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Unicamp/IMECC

Soluções de Onsager para o modelo


bidimensional de Ising

Aluno: Nicolas Getúlio Rodolfo


Professor orientador: Eduardo Garibaldi

Fevereiro
2024
Soluções de Onsager para o
modelo bidimensional de Ising
Nicolas Getúlio Rodolfo
28 de fevereiro de 2024

1 Resumo
Neste semestre os estudos foram mais baseados nos capı́tulos 4 e 5 do livro Equi-
librium states in ergodic theory, onde entramos de vez no assunto de sistemas
de grades finitas, definindo conceitos essenciais para entender melhor o Modelo
de Ising. Após isso, foi estudado acerca de Estados de Equilı́brio e Estados de
Gibbs, desenvolvendo a relação entre eles. Por fim, voltamos para o modelo de
Ising, onde serão vistos Estados de equilı́brio nesse modelo. Essses assuntos são
abordados nos capı́tulos 2.2, 2.3 e 2.4 desse relatório.

2 Desenvolvimento de atividades
Nesse semestre a frequência dos encontros presenciais aumentou, pois passamos
a nos encontrar a cada duas semanas para tirar dúvidas, notificar as atualizações
do projeto ou apontar quais tópicos deveriam ser seguidos. Apenas na época da
greve, os encontros diminuı́ram, pois eles eram realizados no imecc. Além disso,
a partir desse semestre eu realizei apresentações na lousa do que foi estudado,
para que o professor corrigisse ou lapidasse algo que deveria ser entendido.

3 Introdução
Primeiramente, para uma maior compreensão e contextualização do que será
visto posteriormente acerca do modelo de Ising, serão apresentados, nessa in-
trodução, pré-requisitos algébricos e fı́sicos para que possamos entrar de vez no
estudo de Sistemas de grades, Estados de equilı́brio, Estado de Gibbs, entre ou-
tros. Todos os conceitos e definições serão amplamente utilizados durante todo
o artigo.

1
3.1 Álgebra Associativa
Definição 3.1.1 Corpo

Um conjunto K dotado de duas operações binárias em K:

• + (adição): K × K → K

• · (multiplicação): K × K → K

é considerado um corpo se, para x, y, z ∈ K valem as seguintes propriedades:

Obs. As primeiras propriedades são com relação à soma de elementos per-


tencentes a K.
A1 .) Associatividade da adição:

x + (y + z) = (x + y) + z

A2 .) Existência de elemento neutro na adição:

∃ 0 ∈ K tal que 0 + x = x + 0 = x, ∀ x ∈ K

A3 .) Existência de inverso aditivo:

∀ x ∈ K, ∃ y ∈ K tal que x + y = y + x = 0

A4 .) Comutatividade ds adição:

x + y = y + x, ∀ x, y ∈ K

Agora as propriedades estão relacionadas com o produto de elementos presentes


em K.
P5 .) Associatividade da multiplicação:

x.(y.z) = (x.y).z, ∀ x, y, z ∈ K

P6 .) Existe elemento neutro na multiplicação:

∃ 1 ∈ K tal que 1.x = x.1 = x, ∀x ∈ K

P7 .) Existe inverso multiplicativo:

∀ x ∈ K\{0}, ∃ y ∈ K tal que x · y = y · x = 1

P8 .) Comutatividade da multiplicação:

x · y = y · x, ∀ x, y ∈ K

Esta última propriedade diz respeito a ambas operações.


P.A9 .) Distributividade:

2
(x + y) · z = x · z + y · z (à direita) z · (x + y) = x · y + y · z (à esquerda)

Definição 3.1.2 Anel

É uma estrutura algébrica menos restritiva que a noção de corpos, não deman-
dando 3 propriedades que os regem, sendo essas:
• P6 .) Existe elemento neutro na multiplicação.

• P7 .) Existe inverso muultiplicativo.

• P8 .) Comutatividade da multiplicação.
Dessa forma, um corpo pode ser descrito utilizando o conceito de anel, designando-
o como: anel comutativo com unidade com existência de inverso mul-
tiplicativo.

Definição 3.1.3 Álgebra


Agora, seja K um corpo infinito e A um espaço vetorial sobre K, dizemos que A
é uma álgebra se possui uma operação interna de multiplicação (a, b) ∈ A×A →
ab ∈ A, satisfazendo as relações:
(a + b)c = ac + bc, a(b + c) = ab + ac, γ(ab) = (γa)b = a(γb),
∀ γ ∈ K e a, b, c ∈ A.
Sendo a, b, c elementos de uma álgebra, tem-se o associador: (a, b, c) := (ab)c−
a(bc). Caso o resultado do associador seja identicamente nulo, A será chamada
de Álgebra Associativa, de modo a enfatizar que, além da operação de adição
associativa por definição de anel, A possui uma operação de multiplicação asso-
ciativa.

Exemplos de álgebra associativa:


• Os números complexos e polinômios com coeficientes reais podem também
formar uma álgebra associativa sobre os números reais.

• Um anel que possui como elementos matrizes quadradas sobre algum corpo
K pode ser utilizado como exemplo de uma K − álgebra, sendo aplicada
a multiplicação usual de matrizes.

3.2 Álgebra de Banach


Definição 3.2.1 Álgebra Normada

Sendo A uma álgebra sobre o corpo K, uma norma em A é definida como uma
aplicação || · || : A → R tal que:

3
• ||a|| ≥ 0, ∀ x ∈ A e ||a|| = 0 ⇔ a = 0

• ||λ.a|| = |λ|.||a||, ∀ a ∈ A e ∀ λ ∈ K

• Desigualdade triangular: ||a + b|| ≤ ||a|| + ||b||, ∀ a, b ∈ A

Caso a norma || · || satisfaça a seguinte propriedade:

||ab|| ≤ ||a||.||b||, ∀ a, b ∈ A

então || · || é dita submultiplicativa, e o par (A, || · ||) é chamado de álgebra


normada.
Após a definição de álgebra estelar, será apresentado um exemplo de álgebra
normada, utilizando matrizes e suas normas de operadores.

Definição 3.2.2 Espaço Métrico

Seja A um conjunto não vazio e d uma aplicação d : Q × Q → [0, +∞) que


satisfaz, ∀x, y, z ∈ A, as seguintes propriedades:

• d(x, y) ≥ 0 e d(x, y) = 0 ⇔ x = 0

• d(x, y) = d(y, x)

• d(x, y) ≤ d(x, z) + d(z, y),

dessa forma, diz-se que d é uma métrica e (A, d) é um espaço métrico.


Denomina-se sequência de Cauchy, uma sequência (xn )n∈N dentro de um
espaço métrico que, para todo ε > 0, existe n0 ∈ N tal que d(xp , xq ) < ε, ∀ p, q >
n0 .
Obs: Um espaço vetorial normado Q é um conjunto Q que possui a norma
|| · ||. Mas Q também pode ser considerado como um espaço métrico a partir da
seguinte métrica: d(x, y) = ||x − y||. Dessa forma, percebe-se que (xn )n∈N pode
ser denominada como uma sequência de Cauchy em um espaço normado.

