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CURSO TÉCNICO EM AUTOMAÇÃO

PROFESSOR: Carlos Alexandre Pavonato


DISCIPLINA: Eletrônica Digital I (EDI)

PORTAS LÓGICAS SIMPLES

As portas lógicas podem ser consideradas componentes básicos da eletrônica


digital, são usadas para criar circuitos digitais e até mesmo circuitos integrados
complexos, sendo capazes de realizar diversas operações matemáticas, para
desenvolvimento daquilo que se determina lógica digital.

Podem ser considerados também dispositivos que operam com base em um ou


mais sinais lógicos de entrada para produzir uma (e somente uma) saída, que é
dependente da função lógica implementada no circuito.

Para o estudo dos circuitos denominados de portas lógicas, tanto simples


quanto derivadas, antes é necessária uma abordagem inicial àquilo que se chama de
níveis lógicos em eletrônica digital, e também à chamada Álgebra de Boole ou Álgebra
Booleana, que foi a base de estudos para a invenção e aprimoramento prático destes
circuitos.

1 Níveis lógicos

Em eletrônica digital pode-se dizer que existem dois níveis lógicos (figura 1)
para operações, o nível lógico baixo (chamado de “nível 0”) e o nível lógico alto
(chamado de “nível 1”).
Figura 1 – Representação de níveis lógicos em eletrônica digital

O nível baixo será sempre uma tensão nula (ou total ausência de sinal num
ponto do circuito), nessa condição é indicado como “0” (zero) ou mesmo representado
com um termo derivado do inglês “low” (baixo).

O nível alto será sempre uma tensão elétrica contínua representada por um
sinal, nas quais essa amplitude varia dependendo da família lógica utilizada. Um
exemplo muito utilizado é o sinal de 5VCC (família lógica TTL).

Nessa condição é indicado como “1” (zero) ou mesmo representado com um


termo derivado do inglês “high” (alto).

No caso da família lógica de tecnologia CMOS, o nível lógico 1” pode assumir


qualquer tensão entre 3 e 15V, dependendo apenas da tensão de alimentação usada
no circuito em questão.

Por sinal digital ou discreto entende-se ser um sinal que, ao longo do tempo, só
pode adquirir dois valores arbitrários fixos (figura 2). Cada um desses valores é
denominado genericamente de “0” e “1”, sendo o 0 considerado o “nível baixo”, e o 1
considerado o “nível alto”.

Embora na natureza não possam ser encontradas grandezas digitais, é comum


se encontrar características de uma planta ou equipamento que se comportam desta
maneira.
Figura 2 – Sinal digital representado por seus níveis lógicos

Como exemplo, a presença de um objeto, estado de um botão pulsador (figura


3), uma chave de final de curso, de um reservatório estando cheio ou vazio, um
interruptor estando ligado ou desligado, entre muitos outros.

Os níveis arbitrários “0” e “1” podem ser representados nos ambientes


industriais mais comumente pelos sinais de 0-5V, 0-12V, 0-24V, entre outros. Os
sinais apresentam pequenas tolerâncias positivas e negativas, normalmente na faixa
de décimos de Volt.

Figura 3 – Botão pulsador (estado de uma grandeza digital)

2 Álgebra Booleana

A álgebra booleana pode ser definida com um conjunto de operadores e um


conjunto de axiomas, que são assumidos verdadeiros sem necessidade de prova.
Em 1854, George Boole introduziu o formalismo que até hoje se usa para o
tratamento sistemático da lógica, que é a chamada álgebra booleana (figura 4), em
homenagem ao seu nome.

Figura 4 – Exemplo de expressão booleana (simplificação)

Em 1938, Shannon aplicou esta álgebra para mostrar que as propriedades de


circuitos elétricos de chaveamento podem ser representadas pela álgebra, com dois
valores denominados de arbitrários (genericamente chamados de “0” e “1”), sendo o
“0” para representar o nível baixo de tensão elétrica (0V) na eletrônica digital e o “1”
para representar o nível alto da tensão elétrica na eletrônica digital.

Diferentemente da álgebra ordinária dos reais, onde as variáveis podem


assumir valores em um intervalo infinito, as variáveis booleanas só podem assumir um
número finito de valores (apresentados acima como sendo nível lógico baixo e nível
lógico alto).

