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Aula 2

Princípio da Indução Finita

Na Aula 1, estudamos sobre as axiomas I-II dos números inteiros. Há outros sistemas que
satisfazer as Axiomas I-II, por exemplo os números racionais Q ou os números reais R. Então
para que o sistema dos números inteiros sejam bem definida, precisamos excluir os sistemas.
Para isto introduzimos uma outra axioma. Esta axioma fornece uma conexão entre o conjunto
P = {m ∈ Z : m > 0} dos números inteiros positivos em Z e os “números naturais ”, que são
obtidos começado pelo número 1 e sucessivamente formando “sucessores”.

Definição 2.0.1. Seja n ∈ P. Definimos o sucessor de n, denotado por S(n) como

S(n) = n + 1

Podemos definir mais números em P usando este processo:

• Sabemos que 1 ∈ P

• S(1) = 1 + 1 (denotamos por “2”)

• S(2) = 2 + 1 (denotamos por “3”)

• S(3) = 3 + 1 (denotamos por “4”)

• · · · assim por diante

A característica distintiva do sistema de inteiros é que este processo produz todos os números
positivos. A ideia é transformar essa afirmação intuitiva em uma axioma. Infelizmente, a frase
“assim por diante” usado acima não é uma definição adequada de "contagem dos números ”.

Definição 2.0.2. Um conjunto A ⊂ P é indutivo se

(a) O elemento identidade pertence A : 1 ∈ A

(b) O sucessor de qualquer elemento em A também está em A : a ∈ A =⇒ S(a) = a + 1 ∈ A

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Claro que P é um conjunto indutivo.
R não é um conjunto indutivo pois o número 1 e seu sucessores não “gera“ o conjunto R.
A última axioma finalmente dá uma caraterização completa dos números inteiros.

2.0.1 Axiomas III: Axioma da Indução.

O sistema dos números inteiros positivos P = {m ∈ Z : m > 0} satisfazer a seguinte propriedade:

PROPRIEDADE INDUTIVO: Se um subconjunto A ⊂ P possuem as seguintes propriedades

(a) 1 ∈ A

(b) a ∈ A =⇒ a + 1 ∈ A (isto é, “se a está em A, então também seu sucessor está)

então A = P.

Observação 2.

1. O sistema dos números inteiros Z é o único que satisfaz as Axiomas I-III.

2. Usamos a notação N para representar os números naturais {1, 2, 3, · · · , } em vez de P.

3. Z = −N ∪ {0} ∪ N (reunião disjunto), pelo Axioma II

2.0.2 Exercícios

1. Prove que o número 1 é o menor elemento em N, isto é 1 ≤ n para todo n ∈ N.


Dica: Considere o conjunto A = {n ∈ N : n ≥ 1} e mostrar que ele tem as propriedades (a),(b)
da Axioma de Indução.

2. Se n ∈ N e n > 1 prove que n − 1 ∈ N


Dica: Use o exercício anterior.

3. Se n ∈ N e n > 1, prove que n ≥ 2 - isto é não existem números naturais entre 1 e seu sucessor
2 = 1 + 1.

4. Se n ∈ N mostre que não existe x ∈ N tal que n < x < n + 1.

5. Se m, n ∈ N e m > n, prove que m − n ∈ N.

Teorema 2.0.1 (Princípio da Boa Ordenação). Todo subconjunto não-vazio A ⊂ N possui um menor
elemento - um elemento a0 = min(A) em A tal que a0 ≤ a para todo a ∈ A.

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O Princípio da Boa Ordenação as vezes é considerada como uma Axioma III’ alternativo no
lugar do Axioma III. Isto é

Teorema 2.0.2. São equivalentes as seguintes afirmações:

(a) Princípio de Indução: Se um conjunto A ⊆ N tem a propriedade (i) 1 ∈ A e (ii) a ∈ A =⇒ a+1 ∈ A,


então A = N.

(b) Princípio da Boa Ordenação : Se A é um subconjunto não vazio de N então ele possui menor
elemento a0 , tal que a0 ∈ A e a0 ≤ a para todo a ∈ A.

