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CAPACIDADE DE CONTRAÇÃO DO TECIDO FASCIAL: REVISÃO

BIBLIOGRÁFICA

Natália Folco Scodeler, Carla Spadaccia Bissotto, Arthur Bellenzani Neto, Sergio Jorge
Pontifícia Universidade Católica de Campinas

RESUMO
É crescente a atenção dada ao tecido conjuntivo fascial, por ser um importante meio de conexão estrutural
do corpo humano, que interliga cada célula como uma rede conectiva tridimensional, iniciando no crânio e
indo em direção aos pés. Porém, existem diversas questões a serem estudadas acerca de sua capacidade
de realizar contração, o que tem sido especulado por alguns autores. Portanto, no presente trabalho,
objetivou-se conhecer e aprofundar os estudos sobre o tecido fascial e sua importância relacionada aos
aspectos contráteis de sua formação. Desta forma, foi realizada uma revisão bibliográfica não-sistemática,
sendo analisados artigos científicos de periódicos indexados nas bases de dados Bireme, Medline, Lilacs,
SciELO, PEDro, PubMed, além de livros, sites de conteúdo científico e trabalhos apresentados em
congressos científicos, entre os anos de 1992 à fevereiro de 2009. Como resultado, verificou-se hipóteses
em que a fáscia apresentaria contração ativa, devido à presença de células musculares lisas, podendo
assim, interferir na biomecânica corporal, mas estudos posteriores desvendaram que esta contração não
passaria de uma maior hidratação do tecido fascial. Ainda foram encontrados estudos que buscaram
indução medicamentosa de contração, além da indução por eletroestimulação. Portanto, sugere-se a
necessidade de estudos mais bem formulados, que permitam um embasamento científico adequado,
tornando assim, evidente a existência ou não de atividade contrátil no tecido fascial, e sua devida ativação e
interferência na biomecânica corporal.
Palavras-Chave: Fáscia, tecido conjuntivo, contratilidade fascial.

Morphologic and Functional Aspects of Fascial Tissue: Literature Review

ABSTRACT
The attention given to the conjunctive fascial tissue has grown because of its importance as a means of
structural connection within the human body. It interlinks each body cell as a tri-dimensional web from the
head, down to the feet. However, there are several issues to be studied on their ability to perform
contraction, which has been speculated by some authors. Therefore, in this work aimed to understand and
carry out further studies on the fascial tissue and its importance related to contracts aspects for their
structure. Thus, a bibliographic review has been performed by analyzing scientific articles from periodicals
index, such as from Bireme, Medline, Lilacs, SciELO, PEDro, PubMed, as well as from books, scientific-
content websites and speeches given in science seminars, dating from 1992 up to February, 2009. As a
result, there has been hypothesis where the fascia have active contraction, due to the presence of smooth
muscle cells and can thus interfere with the body biomechanics, but further studies unraveled that this
contraction would not be nothing but a greater hydration of fascial tissue. Although studies were seeking
drug induction of contraction, in addition to the induction by electrical stimulation. Therefore, it is suggested
that more well formulated studies are needed, to allow for basement appropriate scientific, thus, clearing the
existence of contractile activity in the fascial tissue, and its proper activation and interference in
biomechanics body.
Key-Words: Fascia, connective tissue, fascial contractility.
Capacidade de Contração do Tecido Fascial

