Você está na página 1de 6

1o EP 2016/1 Análise Real Versão Gabarito Prof.: H.

Clark

Observação 1. Antes de resolver qualquer exercı́cio deste EP estude a Lição 1 - L1. Veja cuidado-
samente cada prova das Proposições, dos Exemplos e fique atento à seguinte estrutura de raciocı́nio:

• Hipótese: ...

• raciocı́nios lógicos que utilizam a hipótese, as definições conhecidas e os resultados já provados
para obter a

• Conclusão: ...

Exercı́cio 1. Mostre que usando as propriedades dos números reais que:

(a) se x, y ∈ R, y 6= 0 e xy = y então x = 1;
1 1
(b) se x, y ∈ IR e 0 < x < y então 0 < < ;
y x
1 2
a + b2 ;

(c) se a, b ∈ R então ab ≤
2
√ 1
(d) se a, b ∈ R com a > 0 e b > 0 então ab ≤ (a + b).
2
Prova: Observe que a demonstração é uma aplicação das propriedades algébricas de R.
(a) Por hipótese, x, y ∈ R, y 6= 0 e xy = y.
Como y 6= 0 então por (M4) tem-se 1/y ∈ R, e pode ser multiplicado em ambos os lados da igualdade
acima, pois isto não a altera. Assim, obtém-se
(xy) · (1/y) = y · (1/y).
Por (M2) resulta x · (y · (1/y)) = y · (1/y).
Por (M4) segue que x · 1 = 1.
Logo, por (M3), conclui-se x = 1. 2
(b) Por hipótese 0 < x < y. Daı́, x > 0 e y > 0. Portanto pela Proposição 1.10 (e) tem-se 1/x > 0 e
1/y > 0.
Usando que 1/y > 0, x < y e a Proposição 1.10 (c) obtém-se (1/y) · x < (1/y) · y.
Daı́, por (M3), (1/y) · x < 1. Usando esta desigualdade, que 1/x > 0 e a Proposição 1.10 (c), obtém-se
((1/y) · x) · (1/x) < 1 · (1/x).
Por (M2) e (M3) tem-se (1/y) · (x · (1/x)) < 1/x.
Por (M4) obtém-se (1/y) · 1 < 1/x.
Por (M3) resulta 1/y < 1/x e daı́, conclui-se que 0 < 1/y < 1/x. 2

1
Observação 2. Todas as passagens do raciocı́nio são explicitadas e as propriedades mencionadas, para o
pleno entendimento de quem lê a prova, no caso, você, aluno. Além disso, quando uma hipótese crucial
precisa ser utilizada, ela é citada novamente, como, por exemplo, acontece na segunda passagem
(segundo parágrafo) do raciocı́nio acima. Tome este cuidado ao provar os itens deixados como exercı́cio
na L1 e nos dois exercı́cios extras a seguir:
(1) Se x, y ∈ R e x < y < 0 então 1/y < 1/x < 0.
(2) Se x, y ∈ R e x < 0 < y então 1/x < 0 < 1/y.
Observação 3. Neste inı́cio, é fortemente recomendável que você também mencione a cada passo, os
Axiomas, Proposições e Exemplos que estão sendo usados, pois a cada vez que voltar às Lições para revê-
los, estará reforçando seu estudo e ajudando na memorização destes resultados, que acabará acontecendo
pela prática. Perceba que é muito mais fácil entender o raciocı́nio de uma outra pessoa se ela menciona
os resultados que está usando a cada passo- é claro que é preciso voltar e voltar às Lições para quaisquer
dúvidas. Esta atitude - mencionar ou nomear a propriedade que está sendo usada - é completamente
diferente de “enunciar“ a propriedade, o que é desnecessário. Nós, coordenadores, ressaltamos que o
importante não é saber o “número“ do Axioma ou Proposição, mas conhecer, entender e saber aplicar
corretamente a propriedade expressa por cada um. No decorrer do trabalho, gradualmente, iremos deixando
de mencionar as propriedades mais elementares, fazendo isto somente com as mais importantes. Note por
exemplo, a solução do próximo exercı́cio.

(c) Por hipótese tem-se que a − b ∈ R. Daı́ e da Proposição 1.9 da L1, resulta que (a − b)2 ≥ 0. A
partir daı́ pode-se afirmar que (1 ):

(a − b)2 ≥ 0 (∗)
∴ a2 − 2ab + b2 ≥ 0
∴ a2 + b2 ≥
 2ab
1
∴ 2 a2 + b2 ≥ ab.