Definição 3.2.3 Espaço de Banach

Seja Q um espaço normado. Caso toda sequência de Cauchy presente em Q


seja convergente em Q, então Q denomina-se espaço de Banach, o qual mais
tarde terá exemplo apresentado.
Um espaço de Banach pode ser resumido como espaço vetorial normado
completo, sendo um espaço completo um espaço métrico em que toda sequência
de Cauchy nele é convergente, possuindo assim um limite que pertence ao
prórpio espaço.
Obs: Uma sequência convergente é uma sequência que tende a um elemento
fixo quando os respectivos ı́ndices são tomados em direção ao infinito.
Exemplo:

4
Seja Mm (R) um conjunto de matrizes m × m sobre R que, utilizando a multi-
plicação usual de matrizes, é, dessa forma, considerado uma álgebra.
Mm (R) pode ser considerada uma álgebra normada, a partir da seguinte de-
finição de norma matricial:
||a|| = sup{||av||2 : v ∈ Rm , ||v||2 ≤ 1}, ∀ a ∈ Mm (R)
sendo av a multiplicação da matriz a pelo vetor m (que é a matriz coluna m × 1)
e || · ||2 a norma usual euclidiana para vetores.

Teorema 3.2.1 Toda sequência convergente em um espaço métrico é de Cau-


chy.
Demonstração: Suponha que {xn } converge para L. Tomando ε > 0, existe
N = N(ε) ∈ N tal que
d(xn , L) < 2ε , ∀ n > N
A partir disso, ∀ m, n > N , tem-se
ε ε
d(xm , xn ) ≤ d(xm , L) + d(L, xn ) < 2 + 2 =ε
Dessa forma, percebe-se que {xn } é uma sequência de Cauchy.
Definição 3.2.4 Álgebra de Banach
Sejam A uma álgebra complexa (uma álgebra sobre o corpo C) e || · || uma
norma presente em A, se a álgebra normada (A, || · ||) é um espaço de Banach,
enquanto espaço vetorial, essa álgebra será denominada de álgebra de Banach.
Exemplos de Espaço de Banach e Álgebras√de Banach:
No espaço real R munido da norma usual (|x| = x2 ), toda sequência de Cau-
chy é convergente, sendo assim, ele é um exemplo de espaço de Banach.
p
q R espaço das p-uplas reais equipado com a norma euclidiana ||x|| =
Seja
x21 + . . . + x2p e seja (xn )n∈N uma sequência de Cauchy em Rp . Denotamos
(n) (n)
xn = (x1 , . . . , xp ) ∈ Rp . Já que (xn )n∈N é de Cauchy para todo ε > 0, então
existe Nε = N ∈ N tal que, ∀ m, n > N , tem-se:
q
(n) (m) (n) (m)
||xn − xm || = (x1 − x1 )2 + . . . + (xp − xp )2 < ε.
Especificamente, para todo i = 1, . . . , p, |xni − xm
i | < ε quando m, n > N . Dessa
(n)
forma,, cada (xi )n∈N é uma sequência de Cauchy em R, a qual converge para
todo i = 1, . . . , p. Então (xn )n∈N converge em Rp . Assim, temos Rp como um
exemplo de espaço de Banach.
Também, dessa forma, tem-se o conjunto dos reais e complexos como exemplos
de álgebras de Banach, sendo a norma dada pelo módulo dos elementos desses
conjuntos.

5
Definição 3.2.5 C*-algebra

Uma álgebra de Banach A sobre o conjunto C dotada de uma involução sim-


bolizada por ∗, é denominada C*-algebra, álgebra estelar, caso satisfaça a
seguinte propriedade:

||a∗ a|| = ||a||2 ∀ a ∈ A

Essa involução de A é uma função ∗ : A → A cujo elemento é a imagem


de sua própria imagem (ou seja, quando essa função é aplicada duas vezes a
um elemento x, seu resultado retornará a esse mesmo elemento x inicial, sendo
assim, percebe-se que essa função é a sua própria inversa) e deve satisfazer, para
todo x, y ∈ A e todo λ ∈ C, as seguintes propriedades:

• (x + y)∗ = x∗ + y ∗

• (λx)∗ = λx∗

• (xy)∗ = y ∗ x∗

• (x∗ )∗ = x

• ||x∗ || = ||x||

Exemplo de C*-algebra:
Seja Mn (C) um conjunto de matrizes n × n sobre C que, a partir da multi-
plicação usual de matrizes, é, dessa forma, uma álgebra complexa.
Mn (C) pode ser considerada uma álgebra normada, utilizando para isso a se-
guinte definição de norma matricial mencionada anteriormente:

||a|| = sup{||av||2 : v ∈ Cn , ||v||2 ≤ 1}, ∀ a ∈ Mn (C)

sendo av a multiplicação da matriz a pelo vetor n (que é a matriz coluna n × 1)


e || · ||2 a norma usual euclidiana para vetores.
Utilizando, como uma operação de involução para essa álgebra, a conjugada
complexa (ou transposta conjugada) de qualquer matriz a ∈ Mn (C), ou seja,
sendo a = {aij }, a sua complexa conjugada será a∗ = {aji }; essa álgebra pode
ser definida como uma C*-algebra.

Definição 3.2.6 Espaço de Hilbert

Será denominado Espaço de Hilbert todo espaço de Banach V sobre um


corpo R sobre o qual está definida a aplicação < ·, · >: V × V → R denominada
produto interno, que possui as seguintes propriedades:

• Simetria: < u, v >=< v, u >

6
• Poisitividade: < u, u >≥ 0, com < u, u >= 0 se, e somente se, ⃗u = ⃗0.

• Distributividade: < u + v, w >=< u, w > + < v, w >.

• Homogeneidade: < λu, v >= λ < u, v >, ∀ λ ∈ R.


1
essa operação induz a norma desse espaço da seguinte forma: || · || =< ·, · > 2 .

Exemplo:
O espaço l2 (espaço de sequências de quadrados somáveis) é um espaço veto-

|xn |2 < ∞} com x ∈ l2 , possuindo como norma
P
rial tal que x = {(xn );
n=1
Euclidiana (|| · ||) :
1
||x|| = ( |xn |2 ) 2
P
n

podendo então l2 ser considerado um espaço de Hilbert, servindo como um


grande e importante exemplo.

Definição 3.2.7 Comutadores e Anticomutadores

Sejam A e B dois operadores definidos sobre R, o comutador entre eles é definido


como:

[A, B] ≡ [A, B]− := AB − BA

Caso AB = BA diz-se que esses dois operadores comutam.


