainda, mdc(−374, 0) = 374. Para calcular o
mdc(−2, 6), calculamos mdc(2, 6) que é o mesmo. Logo mdc(−2, 6) = mdc(2, 6) = 2, visto que 2 é
divisor de 6.
Defnimos o máximo divisor comum e apresentamos alguns exemplos. A seguir, temos um teo-
rema estrutural que garante a existência e unicidade do mdc(a, b) quaisquer que sejam os inteiros a
e b.
26
Teorema 3.1. Sejam a e b não simultaneamente nulos. O máximo divisor comum de a e b existe
e é único. Além disso, sempre existem inetiros x e y, tais que:
mdc(a, b) = ax + by
d = mdc(a, b)
A demonstração do teorema (3.1) mostra que o mdc(a, b) é o menor inteiro positivo da forma
ax + by. Mas a representação mdc(a, b) = ax + by não é única, apesar do mdc(a, b) ser único. Mais
ainda, se para algum par de inteiros r e s, tivermos d = ar + bs. Esse fato, por si só não é suficiente
para concluir que d = mdc(a, b). Vejamos alguns exemplos numéricos para esclarecer melhor esses
fatos.
Exemplo 3.2. Sejam os inteiros 12 e 20. Temos que mdc(12, 20) = 4. De acordo com o teorema
(3.1) existem inteiros x e y, tais que 4 = 12x + 20y. De fato, por inspeção podemos ver que,
por exemplo 4 = 12 · (−3) + 20 · 2. Mas essa representação não é única, podemos ter também
4 = 12 · 17 + 20 · (−10). Na verdade, existem infinitas possibilidades de escrever o inteiro 4 como
combinação linear de 12 e 20. Estudaremos em detalhes esse assunto no capı́tulo 6 que trata das
equações diofantinas.
Exemplo 3.3. A igualdade 8 = 12 · (−6) + 20 · 4, por si só, não garante que mdc(12, 20) = 8. Como
vimos no exemplo anterior mdc(12, 20) = 4. Ou seja, o simples fato de escrever um inteiro d como
combinação linear de a e b, não garante que d = mdc(a, b).
27
3.2 Inteiros Primos entre Si
Definição 3.2. Sejam a e b inteiros não simultaneamente nulos. Dizemos que a e b são primos
entre si, quando mdc(a, b) = 1.
Por exemplo os inteiros 3 e 8 são primos entre si, pois mdc(3, 8) = 1. São também primos entre
si os inteiros 12 e 19, pois mdc(12, 19) = 1.
Temos a seguir uma caracterização dos inteiros primos entre si.
Teorema 3.2. Sejam a e b inteiros não simultaneamente nulos. Nessas condições, a e b são primos
entre si se, e somente se existem inteiros x e y tais que ax + by = 1.
a b
Corolário 3.2.1. Sejam a e b, tais que mdc(a, b) = d. Então mdc( , ) = 1. Ou seja, os inteiros
d d
a b
e são primos entre si.
d d
12 15
Temos por exemplo, mdc(12, 15) = 3. Logo mdc( , ) = mdc(4, 5) = 1.
3 3
Corolário 3.2.2. Se mdc(a, b) = 1 e mdc(a, c) = 1, então mdc(a, bc) = 1.
Traduzindo em palavras o corolário acima nos conta que se a e b são primos entre si e, se além
disso a e c são primos entre si, então a e bc também são primos entre si. Por exemplo, vemos que
2 e 5 são primos entre si. Além disso, 2 e 9 também são primos entre si. Logo 2 e 5 · 9 são primos
entre si. Ou seja, mdc(2, 45) = 1.
Vamos finalizar essa seção com um resultado simples e elegante devido a Euclides. temos o
seguinte.
Teorema 3.3. (Teorema de Euclides) Se a divide o produto bc e além disso, a e b são primos entre
si, então a divide c.
Demonstração. Como a divide o produto bc, existe um inteiro q, tal que bc = aq. Além disso,
sabemos que a e b são primos entre si. Usando o teorema (3.2), concluı́mos que existem inteiros x
e y, tais que:
ax + by = 1
Multiplicando essa igualdade por c, vemos que: acx + bcy = c. Logo podemos escrever
acx + aqy = c
Visto que bc = aq. Desse modo, a(cx + qy) = c. Isso mostra que c é múltiplo de a. Ou seja, que
a divide c.
QED
Vemos por exemplo que 12 | 60. Ou seja, 12 | (4 · 15). Entretanto, 12 - 4 e 12 - 15. Isso ocorre
por que não se tem mdc(12, 4) = 1 nem mdc(12, 15) = 1. Por outro lado, 12 | 60, que é o mesmo
que 12 | (5 · 12) e mdc(12, 5) = 1. Logo 12 | 12.
Para finalizar este capı́tulo vamos mostrar mais um teorema estrutural sobre o máximo divisor
comum e, um resultado que nos permite calcular o mdc de vários inteiros.
28
Teorema 3.4. Sejam a e b dois inteiros não simultaneamente nulos. Um inteiro positivo d é o
máximo divisor comum de a e b se, e somente se:
(a) d | a e d | b
(b) c | a e c | b implica em c | d
(a) d | a, d | b e d | c
(b) e | a, e | b e e | c implica em e ≤ d
Valem resultados análogos ao teorema (3.5) para a obtenção do máximo divisor comum de mais
de três inteiros.
180 = 1 · 144 + 36
De acordo com o lema (3.1), temos que mdc(180, 144) = mdc(144, 36). Podemos ainda repetir
o processo e dividir 144 por 36. Temos:
144 = 4 · 36 + 0
Novamente pelo lema (3.1), temos mdc(144, 36) = mdc(36, 0). Mas mdc(36, 0) = 36. Desse
modo, mdc(180, 144) = mdc(144, 36) = mdc(36, 0) = 36.
O exemplo acima ilustra a essência do algorı́tmo de Euclides, que consiste no seguinte teorema.
Teorema 3.6. Sejam r0 = a e r1 = b inteiros não-negativos com b ̸= 0. Se o algorı́tmo da divisão
for aplicado sucessivamente para se obter
rj = qj+1 rj+1 + rj+2 , com 0 ≤ rj+2 < rj+1
para j = 0, 1, 2, ..., n − 1 e rn+1 = 0. Nessas condições mdc(a, b) = rn , o último resto não nulo.
r r r r r r r
0 rn rn−1 . . . r3 r2 b = r1 a = r0
30
Podemos sintetizar os cálculos feitos no teorema (3.6) usando uma tabela. Temos:
q1 q2 q3 qn qn+1
a b r2 r3 ... rn 0
1
963 657 306
1 2
963 657 306 45
1 2 6
963 657 306 45 36
1 2 6 1
963 657 306 45 36 9
1 2 6 1 4
963 657 306 45 36 9 0
O mdc(963, 657) será o último resto não-nulo obtido pelo algorı́tmo de Euclides. Portanto,
mdc(963, 657) = 9.
Vimos que o mdc(a, b) pode ser expresso como combinação linear de a e b. Dito de outro modo,
dados os inteiros a e b, existem x e y, também inteiros, tais que
mdc(a, b) = ax + by
Agora que temos o algorı́tmo de Euclides, podemos obter esses inteiros x e y de modo sistemático.
Vejamos isso em um exemplo.
31
Exemplo 3.7. Expressar o mdc(963, 657) como combinação linear de 963 e 657.
Vimos no exemplo (3.6) que mdc(963, 657) = 9. Mais do que isso, temos a seguinte tabela
1 2 6 1 4
963 657 306 45 36 9 0
que exibe todas as sucessivas divisões efetuadas para obter o mdc(963, 657). Usando essa tabela,
podemos reescrever as divisões efetuadas do seguinte modo:
963 = 657 · 1 + 306
657 = 306 · 2 + 45
306 = 45 · 6 + 36
45 = 36 · 1 + 9
A última igualdade com resto 0, que seria 36 = 9 · 4 + 0 é desnecessária nesse processo que hora
descrevemos. Pois bem, de posse dessas igualdades, fazemos o seguinte. Primeiro isolamos todos
os restos, para obter:
306 = 963 − 657 · 1
45 = 657 − 306 · 2
36 = 306 − 45 · 6
9 = 45 − 36 · 1
O segundo passo é, eliminar os restos 36, 45 e 306 em um processao recursivo, a partir da última
equação até a primeira, do seguinte modo. Escrevemos a última equação e substituı́mos a penúltima.
Temos:
9 = 45 − 36 · 1 = 45 − (306 − 45 · 6) · 1 = −306 + 7 · 45
Agora substituı́mos segunda equação e obtemos:
−306 + 7 · 45 = −306 + 7(657 − 306 · 2) = 7 · 657 − 15 · 306
Finalmente, substituindo a primeira equação, vem que:
7 · 657 − 15 · 306 = 7 · 657 − 15(963 − 657 · 1) = (−15) · 963 + 22 · 657
Ou seja, 9 = 963 · (−15) + 657 · 22. Portanto, mdc(963, 657) = 963 · (−15) + 657 · 22.