Nesta apostila será utilizada a notação “0” e “1”, que é a mais comumente
utilizada em eletrônica digital. Como o número de valores que cada variável pode
assumir é finito, o número de estados que uma função booleana pode assumir
também será finito, o que significa que se pode descrever completamente as funções
booleanas utilizando tabelas.
Devido a este fato, uma tabela que descreva uma função booleana recebe o
nome de tabela verdade, e nela são listadas todas as combinações de valores que as
variáveis de entrada de um circuito digital podem assumir e os correspondentes
valores da função (saídas).

Isto significa que por meio da utilização das tabelas verdade pode-se
determinar o comportamento completo de uma porta lógica e consequentemente de
um circuito lógico combinacional.

Resumindo, pode-se dizer que a tabela verdade (figura 5) é uma tabela que
exibe todas as possíveis combinações de entrada e saída de um circuito lógico, e é
extremamente importante para a análise de circuitos práticos digitais.

Conforme mencionado nos tópicos acima, nestas tabelas os valores das


variáveis de entrada e saída irão se relacionar por meio de uma função lógica (função
booleana), e dependendo desta função, o comportamento da variável de saída em
função das entradas será organizado (exibido) nas tabelas.

Figura 5 – Tabela verdade (3 variáveis)

Deve-se analisar cada condição da função booleana de saída em particular,


para que depois a função seja confeccionada, de acordo com suas características.
Para se concluir o estudo a respeito das funções booleanas, deve-se primeiramente
estudar as portas lógicas básicas independentemente, analisando o comportamento
individual de cada uma delas.

Nas tabelas verdade, a quantidade de entradas poderá variar, dependendo do


tipo de circuito lógico que está sendo analisado. Existe uma relação matemática que
determinará o número de combinações possíveis que uma tabela verdade irá possuir,
de acordo com o número de entradas que a porta lógica ou o circuito lógico
combinacional possuir. A relação matemática é a seguinte:

c = 2e

onde:

c = número de combinações possíveis para o circuito em questão

e = quantidade de entradas da porta lógica / circuito combinacional

Por exemplo, considerando que uma determinada porta lógica possua 2


entradas, haverão 4 combinações possíveis de saída (de sinais lógicos “0” e “1” nas
entradas). Se a mesma possuir 3 entradas, haverão 8 combinações possíveis na saída
deste circuito, e assim por diante.

3 Portas lógicas básicas

As portas lógicas são circuitos eletrônicos destinados a executar as operações


lógicas, e cada porta lógica apresenta sua função booleana, sua tabela verdade e seu
símbolo.

Estes circuitos eletrônicos, compostos de transistores, diodos, resistores, entre


outros componentes, são encapsulados na forma de CI’s (circuito integrados). Cada
circuito integrado de porta lógica (figuras 6 e 7) pode conter várias portas lógicas.

Figura 6 – Circuito integrado 7408 (4 portas lógicas AND de 2 entradas)


Figura 7 – Circuito integrado 7432 (4 portas lógicas OR de 2 entradas)

Portas lógicas de mesma função podem ter características elétricas diferentes,


como corrente de operação, consumo e velocidade de transmissão, porém nesta
apostila serão estudados os aspectos referentes somente a lógica e aplicações
práticas dos circuitos lógicos.

4 Tipos de portas lógicas

Neste tópico serão apresentados os tipos de portas lógicas com símbolo,


função e tabela verdade, componentes disponíveis comercialmente. Algumas portas
lógicas podem possuir mais de duas entradas e alguns circuitos integrados, podem
possuir tipos diferentes de portas lógicas no mesmo encapsulamento.

4.1 Porta lógica OR (lógica “OU”)

Nesta porta lógica, independente do número de entradas que a mesma possuir,


a saída somente será em nível lógico “0” (baixo) se TODAS as suas entradas
estiverem em nível lógico baixo. Se apenas UMA das entradas estiver em nível lógico
“1” (alto), a saída estará em nível alto.

O circuito equivalente da porta lógica OR é o circuito paralelo, conforme sua


tabela verdade e símbolo (figura 8).
• Operador lógico: + (significa OU / OR)

• Função booleana: F=A+B (ou seja, a saída F irá para nível alto se a entrada A
OU a entrada B estiverem nível alto, para duas entradas)

Figura 8 – Tabela verdade e símbolo da porta OR (2 e 3 entradas)

4.2 Porta lógica AND (lógica “E”)

Nesta porta lógica, independente do número de entradas que a mesma possuir,


a saída somente será em nível lógico “1” (alto) se TODAS as suas entradas estiverem
em nível lógico alto. Se apenas UMA das entradas estiver em nível lógico “0” (baixo), a
saída estará em nível baixo.