Agora o anti-comutador entre eles é definido como

{A, B} ≡ [A, B]+ := AB + BA

Caso AB = −BA diz-se que esses dois operadores anticomutam.


Obs: Há duas relações entre operadores a partir de comutadores que são defi-
nidas da seguinte forma:

(1) [A, BC] = [A, B]C + B[A, C]


[AB, C] = [A, C]B + A[B, C]

7
Sendo isso provado da seguinte forma:

[A, B]C + B[A, C] = ABC − BAC + BAC − BCA


= ABC − BCA
= [A, BC]

[A, C]B + A[B, C] = ACB − CAB + ABC − ACB


= ABC − CAB
= [AB, C]

E a segunda relação:

(2) [A, [B, C]] + [B, [C, A]] + [C, [A, B]] = 0

E sua prova:

[A, [B, C]] + [B, [C, A]] + [C, [A, B]]


= [A, BC − CB] + [B, CA − AC + [C, AB − BA]
= ABC − BCA − ACB + CBA + BCA
− CAB − BAC + ACB + CAB − ABC − CBA + BAC
=0

Definição 3.2.8 Espectro

Seja A uma álgebra de Banach e Inv(A) o conjunto dos elementos invertı́veis


de A. O espectro de a ∈ A é definido como:

σa = {λ ∈ C : λ · I − a ∈
/ Inv(A)}

e o resolvente de a ∈ A como C − σ(a) sendo:

ρ(a) = {λ ∈ C : λ · I − a ∈ Inv(A)}

Um exemplo para a definição de espectro é A = Mn (C)b, sendo M o conjunto


de matrizes quadradas com ordem n, em que o espectro (M ) é o conjunto de
autovalores de M , satisfazendo det(M − λ.I) = 0, dessa forma, um espectro de
uma matriz é o conjunto de seus autovalores.

3.3 Propriedades e Definições fı́sicas


Definição 3.3.1 Hamiltoniano

8
Em um sistema fı́sico, há associado em todos seus parâmetros mensuráveis um
operador mecânico quântico. O hamiltoniano então seria o operador associado
à energia total desse sistema.
Na mecânica clássica, a energia mecânica total de um sistema é equivalente à
soma das energias potencial e cinética. Dessa forma, na mecânica quântica, essas
formas de energia são expressas nos seus correspondentes operadores. Sendo
assim, o Hamiltoniano conta com as operações de ambas energias cinética e
potencial do sistema. Um operador Hamiltoniano para uma partı́cula em um
espaço unidimensional pode ser expresso da seguinte forma :

ℏ2 ∂ 2
Hoperador = + V (x)
2m ∂x2
Sendo a primeira expressão relacionada com a energia cinética e a segunda com
a energia potencial da partı́cula.
Os autovalores ou o espectro desse operador são de extrema importância, pois
eles são os possı́veis resultados dos valores da energia total do sistema quântico,
sendo chamados então de espectro de energia ou autovalores de energia.

Definição 3.3.2 Spin

Spin é uma propriedade presente em partı́culas subatômicas que representa o


momento angular intrı́nseco dessas partı́culas, sendo assim considerada uma
grandeza vetorial e seu valor é determinado pelo chamado número quântico
de spin, o qual, nos fótons, são indicados pelo número 1, pois possuem os di-
tos spins inteiros. Já partı́culas como elétrons e prótons apresentam número
de spins 21 , podendo esse assumir dois valores: ± 12 , sendo que o sinal indica o
sentido do vetor spin dessas partı́culas.
São representados por S, e além disso, eles são quantizados, com seus valores,
na verdade, sendo múltiplos da constante de Plank.

Definição 3.3.3 Ferromagnetismo

É uma magnetização espontânea de um certo material, sendo caracterizada pela


independência de um campo magnético externo, pois, mesmo com a ausência
dele, materiais ferromagnéticos ainda apresentam a propriedade magnética.
Isso ocorre pelo fato de os spins das partı́culas desses materiais tenderem a se
alinhar uns aos outros, ficando os vetores desses spins na mesma direção. Porém
esses materiais perdem essa propriedade caso sejam submetidos a uma tempe-
ratura maior do que uma temperatura crı́tica denominada temperatura de
Curie, sendo que nessa situação os spins entram em estado de desordem.

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Definição 3.3.4 Modelo de Ising

Para entender melhor o comportamento e as caracterı́sticas microscópicas de


um sistema ferromagnético e de outras propriedades magnéticas, foi formulado
um modelo teórico denominado de Modelo de Ising.
Esse modelo considera redes d-dimensionais, porém aqui será levado mais em
conta o modelo bidimensional, sendo essa a dimensão da rede utilizada. Nesse
modelo, entende-se que, em um certo sistema, cada átomo ocupa um determi-
nado ponto de uma malha (ou rede) que caracteriza de forma microscópica o
material (no caso, ferromagnético).
A energia desse sistema é descrita a partir do seguinte Hamiltoniano:
n n
si , onde Λ ⊂ Z2 é finito.
P P
HΛ = −J si sj − h
i,j=1 i=1

Nesta equação, si e sj assumem os valores de +1 e −1, sendo isso determinado


pelo sentido em que o spin do átomo está ”apontado, para cima ou para baixo”.
A constante J ocorre devido à interação entre os sı́tios (spins) vizinhos e h repre-
senta um eventual campo magnético presente nesse sistema, sendo isso atribuı́do
a cada um dos spins (si ).
As interações associadas ao primeiros somatório levam em consideração apenas
interaçõess entre átomos (ou spins) vizinhos. Dessa forma, um átomo na posição
(i, j) interage apenas com átomos nas posições (i + 1, j), (i − 1, j), (i, j + 1) e
(i, j − 1).
Em temperaturas baixas, os valores das variáveis de spin de átomos vizinhos
(si esj ) tendem a ser os mesmos, sendo que o estado de menor energia ocorre
quando quando todas variáveis tem o mesmo valor (+1 ou −1). E, assim,
quando a constante J for positiva, ela favorece o ferromagnetismo, e, quando é
negativa, ela mostra que há uma interação antiferromagnética no sistema, na
qual os spins tendem a se desalinhar e, dessa forma, a multiplicação entre si e
sj dá um valor negativo.

4 Estados de equilı́brio e o Modelo de Ising


Essa segunda parte terá como referência o livro Equilibrium states in ergodic
theory, a qual traz definições e conceitos para estabelecer um aprofundamento
maior nos estudos de Estados de equilı́brio. O Modelo de Ising, um dos focos
desse projeto, é apresentado como um exemplo logo no começo dessa seção, mas
depois terá uma investigação mais minuciosa, explorando melhor seus aspectos.

