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Introdução
O objeto de estudo de Mat-12 são as funções reais de variável real. Estudaremos nesta
disciplina os conceitos de limite, continuidade, derivabilidade e integrabilidade de funções
reais de uma variável real.
O conceito de derivada de uma função num ponto está relacionado com a taxa de vari-
ação desta função num determinado instante, por exemplo, a velocidade de uma partícula
em cada instante t. Para o estudo da derivada de uma função faz-se necessário o estudo
de limite.
O conceito de primitiva está relacionado com o conceito de derivada. Alguns autores
denominam a primitiva de uma funjção de anti-derivada, pois a primitiva de uma função
f, num intervalo (a, b), quando existe, é uma função F derivável em (a, b) , cuja derivada
é f.
Para entendermos melhor o conceito de limite, estudaremos primeiramente este con-
ceito no caso discreto, isto é, em sequências e séries.
Como o objeto de estudo de MAT-12 são as funções reais de uma variável real, vamos
iniciar nosso curso estabelecendo os fundamentos da teoria dos números reais. Não nos
preocuparemos aqui com a definição rigorosa de número real, nem mesmo com a con-
strução do conjunto de números reais, pois isto foge ao objetivo de um curso de Cálculo.
Assim, consideraremos conhecidos os conjuntos dos números naturais, inteiros e racionais.
Daremos as definições de corpo, corpo ordenado e corpo ordenado completo, chegando as-
sim ao conjunto dos números reais que é um corpo ordenado completo. Mostraremos que
existem números reais que não são racionais.Faremos uma breve recordação do conceito
de função, através de uma lista de exercícios e iniciaremos a noção de limite com a noção
de limite de sequências e séries de números reais.
Ao final deste curso o aluno deverá ter uma compreensão clara do conceito de limite
que é fundamental no estudo do Cálculo, ser capaz de avaliar a existência de limite de
uma função num ponto, trabalhando com as propriedades de limite, ser capaz de analisar
a derivabilidade de uma função num ponto, calculando sua derivada, determinar máximos
e mínimos locais e absolutos de uma função e finalmente ser capaz de calcular integrais e
primitivas de funções, utilizando os diversos métodos de integração.
1
2 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO
Capítulo 2
Números Reais
n(n + 1)
1 + ··· + n = , ∀n ∈ N.
2
2 1×2
De fato, 1 = = , o que mostra que a propriedade acima é válida para n = 1.
2 2
Suponhamos que a propriedade é válida para um n ≥ 1 e provemos então que ela é válida
n(n + 1) ³n ´
para n + 1. Assim, 1 + · · · + n + (n + 1) = + (n + 1) = (n + 1) +1 =
µ ¶ 2 2
n+2 (n + 1)(n + 2)
(n +1) = , o que prova que a propriedade é válida para n + 1, se o
2 2
for para n. Assim do princípio de indução segue que a propriedade vale para todo n ∈ N.
3
4 CAPÍTULO 2. NÚMEROS REAIS
Definição 2.3 Um corpo é um conjunto não vazio K munido de duas operações denom-
inadas adição (+) e multiplicação (·), isto é,
+:K ×K →K
(x, y) 7→ x + y
·:K ×K →K
(x, y) 7→ x · y
Exemplo 2.4 Os conjuntos dos números racionais e dos números reais com as operações
de adição e multiplicação usuais são corpos.
Exemplo 2.5 O conjunto dos números inteiros não é um corpo, pois não admite inverso
multiplicativo, para todo n 6= 1.
Exemplo 2.7 O conjunto dos números complexos com as operações usauis de adição e
multiplicação é um corpo.
Nota 2.9 Pode-se mostrar que o conjunto Zp com as operações de adição e multiplicação
módulo p é um corpo se e somete se p é primo.
Exemplo 2.10 Da própria definição de corpo, temos que um corpo deve ter pelo menos
dois elementos, o elemento neutro e a unidade. O Z2 = {0, 1} com as operações de adição
e multiplicação módulo 2 é um corpo com exatamente dois elementos. Suas tábuas de
adição e multiplicação são respectivamente:
+ 0 1 • 0 1
0 0 1 0 0 0
1 1 0 1 0 1
a · b = 0 ⇔ a = 0 ou b = 0.
ou x = 0 ou x ∈ P ou − x ∈ P.
Exemplo 2.16 Segue da proposição que C não é um corpo ordenado pois se fôsse existiria
um subcojunto P de C de números positivos. Como i ∈ C∗ então ou i ∈ P ou −i ∈ P ⇒
i2 = −1 ∈ P, mas 1 ∈ P , que é uma contradição. Logo C não é ordenado.
Exemplo 2.17 Z5 não é um corpo ordenado pois se fôsse existiria P subconjunto dos
números positivos de Z5 e como 4 6= 0 e 4 = 2 ¯ 2 = 22 ⇒ 4 ∈ P . Ainda 1 ∈ P. Logo
4 ⊕ 1 ∈ P, mas 4 ⊕ 1 = 0, o que é uma contradição.
ou x < y ou y < x ou x = y.
Pode-se definir a relação "menor ou igual a"ou equivalentemente "maior ou igual a",
de forma trivial. Esta relação não satisfaz a propriedade de tricotomia. Mas satisfaz uma
outra propriedade a anti-simetria, ou seja,
x ≤ y e y ≤ x ⇒ x = y.
Até aqui o conjunto dos racionais e dos reais apresentam as mesmas características. Sabe-
mos ainda que existem números reais que não são racionais. É fácil provar, por exemplo,
que não existe número racional tal que x2 = 2.(Prove!) Assim o conjunto dos números
reais foi construído para resolver um problema de não completude dos racionais. Ve-
jamos o que isto significa, mas antes daremos alguma definições necessárias para a sua
compreensão.
Exemplo 2.21 No corpo dos reais o intervalo X = (0, 1] é limitado e 0 é uma cota
inferior de X e 1 uma cota superior de X em R.
8 CAPÍTULO 2. NÚMEROS REAIS
Exemplo 2.22 No corpo dos racionais o conjunto dos naturais é limitado inferiormente,
mas não é limitado superiormente. De fato n ≥ 1, ∀n ∈ N, o que implica que N é limitado
p
inferiormente em Q e 1 é uma cota inferior de N em Q. No entanto, para todo ∈ Q,
q
p p p
se ≤ 0 < 1 já está mostrado que não é cota superior de N. Se > 0, podemos tomar
q q q
1 p p
p, q > 0 ⇒ p, q ∈ N ⇒ q ≥ 1 ⇒ ≤ 1 ⇒ ≤ p < p + 1 e p + 1 ∈ N ⇒ > 0 também
q q q
não é cota superior de N. Logo N não é limitado superiormente em Q.
(i) x ≤ b, ∀x ∈ X,
(ii) Para cada c ∈ K com c < b, existe xc ∈ X tal que xc > c.
(i) x ≥ a, ∀x ∈ X,
(ii) Para cada d ∈ K com d > a existe xd ∈ X tal que xd < d.
Observando os exemplos acima é fácil provar que 1 é o supremo de (0, 1] e 0 seu ínfimo
em R e que 1 = inf Q N.
1
Exemplo 2.24 Considere o conjunto A = {(−1)n + ; n ∈ N}. Temos que −1 ≤ (−1)n +
n
1
≤ 2, para todo n ∈ N e portanto A é limitado. Logo A admite ínfimo e supremo em R.
n
Da desigualdade anterior, temos que inf A ≥ −1 e sup A ≤ 2. Provemos que inf A = −1.
1 1
De fato, para cada c > −1, existe n0 ∈ N, tal que n0 > > 0 ⇒ < c+1 ⇒
c+1 n0
1 1 1
−1 + < c. Logo, se n0 for ímpar, segue que −1 + = (−1)n0 + < c. Caso
n0 n0 n0
3
contrário, basta tomar m0 = n0 + 1. Ou seja −1 = inf A. Provemos que sup A = . De
2
1 1 n 1 1 3
fato, ≤ para todo n ≥ 2 e portanto (−1) + ≤ 1 + = para todo n ≥ 2. Ainda
n 2 n 2 2
1 1 3 n 1 3
para n = 1, temos (−1) + = 0 < , logo (−1) + ≤ para todo n ≥ 2. Ainda
1 2 n 2
3 1 3 3 3
= (−1)2 + ∈ A, logo para todo c < existe obviamente a = ∈ A tal que c < e
2 2 2 2 2
3
concluímos que sup A = .
2
9
Pode-se provar a partir do teorema acima que todo subconjunto de R, não vazio
e limitado superiormente admite supremo. Tal resultado consta da lista de exercícios
propostos.
Assim considerando o subconjunto X acima
√ tem-se que X admite ínfimo em R que é
2
o número real b tal que b = 2, denotado por 2 ∈
/ Q.
10 CAPÍTULO 2. NÚMEROS REAIS
Nota 2.29 A completude do corpo dos reais implica que pode-se fazer uma bijeção entre
a reta e o conjunto dos reais, o que não é possível se considerarmos os números racionais.
Ou seja fixando-se um ponto que corresponderá ao número 0 e uma unidade de medida
pode-se marcar facilmente os números inteiros. A partir deles traçam-se os racionais.
Pode parecer que a todo ponto desta reta corresponde um número racional. No entanto se
tomarmos o comprimento da hipotenusa de um triângulo retângulo de catetos unitários
sobre esta reta, a partir do ponto correspondente ao 0, o ponto final deste segmento não
corresponderá a um número racional. Por isso o corpo dos reais é denominado completo
pois completa as lacunas deixadas pelos números racionais.
−1 0 1
Daremos a seguir uma propriedade que já foi mostrada para o corpo dos racionais e
também é válida no corpo dos reais, que é denominada propriedade de Arquimedes, ou
ainda, diz-se que um corpo ordenado que tem esta propriedade é um corpo arquimediano.
Proposição 2.31 Dados a, b ∈ R tais que a < b então existe r ∈ Q tal que a < r < b e
existe um s ∈ R \ Q tal que a < s < b.
a b
Para mostrar a existência de s ∈ R \ Q basta tomar √ , √ e utilizar a existência de
2 2
a b √
r ∈ Q, r 6= 0 tal que √ < r < √ e então teremos s = r 2 ∈ / Q.¤
2 2
No que segue, a menos que esteja explícito, estaremos trabalhando com o corpo dos
números reais. Apenas para fixar a notação sobre intervalos, segue que, dados a, b ∈ R,
ou seja o módulo de um número real é sempre um número não negativo, que representa na
reta, a distância deste número à origem. Esta noção de distância será muito importante
para o conceito de limite. Pode-se ainda definir o módulo de um número real da seguinte
forma, mais compacta:
|x| = max{x, −x}, ∀x ∈ R.
Da definição de módulo tem-se que, dado r ∈ R, r > 0, então
|x| ≤ r ⇔ −r ≤ x ≤ r.
De fato:
|x| ≤ r ⇔ max{x, −x} ≤ r ⇔ x ≤ r e − x ≤ r ⇔ −r ≤ x ≤ r.
Com a noção de módulo e a propriedade acima, podemos definir intervalos abertos ou
fechados centrados em um número real a e de raio r > 0. Tais intervalos serão muito
utilizados nos conceitos topológicos e na definição de limite.
(a − r, a + r) = {x ∈ R; |x − a| < r},
[a − r, a + r] = {x ∈ R; |x − a| ≤ r}.
Exercício 1
Prove, por indução, que
1 3 2 3 3 3 n 3 1 2 3 n 2 , n .
i
Exercício 5
i
Exercício 6
Seja K um corpo ordenado completo e a 2 K; a p0: Mostre que existe um único b 2 K; b > 0
tal que b2 = a: Tal elemento b será indicado por a:
Solução: Se a = 0; basta tomar b = 0 e claramente esta é a única possibilidade. Consideremos então
a a
a > 0: Seja A = fx 2 K; x > 0 e x2 ag: temos que A 6= ;; pois 2 A; já que >0ea
1+a 1+a
2 2 2
a a (1 + a) a2 a + a2 + a3 a
= 2 = 2 >0)a> : Ainda, A é limitado superiormente,
1+a (1 + a) (1 + a) 1+a
2
pois (1 + a) > a e portanto x < (1 + a) ; para todo x 2 A: Logo, A admite supremo. Considere
b = sup A; é claro que b > 0; já que todos os elementos de A o são. Temos então três possibilidades:
b2 < a ou b2 > a ou b2 = a: Mostraremos que as duas primeiras nos levam a um absurdo e portanto
teremos mostrado a existência de b: Vejamos:
a b2 a b2
10 caso : b2 < a; como b > 0 e > 0 então existe c 2 K tal que 0 < c < minfb; g)c<be
3b 3b
a b2
c< : Portanto
3b
2
(b + c) = b2 + 2bc + c2 < b2 + 3bc < b2 + a b2 = a;
i
12 CAPÍTULO 2. NÚMEROS REAIS
(1 + x)n ≥ 1 + nx, ∀n ∈ N.
n (n + 1) (n + 2)
1.2 + 2.3 + · · · + n (n + 1) = .
3
a
Exercício 2.35 Seja K um corpo. Definimos a − b = a + (−b), ∀a, b ∈ K e = a · b−1 ,
b
∀a ∈ K e ∀b ∈ K ∗ . Então, mostre que:
a) a · (b − c) = a · b − a · c, ∀a, b, c ∈ K.
a c ad + bc
b) + = , ∀a, c ∈ K e ∀b, d ∈ K ∗ .
b d bd
a c ac
c) · = , ∀a, c ∈ K e ∀b, d ∈ K ∗ .
b d bd
a
ad
d) bc = , ∀a ∈ K e ∀b, c, d ∈ K ∗ .
bc
d
s ≤ t, ∀s ∈ S e ∀t ∈ T,
Exercício 2.42 Seja A um subconjunto de números reais não negativos, limitado supe-
riormente. Denotemos por A2 = {x2 ; x ∈ A}. Mostre que inf A2 = (inf A)2 e sup A2 =
(sup A)2 .
|x| ≤ a ⇔ −a ≤ x ≤ a.
Como já dissemos as funções reais de variável real são o objeto de estudo do Cálculo,
mas como este tópico faz parte do ensino médio, faremos uma breve recordação de alguns
conceitos e deixaremos uma lista de exercícios para uma recordação de suas principais
propriedades.
Definição 3.1 Sejam X e Y conjuntos não vazios. Uma função de X em Y é uma regra
que a cada elemento x ∈ X associa um único elemento y ∈ Y. Denotada da seguinte
maneira,
f : X→Y
x 7→ y = f (x).
Im f = {f (x); x ∈ X},
Gf = {(x, y) ∈ X × Y ; y = f (x)}.
Nota 3.2 Uma função real de uma variável real é uma função cujo domínio e con-
tradomínio são subconjuntos de R.
15
16 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL
1.2
y
1.0
0.8
0.6
0.4
0.2
-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5
x
-0.2
-0.4
y
8
-3 -2 -1 0 1 2 3
x
√
Exemplo 3.5 f (x) = x − 1. Então Df = [1, ∞) e Im f = [0, ∞). E seu gráfico:
17
2.0
y
1.5
1.0
0.5
0.0
1 2 3 4 5
x
1
Exemplo 3.6 f (x) = . Então Df = R\{0} = Im f, cujo gráfico é:
x
y 2
-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5
x
-1
-2
y
1
0
0 1 2 3 4 5
x
-1
-2
m ≤ f (x) ≤ M, ∀x ∈ Df .
|f (x)| ≤ K, ∀x ∈ Df .
Nota 3.13 Quando uma função f satisfaz uma das definições acima, dizemos que f é
monótona.
3.1. OPERAÇÕES COM FUNÇÕES 19
1
Exemplo 3.15 Seja f : (0, +∞) → R, f (x) = . Então f é monótona pois f é estrita-
x
1 1
mente decrescente, já que ∀x, y ∈ (0, +∞) com x < y, tem-se que > ⇒ f (x) > f (y) .
x y
(
1;x<0
Exemplo 3.16 Seja f : R → R, f (x) = 1 . Tal função é decrescente,
x≥0
x+1
pois ∀x, y ∈ R com x < y < 0 tem-se que f (x) = f (y) e ∀x, y ∈ R com 0 ≤ x < y, tem-se
1 1
que x + 1 < y + 1 ⇒ > ⇒ f (x) > f (y) . Logo, ∀x, y ∈ R com x < y, tem-se
x+1 y+1
que f (x) ≥ f (y) .
Definição 3.17 Sejam f, g funções reais de uma variável real tais que Df ∩ Dg 6= ∅ e
k ∈ R. Assim definimos:
f
Vejamos os gráfico de f, g, f + g, fg e :
g
20 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL
5
y
0
1 2 3 4 5
x
-5
-10
5
y
0
1 2 3 4 5
x
-5
-10
5
y
0
1 2 3 4 5
x
-5
-10
Definição 3.19 Sejam f, g funções reais de uma variável real tais que Dg ∩ Im f 6= φ.
Definimos a função g composta com f , denotada por g ◦ f, como
1
Exemplo 3.21 Considere f (x) = e g(x) = x − 1, segue que Df = R\{0} = Im f,
x
1
Dg = R = Im g. Assim, Df ◦g = R\{1} e (f ◦ g) (x) = . Ainda Dg◦f = Df = R\{0}
x−1
1 1−x
e (g ◦ f ) (x) = − 1 = . Abaixo os gráficos de f em preto, g em marrom, g ◦ f, em
x x
azul e de f ◦ g em amarelo.
22 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL
5
y
4
0
1 2 3 4 5
x
-1
f −1 (y) = x ⇔ f (x) = y, ∀y ∈ Im f,
observe que f −1 está bem definida pois tal x existe e é único uma vez que y ∈ Im f e f é
injetora.
Exemplo 3.26 Seja f : [0, ∞) → [0, ∞), definida por f (x) √ = x2 , f é bijetora(mostre!) e
a função f −1 : [0, ∞) → [0, ∞), é definida por f −1 (x) = x.
3.3. FUNÇÃO INVERSA 23
5
y
4
0
0 1 2 3 4 5
x
Gráfico da função y=x2 e sua inversa
10
y
-10 -8 -6 -4 -2 2 4 6 8 10
x
-5
-10
Nota 3.29 Existem funções elementares inversíveis, cuja inversa não é uma função el-
ementar. Por exemplo: f : R → R; f (x) = x + ex . A função f é injetora, pois é
estritamente crescente. Pode-se verificar através do gráfico que f é bijetora. Após o es-
tudo de limite e continuidade de funções poderemos provar a sobrejetividade de f.
24 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL
y
8
-2 -1 1 2
x
-2
No entanto sua inversa não pode ser descrita em termos de funções elementares.
y
0.8
0.6
0.4
0.2
-3 -2 -1 1 2 3
x
-0.2
3.5. FUNÇÕES ELEMENTARES 25
2
2
1.5
1.5
1
1
0.5
0.5
-10 -5 5 10
-10 -5 5 10
-0.5
-0.5
-1
-1
-1.5
-1.5
-2
-2
π
Exemplo 3.35 A função f (x) = tg x, ∀x ∈ Df = {x ∈ R; x 6= +kπ, k ∈ Z} é periódica
2
de período π.
20
15
10
5
-10 -5 5
-5
-10
-15
-20
Definição 3.36 Uma função polinomial é uma função f : R → R, tal que existe n ∈ N e
ai ∈ R, 0 ≤ i ≤ n, an 6= 0 tais que f (x) = a0 + a1 x + · · · + an xn .
P (x)
Definição 3.37 Uma função racional é uma função f : Df → R tal que f (x) = ,
Q (x)
onde P, Q : R → R são funções polinomiais sem zeros em comum e Df = {x ∈ R; Q (x) 6=
0}.
Definição 3.40 Uma função irracional é uma função algébrica que não é polinomial e
nem racional.
√
Exemplo 3.41 f : R → R, f (x) = 4 x4 + x2 + 3 é uma função irracional, pois não é
polinomial e nem racional e y = f (x) é solução da seguinte equação algébrica
y 4 − x4 − x2 − 3 = 0.
√
x2 − 1
Exemplo 3.42 f : Df → R; f (x) = √ 3
, onde Df = (−∞, −2) ∪ (−2, −1] ∪
x2 − x − 6
[1, 3) ∪ (3, +∞) é uma função irracional, pois y = f (x) é solução da seguinte equação
algébrica
¡ 2 ¢2 ¡ ¢3
x − x − 6 y 6 − x2 − 1 = 0.
Como em geral as funções hiperbólicas não são estudadas no ensino médio, daremos
a seguir a definição e algumas de suas propriedades.
As funções hiperbólicas são assim chamadas, pois elas podem ser tomadas na hipérbole
equilátera de semi-eixos unitários, a saber a hipérbole de equação x2 − y 2 = 1. Vejamos
graficamente como podemos obter as funções cosseno hiperbólico e seno hiperbólico.
3.5. FUNÇÕES ELEMENTARES 27
y 5
3
N
2
P=(u,v)
1
0 O
-5 -4 -3 -2 -1 0 A1 2 M3 4 5
-1
x
-2
-3 P’
-4
-5
senh x
tgh x = ,
cosh x
cosh x
cotgh x = ,
senh x
1
sech x = ,
cosh x
1
cossech x = .
senh x
ex + e−x
cosh x = , ∀x ∈ R,
2
ex − e−x
senh x = , ∀x ∈ R.
2
4
y
-2 -1 1 2
x
-2
-4
Como pode ser observado pelo gráfico acima, a função senh é bijetiva, enquanto que
cosh não o é. Portanto define-se a função arco seno hiperbólico que é a inversa do seno
hiperbólico, ou seja,
√
arcsenh : R → R; arcsenh x = ln(x + x2 + 1), ∀x ∈ R.
y 2
-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5
x
-1
-2
Como cosseno hiperbólico não é bijetora, para podermos definir sua inversa, devemos
restringir seu domínio e contradomínio.
As demais funções hiperbólicas também podem ser definidas em termos da função
exponencial e as funções hiperbólicas inversas também podem ser definidas em termos da
função logaritmo, fazendo-se as devidas restrições aos domínios e ou contradomínios das
funções hiérbólicas. Algumas delas seguem na lista de exercícios.
i
0.0.1 Exercício 1
f
Determine o domínio e esboce os grá…co de f + g e ; onde
g
1; x2Q 1; x 2 Q
f (x) = e g (x) = :
1; x 2
=Q 1; x2=Q
2
y
1
-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5
x
-1
-2
i
0.0.1 Exercício 2
p
Determine o domínio e a imagem da função f (x) = 3 x 1 1: Veri…que ainda se esta é
injetora e sobrejetora.
Solução: O domínio é R; pois a raiz é cúbica.
q A imagem é R; já que dado y 2 R; existe
3 p
3 3 3
x = (y + 1) + 1 2 R; tal que f (x) = x 1 1 = (y + 1) 1 = y: Sendo assim também …ca provado
que f é sobrejetora.
Para veri…car que f é injetora, tomemos x; z 2 R tais que f (x) = f (z) : Então
p
3
p
x 1 1= 3z 1 1
y 0.5
-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5
x
-0.5
-1.0
-1.5
-2.0
-2.5
i
0.0.1 Exercício 3
Dê um exemplo de funções injetoras, cuja soma e produto não o são.
Solução: Sejam f; g : R ! R; f (x) = x e g (x) = 1 x: Ambas são injetoras como pode ser
observado através de seus grá…cos
6
y
5
-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5
-1 x
-2
-3
-4
-5
x
-5 -4 -3 -2 -1y 1 2 3 4 5
-10
-20
-30
0.0.1 Exercício 4
Mostre que a composta de funções bijetoras é bijetora
Solução: Sejam f; g : R ! R; ambas bijetoras. Mostremos que f g também é bijetora.
Primeiramente mostremos que f g é injetora. Sejam x; y 2 R tais que (f g) (x) = (f g) (y) )
f (g (x)) = f (g (y)) e como f é injetora, segue que g (x) = g (y) : Ainda como g é injetora tem-se que
x = y; portanto f g é injetora.
Mostremos que f g é sobrejetora. De fato seja y 2 R; como f é sobrejetora, existe z 2 R tal que
f (z) = y: Ainda como g é sobrejetora segue que existe x 2 R tal que g (x) = z: Assim, y = f (z) =
f (g (x)) = (f g) (x) ; o que implica que f g é sobrejetora.
i
0.0.1 Exercício 5
Mostre que senh : R ! R é bijetora e cossech : Rnf0g ! R é injetora. Determine a imagem de
cossech e determine ainda sua inversa, de…nida na imagem de cossech :
Solução: Primeiramente mostremos que senh é injetora. De fato sejam x; y 2 R tais que
ex e x ey e y e2x 1 e2y 1
senh x = senh y; ou seja, = : Então = ) ey e2x 1 ex e2y 1 =
2 2 ex ey
0 ) e2x+y ey ex+2y + ex = 0 ) ex+y (ex ey ) + (ex ey ) = 0 ) (ex ey ) (ex+y +1) = 0: Como
ex+y +1 > 0; segue que ex ey = 0 ) x = y; pois a função exponencial é injetiva.
p
Provemos agora que a função senh é sobrejetora. De fato, dado y 2 R; tome x = ln y + y 2 + 1 2
p 2
p
ex e x e2x 1 y + y2 + 1 1 y 2 + 2y y 2 + 1 + y 2
R: Assim, senh x = = = p = p = y:
2 2 ex 2 y + y2 + 1 2 y + y2 + 1
1
Como cossech (x) = e senh é injetora, segue que cossech também o é. Ainda como senh é
senh x
1
sobrejetora então a imagem de cossech é Rnf0g; pois para todo y 2 Rnf0g; 2 Rnf0g ) 9x 2 Rnf0g
y
1
tal que senh x = ; logo cossech x = y: Para determinar a inversa, basta determinar x 2 Rnf0g; tal que
y
1
cossech x = y; ou seja, senh x = ; mas tal x já foi determinado acima quando provamos que senh é
y
sobrejetora. Assim, temos que a inversa de cossech é
8 p !
>
> 1 + 1 + x2
>
>
< ln x
; x>0
arccossh : Rnf0g ! Rnf0g; arccossh x = p ! :
>
> 1 1 + x2
>
>
: ln x
; x<0
Apenas como ilustração seguem em azul o grá…co de cossech e em vermelho o grá…co de arccossh :
10
y
8
-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5
-2 x
-4
-6
-8
i
0.0.1 Exercício 6
Determine o domínio e a imagem de tgh : Veri…que ainda se tgh é par ou ímpar.
senh x
Solução: Como tgh x = e cosh x 6= 0; 8x 2 R; segue que o domínio de tgh é R: Para
cosh x
analisarmos sua imgem vejamos para que valores de y tem-se tgh x = y: Ou seja, determinemos para que
ex e x e2x 1
valores de y; tem-se x = y: Esta equação é equivalente a = y , e2x (1 y) = y+1 , e2x =
e +e x e2x +1
y+1
: Assim, como e2x > 0; 8x 2 R; segue que existira x 2 R; satisfazendo esta última relação apenas
1 y
y+1
quando > 0: Logo, fazendo o estudo do sinal deste quociente e lembrando que o denominador não
1 y
pode se anular, temos que a imagem de tgh é ( 1; 1) :
Veri…quemos a seguir a paridade de tgh,
e x ex ex e x
tgh ( x) = x
= = tgh x;
e + ex ex + e x
1.0
y
0.8
0.6
0.4
0.2
-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5
-0.2 x
-0.4
-0.6
-0.8
-1.0
3.5. FUNÇÕES ELEMENTARES 29
Exercício 3.49 Determine o domínio das funções abaixo. Analise também a paridade
destas funções:
a) f (x) = ex ,
√
b) f (x) = x2 + x2 + 1,
c) f (x) = cosh(x),
d) f (x) = senh(x),
e) f (x) = x |x| ,
( 1
, x 6= 0
f) f (x) = x ,
0, x = 0
senh x
g) f (x) = tgh x = ,
cosh x
h) f (x) = tg x.
Exercício 3.51 Utilizando o exercício anterior, mostre que dada uma função f : [−a, a] →
R, existem funções g, h : [−a, a] → R, sendo g uma função par e h uma função ímpar, tal
que f (x) = g (x) + h (x) , ∀x ∈ [−a, a] .
Exercício 3.52 Prove que o produto de duas funções pares ou ímpares é uma função par.
b) f (x) = x + |x| ,
30 CAPÍTULO 3. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL
⎧ 2
⎨ x − x, se x ≤ 1,
c) f (x) = 0, se 1 < x ≤ 2,
⎩
x − 2, se x > 2.
x2 − 1
d) f (x) = ,
x−1
|2x + 1|
e) f (x) = ,
2x + 1
f) f (x) = |x − 1| + |x + 2| ,
g) f (x) = ||x| − 1| ,
h) f (x) = x sen x.
x−1
a) g(x) = e f (x) = x + 2,
x−2
√
b) g(x) = x e f (x) = x2 − x,
1
c) g(x) = e f (x) = x3 − x,
x
√
d) g(x) = x2 − 1 e f (x) = x2 − 2.
Exercício 3.55 Verifique se as funções abaixo são ou não injetoras. Sabe-se que a função
exponencial o é. Determine suas imagens e se for o caso determine sua inversa.
31
32 CAPÍTULO 4. SEQÜÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS
Algumas vezes as sequências são definidas por uma fórmula de recorrência. Por exem-
plo:
√ √
Exemplo 4.6 Considere q a seguinte sequência a1 = 2 e an = 2 + an−1 , ∀n ≥ 2. Assim
√ p √ p √
tem-se, ( 2, 2 + 2, 2 + 2 + 2, . . .).
Algumas vezes não é possível descrever o termo geral de forma algébrica. Por exemplo:
Exemplo 4.7 Considere a seguinte sequência definida por a1 é o primeiro número primo
maior que 1 e an é o n − ésimo número primo maior que 1. Assim temos (2, 3, 5, 7, . . .).
Definição 4.8 Seja (an ) uma sequência de números reais e l ∈ R. Dizemos que a se-
quência (an ) converge para l, quando n tende a +∞, denotado por, lim an = l, quando
n→+∞
dado ε > 0 existe n0 ∈ N tal que |an − l| < ε, ∀n ≥ n0 . Caso contrário dizemos que a
sequência diverge.
1 1
Exemplo 4.9 Considere a sequência ( ). É claro que → 0, pois dado ε > 0, como
n n n→+∞
1 1
N não é limitado superiormente, existe n0 ∈ N tal que n0 > ⇒ n ≥ n0 > , ∀n ≥ n0 ⇒
ε ε
1
< ε, ∀n ≥ n0 .
n
1
Exemplo 4.10 A sequência an = 1, se n é ímpar e a2k = , não converge pois
k+1
se existisse um l ∈ R como na definição então para ε > 0 existiria n0 ∈ N tal que
|an − l| < ε, ∀n ≥ n¯ 0 . Assim ¯se n é ímpar tem-se que |1 − l| < ε, ∀ε > 0 ⇒ l = 1 e se
¯ 1 ¯ 1
n = 2k > n0 então ¯¯ − 1¯¯ < ε, o que é um absurdo, pois tomando ε = > 0 tem-se
¯ ¯ k+1 4
¯ 1 ¯ k 1
que ¯¯ − 1¯¯ = > , ∀k ≥ 1.
k+1 k+1 4
Nota 4.11 Observe que a sequência do exemplo acima diverge porque seus termos se
aproximam de dois valores distintos quando n cresce e pela definição de limite é claro que
isto não pode acontecer.
4.1. SEQÜÊNCIAS DE NÚMEROS REAIS 33
n
Exemplo 4.12 A seqüência ( ) converge para 1. De fato, dado ε > 0, existe n0 ∈ N
n+1
1 1 1
tal que n0 > ⇒ ∀n ≥ n0 , n + 1 > n ≥ n0 > ⇒ < ε, ∀n ≥ n0 e como
¯ ¯ ε ε n+1
¯ n ¯
¯ − 1¯ = 1 < ε, ∀n ≥ n0 ⇒ ( n ) converge para 1.
¯n + 1 ¯ n+1 n+1
Exemplo 4.13 A sequência (n) diverge pois para todo l ∈ R e para todo ε > 0, existe
n0 ∈ N tal que n0 > l + ε ⇒ |n − l| = (n − l) > ε, ∀n ≥ n0 ⇒ (n) não se aproxima de
nenhum valor real, quando n cresce, pois a sequência cresce indefinidamente.
Nota 4.14 Observe que o motivo da seqüência acima divergir é que esta cresce indefinida-
mente, quando n cresce, diferente da seqüência anterior que diverge pois seus termos se
aproximam de dois valores distintos, à medida que n cresce. Quando a sequência di-
verge porque cresce ou decresce indefinidamente, dizemos que ela tende a +∞ ou −∞,
respectivamente, cuja definição daremos mais adiante.
Observe que a definição não fornece uma maneira de calcular o limite, mas sim de
verificar que aquele número real é o limite. Isto basta para sequências com termo geral
simples. Veremos a seguir algumas propriedades de limite que nos ajudarão a determinar
limites de sequências.
Nota 4.15 É importante observar que a existência e o valor do limite de uma sequência
está relacionado com o comportamento desta quando n é suficientemente grande, isto é a
partir de um certo n0 que existe para cada valor de ε > 0. Portanto não importa os valores
que assume um número finito de termos da sequência em relação ( ao limite desta. Por
µ ¶ n; 1 ≤ n ≤ 100
n
exemplo, a seqüência e a seqüência (an ) tal que an = n
n+1 ; n > 100
n+1
possuem o mesmo limite pois elas diferem apenas num número finito de termos.(Pense
nisso!)
Prova. Seja (an ) uma sequência convergente e l ∈ R seu limite. Então considerando
ε = 1 > 0, existe n0 ∈ N tal que
|an − l| < 1, ∀n ≥ n0 .
Nota 4.18 Observe que a recíproca não é verdadeira pois a sequência (an ) tal que an =
(
1; n = 2k − 1
1 , k ∈ N é limitada pois |an | ≤ 1, ∀n ∈ N e no entanto diverge
; n = 2k
k+1
como já provamos em exemplo anterior.
Proposição 4.19 Seja (an ) uma sequência convergente para l 6= 0. Então existe M > 0
e n0 ∈ N tais que
|an | > M, ∀n ≥ n0 .
|l|
Prova. Como l 6= 0 então |l| > 0. Tomando ε = > 0, segue da definição de limite
2
que existe n0 ∈ N tal que
|l|
|an − l| < , ∀n ≥ n0 .
2
Assim das desigualdades de módulo
|l|
|l| − |an | ≤ ||an | − |l|| ≤ |an − l| < , ∀n ≥ n0 ,
2
o que implica que
|l| |l|
|an | > |l| − = = M, ∀n ≥ n0 .
2 2
¤
4.1. SEQÜÊNCIAS DE NÚMEROS REAIS 35
Nota 4.20 Na realidade pode-se provar que os termos de uma sequência convergente para
um limite não nulo tem o mesmo sinal do limite a partir de um certo n suficientemente
grande. Enunciaremos este resultado deixando a demonstração a cargo do aluno, por ser
análoga à demonstração da proposição anterior.
Proposição 4.21 (Teorema da conservação do sinal): Seja (an ) uma sequência conver-
gente para l 6= 0.
a)Se l > 0 então existe n0 ∈ N tal que an > 0, ∀n ≥ n0 .
b)Se l < 0 então existe n0 ∈ N tal que an < 0, ∀n ≥ n0 .
O próximo teorema é importante para determinarmos se uma sequência converge, a
partir de sequências que já sabemos que converge e também determinar seu limite, mas
antes daremos um outro resultado.
Proposição 4.22 Sejam (an ) e (bn ) tais que
an ≤ bn , ∀n ≥ n0 ,
para algum n0 ∈ N. Se ambas as sequências convergem, então lim an ≤ lim bn .
n→+∞ n→+∞
1 1 1
Exemplo 4.24 Temos que n < , para todo n ∈ N e no entanto lim n = 0 =
2 n n→+∞ 2
1
lim .
n→+∞ n
Teorema 4.25 (Teorema do Confronto): Sejam (an ), (bn ) e (cn ) tais que
an ≤ bn ≤ cn , ∀n ≥ n0 ,
para algum n0 ∈ N. Se lim an = lim cn = l então lim bn = l.
n→+∞ n→+∞ n→+∞
³ sen n ´
Exemplo 4.29 A sequência converge para 0, pois |sen n| ≤ 1, para todo n ∈ N
n
1
e → 0, portanto o resultado segue da proposição acima.
n
Nota 4.30 Observe que basta que (an ) seja limitada e não necessariamente convergente,
como é o caso da sequência (sen n) .
i
0.0.1 Exercício 1
µ ¶ µ ¶
1 1
Mostre por definição que as seqüências e √ convergem para 0.
2n n
Solução: Pode-se provar por indução que, 2n > n, ∀n ∈ N. Ainda, como N não é limitado
1 1 1
superiormente em R, segue que dado ε > 0, existe n0 ∈ N tal que n0 > ⇒ n > , ∀n ≥ n0 ⇒ 2n > ,
ε ε ε
1 1
∀n ≥ n0 ⇒ n < ε, ∀n ≥ n0 . Logo n → 0.
2 2
Prova. Novamente, como N não é limitado superiormente em R, segue que dado ε > 0, existe n0 ∈ N
1 1 √ 1 1 1
tal que n0 > 2 ⇒ n > 2 , ∀n ≥ n0 ⇒ n > e portanto √ < ε. Assim segue que √ → 0. ¤
ε ε ε n n
i
0.0.1 Exercício 2
Sejam (an ) e (bn ) duas sequências convergentes para a e b; respectivamente.
Solução:
a) Da convergência das sequências, segue que dado " > 0; existem n0 ; n1 2 N tais que
" "
jan aj < , para todo n n0 e jbn bj < , para todo n n1 :
2 2
Tomando N maxfn0 ; n1 g; segue que
" "
jan aj < e jbn bj < , para todo n N:
2 2
Mas,
j(an bn ) (a b)j = jan a+b bn j jan aj + jbn bj :
Logo, da desigualdade acima tem-se que,
" "
j(an bn ) (a b)j jan aj + jbn bj < + = "; para todo n N;
2 2
o que implca que an bn ! a b:
b) Do ítem (a) temos que lim (an bn ) = a b < 0; logo do teorema de conservação do sinal, existe
n!+1
n0 2 N tal que an bn < 0; para todo n n0 ; o que implica que an < bn ; para todo n n0 :
i
0.0.1 Exercício 3
Analise a convergência das seqüências
n
a) (e sen n) :
!
1 1 1
b) + 2 + + 2 :
n2 (n + 1) (2n 1)
Solução: a) Primeiramente mostremos, por de…nição, que (e n ) converge para 0: De fato: Dado
1 1
" > 0; tomemos n0 2 N tal que n0 > ln ; então para todo n n0 tem-se que n > ln ) en >
" "
1
) 0 < e n < ": Portanto (e n ) converge para 0: Como, jsen nj 1, 8n 2 N; segue de propriedade
"
vista em sala que a seqüência (e n sen n) converge para 0; já que é o produto de uma seqüência limitada
por uma que tende a 0:
1 1 1 n n 1 1
b) Tem-se que 0 < 2 + 2+ + 2 < 2 < 2 = 4n < n ;
n (n + 1) (2n 1) (2n 1) (2n)
1
8n 2 N: Mas a seqüência (an ) tal que an = 0; 8n 2 N; obviamente converge para 0 e a seqüência
n
também converge para 0, como já mostrado
! por de…nição. Assim, usando o teorema do confronto, segue
1 1 1
que + 2 + + 2 converge para 0:
n2 (n + 1) (2n 1)
i
0.0.1 Exercício 4
Seja (an ) uma seqüência convergente para a:
Solução: a) Sabe-se que jjan j jajj jan aj : Portanto como (an ) converge, tem-se que dado
" > 0; existe n0 2 N tal que
jan aj < "; 8n n0 :
Assim, da desigualdade acima, tem-se que
0.0.1 Exercício 6
p
Seja (an ) uma seqüência de números reais não negativos. Suponha que lim n an = L; onde
n!+1
0 < L < 1: Mostre que (an ) converge para 0:
Solução: Como L < 1; então existe r 2 R; tal que L < r < 1: Da de…nição de limite, dado
" = r L > 0; existe n0 2 N tal que
p p
j n an Lj < " ) L "< n
an < L + " = r; para todo n n0 :
Portanto,
0 an < rn ; para todo n n0 :
n
No entanto, de exercício proposto, como 0 < r < 1; então r ! 0; logo do teorema do confronto temos
que an ! 0:
4.1. SEQÜÊNCIAS DE NÚMEROS REAIS 37
Exercício 4.34 Seja q um inteiro positivo e (an ) uma seqüência de termos não negativos
1/q
convergindo para r ≥ 0. Mostre por definição que (an ) converge para r1/q . Conclua,
utilizando as propriedades estudadas, que se (an ) é uma seqüência de termos não negativos
convergente para r ≥ 0 então (asn ) converge para rs , onde s é um racional não negativo.