INTRODUÇÃO destacou que há uma escassez histórica no


interesse em compreender a definição da fáscia.
O corpo humano foi visto durante muitos Hammer (2004), um dos autores mais
anos de modo segmentado, de maneira mais importantes nesta área verificou um livro apenas,
didática, porém, sabe-se hoje sobre a importância do ano de 1931, em que Gallaudet se preocupou
dos estudos anatômicos em sua globalidade e em realizar 34 dissecções entre os anos de 1913
integralidade (Yahia, Pigeon e Desrosiers, 1993). a 1930, para examinar especificamente o tecido
Esta mudança de conceitos, que ocorreu nos fascial, motivado por não haver descrições
últimos anos, também se deve ao tecido adequadas na literatura sobre o assunto em
conjuntivo fascial, em decorrência das questão, e, posteriormente, o mesmo autor do
descobertas de sua abrangência pelo corpo relato, juntamente com Voyer, dissecaram 100
(Langevin, Cornbrooks e Taatjes, 2004). Este cadáveres em busca de maiores detalhes sobre o
tecido passou a ser mais estudado, verificando-se tecido fascial. Os anatomistas não costumavam
que suas funções poderiam ser mais amplas do estar atentos a este tecido em suas dissecções
que era conhecido até então. devido a sua fragilidade durante este
A fáscia é formada por uma matriz procedimento (Hammer, 1999).
intracelular tridimensional de suporte, Neste contexto, verificando-se os poucos
continuidade e comunicação (Sadler, 2005; estudos acerca deste tecido, tornou-se evidente a
Culav, Clarck e Merrilees, 1999) se estendendo necessidade de maiores estudos sobre suas
sem interrupção a partir do topo da cabeça até a propriedades, porém, existem hipóteses sobre a
ponta dos dedos dos pés, fazendo parte de uma possibilidade de contração ativa da fáscia e sua
entidade funcional do corpo humano (Chaitow, influência na biomecânica humana, sendo
2001). Este tecido envolve, apóia, protege e se recentemente, um dos conceitos mais estudados
entrelaça com todos os outros tecidos e órgãos em relação à mesma (Schleip, Klinger e
do corpo, incluindo os nervos, vasos sanguíneos, Lehmann-Horn, 2005).
ossos, músculos e suas miofibrilas, e envolvendo, Nos últimos anos, foram criados alguns
até mesmo, cada célula do corpo humano laboratórios especializados na investigação deste
(Schleip , 2003; Hammer, 1999). tecido, assim como o Fascia Research Lab na
O tecido conjuntivo fascial, ou conectivo Universidade de Ulm da Alemanha, possuindo o
fascial, originado do mesoderma embrionário, European Fascia Research Project desde agosto
também pode ser denominado apenas de fáscia, de 2003, liderado pelo Dr. Frank Lehmann-Horn,
não havendo ainda um consenso bem definido além de grupos de pesquisa na Universidade de
sobre o termo que envolve este tecido. De acordo Melbourne liderado por Priscilla Barker, e também
com Findley e Schleip em 2007, os estudos na Universidade de Harvard, comandado por
contendo a palavra “fáscia” em seus títulos ou Myron Spector. Existe hoje, um congresso
resumos, aumentaram consideravelmente em específico criado para a atualização sobre a
mais de 600% entre o ano de 2003 e 2007, fáscia, sendo sua primeira versão feita em 2007,
passando de quatro para 18 estudos indexados na cidade de Boston, que é o I Fascia Research
na base de dados Medline. As divergências Congress, e terá sua segunda versão em 2009 na
existentes acerca dos termos utilizados para o cidade de Amsterdam (Klingler, Schleip e Zorn,
tecido fascial, certas vezes também utilizados 2004).
com ambigüidade em sua descrição, dificultam a Portanto, o objetivo do presente trabalho
clareza na compreensão e entendimento da foi conhecer e aprofundar os estudos sobre o
construção anatômica do mesmo, constituindo tecido conjuntivo fascial e importância relacionada
assim, uma barreira na investigação de sua à contratilidade, além do fato de não haver
abrangência. nenhum relato na literatura nacional acerca deste
Neste contexto, a fisioterapeuta tema até o presente momento, de acordo com
anatomista Mirkin, também em 2007, realizou informações dos próprios laboratórios
uma revisão bibliográfica, em busca da definição especialistas no assunto. Desta forma, poderia
adequada do termo “fáscia” e constatou a haver uma importante colaboração do estudo
existência de 45 definições anatômicas da para a melhor compreensão de conceitos pouco
mesma, sendo 25 destas definições encontradas difundidos acerca da fáscia, além de uma
no site de busca Google, outras 15 provenientes contribuição aos estudos que visem a seleção ou
de dicionários médicos, e as cinco restantes adaptação de técnicas utilizadas pelos
foram obtidas de dicionários gerais, todas fisioterapeutas.
variando consideravelmente em relação à
extensão e conteúdo. Verificou-se que 91% das MATERIAL E MÉTODOS
definições continham informações acerca da
composição da fáscia, 89% sobre sua estrutura, e Para isso, foi realizada uma revisão
78% sobre sua função. Havia poucas referências bibliográfica não-sistemática, sendo analisados
feitas sobre as características (44%) e sua artigos científicos de periódicos indexados nas
localização (36%). Sendo assim, a autora bases de dados Bireme, Medline, Lilacs, SciELO,
PEDro, PubMed além de livros, sites de conteúdo
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N. F. Scodeler, C. S. Bissotto, A. B. Neto, S Jorge

