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Caderno Didático de Física – FSC1064 - 2010

Cesar de Oliveira Lobo*

*Professor do Departamento de Física – UFS


FÍSICA PARA AS CIÊNCIAS AGRÁRIAS
Departamento de Fı́sica da UFSM
Professor Cesar Lobo

PROGRAMA E BIBLIOGRAFIA

Caderno 1
1A - INTRODUÇÃO À FÍSICA
1B - MECÂNICA CLÁSSICA

Caderno 2
2A - FLUIDOS
2B - VAPOR E GASES
2C - 1a LEI DA TERMODINÂMICA
2D - 2a LEI DA TERMODINÂMICA

Caderno 3
3A - ELETRICIDADE
3B - ELETROMAGNETISMO
3C - CIRCUITOS CC E CA
3D - RESSONÂNCIA E RELATIVIDADE

Caderno 4
4A - INTRODUÇÃO À FÍSICA MODERNA
4B - ONDAS E MECÂNICA QUÂNTICA
4C - FENÔMENOS ONDULATÓRIOS E QUÂNTICOS
4D - RADIAÇÕES
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Bibliografia recomendada:

HALLIDAY, D. e outros, fundamentos da fı́sica 1,2,3 e 4, LTC, Brasil, 1996.


TIPLER, T.A., Fı́sica 1,2,3 e 4, Guanabara Dois, Brasil, 1986.
ALONSO, M. e FINN, E.J., Campos e Ondas, Ed.Edgard Blücher Ltda, Brasil,
1972.
SCHAUM/VAN DER MERWE, Fı́sica Geral, McGraw-Hill do Brasil.
ACIOLI, J.L., Fı́sica Básica para Arquitetura, Editora Universidade de Brası́lia,
Brasil, 1994.
DEUS, J.D. e outros, Introdução a Fı́sica, McGraw-Hill de Portugal, 1992.
SALEN, L. e outros, Dicionário das Ciências (Tradução sob orientação de CAR-
VALHO, M.M.G. e outros), Editora Vozes Ltda e Unicamp, Brasil, 1995.
GUIMARÃES, P.S., Mini Vocabulário de Fı́sica, Ed.UFSM, Brasil, 2006.
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1A INTRODUÇÃO À FÍSICA
Fı́sica para as Ciências Agrárias - Caderno-1 MECÃNICA CLÁSSICA
Professor Cesar Lobo

1. INTRODUÇÃO À FÍSICA:
1.1 Campos escalares e vetoriais.
1.2 Série binomial.
1.3 Diferenciação e integração.
1.4 Derivadas parciais.
1.5 Operador nabla e gradiente.
1.6 Constantes fı́sicas.
1.7 Unidades, múltiplos e submúltiplos.
1.8 Interações fundamentais.

1.1 Campos escalares e vetoriais - Campo é um conceito abstrato a partir do


qual representamos um conjunto de valores assumidos por uma grandeza fı́sica que, em uma
determinada região do espaço, depende apenas das coordenadas dos pontos pertencentes
àquela região do espaço ou, em alguns casos, também do tempo. Quando a grandeza fı́sica
é de natureza escalar, suas magnitudes não se associam a uma orientação espacial, dizemos
que temos um campo escalar, como no caso da energia potencial U (~r) de um corpo ou a
densidade de carga ρ(~r). Por outro lado, usamos a denominação campo vetorial quando a
grandeza que estamos tratando for de natureza vetorial, as magnitudes se assosiam a uma
~ r) e
orientação espacial, como no caso do campo gravitacional ~g (~r) e dos campos elétrico E(~
~ r). Um campo de forças F~ (~r) é uma região do espaço na qual, em todos os seus
magnético B(~
pontos, um objeto de prova apropriado que seja nele colocado experimenta a ação de uma
força direcionada, espacialmente, atuando sobre ele.
Algumas relações úteis para o cálculo vetorial:
Vetor F:
F~ = Fx i + Fy j + Fz k

Vetor simétrico de F:
−F~ = −Fx i − Fy j − Fz k

Módulo do vetor F e do simétrico:

q
|F~ | = | − F~ | = Fx 2 + Fy 2 + Fz 2
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Vetor unitário de F:
F~
~uF~ =
|F~ |
Cálculo vetorial, tomemos os vetores:

~ = A x i + A y j + Az k e B
A ~ = Bx i + By j + Bz k

Adição:

~+B
A ~ = (Ax i + Ay j + Az k) + (Bx i + By j + Bz k) = (Ax + Bx )i + (Ay + By )j + (Az + Bz )k

Subtração:

~−B
A ~ = (Ax i + Ay j + Az k) − (Bx i + By j + Bz k) = (Ax − Bx )i + (Ay − By )j + (Az − Bz )k

Produto escalar:
~ .B
A ~ = A . B . cos θ

~ .B
A ~ = (Ax i + Ay j + Az k) . (Bx i + By j + Bz k) = (Ax . Bx ) + (Ay . By ) + (Az . Bz )

Produto vetorial:
~ ×B
A ~ =C
~ = A . B . sin θ . ~u ~
C
 
i j k
 
~ ×B
A ~ = (Ax i + Ay j + Az k) × (Bx i + By j + Bz k) = det 
 Ax Ay A z


 
Bx By Bz

Coordenadas polares de F~ :
q
Fx 2 + Fy 2 Fy
( |F~ | ; arctan θz = ; arctan φxy = )
Fz Fx

Coordenadas cartesianas de F~ :

( Fx = |F~ | sinθz cos φxy ; Fy = |F~ | sinθz sin φxy ; Fz = |F~ | cosθz )
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VETORES, OPERAÇÕES VETORIAIS

1. Dados os pontos O(0; 0; 0), P (2; −3; 4) e Q(−2; 4; 3).


a) Represente no espaço os vetores (ex. forças F~ (~r));
~ . ... ii) ~q = OQ.
i) p~ = OP ~ ... iii) ~r = P~Q. ... iv) ~s = QP
~ . b) Determine o módulo desses

vetores.
c) Determine um vetor unitário ~ux associado a cada vetor.
2. Dados os vetores:
i) p~ = 2i − 3j + 4k. ...
ii) ~q = −2i + 4j + 3k. ...
iii) ~r = −4i + 7j − k. ...
iv) ~s = 4i − 7j + k. ...
Determine:
a) p~ + ~q.
b) ~q + p~.
c) p~ − ~q.
d) −(~q − p~).
e) 2~r.
f) −2~s.
g) 3(~p + ~q).
h) 3~p + 3~q.
i) (~p + ~q) + ~r.
j) p~ + (~q + ~r).
3. Dados os vetores:
i) ~c = i − j. .... ii) d~ = 4i − 2j − k. ... iii) ~e = i + 4j − 4k. ... iv) f~ = 3(i − j).
Determine: a) ~c·d~ ... b) ~c×d~ ... c) O ângulo formado entre ~c e d.
~

d) Mostre que os vetores ~c e f~ são paralelos.


e) Mostre que os vetores d~ e ~e são perpendiculares.
4. Determine as coordenadas polares (r; θ; φ) dos vetores p~ e ~q.
~ = (6; 30o ; 60o ) e ~n = (8; 60o ; 30o ) escreva esses
5. Dados os vetores em coordenadas polares m
vetores em coordenadas cartesianas.
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1.2 Série binomial - Uma aproximação útil para binômios:

nx n(n − 1)x2
n
(1±x) = 1± ∓ ±...
1! 2!

aproximação válida na condição em que x << 1.


Uma boa aproximação para para esse binomio é:

(1±x)n ' 1± n x.

Podemos também usar as aproximações: tanθ = sinθ ' θ na condição especial em que θ é um
ângulo muito pequeno e medido em radianos:

cosθpeq. ' 1 e sinθpeq. ' θpeq. .

ex ' 1 + x e ln(1 + x) ' x.

1.3 Diferenciação e integração - A diferenciação é uma operação fundamental no


cálculo de valores de uma função em um de seus pontos. Geometricamente esta operação
tem por significado o coeficiente angular da reta que tange a curva no ponto considerado.
Já a integração, como uma operação que vem de um somatório, com infinitos termos, tem o
significado geométrico da área compreendida por uma curva entre dois pontos limites.
Algumas relações úteis do cálculo diferencial e integral:
A diferenciação de uma função polinomial f (X) = X n :

d n
X = nX n−1
dX
A integração de uma função polinomial f (X) = X m :

X m+1
Z
dX X m = +C
m+1

A integração definida de uma função polinomial:

b
bm+1 am+1
Z
dX X m = | − |
a m+1 m+1
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FUNÇÕES, DIFERENCIAÇÃO E INTEGRAÇÃO

1. Faça o esboço do gráfico das seguintes funções:


a) f (x) = x3 .
b) f (x) = x2 .
c) f (x) = x.
d) f (x) = 6.
e) f (x) = 0.

f) f (x) = + x.

g) f (x) = − x.
h) f (x) = ex .
i) f (x) = ln|x|.
j) f (x) = sinx.
k) f (x) = cosx.
2. Construa o gráfico das seguintes funções polinomias:
a) f (x) = x2 − 2.
b) f (x) = x2 − 5x + 6.
c) f (x) = −x3 + 2.
d) f (x) = −2x + 5.
e) f (x) = x4 .
f) f (x) = −x4 .
g) f (x) = −3.
h) f (x) = 1/x.
3. Calcule a f 0 (x) para as funções do exercı́cio número 2.
4. Calcule a f 0 (1) para as funções do exercı́cio número 2.
5. Determine:
a) Dado f (x) = x2 − 2, represente geometricamente a f 0 (2).
b) Dado f (x) = −x3 + 2, represente geometricamente a f 0 (2).
c) Dado f (x) = x2 − 5x + 6, encontre os valores de x para f 0 (x) = 0.
d) Dado f (x) = x2 − 5x + 6, represente geometricamente f 0 (x) = 0.
e) Dado f (x) = x3 − 3x, quais os pontos P (x0 ; yo ) são pontos extremos da f (x).
f) Dado f (x) = −x3 + 2x2 + 5, quais os pontos extremos da f (x).
6) Encontre as funções diferenciais do exercı́cio 1.
7) Encontre as funções integrais do exercı́cio 1.
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1.4 Derivadas parciais - Exemplo: Uma função importante na fı́sica é a função
periódica, tipo:
f (X, t) = A sin (kX − W t),

que é dependente do espaço (X) e do tempo (t).


1. A derivada de f (X, t) em relação ao espaço é:


(A sin (kX − W t)) = A k cos (kX − W t)
∂X

pois,

∂ ∂
(A sin (kX − W t)) = A ( (kX − W t)) cos (kX − W t) = A k cos (kX − W t).
∂X ∂X

2. A derivada de f (X, t) em relação ao tempo é:


(A sin (kX − W t)) = −A W cos (kX − W t)
∂t
pois,

∂ ∂
(A sin (kX − W t)) = A ( (kX − W t)) cos (kX − W t) = −A W cos (kX − W t).
∂t ∂t

1.5 Operador nabla e o gradiente - O operador nabla, é uma derivada direcional


d
( d~
r
). Num sistema referencial cartesiano, o operador nabla é:

~ ∂(...) ∂(...) ∂(...)


∇(...) =i +j +k .
∂x ∂y ∂z
~
Esse operador vetorial pode ser aplicado num campo escalar Φ ou num campo vetorial H
para gerar novos campos escalares ou vetoriais:
~ (Gradiente de Φ) → é um campo vetorial.
∇Φ
~ H
∇· ~ (Divergente de H)
~ → é um campo escalar.
~ H
∇× ~ (Rotacional de H)
~ → é um campo vetorial.

Observação: A derivada de um campo escalar, por exemplo uma função U = U (x, y, z),
em relação a uma, ou mais, das direções x,y ou z do espaço, pode ser chamada de ”gradi-
ente”da função U . Já a derivada de uma função S = S(t) em relação ao tempo t pode ser
chamada de ”taxa”ou ”fluxo”da função S.
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1.6 Constantes fı́sicas - Várias constantes universais são apresentadas neste texto: a
constante gravitacional G, a velocidade da luz c, a constante de Planck h e a carga elementar e.
Elas desempenham um papel central no jogo da interação (forças) entre partı́culas e portanto
são onipresente em teorias fı́sicas.

G = 6, 67×10−11 m3 /kg.s2 .

c = 2, 99×108 m/s.

h = 6, 62×10−34 J.s.

e = 1, 6×10−19 C.

Outras constantes:
Massa do elétron = 9, 11×10−31 kg.
Massa do próton = 1, 67×10−27 kg.

Algumas permissividades elétrica:


Ar (e vácuo) o = 8.85×10−12 C 2 /N m2 .
Agua = 717×10−12 C 2 /N m2 .
M ica = (27 − 54)×10−12 C 2 /N m2 .
V idro = (45 − 90)×10−12 C 2 /N m2 .
P olietileno = 20×10−12 C 2 /N m2 .

Permeabilidade magnética do vácuo:


µo = 4π×10−7 T m/A.

1.7 Unidades, múltiplos e submúltiplos - Para relatar uma grandeza fı́sica é


preciso escolher uma unidade de medida que necessita ser bem estabelecida. Na prática é
conveniente selecionar o menor número possı́vel de unidades de medidas diferentes. Um sis-
tema aceito internacionalmente (SI) é definido pelo conjunto das seguintes medidas oficiais:
1. O metro (m) para o comprimento.
2. O segundo (s) para o tempo.
3. O quilograma (kg) para a massa.
4. o ampère (A) para a intensidade de corrente elétrica.
10
5. o kelvin (k) para a temperatura.
6. a candela (cd) para a intensidade luminosa.
7. o mol (mol) para a quantidade de matéria.

Com as sete unidades definidas no (SI) medimos grandezas como:


velocidade em metro por segundo (m/s);
aceleração em metro por segundo ao quadrado (m/s2 );
força em newton (N ) onde, 1 N = 1 kg.1 m/s2 ;
trabalho em joule (J) onde, 1 J = 1 N.1 m;
potência em watt (W ) onde, 1 W = 1 J/1 s e muitas outras.

Alguns dos múltiplos e submúltiplos das unidades são:

múltiplos

T = 1×1012
G = 1×109
M = 1×106
k = 1×103
h = 1×102
da = 1×101

submúltiplos

d = 1×10−1
c = 1×10−2
m = 1×10−3
µ = 1×10−6
n = 1×10−9
p = 1×10−12
f = 1×10−15
a = 1×10−18

Unidades especiais: O angström (1Ao = 10−10 metro) muito usado em biologia, e o


elétron-volt (1 eV = 1, 6×10−19 joule) muito usado na área de energias eletromagnéticas.
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1.8 Interações fundamentais - Um dos objetivos principais da fı́sica é descrever
as forças que um corpo (ou uma partı́cula) exerce sobre outro. De forma mais geral fala-se
de interação entre dois corpos. Na fı́sica newtoniana conhecı́amos as forças mecânicas como
a atração gravitacional, a interação entre o sol e a terra e o peso dos corpos, as forças nos
pêndulos, as forças de contacto entre dois corpos e ainda, entre outras, as forças elásticas rela-
cionadas com molas. Em seguida, no desenvolvimento do eletromagnetismo, verificou-se que
as forças mecânicas não são fundamentais, mas resultam de forças elétricas entre átomos que
constituem a matéria. Aliás, até o fim do século XX, pensava-se que as forças elétricas e as
forças magnéticas eram forças distintas. A partir das quatro equações de Maxwell do eletro-
magnetismo, sabe-se que estas duas forças são intimamente ligadas e constituem somente dois
aspectos de um mesmo fenômeno denominado de interação eletromagnética. Uma fı́sica mais
recente, a Mecânica Quântica, possibilita descrever as partı́culas que constituem o átomo e
introduz o modelo de objeto dual em que todas essas partı́culas fundamentais são ondas, e
todas as ondas são partı́culas. O desenvolvimento da teoria quântica, em 1920, baseia-se em
objetos duais que obdecem a um princı́pio, o princı́pio de incerteza de Heisenberg, que afirma
que não se pode saber com precisão simultânea onde está a partı́cula e para onde está indo
a onda. No universo quântico do núcleo atômico, as forças dominantes entre partı́culas são
sempre atrativas e muito mais intensas que as forças de natureza eletromagnética e gravita-
cional.
Chama-se interação fundamental toda a interação que não pode ser explicada a partir de outra
interação. Assim, a explicação e a descrição das interações fundamentais entre partı́culas el-
ementares constituem os problemas de base das teorias modernas da matéria.
Conhece-se hoje quatro interações fundamentais: a interação gravitacional, a interação
eletromagnética, a interação fraca e a interação forte. Enquanto os dois primeiros tipos
de interação nos são bastantes familiares as outras duas têm papéis importantes nos processos
nucleares como, decaimento radioativo e colisões nucleares nos acelerados de partı́culas. A
interação forte é responsável pela coesão dos constituintes nucleares como neutrons e prótons.
A interação fraca se manifesta em certas colisões de partı́culas como o neutrino que dá origem
a desintegração de um neutron, liberando radiações β do núcleo, nas reações de fissão nuclear.

Uma das grandes metas da fı́sica teórica atual é a construção de uma teoria quântica da
gravitação, isto é, a elaboração de uma teoria que contenha ao mesmo tempo os princı́pios da
teoria da relatividade de Einstein (quadridimensional) e os da mecânica quântica. Essa teoria
necessita descrever o comportamento de dois objetos básicos, os fótons para a transmissão das
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ondas eletromagnéticas e os grávitons para a transmissão de ondas gravitacionais. Como o
fóton (spin 1), o gráviton (spin 2) deve ter uma massa nula e se deslocar com a velocidade da
luz. Uma das grandes dificuldades da teoria quântica da gravitação está inicialmente, porque
os grávitons e as ondas gravitacionais ainda não puderam ser observadas, nos laboratórios de
alta energia (CERN em Genebra e FERMILAB em Chicago) e ainda porque ela quase sempre
prediz a existência de forças infinitas.
Duas grandes teorias fı́sica do século XX, a teoria de Einstein sobre a gravitação e a teoria
de Maxwell para o eletromagnetismo são teorias clássicas. Uma teoria unificada busca a con-
strução da teoria quântica da gravitação através de um único objeto. Fı́sicos e matemáticos
modelaram num único objeto corda, supercordas vibrantes em mais de dez dimensões uma
descrição que tende a unificar as quatro interações fundamentais.
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1B MECÂNICA CLÁSSICA
Fı́sica para as Ciências Agrárias - Caderno-1 MECÃNICA CLÁSSICA
Professor Cesar Lobo

2. MECÂNICA CLÁSSICA:
2.1 Movimento de translação e rotação.
2.2 Leis de Newton.
2.3 Procedimentos com as Leis de Newton.
2.4 Leis de conservação.
2.5 Momento de inércia.
2.6 As condições para o equilı́brio.
2.7 As equações da mecânica.

2.1 Movimento de translação e rotação - Os movimentos são descritos em relação


a um dado referencial e portanto eles não têm um caracter absoluto. Chama-se referencial um
sistema de eixos dependentes de um observador munido de uma medida de tempo e de uma
medida de distância. Um vetor representando uma posição, uma velocidade, uma aceleração,
uma força ou outra coisa é definido no referencial. De acordo com a simetria do fenômeno a
ser estudado e sobretudo segundo sua escala de tamanho, utiliza-se referenciais especı́ficos. A
escolha de um referencial apropriado, que pode ser exprimido por suas componentes, simpli-
fica a descrição do fenômeno. O referencial pode ser fixado no objeto de estudo (referencial
móvel) ou num lugar do espaço (referencial fixo) pode ter uma simetria retangular, esférica,
cilı́ndrica ou outra qualquer.
Um referencial é inercial ou galileano se seu movimento é retilı́neo e uniforme (M.R.U.) ou
seja, de aceleração nula, as leis da Mecânica Clássica são verificadas. Um referencial ligado
ao planeta Terra não é certamente um referencial inercial, pois a Terra tem movimento de
rotação, movimento de translação em torno do Sol e como todo o sistema solar gira em torno
do centro de nossa galáxia. No entanto, um grande número de experiências de laboratório,
fixo na Terra, podem ser levadas a cabo como se esse referencial fosse inercial, pois os efeitos
ligados a rotação do planeta são desprezı́veis.
Define-se um movimento de translação como o deslocamento de um corpo em cuja trajetória
mantém, em todos os instantes, uma reta-eixo a ele associado sempre paralelo a sua posição
inicial.
Define-se a rotação como o movimento de um corpo em torno de um eixo fixo material ou
fictı́cio. O eixo de rotação pode ou não atravessar o corpo. Cada ponto do corpo em rotação
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descreve, ao longo do tempo, um cı́rculo cujo centro pertence ao eixo de rotação.
A direção dos vetores velocidade e aceleração de um ponto em rotação varia continuamente,
sem cessar. O vetor velocidade, velocidade linear ou tangencial, é sempre tangente a trajetória
do movimento. Quando o movimento é curvo qualquer e não uniforme, a direção e a intensi-
dade do vetor velocidade são modificados continuamente por uma aceleração que apresenta-se
em duas componentes:
A aceleração tangencial (linear) tem atuação sempre tangente a trajetória do movimento e
é responsável por modificar o módulo da velocidade. A aceleração radial, perpendicular à
velocidade tangencial, é suportada pelo raio R da curva e dirigida sempre para o centro. No
caso de um um movimento circular a intensidade da aceleração radial vale v 2 /R, aceleração
centripita, onde v é o módulo da velocidade e R a distância ao eixo de rotação.

2.2 Leis de Newton - A Dinâmica é um ramo da Mecânica Clássica que visa es-
tabelecer as relações entre as forças que atuam sobre um corpo e o conseqüente movimento
deste. A Estática é o ramo da Mecânica que procura estabelecer o equilı́brio dos corpos.
A Cinemática, outro ramo da Mecânica, que se contenta em descrever os movimentos. A
Dinâmica se fundamenta em três princı́pios: O italiano Galileu, em 1638, foi quem percebeu
o primeiro destes princı́pios mas foi o inglês Isaac Newton, em 1687, quem os enunciou:
1. O princı́pio da Inércia. Este princı́pio estabelece que uma partı́cula livre, isolada no
espaço, e portanto sem força alguma atuando sobre ela, permanece em repouso ou em movi-
mento retilı́neo uniforme (M.R.U.).
2. O princı́pio fundamental da Dinâmica. O princı́pio fundamental da dinâmica (P.F.D.)
diz que a variação do vetor velocidade de uma partı́cula no tempo, ou seja a sua aceleração
~a, é igual à resultante de todas as forças externas, F~R = ΣF~ , exercidas sobre a partı́cula,
dividida pela sua massa m, e tem a mesma direção e sentido da força resultante, ~a = F~R /m.
O princı́pio fundamental da Dinâmica também pode ser apresentado como:

d~v d(m ~v ) d~p


F~R = m ~a = m = = .
dt dt dt

A quantidade p~ é definido como momento linear ou quantidade de movimento da partı́cula


~ causado pela força
(~p = m ~v ). Sendo que a variação do momento linear é igual ao impulso I,
resultante ao agir na partı́cula num certo intervalo de tempo

∆~p = F~R ∆t = I.
~
15
3. O princı́pio da ação e reação. Esse princı́pio diz que a cada ação corresponde uma
reação igual e oposta.
Considerando a interação entre duas partı́culas A e B, a força F~AB exercida pela
partı́cula A sobre B tem o mesmo módulo e sentido contrário da força F~BA que B exerce sobre
A, ou seja
F~AB = − F~BA .

4. A lei da gravitação universal. A quarta lei de Newton diz que a força de atração,
operando entre duas massas, é proporcional ao produto das massas dividido pelo quadrado
da distância entre elas, a igualdade é obtida quando tudo é multiplicado pela constante G,
conhecida como constante da gravitação universal.
A lei do inverso do quadrado da distância, lei da gravitação, é igualmente válida tanto para
as interações microscópicas (ex. entre partı́culas) como para interações macroscópicas (entre
galáxias)
MA MB
|F~AB | = | − F~BA | = G .
|~rAB |2
Tomando por exemplo, a interação entre a Terra (corpo A de massa MT ) e a maçã (corpo
B de massa m), podemos afirmar que a Terra puxa a maçã e a maçã puxa a Terra com
mesma intensidade de força que é o próprio peso da maçã, |F~AB | = | − F~BA | = m g. Com o
campo gravitacional, g(R) = G MT /RT 2 ou aceleração gravitacional, sendo G a constante da
gravitação universal e RT o raio da Terra.
A gravidade ~g atua em cada uma das partı́culas que constitui um corpo e não podemos afirmar
que existe uma única força capaz de produzir o mesmo efeito sobre o corpo. Contudo, para
simplificar, podemos considerar a existência de uma única força gravitacional, equivalente,
P~ = m ~g (peso do corpo), que é uma força resultante sempre aplicada num bem determinado
ponto do corpo chamado de centro de gravidade (C.G.). Quando a aceleração local da gravi-
dade (~g ) é a mesma em todos os pontos de um corpo, o centro de gravidade coincide com um
ponto denominado de centro de massa (C.M.).

O centro de massa (C.M.) de um sistema de partı́culas é um ponto no qual a


~ é dado por:
matéria se distribui da forma mais eqüitativa, e cujo posição (R)

~ CM = P1
X
R mi~ri ,
i mi i

onde a soma é feita sobre todos as partı́culas que compõem a distribuição de massa.
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No caso de uma distribuição linear de massas (com massa total M) temos,

1X
XCM = mi Xi .
M i

Para obter o conceito de centro de massa de um corpo rı́gido trocamos a operação so-
P R
matório ” ”por uma operação de integração ” ”, definida no volume do corpo (de densidade
ρ = dm/dV ),

Z
~ CM = 1
R ~r dm.
M
A dinâmica se faz a partir do produto da massa total do corpo rı́gido, ou do sistema de
partı́culas, pela a aceleração do centro de massa que é igual à força resultante de todas as
forças que agem no corpo ou no grupo de partı́culas considerado.

