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Capítulo 1

Introdução

O objeto de estudo de Mat-12 são as funções reais de variável real. Estudaremos nesta
disciplina os conceitos de limite, continuidade, derivabilidade e integrabilidade de funções
reais de uma variável real.
O conceito de derivada de uma função num ponto está relacionado com a taxa de vari-
ação desta função num determinado instante, por exemplo, a velocidade de uma partícula
em cada instante t. Para o estudo da derivada de uma função faz-se necessário o estudo
de limite.
O conceito de primitiva está relacionado com o conceito de derivada. Alguns autores
denominam a primitiva de uma funjção de anti-derivada, pois a primitiva de uma função
f, num intervalo (a, b), quando existe, é uma função F derivável em (a, b) , cuja derivada
é f.
Para entendermos melhor o conceito de limite, estudaremos primeiramente este con-
ceito no caso discreto, isto é, em sequências e séries.
Como o objeto de estudo de MAT-12 são as funções reais de uma variável real, vamos
iniciar nosso curso estabelecendo os fundamentos da teoria dos números reais. Não nos
preocuparemos aqui com a definição rigorosa de número real, nem mesmo com a con-
strução do conjunto de números reais, pois isto foge ao objetivo de um curso de Cálculo.
Assim, consideraremos conhecidos os conjuntos dos números naturais, inteiros e racionais.
Daremos as definições de corpo, corpo ordenado e corpo ordenado completo, chegando as-
sim ao conjunto dos números reais que é um corpo ordenado completo. Mostraremos que
existem números reais que não são racionais.Faremos uma breve recordação do conceito
de função, através de uma lista de exercícios e iniciaremos a noção de limite com a noção
de limite de sequências e séries de números reais.
Ao final deste curso o aluno deverá ter uma compreensão clara do conceito de limite
que é fundamental no estudo do Cálculo, ser capaz de avaliar a existência de limite de
uma função num ponto, trabalhando com as propriedades de limite, ser capaz de analisar
a derivabilidade de uma função num ponto, calculando sua derivada, determinar máximos
e mínimos locais e absolutos de uma função e finalmente ser capaz de calcular integrais e
primitivas de funções, utilizando os diversos métodos de integração.

1
2 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO
Capítulo 2

Números Reais

Introduziremos as principais propriedades de números reais. Como já dissemos não fare-


mos a construção dos números reais pois foge ao escopo de um curso de Cálculo I, apenas
faremos uma apresentação de suas propriedades e o compararemos com conjuntos de
números já conhecidos.
n mConsideraremos No= {1, 2, . . . , n, n + 1, . . .}, Z = {. . . , −2, −1, 0, 1, 2, . . .} e Q =
; m, n ∈ Z e n 6= 0 .
n
No conjunto dos números naturais existe uma importante propriedade, a saber,
Princípio da indução finita: Seja P (n) uma propriedade referente ao número
natural n. Se:
a) P (m) é verdadeira para um determinado número natural m; e
b) supondo P (k) é verdadeira para um número natural k ≥ m qualquer pudermos
mostrar que P (k + 1) também o é.
Então P (n) é verdadeira para todo natural n ≥ m.

Exemplo 2.1 Mostre por indução que

n(n + 1)
1 + ··· + n = , ∀n ∈ N.
2
2 1×2
De fato, 1 = = , o que mostra que a propriedade acima é válida para n = 1.
2 2
Suponhamos que a propriedade é válida para um n ≥ 1 e provemos então que ela é válida
n(n + 1) ³n ´
para n + 1. Assim, 1 + · · · + n + (n + 1) = + (n + 1) = (n + 1) +1 =
µ ¶ 2 2
n+2 (n + 1)(n + 2)
(n +1) = , o que prova que a propriedade é válida para n + 1, se o
2 2
for para n. Assim do princípio de indução segue que a propriedade vale para todo n ∈ N.

Exemplo 2.2 Prove que


2n > n, para todo n ∈ N.

3
4 CAPÍTULO 2. NÚMEROS REAIS

De fato, 21 = 2 > 1, ou seja a propriedade é verdadeira para n = 1. Ainda supondo que


2n > n é verdadeira para algum n ≥ 1, temos que

2n+1 = 2.2n > 2n = n + n ≥ n + 1 ⇒ 2n+1 > n + 1,

ou seja a propriedade é verdadeira para n + 1, se o for para n. Assim, a propriedade é


válida para todo n ∈ N.

A propriedade de indução finita será utilizada especialmente no estudo de sequências,


especialmente as definidas por fórmulas de recorrência.
Vejamos a seguir a estrutura algébrica que pode ser estabelecida no conjunto dos
números reais e racionais, mas não no conjunto dos inteiros e naturais.
No conjunto dos números reais, assim como no conjunto dos naturais, inteiros e
racionais pode-se definir duas operações, a de adição e a de multiplicação. No entanto
existe uma diferença entre estes conjuntos munidos destas operações, os conjuntos dos
números racionais e dos números reais munidos destas operações são o que denominamos
de corpo, enquanto que os naturais e os inteiros não o são.

Definição 2.3 Um corpo é um conjunto não vazio K munido de duas operações denom-
inadas adição (+) e multiplicação (·), isto é,

+:K ×K →K
(x, y) 7→ x + y

·:K ×K →K
(x, y) 7→ x · y

satisfazendo as seguintes propriedades:


a)associatividade da adição e da multiplicação: Para todo x, y, z ∈ K tem-se que
(x + y) + z = x + (y + z) e (x · y) · z = x · (y · z),
b)comutatividade da adição e da multiplicação: Para todo x, y ∈ K tem-se que x + y =
y + x e x · y = y · x,
c)existência de elemento neutro da adição: Existe 0 ∈ K tal que x + 0 = x, para todo
x ∈ K,
d)existência da unidade multiplicativa: Existe 1 ∈ K, 1 6= 0, tal que x · 1 = x, para
todo x ∈ K,
e)existência de elemento simétrico ou oposto: Para cada x ∈ K existe −x ∈ K tal que
x + (−x) = 0,
f)existência de inverso multiplicativo: Para cada x ∈ K ∗ existe x−1 ∈ K tal que
x · x−1 = 1, onde K ∗ = K\{0},
g)distributividade da multiplicação em relação à adição: Para todo x, y, z ∈ K tem-se
que x · (y + z) = x · y + x · z.
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Exemplo 2.4 Os conjuntos dos números racionais e dos números reais com as operações
de adição e multiplicação usuais são corpos.

Exemplo 2.5 O conjunto dos números inteiros não é um corpo, pois não admite inverso
multiplicativo, para todo n 6= 1.

Exemplo 2.6 O conjunto K = {(a, b) ; a, b ∈ Q} com as operações (a, b) ¢ (c, d) =


(a + c, b + d) e (a, b) ¡ (c, d) = (ac − bd, ad + bc) é um corpo. (Verifique!)

Exemplo 2.7 O conjunto dos números complexos com as operações usauis de adição e
multiplicação é um corpo.

Exemplo 2.8 O conjunto Z5 = {0, 1, 2, 3, 4, 5} com as operações (a + b) mod 5 e (a.b)


mod 5, onde a mod 5 é o resto da divissão de a por 5, é um corpo.

Nota 2.9 Pode-se mostrar que o conjunto Zp com as operações de adição e multiplicação
módulo p é um corpo se e somete se p é primo.

Exemplo 2.10 Da própria definição de corpo, temos que um corpo deve ter pelo menos
dois elementos, o elemento neutro e a unidade. O Z2 = {0, 1} com as operações de adição
e multiplicação módulo 2 é um corpo com exatamente dois elementos. Suas tábuas de
adição e multiplicação são respectivamente:

+ 0 1 • 0 1
0 0 1 0 0 0
1 1 0 1 0 1

Proposição 2.11 Seja K um corpo. Então:


1)O elemento neutro é único.
2)A unidade é única.
3)Para cada x ∈ K existe um único elemento simétrico.
4)Para cada x ∈ K ∗ existe um único inverso multiplicativo.
5)Se a, b, c ∈ K são tais que a + b = a + c então b = c.
6)Sejam a, b ∈ K então −(−a) = a , −(a+b) = (−a)+(−b), (−a)·b = a·(−b) = −(a·b)
e (−a) · (−b) = a · b.
7)Sejam a, b ∈ K então

a · b = 0 ⇔ a = 0 ou b = 0.

8)Sejam a, b ∈ K ∗ tem-se que (a−1 )−1 = a e (a · b)−1 = a−1 · b−1 .


6 CAPÍTULO 2. NÚMEROS REAIS

A demonstração das propriedades enunciadas acima ficam a cargo do aluno.


Apesar dos números reais, racionais e complexos com as operações usuais de adição e
multiplicação serem corpos existe uma diferença entre eles, a saber, os racionais e os reais
são corpos ordenados enquanto que o corpo dos números complexos não o é. Vejamos
esta definição.

Definição 2.12 Um corpo ordenado é um corpo K no qual existe um subconjunto não


vazio, P de K, denominado conjunto dos números positivos de K, tal que:
i) ∀ x, y ∈ P ⇒ x + y, x · y ∈ P.
ii)Para cada x ∈ K uma e somente uma das três alternativas abaixo ocorre:

ou x = 0 ou x ∈ P ou − x ∈ P.

Assim, se indicarmos por −P o subconjunto {−x; x ∈ P }, segue de (ii) da definição


acima que K = P ∪ (−P ) ∪ {0}, sendo esta união disjunta. Os elementos de −P são
denominados números negativos de K.

Exemplo 2.13 Q é um corpo ordenado cujo subconjunto dos números positivos é P =


m
{ ; mn ∈ N}.
n
Proposição 2.14 Seja K um corpo ordenado. Se a ∈ K ∗ então a2 = a · a ∈ P.
Prova. Como a ∈ K ∗ então ou a ∈ P ou −a ∈ P. Se a ∈ P ⇒ a · a = a2 ∈ P. Se
−a ∈ P ⇒ (−a) · (−a) = a · a = a2 ∈ P. ¤

Nota 2.15 Segue imediatamente da proposição anterior que se K é um corpo ordenado


como 1 6= 0 e 1 = 1 · 1 = 12 então 1 ∈ P.

Exemplo 2.16 Segue da proposição que C não é um corpo ordenado pois se fôsse existiria
um subcojunto P de C de números positivos. Como i ∈ C∗ então ou i ∈ P ou −i ∈ P ⇒
i2 = −1 ∈ P, mas 1 ∈ P , que é uma contradição. Logo C não é ordenado.

Exemplo 2.17 Z5 não é um corpo ordenado pois se fôsse existiria P subconjunto dos
números positivos de Z5 e como 4 6= 0 e 4 = 2 ¯ 2 = 22 ⇒ 4 ∈ P . Ainda 1 ∈ P. Logo
4 ⊕ 1 ∈ P, mas 4 ⊕ 1 = 0, o que é uma contradição.

Num corpo ordenado pode-se ordenar seus elementos. Vejamos:

Definição 2.18 Sejam K um corpo ordenado e x, y ∈ K. Dizemos que x é menor que y


(ou equivalentemente y é maior que x) e denotamos por x < y (equivalentemente y > x)
se e somente se y − x ∈ P.

Proposição 2.19 A relação definida acima satisfaz as propriedades de transitividade,


tricotomia, monotonicidade da adição e monotonicidade da multiplicação.
7

Prova. i) transitividade: x < y e y < z ⇒ y − x, z − y ∈ P ⇒ (y − x) + (z − y) =


z − x ∈ P ⇒ x < z.
ii) tricotomia: dados x, y ∈ K ⇒ y − x ∈ K ⇒ ocorre uma e somente uma das três
alternativas
ou y − x ∈ P ou − (y − x) = x − y ∈ P ou y − x = 0
logo ocorre uma e somente uma das três alternativas

ou x < y ou y < x ou x = y.

iii) monotonicidade da adição: x < y ⇒ y − x ∈ P, mas ∀z ∈ K tem-se que (y + z) −


(x + z) = y − x ∈ P ⇒ x + z < y + z.
iv) monotonicidade da multiplicação: x < y ⇒ y − x ∈ P assim ∀z ∈ P tem-se que
(y − x) · z = y · z − x · z ∈ P ⇒ x · z < y · z. No entanto se −z ∈ P ⇒ (y − x) · (−z) =
x · z − y · z ∈ P ⇒ y · z < x · z. ¤

Em particular, segue da monotonicidade da multiplicação que

x < y ⇔ −y < −x.

Pode-se definir a relação "menor ou igual a"ou equivalentemente "maior ou igual a",
de forma trivial. Esta relação não satisfaz a propriedade de tricotomia. Mas satisfaz uma
outra propriedade a anti-simetria, ou seja,

x ≤ y e y ≤ x ⇒ x = y.

Até aqui o conjunto dos racionais e dos reais apresentam as mesmas características. Sabe-
mos ainda que existem números reais que não são racionais. É fácil provar, por exemplo,
que não existe número racional tal que x2 = 2.(Prove!) Assim o conjunto dos números
reais foi construído para resolver um problema de não completude dos racionais. Ve-
jamos o que isto significa, mas antes daremos alguma definições necessárias para a sua
compreensão.

Definição 2.20 Seja K um corpo ordenado e X um subconjunto não vazio de K.


a)Dizemos que X é limitado superiormente em K quando existe b ∈ K tal que
x ≤ b, ∀x ∈ X. Neste caso b é denominado uma cota superior de X em K.
b)Dizemos que X é limitado inferiormente em K quando existe a ∈ K tal que
x ≥ a, ∀x ∈ K. Neste caso a é denominado uma cota inferior de X em K.
c) Dizemos que X é limitado em K quando X é limitado superiormente e inferior-
mente em K.

Exemplo 2.21 No corpo dos reais o intervalo X = (0, 1] é limitado e 0 é uma cota
inferior de X e 1 uma cota superior de X em R.
8 CAPÍTULO 2. NÚMEROS REAIS

Exemplo 2.22 No corpo dos racionais o conjunto dos naturais é limitado inferiormente,
mas não é limitado superiormente. De fato n ≥ 1, ∀n ∈ N, o que implica que N é limitado
p
inferiormente em Q e 1 é uma cota inferior de N em Q. No entanto, para todo ∈ Q,
q
p p p
se ≤ 0 < 1 já está mostrado que não é cota superior de N. Se > 0, podemos tomar
q q q
1 p p
p, q > 0 ⇒ p, q ∈ N ⇒ q ≥ 1 ⇒ ≤ 1 ⇒ ≤ p < p + 1 e p + 1 ∈ N ⇒ > 0 também
q q q
não é cota superior de N. Logo N não é limitado superiormente em Q.

Definição 2.23 Seja K um corpo ordenado e X um subconjunto não vazio de K.


a)Se X é limitado superiormente, dizemos que b ∈ K é supremo de X em K quando
b é a menor cota superior de X em K, isto é,

(i) x ≤ b, ∀x ∈ X,
(ii) Para cada c ∈ K com c < b, existe xc ∈ X tal que xc > c.

Denotamos por b = supK X.


b)Se X é limitado inferiormente, dizemos que a ∈ K é ínfimo de X em K quando
a é a maior cota inferior de X em K, isto é,

(i) x ≥ a, ∀x ∈ X,
(ii) Para cada d ∈ K com d > a existe xd ∈ X tal que xd < d.

Denotamos por a = inf K X.

Observando os exemplos acima é fácil provar que 1 é o supremo de (0, 1] e 0 seu ínfimo
em R e que 1 = inf Q N.
1
Exemplo 2.24 Considere o conjunto A = {(−1)n + ; n ∈ N}. Temos que −1 ≤ (−1)n +
n
1
≤ 2, para todo n ∈ N e portanto A é limitado. Logo A admite ínfimo e supremo em R.
n
Da desigualdade anterior, temos que inf A ≥ −1 e sup A ≤ 2. Provemos que inf A = −1.
1 1
De fato, para cada c > −1, existe n0 ∈ N, tal que n0 > > 0 ⇒ < c+1 ⇒
c+1 n0
1 1 1
−1 + < c. Logo, se n0 for ímpar, segue que −1 + = (−1)n0 + < c. Caso
n0 n0 n0
3
contrário, basta tomar m0 = n0 + 1. Ou seja −1 = inf A. Provemos que sup A = . De
2
1 1 n 1 1 3
fato, ≤ para todo n ≥ 2 e portanto (−1) + ≤ 1 + = para todo n ≥ 2. Ainda
n 2 n 2 2
1 1 3 n 1 3
para n = 1, temos (−1) + = 0 < , logo (−1) + ≤ para todo n ≥ 2. Ainda
1 2 n 2
3 1 3 3 3
= (−1)2 + ∈ A, logo para todo c < existe obviamente a = ∈ A tal que c < e
2 2 2 2 2
3
concluímos que sup A = .
2
9

Nota 2.25 Uma definição de supremo equivalente à definição acima é a seguinte: b ∈ K


é supremo do subconjunto X em K, limitado superiormente, se e só se:
i)x ≤ b, ∀x ∈ X,
ii)Para cada ε > 0, existe xε ∈ X tal que xε > b − ε.
Pode-se definir ínfimo de um conjunto limitado inferiormente, de modo análogo ao
acima, que é equivalente à definição anterior.(Exercício)
Definição 2.26 Dizemos que um corpo ordenado K é completo se todo subconjunto
limitado inferiormente em K admite ínfimo em K.
Veremos a seguir que Q não é completo.
Exemplo 2.27 Seja X = {x ∈ Q; x > 0 e x2 > 2}. É claro que X é limitado inferi-
ormente
√ pois x > 0, ∀x ∈ X. No entanto é intuitivo que a maior cota inferior de X é
2∈/ Q. Portanto apesar de ser limitado inferiormente em Q, seu ínfimo está em R e
não em Q. Portanto Q não é um corpo ordenado completo.
O conjunto dos reais foi construído de tal maneira que fôsse completo. Omitiremos
sua construção pois foge ao objetivo do curso. Esta construção pode ser encontrada em
bons livros de Análise. Assim em R temos que todo subconjunto limitado inferiormente
admite ínfimo e é portanto um corpo ordenado completo, esta afirmação é conseqüência
do seguinte postulado.
Postulado de Dedekind: Todo subconjunto de R não vazio constituído de elementos
positivos possui ínfimo em R.
Teorema 2.28 R é um corpo ordenado completo.
Prova. Já sabemos que R é um corpo ordenado. Resta agora provar que é completo
a partir do postulado de Dedekind. Seja A ⊂ R, A 6= ∅ limitado inferiormente em R,
isto é, existe a ∈ R tal que a ≤ x, ∀x ∈ A. Assim, b = a − 1 < a ≤ x, ∀x ∈ A.
Considere B = {y = x − b; x ∈ A}. É claro que y > 0, ∀y ∈ B e B é não vazio, pois
A é não vazio, por hipótese. Assim, estamos na condição do Postulado de Dedekind e
portanto B possui ínfimo, ou seja, existe β ∈ R, β = inf B. Logo, β ≤ y, ∀y ∈ B e para
todo α > β, existe yα ∈ B tal que yα < α. Provemos que β + b = inf A. De fato, como
β ≤ y, ∀y ∈ B e y = x − b, sendo x ∈ A, segue que x ≤ β + b, ∀x ∈ A. Ainda para
todo γ > β + b, temos que γ − b > β e portanto existe yγ ∈ B tal que yγ < γ − b.
Da definição de B, segue que existe xγ ∈ A tal que yγ = xγ − b. E assim, tem-se que
xγ − b = yγ < γ − b ⇒ xγ < γ ⇒ β + b = inf A e portanto o teorema está demonstrado.
¤

Pode-se provar a partir do teorema acima que todo subconjunto de R, não vazio
e limitado superiormente admite supremo. Tal resultado consta da lista de exercícios
propostos.
Assim considerando o subconjunto X acima
√ tem-se que X admite ínfimo em R que é
2
o número real b tal que b = 2, denotado por 2 ∈
/ Q.
10 CAPÍTULO 2. NÚMEROS REAIS

Nota 2.29 A completude do corpo dos reais implica que pode-se fazer uma bijeção entre
a reta e o conjunto dos reais, o que não é possível se considerarmos os números racionais.
Ou seja fixando-se um ponto que corresponderá ao número 0 e uma unidade de medida
pode-se marcar facilmente os números inteiros. A partir deles traçam-se os racionais.
Pode parecer que a todo ponto desta reta corresponde um número racional. No entanto se
tomarmos o comprimento da hipotenusa de um triângulo retângulo de catetos unitários
sobre esta reta, a partir do ponto correspondente ao 0, o ponto final deste segmento não
corresponderá a um número racional. Por isso o corpo dos reais é denominado completo
pois completa as lacunas deixadas pelos números racionais.

−1 0 1

Daremos a seguir uma propriedade que já foi mostrada para o corpo dos racionais e
também é válida no corpo dos reais, que é denominada propriedade de Arquimedes, ou
ainda, diz-se que um corpo ordenado que tem esta propriedade é um corpo arquimediano.

Proposição 2.30 O conjunto dos números naturais N não é limitado superiormente em


R.

Prova. Suponhamos por absurdo que N é limitado superiormente em R, segue que


existe a ∈ R tal que a = sup N ⇒ n ≤ a, ∀n ∈ N. Como a − 1 < a então a − 1 não é cota
superior de N em R. Portanto existe n0 ∈ N tal que n0 > a − 1 ⇒ n0 + 1 > a, o que é um
absurdo já que n0 + 1 ∈ N e a = sup N. Logo N não é limitado superiormente em R. ¤

Daremos a seguir um resultado bastante importante dos números reais.

Proposição 2.31 Dados a, b ∈ R tais que a < b então existe r ∈ Q tal que a < r < b e
existe um s ∈ R \ Q tal que a < s < b.

Prova. Considere t = b − a ∈ R, b − a > 0. Como N não é limitado superiormente


1 1
em R segue que existe n0 ∈ N tal que n0 > ⇒ < b − a. Considere o seguinte
b−a n0
subconjunto A = {m ∈ Z; m ≥ n0 b}. Como A é um subconjunto de números inteiros
limitado inferiormente segue que existe um elemento mínimo em A, isto é, existe m0 ∈ A
tal que m ≥ m0 ≥ n0 b, ∀m ∈ A. Ainda como m0 − 1 < m0 ⇒ m0 − 1 ∈ / A ⇒ m0 − 1 <
m0 − 1 m0 − 1 1 1
n0 b ⇒ < b e ∈ Q. Ainda, como < b − a ⇒ a − b < − . Logo,
n0 n0 n0 n0
m0 − 1 m0 1 1 m0 − 1
= − ≥ b− > b + (a − b) = a ⇒ a < < b, basta então tomarmos
n0 n0 n0 n0 n0
m0 − 1
r= ∈ Q e temos demonstrado a primeira parte da proposição.
n0
11

a b
Para mostrar a existência de s ∈ R \ Q basta tomar √ , √ e utilizar a existência de
2 2
a b √
r ∈ Q, r 6= 0 tal que √ < r < √ e então teremos s = r 2 ∈ / Q.¤
2 2
No que segue, a menos que esteja explícito, estaremos trabalhando com o corpo dos
números reais. Apenas para fixar a notação sobre intervalos, segue que, dados a, b ∈ R,

[a, b] = {x ∈ R; a ≤ x ≤ b}, (a, b) = {x ∈ R; a < x < b},


[a, b) = {x ∈ R; a ≤ x < b}, (a, b] = {x ∈ R; a < x ≤ b},
[a, ∞) = {x ∈ R; a ≤ x}, (a, ∞) = {x ∈ R; a < x},
(−∞, b] = {x ∈ R; x ≤ b}, (−∞, b) = {x ∈ R; x < b},
(−∞, ∞) = R.

Em R, define-se o módulo de um número real, da seguinte maneira, para cada x ∈ R,


½
x; x≥0
|x| = ,
−x; x < 0

ou seja o módulo de um número real é sempre um número não negativo, que representa na
reta, a distância deste número à origem. Esta noção de distância será muito importante
para o conceito de limite. Pode-se ainda definir o módulo de um número real da seguinte
forma, mais compacta:
|x| = max{x, −x}, ∀x ∈ R.
Da definição de módulo tem-se que, dado r ∈ R, r > 0, então

|x| ≤ r ⇔ −r ≤ x ≤ r.

De fato:
|x| ≤ r ⇔ max{x, −x} ≤ r ⇔ x ≤ r e − x ≤ r ⇔ −r ≤ x ≤ r.
Com a noção de módulo e a propriedade acima, podemos definir intervalos abertos ou
fechados centrados em um número real a e de raio r > 0. Tais intervalos serão muito
utilizados nos conceitos topológicos e na definição de limite.

Exemplo 2.32 Sejam a, r ∈ R, com r > 0 então

(a − r, a + r) = {x ∈ R; |x − a| < r},
[a − r, a + r] = {x ∈ R; |x − a| ≤ r}.
Exercício 1
Prove, por indução, que
1 3  2 3  3 3    n 3  1  2  3  n 2 , n  .

Solução: Para n  1, temos que 1 3  1  1 2 e portanto a afirmação é


verdadeira para n  1. Suponhamos que a afirmação seja válida para n e
provemos para n  1. De fato:
1  2  3  n  n  1 2  1  2  3  n 2  n  1 2  2n  11  2  3  n.
nn  1
Mas do exercício 1 segue que: 1  2  3  n  . Assim, obtemos,
2
utilizando a hip´´otese indutiva:
1  2  3  n  n  1 2  1  2  3  n 2  n  1 2  nn  1 2 
 1  2  3  n 2  n  1 3 
 1 3  2 3  3 3    n 3  n  1 3 .
O que prova a afirmação.
Exercício 2
Mostre que num corpo K, a comutatividade da adição é conseqüência das
demais propriedades.
Solução: Sabendo que 2 = 1 + 1 e da propriedade de distributividade e da
comutatividade da multiplicação, que
2(x + y) = (1 + 1)(x + y) = 1(x + y) + 1(x + y) = (x + y) + (x + y). Ainda
2(x + y) = (1 + 1)(x + y) = (1 + 1)x + (1 + 1)y = 2x + 2y. Logo, temos que
(x + y) + (x + y) = 2x + 2y = x + x + y + y. Assim, somando (−y) à direita em ambas
as expressões e utilizando a associatividade da adição, obtemos que
(x + y) + x = x + x + y. Agora adicionando (−x) à esquerda em ambos os lados da
igualdade e novamente utilizando a associatividade obtemos que: y + x = x + y,
como queríamos provar.
Exercício 3
Seja K um corpo ordenado. Considere x, y ∈ K, tais que 0 < x < y. Mostre
que x 2 < y 2 .
Solução: Da propriedade de comutatividade e distributividade da multiplicação,
segue que (y − x)(y + x) = y 2 − x 2 . Assim, como y, x > 0 ⇒ y, x ∈ P e portanto,
segue da primeira condição da definição de corpo ordenado que y + x ∈ P, isto é,
y + x > 0. Ainda da definição da relação de ordem, como x < y, segue que
y − x ∈ P ⇒ y − x > 0, e portanto da segunda condição da definição de corpo
ordenado, tem-se que, (y − x)(y + x) ∈ P, ou seja,
(y − x)(y + x) = y 2 − x 2 > 0 ⇒ x 2 < y 2 .
Exercício 4
n
Determine, caso existam o supremo e o ín…mo do conjunto A = f ; n 2 Ng:
n+1
n
Solução: Temos que 0 < < 1 para todo n 2 N; logo A é limitado e portanto admite supremo
n+1
e ín…mo em R: Queremos mostrar que 1 = sup A: De fato seja c > 1 ) 1 c > 0: Logo, como N não é
1 1 1
limitado superiormente em R; segue que existe n0 2 N tal que n0 > ) < 1 c ) c < 1+ =
1 c n0 n0
n0 1 1 1 n n+1
; o que implica a a…rmação. Ainda = inf A; pois = 2 A e como < ; pois
n0 + 1 2 2 1+1 n+1 n+2
n n+1 1 n 1 1
= < 0; então para todo n 1 e como 2 A; segue que
n+1 n+2 (n + 1) (n + 2) n+1 2 2
1
= inf A = min A:
2

i
Exercício 5

Determine os valores de x 2 R tais que jx 1j jx 2j :


Solução: Se x 2 ) x > 1 ) x 2 0 e x 1 > 0 e portanto jx 1j = x 1 e jx 2j = x 2.
Assim, x 1 x 2 ) 1 2; o que é sempre verdadeiro. Assim, todos os elementos do intervalo
[2; +1) satisfazem a desigualdade.
Caso 1 x < 2 então x 1 0 e x 2 < 0; portanto jx 1j = x 1 e jx 2j = 2 x: Logo
3 3
jx 1j jx 2j ) x 1 2 x ) 2x 3 ) x ; logo para todo x 2 [ ; 2); a desigualdade é
2 2
verdadeira.
Finalmente, se x < 1 ) x < 2 ) x 1; x 2 < 0 ) jx 1j = 1 x e jx 2j = 2 x: Assim,
jx 1j jx 2j ) 1 x 2 x ) 1 2; o que é um absurdo.
Portanto os valores de x 2 R que satisfazem a desiguladade acima são os elemntos do intervalo
3
[ ; +1):
2

i
Exercício 6

Seja K um corpo ordenado completo e a 2 K; a p0: Mostre que existe um único b 2 K; b > 0
tal que b2 = a: Tal elemento b será indicado por a:
Solução: Se a = 0; basta tomar b = 0 e claramente esta é a única possibilidade. Consideremos então
a a
a > 0: Seja A = fx 2 K; x > 0 e x2 ag: temos que A 6= ;; pois 2 A; já que >0ea
1+a 1+a
2 2 2
a a (1 + a) a2 a + a2 + a3 a
= 2 = 2 >0)a> : Ainda, A é limitado superiormente,
1+a (1 + a) (1 + a) 1+a
2
pois (1 + a) > a e portanto x < (1 + a) ; para todo x 2 A: Logo, A admite supremo. Considere
b = sup A; é claro que b > 0; já que todos os elementos de A o são. Temos então três possibilidades:
b2 < a ou b2 > a ou b2 = a: Mostraremos que as duas primeiras nos levam a um absurdo e portanto
teremos mostrado a existência de b: Vejamos:

a b2 a b2
10 caso : b2 < a; como b > 0 e > 0 então existe c 2 K tal que 0 < c < minfb; g)c<be
3b 3b
a b2
c< : Portanto
3b
2
(b + c) = b2 + 2bc + c2 < b2 + 3bc < b2 + a b2 = a;

logo b + c 2 A e b + c > b = sup A; o que é um absurdo.


2
0 2 b2 a b2 + a b2 a b2 a
2 caso : b > a; seja d = b = : Logo, 0 < d < b: Ainda, d2 = b2 b + =
2b 2b b 4b2
2
b2 a
a+ > a: Assim, da de…nição do conjunto A; segue que x2 a < d2 ; para todo x 2 A e
4b2
como x > 0 e d > 0; segue que x < d para todo x 2 A; o que implica que d é uma cota superior de
A menor que o supremo, o que é um absurdo.
Portanto, b = sup A; é tal que b2 = a: A unicidade segue da própria de…nição de supremo de um
conjunto.

i
12 CAPÍTULO 2. NÚMEROS REAIS

2.0.1 Lista de Exercícios


Exercício 2.33 Seja x ∈ R tal que x > −1. Prove, por indução, que

(1 + x)n ≥ 1 + nx, ∀n ∈ N.

Exercício 2.34 Prove, por indução, que

n (n + 1) (n + 2)
1.2 + 2.3 + · · · + n (n + 1) = .
3
a
Exercício 2.35 Seja K um corpo. Definimos a − b = a + (−b), ∀a, b ∈ K e = a · b−1 ,
b
∀a ∈ K e ∀b ∈ K ∗ . Então, mostre que:
a) a · (b − c) = a · b − a · c, ∀a, b, c ∈ K.
a c ad + bc
b) + = , ∀a, c ∈ K e ∀b, d ∈ K ∗ .
b d bd
a c ac
c) · = , ∀a, c ∈ K e ∀b, d ∈ K ∗ .
b d bd
a
ad
d) bc = , ∀a ∈ K e ∀b, c, d ∈ K ∗ .
bc
d

Exercício 2.36 Seja K um corpo ordenado e x, y, z, w ∈ K. Prove que:


a) x < y e z < w ⇒ x + z < y + x.
b) 0 < x < y e 0 < z < w ⇒ x · z < y · w.
c) x > 0 e y < 0 ⇒ x · y < 0.
d) x < 0 e y < 0 ⇒ x · y > 0.
e) x > 0 ⇒ x−1 > 0.

Exercício 2.37 Sejam A e B subconjuntos de R, tais que A é limitado inferiormente e


B é limitado superiormente. Mostre que:
a) −A é limitado superiormente e sup(−A) = − inf A.
b) −B é limitado inferiormente e inf(−B) = − sup B.

Exercício 2.38 Prove a seguinte afirmação: Todo subconjunto de R limitado superior-


mente admite supremo em R.

Exercício 2.39 Sejam A e B subconjuntos de R e considere C = {a + b; a ∈ A e b ∈ B}.


Mostre que:
a) Se A e B são limitados inferiormente então C é limitado inferiormente e inf C =
inf A + inf B.
b) Se A e B são limitados superiormente então C é limitado superiormente e sup C =
sup A + sup B.
13

Exercício 2.40 Sejam S e T subconjuntos não vazios de R tais que

s ≤ t, ∀s ∈ S e ∀t ∈ T,

mostre que S é limitado superiormente e T é limitado inferiormente e sup S ≤ inf T.

Exercício 2.41 Seja Y um subconjunto não vazio e limitado de números reais. Se m =


inf Y e M = sup Y. Mostre que M − m = sup{|x − y| ; x, y ∈ Y }.

Exercício 2.42 Seja A um subconjunto de números reais não negativos, limitado supe-
riormente. Denotemos por A2 = {x2 ; x ∈ A}. Mostre que inf A2 = (inf A)2 e sup A2 =
(sup A)2 .

Exercício 2.43 Sabe-se que para cada x ∈ R,


½
x, x≥0
|x| = .
−x, x < 0

Utilizando esta definição, mostre que:


a) |x| ≥ 0, ∀x ∈ R e conclua que |x|2 = x2 , ∀x ∈ R.
b) Seja a ∈ R tal que a > 0 então

|x| ≤ a ⇔ −a ≤ x ≤ a.

c) |x + y| ≤ |x| + |y| , ∀x, y ∈ R.


d) |xy| = |x| |y| , ∀x, y ∈ R.
e) ||x| − |y|| ≤ |x − y| , ∀x, y ∈ R.
f) |x − z| ≤ |x − y| + |y − z| , ∀x, y, z ∈ R.

Exercício 2.44 Sejam x, y ∈ R tais que ∀ε > 0, |x − y| < ε. Mostre que x = y.

Exercício 2.45 Determine os valores de x ∈ R tais que:


a) |x + 1| = |x − 1| ;
b) |x − 1|2 = |2x + 1| ;
c) |x| = x2 + 1.

Exercício 2.46 Resolva as inquações abaixo:


a) |3x − 1| < −2,
b) |2x2 − 1| < 1,
c) |x − 3| ≤ x + 1,
d) |x − 1| − |x + 2| > x,
e) |x − 2| + |x − 1| ≥ 1.

Exercício 2.47 Elimine o módulo da expressão |2x − 1| + |x − 2| .


Capítulo 3

Funções reais de variável real

Como já dissemos as funções reais de variável real são o objeto de estudo do Cálculo,
mas como este tópico faz parte do ensino médio, faremos uma breve recordação de alguns
conceitos e deixaremos uma lista de exercícios para uma recordação de suas principais
propriedades.

Definição 3.1 Sejam X e Y conjuntos não vazios. Uma função de X em Y é uma regra
que a cada elemento x ∈ X associa um único elemento y ∈ Y. Denotada da seguinte
maneira,

f : X→Y
x 7→ y = f (x).

Neste caso dizemos que X é o domínio de f e o denotamos por Df , enquanto que Y é o


seu contradomínio. Ainda y = f (x) é a imagem do elemento x pela função f.

Alguns conjuntos são importantes na definição de função além do domínio e con-


tradomínio, a saber:

Im f = {f (x); x ∈ X},
Gf = {(x, y) ∈ X × Y ; y = f (x)}.

Os conjuntos acima são denominados, respectivamente, imagem de f e gráfico de f.

Nota 3.2 Uma função real de uma variável real é uma função cujo domínio e con-
tradomínio são subconjuntos de R.

Exemplo 3.3 f (x) = 1. Então Df = R e Im f = {1}. E seu gráfico:

15
16 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL

1.2
y
1.0

0.8

0.6

0.4

0.2

-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5
x
-0.2

-0.4

Exemplo 3.4 f (x) = x2 . Então Df = R e Im f = [0, ∞). E seu gráfico:

y
8

-3 -2 -1 0 1 2 3
x


Exemplo 3.5 f (x) = x − 1. Então Df = [1, ∞) e Im f = [0, ∞). E seu gráfico:
17

2.0
y

1.5

1.0

0.5

0.0
1 2 3 4 5
x

1
Exemplo 3.6 f (x) = . Então Df = R\{0} = Im f, cujo gráfico é:
x

y 2

-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5
x
-1

-2

Exemplo 3.7 f (x) = ln x. Então Df = (0, +∞), Im f = R e cujo gráfico é:


18 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL

y
1

0
0 1 2 3 4 5
x

-1

-2

Definição 3.8 Sejam f : Df → R e g : Dg → R funções reais de variável real. Dizemos


que f = g se e somente se Df = Dg = D e f (x) = g(x), ∀x ∈ D.

Definição 3.9 Sejam f : Df → R e A ⊂ Df . Definimos a restrição de f ao conjunto A,


denotada por f |A da seguinte forma f |A : A → R, tal que f |A (x) = f (x) , ∀x ∈ A.

Nota 3.10 Assim, o domínio de f |A é A, diferentemente do domínio de f que é Df .

Definição 3.11 Seja f : Df → R, dizemos que f é limitada quando Im f é um subcon-


junto limitado de R. Ou seja, se existem m, M ∈ R tais que

m ≤ f (x) ≤ M, ∀x ∈ Df .

Ou equivalentemente, se existe K > 0 tal que

|f (x)| ≤ K, ∀x ∈ Df .

Definição 3.12 Seja f : Df → R.


a) Dizemos que f é estritamente crescente quando, para todo x, y ∈ Df com x < y,
tem-se que f (x) < f (y) .
b) Dizemos que f é crescente quando, para todo x, y ∈ Df com x < y, tem-se que
f (x) ≤ f (y) .
c) Dizemos que f é estritamente decrescente quando, para todo x, y ∈ Df com
x < y, tem-se que f (x) > f (y) .
d) Dizemos que f é decrescente quando, para todo x, y ∈ Df com x < y, tem-se que
f (x) ≥ f (y) .

Nota 3.13 Quando uma função f satisfaz uma das definições acima, dizemos que f é
monótona.
3.1. OPERAÇÕES COM FUNÇÕES 19

Exemplo 3.14 Seja f : R → R, f (x) = x+1. Então f é monótona pois f é estritamente


crescente, já que ∀x, y ∈ R com x < y, tem-se que x + 1 < y + 1 ⇒ f (x) < f (y) .

1
Exemplo 3.15 Seja f : (0, +∞) → R, f (x) = . Então f é monótona pois f é estrita-
x
1 1
mente decrescente, já que ∀x, y ∈ (0, +∞) com x < y, tem-se que > ⇒ f (x) > f (y) .
x y

(
1;x<0
Exemplo 3.16 Seja f : R → R, f (x) = 1 . Tal função é decrescente,
x≥0
x+1
pois ∀x, y ∈ R com x < y < 0 tem-se que f (x) = f (y) e ∀x, y ∈ R com 0 ≤ x < y, tem-se
1 1
que x + 1 < y + 1 ⇒ > ⇒ f (x) > f (y) . Logo, ∀x, y ∈ R com x < y, tem-se
x+1 y+1
que f (x) ≥ f (y) .

3.1 Operações com funções


Consideraremos nesta seção apenas funções reais de uma variável real. Portanto o con-
tradomínio será sempre R e o domínio um subconjunto de R, que será denotado por Df
para uma determinada função f.

Definição 3.17 Sejam f, g funções reais de uma variável real tais que Df ∩ Dg 6= ∅ e
k ∈ R. Assim definimos:

a) f + g : Df ∩ Dg → R; tal que (f + g) (x) = f (x) + g (x) ,


b) f g : Df ∩ Dg → R; tal que (f g) (x) = f (x) g (x) ,
µ ¶
f f f (x)
c) : {x ∈ Df ∩ Dg ; g(x) 6= 0} → R; tal que (x) = ,
g g g (x)
d) kf : Df → R; tal que (kf ) (x) = kf (x) .

√ Considere f : (−∞, 5] → R, g : (1, ∞) → R definidas, respectivamente


Exemplo 3.18
por f (x) = 5 − x e g(x) = ln(x − 1). Assim,

Df +g = (1, 5] e (f + g) (x) = 5 − x + ln(x − 1),

Df g = (1, 5] e (f g) (x) = 5 − x ln(x − 1),
µ ¶ √
f 5−x
D f = (1, 2) ∪ (2, 5] e (x) = .
g g ln(x − 1)

f
Vejamos os gráfico de f, g, f + g, fg e :
g
20 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL

5
y

0
1 2 3 4 5
x

-5

-10

Em vermelho o gráfico da soma das funções f e g

5
y

0
1 2 3 4 5
x

-5

-10

Em rosa o gráfico do produto das duas funções


3.2. FUNÇÃO COMPOSTA 21

5
y

0
1 2 3 4 5
x

-5

-10

Em azul o gráfico de f/g

3.2 Função composta

Definição 3.19 Sejam f, g funções reais de uma variável real tais que Dg ∩ Im f 6= φ.
Definimos a função g composta com f , denotada por g ◦ f, como

g ◦ f : {x ∈ Df ; f (x) ∈ Dg } → R tal que (g ◦ f ) (x) = g(f (x)).

Exemplo 3.20 Considere f (x) = cos x e g(x) = x2 − x + 1. Como Df = R, Im f =


[−1, 1] e Dg = R. Então Dg◦f = R e (g ◦ f ) (x) = cos2 (x) − cos x + 1. Neste caso como
Im g ⊂ R = Df então pode-se definir também (f ◦ g) (x) = cos (x2 − x + 1) e Df ◦g = R.
Observe que g ◦ f 6= f ◦ g.

1
Exemplo 3.21 Considere f (x) = e g(x) = x − 1, segue que Df = R\{0} = Im f,
x
1
Dg = R = Im g. Assim, Df ◦g = R\{1} e (f ◦ g) (x) = . Ainda Dg◦f = Df = R\{0}
x−1
1 1−x
e (g ◦ f ) (x) = − 1 = . Abaixo os gráficos de f em preto, g em marrom, g ◦ f, em
x x
azul e de f ◦ g em amarelo.
22 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL

5
y
4

0
1 2 3 4 5
x
-1

3.3 Função inversa


Antes de definirmos função inversa precisamos definir quando uma função é inversível.
Para isso recordaremos a definição de função injetora, sobrejetora e bijetora.

Definição 3.22 Seja f : Df → R.


a) Dizemos que f é injetora quando ∀x, y ∈ Df tais que f (x) = f (y) implica que x = y
ou equivalentemente ∀x, y ∈ Df tais que x 6= y implica que f (x) 6= f (y).
b) Dizemos que f é sobrejetora quando Im f = R, isto é, quando dado y ∈ R, existe
x ∈ Df tal que y = f (x).
c) Dizemos que f é bijetora quando f é injetora e sobrejetora, isto é, dado y ∈ R
existe um único x ∈ Df tal que y = f (x).

Nota 3.23 Observe que toda função é sobrejetora se considerarmos o contradomínio de


f como sendo Im f.

Definição 3.24 Seja f : Df → Im f uma função bijetora. Assim podemos definir a


função f −1 : Im f → Df por

f −1 (y) = x ⇔ f (x) = y, ∀y ∈ Im f,

observe que f −1 está bem definida pois tal x existe e é único uma vez que y ∈ Im f e f é
injetora.

Nota 3.25 Da própria definição de f −1 , pode-se observar que (f ◦ f −1 ) (y) = y, ∀y ∈


Im f e (f −1 ◦ f ) (x) = x, ∀x ∈ Df .

Exemplo 3.26 Seja f : [0, ∞) → [0, ∞), definida por f (x) √ = x2 , f é bijetora(mostre!) e
a função f −1 : [0, ∞) → [0, ∞), é definida por f −1 (x) = x.
3.3. FUNÇÃO INVERSA 23

Nota 3.27 Os gráficos de f e f −1 são simétricos em relação à reta y = x.

5
y
4

0
0 1 2 3 4 5
x
Gráfico da função y=x2 e sua inversa

Exemplo 3.28 Seja f : (0, ∞) → R, f (x) = ln x. Já sabemos que f é bijetora e que


f −1 : R → (0, +∞) , é a exponencial, ou seja, f −1 (x) = ex . Os gráficos de f e f −1
seguem abaixo, em azul e preto, respectivamente.

10
y

-10 -8 -6 -4 -2 2 4 6 8 10
x
-5

-10

Nota 3.29 Existem funções elementares inversíveis, cuja inversa não é uma função el-
ementar. Por exemplo: f : R → R; f (x) = x + ex . A função f é injetora, pois é
estritamente crescente. Pode-se verificar através do gráfico que f é bijetora. Após o es-
tudo de limite e continuidade de funções poderemos provar a sobrejetividade de f.
24 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL

y
8

-2 -1 1 2
x
-2

No entanto sua inversa não pode ser descrita em termos de funções elementares.

3.4 Paridade e periodicidade de funções


Definição 3.30 Seja f : Df → R tal que Df é um conjunto simétrico em relação ao
zero, isto é, se x ∈ Df então −x ∈ Df .
a) Dizemos que f é uma função par se e somente se f (−x) = f (x), ∀x ∈ Df .
b) Dizemos que f é uma função ímpar se e somente se f (−x) = −f (x), ∀x ∈ Df .
Exemplo 3.31 A função f (x) = cos x, ∀x ∈ R é uma função par enquanto que g(x) =
sen x, ∀x ∈ R é uma função ímpar.
1
Exemplo 3.32 A função f : R\{0} → R; f (x) = x sen é uma função par, já que
x
1 −1 1
f (−x) = −x sen = −x sen = x sen , já que sen é ímpar. Seu gráfico segue
−x x x
abaixo;

y
0.8

0.6

0.4

0.2

-3 -2 -1 1 2 3
x
-0.2
3.5. FUNÇÕES ELEMENTARES 25

Definição 3.33 Seja f : Df → R tal que Df é um conjunto que satisfaz a seguinte


propriedade: existe p ∈ R, p > 0 tal que se x ∈ Df então x + kp ∈ Df , ∀k ∈ Z. Assim,
dizemos que f é periódica de período p se e somente se f (x + kp) = f (x), ∀x ∈ Df e
∀k ∈ Z.

Exemplo 3.34 As funções seno e cosseno são periódicas de período 2π.

2
2
1.5
1.5
1
1
0.5
0.5

-10 -5 5 10
-10 -5 5 10
-0.5
-0.5
-1
-1
-1.5
-1.5
-2
-2

π
Exemplo 3.35 A função f (x) = tg x, ∀x ∈ Df = {x ∈ R; x 6= +kπ, k ∈ Z} é periódica
2
de período π.

20
15
10
5

-10 -5 5
-5
-10
-15
-20

3.5 Funções Elementares


As funções elementares são as funções polinomiais, as funções racionais, as funções irra-
cionais e funções transcendentes. Vejamos as definições e exemplos de cada uma delas.
26 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL

Definição 3.36 Uma função polinomial é uma função f : R → R, tal que existe n ∈ N e
ai ∈ R, 0 ≤ i ≤ n, an 6= 0 tais que f (x) = a0 + a1 x + · · · + an xn .

P (x)
Definição 3.37 Uma função racional é uma função f : Df → R tal que f (x) = ,
Q (x)
onde P, Q : R → R são funções polinomiais sem zeros em comum e Df = {x ∈ R; Q (x) 6=
0}.

Definição 3.38 Uma função f : Df → R é denominada uma função algébrica quando


existem n ∈ N e Pi : R → R, 0 ≤ i ≤ n, funções polinomiais com Pn não identicamente
nula, tal que y = f (x) é uma solução da equação algébrica Pn (x) y n + Pn−1 (x) y n−1 +
· · · + P0 (x) = 0, ∀x ∈ Df .

Nota 3.39 As funções polinomiais e racionais são funções algébricas. (Verifique!)

Definição 3.40 Uma função irracional é uma função algébrica que não é polinomial e
nem racional.

Exemplo 3.41 f : R → R, f (x) = 4 x4 + x2 + 3 é uma função irracional, pois não é
polinomial e nem racional e y = f (x) é solução da seguinte equação algébrica

y 4 − x4 − x2 − 3 = 0.

x2 − 1
Exemplo 3.42 f : Df → R; f (x) = √ 3
, onde Df = (−∞, −2) ∪ (−2, −1] ∪
x2 − x − 6
[1, 3) ∪ (3, +∞) é uma função irracional, pois y = f (x) é solução da seguinte equação
algébrica
¡ 2 ¢2 ¡ ¢3
x − x − 6 y 6 − x2 − 1 = 0.

Definição 3.43 Uma função f : Df → R é denominada uma função transcendente, se f


não é algébrica.

Exemplo 3.44 As funções exponenciais e as funções logarítmicas.

Exemplo 3.45 As funções trigonométriacas e as trigonométricas inversas.

Exemplo 3.46 As funções hiperbólicas e as hiperbólicas inversas.

Como em geral as funções hiperbólicas não são estudadas no ensino médio, daremos
a seguir a definição e algumas de suas propriedades.
As funções hiperbólicas são assim chamadas, pois elas podem ser tomadas na hipérbole
equilátera de semi-eixos unitários, a saber a hipérbole de equação x2 − y 2 = 1. Vejamos
graficamente como podemos obter as funções cosseno hiperbólico e seno hiperbólico.
3.5. FUNÇÕES ELEMENTARES 27
y 5

3
N
2
P=(u,v)

1
0 O
-5 -4 -3 -2 -1 0 A1 2 M3 4 5
-1
x
-2

-3 P’
-4

-5

Assim, considerando x a área do setor hiperbólico OP AP 0 O, da figura acima, tem-se que


u = OM = cosh x e v = ON = senh x. Do próprio fato que P = (u, v) é um ponto
da hipérbole, tem-se que u2 − v 2 = 1, ou seja, (cosh x)2 − (senh x)2 = 1. As abreviações
cosh e senh significam, respectivamente, cosseno e seno hiperbólicos. Pode-se fazer uma
"trigonometria hiperbólica", na hipérbole equilátera de semi-eixos unitários, como se faz
para as funções trigonométricas sobre o círculo trigonométrico. Definimos também a
tangente, cotangente, secante hiperbólicas de modo análogo às trigonométricas, ou seja,

senh x
tgh x = ,
cosh x
cosh x
cotgh x = ,
senh x
1
sech x = ,
cosh x
1
cossech x = .
senh x

Pode-se provar que

ex + e−x
cosh x = , ∀x ∈ R,
2
ex − e−x
senh x = , ∀x ∈ R.
2

Seus gráficos são, respectivamente em azul o de cosh e em verde o de senh .


28 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL

4
y

-2 -1 1 2
x
-2

-4

Como pode ser observado pelo gráfico acima, a função senh é bijetiva, enquanto que
cosh não o é. Portanto define-se a função arco seno hiperbólico que é a inversa do seno
hiperbólico, ou seja,

arcsenh : R → R; arcsenh x = ln(x + x2 + 1), ∀x ∈ R.

Seu gráfico segue abaixo:

y 2

-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5
x
-1

-2

Como cosseno hiperbólico não é bijetora, para podermos definir sua inversa, devemos
restringir seu domínio e contradomínio.
As demais funções hiperbólicas também podem ser definidas em termos da função
exponencial e as funções hiperbólicas inversas também podem ser definidas em termos da
função logaritmo, fazendo-se as devidas restrições aos domínios e ou contradomínios das
funções hiérbólicas. Algumas delas seguem na lista de exercícios.
i

0.0.1 Exercício 1
f
Determine o domínio e esboce os grá…co de f + g e ; onde
g

1; x2Q 1; x 2 Q
f (x) = e g (x) = :
1; x 2
=Q 1; x2=Q

Solução: Como o domínio de f e de g é R; então o domínios de f + g é R: Além disso do


f
fato de g (x) 6= 0; para todo x 2 R; segue que o domínio de também ser R: Ainda, se x 2 Q; tem-se
g
f f (x)
(f + g) (x) = f (x) + g (x) = 0 e (x) = = 1. Se x 2 = Q; (f + g) (x) = f (x) + g (x) = 0 e
g g (x)
f f (x) f
(x) = = 1, ou seja f + g é a função identicamente nula em R e a função constante igual
g g (x) g
f
a 1: Segue abaixo os grá…cos de f + g e ; respectivamente.
g

2
y
1

-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5
x
-1

-2
i

0.0.1 Exercício 2
p
Determine o domínio e a imagem da função f (x) = 3 x 1 1: Veri…que ainda se esta é
injetora e sobrejetora.
Solução: O domínio é R; pois a raiz é cúbica.
q A imagem é R; já que dado y 2 R; existe
3 p
3 3 3
x = (y + 1) + 1 2 R; tal que f (x) = x 1 1 = (y + 1) 1 = y: Sendo assim também …ca provado
que f é sobrejetora.
Para veri…car que f é injetora, tomemos x; z 2 R tais que f (x) = f (z) : Então
p
3
p
x 1 1= 3z 1 1

o que implica que p p


3 3
x 1= z 1 ) x = z;
ou seja f é injetora.
Segue o grá…co desta função:

y 0.5

-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5
x
-0.5

-1.0

-1.5

-2.0

-2.5
i

0.0.1 Exercício 3
Dê um exemplo de funções injetoras, cuja soma e produto não o são.
Solução: Sejam f; g : R ! R; f (x) = x e g (x) = 1 x: Ambas são injetoras como pode ser
observado através de seus grá…cos

6
y
5

-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5
-1 x
-2

-3

-4

-5

Grá…co de f em preto e de g em vermelho


No entanto (f + g) (x) = 1 e (f g) (x) = x x2 , as quais não são injetoras. A função f + g é constante,
portanto claramente não injetora e (f g) (0) = 0 = (f g) (1) : Vejamos seus grá…cos:

x
-5 -4 -3 -2 -1y 1 2 3 4 5

-10

-20

-30

Grá…co de f + g em azul e de f g em verde


i

0.0.1 Exercício 4
Mostre que a composta de funções bijetoras é bijetora
Solução: Sejam f; g : R ! R; ambas bijetoras. Mostremos que f g também é bijetora.
Primeiramente mostremos que f g é injetora. Sejam x; y 2 R tais que (f g) (x) = (f g) (y) )
f (g (x)) = f (g (y)) e como f é injetora, segue que g (x) = g (y) : Ainda como g é injetora tem-se que
x = y; portanto f g é injetora.
Mostremos que f g é sobrejetora. De fato seja y 2 R; como f é sobrejetora, existe z 2 R tal que
f (z) = y: Ainda como g é sobrejetora segue que existe x 2 R tal que g (x) = z: Assim, y = f (z) =
f (g (x)) = (f g) (x) ; o que implica que f g é sobrejetora.
i

0.0.1 Exercício 5
Mostre que senh : R ! R é bijetora e cossech : Rnf0g ! R é injetora. Determine a imagem de
cossech e determine ainda sua inversa, de…nida na imagem de cossech :
Solução: Primeiramente mostremos que senh é injetora. De fato sejam x; y 2 R tais que
ex e x ey e y e2x 1 e2y 1
senh x = senh y; ou seja, = : Então = ) ey e2x 1 ex e2y 1 =
2 2 ex ey
0 ) e2x+y ey ex+2y + ex = 0 ) ex+y (ex ey ) + (ex ey ) = 0 ) (ex ey ) (ex+y +1) = 0: Como
ex+y +1 > 0; segue que ex ey = 0 ) x = y; pois a função exponencial é injetiva.
p
Provemos agora que a função senh é sobrejetora. De fato, dado y 2 R; tome x = ln y + y 2 + 1 2
p 2
p
ex e x e2x 1 y + y2 + 1 1 y 2 + 2y y 2 + 1 + y 2
R: Assim, senh x = = = p = p = y:
2 2 ex 2 y + y2 + 1 2 y + y2 + 1
1
Como cossech (x) = e senh é injetora, segue que cossech também o é. Ainda como senh é
senh x
1
sobrejetora então a imagem de cossech é Rnf0g; pois para todo y 2 Rnf0g; 2 Rnf0g ) 9x 2 Rnf0g
y
1
tal que senh x = ; logo cossech x = y: Para determinar a inversa, basta determinar x 2 Rnf0g; tal que
y
1
cossech x = y; ou seja, senh x = ; mas tal x já foi determinado acima quando provamos que senh é
y
sobrejetora. Assim, temos que a inversa de cossech é
8 p !
>
> 1 + 1 + x2
>
>
< ln x
; x>0
arccossh : Rnf0g ! Rnf0g; arccossh x = p ! :
>
> 1 1 + x2
>
>
: ln x
; x<0

Apenas como ilustração seguem em azul o grá…co de cossech e em vermelho o grá…co de arccossh :

10
y
8

-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5
-2 x

-4

-6

-8
i

0.0.1 Exercício 6
Determine o domínio e a imagem de tgh : Veri…que ainda se tgh é par ou ímpar.
senh x
Solução: Como tgh x = e cosh x 6= 0; 8x 2 R; segue que o domínio de tgh é R: Para
cosh x
analisarmos sua imgem vejamos para que valores de y tem-se tgh x = y: Ou seja, determinemos para que
ex e x e2x 1
valores de y; tem-se x = y: Esta equação é equivalente a = y , e2x (1 y) = y+1 , e2x =
e +e x e2x +1
y+1
: Assim, como e2x > 0; 8x 2 R; segue que existira x 2 R; satisfazendo esta última relação apenas
1 y
y+1
quando > 0: Logo, fazendo o estudo do sinal deste quociente e lembrando que o denominador não
1 y
pode se anular, temos que a imagem de tgh é ( 1; 1) :
Veri…quemos a seguir a paridade de tgh,

e x ex ex e x
tgh ( x) = x
= = tgh x;
e + ex ex + e x

concluindo portanto que tgh é ímpar.


A título de ilustração segue o grá…co de tgh :

1.0
y
0.8

0.6

0.4

0.2

-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5
-0.2 x
-0.4

-0.6

-0.8

-1.0
3.5. FUNÇÕES ELEMENTARES 29

3.5.1 Lista de Exercícios


µ ¶
2 1
Exercício 3.47 Seja f : R → R definida por f (x) = x − x. Determine f (2), f ,
2
f (x2 ), f (f (x)).
µ ¶
x 1
Exercício 3.48 Seja f : R\{1} → R definida por f (x) = . Determine f , para
x−1 t
t 6= 0, 1; f (x + h), para x 6= 1 − h.

Exercício 3.49 Determine o domínio das funções abaixo. Analise também a paridade
destas funções:

a) f (x) = ex ,

b) f (x) = x2 + x2 + 1,

c) f (x) = cosh(x),

d) f (x) = senh(x),

e) f (x) = x |x| ,
( 1
, x 6= 0
f) f (x) = x ,
0, x = 0

senh x
g) f (x) = tgh x = ,
cosh x
h) f (x) = tg x.

Exercício 3.50 Seja a ∈ R, a > 0 e f : [−a, a] → R. Mostre que g : [−a, a] → R


definida por g(x) = f (x) + f (−x) é par e que a função h : [−a, a] → R definida por
h(x) = f (x) − f (−x) é ímpar.

Exercício 3.51 Utilizando o exercício anterior, mostre que dada uma função f : [−a, a] →
R, existem funções g, h : [−a, a] → R, sendo g uma função par e h uma função ímpar, tal
que f (x) = g (x) + h (x) , ∀x ∈ [−a, a] .

Exercício 3.52 Prove que o produto de duas funções pares ou ímpares é uma função par.

Exercício 3.53 Determine o domínio e esboce o gráfico das funções abaixo:



a) f (x) = x + 2,

b) f (x) = x + |x| ,
30 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL
⎧ 2
⎨ x − x, se x ≤ 1,
c) f (x) = 0, se 1 < x ≤ 2,

x − 2, se x > 2.

x2 − 1
d) f (x) = ,
x−1
|2x + 1|
e) f (x) = ,
2x + 1
f) f (x) = |x − 1| + |x + 2| ,

g) f (x) = ||x| − 1| ,

h) f (x) = x sen x.

Exercício 3.54 Determine o domínio de f para o qual Im f ⊂ Dg e a composta h = g ◦f.

x−1
a) g(x) = e f (x) = x + 2,
x−2

b) g(x) = x e f (x) = x2 − x,
1
c) g(x) = e f (x) = x3 − x,
x

d) g(x) = x2 − 1 e f (x) = x2 − 2.

Exercício 3.55 Verifique se as funções abaixo são ou não injetoras. Sabe-se que a função
exponencial o é. Determine suas imagens e se for o caso determine sua inversa.

a) f : [0, +∞) → R, f (x) = cosh x,


1
b) f : R\{0} → R, f (x) = ,
x
x+2
c) f : R\{−1} → R, f (x) = .
x+1
d) f : R → R, f (x) = tgh x.

Exercício 3.56 Prove que:

a) (tgh x)2 + (sech x)2 = 1.

b) senh (x + y) = senh x cosh y + senh y cosh x

c) cosh (x + y) = cosh x cosh y + senh x senh y


Capítulo 4
Seqüências e séries numéricas

4.1 Seqüências de números reais


É intuitivo pensar numa seqüência de eventos que aconteceram num determinado período
de tempo. Existe um primeiro evento, em seguida um próximo e assim por diante.
Poderíamos dizer que a1 é o primeiro evento deste período, a2 é o segundo evento e
assim por diante an é o n − ésimo evento. Utilizando nossa intuição vamos formalizar o
conceito de seqüência de números reais.
Definição 4.1 Uma sequência de números reais ou simplesmente uma sequência
numérica é uma função s : N→R, tal que s(n) = an ∈ R. Neste caso o conjunto {an ; n ∈
N} é denominado conjunto de termos da sequência e o termo an é denominado termo
geral. Denota-se a sequência da seguinte forma (an )n∈N ou simplesmente (an ) ou ainda
(a1 , a2 , . . . , an , . . .). Na maioria das vezes, define-se a sequência a partir de seu termo
geral.
Nota 4.2 Algumas sequências podem estar definidas em subconjuntos de N que sejam da
forma {n ∈ N; n ≥ p}, onde p é um número natural fixado. De qualquer forma pode-se
fazer uma mudança de variável para que seu domínio seja sempre N.
Nota 4.3 A igualdade de sequências segue a mesma definição da igualdade de funções,
ou seja (an ) e (bn ) são sequências iguais se e só se an = bn , ∀n ∈ N.
1
Exemplo 4.4 Considere s : N→R definida por s(n) = . Então temos a seqüência
n
1 1 1 1
(an ) = (1, , , . . . , , . . .). Ou simplesmente, an = .
2 3 n n
(
1, se n é ímpar
Exemplo 4.5 Considere s : N→R definida por s(n) = 1 .
, se n = 2k, k ∈ N
k+1
1 1 1
Assim a seqüência é (bn ) = (1, , 1, , 1, , . . .). Observe que os termos desta sequência
2 3 4
e da sequência do exemplo anterior são os mesmos. No entanto as sequências não são
iguais uma vez que an 6= bn, ∀n ≥ 3.

31
32 CAPÍTULO 4. SEQÜÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS

Algumas vezes as sequências são definidas por uma fórmula de recorrência. Por exem-
plo:
√ √
Exemplo 4.6 Considere q a seguinte sequência a1 = 2 e an = 2 + an−1 , ∀n ≥ 2. Assim
√ p √ p √
tem-se, ( 2, 2 + 2, 2 + 2 + 2, . . .).

Algumas vezes não é possível descrever o termo geral de forma algébrica. Por exemplo:

Exemplo 4.7 Considere a seguinte sequência definida por a1 é o primeiro número primo
maior que 1 e an é o n − ésimo número primo maior que 1. Assim temos (2, 3, 5, 7, . . .).

O conceito fundamental em sequências é o de limite. Intuitivamente significa saber


qual o comportamento da sequência, à medida que n cresce. Por exemplo a seqüência de
1 1
termo geral . À medida que n cresce verificamos intuitivamente que se aproxima de 0,
n n
sem contudo atingir este valor para nenhum n. A sequência que vale 1, quando n é ímpar
1
e , quando n = 2k é par, se aproxima de dois valores à medida que n cresce, o valor 1
k
e o valor 0. A sequência com termo geral n não se aproxima de nenhum valor à medida
que n cresce, pois assume valores cada vez maiores.
Daremos a seguir a definição rigorosa de limite, assim como suas principais pro-
priedades.

Definição 4.8 Seja (an ) uma sequência de números reais e l ∈ R. Dizemos que a se-
quência (an ) converge para l, quando n tende a +∞, denotado por, lim an = l, quando
n→+∞
dado ε > 0 existe n0 ∈ N tal que |an − l| < ε, ∀n ≥ n0 . Caso contrário dizemos que a
sequência diverge.
1 1
Exemplo 4.9 Considere a sequência ( ). É claro que → 0, pois dado ε > 0, como
n n n→+∞
1 1
N não é limitado superiormente, existe n0 ∈ N tal que n0 > ⇒ n ≥ n0 > , ∀n ≥ n0 ⇒
ε ε
1
< ε, ∀n ≥ n0 .
n
1
Exemplo 4.10 A sequência an = 1, se n é ímpar e a2k = , não converge pois
k+1
se existisse um l ∈ R como na definição então para ε > 0 existiria n0 ∈ N tal que
|an − l| < ε, ∀n ≥ n¯ 0 . Assim ¯se n é ímpar tem-se que |1 − l| < ε, ∀ε > 0 ⇒ l = 1 e se
¯ 1 ¯ 1
n = 2k > n0 então ¯¯ − 1¯¯ < ε, o que é um absurdo, pois tomando ε = > 0 tem-se
¯ ¯ k+1 4
¯ 1 ¯ k 1
que ¯¯ − 1¯¯ = > , ∀k ≥ 1.
k+1 k+1 4
Nota 4.11 Observe que a sequência do exemplo acima diverge porque seus termos se
aproximam de dois valores distintos quando n cresce e pela definição de limite é claro que
isto não pode acontecer.
4.1. SEQÜÊNCIAS DE NÚMEROS REAIS 33

n
Exemplo 4.12 A seqüência ( ) converge para 1. De fato, dado ε > 0, existe n0 ∈ N
n+1
1 1 1
tal que n0 > ⇒ ∀n ≥ n0 , n + 1 > n ≥ n0 > ⇒ < ε, ∀n ≥ n0 e como
¯ ¯ ε ε n+1
¯ n ¯
¯ − 1¯ = 1 < ε, ∀n ≥ n0 ⇒ ( n ) converge para 1.
¯n + 1 ¯ n+1 n+1

Exemplo 4.13 A sequência (n) diverge pois para todo l ∈ R e para todo ε > 0, existe
n0 ∈ N tal que n0 > l + ε ⇒ |n − l| = (n − l) > ε, ∀n ≥ n0 ⇒ (n) não se aproxima de
nenhum valor real, quando n cresce, pois a sequência cresce indefinidamente.

Nota 4.14 Observe que o motivo da seqüência acima divergir é que esta cresce indefinida-
mente, quando n cresce, diferente da seqüência anterior que diverge pois seus termos se
aproximam de dois valores distintos, à medida que n cresce. Quando a sequência di-
verge porque cresce ou decresce indefinidamente, dizemos que ela tende a +∞ ou −∞,
respectivamente, cuja definição daremos mais adiante.

Observe que a definição não fornece uma maneira de calcular o limite, mas sim de
verificar que aquele número real é o limite. Isto basta para sequências com termo geral
simples. Veremos a seguir algumas propriedades de limite que nos ajudarão a determinar
limites de sequências.

Nota 4.15 É importante observar que a existência e o valor do limite de uma sequência
está relacionado com o comportamento desta quando n é suficientemente grande, isto é a
partir de um certo n0 que existe para cada valor de ε > 0. Portanto não importa os valores
que assume um número finito de termos da sequência em relação ( ao limite desta. Por
µ ¶ n; 1 ≤ n ≤ 100
n
exemplo, a seqüência e a seqüência (an ) tal que an = n
n+1 ; n > 100
n+1
possuem o mesmo limite pois elas diferem apenas num número finito de termos.(Pense
nisso!)

4.1.1 Propriedades de limite


Algumas das provas de propriedades serão deixadas a cargo do aluno. É um bom exercício
para assimilar bem a definição de limite.

Proposição 4.16 O limite de uma sequência é único.

Prova. Seja (an ) uma sequência convergente e suponhamos que existam l1 , l2 ∈ R


tais que lim an = l1 e lim an = l2 . Então da definição de limite, segue que dado ε > 0,
n→+∞ n→+∞
existe n0 , n1 ∈ N tais que
ε ε
|an − l1 | < , ∀n ≥ n0 e |an − l2 | < , ∀n ≥ n1 ,
2 2
34 CAPÍTULO 4. SEQÜÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS

logo, tomando N = max{n0 , n1 } segue que aN satisfaz as duas desigualdades acima e


portanto
ε ε
|l1 − l2 | ≤ |l1 − aN | + |aN − l2 | < + = ε, ∀ε > 0,
2 2
o que implica que l1 = l2 . ¤

Proposição 4.17 Toda sequência convergente é limitada.

Prova. Seja (an ) uma sequência convergente e l ∈ R seu limite. Então considerando
ε = 1 > 0, existe n0 ∈ N tal que

|an − l| < 1, ∀n ≥ n0 .

Portanto, das desigualdades de módulo tem-se que

|an | < |l| + 1, ∀n ≥ n0 .

Considere agora M = max{|a1 | , . . . , |an0 −1 | , |l| + 1} então segue que |an | ≤ M, ∀n ∈ N.


Provando assim que (an ) é limitada. ¤

Nota 4.18 Observe que a recíproca não é verdadeira pois a sequência (an ) tal que an =
(
1; n = 2k − 1
1 , k ∈ N é limitada pois |an | ≤ 1, ∀n ∈ N e no entanto diverge
; n = 2k
k+1
como já provamos em exemplo anterior.

Proposição 4.19 Seja (an ) uma sequência convergente para l 6= 0. Então existe M > 0
e n0 ∈ N tais que
|an | > M, ∀n ≥ n0 .

|l|
Prova. Como l 6= 0 então |l| > 0. Tomando ε = > 0, segue da definição de limite
2
que existe n0 ∈ N tal que
|l|
|an − l| < , ∀n ≥ n0 .
2
Assim das desigualdades de módulo
|l|
|l| − |an | ≤ ||an | − |l|| ≤ |an − l| < , ∀n ≥ n0 ,
2
o que implica que
|l| |l|
|an | > |l| − = = M, ∀n ≥ n0 .
2 2
¤
4.1. SEQÜÊNCIAS DE NÚMEROS REAIS 35

Nota 4.20 Na realidade pode-se provar que os termos de uma sequência convergente para
um limite não nulo tem o mesmo sinal do limite a partir de um certo n suficientemente
grande. Enunciaremos este resultado deixando a demonstração a cargo do aluno, por ser
análoga à demonstração da proposição anterior.
Proposição 4.21 (Teorema da conservação do sinal): Seja (an ) uma sequência conver-
gente para l 6= 0.
a)Se l > 0 então existe n0 ∈ N tal que an > 0, ∀n ≥ n0 .
b)Se l < 0 então existe n0 ∈ N tal que an < 0, ∀n ≥ n0 .
O próximo teorema é importante para determinarmos se uma sequência converge, a
partir de sequências que já sabemos que converge e também determinar seu limite, mas
antes daremos um outro resultado.
Proposição 4.22 Sejam (an ) e (bn ) tais que
an ≤ bn , ∀n ≥ n0 ,
para algum n0 ∈ N. Se ambas as sequências convergem, então lim an ≤ lim bn .
n→+∞ n→+∞

A demonstração desta proposição será deixada a cargo do aluno.