Algumas implicações do Teorema 2.0.1 é o algoritmo da divisão e o principio da indução


matemática.
Vamos fazer alguns exemplos usando o Principio da Boa Ordenação:

Exemplo 2.0.1. Mostre que não existe inteiro positivo que é menor que 1, isto é 1 é o menor inteiro
positivo.

Resolução: Considere o conjunto

A = {n ∈ N; n < 1}.

Suponha que A , ∅. Então pelo Principio da Boa Ordenação existe n0 ∈ A tal que

n0 ≤ n para todo n ∈ A e n0 < 1.

Multiplicando a inequação 0 < n0 < 1 por n0 , temos então que

0 < n20 < n0 ,

o que implica que n0 não é o menor elemento em A. Como ao assumir que A , ∅ gerou uma
contradição, ela deve ser falsa. Portanto 1 é o menor inteiro positivo.


Exemplo 2.0.2. Use o Principio da Boa Ordenação para mostrar que 3 é irracional.


Resolução: Como 1 < 3 < 4, segue das propriedades de ordem dos inteiros que 1 < 3 < 2.

Agora suponha que 3 é racional, então existe inteiros positivos m e n0 tal que
√ m
3= .
n0

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√ m
Seja A = {n ∈ N; 3 = , para algun inteiro positivo m}.
n
Então A , ∅ pois n0 ∈ A. Logo pelo Principio da Boa Ordenação, A possui um menor elemento,
digamos que b e portanto
√ a
3= para algun inteiro positivo a.
b
a
Agora, como 1 < < 2, temos que b < a < 2b, isto é 0 < a − b < b, e a − b é um inteiro positivo
b
menor que b.
Mas
√ a
3= ⇒ 3b2 = a2 ⇒ 3b2 − ab = a2 − ab ⇒ b(3b − a) = a(a − b).
b
Como a, b e a − b são todos positivos, então 3b − a > 0 e

√ a 3b − a
3= = .
b a−b

Portanto escrevemos 3 com quociente de 2 inteiros com denominador positivo a − b menor que

b. Isto contradiz a escolha de b. Portanto 3 é irracional.


3
Exemplo 2.0.3. Prove que 2 é um número irracional.

Demonstração. Vamos usar o Principio da Boa Ordenação.



3
Observe 1 < 2 < 27, segue das propriedades de ordem dos inteiros que 1 < 2 < 3.
√3
Agora suponha que 2 é racional, então existe inteiros positivos m e n0 tal que

3 m
2= .
n0

3 m
Seja A = {n ∈ N; , para algun inteiro positivo m}.
2=
n
Então A , ∅ pois n0 ∈ A. Logo pelo Principio da Boa Ordenação, A possui um menor elemento,
digamos que b e portanto

3 a
2= para algun inteiro positivo a.
b


3 a √
3
2= , logo b 2 = a, e 2b3 = a3 .
b
(Para completar a demonstração, vamos usar alguns fatos sobre divisibilidade, que vamos
estudar mais adiante. Eles são facies de entender).
A ultima equação mostra que 2 divide a3 . Isto é possível se 2 divide a, logo a = 2c, para algum
inteiro positivo c e c < a.
Substituindo este fato em 2b3 = a3 , temos que

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2b3 = 8c3 , ou b3 = 4c3 .

Como 2 divide 4c3 , segue que 2 divide b3 . E como anterior, isto é possível se 2 divide b, logo
b = 2d para algum inteiro positivo d e d < b.
Mas

3 a 2c c
2= = = .
b 2d d

3
Portanto escrevemos 2 com quociente de 2 inteiros com denominador positivo d menor que b.
√3
Isto contradiz a escolha de b. Portanto 2 é irracional.


Vamos concentrar mais no Princípio de Indução do que o Principio de Boa Ordenação pois a
indução é a base de toda matemática. A seguinte reformulação do Axioma III mostra como esse
princípio é usado na prática.

2.1 O Principio de Indução na pratica

Seja P(n) uma propriedade matemática que depende de uma variável natural n; a qual se torna
verdadeira ou falsa quando substituímos n por um número natural dado qualquer.

Exemplo 2.1.1.