2.3 Procedimentos com as Leis de Newton - É sempre útil ter um procedimento


em mente para resolver problemas da mecânica clássica envolvendo a 2a L.N.:

ΣF~ = m ~a = F~1 + F~2 + F~3 + ....

1. Identificar o corpo objeto de estudo (partı́cula);


2. Identificar a vizinhança desse objeto (Terra, planos inclinados, cordas, molas, etc.);
3. Adotar um sistema referencial inercial apropriado ao problema;
4. Construir um diagrama de corpo-livre do objeto de estudo onde está representado veto-
rialmente todas as interações envolvidas no problema;
5. Aplicar a 2a Lei de Newton onde, na maioria das vezes, o problema é em 2D se resume à:

ΣFy = m ay ΣFx = m ax

OBS.: Preferencialmente trabalhe no sistema internacional de unidades (S.I.).

2.4 Leis de conservação - Uma lei de conservação estabelece que ao longo de um


processo fı́sico que venha a ser desenvolvido, existe uma quantidade fı́sica que permanece
invariante. Na fı́sica as mais importantes leis de conservação estão associadas à energia, ao
momento linear e ao momento angular.
A energia é uma grandeza fı́sica de grande importância pois quase todos os fenômenos que
17
ocorrem na natureza podem ser interpretados como transformações da energia. A energia
pode-se apresentar sob inúmeras formas (qualidades), que se transformam continuamente
umas nas outras. Em qualquer processo a energia jamais desaparece ou surge do nada,
mas sempre se transforma, ou seja muda continuamente de qualidade. Se medirmos todas as
quantidades de energia envolvida num processo, constataremos que a energia total se conserva.
Esse é o enunciado mais geral da lei de conservação de energia.
Com bases no conhecimento que temos do universo podemos afirmar que a quantidade de
energia envolvida no Big Bang, a grande explosão que originou o universo, data de 10 a 15
bilhões de anos atrás, é a energia que o universo contém e essa quantidade permanecerá no
futuro.
Nossos alimentos contêm energia interna armazenada sob a forma de ligações quı́micas. Essa
energia interna sofre transformações que permite manter a temperatura de nosso corpo mais
alta que a do ambiente, além de fornecer energia mecânica (que serve para pulsar o coração,
respirar, caminhar,...).
Em uma central nuclear, por exemplo, a energia nuclear armazenada nos núcleos de urânio se
transforma primeiramente em energia interna de vapor de água, depois em energia mecânica
e finalmente em energia elétrica.
Para enunciar a conservação da energia mecânica (total) temos que definir trabalho mecânico,
energia cinética, a força conservativa e a energia potencial.
Consideremos uma força variável qualquer F~ = F~ (~r) e suponhamos que ela atue em um corpo
fazendo-o deslocar-se da posição inicial ri = a até a posição final rf = b. Calcula-se o trabalho
Wab por meio da integral definida Z b
Wab = F~ d~r.
a

Podemos considerar uma força constante que atua numa direção θ com o deslocamento
(direção X), calcula-se o trabalho por Wab = F ∆X cosθ.
Para simplificar mais consideramos, uma força constante e paralela (mesma direção e sentido)
ao deslocamento, calcula-se o trabalho por Wab = FX ∆X.
Um trabalho infinitesimal pode ser escrito como; dW = m a dx = m v dv. Dessa relação sai
um importante teorema W = ∆K e a definição da energia de movimento, a energia cinética,
(K = 21 m v 2 ).
Portanto, na ausência de forças externas, o trabalho pode ser determinado por meio da
18
variação da energia cinética do corpo,

1 1
W = m vf 2 − m vi2.
2 2

A realização de um trabalho envolve sempre variação de algum tipo de energia W = ∆E =


E f − E i onde E f e E i representam a energia do corpo no estado final e estado inicial, respec-
tivamente.
Num sistema fı́sico constituı́do por um corpo (objeto de estudo) e sua vizinhança estando su-
jeito, exclusivamente, a existência de forças internas (conservativas) como as forças do campo
gravitacional, P = M g, e a força elástica, F (X) = −k X, para cada uma dessas forças
conservativas definimos uma qualidade de energia potencial U (X) respectivamente, a energia
potencial gravitacional e a energia potencial elástica. A relação entre a energia potencial e a
força vem da equação:
d
F (X) = − U (X).
dX
A energia cinética e a energia potencial são as duas formas em que a energia mecânica pode
se manifestar. Durante o movimento de um objeto essas energias assumem valores que, em
geral variam de um instante para outro, caracterizando estados. Em cada estado, que pode
ser configurado por ”j”, o objeto têm então, uma energia cinética Kj , uma energia potencial
Uj (X) de forma que sua energia mecânica total é

Emj = Kj + Uj (X).

O trabalho que a força conservativa produz conserva sempre a energia mecânica.


A lei de conservação da energia mecânica ”∆Em = Emf − Emi = 0”pode ser escrita como

∆K = −∆U (X),

assim, qualquer variação da energia cinética corresponde a uma igual variação (em módulo)
da energia potencial.
Quando podemos desprezar as forças de atrito, considerando só as forças conservativas, o
trabalho para movimentar um corpo da posição inicial ”1”para a posição final ”2”, independe
da trajetória seguida, só depende das posições inicial e final, ou seja, W12 = −[U2 − U1 ].
O atrito não é uma força conservativa (dissipa energia mecânica). No mundo macroscópico
o atrito é uma força inevitável. Num movimento relativo entre dois corpos em contato, nas
19
superfı́cies que deslizam (escorregam), um em relação ao outro, uma quantidade de energia
mecânica é sempre dissipada, mas essa quantidade não desaparece, vamos reencontrá-la trans-
formada em energia interna das moléculas postas em atrito, aumentando a temperatura dos
corpos em contatos.
Por meio de um número que é relativo às duas superfı́cies em contato, o coeficiente de atrito
(µ), podemos avaliar a força de atrito que se contrapõe ao movimento de velocidade constante,
ou a tendência desse movimento, entre essas superfı́cies por:

f = µN

onde N é a normal, uma força de reação ao peso suportado por uma superfı́cie. O coeficiente
de atrito pode ser estático µe (que é variável de acordo com a força que causa tendência ao
movimento) ou cinético, um coeficiente de escorregamento para velocidades constantes. Em
geral µc é muito menor que coeficiente de atrito estático máximo. Um corpo em queda num
fluido pode sofrer um atrito proporcional a uma potência da velocidade de queda.
Considerando um sistema isolado constituı́do por duas ou mais partı́culas em movimento
aleatório (browniano) é importante considerar a existência de colisões que se efetuam entre
essas partı́culas. Numa colisão, as forças internas envolvidas, são em geral, bem mais intensas
que as forças gravitacionais e os possı́veis atritos envolvidos. Considerando somente as inten-
sas forças internas de colisão, a quantidade de movimento vetorial total deve ser conservada,
ou seja a quantidade de movimento do sistema antes e depois da colisão deve ser a mesma.
A conservação do momento linear total do sistema faz com que as colisões entre partı́culas
ocorram sempre com transferência de momento linear de uma partı́cula para outra.

Quanto ao comportamento da energia cinética, as colisões podem ser classificadas


como:
Colisão inelástica é um processo onde as partı́culas participantes da colisão alteram suas
massas, se fundem, resultando em diminuição da energia cinética total do sistema.
Colisão elástica é um processo onde as partı́culas em colisão mantém suas massas individ-
uais e conseqüentemente conservam energia cinética total do sistema.
Com as leis de Newton, pode-se descrever e predizer a dinâmica da partı́cula, dos sistemas
constituı́dos de muitas de partı́culas e de um corpo rı́gido. Assim como descrever a queda
dos corpos, a oscilação do pêndulo o escoamento da água e gases (fluidos) estas leis servem
igualmente para descrever o movimento dos planetas em torno do sol e até mesmo a dinâmica
20
das galáxias.
No final do século XX, diversas conclusões tiradas das leis de Newton estavam em profundo
desacordo com as outras tiradas do eletromagnetismo e das experiências atômicas conhecidas.
Em conseqüência disto surgem duas teorias mais gerais e menos usuais na nossa escala, a
Teoria da Relatividade e a Mecânica Quântica.
Quando as velocidades dos movimentos são comparáveis à da luz e os efeitos gra-vitacionais
(ou aceleração) são muito intensos, a Mecânica Clássica perde lugar para a dinâmica rela-
tivı́stica de Einstein. A quantização de Bohr, o comprimento de onda material de De Broglie,
o princı́pio da incerteza de Heisenberg e outras teorias são fundamentais na descrição de sis-
temas com dimensões das moléculas, átomos, elétrons e das partı́culas nucleares.
Portanto, somente para os objetos, que têm dimensões muito maiores que as moléculas, que
se deslocam com velocidade muito menores que a velocidade da luz e estão fora da gravidade
intensa, a dinâmica clássica de Newton é plenamente satisfatória.

2.5 Momento de inércia - O conhecimento do momento de inércia permitem esta-


belecer a energia cinética de rotação e as equações do movimento de rotação.
O momento de inércia de um corpo em relação a um eixo, mede a inércia do corpo em rotação
em torno deste eixo. O momento de inércia (I) de um ponto material é definido pelo produto
de sua massa pelo quadrado de sua distância ao eixo de rotação, I = m r2 .
O momento de inércia total de um sistema de n pontos materiais, em rotação, de massas m1 ,
m2 , m3 , ....,mn em relação aos seus distintos eixos é:

I = m1 r12 + m2 r22 + m3 r32 + ....mn rn2

onde r1 , r2 , r3 , ....,rn são as distâncias dos pontos materiais em relação aos seus respectivos
eixos de rotação.
Para uma distribuição contı́nua de massa, em cada ponto do corpo, define-se um pequeno
elemento de massa dm. O momento de inércia deste pequeno elemento é dI = dm r2 .
O momento de inércia total do corpo, de distribuição de massa contı́nua, se obtém fazendo a
soma, sobre o volume total do corpo, dos momentos de inércia elementares de cada um dos
R R
pequenos elementos de massa constituinte, I = m dI = m dm r2 .
O momento de inércia de um cilindro homogêneo de massa M , raio R e altura H, e con-
seqüentemente densidade ρ = M/(π R2 H), em torno de seu eixo central é calculado a partir
de dm = ρ dV = 2π ρ r H dr onde r cresce de 0 à R no volume V do cilindro. Temos, então,
21
para o cilindro homogêneo:
Z R
1
I= r2 (2π ρ r H) dr = M R2 .
0 2

2.6 As condições para o equilı́brio - As condições para o equilı́brio de um corpo


rı́gido, sólido, são duas:
1. A condição de equilı́brio translacional que se estabelece quando a força resultante, que
atua num corpo, é nula.
2. A condição de equilı́brio rotacional que se estabelece quando o torque resultante, que atua
num corpo, é nulo.
Para estabelecer o equilı́brio das forças e o equilı́brio dos torques de um corpo rı́gido, num
sistema referencial inercial, necessitamos escrever a 2a Lei de Newton para os movimentos
de translação e rotação:
O movimento de translação de um corpo é governado pela forma linear da 2a Lei de Newton,
dada pela equação
X d~p
F~ = .
dt
onde, p~ = m ~v , o produto da massa do corpo pela velocidade é o momento linear do corpo.
O movimento de rotação de um corpo é governado pela forma angular da 2a Lei de Newton,
onde o torque é dado pela equação:
X ~
dL
~τ = .
dt
~ = I w,
onde, L ~ o produto do momento de inércia do corpo pela velocidade angular é o mo-
mento angular do corpo.

Lembrando aqui algumas relações importantes:


~ e momento linear p~
Entre momento angular L

~ = ~r×~p.
L

Entre torque ~τ e força F~


~τ = ~r×F~ .
22
Equilı́brio das forças:
A condição de equilı́brio de translação, exige que a soma vetorial de todas as força externas
sobre o corpo tem que ser nula, ou seja

X
F~ext = 0.

Outras formas de enunciar a condição de equilı́brio de translação, equilı́brio estático, são dizer
que a aceleração linear do centro de massa é nula, ~acm = 0, ou que o momento linear total é
constante
p~ = constante.

Equilı́brio dos torques:


A condição de equilı́brio de rotação, exige que a soma vetorial de todos os torques externos
sobre o corpo tem que ser nulo, ou seja

X
~τext = 0.

Outras formas de enunciar a condição de equilı́brio de rotação, são dizer que a aceleração
angular do centro de massa é nula, α
~ cm = 0, ou que o momento angular total é constante

~ = constante.
L
23
2.7 As equações da mecânica -

Cinemática de translação
Vetor posição ~r(t)
d
Velocidade linear (ou tangencial) ~v (t) = dt
~r(t)
d
Aceleração linear (ou tangencial) ~a(t) = dt
~v (t)

Cinemática de rotação
~
Posição angular Θ(t)
d ~
Velocidade angular ω
~ (t) = dt
Θ(t)
d
Aceleração angular α
~ (t) = dt
ω
~ (t)

Uma relação importante: S = Θ r

2a Lei de Newton para a translação


Massa (inércia de translação) m
Momento linear (quant. de mov.) p~ = m ~v
Força e a 2a Lei de Newton ΣF~ = m ~a = d
dt
p~(t)

2a Lei de Newton para a rotação


R
Momento de inércia de um corpo rı́gido I = dm r2
(de um sistema de partı́culas I = Σi mi ri2 )
Momento angular ~ =I ω
L ~
d~
Torque e a 2a Lei de Newton Σ~τ = I α
~= dt
L(t)

Dinâmica de translação
Trabalho W = d~r.F~
R

Energia cinética K = 21 m v 2
Teorema trabalho-energia W = ∆K

Dinâmica de rotação
~ τ
R
Trabalho W = dΘ.~
Energia cinética Krot. = 21 I ω 2
Teorema trabalho-energia W = ∆Krot.
24
2A FLUIDOS
Fı́sica para as Ciências Agrárias - Caderno-2 FLUIDOS E TERMODINÂMICA
Professor Cesar Lobo

1. ELASTICIDADE E TENSÕES:
1.1 As forças intermoleculares.
1.2 Elasticidade, Módulo de Young (Y ).
1.3 Módulo de Rigidez (n).

1.1 As forças intermoleculares - A matéria é feita de moléculas de modo análogo


como a areia é feita de grãos. A consistência material, por exemplo um pedaço de madeira,
acontece porque as moléculas da madeira, quando estão muito próximas, se atraem mutua-
mente.
Uma força de origem elétrica é que mantém unidas as moléculas de uma substância sólida,
impedindo-as de se afastar umas das outras, essa força se chama força intermolecular. Para
duas moléculas cujos centros estão à distância d, as forças intermoleculares são atrativas
quando d é maior do que a dimensão do (cerca de 10−9 m) das próprias moléculas, a medida
que a distância d aumenta as forças intermoleculares reduzem praticamente a zero (cerca de
10−7 m). Entretanto, quando as moléculas estão tão próximas que uma começa a invadir a
zona ocupada pela outra, (d < d0 ) as forças moleculares se tornam repulsivas.
As forças intermoleculares são responsáveis por certas propriedades da matéria que são bas-
tantes conhecidas, por exemplo, a coesão dos sólidos, ou seja o ato de um sólido oferecer
resistência à ruptura se deve à atração entre moléculas que o constituem.
No interior de todo corpo, seja ele sólido, lı́quido ou gasoso, as moléculas não permanecem
imóveis, mas estão em contı́nuo movimento e se agitam com uma energia que cresce quando
a temperatura do corpo aumenta. Esse movimento molecular incessante é conhecido como
agitação térmica.
A relação entre o efeito da força de coesão e a energia de agitação molécular, energia cinética,
vão influenciar no grau de agregação entre moléculas. Se o efeito da coesão é preponder-
ante sobre a agitação molecular, as moléculas permanecem ligadas, limitando-se a oscilar em
torno de suas posições de equilı́brio. Um corpo assim constituı́do não pode mudar de forma
espontaneamente, e é chamado de corpo sólido. Um sólido é formado uma estrutura unitária
tridimensional, um retı́culo, que se repete de forma ordenada constituindo uma rede, a rede
cristalina. A distância entre dois átomos num retı́culo podem ser observadas com raios X.
Num lı́quido a agitação molecular supera ligeiramente a coesão, sem que a distância inter-
25
molecular varie muito, e assim as moléculas conseguem deslizar umas sobre as outras.
Se a energia de agitação das moléculas for grande a ponto de superar completamente o efeito
das forças de coesão, as moléculas poderam mover-se livremente, vagando por todo o espaço
disponı́vel, colidindo, saltando e sofrendo desvios. Uma substância nessas condições é um gás.

1.2 Elasticidade, Módulo de Young (Y ) - A partir da noção intuitiva de força dis-


cutiremos os esforços, ou tensões, em meios materiais. Nos limitaremos a discutir substâncias
isotrópicas, homogêneas, isto é, os materiais envolvidos são uniformes, apresentam um mesmo
comportamento em qualquer que seja a direção escolhida. Os sólidos ideais são objetos rı́gidos.
Os sólidos reais não são perfeitamente rı́gidos, são compressı́veis, são deformáveis. Os sólidos
e lı́quidos são menos compressı́veis que os gases.
A lei de Hooke, F = k x, descreve a relação entre a força aplicada (F ) e a elongação (x) por
ela produzida numa mola, ou fio. A constante k é uma constante de proporcionalidade entre
a força e a elongação. O trabalho total realizado para produzir uma elongação finita da mola
é Z x
1
W = k x dx = k x2
0 2
Em todos os casos reais, a lei de Hooke nunca é exatamente obedecida. Uma quantidade um
pouco maior de trabalho é realizado em deformar o material, do que o que devolve quando
volta à sua forma inicial.
A lei de Hooke também estabelece uma relação entre a tensão (força por área) e a deformação
(variação de volume por unidade de volume) produzida no corpo:

F/A
= constante
[−∆V /V ]

onde [−∆V /V ] é uma variação especı́fica de volume devido às tensões que produzem diminuição
de volume. A constante é o módulo de elasticidade, conhecida como Módulo de Young (Y ),
nome este introduzido por Thomas Young.
Dobrando, torcendo, esticando ou cisalhando podemos causar alguma alteração nas posições
relativas dos grupos moleculares dentro do sólido.

Todo o sólido real pode ter seu volume reduzido e sua forma modificável pela aplicação
de grandes forças externas mas, depois que a força é removida, o corpo volta para o seu vol-
ume ou forma original. As forças externas, aplicadas em um sólido, provocam o aparecimento
de forças internas que reagem contra e resistem às forças aplicadas. As forças internas, de
26
oposição as forças aplicadas, promovem condições de equilı́brio estático, isto é, não produzem
acelerações no sólido.
As forças aplicadas sobre as superfı́cies dos extremos opostos do corpo, e que provocam de-
formações e costumam ser designadas sob o nome comum de ”tensões”e são classificadas como
tração, compressão e cisalhamento.
Tração é uma tensão ocasionada por forças paralelas, de mesma intensidade e em sentidos
opostos mas promovendo o alongamento do corpo.
Compressão uma tensão ocasionada por forças paralelas, de mesma intensidade e sentidos
opostos mas promove a diminuição do comprimento do corpo.
Cisalhamento também é uma tensão ocasionada por forças paralelas, de mesma intensidade
e sentidos opostos mas em diferentes linhas de atuação promovendo alteração na forma do
corpo mas sem mudar seu o volume.
Em uma linguagem coloquial poderı́amos dizer que uma tração alonga o objeto sólido, a com-
pressão o encolhe, enquanto o cisalhamento o faz retorcer.

1.3 Módulo de Rigidez (n) - Quando forças tangenciais de igual módulo e direção
porém de sentidos contrários, são aplicadas, em um paralelepı́pedo sólido, de modo a promover
alteração de forma sem alteração de volume (faces normais às forças sofrem deslocamento an-
gular medido por um pequeno ângulo φ), ângulo de cisalhamento. Para estas forças definimos:
Esforço de Cisalhamento (F/A) dividindo a força tangencial aplicada F pela área A da
superfı́cie que se desloca.
Deformação de Cisalhamento (s/l) dividindo o corrimento s (distância que se desloca a
face superior em relação a face inferior) pela altura l do paralelepı́pedo. Como s/l é, normal-
mente , muito pequeno, podemos considerá-lo igual ao ângulo de cisalhamento φ (expresso
em radianos).
Módulo de Rigidez (n) é o Esforço de Cisalhamento dividido pela Deformação de Cisal-
hamento,
F/A F
n= = .
s/l Aφ
27
2. FLUIDOS:
2.1 Definição de fluido.
2.2 Viscosidade (η).
2.3 Módulo Volumétrico (B).
2.4 Pressão e pressão parcial.
2.5 Princı́pios de Arquimedes, empuxo.
2.6 Tensão superfı́cial, ação capilar.

2.1 Definição de fluido - Os fluidos são os lı́quidos e os gases. Fluidos são substâncias
cujo volume toma a forma de seus recipientes, são capazes de escoar e apresentam um grau
de compressibilidade.
Quanto ao escoamento um fluido é classificado em: permanente, laminar e turbulento. A
velocidade de escoamento de um fluido, considerando os pontos de uma mesma secção da
tubulação, pode variar em módulo e direção.
Num escoamento permanente de um fluido ideal, não viscoso, todos os pontos de uma mesma
secção da tubulação têm a mesma velocidade. Num escoamento laminar, viscoso, a veloci-
dade, numa mesma secção, é também sempre paralela a tubulação mas, é máxima no eixo
central e vai gradativamente diminuindo até praticamente anular-se nas paredes da tubulação.
Num escoamento turbulento, considerando os pontos de uma mesma secção da tubulação, a
velocidade varia sempre em valor e direção.
Os fluidos quando em equilı́brio, não apresentam resistência às forças tangenciais ou cisal-
hantes.
Os gases expandem-se até ocupar totalmente o volume disponı́vel do recipiente e são alta-
mente compressı́veis. Já os lı́quidos são praticamente incompressı́veis, densidade constante,
ocupam volumes definidos e têm superfı́cies livres e conseqüentemente possuem uma tensão
superficial que afeta as condições estáticas e de escoamento de pequenas passagens. Para
o estudo de fluidos nas condições de equilı́brio ou no escoamento as primeiras propriedades
importantes a ser consideradas são:
Massa Especı́fica ou Densidade Absoluta (ρ) é a razão entre a massa do fluido (m) e o
volume (V ) que contém essa massa,

m
ρ= [kg/m3 ].
V
28
Densidade Relativa é a razão entre a massa especı́fica de uma substância (ρX ) e a
de outra (ρo ), como por exemplo a água, tomada como referência,

ρX
δ= [adimensional].
ρo

Peso Especı́fico (γ) é o quociente entre o peso do fluido (W = m g) e o volume (V ) que o


contém,
W
γ= [N/m3 ].
V
Volume Especı́fico (VS ) é definido como sendo o inverso do peso especı́fico,

1
VS = [m3 /N ].
γ

Força de fricção - Para definir a viscosidade começaremos introduzindo uma força tı́pica
dos fluidos, a força de fricção (fr ). Colocando-se um corpo esférico, de raio rb , em queda
livre dentro de um lı́quido, o lı́quido oferecerá uma resistência (fricção) que é proporcional ao
raio e a velocidade vb dessa esfera. A força de fricção cresce com a velocidade de queda até
cancelar a força peso da esfera. De acordo com Stokes, essa força de fricção para o regime
laminar, e só para o regime laminar, é dada por:

fr = 6π vb rb η [N ].

Nessa equação η é uma propriedade do fluido denominada de viscosidade absoluta.

2.2 Viscosidade (η) - Os fluidos estão sujeitos há dois tipos de esforços: os de
massa, devido ao campo gravitacional, e os de superfı́cie, também denominados esforços de
contato, que se desenvolvem através do contato entre porções fluidas adjacentes. Os esforços
de superfı́cie, são aqueles que ocorrem quando uma força (∆F~ ), atuando sobre uma pequena
área (∆A) da superfı́cie do volume do fluido, pode ser desmembrada em suas componentes
normal (∆F~N ) e tangencial (∆F~T ). Para essas componentes definimos:
Tensão de Cisalhamento τ = (dFT /dA) é a componente tangencial da força dividido pela
área.
Tensão Normal ou Pressão P = (dFN /dA) é a componente normal da força dividido pela
área.
A viscosidade de um fluido, chamado de fluido Newtoniano, é uma propriedade que determina
29
o grau de sua resistência às forças cisalhante.
Como ilustração podemos imaginar um baralho com suas varias cartas (placas) separadas
por uma distância y, consideremos que esse espaço é ocupado por um fluido. Na pilha de
placas a carta superior está livre para a atuação de uma força cisalhante e assim mover-se com
velocidade, o fluido aderente na placa superior move com a mesma velocidade desta placa. A
velocidade da placa e do fluido aderente, na pilha de placas, vai diminuindo à medida que a
altura da posição da placa diminui até a última placa, a placa inferior, que permanece fixa,
em repouso. Para uma força cisalhante proporcional à área da placa, a experiência mostra
uma relação linear, entre a distância y entre placas e a velocidade transversal v de escoamento
das placas no fluido.
A relação entre a tensão cisalhante (τ ), e o gradiente de velocidade (dv/dy) num fluido
Newtoniano é proporcional a uma propriedade do fluido, denominada de viscosidade (η),

dv
τ =η [N/m2 ].
dy

Uma definição útil para fluidos é conhecida por coeficiente cinemático de viscosidade υ, que
é a razão entre a viscosidade absoluta e a densidade do fluido

η
υ= [m2 /s].
ρ

Em relação a um aumento de temperatura num fluido vemos que, a viscosidade dos lı́quidos
diminui em quanto a viscosidade do gás aumenta. As variações de pressão praticamente não
alteram a viscosidade de um fluido.