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4.1 Noções Fı́sicas Preliminares
Um sitema fı́sico com muitas partı́culas pode ser descrito de dois jeitos. Micros-
copicamente, o qual será determinado pela sua configuração, ou seja, posições
e momentos de todas as partı́culas. Saber a configuração de um sistema que
obedece as leis da mecânica clássica e que não sofre influência externa permite,
em princı́pio, a determinação exata desse sistema em um tempo futuro. Porém
isso não é de grande relevância, pois um sistema real grande não possui uma
configuração que possa ser aproximada facilmente. Contudo, a partir de outro
jeito, ainda é possı́vel haver uma boa descrição das propriedades macroscópicas,
as quais são providas a partir de alguns parâmetros observáveis como energia,
temperatura, entropia, etc.... Matematicamente, essas propriedades estão asso-
ciadas com distribuições de probabilidades no espaço de todas as configurações.
Essa distribuição denomina-se estado. Agora, seja Ω um conjunto finito, ele
será tratado como nosso (abstrato) espaço de configuração.

Definição 4.1.1 Estado


P
Um estado é um vetor probabilidade µ = (µ(ω)|ω ∈ Ω) com µ(ω) = 1. E,
sendo |Ω| = n, µ ⊂ [0, 1]n . O conjunto de todos os estados é denotado por M .

Definição 4.1.2 Entropia


P
A entropia do estado µ é definida por H(µ) = − µ(ω) log µ(ω)
ω∈Ω
Obs: H(ω) não é literalmente a entropia clássica da termodinâmica.
O máximo valor para a entropia H(ω) é log |Ω|, sendo isso verificado da seguinte
forma:
Seja φ : [0, 1] → [0, ∞) dada por φ(t) = −t log t. Note que φ é contı́nua e
P
côncava e que vale H(µ) = φ(µ(ω)). Para n := |Ω|, a partir de uma versão
ω
elementar da desigualdade de Jensen, ou diretamente da concavidade de ω,
1
φ(µ(ω)) ≤ φ( n1 µ(ω)) = φ( n1 ).
P P
n
ω ω

Então, tem-se

φ(µ(ω)) ≤ n · φ( n1 ) = H(( n1 , . . . , n1 )) = log n.


P
H(µ) =
ω

Definição 4.1.3 Valor de energia, variância e função partição

Voltando para o modelo, cada configuração ω ∈ Ω possui atribuı́da um valor de


energia u(ω) ∈ R tal que, no estado µ, o sistema tem a seguinte definição de
energia:
P
µ(u) = µ(ω)u(ω).
ω∈Ω

11
E, a partir disso, define-se

Vµ (u) = µ(u2 ) − (µ(u))2

como a variância de u com respeito a µ.


A função partição de u é definida como:
P
Z(β) = exp(−βu(ω)),
ω∈Ω

sendo β uma constante que geralmente assume parâmetros complexos, mas aqui
assumirá usualmente parâmetros reais, sendo também proporcional ao inverso
da temperatura.

Definição 4.1.4 Medida de Gibbs

Dados parâmetros reais para β, a medida de Gibbs µβ em Ω é definida por:


1
µβ (ω) = Z(β) exp(−βu(ω)).

A partir dessa definição percebe-se que


µβ (ω)
µβ (ω ′ ) → 0 quando β → +∞ (zero absoluto)

caso u(ω) > u(ω ′ ). Dessa forma, quando β → +∞, µβ converge para uma
equidistribuição em Ωmin = {ω : u(ω) = min u}, sendo esse o espaço de mı́nima

energia. Note então que
1
e−βu(ω) u(ω) 1
P P
lim µβ (u) = lim = |Ωmin | u(ω) = min u(ω)
β→+∞ β→+∞ Z(β) ω∈Ω ω∈Ωmin ω∈Ω

A ideia é análoga para β → −∞, resultando daı́ em

lim µβ (u) = max u(ω)


β→−∞ ω

Lema 1 A função β 7→ log Z(β) é analı́tica real e vale

(log Z)′ (β) = −µβ (u) e (log Z)′′ (β) = Vµβ (u) ≥ 0

com igualdade se, e somente se, u é constante.

Prova:
P
Como Z(β) = exp(−βu(ω)) é analı́tica e diferente de zero para β ∈ R,
ω∈Ω
resulta que log Z(β) é real analı́tica. Então temos os seguintes resultados de
diferenciações elementares:

(log Z)′ (β) = ZZ(β)
(β) 1
u(ω)e−βu(ω) = −µβ (u),
P
= − Z(β)
ω∈Ω

′′ ′
Z (β)
(log Z)′′ (β) = − ( ZZ(β)
(β) 2 1
u2 (ω)e−βu(ω) − (µβ (u))2 = Vµβ (u).
P
Z(β) ) = Z(β)
ω∈Ω

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Teorema: Princı́pio Variacional
Recordando que M denota o conjunto de todos os estados, cada medida Gibbs
satisfaz:

H(µβ ) + µβ (−βu) = log Z(β) = sup (H(v) + v(−βu))


v∈M

Uma medida v para o qual esse supremo é obtido é denominada de estado


de equilı́brio para −βu. Por isso medidas Gibbs são estados de equilı́brio. E
também µβ é o único estado de equilı́brio para −βu.

Prova:Utilizando novamente a desigualdade de Jensen, com x 7→ log x e para


v ∈ M , temos
−βu(ω)
v(ω) log e v(ω)
P P
H(v) + v(−βu) = − v(ω)(log v(ω) + βu(ω)) =
ω∈Ω ω∈Ω
e−βu(ω)
P
≤ log v(ω) v(ω) = log Z(β).
ω∈Ω

Como x 7→ log x é estritamente convexa, a igualdade ocorrerá apenas se v = µβ .

Lema 2
dH(µβ ) dµβ (u)
=β·
dβ dβ
Prova:
Lembre-se do princı́pio variacional em que H(µβ ) = log Z(β) + βµβ (u).
Pelo lema apresentado anteriormente, tem-se
d log Z(β)
= −µβ (u)

Por isso,
dH(µβ ) dµβ (u) dµβ (u)
= −µβ (u) + µβ (u) + β dβ = β dβ

4.2 Sistemas em grades finitas


Em mais realistas configurações de modelos fı́sicos, normalmente há algumas
estruturas espaciais. Matematicamente, isso pode significar que há um grupo
de isometrias atuando em uma posição fundamental no espaço.
Nós mostramos os seguintes exemplos elementares desses casos:
O espaço de configuração é da forma Ω = ΣG , onde o grupo aditivo G = (Z/lZ)d
é geometricamente interpretado como uma grade finita e Σ é um conjunto fi-
nito de possı́veis valores de uma configuração em uma determinada rede. Os
elementos ω ∈ Ω aqui são escritos como ω = (ωg )g∈G .
G opera em Ω por uma ação τ = (T G : g ∈ G) onde o mapa T G : Ω → Ω atua