(a) P(n) : “n é par” é uma propriedade matemática.


A propriedade P(1) é falsa, pois ela diz que 1 é par; P(3), P(5) e P(9) são falsas, pois
afirmam, respectivamente, que 3, 5 e 9 são pares.
Por outro lado, P(2), P(4), P(8) e P(22) são verdadeiras, pois 2, 4, 8 e 22 são pares.

(b) P(n) : “n é múltiplo de 500” é uma propriedade matemática.


Temos, por exemplo, que P(1), P(2), P(4) e P(24) são falsas, enquanto P(3) e P(6) são
verdadeiras.
n(n + 1) 00
(c) P(n) : “1 + 2 + 3 + · · · + n = é uma propriedade matemática
2
1(1 + 1)
P(1) : 1 = , é verdadeira.
2
3(3 + 1)
P(3) : 1 + 2 + 3 = , é verdadeira.
2
Uma maneira de provar que P(n) é verdadeira para todo natural n ≥ n0 é utilizar o chamado
Principio da Indução Finita, que é um dos axiomas que caraterizam o conjunto dos números
naturais. O Principio da Indução Finita consiste em verificar duas coisas:

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Teorema 2.1.1 (Principio da Indução Finita). Seja P(n) uma propriedade matemática para n ≥ n0
tal que

(1) (Base da Indução): P(n0 ) é verdadeira.

(2) (Passo Indutivo): Se P(k) é verdadeira para algum número natural k ≥ n0 , então P(k + 1) também
é verdadeira.

Portanto a propriedade P(n) é verdadeira para todo natural n ≥ n0 .

Explicação

• Na base da indução, verificamos que a propriedade é valida para um valor inicial n = n0 .

• O passo indutivo consiste em mostrar como utilizar a validade da propriedade para um dado
k (chamada hipótese da indução) para provar a validade da mesma propriedade para o inteiro
seguinte k + 1.

• Uma vez verificados a base e o passo indutivo, temos uma “cadeia de implicações”

passo indutivo
P(n0 ) é verdadeira (base) ===========⇒ P(n0 + 1) é verdadeira
passo indutivo
===========⇒ P(n0 + 2) é verdadeira
passo indutivo
===========⇒ P(n0 + 3) é verdadeira
..
.

de modo que P(n) é verdadeira para todo natural n ≥ n0 .

2.1.1 Exemplos

Exemplo 2.1.2. Prove, por indução em n que

1 + 3 + 5 + 7 + · · · + (2n − 1) = n2

para todo n ≥ 1.

Resolução: Consideremos a propriedade

P(n) : 1 + 3 + 5 + 7 + · · · + (2n − 1) = n2

Pretendemos mostrar que P(n) é válida para todo o número natural n ≥ 1.

• Base da indução: A base corresponde a mostrar que a propriedade vale quando n = 1.


Para n = 1 a condição reduz-se a
1 = 12 ,

13
logo P(1) é verdadeira.

• Passo Indutivo:
Passo 1: Hipótese de indução: Suponha que, para algum k ∈ N, se tenha que P(k) é
verdadeira, isto é,
1 + 3 + 5 + 7 + · · · + (2k − 1) = k2 .

• Passo 2: Pretendemos provar que P(k + 1) também é verdadeira, ou seja

1 + 3 + 5 + 7 + · · · + (2k − 1) + (2k + 1) = (k + 1)2 .

• Passo 3: Como usar para Passo 1 para obter Passo 2.


Somando (2k + 1), que é o próximo número ímpar após (2k − 1), a ambos os lados da igualdade
em Passo 1 acima, obtemos a igualdade também verdadeira:

1 + 3 + 5 + 7 + · · · + (2k − 1) + (2k + 1) = k2 + (2k + 1)


= k2 + 2k + 1
= (k + 1)2

Isso mostra que P(k + 1) é verdadeira, toda vez que P(k) é verdadeira.

Portanto, pelo princípio de indução matemática, a fórmula é válida para todo número natural n.

Exemplo 2.1.3. Prove, por indução em n que

(−1)n−1 n(n + 1)
12 − 22 + 32 − 42 + · · · + (−1)n−1 n2 =
2

para todo n ≥ 1.