O circuito equivalente da porta lógica AND é o circuito série, conforme sua


tabela verdade e símbolo (figura 9).
• Operador lógico: . (significa E-AND)

• Função booleana: F=A.B (ou seja, a saída F irá para nível alto se a entrada A e
a entrada B estiverem nível alto, para duas entradas)

Figura 9 – Tabela verdade e símbolo da porta AND (2 e 3 entradas)

4.3 Porta lógica NOT (lógica “NÃO”)

Nesta porta lógica, apenas ocorre a inversão do sinal da entrada, e a porta


lógica “NOT” possui sempre apenas uma entrada. Se o sinal presente na entrada
dessa porta lógica for “0” (baixo), a saída irá apresentar o nível “1” (alto), se o sinal
presente na entrada dessa porta lógica for “1”, a saída irá apresentar o nível “0”
(baixo).
Essa porta tem grande finalidade para se realizar o casamento das
impedâncias (resistências) do circuito, ou seja, transformar uma entrada de
impedâncias altas em uma saída de impedâncias baixas. Esta é a única porta lógica
que apresenta apenas uma entrada, portanto apenas duas combinações possíveis na
tabela verdade (figura 10).

• Operador lógico: (significa NÃO-NOT)

• Função booleana: F=A (ou seja, a saída F irá para nível alto se a entrada
estiver em nível baixo e vice-versa)

Figura 10 – Tabela verdade e símbolo da porta NOT

5 Circuitos lógicos combinacionais (portas lógicas básicas)

Estes circuitos surgem nas aplicações práticas quando são necessárias


combinações entre as portas lógicas básicas. São formados a partir da junção entre
estas portas lógicas, e são confeccionados de acordo com a finalidade dos circuitos
que estão sendo construídos.

5.1 Expressões booleanas obtidas de circuitos lógicos

Todo o circuito lógico executa uma função booleana e, por mais complexo que
seja, é formado pela interligação das portas lógicas básicas. Assim, pode-se obter a
expressão booleana que é executada por um circuito lógico qualquer, chamado de
circuito lógico combinacional.
Este é assim chamado porque combina as principais características individuais
das portas lógicas básicas e/ou derivadas (figura 11).

Figura 11 – Circuito lógico combinacional (exemplo 1)

Neste caso, o circuito lógico combinacional é composto de duas portas OR de


duas entradas, simbolizadas respectivamente pelas entradas A, B, C e D. Nas
entradas serão conectados os sensores, botões, chaves, entre outros dispositivos
presentes nas áreas industriais, de acordo com cada aplicação

Na saída destes blocos está ligada uma porta AND de duas entradas, e a saída
total do sistema será na porta AND, e sua saída será acionada ou não, dependendo
das condições nos dispositivos de entrada. A expressão lógica de cada porta deverá
ser analisada individualmente, para a construção da expressão lógica de saída.

Um outro exemplo de circuito combinacional poderá ser analisado na


sequência (figura 12), seguindo a mesma linha de raciocínio, analisando cada porta
lógica individualmente para a obtenção da expressão lógica de saída.

Figura 12 – Circuito lógico combinacional (exemplo 2)


Neste caso, o circuito lógico combinacional é composto de uma porta AND de
duas entradas (A e B), uma porta NOT (negação) com sua entrada representada pela
entrada C, e uma porta NAND (porta logica derivada que será analisada
posteriormente) de duas entradas (C e D), a saída destes três blocos é ligada a uma
porta OR de três entradas, e a saída total do sistema será nesta porta OR.

5.2 Circuitos lógicos obtidos de expressões booleanas

É possível também desenhar um circuito lógico que executa uma função


booleana qualquer a partir de sua expressão característica, ou seja, a partir de sua
expressão booleana.

O método para a resolução consiste em se identificar as portas lógicas na


expressão e desenhá-las com as respectivas ligações, a partir das variáveis de
entrada. Deve-se sempre respeitar a hierarquia das funções da aritmética, ou seja, a
solução inicia-se pelos parênteses, assim como as funções básicas da matemática.

