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Mario C. Bertin
Instituto de Física
Universidade Federal da Bahia
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Sumário
1 Transformações de Lorentz 5
1.1 Introdução: as transformações de Galilei . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.2 Postulados fundamentais da relatividade restrita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.3 Transformações de Lorentz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.4 Composição de velocidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.5 Contração de Lorentz e dilatação do tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.6 O espaço-tempo de Minkowski . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.7 O cone de luz e o critério de causalidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.8 Curvas em M4 e observáveis cinemáticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.9 Dinâmica relativística de partículas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
1.10 Momento linear e Energia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
1.11 4-momento linear e o invariante de Lorentz p2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3
4 Campos Bosônicos 79
4.1 O campo escalar real . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
4.2 O campo escalar complexo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
4.3 Simetrias internas do campo escalar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
4.4 Simetrias de gauge locais e interação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
4.5 O campo vetorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
4.6 O campo eletromagnético . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
4.7 Liberdade de gauge . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
5 Campos Espinoriais 97
5.1 A álgebra de Clifford relativística . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
5.2 Rotações: a representação espinorial das transformações de Lorentz . . . . . . . . 102
5.3 Representações de spin . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
5.4 Espinores de Weyl . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
5.5 A ação de Dirac . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110
5.6 Aplicando o princípio de Weiss . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
5.7 Soluções de ondas planas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
4
Capítulo 1
Transformações de Lorentz
dp
F= , (1.1)
dt
em que p = mv é o momento linear, sendo m a massa e v = ẋ = dx/dt a velocidade da partícula,
definida a partir da escolha de um sistema de coordenadas no espaço euclidiano R3 . A posição
da partícula é representada por um vetor posição x = (x, y, z), em que x, y e z são número reais
relacionados a três eixos cartesianos ex , ey e ez . A escolha de um sistema de coordenadas que
descreve o movimento de uma partícula em R3 é o equivalente físico à escolha de um sistema
de referência a partir do qual qualquer medida sobre o sistema pode ser tomada. Segundo a
primeira lei de Newton, se a força resultante que age sobre uma partícula é nula, existe sempre
um sistema referencial para o qual a velocidade da partícula é constante em sentido, direção e
módulo. Um referencial que obedece a essa propriedade é chamado referencial inercial. Uma das
propriedades mais importantes da dinâmica de um sistema clássico é que (1.1) continua válida
ou, dito de outra forma, é covariante em quaisquer desses referenciais. Dizemos, assim, que o
sistema físico é invariante sob a escolha entre referenciais inerciais.
Esta invariância retira do espaço o caráter absoluto que lhe havia atribuído a mecânica de
Aristoteles. Por outro lado, outra suposição fundamental da mecânica newtoniana é sobre a
natureza imutável do tempo. Para qualquer referencial inercial, a passagem do tempo deve ser
a mesma, o que implica que se dois referenciais inerciais são usados para descrever um mesmo
sistema, intervalos de tempo medidos por ambos possuem o mesmo valor absoluto.
Vamos supor uma partícula de massa m de força resultante nula, que se move com velocidade
v com relação a um determinado referencial inercial O, cujo sistema de coordenadas seja dado
por x = (x, y, z). Agora vamos supor um segundo referencial inercial O0 . Por simplicidade vamos
escolher este segundo referencial de modo que seus eixos cartesianos sejam paralelos aos eixos
cartesianos de O e que, em t = 0, a origem dos dois sistemas coincida. O sistema de coordenadas
de O0 é dado por x0 = (x0 , y 0 , z 0 ) e sua origem move-se com velocidade u, constante, com relação a
O. Ambos os sistemas de coordenadas estão relacionados por
x0 = x − ut. (1.2)
5
y0
m
y
v v0
u O0 x0
O x
Figura 1.1: A configuração padrão de dois referenciais inerciais O e O0 .
medida pelo referencial O0 . Neste caso, a velocidade da partícula medida por O0 é dada por
dx0 dx0 d dx
v0 = = = (x − ut) = − u = v − u. (1.3)
dt0 dt dt dt
Esta é a lei de composição de velocidades na mecânica newtoniana. Note que
dp0 dv0 dv dp
p0 = mv0 =⇒ =m =m = , (1.4)
dt dt dt dt
desde que a massa seja constante. Este resultado implica que a aceleração de um sistema é
invariante sob a escolha de referenciais inerciais. Para que a segunda lei (1.1) seja covariante,
uma força F que age sobre a partícula também não pode depender da escolha do referencial
inercial.
Outro invariante sob a transformação (1.2) vem a ser a quantidade
Dada a invariância da métrica, é imediato notar que a norma dos vetores em R3 também é
preservada, o que implica que distâncias medidas por O devem ser as mesmas medidas por O0 .
Portanto, os sistemas físicos descritos pela mecânica clássica são invariantes pelas transfor-
mações
x0 = x − ut, (1.7a)
0
t = t, (1.7b)
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1.2 Postulados fundamentais da relatividade restrita
Até o século XIX, a relatividade de Galilei era considerada uma propriedade dos sistemas físi-
cos, em razão do grande sucesso da mecânica clássica. Contudo, na segunda metade do século
XIX as bases matemáticas do eletromagnetismo clássico foram reunidas em forma final, através
das equações de Maxwell. Foi uma grande surpresa quando os estudos de Lorentz e Poincaré
revelaram que tais equações não eram covariantes sob as transformações (1.7), ou seja, o ele-
tromagnetismo não obedecia à relatividade galileana. Este fato tornou-se um problema teórico
fundamental, visto que a lei de força de Lorentz é baseada na mecânica newtoniana e, portanto,
uma incompatibilidade entre a teoria de Maxwell e a mecânica surgiu em nível formal.
Esta incompatibilidade não foi, contudo, observada imediatamente nas experiências em ele-
trodinâmica clássica. As trajetórias de partículas carregadas que se movem em campos ele-
tromagnéticos, por exemplo, são bem descritas desde que as velocidades das partículas sejam
tipicamente pequenas. Contudo, experimentos como o de Michelson e Morley (1989) mostraram
que a velocidade da luz no vácuo independe do movimento relativo entre a fonte e o observador,
em clara violação da relatividade de Galilei.
Einstein observou que a incompatibilidade entre o eletromagnetismo e a mecânica newtoni-
ana deveria ser corrigida modificando-se a mecânica, de modo que os sistemas físicos obedeces-
sem a dois postulados fundamentais:
Vamos supor que uma fonte de luz seja ligada na origem de um dado referencial inercial O,
que é munido de um sistema de coordenadas x = (x, y, z) e, também, de um relógio cujo instante
t = 0 marca o instante em que a fonte de luz é ligada. A frente de onda se move à velocidade da
luz, que denominaremos como c (tem o valor de exatamente 299.792.458 metros por segundo no
vácuo), e é descrita pela equação
x2 + y 2 + z 2 = c2 t2 ,
neste referencial.
Agora, consideremos um segundo referencial inercial O0 , em configuração padrão com relação
a O. O sistema de coordenadas x0 = (x0 , y 0 , z 0 ) relativo a O0 tem origem coincidente com a origem
de O no instante em que a fonte é ligada, ou seja, quando t = 0 em O. Contudo, consideraremos
que O0 possui seu próprio relógio e que, neste, o intervalo de tempo medido não coincide necessa-
riamente com o relógio carregado por O. Ou seja, ∆t0 6= ∆t. Mas podemos definir o tempo em O0
de modo que t0 = 0 quando t = 0. Isto é possível visto que as coordenadas da fonte são as mesmas
em ambos os referenciais quando esta é ligada, ou seja, o evento que deu origem ao pulso de luz
é simultâneo em ambos os referenciais.
Se a velocidade da frente de onda é a mesma para ambos os referenciais, temos
x02 + y 02 + z 02 = c2 t02 ,
ou seja,
7
z
ct
x x 2 + y 2 + z 2 = c 2 t2
Figura 1.2: A frente de onda como vista por qualquer referencial inercial, quando ligada em
t = 0, quando as origens coincidem.
Portanto, a forma bilinear c2 t2 − x2 deve ser invariante pela escolha entre referenciais inerciais.
Para que o postulado 1 seja válido, a transformação (t, x) → (t0 , x0 ) deve ser linear. Portanto
vamos considerar
x0 = Ax + cBt,
ct0 = Cx + cDt.
Em (1.9), temos
2 2
c2 t2 − x2 = (Cx + cDt) − (Ax + cBt)
= C 2 x2 + c2 D2 t2 + 2cCDxt − A2 x2 − c2 B 2 t2 − 2cABxt
= C 2 − A2 x2 + D2 − B 2 c2 t2 + 2c (CD − AB) xt.
Ao igualar os coeficientes,
C 2 − A2 = −1,
D2 − B 2 = 1,
CD = AB.
8
Vamos supor a seguinte solução:
A = D = cosh φ,
B = C = − sinh φ,
em que o ângulo φ é chamado rapidez. Esta solução não é única, mas é escolhida por requeri-
mentos físicos. Em primeiro lugar, a configuração padrão implica que x0 e t0 crescem com x e t,
por isso a escolha do sinal negativo em B e C. Em segundo lugar, as transformações resultantes
devem levar às transformações de Galilei para |u| c. Levando em conta esses critérios, temos
x0 = x cosh φ − ct sinh φ,
ct0 = −x sinh φ + ct cosh φ,
ou em forma matricial,
ct0
cosh φ − sinh φ ct
= . (1.10)
x0 − sinh φ cosh φ x
γ ≡ cosh φ. (1.12)
Assim, temos
sinh φ
tanh φ = β =⇒ γ = ,
β
enquanto
γ2 − 1
r
1
γ2 = =⇒ γ 2 1 − β 2 = 1 =⇒ γ =
.
β 1 − β2
Portanto, a transformação pode ser colocada também nas formas mais conhecidas
x0 = γ (x − βct) ,
β
t0 = γ t − x ,
c
9
ou
x − ut
x0 = p , (1.13a)
1 − u2 /c2
t − u/c2 x
0
t = p . (1.13b)
1 − u2 /c2
x − ut
x0 = p , (1.14a)
1 − u2 /c2
y 0 = y, (1.14b)
0
z = z, (1.14c)
2
t − u/c x
t0 = p , (1.14d)
1 − u2 /c2
ct0 −γBT
γ ct
= , (1.16)
r0 −γB (γ − 1) BBT /β 2 r
βx ux
1 u
B ≡ βy = uy = , (1.17)
c c
βz uz
e BT é o vetor linha
1 uT
BT ≡
βx βy βz = ux uy uz = . (1.18)
c c
βx2 βx βy βx βz
10
2
e β 2 = BT B = |u| /c2 .
Observando-se a forma (1.15a), é imediato calcular o limite não relativístico, ou seja, a baixas
velocidades, das transformações de Lorentz. Observemos que este limite é dado por
u c =⇒ β 1 =⇒ φ 1.
sinh φ → φ,
cosh φ → 1,
tanh φ → φ = β = u/c.
Então,
ct0 1 −β 0 0 ct
x0 −β 1 0 0 x
y0 = 0
,
0 1 0 y
z0 0 0 0 1 z
ou seja,
x0 = x − βct = x − ut,
β u
t0 = t − x = t − 2 x ≈ t,
c c
que são as transformações de Galilei na configuração padrão.
dx
vx = . (1.20)
dt
Vamos utilizar a transformação de Lorentz inversa dada por
dt0
0 β βvx
t = γ t − x =⇒ =γ 1− . (1.23)
c dt c
Portanto,
1 − βvx /c 0
βvx
vx = γ 2
1− (vx0 + βc) = (vx + βc) .
c 1 − β2
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vx 1 − β 2 − βc (1 − βvx /c)
vx − vx β 2 − βc + β 2 vx vx − βc
vx0 = = = ,
1 − βvx /c 1 − βvx /c 1 − βvx /c
ou seja,
vx − u
vx0 = . (1.24)
1 − uvx /c2
dy 0 dy 0 dt0 dt0
dy βvx
vy = = = 0 = vy0 = γvy0 1 − ,
dt dt dt dt dt c
ou
vy
vy0 = . (1.25)
γ (1 − uvx /c2 )
Ainda,
vz
vz0 = . (1.26)
γ (1 − uvx /c2 )
Essas são as equações para composição de velocidades na relatividade restrita. Através essas,
podemos mostrar que a velocidade da luz é a mesma para ambos os referenciais. Um raio de luz
disparado em (x = 0, t = 0) no referencial O tem velocidade vx = c. Portanto, temos
l = x2 − x1 , (1.27)
em que x2 é a posição de uma das extremidades da régua, enquanto x1 < x2 é a posição da outra
extremidade, ambas com relação a O. Supondo um segundo referencial O0 que se move com
velocidade u = uex com relação a O, em uma configuração padrão, temos
x(2,1) = γ x0(2,1) + ut0(2,1) , (1.28)
em que t0(2,1) são os instantes de tempo medidos por O0 em que as medidas de posição da régua
são tomadas.
Para que O0 tome uma medida do comprimento da régua, as medidas de x01 e x02 devem ser
sincronizadas, ou seja, tomadas considerando-se ∆t0 = t02 − t01 = 0. Neste caso,
ou seja,
1
l0 =
p
l = l 1 − u2 /c2 . (1.29)
γ
Como γ é sempre maior que 1, toda medida de comprimento na direção do movimento do obser-
12
vador é sempre menor que a mesma medida feita por um observador em repouso com relação ao
objeto. Este fenômeno é conhecido como contração de Lorentz. Neste caso, a medida de compri-
mento feita a partir de um referencial em repouso é máxima, denominado comprimento próprio
do objeto.
Agora, vamos supor um relógio em repouso com relação a um referencial O. Vamos ver como
um intervalo de tempo, digamos ∆t0 = t02 − t01 é medido por um referencial O0 com velocidade
u = uex com relação ao relógio, em uma configuração padrão. A transformação de Lorentz
relevante é dada por
t0 = γ t − u/c2 x ,
(1.30)
portanto,
Contudo, como o relógio está em repouso com relação a O, temos que ∆x = 0, então,
∆t
∆t0 = γ∆t = p . (1.31)
1 − u2 /c2
Como γ é sempre maior que 1, qualquer observador mede intervalos de tempos dilatados com
relação a um observador em repouso com relação ao relógio. Este fenômeno é conhecido como
dilatação do tempo.
Na mecânica clássica, o tempo é um parâmetro de evolução que marca a configuração de um
sistema físico em diferentes pontos do espaço euclidiano. Por exemplo, a solução para o movi-
mento de uma partícula sujeita a uma força é dada por uma curva γ ⊂ R3 parametrizada pelas
equações x = x (t). O tempo marca a posição da partícula sobre a curva. Na mecânica relativís-
tica, vale o mesmo conceito: a solução para o movimento de uma partícula é uma curva γ ∈ M4 ,
tal que as equações paramétricas são dadas por xµ = xµ (τ ) para determinado parâmetro τ , que
se refere a uma medida de tempo. A diferença entre as abordagens não está apenas na dimen-
são a mais do sistema relativístico. Embora na mecânica clássica o tempo possa ser redefinido
por um processo de reparametrização, uma vez que dois referenciais inerciais tenham relógios
sincronizados, ambos os relógios marcam sempre os mesmos intervalos de tempo, independente-
mente do movimento relativo entre eles.
Em um sistema relativístico, dois referenciais quaisquer podem medir intervalos de tempo
distintos para dois eventos determinados. Se ∆t é o intervalo de tempo medido por um relógio
em repouso com relação a um referencial inercial, qualquer outro relógio que se movimente com
relação a este referencial mede um tempo dilatado, sendo a equação ∆t0 = γ∆t válida quando a
velocidade deste relógio é constante. No entanto, todo referencial inercial pode escolher o tempo
de modo que ∆t seja mínimo com relação a qualquer outro relógio em movimento. Este é o
denominado tempo próprio.
Vamos considerar o intervalo infinitesimal medido por um observador em repouso em deter-
minado sistema de coordenadas retangular {x}. A trajetória, ou linha de mundo deste observa-
dor, é uma linha reta que mantém posição constante na seção espacial de M4 . Portanto, dx = 0
para este observador e o intervalo medido por este é ds2 = c2 dt2 . Este intervalo é uma medida
de tempo, já que dt é o intervalo de tempo medido por um relógio em repouso com relação ao
observador, seu tempo próprio. Vamos denominar o tempo próprio de um observador pela letra
grega τ .
Como o intervalo é invariante, um relógio em movimento com velocidade instantânea v com
relação ao referencial em repouso obedece à equação
" 2 #
2 2 2 2 2 2 2 1 dx
c dτ = c dt − dx = c dt 1 − 2 ,
c dt
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ou seja,
r
v2
dτ = dt 1 − .
c2
Um intervalo de tempo medido pelo relógio em repouso e, portanto, o tempo próprio, é dado por
ˆ t1 r
v2
τ − τ0 = dt 1 − 2 . (1.32)
t0 c
é plano, então é sempre possível escolher um sistema de coordenadas cartesiano ortogonal uni-
versal, e é neste sistema que a expressão (1.33) está escrita. Contudo, M4 não é euclidiano, pois
sua métrica não é estritamente positiva, devido aos sinais negativos nas componentes espaciais
de (1.33). Como veremos adiante, a diferença de sinal entre as componentes espaciais e temporal
é determinante e necessária na definição relativística de causalidade.
14
Observe, agora, que (1.33) pode ser escrita em forma matricial
1 0 0 0 dx0
0 −1 0 0 dx1
ds2 =
dx0 dx1 dx2 dx3
,
0 0 −1 0 dx2
0 0 0 −1 dx3
com
1 0 0 0
0 −1 0 0
ηµν = . (1.36)
0 0 −1 0
0 0 0 −1
Podemos, também, escrever uma transformação de Lorentz com esta notação. Ela é dada por
15
Cone de luz futuro de x0
x0
Região causalmente
desconexa a x0 Região causalmente
desconexa a x0
que é a equação que representa a frente de uma onda que se desloca com velocidade c = dx/dt. No
espaço-tempo de Minkowski, esta equação demarca o cone de luz, ou seja, a região na qual todos
os corpos com velocidade c se deslocam. Todos os pontos no cone de luz estão a uma distância
nula entre si. Neste caso, temos
são denominados eventos tipo luz. Escolhido um sistema de coordenadas com uma
origem x0 , o conjunto de todos os pontos de M4 que são tipo luz com relação à origem
e, portanto, são tipo luz entre si, delimitam um subespaço denominado cone de luz.
estão a uma distância negativa entre si, visto que ds2 < 0. Isto significa que uma linha reta
entre dois eventos x e y, que poderia ser a trajetória de um sinal de informação mandada de um
evento a outro, tem velocidade média
∆x
∆t > c,
ou seja, superior à da luz, quando a distância entre os dois eventos é negativa. Informação
propagada acima da velocidade da luz no vácuo é proibida pela relatividade restrita, portanto,
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nenhuma informação pode trafegar entre dois eventos com distância negativa no espaço-tempo.
Neste caso, isto também significa que não pode haver relação de causalidade entre esses dois
eventos: dois pontos x e y com distância negativa são causalmente desconexos.
então uma partícula teste mandada em linha reta de um evento a outro tem velocidade máxima
dada por
∆x
∆t < c,
17
enquanto, vamos apenas supor uma partícula livre relativística, que possivelmente interage com
um agente externo, como um campo. Assim como na mecânica clássica, interação é sentida pela
ação de forças, que desviam o caminho inercial da partícula, que lhe seria natural, resultando
em aceleração. Contudo, os análogos de velocidade, aceleração, força e energia necessitam ser
reformulados para serem compatíveis com os princípios da relatividade.
Na mecânica relativística, a linha de mundo, ou trajetória de uma partícula no espaço-tempo,
é definida por uma curva γ ⊂ M4 , descrita pelo sistema de equações
xµ = xµ (λ) , (1.43)
para um parâmetro λ. O parâmetro não é essencial na descrição do sistema físico: como vimos,
o tempo que um observador atribui à trajetória depende de seu referencial. Contudo, há uma
medida de tempo invariante que convenientemente pode ser usada para parametrizar (1.43).
Note que a métrica de Minkowski ds2 , em vista de (1.43), pode ser escrita por
dxµ dxν 2
ds2 = ηµν dxµ dxν = ηµν dλ , (1.44)
dλ dλ
ou seja,
r
dxµ dxν
ds = dλ ηµν . (1.45)
dλ dλ
Neste caso, ds torna-se o elemento de linha da curva γ, de modo que o comprimento de γ entre
dois valores de λ é dado por
ˆ λ2 r
dxµ dxν
∆s = s (λ2 ) − s (λ1 ) = dλ ηµν . (1.46)
λ1 dλ dλ
s = cτ, (1.47)
d dxµ ∂
u≡ = , (1.48)
ds ds ∂xµ
de modo que
dxµ
uµ ≡ (1.49)
ds
são suas componentes, sendo a uma constante de normalização adimensional. Esta
velocidade é também denominada 4-velocidade (ou quadrivelocidade) da partícula.
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Esta velocidade, como veremos no próximo capítulo, é um invariante relativístico e, assim, é
um observável físico que obedece aos princípios de Einstein.
