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20a aula

24 de Novembro de 2022
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Teorema Fundamental do Cálculo: Sejam f : [a, b] → R uma


função integrável em [a, b] e G : [a, b] → R dada por
Z x
G (x) = f.
a

(1◦ ) Se existe função H : [a, b] → R contı́nua em [a, b],


derivável em ]a, b [ e tal que H 0 = f , então
Z b
f = H(b) − H(a).
a

(H diz-se uma primitiva de f em [a, b].)


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(2◦ ) Se f é contı́nua em [a, b], então G é derivável em [a, b] e

G 0 (x) = f (x) se a < x < b

(G 0 )+ (a) = f (a)

(G 0 )− (b) = f (b).
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Demonstração do Teorema Fundamental do Cálculo (1◦ )

Seja P = {a = t0 , t1 , · · · , tn = b} uma partição de [a, b].

Pelo Teorema de Lagrange aplicado a H em [ti−1 , ti ], para cada


1 6 i 6 n, existe ci ∈ ]ti−1 , ti [ tal que

H(ti ) − H(ti−1 ) = H 0 (ci ) (ti − ti−1 ) = f (ci ) (ti − ti−1 ).


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Além disso, se 1 6 i 6 n e

mi = inf {f (x) : ti−1 6 x 6 ti } e Mi = sup {f (x) : ti−1 6 x 6 ti }

então

mi (ti − ti−1 ) 6 f (ci ) (ti − ti−1 ) 6 Mi (ti − ti−1 )

mi (ti − ti−1 ) 6 H(ti ) − H(ti−1 ) 6 Mi (ti − ti−1 )

n
X n
X n
X
mi (ti − ti−1 ) 6 H(ti ) − H(ti−1 ) 6 Mi (ti − ti−1 )
i=1 i=1 i=1

s(f , P) 6 H(b) − H(a) 6 S(f , P).


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Rb
Mas, como f é integrável em [a, b], o número a f é o único real
entre a soma inferior e a soma superior de qualquer partição.

Concluı́mos assim que


Z b
f = H(b) − H(a).
a
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Demonstração do Teorema Fundamental do Cálculo (2◦ )


Estamos a supor agora que f é contı́nua em [a, b].

Consideremos a 6 c < b. Tem-se


Rx
0 + G (x) − G (c) f
(G ) (c) = lim + = lim + c .
x →c x −c x →c x − c
Se x > c, sejam
mx = inf {f (t) : c 6 t 6 x} e Mx = sup {f (t) : c 6 t 6 x}.
Sabemos que
Z x
mx (x − c) 6 f 6 Mx (x − c)
c
logo Rx
c f
mx 6 6 Mx .
x −c
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Além disso, como f é contı́nua em c,

lim mx = lim + Mx = f (c).


x → c+ x →c

Consequentemente,
(G 0 )+ (c) = f (c).

De modo análogo se prova que (G 0 )− (c) = f (c) se a < c 6 b.


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Observação 1

Se f é contı́nua em [a, b], e I : [a, b] → R é tal que


Z b
I(x) = f
x

então Z b Z x
I(x) = f − f
a a

logo I é derivável e
I 0 = −f .
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Observação 2
Se f é integrável em [a, b] e a 6 x 6 b, define-se
Z x Z b
f =− f.
b x

Deste modo, a função J : [a, b] → R tal que


Z x
J(x) = f
b

é de facto −I. Então, se f é contı́nua em [a, b], J é derivável e

J 0 = −I 0 = −(−f ) = f .
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Observação 3

O Teorema Fundamental do Cálculo (2◦ ) assegura que, se f é


contı́nua em [a, b], então f é primitivável em [a, b], isto é, existe
uma função contı́nua em [a, b], derivável em ]a, b[ e cuja derivada
é f .

Mais precisamente, este teorema afirma que, para todo o x,


Z x 0
0
G (x) = f = f (x)
a

havendo em a e em b apenas derivadas laterais.