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como uma mudança de transformação em Ω, nomeada (Twg ) := wi+g .
M (τ ) denota o conjunto de todos os vetores probabilidade v em Ω que são in-
variantes sob τ , para o qual v(T −g w) = v(w) ∀ g ∈ G.
Se v ∈ M (τ ), então v(u◦T g ) = v(w)u(T g w) = v(T −g w)u(w) = v(w)u(w) =
P P P
w w w
v(u).
ψ(T g w) com uma função de
P
A função de energia u tem a forma u(w) =
g∈G
energia local ψ : Ω → R. Nesse caso u(T g w) = u(w) ∀ g ∈ G. Como
1
µβ (w) = Z(β) e−βu(w) , segue que µβ ∈ M (T ). Em particular, v(u) = |G|v(ψ)
para cada v ∈ M (τ ).
1
Definindo a pressão de −βψ como p(−βψ) = sup ( G H(v) + v(−βψ)). Dessa
v∈M (T )
forma, o princı́pio variacional pode ser escrito como:
1 1
|G| H(µβ ) + µβ (−βψ) = G log Z(β) = p(−βψ)

Obs: Do ponto de vista fı́sico essa não seria literalmente a pressão do sistema
, sendo mais apropriado chamar β1 p(−βψ) de pressão.
1
Além disso, o termo |G| H(µβ ) que está na definição de pressão pode ser inter-
pretado como a entropia por rede de grade da medida µβ .

Exemplo: Modelo de Ising


Um clássico exemplo onde a energia local ψ não depende somente de uma rede
de grade, mas de um conjunto de configurações envolvendo diversas redes é o
Modelo de Ising. Seu objetivo é explicar melhor o ferromagnetismo. A ideia é
que os átomos de ferro estão colocados em uma grade G e comportam-se como
pequenos imãs que podem estar orientados para cima (denotando-se por +1)
ou para baixo (−1). Fisicamente, dois imãs próximos um do outro precisam de
menos energia para ficar orientados num mesmo sentido do que em um sentido
P
oposto. Isso leva ao seguinte modelo simplificado: = {−1, +1} representando
d
P
as possı́veis orientações da magnetização. Já ψ(w) = − (w0 wej + w0 w−ej ) é
j=1
a energia local, onde e1 , . . . , ed representam os vetores unitários canônicos em
G. Para valores positivos de β (temperaturas positivas), uw é pequena para
configurações bem homogênenas w. De fato, ele é o mı́nimo se w é constante
+1 ou −1. O Estado Fundamental (também chamado de estado congelado) é
lim µβ = 21 (δ(+1)G + δ(−1)G ). Aqui δw denota um ponto de massa unitário em
β→+∞
w ∈ Ω e (+1)G e (−1)G são as configurações constantes consistindo de +1(s) ou
−1(s) somente.
Propriedades estatı́sticas de equidistribuição (β = 0) e com muita frequência
dos Estados Fundamentais (β = ∞) são fáceis de descrever, mas isso não é tão
verdade para β ∈ (0, ∞) se o tamanho da grade é grande. Uma questão é se, no
Modelo de Ising, a medida Gibbs µβ para grandes, mas finitos β, decompõe-se

14
(como Estado Fundamental) em duas fases, uma com domı́nio de +1 e a outra
com −1. Em modelos finitos essa questão não tem uma resposta definitiva,
porque, em uma grade finita, cada estado é invariante sob a ação de um grupo
G que pode ser representado como uma grande soma de equidistribuições em
grupos de orbitas Gw = {T g ω : g ∈ G}(w ∈ Ω) e se β é finito, então µβ (Gw ) > 0
para cada w ∈ Ω. Contudo, a maioria da massa de mβ está concentrada em
configurações tı́picas, e esse efeito torna-se cada vez mais óbvio quanto maior for
o tamanho da grade (propriedade dos grandes desvios). Portanto não é tão sur-
preendente que um teorema de não decomponibilidade de estados de equilı́brio
requer sistemas em grade infinitas G = Zd , e, de fato, será visto que, em di-
mensão d = 1, não há ”fase de decomposição”para o Modelo de Ising, então
há sempre um único estado de equilı́brio, enquanto em d ≥ 2 há ao menos 2,
mutualmente singulares, estados de equilı́bro para um β tão grande.. Sendo
isso interpretado como fase de transição (para um β suficientemente pequeno,
o equilı́brio é único, tal como para altas dimensões).
Isso motiva as seguintes colocações:
G = Zd ou G = Zd+ é um reticulado infinito que nos fornece o espaco de con-
figuração: Ω = ΣG . Dotado com a topologia produto da topologia discreta em
Σ, o espaço Ω é um espaço topológico compacto (Teorema de Tychonov). Essa
′ ′ ′
topologia também é gerada pela métrica d(ω, ω ) = 2−n(ω,ω ) em que n(ω, ω ) =

sup{n ∈ N : ωg = ωg para g ∈ Λn } e Λn = {(g1 , . . . , gd ) ∈ G : |g1 |, . . . , |gd | ≤ n}
é um “cubo”de lado com tamanho n (se G = Zd+ ) ou 2n (se G = Zd ). Em
particular Λ0 = {(0, . . . , 0)}.
Um estado é agora uma Medida de Probabilidade Borel em Ω.

4.3 Estados de equilı́brio e Estados de Gibbs


Nessa seção, serão desenvolvidas noções sobre os Estados de Gibbs, os quais
serão necessários para a compreenção das próximas seções acerca do Modelo de
Ising.

Definição 4.3.1 Regularidade e Alcance finito

Seja ψ : Ω → R uma função de energia local.


1. ψ é regular se

nd−1 · δn (ψ) < ∞
P
n=1
′ ′ ′
em que δn (ψ) = sup{|ψ(ω) − ψ(ω )| : ω, ω ∈ Ω, ωg = ωg ∀ g ∈ Λn }
Dessa forma, tendo Λn como um “cubo”, entende-se que, quanto maior o seu
tamanho, menor será a contribuição de energia externa, sendo isso representado

por δn em função da energia para as configurações ω e ω .

15
Figura 1: Isometria de τ

2. ψ tem alcance finito, se há algum n0 ∈ N tal que δn (ψ) = 0 para todo
n ≥ n0 .

Definições prévias para estados de equilı́brio e de Gibbs


Antes de tudo, denote por En o conjunto de todos os mapas τ : Ω → Ω tais
que:

τi (ωi ), (i ∈ Λn )
(τ (ω))i =
ωi , (i ∈
/ Λn )

em que os mapas τi : Σ → Σ são permutações (i ∈ Λn ), com τ ∈ En sendo uma


isometria. Essa isometria é perceptı́vel a partir da apresentação de dois casos
para d(ω, ω), com d(ω, ω) ≤ 2−n e d(ω, ω) > 2n .
1) d(ω, ω) ≤ 2−n para τ ∈ En , temos d(τ (ω), τ (ω)) = d(ω, ω).
2) Agora com d(ω, ω) = 2−k > 2−n , temos d(τ (ω), τ (ω)) = d(ω, ω) = 2−k .
Esses dois casos podem ser vizualizados de forma explı́cita com base na imagem
abaixo.
Denotamos também E = ∪n>0 En .
Assim, E é um grupo de homeomorfismos de Ω que afeta finitas, mas muitas
coordenadas.
Numa exemplificação de grade, permuta-se os “spin up(s)”e os “spin down(s)”nessa
grade.

