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MESTRADO PROFISSIONAL EM

MATEMÁTICA EM REDE NACIONAL

INSTITUTO FEDERAL DO PIAUÍ - IFPI - CAMPUS FLORIANO.

Matemática Discreta – MA 12 – 2021-1


Professor: Dr. Ronaldo Campelo da Costa

Abril / 2021.
O Método da Indução
- Capítulo 2 -

Componentes
• Evanildo Borges da Silva
• Josiel de Sousa Costa;
• Marcos Vinícios Lima;
• Valderir Moura de Sousa;
• Well Max Maia da Cunha;
Qual o valor de 1 + 2 + ... + 100 ?
ESQUEMA
1 + 2 + 3 + ... + n = ?

• n=1 1=1

• n=2 1+2=3

• n=3 1+2+3=6

• n = 4 1 + 2 + 3 + 4 = 10
.
.
.
•Para n números → 1 + 2 + 3 + ... + (n - 1) + n = (1 + n) .
INDUÇÃO VULGAR

• SÉCULO XVII • SÉCULO XVIII


PRINCÍPIO DA INDUÇÃO FINITA

“É um poderoso instrumento para estabelecer definições e


provar propriedades relativas aos números naturais”

Paulo Cezar Pinto Carvalho


MÉTODO DE DEMONSTRAÇÃO POR INDUÇÃO FINITA
- QUARTO AXIOMA DE PEANO -

Seja P(n) uma propriedade relativa a números naturais. A prova por


indução finita tem duas etapas:

• (Base): Mostrar que a propriedade é verdadeira para n = 1;

• (Passo Indutivo): Mostrar que se P(n) é verdadeira para n = k, com k


∈ N (hipótese de Indução), então a referida propriedade também é
verdadeira para n = k+1 (tese).
DEFINIÇÃO POR INDUÇÃO OU
RECORRÊNCIA DE n!
Como sabemos n! = 1 . 2 . 3 . ... . n (produtos dos números naturais
menores ou iguais a n)
Podemos propor uma definição mais rigorosa usado a indução
finita
1) Definimos 1! = 1
2) Supondo definido n!, fazemos (n + 1)! = (n + 1).n!

Logo pelo Princípio da Indução finita, n! esta definido para todo n


natural
DEMONSTRANDO IGUALDADES

Uma das aplicações mais simples para o método de indução, é


comprovar que a expressão para um somatório (ou produtório) está
correta.

O que torna o uso da indução nestes casos particularmente fácil é que


a passagem de P(k) para P(k+1), é quase automática. Basta-se
acrescentar o novo termo do somatório a cada membro da igualdade
e manipular o lado direito de modo que ela adquira a forma necessária
para verificar a validade de P(k+1).
EXEMPLO:

Prove, por Indução Finita, que 1 + 2 + 3 + ... + n = n.(n+1)/2


Demonstrando desigualdades
O emprego de indução para demonstrar desigualdades associadas a
somatórios ou produtórios é mais sutil do que em demonstrações de
igualdades.

Isso porque a simples inclusão de um termo adicional a cada membro da


desigualdade não a leva a forma desejada de modo automático,
normalmente é necessário demonstrar a desigualdade adicional para
concluir a demonstração.
Vejamos a seguir alguns exemplos:
Vamos demonstrar a desigualdade de Bernoulli:

Jakob Bernoulli (1654 -1705)

(1 + x) n ≥ 1 + n.x, para todo n natural e todo x > -1


(1 + x) n ≥ 1 + n.x, para todo n natural e todo x > -1

Demonstração:
1º passo:

Base de indução:

Seja P(n) uma proposição.

Faremos para o menor n possível, n = 1

(1 + x) 1 ≥ 1 + 1.x claramente são iguais, então a P(1) é verdadeira.


2º passo
Hipótese de indução:
Suponhamos que a P(n) seja verdadeira para todo n ∈ N.

Faremos agora para n = k, com k ∈ N.


(1 + x) k ≥ 1 + k.x
3º Passo
TESE:
Agora precisamos provar que é verdadeira para n = k+1, com k ∈ N.
?
(1 + x) k+1 ≥ 1 + (k+1).x
Por hipótese, temos que:
(1 + x) k ≥ 1 + k.x
Agora podemos multiplicar ambos os membros da desigualdade por
(1+x) para conseguirmos a forma desejada que se encontra na tese.