Nota 4.23 Na proposição acima mesmo que a hipótese seja
an < bn , ∀n ≥ n0 ,
só podemos concluir que lim an ≤ lim bn .
n→+∞ n→+∞

1 1 1
Exemplo 4.24 Temos que n < , para todo n ∈ N e no entanto lim n = 0 =
2 n n→+∞ 2
1
lim .
n→+∞ n

Teorema 4.25 (Teorema do Confronto): Sejam (an ), (bn ) e (cn ) tais que
an ≤ bn ≤ cn , ∀n ≥ n0 ,
para algum n0 ∈ N. Se lim an = lim cn = l então lim bn = l.
n→+∞ n→+∞ n→+∞

Prova. Da definição de limite segue que ∀ε > 0 existem n1 , n2 ∈ N tais que


|an − l| < ε, ∀n ≥ n1 e |cn − l| < ε, ∀n ≥ n2 .
Assim tomando N = max{n0 , n1 , n2 } tem-se que a hipótese e as desigualdades acima são
válidas para todo n ≥ N. Logo das propriedades de módulo obtém-se que
|bn − l| ≤ max{|an − l| , |cn − l|} < ε, ∀n ≥ N,
o que implica que bn → l. ¤
36 CAPÍTULO 4. SEQÜÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS
µ ¶
1 1 1
Exemplo 4.26 A sequência cos converge para 1, pois cos = 1 − 2 sen2 e para
n n 2n
1 π 1 1
todo n ∈ N, tem-se que 0 < < 1 < , logo, 0 < sen < < 1. Portanto,
2n 2 2n 2n
1 1
1− < cos < 1, para todo n ∈ N,
2n n
1 1
logo pelo teorema do confronto, como 1 − → 1, segue que cos → 1, quando n → +∞.
2n n
µ ¶
1
Exemplo 4.27 A sequência n sen também converge para 1, pois para todo n ∈ N,
n
1 π
tem-se que 0 < ≤ 1 < e portanto,
n 2
1 1 1
sen < < tg .
n n n
Logo,
1 1 1 1
1< < ⇒ cos < n sen < 1, para todo n ∈ N,
n sen (1/n) cos (1/n) n n
e aplicando o resultado do exemplo anterior e o teorema do confronto segue o resultado.
Um outro resultado importante é o seguinte:
Proposição 4.28 Seja (an ) uma seqüência limitada e (bn ) uma seqüência que converge
para 0 então (an bn ) também converge para 0.
Prova. Como (an ) é limitada, segue que existe M > 0 tal que
|an | ≤ M, para todo n ∈ N.
Ainda do fato de bn → 0, tem-se que dado ε > 0, existe n0 ∈ N tal que
ε
|bn | < , para todo n ≥ n0 .
M
Logo,
ε
|an bn | = |an | |bn | < M = ε, para todo n ≥ n0 ,
M
o que implica que an bn → 0. ¤

³ sen n ´
Exemplo 4.29 A sequência converge para 0, pois |sen n| ≤ 1, para todo n ∈ N
n
1
e → 0, portanto o resultado segue da proposição acima.
n
Nota 4.30 Observe que basta que (an ) seja limitada e não necessariamente convergente,
como é o caso da sequência (sen n) .
i

0.0.1 Exercício 1
µ ¶ µ ¶
1 1
Mostre por definição que as seqüências e √ convergem para 0.
2n n
Solução: Pode-se provar por indução que, 2n > n, ∀n ∈ N. Ainda, como N não é limitado
1 1 1
superiormente em R, segue que dado ε > 0, existe n0 ∈ N tal que n0 > ⇒ n > , ∀n ≥ n0 ⇒ 2n > ,
ε ε ε
1 1
∀n ≥ n0 ⇒ n < ε, ∀n ≥ n0 . Logo n → 0.
2 2
Prova. Novamente, como N não é limitado superiormente em R, segue que dado ε > 0, existe n0 ∈ N
1 1 √ 1 1 1
tal que n0 > 2 ⇒ n > 2 , ∀n ≥ n0 ⇒ n > e portanto √ < ε. Assim segue que √ → 0. ¤
ε ε ε n n
i

0.0.1 Exercício 2
Sejam (an ) e (bn ) duas sequências convergentes para a e b; respectivamente.

a) Mostre que a sequência (an bn ) converge para a b:


b) Supondo que a < b; mostre que existe n0 2 N tal que an < bn ; para todo n n0 :

Solução:

a) Da convergência das sequências, segue que dado " > 0; existem n0 ; n1 2 N tais que
" "
jan aj < , para todo n n0 e jbn bj < , para todo n n1 :
2 2
Tomando N maxfn0 ; n1 g; segue que
" "
jan aj < e jbn bj < , para todo n N:
2 2
Mas,
j(an bn ) (a b)j = jan a+b bn j jan aj + jbn bj :
Logo, da desigualdade acima tem-se que,
" "
j(an bn ) (a b)j jan aj + jbn bj < + = "; para todo n N;
2 2
o que implca que an bn ! a b:
b) Do ítem (a) temos que lim (an bn ) = a b < 0; logo do teorema de conservação do sinal, existe
n!+1
n0 2 N tal que an bn < 0; para todo n n0 ; o que implica que an < bn ; para todo n n0 :
i

0.0.1 Exercício 3
Analise a convergência das seqüências
n
a) (e sen n) :
!
1 1 1
b) + 2 + + 2 :
n2 (n + 1) (2n 1)

Solução: a) Primeiramente mostremos, por de…nição, que (e n ) converge para 0: De fato: Dado
1 1
" > 0; tomemos n0 2 N tal que n0 > ln ; então para todo n n0 tem-se que n > ln ) en >
" "
1
) 0 < e n < ": Portanto (e n ) converge para 0: Como, jsen nj 1, 8n 2 N; segue de propriedade
"
vista em sala que a seqüência (e n sen n) converge para 0; já que é o produto de uma seqüência limitada
por uma que tende a 0:
1 1 1 n n 1 1
b) Tem-se que 0 < 2 + 2+ + 2 < 2 < 2 = 4n < n ;
n (n + 1) (2n 1) (2n 1) (2n)
1
8n 2 N: Mas a seqüência (an ) tal que an = 0; 8n 2 N; obviamente converge para 0 e a seqüência
n
também converge para 0, como já mostrado
! por de…nição. Assim, usando o teorema do confronto, segue
1 1 1
que + 2 + + 2 converge para 0:
n2 (n + 1) (2n 1)
i

0.0.1 Exercício 4
Seja (an ) uma seqüência convergente para a:

a) Mostre que (jan j) converge para jaj :


b) Se a = 0; mostre que também vale a recíproca do resultado acima, ou seja, se (jan j)
converge para 0 então (an ) converge para 0:
c) Dê um exemplo de que a recíproca não vale se a 6= 0:

Solução: a) Sabe-se que jjan j jajj jan aj : Portanto como (an ) converge, tem-se que dado
" > 0; existe n0 2 N tal que
jan aj < "; 8n n0 :
Assim, da desigualdade acima, tem-se que

jjan j jajj < "; 8n n0 :

Ou seja, (jan j) converge para jaj.


b) Como (jan j) converge para 0, segue que dado " > 0; existe n0 2 N tal que

jjan jj < "; 8n n0 :

Mas jjan jj = jan j ; logo (an ) converge para 0:


n
c) A seqüência (( 1) ) não converge, pois se tomarmos a 2 R; a 6= 1, tomando
n
0 < " < minfj1 aj ; ja 1jg tem-se que j( 1) aj > "; 8n 2 N: Se a = 1 então tomando 0 < " < 2
n n
tem-se que j( 1) aj > "; para todo n ímpar, ou seja não existe n0 2 N; tal que j( 1) aj < ": Ainda
n
se a = 1; tomando 0 < " < 2 tem-se que j( 1) aj > "; para todo n par, ou seja não existe n0 2 N;
n
tal que j( 1) aj < ":
n
Logo tal seqüência não converge, no entanto, a seqüência (j( 1) j) é a seqüência constante igual a 1
e portanto converge para 1:
Exercício 5
Considere (a n ) uma seqüência convergindo para a ≠ 0. Mostre que a1n
converge para 1 a.
Solução: Como (a n ) converge para a ≠ 0 temos de proposição que existe
n 0 ∈  e existe K > 0 tais que
|a n | ≥ K, ∀n ≥ n 0 .
Ainda como (a n ) converge para a então dado ε > 0 existe n 1 ∈  tal que
|a n − a| < εK|a|, ∀n ≥ n 0 .
Assim, tomando N = max{n 0 , n 1 } tem-se que ∀n ≥ N,
1 1 |a n − a| |a n − a|
a n − a = |a n ||a| ≤ K|a| < ε,
ou seja, a1n converge para 1 a.
i

0.0.1 Exercício 6
p
Seja (an ) uma seqüência de números reais não negativos. Suponha que lim n an = L; onde
n!+1
0 < L < 1: Mostre que (an ) converge para 0:
Solução: Como L < 1; então existe r 2 R; tal que L < r < 1: Da de…nição de limite, dado
" = r L > 0; existe n0 2 N tal que
p p
j n an Lj < " ) L "< n
an < L + " = r; para todo n n0 :

Portanto,
0 an < rn ; para todo n n0 :
n
No entanto, de exercício proposto, como 0 < r < 1; então r ! 0; logo do teorema do confronto temos
que an ! 0:
4.1. SEQÜÊNCIAS DE NÚMEROS REAIS 37

4.1.2 Lista de Exercícios

Exercício 4.31 Seja A um subconjunto de R, limitado superiormente. Considere a =


sup A ∈ R. Mostre que existe uma seqüência (an ) ⊂ A tal que an → a.

Exercício 4.32 Seja B um subconjunto de R, limitado inferiomente. Considere b =


inf B ∈ R. Mostre que existe uma seqüência (bn ) ⊂ B tal que bn → b.

Exercício 4.33 Seja p um inteiro positivo e (an ) uma µ


seqüência ¶
convergente. Mostre, por
p
definição, que (apn ) é também convergente e lim apn = lim an . Exiba um exemplo de
n→+∞ n→+∞
uma seqüência (an ) que diverge, mas que exista um inteiro positivo p tal que (apn ) convirja.

Exercício 4.34 Seja q um inteiro positivo e (an ) uma seqüência de termos não negativos
1/q
convergindo para r ≥ 0. Mostre por definição que (an ) converge para r1/q . Conclua,
utilizando as propriedades estudadas, que se (an ) é uma seqüência de termos não negativos
convergente para r ≥ 0 então (asn ) converge para rs , onde s é um racional não negativo.

Exercício 4.35¶ Seja (an ) uma seqüência convergente para a. Mostre que a seqüência
µ
a1 + · · · + an
também converge para a.
n

Exercício 4.36 Seja a ∈ R, 0 < a < 1. Prove por definição que an → 0.

Exercício 4.37 Determine, caso existam os limites abaixo, justificando os resultados uti-
lizados:

n3 sen (n!)
a) lim .
n→+∞ n4 + 1

cos n2 + sen (n3 )


b) lim √ .
n→+∞ 3
n
38 CAPÍTULO 4. SEQÜÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS

4.1.3 Operações com limites


Veremos a seguir propriedades que envolvem operações algébricas com sequências e que
permitem determinar limite de novas sequências a partir de sequências cujo limite é con-
hecido.

Proposição 4.38 Sejam (an ) e (bn ) sequências convergentes para l1 e l2 , respectivamente.


Então
a) lim (an ± bn ) = l1 ± l2 .
n→+∞
b) lim (an bn ) = l1 l2 .
n→+∞
c) lim |an | = |l1 | .
n→+∞
bn l2
d) Se l1 6= 0, então lim = .
n→+∞ an l1

Prova. Provaremos apenas a propriedade (d), as demais deixaremos a cargo do aluno.


Como l1 6= 0, segue que existe M > 0 e n0 ∈ N tais que

|an | > M, ∀n ≥ n0 . (3.2.1)

Das convergências de (an ) e (bn ) , segue que, dado ε > 0, existem n1 , n2 ∈ N tais que

εM |l1 |
|an − l1 | < , ∀n ≥ n1
|l1 | + |l2 | (3.2.2)
εM |l1 |
|bn − l2 | < , ∀n ≥ n2 .
|l1 | + |l2 |
Assim, tem-se que
¯ ¯ ¯ ¯
¯ bn l2 ¯ ¯ bn l1 − l2 an ¯ |l1 | |bn − l2 | + |l2 | |an − l1 |
¯ − ¯=¯ ¯≤
¯ an l1 ¯ ¯ an l1 ¯ |an | |l1 |

Logo, tomando N = max{n0 , n1 , n2 } e utilizando (3.2.1)-(3.2.2), obtemos


¯ ¯
¯ bn l2 ¯ |l1 | |bn − l2 | + |l2 | |an − l1 |
¯ − ¯< < ε, ∀n ≥ N.
¯ an l1 ¯ M |l1 |
¤

n+1 n+1 1
Exemplo 4.39 A sequência ( ) converge para 1, pois = 1 + e a seqüência
n n n
1
constante igual a (1) converge para 1 e → 0.
n
1 1 11 1
Exemplo 4.40 2
→ 0 pois 2 = e → 0.
n n nn n
4.1. SEQÜÊNCIAS DE NÚMEROS REAIS 39

n−1
n−1 n−1 n . Como n + 1 = 1 + 1 → 1 6= 0 e
Exemplo 4.41 → 1 pois =
n+1 n+1 n+1 n n
n
n−1 1
= 1 − → 1, segue o resultado da propriedade (d).
n n
Nota 4.42 Observe que a recíproca da propriedade (c) não é verdadeira. Por exemplo
a sequência ((−1)n ) diverge pois à medida que n cresce ela se aproxima de dois valores
distintos, a saber 1 e −1. No entanto a sequência obtida tomando-se seu módulo é a
sequência constante igual a 1 que converge para 1. Asµrecíprocas
¶ das demais propriedades
n
também não são válidas. Por exemplo, a seqüência converge para 1, enquanto
µ n+¶ 1
1
que a sequência (n) não converge e a sequência converge para 0. Pense na
n+1
recíproca das demais operações.
Vejamos agora alguns exemplos, onde aplicamos as propriedades já estudadas e as
operações de limite.
µ ¶
3n
Exemplo 4.43 Considere a sequência . Sabemos que −1 ≤ sen θ ≤ 1,
n + sen(2n)
3n 3n 3n
∀θ ∈ R ⇒ 0 < n − 1 ≤ n + sen(2n) ≤ n + 1, ∀n ≥ 2. Logo, ≤ ≤ ,
n+1 n + sen(2n) n−1
3n 3n 3
∀n ≥ 2. Como = = → 3 e, de modo análogo, conclui-se que
n+1 n(1 + 1/n) 1 + 1/n
3n 3n
→ 3 então, segue do teorema do confronto, que → 3.
n−1 n + sen(2n)

Exemplo 4.44 Seja a ∈ R, a > 0 e considere a sequência ( n a). Provemos que tal
seqüência converge √para 1.
Se a = 1 então n √a = 1, ∀n ∈ N o que implica que a sequência converge para 1.√
Se a > 1 então n a > 1, ∀n ∈ N. Logo para cada n existe hn > 0 tal que n a =
a−1
1 + hn ⇒ a = (1 + hn )n > 1 + nhn ⇒ 0 < hn < . Portanto do teorema do confronto
√ n
segue que hn → 0 ⇒ n a → 1. r
1 1 1
Finalmente, se 0 < a < 1 então > 1 ⇒ n = √ → 1 6= 0. Assim pela pela
a √ a n
a
propriedade de quociente dos limites, segue que n a → 1.

Exemplo
√ 4.45 Consideremos a sequência ( n n) e determinemos seu limite.√Sabe-se que
n
n > 1, ∀n ≥ 2. Assim, para cada n ≥ 2, temos que ∃hn ∈ R, hn > 0 tal que n n = 1+hn .
Pn n! n(n − 1) 2 2
Portanto, n = (1 + hn )n = hjn > hn ⇒ h2n < . Obtém-se então
j=0 j!(n − j)! 2 n−1
2
que 0 < h2n < e portanto do teorema do confronto obtemos que h2n → 0 ⇒ hn → 0
n−1 √ √
(Prove!). Assim, como n n = 1 + hn , segue que n n → 1.
40 CAPÍTULO 4. SEQÜÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS
p√ p√ √
Exemplo 4.46 A sequência ( n n n) também converge para 1, pois 1 ≤ n p n
n ≤ n n,
√ √
∀n ≥ 1 e como do exemplo acima n n → 1 segue do teorema do confronto que n n n → 1.

4.1.4 Limites infinitos


Vejamos a seguir o que significa rigorosamente uma sequência divergir para ±∞.

Definição 4.47 Dizemos que uma sequência (an ) diverge para +∞, denotado por,
lim an = +∞ quando dado M > 0, existe n0 ∈ N tal que an > M, para todo n ≥ n0 .
n→+∞

Definição 4.48 Dizemos que uma sequência (an ) diverge para −∞, denotado por,
lim an = −∞ quando dado N < 0, existe n0 ∈ N tal que an < N, para todo n ≥ n0 .
n→+∞

Existem também "operações"e propriedades quando as sequências divergem para ±∞,


como veremos na proposição abaixo, cuja demonstração será deixada a cargo do aluno.

Exemplo 4.49 Seja α ∈ R, α > 0 então a sequência (αn) diverge para +∞, pois dado
M
M > 0, como N não é limitado superiormente em R, existe n0 ∈ N tal que n0 > ⇒
α
αn > M, ∀n ≥ n0 .

Proposição 4.50 Sejam (an ) e (bn ) tais que

an ≤ bn , ∀n ≥ n0 ,

para algum n0 ∈ N.Então,


a) Se lim an = +∞ então lim bn = +∞.
n→+∞ n→+∞
b) Se lim bn = −∞ então lim an = −∞.
n→+∞ n→+∞

Exemplo 4.51 Seja a > 1 um número real então a sequência (an ) diverge para +∞,
pois, como a > 1 então existe h > 0 tal que a = 1 + h ⇒ an = (1 + h)n ≥ 1 + nh > nh e
como (nh) diverge para +∞ segue da proposição acima que (an ) diverge para +∞.
µ ¶
n!
Exemplo 4.52 Seja a > 0 então a seqüência diverge para +∞. De fato, como N
an
n0
não é limitado superiormente então existe n0 ∈ N tal que n0 > 2a ⇒ > 2. Assim,
a
n! (n0 )! (n0 + 1) . . . n n0 ! 0 n0 ! n
para todo n > n0 segue que n = n0 n−n
> n0 2n−n0 = n
n0 2 = c2 , onde
a a a 0 a (2a)
n0 !
c= > 0 e portanto como 2n → +∞, (do exemplo anterior), segue da propriedade
(2a)n0
n!
acima que n → +∞.
a
4.1. SEQÜÊNCIAS DE NÚMEROS REAIS 41
³√ ´
Exemplo 4.53 A sequência n n! diverge para +∞. De fato, dado M > 0 segue do
n! n!
exemplo acima que n → +∞, logo existe n0 ∈ N tal que n > 1, para todo n ≥ n0 ⇒
M√ √ M
n! > M n , ∀n ≥ n0 ⇒ n n! > M, ∀n ≥ n0 ⇒ n n! → +∞.

Proposição 4.54 Sejam (an ) e (bn ) sequências numéricas. Então:


a) Se an → +∞ e bn → +∞ ⇒ an + bn → +∞. ( Analogamente, se ambas divergem
para −∞ então a soma também diverge para −∞ )
b) Se an → +∞ e bn → ±∞ ⇒ an bn → ±∞.
an
c) Se an → +∞, bn → 0 e bn > 0, ∀n ≥ n0 para algum n0 ∈ N então → +∞.
bn
d) Se an → ±∞ e bn → l ⇒ an ± bn → ±∞.
e) Se an → ±∞ e bn → l > 0 ⇒ an bn → ±∞. (Enuncie e demonstre um resultado
análogo para l < 0).
1
f) Se an → ±∞ ⇒ → 0.
an

4.1.5 Sequências monótonas


As sequências monótonas têm propriedades bastante interessantes. Por exemplo, vimos
que toda sequência convergente é limitada, mas a recíproca não é verdadeira. No entanto,
para sequências monótonas a recíproca é válida, como veremos mais adiante.

Definição 4.55 Dizemos que uma sequência (an ) é monótona crescente quando an ≤
an+1 , para todo n ∈ N.

Nota 4.56 De modo análogo, define-se sequência monótona decrescente, estritamente


crescente e estritamente decrescente.
µ ¶
1
Exemplo 4.57 A sequência é monótona estritamente decrescente pois n + 1 > n,
n
1 1
∀n ∈ N ⇒ < , ∀n ∈ N.
n+1 n
√ √
Exemplo 4.58 A sequência definida por a1 = 2 e an = 2 + an−1 é monótona √ estri-
tamente crescente.p Mostraremos por indução esta afirmação. Sabe-se que 2 > 0 ⇒
√ √ √
2 + 2 > 2 ⇒ 2 + √2 > 2, ou √ seja a2 > a1 . Suponhamos que an > an−1 então
2 + an > 2 + an−1 ⇒ 2 + an > 2 + an−1 ⇒ an+1 > an , o que conclui a prova por
indução.
√ p √
Exemplo 4.59 A sequência definida por a1 = 3 e an = 3 an−1 é monótona estrita-
mente crescente.(Prove!)

Exemplo 4.60 As sequências constantes são monótonas, podendo ser consideradas monó-
tonas decrescentes ou crescentes.
42 CAPÍTULO 4. SEQÜÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS

Vejamos a seguir o resultado mais importante de sequências monótonas.

Proposição 4.61 Se (an ) é uma sequência crescente e limitada superiormente então (an )
converge para l = sup{an , n ∈ N}.

Prova. Como {an , n ∈ N} é um conjunto limitado superiormente então admite


supremo e seja l seu supremo. Então da definição de supremo segue que an ≤ l, ∀n ∈ N
e dado ε > 0, existe n0 ∈ N tal que an0 > l − ε. Como a sequência é monótona crescente
segue que ∀n ≥ n0 , an ≥ an0 > l − ε. Portanto, l − ε < an ≤ l, ∀n ≥ n0 , ou seja
−ε < an − l ≤ 0 ⇒ |an − l| = l − an < ε, ∀n ≥ n0 . Logo, da definição de limite temos que
lim an = l. ¤
n→+∞

Nota 4.62 Analogamente prova-se que uma sequência monótona decrescente limitada
inferiormente converge para o ínfimo do conjunto dos termos da seqüência. Os mesmos
resultados valem se as sequências são estritamente crescentes e decrescentes, respectiva-
mente. Segue então o resultado geral.

Teorema 4.63 Toda sequência monótona limitada converge.


√ √
Exemplo 4.64 Vimos que a sequência a1 = 2 e an = 2 + an−1 é monótona √ estri-
tamente crescente. Tal sequência é limitada
√ superiormente
√ por 2, pois a 1 = 2 < 2 e
supondo que an−1 < 2, segue que an = 2 + a√ n−1 < 2 + 2 = 2. E como a sequência
é estritamente crescente, segue que an ≥ a1 = 2, para todo n ∈ N. Assim do teorema
anterior tem-se que
√ tal sequência converge para l. Mas então das propriedades de limite,
2
obtém-se que l = 2 + l ⇒ l = 2 +l. Resolvendo a equação obtemos √ que l = 2 ou l = −1.
Como a sequência é crescente e l = sup{an ; n ∈ N} segue que l > 2 > −1 e portanto
l = 2.
√ √
Exemplo 4.65 Verifica-se de modo análogo que a sequência a1 = 3 e an = 3an−1 é
monótona estritamente crescente e limitada. Portanto, do mesmo modo que no exemplo
anterior prova-se que seu limite é 3.

Como já havíamos dito anteriormente o limite está relacionado com o comportamento


da seqüência quando n é suficientemente grande. Assim segue um resultado que é conse-
qüência imediata do teorema anterior.

Corolário 4.66 Seja (an ) uma sequência tal que an ≤ an+1 , ∀n ≥ n0 , para algum n0 ∈ N.
Se (an ) é limitada superiormente então (an ) converge para l = sup{an ; n ≥ n0 }.

A demonstração é análoga à do teorema e será deixada a cargo do aluno. Com as


devidas modificações vale o resultado de uma forma mais geral.

Corolário 4.67 Seja (an ) uma sequência e n0 ∈ N tal que (an ) é monótona a partir de
n0 . Se (an ) é limitada então (an ) converge.
4.1. SEQÜÊNCIAS DE NÚMEROS REAIS 43

an
Exemplo 4.68 Seja a ∈ R tal que a > 0 então an = → 0. De fato existe n0 ∈ N
n! n→+∞
an+1 an+1 an a
tal que n0 > a ⇒ n > a, ∀n ≥ n0 . Assim, an+1 = = = <
(n + 1)! n!(n + 1) n! n + 1
an
= an , ∀n ≥ n0 e ainda an > 0, ∀n ∈ N. Então do corolário segue que (an ) converge
n!
a a an
para l ≥ 0. Mas an = an−1 e como an−1 → l e → 0 ⇒ an = → l = 0.
n n n!
Analisaremos a seguir uma sequência que é muito importante pois o seu limite é o
conhecido número e .
µµ ¶n ¶
1
Exemplo 4.69 Consideremos a sequência (an ) = 1+ . Provaremos que esta
n
é estritamente crescente e limitada superiormente, garantindo assim a sua convergência.
Mostraremos ainda que seu limite está no intervalo (2, 3). Assim definiremos e = lim
µ ¶n n→+∞
1
1+ . Iniciemos então verificando que a sequência é crescente. Temos que
n
Xn
n! 1 1 n(n − 1) 1 n(n − 1)(n − 2) 1 n! 1
an = k
=1+n + 2
+ 3
+ ··· + =
k=0
k!(n − k)! n n 2 n 3! n n! nn
µ ¶ µ ¶µ ¶ µ ¶ µ ¶
1 1 1 1 2 1 1 n−1
2+ 1− + 1− 1− + ··· + 1− ... 1 − , ∀n ∈ N.
2 n 3! n n n! n n
Assim,
µ ¶ µ ¶µ ¶ µ ¶ µ ¶
1 1 1 1 2 1 1 n−1
an = 2 + 1− + 1− 1− + ··· + 1− ... 1 − <
2 n 3! n n n! n n
µ ¶ µ ¶µ ¶
1 1 1 1 2
2+ 1− + 1− 1− + ···+
2 n+1 3! n+1 n+1
µ ¶ µ ¶
1 1 n−1
+ 1− ... 1 − < an+1 .
n! n+1 n+1
Concluindo portanto que a sequência é crescente. Mostremos que esta é limitada superi-
ormente. De fato:
Xn
n! 1 X n
(n − k)! (n − (k − 1)) . . . n
an = k
= k

k=0
k!(n − k)! n k=0
k!(n − k)! n
X
n
1 1 1 1 1
≤ =1+1+ + + + ··· + ≤
k=0
k! 2 6 24 n!
1 1 1 1 Xn
1
≤ 1 + 1 + + + + ··· + n = 1 + =
2 4 8 2 k=0
2k
1 µ ¶
1− 1
= 1+ 2n+1 = 1 + 2 1 − n+1 < 3.
1 2
1−
2
44 CAPÍTULO 4. SEQÜÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS

Portanto (an ) é crescente e limitada superiormente o que garante sua convergência. Ainda
como a1 = 2 e lim an = sup{an ; n ∈ N}, segue que lim an > 2 e como 3 é uma cota
n→+∞ n→+∞
superior de {an ; n ∈ N}, então lim an ≤ 3.
n→+∞
11
Mostraremos a seguir que an < , ∀n ≥ 3 e como a seqüência é crescente segue que
4
11 11
an < , ∀n ∈ N ⇒ lim an = sup{an ; n ∈ N} ≤ < 3. Portanto 2 < lim an =
4 n→+∞ 4 n→+∞
sup{an ; n ∈ N} < 3. Assim, define-se lim an = sup{an ; n ∈ N} = e . Vejamos então,
n→+∞
∀n ≥ 3, temos que:
µ ¶ µ ¶µ ¶ µ ¶ µ ¶
1 1 1 1 2 1 1 n−1
an = 2 + 1− + 1− 1− + ··· + 1− ... 1 − =
2 n 3! n n n! n n
µ ¶∙ µ ¶ µ ¶µ ¶
1 1 1 2 1 2 3
2+ 1− 1+ 1− + 1− 1− + ···+
2 n 3 n 12 n n
µ ¶ µ ¶¸
2 2 n−1
+ 1− ... 1 − <
n! n n
µ ¶" µ ¶ µ ¶2 µ ¶n−2 #
1 1 1 2 1 2 1 2
2+ 1− 1+ 1− + 1− + · · · + n−2 1 − =
2 n 3 n 9 n 3 n
∙ ¸n−1
1 2
1 − (1 − )
n−1 3 n n−1 3n
2+ µ ¶ <2+ =
2n 1 2 2n 3n − n + 2
1− 1−
3 n
3 n−1 3n−1 3 11
2+ =2+ <2+ = .
2 2n + 2 4n+1 4 4
µ ¶n
1 11
O que conclui nossa demonstração de que 2 < lim 1 + ≤ < 3. Esta estimativa
n→+∞ n 4
pode ser ainda mais apurada e portanto define-se o número e como sendo este limite, ou
seja µ ¶n
1
e = lim 1 + .
n→+∞ n

4.1.6 Subsequência
Considere a sequência (
se n é ímpar
1,
an = 1 .
se n = 2k, k ∈ N
k+1
Já vimos que tal sequência não converge pois seus termos se aproximam de dois valores
distintos, à medida que n cresce. Observe ainda que se tomarmos bn = a2n−1 , ∀n ∈ N,
teremos uma nova seqüência (bn ), construída tomando-se apenas os termos de índices
ímpares da seqüência (an ). Observe que (bn ) é uma seqüência constante e converge para
4.1. SEQÜÊNCIAS DE NÚMEROS REAIS 45

1. Analogamente pode-se definir cn = a2n , ∀n ∈ N e obtemos ainda µ uma outra


¶ seqüência
1
constituída dos termos de índices pares de (an ), que é a seqüência que converge
n+1
para 0. Pode-se ainda obter outras seqüências a partir da seqüência original. A estas
novas sequências denominamos subsequências de (an ), cuja definição damos abaixo.

Definição 4.70 Seja s : N→R uma sequência de números reais cujo termo geral é an .
Considere A = {n1 , n2 , · · · } um subconjunto infinito de N tal que n1 < n2 < . . . < nj <
nj+1 < . . . . A restrição de s à A, isto é, s|A : A → R tal que s(nj ) = anj é denominada
uma subsequência de (an ) e denotada por (anj ).

Nota 4.71 Observe que como o conjunto A da definição acima é um subconjunto in-
finito de N, segue que A não pode ser limitado superiormente, caso contrário seria um
subconjunto finito de N. Assim para cada n ∈ N existe j ∈ N tal que nj > n.
¡ ¢
Nota 4.72 Observe ainda que uma subsequência anj de uma seqüência (an ) é uma
nova seqüência obtida a partir da sequência original, pois pode-se definir t : N → R por
t(j) = bj = s(nj ) = anj , ∀j ∈ N.

Exemplo 4.73 Considere a sequência ((−1)n ). Duas subseqüências são (1), que é obtida
tomando-se A = {2n, n ∈ N} e ((−1)), obtida tomando-se A = {2n − 1, n ∈ N}.
µ ¶ µ ¶
1 1
Exemplo 4.74 Dada a sequência , uma subsequência é , tomando-se A =
n 2n
{2n ; n ∈ N}.
√ ¡ √
n ¢ ¡√ √ √ ¢
Exemplo 4.75 Considere ( n n) . Uma subsequência é 3 3n = 3 3, 9 9, 27 27, . . . ,
tomando-se A = {3n ; n ∈ N}.

Exemplo 4.76 Dada a sequência (an ) e um n0 ∈ N, uma subsequência é (an )n≥n0 =


(an0 , an0 +1 , . . .) isto é, A = {n ∈ N; n ≥ n0 }.

Veremos a seguir algumas importantes propriedades de subsequências e sua relação


com a existência ou não de limite. Como podemos considerar uma subsequência como
uma nova sequência, em função do índice j,podemos definir o conceito de limite de uma
subsequência como seu¡comportamento
¢ à medida que j cresce, isto é, o conceito de limite
de uma subsequência anj é aplicado à nova seqüência (bj ) , onde bj = anj , ∀j ∈ N.
Vejamos a definição.

Definição 4.77 Seja (an ) uma sequência e (anj ) uma subsequência de (an ). Dizemos que
l ∈ R é o limite de (anj ), denotado por lim anj = l, quando dado ε > 0, existe j0 ∈ N tal
j→+∞
que ¯ ¯
¯anj − l¯ < ε, ∀j ≥ j0 .
46 CAPÍTULO 4. SEQÜÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS

Nota 4.78 A definição de limites infinitos de subsequência é análoga e deixamos a cargo


do aluno.

Proposição 4.79 (an ) é uma sequência convergente para l ∈ R ⇒ toda subsequência de


(an ) converge para l.

Prova. Considere (anj ) uma subsequência qualquer de (an ). Como (an ) converge para
l, segue que dado ε > 0, existe n0 ∈ N tal que

|an − l| < ε, ∀n ≥ n0 .

Ainda, existe j0 ∈ N tal que nj0 ≥ n0 ⇒ nj ≥ n0 , ∀j ≥ j0 , logo


¯ ¯
¯anj − l¯ < ε, ∀j ≥ j0 .

O que implica a convergência de (anj ) para o mesmo limite l. ¤

Nota 4.80 É claro que a recíproca desta proposição também é verdadeira, pois pode-se
considerar a própria sequência como uma subsequência dela mesma. No entanto é válido
um resultado melhor do que este como recíproca desta proposição, que enunciaremos a
seguir e cuja demonstração será deixada como exercício para o aluno.

Proposição 4.81 Seja s : N→R uma sequência de números reais cujo termo geral é
k
an . Considere A1 , A2 , . . . , Ak , k subconjuntos infinitos de N tais que ∪ Ai = N. Se as k
i=1
subseqüências obtidas de (an ) pela restrição de s a cada Ai , respectivamente, convergirem
para o mesmo limite l ∈ R então (an ) converge para l.

⎪ 3k

⎪ , se n = 2k ,
⎪ −1
⎨ 2k

3k2 + 5k
Exemplo 4.82 Considere an = , se n = 2k − 1, , k ∈ N. Ob-

⎪ 2k2 + 3


⎪ k
3+2

⎩ √ , se n = 2k e n 6= 2j , ∀j ∈ N,
k
2 k
3
serve que as subseqüências (a2k ) , (a2k−1 ) e (a2k ) convergem para e ainda {2k ; k ∈
2
N} ∪ {2k − 1; k ∈ N} ∪ {2k; 2k 6= 2j , ∀j ∈ N, k ∈ N} = N, logo da proposição acima segue
3
que an → .
2
Para sequências monótonas o resultado é ainda mais forte, vejamos.

Proposição 4.83 Seja (an ) uma sequência monótona. Se (an ) admite uma subsequência
limitada então (an ) converge.
4.1. SEQÜÊNCIAS DE NÚMEROS REAIS 47

Prova.¡Provaremos
¢ para sequência monótona crescente¡ pois
¢ os demais casos são anál-
ogos. Seja anj uma subsequência limitada de (an ), então anj é limitada superiormente,
logo existe M ∈ R tal que anj ≤ M, ∀j ∈ N. Mas para cada n ∈ N, existe j ∈ N tal que
nj > n ⇒ an < anj ≤ M ⇒ (an ) é limitada superiormente e como ela é crescente então
(an ) converge. ¤

Pn 1
Exemplo 4.84 Considere an = 3/2
. É claro que (an ) é crescente pois an+1 − an =
j=1 j
1
> 0. Considere a subsequência (a2n −1 ) então
(n + 1)3/2
n −1
2X
1 1 1 1 1
a2n −1 = =1+ + + ··· + + ··· + ≤
j=1
j 3/2 23/2 33/2 (2n−1 )3/2 (2n − 1)3/2
2 2n−1 1 1
≤ 1+ + ··· + = 1 + √ + · · · + ¡√ ¢n−1 =
23/2 (2n−1 )3/2 2 2
¶nµ
1
1− √ √
2 2
= ≤√ , ∀n ∈ N.
1 2−1
1− √
2

Assim a subseqüência (a2n −1 ) é limitada superiormente e como é crescente ela é limi-


tada inferiormente por a1 e portanto como (an ) é também crescente segue da proposição
anterior que (an ) converge.

Vimos anteriormente que toda seqüência convergente é limitada, mas a recíproca não
é verdadeira. No entanto segue um resultado importante que pode-se pensar como uma
recíproca parcial do resultado citado.

Teorema 4.85 (Bolzano-Weierstrass): Toda sequência limitada admite uma subsequên-


cia convergente.

Prova. Seja (an ) uma sequência limitada, isto é, existem M, m ∈ R tais que m ≤
an ≤ M, ∀n ∈ N. Seja B = {x ∈ R; an ≤ x, ∀n ≥ n0 , para algum n0 ∈ N}. Assim, M ∈ B
e neste caso n0 = 1 e ∀x ∈ R tal que x < m ⇒ x ∈ / B, isto é, x ≥ m, ∀x ∈ B, ou seja, B é
um conjunto limitado inferiormente e portanto admite ínfimo. Seja l = inf B e provemos
que l é o limite de uma subsequência de (an ) . Como l + 1 > l, segue que existe x1 ∈ B tal
que l ≤ x1 < l+1. Mas como x1 ∈ B existe n0 ∈ N tal que an ≤ x1 < l+1, ∀n ≥ n0 . Ainda
como l − 1 < l = inf B ⇒ l − 1 ∈ / B então existe uma infinidade de índices n0 s tais que
an > l − 1. Considere n1 ≥ n0 um talµ índice. Assim,
¶ an1 ∈ (l − 1, l + 1) . Analogamente
1 1
construímos n2 > n1 tal que an2 ∈ l − , l + e assim sucesssivamente construímos
2 2
48 CAPÍTULO 4. SEQÜÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS
µ ¶
1 1 ¡ ¢
nj > nj−1 tal que anj ∈ l − , l + . Portanto, construímos uma subsequência anj
j j
¯ ¯ 1
de (an ) tal que ¯anj − l¯ < , ∀j ∈ N. O que implica que anj → l. ¤
j j→+∞

Existem sequências que não convergem, mas admitem subsequências convergentes,


como já vimos em exemplos anteriores e em particular sequências limitadas possuem pelo
menos uma subsequência convergente. Assim, segue a seguinte definição:
Definição 4.86 Dizemos que x ∈ R é um valor de aderência de uma sequência (an )
quando existe uma subsequência de (an ) que converge para x.

⎪ 2k + 1

⎪ , se n = 2k ,
⎨ kk
Exemplo 4.87 Seja an = (−1) , se n = 2k, e n 6= 2j , ∀j ∈ N, k ∈ N. Ou seja


⎩ 3k , se n = 2k − 1,

µ ¶5k + 1
1 6 5 9
(an ) = , 3, , , , −1, . . . . Assim os valores de aderência desta sequência são: 2,
2 11 2 16
3 3 ¡ ¢
−1, 1, , pois (a2k−1 ) converge para , (a2k ) converge para 2, a2(2j−1) converge para −1,
5 5
e (a4j ) , j 6= 2m , ∀m ∈ N, converge para −1.
Nota 4.88 Segue do teorema de Bolzanno Weierstrass que toda seqüência limitada em
R, admite pelo menos um valor de aderência.
Definição 4.89 Seja (an ) uma sequência limitada. Dizemos que S ∈ R é o limite su-
perior de (an ) , denotado por, S = lim supan , quando S = lim (sup{an , an+1 , . . .}) .
n→+∞ n→+∞
Dizemos ainda que s ∈ R é o limite inferior de (an ), denotado por s = lim inf an ,
n→+∞
quando s = lim (inf{an , an+1 , . . .}) .
n→+∞

Nota 4.90 Pode-se provar que o limite superior de uma sequência limitada é o seu maior
valor de aderência e o limite inferior é o seu menor valor de aderência.
Exemplo 4.91 Assim a sequência do exemplo anterior é tal que lim supan = 2 e lim inf an =
n→+∞ n→+∞
−1.
Nota 4.92 Observe que o limite superior de uma sequência limitada não é necessaria-
mente o supremo de seus termos. Note que no exemplo acima lim supan = 2, no entanto
n→+∞
a2 = 3 > 2 = lim supan .
n→+∞

⎨ 1, se n = 2k − 1,
k
Exemplo 4.93 Considere a sequência an = (−1) k ≥ 1. Então
⎩ , se n = 2k,
k+1
1 = lim supan e 0 = lim inf an , pois a sequência é limitada e os valores de aderência desta
n→+∞ n→+∞
sequência são 0 e 1.
4.1. SEQÜÊNCIAS DE NÚMEROS REAIS 49

Nota 4.94 Observe também que o limite inferior de uma sequência limitada não é nec-
essariamente o ínfimo de seus termos. Note que no exemplo acima lim inf an = 0, no
n→+∞
−1
entanto a2 = < 0 = lim inf an .
2 n→+∞

Exemplo 4.95 Considere an = (−1)n , então lim inf ((−1)n ) = −1 e lim sup ((−1)n ) = 1.
n→+∞ n→+∞

Nota 4.96 Quando a sequência (an ) não é limitada superiormente, dizemos, por abuso
de linguagem, que lim supan = +∞, pois neste caso existirá uma subseqüência de (an )
n→+∞
que divergirá para +∞. Analogamente, quando a seqüência não é limitada inferiormente
dizemos que lim inf an = −∞.
n→+∞
(
k, se n = 2k − 1
Exemplo 4.97 Considere an = 1 , k ≥ 1. Observe que esta se-
, se n = 2k
k+1
quência não é limitada superiormente e portanto não admite limite superior e neste caso
dizemos que lim supan = +∞, pois a subseqüência (a2n−1 ) de (an ) diverge para +∞.
n→+∞

Proposição 4.98 Seja (an ) uma seqüência convergente então (an ) admite um único valor
de aderência. Portanto, lim supan = lim inf an = lim an .
n→+∞ n→+∞ n→+∞

Prova. Já provamos que se (an ) converge então toda subseqüência de (an ) converge
para o mesmo limite, o que prova nossa afirmação. ¤

Observe que se (an ) é uma seqüência convergente, à medida que n cresce os termos da
seqüência se aproximam de um número real l e portanto seus termos se tornam arbitrari-
amente próximos uns dos outros. A recíproca é verdadeira apenas quando consideramos
sequências reais e isto é uma consequência do fato de R ser completo, ou seja, satisfazer
o postulado de Dedekind. Vejamos então alguns resultados, exemplos e definições.
Definição 4.99 Seja (an ) um sequência de números reais. Dizemos que (an ) é uma
sequência de Cauchy quando dado ε > 0 existe n0 ∈ N tal que para todo m, n ≥ n0
tem-se que |an − am | < ε.
Lema 4.100 Seja (an ) uma sequência de números reais tal que (an ) é de Cauchy e admite
uma subsequência convergente para l. Então (an ) também converge para l.
¡ ¢
Prova. Considere anj uma subseqüência de (an ) convergente para l. Então dado
¯ ¯ ε
ε > 0, existe j0 ∈ N tal que ¯anj − l¯ < , ∀j ≥ j0 . Ainda como (an ) é de Cauchy segue
2
ε
que existe n0 ∈ N tal que |an − am | < , ∀n, m ≥ n0 . Logo existe J ≥ j0 tal que nJ ≥ n0
2
e portanto, ∀n ≥ n0 tem-se que:
ε ε
|an − l| ≤ |an − anJ | + |anJ − l| < + = ε,
2 2
50 CAPÍTULO 4. SEQÜÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS

o que implica que an → l. ¤

Teorema 4.101 (Critério de Cauchy): Seja (an ) uma sequência de números reais. En-
tão: (an ) converge ⇔ (an ) é de Cauchy.

Prova. (⇒) Deixaremos a cargo do aluno esta demonstração. É importante notar


que ela é válida mesmo se estivermos considerando o corpo dos racionais.
(⇐) É fácil provar que (an ) é limitada(prove!), portanto do teorema de Bolzano-
Weierstrass admite uma subsequência convergente e portanto segue do lema que (an )
converge. ¤

Nota 4.102 Observe que para provar o teorema de Bolzano-Weiestrass usamos o fato de
R ser completo, ou seja, que um subconjunto limitado inferiormente admite ínfimo, o que
é equivalente ao postulado de Dedekind.

Exemplo 4.103 Considere


√ a sequência de números racionais (1, 1, 4, 1, 41, 1, 414, . . .)
que converge para 2. Observe que tal sequência é de Cauchy uma vez que seus termos
se aproximam entre si à medida que n cresce, no entanto em Q ela não converge. Esta
falha vem do fato de Q não ser completo.
Exercício 1
Calcule lim a n , sendo
n→
3 n  −2 n
an 
3 n1  −2 n1

Solução: Temos:
n n
3 n  −2 n 3 n 1  − 23 1  − 23
a n  n1   1
3  −2 n1 3 n1 1  − 23
n1 3 1 −2 n1
3

Logo,
n
lim 1  − 23
lim a n  1 n→  1 10  1.
n→ 3 lim 1  − 2 n1 3 10 3
3
n→
Exercícios 2
Mostre por definição que lim n n− 1  .
2

n→
M  M2  4
Solução: Dado M  0, tome n 0 ∈ ℕ tal que n 0  . Tal n 0 existe
2
uma vez que ℕ não é limitado superiormente. Assim, ∀n  n 0 tem-se que
M  M2  4 M  M2  4
n . Como x 2 − Mx − 1  0, ∀x  , segue que
2 2
M  M2  4
 n n− 1  M, ∀n  n 0  lim n n− 1  .
2 2
n 2 − Mn − 1  0, ∀n 
2 n→
Exercícios 3
Mostre que não existe lim senn.
n→
Solução: Como |senn| ≤ 1, ∀n ∈ ℕ, então se existir lim senn  a segue que
n→
|a| ≤ 1. Suponhamos primeiramente que lim senn  0. Então segue que
n→
lim senn  1  0, pois senn  1 é uma subsequência se sen n. Mas
n→
senn  1  senn cos 1  cosn sen1 e como senn  1 e senn convergem,
segue das propriedade de limite que cosn também converge. Agora passando o
limite em ambos os lados da igualdade, conclui-se que lim cosn  0. Ainda,
n→
como sen 2 n  cos 2 n  1, ∀n ∈ ℕ então lim sen 2 n lim cos 2 n  1, o que
n→ n→
contradiz o resultado encontrado. Assim, lim senn ≠ 0. Suponhamos então que
n→
lim senn  a com 0  |a| ≤ 1. Então lim sen2n  a, já que sen 2n é uma
n→ n→
subsequência de sen n. Mas sen2n  2 senn cosn e como lim senn  a ≠ 0,
n→
segue das propriedades de limite que cosn também converge, digamos para b.
Assim, passando o limite em ambos os lados da iguldade, segue que
a  2ab  b  1 . Novamente, utilizando sen 2 n  cos 2 n  1, ∀n ∈ ℕ, obtemos
2
3
que a   . Mas lim sen3n  a, no entanto sen3n  3 senn cos 2 n − sen 3 n.
2 n→
Logo passando o limite em ambos os lados da igualdade e lembrando que b  1
2
3
obtemos que a  3a − a 3 , absurdo pois a   não satisfaz esta equação.
4 2
Exercícios 4
Seja a n  uma sequência limitada. Mostre lim sup a n é o maior valor de
n→
aderência de a n .
Solução: Primeiramente devemos mostrar que L  lim sup a n é um valor de
n→
aderência, ou seja, devemos mostrar que existe uma subsequência de a n  que
converge para L. De fato: Considere A n  supa n , a n1,… , logo da propriedade de
supremo temos que A n1 ≤ A n , para todo n ∈ ℕ, ou seja a sequência A n  é uma
sequência decrescente, o que implica que L  infA n ; n ∈ ℕ. Ainda da definição
de limite e de ínfimo, segue que dado   1  0, existe m 0 ∈ ℕ tal que para todo
n ≥ m 0 tem-se que
L ≤ A n  L  1.
Logo da definição de A n e como L − 1  L ≤ A n 0 , segue que existe n 1 ≥ m 0 tal que
L − 1  a n 1 ≤ A m 0  L  1.
Tomando   1 existe m 1  n 1 tal que para todo n ≥ m 1 tem-se que
2
L ≤ An  L  1 .
2
Novamente pelo mesmo raciocínio encontramos n 2 ≥ m 1  n 1 tal que
L − 1  a n2 ≤ A m1  L  1 .
2 2
E assim sucessivamente, obtemos uma susequência a n j  de a n  tal que

a nj ∈ L − 1 ,L  1 ,
j j
o que implica que a n j → L. Logo L é um valor de aderência de a n .
Mostraremos a seguir que L é o maior valor de aderência, ou seja mostraremos
que se C  L então C não é valor de aderência de a n . Para isso, mostraremos
que existe   0 tal que o intervalo C − , C   contém apenas um número finito
de a n . Como C  L  infA n ; n ∈ ℕ, então C não pode ser cota inferior do conjunto
A n ; n ∈ ℕ, então existe n C ∈ ℕ tal que A n C  C. Da definição de A n C , segue que
a n ≤ A n C  C, para todo n ≥ n C . Assim, tomando   C − A n C  0, segue que
C −   A n C e portanto a n ≤ C − , para todo n ≥ n C , ou seja existe no máximo n C
elementos a n no intervalo C − , C  , o que implica que C não é valor de
aderência de a n  e como isto vale para qualquer C  L, segue que L é o maior
valor de aderência de a n .
Mostre que lim inf a n é o menor valor de aderência de a n .
n→
Exercícios 5
Sejam a n  e b n  uma sequências limitadas. Mostre
a) lim sup−a n   − lim inf a n .
n→ n→

b) lim supa n  b n  ≤ lim sup a n  lim sup b n .


n→ n→ n→

c) lim infa n  b n  ≥ lim inf a n  lim inf b n .


n→ n→ n→

Solução:
Das propriedades de supremo e ínfimo tem-se que
sup−a n , −a n1 , …   − infa n , a n1 , … 
supa n  b n , a n1  b n1 , …  ≤ supa n , a n1 , …   supb n , b n1 , … 
infa n  b n , a n1  b n1 , …  ≥ infa n , a n1 , …   infb n , b n1 , … .
Portanto da definição de limite superior e inferior e das propriedades de limite,
segue que
a)
lim sup−a n   lim sup−a n , −a n1 , …   lim − infa n , a n1 , …  
n→ n→ n→

 − lim infa n , a n1 , …   − lim inf a n .


n→ n→

b)
lim supa n  b n   lim supa n  b n , a n1  b n1 , …  ≤
n→ n→

≤ lim supa n , a n1 , …   supb n , b n1 , …  


n→

 lim supa n , a n1 , …   lim supb n , b n1 , …  


n→ n→

 lim sup a n  lim sup b n .


n→ n→

c)
lim infa n  b n   lim infa n  b n , a n1  b n1 , …  ≥
n→ n→

≥ lim infa n , a n1 , …   infb n , b n1 , …  


n→

 lim infa n , a n1 , …   lim infb n , b n1 , …  


n→ n→

 lim inf a n  lim inf b n .


n→ n→
Exercícios 6
Seja a n  uma sequência e  ∈ , 0    1, tais que
|a n2 − a n1 |  |a n1 − a n |, para todo n ∈ ℕ.
Mostre que a n  converge.
Solução: Mostraremos que a n  é de Cauchy e portanto converge. Da
propriedade acima, segue que
|a 3 − a 2 |  |a 2 − a 1 |
|a 4 − a 3 |  |a 3 − a 2 |   2 |a 2 − a 1 |
|a 5 − a 4 |  |a 4 − a 3 |   3 |a 2 − a 1 |,
e assim sucessivamente pode-se concluir que
|a n2 − a n1 |   n |a 2 − a 1 |.
Logo, para m  n, pode-se escrever que m  n  p e temos que
|a np − a n | ≤ |a np − a np−1 |  |a np−1 − a np−2 |    |a n1 − a n | 
  np−2   np−3     n−1 |a 2 − a 1 |.
Mas
 np−2   np−3     n−1   −   n 1 − 
n np−1 p−1
≤ n 2 .
1− 1− 1−
Como   converge para 0, pois 0    1, segue que dado   0, existe n 0 ∈ ℕ
n

tal que
1 − 
n  , para todo n ≥ n 0 .
2|a 2 − a 1 |
Assim, para todo m  n ≥ n 0 tem-se que
|a m − a n |  |a np − a n |   np−2   np−3     n−1 |a 2 − a 1 | ≤
2|a 2 − a 1 | 1 −  2|a 2 − a 1 |
≤ n   ,
1− 2|a 2 − a 1 | 1 − 
o que implica que a n  é de Cauchy e portanto converge.
4.1. SEQÜÊNCIAS DE NÚMEROS REAIS 51

4.1.7 Lista de exercícios


Exercício 4.104 Sejam (an ), (bn ) e (cn ) sequências convergentes para a, b e c respecti-
vamente. Mostre que (an + bn + cn ) e (an bn cn ) convergem respectivamente para a + b + c
e abc.

Exercício 4.105 Generalize o resultado do exercício anterior para um número finito de


sequências. Observe que não se pode aplicar este resultado para somas ou produtos onde
o número de fatores varia com n. Dê exemplos.

Exercício 4.106 Seja (an ) uma sequência de termos positivos que converge para r > 0.

Mostre que n an → 1.

Exercício 4.107 Sejam a, b reais não negativos. Prove que lim n an + bn = max{a, b}.
n→+∞

√ 4.108√Determine os limites das sequências abaixo, caso existam, justificando.


Exercício
( n + 3 − n).¢
a) ¡√
b) µ n2 + 5n − n ¶ .
5n3 − 2n2 + 1
c) 3 + 7n − 3
.
¡√2n ¢
d) µ n 3n + 7n ¶.
cos(1/n)
e) 2
µ n +1 ¶
1 + 2 + ···n
f) .
µ n2 ¶
1 1 1
g) √ +√ + ··· + √ .
µ n+1 n+2 ¶ 2n
1 1 1
h) 2
+ 2
+ ··· 2 .
n
µ n¶ (n + 1) (2n)
5
i)
2n2
cos (n2n + n!) + sen (n8+n )
j) (an ), onde an = .
(1, 01)n
P
p
Exercício 4.109 Sejam ti ∈ R, i = 0, 1, . . . , p tais que ti = 0. Determine o limite da
√ √ i=0

sequência (t0 n + t1 n + 1 + · · · + tp n + p).

Exercício 4.110 Se (an ) é uma sequência de termos não negativos tal que an → +∞,
mostre que asn → +∞, onde s é um racional positivo.
1
Exercício 4.111 Se (an ) é uma sequência tal que an → +∞, mostre que → 0. Enun-
an
cie e demonstre o resultado análogo quando an → −∞.
52 CAPÍTULO 4. SEQÜÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS

Exercício 4.112 Se (an ) é uma sequência tal que an → −∞ e (bn ) é tal que bn → 0 e
an
existe n0 ∈ N tal que bn < 0, ∀n ≥ n0 , prove que → +∞.
bn
Exercício 4.113 Analise a convergência das sequências abaixo, determinando seus lim-
ites, caso existam:
a)µ(ne−n¶)
n!
b) n
µn n ¶
10
c)
µ (2n)! ¶
n n
d) (−1)
µ n+2 ¶
3n2
e) cos (nπ)
n2 + 1

r 2 a, b2∈ R tais que 0 < a < b. Considere a sequência (xn ) definida


Exercício 4.114 Sejam
ab + xn−1
por x1 = a e xn = . Mostre que (xn ) converge para b.
a+1
Exercício 4.115 Verifique se as sequências abaixo convergem ou não, sem determinar
seus limites:
Pn 1
a) (an ) , onde an = p
, onde p ∈ R, 1 < p < 2.
j=1 j
Pn 1
b) (an ) , onde an = .
j=1 n + j

Exercício
√ 4.116 Considere (an ) uma sequência de números reais tal que a1 = 2 e an+1 =
3
2an , ∀n ∈ N. Verifique se (an ) converge e se for o caso, determine seu limite.
4.2. SÉRIES NUMÉRICAS 53

4.2 Séries numéricas


Vocês já se depararam com situações onde precisam saber o valor de uma "soma infinita",
por exemplo a "soma"de uma PG infinita de razão menor que 1. Alguns valores destas
"somas"não são finitos, mesmo que aparentemente possa se acreditar que sejam. Vejamos
então a definição rigorosa de série.

Definição 4.117 Considere uma sequência de números reais (an ) . À sequência (sn ) ,
Pn
onde sn = aj , denominada sequência das somas parciais denominamos série de termo
j=1
geral an .

Definição 4.118 Dada a série de termo geral (an ) dizemos que esta converge quando
a sequência das somas parciais (sn ) converge. Neste caso denotamos o limite de (sn ) e
P
+∞
portanto da série por an .
n=1

P
+∞
Nota 4.119 Por abuso de linguagem, denotaremos a série de termo geral (an ) por an .
n=1
Isto não significa que a série converge, na realidade usa-se a mesma notação tanto para
a série quanto para o seu limite, caso ele exista.

P
+∞
Exemplo 4.120 A série 2−n converge pois a sequência de somas parciais corresponde
n=0
1 nP 1 − (1/2)n+1
a soma de uma PG com n termos, de razão < 1. Assim, sn = 2−j = →
2 j=0 1 − (1/2)
2.
P
+∞
Exemplo 4.121 A série n diverge pois sn → +∞.
n=1
½
P
+∞
n −1, se n é ímpar
Exemplo 4.122 A série (−1) diverge pois sn = . Portanto
n=1 0, se n é par
como (sn ) admite dois valores de aderência distintos, esta não converge, apesar de ser
limitada.
µ ¶
P
+∞ 1 Pn 1 Pn 1 1
Exemplo 4.123 A série converge pois sn = = − =
n=1 n(n + 1) j=1 j(j + 1) j=1 j j+1
1 1 1 1 1 1
1 − + − +···+ − =1− → 1.
2 2 3 n n+1 n + 1 n→+∞
P
+∞1
Exemplo 4.124 A série p
, com p ∈ R, p > 1 converge. De fato, como os termos
n=1 n
Pn 1
da série são todos positivos então a sequência das somas parciais (sn ), sn = p
é
j=1 j
54 CAPÍTULO 4. SEQÜÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS

crescente. Assim, se mostrarmos que (sn ) admite uma subsequência limitada teremos que
(sn ) converge e portanto a série é convergente. Considere então a subseqüência (s2n+1 −1 ) ,
observe que 2n+1 − 1 = 2n + 2n − 1. Portanto
2n+1
X−1 µ ¶ µ ¶
1 1 1 1 1 1 1
s2n+1 −1 = =1+ + + + + +
j=1
jp 2p (2 + 1)p (22 )p (22 + 1)p (22 + 2)p (22 + 3)p
µ ¶
1 1 1 2 22 2n
+··· + + + · · · + < 1 + + + · · · +
(2n )p (2n + 1)p (2n + 2n − 1)p 2p (22 )p (2n )p
1 1 1 1 1 1
= 1 + p−1 + p−1 +···+ p−1 = 1 + p−1 + 2 + · · · + p−1 n
2 (22 ) (2n ) 2 (2p−1 ) (2 )
X 1
n
1 − (1/2p−1 )
n+1
1
= j = p−1
< ,
j−0
(2p−1 ) 1 − (1/2 ) 1 − (1/2p−1 )

assim (s2n+1 −1 ) é limitada superiormente e como é crescente, segue que é limitada inferi-
ormente por s1 = a1 = 1, logo (sn ) converge.

P
+∞ P
+∞
Proposição 4.125 Seja c ∈ R.Se as séries an e bn são convergentes então as séries
n=1 n=1
P
+∞ P
+∞
(can ) e (an ± bn ) são convergentes.
n=1 n=1

A demonstração segue imediatamente da definição de convergência de série e do fato


da soma de duas sequências convergentes serem convergentes.
O caso da série cujo termo geral é o produto dos termos gerais de cada uma das séries
é mais complicado e veremos alguns exemplos mais adiante.
Diferentemente de sequência, para a maioria das séries é difícil determinar seu limite,
caso ela convirja. Muitas vezes não é nem intuitivo saber se ela converge. Por isso
daremos alguns testes que determinam se a série converge ou não. Nos fixaremos nos
principais testes que serão úteis quando tratarmos de séries de potências. Antes porém é
bom lembrar que a convergência é na realidade a convegência de sua sequência de somas
parciais e portanto todos os resultados vistos para sequências se aplicam às sequências
de somas parciais, inclusive o critério de Cauchy, que enunciaremos novamente neste
contexto, pois será bastante utilizado na demonstração de outros critérios.

P
+∞
Teorema 4.126 (Critério de Cauchy para séries): Uma série an converge ⇔ ∀ε > 0,
n=1
∃n0 ∈ N tal que para todo n > m > n0 tem-se
¯ n ¯
¯X ¯
¯ ¯
|sn − sm−1 | = ¯ aj ¯ < ε.
¯ ¯
j=m

Neste caso dizemos que a série é de Cauchy.


4.2. SÉRIES NUMÉRICAS 55

A demonstração deste teorema segue imediatamente do critério de Cauchy para se-


quências aplicado à sequência das somas parciais.

P
+∞
Proposição 4.127 Se a série an converge então an → 0.
n=1

Prova. Como a série converge então ela é de Cauchy. Assim, ∀ε > 0, ∃n0 ∈ N tal que
∀n > n0 tem-se ¯ n ¯
¯X ¯
¯ ¯
|sn − sn−1 | = ¯ aj ¯ = |an | < ε ⇒ an → 0.
¯ ¯
j=n

Observe que esta é uma condição necessária para que uma série convirja. Portanto só
deve ser utilizada para concluirmos a divergência da série.
µ ¶n µ ¶n
P
+∞ 1 1
Exemplo 4.128 A série 1+ diverge, pois 1 + → e 6= 0.
n=1 n n

P1
+∞ 1
Exemplo 4.129 A série é tal que → 0, no entanto esta série, denominada série
n=1 n n
harmônica, é divergente. Vejamos:

X2n
1 1 1 X
2n
1 1
= + ··· + > = ,
j=n+1
j n+1 2n j=n+1 2n 2

1
portanto dado ε = > 0, para todo n ∈ N tem-se que
4
X2n
1 1
|s2n − sn | = > > ε,
j=n+1
j 2

o que implica que a série não é de Cauchy e portanto diverge.

Ou seja o fato da sequência do termo geral de uma série convergir para 0 não garante
a convergência desta.

P
+∞
Definição 4.130 Dizemos que uma série an é absolutamente convergente quando a
n=1
P
+∞
série |an | é convergente.
n=1

P
+∞
Proposição 4.131 Se a série an é absolutamente convergente então ela é convergente.
n=1
56 CAPÍTULO 4. SEQÜÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS

Prova. Como a série é absolutamente convergente então a sequência (sn ) tal que
P n
sn = |ai | é de Cauchy, ou seja, ∀ε > 0, ∃n0 ∈ N tal que ∀n > m > n0 tem se que
i=1 ¯ n ¯
Pn ¯P ¯ P
n
|ai | < ε. Da desigualdade triangular segue que ¯¯ ai ¯¯ ≤ |ai | < ε, ∀n > m > n0 .
i=m i=m i=m
Logo do critério de Cauchy, segue que a série é convergente. ¤

Nota 4.132 É importante observar que a série pode ser convergente, sem ser absoluta-
mente convergente, como veremos mais adiante.

Primeiramente daremos alguns critérios para séries de termos positivos, que podem
ser utilizados para a convergência absoluta. Enunciaremos e demonstraremos apenas um
critério para convergência condicional, isto é, quando a série converge, mas não absoluta-
mente.
P
+∞ P
+∞
Teorema 4.133 (Critério da comparação): Considere as séries an e bn , ambas de
n=1 n=1
termos não negativos. Suponha que existe n0 ∈ N tal que an ≤ bn , ∀n ≥ n0 . Então:

P
+∞ P
+∞
a) Se a série bn converge então an também converge.
n=1 n=1

P
+∞ P
+∞
b) Se a série an diverge então bn também diverge.
n=1 n=1

P
+∞
Prova. a)Como a série bn converge então ela é de Cauchy, logo ∀ε > 0, ∃n1 ∈ N
n=1
P
n
tal que ∀n > m > n1 , bj < ε. Tomando N = max{n0 , n1 } tem-se que ∀n > m > N,
j=m
P
n P
n P
+∞
aj ≤ bj < ε ⇒ an é de Cauchy e portanto converge.
j=m j=m n=1
b)Esta demonstração segue imediatamente do ítem anterior provando-se por absurdo.
¤

1 P
+∞ 1 1 P1
+∞
Exemplo 4.134 A série √ diverge pois √ ≥ , ∀n ≥ 1 e diverge. Analoga-
n=1 n n n n=1 n
P 1
+∞
mente para cada p ∈ R, 0 < p ≤ 1, tem-se que a série p
diverge.
n=1 n

P
+∞ 1 1 1 P 1
+∞
Exemplo 4.135 A série converge pois < n , ∀n ≥ 4 e n
converge para 2
n=0 n! n! 2 n=0 2
como já foi mostrado.
4.2. SÉRIES NUMÉRICAS 57
¯ ¯
P cos(n) ¯ cos(n) ¯
¯≤ 1 e P 1
+∞ +∞
Exemplo 4.136 A série converge absolutamente pois ¯¯
n=0 n! n! ¯ n! n=0 n!
converge.
O próximo critério é uma conseqüência do critério da comparação e tem a facilidade
de não ser necessária uma comparação dos termos gerais da série, através da relação de
ordem.
P
+∞ P
+∞
Teorema 4.137 (Critério do quociente): Considere as séries an e bn , com an ≥ 0
n=1 n=1
e bn > 0, ∀n ∈ N. Então:
an P
+∞ P
+∞
a) Se lim = l > 0 então a série an converge ⇔ a série bn converge. Ou
n→+∞ bn n=1 n=1
P
+∞ P
+∞
seja, as séries an e bn têm a mesma natureza, ou ambas convergem ou ambas
n=1 n=1
divergem.
an P
+∞ P
+∞
b) Se lim = 0 e a série bn converge então a série an converge.
n→+∞ bn n=1 n=1

an P
+∞ P
+∞
c) Se lim = +∞ e a série bn diverge então a série an diverge.
n→+∞ bn n=1 n=1

Prova. Apenas o ítem (a) será demonstrado. Os demais são análogos e a demon-
stração será deixada a cargo do aluno.
l
Da definição de limite segue que dado ε = > 0 existe n0 ∈ N tal que ∀n ≥ n0 tem-se
¯ ¯ 2
¯ an ¯
que ¯¯ − l¯¯ < ε, isto é, ∀n ≥ n0
bn
l an 3l
< < ,
2 bn 2
ou seja
l 3l
bn < an < bn , ∀n ≥ n0 ,
2 2
portanto basta agora aplicar o critério da comparação. ¤

P
+∞ 1
Exemplo 4.138 A série 2
converge pois
n=1 n

1 µ ¶
n2 n(n + 1) 1
lim = lim = lim 1 + =1>0
n→+∞ 1 n→+∞ n2 n→+∞ n
n(n + 1)
P
+∞ 1
e converge.
n=1 n(n + 1)
58 CAPÍTULO 4. SEQÜÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS

P
+∞
Teorema 4.139 (Teste da razão): Seja an uma série de números reais não nulos.
n=1
Então: ¯ ¯
¯ an+1 ¯
a) Se lim ¯¯ ¯ = l < 1 então a série converge absolutamente.
n→+∞ a ¯
¯ n ¯ ¯ ¯
¯ an+1 ¯ ¯ an+1 ¯
b) Se lim ¯¯ ¯ = l > 1 ou lim ¯ ¯ = +∞ então a série diverge.
n→+∞ an ¯ n→+∞ ¯ an ¯

Prova. a)Como l < 1 ⇒ ∃r ∈ R tal que 0 ≤ l < r < 1. Tomemos ε = r − l > 0, da


definição de limite existe n0 ∈ N tal que ∀n ≥ n0
¯¯ ¯ ¯ ¯ ¯
¯¯ an+1 ¯ ¯ ¯ ¯
¯¯ ¯ − l¯ < ε ⇒ ¯ an+1 ¯ < l + ε = r.
¯¯ an ¯ ¯ ¯ an ¯

Portanto, |an0 +1 | < r |an0 | , |an0 +2 | < r |an0 +1 | < r2 |an0 | e assim sucessivamente segue
que |an0 +p | < rp |an0 | , ou seja, |an | < rn−n0 |ano | = r−n0 |an0 | (rn ) , ∀n ≥ n0 e a série
P n
+∞
r converge pois é a soma de uma PG infinita de razão r menor que 1. Logo pelo
n=1
P
+∞ P
+∞
critério da comparação segue que a série |an | converge e portanto a série an converge
n=1 n=1
absolutamente.
b) Exercício. ¤

¯ ¯
¯ an+1 ¯
Nota 4.140 No caso do ítem (a) do teste da razão, se ao invés de termos lim ¯¯ ¯=
¯
¯ ¯ n→+∞ an
¯ an+1 ¯
l < 1, tivermos lim sup ¯¯ ¯ = l < 1 também poderemos concluir a convergência da
¯
n→+∞ an
série(Prove!). No entanto não podemos substituir o limite pelo limite superior no ítem
(b), como veremos num exemplo após o teste da raiz.
P
+∞
Teorema 4.141 (Teste da raiz): Considere a série an de números reais. Então:
n=1
p
a) Se lim sup n |an | = l < 1 então a série converge absolutamente.
n→+∞
p
b) Se lim sup n |an | = l > 1, (podendo ser +∞) então a série diverge.
n→+∞

Prova. a)³Como ´ l < 1, então existe s ∈ R tal que l < s < 1. Como l é o maior valor de
p
aderência de n
|an | , então existe no máximo um número finito de índices n0 s tais que
p p
n
|an | ≥ s e portanto existe n0 ∈ N tal que n |an | < s, ∀n ≥ n0 ⇒ |an | < sn , ∀n ≥ n0 .
P n
+∞
Logo, como a série s converge, pois 0 < s < 1, segue do critério de comparação a
n=1
P
+∞ P
+∞
convergência de |an | , o que implica que a série an converge absolutamente.
n=1 n=1
4.2. SÉRIES NUMÉRICAS 59
p
b) Analogamente existe q s ∈ R tal que l > s > 1. Como l = lim sup n |an | então
³ ¯ ¯´ ³p ´
existe uma subseqüência nj ¯anj ¯ de n |an | que converge para l. Assim, tomando
q¯ ¯
nj ¯
ε = l − s > 0, segue que existe j0 ∈ N tal que anj ¯ ∈ (l − ε, l + ε) = (s, l + ε) , ∀j ≥
¯ ¯
j0 ⇒ ¯anj ¯ > ¡snj ,¢∀j ≥ j0 . Mas como nj
¯ s¯ > 1 então s → +∞ e portanto existe uma
subseqüência anj de (an ) tal que ¯anj ¯ → +∞ ⇒ an 9 0, o que implica que a série
P
+∞
an diverge. ¤
n=1
µ ¶n µ ¶n
P
+∞ 1 1
Exemplo 4.142 Considere a série an tal que a2n = e a2n−1 = , n ∈ N.
n=0 3 2
√ 1 √ 1 1 1
Pelo teste da raiz temos que 2n a2n = √ e 2n−1 a2n−1 = √ 2n−1 p√ → √ . Portanto,
3 2 2 2
√ 1 an+1
lim sup n an → √ < 1 e portanto a série converge. No entanto, se tomássemos
n→+∞ 2 an
k
an+1 3
teríamos, se n = 2k é par então n + 1 = 2k + 1 é ímpar e portanto = k+1 =
µ ¶k an 2
1 3 an+1
→ +∞ e portanto lim sup = +∞, mostrando que não se pode substituir o
2 2 an
limite do ítem (b) do teste da razão pelo limite superior. Observe então que o teste da
razão não se aplica neste exemplo. Nem mesmo a sua versão forte que está no exercício
resolvido 5, da quarta semana, pois se n = 2k − 1 é ímpar então n = 2k é par e portanto
µ ¶k
an+1 2 an+1 an+1 an+1
= → 0, ou seja lim inf = 0.Logo, lim sup > 1 e lim inf < 1, o
an 3 an an an
n→+∞
que não permite concluir nada, nem mesmo pela versão forte do teste da razão.
Nos dois teoremas acima nada se pode afirmar quando os limites são iguais a 1. Por
exemplo:
P1
+∞ P
+∞1
Exemplo 4.143 A série diverge e a série 2
converge, no entanto os testes da
n=1 n n=1 n
raiz e da razão em ambos os casos resultam em 1.
r n
P an
+∞ a
Exemplo 4.144 Considere a ∈ R, a > 0, a série converge pois lim n =
n=0 n! n→+∞ n!
a
lim √ n
= 0 < 1 ⇒ pelo teste da raiz, a série converge.
n→+∞ n!
(n + 1)!
P n!
+∞ (n + 1)n+1 (n + 1)nn
Exemplo 4.145 A série converge pois lim = lim =
n=1 n
n n→+∞ n! n→+∞ (n + 1)n+1
nn
nn 1 1
lim n = lim µ ¶n = < 1.
n→+∞ (n + 1) n→+∞ 1 e
1+
n
60 CAPÍTULO 4. SEQÜÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS

Para finalizarmos, daremos um teste para séries cujos termos alternam de sinal, de-
nominadas séries alternadas. Existem outros critérios mais gerais para séries cujos termos
não têm o mesmo sinal, mas não são necessariamente alternados e vocês poderão encontrar
em bons livros de análise.

Teorema 4.146 (Teste de Leibniz): Seja (an ) uma sequência decrescente que converge
P
+∞
para 0. Então a série alternada (−1)n an converge. Além disso o erro que se comete
n=1
ao aproximarmos a soma da série por qualquer uma de suas somas parciais é, em valor
absoluto, menor ou igual ao primeiro termo desprezado.

Prova. Consideraremos as somas parciais de ordem par e as de ordem ímpar sepa-


radamente. Se mostrarmos que ambas convergem para o mesmo limite, teremos que a
seqüência das somas parciais desta série converge e portanto a série é convergente. Assim,

s2n = − (a1 − a2 ) − · · · − (a2n−1 − a2n ) ,

e como an+1 ≤ an segue que (s2n ) é decrescente. Ainda

s2n+1 = −a1 + (a2 − a3 ) + · · · + (a2n − a2n+1 ) ,

portanto (s2n+1 ) é crescente. Ainda s2n+1 = s2n − a2n+1 ≤ s2n ≤ s2 = a2 − a1 , ∀n ≥ 0 ⇒


(s2n+1 ) é limitada superiormente e portanto converge, digamos para S. Da mesma forma
s2n = s2n+1 + a2n+1 ≥ s2n+1 ≥ s1 = −a1 e portanto (s2n ) é limitada inferiormente logo
converge. Mas como s2n = s2n+1 + a2n+1 e an → 0 ⇒ s2n → S. Assim, (sn ) converge para
S.
Ainda das características das sequências das somas parciais de ordem par e de ordem
ímpar, segue que

s2n−1 ≤ s2n+1 ≤ S ≤ s2n ⇒ 0 ≤ S − s2n−1 ≤ s2n − s2n−1 = a2n ,


0 ≤ s2n − S ≤ s2n − s2n+1 = a2n+1 ,

o que prova que |S − sn | ≤ an+1 . ¤

P
+∞
Definição 4.147 Dizemos que uma série an é condicionalmente convergente, quando
n=1
P
+∞ P
+∞
a série an converge, mas a série |an | diverge, ou seja, quando a série é convergente,
n=1 n=1
sem ser absolutamente convergente.
µ ¶
P
+∞ 1 n 1
Exemplo 4.148 A série alternada (−1) converge condicionalmente pois é
n=1 n n
decrescente
¯ e¯ converge para 0, logo pelo teste de Leibniz ela converge, no entanto a série
P ¯¯
+∞
n 1¯
¯ +∞P1
¯ (−1) = diverge.
n=1 n ¯ n=1 n
4.2. SÉRIES NUMÉRICAS 61
µ ¶
P
+∞ 1n 1
Exemplo 4.149 A série (−1) √ converge condicionalmente pois √ é decres-
n=1 n n
cente e converge para 0. Observe que analogamente ao exemplo anterior a série não con-
verge absolutamente.
" r #2
P
+∞
n 1
Nota 4.150 Observe que apesar da série acima convergir, a série (−1) =
n=1 n
P1
+∞ P
+∞
diverge. Observe ainda que (−1)n é divergente e a série harmônica também é
n=1 n n=1
P (−1)n
+∞
divergente como já provamos. No entanto a série cujo termo geral é o produto
n=1 n
dos termos gerais das série divergentes acima, é convergente. Isto esclarece o que já
havíamos dito sobre séries cujo termo geral é o produto dos termos gerais de outras séries.
No entanto existem algumas condições que permitem concluir a convergência da série cujo
termo geral é o produto dos termos gerais de duas outras séries, como pode ser visto na
lista de exercícios propostos.