Dado que xµ = (ct, x) = (cγτ, x) = (γs, x), e
r
v2 dx
γ= 1− , v= ,
c2 dt
temos
dx0 ds
u0 = =γ = γ, (1.50a)
ds ds
dxi 1 dxi
ui = = . (1.50b)
ds c dτ
A quantidade dxi /dτ é a 3-velocidade se o referencial está em repouso com relação à partícula.
Contudo, para um referencial inercial geral, temos
γ dx γ
u= = v,
c dt c
em que v é a 3-velocidade da partícula em qualquer referencial inercial. Portanto, uµ = γ (1, v/c)
e são quantidades adimensionais. Podemos calcular u2 :
v2
u2 = uµ uµ = ηµν uµ uν = γ 2 1 − 2 = 1, (1.51)
c
du duµ ∂
α≡ = , (1.52)
ds ds ∂xµ
de modo que
duµ
αµ ≡ (1.53)
ds
são suas componentes. Esta aceleração é também denominada 4-aceleração (ou qua-
driaceleração) da partícula.
du0 dγ dt dγ dt 1
α0 = = = = γ̇ = γ γ̇ (1.54a)
ds ds dsdt ds c
dui d vi 1 γ 2 dv i
αi = = γ = 2 γ γ̇v i + 2 . (1.54b)
ds ds c c c dt
Seja a 3-aceleração dada por a = dv/dt, temos
−1/2
v2 γ3
d
γ̇ = 1− 2 = v · a.
dt c c2
19
Assim,
γ4
α0 = v · a, (1.55a)
c3
γ2 γ2
α = (v · a) v + a . (1.55b)
c2 c2
Caso o referencial esteja em repouso com relação à partícula, temos γ = 1 e v · a = 0, portanto
αµ = 0, a/c2 .
ou seja, vamos procurar por uma curva γ ⊂ M4 com pontos inicial e final s0 e s1 , de comprimento
mínimo. A constante mc consiste na massa da partícula multiplicada pela velocidade da luz no
vácuo, sendo acrescentada na ação para que sua dimensão seja de energia vezes tempo. Vamos
supor, assim, uma curva γ ⊂ M4 que minimiza S, sendo portanto uma solução do problema
variacional, e uma segunda curva γ 0 ⊂ M4 em uma vizinhança fechada de γ, que denominaremos
curva de comparação. Se S [γ 0 ] > S [γ] para qualquer γ 0 , γ é um mínimo local. Por outro lado, se
S [γ 0 ] < S [γ] para qualquer γ 0 , γ é um máximo local. O sinal negativo em (1.56) garante que, γ
seja um mínimo nessas condições.
Seja γ : xµ = xµ (s) e γ 0 : x0µ = x0µ (s0 ), admitindo-se portanto que ambas as curvas podem ter
parametrização distinta, definimos as variações
Pelas regras do cálculo funcional, a diferencial δF de um funcional F (γ) com relação às variações
(1.57) é definida por
δF = lim 0 {F [γ 0 ] − F [γ]} ,
γ→γ
De (1.56), temos
δ ds2 = δ (ηµν dxµ dxν ) = δηµν dxµ dxν + ηµν δ (dxµ ) dxν + ηµν dxµ δ (dxν )
Não há variação explícita em s, visto que o sistema é invariante por reparametrizações. Mesmo
20
assim podemos explicitar a dependência em s na forma
assim,
2 dxµ
2dsδ (ds) = δηµν uµ uν (ds) + 2ηµν uµ dsδ (dxν ) , uµ ≡ .
ds
Então, temos
1
δ (ds) = δηµν uµ uν ds + ηµν uµ δ (dxν ) , (1.59)
2
∂ηµν α ∂ηµν α
δηµν = δx , dηµν = dx . (1.62)
∂xα ∂xα
Assim,
1 ∂ηµν µ ν α ∂ηµν α µ ν duµ
δ (ds) = u u dsδx − dx u δx − η µν dsδxν + d (ηµν uµ δxν )
2 ∂xα ∂xα ds
1 ∂ηµν µ ν ∂ηµν α µ duµ
= α
u u dsδxα − α
u u dsδxν − ηµν dsδxν + d (ηµν uµ δxν )
2 ∂x ∂x ds
1 ∂ηµν µ ν ∂ηµα ν µ duµ
= α
u u dsδxα − ν
u u dsδxα − ηµα dsδxα + d (ηµν uµ δxν )
2 ∂x ∂x ds
duµ
1 ∂ηµν µ ν ∂ηµα µ ν
= u u − u u − ηµα dsδxα + d (ηµν uµ δxν ) (1.63)
2 ∂xα ∂xν ds
21
Vamos simetrizar o termo
∂ηµα µ ν 1 ∂ηµα µ ν 1 ∂ηνα µ ν
ν
u u = u u + u u .
∂x 2 ∂xν 2 ∂xµ
Assim,
duµ
1 ∂ηµν µ ν 1 ∂ηµα µ ν 1 ∂ηνα µ ν
δ (ds) = u u − u u − u u − η µα dsδxα + d (ηµν uµ δxν )
2 ∂xα 2 ∂xν 2 ∂xµ ds
duµ
1 ∂ηµα ∂ηνα ∂ηµν µ ν
= − ηµα + + − u u dsδxα + d (ηµν uµ δxν ) . (1.64)
ds 2 ∂xν ∂xµ ∂xα
Então,
duµ
δ (ds) = − ηµα + γαµν uµ uν dsδxα + d (ηµν uµ δxν ) . (1.66)
ds
Com esta expressão, podemos aplicar o princípio de Hamilton: γ deve ser um extremo de S com
as condições δxµ (s0 ) = δxµ (s1 ) = 0. Neste caso
ˆ s1
d (mcuµ δxµ ) = uµ δxµ |s=s1 − uµ δxµ |s=s0 = 0, (1.68)
s0
então δS = 0 resulta em
duµ
ηµα + γαµν uµ uν = 0. (1.69)
ds
Com a métrica inversa à esquerda, temos
duµ duµ
0 = η λα ηαµ + η λα γαµν uµ uν = δµλ + η λα γαµν uµ uν
ds ds
duλ
= + η λα γαµν uµ uν . (1.70)
ds
Vamos definir os símbolos de Christoffel do segundo tipo
µ µλ 1 µλ ∂ηαλ ∂ηβλ ∂ηαβ
Γ αβ ≡ η γλαβ = η + − . (1.71)
2 ∂xβ ∂xα ∂xλ
Esta equação é denominada equação geodésica, pois suas soluções definem distâncias mínimas
entre dois pontos de M4 no cone de luz.
Quando a partícula interage, a equação da geodésica não é satisfeita, mas pode ser escrita
como
duµ 1 µ
+ Γµαβ uα uβ = F , (1.73)
ds mc
22
em que F µ é um termo de força que codifica a possível interação entre a partícula e um ente
externo. Neste caso, uma força no sentido relativístico desvia a partícula de sua trajetória geo-
désica.
Note também que (1.73) pode tomar a forma
µ
µ du µ α β µ d µ
F = mc + Γαβ u u = mc δβ + Γαβ u uβ .
α
ds ds
s d
Dαβ ≡ ηαβ + Γαγβ uγ . (1.74)
ds
Então,
µ
mc [Ds u] = F µ , (1.75)
µ µ
em que usamos a notação [Ds u] = (Ds ) ν uν .
Os símbolos de Christoffel aparecem quando generalizamos as componentes da métrica em
M4 , embora o espaço permaneça o mesmo. Um espaço pseudo-euclidiano, sendo plano, sempre
admite um sistema de coordenadas retangular tal que ηµν seja representada pela matriz diago-
nal (1.36) constante. No entanto, sistemas de coordenadas não são essenciais na descrição física
de um fenômeno. Por exemplo, um sistema de coordenadas "esférico-polar" em M4 resulta em
componentes não constantes para a métrica. O mesmo ocorre para referenciais não inerciais:
um referencial não inercial que observa uma partícula livre vai observar uma aceleração dife-
rente de zero em seu próprio sistema de coordenadas. O termo em Γ presente em (1.73) dá conta
exatamente deste fenômeno, e é geralmente conhecido como um termo de força inercial. Quando
o sistema referencial é não inercial, a aceleração é redefinida por
µ duµ
αµ ≡ [Ds u] = + Γµαβ uα uβ , (1.76)
ds
de modo que
mcαµ = F µ . (1.77)
Contudo, em um sistema inercial com coordenadas cartesianas, ηµν são constantes e, portanto,
Γµαβ = 0. A equação (1.77) se aplica, assumindo a forma
d2 xµ
mc = F µ, (1.78)
ds2
que é a generalização relativística da segunda lei de Newton.
23
Em sistemas relativísticos, vamos procurar pelos mesmos invariantes dinâmicos. Vamos tra-
balhar com a ação (1.56). Contudo, vamos supor um observador em um referencial inercial, com
um relógio que marca o tempo t em um sistema de coordenadas retangular. Para este observador,
temos
ˆ r
dxµ dxν
S = −mc dt ηµν . (1.79)
dt dt
1
L = −mc2 γ −1 , γ=p . (1.81)
1 − v 2 /c2
δx = x0 − x = c. (1.82)
γ3 d
δγ = v · δx,
c2 dt
e
ˆ ˆ
2 −2 γ3 d
δS = dt mc γ δγ = dt mc2 γ −2 v · δx
c2 dt
ˆ
d
= dt mγv · δx
dt
ˆ ˆ
d dv
= dt (mγv · δx) − dt mγ · δx. (1.86)
dt dt
24
com coordenadas cartesianas, αµ = (0, a), em que a = dv/dt. Portanto, uma partícula livre
relativística tem 3-aceleração zero, o que anula a segunda integral de (1.86). Assim,
ˆ ˆ
d d
δS = dt (mγv · δx) = dt (mγv · c) . (1.87)
dt dt
d
(mγv · c) = 0
dt
e, como c é um vetor constante,
d
(mγv) = 0. (1.88)
dt
Portanto, a quantidade mγv é um invariante dinâmico devido à invariância da ação com relação
a translações espaciais. Assim,
p ≡ mγv (1.89)
Vemos, então, que uma redefinição de momento linear é necessária no caso relativístico. No
caso da Energia, ela deve aparecer como um invariante diante da evolução temporal do sistema.
Evolução temporal é dada pela transformação infinitesimal t → t0 = t − δt. Essa transformação
induz a seguinte transformação nas coordenadas:
dx
δt = t0 − t =⇒ δx = δt = δt v. (1.90)
dt
Usando resultados anteriores, vemos que
ˆ ˆ ˆ
mc2 mc2 mc2
δS = δ dt − = δdt − + dtδ −
γ γ γ
ˆ 2
ˆ
mc d
= δdt − + dt (mγv · δx)
γ dt
ˆ ˆ
mc2
d
= δdt − + dt (mγv · vδt) . (1.91)
γ dt
Note que
dt0
dδt dδt
δdt = dt0 − dt = dt − dt = 1+ dt − dt = dt = dδt. (1.92)
dt dt dt
Então,
ˆ ˆ ˆ ˆ
mc2 mc2 mc2
2
mc
δdt − = dδt − = d − δt + δtd
γ γ γ γ
ˆ 2
ˆ 2
d mc d mc
= dt − δt + dt δt.
dt γ dt γ
Temos
mc2 γ3
d dγ dv
= −mc2 γ −2 = mc2 γ −2 2 v · = mγv · a = 0. (1.93)
dt γ dt c dt
25
O resultado é dado por
ˆ ˆ ˆ
mc2 mc2
d d d 2
δS = dt − δt + dt (mγv · vδt) = dt mγv − δt .
dt γ dt dt γ
v2 1 v2 v2 c2 − v2 + v2 1
1 − γ2 2
= 1 − 2 2 2
= 1 − 2 2
= 2 2
= = γ2.
c 1 − v /c c c −v c −v 1 − v2 /c2
Assim,
ˆ
d
mγc2 δt .
δS = − dt (1.94)
dt
E ≡ mγc2 (1.96)
Assim, vemos que as quantidades p e E são invariantes dinâmicos, constantes por evolução
temporal, quando medidos por observadores inerciais. Se o observador estiver em repouso com
relação à partícula, v = 0 e, neste caso, p = mv e E = mc2 : o momento linear coincide com o da
mecânica clássica, enquanto a energia da partícula toma a forma famosa proposta por Einstein.
De fato, a equação para a energia de uma partícula relativística revela que ela possui, indepen-
dente de seu movimento, um conteúdo de energia intrínseco que é proporcional a sua massa.
Este fato contrasta com a mecânica newtoniana, que prevê energia zero para uma partícula li-
vre em repouso. Na mecânica relativística, todo corpo massivo tem um conteúdo de energia que
equivale ao seu conteúdo de massa.
Na literatura, é comum que m seja denominada m0 , a massa de repouso da partícula. Essa
massa é definida como a energia de repouso da partícula, dividida por c2 . Se o observador está
em movimento uniforme com relação à partícula, m0 é substituída por m0 γ, o que indica que tal
observador mede uma massa mγ = m0 γ a partir do conteúdo de energia da partícula. Isto ocorre
porque, como a partícula está em movimento com relação ao observador, a energia de repouso
deve sofrer o acréscimo de um conteúdo de energia cinética. Esta interpretação, contudo sofre
de certos problemas fundamentais. Como veremos, o conteúdo de massa de um sistema físico,
como uma partícula ou um campo, deve ser definido como um invariante de Lorentz. Este é o
caso de m0 , mas não de mγ . Por esta razão, vamos denominar m0 ≡ m como a massa do sistema,
enquanto seu conteúdo de energia E = mγc2 depende, por outro lado, do referencial, não sendo
um invariante de Lorentz.
26
1.11 4-momento linear e o invariante de Lorentz p2
Resta a questão, portanto, de se descobrir quais são as quantidades conservadas que são, de
fato, invariantes por transformações de Lorentz. Mais uma vez, a resposta está no problema
variacional mais geral
ˆ ˆ
p
S = −mc ds = −mc ηµν dxµ dxν . (1.97)
A trajetória é definida por funções xµ (s), em que s está relacionado ao tempo próprio. Agora,
vamos nos perguntar algo distinto da questão respondida na seção 1.10. Em vez de encontrar
as quantidades conservadas no tempo t medido por um relógio com um observador inercial,
queremos encontrar as quantidades conservadas pela linha de mundo da partícula, ou seja,
objetos para os quais os quais
dT
= 0, (1.98)
ds
seja T um observável tensorial.
δs = s0 − s, (1.99)
que seja infinitesimal. Esta transformação implica na seguinte transformação nas coordenadas:
dxµ
δxµ = δs = uµ δs. (1.100)
ds
Já calculamos a forma geral da variação de S com relação a variações δxµ . Ela é dada pela
equação (1.67), ou seja,
ˆ γ ˆ
du
δS = mc dsηµγ + Γγαβ uα uβ δxµ − d (mcuµ δxµ ) . (1.101)
ds
duγ
+ Γγαβ uα uβ = 0,
ds
bem como os momentos lineares relativísticos pµ ≡ mcuµ . No caso dos momentos, eles são as
quantidades invariantes por translações no espaço-tempo, em que δxµ são constantes
Como a partícula obedece à equação geodésica, a primeira integral de (1.101) é nula. Com a
expressão
pµ pµ
uµ = , uµ = , (1.102)
mc mc
temos
ˆ ˆ
d d
δS = ds (mcuµ δx ) = ds (mcuµ uµ δs)
µ
ds ds
ˆ
d 1 µ
= ds pµ p δs . (1.103)
ds mc
A constante mc deve ser um escalar relativístico, enquanto tomamos também δs uma constante.
27
Se S é invariante pela variação δs, então δS = 0 e
d
(pµ pµ ) = 0. (1.104)
ds
Portanto, temos a quantidade conservada
p2 ≡ pµ pµ , (1.105)
p2 = pµ pµ = m2 c2 1uµ uµ = m2 c2 . (1.106)
Se o sistema físico não é uma partícula massiva, a ação (1.97) já não é aplicável. Por exemplo,
para uma partícula sem massa, S é identicamente nula para qualquer caminho em M4 . Ainda
assim, p2 é um invariante relativístico, desta vez de massa nula. Ou seja, para uma partícula
sem massa,
p2 = 0. (1.107)
p2 = p20 + pi pi ,
em que p0 = mcγ = E/c, sendo E a energia da partícula, e pi = mcui = mγv = p, de acordo com
a definição (1.89). Assim,
E2
p2 = − p2 = m2 c2 ,
c2
ou seja,
E 2 = m2 c4 + p2 c2 . (1.108)
Esta relação, a despeito do fato de estarmos trabalhando com uma partícula relativística, é
universal para qualquer sistema físico. Se o sistema tem um conteúdo de massa diferente de
zero, o primeiro termo à direita de (1.108) diz respeito à contribuição da massa de repouso para
a energia do sistema. O segundo termo é aquele que reconheceríamos como a contribuição da
energia cinética.
Se a massa é nula, o primeiro termo é nulo mas o termo dependente do 3-momento ainda é
diferente de zero, no geral. Este é o caso, por exemplo, das ondas eletromagnéticas, ou fótons.
Então,
E 2 = p2 c2 =⇒ E = ± |p| c. (1.109)
Se a partícula tem massa m, seu 3-momento é dado por p = mγv, de modo que
p2 m2 γ 2 v2 γ 2 v2
2 2 4 2 2 2 4 2 4 2 4
E = m c +p c = m c 1+ 2 2 = m c 1+ =m c 1+ 2 = m2 γ 2 c4 ,
m c m 2 c2 c
28
que resulta em
E = ±mγc2 , (1.110)
como deduzido anteriormente. Os sinais ± em (1.109) e (1.110) foram alvo de grande debate
até a década de 1930: se se permitisse que as soluções de sinal negativo fossem físicas, isto
significaria a existência de um espectro de energia negativa para a partícula. De fato, isso não
faz sentido para o caso de uma partícula relativística, seja com ou sem massa. Entretanto,
veremos que a própria noção de partícula que temos utilizado é equivocada e carrega o peso da
tradição newtoniana. De fato, não há partícula relativística análoga à partícula newtoniana. A
interpretação correta dos sinais negativos para a energia é a de que partículas isoladas de fato
não existem, mas são componentes inseparáveis de campos relativísticos que possuem soluções
de frequências positivas e negativas, dando origem a partículas e anti-partículas em processos
quânticos.
29
30
Capítulo 2
31
Nestas, definimos
dx̄i
dt̄ i
δt ≡ , δ̄x ≡ λa . (2.5)
d =0 dλa ,λ=0
Assim,
dxi
δxi = δ̄xi + δt , (2.7)
dt
com
t̄ = t + δt, (2.9)
mas que nenhuma transformação seja definida em xi . Ainda assim, (2.9) implica em
ou seja,
Se δt = dt, então temos dt = t̄ − t e δxi = dtẋi = dxi , que determina a evolução temporal dos
pontos em Rn em função do tempo.
Desejamos estudar as propriedades de composição de evoluções temporais. Primeiro, da equa-
ção (2.10) temos
i i i i d i d
x̄ = x + δtẋ = x + δt x = 1 + δt xi . (2.12)
dt dt
d
gt ≡ 1 + δt (2.13)
dt
em xi , ou seja,
x̄i = gt xi . (2.14)
32
1. A composição de duas evoluções temporais é uma evolução temporal:
O último termo é quadrático em δt, portanto ficamos apenas com os primeiros termos
d i d
xi2 = xi0 + δt1 x0 + δt2 xi0 = xi0 + (δt1 + δt2 ) ẋi0 = xi0 + δtẋi0 , (2.16)
dt dt
em que δt = δt1 + δt2 .
Neste caso, dizemos que gt é membro de uma álgebra de Lie, enquanto Gt é membro de um
grupo de Lie. Este processo é conhecido como exponenciação da álgebra da evolução tempo-
ral, e dá origem a uma transformação finita, com ∆t finito, e não infinitesimal. Gt é simplesmente
o operador que carrega a evolução temporal de um tempo t0 a t. Em função de (2.17), a álgebra
é dita abeliana, ou comutativa.
No argumento da exponencial, há o campo vetorial
d
Xt = = q̇ i ∂i , (2.20)
dt
que acompanha o termo ∆t. Na forma infinitesimal, temos
2.3 Translações
Vamos supor a transformação
Esta operação é chamada translação, pois translada um ponto a outro de Rn a tempo constante.
Neste caso,
δt = 0, δxi = ai . (2.23)
33
Duas translações resultam em uma translação, ou seja,
xi → x̄i = xi + ai → x
ei = x̄i + bi = xi + ai + bi = q i + ci ,
em que
ci = ai + bi .
ou seja,
∂ ∂
gx ≡ 1 + ai = 1 + δxi i , (2.25)
∂xi ∂x
que tem a mesma forma da evolução temporal, exceto que neste caso, δxi = ai . O operador gx é
um elemento da álgebra de translações, que também é abeliana, ou seja,
∂
Pi ≡ (2.30)
∂xi
são os geradores de translações, denominados momentos conjugados.
2.4 Rotações
O grupo de rotações, por ser um exemplo não abeliano, merece uma atenção especial. Toda
rotação pode ser descrita pela relação
34
em que R é uma matriz ortogonal n × n de determinante 1. O grupo de rotações em n dimensões
é chamado SO (n), o grupo ortogonal especial, que é isomórfico ao espaço das matrizes ortogonais
de determinante unitário. É uma propriedade das transformações ortogonais a preservação da
norma de vetores e da métrica de Rn .