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Observação 4

Em geral, se f é apenas integrável em [a, b], pode não haver


primitiva de f .

Por exemplo, já sabemos que a função f : [0, 1] → R dada por


(
1 se x 6= 12
f (x) =
0 se x = 12

é integrável em [0, 1] (o integral é 1), mas já provámos que não é


primitivável neste intervalo.
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O que mostra que as noções de função integrável e de função


primitivável são distintas.
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Observação 5
Se G : [a, b] → R e H : [a, b] → R são primitivas de f no intervalo
[a, b] (isto é, funções contı́nuas em [a, b], deriváveis em ]a, b [ e
tais que G 0 = f e H 0 = f ), então, pelo Teorema de Lagrange,
existe uma constante C ∈ R tal que

∀ x ∈ [a, b] H(x) = G (x) + C .

Logo,
Z b
f = H(b) − H(a)
a
= G (b) + C − G (a) − C
= G (b) − G (a).
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Ou seja, a famı́lia de primitivas de f é infinita mas o valor do


Rb
integral a f não depende da primitiva usada para o calcular.
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Observação 6
O operador de primitivação P é quase o inverso do operador de
derivação D.

Se g é primitivável num intervalo (isto é, se existe função G tal


que G 0 = g nesse intervalo), então

Primitivando : g  G + C, C ∈ R constante

Derivando : G +C  g.

Ou seja,
D ◦ P = Identidade.
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Contudo, se f é derivável num intervalo, então

Derivando : f  f0

Primitivando : f0  f + C, C ∈ R constante.

Ou seja,
P ◦ D 6= Identidade

mas esta composição produz uma famı́lia de funções que diferem


de f apenas por uma constante.
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Observação 7
Como vimos na aula anterior,

• Para todo o natural n e todo o a < b ∈ R,


Z b
b n+1 an+1
xn = −
a n+1 n+1
x n+1
pois uma primitiva de x n em R é a função n+1 .

• Para cada natural n 6= 1, se 0 < a < b ou a < b < 0, então


b −n+1 a−n+1
Z b
x −n = −
a −n + 1 −n + 1

pois uma primitiva de x −n em ]0, +∞[ ou em ] − ∞, 0[ é a


−n+1
função x−n+1 .
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E quando n = 1 ?

1
A função x é contı́nua em ]0, +∞[ , logo é primitivável neste
intervalo.

Mas não apareceu até agora nenhuma função cuja derivada seja x1 .
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Construção da função logaritmo

Para x > 0, seja Z x


1
log (x) = dt.
1 t
Ou seja,
 R
x 1

 1
 t dt se x > 1
log (x) =

 −R1
 1
dt se 0 < x < 1.
x t
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Temos assim bem definida a função logaritmo, com domı́nio


]0, +∞[, porque a função t > 0 7→ 1t é contı́nua em [1, x] ou [x, 1],
para todo o x > 0, logo é integrável nestes intervalos.
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Note-se que, para x > 1, log (x) é a área da região delimitada


pelas rectas verticais de abcissas 1 e x, o eixo y = 0 e o gráfico da
função positiva e contı́nua 1 6 t 6 x 7→ 1t . Logo

x >1 ⇒ log (x) > 0.


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Para 0 < x < 1, log (x) é o simétrico da área da região delimitada


pelas rectas verticais de abcissas x e 1, o eixo y = 0 e o gráfico da
função positiva e contı́nua x 6 t 6 1 7→ 1t . Logo

0<x <1 ⇒ log (x) < 0.


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R1
Quando x = 1, log (1) = 1 1t dt = 0 por definição, porque o
intervalo [1, 1] é degenerado (tem amplitude 0).
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Propriedades da função logaritmo

(1) log (x) > 0, se x > 1; log (x) < 0, se 0 < x < 1.

(2) log é contı́nua em ]0, +∞[ pelo teorema da aula anterior.