1 2 2
252 180 72 36 0
Segue-se que mdc(252, 180) = mdc(252, −180) = 36. Agora, usamos o método recursivo descrito
no exemplo anterior. Temos: 252 = 180 · 1 + 72 e 180 = 72 · 2 + 36. Ou ainda, 72 = 252 − 180 · 1 e
36 = 180−72·2, isolando os restos. Logo 36 = 180−72·2 = 180−(252−180·1)·2 = (−2·)252+3·180,
que expressa 36 como combinação linear de 252 e 180. Mas, na verdade, gostarı́amos de obter uma
combinação linear de 252 e −180. Para isso, basta usar um pequeno truque algébrico e escrever:
36 = (−2·)252 + (−3) · (−180). Portanto,
mdc(252, −180) = 252 · (−2) + (−180) · (−3)
32
3.5 Exercı́cios
1. Calcule.
(a) mdc(0, 5) (b) mdc(0, −8) (c) mdc(12, 1) (d) mdc(−5, −1) (e) mdc(1, −17)
(f) mdc(5, 25) (g) mdc(3, 45) (h) mdc(7, −21) (i) mdc(−15, −3) (j) mdc(3, −12345678)
(k) mdc(15, −18) (l) mdc(−28, 35) (m) mdc(−16, −24) (n) mdc(20, 12) (o) mdc(120, 65)
(p) mdc(15, 18, 45) (q) mdc(28, 35, 91) (r) mdc(160, −24, 280)
(s) mdc(570, 810, 495) (t) mdc(12, 6, 9) (u) mdc(16, 24, 8)
2. Determine todos os inteiros a tais que mdc(a, 12) = 1. Suponha a < 12.
8. Seja n um inteiro qualquer. Obtenha um valor para mdc(n, n + 1). Justifique sua resposta.
10. Supondo que a e b são primos entre si, obtenha um valor para mdc(a + b, a − b). Justifique
sua resposta.
11. O máximo divisor comum de dois inteiros é 10. Sabendo que um deles é 120, determine o
outro.
16. Um professor dá aulas em duas turmas, uma da 7a série e outra da 8a . Essas turmas têm
respectivamente 30 e 20 e alunos. Em cada sala, o professor dividiu a turma em grupos de
alunos. Sabendo que cada grupo deve ter o mesmo número de alunos, qual o maior número
de alunos que cada grupo pode conter?
17. Uma tecelagem fabrica peças de tecidos, com três medidas diferentes: 45 m, 60 m e 105 m.
Suponhamos que se precise cortar as peças em partes de mesmo comprimento. Suponhamos
ainda, que cada corte seja o maior possı́vel. Qual deverá ser o comprimento de cada corte?
Em quantas partes cada peça será cortada?
33
18. Em uma escola, há 180 alunos na 5a série, 168 na 6a , 144 na 7a e 120 na 8a . Devido a feira de
Ciências, todos esses alunos deverão ser organizados em grupos com mesmo número de alunos,
sem misturar alunos de séries diferentes. Qual o número máximo de alunos que poderá haver
em cada grupo? Quantos grupos serão formados em cada uma das séries?
34
Capı́tulo 4
M (a) = {x ∈ Z; a | x}
O conjunto de todos os múltiplos comuns de a e b é denotado por M (a, b). Segue da definição
(4.2) que
Logo M (15, 20) = M (15) ∩ M (20) = {0, ±60, ±120, ±180, ...}.
35
4.2 Mı́nimo Múltiplo Comum de Dois Inteiros
Definição 4.3. Sejam a e b dois inteiros não-nulos. Chamamos mı́nimo múltiplo comum de a e b
o inteiro positivo m tal que:
(a) a | m e b | m;
(b) Se c > 0 é tal que a | c e b | c, então m ≤ c.
mmc(15, 20) = 60
É importante notar que, devido ao princı́pio da boa ordenação, o conjunto dos múltiplos comuns
positivos de a e b possui um único elemento mı́nimo. Segue-se que o mmc(a, b) sempre existe e é
único. Além disso, como o produto a·b é um múltiplo comum de a e b, temos que mmc(a, b) ≤ |a·b|.
Outra observação importante diz respeito ao cálculo do mı́nimo múltiplo comum. Sempre que
a | b, temos mmc(a, b) = |b|. Por exemplo, mmc(3, −15) = | − 15| = 15, visto que −15 é múltiplo
de 3.
a · b = mdc(a, b) · mmc(a, b)
a b ab
Demonstração. Seja d = mdc(a, b) e m = mmc(a, b). Primeiramente, notemos que , e
d d d
são números inteiros, pois, sendo d, o máximo divisor comum de a e b, certamente d é divisor de a
e b. A seguir, notemos que
ab b a
= ·a= ·b
d d d
ab ab
Dito de outro modo, é múltiplo de a e também múltiplo de b. Ou seja, é múltiplo comum
d d
ab
de a e b. Como m é o mı́nimo múltiplo comum de a e b, temos que é múltiplo de m. Isto é,
d
36
ab
=k·m (4.1)
d
para algum k ∈ Z. Essa igualdade por sua vez pode ser reescrita como
a m b m
=k· ou =k·
d b d a
a b
Essas igualdades nos mostram que k é um divisor comum de e , que é positivo, pois a e b são
d d
a b
positivos. Entretanto, usando o corolário (3.2.1), temos que e são primos entre sı́. Ou seja, o
d d
a b
máximo divisor comum de e é 1. Logo devemos ter k = 1. Substituindo esse valor na equação
d d
ab
(4.1), vemos que = m. Isto é a · b = d · m. Portanto,
d
a · b = mdc(a, b) · mmc(a, b)
Podemos reescrever a relação demonstrada no teorema (4.1) do seguinte modo
ab
mmc(a, b) =
mdc(a, b)
Assim, podemos calcular o mmc(a, b) quando se conhece o mdc(a, b). Analogamente, poderı́amos
usar a mesma fórmula para obter o mdc(a, b) supondo que se tenha o mmc(a, b).
Exemplo 4.3. Calcule o mmc(360, 462).
Primeiramente calculamos o mdc(360, 462). Usando o algorı́tmo de Euclides, temos:
1 3 1 1 8
462 360 102 54 48 6 0
360 · 462
Logo mdc(360, 462) = 6. Segue-se que mmc(360, 462) = . Ou seja,
mdc(360, 462)
360 · 462
mmc(a, b) = = 27.720
6
(a) a | m, b | m e c | m
(b) Caso exista algum e > 0, tal que a | e, b | e e c | e, então certamente m ≤ e.
Segue-se que
mmc(a, b, c) = mmc(mmc(a, b), c)
Assim, por exemplo, mmc(12, 15, 20) = mmc(mmc(12, 15), 20). Ou seja, mmc(12, 15, 20) =
mmc(60, 20) = 60.
37
4.5 Exercı́cios
1. Calcule:
(a) mmc(45, 21) (b) mmc(83, 68) (c) mmc(120, 110) (d) mmc(86, 71)
(e) mmc(224, 192) (f) mmc(1287, 507) (g) mmc(143, 227) (h) mmc(306, 657)
(g) mmc(15, 1500) (h) mmc(15, 18, 20) (i) mmc(1234567, 7654321)·mdc(1234567, 7654321)
(j) mmc(24, 92, 16) (k) mmc(87, 7, 13) (l) mmc(4, 15, 20)
3. Demonstre que se a e b são inteiros positivos tais que mdc(a, b) = mmc(a, b), então a = b.
4. Determine o mı́nimo múltiplo comum de dois números sabendo que seu produto é 31.500 e
que o máximo divisor comum entre eles é 30.
5. Sejam dois inteiros a e b, tais que mdc(a, b) = 18 e mmc(a, b) = 216. Determine b, sabendo
que a = 54.
k k k
6. Seja k ̸= 0, um múltiplo comum dos inteiros a e b. Mostre que mdc( , ) = .
a b mmc(a, b)
7. Em uma estação rodoviária, os ônibus que vão para a cidade A partem de 6 em 6 horas; os
ônibus que vão para a cidade B partem de 8 em 8 horas e, os ônibus que vão para a cidade
C, partem de 5 em 5 horas. Em certo momento, os ônibus para as três cidades A, B e C
partiram ao mesmo tempo. Quanto tempo depois isso acontecerá novamente?
9. Muitos cometas visitam o planeta Terra de tempos em tempos. Um certo cometa passa pela
Terra de 12 em 12 anos. Um outro, passa por aqui de 32 em 32 anos e, um terceiro cometa
nos visita a cada 56 anos. Em 1814 esses três cometas passaram por aqui. Em que ano esses
três cometas passaram por aqui novamente no mesmo ano?