Nota 4.151 Uma outra observação importante é sobre alterar a ordem dos termos de
uma série. Quando se altera a ordem dos termos de uma série obtém-se uma nova série,
pois altera-se a sequência de suas somas parciais. No entanto, o que pode-se dizer do
limite desta nova série? Pode-se concluir que se a série é absolutamente convergente
então esta nova série converge para o mesmo limite que a série original, este resultado
pode ser encontrado no livro Introdução ao Cálculo de Paulo Boulos, vol 2, no apêndice
E. No entanto se a série converge apenas condicionalmente então a nova série poderá
convergir para um outro limite ou até mesmo divergir. Vejamos um exemplo.

P (−1)n−1
+∞ 1 1 1
Exemplo 4.152 Considere a série = 1− + − + · · · que é apenas
n=1 n 2 3 4
condicionalmente convergente. Pode-se mostrar facilmente que a subsequência (s2n ) da
sequência (sn ) das somas parciais da série é crescente e portanto a soma da série, isto
1 P 1 (−1)n−1
+∞ P (−1)n−1
1 +∞
é, seu limite s é tal que s ≥ s2 = . Ainda a série = =
2 n=1 2n 2 n=1 n
1 1 1 1 s
− + − + · · · converge para . Assim, supondo que se pode alterar a ordem dos
2 4 6 8 2
3s
termos da sequência sem alterar seu limite, obtemos que = s, pois ao somar termo
2
a termo cada uma das séries e alterando a ordem, obtemos novamente a série original.
1
Logo, conclui-se então que s = 0, o que é um absurdo, pois já sabemos que s ≥ .
2
Exercício 1
Seja a n  uma sequência decrescente de números reais positivos tais que

∑ a n converge. Mostre que na n → 0.
n1

Solução: Como ∑ a n converge, segue que a n → 0 e a série é de Cauchy, ou
n1
seja, dado   0 existe n 0 ∈ ℕ tal que para todo m  n  n 0 tem-se que
m m

∑ a j ∑ a j  .
2
jn jn

Assim,. para todo n ≥ n 0 , tomando m  2n, segue que


2n

∑ aj   .
2
jn1

Mas
2n

∑ a j  a n1  a n2    a 2n ≥ na 2n  1 2na 2n ,


2
jn1

pois a n  é uma sequência decrescente. Portanto, obtemos que para todo n ≥ n 0 ,


1 2na 2n     2na 2n  ,
2 2
o que implica que a subsequência de índices pares de na n  converge para 0.
Resta mostrar que a susequência de índices ímpares também converge para 0.
Mas
0 ≤ 2n  1a 2n1 ≤ 2n  1a 2n  2na 2n  a 2n → 0,
pois a n → 0 e portanto toda subsequência de a n  também converge para 0.
Portanto do teorema do confronto, segue que 2n  1a 2n1 → 0 e como 2na 2n → 0,
segue que
na n → 0.
Exercício 2
Verifique se as séries abaixo são ou não convergentes. Justifique.
   
n 2
a)∑ senn b) ∑ n 3 n c) ∑ 3n d) ∑  n n − 1
n
2 5 n 1
n1 n1 n1 n1

e) ∑ n!n
n
n1
Solução: a) Como já vimos que senn não converge, então a série dada não
converge, pois seu termo geral não tende a zero.
n  n
n n
b) 0  n 3 n  3 n  3 e como ∑ 3 é uma P.G de
2 5 5 5 5
n1
razão menor que 1, esta converge. Assim, pelo critério de comparação temos que
a série dada converge.
n2
c) lim n  1 lim 3n
3 3
 1  0, logo do critério do quociente,
n→ 1 n→ n  1

n
2
como ∑ n diverge, então ∑ 3n
1 também diverge.
n1 n1
n  1
n
d) Como  n n − 1 ≥ 0, ∀n ∈ ℕ e
n
lim n  n n − 1 lim  n n − 1  0  1, segue do teste da raiz que a série
n→ n→
converge.
e) Como n!n  0, ∀n ∈ ℕ e
n
n  1!
n  1 n1 nn nn 1
lim lim n  1 lim n lim  1e  1.
n→ n  1
n
n→ n! n→ n  1 n1
n→ 1 1
nn n
Logo do teste da razão segue que a série converge.
Exercício 3
Determine os valores de x ∈ , para os quais a série

∑ cosnx
n
n1

converge.
resolucao Para x  2k, segue que cosnx  1,
 
cosnx 1 , que diverge.
∀n ∈ ℕ ∑ n  ∑ n
n1 n1
Assim, para x ≠ 2k, temos que 1 é uma seqüência
n
n sen n  1 x
decrescente convergente para 0 e a seqüência s n ∑ cosjx  2 − 1
2 sen x 2
j1 2
sen n  1 x
é tal que |s n | ≤ 2  1 ≤ 1  1 , ∀n ∈ ℕ. Portanto pelo
2 sen x 2 2 sen x 2
2 2
critério de Dirichlet, que está na lista de exercícios propostos, segue que a série
acima converge, ∀x ∈  tal que x ≠ 2k, k ∈ ℤ.
Exercício 4
Seja a ∈ , tal que a  1. Mostre que a série

∑ −1 n n a  a − 3 a  4 a − 5 a   é divergente, enquanto que a série
n2

∑  2n a − 2n1 a    a − 3 a    4 a − 5 a    é convergente.
n1
Solução: Observe que a primeira série é divergente pois seu termo geral não
converge, uma vez que a 2n → 1 e a 2n1 → −1, e portanto não converge para 0.
O termo geral da segunda série,  2n a − 2n1 a  → 1 − 1  0, o que
não implica que a série converge. No entanto a sequência das somas parciais s n 
é crescente, já que  2n a − 2n1 a   0, ∀n ∈ ℕ  s n − s n−1  2n a − 2n1 a  0. Ainda
n n
s n ∑  2j a − 2j1
a  ∑  2j a − 2j2
a  a − 2n2 a  a . Logo a seqüência s n  é
j1 j1
crescente e limitada superiormente, portanto converge, ou seja a série converge.
Nota Observe que aparentemente colocamos apenas um parêntesis.
Isto mostra que a série não é uma "soma" infinita, mas sim um limite, o limite da
sequência das somas parciais e como estas séries têm termo geral diferente, suas
sequências das somas parciais também é diferente. Ou seja não vale a
associatividade nas séries. No entanto pode-se mostrar que se a série é
absolutamente convergente então a associatividade é válida.
Exercício 5

Dada a série ∑ a n , considere L lim sup aan1
n
e l lim inf aan1
n
. Mostre
n→ n→
n1
que:
a) Se L  1 então a série converge absolutamente. b) Se l  1
então a série diverge.
Solução: a) Se L  1, então existe r ∈  tal que L  r  1. Como L é o maior
valor de aderência de a n1 , então existe n ∈ ℕ tal que a n1  r, ∀n ≥ n .
an 0 an 0
a
Assim, ann0 1  r, ou seja |a n 0 1 |  r|a n 0 |, |a n 0 2 |  r|a n 0 1 |  r 2 |a n 0 | e assim
0
|a |
sucessivamente, |a n |  r n−n 0 |a n 0 |, ∀n ≥ n 0 ou seja |a n |  r n nn00 , ∀n ≥ n 0 e como
 
r
|a |
r  1, segue que ∑ r n converge e portanto ∑ r n nn00 também converge, logo do
r
n1 n1

critério de comparação ∑ a n converge.
n1
b) Se l  1, então existe s ∈  tal que l  s  1. Assim, como l é um valor de
a n1 , segue que existe uma subsequência a n j 1
aderência de an a nj de
a n1 a n j 1
an tal que a nj → l. Ou seja dado   l − s  0, existe j 0 ∈ ℕ tal que
a n j 1 a n j 1
∀j ≥ j 0 , a nj − l    a nj  l −   s, ∀j ≥ j 0 . Portanto, procendendo
a nj
como no ítem anterior, tem-se que |a n j |  s n j n j00 , ∀j ≥ j 0 e como s  1, então

r
s n j → . Logo a n  0 e portanto a série ∑ a n diverge.
n1
Nota Esta é denominada versão forte do teste da razão.
62 CAPÍTULO 4. SEQÜÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS

4.2.1 Lista de exercícios


µ ¶
1P
+∞
Exercício 4.153 Mostre que a série ln 1 + diverge.
n=1 n

Exercício 4.154 Calcule a soma das série abaixo:

Pn
+∞ −1
a) .
n=2 n!

P n2
+∞ −n−1
b) .
n=2 n!

P
+∞ 2n + 5
c) (−1)n .
n=0 (n + 2) (n + 3)

P
+∞ n+2 n P (−1)n−1
+∞
d) (−1) , sabendo que = ln 2.
n=1 n (n + 1) n=1 n

P
+∞ 1
e) (−1)n .
n=1 2n

P
+∞
Exercício 4.155 Prove que se a série de termos positivos an é convergente então
n=1
P
+∞ P
+∞ a2n
a2n e 2
também o são.
n=1 n=1 1 + an

Exercício 4.156 Considere (an ) uma sequência de termos não negativos e tal que an →
P
+∞ P an
+∞
0. Prove que an converge ⇔ converge.
n=1 n=1 1 + an

P
+∞
Exercício 4.157 Considere a série an de termos não negativos, convergente e a se-
n=1
P
+∞
quência (bn ) de termos não negativo e limitada. Mostre que an bn converge. Conclua
n=1
P
+∞ P
+∞ P
+∞
que se an e bn são absolutamente convergentes então an bn também é absoluta-
n=1 n=1 n=1
mente convergente.

P
+∞ P
+∞
Exercício 4.158 Sejam an , bn ≥ 0, ∀n ∈ N. Se a2n e b2n convergem, mostre que
n=1 n=1
P
+∞
an bn também converge.
n=1
4.2. SÉRIES NUMÉRICAS 63

P
+∞
Exercício 4.159 Se (an ) é uma sequência de termos não negativos tal que a série a2n
n=1
P an
+∞
converge, mostre que também converge.
n=1 n

Exercício 4.160 Determine se as séries abaixo convergem ou divergem. Justifique.


P
+∞ 1 P ln (n)
+∞ P
+∞ 1
a) b) c) √
n=1 ln (n) n 3
n=1 n=1 n + 1

P
+∞ 1 P
+∞ n2 − 23n + 9
d) √
3
e) √
3 n + 7 − 2n + cos3 (n2 )
2
n=1 n + 1 n=1 4n

P2
+∞ − sen2 (3n) P
+∞ ³π´
f) n 2
g) sen
n=1 2 + n + 1 n=1 2n
√ µ ¶n
P
+∞
n n P 3
+∞ 1 P n!
+∞
h) (−1) 2 i) n
1+ j) n
,p>0
n=1 n +2 n=1 2 n n=1 p

P 3n n!
+∞ P 2n n!
+∞ P en n!
+∞
k) l) m)
n=1 nn n=1 nn n=1 nn

P
+∞ ⎨ −1 , se n = 2k

m) an , onde an = k , ∀k ∈ N.
⎪ 1
n=1 ⎩ , se n = 2k − 1
k
Exercício 4.161 Critério de Dirichlet: Suponha que a sequência das somas parciais
P
+∞
da série an é limitada e (bn ) uma sequência decrescente de números positivos con-
n=1
P
+∞
vergindo para zero. Prove que an bn é convergente.
n=1

P
+∞
Exercício 4.162 Mostre, utilizando o critério de Dirichlet que se an é convergente e
n=1
P
+∞
(bn ) é uma sequência de termos não negativos, decrescente, então an bn converge.
n=1

Exercício 4.163 Prove o teste de Leibnitz utilizando o critério de Dirichlet.


P cos (nx)
+∞ P sen (nx)
+∞
Exercício 4.164 Seja x 6= 2kπ, k ∈ Z. Mostre que e convergem.
n=1 n n=1 n

P
+∞ ln (n)
Exercício 4.165 Mostre que (−1)n é condicionalmente convergente.
n=1 n
Capítulo 5
Limite e continuidade de função de
uma variável

Antes de iniciarmos o assunto propriamente dito, vamos enunciar algumas definições e


propriedades topológicas do conjunto dos números reais, que serão necessárias no restante
do curso.

5.1 Topologia da reta


Estudaremos nesta seção as principais propriedades topológicas dos subconjuntos da reta,
isto é, propriedades que se baseiam nas noções de vizinhança. Esta seção prepara o terreno
principalmente para o estudo de limite de funções.
Identificamos o corpo R dos números reais com a reta e interpretamos o valor absoluto
|x − y| como a distância de x a y, quando identificados com pontos da reta. Esta inter-
pretação será muito importante para a compreensão dos conceitos que serão estudados
durante esta seção e no decorrer do curso.

Definição 5.1 Seja a ∈ R. Uma vizinhança centrada em a, de raio r > 0, denotada


por Vr (a) , é o intervalo aberto (a − r, a + r) .

Definição 5.2 Seja a ∈ R. Uma vizinhança restrita (ou furada) centrada em a,


de raio r > 0, denotada por Vbr (a) , é o conjunto (a − r, a + r) \{a}, .isto é, Vbr (a) = {x ∈
R; 0 < |x − a| < r}.

Definição 5.3 Seja X um subconjunto não vazio de R. Dizemos que a ∈ X é um ponto


interior de X quando existe r > 0 tal que o intervalo aberto Vr (a) = (a − r, a + r) ⊂ X.

Exemplo 5.4 Considerando o intervalo aberto X = (−3, 2), segue que todos os seu pon-
tos são interiores, pois para cada x ∈ X tem-se que −3 < x < 2. Assim, tomando
r = min{x + 3, 2 − x} > 0, tem-se que x + r ≤ 2 e x − r ≥ −3. Portanto (x − r, x + r) ⊂
(−3, 2) , o que permite concluir que todo ponto x ∈ X é um ponto interior.

65
66 CAPÍTULO 5. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL

Exemplo 5.5 Considerando o intervalo X = [1, 9), pode-se provar, como no exemplo
acima que todos os pontos do intervalo (1, 9) são pontos interiores de X, no entanto o
ponto 1 ∈ X não é interior, pois qualquer que seja r > 0, tem-se que 1 − r < 1 e portanto
(1 − r, 1 + r) não está contido em X.

Exemplo 5.6 Considere X = {1} ∪ [−1, 0) ∪ (2, 5], então os pontos de (−1, 0) ∪ (2, 5)
são pontos interiores de X, enquanto que os pontos {1, −1, 5} não o são.
1
Exemplo 5.7 Seja X = { ; n ∈ N}. É claro que nenhum ponto de X é interior pois
n µ ¶
1 1
para cada n ∈ N e para todo r > 0 o intervalo − r, + r contém pontos irracionais
µ ¶ n n
1 1
e portanto − r, + r não está contido em X.
n n
Definição 5.8 Seja X um subconjunto não vazio de R. O interior de X é o conjunto

consistindo de todos os pontos interiores de X, denotado por X ou int (X) .

Exemplo 5.9 Se X = (−3, 2) então X = (−3, 2) .

Exemplo 5.10 Se X = [1, 9) então X = (1, 9) .

Exemplo 5.11 Se X = {1} ∪ [−1, 0) ∪ (2, 5] então X = (−1, 0) ∪ (2, 5) .
1 ◦
Exemplo 5.12 Se X = { ; n ∈ N} então X = ∅.
n
Definição 5.13 Seja X um subconjunto não vazio de R. Dizemos que X é aberto quando

X = X.

Nota 5.14 Considera-se o conjunto vazio, ∅, um subconjunto aberto de R, pois não


existe nenhum ponto deste conjunto que não seja ponto interior.

Exemplo 5.15 O intervalo aberto (a, b) para quaiquer a, b ∈ R, com a < b é um conjunto
aberto.

Exemplo 5.16 O conjunto X = (−∞, 3) ∪ (7, +∞) é um conjunto aberto.

Exemplo 5.17 R = (−∞, +∞) é aberto, pois todos os seus pontos são interiores.

Definição 5.18 Seja X um subconjunto não vazio de R. Dizemos que X é fechado


quando X C = R\X é aberto.

Exemplo 5.19 O intervalo fechado [a, b] quaisquer que sejam a, b ∈ R com a < b é um
conjunto fechado pois [a, b]C = (−∞, a) ∪ (b, +∞) que é aberto.
5.1. TOPOLOGIA DA RETA 67

Exemplo 5.20 O conjunto X = {1} ∪ [−1, 0) ∪ (2, 5] não é aberto pois seu interior não
é igual a X, e também não é fechado pois X C = (−∞, −1) ∪ [0, 1) ∪ (1, 2] ∪ (5, +∞) que
não é aberto.
1 ◦
Exemplo 5.21 Se X = { ; n ∈ N} então X = ∅ e portanto X não é aberto. Ainda
n
1
X C = {x ∈ R; x 6= } que não é aberto pois 0 não é ponto interior de X C . De fato,
n
1 1
para todo r > 0 existe n0 ∈ N tal que 0 < < r, pois → 0. Assim (−r, r) não está
n n
contido em X C qualquer que seja r > 0. Portanto 0 ∈ X C e não é um ponto interior deste
conjunto e assim X C não é aberto. Logo X não é aberto nem fechado.

Exemplo 5.22 R é fechado, já que RC = ∅, que é aberto.

Exemplo 5.23 O conjunto vazio ∅ é fechado, já que seu complementar é R, que é aberto.

Nota 5.24 ∅ e R são os únicos subconjuntos de R que são abertos e fechados.

A seguir daremos uma definição que é importante para trabalharmos com o conceito
de limite.

Definição 5.25 Seja X um subconjunto não vazio de R. Dizemos que a ∈ R é um ponto


de acumulação de X quando

X ∩ Vbr (a) = X ∩ [(a − r, a + r) \{a}] 6= ∅, ∀r > 0.

Nota 5.26 Observe que um ponto de acumulação de um conjunto não é necessariamente


um ponto do conjunto.

Nota 5.27 A definição implica que arbitrariamente próximo de a existem pontos do con-
junto X diferentes de a, isto significa que existe uma sequência de elementos de X distintos
de a e distintos entre si que converge para a. (Pense!)

Nota 5.28 O conjunto de todos os pontos de acumulação de um subconjunto X de R é


denominado de conjunto derivado de X e denotado por X 0 .

Exemplo 5.29 Se X = (−3, 2) então X 0 = [−3, 2] .

Exemplo 5.30 Se X = [1, 9) então X 0 = [1, 9] .

Exemplo 5.31 Se X = {1} ∪ [−1, 0) ∪ (2, 5] então X 0 = [−1, 0] ∪ [2, 5] .


1
Exemplo 5.32 Se X = { ; n ∈ N} então X 0 = {0}.
n

Proposição 5.33 Seja X um subconjunto de R, então X ⊂ X 0 .
68 CAPÍTULO 5. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL


Prova. Seja a ∈ X então existe r > 0 tal que Vr (a) ⊂ X ⇒ Vbr (a) ⊂ X. Assim, ∀s >
0, se 0 < r ≤ s então Vbr (a) ⊂ Vbs (a) ⇒ Vbs (a) ∩ X ⊃ Vbr (a) . Logo, Vbs (a) ∩ X 6= ∅, ∀s ≥ r.
Ainda se 0 < s < r então Vbs (a) ⊂ Vbr (a), portanto Vbs (a) ∩ X = Vbs (a) . Ou seja ∀s > 0,
Vbs (a) ∩ X 6= ∅ ⇒ a ∈ X 0 . ¤

Definição 5.34 Considere X um subconjunto de R. Definimos o fecho de X, denotado


por X, como sendo X = X ∪ X 0 .

O próximo resultado nos dá uma maneira direta de determinar se um subconjunto de


R é fechado, sem ter que determinar o seu complementar.

Proposição 5.35 Seja X ⊂ R. X é fechado ⇔ X = X. Consequentemente X é fechado⇔


X0 ⊂ X

Prova. (⇒) Devemos provar que X = X, para isto basta provar que X 0 ⊂ X.
Suponhamos por absurdo que X 0 * X, isto é, ∃a ∈ X 0 tal que a ∈ / X ⇒ a ∈ X C . Assim
como X é fechado e portanto X C é aberto, segue que ∃r > 0 tal que Vr (a) ⊂ X C ⇒
Vr (a) ∩ X = ∅ ⇒ Vbr (a) ∩ X = ∅, o que é um absurdo, já que a ∈ X 0 . Portanto X 0 ⊂ X ⇒
X = X.
(⇐) Devemos provar que X C é aberto, para isso basta provar que todo ponto de X C
é ponto interior. Seja x ∈ X C ⇒ x ∈ / X ⊃ X 0 e portanto x ∈ / X 0 ⇒ ∃r > 0 tal que
Vbr (x) ∩ X = ∅ ⇒ Vbr (x) ⊂ X , mas como x ∈ X então Vr (x) ⊂ X C , o que implica que
C C

x é ponto interior de X C e como x é qualquer, segue que X C é aberto e portanto X é


fechado. ¤

Exemplo 5.36 Se X = [a, b] ou X = (a, b) com a < b então X 0 = [a, b] . Assim, em


ambos os casos, X = [a, b]. Logo, [a, b] é fechado.

Exemplo 5.37 Se X = {1} ∪ [−1, 0) ∪ (2, 5] então 1 não é ponto de acumulação apesar
de pertencer a X. Temos X 0 = [−1, 0] ∪ [2, 5] e portanto X = [−1, 0] ∪ [2, 5] ∪ {1}. Logo
X não é fechado nem aberto.

1
Exemplo 5.38 Considerando X = { ; n ∈ N} tem-se que X 0 = {0} e portanto X =
n
1
{ ; n ∈ N} ∪ {0} assim X não é fechado nem aberto.
n
Definição 5.39 Seja X ⊂ R. Dizemos que x ∈ R é um ponto fronteira de X quando
para todo r > 0, (a − r, a + r) ∩ X 6= ∅ e (a − r, a + r) ∩ X C 6= ∅. Denotamos por ∂X o
conjunto dos pontos fronteira de X.

Exemplo 5.40 Seja X = {1} ∪ [−1, 0) ∪ (2, 5] então ∂X = {−1, 0, 1, 2, 5}.


5.2. LIMITE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL 69

1
Exemplo 5.41 Seja X = { ; n ∈ N} então ∂X = X.
n
Definição 5.42 Seja X ⊂ R. Dizemos que X é um conjunto compacto quando X é
fechado e limitado.

Exemplo 5.43 X = [−1, 3] é compacto já que X é limitado e fechado.

Exemplo 5.44 X = {1} ∪ [−1, 0] ∪ [2, 5] é compacto pois é fechado e limitado.


1
Exemplo 5.45 X = { ; n ∈ N} não é compacto, pois apesar de ser limitado, já que
n
1
0 < ≤ 1, ∀n ∈ N, X não é fechado. Assim, inf X = 0 ∈
/ X.
n
Estes são os conceitos necessários para o estudo do conceito de limite que veremos a
seguir.

5.2 Limite de função de uma variável


Consideremos um viajante que sai de São José dos Campos e deve chegar ao Rio de
Janeiro de ônibus às 20:00h. Ele observa que às 19:00h êle havia percorrido 270km, às
19:15 havia percorrido 290km de distância, às 19:30h, 310km até que às 20:00 ele chega
ao Rio, tendo percorrido 350km. Este é um processo de limite, onde podemos dizer que
a distância percorrida tendeu a 350km quando o tempo tendeu a 20:00h.
Ainda, se observarmos que um carro das 8:00h às 8:15h percorreu uma distancia de
20km, das 8:00h às 8:10 percorreu 12km, das 8:00h às 8:05 percorreu 5km e das 8:00 às
8:01 percorreu 1km, podemos dizer que a velocidade deste carro às 8:00h era de 60km/h.
Novamente estamos diante de um processo de limite, pois a velocidade no instante t0 = 8 :
00h é o limite da velocidade média, quando o tempo de percurso tende a zero, lembrando
que a velocidade média é igual a distância percorrida dividida pelo tempo em que esta foi
percorrida.
x2 − 1
Consideremos então a função f : R\{1} → R definida por f (x) = . É claro que
x−1
esta função não está definida para x = 1. No entanto pode-se fazer a seguinte tabela de
valores para f (x) à medida que tomamos x cada vez mais próximo de 1. Vejamos:

x 0 0, 5 0, 7 0, 9 0, 99 0, 999
f (x) 1 1, 5 1, 7 1, 9 1, 99 1, 999

Pode-se concluir que à medida que x se aproxima de 1, por valores menores que 1, f (x)
se aproxima de 2. Analogamente, quando x se aproxima de 1 por valores maiores que 1,
f (x) também se aproxima de 2, como mostra a tabela abaixo.

x 2 1, 7 1, 5 1, 3 1, 09 1, 001
f (x) 3 2, 7 2, 5 2, 3 2, 09 2, 001
70 CAPÍTULO 5. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL

Observe que 1 não pertence ao domínio de f, no entanto, tão próximo de 1 quanto se


queira existem pontos do domínio de f, ou seja, 1 é um ponto de acumulação do domínio
de f.
Observe ainda que se quisermos que f (x) esteja a uma distância de 2, menor que 0, 001,
basta tomarmos x tal que sua distância de 1 seja menor que 0, 001, isto é, |f (x) − 2| <
0, 001, desde que 0 < |x − 1| < 0, 001. É necessário que |x − 1| > 0, pois |x − 1| = 0 ⇔
x = 1 e f (1) não está definida. Para uma melhor compreensão vejamos o gráfico desta
função:

Daremos a seguir a definição rigorosa de limite e algumas propriedades.

Definição 5.46 Sejam f : D → R, a ∈ D0 e l ∈ R. Dizemos que o limite de f (x) é


igual a l, quando x tende a a, denotado por lim f (x) = l, quando dado ε > 0, existe
x→a
δ > 0 tal que ∀x ∈ D com 0 < |x − a| < δ, tem-se que |f (x) − l| < ε. Ou seja, dado
ε > 0, existe δ > 0 tal que ∀x ∈ D ∩ Vbδ (a) , tem-se que f (x) ∈ Vε (l) .

Exemplo 5.47 Tem-se que lim x = a, ∀a ∈ R, pois dado ε > 0, existe δ = ε > 0, tal que
x→a
∀x ∈ Vbδ (a) obtem-se que x = f (x) ∈ Vbε (a) ⊂ Vε (a) .
ε
Exemplo 5.48 lim x2 = a2 , para todo a ∈ R, pois dado ε > 0, existe δ = min{1, },
x→a 1 + 2 |a|
tal que para todo x ∈ R com 0 < |x − a| < δ, tem-se que |x + a| ≤ |x − a| + 2 |a| <
δ + 2 |a| ≤ 1 + 2 |a| , pois δ ≤ 1. Além disso,
¯ 2 ¯ ε
¯x − a2 ¯ = |x − a| |x + a| < δ (1 + 2 |a|) ≤ (1 + 2 |a|) = ε,
1 + 2 |a|
o que implica o resultado, isto é, lim x2 = a2 .
x→a

Nota 5.49 O significado da definição é o seguinte: Pode-se tornar f (x) tão próximo de
l quanto se queira, desde que x esteja suficientemente próximo de a, mas diferente de a.
Assim, é claro que o valor de δ depende de ε e também, na maioria das vezes, do ponto
a, como mostra o exemplo a seguir.
5.2. LIMITE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL 71

1
Exemplo 5.50 Considere f : (0, +∞) → R, definida por f (x) = . Assim, considere
x
ε = 0, 008 e a = 2, tomando δ = 0, 016 tem-se que para todo x ∈ (0, +∞) , com 0 <
1 1 1 1 1 1 1
|x − 2| < δ ⇒ 1, 984 < x < 2, 016 ⇒ < < ⇒ − < − <
2, 016 x 1,¯ 984 ¯ 2, 016 2 x 2
1 1 ¯ 1 1 ¯
− . Portanto fazendo as contas, obtém-se que ¯¯ − ¯¯ < 0, 008. No entanto se
1, 984 2 x 2
1
tomarmos a = , verifique que o δ obtido acima não serve considerando o mesmo ε, pois
2 ¯ ¯ ¯ ¯
¯ 1 ¯ ¯1 ¯
se tomarmos x = 0, 51 tem-se que 0 < ¯¯x − ¯¯ = 0, 01 < 0, 016 e no entanto ¯¯ − 2¯¯ =
2 x
2 1
> 0, 03 > 0, 008. Na realidade para a = e ε = 0, 008, deve-se tomar δ = 0, 001, isto é
51 2
1 1
quase dez vezes menor.(Verifique!). Mostremos pela definição que lim = , ∀a ∈ R\{0}.
x→a x a
|a| ε |a|2
De fato, pois dado ε > 0, tomando δ = min{ , } > 0 segue que ∀x ∈ R\{0}∩ Vbδ (a) ,
2 2
tem-se que
¯ ¯
¯ 1 1 ¯ |x − a| 2δ
¯ − ¯= < 2 ≤ ε.
¯x a¯ |x| |a| |a|
Observe que δ depende de ε e de a.

Nota 5.51 O limite de uma função num determinado ponto de acumulação, a, do domínio
desta, apresenta o comportamento da função em pontos próximos de a, mas não nos diz
nada sobre o valor da função neste ponto, que pode nem mesmo existir ou se existir pode
ser diferente do valor do limite. Por exemplo:

⎨ x3 − 8
, se x 6= 2
Seja f : R → R, definida por f (x) = x − 2 . Pode-se observar que à
⎩ 4, se x = 2
medida que x se aproxima de 1, tanto por valores maiores que 2, tanto por valores menores
que 1, f (x) se aproxima de 3 6= f (1). Vejamos o gráfico desta função para uma melhor
compreensão.
72 CAPÍTULO 5. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL


⎪ x3 − 8
⎨ 2 , se x 6= ±2
Exemplo 5.52 Seja f : R → R, definida por f (x) = x −4 . Nova-

⎪ 1, se x = 2
⎩ 0, se x = −2
mente, pode-se observar que à medida que x se aproxima de 2, tanto por valores maiores
que 2, tanto por valores menores que 2, f (x) se aproxima de 3 6= f (2). No entanto, quando
x se aproxima de −2, por valores menores que −2, pode-se verificar que f (x) decresce in-
definidamente, ou seja, não se qproxima de nenhum valor real, apesar da função estar
definida neste ponto. Provemos, usando a definição, que lim f (x) = 3. De fato, para cada
x→2

ε > 0, tomando δ = min{1, } > 0, segue que para todo x ∈ R com 0 < |x − 2| < δ
4
tem-se que:
¯ 3 ¯ ¯ 2 ¯ ¯ 2 ¯
¯x − 8 ¯ ¯ x + 2x + 4 ¯ ¯x − x − 2¯
|f (x) − 3| = ¯¯ 2 − 2¯¯ = ¯¯ − 3¯¯ = ¯¯ ¯,
x −4 x+2 x+2 ¯
pois x 6= 2 e portanto pode-se fazer a divisão por x − 2. Ainda, como |x − 2| < δ ≤ 1 ⇒
−1 < x − 2 < 1 ⇒ 1 < x < 3, logo,
¯ 2 ¯
¯ x − x − 2 ¯ |x + 1| |x − 2| |x + 1| 4
¯
|f (x) − 3| = ¯ ¯= <δ < δ ≤ ε,
x+2 ¯ |x + 2| |x + 2| 3
o que prova que lim f (x) = 3.
x→2

Nota 5.53 A definição de limite não nos fornece uma maneira de calculá-lo, apenas de
verificar se o valor dado é ou não limite de uma determinada função, num determinado
ponto. Por isso daremos algumas propriedades que nos permitirão fazê-lo, mas antes disso
necessitamos de alguns resultados que serão enunciados a seguir.

Proposição 5.54 Seja f : D → R, a ∈ D0 e l ∈ R. Se lim f (x) = l então:


x→a

a) O limite é único.
b) Existem δ > 0 e M > 0 tais que |f (x)| ≤ M, ∀x ∈ (a − δ, a + δ) ∩ D.
c) (Teorema de conservação de sinal) Se l 6= 0 existe δ > 0 tal que f (x)l > 0 para todo
x ∈ D ∩[(a − δ, a + δ) \{a}]. Ou seja f (x) tem o mesmo sinal de l numa vizinhança
de a.
d) Se l 6= 0 existem δ > 0 e K > 0 tais que |f (x)| > K para todo x ∈ D∩{(a − δ, a + δ) \{a}}.

Prova. Provaremos apenas o ítem (b) desta proposição, pois as demonstrações são
análogas a que foram feitas para sequências.
(b) Como lim f (x) = l, dado ε = 1, existe δ > 0 tal que |f (x) − l| < 1, ∀x ∈
x→a
D∩[(a − δ, a + δ) \{a}] ⇒ |f (x)| < 1+|l| , ∀x ∈ D∩[(a − δ, a + δ) \{a}]. Assim, podemos
agora dividir em dois casos:
5.2. LIMITE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL 73

10 caso: a ∈
/ D. Então D ∩ [(a − δ, a + δ) \{a}] = Df ∩ (a − δ, a + δ) , logo |f (x)| <
1 + |l| = M, ∀x ∈ D ∩ (a − δ, a + δ) , como queríamos demonstrar.
20 caso: a ∈ D. Então tomando M = max{1 + |l| , |f (a)|} tem-se que |f (x)| ≤ M,
∀x ∈ D ∩ (a − δ, a + δ) , como queríamos demonstrar. ¤

Proposição 5.55 Sejam f, g : D → R, a ∈ D0 . Suponhamos que lim f (x) = 0 e existe


x→a
b
r > 0 tal que g é limitada em Vr (a) ∩ D. Então lim (f g) (x) = 0.
x→a

Prova. Como g é limitada em Vbr (a) ∩ D então existe K > 0 tal que |g(x)| ≤ K,
∀x ∈ Vbr (a) ∩ D. Como lim f (x) = 0 então ∀ε > 0 existe δ > 0 tal que ∀x ∈ D ∩ Vbδ (a)
x→a
ε
tem-se que |f (x)| < . Assim, tomando δ1 = min{δ, r} > 0 segue que ∀x ∈ Vbδ1 (a) ∩ D
K
ε
tem-se que |g(x)f (x)| = |g(x)| |f (x)| ≤ K |f (x)| < K = ε ⇒ lim (f g) (x) = 0. ¤
K x→a

µ ¶ ¯ µ ¶¯
1 ¯ 1 ¯¯
Exemplo 5.56 lim x sen = 0 pois ¯¯sen ≤ 1, para todo x ∈ R\{0} e lim x = 0.
x→0 x x ¯ x→0

µ ¶ ¯ µ ¶¯
1 ¯ 1 ¯
2
Exemplo 5.57 lim (x − 1) cos ¯
= 0, pois ¯cos ¯ ≤ 1, ∀x ∈ R\{1}.
x→1 x−1 x−1 ¯
ε
Ainda lim (x2 − 1) = 0, já que dado ε > 0, existe δ = min{1, } > 0 tal que ∀x ∈ R, com
x→1 2
0 < |x − 1| < δ, tem-se que 0 < x + 1 < 2 e portanto
¯ 2 ¯
¯x − 1¯ = |x − 1| (x + 1) < 2 |x − 1| < 2δ ≤ ε.

Teorema 5.58 Seja f : D → R, a ∈ D e l ∈ R. Então, lim f (x) = l ⇔ qualquer que seja


x→a
(xn ) ⊂ D, xn 6= a, ∀n ≥ n0 , para algum n0 ∈ N, com xn → a tem-se que f (xn ) → l.

Prova. (⇒) Exercício.


(⇐) Suponhamos por absurdo que lim f (x) 6= l . Então existe ε > 0 tal que para todo
x→a
δ > 0 existe x ∈ D com 0 < |xδ − a| < δ e tal que |f (xδ ) − l| ≥ ε. Portanto, existe ε > 0
1
tal que para cada n ∈ N existe xn ∈ D com 0 < |xn − a| < e tal que |f (xn ) − l| ≥ ε.
n
Assim construímos (xn ) ⊂ D com xn 6= a, ∀n ∈ N e xn → a e tal que (f (xn )) não converge
para l, o que contradiz a hipótese. Assim, lim f (x) = l. ¤
x→a

Nota 5.59 É claro que este teorema só deverá ser usado teoricamente, como veremos
mais adiante ou para mostrar que uma função não tem limite em algum ponto de acumu-
lação, como é o caso do exemplo abaixo. Também pode ser usado para calcular limite de
sequências a partir do conhecimento do limite de funções.
74 CAPÍTULO 5. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL

1
Exemplo 5.60 Seja f : R\{0} → R, definida por f (x) = sen . Apesar de |f (x)| ≤ 1,
x
∀x ∈ R, x 6= 0, isto é, a função f é limitada, vamos provar que não existe lim f (x),
x→0
1
usando a caracterização por sequências. Considere xn = . É claro que xn 6= 0, ∀n ∈ N

e xn → 0. A sequência f (xn ) = 0, ∀n ∈ N e portanto f (xn ) → 0. Se considerarmos
1
yn = , também temos que yn 6= 0, ∀n ∈ N, yn → 0 e no entanto f (yn ) =
(π/2) + 2nπ
1, ∀n ∈ N ⇒ f (yn ) → 1. Segue portanto do teorema anterior que não existe lim f (x), pois
x→0
o limite quando existe é único. Observe no gráfico abaixo, que quando x → 0, a função
assume todos os valores no intervalo [−1, 1].

1
Exemplo 5.61 Seja f : R\{0} → R, definida por f (x) = . Então @ lim f (x) pois se
x x→0
1
considerarmos xn = ∈ R\{0}, ∀n ∈ N, xn → 0 e no entanto f (xn ) = n → +∞ e
n
portanto não se aproxima de nenhum valor real.
Nota 5.62 Observe que nos dois exemplos acima o limte não existe, mas por diferentes
razões. No primeiro exemplo a função é limitada, mas o limite não existe pois à medida
que x se aproxima de 0, a função pode se aproximar de qualquer valor no intervalo [−1, 1] .
No segundo exemplo a função não possui limite pois não é limitada.
µ ¶
ln (n)
Exemplo 5.63 Determine o limite da seqüência . Sabendo que lim ln x = 0
√ √ n x→1
(exercício abaixo) e que n → 1, com n > 1, ∀n ≥ 2 segue do teorema acima que
n n

ln (n) √
= ln n n → 0.
n
¡ ¢ 1
Exemplo 5.64 A sequência e(sen n)/n converge para 1, pois (sen n) é limitada, → 0,
n
sen n sen n
portanto → 0, 6= 0, para todo n ∈ N e lim ex = 1, logo o resultado segue do
n n x→0
teorema acima.
Exercício 1
Seja A ⊂ . Mostre que A é aberto  para toda sequência de números
reais x n  que converge para um a ∈ A tem-se que existe n 0 ∈ ℕ tal que x n ∈ A,
∀n ≥ n 0 .
Solução:  Para provarmos que A é aberto, devemos provar que todo
elemento de A é interior. Suponhamos por absurdo que A não é aberto, isto implica
que existe a ∈ A tal que a não é ponto interior de A, isto é, para todo r  0 existe
x r ∈ a − r, a  r, tal que x r ∉ A. Assim, para todo n ∈ ℕ, existe
xn ∈ a − 1 1
n , a  n tal que x n ∉ A. Logo construímos uma sequência x n  tal que
x n → a e x n ∉ A, ∀n ∈ ℕ, o que contradiz a hipótese. Logo A é aberto.
 Por hipótese A é aberto. Seja x n  ⊂  tal que x n → a, onde
a ∈ A. Como A é aberto existe r  0 tal que a − r, a  r ⊂ A e da convergência da
sequência existe n 0 ∈ ℕ tal que |x n − a|  r, ∀n ≥ n 0 , o que implica que
x n ∈ a − r, a  r ⊂ A, ∀n ≥ n 0 .
Exercício 2
Seja B ⊂  um subconjunto aberto da reta e x ∈ . Mostre que
x  B  x  b, b ∈ B é aberto.
Solução: Seja y ∈ x  B  y  x  b, para algum b ∈ B. Como B é aberto existe
r  0 tal que b − r, b  r ⊂ B, ou seja ∀z ∈  tal que |z − b|  r  z ∈ B. Portanto
∀w ∈ , com |w − x  b|  r temos que |w − x − b|  r  w − x ∈ b − r, b  r ⊂ B
e como w  x  w − x temos que w ∈ x  B  x  b − r, x  b  r ⊂ x  B e
portanto x  B é aberto.
Exercício 3
Sejam X, Y ⊂ . Mostre que:
a) intX ∩ Y  intX ∩ intY.
b) intX  Y ⊃ intX  intY. Dê um exemplo onde não vale a
igualdade.
c) X  Y  X  Y .
d) X ∩ Y ⊂ X ∩ Y . Dê um exemplo onde não vale a igualdade.
Solução: a) Devemos mostrar a dupla inclusão. Seja x ∈ intX ∩ Y, então da
definição de interior de um conjunto, segue que existe r  0 tal que
x − r, x  r ⊂ X ∩ Y  x − r, x  r ⊂ X e x − r, x  r ⊂ Y e portanto
x ∈ intX ∩ intY. Logo intX ∩ Y ⊂ intX ∩ intY. Considere então
y ∈ intX ∩ intY. Então existem r  0 e s  0 tais que y − r, y  r ⊂ X e
y − s, y  s ⊂ Y. Tomando t  minr, s  0 temos que y − t, y  t ⊂ y − r, y  r e
y − t, y  t ⊂ y − s, y  s  y − t, y  t ⊂ X ∩ Y  y ∈ intX ∩ Y. Logo
intX ∩ Y ⊃ intX ∩ intY. Assim, da dupla inclusão, segue a igualdade.
resolucao b) Seja x ∈ intX  intY, então ou x ∈ intX ou x ∈ intY. Se
x ∈ intX então existe r  0 tal que
x − r, x  r ⊂ X  x − r, x  r ⊂ X  Y  x ∈ intX  Y. Analogamente, se
x ∈ intY, prova-se que x ∈ intX  Y.
Considere X  0, 2 e Y  2, 5 então intX  X  0, 2 e
intY  2, 5  intX  intY  0, 5\2. Ainda
X  Y  0, 5  intX  Y  0, 5. Assim, intX  Y  intX  intY.
c) Novamente devemos provar a dupla inclusão. Considere
x ∈ X  Y  ∀r  0, x − r, x  r ∩ X  Y ≠ . Das propriedades de interseção e
união, temos que
x − r, x  r ∩ X  x − r, x  r ∩ Y ≠ , ∀r  0  x − r, x  r ∩ X ≠  ou
x − r, x  r ∩ Y ≠ , ∀r  0  x ∈ X  Y . Portanto X  Y ⊂ X  Y . Agora
tomemos y ∈ X  Y , isto implica que y ∈ X ou y ∈ Y . Se y ∈ X então ∀r  0,
x − r, x  r ∩ X ≠   ∀r  0, x − r, x  r ∩ X  Y ≠   y ∈ X  Y.
Analogamente se y ∈ Y , prova-se que y ∈ X  Y, o que implica que
X  Y ⊃ X  Y . Da dupla inclusão, segue a igualdade.
d) Seja x ∈ X ∩ Y  ∀r  0,
x − r, x  r ∩ X ∩ Y ≠   x − r, x  r ∩ X ≠  e x − r, x  r ∩ Y ≠ , logo
x ∈ X ∩ Y.
Considere X  0, 2 e Y  2, 5, temos que X  0, 2 e
Y  2, 5  X ∩ Y  2. No entanto X ∩ Y    X ∩ Y  . Logo,
X ∩ Y  X ∩ Y.
Exercício 4
Mostre por definição que
lim x  1  −2.
x→1 x − 2

Solução: Dado   0, devemos encontrar   0 tal que para todo x ∈ \2


com 0  |x − 1|  , tem-se que
x  1  2  .
x−2
Para isso, devemos antes de iniciar a demonstração, fazer um rascunho para
encontrar , em função de . Vejamos:
|x − 1|
Rascunho: x  1  2  3x − 3  3  3 . Assim, para
x−2 x−2 |x  2| |x  2|
determinarmos  em função de , basta limitarmos 1 , isto é basta limitarmos
|x  2|
inferiormente |x  2|. Para isso, devemos limitar , pois se  for grande poderá
haver no intervalo 1 − , 1  , pontos próximos de −2 e então o denominador
tenderá a 0, o que não deixará a fração limitada. Assim, tomemos 0    1. Logo
para todo x ∈ \2 tal que
0  |x − 1|    1  −1  x − 1  1  0  x  2  2  x  2  4 e portanto
|x  2|  2, ∀x ∈ \2 tal que 0  |x − 1|  . Assim, para estes valores de x,
tem-se que x  1  2  3  3  ≤ .
x−2 |x  2| 2
Assim, voltando à solução, temos que: Dado   0, tomemos
2
  min1,   0, então para todo x ∈ \2 tal que 0  |x − 1|  , tem-se que
3
x  1  2  3x − 3  3 |x − 1|  3  3  ≤ .
x−2 x−2 |x  2| |x  2| 2
O que implica que lim x→1 x  1  −2.
x−2
Exercício 5
Analise se existe ou não o seguinte limite
lim sen1/x e x .
x→0

Solução: Considere as sequências x n  e y n  definidas por x n  1 e


2n
yn  2 , que são tais que x n → 0, y n → 0 e são ambas estritamente positivas.
  4n
Assim, sen1/x n  e x n  0 → 0, enquanto que sen1/y n  e y n  e y n → 1, pois lim e x  1.
x→0
Portanto da unicidade do limite, segue que ∄ lim sen1/x e . x
x→0
Exercício 6
Prove que existe   0 tal que para todo x ∈ 1 − , 1   tem-se que
x  3x − 2  1 .
5

x2  1 2
Rascunho: Faremos um rascunho para determinarmos . Primeiramente
vejamos que
x 5  3x − 2  x 5  3x − 2x 2 − 2  x 5 − x 2  x − x 2  2x − 2 
x2  1 x2  1 x2  1
x x − 1x  x  1 − xx − 1  2x − 1
2 2
 
x2  1
 x2 − 1 x 2 x 2  x  1 − x  2.
x 1
Portanto,
x 5  3x − 2  |x − 1| |x 2 x 2  x  1 − x  2| ≤
x2  1 x2  1
≤ |x − 1|x 4  |x 3 |  x 2  |x|  2  x 4  |x 3 |  x 2  |x|  2.
Assim, se tomarmos   1, tem-se que se x ∈ 1 − , 1  , então 0  x  2 e
portanto
x 4  |x 3 |  x 2  |x|  2  32,
logo
x 4  |x 3 |  x 2  |x|  2  32.
Como queremos que x 2  3x − 2  1 , basta tomar , de modo que 32  1 ,
5

x 1 2 2
ou seja   1 .
64
Vejamos então a solução:
Solução: Tomando   1 , tem-se que 0    1, logo
64
x 4  |x 3 |  x 2  |x|  2  32.
Portanto, para todo x ∈ 1 − , 1  , tem-se que
x 5  3x − 2 ≤ |x − 1|x 4  |x 3 |  x 2  |x|  2  32  1 .
x2  1 2
5.2. LIMITE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL 75

5.2.1 Lista de Exercícios


Exercício 5.65 Dadas as funções abaixo, determine seu domínio D e analise se é aberto,
fechado ou nem aberto nem fechado. Determine ainda D0 , D0 e ∂D.

a) f (x) = 4
x

x2 + 3x + 2
b) f (x) =
ln (−x2 − x − 6)

c) f (x) = x2 + 5x + 4 ln (x2 + x − 6)

Exercício 5.66 Mostre que a união qualquer(finita ou infinita) de conjuntos abertos é


um conjunto aberto.

Exercício 5.67 Mostre que a interseção finita de conjuntos abertos é um conjunto aberto.

Exercício 5.68 Dê um exemplo de um número infinito de conjuntos abertos, cuja inter-


seção não é um conjunto aberto.

Exercício 5.69 Mostre que a interseção qualquer (finita ou infinita) de conjuntos fecha-
dos é um conjunto fechado.

Exercício 5.70 Mostre que a união finita de conjuntos fechados é um conjunto fechado.

Exercício 5.71 Dê um exemplo de um número infinito de conjuntos fechados cuja união


não é um conjunto fechado.

Exercício 5.72 Seja A ⊂ R.. Mostre que a ∈ A0 ⇔ existe uma seqüência (an ) tal que
an ∈ A, an 6= a, ∀n ∈ N e an → a.

Exercício 5.73 Mostre que que F é fechado ⇔ Para toda sequência (xn ) tal que xn ∈ F,
∀n ∈ N e xn → x então x ∈ F.

Exercício 5.74 Seja A um subconjunto compacto de R. Mostre que sup A, inf A ∈ A, ou


seja, sup A = max A e inf A = min A.

Exercício 5.75 Mostre, por definição que:

a) lim (αx + β) = αa + β.
x→a

b) lim sen x = 0.
x→0

c) lim ex = 1.
x→0

d) lim ln x = 0.
x→1
76 CAPÍTULO 5. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL
√ √
e) lim n x = n a, para n ∈ N, n ímpar.
x→a

√ √
f) lim , m
x = m a, para cada m ∈ N, m par e a ≥ 0.
x→a

Exercício 5.76 Sejam f : D → R, a ∈ D0 e l ∈ R. Prove que lim f (x) = l ⇔


x→a
lim |f (x) − l| = 0.
x→a

Exercício 5.77 Seja f : D → R, a ∈ D0 e l ∈ R tais que lim f (x) = l. Prove que


x→a
lim [f (x)]n = ln , para cada n ∈ N.
x→a

Exercício 5.78 Sejam f, g : D → R, a ∈ D0 e l1 , l2 ∈ R. Suponha que l1 < l2 . Mostre


que ∃δ > 0 tal que f (x) < g(x), ∀x ∈ D ∩ Vbδ (a) . Dê um exemplo de duas funções f e
g tais que f (x) < g(x), ∀x ∈ D e tais que lim f (x) = lim g(x), para algum a ∈ D0 . Este
x→a x→a
exemplo mostra que a recíproca do resultado não é verdadeira.

Exercício 5.79 Sejam f, g : D → R, a ∈ D0 e l1 , l2 ∈ R tais que lim f (x) = l1 e


x→a
lim g(x) = l2 . Se ∃δ > 0 tal que f (x) ≤ g(x), ∀x ∈ D ∩ {(a − δ, a + δ) \{a}}. Mostre que
x→a
l1 ≤ l2 .

Exercício 5.80 Sejam f, g : D → R, a ∈ D0 e g (x) 6= 0, ∀x ∈ D. Suponha que


f (x)
lim = 0. Prove que existe δ > 0 tal que
x→a g (x)

|f (x)| < |g (x)| , ∀x ∈ D ∩ [(a − δ, a + δ) \{a}] .

Exercício 5.81 Sejam X, Y, Z subconjuntos de R tais que X = Y ∪Z. Considere f : X →


R, a ∈ Y 0 e a ∈ Z 0 . Definindo g = f |Y e h = f |Z . Mostre que lim f (x) = l ⇔ lim g(x) = l
x→a x→a
e lim h(x) = l.
x→a
5.2. LIMITE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL 77

5.2.2 Operações com limites


A partir do teorema de caracterização de limite por sequências, todas as operações que
valem para sequências também são válidas para limite de funções, as quais enunciaremos
a seguir. A demonstração destas operações podem ser feitas diretamente da definição de
limite ou utilizando a caracterização de limite por sequências e utilizando as propriedades
já demonstradas para sequências.

Proposição 5.82 Sejam f, g : D → R, a ∈ D0 e l1 , l2 ∈ R tais que lim f (x) = l1 e


x→a
lim g(x) = l2 . Então:
x→a

a) lim (f ± g) (x) = l1 + l2 .
x→a

b) lim (fg) (x) = l1 l2 .


x→a

f (x) l1
c) Se l2 6= 0 então lim = .
x→a g(x) l2

d) lim |f (x)| = |l1 | .


x→a

Nota 5.83 Como no caso de seqüências, a recíproca da proposição acima não é neces-
sariamente válida. No entanto, quando l1 = 0 então a recíproca do ítem (d) é válida, ou
seja, lim |f (x)| = 0 ⇔ lim f (x) = 0.
x→a x→a

Exemplo 5.84 Considere f (x) = x2 − 2x + 3, x ∈ R. Então como lim x = −1, segue


x→−1
das propriedades de limite que lim f (x) = (−1)2 − 2 (−1) + 3 = 2.
x→−1

µ¶ ¯ µ ¶¯
1 ¯ 1 ¯
2
Nota 5.85 lim (x − 2x − 3) sen = 0, pois ¯¯sen ¯ ≤ 1, ∀x ∈ R\{−1}
x→−1 x+1 x+1 ¯
e lim (x2 − 2x + 1) = 0. Observe que não se pode aplicar o ítem (c) da proposição acima
x→−1 µ ¶
1
pois sen é limitada, mas não admite limite em x = −1.
x+1

Um teorema bastante importante, pois nos permite fazer mudanças de variáveis nos
limites conhecidos, é o limite de composta de funções. Vejamos.

Teorema 5.86 Sejam f : Df → R, g : Dg → R, a ∈ Df0 , b ∈ Dg0 e l ∈ R tais que


lim f (x) = b, limg(y) = l e Im f ⊂ Dg . Suponhamos ainda que existe r > 0 tal que
x→a y→b
f (x) 6= b, ∀x ∈ Df ∩ Vbr (a). Então lim (g ◦ f ) (x) = l.
x→a
78 CAPÍTULO 5. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL

Prova. Como limg(y) = l então dado ε > 0, existe δ > 0 tal que para todo y ∈ Dg
y→b
com 0 < |y − b| < δ tem-se que |g(y) − l| < ε. Como lim f (x) = b então tomando δ > 0
x→a
encontrado acima, existe δ1 > 0 tal que para todo x ∈ Df com 0 < |x − a| < δ 1 tem-se
que |f (x) − b| < δ. Assim, tomando δ 2 = min{δ 1 , r} > 0 segue que para todo x ∈ Df com
0 < |x − a| < δ 2 obtém-se 0 < |f (x) − b| < δ ⇒ |g(f (x)) − l| < ε ⇒ lim (g ◦ f ) (x) = l.
x→a
¤

Nota 5.87 É importante notar que sem a hipótese de f (x) 6= b, ∀x ∈ Df ∩ Vbr (a)
poderíamos não ter o limite da composta ou mesmo este ser diferente de l. Vejamos dois
exemplos.

Exemplo 5.88 Sejam f, g : R → R definidas por


½
x + 1, x ∈ R\Q
f (x) = ,
1, x∈Q

⎨ x2 − 1
, x 6= 1
g(x) = x − 1 .
⎩ 0, x=1

⎨ x2 + 2x
Então lim f (x) = 1 e limg(y) = 2. No entanto, (g ◦ f ) (x) = , x ∈ R\Q e
x→0 y→1 ⎩ 0, x
x∈Q
portanto @lim (g ◦ f ) (x) . Isto porque @r > 0 tal que f (x) 6= 1, ∀x ∈ Vbr (0) .
x→0

⎨ x2 − 4
Exemplo 5.89 Sejam f, g : R → R definida por f (x) = 2 e g(x) = , x 6= 2 .
⎩ 0,x − 2
x=2
Então lim f (x) = 2, ∀a ∈ R e limg(y) = 4. No entanto (g ◦ f ) (x) = 0, ∀x ∈ R e portanto
x→a y→2
lim (g ◦ f ) (x) = 0 6= 4, ∀a ∈ R. O que não contradiz o teorema pois não existe r > 0 tal
x→a
que f (x) 6= 2, ∀x ∈ Vbr (a) .
³x´ ³x´
Exemplo 5.90 lim cos x = 1, pois cos x = cos 2 = 1 − 2 sen2 . Fazendo f (x) =
x→0 2 2
x
tem-se que lim f (x) = 0, f (x) 6= 0, ∀x 6= 0 e lim sen y = 0 (exercício abaixo), portanto
2 x→0 y→0
segue do teorema da composta, considerando g(y) = sen y, que lim (g ◦ f ) (x) = 0 =
³x´ x→0³ ³ x ´´
lim sen . Segue agora das operações de limite que lim cos x = lim 1 − 2 sen2 =
x→0 2 x→0 x→0 2
1.

Exemplo 5.91 Calculemos lim ex . Temos que ex = ea ex−a . Assim considerando f (x) =
x→a
x − a e g(y) = ey , segue do teorema da composta que lim ex−a = 1, pois lim f (x) = 0,
x→a x→a
5.2. LIMITE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL 79

f (x) 6= 0, ∀x 6= a e limg(y) = 1, (exercício abaixo), logo das operações de limite obtém-se


y→0
que lim ex = lim ea ex−a = ea .
x→a x→a

Um resultado importante, análogo ao que foi visto para sequências, é o teorema do


confronto, que pode ser demonstrado usando o teorema de caracterização de limite por
sequências e o próprio teorema do confronto para sequências e por isso será deixado como
exercício.

Teorema 5.92 Sejam f, g, h : D → R, a ∈ D0 e l ∈ R. Se lim f (x) = lim h(x) = l e


x→a x→a
b
f (x) ≤ g(x) ≤ h(x), ∀x ∈ D ∩ Vr (a) , para algum r > 0 então lim g(x) = l.
x→a

sen x
Exemplo 5.93 Limite fundamental: Calculemos lim , utilizando o teorema do con-
³ π´ x→0 x
fronto. De fato para x ∈ 0, tem-se que
2
x 1
0 < sen x < x < tg x ⇒ 1 < < .
sen x cos x
³ π ´
Ainda para x ∈ − , 0 tem-se que
2
x 1
tg x < x < sen x < 0 ⇒ 1 < < .
sen x cos x
Logo, para todo x ∈ Vbπ/2 (0) tem-se que
x 1 sen x
1< < ⇒ cos x < <1
sen x cos x x
sen x
e como lim 1 = 1 = lim cos x, segue do teorema do confronto que lim = 1.
x→0 x→0 x→0 x
sen x
Segue abaixo o gráfico da função f (x) = .
x
80 CAPÍTULO 5. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL

sen (x/2) x
Exemplo 5.94 Calculemos o lim . Consideremos a função f (x) = , ∀x ∈
x→0 x/2 2
sen x
R, então lim f (x) = 0 e f (x) 6= 0, ∀x ∈ R\{0}. Sabe-se ainda que lim = 1.
x→0 x→0 x
sen y
Portanto, considerando g(y) = , segue do teorema composta que lim (g ◦ f ) (x) = 1.
y x→0
sen (x/2)
Mas lim = lim (g ◦ f ) (x) = 1.
x→0 x/2 x→0

1 − cos x 1 ³x´ ³ ´
2 x
Exemplo 5.95 lim = , pois cos x = cos 2 = 1 − 2 sen . Assim,
x→0 x2 µ 2 ¶ 2 2
2
1 − cos x 2 sen2 (x/2) 1 sen(x/2) 1
2
= 2
= = .
x x 2 (x/2) 2

tg (x2 − 1) tg y 1 sen y
Exemplo 5.96 lim = 2, pois g (y) = = , ∀y ∈ Vbπ/2 (0) ⇒
x→1 x−1 y cos y y
tg y 1 sen y 1 sen y
lim = lim = lim lim = 1. Ainda f (x) = x2 − 1 é tal que
y→0 y y→0 cos y y y→0 cos y y→0 y
lim f (x) = 0, f (x) 6= 0, ∀x ∈ Vb1 (1) , portanto do teorema da composta tem-se que
x→1
tg (x2 − 1) tg (x2 − 1) tg (x2 − 1)
lim (g ◦ f ) (x) = lim = 1. Mas = (x + 1) e como
x→1 x→1 x2 − 1 x−1 x2 − 1
lim (x + 1) = 2, segue das operações de limites que
x→1

tg (x2 − 1) tg (x2 − 1)
lim = lim lim (x + 1) = 2.
x→1 x−1 x→1 x2 − 1 x→1

5.2.3 Limites laterais


⎧ 2
⎨ x − 1, x ≤ 1
Considere a função f : R → R definida por f (x) = ln x, 1 < x ≤ e , cujo gráfico

1 x>e
segue abaixo.
5.2. LIMITE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL 81

Se quisermos saber o limite de f quando x tende a 1, por exemplo, devemos analisar o


comportamento da função para valores de x próximos de 1 e maiores que 1 e para valores
menores que 1. E se estes limites forem iguais, pode-se concluir que o limite existe? Parece
intuitivo que sim e é o que veremos a seguir. Para isso daremos algumas definições.

Definição 5.97 Seja X um subconjunto não vazio de R.

a) Dizemos que a ∈ R é um ponto de acumulação à direita de X quando para todo


r > 0, tem-se que (a, a + r) ∩ X 6= ∅. Denotamos o conjunto de todos os pontos de
acumulação à direita de X por X+0 .

b) Dizemos que a ∈ R é um ponto de acumulação à esquerda de X quando para


todo r > 0, tem-se que (a − r, a) ∩ X 6= ∅. Denotamos o conjunto de todos os pontos
de acumulação à esquerda de X por X−0 .

Exemplo 5.98 Se X = [−2, 7] então X+0 = [−2, 7), pois (7, 7 + r) ∩ X = ∅, ∀r > 0 e
(a, a + r) ∩ X 6= ∅, ∀a ∈ [−2, 7).

Exemplo 5.99 Se X = (−1, 5] ∪ [9, +∞) então X+0 = [−1, 5) ∪ [9, +∞).

Definição 5.100 Sejam f : D → R, a ∈ (D)0+ e l ∈ R. Dizemos que f (x) tende a l


quando x tende a a pela direita, denotado por, lim+ f (x) = l, quando dado ε > 0 existe
x→a
δ > 0 tal que ∀x ∈ D ∩ (a, a + δ) obtém-se que |f (x) − l| < ε.

Nota 5.101 Da definição de limite à direita, pode-se notar que estamos apenas inter-
essados no comportamento da função em valores próximos de a, mas maiores que a.
Analogamente, define-se limite à esquerda.(Faça-o).

Nota 5.102 É claro que todos os resultados válidos para limite são também válidos para
limites laterais com as devidas modificações.(Pense nisso!)

Agora daremos o resultado que responde à pergunta inicial, isto é, se existem os limites
laterais e são iguais então o limite existe e é igual ao limite lateral?

Teorema 5.103 Sejam f : D → R e a ∈ (D)0+ ∩(D)0− . Então lim f (x) = l ⇔ lim+ f (x) =
x→a x→a
l = lim− f (x).
x→a

Prova. (⇒) Dado ε > 0, existe δ > 0 tal que ∀x ∈ D ∩ Vbδ (a) ⇒ |f (x) − l| < ε. Logo
∀x ∈ D ∩ (a, a + δ) tem-se que 0 < x − a = |x − a| < δ ⇒ |f (x) − l| < ε. Analogamente,
∀x ∈ D ∩ (a − δ, a) tem-se que 0 < a − x = |x − a| < δ ⇒ |f (x) − l| < ε. Portanto
lim+ f (x) = l = lim− f (x).
x→a x→a
(⇐) Dado ε > 0, existe δ 1 > 0 tal que ∀x ∈ D∩(a, a + δ 1 ) obtém-se que |f (x) − l| < ε.
Ainda existe δ 2 > 0 tal que ∀x ∈ D ∩ (a − δ 2 , a) obtém-se que |f (x) − l| < ε. As-
sim, tomando δ = min{δ 1 , δ2 } > 0, segue que ∀x ∈ D ∩ Vbδ (a) tem-se que x ∈ D ∩
82 CAPÍTULO 5. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL

[(a − δ, a) ∪ (a, a + δ)], logo se x ∈ D ∩ (a − δ, a) ⇒ x ∈ D ∩ (a − δ 2 , a) ⇒ |f (x) − l| < ε.


Ainda, se x ∈ D ∩ (a, a + δ) ⇒ x ∈ D ∩ (a, a + δ 1 ) ⇒ |f (x) − l| < ε. Portanto, ∀x ∈ D
com 0 < |x − a| < δ obtém-se que |f (x) − l| < ε, o que prova que lim f (x) = l. ¤
x→a

⎧ 2
⎨ x − 1, x≤1
Exemplo 5.104 Considere f : R → R definida por f (x) = ln x, 1<x≤e .

1 x>e
2
Então como lim+ f (x) = lim+ ln(x) = 0 e lim− f (x) = lim− x − 1 = 0 ⇒ lim f (x) = 0.
x→1 x→1 x→1 x→1 x→1
Ainda como lim+ f (x) = lim+ 1 = 1 e lim f (x) = lim ln x = ln e = 1 ⇒ limf (x) = 1.
x→e x→e x→e− x→e− x→e
Como pode se ver graficamente:

Exemplo 5.105 Seja f : R → R, definida por f (x) = [x] − x, onde [x] é o maior inteiro
menor ou igual a x. Assim, lim+ f (x) = 0 e lim− f (x) = −1 ⇒ @lim f (x). Segue abaixo o
x→1 x→1 x→1
gráfico de f.
5.2. LIMITE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL 83

5.2.4 Limites infinitos e limites no infinito


Vimos que uma função pode não ter limite num ponto de acumulação porque seus limites
laterais existem, mas são distintos ou porque a função oscila à medida que x se aproxima
do ponto de acumulação. Mas também pode acontecer da função não admitir limite
num ponto porque cresce indefinidamente ou decresce indefinidamente à medida que x se
1
aproxima do ponto de acumulação. Por exemplo f (x) = 2 , x 6= 0. Observe que à medida
x
que x tende a 0, f (x) cresce indefinidamente e portanto não se aproxima de nenhum
valor real. Neste caso, dizemos que lim f (x) = +∞, para indicar o comportamento de f,
x→0
próximo a 0. Vejamos então a definição.

Definição 5.106 Sejam f : D → R e a ∈ D0 .

a) Dizemos que f (x) tende a +∞ quando x tende a a, denotado por lim f (x) = +∞,
x→a
b
quando ∀M > 0, existe δ > 0 tal que ∀x ∈ D ∩ Vδ (a) ⇒ f (x) > M.
b) Dizemos que f (x) tende a −∞ quando x tende a a, denotado por lim f (x) = −∞,
x→a
quando ∀N < 0, existe δ > 0 tal que ∀x ∈ D ∩ Vbδ (a) ⇒ f (x) < N.

Nota 5.107 A definição também é válida para limites laterais com as devidas modifi-
cações.
1
Exemplo 5.108 Considerando f (x) = 2 , x 6= 0, segue que lim f (x) = +∞, pois ∀M >
x x→0
1 1 1
0, existe δ = √ > 0, tal que ∀x ∈ Vbδ (0) ⇒ 0 < x2 < δ2 ⇒ 2 > 2 = M.
M x δ

Exemplo 5.109 lim+ ln x = −∞ pois ∀N < 0, existe δ = eN > 0 tal que ∀x ∈ (0, δ)
x→0
⇒ ln x < ln δ = N. Assim, ln x < N, ∀x ∈ (0, δ) .

Exemplo 5.110 lim e1/x


+
= +∞, pois ∀M > 0, considere M 0 = max{M, e} e δ =
x→0
1 1 1
0
> 0. Assim, ∀x ∈ (0, δ) tem-se que 0 < x < δ ⇒ > = ln M 0 ⇒ e1/x >
ln M x δ
e1/δ = M 0 ≥ M.

Quando desejamos traçar o gráfico de uma função e o domínio desta não é limitado
superiormente ou inferiormente, precisamos saber como se comporta a função quando x
cresce indefinidamente ou decresce indefinidamente. Estes são os chamados limites no
"infinito", cuja definição veremos a seguir.

Definição 5.111 Seja f : D → R, tal que D não é limitado superiormente.

a) Dizemos que lim f (x) = l ∈ R quando ∀ε > 0, ∃K > 0 tal que ∀x ∈ D com x > K
x→+∞
tem-se que |f (x) − l| < ε.
84 CAPÍTULO 5. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL

b) Dizemos que lim f (x) = +∞ quando ∀M > 0, ∃K > 0 tal que ∀x ∈ D com x > K
x→+∞
tem-se que f (x) > M.
c) Dizemos que lim f (x) = −∞ quando ∀N < 0, ∃K > 0 tal que ∀x ∈ D com x >
x→+∞
K tem-se que f (x) < N.

Nota 5.112 Analogamente, define-se os casos acima quando x decresce indefinidamente,


isto é, x → −∞, e deixamos a cargo do aluno escrever tais definições..

Nota 5.113 Quando temos o caso (a) da definição acima, as propriedade vistas anteri-
ormente para limite são válidas, com as devidas modificações.

Exemplo 5.114 lim ln x = +∞, pois ∀M > 0, ∃K = eM > 1 tal que ∀x ∈ R com
x→+∞
x > K ⇒ ln x > ln K = M.
1
Exemplo 5.115 lim ex = 0, pois ∀ε > 0, considere ε0 = min{ε, } > 0 e tome K =
x→−∞ 2
ln ε0 < 0, então ∀x < K ⇒ 0 < ex < eK = ε0 ≤ ε, isto é, |ex | < ε.

Exemplo 5.116 lim x3 = −∞, pois ∀N < 0, ∃K = 3 N < 0, tal que ∀x ∈ R com
x→−∞
x < K ⇒ x3 < K 3 = N.
µ ¶x
1
Exemplo 5.117 Calculemos lim 1 + .
x→+∞ x
µ ¶n µ ¶n+1 µ ¶n µ ¶
1 1 1 n+1
Sabemos que lim 1 + = e . Assim, como 1 + = 1+
n→+∞ n n n n
µ ¶n µ ¶n+1 µ ¶
1 1 n+1
e 1+ = 1+ , obtemos
n+1 n+1 n+2
µ ¶n+1 µ ¶n
1 1
lim 1 + = e = lim 1 + .
n→+∞ n n→+∞ n+1
Assim, dado ε > 0, existe K ∈ N tal que ∀n ∈ N com n ≥ K tem-se que
¯µ ¶n+1 ¯ ¯µ ¶n ¯
¯ 1 ¯ ¯ 1 ¯
¯ ¯ ¯
¯ 1+ − e¯ < ε e ¯ 1 + − e¯¯ < ε.
¯ n ¯ n+1

Para cada x ∈ R com x > K, existe n ≥ K tal que n ≤ x < n + 1 e portanto


µ ¶n+1 µ ¶x µ ¶n
1 1 1
1+ > 1+ > 1+ ,
n x n+1
o que implica que
¯µ ¶x ¯ (¯µ ¶n+1 ¯ ¯µ ¶n ¯)
¯ 1 ¯ ¯ 1 ¯ ¯ 1 ¯
¯ 1+ ¯
¯ < max ¯ 1 + ¯ ¯ 1+ ¯ < ε.
¯ − e¯ − e¯ , − e
x ¯ n ¯ ¯ n+1 ¯
5.2. LIMITE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL 85
µ ¶x µ ¶x
1 1
Obtendo assim que lim 1 + = e . Segue o gráfico de f (x) = 1 + , com x
x→+∞ x x
positivo.

µ ¶x
1
Exemplo 5.118 Do exemplo anterior pode-se mostrar que lim 1 + = e . De fato,
µ ¶y x→−∞ x
1
considere f (x) = − (1 + x) e g(y) = 1 + , assim tem-se que lim f (x) = +∞ e
µ ¶y y x→−∞
1
lim 1 + = e, então do teorema da composta(exercício abaixo) segue que e =
y→+∞ y
µ ¶−1−x µ ¶−(1+x) µ ¶x µ ¶
1 x x+1 1+x
lim (g ◦ f ) (x). Mas (g ◦ f ) (x) = 1 − = = .
x→−∞
µ ¶x µ ¶ 1+x 1+x x x
x+1 1+x
Ou seja lim = = e.
x→−∞ x µ x¶ µ ¶x
1 1
Portanto como lim 1 + = 1, pode-se concluir que, lim 1 + = e . Ob-
x→−∞ x x→−∞ x
serve novamente o gráfico, com x negativo.

Deixaremos como exercício a demonstração das propriedades com limites infinitos, que
enunciaremos a seguir.
86 CAPÍTULO 5. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL

Proposição 5.119 Sejam f, g : D → R, a ∈ D0 . Então:

a) Se lim f (x) = ±∞ e lim g(x) = c ∈ R então lim [f (x) ± g(x)] = ±∞.


x→a x→a x→a

b) Se lim f (x) = ±∞ e lim g(x) = c > 0 (podendo ser +∞ ) então lim f (x)g(x) = ±∞.
x→a x→a x→a

c) Se lim f (x) = ±∞ e lim g(x) = c < 0 (podendo ser −∞ ) então lim f (x)g(x) = ∓∞.
x→a x→a x→a

d) Se lim f (x) = 0 e ∃δ > 0 tal que f (x) > 0, ∀x ∈ Df ∩ Vbδ (a) ( dizemos então
x→a
que f (x) tende a zero por valores positivos e denotamos por lim f (x) = 0+ ) então
x→a
1
lim = +∞.
x→a f (x)

1
e) Se lim f (x) = 0− (isto é, f (x) tende a 0 por valores negativos) então lim = −∞.
x→a x→a f (x)

Se D não for limitado superiormente ou inferiormente a pode ser substituído por +∞


ou −∞ e os resultados continuam válidos.