(3) log é derivável em ]0, +∞[ pelo T. Fundamental do Cálculo:

1
∀x > 0 log0 (x) = .
x
(4) log é função estritamente crescente em ]0, +∞[.

(5) log00 (x) = − x12 para todo o x > 0.

(6) log é uma função côncava em ]0, +∞[.


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(7) ∀ x, y > 0 log (x y ) = log (x) + log (y ).

Fixemos y > 0 e consideremos a função

x >0 7→ g (x) = log (x y ).

A função g é derivável e
1 1
x >0 7→ g 0 (x) = y = = log0 (x).
xy x
Então, pelo Teorema de Lagrange, existe constante D ∈ R tal que

∀x > 0 g (x) = log (x) + D.


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Quanto vale D ?

Tem-se
g (1) = log (y ) = log (1) + D = D.

Consequentemente, como y é arbitrário,

∀x > 0 log (x y ) = log (x) + log (y ).


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(8) ∀n ∈ N ∀x > 0 log (x n ) = n log (x).

(9) ∀ x, y > 0 log ( yx ) = log (x) − log (y ).

Fixemos x, y > 0. Então, por (7),


x  x 
log (x) = log y = log + log (y ).
y y
Logo, x 
log = log (x) − log (y ).
y
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(10) limx → +∞ log (x) = +∞.

Como, para todo o natural n, se tem

log (2n ) = n log (2)

sendo log 2 > 0 porque log é estritamente crescente e log 1 = 0,


sabemos que a função logaritmo não é majorada.

Além disso, como log é estritamente crescente em ]0, +∞[, existe


o limite
lim log (x).
x → +∞

Consequentemente,

lim log (x) = +∞.


x → +∞
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Do mesmo modo se mostra que

(11) limx → 0+ log (x) = −∞

De facto, como log é monótona em ]0, +∞[, este limite existe;


além disso, para todo o natural n, tem-se
1
log = −n log (2).
2n
E, portanto,
1
lim log = −∞.
n → +∞ 2n
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De (10) e (11) resulta que

(12) A imagem da função logaritmo é R.

De facto, sendo log contı́nua no intervalo ]0, +∞[, e tendo-se

lim log (x) = −∞ e lim log (x) = +∞


x → 0+ x → +∞

o Teorema dos Valores Intermédios garante que log é sobrejectiva


sobre R.
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Em particular, existe um (e um só) número real x0 > 1 tal que

log x0 = 1.

Veremos que x0 = e, o número de Neper, que já sabemos que está


em ]2, 3] e que verifica

1 1 1
e = lim 1 + 1 + + + ··· +
n → +∞ 2! 3! n!
1 n
 
= lim 1+ .
n → +∞ n
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Exercı́cio: Esboce o gráfico da função logaritmo.


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ATENÇÃO
Por definição, a função logaritmo é uma primitiva de
1
x ∈ ]0, +∞[ 7→ .
x

1
Se, pelo contrário considerarmos a função x no intervalo ] − ∞, 0[,
então uma primitiva é

x ∈ ] − ∞, 0[ 7→ log (−x).

De facto, se x < 0,
0 1 1
log (−x) = (−1) = .
−x x
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Inversa da função logaritmo


Uma vez que log é uma bijecção entre ]0, +∞[ e R, temos
definida a inversa

log−1 : R → ]0, +∞[.

Pelas propriedades do logaritmo, sabemos que esta inversa é


derivável em R, uma vez que
1
log0 (x) =
6= 0 ∀ x > 0.
x
Além disso, para todo o x ∈ R,
1 1
(log−1 )0 (x) = = = log−1 (x).
log (log−1 (x))
0
log
1
−1
(x)
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A inversa
log−1 : R → ]0, +∞[

chama-se função exponencial, e designa-se abreviadamente por


exp.

E x0 > 1 tal que log x0 = 1 é precisamente exp (1).