Na última desigualdade usou-se que 1/2 > 0 e o Exercı́cio 1(b) acima. 2


Atenção: Neste item, para descobrir que se deve partir de (*), faz-se no rascunho, uma “conta de trás para
frente”que, não é a demonstração e portanto não deve aparecer nela! O que vai aparecer na demonstração
é a conta de “frente para trás”!!!!
Na demonstração mesmo, atentar que não é o caso de se usar p⇔q pois só se está pedindo a implicação
no sentido p⇒q: Por exemplo, na primeira passagem tem-se que p(a − b)2 ≥ 0 implica 21 a2 + b2 ) ≥ abq.


É muito importante ler e entender de onde se deve partir (hipótese) e onde se deve chegar (conclusão).
Releia a L1 para tirar quaisquer dúvidas, se precisar.

(d) Por hipótese, a e b são reais positivos. Então ab > 0 e disto resulta que ab ∈ R. (2 ) Tem-se
também, como no item anterior que a Proposição 1.9 da L1 fornece (a−b)2 ≥ 0. Logo a2 −2ab+b2 ≥ 0.
Agora, adicionando 4ab a ambos os lados da desigualdade desta última desigualdade, obtém-se:

a2 + 2ab + b2 ≥ 4ab ∴ (a + b)2 ≥ 4ab .


1
O sı́mbolo p∴q significa “ logo ”, “ portanto ”, “ daı́ ”, “ segue daı́ que ”, “então tem-se que ”, “ o que implica ”,
“ o que fornece ” e outras acepções no mesmo sentido. É o adequado de ser usado neste caso. O sı́mbolo p⇒q é mais
apropriado quando se precisa mencionar o enunciado completo p P(x) ⇒ Q(x)q, que simboliza a implicação “ se P(x)
então Q(x) ”. Vamos assim aprimorando o uso da linguagem matemática.
2
A prova da existência da raiz quadrada de números positivos está feita na L2, à qual você terá acesso no mesmo dia
da divulgação deste gabarito. As propriedades usadas neste exercı́cio precisam já ser suas conhecidas e algumas delas
serão recordadas na L2. Se tiver dúvidas, estude-as antes de voltar a este exercı́cio. Esta situação é uma exceção, a regra
é não usar conceitos ou resultados que não tiverem sido introduzidos nas Lições. Propriedades elementares da radiciação
e potenciação também serão usadas no último exercı́cio deste EP.

2
Como (a p+ b)2 ≥ 4ab ≥√0 pode-se extrair a raiz quadrada de ambos os membros da desigualdade para

obter-se (a + b)2 ≥ 4ab, o que é o mesmo que afirmar que |a + b| ≥ 2 ab (3 ). Como a + b > 0

pois a > 0 e b > 0 então |a + b| = a + b. Tem-se então a conclusão desejada, que é a + b ≥ 2 ab.

Exercı́cio 2. O objetivo deste exercı́cio é verificar se você domina as propriedades dos números reais
e a linguagem apropriada para descrevê-las e trabalhar com elas. Estude na L1 sobre hipótese e
conclusão, para entender muito bem estes conceitos. Não será aceito o simples estudo de sinal das
expressões.
6x − 5
Mostre que, se x ∈ R, x ≤ −10 e ≥ 7 então −61 ≤ x ≤ −10.
x+8
6x − 5
Prova: Por hipótese: x ∈ R, x ≤ −10 e ≥ 7. Não se pode afirmar que 6x − 5 ≥ 7(x + 8)
x+8
(por que?) Porém vale
6x − 5
− 7 ≥ 0.
x+8
Daı́
6x − 5 − 7x − 56 −x − 61
≥ 0 o que equivale a ≥ 0.
x+8 x+8
Por propriedade de ordem

p−x − 61 ≥ 0 e x + 8 > 0q ou p−x − 61 ≤ 0 e x + 8 < 0q

Daı́
px ≤ −61 e x > −8q ou px ≥ −61 e x < −8q.
Como não existe x ∈ R satisfazendo px ≤ −61 e x > −8q segue que

−61 ≤ x < −8. Como por hipótese, x ≤ −10, então

−61 ≤ x < −10, como se queria.