2.3 Módulo de Elasticidade Volumétrica (B) - Quando uma variação de pressão


produz uma variação de volume num gás, podemos escrever o módulo volumétrico como:

∆P V ∆P
B= =− [N/m2 ].
−[∆V /V ] ∆V

Uma vez que o volume especı́fico é uma grandeza adimensional, a constante B é medido em
unidades de pressão, no SI, 1N/1m2 é denominado de Pascal (P a).
O tipo de deformação que envolve apenas variações de volume se aplica também para os sólidos
e os lı́quidos, os lı́quidos são altamente incompressı́veis, necessitam de grandes variações de
pressão para produzir variações pequenas de volume.
30
Para os gases, o valor do módulo de elasticidade depende do processo termodinâmico,
isto é, de como ocorre a variação de pressão nos gases. As transformações termodinâmica
podem ser expressas, de forma geral, como:

P V K = constante

onde, K caracteriza o processo termodinâmico: K = 1, na transformação isotérmica. K =


γ = (cp /cv ), na transformação adiabática, onde cp e cv são respectivamente o calor especı́fico
do gás a pressão constante e calor especı́fico do gás a volume constante.
Tomando que a diferenciação, em relação ao volume, da expressão P V K = constante, obte-
mos:
K P V K−1 dV + V K dP = 0

dP
Essa equação nos leva a uma relação, K P = −V dV
= B. Portanto nas transformações
isotérmicas B = P e nas transformações adiabáticas B = γP .
Um coeficiente de compressibilidade cúbica, ou simplesmente módulo de compressibili-
dade (C) é definido por
∆V
C = B −1 = − [m2 /N ].
V ∆P
2.4 Pressão e pressão parcial - O Princı́pio de Pascal diz respeito a pressão num
ponto qualquer no interior de um lı́quido em equilı́brio. A pressão é sempre normal à superfı́cie
de uma porção definida do fluido e independentemente da direção dessa superfı́cie, a pressão
é igual para todas as direções.
A pressão (P ) aumenta com a profundidade em um fluido. Um elemento de volume de fluido
incompressı́vel, no interior do próprio fluido, está sujeito a uma variação de pressão na direção
do campo gravitacional ~g
dP
= −ρ g.
dz
O sinal negativo indica que a pressão aumenta na direção do campo gravitacional.
Considerando as medidas de pressão na atmosfera, a pressão atmosférica varia com a altura
(h) e a densidade do ar (ρ).
Ao nı́vel do mar h = 0 temos: aceleração gravitacional g = 9, 8 m/s2 , densidade do ar
atmosférico ρo e a pressão atmosférica Po ,

Po = 1, 01×105 P a.
31
Para pequenas variações de altura podemos considerar a densidade do ar (ρ) como constante

P (h) = Po − ρ g h.

Para grandes variações de altura temos também que considerar a variação da densidade do
ar com a própria pressão atmosférica, podemos escrever

ρo
P (h) = Po e− Po g h .

Para um tubo em forma de U, aberto nas extremidades, as duas superfı́cies em cada braço
do tubo estão sob a mesma pressão atmosférica (ao nı́vel do mar essa pressão atmosfera vale
simplesmente 1 atm).
A pressão de 1 atm corresponde a pressão de 1, 01×105 N/m2 ,
1 atm = 1, 01×105 P a.
A pressão de 1 bar corresponde a pressão de 105 P a,
1 bar = 105 P a.
A pressão de 1 atm correponde a pressão de uma coluna de mercúrio de 760 mm, 1 atm =
760 mmHg.
A pressão de 1 torr correponde a pressão de uma coluna de mercúrio de 1 mm, 1 torr =
1 mmHg = 1/760 atm.

Tratando-se da pressão para uma mistura de gases ideais, com n1 ,n2 ,n3 ,...,nN mols
de N gases diferentes, ocupando um volume comum V e numa mesma temperatura T , da
equação de estado do gás ideal, escrevemos:

T T T T
P = n1 R + n2 R + ... + nN R = n R
V V V V

onde, n = Σni é o número total de mols e P = ΣPi e a pressão total da mistura.


As pressões P1 ,P2 ,P3 ,...,PN são denominadas pressões parciais dos gases constituintes. Isso
significa que a pressão P1 , pressão parcial exercida pelo gás ideal G1 na mistura, é igual a
pressão que o mesmo gás G1 exerceria se estivesse sozinho ocupando o volume V à temperatura
T.
Da relação entre a pressão parcial de cada gás componente Pi e a pressão total da mistura P
chega-se
ni
Pi = P
n
32
onde, (ni /n) é denominado de fração molar do gás Gi na mistura. Esta equação, conhecida
como lei das Pressões Parciais de Dalton.

A lei das Pressões Parciais de Dalton, afirma que: numa mistura de gases ideais,
quimicamente inértes, a pressão parcial Pi , de cada gás constituinte Gi , é proporcional a sua
fração molar e que a pressão total é igual ao somatório das pressões parciais. Por exemplo,
em 1 atm, a pressão parcial dos gases constituintes da atmosfera são: nitrogênio 0,78 atm;
oxigênio 0,21 atm; argônio 0,009 atm e dióxido de carbono 0,0003 atm.

2.5 Princı́pio de Arquimedes, empuxo - Um corpo submerso (totalmente mer-


gulhado) em um lı́quido em repouso, sofre pressão em todos os pontos de sua superfı́cie. Os
pontos na superficie da parte de baixo do corpo sofre uma pressão maior, maior profundidade
no fluido, assim a força resultante do contato superficial é vertical e dirigida para cima. Essa
~
força é uma força de flutuação e é conhecida como o empuxo E.
O princı́pio de Arquimedes estabelece que um corpo total ou parcialmente imerso em um
fluido (lı́quido ou gás), recebe deste um empuxo, dirigido de baixo para cima, cujo módulo é
igual ao peso do volume de fluido deslocado pelo corpo,

E = Vf d ρf d g.

Para que um corpo flutue sua densidade tem que ser menor que a densidade do fluido. A
condição de equilı́brio de um corpo flutuante, parcialmente imerso, é:

ρC V
= fd .
ρf d VC

E a condição de equilı́brio de um corpo totalmente imerso é que o empuxo sofrido tem módulo
igual ao peso do corpo
E = mC g.

2.6 Tensão superfı́cial, ação capilar - A tensão superficial é uma propriedade de


superfı́cie que se manifesta na interface de contato entre substâncias imiscı́veis provavelmente,
devido às forças atrativas tipo as interações intermoleculares de adesão, entre moléculas de
substâncias diferentes, e de coesão, entre moléculas de uma mesma substância. A tensão
superficial surge na interface entre um lı́quido e um gás, ou entre dois lı́quidos imiscı́veis.
A tensão superficial (σ) pode ser definida por uma força (F ) que atua por unidade de com-
33
primento (l), o perı́metro total de uma interface considerada

F
σ= [N/m].
l

Considerando a formação de uma gota de raio Rg , de um lı́quido de peso especı́fico


(γ = ρ g), num conta-gotas, há um instante crı́tico, no qual o peso da gota é a máxima
força suportável pela tensão superficial (σ) da gota. Antes de desprender-se da coluna lı́quida
existente no capilar, de raio r, a força devido a tensão superficial (F = σ 2πr) é igual ao peso
da gota (W = γ 4πRg3 /3). Portanto no instante crı́tico o raio da gota é

3 σ r 1/3
Rg = [ ] .
2ρg

A ação capilar ou capilaridade surge quando mergulhamos verticalmente um tubo


capilar de raio r, de pequeno diâmetro, num recipiente que contém um lı́quido com densidade
ρ e tensão superficial σ. O fenômeno da capilaridade é responsável pela ascenção de um
lı́quido, no interior do capilar, sendo essa elevação, (h), tanto maior quanto menor for o
raio (r) do capilar. A ascenção h vem do equilı́brio entre as forças, peso da coluna lı́quida
(W = ρ g πr2 h) e a força devido a tensão superficial (F = σ 2πr cosα),

2 σ cosα
h= .
ρgr

O ângulo α é uma função que depende das forças de coesão e adesão na interface comum
entre o ar, o lı́quido e a superfı́cie do capilar, esse ângulo é medido observando a direção da
força de tensão superficial do lı́quido e a parede do capilar em contato. Podemos observar que
se o ângulo α < 90o , superfı́cie livre do lı́quido é convexa, as força de coesão do lı́quido são
maiores que as forças de adesão do lı́quido com o vidro. Para uma superfı́cie livre do lı́quido
côncava, α > 90o , as forças de adesão são maiores que as de coesão.
Considerando um menisco de um lı́quido num capilar, como parte de uma superfı́cie de uma
esférica, podemos avaliar o raio uma bolha de ar. A diferença de pressão entre os dois lados
do menisco de uma bolha é Pi −Pe = ρ g h, essa diferença de pressão tem relação com a tensão
superficial e o raio da bolha. Para o caso de uma bolha de sabão, raio médio Rb das duas
superfı́cies, a diferença de pressão é dobrada,


Pi = P e + 2 .
Rb
34
Um pressão interna sempre maior que a pressão externa é portanto uma condição para a
bolha não explodir.
35
3. ESCOAMENTO DE FLUIDOS:
3.1 Escoamento de um fluido ideal.
3.2 Número de Reynolds (Re ).

3.1 Escoamento de um fluido ideal - O movimento de um fluido real dá origem a


forças de fricção, atrito entre porções fluı́dicas adjacentes. Se um lı́quido, ou um gás, escoa em
uma tubulação com baixa velocidade, pode-se desprezar a sua compressibilidade, a densidade
e pressão se mantém constante em todos os pontos de uma mesma secção transversal do tubo,
nestas condições temos um fluido ideal, ou pouco viscoso, em escoamento permanente.
Num escoamento permanente (também conhecido como escoamento estacionário) passa sem-
pre o mesmo volume de fluido por unidade de tempo através de qualquer secção transversal
do tubo. Se diz que o fluxo de escoamento (vazão=volume/tempo) é constante. Quando o
fluxo (vazão) é constante podemos escrever uma equação de continuidade, entre duas secções
transversais no mesmo tubo, isto é,

A1 . v1 = A2 . v2

onde A1 e A2 são as áreas de duas secções transversais e v1 e v2 as respectivas velocidades do


fluido através dessas secções transversais.
A equação de Bernoulli é uma equação obtida por meio do princı́pio de conservação da energia,
por unidade de volume, para o escoamento estacionário de um fluido ideal. Esta equação diz
que quando modifica-se a área da secção transversal do tubo, atera-se não só a velocidade de
escoamento do fluido como também a pressão; a relação entre as pressões (Pi ) e velocidades
(vi ) em duas diferentes secções, equação de Bernoulli, pode ser apresentada por,

1 2 1
P1 + ρ g h 1 + ρ v1 = P2 + ρ g h2 + ρ v22 ,
2 2

onde ρ é a densidade do fluido e hi é a altura da secção do tubo em questão medida a par-


tir de um determinado nı́vel de referência. A equação de Bernoulli pode ser usada para o
escoamento laminar de um fluido real, pouco viscoso, para tanto as velocidades v1 e v2 são
tomadas como médias das velocidades nas respectivas secções A1 e A2 .
Dessa equação, tomando P1 = P2 , pode-se deduzir o princı́pio de Torricelli ( v 2 = 2 gH )
para a velocidade das partı́culas do lı́quido em escoamento através de um pequeno orifı́cio do
recipiente; a uma distância H abaixo da superfı́cie livre do lı́quido.
36
3.2 Número de Reynolds (Re ) - Todo o fluido real tem viscosidade, a viscosidade
comporta-se como uma força dissipativa. O escoamento de um fluido real, necessita então do
auxı́lio de uma forças externas para ser mantido de forma a compensar a perda de pressão,
ao longo da tubulação.
Quando se acompanha um escoamento através de um tubo de vidro, usando pequenas partı́culas
coloridas em suspensão na água, pode-se perceber a existência de dois tipos de regime de es-
coamento. Observando a velocidade v na secção transversal da tubulação, dessas partı́culas
suspensas o regime de escoamento pode ser classificado como: Turbulento ou Laminar.
O Regime Turbulento acontece quando o movimento das partı́culas coloridas não se mantém
em linhas paralelas às paredes da tubulação, o fluxo ocorre de maneira muito irregular: além
do movimento principal na direção do eixo do tubo, ocorrem movimentos secundários em
outras direções. Diminuindo a velocidade de escoamento no regime turbulento, existe uma
certo valor limite de velocidade a baixo do qual as partı́culas do lı́quido passam a se mover
regularmente em direções sempre paralelas às paredes do tubo, em Regime Laminar.
O Regime Laminar pode ser produzido por diminuição da velocidade de escoamento do
regime turbulento.
Para um escoamento de um fluido real (densidade ρ e viscosidade η), com velocidade média vm ,
na secção transversal num tubo regular e retilı́neo de diâmetro D, o inglês Osborne Reynolds
determinou um número (Re ), adimensional, para classificar o escoamento,

D vm ρ
Re = .
η
Um escoamento é laminar se Re for menor que 2.000, será turbulento se Re for bem maior
que 2.000.

Outra maneira de identificar um regime de escoamento é observando a velocidade de


queda de uma partı́cula esférica, uma pequena bola, de raio rb e densidade ρb , num fluido
escoando. Em regime laminar a velocidade de queda da esfera tende a um valor constante vb .
O número de Reynolds é redefinido por:

2 rb vb ρ
Re =
η

sempre que Re ≤ 0, 1 o escoamento será laminar.


37
2B VAPOR E GÁS
Fı́sica para as Ciências Agrárias - Caderno-2 FLUIDOS E TERMODINÂMICA
Professor Cesar Lobo

4. VAPOR D’ÁGUA NA ATMOSFERA:


4.1 Vapor d’água na atmosfera.
4.2 Umidade relativa e ponto de orvalho.
4.3 Climatologia .

4.1 Vapor d’água na atmosfera - A atmosfera é uma mistura de vários gases 78 %


nitrogênio (N2 ), 21 % oxigênio (O2 ), 0,9 % argônio (Ar), 0,03 % dióxido de carbono (CO2 ), e
entre os 0,07 % está o vapor d’água cuja quantidade varia muito de acordo com o lugar, com
as estações do ano, com as condições climáticas e mesmo com as horas do dia.
A pressão atmosférica (correspondente a 760 mmHg) é a pressão total exercida por todos os
gases presentes na atmosfera, a pressão de uma mistura de gases é a soma das pressões parciais
que os gases exerceriam independentemente se cada um deles ocupasse sozinho a atmosfera,
o volume total da mistura, lei de Dalton. A pressão parcial de vapor d’água na atmosfera é
muito pequena (alguns poucos milı́metros de mercúrio).
O vapor d’água na atmosfera tem origem em constantes transições de fase (vaporização) que
transformam a água dos mares, lagos e rios em vapor. Para entender uma transição de fase,
entre fases em equilı́brio, necessitamos ter algum conhecimentos em termodinâmica. Uma
transição entre fases de uma substância, em função das condições exteriores (temperatura T ,
pressão p, campo magnético B , etc...), são descritas num diagrama P ×T onde, podemos ver
os domı́nios de coexistência das fases sólido-lı́quido-vapor. As linhas do diagrama mostram
uma coexistência, em equilı́brio, de duas fases e somente duas para todo o valor do par co-
ordenado p e T . As linhas de fusão (sólido-lı́quido), sublimação (sólido-vapor) e vaporização
(lı́quido-vapor) se interceptam num ponto dito ”triplo”onde as três fases podem coexistir em
equilı́brio. Na linha de vaporização que começa no ponto triplo, aumentando a temperatura
conseqüêntemente, aumentará a pressão, essa linha termina num ponto dito ”crı́tico”. No
ponto crı́tico (Pc , Tc ) não há distinção entre lı́quido e vapor.
A pressão de vapor saturado, é um valor de pressão, correspondente a uma temperatura na
linha de vaporização, onde existe um equilı́brio entre o número de moléculas que passam do
lı́quido para o vapor e do vapor para o lı́quido. Na temperatura de 20o C a pressão de vapor
saturado da água é de 17, 5 torr ou (17, 5 mmHg).
A relação entre pressão de vapor saturado e temperatura para a água encontram-se em tabelas.
38
Numa dada temperatura a pressão parcial de vapor, vapor não-saturado, é sempre menor ou
no máximo igual a correspondente pressão de vapor saturado.

4.2 Umidade e ponto de orvalho - A umidade absoluta do ar por definição é a


massa de vapor d’água presente na átmosfera por unidade de volume

mvapor MH2 O P
U M IDADE (ABS.) = = .
V RT

O vapor d’água é um gás ideal, equação de estado (P V = n R T ).


A umidade citada nos boletins do tempo é a umidade relativa do ar. A umidade relativa
do ar vem da relação percentual entre a pressão parcial de vapor d’água (PP ), numa dada
temperatura (T ) e a pressão de vapor saturante (PS ) à mesma temperatura,

PP
U M IDADE (REL. DO AR) (%) = 100×
PS

Valores da pressão de vapor, d’água, saturado em diferentes da temperatura são encontrados


em tabelas, por exemplo:
PS = 6, 51 torr à 5o C
PS = 8, 94 torr à 10o C
PS = 17, 5 torr à 20o C
PS = 55, 1 torr à 40o C.
Numa certa tarde do mês de julho em Brası́lia, as condições climáticas dão temperatura de
20o C pressão parcial de vapor d’água no ar de 5 torr. Assim vemos que a umidade relativa
do ar nessa tarde é de 28,5 %, muito baixa, tempo muito seco.
A pressão atmosférica total, resultante das pressões parciais de todos os gases mais o vapor
d’água é constante, assim um aumento na pressão de vapor d’água, aumento da umidade,
corresponde a uma diminuição da pressão parcial dos outros gases que compõe a atmosfera.
A umidade do ar pode ser aumentada de duas maneiras diferentes, ou aumentando a quanti-
dade de vapor d’água na átmosfera ou baixando-se a temperatura ambiente.
Supondo que a cidade de Brası́lia, 20o C; 5 torr e umidade 28,5 % sofra um repentino aumento
de pressão, sem alteração de temperatura, a nova pressão parcial do vapor de 10 torr faz com
que a umidade relativa do ar aumente para 57 %.
Supondo que a cidade de Brası́lia, 20o C; 5 torr e umidade 28,5 % sofra uma absurda queda de
temperatura. A nova temperatura 5o C faz com que a umidade relativa do ar aumente para
76,8 %, tempo muito úmido.
39
Quando as condições do tempo faz com que a pressão parcial do vapor d’água no ar seja maior
que a pressão de vapor saturado, umidade relativa superior a 100%, parte do vapor d’água
na atmosfera será condensado, o suficiente para que a pressão parcial se iguale a pressão de
vapor saturado à temperatura ambiente.
A condensação de parte do vapor d’água na atmosfera é um fenômeno responsável por
formação de nuvens, nevoeiros, chuva, orvalho, geada e mesmo a neve.
Um fenômeno comum acontece na chegada da noite, quando a superfı́cie da Terra baixa sua
temperatura em relação ao ar, é a ocorrência do fenômeno do orvalho, que é a condensação
de parte do vapor d’água na atmosfera. A temperatura que o vapor d’água contido no ar
torna-se saturado é denominado de ponto de orvalho. O ponto de orvalho proporciona
um método simples para medir a umidade relativa do ar usando uma lâmina metática lisa e
limpa como um higrômetro de condensação. Num dia em que a temperatura ambiente é de
20o C (PS = 17, 5 torr), se a condensação das primeiras gotas de orvalho, na lâmina metálica
resfriada, acontecer a uma temperatura de 10o C(PP = 8, 94 torr), então a umidade relativa
do ar é de 51 %.

4.3 Climatologia - ”Clima”significa o conjunto de fenômenos metereológicos que


caracterizam as condições médias da atmosfera, num lugar da superfı́cie da Terra. O clima
mantém-se imutável dentro de suas condições e limites próprios. O que chamamos de ”tempo”,
é uma fase, uma configuração caracterizado por variáveis metereológicas de um determinado
momento mas, que está sujeito a se modificar de um momento para outro.
A Meteorologia pode ser definida como Fı́sica da Atmosfera. Os fenômenos observados por
institutos metereológicos são apresentados pelas denominadas cartas do tempo que entre out-
ros serviços trazem as seguintes informações: Pressão atmosférica; tendência barométrica;
temperatura; direção e intensidade do vento; Umidade relativa do ar; quantidade e tipo de
nebolusidade; visibilidade, ...,etc.
40
5. TEORIA DOS GASES:
5.1 O estudo do gás.
5.2 A teoria cinética.
5.3 Gás Perfeito ou Ideal.
5.4 Gás Real.

5.1 O estudo do gás - Um gás pode ser obtido por evaporação de um lı́quido ou
sublimação de um sólido, essas transformações acarretam em diminuição de densidade. Um
mol de gás ocupa um volume de 22, 4 litros nas condições normais de temperatura e pressão
(CNTP). Portanto existe o mesmo número de moléculas em dois volumes iguais mesmos que
ocupados por dois gases diferentes. O gás é um dos estados da matéria no qual as moléculas
têm pouca interações e são animadas de movimentos desordenados, incessantes e rápidos.
Como conseqüência do movimento de suas moléculas um gás não tem forma nem volume
definido, de modo que ocupa totalmente o volume do recipiente que o contém. Comparando
com os estados sólido e lı́quido, o estado gasoso é mais fácil de ser descrito teoricamente
porque, estando as moléculas muito afastadas umas das outras (salvo no momento de uma
colisão), as forças intermoleculares são muito fraca, podendo ser desprezadas em primeira
aproximação.
Os movimentos moleculares, de translação, rotação e vibração, vão definir graus de liberdade
para a molecular, que são atribuidos em relação as três direções do espaço.
Quando trabalhamos com moléculas, medimos o tamanho das amostras em moles, para ter
certeza que estamos comparando amostras que contêm o mesmo número de moléculas. A
molécula-grama (abrv.:mol) é uma unidade básica no SI.
Um mol é uma quantidade de qualquer substância que contêm tantas entidades elementares
quanto as existentes numa amostra de 12 g de carbono-12, que é o mesmo número de moléculas
que se encontra em 18 g de água ou em 32 g de oxigênio.
O número de entidades existentes em um mol é o número de Avogrado

NA = 6, 02×1023 mol−1 .

A massa molecular M é a quantidade de matéria, em gramas, contida em um mol. Logo, a


massa molecular do carbono-12 é 12 g, a massa molecular da água é 18 g e a do oxigênio é
32 g. 0 volume de um mol de qualquer substância, o volume molar do gás VM , é 22,4 litros,
em CNTP.
41

Quando lidamos com uma amostra de massa m em gramas, volume V em litros e que
contém N moléculas, o número de moles na amostra pode ser encontrado por:

N m V
n= = = .
NA M VM

Cada espécie de molécula tem um certo número de graus de liberdade. Aos graus
de liberdade da molécula de um gás, associamos uma quantidade de energia armazenada, a
energia interna (U ). Cada grau de liberdade corresponde uma energia interna, função da
1 1
temperatura, de 2
k T por molécula ou 2
R T por mol. As constantes R e k são respec-
tivamente: a constante universal do gás R = 8, 31 J/mol.K e a constante de Boltzmann
k = 1, 38×10−23 J/K. Para essas equações vale a relação: n R = N k então,

R = NA k.

A energia interna de um gás monoatômico, é uma energia armazenada correspondente


aos três graus de liberdade de translação,

3
U= n R T.
2

A energia interna de um gás diatômico, no caso de moléculas diatômicas contamos sete


graus de liberdade, três de translação mais dois de rotação mais dois de vibração (a vibração
só ocorre em altas temperaturas), portanto a energia interna do gás ideal diatômico é

7
U= n R T.
2

5.2 A teoria cinética - A teoria cinética é uma visão molecular para as propriedades
macroscópicas de um gás tais como a pressão (P ) e temperatura (T ): Um gás é constituı́do de
partı́culas discretas ou moléculas que como microscópicas bolas de bilhar apresentam movi-
mentos desordenados, movimentos caótico, chocam-se entre si e com as paredes do reservatório
onde o gás está contido.
Idealizando um modelo simplificado, tomemos um gás num recipiente cúbico fechado, de
lado l, desconsideremos as colisões entre entre as moléculas, observemos as sucessivas colisões
elásticas das moléculas do gás com as paredes do recipiente (sem quaisquer deformações).
42
A expressão da pressão pode ser obtida calculando o valor médio da componente normal
da força resultante, por unidade de área, exercida durante as colisões das N moléculas de um
gás nas paredes do recipiente. Observando a colisão de uma molécula de velocidade vx com a
parede do recipiente vemos que ela sofre uma variação de momento linear dada por

∆p = − 2 m vx .

