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1 Introdução
Nesta seção faremos uma breve introdução do que se tratará essa primeira parte do curso de Matemática
Discreta 02.
em que p1 < p2 < · · · < pl são número primos e a1 , · · · , αl são números inteiros positivos. Todos nós
sabemos o tanto que é fácil fatorar um número inteiro que não seja muito grande. Já fizemos isso diversas
vezes na nossa vida escolar, por exemplo, 30 = 2 · 3 · 5. Entretanto, fazer essa mesma operação pode ser
muito difícil se o número em questão for muito grande.
Um algoritmo relativamente recente, e um dos mais velozes, para fatorar números inteiros contendo
muitos dígitos é conhecido como Number Field Sieve (NFS). Este algoritmo é capaz de fatorar um inteiro
N em aproximadamente
exp c(log N )1/3 (log log N )2/3
operações de bits, em que c é uma constante real positiva (cujo valor admissível é c ≈ 1.9). Imagine
agora fatorar um número inteiro que é produto de dois números primos com 100 dígitos cada. Não parece
ser uma tarefa simples, e pelo fato de não ser, um dos algoritmos mais famosos de criptografia, o RSA,
utiliza este conceito na produção de suas chaves de segurança: o produto de números primos com grandes
quantidades de dígitos.
O exemplo acima é apenas uma das aplicações possíveis da Teoria dos Números na Computação,
mas é fácil encontrar aplicações na química, biologia, na teoria das telecomunicações, entre outras áreas
importantes.
Espero que este pequeno texto sirva para motivá-los para um curso com muita abstração e algu-
mas aplicações na computação proporcionados por esta bonita área da matemática. Na seção a seguir
começamos o conteúdo do nosso curso tratando do Princípio da Indução, uma ótima ferramenta para
demonstrar fórmulas e teoremas.
1
2 Princípio da Indução
O Princípio da Indução Matemática é um poderoso método de prova que é usado frequentemente
para estabelecer a validade de afirmações que são dadas em termos dos números naturais. Embora a sua
utilidade está restrita a este contexto especial, a Indução Matemática é uma ferramenta indispensável
em todas as áreas da matemática. Nesta seção, iremos mostrar uma das formas do princípio e também
diversos exemplos de como as provas por indução procedem.
Estamos considerando que todos estão familiarizados com o conjunto dos números naturais
N = {1, 2, 3, 4, 5, . . .},
com as operações aritméticas usuais de adição e multiplicação. Então estabelecemos o princípio da in-
dução.
Em outras palavras, o Princípio da Indução Matemática diz que dado qualquer subconjunto dos
números naturais contendo o número 1, e que pode ser mostrado que contém o número n > 1 dado que
contém o número n − 1, então este subconjunto deverá ser todo o conjunto dos números naturais N.
A parte (a) será chamada de passo de indução, e a hipótese que n − 1 ∈ S, parte (b), será chamada
de hipótese de indução. Primeiro, estabelecemos o passo de indução, então assumimos que a hipótese
de indução seja verdadeira e, finalmente, provamos a conclusão de que n ∈ S. Assim, dizemos que por
indução n ∈ S para todo n ∈ N.
Para provarmos o Princípio da Indução Matemática iremos considerar a seguinte propriedade do
conjuntos dos números naturais N.
Consire agora os seguintes exemplos de como utilizar o princípio da indução para validar algumas fórmu-
las e afirmações.
2
Para qualquer n ∈ N,
n
X n(n + 1)
i= .
i=1
2
P1
Demonstração. Se n = 1, então i=1 i = (1)(1 + 1)/2, e o passo de indução é assegurado. Assuma agora
que a hipótese de indução
n−1
X (n − 1)(n − 1 + 1)
i =
i=1
2
(n − 1)n
= ,
2
seja verdade para algum n − 1 . Considere, então
n
X n−1
X
i = n+ i
i=1 i=1
(n − 1)n
= n+ ,
2
pela hipótese de indução. Logo,
n
X 2n + (n − 1)n
i =
i=1
2
(n2 + n)
=
2
n(n + 1)
= ,
2
como queríamos mostrar. Portanto, por indução, esta sentença deve ser verdade para todo n ∈ N.
n+1 a(rn+1 − 1)
= ar +
r−1
a(rn+2 − 1)
= ,
r−1
3
como queríamos mostrar. Portanto, pelo princípio de indução
n
X a(rn+1 − 1)
ari = ,
i=0
r−1
em que i! = 1 × 2 × · · · × i e 0! = 1.
(x + y)n = (x + y)1
1
X 1
= x1−i y i
i
i=0
1 1 0 1
= x y + x0 y 1 ,
0 1
o que assegura o passo de indução. Considere que para algum n ∈ N valha a fórmula
n
n
X n
(x + y) = xn−i y i .
i
i=0
Assim, teremos
(x + y)n+1 = (x + y) · (x + y)n
n
X n
= (x + y) xn−i y i .
i
i=0
Pela lei distributiva, e pelas as propriedades do somatório, podemos reescrever a fórmula acima como
n n
X n n+1−i i
X n
= x y + xn−i y i+1 ,
i i
i=0 i=0
4
Considere agora os dois coeficientes binomiais do somatório acima, então
n n n! n!
+ = +
k k−1 k!(n − k)! (k − 1)!(n − k + 1)!
n! 1 1
= +
(k − 1)!(n − k)! k (n − k + 1)
n! n−k+1+k
=
(k − 1)!(n − k)! k(n − k + 1)
n! n+1
= ·
(k − 1)!(n − k)! k(n − k + 1)
(n + 1)!