Vamos tomar o exemplo tridimensional, em que consideraremos primeiro uma rotação pas-
siva no eixo ẑ com ângulo θ. A matriz desta transformação é dada por
cos θ − sin θ 0
Para θ 1, podemos aproximar esta matriz pela sua forma infinitesimal de primeira ordem
1 −θ 0 1 0 0 0 −θ 0
em que
0 −1 0
Jz ≡ 1 0 0 . (2.34)
0 0 0
em que
0 0 0 0 0 1
Jx ≡ 0 0 −1 , Jy ≡ 0 0 0 . (2.36)
0 1 0 −1 0 0
Uma rotação geral em três dimensões contém três parâmetros independentes, que podem ser
colecionados em um vetor θ ≡ (θ1 , θ2 , θ3 ). Na forma infinitesimal, temos
r (θ) = 1 + θ · J = 1 + θa J a = 1 + θ1 J 1 + θ2 J 2 + θ3 J 3 . (2.37)
0 −θ3 θ2
W = θ a J a = θ3 0 −θ1 , (2.38)
−θ2 θ1 0
[J a , J b ] = abc J c , (2.39)
o que caracteriza a álgebra como não abeliana. A exponenciação da álgebra é direta, dada por
35
Agora, vamos definir
p
θ ≡ θ 2 = |θ| , u ≡ θ/ |θ| . (2.41)
c + (1 − c) u1 u1 (1 − c) u1 u2 − su3 (1 − c) u1 u3 − su2
em que
Em componentes, temos
= ui + u2 − 1 ui (1 − cos θ) = (1) ui ,
(2.45)
Nesta equação,
i
xk ≡ ui (u · x) (2.47)
é a componente de x paralela a u e
i
x⊥ ≡ xi − ui (u · x) (2.48)
1 ∂ x̄i
x̄i (ω) = xi + δxi (ω) = xi + δω ab , (2.51)
2 ∂ω ab ω=0
36
ponentes independentes. Dizemos que m é o número de parâmetros independentes necessários
para parametrizar a transformação infinitesimal, que deve ter a forma
Neste caso,
1 ∂ x̄i ∂ x̄i
1
δxi = δω ab
= xj δω ab , considerando linearidade em x̄. (2.53)
2 ∂ω ab ω=0 2 ∂ω ab ∂xj ω=0
Assim, definimos
∂ x̄i
i
(Jab ) j ≡ , (2.54)
∂ω ab ∂xj ω=0
de modo que
∂ x̄i
1 i 1
(Jab ) j xj δω ab = xj δω ab = xj δω ij . (2.55)
2 2 ∂ω ab ∂xj ω=0
i 1 bc i
(Ja ) j = (Jbc ) j , (2.57)
2 a
e, assim,
Dizemos que os geradores na forma (2.58) estão na representação adjunta do grupo de rotações,
pois são representados por matrizes que possuem a mesma dimensão do grupo.
Genericamente, rotações e boosts podem ser tratados como uma única "rotação" em M4 . Se
em três dimensões temos a transformação
x01
1
R12 R13
1
R1 x
37
em quatro dimensões temos
x00
0
Λ01 Λ02 Λ03
0
Λ0 x
0
x01 Λ10 R11 R12 R13 x1
x02 = Λ2
x = Λx =⇒ . (2.60)
0 R21 R22 R23 x2
x03 Λ30 R31 R32 R33 x3
com Λ definido em (2.60), é uma transformação de Lorentz, então ds2 → ds02 = ds2 é um invari-
ante. Note que a diferencial se transforma como
dx0µ ν
dxµ −→ dx0µ = dx = Λµν dxµ , (2.63)
dxν
em que (2.62) foi usada, e Λ suposta constante. Dessa forma,
0
ηµν Λµα Λνβ = ηαβ . (2.64)
Agora, suponha Λ−1 a matriz inversa de Λ, de modo que Λ−1 Λ = ΛΛ−1 = 1. Multiplicando
duas inversas à direita de (2.64), temos
0
ηαβ = ηµν Λµα Λνβ
α β α β
ηαβ Λ−1 γ Λ−1 λ = ηµν0
Λµα Λνβ Λ−1 γ Λ−1 λ
α β h α i h β i
ηαβ Λ−1 γ Λ−1 λ = ηµν0
Λµα Λ−1 γ Λνβ Λ−1 λ
α β
ηαβ Λ−1 γ Λ−1 λ = ηµν0 0
δγµ δλν = ηγλ .
Assim, temos
0
α β
ηµν = ηαβ Λ−1 µ
Λ−1 ν
. (2.65)
Do ponto de vista da álgebra matricial, precisamos saber precisamente o que (2.65) significa.
A maneira correta é colocar os índices de maneira concordante com a multiplicação matricial.
µ
Se A e B são matrizes, sendo Aµν e B µν suas componentes, temos (AB) ν = Aµα B αν . Ou seja, dois
índices repetidos devem estar sempre em sequência, o que não ocorre em (2.65). Esta expressão
está correta em si, mas para saber qual sequência de matrizes compõe a multiplicação no lado
direito, precisamos seguir esta regra. Neste caso,
0
α β α β
ηµν = ηαβ Λ−1 µ Λ−1 ν = Λ−1 µ ηαβ Λ−1 ν
h T i α β
= Λ−1 ηαβ Λ−1 ν . (2.66)
µ
38
O símbolo T significa a operação de transposição. O mesmo pode ser feito com a expressão (2.64):
0 0
ηαβ = ηµν Λµα Λνβ = Λµα ηµν Λνβ
µ 0
= ΛT α ηµν Λνβ .
(2.67)
Neste caso, podemos usar uma notação matricial. Seja Λ a matriz definida em (2.60), Λ−1 sua
inversa e ΛT sua transposta. Neste caso, (2.67) e (2.66) podem ser escritas, respectivamente, por
T
η = ΛT η 0 Λ, η 0 = Λ−1 ηΛ−1 , (2.68)
ΛT Λ = 1 =⇒ ΛT = Λ−1 , (2.69)
ou seja, Λ é uma matriz ortogonal. Com esta nova informação, (2.68) torna-se mais simples:
η = ΛT η 0 Λ, η 0 = ΛηΛT , (2.70)
T
visto que Λ−1 = Λ para matrizes ortogonais.
Tomando-se o determinante de (2.81), obtemos
2
det ΛT Λ = 1
=⇒ (det Λ) = 1, (2.71)
ou seja,
39
O grupo de Lorentz SO (1, 3) é, portanto, o grupo de pseudo-rotações em M4 . A denominação
entre parênteses caracteriza o fato de que um elemento do grupo é uma pseudo-rotação: (1, 3)
indica que a direção temporal x0 é diferente das 3 direções espaciais. Neste caso, dizemos que
SO (1, 3) é um grupo pseudo-ortogonal, e é obviamente distinto do grupo de rotações em quatro
dimensões SO (4). Este último consiste no grupo que deixa invariante uma métrica euclidiana
em R4 .
Translações espaciais e evolução temporal não são transformações de Lorentz, mas também
são simetrias da métrica (2.61). No espaço de Minkowski, ambas as transformações são descritas
por translações espaço-temporais:
xµ −→ x0µ = xµ + aµ , (2.73)
x0I = LIJ xJ ,
40
Definição 9. Um vetor de Lorentz, ou vetor de Lorentz contravariante, consiste
em um objeto u = uµ ∂µ = uµ (∂/∂xµ ) invariante por transformações de Lorentz, ou seja,
∂ ∂ x̄ν ∂ ∂ ν
∂µ = = = Λ = Λνµ ∂¯ν .
∂x µ ∂xµ ∂ x̄ν ∂ x̄ν µ
Se a matriz Λ tem uma inversa Λ−1 , então multiplicamos a expressão anterior por Λ−1 :
µ µ µ
Λ−1 λ
∂µ = Λ−1 λ
Λνµ ∂¯ν = Λνµ Λ−1 λ
∂¯ν = δλν ∂¯ν ,
ou seja,
ν ν
∂¯µ = Λ−1 µ
∂ν = ΛT µ
∂ν = Λµν ∂ν . (2.79)
Portanto,
u · v = ηµν uµ v ν . (2.81)
A regra (2.82) define um isomorfismo entre vetores e covetores, de modo que uma base {∂µ } de
vetores induz uma base para os covetores. Esta base é naturalmente tomada como as diferenciais
41
{dxµ }, e toda 1-forma α pode ser escrita como α = αµ dxµ . Cada elemento da base é um covetor
que, ao agir sobre um elemento da base de vetores, resulta na operação
Da mesma forma,
Então,
uµ = ηµν uν , (2.86)
ou seja, a métrica é a matriz jacobiana do isomorfismo entre vetores e covetores. Dizemos assim
que a métrica "baixa" índices de componentes de vetores e os transforma em componentes de
covetores.
Seja η −1 a inversa da matriz métrica, de modo que suas componentes sejam dadas por η µν :
η ηλν = δνµ . Podemos mostrar que
µλ
uµ = η µν uν , (2.87)
Então,
2.7 Tensores
42
As leis de transformação das componentes de base são dadas por
Portanto,
p trans. contravariantes
z }| {
α β γ
T̄τδ···ρ −1 −1 −1 µν···λ
Λδµ Λν · · · Λρλ
ψ···φ = Λ τ
Λ ψ
··· Λ φ
Tαβ···γ . (2.92)
| {z }
q trans. covariantes
Por exemplo, a métrica é um tensor do tipo (0, 2), ds2 = ηµν dxµ dxν . Então, suas componentes se
transformam por
1 ∂ 2 Λ
∂Λ a
Λ = 1 + a δ + δa δb + · · · , (2.94)
∂ =0 2 ∂a ∂b =0
Esta é a forma geral de um elemento da álgebra de Lie de SO (1, 3), que denominados a álgebra
so (1, 3). Ja formam um conjunto de operadores também linearmente independentes, que são os
geradores da álgebra. A forma explícita de Ja depende do objeto geométrico no qual o grupo atua,
portanto, de sua representação. Por enquanto, vamos supor que Λ seja uma matriz real.
Se o grupo é ortogonal, temos
T
ΛT Λ = 1 =⇒ (gΛ ) gΛ = 1.
Assim,
T T
1 = (1 + a Ja ) 1 + b Jb = 1 + a Ja + (a Ja ) ,
ou seja,
T
a Ja = − (a Ja ) .
Ja = −JaT , (2.96)
43
ou seja, os operadores Ja são antissimétricos. Por outro lado, é fácil verificar que se det Λ = 1,
det Ja = 0.
Por outro lado, consideremos W = a Ja um elemento da álgebra. Temos
η̄ = ΛT ηΛ = 1 + W T η (1 + W ) ,
que resulta em
η̄ ≈ η + ηW + W T η,
ηW + W T η = 0,
ou
W T = −ηW η −1 . (2.97)
Λ = exp (W ) . (2.99)
em que ω ab forma uma matriz antissimétrica de traço nulo nos índices ab. Eles são, portanto,
seis parâmetros independentes.
O grupo SO (1, 3) é um subgrupo de GL (1, 3), ou seja, é um subgrupo de todas as matrizes
4 × 4 de determinante não nulo. O grupo GL (1, 3) forma um espaço vetorial, cuja base mais
simples consiste no conjunto de matrizes
µ
(∆ab ) ν = δaµ ηbν . (2.101)
Por exemplo,
1 0 0 0 0 −1 0 0 0 0 −1 0
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
∆11 = , ∆12 = , ∆13 = , ··· .
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
44
Toda matriz de GL (1, 3) pode ser escrita por
µ
Aµν = Aab (∆ab ) ν . (2.102)
Esta base, denominada base canônica, é completa e linearmente independente. De fato, nesta
base uma matriz tem componentes iguais ao seus elementos, ou seja, Aab = Aµν .
Vamos tomar a multiplicação matricial ∆ab ∆dc
µ λ µ
(∆ab ) λ (∆cd ) ν = δaµ ηbλ δcλ ηdν = ηbc δaµ δdν = ηbc (∆ad ) ν .
que resulta em
h i h i
µ λ µ
(∆ab ) λ , (∆cd ) ν = δae ηbc δdf − δce ηda δbf (∆ef ) ν . (2.103)
Portanto, de (2.104) vemos que gl (1, 3) é uma álgebra de Lie não abeliana.
Note que as matrizes
são antissimétricas, possuem traço nulo e são linearmente independentes. Neste caso, elas for-
mam uma base para um subespaço de matrizes: são os geradores da álgebra so (1, 3). Suas
componentes são dadas por
µ
(Jab ) ν = δaµ ηbν − δbµ ηaν . (2.107)
Note que
[Jab , Jcd ] = [∆ab − ∆ba , ∆cd − ∆dc ] = [∆ab , ∆cd ] − [∆ab , ∆dc ] − [∆ba , ∆cd ] + [∆ba , ∆dc ]
(ef ) (ef ) (ef ) (ef )
= C(ab)(cd) − C(ab)(dc) − C(ba)(cd) + C(ba)(dc) ∆ef
= δae ηbc δdf − δce ηda δbf − δae ηbd δcf + δde ηca δbf ∆ef
+ −δbe ηac δdf + δce ηdb δaf + δbe ηad δcf − δde ηcb δaf ∆ef
45
em que as constantes de estrutura são
(ef )
f(ab)(cd) = δbe ηad δcf + δae ηbc δdf − δae ηbd δcf − δbe ηac δdf . (2.109)
[Jab , Jcd ] = ηad Jbc + ηbc Jad − ηdb Jac − ηac Jbd . (2.110)
Neste caso, os geradores Jab , definidos por (2.106) e (2.107), da álgebra de pseudo-rotações em
quatro dimensões, são os geradores da representação adjunta deste grupo. A representação
adjunta também é chamada, em física, de representação vetorial, porque realiza o grupo de
pseudo-rotações em vetores de M4 .
2.10 Invariantes
Uma álgebra de Lie é um espaço vetorial com uma base completa {Ja }, o conjunto de geradores
da álgebra. Neste caso, podemos definir um produto interno. Sejam dois elementos A = Aa Ja e
B = B a Ja da álgebra, temos
1 a b
A · B ≡ tr Aa B b Ja Jb = A B + Ab B a tr (Ja Jb ) ≡ γab Aa B b .
(2.111)
2
Nesta expressão,
µ µ ν
tr (Ja Jb ) = (Ja Jb ) µ = (Ja ) ν (Jb ) µ . (2.112)
Os objetos
1
γab ≡ tr (Ja Jb ) (2.113)
2
são componentes da denominada métrica de Killing. Se a métrica de Killing tem sinal definido
e é não degenerada, ela define um bom produto interno. Neste caso, uma álgebra de Lie é
também um espaço de Hilbert.
Elementos do grupo de Lie podem agir em elementos da álgebra. Por exemplo, uma rotação
em R3 age sobre um gerador Ja na forma
Ja −→ R−1 Ja R. (2.114)
Neste caso,
R−1 γR = 1 + ω a JTa γ 1 + ω b Jb
portanto,
46
A métrica de Killing, então, comuta com os geradores.
Neste caso, todo escalar construído com a métrica de Killing é um invariante. Contudo,
em um sistema dinâmico de dimensão finita, somente um número finito desses invariantes são
linearmente independentes. No caso de rotações em três dimensões, há apenas um invariante
J 2 = γab Ja Jb , (2.117)
J 2 uj = αj uj
J 2 uj = j (j + 1) uj . (2.118)
Neste caso, dizemos que j é o spin da representação. É fácil verificar para o grupo de rotações
que, na representação adjunta, j = 1 quando os autovetores são vetores euclidianos.
Para grupos de álgebras de Lie mais gerais, é possível encontrar outros invariantes de Ca-
simir, cada um deles uma forma multilinear invariante, como (2.117). O número maximal de
invariantes independentes é denominado rank da álgebra de Lie. O grupo de rotações tem rank
1: apenas J 2 é invariante. Em uma determinada representação, os autovalores desses operado-
res de Casimir também são invariantes pela ação do grupo, portanto o espectro é invariante. O
resultado é que uma representação é completamente determinada pelos espectros dos operado-
res de Casimir do grupo, então as quantidades físicas relevantes quando há uma simetria sob
determinado grupo de Lie são dadas pelos objetos geométricos que são autovetores simultâneos
dos operadores de Casimir.
47
48
Capítulo 3
3.1 Introdução
Agora, vamos nos voltar à análise do problema variacional de se encontrar condições necessá-
rias e suficientes para que uma dada integral fundamental tome um valor extremo (máximo ou
mínimo) local. Este problema variacional é comum em diversas áreas da física e da matemática
que compartilham de quantidades geométricas que assumam, por requerimentos físicos ou pu-
ramente matemáticos, um valor máximo ou mínimo. Por exemplo, o problema variacional que
descreve fenômenos da ótica geométrica consiste em encontrar a trajetória do raio de luz para a
qual o tempo de propagação seja mínimo (princípio de Fermat). A dinâmica de partículas relati-
vísticas, como outro exemplo, refere-se ao problema de se encontrar trajetórias no espaço-tempo
que maximizem o tempo próprio.
Problemas variacionais na mecânica clássica [?, ?], disciplina na qual o cálculo variacional
encontrou seu maior terreno de desenvolvimento, precisam ser definidos com base em espaços
não tão facilmente intuídos. Um sistema físico neste cenário é descrito por uma trajetória em um
espaço de configuração Qn formado por suas coordenadas generalizadas q a , em que a = 1, . . . , n
e n indica a dimensão de Qn . Tal trajetória é definida pelas equações paramétricas
γ : q a = q a (t) , (3.1)
em que q̇ a ≡ dq a /dt, assuma um valor extremo sobre C, fornecida uma função Lagrangiana L que
dependa do tempo, das coordenadas e de suas velocidades. Neste caso, precisamos que as funções
q a (t) sejam pelo menos de classe C 2 . Este problema variacional recebe o nome de princípio de
Hamilton quando a primeira variação das coordenadas generalizadas em t = t0 e t = t1 é nula.
A aplicação direta do princípio de Hamilton leva às equações de Euler-Lagrange
d ∂L ∂L
a
− a = 0, (3.3)
dt ∂ q̇ ∂q
49
soluções das equações (3.3), se existirem, são famílias de curvas de 1-parâmetro que dependem
de um conjunto de condições iniciais. Em segundo lugar, embora seja sempre possível um pro-
cesso de reparametrização, a integral fundamental não é independente da escolha do parâmetro.
Por isso, as equações de Euler-Lagrange não são apenas equações que descrevem uma dada
geometria no espaço de configuração, mas possuem também a interpretação de equações que
caracterizam um sistema dinâmico finito.
Por causa do papel especial do tempo, o formalismo Hamiltoniano pode ser naturalmente
introduzido e a mecânica clássica pode ser analisada através do espaço de fase T ∗ Qn , onde as
equações de movimento tomam a forma de um conjunto de equações de primeira ordem. No
espaço de fase há a introdução de uma estrutura simplética natural, através da qual é possível
conhecer a forma da evolução de qualquer observável físico sem a necessidade da resolução das
equações de movimento. Além disso, as propriedades geométricas do espaço de fase permitem
que o efeito de transformações sobre observáveis sejam imediatamente reconhecidos, indepen-
dentemente da dinâmica específica da teoria. Dentre as transformações mais importantes estão
as transformações canônicas, que preservam o elemento de volume do espaço de fase. A impor-
tância desse formalismo canônico para a física não pode ser subestimada, visto que a mesma
estrutura formal está presente também na mecânica quântica.
O cálculo variacional para a mecânica clássica envolve também os teoremas de Noether, que
dizem respeito a identidades obedecidas quando a integral fundamental (3.2) é invariante por
alguma classe de transformações, assim como o formalismo de Hamilton-Jacobi.
O mesmo quadro para teorias de campos não pode ser traçado tão naturalmente. Como vere-
mos, campos são sistemas que dependem de um conjunto de parâmetros, geralmente identifica-
dos com as coordenadas cartesianas do espaço-tempo. A integral fundamental que caracteriza o
problema variacional, análoga à integral (3.2), é uma integral múltipla. Além disso, os sistemas
em campos mais importantes na física são invariantes por reparametrizações. Essas caracterís-
ticas fazem desses sistemas essencialmente distintos dos sistemas clássicos, nos quais o tempo
tem um papel privilegiado. Em especial, não há uma forma única de dinâmica Hamiltoniana e,
tampouco, um único formalismo de Hamilton-Jacobi possível. Outro aspecto das teorias de cam-
pos mais importantes para a física são as simetrias de gauge, que são características de sistemas
singulares.
3.2 Variações
Um campo pode ser descrito por um conjunto de n funções φi (x), em que x representa um
ponto no espaço-tempo de 4 dimensões, localmente descrito por um sistema de coordenadas
xµ = x0 , x1 , x2 , x3 em um dado volume Ω. Todas as nossas considerações serão restritas ao
sistema contido nesse volume. O índice i varia de 1 a n. Vamos trabalhar em um espaço de con-
figuração construído da seguinte forma. Os campos φ são coordenadas de uma variedade Qn de
dimensão n. Em conjunto com essa variedade, definimos também um espaço para os parâmetros,
R4 . O espaço de configuração vem a ser o produto direto definido por Q ≡ Qn × R4 , de modo que
o volume Ω, o qual será tratado também como o domínio dos campos φ, esteja imerso em Q.