Exercício 4.35¶ Seja (an ) uma seqüência convergente para a. Mostre que a seqüência
µ
a1 + · · · + an
também converge para a.
n
Exercício 4.37 Determine, caso existam os limites abaixo, justificando os resultados uti-
lizados:
n3 sen (n!)
a) lim .
n→+∞ n4 + 1
Das convergências de (an ) e (bn ) , segue que, dado ε > 0, existem n1 , n2 ∈ N tais que
εM |l1 |
|an − l1 | < , ∀n ≥ n1
|l1 | + |l2 | (3.2.2)
εM |l1 |
|bn − l2 | < , ∀n ≥ n2 .
|l1 | + |l2 |
Assim, tem-se que
¯ ¯ ¯ ¯
¯ bn l2 ¯ ¯ bn l1 − l2 an ¯ |l1 | |bn − l2 | + |l2 | |an − l1 |
¯ − ¯=¯ ¯≤
¯ an l1 ¯ ¯ an l1 ¯ |an | |l1 |
n+1 n+1 1
Exemplo 4.39 A sequência ( ) converge para 1, pois = 1 + e a seqüência
n n n
1
constante igual a (1) converge para 1 e → 0.
n
1 1 11 1
Exemplo 4.40 2
→ 0 pois 2 = e → 0.
n n nn n
4.1. SEQÜÊNCIAS DE NÚMEROS REAIS 39
n−1
n−1 n−1 n . Como n + 1 = 1 + 1 → 1 6= 0 e
Exemplo 4.41 → 1 pois =
n+1 n+1 n+1 n n
n
n−1 1
= 1 − → 1, segue o resultado da propriedade (d).
n n
Nota 4.42 Observe que a recíproca da propriedade (c) não é verdadeira. Por exemplo
a sequência ((−1)n ) diverge pois à medida que n cresce ela se aproxima de dois valores
distintos, a saber 1 e −1. No entanto a sequência obtida tomando-se seu módulo é a
sequência constante igual a 1 que converge para 1. Asµrecíprocas
¶ das demais propriedades
n
também não são válidas. Por exemplo, a seqüência converge para 1, enquanto
µ n+¶ 1
1
que a sequência (n) não converge e a sequência converge para 0. Pense na
n+1
recíproca das demais operações.
Vejamos agora alguns exemplos, onde aplicamos as propriedades já estudadas e as
operações de limite.
µ ¶
3n
Exemplo 4.43 Considere a sequência . Sabemos que −1 ≤ sen θ ≤ 1,
n + sen(2n)
3n 3n 3n
∀θ ∈ R ⇒ 0 < n − 1 ≤ n + sen(2n) ≤ n + 1, ∀n ≥ 2. Logo, ≤ ≤ ,
n+1 n + sen(2n) n−1
3n 3n 3
∀n ≥ 2. Como = = → 3 e, de modo análogo, conclui-se que
n+1 n(1 + 1/n) 1 + 1/n
3n 3n
→ 3 então, segue do teorema do confronto, que → 3.
n−1 n + sen(2n)
√
Exemplo 4.44 Seja a ∈ R, a > 0 e considere a sequência ( n a). Provemos que tal
seqüência converge √para 1.
Se a = 1 então n √a = 1, ∀n ∈ N o que implica que a sequência converge para 1.√
Se a > 1 então n a > 1, ∀n ∈ N. Logo para cada n existe hn > 0 tal que n a =
a−1
1 + hn ⇒ a = (1 + hn )n > 1 + nhn ⇒ 0 < hn < . Portanto do teorema do confronto
√ n
segue que hn → 0 ⇒ n a → 1. r
1 1 1
Finalmente, se 0 < a < 1 então > 1 ⇒ n = √ → 1 6= 0. Assim pela pela
a √ a n
a
propriedade de quociente dos limites, segue que n a → 1.
√
Exemplo
√ 4.45 Consideremos a sequência ( n n) e determinemos seu limite.√Sabe-se que
n
n > 1, ∀n ≥ 2. Assim, para cada n ≥ 2, temos que ∃hn ∈ R, hn > 0 tal que n n = 1+hn .
Pn n! n(n − 1) 2 2
Portanto, n = (1 + hn )n = hjn > hn ⇒ h2n < . Obtém-se então
j=0 j!(n − j)! 2 n−1
2
que 0 < h2n < e portanto do teorema do confronto obtemos que h2n → 0 ⇒ hn → 0
n−1 √ √
(Prove!). Assim, como n n = 1 + hn , segue que n n → 1.
40 CAPÍTULO 4. SEQÜÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS
p√ p√ √
Exemplo 4.46 A sequência ( n n n) também converge para 1, pois 1 ≤ n p n
n ≤ n n,
√ √
∀n ≥ 1 e como do exemplo acima n n → 1 segue do teorema do confronto que n n n → 1.
Definição 4.47 Dizemos que uma sequência (an ) diverge para +∞, denotado por,
lim an = +∞ quando dado M > 0, existe n0 ∈ N tal que an > M, para todo n ≥ n0 .
n→+∞
Definição 4.48 Dizemos que uma sequência (an ) diverge para −∞, denotado por,
lim an = −∞ quando dado N < 0, existe n0 ∈ N tal que an < N, para todo n ≥ n0 .
n→+∞
Exemplo 4.49 Seja α ∈ R, α > 0 então a sequência (αn) diverge para +∞, pois dado
M
M > 0, como N não é limitado superiormente em R, existe n0 ∈ N tal que n0 > ⇒
α
αn > M, ∀n ≥ n0 .
an ≤ bn , ∀n ≥ n0 ,
Exemplo 4.51 Seja a > 1 um número real então a sequência (an ) diverge para +∞,
pois, como a > 1 então existe h > 0 tal que a = 1 + h ⇒ an = (1 + h)n ≥ 1 + nh > nh e
como (nh) diverge para +∞ segue da proposição acima que (an ) diverge para +∞.
µ ¶
n!
Exemplo 4.52 Seja a > 0 então a seqüência diverge para +∞. De fato, como N
an
n0
não é limitado superiormente então existe n0 ∈ N tal que n0 > 2a ⇒ > 2. Assim,
a
n! (n0 )! (n0 + 1) . . . n n0 ! 0 n0 ! n
para todo n > n0 segue que n = n0 n−n
> n0 2n−n0 = n
n0 2 = c2 , onde
a a a 0 a (2a)
n0 !
c= > 0 e portanto como 2n → +∞, (do exemplo anterior), segue da propriedade
(2a)n0
n!
acima que n → +∞.
a
4.1. SEQÜÊNCIAS DE NÚMEROS REAIS 41
³√ ´
Exemplo 4.53 A sequência n n! diverge para +∞. De fato, dado M > 0 segue do
n! n!
exemplo acima que n → +∞, logo existe n0 ∈ N tal que n > 1, para todo n ≥ n0 ⇒
M√ √ M
n! > M n , ∀n ≥ n0 ⇒ n n! > M, ∀n ≥ n0 ⇒ n n! → +∞.
Definição 4.55 Dizemos que uma sequência (an ) é monótona crescente quando an ≤
an+1 , para todo n ∈ N.
Exemplo 4.60 As sequências constantes são monótonas, podendo ser consideradas monó-
tonas decrescentes ou crescentes.
42 CAPÍTULO 4. SEQÜÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS
Proposição 4.61 Se (an ) é uma sequência crescente e limitada superiormente então (an )
converge para l = sup{an , n ∈ N}.
Nota 4.62 Analogamente prova-se que uma sequência monótona decrescente limitada
inferiormente converge para o ínfimo do conjunto dos termos da seqüência. Os mesmos
resultados valem se as sequências são estritamente crescentes e decrescentes, respectiva-
mente. Segue então o resultado geral.
Corolário 4.66 Seja (an ) uma sequência tal que an ≤ an+1 , ∀n ≥ n0 , para algum n0 ∈ N.
Se (an ) é limitada superiormente então (an ) converge para l = sup{an ; n ≥ n0 }.
Corolário 4.67 Seja (an ) uma sequência e n0 ∈ N tal que (an ) é monótona a partir de
n0 . Se (an ) é limitada então (an ) converge.
4.1. SEQÜÊNCIAS DE NÚMEROS REAIS 43
an
Exemplo 4.68 Seja a ∈ R tal que a > 0 então an = → 0. De fato existe n0 ∈ N
n! n→+∞
an+1 an+1 an a
tal que n0 > a ⇒ n > a, ∀n ≥ n0 . Assim, an+1 = = = <
(n + 1)! n!(n + 1) n! n + 1
an
= an , ∀n ≥ n0 e ainda an > 0, ∀n ∈ N. Então do corolário segue que (an ) converge
n!
a a an
para l ≥ 0. Mas an = an−1 e como an−1 → l e → 0 ⇒ an = → l = 0.
n n n!
Analisaremos a seguir uma sequência que é muito importante pois o seu limite é o
conhecido número e .
µµ ¶n ¶
1
Exemplo 4.69 Consideremos a sequência (an ) = 1+ . Provaremos que esta
n
é estritamente crescente e limitada superiormente, garantindo assim a sua convergência.
Mostraremos ainda que seu limite está no intervalo (2, 3). Assim definiremos e = lim
µ ¶n n→+∞
1
1+ . Iniciemos então verificando que a sequência é crescente. Temos que
n
Xn
n! 1 1 n(n − 1) 1 n(n − 1)(n − 2) 1 n! 1
an = k
=1+n + 2
+ 3
+ ··· + =
k=0
k!(n − k)! n n 2 n 3! n n! nn
µ ¶ µ ¶µ ¶ µ ¶ µ ¶
1 1 1 1 2 1 1 n−1
2+ 1− + 1− 1− + ··· + 1− ... 1 − , ∀n ∈ N.
2 n 3! n n n! n n
Assim,
µ ¶ µ ¶µ ¶ µ ¶ µ ¶
1 1 1 1 2 1 1 n−1
an = 2 + 1− + 1− 1− + ··· + 1− ... 1 − <
2 n 3! n n n! n n
µ ¶ µ ¶µ ¶
1 1 1 1 2
2+ 1− + 1− 1− + ···+
2 n+1 3! n+1 n+1
µ ¶ µ ¶
1 1 n−1
+ 1− ... 1 − < an+1 .
n! n+1 n+1
Concluindo portanto que a sequência é crescente. Mostremos que esta é limitada superi-
ormente. De fato:
Xn
n! 1 X n
(n − k)! (n − (k − 1)) . . . n
an = k
= k
≤
k=0
k!(n − k)! n k=0
k!(n − k)! n
X
n
1 1 1 1 1
≤ =1+1+ + + + ··· + ≤
k=0
k! 2 6 24 n!
1 1 1 1 Xn
1
≤ 1 + 1 + + + + ··· + n = 1 + =
2 4 8 2 k=0
2k
1 µ ¶
1− 1
= 1+ 2n+1 = 1 + 2 1 − n+1 < 3.
1 2
1−
2
44 CAPÍTULO 4. SEQÜÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS
Portanto (an ) é crescente e limitada superiormente o que garante sua convergência. Ainda
como a1 = 2 e lim an = sup{an ; n ∈ N}, segue que lim an > 2 e como 3 é uma cota
n→+∞ n→+∞
superior de {an ; n ∈ N}, então lim an ≤ 3.
n→+∞
11
Mostraremos a seguir que an < , ∀n ≥ 3 e como a seqüência é crescente segue que
4
11 11
an < , ∀n ∈ N ⇒ lim an = sup{an ; n ∈ N} ≤ < 3. Portanto 2 < lim an =
4 n→+∞ 4 n→+∞
sup{an ; n ∈ N} < 3. Assim, define-se lim an = sup{an ; n ∈ N} = e . Vejamos então,
n→+∞
∀n ≥ 3, temos que:
µ ¶ µ ¶µ ¶ µ ¶ µ ¶
1 1 1 1 2 1 1 n−1
an = 2 + 1− + 1− 1− + ··· + 1− ... 1 − =
2 n 3! n n n! n n
µ ¶∙ µ ¶ µ ¶µ ¶
1 1 1 2 1 2 3
2+ 1− 1+ 1− + 1− 1− + ···+
2 n 3 n 12 n n
µ ¶ µ ¶¸
2 2 n−1
+ 1− ... 1 − <
n! n n
µ ¶" µ ¶ µ ¶2 µ ¶n−2 #
1 1 1 2 1 2 1 2
2+ 1− 1+ 1− + 1− + · · · + n−2 1 − =
2 n 3 n 9 n 3 n
∙ ¸n−1
1 2
1 − (1 − )
n−1 3 n n−1 3n
2+ µ ¶ <2+ =
2n 1 2 2n 3n − n + 2
1− 1−
3 n
3 n−1 3n−1 3 11
2+ =2+ <2+ = .
2 2n + 2 4n+1 4 4
µ ¶n
1 11
O que conclui nossa demonstração de que 2 < lim 1 + ≤ < 3. Esta estimativa
n→+∞ n 4
pode ser ainda mais apurada e portanto define-se o número e como sendo este limite, ou
seja µ ¶n
1
e = lim 1 + .
n→+∞ n
4.1.6 Subsequência
Considere a sequência (
se n é ímpar
1,
an = 1 .
se n = 2k, k ∈ N
k+1
Já vimos que tal sequência não converge pois seus termos se aproximam de dois valores
distintos, à medida que n cresce. Observe ainda que se tomarmos bn = a2n−1 , ∀n ∈ N,
teremos uma nova seqüência (bn ), construída tomando-se apenas os termos de índices
ímpares da seqüência (an ). Observe que (bn ) é uma seqüência constante e converge para
4.1. SEQÜÊNCIAS DE NÚMEROS REAIS 45
Definição 4.70 Seja s : N→R uma sequência de números reais cujo termo geral é an .
Considere A = {n1 , n2 , · · · } um subconjunto infinito de N tal que n1 < n2 < . . . < nj <
nj+1 < . . . . A restrição de s à A, isto é, s|A : A → R tal que s(nj ) = anj é denominada
uma subsequência de (an ) e denotada por (anj ).
Nota 4.71 Observe que como o conjunto A da definição acima é um subconjunto in-
finito de N, segue que A não pode ser limitado superiormente, caso contrário seria um
subconjunto finito de N. Assim para cada n ∈ N existe j ∈ N tal que nj > n.
¡ ¢
Nota 4.72 Observe ainda que uma subsequência anj de uma seqüência (an ) é uma
nova seqüência obtida a partir da sequência original, pois pode-se definir t : N → R por
t(j) = bj = s(nj ) = anj , ∀j ∈ N.
Exemplo 4.73 Considere a sequência ((−1)n ). Duas subseqüências são (1), que é obtida
tomando-se A = {2n, n ∈ N} e ((−1)), obtida tomando-se A = {2n − 1, n ∈ N}.
µ ¶ µ ¶
1 1
Exemplo 4.74 Dada a sequência , uma subsequência é , tomando-se A =
n 2n
{2n ; n ∈ N}.
√ ¡ √
n ¢ ¡√ √ √ ¢
Exemplo 4.75 Considere ( n n) . Uma subsequência é 3 3n = 3 3, 9 9, 27 27, . . . ,
tomando-se A = {3n ; n ∈ N}.
Definição 4.77 Seja (an ) uma sequência e (anj ) uma subsequência de (an ). Dizemos que
l ∈ R é o limite de (anj ), denotado por lim anj = l, quando dado ε > 0, existe j0 ∈ N tal
j→+∞
que ¯ ¯
¯anj − l¯ < ε, ∀j ≥ j0 .
46 CAPÍTULO 4. SEQÜÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS
Prova. Considere (anj ) uma subsequência qualquer de (an ). Como (an ) converge para
l, segue que dado ε > 0, existe n0 ∈ N tal que
|an − l| < ε, ∀n ≥ n0 .
Nota 4.80 É claro que a recíproca desta proposição também é verdadeira, pois pode-se
considerar a própria sequência como uma subsequência dela mesma. No entanto é válido
um resultado melhor do que este como recíproca desta proposição, que enunciaremos a
seguir e cuja demonstração será deixada como exercício para o aluno.
Proposição 4.81 Seja s : N→R uma sequência de números reais cujo termo geral é
k
an . Considere A1 , A2 , . . . , Ak , k subconjuntos infinitos de N tais que ∪ Ai = N. Se as k
i=1
subseqüências obtidas de (an ) pela restrição de s a cada Ai , respectivamente, convergirem
para o mesmo limite l ∈ R então (an ) converge para l.
⎧
⎪ 3k
⎪
⎪ , se n = 2k ,
⎪ −1
⎨ 2k
⎪
3k2 + 5k
Exemplo 4.82 Considere an = , se n = 2k − 1, , k ∈ N. Ob-
⎪
⎪ 2k2 + 3
√
⎪
⎪ k
3+2
⎪
⎩ √ , se n = 2k e n 6= 2j , ∀j ∈ N,
k
2 k
3
serve que as subseqüências (a2k ) , (a2k−1 ) e (a2k ) convergem para e ainda {2k ; k ∈
2
N} ∪ {2k − 1; k ∈ N} ∪ {2k; 2k 6= 2j , ∀j ∈ N, k ∈ N} = N, logo da proposição acima segue
3
que an → .
2
Para sequências monótonas o resultado é ainda mais forte, vejamos.
Proposição 4.83 Seja (an ) uma sequência monótona. Se (an ) admite uma subsequência
limitada então (an ) converge.
4.1. SEQÜÊNCIAS DE NÚMEROS REAIS 47
Prova.¡Provaremos
¢ para sequência monótona crescente¡ pois
¢ os demais casos são anál-
ogos. Seja anj uma subsequência limitada de (an ), então anj é limitada superiormente,
logo existe M ∈ R tal que anj ≤ M, ∀j ∈ N. Mas para cada n ∈ N, existe j ∈ N tal que
nj > n ⇒ an < anj ≤ M ⇒ (an ) é limitada superiormente e como ela é crescente então
(an ) converge. ¤
Pn 1
Exemplo 4.84 Considere an = 3/2
. É claro que (an ) é crescente pois an+1 − an =
j=1 j
1
> 0. Considere a subsequência (a2n −1 ) então
(n + 1)3/2
n −1
2X
1 1 1 1 1
a2n −1 = =1+ + + ··· + + ··· + ≤
j=1
j 3/2 23/2 33/2 (2n−1 )3/2 (2n − 1)3/2
2 2n−1 1 1
≤ 1+ + ··· + = 1 + √ + · · · + ¡√ ¢n−1 =
23/2 (2n−1 )3/2 2 2
¶nµ
1
1− √ √
2 2
= ≤√ , ∀n ∈ N.
1 2−1
1− √
2
Vimos anteriormente que toda seqüência convergente é limitada, mas a recíproca não
é verdadeira. No entanto segue um resultado importante que pode-se pensar como uma
recíproca parcial do resultado citado.
Prova. Seja (an ) uma sequência limitada, isto é, existem M, m ∈ R tais que m ≤
an ≤ M, ∀n ∈ N. Seja B = {x ∈ R; an ≤ x, ∀n ≥ n0 , para algum n0 ∈ N}. Assim, M ∈ B
e neste caso n0 = 1 e ∀x ∈ R tal que x < m ⇒ x ∈ / B, isto é, x ≥ m, ∀x ∈ B, ou seja, B é
um conjunto limitado inferiormente e portanto admite ínfimo. Seja l = inf B e provemos
que l é o limite de uma subsequência de (an ) . Como l + 1 > l, segue que existe x1 ∈ B tal
que l ≤ x1 < l+1. Mas como x1 ∈ B existe n0 ∈ N tal que an ≤ x1 < l+1, ∀n ≥ n0 . Ainda
como l − 1 < l = inf B ⇒ l − 1 ∈ / B então existe uma infinidade de índices n0 s tais que
an > l − 1. Considere n1 ≥ n0 um talµ índice. Assim,
¶ an1 ∈ (l − 1, l + 1) . Analogamente
1 1
construímos n2 > n1 tal que an2 ∈ l − , l + e assim sucesssivamente construímos
2 2
48 CAPÍTULO 4. SEQÜÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS
µ ¶
1 1 ¡ ¢
nj > nj−1 tal que anj ∈ l − , l + . Portanto, construímos uma subsequência anj
j j
¯ ¯ 1
de (an ) tal que ¯anj − l¯ < , ∀j ∈ N. O que implica que anj → l. ¤
j j→+∞
Nota 4.90 Pode-se provar que o limite superior de uma sequência limitada é o seu maior
valor de aderência e o limite inferior é o seu menor valor de aderência.
Exemplo 4.91 Assim a sequência do exemplo anterior é tal que lim supan = 2 e lim inf an =
n→+∞ n→+∞
−1.
Nota 4.92 Observe que o limite superior de uma sequência limitada não é necessaria-
mente o supremo de seus termos. Note que no exemplo acima lim supan = 2, no entanto
n→+∞
a2 = 3 > 2 = lim supan .
n→+∞
⎧
⎨ 1, se n = 2k − 1,
k
Exemplo 4.93 Considere a sequência an = (−1) k ≥ 1. Então
⎩ , se n = 2k,
k+1
1 = lim supan e 0 = lim inf an , pois a sequência é limitada e os valores de aderência desta
n→+∞ n→+∞
sequência são 0 e 1.
4.1. SEQÜÊNCIAS DE NÚMEROS REAIS 49
Nota 4.94 Observe também que o limite inferior de uma sequência limitada não é nec-
essariamente o ínfimo de seus termos. Note que no exemplo acima lim inf an = 0, no
n→+∞
−1
entanto a2 = < 0 = lim inf an .
2 n→+∞
Exemplo 4.95 Considere an = (−1)n , então lim inf ((−1)n ) = −1 e lim sup ((−1)n ) = 1.
n→+∞ n→+∞
Nota 4.96 Quando a sequência (an ) não é limitada superiormente, dizemos, por abuso
de linguagem, que lim supan = +∞, pois neste caso existirá uma subseqüência de (an )
n→+∞
que divergirá para +∞. Analogamente, quando a seqüência não é limitada inferiormente
dizemos que lim inf an = −∞.
n→+∞
(
k, se n = 2k − 1
Exemplo 4.97 Considere an = 1 , k ≥ 1. Observe que esta se-
, se n = 2k
k+1
quência não é limitada superiormente e portanto não admite limite superior e neste caso
dizemos que lim supan = +∞, pois a subseqüência (a2n−1 ) de (an ) diverge para +∞.
n→+∞
Proposição 4.98 Seja (an ) uma seqüência convergente então (an ) admite um único valor
de aderência. Portanto, lim supan = lim inf an = lim an .
n→+∞ n→+∞ n→+∞
Prova. Já provamos que se (an ) converge então toda subseqüência de (an ) converge
para o mesmo limite, o que prova nossa afirmação. ¤
Observe que se (an ) é uma seqüência convergente, à medida que n cresce os termos da
seqüência se aproximam de um número real l e portanto seus termos se tornam arbitrari-
amente próximos uns dos outros. A recíproca é verdadeira apenas quando consideramos
sequências reais e isto é uma consequência do fato de R ser completo, ou seja, satisfazer
o postulado de Dedekind. Vejamos então alguns resultados, exemplos e definições.
Definição 4.99 Seja (an ) um sequência de números reais. Dizemos que (an ) é uma
sequência de Cauchy quando dado ε > 0 existe n0 ∈ N tal que para todo m, n ≥ n0
tem-se que |an − am | < ε.
Lema 4.100 Seja (an ) uma sequência de números reais tal que (an ) é de Cauchy e admite
uma subsequência convergente para l. Então (an ) também converge para l.
¡ ¢
Prova. Considere anj uma subseqüência de (an ) convergente para l. Então dado
¯ ¯ ε
ε > 0, existe j0 ∈ N tal que ¯anj − l¯ < , ∀j ≥ j0 . Ainda como (an ) é de Cauchy segue
2
ε
que existe n0 ∈ N tal que |an − am | < , ∀n, m ≥ n0 . Logo existe J ≥ j0 tal que nJ ≥ n0
2
e portanto, ∀n ≥ n0 tem-se que:
ε ε
|an − l| ≤ |an − anJ | + |anJ − l| < + = ε,
2 2
50 CAPÍTULO 4. SEQÜÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS
Teorema 4.101 (Critério de Cauchy): Seja (an ) uma sequência de números reais. En-
tão: (an ) converge ⇔ (an ) é de Cauchy.
Nota 4.102 Observe que para provar o teorema de Bolzano-Weiestrass usamos o fato de
R ser completo, ou seja, que um subconjunto limitado inferiormente admite ínfimo, o que
é equivalente ao postulado de Dedekind.
Solução: Temos:
n n
3 n −2 n 3 n 1 − 23 1 − 23
a n n1 1
3 −2 n1 3 n1 1 − 23
n1 3 1 −2 n1
3
Logo,
n
lim 1 − 23
lim a n 1 n→ 1 10 1.
n→ 3 lim 1 − 2 n1 3 10 3
3
n→
Exercícios 2
Mostre por definição que lim n n− 1 .
2
n→
M M2 4
Solução: Dado M 0, tome n 0 ∈ ℕ tal que n 0 . Tal n 0 existe
2
uma vez que ℕ não é limitado superiormente. Assim, ∀n n 0 tem-se que
M M2 4 M M2 4
n . Como x 2 − Mx − 1 0, ∀x , segue que
2 2
M M2 4
n n− 1 M, ∀n n 0 lim n n− 1 .
2 2
n 2 − Mn − 1 0, ∀n
2 n→
Exercícios 3
Mostre que não existe lim senn.
n→
Solução: Como |senn| ≤ 1, ∀n ∈ ℕ, então se existir lim senn a segue que
n→
|a| ≤ 1. Suponhamos primeiramente que lim senn 0. Então segue que
n→
lim senn 1 0, pois senn 1 é uma subsequência se sen n. Mas
n→
senn 1 senn cos 1 cosn sen1 e como senn 1 e senn convergem,
segue das propriedade de limite que cosn também converge. Agora passando o
limite em ambos os lados da igualdade, conclui-se que lim cosn 0. Ainda,
n→
como sen 2 n cos 2 n 1, ∀n ∈ ℕ então lim sen 2 n lim cos 2 n 1, o que
n→ n→
contradiz o resultado encontrado. Assim, lim senn ≠ 0. Suponhamos então que
n→
lim senn a com 0 |a| ≤ 1. Então lim sen2n a, já que sen 2n é uma
n→ n→
subsequência de sen n. Mas sen2n 2 senn cosn e como lim senn a ≠ 0,
n→
segue das propriedades de limite que cosn também converge, digamos para b.
Assim, passando o limite em ambos os lados da iguldade, segue que
a 2ab b 1 . Novamente, utilizando sen 2 n cos 2 n 1, ∀n ∈ ℕ, obtemos
2
3
que a . Mas lim sen3n a, no entanto sen3n 3 senn cos 2 n − sen 3 n.
2 n→
Logo passando o limite em ambos os lados da igualdade e lembrando que b 1
2
3
obtemos que a 3a − a 3 , absurdo pois a não satisfaz esta equação.
4 2
Exercícios 4
Seja a n uma sequência limitada. Mostre lim sup a n é o maior valor de
n→
aderência de a n .
Solução: Primeiramente devemos mostrar que L lim sup a n é um valor de
n→
aderência, ou seja, devemos mostrar que existe uma subsequência de a n que
converge para L. De fato: Considere A n supa n , a n1,… , logo da propriedade de
supremo temos que A n1 ≤ A n , para todo n ∈ ℕ, ou seja a sequência A n é uma
sequência decrescente, o que implica que L infA n ; n ∈ ℕ. Ainda da definição
de limite e de ínfimo, segue que dado 1 0, existe m 0 ∈ ℕ tal que para todo
n ≥ m 0 tem-se que
L ≤ A n L 1.
Logo da definição de A n e como L − 1 L ≤ A n 0 , segue que existe n 1 ≥ m 0 tal que
L − 1 a n 1 ≤ A m 0 L 1.
Tomando 1 existe m 1 n 1 tal que para todo n ≥ m 1 tem-se que
2
L ≤ An L 1 .
2
Novamente pelo mesmo raciocínio encontramos n 2 ≥ m 1 n 1 tal que
L − 1 a n2 ≤ A m1 L 1 .
2 2
E assim sucessivamente, obtemos uma susequência a n j de a n tal que
a nj ∈ L − 1 ,L 1 ,
j j
o que implica que a n j → L. Logo L é um valor de aderência de a n .
Mostraremos a seguir que L é o maior valor de aderência, ou seja mostraremos
que se C L então C não é valor de aderência de a n . Para isso, mostraremos
que existe 0 tal que o intervalo C − , C contém apenas um número finito
de a n . Como C L infA n ; n ∈ ℕ, então C não pode ser cota inferior do conjunto
A n ; n ∈ ℕ, então existe n C ∈ ℕ tal que A n C C. Da definição de A n C , segue que
a n ≤ A n C C, para todo n ≥ n C . Assim, tomando C − A n C 0, segue que
C − A n C e portanto a n ≤ C − , para todo n ≥ n C , ou seja existe no máximo n C
elementos a n no intervalo C − , C , o que implica que C não é valor de
aderência de a n e como isto vale para qualquer C L, segue que L é o maior
valor de aderência de a n .
Mostre que lim inf a n é o menor valor de aderência de a n .
n→
Exercícios 5
Sejam a n e b n uma sequências limitadas. Mostre
a) lim sup−a n − lim inf a n .
n→ n→
Solução:
Das propriedades de supremo e ínfimo tem-se que
sup−a n , −a n1 , … − infa n , a n1 , …
supa n b n , a n1 b n1 , … ≤ supa n , a n1 , … supb n , b n1 , …
infa n b n , a n1 b n1 , … ≥ infa n , a n1 , … infb n , b n1 , … .
Portanto da definição de limite superior e inferior e das propriedades de limite,
segue que
a)
lim sup−a n lim sup−a n , −a n1 , … lim − infa n , a n1 , …
n→ n→ n→
b)
lim supa n b n lim supa n b n , a n1 b n1 , … ≤
n→ n→
c)
lim infa n b n lim infa n b n , a n1 b n1 , … ≥
n→ n→
tal que
1 −
n , para todo n ≥ n 0 .
2|a 2 − a 1 |
Assim, para todo m n ≥ n 0 tem-se que
|a m − a n | |a np − a n | np−2 np−3 n−1 |a 2 − a 1 | ≤
2|a 2 − a 1 | 1 − 2|a 2 − a 1 |
≤ n ,
1− 2|a 2 − a 1 | 1 −
o que implica que a n é de Cauchy e portanto converge.
4.1. SEQÜÊNCIAS DE NÚMEROS REAIS 51
Exercício 4.106 Seja (an ) uma sequência de termos positivos que converge para r > 0.
√
Mostre que n an → 1.
√
Exercício 4.107 Sejam a, b reais não negativos. Prove que lim n an + bn = max{a, b}.
n→+∞
Exercício 4.110 Se (an ) é uma sequência de termos não negativos tal que an → +∞,
mostre que asn → +∞, onde s é um racional positivo.
1
Exercício 4.111 Se (an ) é uma sequência tal que an → +∞, mostre que → 0. Enun-
an
cie e demonstre o resultado análogo quando an → −∞.
52 CAPÍTULO 4. SEQÜÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS
Exercício 4.112 Se (an ) é uma sequência tal que an → −∞ e (bn ) é tal que bn → 0 e
an
existe n0 ∈ N tal que bn < 0, ∀n ≥ n0 , prove que → +∞.
bn
Exercício 4.113 Analise a convergência das sequências abaixo, determinando seus lim-
ites, caso existam:
a)µ(ne−n¶)
n!
b) n
µn n ¶
10
c)
µ (2n)! ¶
n n
d) (−1)
µ n+2 ¶
3n2
e) cos (nπ)
n2 + 1
Exercício
√ 4.116 Considere (an ) uma sequência de números reais tal que a1 = 2 e an+1 =
3
2an , ∀n ∈ N. Verifique se (an ) converge e se for o caso, determine seu limite.
4.2. SÉRIES NUMÉRICAS 53
Definição 4.117 Considere uma sequência de números reais (an ) . À sequência (sn ) ,
Pn
onde sn = aj , denominada sequência das somas parciais denominamos série de termo
j=1
geral an .
Definição 4.118 Dada a série de termo geral (an ) dizemos que esta converge quando
a sequência das somas parciais (sn ) converge. Neste caso denotamos o limite de (sn ) e
P
+∞
portanto da série por an .
n=1
P
+∞
Nota 4.119 Por abuso de linguagem, denotaremos a série de termo geral (an ) por an .
n=1
Isto não significa que a série converge, na realidade usa-se a mesma notação tanto para
a série quanto para o seu limite, caso ele exista.
P
+∞
Exemplo 4.120 A série 2−n converge pois a sequência de somas parciais corresponde
n=0
1 nP 1 − (1/2)n+1
a soma de uma PG com n termos, de razão < 1. Assim, sn = 2−j = →
2 j=0 1 − (1/2)
2.
P
+∞
Exemplo 4.121 A série n diverge pois sn → +∞.
n=1
½
P
+∞
n −1, se n é ímpar
Exemplo 4.122 A série (−1) diverge pois sn = . Portanto
n=1 0, se n é par
como (sn ) admite dois valores de aderência distintos, esta não converge, apesar de ser
limitada.
µ ¶
P
+∞ 1 Pn 1 Pn 1 1
Exemplo 4.123 A série converge pois sn = = − =
n=1 n(n + 1) j=1 j(j + 1) j=1 j j+1
1 1 1 1 1 1
1 − + − +···+ − =1− → 1.
2 2 3 n n+1 n + 1 n→+∞
P
+∞1
Exemplo 4.124 A série p
, com p ∈ R, p > 1 converge. De fato, como os termos
n=1 n
Pn 1
da série são todos positivos então a sequência das somas parciais (sn ), sn = p
é
j=1 j
54 CAPÍTULO 4. SEQÜÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS
crescente. Assim, se mostrarmos que (sn ) admite uma subsequência limitada teremos que
(sn ) converge e portanto a série é convergente. Considere então a subseqüência (s2n+1 −1 ) ,
observe que 2n+1 − 1 = 2n + 2n − 1. Portanto
2n+1
X−1 µ ¶ µ ¶
1 1 1 1 1 1 1
s2n+1 −1 = =1+ + + + + +
j=1
jp 2p (2 + 1)p (22 )p (22 + 1)p (22 + 2)p (22 + 3)p
µ ¶
1 1 1 2 22 2n
+··· + + + · · · + < 1 + + + · · · +
(2n )p (2n + 1)p (2n + 2n − 1)p 2p (22 )p (2n )p
1 1 1 1 1 1
= 1 + p−1 + p−1 +···+ p−1 = 1 + p−1 + 2 + · · · + p−1 n
2 (22 ) (2n ) 2 (2p−1 ) (2 )
X 1
n
1 − (1/2p−1 )
n+1
1
= j = p−1
< ,
j−0
(2p−1 ) 1 − (1/2 ) 1 − (1/2p−1 )
assim (s2n+1 −1 ) é limitada superiormente e como é crescente, segue que é limitada inferi-
ormente por s1 = a1 = 1, logo (sn ) converge.
P
+∞ P
+∞
Proposição 4.125 Seja c ∈ R.Se as séries an e bn são convergentes então as séries
n=1 n=1
P
+∞ P
+∞
(can ) e (an ± bn ) são convergentes.
n=1 n=1
P
+∞
Teorema 4.126 (Critério de Cauchy para séries): Uma série an converge ⇔ ∀ε > 0,
n=1
∃n0 ∈ N tal que para todo n > m > n0 tem-se
¯ n ¯
¯X ¯
¯ ¯
|sn − sm−1 | = ¯ aj ¯ < ε.
¯ ¯
j=m
P
+∞
Proposição 4.127 Se a série an converge então an → 0.
n=1
Prova. Como a série converge então ela é de Cauchy. Assim, ∀ε > 0, ∃n0 ∈ N tal que
∀n > n0 tem-se ¯ n ¯
¯X ¯
¯ ¯
|sn − sn−1 | = ¯ aj ¯ = |an | < ε ⇒ an → 0.
¯ ¯
j=n
Observe que esta é uma condição necessária para que uma série convirja. Portanto só
deve ser utilizada para concluirmos a divergência da série.
µ ¶n µ ¶n
P
+∞ 1 1
Exemplo 4.128 A série 1+ diverge, pois 1 + → e 6= 0.
n=1 n n
P1
+∞ 1
Exemplo 4.129 A série é tal que → 0, no entanto esta série, denominada série
n=1 n n
harmônica, é divergente. Vejamos:
X2n
1 1 1 X
2n
1 1
= + ··· + > = ,
j=n+1
j n+1 2n j=n+1 2n 2
1
portanto dado ε = > 0, para todo n ∈ N tem-se que
4
X2n
1 1
|s2n − sn | = > > ε,
j=n+1
j 2
Ou seja o fato da sequência do termo geral de uma série convergir para 0 não garante
a convergência desta.
P
+∞
Definição 4.130 Dizemos que uma série an é absolutamente convergente quando a
n=1
P
+∞
série |an | é convergente.
n=1
P
+∞
Proposição 4.131 Se a série an é absolutamente convergente então ela é convergente.
n=1
56 CAPÍTULO 4. SEQÜÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS
Prova. Como a série é absolutamente convergente então a sequência (sn ) tal que
P n
sn = |ai | é de Cauchy, ou seja, ∀ε > 0, ∃n0 ∈ N tal que ∀n > m > n0 tem se que
i=1 ¯ n ¯
Pn ¯P ¯ P
n
|ai | < ε. Da desigualdade triangular segue que ¯¯ ai ¯¯ ≤ |ai | < ε, ∀n > m > n0 .
i=m i=m i=m
Logo do critério de Cauchy, segue que a série é convergente. ¤
Nota 4.132 É importante observar que a série pode ser convergente, sem ser absoluta-
mente convergente, como veremos mais adiante.
Primeiramente daremos alguns critérios para séries de termos positivos, que podem
ser utilizados para a convergência absoluta. Enunciaremos e demonstraremos apenas um
critério para convergência condicional, isto é, quando a série converge, mas não absoluta-
mente.
P
+∞ P
+∞
Teorema 4.133 (Critério da comparação): Considere as séries an e bn , ambas de
n=1 n=1
termos não negativos. Suponha que existe n0 ∈ N tal que an ≤ bn , ∀n ≥ n0 . Então:
P
+∞ P
+∞
a) Se a série bn converge então an também converge.
n=1 n=1
P
+∞ P
+∞
b) Se a série an diverge então bn também diverge.
n=1 n=1
P
+∞
Prova. a)Como a série bn converge então ela é de Cauchy, logo ∀ε > 0, ∃n1 ∈ N
n=1
P
n
tal que ∀n > m > n1 , bj < ε. Tomando N = max{n0 , n1 } tem-se que ∀n > m > N,
j=m
P
n P
n P
+∞
aj ≤ bj < ε ⇒ an é de Cauchy e portanto converge.
j=m j=m n=1
b)Esta demonstração segue imediatamente do ítem anterior provando-se por absurdo.