Num intervalo de tempo entre duas colisões sucessivas

2l
∆t = ,
vx

a força exercida pela molécula é


m vx2
F = .
l
O gás tem N moléculas e as três direções de movimento devem ser equivalentes, v 2 = 3 vx2 , a
força total exercida
N m v2
Ftotal = ,
3l
e então a pressão P sobre a parede, de área A = l2 , é

Ftotal N m v2
P = = .
l2 3V

Considerando um gás ideal, temos

3 N m v2
P V = N kT =
2 3

logo,
2
P V = N < Ecin >
3
então,
3
< Ecin >= k T.
2
Vemos que a temperatura T, a agitação molecular, é a medida da energia cinética molecular
média.
43
5.3 Gás Perfeito ou Ideal - No modelo do gás ideal as moléculas são consideradas
pontos geométricos, como no caso de um gás ideal monoatômico, as moléculas apresentam
somente três graus de liberdades (movimento de translação nas três direções do espaço) e as
colisões (choques) só acontecem nas paredes do recipiente que o contém. A pressão exercida
pelo gás sobre as paredes tem haver com a variação média da quantidade de movimento
molecular, a temperatura é resultante exclusivamente da energia cinética média molecular
dos três graus de liberdade de translação. A equação de estado de um gás ideal, vem da
reunião das leis de Boyle-Mariotte, Gay-Lussac e Charles e expressa a relação existente entre
a temperatura absoluta T , a pressão P , o volume V e o número de moles do gás ideal:

P V = n R T = N k T.

5.4 Gás Real - No estudo das moléculas dos gases reais as interações entre os átomos
são importantes, e podem ser entendidas num gráfico U (r)×ro , da energia potencial U (r) em
termo de uma posição de equilı́brio ro entre os átomos. O comportamento de U (r) em torno
ro pode ser entendido por conta de dois efeitos:
1. O efeito repulssı́vo em distância r menor que < ro .
2. O efeito atrativo para distâncias r pouco maior que < ro , pois U (r) cai rapidamente a zero.
Levando em conta esses efeitos, algumas correções podem ser feitas na equação do gás ideal.
A primeira correção é no volume disponı́vel para a expansão do gás, uma vez que as moléculas
do gás real apresentam um volume próprio devido ao seu tamanho finito. Esta correção exige
que se retire um volume b correspondente a cada mol de moléculas no gás. Assim trocamos,
na equação do gás ideal, V por (V − nb). A segunda correção vem por conta da interação
atrativa entre moléculas do gás (coesão). No interior de um gás uma molécula é igualmente
atraı́da em todas as direções. Nas vizinhanças da parede do recipiente que contém o gás uma
molécula é intensamente atraı́da para o interior do gás, devido ao efeito conjunto das outras
moléculas, modificando assim a pressão P para (P + n2 Va2 ) com estas correções chega-se na
a equação de estado do gás real, de Van der Waals,

a
(P + n2 )(V − nb) = n R T
V2

os parâmetros a e b são caracterı́sticas especı́fica da substância do gás.


Tomando a = b = 0 na equação de Van der Walls cai na equação do gás ideal.
Nas isotermas de Van der Walls, vemos em altas temperaturas (T > TC ) o comportamento
do gás ideal.
44

2C TERMODINÂMICA
Fı́sica para as Ciências Agrárias - Caderno-2 FLUIDOS E TERMODINÂMICA
Professor Cesar Lobo

1. TEMPERATURA:
1.1 Lei Zero da termodinâmica .
1.2 Escalas de temperatura.
1.3 Expansão térmica.
1.4 Dilatação aparente dos lı́quidos.

1.1 Lei Zero da termodinâmica - O estudo de termodinâmica começa com o con-


ceito de temperatura. Medir a temperatura está intimamente relacionada à idéia de equilı́brio
térmico. Permitindo-se que dois objetos, que não se encontram em equilibrio térmico, pos-
sam trocar energia entre si, eles fazem essa troca com algumas alterações, mudanças em suas
propriedades macroscópicas. Quando as propriedades macroscópicas deixam de mudar não
há mais um fluxo lı́quido de energia e os objetos atingem, entre si, o equilı́brio térmico. Eles
se encontrão então numa mesma temperatura.
Se dois sistemas ou objetos estão em equilı́brio térmico, todas as suas propriedades macroscópicas,
particular de cada sistema, excluindo temperatura podem ter valores diferentes. Por exem-
plo, suponha que os dois sistemas são gases: Quando os dois sistemas estão em equilı́brio
térmico entre si, as pressões deles podem ser diferentes, os volumes deles podem ser difer-
entes, o número de partı́culas deles podem ser diferentes e a energia interna deles podem ser
diferentes mas, as temperaturas dos dois sistemas são iguais.
A lei zero da termodinâmica conceitua a temperatura como uma propriedade de um corpo em
equilı́brio térmico com outro. Se dois corpos A e B estão cada um em equilı́brio térmico com
um terceiro corpo C. Então eles estão entre si em equilı́brio térmico. Uma conseqüência im-
portante da lei de Zero é que podemos selecionar algum objeto para uso como um termômetro.
Suponha que quando o corpo C, o termômetro, está em equilı́brio térmico com um corpo A
e também com um corpo B. Então, porque a lei Zero é válida, nós sabemos que A e B têm a
mesma temperatura.
45
1.2 Escalas de temperatura - No toque, às sensações de quente e frio são insufi-
ciente para medir de maneira precisa a temperatura de um corpo, além de estar limitado à
vizinhança da temperatura ambiente. O termômetro é um instrumento que mede de maneira
precisa a temperatura de um corpo. Nos termômetros utiliza-se a variação de uma propriedade
fı́sica para determinar a temperatura do termômetro e por conseguinte aquela do corpo com
o qual ele está em equilı́brio térmico.
A temperatura de um sistema está intimamente ligado a energia cinética média das partı́culas
que compõem o sistema, propriedade microscópica. Mas na construção dos termômetros as
propriedades fı́sicas macroscópicas como: o volume de um lı́quido, a resistência elétrica de um
fio condutor, a força eletromotriz gerada pela junção de dois metais diferentes, são utilizadas
para exprimir uma escala de temperatura.
A escala Celsius é definida pelas mudanças de estado da água nas condições pressão at-
mosférica normal, 1atm = 1, 01×105 P a. Os dois parâmetros de referência da escala Celsius
são: 0o C, a fusão do gelo e 100o C a ebulição da água.
A escala Kelvin ou absoluta vem da 2a lei de Gay-Lussac cujo conteúdo diz que um gás man-
tido em um recipiente de volume constante guarda uma relação linear entre sua temperatura e
pressão. Extrapolando essa linearidade para a condição em que a pressão do gás tende a zero
a reta convergirá para um valor de temperatura T = T o. Sendo essa a menor temperatura
que pode ser atingida por qualquer gás sendo por isso uma referência absoluta de temperat-
uras. A escala de temperaturas em que esse valor T o é tomado como sendo igual a zero é
chamada escala absoluta de temperaturas. A temperatura do ponto triplo da água, ponto em
que vapor coexiste em equilı́brio com água e gelo na pressão de 4, 58 mm/Hg e temperatura
de 273, 16 K, também pode ser usado como um ponto fixo padrão da escala absoluta.
A escala Kelvin esta ligada a escala Celsius pela seguinte relação:

TK = TC + 273, 15

a mais baixa temperatura 0 K ou −273, 15o C, é inacessı́vel, mas, em laboratório, pode-se


atingir 12 micro-kelvins.
A escala Fahrenheit, muito popular entre os ingleses, também foi construida tomando por
referência dois parâmetros, separados por 100 unidades: o menor registra uma das mais
baixa temperatura ocorrida no clima da Inglaterra, cerca de −20o C e o maior corresponde a
temperatura do corpo humano, cerca de 37o C, a relação entre as escalas Fahrenheit e Celsius
é TF = 59 TC + 32.
46
1.3 Expansão Térmica - Uma dilatação térmica corresponde a um espaçamento
interatômico médio. Assim, num sólido, se dois de seus pontos estão inicialmente à distância
L0 , a variação ∆L dessa distância é proporcional a L0 . Para uma variação de temperatura
∆T suficientemente pequena temos,

∆L = α L0 ∆T

onde α, o coeficiente linear da expansão, é medido em T −1 . Podemos ver que a mudança


fracionária no comprimento de um arranhão na superfı́cie de um corpo sólido, feito de
um material isotrópico, é sempre proporcional a variação temperatura experimentada pelo
corpo. Então, para um sólido isotrópico em todas as suas dimensões são válidas as expansões
térmicas:
1. A variação fracionária no diâmetro D0 de um buraco em um objeto é

∆D
= α ∆T.
D0

2. A variação fracionária da área superficial A0 de um objeto é

∆A
= 2 α ∆T.
A0

3. A variação fracionária do volume V0 de um objeto é

∆V
= 3 α ∆T.
V0

Para um lı́quido, que toma sempre a forma do recipiente que o contém, só interessa o co-
eficiente de dilatação volumétrica do lı́quido. Os valores tı́picos do coeficiente de dilatação
volumétrico dos lı́quidos são bem maiores que os dos sólidos.
47
1.4 Dilatação aparente dos lı́quidos - A ascensão da coluna de mercúrio num
termômetro exemplifica o fenômeno da expansão térmica que acontece com um recipiente,
um sólido, com coeficiente de dilatação volumétrico 3α, e um lı́quido, com coeficiente de
dilatação volumétrico β, quando experimentam uma variação de temperatura. Para o caso de
um termômetro de mercúrio, em que este enche completamente o bulbo de vidro, inicialmente
à um volume V0 , à temperatura de 00 C, o volume do bulbo à temperatura T terá um volume
V0 (1 + 3αT ) e o volume do mercúrio será V0 (1 + βT ), de modo que o volume de mercúrio
expelido do bulbo e que irá subir pelo tubo capilar é,

V0 (β − 3α) T.

Diz-se que (β − 3α) é o coeficiente de dilatação aparente do lı́quido (mercúrio).


Em geral, o coeficiente de dilatação volumétrico de um lı́quido é positivo, β > 0, mas há uma
anomalia no caso da água, para qual β se torna negativo entre 0o C e 4o C. Assim a densidade
máxima da água é atingida a 4o C, e ela se expande, em lugar de se contrair, quando a tem-
peratura diminui, na região de 4o C, até se congelar. Essa expansão pode fazer estourar um
cano cheio de água, quando a mesma se congela. É também por essa razão que a superfı́cie de
um lago se congela, sem que isto ocorra com a água a maior profundidade. Este permanece
a temperatura mais elevada, com densidade maior, de forma que o gelo flutua sobre ela, per-
mitindo assim que os peixes sobrevivam durante o inverno.
A explicação microscópica do coeficiente de dilatação anômolo da água na vizinhança de seu
ponto de fusão não é simples. A água é um lı́quido muito peculiar, devido as propriedades
especı́ficas da ligação de hidrogênio, encontrada em suas moléculas.
48
2. PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA

2.1 Calor.
2.2 Absorção de calor, calor sensı́vel e calor latente.
2.3 Trabalho termodinâmico.
2.4 Primeira lei da termodinâmica.
2.5 Entalpia, Entropia e Potencial Quı́mico.
2.6 Calor especı́fico molar do gás ideal.
2.7 Calor especı́fico molar dos sólidos.

2.1 Calor - Todo o sistema fı́sico, no seu estado particular, tem a sua energia interna.
O trabalho e o calor são formas de mudar a energia interna de um sistema. Calor é uma
energia que flui entre um sistema e sua vizinhança (ambiente) na condição em que o sistema
e a vizinhança encontram-se inicialmente em temperaturas diferentes.
Na mecânica, o trabalho está relacionado com uma alteração do movimento de um corpo. Na
termodinâmica, o trabalho se relaciona com a modificação da energia da interna do sistema e
não com o movimento do sistema como um todo. Uma convenção de sinal precisa ser adotada
para o trabalho termodinâmico e o calor. Trabalho W é tomado como positivo quando é
trabalho realizado pelo sistema contra sua vizinhança, calor Q (ou ∆Q) é tomado como
positivo quando é absorvido pelo sistema, já as situações contrárias tanto para o trabalho
como para o calor, são negativas.
A unidade de calor no SI é o joule (J). Outras unidades bastantes utilizadas para calor são:
a caloria (quantidade de calor para mudar a temperatura de 1 g de água destilada de 14, 5 o C
para 15, 5 o C à pressão de 1 atm)
1cal = 4, 186 J.

Outras unidades: a unidade térmica britânica (1Btu = 1055 J) e a caloria nutricional (1Cal =
1kcal = 4186 J).

2.2 Absorção de calor, calor sensı́vel e calor latente - A absorção ou emissão


de calor por sistemas sólidos, lı́quidos e gases relaciona o calor, a energia térmica transferida,
para dentro ou para fora do sistema, com uma correspondente variação na temperatura do
sistema. A capacidade térmica de um sistema é definido por

∆Q
C=
∆T
49
A capacidade de térmica C depende do tipo de substância e da quantidade de material, massa,
do sistema.
Uma capacidade térmica independente da massa do sistema é denominado de calor especı́fico
e este só depende do tipo de substância

C
c= .
m

A quantidade C/n é o calor especı́fico molar, onde n é o número de moles no sistema.

N m
n= = ,
NA M

sendo N o número de constituintes elementares da amostra de massa m e M massa molecular


do mol expressa em gramas; NA número de Avogradro (6, 02×1023 unidades elementares que
constitui um mol).
O calor especı́fico, tal como é definido, apresenta-se em valores diferentes também sob as
condições de temperatura, pressão e ainda a volume.
A quantidade de calor necessária para elevar de 1o C a temperatura de 1 g depende do tipo de
substância e de em que condições ocorre essa variação de temperatura. O calor especı́fico da
água, c = 1 cal/g o C, por definição diz que 1 cal por grama de água é necessário para passar de
14, 5 o C para 15, 5 o C. O calor especı́fico varia com a temperatura; assim, no intervalo entre
0o C e 1o C o calor especı́fico da água muda para c = 1, 008 cal/g o C. Na prática essa variação
em geral pode ser desprezada.
O conhecimento do calor especı́fico explica a distribuição entre climas marı́timos e continen-
tais.
A água tem calor especı́fico maior que a maioria das substâncias, o que quer dizer que é
necessário mais calor para aquecer, quantidades de massa iguais, d’água do que a maioria das
substâncias. Por exemplo, o calor especı́fico da maioria dos solos é 0, 2 cal/g o C e o calor es-
pecı́fico do ar é cerca de 0, 24 cal/g o C. De uma maneira geral o calor especı́fico das substâncias
diminui quando a temperatura decresce.

O processo de conversão de parte da energia solar em calor sensı́vel na atmosfera é um


fenômeno rotineiro, associado à contı́nua elevação da temperatura do ar após o nascer do sol.
Simultaneamente, na presença de água lı́quida, ocorre também a conversão de parte da ener-
gia solar em calor latente de vaporização. O Sol é a nossa fonte primária de energia. Durante
o dia, a atmosfera vai acumulando energia nas formas de calor sensı́vel e calor latente.
50
À noite, na ausência do sol, a atmosfera resfria-se perdendo energia continuamente para o
espaço. Atingindo o ponto de orvalho, inicia-se um processo de condensação com um calor
latente liberado na forma de calor sensı́vel, aquecendo ligeiramente a atmosfera noturna.
Além dos processos de vaporização, passagem da água da fase lı́quida para a fase de va-
por, com absorção de calor latente, e do processo de contrário, a condensação, também são
freqüêntes na atmosfera os processos de fusão de cristais de gelo, neve e granizo, passagem da
fase sólida para a fase lı́quida da água com liberação de energia.

Quando dois objetos A e B são colocados, inicialmente a temperaturas diferentes, em


contato térmico entre si de tal forma que os dois objetos componham um sistema isolado do
restante do ambiente, a substância mais quente esfria, e a substância mais fria esquenta até
que eles atinjam uma mesma temperatura final Tf (temperatura de equilı́brio térmico). O
calor que sai do objeto mais quente tem a mesma magnitude do calor que entra no objeto
menos quente. A relação algébrica que regula troca de calor é

QA + QB = 0.

Se objeto A tem massa mA , calor especı́fico cA e temperatura inicial TA e temperatura


final Tf , então QA = mA cA (Tf − TA ). Se objeto B tem massa mB , calor especı́fico cB e
temperatura inicial TB e temperatura final Tf , então QB = mB cB (Tf − TB ).
Assim, para encontrar a temperatura do equilı́brio térmico basta resolver a equação

mA cA (Tf − TA ) + mB cB (Tf − TB ) = 0.

O calor especı́fico é uma das causas que determina a distribuição entre climas marı́timos e
continentais, vejamos a relação entre o ar atmosférico, a terra e o mar.
O calor especı́ficos do mar é cerca de cinco vezes maior que o calor especı́fico do solo con-
tinental, o mar esquenta ou esfria muito mais lentamente que o solo. No verão, nas regiões
marı́timas o mar ainda frio esquenta mais lentamente que a terra e assim esfria o ar, a atmos-
fera. No inverno, o mar ainda quente, esfria mais lentamente que a terra, de modo que fornece
calor para o ar, amenizando o frio da terra. De modo que o solo e a atmosfera respondem mais
rapidamente às variações de temperatura do que o oceano. No verão, nas regiões marı́timas, a
água, tendo-se esquentado mais lentamente que a terra esfria o ar; por outro lado, no inverno,
a água que ainda guarda calor, pois se esfria mais lentamente, pode fornecer calor para o ar
e amenizar o frio da terra.
51
Uma substância aceita ou rejeita calor quando muda fase (derrete, gela, vaporiza, ou con-
densa), na transição de fase a temperatura da substância permaneça constante. A magnitude
do calor que acompanha uma transição de fase de um sistema com de massa m é determinado
por
|QL | = m L,

onde L é uma quantidade de calor denominada de ”calor de transformação”. Quando QL é


positivo uma quantidade de calor absorvido na transformação para, fundir, ou derreter, ou
vaporizar. Quando QL é negativo uma quantidade de calor é rejeitado na transformação para,
solidificar, ou gelar, ou condensar. O calor de fusão LF é calor por unidade de massa envolvido
nas transformações de gelar e derreter. O calor de vaporização LV é calor por unidade de
massa envolvido na transformações de ferver ou condensar.

2.3 Trabalho termodinâmico - O trabalho realizado num sistema é diferente para


diferentes processos. O cálculo do trabalho num processo tem que levar em conta o compor-
tamento da pressão que produz alteração de volume.
Um estado termodinâmico apresenta configurações que podem ser descritas pelas variáveis
tais como: pressão P , volume V e temperatura T .
A configuração do estado termodinâmico apresenta uma evolução temporal, quando um tra-
balho (positivo ou negativo) é realizado no gás. Esse trabalho produz transferência de energia,
como calor, entre o gás e seu ambiente. O trabalho termodinâmico é definido por
Z Vf
W = P dV,
Vi

portanto pode ser medido por uma alteração no volume do gás. Se Vf > Vi o trabalho é
positivo caso contrário, o trabalho é negativo. A integral anterior só é válida na condição em
que o processo evolui de um estado inicial para um estado final passando por infinitos estados
intermediários, mas sempre trocando de um estado em equilı́brio térmico para outro estado
também em equilı́brio térmico.
Um processo termodinâmico pode ser plotado num gráfico pressão (no eixo vertical) verso
volume (no eixo horizontal) o trabalho termodinâmico é a própria área contida no diagrama
”P ×V ”.
52
2.4 Primeira lei da termodinâmica - A primeira lei da termodinâmica postula a
existência estados termodinâmicos, de uma energia interna U correspondente a esses estados
e ainda como ocorrem as mudanças entre os estados. Variações na energia interna pode
ser medida, observada por meio de uma alteração na temperatura, ou na diferença entre
o calor fornecido e o trabalho realizado ∆U = Q − W entre dois estados observados. O
sistema termodinâmico evolui temporalmente de um estado de equilı́brio térmico inicial para
um estado de equilı́brio térmico final, passando sempre por progressivos estados de equilı́brio
térmico intermediários e isso corresponde a uma variação infinitesimal na energia interna do
sistema,
dU = dQ − dW.

A soma de trocas de calor e de trabalho só depende dos estados inicial e final e não da
dinâmica de sucessão de estados que caracterizaram essas transformações.
Nas transformação de expansão, ou compressão, termodinâmica os caminhos, entre estados
intermediários, vão permitir diferienciar a forma como o trabalho envolvido pode ser calcu-
lado.
A seguir vamos definir alguns tipos de transformações entre dois estados de equilı́brio:

Transformação é isotérmica: quando o sistema sofre mudanças sucessivas de esta-


dos mantendo sempre a temperatura constante, então não há variação de energia interna no
sistema, o trabalho realizado é devido exclusivamente ao calor trocado pelo sistema,

W = ∆Q,

Vf
W = n.R.T.ln( ).
Vi
Transformação é adiabática: Ocorre tão rapidamente ou o sistema está tão bem
isolado que sofre uma mudança de estado sem troca de calor, então o trabalho realizado é
devido exclusivamente a uma variação de energia interna do sistema,

W = −∆U,

W = −n.cv .∆T.
53
Transformação é isométrica: Quando o sistema sofre mudanças sucessivas de esta-
dos mantendo sempre o volume constante, então o trabalho realizado é nulo e a variação de
energia interna é devido exclusivamente ao calor trocado pelo sistema,

∆U = ∆Q,

W = 0.

Transformação é isobárica: Quando o sistema sofre mudanças sucessivas de estados


mantendo sempre a pressão constante. O calor trocado não é apenas para variar a temperatura
do gás, mas também para a realização de trabalho. Neste caso o trabalho é dado pelo produto
p∆V . De acordo com a primeira lei,

∆U = Q − W,

W = P.∆V.

Processo cı́clico: Se o processo for cı́clico, o conjunto de transformações sucessivas


levam o estado final a coincidir com o estado inicial, não há variação de energia interna, então
o trabalho realizado é devido exclusivamente ao calor trocado pelo sistema,

W = ∆Q.

Processo expansão livre: Uma expansão livre, de um gás, é uma expansão adiabática
o qual o sistema não está em equilı́brio térmico durante as fases intermediárias, pois não pode
ser realizada lentamente e de maneira controlada. Inicialmente o gás está confinado por um
obstáculo que limita o seu volume para uma parte de seu recipiente que compõe o sistema
isolado termicamente, a outra parte é feita o vácuo. Quando o obstáculo é removido, o gás
se expande livremente ocupando todo o volume do recipiente. Para este processo nenhum
trabalho é realizado pelo gás, pois ele se expande para uma região onde é feito o vácuo, não
encontrando qualquer pressão, portanto W=0. Como o sistema está isolado termicamente
nenhum calor é transferido para o gás ou pelo gás e Q=0. De acordo com a primeira lei,

∆U = 0.
54
2.5 Entalpia, Entropia e Potencial Quı́mico - O primeiro princı́pio da ter-
modinâmica, primeira lei, diz que se um sistema passa de um estado inicial a um estado
final, a soma de trocas de trabalho, de calor e de matéria com o exterior só depende destes
estados e não do processo de transformação. Existe então um parâmetro caracterı́stico do sis-
tema, do qual as variações são iguais à soma dessas trocas. Esse parâmetro pode ser a energia
interna U ou a entalpia: H = U + P V, que é uma função como U e cuja variação corresponde
ao calor trocado com o meio exterior durante uma transformação à pressão constante. As
transformações reversı́vel, descrita por uma seqüência de estados de equilı́brio, que evoluem
do estado inicial (P, V, T, n) para um estado final (P + dP, V + dV, T + dT, n + dn) a variação
de U se escreve:
dU = T dS − P dV + µdn

onde a entropia S é um parâmetro extensivo, medida da desordem microscópica, associado a


temperatura T de um sistema. A variável conjugada a um parâmetro extensivo (dimensão do
sistema) é um parâmetro intensivo (campo termodinâmico). O campo temperatura é então:

∂U
T =( ) .
∂S V,n

Já o potencial quı́mico µ é um campo termodinâmico associado ao parâmetro extensivo


número de moles:
∂U
µ=( ) .
∂n S,V
Os ı́ndices das derivadas parciais que indicam que essas variáveis permanecem constantes.

A distinção entre U e H é muito importante nos sistemas gasosos onde o produto P V


varia rapidamente com a temperatura. Uma reação quı́mica exotérmica, com liberação de
calor, a variação de entalpia é negativa (∆H < 0).
55
2.6 Calor especı́fico molar do gás ideal - Um gás ideal monoatômico tem energia
3
interna (U = 2
nRT) para cada grau de liberdade e equação de estado (P V = n R T ).
Partindo da 1a lei da termodiâmica, da energia interna e da equação de estado pode-se medir
a quantidade mı́nima de energia que um mol de gás precisa absorver para que sua temperatura
se eleve de um grau, isto é, medir o calor especı́fico molar:

1 dQ
c= ( ).
n dT

Os calores especı́ficos do gás ideal, a volume constante são: gás ideal monoatômico (3 graus
3
de liberdade de translação) cV = 2
R, um gás diatômico em altas temperaturas (3 graus
translação + 2 graus rotação + 2 graus vibração) cV = 72 R. Em baixas temperaturas (3 graus
translação + 2 graus rotação) cV = 52 R.
Os calores especı́ficos do gás ideal, a pressão constante são obtidos pela equação:

cP = cV + R.

Para os gases a diferença entre cP e cV é mais significativa do que para sólidos e lı́quidos.