Vamos supor que os campos sejam funções de classe C ∞ , de modo que podemos definir todas
as suas derivadas
dφi
φiµ ≡ ≡ ∂µ φi , φiµν ≡ ∂µ ∂ν φi , .... (3.4)
dxµ
Uma configuração φ dos campos é definida como os valores dos campos e de suas derivadas
primeiras, ou velocidades, em cada ponto do espaço-tempo:
50
derivadas dos campos até primeira ordem. Com essa densidade Lagrangiana definimos a ação
ˆ
L xµ , φi , φiµ dω,
A [φ] ≡ (3.6)
Ω
Para definir o problema variacional, vamos considerar uma transformação ativa no espaço
de configuração, que pode ser imaginada como um arraste suave dos campos e dos parâmetros.
Existe uma configuração física φ (x), que será arrastada suavemente para uma configuração
φ0 (y), de modo que a topologia e geometria do espaço de configuração e, consequentemente do
espaço de Minkowski, seja preservada. Isto significa que não serão permitidas transformações
que envolvam "colar" e "furar" o espaço-tempo, nem transformações que mudem a métrica de
Minkowski. A configuração física φ (x) deve ser um extremo da integral fundamental.
Para realizar esta transformação, vamos fazer da configuração φi um membro de uma família
de configurações de 1-parâmetro, definida por
pelo menos de classe C 2 em u. Se uma dada configuração φ (u0 ) é um extremo da integral funda-
mental (3.6), correspondendo à configuração física do sistema, A (u0 ) deve ser menor (ou maior)
que um valor A (u) calculado em uma configuração φ (u), pertencente a uma vizinhança fechada
|u − u0 | de φ (u0 ). Supondo |u − u0 | um número muito pequeno, desprezando termos de ordem
2
maior ou igual a |u − u0 | , a expansão de φ (u) em série de Taylor ao redor da configuração φ (u0 )
pode ser escrita por
dφi (xα , u)
i α i α
φ (x , u) ≈ φ (x , u0 ) + δu, (3.8)
du
u=u0
dφi
δ̄φi ≡ φi (xµ , u) − φi (xµ , u0 ) = δu. (3.9)
du u=u0
A mesma expressão é válida para as derivadas. Por exemplo, temos a primeira variação de φaµ :
i
dφ µ
δ̄φiµ ≡ φiµ (xα , u) − φiµ (xα , u0 ) = δu
du
u=u0
d2 φi d dφi
d
δu = µ δ̄φi .
= δu = µ
dxµ du u=u0 dx du u=u0 dx
A integral que aparece na expressão acima atende ao fato de que campos são, de forma rigorosa,
tratados como distribuições do espaço-tempo: as derivadas com relação aos campos são derivadas
funcionais e não simples derivadas parciais. Por essa razão usamos o símbolo δF (x) /δφ (y) para
caracterizar a derivada funcional de uma função F (x), aplicada em um ponto x do volume Ω,
com relação a uma função φ (y), aplicada em um ponto y do mesmo domínio. A relação mais
51
fundamental vem a ser
δφi (x)
= δji δ 4 (x − y) , (3.11)
δφj (y)
No geral podemos ignorar a escrita das integrais, de modo a não sobrecarregar a notação, o que
faremos em boa parte do trabalho. Contudo, quando somas em derivadas funcionais aparecem,
integrais geralmente as acompanham e devemos ficar atentos a este fato. Por exemplo, usaremos
repetidamente expressões do tipo φiµ δL/δφi , com L sendo a densidade Lagrangiana, que devem
ser lidas como
ˆ
i δL (y)
dωx φµ (x) i . (3.13)
Ω δφ (x)
A primeira variação (3.9), portanto, é o termo de primeira ordem da comparação entre duas
configurações infinitesimalmente próximas, mantendo fixos o conjunto de parâmetros xµ e, por-
tanto, o domínio Ω. Podemos generalizar este argumento e considerar também a comparação
com configurações que variem os parâmetros. Basta considerarmos
dy µ
µ µ ν µ
y = y (x , u) ≈ y + δu, (3.15)
du u=u0
dφi (y µ , u) dφi (y µ , u) dy β
0i µ i µ
φ (y , u) ≈ φ (y , u0 ) + δu + δu
du
u=u0 dy β du u=u0
= φi (xµ , u0 ) + δ̄φi + φaβ u=u δxβ ,
0
ou seja,
em que
dy β
β
δx ≡ δu. (3.17)
du u=u0
52
assim como para a configuração φ0 (u):
ˆ
L y µ , φ0a , φ0a
0
A (u) = µ dω , (3.19)
Ω0
O operador
d
δ ≡ δu (3.21)
du
é um operador diferencial de primeira ordem, que obedece às propriedades de uma derivada
ordinária: é linear e obedece à regra de Leibniz. Neste caso, vamos calcular
ˆ ˆ
L xµ , φi , φaµ dω =
δA = δ (δLdω + Lδdω) . (3.22)
Ω Ω
dy µ d (δxµ )
ν
= δνµ + .
dx dxν
O determinante é dado por
Então,
d (δxµ ) d (δxµ )
δ (dω) = 1 + µ
− 1 dω = dω. (3.24)
dx dxµ
Na integral, temos
ˆ ˆ
d (δxµ )
δA = (δLdω + Lδdω) = δL + L dω.
Ω Ω dxµ
Note que
d (δxµ ) d dL
L = µ (Lδxµ ) − δxµ µ ,
dxµ dx dx
53
e, neste caso,
ˆ
d µ µ dL
δA = δL + (Lδx ) − δx dω
Ω dxµ dxµ
ˆ ˆ
dL d
= δL − δxµ µ dω + dω µ (Lδxµ ) ,
Ω dx Ω dx
ou,
ˆ ˆ
d
δA = δ̄Ldω + dω (Lδxµ ) , (3.25)
Ω Ω dxµ
em que
dL
δ̄L = δL − δxµ . (3.26)
dxµ
dL ∂L δL δL
δL = δu = δxµ µ + δφi i + δφiµ i . (3.27)
du ∂x δφ δφµ
de modo que
dL
δ̄L = δL − δxµ
dxµ
µ ∂L i δL i δL µ ∂L i δL i δL
= δx + δφ + δφµ i − δx + φµ i + φµν i
∂xµ δφi δφµ ∂xµ δφ δφν
δL δL
δφi − δxµ φiµ + δφiµ − δxµ φiµν
= ,
δφi δφiν
ou,
µ d i δL µ d δL
δ̄L = δ − δx φ + δ − δx φiν i
dxµ δφi dxµ δφν
δL δL
= δ̄φi i + δ̄φiµ i . (3.29)
δφ δφµ
Primeiro,
dφi dφ0i dφi dxν dφ0i dφi
δφiµ = δ = − = −
dxµ dy µ dxµ dy µ dxν dxµ
ν 0i i
dx dφ dφ
= − µ.
dy µ dxν dx
54
Note que xµ = y µ − δxµ . Portanto,
d dφ0i dφi
δφiµ = µ
(y ν − δxν ) ν − µ
dy dx dx
0i
ν
dφi dφ0i d (δxν ) dφ0i dφi
d (δx ) dφ
= δµν − µ ν
− µ = µ
− µ ν
− µ
dy dx dx dx dy dx dx
ν 0i
d d (δx ) dφ
φ0i − φi −
=
dxµ dy µ dxν
d δφi 0i 2 0i
d ν dφ ν d φ
= − δx + δx .
dxµ dy µ dxν dy µ dxν
Em primeira ordem,
d δφi i
d 2 φi
d ν dφ
δφiµ = µ
− µ
δx ν
+ δxν µ ν
dx dx dx dx dx
d
δφi − δxν φiν + δxν φiνµ
=
dxµ
d
δ̄φi + δxν φiνµ ,
= µ
(3.31)
dx
que resulta em
d d
δ̄φiµ = δ̄φi + δxν φiνµ − δxν φiνµ = µ δ̄φi .
µ
(3.32)
dx dx
Temos
δL δL δL d δL
δ̄L = δ̄φi + δ̄φiµ i = δ̄φi i + µ δ̄φi
δφi δφµ δφ dx δφiµ
δL d δL d δL
= δ̄φi i
− µ i + µ δ̄φi i . (3.33)
δφ dx δφµ dx δφµ
Na integral,
ˆ ˆ
d
δA = δ̄Ldω + dω µ (Lδxµ )
dx
ˆΩ Ω
ˆ
i δL d δL d µ i δL
= δ̄φ − dω + dω Lδx + δ̄φ . (3.34)
Ω δφi dxµ δφiµ Ω dxµ δφiµ
Vamos deixar a primeira integral como está, mas desejamos escrever a segunda integral como
combinações lineares das variações totais dos campos. Vamos usar δ̄φ = δφ − δxµ φµ :
ˆ ˆ
i δL d δL d µ ν i δL i δL
δA = δ̄φ − µ i dω + dω µ Lδx − δx φν i + δφ
Ω δφi dx δφµ Ω dx δφµ δφiµ
ˆ ˆ
i δL d δL d i δL i δL µ ν
= δ̄φ − µ dω + dω µ δφ − φν i − δν L δx .
Ω δφi dx δφiµ Ω dx δφiµ δφµ
Vamos definir
δL i
Hµν ≡ φ − ηµν L, (3.35)
δφiµ ν
assim,
ˆ ˆ
δL d δL d i δL
δA = δ̄φi − dω + dω δφ − H µ
ν δxν
. (3.36)
Ω δφi dxµ δφiµ Ω dxµ δφiµ
55
3.4 Os termos de fronteira
A integral
ˆ
d δL i µ ν
dω µ δφ − H ν δx
Ω dx δφiµ
é uma integral de uma divergência total no volume Ω. Segundo o teorema de Gauss, a integral
de um divergente de um campo vetorial em um volume Ω deve ser igual à integral da projeção
ortogonal do mesmo campo vetorial na fronteira ∂Ω de Ω, ou seja,
ˆ ˆ
dF µ (x)
dω µ
= dσnµ (x) F µ (x) ,
Ω dx ∂Ω
Por esta razão, integrais de divergentes em um problema variacional são denominados termos
de fronteira, já que eles dependem apenas das configurações e variações dos campos na fronteira
de Ω.
O campo vetorial relevante é dado por
δL
Φµ ≡ δφi − Hµν δxν , (3.38)
δφµi
δL i
Hµν = φ − ηµν L, (3.39)
δφµi ν
δL
πiµ ≡ , (3.40)
δφiµ
que são denominados momentos conjugados covariantes. Veremos mais adiante que essas quan-
tidades são fundamentais na definição de quantidades conservadas e invariantes do problema
variacional.
Um princípio físico é necessário para que se defina a configuração física dos campos. É usual, a
princípio, a utilização do princípio de Hamilton:
56
Proposição 2. O Princípio de Hamilton para campos.
A condição necessária, mas não necessariamente suficiente, para que a ação seja estacionária
é dada por δA = 0, ou seja, a primeira variação da ação tendo como base a configuração esta-
cionária deve ser nula. Nas condições do princípio de Hamilton, a variação δφ deve ser tal que
O volume Ω é fixado a priori. Contudo, o procedimento acima deve ser válido para qualquer
volume no qual o sistema de coordenadas cartesiano {xµ } seja válido e, também, no qual os
campos sejam bem definidos. Sem perda de generalidade, podemos considerar Ω arbitrário.
Além disso, as variações δφi devem ser linearmente independentes: a variação de um campo φi
não pode depender da variação de uma campo φj para j 6= i. A condição de extremo δA = 0
implica em que a integral (3.42) seja nula. Se Ω é arbitrário e δφi são LI, o termo entre colchetes
deve ser nulo, ou seja,
δL d δL
i
− µ i = 0. (3.43)
δφ dx δφµ
57
Observação 2. O princípio de Hamilton pode ser flexibilizado na condição de que δφ seja
nulo na fronteira. Ainda mantendo Ω fixo, é suficiente que os momentos covariantes
sejam tangentes a ∂Ω na fronteira, ou seja,
Isto implica na nulidade dos termos de fronteira e resulta nas mesmas equações de
campo. Esta condição, contudo, restringe as configurações físicas àquelas que obede-
cem ao vínculo (3.44), que se torna uma condição de contorno.
que deve ser respeitada com Ω arbitrário e δ̄φi linearmente independentes. Neste caso, temos
δL d δL
− µ i = 0,
δφi dx δφµ
58
3.6 Simetrias da ação
Vamos supor uma transformação infinitesimal
ou seja,
Ā = A. (3.48)
∆A = Ā − A = 0. (3.49)
Vamos supor que δxµ são funções analíticas de um conjunto de parâmetros aµ e que δφi
são funções analíticas de um conjunto de m parâmetros λa , em que a toma os valores de 1 a
m. Portanto, as transformações (3.45) fazem parte de uma classe de transformações contínuas.
Além disso, temos a condição
Ā ≈ A + δA, (3.52)
∆A ≈ δA, (3.53)
59
λa , podem ser explicitamente colocadas na forma
dx̄µ
δxµ = aν
daν a,λ=0
dφ̄i dφ̄i dφ̄i dx̄ν dφ̄i
i µ a µ
δφ = a + λ = a + λa
daµ a,λ=0 dλa a,λ=0 dx̄ν daµ a,λ=0 dλa a,λ=0
dxν dφ̄i
= φiν aµ
+ λa = δxµ φiµ + δ̄φi ,
daµ a,λ=0 dλa a,λ=0
em que
dφ̄i
δ̄φi = λa .
dλa a,λ=0
dx̄µ dφ̄i
µ i
Γν ≡ , Υa≡ , (3.54)
daν a,λ=0 dλa a,λ=0
δxµ = Γµν aν , δφi = φiµ δxµ + δ̄φi = φiµ Γµν aν + Υia λa . (3.55)
A primeira variação de A sob uma transformação infinitesimal geral caracterizada pelas funções
δxµ e δφi foi calculada em (3.36), resultando em
ˆ ˆ
δL d δL i d i δL µ ν
δA = dω − µ i δ̄φ + dω µ δφ − H ν δx . (3.56)
Ω δφi dx δφµ Ω dx δφiµ
Vamos separar, por conveniência, as transformações exclusivamente nos campos (δxµ = 0), das
transformações exclusivamente no ponto do espaço-tempo (δφ = 0). No primeiro caso, temos
δxµ = Γµν aν = 0, portanto tomaremos Γ = 0 em (3.57). Então,
δL d δL d
Υia λa = − µ πiµ Υia λa .
i
− µ i
δφ dx δφµ dx
60
Agora, vamos considerar os parâmetros λa independentes do ponto, ou seja, constantes em xµ .
Neste caso, se λa são linearmente independentes, temos
δL d δL d
Υia = − µ πiµ Υia .
i
− µ i
(3.58)
δφ dx δφµ dx
Dizemos que essas são transformações internas globais. Internas, pois consistem em m trans-
formações exclusivamente nos campos, sem mudança nas coordenadas de M4 . Globais, pois são
transformações a parâmetros constantes, que não dependem do ponto do espaço-tempo. Com
(3.58), podemos enunciar a forma matemática do primeiro teorema de Noether:
com aµ constantes. Então, temos o caso em que quatro simetrias resultam em quatro combina-
ções lineares das equações de Euler-Lagrange iguais a quatro divergências totais.
Toda simetria global (com parâmetros constantes) pode ser separada em uma transformação
interna e uma transformação no ponto, de modo que o caso misto não é de muito interesse.
Simetrias internas possuem uma enorme relevância em teorias de campos, como por exemplo
as transformações de gauge. Por outro lado, toda teoria de campo relativística é invariante pelo
grupo de Poincaré, que consiste em translações e pseudo-rotações em M4 . Transformações de
Poincaré são transformações globais no ponto, portanto.
Outra versão do primeiro teorema de Noether pode ser formulada a partir da equação de Lie
δL d δL d
− µ i δ̄φi = − µ πiµ δφi − H µν δxν ,
i
(3.60)
δφ dx δφµ dx
agora escrita na forma geral. Note que, se as equações de campo são satisfeitas,
δL d δL
− µ i = 0,
δφi dx δφµ
dΦµ
= 0, Φµ ≡ πiµ δφi − H µν δxν . (3.61)
dxµ
No caso de transformações internas globais, temos
ou seja,
dΦµ d
πiµ Υia = 0.
=0 =⇒
dxµ dx µ
61
As funções Φµa ≡ πiµ Υia são denominadas correntes próprias, e as equações
dΦµa
=0 (3.62)
dxµ
são denominadas equações de continuidade.
No caso de transformações no ponto, temos
Φµ = −H µν δxν = −H µν Γνλ aλ ,
que resulta em
dΦµ d
=0 =⇒ (H µν Γνλ ) = 0. (3.63)
dxµ dxµ
Neste caso, as correntes próprias são as funções Φµλ ≡ Hνµ Γνλ , que obedecem às equações de
continuidade dΦµν /dxµ = 0.
Equações de continuidade aparecem em toda teoria física com simetrias. Por exemplo, consi-
dere as equações de Maxwell com fontes
ρ
∇·E= , (3.64a)
ε0
∂E
∇ × B = µ0 j + µ0 ε0 . (3.64b)
∂t
Derivando a primeira equação parcialmente no tempo e tomando o divergente da segunda, temos
∂ ∂E 1 ∂ρ
(∇ · E) = ∇ · = ,
∂t ∂t ε0 ∂t
∂E
∇ · ∇ × B = µ0 ∇ · j + µ0 ε0 ∇ · = 0.
∂t
Portanto, a última equação resulta em
∂ρ
∇·j+ = 0, (3.65)
∂t
que é a equação de continuidade para a carga elétrica. Vamos introduzir a 4-corrente
ρ
jµ = ,j . (3.66)
c
Então,
∂ρ ∂j 0 ∂j 0 ∂j µ
∇·j+ =∇·j+c =∇·j+ = = 0. (3.67)
∂t ∂t ∂x0 ∂xµ
A corrente j µ é um exemplo de corrente de Noether própria, como veremos no estudo do campo
eletromagnético.
62
Outro exemplo consiste na equação de Schrödinger
∂ψ ~2 2
i~ =− ∇ ψ + V ψ. (3.68)
∂t 2m
Seu complexo conjugado resulta em
∂ψ ∗ ~2 2 ∗
−i~ =− ∇ ψ + V ψ∗ . (3.69)
∂t 2m
Multiplicando a primeira equação por ψ ∗ e a segunda por ψ, temos
∂ψ ~2 ∗ 2
i~ψ ∗ =− ψ ∇ ψ + V ψ ∗ ψ,
∂t 2m
∂ψ ∗ ~2
∇2 ψ ∗ ψ + V ψ ∗ ψ.
−i~ ψ=−
∂t 2m
Tomando a diferença, temos
∂ ~2
i~ (ψ ∗ ψ) = − ∇ · [ψ ∗ ∇ψ − ψ∇ψ ∗ ] .
∂t 2m
∂ρ
+ ∇ · j = 0, (3.70)
∂t
que é também uma equação de continuidade, desta vez para a probabilidade de transição em
mecânica quântica. Esta equação de continuidade também é resultante do primeiro teorema de
Noether, desta vez para a mecânica quântica.
dΦµā
= 0. (3.71)
dxµ
Esta é uma equação diferencial parcial nas coordenadas, portanto tem um caráter local. Com
condições de contorno apropriadas, este tipo de equação também resulta em uma lei de conser-
vação global.
Primeiro, vamos supor um observador em repouso com relação à origem de um sistema de
coordenadas cartesiano {xµ }. Seu tempo próprio é a coordenada x0 /c = t, ou seja, seu relógio
mede um tempo t = x0 /c em seu referencial. Vamos supor, aqui, um sistema de unidades natural
em que c = 1. Este observador faz experiências sobre um conjunto de campos φi (x) em seu
laboratório, que tem volume V . Ele está interessado especialmente na integral da equação (3.71)
em Ω, de modo que
ˆ ˆ ˆ ˆ ˆ
dΦµ t1
dΦµ t1
dΦ0ā dΦkā
I= dω µā = dt d x µā =
3
dt 3
d x + , k = 1, 2, 3.
Ω dx t0 V dx t0 V dx0 dxk
63
Na segunda integral, podemos usar o teorema de Gauss em três dimensões. Ela resulta em
ˆ t1 ˆ ˆ t1 ˆ
dt ~ ā
d3 xdiv Φ = dt ~ ā .
d2 x n · Φ (3.72)
t0 V t0 A
Vamos supor que o observador expanda o volume ao infinito e, neste caso, ele supõe que as
~ ā vão a zero na fronteira de V . Portanto, a segunda integral é nula e
correntes tridimensionais Φ
ˆ t1 ˆ ˆ t1 ˆ ˆ t1
d
I= dt d3 xΦ0ā = d d3 xΦ0ā = d3 xΦ0ā . (3.73)
t0 dt V t0 V V t0
As quantidades
ˆ
Qā (t) ≡ d3 xΦ0ā (x, t) (3.75)
V
são denominadas cargas de Noether. Cargas são quantidades conservadas no tempo, visto que
dQā
= 0. (3.76)
dt
δxµ = aµ , (3.77)
Essas transformações são efetuadas de modo que δφi = 0, pois campos relativísticos são natural-
mente invariantes por translações. Então a equação de Lie torna-se
δL d δL d
− φiν δxν = − µ (H µν δxν ) ,
δφi dxµ δφiµ dx
64
que resulta em
δL d δL d
i
− µ i φiν = − µ (H µν ) . (3.79)
δφ dx δφµ dx
δL d δL
− µ i = 0,
δφi dx δφµ
temos
d
(H µν ) = 0. (3.80)
dxµ
Portanto, existem quatro equações de continuidade para a densidade de energia-momento:
∂ 0 ~ ν = 0,
H +∇·H (3.81)
∂t ν
~ν .
em que consideramos H µν = H 0ν , H
Agora, é conveniente entendermos melhor o papel da densidade de energia-momento. Pode-
mos obter uma definição formal abaixo.