¤
1 P
+∞ 1 1 P1
+∞
Exemplo 4.134 A série √ diverge pois √ ≥ , ∀n ≥ 1 e diverge. Analoga-
n=1 n n n n=1 n
P 1
+∞
mente para cada p ∈ R, 0 < p ≤ 1, tem-se que a série p
diverge.
n=1 n
P
+∞ 1 1 1 P 1
+∞
Exemplo 4.135 A série converge pois < n , ∀n ≥ 4 e n
converge para 2
n=0 n! n! 2 n=0 2
como já foi mostrado.
4.2. SÉRIES NUMÉRICAS 57
¯ ¯
P cos(n) ¯ cos(n) ¯
¯≤ 1 e P 1
+∞ +∞
Exemplo 4.136 A série converge absolutamente pois ¯¯
n=0 n! n! ¯ n! n=0 n!
converge.
O próximo critério é uma conseqüência do critério da comparação e tem a facilidade
de não ser necessária uma comparação dos termos gerais da série, através da relação de
ordem.
P
+∞ P
+∞
Teorema 4.137 (Critério do quociente): Considere as séries an e bn , com an ≥ 0
n=1 n=1
e bn > 0, ∀n ∈ N. Então:
an P
+∞ P
+∞
a) Se lim = l > 0 então a série an converge ⇔ a série bn converge. Ou
n→+∞ bn n=1 n=1
P
+∞ P
+∞
seja, as séries an e bn têm a mesma natureza, ou ambas convergem ou ambas
n=1 n=1
divergem.
an P
+∞ P
+∞
b) Se lim = 0 e a série bn converge então a série an converge.
n→+∞ bn n=1 n=1
an P
+∞ P
+∞
c) Se lim = +∞ e a série bn diverge então a série an diverge.
n→+∞ bn n=1 n=1
Prova. Apenas o ítem (a) será demonstrado. Os demais são análogos e a demon-
stração será deixada a cargo do aluno.
l
Da definição de limite segue que dado ε = > 0 existe n0 ∈ N tal que ∀n ≥ n0 tem-se
¯ ¯ 2
¯ an ¯
que ¯¯ − l¯¯ < ε, isto é, ∀n ≥ n0
bn
l an 3l
< < ,
2 bn 2
ou seja
l 3l
bn < an < bn , ∀n ≥ n0 ,
2 2
portanto basta agora aplicar o critério da comparação. ¤
P
+∞ 1
Exemplo 4.138 A série 2
converge pois
n=1 n
1 µ ¶
n2 n(n + 1) 1
lim = lim = lim 1 + =1>0
n→+∞ 1 n→+∞ n2 n→+∞ n
n(n + 1)
P
+∞ 1
e converge.
n=1 n(n + 1)
58 CAPÍTULO 4. SEQÜÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS
P
+∞
Teorema 4.139 (Teste da razão): Seja an uma série de números reais não nulos.
n=1
Então: ¯ ¯
¯ an+1 ¯
a) Se lim ¯¯ ¯ = l < 1 então a série converge absolutamente.
n→+∞ a ¯
¯ n ¯ ¯ ¯
¯ an+1 ¯ ¯ an+1 ¯
b) Se lim ¯¯ ¯ = l > 1 ou lim ¯ ¯ = +∞ então a série diverge.
n→+∞ an ¯ n→+∞ ¯ an ¯
Portanto, |an0 +1 | < r |an0 | , |an0 +2 | < r |an0 +1 | < r2 |an0 | e assim sucessivamente segue
que |an0 +p | < rp |an0 | , ou seja, |an | < rn−n0 |ano | = r−n0 |an0 | (rn ) , ∀n ≥ n0 e a série
P n
+∞
r converge pois é a soma de uma PG infinita de razão r menor que 1. Logo pelo
n=1
P
+∞ P
+∞
critério da comparação segue que a série |an | converge e portanto a série an converge
n=1 n=1
absolutamente.
b) Exercício. ¤
¯ ¯
¯ an+1 ¯
Nota 4.140 No caso do ítem (a) do teste da razão, se ao invés de termos lim ¯¯ ¯=
¯
¯ ¯ n→+∞ an
¯ an+1 ¯
l < 1, tivermos lim sup ¯¯ ¯ = l < 1 também poderemos concluir a convergência da
¯
n→+∞ an
série(Prove!). No entanto não podemos substituir o limite pelo limite superior no ítem
(b), como veremos num exemplo após o teste da raiz.
P
+∞
Teorema 4.141 (Teste da raiz): Considere a série an de números reais. Então:
n=1
p
a) Se lim sup n |an | = l < 1 então a série converge absolutamente.
n→+∞
p
b) Se lim sup n |an | = l > 1, (podendo ser +∞) então a série diverge.
n→+∞
Prova. a)³Como ´ l < 1, então existe s ∈ R tal que l < s < 1. Como l é o maior valor de
p
aderência de n
|an | , então existe no máximo um número finito de índices n0 s tais que
p p
n
|an | ≥ s e portanto existe n0 ∈ N tal que n |an | < s, ∀n ≥ n0 ⇒ |an | < sn , ∀n ≥ n0 .
P n
+∞
Logo, como a série s converge, pois 0 < s < 1, segue do critério de comparação a
n=1
P
+∞ P
+∞
convergência de |an | , o que implica que a série an converge absolutamente.
n=1 n=1
4.2. SÉRIES NUMÉRICAS 59
p
b) Analogamente existe q s ∈ R tal que l > s > 1. Como l = lim sup n |an | então
³ ¯ ¯´ ³p ´
existe uma subseqüência nj ¯anj ¯ de n |an | que converge para l. Assim, tomando
q¯ ¯
nj ¯
ε = l − s > 0, segue que existe j0 ∈ N tal que anj ¯ ∈ (l − ε, l + ε) = (s, l + ε) , ∀j ≥
¯ ¯
j0 ⇒ ¯anj ¯ > ¡snj ,¢∀j ≥ j0 . Mas como nj
¯ s¯ > 1 então s → +∞ e portanto existe uma
subseqüência anj de (an ) tal que ¯anj ¯ → +∞ ⇒ an 9 0, o que implica que a série
P
+∞
an diverge. ¤
n=1
µ ¶n µ ¶n
P
+∞ 1 1
Exemplo 4.142 Considere a série an tal que a2n = e a2n−1 = , n ∈ N.
n=0 3 2
√ 1 √ 1 1 1
Pelo teste da raiz temos que 2n a2n = √ e 2n−1 a2n−1 = √ 2n−1 p√ → √ . Portanto,
3 2 2 2
√ 1 an+1
lim sup n an → √ < 1 e portanto a série converge. No entanto, se tomássemos
n→+∞ 2 an
k
an+1 3
teríamos, se n = 2k é par então n + 1 = 2k + 1 é ímpar e portanto = k+1 =
µ ¶k an 2
1 3 an+1
→ +∞ e portanto lim sup = +∞, mostrando que não se pode substituir o
2 2 an
limite do ítem (b) do teste da razão pelo limite superior. Observe então que o teste da
razão não se aplica neste exemplo. Nem mesmo a sua versão forte que está no exercício
resolvido 5, da quarta semana, pois se n = 2k − 1 é ímpar então n = 2k é par e portanto
µ ¶k
an+1 2 an+1 an+1 an+1
= → 0, ou seja lim inf = 0.Logo, lim sup > 1 e lim inf < 1, o
an 3 an an an
n→+∞
que não permite concluir nada, nem mesmo pela versão forte do teste da razão.
Nos dois teoremas acima nada se pode afirmar quando os limites são iguais a 1. Por
exemplo:
P1
+∞ P
+∞1
Exemplo 4.143 A série diverge e a série 2
converge, no entanto os testes da
n=1 n n=1 n
raiz e da razão em ambos os casos resultam em 1.
r n
P an
+∞ a
Exemplo 4.144 Considere a ∈ R, a > 0, a série converge pois lim n =
n=0 n! n→+∞ n!
a
lim √ n
= 0 < 1 ⇒ pelo teste da raiz, a série converge.
n→+∞ n!
(n + 1)!
P n!
+∞ (n + 1)n+1 (n + 1)nn
Exemplo 4.145 A série converge pois lim = lim =
n=1 n
n n→+∞ n! n→+∞ (n + 1)n+1
nn
nn 1 1
lim n = lim µ ¶n = < 1.
n→+∞ (n + 1) n→+∞ 1 e
1+
n
60 CAPÍTULO 4. SEQÜÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS
Para finalizarmos, daremos um teste para séries cujos termos alternam de sinal, de-
nominadas séries alternadas. Existem outros critérios mais gerais para séries cujos termos
não têm o mesmo sinal, mas não são necessariamente alternados e vocês poderão encontrar
em bons livros de análise.
Teorema 4.146 (Teste de Leibniz): Seja (an ) uma sequência decrescente que converge
P
+∞
para 0. Então a série alternada (−1)n an converge. Além disso o erro que se comete
n=1
ao aproximarmos a soma da série por qualquer uma de suas somas parciais é, em valor
absoluto, menor ou igual ao primeiro termo desprezado.
P
+∞
Definição 4.147 Dizemos que uma série an é condicionalmente convergente, quando
n=1
P
+∞ P
+∞
a série an converge, mas a série |an | diverge, ou seja, quando a série é convergente,
n=1 n=1
sem ser absolutamente convergente.
µ ¶
P
+∞ 1 n 1
Exemplo 4.148 A série alternada (−1) converge condicionalmente pois é
n=1 n n
decrescente
¯ e¯ converge para 0, logo pelo teste de Leibniz ela converge, no entanto a série
P ¯¯
+∞
n 1¯
¯ +∞P1
¯ (−1) = diverge.
n=1 n ¯ n=1 n
4.2. SÉRIES NUMÉRICAS 61
µ ¶
P
+∞ 1n 1
Exemplo 4.149 A série (−1) √ converge condicionalmente pois √ é decres-
n=1 n n
cente e converge para 0. Observe que analogamente ao exemplo anterior a série não con-
verge absolutamente.
" r #2
P
+∞
n 1
Nota 4.150 Observe que apesar da série acima convergir, a série (−1) =
n=1 n
P1
+∞ P
+∞
diverge. Observe ainda que (−1)n é divergente e a série harmônica também é
n=1 n n=1
P (−1)n
+∞
divergente como já provamos. No entanto a série cujo termo geral é o produto
n=1 n
dos termos gerais das série divergentes acima, é convergente. Isto esclarece o que já
havíamos dito sobre séries cujo termo geral é o produto dos termos gerais de outras séries.
No entanto existem algumas condições que permitem concluir a convergência da série cujo
termo geral é o produto dos termos gerais de duas outras séries, como pode ser visto na
lista de exercícios propostos.
Nota 4.151 Uma outra observação importante é sobre alterar a ordem dos termos de
uma série. Quando se altera a ordem dos termos de uma série obtém-se uma nova série,
pois altera-se a sequência de suas somas parciais. No entanto, o que pode-se dizer do
limite desta nova série? Pode-se concluir que se a série é absolutamente convergente
então esta nova série converge para o mesmo limite que a série original, este resultado
pode ser encontrado no livro Introdução ao Cálculo de Paulo Boulos, vol 2, no apêndice
E. No entanto se a série converge apenas condicionalmente então a nova série poderá
convergir para um outro limite ou até mesmo divergir. Vejamos um exemplo.
P (−1)n−1
+∞ 1 1 1
Exemplo 4.152 Considere a série = 1− + − + · · · que é apenas
n=1 n 2 3 4
condicionalmente convergente. Pode-se mostrar facilmente que a subsequência (s2n ) da
sequência (sn ) das somas parciais da série é crescente e portanto a soma da série, isto
1 P 1 (−1)n−1
+∞ P (−1)n−1
1 +∞
é, seu limite s é tal que s ≥ s2 = . Ainda a série = =
2 n=1 2n 2 n=1 n
1 1 1 1 s
− + − + · · · converge para . Assim, supondo que se pode alterar a ordem dos
2 4 6 8 2
3s
termos da sequência sem alterar seu limite, obtemos que = s, pois ao somar termo
2
a termo cada uma das séries e alterando a ordem, obtemos novamente a série original.
1
Logo, conclui-se então que s = 0, o que é um absurdo, pois já sabemos que s ≥ .
2
Exercício 1
Seja a n uma sequência decrescente de números reais positivos tais que
∑ a n converge. Mostre que na n → 0.
n1
Solução: Como ∑ a n converge, segue que a n → 0 e a série é de Cauchy, ou
n1
seja, dado 0 existe n 0 ∈ ℕ tal que para todo m n n 0 tem-se que
m m
∑ a j ∑ a j .
2
jn jn
∑ aj .
2
jn1
Mas
2n
converge.
resolucao Para x 2k, segue que cosnx 1,
cosnx 1 , que diverge.
∀n ∈ ℕ ∑ n ∑ n
n1 n1
Assim, para x ≠ 2k, temos que 1 é uma seqüência
n
n sen n 1 x
decrescente convergente para 0 e a seqüência s n ∑ cosjx 2 − 1
2 sen x 2
j1 2
sen n 1 x
é tal que |s n | ≤ 2 1 ≤ 1 1 , ∀n ∈ ℕ. Portanto pelo
2 sen x 2 2 sen x 2
2 2
critério de Dirichlet, que está na lista de exercícios propostos, segue que a série
acima converge, ∀x ∈ tal que x ≠ 2k, k ∈ ℤ.
Exercício 4
Seja a ∈ , tal que a 1. Mostre que a série
∑ −1 n n a a − 3 a 4 a − 5 a é divergente, enquanto que a série
n2
∑ 2n a − 2n1 a a − 3 a 4 a − 5 a é convergente.
n1
Solução: Observe que a primeira série é divergente pois seu termo geral não
converge, uma vez que a 2n → 1 e a 2n1 → −1, e portanto não converge para 0.
O termo geral da segunda série, 2n a − 2n1 a → 1 − 1 0, o que
não implica que a série converge. No entanto a sequência das somas parciais s n
é crescente, já que 2n a − 2n1 a 0, ∀n ∈ ℕ s n − s n−1 2n a − 2n1 a 0. Ainda
n n
s n ∑ 2j a − 2j1
a ∑ 2j a − 2j2
a a − 2n2 a a . Logo a seqüência s n é
j1 j1
crescente e limitada superiormente, portanto converge, ou seja a série converge.
Nota Observe que aparentemente colocamos apenas um parêntesis.
Isto mostra que a série não é uma "soma" infinita, mas sim um limite, o limite da
sequência das somas parciais e como estas séries têm termo geral diferente, suas
sequências das somas parciais também é diferente. Ou seja não vale a
associatividade nas séries. No entanto pode-se mostrar que se a série é
absolutamente convergente então a associatividade é válida.
Exercício 5
Dada a série ∑ a n , considere L lim sup aan1
n
e l lim inf aan1
n
. Mostre
n→ n→
n1
que:
a) Se L 1 então a série converge absolutamente. b) Se l 1
então a série diverge.
Solução: a) Se L 1, então existe r ∈ tal que L r 1. Como L é o maior
valor de aderência de a n1 , então existe n ∈ ℕ tal que a n1 r, ∀n ≥ n .
an 0 an 0
a
Assim, ann0 1 r, ou seja |a n 0 1 | r|a n 0 |, |a n 0 2 | r|a n 0 1 | r 2 |a n 0 | e assim
0
|a |
sucessivamente, |a n | r n−n 0 |a n 0 |, ∀n ≥ n 0 ou seja |a n | r n nn00 , ∀n ≥ n 0 e como
r
|a |
r 1, segue que ∑ r n converge e portanto ∑ r n nn00 também converge, logo do
r
n1 n1
critério de comparação ∑ a n converge.
n1
b) Se l 1, então existe s ∈ tal que l s 1. Assim, como l é um valor de
a n1 , segue que existe uma subsequência a n j 1
aderência de an a nj de
a n1 a n j 1
an tal que a nj → l. Ou seja dado l − s 0, existe j 0 ∈ ℕ tal que
a n j 1 a n j 1
∀j ≥ j 0 , a nj − l a nj l − s, ∀j ≥ j 0 . Portanto, procendendo
a nj
como no ítem anterior, tem-se que |a n j | s n j n j00 , ∀j ≥ j 0 e como s 1, então
r
s n j → . Logo a n 0 e portanto a série ∑ a n diverge.
n1
Nota Esta é denominada versão forte do teste da razão.
62 CAPÍTULO 4. SEQÜÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS
Pn
+∞ −1
a) .
n=2 n!
P n2
+∞ −n−1
b) .
n=2 n!
P
+∞ 2n + 5
c) (−1)n .
n=0 (n + 2) (n + 3)
P
+∞ n+2 n P (−1)n−1
+∞
d) (−1) , sabendo que = ln 2.
n=1 n (n + 1) n=1 n
P
+∞ 1
e) (−1)n .
n=1 2n
P
+∞
Exercício 4.155 Prove que se a série de termos positivos an é convergente então
n=1
P
+∞ P
+∞ a2n
a2n e 2
também o são.
n=1 n=1 1 + an
Exercício 4.156 Considere (an ) uma sequência de termos não negativos e tal que an →
P
+∞ P an
+∞
0. Prove que an converge ⇔ converge.
n=1 n=1 1 + an
P
+∞
Exercício 4.157 Considere a série an de termos não negativos, convergente e a se-
n=1
P
+∞
quência (bn ) de termos não negativo e limitada. Mostre que an bn converge. Conclua
n=1
P
+∞ P
+∞ P
+∞
que se an e bn são absolutamente convergentes então an bn também é absoluta-
n=1 n=1 n=1
mente convergente.
P
+∞ P
+∞
Exercício 4.158 Sejam an , bn ≥ 0, ∀n ∈ N. Se a2n e b2n convergem, mostre que
n=1 n=1
P
+∞
an bn também converge.
n=1
4.2. SÉRIES NUMÉRICAS 63
P
+∞
Exercício 4.159 Se (an ) é uma sequência de termos não negativos tal que a série a2n
n=1
P an
+∞
converge, mostre que também converge.
n=1 n
P
+∞ 1 P
+∞ n2 − 23n + 9
d) √
3
e) √
3 n + 7 − 2n + cos3 (n2 )
2
n=1 n + 1 n=1 4n
P2
+∞ − sen2 (3n) P
+∞ ³π´
f) n 2
g) sen
n=1 2 + n + 1 n=1 2n
√ µ ¶n
P
+∞
n n P 3
+∞ 1 P n!
+∞
h) (−1) 2 i) n
1+ j) n
,p>0
n=1 n +2 n=1 2 n n=1 p
P 3n n!
+∞ P 2n n!
+∞ P en n!
+∞
k) l) m)
n=1 nn n=1 nn n=1 nn
⎧
P
+∞ ⎨ −1 , se n = 2k
⎪
m) an , onde an = k , ∀k ∈ N.
⎪ 1
n=1 ⎩ , se n = 2k − 1
k
Exercício 4.161 Critério de Dirichlet: Suponha que a sequência das somas parciais
P
+∞
da série an é limitada e (bn ) uma sequência decrescente de números positivos con-
n=1
P
+∞
vergindo para zero. Prove que an bn é convergente.
n=1
P
+∞
Exercício 4.162 Mostre, utilizando o critério de Dirichlet que se an é convergente e
n=1
P
+∞
(bn ) é uma sequência de termos não negativos, decrescente, então an bn converge.
n=1
P
+∞ ln (n)
Exercício 4.165 Mostre que (−1)n é condicionalmente convergente.
n=1 n
Capítulo 5
Limite e continuidade de função de
uma variável
Exemplo 5.4 Considerando o intervalo aberto X = (−3, 2), segue que todos os seu pon-
tos são interiores, pois para cada x ∈ X tem-se que −3 < x < 2. Assim, tomando
r = min{x + 3, 2 − x} > 0, tem-se que x + r ≤ 2 e x − r ≥ −3. Portanto (x − r, x + r) ⊂
(−3, 2) , o que permite concluir que todo ponto x ∈ X é um ponto interior.
65
66 CAPÍTULO 5. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL
Exemplo 5.5 Considerando o intervalo X = [1, 9), pode-se provar, como no exemplo
acima que todos os pontos do intervalo (1, 9) são pontos interiores de X, no entanto o
ponto 1 ∈ X não é interior, pois qualquer que seja r > 0, tem-se que 1 − r < 1 e portanto
(1 − r, 1 + r) não está contido em X.
Exemplo 5.6 Considere X = {1} ∪ [−1, 0) ∪ (2, 5], então os pontos de (−1, 0) ∪ (2, 5)
são pontos interiores de X, enquanto que os pontos {1, −1, 5} não o são.
1
Exemplo 5.7 Seja X = { ; n ∈ N}. É claro que nenhum ponto de X é interior pois
n µ ¶
1 1
para cada n ∈ N e para todo r > 0 o intervalo − r, + r contém pontos irracionais
µ ¶ n n
1 1
e portanto − r, + r não está contido em X.
n n
Definição 5.8 Seja X um subconjunto não vazio de R. O interior de X é o conjunto
◦
consistindo de todos os pontos interiores de X, denotado por X ou int (X) .
◦
Exemplo 5.9 Se X = (−3, 2) então X = (−3, 2) .
◦
Exemplo 5.10 Se X = [1, 9) então X = (1, 9) .
◦
Exemplo 5.11 Se X = {1} ∪ [−1, 0) ∪ (2, 5] então X = (−1, 0) ∪ (2, 5) .
1 ◦
Exemplo 5.12 Se X = { ; n ∈ N} então X = ∅.
n
Definição 5.13 Seja X um subconjunto não vazio de R. Dizemos que X é aberto quando
◦
X = X.
Exemplo 5.15 O intervalo aberto (a, b) para quaiquer a, b ∈ R, com a < b é um conjunto
aberto.
Exemplo 5.17 R = (−∞, +∞) é aberto, pois todos os seus pontos são interiores.
Exemplo 5.19 O intervalo fechado [a, b] quaisquer que sejam a, b ∈ R com a < b é um
conjunto fechado pois [a, b]C = (−∞, a) ∪ (b, +∞) que é aberto.
5.1. TOPOLOGIA DA RETA 67
Exemplo 5.20 O conjunto X = {1} ∪ [−1, 0) ∪ (2, 5] não é aberto pois seu interior não
é igual a X, e também não é fechado pois X C = (−∞, −1) ∪ [0, 1) ∪ (1, 2] ∪ (5, +∞) que
não é aberto.
1 ◦
Exemplo 5.21 Se X = { ; n ∈ N} então X = ∅ e portanto X não é aberto. Ainda
n
1
X C = {x ∈ R; x 6= } que não é aberto pois 0 não é ponto interior de X C . De fato,
n
1 1
para todo r > 0 existe n0 ∈ N tal que 0 < < r, pois → 0. Assim (−r, r) não está
n n
contido em X C qualquer que seja r > 0. Portanto 0 ∈ X C e não é um ponto interior deste
conjunto e assim X C não é aberto. Logo X não é aberto nem fechado.
Exemplo 5.23 O conjunto vazio ∅ é fechado, já que seu complementar é R, que é aberto.
A seguir daremos uma definição que é importante para trabalharmos com o conceito
de limite.
Nota 5.27 A definição implica que arbitrariamente próximo de a existem pontos do con-
junto X diferentes de a, isto significa que existe uma sequência de elementos de X distintos
de a e distintos entre si que converge para a. (Pense!)
◦
Prova. Seja a ∈ X então existe r > 0 tal que Vr (a) ⊂ X ⇒ Vbr (a) ⊂ X. Assim, ∀s >
0, se 0 < r ≤ s então Vbr (a) ⊂ Vbs (a) ⇒ Vbs (a) ∩ X ⊃ Vbr (a) . Logo, Vbs (a) ∩ X 6= ∅, ∀s ≥ r.
Ainda se 0 < s < r então Vbs (a) ⊂ Vbr (a), portanto Vbs (a) ∩ X = Vbs (a) . Ou seja ∀s > 0,
Vbs (a) ∩ X 6= ∅ ⇒ a ∈ X 0 . ¤
Prova. (⇒) Devemos provar que X = X, para isto basta provar que X 0 ⊂ X.
Suponhamos por absurdo que X 0 * X, isto é, ∃a ∈ X 0 tal que a ∈ / X ⇒ a ∈ X C . Assim
como X é fechado e portanto X C é aberto, segue que ∃r > 0 tal que Vr (a) ⊂ X C ⇒
Vr (a) ∩ X = ∅ ⇒ Vbr (a) ∩ X = ∅, o que é um absurdo, já que a ∈ X 0 . Portanto X 0 ⊂ X ⇒
X = X.
(⇐) Devemos provar que X C é aberto, para isso basta provar que todo ponto de X C
é ponto interior. Seja x ∈ X C ⇒ x ∈ / X ⊃ X 0 e portanto x ∈ / X 0 ⇒ ∃r > 0 tal que
Vbr (x) ∩ X = ∅ ⇒ Vbr (x) ⊂ X , mas como x ∈ X então Vr (x) ⊂ X C , o que implica que
C C
Exemplo 5.37 Se X = {1} ∪ [−1, 0) ∪ (2, 5] então 1 não é ponto de acumulação apesar
de pertencer a X. Temos X 0 = [−1, 0] ∪ [2, 5] e portanto X = [−1, 0] ∪ [2, 5] ∪ {1}. Logo
X não é fechado nem aberto.
1
Exemplo 5.38 Considerando X = { ; n ∈ N} tem-se que X 0 = {0} e portanto X =
n
1
{ ; n ∈ N} ∪ {0} assim X não é fechado nem aberto.
n
Definição 5.39 Seja X ⊂ R. Dizemos que x ∈ R é um ponto fronteira de X quando
para todo r > 0, (a − r, a + r) ∩ X 6= ∅ e (a − r, a + r) ∩ X C 6= ∅. Denotamos por ∂X o
conjunto dos pontos fronteira de X.
1
Exemplo 5.41 Seja X = { ; n ∈ N} então ∂X = X.
n
Definição 5.42 Seja X ⊂ R. Dizemos que X é um conjunto compacto quando X é
fechado e limitado.
x 0 0, 5 0, 7 0, 9 0, 99 0, 999
f (x) 1 1, 5 1, 7 1, 9 1, 99 1, 999
Pode-se concluir que à medida que x se aproxima de 1, por valores menores que 1, f (x)
se aproxima de 2. Analogamente, quando x se aproxima de 1 por valores maiores que 1,
f (x) também se aproxima de 2, como mostra a tabela abaixo.
x 2 1, 7 1, 5 1, 3 1, 09 1, 001
f (x) 3 2, 7 2, 5 2, 3 2, 09 2, 001
70 CAPÍTULO 5. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL
Exemplo 5.47 Tem-se que lim x = a, ∀a ∈ R, pois dado ε > 0, existe δ = ε > 0, tal que
x→a
∀x ∈ Vbδ (a) obtem-se que x = f (x) ∈ Vbε (a) ⊂ Vε (a) .
ε
Exemplo 5.48 lim x2 = a2 , para todo a ∈ R, pois dado ε > 0, existe δ = min{1, },
x→a 1 + 2 |a|
tal que para todo x ∈ R com 0 < |x − a| < δ, tem-se que |x + a| ≤ |x − a| + 2 |a| <
δ + 2 |a| ≤ 1 + 2 |a| , pois δ ≤ 1. Além disso,
¯ 2 ¯ ε
¯x − a2 ¯ = |x − a| |x + a| < δ (1 + 2 |a|) ≤ (1 + 2 |a|) = ε,
1 + 2 |a|
o que implica o resultado, isto é, lim x2 = a2 .
x→a
Nota 5.49 O significado da definição é o seguinte: Pode-se tornar f (x) tão próximo de
l quanto se queira, desde que x esteja suficientemente próximo de a, mas diferente de a.
Assim, é claro que o valor de δ depende de ε e também, na maioria das vezes, do ponto
a, como mostra o exemplo a seguir.
5.2. LIMITE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL 71
1
Exemplo 5.50 Considere f : (0, +∞) → R, definida por f (x) = . Assim, considere
x
ε = 0, 008 e a = 2, tomando δ = 0, 016 tem-se que para todo x ∈ (0, +∞) , com 0 <
1 1 1 1 1 1 1
|x − 2| < δ ⇒ 1, 984 < x < 2, 016 ⇒ < < ⇒ − < − <
2, 016 x 1,¯ 984 ¯ 2, 016 2 x 2
1 1 ¯ 1 1 ¯
− . Portanto fazendo as contas, obtém-se que ¯¯ − ¯¯ < 0, 008. No entanto se
1, 984 2 x 2
1
tomarmos a = , verifique que o δ obtido acima não serve considerando o mesmo ε, pois
2 ¯ ¯ ¯ ¯
¯ 1 ¯ ¯1 ¯
se tomarmos x = 0, 51 tem-se que 0 < ¯¯x − ¯¯ = 0, 01 < 0, 016 e no entanto ¯¯ − 2¯¯ =
2 x
2 1
> 0, 03 > 0, 008. Na realidade para a = e ε = 0, 008, deve-se tomar δ = 0, 001, isto é
51 2
1 1
quase dez vezes menor.(Verifique!). Mostremos pela definição que lim = , ∀a ∈ R\{0}.
x→a x a
|a| ε |a|2
De fato, pois dado ε > 0, tomando δ = min{ , } > 0 segue que ∀x ∈ R\{0}∩ Vbδ (a) ,
2 2
tem-se que
¯ ¯
¯ 1 1 ¯ |x − a| 2δ
¯ − ¯= < 2 ≤ ε.
¯x a¯ |x| |a| |a|
Observe que δ depende de ε e de a.
Nota 5.51 O limite de uma função num determinado ponto de acumulação, a, do domínio
desta, apresenta o comportamento da função em pontos próximos de a, mas não nos diz
nada sobre o valor da função neste ponto, que pode nem mesmo existir ou se existir pode
ser diferente do valor do limite. Por exemplo:
⎧
⎨ x3 − 8
, se x 6= 2
Seja f : R → R, definida por f (x) = x − 2 . Pode-se observar que à
⎩ 4, se x = 2
medida que x se aproxima de 1, tanto por valores maiores que 2, tanto por valores menores
que 1, f (x) se aproxima de 3 6= f (1). Vejamos o gráfico desta função para uma melhor
compreensão.
72 CAPÍTULO 5. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL
⎧
⎪
⎪ x3 − 8
⎨ 2 , se x 6= ±2
Exemplo 5.52 Seja f : R → R, definida por f (x) = x −4 . Nova-
⎪
⎪ 1, se x = 2
⎩ 0, se x = −2
mente, pode-se observar que à medida que x se aproxima de 2, tanto por valores maiores
que 2, tanto por valores menores que 2, f (x) se aproxima de 3 6= f (2). No entanto, quando
x se aproxima de −2, por valores menores que −2, pode-se verificar que f (x) decresce in-
definidamente, ou seja, não se qproxima de nenhum valor real, apesar da função estar
definida neste ponto. Provemos, usando a definição, que lim f (x) = 3. De fato, para cada
x→2
3ε
ε > 0, tomando δ = min{1, } > 0, segue que para todo x ∈ R com 0 < |x − 2| < δ
4
tem-se que:
¯ 3 ¯ ¯ 2 ¯ ¯ 2 ¯
¯x − 8 ¯ ¯ x + 2x + 4 ¯ ¯x − x − 2¯
|f (x) − 3| = ¯¯ 2 − 2¯¯ = ¯¯ − 3¯¯ = ¯¯ ¯,
x −4 x+2 x+2 ¯
pois x 6= 2 e portanto pode-se fazer a divisão por x − 2. Ainda, como |x − 2| < δ ≤ 1 ⇒
−1 < x − 2 < 1 ⇒ 1 < x < 3, logo,
¯ 2 ¯
¯ x − x − 2 ¯ |x + 1| |x − 2| |x + 1| 4
¯
|f (x) − 3| = ¯ ¯= <δ < δ ≤ ε,
x+2 ¯ |x + 2| |x + 2| 3
o que prova que lim f (x) = 3.
x→2
Nota 5.53 A definição de limite não nos fornece uma maneira de calculá-lo, apenas de
verificar se o valor dado é ou não limite de uma determinada função, num determinado
ponto. Por isso daremos algumas propriedades que nos permitirão fazê-lo, mas antes disso
necessitamos de alguns resultados que serão enunciados a seguir.
a) O limite é único.
b) Existem δ > 0 e M > 0 tais que |f (x)| ≤ M, ∀x ∈ (a − δ, a + δ) ∩ D.
c) (Teorema de conservação de sinal) Se l 6= 0 existe δ > 0 tal que f (x)l > 0 para todo
x ∈ D ∩[(a − δ, a + δ) \{a}]. Ou seja f (x) tem o mesmo sinal de l numa vizinhança
de a.
d) Se l 6= 0 existem δ > 0 e K > 0 tais que |f (x)| > K para todo x ∈ D∩{(a − δ, a + δ) \{a}}.
Prova. Provaremos apenas o ítem (b) desta proposição, pois as demonstrações são
análogas a que foram feitas para sequências.
(b) Como lim f (x) = l, dado ε = 1, existe δ > 0 tal que |f (x) − l| < 1, ∀x ∈
x→a
D∩[(a − δ, a + δ) \{a}] ⇒ |f (x)| < 1+|l| , ∀x ∈ D∩[(a − δ, a + δ) \{a}]. Assim, podemos
agora dividir em dois casos:
5.2. LIMITE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL 73
10 caso: a ∈
/ D. Então D ∩ [(a − δ, a + δ) \{a}] = Df ∩ (a − δ, a + δ) , logo |f (x)| <
1 + |l| = M, ∀x ∈ D ∩ (a − δ, a + δ) , como queríamos demonstrar.
20 caso: a ∈ D. Então tomando M = max{1 + |l| , |f (a)|} tem-se que |f (x)| ≤ M,
∀x ∈ D ∩ (a − δ, a + δ) , como queríamos demonstrar. ¤
Prova. Como g é limitada em Vbr (a) ∩ D então existe K > 0 tal que |g(x)| ≤ K,
∀x ∈ Vbr (a) ∩ D. Como lim f (x) = 0 então ∀ε > 0 existe δ > 0 tal que ∀x ∈ D ∩ Vbδ (a)
x→a
ε
tem-se que |f (x)| < . Assim, tomando δ1 = min{δ, r} > 0 segue que ∀x ∈ Vbδ1 (a) ∩ D
K
ε
tem-se que |g(x)f (x)| = |g(x)| |f (x)| ≤ K |f (x)| < K = ε ⇒ lim (f g) (x) = 0. ¤
K x→a
µ ¶ ¯ µ ¶¯
1 ¯ 1 ¯¯
Exemplo 5.56 lim x sen = 0 pois ¯¯sen ≤ 1, para todo x ∈ R\{0} e lim x = 0.
x→0 x x ¯ x→0
µ ¶ ¯ µ ¶¯
1 ¯ 1 ¯
2
Exemplo 5.57 lim (x − 1) cos ¯
= 0, pois ¯cos ¯ ≤ 1, ∀x ∈ R\{1}.
x→1 x−1 x−1 ¯
ε
Ainda lim (x2 − 1) = 0, já que dado ε > 0, existe δ = min{1, } > 0 tal que ∀x ∈ R, com
x→1 2
0 < |x − 1| < δ, tem-se que 0 < x + 1 < 2 e portanto
¯ 2 ¯
¯x − 1¯ = |x − 1| (x + 1) < 2 |x − 1| < 2δ ≤ ε.
Nota 5.59 É claro que este teorema só deverá ser usado teoricamente, como veremos
mais adiante ou para mostrar que uma função não tem limite em algum ponto de acumu-
lação, como é o caso do exemplo abaixo. Também pode ser usado para calcular limite de
sequências a partir do conhecimento do limite de funções.
74 CAPÍTULO 5. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL
1
Exemplo 5.60 Seja f : R\{0} → R, definida por f (x) = sen . Apesar de |f (x)| ≤ 1,
x
∀x ∈ R, x 6= 0, isto é, a função f é limitada, vamos provar que não existe lim f (x),
x→0
1
usando a caracterização por sequências. Considere xn = . É claro que xn 6= 0, ∀n ∈ N
nπ
e xn → 0. A sequência f (xn ) = 0, ∀n ∈ N e portanto f (xn ) → 0. Se considerarmos
1
yn = , também temos que yn 6= 0, ∀n ∈ N, yn → 0 e no entanto f (yn ) =
(π/2) + 2nπ
1, ∀n ∈ N ⇒ f (yn ) → 1. Segue portanto do teorema anterior que não existe lim f (x), pois
x→0
o limite quando existe é único. Observe no gráfico abaixo, que quando x → 0, a função
assume todos os valores no intervalo [−1, 1].
1
Exemplo 5.61 Seja f : R\{0} → R, definida por f (x) = . Então @ lim f (x) pois se
x x→0
1
considerarmos xn = ∈ R\{0}, ∀n ∈ N, xn → 0 e no entanto f (xn ) = n → +∞ e
n
portanto não se aproxima de nenhum valor real.
Nota 5.62 Observe que nos dois exemplos acima o limte não existe, mas por diferentes
razões. No primeiro exemplo a função é limitada, mas o limite não existe pois à medida
que x se aproxima de 0, a função pode se aproximar de qualquer valor no intervalo [−1, 1] .
No segundo exemplo a função não possui limite pois não é limitada.
µ ¶
ln (n)
Exemplo 5.63 Determine o limite da seqüência . Sabendo que lim ln x = 0
√ √ n x→1
(exercício abaixo) e que n → 1, com n > 1, ∀n ≥ 2 segue do teorema acima que
n n
ln (n) √
= ln n n → 0.
n
¡ ¢ 1
Exemplo 5.64 A sequência e(sen n)/n converge para 1, pois (sen n) é limitada, → 0,
n
sen n sen n
portanto → 0, 6= 0, para todo n ∈ N e lim ex = 1, logo o resultado segue do
n n x→0
teorema acima.
Exercício 1
Seja A ⊂ . Mostre que A é aberto para toda sequência de números
reais x n que converge para um a ∈ A tem-se que existe n 0 ∈ ℕ tal que x n ∈ A,
∀n ≥ n 0 .
Solução: Para provarmos que A é aberto, devemos provar que todo
elemento de A é interior. Suponhamos por absurdo que A não é aberto, isto implica
que existe a ∈ A tal que a não é ponto interior de A, isto é, para todo r 0 existe
x r ∈ a − r, a r, tal que x r ∉ A. Assim, para todo n ∈ ℕ, existe
xn ∈ a − 1 1
n , a n tal que x n ∉ A. Logo construímos uma sequência x n tal que
x n → a e x n ∉ A, ∀n ∈ ℕ, o que contradiz a hipótese. Logo A é aberto.
Por hipótese A é aberto. Seja x n ⊂ tal que x n → a, onde
a ∈ A. Como A é aberto existe r 0 tal que a − r, a r ⊂ A e da convergência da
sequência existe n 0 ∈ ℕ tal que |x n − a| r, ∀n ≥ n 0 , o que implica que
x n ∈ a − r, a r ⊂ A, ∀n ≥ n 0 .
Exercício 2
Seja B ⊂ um subconjunto aberto da reta e x ∈ . Mostre que
x B x b, b ∈ B é aberto.
Solução: Seja y ∈ x B y x b, para algum b ∈ B. Como B é aberto existe
r 0 tal que b − r, b r ⊂ B, ou seja ∀z ∈ tal que |z − b| r z ∈ B. Portanto
∀w ∈ , com |w − x b| r temos que |w − x − b| r w − x ∈ b − r, b r ⊂ B
e como w x w − x temos que w ∈ x B x b − r, x b r ⊂ x B e
portanto x B é aberto.