2.7 Calor especı́fico molar dos sólidos - Dulong Petit interpretou classicamente
o calor especı́fico dos sólidos, como uma rede de osciladores interligados entre si. Assim a
energia interna de um mol de sólido constituı́da de seis osciladores, em altas temperaturas,
tem que levar em consideração que a vibração dos osciladores que se dá nas três direções do
espaço. Na previsão de Dulong e Petit, c = 6( 12 R) = 3R.
56
2D TERMODINÂMICA
Fı́sica para as Ciências Agrárias - Caderno-2 FLUIDOS E TERMODINÂMICA
Professor Cesar Lobo

3. SEGUNDA LEI DA TERMODINÂMICA:


3.1 Segunda lei da termodinâmica.
3.2 Ordem e desordem.
3.3 Motor do automóvel .
3.4 Refrigerador.

3.1 Segunda lei da termodinâmica - A segunda lei da termodinâmica impõe


limitações severas às transformações de calor em trabalho. No entanto, não nos impede
de transformar completamente trabalho em calor.
A natureza mostra-se extremamente rica em fenômenos que ocorrem espontaneamente num
sentido mas nunca em sentido contrário:
A partir do nascimento começa o envelhecimento dos organismos vivos, a vida é um processo
irreversı́vel.
Um navio em movimento, devido ao trabalho de suas máquinas, aquece o oceano. Todavia,
não se pode fazer funcionar as máquinas de um navio resfriando o oceano.
Estudando as transformações inversas de calor Q em trabalho W , o francês Sadi Carnot
chegou à conclusão que um motor térmico só pode funcionar com pelo menos duas fontes de
calor, uma fonte quente Qq à temperatura Tq , que fornece uma quantidade de calor, e uma
fonte fria Qf à temperatura Tf , que recebe uma quantidade de calor. O funcionamento cı́clico
de tal motor necessita por tanto de duas transformações isotérmicas às temperaturas Tq e Tf
para trocar calor Qq e Qf , respectivamente, e duas transformações adiabáticas (sem troca de
calor) para passar de Tf para Tq e de Tq para Tf . Esta máquina térmica, de ciclo reversı́vel,
produz um trabalho
W = Qq − Qf ,

com uma eficiência ou rendimento, e que é inferior a 1:

W Qf Tf
e= =1− =1− .
Qq Qq Tq

Esse rendimento do Ciclo de Carnot é sempre inferior à 1, pois admitir que o rendimento
possa ser e = 1, seria admitir que possa existir um reservatório de calor à temperatura do
57
zero absoluto Tf = 0.
Qq Qf
Partindo do ciclo de Carnot podemos escrever que, Tq
= Tf
. Interpretando Qq > 0 como
calor absorvido pelo sistema e Qf < 0 como calor perdido pelo sistema, temos que a relação
Qq Qf Q
Tq
+ Tf
= 0. Essa equação estabelece que a soma algébrica das quantidades T
é nula para o
ciclo de Carnot.
Qualquer ciclo reversı́vel pode ser tomado, com uma aproximação tão boa quanto quisermos,
como um conjunto de ciclos de Carnot. Assim, um ciclo reversı́vel arbitrário pode ser descrito
por uma familia de isotérmas ligadas convenientemente com sucessivas curvas adiabáticas.
PQ
Portanto podemos afirmar que em processos cı́clicos reversı́veis T
= 0 ou
I
dQ
∆S = = 0.
T

dQ
A quantidade T
deve representar alguma variável de estado, assim como pressão e volume
entre outras, essa quantidade chamamos de Entropia S, cuja unidade no SI é [joule/kelvin].
Os processos reversı́veis mostram que a entropia S permanece inalterada, pois não há perda
de calor, ∆S = 0.
No mundo real, o atrito, as perdas de calor indesejadas, etc,... estão sempre presentes e estas
perdas de calor fazem com que os processos naturais, entre dois estados de equilı́brio sejam
processos irreversı́veis. Isto acarreta que a entropia de um sistema isolado só pode aumentar
∆S > 0.
A Mecânica Estatı́stica descreve a entropia, como um significado fı́sico de medida da desor-
dem, desordem essa que vem com um aumento no número de microestados de um sistema.

3.2 Ordem e desordem - Calor e trabalho são duas formas diferentes de energia
em trânsito. Em termos de ordem e desordem podemos interpretar o calor como uma trans-
ferência de agitação das moléculas de um corpo para as de outro. O aquecimento de um corpo
é portanto um processo desordenado, em que a transferência de energia resulta dos inúmeros
choques caóticos que ocorrem entre as moléculas. Já a queda de uma pedra sobre uma mola,
é um fenômeno que envolve transferência de energia localizada entre dois corpos, transcorre
de modo ordenado: a pedra perde a sua energia cinética realizando um trabalho sobre a mola,
que adquire, assim, uma energia potencial elástica. Como a segunda lei da termodinâmica
permite a transformação espontânea de energia ordenada em energia desordenada, a energia
mecânica e elétrica são portanto qualidades de energias ordenadas de grande importância.
Isso já não ocorre, porém, com a energia interna, principalmente se o sistema apresentar
58
baixa temperatura, uma vez que a segunda lei impõe condições para que o processo inverso,
transformação de calor em trabalho, se realize. Como a natureza favorece as transformações
para formas de energia cada vez menos ordenadas, podemos concluir que a qualidade de en-
ergia tende a piorar.
Reafirmando, trabalho e calor são duas formas diferentes de energia em transito, mas podemos
considerar trabalho como uma qualidade superior de energia em relação ao calor. Sempre é
possı́vel transformar completamente trabalho em calor, mas a transformação inversa, de calor
completamente em trabalho, não é possı́vel. As máquinas térmicas para produzirem trabalho
têm que jogar fora parte do calor.

3.3 Motor do automóvel - A maioria dos automóveis funcionam com um motor


a quatro tempos, que é um tipo especı́fico de máquina térmica construı́do, em 1877, pelo
engenheiro alemão Nikolaus Otto. O motor do automóvel apresenta duas partes principais:
carburador e cilindro. O carburador prepara uma mistura explosiva de ar e gasolina. O
cilindro é um compartimento hermeticamente fechado por um pistão, na cabeça do cilindro
desembocam dois tubos (r) e (s) cada um deles funionando como entrada ou saida conforme a
posição das duas válvulas R e S, que são controladas de forma sincronisadas pelo comando de
válvulas. Entre os dois tubos está localizado a vela que a partir de uma centelha elétrica faz a
explosão da mistura que vem do carburador para o interior da cabeça do cilindro, movimen-
tando o pistão que por meio da biela faz girar o virabrequim, cujo movimento é transmitido
às rodas do veı́culo.
O funcionamento de um ciclo do pistão à quatro tempos (em seis momentos):
Primeiro tempo:
1o momento (admissão) - A válvula R se abre enquanto S permanece fechada. Com ajuda de
um motor de partida, o pistão desce e aspira para o interior do cilindro a mistura que provém
do carburador. Quando a válvula R se fecha o virabrequim completa meia volta (180o ). Por
ser um processo rápido a pressão interna se mantém constante e a transformação envolvida é
uma expansão isobárica.
Segundo tempo:
2o momento (compressão) - As válvulas R e S estão fechadas. O pistão se desloca, por inércia,
comprimindo a mistura no interior do cilindro, diminuindo o volume, o que faz com que a
temperatura e a pressão aumentem. O virabrequim gira mais (180o ), completando uma volta
(360o ). Este processo é tão rápido que não dá tempo do sistema trocar calor com o meio
externo, a transformação envolvida é uma compressão adiabática.
59
Terceiro tempo:
3o momento (explosão) - As válvulas R e S estão fechadas. A mistura está altamente com-
primida. Na vela forma-se uma centelha, que faz a mistura explodir. A quantidade de calor
Q2 produzida eleva rapidamente a temperatura do gás, alterando-o quimicamente. Após o au-
mento da temperatura a pressão também aumenta, mas o processo de combustão é tão rápido
que inicialmente não dá tempo suficiente para o pistão se movimentar. Neste momento ocorre
uma transformação isométrica.
4o momento (expansão) - As válvulas R e S continuam fechadas. A pressão alta do gás im-
pele o pistão fazendo-o descer ao máximo. O virabrequim gira meia volta (180o ), enquanto a
temperatura e a presão do gás decresce rapidamente pelo aumento de volume. É nessa etapa
que o gás realiza um trabalho. Como este processo é rápido, não há trocas de calor com o
meio externo, a transformação envolvida é uma expansão adiabática.
Quarto tempo:
5o momento (escape)- Nesta etapa, enquanto a válvula R permanece fechada, a válvula S se
abre para que os gases produzidos na combustão escoem para um tubo de escapamento, nessa
etapa a temperatura e a pressão diminuem rapidamente, a pressão interna do cilindro iguala-
se a pressão atmosférica externa (Po ) sem dar tempo do pistão se mover. Neste momento
ocorre uma transformação isométrica.
6o momento (compressão) - A válvula R permanece fechada enquanto a válvula S ainda está
aberta, o pistão, por inércia, retorna à cabeça do cilindro expelindo os resı́duos dos gases de
descarga de combustão, o virabrequim executa mais meia volta (180o ), completando o ciclo
(720o ). Como a pressão é igual a pessão externa a transformação envolvida é uma com-
pressão isobárica, a válvula S se fecha dando inı́cio a um novo ciclo.

O motor diesel foi inventado, em 1893, pelo também engenheiro alemão Rudolf
Diesel, difere do motor a quatro tempos em dois aspectos:
1. O motor diesel não tem um carburador, mas sim um injetor que lança jato de óleo diesel
em forma de gotı́culas misturada com ar no cilindro.
2. O motor diesel não tem velas, a combustão é provocado pelo aquecimento da mistura das
gotı́culas de óleo com o ar, 2a etapa, quando ocorre uma rápida compressão da mistura.

3.4 Refrigerador - Um gás, ou vapor, circulante, que sai de um evaporizador, retira


calor do ambiente interno do refrigerador (fonte fria) para o ambiente externo que está numa
temperatura mais alta (fonte quente). Essa transferência se realiza mediante um trabalho
60
externo feito pela energia elétrica por meio de um compressor.
Num tubo longo, chamado de serpentina, circula o gás no interior do refrigerador absorvendo
calor, dos alimentos, até chegar no compressor onde, sob alta pressão, o gás se liquefaz. O
lı́quido segue então para a serpentina externa, o condensador, onde perde calor até chegar no
evaporizador.
A substância usada no interior da serpentina deve ser tal que, mesmo à temperatura ambiente,
requeira pressões relativamente baixas para passar do estado de vapor ao estado lı́quido. O
freon (diclorodifluormetano), por exemplo, se liquefaz a 20o C quando comprimido a 5, 6 atm.
61
4. CONDUÇÃO DO CALOR:
4.1 Transferência de calor.
4.2 Condutibilidade térmica.
4.3 Difusão.

4.1 Transferência de calor - Existem três mecanismo que explicam a forma de


transferência de calor entre um corpo e sua vizinhaça: convecção, condução e radiação (ver
Radiação Térmica). Enquanto a convecção e a condução exigem a presença de um meio ma-
terial, a radiação, como já sabemos, se propaga também no vácuo.
O fato das temperaturas nos lı́quidos e gases se igualarem tem como causa fundamental a
convecção, que é o fluxo orientado do lı́quido ou gás das zonas mais quentes para as zonas
mais frias. Nos sólidos, a convecção não existe.
Convecção: Na convecção há deslocamento de um meio material (o ar ou um lı́quido) devido
a diferença de temperatura. O calor é assim transferido de um sı́tio para outro juntamente
com o meio material.
Numa casa (f igura − 1), a lareira ao nı́vel do chão (fonte quente) e as janelas mais ao alto
(fonte fria) criam correntes de ar, uma vez que, o ar aquecido (menos denso) por impulsão do
ar mais frio (mais denso), tende a subir. O ar mais frio, então, escoa para tomar o lugar do
ar mais quente que sobe, e o processo continua. A esse processo dá-se o nome de correntes de
convecção.
A convecção é parte de muitos processos naturais. A convecção atmosférica exerce um papel
fundamental na determinação de padrões globais de clima e variações diárias no tempo.
Um tratamento quantitativo da convecção é demasiado complexo por estar ligado ao estudo
de turbulência em fluidos.

4.2 Condutibilidade térmica - A Condutibilidade térmica é um processo de trans-


missão do calor em consequência do movimento térmico caótico, ou agitação, das moléculas
ou átomos. É também chamado de Condução térmica.
Na condução há a transferência de calor, sem transporte de matéria, entre objetos em contato
material com temperaturas diferentes. Com o aumento da temperatura, as amplitudes das
vibrações dos átomos ficam relativamente intensas e essas amplitudes de vibração, e portanto
a energia associada, são transferidas ao longo do objeto por colisões a nı́vel microscópico.
Consideremos, como exemplo (f igura − 2), a condução de calor ao longo de uma barra iso-
lada lateralmente com as extremidades ligadas a duas fontes: quente na temperatura TQ e
62
fria na temperatura TF (< TQ ). O calor flui da fonte quente para a fonte fria no sentido do
nivelamento das temperaturas.
A quantidade de calor que passa por área durante o tempo t é o fluxo de calor, que vai depen-
der da diferença de temperaturas, ∆T = TQ − TF , da área A da secção da barra, da distância
l entre as fontes. Se o fluxo de calor H que sai da fonte quente e chega na fonte fria pode ser
tomado, em regime estacionário, como iguais, então, vale a equação para a condução térmica:

TQ − TF
H(= Q/t) = kT A .
l

O fluxo de calor é diretamente proporcional à área da barra e à diferença de temperaturas


entre dois pontos e inversamente proporcional à distância l = ∆L que é orientada no sentido
∆T
da maior variação de temperatura. Sendo ∆L
denominado de gradiente de temperatura.
A constante de proporcionalidade kT é o coeficiente de condutibilidade térmica. O coeficiente
de condutibilidade térmica é a grandeza igual à quantidade de calor transmitida por unidade
de tempo através de uma área unitária quando há um gradiente de temperatura igual a um.
A unidade no SI é [W/m.K].
Alguns exemplos de condutividade térmica (aço inoxidável é um bom condutor) são mostrado
na tabela (f igura − 3).
Se tivermos preocupados em isolar objetos (casas, latas de cervejas, etc.) do calor, estamos
interessados então nos maus condutores (ar seco bom isolante) de calor. Assim, a engenharia
introduziu o conceito de Resistência Térmica R. O valor de R de uma barra de comprimento
l é definido como
l
R= .
kT
A resistência térmica dos materiais (f igura − 3), como a madeira, espuma e lã está muito
relacionada com a eficiência desses materiais em aprisionar o ar em bolsas isoladas.
Num caso mais geral de condução, o regime não é estacionário, o fluxo de calor e a temperatura
são funções da posição x e do instante t. Nessas condições uma discussão teórica levaria a
uma equação diferencial, que relaciona variações de temperatura no tempo com variações de
temperatura de um local para outro

∂T ∂ 2T
=κ 2
∂t ∂x

k
sendo κ = cρ
, a difusibilidade térmica (kappa) que é dependente do calor especı́fico c, densi-
dade ρ do material e da constante de Boltzmann k = 1, 38×10−23 J/K.
63

4.3 Difusão - É um processo através do qual se observa a homogeneização das den-


sidades, concentração (é a quantidade de massa m contida no volume V da solução), quando
a substância é transportada pelo movimento de agitação térmica. As moléculas de uma
substância se movem de uma região do meio onde estão mais concentradas para outra onde
estão menos. A massa de substância transportada através de uma área A durante um tempo
t é a taxa ou fluxo de difusão e é descrita pela Lei de Fick:

∆m ∆C
j= = −DA .
∆t ∆x

A quantidade ∆C/∆x é denominado de gradiente de concentração. Essa expressão mostra


que a quantidade de massa ∆m difundida através da área A num intervalo de tempo ∆t
∆C
é proporcional ao gradiente de concentração ∆x
. O coeficiente de difusão D depende da
natureza e da temperatura do fluido. O sinal (-) indica que o fluxo é no sentido contrário
ao do gradiente de concentração, isto é, da região de maior concentração para a de menor
concentração. Coeficiente de difusão é a grandeza igual à massa de substância difundida
através de uma superfı́cie de 1 m2 de área por unidade de tempo, quando sujeita a um
gradiente de concentração igual a 1 kg/m4 .
A unidade do ceficiente de difusão é o metro quadrado por segundo, o 1 [m2 /s] é o coeficiente
de difusão de um meio que, quando sujeito a um gradiente de concentração igual a 1 kg/m4 ,
através de 1 m2 de superficie perpendicular ao fluxo material passa uma substância igual a
1 kg.
No caso do fluido ser um gás, O coeficiente de difusão D depende da velocidade média v de
suas moléculas, que, por sua vez, é inversamente proporcional à raiz quadrada da densidade
ρ do gás.
64
3A ELETRICIDADE
Fı́sica para as Ciências Agrárias - Caderno-3 ELETROMAGNETISMO
Professor Cesar Lobo

1. CAMPO ELÉTRICO:
1.1 Lei de Gauss e Fluxo.
1.2 Carga elétrica.
1.3 Lei de Coulomb.
1.4 Campo elétrico.
1.5 Condutores e isolantes.

1.1 Lei de Gauss e Fluxo - A lei (teorema) de Gauss trata de fluxos em superfı́cies
~
fechadas S:
De modo geral um fluxo pode ser medido quando há um escoamento de um fluido ou partı́culas
por uma seção transversal, com uma certa velocidade. O fluxo pode ter regime estacionário
~ e uniforme
(escoamento constante no tempo) ou variável. O fluxo de um campo constante E
~ uma superfı́cie aberta de área A, é
através de S,
Z
Φ= ~ S
E.d ~ = EA cos θ

~ e S.
sendo, θ o ângulo formado pelos vetores E ~

O fluxo Φ é uma grandeza escalar:


Alguns exemplos de fluxo: a vazão ou fluxo d’água por uma tubulação, fluxo de chuva, fluxo
de carros no trânsito, fluxo gravitacional, fluxo magnético e fluxo elétrico.
O fluxo magnético ΦB está associado a existência de um campo magnético ou as linhas de
força do campo magnético. As linhas de força do campo magnético nascem sempre num polo
norte e terminam num polo sul.
O fluxo gravitacional ΦG : as linhas de força do campo gravitacional da Terra têm direção
radial e com sentido apontando para o centro do planeta:

I
Φ= ~ = −4πG M
~g .dS

onde, M é a massa do planeta e G a constante de gravitação universal.

O fluxo elétrico ΦE está associado a existência de uma carga elétrica ou uma dis-
65
tribuição de cargas elétricas e portanto ao próprio campo elétrico (as linhas de força do campo
elétrico) gerado pelas cargas ou pela distribuição de cargas. As linhas de força do campo
elétrico nascem sempre numa carga positiva e terminam numa carga negativa. Quando só
existe uma carga, para as linhas de força do campo significa que a outra carga está no infinito.
~ através
A lei de Gauss da eletricidade, no vácuo, vem do fluxo total de um campo elétrico E
~ Quando uma carga (elétrica) lı́quida q encontra-se dentro (no
de uma superfı́cie fechada S.
interior) da superfı́cie fechada, o fluxo total é:
I
Φ= ~ S
E.d ~= q
o

~ delimita o vácuo. Caso a carga não se encontre dentro


onde, o identifica que a superfı́cie S
~ o fluxo total é nulo.
da superfı́cie S,
A carga lı́quida numa superfı́cie com densidade de distribuição de carga, uniforme, σ é
Z
q= σda.

A carga lı́quida pode produzir um fluxo divergente, convergente ou nulo:


a) Fluxo positivo (Φ > 0), divergências para as linhas de campo, criado por uma carga lı́quida
positiva no interior da superfı́cie fechada.
b) Fluxo negativo (Φ < 0), convergências para as linhas de campo, criado por uma carga
lı́quida negativa no interior da superfı́cie fechada.
c) Fluxo nulo (Φ = 0),para o caso da carga lı́quida estar localizada fora da superfı́cie fechada.
No uso da lei de Gauss é sempre importante envolver a região onde se quer calcular o campo,
fluxo ou até mesmo a carga total, por uma superfı́cie gaussiana (superfı́cie imaginária, fechada)
apropriada com a simetria do problema.
As linhas de fluxo (linhas de força de um campo por área) nunca se cruzam. Mas podem ter
~
concentração diferente em diferentes regiões limitada por uma superfı́cie S.
~ (linhas por área) é uma grandeza vetorial e está associada
A densidade de linhas de fluxo D
sempre a intensidade do campo. Portanto na região onde a densidade de linhas de fluxo
mostra-se maior existe um campo mais intenso. Portanto, o fluxo elétrico, fluxo magnético,
~ S
que atravessa uma superfı́cie de área A pode também ser definido por Φ = D. ~ = DA cos θ.

Com θ o ângulo que as linhas de fluxo (campo) fazem com a normal da superfı́cie de área A.
66
1.2 Carga elétrica - A carga elétrica é uma propriedade apresentada por corpos
eletrizados que faz com que os corpos exerçam forças de interações (atrativas ou repulsivas)
mútuas entre eles. A unidade de carga no SI de unidades é o coulomb (C). Existem dois
tipos de cargas elétricas na natureza, a carga do elétron e do próton ambas têm a mesma
magnitude (e = 1, 6×10−19 C) porém, a do elétron é negativa e a do próton é positiva.
Todo o material macroscópico é eletricamente neutro, em condições normais, pois contém um
enorme número de elétrons e prótons em iguais quantidades. Se o material apresentar um
excesso de elétrons, em relação a quantidade de prótons, o material estará eletrizado negati-
vamente, caso contrário estará eletrizado positivamente.
As cargas dos corpos eletrizados, ou partı́culas, são positivas ou negativas mas sempre em
quantidades múltiplas inteiras N de e (quantização q = N e).
Pode-se forçar os objetos a adquirirem uma carga lı́quida positiva ou negativa. Quando uma
vara de vidro é esfregada com seda a vara fica carregada positivamente. Quando uma vara de
plástico é esfregada na nossa pele a vara fica carregada negativamente.
A carga elétrica é conservada, a soma das cargas (incluindo os sinais) num sistemas fechado,
contendo partı́culas, permanece sempre o mesmo (conservação), independentemente do tipo
de evento que as partı́culas possam sofrer.

1.3 Lei de Coulomb - A lei de Coulomb descreve a força de interação entre duas ou
mais partı́culas carregadas e estacionárias. Suponha que duas partı́culas com magnitudes de
carga q1 e q2 estejam distanciadas de r. A intensidade da força exercida em qualquer uma
das cargas é proporcional ao inverso do quadrado da distância entre as cargas e diretamente
proporcional ao produto das magnitudes das duas cargas.

1 q1 q2
F = .
4π r2

Sendo  uma constante a permissividade do meio, que para o vácuo anota-se por o e o fator,
1
constante dielétrica k vale, k = 4πo
= 8, 99×109 N m2 /C 2 .
A força é uma grandeza vetorial e sua unidade no SI de unidades é newton (N ). As forças
que atuam nas cargas obedecem as leis de Newton. A direção da força que uma carga exerce
sobre a outra é ao longo da reta que une as cargas. Se as cargas tiverem sinais opostos as
força são atrativas. Se as cargas tiverem sinais iguais as forças são repulsivas. Pode-se usar
alguns sub-ı́ndices para tornar mais claro a notação das forças com suas direções e sentidos,
67
por exemplo:
1 q 1 q2
F~12 = −F~21 = 2
~ur ,
4π r12
~
r12
onde r12 = r21 é a menor distância entre as partı́culas carregadas q1 e q2 e ~ur , com ~ur = r12
,
é um vetor unitário na direção da reta que une as duas partı́culas.
A magnitude e a direção da força total quando muitas partı́culas interagem eletricamente
vêem do princı́pio da superposição. Onde a força que resulta em uma delas é obtida pela
soma vetorial das forças devido a sua interação com as outras cargas existentes.

~ de uma carga q, existente num ponto do


1.4 Campo elétrico - O campo elétrico E,
espaço é definido como a força por unidade de carga que uma ”carga de prova”experimenta
nessa posição do espaço. Uma carga de prova qo é suposta como suficientemente pequena,
capaz de não perturbar significativamente o campo elétrico de outras cargas.
O campo elétrico é uma grandeza vetorial e sua unidade no SI é newton/coulomb (N/C).
~ devido a uma carga pontual q, em coordenadas esférica onde (r = |~r01 |),
O campo elétrico E
pode ser escrito por:
~ = 1 F~ = 1 q1 ~ur ,
E
qo 4π r2
Esta equação do campo elétrico pode ser facilmente obtida do teorema de Gauss da eletrici-
dade.
A intensidade do campo elétrico num ponto P , devida a varias cargas, é a soma vetorial
das intensidades vetoriais correspondentes a contribuição de cada carga, isoladamente. Cada
~ num ponto P ,
diferencial de carga dq, no vácuo, contribui com um diferencial de campo dE,
tal que:
1 dq
dE~P = ~ur .
4πo RP 2
1.5 Condutores e isolantes - A distribuição de cargas em materiais pode ser continua
(densidade uniforme) ou não. Numa distribuição contı́nua de cargas, cada carga contribuirá
para o campo elétrico num ponto especificado. A distribuição das cargas é sempre num
volume. Defini-se densidade volumétrica de carga como:

dQ
ρ=
dv

com, unidade no SI em (C/m3 ).


dQ
As distribuições de cargas podem ser consideradas em superfı́cies (de área a) σ = da
e em
dQ
linhas de carga (fios de comprimento l) λ = dl
.
68
Os elétrons nos materiais estão em movimento e trocam constantemente de objetos ou átomos;
os núcleos atômicos são praticamente imóveis. Os materiais são classificados de acordo com
o grau de liberdades de seus elétrons. Nos condutores os elétrons das camadas de valência
são livres para movimentar-se (intinerantes) e assim fluem (corrente elétrica) facilmente em
toda a superfı́cie do material condutor. Todos os metais são condutores de eletricidade e
calor; cobre, prata e alumı́nio são bons condutores. Nos materiais isolantes, ou dielétricos, os
elétrons não são livres e qualquer presença de uma carga lı́quida estará localizada. Borracha
e mica são bons isolantes, ou maus condutores de calor e eletricidade.
69
2. POTENCIAL ELÉTRICO:
2.1 Energia potencial elétrica.
2.2 Potencial elétrico.
2.3 Superfı́cies equipotenciais.
2.4 Potencial a partir do campo.
2.5 Algumas aplicações importantes.