Nota 5.120 O ítem (a) pode ser substituído pelos seguintes ítens, que serão também
deixados como exercícios:

i) Se lim f (x) = +∞ e ∃r > 0 tal que g é limitada inferiormente em Vbr (a) ∩ D então
x→a
lim [f (x) + g(x)] = +∞.
x→a

ii) Se lim f (x) = −∞ e ∃r > 0 tal que g é limitada superiormente em Vbr (a) ∩ D então
x→a
lim [f (x) + g(x)] = −∞.
x→a

Analogamente pode-se fazer as mesmas substituições para o ítem (b) da proposição


acima. Enuncie e demonstre.
Exercício 1
Considere f : D f → , g : D g → , tal que gD g  ⊂ D f e D f não é limitado
superiormente. Considere a ∈ D ′g . Se lim gx   e lim fy  , prove que
x→a y→
lim f ∘ gx  .
x→a
Solução: Como lim fy  −, segue que dado K  0, existe M  0 tal que
y→
∀y ∈ D f com y  M, segue que fy  K. Assim, para este M  0, existe  1  0 tal
que ∀x ∈ D g com 0  |x − a|   1 temos que gx  M. Portanto, ∀x ∈ D g com
0  |x − a|   1 temos que gx  M e como gx ∈ D f então
fgx  K lim f ∘ gx  .
x→a
Exercício 2
Determine, caso existam os limites abaixo, justificando os resultados
utilizados.
cos1/x sen x 2 log 10 1  x
a) lim b) lim x c) lim
x→0  1  e
1/x
x→0 x→1  x−1
x1
d) lim x2 − 1
x→1 x −1
Solução:
a) Temos que lim 1x   e lim e y  , segue do teorema da composta, que
x→0  y→

lim e 1/x    lim 1  0. Ainda como cos 1x ≤ 1, ∀x ∈ \0, ou seja


x→0  x→0  1  e 1/x
cos1/x
limitada, então de resultado visto em aula temos que lim  0.
x→0  1  e
1/x
2 2
b) Temos que ∀x ∈ \0, senx x  x sen2x . Mas lim x 2  0, x 2 ≠ 0,
x x→0
sen y
∀x ∈ \0 e lim y  1, portanto do teorema da composta, segue que
y→0
2
lim sen2x  1 e como lim x  0, segue da propriedade de produto dos limites que
x→0 x x→0
2 2
lim sen x lim x sen x  0.
x x2
x→0 x→0
c) Temos que lim x − 1  0, por valores positivos e portanto lim 1  .
x→1  x→1  x − 1
Ainda lim x  1  2  0, x  1 ≠ 2, ∀x ∈ \1 e lim log 10 y  log 10 2  0. Portanto
x→1  y→2
do teorema da composta, segue que lim log 10 1  x  log 10 2  0 e como
x→1 
lim 1  , segue das propriedades de limites infinitos que
x→1  x − 1
log 10 1  x
lim  −, ou seja não existe.
x→1  x−1
d) Temos que x2 − 1  1 , ∀x ≠ 1. Portanto
x −1 x1
x1
x−1  exp x  1 ln 1  exp−x  1 lnx  1. Como
x2 − 1 x1
lim x  1  2, x  1 ≠ 2, ∀x ∈ \1, lim ln y  ln 2 lim lnx  1  ln 2, pelo
x→1 y→2 x→1
teorema da composta. Ainda pelas propriedade de produto, segue que
lim −x  1 lnx  1  −2 ln 2 e como −x  1 lnx  1 ≠ −2 ln 2, ∀x ∈ \1 e
x→1
lim exp y  exp−2 ln 2, novamente do teorema da composta, tem-se que
y→−2 ln 2
x1
lim x−1  exp−2 ln 2  1 .
x→1 x2 − 1 4
Exercício 3

Sejam f, g : D → , a ∈ D . Considere h : D →  definida por
hx  maxfx, gx. Se lim fx  l e lim gx  , mostre que
x→a x→a
lim hx  maxl, .
x→a

Solução:   0, ∃ 1  0 e  2  0 tais que |fx − l|  , ∀x ∈ V  1 a ∩ D e


|gx − |  , ∀x ∈ V  2 a ∩ D.
Suponhamos que  ≤ l então existe r  0 tal que gx ≤ fx, ∀x ∈ V r a ∩ D.
Assim, tomando   min 1 ,  2 , r  0, tem-se que ∀x ∈ V  a ∩ D tem-se que
|fx − l|  , |gx − |   e gx ≤ fx. Assim, ∀x ∈ V  a ∩ D, tem-se que
hx  fx e portanto |hx − l|  . ou seja lim hx  maxl, . Analogamente se
x→a
l ≤ .
Exercício 4
DEFINIÇÃO: Sejam f : D → , a ∈ D ′ , c ∈ . Dizemos que c é um valor de
aderência de f no ponto a, quando existe x n  ⊂ D, x n ≠ a, ∀n ∈ ℕ tal que
x n → a e fx n  → c.
Mostre que c ∈  é valor de aderência de f no ponto a  ∀  0 tem-se que
c ∈ f V  a ∩ D .
Solução:
 Como c é valor de aderência de f no ponto a então existe x n  ⊂ D, x n ≠ a,
∀n ∈ ℕ tal que x n → a e fx n  → c. Logo, ∀  0 existe n 0 ∈ ℕ tal que
x n ∈ V  a ∩ D, ∀n ≥ n 0 e portanto fx n  ∈ f V  a ∩ D . Assim, como fx n  → c

segue que c ∈ f V  a ∩ D .

 Para cada n ∈ ℕ, considere   1


n então como c ∈ f V  a ∩ D , existe
y n ∈ f V  a ∩ D , tal que y n → c, ou seja, para cada n ∈ ℕ existe x n ∈ V  a ∩ D

tal que y n  fx n  e fx n  → c. Mas como x n ∈ Va ∩ D, isto implica que
x n ∈ D, 0  |x n − a|  1 n , ou seja, x n  ⊂ D, x n ≠ a, ∀n ∈ ℕ, x n → a e fx n  → c.
Portanto c é valor de aderência de f no ponto a.
Exercício 5
DEFINIÇÃO: Sejam f : D → , a ∈ D ′ e f. limitada em V r a ∩ D para algum
r  0. Definimos limite superior de f no ponto a, denotado por lim sup fx,
x→a
como sendo o maior valor de aderência de f no ponto a e limite inferior de f
no ponto a, denotado por lim inf fx, como sendo o menor valor de aderência
x→a
de f no ponto a.
Sejam f e a como na definição acima. Mostre que l lim fx 
x→a
l lim sup fx lim inf fx.
x→a x→a
Solução:  Do teorema de caracterização de limite por sequências, segue
que toda sequência x n  ⊂ D, x n ≠ a, ∀n ∈ ℕ, x n → a, tem-se que fx n  → l, ou seja
l é o único valor de aderência de f no ponto a e portanto
l lim sup fx lim inf fx.
x→a x→a
 Usaremos a caracterização de limite por sequências. Considere então
x n  ⊂ D, x n ≠ a, ∀n ∈ ℕ, x n → a. Devemos mostrar que fx n  → l. Como
l lim sup fx lim inf fx, segue que dado   0, como l é o maior valor de
x→a x→a
aderência de f no ponto a, então existe no máximo um número finito de índices n ′ s
tais que fx n  ≥ l  , ou seja, existe n 0 ∈ ℕ tal que fx n   l  , para todo n ≥ n 0 .
Ainda como l é o menor valor de aderência de f no ponto a, segue que existre no
máximo um número finito de índices n ′ s tais que fx n  ≤ l − , portanto existe
n 1 ∈ ℕ tal que fx n   l − . Logo para todo n ≥ N  maxn 0 , n 1 , tem-se que
l −   fx n   l  , o que implica que
|fx n  − l|  , para todo n ≥ N.
Assim, fx n  → l e portanto pela caracterização de limite por sequências, segue
que
l lim fx.
x→a
Exercício 6
Sejam f : a, b → , crescente e limitada superiormente. Prove que
lim fx  supfx; x ∈ a, b.
x→b −
Solução: Da hipótese tem-se que fx; x ∈ a, b é limitado superiormente e
portanto existe l  supfx; x ∈ a, b. Portanto da definição de supremos de um
conjunto tem-se que
i fx ≤ l, para todo x ∈ a, b.
ii Dado   0, existe x 0 ∈ a, b tal que fx 0   l − .
Logo, tomando   b − x 0  0, segue que para todo x ∈ b − , b, como f é
crescente e das propriedades i e ii acima, que l −   fx 0  ≤ fx ≤ l  l  .
Assim, dado   0, existe   b − x 0  0 tal que para todo x ∈ b − , b tem-se que
|fx − l|  ,
o que implica que
lim fx  l.
x→b −
5.2. LIMITE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL 87

5.2.5 Lista de exercícios


Exercício 5.121 Determine os limites abaixo, caso existam, justificando os resultados
utilizados:
√ √
3
x− 33 x2 + 5x + 6 1
a) lim , b) lim 2 , c) lim cos ,
x→3 x − 3 x→−3 x − x − 12 x→0 x
tg x2 3x + 6 ³ π´
d) lim , e) lim , f) lim x − sec x,
x→0 x x→−2 sen (x + 2) x→π/2 2
µ ¶ 4
1 − cos (2x) (3 − x3 ) − 16
g) lim log2 , h) lim ,
x→0 x2 x→1 x3 − 1
sen (x2 − 1)
i) lim , j) lim sen x, l) lim cos x,
x→−1 x+1 x→a x→a

m) lim ln x, n) lim bx , onde b > 0 e b 6= 1,


x→a x→a

o) lim logb x, onde b > 0 e b 6= 1.


x→a
√ √ √
x+2− 2 x−1
p) lim , q) lim √ √ .
x→0 x x→1 2x + 3 − 5

Exercício 5.122 Defina ponto de acumulação à esquerda de um subconjunto não vazio


X de R e dê exemplos.
µ ¶
|2x − 4|
Exercício 5.123 Determine, caso exista, lim , justificando.
x→2 x2 − 4

Exercício 5.124 Seja f : D → R, a ∈ (D)0+ tal que existem r > 0 e M ∈ R satisfazendo

f (x) ≥ m, ∀x ∈ (a, a + r) ∩ D.

Suponha ainda que f é decrescente em (a, a + r) ∩ D. Mostre que existe lim+ f (x).
x→a

Exercício 5.125 Determine, os limites abaixo, caso existam, justificando:


√3
x3 + 2x − 1 sen x
a) lim √ , b) lim ,
x→+∞ x2 + x + 1 x→+∞ x

3x5 + x4 + 1
c) lim (1 − cos (1/x)) x2 , d) lim ,
x→+∞ x→−∞ 2x5 + x − 3

x
e) lim .
x→−∞ x2 + 3x + 6
88 CAPÍTULO 5. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL

Exercício 5.126 Determine os limites das sequências abaixo, caso existam, justificando
os resultados:
µ ¶ µ ¶ µ ¶
1 ln n 1
a) cos , b) , c) n sen .
n n2 n

Exercício 5.127 Sejam f : Df → R, g : Dg → R, l ∈ R, a ∈ Df0 e Dg ilimitado


superiormente. Suponhamos que ∃r > 0 tal que f (x) ∈ Dg , ∀x ∈ Df ∩Vbr (a) . Se lim f (x) =
x→a
+∞ e lim g(y) = l mostre que lim (g ◦ f ) (x) = l.
y→+∞ x→a

Exercício 5.128 Sejam f : Df → R, g : Dg → R, Df ilimitado inferiormente e Dg


ilimitado superiormente, tal que Im f ⊂ Dg . Se lim f (x) = +∞, lim g(x) = +∞,
x→−∞ x→+∞
mostre que lim (g ◦ f ) (x) = +∞.
x→−∞

Exercício 5.129 Determine os limites abaixo, caso existam:


1 1
a) lim− 1/x
, b) lim+ 4
,
x→0 1 + e x→2 ln (x − 16)
c) lim (1 + x)1/x . Sugestão: Trabalhe com limites laterais e o teorema da composta.
x→0 µ ¶x
x+2
d) lim .
x→+∞ x + 1

Exercício 5.130 Seja f : [a, +∞) → R limitada superiormente e crescente em [K, +∞),
para algum K > a. Prove que existe lim f (x).
x→+∞

Exercício 5.131 Enuncie e demonstre um resultado análogo ao exercício anterior para


limite quando x → −∞.

Exercício 5.132 Seja f : [a, +∞) → R crescente em [K, +∞), para algum K > a.
Mostre que ou lim f (x) existe ou lim f (x) = +∞.
x→+∞ x→+∞

Exercício 5.133 Seja f : D → R, a ∈ (D)0− tal que f é crescente em (a − r, a) ∩ D, para


algum r > 0. Prove que ou lim− f (x) existe ou lim− f (x) = +∞.
x→a x→a
5.3. CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL REAL 89

5.3 Continuidade de função de uma variável real


Intuitivamente, sabe-se que uma função f é contínua se o seu gráfico não apresenta
"saltos", isto é, à medida que x, no domínio de f, se aproxima de um ponto a deste
domínio, espera-se que f (x) se aproxime de f (a). É exatamente este o conceito que enun-
ciaremos a seguir.

Definição 5.134 Seja f : D → R e a ∈ D. Dizemos que f é contínua em a quando


dado ε > 0, existe δ > 0 tal que para todo x ∈ D ∩ Vδ (a) então f (x) ∈ Vε (f (a)) . Ou seja
dado ε > 0, existe δ > 0 tal que ∀x ∈ D com |x − a| < δ tem-se que |f (x) − f (a)| < ε.

Nota 5.135 Observe que agora a deve ser um ponto do domínio de f e ainda, quando
analisamos a continuidade de f em a, estamos interessados no comportamento de f numa
/ D0 , então f é trivialmente contínua
vizinhança de a e no próprio ponto a. Se a ∈ D e a ∈
em a. (Pense nisso!).

Nota 5.136 Assim, da definição de continuidade, pode-se concluir que se a ∈ D ∩ D0


então f é contínua em a se e somente se lim f (x) = f (a). Portanto os resultados apre-
x→a
sentados na seção anterior para limite são também válidos para continuidade, os quais
apenas enunciaremos em seguida.

Nota 5.137 Dizemos que f : D → R é contínua em A ⊂ D quando f |A é contínua


em cada ponto de A. Dizemos simplesmente que f é contínua se for contínua em cada
ponto de seu domínio D.

Exemplo 5.138 f : R → R, tal que f (x) = x2 é contínua. De fato, provamos que para
cada a ∈ R, lim x2 = a2 . É fácil confirmar nossa intuição de que o gráfico não admite
x→a
"salto"nem "buraco", como pode ser visto abaixo.
90 CAPÍTULO 5. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL

Exemplo 5.139 f : R → R, tal que f (x) = sen x é contínua. De fato, provamos que
para cada a ∈ R, lim sen x = sen a. Novamente vemos também através do gráfico abaixo
x→a
que esta função não apresenta saltos.

Proposição 5.140 Seja f : D → R e a ∈ D tal que f é contínua em a. Então

a) Existe r > 0 tal que f é limitada em D ∩ Vr (a) .

b) (Teorema de conservação do sinal) Se f (a) 6= 0 então existe δ > 0 tal que


f (x)f (a) > 0 para todo x ∈ D ∩ Vδ (a) .

c) Se f (a) 6= 0 então existe δ > 0 e K > 0 tais que |f (x)| ≥ K, para todo x ∈ D ∩ Vδ (a) .

Teorema 5.141 (Caracterização de continuidade por sequências): Seja f : D →


R e a ∈ D. Então f é contínua em a ⇔ para qualquer sequência (xn ) tal que xn ∈ D,
∀n ∈ N com xn → a obtém-se que f (xn ) → f (a).
√ ¢
¡ 2n−1 √
Exemplo 5.142 A sequência 2n converge para 2, pois a função f (x) = 2x =
√ n 1
ex ln 2 é contínua para todo x ∈ R e como 2n−1 2n = 2n/(2n−1) e → , segue do
2n − 1 2
teorema acima o resultado.

A demonstração é análoga a que foi feita para limite e portanto será deixada como
exercício.

Proposição 5.143 Sejam f, g : D → R, a ∈ D tal que f e g são contínuas em a. Então


f
f ± g, f g e |f | são contínuas em a. Ainda, se g(a) 6= 0 então é contínua em a.
g

O próximo resultado sobre limite de composta de funções é uma alternativa para o


teorema que demonstramos anteriormente, onde não havia a hipótese de continuidade de
nenhuma das funções envolvidas.
5.3. CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL REAL 91

Teorema 5.144 Sejam f : Df → R, g : Dg → R, a ∈ Df0 , l ∈ Dg tais que Im f ⊂


³ ´
Dg , lim f (x) = l e g é contínua em l. Então lim (g ◦ f ) (x) = g(l) = g lim f (x) .
x→a x→a x→a

Prova. Usaremos o teorema de caracterização de limite por sequências. Seja (xn ) ⊂


Df tal que xn 6= a, ∀n ∈ N e xn → a então como lim f (x) = l segue que f (xn ) → l
x→a
e como (f (xn )) ⊂ Dg e g é contínua em l, segue que (g ◦ f ) (xn ) = g(f (xn )) → g(l) ⇒
lim (g ◦ f ) (x) = g(l). ¤
x→a

Exemplo 5.145 Calculemos lim (1 + x)a/x , a ∈ R. Sabe-se que y a = ea ln y, ∀y ∈ R,


x→0
y > 0. Assim, como lim (1 + x)1/x = e e ln é contínua em e então do teorema da com-
h x→0i h i
1/x 1/x
posta, lim ln (1 + x) = ln e = 1 ⇒ lim a ln (1 + x) = a e como a exponencial
x→0 x→0
é contínua em a ∈ R, segue novamente pelo teorema da composta que lim (1 + x)a/x =
³ h i´ x→0
1/x a
lim exp a ln (1 + x) =e .
x→0

Nota 5.146 Observe que com a hipótese da continuidade de g, não precisamos mais
exigir que f (x) 6= l numa vizinhança de a. O resultado acima continua válido se no lugar
de limite tivermos limites laterais e se a for ±∞, quando Df for ilimitado superiormente
ou inferiormente.

Corolário 5.147 Sejam f : Df → R, g : Dg → R, a ∈ Df , f (a) ∈ Dg tais que Im f ⊂


Dg , f é contínua em a e g é contínua em f (a). Então g ◦ f é contínua em a.

Um resultado intuitivo é que se f é uma função contínua e o seu domínio é um


intervalo I então f (I) também é um intervalo, caso contrário seu gráfico apresentaria um
"salto". Mais ainda se o intervalo é fechdado e limitado, então a imagem também é um
intervalo fechado e limitado, pois da mesma forma se não fôsse o caso então o gráfico de
f apresentaria um "salto". Estes resultados fazem parte de importantes teoremas sobre
continuidade.

Teorema 5.148 (Teorema de Bolzano): Seja f : I → R, contínua no intervalo I.


Sejam a, b ∈ I, a < b e tais que f (a)f (b) < 0. Então existe c ∈ (a, b) tal que f (c) = 0.

Prova. Suponhamos sem perda de generalidade que f (a) < 0 < f (b). Considere
A = {x ∈ [a, b] ; f (x) < 0}. Como A ⊂ [a, b] então A é limitado superiormente e portanto
existe c = sup A. Como a ∈ A ⇒ a ≤ c. Como b é cota superior de A ⇒ c ≤ b. Assim,
c ∈ [a, b] e portanto existe f (c). Três possibilidades podem acontecer:(i) f (c) < 0 ou
(ii) f (c) > 0 ou (iii) f (c) = 0. Mostraremos que as duas primeiras possibilidades nos levam
a um absurdo e concluímos que c é o valor desejado. De fato: se f (c) < 0 então existe
δ > 0 tal que ∀x ∈ [a, b] ∩ (c − δ, c + δ) tem-se que f (x) < 0, pelo teorema de conservação
do sinal. Ainda como f (b) > 0 ⇒ c < b. Logo podemos tomar δ 1 = min{δ, b − c} > 0
92 CAPÍTULO 5. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL

e temos que ∀x ∈ (c, c + δ 1 ) ⊂ [a, b] segue que f (x) < 0 absurdo, pois então existem
elementos de A maiores que o supremo de A. Portanto f (c) ≥ 0. Suponhamos então
que f (c) > 0. Novamente do teorema de conservação do sinal, existe r > 0 tal que
∀x ∈ [a, b] ∩ (c − r, c + r) ⇒ f (x) > 0. Ainda como f (a) < 0 ⇒ a < c e portanto tomando
r1 = min{r, c − a} > 0, segue que ∀x ∈ (c − r1 , c] tem-se que f (x) > 0 ⇒ ∀x ∈ (c − r1 , c],
x∈ / A ⇒ a ≤ c − r1 , ∀a ∈ A, o que é um absurdo, pois encontramos uma cota superior
de A menor do que o supremo. Concluímos então que f (c) = 0, com c ∈ (a, b) . ¤

Teorema 5.149 (Teorema do valor intermediário): Seja f : [a, b] → R, contínua


em [a, b] tal que f (a) < f (b). Então para qualquer d ∈ (f (a), f (b)) existe c ∈ (a, b) tal que
f (c) = d.

Prova. Considere g(x) = f (x) − d, ∀x ∈ [a, b] então g é contínua em [a, b] pois


f o é e a função constante também. Além disso tem-se que g(a) = f (a) − d < 0 e
g(b) = f (b) − d > 0, o que implica pelo teorema de Bolzano que existe c ∈ (a, b) tal que
g(c) = 0 ou seja f (c) = d. ¤

Como consequência deste teorema, segue que:

Corolário 5.150 Seja f : I → R contínua no intervalo I. Então f (I) também é um


intervalo.

O teorema a seguir será muito importante para o estudo de máximos e mínimos ab-
solutos.

Teorema 5.151 Seja f : X → R uma função contínua no conjunto compacto X. Então


f (X) é compacto e portanto existem a, b ∈ X tais que

f (a) ≤ f (x) ≤ f (b), ∀x ∈ X.

Prova. Primeiramente mostraremos que f (X) = {f (x) ; x ∈ X} é um subconjunto


limitado de R. Para isso suporemos, por absurdo, que f (X) não é limitado superiormente.
Assim, para cada n ∈ N, existe xn ∈ X tal que f (xn ) > n, ou seja, existe uma sequência
(xn ) tal que xn ∈ X, ∀n ∈ N e f (xn ) → +∞. No entanto, X é um subconjunto limitado
de R e portanto a sequência (xn ) é uma sequência limitada.
¡ ¢ Logo segue do teorema
de Bolzano-Weierstrass que existe uma subsequência xnj de (xn ) tal que xn¡j →¢ x.
Como X é fechado, segue que x ∈¡ X. ¢Do fato de f ser contínua tem-se que f xnj →
f (x) , o que é um absurdo, pois f xnj > nj , ∀nj . Logo conclui-se que f (X) é limitado
superiormente. Analogamente prova-se que f (X) é limitado inferiormente. Resta mostrar
que f (X) é fechado. Para isso usaremos a caracterização de fechado (exer. da semana5)
e de continuidade por sequências. Seja (yn ) uma sequência convergente tal que yn =
f (xn ) ∈ f (X) , ∀n ∈ N e considere y = lim yn . Como (xn ) é limitada, segue do
¡ ¢
n→+∞
teorema de Bolzano-Weierstrass, que existe xnj subsequência convergente de (xn ) e
5.3. CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL REAL 93

como X ¡ é fechado,
¢ segue que
¡ ∃x
¡ ∈¢¢X tal que xnj → x. Ainda da continuidade de f tem-se
que f xnj → f (x) . Mas f xnj é uma subsequência de (f (xn )) e esta converge para
y. Logo y = f (x) e portanto y ∈ f (X) , o que implica que f (X) é fechado. Logo, como
f (X) é compacto tem-se que inf f (X), sup f (X) ∈ f (X) e portanto ∃a, b ∈ X tais que
inf f (X) = min f (X) = f (a) e sup f (X) = max f (X) = f (b) . Assim, o teorema segue
da definição de supremo e ínfimo. ¤

Corolário 5.152 Seja f : [a, b] → R contínua. Então f ([a, b]) é também um intervalo
fechado e limitado.

A demonstração deste resultado segue do corolário do teorema do valor intermediário


e do teorema acima.
Daremos a seguir um resultado que não será demonstrado, mas que pode ser encon-
trado em bons livros de Análise, mas que será necessário quando estudarmos derivada de
funções inversas.

Proposição 5.153 Seja f : I → R injetora e contínua no intervalo I. Então f é monó-


tona e f −1 : f (I) → I também é contínua no intervalo f (I).

Exemplo 5.154 A função f : [−1, 1] → [0, π] definida por f (x) = arccos x é contínua,
pois g : [0, π] → R definida por g(x) = cos x é contínua e injetora no intervalo [0, π],
g ([0, π]) = [−1, 1] e g−1 = f. O gráfico abaixo, mostra em verde a função cosseno e em
azul a sua inversa.

h π πi
Exemplo 5.155 A função f : [−1, 1] → − , definida por f (x) = arcsen x é con-
h π πi 2 2
tínua, pois g : − , → R definida por g(x) = cos x é contínua e injetora no intervalo
h π π i ³h π2 π2i´
− , ,g − , = [−1, 1] e g −1 = f. Segue o gráfico abaixo, com a função seno
2 2 2 2
94 CAPÍTULO 5. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL

em marrom e a inversa em rosa.

Nota 5.156 Se I na proposição acima não for um intervalo o resultado pode não ser
válido. Vejamos um exemplo.

½
x + 1, 0 ≤ x < 1
Exemplo 5.157 Seja f : [0, 1) ∪ [2, 3] → R, definida por f (x) = ,
x, 2≤x≤3
f é contínua e injetora, pois o é em cada intervalo e [0, 1]∩[2, 3] = ∅, ou seja, existe δ > 0,
tal que (2 − δ, 2 + δ) ∩ ([0, 1) ∪ [2, 3]) =½(2 − δ, 2 + δ) ∩ [2, 3] . Ainda f ([0, 1) ∪ [2, 3]) =
y − 1, 1 ≤ y < 2
[1, 3]. Seja f −1 : [1, 3] → R, f −1 (y) = , tem-se lim− f −1 (y) = 1 6=
y, 2≤y≤3 y→1
−1 −1 −1
lim+ f (y) = 2 = f (1) ⇒ f não é contínua em 2 e portanto não é contínua em seu
y→1
domínio. Seguem os gráficos de f em rosa e f −1 em azul.
5.3. CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL REAL 95

Nota 5.158 Apesar do gráfico de f apresentar um salto, observe que o ponto 1 não é
ponto de acumulação do intervalo [2, 3, ] nem 2 é ponto de acumulação do intervalo [0, 1)
e por isso a função é contínua. O que não acontece com a inversa, pois agora o domínio
é um intervalo, onde todos os pontos são pontos de acumulação.

No entanto se o domínio de f não é um intervalo, mas é um conjunto compacto então


o resultado continua válido.

Proposição 5.159 Seja f : X → R contínua e injetora no comapacto X. Então f −1 :


f (X) → X é contínua no compacto f (X).

Prova. Sejam b = f (a) ∈ f (X) e (yn ) uma sequência qualquer tal que yn = f (xn ) ∈
f (X) , ∀n ∈ N e yn → b. Como X é limitado, segue que (xn ) é limitada.
¡ ¢ Considere
então α = lim sup xn e β = lim inf xn . Então existem subsequências xnj e (xnk ) de
n→+∞ n→+∞
(xn ) tais que x¡nj →¢ α e xnk → β, e como X é fechado, α, β ∈ X. Da continuidade de
f, segue que f xnj → f (α) e f (xnk ) → f (β) . No entanto yn = f (xn ) → b = f (a).
Logo f (α) = f (β) = f (a) e da injetividade de f, segue que α = β = a ⇒ xn =
f −1 (yn ) → a = f −1 (b) , o que prova a continuidade de f −1 . ¤

Nota 5.160 Observe que no exemplo anterior o domínio de f é X = [0, 1) ∪ [2, 3] ,


que obviamente não é um intervalo e também não é um compacto, pois apesar de X
ser limitado, êle não é fechado, já que 1 ∈ X 0 e 1 ∈ / X, o que implica que X 6= X.
Caso tomássemos X = X = [0, 1] ∪ [1, 3] ou f não seria inversível, uma vez que f não
seria injetora, caso apenas acrescentássemos o 1 na definição ou f não seria contínua, se
definíssemos f (1) 6= 2.
Exercício 1
lnx  2
Determine lim , justificando os resultados utilizados.
x→−1 x2 − 1
Solução: De propriedade de logaritmo, segue que
lnx  2 1/x 2 −1 ln1  x  1 1/x1
 lnx  2  . Como lim x  1  0, x  1 ≠ 0,
x2 − 1 x−1 x→−1
∀x ≠ −1 e lim 1  y 1/y  e, segue do teorema da composta que
y→0
lim 1  x  1 1/x1  e. Ainda como ln é contínua em 0,  do teorema da
x→−1
composta II, segue que lim ln1  x  1 1/x1  1 e como lim x − 1  −2 ≠ 0,
x→−1 x→−1
segue da propriedade de limite do quociente que
lnx  2 ln1  x  1 1/x1
lim  lim  −1.
x→−1 x2 − 1 x→−1 x−1 2
Exercício 2
Seja  a menor raiz positiva de x 3 − 4x  2. Determine intervalos de
amplitude 1 , 1 e 1 que contenham .
2 4 8
Solução: Considere fx  x 3 − 4x  2. Tal função é contínua em toda a reta e
f0  2, f 1   1 e f  0. Ainda para 0  x  1 tem-se que 0  x 3  1 e
2 8 2 8
1
0  4x  2  2 − 4x  0 e portanto x − 4x  2  , ∀x ∈ 0,
3 1 . Logo
8 2
 ∉ 0, 1 . Ainda f1  −1  0. Portanto do teorema de Bolzano, segue que
2
∈ 1 , 1 e este é um intervalo de amplitude 1 . Ainda como f 3  − 37  0,
2 2 4 64
segue do teorema de Bolzano, que  ∈ 1 , 3 , que é um intervalo de amplitude
2 4
1 . Novamente, como f 5   − 131  0, obtém-se novamente pelo teorema de
4 8 512
Bolzano que  ∈ 1 , 5 , que é um intervalo de amplitude 1 .
2 8 8
Exercício 3
Suponha que f é contínua no intervalo I e que admita neste intervalo uma
única raiz a. Suponha ainda que exista x 0 ∈ I, com x 0  a e tal que fx 0   0.
Prove que fx  0, ∀x ∈ I, com x  a.
Solução: Como a é a única raiz de f neste intervalo, segue que fx ≠ 0,
∀x ∈ I. Como existe x 0  a tal que fx 0   0 então se existisse x 1  a tal que
fx 1   0, teríamos, como f é contínua, utilizando o teorema de Bolzano, que
existiria c no intervalo de extremos x 0 e x 1 e portanto c  a, tal que fc  0, o que
seria um absurdo, pois a é a única raiz. Assim, fx  0, ∀x ∈ I, com x  a.
Exercício 4
Seja f :  → , contínua e tal que
fx  y  fx  fy, ∀x, y ∈ .
Mostre que existe a ∈  tal que fx  ax, ∀x ∈ .
Solução: Primeiramente provemos que f0  0. De fato como
f0  f0  0  f0  f0  f0  0.
Ainda f2  f1  1  f1  f1  2f1. Suponhamos que
fn  nf1. Então fn  1  fn  f1  nf1  f1  n  1f1. Logo, por
indução mostramos que
fn  nf1, ∀n ∈ ℕ.
Analogamente, por indução, prova-se que para cada a ∈ , fna  nfa, o que
implica, tomando a  −1, que
fn  nf1, ∀n ∈ ℤ.
Ainda, f1  f n 1 1 1 1
n  nf n  f n  n f1. Logo das propriedades acima,
segue que fx  xf1, ∀x ∈ . Resta então mostrar que este resultado é válido
para todo irracional. Seja x ∈ \, pode-se mostrar (exercício) que existe uma
sequência x n  tal que x n ∈ , ∀n ∈ ℕ e x n → x. Como f é contínua então
fx n  → fx. Mas como fx n   x n f1, segue que fx n   x n f1 → xf1. Portanto
da unicidade dos limites segue que fx  xf1. Logo,
fx  ax, ∀x ∈ ,
onde a  f1.
Exercício 5
Seja f : a, b → , contínua, estritamente crescente. Mostre que
−1
f : fa, fb → a, b é contínua.
Solução: Como f é estritamente crescente e portanto injetora, tem-se que f é
inversível e f −1 também é estritamente crescente.
Primeiramente provaremos que f −1 é contínua em fa, fb.
1 - Seja y 0 ∈ fa, fb, portanto y 0  fx 0  para algum x 0 ∈ a, b e
x 0  f −1 y 0 . Dado   0, tome  ′  min, x 0 − a, b − x 0   0. Assim,
x 0 −  ′ , x 0   ′  ⊂ a, b e como f é estritamente crescente, segue que
fa ≤ fx 0 −  ′   fx 0   y 0  fx 0   ′  ≤ fb. Tome
  minfx 0  − fx 0 −  ′ , fx 0   ′  − fx 0   0  fx 0 −  ′  ≤ fx 0  −   fx 0 
Logo, para todo y ∈ fa, fb com |y − y 0 |  , tem-se que
y 0 −   y  y 0  , e y  fx para algum x ∈ a, b. Como y 0  fx 0 , segue
das duas últimas desigualdades que
fx 0 −  ′  ≤ fx 0  −   fx  fx 0    ≤ fx 0   ′ ,
logo como f −1 é estritamente crescente, tem-se que
x0 − ′  x  x0  ′,
ou seja
|f −1 y − f −1 x 0 |   ′ ≤ ,
o que implica que f −1 é contínua em y 0 ∈ fa, fb e portanto f −1 é contínua
em fa, fb.
2 - Provemos que f −1 é contínua em fa. Dado   0, tome  ′  min, b − a,
o que implica que a, a   ′  ⊂ a, b e como f é estritamente crescente,
segue que fa  fa   ′ . Assim, tome   fa   ′  − fa  0, logo para
todo y ∈ fa, fb tal que |y − fa|  , tem-se que
fa ≤ y  fa    fa   ′ , logo como f −1 é estritamente crescente segue
que
f −1 fa  a ≤ f −1 y  a   ′  f −1 fa   ′ ,
ou seja,
|f −1 y − f −1 fa|   ′ ≤ ,
o que implica que f −1 é contínua em fa.
Analogamente prova-se que f −1 é contínua em fb (exercício).
Prove que o mesmo resultado é válido se f é estritamente decrescente
(exercío)
Com isso está demonstrado o teorema da inversa enunciado nas notas de
aula.
Exercício 6
Seja f : D → , contínua no aberto D. Se V ⊂  é aberto, mostre que f −1 V
é aberto.
Solução: Se V ∩ fD  ∅, então f −1 V  ∅ e nada há a provar, então
suporemos que V ∩ fD ≠ ∅.
Seja x 0 ∈ f −1 V, então x 0 ∈ D e fx 0  ∈ V. Como D e V são abertos segue que,
existem   0 e r  0 tais que x 0 − r, x 0  r ⊂ D e fx 0  − , fx 0    ⊂ V. Da
continuidade de f, segue que existe   0 tal que para todo x ∈ D com |x − x 0 |  ,
tem-se que |fx − fx 0 |  . Tomando s  minr,   0, tem-se que
x 0 − s, x 0  s ⊂ x 0 − r, x 0  r ⊂ D e x 0 − s, x 0  s ⊂ x 0 − , x 0  , logo para todo
x ∈ x 0 − s, x 0  s tem-se que |fx − fx 0 |  , ou seja, para todo x ∈ x 0 − s, x 0  s
segue que fx ∈ fx 0  − , fx 0    ⊂ V. Portanto x 0 − s, x 0  s ⊂ f −1 V, o que
implica que x 0 é um ponto interior e como x 0 é qualquer, segue que f −1 V é aberto.
96 CAPÍTULO 5. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL

5.3.1 Lista de exercícios


Exercício 5.161 Analise a continuidade das funções abaixo em todo R:
⎧ ⎧
⎨ x2 − 9 ⎨ |x − 2|
, x 6= 3 , x 6= 2
a) f (x) = , b) f (x) =
⎩ 4,x − 3 x = 3 ⎩ 1,x − 2 x = 2
(
x, x < 1
c) f (x) = 1 .
, x≥1
x
Exercício 5.162 Seja f : D → R tal que f é contínua em 2 ∈ D e f (2) = 8. Mostre que
existe r > 0 tal que ∀x ∈ D ∩ (2 − r, 2 + r) então f (x) > 7.

Exercício 5.163 Determine os limites abaixo, justificando os resultados:


µ ¶x µ ¶x
2 3
a) lim 1 + , b) lim 1 + ,
x→+∞ x x→+∞ x+2
µ ¶2x
5
c) lim 1 − , d) lim (1 + sen x)1/x ,
x→−∞ x+2 x→0
r
1/x2 1 1+x
e) lim (cos x) , f) lim ln .
x→0 x→0 x 1−x
Exercício 5.164 Seja a ∈ R, a > 0 e a 6= 1. Mostre que
ax − 1
lim = ln a.
x→0 x
Exercício 5.165 A partir do resultado do exercício anterior, determine, caso existam,
os limites abaixo, justificando os resultados:
5x − 1 e2x − 1
a) lim , b) lim ,
x→0 x x→0 x
2
3x − 1 ex −1
c) lim+ , d) lim ,
x→0 x2 x→0 x

eax − ebx
e) lim , a 6= b.
x→0 x
Exercício 5.166 Seja f (x) = x5 + x + 1. Justifique a afirmação : f tem pelo menos uma
raiz no intervalo [−1, 0] .

Exercício 5.167 Prove que a equação x3 − 4x + 2 = 0 admite três raízes reais distintas.
5.3. CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL REAL 97

x + x2
Exercício 5.168 Seja f : [−1, 1] → R definida por f (x) = .
1 + x2
a) Mostre que f (1) é o valor máximo de f.

b) Mostre que existe d ∈ (−1, 0) tal que f (d) é o valor mínimo de f.

x
Exercício 5.169 Mostre que o conjunto A = { ; −2 ≤ x ≤ 2} possui máximo e
1 + x2
mínimo e determine-os.

Exercício 5.170 Seja f : [0, 1] → R contínua em [0, 1] e tal que f (0) = 1 e f (x) ∈ Q,
∀x ∈ [0, 1] . Mostre que f (x) = 1, ∀x ∈ [0, 1] .

Exercício 5.171 Seja f : [0, 1] → R contínua em [0, 1] e tal que 0 ≤ f (x) ≤ 1, ∀x ∈


[0, 1] . Prove que existe c ∈ [0, 1] tal que f (c) = c.

Exercício 5.172 Seja f : [a, b] → R contínua e injetora em [a, b] e tal que f (a) < f (b) .
Prove que f é crescente.

Exercício 5.173 Seja f : [a, b] → R contínua e injetora em [a, b] e tal que f (a) > f (b) .
Prove que f é decrescente.

Exercício 5.174 Considere f : I → R contínua no intervalo I. Sejam a, b ∈ I com


a < b, tais que a e b sejam as únicas raízes de f em I. Sejam x0 , x1 , x2 ∈ I com x0 < a,
a < x1 < b e b < x2 . Estude o sinal de f em I, a partir dos sinais de f (x0 ), f (x1 ) e f (x2 ).
Justifique.

Exercício 5.175 Determine domínio e contradomínio das funções abaixo, de modo que
cada uma seja uma função contínua em todo seu domínio. Justifique sua escolha.

a) f (x) = arctg x, b) f (x) = arccotg x,

c) f (x) = arccos sec x, d) f (x) = arcsec x.


Capítulo 6

Diferenciabilidade de função de uma


variável

Um conceito importante do Cálculo é o de derivada, que é um limite, como veremos na


definição. Fisicamente o conceito de derivada está relacionado ao de taxa de variação
instantânea, por exemplo, a velocidade de uma partícula num determinado instante t0
é a taxa de variação da distância percorrida em função do tempo, neste instante t0 .
Geometricamente a derivada de uma função f num ponto a ∈ Df é o coeficiente angular
da reta tangente ao gráfico desta função, no ponto (a, f (a)). Vejamos então:

6.1 Derivabilidade e diferenciabilidade

Definição 6.1 Sejam f : D → R e a ∈ D ∩ D0 . Dizemos que f é derivável no ponto a


f (x) − f (a)
quando existe lim . Neste caso dizemos que este limite é a derivada de f no
x→a x−a
f (x) − f (a) df
ponto a a qual denotamos por f 0 (a) = lim ou também, (a) .
x→a x−a dx

f (x) − f (a)
Nota 6.2 A razão é denominada razão incremental de f no ponto a, ou
x−a
simplesmente razão incremental de f. Geometricamente a razão incremental é o coeficiente
angular da reta secante ao gráfico de f pelos pontos (a, f (a)) e (x, f (x)) . Assim, no limite,
quando x → a obtemos o coeficiente angular da reta tangente ao gráfico de f no ponto
(a, f (a)) , como pode ser visto no gráfico abaixo.

99
100 CAPÍTULO 6. DIFERENCIABILIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL

f (x) − f (a)
Exemplo 6.3 Seja f (x) = c, ∀x ∈ R, então para todo a ∈ R, tem-se que =
x−a
f (x) − f (a)
0, ∀x 6= a ⇒ lim = 0 ⇒ f 0 (a) = 0, ∀a ∈ R.
x→a x−a
f (x) − f (a)
Exemplo 6.4 Seja f (x) = αx+β, ∀x ∈ R então para todo a ∈ R tem-se que =
x−a
α (x − a)
= α. Portanto f é derivável em todo R e f 0 (a) = α, ∀a ∈ R.
x−a
Exemplo 6.5 Seja f (x) = xn , para algum n ∈ N, então para todo a ∈ R tem-se que
f (x) − f (a) xn − an
= = (xn−1 + xn−2 a + · · · + xan−2 + an−1 ) . Assim, f 0 (a) = nan−1 .
x−a x−a
Exemplo 6.6 Seja f (x) = ex , ∀x ∈ R. Vamos provar que f é derivável em toda a reta.
f (x) − f (0) ex −1
Primeiramente temos que f é derivável em a = 0, pois lim = lim = 1,
0
x→0 x x→a x
como já foi vista em exercícios anteriores. Assim, f (0) = 1. Agora, para cada a ∈ R tem-
ex − ea ex−a −1
se que lim = lim ea = ea . Assim f é derivável em toda a reta e f 0 (a) = ea ,
x→a x − a x→a x−a
∀a ∈ R.
Exemplo 6.7 Seja f (x) = ln x, ∀x ∈ (0, +∞) . Vamos provar que f é derivável em
(0, +∞) . Primeiramente, temos que f é derivável em a = 1, pois
f (x) − f (1) ln x
lim = lim = lim ln x1/(x−1) = lim ln (1 + (x − 1))1/(x−1) =
x→1 x−1 x→1 x − 1 x→1 x→1
1/(x−1)
= ln lim (1 + (x − 1)) = ln e = 1.
x→1

Assim, f 0 (1) = 1. Agora, para cada a ∈ (0, +∞) temos que,


³x´ ³x´
f (x) − f (a) ln 1 ln 1
lim = lim ³ x a ´ = lim x a =
x→a x−a x→a
a −1 a x→a − 1 a
a a
6.1. DERIVABILIDADE E DIFERENCIABILIDADE 101

1
e portanto f é derivável em (0, +∞) e f 0 (a) = .
a
Exemplo 6.8 Considere f (x) = sen x, ∀x ∈ R então f é derivável em toda a reta
f (y) − f (x)
e f 0 (x) = cos x, ∀x ∈ R. De fato, para cada x ∈ R tem-se que lim =
µ ¶ µ ¶ µ y→x
¶ y−x
y−x y+x y−x
2 sen cos sen µ ¶
sen y − sen x 2 2 2 y+x
lim = lim = lim y−x cos =
y→x y−x y→x y−x y→x 2
2
cos x.
0
Exemplo 6.9 A função definida por f (x) = cos µ x é derivável
¶ ¶ e f (x) = − sen x,
µ em R
y−x y+x
−2 sen sen
cos y − cos x 2 2
∀x ∈ R. De fato, lim = lim =
µ y→x ¶ y − x y→x y−x
y−x
sen µ ¶
2 y+x
= −lim y−x sen = − sen x.
y→x 2
2
Exemplo 6.10 A equação da reta tangente ao gráfico de f (x) = ln x no ponto (1, 0) é
1
y = x − 1, pois f 0 (1) = = 1 é o coeficiente angualr desta reta e ela passa pelo ponto
1
(1, 0) . Veja o gráfico a seguir.

Vejamos qual a relação entre uma função derivável e uma função contínua.

Proposição 6.11 Se f : D → R é derivável em a ∈ D ∩ D0 então f é contínua em a.


f (x) − f (a)
Prova. Para todo x ∈ D, x 6= a tem-se que f (x) = (x − a) + f (a), então
∙ ¸ x−a
f (x) − f (a) f (x) − f (a)
lim f (x) = lim (x − a) + f (a) = lim lim (x − a) + lim f (a) =
x→a x→a x−a x→a x − a x→a x→a
102 CAPÍTULO 6. DIFERENCIABILIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL

f 0 (a) 0 + f (a) = f (a) , já que f é derivável em a. Logo, f é contínua em a. ¤

Nota 6.12 A recíproca deste resultado não é verdadeira. Observe que f (x) = |x| é con-
|x|
tínua em a = 0, no entanto não é derivável neste ponto pois não existe lim , já que
x→0 x
|x| |x|
lim = 1 enquanto que lim− = −1. Sendo assim a continuidade é apenas condição
x→0+ x x→0 x
necessária para que f seja derivável, mas não é condição suficiente, como mostra o
exemplo.

Calculamos pela definição a derivada de algumas funções. A seguir daremos as regras


de derivação, que nos permitirão calcular a derivada de outras funções, sem ter que utilizar
a definição.

Proposição 6.13 (Operações com funções deriváveis) Sejam f, g : D → R, a ∈


D ∩ D0 . Se f e g são deriváveis em a então:
a) f ± g é derivável em a e (f ± g)0 (a) = f 0 (a) ± g 0 (a) .
b) Se c ∈ R, cf é derivável em a e (cf )0 (a) = cf 0 (a).
c) fg é derivável em a e (f g)0 (a) = f 0 (a) g(a)
µ ¶ + f (a)g0 (a) .
0
f f f 0 (a) g (a) − f (a) g0 (a)
d) Se g(a) 6= 0 então é derivável em a e (a) = .
g g (g (a))2

Prova. Demonstraremos apenas o ítem (d) e deixaremos os demais a cargo do aluno.


f
Determinemos a razão incremental da função , ou seja,
g
µ ¶ µ ¶
f f
(x) − (a)
g g f (x)g(a) − f (a)g(x) g(a) (f (x) − f (a)) − f (a) (g(x) − g(a))
= = ,
x−a (x − a) g(x)g(a) (x − a) g(x)g(a)
mas como g é derivável em a então g é contínua em a, isto é, lim g(x) = g(a) 6= 0, portanto
x→a
utilizando as propriedade de limite obtemos,
µ ¶ µ ¶
f f
(x) − (a)
g g f (x) − f (a) g(a) g(x) − g(a) f (a)
lim = lim lim − lim lim ,
x−a x−a g(x)g(a) x−a g(x)g(a)
portanto µ ¶ µ ¶
f f
(x) − (a)
g g f 0 (a)g(a) − g 0 (a)f (a)
lim = .
x−a (g(a))2
¤

Assim, pode-se calcular outros limites tais como:


6.1. DERIVABILIDADE E DIFERENCIABILIDADE 103

Exemplo 6.14 Tem-se que (tg x)0 = sec2 x, em cada ponto x ∈ D = {x³ ∈ R;´x 6=
π sen x sen x 0
+ kπ, k ∈ Z}, pois tg x = com cos x 6= 0, ∀x ∈ D, logo, (tg x)0 = =
2 0 0
cos x cos x
(sen x) cos x − sen x (cos x)
. Assim, utilizando as derivadas de seno e cosseno, já calcu-
cos2 x
cos2 x + sen2 x 1
ladas por definição, obtemos que (tg x)0 = 2
= = sec2 x.
cos x cos2 x
ex − e−x ex ex −1
Exemplo 6.15 (senh x)0 = cosh x, pois senh x = = x
. Assim, (senh x)0 =
2 2e
1 (ex ex −1)0 ex − (ex )0 (ex ex −1)
2x
. Mas (ex ex −1)0 = (ex )0 ex + ex (ex )0 − (1)0 = 2 e2x . Por-
2 e
tanto,
1 2 e3x − e3x + ex ex + e−x
(senh x)0 = = = cosh x.
2 e2x 2
Um outro resultado importante é o teorema da inversa, que nos permite calcular
derivada de funções inversas, quando estas existem.

Teorema 6.16 (Teorema da derivada da inversa) Sejam f : D → R, injetora em


D, a ∈ D ∩ D0 tal que f é derivável em a com f 0 (a) 6= 0 e f −1 é contínua em b = f (a).
Então f −1 : f (D) → D é derivável em b = f (a) e
¡ −1 ¢0 1 1
f (b) = = .
f0 (f −1 (b)) f0 (a)

f (x) − f (a)
Prova. Como f é derivável em a, segue que lim = f 0 (a) e como tal limite
x→a x−a
x−a x−a
é não nulo, considerando q(x) = , segue que lim q(x) = lim =
f (x) − f (a) x→a x→a f (x) − f (a)
1
0
. Ainda limf −1 (y) = f −1 (b) = a, pois f −1 é contínua em b e f −1 (y) 6= f −1 (b),
f (a) y→b
∀y 6= b, pois f −1 é injetora, já que f o é. Assim, pelo teorema da composta I, segue
f −1 (y) − a f −1 (y) − f −1 (b) 1 1
que, limq(f −1 (y)) = lim = lim = 0 = 0 −1 , o que
y→b y→b y − f (a) y→b y−b f (a) f (f (b))
implica que f −1 é derivável em b e
¡ −1 ¢0 1 1
f (b) = = .
f0 (f −1 (b)) f0 (a)
¤

Exemplo 6.17 Determinemos


³ π π´ a derivada de arcsen y, y ∈ ³(−1, 1) .´Como sen x é con-
0 π π
tínua, injetiva em − , e (sen) (x) = cos x 6= 0, ∀x ∈ − , , segue que arcsen
2 2 2 2
1 √
é derivável em (−1, 1) e (arcsen)0 (y) = . Mas cos x = 1 − sen2 x, ∀x ∈
cos (arcsen y)
104 CAPÍTULO 6. DIFERENCIABILIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL
³ π π´ p p
− , , assim, cos (arcsen y) = 1 − sen2 (arcsen y) = 1 − y 2 . Portanto, (arcsen)0 (y) =
2 2
1
p .
1 − y2

Exemplo 6.18 Seja n ∈ N, n par. Então n x, x ∈ [0, +∞) é a inversa de f (x) =
xn , x ∈ [0, +∞). Neste intervalo f é contínua, √ injetora, derivável e f 0 (x) = nxn−1 .
0
Assim, do teorema da inversa, f −1 (x) = n x é derivável em (0, +∞) e (f −1 ) (x) =
1 1
0 −1
= √ n
. Em a = 0, tal função não é derivável, pois não existe o limite da
f (f (x)) n xn−1
razão incremental.(Verifique!)
Nota 6.19 Quando f 0 (a) = 0, o teorema da derivada da inversa não afirma que f −1
não é derivável em f (a) . Após a regra da cadeia, veremos que podemos concluir a não
derivabilidade de f −1 , no ponto f (a).
Um conceito importante do Cálculo é a noção de diferenciabilidade. No caso de funções
de uma variável, mostraremos que derivabilidade e diferenciabilidade são noções equiv-
alentes, mas existe uma diferença conceitual. A derivabilidade está relacionada à taxa
de variação de uma função. Por exemplo a velocidade é a taxa de variação instantânea
da distância percorrida em relação ao tempo. No entanto a diferenciabilidade está rela-
cionada com a aproximação de uma função numa vizinhança de um ponto por uma função
linear. Assim, a pergunta que se coloca é: qual a função linear, cujo gráfico é uma reta,
aproxima melhor uma dada função numa vizinhança de um ponto?
Definição 6.20 Seja f : D → R e a ∈ D ∩ D0 . Dizemos que f é diferenciável em a
quando existe m ∈ R e uma função Ea : D → R contínua em a, com Ea (a) = 0 tais que
f (x) = f (a) + m (x − a) + Ea (x) (x − a) , ∀x ∈ D.
Nota 6.21 Observe que a definição garante que, quando a ∈ D0 , numa vizinhança de a
contida em D, pode-se aproximar f (x) pela função linear f (a)+m(x−a). Este é o conceito
de diferenciabilidade: poder aproximar uma função numa vizinhança de um ponto por uma
função linear.
Exemplo 6.22 Seja f : R → R, definida por f (x) = x3 . Então, para cada a ∈ R,
f (x) − f (a) = x3 − a3 = (x − a) (x2 + xa + a2 ) = 3a2 (x − a) + (x − a) (x2 + xa − 2a2 ) .
Assim, considerando m = 3a2 e Ea : R → R, definida por Ea (x) = (x2 + xa − 2a2 ) , é
fácil verificar que Ea é contínua em a e Ea (a) = 0 e portanto f é diferenciável em cada
a ∈ R.
Exemplo 6.23 Seja f : R → R, definida por f (x) = ex . Então, para cada a ∈ R, f (x)−
( ex − ea
− ea ; x 6= a
f (a) = ex − ea = ea (x − a) + (x − a) Ea (x) , onde Ea (x) = x−a .
∙ x 0;
¸ x = a
a
e − ea a
ex − ea
e
Assim, considerando m = , tem-se que lim Ea (x) = lim − e = lim −
x→a x→a x−a x→a x − a
ea = 0 = Ea (a) . Portanto f é diferenciável em cada a ∈ R.
6.1. DERIVABILIDADE E DIFERENCIABILIDADE 105

Vamos mostrar que "f ser diferenciável em a”é equivalente a "f ser derivável em a” e
que a reta que melhor aproxima f numa vizinhança de a é a reta tangente ao gráfico de
f no ponto (a, f (a)), como pudemos perceber nos exemplos acima.

Teorema 6.24 Seja f : D → R e a ∈ D ∩ D0 . f é derivável em a ⇔ f é diferenciável


em a. Neste caso m = f 0 (a). Isto é, o coeficiente angular da reta que aproxima f numa
vizinhança de a é o coeficiente angular da reta tangente ao gráfico de f no ponto (a, f (a)).

f (x) − f (a)
Prova. (⇒)Como f é derivável então existe f 0 (a) = lim . Considere então
⎧ x→a x−a
⎨ f (x) − f (a)
− f 0 (a), x 6= a
Ea : D → R definida por Ea (x) = x − a . Da definição de Ea ,
⎩ 0 x=a
segue que
f (x) = f (a) + f 0 (a) (x − a) + Ea (x) (x − a) , ∀x ∈ D.

Resta mostrar que Ea é contínua em a, isto é, lim Ea (x) = 0. De fato:


x→a

µ ¶
f (x) − f (a) 0
lim Ea (x) = lim − f (a) ,
x→a x→a x−a

e como f é derivável em a, então

lim Ea (x) = (f 0 (a) − f 0 (a)) = 0 = Ea (a) .


x→a

Assim, conclui-se que f é diferenciável em a e que m = f 0 (a).


f (x) − f (a)
(⇐) Como f é diferenciável em a, então = m + Ea (x), ∀x ∈ D, x 6= a
x−a
f (x) − f (a)
então lim = lim [m + Ea (x)] = m. Portanto f é derivável em a e m = f 0 (a).
x→a x−a x→a
¤

√ √
Exemplo 6.25 Determine aproximadamente 3 1, 03. Sabe-se que f (x) = 3 x é derivável
1 1
em a = 1 e f 0 (a) = √ 3
= , portanto f é diferenciável em a = 1 logo f (x) =
3 a2 3
√ √ 1
f (a) + f 0 (a) (x − a) + Ea (x) (x − a) , ∀x ∈ R. Portanto 3 1, 03 ≈ 3 1 + √
3
(1, 03 − 1) =
3 12
1 + 0, 01 = 1, 01. Veja a seguir o gráfico de f e o gráfico da reta tangente ao gráfico
µ de¶f
1 1 3
no ponto (1, f (1)) , na vizinhança centrada em 1, de raio , ou seja V0,5 (1) = , .
2 2 2
106 CAPÍTULO 6. DIFERENCIABILIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL

Observe que em torno do ponto (1, f (1)) , os gráficos se confundem.

Exemplo 6.26 Determine aproximadamente sen (0, 001) . Como a função seno é de-
rivável em R, então ela é diferenciável em R. Assim,
sen (0, 001) ≈ sen (0) + cos (0) (0, 001 − 0) = 0, 001.
Exemplo 6.27 Determine aproximadamente arcsen (0, 002) . Como a função arcsen é
derivável em (−1, 1), segue que arcsen é diferenciável em (−1, 1) e portanto
1
arcsen x ≈ arcsen a + √ (x − a) .
1 − a2
Considerando a = 0 e x = 0, 002 segue que arcsen (0, 002) ≈ 0 + 0.002 = 0.002.
Definição 6.28 Sejam f : D → R, a ∈ D ∩ D0 e f diferenciável em a. Definimos a
diferencial de f no ponto a, como sendo a transformação linear df (a) : R → R,
df (a) (h) = f 0 (a) h.
π
Exemplo 6.29 Seja f (x) = tg x, x 6= + kπ, k ∈ Z, então a diferencial de f no ponto
2
a = 0 é a transformação linear df (0) : R → R, df (0) (h) = (sec2 0) h = h, ∀h ∈ R. Ainda
π
para cada a ∈ D = {x ∈ R; x 6= + kπ, k ∈ Z}, df (a) (h) = (sec2 a) h.
2
Exemplo 6.30 Seja f : R → R, f (x) = x, assim, para cada a ∈ R, df (a) : R → R,
df (a) (h) = f 0 (a) h = h. Ou seja a diferencial de f (x) = x independe do ponto a ∈ R.
Por isso, dizemos que dx (h) = h, ∀h ∈ R.
Exemplo 6.31 Sejam f : D → R, a ∈ D ∩ D0 e f diferenciável em a. A diferencial de f
em a é df (a) (h) = f 0 (a) h, como vimos na definição. Do exemplo anterior, tem-se que
df (a) df (a) (h) df (a)
= (h) = = f 0 (a) , ∀h ∈ R\{0} e portanto pode-se concluir que =
dx dx (h) dx
f 0 (a) , (notação de Leibniz), ou seja, a derivada f 0 (a) é o quociente das diferenciais
f (x) − f (a)
dy = df (a) e dx. Na definição de derivada f 0 (a) = lim temos o limite do
x→a x − a,
quociente das diferenças: ∆y = f (x) − f (a) e ∆x = x − a.
6.1. DERIVABILIDADE E DIFERENCIABILIDADE 107

O próximo resultado nos dará mais um regra de derivação, a última que faltava.

Proposição 6.32 (Regra da cadeia) Sejam f : Df → R e g : Dg → R tal que Im f ⊂


Dg , a ∈ Df ∩ Df0 e f (a) ∈ Dg ∩ Dg0 . Se f é derivável em a e g é derivável em f (a) então
g ◦ f é derivável em a e (g ◦ f )0 (a) = g 0 (f (a)) f 0 (a).

Prova. Como g é derivável em f (a) então g é diferenciável em f (a), então existe


Ef (a) : Dg → R contínua em f (a) com Ef (a) (f (a)) = 0 tal que

g(y) = g(f (a)) + g 0 (f (a)) (y − f (a)) + Ef (a) (y) (y − a) , ∀y ∈ Dg .

(g ◦ f ) (x) − (g ◦ f ) (a) g (f (x)) − g(f (a))


Portanto = =
x−a x−a
f (x) − f (a) f (x) − f (a)
= g0 (f (a)) + Ef (a) (f (x)) , ∀x ∈ Df , x 6= a. Assim, como Ef (a)
x−a x−a
é contínua em f (a) com Ef (a) ((f (a)) = 0 e f é contínua em a, pois é derivável em a,
então,
(g ◦ f ) (x) − (g ◦ f ) (a)
(g ◦ f )0 (a) = lim = g 0 (f (a))f 0 (a). ¤
x→a x−a


Exemplo 6.33 Determine os pontos onde f (x) = cosh x4 + x2 + 1 é derivável e nestes
pontos determine sua derivada.

Como cosh é derivável em R, y é derivável em (0, +∞) , x4 + x2 + 1 é derivável em
R e x4 + x2 + 1 > 0, ∀x ∈ R, segue que f é derivável em R e
³√ ´ 4x3 + 2x ³√ ´ 2x3 + x
f 0 (x) = senh x4 + x2 + 1 √ = senh x4 + x2 + 1 √ , ∀x ∈ R.
2 x4 + x2 + 1 x4 + x2 + 1

Exemplo 6.34 A função f (x) = xx é derivável em (0, +∞) , pois f (x) = exp (x ln x) . A
função h (x) = x ln x é derivável em (0, +∞), Im h ⊂ R e a função g (x) = ex é derivável
em R. Portanto como f é composta de funções deriváveis, segue que f é derivável em
(0, +∞) e ainda
f 0 (x) = exp (x ln x) (ln x + 1) = xx (ln x + 1) .

Nota 6.35 Observe que a regra da cadeia nos diz que se f é derivável em a e g é derivável
em f (a), então g ◦ f é derivável em a. Mas nada podemos afirmar se uma delas não √ é
4
derivável. Por exemplo: Considere f : R → R, f (x) = x e g : R → R; g (x) = x. 3

Tem-se que f é derivável em cada ponto de R, em particular


√ em a = 0. A função g é
3 4
derivável em R\{0} (mostre!). No entanto g ◦ f = x é derivável em R e portanto
derivável em a = 0. Portanto quando falhar uma das hipótese da regra da cadeia, deve-se
apelar para a definição.

Como já havíamos dito a regra da cadeia nos permitirá concluir que a função inversa
de uma função derivável f, não é derivável nos pontos onde a derivada de f for igual a 0.
108 CAPÍTULO 6. DIFERENCIABILIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL

Proposição 6.36 Seja f : D → R, injetora em D, a ∈ D ∩ D0 tal que f é derivável em


a, com f 0 (a) = 0 e f −1 : f (D) → D contínua em a. Então f −1 não é derivável em f (a) .

Prova. Suponha por absurdo que f −1 é derivável em f (a) , então como f é de-
0
rivável em a, segue pela regra da cadeia que f −1 ◦ f é derivável em a e (f −1 ◦ f ) (a) =
0 0
(f −1 ) (f (a)) f 0 (a) = 0. Mas (f −1 ◦ f ) (x) = x, ∀x ∈ D e portanto (f −1 ◦ f ) (a) = 1, o
que é um absurdo. Logo, f −1 não é derivável em a.
h π πi
Exemplo 6.37 A função f (x) = sen x é contínua e injetora no intervalo − , e
h π πi 2 2
portanto admite inversa f −1 (x) = arcsen x, tal que f −1 : [−1, 1] → − , é contínua
h π πi ³ π 2π ´2 ³π ´
em [−1, 1] . Como f é derivável em − , , f 0 (x) 6= 0, ∀x ∈ − , e f0 =
³ π´ 2 2 2 2 2
f0 − = 0, então f −1 é derivável apenas em (−1, 1) .
2
³ π π´
Exemplo 6.38 A função f (x) = arctg x é derivável em R, pois tg : − , →R é
³ π 2 2´
π
derivável, portanto contínua, injetora, com (tg)0 (x) = sec2 x 6= 0, ∀x ∈ − , . Ainda
³³ π π ´´ ³ π π´ 2 2
tg − , = R. Logo, como f = g −1 : R → − , , segue que f é derivável em R
2 2 2 2
1 1 1 1
e f 0 (x) = 0 = 2
= 2 = .
g (f (x)) sec (arctg x) 1 + tg (arctg x) 1 + x2

¤
Exercício 1
Determine o domínio de derivabilidade de fx  arcsec x 4  1 . Nestes
pontos calcule f ′ .
Solução: A função arcsec : 1,  → 0,   é contínua, pois sec : 0,   → 
2 2
 
é contínua, injetora no intervalo 0,  e sec 0,   1, , já que cos é
2 2
estritamente decrescente neste intervalo e portanto sec será estritamente
decrescente com lim − sec x  . Ainda sec é derivável em 0,   com
x→/2 2

sec x  sec x tg x ≠ 0, ∀x ∈ 0,  . Logo pelo teorema da derivada da inversa
2
tem-se que arcsec é derivável em 1,  e não é derivável em b  1  sec 0, pois
sec ′ 0  sec 0 tg 0  0. Ainda a função g :  → , gx  x 4  1 , é derivável em
 e Im g  1,  e g0  1. Logo pela regra da cadeia tem-se que f  arcsec ∘ g é
derivável em \0.
Resta agora avaliar, pela definição, a derivabilidade de f no ponto 0. Para isso
vamos verificar a existência ou não do seguinte limite
arcsec x 4  1
lim x ,
x→0

já que f0  0. Para isso aplicaremos o teorema da composta para limites.


, y ∈ 0,  , então lim hy lim sen y y cos y  0.
y y
Considere hy 
tg y 2 y→0 y→0

Ainda lim arcsec x 4  1  0 e arcsec x 4  1 ≠ 0, ∀x ≠ 0. Assim pelo teorema da


x→0
composta I, segue que lim h ∘ fx  0. Mas,
x→0
arcsec x  1
4
arcsec x 4  1 arcsec x 4  1
h ∘ fx    
tg arcsec x 4  1 sec 2
arcsec x  1
4
−1
4
x4  1 − 1

arcsec x 4  1 arcsec x 4  1
Assim, lim lim x  0, o que implica que
x→0 |x| x→0

arcsec x 4  1
lim x  0. Assim f também é derivável em a  0.
x→0
Logo, f é derivável em  e f ′ x  42x , pois
x 1
arcsec ′ y  1  1  1 , y ∈ 1, 

sec arcsec y secarcsec y tgarcsec y y y −1
2

Portanto arcsec ′ x 4  1  1 , x ≠ 0e
x x4  1
2

x4  1  4x 3  2x 3 , bastando agora aplicar a regra da cadeia.
2 x4  1 x4  1
Ainda como f ′ 0  0, tem-se o resultado.
Exercício 2
Dê um exemplo de uma função f :  →  contínua em , derivável em \ℕ
e tal que f ′ x  0, ∀x ∈ −, 1  2n, 2n  1, n ∈ ℕ. Esboce o gráfico de f.
x; x ∈ −, 1
Solução: Considere f :  → , fx  2n − x; x ∈ 2n − 1, 2n , n ∈ ℕ. É
x − 2n; x ∈ 2n, 2n  1
claro que f é contínua em −, 1  2n, −1, 2n, n ∈ ℕ  2n, 2n  1, n ∈ ℕ pois
as funções são lineares. Basta verificar que f é contínua nos pontos
2n − 1, 2n; n ∈ ℕ. Vejamos:
1) Para a  1, tem-se que lim fx  lim x  1 e lim fx  lim 2 − x  1, logo
x→1 − x→1 − x→1  x→1 
lim fx  f1.
x→1

2) Para a  2n − 1, n ≥ 2, tem-se que lim fx  lim x − 2n − 2  1 e


x→2n−1 − x→2n−1 −
lim fx  lim 2n − x  1, logo lim fx  1  f2n − 1.
x→2n−1  x→2n−1 x→2n−1

3) Para a  2n, n ≥ 1, tem-se que lim − fx  lim − 2n − x  0 e


x→2n x→2n
lim fx  lim x − 2n  0, logo lim fx  0  f2n.
x→2n  x→2n  x→2n

Portanto f é contínua em .
Ainda f é derivável em −, 1  2n, −1, 2n, n ∈ ℕ  2n, 2n  1, n ∈ ℕ e
1; x ∈ −, 1

sua derivada é dada por f x  −1; x ∈ 2n − 1, 2n , n ∈ ℕ, e assim,
1; x ∈ 2n, 2n  1
f ′ x  0, ∀x ∈ −, 1  2n, 2n  1, n ∈ ℕ. Resta mostrar que f não é
derivável em ℕ. De fato:
fx − f1
1) Para a  1, tem-se que lim  lim x − 1  1 e
x→1 − x − 1 x→1 − x − 1
fx − f1
lim  lim 2 − x − 1  lim 1 − x  −1. Logo como os limites
x→1  x − 1 x→1  x−1 x→1  x − 1
fx − f1
laterais são distintos então ∄ lim e portanto f não é derivável
x→1 x−1
em a  1.
2) Para a  2n − 1, n ≥ 2 tem-se que
fx − f2n − 1 x − 2n − 2 − 1 x − 2n − 1
lim −  lim −  lim − 1
x→2n−1 x − 2n − 1 x→2n−1 x − 2n − 1 x→2n−1 x − 2n − 1
fx − f2n − 1
e lim  lim 2n − x − 1  lim 2n − 1 − x  −1. Logo
x→2n−1  x − 2n − 1 x→1  x − 2n − 1 x→1  x − 2n − 1
fx − f2n − 1
como os limites laterais são distintos então ∄ lim e
x→2n−1 x − 2n − 1
portanto f não é derivável em a  2n − 1.
fx − f2n
3) Para a  2n, n ≥ 1 tem-se que lim −  lim − 2n − x  −1 e
x→2n x − 2n x→2n−1 x − 2n
fx − f2n
lim  lim x − 2n  1. Logo como os limites laterais são
x − 2n x→1  x − 2n

x→2n
fx − f2n
distintos então ∄ lim e portanto f não é derivável em a  2n.
x→2n x − 2n
O gráfico de f é:
Exercício 3
Considere f : I →  derivável no intervalo aberto I e seja a ∈ I tal que
fx ≤ fa, ∀x ∈ I. Mostre que f ′ a  0.
Solução: Como f é derivável em a, segue que existe o limite da razão
fx − fa fx − fa fx − fa
incremental e lim x − a  lim x − a  lim x−a .
x→a x→a − x→a 
fx − fa
Mas fx − fa ≤ 0, ∀x ∈ I, portanto x−a ≤ 0, ∀x ∈ I com x  a e
fx − fa
x−a ≥ 0, ∀x ∈ I com x  a. Logo, destas desigualdades e das propriedades
de limite tem-se que
fx − fa
lim x−a ≥ 0,
x→a −
fx − fa
lim x−a ≤ 0.
x→a 

O que implica, da derivabilidade de f e portanto da existência do limte da razão


incremental que
fx − fa
lim x−a  0  f ′ a.
x→a
Exercício 4
Seja f :  →  derivável em .
a) Se f é par, mostre que f ′ é ímpar.
b) Se f é ímpar, mostre que f ′ é par.
c) Se f é periódica, mostre que f ′ é periódica de mesmo período.
Solução:
a) Como f é par, então fx  f−x, ∀x ∈ . Assim, derivando ambos os lados
desta igualdade e utilizando a regra da cadeia obtemos que
f ′ x  f ′ −x−1  −f ′ −x, ∀x ∈ 
o que implica que f ′ é ímpar.
b) Como f é ímpar, então fx  −f−x, ∀x ∈ . Assim, derivando ambos os
lados desta igualdade e utilizando a regra da cadeia obtemos que
f ′ x  −f ′ −x−1  f ′ −x, ∀x ∈ 
o que implica que f ′ é par.
c) Como f é periódica, suponhamos de período a ∈ , então fx  fx  a,
∀x ∈ . Assim, derivando ambos os lados desta igualdade e utilizando a
regra da cadeia obtemos que
f ′ x  f ′ x  a1  f ′ x  a, ∀x ∈ 
o que implica que f ′ é periódica.
Exercício 5
Seja f :  →  definida por fx  x 3  e x . Mostre que f é bijetora e que
f −1 :  →  é derivável. Além disso, determine f −1  ′ 1.
Solução: Como x 3 e e x são ambas estritamente crescentes, segue que f é
estritamente crescente e portanto injetora. Além disso,
lim fx   e x→−
x→
lim fx  −.
Ainda como f é contínua, segue que f−,  é um intervalo. Logo, Im f  .
Portanto como f é bijetora e contínua no intervalo −, , segue que f −1 é
contínua em −,   Im f. Ainda f é derivável e f ′ x  3x 2  e x  0, ∀x ∈ , logo
pelo teorema da inversa, segue que f −1 é derivável em cada ponto de  e

f −1  y  ′ −11 , portanto, como f −1 1  0, segue que
f f y
f −1  ′ 1  ′ −11  ′ 1  1,
f f 1 f 0
já que f ′ 0  1.
Exercício 6
Seja f :  →  definida por fx x .
x2  1
a) Determine os pontos do gráfico de f em que as retas tangentes,
nestes pontos, sejam paralelas ao eixo Ox.
b) Estude o sinal de f ′ .
c) Calcule lim fx e lim fx.
x→ x→−

d) Com estas informações esboce o gráfico de f.


Solução:
a) Uma reta é paralela ao eixo Ox, se seu coeficiente angualr é 0. Como o
coeficiente angular da reta tangente ao gráfico de f no ponto a, fa é
f ′ a, segue que devemos encontrar os pontos a tais que f ′ a  0. Mas
f ′ x  x  1 − 2x  1 − x 2 , logo f ′ a  0  1 − a 2  0  a  1.
2 2 2
2
x 2  1 x 2  1
Logo os pontos do gráfico de f em que as retas tangentes são para lelas
ao eixo Ox são: 1, 1 e −1, 1 e as equações das retas tangentes aos
2 2
gráficos nestes pontos, são, respectivamente, y  1 e y  − 1 .
2 2
b) Como f ′ x  1 − x 2 , tem-se que f ′ x  0, para todo x ∈ −1, 1
2

x 2  1
enquanto que f ′ x  0. para todo x ∈ −, −1  1, .
c) Temos que para x ≠ 0, fx  x  1x 1 . Como
x 2 1  1/x 2  1  1/x 2
lim 1x  0  lim 12 , segue que
x→ x→ x

lim fx  0  lim fx.


x→ x→−

d) Com as informações acima, vemos que, para cada x ∈ −1, 1 o coeficiente


angular da reta tangente aográfico de f nos pontos x, fx é positivo e
para x ∈ −, −1  1,  o coeficiente angular da reta tangente aográfico
de f nos pontos x, fx é negativo. Nos pontos 1, 1 e −1, 1 as retas
2 2
tangentes são paralelas ao eixo Ox. Assim, o gráfico de f é:
6.1. DERIVABILIDADE E DIFERENCIABILIDADE 109

6.1.1 Lista de exercícios


Exercício 6.39 Determine os pontos onde as funções abaixo são deriváveis e determine
sua derivada nestes pontos:

a) f (x) = tg x.

b) f (x) = loga x, 0 < a e a 6= 1.

c) f (x) = sec x2 .
√3
d) f (x) = cosh x4 .

e) f (x) = tgh x.

f) f (x) = ax , a > 0, a 6= 1.

g) f (x) = xa , x > 0, sendo a ∈ R.


sen x + cos x
h) f (x) = .
sen x − cos x
i) f (x) = ln (ln (x2 + 1)) .

Exercício 6.40 Determine a derivada de arccos y, y ∈ (−1, 1) .

Exercício 6.41 Determine a derivada de arctg y, y ∈ R.

Exercício 6.42 Determine o intervalo onde arcsenh x é derivável e determine nestes


pontos sua derivada.

Exercício 6.43 Determine o intervalo onde as funções abaixo são deriváveis e determine
nestes pontos suas derivadas. Verifique ainda em que pontos f 0 é contínua:

a) f (x) = arccos x3 .

b) f (x) = x arctg x.
µ ¶
2−x
c) f (x) = arcsen .
x
( 1
x2 cos + (x2 + 3x) , x 6= 0
d) f (x) = x .
0 x=0
( 1
x cos + (x2 + 3x) , x 6= 0
e) f (x) = x .
0 x=0
110 CAPÍTULO 6. DIFERENCIABILIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL
⎧ x
⎨ e ,
⎪ x≤0
f) f (x) = ln(x + 1) 0 < x < (e − 1) .

⎩ x + 1
x≥e
e
Exercício 6.44 Determine aproximadamente os seguintes valores abaixo, usando a difer-
enciabilidade das funções envolvidas.
a) ln 1, 03.

b) 3 8, 02.
c) e0,04 .
d) arctg (0, 01)
Exercício 6.45 Despeja-se água num recipiente cilíndrico de raio r = 0, 2 metros. à
razão constante de 0, 04 litros por segundo. Determine a velocidade de subida do nível da
água.
Exercício 6.46 Um balão esférico é enchido com gás a pressão constante, à razão con-
stante de 0, 02 metros cúbicos pro segundo. Supondo que o balão mantenha sempre sua
forma esférica, determine a taxa de variação de seu raio, no instante em que este vale
0, 05 metros.