Exercício 3
Sejam X, Y ⊂ . Mostre que:
a) intX ∩ Y intX ∩ intY.
b) intX Y ⊃ intX intY. Dê um exemplo onde não vale a
igualdade.
c) X Y X Y .
d) X ∩ Y ⊂ X ∩ Y . Dê um exemplo onde não vale a igualdade.
Solução: a) Devemos mostrar a dupla inclusão. Seja x ∈ intX ∩ Y, então da
definição de interior de um conjunto, segue que existe r 0 tal que
x − r, x r ⊂ X ∩ Y x − r, x r ⊂ X e x − r, x r ⊂ Y e portanto
x ∈ intX ∩ intY. Logo intX ∩ Y ⊂ intX ∩ intY. Considere então
y ∈ intX ∩ intY. Então existem r 0 e s 0 tais que y − r, y r ⊂ X e
y − s, y s ⊂ Y. Tomando t minr, s 0 temos que y − t, y t ⊂ y − r, y r e
y − t, y t ⊂ y − s, y s y − t, y t ⊂ X ∩ Y y ∈ intX ∩ Y. Logo
intX ∩ Y ⊃ intX ∩ intY. Assim, da dupla inclusão, segue a igualdade.
resolucao b) Seja x ∈ intX intY, então ou x ∈ intX ou x ∈ intY. Se
x ∈ intX então existe r 0 tal que
x − r, x r ⊂ X x − r, x r ⊂ X Y x ∈ intX Y. Analogamente, se
x ∈ intY, prova-se que x ∈ intX Y.
Considere X 0, 2 e Y 2, 5 então intX X 0, 2 e
intY 2, 5 intX intY 0, 5\2. Ainda
X Y 0, 5 intX Y 0, 5. Assim, intX Y intX intY.
c) Novamente devemos provar a dupla inclusão. Considere
x ∈ X Y ∀r 0, x − r, x r ∩ X Y ≠ . Das propriedades de interseção e
união, temos que
x − r, x r ∩ X x − r, x r ∩ Y ≠ , ∀r 0 x − r, x r ∩ X ≠ ou
x − r, x r ∩ Y ≠ , ∀r 0 x ∈ X Y . Portanto X Y ⊂ X Y . Agora
tomemos y ∈ X Y , isto implica que y ∈ X ou y ∈ Y . Se y ∈ X então ∀r 0,
x − r, x r ∩ X ≠ ∀r 0, x − r, x r ∩ X Y ≠ y ∈ X Y.
Analogamente se y ∈ Y , prova-se que y ∈ X Y, o que implica que
X Y ⊃ X Y . Da dupla inclusão, segue a igualdade.
d) Seja x ∈ X ∩ Y ∀r 0,
x − r, x r ∩ X ∩ Y ≠ x − r, x r ∩ X ≠ e x − r, x r ∩ Y ≠ , logo
x ∈ X ∩ Y.
Considere X 0, 2 e Y 2, 5, temos que X 0, 2 e
Y 2, 5 X ∩ Y 2. No entanto X ∩ Y X ∩ Y . Logo,
X ∩ Y X ∩ Y.
Exercício 4
Mostre por definição que
lim x 1 −2.
x→1 x − 2
x2 1 2
Rascunho: Faremos um rascunho para determinarmos . Primeiramente
vejamos que
x 5 3x − 2 x 5 3x − 2x 2 − 2 x 5 − x 2 x − x 2 2x − 2
x2 1 x2 1 x2 1
x x − 1x x 1 − xx − 1 2x − 1
2 2
x2 1
x2 − 1 x 2 x 2 x 1 − x 2.
x 1
Portanto,
x 5 3x − 2 |x − 1| |x 2 x 2 x 1 − x 2| ≤
x2 1 x2 1
≤ |x − 1|x 4 |x 3 | x 2 |x| 2 x 4 |x 3 | x 2 |x| 2.
Assim, se tomarmos 1, tem-se que se x ∈ 1 − , 1 , então 0 x 2 e
portanto
x 4 |x 3 | x 2 |x| 2 32,
logo
x 4 |x 3 | x 2 |x| 2 32.
Como queremos que x 2 3x − 2 1 , basta tomar , de modo que 32 1 ,
5
x 1 2 2
ou seja 1 .
64
Vejamos então a solução:
Solução: Tomando 1 , tem-se que 0 1, logo
64
x 4 |x 3 | x 2 |x| 2 32.
Portanto, para todo x ∈ 1 − , 1 , tem-se que
x 5 3x − 2 ≤ |x − 1|x 4 |x 3 | x 2 |x| 2 32 1 .
x2 1 2
5.2. LIMITE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL 75
Exercício 5.67 Mostre que a interseção finita de conjuntos abertos é um conjunto aberto.
Exercício 5.69 Mostre que a interseção qualquer (finita ou infinita) de conjuntos fecha-
dos é um conjunto fechado.
Exercício 5.70 Mostre que a união finita de conjuntos fechados é um conjunto fechado.
Exercício 5.72 Seja A ⊂ R.. Mostre que a ∈ A0 ⇔ existe uma seqüência (an ) tal que
an ∈ A, an 6= a, ∀n ∈ N e an → a.
Exercício 5.73 Mostre que que F é fechado ⇔ Para toda sequência (xn ) tal que xn ∈ F,
∀n ∈ N e xn → x então x ∈ F.
a) lim (αx + β) = αa + β.
x→a
b) lim sen x = 0.
x→0
c) lim ex = 1.
x→0
d) lim ln x = 0.
x→1
76 CAPÍTULO 5. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL
√ √
e) lim n x = n a, para n ∈ N, n ímpar.
x→a
√ √
f) lim , m
x = m a, para cada m ∈ N, m par e a ≥ 0.
x→a
a) lim (f ± g) (x) = l1 + l2 .
x→a
f (x) l1
c) Se l2 6= 0 então lim = .
x→a g(x) l2
Nota 5.83 Como no caso de seqüências, a recíproca da proposição acima não é neces-
sariamente válida. No entanto, quando l1 = 0 então a recíproca do ítem (d) é válida, ou
seja, lim |f (x)| = 0 ⇔ lim f (x) = 0.
x→a x→a
µ¶ ¯ µ ¶¯
1 ¯ 1 ¯
2
Nota 5.85 lim (x − 2x − 3) sen = 0, pois ¯¯sen ¯ ≤ 1, ∀x ∈ R\{−1}
x→−1 x+1 x+1 ¯
e lim (x2 − 2x + 1) = 0. Observe que não se pode aplicar o ítem (c) da proposição acima
x→−1 µ ¶
1
pois sen é limitada, mas não admite limite em x = −1.
x+1
Um teorema bastante importante, pois nos permite fazer mudanças de variáveis nos
limites conhecidos, é o limite de composta de funções. Vejamos.
Prova. Como limg(y) = l então dado ε > 0, existe δ > 0 tal que para todo y ∈ Dg
y→b
com 0 < |y − b| < δ tem-se que |g(y) − l| < ε. Como lim f (x) = b então tomando δ > 0
x→a
encontrado acima, existe δ1 > 0 tal que para todo x ∈ Df com 0 < |x − a| < δ 1 tem-se
que |f (x) − b| < δ. Assim, tomando δ 2 = min{δ 1 , r} > 0 segue que para todo x ∈ Df com
0 < |x − a| < δ 2 obtém-se 0 < |f (x) − b| < δ ⇒ |g(f (x)) − l| < ε ⇒ lim (g ◦ f ) (x) = l.
x→a
¤
Nota 5.87 É importante notar que sem a hipótese de f (x) 6= b, ∀x ∈ Df ∩ Vbr (a)
poderíamos não ter o limite da composta ou mesmo este ser diferente de l. Vejamos dois
exemplos.
Exemplo 5.91 Calculemos lim ex . Temos que ex = ea ex−a . Assim considerando f (x) =
x→a
x − a e g(y) = ey , segue do teorema da composta que lim ex−a = 1, pois lim f (x) = 0,
x→a x→a
5.2. LIMITE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL 79
sen x
Exemplo 5.93 Limite fundamental: Calculemos lim , utilizando o teorema do con-
³ π´ x→0 x
fronto. De fato para x ∈ 0, tem-se que
2
x 1
0 < sen x < x < tg x ⇒ 1 < < .
sen x cos x
³ π ´
Ainda para x ∈ − , 0 tem-se que
2
x 1
tg x < x < sen x < 0 ⇒ 1 < < .
sen x cos x
Logo, para todo x ∈ Vbπ/2 (0) tem-se que
x 1 sen x
1< < ⇒ cos x < <1
sen x cos x x
sen x
e como lim 1 = 1 = lim cos x, segue do teorema do confronto que lim = 1.
x→0 x→0 x→0 x
sen x
Segue abaixo o gráfico da função f (x) = .
x
80 CAPÍTULO 5. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL
sen (x/2) x
Exemplo 5.94 Calculemos o lim . Consideremos a função f (x) = , ∀x ∈
x→0 x/2 2
sen x
R, então lim f (x) = 0 e f (x) 6= 0, ∀x ∈ R\{0}. Sabe-se ainda que lim = 1.
x→0 x→0 x
sen y
Portanto, considerando g(y) = , segue do teorema composta que lim (g ◦ f ) (x) = 1.
y x→0
sen (x/2)
Mas lim = lim (g ◦ f ) (x) = 1.
x→0 x/2 x→0
1 − cos x 1 ³x´ ³ ´
2 x
Exemplo 5.95 lim = , pois cos x = cos 2 = 1 − 2 sen . Assim,
x→0 x2 µ 2 ¶ 2 2
2
1 − cos x 2 sen2 (x/2) 1 sen(x/2) 1
2
= 2
= = .
x x 2 (x/2) 2
tg (x2 − 1) tg y 1 sen y
Exemplo 5.96 lim = 2, pois g (y) = = , ∀y ∈ Vbπ/2 (0) ⇒
x→1 x−1 y cos y y
tg y 1 sen y 1 sen y
lim = lim = lim lim = 1. Ainda f (x) = x2 − 1 é tal que
y→0 y y→0 cos y y y→0 cos y y→0 y
lim f (x) = 0, f (x) 6= 0, ∀x ∈ Vb1 (1) , portanto do teorema da composta tem-se que
x→1
tg (x2 − 1) tg (x2 − 1) tg (x2 − 1)
lim (g ◦ f ) (x) = lim = 1. Mas = (x + 1) e como
x→1 x→1 x2 − 1 x−1 x2 − 1
lim (x + 1) = 2, segue das operações de limites que
x→1
tg (x2 − 1) tg (x2 − 1)
lim = lim lim (x + 1) = 2.
x→1 x−1 x→1 x2 − 1 x→1
Exemplo 5.98 Se X = [−2, 7] então X+0 = [−2, 7), pois (7, 7 + r) ∩ X = ∅, ∀r > 0 e
(a, a + r) ∩ X 6= ∅, ∀a ∈ [−2, 7).
Exemplo 5.99 Se X = (−1, 5] ∪ [9, +∞) então X+0 = [−1, 5) ∪ [9, +∞).
Nota 5.101 Da definição de limite à direita, pode-se notar que estamos apenas inter-
essados no comportamento da função em valores próximos de a, mas maiores que a.
Analogamente, define-se limite à esquerda.(Faça-o).
Nota 5.102 É claro que todos os resultados válidos para limite são também válidos para
limites laterais com as devidas modificações.(Pense nisso!)
Agora daremos o resultado que responde à pergunta inicial, isto é, se existem os limites
laterais e são iguais então o limite existe e é igual ao limite lateral?
Teorema 5.103 Sejam f : D → R e a ∈ (D)0+ ∩(D)0− . Então lim f (x) = l ⇔ lim+ f (x) =
x→a x→a
l = lim− f (x).
x→a
Prova. (⇒) Dado ε > 0, existe δ > 0 tal que ∀x ∈ D ∩ Vbδ (a) ⇒ |f (x) − l| < ε. Logo
∀x ∈ D ∩ (a, a + δ) tem-se que 0 < x − a = |x − a| < δ ⇒ |f (x) − l| < ε. Analogamente,
∀x ∈ D ∩ (a − δ, a) tem-se que 0 < a − x = |x − a| < δ ⇒ |f (x) − l| < ε. Portanto
lim+ f (x) = l = lim− f (x).
x→a x→a
(⇐) Dado ε > 0, existe δ 1 > 0 tal que ∀x ∈ D∩(a, a + δ 1 ) obtém-se que |f (x) − l| < ε.
Ainda existe δ 2 > 0 tal que ∀x ∈ D ∩ (a − δ 2 , a) obtém-se que |f (x) − l| < ε. As-
sim, tomando δ = min{δ 1 , δ2 } > 0, segue que ∀x ∈ D ∩ Vbδ (a) tem-se que x ∈ D ∩
82 CAPÍTULO 5. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL
⎧ 2
⎨ x − 1, x≤1
Exemplo 5.104 Considere f : R → R definida por f (x) = ln x, 1<x≤e .
⎩
1 x>e
2
Então como lim+ f (x) = lim+ ln(x) = 0 e lim− f (x) = lim− x − 1 = 0 ⇒ lim f (x) = 0.
x→1 x→1 x→1 x→1 x→1
Ainda como lim+ f (x) = lim+ 1 = 1 e lim f (x) = lim ln x = ln e = 1 ⇒ limf (x) = 1.
x→e x→e x→e− x→e− x→e
Como pode se ver graficamente:
Exemplo 5.105 Seja f : R → R, definida por f (x) = [x] − x, onde [x] é o maior inteiro
menor ou igual a x. Assim, lim+ f (x) = 0 e lim− f (x) = −1 ⇒ @lim f (x). Segue abaixo o
x→1 x→1 x→1
gráfico de f.
5.2. LIMITE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL 83
a) Dizemos que f (x) tende a +∞ quando x tende a a, denotado por lim f (x) = +∞,
x→a
b
quando ∀M > 0, existe δ > 0 tal que ∀x ∈ D ∩ Vδ (a) ⇒ f (x) > M.
b) Dizemos que f (x) tende a −∞ quando x tende a a, denotado por lim f (x) = −∞,
x→a
quando ∀N < 0, existe δ > 0 tal que ∀x ∈ D ∩ Vbδ (a) ⇒ f (x) < N.
Nota 5.107 A definição também é válida para limites laterais com as devidas modifi-
cações.
1
Exemplo 5.108 Considerando f (x) = 2 , x 6= 0, segue que lim f (x) = +∞, pois ∀M >
x x→0
1 1 1
0, existe δ = √ > 0, tal que ∀x ∈ Vbδ (0) ⇒ 0 < x2 < δ2 ⇒ 2 > 2 = M.
M x δ
Exemplo 5.109 lim+ ln x = −∞ pois ∀N < 0, existe δ = eN > 0 tal que ∀x ∈ (0, δ)
x→0
⇒ ln x < ln δ = N. Assim, ln x < N, ∀x ∈ (0, δ) .
Quando desejamos traçar o gráfico de uma função e o domínio desta não é limitado
superiormente ou inferiormente, precisamos saber como se comporta a função quando x
cresce indefinidamente ou decresce indefinidamente. Estes são os chamados limites no
"infinito", cuja definição veremos a seguir.
a) Dizemos que lim f (x) = l ∈ R quando ∀ε > 0, ∃K > 0 tal que ∀x ∈ D com x > K
x→+∞
tem-se que |f (x) − l| < ε.
84 CAPÍTULO 5. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL
b) Dizemos que lim f (x) = +∞ quando ∀M > 0, ∃K > 0 tal que ∀x ∈ D com x > K
x→+∞
tem-se que f (x) > M.
c) Dizemos que lim f (x) = −∞ quando ∀N < 0, ∃K > 0 tal que ∀x ∈ D com x >
x→+∞
K tem-se que f (x) < N.
Nota 5.113 Quando temos o caso (a) da definição acima, as propriedade vistas anteri-
ormente para limite são válidas, com as devidas modificações.
Exemplo 5.114 lim ln x = +∞, pois ∀M > 0, ∃K = eM > 1 tal que ∀x ∈ R com
x→+∞
x > K ⇒ ln x > ln K = M.
1
Exemplo 5.115 lim ex = 0, pois ∀ε > 0, considere ε0 = min{ε, } > 0 e tome K =
x→−∞ 2
ln ε0 < 0, então ∀x < K ⇒ 0 < ex < eK = ε0 ≤ ε, isto é, |ex | < ε.
√
Exemplo 5.116 lim x3 = −∞, pois ∀N < 0, ∃K = 3 N < 0, tal que ∀x ∈ R com
x→−∞
x < K ⇒ x3 < K 3 = N.
µ ¶x
1
Exemplo 5.117 Calculemos lim 1 + .
x→+∞ x
µ ¶n µ ¶n+1 µ ¶n µ ¶
1 1 1 n+1
Sabemos que lim 1 + = e . Assim, como 1 + = 1+
n→+∞ n n n n
µ ¶n µ ¶n+1 µ ¶
1 1 n+1
e 1+ = 1+ , obtemos
n+1 n+1 n+2
µ ¶n+1 µ ¶n
1 1
lim 1 + = e = lim 1 + .
n→+∞ n n→+∞ n+1
Assim, dado ε > 0, existe K ∈ N tal que ∀n ∈ N com n ≥ K tem-se que
¯µ ¶n+1 ¯ ¯µ ¶n ¯
¯ 1 ¯ ¯ 1 ¯
¯ ¯ ¯
¯ 1+ − e¯ < ε e ¯ 1 + − e¯¯ < ε.
¯ n ¯ n+1
µ ¶x
1
Exemplo 5.118 Do exemplo anterior pode-se mostrar que lim 1 + = e . De fato,
µ ¶y x→−∞ x
1
considere f (x) = − (1 + x) e g(y) = 1 + , assim tem-se que lim f (x) = +∞ e
µ ¶y y x→−∞
1
lim 1 + = e, então do teorema da composta(exercício abaixo) segue que e =
y→+∞ y
µ ¶−1−x µ ¶−(1+x) µ ¶x µ ¶
1 x x+1 1+x
lim (g ◦ f ) (x). Mas (g ◦ f ) (x) = 1 − = = .
x→−∞
µ ¶x µ ¶ 1+x 1+x x x
x+1 1+x
Ou seja lim = = e.
x→−∞ x µ x¶ µ ¶x
1 1
Portanto como lim 1 + = 1, pode-se concluir que, lim 1 + = e . Ob-
x→−∞ x x→−∞ x
serve novamente o gráfico, com x negativo.
Deixaremos como exercício a demonstração das propriedades com limites infinitos, que
enunciaremos a seguir.
86 CAPÍTULO 5. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL
b) Se lim f (x) = ±∞ e lim g(x) = c > 0 (podendo ser +∞ ) então lim f (x)g(x) = ±∞.
x→a x→a x→a
c) Se lim f (x) = ±∞ e lim g(x) = c < 0 (podendo ser −∞ ) então lim f (x)g(x) = ∓∞.
x→a x→a x→a
d) Se lim f (x) = 0 e ∃δ > 0 tal que f (x) > 0, ∀x ∈ Df ∩ Vbδ (a) ( dizemos então
x→a
que f (x) tende a zero por valores positivos e denotamos por lim f (x) = 0+ ) então
x→a
1
lim = +∞.
x→a f (x)
1
e) Se lim f (x) = 0− (isto é, f (x) tende a 0 por valores negativos) então lim = −∞.
x→a x→a f (x)
Nota 5.120 O ítem (a) pode ser substituído pelos seguintes ítens, que serão também
deixados como exercícios:
i) Se lim f (x) = +∞ e ∃r > 0 tal que g é limitada inferiormente em Vbr (a) ∩ D então
x→a
lim [f (x) + g(x)] = +∞.
x→a
ii) Se lim f (x) = −∞ e ∃r > 0 tal que g é limitada superiormente em Vbr (a) ∩ D então
x→a
lim [f (x) + g(x)] = −∞.
x→a
tal que y n fx n e fx n → c. Mas como x n ∈ Va ∩ D, isto implica que
x n ∈ D, 0 |x n − a| 1 n , ou seja, x n ⊂ D, x n ≠ a, ∀n ∈ ℕ, x n → a e fx n → c.
Portanto c é valor de aderência de f no ponto a.
Exercício 5
DEFINIÇÃO: Sejam f : D → , a ∈ D ′ e f. limitada em V r a ∩ D para algum
r 0. Definimos limite superior de f no ponto a, denotado por lim sup fx,
x→a
como sendo o maior valor de aderência de f no ponto a e limite inferior de f
no ponto a, denotado por lim inf fx, como sendo o menor valor de aderência
x→a
de f no ponto a.
Sejam f e a como na definição acima. Mostre que l lim fx
x→a
l lim sup fx lim inf fx.
x→a x→a
Solução: Do teorema de caracterização de limite por sequências, segue
que toda sequência x n ⊂ D, x n ≠ a, ∀n ∈ ℕ, x n → a, tem-se que fx n → l, ou seja
l é o único valor de aderência de f no ponto a e portanto
l lim sup fx lim inf fx.
x→a x→a
Usaremos a caracterização de limite por sequências. Considere então
x n ⊂ D, x n ≠ a, ∀n ∈ ℕ, x n → a. Devemos mostrar que fx n → l. Como
l lim sup fx lim inf fx, segue que dado 0, como l é o maior valor de
x→a x→a
aderência de f no ponto a, então existe no máximo um número finito de índices n ′ s
tais que fx n ≥ l , ou seja, existe n 0 ∈ ℕ tal que fx n l , para todo n ≥ n 0 .
Ainda como l é o menor valor de aderência de f no ponto a, segue que existre no
máximo um número finito de índices n ′ s tais que fx n ≤ l − , portanto existe
n 1 ∈ ℕ tal que fx n l − . Logo para todo n ≥ N maxn 0 , n 1 , tem-se que
l − fx n l , o que implica que
|fx n − l| , para todo n ≥ N.
Assim, fx n → l e portanto pela caracterização de limite por sequências, segue
que
l lim fx.
x→a
Exercício 6
Sejam f : a, b → , crescente e limitada superiormente. Prove que
lim fx supfx; x ∈ a, b.
x→b −
Solução: Da hipótese tem-se que fx; x ∈ a, b é limitado superiormente e
portanto existe l supfx; x ∈ a, b. Portanto da definição de supremos de um
conjunto tem-se que
i fx ≤ l, para todo x ∈ a, b.
ii Dado 0, existe x 0 ∈ a, b tal que fx 0 l − .
Logo, tomando b − x 0 0, segue que para todo x ∈ b − , b, como f é
crescente e das propriedades i e ii acima, que l − fx 0 ≤ fx ≤ l l .
Assim, dado 0, existe b − x 0 0 tal que para todo x ∈ b − , b tem-se que
|fx − l| ,
o que implica que
lim fx l.
x→b −
5.2. LIMITE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL 87
f (x) ≥ m, ∀x ∈ (a, a + r) ∩ D.
Suponha ainda que f é decrescente em (a, a + r) ∩ D. Mostre que existe lim+ f (x).
x→a
3x5 + x4 + 1
c) lim (1 − cos (1/x)) x2 , d) lim ,
x→+∞ x→−∞ 2x5 + x − 3
x
e) lim .
x→−∞ x2 + 3x + 6
88 CAPÍTULO 5. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL
Exercício 5.126 Determine os limites das sequências abaixo, caso existam, justificando
os resultados:
µ ¶ µ ¶ µ ¶
1 ln n 1
a) cos , b) , c) n sen .
n n2 n
Exercício 5.130 Seja f : [a, +∞) → R limitada superiormente e crescente em [K, +∞),
para algum K > a. Prove que existe lim f (x).
x→+∞
Exercício 5.132 Seja f : [a, +∞) → R crescente em [K, +∞), para algum K > a.
Mostre que ou lim f (x) existe ou lim f (x) = +∞.
x→+∞ x→+∞
Nota 5.135 Observe que agora a deve ser um ponto do domínio de f e ainda, quando
analisamos a continuidade de f em a, estamos interessados no comportamento de f numa
/ D0 , então f é trivialmente contínua
vizinhança de a e no próprio ponto a. Se a ∈ D e a ∈
em a. (Pense nisso!).
Exemplo 5.138 f : R → R, tal que f (x) = x2 é contínua. De fato, provamos que para
cada a ∈ R, lim x2 = a2 . É fácil confirmar nossa intuição de que o gráfico não admite
x→a
"salto"nem "buraco", como pode ser visto abaixo.
90 CAPÍTULO 5. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL
Exemplo 5.139 f : R → R, tal que f (x) = sen x é contínua. De fato, provamos que
para cada a ∈ R, lim sen x = sen a. Novamente vemos também através do gráfico abaixo
x→a
que esta função não apresenta saltos.
c) Se f (a) 6= 0 então existe δ > 0 e K > 0 tais que |f (x)| ≥ K, para todo x ∈ D ∩ Vδ (a) .
A demonstração é análoga a que foi feita para limite e portanto será deixada como
exercício.
Nota 5.146 Observe que com a hipótese da continuidade de g, não precisamos mais
exigir que f (x) 6= l numa vizinhança de a. O resultado acima continua válido se no lugar
de limite tivermos limites laterais e se a for ±∞, quando Df for ilimitado superiormente
ou inferiormente.
Prova. Suponhamos sem perda de generalidade que f (a) < 0 < f (b). Considere
A = {x ∈ [a, b] ; f (x) < 0}. Como A ⊂ [a, b] então A é limitado superiormente e portanto
existe c = sup A. Como a ∈ A ⇒ a ≤ c. Como b é cota superior de A ⇒ c ≤ b. Assim,
c ∈ [a, b] e portanto existe f (c). Três possibilidades podem acontecer:(i) f (c) < 0 ou
(ii) f (c) > 0 ou (iii) f (c) = 0. Mostraremos que as duas primeiras possibilidades nos levam
a um absurdo e concluímos que c é o valor desejado. De fato: se f (c) < 0 então existe
δ > 0 tal que ∀x ∈ [a, b] ∩ (c − δ, c + δ) tem-se que f (x) < 0, pelo teorema de conservação
do sinal. Ainda como f (b) > 0 ⇒ c < b. Logo podemos tomar δ 1 = min{δ, b − c} > 0
92 CAPÍTULO 5. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL
e temos que ∀x ∈ (c, c + δ 1 ) ⊂ [a, b] segue que f (x) < 0 absurdo, pois então existem
elementos de A maiores que o supremo de A. Portanto f (c) ≥ 0. Suponhamos então
que f (c) > 0. Novamente do teorema de conservação do sinal, existe r > 0 tal que
∀x ∈ [a, b] ∩ (c − r, c + r) ⇒ f (x) > 0. Ainda como f (a) < 0 ⇒ a < c e portanto tomando
r1 = min{r, c − a} > 0, segue que ∀x ∈ (c − r1 , c] tem-se que f (x) > 0 ⇒ ∀x ∈ (c − r1 , c],
x∈ / A ⇒ a ≤ c − r1 , ∀a ∈ A, o que é um absurdo, pois encontramos uma cota superior
de A menor do que o supremo. Concluímos então que f (c) = 0, com c ∈ (a, b) . ¤
O teorema a seguir será muito importante para o estudo de máximos e mínimos ab-
solutos.
como X ¡ é fechado,
¢ segue que
¡ ∃x
¡ ∈¢¢X tal que xnj → x. Ainda da continuidade de f tem-se
que f xnj → f (x) . Mas f xnj é uma subsequência de (f (xn )) e esta converge para
y. Logo y = f (x) e portanto y ∈ f (X) , o que implica que f (X) é fechado. Logo, como
f (X) é compacto tem-se que inf f (X), sup f (X) ∈ f (X) e portanto ∃a, b ∈ X tais que
inf f (X) = min f (X) = f (a) e sup f (X) = max f (X) = f (b) . Assim, o teorema segue
da definição de supremo e ínfimo. ¤
Corolário 5.152 Seja f : [a, b] → R contínua. Então f ([a, b]) é também um intervalo
fechado e limitado.
Exemplo 5.154 A função f : [−1, 1] → [0, π] definida por f (x) = arccos x é contínua,
pois g : [0, π] → R definida por g(x) = cos x é contínua e injetora no intervalo [0, π],
g ([0, π]) = [−1, 1] e g−1 = f. O gráfico abaixo, mostra em verde a função cosseno e em
azul a sua inversa.
h π πi
Exemplo 5.155 A função f : [−1, 1] → − , definida por f (x) = arcsen x é con-
h π πi 2 2
tínua, pois g : − , → R definida por g(x) = cos x é contínua e injetora no intervalo
h π π i ³h π2 π2i´
− , ,g − , = [−1, 1] e g −1 = f. Segue o gráfico abaixo, com a função seno
2 2 2 2
94 CAPÍTULO 5. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL
Nota 5.156 Se I na proposição acima não for um intervalo o resultado pode não ser
válido. Vejamos um exemplo.
½
x + 1, 0 ≤ x < 1
Exemplo 5.157 Seja f : [0, 1) ∪ [2, 3] → R, definida por f (x) = ,
x, 2≤x≤3
f é contínua e injetora, pois o é em cada intervalo e [0, 1]∩[2, 3] = ∅, ou seja, existe δ > 0,
tal que (2 − δ, 2 + δ) ∩ ([0, 1) ∪ [2, 3]) =½(2 − δ, 2 + δ) ∩ [2, 3] . Ainda f ([0, 1) ∪ [2, 3]) =
y − 1, 1 ≤ y < 2
[1, 3]. Seja f −1 : [1, 3] → R, f −1 (y) = , tem-se lim− f −1 (y) = 1 6=
y, 2≤y≤3 y→1
−1 −1 −1
lim+ f (y) = 2 = f (1) ⇒ f não é contínua em 2 e portanto não é contínua em seu
y→1
domínio. Seguem os gráficos de f em rosa e f −1 em azul.
5.3. CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL REAL 95
Nota 5.158 Apesar do gráfico de f apresentar um salto, observe que o ponto 1 não é
ponto de acumulação do intervalo [2, 3, ] nem 2 é ponto de acumulação do intervalo [0, 1)
e por isso a função é contínua. O que não acontece com a inversa, pois agora o domínio
é um intervalo, onde todos os pontos são pontos de acumulação.
Prova. Sejam b = f (a) ∈ f (X) e (yn ) uma sequência qualquer tal que yn = f (xn ) ∈
f (X) , ∀n ∈ N e yn → b. Como X é limitado, segue que (xn ) é limitada.
¡ ¢ Considere
então α = lim sup xn e β = lim inf xn . Então existem subsequências xnj e (xnk ) de
n→+∞ n→+∞
(xn ) tais que x¡nj →¢ α e xnk → β, e como X é fechado, α, β ∈ X. Da continuidade de
f, segue que f xnj → f (α) e f (xnk ) → f (β) . No entanto yn = f (xn ) → b = f (a).
Logo f (α) = f (β) = f (a) e da injetividade de f, segue que α = β = a ⇒ xn =
f −1 (yn ) → a = f −1 (b) , o que prova a continuidade de f −1 . ¤
eax − ebx
e) lim , a 6= b.
x→0 x
Exercício 5.166 Seja f (x) = x5 + x + 1. Justifique a afirmação : f tem pelo menos uma
raiz no intervalo [−1, 0] .
Exercício 5.167 Prove que a equação x3 − 4x + 2 = 0 admite três raízes reais distintas.
5.3. CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL REAL 97
x + x2
Exercício 5.168 Seja f : [−1, 1] → R definida por f (x) = .
1 + x2
a) Mostre que f (1) é o valor máximo de f.
x
Exercício 5.169 Mostre que o conjunto A = { ; −2 ≤ x ≤ 2} possui máximo e
1 + x2
mínimo e determine-os.
Exercício 5.170 Seja f : [0, 1] → R contínua em [0, 1] e tal que f (0) = 1 e f (x) ∈ Q,
∀x ∈ [0, 1] . Mostre que f (x) = 1, ∀x ∈ [0, 1] .
Exercício 5.172 Seja f : [a, b] → R contínua e injetora em [a, b] e tal que f (a) < f (b) .
Prove que f é crescente.
Exercício 5.173 Seja f : [a, b] → R contínua e injetora em [a, b] e tal que f (a) > f (b) .
Prove que f é decrescente.
Exercício 5.175 Determine domínio e contradomínio das funções abaixo, de modo que
cada uma seja uma função contínua em todo seu domínio. Justifique sua escolha.
f (x) − f (a)
Nota 6.2 A razão é denominada razão incremental de f no ponto a, ou
x−a
simplesmente razão incremental de f. Geometricamente a razão incremental é o coeficiente
angular da reta secante ao gráfico de f pelos pontos (a, f (a)) e (x, f (x)) . Assim, no limite,
quando x → a obtemos o coeficiente angular da reta tangente ao gráfico de f no ponto
(a, f (a)) , como pode ser visto no gráfico abaixo.
99
100 CAPÍTULO 6. DIFERENCIABILIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL
f (x) − f (a)
Exemplo 6.3 Seja f (x) = c, ∀x ∈ R, então para todo a ∈ R, tem-se que =
x−a
f (x) − f (a)
0, ∀x 6= a ⇒ lim = 0 ⇒ f 0 (a) = 0, ∀a ∈ R.
x→a x−a
f (x) − f (a)
Exemplo 6.4 Seja f (x) = αx+β, ∀x ∈ R então para todo a ∈ R tem-se que =
x−a
α (x − a)
= α. Portanto f é derivável em todo R e f 0 (a) = α, ∀a ∈ R.
x−a
Exemplo 6.5 Seja f (x) = xn , para algum n ∈ N, então para todo a ∈ R tem-se que
f (x) − f (a) xn − an
= = (xn−1 + xn−2 a + · · · + xan−2 + an−1 ) . Assim, f 0 (a) = nan−1 .
x−a x−a
Exemplo 6.6 Seja f (x) = ex , ∀x ∈ R. Vamos provar que f é derivável em toda a reta.
f (x) − f (0) ex −1
Primeiramente temos que f é derivável em a = 0, pois lim = lim = 1,
0
x→0 x x→a x
como já foi vista em exercícios anteriores. Assim, f (0) = 1. Agora, para cada a ∈ R tem-
ex − ea ex−a −1
se que lim = lim ea = ea . Assim f é derivável em toda a reta e f 0 (a) = ea ,
x→a x − a x→a x−a
∀a ∈ R.
Exemplo 6.7 Seja f (x) = ln x, ∀x ∈ (0, +∞) . Vamos provar que f é derivável em
(0, +∞) . Primeiramente, temos que f é derivável em a = 1, pois
f (x) − f (1) ln x
lim = lim = lim ln x1/(x−1) = lim ln (1 + (x − 1))1/(x−1) =
x→1 x−1 x→1 x − 1 x→1 x→1
1/(x−1)
= ln lim (1 + (x − 1)) = ln e = 1.
x→1
1
e portanto f é derivável em (0, +∞) e f 0 (a) = .
a
Exemplo 6.8 Considere f (x) = sen x, ∀x ∈ R então f é derivável em toda a reta
f (y) − f (x)
e f 0 (x) = cos x, ∀x ∈ R. De fato, para cada x ∈ R tem-se que lim =
µ ¶ µ ¶ µ y→x
¶ y−x
y−x y+x y−x
2 sen cos sen µ ¶
sen y − sen x 2 2 2 y+x
lim = lim = lim y−x cos =
y→x y−x y→x y−x y→x 2
2
cos x.
0
Exemplo 6.9 A função definida por f (x) = cos µ x é derivável
¶ ¶ e f (x) = − sen x,
µ em R
y−x y+x
−2 sen sen
cos y − cos x 2 2
∀x ∈ R. De fato, lim = lim =
µ y→x ¶ y − x y→x y−x
y−x
sen µ ¶
2 y+x
= −lim y−x sen = − sen x.
y→x 2
2
Exemplo 6.10 A equação da reta tangente ao gráfico de f (x) = ln x no ponto (1, 0) é
1
y = x − 1, pois f 0 (1) = = 1 é o coeficiente angualr desta reta e ela passa pelo ponto
1
(1, 0) . Veja o gráfico a seguir.
Vejamos qual a relação entre uma função derivável e uma função contínua.
Nota 6.12 A recíproca deste resultado não é verdadeira. Observe que f (x) = |x| é con-
|x|
tínua em a = 0, no entanto não é derivável neste ponto pois não existe lim , já que
x→0 x
|x| |x|
lim = 1 enquanto que lim− = −1. Sendo assim a continuidade é apenas condição
x→0+ x x→0 x
necessária para que f seja derivável, mas não é condição suficiente, como mostra o
exemplo.
Exemplo 6.14 Tem-se que (tg x)0 = sec2 x, em cada ponto x ∈ D = {x³ ∈ R;´x 6=
π sen x sen x 0
+ kπ, k ∈ Z}, pois tg x = com cos x 6= 0, ∀x ∈ D, logo, (tg x)0 = =
2 0 0
cos x cos x
(sen x) cos x − sen x (cos x)
. Assim, utilizando as derivadas de seno e cosseno, já calcu-
cos2 x
cos2 x + sen2 x 1
ladas por definição, obtemos que (tg x)0 = 2
= = sec2 x.
cos x cos2 x
ex − e−x ex ex −1
Exemplo 6.15 (senh x)0 = cosh x, pois senh x = = x
. Assim, (senh x)0 =
2 2e
1 (ex ex −1)0 ex − (ex )0 (ex ex −1)
2x
. Mas (ex ex −1)0 = (ex )0 ex + ex (ex )0 − (1)0 = 2 e2x . Por-
2 e
tanto,
1 2 e3x − e3x + ex ex + e−x
(senh x)0 = = = cosh x.
2 e2x 2
Um outro resultado importante é o teorema da inversa, que nos permite calcular
derivada de funções inversas, quando estas existem.
f (x) − f (a)
Prova. Como f é derivável em a, segue que lim = f 0 (a) e como tal limite
x→a x−a
x−a x−a
é não nulo, considerando q(x) = , segue que lim q(x) = lim =
f (x) − f (a) x→a x→a f (x) − f (a)
1
0
. Ainda limf −1 (y) = f −1 (b) = a, pois f −1 é contínua em b e f −1 (y) 6= f −1 (b),
f (a) y→b
∀y 6= b, pois f −1 é injetora, já que f o é. Assim, pelo teorema da composta I, segue
f −1 (y) − a f −1 (y) − f −1 (b) 1 1
que, limq(f −1 (y)) = lim = lim = 0 = 0 −1 , o que
y→b y→b y − f (a) y→b y−b f (a) f (f (b))
implica que f −1 é derivável em b e
¡ −1 ¢0 1 1
f (b) = = .
f0 (f −1 (b)) f0 (a)
¤
Vamos mostrar que "f ser diferenciável em a”é equivalente a "f ser derivável em a” e
que a reta que melhor aproxima f numa vizinhança de a é a reta tangente ao gráfico de
f no ponto (a, f (a)), como pudemos perceber nos exemplos acima.
f (x) − f (a)
Prova. (⇒)Como f é derivável então existe f 0 (a) = lim . Considere então
⎧ x→a x−a
⎨ f (x) − f (a)
− f 0 (a), x 6= a
Ea : D → R definida por Ea (x) = x − a . Da definição de Ea ,
⎩ 0 x=a
segue que
f (x) = f (a) + f 0 (a) (x − a) + Ea (x) (x − a) , ∀x ∈ D.
µ ¶
f (x) − f (a) 0
lim Ea (x) = lim − f (a) ,
x→a x→a x−a
√ √
Exemplo 6.25 Determine aproximadamente 3 1, 03. Sabe-se que f (x) = 3 x é derivável
1 1
em a = 1 e f 0 (a) = √ 3
= , portanto f é diferenciável em a = 1 logo f (x) =
3 a2 3
√ √ 1
f (a) + f 0 (a) (x − a) + Ea (x) (x − a) , ∀x ∈ R. Portanto 3 1, 03 ≈ 3 1 + √
3
(1, 03 − 1) =
3 12
1 + 0, 01 = 1, 01. Veja a seguir o gráfico de f e o gráfico da reta tangente ao gráfico
µ de¶f
1 1 3
no ponto (1, f (1)) , na vizinhança centrada em 1, de raio , ou seja V0,5 (1) = , .