Definição 4.3.2 Espaços de probabilidade

16
Seja (X, A) um espaço mensurável. A função µ → [0, A] é uma medida finita se

i) µ(∅) = 0 e ii) µ(∪∞
P
n=1 An ) = µ(An ) para cada sequência de conjuntos An ∈
n=1
A disjuntos aos pares (intersecção vazia). Se µ(X) = 1, então µ é uma medida
de probabilidade. E nesse caso (X, A, µ) é chamado de espaço de probabilidade.

Agora, tendo τ ∈ E e µ uma probabilidade boreliana em Ω, temos a seguinte


definição: (τ µ)(E) = µ(τ −1 (E)) ∈ [0, 1].

Agora, suponha que ψ : Ω → R seja regular. Para τ ∈ E e n > 0 define-se


Ψnτ : Ω → R; Ψnτ = ψn ◦ τ −1 − ψn

ψ ◦ T g.
P
onde, como já é usual, ψn =
g∈Λn
Então tem-se o limite

Ψτ = lim Ψnτ , o qual existe uniformemente em Ω.


n→∞

Obs. A prova de existência é encontrada no Lema 5.1.6 da referência [3].

Definição 4.3.3 Estado de Gibbs

Considere ψ uma função de energia local regular. Uma medida de probabilidade


boreliano µ em Ω é uma medida de Gibbs (ou Estado de Gibbs) para ψ se

τ µ = µ · eΨτ

para cada τ ∈ E. O conjunto de Estados de Gibbs para ψ é denotado por GS(ψ)


e o conjunto de T -invariantes Estados de Gibbs por GS(ψ, T ).

Lema 3 : GS(ψ) e GS(ψ, T ) são subconjuntos fechados e convexos do conjunto


de todas medidas de probabilidade boreliana em Ω.

Prova: Seja µn uma sequência em GS(ψ) convergindo para alguma medida µ


e tenha τ ∈ E. Como τ e Ψτ são contı́nuas, segue que

τ µ = lim τ µn = lim µn · eΨτ = µ · eΨτ .


n→∞ n→∞

Por isso GS(ψ) é fechado. E é convexo para µ1 , µ2 ∈ GS(ψ) e a, b ∈ (0, 1) com


a + b = 1, temos:

τ (aµ1 + bµ2 ) = a(τ µ1 ) + b(τ µ2 ) = a(µ1 · eΨτ ) + b(µ2 · eΨτ ) = (aµ1 + bµ2 ) · eΨτ .

Dessa forma, prova-se o lema para GS(ψ). Como GS(ψ, T ) = GS(ψ) ∩ M, a


afirmação para GS(ψ, T ) é semelhante.
Agora serão definidos alguns conceitos que serão posteriormente utilizados.
Seja (X, A, µ) um espaço de probabilidade. Uma coleção α = {Ai ∈ A : i ∈ I}

17
de conjuntos mensuráveis de X é uma µ−partição de X se µ(Ai ∩ Aj ) = 0 para
i ̸= j, µ(X/ ∪i∈I Ai ) = 0 e µ(Ai ) > 0 para todo i ∈ I.
Z Z
Seja τ uma ação contı́nua de G = d ou G = d+ sobre o espaço métrico
N
compacto (X, ρ). Para δ > 0, n ∈ e x ∈ X defina

U (n, δ, x) = {y ∈ X : ρ(T g y, T g x) < δ ∀ g ∈ Λn } = ∩g∈Λn T −g Bδ (T g x),

onde Bδ (x) é a δ−bola aberta em volta de x. Como todos T g são contı́nuos,


U (n, δ, x) é uma vizinhança aberta de x.

A informação da µ-partição α é:


P
Iα (x) = − log µ(A) · 1A (x) = − log µ(A) para µ − a.e. x ∈ A.
A∈α

A partir disso, obtemos também a definição de IαΛn :


Z Z
Seja Σ um conjunto finito, Ω+ΣG , G = d ou G = d+ , e denotemos T g : Ω → Ω
a transformação por g. Para σ ∈ Σ tenha [σ]0 = {ω ∈ Ω : ω0 = σ}. Então
α = {[σ]0 : σ ∈ Σ} é uma finita partição de Ω. Seja µ qualquer T − invariante
medida em Ω. Então IαΛn (ω) é uma quantia de informação na configuração ω
contida nas coordenadas ωg com g ∈ Λn .
Tem-se também a entropia de α como:
R P P
H(α) = Iα dµ = − µ(A) log µ(A) = φ(µ(A)),
A∈α

onde recorde que φ(t) = −t log(t).


Um subconjunto E de x é dito:

• (n, δ) − separado se y ∈
/ U (n, δ, x) ∀ x, y ∈ E com x ̸= y.

• máximo (n, δ) − separado, se E é (n, δ) − separado e se não há (n, δ) −


separado que contenha propriamente E.

Define-se Pn,δ de modo a seguir:

Pn,δ (ψ) = sup{P (ψn , E) : Eé(n, δ) − separado},


= sup{P (ψn , E) : E é máximo (n, δ) − separado},

onde
P
P (ψ, E) = log exp(ψ(x)),
x∈E

Teorema 4.3.1 Há uma constante Cψ tal que para cada µ ∈ GS(ψ) e cada
ω∈Ω
µ(An (ω))
exp(−Cψ nd−1 ) ≤ ≤ exp(Cψ nd−1 .
eψn (ω)−Pn,1 (ψ)

18
Essas desigualdades levam também a seguinte desigualdade (a qual será utilizada
posteriormente):

|IαΛn + ψn − Pn,1 (ψ)| ≤ Cψ nd−1 ).

Obs. Agora serão colocadas algumas definições, que foram ou serão utilizadas,
para que haja melhor compreensão do texto. Entropia da medida preser-
vando o sistema dinâmico (x,B,µ, T ) é

hT (µ) = sup{h(α, T ) : α ∈ P0 }

onde P0 denota o conjunto de todas partições finitas de (x, B). A dependência


de T é suprimida notacionalmente e escreve-se h(µ) em vez de hT (µ).
O importante disso é a seguinte relação:

lim 1 H(αVn = h(α, T )


n→∞ |Vn |

A partir de tudo isso, podemos finalmente chegar no seguinte corolário:

Corolário 4.3.1 Se ψ é uma função regular de energia local, então

GS(ψ, T ) ⊆ ES(ψ, T ).

