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Na Aula 1, estudamos sobre as axiomas I-II dos números inteiros. Há outros sistemas que
satisfazer as Axiomas I-II, por exemplo os números racionais Q ou os números reais R. Então
para que o sistema dos números inteiros sejam bem definida, precisamos excluir os sistemas.
Para isto introduzimos uma outra axioma. Esta axioma fornece uma conexão entre o conjunto
P = {m ∈ Z : m > 0} dos números inteiros positivos em Z e os “números naturais ”, que são
obtidos começado pelo número 1 e sucessivamente formando “sucessores”.
S(n) = n + 1
• Sabemos que 1 ∈ P
A característica distintiva do sistema de inteiros é que este processo produz todos os números
positivos. A ideia é transformar essa afirmação intuitiva em uma axioma. Infelizmente, a frase
“assim por diante” usado acima não é uma definição adequada de "contagem dos números ”.
8
Claro que P é um conjunto indutivo.
R não é um conjunto indutivo pois o número 1 e seu sucessores não “gera“ o conjunto R.
A última axioma finalmente dá uma caraterização completa dos números inteiros.
(a) 1 ∈ A
então A = P.
Observação 2.
2.0.2 Exercícios
3. Se n ∈ N e n > 1, prove que n ≥ 2 - isto é não existem números naturais entre 1 e seu sucessor
2 = 1 + 1.
Teorema 2.0.1 (Princípio da Boa Ordenação). Todo subconjunto não-vazio A ⊂ N possui um menor
elemento - um elemento a0 = min(A) em A tal que a0 ≤ a para todo a ∈ A.
9
O Princípio da Boa Ordenação as vezes é considerada como uma Axioma III’ alternativo no
lugar do Axioma III. Isto é
(b) Princípio da Boa Ordenação : Se A é um subconjunto não vazio de N então ele possui menor
elemento a0 , tal que a0 ∈ A e a0 ≤ a para todo a ∈ A.
Exemplo 2.0.1. Mostre que não existe inteiro positivo que é menor que 1, isto é 1 é o menor inteiro
positivo.
A = {n ∈ N; n < 1}.
Suponha que A , ∅. Então pelo Principio da Boa Ordenação existe n0 ∈ A tal que
o que implica que n0 não é o menor elemento em A. Como ao assumir que A , ∅ gerou uma
contradição, ela deve ser falsa. Portanto 1 é o menor inteiro positivo.
√
Exemplo 2.0.2. Use o Principio da Boa Ordenação para mostrar que 3 é irracional.
√
Resolução: Como 1 < 3 < 4, segue das propriedades de ordem dos inteiros que 1 < 3 < 2.
√
Agora suponha que 3 é racional, então existe inteiros positivos m e n0 tal que
√ m
3= .
n0
10
√ m
Seja A = {n ∈ N; 3 = , para algun inteiro positivo m}.
n
Então A , ∅ pois n0 ∈ A. Logo pelo Principio da Boa Ordenação, A possui um menor elemento,
digamos que b e portanto
√ a
3= para algun inteiro positivo a.
b
a
Agora, como 1 < < 2, temos que b < a < 2b, isto é 0 < a − b < b, e a − b é um inteiro positivo
b
menor que b.
Mas
√ a
3= ⇒ 3b2 = a2 ⇒ 3b2 − ab = a2 − ab ⇒ b(3b − a) = a(a − b).
b
Como a, b e a − b são todos positivos, então 3b − a > 0 e
√ a 3b − a
3= = .
b a−b
√
Portanto escrevemos 3 com quociente de 2 inteiros com denominador positivo a − b menor que
√
b. Isto contradiz a escolha de b. Portanto 3 é irracional.
√
3
Exemplo 2.0.3. Prove que 2 é um número irracional.
√
3 a √
3
2= , logo b 2 = a, e 2b3 = a3 .
b
(Para completar a demonstração, vamos usar alguns fatos sobre divisibilidade, que vamos
estudar mais adiante. Eles são facies de entender).
A ultima equação mostra que 2 divide a3 . Isto é possível se 2 divide a, logo a = 2c, para algum
inteiro positivo c e c < a.
Substituindo este fato em 2b3 = a3 , temos que
11
2b3 = 8c3 , ou b3 = 4c3 .
Como 2 divide 4c3 , segue que 2 divide b3 . E como anterior, isto é possível se 2 divide b, logo
b = 2d para algum inteiro positivo d e d < b.
Mas
√
3 a 2c c
2= = = .
b 2d d
√
3
Portanto escrevemos 2 com quociente de 2 inteiros com denominador positivo d menor que b.