Observação 4. Note que (6x − 5)/(x + 8) ≥ 7 não implica necessariamente 6x − 5 ≥ 7(x + 8). Isto
só vale no caso em que x + 8 > 0, isto é, x > −8. No caso, x < −8 o que vale é 6x − 5 ≤ 7(x + 8).
Como não se sabe qual das duas opções é a verdadeira, trabalha-se com a formulação alternativa acima,
que dispensa saber o sinal de x + 8.
Observe também que se a conclusão fosse −70 ≤ x < −10, bastaria, depois de se concluir que
−61 ≤ x < −8, raciocinar que: como − 70 ≤ −61 e, por hipótese, x ≤ −10, então − 70 ≤ x < −10.
Tarefa - Usando as propriedades de R e procedendo de modo similar ao feito acima, você deverá ser
capaz de mostrar que:
4 8x − 3 11
Se x ∈ R, x > e < 5 então x > .
3 4x − 5 6
Resolvendo esta tarefa você deverá obter que:
11 5 11 5
px> e x > q ou p x < e x < q.
6 4 6 4
Daı́ se tem
11 5
px>
q ou p x < q.
6 4
Como não se pode ter x < 5/4, pois por hipótese x > 4/3 então vale x > 11/6.
3

A propriedade ∀x ∈ R, x2 = |x| usada aqui será provada na L2

3
Observação 5. Note que nos raciocı́nios desenvolvidos acima não foram indicadas explicitamente os
Axiomas e Proposições utilizados. Em contrapartida, todas as passagens foram apresentadas com clareza,
de forma a não deixar dúvidas para você, leitor.

Exercı́cio 3. Mostre usando propriedades dos números reais e a linguagem matemática apropriada
que:
Se x ∈ R, x < 1, x 6= −2 e 1/(x + 2) < 1 então x < −2 ou −1 < x < 1.

Resolução: Por hipótese, x ∈ R, x < 1, x 6= −2 e 1/(x + 2) < 1. Como no exercı́cio anterior,


1
temos que − 1 < 0. Daı́,
x+2
1−x−2
< 0.
x+2
−1 − x
∴ < 0. (∗)
x+2
1+x
∴ > 0.
x+2
(Em (*), multiplicou-se ambos os membros da desigualdade por (-1) e obteve-se a desigualdade se-
guinte, que é equivalente.) Por propriedade dos números reais (atente para a correta utilização dos
conectivos “e” e “ou”), tem-se que

p1 + x > 0 e x + 2 > 0q ou p1 + x < 0 e x + 2 < 0q.

Daı́
px > −1 e x > −2q ou px < −1 e x < −2q.
Ou seja, px > −1q ou px < −2q.
Como por hipótese x < 1, chega-se a −1 < x < 1 ou x < −2, como se queria.

Exercı́cio 4. Mostre que, se a, b ∈ R e para todo  > 0 vale a − b <  então a ≤ b.

Prova: Por hipótese: a, b ∈ R e a − b <  para todo  > 0.


Suponha, por absurdo (4 ), que a > b. Daı́, a − b > 0. Portanto, fazendo em particular,  = a − b
na hipótese, tem-se a − b < a − b. Isto é um absurdo pela tricotomia! Logo, a ≤ b.

Exercı́cio 5. Mostre que, por meio do princı́pio de indução matemática, que:


1 1 1 1
+ + + · · · + n ≤ 1 para todo n ∈ N.
2 4 8 2
1 1 1 1
Prova: Note que P [n] é a desigualdade p + + + · · · + n ≤ 1q .
2 4 8 2
1 1 1
• quando n = 1 tem-se = 1 = ≤ 1. Assim, P [1] é válida;
2 2 2
• HI: seja n um número natural e suponha que a desigualdade P[n] é válida. Ou seja, que
1 1 1 1
P [n] : + + + · · · + n ≤ 1. (HI)
2 4 8 2
4
Prelúdio 1.2

4
é verdadeira. Deve-se provar que

1 1 1 1 1
P [n + 1] : + + + · · · + n + n+1 ≤ 1
2 4 8 2 2
é verdadeira. Para conseguir usar a (HI), reescreve-se o membro à esquerda da desigualdade 3 que se
quer provar assim:
1 1 1 1 1 1 1h1 1 1 1i
+ + + · · · + n + n+1 = + + + · · · + n−1 + n
2 4 8 2 2 2 2 2 4 2 2
1 1
≤ + · 1 (usou-se nesta passagem a HI)
2 2
= 1.

Portanto, P [n + 1] é verdadeira. Como o natural n inicial era arbitrário, provou-se então que para
todo n ∈ N, P[n] ⇒ P[n+1].
Logo, pelas duas etapas acima e pelo PIM, tem-se que P[n] é válida para todo natural n.