=
k!(n + 1 − k)!
n+1
= ,
k
Exemplo 4:
O número na forma 11n − 7n pode ser dividido por 4, para todo n ∈ N.
Demonstração: Para n = 1, temos que 111 − 71 = 4 que é um número que claramente pode ser
dividido por 4. Assuma agora que para algum k ∈ N o número 11k − 7k possa ser divido por 4. Então
Pela hipótese de indução, o número 11k − 7k é divisível por 4, mas 11 − 7 também. Logo, a soma
11(11k − 7k ) + 7k (11 − 7) é divisível por 4. Portanto, por indução temos que o número 11n − 7n é divisível
por 4 para todo n ∈ N.
Pode acontecer da afirmação P (n) ser falsa para alguns números naturais, mas ser verdade para todo
n ≥ n0 para algum valor particular n0 ∈ N. O Princípio da Indução Matemática pode ser modificado
para lidar com esse tipo de situação.
Exemplo 5:
Para todo n ≥ 3, a inequação 2n > 2n + 1 é válida.
Demonstração. Se n = 1, temos 21 < 2.1 + 1. Além disso, para n = 2, 22 < 2.2 + 1. Considere
agora, n = 3, temos então 23 > 2.3 + 1. Suponha agora que 2k > 2k + 1, para algum k > 3 ∈ N, e então
5
multiplicando essa desigualdade por 2, temos
2k+1 > 2(2k + 1)
= 4k + 2
= 2k + (2k + 2)
> 2k + 3
= 2(k + 1) + 1.
Note que a desigualdade 2k + 2 > 3 é válida para todo k ≥ 1 (e em particular para todo k ≥ 3). Portanto,
com a base n0 = 3, temos pelo princípio da indução que a inequação é válida para todo n ≥ 3.
□
3 Exercícios
1. Prove as afirmações utilizando o princípio da indução. Obs.: Os exercícios em azul são recomen-
dações para que façam hoje!
6
para todo n ∈ N.
3 = 4(1)2 − 1.
Suponha, por indução, que a fórmula seja válida para algum k ∈ N. Assim,
n
X 2 (4k 3 − k) 2
(2k − 1)2 + [2(k + 1) − 1] = + [2(k + 1) − 1]
3
k=1
(4k 3 − k) 2
= + (2k + 1)
3
4k 3 − k + 12k 2 + 12k + 3
=
3
4(k 3 + 3k 2 + 3k + 1) − k − 1
=
3
4(k + 1)3 − (k + 1)
= .
3
Portanto, pelo princípio da indução temos que
n
X (4n3 − n)
(2k − 1)2 = ,
3
k=1
para todo n ∈ N.
(4 · 13 − 1)
1 = (2 · 1 − 1)2 = = 1.
3
Suponha, por indução, que a fórmula seja válida para algum k ∈ N. Assim,
3 + 11 + · · · + (8k − 5) + (8(k + 1) − 5) = 4k 2 − k + 8k + 3
= 4(k 2 + 2k) − k + 3
= 4(k 2 + 2k + 1) − k + 3 − 4
= 4(k 2 + 2k + 1) − k − 1
= 4(k + 1)2 − (k + 1).
3 + 11 + · · · + (8n − 5) = 4n2 − n,
para todo n ∈ N.
52·1 − 1 = 24 = 3 · 8.
Suponha, por indução, que o número 52k − 1 seja múltiplo de 8 para algum k ∈ N. Assim,
52(k+1) − 1 = 52 · 52k − 1
= 52 · 52k − 1 + 1 − 1
= 52 · 52k − 1 + 52 − 1
= 52 · (52k − 1) + 24.
Como ambas as parcelas são múltiplos de 8, então 52k+2 − 1 também é. Portanto, pelo princípio da
indução 52n − 1 é múltiplo de 8 para todo n ∈ N.
5 − 4 − 1 = 0 = 0 · 16.
7
Suponha, por indução, que o número 5k − 4k − 1 seja múltiplo de 16 para algum k ∈ N. Assim,
5k+1 − 4(k + 1) − 1 = 5 · 5k − 4k − 5
= 5 · 5k − 1 − 4k
= 5 · 5k − 4k − 1 + 20k − 4k
= 5 · (5k − 4k − 1) + 16k.
Como ambas as parcelas são múltiplos de 16, então 5k+1 −4(k +1)−1 também é. Portanto, pelo princípio
da indução 5n − 4n − 1 é múltiplo de 16 para todo n ∈ N.
n+1
!2 n
!2
X 1 X 1 1
√ = √ +√
i=1
i i=1
i n+1
n
!2 n
!
X 1 X 1 1 1
= √ +2 √ √ +
i=1
i i=1
i n+1 n+1
√
n 1
> n + 2√ + .
n+1 n + 1
√ √
Como o número 2 n/ n + 1 > 1 (você pode provar por indução essa afirmação), então
√
n 1
n+ √ + > n + 1.
n+1 n+1
Portanto,
n+1
!2
X 1
√ > n + 1,
i=1
i
e consequentemente,
n+1
X 1 √
√ > n + 1.
i=1
i
Desta forma, pelo Princípio da Indução,
n
X 1 √
√ > n
i=1
i
é válido para todo n ∈ N.
5 Referências
• Bartle, R.G., Sherbert, D. R., Introduction to Real Analisys. Fourth Edition. John Wiley &
Sons, Inc. Illinois, USA, 2010.
• Mollin, R. A., Fundamental Number Theory With Applications. Second Edition. Chapman
& Hall. Calgary, Canada, 2008.
• Santos, J. P. O., Introdução à Teoria dos Números. Terceira Edição. Coleção Matemática
Universitária. IMPA, Rio de Janeiro, Brasil, 2011.