√3
Isto contradiz a escolha de b. Portanto 2 é irracional.
Vamos concentrar mais no Princípio de Indução do que o Principio de Boa Ordenação pois a
indução é a base de toda matemática. A seguinte reformulação do Axioma III mostra como esse
princípio é usado na prática.
Seja P(n) uma propriedade matemática que depende de uma variável natural n; a qual se torna
verdadeira ou falsa quando substituímos n por um número natural dado qualquer.
Exemplo 2.1.1.
12
Teorema 2.1.1 (Principio da Indução Finita). Seja P(n) uma propriedade matemática para n ≥ n0
tal que
(2) (Passo Indutivo): Se P(k) é verdadeira para algum número natural k ≥ n0 , então P(k + 1) também
é verdadeira.
Explicação
• O passo indutivo consiste em mostrar como utilizar a validade da propriedade para um dado
k (chamada hipótese da indução) para provar a validade da mesma propriedade para o inteiro
seguinte k + 1.
• Uma vez verificados a base e o passo indutivo, temos uma “cadeia de implicações”
passo indutivo
P(n0 ) é verdadeira (base) ===========⇒ P(n0 + 1) é verdadeira
passo indutivo
===========⇒ P(n0 + 2) é verdadeira
passo indutivo
===========⇒ P(n0 + 3) é verdadeira
..
.
2.1.1 Exemplos
1 + 3 + 5 + 7 + · · · + (2n − 1) = n2
para todo n ≥ 1.
P(n) : 1 + 3 + 5 + 7 + · · · + (2n − 1) = n2
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logo P(1) é verdadeira.
• Passo Indutivo:
Passo 1: Hipótese de indução: Suponha que, para algum k ∈ N, se tenha que P(k) é
verdadeira, isto é,
1 + 3 + 5 + 7 + · · · + (2k − 1) = k2 .
Isso mostra que P(k + 1) é verdadeira, toda vez que P(k) é verdadeira.
Portanto, pelo princípio de indução matemática, a fórmula é válida para todo número natural n.
(−1)n−1 n(n + 1)
12 − 22 + 32 − 42 + · · · + (−1)n−1 n2 =
2
para todo n ≥ 1.
(−1)n−1 n(n + 1)
P(n) : 12 − 22 + 32 − 42 + · · · + (−1)n−1 n2 = .
2
(−1)0 · 1 · 2
12 = = 1,
2
• Passo Indutivo:
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Passo 1: Hipótese de indução: Suponha que, para algum k ∈ N, se tenha que P(k) é
verdadeira, isto é,
(−1)k−1 k(k + 1)
12 − 22 + 32 − 42 + · · · + (−1)k−1 k2 =
2
é válida.
(−1)k (k + 1)(k + 2)
12 − 22 + 32 − 42 + · · · + (−1)k−1 k2 + (−1)k (k + 1)2 = .
2
• Passo 3: Como usar para Passo 1 para obter Passo 2. Somando (−1)k (k + 1)2 , a ambos os lados
da igualdade em Passo 1 acima, obtemos a igualdade também verdadeira:
(−1)k−1 k(k + 1)
12 − 22 + 32 + · · · + (−1)k−1 k2 + (−1)k (k + 1)2 = + (−1)k (k + 1)2
2
(−1)k (k + 1)
= [−k + 2(k + 1)]
2
(1)k (k + 1)(k + 2)
=
2
Isso mostra que P(k + 1) é verdadeira, toda vez que P(k) é verdadeira.
Portanto, pelo princípio de indução matemática, a fórmula é válida para todo número natural n.
para todo n ≥ 1.
13 = 12 (2(1)2 − 1) = 1
• Passo Indutivo:
15
Passo 1: Hipótese de indução: Suponha que, para algum k ∈ N, se tenha que P(k) é
verdadeira, isto é,
13 + 33 + · · · + (2k − 1)3 = k2 (2k2 − 1).
Fazendo a 2x2 + 4x + 1
x2 + 2x + 1 2x4 + 8x3 + 11x2 + 6x + 1
− 2x4 − 4x3 − 2x2
4x3 + 9x2 + 6x
− 4x3 − 8x2 − 4x
x2 + 2x + 1
− x2 − 2x − 1
0
Logo
Isso mostra que P(k + 1) é verdadeira, toda vez que P(k) é verdadeira.
Portanto, pelo princípio de indução matemática, a fórmula é válida para todo número natural n.