10. Em uma competição partiram juntos três ciclistas. O primeiro leva 20 segundos para dar uma
volta completa na pista, o segundo leva 18 segundos e, o terceiro, 16 segundos. Após a partida
eles estarão juntos novamente de pois de quantos tempo?
38
Capı́tulo 5
Números Primos
Representaremos o conjunto dos primos por P . Por inspeção verifica-se que os primeiros números
primos são
Por definição, o número 1 não é primo nem composto. Notamos também 2 é o único primo par.
Proposição 5.1. Seja p um número primo. Se p não divide o inteiro a, então a e p são primos
entre si.
Demonstração. Vamos mostrar que mdc(a, p) = 1. Seja d = mdc(a, p). Temos que d | a e
d | p. Como p é primo e d | p, temos duas possibilidade: ou d = 1, ou d = p. Como d | a, se
tivéssemos d = p, terı́amos p | a. Mas isso contradiz a hipótese. Logo devemos ter d = 1. Ou seja,
mdc(a, p) = 1. Isso mostra que a e p são primos entre si.
Corolário 5.1.2. Se p é um primo tal que p | a1 · a2 · ... · an , então existe algum ı́ndice i, 1 ≤ i ≤ n,
tal que p | ai .
39
Uma consequência desse corolário que muito útil em problemas é o seguinte.
Corolário 5.1.3. Suponhamos que os inteiros p, q1 , q2 , ..., qn são todos primos. Se p | q1 · q2 · ... · qn ,
então p = qi para algum 1 ≤ i ≤ n.
A = {x | a; 1 < x < a}
Proposição 5.2. Todo inteiro positivo n > 1 é igual a um produto de fatores primos.
Demonstração. Se n for primo, não há o que demonstrar. Suponhamos que n seja composto.
De acordo com o lema (5.1), n possui um divisor primo p1 . Segue-se que
n = p1 · n1 , com 1 < n1 < n
Caso seja n1 primo, a demonstração acaba. No entanto, se n1 for composto, podemos usar
novamente o lema (5.1) e obter um primo p2 , tal que n1 = p2 · n2 . Desse modo,
n = p1 · p2 · n2 , com 1 < n2 < n1
Repetindo esse raciocı́nio, obtemos uma sequência decrescente
Entretanto, existe um número finito de inteiros positivos menores do que n e maiores que 1.
Logo algum nk é primo. Escrevendo nk = pk , temos:
n = p1 · p2 · ... · pk
Proposição 5.3. A decomposição de um inteiro positivo n > 1 como um produto de fatores primos
é única, a menos da ordem dos fatores.
40
Demonstração. Suponhamos que n tenha duas decomposições em fatores primos, ou seja:
n = p1 · p2 · p3 · ... · pr e n = q1 · q2 · q3 · ... · qs , com r ≤ s.
Temos que
Ora, isso significa que cada qj , com r + 1 ≤ j ≤ s é um divisor de 1. Mas isso é um absurdo,
pois os qj são números primos. Logo r = s e p1 = q1 , p2 = q2 ,..., pr = qr .
As proposições (5.2) e (5.3) nos permitem enunciar o seguinte teorema.
Teorema 5.1. (Teorema Fundamental da Álgebra) Todo inteiro positivo n > 1 pode ser decomposto
como um produto de números primos. Além disso, essa decomposição é única, a menos da ordem
dos fatores.
Exemplo 5.1. Fatorando o inteiro 1800, temos 1800 = 2 · 2 · 2 · 3 · 3 · 5 · 5. Logo
1800 = 23 · 32 · 52
em que α1 , α2 , ..., αn são inteiros positivos e os primos pi são tais que p1 < p2 < ... < pn é
chamada decomposição canônica de n.
Exemplo 5.2. A decomposição canônica de 648.270 é 648.270 = 21 · 33 · 51 · 74 .
Dadas as decomposições canônicas de dois inteiros positivos a > 1 e b > 1. Podemos demonstrar
que o mdc(a, b) é o produto dos fatores primos comuns às duas decomposições tomados cada um
com o menor expoente. Enquanto que o mmc(a, b) é o produto dos fatores primos comuns e não
comuns às duas decomposições tomados cada um com o maior expoente.
Exemplo 5.3. Suponhamos que se queira calcular o máximo divisor comum e o mı́nimo múltiplo
comum de 9450 e 792.
Primeiramente fatoramos os inteiros dados a fim de obter suas decomposições canônicas. Temos:
9450 = 21 · 33 · 52 · 7 e 792 = 23 · 32 · 11
Logo mdc(9450, 792) = 21 · 32 e mmc(9450, 792) = 23 · 33 · 52 · 7 · 11. Ou seja:
mdc(9450, 792) = 18 e mmc(9450, 792) = 415.800
41
5.3 Crivo de Eratóstenes
Dedicamos esta seção a um método de obtenção de primos conhecida como crivo de Eratóstenes.
Tal método se baseia no seguinte teorema.
Teorema
√ 5.2. Se um inteiro positivo a > 1 é composto, então a possui um divisor primo p, tal que
p ≤ a.
Exemplo 5.4. Suponhamos que se queira avaliar se o número a = 167 é primo ou não.
√
Notamos que √122 < 167 < 132 . Logo 12 < 167 < 13. Segue-se que os primos p com a
propriedade p ≤ a são: 2, 3, 5, 7 e 11. Por inspeção, verifica-se que 167 não é divisı́vel por
nenhum desses primos. Portanto, 167 é primo.
Podemos ainda usar o teorema (5.2) de modo sistemático para obter diversos primos de uma só
vez. Vejamos agora o famoso método conhecido como crivo de Eratóstenes que consiste no seguinte
algorı́tmo.
Os inteiros que não foram eliminados após esse processo são primos.
Exemplo 5.5. Vamos aplicar o crivo de Eratóstenes aos inteiros positivos menores que 100.
Primeiro escrevemos todos os inteiros de 2 até 100. Temos:
2 3 4 5 6 7 8 9 10
11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
31 32 33 34 35 36 37 38 39 40
41 42 43 44 45 46 47 48 49 50
51 52 53 54 55 56 57 58 59 60
61 62 63 64 65 66 67 68 69 70
71 72 73 74 75 76 77 78 79 80
81 82 83 84 85 86 87 88 89 90
91 92 93 94 95 96 97 98 99 100
42
√
A seguir, identificamos todos os primos p com a propriedade p ≤ 100. Os primos procurados
são: 2, 3, 5 e 7. Agora eliminamos sucessivamente todos os múltiplos de 2, depois todos os múltiplos
de 3, em seguida todos os múltiplos de 5 e por fim, todos os múltiplos de 7. Obtemos:
2 3 ̸4 5 ̸6 7 ̸8 ̸9 ̸ 10
11 ̸ 12 13 ̸ 14 ̸ 15 ̸ 16 17 ̸ 18 19 ̸ 20
̸ 21 ̸ 22 23 ̸ 24 ̸ 25 ̸ 26 ̸ 27 ̸ 28 29 ̸ 30
31 ̸ 32 ̸ 33 ̸ 34 ̸ 35 ̸ 36 37 ̸ 38 ̸ 39 ̸ 40
41 ̸ 42 43 ̸ 44 ̸ 45 ̸ 46 47 ̸ 48 ̸ 49 ̸ 50
̸ 51 ̸ 52 53 ̸ 54 ̸ 55 ̸ 56 ̸ 57 ̸ 58 59 ̸ 60
61 ̸ 62 ̸ 63 ̸ 64 ̸ 65 ̸ 66 67 ̸ 68 ̸ 69 ̸ 70
71 ̸ 72 73 ̸ 74 ̸ 75 ̸ 76 ̸ 77 ̸ 78 79 ̸ 80
̸ 81 ̸ 82 83 ̸ 84 ̸ 85 ̸ 86 ̸ 87 ̸ 88 89 ̸ 90
̸ 91 ̸ 92 ̸ 93 ̸ 94 ̸ 95 ̸ 96 97 ̸ 98 ̸ 99 ̸ 100
Ao fim desse processo, os inteiros não eliminados são primos. Ou seja: 2, 3, 5, 7, 11, 13, 17,
19, 23, 29, 31, 37, 41, 43, 47, 53, 59, 61, 67, 71, 73, 79, 83, 89 e 97 são todos os primos menores
do que 100.
Não se sabe, até hoje, se existem, ou não, infinitos pares de primos gêmeos. Entretanto, são
conhecidos primos gêmeos bem grandes, como por exemplo:
140.737.488.353.507 e 140.737.488.353.509
43
O método de fatoração de Fermat pode ser usado para decompor um inteiro positivo ı́mpar em
um produto de dois fatores distintos. Considere o inteiro positivo ı́mpar n, o qual queremos fatorar.
