Considera-se que a Filosofia da Ciência que Bachelard defende está relacionada
com o desenvolvimento do conhecimento científico sem a origem de verdades absolutas.
É preciso buscar as possibilidades de transformações dentro de uma área de conhecimento sem, necessariamente, descaracterizá-la. Em diferentes locais do planeta terra o homem produziu conhecimento geométrico para resolver problemas. Todo o conhecimento geométrico produzido precisava de alcançar consistência para ser compreendido e transmitido para as gerações futuras. Euclides assumiu para si a responsabilidade desse trabalho. Ele utilizou o recurso dos postulados ou axiomas para organizar o conhecimento geométrico existente até aquele momento. Nos séculos XVII e XVIII inicia-se um afastamento da tradição euclidiana, onde alguns geômetras passam a pensar em novas perspectivas e estas eram contraditórias aos princípios da geometria euclidiana. Esse afastamento levou matemáticos a dedicarem parte de sua vida para estabelecer uma geometria que não seguia os padrões válidos. As novas geometrias trouxeram a possibilidade de ampliar os conhecimentos restritos ao plano para o espaço curvo. Essa possibilidade do surgimento de novos conhecimentos sem que necessariamente o conhecimento anterior seja eliminado faz parte dos obstáculos epistemológicos que Bachelard defendia, pois haviam inúmeros obstáculos a serem superados, quando os matemáticos tiveram a iniciativa de olharem para a geometria euclidiana com uma visão contraditória, principalmente em relação ao quinto postulado ou postulado das paralelas. Este quinto postulado ficou conhecido como Postulado das Paralelas. Até o momento não é possível prová-lo como um teorema. Outros matemáticos estudaram com maior rigor os postulados de Euclides e perceberam que haviam limitações para o quinto postulado e a partir desses estudos nascem outras geometrias: as não-euclidianas No seu trabalho, ele apresenta uma geometria onde era possível que: por um ponto exterior a uma reta passasse mais de uma paralela, com isso negava definitivamente o quinto. A geometria não-euclidiana exigiu uma coragem intelectual de Gauss, Bolyai e Lobachevsky para que compreendessem que havia possibilidade de uma geometria perfeitamente consistente que não se baseava na geometria euclidiana, mas que apontava suas limitações. Vale ressaltar que a Geometria Euclidiana funciona muito bem em superfícies planas, porém, para algumas situações geométricas, como superfícies curvas, tal geometria é insatisfatória, e criaram novas geometrias consistentes, aplicáveis a espaços curvos, conhecidas por não-euclidianas, como a geometria esférica e a hiperbólica. A partir do momento que o espaço curvo propiciou um alargamento do pensamento de Euclides que tinha predominado por um longo tempo como um realismo (descrição da realidade, verdade absoluta) das noções básicas, passa-se a pensar no lado racional (pensar de foma organizada e objetiva) que encontra a possibilidade do progresso científico. Bachelard trata disto na introdução de seu livro “O novo espírito científico” (BACHELARD, 2000, p. 15) comentando uma frase de Nietzsche (“tudo que é decisivo só nasce apesar de”) infere que: “[...] toda verdade nova nasce apesar da evidência, toda experiência nova nasce apesar da experiência imediata”
PENSAR RACIONALMENTE: Pensar racionalmente é pensar de forma organizada e
esclarecida, ter certeza do que está fazendo, sem contradições, nem grandes emoções, sem um pensamento sensível. A racionalidade é uma exigência em nossa civilização. Sócrates e Platão diz que a verdade vem dos pensamentos e ideias, eles diziam que a razão não era natural nos homens como se pensavam e sim uma forma construída pela nossa cultura, sendo assim um produto de nossa civilização. O que é obstáculo epistemológico? Gaston Bachelard cunhou em sua obra A formação do espírito científico (1938) a ideia do obstáculo epistemológico, que deve ser visto como uma derivação limitante de um sistema de conceitos sobre o desenvolvimento do pensamento, o que impede um modo de pensamento pré-científico de conceber a abordagem científica. Em palavras mais simples, a ideia de obstáculo epistemológico, identifica e expressa elementos psicológicos que dificultam a aprendizagem de novos conceitos para a ciência, e está presente em pessoas sujeitas a enfrentar novas realidades, uma vez que não têm referências diretas por experiências