Resolução: Consideremos a propriedade

(−1)n−1 n(n + 1)
P(n) : 12 − 22 + 32 − 42 + · · · + (−1)n−1 n2 = .
2

Pretendemos mostrar que P(n) é válida para todo o número natural n :

• Base da indução: A base corresponde a mostrar que a propriedade vale quando n = 1 :


Para n = 1 a condição reduz-se a

(−1)0 · 1 · 2
12 = = 1,
2

logo P(1) é verdadeira.

• Passo Indutivo:

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Passo 1: Hipótese de indução: Suponha que, para algum k ∈ N, se tenha que P(k) é
verdadeira, isto é,

(−1)k−1 k(k + 1)
12 − 22 + 32 − 42 + · · · + (−1)k−1 k2 =
2

é válida.

• Passo 2: Pretendemos provar que P(k + 1) também é verdadeira, ou seja

(−1)k (k + 1)(k + 2)
12 − 22 + 32 − 42 + · · · + (−1)k−1 k2 + (−1)k (k + 1)2 = .
2

• Passo 3: Como usar para Passo 1 para obter Passo 2. Somando (−1)k (k + 1)2 , a ambos os lados
da igualdade em Passo 1 acima, obtemos a igualdade também verdadeira:

(−1)k−1 k(k + 1)
12 − 22 + 32 + · · · + (−1)k−1 k2 + (−1)k (k + 1)2 = + (−1)k (k + 1)2
2
(−1)k (k + 1)
= [−k + 2(k + 1)]
2
(1)k (k + 1)(k + 2)
=
2

Isso mostra que P(k + 1) é verdadeira, toda vez que P(k) é verdadeira.

Portanto, pelo princípio de indução matemática, a fórmula é válida para todo número natural n.

Exemplo 2.1.4. Prove, por indução em n que

13 + 33 + · · · + (2n − 1)3 = n2 (2n2 − 1)

para todo n ≥ 1.

Resolução: Consideremos a propriedade

P(n) : 13 + 33 + · · · + (2n − 1)3 = n2 (2n2 − 1).

Pretendemos mostrar que P(n) é válida para todo o número natural n ≥ 1.

• Base da indução: A base corresponde a mostrar que a propriedade vale quando n = 1.


Para n = 1 a condição reduz-se a

13 = 12 (2(1)2 − 1) = 1

logo P(1) é verdadeira.

• Passo Indutivo:

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Passo 1: Hipótese de indução: Suponha que, para algum k ∈ N, se tenha que P(k) é
verdadeira, isto é,
13 + 33 + · · · + (2k − 1)3 = k2 (2k2 − 1).

• Passo 2: Pretendemos provar que P(k + 1) também é verdadeira, ou seja

13 + 33 + · · · + (2k − 1)3 + (2k + 1)3 = (k + 1)2 [2(k + 1)2 − 1] (∗)

• Passo 3: Como usar para Passo 1 para obter Passo 2.


Somando (2k + 1)3 , a ambos os lados da igualdade em Passo 1 acima, obtemos a igualdade
também verdadeira:

13 + 33 + · · · + (2k − 1)3 + (2k + 1)3 = k2 (2k2 − 1) + (2k + 1)3


= 2k4 − k2 + 8k3 + 12k2 + 6k + 1
= 2k4 + 8k3 + 11k2 + 6k + 1

Como precisamos encontrar (∗), devemos ter que

(k + 1)2 = k2 + 2k + 1 divide 2k4 + 8k3 + 11k2 + 6k + 1

Fazendo a 2x2 + 4x + 1

x2 + 2x + 1 2x4 + 8x3 + 11x2 + 6x + 1
− 2x4 − 4x3 − 2x2
4x3 + 9x2 + 6x
− 4x3 − 8x2 − 4x
x2 + 2x + 1
− x2 − 2x − 1
0
Logo

13 + 33 + · · · + (2k − 1)3 + (2k + 1)3 = 2k4 + 8k3 + 11k2 + 6k + 1


= (k2 + 2k + 1)(2k2 + 4k + 1)
= (k + 1)2 (2k2 + 4k + 2 − 1)
= (k + 1)2 [2(k2 + 2k + 1) − 1]
= (k + 1)2 [2(k + 1)2 − 1]

Isso mostra que P(k + 1) é verdadeira, toda vez que P(k) é verdadeira.