Primeiro construı́mos uma tabela com
n−1
2
linhas. A seguir, na primeira linha escrevemos a soma de n com o primeiro ı́mpar, ou seja,
n + 1. A seguir, em cada linha seguinte, escrevemos a soma do resultado obtido na linha anterior
com o ı́mpar seguinte. Prosseguimos linha após linha até obter um quadrado perfeito. Supondo
que obtivemos o quadrado perfeito t2 na linha linha r, então
n = (t + r)(t − r)
Exemplo 5.7. Suponhamos que se queira fatorar o número 15 usando o método de Fermat.
n−1
Temos n = 15, logo o número de linhas da tabela será = 7. Temos a seguinte tabela:
2
1 15 + 1 = 16
2 16 + 3 = 19
3 19 + 5 = 24
4 24 + 7 = 31
5 31 + 9 = 40
6 40 + 11 = 51
7 51 + 13 = 64
15 = (4 + 1)(4 − 1) = 5 · 3
15 = (8 + 7)(8 − 7) = 15 · 1
Demonstração. Dado um inteiro positivo n, devemos exibir uma sequência com n inteiros posi-
tivos consecutivos e compostos. Pois bem, consideremos a seguinte sequência.
(n + 1)! + 2, (n + 1)! + 3, (n + 1)! + 4, ..., (n + 1)! + (n + 1)
Notamos que cada termo dessa sequência tem a forma (n+1)!+j, com 2 ≤ j ≤ (n+1). Segue-se
que esse termo é divisı́vel por j, logo é um número composto.
44
Exemplo 5.8. Determine uma sequência de 5 inteiros consecutivos e compostos.
Basta tomar n = 5 na sequência
(n + 1)! + 2, (n + 1)! + 3, (n + 1)! + 4, ..., (n + 1)! + (n + 1)
Temos a seguinte sequência: 6! + 2, 6! + 3, 6! + 4, 6! + 5 e 6! + 6. Ou seja:
722, 723, 724, 725 e 726.
Olhando para a sequência dada sob a forma 6! + 2, 6! + 3, 6! + 4, 6! + 5 e 6! + 6. Vemos que o
primeiro termo 6! + 2 é divisı́vel por 2, pois 6! + 2 = 1 · 2 · 3 · 4 · 5 · 6 + 2. Analogamente, 6! + 3 é
divisı́vel por 3, 6! + 4 é divisı́vel por 4, 6! + 5 é múltiplo de 5 e finalmente, 6! + 6 é divisı́vel por 6.
Demonstração. Suponhamos que o conjunto dos números primos seja finito. Logo existe um
primo pn que é o maior de todos os primos e, o conjunto de todos os números primos pode ser
descrito do seguinte modo
P = {p1 , p2 , p3 , ..., pn }
p = p1 · p2 · p3 · ... · pn + 1
Como p > 1, pelo teorema fundamental da aritmética, existe um divisor primo de p que deno-
taremos por p. Logo p deve ser um dos elementos do conjunto P = {p1 , p2 , p3 , ..., pn }. Segue-se que
p necessariamente divide o produto p1 · p2 · p3 · ... · pn . Resumindo,
p|p e p | p1 · p2 · p3 · ... · pn
Desse modo, podemos afirmar que p é um divisor de p − p1 · p2 · p3 · ... · pn . Ou seja, p é um
divisor de 1. Absurso, pois p é primo.
5.7 Exercı́cios
1. Determine os cinco menores primos da forma n2 − 2.
2. Determine todos os primos da forma n2 − 1.
3. Achar todos os primos da forma n3 − 1.
4. Determinar todos os inteiros positivos n, de modo que n, n + 2 e n + 4 são todos primos.
5. Determinar todos os primos p, tais que 3p + 1 é um quadrado perfeito.
6. Escreva uma sequência com 100 inteiros positivos consecutivos e compostos.
45
7. Determine o menor inteiro positivo pelo qual se deve dividir 3.720 a fim de que o resultado
seja um quadrado perfeito.
11. Determine o máximo divisor comum e o mı́nimo múltiplo comum dos seguintes pares de
inteiros.
(a) 160 e 280 (b) 1830 e 4560 (c) 285 e 720
12. Mostre que todo primo, com excessão de 2 e 3 tem a forma 6k + 1 ou 6k − 1, onde k é um
inteiro positivo.
15. Obtenha uma fatoração para cada ı́mpar a seguir, usando o método de Fermat.
(a) 35 (b) 49 (c) 65
46
Capı́tulo 6
Equações Diofantinas
6.1 Generalidades
Definição 6.1. Chamamos equação diofantina linear a duas variáveis, ou simplesmente equação
diofantina à uma equação do tipo
ax + by = c
em que a, b e c são inteiros conhecidos e a ̸= 0, b ̸= 0. Qualquer par de inteiros (x0 , y0 ), tal que
ax0 + by0 = c
Uma equação diofantina do tipo ax + by = 0 é chamada homogênea. Vemos sem dificuldade que
o par (0, 0) é solução de qualquer equação diofantina homogênea. Essa solução é chamada solução
trivial da equação. Por outro lado, uma solução (x0 , y0 ), em que pelo menos um dos valores x0 , y0
é não-nulo é chamada solução não trivial da equação.
Exemplo 6.2. Considere a equação 2x + 5y = 17. Por tentativas, podemos descobrir algumas
soluções dessa equação. Por exemplo, o par (1, 3) é uma solução dessa equação. De fato, levando
esses valores na equação, temos 2 · 1 + 5 · 3 = 17, que é uma sentença verdadeira. Essa solução não
é única. Por tentativas pode-se chegar a outras soluções.
É um fato que nem toda equação diofantina possui solução. Por exemplo, a equação
3x + 15y = 2
não possui solução. Pois o lado esquerdo da equação é um múltiplo de 3 e o lado direito não é
múltiplo de 3. Lembramos que só estamos interessados em valores inteiros x0 e y0 que satisfaçam a
equação dada.
47
6.2 Existência de Solução
Começamos o estudo das equações diofantinas verificando em que casos a equação dada tem
solução. Para isso, temos um teste, que chamamos condição de existência de soluções.
Demonstração. Suponhamos que a equação dada tem uma solução (x0 , y0 ). Logo
ax0 + by0 = c
Sendo d = mdc(a, b), sabemos que d é um divisor de a e b. Portanto, de acordo com o ı́tem 7 da
proposição (2.1), d divide qualquer combinação linear de a e b. Em particular, d divide ax0 + by0 ,
ou seja, d é um divisor de c.
Reciprocamente, suponhamos que d divide c. Isso significa que c = d · m, para algum inteiro m.
Por outro lado, sendo d = mdc(a, b), segue do teorema (3.1), que existem inteiros r e s, tais que:
d=r·a+s·b
d · m = (r · a + s · b) · m = a · (rm) + b · (sm)
Ou seja, c = ax0 + by0 , em que x0 = rm e y0 = sm. Isso mostra que existem (x0 , y0 ) satisfazendo
a equação ax + by = c. Portanto, a equação dada tem solução.
Uma equação diofantina ax + by = c que possui solução é dita ser solúvel.
Teorema 6.2. Seja ax + by = c uma equação diofantina solúvel, ou seja, tal que mdc(a, b) = d é
um divisor de c. Considere (x0 , y0 ) uma solução particular dessa equação. Então todas as soluções
da equação ax + by = c são dadas pelas fórmulas:
b a
x = x0 + · t e y = y0 − · t, com t ∈ Z
d d
48
Exemplo 6.4. Resolva a equação diofantina 172x + 20y = 1000.
Primeiro precisamos verificar a condição de existência de soluções. Calculamos o mdc(172, 20).
Pelo algorı́tmo de Euclides, temos
8 1 1 2
172 20 12 8 4 0
Logo mdc(172, 20) = 4 e, como 4 divide 1000, vemos que a equação dada é solúvel. Agora vamos
obter as soluções dessa equação.