2.1 Energia potencial elétrica - A lei de Newton da força gravitacional e a lei de


Coulomb da eletricidade são matematicamente semelhantes; ambas as forças são proporcionais
ao inverso do quadrado da separação das partı́culas. Muitos dos resultados da gravitação po-
dem ser aproveitados no estudo da eletrostática, onde a massa é substituı́da pela carga e a
constante gravitacional universal G é substituı́da pela constante eletrostática k.
A interação elétrica é uma força conservativa e portanto uma energia potencial está associada
com as forças existentes numa coleção de cargas elétrica. Se a configuração da coleção de car-
gas for modificada, surge uma variação da energia potencial elétrica que é sempre convertida
em energia cinética. E cada carga se move em resposta as suas novas interações com as outras
cargas. A energia potencial elétrica além de depender da própria carga de prova depende da
posição da carga de prova e do campo elétrico onde se encontra: A energia potencial elétrica
de uma carga de teste qo em um único ponto do campo é igual ao trabalho feito sobre a carga
para tirá-la da sua posição inicial i que está no infinito e trazê-la até a posição final f que é
o ponto onde se quer a energia potencial elétrica

U = −W∞f .

Assim, a diferença de energia potencial elétrica experimentada por uma carga de teste entre
dois pontos do campo é ∆U = −Wif .

2.2 Potencial elétrico - O potencial elétrico V é definido a partir da energia potencial


elétrica e desempenha um papel importante na discussão da eletricidade. O potencial elétrico
é uma propriedade do campo elétrico propriamente dito estando ou não presente uma carga
de prova: O potencial elétrico experimentado por uma carga de teste em um ponto do campo
elétrico, é
U −W∞f
V = = .
qo qo
A diferença de potencial elétrico (ddp) experimentada por uma carga de teste entre dois
70
pontos do campo elétrico, é ∆V ou

∆U −Wif
V = = .
qo qo

esta ddp vem da diferença de energia potencial elétrica, por unidade de carga, experimentada
pela carga de teste, entre os dois pontos do campo.

2.3 Superfı́cies equipotenciais - A Superfı́cie Equipotencial é um lugar geométrico


dos pontos que possuem o mesmo potencial elétrico. As superfı́cies equipotenciais são sempre
perpendiculares às linhas do campo elétrico e, portanto, ao próprio campo, que é sempre
tangente a essas linhas (ver fig. 26.3).

2.4 Potencial a partir do campo - Conhecendo o campo elétrico em todos os pontos


de uma dada região podemos determinar a diferença de potencial entre dois pontos quaisquer
do campo independentemente da trajetória ~l escolhida (campo de força conservativa). A
diferença de potencial entre dois pontos de um campo elétrico qualquer:
Z f
Vf − Vi = − ~ ~l
E.d
i

e, portanto, escreve-se o campo como o menos gradiente do potencial

E ~
~ = −grad.V ~
= −∇V

que, dependendo da simetria pode ser escrito como:

dV dV ~ l = − dV .
E~r = − , E~x = −i , E
d~r dx d~l
71
2.5 Algumas aplicações importantes:

1
Meio: vácuo, k = 4πo
.
1. O Potencial criado por uma carga q puntiforme

1 q
V = .
4πo r

2. O Potencial criado por um dipolo (com o vetor momento de dipolo m,


~ de módulo, m = qd)

1 q −q 1 mcos θ 1 m·~
~ r
V = V+ + V − = ( + )= 2
= .
4πo r+ r− 4πo r 4πo r3

3. O Potencial criado por um grupo de cargas

n n
X 1 X qi
V = Vi = .
i
4πo i ri

4. O Potencial criado por uma distribuição contı́nua de cargas


Z Z
1 dq
V = dV = .
4πo r

5. A diferença de potencial, devido a um campo com simetria esférica, entre duas superfı́cies
equipotenciais de raios diferentes (rB > rA ), é:
Z B Z B
~ r= 1
E.d~
q
dr = −
1
(
q

q
) = −(VB − VA ).
A 4πo A r2 4πo rB rA
72
3. CAPACITOR ELÉTRICO:
3.1 Capacitores.
3.2 Densidade de energia.
3.3 Associação de capacitores.
3.4 Dielétricos.
3.5 Capacitor com um dielétrico.

3.1 Capacitores - Capacitores ou condensadores são dispositivos elétricos usados para


armazenar cargas elétricas, energia elétrica e, como você verá posteriormente, é importante
para a geração das oscilações eletromagnéticas. Um capacitor é constituı́do de duas placas
condutoras separadas por vácuo, ar ou um material isolante (dielétrico). Quando carregado o
capacitor armazena cargas iguais, mas de sinais contrários, nas duas placas. A carga elétrica
cria um campo elétrico, apontando da placa com cargas positiva para a placa com cargas
negativa, e porque um campo elétrico existe na região entre placas, a placa positiva está a
um potencial elétrico mais alto que a negativa. A quantidade de carga (q) existente na placa
é proporcional a diferença de potencial (V ) entre as placas

q = CV.

A constante de proporção C é a capacitância do capacitor. Um capacitor ao ser carregado


transfere carga (elétrons) de uma placa para outra. A capacitância é uma medida de quanto
de carga é transferido para uma dada diferença de potencial. No SI a unidade de capacitância
é ”coulomb/volt”que é denominado de ”farad (F )”.
A capacitância depende da geometria do capacitor, independe de q e V . Para o cálculo da
capacitância C de um capacitor usamos as três equações:
1. A relação, obtida por Faraday, entre diferença de potencial e a carga armazenada:

q = CV.

2. A lei de Gauss considerando uma superfı́cie gaussiana, com simetria apropriada a geometria
do capacitor, de área A sempre envolvendo a placa com cargas positivas

q = o EA.

A partir da placa, positiva, a diferença de potencial medida é negativa (∆V = −V ).


73
3. A relação entre campo e a diferença de potencial
Z −
V = E.dl.
+

A energia armazenada por um capacitor carregado vem de uma fonte externa, uma bateria,
e esta energia potencial (∆U = −U ) está localizada nas cargas da placa ou mesmo no campo
elétrico entre as placas
W = −∆U = U
1 1 2 1 q2
U = qV = CV = .
2 2 2C
3.2 Densidade de energia - A densidade de energia, energia por unidade de volume
(v = Ad) entre placas, do capacitor é dado por

dU 1
u= = o E 2 ,
dv 2

onde E é a magnitude do campo elétrico entre as placas. Desta expressão obtemos que a
energia potencial produzida num campo, independente da existência do capacitor, é
Z
1
U = o E 2 dv.
2

3.3 Associação de capacitores - Dois ou mais capacitores podem estar associados


em um circuito. Quando a associação é feita em série a carga disponı́vel q é única (a mesma)
em todos os capacitores, consequentemente o circuito série é do tipo divisor de tensão entre
1
os capacitores, Vi = Ci
q.
Já na associação em paralelo a tensão disponı́vel V é única (a mesma) em todos os capacitores,
consequentemente o circuito paralelo é do tipo divisor de carga entre os capacitores, qi = Ci V .

3.4 Dielétricos - Qualquer material não-condutor é chamado de dielétrico (isolante).


As moléculas dos dielétricos podem ser de dois tipos: polares ou apolares: Moléculas polares,
quando a nuvem dos elétrons e dos núcleos positivos têm seus centros de massa das cargas em
pontos não coincidentes no espaço, o que faz com que as moléculas polares sejam pequenos
dipolos elétricos, um exemplo é a água, e portanto apresentam um momento de dipolo elétrico
m
~ permanente,
~ = q d~
m

onde, q é o valor da carga (positiva) e d a distância que separa os dois centros. O vetor m
~
74
assim como o vetor d~ toma a orientação da carga negativa para a positiva.
Moléculas apolares, os dielétricos apolares não apresentam um momento de dipolo perma-
nente. As moléculas apolares quando em presença de um campo elétrico externo também
adquirem um momento dipolar. Se o campo for muito intenso, poderá acontecer que da sep-
aração entre elétrons e núcleos, a matéria fica fortemente ionizada. Este fenômeno pode consti-
tuir a ruptura do dielétrico que faz com que apareçam cargas livres, transformando dielétricos
em condutores. Um exemplo tı́pico de ruptura dielétrica é o raio na atmosfera. Concluı́mos
que quer as moléculas tenham ou não momentos de dipolo elétrico, elas os adquirem por
indução quando colocadas num campo elétrico externo.

3.5 Capacitor com um dielétrico - A capacitância de um capacitor com placas


condutoras paralelas separadas por vácuo é

A
Co = o ,
d

Eo e Vo são respectivamente o campo e a diferença de potencial na região entre placas. O


espaço entre placas de um capacitor pode estar preenchido por um material isolante como
água, óleo, porcelana,..., etc. Experimentalmente Faraday percebeu que a introdução de um
material isolante entre placas de um capacitor aumentava a capacitância por um fator κ, que
denominou de ”constante dielétrica”do material introduzido.
Considere C, E e V respectivamente capacitância, campo elétrico e diferença de potencial
para capacitores com dielétrico. As relações, entre capacitores com e sem dielétrico, são:

C
= κ,
Co

V 1
= ,
Vo κ
E 1
= .
Eo κ
75
4. LEI DE OHM:
4.1 Corrente elétrica.
4.2 Lei de Ohm.
4.3 Associação de resistores.
4.4 Efeito Joule.

4.1 Corrente elétrica - Quando as cargas elétricas estão em movimento temos, o que
se diz, uma corrente elétrica de condução. Num metal as cargas que se movem, transportando
a energia elétrica, são os elétrons livres. Num eletrólito (solução aquosa ionizável) as correntes
são os movimentos dos ı́ons positivos para um lado e negativos para outro.
Para um número de cargas por unidade de volume N q que se move, com velocidade ~v numa
determinada direção, define-se o vetor densidade de corrente J~ como:

J~ = N q~v

onde N qv é uma quantidade de carga que passa por unidade de tempo através de uma su-
perfı́cie unitária colocada perpendicularmente à direção do movimento. O sentido da corrente
é por convenção, e porque historicamente se descobriu primeiro a corrente e depois o elétron,
oposto ao sentido do movimento dos elétrons. Para a existência de cargas livres (positivas ou
negativas) as densidades de correntes estabelecidas são: em fios metálicos J~ = J~− = −N q~v e,
em soluções eletrolı́ticas J~ = J~− + J~+ .
~ como a seção transversal
A corrente i ou I, isto é, a carga que atravessa uma dada superfı́cie S,
de um fio condutor, na unidade do tempo, é dada pelo fluxo de J~ através de S:
~

Z
I= ~ S,
J.d ~

para J~ constante e uma superfı́cie plana de área A tal que sua normal ~n faça um ângulo θ
com a velocidade ~v das cargas, a corrente é dada por

I = JAcosθ.

~ na unidade do tempo, é I =
A taxa de passagem de cargas através de S, dq
e portanto, a
dt

carga total que flui pela área do condutor é


Z t
q= I dt.
0
76
No SI a unidade da corrente é ”coulomb/segundo”que é denominado de ampère (A).

4.2 Lei de Ohm - Uma densidade de corrente J~ se estabelece quando um campo


~ atua sobre os elétrons livres de um condutor. Uma relação importante (lei de
elétrico E
Ohm) é obtida experimentalmente (válida para campos não muito intensos)

J~ = σ E
~

sendo σ a condutividade, uma caracterı́stica do material condutor (quando σ = 0 o material


é um isolante).
A presença de um campo elétrico num metal provoca nos elétrons uma velocidade adicional
orientada, tal velocidade se sobrepõe à velocidade caótica original que é devido a choques com
ı́ons positivos parados. Segundo a lei de Ohm, a presença de um campo constante mantém
uma densidade de corrente também constante.
Considerando as caracterı́sticas de um fio condutor (material σ, comprimento l e seção de
i V
área A) e as relações J = A
eE= l
rescrevemos a lei de Ohm,

1 l
V = i( ),
σA

onde o inverso da condutividade é a resistividade ρ da substância e a constante R,

l
R=ρ ,
A

é a resistência elétrica do condutor (resistor), que tem dependência na geometria e na quali-


dade do material.
Na forma mais conhecida a lei de Ohm é:

V = iR

No SI a unidade de resistência é ”volt/ampère”que é denominado de ohm (Ω).


77
Num metal a resistividade depende da temperatura, os elétrons sofrem mais colisões por
unidade de tempo a medida que a temperatura aumenta. Esta dependência da temperatura
é caracterizada por uma quantidade α, o coeficiente de temperatura da resistividade, para
pequenas variações de temperatura pode usar a aproximação

ρ − ρo = ρo α(T − To ),

onde ρo e To são quantidades de referência. As temperaturas são medidas em kelvin (K) no


SI, ou mesmo em celsius (C).

4.3 Associação de resistores - Dois ou mais resistores podem estar associados em


um circuito. Quando a associação é feita em série a corrente disponı́vel I é única (a mesma)
em todos os resistores, consequentemente o circuito série é do tipo divisor de tensão entre os
resistores, Vi = Ri I.
Já na associação em paralelo a tensão disponı́vel V é única (a mesma) em todos os resistores,
1
consequentemente o circuito paralelo é do tipo divisor de corrente entre os resistores, Ii = Ri
V .

4.4 Efeito Joule - A corrente elétrica flui sempre de um potencial maior para um
potencial menor e para manter a corrente fluindo é necessário gastar energia. Os elétrons
em0 movimento perdem energia potencial numa taxa dada por du/dt = V I. O papel de uma
bateria num circuito é manter a taxa de transferência de energia. Se a energia dos elétrons for
transferida para um resistor, esse a absorve sob a forma de energia térmica interna, o resistor
revela-se com um aumento de sua temperatura. Usando a equação V = IR, a forma mais
conhecida da lei de Ohm, a expressão para a taxa de dissipação de energia no resistor R, pode
ser escrita nas formas
V2
P =VI = = I 2 R.
R
Recordamos que no SI a unidade de potência é watts (W ) e que 1J/1s = 1V.1A = 1W .
78
3B ELETROMAGNETISMO
Fı́sica para as Ciências Agrárias - Caderno-3 ELETROMAGNETISMO
Professor Cesar Lobo

5. CAMPO MAGNÉTICO:
5.1 Campo magnético.
5.2 Força magnética sobre uma corrente elétrica.
5.3 Ímãs em campos magnéticos.
5.4 Torque sobre uma espira.
5.5 Movimento circular de uma carga num campo magnético.
5.6 Espectrógrafo de massa.
5.7 Ciclotron e Sincroton.
5.8 Efeito Hall.

5.1 Campo magnético - A experiência mostra que as cargas elétricas em movimento


~ como também um campo magnético B.
(corrente elétrica) criam um campo elétrico E, ~

”Objetos criam um campo de influência no espaço ao seu redor e este campo interage, por
meio das forças, com objetos de mesma natureza”.
Massa gravitacional (m) → Campo gravitacional (~g ) → Força gravitacional (F~g )
I
~ = −4πG M.
~g .dS

~ → Força elétrica (F~E )


Carga elétrica (q) → Campo elétrico (E)
I
~ S
E.d ~= q.
o

A simetria sugere que:


~ → Força magnética (F~B ).
Carga magnética (qm ) → Campo magnético (B)
O problema é que não existem as cargas magnéticas isoladas (monopolos)
I
~ S
B.d ~ = 0.

Campo magnético é usado para descrever as forças magnéticas e é sempre útil aproveitar a
analogia existente com o campo elétrico, embora a geometria seja um pouco mais complicada.
Uma carga móvel é uma fonte de campos eletromagnéticos (elétrico e magnético) no espaço,
o campo magnético mostra uma interação com outras cargas móveis. Carga em repouso não
79
produz um campo magnético e portanto, não exerce força magnética noutras cargas.
~ na carga q movendo com velocidade ~v é determi-
A força mostrada pelo campo magnético B
nado pelo produto vetorial
F~B = q~v ×B.
~

A magnitude de F~B é determinado por FB = qvBsinθ, onde θ é o ângulo entre ~v e B


~ quando ~v
~ estão fixos no mesmo ponto. A direção de ~v ×B
eB ~ é determinada pela regra da mão direita:

onde o polegar segue o sentido de movimento (~v ) da carga. A força magnética é zero se ~v é
~ É máxima se ~v é perpendicular a B.
paralelo a B. ~

A força magnética é perpendicular ao campo magnético e a velocidade da carga, e porque é


perpendicular à velocidade, ela não pode mudar a velocidade ou energia cinética de uma carga.
Pode, porém mudar a direção do movimento (atuar como uma força defletora ou centrı́peta).
O sinal da carga é importante para determinar a direção (sentido) da força defletora. Uma
carga positiva e uma carga negativa com a mesma velocidade e num mesmo campo magnético
experimentam forças magnéticas em direções opostas.
A unidade de campo magnético é o ”tesla”e abrevia-se por T onde 1T = 1N/A.m. Outra
unidade muito usada é o ”gauss”: 1T = 104 gauss.
As linhas de força do campo magnético (são linhas fechadas) são traçadas de forma semelhante
as linhas de força de um dipolo elétrico (numa extremidade em vez da carga positiva o polo
~ é sempre
norte, na outra extremidade em lugar da carga negativa o polo sul). O campo B
tangente à linha de força do campo magnético e de forma que a magnitude do campo é
proporcional ao número de linhas por unidade de área transversal (densidade).
Se na região onde a partı́cula (de carga q) se movimenta existem, ao mesmo tempo campos
elétrico e magnético, a força resultante na partı́cula (força de Lorentz) é

F~ = q E
~ + q~v ×B.
~

~ é
5.2 Força magnética sobre uma corrente elétrica - O campo magnético B
capaz de exercer forças sobre as cargas em movimento com velocidade ~v . Seja um fio condutor
(de comprimento l e seção reta A) percorrido por uma corrente i (de densidade de corrente
J~ = N q~v ) e na presença de um campo magnético B.
~ A força que atua sobre cada carga
~ e ~v
tem módulo FB = evBsinθ, para simplificar colocamos o fio de maneira que os vetores B
(ou J~ = N e~v ) sejam perpendiculares entre si, assim a força magnética é FB = e eN
J
B onde,
80
N representa o número de elétrons transportados pela corrente por unidade de volume. No
~ não é perpendicular
volume total do fio FB = N Al NJ B = ilB. Quando o campo magnético B
a J~ (ou ao comprimento ~l do fio) a força magnética, é dada por

F~B = i~l×B.
~

Quando o fio não é retilı́neo, podemos imaginá-lo dividido em pequenos segmentos retos
d~l. A força que atua sobre o fio como um todo será dada pela soma vetorial das forças
correspondentes a todos os segmentos que constitui o fio

dF~B = id~l×B.
~

5.3 Ímãs em campos magnéticos - Os Ímãs são dipolos magnéticos. Quando uma
bússola (um pequeno ı́mã permanente) é colocado num campo magnético, uma força tende a
~ Este efeito também ocorre
orientar o polo norte do ı́mã na direção do campo magnético B.
com aparas de ferro, previamente desmagnetizadas, que se magnetizam na presença do campo
magnético externo. Na verdade há um par de forças de intensidades iguais e opostas atuando
sobre os polos do ı́mã. Se qm define o polo do ı́mã (se adotarmos a convenção de sinal polo
norte-positivo e sul-negativo), então
F~ = qm B.
~

Podemos ver que há um torque (~τ ) atuando sobre o ı́mã, se ~l for um vetor apontando do polo
sul para o polo norte, o torque é dado por

~τ = ~l×F~ = qm~l×B
~ =µ ~
~ ×B,

~ = qm~l, sendo a sua unidade no


onde representamos o momento magnético de um ı́mã por µ
SI ampère-metro2 (A.m2 ).

5.4 Torque sobre uma espira - Quando uma espira (comprimento a e largura b,
definindo uma superfı́cie retangular de área A = ab) transportando uma corrente i e colocada
~ ela fica sob ação de um par de forças que tendem a fazer
num campo magnético uniforme B
~ O torque em
a espira girar, de modo que a normal ~n gira tendendo a alinhar-se com B.
qualquer ponto (independe do ponto) realizado pelo par de forças magnéticas é

~τ = ~l×F~
81
τ = b(iaB) sinθ = iAB sinθ

ou
~ =µ
~τ = iA ~n×B ~
~ ×B,

que é a mesma forma de equação para o torque sobre o ı́mã num campo magnético. Então
o momento magnético de uma espira é µ
~ = iA ~n e de uma bobina com N espiras é µ
~ = N iA ~n.

5.5 Movimento circular de uma carga num Campo Magnético - Uma carac-
terı́stica importante da força magnética sobre uma partı́cula carregada (massa m, carga q), é
que a força magnética altera a direção, mas não o módulo, da velocidade da partı́cula.
No caso especial em que a partı́cula é lançada (com velocidade) perpendicular ao campo
magnético, a partı́cula descreve uma órbita circular, a 2a lei de Newton diz que a força resul-
tante sob a partı́cula tem natureza magnética e atua como uma força centrı́peta (módulo)

mv 2
qvB =
r

mv 2
sendo o raio da órbita circular r = qvB
. A freqüência angular deste movimento (MCU) e o
perı́odo são respectivamente:
v qB
ω= = ,
r m
esta freqüência é denominada de freqüência do ciclotron, não depende de r e v.

2π 2πm
T = = .
ω qB

Quando uma partı́cula carregada tem uma componente da velocidade paralela ao campo
~ numa trajetória he-
magnético uniforme, a sua trajetória é em torno da direção do campo B
licoidal. A componente paralela determina o passo da hélice (distância entre elos adjacentes).
Quando uma partı́cula carregada é lançada de modo a cortar uma região de campos cruzados
(campo magnético e elétrico cruzados), a partı́cula sofre a ação de duas forças (F~E = q E
~

e F~B = q~v ×B).


~ Na região de campos cruzados, na condição em que as forças estejam em

equilı́brio, E = vB ou seja,
E
v= ,
B
esta velocidade de equilı́brio permite que a partı́cula, independente de sua massa e carga, a
atravessar a região de campos cruzados sem sofrer qualquer deflexão.
E
Se a velocidade da partı́cula for v > B
ela será desvia na direção da força magnética, caso
82
E
v< B
o desvio será na direção da força elétrica.

5.6 Espectrógrafo de massa - Na situação particular em que ~v é perpendicular a


~ temos que; qvB = mv 2
B r
ou
mv p
r= =
qB qB
onde r é o raio da circunferência descrita pela carga e p o momento linear. Esta equação
permite concluir que (α=proporcional):
1. Partı́culas de massas diferentes, com a mesma carga (isótopos) e com a mesma velocidade
seguem trajetórias diferentes, sendo r α m.
2. Partı́culas idênticas com velocidades diferentes seguem trajetórias diferentes, sendo r α p.
3. O raio da trajetória de uma partı́cula com uma dada velocidade num campo magnético, é
uma função de sua carga e massa, sendo r α m/q.

5.7 Ciclotron e Sincroton - O Ciclotron é um aparelho capaz de acelerar partı́culas


carregadas, como os prótons e dêuterons, até atingir altas energias. Uma forma de conhecer
a estrutura da matéria (nuclear) é lançar em colisão frontal prótons com alta energia contra
um próton alvo.
O Ciclotron é constituı́do por duas cavidades semicilı́ndricas imersas num campo magnético
uniforme e separadas por uma fenda estreita onde se aplica uma tensão (campo elétrico) que
alterna, com uma freqüência f , de modo a fazer a partı́cula continuar seu movimento circular
e ganhando mais e mais velocidade em cada volta até ser liberada para atingir o alvo.
Para prótons de energias superior a 50M eV o ciclotron convencional começa a falhar porque
uma das condições de seu projeto é que a freqüência de rotação de uma partı́cula carregada
qB
circulando num campo magnético seja independente de sua velocidade escalar (f = 2πm
), mas
isto só é válido para velocidades muito menores do que a velocidade c da luz. O Sincroton
corrige a sincronização da freqüência usando as leis relativı́sticas e assim pode trabalhar com
energias superiores a 50M eV .
83
5.8 Efeito Hall - Sabemos que os portadores de cargas num condutor são os elétrons.
Mas o Efeito Hall permitiu descobrir se os portadores de cargas num condutor, por exemplo
uma fita de cobre retangular de área A = ld, Fig.30 − 10, transportavam carga positiva ou
negativa e ainda mediu o número de tais portadores por unidade de volume do condutor. O
Efeito Hall também é um efeito de desvio de um feixe de cargas num campo magnético só
que essas cargas pertencentes a um condutor, são os elétrons de condução. A força magnética
F~B = q v~d ×B
~ que age sobre os portadores de carga é então transferida ao condutor. Os elétrons

em movimento são empurrados para uma das bordas do condutor (regra da mão direita). Se o
acúmulo de elétrons se dá na borda direita de um condutor então haverá um excesso de cargas
positivas na borda esquerda. O aumento da separação entre cargas produz um campo elétrico
~ no interior do condutor capaz de exercer uma força elétrica sobre cada elétron tendendo a
E
empurrá-lo para a esquerda. Uma situação de equilı́brio vai se estabelecendo à medida que a
força elétrica aumente até cancelar a força magnética.
A diferença de potencial entre as bordas, distanciadas de d, é V = Ed. Esta ”diferença de
potencial de Hall”pode ser medida com o auxı́lio de um voltı́metro e a partir da polaridade
desta ddp é que identificamos se a carga transportada é positiva ou negativa, no caso é
negativa.
Para as forças elétrica e magnéticas em equilı́brio

E i
vd = = ,
B N eA

substituindo E por V /d obtemos


Bi
N= .
V le
O efeito Hall tem sido, e continua a ser, muito útil para entender a condução elétrica nos
metais.
84
6. ELETROMAGNETISMO:
6.1 Eletromagnetismo.
6.2 Lei de Ampère.
6.3 Campo intrı́nseco e Campo externo.
6.4 Interação entre condutores elétricos.
6.5 Campo magnético da espira, solenóide e eletroı́mã.
6.6 Lei da indução de Faraday.
6.7 Simetrias e aplicações da indução.