2 2 2
106 CAPÍTULO 6. DIFERENCIABILIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL
Exemplo 6.26 Determine aproximadamente sen (0, 001) . Como a função seno é de-
rivável em R, então ela é diferenciável em R. Assim,
sen (0, 001) ≈ sen (0) + cos (0) (0, 001 − 0) = 0, 001.
Exemplo 6.27 Determine aproximadamente arcsen (0, 002) . Como a função arcsen é
derivável em (−1, 1), segue que arcsen é diferenciável em (−1, 1) e portanto
1
arcsen x ≈ arcsen a + √ (x − a) .
1 − a2
Considerando a = 0 e x = 0, 002 segue que arcsen (0, 002) ≈ 0 + 0.002 = 0.002.
Definição 6.28 Sejam f : D → R, a ∈ D ∩ D0 e f diferenciável em a. Definimos a
diferencial de f no ponto a, como sendo a transformação linear df (a) : R → R,
df (a) (h) = f 0 (a) h.
π
Exemplo 6.29 Seja f (x) = tg x, x 6= + kπ, k ∈ Z, então a diferencial de f no ponto
2
a = 0 é a transformação linear df (0) : R → R, df (0) (h) = (sec2 0) h = h, ∀h ∈ R. Ainda
π
para cada a ∈ D = {x ∈ R; x 6= + kπ, k ∈ Z}, df (a) (h) = (sec2 a) h.
2
Exemplo 6.30 Seja f : R → R, f (x) = x, assim, para cada a ∈ R, df (a) : R → R,
df (a) (h) = f 0 (a) h = h. Ou seja a diferencial de f (x) = x independe do ponto a ∈ R.
Por isso, dizemos que dx (h) = h, ∀h ∈ R.
Exemplo 6.31 Sejam f : D → R, a ∈ D ∩ D0 e f diferenciável em a. A diferencial de f
em a é df (a) (h) = f 0 (a) h, como vimos na definição. Do exemplo anterior, tem-se que
df (a) df (a) (h) df (a)
= (h) = = f 0 (a) , ∀h ∈ R\{0} e portanto pode-se concluir que =
dx dx (h) dx
f 0 (a) , (notação de Leibniz), ou seja, a derivada f 0 (a) é o quociente das diferenciais
f (x) − f (a)
dy = df (a) e dx. Na definição de derivada f 0 (a) = lim temos o limite do
x→a x − a,
quociente das diferenças: ∆y = f (x) − f (a) e ∆x = x − a.
6.1. DERIVABILIDADE E DIFERENCIABILIDADE 107
O próximo resultado nos dará mais um regra de derivação, a última que faltava.
√
Exemplo 6.33 Determine os pontos onde f (x) = cosh x4 + x2 + 1 é derivável e nestes
pontos determine sua derivada.
√
Como cosh é derivável em R, y é derivável em (0, +∞) , x4 + x2 + 1 é derivável em
R e x4 + x2 + 1 > 0, ∀x ∈ R, segue que f é derivável em R e
³√ ´ 4x3 + 2x ³√ ´ 2x3 + x
f 0 (x) = senh x4 + x2 + 1 √ = senh x4 + x2 + 1 √ , ∀x ∈ R.
2 x4 + x2 + 1 x4 + x2 + 1
Exemplo 6.34 A função f (x) = xx é derivável em (0, +∞) , pois f (x) = exp (x ln x) . A
função h (x) = x ln x é derivável em (0, +∞), Im h ⊂ R e a função g (x) = ex é derivável
em R. Portanto como f é composta de funções deriváveis, segue que f é derivável em
(0, +∞) e ainda
f 0 (x) = exp (x ln x) (ln x + 1) = xx (ln x + 1) .
Nota 6.35 Observe que a regra da cadeia nos diz que se f é derivável em a e g é derivável
em f (a), então g ◦ f é derivável em a. Mas nada podemos afirmar se uma delas não √ é
4
derivável. Por exemplo: Considere f : R → R, f (x) = x e g : R → R; g (x) = x. 3
Como já havíamos dito a regra da cadeia nos permitirá concluir que a função inversa
de uma função derivável f, não é derivável nos pontos onde a derivada de f for igual a 0.
108 CAPÍTULO 6. DIFERENCIABILIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL
Prova. Suponha por absurdo que f −1 é derivável em f (a) , então como f é de-
0
rivável em a, segue pela regra da cadeia que f −1 ◦ f é derivável em a e (f −1 ◦ f ) (a) =
0 0
(f −1 ) (f (a)) f 0 (a) = 0. Mas (f −1 ◦ f ) (x) = x, ∀x ∈ D e portanto (f −1 ◦ f ) (a) = 1, o
que é um absurdo. Logo, f −1 não é derivável em a.
h π πi
Exemplo 6.37 A função f (x) = sen x é contínua e injetora no intervalo − , e
h π πi 2 2
portanto admite inversa f −1 (x) = arcsen x, tal que f −1 : [−1, 1] → − , é contínua
h π πi ³ π 2π ´2 ³π ´
em [−1, 1] . Como f é derivável em − , , f 0 (x) 6= 0, ∀x ∈ − , e f0 =
³ π´ 2 2 2 2 2
f0 − = 0, então f −1 é derivável apenas em (−1, 1) .
2
³ π π´
Exemplo 6.38 A função f (x) = arctg x é derivável em R, pois tg : − , →R é
³ π 2 2´
π
derivável, portanto contínua, injetora, com (tg)0 (x) = sec2 x 6= 0, ∀x ∈ − , . Ainda
³³ π π ´´ ³ π π´ 2 2
tg − , = R. Logo, como f = g −1 : R → − , , segue que f é derivável em R
2 2 2 2
1 1 1 1
e f 0 (x) = 0 = 2
= 2 = .
g (f (x)) sec (arctg x) 1 + tg (arctg x) 1 + x2
¤
Exercício 1
Determine o domínio de derivabilidade de fx arcsec x 4 1 . Nestes
pontos calcule f ′ .
Solução: A função arcsec : 1, → 0, é contínua, pois sec : 0, →
2 2
é contínua, injetora no intervalo 0, e sec 0, 1, , já que cos é
2 2
estritamente decrescente neste intervalo e portanto sec será estritamente
decrescente com lim − sec x . Ainda sec é derivável em 0, com
x→/2 2
′
sec x sec x tg x ≠ 0, ∀x ∈ 0, . Logo pelo teorema da derivada da inversa
2
tem-se que arcsec é derivável em 1, e não é derivável em b 1 sec 0, pois
sec ′ 0 sec 0 tg 0 0. Ainda a função g : → , gx x 4 1 , é derivável em
e Im g 1, e g0 1. Logo pela regra da cadeia tem-se que f arcsec ∘ g é
derivável em \0.
Resta agora avaliar, pela definição, a derivabilidade de f no ponto 0. Para isso
vamos verificar a existência ou não do seguinte limite
arcsec x 4 1
lim x ,
x→0
arcsec x 4 1 arcsec x 4 1
Assim, lim lim x 0, o que implica que
x→0 |x| x→0
arcsec x 4 1
lim x 0. Assim f também é derivável em a 0.
x→0
Logo, f é derivável em e f ′ x 42x , pois
x 1
arcsec ′ y 1 1 1 , y ∈ 1,
′
sec arcsec y secarcsec y tgarcsec y y y −1
2
Portanto arcsec ′ x 4 1 1 , x ≠ 0e
x x4 1
2
′
x4 1 4x 3 2x 3 , bastando agora aplicar a regra da cadeia.
2 x4 1 x4 1
Ainda como f ′ 0 0, tem-se o resultado.
Exercício 2
Dê um exemplo de uma função f : → contínua em , derivável em \ℕ
e tal que f ′ x 0, ∀x ∈ −, 1 2n, 2n 1, n ∈ ℕ. Esboce o gráfico de f.
x; x ∈ −, 1
Solução: Considere f : → , fx 2n − x; x ∈ 2n − 1, 2n , n ∈ ℕ. É
x − 2n; x ∈ 2n, 2n 1
claro que f é contínua em −, 1 2n, −1, 2n, n ∈ ℕ 2n, 2n 1, n ∈ ℕ pois
as funções são lineares. Basta verificar que f é contínua nos pontos
2n − 1, 2n; n ∈ ℕ. Vejamos:
1) Para a 1, tem-se que lim fx lim x 1 e lim fx lim 2 − x 1, logo
x→1 − x→1 − x→1 x→1
lim fx f1.
x→1
Portanto f é contínua em .
Ainda f é derivável em −, 1 2n, −1, 2n, n ∈ ℕ 2n, 2n 1, n ∈ ℕ e
1; x ∈ −, 1
′
sua derivada é dada por f x −1; x ∈ 2n − 1, 2n , n ∈ ℕ, e assim,
1; x ∈ 2n, 2n 1
f ′ x 0, ∀x ∈ −, 1 2n, 2n 1, n ∈ ℕ. Resta mostrar que f não é
derivável em ℕ. De fato:
fx − f1
1) Para a 1, tem-se que lim lim x − 1 1 e
x→1 − x − 1 x→1 − x − 1
fx − f1
lim lim 2 − x − 1 lim 1 − x −1. Logo como os limites
x→1 x − 1 x→1 x−1 x→1 x − 1
fx − f1
laterais são distintos então ∄ lim e portanto f não é derivável
x→1 x−1
em a 1.
2) Para a 2n − 1, n ≥ 2 tem-se que
fx − f2n − 1 x − 2n − 2 − 1 x − 2n − 1
lim − lim − lim − 1
x→2n−1 x − 2n − 1 x→2n−1 x − 2n − 1 x→2n−1 x − 2n − 1
fx − f2n − 1
e lim lim 2n − x − 1 lim 2n − 1 − x −1. Logo
x→2n−1 x − 2n − 1 x→1 x − 2n − 1 x→1 x − 2n − 1
fx − f2n − 1
como os limites laterais são distintos então ∄ lim e
x→2n−1 x − 2n − 1
portanto f não é derivável em a 2n − 1.
fx − f2n
3) Para a 2n, n ≥ 1 tem-se que lim − lim − 2n − x −1 e
x→2n x − 2n x→2n−1 x − 2n
fx − f2n
lim lim x − 2n 1. Logo como os limites laterais são
x − 2n x→1 x − 2n
x→2n
fx − f2n
distintos então ∄ lim e portanto f não é derivável em a 2n.
x→2n x − 2n
O gráfico de f é:
Exercício 3
Considere f : I → derivável no intervalo aberto I e seja a ∈ I tal que
fx ≤ fa, ∀x ∈ I. Mostre que f ′ a 0.
Solução: Como f é derivável em a, segue que existe o limite da razão
fx − fa fx − fa fx − fa
incremental e lim x − a lim x − a lim x−a .
x→a x→a − x→a
fx − fa
Mas fx − fa ≤ 0, ∀x ∈ I, portanto x−a ≤ 0, ∀x ∈ I com x a e
fx − fa
x−a ≥ 0, ∀x ∈ I com x a. Logo, destas desigualdades e das propriedades
de limite tem-se que
fx − fa
lim x−a ≥ 0,
x→a −
fx − fa
lim x−a ≤ 0.
x→a
x 2 1
enquanto que f ′ x 0. para todo x ∈ −, −1 1, .
c) Temos que para x ≠ 0, fx x 1x 1 . Como
x 2 1 1/x 2 1 1/x 2
lim 1x 0 lim 12 , segue que
x→ x→ x
a) f (x) = tg x.
c) f (x) = sec x2 .
√3
d) f (x) = cosh x4 .
e) f (x) = tgh x.
f) f (x) = ax , a > 0, a 6= 1.
Exercício 6.43 Determine o intervalo onde as funções abaixo são deriváveis e determine
nestes pontos suas derivadas. Verifique ainda em que pontos f 0 é contínua:
a) f (x) = arccos x3 .
b) f (x) = x arctg x.
µ ¶
2−x
c) f (x) = arcsen .
x
( 1
x2 cos + (x2 + 3x) , x 6= 0
d) f (x) = x .
0 x=0
( 1
x cos + (x2 + 3x) , x 6= 0
e) f (x) = x .
0 x=0
110 CAPÍTULO 6. DIFERENCIABILIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL
⎧ x
⎨ e ,
⎪ x≤0
f) f (x) = ln(x + 1) 0 < x < (e − 1) .
⎪
⎩ x + 1
x≥e
e
Exercício 6.44 Determine aproximadamente os seguintes valores abaixo, usando a difer-
enciabilidade das funções envolvidas.
a) ln 1, 03.
√
b) 3 8, 02.
c) e0,04 .
d) arctg (0, 01)
Exercício 6.45 Despeja-se água num recipiente cilíndrico de raio r = 0, 2 metros. à
razão constante de 0, 04 litros por segundo. Determine a velocidade de subida do nível da
água.
Exercício 6.46 Um balão esférico é enchido com gás a pressão constante, à razão con-
stante de 0, 02 metros cúbicos pro segundo. Supondo que o balão mantenha sempre sua
forma esférica, determine a taxa de variação de seu raio, no instante em que este vale
0, 05 metros.
√
Exercício 6.47 Determine uma equação da reta normal ao gráfico de f (x) = x3 ln x +
2x , no ponto (1, 2) .
2
Exercício³ 6.48 ´Determine uma equação da reta tangente ao gráfico de f (x) = 3sen x ,
π √
no ponto , 3 .
4
½
2x + 1; x < 1
Exercício 6.49 Seja g : R → R, g (x) = . Mostre que g não é de-
−x + 4; x ≥ 1
rivável em x = 1. Esboce o gráfico de g.
Exercício 6.50 Dê um exemplo de uma função f : R → R, que seja contínua em R e
derivável em R\{−1, 0, 1}. Esboce o gráfico de f.
Exercício 6.51 Dê um exemplo de uma função f : R → R que seja contínua em R e
derivável em R\Z. Esboce o gráfico de f.
Exercício 6.52 Seja f : R → R, f (x) = x3 + 3x2 + 1.
a) Estude o sinal de f 0 .
b) Calcule lim f (x) e lim f (x) .
x→+∞ x→+∞
Exemplo 6.64 A função f (x) = x2 − 1 assume máximo absoluto no intervalo [−1, 1] nos
pontos x = ±1, com f (±1) = 0 e mínimo absoluto em x = 0 com f (0) = −1.
Exemplo 6.65 A função f (x) = cos x assume máximo absoluto em R nos pontos x =
2kπ, com cos (2kπ) = 1 e mínimo absoluto nos pontos x = (2k + 1) π com cos [(2k + 1) π] =
−1.
Veremos a seguir uma proposição que nos dá alguns candidatos a pontos extremos.
114 CAPÍTULO 6. DIFERENCIABILIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL
0 0
Proposição 6.66 Seja f : D → R e a ∈ D ∩ D+ ∩ D− um ponto extremo de f. Se f é
0
derivável em a então f (a) = 0.
f (x) ≤ f (a), ∀x ∈ (a − δ, a + δ) ∩ D.
ii) a ∈ ∂D.
Nota 6.69 É importante observar que a proposição nos dá apenas uma condição necessária
para que um ponto de acumulação bilateral, isto é à esquerda e à direita de f seja extremo
e não suficiente. Por exemplo se tomarmos f (x) = x3 , segue que f 0 (x) = 0 ⇔ x = 0 e
no entanto tal ponto não é um ponto extremo de f, pois f (x) > 0 = f (0), ∀x ∈ (0, +∞) e
f (x) < 0 = f (0), ∀x ∈ (−∞, 0) . Observe o gráfico abaixo, onde vemos o gráfico de função
f , em azul e a reta tangente ao gráfico de f no ponto (0, 0) , tracejada.
6.2. A APLICAÇÃO DA DERIVADA AO ESTUDO DA VARIAÇÃO DE FUNÇÕES.115
Nota 6.72 Geometricamente o teorema de Rolle garante que nas condições do teorema,
existe um ponto P = (c, f (c)) em que a reta tangente ao gráfico de f neste ponto P
é paralela ao eixo dos x0 s. Veja a seguir o gráficoµ da função
¶ do exemplo anterior, no
1 4
intervalo [0, 1] e a reta tangente a este, no ponto , .
3 27
Nota 6.73 Observe ainda que se f não for derivável no interior do intervalo, mesmo
que todas as condições sejam satisfeitas podemos não ter a existência deste ponto c. Por
exemplo considere f (x) = |x| , x ∈ [−1, 1] . Neste caso f (−1) = f (1) = 1, f é contínua
em [−1, 1] e no entanto não existe c ∈ (−1, 1) tal que f 0 (c) = 0, pois f não é derivável
em (−1, 1) . Olhe o gráfico.
Nota 6.74 Observe ainda que se todas as condições forem satisfeitas e f (a) 6= f (b) tam-
bém não podemos concluir nada. Por exemplo f (x) = x + 2 é contínua em [−1, 1] e de-
rivável em (−1, 1), no entanto f 0 (x) = 1, ∀x ∈ (−1, 1) , e portanto não existe c ∈ (−1, 1)
6.2. A APLICAÇÃO DA DERIVADA AO ESTUDO DA VARIAÇÃO DE FUNÇÕES.117
tal que f 0 (c) = 0, pois f (−1) = 1 6= 3 = f (1). O gráfico ilustra esta situação.
Nota 6.75 Ainda se f não for contínua ½ em [a, b] também nada se pode concluir, por
x + 1, x ∈ (−1, 1)
exemplo, considere a função f (x) = . f é derivável em (−1, 1),
1, x = ±1
f (1) = f (−1) = 1 e no entanto f 0 (x) = 1, ∀x (−1, 1) . Portanto não existe c ∈ (−1, 1) tal
que f 0 (c) = 0, pois f não é contínua em [−1, 1] .
Nota 6.77 Geometricamente o teorema do valor médio (T.V.M.), nos diz que, dentro
das condições apresentadas, existe uma reta tangente ao gráfico de f paralela à reta se-
cante a ele pelos pontos (a, f (a)) e (b, f (b)) . Segue o gráfico da função f : [−1, 1] → R,
f (x) = x3 + 1 em preto, o gráfico da reta secante ao gráfico de f pelos pontos (−1, 0) e
(1, 2) em vermelho, tracejado e os gráfico das retas tangentes ao gráfico de f nos pontos
118 CAPÍTULO 6. DIFERENCIABILIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL
µ ¶ µ ¶
1 1 −1 1
√ ,1+ √ e √ ,1− √ em azul e verde, respectivamente.
3 3 3 3 3 3
Nota 6.78 Observe que se f não é derivável em (a, b) o teorema não se aplica, como
podemos verificar no gráfico abaixo da função f : [−1, 2] → R; f (x) = 1 + |x| em preto e
da reta secante ao gráfico de f , tracejada..
De fato, como a função seno é contínua e derivável em R, então ela é contínua em [a, b] e
derivável em (a, b) quaisquer que sejam a, b ∈ R, com a < b. Assim, do T.V.M, segue que
existe c ∈ (a, b) tal que sen b − sen a = (cos c) (b − a) ⇒ |sen b − sen a| = |cos c| |(b − a)| ≤
|b − a| , pois |cos c| ≤ 1, ∀c ∈ R.
Prova. Considere a função h(x) = f (x) (g(b) − g(a))−g(x) (f (b) − f (a)) , ∀x ∈ [a, b] .
Assim, h é contínua em [a, b] e derivável em (a, b) pois f e g o são. Ainda, h(a) =
f (a)g(b) − f (b)g(a) = h(b) e portanto do teorema de Rolle, segue que existe c ∈ (a, b)
tal que h0 (c) = 0, mas h0 (x) = f 0 (x) (g(b) − g(a)) − g 0 (x) (f (b) − f (a)) , o que implica que
f 0 (c) (g(b) − g(a)) = g0 (c) (f (b) − f (a)) , como queríamos demonstrar. ¤
Prova. Mostraremos apenas os ítens (a) e (c) deixando o ítem (b) a cargo do aluno,
pois é análogo ao ítem (a).
a) Sejam x, y ∈ I tais que x < y, devemos mostrar que f (x) < f (y). Como [x, y] ⊂ I
◦
e (x, y) ⊂ I segue que f é contínua em [x, y] e derivável em (x, y) . Assim estamos nas
condições do T.V.M. para este intervalo, logo existe c ∈ (x, y) tal que
x2 − x
Exemplo 6.82 Considere a função f (x) = , ∀x ∈ R. Determinemos os intervalos
1 + 3x2
onde f é crescente ou decrescente. Como f é derivável em R, analisemos o sinal de
(2x − 1) (1 + 3x2 ) − 6x (x2 − x) 3x2 + 2x − 1
sua derivada. Assim, f 0 (x) = = . Como
(1 + 3x2 )2 (1 + 3x2 )2
2
(1 + 3x2 ) > 0, ∀x ∈ R, então o estudo de sinal de f 0 se reduz ao estudo de sinal do
0 0
trinômio¶de segundo grau do µnumerador
µ ¶ de f . Portanto f (x) > 0, ∀x ∈ (−∞, −1) ∪
1 1
, +∞ e f 0 (x) < 0, ∀x ∈ −1, . Logo f é estritamente crescente em (−∞, −1] e
3 3 ∙ ¸
1 1
em[ , +∞) e é estritamente decrescente em −1, .
3 3
x2 − x
Nota 6.83 Do exemplo anterior vimos que a função f (x) = cresce até o ponto
1 + 3x2
1
x0 = −1 e em seguida decresce até o ponto x1 = . Assim, f (x) ≤ f (−1), ∀x ∈
µ ¶ 3
1
−∞, ⇒ x0 = −1 é um ponto de máximo relativo de f. Analogamente f decresce
3
1 1
de x0 = −1 até o ponto x1 = e cresce de x1 = em diante, o que implica que
µ ¶ 3 3
1 1
f (x) ≥ f , ∀x ∈ (−1, +∞) , isto implica que x1 = é um ponto de mínimo relativo
3 3
de f. Vejamos o gráfico desta função.
Pode-se concluir pelo gráfico que tais pontos são pontos de máximo e mínimo absolutos.
xey + xy = 3,
Exercício 6.93 Sejam g : [a, b] → R derivável em [a, b] e d ∈ R tal que g 0 (a) < d < g 0 (b).
Mostre que existe c ∈ (a, b) tal que g 0 (c) = d. Este exercício nos diz que a derivada de uma
função, num intervalo, tem a propriedade do valor intermediário, sem ser necessariamente
contínua.
Exercício 6.94 Determine c ∈ (−1, 1) tal que f 0 (c) = 0, onde f (x) = x2 + 1. Justifique.
µ ¶
1 √ 2x
Exercício 6.95 Determine c ∈ √ , 3 tal que f 0 (c) = 0, onde f (x) = .
3 1 + x2
Justifique.
6.2. A APLICAÇÃO DA DERIVADA AO ESTUDO DA VARIAÇÃO DE FUNÇÕES.123
Exercício 6.96 Seja p (x) um polinômio com coeficientes reais de grau 4, que possui 4
raízes reais distintas. Mostre que sua derivada tem 3 raízes reais distintas.
xn xn−1
Exercício 6.105 Mostre, por indução que para cada n ∈ N, ex > + + · · · + 1,
n! (n − 1)!
ex
∀x > 0. Conclua que lim = +∞, ∀α > 0. Isto significa que a exponencial cresce
x→+∞ xα
mais rapidamente do que qualquer potência de x, quando x → +∞.
124 CAPÍTULO 6. DIFERENCIABILIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL
Exercício 6.106 Seja f : (a, b) → R três vezes derivável em (a, b) e tal que f 000 (x) > 0,
∀x ∈ (a, b) . Suponha que exista c ∈ (a, b) tal que f 0 (c) = f 00 (c) = 0. Prove que f é
estritamente crescente em (a, b) .
Exercício 6.107 Seja f ∈ C 1 ([a, b]) . Mostre que existe k > 0 tal que
|f (b) − f (a)| ≤ k |b − a| .
x4
a) f (x) = − x3 − 2x2 + 3.
4
b) f (x) = x2 e−5x .
µ ¶
x−1
c) f (x) = exp .
x2
d) f (x) = sen x + cos x, x ∈ [0, π] .
Exercício 6.109 Determine a altura do cilindro circular reto, de volume máximo, in-
scrito na esfera de raio R, dado.
Nota 6.116 Existe uma definição para concavidade exigindo apenas que a função seja
contínua e mostra-se a equivalência das duas definições quando a função é derivável.
Prova. Demonstraremos apenas o ítem (a) pois o (b) é análogo e poderá ser feito
pelo aluno.
◦
a) Como f é duas vezes derivável em I, e portanto derivável, utilizaremos o teorema
◦
anterior e provaremos que para todo c ∈ I, f (x) > f (c) + f 0 (c) (x − c) , ∀x ∈ I com x 6= c.
◦
Considere então c ∈ I e x ∈ I, com x 6= c, sem perda de generalidade, suporemos que
◦
x < c, então como f é contínua em [x, c] ⊂ I e derivável em (x, c) ⊂ I segue do T.V.M.
que existe ξ ∈ (x, c) tal que
x2 + x − 3
Exemplo 6.118 Analise a concavidade de f (x) = , x 6= 1. Como f é duas
x−1
vezes derivável em R\{1}, pois é o quociente de polinômios, basta analisar o sinal da
(2x + 1) (x − 1) − x2 − x + 3 x2 − 2x + 2
derivada segunda. Tem-se que, f 0 (x) = = ⇒
(x − 1)2 (x − 1)2
6.2. A APLICAÇÃO DA DERIVADA AO ESTUDO DA VARIAÇÃO DE FUNÇÕES.127
◦ ◦
Definição 6.119 Seja f : D → R, f contínua em D e derivável em D e c ∈ D. Dize-
mos que c é um ponto de inflexão de f quando existem a, b ∈ R, com a < c < b,
◦
(a, c) , (c, b) ⊂ D tais que f tenha concavidades contrárias em (a, c) e (c, b) . Isto é, f
muda de concavidade num ponto de inflexão.
Exemplo 6.120 No exemplo acima 1 não é um ponto de inflexão pois ele não pertence
ao domínio de f.
◦
Proposição 6.121 Seja f : D → R duas vezes derivável no intervalo I ⊂ D. Se c ∈ I é
um ponto de inflexão de f e f 00 é contínua em c então f 00 (c) = 0.
◦
Prova. Como c ∈ I é um ponto de inflexão, segue da definição que existem a, b ∈ R,
com a < c < b, (a, c) , (c, b) ⊂ I e tais que f tem concavidades contrárias em (a, c) e (c, b) .
Suponha por absurdo que f 00 (c) 6= 0, sem perda de generalidade, suponha que f 00 (c) > 0.
Então como f 00 é contínua em c, segue do teorema de conservação de sinal que existe r > 0
tal que f 00 (x) > 0, ∀x ∈ (c − r, c + r) ⊂ I. Logo, pelo teorema anterior segue que f tem
concavidade voltada para cima em (c − r, c + r) , o que é um absurdo pois c é um ponto
de inflexão. Portanto f 00 (c) = 0. ¤
1 − 2x − x2 2x3 + 6x2 − 6x − 2
f 0 (x) = 2 e f 00
(x) = 3 . Logo f 00 (x) = 0 ⇔ 2x3 + 6x2 − 6x −
2
(x + 1) 2
(x + 1)
2 = 0 e portanto os pontos de inflexão são:
√ √
x1 = 1, x2 = 2 − 3, x3 = 2 + 3.
Nota 6.124 A partir da definição acima pode-se concluir que o gráfico de f se aproxima
da reta y = mx + n, à medida que x tende +∞. A definição é análoga no caso em que x
tende a −∞.
2x3 + x2
Exemplo 6.125 Determine, caso existam as assíntotas de f (x) = . Dividindo
x2 + 1
os polinômios obtemos:
2x + 1
f (x) = 2x + 1 − .
x2 + 1
2x + 1 x2 [(2/x) + (1/x2 )] [(2/x) + (1/x2 )]
Assim, f (x) − (2x + 1) = − = − = , o que
x2 + 1 x2 [1 + (1/x2 )] [1 + (1/x2 )]
implica que lim [f (x) − (2x + 1)] = 0. Portanto, f tem uma assíntota oblíqua, a saber
x→±∞
a reta y = 2x + 1, que é a mesma para ±∞.
p(x)
Nota 6.126 No caso em que f (x) = e grau de p é igual ao grau de q mais 1, então
q(x)
f terá uma assíntota oblíqua e a maneira de determiná-la é fazendo a divisão dos dois
polinômios, como foi feita no exemplo. Observe ainda que no caso geral se f admitir uma
assíntota então lim [f (x) − mx] = n. Assim, para determinarmos se f admite ou não
x→∞
uma assíntota, devemos verificar se existe m ∈ R tal que lim [f (x) − mx] é finito, caso
x→∞
isto seja verdade a assíntota será a reta de equação y = mx + lim [f (x) − mx] . Vejamos
x→∞
mais um exemplo.
6.2. A APLICAÇÃO DA DERIVADA AO ESTUDO DA VARIAÇÃO DE FUNÇÕES.129
√
Exemplo 6.127 Seja f (x) = 9x2 + 3x + 1, determine caso exista £√ as assíntotas de f.
¤
Vamos analisar para que valores de m, existe o seguinte limite lim 9x2 + 3x + 1 − mx .
√ x→∞
2
Para isso, vamos multiplicar e dividir por 9x + 3x + 1 + mx, obtendo:
9x2 + 3x + 1 − m2 x2 (9 − m2 ) x2 + 3x + 1
√ =√ .
9x2 + 3x + 1 + mx 9x2 + 3x + 1 + mx
Portanto se estivermos interessados no limite quando x → +∞, devemos tomar m = 3 e
teremos que
x [3 + (1/x)] 1
lim [f (x) − 3x] = lim hp i= .
x→+∞ x→+∞
x 9 + (3/x) + (1/x2 ) + 3 2
1
Logo, a assíntota é y = 3x + , quando x → +∞. No caso em que x → −∞, devemos
2
tomar m = −3, pois neste caso teremos
x [3 + (1/x)] 1
lim [f (x) + 3x] = lim hp i =− .
x→−∞ x→−∞
|x| 9 + (3/x) + (1/x2 ) + 3 2
1
Portanto, a assíntota é y = −3x − , quando x → −∞.
2
√3
Exemplo 6.128 Seja f (x) = x3 − 1, determine, ∙q caso existam as assíntotas de ¸f.
£ √ ¤ p
Observe que (x3 − 1) − m3 x3 = 3 x3 − 1 − mx 3 (x3 − 1)2 + 3 (x3 − 1)mx + m2 x2 .
Portanto, segue que
√
3 (x3 − 1) − m3 x3
lim x3 − 1 − mx = lim q p ,
x→±∞ x→±∞ 3 3 2 3 3 2 2
(x − 1) + (x − 1)mx + m x
assim, tomando m = 1, obtemos
√
3 −1
lim x3 − 1 − x = lim q p = 0.
x→±∞ x→±∞ 3 3 2 3 3 2
(x − 1) + (x − 1)x + x
Assim, a assíntota é y = x, para x → ±∞.
f (x)
Nota 6.129 Observe que se lim (f (x) − mx) = n então lim = m (prove!!).
x→±∞ x→±∞ x
Assim, uma maneira de verificar se é possível que f tenha assíntota e "chutar "o valor de
f (x)
m adequado é calcular lim , pois a existência deste limite é condição necessária para
x→±∞ x
f (x)
a existência de assíntota. É importante notar que a existência de lim é condição
x→±∞ x
sen (x)
apenas necessária mas não suficiente. Por exemplo: lim = 0, no entanto não
x→±∞ x
existe lim sen (x) .
x→±∞
130 CAPÍTULO 6. DIFERENCIABILIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL
x3
Exemplo 6.130 Seja f (x) = x3 , tal função não admite assíntota, pois lim = +∞.
x→±∞ x
Para traçarmos gráficos com uma certa precisão precisamos avaliar limites no infinito
e em pontos de acumulação da função, onde ela não é contínua ou não está definida. Para
isso daremos mais uma regra de determinação de limite quando estivermos numa situação
0 ∞
de indeterminação, tipo ou .
0 ∞
Teorema 6.132 (Regras de l’Hôpital): Sejam f, g : D → R, p ∈ D0 e r > 0 tal que f e
g são deriváveis em (p − r, p) ∪ (p, p + r) ⊂ D com g0 (x) 6= 0, ∀x ∈ (p − r, p) ∪ (p, p + r) .
f 0 (x) f (x)
10 caso : Se lim f (x) = 0 = lim g(x) e lim 0 = L entãolim = L.
x→p x→p x→p g (x) x→p g(x)
f 0 (x) f (x)
20 caso : Se lim f (x) = ±∞, lim g(x) = ±∞ e lim 0 = L então lim = L.
x→p x→p x→p g (x) x→p g(x)
Nota 6.134 Observe que a recíproca do teorema não é válida. Para verificar considere
1 f (x)
f (x) = x2 sen , g(x) = x e p = 0. Verifique que lim = 0 e no entanto não existe
x x→0 g(x)
f 0 (x)
lim 0 .
x→0 g (x)
f (x) f 0 (x)
portanto lim+ = L = lim+ 0 .
x→p g(x) x→p g (x)
O caso em que L é infinito demonstra-se de modo análogo, utilizando a igualdade
antes de subtrair-se L, e será deixada a cargo do aluno. ¤
ln x 1/x
Exemplo 6.137 Determine lim . Como lim ln x = +∞ e lim x = +∞ e lim =
x→+∞ x x→+∞ x→+∞ x→+∞ 1
ln x
0, segue que lim = 0.
x→+∞ x
p(x) = a0 + a1 x + · · · + an xn ,
p(n) (0) n
p(x) = p(0) + p0 (0)x + · · · + x .
n!
A fórmula de Taylor explora este fato.
Nota 6.141 Observe que cx depende de x, pois para cada x existe um valor de cx .
Nota 6.142 Observe que se f é apenas derivável então o teorema de Taylor se reduz ao
T.V.M. E no caso de f duas vezes derivável, o teorema de Taylor nos dá uma fórmula
para o resto, ao aproximarmos f numa vizinhança de x0 , por sua reta tangente.
Fx0 (cx ) (Gx (x) − Gx (x0 )) = G0x (cx ) (Fx (x) − Fx (x0 )) . (a)
mas
f (n) (t)
Fx0 (t) = −f 0 (t) + f 0 (t) − f 00 (t) (x − t) − · · · − (x − t)n−1 +
(n − 1)!
f (n) (t) f (n+1) (t)
+ (x − t)n−1 − (x − t)n ,
(n − 1)! n!
n
(x − t)
G0x (t) = −
n!
Assim, para t = cx nas derivadas acima e fazendo as devidas simplificações, obtemos
f (n+1) (cx ) (x − cx )n
Fx0 (cx ) = − (x − cx )n e G0x (cx ) = − .
n! n!
6.3. FÓRMULA DE TAYLOR 135
logo, substituindo o resultado acima em (a) e observando que Gx (x) = 0 = Fx (x), obtemos
n+1
f (n+1) (cx ) n (x − x0 )
(x − cx ) =
n! (n + 1)!
µ ¶
(x − cx )n 0 f (n) (x0 ) n
= f (x) − f (x0 ) − f (x0 ) (x − x0 ) − · · · − (x − x0 ) ,
n! n!
o que implica que
f (n) (x0 ) f (n+1) (cx )
f (x) = f (x0 ) + f 0 (x0 ) (x − x0 ) + · · · + (x − x0 )n + (x − x0 )n+1 ,
n! (n + 1)!
para todo x ∈ I, x 6= x0 . ¤
Assim, do teorema de conservação do sinal, existe r > 0 tal que ∀x ∈ (x0 − r, x0 + r) \{x0 } ⊂
◦ f (n−1) (x)
I tem- se que tem o mesmo sinal de f (n) (x0 ). Assim, f (n−1) (x) tem o mesmo
x − x0
sinal de f (n) (x0 ), se x ∈ (x0 , x0 + r) e tem sinal contrário de f (n) (x0 ), se x ∈ (x0 − r, x0 ) .
Ainda, do teorema de Taylor e da hipótese, segue que para cada x ∈ (x0 − r, x0 + r) \{x0 }
existe cx pertencente ao intervalo aberto de extremos x e x0 tal que
f (n−1) (cx )
f (x) = f (x0 ) + (x − x0 )n−1 .
(n − 1)!
Agora utilizando esta igualdade e o teorema de conservação do sinal, segue que:
b) Se n é par então n − 1 é ímpar e portanto (x − x0 )n−1 > 0, ∀x ∈ (x0 , x0 + r)
f (n−1) (c)
e (x − x0 )n−1 < 0, ∀x ∈ (x0 − r, x0 ) . Como, f (x) − f (x0 ) = (x − x0 )n−1 e
(n − 1)!
(n−1) (n−1)
f (cx ) f (cx )
f (n) (x0 ) > 0, tem-se que > 0, ∀x ∈ (x0 , x0 + r) e < 0, ∀x ∈
(n − 1)! (n − 1)!
(x0 − r, x0 ) , portanto f (x) − f (x0 ) > 0, ∀x ∈ (x0 − r, x0 + r) \{x0 } ⇒ f (x) > f (x0 ),
∀x ∈ (x0 − r, x0 + r) \{x0 }, o que implica que x0 é um ponto de mínimo relativo.
A demonstração do ítem (c) é análoga à do ítem (b) e será deixada a cargo do aluno.
a) Suponha, sem perda de generalidade, que f (n) (x0 ) > 0. Então, f (n−1) (x) < 0 em
(x0 − r, x0 ) e f (n−1) (x) > 0 em (x0 , x0 + r) . Portanto f (n−2) é estritamente decrescente
em (x0 − r, x0 ] e estritamente crescente em [x0 , x0 + r). Como f (n−2) (x0 ) = 0, segue
que f (n−2) (x) > 0 em (x0 − r, x0 ) ∪ (x0 , x0 + r) e portanto f (n−3) é estritamente crescente
em (x0 − r, x0 + r) , com f (n−3) (x0 ) = 0. E assim sucessivamente chegamos que f 00 (x)
tem sinais contrários no intervalos (x0 − r, x0 ) e (x0 , x0 + r) , o que impica que f tem
concavidades contrárias neste intervalos e portanto x0 é ponto de inflexão. ¤
Este teorema pode ser usado quando é mais complicado estudar o sinal das derivadas
em intervalos. Vejamos o exemplo a seguir.
6.3. FÓRMULA DE TAYLOR 137
Exemplo 6.147 Classifiquemos os pontos críticos de f (x) = x5 − 5x4 + 5x3 . Para isso
calculemos f 0 (x) = 5x4 − 20x3 + 15x2 = 5x2 (x − 3) (x − 1) . Portanto os pontos críticos
são x = 0, x = 1, x = 3. Determinemos f 00 (x) = 20x3 − 60x2 + 30x = 10x (2x2 − 6x + 3) .
Portanto, f 00 (0) = 0, f 00 (1) < 0 e f 00 (3) > 0. O que permite concluir que 1 é ponto de
máximo relativo e 3 é ponto de mínimo relativo. Resta ainda classificar o ponto 0. Então
f 000 (x) = 60x2 − 120x + 30 ⇒ f 000 (0) 6= 0 e portanto 0 é um ponto de inflexão horizontal.
Vejamos o gráfico desta função:
Nota 6.148 O teorema anterior também é válido para pontos de inflexão oblíquo e está
formulado na lista de exercícios.
Exercício 1
Esboce o gráfico de fx x e −1/x , determinando o domínio de f, seus
limites no infinito e em pontos de acumulação que não pertenecem ao
domínio, intervalos de crescimento e decrescimento de f, pontos críticos e
suas classificações, concavidade e retas assíntotas.