Portanto, pelo princípio de indução matemática, a fórmula é válida para todo número natural n.

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Exemplo 2.1.5. Considere a soma

Sn = 1 · 1! + 2 · 2! + · · · + n · n!.

(a) Tabele Sn e (n + 1)! para n = 1, 2, 3 e 4, e adivinhe uma fórmula fechada para Sn :

(b) Prove sua fórmula por indução finita. Identifique claramente as várias etapas da sua de-
monstração.

Resolução:
Sn = 1 · 1! + 2 · 2! + · · · + n · n!

(a)

n (n + 1)! Sn

1 2! = 2 1 · 1! = 1
2 3! = 6 1 · 1! + 2 · 2! = 5
3 4! = 24 1 · 1! + 2 · 2! + 3 · 3! = 23
4 5! = 120 1 · 1! + 2 · 2! + 3 · 3! + 4 · 4! = 119
Portanto podemos afirmar que Sn = (n + 1)! − 1, isto é,

1 · 1! + 2 · 2! + · · · + n · n! = (n + 1)! − 1

(b) Agora vamos provamos por indução finita que o resultado em (a) é valida para todo natural
n:

• Base da indução: Para n = 1 a condição reduz-se a

1 = S1 = (1 + 1)! − 1 = 1;

logo S1 é verdadeira.

• Passo Indutivo:
Passo 1: Hipótese de indução: Suponha que, para algum k ∈ N, se tenha que Sk é
verdadeira, isto é,
Sk = (k + 1)! − 1

é válida.

• Passo 2: Pretendemos provar que Sk+1 também é verdadeira, ou seja

Sk+1 = (k + 2)! − 1.

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• Passo 3: Como usar para Passo 1 para obter Passo 2. Agora

Sk+1 = 1 · 1! + 2 · 2! + · · · + k · k! +(k + 1) · (k + 1)!


| {z }
Sk

= Sk + (k + 1) · (k + 1)!
= (k + 1)! − 1 + (k + 1) · (k + 1)!
= (k + 1)![1 + k + 1] − 1
= (k + 1)!(k + 2) − 1
= (k + 2)! − 1

Isso mostra que Sk+1 é verdadeira, toda vez que Sk é verdadeira.

Portanto, pelo princípio de indução matemática, a fórmula é válida para todo número natural
n.

Exemplo 2.1.6. Prove, por indução em n que 4n + 15n − 1 é múltiplo de 9, ∀ n ∈ N.

Solução: Consideremos a propriedade

P(n) : 4n + 15n − 1 é múltiplo de 9, ∀ n ∈ N.

• Base da indução: De fato, para n = 1, temos que 9 divide (41 + 15(1) − 1) = 18 = (2)(9).

• Passo Indutivo:
Passo 1: Hipótese de indução: Suponha, agora, que, para algum k ≥ 1, saibamos que 9
divide 4k + 15k − 1. Logo, existe um número inteiro a tal que

4k + 15k − 1 = 9a
⇒ 4k = 9a − 15k + 1 (∗)

• Passo 2: Pretendemos provar que 9 divide 4k+1 + 15(k + 1) − 1. Isto é queremos provar que

4k+1 + 15(k + 1) − 1 = 9a, para algum a ∈ Z.

• Passo 3: Como usar para Passo 1 para obter Passo 2. Para isto, note que

4k+1 + 15(k + 1) − 1 = 4k · 41 + 15k + 15 − 1


= 4(9a − 15k + 1) + 15k + 14 usando (∗)
= 36a − 60k + 4 + 15k + 14
= 36a − 45k + 18
= 9(4a − 5k + 2)

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Ou seja, existe um número inteiro a = (4a − 5k + 2) tal que

4k+1 + 15(k + 1) − 1 = 9a

mostrando que 9 divide 4k+1 + 15(k + 1) − 1.