científico e trabalhos apresentadas em primariamente. No entanto, foi estirada


congressos científicos. Foram selecionadas novamente após meia hora de repouso, e a
referências do ano de 1992 à fevereiro de 2009. resistência inicial havia aumentado (Yahia,
Quanto aos descritores, foram selecionados Pigeon e Desrosiers, 1993).
materiais de literatura que estivessem Klingler, Schleip e Zorn (2004)
relacionados ao conceito da fáscia como tecido comentaram em sua obra, que na época destas
unificado, sem interrupções ao longo do corpo. pesquisas, foi utilizado para tal capacidade
notável de contração do tecido, o termo
RESULTADOS “contração ligamentar”, o que fez os
pesquisadores recordarem de respostas similares
Ao procurar no dicionário pela palavra ao estiramento em tecidos orgânicos viscerais,
“contração”, do latim contractione, foram sendo recomendados estudos histológicos da
encontradas as definições: a) “ação ou efeito de fáscia tóracolombar em busca de células
contrair-se”; b) “encolhimento, diminuição, contráteis com propriedades de músculo liso.
encurtamento” (Ferreira, 1993); c) “fenômeno em A partir disso, foram realizados estudos
que se verifica encurtamento ou diminuição de histológicos posteriores, assim como os do
tamanho de um órgão ou de uma formação anatomista alemão Staubesand, que observou na
anatômica, e que pode ser de natureza fáscia plantar, por meio de microscopia eletrônica,
fisiológica, ou patológica” (Civita, 1973). células contráteis que provavelmente possuiriam
Igualmente, foram encontradas muitas referências a mesma fisiologia e inervação de células
à contração muscular apenas, porém na visão de musculares lisas viscerais ou vasculares (Schleip,
alguns autores, existem hipóteses e 2006; Klingler, Schleip e Zorn, 2004).
comprovações sobre a suposta função contrátil Estes estudos, juntamente com o
do tecido fascial, contrapondo às considerações conhecimento de patologias causadas por
usuais deste tecido de ser apenas um transmissor contraturas do tecido fascial, motivaram alguns
passivo de força na dinâmica musculoesquelética. grupos de pesquisas a iniciarem estudos nesta
Myers (2003) relatou que todas as área, revisando o que havia sido escrito até então
células, inclusive as do tecido conjuntivo, contêm sobre o assunto, seguindo duas abordagens
actina e miosina, mesmo em pequena principais: pesquisas histológicas sobre células
quantidade, sendo, portanto, capazes de realizar contráteis na fáscia lombar humana, e sobre
certa contração, porém as células musculares se testes de contração in vitro (Schleip, 2004).
tornaram especializadas neste quesito. O mesmo Verificou-se assim, a existência de
descreve que as células do tecido conjuntivo são contraturas no tecido fascial, sendo presentes na
ruins em termos de contração. fibromatose palmar – mais conhecida como
Em contrapartida, outros autores Dupuytren, na fibromatose plantar, onde há um
relataram que as forças resultantes da contração espessamento da planta do pé, e no ombro
apresentada pelo tecido fascial podem ser fortes congelado, que a contração dos miofibroblastos
o suficiente para influenciar a dinâmica acontece na cápsula articular do ombro, sendo
musculoesquelética (Smith, 2006; Schleip, 2006), estes os três exemplos mais conhecidos (Schleip,
sendo capaz de ajustar espontaneamente sua 2004).
rigidez em um período de duração variável de Segundo relatos de Schleip, Klingler e
minutos a horas (Schleip, Klinger e Lehmann- Lehmann-Horn (2006), existem diferenças entre
Horn, 2005). as contraturas crônicas a longo prazo e a
Já em 1992, Yahia et al. haviam capacidade de contração temporária da fáscia à
formulado a hipótese de que a fáscia maneira de músculo liso. Curiosamente, na
tóracolombar poderia estar envolvida no condição do ombro congelado, a contratura
mecanismo sensório motor da coluna lombar. fascial, às vezes, apresenta melhora espontânea
Igualmente, um estudo experimental em poucos dias. Isto parece indicar um rápido
sobre as propriedades viscoelásticas da fáscia relaxamento das células contráteis, ao invés de
tóracolombar, realizado pelo mesmo autor, mudanças morfológicas em longo prazo na
surpreendeu o que fora publicado até então, estrutura do colágeno.
tornando-se pioneiro no assunto em questão. Desta forma, realizados estudos
Neste estudo, objetivou-se explorar as histológicos, verificou-se a existência de
propriedades viscoelásticas do tecido conjuntivo miofibroblastos na fáscia, que são os fenótipos de
denso submetido ao estresse, indicando, pela fibroblastos que contêm fibras tensas com
primeira vez, que alguns tecidos fasciais capacidade inata de expressar o gene alfa-actina
poderiam conseguir uma contração em cerca de de músculo liso, possuindo muitos fatores em
minutos. Isto foi verificado quando fibras de tecido comum com células de músculo liso, como a
in vitro foram estiradas isometricamente por um capacidade de realizar contração ativa (Schleip,
período de 15 minutos e, como o esperado na Klinger e Lehmann-Horn, 2006; Schleip, 2006;
época, a sua força de resistência diminuiu Schleip, Klinger e Lehmann-Horn, 2005;