6.1 Eletromagnetismo - No final do século XIX cientistas como Coulomb, Oer-


sted, Ampère, Biot, Savart, Faraday, Henry e outros descreveram os fenômenos elétricos e
magnéticos por um conjunto de leis empı́ricas e aparentemente sem ligações. Alguns destes
fenômenos mostraram que existe uma relação matemática entre corrente elétrica e campo
magnético criado por ela. Maxwell mostrou, por meio de quatro equações, cujas expressões
estão abaixo, que a eletricidade e o magnetismo constituem uma mesma área de conheci-
mento.
Teorema de Gauss da eletricidade (existem os monopolos elétricos)
I
~ s= q.
E.d~ (1)
o

Teorema de Gauss do magnetismo (não existem os monopolos magnéticos)


I
~ s = 0.
B.d~ (2)

Lei de Ampère-Maxwell I
~ ~l = µ0 (i + 0 ∂φE ).
B.d (3)
∂t
Lei de Faraday-Lenz - força eletromotriz induzida (ε)
I
~ ~l = − ∂φB = ε.
E.d (4)
∂t

Nestas equações duas constantes  e µ descrevem propriedades relativas ao meio,


no caso do vácuo, o é a permissividade elétrica e µo é a permeabilidade magnética. As
duas primeiras leis já foram discutidas no desenvolvimento quando consideramos os campos
estáticos.
85

6.2 Lei de Ampère - Na eletrostática usamos a lei de Gauss para calcular o campo
elétrico criado por uma distribuição simétrica de carga.
Para calcular o campo magnético criado por uma distribuição de corrente usamos a lei de
Ampère I
~ ~l = µo i.
B.d

A lei de Biot-Savart
~P = µo id~l×~er
dB ,
4π r2
também possibilita calcular o campo magnético de uma distribuição de corrente elétrica mas,
a lei de Ampère tem uma simplicidade e uma forma que a torna compatı́vel com as outras
equações de Maxwell do eletromagnetismo.
A lei de Ampère é sempre aplicada a uma curva fechada chamada de ”curva amperiana”(um
análogo a superficie gaussiana). A curva amperiana é um caminho fechado num plano per-
pendicular a um fio por onde passa uma corrente lı́quida.
~ ~l = 0.
H
Se a curva amperiana não contém o fio no seu interior B.d
~ ~l = ±µo i.
H
Se a curva amperiana contém o fio, com uma corrente lı́quida, no seu interior B.d
A escolha do sinal vem de acordo com a regra da mão direita, onde o polegar acompanha
sempre a corrente.
No caso de uma curva amperiana com simetria de uma circunferência, de raio R, a grandeza
~ ~l = B(2πR), onde B
~ é sempre tangente a d~l.
H
B.d

6.3 Campo intrı́nseco e campo externo - Considerando um fio retilı́neo de com-


~ ext. , a
primento L transportando uma corrente i num campo magnético externo e uniforme B
força criada pelo campo externo é:

F~ = iL×
~ B~ ext. .

O campo intrı́nseco é o campo criado pela própria corrente i. Em qualquer ponto, o campo
~ =B
resultante é B ~ ext. + B
~ intr. e que pode ser entendido na figura 31-7.
86
6.4 Interação entre condutores elétricos - Consideremos dois fios, de comprimen-
tos L, paralelos, com uma distância d entre eles, e percorridos por correntes i1 e i2 . A força
experimentada pelos fios é devido a interação dos elementos de corrente i2 dl~2 , na vizinhança
com o campo B1 = µ o i1
2πd
criado pelo elemento i1 dl~1 , é: F21 = B1 i2 L ou

µ o i1 i 2 L
F21 = .
2π d

As correntes paralelas se atraem e as antiparalelas se repelem.


A força que atua entre correntes em fios paralelos é a base para a definição da unidade básica
”Ampère”no SI.

6.5 Campo magnético da espira, solenóide e eletroı́mã - Colocando-se uma


bússula (agulha magnética) nas proximidades de um fio que conduz uma corrente elétrica
contı́nua, a agulha sofrerá um desvio indicando a existência de um campo magnético criado
pela corrente. As linhas de campo magnético podem ser visualizadas quando colocamos
limalhas de ferro ao redor do fio pois elas tenderão a se orientar ao longo das linhas de campo.
Num fio longo conduzindo corrente, quanto mais intensa for a corrente maior será o desvio da
agulha e quanto mais próxima a agulha do fio mais intenso será o campo. A lei de Ampère
determina o campo num ponto qualquer a uma distância d de um fio percorrido por corrente

µo i
BP = .
2πd

1. Campo de uma espira circular de raio R, num ponto P do seu eixo é:

µo iR.sinα
BP = .
2 d2

µo i
No centro da espira as condições determinam que Bo = 2 R
.
2. Campo de um solenóide ou bobina, solenóide consiste de um fio enrolado em forma de
hélice formando N espiras iguais uma ao lado da outra e igualmente espaçadas. A lei de
Ampère determina que o campo no exterior do solenóide é nulo e que no interior, eixo central,
é:
B = nµo i

sendo n uma densidade, isto é, número de espiras por unidade de comprimento do solenóide.
3. O eletroı́mã é um solenóide enrolado num núcleo de ferro doce (isto aumenta a intensidade
87
do campo). O eletroı́mã só atua como ı́mã enquanto passar uma corrente no solenóide. São
numerosas as aplicações do eletroı́mã, desde a simples campainha elétrica até os poderosos
sistemas de elevação de cargas usados em portos e construção civil.

6.6 Lei da indução de Faraday -


Faraday - toda a variação de fluxo magnético produzida em um circuito fechado provoca neste
uma corrente induzida.
Lenz - o sentido de uma força eletromotriz induzida (ε) é tal que ela se opõe, pelos seus efeitos,
à causa que a produziu. A lei de Lenz não é mais do que uma declaração do Princı́pio de
Conservação da Energia de forma adequada para ser usada nos circuitos nos quais existem
correntes induzidas.
∂φB
ε=− ,
∂t
I
~ ~l = − ∂φB .
E.d
∂t
A experiência mostra que uma força eletromotriz induzida (f emi) só aparece quando o fluxo
magnético (número de linhas do campo magnético por área) está variando. Numa situação
estática, na qual nenhum objeto fı́sico se move e as correntes são constantes não há f emi.
A chave da indução é variação do fluxo magnético

∂φB
6=0.
∂t

~ onde S
~ dS ~ é uma superfı́cie de área A, que pode ou não
R
Sendo o fluxo magnético ΦB = B.
ser plana e ainda limitada por uma espira condutora fechada.
Para um campo magnético constante permeando perpendicularmente uma área plana A o
fluxo magnético é ΦB = BA, sendo ”weber”(W b) a unidade de fluxo magnético no SI onde
1W b = 1T.m2 .
Se variarmos o fluxo magnético através de uma bobina de N espiras, uma fem induzida aparece
em cada espira e estas fems, como baterias ligadas em série, devem ser adicionadas. Se a
bobina for cerradamente enrolada de modo que as espiras ocupem praticamente o mesmo lugar
no espaço (compacta), o fluxo ΦB através de cada espira será o mesmo. A força eletromotriz
induzida é
∂φB
ε = −N .
∂t
6.7 Simetrias e aplicações da indução - As leis de Ampère (corrente gera campo
magnético) e Faraday (campo magnético gera corrente elétrica) guardam uma importante
88
simetria:
Corrente → Torque - Se colocarmos uma espira condutora fechada percorrida por corrente
num campo magnético externo, um torque agirá na espira causando sua rotação (princı́pio
do motor elétrico).
Torque → Corrente - Se colocarmos uma espira condutora fechada a girar, devido a um
torque externo, num campo magnético externo, uma corrente elétrica aparecerá na espira
(princı́pio do gerador elétrico).
A lei da indução de Faraday possibilitou uma revolução tecnológica que desencadeou a partir
do século XVII devido a sua capacidade de produzir energia elétrica a partir de outras formas
de energia (do petróleo, do carvão, do núcleo de urânio, das barragens e mesmo dos cata-
ventos,..).
O funcionamento de um gerador de força eletromotriz baseia-se no movimento de uma
espira de área A num campo magnético de intensidade B. O fluxo magnético através da
espira é
ΦB (t) = BA cosθ

sendo θ = (ωt + θo ) a equação instantânea da fase, com a fase inicial θo e velocidade angular
da espira ω.
Uma variação de fluxo gera uma força eletromotriz induzida

∂φB
ε(t) = − = ωBA sin(ωt + θo ),
∂t

que produz na espira, de resistência R, uma corrente alternada (induzida)

ε ωBA
i(t) = = sin(ωt + θo ).
R R

Pela lei de Lenz o campo magnético intrı́nseco, gerado pela corrente induzida, tende a com-
pensar a variação de fluxo produzido pelo campo exterior.
89
Os transformadores elétricos têm por finalidade mudar a tensão numa rede elétrica,
o que é de grande importância no transporte de energia elétrica. Dado que a potência fornecida
é (P = ε i) enquanto que a potência dissipada em calor é (P = i2 R), sendo R uma carac-
terı́stica da linha, interessa trasmitir uma dada potência com menor corrente possı́vel (cabo
de alta tensão). Já nos locais de utilização doméstica usa-se os transformadores para reduzir
a tensão (pontos de baixa tensão).
Um transformador consiste de duas bobinas isoladas eletricamente, montadas em um mesmo
núcleo de ferro (concentra as linhas de campo).
A bobina, com Np espiras, que recebe a tensão a ser transformada (εp ) recebe o nome de
”circuito primário do transformador”e a outra bobina, com Ns espiras, que fornece a tensão
transformada (εs ) é denominada de ”circuito secundário do transformador”. As duas bobinas
são enroladas em um mesmo núcleo de ferro laminado para diminuir as perdas causadas pelas
correntes de Foucaut, e para diminuir o acoplamento entre as duas bobinas. Cada circuito
constituı́do de N espiras apresenta uma resistência caracterı́stica R onde uma força eletro-
motriz ε = −N dΦdtB proporciona uma corrente de intensidade i. As tensões nos dois circuitos
estão relacionadas por
εs Ns
= .
εp Np
Em um transformador ideal, a potência do secundário é igual a potência do primário (Pp = Ps )
e vale as relações εp .Ip = εs .Is e ainda Ip .Np = Is .Ns .
90
3C CIRCUITOS CC/CA
Fı́sica para as Ciências Agrárias - Caderno-3 ELETROMAGNETISMO
Professor Cesar Lobo

7. CIRCUITOS DE CORRENTE CONTÍNUA:


7.1 Força eletromotriz.
7.2 Regras de Kirchoff.
7.3 Instrumentos de medidas elétricas.
7.4 Circuitos-CC/RC.

7.1 Força eletromotriz - No funcionamento de um circuito elétrico ou eletrônico há


certos componentes essenciais como geradores, baterias, resistências, capacitores, bobinas, ...
etc. Os geradores e baterias (fontes) são dispositivos de força eletromotriz (fem), realizam
trabalho sobre as cargas para manter uma diferença de potencial (ddp) entre seus terminais
de saı́da. Os dispositivos são objetos reais, têm resistências internas ri .
Uma bateria (fonte de fem) tem a função de manter uma diferença potencial, e por con-
seqüência manter a corrente, entre dois pontos do circuito. A força eletromotriz ε é:

P dW
ε= = = I R.
I dq

A unidade de fem é volts (V ).

7.2 Regras de Kirchoff - A resolução de um circuito, isto é, o cálculo da corrente e


da tensão em cada elemento componente do circuito, pode ser obtido a partir das seguintes
regras, regras de Kirchoff:
1. A soma das diferenças de potencial ao longo de um caminho fechado é sempre nula (regra
das malhas),
ε − I ri − I R = 0.

Observação: Corrente com sentido igual ao sentido do percurso escolhido para a malha con-
tribui com uma diferença de potencial negativa, caso os sentidos sejam contrários, a con-
tribuição é então positiva.
2. A soma das correntes que entra num ponto de ligação entre vários elementos de um circuito
é igual à soma das correntes que sai (regra dos nós)

Σi Ii = 0.
91
Sugestão: Tome as correntes que entram no nó como positivas e as que saem como negativas.
Estas duas leis possibilitam escrever tantas equações quantas as variáveis do circuito. O
número das equações pode ainda ser reduzido sempre que se tem elementos do mesmo tipo
associados em série ou em paralelo.

7.3 Instrumentos de medidas elétricas - Os multitestes de medidas elétricas ba-


sicamente atuam como:
VOLTÍMETRO - mede a diferença de potencial entre dois pontos em um circuito. O voltı́metro
necessita ter uma grande resistência interna e portanto, para minimizar o efeito dessa re-
sistência, deve ser ligado em paralelo entre dois pontos do circuito.
AMPERÍMETRO - medidor de corrente, deve ser ligado em série e necessita ter uma pe-
quenı́ssima resistência interna para minimizar uma alteração significativa da corrente a ser
medida.

7.4 Circuitos-CC/RC - Passamos a analisar como a corrente num circuito série RC


(resistor, capacitor), de malha única, varia no tempo. Um capacitor (C) é ligado em série
com um resistor (R). Um interruptor S na posição a pode conectar o ramo RC com uma
bateria (ε) num circuito série. Interruptor na posição b mostra um circuito RC série que não
contém a bateria. O processo de carga, S em a, e descarga, S em b, passa a ser descrito:

DESCARGA - suponha que o capacitor esta plenamente carregado qo = Cε, carga esta obtida
anteriormente com o auxı́lio da bateria, em t = 0 quando o interruptor S é posicionado em b.
Aplicando a lei das malhas, encontramos:

dq q
R + = 0.
dt C

A solução desta equação diferencial (homogênea) é:

q(t) = qo e−t/RC

A corrente de descarga vale:

dq qo −t/RC
I(t) = =− e = Io e−t/RC ,
dt RC
92
onde a intensidade da corrente inicial, uma vez que qo = Cε, é

qo ε
Io = = .
RC R

Salientamos que a constante de tempo capacitiva τ = RC, como uma caracterı́stica do cir-
cuito, governa os processos de carga e descarga do capacitor.

CARGA - suponha que o capacitor agora, está inicialmente descarregado, qo = 0 em t = 0,


quando o interruptor S é posicionado em a. Aplicando a lei das malhas, encontramos:

dq q
R + = ε.
dt C

A solução desta equação diferencial (não-homogênea) é:

q(t) = Cε(1 − e−t/RC )

Portanto a equação instantânea para corrente é:

dq ε
I(t) = = e−t/RC .
dt R

A equação da corrente mostra que logo após o interruptor for posicionado em a a corrente
ε
tem o valor Io = R
(da mesma maneira que, se não houvesse nenhum capacitor no circuito).
Os resultados predizem que passado muito tempo a carga no condensador é q(∞) = Cε e a
corrente desaparece I(∞) = 0.
Observação: Quanto t = RC a expressão (1 − e−t/RC ) vale 0, 632, ou seja, no tempo carac-
terı́stico t = RC o capacitor atinge 63, 2% de sua carga total.
93
8. CIRCUITOS DE CORRENTE ALTERNADA:
8.1 Oscilações elétricas.
8.2 Álgebra dos fasores.
8.3 Potência e valor eficaz.
8.4 Elementos de um circuito.
8.5 Circuitos-CA/RLC.

8.1 Oscilações elétricas - As correntes elétricas com variações periódicas senoidais

i(t) = im sin(ωt + θ)

geram campos oscilantes no tempo. As oscilações senoidais são sempre de interesse devido a
sua simplicidade no tratamento matemático. Uma grandeza oscilante descreve um movimento
harmônico simples (MHS). Uma oscilação pode sempre ser simulada por um ”fasor”que é um
vetor girante. O diagrama fasorial é importante, pois permite somar grandezas senoidais sem
usar a equação da onda ou a forma da onda.
Consideremos uma circunferência descrita pelo vetor girante OA de raio Sm , com rotação
constante no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio. A ponta do vetor descreve um
arco de circunferência e o ângulo formado entre o eixo horizontal e a direção do vetor, ângulo
θ, varia com o tempo. O ângulo descrito por unidade de tempo representa a velocidade
angular (movimento circular) ou freqüência angular (movimento harmônico simples), que
representaremos pela letra grega ω.

∆θ 2π
ω= = = 2πf
∆t T

sendo, θ expresso em radianos (rd), t em segundos (s), consequentemente ω em rd/s. Para


uma volta completa (2π rd), o tempo que o vetor OA leva para completar a rotação (um
ciclo) é chamado de perı́odo (T ) e o número de ciclos completados por segundo é chamado de
freqüência (f ), sendo f expresso em ciclos/s ou hertz Hz. Portanto, a relação entre freqüência
e perı́odo é f = T1 .
94
8.2 Álgebra dos fasores - Em circuitos de corrente alternada (CA), a tensão e a
corrente oscilam no tempo com a mesma freqüência, a freqüência f do circuito. Nos circuitos
CA as oscilações das intensidades da corrente entre os picos +im e −im e da tensão entre
picos +Vm e −Vm podem ser descritas respectivamente por

i(t) = im sin(ωt + θi )

e
V (t) = Vm sin(ωt + θV )

onde (ωt + θ) é denominado de fase; θi e θV são respectivamente as fases iniciais, para a


corrente e tensão alternadas e não são necessariamente iguais.

Os fasores podem ser usados para somar duas ou mais grandezas senoidais de mesma
natureza fı́sica e de mesma freqüência, com fases iguais ou diferentes. Suponha dois vetores
S1 = S1 (t) e S2 = S2 (t) de amplitude Sm1 e Sm2 , de mesma natureza.
As expresões matemática para essas grandezas são:

S1 = Sm1 sinωt

e
S2 = Sm2 sinωt.

O diagrama fasorial e as formas de onda podem sempre ser representadas graficamente. Neste
caso, os vetores girantes (fasor) assim como as formas de onda (sinais) estão em fase, i.e.,
partem de uma mesma fase inicial (θ = 0). Diz-se, por exemplo, que duas formas de onda ap-
π
resentam se em ”quadratura de fase”quando defasadas de 2
rd e em ”oposição de fase”quando
defasadas de πrd.
Considere as equações para duas grandezas oscilantes:

S1 = Sm1 sin(ωt + θ1 )

S2 = Sm2 sin(ωt + θ2 )

A resultante da soma deste sinais é:

SR = Sm1 sin(ωt + θ1 ) + Sm2 sin(ωt + θ2 ).


95
Para obter o sinal resultante poderı́amos usar certas propriedades da trigonometria, ao invés
disso usaremos a álgebra dos fasores. Usando simplesmente as regras para adição de vetores
(regra do paralelogramo), obtemos o vetor resultante, que terá amplitude Sm e fase φ.

y1 = Sm1 sinθ1

y2 = Sm2 sinθ2

yR = y1 + y2

x1 = Sm1 cosθ1

x2 = Sm2 cosθ2

xR = x1 + x2

usando ”Pitágoras”
p
Sm = xR 2 + yR 2

ainda,
yR
φ = arctan .
xR
96
8.3 Potência e valor eficaz - A potência elétrica entregue a carga vem do produto
entre tensão (ddp) e corrente. A potência elétrica instantânea dissipada no resistor, num
circuı́to CA, é
P = V (t).i(t) = Vm .im sin2 (ωt + θ)

Podemos notar que a potência é uma grandeza pulsante e positiva (o sentido da energia é do
gerador para a carga). Define-se valor eficaz de uma tensão alternada ao valor de uma tensão
contı́nua que produz a mesma dissipação de potência, que a tensão alternada em questão,
num mesmo resistor. No caso de uma tensão alternada, senoidal, pode-se provar que o valor
médio da potência no perı́odo de oscilação é:

V m im
P =√ √
2 2

Então, os valores eficaz da tensão e corrente são respectivamente:

Vm
VEF = √ = 0, 707 Vm
2
e
im
iEF = √ = 0, 707 im .
2
Em uma grandeza senoidal, a quantidade Sm é chamada de valor de pico e portanto 2Sm é
chamado de valor de pico à pico.
97
8.4 Elementos de um circuito - No funcionamento de uma rede elétrica ou mesmo
aparelhos eletrônico domésticos há certos elementos essenciais: geradores, resistores, ca-
pacitores, indutores (bobinas) cuja combinação determina a tensão (V ) e a corrente (i)
num dado ponto do circuito.
Cada elemento tem a sua função: O gerador sempre fornece energia elétrica, o resistor dis-
sipa a energia elétrica, o capacitor, enquanto está carregando, armazena energia no campo
elétrico e o indutor, enquanto está carregando, armazena energia no campo magnético.
A capacitância C é uma medida do quanto de energia pode ser armazenada no campo elétrico
entre placas de um capacitor. A capacitância C é medida em ”farad”(F ) no SI e, como já
vimos, depende da geometria do capacitor.
O indutor (é uma bobina feita de fio condutor enrolado sobre um núcleo de ar ou ferro) possui
uma indutância L que é uma medida do quanto de energia pode ser armazenada no campo
magnético criado pela corrente elétrica. A indutância L depende das dimensões da bobina
(como o número de espiras) e do material que é feito o núcleo .
O indutância sempre se opõe a uma variação da intensidade da corrente elétrica.

ΦB
L=N
i

A unidade de indutância no SI é chamada de ”henry”(H).


A resolução de um circuito implica sempre em conhecer o valor da corrente e da tensão em
cada um de seus elementos, que pode ser obtido a partir das regras de Kirchoff (dos nós e
das malhas) que possibilitam escrever tantas equações independentes quantas as variáveis do
circuito.
Há, no entanto, algumas simplificações que vêm quando os elementos do circuito se encontram
em série (circuito divisor de tensão) ou em paralelo (circuito divisor de corrente), que reduzem
o número de equações a resolver.
98
8.5 Circuitos-CA/RLC - Forma simplificada do circuito:

Tensão fornecida pela fonte (de corrente alternada):


ε(t) = εmax sin(ωt) ........ ε = εmax / 2 [V ]

Impedância do circuito-CA:

Z = Z(R, XC , XL ) [Ω]

Intensidade da corrente fornecida pela fonte:


iF (t) = imax sin(ωt + θ) ........ iF = imax / 2 [A]

Objetos do circuito-CA:

Resistor:
l
R=ρ [Ω]
A
VR
Reatância: XR = R Tensão: VR = iR .R Corrente: iR = R

Capacitor:
A
C = o [F ]
d
1 VC
Reatância: XC = 2πf C
Tensão: VC = q C1 Corrente: iC = XC

Indutor:
ΦB
L=N [H]
i
di VL
Reatância: XL = 2πf L Tensão: VL = dt
L Corrente: iL = XL
99
Circuito Série-CA/RLC

corrente única:
i F = i R = iC = i L

divisor de tensão (f.e.m. ε):

q
ε= VR 2 + (VC − VL )2

impedância:
p
ZS = R2 + (XC − XL )2

fator de potência:
R
cos θS =
ZS
100
Circuito Paralelo-CA/RLC

divisor de corrente (divisor da corrente fornecida iF ):

q
iF = iR 2 + (iC − iL )2

tensão única:
ε = VR = VC = V L

impedância: r
1 1 1 1 2
= 2
+( − )
ZP R XC XL
fator de potência:
ZP
cos θP =
R
101
3D RESSONÂNCIA E RELATIVIDADE
Fı́sica para as Ciências Agrárias - Caderno-3 ELETROMAGNETISMO
Professor Cesar Lobo

9. RESSONÂNCIA:
9.1 Ressonância.
9.2 Magnetismo e a matéria.
9.3 Susceptibilidade (χ).
9.4 Efeito Zeeman.
9.5 Ressonância magnética nuclear (RMN).
9.6 Ressonância paramagnética eletrônica (RPE).