Usando a tabela fornecida pelo algorı́tmo de Euclides vamos obter o mdc(172, 20) = 4 como
combinação linear de 172 e 20, do mesmo modo que fizemos no capı́tulo sobre o máximo divisor
comum. Apartir da tabela, obtemos as equações:
172 = 8 · 20 + 12
20 = 1 · 12 + 8
12 = 1 · 8 + 4
Em seguida, isolamos os restos:
12 = 172 − 8 · 20
8 = 20 − 1 · 12
4 = 12 − 1 · 8
Agora, começando com a última equação eliminamos os restos 8 e 12 sucessivamente. Temos:
4 = 12 − 1 · 8 = 12 − 1 · (20 − 1 · 12) = 2 · 12 − 1 · 20 = 2 · (172 − 8 · 20) − 1 · 20 = 2 · 172 − 17 · 20
Segue-se que 172 · 2 + 20 · (−17) = 4. Multiplicando essa igualdade por 250, temos
(172 · 2 + 20 · (−17)) · 250 = 4 · 250, ou seja
Vemos, portanto, que o par (500, −4250) é uma solução particular da equação
172x + 20y = 1000. Finalmente, de posse de uma solução particular, podemos descrever todas
as soluções da equação em questão usando as fórmulas dadas no teorema (6.2). Temos:
20 172
x = 500 + · t e y = −4250 − · t, t ∈ Z
4 4
Isto é:
x = 500 + 5t e y = −4250 − 43t, t ∈ Z
Podemos evitar o trabalho de obter uma solução particular da equação diofantina se, por ten-
tativas, conseguimos obter uma solução.
Exemplo 6.5. Resolva a equação 14x + 22y = 50.
Primeiro devemos estudar a condição de existência. Temos mdc(14, 22) = 2 e 2 | 50. Logo a
equação dada é solúvel. Por tentativas, verificamos que o par (2, 1) é solução dessa equação. Logo
as soluções de 14x + 22y = 50 são dadas por:
22 14
x=2+ ·t e y =1− · t, t ∈ Z
2 2
Isto é:
x = 2 + 11t e y = 1 − 7t, t ∈ Z
49
No caso particular em que mdc(a, b) = 1 as soluções da equação diofantina ax + by = c se
expressam de modo mais simples, como
x = x0 + bt e y = y0 − at, t ∈ Z
6.4 Exercı́cios
1. Resolva as seguintes equações diofantinas lineares.
(a) 56x + 72y = 40 (b) 24x + 138y = 18 (c) 221x + 91y = 117
(d) 84x − 438y = 156 (e) 57x − 99y = 77 (f) 11x + 30y = 31
(g) 27x − 18y = 54 (h) 13x − 7y = 21 (i) 44x + 66y = 11
(j) 21x − 12y− = 72
2. Determinar os inteiros positivos menores que 1000 que deixam restos 7 e 13, quando divididos
por 31 e 29, respectivamente.
3. Exprima 100 como soma de dois inteiros positivos, de modo que o primeiro deles seja divisı́vel
por 7 e o segundo seja divisı́vel por 11.
4. Determinar as duas menores frações positivas que tenham 13 e 17 para denominadores e cuja
305
soma seja igual a .
221
50
Capı́tulo 7
Congruência
a ≡ b (mod m)
Caso a − b não seja múltiplo de m, dizemos que a e b são incongruentes, ou simplesmente não
congruentes. Por exemplo, 17 ̸≡ 2 (mod 4), pois 4 - (17 − 2).
Exemplo 7.2. Demonstre que se n ≡ 7 (mod 12), então n ≡ 3 (mod 4), qualquer que seja n ∈ Z.
Como n ≡ 7 (mod 12), temos que n − 7 = 12k, para algum k ∈ Z. Logo n − 7 + 4 = 12k + 4.
Isto é, n − 3 = 4(3k + 1). Ou seja, n − 3 é múltiplo de 4. Portanto, n ≡ 3 (mod 4).
Exemplo 7.3. Mostre que n2 ≡ 0 (mod 4) ou n2 ≡ 1 (mod 4), qualquer que seja n ∈ Z.
Temos duas possibilidades para n: ou n é par, ou n é ı́mpar.
(a) Se n for par, temos: n = 2k, para algum k ∈ Z. Logo n2 = (2k)2 . Ou seja, n2 = 4k 2 . Isto é,
n2 é múltiplo de 4. Segue-se que n2 ≡ 0 (mod 4).
51
(b) Caso n seja ı́mpar, n = 2k+1, para algum k ∈ Z. Logo n2 = (2k+1)2 . Isto é, n2 = 4k 2 +4k+1.
Ou seja, n2 = 4(k 2 + k) + 1. Desse modo, n2 − 1 = 4(k 2 + k). Isso mostra que n2 − 1 é
múltiplo de 4. Portanto, n2 ≡ 1 (mod 4).
Temos a seguir uma caracterização dos inteiros congruentes que nos permite ver a definição dada
sob um ponto de vista diferente, porém equivalente.
Teorema 7.1. Dois inteiros a e b são congruentes módulo m se, e somente se a e b deixam o
mesmo resto quando divididos por m.
a − b = km (7.1)
para algum k ∈ Z. Por outro lado, seja r o resto da divisão de b por m. Usando o algorı́tmo de
Euclides temos
(a) 28 ≡ 7 (mod 3), pois 28 e 7 deixam o mesmo resto 1, quando divididos por 3.
(b) −31 ≡ 11 (mod 7), pois −31 e 11, quando divididos por 7, deixam o mesmo resto 4. De fato,
−31 = 7(−5) + 4 e 11 = 7 · 1 + 4
Teorema 7.3. Sejam a e b inteiros quaisquer e seja m um inteiro positivo, tais que a ≡ b (mod m).
Valem as seguintes afirmações.
Agora vejamos mais um grupo de propriedades que tratam mais especicamente da manipulação
de expressões envolvendo congruências.
Teorema 7.4. Sejam a, b, c e d inteiros quaisquer e seja m um inteiro positivo, tais que
a ≡ b (mod m) e c ≡ d (mod m).
Nessas condições
a + c ≡ b + d (mod m) e ac ≡ bc (mod m)
O teorema (7.4) tem algumas consequências muito úteis que enunciamos na forma de corolário.
Corolário 7.2.1. Sejam a e b inteiros quaisquer e seja m um inteiro positivo, tais que
a ≡ b (mod m). Valem as seguintes afirmações:
(a) Sabemos que 18 ≡ 3 (mod 5) e 7 ≡ 2 (mod 5). Logo podemos concluir que 18 + 7 ≡
3 + 2 (mod 5). Isto é, 25 ≡ 5 (mod 5)
(b) Sabendo que 38 ≡ 2 (mod 6), podemos concluir por exemplo que, 38 + 5 ≡ 2 + 5 (mod 6). Ou
seja, 43 ≡ 7 (mod 6).
(c) A partir de 5 ≡ −1 (mod 3), podemos concluir, por exemplo, que 53 ≡ (−1)3 (mod 3). Ou
seja, 125 ≡ −1 (mod 3).
O caso de maior sucesso do teorema (7.5) ocorre quando c e m são primos entre si. Pois nesse
caso o mdc(c, m) = 1. Esse é o conteúdo do seguinte corolário.
Corolário 7.2.2. Suponhamos que ac ≡ bc (mod m). Se c e m são primos entre si, então
a ≡ b (mod m).
Exemplo 7.8. Suponhamos que se tenha a seguinte expressão 18 ≡ 3 (mod 5). Podemos simplificar
essa expressão por 3, pois mdc(3, 5) = 1. Temos 6 ≡ 1 (mod 5). Tomemos outro exemplo: seja
6 ≡ 2 (mod 4). Gostarı́amos de simplificar essa expressão por 2. Devemos apenas observar que
mdc(2, 4) = 2 e não esquecer de dividir, também, o módulo da congruência. Temos 3 ≡ 1 (mod 2).
Se não tivéssemos simplificado o módulo, ficarı́amos com 3 ≡ 1 (mod 4), que não é uma expressão
verdadeira.
Vamos finalizar esta seção com mais um exemplo muito elegante do uso de congruências.
Exemplo 7.9. Mostre que 41 é um divisor de 220 − 1.
Vamos mostrar, de modo equivalente, que 220 ≡ 1 (mod 41). Para isso, notamos que
26 ≡ 23 (mod 41). Além disso, 24 ≡ 16 (mod 41). Logo 26 · 24 ≡ 23 · 16 (mod 41). Ou seja,
210 ≡ 368 (mod 41). De modo equivalente, 210 ≡ 40 (mod 41). Desse modo, 220 ≡ 402 (mod 41).
Isto é, 220 ≡ 1600 (mod 41). Logo 220 ≡ 1 (mod 41).
54
Exemplo 7.12. Mostre que o conjunto S = {3, 4, 5} é um sistema completo de restos módulo 3.
Primeiramente, notamos que 3 ≡ 0 (mod 3), 4 ≡ 1 (mod 3) e 5 ≡ 2 (mod 3). Por outro
lado, S3 = {0, 1, 2} é um sistema completo de restos módulo 3. Isto é, dado um inteiro qualquer a
ou a ≡ 0 (mod 3), ou a ≡ 1 (mod 3), ou a ≡ 2 (mod 3). Desse modo, por transitividade, ou
a ≡ 3 (mod 3), ou a ≡ 4 (mod 3), ou a ≡ 5 (mod 3).