Exercício 6.47 Determine uma equação da reta normal ao gráfico de f (x) = x3 ln x +
2x , no ponto (1, 2) .
2
Exercício³ 6.48 ´Determine uma equação da reta tangente ao gráfico de f (x) = 3sen x ,
π √
no ponto , 3 .
4
½
2x + 1; x < 1
Exercício 6.49 Seja g : R → R, g (x) = . Mostre que g não é de-
−x + 4; x ≥ 1
rivável em x = 1. Esboce o gráfico de g.
Exercício 6.50 Dê um exemplo de uma função f : R → R, que seja contínua em R e
derivável em R\{−1, 0, 1}. Esboce o gráfico de f.
Exercício 6.51 Dê um exemplo de uma função f : R → R que seja contínua em R e
derivável em R\Z. Esboce o gráfico de f.
Exercício 6.52 Seja f : R → R, f (x) = x3 + 3x2 + 1.
a) Estude o sinal de f 0 .
b) Calcule lim f (x) e lim f (x) .
x→+∞ x→+∞

c) Com estas informações esboce o gráfico de f.


6.1. DERIVABILIDADE E DIFERENCIABILIDADE 111

6.1.2 Derivada de ordem superior e derivação implícita


Observe que se f é derivável num subconjunto A de seu domínio D, obtemos então uma
nova função g = f 0 cujo domínio é A. Pode-se então verificar em que pontos de A, a
função g é derivável. Assim, se g é derivável em a ∈ A ∩ A0 , dizemos que f é duas vezes
derivável em a e g0 (a) = f ”(a), denominada derivada segunda de f em a. E assim
sucessivamente, pode-se verificar se g 0 é derivável em a e se o for tem-se que f é três vezes
derivável em a e f 000 (a) é denominada derivada terceira ou de terceira ordem de f em a.
Estas derivadas são denominadas, de uma maneira geral, derivadas de ordem superior
e a n = ésima derivada de f em a é denotada por f (n) (a). É claro que as propriedades
válidas para a derivação também são válidas para as derivadas de ordem superior.

Definição 6.53 Sejam f : D ⊂ R → R, n ∈ N, n > 1, tal que f é n − 1 vezes derivável


em X ⊂ D. Seja a ∈ X ∩ X 0 . Dizemos que existe a n − ésima derivada de f em a, quando
existe
f (n−1) (x) − f (n−1) (a)
lim = f (n) (a) .
x→a x−a

Definição 6.54 Sejam f : D ⊂ R → R e n ∈ N. Dizemos que f é de classe C n em D e


denotamos por f ∈ C n (D) quando f admite todas as derivadas até ordem n, contínuas
em cada ponto de D.

Definição 6.55 Seja f : D ⊂ R → R. Dizemos que f ∈ C ∞ (D) quando f admite


derivada de todas as ordens, contínuas em cada ponto de D.
√3
Exemplo 6.56 Determine em que pontos a função f (x) = x4 é duas vezes derivável e
nestes pontos determine sua derivada e sua derivada segunda. Como a função g(x) = x4

é derivável em R e 3 y é derivável em R\{0}, podemos garantir, pelo teorema da composta
que f é derivável em R\{0}. No ponto a = 0, devemos verificar por definição. Vejamos

3
f (x) − f (0) x4 √
lim = lim = lim 3 x = 0.
x→0 x−0 x→0 x x→0

Portanto, f é derivável em 0 e f 0 (0) = 0. Ainda da regra da cadeia temos que f 0 (x) =


4√ √
3
x, ∀x ∈ R. Assim, f 0 é derivável em R\{0}. Como 3 y é derivável em R\{0}, segue
3
4
que f é duas vezes derivável em R\{0} e f ”(x) = √ 3
, ∀x ∈ R\{0}. Para verificar se
9 x2
f é duas vezes derivável em 0, novamente precisamos utilizar a definição, isto é,
4√
0 0
f (x) − f (0)
3
x 4
lim = lim 3 = lim √ = +∞.
x→0 x x→0 x x→0 3
3 x2
Logo f é duas vezes derivável apenas em R\{0}, mas não em a = 0.
112 CAPÍTULO 6. DIFERENCIABILIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL

Definição 6.57 Consideremos uma equação nas variáveis x e y,


F (x, y) = 0, ∀ (x, y) ∈ X ⊂ R2 .
Diz-se que a equação define implicitamente y como função f de x, para todo x no
intervalo I quando
F (x, f (x)) = 0, ∀x ∈ I.

Exemplo 6.58 A equação x2 + y 2 − 4 = 0,√define implicitamente f (x) = 4 − x2 , ∀x ∈
[−2, 2] e define também a função g(x) = − 4 − x2 , ∀x ∈ [−2, 2] .

Exemplo 6.59 A equação x2 − y 2 − 4 = 0, define implicitamente as funções ± x2 − 4,
∀x ∈ [2, +∞) ou ∀x ∈ (−∞, −2].

Sabendo-se que uma equação define impilicitamente y como função diferenciável de


x, pode-se calcular aproximadamente o valor desta função em pontos próximos de um
determinada valor conhecido, sem no entanto conhecer a função explicitamente. No curso
de cálculo de várias variáveis estudaremos as condições que garantem quando uma equação
define implicitamente uma das variáveis como função diferenciável da outra variável, numa
vizinhança de um ponto.

Exemplo 6.60 Suponhamos que a equação


¡ ¢
y + ln x2 + y 2 = x + 1,
define implicitamente, y = f (x) diferenciável no intervalo (−δ, δ) , para algum δ > 0, 003.
Determine aproximadamente f (0, 003).
Como f é diferenciável em 0 ∈ (−δ, δ) e da equação temos que f (0) = 1, então
f (0, 003) ≈ f (0) + f 0 (0) (0, 003) = 1 + f 0 (0) (0, 003) .
Assim, para calcularmos aproximadamente f (0, 003), precisamos do valor de f 0 (0), sem
conhecer explicitamente f. Para determinar este valor derivamos a equação em ambos os
lados em relação a x, lembrando que y = f (x), ou seja, pode-se escrever a equação da
seguinte forma, ∀x ∈ (−δ, δ) :
¡ ¢
f (x) + ln x2 + (f (x))2 = x + 1.
Derivando então, obtém-se:
2x + 2f (x)f 0 (x)
f 0 (x) + = 1,
x2 + (f (x))2
portanto em x = 0, lembrando que f (0) = 1, tem-se que
1
3f 0 (0) = 1 ⇒ f 0 (0) =
3
o que implica que f (0, 003) ≈ 1, 001.
6.2. A APLICAÇÃO DA DERIVADA AO ESTUDO DA VARIAÇÃO DE FUNÇÕES.113

6.2 A aplicação da derivada ao estudo da variação de


funções.
O objetivo desta seção é apresentar os principais resultados que nos permitirão determinar
os intervalos de crescimento e decrescimento de funções, os pontos onde ela assume máximo
e mínimo, a concavidade em cada intervalo, utilizando a noção de derivada da função.
Ao final deste capítulo estaremos em condições de traçar o gráfico de várias funções
utilizando a noção de limite e derivada.
A determinação de máximo e mínimo de uma função aparece em várias situações
concretas. Por exemplo suponha que um fazendeiro disponha de l metros de rede para
cercar uma pastagem de forma retangular, adjacente a uma longa parede de pedra. Que
dimensões darão a área máxima da pastagem?
Para um estudo sistemático de máximos e mínimos daremos algumas definições.

6.2.1 Estudo de máximos e mínimos


Definição 6.61 Sejam f : D ⊂ R → R e a ∈ D.

a) Dizemos que a é um ponto de máximo absoluto de f em D quando f (x) ≤


f (a), ∀x ∈ D.

b) Dizemos que a é um ponto de mínimo absoluto de f em D quando f (x) ≥


f (a), ∀x ∈ D.

Definição 6.62 Sejam f : D ⊂ R → R e a ∈ D ∩ D0

a) Dizemos que a é um ponto de máximo relativo ou máximo local de f em D


quando existe δ > 0 tal que f (x) ≤ f (a), ∀x ∈ (a − δ, a + δ) ∩ D.

b) Dizemos que a é um ponto de mínimo relativo ou mínimo local de f em D


quando existe δ > 0 tal que f (x) ≥ f (a), ∀x ∈ (a − δ, a + δ) ∩ D.

Definição 6.63 Seja f : D → R. Dizemos que a ∈ D é um ponto extremo de f quando


a é um ponto de máximo ou mínimo, relativo ou absoluto de f.

Exemplo 6.64 A função f (x) = x2 − 1 assume máximo absoluto no intervalo [−1, 1] nos
pontos x = ±1, com f (±1) = 0 e mínimo absoluto em x = 0 com f (0) = −1.

Exemplo 6.65 A função f (x) = cos x assume máximo absoluto em R nos pontos x =
2kπ, com cos (2kπ) = 1 e mínimo absoluto nos pontos x = (2k + 1) π com cos [(2k + 1) π] =
−1.

Veremos a seguir uma proposição que nos dá alguns candidatos a pontos extremos.
114 CAPÍTULO 6. DIFERENCIABILIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL

0 0
Proposição 6.66 Seja f : D → R e a ∈ D ∩ D+ ∩ D− um ponto extremo de f. Se f é
0
derivável em a então f (a) = 0.

Prova. Suponhamos sem perda de generalidade que a é um ponto de máximo relativo,


isto é, existe δ > 0 tal que

f (x) ≤ f (a), ∀x ∈ (a − δ, a + δ) ∩ D.

f (x) − f (a) f (x) − f (a)


Assim, ≥ 0, ∀x ∈ (a − δ, a) ∩ D ⇒ lim− ≥ 0. No entanto
x−a x→a x−a
f (x) − f (a) f (x) − f (a)
≤ 0, ∀x ∈ (a, a + δ) ∩ D ⇒ lim+ ≤ 0. Como f é derivável em a,
x−a x→a x−a
segue que o limite à direita e à esquerda são iguais, portanto f 0 (a) = 0. ¤

Definição 6.67 Seja f : D → R e a ∈ D ∩ D0 tal que f é derivável em a. Dizemos que


a é um ponto crítico de f quando f 0 (a) = 0.

Nota 6.68 Seja f : D → R, onde D é um intervalo ou união de intervalos. Então


a ∈ D é candidato a ponto extremo de f, somente se:

i) a ∈ D e f 0 (a) = 0 ou f não é derivável em a.

ii) a ∈ ∂D.

Nota 6.69 É importante observar que a proposição nos dá apenas uma condição necessária
para que um ponto de acumulação bilateral, isto é à esquerda e à direita de f seja extremo
e não suficiente. Por exemplo se tomarmos f (x) = x3 , segue que f 0 (x) = 0 ⇔ x = 0 e
no entanto tal ponto não é um ponto extremo de f, pois f (x) > 0 = f (0), ∀x ∈ (0, +∞) e
f (x) < 0 = f (0), ∀x ∈ (−∞, 0) . Observe o gráfico abaixo, onde vemos o gráfico de função
f , em azul e a reta tangente ao gráfico de f no ponto (0, 0) , tracejada.
6.2. A APLICAÇÃO DA DERIVADA AO ESTUDO DA VARIAÇÃO DE FUNÇÕES.115

Exemplo 6.70 Determinemos os pontos extremos de f (x) = x (1 − x)2 , em R. Como R


é um intervalo aberto e f é derivávem em todos os pontos de R, os candidatos estão entre
os pontos onde a derivada de f é 0. Assim, resolvemos a equação f 0 (x) = 0, isto é,
(1 − x)2 − 2x (1 − x) = 0 ⇔ (1 − x) (1 − 3x) = 0,
1
cujas soluções são x = 1 ou x = . Observe que x = 1 é ponto de mínimo relativo de
3
f, pois f (x) ≥ 0 = f (1), ∀x ∈ (0, +∞) . Como f (x) < 0, ∀x ∈ (−∞, 0), f (x) > 0,
1
∀x ∈ (0, 1) e f (1) = 0 e f é derivável em toda reta, pode-se suspeitar que x = seja um
3
ponto de máximo relativo. Esboçando o gráfico de f, percebe-se que f possui um máximo
1
em algum ponto no intervalo (0, 1) e dos candidatos que obtivemos, temos que a = é o
3
ponto de máximo relativo. Veja o gráfico a seguir:

Neste exemplo, pudemos ver facilmente se os pontos obtidos eram de máximo ou


mínimo relativos, mas como verificar isto analiticamente? É o que veremos mais adiante,
através de critérios que iremos estabelecer.
Para estabelecermos critérios que garantam quando um ponto no interior do domínio
de f é máximo ou mínimo relativo ou absoluto serão necessários alguns importantes
teoremas.
Teorema 6.71 (Teorema de Rolle): Seja f : [a, b] → R contínua no intervalo [a, b],
derivável em (a, b) e tal que f (a) = f (b). Então existe c ∈ (a, b) tal que f 0 (c) = 0.
Prova. Como f é contínua em [a, b] então existem x1 , x2 ∈ [a, b] tais que
f (x1 ) ≤ f (x) ≤ f (x2 ), ∀x ∈ [a, b] .
Se x1 e x2 forem os extremos do intervalo, segue que f (x) = f (a) = f (b), ∀x ∈ [a, b], isto
é f é constante e portanto f 0 (x) = 0, ∀x ∈ (a, b) e c é qualquer ponto de (a, b) .
Se x1 ou x2 fôr um ponto do interior do intervalo, segue da proposição anterior que a
derivada de f neste ponto é igual a zero e c será o ponto extremo no interior do intervalo.
¤
116 CAPÍTULO 6. DIFERENCIABILIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL

Nota 6.72 Geometricamente o teorema de Rolle garante que nas condições do teorema,
existe um ponto P = (c, f (c)) em que a reta tangente ao gráfico de f neste ponto P
é paralela ao eixo dos x0 s. Veja a seguir o gráficoµ da função
¶ do exemplo anterior, no
1 4
intervalo [0, 1] e a reta tangente a este, no ponto , .
3 27

Nota 6.73 Observe ainda que se f não for derivável no interior do intervalo, mesmo
que todas as condições sejam satisfeitas podemos não ter a existência deste ponto c. Por
exemplo considere f (x) = |x| , x ∈ [−1, 1] . Neste caso f (−1) = f (1) = 1, f é contínua
em [−1, 1] e no entanto não existe c ∈ (−1, 1) tal que f 0 (c) = 0, pois f não é derivável
em (−1, 1) . Olhe o gráfico.

Nota 6.74 Observe ainda que se todas as condições forem satisfeitas e f (a) 6= f (b) tam-
bém não podemos concluir nada. Por exemplo f (x) = x + 2 é contínua em [−1, 1] e de-
rivável em (−1, 1), no entanto f 0 (x) = 1, ∀x ∈ (−1, 1) , e portanto não existe c ∈ (−1, 1)
6.2. A APLICAÇÃO DA DERIVADA AO ESTUDO DA VARIAÇÃO DE FUNÇÕES.117

tal que f 0 (c) = 0, pois f (−1) = 1 6= 3 = f (1). O gráfico ilustra esta situação.

Nota 6.75 Ainda se f não for contínua ½ em [a, b] também nada se pode concluir, por
x + 1, x ∈ (−1, 1)
exemplo, considere a função f (x) = . f é derivável em (−1, 1),
1, x = ±1
f (1) = f (−1) = 1 e no entanto f 0 (x) = 1, ∀x (−1, 1) . Portanto não existe c ∈ (−1, 1) tal
que f 0 (c) = 0, pois f não é contínua em [−1, 1] .

Enunciaremos a seguir o Teorema do Valor Médio, que é muito importante no Cálculo.

Teorema 6.76 (Teorema do Valor Médio) Seja f : [a, b] → R, contínua em [a, b] e


f (b) − f (a)
derivável em(a, b) . Então existe c ∈ (a, b) tal que f 0 (c) = .
b−a
∙ ¸
f (b) − f (a)
Prova. Seja h : [a, b] → R, definida por h(x) = f (x) − (x − a) + f (a) .
b−a
Assim, h é contínua em [a, b] e derivável em (a, b) pois f o é e a função entre colchetes
também. Ainda h(a) = 0 = h(b) e portanto do teorema de Rolle, existe c ∈ (a, b)
f (b) − f (a)
tal que h0 (c) = 0, mas h0 (x) = f 0 (x) − . Assim, como h0 (c) = 0, segue que
b−a
f (b) − f (a)
f 0 (c) = , como queríamos provar. ¤
b−a

Nota 6.77 Geometricamente o teorema do valor médio (T.V.M.), nos diz que, dentro
das condições apresentadas, existe uma reta tangente ao gráfico de f paralela à reta se-
cante a ele pelos pontos (a, f (a)) e (b, f (b)) . Segue o gráfico da função f : [−1, 1] → R,
f (x) = x3 + 1 em preto, o gráfico da reta secante ao gráfico de f pelos pontos (−1, 0) e
(1, 2) em vermelho, tracejado e os gráfico das retas tangentes ao gráfico de f nos pontos
118 CAPÍTULO 6. DIFERENCIABILIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL
µ ¶ µ ¶
1 1 −1 1
√ ,1+ √ e √ ,1− √ em azul e verde, respectivamente.
3 3 3 3 3 3

Nota 6.78 Observe que se f não é derivável em (a, b) o teorema não se aplica, como
podemos verificar no gráfico abaixo da função f : [−1, 2] → R; f (x) = 1 + |x| em preto e
da reta secante ao gráfico de f , tracejada..

Exemplo 6.79 Usando o T.V.M., mostre que

|sen b − sen a| ≤ |b − a| , ∀a, b ∈ R, a < b.

De fato, como a função seno é contínua e derivável em R, então ela é contínua em [a, b] e
derivável em (a, b) quaisquer que sejam a, b ∈ R, com a < b. Assim, do T.V.M, segue que
existe c ∈ (a, b) tal que sen b − sen a = (cos c) (b − a) ⇒ |sen b − sen a| = |cos c| |(b − a)| ≤
|b − a| , pois |cos c| ≤ 1, ∀c ∈ R.

O próximo resultado é uma generalização do TVM e será necessária para provarmos


a regra de l’Hôpital e a fórmula de Taylor.
6.2. A APLICAÇÃO DA DERIVADA AO ESTUDO DA VARIAÇÃO DE FUNÇÕES.119

Teorema 6.80 (Teorema do valor médio generalizado): Sejam f, g : [a, b] → R contínuas


em [a, b] e deriváveis em (a, b) . Então existe c ∈ (a, b) tal que

f 0 (c) (g(b) − g(a)) = g 0 (c) (f (b) − f (a)) .

Prova. Considere a função h(x) = f (x) (g(b) − g(a))−g(x) (f (b) − f (a)) , ∀x ∈ [a, b] .
Assim, h é contínua em [a, b] e derivável em (a, b) pois f e g o são. Ainda, h(a) =
f (a)g(b) − f (b)g(a) = h(b) e portanto do teorema de Rolle, segue que existe c ∈ (a, b)
tal que h0 (c) = 0, mas h0 (x) = f 0 (x) (g(b) − g(a)) − g 0 (x) (f (b) − f (a)) , o que implica que
f 0 (c) (g(b) − g(a)) = g0 (c) (f (b) − f (a)) , como queríamos demonstrar. ¤

Vejamos como o T.V.M. nos permitirá deduzir propriedades sobre o comportamento


de uma função através do sinal de sua derivada.

Proposição 6.81 Seja f : I → R contínua no intervalo I e derivável em seu interior,



isto é, em I. Então:

a) Se f 0 (x) > 0, ∀x ∈ I então f é estritamente crescente em I.

b) Se f 0 (x) < 0, ∀x ∈ I então f é estritamente decrescente em I.

c) Se f 0 (x) = 0, ∀x ∈ I então f é constante em I.

Prova. Mostraremos apenas os ítens (a) e (c) deixando o ítem (b) a cargo do aluno,
pois é análogo ao ítem (a).
a) Sejam x, y ∈ I tais que x < y, devemos mostrar que f (x) < f (y). Como [x, y] ⊂ I

e (x, y) ⊂ I segue que f é contínua em [x, y] e derivável em (x, y) . Assim estamos nas
condições do T.V.M. para este intervalo, logo existe c ∈ (x, y) tal que

f (y) − f (x) = f 0 (c) (y − x) .



Como c ∈ (x, y) ⊂ I , segue da hipótese que f 0 (c) > 0 ⇒ f (y) − f (x) > 0 ⇒ f (y) > f (x),
como queríamos demonstrar, logo como x, y são quaisquer elementos de I tais que x < y,
segue que f é estritamente crescente em I.
c) Seja a ∈ I fixado, então para cada x ∈ I, x 6= a, podemos ter x > a ou x < a.
Suporemos sem perda de generalidade que x > a, pois o outro caso é análogo. Assim,
[a, x] ⊂ I e portanto f é contínua em [a, x] e derivável em (a, x) . Segue portanto do
teorema do valor médio que existe c ∈ (a, x) tal que

f (y) − f (x) = f 0 (c) (y − x) .



Portanto como c ∈ (a, x) ⊂ I, segue da hipótese que f 0 (c) = 0 ⇒ f (x) − f (a) = 0 ⇒
f (x) = f (a), ∀x ∈ I ⇒ f é constante em I. ¤
120 CAPÍTULO 6. DIFERENCIABILIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL

x2 − x
Exemplo 6.82 Considere a função f (x) = , ∀x ∈ R. Determinemos os intervalos
1 + 3x2
onde f é crescente ou decrescente. Como f é derivável em R, analisemos o sinal de
(2x − 1) (1 + 3x2 ) − 6x (x2 − x) 3x2 + 2x − 1
sua derivada. Assim, f 0 (x) = = . Como
(1 + 3x2 )2 (1 + 3x2 )2
2
(1 + 3x2 ) > 0, ∀x ∈ R, então o estudo de sinal de f 0 se reduz ao estudo de sinal do
0 0
trinômio¶de segundo grau do µnumerador
µ ¶ de f . Portanto f (x) > 0, ∀x ∈ (−∞, −1) ∪
1 1
, +∞ e f 0 (x) < 0, ∀x ∈ −1, . Logo f é estritamente crescente em (−∞, −1] e
3 3 ∙ ¸
1 1
em[ , +∞) e é estritamente decrescente em −1, .
3 3

x2 − x
Nota 6.83 Do exemplo anterior vimos que a função f (x) = cresce até o ponto
1 + 3x2
1
x0 = −1 e em seguida decresce até o ponto x1 = . Assim, f (x) ≤ f (−1), ∀x ∈
µ ¶ 3
1
−∞, ⇒ x0 = −1 é um ponto de máximo relativo de f. Analogamente f decresce
3
1 1
de x0 = −1 até o ponto x1 = e cresce de x1 = em diante, o que implica que
µ ¶ 3 3
1 1
f (x) ≥ f , ∀x ∈ (−1, +∞) , isto implica que x1 = é um ponto de mínimo relativo
3 3
de f. Vejamos o gráfico desta função.

Pode-se concluir pelo gráfico que tais pontos são pontos de máximo e mínimo absolutos.

O próximo resultado formaliza, o que fizemos neste exemplo.



Proposição 6.84 Sejam f : D → R, c ∈ D, e r > 0 tal que (c − r, c + r) ⊂ D. Supon-
hamos que f é contínua em (c − r, c + r)
e derivável em (c − r, c) ∪ (c, c + r) .
6.2. A APLICAÇÃO DA DERIVADA AO ESTUDO DA VARIAÇÃO DE FUNÇÕES.121

1) Se f 0 (x) > 0, ∀x ∈ (c − r, c) e f 0 (x) < 0, ∀x ∈ (c, c + r) então c é um ponto de


máximo relativo de f.

2) Se f 0 (x) < 0, ∀x ∈ (c − r, c) e f 0 (x) > 0, ∀x ∈ (c, c + r) então c é um ponto de mínimo


relativo de f.

Prova. 1) Como f 0 (x) > 0, em (c − r, c) e f é contínua em (c − r, c + r) , segue da


proposição anterior que f é estritamente crescente em (c − r, c] e portanto f (x) ≤ f (c),
∀x ∈ (c−r, c]. Ainda, como f 0 (x) < 0, em (c, c+r) e da continuidade de f em (c − r, c + r) ,
segue do mesmo resultado que f é estritamente derescente em [c, c + r), logo f (x) ≤ f (c),
∀x ∈ [c, c + r). Assim, f (x) ≤ f (c), ∀x ∈ (c − r, c + r) . O que implica que c é um ponto
de máximo relativo de f.
A demonstração de (2) é análoga e será deixada como exercício. ¤

Exemplo √ 6.85 Determinemos os pontos de máximo e mínimo relativos de f : R → R,


3
f (x) = x3 − 2x + 1. Para isso calculemos a derivada√ de f nos pontos onde esta é
−1 ± 5
derivável. As raízes de x3 − 2x + 1 são 1 e . Pode-se verificar que f não é
2
derivável nestes pontos, podendo então ser candidatos a pontos de máximo e mínimo
relativos. Vejamos então,
3x2 − 2
f 0 (x) = q .
3 (x3 − 2x + 1)2
0
Assim, como o denominador de fà é sempre positivo, basta analisar o !sinalÃdo numer-
√ ! Ã √ √ √ !
−1 − 5 −1 − 5 6 6
ador. Tem-se que f 0 (x) > 0, ∀x ∈ −∞, ∪ ,− ∪ , +∞
2 2 3 3
à √ √ ! à √ √ !
− 6 −1 + 5 −1 + 5 6
e f 0 (x) < 0, ∀x ∈ , ∪ , . Portanto, segue que f é es-
3 2 2 3
√ √
− 6 6
tritamente crescente em (−∞, ] e em [ , +∞) e é estritamente decrescente em
" √ √ # √ 3 3 √
− 6 6 − 6 6
, . Logo, é ponto de máximo relativo de f e é ponto de mínimo
3 3 3 3
relativo de f. As raízes de x3 − 2x + 1 não são pontos nem de máximo nem de mínimo
relativo ou absoluto de f.
Exercício 1
Suponha que a equação xy 2  arctgx  y 2    define implicitamente y
4
como fx, ∀x ∈ −,  para algum   0, f ∈ C 2 −,  com f0  1. Determine
a equação da reta tangente ao gráfico de f no ponto 0, 1 e determine f ′′ 0.
Solução:
Das hipóteses temos que
xfx 2  arctg x  fx 2   , ∀x ∈ −, .
4
Portanto, derivando em ambos os lados da igualdade, obtemos que
1  2fxf ′ x
fx 2  2xfxf ′ x  2
 0, ∀x ∈ −, . 1
1  x  fx 2
Assim, substituindo x  0 na equação acima e lembrando que f0  1, tem-se que
1  2f ′ 0
1  0  f ′ 0  − 3 .
2 2
Logo a equação da rerta tangente ao gráfico de f no ponto 0, 1, que é dada por
y − 1  f ′ 0x, é:
2y  2 − 3x.
Ainda, derivando ambos os lados da equação (ref: 1) tem-se
2
2f ′ x 2  2fxf ′′ x 1  x  fx 2 − 2 x  fx 2 1  2fxf ′ x 2
2
 2
2
1  x  fx 2
 4fxf ′ x  2xf ′ x 2  2xfxf ′′ x  0, ∀x ∈ −, .
Substituindo x  0 em (ref: 2), lembrando que f0  1 e f ′ 0  − 3 , tem-se que
2
′′
29/4  2f 02 − 21  2−3/2 2
 4 −3  0,
4 2
ou seja,
f ′′ 0  25 .
4
Exercício 2
Sejam f : I → , derivável no intervalo I e a ∈ I. Se lim f ′ x  b, mostre que
x→a
f ′ a  b.
Solução: Para cada x ∈ I, x ≠ a, segue do TVM, que existe c x no intervalo
aberto de extremos a e x, tal que fx − fa  f ′ c x x − a. Assim,
fx − fa fx − fa
x−a  f ′ c x  lim x−a lim f ′ c x . Mas, quando x → a, c x → a, e
x→a x→a
portanto da hipótese, f ′ c x  → b. Logo, f ′ a  b.
Exercício 3
Seja f : I →  derivável no intervalo I. Suponha que existe  ∈ ,   1 tal
que |fx − fy| ≤ |x − y|  , ∀x, y ∈ I. Mostre que f é constante em I.
Solução:
|fx − fa|
Seja a ∈ I qualquer, então ≤ |x − a| −1 , ∀x ∈ I, x ≠ a. Como
|x − a|
  1   − 1  0, logo, pelo teorema do confronto, tem-se que
|fx − fa|
lim  0. Mas como a função módulo é contínua em 0, segue do
x→a |x − a|
teorema da composta II, que |f ′ a|  0, ∀a ∈ I  f ′ a  0, ∀a ∈ I. Mas, como f é
derivável em I, ela é contínua em I e portanto do fato de f ′ x  0, ∀x ∈ I tem-se
que f é constante em I.
Exercício 4
Considere f : 0,  →  contínua em 0, , derivável em 0,  tal que
fx
f0  0 e f ′ é crescente em 0, . Considere g : 0,  → ; gx  x .
Mostre que g é crescente em 0, .
Solução:
Sejam x, a ∈ 0,  tal que a  x. Das hipóteses tem-se que g é derivável e
portanto contínua em a, x, assim pelo TVM, existe c ∈ a, x tal que
f ′ cc − fc
gx − ga  g ′ cx − a. Mas g ′ c  . Assim,
c2
f ′ cc − fc
gx − ga  x − a. 1
c2
Ainda, como f é contínua em 0, c e derivável em 0, c segue pelo TVM que existe
d ∈ 0, c tal que
fc  fc − f0  f ′ dc. 2
Portanto substituindo (ref: 2) em (ref: 1) obtém-se que
f ′ cc − f ′ dc f ′ c − f ′ d
gx − ga  2
x − a  c x − a.
c
Logo, como f ′ é crescente e d  c, tem-se que f ′ c  f ′ d e como x − a  0 e
c  0, segue que gx  ga e portanto g é crescente.
Exercício 5
Seja f : a, b →  contínua em a, b e derivável em a, b. Se lim f ′ x  ,
x→a 
fx − fa
mostre lim x−a  .
x→a 
Solução: Para cada x ∈ a, b, como f é contínua em a, x e derivável em a, x,
segue do TVM, que existe c x ∈ a, x tal que
fx − fa
x−a  f ′ c x .
Ainda dado M  0, existe 0    b − a tal que ∀x ∈ a, a   tem-se que f ′ x  M.
Portanto ∀x ∈ a, a  , c x ∈ a, x ⊂ a, a    f ′ c x   M, ou seja
fx − fa fx − fa
x−a  M. Logo, lim x−a  .

x→a
Exercício 6
Seja f : I →  derivável no intervalo I. Sejam x 0 , x 1 , x 2 ∈ I tais que
x 0  x 1  x 2 e fx 0   −1, fx 1   2 e fx 2   1. Mostre que existe c ∈ x 0 , x 2  tal
que f ′′ c  0.
Solução: Como f é derivável em I e x 0 , x 1  ⊂ I e x 1 , x 2  ⊂ I, segue pelo TVM
que existem a ∈ x 0 , x 1  e b ∈ x 1 , x 2  tais que
fx 1  − fx 0   f ′ ax 1 − x 0  e fx 2  − fx 1   f ′ bx 2 − x 1 ,
ou seja
3
f ′ a  x 1 − ′ −1
x 0  0 e f b  x 2 − x 1  0.
fx − fa
Mas, f ′ a lim x−a  0, logo pelo teorema de conservação de sinal para
x→a
limite, tem-se que existe , 0    b − a tal que para todo x ∈ a, a   tem-se que
fx − fa
x−a  0, o que implica que fx  fa, para todo x ∈ a, a  .
fx − fb
Analogamente, como f ′ b lim  0, existe r, 0  r  b − a, tal que para
x→b x−b
fx − fb
todo x ∈ b − r, b tem-se que  0, o que implica que fx  fb, para
x−b
todo x ∈ b − r, b. Ainda como f é derivável e portanto contínua em a, b, segue
que existe ,  ∈ a, b tais que f ≤ fx ≤ f, para todo x ∈ a, b. Do que foi
mostrado acima, segue que  ∈ a, b e como f é derivável em a, b e  é um
ponto extremo, segue que f ′   0, ou seja existe c   ∈ a, b ⊂ x 0 , x 2  tal que
f ′ c  0.
122 CAPÍTULO 6. DIFERENCIABILIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL

6.2.2 Lista de exercícios


Exercício 6.86 Sabendo que ϕ : D → R é duas vezes derivável em 1 ∈ D ∩ D0 , e que
1
ϕ(1) = 1, ϕ0 (1) = e ϕ00 (1) = −3, determine a derivada de segunda ordem de ϕ ◦ ϕ no
2
ponto 1.

Exercício 6.87 Seja f : R → R definida por f (x) = x + ex .

a) Mostre que f é bijetora.


b) Mostre que f −1 é duas vezes derivável em R.
0 00
c) Determine (f −1 ) (1) e (f −1 ) (1) .

Exercício 6.88 Suponhamos que a equação

xey + xy = 3,

define implicitamente y = f (x), diferenciável no intervalo (3 − r, 3 + r) , para algum r >


0, 03. Sabendo que f (3) = 0, determine aproximadamente f (2, 97).

Exercício 6.89 Determine a equação da reta tangente ao gráfico da função y = f (x),


definida implicitamente pela equação y 3 + x2 y = x + 3, no ponto (2, 1) .

Exercício 6.90 Seja f : R → R derivável em R e g : R\{0} → R definida por g(x) =


f (x)
. Se p ∈ R\{0} é ponto de máximo relativo de g, prove que:
x
a) pf 0 (p) − f (p) = 0.
b) a reta tangente ao gráfico de f no ponto (p, f (p)) passa pela origem.

Exercício 6.91 Seja g : D → R derivável no intervalo [a, b] ⊂ D. Se g 0 (a)g 0 (b) < 0,


mostre que existe c ∈ (a, b) tal que g0 (c) = 0.

Exercício 6.92 Seja g : D → R derivável no intervalo I contido em D. Se g 0 (x) 6= 0,


para todo x ∈ I, mostre que g0 (x) > 0, ∀x ∈ I ou g0 (x) < 0, ∀x ∈ I.

Exercício 6.93 Sejam g : [a, b] → R derivável em [a, b] e d ∈ R tal que g 0 (a) < d < g 0 (b).
Mostre que existe c ∈ (a, b) tal que g 0 (c) = d. Este exercício nos diz que a derivada de uma
função, num intervalo, tem a propriedade do valor intermediário, sem ser necessariamente
contínua.

Exercício 6.94 Determine c ∈ (−1, 1) tal que f 0 (c) = 0, onde f (x) = x2 + 1. Justifique.
µ ¶
1 √ 2x
Exercício 6.95 Determine c ∈ √ , 3 tal que f 0 (c) = 0, onde f (x) = .
3 1 + x2
Justifique.
6.2. A APLICAÇÃO DA DERIVADA AO ESTUDO DA VARIAÇÃO DE FUNÇÕES.123

Exercício 6.96 Seja p (x) um polinômio com coeficientes reais de grau 4, que possui 4
raízes reais distintas. Mostre que sua derivada tem 3 raízes reais distintas.

Exercício 6.97 Sejam a, b ∈ R com a < b. Mostre que:


µ ¶
b−a b b−a
a) < ln < , sendo a, b > 0.
b a a
b) ea (b − a) < eb − ea < eb (b − a) .

Exercício 6.98 Determine os intervalos de crescimento e decrescimento das funções


abaixo:
ex
a) f (x) = , x 6= 0.
x2
x
b) f (x) = , x > 0, x 6= 1.
2 ln x
x2 − x + 1
c) f (x) = , x 6= 1.
2 (x − 1)
x2 − 1 2
Exercício 6.99 Considere f, g : R → R, f (x) = 2
e g (x) = − 2 . Derive f e
x +1 x +1
g e verifique que f 0 (x) = g0 (x) , ∀x ∈ R. Explique.

Exercício 6.100 Sejam f, g : I → R deriváveis no intervalo I e tais que f 0 (x) = g0 (x) ,


∀x ∈ I. Mostre que existe uma constante c ∈ R tal que f (x) = c + g (x) , ∀x ∈ I.

Exercício 6.101 Sejam f, g : R → R deriváveis em R, tais que f 0 (x) = g (x) , g0 (x) =


−f (x) , f (0) = 0 e g (0) = 1.

a) Mostre que (f (x))2 + (g (x))2 = 1, ∀x ∈ R.


b) Se ϕ, ψ : R → R, são tais que ϕ0 (x) = ψ (x) , ϕ (x) = −ψ0 (x) , ϕ (0) = 0 e ψ (0) = 1,
mostre que ϕ = f e ψ = g. Conclua que f (x) = sen x e g (x) = cos x, ∀x ∈ R.

Exercício 6.102 Mostre que ex > x + 1, ∀x > 0.


x2
Exercício 6.103 Mostre que ex > + x + 1, ∀x > 0.
2
ex
Exercício 6.104 Conclua do exercício anterior que lim = +∞.
x→+∞ x

xn xn−1
Exercício 6.105 Mostre, por indução que para cada n ∈ N, ex > + + · · · + 1,
n! (n − 1)!
ex
∀x > 0. Conclua que lim = +∞, ∀α > 0. Isto significa que a exponencial cresce
x→+∞ xα
mais rapidamente do que qualquer potência de x, quando x → +∞.
124 CAPÍTULO 6. DIFERENCIABILIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL

Exercício 6.106 Seja f : (a, b) → R três vezes derivável em (a, b) e tal que f 000 (x) > 0,
∀x ∈ (a, b) . Suponha que exista c ∈ (a, b) tal que f 0 (c) = f 00 (c) = 0. Prove que f é
estritamente crescente em (a, b) .

Exercício 6.107 Seja f ∈ C 1 ([a, b]) . Mostre que existe k > 0 tal que

|f (b) − f (a)| ≤ k |b − a| .

Exercício 6.108 Determine, caso existam, os pontos de máximo e mínimo relativos ou


absolutos das funções abaixo:

x4
a) f (x) = − x3 − 2x2 + 3.
4
b) f (x) = x2 e−5x .
µ ¶
x−1
c) f (x) = exp .
x2
d) f (x) = sen x + cos x, x ∈ [0, π] .

Exercício 6.109 Determine a altura do cilindro circular reto, de volume máximo, in-
scrito na esfera de raio R, dado.

Exercício 6.110 Determine as dimensões do retângulo de área máxima e cujo perímetro


2p é fixado.

Exercício 6.111 Considere a curva y = 1 − x2 , 0 ≤ x ≤ 1. Traçar uma reta tangente


à curva tal que a área do triângulo que esta reta forma com os eixos coordenados seja
mínima. Determine a equação desta reta tangente.
2
Exercício 6.112 Encontre o ponto da curva y = , x > 0, que está mais próximo da
x
origem.
6.2. A APLICAÇÃO DA DERIVADA AO ESTUDO DA VARIAÇÃO DE FUNÇÕES.125

6.2.3 Concavidade e pontos de inflexão


Um conceito importante para a construção de gráficos, além dos conceitos que já foram
vistos, é a concavidade de uma curva em determinados intervalos. Vejamos a definição de
concavidade e os resultados que permitem determiná-la em cada intervalo.

Definição 6.113 Seja f : D → R contínua no intervalo I ⊂ D e derivável em I. Dizemos

que f tem concavidade voltada para cima em I quando para todo c ∈ I, f (x) > f (c) +
f 0 (c) (x − c) , ∀x ∈ I com x 6= c.

Definição 6.114 Seja f : D → R contínua no intervalo I ⊂ D e derivável em I. Dizemos

que f tem concavidade voltada para baixo em I quando para todo c ∈ I, f (x) < f (c) +
f 0 (c) (x − c) , ∀x ∈ I com x 6= c.
Nota 6.115 A definição afirma que a concavidade é voltada para cima, quando o gráfico
de f está acima de sua reta tangente. Analogamente a concavidade é voltada para baixo
quando o gráfico de f está abaixo da reta tangente em cada ponto. Os gráficos abaixo
ilustram a definição.

Concavidade para ciama

Concavidade para baixo


126 CAPÍTULO 6. DIFERENCIABILIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL

Nota 6.116 Existe uma definição para concavidade exigindo apenas que a função seja
contínua e mostra-se a equivalência das duas definições quando a função é derivável.

Daremos a seguir um resultado prático para determinar a concavidade de uma função


f em cada intervalo, mas que necessita que a função seja duas vezes derivável.

Teorema 6.117 Seja f : D → R contínua no intervalo I ⊂ D e duas vezes derivável em



I. Então:

a) Se f 00 (x) > 0, ∀x ∈ I então f tem concavidade voltada para cima em I.

b) Se f 00 (x) < 0, ∀x ∈ I então f tem concavidade voltada para baixo em I.

Prova. Demonstraremos apenas o ítem (a) pois o (b) é análogo e poderá ser feito
pelo aluno.

a) Como f é duas vezes derivável em I, e portanto derivável, utilizaremos o teorema

anterior e provaremos que para todo c ∈ I, f (x) > f (c) + f 0 (c) (x − c) , ∀x ∈ I com x 6= c.

Considere então c ∈ I e x ∈ I, com x 6= c, sem perda de generalidade, suporemos que

x < c, então como f é contínua em [x, c] ⊂ I e derivável em (x, c) ⊂ I segue do T.V.M.
que existe ξ ∈ (x, c) tal que

f (c) − f (x) = f 0 (ξ) (c − x) .

Assim, f (x) − f (c) − f 0 (c) (x − c) = f 0 (ξ) (x − c) − f 0 (c) (x − c) = (f 0 (ξ) − f 0 (c)) (x − c) .


◦ ◦
Como f 0 é derivável em [ξ, c] ⊂ I, segue do T.V.M. que existe β ∈ (ξ, c) ⊂ I tal que
f 0 (ξ) − f 0 (c) = f 00 (β) (ξ − c) . Assim, substituindo esta igualdade na igualdade anterior,
obtém-se
f (x) − f (c) − f 0 (c) (x − c) = f 00 (β) (ξ − c) (x − c) .
Como f 00 (β) > 0, por hipótese e (ξ − c) (x − c) > 0 então segue que f (x) − f (c) −
f 0 (c) (x − c) > 0, isto é,

f (x) > f (c) + f 0 (c) (x − c) , ∀x, c ∈ I, x < c.

Prova-se analogamente o mesmo resultado para x > c e portanto pode-se concluir do


teorema anterior que f tem concavidade voltada para cima em I. ¤

x2 + x − 3
Exemplo 6.118 Analise a concavidade de f (x) = , x 6= 1. Como f é duas
x−1
vezes derivável em R\{1}, pois é o quociente de polinômios, basta analisar o sinal da
(2x + 1) (x − 1) − x2 − x + 3 x2 − 2x + 2
derivada segunda. Tem-se que, f 0 (x) = = ⇒
(x − 1)2 (x − 1)2
6.2. A APLICAÇÃO DA DERIVADA AO ESTUDO DA VARIAÇÃO DE FUNÇÕES.127

00 (2x − 2) (x − 1)2 − 2 (x − 1) (x2 − 2x + 2) −2


f (x) = 4 = . Portanto, f 00 (x) > 0,
(x − 1) (x − 1)3
∀x ∈ (−∞, 1) e f 00 (x) < 0, ∀x ∈ (1, +∞) . Ou seja, f tem concavidade voltada para
cima em (−∞, 1) e tem concavidade voltada para baixo em (1, +∞) . Veja o gráfico desta
função.

◦ ◦
Definição 6.119 Seja f : D → R, f contínua em D e derivável em D e c ∈ D. Dize-
mos que c é um ponto de inflexão de f quando existem a, b ∈ R, com a < c < b,

(a, c) , (c, b) ⊂ D tais que f tenha concavidades contrárias em (a, c) e (c, b) . Isto é, f
muda de concavidade num ponto de inflexão.

Exemplo 6.120 No exemplo acima 1 não é um ponto de inflexão pois ele não pertence
ao domínio de f.


Proposição 6.121 Seja f : D → R duas vezes derivável no intervalo I ⊂ D. Se c ∈ I é
um ponto de inflexão de f e f 00 é contínua em c então f 00 (c) = 0.


Prova. Como c ∈ I é um ponto de inflexão, segue da definição que existem a, b ∈ R,
com a < c < b, (a, c) , (c, b) ⊂ I e tais que f tem concavidades contrárias em (a, c) e (c, b) .
Suponha por absurdo que f 00 (c) 6= 0, sem perda de generalidade, suponha que f 00 (c) > 0.
Então como f 00 é contínua em c, segue do teorema de conservação de sinal que existe r > 0
tal que f 00 (x) > 0, ∀x ∈ (c − r, c + r) ⊂ I. Logo, pelo teorema anterior segue que f tem
concavidade voltada para cima em (c − r, c + r) , o que é um absurdo pois c é um ponto
de inflexão. Portanto f 00 (c) = 0. ¤

Exemplo 6.122 Para determinar os pontos de inflexão de f : (0, +∞) → R, f (x) =


x+1
, basta calcular a derivada segunda de f e igualar a 0, pois f ∈ C ∞ (R) . Assim,
x2 + 1
128 CAPÍTULO 6. DIFERENCIABILIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL

1 − 2x − x2 2x3 + 6x2 − 6x − 2
f 0 (x) = 2 e f 00
(x) = 3 . Logo f 00 (x) = 0 ⇔ 2x3 + 6x2 − 6x −
2
(x + 1) 2
(x + 1)
2 = 0 e portanto os pontos de inflexão são:
√ √
x1 = 1, x2 = 2 − 3, x3 = 2 + 3.

6.2.4 Retas Assíntotas e regras de l’Hôpital


Para poder traçar gráficos com boa precisão, necessitamos ainda do conceito de retas as-
síntotas e como determiná-las e de calcular alguns limites que apresentam indeterminação
de tipos que não conseguimos resolver com os limites fundamentais. Iniciaremos pela
definição e resultados sobre assíntotas e em seguida daremos as regras de l’Hôpital.

Definição 6.123 Seja f : D → R tal que D é ilimitado superiormente. Se existirem


m, n ∈ R tais que lim [f (x) − (mx + n)] = 0, dizemos que f admite reta assíntota e,
x→+∞
neste caso, a reta y = mx + n, é uma assíntota para f, para x → +∞.
Se m = 0, dizemos que a assíntota é horizontal, neste caso a reta y = b é a assíntota
de f. Caso contrário, isto é, se m 6= 0, dizemos que a assíntota é oblíqua.

Nota 6.124 A partir da definição acima pode-se concluir que o gráfico de f se aproxima
da reta y = mx + n, à medida que x tende +∞. A definição é análoga no caso em que x
tende a −∞.

2x3 + x2
Exemplo 6.125 Determine, caso existam as assíntotas de f (x) = . Dividindo
x2 + 1
os polinômios obtemos:
2x + 1
f (x) = 2x + 1 − .
x2 + 1
2x + 1 x2 [(2/x) + (1/x2 )] [(2/x) + (1/x2 )]
Assim, f (x) − (2x + 1) = − = − = , o que
x2 + 1 x2 [1 + (1/x2 )] [1 + (1/x2 )]
implica que lim [f (x) − (2x + 1)] = 0. Portanto, f tem uma assíntota oblíqua, a saber
x→±∞
a reta y = 2x + 1, que é a mesma para ±∞.

p(x)
Nota 6.126 No caso em que f (x) = e grau de p é igual ao grau de q mais 1, então
q(x)
f terá uma assíntota oblíqua e a maneira de determiná-la é fazendo a divisão dos dois
polinômios, como foi feita no exemplo. Observe ainda que no caso geral se f admitir uma
assíntota então lim [f (x) − mx] = n. Assim, para determinarmos se f admite ou não
x→∞
uma assíntota, devemos verificar se existe m ∈ R tal que lim [f (x) − mx] é finito, caso
x→∞
isto seja verdade a assíntota será a reta de equação y = mx + lim [f (x) − mx] . Vejamos
x→∞
mais um exemplo.
6.2. A APLICAÇÃO DA DERIVADA AO ESTUDO DA VARIAÇÃO DE FUNÇÕES.129

Exemplo 6.127 Seja f (x) = 9x2 + 3x + 1, determine caso exista £√ as assíntotas de f.
¤
Vamos analisar para que valores de m, existe o seguinte limite lim 9x2 + 3x + 1 − mx .
√ x→∞
2
Para isso, vamos multiplicar e dividir por 9x + 3x + 1 + mx, obtendo:
9x2 + 3x + 1 − m2 x2 (9 − m2 ) x2 + 3x + 1
√ =√ .
9x2 + 3x + 1 + mx 9x2 + 3x + 1 + mx
Portanto se estivermos interessados no limite quando x → +∞, devemos tomar m = 3 e
teremos que
x [3 + (1/x)] 1
lim [f (x) − 3x] = lim hp i= .
x→+∞ x→+∞
x 9 + (3/x) + (1/x2 ) + 3 2

1
Logo, a assíntota é y = 3x + , quando x → +∞. No caso em que x → −∞, devemos
2
tomar m = −3, pois neste caso teremos
x [3 + (1/x)] 1
lim [f (x) + 3x] = lim hp i =− .
x→−∞ x→−∞
|x| 9 + (3/x) + (1/x2 ) + 3 2

1
Portanto, a assíntota é y = −3x − , quando x → −∞.
2
√3
Exemplo 6.128 Seja f (x) = x3 − 1, determine, ∙q caso existam as assíntotas de ¸f.
£ √ ¤ p
Observe que (x3 − 1) − m3 x3 = 3 x3 − 1 − mx 3 (x3 − 1)2 + 3 (x3 − 1)mx + m2 x2 .
Portanto, segue que

3 (x3 − 1) − m3 x3
lim x3 − 1 − mx = lim q p ,
x→±∞ x→±∞ 3 3 2 3 3 2 2
(x − 1) + (x − 1)mx + m x
assim, tomando m = 1, obtemos

3 −1
lim x3 − 1 − x = lim q p = 0.
x→±∞ x→±∞ 3 3 2 3 3 2
(x − 1) + (x − 1)x + x
Assim, a assíntota é y = x, para x → ±∞.
f (x)
Nota 6.129 Observe que se lim (f (x) − mx) = n então lim = m (prove!!).
x→±∞ x→±∞ x
Assim, uma maneira de verificar se é possível que f tenha assíntota e "chutar "o valor de
f (x)
m adequado é calcular lim , pois a existência deste limite é condição necessária para
x→±∞ x
f (x)
a existência de assíntota. É importante notar que a existência de lim é condição
x→±∞ x
sen (x)
apenas necessária mas não suficiente. Por exemplo: lim = 0, no entanto não
x→±∞ x
existe lim sen (x) .
x→±∞
130 CAPÍTULO 6. DIFERENCIABILIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL

Existem funções que não admitem assíntotas. Por exemplo:

x3
Exemplo 6.130 Seja f (x) = x3 , tal função não admite assíntota, pois lim = +∞.
x→±∞ x

Definição 6.131 Seja f : D → R e a ∈ D0 . Dizemos que a função f admite assíntota


vertical em x = a quando lim f (x) = ±∞ ( podendo ser limites laterais).
x→a

Para traçarmos gráficos com uma certa precisão precisamos avaliar limites no infinito
e em pontos de acumulação da função, onde ela não é contínua ou não está definida. Para
isso daremos mais uma regra de determinação de limite quando estivermos numa situação
0 ∞
de indeterminação, tipo ou .
0 ∞
Teorema 6.132 (Regras de l’Hôpital): Sejam f, g : D → R, p ∈ D0 e r > 0 tal que f e
g são deriváveis em (p − r, p) ∪ (p, p + r) ⊂ D com g0 (x) 6= 0, ∀x ∈ (p − r, p) ∪ (p, p + r) .
f 0 (x) f (x)
10 caso : Se lim f (x) = 0 = lim g(x) e lim 0 = L entãolim = L.
x→p x→p x→p g (x) x→p g(x)
f 0 (x) f (x)
20 caso : Se lim f (x) = ±∞, lim g(x) = ±∞ e lim 0 = L então lim = L.
x→p x→p x→p g (x) x→p g(x)

Nota 6.133 O teorema continua válido se tivermos apenas limites laterais, ou se x →


f 0 (x)
±∞. Ainda é válido se L = ±∞, isto é o limite de 0 naõ existe pois este quociente
g (x)
cresce ou decresce indefinidamente.

Nota 6.134 Observe que a recíproca do teorema não é válida. Para verificar considere
1 f (x)
f (x) = x2 sen , g(x) = x e p = 0. Verifique que lim = 0 e no entanto não existe
x x→0 g(x)
f 0 (x)
lim 0 .
x→0 g (x)

Prova. Faremos a demonstração considerando apenas o limite lateral à direita, por


simplicidade de notação. Para o limite lateral à esquerda os argumentos são análogos
e deixamos a cargo do aluno. No caso em que x → ±∞, pode-se trabalhar com f e g
1
compostas com a função ϕ(x) = , x 6= 0 e caímos no caso demonstrado utilizando os
x
resultados de mudança de variável.
10 caso : Como lim f (x) = 0 = lim g(x), podemos definir f (p) = 0 = g(p) e tornamos
x→p x→p
f e g contínuas em (p − r, p + r) . Assim, para todo x ∈ (p, p + r) tem-se que f e g são
contínuas em [p, x] e deriváveis em (p, x) . E como g 0 (x) 6= 0, ∀x ∈ (p, p + r) segue que
g(x) 6= 0 ∀x ∈ (p, p + r) , pois caso existisse d ∈ (p, p + r) tal que g(d) = 0 então pelo
teorema de Rolle existiria c ∈ (p, p + r) tal que g 0 (c) = 0, o que contradiz a hipótese.
Assim do T.V.M. generalizado para f e g, segue que existe cx ∈ (p, x) tal que

f 0 (cx ) (g(x) − g(p)) = g 0 (cx ) (f (x) − f (p))


6.2. A APLICAÇÃO DA DERIVADA AO ESTUDO DA VARIAÇÃO DE FUNÇÕES.131

e como f (p) = 0 = g(p) e g(y) 6= 0, ∀y ∈ (p, x) segue que


f (x) f 0 (cx )
= 0 , ∀x ∈ (p, p + r) onde cx ∈ (p, x) .
g(x) g (cx )
Assim, ∀ (xn ) ⊂ (p, p + r) com xn → p, segue do resultado acima que existe (cn ) ⊂ (p, xn )
f (xn ) f 0 (cn )
tal que = 0 , ∀n ∈ N e como xn → p segue do teorema do confronto que
g(xn ) g (cn )
f 0 (cn )
cn → p, o que implica da hipótese que 0 → L e portanto da igualdade obtém-
g (cn )
f (xn )
se que → L e do teorema de caracterização de limite por seqüência segue que
g(xn )
f (x)
lim+ = L.
x→p g(x)
20 caso : Novamente faremos apenas para x → p pela direita, o limite à esquerda será
f 0 (x)
deixada a cargo do aluno, pois os argumentos são análogos. Como lim+ 0 = L ⇒
¯ 0 x→p g¯ (x)
¯ f (x) ¯ ε
∀ε > 0, existe 0 < δ 1 ≤ r tal que ∀x ∈ (p, p + δ 1 ) tem-se que ¯¯ 0 − L¯¯ < . Ainda
g (x) ¯ 0 2¯
¯ f (x) ¯
como tal limite existe segue que existem K > 0 e 0 < r1 ≤ r tais que ¯¯ 0 ¯¯ < K,
g (x)
∀x ∈ (p, p + r1 ). Ainda como lim+ f (x) = ±∞ e lim+ g(x) = ±∞, segue que existe
x→p x→p
0 < r2 ≤ r1 tal que |f (x)| > 0 e |g(x)| > 0, ∀x ∈ (p, p + r2 ). Tomemos então m ∈
(p, p + s), fixado, onde s = min{δ 1 , r2 }. Logo, da hipótese, segue que existe 0 < δ 2 ≤ r
8K |f (m)| 8K |g(m)|
tal que |f (x)| > max{2 |f (m)| , } > 0 e |g(x)| > ∀x ∈ (p, p + δ 2 ).
ε ε
Considere δ = min{δ 1 , r2 , δ 2 , m − p} > 0 então para todo x ∈ (p, p + δ) tem-se que x < m
e [x, m] ⊂ (p, p + s) . Logo f, g são deriváveis em [x, m] e portanto segue do T.V.M.
generalizado que existe cx ∈ (x, m) tal que f 0 (cx ) (g(m) − g(x)) = g 0 (cx ) (f (m) − f (x)) e
como f (x), g(x) 6= 0 para estes valores de x, segue que
f 0 (cx ) f (x) (f (m) − f (x)) /f (x) f (x) 1 − f (m)/f (x)
0
= = .
g (cx ) g(x) (g(m) − g(x)) /g(x) g(x) 1 − g(m)/g(x)
¯ ¯
¯ f (m) ¯ 1
¯
Logo, como ¯ ¯ < , obtém-se que
f (x) ¯ 2
f (x) f 0 (cx ) 1 − g(m)/g(x)
= 0 .
g(x) g (cx ) 1 − f (m)/f (x)
Assim, no caso em que L é finito tem-se que:
¯ ¯ ¯ 0 ¯ ¯ 0 ¯¯ ¯
¯ f (x) ¯ ¯ f (cx ) ¯ ¯ f (cx ) ¯ ¯ 1 − g(m)/g(x) ¯
¯ ¯ ¯ ¯ ¯ ¯¯ ¯
¯ g(x) − L¯ ≤ ¯ g0 (cx ) − L¯ + ¯ g 0 (cx ) ¯ ¯ 1 − f (m)/f (x) − 1¯ ≤
¯ 0 ¯ ∙¯ ¯ ¯ ¯¸
¯ f (cx ) ¯ |f 0
(c )/g 0
(c )| ¯ g(m) ¯ ¯ f (m) ¯
≤ ¯¯ 0 − L¯¯ + ¯ ¯+¯ ¯ ,
x x
g (cx ) |1 − f (m)/f (x)| ¯ g(x) ¯ ¯ f (x) ¯
132 CAPÍTULO 6. DIFERENCIABILIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL
¯ 0 ¯ ¯ 0 ¯
¯ f (cx ) ¯ ε ¯ f (x) ¯
e como m, c ∈ (p, p + s) e x ∈ (p, p + δ) segue que ¯¯ 0 − L¯¯ < , ¯¯ 0 ¯¯ < K,
¯ ¯ ¯ ¯ g (cx ) 2 g (x)
¯ ¯ ¯ ¯
¯1 − f (m) ¯ ≥ 1 − |f (m)| > 1 , ¯ g(m) ¯ < ε e |f (m)| < ε , o que implica que
¯ f (x) ¯ |f (x)| 2 ¯ g(x) ¯ 8K |f (x)| 8K
¯ ¯
¯ f (x) ¯
¯ − L ¯ < ε, ∀x ∈ (p, p + δ) ,
¯ g(x) ¯

f (x) f 0 (x)
portanto lim+ = L = lim+ 0 .
x→p g(x) x→p g (x)
O caso em que L é infinito demonstra-se de modo análogo, utilizando a igualdade
antes de subtrair-se L, e será deixada a cargo do aluno. ¤

Nota 6.135 Caso a indeterminação continue pode-se continuar derivando numerador e


denominador até que o limite exista ou tenda para ±∞, isto é, vale o seguinte resultado:

Teorema 6.136 Sejam f, g : D → R, p ∈ D0 tal que f, g são n vezes deriváveis em


(p − r, p) ∪ (p, p + r) ⊂ D para algum r > 0, com g(n) (x) 6= 0, ∀x ∈ (p − r, p) ∪ (p, p + r) .
Então
f (n) (x)
10 caso : Se lim f (k) (x) = 0 = lim g (k) (x) = 0, k = 0, 1, . . . , n − 1 e lim (n) =L
x→p x→p x→p g (x)
f (x)
então lim = L.
x→p g(x)
f (n) (x)
20 caso : Se lim f (k) (x) = ±∞ e lim g (k) (x) = ±∞, k = 0, 1, . . . , n −1 e lim (n) =L
x→p x→p x→p g (x)
f (x)
então lim = L.
x→p g(x)

ln x 1/x
Exemplo 6.137 Determine lim . Como lim ln x = +∞ e lim x = +∞ e lim =
x→+∞ x x→+∞ x→+∞ x→+∞ 1
ln x
0, segue que lim = 0.
x→+∞ x

Exemplo 6.138 Determine lim x2 ex . Observe que a indeterminação não é do tipo


x→−∞
permitido pela regra de l’Hôpital, assim devemos colocá-la da forma em que seja pos-
2 x x2
sível aplicar uma das regras de l’Hôpital. Mas x e = −x . Esta última forma per-
e
mite aplicar a regra de l’Hôpital pois lim x2 = +∞ = lim e−x . Ainda lim 2x =
x→−∞ x→−∞ x→−∞
−∞ = lim (− e−x ) e portanto ainda temos uma indeterminação. No entanto como
x→−∞
2
lim = 0, segue do teorema que lim x2 ex = 0.
x→−∞ e−x x→−∞
6.3. FÓRMULA DE TAYLOR 133

Exemplo 6.139 Faça um esboço do gráfico de g(x) = x2 ex . Do exemplo anterior temos


uma assíntota horizontal. Ainda Dg = R e portanto não existem pontos de acumulação do
domínio que não pertencem a ele. Ainda lim x2 ex = +∞. Para obtermos os intervalos
x→+∞
de crescimento e de decrescimento da função vamos derivá-la: g0 (x) = 2x ex +x2 ex =
(2x + x2 ) ex . Assim, para analisar o sinal de g 0 , basta anlisar o sinal de 2x + x2 , logo
temos que g é crescente em (−∞, −2] e em [0, +∞) e é decrescente em [−2, 0] . Portanto
x0 = −2 é ponto de máximo relativo, já que g não é limitada superiormente e x1 = 0
é ponto de mínimo absoluto, já que g é limitada inferormente por 0. Para analisar a
concavidade vejamos o sinal da derivada segunda, g00 (x) = (2 + 2x) ex + (2x + x2 ) ex =
2 x
¡(x + 4x + 2)√e ¢. Logo
¡ temos
√ que ¢g tem concavidade voltada para cima nos intervalos
−∞, −2 − 2 e −2 + 2, +∞ e tem concavidade voltada para baixo no intervalo
¡ √ √ ¢ √
−2 − 2, −2 + 2 . Portanto os pontos −2 ± 2 são pontos de inflexão de g. Vejamos
o gráfico de g :

6.3 Fórmula de Taylor


Vimos que se uma função é diferenciável em cada ponto de um intervalo I, ela pode ser
aproximada por uma função linear, numa vizinhança de cada ponto. No entanto não
conseguíamos estimar o erro cometido quando fazíamos esta aproximação. Uma pergunta
que se coloca é: Existem condições sobre uma função, que permitem aproximá-la por
um polinômio de um determinado grau, numa vizinhança de um determinado ponto? A
resposta é sim e daremos a seguir as condições que permitem fazê-lo.
Existem vários métodos de aproximação de uma dada função por polinômios. Uma
das mais usadas é a fórmula de Taylor. Observe que dado um polinômio

p(x) = a0 + a1 x + · · · + an xn ,

pode-se explicitar os coeficientes em termos de suas derivadas calculadas no ponto x0 = 0.


De fato a0 = p(0), a1 = p0 (0), 2a2 = p00 (0), . . . , n!an = p(n) (0). Assim, pode-se reescrever
134 CAPÍTULO 6. DIFERENCIABILIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL

o polinômio acima da seguinte maneira:

p(n) (0) n
p(x) = p(0) + p0 (0)x + · · · + x .
n!
A fórmula de Taylor explora este fato.

Teorema 6.140 (Fórmula de Taylor com resto de Lagrange): Seja I um intervalo



e f : I → R tal que f ∈ C n (I) e f (n) derivável em I. Seja x0 ∈ I, então para cada x ∈ I
com x 6= x0 , existe cx pertencente ao intervalo aberto de extremos x e x0 tal que

f (n) (x0 ) f (n+1) (cx )


f (x) = f (x0 ) + f 0 (x0 ) (x − x0 ) + · · · + (x − x0 )n + (x − x0 )n+1 .
n! (n + 1)!

Nota 6.141 Observe que cx depende de x, pois para cada x existe um valor de cx .

Nota 6.142 Observe que se f é apenas derivável então o teorema de Taylor se reduz ao
T.V.M. E no caso de f duas vezes derivável, o teorema de Taylor nos dá uma fórmula
para o resto, ao aproximarmos f numa vizinhança de x0 , por sua reta tangente.

Prova. Para cada x ∈ I com x 6= x0 fixado, definimos as funções Fx , Gx : I → R,


f (n) (t) (x − t)n+1
por Fx (t) = f (x) − f (t) − f 0 (t) (x − t) − · · · − (x − t)n e Gx (t) = . Gx
n! (n + 1)!

é derivável em I e das hipóteses Fx é contínua em I e derivável em I, portanto Fx e Gx
são contínuas no intervalo fechado de extremos x e x0 e deriváveis no intervalo aberto
de extremos x e x0 . Assim, pelo T.V.M. generalizado, existe cx pertencente ao intervalo
aberto de extremos x e x0 tal que

Fx0 (cx ) (Gx (x) − Gx (x0 )) = G0x (cx ) (Fx (x) − Fx (x0 )) . (a)

mas

f (n) (t)
Fx0 (t) = −f 0 (t) + f 0 (t) − f 00 (t) (x − t) − · · · − (x − t)n−1 +
(n − 1)!
f (n) (t) f (n+1) (t)
+ (x − t)n−1 − (x − t)n ,
(n − 1)! n!
n
(x − t)
G0x (t) = −
n!
Assim, para t = cx nas derivadas acima e fazendo as devidas simplificações, obtemos

f (n+1) (cx ) (x − cx )n
Fx0 (cx ) = − (x − cx )n e G0x (cx ) = − .
n! n!
6.3. FÓRMULA DE TAYLOR 135

logo, substituindo o resultado acima em (a) e observando que Gx (x) = 0 = Fx (x), obtemos
n+1
f (n+1) (cx ) n (x − x0 )
(x − cx ) =
n! (n + 1)!
µ ¶
(x − cx )n 0 f (n) (x0 ) n
= f (x) − f (x0 ) − f (x0 ) (x − x0 ) − · · · − (x − x0 ) ,
n! n!
o que implica que
f (n) (x0 ) f (n+1) (cx )
f (x) = f (x0 ) + f 0 (x0 ) (x − x0 ) + · · · + (x − x0 )n + (x − x0 )n+1 ,
n! (n + 1)!
para todo x ∈ I, x 6= x0 . ¤

Nota 6.143 A partir da fórmula acima, vemos que


f (n) (x0 )
Pn (x) = f (x0 ) + f 0 (x0 ) (x − x0 ) + · · · + (x − x0 )n
n!
f (n+1) (cx )
é um polinômio em x, de grau no máximo n e Rn (x) = (x − x0 )n+1 é o erro
(n + 1)!
obtido quando aproximamos f pelo polinômio Pn numa vizinhança de x0 . O polinômio Pn
é denominado polinômio de Taylor de ordem n em torno de x0 .
Exemplo 6.144 Determine o polinômio de Taylor de ordem 3 da função cosseno em
π
torno de . Para isso precisamos determinar as derivadas de cosseno até ordem 3 e
4
π
calculá-las no ponto . Como (cos)0 (x) = − sen x, (cos)00 (x) = − cos x e (cos)000 (x) =
4 √ √ ³ √ ³ √ ³
2 2 π´ 2 π ´2 2 π ´3
sen x, segue que P3 (x) = − x− − x− + x−
2 2 4 4 4 12 4
Exemplo 6.145 Utilize o resultado do exemplo anterior para calcular aproximadamente
cos 470 e estime o erro cometido. Assim, do exemplo anterior basta substituirmos x =
47π
, que corresponde à 470 , em P3 (x) e teremos o resultado, isto é,
180
√ ∙ ¸
0 2 π 1 ³ π ´2 1 ³ π ´3
cos 47 ≈ 1− − + ≈ 0, 034907.
2 90 2 90 6 90
¯ ´4 ¯¯
¯ cos cx ³
¯ π ¯ 1 ¯¯ π ¯¯4
A estimativa do erro é dada por |R3 (x)| = ¯ x− ≤ ¯x − ¯ . Portanto,
24 4 ¯ 24 4
47π
substituindo x por , obtemos
180
¯ ¯ ³ ´4
¯ ¯
¯R3 ( 47π )¯ ≤ 1 π < 4 × 10−8 < 10−7 ,
¯ 180 ¯ 24 90
ou seja o erro cometido está na oitava casa decimal do resultado que obtivemos, o que
significa uma ótima aproximação.
136 CAPÍTULO 6. DIFERENCIABILIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL

Segue um resultado que é uma aplicação da fórmula de Taylor para classificação de


pontos críticos em pontos de máximo, mínimo ou inflexão de uma função definida num
intervalo..

Teorema 6.146 Seja f : I → R n vezes derivável no intervalo aberto I, n ≥ 2. Seja

x0 ∈ I tal que f (i) (x0 ) = 0, i = 1, . . . , n − 1 e f (n) (x0 ) 6= 0.
a)Se n é ímpar então x0 é um ponto de inflexão horizontal.
b)Se n é par e f (n) (x0 ) > 0 então x0 é ponto de mínimo relativo.
c)Se n é par e f (n) (x0 ) < 0 então x0 é ponto de máximo relativo.