Portanto, pelo princípio de indução 9 divide 4n + 15(n + 1) − 1 para todo número natural n.

Exemplo 2.1.7. Mostre, por indução, as seguintes fórmulas para n ≥ 1


n(n + 1)(n + 2)(n + 3)
(a) 1 · 2 · 3 + 2 · 3 · 4 + · · · + n(n + 1)(n + 2) =
4
1 1 1 1
(b) + + ··· + =1−
1·2 2·3 n(n + 1) n+1
n
X k+1 1 1
(c) (−1)k = (−1)n −
(2k + 1)(2k + 3) 4(2n + 3) 12
k=1

Solução:
n(n + 1)(n + 2)(n + 3)
(a) 1 · 2 · 3 + 2 · 3 · 4 + · · · + n(n + 1)(n + 2) =
4
• Se n = 1 a fórmula fornece

1(1 + 1)(1 + 2)(1 + 3)


1·2·3=6= ,
4

ou seja, a expressão é verdadeira para n = 1 :


• Suponhamos que a fórmula seja valida para n = k ≥ 1; isto é,

k(k + 1)(k + 2)(k + 3)


1 · 2 · 3 + 2 · 3 · 4 + · · · + k(k + 1)(k + 2) =
4

Provemos sua validade para n = k + 1,


Somando a ambos os lados dessa igualdade (k + 1)(k + 2)(k + 3), temos que

1 · 2 · 3 + 2 · 3 · 4 + · · · + k · (k + 1)(k + 2)+(k + 1)(k + 2)(k + 3) =


k(k + 1)(k + 2)(k + 3)
= + (k + 1)(k + 2)(k + 3)
4
(k + 1)(k + 2)(k + 3)(k + 4)
=
4

que é o resultado esperado para n = k + 1.

Portanto, pelo princípio de indução matemática, a fórmula é válida para todo número natural
n.
1 1 1 1
(b) + + ··· + =1−
1·2 2·3 n(n + 1) n+1

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• Se n = 1 a fórmula fornece
1 1 1
= =1− ,
1·2 2 1+1
ou seja, a expressão é verdadeira para n = 1.
• Suponhamos que a fórmula seja valida para n = k ≥ 1, isto é,

1 1 1 1
+ + ··· + =1−
1·2 2·3 k(k + 1) k+1

Provemos sua validade para n = k + 1.


1
Somando a ambos os lados dessa igualdade , temos que
(k + 1)(k + 2)

1 1 1 1 1 1
+ + ··· + + =1− +
1·2 2·3 k(k + 1) (k + 1)(k + 2) k + 1 (k + 1)(k + 2)
" #
1 1
=1− −
k + 1 (k + 1)(k + 2)
k+2−1
" #
=1−
(k + 1)(k + 2)
k+1
" #
]=1−
(k + 1)(k + 2)
1
=1−
k+2

que é o resultado esperado para n = k + 1.

Portanto, pelo princípio de indução matemática, a fórmula é válida para todo número natural
n.
n
X k+1 1 1
(c) (−1)k = (−1)n −
(2k + 1)(2k + 3) 4(2n + 3) 12
k=1

• Se n = 1 o lado esquerda da fórmula fornece

n
X k+1 1+1 2
(−1)k = (−1)1 =−
(2k + 1)(2k + 3) (2 + 1)(2 + 3) 15
k=1

e o lado direta da fórmula fornece

1 1 1 1 2
(−1)1 − =− − =−
4(5) 12 20 12 15

ou seja, a expressão é verdadeira para n = 1.