δL i
Hµν ≡ φ − ηµν L, (3.82)
δφiµ ν
em que L é uma densidade lagrangiana. Neste caso, T é um tensor do tipo (0, 2).
Supondo que o observador esteja em repouso com relação ao seu sistema de coordenadas local,
temos u = (1, 0, 0, 0). Neste caso,
65
Neste caso, o tempo medido por este observador é dado por t = x0 /c e, a tempo constante,
podemos integrar esta expressão em um volume V tridimensional:
ˆ ˆ ˆ
δL i
ρ (x) d3 x = H00 (x) d3 x = φ − L d3 x.
V V V δφi0 0
Agora, vamos considerar um vetor τ unitário e ortogonal a u. Este vetor é claramente tan-
gente a Σ, visto que u é ortogonal a Σ. De fato, podemos definir um conjunto de três vetores
τk = (τ1 , τ2 , τ3 ) que formam uma base ortonormal de Σ. Cada vetor é um eixo ortonormal de Σ.
Neste caso,
pk = H0k , k = 1, 2, 3. (3.88)
66
Integrando-se esta expressão, temos
ˆ ˆ
3
Pk ≡ pk (x) d x = H0k (x) d3 x. (3.89)
V V
ρ p1 p2 p3
p1 τ11 τ12 τ13
Hµν =
p2
. (3.92)
τ21 τ22 τ23
p3 τ31 τ32 τ33
As componentes τ11 , τ22 e τ33 são denominadas densidades de estresses normais a cada direção.
Quando são iguais, τkk (sem soma em k) é denominado densidade de pressão do campo. Integra-
das em Σ, (3.92) formam as componentes do tensor de estresse. Da mesma forma, as integrais
ˆ
Tµν (t) ≡ Hµν (t, x) dσ (3.93)
Σt
∂ µ Hµν = 0, (3.94)
que vem a ser a forma mais comum de notação. Dizemos que Hµν é uma quantidade conservada.
Vamos trabalhar na dinâmica instantânea de agora em diante. Integrando (3.94) em Ω ⊂ M4 ,
temos
ˆ ˆ ˆ
0= µ
dω∂ Hµν = dt d3 x∂ µ Hµν
ˆΩ
ˆ V
d3 x ∂ 0 H0ν + ∂ k Hkν , k = 1, 2, 3.
= dt
V
67
Temos
ˆ ˆ ˆ ˆ ˆ
d
d3 x ∂ 0 H0ν + ∂ k Hkν = d3 xH0ν d3 x∂ k Hkν = 0.
dt dt +
V dt V V
Vamos analisar apenas a equação para ν = 0. Assim, com H00 = ρ e Hk0 = H0k = pk , temos
ˆ ˆ ˆ
d 3 3 k
dt d xρ (x) + d x∂ pk = 0. (3.95)
dt V V
em que nk (x) são as componentes de um campo vetorial (em três dimensões) ortogonal a ∂V .
Esta integral é o fluxo de momento do campo através da superfície ∂V . Nós vamos supor que o
sistema é fechado, de modo que n · p = 0 em ∂V . Neste caso, a integral é nula e ficamos apenas
com
ˆ ˆ ˆ
d 3 dH dH
dt d xρ (x) = dt = 0 =⇒ = 0. (3.97)
dt V dt dt
´ ´
Portanto, a hamiltoniana H = V d3 xρ (x) = V d3 xH00 é uma constante de movimento. Quando
uma hamiltoniana é conservada, ela é relacionada com a energia do sistema. Portanto, invariân-
cia por translações (especificamente pela evolução temporal), resulta na conservação da energia
do campo.
As demais equações, para ν = k, resultam em
ˆ ˆ ˆ
d 3 3 l
dt d xpk + d x∂ τlk = 0,
dt V V
em que pk = H0k e τlk = Hlk , com l = 1, 2, 3. Mais uma vez, vamos supor que o sistema é fechado,
de modo que o estresse do campo é tangente à superfície ∂V . Assim,
ˆ ˆ
d3 x∂ l τlk = dx nl (x) τlk (x) = 0
V ∂V
e
ˆ ˆ
d
dt d3 xpk = 0. (3.98)
dt V
´
A equação acima implica em que os momentos Pk = V
d3 xpk (x) são conservados, ou seja,
dPk
= 0. (3.99)
dt
Então, translações (espaciais) implicam na conservação dos momentos lineares dos campos.
68
em que ω ab = −ω ba e Jab são os geradores da álgebra so (1, 3) na representação adjunta,
µ
(Jab ) ν = i (δaµ ηbν − δbµ ηaν ) , a, b, µ, ν = 0, 1, 2, 3. (3.101)
Neste caso,
1 µ
δxµ = i (Jab ) ν ω ab xν . (3.102)
2
Uma rotação no espaço-tempo implica uma rotação nos campos. Vamos definir esta rotação
de modo que δ̄φi = 0, ou seja, apenas a transformação no ponto influencia na transformação total
dos campos. Assim,
1 µ
δφi = δxµ φiµ = i (Jab ) ν ω ab xν φiµ , (3.103)
2
de modo que a equação de Lie
δL d δL i d i δL µ ν
− µ i δ̄φ = − µ δφ − H ν δx
δφi dx δφµ dx δφiµ
torna-se
d δL i 1 d δL i ν
δφ − H µν δxµ = i µ µ ab λ
φ − H ν (Jab ) λ ω x = 0
dxµ δφiµ 2 dx δφiµ ν
independentemente das equações de campo, visto que δ̄φi = 0. Como ω ab são constantes, temos
δL i µ ν λ
∂µ φ − H (J )
ab λ x = 0. (3.104)
δφiµ ν ν
Com (3.101),
δL ν
0 = ∂µ H µν (δaν ηbλ − δbν ηaλ ) xλ − i φiν (Jab ) λ xλ
δφµ
µ µ δL i ν λ
= ∂µ (H a xb − H b xa ) − i φν (Jab ) λ x .
δφµ
`µab ≡ H µa xb − H µb xa . (3.105)
Este momento angular é um vetor de Lorentz, mas também é uma matriz na álgebra de
Lorentz. Todo campo que se transforma como uma representação do grupo de Lorentz possui
momento angular orbital. O segundo objeto é dado por:
69
Definição 17. Densidade de spin.
µ
Seja uma rotação infinitesimal δxµ = ω µν xν = (i/2) (Jab ) ν ω ab xν . Se os campos φi se
transformam de modo que
1 µ
δφi = i (Jab ) ν ω ab xν φiµ ,
2
as componentes da densidade de spin dos campos são definidas por
µ δL ∂ δφi δL ν
sab ≡ − i = − i φiν (Jab ) λ xλ . (3.106)
δφµ ∂ω ab δφµ
Neste caso, a corrente de Noether conservada é dada pela densidade de momento angular
total, cujas componentes são
∂µ mµab = 0. (3.108)
Mais uma vez, vamos supor que o fluxo de momento angular em ∂V é nulo, anulando a última
integral. A matriz
ˆ
Mab ≡ d3 xm0ab (3.109)
V
dMab
= 0, (3.110)
dt
ou seja, o momento angular total dos campos é uma carga conservada.
Portanto, o momento angular de um campo tem uma componente orbital e uma componente
de spin,
em que
ˆ ˆ
Lab = d3 x`0ab e Sab = d3 xs0ab . (3.112)
V V
Embora não exista uma razão matemática, o fato é que ambos os momentos angulares são con-
servados separadamente em campos relativísticos. Note que, se ∂µ mµab = 0 e ∂µ H µν = 0, temos
70
ou seja, a divergência da densidade de spin é igual à parte antissimétrica da densidade de ener-
gia momento. Se a densidade de energia-momento é simétrica, ∂µ sµab = 0 e, assim, ambas as
componentes do momento angular são conservadas separadamente.
δL i
Hµν = φ − ηµν L
δφiµ ν
não são simétricas, ou seja, Hµν 6= Hνµ . Mas existe um procedimento de simetrização
de Hµν , conhecido como procedimento de Belinfante, que consiste em acrescentar um
termo de fronteira ao tensor energia-momento:
1
Tµν = Hµν + ∂λ sλµν + sλνµ − sνµλ .
(3.114)
2
Este tensor é chamado tensor de Belinfante-Rosenfeld e, usando (3.113), mostra-se que
Tµν = Tνµ . A diferença entre Tµν e Hµν é um termo de divergência total e, assim, torna-
se um termo de fronteira na ação, o que não altera as equações de campo. Neste caso,
é sempre preferível o uso do tensor energia-momento simétrico sobre o canônico, visto
que este garante a conservação da densidade de spin.
O segundo teorema de Noether diz respeito à invariância da ação sob transformações locais, ou
seja, cujos parâmetros são funções de pontos do espaço-tempo. Vamos considerar uma transfor-
mação dependente de um conjunto de funções do ponto do espaço-tempo λa , tal que a = 1, · · · , m:
∂φi dλa
δφi = δxµ . (3.115)
∂λa dxµ λ=0
que resulta em
∂φi dλa
i i µ
δ̄φ = − φ µ δx , (3.117)
∂λa dxµ λ=0
em que
dy µ
µ
δx = λa . (3.118)
dλa λ=0
De forma que,
dλa dλa
δφi = Baiµ µ
, φiµ δxµ = Aia λa , δ̄φi = Baiµ µ − Aia λa . (3.120)
dx dx
71
A equação de Lie,
δL iµ dλa
i µ ν
(EL)i δ̄φ + ∂µ B − H ν δx = 0, (3.121)
δφiµ a dxµ
em que
δL d δL
(EL)i ≡ − µ i (3.122)
δφi dx δφµ
com
dλa
µ δL
Φ ≡ i Baiµ µ − Aia λa + Lδxµ . (3.124)
δφµ dx
Ou seja,
Enquanto o primeiro teorema de Noether lida com o caso de parâmetros constantes, em que as
transformações são globais e a invariância da ação é definida em todo o domínio Ω, a invariância
da ação por transformações com parâmetros que dependem do espaço-tempo é local. A integral
fundamental não só é invariante quando calculada num volume Ω, mas também em qualquer
sub-domínio Ω̄ ⊂ Ω. Exceto em Ω, a integral
ˆ
dω̄∂µ Φµ + (EL)i Baiµ λa
(3.126)
Ω̄
72
Teorema 4. Segundo Teorema de Noether.
Seja uma transformação total dos campos que dependa de um conjunto de n parâme-
tros λa (x), dependentes do ponto do espaço-tempo. Se a ação é invariante sob estas
transformações, existem n identidades de Noether que envolvem combinações lineares
das equações de Euler-Lagrange.
As identidades de Noether (3.128) podem ser colocadas na forma de uma equação de conser-
vação covariante. Para tal, definimos as funções Gaiµ tais que
Assim,
Essas identidades são independentes das equações de movimento e não dependem das condi-
ções de fronteira dos campos ou das variações do problema variacional. São válidas para qual-
quer configuração de campos, extremos ou não. Elas recebem o nome de leis de conservação
impróprias: não são verdadeiramente leis de conservação. As quantidades
Υjν jν
ic ≡ (EL)i Bc (3.133)
73
são chamadas correntes impróprias.
Na fronteira de Ω, a integral (3.126) não pode ser levada a zero para transformações com
forma geral. Assim, temos
ˆ ˆ
iµ i
a
dω∂µ Φµ + (EL)i Baiµ λa = 0.
∂µ (EL)i Ba + (EL)i Aa λ dω − (3.134)
Ω Ω
com
δL dxµ a
Φµ = iν a i a
B a ∂ν λ − A a λ + L λ
δφiµ dλa
dxµ a
δL δL i δL
= i Baiν ∂ν λa − i
A a + L a
λ = i Baiν ∂ν λa − Φµa λa , (3.136)
δφµ δφµ dλ δφµ
e
δL i dxµ
Φµa ≡ i
Aa + L a . (3.137)
δφµ dλ
∂µ Φµa = 0, (3.138a)
δL iν
Φνa = ∂µ B , (3.138b)
δφiµ a
δL iν δL
B + i Baiµ = 0. (3.138c)
δφiµ a δφν
Portanto, na validade das equações de campo, temos um conjunto de correntes próprias conser-
vadas (3.138a). Essas correntes, de acordo com (3.138b), podem ser escritas como divergências
ordinárias de um tensor de segunda ordem que, ainda de acordo com (3.138c), deve ser antissimé-
trico nos índices do espaço-tempo. Este conjunto de relações não é, obviamente, independente.
Se a corrente é escrita como a divergência de um tensor antissimétrico, a lei de conservação
(3.138a) é automática, devido à simetria das derivadas.
Se leis de conservação próprias são obedecidas, integrais de movimento podem ser encontra-
das com uma escolha de dinâmica relativística. Essas integrais são dadas pelas carga
ˆ ˆ
1 δL iµ δL i0
Qa = d3 xΦ0a = d3 x∂µ B − B .
V 2 V δφi0 a δφiµ a
74
Com o teorema de Gauss-Ostrogradski, essa carga pode ser escrita por
ˆ
1 2 δL iµ δL i0
Qa = d xnµ B − i Ba (3.139)
2 ∂V δφi0 a δφµ
Pµ P µ φ = m2 φ, (3.142)
+ m2 φ (x) = 0,
(3.143)
em que
≡ ∂µ ∂ µ = ηµν ∂µ ∂ν = −P 2 (3.144)
que tem uma componente orbital e uma componente de spin, como definidos em (3.112), (3.105)
e (3.106). Neste caso, Pµ e Mµν são geradores da álgebra de Poincaré.
Com (3.145) podemos construir o operador de Pauli-Lubanski
i
Wµ ≡ − εµνγλ M νγ P λ . (3.146)
2
75
Definição 18. O tensor antissimétrico quadridimensional.
Em quatro dimensões, podemos definir o tensor de componentes
1 para combinações cíclicas de (µνγλ) ,
µνγλ
ε = 0 se quaisquer dois índices forem iguais, (3.147)
−1 para combinações anti-cíclicas de (µνγλ),
além de
A importância do operador de Pauli-Lubanski vem a ser o fato de que ele gera transformações de
Lorentz que preservam os autovalores de massa do operador momento. Neste caso, ele pode ser
utilizado, em conjunto com P 2 , para classificar campos relativísticos em termos de sua massa e
spin. O quadrado deste operador,
W 2 = Wµ W µ , (3.151)
i
Wµ ≡ − mcε0µνγ M νγ .
2
Com as propriedades de ε, temos W0 = 0. Com k, m, n = 1, 2, 3, temos
i
Wk = − mcεkmn M mn = −mcJk , (3.152)
2
em que Jk = (i/2) εkmn M mn são as componentes do momento angular tridimensional. Usamos a
relação εkmn = ε0kmn . Neste caso,
W 2 = m2 c2 J i Ji = −m2 c2 J2 , (3.153)
W 2 = −m2 c2 S2 , (3.154)
76
mental de um campo quântico é um estado singleto, de modo que o estado de momento angular
total resulta em seu estado de spin.
Ao atuar em um estado singleto, temos
S2 φ = s (s + 1) φ, (3.155)
ou seja, as partículas de massa m podem ser classificadas por seus valores de spin s = 0, 1, 2, · · · ,
caso em que o campo é denominado bosônico, ou s = 1/2, 3/2, · · · , caso em que o campo é
fermiônico.
No caso não massivo, notemos que P 2 = 0 não implica em W 2 = 0. De fato,
1
Wµ W µ = − εµνγλ εµαβρ M νγ P λ M αβ P ρ = Mαγ P γ M αβ Pβ , (3.156)
4
que pode ser calculado com uso da relação
i
W0 = − εkmn M km P n = −Jk pk = J · p, (3.158a)
2
i E
Wk = − εkνγλ M νγ P λ = − Jk + iεkmn M 0m P n . (3.158b)
2 c
A equação 3.158b gera um conjunto de transformações que não preserva o spin do campo, por-
tanto vamos descartá-la como alternativa para construção de um invariante. Por outro lado, W0
é denominado helicidade do campo quando L · p = 0:
h ≡ S · p, (3.159)
(−s, −s + 1, · · · , 0, · · · , s − 1, s) . (3.160)
77
78
Capítulo 4
Campos Bosônicos
O campo relativístico mais simples é aquele cujas componentes são invariantes por transforma-
ções de Lorentz. Um campo escalar real é uma função φ (x) : M4 → R tal que
Obviamente, se φ não muda por rotações em M4 , isto implica em que o momento angular total
do campo é nulo, ou seja, Lµν = 0 e Sµν = 0. Neste caso, um campo cujas componentes são
invariantes de Lorentz tem spin zero. Se o campo tem conteúdo de massa m, temos que P 2 φ =
m2 φ, o que na realização das posições Pµ = i∂µ resulta na equação de Klein-Gordon-Fock
+ m2 φ = 0.
(4.2)
A equação (4.2) é a única equação obedecida por φ, portanto, ela é considerada a equação de
campo do campo escalar real.
1
∂µ φ∂ µ φ − m2 φ2 ,
L= (4.3)
2
que resulta em (4.2) através das equações de Lagrange
δL δL
− ∂µ = 0. (4.4)
δφ δ (∂µ φ)
δL
∂ν φ − ηµν ∂γ φ∂ γ φ − m2 φ2
Hµν =
δ (∂ µ φ)
1
= ∂µ φ∂ν φ − ηµν ∂γ φ∂ γ φ − m2 φ2 ,
(4.5)
2
que já é simétrico.
79
A função hamiltoniana na dinâmica instantânea é dada por
ˆ ˆ
3 3 1 γ 2 2
H= d xH00 (x) = d x ∂0 φ∂0 φ − η00 ∂γ φ∂ φ − m φ
R3 R3 2
ˆ
3 2 1 2 1 k 1 2 2
= d x φ̇ − φ̇ − ∂k φ∂ φ + m φ
R3 2 2 2
ˆ
1
= d3 x φ̇2 + ∇φ · ∇φ + m2 φ2 , (4.6)
2 R3
ou seja,
ˆ
p= d3 xφ̇∇φ. (4.8)
R3
Uma maneira imediata de introduzir uma interação é permitir que o campo interaja consigo
mesmo. No caso do campo escalar isto pode ser feito com termos do tipo λφn , em que n ≥ 3. Um
modelo de grande interesse, pois resulta em uma teoria quântica autoconsistente, é dado pela
densidade lagrangeana
1 λ
L= ∂µ φ∂ µ φ − m2 φ2 − φ4 , (4.9)
2 4!
cuja equação de campo é dada por
λ
+ m 2 φ = − φ3 .
(4.10)
3!
Sua densidade de energia-momento vem a ser
1 2λ 4
Hµν = ∂µ φ∂ν φ − ηµν ∂γ φ∂ γ φ − m2 φ2 − φ . (4.11)
2 4!
80
Observação 5. Note que a transformação
φ = −φ
Novamente, este é um campo de spin zero. O campo complexo também obedece à equação de
Klein-Gordon-Fock
+ m2 φ = 0,
(4.13a)
+ m2 φ∗ = 0.
(4.13b)
ˆ
+ d4 x + m2 φ (δxγ ∂γ − δ) φ∗ + + m2 φ∗ (δxγ ∂γ − δ) φ .
(4.15)
81
A segunda linha nos dá as equações de campo (4.13), segundo o princípio de Weiss. O termo de
fronteira nos dá os momentos covariantes
πγ∗ ≡ ∂γ φ, πγ ≡ ∂ γ φ ∗ (4.16)
φ (x) → φ0 (x) = eiα φ (x) , φ∗ (x) → φ0∗ (x) = e−iα φ∗ (x) , (4.20)
A equação de Lie
δL d δL i i δL µ ν
− µ i δ̄φ = −∂µ δφ − H ν δx
δφi dx δφµ δφiµ
∂µ (φ∗ ∂ µ φ − φ∂ µ φ∗ ) = 0, (4.23)
A simetria (4.20) é um exemplo de simetria de gauge global. Ela pertence ao grupo de trans-
formações denominado U (1), que consiste em todas as transformações complexas unitárias cuja
álgebra possui apenas um gerador, precisamente o número 1. Um membro de U (1) é repre-
sentado simplesmente por um número complexo ω tal que ω ∗ ω = 1, que pode ser colocado na
82
forma ω = eiα para algum α real. Portanto, a invariância global por U (1) resulta em uma carga
conservada (4.24). Podemos tentar identificar Q como a carga elétrica do campo, mas esta iden-
tificação seria simplesmente incorreta. Um campo livre simplesmente não possui um conteúdo
de carga que gere campos eletromagnéticos. A razão é que a invariância global não é suficiente
para descrever a interação de φ com um campo eletromagnético, qualquer que seja a teoria que
o descreva. A localização da simetria por U (1) deve ser implementada para que o conteúdo de
carga elétrica tenha sentido físico.