Solução: O domínio de f é \0. Vejamos primeramente os limites.
lim x e −1/x , pois lim x e lim e −1/x 1, já que lim −1
x 0ea
x→ x→ x→ x→
exponencial é contínua em a 0.
lim x e −1/x −, pois lim x − e lim e −1/x 1, já que lim −1 x 0ea
x→− x→− x→− x→−
exponencial é contínua em a 0.
lim x e −1/x 0, pois lim x 0 e lim e −1/x 0, já que lim −1
x − e lim e 0.
y
x→0 x→0 x→0 x→0 y→−
derivável em e gx 0, para todo x ∈ 0, , logo das propriedades de soma e
quociente de funções deriváveis, segue que f ′ é derivável em 0, . Como 1 é
ponto crítico de f, segue que f ′ 1 0, substituindo na equação obtemos,
f1 f1 2 2,
e como por hipótese fx 0, obtemos que f1 −2. Derivando ambos os lados
da equação, obtemos:
f ′ x fx xf ′′ x f ′ x 2fxf ′ x 0.
Substituindo os valores de f1 e f ′ 1 na equação acima, obtemos que
f ′′ 1 2 0 e portanto o ponto 1 é um ponto de mínimo relativo de f.
Exercício 3
Sejam f : I → duas derivável no intervalo aberto I e a ∈ I. Mostre que
fa 2h − 2fa h fa
f ′′ a lim .
h→0 h2
Dê um exemplo onde o limite acima existe, mas f ′ a não existe.
Solução: Do exercício 6.154, da lista de exercícios propostos, segue que
f ′′ a
fx fa f ′ ax − a x − a 2 E a xx − a 2 , ∀x ∈ I,
2
com lim E a x 0 E a a. Assim, fazendo x a 2h e x a h e substituindo na
x→a
razão acima tem-se que
fa 2h − 2fa h fa
2
f ′′ a 4E a a 2h − 2E a a h,
h
logo, passando o limite quando h → 0, segue que
fa 2h − 2fa h fa
lim 2
f ′′ a.
h→0 h
Considere fx |x|. Sabe-se que não existe f ′ 0. No entanto
f0 2h − 2f0 h f0
lim 0, pois f2h |2h| 2|h| e 2fh 2|h|.
h→0 h2
Exercício 4
Sabendo que arctgxy ln1 x 2 − y 3 1 0 define implicitamente y como
2
Exercício 6.151 Esboce os gráficos das funções abaixo, determinando o domínio, os lim-
ites no infinito, os limites em pontos de acumulação que não fazem parte do domínio
ou em que a função não é contínua, , se for o caso. Determine ainda os intervalos de
crescimento e decrescimento da função, a concavidade em cada subintervalo, os pontos de
inflexão, caso existam e os pontos de máximos e mínimos relativos e/ou absolutos, caso
existam. Determine ainda, caso existam, as assíntotas.
ln x
a) f (x) = .
x
b) f (x) = xrln x.
1−x
c) f (x) = x
√ 1+x
d) f (x) = 3 x3 + 3x2 + 4x.
e) f (x) = arctg (ln x) .
x2 + 1
f) f (x) = 2 .
x −1
f 00 (x0 )
f (x) = f (x0 ) + f 0 (x0 ) (x − x0 ) + (x − x0 )2 + E(x) (x − x0 )2 , ∀x ∈ I.
2
6.3. FÓRMULA DE TAYLOR 139
Exercício 6.158 Seja f : R → R duas vezes derivável em R e tal que xf 00 (x)+f 0 (x) = 4,
∀x ∈ R.
7.1 Primitiva
Definição 7.1 Dizemos que uma função f : I → R admite primitiva no intervalo I
quando existe F : I → R derivável em I com F 0 (x) = f (x), ∀x ∈ I.
141
142 CAPÍTULO 7. INTEGRAL DE RIEMANN
Gráfico de f
7.1. PRIMITIVA 143
Gráfico de F
Qual a diferença entre os dois exemplos? No primeiro exemplo a descontinuidade é
do tipo salto, isto é, os limites laterais existem, mas são diferentes. Enquanto que no
segundo exemplo nem os limites laterais existem. Veremos mais adiante que funções com
descontinuidade tipo salto não admitem primitiva.
Vimos ainda nos exemplos acima que se F é uma primitiva de f em I então F + c
também é uma primitiva em I, ∀c ∈ R. E será que existe alguma outra primitiva de f
diferente de F + c? O próximo resultado responde a esta pergunta, para funções definidas
em intervalos.
Nota 7.7 Assim, do resultado anterior temos que se uma função admite uma primitiva
no intervalo I, então ela admite
R uma família de primitivas
R que diferem uma das outras
por uma constante. A notação f (x)dx ou simplesmente f será usada para representar
a família de primitivas de uma função f.
Veremos a seguir um resultado importante que nos permitirá concluir que funções que
admitem descontinuidade tipo salto num determinado intervalo, não admitem primitiva
neste intervalo. Para isso, enunciaremos um resultado que afirma que a derivada de uma
função possui a propriedade do valor intermediário, independente de sua continuidade e
que é o exercício proposto 6.93, cuja prova utiliza o exercício proposto 6.91.
144 CAPÍTULO 7. INTEGRAL DE RIEMANN
Segue abaixo os gráficos de uma soma superior e de uma soma inferior da função
1
f (x) = x2 , no intervalo [0, 2] , com ∆xi = .
5
Nota 7.15 Observe que como f é limitada então as somas superiores e inferiores estão
bem definidas.
Vejamos a seguir alguns resultados importantes sobre somas superiores e inferiores que
nos permitirão definir integral superior e inferior e função Riemann integrável.
a) m(b − a) ≤ s(f, P ) ≤ S(f, P ) ≤ M(b − a), ∀P ∈ P ([a, b]) , onde m = inf{f (x); x ∈
[a, b]} e M = sup{f (x); x ∈ [a, b]}.
A partir da proposição anterior podemos definir integral superior e inferior para qual-
quer função real limitada num intervalo fechado e limitado.
Definição 7.17 Seja f : [a, b] → R limitada em [a, b] . A integral inferior de f no inter-
valo [a, b], é definida por
Z b
f (x) dx = sup{s(f, P ); P ∈ P ([a, b])},
a
Nota 7.18 É importante observar que as integrais superiores e inferiores estão bem
definidas para qualquer f : [a, b] → R limitada em [a, b] e ainda da proposição anterior
segue que
Z b Z b
f (x)dx ≤ f (x)dx.
a a
No entanto, não é verdade que qualquer f nestas condições seja integrável, como veremos
da definição.
Definição 7.19 Seja f : [a, b] → R limitada em [a, b] . Dizemos que f é Riemann inte-
grável sobre [a, b] quando
Z b Z b
f (x)dx = f (x)dx = I.
a a
Neste caso o número real I é denominado integral de f sobre [a, b] e denotado por
Z b
I= f (x)dx.
a
148 CAPÍTULO 7. INTEGRAL DE RIEMANN
Exemplo 7.20 Seja f : [a, b] → R uma função constante, ou seja f (x) = k, ∀x ∈ [a, b] .
Considere P ∈ P ([a, b]) , uma partição qualquer, então S(f, P ) = k(b − a) e s(f, P ) =
Rb R b Rb
k(b − a) ⇒ f (x)dx = a f (x)dx = k (b − a) = a f (x)dx, o que implica que toda função
a
constante é integrável sobre um intervalo [a, b] e
Z b
kdx = k (b − a) ,
a
Nota 7.22 Das definições anteriores, tem-se que quando f é integrável em [a, b], f (x) ≥
Rb
0,para todo x ∈ [a, b] , a integral a f (x) dx é a área abaixo da curva y = f (x) e acima
do eixo dos x0 s com x ∈ [a, b] , como ficou claro graficamente.
Exercício 1
Verifique se as funções abaixo admitem primitiva, nos intervalos
indicados e caso a resposta seja positiva determine a família de primitivas.
a) fx 1 , I −1, 1.
1 − x2
b) fx 1 , I 1, .
x ln x
c) fx |x|, I
x; x≤1
d) fx .
ln x; x 1
Solução:
a) Como arcsen x é derivável em −1, 1 e arcsen ′ x 1 em
1 − x2
I −1, 1, segue que f admite primitiva em I e a família de primitivas de f
é f arcsen x c, c ∈ .
x; x≥0 2
c) Sabe-se que |x| . Então tem-se que x é uma primitiva de
−x; x 1 2
e
b b c b
a fxdx a fxdx a fxdx c fxdx.
Portanto
c b c b
fxdx fxdx a fxdx c fxdx.
a c
Ainda como f| c,b , e portanto constante, segue que f| c,b é integrável em c, b e
b
c fxdx b − c. Logo, desta última igualdade e das igualdades anteriores,
tem-se que
c c
fxdx a fxdx,
a
Teorema 7.27 Seja f : [a, b] → R limitada em [a, b] . Então f é integrável sobre [a, b] ⇔
dado ε > 0, existe Pε ∈ P ([a, b]) tal que
Portanto, como as integrais superior e inferior são números reais que não dependem da
R b Rb
partição, segue da propriedade de números reais que a f (x)dx = f (x)dx ⇒ f é inte-
a
grável. ¤
7.3. CRITÉRIO DE INTEGRABILIDADE DE RIEMANN 151
Nota 7.28 É claro que este critério de integrabilidade também não é prático, mas vai
nos permitir demonstrar que certas classes de funções são integráveis.
Teorema 7.30 Toda função f : [a, b] → R contínua em [a, b] é integrável em [a, b].
Proposição 7.31 Seja f : [a, b] → R limitada em [a, b] e contínua em (a, b). Então f é
integrável em [a, b] .
Prova. Como f é limitada, considere M = sup{f (x); x ∈ [a, b]} e m = inf{f (x); x ∈
[a, b]}. Como já provamos que toda função constante é integrável então suporemos que f
não é constante e portanto m < M. Assim, dado ε > 0 tomemos cε , dε ∈ (a, b) tais que
ε ε
0 < cε − a < e b − dε < . Logo, como f é contínua em [cε , dε ]
3 (M − m) 3 (M − m)
segue que f é integrável neste intervalo, portanto, existe Pε0 ∈ P ([cε , dε ]) tal que
ε
S(f, Pε0 ) − s(f, Pε0 ) < .
3
Considere Pε = {a, b} ∪ Pε0 ∈ P ([a, b]) , então
S(f, Pε ) − s(f, Pε ) = (sup{f (x); x ∈ [a, cε ]} − inf{f (x); x ∈ [a, cε ]}) (cε − a)
+S(f, Pε0 ) − s(f, Pε0 ) + (sup{f (x); x ∈ [dε , b]} − inf{f (x); x ∈ [dε , b]}) (b − dε ) ≤
≤ (M − m) (cε − a) + S(f, Pε0 ) − s(f, Pε0 ) + (M − m) (b − dε ) < ε.
Nota 7.32 Observe na demonstração acima que o valor de f nos pontos a e b não altera
a integrabilidade de f e nem mesmo o valor da integral, desde que f seja limitada. Assim,
se f é limitada e contínua em (a, b), pode-se concluir que f é integrável em [a, b] , pois
pode-se definir f nos pontos a e b, da maneira que quisermos e procedendo como na
demonstração acima, obtemos o resultado. Ou seja mesmo que f não esteja definida em
a ou b, desde que f seja limitada em (a, b) , pode-se perguntar se f é ou não integrável
em [a, b] .
Proposição 7.33 Seja f : [a, b] → R limitada em [a, b] e c ∈ (a, b) tal que f é integrável
Rb Rc
em [a, c] e f é integrável em [c, b] . Então f é integrável em [a, b] e a f (x)dx = a f (x)dx+
Rb
c
f (x)dx.
Rc R c Rb R b
Prova. Da hipótese, tem-se que f (x)dx = a f (x)dx e f (x)dx = c f (x)dx. Do
a c
exercício resolvido 2 da seção anterior segue que
Z b Z c Z b
f (x)dx = f (x)dx + f (x)dx =
a a c
Z c Z b Z b
= f (x)dx + f (x)dx = f (x)dx.
a c a
Teorema 7.34 Seja f : [a, b] → R limitada em [a, b] e contínua exceto num número finito
de pontos. Então f é integrável em [a, b] .
Vejamos agora algumas das propriedades de integral e como obter novas funções inte-
gráveis a partir de funções integráveis já conhecidas.
Prova. Provaremos apenas os ítens (a) e (e), deixando os demais a cargo do aluno.
a)Do exercício resolvido 5 da seção anterior e da integrabilidade de f e g, tem-se que
Z b Z b Z b
(f + g) (x)dx ≥ f (x)dx + g(x)dx =
a a a
Z b Z b
= f (x) dx + g (x) dx,
a a
e
Z b Z b Z b
(f + g) (x)dx ≤ f (x)dx + g(x)dx =
a a a
Z b Z b
= f (x) dx + g (x) dx.
a a
Portanto
Z b Z b Z b Z b Z b Z b
f (x) dx+ g (x) dx ≤ (f + g) (x)dx ≤ (f + g) (x)dx ≤ f (x) dx+ g (x) dx.
a a a a a a
X
n
S(f, P ) − s(f, P ) = sup{|f (x) − f (y)| ; x, y ∈ [xi−1 , xi ]}∆xi ≥
i=1
X
n
≥ sup{|f (x)| − |f (y)| ; x, y ∈ [xi−1 , xi ]}∆xi = S(|f | , P ) − s (|f | , P ) .
i=1
Lema 7.37 Seja f : [a, b] → R limitada e integrável em [a, b], com f (x) ≥ 0, ∀x ∈ [a, b] .
Então f 2 é integrável em [a, b] .
onde M = sup{f (x); x ∈ [a, b]} > 0. Portanto, como f é integrável em [a, b], dado ε > 0
existe Pε ∈ P ([a, b]) tal que
ε
S(f, Pε ) − s(f, Pε ) < ⇒ S(f 2 , P ) − s(f 2 , P ) < ε
2M
Portanto, f 2 é integrável em [a, b] . ¤
Prova. Como f é limitada então existe K > 0 tal que |f (x)| ≤ K, ∀x ∈ [a, b] ⇒
−K ≤ f (x) ≤ K, ∀x ∈ [a, b] ⇒ 0 ≤ f (x) + K ≤ 2K, ∀x ∈ [a, b] . Assim, do lema acima,
segue que (f + K)2 é integrável. Mas (f + K)2 = f 2 + 2Kf + K 2 e como f é integrável,
segue das propriedades já vistas que 2Kf também o é e ainda toda função constante é
integrável sobre um intervalo fechado e limitado. Logo segue que f 2 é integrável.
1£ ¤
Ainda como fg = (f + g)2 − (f − g)2 , segue do que acabamos de provar e das
4
propriedades já vistas que f g também é integrável em [a, b] . ¤
i) A ⊂ ∪ Ik .
k∈K
P
ii) l (Ik ) < ε, onde l (Ik ) é o comprimento do intervalo Ik .
k∈K
Prova. Dado ε > 0, como cada Aj tem medida nula, existe uma família enumerável
de intervalos abertos Ikj , kj ∈ Kj tal que, para cada j ∈ N,
i) Aj ⊂ ∪ Ikj .
kj ∈Kj
P ¡ ¢ ε
ii) l Ikj < j .
kj ∈Kj 2
P∞ P ¡ ¢ P ∞ ε 1/2
ii) l Ikj < j
=ε = ε.
j=1kj ∈Kj j=1 2 1 − 1/2
∞
Logo, ∪ Aj tem medida nula. ¤
j=1
Exemplo 7.43 N e Q tem medida nula, já que são conjuntos enumeráveis e portanto
como o conjunto constituído de um ponto tem medida nula, N e Q, são ambos, união
enumerável de conjuntos de medida nula.
Existe uma outra maneira de se definir a integrabilidade de uma função limitada num
intervalo [a, b] , por meio de limite de somas de Riemann, ao invés de soma superior e
inferior. Como em muitas aplicações as somas de Riemann surgem naturalmente, dare-
mos a definição e o resultado prinicipal, sem demonstração. A demonstração pode ser
encontrada em bons livros de Análise.
Segue abaixo um exemplo gráfico de uma soma de Riemann, para a função f (x) = x2 .
P
(f, P ∗ ) ≤ S(f, P ). Segue abaixo a soma superior,
É facil verificar que s(f, P ) ≤
1 2 3
uma soma de Riemann e a soma inferior para a partição P = {0, , , , . . . , 2} com ci ,
5 5 5
7.3. CRITÉRIO DE INTEGRABILIDADE DE RIEMANN 157
O resultado a seguir mostra que é equivalente definir a integral a partir das somas
superiores e inferiores ou como limte de soma de Riemann.
Exemplo 7.49 Para encontrar a área da região limitada pelo gráfico de f (x) = 4 − x2 ,
o eixo dos x e as retas x = 1 e x = 2, tomamos uma seqüência de partições do intervalo
1 n−1
[1, 2] , Pn = {x0 = 1, x1 = 1+ , . . . , xn−1 = 1+ , xn = 2} e pontilhamos esta partição
n n P
escolhendo ci = xi , 1 ≤ i ≤ n. Assim, temos que a área é igual a lim (f, Pn∗ ) =
n→+∞
R2
1
f (x)dx. Mas
" µ ¶2 #
X X n
i 1
(f, Pn∗ ) = 4− 1+ =
i=1
n n
X X µ ¶ µ ¶µ ¶
1X2
n n n
3 2 1 1 1 1
= 1− 2 i− 3 i =3− 1+ − 1+ 2+ .
n i=1 n i=1 n i=1 n 6 n n
∙ µ ¶ µ ¶µ ¶¸
R2 1 1 1 1 5
Portanto, 1 f (x)dx = . lim 3 − 1 + − 1+ 2+ = .
n→+∞ n 6 n n 3
P P
Nota 7.50 Neste exemplo (f, Pn∗ ) = s (f, Pn ) e lim (f, Pn∗ ) = sup{s (f, Pn ) ; n ∈
n→+∞
R2
N} = 1 f (x)dx = sup{s (f, P ) ; P ∈ P ([a, b])}.
e a existência de primitiva? Existem funções integráveis que não admitem primitiva e vice
versa, isto é, funções que admitem primitiva e não são integráveis? Vamos agora procurar
responder a estas perguntas.
Primeiramente enunciaremos um teorema que nos apresenta condições suficientes para
que uma função integrável admita primitiva. Veremos em seguida a relação que existe
entre a integral e a primitiva.
Proposição 7.51 Seja f : I → R contínua no intervalo I. Então f admite uma primitiva
em I.
Prova. Seja a ∈ I fixado. Como f é contínua em I então para cada x ∈ I, x 6= a, f
é contínua no intervalo fechado de extremos x e Ra e portanto é integrável neste intervalo.
x
Assim, podemos definir F : I → R por F (x) = a f (t)dt, ∀x ∈ I. Mostraremos que F é
derivável em I e que F 0 = f em I, ou seja que F é uma primitiva de f em I.
Seja x0 ∈ I qualquer e provemos que
F (x) − F (x0 )
lim = f (x0 ).
x→x0 x − x0
Como f é contínua em x0 , segue que dado ε > 0 existe δ > 0 tal que ∀x ∈ I com
|x − x0 | < δ tem-se que |f (x) − f (x0 )| < ε. Assim, ∀x ∈ I com 0 < |x − x0 | < δ ,
obtemos que
¯ ¯ ¯ Z x ¯
¯ F (x) − F (x0 ) ¯ ¯ 1 ¯
¯ − f (x0 )¯¯ = ¯¯ f (t)dt − f (x0 )¯¯ =
¯ x − x0 x − x0 x0
¯ ¯ ¯Z x ¯ ¯ ¯ ¯Z ¯
¯ 1 ¯¯ ¯ ¯ 1 ¯¯ x ¯
= ¯¯ ¯¯ (f (t) − f (x )) dt¯≤¯ ¯¯ |f (t) − f (x )| dt ¯.
x − x0 ¯ ¯ x0 ¯ ¯ x − x0 ¯ ¯ ¯
0 0
x0
Nota 7.52 Portanto toda função contínua em [a, b] é aí integrável e admite primitiva
neste intervalo.
O que acontece com funções que não são contínuas? Vejamos alguns exemplos.
½ 2
x ; x ∈ [0, 1/2]
Exemplo 7.53 Seja f : [0, 1] → R definida por f (x) = . Como f é
x; x ∈ (1/2, 1]
descontínua em apenas um ponto, é limitada em todo intervalo, segue que f é integrável
1
em [0, 1] . No entanto como f admite uma descontinuidade tipo salto no ponto x = ,
2
segue que f não admite primitiva.
7.3. CRITÉRIO DE INTEGRABILIDADE DE RIEMANN 159
¸∙
1 2
Exemplo 7.54 Seja f : − , → R definida por
π π
½
2x cos (1/x) + sen (1/x) ; x ∈ [−1/π, 2/π] \{0}
f (x) =
0; x=0
Como f é descontínua
∙ ¸em apenas um ponto,
½ 2e limitada em todo intervalo, segue que f é
1 2 x cos (1/x) ; x ∈ [−1/π, 2/π] \{0}
integrável em − , . Ainda F (x) = é primi-
π π ∙ ¸ 0; x=0
1 2
tiva de f em todo intervalo − , . (Verifique!).
π π
( 2
2x cos (1/x2 ) + sen (1/x2 ) ; x ∈ [−π, π] \{0}
f (x) = x
0; x=0
Gráfico de f
Gráfico de F
Nota 7.56 Assim pode-se observar que se f não é contínua em todo intervalo da forma
[a, b], pode-se ter caso em que ela é integrável e não admite primitiva, caso em que é
integrável e admite primitiva e caso em que admite primitiva e não é integrável. Nos caso
em que é contínua ou em que não é contínua mas é integrável e admite primitiva, veremos
qual a relação entre a integral e a primitiva.
Logo, s(f, P ) ≤ F (b) − F (a) ≤ S(f, P ), ∀P ∈ P ([a, b]) . Assim, como P é uma partição
qualquer de [a, b] , F (b)−F (a) é uma cota superior do conjunto das somas inferiores de f e
é uma cota inferior do conjunto das somas superiores de f. Logo da definição de supremo,
ínfimo, integral superior, integral inferior e do fato de f ser integrável, segue que:
Z b Z b
f (t)dt ≤ F (b) − F (a) ≤ f (t)dt,
a a
portanto, Z b
f (t)dt = F (b) − F (a).
a
¤
Nota 7.58 Observe que não é necessário que F seja primitiva de f em [a, b] , mas apenas
em (a, b) , desde que F seja contínua em [a, b] .
arccos x √
Exemplo 7.59 Seja f : [0, 1) → R, f (x) = √ . Como lim− 1 − x2 = 0 e
1 − x2 x→1
√
arccos x −1/ 1 − x2
lim arccos x = 0, tem-se, aplicando l’Hôpital, que lim− √ = lim √ =
x→1− x→1 1 − x2 x→1− (−x) / 1 − x2
1, logo pode-se concluir que f é integrável em [0, 1] e uma primitiva de f em [0, 1) é
(arccos x)2
F : [0, 1] → R, F (x) = − , que é contínua em [0, 1] e derivável em [0, 1),
2 R 1 arccos x
com F 0 (x) = f (x) , ∀x ∈ [0, 1). Assim, do teorema acima tem-se que 0 √ dx =
1 − x2
π2
F (1) − F (0) = .
8
∙ ¸
1 2
Exemplo 7.60 Como f : − , → R;
π π
½
2x cos (1/x) + sen (1/x) ; x ∈ [−1/π, 2/π] \{0}
f (x) = ,
0; x=0
∙ ¸
1 2
é integrável em é − , e admite primitiva neste intervalo, definida por
π π
½ 2
x cos (1/x) ; x ∈ [−1/π, 2/π] \{0}
F (x) = ,
0; x=0
R 2/π
então aplicando o Teorema Fundamenta do Cálculo, tem-se que −1/π f (x) dx = F (2/π)−
1
F (−1/π) = 2 .
π
O objetivo será encontrar meios de determinar primitvas de funções em determinados
intervalos, para assim poder determinar sua integral.
Exercício 1
Seja f : a, b → contínua em a, b. Mostre que f é integrável em a, b.
Solução:
Para demonstrarmos este exercício precisamos do seguinte resultado:
Lema: Se f : a, b → é contínua em a, b então dado 0, existe 0 tal
que ∀x, y ∈ a, b com |x − y| , tem-se que |fx − fy| .
Dem do Lema: Suponha por absurdo que existe 0 tal que para todo 0
existem x , y ∈ a, b com |x − y | e |fx − fy | ≥ . Assim, para cada n ∈ ℕ,
considere n 1 1
n , logo existem x n , y n ∈ a, b com |x n − y n | n e |fx n − fy n | ≥ ,
∀n ∈ ℕ. Mas como a sequência x n é limitada, segue do teorema de
Bolzano-weierstrass, que exsite uma subsequência x n j de x n tal que x n j → c e
como a, b é compacto tem-se que c ∈ a, b. Ainda |y n j − c| ≤ |y n j − x n j | |x n j − c|,
logo da convergência de x n j e da hipótese feita, segue que y n j → c. Como f é
contínua em a, b tem-se que fx n j → fc e fy n j → fc. Logo considerando
0, existe j 0 ∈ ℕ tal que |fx n j − fc| e |fy n j − fc| , ∀j ≥ j 0 , o que
2 2
implica que |fx n j − fy n j | , ∀j ≥ j 0 , o que contradiz a hipótese de que
|fx n − fy n | ≥ , ∀n ∈ ℕ. Logo segue a tese, ou seja ∀ 0 existe 0 tal que
∀x, y ∈ a, b com |x − y| tem-se que |fx − fy| .
Resolução do exercício:
Com este resultado provaremos o exercício. Dado 0, considere 0, tal
que ∀x, y ∈ a, b com |x − y| tem-se que |fx − fy| . . Seja n ∈ ℕ, tal
b−a
que n b − a e tome a partição P x 0 , x 1 , … , x n ∈ Pa, b tal que x 0 a,
x1 a b − a b−a
n , … , x k a k n , … , x n b. Assim, ∀x, y ∈ x i−1 , x i tem-se que
|x − y| ≤ |x i − x i−1 | b − a
n . Como f é contínua em a, b e portanto em cada
subintervalo x i−1 , x i , segue que f assume máximo e mínimo absolutos em cada
subintervalo x i−1 , x i , i 1, … , n. Ou seja inffx; x ∈ x i−1 , x i fc i e
supfx; x ∈ x i−1 , x i fd i , onde c i , d i ∈ x i−1 , x i , e portanto |d i − c i | . Logo,
n n
Sf, P − sf, P ∑ fd i − fc i Δx i ∑ Δx i ,
b−a
i1 i1
ou seja,
b
Fx 0
gb
ga
Fb − Fx 0 ≤ 1
ga
a fxgxdx ≤ Fx 1 gb
ga
Fb − Fx 1 .
gb
Como Fx 0 ≤ Fx ≤ Fx 1 , ∀x ∈ a, b e 0 ≤ ≤ 1, segue que
ga
b
Fx 0 ≤ 1
ga
a fxgxdx ≤ Fx 1 .
Portanto, como F é contínua em x 0 , x 1 ⊂ a, b, segue pelo T.V.I., que existe
b
c ∈ a, b tal que Fc 1 fxgxdx, ou seja,
ga a
c b b c
a ftdt 1
ga
a fxgxdx a fxgxdx ga a fxdx
Exercício 6
Seja f : → , contínua e tal que fx 0, para todo x ∈ . Considere
x 3 3x 2
F : → definida por Fx ftdt. Determine os intervalos de
0
crescimento e decrescimento da função F.
Solução: Como f é contínua em . ela admite uma primitiva G : → ,
x
definida por Gx ftdt, ou seja G é derivável em e G ′ x fx para todo
0
x ∈ . Assim, temos que Fx Gx 3 3x 2 , ou seja F é a composta de G com
u : → tal que ux x 3 3x 2 . Logo F é derivável em e
F ′ x G ′ x 3 3x 2 u ′ x fx 3 3x 2 3x 2 6x. Como fx 0, para todo x ∈ ,
segue que F ′ x 0 em −, −2 0, e F ′ x 0 em −2, 0. Portanto, como F
é contínua em , segue que:
F é estritamente crescente em −, −2 e em 0,
F é estritamente decrescente em −2, 0.
162 CAPÍTULO 7. INTEGRAL DE RIEMANN
Exercício 7.63 Seja f : [a, b] → R limitada em [a, b] . Se para todos c, d ∈ (a, b) com
c < d, f é integrável em [c, d] , mostre que f é integrável em [a, b] .
Nota 7.64 Do exercício acima, observa-se que o valor que f assume nos extremos do
intervalo não altera a integrabilidade de f , desde que f seja limitada. Assim, pode-se ter
f definida apenas em (a, b) , desde que f seja limitada em (a, b) e integrável em [c, d] ,
∀ [c, d] ⊂ (a, b) , pode-se concluir que f é integrável em [a, b] .
½
(1 − ex ) /x; x 6= 0
Exemplo 7.70 f : R → R definida por f (x) = també é contínua
−1; x=0
em R, logo admite primitiva em R, mas não conseguimos expressá-la em termos de funções
164 CAPÍTULO 7. INTEGRAL DE RIEMANN
elementares.
Apesar de não existirem regras bem definidas, como as de derivação, para determinar
primitivas, o objetivo desta seção é apresentar métodos que nos ajudem a transformar
integrais complicadas em integrais de funções das quais conhecemos uma primitiva.
R
Exemplo 7.72 Determine x cos x2 dx. Considerando f, g : R → R definidas por g(x) =
x2 e f (y) = cos y, temos que g0 (x) = 2x, f é contínua e admite uma primitiva F (y) =
sen y. Ainda Im g = [0, +∞) ⊂ R. Então da proposição anterior, segue que F ◦ g é
1
primitiva de (f ◦ g) g 0 . Mas (f ◦ g) (x) g0 (x) = 2x cos x2 ⇒ (F ◦ g) é o que procuramos.
2
R 2 1 2
Portanto, segue que x cos x dx = sen x + K, x ∈ R.
2
Este resultado se torna, para integrais definidas num intervalo [a, b] , o seguinte.
Corolário 7.73 Sejam f : [a, b] → R e g : [c, d] → R, tais que g ([c, d]) ⊂ [a, b] , f
integrável em [a, b] e admite primitiva F em (a, b) com F contínua em [a, b], g contínua
em [c, d] , derivável em (c, d) com g0 e f ◦ g integráveis em [c, d]. Então
Z d Z g(d)
0
f (g(x))g (x)dx = f (y)dy = F (g (d)) − F (g (c)) .
c g(c)
Prova. Sabe-se que F é derivável e F 0 (t) = f (ϕ(t))ϕ0 (t), ∀t ∈ J e ainda ϕ−1 é derivável
0 1
com (ϕ−1 ) (x) = 0 −1 , ∀x ∈ I. Assim, pelo teorema da composta F ◦ϕ−1 é derivável
ϕ (ϕ (x))
0 0 1
em I e (F ◦ ϕ−1 ) (x) = F 0 (ϕ−1 (x)) (ϕ−1 ) (x) = F 0 (ϕ−1 (x)) 0 −1 . Mas como F é
ϕ (ϕ (x))
0 1
primitiva de (f ◦ ϕ) ϕ0 , segue que (F ◦ ϕ−1 ) (x) = f (ϕ (ϕ−1 (x))) ϕ0 (ϕ−1 (x)) 0 −1 =
ϕ (ϕ (x))
f (x), ∀x ∈ I. ¤
Corolário 7.76 Sejam ϕ : [c, d] → [a, b] bijetora, contínua em [c, d] e derivável em(c, d)
com ϕ0 (t) 6= 0, ∀t ∈ (c, d). Seja f : [a, b] → R tal que (f ◦ ϕ) ϕ0 é integrável em [c, d] e
admite primitiva F em (c, d) que seja contínua em [c, d] . Então
Z Z ϕ−1 (b)
b ¡ ¢ ¡ ¢
f (x)dx = f (ϕ (t))ϕ0 (t)dt = F ϕ−1 (b) − F ϕ−1 (a) .
a ϕ−1 (a)
R√ h π πi
Exemplo 7.77 Determine 1 − x2 dx, x ∈ (−1, 1) . Considere ϕ : − , → [−1, 1]
h π2 π2i
definida por ϕ (t) = sen t. Então ϕ é bijetora e contínua no intervalo − , , derivável
³ π π´ √ 2 2
com ϕ0 (t) = cos t 6= 0, ∀t ∈ − , . Ainda, (f ◦ ϕ) (t) = 1 − sen2 t = |cos t| = cos t,
h π πi 2 2 h π πi
1 + cos 2t
∀t ∈ − , e portanto (f ◦ ϕ) (t) ϕ0 (t) = cos2 t = , ∀t ∈ − , , cuja
2 2 2 2 2
t sen 2t 1
família de primitivas é F (t) = + + K = [t + sen t cos t] + K. Portanto do
2 4 2
teorema de mudança de variáveis segue que F ◦ ϕ−1 é uma primitiva de f em (−1, 1) ,
R√ 1£ √ ¤
contínua em [−1, 1] . Ou seja, 1 − x2 dx = arcsen x + x 1 − x2 + K, x ∈ (−1, 1) .
2
166 CAPÍTULO 7. INTEGRAL DE RIEMANN
√
Nota 7.78 No exemplo acima, f (x) = 1 − x2 é contínua em [−1, 1] e portanto admite
1£ √ ¤
primitiva neste intervalo. Mostre que (F ◦ ϕ−1 ) (x) = arcsen x + x 1 − x2 é derivável
2
em [−1, 1] e sua derivada é igual a f (x) , ∀x ∈ [−1, 1] . Do exemplo anterior basta verificar
a deivabilidade de F ◦ ϕ−1 nos pontos ±1.(Exercício!)
R1 √
Exemplo 7.79 Determine 1 − x2 dx. Do exemplo anterior temos que uma primitiva
√ −1
de 1 − x2 em (−1, 1) é
1h √ i
F (x) = arcsen x + x 1 − x2 ,
2
R1 √
que é contínua em [−1, 1] . Assim do T.F.C. segue que −1 1 − x2 dx = F (1) − F (−1) =
π ³ π´ π
− − = .
4 4 2
Substituições trigonométricas e trigonométricas hiperbólicas: As mudanças
de variáveis realizadas muitas vezes estão baseadas nas relações trigonométricas e trigonométri-
cas hiperbólicas. As mais utilizadas são:
2 2 2
cos2 x + sen x = 1; 1 + tg x = sec2 x; cosh2 x − senh x = 1.
Nota 7.80 É claro que devemos avaliar a função integranda como um todo para analisar
qual a melhor mudança de variável.
Prova. Como f e g são deriváveis em I então fg também o é e (f g)0 (x) = f 0 (x) g (x)+
f (x) g 0 (x) , ∀x ∈ I. Considere H uma primitiva de f 0 g em I. Então ((f g) − H)0 (x) =
f 0 (x) g (x) + f (x) g 0 (x) − f 0 (x) g (x) = f (x) g 0 (x) , que é o resultado desejado. ¤
7.4. MÉTODOS DE INTEGRAÇÃO 167
R R R
Exemplo 7.83 Determine arctg xdx. Temos queR arctg xdx = R1 arctg xdx. Con-
siderando f (x) = x e g(x) = arctg x, segue que 1 arcctg xdx = f 0 (x) g (x) dx =
R x
(fg) (x) − f (x) g 0 (x) dx. Mas (f g) (x) = x arctg x e f (x) g 0 (x) = , que us-
1 + x2
1 R
ando o primeiro teorema admite como primitiva ln (1 + x2 ) . Assim, arctg xdx =
2
1 2
x arctg x − ln (1 + x ) + K.
2
R2 R2 R2
Exemplo 7.84 Calcule 1 ln xdx. Novamente temos que 1 ln xdx = 1 1 ln xdx e por-
R2
tanto considerando f (x) = x e g(x) = ln x em [1, 2] , segue que 1 ln xdx = x ln x |21
R2 x R2 4
− 1 dx = 2 ln 2 − 1 1dx = ln 4 − 1 = ln .
x e
p(x)
Veremos a seguir alguns resultados sobre funções racionais, isto é f (x) = , onde
q(x)
p (x) , q (x) são polinômios, para utilizá-los na determinação de primitivas e no cálculo de
integrais definidas.
Ou seja, A e B devem ser solução do sistema acima. As constantes são únicas uma vez
que o sistema é possível e determinado.
mx + n m (x − α) + n + mα m n + mα
b)Primeiramente temos que 2 = 2 = + ,
(x − α) (x − α) (x − α) (x − α)2
que é o que queremos provar, com C = m e D = n + mα. ¤
Nota 7.86 Este resultado pode ser generalizado tendo no numerador um polinômio de
grau menor que o do denominador e no denominador um polinômio que tenha apenas
raízes reais, podendo ser repetidas. É importante observar que quando a raiz α é repetida,
com multiplicidade k, as parcelas na soma apresentam no denominador todos os termos
desde (x − α) até (x − α)k .
x+1
Exemplo 7.87 Decomponha em frações parciais a função racional f (x) = .
x3 (x + 2)
Então segue que devemos encontrar A, B, C, D ∈ R tais que
x2 + x + 6 A B C D
= + + + .
x3 (x + 2) x x2 x3 x + 2
Assim, para obter a igualdade acima devemos ter a seguinte igualdade de polinômios:
x2 + x + 6 = Ax2 (x + 2) + Bx (x + 2) + C (x + 2) + Dx3 .
x2 + x + 6 1 1 3 1
3
= − 2+ 3− .
x (x + 2) x x x x+2
R x2 + x + 6
Exemplo 7.88 Determine dx, x 6= 0, −2. Do exemplo anterior, temos que
x3 (x + 2)
Z Z Z Z Z
x2 + x + 6 1 1 3 1
dx = dx − dx + dx − dx.
x3 (x + 2) x x2 x3 x+2
7.4. MÉTODOS DE INTEGRAÇÃO 169
Logo,
Z
x2 + x + 6 1 3
dx = ln x + − − ln (x + 2) + K, em (0, +∞) ,
x3 (x + 2) x 2x2
Z 2
x +x+6 1 3
3
dx = ln (−x) + − 2 − ln (x + 2) + K, em (−2, 0) ,
x (x + 2) x 2x
Z 2
x +x+6 1 3
3
dx = ln (−x) + − 2 − ln (− (x + 2)) + K, em (−∞, −2) .
x (x + 2) x 2x
Ou pode-se resumir numa única expressão da forma:
Z 2
x +x+6 1 3
3
dx = ln |x| + − 2 − ln |x + 2| + K, x 6= 0, −2.
x (x + 2) x 2x
Vejamos o resultado quando o polinômio do denominador também apresenta raízes
complexas. A prova é deixada a cargo do aluno.
Proposição 7.89 Sejam m, n, p, r, a, b, c, α ∈ R tais que b2 − 4ac < 0. Então existem
únicos A, B, C, D, E, F, G ∈ R tais que:
mx2 + nx + p A Bx + C
a) 2
= + 2 ,
(x − α) (ax + bx + c) x − α ax + bx + c
rx3 + mx2 + nx + p Dx + E Fx + G
b) 2 = 2 + .
(ax2 + bx + c) ax + bx + c (ax2 + bx + c)2
Nota 7.90 Este resultado pode ser generalizado, quando o polinômio do denominador
apresenta raízes reais repetidas de modo análogo à proposição anterior e quando admite
raízes complexas com multiplicidade maior que 2, do mesmo modo como foi observado no
caso de raízes reais repetidas.
x5 + 2x2 + 3
Exemplo 7.91 Decomponha em frações parciais a função racional f (x) = .
(x2 + 2x + 2)3
Assim, devemos encontrar Ai , Bi ∈ R, 1 ≤ i ≤ 3, tal que
x5 + 2x2 + 3 A1 x + B1 A2 x + B2 A3 x + B3
3 = 2 + 2 + .
(x2 + 2x + 2) x + 2x + 2 (x2 + 2x + 2) (x2 + 2x + 2)3
Para obtermos tal igualdade devemos ter a seguinte igualdade de polinômios:
¡ ¢2 ¡ ¢
x5 + 2x2 − 13 = (A1 x + B1 ) x2 + 2x + 2 + (A2 x + B2 ) x2 + 2x + 2 + A3 x + B3 .