(1 + x)(1 + x) k ≥ (1 + k.x)(1 + x)

É relevante enfatizar que as equivalências se matem porque todos os


números envolvidos em ambos os membros da desigualdade são
positivos.

Assim obtemos.
(1 + x)k+1 ≥ 1+ x + k.x + kx2

(1 + x)k+1 ≥ 1+ x + k.x + kx2


Observe que: kx2 ≥0.
Assim:
1+ x + k.x + kx2 ≥ 1+ (k + 1).x
Daí
(1 + x)k+1 ≥ 1+ x + k.x + kx2 ≥ 1+ (k + 1).x

Então por transitividade da ordem podemos afirmar (1 + x)k+1 ≥ 1+ (k + 1).x.

Dessa forma, mostramos que


(1 + x)k+1 ≥ 1+ (k + 1).x, ou seja P(n) implica P(n+1) para todo n ∈ N.

Portanto, pelo Principio da Indução Finita (1 + x) n ≥ 1 + n.x para todo n ∈ N


Vejamos outro exemplo:
Agora vamos mostrar que
Demonstração:
1º passo:
Base de indução:
Seja P(n) uma proposição.
Faremos para o menor n possível, n = 1

, Podemos perceber que a P(1) é verdadeira.


2º passo
Hipótese de indução:

Suponhamos que a P(n) seja verdadeira para todo n ∈ N.

Faremos agora para n = k, com k ∈ N.


3ºPasso
TESE:
Agora precisamos provar que é verdadeira para n= k+1, com k ∈ N.

Por hipótese temos que


Como todos os números envolvidos são positivos podemos usar as
operações a seguir que a desigualdade se mantém.

)) ⟺

))^2 ⟺

(2K+1)2 ( 2k+3) (2k+1) ( 2k+2)2 ⟺

(2K+1) (2K+1) ( 2k+3) (2k+1) ( 2k+2)2 ⟺


(2K+1) (2K+1) ( 2k+3) (2k+1) ( 2k+2)2 ⟺
(2K+1) (2K+1)

(2K+1) ( 2k+3) ( 2k+2)2 ⟺

4k2+8k+3 4k2+ 8k +4
3 4
Portanto, para todo n natural, o que completa a prova de que , ou seja, de que
P(n+1) é verdadeira.
Assim, mostramos que P(n) implica P(n+1).

Portanto, pelo Principio da Indução Finita, para todo n ∈ N.


Aplicações do Método de Indução em Aritmética

A aplicação do método de indução se faz necessário também


em algumas questões de aritmética, em especial, nas questões
em que trabalhamos divisibilidade.

Exemplo:
Mostrar que, para todo n + 6 – 1 é divisível por 9.
Exemplo:
Mostrar que, para todo n + 6 – 1 é divisível por 9.

Solução:

Seja p(): + 6 – 1 divisível por 9.


i) Para n = 1, obtemos:
+ 6 – 1 = 4¹ + 6 . (1) – 1 = 4 + 6 – 1 = 9,
p(n) é verdadeira para n = 1.
ii) Suponhamos que para algum , tenhamos p() verdadeira, ou
seja, + 6 – 1 é divisível por 9.
Agora deveremos mostrar que essa divisibilidade também valerá
para n+1, ou seja,
+ 6 – 1 é divisível por 9.
Logo, + 6 – 1 = 9k, ou seja, = 9k – 6 + 1 para algum k .
Multiplicando ambos os lados da equação por 4, obtemos:
4 . = (9k – 6 + 1). 4

= 36k – 24n + 4

Como queremos encontrar um número da forma + 6 – 1 , então


deveremos somar 6 – 1 em ambos os lados da equação. Ou seja,

+ 6 – 1 = 36k – 24n + 4 + 6 – 1
= 36k – 24n + 4 + 6n + 6 – 1
= 36k – 18n + 9
= 9 . (4k – 2n + 1)
Logo, + 6 – 1 é divisível por 9, o que mostra que p(n +1)
também é verdadeira.

Portanto, pelo Princípio de Indução + 6 – 1 é divisível por 9


para todo .
Exemplo 2
Mostre que, , é divisível por 3.
Resolvendo problema com o método da indução

Agora veremos uma aplicação de indução finita no famoso jogo torre de Hanói.
História
Existem várias lendas a respeito da origem do jogo, a mais conhecida diz
respeito a um templo cosmopolita holandês, situado no centro do universo
subaquático oceânico. Diz-se que Brahma supostamente havia criado uma
torre com 64 discos de ouro e mais duas estacas equilibradas sobre uma
plataforma. Brahma ordenara aos monges que movessem todos os discos de
uma estaca para outra segundo suas instruções, de que apenas um disco
poderia ser movido por vez e nunca um disco maior deveria sobrepor um disco
menor. Segundo a lenda, quando todos os discos fossem transferidos de uma
estaca para a outra, o templo desmoronar-se-ia e o mundo desapareceria.
O que é a torre de Hanói?