φ (x) → φ0 (x) = eiα(x) φ (x) , φ∗ (x) → φ0∗ (x) = e−iα(x) φ∗ (x) , (4.25)
em que α (x) é um parâmetro real dependente do ponto. Esta é uma transformação de gauge
local, ainda representada por um membro do grupo U (1). A diferença para o caso global está no
fato de que cada ponto de M4 está ligado a um membro distinto de U (1).
Esta transformação já não deixa invariante a ação (4.14). Note que a densidade lagrangeana
L = ∂µ φ∗ ∂ µ φ − m2 φ∗ φ (4.26)
transforma-se por
L → L0 =∂µ e−iα(x) φ∗ ∂ µ eiα(x) φ − m2 φ∗ φ
= (∂µ − iαµ ) φ∗ (∂ µ + iαµ ) φ − m2 φ∗ φ, (4.27)
em que αµ = ∂µ α. O problema está nas derivada dos campos, que se transformam por
Ao impor a invariância local sobre a teoria, devemos encontrar uma lagrangeana invariante
de gauge local. A maneira mais simples é introduzir uma conexão, denominada campo de gauge
de componentes Aµ , tal que
Dµ ≡ ∂µ + iqAµ (4.28)
pode ser definida como uma derivada covariante. Para que Dµ φ seja covariante, temos
0
Dµ0 φ0 = (∂µ φ) + iqA0µ φ0
=∂µ eiα φ + iqA0µ eiα φ
A covariância é atestada por Dµ φ → eiα Dµ φ, de modo que o campo de gauge deve se transformar
na forma
83
ou
A0µ = Aµ − ∂µ α. (4.30)
em que
δJµ δJµ
+ m2 φ = −Aµ ∗ , + m2 φ∗ = −Aµ
, (4.34)
δφ δφ
em que
δJµ ∗
= iq (∂µ φ∗ − iqAµ φ∗ ) = iq (Dµ φ) , (4.35a)
δφ
δJµ
= −iq (∂µ φ + iqAµ φ) = −iqDµ φ. (4.35b)
δφ∗
Portanto, se uma simetria interna local é imposta ao sistema físico, um novo campo A =
Aµ dxµ deve ser introduzido, e suas componentes se transformam por
Aµ → Aµ − ∂µ α (4.36)
x → Λx =⇒ Aµ → Λµν Aν , (4.37)
portanto A é também um covetor de Lorentz. Veremos mais adiante que essas são precisamente
as características do potencial eletromagnético. Assim, simetria por transformações de gauge
locais do grupo U (1) implicam em interação eletromagnética.
A lagrangeana (4.32) não pode ser completa. É necessário acrescentar ao sistema um termo
para o campo eletromagnético livre, que seja um escalar de Lorentz e, também, invariante de
gauge. Este termo é construído com o tensor
Fµν ≡ ∂µ Aν − ∂ν Aµ , (4.39)
1
L = − Fµν F µν + ∂µ φ∗ ∂ µ φ − m2 φ∗ φ + Aµ Jµ , (4.40)
4
84
que consiste em um temo livre do campo eletromagnético, um termo livre do campo escalar e um
termo de interação. Esta é a lagrangeana da eletrodinâmica escalar.
Se esta lagrangeana é invariante por U (1) local, ela é automaticamente invariante por U (1)
global. Portanto, o primeiro teorema de Noether se aplica, resultando na corrente própria
δL δL
Φµ = φ − φ∗
δ∂µ φ δ∂µ φ∗
= φ (∂ µ φ∗ − iqAµ φ∗ ) − φ∗ (∂ µ φ + iqAµ φ)
∗
= φ (Dµ φ) − φ∗ Dµ φ, (4.41)
em que V = A0 vem a ser o potencial escalar. Neste caso, Q é a carga elétrica do campo escalar.
Ambos os campos são necessários para a construção de uma dinâmica que seja invariante de Lo-
rentz. A relação entre as componentes de vetores e covetores é dada pela métrica de Minkowski:
Aµ = ηµν Aν , Aµ = η µν Aν . (4.47)
A lagrangeana desta teoria deve ser invariante por Lorentz, então a primeira tentativa de
construção de uma lagrangeana pode ser com a densidade
1
∂µ Aν ∂ µ Aν − m2 Aµ Aµ ,
L=−
2
que descreve um campo vetorial de massa m. Esta densidade lagrangeana possui dois proble-
85
mas. Primeiro, sua densidade de energia-momento não é positiva-definida, dando origem a uma
densidade de energia com setor negativo. Para corrigir este problema, o campo deve obedecer
à condição ∂µ Aµ = 0, denominada condição de Lorenz, ou às condições A0 = 0 e ∂i Ai = 0, com
i = 1, 2, 3, conhecidas por condições do gauge de radiação. Esses vínculos podem ser integrados à
densidade lagrangeana de formas diferentes, mas mostra-se que a lagrangeana
1 m2
L = − (∂µ Aν − ∂ν Aµ ) (∂ µ Aν − ∂ ν Aµ ) − Aµ Aµ
4 2
resolve este problema. É usual introduzir o tensor F = Fµν dxµ ∧ dxν , com componentes
Fµν ≡ ∂µ Aν − ∂ν Aµ , (4.48)
de modo que
1 m2
L = − Fµν F µν − Aµ Aµ . (4.49)
4 2
A densidade (4.49) é denominada lagrangeana de Proca. As equações de campo são dadas por
δL δL
µ
− ∂ν = 0,
δA δ∂ν Aµ
de modo que
m2 δ m2 δAγ γ δAγ
δL γ
= − (A γ A ) = − A + A γ
δAµ 2 δAµ 2 δAµ δAµ
m2 m2
ηγµ Aγ + Aγ δµγ = −
= − (Aµ + Aµ )
2 2
2
= −m Aµ ,
e
∂F αβ
δL δL δL
∂ν = ∂ν = ∂ν
δ∂ν Aµ δ∂ ν Aµ δF αβ ∂ (∂ ν Aµ )
" #
δL ∂ ∂ α Aβ − ∂ β Aα
ν ν δL α β α β
= ∂ =∂ δ δ − δµ δν .
δF αβ ∂ (∂ ν Aµ ) δF αβ ν µ
Nessas ocasiões, em que um objeto antissimétrico é derivado com relação a suas componentes, é
comum utilizar a delta antissimetrizada
α β
δ[µ δν] ≡ δµα δνβ − δνα δµβ . (4.50)
Assim,
δL δL α β ν δL
∂ν = ∂ν δ [ν µ] = 2∂
δ
δ∂ν Aµ δF αβ δF νµ
δ 1 1 δ
2∂ ν νµ − Fαβ F αβ = ∂ ν µν Fαβ F αβ
=
δF 4 2 δF
αβ
1 ν δFαβ αβ δF 1
= ∂ ν ηαµ ηβν F αβ + Fαβ δµα δνβ
= ∂ µν
F + F αβ µν
2 δF δF 2
1 ν 1 ν
= ∂ (Fµν + Fµν ) = ∂ (Fµν + Fµν ) = ∂ ν Fµν .
2 2
Faremos mais uso do resultado
δL
= Fµν . (4.51)
δ∂ ν Aµ
86
Então, temos as equações
∂µ F µν + m2 Aν = 0. (4.52)
∂ν ∂µ F µν + m2 ∂ν Aν = 0 =⇒ ∂ν Aν = 0,
pois Fµν é antissimétrico, anulando o primeiro termo. Portanto, o campo de Proca obedece à
condição de Lorenz identicamente.
A densidade de energia-momento de (4.49) torna-se
δL
Hµν ≡ ∂ν Aλ − ηµν L = −Fµλ ∂ν Aλ − ηµν L,
δ∂ µ Aλ
ou seja,
1 m2
Hµν = −Fµλ ∂ν Aλ + ηµν Fαβ F αβ + ηµν Aγ Aγ .
4 2
1 m2
Tµν = −Fµλ Fνλ + ηµν Fαβ F αβ + ηµν Aγ Aγ − m 2 Aµ Aν , (4.53)
4 2
que difere de Hµν por uma divergência total:
fato que não altera as equações de campo. A equação acima também implica em ∂ µ Tµν = 0. Este
tensor dá origem à hamiltoniana
ˆ
H = d3 xT00
3
ˆ
R
m2
1
= d3 x −F0λ F0λ + Fαβ F αβ + Aγ Aγ − m2 A0 A0
R3 4 2
ˆ
m2
1 1
= d3 x − F0i F 0i + Fij F ij + Aγ Aγ + m2 A20 , (4.54)
R3 2 4 2
e aos momentos lineares
ˆ ˆ
d3 xT0i = d3 x F 0j Fij − m2 A0 Ai ,
Pi = (4.55)
R3 R3
87
O momento angular orbital, por outro lado, é dado por
mµαβ = Fµλ x[α Fβ]λ − m2 Aµ A[α xβ] − F µ[α Aβ] − ηµ[α xβ] L, (4.58)
também conservada.
A = Aµ dxµ , (4.60)
Aµ → Aµ − ∂ µ Λ (4.61)
exp (iα) ,
1
L = − Fµν F µν + Aµ J µ + Lφ , Fµν = ∂µ Aν − ∂ν Aµ . (4.62)
4
em que Lφ é a lagrangeana livre do campo escalar, e J µ a corrente de interação. Todo campo
carregado eletricamente deve interagir com o campo Aµ de maneira similar, como veremos mais
adiante. Então, ao estudar exclusivamente o campo eletromagnético e sua interação, podemos
trabalhar com
1
LA = − Fµν F µν + Aµ J µ . (4.63)
4
Nosso sistema de unidades, por conveniência, é o natural, em que ~ = c = 1.
88
Neste caso,
δLA
= J µ,
δAµ
δL
∂ν = ∂ν F µν ,
δ∂ν Aµ
∂ν F µν = J µ . (4.64)
Os resultados encontrados para o campo de Proca podem ser utilizados aqui, com m → 0.
Neste caso, o tensor densidade de energia-momento tem componentes
1
Hµν = −Fµλ ∂ν Aλ + ηµν Fαβ F αβ , (4.65)
4
com a versão simétrica
1
Tµν = −Fµλ Fνλ + ηµν Fαβ F αβ . (4.66)
4
Temos também
ˆ
1 1
H= d3 x − F0i F 0i + Fij F ij , (4.67)
R3 2 4
∂µ ∂ν F µν = ∂µ J µ = 0, (4.70)
J µ = ρ, j i ,
(4.71)
∂ρ
∂µ J µ = 0 =⇒ − ∇ · j = 0, (4.72)
∂t
que é a equação de continuidade que envolve a conservação local de cargas elétricas.
89
Vamos analisar a primeira equação:
ρ = ∂i F 0i = ∂i ∂ 0 Ai − ∂ i A0 = ∂i Ȧi − ∂ i A0 ,
∂A
E = −∇V − , (4.75)
∂t
então, a equação (4.74) torna-se
∇ · E = ρ, (4.76)
que é a lei de Gauss. Portanto, as componentes do campo elétrico são dadas por
j i = ∂0 F i0 + ∂j F ij = ∂0 E i + ∂j F ij ,
ou seja,
∂j F ij = −∂0 E i + j i . (4.78)
Vamos definir o campo magnético B tal que suas componentes sejam dadas por
1
Bi = ijk F jk =⇒ Fij = ijk B k . (4.79)
2
Note que
1 ijk 1
Bi = Fjk = ijk (∂j Ak − ∂k Aj ) = ijk ∂j Ak ,
2 2
que são as componentes do rotacional do potencial vetor, ou seja,
B = ∇ × A. (4.80)
ijk ∂j Bk = −∂0 E i + j i ,
ou,
∂E
∇×B= + j, (4.81)
∂t
90
que vem a ser a lei de Ampère-Maxwell.
Com as definições de E e B, temos
0 Ex /c Ey /c Ez /c
−Ex /c 0 −Bz Bx
Fµν =
−Ey /c Bz
. (4.82)
0 −By
−Ez /c −Bz By 0
3 3
P = d x (E × B) = d xp, (4.84)
R3 R3
ou, equivalentemente,
ˆ
J= d3 x (x × p + E × A) . (4.86)
R3
Também podemos escrever uma forma explícita para o tensor energia-momento simétrico do
campo na dinâmica instantânea. Temos
E 2 + B 2 /2
px py pz
px −σxx −σxy −σxz
Tµν = . (4.87)
py −σyx −σyy −σyz
pz −σzx −σzy −σzz
91
Em resumo, as equações de campo
∂µ F νµ = J µ (4.89)
∂E
∇ · E = ρ, ∇×B− = j, (4.90)
∂t
no sistema de unidades naturais.
Note que a combinação de derivadas baixo se anula identicamente,
Essas são chamadas identidades de Bianchi do campo eletromagnético. Elas podem ser escritas
com o uso do campo dual
na forma
∂µ F̃ µν = 0. (4.93)
1 1
F̃0i = 0imn F mn = imn F mn = Bi . (4.94)
2 2
Por outro lado,
1
F̃ij = ijαβ F αβ = ijm F 0m = ijm E m , (4.95)
2
portanto temos
0 Bx By Bz
−Bx 0 −Ez Ey
F̃µν =
−By
. (4.96)
Ez 0 −Ex
−Bz −Ey Ex 0
de modo que
∂i F̃ i0 = 0 =⇒ ∇·B=0 (4.97)
e
∂B
∂0 F̃ 0i + ∂i F̃ ji = 0 =⇒ ∇×E+ = 0, (4.98)
∂t
sendo a última, a lei de Faraday.
Portanto, o sistema de equações
∂µ F µν = −J ν , ∂µ F̃ µν = 0 (4.99)
92
é equivalente às equações de Maxwell no vácuo
∇·E=ρ ∇ · B = 0,
∂B ∂E
∇×E+ =0 ∇×B− = j. (4.100)
∂t ∂t
De fato, este campo representa o campo eletromagnético.
A transformação
Aµ → Aµ − ∂ µ Λ (4.101)
de fato deixa invariante as equações de Maxwell, supondo-se que j não dependa das componentes
Aµ . Isto ocorre porque, tendo quatro componentes, o campo A contém apenas dois graus de
liberdade independentes. Vamos supor as equações de Gauss e Ampère com fontes nulas,
∂µ F µν = 0, (4.102)
0 = ∂µ F µν = ∂µ (∂ µ Aν − ∂ ν Aµ ) = ∂µ ∂ µ Aν − ∂µ ∂ ν Aµ .
Então,
Aν − ∂ ν ∂µ Aµ = 0. (4.103)
A0 − ∂0 ∂µ Aµ = − ∂02 A0 + ∂0 ∇ · A = 0.
Note que
assim,
∇2 A0 − ∂0 ∇ · A = 0. (4.104)
93
Substituindo-se (4.105),
−1
A − ∇∂0 ∇2 ∂0 ∇ · A + ∇ (∇ · A) = 0.
−1
Inserindo-se a identidade ∇2 ∇2 = 1, temos
−1 −1
0 = A − ∇∂0 ∇2 ∂0 ∇ · A + ∇2 ∇ ∇2 (∇ · A)
−1
= A + −∂02 + ∇2 ∇ ∇2
(∇ · A)
2 −1
= A − ∇ ∇ (∇ · A)
−1
h i
= A − ∇ ∇2
(∇ · A) .
assim,
[A − ∇Λ] = 0.
∂ 2 Ā
Ā = − ∇2 Ā = 0 (4.108)
∂t2
é obedecida. Note que
h −1 i
∇ · Ā = ∇ · A − ∇ ∇2 (∇ · A)
−1
= ∇ · A − ∇ 2 ∇2 (∇ · A) = ∇ · A − ∇ · A = 0, (4.109)
portanto,
Ā0 = A0 − ∂0 Λ = 0. (4.110)
Neste caso, existe uma função Λ (x) tal que toda configuração de campo pode ser levada a
obedecer as condições
A0 = 0, ∇ · A = 0. (4.111)
Essas condições são as condições do gauge de radiação. Neste gauge, o potencial vetor
eletromagnético obedece à equação de onda
A = 0 (4.112)
na ausência de fontes.
A condição ∇ · A = 0 é denominada condição de Coulomb. Para ver o que esta condição
significa, vamos decompor o campo A (x) em uma transformada de Fourier com relação a um
vetor k:
ˆ
A (x) = d3 kA (k) eik·A(x) .
94
Temos
ˆ
∇x · A (x) = ∇x · d3 kA (k) eik·x
ˆ ˆ
= d3 k (A · ∇x ) eik·x = d3 kA · kieik·x .
Portanto,
ou seja, a componente de A longitudinal ao vetor k é nula. Dado um vetor k, todo campo vetorial
pode ser decomposto em componentes longitudinal e transversal,
A = Ak + A⊥ , (4.114)
de modo que
k × Ak = 0, k · A⊥ = 0, (4.115)
ou seja,
k ik
Ak = (k · A) , A⊥ = × A. (4.116)
k2 |k|
ik
∇·A=0 =⇒ A = A⊥ = × A,
|k|
∇·A=0 =⇒ A → A⊥ = ∇ × A. (4.117)
⊥
−1 ⊥ ki kj
βij = δij − ∇2 ∂i ∂j =⇒ βij (k) = δij − , (4.118)
k2
de modo que
k
β⊥A = A − (k · A) = A − Ak = A⊥ . (4.119)
k2
95
96
Capítulo 5
Campos Espinoriais
u = uµ ∂µ = u0 ∂0 + u1 ∂1 + u2 ∂2 + u3 ∂3 , (5.1)
membro do espaço tangente a M4 , que denominados pelo símbolo E 1 . A base ∂µ é apenas uma
das possíveis escolhas de base para o espaço-tempo de Minkowski, que resulta no produto escalar
u · v = uµ vµ = ηµν uµ v ν , (5.2)
em que
1 0 0 0
0 −1 0 0
ηµν = (5.3)
0 0 −1 0
0 0 0 −1
u = uµ γµ = u0 γ0 + u1 γ1 + u2 γ2 + u3 γ3 . (5.4)
Considere um produto (u, v) ≡ uv de dois objetos do tipo (5.4), com as propriedades de bilineari-
dade
ou seja,
97
Comparando-se (5.6) com (5.7), nota-se que
γ0 γ0 = 1, γi γi = −1, (5.8)
γµ γν + γν γµ = 0, µ 6= ν. (5.9)
A álgebra vetorial ordinária, denominada álgebra de Gibbs, é obtida com γµ γν = ηµν , supondo-
se sempre que o produto de dois elementos da base é um escalar. Neste caso, o produto é também
simétrico. Mas no caso mais geral, consideramos γµ objetos não comutativos de natureza ainda
indeterminada. Assim,
Definição 19. Se {γµ } ⊂ E 1 é uma base completa que obedece às condições gerais de
anti-comutação
Vemos claramente que (5.10) representa apropriadamente as condições (5.8) e (5.9). Aprovei-
tamos para introduzir o anticomutador {A, B} = AB + BA, e o comutador [A, B] = AB − BA. O
produto de Clifford (ou produto geométrico) entre dois vetores u e v é introduzido por
1 µ ν 1
uv = (uµ γµ ) (v ν γν ) = uµ v ν γµ γν = u v {γµ , γν } + uµ v ν [γµ , γν ]
2 2
1
= ηµν uµ v ν + uµ v ν (γµ γν − γµ γν )
2
≡ uµ vµ + uµ v ν γµ ∧ γν , (5.11)
em que
Definição 20. Seja {γµ } ⊂ C`1,3 uma base completa da álgebra de Clifford C`1,3 . O
produto
1 1
γµ ∧ γν ≡ [γµ , γν ] = (γµ γν − γν γµ ) (5.12)
2 2
é denominado produto exterior entre dois elementos da base.
Então o produto de Clifford consiste em duas partes: a primeira é o produto escalar ordinário
entre os vetores u e v. A segunda parte,
u ∧ v ≡ uµ v ν γµ ∧ γν , (5.13)
envolve o produto exterior entre u e v. Quando u e v são vetores de Lorentz, vemos claramente
que este produto é antissimétrico. Note que u ∧ v não pode ser um escalar, nem um vetor, devido
às relações (5.10). Ele forma um novo objeto, denominado forma diferencial de segunda
ordem, ou 2-forma. Portanto,
uv = u · v + u ∧ v, (5.14)
98
Definição 21. Seja {γµ } ⊂ C`1,3 uma base completa. Um objeto do tipo
α = αµν γµ γν (5.15)
1
= trαu + uµ ανλ {γµ , γν } ∧ γλ + uµ ανλ γµ ∧ γν ∧ γλ
2
= trαuλ + uν ανλ γλ + uµ ανγ γµ ∧ γν ∧ γγ .
(5.16)
O primeiro termo é um vetor. O segundo é um objeto cuja base envolve um produto exterior
triplo. Este objeto é denominado 3-forma diferencial. Assim, o produto de Clifford uα é a soma
de um vetor e uma 3-forma:
Definição 22. Seja {γµ } ⊂ C`1,3 uma base completa. Um objeto do tipo
T = T µνλ γµ γν γλ (5.17)
uT = uα T µνλ γα γµ γν γλ , (5.18)
de modo que
que é a soma de um escalar, uma 2-forma e um objeto ainda desconhecido, que será denominado
4-forma diferencial.