Devemos portanto resolver o seguinte sistema:
⎧
⎪
⎪ A1 = 1
⎪
⎪
⎪
⎪ 4A1 + B1 = 0
⎨
4A1 + 4B1 + A2 = 0
,
⎪
⎪ 8A1 + 4B1 + 2A2 + B2 = 2
⎪
⎪
⎪
⎪ 4A1 + 8B1 + 2A2 + 2B2 + A3 = 0
⎩
4B1 + 2B2 + B3 = −13
170 CAPÍTULO 7. INTEGRAL DE RIEMANN
Logo,
Z
x5 + 2x2 + 3 1 ¡ 2 ¢ 67
3 dx = ln x + 2x + 2 + arctg (x + 1) +
(x2 + 2x + 2) 2 8
5x + 3 1 (x + 1) (x − 2)
+3 2 + +C
x + 2x + 2 8 (x2 + 2x + 2)2
.
Nota 7.93 Observe que os resultados são para funções racionais tais que o grau do
polinômio do numerador é menor que o grau do polinômio do denominador. Para funções
racionais tais que o grau do polinômio do numerador é maior ou igual ao grau do polinômio
do denominador, primeiro faz-se a divisão dos polinômios, obtendo um polinômio e uma
função racional dentro das hipóteses do resultado.
Estes são os métodos de integração, que nos ajudam a obter primitivas e calcular inte-
grais definidas. Existem ainda alguns tipos de substituição que se aplicam a determinadas
situações, por exemplo, quando se tem função ³ x racional
´ envolvendo sen e cos, em geral se
utiliza a substituição do tipo u = g(x) = tg . Vejamos um exemplo.
2
R ³ π π´
Exemplo 7.94 Determine sec xdx, em − , . Da trigonometria, sabe-se que, ∀x ∈
2 2
x
³ π π´ x x x x tg
− , , sen x = 2 sen cos = 2 tg cos2 = 2 2 . Ainda, cos x = 1 −
2 2 2 2 2 2 x
1 + tg2
2
h i 2 x
1 − tg
2 sen2
x
= cos2
x x
sec2 − 2 tg2
x
= 2 . Portanto R sec xdx = R 1 dx =
2 2 2 2 x cos x
1 + tg2
2
Z 1 + tg2 x sec2
x
2 dx = R 2 dx. Logo, usando a substituição u = g(x) = tg x , obtemos
x x 2
1 − tg2 1 − tg2
2 2
R 2du R 2du R du R du
a seguinte integral: = = + = − ln |1 − u| +
1 − u2 (1 − u) (1 + u) ¯ 1−ux¯ 1+u
¯ ¯ ¯ 1 + tg ¯
¯1 + u¯ R ¯ 2 ¯¯ +c = ln |sec x + tg x| +c.
ln |1 + u| +c = ln ¯¯ ¯ +c. Portanto sec xdx = ln ¯¯
1−u ¯ x ¯
¯ 1 − tg ¯
2
x2 y2
Exemplo 7.95 Determine a área limitada pela elipse de equação + = 1. Da
4 9
simetria da elipse, pode-se calcular apenas a área da semi-elipse superior e multiplicar-
3√
mos por 2. Observe que a semi-elipse superior é o gráfico da função f (x) = 4 − x2 ,
2
R 2 3√ R2 √
−2 ≤ x ≤ 2. Assim, a área desejada é A = 2 −2 4 − x2 dx = 3 −2 4 − x2 dx. Para
2
π π
calcular esta integral fazemos a mudança de variável x = ϕ (t) = 2 sen t, − ≤ t ≤ ,
³ π π´ 2 2
0
que é bijetora e contínua neste intervalo, com ϕ (t) 6= 0, ∀t ∈ − , . Assim, obtemos
R2 √ R π/2 R 2 2
π/2
−2
4 − x2 dx = −π/2 4 cos2 tdt = 2 −π/2 (1 + cos 2t) dt = 2π ⇒ A = 6π.
Exemplo 7.98 Determinar a área da região limitada pelo laço da lemniscata r2 = a2 cos 2θ,
π π
− ≤ θ ≤ e a > 0. Da simetria da lemniscata, pode-se calcular apenas a área da região
4 4
R π/4 a2 cos 2θ a2
da lemniscata contida no primeiro quadrante. Assim, A = 2 0 dθ = .
2 2
Exemplo 7.99 Determinar o volume do toro. Como o toro pode ser considerado como
um sólido de revolução, por exemplo, pela rotação de um disco de centro (0, a) , a > 0 e raio
r < a em torno do eixo do x. Assim, √ podemos considerar a semi-circunferência superior
como o gráfico da função f (x) = a+ √ r2 − x2 , −r ≤ x ≤ r e a semi-circunferência inferior
como o gráfico 2 2
R r da2 função 2g(x) = a − r R−r x√, −r ≤ x ≤ r. Portanto o volume V do toro
é igual a π −r (f (x) − g (x)) dx = 4πa −r r2 − x2 dx. Fazendo a mudança de variável
π π Rr √ R π/2
x = ϕ (t) = r sen t, − ≤ t ≤ , obtemos que −r r2 − x2 dx = −π/2 r2 cos2 tdt =
2 2
R
2 π/2 1 + cos 2t r2 π
r −π/2 dt = ⇒ V = 2π 2 ar2 .
2 2
eixo dos x, obtemos um sólido. Nosso objetivo é determinar a área lateral deste sólido.
Considere uma partição P = {x0 = a, . . . , xn = b} ∈ P ([a, b]). Para cada i = 1, . . . , n,
considere o tronco de cone circular reto de raios iguais a f (xi−1 ) e f (xi ) e geratriz o
segmento de reta que une os pontos (xi−1 , f (xi−1 ))
qe (xi , f (xi )) . Assim, a área lateral
deste tronco de cone é dada por π (f (xi−1 ) + f (xi )) (xi − xi−1 )2 + (f (xi ) − f (xi−1 ))2 =
q
π (f (xi−1 ) + f (xi )) 1 + (f 0 (ci ))2 ∆xi . Assim, a área lateral Al deste sólido é o limite,
quando a norma da partição tende a 0 da soma destas área de tronco de cone. Mas
à medida que a norma da partição tende a 0, como f é contínua podemos aproximar
f (xi−1 ) +qf (xi ) por 2f (ci ). E assim teremos o limte da soma de Riemann da função
F = 2πf 1 + (f 0 )2 . Concluímos finalmente que
Z b q
Al = 2π f (x) 1 + (f 0 (x))2 dx.
a
Exemplo 7.101 Calcule a área lateral do sólido de revolução gerado pela rotação de
f (x) = cosh x, −1 ≤ x ≤ 1, em torno do eixo dos x. Temos que
Z 1 p Z 1
2
Al = 2π cosh x 1 + senh xdx = 2π cosh2 xdx =
−1 −1
Z 1 2x
e +2 + e −2x £
π 2 ¤
= 2π dx = e +4 − e−2 = π [senh 2 + 2] .
−1 4 2
Exercício 1
b
Mostre que em todo intervalo a, b tem-se que sen xdx ≤ 2.
a
Solução: Seja a, b ⊂ , então existe n ∈ ℕ tal que
a, b ⊂ − 2n, 2n . Assim, como a sen xdx ≤ a |sen x|dx e |sen x| ≥ 0,
b b
2 2
∀x ∈ , então
b /22n
a |sen x|dx ≤ −/22n |sen x|dx.
Fazendo a mudança de variáveis, x y 2n na última integral, tem-se que
/22n /2 /2
−/22n |sen x|dx −/2 |seny 2n|dy −/2 |sen y|dy.
Portanto, como sen y ≤ 0 em − , 0 e sen y ≥ 0 em 0, , segue que
2 2
/2 0 /2
−/2 |sen y|dy − −/2 sen ydy 0 sen ydy 2,
logo
b
a |sen x|dx ≤ 2, ∀a, b ⊂ .
Exercício 2
Sejam f : 0, 1 → , e g : −1, 1 → integráveis. Mostre que
1
−1 xfx 2 dx 0
e
0 cos xgsen xdx 0.
Solução: Como as funções x, sen e x 2 são contínuas e f, g, são integráveis,
segue que as funções xfx 2 e gsen x são integráveis em−1, 1 e 0, ,
respectivamente.
Ainda fazendo a substituição x x 2 , segue que ′ x 2x e portanto
1 1 1
−1 xfx 2 dx 1 −1 fx ′ xdx 1 −1 fydy. Portanto
2 2
1 1
−1 xfx 2 dx 12 1 fydy 0.
Analogamente, fazendo a substituição x sen x, tem-se que ′ x cos x e
protanto cos xgsen xdx gx ′ xdx. Logo,
0 0
0
0 cos xgsen xdx 0 gx ′ xdx 0.
Exercício 3
n
Mostre que ∀n ∈ ℕ, n ≥ 2, ln xdx n lnn − n 1.
1
Solução: Utilizando a integração por partes, já que ln é contínua em 0, e
portanto admite primitiva neste intervalo e é integrável em qualquer intervalo
fechado e limitado contido em 0, , obtém-se
n n
1 ln xdx n ln n − 1 ln 1 − 1 x 1x dx.
Logo,
n
1 ln xdx n ln n − n − 1
Exercício 4
/2
Considere S n sen x dx. Mostre que
n
0
Sn n − 1
a) n S n−2 , n 2, S 2 4 e S 1 1.
b) S n é decrescente.
c) lim S 2n 1.
n→ S 2n1
Solução: a) Como sen x e sen x n são de classe C , pode-se aplicar a
integração por partes. Assim, lembrando que uma primitiva de sen x é − cos x e que
′
sen x n−1 n − 1sen x n−2 cos x. obtém-se que
/2 /2 /2
0 sen x n dx 0 sen xsen x n−1 dx − cos xsen x n−1
/2
0
0
cos 2 xn − 1sen x n−2 dx.
ou seja
/2 /2
Sn 0 sen x n dx n −
n
1 0 sen x n−2 dx n − 1
n S n−2 .
Ainda
/2
S1 0 sen xdx − cos cos 0 1
2
e
/2 /2
S2 0 1 − cos 2x dx x − sen 2x /2 .
sen x 2 dx 0
2 2 4 0 4
b) Como 0 ≤ sen x ≤ 1, ∀x ∈ 0, , então sen x n1
≤ sen x , ∀n ∈ ℕ.
n
2
Portanto de propriedade de integrais, segue que
/2 /2
0≤ 0 sen x n1 dx ≤ 0 sen x n dx, ∀n ∈ ℕ,
c) x2 x 2 d ln 2 x 1 x 2
2
2 − xx 2 2x 2
Solução:
a) Primeiramente analisemos o domínio da função. Devemos ter 2x − x 2 0,
ou seja x ∈ 0, 2. Neste intervalo a função é contínua e portanto admite
primitiva. Ainda 2x − x 2 1 − x − 1 2 e portanto devemos encontrar uma
primitiva para x2 . Faremos a seguinte mudança de variável:
1 − x − 1 2
x − 1 sen t, ou seja, x 1 sen t. Observe que : − , → 0, 2;
2 2
t 1 sen t é bijetora derivável, com t cos t 0, ∀t ∈ − , .
′
2 2
Portanto fazendo esta mudança de variável devemos encontrar uma
primitiva da função: sen t 2 sen t 1 cos t sen 2 t 2 sen t 1.
2
cos t
considerando que sen t 1 − cos 2t , temos que uma primitiva de
2
2
sen t 2 sen t 1 é
2
3t − sen t 1 − sen 2 t
Ft t − sen 2t 2 cos t t 3t − sen t cos t 2 cos t
2 4 2 2 2
2
Portanto uma primitiva de x −1
é F ∘ , ou seja,
2x − x 2
3 arcsenx − 1 x − 1 2x − x 2
− 2x − x 2 . Logo,
2 2
x2 3 arcsenx − 1 x − 1 2x − x 2
dx − 2x − x 2 c, c ∈ , no
2x − x 2 2 2
intervalo I 0, 2.
b) Primeiramente analisemos o domínio da função. Devemos ter
4x 2 − 24x 27 0. Mas suas raízes são: 3 e 9 , portanto podemos ter
2 2
dois intervalos a saber: −, 3 ou 9 , . Utilizaremos o segundo
2 2
2 3
intervalo. Ainda, 4x 2 − 24x 27 3 8 x − 3 2 − 3 . Portanto
2
fazemos a seguinte mudança de variável, x − 3 3 sec t 3 . Como
2 2 cos t
: 0, → 9 , ; t 3 3 sec t é bijetora e derivável no
2 2 2
intervalo 0, ′
, com t 3 sec t tg t 0, para todo t ∈ 0, , então
2 2 2
basta determinarmos F uma primitiva de cos t em 0, , pois
18 sen 2 t 2
considerando fx 1 , segue que
3
4x − 24x 27
2
devemos encontrar uma primitiva para cada uma das funções. Em 2,
uma primitva de 2 é 2 lnx − 2 e em −, 2 uma primitiva de
252 − x 25
2 é 2 ln2 − x, logo 2 dx 2 ln|2 − x| c, c ∈ , em
252 − x 25 252 − x 25
\2. Para obter uma primitiva de 2x 8 , vamos reescrever esta
25x 2 2x 2
função da seguinte forma:
2x 8 2x 2 6 . E assim obtemos,
25x 2 2x 2 25x 2 2x 2 25 x 1 2 1
x 2 2x 2 ′
2x 2 dx dx 1 lnx 2 2x 2 c, c ∈ ,
25x 2 2x 2 25x 2 2x 2 25
em e portanto em \2. Ainda fazendo a mudança de variável
x 1 tg t, temos que : − , → , t tg t − 1 é bijetora,
2 2
derivável no intervalo − , , com ′ t sec 2 t 0, para todo
2 2
t ∈ − , . Assim, devemos encontrar uma primitiva F de
2 2
6 sec 2 t 6 , pois considerando fx 6 , temos que
25 sec 2 t 25 25 x 1 2 1
f ∘ t ′ t 6 . Logo, Ft 6 t e portanto uma primitiva de f em é
25 25
F ∘ , logo,
−1 6 dx 6 arctgx 1 c, c ∈ , em .
25 x 1 2 1 25
Finalmente,
1−x − 2x − 2 − 2x 2 4 .
2 2 2
5x 2x 2
2
10x 2x 2
2
10x 2x 2
2
10x 2x 2 2
2
x 2 2x 2 ′ −1
Como 2x 2 dx dx c, ou
10x 2 2x 2 2 10x 2 2x 2 2 10x 2 2x 2
seja, − 2x 2 dx 1 c, c ∈ , em . Para
10x 2x 2
2 2
10x 2
2x 2
determinar uma primitiva de 4 , fazemos a mesma mudança
10x 2x 2 2
2
c ∈ .
d) Primeiramente precisamos analisar o domínio da função. Como o domínio
de ln é 0, , devemos verificar para que valores de x, x 1 x 2 é
positivo. Como 1 x 2 |x|, para todo x ∈ , segue que
x 1 x 2 x |x| ≥ 0, para todo x ∈ e portanto o domínio da função é
. Para determinar uma primitiva, usaremos a integração por partes, logo,
2x ln x 1 x 2
1 ln x 1 x dx x ln x 1 x −
2 2 2 2
1 x
x 1x 2
1 x2
Aplicando integração por partes novamente na segunda integral,
lembrando que se gx 1 x 2 então g ′ x x , temos que
1 x2
2x ln x 1 x 2 x ln x 1 x 2
dx 2 dx 2 1 x 2 ln x 1 x 2
1x 2
1x 2
Rπ x 3x
p) 0
sen2 cos dx.
2 2
R2 2x
q) 1
dx.
1 − 4x
R3 1
r) 2
x3 arcsen dx.
x
R1 senh x cosh x
s) dx.
0
senh2 x + cosh2 x
R
t) x arctg (2x + 3) dx.
R
Exercício 7.105 Determine cossec xdx em (0, π) .
Exercício 7.109 Determine o volume do sólido formado pela rotação, em torno do eixo
Ox, da região compreendida entre y = sen2 x, x = 0 e x = π.
Exercício 7.111 Determine a área lateral da superfície gerada pela rotação, em torno
1
do eixo Ox, do gráfico da função f (x) = x2 , 0 ≤ x ≤ .
2
Capítulo 8
Série de Taylor
Estamos interessados em saber para que valores de x uma série de potências converge.
Como já vimos, uma série numérica converge se e somente se sua seqüência das somas
parciais converge. Consideremos então
X
n
sn (x) = aj (x − x0 )j = a0 + a1 (x − x0 ) + · · · + an (x − x0 )n .
j=0
n→+∞
Assim, pelo critério da raiz , para os valores de x em que este limite for menor que 1
teremos a convergência absoluta da série. Nos pontos em que este limite for maior que 1
a série divergirá e nosppontos em que o limte for igual ap1 teremos que verificar de outra
forma. Como lim sup n |an (x − x0 )n | = |x − x0 | lim sup n |an |, seguem os seguintes casos:
n→+∞ n→+∞
p
p p
1)Se 0 < lim sup |an | = L < +∞ então lim sup n |an (x − x0 )n | = |x − x0 | lim sup n |an | =
n
181
182 CAPÍTULO 8. SÉRIE DE TAYLOR
1
Neste caso então dizemos que é o raio de convergência da série.
p L p p
2)Se lim sup n |an | = 0 então lim sup n |an (x − x0 )n | = |x − x0 | lim sup n |an | = 0 < 1,
n→+∞ n→+∞ n→+∞
∀x ∈ R, logo a série converge absolutamente em R e neste caso por abuso de linguagem
dizemos que o raio
p de convergência da série ép
infinito. p
3)Se lim sup n |an | = +∞ então lim sup n |an (x − x0 )n | = |x − x0 | lim sup n |an | =
n→+∞ n→+∞ n→+∞
+∞ e portanto a série diverge para todo x 6= x0 .
Nota 8.2 Em alguns casos pode ser mais fácil usar o critério da razão do que o critério
da raiz.
P
+∞ p
Exemplo 8.3 A série xn converge em (−1, 1) , pois, an = 1, ∀n ∈ N, logo lim n
|an | =
n=0 n→+∞
1 e então o raio de convergência desta série é 1. Ainda em x = ±1 esta série diverge, já
que seu termo geral não converge para 0.
P (−1)n
+∞ x2n p
n
Exemplo 8.4 A série converge em R, pois lim |an | = 0, onde
n=0 n! n→+∞
½
(−1)k−1 / (k − 1)!; se n = 2 (k − 1)
an = , k ∈ N.
0; se n = 2k − 1
P
+∞ p
Exemplo 8.5 A série (−1)n n!x2n converge apenas em x = 0, pois lim sup n
|an | =
n=0 n→+∞
+∞, onde, ½
(−1)k−1 (k − 1)!; se n = 2 (k − 1)
an = , k ∈ N.
0; se n = 2k − 1
Os dois primeiros casos são os que nos interessam, pois nestes casos temos que a
série converge no seu intervalo de convergência I, para uma função f : I → R. Que
características tem esta função? Será provado em Mat-32 que esta função f para a qual
P
+∞
a série de potências converge é tal que f ∈ C ∞ (I) e ainda f 0 (x) = nan (x − x0 )n−1 ,
n=1
P
+∞
f 00 (x) = n (n − 1) an (x − x0 )n−2 , . . . , ∀x ∈ I. Pode-se então concluir que f (x0 ) = a0 ,
n=2
f (n) (x0 )
f 0 (x0 ) = a1 , . . . , f (n) (x0 ) = n!an , ou seja an = . Isto nos faz lembrar da fórmula
n!
de Taylor.
◦
Definição 8.6 Seja f : I → R, x0 ∈ I e J = (x0 − r, x0 + r) ⊂ I tal que f ∈ C ∞ (J) .
P
+∞
Então a série de Taylor de f em torno de x0 é a série de potências an (x − x0 )n , onde
n=0
f (n) (x0 )
an = , ∀n ∈ N.
n!
183
Nota 8.7 Do que foi observado anteriormente, pode-se provar que se uma série de potên-
cias em torno do ponto x0 , converge para uma função f , no intervalo I = (x0 − r, x0 + r)
então esta série é a série de Taylor de f em torno de x0 .
E a recíproca é válida? Isto é, se f ∈ C ∞ (J) , onde J = (x0 − r, x0 + r) , então a sua
série de Taylor em torno de x0 converge para f em J? A resposta é: não necessariamente,
como mostra o seguinte exemplo:
½ −1/x2
e , x 6= 0
Exemplo 8.8 Seja f : R → R definida por f (x) = . Pode-se mostrar
0, x=0
que f ∈ C ∞ (R) e que f (n) (0) = 0, ∀n ≥ 1. Assim, a série
P∞ f (k) (0)
xk converge para a função identicamente nula em R e portanto a série con-
k=0 k!
verge, mas não para f. Ela converge para f somente em x0 = 0.
P∞ f (k) (x )
0
Vejamos então quais as condições para que a série de Taylor (x − x0 )k de
k=0 k!
uma função f ∈ C ∞ (J) seja convergente para f em algum intervalo J = (x0 − r, x0 + r) .
◦
Proposição 8.9 Seja f : D → R, a ∈ D e I = (a − r, a + r) ⊂ D tal que f ∈ C ∞ (I) .
Então,
¯ (n+1) ¯
X
+∞ (k)
f (a) k
¯f (cx,n )¯
f (x) = (x − a) , ∀x ∈ I ⇔ lim |x − a|n+1 = 0, ∀x ∈ I,
k=0
k! n→+∞ (n + 1)!
onde cx,n está no intervalo aberto de extremos a e x.
◦
Prova. Como f ∈ C ∞ (I) e a ∈ I, segue, pela fórmula de Taylor, que para cada
x ∈ I, x 6= a, e para cada n ∈ N, existe cx,n no intervalo aberto de extremos a e x tal que
X
n
f (k) (a) f (n+1) (cx,n ) f (n+1) (cx,n )
f (x) = (x − a)k + (x − a)n+1 = sn (x) + (x − a)n+1 .
k=0
k! (n + 1)! (n + 1)!
o que implica que ¯ (n+1) ¯
¯f (cx,n )¯
|f (x) − sn (x)| = |x − a|n+1 .
(n + 1)!
logo
¯ (n+1) ¯
¯f (cx,n )¯
lim sn (x) = f (x) ⇔ lim |f (x) − sn (x)| = 0 ⇔ lim |x − a|n+1 = 0.
n→+∞ n→+∞ n→+∞ (n + 1)!
Portanto
¯ (n+1) ¯
X
+∞ (k)
f (a) k
¯f (cx,n )¯
f (x) = (x − a) , ∀x ∈ I ⇔ lim |x − a|n+1 = 0, ∀x ∈ I.
k=0
k! n→+∞ (n + 1)!
¤
184 CAPÍTULO 8. SÉRIE DE TAYLOR
◦
Corolário 8.10 Seja f : D → R, a ∈ D e I = (a − r, a + r) ⊂ D tal que f ∈ C ∞ (I) .
Se, para cada c ∈ (0, r) ,
µ ¶
Mn+1 (c) n+1
lim c = 0,
n→+∞ (n + 1)!
¯ ¯
onde Mn+1 (c) = max{¯f (n+1) (x)¯ , x ∈ [a − c, a + c] , então, a série de Taylor de f em
torno de a, converge para f em I.
¯ ¯
Prova. Como f ∈ C ∞ (I) , para cada n ∈ N, ¯f (n+1) ¯ é contínua em [a − c, a + c] ,
∀c ∈ (0, r) , logo existe Mn+1 (c) . Ainda, para cada x ∈ I, x 6= a, e para cada n ∈ N,
segue pela fórmula de Taylor, que existe cx,n no intervalo aberto de extremos a e x, tal
que
X
n
f (k) (a) f (n+1) (cx,n ) f (n+1) (cx,n )
f (x) = (x − a)k + (x − a)n+1 = sn (x) + (x − a)n+1 .
k=0
k! (n + 1)! (n + 1)!
Logo, ¯ (n+1) ¯
¯f (cx,n )¯ Mn+1 (c) n+1
0 ≤ |f (x) − sn (x)| = |x − a|n+1 ≤ c ,
(n + 1)! (n + 1)!
onde c = |x − a| e portanto c ∈ (0, r) pois x 6= a e x ∈ I.
Assim, da hipótese, aplicando o teorema do confronto, segue que lim |f (x) − sn (x)| =
n→+∞
0, o que implica que a série de Taylor de f em torno do ponto a converge para f em I. ¤
pois
f (0) = 0, f 0 (0) = 1, f 00 (0) = 0, f 000 (0) = −1, . . .
p
Esta série converge ∀x ∈ R, pois lim n |an | = 0, já que
n→+∞
½
(−1)k−1 / (2k − 1)!; se n = 2k − 1
an = .
0; se n = 2k
µ ¶
Mn+1 (c) n+1
A série converge para f em R, pois Mn+1 (c) ≤ 1, ∀c > 0, então0 ≤ lim c ≤
µ n+1 ¶ n→+∞ (n + 1)!
c
lim = 0, ∀c > 0, como já foi mostrado anteriormente.
n→+∞ (n + 1)!
185
1
onde cx,n ∈ (1, x) . Logo < 1 e como 1 < x ≤ 2 ⇒ 0 < (x − 1) ≤ 1. Logo
(cx,n )n+1
¯ ¯
¯ (x − 1)n+1 ¯¯ 1
¯ n
0 < ¯(−1) n+1 ¯≤ .
¯ (n + 1) (cx,n ) ¯ n + 1
Portanto pelo teorema do confronto tem-se que
¯ ¯
¯ (x − 1) n+1 ¯
¯ n ¯
¯(−1) n+1 ¯¯ → 0,
¯ (n + 1) (cx,n )
o que implica que a série de Taylor converge para f neste intervalo, assim, juntando os
dois resultados tem-se que
X
+∞ n ∙ ¸
n−1 (x − 1) 1
ln x = (−1) , em ,2 .
n=1
n 2
µ ¶
1
E no intervalo 0, a série converge para que função? Veremos mais adiante que a
2
série converge para f em todo seu intervalo de convergência.
186 CAPÍTULO 8. SÉRIE DE TAYLOR
◦
Definição 8.13 Seja f : I → R, x0 ∈ I . Dizemos que f é analítica em x0 se existe δ > 0
tal que f ∈ C ∞ (x0 − δ, x0 + δ) e a série de Taylor de f em torno de x0 converge para f
em (x0 − δ, x0 + δ) .
Nota 8.14 Em exemplo anterior, vimos que nem toda função de classe C ∞ (J) é analítica
em todos os pontos de J.
Nota 8.15 Nem sempre é fácil determinar a série de Taylor de uma função a partir da
definição de série de Taylor, ou seja calculando as derivadas de todas as ordens num certo
ponto x0 . Mas existem certos artifícios que nos permitirão determinar a série de Taylor
de uma função a partir de resultados conhecidos. Vejamos o exemplo a seguir.
Exemplo 8.16 Sabe-se que para todo x ∈ R
X
n
1 − xn+1 1 xn+1
sn (x) = xj = = − ,
j=0
1−x 1−x 1−x
portanto, ¯ ¯
¯ 1 ¯ |x|n+1
¯ ¯
¯ 1 − x − sn (x)¯ = 1 − x → 0, ∀x ∈ R, |x| < 1.
o que implica que
X
+∞
1
xn = , |x| < 1.
n=0
1−x
1
Assim, como já foi dito esta é a série de Taylor de f (x) = em torno de a = 0,
1−x
convergente no intervalo (−1, 1) para f. Observe que nos extremos do intervalo ela é
divergente, já que seu termo geral não tende a 0.
Exemplo 8.17 Como a série acima é convergente para todo x ∈ (−1, 1) então con-
1 1
siderando a função f (x) = = , temos que para todo x ∈ (−1, 1) tem-se
1 + x2 1 − (−x2 )
que x2 ∈ [0, 1) ⊂ (−1, 1) e portanto
X
+∞
1
(−1)n x2n = , ∀x ∈ R, |x| < 1.
n=0
1 + x2
Logo como a série é a série de Taylor desta função em torno de a = 0, segue que
f (100) (0) 1 100!
= ⇒ f (100) (0) = .
100! 50! 50!
Algumas vezes ao usarmos a fórmula de Taylor com resto de Lagrange, não con-
seguimos provar que a série de Taylor converge para f em todo o seu intervalo de con-
vergência, como é o caso de f (x) = ln(x), cuja série de Taylor converge no intervalo (0, 2],
1
mas só conseguimos provar que converge para f no intervalo ( , 2]. Será que fora deste
2
intervalo a série converge para uma outra função g? Vejamos.
187
1
(−1) (t − 1) dt = ln x + 1
dt ⇒ (−1) = ln x +
k=0 ¯ t ¯ k=0 ¯ k + 1 ¯
R x (−1)n (t − 1)n+1 ¯ Pn k¯ ¯R (−1)n (t − 1)n+1 ¯
¯ k−1 (x − 1) ¯ ¯ x ¯
dt. Logo, ¯ln x − (−1) ¯ = ¯ 1 dt¯ ≤
1 t ¯ k=1 k ¯ ¯ t ¯
¯ ¯
¯R |t − 1|n+1 ¯
¯ x ¯
¯ 1 dt¯ . Assim, para x ∈ (1, 2] então t ≥ 1 e portanto,
¯ |t| ¯
¯ ¯ Z x Z x
¯ Xn
(x − 1)k¯
(t − 1)n+1
¯ k−1 ¯
¯ln x − (−1) ¯ ≤ dt ≤ (t − 1)n+1 dt =
¯ k ¯ 1 t 0
k=1
(x − 1)n+2 1
= ≤ → 0, ∀x ∈ (1, 2].
n+2 n+2 n→+∞
1 1
E para x ∈ (0, 1) então 0 < x ≤ t ≤ 1 ⇒ 1 ≤ ≤ e portanto
t x
¯ ¯ Z 1
¯ Xn
− k¯ n+1
(−1)n+2 (1 − x)n+2
¯ k−1 (x 1) ¯ n+1 (1 − t)
¯ ln x − (−1) ¯ ≤ (−1) dt = =
¯ k ¯ x x 1 + x n + 2
k=1
(1 − x)n+2 1
= < → 0, ∀x ∈ (0, 1) .
(1 + x) (n + 2) (1 + x) (n + 2) n→+∞
P
+∞ (x − 1)n
Pode-se então concluir que ln x = (−1)n−1 em (0, 2]. Pode-se concluir então
n=1 n
P (−1)n
+∞
que = ln 2.
n=0 n+1
P
n 1 t2(n+1)
Exemplo 8.19 Sabe-se, da teoria de P.G., que (−1)k t2k = + , ∀t ∈
k=0 1 + t2 1 + t2
P
n x2k+1
R. Novamente integrando ambos os lados da igualdade, de 0 a x, obtemos: (−1)k =
k=0 2k + 1
R x t2(n+1) P
+∞
n x
2n+1
arctg x+ 0 dt. É fácil verificar, aplicando o critério da raiz que a série (−1)
1 + t2 n=0 2n + 1
converge absolutamente em (−1, 1) e condicionalmente em x = ±1. Portanto a série
converge em [−1, 1]. Resta provar que neste intervalo ela converge para arctg x. Mas,
188 CAPÍTULO 8. SÉRIE DE TAYLOR
¯ ¯ ¯ ¯
¯
¯arctg x − Pn
k x 2k+1 ¯
¯
¯R x t2(n+1) ¯
¯ ¯
¯R x 2n+2 ¯
¯ ¯ |x|2n+3 1
¯ (−1) ¯ =¯ 0 2
dt¯ ≤ 0 |t| dt = ≤ →
k=0 2k + 1 1+t 2n + 3 2n + 3 n→+∞
P
+∞ x 2n+1
0, ∀x ∈ [−1, 1] ⇒ arctg x = (−1)n , em [−1, 1].
n=0 2n + 1
2
Exemplo 8.20 Sabemos que a função e−x é integrável e admite primitiva em [0, 1] ,
pois é contínua neste intervalo, na realidade é contínua em R. No entanto não é pos-
sível expressar sua primitiva em termos de funções elementares e portanto não se pode
R1 2 P xn
+∞
aplicar o T.F.C. para obter 0 e−x dx. Mas, sabe-se que, ex = , ∀x ∈ R e por-
n=0 n!
−x 2 P (−1)n x2n
+∞
tanto, e = , ∀x ∈ R. Ainda, do teste de Leibnitz para série alternadas,
¯ n=0 n! ¯
¯ n (−1)j x2j ¯ |x|2n+2 n (−1)j x2j
¯ −x2 P ¯ 2 P
segue que ¯e − ¯≤ . Ou seja e−x = + rn+1 (x) , onde
¯ j=0 j! ¯ (n + 1)! j=0 j!
|x|2n+2
|rn+1 (x)| ≤ , ∀x ∈ R. Logo integrando ambos os lados da igualdade anterior
(n + 1)!
R 1 −x2 Pn (−1)j R1 ¯R ¯
¯ 1 ¯
de 0 a 1, obtemos que 0 e dx = + 0 rn+1 (x) dx, onde ¯ 0 rn+1 (x) dx¯
j=0 j! (2j + 1)
1
≤ . Logo se quisermos obter o valor desta integral com um erro menor
(n + 1)! (2n + 3)
P4 (−1)j ¯R ¯ 1
−3 ¯ 1 ¯
que 10 , basta tomarmos , pois ¯ 0 r4 (x) dx¯ ≤ < 10−3 .
j=0 j! (2j + 1) 5!11
2
Exemplo 8.21 Como f : R → R; f (x) = e−x é contínua em R xR,−t2então ela admite
primitiva em R e uma primitiva é dada por F : R → R; F (x) = 0 e dt. Como vimos
no exemplo anterior tem-se que
X
n
(−1)j x2j
−x2
e = + rn+1 (x) ,
j=0
j!
|x|2n+2
onde |rn+1 (x)| ≤ , ∀x ∈ R. Portanto, integrando de 0 a x, obtemos que
(n + 1)!
X
n Z
(−1)j x2j+1 x
F (x) = + rn+1 (t) dt.
j=0
j! (2j + 1) 0
189
Logo,
¯ ¯ ¯Z x ¯ ¯Z x ¯
¯ Xn
(−1)j x2j+1 ¯¯ ¯ ¯ ¯ ¯
¯ ¯ ¯ ¯
¯F (x) − ¯ = ¯ rn+1 (t) dt¯ ≤ ¯ |rn+1 (t)| dt¯¯ ≤
¯ j! (2j + 1) ¯ 0 0
j=0
¯Z ¯
¯ x |t|2n+2 ¯ |x|2n+3
¯ ¯
≤ ¯ dt¯ = =
¯ 0 (n + 1)! ¯ (n + 1)! (2n + 3)
n+1
|x| (x2 )
= → 0, ∀x ∈ R.
2n + 3 (n + 1)!
X
+∞
(−1)n x2n+1
F (x) = , ∀x ∈ R.
n=0
n! (2n + 1)
Exemplo 8.22 Para determinar a série de sen x2 , deve-se utilizar a série de sen x =
P
+∞ x2n−1
(−1)n−1 , em R. Assim, como x2 ∈ R, conclui-se que
n=1 (2n − 1)!
X
+∞
n−1 (x2 )
2n−1 X +∞
x4n−2
2
sen x = (−1) = (−1)n−1 .
n=1
(2n − 1)! n=1 (2n − 1)!
Ainda se quisermos saber f (18) (0) é só lembrarmos que o coeficiente de x18 na série de
f (18) (0)
Taylor é igual a . Assim, da série obtida temos que n = 5 nos fornece x18 e
18!
f (18) (0) 1 18!
portanto = ⇒ f (18) (0) = .
18! 9! 9!
Exemplo 8.23 A série de Taylor de f (x) = x ln (x − 1) , x > 1, em torno de a = 2
é obtida primeiramente utilizando a série de ln x em torno de a = 1, ou seja, ln x =
n
P
+∞
n−1 (x − 1)
(−1) em (0, 2]. Como (x − 1) ∈ (0, 2], desde que x ∈ (1, 3], temos que o
n=1 n
raio de convergência desta série é 1 e portanto
X
+∞
(x − 2)n
ln (x − 1) = (−1)n−1 .
n=1
n
Ainda x ln (x − 1) = (x − 2) ln (x − 1) + 2 ln (x − 1) . Mas
X
+∞
n−1 (x − 2)n+1
(x − 2) ln (x − 1) = (−1) ,
n=1
n
190 CAPÍTULO 8. SÉRIE DE TAYLOR
logo
x ln (x − 1) = (x − 2) ln (x − 1) + 2 ln (x − 1) =
X
+∞
n−1 (x − 2)
n+1 X
+∞
n−1 (x − 2)
n
= (−1) +2 (−1) =
n=1
n n=1
n
X
+∞
2−n
= 2 (x − 2) + (−1)n−2 (x − 2)n em (1, 3].
n=2
n (n − 1)
Se quisermos saber f (15) (2) ,basta verificar na série o coeficiente de (x − 2)15 . Assim,
f (15) (2) 13
= ⇒ f (15) (2) = (13)!13
15! (15) (14)
x+2
Exemplo 8.24 Para obter a série de Taylor de f (x) = em torno de a = 1,
x (x + 1)
primeiramente transforma-se esta função da seguinte forma:
x 2 1 2 1
= − = − =
x (x + 1) x x+1 1 − (1 − x) 2 − (1 − x)
1 1 1
= 2 − .
1 − (1 − x) 2 1 − (1 − x) /2
1 X +∞ X +∞
= (1 − x)n = (−1)n (x − 1)n para |x − 1| < 1.
1 − (1 − x) n=0 n=0
Analogamente,
1 X+∞
n (x − 1)
n
= (−1) para |x − 1| < 2.
1 − (1 − x) /2 n=0 2n
Logo,
x X +∞
2n + 1
= (−1)n (x − 1)n em (0, 2) .
x (x + 1) n=0 2n
Em x = 0 e em x = 2 a série diverge pois seu termo geral não tende a 0.
Nota 8.25 Observe então que muitas séries de Taylor são obtidas a partir de séries já
conhecidas.
Exercício 1
Determine os raios e os domínios de convergência das seguintes séries
de potências:
a) ∑ n 2 n2x 3 n .
n0
−1 n
b) ∑ n x 1 2n .
5
n0
Solução:
a) Devemos reescrever a série na forma da série de potências, ou seja,
n
∑ n n2x 3 ∑ n 2 n2 n x 32 . Assim,
2 n
n0 n0
lim n |a n | lim 2 n n 1 2. Assim, o raio de convergência da série
n n
n→ n→
é 1 . Do teste da raiz segue que a série converge absolutamente em
2
− 3 − 1 , − 3 1 −2, −1, já que x 0 −3 e diverge fora de −2, −1.
2 2 2 2 2
Assim resta analisar a convergência da série em x −1 e x −2.
Para x −2, tem-se que a série é ∑ −1 n n 2 n que diverge já que seu
n0
termo geral não tende a 0.
Para x −1, a série é ∑ n 2 n, que também diverge pelo mesmo motivo.
n0
Assim o domínio de convergência da série é −2, −1.
b) A série já está escrita na forma de série de potências,. Assim,
0, se n 2k − 1
an −1 k , k ∈ ℕ. Portanto
se n 2k
5k
lim sup n |a n | lim 1 1 . logo o raio de convergência da série é
n→ 2n 5 n 5
n→
5 . Portanto a série converge absolutamente em −1 − 5 , −1 5 e
diverge fora do intervalo −1 − 5 , −1 5 . Precisamos avaliar a
convergência da série nos pontos x −1 − 5 e x −1 5 .
Para x −1 − 5 tem-se que a série é ∑ −1 n , que diverge pois seu termo
n0
geral não tende a 0.
Para x −1 5 a série é igual a anterior e portanto diverge.
Logo o domínio de convergência da série é −1 − 5 , −1 5 .