Prova:
Tenha µ ∈ GS(ψ, T ). A partir da desigualdade obtida anteriormente, obtem-se
para cada n > 0

Hµ (αΛn ) + ψn dµ = (IαΛn + ψn dµ) ≥ Pn,1 (ψ) − Cψ nd−1 .


R R

Portanto
1
(Hµ (αΛn ) ψn dµ) ≥ lim sup λ1n Pn,1 (ψ) = p1 (ψ).
R R
h(µ) + ψdµ = lim +
n→∞ λn n→∞
R
Tem-se também p(ψ) = p1 (ψ), dessa forma, obtemos h(µ) + ψdµ = p(ψ).

4.4 Estados de equilı́brio do Modelo de Ising


O modelo de Ising foi um dos primeiros modelos da mecânica estatı́stica que
foi atacado por métodos matemáticos rigorosos. Recordamos a descrição dos
ingredientes básicos, temos: Σ = {−1, +1}, representando “+1”o “spin up”e
“−1”o “spin down”nas redes de um “reticulado de gás”na grade G = Zd , em
uma configuração de espaço Ω = ΣG equipado com uma ação de translação τ . A
d
P
função de energia local ψ(ω) = − (ω0 ωej +ω0 ω−ej ) descreve a interação entre
j=1
spins vizinhos. Aqui consideramos uma nova contribuição para essa energia
local, sendo definido esse novo termo adicional como −Bϕ(ω) = −Bω0 que
representa o efeito de um campo magnético externo B nos spins do sı́tio 0.
Então, nós seremos conduzidos a estudar a energia local:

19
ψβ,B (ω) = −β · (ψ − Bϕ)(ω) = −β(ψ(ω) − Bω0 )

onde β ≥ 0 denota o inverso da temperatura.


Como ψβ,B tem alcance finito e é regular portanto ES(ψβ,B , T ) = GS(ψβ,B , T )
é não vazio. A questão é se os estados de equilı́brio são únicos. O que acontece
é que o caso para d = 1 é fundamentalmente diferente de casos para d ≥ 2.

Teorema 4.4.1 Fases de transição no Modelo de Ising

a) Se d = 1,então o Modelo de ising tem exatamente um modelo de equilı́brio


para cada β > 0 e B ∈ . R
b) Se d ≥ 2 e ϵ > 0, então há βd (ϵ) > 0 tal que para β > βd (ϵ) a imagem,
dependendo do campo magnético B, possui os seguintes aspectos:

• B > 0: Se µ ∈ ES(ψβ,B , T ), então µ{ω0 = +1} ≥ 1 − ϵ.

• B < 0: Se µ ∈ ES(ψβ,B , T ), então µ{ω0 = −1} ≥ 1 − ϵ.

• B = 0: Há µ+ , µ− ∈ ES(ψβ,0 , T )

Sendo que µ+ {ω0 = +1} = µ− {ω0 = −1} ≥ 1 − ϵ.


Além disso, µ+ é o ”limite fraco“ de uma sequência µ+ i ∈ ES(ψβ,B , T onde
Bi ↘ 0 e µ− é o ”limite fraco“ de uma sequência µ− i ∈ ES(ψβ,Bi , T ) onde
Bi ↗ 0.
Obs. Para altos β (baixas temperaturas) e d ≥ 2 esse resultado pode ser inter-
pretado como uma magnetização espontânea do ferromagnetismo de Ising:
Quando o campo magnético B é positivo, a ”magnetização média por spin “
R
µ(ϕ) = ω0 dµ(ω) possui somente o valor de +1 e −1 para B < 0. Se o campo
magnético estiver diminuindo até sumir, a magnetização mantém ao menos o
valor ±(1 − ϵ), sendo o sinal o mesmo antes do campo sumir. Se o campo B
for direcionado de valores positivos para negativos, a magnetização média muda
abruptamente em B = 0, de µ(ϕ) > 1 − 2ϵ para µ(ϕ) < −1 + 2ϵ. A B = 0 dois
estados de equilı́brio podem coexistir, um favorecendo o ”spin up“ e o outro
”spin down“. Esse fenômeno é chamado de fase de transição.

Prova do Teorema
Lembre-se primeiro que para sistemas de transformação a função de entropia é
semicontı́nua superiora e que p1 (ψ) = supδ>0 pδ (ψ) para todo ψ ∈ U SC(x) de
tal forma que todos os resultados até agora são aplicáveis.
Obs. U SC é a denotação da classe de todas funções semicontı́nuas superioras.
a) No caso de d = 1, a unidade do estado de equilı́brio é uma consequência do
seguinte corolário:
Se G = Z, então há exatamente uma medida de Gibbs para cada função regular
de energia local ψ. Essa medida é também o único estado de equilı́brio para ψ
(e é por isso ergódico).

20
b) Agora, no caso de d ≥ 2, melhor, primeiramente para d = 2, é mostrado que
para grandes β e B = 0 há no mı́nimo 2 estados de equilı́brio. Apresentamos
uma versão desse argumento nos restringindo para o caso d = 2. Um raciocı́nio
mais sutı́l, mas similar é usado para d > 2.
Devido à simetria do modelo, basta considerar o caso B ≥ 0. Abaixo é provada
a existência de uma medida µ+ ∈ ES(−βψ, T ) tal que

µ+ {ω0 = +1} ≥ 1 − ϵ

Considere agora µ ∈ ES(ψβ,B , T ) = ES(−βψ + βBϕ, T ) para B > 0.


Agora é introduzido o seguinte corolário para o desenvolvimento das próximas
afirmações:

Corolário 4.4.1 Tenha ψ, ϕ ∈ C(x) e considere µi ∈ ES(ψ + ti ϕ, T ), i = 1, 2,


onde t1 < t2 são quaisquers reais. Então µ1 (ϕ) ≤ µ2 (ϕ).

Prova: Temos

(t2 − t1 )µ1 (ϕ) ≤ p(ψ + t2 ϕ) − p(ψ + t1 ϕ) ≤ −(t1 − t2 )µ2 (ϕ).

Como t1 < t2 segue esta afirmação.

A partir deste corolário, tem-se µ(ϕ) ≥ µ+ (ϕ), obtendo assim

µ{ω0 = +1} = 12 (µ(ϕ) + 1) ≥ 21 (µ+ (ϕ) + 1) = µ+ {ω0 = +1} ≥ 1 − ϵ.