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Capacidade de Contração do Tecido Fascial

Chaponnier e Gabbiani, 2004; Klingler, Schleip e (Schleip, 2006; Klingler, Schleip e Zorn, 2004). A
Zorn, 2004). partir de então, começaram a estudar o teor de
Sabe-se hoje que a alfa-actina de água na fáscia, sendo realizado por meio da
músculo liso é um marcador confiável para a medição do peso úmido das tiras fasciais, em
identificação de células musculares lisas diferentes fases experimentais e seu peso seco
vasculares durante o desenvolvimento vascular e final, com a secagem sendo feita por meio de um
doenças vasculares, e miofibroblastos durante a forno. Foi encontrado o seguinte padrão: durante
cicatrização de feridas, e contraturas do tecido o período de alongamento isométrico, a água é
fibroso (Chaponnier e Gabbiani, 2004). extraída da fáscia, ocorrendo algumas alterações
Há relatos de que os miofibroblastos são no arranjo longitudinal das fibras colágenas.
encontrados principalmente na fáscia lata, Quando o alongamento é finalizado, levam-se
tóracolombar, e plantar, e sua maior densidade alguns minutos para as fibras longitudinais
parece estar positivamente relacionada à maior retornarem ao estado de relaxamento, desde que
atividade física (Schleip, Klinger e Lehmann- este alongamento não tenha sido
Horn, 2006). demasiadamente forte, havendo micro-lesões no
Foi realizado, portanto, no Fascia tecido (Schleip, 2006; Klingler, Schleip e Zorn,
Research Lab (Klingler, Schleip e Zorn, 2004), um 2004). Porém, a água continua a ser embebida
estudo similar ao precursor realizado por Yahia em cima do tecido, sendo assim, além da fáscia
(1993), porém com fáscia lombar de voltar ao seu estado anterior, torna-se mais
camundongos e porcos, e verificou-se a mesma túrgida do que antes, ou seja, podendo chegar
“contração ligamentar” observada por ele. Em até mesmo para um nível mais elevado do que
contrapartida, este mesmo grupo de pesquisa antes do alongamento (Schleip, 2006; Klingler,
realizou uma nova pesquisa em 2004, que Schleip e Zorn, 2004).
surpreendeu o que havia sido descrito desde
então. Foi utilizada a mesma metodologia Medicamentos
anterior, porém com amostras de fáscia, as quais
tiveram suas células destruídas por congelamento Estudos in vitro são reportados na
profundo em líquido de nitrogênio e um literatura sobre a demonstração da contração
subsequente descongelamento. Desta forma, foi autonômica da fáscia lombar de ratos e sua
observado mesmo em menor grau, uma indução farmacológica de contração temporária
contração, levando a crer que possui uma relação (Schleip, Klinger e Lehmann-Horn, 2005).
de fatores não-celulares. Sabendo-se que contrações de músculo liso
Além disso, foram elaboradas as poderiam ser induzidas farmacologicamente,
hipóteses de que o perimísio seria capaz de doses elevadas da substância anti-histamínica
realizar contração ativa, além da possibilidade de mepyramine foram testadas sobre amostras de
existir adaptação da tonicidade do tecido fáscia, e esta induziu às contrações mais
miofascial, de acordo com as demandas confiáveis e com efeitos mais sustentados.
tensionais aumentadas (Sadler, 2005) do tecido O tecido estudado demonstrou curvas de
muscular, principalmente em músculos tônicos. resposta muito lentas e persistentes, com
Isto ocorreria devido à maior, e significativa, duração de 2 horas de contração, além de ter
existência de perimísio em músculos tônicos, por sido revelado, no exame histopatológico, um
precisarem de maior oxigenação, e o perimísio aumento na quantidade de miofibroblastos na
possuir maior vascularização. Esse aumento na fáscia intramuscular. Já a histamina e a ocitocina
concentração de perimísio na musculatura está induziram respostas contráteis mais curtas e em
relacionado ao aumento da rigidez passiva do algumas amostras apenas. Em contrapartida, um
1
músculo . Este mesmo autor também descreve doador de óxido nítrico desencadeou respostas
que o perimísio parece ser capaz de responder à de breve relaxamento em diversas amostras. A
mecanoestimulação (Schleip, Klinger e Lehmann- exposição do tecido fascial à noradrenalina,
Horn, 2006). acetilcolina, angiotensina-II, nifedipina,
No sentido de obter uma possível endotelina-1, serotonina, à cafeína, adenosina, e
explicação para a “contração ligamentar”, ao cloreto de cálcio não provocaram quaisquer
pesquisadores do Fascia Research Lab mudanças na fáscia (Schleip, 2006).
especularam o fato de que em alguns estudos
realizados com tecidos cartilaginosos, fora Eletroestimulação
demonstrado que um aumento na hidratação
poderia acarretar em aumento na rigidez tecidual Em um total de 25 peças da fáscia de
camundongos, foram analisadas com a
estimulação elétrica no banho de imersão. Pulsos
1
“A rigidez muscular passiva é definida como a razão retangulares (70 V, 1 ms) foram aplicados em
entre a mudança na tensão do músculo por unidade de frequências de 5 Hz e 20 Hz. Resultados
mudança no seu comprimento, quando é alongado sem inconsistentes foram obtidos, com uma tendência
a presença de atividade contrátil” (Aquino et al, 2006). de aumento na tensão em 5 Hz de freqüência, e
sendo menores com estimulação a 20 Hz. Porém,
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N. F. Scodeler, C. S. Bissotto, A. B. Neto, S Jorge