Uma generalização desse exemplo é enunciada a seguir como corolário do teorema (7.6).
Corolário 7.3.1. Se S = {r1 , ..., rm } é um sistema completo de restos módulo m, então os elementos
de S são congruentes módulo m aos elementos do conjunto Sm = {0, 1, 2, ..., m − 1} tomados em
alguma ordem.
Exemplo 7.13. Mostre que o conjunto S = {−2, −1, 0, 1, 2} é um sistema completo de restos
módulo 5.
Em vista dos resultados dessa seção, basta notar que S5 = {0, 1, 2, 3, 4} é um sistema completo de
restos módulo 5 e, além disso, −2 ≡ 3 (mod 5), −1 ≡ 4 (mod 5), 0 ≡ 0 (mod 5), 1 ≡ 1 (mod 5)
e 2 ≡ 2 (mod 5). Ou seja, cada elemento de S é congruente módulo 5 a um elemento de S5 .
7.4 Exercı́cios
1. Verdadeiro ou Falso:
(a) ( ) −2 ≡ 3 (mod 7) (b) ( ) 3 + 5 + 7 ≡ 5 (mod 10) (c) ( ) −2 ≡ 2 (mod 8)
(d) ( ) 112 ≡ 1 (mod 3) (e) ( ) 17 ̸≡ 9 (mod 2) (f) ( ) 42 ̸≡ −8 (mod 10)
(g) ( ) 15 ≡ −1 (mod 2) (h) ( ) 3111 ≡ −1 (mod 2) (i) ( ) 122 ≡ 1 (mod 11)
(j) ( ) 10 ≡ 1 (mod 3) (k) ( ) 63 ≡ −1 (mod 2) (l) ( ) 624 ≡ −2 (mod 5)
3. Sabendo que 1066 ≡ 1776 (mod m), determine todos os valores possı́veis de m.
14. Seja a um inteiro qualquer. Mostre que ou a3 ≡ 0 (mod 9), ou a3 ≡ 1 (mod 9), ou
a3 ≡ 8 (mod 9).
55
15. Determine quais dos seguintes conjuntos são sistemas completos de restos módulo 4.
(a) {−2, −1, 0, 1} (b) {0, 4, 8, 12} (c) {-13,4,17,18} (d) {−5, 0, 6, 22}
16. Encontre um conjunto de restos módulo 7, tal que todos os elementos são primos.
17. Encontre um sistema completo de restos módulo 7 formado apenas por múltiplos de 4.
56
Capı́tulo 8
Congruências Lineares
8.1 Generalidades
Definição 8.1. Chamamos congruência linear a qualquer equação da forma
ax ≡ b (mod m)
Proposição 8.1. Se x0 é uma solução da congruência ax ≡ b (mod m), então todos os inteiros
x0 + km, com k ∈ Z, também são soluções dessa congruência.
Demonstração. De fato, como x0 é uma solução de ax ≡ b (mod m), então ax0 ≡ b (mod m).
Por outro lado, a(x0 + km) ≡ ax0 (mod m). Segue-se, usando transitividade, que
a(x0 + km) ≡ b (mod m). Isso mostra que x0 + km é uma solução da congruência ax ≡ b (mod m).
É importante notar que x0 ≡ x0 + km (mod m). Desse modo, dada uma solução x0 da
congruência ax ≡ b (mod m), podemos obter uma infinidade de soluções x0 +km todas mutuamente
congruentes módulo m.
Exemplo 8.1. Considere a congruência linear 3x ≡ 9 (mod 12). Por tentativas chega-se a uma
solução particular. Vemos que x0 = 3 é uma solução da equação dada. Logo todos os inteiros da
forma x0 + km, com k ∈ Z também são soluções. Isto é, 3 + 12k, com k ∈ Z, são soluções da
equação dada. Essas soluções são todas congruentes módulo 12.
Duas soluções de uma congruência linear que são congruentes, não são consideradas distintas.
Desse modo, todas as infinitas soluções obtidas no exemplo acima, por serem congruentes, não são
consideradas distintas. Chamamos número de soluções da congruência linear ax ≡ b (mod m)
ao número de soluções incongruentes módulo m que satisfazem a equação dada. Mais adiante
voltaremos a discussão sobre o número de soluções de uma congruência linear. Por enquanto,
passamos a estudar a condição de existência de soluções de uma congruência linear.
57
8.2 Existência de Solução
Teorema 8.1. (Condição de Existência de Soluções de uma Congruência Linear) Considere uma
congruência linear ax ≡ b (mod m), bem como d = mdc(a, m). A congruência dada tem solução
se, e somente se d é um divisor de b.
ax0 − my0 = b
Por outro lado, sendo d = mdc(a, m), temos que d divide qualquer combinação linear de a e m.
Em particular, d | b.
Reciprocamente, suponhamos que d é um divisor de b. Logo b = dk, para algum k ∈ Z. Por
outro lado, sendo d = mdc(a, m), temos que
d = ax0 + my0
para algum par de inteiros (x0 , y0 ). Multiplicando essa igualdade por k, temos a(kx0 )+m(ky0 ) =
dk = b. Logo a(kx0 ) − b = m(−ky0 ). Isso mostra que m é um divisor de a(kx0 ) − b. Dito de outro
modo,
a(kx0 ) ≡ b (mod m)
Ou seja, kx0 é uma solução da congruência linear ax ≡ b (mod m). Portanto, a congruência
dada possui uma solução.
Exemplo 8.2. Considere a congruência linear 2x ≡ 14 (mod 10). Vemos que mdc(2, 10) = 2 e
2 | 14. Logo essa equação possui solução. Em outro exemplo, considere 2x ≡ 15 (mod 10). Vemos
que mdc(2, 10) = 2 e 2 - 15. Segue-se que a congruência 2x ≡ 15 (mod 10) não possui solução.
O caso de maior sucesso do teorema (8.2) ocorre quando mdc(a, m) = 1. Pois nesse caso, a
congruência linear ax ≡ b (mod m) possui exatamente uma solução.
2 · (45) − 5 · (15) = 15
Logo o par (x0 , y0 ) = (45, 15) é uma solução da equação diofantina 2x − 5y = 15. Segue-se que
x0 = 45 é uma solução da congruência linear 2x ≡ 15 (mod 5). Portanto, a única solução da
congruência dada é 45.
Observação 8.1. Sempre podemos recorrer as equações diofantinas para determinar uma solução
particular de uma congruência linear, como fizemos no exemplo anterior. Entretanto, pode ser mais
rápido obter essa solução particular usando certos truques algébricos que dependem da inspeção
particular de cada equação. Vamos resolver a mesma equação acima de um modo diferente.
6x ≡ 45 (mod 5)
multiplicando a congruência por 3. Por outro lado, 6x ≡ x (mod 5). Portanto, usando transi-
tividade, temos x ≡ 45 (mod 5). Segue-se que uma solução da congruência dada é x0 = 45, que
sabemos ser a única solução devido a condição de existência dessa equação.
Por outro lado, vemos que 14x ≡ x (mod 13). Multiplicando a equação (8.1) por 2, temos
14x ≡ 10 (mod 13). Por transitividade, temos x ≡ 10 (mod 13). Portanto, uma solução particular
da equação dada é x0 = 10. Aa demais soluções são dadas pelo teorema (8.2). Temos:
39 39
x0 = 10, x1 = 10 + , e x2 = 10 + 2 ·
3 3
Ou seja, x0 = 10, x1 = 23 e x2 = 36.
11x − 317y = 2
Usamos o algorı́tmo de Euclides para obter o mdc(11, 317) e expressá-lo como combinação linear
de 11 e 317, temos:
28 1 4 1
317 11 9 2 1 0
Concluı́mos que uma solução particular da equação diofantina 11x − 317y = 2 é dada pelo par
(x0 , y0 ) = (−288, 29). Portanto, a única solução módulo 317 da congruência 11x ≡ 2 (mod 317) é
dada por x0 = −288.
Exemplo 8.8. Resolva a congruência linear 35x ≡ 5 (mod 14).
Primeiro estudamos a condição de existência de soluções. Temos mdc(35, 14) = 7 e 7 - 5. Logo
a congruência dada não possui solução.
Exemplo 8.9. Resolva a seguinte congruência linear 64x ≡ 16 (mod 84).
Estudando a condição de existência, vemos que mdc(64, 84) = 4 e 4 | 16. Portanto, a con-
gruência dada possui exatamente 4 soluções incongruentes módulo 84. Para obter uma solução
particular, primeiro simplificamos a equação dada por 4, não esquecendo de simplificar o módulo.