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Propriedades da função exponencial


(3)∗ exp0 = exp > 0 em R.

(4)∗ Logo a função exponencial é estritamente crescente.

(5)∗ exp00 = exp > 0 em R.

(6)∗ E, portanto, exp é uma função convexa em R.

(7)∗ − (a) ∀ x, y ∈ R exp (x + y ) = exp (x) exp (y ).

(7)∗ − (b) exp (0) = 1, logo ∀ x ∈ R exp (−x) = 1


exp (x) .

(10)∗ limx → +∞ exp (x) = +∞.

(11)∗ limx → −∞ exp (x) = 0+ .


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Exercı́cio: Esboce o gráfico da função exponencial, tendo em conta


que é a curva simétrica, relativamente à recta y = x, do gráfico da
função log.
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Consequência destas propriedades da função exponencial

De
∀ x, y ∈ R exp (x + y ) = exp (x) exp (y )

resulta que

∀n ∈ N exp (n) = (exp (1))n .


1
∀n ∈ N exp ( n1 ) = (exp (1)) n .
p
∀ pq fracção irredutı́vel de Q exp ( qp ) = (exp (1)) q .

O que sugere a seguintes definições.


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Definição: Para todo o x ∈ R e todo o a > 0,

ax = exp (x log (a)).

Por exemplo, se a = exp(1), então a > 1 e para todo o x ∈ R


temos
(exp (1))x = exp (x log(exp(1))) = exp (x).

Definição: Para todo o x > 0 e todo o b ∈ R,

x b = exp (b log (x)).


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As funções x ∈ R 7→ ax são contı́nuas, deriváveis com


 0
(ax )0 = exp (x log (a)) = log (a) exp (x log (a)) = [log (a)] ax .

E, se a 6= 1, estas funções ax são injectivas em R e sobrejectivas


sobre ]0, +∞[, com inversas

loga : ]0, +∞[ → R

tais que
log (x)
∀x > 0 loga (x) =
log (a)
e
1
∀x > 0 (loga )0 (x) = .
x log (a)
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a 6= 1

Por ser inversa de


x ∈R 7→ ax

a função
loga : ]0, +∞[ → R

dada por
log (x)
loga (x) =
log (a)

designa-se logaritmo de base a.


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Quando a = exp(1), obtemos a função

log : ]0, +∞[ → R

uma vez que, se x > 0,

log (x) log (x)


loga (x) = = = log (x).
log (a) log (exp(1))
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Recordo que, quando b ∈ Q,


m
b= fracção irredutı́vel
n
a função x b está definida em R se n é ı́mpar e em R+
0 se n é par.

Além disso é contı́nua, derivável em R \ {0} se n é ı́mpar e em R+


se n é par, com
(x b )0 = b x b−1 .
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Quando b ∈ / Q, a função x b = exp (b log (x)) está definida em R+ ,


é contı́nua, derivável em R+ e
 0
(x b )0 = exp (b log (x))
 0
= exp (b log (x)) b log (x)
b
= xb
x
= b x b−1 .
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Exemplo
A função √
2

x >0 7→ x = exp ( 2 log (x))
está definida em R+ , é contı́nua, derivável em R+ e
√ √ √2−1
(x 2 )0 = 2x > 0 ∀ x ∈ R+


2 00
√ √ √
(x ) = 2 ( 2 − 1) x 2−2 > 0 ∀ x ∈ R+


2

lim + x = lim + exp ( 2 log (x)) = 0+
x →0 x →0


2

lim x = lim exp ( 2 log (x)) = +∞.
x → +∞ x → +∞
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E, como 1 < 2 < 2,

0<x <1 ⇒ x2 < x 2
<x


2
1 < x < +∞ ⇒ x <x < x2


2
x =1 ⇒ 1=1 = 12 .
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Exercı́cio: Esboce o gráfico da função



x ∈ R+ 7→ x 2
.

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