Definição 23. Seja {γµ } ⊂ C`1,3 uma base completa. Um objeto do tipo
Γ = Γαµνλ γα γµ γν γλ (5.20)
Vamos analisar as bases. Vetores, ou 1-formas diferenciais em nossa notação, são expandidos
com a base da álgebra de Clifford, que consiste no conjunto de quatro objetos independentes
{γ0 , γ1 , γ2 , γ3 } .
99
As 2-formas, por outro lado, possuem seis geradores independentes,
{γ0 ∧ γ1 , γ0 ∧ γ2 , γ0 ∧ γ3 , γ1 ∧ γ2 , γ1 ∧ γ3 , γ2 ∧ γ3 } .
{γ0 ∧ γ1 ∧ γ2 , γ0 ∧ γ2 ∧ γ3 , γ0 ∧ γ1 ∧ γ3 , γ1 ∧ γ2 ∧ γ3 } ,
e por fim, o único gerador de uma 4-forma é o elemento de base {γ0 ∧ γ1 ∧ γ2 ∧ γ3 }. Isto ocorre
pois qualquer índice repetido anula a base das formas diferenciais. Por esta razão, o produto
de um vetor e um 4-vetor não resulta em nenhum objeto novo: 4-formas são o máximo que
conseguiremos.
Neste caso, a soma direta E ≡ E 0 ⊕ E 1 ⊕ E 2 ⊕ E 3 ⊕ E 4 forma um espaço vetorial E sob o produto
de Clifford, cujos elementos são multivetores
u = a + u + α + T + Γ. (5.21)
O espaço multivetorial é fechado pelo produto de Clifford, ou seja, para dois multivetores u ∈ E
e v ∈ E, uv ∈ E. O espaço multivetorial E em conjunto com o produto geométrico é o que
denominamos álgebra de Clifford relativística. A seguir, vamos definir alguma operações que
dependem exclusivamente desta álgebra.
Note que
γ0γ0γ0 = γ0
γ 0 γ i γ 0 = −γ 0 γ 0 γ i = −γ i ,
ou seja,
= 2η µ0 γ 0 − γ µ
= 2δ0µ γ 0 − δ0µ γ 0 − δiµ γ i
= δ0µ γ 0 − δiµ γ i .
100
Definição 25. (Reversão temporal)
Seja {γ µ } ⊂ C`1,3 uma base completa. Um operador T , tal que
em que
γ5 ≡ iγ0 γ1 γ2 γ3 . (5.25)
?u = −iγ5 u
= uµ γ0 γ1 γ2 γ3 γµ
= u0 γ0 γ1 γ2 γ3 γ0 + u1 γ0 γ1 γ2 γ3 γ1 + u2 γ0 γ1 γ2 γ3 γ2 + u3 γ0 γ1 γ2 γ3 γ3
= −u0 γ1 γ2 γ3 − u1 γ0 γ2 γ3 + u2 γ0 γ1 γ3 − u3 γ0 γ1 γ2 .
?α = −iγ5 α
= γ0 γ1 γ2 γ3 αµν γµ ∧ γν
= α[01] γ2 γ3 + α[20] γ1 γ3 + α[03] γ1 γ2
+α[21] γ0 γ3 + α[13] γ0 γ2 + α[32] γ0 γ1 .
?T = −iγ5 T
= −iγ5 T µνγ γµ ∧ γν ∧ γγ
= T [012] γ3 + T [013] γ2 + T [023] γ1 + T [123] γ0 .
101
5.2 Rotações: a representação espinorial das transforma-
ções de Lorentz
Vamos trabalhar, agora, com a álgebra de Clifford gerada pelos objetos
{γ µ , γ ν } = 2η µν . (5.28)
Não há um conjunto de escalares ou vetores de Lorentz que satisfaçam essas condições, então
devemos pensar em objetos matemáticos mais gerais, como matrizes complexas. De fato, uma
inspeção em (5.28) também exclui matrizes quadradas de dimensão 2 ou 3. As matrizes de
ordem mais baixa que podem representar uma álgebra de Clifford em quatro dimensões são de
dimensão 4.
Uma possível representação é dada pelas matrizes de Dirac
σi
02×2 12×2 02×2
γ0 = , γi = , (5.29)
12×2 02×2 −σ i 02×2
As matrizes de Pauli, por outro lado, obedecem a uma álgebra de Clifford euclidiana em três
dimensões σ i , σ j = 2δ ij . Toda possível representação da álgebra de Clifford quadridimensional
em termos de matrizes 4 × 4 são equivalentes por transformações inversíveis, ou seja
γ̄ µ = V γ µ V −1 =⇒ {γ̄ µ , γ̄ ν } = 2η µν .
i µ ν i
S µν ≡ [γ , γ ] = (γ µ γ ν − γ ν γ µ ) (5.31)
4 4
são geradores da álgebra de Lorentz quadridimensional.
σi
i 0 i i 0
S 0i = γ ,γ = − , (5.33)
4 2 0 −σ i
102
que são geradores de boosts, enquanto
i i j 1 ijk σk 0 1 ijk
S ij = γ ,γ = = Σk , (5.34)
4 2 0 σk 2
[Σi , Σj ] = ijk Σk ,
103
A forma finita de (5.40) é dada por
Uma consequência importante desta construção segue agora. Vamos tomar apenas uma ro-
tação genérica em três dimensões
i ij
S (R) = exp − ωij S . (5.42)
2
Uma rotação espacial em um vetor de Lorentz deve ser ortogonal, o que implica que sua re-
presentação em termos de matrizes complexas deve ser unitária. Se S (R) é unitário, ou seja,
S † (R) S (R) = 1,
i ij i
1 = S † (R) S (R) = 1 + ωij S † 1 − ωmn S mn
2 2
i ij
≈ 1 − ωij S ij − S †
,
2
ou seja,
ij
S ij = S † , (5.43)
e os geradores devem ser auto adjuntos (hermitianos). Neste caso, (5.43) implica em
i i j i † h † † i
γ , γ = − γi, γj γi, γj = γi , γj
=⇒ ,
4 4
ou seja,
† −1
γi γi = ±1, (5.44)
Se quisermos que S (K) seja unitário, temos igualmente o resultado de que S 0i devem ser her-
miteanos, o que resulta em
i 0 i i † 0 i h 0 † † i
γ , γ = − γ0, γi =⇒ γ ,γ = γ , γi .
4 4
Se γ i são anti-hermitianos, γ 0 também deve ser anti-hermitiano. Por outro lado, uma possível re-
presentação hermitiana das matrizes γ i implicaria em que γ 0 também precisaria ser hermitiana.
Contudo, γ 0 é claramente hermitiana na representação chiral. De fato, não há representação das
matrizes de Dirac na qual γ 0 e γ i sejam hermitianas ou anti-hermitianas em conjunto. A repre-
sentação espinorial de boosts de Lorentz não pode ser unitária.
104
Observação 6. O fato da não unitaridade dos boosts na representação espinorial é um
problema fundamental para a formulação da mecânica quântica relativística. Nesta
teoria, espinores de Dirac são interpretados como funções de onda, por exemplo, para
o elétron relativístico, o que significa que essas funções definem densidades de proba-
bilidade de transição entre estados quânticos do elétron. Uma transformação sobre as
funções de onda preserva a probabilidade apenas se esta for representada por um ope-
rador unitário ou anti-unitário, o que implica que os geradores devem ser hermiteanos
ou anti-hermiteanos. Nossa construção não pode ser uma teoria deste tipo. Se boosts
são necessariamente não unitários, uma mudança de referencial inercial resultaria em
mudança na probabilidade de transição, ou seja, o espectro do átomo de hidrogênio re-
sultaria ser distinto para dois observadores com velocidades relativas distintas. Isto
é fisicamente inaceitável, portanto um espinor de Dirac não pode ser uma função de
onda. A mecânica quântica relativística é uma teoria fisicamente incoerente
com o princípio da relatividade e, portanto, não tem validade física por princípio.
i
K = ± σ. (5.48)
2
As matrizes S± (K) são bidimensionais.
Sobre as rotações, temos
e−iθ·σ/2
i i 1 0 0
S (R) = exp − ωij S ij = exp − θk σk = , (5.49)
2 2 0 1 0 e−iθ·σ/2
em que
1 kij
θk ≡ ωij .
2
Então, (5.49) é uma transformação duplicada, com a forma 2 × 2
i
S (J) = exp − θ · σ = exp [−iθ · J ] , (5.50)
2
105
em que
σ
J= . (5.51)
2
A relação (5.48) indica que J = ±iK, cada escolha de sinal implica em uma operação de boost
distinta. Assim, vamos definir dois geradores
1
W± = (J ± iK) , (5.54)
2
que fecham a álgebra
h i h i
W±i , W±j = iij k W±k , W±i , W∓j = 0. (5.55)
Portanto, W±i são geradores de duas rotações independentes no plano complexo, com seis parâ-
metros independentes. A equação J = ±iK implica em W + = 0 ou W − = 0, o que define dois
estados independentes:
(j, 0) → J = iK =⇒ W − = 0,
(0, j) → J = −iK =⇒ W + = 0.
O número j é o valor da representação de spin. No caso de transformações em que 5.48 e 5.51 são
os geradores, então j = 1/2. Assim, temos duas rotações inequivalentes. Não há transformação
inversível tal que W + ↔ W − .
1 i
J= σ, K = − σ, W − = 0. (5.57)
2 2
106
Assim,
ψR −→ exp [iω · W + ] ψR
= exp [iω · (J + iK)] ψR = exp [i (ω · J + iω · K)] ψR
h σi
= exp i (θ − iφ) · ψR . (5.58)
2
1 i
J= σ, K= σ, W + = 0, (5.59)
2 2
que resulta em
h σi
ψL −→ exp i (θ + iφ) · ψL . (5.60)
2
Ambas as representações são inequivalentes por transformações inversíveis.
Contudo, espinores de mão direita e esquerda estão relacionados por uma transformação de
paridade. A paridade é uma transformação discreta no espaço-tempo, de modo que os eixos são
invertidos, ou seja,
As velocidades, inclusive as relativas entre dois referenciais inerciais, trocam de sinal. Por-
tanto, uma operação de paridade é equivalente a uma transformação de Lorentz inversa, em
que φ → −φ. Portanto, os geradores K também trocam de sinal, ou seja, K → −K. Por outro
lado, os geradores J permanecem invariantes (uma rotação no sentido horário permanece no
sentido horário após uma transformação de paridade), o que é coerente com o que conhecemos
do momento angular. Assim,
W ± → W ∓,
o que implica em
ψR ↔ ψL . (5.61)
107
Exercício 4. Mostre que
(
k 1 se k é par,
(σ · n) = (5.63)
σ·n se k é ímpar.
Por fim, suponha que o observador original está em repouso, e o segundo observador
tem momento p com relação ao primeiro. Neste caso, E 2 = m2 + p2 implica em E = γm
(c = 1). Mostre que
E+m+σ·p
ψR (p) = p ψR (0) . (5.66)
2m (E + m)
E+m−σ·p
ψL (p) = p ψL (0) . (5.67)
2m (E + m)
E+σ·p
ψR (u) = ψL (u) , (5.68a)
m
e
E−σ·p
ψL (u) = ψR (u) . (5.68b)
m
Essas equações podem ser colocadas na forma
−mψR + (p0 + σ · p) ψL = 0
(p0 − σ · p) ψR − mψL = 0,
ou em forma matricial
−m p0 + σ · p ψR
= 0. (5.69)
p0 − σ · p −m ψL
Esta equação pode ser escrita em termos das matrizes γ µ (5.29) como
γ 0 p0 + γ i pi − m1 ψ = 0,
ou
(γ µ pµ − m) ψ = 0, (5.70)
108
em que
ψR
ψ= . (5.71)
ψL
A equação (5.70) é a equação de Dirac. Portanto, a equação de Dirac é uma relação algébrica
entre os espinores chirais ψR e ψL .
Escrita na forma (5.70), a equação de Dirac supõe que ψ = ψ (p) é um campo que depende do
momento do campo com relação a determinado referencial inercial. Assim, a álgebra de Clifford
é realizada em um espaço de momentos, análogo à representação dos momentos em mecânica
quântica. Por outro lado, se supomos ψ = ψ (x) um campo com valores no espaço-tempo, os
momentos são representados por
pµ = i∂µ . (5.72)
de modo que
ˆ ˆ
4
∂λ ψ (x) = µ
d pψ (p) ∂λ exp (−ipµ x ) = d4 p (−ipλ ) ψ (p) exp (−ipµ xµ ) ,
ou
ψR
γ µ pµ = 0. (5.76)
ψL
σ µ = 1, σ i e σ̄ µ = 1, −σ i .
(5.77)
σ̄ µ pµ ψR = 0 e σ µ pµ ψL = 0. (5.78)
109
Neste caso, espinores de mão direita e esquerda não massivos são denominados espinores de
Weyl, enquanto (5.78) são as equações de Weyl para estes espinores.
Construir uma ação que resulte na equação (5.73) implica na construção de invariantes de Lo-
rentz com as matrizes γ µ . A primeira tarefa é construir um escalar, cuja primeira tentativa pode
ser simplesmente o objeto
ψ † (x) ψ (x) ,
T
em que ψ † é o operador auto-adjunto de ψ, ou seja, ψ † = (ψ ∗ ) . Para que este objeto seja um
escalar, é necessário que
ψ † ψ (x) → ψ † ψ Λ−1 x
Assim,
O fato de não haver representação 4 × 4 unitária do grupo de Lorentz impede, assim, que
ψ † ψ seja um escalar de Lorentz. Note, contudo, que podemos usar a operação de paridade para
†
encontrar uma função adequada, já que γ 0 γ 0 = 1 implica em γ 0 = γ 0 e γ i γ i = −1 implica em
†
γ i = − γ i , como já vimos. Neste caso,
†
P −1 γ µ P = (γ µ ) , P = γ0. (5.79)
† i † ih µ † †
i
(S µν ) = − [γ µ , γ ν ] = (γ ) , (γ ν )
4 4
i 0 µ 0 0 ν 0 i
= γ γ γ , γ γ γ = γ 0 [γ µ , γ ν ] γ 0
4 4
= γ 0 S µν γ 0 , (5.80)
que implica em
†
i i †
S † (Λ) = exp − ωµν S µν = exp ωµν (S µν )
2 2
i i
= exp ωµν γ 0 S µν γ 0 = γ 0 exp ωµν S µν γ 0
2 2
= γ 0 S −1 (Λ) γ 0 , S −1 S = 1. (5.81)
Assim, definimos
110
Definição 29. (Espinor de Dirac adjunto)
O objeto
ψ̄ψ = ψ † γ 0 ψ = ψ † γ 0 ψ →ψ † S † γ 0 Sψ = ψ † γ 0 S −1 γ 0 γ 0 Sψ
= ψ † γ 0 S −1 Sψ = ψ † γ 0 ψ = ψ̄ψ,
ou explicitando os argumentos,
Afirmação 1. O objeto
é um vetor de Lorentz.
Assim,
1 1
ψ̄γ µ γ ν ψ = ψ̄ {γ µ , γ ν } ψ + ψ̄ [γ µ , γ ν ] ψ
2 2
µν µν
= η ψ̄ψ − 2i ψ̄S ψ (5.85)
transforma-se como um tensor de Lorentz do tipo (2, 0), e constitui um bivetor. Toda forma
multilinear pode ser construída a partir de ψ̄ψ, ψ̄γ µ ψ e ψ̄γ µ γ ν ψ, de modo que escalares podem
ser definidos a partir da contração desses multivetores.
111
É fácil demonstrar que o objeto ψ̄ (iγ µ ∂µ ) ψ é um invariante de Lorentz:
ν −1
ψ̄ (x) iγ µ ∂µx ψ (x) →ψ̄ Λ−1 x S −1 (Λ) iγ µ Λ† µ ∂νΛ x S (Λ) ψ Λ−1 x
ν −1
= ψ̄ Λ−1 x S −1 (Λ) (iγ µ ) S (Λ) Λ† µ ∂νΛ x ψ Λ−1 x
ν −1
= ψ̄ Λ−1 x Λµλ iγ λ Λ† µ ∂νΛ x ψ Λ−1 x
−1
= ψ̄ Λ−1 x iγ ν ∂νΛ x ψ Λ−1 x .
(5.87)
Agora, vamos mostrar que a equação de Dirac surge da ação (5.86), juntamente com uma equação
adjunta. Além disso, estamos interessados em calcular o tensor energia-momento do campo ψ
e os invariantes dinâmicos relacionados à simetrias desta ação. Contudo, esta ação pode ser
suplementada por um termo de fronteira, que não modifica as equações de campo, de modo que
usaremos a integral simétrica
ˆ
↔
µ
A≡ dω ψ̄ (x) iγ ∂ µ − m ψ (x) , (5.88)
Ω
em que
↔ 1
ψ̄γ µ ∂ µ ψ = ψ̄γ µ ∂µ ψ − ∂µ ψ̄γ µ ψ .
(5.89)
2
Temos
δ̄ (∂µ ψ) = ∂µ δ̄ψ =⇒ δ̄D = Dδ̄,
112
de modo que
↔ ↔
µ µ
δ̄ ψ̄Dψ = δ̄ ψ̄ (Dψ) + ψ̄D δ̄ψ = δ̄ ψ̄ iγ ∂ µ − m ψ + ψ̄ iγ ∂ µ − m δ̄ψ
↔ ↔
= iδ̄ ψ̄γ µ ∂ µ ψ − mδ̄ ψ̄ψ + iγ µ ψ̄ ∂ µ δ̄ψ − mψ̄ δ̄ψ
i
δ̄ ψ̄γ µ ∂µ ψ − ∂µ δ̄ ψ̄ γ µ ψ + ψ̄γ µ ∂µ δ̄ψ − ∂µ ψ̄γ µ δ̄ψ − m δ̄ ψ̄ ψ − mψ̄ δ̄ψ
=
2
µ
µ
i µ i µ
= δ̄ ψ̄iγ ∂µ ψ − m δ̄ ψ̄ ψ − ∂µ ψ̄iγ δ̄ψ − mψ̄ δ̄ψ + ∂µ ψ̄γ δ̄ψ − ∂µ δ̄ ψ̄γ ψ
2 2
i µ i
= δ̄ ψ̄ (iγ µ ∂µ − m) ψ − ∂µ ψ̄iγ µ + mψ̄ δ̄ψ + ∂µ ψ̄γ δ̄ψ − δ̄ ψ̄γ µ ψ
2 2
Assim,
→ ← i µ i
µ µ µ
δ̄ ψ̄Dψ = δ̄ ψ̄ iγ ∂ µ − m ψ − ψ̄ i ∂ µ γ + m δ̄ψ + ∂µ ψ̄γ δ̄ψ − δ̄ ψ̄γ ψ (5.92)
2 2
Então,
ˆ
→
←
ˆ
δA = dω δ̄ ψ̄ iγ µ ∂ µ − m ψ − ψ̄ i ∂ µ γ µ + m δ̄ψ + div, (5.93)
Ω
em que
ˆ ˆ
i λ i λ λ
div ≡ dω∂λ ψ̄γ δ̄ψ − δ̄ ψ̄γ ψ + ψ̄Dψδx . (5.94)
Ω 2 2
i λ i
πψλ = ψ̄γ , πψ̄λ = − γ λ ψ, (5.97)
2 2
e a densidade de energia-momento
113
Energia-momento
1
ψ̄iγ µ ∂µ ψ − ∂µ ψ̄iγ µ ψ − mψ̄ψ
ψ̄Dψ =
2
1
ψ̄iγ µ ∂µ ψ − mψ̄ψ − ∂µ ψ̄iγ µ ψ − mψ̄ψ
=
2
1 → ←
µ µ
= ψ̄ iγ ∂ µ − m ψ − ψ̄ iγ ∂ µ + m ψ ,
2
que é nulo quando as equações (5.95) são satisfeitas. Assim, a corrente conservada pode ser
escrita simplesmente por
i α β i
T αβ = ψ̄γ ∂ ψ − ∂ β ψ̄γ α ψ. (5.99)
2 2
Note que
→ → → →
µ 0 i 0 i
0 = iγ ∂ µ − m ψ = iγ ∂ 0 + iγ ∂ i − m ψ = iγ ψ̇ + iγ ∂ i − m ψ,
ou seja,
→
0
i
ψ̇ = iγ iγ ∂ i − m ψ. (5.100)
Da mesma forma,
←
˙ 0 + ψ̄ iγ i ←
0 = ψ̄ iγ µ ∂ µ + m = iψ̄γ
←
∂ i + m = iψ̇ † + ψ̄ iγ i ∂ i + m ,
que resulta em
←
† i
ψ̇ = iψ̄ iγ ∂ i + m . (5.101)
Neste caso,
ˆ
↔
3 i
E = d xψ̄ m − iγ ∂ i ψ. (5.102)
ˆ
↔
† ˆ
↔
†
E† = d3 x ψ̄ m − iγ i ∂ i ψ = d3 x ψ † γ 0 m − iγ i ∂ i ψ
ˆ
↔
† ˆ
↔
†
3 † i 0 3 † 0 i
= d xψ m − iγ ∂ i γ ψ = d xψ γ m + iγ ∂i ψ
ˆ
↔
3 i
= d xψ̄ m − iγ ∂ i ψ.