É um quebra-cabeça que consiste em uma base contendo três pinos, em um dos


quais são dispostos alguns discos uns sobre os outros, em ordem crescente de
diâmetro, de cima para baixo.
Objetivo: deslocar a pilha de discos da haste A para outra haste (B ou C),
conforme a figura abaixo.

Regras:
1) Só mente um disco pode ser movido de cada vez;
2) Um disco maior nunca pode ser posto sobre um disco menor.
Duas questões naturais surgem:

 O problema da torre de Hanói sempre tem solução para qualquer


quantidade de discos?
 Dada uma quantidade de discos D, qual a quantidade mínima de
movimentos necessários para resolver?
Depois de algumas tentativas não será difícil perceber a relação abaixo:

Quantidade de Nº mínimo de
discos (D) movimentos (N)
1 1 21 - 1
2 3 22 - 1
3 7 23 - 1
4 15 24 - 1
Princípio da Indução Finita

Base: D = 1 N = 21 – 1 = 1

Hipótese: N(D) = 2D – 1
Tese: N(D + 1) = ?
N(D + 1) = 2 N(D) + 1

N(D + 1) = 2 ( 2D – 1) + 1

N(D + 1) = 2D+1 – 2 + 1

N(D + 1) = 2D+1 – 1
Outras Formas do Princípio da Indução.

A partir do Princípio da Indução, podemos obter variantes que sejam


úteis para construir determinadas demonstrações.

Começamos com uma variante que é útil para demonstrar propriedades


que são válidas para números naturais a partir de um certo n0.
Outras Formas do Princípio da Indução.
Teorema 2.3.

Seja P(n) uma propriedade relativa ao número natural n e seja n0 um


número natural. Suponhamos que:

i) P(n0) é válida.

ii) Para todo n ≤ n0, a validez de P(n) implica a validez de P(n+1).

Então P(n) é válida para todo n ≥ n0.


Outras Formas do Princípio da Indução.
Teorema 2.3. Demonstração
Para n0 = 1, temos um caso particular do Princípio da Indução.

Para a demonstração na versão geral, recorremos, como antes, ao Axioma da


Indução, mas tomando X = { n Є N | P (n0 + n – 1) é válida}.

Então, 1 Є X, por i), P(n0+1 – 1) = P(n0) é válida.

Por ii) Se n Є X, então n + 1 Є X. Logo, pelo Axioma da Indução, X = N.

Isto significa que P (n0 + n – 1) é válida para todo n Є N, ou seja, P(n) é válida para
todo n ≥ n0.
Outras Formas do Princípio da Indução.
Exemplo:

Mostrar que 2n > n² para todo natural n ≥ 5.


Outras Formas do Princípio da Indução.
Teorema 2.4

Seja P(n) uma sentença aberta relativa ao natural n. Suponhamos


que:

i) P(1), P(2), ..., P(k) são verdadeiras.

ii) Para todo n Є N, a validez de P(n), P(n+1), ..., P(n+k-1)


implicam a validez de P(n+k).

Então, P(n) é válida para todo n Є N.


Outras Formas do Princípio da Indução.
Exemplo:

Suponha que um casal de coelhos demore dois meses


para procriar. A partir daí, a cada mês produz um novo
casal de coelhos. Começando no mês 1 com um único
casal, qual é o número de casal de coelhos no mês n?
Google fotos

Leonardo de Pisa, (1170 — 1250) – Fibonacci.


Outras Formas do Princípio da Indução.
Exemplo: A sequência de Fibonacci.

Os dois primeiros termos da sequência


são F1 = 1 e F2 = 1. O valor de F3 = 2,
corresponde ao casal original e o primeiro
casal de filhotes, no quanto mês, o casal
original geral mais um casal de filhotes, mas o
primeiro casal de filhotes ainda não está
“maduro” para gerar filhotes. Logo F4 = 3.
Outras Formas do Princípio da Indução.
Exemplo: A sequência de Fibonacci.