em decorrência de questões externas que conventional and complementary health


estariam intervindo nos resultados, este estudo care. Germany; Elsevier; 2007; 2.
teve de ser interrompido (Schleip, 2006).
8. Hammer W. Book report on fascia. Dyn
CONCLUSÃO Chiro; 1999; 17 (2); p. 37.

A partir da literatura encontrada, pode-se 9. Hammer, W. The cranial bones are


perceber a necessidade de um consenso acerca connected to the what?. Dyn Chiro; 2004;
de termos e resultados sobre a capacidade da jan; p.13-5.
fáscia em realizar contração e sobre sua
natureza. Porém, ainda assim, algumas das 10. Klingler W, Schleip R, Zorn A. European
antigas teorias, precursoras dos estudos acerca fascia research project report. Strutural
do presente assunto, puderam ser contestadas, Integ; dez 2004; p. 1-10.
evidenciando-se uma nova hipótese sobre a
rigidez observada na fáscia após um período de 11. Langevin HM, Cornbrooks CJ, Taatjes
estiramento. Além disso, pode ser verificada certa DJ. Histochem Cell Biol; 2004; 122; p. 7-
semelhança dos miofibroblastos com células 15.
musculares lisas, apesar de diferenças acerca
dos medicamentos que induziriam a suposta 12. Mirkin S. What is fascia?: unveiling an
contração do tecido. Ainda são necessários obscure anatomical construct. Boston; I
estudos sobre a indução de contração por meio Fascia Research Congress; 2007.
de correntes elétricas. Observando-se os estudos Disponível em URL:
apresentados, exalta-se a necessidade de http://www.fasciacongress.org/2007/
compreensão sobre determinados aspectos do [2008 mai 12].
tecido miofascial, os quais auxiliariam a
elaboração de uma conduta terapêutica 13. Myers TW. Trilhos anatômicos:
adequada de acordo com a resposta do tecido meridianos miofasciais para terapeutas
aos diferentes tipos de estímulos. manuais e do movimento. 1 ed. Barueri;
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Contato:
Natália Folco Scodeler
taiafolco@gmail.com

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