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MA111 - Cálculo I

Prof. Dr. Ricardo Miranda Martins


Problemas de otimização

1 Problemas de otimização
Sem saber, você resolve pequenos problemas de otimização durante todo o dia. O primeiro deles é quando
o despertador toca pela primeira vez às 06:55 e você sabe que, como a aula de Cálculo só começa às
08:00, pode ficar mais um pouco na cama. Mas não pode ficar muito tempo. Conseguir determinar o
momento exato entre 06:55 e 08:00 no qual você deve pular da cama é uma tarefa bem difı́cil - e muitas
vezes erramos o cálculo e o café da manhã precisa ser sacrificado (supondo um mundo ideal onde sua
aula de cálculo é mais importante do que seu café da manhã). Iremos considerar somente os problems
de otimização cuja modelagem não dependem do seu sono.
Todos os problemas de otimização que trataremos neste curso são da seguinte forma: existe uma
função g que vincula duas variáveis numa relação g(x, y) = 0 e é possı́vel isolar y nesta relação, obtendo
y = h(x). Desejamos obter o máximo (ou mı́nimo) global de uma função f (x, y) dado que y satisfaz
g(x, y) = 0, ou seja, queremos encontrar o máximo (ou mı́nimo) da função f (x, h(x)) para x num certo
domı́nio. Este máximo (ou mı́nimo) será sempre um máximo (ou mı́nimo) local ou então um extremo
do intervalo que estamos considerando. Vejamos alguns exemplos.

2 Exemplos
Exemplo 1 Uma empresa de energéticos deseja reformular suas latas. Nutricionistas determinaram
que a dose máxima deste energético que uma pessoa deve tomar no dia é de 300 ml, então esta será
a capacidade da lata. Quais devem ser as dimensões da lata, supondo que ela terá o formato de um
cilindro circular reto (ou seja, uma lata usual de energético), para que o custo de produção seja o menor
possı́vel?
Vamos supor que o custo de produção da lata dependa diretamente da quantidade de material uti-
lizado, o que é uma hipótese bem razoável. Assim, devemos determinar a menor quantidade de material
que pode ser usada para construir uma lata cilı́ndrica com volume 300 ml.
Lembre-se de que se um cilindro tem raio da base r e altura h, então a área de sua superfı́cie é dada
por A = 2πr2 + 2πrh (esta fórmula pode ser obtida facilmente planificando o cilindro) e o volume é dado
por V = πr2 h (note que se o volume V for fixado, então existe uma relação entre r e h: h = V /(πr2 )).
Desta forma, se o volume do cilindro é V , sua área é dada por
V 2V 2(πr3 + V )
A = 2πr2 + 2πrh = 2πr2 + 2πr = 2πr 2
+ =
πr2 r r
Precisamos determinar a menor área, ou seja, o menor valor assumido por A, quando r > 0. Observe
que como limr→0+ A(r) = ∞ e limr→∞ A(r) = ∞, deve existir um menor valor (concorda?).
Uma forma possı́vel de encontrar este menor valor é mostrar que esta função possui um único ponto
crı́tico e que este ponto crı́tico é um mı́nimo local.
 1/3
dA 2(2πr3 − V ) V
Temos que = , logo o único ponto crı́tico de A é r0 = . Para este valor do
dr r2 2π
raio, teremos uma área de A = 3(2π)1/3 V 2/3 .
d2 A 4(πr3 + V )
Observe que = , logo a segunda derivada de A é sempre positiva. Portanto, o ponto
dr2 r3
crı́tico r0 é o único ponto de √mı́nimo da função e encontramos o formato de nossa latinha: é um cilindro
3
22/3
de raio r = r0 e altura h = V√ 3 π . No caso em que V = 300 ml teremos um raio aproximado de 3, 63
cm e altura aproximada de 7, 2 cm.


No exemplo anterior, r poderia assumir qualquer valor positivo. Em muitos problemas de otimização,
no entanto, a variável está restrita a algum intervalo fechado. Neste caso, o método acima precisa ser
um pouco modificado, para incluir os extremos do intervalo.
Exemplo 2 Uma empresa que vende picolés tem como função lucro L(n) = n3 − 6n2 + 11n − 5, onde
n é o número de picolés vendidos no mês, dado em milhões de unidades e L é o lucro em reais. Por
exemplo, se a empresa não vender nenhum picolé no mês, terá prejuı́zo de 5 milhões de reais. Se vender
1 milhão de unidades, terá lucro de 1 milhão de reais. A capacidade máxima de venda é de 4 milhões de
picolés por mês.
a) Se a empresa quiser lucro máximo, quantos picolés deverá vender no mês?
b) Se a capacidade de venda diminuir para 3 milhões de unidades por mês, quantos picolés a empresa
deverá vender para obter lucro máximo?

Apesar do problema ser discreto, vamos considerar a variável n como real e adaptar os resultados se
necessário. Observe√que L0 (x) = 3x√2 −12x+11 e L00 (x) = 6x−12. Portanto, a função L possui dois pontos
crı́ticos: x1 = 2− 31 3 e x2 = 2+ 13 3, sendo que L00 (x1 ) > 0 (mı́nimo local) e L00 (x2 ) < 0 (máximo local).

Para (a), note que n ∈ [0, 4]. Desta forma, mesmo com x2 sendo um máximo local, para deter-
minar o maior√valor assumido por L, devemos comparar L(x2 ) com L(0) e L(4). Neste caso, como
L(x2 ) = 1 + 29 3 (um número entre 1 e 2) e L(4) = 7, o maior lucro é obtido vendendo 4 milhões de
picolés.

No entanto, se a capacidade de venda cair para 3 milhões de unidades, então devemos analisar nova-
mente a questão para n ∈ [0, 3]. Neste caso, como L(3) = 1, para ter maior lucro a empresa deve vender
x2 milhões de picolés, ou cerca de 2 577 350 picolés.

Segue abaixo um gráfico de L no intervalo [0, 4]. Perceba como realmente uma mudança no domı́nio
irá alterar os pontos de máximo e mı́nimo globais.

Exemplo 3 (Não deu tempo de fazer em sala) Batman√está andando sem seu Batmóvel numa estrada
cuja trajetória coincide com a do gráfico da função S(x) = x + 1, para x ∈ [−1, 3]. O Coringa está
preso no ponto (1, 0) e quer acabar com o Batman. A arma do Coringa só irá atirar mais uma bala.
Para maximizar a chance de acertar o Batmóvel, o Coringa irá atirar somente quando o Batman estiver
o mais próximo possı́vel dele, mas ainda na trajetória do gráfico de f (x). Para qual direção o Coringa
deve apontar sua arma para esperar o Batmóvel passar? Suponha que a bala do Coringa viaje numa
velocidade próxima à da luz.

References
[1] J. Stewart, Cálculo, vol. 1, Cengage Learning.

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