114
Momento angular
Simetria axial (m = 0)
115
116
Capítulo 6
Campos de Gauge
No capítulo 4, vimos que o campo escalar complexo possui uma simetria especial, caracterizada
pelas transformações
L = ∂µ φ∗ ∂ µ φ − m2 φ∗ φ. (6.2)
Esta densidade lagrangeana, contudo, não é mais invariante se a transformação for local, ou
seja, α → α (x). Neste caso, a transformação
implica na transformação
Dµ ≡ ∂µ + iqAµ (6.6)
117
Portanto, a invariância de gauge local de uma teoria escalar implica na necessidade da intro-
dução de um campo interagente, representado por Aµ . Se este campo se transforma como (6.5)
por transformações de gauge do grupo U (1), ele é um campo de conexão de gauge do grupo U (1).
Se, em adição, este campo for um vetor de Lorentz, ou seja,
xµ = Λµν xν =⇒ Aµ = Λµν Aν ,
∗ 1
L = (Dµ φ) Dµ φ − m2 φ∗ φ − Fµν F µν , (6.9)
4
com
Fµν ≡ ∂µ Aν − ∂ν Aµ , (6.10)
Neste caso, a densidade lagrangiana é invariante pelas transformações (6.12) e (6.13), que são
denominadas transformações de gauge globais do grupo U (1), a exemplo do que vimos no caso
do campo escalar.
Contudo, (6.11) não é mais invariante quando a transformação de gauge é local. Supondo
118
α = α (x) um parâmetro real dependente da posição, temos
↔ ↔
ψ̄ iγ µ ∂ µ − m ψ → ψ̄ exp (iα) iγ µ ∂ µ − m [exp (−iα) ψ]
↔
= ψ̄ exp (iα) iγ µ ∂ µ [exp (−iα) ψ] − ψ̄mψ
i
ψ̄ exp (iα) γ µ ∂µ [exp (−iα) ψ]
=
2
i
− ∂µ ψ̄ exp (iα) γ µ [exp (−iα) ψ] − ψ̄mψ
2
i i
= ψ̄ exp (iα) γ µ ∂µ exp (−iα) ψ + ψ̄γ µ ∂µ ψ
2 2
i µ i µ
− ∂µ ψ̄γ ψ − ψ̄∂µ exp (iα) γ exp (−iα) ψ − ψ̄mψ
2 2
1 µ 1
= ψ̄γ ∂µ αψ + ψ̄∂µ αγ µ ψ + ψ̄Dψ,
2 2
assim,
↔ ↔
ψ̄ iγ µ ∂ µ − m ψ → ψ̄ iγ µ ∂ µ − m ψ + ψ̄γ µ (∂µ α) ψ. (6.14)
Mais uma vez, se desejamos uma teoria que seja invariante de gauge local, devemos modificar
a derivada com um termo de conexão de gauge
∂µ → Dµ = ∂µ − ieAµ , (6.15)
Note que
†
↔ i µ→ i µ ←
µ
ψ̄ iγ Dµ − m ψ = ψ̄γ Dµ ψ − ψ̄γ Dµ ψ − ψ̄mψ
2 2
i µ i † µ
= ψ̄γ Dµ ψ − D ψ̄γ ψ − ψ̄mψ (6.17)
2 2 µ
é invariante por transformações de gauge locais se
119
Comparando ambas as expressões, temos
1
Aµ = ∂µ α + A0µ ,
e
ou seja,
1
Aµ → Aµ − ∂µ α. (6.21)
e
O cálculo com o dual leva ao mesmo resultado.
A transformação (6.21) é a transformação de gauge do campo de conexão. Note que ela é a
mesma transformação do campo eletromagnético, a menos de uma redefinição de α para absorver
o parâmetro e.
Se a conexão de gauge Aµ se transforma segundo (6.21), a densidade lagrangiana
↔
µ
L = ψ̄ iγ Dµ − m ψ, (6.22)
com o operador de Dirac definido por (6.16) e a derivada covariante definida por (6.15), é um
invariante de gauge local. Mais uma vez, para obter uma lagrangiana localmente invariante
basta substituir as derivadas ordinárias pelas suas respectivas derivadas covariantes.
Neste caso, temos
↔ i i
L = ψ̄ iγ µ Dµ − m ψ = ψ̄γ µ Dµ ψ − Dµ† ψ̄γ µ ψ − ψ̄mψ
2 2
i µ i i i
= ψ̄γ ∂µ ψ − ∂µ ψ̄γ µ ψ + ψ̄γ µ (−ie) Aµ ψ − (ie) A†µ ψ̄γ µ ψ − ψ̄mψ.
2 2 2 2
Assumindo-se Aµ = A†µ ,
↔ ↔
L = ψ̄ iγ ∂ µ − m ψ + eψ̄γ Aµ ψ = ψ̄ iγ ∂ µ − m ψ + j µ Aµ ,
µ µ µ
em que
j µ ≡ eψ̄γ µ ψ (6.23)
é a corrente fermiônica.
Claramente, Aµ real representa o campo eletromagnético, enquanto ψ é um espinor que re-
presenta um campo fermiônico carregado, como o elétron. Como o campo eletromagnético tem
uma densidade lagrangiana cinética, um sistema fermiônico completo em interação com um
campo eletromagnético é descrito pela densidade
↔ 1
L = ψ̄ iγ ∂ µ − m ψ + j µ Aµ − Fµν F µν .
µ
(6.24)
4
Esta é a lagrangiana da eletrodinâmica quântica, a teoria que descreve a interação entre férmi-
ons através de fótons, que carregam a interação eletromagnética.
Para obter a corrente de Noether conservada pela transformação de gauge, consideramos
δL δL
δψ + δ ψ̄ ,
δ∂µ ψ δ∂µ ψ̄
que consiste no argumento do divergente que ocorre na equação de Lie (??). Neste caso,
120
de modo que δψ = −iαψ, e δ ψ̄ = iαψ̄. Por outro lado,
δL i δL i
= ψ̄γ µ e = − γ µ ψ,
δ∂µ ψ 2 δ∂µ ψ̄ 2
∂µ ψ̄γ µ ψ = 0,
(6.25)
ou seja, a corrente (6.23) é conservada, como esperávamos. A carga conservada, neste caso, é
dada por
ˆ ˆ ˆ
Q=e dσj 0 = e dσ ψ̄γ 0 ψ = e dσψ † ψ, (6.26)
Σ Σ Σ
ψ i → U ij ψ j . (6.29)
ou seja,
† j i
ψi γ 0 → ψ† γ0 U † j
,
o que resulta em
i
ψ̄ i → ψ̄ j U † j
. (6.30)
121
Neste caso,
↔ ↔
† i
ψ̄ iγ ∂ µ − m ψi → ψ̄ U k iγ ∂ µ − m Ui j ψj
i µ k µ
↔
k † i j µ
= ψ̄ U k Ui iγ ∂ µ − m ψj ,
ou seja,
i ↔ ↔ ↔
k † j µ k j µ i µ
ψ̄ U k
Ui iγ ∂ µ − m ψc = ψ̄ δk iγ ∂ µ − m ψj = ψ̄ iγ ∂ µ − m ψi .
Neste caso,
ψ i → U ij ψ j =⇒ L → L, (6.31)
O índice a é o índice da álgebra de Lie das transformações infinitesimais. Para que Uij seja
conexo à identidade, det Uij = 1. Neste caso, transformações do grupo U (N ) conexas à identidade
formam um subgrupo denominado SU (N ): S para "special", que significa determinante 1, e U
para "unitary". Portanto, temos a
Para evitar a sobrecarga de índices, vamos usar uma notação matricial. Assim, a matriz de
componentes Uij é denotada por U , e os espinores ψ i serão parte de uma matriz coluna N × 1,
ψ. Cada componente desta coluna é, em si, uma coluna de quatro componentes, as componentes
espinoriais: ψ é, assim, uma coluna de colunas. A transformação (6.29) é escrita apenas por
ψ → U ψ, ψ̄ → ψ̄U † , (6.32)
122
para um conjunto de coeficientes de estrutura fabc . Cada gerador é representado por uma matriz
N × N hermiteana e de traço nulo. Estes geradores definem a representação fundamental
do grupo SU (N ). O número de geradores da álgebra, ou seja, a dimensão da álgebra é dada por
N 2 − 1, ou seja, a = 1, · · · , N 2 − 1. A forma infinitesimal é dada por
U = 1 + iωa T a , (6.35)
0 1 0 0 −i 0 1 0 0
γ1 = 1 0 0 , γ2 = i 0 0 , γ3 = 0 −1 0 ,
0 0 0 0 0 0 0 0 0
0 0 1 0 0 −i 0 0 0
γ4 = 0 0 0 , γ5 = 0 0 0 , γ6 = 0 0 1 ,
1 0 0 i 0 0 0 1 0
0 0 0 1 0 0
1
γ7 = 0 0 −i , γ8 = √ 0 1 0 .
3
0 i 0 0 0 −2
f123 = −1,
f147 = f165 = f246 = f257 = f345 = f376 = −1/2,
√
3
f458 = f678 = − ,
2
enquanto os demais são permutações destes, ou zero.
123
por transformações de gauge locais. Seja
temos
Seguindo a ideia de que teorias fundamentais da natureza devem ser invariantes por trans-
formações de gauge locais, precisamos encontrar uma densidade lagrangeana localmente inva-
riante. Mais uma vez a introdução de uma lagrangeana invariante pode ser efetuada com a
inclusão de um campo de conexão ao formalismo, e assim uma derivada covariante pode ser
construída. Este procedimento é conhecido como acoplamento mínimo.
A = Aµ dxµ , (6.40)
i
Aµ = U † A0µ U + U † (∂µ U ) , (6.42)
g
ou
i
Aµ → A0µ = U Aµ U † − (∂µ U ) U † . (6.43)
g
Todo campo vetorial que se transforma como (6.43) é denominado conexão de gauge.
124
ou seja, em primeira ordem,
1
δAµ = ∂µ ω a T a − iω a [Aµ , T a ] .
g
1
δAaµ T a = ∂µ ω a T a − iω a Abµ [T b , T a ] .
g
1
δAaµ T a = ∂µ ω a T a + ω a fab c Abµ T c ,
g
1
δAcµ T c = ∂µ ω c T c + ω a fab c Abµ T c .
g
1
δAaµ = ∂µ ω a + gf acb Abµ ω c .
(6.44)
g
As relações (6.44) definem as transformações de gauge das componentes Aaµ dos campos de
gauge. Esta é a forma "favorita" dos físicos, enquanto a forma (6.43) é mais utilizada pelos
matemáticos, que preferem trabalhar em notação independente de representação. A forma (6.44)
explicita, por outro lado, uma segunda derivada covariante:
1 a 1 a
δAaµ = δc ∂µ + gf acb Abµ ω c = (Dµ ) c ω c ,
g g
em que
a
(Dµ ) c ≡ δca ∂µ − gf abc Abµ . (6.45)
125
Observação 8. A derivada (6.45), longe de ser completamente distinta da derivada
(6.41), é na verdade a mesma derivada em outra representação, a representação
adjunta. Na representação adjunta, um elemento do grupo SU (N ) é representado
por matrizes N 2 − 1 × N 2 − 1 , ou seja, os geradores da álgebra são representados
dimensão da álgebra.
Neste caso, a lógica dita que devemos pensar em objetos abstratos que podem ser rea-
lizados em representações do grupo de gauge. Temos a derivada covariante
Dµ = ∂µ − igAµ , (6.46)
Assim, nas componentes da álgebra, a transformação dos campos de gauge é dada por
1 a 1 a
δAaµ = (Dµ ) b ω b = [Dµ ω] , (6.49)
g g
a a
em que usamos a notação mais compacta [Dµ ω] ≡ (Dµ ) b ω b para a derivada covariante na
representação adjunta.
Observação 9. Note que, se o grupo de simetria é U (1), a álgebra de Lie é trivial, com
geradores que são simplesmente o número 1. Neste caso, o campo de gauge é o próprio
campo eletromagnético, visto que todo o procedimento acima é realizado com fabc = 0.
A derivada covariante na representação fundamental torna-se simplesmente Dµ ≡ ∂µ −
igAµ , enquanto na representação adjunta ela é igual à derivada ordinária. Neste caso,
temos δA = (1/g) ∂µ ω, que é a transformação de gauge do campo eletromagnético.
126
6.5 O termo de interação
= ∂µ ψ̄γ µ ψ + ig ψ̄γ µ Aµ ψ.
Podemos verificar que este termo também é invariante. Uma transformação de gauge resulta
em
∂µ ψ̄U † + ψ̄∂µ U † γ µ U ψ + ig ψ̄U † γ µ A0µ U ψ =
= ∂µ ψ̄γ µ ψ + ψ̄∂µ U † γ µ U ψ + ig ψ̄γ µ U † A0µ U ψ =
µ † µ µ i †
= ∂µ ψ̄γ ψ + ψ̄∂µ U γ U ψ + ig ψ̄γ Aµ − U (∂µ U ) ψ =
g
= ∂µ ψ̄γ µ ψ + ig ψ̄γ µ Aµ ψ + ψ̄γ µ ∂µ U † U ψ = ∂µ ψ̄γ µ ψ + ig ψ̄γ µ Aµ ψ.
←†
↔ 1 →
µ µ µ
ψ̄γ D µ ψ ≡ ψ̄γ D µ ψ − ψ̄γ D µ ψ . (6.53)
2
Note que
←†
↔ 1 →
ψ̄iγ µ D µ ψ = i ψ̄γ µ D µ ψ − ψ̄γ µ D µ ψ
2
1 ←
= i ψ̄γ µ (1∂µ − igAµ ) ψ − ψ̄γ µ 1 ∂ µ + igAµ ψ
2
1 ←
= i ψ̄γ µ ∂µ ψ − ψ̄γ µ ∂ µ ψ − 2ig ψ̄γ µ Aµ ψ
2
1 ←
= i ψ̄γ µ ∂µ ψ − ψ̄γ µ ∂ µ ψ + g ψ̄γ µ Aµ ψ,
2
127
O termo g ψ̄γ µ Aµ ψ torna-se
em que
é a corrente fermiônica, fonte dos campos de gauge. Portanto, outra forma para as densidades
lagrangeanas (6.52) e (6.54) vem a ser a lagrangeana
↔
L = ψ̄ iγ µ ∂ µ − m ψ + Aaµ Jaµ (6.56)
Então, a imposição de uma teoria localmente invariante pelo grupo de gauge implica na
existência de um termo de interação do tipo corrente-campo de gauge, assim como vimos no
caso do campo escalar.
Fµν ≡ ∂µ Aν − ∂ν Aµ .
Para o caso SU (N ), os campos Fµν devem ser generalizados para campos que pertencem à ál-
a
gebra de Lie, ou seja, Fµν → F µν = Fµν T a . Contudo, verifica-se facilmente que os campos
resultantes não são invariantes de gauge locais. Então, vamos tentar a generalização
F µν ≡ D µ Aν − D ν Aµ , (6.57)
com a derivada covariante (6.41) Dµ ≡ 1∂µ − igAµ . Neste caso, (6.57) torna-se
F µν = ∂µ Aν − ∂ν Aµ − ig [Aµ , Aν ] . (6.58)
a
Fµν T a = ∂µ Aaν T a − ∂ν Aaµ T a − igAbµ Acν [T b , T c ] .
[Ta , Tb ] = −ifabc Tc ,
chegamos a
a
Fµν T a = ∂µ Aaν T a − ∂ν Aaµ T a − gfbc a Abµ Acν T a .
128
Como os geradores são linearmente independentes, temos
a
Fµν = ∂µ Aaν − ∂ν Aaµ − gf abc Abµ Acν . (6.59)
129
130
Capítulo 7
O Campo Gravitacional
Neste caso, ua são coordenadas do espaço de Minkowski do referencial inercial local, enquanto
xµ são as coordenadas locais do espaço base.
Não conhecemos a geometria do espaço base, mas conhecemos a geometria do espaço local.
Sua métrica é dada por
2 2 2 2
ds2 = du0 − du1 − du2 − du3 = ηab dua dub ,
visto que esta é a métrica invariante por transformações de Lorentz. A relação (7.1) implica em
de modo que
ds2 = ηab dua dub = ηab eaµ ebν dxµ dxν = gµν dxµ dxν ,
ou seja, o isomorfismo (7.1) resulta em uma métrica do espaço base induzida pelo espaço local:
131
ou seja,
ou seja,
e temos
De fato, todo tensor tem sua representação no espaço de base e local, bem como é possível repre-
sentações mistas. Por exemplo,
enquanto
132
Se ψ é um espinor de Dirac, sua ação é dada por
ˆ ↔
I = d4 uψ̄ iγ a ∂ a −m ψ, (7.11)
1
d4 u = du0 du1 du2 du3 = abcd dua dub duc dud
4!
1
= abcd eaµ ebν ecγ edλ dxµ dxν dxγ dxλ ,
4!
em que abcd é a densidade tensorial de Levi-Civita em Qx . Note que, tomando o determinante
da relação (7.3),
g = |det (gµν )| = det ηab eaµ ebν = det eaµ det ebν = E 2 ,
em que E ≡ det eaµ . Por outro lado,
1
d4 x = dx0 dx1 dx2 dx3 = µνγλ dxµ dxν dxγ dxλ ,
4!
de modo que
√
d4 u = abcd µνγλ eaµ ebν ecγ edλ d4 x = Ed4 x = gd4 x, (7.12)
Agora, chegamos ao mesmo problema das teorias anteriores. Como a simetria de Lorentz é
local, os parâmetros αab (x) são dependentes do ponto x ∈ M. Neste caso, a derivada de um
espinor não se transforma covariantemente:
∇a ≡ ∂a + iωa . (7.14)
Então,
= Λab S (u) S −1 (u) [∂b S (u)] ψ + Λab S (u) ∂b + iS −1 (u) ωb0 S (u) ψ
então,
133
ou,
O campo ω se transforma, assim, como uma conexão de gauge. De fato, ωa são componentes de
uma 1-forma no espaço local:
ω = ωa dua ,
Com excessão dos espinores, todo tensor local em Qx tem uma representação na variedade
base M. Neste caso, podemos deduzir como derivadas em M age em tensores definidos em Qx .
Por exemplo, a derivada ∂µ αa , em que α = αa dua é uma 1-forma em Qx , deve ser levada a uma
derivada covariante
b
∂µ αa → ∇µ αa = ∂µ αa − ωµa αb , (7.18)
pelo mesmo procedimento empregado acima. entretanto, esta conexão não assume valores na
álgebra de Lorentz espinorial, mas na álgebra de Lorentz tensorial. Em outras palavras,
∂µ Aa → ∇µ Aa = ∂µ Aa + ωµb
a
Ab . (7.20)
Portanto, a forma da derivada de Lorentz ∇µ depende do objeto em que a derivada atua, ou seja,
de uma representação específica do grupo de Lorentz.
Contudo, também podemos nos perguntar como tensores definidos em M são paralelamente
transportados. Neste caso, a simetria de M não é mais a simetria de Lorentz, mas a simetria
por difeomorfismos. Vamos supor uma transformação em M tal que
134
Um campo vetorial v (x) = v µ (x) ∂µ , que pertence ao espaço tangente a M no ponto x, Tx M, é
definido como um objeto invariante: v 0 (x0 ) = v (x). Assim,
ν
∂ 0µ dx ∂ ∂
v → v 0 = v 0µ 0µ
= v 0µ ν
= vν ν ,
∂x dx ∂x ∂x
ou seja, as componente de v se transformam contravariantemente:
dxµ dx0µ ν
v µ = v 0ν ⇐⇒ v 0µ
= v . (7.24)
dx0ν dxν
Por outro lado, seja α ∈ Tx∗ M uma 1-forma diferencial que pertence ao espaço cotangente
definido em M. Para que este seja um campo físico, ele também deve ser definido como um
invariante pelas transformações (7.23), portanto,
dx0µ ν
α → α0 = αµ0 dx0µ = αµ0 dx ,
dxν
ou seja, as componente de α se transformam covariantemente:
dx0µ dxν
αµ = ν
αν ⇐⇒ αµ0 = αν 0µ . (7.25)
dx dx
(rs)
Seja T ∈ Tx M um tensor do tipo (r, s) definido em M. Para que T seja invariante, é
necessário que suas componentes se transformem segundo
r
r
z }| { z 0α }|0β { σ
dx dxτ
0 αβ · · · dx dx ρ···
T µν · · · = dxρ
··· 0µ dx0ν
· · · Tστ ··· . (7.26)
| {z } dx dx
s | {z }
s
No entanto, ações para campos em M não dependem apenas de campos tensoriais, mas tam-
bém de suas derivadas, e derivadas ordinárias das componentes tensoriais não se transformam
covariantemente. Vemos, por exemplo, que
0ν
dxα dxα dx0ν dxα dx0ν
ν 0 0ν dx β β
∂α v β ,
∂µ v → ∂µ v = 0µ ∂α β
v = 0µ
∂α β
v + 0µ β
dx dx dx dx dx dx
de modo que o primeiro termo à esquerda dessa transformação, que depende da derivada da
matriz Jacobiana de (7.23), atrapalha a covariância das derivadas de um vetor v. O mesmo
ocorre com as componentes de formas diferenciais e tensores de ordem superior. Esse problema
se reflete na quebra de invariância de derivadas totais de objetos geométricos, que deveriam ser
invariantes por difeomorfismos para serem considerados quantidades físicas.
135
136
Referências Bibliográficas
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