Para exemplificar, será obtido o circuito lógico combinacional que executa a


expressão booleana S = (A+B).C.(B+D).

Para o primeiro parêntese tem-se uma soma booleana A+B, logo o circuito que
o executa será uma porta OU (OR). Para o segundo parêntese, tem-se outra soma
booleana B+D, logo o circuito será uma porta OU.

Posteriormente tem-se a multiplicação booleana de dois parênteses juntamente


com a variável C, sendo o circuito que executa esta multiplicação uma porta E (AND).
Para finalizar, unem-se as respectivas ligações obtendo o circuito booleano completo,
e as deduções lógicas deverão seguir uma sequência passo-a-passo (figura 13).

Figura 13 – Passo-a-passo para construção de circuito lógico


6 Circuitos integrados comerciais (portas-lógicas)

Sabe-se que todos os circuitos digitais, por mais complexos que sejam, são
obtidos através de portas lógicas. Estas, por sua vez, não são encontradas
comercialmente de uma forma discreta (como os resistores) e sim encapsuladas em
componentes chamados de circuitos integrados (CI’s).

Todo circuito integrado possui um conjunto de contatos externos, denominados


“pinos”, cada qual com sua função específica, que é fornecida pelos fabricantes dos
componentes em documentos chamados de “datasheets”, fornecidos gratuitamente
pela internet, que pode ser comparado a uma “bula” do componente.

Os datasheets contêm, além da pinagem (ligação) dos circuitos integrados,


exemplos de aplicações, limites elétricos máximos e mínimos permitidos pelos
componentes, corrente de alimentação, entre outros dados.

São numerados a partir do número “1” no sentido anti-horário. O pino “1” é


identificado olhando-se o CI pela parte superior (figura 14).

Figura 14 – Numeração de circuitos integrados (genérico)

Os CI’s que implementam funções lógicas podem possuir uma ou mais portas,
geralmente todas de uma mesma função (figura 15).

Deve-se tomar todo o cuidado possível no manuseio de circuitos integrados,


pois os mesmos podem vir a ser facilmente danificados através das descargas
eletrostáticas acumuladas quando tocamos seus terminais. Os circuitos integrados são
componentes eletricamente muito sensíveis, pode-se prevenir este tipo de problema
utilizando-se pulseiras especiais para manuseio dos circuitos.
Figura 15 – Exemplos circuitos lógicos comerciais (portas-lógicas)
7 Exercícios

NOTA: Esta lista de exercícios faz parte da avaliação da disciplina, deve ser entregue
ao professor.

1) Em sua opinião, qual a principal função da álgebra booleana? Ela representa


variáveis analógicas ou digitais?

2) Explicar com suas palavras a definição de “tabela verdade”. Existe uma quantidade
fixa de entradas para as tabelas verdade, ou haverá variação de acordo com cada
processo?

3) Citar o que é uma porta lógica e quais tipos de portas lógicas básicas presentes nos
circuitos eletrônicos. Explicar detalhadamente uma delas.

4) Baseado na tabela verdade da porta “OR”, se a mesma possuir três entradas,


quantas entradas deverão estar em nível alto para que a saída seja acionada?
Explicar sua resposta.

5) Classifique a afirmação em verdadeira ou falsa e justifique: “Em uma porta AND de


três entradas, se duas delas estiverem em nível alto o sinal de saída também estará
em nível alto”. Justifique sua resposta.

6) Classifique a afirmação em verdadeira ou falsa e justifique: “Nas portas lógicas do


tipo “OR”, a operação booleana realizada é a multiplicação lógica”. Justifique sua
resposta.

7) Qual das portas lógicas estudadas é utilizada para “barrar sinais”, ou seja, inverter
sinais? Quantas entradas esta porta-lógica possui?

8) Fisicamente, como as portas lógicas são obtidas para utilização em ambientes


industriais, em circuitos práticos?

9) Converter a expressão booleana em um circuito lógico combinacional:

a) S = (A.B)+(C.D)

10) Converter a expressão booleana em um circuito lógico combinacional:

b) S = (A + B +C) . (A +C + D)
11) Converter a expressão booleana em um circuito lógico combinacional:

c) S = (A + B) . (A + C).B

12) Converter o circuito lógico abaixo em expressão booleana:

13) Converter o circuito lógico abaixo em expressão booleana:

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