Exercı́cio 6. (Desigualdade de Bernoulli) Se α ≥ −1 então mostre que (1 + α)n ≥ 1 + nα para todo


n ∈ N.
Prova: Note que P[n] é p(1 + α)n ≥ 1 + nαq.
• quando n = 1 tem-se (1 + α)1 = 1 + α, o que é verdade;
• suponha, por hipótese, que P[n] é válida para um natural n arbitrário, fixado. Ou seja, suponha que
vale
(1 + α)n ≥ 1 + nα (hipótese indutiva).
Deseja-se provar que (1 + α)n+1 ≥ 1 + (1 + n)α, isto é, que P[n+1] é verdade.
De fato, (1+α)n+1 = (1+α)(1+α)n . Usando-se a hipótese indutiva no segundo termo da igualdade
precedente, tem-se: (1 + α)n+1 ≥ (1 + α)(1 + nα). Como (1 + α)(1 + nα) = 1 + α + nα + nα2 e nα2 ≥ 0,
então (1 + α)(1 + nα) ≥ 1 + α + nα. Logo, (1 + α)n+1 ≥ 1 + (1 + n)α. Portanto, P [n + 1] é verdadeira.
Como o natural n inicial era arbitrário, provou-se então que para todo n ∈ N, P[n] ⇒ P[n+1].
Logo, pelas duas etapas acima e pelo PIM, tem-se que P[n] é válida para todo natural n.

Exercı́cio 7. Mostre que

xn − y n = (x − y) xn−1 + xn−2 y + · · · + xy n−2 + y n−1 ,



(1)

para todo n ∈ N e x, y ∈ R.
Usando o item anterior, mostre que se x, y ∈ R∗+ (corrigir no EP1 versão aluno) então, para todo
n ∈ N,
√ √ √ n
p p p 
x − y = ( n x − n y) xn−1 + n xn−2 y + · · · + n xy n−2 + n y n−1 . (2)

Prova: Note que P[n] é a igualdade (1) onde n ∈ N.


• quando n = 1 tem-se x1 − y 1 = x − y, o que é verdade;
• suponha, por hipótese, a igualdade válida para um natural n qualquer fixado. Ou seja, suponha

xn − y n = (x − y) xn−1 + xn−2 y + · · · + xy n−2 + y n−1



hipótese indutiva.

Deseja-se provar que

xn+1 − y n+1 = (x − y) xn + xn−1 y + · · · + xy n−1 + y n .



(3)

5
De fato,

xn+1 − y n+1 = xn+1 − xn y + xn y − y n+1 = xn (x − y) + y(xn − y n ). (4)

Usando a hipótese indutiva no último termo do lado direito da igualdade acima tem-se

xn (x − y) + y(xn − y n ) = xn (x − y) + y(x − y) xn−1 + xn−2 y + · · · + xy n−2 + y n−1




= (x − y) xn + y xn−1 + xn−2 y + · · · + xy n−2 + y n−1




= (x − y) xn + xn−1 y + · · · + xy n−1 + y n .


Substituindo, esta igualdade em (4) obtém-se (3). Portanto, P [n + 1] é verdadeira. Como o natural n
inicial era arbitrário, provou-se então que para todo n ∈ N, P[n] ⇒ P[n+1].
Logo, pelas duas etapas acima e pelo PIM, tem-se que P[n] é válida para todo natural n. 2
A igualdade (2) é uma consequência imediata da igualdade (1). Com efeito, sejam x, y ∈ R∗+ e
n ∈ N. Usando propriedades da potenciação e radiciação, pode-se escrever x = (x1/n )n e y = (y 1/n )n
n−1
- como x, y são positivos, não há problemas com a raiz n-ésima. Tem-se também que x1/n =
1/n √n n−1 1/n p
xn−1 = xn−1 e que y 1/n = y n−1
   n
= y n−1 .
Aplicando então o resultado (1) para x 1/n ey 1/n no lugar de x e y obtém-se:
(1)
x − y = (x1/n )n − (y 1/n )n =
  
x1/n − y 1/n (x1/n )(n−1) + (x1/n )(n−2) (y 1/n ) + . . . + (x1/n )(y 1/n )(n−2) + (y 1/n )(n−1) =
  
x1/n − y 1/n (x(n−1) )1/n + (x(n−2) )1/n (y 1/n ) + · · · + (x1/n )(y (n−2) )1/n + (y (n−1) )1/n =
√ √ √ n
p p p p 
( n x − n y) xn−1 + n xn−2 y + n xn−3 y 2 + · · · + n xy n−2 + n y n−1 .

Você também pode gostar