anteriores sobre o que estamos tentando descobrir. Em outras palavras, poderíamos dizer que o obstáculo epistemológico é um conjunto de dificuldades psicológicas que não permitem acesso correto ao conhecimento objetivo. Bachelard encontra elementos que dificultam o conhecimento adequado e real, que não permitem a própria evolução do espírito, para que ele possa passar de um estado pré-científico, influenciado pelos sentidos e feedback imediato, a um método científico com base no status científico. As pessoas que desejam atingir um grau de enriquecimento epistemológico, o chamado: espírito científico, devem pôr de lado experiência e hábitos de pensamento que sempre foram utilizados, típicos de todo o espírito pré-científico. Bachelard identifica esses obstáculos epistemológicos como barreiras para a formação de um espírito científico. Obstáculos epistemológicos não estão se referindo a elementos ou fatores externos que podem estar envolvidos no processo de desenvolvimento do conhecimento científico de pessoas. Obstáculos epistemológicos encontram-se na dificuldade de captar o acontecimento ou fenômeno devido às condições psicológicas que impedem o desenvolvimento do espírito científico. Obstáculos epistemológicos são fatores que dificultam a passagem do espírito pré-científico para o espírito verdadeiramente científico, e superando obstáculos epistemológicos é como o espírito pode evoluir para criar ciência, na qual emana e surgem novos conhecimentos e existentes realidades que, por vezes, não percebemos que estão ali. 1) Superar a primeira experiência: não estar sujeitas a algumas críticas, leva a pessoa a ficar imersa neste mar de ignorância tomando estes conhecimentos primários como verdadeiros e rejeitando as novidades que vão contra eles. O espírito científico deve ser reformado constantemente. 2) O obstáculo generalista envolve tomar as características ou particularidades de conhecimento da substância como realidade e verdade, que não tem discussão. Ao aceitar o obstáculo realista, não há problema científico, o obstáculo torna-se um gerador de verdade. 3) O obstáculo Verbal: Localizado em hábitos orais de pessoas usados em uma base diária, tornando este obstáculo um dos mais difíceis e com maior poder explicativo. 4) Obstáculo unitário e pragmático: O conceito de unidade para simplificar o estudo de qualquer realidade, para explicar tudo de forma satisfatória. As partes são explicadas e sua unificação explica toda a realidade. O conceito de unidade em conjunto com o utilitário se torna perigoso porque dá imediatamente explicação para o que é de algum modo útil. 5) Obstáculo substancialista: Esta coligação é feita da substância e as suas qualidades. Bachelard distingue uma realidade oculta do substancialismo que é algo fechado, coberto pelo material, que deve abrir para expor seu conteúdo. E há substancialismo da íntima qualidade, profundo, que é fechado não superficialmente. Devemos cavar fundo para encontrá-lo. 6) Obstáculo Realista: A mente está deslumbrada com a presença do real. Ela ainda considerou que não deve ser estudado ou ensinado. Toma impressões pessoais sobre o pesquisador. O argumento realista tem mais peso contra o que não é. 7) Obstáculo animista: Os seres humanos prestam mais atenção e maior valorização do conceito do que pode levar para a vida. O espírito do pesquisador prioriza a vida, este valor sempre acompanhou o homem em qualquer fase do seu desenvolvimento intelectual. 8) Obstáculo e o mito da digestão: Qualquer evento ou fenômeno que tem a ver com o estômago passa a ter maior valor explicativo. 9) Obstáculo da libido é interpretado a partir da perspectiva do poder e a vontade de dominar os outros seres humanos por parte do pesquisador e que não pode ajudar, mas refletir sobre suas experiências ou ensaios dá uma explicação coerente para um fenômeno ou um fato. Outra referência deste obstáculo é a referência constante a pensamentos sexuais que estão presentes em todos os espíritos científicos na formação integral para enfrentar novos fatos ou fenômenos. 10) O último obstáculo epistemológico: o conhecimento quantitativo é aquele que se considera livre de erro, saltando do quantitativo ao objetivo, através de todo este conhecimento tem maior validade.
LENOIR, RÄmi (1996), "Objeto Sociológico e Problema Social", in Patrick Champagne Et Al., Iniciação A Prática Sociológica, PetrÇpolis, Vozes, Pp. 59-106.