Obtemos 16x ≡ 4 (mod 21). Podemos simplificar a equação obtida novamente por 4. Notando que
mdc(4, 21) = 1, não simplificamos o módulo. Temos:
4x ≡ 1 (mod 21)
Multiplicando por 5 essa congruência, obtemos 20x ≡ 5 (mod 21). Por outro lado,
20x ≡ −x (mod 21). Segue-se, devido a transitividade, que −x ≡ 5 (mod 21). Isto é,
x ≡ −5 (mod 21). Mas, −5 ≡ 16 (mod 21). Novamente por transitividade, x ≡ 16 (mod 21).
84
Finalmente, devido ao teorema (8.2), as soluções da congruência dada são: x0 = 16, x1 = 16 + ,
4
84 84
x2 = 16 + 2 · e x3 = 16 + 3 · . Ou seja, x0 = 16, x1 = 37, x2 = 58 e x3 = 79.
4 4
60
8.4 Resolução de Equações Diofantinas por Congruência
Dada uma equação diofantina ax + by = c e supondo que (x0 , y0 ) é uma solução dessa equação,
temos:
ax0 + by0 = c
Logo podemos escrever ax0 − c = by0 . Isso mostra que ax0 − c é múltiplo de b. Mas isso significa
que
ax0 ≡ c (mod b)
Por inspeção, verificamos que 48x ≡ −x (mod 7). Segue, por transitividade, que
−x ≡ 17 (mod 7). Isto é, x ≡ −17 (mod 7). No entanto, 4 ≡ −17 (mod 7). Logo, no-
vamente por transitividade, x ≡ 4 (mod 7). Segue-se que x0 = 4 é uma solução particular da
congruência linear associada a equação diofantina 48x + 7y = 17. Substituindo o valor x = 4 nessa
equação, obtemos o correspondente y = −25. Portanto, o par de inteiros (x0 , y0 ) = (4, −25) é uma
solução particular da equação diofantina dada. As demais soluções são dadas pelo teorema (6.2).
Temos:
x = 4 + 7t e y = −25 − 48t, com t ∈ Z.
61
Observação 8.2. É importante notar que:
(a) Em primeiro lugar a solução apresentada no exemplo (8.11) apresenta um argumento sutil.
Quando multiplicamos a congruência 9x ≡ 3 (mod 16) por 9, usamos o fato de que o
mdc(9, 16) = 1. Isso garante que a congruência obtida seja equivalente a que tinhamos an-
tes de multiplicar (mesmo conjunto solução). Sempre podemos multiplicar uma congruência
ax ≡ b (mod m). Isso é garantido pelo corolário (7.2.1). Entretanto, pode ser que a
congruência obtida tenha uma solução diferente da original. Considere o exemplo: seja
9x ≡ 3 (mod 16). Multiplicando essa congruência por 2, temos 18x ≡ 6 (mod 16). Mas
18x ≡ 2x (mod 16). Logo 2x ≡ 6 (mod 16). Por inspeção verifica-se que x0 = 3 é uma
solução dessa congruência. Mas x0 = 3 não resolve a congruência original 9x ≡ 3 (mod 16).
(b) Outra observação relevante é a seguinte. Dada uma equação diofantina ax + by = c, podemos,
em analogia ao que foi feito nessa seção, considerar by − c = ax. Isso mostra que by − c é
múltiplo de a. Logo by ≡ c (mod a). Ou seja, dada uma equação diofantina ax + by = c,
podemos considerar duas possibilidades para a congruência associada: ou ax ≡ c (mod b), ou
by ≡ c (mod a). No exemplo (8.11) poderı́amos ter usado a congruência 16y ≡ 35 (mod 9).
Essa equação por sua vez, pode ser reescrita como 7y ≡ 35 (mod 9), pois 16y ≡ 7y (mod 9).
A seguir, simplificando, obtemos y ≡ 5 (mod 9).
(c) A última observação é a seguinte. Aproveitando o final do ı́tem anterior temos que
y ≡ 5 (mod 9) é a conruência associada a equação 9x + 16y = 35 do exemplo (8.11).
Essa congruência nos diz que y = 5 + 9t, para algum t ∈ Z. Substituindo essa expressão
na equação diofantina em questão, temos, após alguns cálculos x = −5 − 16t. Desse modo,
obtemos as soluções da equação diofantina diretamente sem precisar das fórmulas do teorema
(8.2). Apesar de essas soluções parecerem diferentes das apresentadas no exemplo (8.11), é
possı́vel mostrar que são equivalentes àquelas.
Nem todo inteiro possui inverso módulo m. Por exemplo, 2 não tem inverso módulo 4. Pois a
congruência linear 2 · a∗ ≡ 1 (mod 4) não tem solução, visto que mdc(2, 4) = 2 e 2 - 1. O teorema
a seguir nos mostra em que casos um inteiro possui inverso.
Teorema 8.3. Se os inteiros a e m são primos entre si, então a tem um único inverso módulo m.
Demonstração. De fato, se a e m são primos entre si, então mdc(a, m) = 1. Isso significa que a
congruência linear ax ≡ 1 (mod m) possui uma única solução módulo m. Isto é, existe um único
x0 , tal que ax0 ≡ 1 (mod m). Tomando x0 = a∗ , temos aa∗ ≡ 1 (mod m). Isso mostra que x0 = a∗
é o inverso de a módulo m.
Observação 8.3. Notemos que 5 · 5 ≡ 1 (mod 8). Logo o inverso de 5 módulo 8 é 5. Por outro
lado, 5 · (−3) ≡ 1 (mod 8). Portanto, −3 também é inverso de 5 módulo 8. Mas isso não contradiz
a unicidade do inverso, pois 5 ≡ −3 (mod 8).
62
8.6 Exercı́cios
1. Resolva as seguintes congruências lineares:
(a) 2x ≡ 1 (mod 17) (b) 3x ≡ 1 (mod 17) (c) 3x ≡ 6 (mod 18)
(d) 25x ≡ 15 (mod 29) (e) 5x ≡ 2 (mod 26) (f) 6x ≡ 15 (mod 21)
(g) 36x ≡ 8 (mod 102) (h) 34x ≡ 60 (mod 98) (i) 8x ≡ 16 (mod 12)
63
Capı́tulo 9
Sistema de Congruências
9.1 Generalidades
Definição 9.1. Chamamos sistema de congruências lineares a um conjunto de congruências line-
ares. Denotamos um sistema de congruências do seguinte modo:
x ≡ a1 (mod m1 )
x ≡ a2 (mod m2 )
x ≡ a3 (mod m3 )
...
x ≡ ar (mod mr )
Exemplo 9.1. O sistema
x ≡ 2 (mod 5)
x ≡ 3 (mod 7)
x ≡ 5 (mod 11)
Pode ocorrer que cada congruência considerada isoladamente possua solução mas, ainda assim,
o sistema não possua solução. No entanto, se alguma congruência do sistema não possuir solução,
então o sistema não terá solução.
64
9.2 Teorema do Resto Chinês
O método que usaremos para resolver sistemas de congruências é conhecido como Teorema do
resto chinês e consiste no seguinte.
Teorema 9.1. Sejam m1 , m2 , ..., mr inteiros positivos, tais que sejam, dois a dois, primos entre
si. Ou seja, devemos ter mdc(mi , mj ) = 1, sempre que i ̸= j. Nessas condições, o sistema de
congruências lineares:
x ≡ a1 (mod m1 )
x ≡ a2 (mod m2 )
x ≡ a3 (mod m3 )
...
x ≡ ar (mod mr )
x = a1 M1 x1 + a2 M2 x2 + ... + ar Mr xr
em que
m
Mi =
mi
e xi é solução da congruência
Mi x ≡ 1 (mod mi )
com 1 ≤ i ≤ r
x = 2 · 35 · 2 + 3 · 21 · 1 + 2 · 15 · 1 = 233
Notando que 233 ≡ 23 (mod 105), temos que x ≡ 23 (mod 105) é a única solução do sistema
dado.
65
Dado um sistema sob a forma
a 1 x ≡ b1 (mod m1 )
a 2 x ≡ b2 (mod m2 )
a 3 x ≡ b3 (mod m3 )
...
a r x ≡ br (mod mr )
que pode ser resolvido usando o teorema do resto chinês. Esse é o conteúdo do seguinte teorema.