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Exemplo 2.1.5. Considere a soma
Sn = 1 · 1! + 2 · 2! + · · · + n · n!.
(b) Prove sua fórmula por indução finita. Identifique claramente as várias etapas da sua de-
monstração.
Resolução:
Sn = 1 · 1! + 2 · 2! + · · · + n · n!
(a)
n (n + 1)! Sn
1 2! = 2 1 · 1! = 1
2 3! = 6 1 · 1! + 2 · 2! = 5
3 4! = 24 1 · 1! + 2 · 2! + 3 · 3! = 23
4 5! = 120 1 · 1! + 2 · 2! + 3 · 3! + 4 · 4! = 119
Portanto podemos afirmar que Sn = (n + 1)! − 1, isto é,
1 · 1! + 2 · 2! + · · · + n · n! = (n + 1)! − 1
(b) Agora vamos provamos por indução finita que o resultado em (a) é valida para todo natural
n:
1 = S1 = (1 + 1)! − 1 = 1;
logo S1 é verdadeira.
• Passo Indutivo:
Passo 1: Hipótese de indução: Suponha que, para algum k ∈ N, se tenha que Sk é
verdadeira, isto é,
Sk = (k + 1)! − 1
é válida.
Sk+1 = (k + 2)! − 1.
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• Passo 3: Como usar para Passo 1 para obter Passo 2. Agora
= Sk + (k + 1) · (k + 1)!
= (k + 1)! − 1 + (k + 1) · (k + 1)!
= (k + 1)![1 + k + 1] − 1
= (k + 1)!(k + 2) − 1
= (k + 2)! − 1
Portanto, pelo princípio de indução matemática, a fórmula é válida para todo número natural
n.
• Base da indução: De fato, para n = 1, temos que 9 divide (41 + 15(1) − 1) = 18 = (2)(9).
• Passo Indutivo:
Passo 1: Hipótese de indução: Suponha, agora, que, para algum k ≥ 1, saibamos que 9
divide 4k + 15k − 1. Logo, existe um número inteiro a tal que
4k + 15k − 1 = 9a
⇒ 4k = 9a − 15k + 1 (∗)
• Passo 2: Pretendemos provar que 9 divide 4k+1 + 15(k + 1) − 1. Isto é queremos provar que
• Passo 3: Como usar para Passo 1 para obter Passo 2. Para isto, note que
18
Ou seja, existe um número inteiro a = (4a − 5k + 2) tal que
4k+1 + 15(k + 1) − 1 = 9a
Portanto, pelo princípio de indução 9 divide 4n + 15(n + 1) − 1 para todo número natural n.
Solução:
n(n + 1)(n + 2)(n + 3)
(a) 1 · 2 · 3 + 2 · 3 · 4 + · · · + n(n + 1)(n + 2) =
4
• Se n = 1 a fórmula fornece
Portanto, pelo princípio de indução matemática, a fórmula é válida para todo número natural
n.
1 1 1 1
(b) + + ··· + =1−
1·2 2·3 n(n + 1) n+1
19
• Se n = 1 a fórmula fornece
1 1 1
= =1− ,
1·2 2 1+1
ou seja, a expressão é verdadeira para n = 1.
• Suponhamos que a fórmula seja valida para n = k ≥ 1, isto é,
1 1 1 1
+ + ··· + =1−
1·2 2·3 k(k + 1) k+1
1 1 1 1 1 1
+ + ··· + + =1− +
1·2 2·3 k(k + 1) (k + 1)(k + 2) k + 1 (k + 1)(k + 2)
" #
1 1
=1− −
k + 1 (k + 1)(k + 2)
k+2−1
" #
=1−
(k + 1)(k + 2)
k+1
" #
]=1−
(k + 1)(k + 2)
1
=1−
k+2
Portanto, pelo princípio de indução matemática, a fórmula é válida para todo número natural
n.