• Admitimos, para hipótese de indução, que

n
X k+1 1 1
(−1)k = (−1)n −
(2k + 1)(2k + 3) 4(2n + 3) 12
k=1

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Provemos que o resultado vale para n + 1. De fato

n+1 n
X k+1 X k+1 n+2
(−1)k = (−1)k + (−1)n+1
(2k + 1)(2k + 3) (2k + 1)(2k + 3) (2n + 3)(2n + 5)
k=1 k=1
1 1 n+2
= (−1)n − + (1)n+1
4(2n + 3) 12 (2n + 3)(2n + 5)
1 1 n+2 1
 
= (−1)n − −
(2n + 3) 4 2n + 5 12
2n + 5 − 4n − 8
" #
1 1
= (−1)n

(2n + 3) 4(2n + 5) 12
" #
1 −2n − 3 1
= (−1)n −
(2n + 3) 4(2n + 5) 12
2n + 3
" #
1 1
= (−1)n+1 −
(2n + 3) 4(2n + 5) 12
1 1
= (−1)n+1 −
4(2n + 5) 12
1 1
= (−1)n+1 −
4[2(n + 1) + 3] 12

que é o resultado esperado para n = k + 1:

Portanto, pelo princípio de indução matemática, a fórmula é válida para todo número natural
n:

Exemplo 2.1.8. Mostre por indução que:

(a) n < 2n , ∀n ∈ N.

(b) 2n < n!, para todo n ≥ 4, n ∈ N.

(c) (1 + x)n ≥ 1 + nx; para todo x ∈ R com x > −1.

Solução:

(a) n < 2n , ∀n ∈ N.

• De fato, para n = 1, 1 < 21

• Suponha que para algum n ≥ 1, saibamos que

n < 2n (∗)

21
Provemos que (n + 1) < 2n+1 . Para isto, note que

n + 1 ≤ 2n
< 2 · 2n usando (∗)
= 2n + 1

que mostra o resultado desejado.

Portanto, pelo princípio de indução n < 2n para todo número natural n.

(b) 2n < n!, para todo n ≥ 4, n ∈ N.

• Para n = 4, temos que 24 = 16 e 4! = 4 · 3 · 2 · 1 = 24. Logo 24 < 4!

• Suponha que para algum n ≥ 4, saibamos que

2n < n! usando (∗)

Provemos que 2n+1 < (n + 1)!. Para isto, note que

2n+1 = 2 · 2n
< 2 · n! usando (∗)
≤ (n + 1) · n!
= (n + 1)!

que mostra o resultado desejado.

Portanto, pelo princípio de indução 2n < n! para todo número natural n ≥ 4.

(c) (1 + x)n ≥ 1 + nx; para todo x ∈ R com x > −1.

• De fato, para n = 1, (1 + x)1 = 1 + x.


Observe para n = 2, (1 + x)2 = 1 + 2x + x2 ≥ 1 + 2x

• Suponha que para algum n ≥ 1, saibamos que

(1 + x)n ≥ 1 + nx (∗)

22
Provemos que (1 + x)n+1 ≥ 1 + (n + 1)x. Para isto, note que

(1 + x)n+1 = (1 + x)(1 + x)n


≥ (1 + x)(1 + nx) usando (∗)
= 1 + nx + x + nx2
= 1 + (n + 1)x + nx2
≥ 1 + (n + 1)x

que mostra o resultado desejado.

Portanto, pelo princípio de indução (1 + x)n ≥ 1 + nx para todo número natural n.


n(n − 1)
Exemplo 2.1.9. Prove, por indução finita, que qualquer conjunto com n elementos tem
2
subconjuntos de 2 elementos. Explicite claramente cada etapa da demonstração: a base, a hipótese
de indução e o passo de indução.

Solução:

• O resultado é valido para um conjunto com 1 elemento. Neste caso não há subconjuntos de
n(n − 1)
2 elementos. Por outro lado, tomando n = 1 em , obtemos 0, que é o valor correto.
2
k(k − 1)
• Suponha, agora, que um conjunto de k ≥ 1 elementos tem subconjuntos de 2 elemen-
2
tos. Esta é a hipótese de indução.

• Queremos mostrar que uma fórmula semelhante vale para um conjunto com k + 1 elementos.

• Mas um conjunto S de (k + 1) elementos é constituído por um conjunto com k elementos S0


reunido com um conjunto com somente 1 elemento ao qual chamamos de a. Isto é

S = S0 ∪ {a}

• Os subconjuntos de 2 elementos de S são de dois tipos: os que contêm a, e os que não contêm
a.