Exercício 2
Se a série ∑ a n x − a n converge em a − r, a r, para algum r 0. Mostre
n0
que as séries ∑ na n x − a n−1 e ∑ nn − 1a n x − a n−2 também convergem
n1 n2
absolutamente em a − r, a r.
Solução: Seja x ∈ a − r, a r |x − a| r então existe c ∈ tal que
|x − a|
|x − a| |c − a| r, ou seja, c ∈ a − r, a r e 1. Ainda ∑ a n c − a n
|c − a|
n0
converge e portanto a sequência a n c − a n é limitada, já que converge para 0.
Logo exsite K 0 tal que |a n c − a n | ≤ K, ∀n ∈ ℕ. Assim, para todo n ∈ ℕ
|x − a| n−1
|x − a| n−1
na n x − a n−1 |a n c − a n |n ≤ Kn .
|c − a| |c − a|
|x − a| n−1
Mas a série ∑ n converge, pois pelo teste da razão tem-se que
|c − a|
n1
|x − a| n
n 1
|c − a| 1 |x − a| |x − a| 1.
lim lim n
n
n→ |x − a| n−1 n→ |c − a| |c − a|
n
|c − a|
Logo, pelo critério da comparação tem-se que ∑ na n x − a n−1 converge
n1
absolutamente em a − r, a r.
Analogamente
|x − a| n−2
|x − a| n−2
nn − 1a n x − a n−2 |a n c − a n |nn − 1 ≤ Knn − 1 .
|c − a| |c − a|
Ainda aplicando novamente o teste da razão, prova-se que a série
|x − a| n−2
∑ nn − 1 converge e portanto pelo critério da comparação conclui-se
|c − a|
n2
que a série ∑ nn − 1a n x − a n−2 converge absolutamente em a − r, a r.
n2
Exercício 3
Determine o domínio de convergência e a soma da série
∑ x 4n−3 .
4n − 3
n1
j1
1−t
1 − t 4 dt.
x 5 4n−3 x 4n
x ∈ −1, 1 temos que s n x S n tdt x x x
0 5 4n − 3 0 1−t
Mas, 1 1 1 1 1 1 1 1 , logo,
1 − t4 1 − t1 t1 t 2 4 1 − t 4 1 t 2 1 t 2
0 dt 4 −1 ln1 − x 1 ln1 x 1 arctg x, para cada x ∈ −1, 1. Ainda
x
1−t 4 4 2
0
x t 4n dt
≤x 4n x dt x 4n −1 n→
ln1 − x 1 ln1 x 1 arctg x → 0, pois
1−t 4 0 1−t 4 4 4 2
|x| 1. Assim, s n x →
n→ 1
ln 1 x 1
arctg x, para cada x ∈ −1, 1. Ou seja,
4 1−x 2
∑ x 4n−3 1 ln 1 x 1 arctg x, x ∈ −1, 1.
4n − 3 4 1−x 2
n1
∘
Exercício 4
Sejam f, g : I → e a ∈I. Suponhamos que f, g são analíticas em a e tais
que fa ga e f n a g n a, ∀n ∈ ℕ. Mostre que existe r 0 tal que
fx gx, ∀x ∈ a − r, a r ⊂ I.
Solução: Como f é analítica em a então existe r 1 0 tal que
f ∈ C a − r 1 , a r 1 e
f n a
fx ∑ x − a n , ∀x ∈ a − r 1 , a r 1 .
n!
n0
f 9
− 2 f 9
8
Logo, 4 −2 8 .
9! 9! 4
191
P n2
+∞
a) (3x + 1)2n .
n=0 4n
µ ¶n2
P
+∞ n+1
b) (x + 2)2n .
n=1 n
P
+∞ x2n+1
c) (−1)n .
n=0 5n
P (x
+∞ − 3)n
d) √ .
n=0 n
P
+∞ xn
e) (−1)n .
n=0 nn
µ ¶ 4n2 +n)/(n+1)
P
+∞ 1 (
f) 2 cos (x − π)n .
n=0 n
Exercício 8.27 Determine a série de Taylor das funções abaixo em torno de a = 0, seu
intervalo de convergência e se converge para f, neste intervalo, concluindo se f é ou não
analítica em a = 0. Justifique.
a) f (x) = sen x3 .
b) f (x) = cos2 x.
1
c) f (x) = .
1−x
( sen x
; x 6= 0
d) f (x) = x .
1; x=0
e) f (x) = ex .
f) f (x) = cos x.
h) f (x) = cos x5 .
3
Exercício 8.28 Determine a série de Taylor de f (x) = ex em torno de a = 0 e o seu
intervalo de convergência para f. Determine ainda f (507) (0).
192 CAPÍTULO 8. SÉRIE DE TAYLOR
1
Exercício 8.29 Considere f (x) = , x 6= 0. Determine a série de Taylor de f em torno
x
de x = 1 e o seu intervalo de convergência. Determine ainda f (23) (1).
√
Exercício 8.30 Considere f (x) = x, x ≥ 0. Determine a série de Taylor de f em
torno de x = 1 e o seu raio de convergência.
a) sen2 x.
Rx 2
b) 0 e−t dt.
Rx
c) 0 cos t2 dt.
1
d) .
(x − 1)2
x
e) .
(x − 1) (x2 − 1)
x2
f) .
1 + x − 2x2
Capítulo 9
Integrais Impróprias
RDefinição 9.1 Seja f : [a, +∞) → R, tal que f é integrável em [a, b] , ∀b > a. A integral
+∞
f (x) dx é denominada integral imprópria de primeira espécie de f. Dizemos
a Rb
que a integral imprópria converge quando existe o limite lim a f (x)dx e neste caso,
b→+∞
escrevemos: Z Z
+∞ b
f (x) dx = lim f (x)dx.
a b→+∞ a
Caso contrário, dizemos que a integral imprópria diverge.
193
194 CAPÍTULO 9. INTEGRAIS IMPRÓPRIAS
1 R +∞
, quando b → +∞, ∀n < −1. Logo segue que a integral imprópria 1 xn dx con-
n−1
verge, quando n < −1 e diverge quando n ≥ −1, n ∈ Z.
1 1
Gráfico: , em vermelho, 2 em azul e x2 em marrom.
x x
1 1
Nota 9.3 Observe que apesar da diferença tão pequena entre os gráficos de e de 2 ,
x x
uma integral imprópria diverge e a outra converge.
R1 dx R 1 dx π
Exemplo 9.4 A integral −∞
converge, pois ∀a < 1, a 2 = − arctg a →
x2+1 x +1 4
3π
, quando a → −∞.
4
Finalmente pode-se ter uma integral imprópria quando ambos os extremos são infini-
R +∞
tos, ou seja, −∞ f (x)dx. Vejamos a definição.
Z +∞ Z 0 Z b
f (x)dx = lim f (x)dx + lim f (x)dx.
−∞ a→−∞ a b→+∞ 0
Caso contrário, ou seja, se algum destes limites não existe, dizemos que a integral
diverge.
R +∞ Rb
Exemplo 9.6 A integral imprópria −∞
xdx diverge, pois não existe lim xdx.
b→+∞ 0
9.1. INTEGRAIS IMPRÓPRIAS DE 1A ESPÉCIE 195
Observe que apesar de no ∙exemplo ¸acima a integral imprópria divergir, existe o seguinte
Rb b2 b2
limite lim −b xdx = lim − = 0. Este limite tem um nome especial e em geral
b→+∞ b→+∞ 2 2
é usado nas aplicações.
Nota 9.8 É fácil provar que quando a integral imprópria converge, o valor principal de
Cauchy existe e é igual ao valor da integral. No entanto como vimos através do exemplo
anterior, o valor principal de Cauchy pode existir, sem que a integral imprópria convirja.
Algumas vezes não é fácil, nem mesmo possível calcular o valor das integrais im-
próprias, geralmente porque uma primitiva da função integranda não pode ser expressa
por funções elementares. Assim, só é possível determinar o seu valor aproximado através
de métodos numéricos. No entanto você deve saber se a integral converge ou não para
em seguida aplicar tais métodos. Daremos a seguir alguns critérios de convergência de
integrais impróprias, assim como o fizemos em séries.
Apresentaremos os critério de convergência supondo que os intervalos de integração
são da forma [a, +∞). Quando o intervalo for da forma (−∞, a], basta fazer a mudança
de variável x = −y e voltamos ao caso [−a, +∞).
Prova. Demonstraremos apenas o ítem (a), pois o ítem (b) é cpnsequência imediata
do ítem (a). R
+∞
(a) Como a g(x)dx converge
¯R então por
¯ definição, considerando ε = 1, existe K > a
¯ b ¯ R +∞ Rb
tal que ∀b ≥ K tem-se que ¯ a g(x)dx − L¯ < ε, onde L = a g(x)dx = lim a g(x)dx.
b→+∞
Rb
Portanto, tem-se que 0 ≤ a g(x)dx < L + 1 = M, ∀b ∈ [K, +∞). Ainda como f e
gR são integráveis emR [a, b] , ∀b > a, pode-se definir F, G : [a, +∞) → R por F (x) =
x x
a
f (t)dt e G(x) = a g(t)dt, que são ambas crescentes, já que f e g são funções não
negativas(verifique!). Ainda da hipótese segue que F (x) ≤ G(x), ∀x ∈ [a, +∞) e portanto
F (x) < L + 1, ∀x ∈ [K, +∞) para algum K > a. Assim, segue de exercício já visto de
Rb R +∞
limite que existe lim F (b) = lim a f (x)dx e portanto a f (x)dx converge.
b→+∞ b→+∞
196 CAPÍTULO 9. INTEGRAIS IMPRÓPRIAS
R +∞ dx
Exemplo 9.10 A integral 0 converge pois ∀x ≥ 1 tem-se que x4 ≥ x2 > 0 ⇒
1 + x4
1 1 R +∞ dx π R +∞ dx
0< ≤ e 1
= e portanto converge, logo 1
converge.
1 + x4 1 + x2 1 + x2 4 1 + x4
R 1 dx R +∞ dx
Ainda, como 0 é uma integral própria, segue que 0
converge.
1 + x4 1 + x4
¤
A demonstração deste teorema será deixada como exercício, pois basta usar a definição
de limite e o critério de comparação demonstrado acima.
x2
R +∞ x 2 4 2
2x4 + 3 = lim x + x =
Exemplo 9.12 A integral 0 dx converge pois lim
2x4 + 3 x→+∞ 1 x→+∞ 2x4 + 3
2
x +1
1 R +∞ dx
e 0 converge.
2 x2 + 1
Teorema 9.13 (Critério da série): Seja f : [a, +∞) → R tal que f é decrescente em
R +∞ P
+∞
[a, +∞) e f (x) ≥ 0, ∀x ∈ [a, +∞). Então a f (x)dx converge ⇔ f (n) converge,
n=n0
onde n0 ∈ N é tal que n0 ≥ a.
Rn
Prova. Observe que a 0 f (x)dx é uma integral própria, que existe pois f é monótona,
R +∞
limitada e portanto integrável. Assim, basta trabalharmos com n0 f (x)dx.
R +∞ P R j+1
+∞
Observe que n0 f (x)dx = j
f (x)dx. Assim segue do exercício resolvido 2,deste
j=n0
R +∞ P
+∞ R j+1
parágrafo que a integral n0
f (x)dx converge se e somente se a série j
f (x)dx con-
j=n0
P
+∞ R j+1 P
+∞
verge. Vamos mostrar então que a série j
f (x)dx converge se e somente se f (n)
j=n0 n=n0
R j+1
converge. Mas como f é decrescente segue que f (j + 1) ≤ j f (x)dx ≤ f (j), ∀j ≥ n0 ,
o que nos leva ao resultado pelo critério de comparação para séries. ¤
9.1. INTEGRAIS IMPRÓPRIAS DE 1A ESPÉCIE 197
R +∞
Nota 9.14 Observe que para concluirmos que a integral imprópria n0 f (x)dx converge
P R j+1
+∞
se e somente se a série j
f (x)dx converge, basta que f seja integrável em [a, b] ,
j=n0
∀b > a e f (x) ≥ 0, para todo x ∈ [n0 , +∞).
R +∞
Exemplo 9.15 A integral 2−x dx converge pois f (x) = 2−x é estritamente decres-
0
P 1
+∞
cente com f (x) > 0, ∀x ≥ 0 e a série n
converge pois corresponde a uma P.G de
n=2 2
1
razão < 1.
2
Observe que todos os critérios acima são para funções não negativas. E quando isso
não acontecer? Uma saída é trabalhar com o módulo de f. Para isso vamos provar que
se a integral imprópria do módulo de uma função converge, então a integral imprópria da
função também converge. Vejamos.
Prova.
R +∞ Sabe-se que 0 ≤ |f (x)| + f (x) ≤ 2 |f (x)| , ∀x ≥ a. Assim, como a inte-
gral |f (x)| dx converge por hipótese, segue das propriedades de limite que a integral
R +∞ a
2 |f (x)| dx também converge e portanto, segue do critério de comparação que a in-
a R +∞
tegral a (f (x) + |f (x)|) dx converge. Como f (x) = (f (x) + |f (x)|) − |f (x)|, segue das
R +∞
propriedades de integral e de limite que a f (x)dx converge. ¤
Nota 9.18 Quando a integral de uma função f converge, mas a integral de seu módulo
não converge, dizemos que a integral converge condicionalmente.
¯ ¯
R +∞ cos x ¯ cos x ¯
Exemplo 9.19 A integral 0 ¯
dx converge absolutamente, pois ¯ 2 ¯≤ 1
2
x +1 x + 1 ¯ x2 + 1
R +∞ dx
e a integral 0 converge. Portanto o resultado segue do critério de comparação.
x2 + 1
R +∞ sen x R +∞ sen x
Exemplo 9.20 A integral 0 dx converge condicionalmente, pois 0 dx =
R 2π sen x R +∞ sen x x x
0
dx+ 2π dx. A primeira integral é própria(justifique), portanto vamos ape-
x x
nas verificar a convergência da segunda integral. Fazendo integração por partes obtemos:
Z b Z b
sen x 1 cos b cos x
dx = − − 2
dx.
2π x 2π b 2π x
198 CAPÍTULO 9. INTEGRAIS IMPRÓPRIAS
R +∞ cos x cos b
Observe que 2π 2
dx converge absolutamente e lim = 0. Portanto pode-se con-
x b→+∞ b
R +∞ sen x R +∞ ¯¯ sen x ¯¯
cluir que 0 dx converge. Vamos verificar agora que 0 ¯ ¯ dx diverge. De
x x
¯ sen x ¯ R +∞ ¯¯ sen x ¯¯ P R (n+1)π ¯¯ sen x ¯¯
+∞
¯ ¯
fato, como ¯ ¯ ≥ 0, para todo x,então tem-se que 0 ¯ ¯ dx ⇔ nπ ¯ ¯ dx
x ¯ ¯ x n=0 x
R (n+1)π ¯¯ sen x ¯¯ R π ¯ sen (y + nπ) ¯ R R
converge. Mas, nπ ¯ ¯ dx = 0 ¯¯ ¯ dy = π sen y dy ≥ π sen y dy =
x y + nπ ¯ 0
y + nπ 0
(n + 1) π
2 P
+∞ 2
. Assim, como diverge, segue do critério de comparação para séries
(n + 1) π n=0 (n + 1) π
P R (n+1)π ¯¯ sen x ¯¯
+∞ R +∞ ¯¯ sen x ¯¯
que nπ ¯ ¯ dx diverge e portanto a integral 0 ¯ ¯ dx também diverge.
n=0 x x
Isto prova que a integral é condicionalmente convergente.
Teorema 9.22 Sejam f, g ∈ C 1 [a, +∞), f decrescente com lim f (x) = 0 e g limitada
x→+∞
R +∞
em [a, +∞). Então a f (x)g 0 (x)dx converge.
Como lim f (x) = 0 e g é limitada em [a, +∞), segue que lim f (b)g(b) = 0. Ainda como
x→+∞ b→+∞
f é decrescente e g é limitada, segue que f 0 (x) ≤ 0 e |g(x)| ≤ M, para algum M > 0, ∀x ≥
Rb
a. Assim, |f 0 (x)g(x)| ≤ M |f 0 (x)| = −Mf 0 (x) e como a −Mf 0 (x)dx = M [f (a) − f (b)] →
Rb
Mf (a), quando b → +∞, segue do critério de comparação que a f 0 (x)g(x)dx converge
R +∞
absolutamente e portanto a f (x)g 0 (x)dx converge. ¤
R +∞ cos x 1
Exemplo 9.23 A integral π
dx converge pois se tomarmos f (x) = e g (x) =
ln x ln x
sen x, temos que f, g ∈ C 1 ([π, +∞)) , f é decrescente, lim f (x) = 0 e g é limitada, assim
x→+∞
do teorema acima a convergência da integral.
Exercício 1
Analise a convergência da série ∑ arctg 1
n .
n1
Solução: Para analisar esta convergência usaremos o critério de integral. A
função fx arctg 1x é decrescente e arctg 1x 0, ∀x ≥ 1. Assim, a série
converge se e só se a integral arctg 1x dx converge. Usando integração por
1
partes, segue que
b b
1 arctg 1 dx b arctg 1
x b
−
4 1 1x
x dx.
2
arctg 1 b2 − 12
Como lim b arctg 1 lim b lim 1 b 2
b 1e
b→ b b→ 1/b b→ − 21
b
b
lim x
1 1 x2
dx lim 1 ln1 b − ln 2 . Assim, a integral diverge e
2
b→ b→ 2
portanto a série diverge.
Exercício 2
Seja f : a, → integrável em a, b, ∀b a e fx ≥ 0, ∀x ∈ a, .
n1
a) Mostre que fxdx converge ∑ fxdx converge, n 0 ≥ a.
a n
nn 0
n1
b) Dê um exemplo de f tal que fxdx diverge mas ∑ fxdx, n 0 ≥ a
a n
nn 0
converge.
n0
Solução: a) fxdx converge fxdx converge, pois fxdx é uma
a n0 a
b
integral definida. Considere então Fb fxdx, ∀b n 0 . Por hipótese existe
n0
lim Fb L então do teorema de caracterização de limite por sequências, segue
b→
n−1
n j1
que existe lim Fn L. Mas Fn fxdx ∑ fxdx s n−1 , que é a
n→ n0 j
jn 0
sequência das somas parciais da série. Assim, s n−1 converge, ou seja,
n1
∑ n fxdx converge.
nn 0
Observe que este lado do resultado vale sempre, mesmo que f não seja não
negativa.
Usando as definições feitas acima temos por hipótese que a sequência
Fn converge e portanto é limitada, logo existe K 0 tal que |Fn| ≤ K,
∀n ≥ n 0 . Como fx ≥ 0, ∀x ∈ a, então tem-se que F é crescente, pois se
c b c c
c b então Fc fxdx fxdx fxdx Fb fxdx ≥ Fb, já que
n0 n0 b b
c
b fxdx ≥ 0, pois fx ≥ 0. Ainda para cada x ∈ n 0 , existe n ∈ ℕ tal que
n x ≥ n 0 então Fx ≤ Fn ≤ K. Portanto F é crescente e limitada superiormente
em n 0 , existe lim Fb, ou seja a integral fxdx converge, logo fxdx
n0 a
b→
converge.
b) É claro que neste exemplo f não pode ser não negativa. Seja fx sen 2x,
b
x ∈ . Então fxdx diverge, pois lim fxdx lim − cos 2b 1 , que
0
b→
0
b→ 2 2
n1 cos 2n 1
não existe (verifique!). No entanto fxdx − cos 2n 0,
n 2 2
n1
∀n ∈ ℕ e portanto a série ∑ fxdx é a série identicamente nula, logo
n
nn 0
convergente.
Exercício 3
|fx 1|
Seja f : a, → integrável em a, b ∀b a. Se lim l 1,
x→ |fx|
mostre que fxdx é absolutamente convergente. Usando este resultado
a
mostre que dxx converge.
1 x
n1
Solução: Do exercício anterior temos que |fx|dx converge ∑ |fx|dx
a n
nn 0
converge, onde n 0 ≥ a. Ainda, como l 1, então existe s ∈ tal que l s 1.
|fx 1|
Tomando s − l e como lim l, existe K 0 tal que ∀x K,
x→ |fx|
|fx 1|
− l |fx 1| s|fx|. Logo, |fx 2| s|fx 1| s 2 |fx|, ou
|fx|
seja, |fx n| s n |fx|, ∀x K, ∀n ∈ ℕ. Portanto, tomando n ≥ maxn 0 , K, temos
que
n1 1 1 1
0≤ n |fx|dx 0 |fy n|dy 0 |fy|s n dy s n 0 |fy|dy.
Assim, como ∑ s n converge, já que 0 s 1, segue pelo critério de comparação
nn 0
n1
que ∑ |fx|dx converge e portanto |fx|dx converge.
n a
nn 0
Assim, como
1/x 1 x1 x x
1 lim 1 1 1 0 0 1 então
lim lim
x→ 1/x x
x→ x 1 x 1 x→ 1 1/x x x 1 e
dx
segue que converge.
1 xx
Exercício 4
Estude a convergência das integrais abaixo:
0
a) e −x sen dx b e −x cos xdx
2
0 −
0 x3
c) 1 dx d dx
−
1
x 1 x2 1 x 2 2
Solução:
a) |e −x sen x| ≤ e −x , para todo x ∈ e e −x dxconverge, como já foi visto em
0
aula. Logo e −x sen dxconverge absolutamente.
0
0
e como e −x dxconverge, segue que e −x cos xdx converge
2
1 −
absolutamente.
c) Como a função integrando é positiva neste intervalo, podemos aplicar o
critério do quociente com a função gx 12 . Assim,
x
1
x 1 x2 x2 1
lim x→
lim x→
lim 1.
x→ 1 x 2
1/x 2
1 1/x 2
1
x2
Logo ambas as integrais têm a mesma natureza e como dx2 converge,
1 x
temos que 1 dx converge.
1
x 1 x2
d) Novamente fazendo a mudança de variável x −y, obtemos que
0 x3 y3 1 y3 y3
− dx − dy − dy dy .
1 x 2 2 0
1 y 2 2 0
1 y 2 2 1
1 y 2 2
y3
Como 2
≥ 0, para todo y ∈ 1, , podemos aplicar o critério do
1 y 2
y3
quociente à integral dy, já que a primeira integral é uma
1
1 y 2 2
integral definida. Assim, como
y3
1 y 2 2 y4 1
lim lim y→
lim 1,
1 2 2 2 2
y→
y
y→ 4
y 1 1/y 1 1/y
dy y3
e y diverge, segue que dy diverge e portanto a integral
1 1
1 y 2 2
diverge.
Exercício 5
Seja f : a, → ; fx ≥ 0, para todo x ∈ a, tal que f é integrável em
a, b para todo b a. Então a integral fxdx converge se e somente se
a
b
existe K 0 tal que fxdx ≤ K, para todo K 0.
a
0; se n 2k
Fx n , k ∈ ℕ e portanto tal sequência diverge, logo a
2; se n 2k − 1
integral diverge.
1
Temos que senx 2 dx senx 2 dx senx 2 dx. A primeira integral é
0 0 1
uma integral definida e portanto basta mostrarmos que a segunda integral
converge. Para isso façamos a seguinte mudança de variável x u , que é
bijetora de 1, em 1, , derivável neste intervalo e com derivada não nula
senu
em cada ponto deste intervalo. Assim, senx 2 dx du e como
1 1 2 u
gu − cos u é limitada e fu 1 é decrescente e fu → 0, quando u → ,
2 u
senu
então segue que du converge e portanto senx 2 dx também
1 2 u 1
converge.
9.1. INTEGRAIS IMPRÓPRIAS DE 1A ESPÉCIE 199
R +∞ dx
e) 0
.
1 + ex
R +∞ dx
f) 2
.
ln x
R +∞ x
g) 1/2
√ dx.
4
x +x+1
R −1 ex
h) −∞
dx.
x
R +∞ x3 + x2
i) −∞ x6 + 1
dx.
R +∞ 2
j) 0
ex dx.
200 CAPÍTULO 9. INTEGRAIS IMPRÓPRIAS
√
R +∞ x
l) 1
dx.
xx
R +∞ cos x
m) 0
dx.
x4 + 1
R +∞ sen x
n) 1
dx, p > 0.
xp
R +∞
o) 1
sen x2 dx.
Exercício 9.26 Seja f : [a, +∞) → R derivável em todo seu domínio e tal que f 0 (x) ≤ 0,
∀x ∈ [a, +∞). Suponha ainda que lim f (x) = 0. Prove que
x→+∞
R +∞
a) a
f (x) sen (ax + b) dx converge.
R +∞
b) a
f (x) e−x dx converge.
1 1
Em azul o gráfico de √ e em marrom o de
1 − x2 1−x
202 CAPÍTULO 9. INTEGRAIS IMPRÓPRIAS
Nota 9.32 Observe como a área abaixo da curva, limitada pelo eixo Ox, em cada in-
1 1
tervalo [0, b] de √ é bem menor que a de , na medida que b se aproxima de
1−x2 1−x
1.
R 4 dx R 4 dx £ √ √ ¤
Exemplo 9.34 A integral imprópria 0
√ converge pois lim c
√ = lim 2 4−2 c =
x c→0 + x c→0 +
R 4 dx
4 e portanto 0
√ = 4.
x
R 4 dx R 4 dx
Exemplo 9.35 A integral imprópria 0 x
diverge pois lim+ c = lim+ [ln 4 − ln c] =
c→0 x c→0
+∞.
1 1
Em verde o gráfico de √ e em rosa o de
x x
Nota 9.36 Observe que é fácil perceber através dos gráficos que a área abaixo das curvas
1 1
de √ é bem menor que a de e a primeira integral imprópria converge, enquanto que
x x
a segunda diverge.
R1
Exemplo 9.37 Analisemos para que valores de α ∈ R a integral 0 xα dx converge. Se
α ≥ 0, a integral é uma integral definida pois a função integranda é contínua. Se −1 <
9.2. INTEGRAIS IMPRÓPRIAS DE 2A ESPÉCIE 203
∙¸
R1 α 1 aα+1 1
α < 0, então lim+ a x dx = lim+ − = , pois α + 1 > 0 e portanto a
a→0 a→0 α+1 α+1 α+1
integral converge. Para α = −1, já ∙vimos no exemplo¸ anterior que a integral diverge. Se
R1 α 1 aα+1
α < −1 então lim+ a x dx = lim+ − = +∞, já que α + 1 < 0. Assim, a
a→0 a→0 α+1 α+1
integral converge para todo α ∈ R tal que α > −1.
Definição 9.38 Seja f : [a, c) ∪ (c, b] → R, não limitada em [a, c) ∪ (c, b] e integrável em
Rb
[d, e] , com [d, e] ⊂ [a, c) ∪ (c, b]. Dizemos que a integral imprópria a f (x)dx converge
Rc Rb
quando existem os limites, lim− a f (x)dx e lim+ e f (x)dx. Neste caso tem-se que:
d→c e→c
Z b Z d Z b
f (x)dx = lim− f (x)dx + lim+ f (x)dx.
a d→c a e→c e
Caso contrário, isto é, se algum dos limites não existe, dizemos que a integral diverge.
R1 dx
Exemplo 9.39 A integral imprópria −1
√
3
converge pois existem os seguintes limites
x2
Z c
dx £ √ √ ¤
lim− √
3
= lim− 3 3 c − 3 3 −1 = 3
c→0 −1 x2 c→0
Z 1 h √ √ i
dx 3 3
lim √
3
= lim+ 3 1 − 3 d = 3
d→0+ d x2 d→0
R1 dx
e portanto −1
√
3
= 6.
x2
R 1 dx R 1 dx
Exemplo 9.40 A integral imprópria −2
diverge pois lim+ c = lim+ [ln 1 − ln c] =
x c→0 x c→0
+∞ e portanto tal limite não existe.
Definição 9.41 Seja f : [a, c) ∪ (c, b] → R, não limitada em [a, c) ∪ (c, b] e integrável em
Rb
[d, e] , com [d, e] ⊂ [a, c) h∪ (c, b]. Dizemos que o valor
i principal de Cauchy de a f (x)dx
R c− Rb
existe quando exste lim+ a f (x)dx + c+ε f (x)dx . Neste caso tem-se que:
ε→0
Z b ∙Z c− Z b ¸
VP f (x)dx = lim+ f (x)dx + f (x)dx .
a ε→0 a c+ε
204 CAPÍTULO 9. INTEGRAIS IMPRÓPRIAS
R1 1
Exemplo 9.42 A integral imprópria −1 dx diverge como já vimos no exemplo anterior.
x
No entanto
Z 1 ∙Z − Z 1 ¸
1 1 1 1
VP dx = lim+ dx + dx = lim+ [ln ε − ln 2 + ln 1 − ln ε] = − ln 2 = ln .
−2 x ε→0 −2 x ε x ε→0 2
Como na seção anterior existem integrais impróprias das quais não conseguimos ex-
pressar uma primitiva em termos de funções elementares e portanto não somos capazes
de dizer pela definição se converge ou não e nem mesmo encontrar seu valor. Existem
métodos numéricos que permitem o cálculo aproximado destas integrais, mas para poder-
mos aplicar tais métodos precisamos saber se elas convergem ou não. Para isso veremos
os critério de convergência para integrias impróprias de 2a espécie. Veremos que são anál-
ogos aos da seção anterior com as devidas modificações. Enunciaremos estes testes para
as integrais no intervalo [a, b). Os critérios para as integrais de 2a espécie no intervalo
(a, b] são os mesmos e as demonstrações podem ser feitas através da mudança de variável
x = −y e aplicando então os critérios no intervalo [−b, −a).As demonstrações dos resulta-
dos que vamos enunciar são análogas às que foram feitas na seção anterior com as devidas
modificações e por isso serão deixadas como exercício.
R1 dx 1 1
Exemplo 9.44 A integral 0
√ converge pois 0 ≤ √ ≤ √ ∀x ∈ (0, 1]
1 − x4 1 − x4 1 − x2
R1 dx
e a integral 0
√ converge
1 − x2
R1 dx 1 1
Exemplo 9.46 A integral 1/2
√ converge pois √ , √ > 0, para todo
x − x3 x − x3 1−x
1
√
1 x − x3 1 1
x ∈ [ , 1) e lim− = lim− p = √ > 0. Logo as duas integrais têm a
2 x→1 1 x→1 x (1 + x) 2
√
1−x " r #
R1 dx Rb dx √ 1
mesma natureza e 1/2 √ converge, já que lim− 1/2 √ = lim− −2 1 − b + 2 =
1−x b→1 1 − x b→1 2
√
2.
Novamente vemos que os critérios acima são válidos apenas para funções não negativas
no intervalo considerado. Vale para a integral imprópria de 2a espécie a mesma definição
e resultado sobre convergência absoluta. Vejamos.
Rb Rb
Nota 9.49 Quando a integral imprópria a f (x)dx converge, mas a integral a |f (x)| dx
Rb
diverge, dizemos que a integral a f (x)dx é condicionalmente convergente.
Assim, pode-se aplicar os critérios acima para garantir a convergência absoluta das
integrais impróprias. No entanto, caso a integral não convirja absolutamente não se pode
concluir que a integral diverge. Para o caso de integrais impróprias de 2a espécie não
daremos critérios de convergência que não envolvam apenas funções não negativas. Para
esta análise, em geral faz-se uma mudança de variáveis fazendo a integral recair em integral
de 1a espécie. Veja o exemplo a seguir
R π sen (1/x)
Exemplo 9.50 A integral 0 dx converge condicionalmente, pois fazendo a mu-
x
1 1 1 1
dança de variável y = ⇒ x = então dx = − 2 dy. Como lim+ = +∞, a integral se
x y y x→0 x
torna Z +∞ Z +∞
y sen y sen y
2
dy = dy,
1/π y 1/π y
que converge condicionalemte como vimos na seção anterior.
206 CAPÍTULO 9. INTEGRAIS IMPRÓPRIAS
R +∞ dx R +∞
e 1 2
converge. Portanto, como ambas as integrais convergem, segue que 0 e−x ln xdx
x
converge.
R +∞ dx
Exemplo 9.52 A integral imprópria de 3a espécie 1 √ diverge pois
x−1
Z +∞ Z 2 Z +∞
dx dx dx
√ = √ + √
1 x−1 1 x−1 2 x−1
e apesar da primeira integral convergir temos que
Z b h √ i
dx
lim √ = lim 2 b − 1 − 2 = +∞,
b→+∞ 2 x − 1 b→+∞
R +∞ dx
ou seja a segunda integral diverge o que implica na divergência da integral 1
√ .
x−1
9.3. INTEGRAIS IMPRÓPRIAS DE 3A ESPÉCIE 207
R +∞
Exemplo 9.53 Considere a integral 0 xα−1 e−x dx e analisemos sua convergência para
todo α ∈ R. Se α ≥ 1, a integral é uma integral imprópria de 1a espécie e para cada
α − 1 ≥R 0, existe n ∈ N, tal que n ≥ α − 1 e portanto xα−1 e−x ≤ xn e−x , ∀x ≥ 1 e a
+∞
integral 1 xn e−x dx converge, bastando integrar por partes n vezes. Então pelo critério
R +∞ R1
de comparação a integral 1 xα−1 e−x dx também converge. Ainda como 0 xα−1 e−x dx
R +∞
é uma integral definida, então 0 xα−1 e−x dx converge, para α ≥ 1. Se α < 1 temos
uma integral imprópria de 3a espécie e portanto separamos a integral da seguinte maneira
Z +∞ Z 1 Z +∞
α−1 −x α−1 −x
x e dx = x e dx + xα−1 e−x dx
0 0 1
xα−1 e−x
lim = 0, ∀α < 1
x→+∞ e−x
R +∞
e como 1 e−x dx converge, segue que a segunda integral converge qualquer que seja
α < 1. Basta então analisarmos a primeira integral. Como
xα−1 e−x
lim+ =1
x→0 xα−1
R1
e 0 xα−1 dx converge para 0 < α < 1, e diverge para α ≤ 0, segue do critério do quociente
R +∞
que 0 xα−1 e−x dx converge se 0 < α < 1 e diverge se α ≤ 0. Portanto concluímos que
R +∞
a integral 0 xα−1 e−x dx converge se α > 0 e diverge, se α ≤ 0.
Nota 9.54 Ficou claro então, a partir dos exemplos, que para analisar a convergência
de uma integral imprópria de 3a espécie, deve-se separar a integral em pelo menos duas
integrais, sendo uma de 1a espécie e outra de 2a espécie e analisá-las separadamente, só
podendo concluir a convergência da integral de 3a espécie se ambas convergirem.
Exercício 1
Considere f : 0, 1 → , definida por fx −1 n n, para x ∈ 1 , 1 ,
n1 n
1
n ∈ ℕ. Mostre que fxdx converge condicionalmente.
0
Solução: Da definição de f tem-se que fx −1, para x ∈ 1 , 1, fx 2 para
2
1 1 1 1
x ∈ , , fx −3 para x ∈ , e assim sucessivamente. Logo,
3 2 4 3
1 1/n −1 n
0 fxdx ∑ 1/n1 −1 ndx ∑−1 n 1n − n 1 1
n n
∑ n1
,
n1 n1 n1
que diverge.
Exercício 2
Sejam f, g : a, b → , tais que f, g são integráveis em a, c para todo
c ∈ a, b, com gx ≠ 0, para todo x ∈ a, b. Se existe M 0 e c ∈ a, b tal que
|fx| b
≤ M, para todo x ∈ c, b e gxdx converge absolutamente, mostre
|gx| a
b
que fxdx também converge absolutamente.
a
b b
como |gx|dx converge, então |gx|dx converge, logo pelo critério da
a c
b c
comparação |fx|dx converge. Como |fx|dx é uma integral definida, pois f é
c a
b
integrável em a, c e portanto |f| também o é, segue que fxdx converge
a
absolutamente.
Exercício 3
Analise a convergência das integrais abaixo:
1 1 ln1 − x
a) 1 dx b dx c sen
x dx
x
0 ln x 0 3 0
x
Solução:
x3
c) Como lim sen x 1, então a integral só apresenta problemas em . Ainda
x→0
x
x 1
sen x 0, para todo x ∈ 0, , assim como − x é positiva neste mesmo
intervalo. Logo, como
x/ sen x − xx
lim
x→ − 1/ − x
x→
lim− sen x ,
x dx converge se e só se dx converge. Mas dx
temos que sen
0 x 0 −x 0 −x
diverge, pois − x lim − ln − b ln e portanto sen x dx
dx x
0 0
b→ −
diverge.
Exercício 4
Sejam f, g : a, b → não limitadas em a, b, integráveis em a, c para todo
b b b
c ∈ a, b. Se fx 2 dx e gx 2 dx convergem, mostre que fxgxdx
a a a
converge absolutamente e
b 2 b b
a fxgxdx ≤ a fx 2 dx a gx 2 dx .
Portanto
b 2 b b
a fxgxdx ≤ a fx 2 dx a gx 2 dx .
Exercício 5
Seja f : a, b → não limitada em a, b, fx ≥ 0, para todo x ∈ a, b e f
integrável em a, c para todo c ∈ a, b. Suponha que existe g : a, b → e
∈ tais que fx 1 gx, para todo x ∈ a, b e lim gx L 0.
b − x x→b −
Mostre que:
b
a) Se ≥ 1 então fxdx diverge.
a
b
b) Se 1 então fxdx converge.
a
b
Solução: Basta analisar a integral imprópria de 2 a espécie dx , com
a b − x
respeito a . Temos que, se ≠ 1,
c b − c 1− b − a 1−
a dx
b − x
−
1−
1−
.
Logo, se 1 1 − 0 e portanto
c
lim− dx
,
c→b a b − x
b
ou seja a integral dx diverge.
a b − x
Se 1 1 − 0 e portanto
c b − a 1−
lim−
c→b
a dx
b − x
1−
,
b
logo a integral dx converge.
b − x
a
Se 1, temos que
c
a b dx− x − lnb − c lnb − a
e portanto
c
lim−
c→b
a dx
b − x
.
b
Logo a integral dx converge se 1 e diverge se ≥ 1. Agora utilizando
b − x
a
demonstra o resultado.
Exercício 6
Analise a convergência das seguintes integrais impróprias:
arcsec x
a) dx b cos x dx
1 x − 1 7/6 0 x
Solução:
a) Observe que, aplicando l’Hôpital, temos
x lim 1/x x − 1 lim
2
lim arcsec7/6 6 .
x→1 x − 1 x→1 7/6x − 1
x→1 7x x 1 x − 1 3/2
2
isto é a integral dx converge. Logo, como
1 x − 1 2/3
arcsec x
x − 1 7/6 1/x x 2 − 1
lim lim arcsec x lim lim 2 2 0,
x→1 1 x→1 x−1 x→1 1/2 x − 1 x→1 x x1
x − 1 2/3
segue que ambas as integrais impróprias têm a mesma natureza e portanto
2
1 arcsec7/6
x dx converge.
x − 1
Para a segunda integral, ou seja, a integral imprópria de 1 a espécie,
utilizaremos a função gx 1 0, para todo x ∈ 2, . Temos que
x − 1 7/6
b
2 1 dx lim 2 1 dx lim −6 1 6 6,
x − 1 7/6 b→ x − 1 7/6 b→ b − 1 1/6
e portanto converge. Ainda como
arcsec x
x − 1 7/6
lim lim arcsec x 0,
x→
x→ 1 2
x − 1 7/6
segue que as integrais impróprias têm a mesma natureza e portanto
2 arcsec x dx converge.
x − 1 7/6
arcsec x
Logo, dx converge.
1 x − 1 7/6
R +∞ ex
b) 0
p dx converge se a > 2 e diverge se 0 < a ≤ 2.
senh (ax)
R +∞ sen x
c) 0
√ dx converge condicionalmente.
x
R +∞ sen x
d) 0 √ dx converge absolutamente.
senh x