n
X k+1 1 1
(c) (−1)k = (−1)n −
(2k + 1)(2k + 3) 4(2n + 3) 12
k=1
n
X k+1 1+1 2
(−1)k = (−1)1 =−
(2k + 1)(2k + 3) (2 + 1)(2 + 3) 15
k=1
1 1 1 1 2
(−1)1 − =− − =−
4(5) 12 20 12 15
n
X k+1 1 1
(−1)k = (−1)n −
(2k + 1)(2k + 3) 4(2n + 3) 12
k=1
20
Provemos que o resultado vale para n + 1. De fato
n+1 n
X k+1 X k+1 n+2
(−1)k = (−1)k + (−1)n+1
(2k + 1)(2k + 3) (2k + 1)(2k + 3) (2n + 3)(2n + 5)
k=1 k=1
1 1 n+2
= (−1)n − + (1)n+1
4(2n + 3) 12 (2n + 3)(2n + 5)
1 1 n+2 1
= (−1)n − −
(2n + 3) 4 2n + 5 12
2n + 5 − 4n − 8
" #
1 1
= (−1)n
−
(2n + 3) 4(2n + 5) 12
" #
1 −2n − 3 1
= (−1)n −
(2n + 3) 4(2n + 5) 12
2n + 3
" #
1 1
= (−1)n+1 −
(2n + 3) 4(2n + 5) 12
1 1
= (−1)n+1 −
4(2n + 5) 12
1 1
= (−1)n+1 −
4[2(n + 1) + 3] 12
Portanto, pelo princípio de indução matemática, a fórmula é válida para todo número natural
n:
(a) n < 2n , ∀n ∈ N.
Solução:
(a) n < 2n , ∀n ∈ N.
n < 2n (∗)
21
Provemos que (n + 1) < 2n+1 . Para isto, note que
n + 1 ≤ 2n
< 2 · 2n usando (∗)
= 2n + 1
2n+1 = 2 · 2n
< 2 · n! usando (∗)
≤ (n + 1) · n!
= (n + 1)!
(1 + x)n ≥ 1 + nx (∗)
22
Provemos que (1 + x)n+1 ≥ 1 + (n + 1)x. Para isto, note que
Solução:
• O resultado é valido para um conjunto com 1 elemento. Neste caso não há subconjuntos de
n(n − 1)
2 elementos. Por outro lado, tomando n = 1 em , obtemos 0, que é o valor correto.
2
k(k − 1)
• Suponha, agora, que um conjunto de k ≥ 1 elementos tem subconjuntos de 2 elemen-
2
tos. Esta é a hipótese de indução.
• Queremos mostrar que uma fórmula semelhante vale para um conjunto com k + 1 elementos.
S = S0 ∪ {a}
• Os subconjuntos de 2 elementos de S são de dois tipos: os que contêm a, e os que não contêm
a.
k(k − 1) k2 − k + 2k k(k + 1)
+k= =
2 2 2
23
subconjuntos de S. Mas isto corresponde a fazer n = k + 1 na fórmula dada, o que completa o
passo de indução.
n(n − 1)
Portanto, pelo princípio de indução finita, todo conjunto de n elementos tem subconjuntos
2
de 2 elementos, qualquer que seja n ≥ 1.
2.2 Exercícios
1. Prove, por indução em n que
1 1 1 n(n + 3)
+ + ··· + = .
1·2·3 2·3·4 n(n + 1)(n + 2) 4(n + 1)(n + 2)
para todo n ≥ 1.
2. Mostre, por indução em n, que 24 divide 52n − 1 para todo n ≥ 1. Indique claramente cada
etapa da demonstração por indução.
a1 = 3
ak = 7ak−1 , k ≥ 2
26
u1 =
5
6un + 10
un+1 = .
un + 3
24
8. Prove, por indução em n, que
1 1 1 1 √
√ + √ + √ + · · · + √ ≥ n.
1 2 3 n
F1 = 1, F2 = 1
Fn = Fn−1 + Fn−2 , para n ≥ 3
Prove que
(a) F1 + F2 + · · · + Fn = Fn+2 − 1
(b) Fm+n = Fm−1 Fn + Fm Fn+1 para todos m, n ∈ N
(dica: mantenha um dos índices fixo e faça indução sobre o outro).
L1 = 1, L2 = 3
Ln = Ln−1 + Ln−2 para n ≥ 3
n
7
(a) Prove que Ln < para todo n ≥ 1.
4
(b) As sequencias de Lucas e Fibonacci são relacionadas. Prove que
hn = 1 + 3n(n − 1) para n = 1, 2, · · · .
O nome vem do fato de que estes números podem ser dispostos em hexágonos regulares
concêntricos.
(a) Calcule a soma dos n primeiros números hexagonais quando n = 1, 2, 3, 5, 6 e 7.
Use estes dados numéricos para adivinhar a fórmula da soma dos n primeiros números
25
hexagonais.
(b) Prove a fórmula obtida no item anterior usando o método de indução finita.
13. Prove, por indução finita, que a soma dos ângulos internos de um polígono convexo de n
lados é Sn = 180◦ (n − 2), n ≥ 3. Explicite claramente cada etapa da demonstração: a base, a
hipótese de indução e o passo de indução.
26