Prova. Antes de separarmos em casos, lembremos que

f (n−1) (x) − f (n−1) (x0 ) f (n−1) (x)


f (n) (x0 ) = lim = lim 6= 0.
x→x0 x − x0 x→x0 x − x0

Assim, do teorema de conservação do sinal, existe r > 0 tal que ∀x ∈ (x0 − r, x0 + r) \{x0 } ⊂
◦ f (n−1) (x)
I tem- se que tem o mesmo sinal de f (n) (x0 ). Assim, f (n−1) (x) tem o mesmo
x − x0
sinal de f (n) (x0 ), se x ∈ (x0 , x0 + r) e tem sinal contrário de f (n) (x0 ), se x ∈ (x0 − r, x0 ) .
Ainda, do teorema de Taylor e da hipótese, segue que para cada x ∈ (x0 − r, x0 + r) \{x0 }
existe cx pertencente ao intervalo aberto de extremos x e x0 tal que

f (n−1) (cx )
f (x) = f (x0 ) + (x − x0 )n−1 .
(n − 1)!
Agora utilizando esta igualdade e o teorema de conservação do sinal, segue que:
b) Se n é par então n − 1 é ímpar e portanto (x − x0 )n−1 > 0, ∀x ∈ (x0 , x0 + r)
f (n−1) (c)
e (x − x0 )n−1 < 0, ∀x ∈ (x0 − r, x0 ) . Como, f (x) − f (x0 ) = (x − x0 )n−1 e
(n − 1)!
(n−1) (n−1)
f (cx ) f (cx )
f (n) (x0 ) > 0, tem-se que > 0, ∀x ∈ (x0 , x0 + r) e < 0, ∀x ∈
(n − 1)! (n − 1)!
(x0 − r, x0 ) , portanto f (x) − f (x0 ) > 0, ∀x ∈ (x0 − r, x0 + r) \{x0 } ⇒ f (x) > f (x0 ),
∀x ∈ (x0 − r, x0 + r) \{x0 }, o que implica que x0 é um ponto de mínimo relativo.
A demonstração do ítem (c) é análoga à do ítem (b) e será deixada a cargo do aluno.
a) Suponha, sem perda de generalidade, que f (n) (x0 ) > 0. Então, f (n−1) (x) < 0 em
(x0 − r, x0 ) e f (n−1) (x) > 0 em (x0 , x0 + r) . Portanto f (n−2) é estritamente decrescente
em (x0 − r, x0 ] e estritamente crescente em [x0 , x0 + r). Como f (n−2) (x0 ) = 0, segue
que f (n−2) (x) > 0 em (x0 − r, x0 ) ∪ (x0 , x0 + r) e portanto f (n−3) é estritamente crescente
em (x0 − r, x0 + r) , com f (n−3) (x0 ) = 0. E assim sucessivamente chegamos que f 00 (x)
tem sinais contrários no intervalos (x0 − r, x0 ) e (x0 , x0 + r) , o que impica que f tem
concavidades contrárias neste intervalos e portanto x0 é ponto de inflexão. ¤

Este teorema pode ser usado quando é mais complicado estudar o sinal das derivadas
em intervalos. Vejamos o exemplo a seguir.
6.3. FÓRMULA DE TAYLOR 137

Exemplo 6.147 Classifiquemos os pontos críticos de f (x) = x5 − 5x4 + 5x3 . Para isso
calculemos f 0 (x) = 5x4 − 20x3 + 15x2 = 5x2 (x − 3) (x − 1) . Portanto os pontos críticos
são x = 0, x = 1, x = 3. Determinemos f 00 (x) = 20x3 − 60x2 + 30x = 10x (2x2 − 6x + 3) .
Portanto, f 00 (0) = 0, f 00 (1) < 0 e f 00 (3) > 0. O que permite concluir que 1 é ponto de
máximo relativo e 3 é ponto de mínimo relativo. Resta ainda classificar o ponto 0. Então
f 000 (x) = 60x2 − 120x + 30 ⇒ f 000 (0) 6= 0 e portanto 0 é um ponto de inflexão horizontal.
Vejamos o gráfico desta função:

Nota 6.148 O teorema anterior também é válido para pontos de inflexão oblíquo e está
formulado na lista de exercícios.
Exercício 1
Esboce o gráfico de fx  x e −1/x , determinando o domínio de f, seus
limites no infinito e em pontos de acumulação que não pertenecem ao
domínio, intervalos de crescimento e decrescimento de f, pontos críticos e
suas classificações, concavidade e retas assíntotas.
Solução: O domínio de f é \0. Vejamos primeramente os limites.
lim x e −1/x  , pois lim x   e lim e −1/x  1, já que lim −1
x  0ea
x→ x→ x→ x→
exponencial é contínua em a  0.
lim x e −1/x  −, pois lim x  − e lim e −1/x  1, já que lim −1 x  0ea
x→− x→− x→− x→−
exponencial é contínua em a  0.
lim x e −1/x  0, pois lim x  0 e lim e −1/x  0, já que lim −1
x  − e lim e  0.
y
x→0  x→0  x→0  x→0  y→−

lim x e −1/x  − pois lim 1x  − e lim e −1/x   e assim, aplicando l’Hôpital


x→0 − x→0 − x→0 −
−1/x e −1/x 1/x 2 
temos que lim x e −1/x  lim e  lim  lim − e −1/x  −.
x→0 − x→0 − 1/x x→0 − −1/x 2
x→0 −
Portanto x  0 é uma assintota vertical de f, quando x → 0 − . Ainda como
lim x e −1/x − x  lim xe −1/x − 1  −1, pois lim e −1/x − 1  0 e lim 1x  0 e
x→ x→ x→ x→
e −1/x − 1 e −1/x 1/x 2 
aplicando l’Hôpital tem-se lim  lim  lim − e −1/x  −1,
x→ 1/x x→ −1/x 2
x→
segue que f tem uma assintota oblíqua, a saber a reta y  x − 1, para x → .
Para determinar pontos críticos e intervalos de crescimento e decrescimento de
f, vamos calcular sua derivada.
−1/x
f ′ x  e −1/x  e x  e −1/x x x 1 . Logo o único ponto cr´tico é x  −1.
f ′ x  0 em −, −1  0,  e f ′ x  0, em −1, 0. Assim, f é estritamente
crescente nos intervalos −, −1 e 0,  e f é estritamente decrescente no
intervalo −1, 0. Logo, −1 é ponto de máximo local.
Finalmente para determinar a concavidade necessitamos da derivada segunda
−1/x
de f, f ′′ x  e 3 e portanto, f ′′ x  0, em 0,  e f ′′ x  0, em −, 0. No
x
entanto 0 não é um ponto de inflexão, pois 0 não pertence ao domínio de f. Assim,
f tem concavidade voltada para cima em 0,  e tem concavidade voltada para
baixo em −, 0. O gráfico de f e suas assintotas em linha tracejada.
Exercício 2
Seja f : 0,  → −, 0, derivável no intervalo em 0, , tal que

xf x  fx  fx 2  2, ∀x ∈ 0,  e 1 um ponto crítico de f. Mostre que f é
duas vezes derivável em 0,  e classifique o ponto crítico 1.
2 − xfx − fx 2
Solução: Da hipótese, segue que f ′ x  x , ∀x ∈ 0, ,
portanto como f é derivável então f também o é. Ainda a função gx  x é
2

derivável em  e gx  0, para todo x ∈ 0, , logo das propriedades de soma e
quociente de funções deriváveis, segue que f ′ é derivável em 0, . Como 1 é
ponto crítico de f, segue que f ′ 1  0, substituindo na equação obtemos,
f1  f1 2  2,
e como por hipótese fx  0, obtemos que f1  −2. Derivando ambos os lados
da equação, obtemos:
f ′ x  fx  xf ′′ x  f ′ x  2fxf ′ x  0.
Substituindo os valores de f1 e f ′ 1 na equação acima, obtemos que
f ′′ 1  2  0 e portanto o ponto 1 é um ponto de mínimo relativo de f.
Exercício 3
Sejam f : I →  duas derivável no intervalo aberto I e a ∈ I. Mostre que
fa  2h − 2fa  h  fa
f ′′ a lim .
h→0 h2
Dê um exemplo onde o limite acima existe, mas f ′ a não existe.
Solução: Do exercício 6.154, da lista de exercícios propostos, segue que
f ′′ a
fx  fa  f ′ ax − a  x − a 2  E a xx − a 2 , ∀x ∈ I,
2
com lim E a x  0  E a a. Assim, fazendo x  a  2h e x  a  h e substituindo na
x→a
razão acima tem-se que
fa  2h − 2fa  h  fa
2
 f ′′ a  4E a a  2h − 2E a a  h,
h
logo, passando o limite quando h → 0, segue que
fa  2h − 2fa  h  fa
lim 2
 f ′′ a.
h→0 h
Considere fx  |x|. Sabe-se que não existe f ′ 0. No entanto
f0  2h − 2f0  h  f0
lim  0, pois f2h  |2h|  2|h| e 2fh  2|h|.
h→0 h2
Exercício 4
Sabendo que arctgxy   ln1  x 2  − y 3  1  0 define implicitamente y como
2

função f de x num intervalo I, tal que f ∈ C 2 I, 0 ∈ I e f0  1. Determine o


polinômio de Taylor de ordem 2 de f em torno de a  0. Utilizando este
polinômio, determine aproximadamente f0, 03.
Solução: Da hipótese tem-se que
arctg xfx 2  ln1  x 2  − fx 3  1  0, ∀x ∈ I. 1
Logo, derivando ambos os lados de (ref: 1), obtém-se que
fx 2  2xfxf ′ x
 2x 2 − 3fx 2 f ′ x  0, ∀x ∈ I. 2
1  x fx
2 4
1x
Assim, substituindo x  0 em (ref: 2), lembrando que f0  1, segue que
1 − 3f ′ 0  0  f ′ 0  1 .
3
Derivando ambos os lados de (ref: 2) obtém-se que
4fxf ′ x  2xf ′ x 2  2xfxf ′′ x 1  x 2 fx 4
2
_ 3
1  x 2 fx 4
fx 2  2xfxf ′ x 2xfx 4  4x 2 fx 3 f ′ x
_ 2

1  x 2 fx 4
21  x 2  − 4x 2
 − 6fxf ′ x 2 − 3fx 2 f ′′ x  0.
2 2
1  x 
Substituindo x  0 em (ref: 3), lembrando que f0  1 e f ′ 0  1 , obtemos que
3
4  2 − 6 − 3f ′′ 0  0  f ′′ 0  8 .
3 9 9
Assim, como o polinômio de Taylor de ordem 2 em torno de a  0 é dado por
f ′′ 0 2
P 2 x  f0  f ′ 0x  x ,
2
segue que
P 2 x  1  x  4 x 2 .
3 9
Portanto utilizando tal polinômio temos que
f0, 03 ≃ 1, 0104.
Exercício 5
Seja f : I →  derivável em I. Mostre que se f tem concavidade voltada
para cima em I então f é convexa em I, isto é, para cada a, b ∈ I com a  b
tem-se que fta  1 − tb  tfa  1 − tfb, ∀t ∈ 0, 1.
Solução: Como f tem concavidade voltada para cima em I, tem-se que para

cada c ∈I,
fx  fc  f ′ cx − c, ∀x ∈ I, x ≠ c.

Como ta  1 − tb ∈ a, b ⊂I, ∀t ∈ 0, 1 e a, b ∈ I, com a  b, então
fb  fta  1 − tb  f ′ ta  1 − tbtb − a, ∀t ∈ 0, 1
e
fa  fta  1 − tb − f ′ ta  1 − tb1 − tb − a, ∀t ∈ 0, 1.
Multiplicando a primeira de sigualdade por 1 − t  0 e a segunda desigualdade
por t  0 e somando, obtemos
tfa  1 − tfb  fta  1 − tb, ∀t ∈ 0, 1.
Exercício 6
Sejam r  0 e f : −r, r →  derivável em −r, r. Suponha que

f x  x 2  fx 2 , ∀x ∈ −r, r e f0  0.
a) Conclua que f é de classe C  em −r, r.
b) Mostre que 0 é um ponto de inflexão horizontal.
c) Mostre que fx  2 x 3 , para todo x ∈ 0, r.
3!
Solução:
a) Como x 2 é de classe C  em  e f é derivável em −r, r, segue que f ′ é
derivável em −r, r e da equação, obtemos
f ′′ x  2x  2fxf ′ x.
Assim, como f e f ′ são deriváveis em −r, r, assim como a função 2x, que
é derivável em , pode-se concluir que f ′′ é derivável em −r, r. E assim
sucessivamente, pode-se concluir que f e de classe C  em −r, r.
b) Das hipóteses acima, obtemos que f ′ 0  0 e f ′′ 0  0. Derivando mais
uma vez, obtemos
f ′′′ x  2  2f ′ x 2  2fxf ′′ x
e portanto, temos f ′′′ 0  2 ≠ 0, o que implica que 0 é um ponto de
inflexão horizontal.
c) Pela fórmula de Taylor para f em torno de a  0, temos que para cada
x ∈ 0, r existe c x ∈ 0, x tal que
f ′′ 0 2 f ′′′ 0 3 f iv c x  4
fx  f0  f ′ 0x  x  x  x .
2 3! 4!
Como, f0  0  f ′ 0  f ′′ 0 e f ′′′ 0  2, segue que para cada x ∈ 0, r,
f iv c x  4
fx  2 x 3  x .
3! 4!
Basta mostrar que f iv x  0, para todo x ∈ 0, r. Mas da hipótese,
tem-se que f ′ x  0 em 0, r e portanto f é estritamente crescente em
0, r e como f0  0, tem-se que fx  0, ∀x ∈ 0, r. Portanto, da relação
para f ′′ tem-se que f ′′ x  0, ∀x ∈ 0, r, o que implica que f ′′′ x  0, em
0, r. Derivando a equação envolvendo f ′′′ , obtemos
f iv x  6f ′ xf ′′ x  2fxf ′′′ x  0, ∀x ∈ 0, r.
Assim, obtemos que
fx  2 x 3 , ∀x ∈ 0, r.
3!
138 CAPÍTULO 6. DIFERENCIABILIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL

6.3.1 Lista de exercícios


x2 + x − 3
Exercício 6.149 Esboce o gráfico da função f (x) = , x 6= 1, determinando,
x−1
os intervalos de crescimento e decrescimento da função, os máximos e mínimos relativos
e absolutos, os limites no infinito e nos pontos de acumulação que não pertencem ao
domínio, concavidade e pontos de inflexão, se existirem.

Exercício 6.150 Determine os limites abaixo, caso existam, justificando os resultados


utilizados:
a) lim+ x ln x.
x→0
b) lim+ xsen x .
x→0
senh x
c) lim .
x→0 sen x
ln (1 + 1/x)
d) lim .
x→+∞ arcctg (1/x)

Exercício 6.151 Esboce os gráficos das funções abaixo, determinando o domínio, os lim-
ites no infinito, os limites em pontos de acumulação que não fazem parte do domínio
ou em que a função não é contínua, , se for o caso. Determine ainda os intervalos de
crescimento e decrescimento da função, a concavidade em cada subintervalo, os pontos de
inflexão, caso existam e os pontos de máximos e mínimos relativos e/ou absolutos, caso
existam. Determine ainda, caso existam, as assíntotas.
ln x
a) f (x) = .
x
b) f (x) = xrln x.
1−x
c) f (x) = x
√ 1+x
d) f (x) = 3 x3 + 3x2 + 4x.
e) f (x) = arctg (ln x) .
x2 + 1
f) f (x) = 2 .
x −1

√ Use o polinômio de Taylor em torno de x0 = 0 para encontrar o valor


Exercício 6.152
aproximado de 4 e com uma precisão de quatro casas decimais.

Exercício 6.153 Utilizando a noção de diferenciabilidade calcule aproximadamente 4, 001
e estime o erro cometido.

Exercício 6.154 Seja f : I → R duas vezes derivável no intervalo I e x0 ∈ I. Mostre


que existe E : I → R contínua em x0 com E(x0 ) = 0 e tal que

f 00 (x0 )
f (x) = f (x0 ) + f 0 (x0 ) (x − x0 ) + (x − x0 )2 + E(x) (x − x0 )2 , ∀x ∈ I.
2
6.3. FÓRMULA DE TAYLOR 139

Exercício 6.155 Determine o grau do polinômio de Taylor em torno de x0 = 1, de modo


que o erro na aproximação de ln 1, 2 seja menor que 0, 001.

Exercício 6.156 Determine aproximadamente, e, com erro menor que 0, 01.
µ ¶
2 7π
Exercício 6.157 Seja f (x) = x cos x. Determine aproximadamente f , usando o
8
polinômio de Taylor de ordem 2 em torno de x0 = π.

Exercício 6.158 Seja f : R → R duas vezes derivável em R e tal que xf 00 (x)+f 0 (x) = 4,
∀x ∈ R.

a) Mostre que f 00 é contínua para todo x ∈ R\{0}.

b) Mostre que f não admite ponto de inflexão horizontal.



Exercício 6.159 Seja f : I → R, f ∈ C n−1 (I) e f (n−1) derivável em I, sendo n ímpar,

n ≥ 3. Seja x0 ∈ I tal que f 0 (x0 ) 6= 0, f 00 (x0 ) = 0 = . . . = f (n−1) (x0 ) e f (n) (x0 ) 6= 0.
Prove que x0 é um ponto de inflexão oblíquo.
Capítulo 7
Integral de Riemann

Antes de iniciarmos a definição de integral de Riemann, propriamente dita, daremos a


definição de primitiva de uma função f e mais tarde relacionaremos a primitiva de uma
função f com a integral de Riemann.

7.1 Primitiva
Definição 7.1 Dizemos que uma função f : I → R admite primitiva no intervalo I
quando existe F : I → R derivável em I com F 0 (x) = f (x), ∀x ∈ I.

Exemplo 7.2 Seja f : R → R definida por f (x) = x2 então f admite primitiva em


x3
R, pois a função F (x) = , x ∈ R é derivável em R e F 0 (x) = f (x), ∀x ∈ R. Ainda
3
x3
G(x) = + c, x ∈ R também é uma primitiva de f em R, qualquer que seja a constante
3
c ∈ R.
1
Exemplo 7.3 A função f (x) = , x 6= 0 admite primitiva em (0, +∞) definida por
x
F (x) = ln x, x ∈ (0, +∞) . Também admite primitiva em (−∞, 0) definida por F (x) =
1
ln (−x) , x ∈ (−∞, 0) . Portanto pode-se concluir que f (x) = , x 6= 0 admite primitiva
x
em R\{0} dada por F (x) = ln |x| , x 6= 0. Novamente, G(x) = ln |x| + c, x ∈ R\{0} é
primitiva de f neste domínio.
½
1, x < 1
Exemplo 7.4 A função f : R → R definida por f (x) = admite prim-
2, x ≥ 1
itiva R? É claro que g(x) = x + a é uma primitiva de f no intervalo (−∞, 1) pois
g 0 (x) = 1 = f (x), ∀x ∈ (−∞, 1) , para algum a ∈ R. Ainda h(x) = 2x + b é uma primitiva
de f no intervalo (1, +∞) pois h0 (x) = 2 = f (x), ∀x ∈ (1, +∞)½, para algum b ∈ R. No
x + a; x < 1
entanto quando consideramos F : R → R definida por F (x) = segue
2x + b; 1 ≤ x
que, se F é derivável em R, então F é contínua, logo lim+ F (x) = lim F (x), isto é,
x→1 x→1−

141
142 CAPÍTULO 7. INTEGRAL DE RIEMANN

1 + a = 2 + b ⇒ a − b = 1. Ainda, F 0 (x) = 1 = f (x), ∀x ∈ (−∞, 1) e F 0 (x) = 2 = f (x),


F (x) − F (1) x+a−2−b
∀x ∈ (1, +∞). No ponto x0 = 1, segue que lim− = lim− =
x→1 x−1 x→1 x−1
(x − 1) + (a − b − 1) (x − 1) F (x) − F (1) 2x + b − 2 − b
lim− = lim− = 1 e lim+ = lim− =
x→1 x−1 x→1 x − 1 x→1 x−1 x→1 x−1
2 (x − 1)
lim− = 2, ∀b ∈ R e portanto como os limites laterais são diferentes segue que
x→1 x−1
F (x) − F (1)
não existe lim , o que implica que F não é derivável em x0 = 1 e portanto f
x→1 x−1
não admite primitiva em R. Pode-se ter a tentação de concluir que isto acontece porque f
é descontínua em x = 1. Isto tem um certo fundamento, mas não é o fato de ser descon-
tínua, mas o tipo de descontinuidade, como veremos mais adiante. Vejamos o exemplo a
seguir que mostra que podemos ter funções descontínuas que admitem primitiva.
Exemplo 7.5 A função f : R → R, definida por
½
2x sen (1/x) − cos (1/x) , x 6= 0
f (x) =
0, x=0
não é contínua em a = 0. No entanto f admite primitiva em R, pois a função F : R → R,
definida por ⎧ µ ¶
⎨ 2 1
x sen , x 6= 0
F (x) = x

0, x=0
é derivável para todo x 6= 0 e nestes pontos F 0 (x) = f (x) . Para verificar se F é derivável
µ ¶
2 1
x sen
F (x) − F (0) x
em a = 0, devemos fazê-lo por definição, ou seja, lim = lim =
µ ¶ x→0 x x→0 x
1
lim x sen = 0 = f (0), o que implica que F é uma primitiva de f. Segue abaixo os
x→0 x
gráficos de f , em preto e de F, em azul.

Gráfico de f
7.1. PRIMITIVA 143

Gráfico de F
Qual a diferença entre os dois exemplos? No primeiro exemplo a descontinuidade é
do tipo salto, isto é, os limites laterais existem, mas são diferentes. Enquanto que no
segundo exemplo nem os limites laterais existem. Veremos mais adiante que funções com
descontinuidade tipo salto não admitem primitiva.
Vimos ainda nos exemplos acima que se F é uma primitiva de f em I então F + c
também é uma primitiva em I, ∀c ∈ R. E será que existe alguma outra primitiva de f
diferente de F + c? O próximo resultado responde a esta pergunta, para funções definidas
em intervalos.

Proposição 7.6 Seja f : I → R uma função que admite primitiva F no intervalo I. G


é uma primitiva de f no intervalo I ⇔ existe C ∈ R tal que G(x) = F (x) + C, ∀x ∈ I.

Prova. (⇒) Como G e F são primitivas de f no intervalo I, segue que F, G são


deriváveis em I e F 0 (x) = f (x) = G0 (x), ∀x ∈ I ⇒ (G − F )0 (x) = 0, ∀x ∈ I e como I é
um intervalo segue, como conseqüência do T.V.M., que existe uma constante C ∈ R tal
que (G − F ) (x) = C, ∀x ∈ I ⇒ G(x) = F (x) + C, ∀x ∈ I.
(⇐) É claro que se G(x) = F (x) + C, ∀x ∈ I então G é derivável em I e G0 (x) =
F 0 (x) = f (x), ∀x ∈ I ⇒ G é primitiva de f em I. ¤

Nota 7.7 Assim, do resultado anterior temos que se uma função admite uma primitiva
no intervalo I, então ela admite
R uma família de primitivas
R que diferem uma das outras
por uma constante. A notação f (x)dx ou simplesmente f será usada para representar
a família de primitivas de uma função f.

Veremos a seguir um resultado importante que nos permitirá concluir que funções que
admitem descontinuidade tipo salto num determinado intervalo, não admitem primitiva
neste intervalo. Para isso, enunciaremos um resultado que afirma que a derivada de uma
função possui a propriedade do valor intermediário, independente de sua continuidade e
que é o exercício proposto 6.93, cuja prova utiliza o exercício proposto 6.91.
144 CAPÍTULO 7. INTEGRAL DE RIEMANN

Teorema 7.8 Seja f : [a, b] → R derivável em [a, b] . Então a função f 0 : [a, b] → R


assume todos os valores entre f 0 (a) e f 0 (b).
O resultado que segue é o que nos importa e sua demonstração será deixada a cargo
do aluno, por ser uma consequência do teorema acima.

Corolário 7.9 Seja f : I → R e a ∈ I tal que f admite uma descontinuidade do tipo
salto em a, isto é, lim+ f (x) 6= lim− f (x). então f não admite primitiva no intervalo I.
x→a x→a

A demonstração é por absurdo e utiliza o teorema anterior.


Assim, quando a função admite uma descontinuidade do tipo salto podemos garantir
que esta não admite primitiva no intervalo que contém tal descontinuidade.
E se f for contínua, ela sempre admite primitiva?
Para responder a esta pergunta vamos iniciar com o conceito de integral de Riemann,
mas para isso precisamos de algumas definições preliminares.

7.2 Soma e integral superior e inferior


Definição 7.10 Dizemos que um subconjunto finito P ⊂ R é uma partição do intervalo
[a, b] quando P = {x0 , x1 , . . . , xn } onde a = x0 , xn = b e xi−1 < xi , i = 1, . . . , n.
Notação: Denotamos por P ([a, b]) o conjunto de todas as partições do intervalo
[a, b] .
1 1 1 1 1 2
Exemplo 7.11 Considere o intervalo [0, 1] então P = {0, , , 1}, R = {0, , , , , 1}
3 2 6 4 2 3
1 1 1 2
e Q = {0, , , , , 1} são partições de [0, 1] .
5 4 3 3
Definição 7.12 Sejam P, Q ∈ P ([a, b]) . Dizemos que P é uma partição mais fina que a
partição Q quando Q ⊂ P.
Exemplo 7.13 Do exemplo anterior, vemos que Q é mais fina que P, no entanto Q não
é mais fina que R e nem R é mais fina que P.
Definição 7.14 Sejam f : [a, b] → R limitada em [a, b] e P ∈ P ([a, b]) . Definimos a
soma superior de f com respeito à P como sendo:
X
n
S(f, P ) = Mi ∆xi ,
i=1

onde Mi = sup{f (x); x ∈ [xi−1 , xi ]} e ∆xi = xi − xi−1 , 1 ≤ i ≤ n. Definimos ainda a


soma inferior de f com respeito à P por:
X
n
s(f, P ) = mi ∆xi ,
i=1

onde mi = inf{f (x); x ∈ [xi−1 , xi ]}.


7.2. SOMA E INTEGRAL SUPERIOR E INFERIOR 145

Segue abaixo os gráficos de uma soma superior e de uma soma inferior da função
1
f (x) = x2 , no intervalo [0, 2] , com ∆xi = .
5

Soma superior de f (x) = x2

Soma inferior de f (x) = x2

Nota 7.15 Observe que como f é limitada então as somas superiores e inferiores estão
bem definidas.

Vejamos a seguir alguns resultados importantes sobre somas superiores e inferiores que
nos permitirão definir integral superior e inferior e função Riemann integrável.

Proposição 7.16 Seja f : [a, b] → R limitada em [a, b] . Então:

a) m(b − a) ≤ s(f, P ) ≤ S(f, P ) ≤ M(b − a), ∀P ∈ P ([a, b]) , onde m = inf{f (x); x ∈
[a, b]} e M = sup{f (x); x ∈ [a, b]}.

b) S(f, R) ≥ S(f, Q) e s(f, R) ≤ s(f, Q), ∀Q, R ∈ P ([a, b]) com R ⊂ Q.


146 CAPÍTULO 7. INTEGRAL DE RIEMANN

c) s(f, P ) ≤ S(f, Q), ∀P, Q ∈ P ([a, b]) .

d) sup{s(f, P ); P ∈ P ([a, b])} ≤ inf{S(f, P ); P ∈ P ([a, b])}.

Prova. O ítem (a) é imediato da definição de soma superior e inferior. Demon-


straremos o ítem (b) apenas para a soma superior deixando a soma inferior a cargo do
aluno.
b) A demonstração será feita por indução sobre o número de pontos que Q tem a mais
que R. Suponhamos então, sem perda de generalidade, que R = {x0 = a, x1 , . . . , xn =
b} e Q = {x0 = a, c, x1 , . . . , xn = b}. Considere Mi = sup{f (x); x ∈ [xi−1 , xi ]}, 1 ≤
i ≤ n e M10 = sup{f (x); x ∈ [a, c]} e M1 ” = sup{f (x); x ∈ [c, x1 ]}. Como {f (x); x ∈
[a, c]}, {f (x); x ∈ [c, x1 ]} ⊂ {f (x); x ∈ [a, x1 ]}, segue das propriedades de supremo que
M10 , M1 ” ≤ M1 e portanto da definição de soma superior segue que o resultado para somas
superiores vale quando a partição mais fina tem um ponto a mais . Suponhamos que o
resultado é válido para Q e R tal que R ⊂ Q e Q tenha n elementos a mais que R.
Suponhamos agora Q é uma partição mais fina que R com n + 1 pontos a mais que R.
Considere Q1 uma partição consistindo dos pontos de Q menos um ponto que não pertença
a R. Assim, Q1 é uma partição mais fina que R com n pontos a mais, o que implica da
hipótese indutiva que S(f, R) ≥ S(f, Q1 ). Ainda Q é uma partição mais fina que Q1 com
um ponto a mais então segue do que já foi demonstrado que S(f, Q1 ) ≥ S(f, Q). Portanto
das duas desigualdades acima segue o resultado.
c) Use os ítens (a) e (b), construindo a partição P1 = R ∪ Q.
d) Use o ítem (c) e as definições de supremo e ínfimo. ¤

Para ilustrar graficamente daremos a soma superior e inferior de f (x) = x2 , no inter-


1
valo [0, 2] tomando a partição tal que ∆xi = e que contém a partição anterior, onde
10
1
∆xi = . Compare com os gráficos anteriores e observe como a soma superior decresce
5
enquanto que a soma inferior cresce, ambas se aproximando da área abaixo da curva
y = x2 .

Soma superior refinada de f (x) = x2


7.2. SOMA E INTEGRAL SUPERIOR E INFERIOR 147

Soma inferior refinada de f (x) = x2

A partir da proposição anterior podemos definir integral superior e inferior para qual-
quer função real limitada num intervalo fechado e limitado.
Definição 7.17 Seja f : [a, b] → R limitada em [a, b] . A integral inferior de f no inter-
valo [a, b], é definida por
Z b
f (x) dx = sup{s(f, P ); P ∈ P ([a, b])},
a

e a integral superior de f no intervalo [a, b], é definida por


Z b
f (x)dx = inf{S(f, P ); P ∈ P ([a, b])}.
a

Nota 7.18 É importante observar que as integrais superiores e inferiores estão bem
definidas para qualquer f : [a, b] → R limitada em [a, b] e ainda da proposição anterior
segue que
Z b Z b
f (x)dx ≤ f (x)dx.
a a

No entanto, não é verdade que qualquer f nestas condições seja integrável, como veremos
da definição.
Definição 7.19 Seja f : [a, b] → R limitada em [a, b] . Dizemos que f é Riemann inte-
grável sobre [a, b] quando
Z b Z b
f (x)dx = f (x)dx = I.
a a

Neste caso o número real I é denominado integral de f sobre [a, b] e denotado por
Z b
I= f (x)dx.
a
148 CAPÍTULO 7. INTEGRAL DE RIEMANN

Exemplo 7.20 Seja f : [a, b] → R uma função constante, ou seja f (x) = k, ∀x ∈ [a, b] .
Considere P ∈ P ([a, b]) , uma partição qualquer, então S(f, P ) = k(b − a) e s(f, P ) =
Rb R b Rb
k(b − a) ⇒ f (x)dx = a f (x)dx = k (b − a) = a f (x)dx, o que implica que toda função
a
constante é integrável sobre um intervalo [a, b] e
Z b
kdx = k (b − a) ,
a

que quando k > 0, é a área do retângulo de altura k e base b − a.


½
1; x ∈ Q ∩ [0, 1]
Exemplo 7.21 Seja f : [0, 1] → R definida por f (x) = . Considere
0; x ∈ [0, 1] \Q
P ∈ P ([0, 1]) , P = {x0 = 0, x1 , . . . , xn = 1}, uma partição qualquer de[0, 1] . Como
em qualquer intervalo [xi−1 , xi ] , 1 ≤ i ≤ n, existem racionais eR irracionais, segue que
1
S(f, P ) = 1 e s(f, P ) = 0, ∀P ∈ P ([0, 1]) . Portanto, temos que f (x)dx = 0 enquanto
0
R 1
que 0 f (x)dx = 1 e portanto f não é integrável sobre [0, 1] o que mostra que nem toda
função limitada num intervalo fechado e limitado é Riemann integrável.

Nota 7.22 Das definições anteriores, tem-se que quando f é integrável em [a, b], f (x) ≥
Rb
0,para todo x ∈ [a, b] , a integral a f (x) dx é a área abaixo da curva y = f (x) e acima
do eixo dos x0 s com x ∈ [a, b] , como ficou claro graficamente.
Exercício 1
Verifique se as funções abaixo admitem primitiva, nos intervalos
indicados e caso a resposta seja positiva determine a família de primitivas.
a) fx  1 , I  −1, 1.
1 − x2
b) fx  1 , I  1, .
x ln x
c) fx  |x|, I  
x; x≤1
d) fx  .
ln x; x  1
Solução:
a) Como arcsen x é derivável em −1, 1 e arcsen ′ x  1 em
1 − x2
I  −1, 1, segue que f admite primitiva em I e a família de primitivas de f
é  f  arcsen x  c, c ∈ .

b) Como lnlnx é derivável em 1, , pois ln é derivável em 0,  e


ln x  0, em 1,  e composta de funções deriváveis é derivável. Ainda
da derivação de composta tem-se que
ln ∘ ln ′ x  ln ′ lnxln ′ x  1 . Logo, f admite primitiva em I e a
x ln x
família de primitivas é  f  lnln x  c, c ∈ .

x; x≥0 2
c) Sabe-se que |x|  . Então tem-se que x é uma primitiva de
−x; x  1 2

x e −x é uma primitiva de −x. Logo para provar que


2
2
x 2 /2; x ≥ 0
Fx  é primitiva de f, resta mostrar que F é derivável
−x 2 /2; x  0
em a  0. Vejamos:
Fx − F0 x 2 /2
lim  lim x  lim x  0 e
x→0  x−0 x→0  x→0  2
Fx − F0 −x /2
2
lim  lim  lim − x  0. Portanto como os limites laterais são
x→0 − x − 0 x→0 −
x
x→0 − 2
iguais este existe, logo F é derivável em 0 e F ′ 0  0  f0.
d) Como lim fx  0 e lim fx  1, segue que f tem uma descontinuidade
x→1  x→1 −
tipo salto em a  1 e portanto não admite primitiva.
Exercício 2
Mostre que existe uma única primitiva G de fx  12  cos x − 1 em
x 3
0, tal que G1  2 e determine-a.
Solução: A família de primitivas de f é  fxdx  − 1x  3 sen x − 1  C, em
3
1
0, , pois Fx  − x  3 sen x − 1 é derivável em 0,  e
3
F ′ x  12  3 cos x − 1 1  fx, para todo x ∈ 0, .
x 3 3
Assim, qualquer primitiva G de f é Gx  − 1x  3 sen x − 1  C. Logo,
3
G1  −1  C e portanto para que G1  2, devemos ter 2  −1  C, ou seja
C  3. Logo,
Gx  − 1x  3 sen x − 1  3,
3
é a única ´primitiva de f, satisfazendo a condição G1  2.
Exercício 3
Sejam f : a, b → , limitada em a, b e c ∈ a, b. Mostre que
b c b b c b
 fxdx   fxdx   fxdx e  a fxdx   a fxdx   c fxdx.
a a c
Solução: Seja P ∈ Pa, b e considere Q  P  c. Sejam Q 1  Q ∩ a, c e
Q 2  Q ∩ c, b. Assim, temos que
c b
 a fxdx   c fxdx ≤ Sf, Q  Sf, Q 1   Sf, Q 2  ≤ Sf, P,
e
c b
sf, P ≤ sf, Q  sf, Q 1   sf, Q 2  ≤  fxdx   fxdx
a c

o que implica que


c b b
a fxdx  c fxdx ≤  a fxdx,
e
b c b
 fxdx ≤  fxdx   fxdx.
a a c

Mas, para quaisquer Q ∈ Pa, c e R ∈ Pc, b, tem-se que


Q  R  T ∈ Pa, b, portanto
Sf, T  Sf, Q  Sf, R,
e
sf, T  sf, Q  sf, R.
Então das propriedades de ínfimo e supremo da soma, segue que
c b
infSf, T; T  Q  R, Q ∈ Pa, c, R ∈ Pc, b   a fxdx   c fxdx,
e
c b
supsf, T; T  Q  R, Q ∈ Pa, c, R ∈ Pc, b   fxdx   fxdx.
a c

Mas da propriedade de ínfimo e supremo de um subconjunto tem-se que


b c b
 a fxdx ≤  a fxdx   c fxdx,
e
c b b
 fxdx   fxdx ≤  fxdx.
a c a

Portanto das duas desigualdades, segue que


b c b b c b
 a fxdx   a fxdx   c fxdx, e  fxdx   fxdx   fxdx.
a a c
Exercício 4
Sejam f : a, b → , c ∈ a, b e ,  ∈  tais que
; x ∈ a, c
fx  .
; x ∈ c, b
b
Mostre que f é integrável em a, b e  fxdx  c − a  b − c.
a
Solução: Do exercício anterior, como f é integrável, segue que
b b c b
 a fxdx   fxdx   fxdx   fxdx
a a c

e
b b c b
 a fxdx   a fxdx   a fxdx   c fxdx.
Portanto
c b c b
 fxdx   fxdx   a fxdx   c fxdx.
a c

Ainda como f| c,b  , e portanto constante, segue que f| c,b é integrável em c, b e
b
 c fxdx  b − c. Logo, desta última igualdade e das igualdades anteriores,
tem-se que
c c
 fxdx   a fxdx,
a

e portanto f| a,c é integrável em a, c e das igualdades acima tem-se que


b c b c
 a fxdx   a fxdx   c fxdx   a fxdx  b − c.
c
Resta mostrar que  fxdx  c − a. Suponhamos sem perda de generalidade
a
c
que  ≤ . Então ∀P ∈ a, c tem-se que sf, P  c − a   fxdx  c − a.
a
Mas, como f| a,c é integrável em a, c, então
c c
 a fxdx   fxdx  c − a.
a

resolucao Caso  ≥ , obtém-se que Sf, P  c − a, ∀P ∈ a, c e


portanto
c c
 a fxdx   a fxdx  c − a.
Assim, concluímos que
b c b
 a fxdx   a fxdx   c fxdx  c − a  b − c.
Exercício 5
Sejam f, g : a, b →  limitadas em a, b e tais que fx ≥ gx, ∀x ∈ a, b.
b b b b
Mostre que  fxdx ≥  gxdx e  fxdx ≥  gxdx.
a a a a
Solução: Como fx ≥ gx, ∀x ∈ a, b, tem-se que,
∀P  x 0 , … , x n  ∈ Pa, b
supfx; x ∈ x i−1 , x i  ≥ supgx; x ∈ x i−1 , x i , i  1, … , n
e
inffx; x ∈ x i−1 , x i  ≥ infgx; x ∈ x i−1 , x i , i  1, … , n.
Assim,
b b
Sf, P ≥ Sg, P ≥  a gxdx e  fxdx ≥ sf, P ≥ sf, P, ∀P ∈ Pa, b.
a
b
Logo,  gxdx é uma cota inferior de Sf, P; P ∈ Pa, b e como o ínfimo de
a
um conjunto é a maior cota inferior deste, tem-se que
b b
a fxdx ≥  a gxdx.
b
Analogamente  fxdx é cota superior de sg, P; P ∈ Pa, b e como o
a
supremo de um conjunto é a menor cota superior deste, tem-se que
b b
 fxdx ≥  gxdx.
a a
Exercício 6
Sejam f, g : a, b →  limitadas em a, b. Mostre que
b b b b b b
 f  gxdx ≥  fxdx   gxdx e  a f  gxdx ≤  a fxdx   a gxdx.
a a a
Solução: Para toda P  x 0 , … , x n  ∈ Pa, b tem-se que
fx  gx; x ∈ x i−1 , x i  ⊂ fx; x ∈ x i−1 , x i   gx; x ∈ x i−1 , x i , i  1, … , n.
Logo das propriedades de supremo e ínfimo tem-se que
Sf  g, P ≤ Sf, P  Sg, P e sf  g, P ≥ sf, P  sg, P.
Logo, ∀P, Q ∈ Pa, b considerando R  P  Q, tem-se que
b
 a f  gxdx ≤ Sf  g, R ≤ Sf, R  Sg, R ≤ Sf, P  Sg, Q e
b
 f  gxdx ≥ sf  g, R ≥ sf, R  sg, R ≥ sf, P  sg, Q.
a
b
Assim, tem-se que  f  gxdx é cota inferior de
a
Sf, P  Sg, Q; P, Q ∈ Pa, b  Sf, P; P ∈ Pa, b  Sg, Q; Q ∈ Pa, b
e portanto como o ínfimo é a maior cota inferior de um conjunto e da propriedade
de ínfimo da soma, tem-se que
b b b
 a f  gxdx ≤  a fxdx   a gxdx.
b
Ainda,  f  gxdx é cota superior de
a
sf, P  sg, Q; P, Q ∈ Pa, b  sf, P; P ∈ Pa, b  sg, Q; Q ∈ Pa, b e
como o supremo de um conjunto é a menor cota superior deste e da propriedade
de supremo da soma, tem-se que
b b b
 f  gxdx ≥  fxdx   gxdx.
a a a
7.2. SOMA E INTEGRAL SUPERIOR E INFERIOR 149

7.2.1 Lista de Exercícios


Exercício 7.23 Determine em que intervalo as funções abaixo admitem primitiva e dê a
família de primitivas correspondentes.
R
a) x2 dx.
R
b) e−x dx.
R 1
c) dx.
1 + x2
R √
d) ( 3 x + cos (3x) − sen2 x) dx.

Exercício 7.24 Determine, caso exista, a família de primitivas abaixo, no intervalo I,


indicado. Justifique.
R ³ π π´
a) tg2 (x)dx, I = − ,
2 2
½ 2
R x cos x3 , x ≤ 0
b) f (x)dx, onde f (x) = 2 , I = R.
xex , x>0

R ⎨ sen x3
c) f (x)dx, onde f (x) = , x < 0 , I = R.
⎩ ex2x, x≥0
Z µ ¶
1
d) sen x + cos x + dx, I = R.
1 + x2
Z µ ¶
1 2
e) √ + sec x tg x − cossec x dx, I = (0, 1) .
1 − x2

Exercício 7.25 Sejam f, g : [a, b] → R limitadas e c ∈ R. Mostre que:


Rb Rb Rb Rb Rb Rb
a) f (x)dx + g(x)dx ≤ (f + g) (x)dx ≤ a
(f + g) (x)dx ≤ a
f (x)dx + a
g(x)dx.
a a a
Rb Rb Rb Rb
b) Se c > 0, cf (x)dx = c f (x)dx e a cf (x)dx = c a f (x)dx.
a a
Rb Rb Rb Rb
c) Se f (x) ≤ g (x) , ∀x ∈ [a, b] então f (x)dx ≤ g(x)dx e a
f (x)dx ≤ a
g(x)dx.
a a
¯R ¯ R ¯R b ¯ Rb
¯ b ¯ b ¯ ¯
d) ¯ f (x)dx¯ ≤ |f (x)| dx e ¯ a f (x)dx¯ ≤ a |f (x)| dx.
a a
150 CAPÍTULO 7. INTEGRAL DE RIEMANN

7.3 Critério de integrabilidade de Riemann


Nota 7.26 Observe que a definição de integrabilidade e de integral não é prática e pode
ser usada apenas em alguns casos bastante simples. Portanto daremos a seguir um critério
de integrabilidade que nos permitirá ampliar o leque de funções integráveis.

Teorema 7.27 Seja f : [a, b] → R limitada em [a, b] . Então f é integrável sobre [a, b] ⇔
dado ε > 0, existe Pε ∈ P ([a, b]) tal que

S(f, Pε ) − s(f, Pε ) < ε.


Rb R b Rb
Prova. (⇒) Suponhamos que f é integrável então f (x)dx = a f (x)dx = a f (x)dx
a
e da definição de integral superior e inferior segue que ∀ε > 0, ∃Qε , Rε ∈ P ([a, b]) tais
que Z b Z b
ε ε
s(f, Qε ) > f (x)dx − e S(f, Rε ) < f (x)dx + .
a 2 a 2
Assim, tomando Pε = Qε ∪ Rε , segue que
Z b Z b
ε ε
f (x)dx − < s(f, Qε ) ≤ s(f, Pε ) ≤ S(f, Pε ) ≤ S(f, Rε ) < f (x)dx + .
a 2 a 2
Portanto das desigualdades anteriores, segue que

S(f, Pε ) − s(f, Pε ) < ε.

como queríamos demonstrar.


(⇐) Devemos provar que a hipótese implica que integral superior e inferior são iguais.
Sabe-se que
Z b Z b
s(f, P ) ≤ f (x)dx ≤ f (x)dx ≤ S(f, P ), ∀P ∈ P ([a, b]) .
a a

Em particular para todo ε > 0, tem-se que


Z b Z b
s(f, Pε ) ≤ f (x)dx ≤ f (x)dx ≤ S(f, Pε ),
a a

onde Pε satisfaz a hipótese. Logo,


Z b Z b
f (x)dx − f (x)dx ≤ S(f, Pε ) − s(f, Pε ) < ε, ∀ε > 0.
a a

Portanto, como as integrais superior e inferior são números reais que não dependem da
R b Rb
partição, segue da propriedade de números reais que a f (x)dx = f (x)dx ⇒ f é inte-
a
grável. ¤
7.3. CRITÉRIO DE INTEGRABILIDADE DE RIEMANN 151

Nota 7.28 É claro que este critério de integrabilidade também não é prático, mas vai
nos permitir demonstrar que certas classes de funções são integráveis.

Teorema 7.29 Toda função f : [a, b] → R limitada e monótona em [a, b] é integrável.

Prova. Demonstraremos para funções crescentes. Para f constante já provamos a


integrabilidade. Suponhamos então que f não é constante. Então como f é crescente
segue que f (a) < f (b). Ainda da monotonicidade de f temos que para qualquer partição
P = {x0 = a, x1 , . . . , xn = b} de [a, b] , Mi = sup{f (x); x ∈ [xi−1 , xi ]} = f (xi ) e mi =
inf{f (x); x ∈ [xi−1 , xi ]} = f (xi−1 ), 1 ≤ i ≤ n. Dado ε > 0, seja n ∈ N tal que n >
(f (b) − f (a)) (b − a) b−a
. Assim, tomemos uma partição Pε ∈ P ([a, b]) tal que ∆xi = .
ε n
Pn b−a
Logo S(f, Pε ) − s(f, Pε ) = (f (xi ) − f (xi−1 ))∆xi = (f (b) − f (a)) < ε ⇒ f é
i=1 n
integrável. ¤

O resultado a seguir é um dos mais importantes da teria de integração. Sua demon-


stração está feita no exercício resolvido 1 desta seção.

Teorema 7.30 Toda função f : [a, b] → R contínua em [a, b] é integrável em [a, b].

Proposição 7.31 Seja f : [a, b] → R limitada em [a, b] e contínua em (a, b). Então f é
integrável em [a, b] .

Prova. Como f é limitada, considere M = sup{f (x); x ∈ [a, b]} e m = inf{f (x); x ∈
[a, b]}. Como já provamos que toda função constante é integrável então suporemos que f
não é constante e portanto m < M. Assim, dado ε > 0 tomemos cε , dε ∈ (a, b) tais que
ε ε
0 < cε − a < e b − dε < . Logo, como f é contínua em [cε , dε ]
3 (M − m) 3 (M − m)
segue que f é integrável neste intervalo, portanto, existe Pε0 ∈ P ([cε , dε ]) tal que
ε
S(f, Pε0 ) − s(f, Pε0 ) < .
3
Considere Pε = {a, b} ∪ Pε0 ∈ P ([a, b]) , então

S(f, Pε ) − s(f, Pε ) = (sup{f (x); x ∈ [a, cε ]} − inf{f (x); x ∈ [a, cε ]}) (cε − a)
+S(f, Pε0 ) − s(f, Pε0 ) + (sup{f (x); x ∈ [dε , b]} − inf{f (x); x ∈ [dε , b]}) (b − dε ) ≤
≤ (M − m) (cε − a) + S(f, Pε0 ) − s(f, Pε0 ) + (M − m) (b − dε ) < ε.

Concluindo assim que f é integrável em [a, b] . ¤


152 CAPÍTULO 7. INTEGRAL DE RIEMANN

Nota 7.32 Observe na demonstração acima que o valor de f nos pontos a e b não altera
a integrabilidade de f e nem mesmo o valor da integral, desde que f seja limitada. Assim,
se f é limitada e contínua em (a, b), pode-se concluir que f é integrável em [a, b] , pois
pode-se definir f nos pontos a e b, da maneira que quisermos e procedendo como na
demonstração acima, obtemos o resultado. Ou seja mesmo que f não esteja definida em
a ou b, desde que f seja limitada em (a, b) , pode-se perguntar se f é ou não integrável
em [a, b] .

Proposição 7.33 Seja f : [a, b] → R limitada em [a, b] e c ∈ (a, b) tal que f é integrável
Rb Rc
em [a, c] e f é integrável em [c, b] . Então f é integrável em [a, b] e a f (x)dx = a f (x)dx+
Rb
c
f (x)dx.
Rc R c Rb R b
Prova. Da hipótese, tem-se que f (x)dx = a f (x)dx e f (x)dx = c f (x)dx. Do
a c
exercício resolvido 2 da seção anterior segue que
Z b Z c Z b
f (x)dx = f (x)dx + f (x)dx =
a a c
Z c Z b Z b
= f (x)dx + f (x)dx = f (x)dx.
a c a

Logo, f é integrável em [a, b] e


Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c

Teorema 7.34 Seja f : [a, b] → R limitada em [a, b] e contínua exceto num número finito
de pontos. Então f é integrável em [a, b] .

Prova. A demonstração deste resultado é feita por indução utilizando as proposições


acima. ¤

Vejamos agora algumas das propriedades de integral e como obter novas funções inte-
gráveis a partir de funções integráveis já conhecidas.

Teorema 7.35 Sejam f, g : [a, b] → R limitadas e integráveis em [a, b] . Então:


Rb Rb Rb
a) f + g é integrável e a (f + g) (x) dx = a f (x) dx + a g (x) dx.
Rb Rb
b) kf é integrável e a (kf ) (x) dx = k a f (x) dx, ∀k ∈ R.
Rb
c) Se f (x) ≥ 0, ∀x ∈ [a, b] então a f (x) dx ≥ 0.
Rb Rb
d) Se f (x) ≤ g(x), ∀x ∈ [a, b]¯então a f ¯(x) dx ≤ a g (x) dx.
¯R b ¯ Rb
e) |f | é integrável em [a, b] e ¯ a f (x) dx¯ ≤ a |f (x)| dx.
7.3. CRITÉRIO DE INTEGRABILIDADE DE RIEMANN 153

Prova. Provaremos apenas os ítens (a) e (e), deixando os demais a cargo do aluno.
a)Do exercício resolvido 5 da seção anterior e da integrabilidade de f e g, tem-se que
Z b Z b Z b
(f + g) (x)dx ≥ f (x)dx + g(x)dx =
a a a
Z b Z b
= f (x) dx + g (x) dx,
a a
e
Z b Z b Z b
(f + g) (x)dx ≤ f (x)dx + g(x)dx =
a a a
Z b Z b
= f (x) dx + g (x) dx.
a a

Portanto
Z b Z b Z b Z b Z b Z b
f (x) dx+ g (x) dx ≤ (f + g) (x)dx ≤ (f + g) (x)dx ≤ f (x) dx+ g (x) dx.
a a a a a a

Assim destas desigualdades temos provado o resultado.


e)Para provar o ítem (e) necessitamos do seguinte resultado de números reais, da lista
de exercícios propostos do capítulo de números reais,
sup Y − inf Y = sup{|x − y| , x, y ∈ Y },
qualquer que seja Y subconjunto limitado de números reais.
Assim, considerando P = {x0 = a, x1 , . . . , xn = b}, segue do resultado enunciado
acima que:

X
n
S(f, P ) − s(f, P ) = sup{|f (x) − f (y)| ; x, y ∈ [xi−1 , xi ]}∆xi ≥
i=1
X
n
≥ sup{|f (x)| − |f (y)| ; x, y ∈ [xi−1 , xi ]}∆xi = S(|f | , P ) − s (|f | , P ) .
i=1

Portanto, utilizando o critério de integrabilidade de f, obtém-se que |f | também o é.


¯R Ainda, do¯ fato que − |f (x)| ≤ f (x) ≤ |f (x)| , ∀x ∈ [a, b], segue do ítem (d) que
¯ b ¯ Rb
¯ a f (x) dx¯ ≤ a |f (x)| dx. ¤

Nota 7.36 Observe que a recíproca da propriedade


½ (e) não é em geral verdadeira, pois
1; x ∈ Q ∩ [0, 1]
a função f : [0, 1] → R definida por f (x) = não é integrável já
−1; x ∈ [0, 1] \Q
Rb R b
que f (x)dx = −1 e a f (x)dx = 1, no entanto |f | ≡ 1 em [0, 1] , portanto uma função
a
constante, que é integrável neste intervalo.
154 CAPÍTULO 7. INTEGRAL DE RIEMANN

Vejamos mais algumas propriedades sobre integrabilidade.

Lema 7.37 Seja f : [a, b] → R limitada e integrável em [a, b], com f (x) ≥ 0, ∀x ∈ [a, b] .
Então f 2 é integrável em [a, b] .

Prova. Segue de propriedade de supremo e ínfimo que


X
n
¡ 2 ¢
S(f 2 , P ) − s(f 2 , P ) = Mi − m2i ∆xi ,
i=1

∀P = {x0 = a, x1 , . . . , xn = b} ∈ P ([a, b]) . Assim,

S(f 2 , P ) − s(f 2 , P ) ≤ (S(f, P ) − s(f, P )) 2M,

onde M = sup{f (x); x ∈ [a, b]} > 0. Portanto, como f é integrável em [a, b], dado ε > 0
existe Pε ∈ P ([a, b]) tal que
ε
S(f, Pε ) − s(f, Pε ) < ⇒ S(f 2 , P ) − s(f 2 , P ) < ε
2M
Portanto, f 2 é integrável em [a, b] . ¤

Proposição 7.38 Sejam f, g : [a, b] → R limitadas e integráveis em [a, b] . Então f 2 e fg


também são integráveis em [a, b] .

Prova. Como f é limitada então existe K > 0 tal que |f (x)| ≤ K, ∀x ∈ [a, b] ⇒
−K ≤ f (x) ≤ K, ∀x ∈ [a, b] ⇒ 0 ≤ f (x) + K ≤ 2K, ∀x ∈ [a, b] . Assim, do lema acima,
segue que (f + K)2 é integrável. Mas (f + K)2 = f 2 + 2Kf + K 2 e como f é integrável,
segue das propriedades já vistas que 2Kf também o é e ainda toda função constante é
integrável sobre um intervalo fechado e limitado. Logo segue que f 2 é integrável.
1£ ¤
Ainda como fg = (f + g)2 − (f − g)2 , segue do que acabamos de provar e das
4
propriedades já vistas que f g também é integrável em [a, b] . ¤

Convenção: Seja f : [a, b] → R limitada e integrável em [a, b] , Convenciona-se que


Rc Ra Rb
c
f (x)dx = 0, ∀c ∈ [a, b] e b f (x)dx = − a f (x)dx.
Até aqui vimos apenas resultados que nos fornecem condições suficientes para que uma
função seja integrável num intervalo [a, b] . Daremos a seguir um resultado que nos fornece
uma condição necessário e suficiente, mas que não será demonstrado, por fugir ao escopo
de um curso incial de Cálculo.

Definição 7.39 Seja A ⊂ R. Dizemos que A é um conjunto de medida nula quando


dado ε > 0, existe uma família enumerável, finita ou infinita, de intervalos abertos Ik ,
k ∈ K(K = {1, . . . , n} ou K = N) tal que:
7.3. CRITÉRIO DE INTEGRABILIDADE DE RIEMANN 155

i) A ⊂ ∪ Ik .
k∈K
P
ii) l (Ik ) < ε, onde l (Ik ) é o comprimento do intervalo Ik .
k∈K

Exemplo 7.40 A = {a} é um conjunto de medida nula.

Exemplo 7.41 Se A é um conjunto finito de pontos então A é um conjunto de medida


nula.

Proposição 7.42 Seja {Aj ; j ∈ N} uma família enumerável de conjuntos de medida



nula. Então ∪ Aj tem medida nula.
j=1

Prova. Dado ε > 0, como cada Aj tem medida nula, existe uma família enumerável
de intervalos abertos Ikj , kj ∈ Kj tal que, para cada j ∈ N,

i) Aj ⊂ ∪ Ikj .
kj ∈Kj

P ¡ ¢ ε
ii) l Ikj < j .
kj ∈Kj 2

Assim, considere a família enumerável dos intervalos abertos {Ikj , kj ∈ Kj , j ∈ N},


segue que
∞ ∞
i) ∪ Aj ⊂ ∪ ∪ Ikj .
j=1 j=1 kj ∈Kj

P∞ P ¡ ¢ P ∞ ε 1/2
ii) l Ikj < j
=ε = ε.
j=1kj ∈Kj j=1 2 1 − 1/2

Logo, ∪ Aj tem medida nula. ¤
j=1

Exemplo 7.43 N e Q tem medida nula, já que são conjuntos enumeráveis e portanto
como o conjunto constituído de um ponto tem medida nula, N e Q, são ambos, união
enumerável de conjuntos de medida nula.

Teorema 7.44 Seja f : [a, b] → R limitada em [a, b] . f é integrável em [a, b] ⇔ o


conjunto de descontinuidades de f tem medida nula.

⎨ 0; x ∈ [0, 1] ∩ (R\Q)
Exemplo 7.45 Seja f : [0, 1] → R; f (x) = 1/q; x = p/q tal que mdc (p, q) = 1, p, q ∈ N .

1; x=0
Pode-se provar que f é contínua em [0, 1] ∩ (R\Q) e descontínua em [0, 1] ∩ Q. Logo ela
é integrável, já que seu conjunto de descontinuidades é [0, 1] ∩ Q, que tem medida nula.
156 CAPÍTULO 7. INTEGRAL DE RIEMANN

Existe uma outra maneira de se definir a integrabilidade de uma função limitada num
intervalo [a, b] , por meio de limite de somas de Riemann, ao invés de soma superior e
inferior. Como em muitas aplicações as somas de Riemann surgem naturalmente, dare-
mos a definição e o resultado prinicipal, sem demonstração. A demonstração pode ser
encontrada em bons livros de Análise.

Definição 7.46 Seja P = {x0 = a, x1 , . . . , xn = b} uma partição do intervalo [a, b] .


Denominamos norma de P , denotada por kP k , como sendo, kP k = max{∆xi ; 1 ≤ i ≤
n}. Denominamos partição pontilhada de P, denotada por P ∗ , quando em cada intervalo
[xi−1 , xi ] , definido por P, escolhemos um ponto ci ∈ [xi−1 , xi ] .

Definição 7.47 Seja f : [a, b] → R limitada em [a, b] e P = {x0 , x1 , . . . , xn } ∈ P ([a, b]) .


Definimos a soma de Riemann de f com respeito à partição pontilhda P ∗ , denotada por
P P P
n
(f, P ∗ ), como sendo (f, P ∗ ) = f (ci )∆xi .
i=1

Segue abaixo um exemplo gráfico de uma soma de Riemann, para a função f (x) = x2 .

P
(f, P ∗ ) ≤ S(f, P ). Segue abaixo a soma superior,
É facil verificar que s(f, P ) ≤
1 2 3
uma soma de Riemann e a soma inferior para a partição P = {0, , , , . . . , 2} com ci ,
5 5 5
7.3. CRITÉRIO DE INTEGRABILIDADE DE RIEMANN 157

na partição pontilhada, sendo o ponto médio de cada subintervalo.

O resultado a seguir mostra que é equivalente definir a integral a partir das somas
superiores e inferiores ou como limte de soma de Riemann.

Teorema P 7.48 Seja f : [a, b] → R limitada em [a, b] . f é integrável em [a,Pb] ⇔ existe


∗ ∗
lim (f, P ), independente da partção pontilhada P . Neste caso lim (f, P ∗ ) =
kP k→0 kP k→0
Rb
a
f (x)dx.

Exemplo 7.49 Para encontrar a área da região limitada pelo gráfico de f (x) = 4 − x2 ,
o eixo dos x e as retas x = 1 e x = 2, tomamos uma seqüência de partições do intervalo
1 n−1
[1, 2] , Pn = {x0 = 1, x1 = 1+ , . . . , xn−1 = 1+ , xn = 2} e pontilhamos esta partição
n n P
escolhendo ci = xi , 1 ≤ i ≤ n. Assim, temos que a área é igual a lim (f, Pn∗ ) =
n→+∞
R2
1
f (x)dx. Mas
" µ ¶2 #
X X n
i 1
(f, Pn∗ ) = 4− 1+ =
i=1
n n
X X µ ¶ µ ¶µ ¶
1X2
n n n
3 2 1 1 1 1
= 1− 2 i− 3 i =3− 1+ − 1+ 2+ .
n i=1 n i=1 n i=1 n 6 n n
∙ µ ¶ µ ¶µ ¶¸
R2 1 1 1 1 5
Portanto, 1 f (x)dx = . lim 3 − 1 + − 1+ 2+ = .
n→+∞ n 6 n n 3
P P
Nota 7.50 Neste exemplo (f, Pn∗ ) = s (f, Pn ) e lim (f, Pn∗ ) = sup{s (f, Pn ) ; n ∈
n→+∞
R2
N} = 1 f (x)dx = sup{s (f, P ) ; P ∈ P ([a, b])}.

Vimos a definição de primitiva de uma função, no início deste capítulo, e a definição de


função Riemann integrável. Existe alguma relação entre a integrabilidade de uma função
158 CAPÍTULO 7. INTEGRAL DE RIEMANN

e a existência de primitiva? Existem funções integráveis que não admitem primitiva e vice
versa, isto é, funções que admitem primitiva e não são integráveis? Vamos agora procurar
responder a estas perguntas.
Primeiramente enunciaremos um teorema que nos apresenta condições suficientes para
que uma função integrável admita primitiva. Veremos em seguida a relação que existe
entre a integral e a primitiva.
Proposição 7.51 Seja f : I → R contínua no intervalo I. Então f admite uma primitiva
em I.
Prova. Seja a ∈ I fixado. Como f é contínua em I então para cada x ∈ I, x 6= a, f
é contínua no intervalo fechado de extremos x e Ra e portanto é integrável neste intervalo.
x
Assim, podemos definir F : I → R por F (x) = a f (t)dt, ∀x ∈ I. Mostraremos que F é
derivável em I e que F 0 = f em I, ou seja que F é uma primitiva de f em I.
Seja x0 ∈ I qualquer e provemos que
F (x) − F (x0 )
lim = f (x0 ).
x→x0 x − x0
Como f é contínua em x0 , segue que dado ε > 0 existe δ > 0 tal que ∀x ∈ I com
|x − x0 | < δ tem-se que |f (x) − f (x0 )| < ε. Assim, ∀x ∈ I com 0 < |x − x0 | < δ ,
obtemos que
¯ ¯ ¯ Z x ¯
¯ F (x) − F (x0 ) ¯ ¯ 1 ¯
¯ − f (x0 )¯¯ = ¯¯ f (t)dt − f (x0 )¯¯ =
¯ x − x0 x − x0 x0
¯ ¯ ¯Z x ¯ ¯ ¯ ¯Z ¯
¯ 1 ¯¯ ¯ ¯ 1 ¯¯ x ¯
= ¯¯ ¯¯ (f (t) − f (x )) dt¯≤¯ ¯¯ |f (t) − f (x )| dt ¯.
x − x0 ¯ ¯ x0 ¯ ¯ x − x0 ¯ ¯ ¯
0 0
x0

Portanto da continuidade de f e como |t − x0 | ≤ |x − x0 | < δ ⇒ |f (t) − f (x0 )| < ε, para


todo t no intervalo de extremos x e x0 . Logo,
¯ ¯ ¯ ¯ ¯Z ¯ ¯Z x ¯
¯ F (x) − F (x0 ) ¯ ¯ 1 ¯¯ x ¯ ε ¯ ¯
¯ − f (x )¯ ≤ ¯ ¯ ¯ |f (t) − f (x )| dt ¯ < ¯ dt ¯ = ε,
¯ x − x0
0 ¯ ¯ x − x0 ¯ ¯ 0 ¯ |x − x0 | ¯ ¯
x0 x0

o que significa que F é derivável em x0 e F 0 (x0 ) = f (x0 ). Como x0 é qualquer temos o


resultado demonstrado. ¤

Nota 7.52 Portanto toda função contínua em [a, b] é aí integrável e admite primitiva
neste intervalo.
O que acontece com funções que não são contínuas? Vejamos alguns exemplos.
½ 2
x ; x ∈ [0, 1/2]
Exemplo 7.53 Seja f : [0, 1] → R definida por f (x) = . Como f é
x; x ∈ (1/2, 1]
descontínua em apenas um ponto, é limitada em todo intervalo, segue que f é integrável
1
em [0, 1] . No entanto como f admite uma descontinuidade tipo salto no ponto x = ,
2
segue que f não admite primitiva.
7.3. CRITÉRIO DE INTEGRABILIDADE DE RIEMANN 159
¸∙
1 2
Exemplo 7.54 Seja f : − , → R definida por
π π

½
2x cos (1/x) + sen (1/x) ; x ∈ [−1/π, 2/π] \{0}
f (x) =
0; x=0

Como f é descontínua
∙ ¸em apenas um ponto,
½ 2e limitada em todo intervalo, segue que f é
1 2 x cos (1/x) ; x ∈ [−1/π, 2/π] \{0}
integrável em − , . Ainda F (x) = é primi-
π π ∙ ¸ 0; x=0
1 2
tiva de f em todo intervalo − , . (Verifique!).
π π

Exemplo 7.55 Seja f : [−π, π] → R definida por

( 2
2x cos (1/x2 ) + sen (1/x2 ) ; x ∈ [−π, π] \{0}
f (x) = x
0; x=0

Gráfico de f

Pode-se verificar que f não é limitada em [−π,


½ π] e portanto não pode ser integrável
x cos (1/x2 ) ; x ∈ [−π, π] \{0}
2
neste intervalo. No entanto a função F (x) = é uma
0; x=0
160 CAPÍTULO 7. INTEGRAL DE RIEMANN

primitiva de f em [−π, π] . (Verifique!).

Gráfico de F
Nota 7.56 Assim pode-se observar que se f não é contínua em todo intervalo da forma
[a, b], pode-se ter caso em que ela é integrável e não admite primitiva, caso em que é
integrável e admite primitiva e caso em que admite primitiva e não é integrável. Nos caso
em que é contínua ou em que não é contínua mas é integrável e admite primitiva, veremos
qual a relação entre a integral e a primitiva.

Já vimos que se f : I → R é contínua R x no intervalo I, então uma primitiva de f é a


função F : I → R definida por F (x) = a f (t)dt, onde a ∈ I é fixado. Assim, para cada
Rb
b ∈ I, a f (t)dt = F (b) = F (b) − F (a), já que F (a) = 0. Ainda se G é uma primitiva
qualquer de f, segue que F e G diferem por uma constante, queR chamaremos de K.
b
Portanto G(b) − G(a) = F (b) + K − F (a) − K = F (b) − F (a) = a f (t)dt. Veremos a
seguir que este resultado é válido para toda função integrável e que admite primitiva num
intervalo [a, b] .

Teorema 7.57 (Teorema Fundamental do Cálculo): Sejam f, F : [a, b] → R tais


que f é integrável em [a, b], F é contínua em [a, b] , com F primitiva de f em (a, b) . Então
Z b
f (t)dt = F (b) − F (a).
a

Prova. Seja P = {x0 = a, x1 , . . . , xn = b} ∈ P ([a, b]) . Então F (b) − F (a) =


P
n
(F (xi ) − F (xi−1 )) . Como F é derivável em (a, b) e contínua em [a, b] , segue que F
i=1
é contínua em [xi−1 , xi ] e derivável em (xi−1 , xi ) , 1 ≤ i ≤ n, logo pelo T.V.M. para cada
i = 1, 2, . . . , n existe ci ∈ (xi−1 , xi ) tal que F (xi ) − F (xi−1 ) = F 0 (ci )∆xi = f (ci )∆xi .
Portanto,
X n X
n
F (b) − F (a) = (F (xi ) − F (xi−1 )) = f (ci )∆xi .
i=1 i=1
7.3. CRITÉRIO DE INTEGRABILIDADE DE RIEMANN 161

Logo, s(f, P ) ≤ F (b) − F (a) ≤ S(f, P ), ∀P ∈ P ([a, b]) . Assim, como P é uma partição
qualquer de [a, b] , F (b)−F (a) é uma cota superior do conjunto das somas inferiores de f e
é uma cota inferior do conjunto das somas superiores de f. Logo da definição de supremo,
ínfimo, integral superior, integral inferior e do fato de f ser integrável, segue que:
Z b Z b
f (t)dt ≤ F (b) − F (a) ≤ f (t)dt,
a a

portanto, Z b
f (t)dt = F (b) − F (a).
a
¤

Nota 7.58 Observe que não é necessário que F seja primitiva de f em [a, b] , mas apenas
em (a, b) , desde que F seja contínua em [a, b] .
arccos x √
Exemplo 7.59 Seja f : [0, 1) → R, f (x) = √ . Como lim− 1 − x2 = 0 e
1 − x2 x→1

arccos x −1/ 1 − x2
lim arccos x = 0, tem-se, aplicando l’Hôpital, que lim− √ = lim √ =
x→1− x→1 1 − x2 x→1− (−x) / 1 − x2
1, logo pode-se concluir que f é integrável em [0, 1] e uma primitiva de f em [0, 1) é
(arccos x)2
F : [0, 1] → R, F (x) = − , que é contínua em [0, 1] e derivável em [0, 1),
2 R 1 arccos x
com F 0 (x) = f (x) , ∀x ∈ [0, 1). Assim, do teorema acima tem-se que 0 √ dx =
1 − x2
π2
F (1) − F (0) = .
8
∙ ¸
1 2
Exemplo 7.60 Como f : − , → R;
π π
½
2x cos (1/x) + sen (1/x) ; x ∈ [−1/π, 2/π] \{0}
f (x) = ,
0; x=0
∙ ¸
1 2
é integrável em é − , e admite primitiva neste intervalo, definida por
π π
½ 2
x cos (1/x) ; x ∈ [−1/π, 2/π] \{0}
F (x) = ,
0; x=0
R 2/π
então aplicando o Teorema Fundamenta do Cálculo, tem-se que −1/π f (x) dx = F (2/π)−
1
F (−1/π) = 2 .
π
O objetivo será encontrar meios de determinar primitvas de funções em determinados
intervalos, para assim poder determinar sua integral.
Exercício 1
Seja f : a, b →  contínua em a, b. Mostre que f é integrável em a, b.
Solução:
Para demonstrarmos este exercício precisamos do seguinte resultado:
Lema: Se f : a, b →  é contínua em a, b então dado   0, existe   0 tal
que ∀x, y ∈ a, b com |x − y|  , tem-se que |fx − fy|  .
Dem do Lema: Suponha por absurdo que existe   0 tal que para todo   0
existem x  , y  ∈ a, b com |x  − y  |   e |fx   − fy  | ≥ . Assim, para cada n ∈ ℕ,
considere  n  1 1
n , logo existem x n , y n ∈ a, b com |x n − y n |  n e |fx n  − fy n | ≥ ,
∀n ∈ ℕ. Mas como a sequência x n  é limitada, segue do teorema de
Bolzano-weierstrass, que exsite uma subsequência x n j  de x n  tal que x n j → c e
como a, b é compacto tem-se que c ∈ a, b. Ainda |y n j − c| ≤ |y n j − x n j |  |x n j − c|,
logo da convergência de x n j  e da hipótese feita, segue que y n j → c. Como f é
contínua em a, b tem-se que fx n j  → fc e fy n j  → fc. Logo considerando
  0, existe j 0 ∈ ℕ tal que |fx n j  − fc|   e |fy n j  − fc|   , ∀j ≥ j 0 , o que
2 2
implica que |fx n j  − fy n j |  , ∀j ≥ j 0 , o que contradiz a hipótese de que
|fx n  − fy n | ≥ , ∀n ∈ ℕ. Logo segue a tese, ou seja ∀  0 existe   0 tal que
∀x, y ∈ a, b com |x − y|   tem-se que |fx − fy|  .
Resolução do exercício:
Com este resultado provaremos o exercício. Dado   0, considere   0, tal
que ∀x, y ∈ a, b com |x − y|   tem-se que |fx − fy|   . . Seja n ∈ ℕ, tal
b−a
que n  b − a e tome a partição P   x 0 , x 1 , … , x n  ∈ Pa, b tal que x 0  a,

x1  a  b − a b−a
n , … , x k  a  k n , … , x n  b. Assim, ∀x, y ∈ x i−1 , x i  tem-se que
|x − y| ≤ |x i − x i−1 |  b − a
n  . Como f é contínua em a, b e portanto em cada
subintervalo x i−1 , x i , segue que f assume máximo e mínimo absolutos em cada
subintervalo x i−1 , x i , i  1, … , n. Ou seja inffx; x ∈ x i−1 , x i   fc i  e
supfx; x ∈ x i−1 , x i   fd i , onde c i , d i ∈ x i−1 , x i , e portanto |d i − c i |  . Logo,
n n
Sf, P   − sf, P   ∑ fd i  − fc i Δx i   ∑ Δx i  ,
b−a
i1 i1

e assim, pelo critério de integrabilidade tem-se que f é integrável em a, b.


Nota O Lema acima garante que quando f é contínua num intervalo
fechado e limitado, ou na realidade num compacto, dado   0, existe um   0
que depende apenas de  e vale para quaisquer pontos deste compacto, desde
que sua distância seja menor que . Pense nisso!
Exercício 2
Sejam f :  → , contínua em  e u : a, b →  derivável em a, b. Mostre
ux
que F : a, b → , definida por Fx   ftdt, onde c ∈  é primitiva de
c
f ∘ uu ′ em a, b. Ainda se v : a, b →  é derivável em a, b, mostre que
ux
G : a, b → ; Gx   ftdt é primitiva de f ∘ uu ′ − f ∘ vv ′ em a, b.
vx
Solução: Como f é contínua em , então f admite primitiva em , definida por:
x
H :  → , Hx   ftdt, para algum c ∈  fixado. Assim, F  H ∘ u : a, b →  é
c
derivável em a, b pois H é derivável em  e u é derivável em a, b, com
H ′ x  fx, ∀x ∈ . Logo, F ′ x  H ′ uxu ′ x  fuxu ′ x, ∀x ∈ a, b, ou
seja, F é primitva de f ∘ uu ′ em a, b.
Agora, observe que
c ux ux vx
Gx   ftdt   ftdt   ftdt −  ftdt  H ∘ ux − H ∘ vx e como
vx c c c
u e v são deriváveis em a, b e H é derivável em , então da regra da cadeia
tem-se que G é derivável em a, b e
G ′ x  H ′ uxu ′ x − H ′ vxv ′ x  fuxu ′ x − fvxv ′ x  G é primitiva de
f ∘ uu ′ − f ∘ vv ′ .
Exercício 3
Sejam f :  →  contínua em  e tal que para todo x ∈ ,
x
 0 ftdt  fx.
Mostre que fx  0, ∀x ∈ .
x
Solução: Como f é contínua em , segue que  ftdt é primitiva de f em .
0
Assim da hipótese, tem-se que para todo x ∈ ,
f ′ x  fx.
Ou seja, f ′ x − fx  0, ∀x ∈ . Multiplicando ambos os lados desta última
igualdade por e −x , tem-se que para todo x ∈ ,
e −x f ′ x − e −x fx  0.
Mas, e −x f ′ x − e −x fx  e −x fx ′ e portanto temos que para todo x ∈ ,
e −x fx ′  0,
o que implica que para todo x ∈ 
e −x fx  c,
onde c é uma constante. Assim, ∀x ∈ 
fx  c e x ,
em particular, f0  c, mas da hipótese, tem-se que f0  0, logo c  0 e
portanto, ∀x ∈ ,
fx  0.
Exercício 4
Seja f : a, b → , f contínua em a, b, e tal que f não é identicamente nula
b
em a, b. Mostre que  |fx|dx  0.
a
Solução: Como f não é identicamente nula então existe c ∈ a, b tal que
fc ≠ 0, o que implica que |fc|  0. Suponhamos sem perda de generalidade que
c ∈ a, b. Os casos em que c  a ou c  b são análogos e serão deixados como
execício. Assim, como f é contínua e a função módulo é contínua em , segue que
|f| é contínua em a, b e portanto em c. Assim, do teorema de conservação do
sinal, existe r  0, tal que c − r, c  r ⊂ a, b e |fx|  0, para todo
x ∈ c − r, c  r. Como f é contínua, ela é integrável em a, b e portanto em
cr
c − r, c  r. Logo,  |fx|dx  0, já que a função |f| é contínua em c − r, c  r e
c−r
portanto assume mínimo neste intervalo, que é estritamente positivo, logo
sf, P ≥ min|fx|, x ∈ c − r, c  r2r  0 e portanto
cr cr
 |fx|dx   |fx|dx  supsf, P, p ∈ Pc − r, c  r  0. Assim, como
c−r c−r
b c−r cr b
 a |fx|dx   a |fx|dx  
c−r
|fx|dx  
cr
|fx|dx,

e |fx| ≥ 0, para todo x ∈ a, b, tem-se que


b cr
 a |fx|dx ≥  c−r |fx|dx  0.
Exercício 5
Sejam f, g : a, b → , f contínua em a, b, e g monótona, derivável e com
gb
derivada integrável em a, b e 0 ≤ ≤ 1. Mostre que existe c ∈ a, b tal
ga
que
b c
 a fxgxdx  ga  a fxdx.
Solução: Como f é contínua em a, b então f é integrável e admite primitiva F
x
em a, b, dada por Fx   ftdt. Há dois casos a serem considerados, a saber
a
ga  0 e ga  0. Faremos o primeiro caso e deixaremos o segundo como
exercício, por ser análogo. Considerando ga  0, segue da hipótese que
gb ≤ ga e como g é monótona então g é decrescente e portanto g ′ x ≤ 0,
∀x ∈ a, b. Ainda das hipóteses, segue que fg é integrável em a, b, assim, como
Fg ′ e portanto Fg ′  fg é integrável e admite primitiva Fg em a, b. Assim, pelo
T.F.C.
b
 a fxgx  Fxg ′ xdx  Fbgb − Faga  Fbgb,
pois Fa  0. Assim,
b b
 a fxgxdx  Fbgb −  a Fxg ′ xdx.
Como F é derivável em a, b, segue que F é contínua em a, b e portanto F admite
máximo e mínimo absolutos em a, b, ou seja existem x 0 , x 1 ∈ a, b tais que
Fx 0  ≤ Fx ≤ Fx 1 , ∀x ∈ a, b.

Logo, como g x ≤ 0 e ga  0 tem-se que
g ′ x g ′ x g ′ x
Fx 1  ≤ Fx ≤ Fx 0  , ∀x ∈ a, b.
ga ga ga
Então, integrando de a a b, lembrando que g é uma primitiva de g ′ e aplicando o
T.F.C. obtém-se que para todo x ∈ a, b
b
Fx 1 
gb
ga
−1 ≤ 1
ga
 a Fxg ′ xdx ≤ Fx 0  gb
ga
−1 .