• Mas um subconjunto de S que não contém a é subconjunto de S0 e, pela hipótese de indução,


k(k − 1)
temos destes.
2
• Por outro lado, os subconjuntos de S que contém a são da forma {a, b}, onde b é um elemento
de S0 . Como S0 tem k elementos, há k subconjuntos deste tipo.

• Com isto temos um total de

k(k − 1) k2 − k + 2k k(k + 1)
+k= =
2 2 2

23
subconjuntos de S. Mas isto corresponde a fazer n = k + 1 na fórmula dada, o que completa o
passo de indução.
n(n − 1)
Portanto, pelo princípio de indução finita, todo conjunto de n elementos tem subconjuntos
2
de 2 elementos, qualquer que seja n ≥ 1.

2.2 Exercícios
1. Prove, por indução em n que

1 1 1 n(n + 3)
+ + ··· + = .
1·2·3 2·3·4 n(n + 1)(n + 2) 4(n + 1)(n + 2)

para todo n ≥ 1.

2. Mostre, por indução em n, que 24 divide 52n − 1 para todo n ≥ 1. Indique claramente cada
etapa da demonstração por indução.

3. Prove, por indução em n, que n5 − n é divisível por 5 para todo inteiro n ≥ 1.

4. Mostre por indução que:


(a) n! > n2 , para todo n ≥ 4, n ∈ N.
(b) 3n < n!, para todo n ≥ 7, n ∈ N.
(c) n! > nn para todo n ≥ 2, n ∈ N.

5. Seja a sequencia a1 , a2 , a3 , · · · definida como

a1 = 3
ak = 7ak−1 , k ≥ 2

Prove por indução que an = 3 · 7n−1 para todos os inteiros n ≥ 1.

6. Uma sequencia de números reais u1 , u2 , · · · é tal que

26
u1 =
5
6un + 10
un+1 = .
un + 3

Prove por indução que un > 5, ∀n ∈ N.

7. Mostre por indução em n que


n
n−1 x2 − 1
(1 + x)(1 + x2 )(1 + x4 ) . . . (1 + x2 )= .
x−1

24
8. Prove, por indução em n, que

1 1 1 1 √
√ + √ + √ + · · · + √ ≥ n.
1 2 3 n

9. A sequência de Fibonacci é definida como

F1 = 1, F2 = 1
Fn = Fn−1 + Fn−2 , para n ≥ 3

Prove que
(a) F1 + F2 + · · · + Fn = Fn+2 − 1
(b) Fm+n = Fm−1 Fn + Fm Fn+1 para todos m, n ∈ N
(dica: mantenha um dos índices fixo e faça indução sobre o outro).

10. A sequência de Lucas é dada recursivamente por

L1 = 1, L2 = 3
Ln = Ln−1 + Ln−2 para n ≥ 3

 n
7
(a) Prove que Ln < para todo n ≥ 1.
4
(b) As sequencias de Lucas e Fibonacci são relacionadas. Prove que

Ln = Fn−1 + Fn+1 para todo n > 1

11. Considere a recorrência


sn = 2 + sn−1 (sn−1 − 2) onde s0 = 3.

(a) Calcule sn − 1 para n = 0, 1, 2, 3 e 4 e compare-os com as potências de 2. De que forma


sn − 1 depende de n? Use isto para adivinhar uma fórmula fechada para sn .
(b) Mostre, por indução finita em n, a fórmula que você obteve em (a). Indique cuidado-
samente cada passo da demonstração por indução.

12. Chamamos de hexagonais os números definidos pela fórmula

hn = 1 + 3n(n − 1) para n = 1, 2, · · · .

O nome vem do fato de que estes números podem ser dispostos em hexágonos regulares
concêntricos.
(a) Calcule a soma dos n primeiros números hexagonais quando n = 1, 2, 3, 5, 6 e 7.
Use estes dados numéricos para adivinhar a fórmula da soma dos n primeiros números

25
hexagonais.
(b) Prove a fórmula obtida no item anterior usando o método de indução finita.

13. Prove, por indução finita, que a soma dos ângulos internos de um polígono convexo de n
lados é Sn = 180◦ (n − 2), n ≥ 3. Explicite claramente cada etapa da demonstração: a base, a
hipótese de indução e o passo de indução.

26

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