Isso funciona para B > 0. Para ver que µ+ pode ser escolhido como um ”limite
fraco“ da medida µ+ +
i ∈ ES(ψβ,B , T ) com Bi ↘ 0, tenha µ̃ como um ponto de
acumulação dessa sequência. Tem-se que µ̃ ∈ ES(−βψ, T ) e µ̃+ {ω0 = +1} =
+

limk {ω0 = +1} ≥ 1 − ϵ. Agora tenha B = 0. A partir de uma observação sobre


funções de energias locais, utilizando a função constante ϕ = 0 e para a constante
”configuração de segundo plano“ ξ+ = (= 1)G , há µ+ ∈ CES(1, −βψ, T ). Essa
observação afirma também várias outrás propriedades adicionais muito precisas
do estado de equilı́brio µ+ . Isso é aproximado por uma “subsequência”das
medidas µ̃n = λ1n
P g
T π̃n , onde
g∈Λn

δz · exp(−βψn (z) − P (−βψn , En+ )),


P
π̃n =
+
z∈En

En+ = {ω ∈ Ω : ωg = +1 ∀ g ∈ G\Λn }.

Para os seguintes argumentos combinatórios, nós pensamos a configuração ω


como um tabuleiro infinito cujos espaços (quadrados) são preenchidos com +1′ s

e −1′ s. Dois quadrados vizinhos (isto é, dois locais g, g ∈ G para o qual

g − g ∈ (±e1 , ±e2 )) são separados por um segmento de linha, sendo seus limites
comuns. Comumente denota-se o conjunro de todos esses segmentos por:

21
′ ′
L = {{g, g } : g − g ∈ {e1 , e2 }}.

Tal como um tabuleiro real, segmentos adjacentes podem ser conectados por
um caminho, o qual é fechado, sendo simplesmente um caminho denotado pela
letra C. Por causa da noção geométrica imediata dessa ideia, dispensa-se uma
definição mais satisfatoriamente formal. Para nossos propósitos, é suficiente
pensar na curva C como um subespaço particular de L. Como uma curva
fechada simplesmente conectada possui um domı́nio interior conectado (Teorema
das curvas de Jordan), nós podemos falar sobre um interior I(C) de cada curva
C e associar para C um mapa τ ∈ ε definido por:

−ωi , (i ∈ I(C))
(τC ω)i =
ωi , (i ∈
/ I(C)).

Para um dado espaço g ∈ G, tenha C(g) denotando o conjunto de todas as


curvas fechadas simplesmente conectadas com g ∈ I(c).
Agora considere ω ∈ En+ e g ∈ Λn tal que ωg = −1. Denote por A(ω, g)
o ”componente conectado “ de (−1) − local que contém g. (Para essa noção
de ”componente conectado“ nós apelaremos uma vez para uma figura de um
tabuleiro).
A(ω, g) é delimitado por uma SCCC (Curva fechada simplesmente conectada)
C = C(ω, g). (Isso significa que C é aquela parte da fronteira (limite) de A(ω, g)
que separa g do infinito).

Com respeito a ω, o qual tem a propriedade que ωg ωg′ = −1 ∀ {g, g } ∈ C, o
que significa que cada segmento de C separa um (+1)−local de um (−1)−local.
Uma curva dessas é chamada de contorno para ω. A figura mostra essas noções.
Dado g ∈ Λn e um SCCC C, denota-se por Ωg,C o conjunto de todos os ω ∈ Ω
para os quais ωg = −1 e para o qual A(ω, g) é limitado por C. Como ω ∈ En+ ,

o componente A(ω, g) está contido em Λn . Em particular, se {g, g } ∈ C, então

ao menos um dos g e g faz parte de Λn .
A seguinte observação tornam mais viáveis os cálculos no modelo de Ising. Tenha
g e C = C(ω, g) como já foi definido e suponha que ω ∈ Ωg,C . Denote ω = τC ω.
Então
X X
−β(ψn (ω) − ψn (τC ω)) = β (ωh ωh+j − ω̃h ω̃h+j )
n∈Λn j∈(±e1 ,±e2 )
X X
= β (ωh ωh′ − ω̃h ω̃h′ )
h∈Λn h′ ∈G

≤ −2β|C|.

Com {h, h′ } ∈ C.
Agora tenha g ∈ Λn e um SCCC C tal que g ∈ I(C) ⊆ Λn .

22
Como τC é uma bijeção de En+ , isso segue que
X
exp(−βψn (ω) − P (−βψn , En+ ))
+
ω∈En ∩Ωg,C
X
≤ exp(−2β|C| − βψn (τC ω) − P (−βψn , En+ ))
+
ω∈En ∩Ωg,C
X
≤ exp(−2β|C|) · exp(−βψn (ω)) · exp(−P (−βψn , En+ ))
ω∈E+ n

= exp(−2β|C|). (∗)

Por isso

µ̃n {ω : ω0 = −1}
1 X
= π̃n {ω : ωg = −1}
λn
g∈Λn
1 X X
= exp(−βψn (ω) − P (−βψn , En+ ))
λn +
g∈Λn ω∈En ,ωg =−1
1 X X X
= exp(−βψn (ω) − P (−βψn , En+ ))
λn +
g∈Λn C∈C(g) ω∈En ∩Ωg,C

1 X X X
≤ exp(−2β|C|) (∗)
λn
g∈Λn l=4 C∈C(g),|C|=l

1 X X
≤ l · 3l−1 e−2βl
λn
g∈Λn l=4

X
= l · 3l−1 e−2βl
l=4

→ 0 como β → ∞.

Para a última inigualdade, tem-se de estimar o número do SCCC C, pos-


suindo um tamanho l com um dado g no seu interior. Evidentemente essa curva
contém ao menos 1 dos segmentos horizontais “acima de g”a uma distância de no
máximo 1l de g, o mı́nimo do qual, por uma estimativa aproximada, é limitado
por l. Uma vez que tal segmento é constante, o resto da curva é determinado
por l − 1 escolhas entre no máximo três direções.
Por isso há alguns βd (ϵ) tal que para β > βd (ϵ) e um arbitrário n, temos
µ̃n {ω : ω0 = −1} < ϵ. Como a medida µ+ é um “limite fraco”de µ̃n , isso pro-
duz a estimativa desejada (mencionada anteriormente).

23
5 Considerações finais
Por fim, isso que foi trabalhado no decorrer do segundo semestre de 2023 e no
inı́cio de 2024 e para uma compreensão e um estudo mais avançado em relação
às definições apresentadas nesses capı́tulos, temos como referências as obras [1],
[2], [3], [4] e [5]

Referências
[1] da Costa, L. M. O modelo de ising 2d. Fı́sica Estatı́stica (2006). page.2424

[2] Exel, R. Uma introduçaoas c*-álgebras. Primeira Bienal de Matemática,


Minas Gerais (2002). page.2424

[3] Keller, G. Equilibrium states in ergodic theory, vol. 42. Cambridge uni-
versity press, 1998. page.1717, page.2424

[4] Lima, E. L. Espaços métricos, vol. 4. Instituto de Matemática Pura e


Aplicada, CNPq Rio de Janeiro, 1983. page.2424

[5] Silva, A. L. d. Espaços de hilbert e o teorema de lax-milgram. B.S. thesis,


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, 2018. page.2424

24

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