Assim, tem-se que


b
Fb
gb
ga
 Fx 0  1 −
gb
ga
≤ 1
ga
 a fxgxdx ≤ Fb gb
ga
 Fx 1  1 −
gb
ga
,

ou seja,
b
Fx 0  
gb
ga
Fb − Fx 0  ≤ 1
ga
 a fxgxdx ≤ Fx 1   gb
ga
Fb − Fx 1 .

gb
Como Fx 0  ≤ Fx ≤ Fx 1 , ∀x ∈ a, b e 0 ≤ ≤ 1, segue que
ga
b
Fx 0  ≤ 1
ga
 a fxgxdx ≤ Fx 1 .
Portanto, como F é contínua em x 0 , x 1  ⊂ a, b, segue pelo T.V.I., que existe
b
c ∈ a, b tal que Fc  1  fxgxdx, ou seja,
ga a
c b b c
 a ftdt  1
ga
 a fxgxdx   a fxgxdx  ga  a fxdx
Exercício 6
Seja f :  → , contínua e tal que fx  0, para todo x ∈ . Considere
x 3 3x 2
F :  →  definida por Fx   ftdt. Determine os intervalos de
0
crescimento e decrescimento da função F.
Solução: Como f é contínua em . ela admite uma primitiva G :  → ,
x
definida por Gx   ftdt, ou seja G é derivável em  e G ′ x  fx para todo
0
x ∈ . Assim, temos que Fx  Gx 3  3x 2 , ou seja F é a composta de G com
u :  →  tal que ux  x 3  3x 2 . Logo F é derivável em  e
F ′ x  G ′ x 3  3x 2 u ′ x  fx 3  3x 2 3x 2  6x. Como fx  0, para todo x ∈ ,
segue que F ′ x  0 em −, −2  0,  e F ′ x  0 em −2, 0. Portanto, como F
é contínua em , segue que:
F é estritamente crescente em −, −2 e em 0, 
F é estritamente decrescente em −2, 0.
162 CAPÍTULO 7. INTEGRAL DE RIEMANN

7.3.1 Lista de Exercícios


Exercício 7.61 Seja f : [a, b] → R limitada e integrável em [a, b] . Mostre que f é inte-
grável em [c, d] , qualquer que seja o intervalo [c, d] ⊂ (a, b) .

Exercício 7.62 Seja f : [a, b] → R limitada em [a, b] . Se para todo c ∈ (a, b) , f é


integrável em [a, c] , mostre que f é integrável em [a, b] .

Exercício 7.63 Seja f : [a, b] → R limitada em [a, b] . Se para todos c, d ∈ (a, b) com
c < d, f é integrável em [c, d] , mostre que f é integrável em [a, b] .

Nota 7.64 Do exercício acima, observa-se que o valor que f assume nos extremos do
intervalo não altera a integrabilidade de f , desde que f seja limitada. Assim, pode-se ter
f definida apenas em (a, b) , desde que f seja limitada em (a, b) e integrável em [c, d] ,
∀ [c, d] ⊂ (a, b) , pode-se concluir que f é integrável em [a, b] .

Exercício 7.65 Analise a integrabilidade⎧das funções


µ ¶ abaixo:
⎨ 1
sen ; x ∈ (0, 1]
a) f : [0, 1] → R definida por f (x) = x .

0; x=0
b) f : [0, 5] → R definida por f (x) = bxc = parte inteira de x.

Exercício 7.66 Determine a área abaixo das curvas:


a) y = x3 , x ∈ [0, 1] .
h πi
b) y = cos x, x 0, .
4
R1 1
Exercício 7.67 Calcule 0
dx.
1 + x2
Exercício 7.68 (Teorema do Valor Médio para integrais) Se f : [a, b] → R é contínua
Rb
em [a, b] , mostre que existe c ∈ (a, b) tal que a f (x)dx = f (c) (b − a) .
7.4. MÉTODOS DE INTEGRAÇÃO 163

7.4 Métodos de Integração


Pelo que vimos, para determinar a integral de uma função contínua f devemos encontrar
uma primitiva de f. E mesmo no caso de funções integráveis e que admitem primitiva,
para se determinar a integral, basta encontrar uma primitiva.
Ainda, no caso em que f é contínua por partes e limitada em [a, b], isto é, existem
x1 < x2 < · · · < xk ∈ [a, b] tal que f é contínua em (xi−1 , xi ) , 1 ≤ i ≤ k, segue
das propriedades, que f é integrável em [xi−1 , xi ] , 1 ≤ i ≤ k e portanto integrável
Rb Pk R
xi
em [a, b] e a f (x)dx = xi−1
f (t)dt. Como nos subintervalos f é contínua, pode-se
i=1
determinar uma primitiva F de f em cada subintervalo (xi−1 , xi ), tal que F seja contínua
em [xi−1 xi ] e então calculamos a integral utilizando o teorema fundamental do Cálculo
em cada subintervalo.
Mas determinar uma primitiva, é determinar uma função F tal que F 0 = f no intervalo
desejado. Por isso alguns autores chamam a operação de integração de anti-derivação,
por ser de uma certa forma a operação inversa da derivação, especialmente nos casos de
funções contínuas.
No entanto determinar primitiva de uma função não é tão fácil quanto determinar a
derivada de uma função. Para derivar basta conhecer a derivada de algumas funções, que
determinamos pela definição, e utilizar as fórmulas de derivação. No caso de primitiva,
existem funções que admitem primitiva, pois são contínuas, mas não é possível expressá-las
por meio de funções elementares. O cálculo destas integrais é então feito numericamente
ou em alguns casos especiais utilizando outras teorias. Vejamos alguns exemplos:
½
(sen x) /x; x 6= 0
Exemplo 7.69 f : R → R definida por f (x) = . Esta é uma função
1; x=0
contínua e portanto admite primitiva, mas não é possível expressá-la por meio de funções
elementares.

½
(1 − ex ) /x; x 6= 0
Exemplo 7.70 f : R → R definida por f (x) = també é contínua
−1; x=0
em R, logo admite primitiva em R, mas não conseguimos expressá-la em termos de funções
164 CAPÍTULO 7. INTEGRAL DE RIEMANN

elementares.

Apesar de não existirem regras bem definidas, como as de derivação, para determinar
primitivas, o objetivo desta seção é apresentar métodos que nos ajudem a transformar
integrais complicadas em integrais de funções das quais conhecemos uma primitiva.

Teorema 7.71 (Substituição): Sejam f : I → R e g : J → R tais que g é derivável


no intervalo J, Im g ⊂ I e f admite primitiva
R F no intervalo I. Então F ◦ g : J → R é
0 0
uma
R primitiva de (f ◦ g) g em J. Ou seja, f (g(x))g (x)dx = F (g(x)) + C, onde F (y) =
f (y)dy.

Prova. A demonstração é imediata e utiliza somente a regra da cadeia e a definição


de primitiva. ¤

R
Exemplo 7.72 Determine x cos x2 dx. Considerando f, g : R → R definidas por g(x) =
x2 e f (y) = cos y, temos que g0 (x) = 2x, f é contínua e admite uma primitiva F (y) =
sen y. Ainda Im g = [0, +∞) ⊂ R. Então da proposição anterior, segue que F ◦ g é
1
primitiva de (f ◦ g) g 0 . Mas (f ◦ g) (x) g0 (x) = 2x cos x2 ⇒ (F ◦ g) é o que procuramos.
2
R 2 1 2
Portanto, segue que x cos x dx = sen x + K, x ∈ R.
2
Este resultado se torna, para integrais definidas num intervalo [a, b] , o seguinte.

Corolário 7.73 Sejam f : [a, b] → R e g : [c, d] → R, tais que g ([c, d]) ⊂ [a, b] , f
integrável em [a, b] e admite primitiva F em (a, b) com F contínua em [a, b], g contínua
em [c, d] , derivável em (c, d) com g0 e f ◦ g integráveis em [c, d]. Então
Z d Z g(d)
0
f (g(x))g (x)dx = f (y)dy = F (g (d)) − F (g (c)) .
c g(c)

Prova. Basta aplicar o teorema fundamental do Cálculo e a proposição anterior. ¤


7.4. MÉTODOS DE INTEGRAÇÃO 165
R1 √
Exemplo 7.74 Calcule 0 (5x − 2) 5x2 − 4x + 1dx. A função f : [0, +∞) → R definida
√ 2
por f (u) = u é contínua e portanto integrável e admite uma primitiva F (u) = u3/2
3
e g : [0, 1] → R definida por g(x) = 5x2 − 4x + 1 é derivável
R1 com g√([0, 1]) ⊂ [0, +∞).
Ainda g0 (x) = 10x − 4, g(0) = 1 e g(1) = 2. Portanto 0 (5x − 2) 5x2 − 4x + 1dx =
1 R1 √ 1 R2√ 1 £√ ¤
0
(10x − 4) 5x2 − 4x + 1dx = 1
udu = F (2) − F (1) = 8−1 .
2 2 3

Teorema 7.75 (Mudança de variável): Sejam I, J intervalos ϕ : J → I bijetora,


derivável com ϕ0 (t) 6= 0, ∀t ∈ J e f : I → R tal que (f 0
R ◦ ϕ) ϕ admite−1primitiva F em
−1
J. Então
R F ◦ ϕ é0 uma primitiva de f em I. Ou seja f (x)dx = F (ϕ (x)) + C, onde
F (t) = f (ϕ(t))ϕ (t)dt.

Prova. Sabe-se que F é derivável e F 0 (t) = f (ϕ(t))ϕ0 (t), ∀t ∈ J e ainda ϕ−1 é derivável
0 1
com (ϕ−1 ) (x) = 0 −1 , ∀x ∈ I. Assim, pelo teorema da composta F ◦ϕ−1 é derivável
ϕ (ϕ (x))
0 0 1
em I e (F ◦ ϕ−1 ) (x) = F 0 (ϕ−1 (x)) (ϕ−1 ) (x) = F 0 (ϕ−1 (x)) 0 −1 . Mas como F é
ϕ (ϕ (x))
0 1
primitiva de (f ◦ ϕ) ϕ0 , segue que (F ◦ ϕ−1 ) (x) = f (ϕ (ϕ−1 (x))) ϕ0 (ϕ−1 (x)) 0 −1 =
ϕ (ϕ (x))
f (x), ∀x ∈ I. ¤

Corolário 7.76 Sejam ϕ : [c, d] → [a, b] bijetora, contínua em [c, d] e derivável em(c, d)
com ϕ0 (t) 6= 0, ∀t ∈ (c, d). Seja f : [a, b] → R tal que (f ◦ ϕ) ϕ0 é integrável em [c, d] e
admite primitiva F em (c, d) que seja contínua em [c, d] . Então
Z Z ϕ−1 (b)
b ¡ ¢ ¡ ¢
f (x)dx = f (ϕ (t))ϕ0 (t)dt = F ϕ−1 (b) − F ϕ−1 (a) .
a ϕ−1 (a)

Prova. Basta aplicar o T.F.C. e a proposição anterior. ¤

R√ h π πi
Exemplo 7.77 Determine 1 − x2 dx, x ∈ (−1, 1) . Considere ϕ : − , → [−1, 1]
h π2 π2i
definida por ϕ (t) = sen t. Então ϕ é bijetora e contínua no intervalo − , , derivável
³ π π´ √ 2 2
com ϕ0 (t) = cos t 6= 0, ∀t ∈ − , . Ainda, (f ◦ ϕ) (t) = 1 − sen2 t = |cos t| = cos t,
h π πi 2 2 h π πi
1 + cos 2t
∀t ∈ − , e portanto (f ◦ ϕ) (t) ϕ0 (t) = cos2 t = , ∀t ∈ − , , cuja
2 2 2 2 2
t sen 2t 1
família de primitivas é F (t) = + + K = [t + sen t cos t] + K. Portanto do
2 4 2
teorema de mudança de variáveis segue que F ◦ ϕ−1 é uma primitiva de f em (−1, 1) ,
R√ 1£ √ ¤
contínua em [−1, 1] . Ou seja, 1 − x2 dx = arcsen x + x 1 − x2 + K, x ∈ (−1, 1) .
2
166 CAPÍTULO 7. INTEGRAL DE RIEMANN

Nota 7.78 No exemplo acima, f (x) = 1 − x2 é contínua em [−1, 1] e portanto admite
1£ √ ¤
primitiva neste intervalo. Mostre que (F ◦ ϕ−1 ) (x) = arcsen x + x 1 − x2 é derivável
2
em [−1, 1] e sua derivada é igual a f (x) , ∀x ∈ [−1, 1] . Do exemplo anterior basta verificar
a deivabilidade de F ◦ ϕ−1 nos pontos ±1.(Exercício!)
R1 √
Exemplo 7.79 Determine 1 − x2 dx. Do exemplo anterior temos que uma primitiva
√ −1
de 1 − x2 em (−1, 1) é

1h √ i
F (x) = arcsen x + x 1 − x2 ,
2
R1 √
que é contínua em [−1, 1] . Assim do T.F.C. segue que −1 1 − x2 dx = F (1) − F (−1) =
π ³ π´ π
− − = .
4 4 2
Substituições trigonométricas e trigonométricas hiperbólicas: As mudanças
de variáveis realizadas muitas vezes estão baseadas nas relações trigonométricas e trigonométri-
cas hiperbólicas. As mais utilizadas são:

2 2 2
cos2 x + sen x = 1; 1 + tg x = sec2 x; cosh2 x − senh x = 1.

Portanto, em geral, quando a função integranda envolve:



1) a2 − x2 , costuma-se utilizar a mudança de variável x = a sen t.

2) a2 + x2 , costuma-se usar ou x = a tg t ou x = a senh t.

3) x2 − a2 , costuma-se usar ou x = a sec t ou x = a cosh t.

Nota 7.80 É claro que devemos avaliar a função integranda como um todo para analisar
qual a melhor mudança de variável.

Teorema 7.81 (Integração por partes): Sejam f, g : I → R deriváveis no intervalo


I. Se f 0 g admite primitiva em I então f g0 também admite primitiva em I e
Z Z
(fg ) (x) dx = (fg) (x) − (f 0 g) (x) dx.
0

Ou seja, uma primitiva de f g0 é a diferença de f g e uma primitiva de f 0 g.

Prova. Como f e g são deriváveis em I então fg também o é e (f g)0 (x) = f 0 (x) g (x)+
f (x) g 0 (x) , ∀x ∈ I. Considere H uma primitiva de f 0 g em I. Então ((f g) − H)0 (x) =
f 0 (x) g (x) + f (x) g 0 (x) − f 0 (x) g (x) = f (x) g 0 (x) , que é o resultado desejado. ¤
7.4. MÉTODOS DE INTEGRAÇÃO 167

Corolário 7.82 Sejam f, g : [a, b] → R contínuas em [a, b] , deriváveis em (a, b) com


derivadas integráveis em [a, b] . Então
Z b Z b
0
f (x) g (x) dx = f (b)g(b) − f (a)g(a) − f 0 (x) g (x) dx.
a a

Prova. Como f, g, f 0 e g 0 são integráveis, segue que f g0 + f 0 g também o é e admite


primitva f g em (a, b) , fg contínua em [a, b]. Assim aplica-se o T.F.C. para a integral
Rb
a
(f (x) g 0 (x) + f 0 (x) g (x)) dx e então utiliza-se as propriedades de integral. ¤

R R R
Exemplo 7.83 Determine arctg xdx. Temos queR arctg xdx = R1 arctg xdx. Con-
siderando f (x) = x e g(x) = arctg x, segue que 1 arcctg xdx = f 0 (x) g (x) dx =
R x
(fg) (x) − f (x) g 0 (x) dx. Mas (f g) (x) = x arctg x e f (x) g 0 (x) = , que us-
1 + x2
1 R
ando o primeiro teorema admite como primitiva ln (1 + x2 ) . Assim, arctg xdx =
2
1 2
x arctg x − ln (1 + x ) + K.
2
R2 R2 R2
Exemplo 7.84 Calcule 1 ln xdx. Novamente temos que 1 ln xdx = 1 1 ln xdx e por-
R2
tanto considerando f (x) = x e g(x) = ln x em [1, 2] , segue que 1 ln xdx = x ln x |21
R2 x R2 4
− 1 dx = 2 ln 2 − 1 1dx = ln 4 − 1 = ln .
x e
p(x)
Veremos a seguir alguns resultados sobre funções racionais, isto é f (x) = , onde
q(x)
p (x) , q (x) são polinômios, para utilizá-los na determinação de primitivas e no cálculo de
integrais definidas.

Proposição 7.85 Sejam α, β, m, n ∈ R, com α 6= β. Então existem únicos A, B, C, D ∈


R tais que:
mx + n A B
a) = + .
(x − α) (x − β) x−α x−β
mx + n C D
b) 2 = + .
(x − α) (x − α) (x − α)2
½
A+B =m
Prova. a)Como α 6= β então o sistema nas variáveis A, B ad-
µ ¶ βA + αB = −n
1 1
mite uma única solução já que det = β − α 6= 0. Assim a solução A, B deste
β α
A B
sistema são as constantes que satisfazem a igualdade do ítem (a), pois + =
x½− α x − β
A (x − β) + B (x − α) (A + B) x − (βA + αB) mx + n A+B =m
= = ⇔ .
(x − α) (x − β) (x − α) (x − β) (x − α) (x − β) βA + αB = −n
168 CAPÍTULO 7. INTEGRAL DE RIEMANN

Ou seja, A e B devem ser solução do sistema acima. As constantes são únicas uma vez
que o sistema é possível e determinado.
mx + n m (x − α) + n + mα m n + mα
b)Primeiramente temos que 2 = 2 = + ,
(x − α) (x − α) (x − α) (x − α)2
que é o que queremos provar, com C = m e D = n + mα. ¤

Nota 7.86 Este resultado pode ser generalizado tendo no numerador um polinômio de
grau menor que o do denominador e no denominador um polinômio que tenha apenas
raízes reais, podendo ser repetidas. É importante observar que quando a raiz α é repetida,
com multiplicidade k, as parcelas na soma apresentam no denominador todos os termos
desde (x − α) até (x − α)k .

x+1
Exemplo 7.87 Decomponha em frações parciais a função racional f (x) = .
x3 (x + 2)
Então segue que devemos encontrar A, B, C, D ∈ R tais que

x2 + x + 6 A B C D
= + + + .
x3 (x + 2) x x2 x3 x + 2

Assim, para obter a igualdade acima devemos ter a seguinte igualdade de polinômios:

x2 + x + 6 = Ax2 (x + 2) + Bx (x + 2) + C (x + 2) + Dx3 .

Portanto devemos resolver o sistema




⎪ A+D =0

2A + B = 1
,

⎪ 2B + C = 1

2C = 6

cuja única solução é A = 1, B = −1, C = 3 e D = −1. Logo,

x2 + x + 6 1 1 3 1
3
= − 2+ 3− .
x (x + 2) x x x x+2

Esta decomposição é útil para calcular integrais, vejamos o exemplo anterior.

R x2 + x + 6
Exemplo 7.88 Determine dx, x 6= 0, −2. Do exemplo anterior, temos que
x3 (x + 2)
Z Z Z Z Z
x2 + x + 6 1 1 3 1
dx = dx − dx + dx − dx.
x3 (x + 2) x x2 x3 x+2
7.4. MÉTODOS DE INTEGRAÇÃO 169

Logo,
Z
x2 + x + 6 1 3
dx = ln x + − − ln (x + 2) + K, em (0, +∞) ,
x3 (x + 2) x 2x2
Z 2
x +x+6 1 3
3
dx = ln (−x) + − 2 − ln (x + 2) + K, em (−2, 0) ,
x (x + 2) x 2x
Z 2
x +x+6 1 3
3
dx = ln (−x) + − 2 − ln (− (x + 2)) + K, em (−∞, −2) .
x (x + 2) x 2x
Ou pode-se resumir numa única expressão da forma:
Z 2
x +x+6 1 3
3
dx = ln |x| + − 2 − ln |x + 2| + K, x 6= 0, −2.
x (x + 2) x 2x
Vejamos o resultado quando o polinômio do denominador também apresenta raízes
complexas. A prova é deixada a cargo do aluno.
Proposição 7.89 Sejam m, n, p, r, a, b, c, α ∈ R tais que b2 − 4ac < 0. Então existem
únicos A, B, C, D, E, F, G ∈ R tais que:
mx2 + nx + p A Bx + C
a) 2
= + 2 ,
(x − α) (ax + bx + c) x − α ax + bx + c
rx3 + mx2 + nx + p Dx + E Fx + G
b) 2 = 2 + .
(ax2 + bx + c) ax + bx + c (ax2 + bx + c)2
Nota 7.90 Este resultado pode ser generalizado, quando o polinômio do denominador
apresenta raízes reais repetidas de modo análogo à proposição anterior e quando admite
raízes complexas com multiplicidade maior que 2, do mesmo modo como foi observado no
caso de raízes reais repetidas.
x5 + 2x2 + 3
Exemplo 7.91 Decomponha em frações parciais a função racional f (x) = .
(x2 + 2x + 2)3
Assim, devemos encontrar Ai , Bi ∈ R, 1 ≤ i ≤ 3, tal que
x5 + 2x2 + 3 A1 x + B1 A2 x + B2 A3 x + B3
3 = 2 + 2 + .
(x2 + 2x + 2) x + 2x + 2 (x2 + 2x + 2) (x2 + 2x + 2)3
Para obtermos tal igualdade devemos ter a seguinte igualdade de polinômios:
¡ ¢2 ¡ ¢
x5 + 2x2 − 13 = (A1 x + B1 ) x2 + 2x + 2 + (A2 x + B2 ) x2 + 2x + 2 + A3 x + B3 .
Devemos portanto resolver o seguinte sistema:


⎪ A1 = 1



⎪ 4A1 + B1 = 0

4A1 + 4B1 + A2 = 0
,

⎪ 8A1 + 4B1 + 2A2 + B2 = 2



⎪ 4A1 + 8B1 + 2A2 + 2B2 + A3 = 0

4B1 + 2B2 + B3 = −13
170 CAPÍTULO 7. INTEGRAL DE RIEMANN

cuja única solução é A1 = 1, B1 = −4, A2 = 12, B2 = −14, A3 = 32, B3 = 31. Assim,


x5 + 2x2 + 3 x−4 12x − 14 32x + 31
3 = 2 + 2 + .
2
(x + 2x + 2) x + 2x + 2 (x + 2x + 2)
2 (x + 2x + 2)3
2

Como no caso anterior esta decomposição é útil na integração. Vejamos o exemplo


anterior.
R x5 + 2x2 + 3
Exemplo 7.92 Determine dx. Utilizando a decomposição anterior temos
(x2 + 2x + 2)3
que
Z Z Z Z
x5 + 2x2 + 3 x−4 12x − 14 32x + 31
dx = dx + dx + dx.
(x2 + 2x + 2)3 2
x + 2x + 2 (x + 2x + 2)2
2 (x2+ 2x + 2)3
x−4 (x + 1) 5 R (x + 1) 1
Mas, = 2 − 2 e dx = ln (x2 + 2x + 2) ,
x2 + 2x + 2 x + 2x + 2 x + 2x + 2 2
x + 2x + 2 2
2 0
pois (x + 2x + 2) = 2x + 2 = 2 (x + 1) e portanto segue do método de substituição.
R −5 R dx
A integral dx = (−5) = (−5) arctg (x + 1) , pelo método
x2 + 2x + 2 (x + 1)2 + 1
12x − 14 6 (2x + 2) − 26 6 (2x + 2)
mudança de variável. Ainda, 2 = 2 = −
(x2 + 2x + 2) (x2 + 2x + 2) (x2 + 2x + 2)2
26 R 6 (2x + 2)
. Como acima, segue pelo teorema de substituição que dx =
(x2 + 2x + 2)2 (x2 + 2x + 2)2
6
− 2 +K, para a segunda parcela utilizaremos o teorema de mudança de variável,
x + 2x + 2 ³ π π´
fazendo x = ϕ (t) = tg t−1, que é bijetora de − , em R, com ϕ0 (t) = sec2 t 6= 0, ∀t ∈
³ π π´ 2 2
R 26 R dx
− , . Portanto, obtemos que 2 dx = 26 ¡ ¢2 . Assim,
2 2 (x2 + 2x + 2) (x + 1)2 + 1
R sec2 t R R
fazendo a mudança de variável, obtemos: 4
dt = 26 cos2 tdt = 13 (1 + cos 2t) dt =
µ ¶ sec t
sen 2t
13 t + + k = 13 (t + cos t sen t) + k. Logo, para obter a primitiva desejada, basta
2 µ ¶
−1
R 26 R dx x+1
compor com ϕ ; dx = 26 ¡ ¢2 = 13 arctg (x + 1) + 2 +
(x2 + 2x + 2)2 (x + 1)2 + 1 x + 2x + 2
k. Finalmente para calcularmos a última integral, usamos novamente os mesmos artífi-
cios da segunda, separando em duas integrais, sendo que numa aplicamos o teorema de
substituição e na outra de mudança de variável com a mesma substituição e mudança da
anterior, obtendo assim que:
Z
32x + 31 8 3
3 dx = − 2 + arctg (x + 1) +
2
(x + 2x + 2) 2
(x + 2x + 2) 8
x+1 1 (x + 1) (x − 2)
+2 2 + .
x + 2x + 2 8 (x2 + 2x + 2)2
7.5. APLICAÇÕES DA INTEGRAL 171

Logo,
Z
x5 + 2x2 + 3 1 ¡ 2 ¢ 67
3 dx = ln x + 2x + 2 + arctg (x + 1) +
(x2 + 2x + 2) 2 8
5x + 3 1 (x + 1) (x − 2)
+3 2 + +C
x + 2x + 2 8 (x2 + 2x + 2)2
.

Nota 7.93 Observe que os resultados são para funções racionais tais que o grau do
polinômio do numerador é menor que o grau do polinômio do denominador. Para funções
racionais tais que o grau do polinômio do numerador é maior ou igual ao grau do polinômio
do denominador, primeiro faz-se a divisão dos polinômios, obtendo um polinômio e uma
função racional dentro das hipóteses do resultado.

Estes são os métodos de integração, que nos ajudam a obter primitivas e calcular inte-
grais definidas. Existem ainda alguns tipos de substituição que se aplicam a determinadas
situações, por exemplo, quando se tem função ³ x racional
´ envolvendo sen e cos, em geral se
utiliza a substituição do tipo u = g(x) = tg . Vejamos um exemplo.
2

R ³ π π´
Exemplo 7.94 Determine sec xdx, em − , . Da trigonometria, sabe-se que, ∀x ∈
2 2
x
³ π π´ x x x x tg
− , , sen x = 2 sen cos = 2 tg cos2 = 2 2 . Ainda, cos x = 1 −
2 2 2 2 2 2 x
1 + tg2
2
h i 2 x
1 − tg
2 sen2
x
= cos2
x x
sec2 − 2 tg2
x
= 2 . Portanto R sec xdx = R 1 dx =
2 2 2 2 x cos x
1 + tg2
2
Z 1 + tg2 x sec2
x
2 dx = R 2 dx. Logo, usando a substituição u = g(x) = tg x , obtemos
x x 2
1 − tg2 1 − tg2
2 2
R 2du R 2du R du R du
a seguinte integral: = = + = − ln |1 − u| +
1 − u2 (1 − u) (1 + u) ¯ 1−ux¯ 1+u
¯ ¯ ¯ 1 + tg ¯
¯1 + u¯ R ¯ 2 ¯¯ +c = ln |sec x + tg x| +c.
ln |1 + u| +c = ln ¯¯ ¯ +c. Portanto sec xdx = ln ¯¯
1−u ¯ x ¯
¯ 1 − tg ¯
2

7.5 Aplicações da integral


Veremos a seguir alguns exemplos dentre as várias aplicações da integral.
172 CAPÍTULO 7. INTEGRAL DE RIEMANN

7.5.1 Área em coordenadas cartesianas


A motivação para o cálculo de integral é determinar a área entre o gráfico de uma função
não negativa f e o eixo dos x, para x de a até b. As somas superiores, inferiores e as somas
de Riemann, quando f é integrável em [a, b] , à medida que tomamos partições mais finas,
se aproximam da área da região plana limitada pelo gráfico de f e o eixo dos x, através de
áreas de retângulos. Assim, esta é uma aplicação inerente à própria definição de integral.

x2 y2
Exemplo 7.95 Determine a área limitada pela elipse de equação + = 1. Da
4 9
simetria da elipse, pode-se calcular apenas a área da semi-elipse superior e multiplicar-
3√
mos por 2. Observe que a semi-elipse superior é o gráfico da função f (x) = 4 − x2 ,
2
R 2 3√ R2 √
−2 ≤ x ≤ 2. Assim, a área desejada é A = 2 −2 4 − x2 dx = 3 −2 4 − x2 dx. Para
2
π π
calcular esta integral fazemos a mudança de variável x = ϕ (t) = 2 sen t, − ≤ t ≤ ,
³ π π´ 2 2
0
que é bijetora e contínua neste intervalo, com ϕ (t) 6= 0, ∀t ∈ − , . Assim, obtemos
R2 √ R π/2 R 2 2
π/2
−2
4 − x2 dx = −π/2 4 cos2 tdt = 2 −π/2 (1 + cos 2t) dt = 2π ⇒ A = 6π.

Pode-se também calcular a área entre os gráficos de duas funções f e g, quando (f − g)


Rb
é não negativa, x de a até b. Neste caso basta determinar a (f (x) − g (x)) dx.

Exemplo 7.96 Determine a área limitada pela parábola y = x2 e a reta y = x + 2.


Primeiramente devemos encontrar os pontos de interseção dos gráficos, ou seja resolver
a equação x2 = x + 2, que nos dá x = −1 e x = 2. Fazendo os gráficos(faça) vemos
que x2 < x + 2, em (−1, 2) . Assim calcular esta área é calcular a área limitada
R 2 pela reta
y = x+2, o eixo dos x e as retas x = −1 e x = 2, ou seja calcular a integral −1 (x + 2) dx
e subtrair da área limitada pela parábola, o eixo dos x e as retas x = −1 e x = 2, que é
R2 R2 9
igual a −1 x2 dx. Assim, A = −1 (x + 2 − x2 ) dx = .
2
7.5. APLICAÇÕES DA INTEGRAL 173

7.5.2 Área em coordenadas polares


Cada ponto no plano pode ser descrito por outros tipos de coordenadas que não as carte-
sianas. Um sistema de coordenadas importante e que vocês já estudaram em MAT-17 é
o sistema de coordenadas polares.
O objetivo deste parágrafo é mostrar como determinar a área de uma região limitada
pelo gráfico de uma função descrita em coordenadas polares, sem ter que determinar a
função em termos de coordenadas cartesianas.
Considere então uma função dada em termos do ângulo θ, ou seja f : [α, β] → R,
contínua em [α, β] , tal que 0 < β − α ≤ 2π e tal que f (θ) ≥ 0, ∀θ ∈ [α, β] . Queremos
determinar a área da região plana limitada pelo gráfico de f (em coordenadas polares),
isto é, r = f (θ), α ≤ θ ≤ β, as semi-retas θ = α e θ = β. Para isso, consideremos uma
partição P = {θ0 = α, θ1 , . . . , θn = β} ∈ P ([α, β]). Para cada i = 1, . . . , n considere
f (ci ) = min{f (θ); θ ∈ [θi−1 , θi ]} e f (di ) = max{f (θ); θ ∈ [θi−1 , θi ]}, ci , di ∈ [θi−1 , θi ] .
Denotemos por Ai a área da região limitada pela curva r = f (θ) e pelas semi-retas
θ = θi−1 e θ = θi . Assim, Ai está compreendida entre as áreas dos setores circulares
θi − θi−1 θi − θi−1
de raio, respectivamente f (ci ) e f (di ), ou seja, f 2 (ci ) ≤ Ai ≤ f 2 (di ) .
2 2
P f (ci )
n 2 P f (di )
n 2
Portanto segue que ∆θi ≤ A ≤ ∆θi , portanto A é cota superior do
i=1 2 i=1 2
f2
conjunto das somas inferiores de F = e cota inferior do conjunto das somas superiores
2
de F. Logo, da definição de integral inferior e superior e do fato de F ser contínua e
portanto integrável em [α, β] , segue que
Z β 2
f (θ)
A= dθ.
α 2
Exemplo 7.97 Determinar a área do círculo r = a, a > 0. Assim, do desenvolvimento
R 2π a2
acima, segue que A = 0 dθ = πa2 .
2
174 CAPÍTULO 7. INTEGRAL DE RIEMANN

Exemplo 7.98 Determinar a área da região limitada pelo laço da lemniscata r2 = a2 cos 2θ,
π π
− ≤ θ ≤ e a > 0. Da simetria da lemniscata, pode-se calcular apenas a área da região
4 4
R π/4 a2 cos 2θ a2
da lemniscata contida no primeiro quadrante. Assim, A = 2 0 dθ = .
2 2

7.5.3 Volume de sólido de revolução


Como já foi mencionado o cálculo de área é inerente ao conceito de integral, para f ≥ 0.
Veremos no entanto que quando temos um sólido de revolução em torno do eixo x, também
podemos usar a integral para calcular o volume deste sólido e como determinar volumes
de sólidos, mesmo que não sejam de revolução.
Seja f : [a, b] → R contínua em [a, b] , tal que f (x) ≥ 0, ∀x ∈ [a, b] . Girando o gráfico
de f em torno do eixo dos x, obtemos um sólido. Nosso objetivo é determinar o volume
deste sólido. Considere uma partição P = {x0 = a, . . . , xn = b} ∈ P ([a, b]). Para cada
i = 1, . . . , n tomemos f (ci ) = min{f (x); x ∈ [xi−1 , xi ]} e f (di ) = max{f (x); x ∈ [xi−1 , xi ]}
e considere o volume dos cilindros de raios, respectivamente, f (ci ) e f (di ) e altura ∆xi .
Assim, o volume V deste sólido está compreendido entre a soma dos volumes dos cilindros
Pn Pn
mencionados, logo π (f (ci ))2 ∆xi ≤ V ≤ π (f (di ))2 ∆xi , isto é, V é cota superior do
i=1 i=1
conjunto das somas inferiores de F = πf 2 e cota inferior do conjunto das somas superiores
de F e como no parágrafo anterior, segue que
Z b
V =π (f (x))2 dx.
a
2
Observe que A (x) = π (f (x)) , x ∈ [a, b] é a área da interseção do sólido com o plano
perpendicular ao eixo Ox, no ponto de abscissa x e o volume é então dado por
Z b
V = A (x) dx.
a
7.5. APLICAÇÕES DA INTEGRAL 175

Considere agora um sólido qualquer, não necessariamente de revolução e escolha como


eixo Ox, um eixo, de modo que o sólido esteja compreendido entre dois planos perpen-
diculares a Ox, que o interceptam em x = a e x = b. Seja A (x) a área da interseção
do sólido com o plano perpendicular a Ox, no ponto de abscissa x. Seja P ∈ P ([a, b]),
P = {x0 = a, x1 , . . . , xn = b} então, supondo que a função A é integrável em [a, b] , o
volume do sólido é igual a
Xn Z b
V = lim A (ci ) ∆xi = A (x) dx.
kP k→0 a
i=1

Exemplo 7.99 Determinar o volume do toro. Como o toro pode ser considerado como
um sólido de revolução, por exemplo, pela rotação de um disco de centro (0, a) , a > 0 e raio
r < a em torno do eixo do x. Assim, √ podemos considerar a semi-circunferência superior
como o gráfico da função f (x) = a+ √ r2 − x2 , −r ≤ x ≤ r e a semi-circunferência inferior
como o gráfico 2 2
R r da2 função 2g(x) = a − r R−r x√, −r ≤ x ≤ r. Portanto o volume V do toro
é igual a π −r (f (x) − g (x)) dx = 4πa −r r2 − x2 dx. Fazendo a mudança de variável
π π Rr √ R π/2
x = ϕ (t) = r sen t, − ≤ t ≤ , obtemos que −r r2 − x2 dx = −π/2 r2 cos2 tdt =
2 2
R
2 π/2 1 + cos 2t r2 π
r −π/2 dt = ⇒ V = 2π 2 ar2 .
2 2

7.5.4 Comprimento de arco


Uma outra aplicação da integral é determinar o comprimento do gráfico de uma função f
contínua no intervalo [a, b] . Considere então f : [a, b] → R contínua em [a, b] e derivável em
(a, b) , com f 0 contínua em (a, b) e limitada em [a, b] . Assim, cada ponto do gráfico de f é
da forma (x, f (x)) . Tomemos uma partição P = {x0 = a, . . . , xn = b} ∈ P ([a, b]). Sabe-
se que o comprimento do segmento de reta que une os pontos (xi−1 , f (xi−1 )) e (xi , f (xi )) é
176 CAPÍTULO 7. INTEGRAL DE RIEMANN
q q
dado por (xi − xi−1 ) + (f (xi ) − f (xi−1 )) = (xi − xi−1 )2 + (f 0 (ci ))2 (xi − xi−1 )2 =
2 2
q
1 + (f 0 (ci ))2 ∆xi , esta última igualdade segue do T.V.M., aplicado em cada intervalo
Pn q
[xi−1 , xi ] . Assim, o comprimento L do gráfico de f é igual a lim 1 + (f 0 (ci ))2 ∆xi
kP k→0i=0
q
que é o limite da soma de Riemann da função 1 + (f 0 )2 , que é integrável em [a, b] .
Portanto Z q b
L= 1 + (f 0 (x))2 dx.
a

Exemplo 7.100 Determine ro comprimento√de√arco do gráfico de f (x) = ln x, 1 ≤ x ≤


√ R √3 1 R 3 1 + x2
3. Temos que L = 1 1 + 2 dx = 1 dx. Fazendo a mudança de var-
h π xπ i x
iável x = ϕ (t) = tg t, t ∈ , , segue que ϕ é bijetora, derivável com derivada
4 3 √
hπ π i R √3 1 + x2 R π/3 sec3 t R π/3 sec2 t
não nula em , e portanto 1 dx = π/4 dt = π/4 sec tdt =
4 3 x tg t tg t
R π/3 tg2 t + 1 R π/3 R π/3 sec t
π/4
sec tdt = π/4 tg t sec tdt + π/4 dt. A primeira integral é imediata pois
tg t tg t
sec t
uma primitiva do integrando é sec t. Ainda = cossec t, cuja primitiva é ln (cossec t − cotg t) .
µ ¶ tg t
√ 2 1 ¡√ ¢ √ £√ ¡√ ¢¤
Assim, L = 2 − 2 + ln √ − √ − ln 2 − 1 = 2 − 2 − ln 3 2 − 1 .
3 3

7.5.5 Área lateral de sólido de revolução


Como último exemplo daremos a aplicação da integral para o cálculo da área lateral de
um sólido de revolução em torno do eixo x. Existem outros exemplos que vocês verão ao
longo do curso de Engenharia.
Seja f : [a, b] → R contínua em [a, b] , derivável em (a, b) com f 0 contínua em (a, b)
e limitada em [a, b] e tal que f (x) ≥ 0, ∀x ∈ [a, b] . Girando o gráfico de f em torno do
7.5. APLICAÇÕES DA INTEGRAL 177

eixo dos x, obtemos um sólido. Nosso objetivo é determinar a área lateral deste sólido.
Considere uma partição P = {x0 = a, . . . , xn = b} ∈ P ([a, b]). Para cada i = 1, . . . , n,
considere o tronco de cone circular reto de raios iguais a f (xi−1 ) e f (xi ) e geratriz o
segmento de reta que une os pontos (xi−1 , f (xi−1 ))
qe (xi , f (xi )) . Assim, a área lateral
deste tronco de cone é dada por π (f (xi−1 ) + f (xi )) (xi − xi−1 )2 + (f (xi ) − f (xi−1 ))2 =
q
π (f (xi−1 ) + f (xi )) 1 + (f 0 (ci ))2 ∆xi . Assim, a área lateral Al deste sólido é o limite,
quando a norma da partição tende a 0 da soma destas área de tronco de cone. Mas
à medida que a norma da partição tende a 0, como f é contínua podemos aproximar
f (xi−1 ) +qf (xi ) por 2f (ci ). E assim teremos o limte da soma de Riemann da função
F = 2πf 1 + (f 0 )2 . Concluímos finalmente que
Z b q
Al = 2π f (x) 1 + (f 0 (x))2 dx.
a

Exemplo 7.101 Calcule a área lateral do sólido de revolução gerado pela rotação de
f (x) = cosh x, −1 ≤ x ≤ 1, em torno do eixo dos x. Temos que
Z 1 p Z 1
2
Al = 2π cosh x 1 + senh xdx = 2π cosh2 xdx =
−1 −1
Z 1 2x
e +2 + e −2x £
π 2 ¤
= 2π dx = e +4 − e−2 = π [senh 2 + 2] .
−1 4 2
Exercício 1
b
Mostre que em todo intervalo a, b tem-se que  sen xdx ≤ 2.
a
Solução: Seja a, b ⊂ , então existe n ∈ ℕ tal que
a, b ⊂ −   2n,   2n . Assim, como  a sen xdx ≤  a |sen x|dx e |sen x| ≥ 0,
b b
2 2
∀x ∈ , então
b /22n
 a |sen x|dx ≤  −/22n |sen x|dx.
Fazendo a mudança de variáveis, x  y  2n na última integral, tem-se que
/22n /2 /2
 −/22n |sen x|dx   −/2 |seny  2n|dy   −/2 |sen y|dy.
Portanto, como sen y ≤ 0 em −  , 0 e sen y ≥ 0 em 0,  , segue que
2 2
/2 0 /2
 −/2 |sen y|dy  −  −/2 sen ydy   0 sen ydy  2,

logo
b
 a |sen x|dx ≤ 2, ∀a, b ⊂ .
Exercício 2
Sejam f : 0, 1 → , e g : −1, 1 →  integráveis. Mostre que
1
 −1 xfx 2 dx  0
e

 0 cos xgsen xdx  0.
Solução: Como as funções x, sen e x 2 são contínuas e f, g, são integráveis,
segue que as funções xfx 2  e gsen x são integráveis em−1, 1 e 0, ,
respectivamente.
Ainda fazendo a substituição x  x 2 , segue que  ′ x  2x e portanto
1 1 1
 −1 xfx 2 dx  1  −1 fx ′ xdx  1  −1 fydy. Portanto
2 2
1 1
 −1 xfx 2 dx  12  1 fydy  0.
Analogamente, fazendo a substituição x  sen x, tem-se que  ′ x  cos x e
 
protanto  cos xgsen xdx   gx ′ xdx. Logo,
0 0
 0
 0 cos xgsen xdx   0 gx ′ xdx  0.
Exercício 3
n
Mostre que ∀n ∈ ℕ, n ≥ 2,  ln xdx  n lnn − n  1.
1
Solução: Utilizando a integração por partes, já que ln é contínua em 0,  e
portanto admite primitiva neste intervalo e é integrável em qualquer intervalo
fechado e limitado contido em 0, , obtém-se
n n
 1 ln xdx  n ln n − 1 ln 1 −  1 x 1x dx.
Logo,
n
 1 ln xdx  n ln n − n − 1
Exercício 4
/2
Considere S n   sen x dx. Mostre que
n
0

Sn  n − 1 
a) n S n−2 , n  2, S 2  4 e S 1  1.
b) S n  é decrescente.

c) lim S 2n  1.
n→ S 2n1
Solução: a) Como sen x e sen x n são de classe C  , pode-se aplicar a
integração por partes. Assim, lembrando que uma primitiva de sen x é − cos x e que

sen x n−1  n − 1sen x n−2 cos x. obtém-se que
/2 /2 /2
0 sen x n dx  0 sen xsen x n−1 dx  − cos xsen x n−1
/2
0

0
cos 2 xn − 1sen x n−2 dx.

Portanto, fazendo cos 2 x  1 − sen 2 x, segue que


/2 /2 /2
0 sen x n dx  n − 1 
0
sen x n−2 dx − n − 1 
0
sen x n dx,

ou seja
/2 /2
Sn  0 sen x n dx  n −
n
1 0 sen x n−2 dx  n − 1
n S n−2 .
Ainda
/2
S1  0 sen xdx  − cos   cos 0  1
2
e
/2 /2
S2  0 1 − cos 2x dx  x − sen 2x /2   .
sen x 2 dx  0
2 2 4 0 4
b) Como 0 ≤ sen x ≤ 1, ∀x ∈ 0,  , então sen x n1
≤ sen x , ∀n ∈ ℕ.
n
2
Portanto de propriedade de integrais, segue que
/2 /2
0≤ 0 sen x n1 dx ≤ 0 sen x n dx, ∀n ∈ ℕ,

o que implica que S n1 ≤ S n , ∀n ∈ ℕ, e portanto S n  é decrescente.


c) Do ítem (b) tem-se que 0 ≤ S 2n1 ≤ S 2n ≤ S 2n−1 e portanto
1 ≤ S 2n ≤ S 2n−1 .
S 2n1 S 2n1
Mas do ítem (a) tem-se que
S 2n−1  2n  1  1  1 → 1, n → .
S 2n1 2n 2n
Logo, aplicando o teorema do confronto na desigualdade acima e a convergência
anterior, obtém-se que
lim S 2n  1.
n→ S 2n1
Exercício 5
Determine uma família de primitivas para as funções abaixo, indicando o
intervalo e justificando:
a) x2 b 1
2x − x 2
4x 2 − 24x  27 3

c) x2  x  2 d ln 2 x  1  x 2
2
2 − xx 2  2x  2
Solução:
a) Primeiramente analisemos o domínio da função. Devemos ter 2x − x 2  0,
ou seja x ∈ 0, 2. Neste intervalo a função é contínua e portanto admite
primitiva. Ainda 2x − x 2  1 − x − 1 2 e portanto devemos encontrar uma
primitiva para x2 . Faremos a seguinte mudança de variável:
1 − x − 1 2
x − 1  sen t, ou seja, x  1  sen t. Observe que  : −  ,  → 0, 2;
2 2
t  1  sen t é bijetora derivável, com  t  cos t  0, ∀t ∈ −  ,  .

2 2
Portanto fazendo esta mudança de variável devemos encontrar uma
primitiva da função: sen t  2 sen t  1 cos t  sen 2 t  2 sen t  1.
2
cos t
considerando que sen t  1 − cos 2t , temos que uma primitiva de
2
2
sen t  2 sen t  1 é
2

3t − sen t 1 − sen 2 t
Ft  t − sen 2t  2 cos t  t  3t − sen t cos t  2 cos t 
2 4 2 2 2
2
Portanto uma primitiva de x −1
é F ∘  , ou seja,
2x − x 2
3 arcsenx − 1 x − 1 2x − x 2
−  2x − x 2 . Logo,
2 2
x2 3 arcsenx − 1 x − 1 2x − x 2
 dx  −  2x − x 2  c, c ∈ , no
2x − x 2 2 2
intervalo I  0, 2.
b) Primeiramente analisemos o domínio da função. Devemos ter
4x 2 − 24x  27  0. Mas suas raízes são: 3 e 9 , portanto podemos ter
2 2
dois intervalos a saber: −, 3 ou 9 ,  . Utilizaremos o segundo
2 2
2 3
intervalo. Ainda, 4x 2 − 24x  27 3  8 x − 3 2 − 3 . Portanto
2
fazemos a seguinte mudança de variável, x − 3  3 sec t  3 . Como
2 2 cos t
 : 0,  → 9 ,  ; t  3  3 sec t é bijetora e derivável no
2 2 2
intervalo 0,  ′
, com  t  3 sec t tg t  0, para todo t ∈ 0,  , então
2 2 2
basta determinarmos F uma primitiva de cos t em 0,  , pois
18 sen 2 t 2
considerando fx  1 , segue que
3
4x − 24x  27
2

f ∘ t ′ t  cos t2 . Mas uma primitiva de cos t2 em 0,  é


18 sen t 18 sen t 2
Ft  − 1 − 1 −1
. Portanto F ∘  é uma primitiva de f em
18 sen t 18 1 − cos 2 t
9 ,  . Mas F ∘  −1 x  x − 3
. Logo,
2 9 4x 2 − 24x  27
x − 3
 dx   c, c ∈ , no intervalo
4x − 24x  27
2 3
9 4x 2
− 24x  27
I  9 ,  . Para o intervalo −, 3 , basta considerar a mudança de
2 2
3
variável x − 3  − sec t, t ∈ 0,  (exercício).
2 2
c) O domínio de x2  x  2 é \2. Usaremos a decomposição em
2
2 − xx 2  2x  2
frações parciais, portanto devemos determinar A, B, C, D, E tais que
x2  x  2  A  2Bx  C  Dx  E . Colocando a
2 − xx  2x  2
2 2 2 − x x  2x  2 x  2x  2
2 2

expressão no denominador comum e igualando os numeradores, obtemos:


Ax 2  2x  2 2  Bx  Cx 2  2x  22 − x  Dx  E2 − x  x 2  x  2,
ou seja, A − B  0, 4A − C  0, 8A  2B − D  1, 8A  4B  2C  2D − E  1,
e 4A  4C  2E  2. Portanto obtemos a única solução A  2  B,
25
C  8 , D  − 1 e E  1 . Assim,
25 5 5
x2  x  2  2  2x  8  1−x . Logo
2 − xx  2x  2
2 2 252 − x 25x 2
 2x  2 5x  2x  2 2
2

devemos encontrar uma primitiva para cada uma das funções. Em 2, 
uma primitva de 2 é 2 lnx − 2 e em −, 2 uma primitiva de
252 − x 25
2 é 2 ln2 − x, logo  2 dx  2 ln|2 − x|  c, c ∈ , em
252 − x 25 252 − x 25
\2. Para obter uma primitiva de 2x  8 , vamos reescrever esta
25x 2  2x  2
função da seguinte forma:
2x  8  2x  2  6 . E assim obtemos,
25x 2  2x  2 25x 2  2x  2 25 x  1 2  1
 x 2  2x  2 ′
 2x 2 dx   dx  1 lnx 2  2x  2  c, c ∈ ,
25x 2  2x  2 25x 2  2x  2 25
em  e portanto em \2. Ainda fazendo a mudança de variável
x  1  tg t, temos que  : −  ,  → , t  tg t − 1 é bijetora,
2 2
derivável no intervalo − ,   , com  ′ t  sec 2 t  0, para todo
2 2
t ∈ −  ,  . Assim, devemos encontrar uma primitiva F de
2 2
6 sec 2 t  6 , pois considerando fx  6 , temos que
25 sec 2 t 25 25 x  1 2  1
f ∘ t ′ t  6 . Logo, Ft  6 t e portanto uma primitiva de f em  é
25 25
F ∘  , logo, 
−1 6 dx  6 arctgx  1  c, c ∈ , em .
25 x  1 2  1 25
Finalmente,
1−x − 2x − 2 − 2x  2  4 .
2 2 2
5x  2x  2
2
10x  2x  2
2
10x  2x  2
2
10x  2x  2 2
2

 x 2  2x  2 ′ −1
Como  2x 2 dx   dx   c, ou
10x 2  2x  2 2 10x 2  2x  2 2 10x 2  2x  2
seja,  − 2x  2 dx  1  c, c ∈ , em . Para
10x  2x  2
2 2
10x 2
 2x  2
determinar uma primitiva de 4 , fazemos a mesma mudança
10x  2x  2 2
2

de variável, a saber, x  1  tg t e obtemos que


f ∘ t ′ t  2  2 cos 2 t, onde fx  2 e  como
5 sec 2 t 5 5 x  1 2  1
2

anteriormente. Mas uma primitiva F de 2 cos 2 t é


5
2
2 t  sen 2t  2 t  2 sen t cos t  2 t  tg t cos t  2 t  tg t
5 2 4 5 2 4 5 2 2 5 2 2 sec 2 t
Logo, F ∘  −1 é uma primitiva de f, ou seja,
 2 dx  1 arctgx  1  2 x  1  c, c ∈ , em .
5 x  1  1
2 2 5 x  2x  2
Assim, em \2, temos que
 x2  x  2 dx  2 ln|2 − x|  11 arctgx  1  1 lnx 2  2x  2 
2 25 25 25
2 − xx  2x  2
2

c ∈ .
d) Primeiramente precisamos analisar o domínio da função. Como o domínio
de ln é 0, , devemos verificar para que valores de x, x  1  x 2 é
positivo. Como 1  x 2  |x|, para todo x ∈ , segue que
x  1  x 2  x  |x| ≥ 0, para todo x ∈  e portanto o domínio da função é
. Para determinar uma primitiva, usaremos a integração por partes, logo,
2x ln x  1  x 2
 1 ln x  1  x dx  x ln x  1  x − 
2 2 2 2
1 x
x 1x 2
1  x2
Aplicando integração por partes novamente na segunda integral,
lembrando que se gx  1  x 2 então g ′ x  x , temos que
1  x2
2x ln x  1  x 2 x ln x  1  x 2
 dx  2  dx  2 1  x 2 ln x  1  x 2
1x 2
1x 2

Assim, temos que


 1 ln 2 x  1  x 2 dx  x ln 2 x  1  x 2 − 2 1  x 2 ln x  1  x 2  2x 
c ∈ , em .
Exercício 6
Determine
a) A área da superfície gerada pela rotação, em torno do eixo x, do
gráfico de fx  sen x, x ∈ 0, .
b) O volume do sólido cuja base é o semi-círculo x 2  y 2 ≤ r 2 , y ≥ 0, e
cujas seções perpendiculares ao eixo Ox são triângulos equiláteros.
Solução:
 
a) Sabe-se que A   fx 1  f ′ x 2 dx. Logo, A   sen x 1  cos 2 x dx.
0 0
Fazendo a substituição cos x  u, obtemos que
−1 1
A   − 1  u 2 du   1  u 2 du. Fazendo agora a mudança de variável
1 −1
u  senh t, obtemos que
2 2
ln 2 1 ln 2 1 e 2t  2  e −2t dt  1 2 1 2 −1
A cosh tdt  
2

ln 2 −1 ln 2 −1 4 4 2 2
Logo, fazendo as contas obtemos: A  2  ln 2 1 .
b
b) Lembremos que o volume é dado por  Axdx, onde Ax é a área da
a
interseção do sólido com o plano perpendicular ao eixo Ox, no ponto de
abscissa x.
Como as seções perpendiculares ao eixo Ox são triângulos equiláteros de
3
lado r 2 − x 2 e portanto altura igual a h  r 2 − x 2 , segue que,
2
3 2
Ax  r − x 2  e portanto o volume será igual a
4
r r
V
3 2 3 3 3 3
r − x 2 dx  r2x − x  r .
−r 4 4 3 −r 3
178 CAPÍTULO 7. INTEGRAL DE RIEMANN

7.5.6 Lista de exercícios


Exercício 7.102 Determine a família de primitivas abaixo, no intervalo I, indicado,
justificando:
R
a) sen (3x + 1) dx, I = R.
R
b) x sen (3x2 + 1) dx, I = R.
R e2x
c) √ x dx, I = R.
e +2
R
d) sen3 x cos xdx, I = R.
R xdx
e) , I = R.
1 + x4
µ ¶
R√ 1 1
f) 1 − 4x2 dx, I = − , .
2 2
R√
g) −x2 + 4x − 3dx, I = (1, 3) .
R√
h) 1 − cos xdx, I = [0, 2π] .

Exercício 7.103 Determine a família de primitivas abaixo, indicando os intervalos e


justificando:
R
a) x ln xdx.
R
b) arcsen xdx.
R cos 2x
c) dx.
ex
R
d) (ln x)2 dx.
R
e) x3 cos x2 dx.
R 4x2 + 17x + 13
f) dx.
(x − 1) (x2 + 6x + 10)
R x4 + 2x2 − 8x + 4
g) dx.
x3 − 8
R x4 + 12x + 1
h) dx.
(x + 1) (x2 + 2x + 4)2
R 3 − 4x
i) √ 2 dx.
(1 − 2 x)
7.5. APLICAÇÕES DA INTEGRAL 179
¡ √ ¢
R 1 − 3 2x
j) √ dx.
2x
R√
l) x2 − 9dx.
¡√ ¢
R senh x − 1
m) √ dx.
x−1
R x
n) dx.
senh2 x
Exercício 7.104 Calcule as integrais abaixo:
R π/4
a) 0
tg xdx.
R2
x2(3x −5) dx.
2
b) 1

R π2 sen x
c) 0 √ dx.
x
R2 xdx
d) 1
√ .
5 − x2
R 3 x3 dx
e) 0
.
1 + x4
R2 dx
f) 1
√ .
x2 1 + x2
R3√
g) 1
−x2 + 4x − 3dx.
R1 x+1
h) 0 4 + x2
dx.
R1
i) 0 x ex dx.
R π/2
j) 0
ex cos xdx.
Re
l) 1
x2 ln xdx.
Rx
m) 0
t2 e−st dt, s 6= 0.
R 1/2 x3 + 4x2 + 6x + 1
n) −1/2 3 dx.
x + x2 + x − 3
R −1 x3 + 2x2 + 3
o) dx.
−2
(x3 + 4x2 + 5x)2
180 CAPÍTULO 7. INTEGRAL DE RIEMANN

Rπ x 3x
p) 0
sen2 cos dx.
2 2
R2 2x
q) 1
dx.
1 − 4x
R3 1
r) 2
x3 arcsen dx.
x
R1 senh x cosh x
s) dx.
0
senh2 x + cosh2 x
R
t) x arctg (2x + 3) dx.
R
Exercício 7.105 Determine cossec xdx em (0, π) .

Exercício 7.106 Determine a área das regiões descritas abaixo:

a) Região limitada por y = ln x, pelo eixo dos x e pela reta x = e.

b) Região limitada pelas curvas y = 5 − x2 e y = x + 3.

c) Região limitada por y 2 = 2x e x2 = 2y.

d) Região limitada pela cardióide r = a (1 + cos ϕ) , −π ≤ ϕ ≤ π.


θ π π
e) Região limitada pela parábola r = sec2
e as semi-retas θ = e θ = .
2 4 2
³ x´
Exercício 7.107 Determine o comprimento do arco da curva y = ln cotgh de x = a
2
até x = b, 0 < a < b.

Exercício 7.108 Determine o volume do sólido√formado pela rotação, em torno do eixo


Ox, da região compreendida entre y = x2 e y = x.

Exercício 7.109 Determine o volume do sólido formado pela rotação, em torno do eixo
Ox, da região compreendida entre y = sen2 x, x = 0 e x = π.

Exercício 7.110 Determine o volume do sólidocuja base é a região 4x2 + y 2 ≤ 1 e cujas


seções perpendiculares ap eixo Ox são semi-círculos.

Exercício 7.111 Determine a área lateral da superfície gerada pela rotação, em torno
1
do eixo Ox, do gráfico da função f (x) = x2 , 0 ≤ x ≤ .
2
Capítulo 8
Série de Taylor

É de grande interesse em aplicações aproximar funções por polinômios e já vimos como


fazê-lo usando a fórmula de Taylor. Um outro aspecto importante é representar funções
por séries e saber se a série de funções converge para alguma função. Uma série de
funções muito importante é a série de potências, que será utilizada para resolução de
algumas equações diferenciais ordinárias, em MAT-32. Vejamos sua definição.
Definição 8.1 Uma série de potências em torno do ponto x0 ∈ R é uma série cuja
sequência do termo geral é da forma (an (x − x0 )n ) , ou seja a série é da forma
X
+∞
n
X
+∞
an (x − x0 ) = a0 + an (x − x0 )n .
n=0 n=1

Estamos interessados em saber para que valores de x uma série de potências converge.
Como já vimos, uma série numérica converge se e somente se sua seqüência das somas
parciais converge. Consideremos então
X
n
sn (x) = aj (x − x0 )j = a0 + a1 (x − x0 ) + · · · + an (x − x0 )n .
j=0

É claro que sn (x0 ) = a0 , ∀n ∈ N e portanto sn (x0 ) → a0 , quando n → +∞, ou seja toda


série de potências em torno de x0 , é convergente no ponto x = x0 .
Para que outros valores de x a série converge? Um critério que pode p ser aplicado é
o critério da raiz. Para os casos em que x 6= x0 , vamos analisar lim sup |an (x − x0 )n |.
n

n→+∞
Assim, pelo critério da raiz , para os valores de x em que este limite for menor que 1
teremos a convergência absoluta da série. Nos pontos em que este limite for maior que 1
a série divergirá e nosppontos em que o limte for igual ap1 teremos que verificar de outra
forma. Como lim sup n |an (x − x0 )n | = |x − x0 | lim sup n |an |, seguem os seguintes casos:
n→+∞ n→+∞
p
p p
1)Se 0 < lim sup |an | = L < +∞ então lim sup n |an (x − x0 )n | = |x − x0 | lim sup n |an | =
n

n→+∞ n→+∞ µ n→+∞ ¶


1 1 1
|x − x0 | L < 1 ⇔ |x − x0 | < , ou seja a série converge absolutamente em x0 − , x0 + .
L L L

181
182 CAPÍTULO 8. SÉRIE DE TAYLOR

1
Neste caso então dizemos que é o raio de convergência da série.
p L p p
2)Se lim sup n |an | = 0 então lim sup n |an (x − x0 )n | = |x − x0 | lim sup n |an | = 0 < 1,
n→+∞ n→+∞ n→+∞
∀x ∈ R, logo a série converge absolutamente em R e neste caso por abuso de linguagem
dizemos que o raio
p de convergência da série ép
infinito. p
3)Se lim sup n |an | = +∞ então lim sup n |an (x − x0 )n | = |x − x0 | lim sup n |an | =
n→+∞ n→+∞ n→+∞
+∞ e portanto a série diverge para todo x 6= x0 .

Nota 8.2 Em alguns casos pode ser mais fácil usar o critério da razão do que o critério
da raiz.
P
+∞ p
Exemplo 8.3 A série xn converge em (−1, 1) , pois, an = 1, ∀n ∈ N, logo lim n
|an | =
n=0 n→+∞
1 e então o raio de convergência desta série é 1. Ainda em x = ±1 esta série diverge, já
que seu termo geral não converge para 0.
P (−1)n
+∞ x2n p
n
Exemplo 8.4 A série converge em R, pois lim |an | = 0, onde
n=0 n! n→+∞

½
(−1)k−1 / (k − 1)!; se n = 2 (k − 1)
an = , k ∈ N.
0; se n = 2k − 1

P
+∞ p
Exemplo 8.5 A série (−1)n n!x2n converge apenas em x = 0, pois lim sup n
|an | =
n=0 n→+∞
+∞, onde, ½
(−1)k−1 (k − 1)!; se n = 2 (k − 1)
an = , k ∈ N.
0; se n = 2k − 1

Os dois primeiros casos são os que nos interessam, pois nestes casos temos que a
série converge no seu intervalo de convergência I, para uma função f : I → R. Que
características tem esta função? Será provado em Mat-32 que esta função f para a qual
P
+∞
a série de potências converge é tal que f ∈ C ∞ (I) e ainda f 0 (x) = nan (x − x0 )n−1 ,
n=1
P
+∞
f 00 (x) = n (n − 1) an (x − x0 )n−2 , . . . , ∀x ∈ I. Pode-se então concluir que f (x0 ) = a0 ,
n=2
f (n) (x0 )
f 0 (x0 ) = a1 , . . . , f (n) (x0 ) = n!an , ou seja an = . Isto nos faz lembrar da fórmula
n!
de Taylor.

Definição 8.6 Seja f : I → R, x0 ∈ I e J = (x0 − r, x0 + r) ⊂ I tal que f ∈ C ∞ (J) .
P
+∞
Então a série de Taylor de f em torno de x0 é a série de potências an (x − x0 )n , onde
n=0
f (n) (x0 )
an = , ∀n ∈ N.
n!
183

Nota 8.7 Do que foi observado anteriormente, pode-se provar que se uma série de potên-
cias em torno do ponto x0 , converge para uma função f , no intervalo I = (x0 − r, x0 + r)
então esta série é a série de Taylor de f em torno de x0 .
E a recíproca é válida? Isto é, se f ∈ C ∞ (J) , onde J = (x0 − r, x0 + r) , então a sua
série de Taylor em torno de x0 converge para f em J? A resposta é: não necessariamente,
como mostra o seguinte exemplo:
½ −1/x2
e , x 6= 0
Exemplo 8.8 Seja f : R → R definida por f (x) = . Pode-se mostrar
0, x=0
que f ∈ C ∞ (R) e que f (n) (0) = 0, ∀n ≥ 1. Assim, a série
P∞ f (k) (0)
xk converge para a função identicamente nula em R e portanto a série con-
k=0 k!
verge, mas não para f. Ela converge para f somente em x0 = 0.
P∞ f (k) (x )
0
Vejamos então quais as condições para que a série de Taylor (x − x0 )k de
k=0 k!
uma função f ∈ C ∞ (J) seja convergente para f em algum intervalo J = (x0 − r, x0 + r) .

Proposição 8.9 Seja f : D → R, a ∈ D e I = (a − r, a + r) ⊂ D tal que f ∈ C ∞ (I) .
Então,
¯ (n+1) ¯
X
+∞ (k)
f (a) k
¯f (cx,n )¯
f (x) = (x − a) , ∀x ∈ I ⇔ lim |x − a|n+1 = 0, ∀x ∈ I,
k=0
k! n→+∞ (n + 1)!
onde cx,n está no intervalo aberto de extremos a e x.

Prova. Como f ∈ C ∞ (I) e a ∈ I, segue, pela fórmula de Taylor, que para cada
x ∈ I, x 6= a, e para cada n ∈ N, existe cx,n no intervalo aberto de extremos a e x tal que
X
n
f (k) (a) f (n+1) (cx,n ) f (n+1) (cx,n )
f (x) = (x − a)k + (x − a)n+1 = sn (x) + (x − a)n+1 .
k=0
k! (n + 1)! (n + 1)!
o que implica que ¯ (n+1) ¯
¯f (cx,n )¯
|f (x) − sn (x)| = |x − a|n+1 .
(n + 1)!
logo
¯ (n+1) ¯
¯f (cx,n )¯
lim sn (x) = f (x) ⇔ lim |f (x) − sn (x)| = 0 ⇔ lim |x − a|n+1 = 0.
n→+∞ n→+∞ n→+∞ (n + 1)!
Portanto
¯ (n+1) ¯
X
+∞ (k)
f (a) k
¯f (cx,n )¯
f (x) = (x − a) , ∀x ∈ I ⇔ lim |x − a|n+1 = 0, ∀x ∈ I.
k=0
k! n→+∞ (n + 1)!
¤
184 CAPÍTULO 8. SÉRIE DE TAYLOR


Corolário 8.10 Seja f : D → R, a ∈ D e I = (a − r, a + r) ⊂ D tal que f ∈ C ∞ (I) .
Se, para cada c ∈ (0, r) ,
µ ¶
Mn+1 (c) n+1
lim c = 0,
n→+∞ (n + 1)!
¯ ¯
onde Mn+1 (c) = max{¯f (n+1) (x)¯ , x ∈ [a − c, a + c] , então, a série de Taylor de f em
torno de a, converge para f em I.
¯ ¯
Prova. Como f ∈ C ∞ (I) , para cada n ∈ N, ¯f (n+1) ¯ é contínua em [a − c, a + c] ,
∀c ∈ (0, r) , logo existe Mn+1 (c) . Ainda, para cada x ∈ I, x 6= a, e para cada n ∈ N,
segue pela fórmula de Taylor, que existe cx,n no intervalo aberto de extremos a e x, tal
que

X
n
f (k) (a) f (n+1) (cx,n ) f (n+1) (cx,n )
f (x) = (x − a)k + (x − a)n+1 = sn (x) + (x − a)n+1 .
k=0
k! (n + 1)! (n + 1)!

Logo, ¯ (n+1) ¯
¯f (cx,n )¯ Mn+1 (c) n+1
0 ≤ |f (x) − sn (x)| = |x − a|n+1 ≤ c ,
(n + 1)! (n + 1)!
onde c = |x − a| e portanto c ∈ (0, r) pois x 6= a e x ∈ I.
Assim, da hipótese, aplicando o teorema do confronto, segue que lim |f (x) − sn (x)| =
n→+∞
0, o que implica que a série de Taylor de f em torno do ponto a converge para f em I. ¤

Exemplo 8.11 Seja f : R → R, f (x) = sen x. A série de Taylor de f em torno de a = 0,


é
X
+∞
x2n−1
(−1)n−1 ,
n=1
(2n − 1)!

pois
f (0) = 0, f 0 (0) = 1, f 00 (0) = 0, f 000 (0) = −1, . . .
p
Esta série converge ∀x ∈ R, pois lim n |an | = 0, já que
n→+∞

½
(−1)k−1 / (2k − 1)!; se n = 2k − 1
an = .
0; se n = 2k
µ ¶
Mn+1 (c) n+1
A série converge para f em R, pois Mn+1 (c) ≤ 1, ∀c > 0, então0 ≤ lim c ≤
µ n+1 ¶ n→+∞ (n + 1)!
c
lim = 0, ∀c > 0, como já foi mostrado anteriormente.
n→+∞ (n + 1)!
185

Exemplo 8.12 Seja f : (0, +∞) → R; f (x) = ln x. Tem-se que


f (1) = 0, f 0 (1) = 1, f 00 (1) = −1, f 000 (1) = 2, . . .
ou seja a série de Taylor de f em torno de a = 1 é:
X
+∞
(x − 1)n
(−1)n−1 ,
n=1
n
p 1
que converge em (0, 2], pois lim n
|an | = lim √ = 1, logo seu raio de convergên-
n→+∞ n→+∞ n
n
P1
+∞
cia é 1. Ainda, para x = 0 temos a série − , que diverge e para x = 2, temos a
n=1 n
P
+∞ 1
série (−1)n−1 , que pelo critério de Leibniz converge. Para verificar se a série con-
n=1 n
n! Mn+1 (c) n+1
verge para f neste intervalo vejamos que Mn+1 (c) = n+1 . Assim, c =
(1 − c) (n + 1)!
µ ¶n+1 µ ¶
1 c Mn+1 (c) n+1
, para c ∈ (0, 1) . Logo só podemos concluir que lim c =
(n + 1) 1 − c n→+∞ (n + 1)!
c 1
0, quando ≤ 1, ou seja 0 < c ≤ . Portanto, prova-se que a série converge para f
1−∙c ¸ 2
1 3
no intervalo , . Ainda para x ∈ (1, 2], tem-se, pela fórmula de Taylor,
2 2
¯ ¯ ¯ ¯
¯ X n
(x − 1)j¯ ¯ (x − 1) n+1 ¯
¯ j−1 ¯ ¯ n ¯
¯ln x − (−1) ¯ ¯
= (−1) n+1 ¯¯ ,
¯ j ¯ ¯ (n + 1) (cx,n )
j=1

1
onde cx,n ∈ (1, x) . Logo < 1 e como 1 < x ≤ 2 ⇒ 0 < (x − 1) ≤ 1. Logo
(cx,n )n+1
¯ ¯
¯ (x − 1)n+1 ¯¯ 1
¯ n
0 < ¯(−1) n+1 ¯≤ .
¯ (n + 1) (cx,n ) ¯ n + 1
Portanto pelo teorema do confronto tem-se que
¯ ¯
¯ (x − 1) n+1 ¯
¯ n ¯
¯(−1) n+1 ¯¯ → 0,
¯ (n + 1) (cx,n )
o que implica que a série de Taylor converge para f neste intervalo, assim, juntando os
dois resultados tem-se que
X
+∞ n ∙ ¸
n−1 (x − 1) 1
ln x = (−1) , em ,2 .
n=1
n 2
µ ¶
1
E no intervalo 0, a série converge para que função? Veremos mais adiante que a
2
série converge para f em todo seu intervalo de convergência.
186 CAPÍTULO 8. SÉRIE DE TAYLOR


Definição 8.13 Seja f : I → R, x0 ∈ I . Dizemos que f é analítica em x0 se existe δ > 0
tal que f ∈ C ∞ (x0 − δ, x0 + δ) e a série de Taylor de f em torno de x0 converge para f
em (x0 − δ, x0 + δ) .
Nota 8.14 Em exemplo anterior, vimos que nem toda função de classe C ∞ (J) é analítica
em todos os pontos de J.
Nota 8.15 Nem sempre é fácil determinar a série de Taylor de uma função a partir da
definição de série de Taylor, ou seja calculando as derivadas de todas as ordens num certo
ponto x0 . Mas existem certos artifícios que nos permitirão determinar a série de Taylor
de uma função a partir de resultados conhecidos. Vejamos o exemplo a seguir.
Exemplo 8.16 Sabe-se que para todo x ∈ R
X
n
1 − xn+1 1 xn+1
sn (x) = xj = = − ,
j=0
1−x 1−x 1−x

portanto, ¯ ¯
¯ 1 ¯ |x|n+1
¯ ¯
¯ 1 − x − sn (x)¯ = 1 − x → 0, ∀x ∈ R, |x| < 1.
o que implica que
X
+∞
1
xn = , |x| < 1.
n=0
1−x
1
Assim, como já foi dito esta é a série de Taylor de f (x) = em torno de a = 0,
1−x
convergente no intervalo (−1, 1) para f. Observe que nos extremos do intervalo ela é
divergente, já que seu termo geral não tende a 0.
Exemplo 8.17 Como a série acima é convergente para todo x ∈ (−1, 1) então con-
1 1
siderando a função f (x) = = , temos que para todo x ∈ (−1, 1) tem-se
1 + x2 1 − (−x2 )
que x2 ∈ [0, 1) ⊂ (−1, 1) e portanto
X
+∞
1
(−1)n x2n = , ∀x ∈ R, |x| < 1.
n=0
1 + x2

Logo como a série é a série de Taylor desta função em torno de a = 0, segue que
f (100) (0) 1 100!
= ⇒ f (100) (0) = .
100! 50! 50!
Algumas vezes ao usarmos a fórmula de Taylor com resto de Lagrange, não con-
seguimos provar que a série de Taylor converge para f em todo o seu intervalo de con-
vergência, como é o caso de f (x) = ln(x), cuja série de Taylor converge no intervalo (0, 2],
1
mas só conseguimos provar que converge para f no intervalo ( , 2]. Será que fora deste
2
intervalo a série converge para uma outra função g? Vejamos.
187

Exemplo 8.18 Sabe-se que


X
n
k k 1 − (−1)n+1 (t − 1)n+1
(−1) (t − 1) = =
k=0
t
1 (−1)n+1 (t − 1)n+1
= − , ∀t > 0.
t t
Portanto, integrando em ambos os lados da igualdade de 1 a x, x ∈ (0, 2] obtemos:
PnR x k k R x (−1)n (t − 1)n+1 Pn
k (x − 1)
k+1

1
(−1) (t − 1) dt = ln x + 1
dt ⇒ (−1) = ln x +
k=0 ¯ t ¯ k=0 ¯ k + 1 ¯
R x (−1)n (t − 1)n+1 ¯ Pn k¯ ¯R (−1)n (t − 1)n+1 ¯
¯ k−1 (x − 1) ¯ ¯ x ¯
dt. Logo, ¯ln x − (−1) ¯ = ¯ 1 dt¯ ≤
1 t ¯ k=1 k ¯ ¯ t ¯
¯ ¯
¯R |t − 1|n+1 ¯
¯ x ¯
¯ 1 dt¯ . Assim, para x ∈ (1, 2] então t ≥ 1 e portanto,
¯ |t| ¯
¯ ¯ Z x Z x
¯ Xn
(x − 1)k¯
(t − 1)n+1
¯ k−1 ¯
¯ln x − (−1) ¯ ≤ dt ≤ (t − 1)n+1 dt =
¯ k ¯ 1 t 0
k=1

(x − 1)n+2 1
= ≤ → 0, ∀x ∈ (1, 2].
n+2 n+2 n→+∞

1 1
E para x ∈ (0, 1) então 0 < x ≤ t ≤ 1 ⇒ 1 ≤ ≤ e portanto
t x
¯ ¯ Z 1
¯ Xn
− k¯ n+1
(−1)n+2 (1 − x)n+2
¯ k−1 (x 1) ¯ n+1 (1 − t)
¯ ln x − (−1) ¯ ≤ (−1) dt = =
¯ k ¯ x x 1 + x n + 2
k=1

(1 − x)n+2 1
= < → 0, ∀x ∈ (0, 1) .
(1 + x) (n + 2) (1 + x) (n + 2) n→+∞

P
+∞ (x − 1)n
Pode-se então concluir que ln x = (−1)n−1 em (0, 2]. Pode-se concluir então
n=1 n
P (−1)n
+∞
que = ln 2.
n=0 n+1

P
n 1 t2(n+1)
Exemplo 8.19 Sabe-se, da teoria de P.G., que (−1)k t2k = + , ∀t ∈
k=0 1 + t2 1 + t2
P
n x2k+1
R. Novamente integrando ambos os lados da igualdade, de 0 a x, obtemos: (−1)k =
k=0 2k + 1
R x t2(n+1) P
+∞
n x
2n+1
arctg x+ 0 dt. É fácil verificar, aplicando o critério da raiz que a série (−1)
1 + t2 n=0 2n + 1
converge absolutamente em (−1, 1) e condicionalmente em x = ±1. Portanto a série
converge em [−1, 1]. Resta provar que neste intervalo ela converge para arctg x. Mas,
188 CAPÍTULO 8. SÉRIE DE TAYLOR
¯ ¯ ¯ ¯
¯
¯arctg x − Pn
k x 2k+1 ¯
¯
¯R x t2(n+1) ¯
¯ ¯
¯R x 2n+2 ¯
¯ ¯ |x|2n+3 1
¯ (−1) ¯ =¯ 0 2
dt¯ ≤ 0 |t| dt = ≤ →
k=0 2k + 1 1+t 2n + 3 2n + 3 n→+∞
P
+∞ x 2n+1
0, ∀x ∈ [−1, 1] ⇒ arctg x = (−1)n , em [−1, 1].
n=0 2n + 1

Vejamos como aplicar este artifício em cálculo numérico.