Teorema 9.2. Sejam m1 , m2 , ..., mr inteiros positivos, dois a dois primos entre si. Ou seja,
tais que mdc(mi , mj ) = 1, sempre que i ̸= j. Sejam ainda os inteiros a1 , a2 , ..., ar tais que
mdc(ai , mi ) = 1, para cada i = 1, 2, ..., r. Nessas condições, o sistema de congruências lineares
a1 x ≡ b1 (mod m1 )
a2 x ≡ b2 (mod m2 )
a3 x ≡ b3 (mod m3 )
...
ar x ≡ br (mod mr )
66
3 · 2x ≡ 3 · 1 (mod 5)
5 · 3x ≡ 5 · 2 (mod 7)
3 · 4x ≡ 3 · 3 (mod 11)
9.3 Exercı́cios
1. Resolva os seguintes sistemas de congruências lineares
{ { {
x ≡ 1 (mod 2) x ≡ 5 (mod 12) x ≡ 8 (mod 26)
(a) (b) (c)
x ≡ 1 (mod 3) x ≡ 7 (mod 19) x ≡ 11 (mod 33)
x ≡ 3 (mod 5) x ≡ 1 (mod 3) x ≡ 5 (mod 6)
(d) x ≡ 5 (mod 7) (e) x ≡ 2 (mod 5) (f) x ≡ 4 (mod 11)
x ≡ 7 (mod 11) x ≡ 3 (mod 7) x ≡ 3 (mod 17)
x ≡ 5 (mod 11) x ≡ 7 (mod 9) x ≡ 28 (mod 29)
(g) x ≡ 14 (mod 29) (h) x ≡ 10 (mod 4) (i) x ≡ 30 (mod 31)
x ≡ 15 (mod 31) x ≡ 1 (mod 7) x ≡ 10 (mod 11)
2x ≡ 1 (mod 5)
5x ≡ 11 (mod 17)
x ≡ 8 (mod 9)
3x ≡ 9 (mod 6)
(j) 3x ≡ 19 (mod 32) (k) (l) x ≡ 2 (mod 3)
4x ≡ 1 (mod 7)
11x ≡ 6 (mod 37) x ≡ 5 (mod 7)
5x ≡ 9 (mod 11)
2. Determine o menor inteiro positivo que deixa restos 2, 3 e 2 quando dividido respectivamente
por 3, 5 e 7.
3. Determine o menor inteiro positivo múltiplo de 7 que deixa resto 1, quando dividido 2, 3, 4 e
5.
67
Capı́tulo 10
10.1 Fermat
Teorema 10.1. (Teorema de Fermat) Se p é um primo, tal que p - a, então
ap−1 ≡ 1 (mod p)
Corolário 10.1.1. Se p é um primo, então ap ≡ a (mod p), qualquer que seja o inteiro a.
Exemplo 10.1. Seja a = 3 e p = 7. Temos ap−1 = 36 = 729. Além disso, como 7 | (729 − 1),
então 729 ≡ 1 (mod 7). Ou seja,
37−1 ≡ 1 (mod 7)
Multiplicando membro a membro as equações (10.1) e (10.2), temos: 530 · 58 ≡ 1 · 81 (mod 11).
Ou seja: 538 ≡ 81 (mod 11). Mas 81 ≡ 4 (mod 11). Portanto,
68
Teorema 10.2. Sejam p e q, dois primos distintos, tais que
ap ≡ a (mod q) e aq ≡ a (mod p)
Nessas condições,
Como os inteiros 11 e 31 são primos, podemos usar o teorema (10.2). Concluı́mos que: 211·31 ≡
2 (mod 11 · 31). Portanto, 2341 ≡ 2 (mod 341). Simplificando 2, temos:
10.2 Wilson
Teorema 10.3. (Teorema de Wilson) Se p é primo, então (p − 1)! ≡ −1 (mod p)
Teorema 10.4. (Recı́proca do teorema de Wilson) Se (n − 1)! ≡ −1 (mod n), então n é primo.
O teorema de Wilson e seu recı́proco nos dão um critério para reconhecer se um certo inteiro
n > 1 é primo. Entretanto, esse critério se torna impraticável para números muito grandes. O
interesse no teorema de Wilson é mais teórico.
Exemplo 10.4. Verifique o teorema de Wilson com p = 5.
Temos (5−1)!+1 = 4!+1 = 25. Logo (5−1)!+1 ≡ 0 (mod 5). Ou seja, (5−1)! ≡ −1 (mod 5).
Exemplo 10.5. Reconhecer se 11 é primo, usando o teorema de Wilson.
Temos (11 − 1)! + 1 = 10! + 1 = 11.329.891. Logo, (11 − 1)! ≡ −1 (mod 11). Portanto, 11 é
primo.
10.3 Exercı́cios
1. Verifique o teorema de Fermat com a = 2 e p = 13.
70
Apêndice A
Respostas
Seção 1.1.1
1.
(a) 3 · 1 + 3 · 2 + 3 · 3 + 3 · 4 + 3 · 5 (b) 5 + 5 + 5 + 5 + 5 + 5 + 5
(c) 30 + 31 + 32 + ... + 320 (d) 13 + 23 + 33 + ... + 1003
(e) 2 · 2 + 2 · 3 + 2 · 4 + 2 · 5 + 2 · 6 (f) 3 + 2 + 1 + 0 − 1 − 2 − 3 − 4 − 5
2 2 2 2
(g) + + + ... + (h) 2 · 3 + 3 · 5 + 4 · 7 + 5 · 9 + 6 · 11
1 2 3 11
(i) 7 + 12 + 17 + 22 + ... + 102 (j) 2 · 0 + 3 · 1 + 4 · 2 + ... + 11 · 9
2.
(a) (b) (c) (d) (e) (f) (g) (h)
(i) (j) (k) (l) (m) (n) (o) (p)
Seção 1.2.1
1. (a) (b) (c) (d) (e) (f) (g) (h) (i) (j)
2. (a) (b) (c) (d) (e) (f) (g) (h) (i) (j)
Seção 1.3.1
1. (a) (b) (c) (d) (e) (f) (g) (h)
2. (a) (b) (c) (d) (e) (f)
Seção 1.4.3
1. (a) (b) (c) (d) (e) (f)
2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11.
12. (a) (b) (c) (d)
Seção 1.5.1
1. (a) (b) (c) (d) (e)
Seção 5.7
1. 2, 7, 23, 47 e 79 2. 3 3. 7 4. n = 3 5. p = 5
6. 101! + 2, 101! + 3, 101! + 4, ..., 101! + 101 7. 930 8. Todos os primos de 2 até 47 4.
5. 6. 7. 8. 9. 10. 11.
71
12. (a) (b) (c) (d)
Seção 6.4
1.
(a) x = 20 + 9t e y = −15 − 7t (b) x = 18 + 23t e y = −3 − 4t
(c) x = −18 + 7t e y = 45 − 17t (d) x = −676 − 73t e y = −130 − 14t
(e) Não possui solução (f) x = 341 + 30t e y = −124 − 11t
(g) x = 6 − 2t e y = 6 − 3t (h) x = −21 − 7t e y = −42 − 13t
(i) Não possui solução (j) x = −24 − 4t e y = −48 − 7t
Seção 7.4
1.
(a) V (b) V (c) F (d) V (e) F (f) F (g) V (h)V (i) V (j) V
(k) V (l) F
2. x ∈ {..., −7, −2, 3, 8, 13, ...}.
3. 1, 2, 5, 10, 71, 142, 355, 710
4. 2, 7, 12
5. 7, 24, 41, 58, 75, 92
7. Falso. 72 ≡ 52 (mod 8), mas 7 ̸≡ 5 (mod 8).
9. 4
10. 6
15. b, c, d.
16. {2, 3, 5, 7, 11, 13, 29}
17. {0, 4, 8, 12, 16, 20, 24}
Seção 8.6
1.
(a) 9 (b) 6 (c) 2, 4 e 14 (d) 18 (e) 16 (f) 6, 13 e 20 (g) não possui solução
(h) 45 e 94 (i) 2, 5, 8 e 11
2.
(a) x = 15 + 51t e y = −1 + 4t (b) x = 13 + 25t e y = 7 − 12t
(c) x = 14 + 53t e y = 1 + 5t (d) x = 3 + 6t e y = −2 − 7t
(e) x = 20 + 27t e y = −8 − 11t (f) x = 42 + 131t e y = 24 + 75t
(g) x = 2t e y = 4 − 3t (h) x = 8 + 11t e y = 37 + 61t
(i) x = 9 + 77t e y = −5 − 65t
Seção 9.3
1.
(a) x ≡ 1 (mod 6) (b) x ≡ 197 (mod 228) (c) x ≡ 242 (mod 858)
(d) x ≡ 348 (mod 385) (e) x ≡ 52 (mod 105) (f) x ≡ 785 (mod 1122)
(g) x ≡ 4944 (mod 9889) (h) x ≡ 106 (mod 252) (i) x ≡ −1 (mod 9889)
72
(j) x ≡ 12113 (mod 20128) (k) x ≡ 1423 (mod 2310) (l) x ≡ 26 (mod 63)
73
Referências Bibliográficas
[2] JOSÉ PLÍNIO DE O. SANTOS Introdução à Teoria dos Números. Rio de janeiro, IMPA,
2006.
[3] EDGARD DE ALENCAR FILHO Teoria Elementar dos Números. São Paulo, Editora
Nobel, 1981.
74