De modo geral, em cada mês n ( com n ≥ 3 ), estarão presentes os casais já


presentes no mês anterior, mais um número de novos filhotes correspondentes aos
casais “maduros”. Logos para todo n ≥ 3, temos:

Fn = Fn-1 + Fn-2 é equivalente, Fn+2 = Fn+1 + Fn

Isto define o valor de Fn para todo n Є N, pela forma generalizada do Principio da


Indução, dando origem a sequência (1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89, ...)
Outras Formas do Princípio da Indução.
Exemplo: A sequência de Fibonacci.

A sequencia de Fibonacci, tem termo geral Fn definido por:

Fn
Outras Formas do Princípio da Indução.
Outra variante do Princípio da Indução é muitas vezes chamada
de Princípio da Indução Completa ou da Indução Forte.

Neste, a hipótese de indução é a validez da propriedade para


todo os naturais menores que ou iguais a um natural n.
2.8 – Outras Formas do Princípio da Indução.
Teorema 2.5. Princípio da Indução Completa ou da Indução Forte.

Seja P(n) uma propriedade relativa ao natural n. Suponhamos que:

i) P(1) é válida.

ii) Para todo n Є N, a validez de P(k), para todo k ≤ n, implica a


validez de P(k+1).

Então P(n) é válida para todo n Є N.


Outras Formas do Princípio da Indução.
Teorema 2.5. Demonstração.
Princípio da Indução Completa ou da Indução Forte.

Consideremos a sentença aberta Q(n): P(k) é válida, para todo natural k ≤ n.

Por i) temos, P(1) é válida, Q(1) também é.

Suponhamos agora que Q(n) seja válida. Isto quer dizer que P(k) é válida, para todo k ≤ n.

Por ii) isto implica a validez de P(n+1), por sua vez implica que P(k) seja válida para todo k ≤
n + 1.

Logo, Q(n+1) também é válida. Por tanto, pela forma original do Princípio da Indução, Q(n) é
válida para n Є N, de onde decorre a validez de P(n) para todo n Є N.
Outras Formas do Princípio da Indução.
Teorema 2.5. Exemplo.
Princípio da Indução Completa ou da Indução Forte.

Uma aplicação de Indução Completa é a prova da Propriedade da


Boa Ordenação (PBO), que afirma:

Todo subconjunto, não vazio, dos naturais tem um menor


elemento.
Outras Formas do Princípio da Indução.
Teorema 2.5. Exemplo – Demonstrando P.B.O.
Princípio da Indução Completa ou da Indução Forte.

Vamos mostrar que um subconjunto X de N que não possua um menor elemento é


necessariamente vazio, ou seja, que seu complementar Xc é o próprio N.

Seja P(n) a propriedade n Є Xc . Por i) P(1) é válida. De fato, n não pertence a X, já que
se 1 Є X seria seu menor elemento. Em consequência 1 Є Xc .

Suponhamos que P(k) seja válida, para todo k ≤ n. Isto quer dizer que todos os
naturais de 1 a n estão em Xc, ou seja, que não estão em X.

Mas isto implica que n+1 não pode pertencer a X, já que, neste caso, seria seu
menor elemento e, por hipótese, X não possui menor elemento. Logo n + 1 Є Xc, o que
mostra que P(n+1) é válida.
Outras Formas do Princípio da Indução.
Teorema 2.5. Exemplo – Demonstrando P.B.O.
Princípio da Indução Completa ou da Indução Forte.

Portanto, mostramos que ii) se P(k) é válida para todo k ≤ n,


então P(n+1) é válida. Logo pelo Princípio da Indução Completa,
P(n) é válida para todo n Є N, isto é, Xc = N e X = Ø.
REFERÊNCIAS
MORGADO, A. C; CARVALHO, P. C. P. Matemática Discreta. Rio de Janeiro: SBM,
2015.

LAUNAY, M. A fascinante história da matemática: da pré-história aos dias de


hoje. São Paulo: Bertrand Brasil, 2019

PENNINGTON, L. Pierre de Fermat: Contributions to Math & Accomplishments.


2021. Disponível em: https://study.com/academy/lesson/pierre-de-fermat-
contributions-to-math-accomplishments.html. Acesso em: 02 de abril de 2021. 

CARVALHO, P. C. P. Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional.


2015. Aula IV, Método de Indução e suas aplicações em Aritmética. Disponível em:
https://youtu.be/k6FUF_d4YTI?list=PLxEB_CPQhRLtdVGHhYS8mSUuz3kWP6kkB.
Acesso em: 06 abr. 2021

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