2
Exemplo 8.20 Sabemos que a função e−x é integrável e admite primitiva em [0, 1] ,
pois é contínua neste intervalo, na realidade é contínua em R. No entanto não é pos-
sível expressar sua primitiva em termos de funções elementares e portanto não se pode
R1 2 P xn
+∞
aplicar o T.F.C. para obter 0 e−x dx. Mas, sabe-se que, ex = , ∀x ∈ R e por-
n=0 n!
−x 2 P (−1)n x2n
+∞
tanto, e = , ∀x ∈ R. Ainda, do teste de Leibnitz para série alternadas,
¯ n=0 n! ¯
¯ n (−1)j x2j ¯ |x|2n+2 n (−1)j x2j
¯ −x2 P ¯ 2 P
segue que ¯e − ¯≤ . Ou seja e−x = + rn+1 (x) , onde
¯ j=0 j! ¯ (n + 1)! j=0 j!
|x|2n+2
|rn+1 (x)| ≤ , ∀x ∈ R. Logo integrando ambos os lados da igualdade anterior
(n + 1)!
R 1 −x2 Pn (−1)j R1 ¯R ¯
¯ 1 ¯
de 0 a 1, obtemos que 0 e dx = + 0 rn+1 (x) dx, onde ¯ 0 rn+1 (x) dx¯
j=0 j! (2j + 1)
1
≤ . Logo se quisermos obter o valor desta integral com um erro menor
(n + 1)! (2n + 3)
P4 (−1)j ¯R ¯ 1
−3 ¯ 1 ¯
que 10 , basta tomarmos , pois ¯ 0 r4 (x) dx¯ ≤ < 10−3 .
j=0 j! (2j + 1) 5!11

2
Exemplo 8.21 Como f : R → R; f (x) = e−x é contínua em R xR,−t2então ela admite
primitiva em R e uma primitiva é dada por F : R → R; F (x) = 0 e dt. Como vimos
no exemplo anterior tem-se que

X
n
(−1)j x2j
−x2
e = + rn+1 (x) ,
j=0
j!

|x|2n+2
onde |rn+1 (x)| ≤ , ∀x ∈ R. Portanto, integrando de 0 a x, obtemos que
(n + 1)!

X
n Z
(−1)j x2j+1 x
F (x) = + rn+1 (t) dt.
j=0
j! (2j + 1) 0
189

Logo,
¯ ¯ ¯Z x ¯ ¯Z x ¯
¯ Xn
(−1)j x2j+1 ¯¯ ¯ ¯ ¯ ¯
¯ ¯ ¯ ¯
¯F (x) − ¯ = ¯ rn+1 (t) dt¯ ≤ ¯ |rn+1 (t)| dt¯¯ ≤
¯ j! (2j + 1) ¯ 0 0
j=0
¯Z ¯
¯ x |t|2n+2 ¯ |x|2n+3
¯ ¯
≤ ¯ dt¯ = =
¯ 0 (n + 1)! ¯ (n + 1)! (2n + 3)
n+1
|x| (x2 )
= → 0, ∀x ∈ R.
2n + 3 (n + 1)!

Portanto pode-se concluir que

X
+∞
(−1)n x2n+1
F (x) = , ∀x ∈ R.
n=0
n! (2n + 1)

Outros artifícios podem ser usados. Vejamos.

Exemplo 8.22 Para determinar a série de sen x2 , deve-se utilizar a série de sen x =
P
+∞ x2n−1
(−1)n−1 , em R. Assim, como x2 ∈ R, conclui-se que
n=1 (2n − 1)!

X
+∞
n−1 (x2 )
2n−1 X +∞
x4n−2
2
sen x = (−1) = (−1)n−1 .
n=1
(2n − 1)! n=1 (2n − 1)!

Ainda se quisermos saber f (18) (0) é só lembrarmos que o coeficiente de x18 na série de
f (18) (0)
Taylor é igual a . Assim, da série obtida temos que n = 5 nos fornece x18 e
18!
f (18) (0) 1 18!
portanto = ⇒ f (18) (0) = .
18! 9! 9!
Exemplo 8.23 A série de Taylor de f (x) = x ln (x − 1) , x > 1, em torno de a = 2
é obtida primeiramente utilizando a série de ln x em torno de a = 1, ou seja, ln x =
n
P
+∞
n−1 (x − 1)
(−1) em (0, 2]. Como (x − 1) ∈ (0, 2], desde que x ∈ (1, 3], temos que o
n=1 n
raio de convergência desta série é 1 e portanto

X
+∞
(x − 2)n
ln (x − 1) = (−1)n−1 .
n=1
n

Ainda x ln (x − 1) = (x − 2) ln (x − 1) + 2 ln (x − 1) . Mas

X
+∞
n−1 (x − 2)n+1
(x − 2) ln (x − 1) = (−1) ,
n=1
n
190 CAPÍTULO 8. SÉRIE DE TAYLOR

logo

x ln (x − 1) = (x − 2) ln (x − 1) + 2 ln (x − 1) =
X
+∞
n−1 (x − 2)
n+1 X
+∞
n−1 (x − 2)
n
= (−1) +2 (−1) =
n=1
n n=1
n
X
+∞
2−n
= 2 (x − 2) + (−1)n−2 (x − 2)n em (1, 3].
n=2
n (n − 1)

Se quisermos saber f (15) (2) ,basta verificar na série o coeficiente de (x − 2)15 . Assim,
f (15) (2) 13
= ⇒ f (15) (2) = (13)!13
15! (15) (14)

x+2
Exemplo 8.24 Para obter a série de Taylor de f (x) = em torno de a = 1,
x (x + 1)
primeiramente transforma-se esta função da seguinte forma:
x 2 1 2 1
= − = − =
x (x + 1) x x+1 1 − (1 − x) 2 − (1 − x)
1 1 1
= 2 − .
1 − (1 − x) 2 1 − (1 − x) /2

Agora utilizando-se a soma de uma PG infinita, segue que

1 X +∞ X +∞
= (1 − x)n = (−1)n (x − 1)n para |x − 1| < 1.
1 − (1 − x) n=0 n=0

Analogamente,

1 X+∞
n (x − 1)
n
= (−1) para |x − 1| < 2.
1 − (1 − x) /2 n=0 2n

Logo,
x X +∞
2n + 1
= (−1)n (x − 1)n em (0, 2) .
x (x + 1) n=0 2n
Em x = 0 e em x = 2 a série diverge pois seu termo geral não tende a 0.

Nota 8.25 Observe então que muitas séries de Taylor são obtidas a partir de séries já
conhecidas.
Exercício 1
Determine os raios e os domínios de convergência das seguintes séries
de potências:

a) ∑ n 2  n2x  3 n .
n0

−1 n
b) ∑ n x  1 2n .
5
n0

Solução:
a) Devemos reescrever a série na forma da série de potências, ou seja,
  n
∑ n  n2x  3 ∑ n 2  n2 n x  32 . Assim,
2 n

n0 n0
lim n |a n |  lim 2 n n  1  2. Assim, o raio de convergência da série
n n
n→ n→
é 1 . Do teste da raiz segue que a série converge absolutamente em
2
− 3 − 1 , − 3  1  −2, −1, já que x 0  −3 e diverge fora de −2, −1.
2 2 2 2 2
Assim resta analisar a convergência da série em x  −1 e x  −2.

Para x  −2, tem-se que a série é ∑ −1 n n 2  n que diverge já que seu
n0
termo geral não tende a 0.

Para x  −1, a série é ∑ n 2  n, que também diverge pelo mesmo motivo.
n0
Assim o domínio de convergência da série é −2, −1.
b) A série já está escrita na forma de série de potências,. Assim,
0, se n  2k − 1
an  −1 k , k ∈ ℕ. Portanto
se n  2k
5k
lim sup n |a n |  lim 1  1 . logo o raio de convergência da série é
n→ 2n 5 n 5
n→
5 . Portanto a série converge absolutamente em −1 − 5 , −1  5 e
diverge fora do intervalo −1 − 5 , −1  5 . Precisamos avaliar a
convergência da série nos pontos x  −1 − 5 e x  −1  5 .

Para x  −1 − 5 tem-se que a série é ∑ −1 n , que diverge pois seu termo
n0
geral não tende a 0.
Para x  −1  5 a série é igual a anterior e portanto diverge.
Logo o domínio de convergência da série é −1 − 5 , −1  5 .
Exercício 2

Se a série ∑ a n x − a n converge em a − r, a  r, para algum r  0. Mostre
n0
 
que as séries ∑ na n x − a n−1 e ∑ nn − 1a n x − a n−2 também convergem
n1 n2
absolutamente em a − r, a  r.
Solução: Seja x ∈ a − r, a  r  |x − a|  r então existe c ∈  tal que

|x − a|
|x − a|  |c − a|  r, ou seja, c ∈ a − r, a  r e  1. Ainda ∑ a n c − a n
|c − a|
n0
converge e portanto a sequência a n c − a n  é limitada, já que converge para 0.
Logo exsite K  0 tal que |a n c − a n | ≤ K, ∀n ∈ ℕ. Assim, para todo n ∈ ℕ
|x − a| n−1
|x − a| n−1
na n x − a n−1  |a n c − a n |n ≤ Kn .
|c − a| |c − a|

|x − a| n−1
Mas a série ∑ n converge, pois pelo teste da razão tem-se que
|c − a|
n1
|x − a| n
n  1
|c − a| 1 |x − a|  |x − a|  1.
lim  lim n 
n
n→ |x − a| n−1 n→ |c − a| |c − a|
n
|c − a|

Logo, pelo critério da comparação tem-se que ∑ na n x − a n−1 converge
n1
absolutamente em a − r, a  r.
Analogamente
|x − a| n−2
|x − a| n−2
nn − 1a n x − a n−2  |a n c − a n |nn − 1 ≤ Knn − 1 .
|c − a| |c − a|
Ainda aplicando novamente o teste da razão, prova-se que a série

|x − a| n−2
∑ nn − 1 converge e portanto pelo critério da comparação conclui-se
|c − a|
n2

que a série ∑ nn − 1a n x − a n−2 converge absolutamente em a − r, a  r.
n2
Exercício 3
Determine o domínio de convergência e a soma da série

∑ x 4n−3 .
4n − 3
n1

Solução: Da definição da série temos que


1 ; se n  4k − 3
an  n , k ∈ ℕ.
0; caso contrário
Portanto, lim sup n a n  1, logo o raio de convergência da série é 1. Para
n→
determinar o domínio de convergência, precisamos avaliar a convergência da série
nos pontos extremos do intervalo.

Para x  1, a série se torna ∑ n1 1 e como 1  1 e a série
4n − 3 4n − 3 4n
 1  1
∑ n1 n diverge, portanto a série ∑ n1 4n também diverge, segue do critério da

comparação que a série ∑ n1 1 diverge.
4n − 3
 −1 4n−3 
Para x  −1, temos a série ∑ n1  − ∑ n1 1 e portanto também
4n − 3 4n − 3
diverge.
Assim o domínio de convergência da série é o intervalo −1, 1.
n
Considere S n t ∑ t 4j−1  1  t 4    t 4n−1  1 − t 4 . Logo, para cada
4n

j1
1−t
  1 − t 4 dt.
x 5 4n−3 x 4n
x ∈ −1, 1 temos que s n x   S n tdt  x  x    x
0 5 4n − 3 0 1−t

Mas, 1  1  1 1  1 1  1 1 , logo,
1 − t4 1 − t1  t1  t 2  4 1 − t 4 1  t 2 1  t 2 
 0 dt 4  −1 ln1 − x  1 ln1  x  1 arctg x, para cada x ∈ −1, 1. Ainda
x

1−t 4 4 2
0
x t 4n dt
≤x  4n x dt x 4n −1 n→
ln1 − x  1 ln1  x  1 arctg x → 0, pois
1−t 4 0 1−t 4 4 4 2
|x|  1. Assim, s n x →
n→ 1
ln 1  x 1
 arctg x, para cada x ∈ −1, 1. Ou seja,
4 1−x 2

∑ x 4n−3  1 ln 1  x  1 arctg x, x ∈ −1, 1.
4n − 3 4 1−x 2
n1

Exercício 4
Sejam f, g : I →  e a ∈I. Suponhamos que f, g são analíticas em a e tais
que fa  ga e f n a  g n a, ∀n ∈ ℕ. Mostre que existe r  0 tal que
fx  gx, ∀x ∈ a − r, a  r ⊂ I.
Solução: Como f é analítica em a então existe r 1  0 tal que
f ∈ C  a − r 1 , a  r 1  e

f n a
fx ∑ x − a n , ∀x ∈ a − r 1 , a  r 1 .
n!
n0

Como g é analítica em a então existe r 2  0 tal que g ∈ C  a − r 2 , a  r 2  e



g n a
gx ∑ x − a n , ∀x ∈ a − r 2 , a  r 2 .
n!
n0

Como fa  ga e f n


a  g n a, ∀n ∈ ℕ, tem-se que as sequências das somas
n
f j a n
g j a
parciais ∑ x − a e ∑
j
x − a j são iguais e portanto para
j0
j! j0
j!
cada x que uma converge a outra também converge e para o mesmo limite, ou
seja, r 1  r 2  r  0 e
 
f n a g n a
∑ n!
x − a n ∑
n!
x − a n , ∀x ∈ a − r, a  r.
n0 n0

Portanto e fx  gx, ∀x ∈ a − r, a  r.


Exercício 5
5
Seja f :  → ; fx  x . Determine as derivadas de ordem 2010 e 2015
1  x6
de f no ponto x  0.

Solução: Como 1 ∑ x n , em −1, 1 então
1−x
n0

1  1 ∑ −1 n x 6n , ∀x ∈ −1, 1, pois então −x 6 ∈ −1, 0 ⊂ −1, 1.
1  x6 1 − −x 6  n0
Logo,

x 5 ∑ −1 n x 6n5 , ∀x ∈ −1, 1.
1  x6
n0
f 2010
0 f 20150
Logo e são os coeficientes de x 2010 e x 2015 , respectivamente na
2010! 2015!
série acima. Mas 2010  6n  5  6n  2005, mas 2005 não é múltiplo de 6,
portanto f 2010 0  0. Ainda 2015  6n  5  6n  2010  n  335, ou seja,
f 2015 0  −2015!.
Exercício 6
Determine a série de Taylor de fx  cos 2 x em torno de x 0   , seu
4
domínio de convergência e f 9  .
4
Solução: Temos que cos 2 x  1  cos 2x  1  1 cos 2x. Ainda
2 2 2
cos 2x  − sen 2 x −  . Como
4


∑−1 n 2nx  1! , x ∈ ,


2n1
sen x 
n0

então como 2 x −  ∈ , segue que


4
 2n1
x − /4 2n1
sen 2 x −   ∑−1 n 2 , x ∈ .
4
n0
2n  1!
Portanto

2 2n x − /4 2n1
cos x  1  ∑−1 n1
2
, x ∈ .
2
n0
2n  1!

f 9 
 − 2  f 9 
8
Logo, 4  −2 8 .
9! 9! 4
191

8.0.7 Lista de exercícios


Exercício 8.26 Determine o raio de convergência das série abaixo e o seu domínio de
convergência:

P n2
+∞
a) (3x + 1)2n .
n=0 4n
µ ¶n2
P
+∞ n+1
b) (x + 2)2n .
n=1 n
P
+∞ x2n+1
c) (−1)n .
n=0 5n
P (x
+∞ − 3)n
d) √ .
n=0 n
P
+∞ xn
e) (−1)n .
n=0 nn
µ ¶ 4n2 +n)/(n+1)
P
+∞ 1 (
f) 2 cos (x − π)n .
n=0 n

Exercício 8.27 Determine a série de Taylor das funções abaixo em torno de a = 0, seu
intervalo de convergência e se converge para f, neste intervalo, concluindo se f é ou não
analítica em a = 0. Justifique.

a) f (x) = sen x3 .

b) f (x) = cos2 x.
1
c) f (x) = .
1−x
( sen x
; x 6= 0
d) f (x) = x .
1; x=0

e) f (x) = ex .

f) f (x) = cos x.

g) f (x) = ln(1 + x).

h) f (x) = cos x5 .
3
Exercício 8.28 Determine a série de Taylor de f (x) = ex em torno de a = 0 e o seu
intervalo de convergência para f. Determine ainda f (507) (0).
192 CAPÍTULO 8. SÉRIE DE TAYLOR

1
Exercício 8.29 Considere f (x) = , x 6= 0. Determine a série de Taylor de f em torno
x
de x = 1 e o seu intervalo de convergência. Determine ainda f (23) (1).

Exercício 8.30 Considere f (x) = x, x ≥ 0. Determine a série de Taylor de f em
torno de x = 1 e o seu raio de convergência.

Exercício 8.31 Considere f (x) = x3 ex . Determine (f )(5) (0) e (f )(9) (0) .


2

Exercício 8.32 Determine as séries de Taylor das funções abaixo, em torno de x0 = 0,


mostrando sua convergência para f em R:

a) sen2 x.
Rx 2
b) 0 e−t dt.
Rx
c) 0 cos t2 dt.
1
d) .
(x − 1)2
x
e) .
(x − 1) (x2 − 1)
x2
f) .
1 + x − 2x2
Capítulo 9
Integrais Impróprias

O intervalo de integração da integral de Riemann é por definição um intervalo fechado


e limitado [a, b] e f deve ser limitada neste intervalo [a, b]. O objetivo deste capítulo é
estender este conceito quando o intervalo de integração é ilimitado, ou seja, da forma
[a, +∞) ou (−∞, a] ou ainda (−∞, +∞) , ou quando o intervalo é limitado, mas a função
não é limitada neste intervalo ou quando as duas coisas acontecem. Estes tipos de integrais
são denominados integrais impróprias e dependendo do caso dizemos que é de primeira
espécie ou de segunda espécie ou ainda de terceira espécie, como veremos a seguir.

9.1 Integrais impróprias de 1a espécie


A integral imprópria de 1a espécie é aquela em que a função é integrável em qualquer
intervalo fechado e limitado e queremos saber quanto vale a integral quando consideramos
um intervalo ilimitado. Vejamos a definição.

RDefinição 9.1 Seja f : [a, +∞) → R, tal que f é integrável em [a, b] , ∀b > a. A integral
+∞
f (x) dx é denominada integral imprópria de primeira espécie de f. Dizemos
a Rb
que a integral imprópria converge quando existe o limite lim a f (x)dx e neste caso,
b→+∞
escrevemos: Z Z
+∞ b
f (x) dx = lim f (x)dx.
a b→+∞ a
Caso contrário, dizemos que a integral imprópria diverge.

Define-se analogamente a integral imprópria no intervalo (−∞, a].(Faça-o).


R +∞
Exemplo 9.2 Verifique para que valores de n ∈ Z, a integral 1 xn dx converge. Ob-
Rb bn+1 − 1
serve que, se n ≥ 0 tem-se que 1 xn dx = → +∞, quando b → +∞, portanto tal
n+1
Rb 1
integral diverge para n ≥ 0. Ainda, se n = −1, tem-se que 1 dx = ln b → +∞, quando
x
R b dx 1 1
b → +∞. Logo também tal integral diverge. No entanto 1 n = − →
x n − 1 (n − 1) bn−1

193
194 CAPÍTULO 9. INTEGRAIS IMPRÓPRIAS

1 R +∞
, quando b → +∞, ∀n < −1. Logo segue que a integral imprópria 1 xn dx con-
n−1
verge, quando n < −1 e diverge quando n ≥ −1, n ∈ Z.

1 1
Gráfico: , em vermelho, 2 em azul e x2 em marrom.
x x

1 1
Nota 9.3 Observe que apesar da diferença tão pequena entre os gráficos de e de 2 ,
x x
uma integral imprópria diverge e a outra converge.

R1 dx R 1 dx π
Exemplo 9.4 A integral −∞
converge, pois ∀a < 1, a 2 = − arctg a →
x2+1 x +1 4

, quando a → −∞.
4

Finalmente pode-se ter uma integral imprópria quando ambos os extremos são infini-
R +∞
tos, ou seja, −∞ f (x)dx. Vejamos a definição.

Definição 9.5 Seja f : R → R tal que


R +∞f é integrável em [a, b] , ∀a, b ∈ R com a < b.
Dizemos que a integral imprópria −∞ f (x) dx converge quando existem os limites
R0 Rb
lim a f (x)dx e lim 0 f (x)dx. Neste caso escrevemos
a→−∞ b→+∞

Z +∞ Z 0 Z b
f (x)dx = lim f (x)dx + lim f (x)dx.
−∞ a→−∞ a b→+∞ 0

Caso contrário, ou seja, se algum destes limites não existe, dizemos que a integral
diverge.
R +∞ Rb
Exemplo 9.6 A integral imprópria −∞
xdx diverge, pois não existe lim xdx.
b→+∞ 0
9.1. INTEGRAIS IMPRÓPRIAS DE 1A ESPÉCIE 195

Observe que apesar de no ∙exemplo ¸acima a integral imprópria divergir, existe o seguinte
Rb b2 b2
limite lim −b xdx = lim − = 0. Este limite tem um nome especial e em geral
b→+∞ b→+∞ 2 2
é usado nas aplicações.

Definição 9.7 Seja f : R → R tal que f é integrável em [−b, b] , ∀b ∈ R, b > 0. Então


definimos o valor principal de Cauchy por
Z +∞ Z b
VP f (x)dx = lim f (x)dx,
−∞ b→+∞ −b

caso tal limite exista.

Nota 9.8 É fácil provar que quando a integral imprópria converge, o valor principal de
Cauchy existe e é igual ao valor da integral. No entanto como vimos através do exemplo
anterior, o valor principal de Cauchy pode existir, sem que a integral imprópria convirja.

Algumas vezes não é fácil, nem mesmo possível calcular o valor das integrais im-
próprias, geralmente porque uma primitiva da função integranda não pode ser expressa
por funções elementares. Assim, só é possível determinar o seu valor aproximado através
de métodos numéricos. No entanto você deve saber se a integral converge ou não para
em seguida aplicar tais métodos. Daremos a seguir alguns critérios de convergência de
integrais impróprias, assim como o fizemos em séries.
Apresentaremos os critério de convergência supondo que os intervalos de integração
são da forma [a, +∞). Quando o intervalo for da forma (−∞, a], basta fazer a mudança
de variável x = −y e voltamos ao caso [−a, +∞).

Teorema 9.9 (Critério da comparação): Sejam f, g : [a, +∞) → R, integráveis em [a, b] ,


∀b > a, com 0 ≤ f (x) ≤ g(x), ∀x ∈ [a,R+∞). Então:
R +∞ +∞
a) Se a g(x)dx converge então a f (x)dx também converge.
R +∞ R +∞
b) Se a f (x)dx diverge então a g(x)dx também diverge.

Prova. Demonstraremos apenas o ítem (a), pois o ítem (b) é cpnsequência imediata
do ítem (a). R
+∞
(a) Como a g(x)dx converge
¯R então por
¯ definição, considerando ε = 1, existe K > a
¯ b ¯ R +∞ Rb
tal que ∀b ≥ K tem-se que ¯ a g(x)dx − L¯ < ε, onde L = a g(x)dx = lim a g(x)dx.
b→+∞
Rb
Portanto, tem-se que 0 ≤ a g(x)dx < L + 1 = M, ∀b ∈ [K, +∞). Ainda como f e
gR são integráveis emR [a, b] , ∀b > a, pode-se definir F, G : [a, +∞) → R por F (x) =
x x
a
f (t)dt e G(x) = a g(t)dt, que são ambas crescentes, já que f e g são funções não
negativas(verifique!). Ainda da hipótese segue que F (x) ≤ G(x), ∀x ∈ [a, +∞) e portanto
F (x) < L + 1, ∀x ∈ [K, +∞) para algum K > a. Assim, segue de exercício já visto de
Rb R +∞
limite que existe lim F (b) = lim a f (x)dx e portanto a f (x)dx converge.
b→+∞ b→+∞
196 CAPÍTULO 9. INTEGRAIS IMPRÓPRIAS

R +∞ dx
Exemplo 9.10 A integral 0 converge pois ∀x ≥ 1 tem-se que x4 ≥ x2 > 0 ⇒
1 + x4
1 1 R +∞ dx π R +∞ dx
0< ≤ e 1
= e portanto converge, logo 1
converge.
1 + x4 1 + x2 1 + x2 4 1 + x4
R 1 dx R +∞ dx
Ainda, como 0 é uma integral própria, segue que 0
converge.
1 + x4 1 + x4
¤

Teorema 9.11 (Critério do quociente): Sejam f, g : [a, +∞) → R, integráveis em [a, b] ,


∀b > a, com 0 ≤ f (x) e g(x) > 0, ∀x ∈ [a, +∞). Então:
f (x) R +∞ R +∞
a) Se existe lim = L > 0 tem-se que a g(x)dx converge ⇔ a f (x)dx
x→+∞ g(x)
também converge.
f (x) R +∞ R +∞
b) Se lim = 0 e a g(x)dx converge então a f (x)dx também converge.
x→+∞ g(x)
f (x) R +∞ R +∞
c) Se lim = +∞ e a g(x)dx diverge então a f (x)dx também diverge.
x→+∞ g(x)

A demonstração deste teorema será deixada como exercício, pois basta usar a definição
de limite e o critério de comparação demonstrado acima.
x2
R +∞ x 2 4 2
2x4 + 3 = lim x + x =
Exemplo 9.12 A integral 0 dx converge pois lim
2x4 + 3 x→+∞ 1 x→+∞ 2x4 + 3
2
x +1
1 R +∞ dx
e 0 converge.
2 x2 + 1
Teorema 9.13 (Critério da série): Seja f : [a, +∞) → R tal que f é decrescente em
R +∞ P
+∞
[a, +∞) e f (x) ≥ 0, ∀x ∈ [a, +∞). Então a f (x)dx converge ⇔ f (n) converge,
n=n0
onde n0 ∈ N é tal que n0 ≥ a.
Rn
Prova. Observe que a 0 f (x)dx é uma integral própria, que existe pois f é monótona,
R +∞
limitada e portanto integrável. Assim, basta trabalharmos com n0 f (x)dx.
R +∞ P R j+1
+∞
Observe que n0 f (x)dx = j
f (x)dx. Assim segue do exercício resolvido 2,deste
j=n0
R +∞ P
+∞ R j+1
parágrafo que a integral n0
f (x)dx converge se e somente se a série j
f (x)dx con-
j=n0
P
+∞ R j+1 P
+∞
verge. Vamos mostrar então que a série j
f (x)dx converge se e somente se f (n)
j=n0 n=n0
R j+1
converge. Mas como f é decrescente segue que f (j + 1) ≤ j f (x)dx ≤ f (j), ∀j ≥ n0 ,
o que nos leva ao resultado pelo critério de comparação para séries. ¤
9.1. INTEGRAIS IMPRÓPRIAS DE 1A ESPÉCIE 197
R +∞
Nota 9.14 Observe que para concluirmos que a integral imprópria n0 f (x)dx converge
P R j+1
+∞
se e somente se a série j
f (x)dx converge, basta que f seja integrável em [a, b] ,
j=n0
∀b > a e f (x) ≥ 0, para todo x ∈ [n0 , +∞).
R +∞
Exemplo 9.15 A integral 2−x dx converge pois f (x) = 2−x é estritamente decres-
0
P 1
+∞
cente com f (x) > 0, ∀x ≥ 0 e a série n
converge pois corresponde a uma P.G de
n=2 2
1
razão < 1.
2
Observe que todos os critérios acima são para funções não negativas. E quando isso
não acontecer? Uma saída é trabalhar com o módulo de f. Para isso vamos provar que
se a integral imprópria do módulo de uma função converge, então a integral imprópria da
função também converge. Vejamos.

RDefinição 9.16 Seja f : [a, +∞) → R integrável


R +∞ em [a, b] , ∀b > a. dizemos que a integral
+∞
a
f (x)dx converge absolutamente quando a
|f (x)| dx converge.
R +∞
Teorema 9.17 Seja f : [a, +∞) → R integrável em [a, b] , ∀b > a. Se a integral a
f (x)dx
converge absolutamente então esta converge.

Prova.
R +∞ Sabe-se que 0 ≤ |f (x)| + f (x) ≤ 2 |f (x)| , ∀x ≥ a. Assim, como a inte-
gral |f (x)| dx converge por hipótese, segue das propriedades de limite que a integral
R +∞ a
2 |f (x)| dx também converge e portanto, segue do critério de comparação que a in-
a R +∞
tegral a (f (x) + |f (x)|) dx converge. Como f (x) = (f (x) + |f (x)|) − |f (x)|, segue das
R +∞
propriedades de integral e de limite que a f (x)dx converge. ¤

Nota 9.18 Quando a integral de uma função f converge, mas a integral de seu módulo
não converge, dizemos que a integral converge condicionalmente.
¯ ¯
R +∞ cos x ¯ cos x ¯
Exemplo 9.19 A integral 0 ¯
dx converge absolutamente, pois ¯ 2 ¯≤ 1
2
x +1 x + 1 ¯ x2 + 1
R +∞ dx
e a integral 0 converge. Portanto o resultado segue do critério de comparação.
x2 + 1
R +∞ sen x R +∞ sen x
Exemplo 9.20 A integral 0 dx converge condicionalmente, pois 0 dx =
R 2π sen x R +∞ sen x x x
0
dx+ 2π dx. A primeira integral é própria(justifique), portanto vamos ape-
x x
nas verificar a convergência da segunda integral. Fazendo integração por partes obtemos:
Z b Z b
sen x 1 cos b cos x
dx = − − 2
dx.
2π x 2π b 2π x
198 CAPÍTULO 9. INTEGRAIS IMPRÓPRIAS

R +∞ cos x cos b
Observe que 2π 2
dx converge absolutamente e lim = 0. Portanto pode-se con-
x b→+∞ b
R +∞ sen x R +∞ ¯¯ sen x ¯¯
cluir que 0 dx converge. Vamos verificar agora que 0 ¯ ¯ dx diverge. De
x x
¯ sen x ¯ R +∞ ¯¯ sen x ¯¯ P R (n+1)π ¯¯ sen x ¯¯
+∞
¯ ¯
fato, como ¯ ¯ ≥ 0, para todo x,então tem-se que 0 ¯ ¯ dx ⇔ nπ ¯ ¯ dx
x ¯ ¯ x n=0 x
R (n+1)π ¯¯ sen x ¯¯ R π ¯ sen (y + nπ) ¯ R R
converge. Mas, nπ ¯ ¯ dx = 0 ¯¯ ¯ dy = π sen y dy ≥ π sen y dy =
x y + nπ ¯ 0
y + nπ 0
(n + 1) π
2 P
+∞ 2
. Assim, como diverge, segue do critério de comparação para séries
(n + 1) π n=0 (n + 1) π
P R (n+1)π ¯¯ sen x ¯¯
+∞ R +∞ ¯¯ sen x ¯¯
que nπ ¯ ¯ dx diverge e portanto a integral 0 ¯ ¯ dx também diverge.
n=0 x x
Isto prova que a integral é condicionalmente convergente.

Nota 9.21 Existem critérios de convergência condicional de integrais impróprias, mas


para o propósito deste curso, daremos apenas um deles.

Teorema 9.22 Sejam f, g ∈ C 1 [a, +∞), f decrescente com lim f (x) = 0 e g limitada
x→+∞
R +∞
em [a, +∞). Então a f (x)g 0 (x)dx converge.

Prova. Fazendo integração por partes na integral definida obtemos


Z b Z b
0
f (x)g (x)dx = f (b)g(b) − f (a)g(a) − f 0 (x)g(x)dx.
a a

Como lim f (x) = 0 e g é limitada em [a, +∞), segue que lim f (b)g(b) = 0. Ainda como
x→+∞ b→+∞
f é decrescente e g é limitada, segue que f 0 (x) ≤ 0 e |g(x)| ≤ M, para algum M > 0, ∀x ≥
Rb
a. Assim, |f 0 (x)g(x)| ≤ M |f 0 (x)| = −Mf 0 (x) e como a −Mf 0 (x)dx = M [f (a) − f (b)] →
Rb
Mf (a), quando b → +∞, segue do critério de comparação que a f 0 (x)g(x)dx converge
R +∞
absolutamente e portanto a f (x)g 0 (x)dx converge. ¤

R +∞ cos x 1
Exemplo 9.23 A integral π
dx converge pois se tomarmos f (x) = e g (x) =
ln x ln x
sen x, temos que f, g ∈ C 1 ([π, +∞)) , f é decrescente, lim f (x) = 0 e g é limitada, assim
x→+∞
do teorema acima a convergência da integral.
Exercício 1

Analise a convergência da série ∑ arctg 1
n .
n1
Solução: Para analisar esta convergência usaremos o critério de integral. A
função fx  arctg 1x é decrescente e arctg 1x  0, ∀x ≥ 1. Assim, a série

converge se e só se a integral  arctg 1x dx converge. Usando integração por
1
partes, segue que
b b
 1 arctg 1 dx  b arctg 1
x b
−  
4 1 1x
x dx.
2

arctg 1 b2 − 12
Como lim b arctg 1  lim b  lim 1  b 2
b  1e
b→ b b→ 1/b b→ − 21
b
b
lim  x
1 1  x2
dx  lim 1 ln1  b  − ln 2  . Assim, a integral diverge e
2
b→ b→ 2
portanto a série diverge.
Exercício 2
Seja f : a,  →  integrável em a, b, ∀b  a e fx ≥ 0, ∀x ∈ a, .

 n1
a) Mostre que  fxdx converge  ∑  fxdx converge, n 0 ≥ a.
a n
nn 0

 n1
b) Dê um exemplo de f tal que  fxdx diverge mas ∑  fxdx, n 0 ≥ a
a n
nn 0
converge.
  n0
Solução: a)   fxdx converge   fxdx converge, pois  fxdx é uma
a n0 a
b
integral definida. Considere então Fb   fxdx, ∀b  n 0 . Por hipótese existe
n0
lim Fb  L então do teorema de caracterização de limite por sequências, segue
b→
n−1
n j1
que existe lim Fn  L. Mas Fn   fxdx  ∑  fxdx  s n−1 , que é a
n→ n0 j
jn 0
sequência das somas parciais da série. Assim, s n−1  converge, ou seja,

n1
∑  n fxdx converge.
nn 0
Observe que este lado do resultado vale sempre, mesmo que f não seja não
negativa.
 Usando as definições feitas acima temos por hipótese que a sequência
Fn converge e portanto é limitada, logo existe K  0 tal que |Fn| ≤ K,
∀n ≥ n 0 . Como fx ≥ 0, ∀x ∈ a,  então tem-se que F é crescente, pois se
c b c c
c  b então Fc   fxdx   fxdx   fxdx  Fb   fxdx ≥ Fb, já que
n0 n0 b b
c
 b fxdx ≥ 0, pois fx ≥ 0. Ainda para cada x ∈ n 0 ,  existe n ∈ ℕ tal que
n  x ≥ n 0 então Fx ≤ Fn ≤ K. Portanto F é crescente e limitada superiormente
 
em n 0 ,   existe lim Fb, ou seja a integral  fxdx converge, logo  fxdx
n0 a
b→
converge.
b) É claro que neste exemplo f não pode ser não negativa. Seja fx  sen 2x,
 b
x ∈ . Então  fxdx diverge, pois lim  fxdx  lim − cos 2b  1 , que
0
b→
0
b→ 2 2
n1 cos 2n  1
não existe (verifique!). No entanto  fxdx  −  cos 2n  0,
n 2 2

n1
∀n ∈ ℕ e portanto a série ∑  fxdx é a série identicamente nula, logo
n
nn 0
convergente.
Exercício 3
|fx  1|
Seja f : a,  →  integrável em a, b ∀b  a. Se lim  l  1,
x→ |fx|

mostre que  fxdx é absolutamente convergente. Usando este resultado
a

mostre que  dxx converge.
1 x 
 n1
Solução: Do exercício anterior temos que  |fx|dx converge  ∑  |fx|dx
a n
nn 0
converge, onde n 0 ≥ a. Ainda, como l  1, então existe s ∈  tal que l  s  1.
|fx  1|
Tomando   s − l e como lim  l, existe K  0 tal que ∀x  K,
x→ |fx|
|fx  1|
− l    |fx  1|  s|fx|. Logo, |fx  2|  s|fx  1|  s 2 |fx|, ou
|fx|
seja, |fx  n|  s n |fx|, ∀x  K, ∀n ∈ ℕ. Portanto, tomando n ≥ maxn 0 , K, temos
que
n1 1 1 1
0≤ n |fx|dx   0 |fy  n|dy   0 |fy|s n dy  s n  0 |fy|dy.

Assim, como ∑ s n converge, já que 0  s  1, segue pelo critério de comparação
nn 0

n1 
que ∑  |fx|dx converge e portanto  |fx|dx converge.
n a
nn 0
Assim, como
1/x  1 x1 x x
1  lim 1 1  1 0  0  1 então
lim  lim
x→ 1/x x
x→ x  1 x  1 x→ 1  1/x x x  1 e
 dx
segue que  converge.
1 xx
Exercício 4
Estude a convergência das integrais abaixo:
 0
a)  e −x sen dx b  e −x cos xdx
2

0 −
 0 x3
c)  1 dx d  dx
−
1
x 1  x2 1  x 2  2
Solução:

a) |e −x sen x| ≤ e −x , para todo x ∈  e  e −x dxconverge, como já foi visto em
0

aula. Logo  e −x sen dxconverge absolutamente.
0

b) Primeiramente, fazendo a mudança de variável x  −y, temos que


0 0  1 
 e −x 2 cos xdx   e −y 2 cos y−dy   e −y 2 cos ydy   e −y 2 cos ydy   e −y 2 cos
−  0 0 1
A primeira integral é uma integral definida. Na segunda integral usamos
que x ≤ x 2 , para todo x ≥ 1 e portanto
e −x cos x ≤ e −x ≤ e −x , para todo x ≥ 1,
2 2

 0
e como  e −x dxconverge, segue que  e −x cos xdx converge
2

1 −
absolutamente.
c) Como a função integrando é positiva neste intervalo, podemos aplicar o
critério do quociente com a função gx  12 . Assim,
x
1
x 1  x2 x2 1
lim  x→
lim  x→
lim  1.
x→ 1 x 2
1/x 2
  1 1/x 2
  1
x2

Logo ambas as integrais têm a mesma natureza e como  dx2 converge,
1 x

temos que  1 dx converge.
1
x 1  x2
d) Novamente fazendo a mudança de variável x  −y, obtemos que
0 x3  y3 1 y3  y3
 − dx  −  dy  −  dy   dy .
1  x 2  2 0
1  y 2  2 0
1  y 2  2 1
1  y 2  2
y3
Como 2
≥ 0, para todo y ∈ 1, , podemos aplicar o critério do
1  y 2 
 y3
quociente à integral  dy, já que a primeira integral é uma
1
1  y 2  2
integral definida. Assim, como
y3
1  y 2  2 y4 1
lim  lim  y→
lim  1,
1 2 2 2 2
y→
y
y→ 4
y 1  1/y  1  1/y 

dy  y3
e y diverge, segue que  dy diverge e portanto a integral
1 1
1  y 2  2
diverge.
Exercício 5
Seja f : a,  → ; fx ≥ 0, para todo x ∈ a,  tal que f é integrável em

a, b para todo b  a. Então a integral  fxdx converge se e somente se
a
b
existe K  0 tal que  fxdx ≤ K, para todo K  0.
a

Solução:  Como a integral converge, então seu valor é


b
L  lim  fxdx ≥ 0, pois fx ≥ 0, ∀x ∈ a, . Portanto da definição de limite,
a
b→
b
segue que dado   1  0, existe b 0  a tal que  fxdx − L  1, para todo
a
b
b ≥ b 0 . Portanto  fxdx  L  1, para todo b ≥ b 0 . Se a  b ≤ b 0 , como fx ≥ 0,
a
b0 b b0 b
∀x ∈ a, , segue que  fxdx   fxdx   fxdx ≥  fxdx e como
a a b a
b b
 a 0 fxdx  L  1, segue que  a fxdx  L  1, para todo b  a.
x
 Definindo F : a,  →  por Fx   a ftdt, segue do fato de fx ≥ 0,
∀x ∈ a, , que F é crescente e como por hipótese F é limitada superiormente,

segue de exercício já provado que existe lim Fx, ou seja a integral  fxdx
x→ a
converge.

Exercício 6 
Mostre que a integral  sen xdx diverge enquanto que  senx 2 dx
0 0
converge. Observe que a segunda integral converge e o seu termo geral não
tende a 0.
b
Solução: Considere Fb   sen xdx. Se provarmos que existe uma sequência
0
x n  tal que x n →  e Fx n  diverge, então pela caracterização de limite por
sequência, segue que não existe lim Fb, ou seja a integtral diverge. Considere
b→
n
x n  n, logo Fx n    sen xdx  − cosn  1  1 − −1 n . Portanto
0

0; se n  2k
Fx n   , k ∈ ℕ e portanto tal sequência diverge, logo a
2; se n  2k − 1
integral diverge.
 1 
Temos que  senx 2 dx   senx 2 dx   senx 2 dx. A primeira integral é
0 0 1
uma integral definida e portanto basta mostrarmos que a segunda integral
converge. Para isso façamos a seguinte mudança de variável x  u , que é
bijetora de 1,  em 1, , derivável neste intervalo e com derivada não nula
  senu
em cada ponto deste intervalo. Assim,  senx 2 dx   du e como
1 1 2 u
gu  − cos u é limitada e fu  1 é decrescente e fu → 0, quando u → ,
2 u
 senu 
então segue que  du converge e portanto  senx 2 dx também
1 2 u 1

converge.
9.1. INTEGRAIS IMPRÓPRIAS DE 1A ESPÉCIE 199

9.1.1 Lista de exercícios


Exercício 9.24 Calcular, quando existirem as seguintes integrais impróprias abaixo:
R +∞ √
a) 1
xdx.
R +∞ dx
b) 1
√ .
x x2 − 1
R +∞
c) 0
x e−x dx.
R +∞ dx
d) 0
.
ex + e−x
R +∞ dx
e) −∞
.
x2 +x+1
Exercício 9.25 Analise a convergência das integrais impróprias abaixo:
R +∞ 1
a) 1
dx para p > 0.
xp
R +∞
b) 0
e−x dx.
R +∞
c) 1
(1 − x) e−x dx.

d) −∞
cos xdx.

R +∞ dx
e) 0
.
1 + ex

R +∞ dx
f) 2
.
ln x

R +∞ x
g) 1/2
√ dx.
4
x +x+1

R −1 ex
h) −∞
dx.
x

R +∞ x3 + x2
i) −∞ x6 + 1
dx.

R +∞ 2
j) 0
ex dx.
200 CAPÍTULO 9. INTEGRAIS IMPRÓPRIAS

R +∞ x
l) 1
dx.
xx
R +∞ cos x
m) 0
dx.
x4 + 1
R +∞ sen x
n) 1
dx, p > 0.
xp
R +∞
o) 1
sen x2 dx.

Exercício 9.26 Seja f : [a, +∞) → R derivável em todo seu domínio e tal que f 0 (x) ≤ 0,
∀x ∈ [a, +∞). Suponha ainda que lim f (x) = 0. Prove que
x→+∞

R +∞
a) a
f (x) sen (ax + b) dx converge.
R +∞
b) a
f (x) e−x dx converge.

Exercício 9.27 Seja f : [a, +∞) → R contínua em [a, +∞).


R +∞
a) Suponha que lim |f (x)|1/x = L < 1 então, prove que a f (x) dx converge absolu-
x→+∞
tamente.
R +∞ 1 R +∞ dx
b) Usando o ítem (a) mostre que as integrais 1 dx e convergem.
xx 2 (ln x)x
9.2. INTEGRAIS IMPRÓPRIAS DE 2A ESPÉCIE 201

9.2 Integrais Impróprias de 2a espécie


Veremos nesta seção as integrais que são impróprias devido a não limitação da função inte-
granda no intervalo considerado. Deixaremos a maioria das demonstrações dos resultados
como exercício para os alunos, por serem muito semelhantes aos da seção anterior.
Definição 9.28 Seja f : [a, b) → R, não limitada em [a, b) e integrável em [a, c] , ∀c ∈
Rb Rc
[a, b). Dizemos que a integral imprópria a f (x)dx converge quando exste lim− a f (x)dx.
c→b
Neste caso tem-se que: Z Z
b c
f (x)dx = lim− f (x)dx.
a c→b a
Caso contrário dizemos que a integral diverge.
R 0 dx
Exemplo 9.29 A integral imprópria −1 √ 3
converge pois
x2
Z c
dx £ √ 3

3
¤
lim− √3
= lim 3 c − 3 −1 =3
c→0 −1 x2 c→0−
R 0 dx
e portanto −1 √3
= 3.
x2
R1 dx
Exemplo 9.30 A integral imprópria 0 √ converge pois
1 − x2
Z c
dx π
lim− √ = lim− [arcsen c − arcsen 0] = .
c→1 0 1−x 2 c→1 2
R 1 dx
Exemplo 9.31 A integral 0 diverge pois
1−x
Z c
dx
lim− = lim− [− ln (1 − c) + ln 1] = +∞.
c→1 0 1−x c→1

1 1
Em azul o gráfico de √ e em marrom o de
1 − x2 1−x
202 CAPÍTULO 9. INTEGRAIS IMPRÓPRIAS

Nota 9.32 Observe como a área abaixo da curva, limitada pelo eixo Ox, em cada in-
1 1
tervalo [0, b] de √ é bem menor que a de , na medida que b se aproxima de
1−x2 1−x
1.

Definição 9.33 Seja f : (a, b] → R, não limitada em (a, b] e integrável em [c, b] , ∀c ∈


Rb
(a, b]. A integral a f (x)dx é denominada integral imprópria de 2a espécie. Dizemos
Rb Rb
que a integral imprópria a f (x)dx converge quando exste lim+ c f (x)dx. Neste caso
c→a
tem-se que:
Z b Z b
f (x)dx = lim+ f (x)dx.
a c→a c

Caso contrário dizemos que a integral diverge.

R 4 dx R 4 dx £ √ √ ¤
Exemplo 9.34 A integral imprópria 0
√ converge pois lim c
√ = lim 2 4−2 c =
x c→0 + x c→0 +

R 4 dx
4 e portanto 0
√ = 4.
x

R 4 dx R 4 dx
Exemplo 9.35 A integral imprópria 0 x
diverge pois lim+ c = lim+ [ln 4 − ln c] =
c→0 x c→0
+∞.

1 1
Em verde o gráfico de √ e em rosa o de
x x

Nota 9.36 Observe que é fácil perceber através dos gráficos que a área abaixo das curvas
1 1
de √ é bem menor que a de e a primeira integral imprópria converge, enquanto que
x x
a segunda diverge.
R1
Exemplo 9.37 Analisemos para que valores de α ∈ R a integral 0 xα dx converge. Se
α ≥ 0, a integral é uma integral definida pois a função integranda é contínua. Se −1 <
9.2. INTEGRAIS IMPRÓPRIAS DE 2A ESPÉCIE 203
∙¸
R1 α 1 aα+1 1
α < 0, então lim+ a x dx = lim+ − = , pois α + 1 > 0 e portanto a
a→0 a→0 α+1 α+1 α+1
integral converge. Para α = −1, já ∙vimos no exemplo¸ anterior que a integral diverge. Se
R1 α 1 aα+1
α < −1 então lim+ a x dx = lim+ − = +∞, já que α + 1 < 0. Assim, a
a→0 a→0 α+1 α+1
integral converge para todo α ∈ R tal que α > −1.

Definição 9.38 Seja f : [a, c) ∪ (c, b] → R, não limitada em [a, c) ∪ (c, b] e integrável em
Rb
[d, e] , com [d, e] ⊂ [a, c) ∪ (c, b]. Dizemos que a integral imprópria a f (x)dx converge
Rc Rb
quando existem os limites, lim− a f (x)dx e lim+ e f (x)dx. Neste caso tem-se que:
d→c e→c

Z b Z d Z b
f (x)dx = lim− f (x)dx + lim+ f (x)dx.
a d→c a e→c e

Caso contrário, isto é, se algum dos limites não existe, dizemos que a integral diverge.
R1 dx
Exemplo 9.39 A integral imprópria −1

3
converge pois existem os seguintes limites
x2
Z c
dx £ √ √ ¤
lim− √
3
= lim− 3 3 c − 3 3 −1 = 3
c→0 −1 x2 c→0
Z 1 h √ √ i
dx 3 3
lim √
3
= lim+ 3 1 − 3 d = 3
d→0+ d x2 d→0

R1 dx
e portanto −1

3
= 6.
x2
R 1 dx R 1 dx
Exemplo 9.40 A integral imprópria −2
diverge pois lim+ c = lim+ [ln 1 − ln c] =
x c→0 x c→0
+∞ e portanto tal limite não existe.

Como no caso de integral de 1a espécie, na definição (9.34) devemos ter ambos os


limites existindo. Neste caso também temos a definição de valor principal de Cauchy, que
pode existir sem que a integral imprópria convirja. No entanto se a integral imprópria
convergir o valor principal de Cauchy existe e é igual ao valor da integral imprópria.
Vejamos então a definição.

Definição 9.41 Seja f : [a, c) ∪ (c, b] → R, não limitada em [a, c) ∪ (c, b] e integrável em
Rb
[d, e] , com [d, e] ⊂ [a, c) h∪ (c, b]. Dizemos que o valor
i principal de Cauchy de a f (x)dx
R c− Rb
existe quando exste lim+ a f (x)dx + c+ε f (x)dx . Neste caso tem-se que:
ε→0

Z b ∙Z c− Z b ¸
VP f (x)dx = lim+ f (x)dx + f (x)dx .
a ε→0 a c+ε
204 CAPÍTULO 9. INTEGRAIS IMPRÓPRIAS

R1 1
Exemplo 9.42 A integral imprópria −1 dx diverge como já vimos no exemplo anterior.
x
No entanto
Z 1 ∙Z − Z 1 ¸
1 1 1 1
VP dx = lim+ dx + dx = lim+ [ln ε − ln 2 + ln 1 − ln ε] = − ln 2 = ln .
−2 x ε→0 −2 x ε x ε→0 2

Como na seção anterior existem integrais impróprias das quais não conseguimos ex-
pressar uma primitiva em termos de funções elementares e portanto não somos capazes
de dizer pela definição se converge ou não e nem mesmo encontrar seu valor. Existem
métodos numéricos que permitem o cálculo aproximado destas integrais, mas para poder-
mos aplicar tais métodos precisamos saber se elas convergem ou não. Para isso veremos
os critério de convergência para integrias impróprias de 2a espécie. Veremos que são anál-
ogos aos da seção anterior com as devidas modificações. Enunciaremos estes testes para
as integrais no intervalo [a, b). Os critérios para as integrais de 2a espécie no intervalo
(a, b] são os mesmos e as demonstrações podem ser feitas através da mudança de variável
x = −y e aplicando então os critérios no intervalo [−b, −a).As demonstrações dos resulta-
dos que vamos enunciar são análogas às que foram feitas na seção anterior com as devidas
modificações e por isso serão deixadas como exercício.

Teorema 9.43 (Critério da comparação): Sejam f, g : [a, b) → R, não limitadas em[a, b)


e integráveis em [a, c] , ∀c ∈ [a, b). Suponhamos que 0 ≤ f (x) ≤ g(x), ∀x ∈ [a, b). Então
Rb Rb
a) Se a g(x)dx converge então a f (x)dx converge.
Rb Rb
b) Se a f (x)dx diverge então a g(x)dx diverge.

R1 dx 1 1
Exemplo 9.44 A integral 0
√ converge pois 0 ≤ √ ≤ √ ∀x ∈ (0, 1]
1 − x4 1 − x4 1 − x2
R1 dx
e a integral 0
√ converge
1 − x2

Teorema 9.45 (Critério do quociente): Sejam f, g : [a, b) → R, não limitadas em[a, b)


e integráveis em [a, c] , ∀c ∈ [a, b). Suponhamos que 0 ≤ f (x) e g (x) > 0, ∀x ∈ [a, b).
f (x)
Considere lim .
x→b− g(x)
f (x) Rb
a)Se lim = L, onde 0 < L < +∞, então tem-se que a f (x)dx converge ⇔
x→b− g(x)
Rb
a
g(x)dx converge.
f (x) Rb Rb
b)Se lim = 0 e a g(x)dx converge então a f (x)dx converge.
x→b− g(x)
f (x) Rb Rb
c)Se lim = +∞ e a g(x)dx diverge então a f (x)dx diverge.
x→b− g(x)
9.2. INTEGRAIS IMPRÓPRIAS DE 2A ESPÉCIE 205

R1 dx 1 1
Exemplo 9.46 A integral 1/2
√ converge pois √ , √ > 0, para todo
x − x3 x − x3 1−x
1

1 x − x3 1 1
x ∈ [ , 1) e lim− = lim− p = √ > 0. Logo as duas integrais têm a
2 x→1 1 x→1 x (1 + x) 2

1−x " r #
R1 dx Rb dx √ 1
mesma natureza e 1/2 √ converge, já que lim− 1/2 √ = lim− −2 1 − b + 2 =
1−x b→1 1 − x b→1 2

2.

Novamente vemos que os critérios acima são válidos apenas para funções não negativas
no intervalo considerado. Vale para a integral imprópria de 2a espécie a mesma definição
e resultado sobre convergência absoluta. Vejamos.

Definição 9.47 Seja f : [a, b) → R, não limitada em[a, b) e integrável em [a, c] , ∀c ∈


Rb
[a, b). Dizemos que a integral imprópria a f (x)dx converge absolutamente quando a inte-
Rb
gral imprópria a |f (x)| dx converge.

Proposição 9.48 Seja f : [a, b) → R, não limitada em [a, b) e integrável em [a, c] ,


Rb
∀c ∈ [a, b). Suponhamos que a integral imprópria a f (x)dx converge absolutamente então
Rb
a integral a f (x)dx converge.

Rb Rb
Nota 9.49 Quando a integral imprópria a f (x)dx converge, mas a integral a |f (x)| dx
Rb
diverge, dizemos que a integral a f (x)dx é condicionalmente convergente.

Assim, pode-se aplicar os critérios acima para garantir a convergência absoluta das
integrais impróprias. No entanto, caso a integral não convirja absolutamente não se pode
concluir que a integral diverge. Para o caso de integrais impróprias de 2a espécie não
daremos critérios de convergência que não envolvam apenas funções não negativas. Para
esta análise, em geral faz-se uma mudança de variáveis fazendo a integral recair em integral
de 1a espécie. Veja o exemplo a seguir

R π sen (1/x)
Exemplo 9.50 A integral 0 dx converge condicionalmente, pois fazendo a mu-
x
1 1 1 1
dança de variável y = ⇒ x = então dx = − 2 dy. Como lim+ = +∞, a integral se
x y y x→0 x
torna Z +∞ Z +∞
y sen y sen y
2
dy = dy,
1/π y 1/π y
que converge condicionalemte como vimos na seção anterior.
206 CAPÍTULO 9. INTEGRAIS IMPRÓPRIAS

9.3 Integrais Impróprias de 3a espécie


Uma integral imprópria de 3a espécie é uma integral imprópria onde o intervalo de inte-
gração é ilimitado e a função integranda não é limitada em algum subintervalo limitado
R +∞ dx
contido no intervalo de integração. Como exemplo podemos considerar a integral 0 .
a
x
Assim, para analisar a convergência de uma integral imprópria de 3 espécie, devemos sep-
arar a integral em pelo menos duas integrais impróprias, sendo uma de 1a epécie e outra
de 2a espécie. A integral convergirá se e somente se cada uma das integrais convergir.
Portanto os critérios já estão contemplados nas duas seções acima. Logo daremos apenas
alguns exemplos e deixaremos alguns exercícios.
R +∞
Exemplo 9.51 A integral 0 e−x ln xdx é uma integral imprópria de 3a espécie pois
e−x ln x não é limitada em (0, b], ∀b > 0 e o intervalo de integração tem o extremo superior
igual a +∞. Mas
Z +∞ Z 1 Z +∞
−x −x
e ln xdx = e ln xdx + e−x ln xdx,
0 0 1
a
sendo a primeira integral uma integral imprópria de 2 espécie e a segunda uma integral
imprópria de 1a espécie. Assim, analisamos cada uma delas. Se ambas convergirem a
integral converge, caso contrário a integral diverge. A primeira integral converge absolu-
tamente pois
|e−x ln x| √
lim+ = lim+ e−x x (− ln x) = 0
x→0 1 x→0

x
R 1 dx
e 0 √ converge. A segunda integral converge pois a função integranda é não negativa,
x
e−x ln x
lim = lim x2 e−x ln x = 0
x→+∞ 1 x→+∞
x 2

R +∞ dx R +∞
e 1 2
converge. Portanto, como ambas as integrais convergem, segue que 0 e−x ln xdx
x
converge.
R +∞ dx
Exemplo 9.52 A integral imprópria de 3a espécie 1 √ diverge pois
x−1
Z +∞ Z 2 Z +∞
dx dx dx
√ = √ + √
1 x−1 1 x−1 2 x−1
e apesar da primeira integral convergir temos que
Z b h √ i
dx
lim √ = lim 2 b − 1 − 2 = +∞,
b→+∞ 2 x − 1 b→+∞
R +∞ dx
ou seja a segunda integral diverge o que implica na divergência da integral 1
√ .
x−1
9.3. INTEGRAIS IMPRÓPRIAS DE 3A ESPÉCIE 207
R +∞
Exemplo 9.53 Considere a integral 0 xα−1 e−x dx e analisemos sua convergência para
todo α ∈ R. Se α ≥ 1, a integral é uma integral imprópria de 1a espécie e para cada
α − 1 ≥R 0, existe n ∈ N, tal que n ≥ α − 1 e portanto xα−1 e−x ≤ xn e−x , ∀x ≥ 1 e a
+∞
integral 1 xn e−x dx converge, bastando integrar por partes n vezes. Então pelo critério
R +∞ R1
de comparação a integral 1 xα−1 e−x dx também converge. Ainda como 0 xα−1 e−x dx
R +∞
é uma integral definida, então 0 xα−1 e−x dx converge, para α ≥ 1. Se α < 1 temos
uma integral imprópria de 3a espécie e portanto separamos a integral da seguinte maneira
Z +∞ Z 1 Z +∞
α−1 −x α−1 −x
x e dx = x e dx + xα−1 e−x dx
0 0 1

e devemos analisar ambas as integrais. Observe que

xα−1 e−x
lim = 0, ∀α < 1
x→+∞ e−x
R +∞
e como 1 e−x dx converge, segue que a segunda integral converge qualquer que seja
α < 1. Basta então analisarmos a primeira integral. Como

xα−1 e−x
lim+ =1
x→0 xα−1
R1
e 0 xα−1 dx converge para 0 < α < 1, e diverge para α ≤ 0, segue do critério do quociente
R +∞
que 0 xα−1 e−x dx converge se 0 < α < 1 e diverge se α ≤ 0. Portanto concluímos que
R +∞
a integral 0 xα−1 e−x dx converge se α > 0 e diverge, se α ≤ 0.

Nota 9.54 Ficou claro então, a partir dos exemplos, que para analisar a convergência
de uma integral imprópria de 3a espécie, deve-se separar a integral em pelo menos duas
integrais, sendo uma de 1a espécie e outra de 2a espécie e analisá-las separadamente, só
podendo concluir a convergência da integral de 3a espécie se ambas convergirem.
Exercício 1
Considere f : 0, 1 → , definida por fx  −1 n n, para x ∈  1 , 1 ,
n1 n
1
n ∈ ℕ. Mostre que  fxdx converge condicionalmente.
0

Solução: Da definição de f tem-se que fx  −1, para x ∈  1 , 1, fx  2 para
2
1 1 1 1
x ∈  , , fx  −3 para x ∈  ,  e assim sucessivamente. Logo,
3 2 4 3
  
1 1/n −1 n
 0 fxdx  ∑  1/n1 −1 ndx  ∑−1 n 1n − n 1 1
n n
 ∑ n1
,
n1 n1 n1

que converge, por Leibniz.


Analogamente
  
1 1/n
 0 |fx|dx  ∑  1/n1 ndx  ∑ n 1n − n 1 1  ∑ 1 ,
n1
n1 n1 n1

que diverge.
Exercício 2
Sejam f, g : a, b → , tais que f, g são integráveis em a, c para todo
c ∈ a, b, com gx ≠ 0, para todo x ∈ a, b. Se existe M  0 e c ∈ a, b tal que
|fx| b
≤ M, para todo x ∈ c, b e  gxdx converge absolutamente, mostre
|gx| a
b
que  fxdx também converge absolutamente.
a

Solução: Da hipótese, tem-se que 0 ≤ |fx| ≤ M|gx|, para todo x ∈ c, b e

b b
como  |gx|dx converge, então  |gx|dx converge, logo pelo critério da
a c
b c
comparação  |fx|dx converge. Como  |fx|dx é uma integral definida, pois f é
c a
b
integrável em a, c e portanto |f| também o é, segue que  fxdx converge
a
absolutamente.
Exercício 3
Analise a convergência das integrais abaixo:
1 1 ln1 − x 
a)  1 dx b  dx c  sen
x dx
x
0 ln x 0 3 0
x
Solução:

a) Tem-se que ln x  0, para todo x ∈ 0, 1 e portanto 


1 1 dx  −  1 −1 dx.
0 ln x 0 ln x
1 −1
Logo a integral em questão converge se e só se  dx converge. Ainda,
0 ln x
1 1/2 1
 0 ln−1x dx   0 ln−1x dx   1/2 ln−1x dx.
Como −1 é contínua em 0, 1  e lim −1  0, segue que a primeira
ln x 2 x→0  ln x
integral do lado direito é uma integral definida. Logo, basta analisar a
segunda integral. Ainda como −1  0, para todo x ∈  1 , 1, assim como
ln x 2
1  0, neste intervalo, podemos aplicar o critério do quociente. Temos
1−x
que
−1
lim ln x  lim x − 1  lim 1  1.
x→1 − 1 x→1 − ln x x→1 − 1/x
1−x
1
Portanto as duas integrais têm a mesma natureza e como  1 dx
0 1−x

diverge, segue que  −1 dx também diverge e portanto  1 dx diverge.


1 1
0 ln x 0 ln x

1 ln1 − x 1/2 ln1 − x 1 ln1 − x


b)  dx   dx   dx, sendo ambas as
0 0 1/2
x3 x3 x3
integrais do lado direito impróprias. Para que a integral convirja, devemos
ter ambas as integrais do lado direito convergindo. Sendo a função
integranda negativa em todos os pontos do intervalo 0, 1, segue que ou a
integral converge absolutamente ou diverge para −. Analisemos a
ln1 − x
primeira integral, trabalhando com −  0, para todo x ∈ 0, 1.
x3
Logo como
ln1 − x

x3 − ln1 − x 1/1 − x
lim  lim x  lim 1
x→0 1 x→0 x→0 1
x
1/2
e dx converge, segue que a primeira integral converge
0 x
absolutamente. Ainda como
− ln1 − x
x3
lim−  1,
x→1 − ln1 − x
1 − ln1 − x 1
segue que  dx e 
− ln1 − xdx têm a mesma natureza. Mas
1/2 1/2
x3
b b
 1/2 − ln1 − xdx  −b ln1 − b  1 ln 1 −  1/2 x dx  −b ln1 − b  1 ln 1
2 2 1−x 2 2
Passando o limite quando b → 1, temos, aplicando l’Hôpital
em lim 1 − b ln1 − b, que
b→1 −
b
 1/2 − ln1 − xdx  1  ln 2,
2
ou seja a segunda integral também converge absolutamente. Logo
 0 ln1 − x dx converge absolutamente.
1

x3
c) Como lim sen x  1, então a integral só apresenta problemas em . Ainda
x→0
x
x 1
sen x  0, para todo x ∈ 0, , assim como  − x é positiva neste mesmo
intervalo. Logo, como
x/ sen x  − xx
lim
x→ − 1/ − x
 x→
lim− sen x  ,
 x dx converge se e só se   dx converge. Mas   dx
temos que  sen
0 x 0 −x 0 −x
 
diverge, pois   − x  lim − ln − b  ln    e portanto  sen x dx
dx x
0 0
b→ −
diverge.
Exercício 4
Sejam f, g : a, b →  não limitadas em a, b, integráveis em a, c para todo
b b b
c ∈ a, b. Se  fx 2 dx e  gx 2 dx convergem, mostre que  fxgxdx
a a a
converge absolutamente e
b 2 b b
 a fxgxdx ≤  a fx 2 dx  a gx 2 dx .

Solução: Sabe-se que 0 ≤ |fxgx| ≤ 1 fx 2  gx 2 , para todo x ∈ a, b


2
b
e das propriedades de limite  fx 2  gx 2 dx converge, logo do critério de
a
b
comparação  fxgxdx converge absolutamente. Ainda para todo a ∈ ,
a
b
fx  agx  fx 2  2afxgx  a 2 gx 2 e portanto  fx  agx 2 dx
2
a
converge e como a função integranda é não negativa, segue que a integral
converge para um limite não negativo, para todo a ∈ . Mas das propriedades de
limite e de integral, temos que
b b b
0≤  a fx 2 dx  2a  a fxgxdx  a 2  a gx 2 dx, para todo a ∈ ,
ou seja, o trinômio do segundo grau em a é sempre não negativo, o que implica
que o discriminante é não positivo. Assim,
b 2 b b
4a 2  a fxgxdx −4  a fx 2 dx  a gx 2 dx ≤ 0.

Portanto
b 2 b b
 a fxgxdx ≤  a fx 2 dx  a gx 2 dx .
Exercício 5
Seja f : a, b →  não limitada em a, b, fx ≥ 0, para todo x ∈ a, b e f
integrável em a, c para todo c ∈ a, b. Suponha que existe g : a, b →  e
 ∈  tais que fx  1 gx, para todo x ∈ a, b e lim gx  L  0.
b − x  x→b −
Mostre que:
b
a) Se  ≥ 1 então  fxdx diverge.
a
b
b) Se   1 então  fxdx converge.
a
b
Solução: Basta analisar a integral imprópria de 2 a espécie  dx , com
a b − x 
respeito a . Temos que, se  ≠ 1,
c b − c 1− b − a 1−
a dx
b − x 
 −
1−

1−
.

Logo, se   1  1 −   0 e portanto
c
lim−  dx
  ,
c→b a b − x
b
ou seja a integral  dx diverge.
a b − x 

Se   1  1 −   0 e portanto
c b − a 1−
lim−
c→b
a dx
b − x 

1−
,
b
logo a integral  dx converge.
b − x 
a

Se   1, temos que
c
 a b dx− x  − lnb − c  lnb − a
e portanto
c
lim−
c→b
a dx
b − x
 .
b
Logo a integral  dx converge se   1 e diverge se  ≥ 1. Agora utilizando
b − x 
a

o critério do quociente, já que fx ≥ 0 e 1  0, para todo x ∈ a, b, temos


b − x 
que
fx
lim−  lim− gx  L  0
x→b 1 x→b
b − x 
b b
o que implica que as integrais  fxdx e  dx têm a mesma natureza, o que
a a b − x 

demonstra o resultado.
Exercício 6
Analise a convergência das seguintes integrais impróprias:
 arcsec x 
a)  dx b  cos x dx
1 x − 1 7/6 0 x

Solução:
a) Observe que, aplicando l’Hôpital, temos
x  lim 1/x x − 1  lim
2
lim arcsec7/6 6  .
x→1 x − 1 x→1 7/6x − 1
 x→1  7x x  1 x − 1 3/2

Logo a integral é uma integral imprópria de 3 a espécie. Assim, devemos


separá-la em duas integrais, uma de primeira espécie e outra de segunda
espécie e analisar a convergência de cada uma delas. Assim,

1 arcsec x dx  1
2
arcsec x dx    arcsec x dx.
x − 1 7/6 x − 1 7/6 2 x − 1 7/6
Temos que arcsec7/6 x  0, para todo x ∈ 1,  e portanto em cada uma delas
x − 1
aplicaremos o critério do quociente.
Para a integral de 2 a espécie, ou seja a primeira integral, utilizaremos a função
gx  1  0, para todo x ∈ 1, 2. Ainda
x − 1 2/3
2 2
1 dx  lim 
 dx  lim 3 − 3a − 1 1/3  3,
x − 1 2/3 a→1 a x − 1 2/3 a→1

2
isto é a integral  dx converge. Logo, como
1 x − 1 2/3

arcsec x
x − 1 7/6 1/x x 2 − 1
lim  lim arcsec x  lim  lim 2  2  0,
x→1 1 x→1 x−1 x→1 1/2 x − 1 x→1 x x1
x − 1 2/3
segue que ambas as integrais impróprias têm a mesma natureza e portanto
2
 1 arcsec7/6
x dx converge.
x − 1
Para a segunda integral, ou seja, a integral imprópria de 1 a espécie,
utilizaremos a função gx  1  0, para todo x ∈ 2, . Temos que
x − 1 7/6
 b
2 1 dx  lim 2 1 dx  lim −6 1 6  6,
x − 1 7/6 b→ x − 1 7/6 b→ b − 1 1/6
e portanto converge. Ainda como
arcsec x
x − 1 7/6
lim lim arcsec x    0,
 x→
x→ 1 2
x − 1 7/6
segue que as integrais impróprias têm a mesma natureza e portanto

2 arcsec x dx converge.
x − 1 7/6
 arcsec x
Logo,  dx converge.
1 x − 1 7/6

b) Novamente a integral imprópria é de 3 a espécie e então a separaremos em


duas integrais, ou seja

0 cos x dx  1
0 cos x dx    cos x dx.
x x 1 x

A primeira integral converge absolutamente, já que


cos x ≤ 1 , para todo x ∈ 0, 1
x x
1
e dx converge.
0 x
A segunda integral converge, pois gx  sen x é limitada em 1, ,
fx  1 é decrescente, lim 1  0 e f, g ∈ C 1 1, , logo por
x x→ x
 
resultado visto tem-se que  fxg ′ xdx   cos x dx converge.
1 1 x

Logo,  cos x dx converge.
0 x
208 CAPÍTULO 9. INTEGRAIS IMPRÓPRIAS

9.3.1 Lista de Exercícios


Exercício 9.55 Seja f : (a, b] → R, não negativa, não limitada em (a, b] e integrável
Rb
em [c, b] , ∀c ∈ (a, b]. Se existe o lim+ (x − a)p f (x) para p < 1, mostre que a f (x)dx
x→a
converge.

Exercício 9.56 Analise a convergência das integrais impróprias abaixo:


R1 dx
a) 0
√ .
(x + 1) 1 − x2
R 1 cos x
b) 0
dx.
x2
R 1 earctg x
c) −1
dx.
x
R 1 dx
d) 0 .
ln x
R 2 ln x
e) 0 √ 3
dx.
8 − x3
R π/2 e−x cos x
f) 0
dx.
x
R 1 dx
g) 0 x .
x
R1 dx
h) 0 p .
ln (1/x)

Exercício 9.57 Prove que:


R1 1
a) 0
cos dx converge absolutamente.
x
R1 1 1
b) 0
cos dx converge condicionalmente. Sugestão: Faça uma mudança de variáveis.
x x
R1 1 1
c) 0 2 cos dx diverge.
x x
Exercício 9.58 Estude a convergência das integrais abaixo:
R +∞ e−x
a) 0
p dx.
x ln (x + 1)
R +∞ e−x
b) 0
√ dx.
(3 + 2 sen x) 3 x
9.3. INTEGRAIS IMPRÓPRIAS DE 3A ESPÉCIE 209
R +∞
Exercício 9.59 a) Mostre que 0
e−t tx−1 dt, com x > 0, converge.

b) Definamos então a função


Z +∞
Γ (x) = e−t tx−1 dt, x > 0.
0

Mostre que Γ (x + 1) = xΓ (x) , ∀x > 0 e então conclua que Γ (n) = n!, ∀n ∈ N.

Exercício 9.60 Prove que


R +∞ dx
a) 0

3
converge.
x + x2
4

R +∞ ex
b) 0
p dx converge se a > 2 e diverge se 0 < a ≤ 2.
senh (ax)
R +∞ sen x
c) 0
√ dx converge condicionalmente.
x
R +∞ sen x
d) 0 √ dx converge absolutamente.
senh x

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