9.1 Ressonância - A ressonância é um fenômeno comum aos sistemas oscilantes.


Este fenômeno traduz uma capacidade seletiva de absorção de energia para determinadas
freqüências por objetos macroscópicos que nos rodeiam como pontes, edifı́cios, motores, caixas
acústicas, antenas, cordas vibrantes, etc. ou microscópicos como moléculas, átomos e núcleos
atômicos. No caso de motores e edifı́cios devemos construı́-los de forma a minimizar a am-
plitude destes movimentos (dessintonizá-los das freqüências dos abalos sı́smicos, no caso dos
edifı́cios). Já no caso das antenas a construção tem por objetivo maximizar a amplitude de
ressonância (sintonizar) para facilitar a captação ou emissão de uma dada freqüência. As
moléculas com uma forte assimetria como a do sal (cloreto de sódio) quando em presença
de um campo elétrico sofrem um afastamento entre os centros de suas cargas negativas e
positivas. Cessada a ação do campo, os centros de cargas ficam a oscilar de um lado para
outro como se estivessem ligados por uma mola. Nestes sistemas tão diferentes como edifı́cio
(altura), antena (corrente elétrica) e moléculas (centro de cargas) o que há de comum é a
existência de uma grandeza que varia periodicamente no tempo, em torno de um valor médio,
caracterizando uma freqüência própria em cada sistema. Dai surge a capacidade seletiva de
absorção de energia para uma freqüência de excitação externa próxima à freqüência própria
de cada sistema.
A freqüência para a qual se obtêm maiores amplitudes de oscilação chama-se de freqüência de
ressonância e é geralmente próxima a uma das freqüências própria do sistema. Nas vibrações
de átomos e moléculas a freqüência de ressonância tem que ser igual a uma das freqüências
próprias, umas vez que não há atrito. Nos sistemas macroscópicos sempre há o atrito mecânico
e portanto uma certa quantidade de energia é absorvida, mesmo para freqüências diferentes da
de ressonância (obtemos sinais de antenas mal sintonizadas, edifı́cios oscilam com pequenos
102
tremores de terra). Em sistemas microscópicos, como as vibrações moleculares estimuladas
por microondas, a absorção de energia é muito seletiva: o sistema só oscilará se a energia for
exatamente a que corresponde à freqüência de ressonância. Isto explica o porquê que num
forno de microondas a comida aquece e o prato de pirex não.

No circuito RLC a condição da ressonância eletromagnética é de que XL = XC , isto


implica que a impedância seja Z = R. A freqüência da onda eletromagnética produzida, na
ressonância, é
1 1
fo = √ .
2π L C
9.2 Magnetismo e a matéria - Na matéria os elétrons tem movimento orbital em
torno do núcleo atômico e um movimento de giro em torno de um eixo interno ao próprio
elétron, o spin eletrônico. Os spins possuem momento dipolar magnético associado a um dos
valores +1 ou −1. Na descrição microscópica do magnetismo a imantação expontânea vem do
alinhamento dos spins. Numa substância ferromagnética os spins dos elétrons estão dispostos
em nós de uma rede, podendo apontar para cima, momento magnético +1 ou para baixo,
momento magnético −1. Numa configuração de spins, distribuı́dos numa rede e orientado
numa única direção, por exemplo só para cima, temos a magnetização, essa magnetização
pode ser estimulada por um campo magnético externo.
Nos ı́mãs, os momentos de dipolos magnéticos são medidos em termos do magneton de Bohr
(µB ). O alinhamento destes dipolos magnéticos quando submetidos a um campo externo
(geralmente fraco) tende a reforçar o próprio campo e portanto, produzem uma magnetização
do material. Denomina-se magnetização (M ) de uma amostra o momento de dipolo magnético
total por unidade de volume da amostra. A magnetização é uma grandeza vetorial e sua
unidade no SI é o ”ampère por metro”(A/m).
Podemos classificar os materiais magnéticos em três categorias paramagnéticos, diamagnéticos
e ferromagnéticos, de acordo com o comportamento dos momentos magnéticos atômicos no
campo externo.
Os materiais paramagnéticos apresentam um processo de alinhamento fraco que é facilmente
perturbado pela agitação térmica. Os spins eletrônicos ou momentos magnéticos atômicos ou
moleculares estão fracamente interagindo entre si, produzindo orientações distribuı́das de
maneira aleatória. Quando em presença de um campo magnético externo, não muito intenso,
os dipolos sofrem um alinhamento parcial reforçando o campo. O aumento desse campo dev-
ido ao paramagnetismo é muito pequeno de modo que uma energia térmica correspondente à
103
temperatura ambiente é suficiente para desorientar a maior parte dos spins. Pierre Curie em
1895, descobriu experimentalmente que a magnetização (M ) de uma amostra paramagnética
é proporcional ao campo magnético (B) onde a amostra está imersa e inversamente propor-
cional a temperatura (T ), M = CB/T , onde C é a constante de Curie.
Os materiais diamagnéticos não possuem dipolos magnéticos intrı́nsecos, próprios ou perma-
nentes, porém é possı́vel induzir dipolos magnéticos nestes materiais pela ação da aplicação de
um campo magnético externo Bapl . O diamagnetismo é uma manifestação da lei da indução
de Faraday-Lenz atuando sobre os elétrons atômicos, cujos movimentos são equivalentes a
minúsculas espiras de correntes, assim, o campo magnético induzido é o oposto do campo
indutor. O diamagnetismo é uma propriedade de todos os átomos, entretanto, quando um
átomo possui um momento de dipolo intrı́nseco, o efeito diamagnético fica mascarado pelo
comportamento, mais forte, paramagnético ou ferromagnético.
Os materiais ferromagnéticos como o ferro, o cobalto e o nı́quel apresentam uma interação
especial, denominado de acoplamento de troca, que permite um fortı́ssimo alinhamento dos
dipolos atômicos em rigoroso paralelismo, apesar das possı́veis perturbações térmicas em vir-
tude dos movimentos atômicos. O ferromagnetismo é uma conseqüência dessa interação,
acoplamento de troca entre um átomo com seus vizinhos na rede cristalina de um sólido.
A região limitada do espaço, sobre o qual os momentos de dipolo magnético estão alinhados
criando um acoplamento de troca é denominado de domı́nio magnético.
Quando a temperatura de um material ferromagnético é elevada acima de um certo valor
crı́tico denominada de temperatura de Curie, o acoplamento de troca desaparece e o material
torna-se simplesmente um paramagnético.

9.3 Susceptibilidade (χ) - A maioria dos métodos experimentais de estudos de


sistemas consiste em observar a sua reação quando o sistema sofre uma excitação bastante
fraca, de modo a não perturbá-lo muito. A susceptibilidade é uma função resposta linear do
sistema, uma caracterı́stica portanto de seu estado não perturbado, ou fracamente perturbado.
Podemos observar a resposta em magnetização de um sistema magnético por meio de sua
imantação devido a um campo externo fraco

dM
χm = .
dBapl.

A observação da variação de (χ) com a temperatura é fundamental no estudo das transições


de fase. Como no caso, por exemplo, a transição do estado paramagnético para o estado
104
ferromagnético se traduz por um aumento de susceptibilidade quando a temperatura diminui
até a temperatura de Curie (TC ), temperatura crı́tica da transição. Este aumento indica uma
tendência do estado ferromagnético de guardar uma imantação residual, mesmo na ausência
de campos perturbativos. O material ferromagnético apresenta um valor muito grande e pos-
itivo para a susceptibilidade, o paramagnético χm > 0 e o diamagnético χm < 0.

9.4 Efeito Zeeman - O efeito Zeeman é o deslocamento dos nı́veis de energia de um


átomo causado por um campo magnético. Consideramos o caso do hidrogênio atômico, que é
constituı́do por um elétron na vizinhança de um próton (núcleo). O estado fundamental para
o elétron no átomo de hidrogênio se compõe de dois nı́veis, com quatro possı́veis estados (de-
graus) dos quais três se confudem numa mesma energia e um quarto estado com sua energia
bem definida. Na ausência de um campo magnético externo, o espectro do hidrogênio contém
então uma só linha de transição energética entre os dois nı́veis do estado fundamental. Quando
na presença de um campo magnético, de valor bem definido para o átomo de hidrogênio, é
possı́vel levantar a degenerescência do estado tripleto, constituı́do de três sub-nı́veis, e assim
observar as seis possı́veis transições entre os dois nı́veis do estado fundamental.

9.5 Ressonância magnética nuclear (RMN) - Certos núcleos atômicos possuem


momento dipolar magnético portanto, têm a propriedade de se comportarem como pequenos
ı́mãs que respondem a presença de um campo magnético externo absorvendo ou emitindo
radiação eletromagnética. O momento dipolar magnético do núcleo, spin nuclear, tem pro-
priedade de mudar de valor unicamente se a excitação externa tem uma freqüência bem
determinada, chamada de freqüência de ressonância. A condição de ressonância exige que a
onda eletromagnética tenha a energia necessária para efetuar a transição entre os dois estados
do momento magnético.
A RMN tem sido atualmente muito usada, nas clı́nicas médicas, no domı́nio de imagens de
um órgão vivo. A técnica consiste marcar a posição dos spins no espaço por meio de sua
freqüência de ressonância utilizando um campo magnético variável. Obtém-se assim, em al-
guns minutos, a imagem RMN de um órgão,que vem da resposta deido a excitação da amostra
com o campo externo produzindo assim uma resolução espacial da ordem do milı́metro da
amostra.
105
9.6 Ressonância paramagnética eletrônica (RPE) - Um elétron colocado num
campo magnético se comporta como um pequeno ı́mã. A ressonância paramagnética eletrônica
é um método de análise aplicado às moléculas que contém elétrons não emparelhados, essas
moléculas são conhecidas por radicais livres. Um exemplo, é a molécula de oxigênio, que
por cisão pode formar dois átomos de oxigênio onde cada átomo com um elétron não em-
parelhado, é portanto um radical livre. Uma amostra de radical livre num campo magnético
externo mostrará a separação dos dois estados fundamentais do spin do elétron desemparel-
hado. Essa separação cresce com a intensidade do campo magnético aplicado.
106
10. TEORIA DA RELATIVIDADE:
10.1 Relatividade de Galileu.
10.2 Teoria da Relatividade de Einstein.
10.3 Conseqüências dos postulados de Einstein.
10.4 Teoria da Relatividade Geral.

10.1 Relatividade de Galileu - A relatividade de Galileu postula o tempo gasto em


um evento (ex. o movimento de uma partı́cula entre dois pontos) como sendo uma medida
absoluta.
Considerando dois referenciais inerciais (não acelerados), o referencial R como um vagão de
trem que se move em Movimento Retilı́neo Uniforme (MRU) e o referencial R0 , outro vagão
noutro trem, também em MRU e de forma que exista uma velocidade relativa ~v , constante, en-
tre os dois referenciais inerciais. A relatividade de Galileu nos ensinou, na Mecânica Clássica,
que uma partı́cula com velocidade V~ 0 em R0 será vista obrigatoriamente com velocidade V~ 6=V~ 0
em R. Dito de outra forma:
V~ 0 + ~v = V~

onde, V~ 0 é a velocidade da partı́cula no seu referencial próprio (referencial de repouso) que é


R0 , ~v é a velocidade relativa entre R e R0 e V~ é a velocidade da partı́cula no referencial R.
Observe que a velocidade resultante para a partı́cula em R pode ser, no máximo, V = V 0 + v.
Na relatividade de Galileu, a velocidade do objeto depende do referencial do observador mas o
tempo gasto pela partı́cula para ir de uma parede a outra do vagão, independe do referencial
do observador (portanto o tempo é tido como um invariante fı́sico).

10.2 Teoria da Relatividade de Einstein - Em 1881, Michelson e Morley depois


de uma série memorável de experimentos verificaram com grande surpresa que a velocidade
da luz (fóton) é a mesma em dois (ou mais) referenciais inercias, quais quer que sejam eles.
O enigma de Michelson e Morley só foi resolvido em 1905 quando Eintein enunciou os (dois)
princı́pios da sua teoria da relatividade:
1. Todas as leis da natureza devem ser a mesma (i.e. permanecer invariantes) para todos os
observadores em movimento relativo de translação uniforme.
2. A velocidade da luz é um invariante fı́sico (isto contraria a relatividade de Galileu).
Considerando as coordenadas (x, y, z, t) de um referencial inercial R e (x0 , y 0 , z 0 , t0 ) de outro
referencial inercial R0 , as transformações de coordenadas de Galileu que torna t = t0 (o tempo
107
como um invariante) tem que ser modificadas na relatividade de Einstein quando o invariante
fı́sico não é o tempo, mas sim a velocidade da luz (c). Como a velocidade é a distância (espaço)
dividida pelo tempo, para que o cociente dos dois permaneça constante, a transformação que
a relatividade de Einstein necessita para alterar simultaneamente o espaço e o tempo é a
transformação de coordenadas de Lorentz, que foi obtida em 1890, para problema da carga
elétrica em movimento num campo magnético. As coordenadas ”espaço-tempo”da partı́cula
(ou fóton) quando o referencial R0 é o referencial próprio do evento e R0 move-se com velocidade
constante v, na direção x, em relação a R, obedece as transformações:

x0 + vt0
x= p ,
1 − v 2 /c2

y = y0,

z = z0,
t0 + vx0 /c2
t= p .
1 − v 2 /c2
Este conjunto de equações permite escrever, para uma partı́cula num movimento particular
na direção x, em R0
V~ 0 → ( V 0 ; 0 ; 0 )

dx0
onde V 0 = dt0
e em R
V0+v
V~ → ( ; 0; 0)
1 + vV 0 /c2
dx
onde V = dt
.
Para verificar o segundo princı́pio da Teoria da Relatividade consideramos que a partı́cula
em movimento na direção x é um sinal luminoso (um fóton) propagando-se com V 0 = c ou
( c ; 0 ; 0 ) em R0 . Verificamos que em R temos também ( c ; 0 ; 0 ) ou,

c+v
V = = c.
1 + vc/c2

Note que, se V 0 e v são menores que c, V também será menor que c. Concluı́mos então que
a velocidade da luz c é a velocidade máxima que pode ser observada.
108
10.3 Conseqüências dos postulados de Einstein - Citamos a seguir alguns dos
principais efeitos relativı́sticos, devido as transformações de Lorentz, considerando os objetos
em movimentos com velocidades próximas à da luz:
1. A relatividade da simultaneidade.
Desde que dois eventos A e B sejam ”do gênero tipo espaço”pode-se, fazer com que um dos
eventos, num dado referencial, pareça ter ocorrido em tempo anterior ao outro, mas mudando
de referencial a ordem de ocorrência dos eventos também pode ser trocado ou até mesmo
serem simultâneos.
2. A dilatação do tempo.
No referencial de repouso dos acontecimentos, dentro de um vagão de um trem em movimento,
o intervalo de tempo medido é t0 = to (tempo próprio). Este tempo é sempre menor do que o
tempo t medido num referencial em repouso, como um observador fixo na rua. O movimento
dilata o tempo para o observador fixo em relação ao viajante, as horas passam mais de vagar
...
to
t= p .
1 − v 2 /c2
3. A contração do comprimento.
O comprimento de uma régua no seu próprio referencial (no vagão em movimento) é l0 = lo ,
mas um observador fixo na rua observa um comprimento l sempre menor. O movimento da
régua contrai seu comprimento ...

p
l = lo 1 − v 2 /c2 .

4. A massa de repouso.
Tanto em mecânica clássica como na teoria da relatividade, a energia E de um corpo num
dado referencial depende de sua velocidade. Considerando um corpo maciço com velocidade
nula, segundo um dado referencial, a energia não se anula na teoria da relatividade.
A massa de repouso do elétron em M eV é

9, 1×10−31 (3×108 )2
mo =
1, 6×10−19

na teoria da relatividade a massa é medida em unidades de energia. A massa de repouso é


que viabiliza as reações nucleares de fissão e fusão utilizando parte dessa energia de repouso.
5. O aumento da massa.
A massa de um corpo no seu próprio referencial (no vagão em movimento) é a massa de
109
repouso m0 = mo , mas um observador fixo na rua observa uma massa m sempre maior, a
massa efetiva. Para o observador fixo o movimento aumenta efetivamente a massa ...

mo
m= p .
1 − v 2 /c2

O aumento da massa é que torna impossı́vel que o corpo atinja uma velocidade sem limite
(maior que c).
6. O momento linear de um elétron.
O momento linear de um elétron p~ = m~v . Considere que num acelerador de partı́culas um
elétron (massa de repouso 0, 511 M ev) atinge uma velocidade de 0, 999 c. O momento linear
desse elétron relativı́stico é
mo v
p= p .
1 − v 2 /c2
7. A relação entre massa e energia.
Como as partı́culas não podem mover-se com velocidades superiores à velocidade da luz, nas
altas energias, um aumento na energia corresponde a um aumento na quantidade de inércia
(massa). A energia cinética de um ponto material, de massa de repouso mo , deslocando-se
em linha reta com velocidade constante v se escreve segundo a célebre equação:

EC = (m − mo )c2 .

Já a equivalência entre massa e energia, a correspondente quantidade de energia (E), que
surge devido ao desaparecimento de uma quantidade de massa (m), é dada pela famosı́ssima
equação:
E = m c2 .

Existem duas Teorias da Relatividade a Relatividade Restrita ou Especial (onde a teoria é


simplificada pois, não leva em conta o campo gravitacional) e a Relatividade Geral.

10.4 Teoria da Relatividade Geral - A Teorias da Relatividade Geral é uma teoria


completa onde Einstein postulou que a gravidade não é uma força, como Newton dissera,
e sim um campo curvo no contı́nuo espaço-tempo, criado pela presença da massa. Com a
teoria completa Einstein pode predizer a deflexão de raios luminosos pelo sol, a existência de
buracos negros, ondas gravitacionais, .... etc.
110
4A. INTRODUÇÃO A FÍSICA MODERNA
Fı́sica para as Ciências Agrárias - Caderno-4 ONDAS E FÍSICA MODERNA
Professor Cesar Lobo

1.1 Introdução - No final do século XIX a fı́sica teórica tinha alguns problemas
insolúveis: Um dos problemas era, deduzir uma equação que permitisse calcular a energia
emitida por um corpo negro, cavidade de um sólido aquecido, correspondente a cada um dos
comprimentos de onda do espectro de luz emitida por essa cavidade, numa dada temperatura.
Uma tentativa de solução, veio com a equação apresentada por Wien, cujo resultado ficou
conhecido como lei do deslocamento de Wien, que mostra porque um corpo, ao ser aquecido,
tem a intensidade de máxima emissão de radiação (pico), deslocando-se continuamente da
região vermelha para a região violeta do espectro eletromagnético.
Uma segunda tentativa foi feita por Rayleigh-Jeans. Sua teoria clássica coincidia com o
experimento somente para grandes comprimentos de onda (baixa freqüência). O desvio de
Rayleigh-Jeans ficou então conhecido como a ”catástrofe do ultravioleta”pois, seus resultados
mostravam uma tendência para o infinito na quantidade de energia emitida, na região de
pequenos comprimentos de onda.
Outro problema da época estava em explicar como o elétron pode girar em torno de um núcleo
em órbitas estáveis, como um planeta em torno do Sol, pois o eletromagnetismo exige que as
cargas aceleradas emitam radiações eletromagnéticas. Essa questão ficou conhecida como a
”catástrofe da matéria”pois perdendo energia o movimento do elétron iria então espiralando
em torno do núcleo, até a colisão numa fração de segundo.

Nesta introdução a fı́sica moderna vamos discutir os seguintes temas:


A. Quebra-cabeça sobre a luz.
B. Catástrofe do utravioleta.
C. O mundo quântico.
D. Feixes de partı́culas.
E. O efeito fotoelétrico.
F. A catástrofe da matéria.
G. O salto quântico.
111
A. Quebra-cabeça sobre a luz - O espectro eletromagnético, você pode ver o es-
pectro visı́vel no arco-ı́ris.
Com uma corda você gasta energia para produzir ondulações (ondas mecânicas). Para pro-
duzir ondas de alta freqüência (pequeno comprimento de onda) gasta-se mais energia do que
para produzir ondas de baixa freqüência (grande comprimento de onda).
Um objeto aquecido irradia luz (energia eletromagnética) porque partı́culas carregadas (elétrons)
estão vibrando dentro dele.

B. Catástrofe do utravioleta - De acordo com a teoria clássica, todo o objeto


aquecido deveria irradiar energia preferencialmente em pequenos comprimentos de onda (alta
freqüência). Então, quando um objeto fosse aquecido ele deveria irradiar toda a energia num
único pulso de radiação UV ou RX (Catástrofe do UV).
O que realmente ocorre quando um objeto, como um pedaço de ferro, é aquecido a temperat-
uras cada vez mais altas? No inicio, nas temperaturas mais baixas a maior parte da energia é
irradiada como calor (radiação infravermelha), em comprimentos de onda demasiado longos
para vermos com nossos olhos. Então, ele começa a brilhar. Primeiro fica vermelho incan-
decente e sempre em temperaturas sucessivamente maiores, progride do laranja para o azul
esbranquiçado, quanto mais quente estiver o objeto, menor o comprimento de onda em que a
maior parte de sua energia será irradiada.
Corpo negro, a radiação de corpo negro mostra que ainda que um pouquinho de radiação seja
irradiada em todos os comprimentos de onda, o pico de máxima emissão é centrado numa
determinada faixa estreita de comprimento de onda, que depende apenas de sua temperatura.
A equação do deslocamento de Wien mostra que o pico de energia irradiado por um objeto
aquecido (indicado pela cor do objeto, numa dada temperatura) desloca-se, ao longo do es-
pectro eletromagnético, do maior para o menor comprimento de onda.

λimax T i = 2, 898×10−3 metro.Kelvin

Quanto mais quente um objeto mais fácil para os átomos individuais irradiarem quanta de
alta energia.
112
C. O mundo quântico - Uma das resposta para o quebra-cabeça sobre a natureza da
luz foi dada por Max Planck, em 1900. Planck percebeu que o problema podeira ser resolvido
se os objetos radiantes (que hoje identificamos como átomos) só pudesem emitir (ou também
absorver) energia eletromagnética em determinadas quantidades fixas, que chamou de quanta.
Os quantas de luz de uma certa freqüência teriam que carregar uma determinada quantidade
de energia, proporcional a freqüencia (inversamente proporcional ao comprimento da onda)
da luz em questão.
A equação da quantização da energia da radiação emitida (ou absorvida), de Planck é

E = hf, com h = 6, 63×10−34 joule.segundo

O quantum de luz (grão energético de Planck) foi denominado, por Einstein, de fóton.

D. Feixes de partı́culas - Organizado matematicamente as leis da eletricidade e do


magnetismo, Maxwell construiu uma teoria completa para o eletromagetismo em 1864. As
equações de Maxwell convenceram a todos de que a luz viaja no espaço na forma de onda,
como as ondulações em lagos. As equações de Maxwell mostram que a velocidade da luz no
vácuo é
1
v=√ = c com c ' 3×108 metro/segundo
o µo
onde, o e µo são propriedades do vácuo com respeito à eletricidade e ao magnetismo. Deste
modo Maxwell integrou a Ótica no Eletromagnetismo e trouxe um problema para a Mecânica
de Newton, como ela explica esse limite ’c’ para a velocidade das suas particulas de luz? Ape-
sar de Planck ter introduzido em 1900 a idéia do quanta (pacotes) na energia, ele só imaginou
que a quantização fosse uma prorpiedade dos corpos aquecidos e que eles eram incapazes de
irradiar todos os comprimentos de onda de luz ao mesmo tempo. Foi Einstein quem sugeriu,
em um artigo em 1905, que a luz poderia ser quantizada e assim retornando a idéia de Newton
de que a luz se comporta como um feixe de partı́culas (corpúsculos) como se fossem bolas
lançadas por um canhão.
113
E. O efeito fotoelétrico - Como uma luz intensa tem mais energia que uma luz
tênue, parece lógico que ao incidir uma luz intensa num metal, elétrons com maior energia
serão arrancados. Mas não é isso que mostrava a experiência. Einstein observou que a energia
dos elétrons arrancados, do metal, depende da freqüencia da luz incidente (qualidade), mas
não da sua intensidade (quantidade). A única maneira de obter elétrons com mais energia
(corrente elétrica) é usando luz de uma faixa de freqüência superior. Portanto, o fóton de luz
azul produz uma corrente elétrica mais intensa que N fótons de luz vermelha.

F. A catástrofe da matéria - Por volta de 1920, os fı́sicos tinham provas claras,


a partir do experimento da dupla fenda, de que a luz é uma onda (propagação) e que ela
também comporta-se como corpúsculos (interação com a matéria). Mesmo dispondo de uma
teoria quântica semi-pronta (que dava conta do comportamento dualı́stico da luz) para tra-
balhar, Niels Bohr conseguiu formular uma descrição de como átomos individuais funcionam
e como eles se unem para formar molécuas. A descrição de Bohr baseava-se nos trabalhos de
Rutherford, o experimento da folha de ouro, e a teoria quântica de Planck.
Bombardeando uma lâmina de ouro com um feixe de partı́culas alfa (núcleos de Hélio), Ruther-
ford explicou que a maior parte de massa de um átomo está localizada em um pequeno núcleo
central, que, como as partı́culas alfa, é positivamente carregado. Os elétrons associados ao
átomo, que portam carga negativa (de modo que cada átomo seja eletricamente neutro), estão
de algum modo distribuı́dos numa nuvem em torno desse núcleo.
A idéia de Bohr era de que os elétrons devem, de algum modo estar ”em órbita”em torno do
núcleo, do mesmo modo que os planetas orbitam em torno do Sol. Contudo isto não seria
suficiente para estabilizar o átomo, pois se sabe, do eletromagnetismo de Maxwell, que as
cargas elétricas aceleradas irradiam energia de modo que os elétrons em órbita, descrevendo
um movimento circular (mov. acelerado), deveriam irradiar toda a sua energia e espiralar
para dentro do núcleo (catástrofe da matéria).
114
G. O salto quântico - Bohr sugere que os elétrons no átomo só poderiam emitir
quanta inteiros de luz, não partes menores do quantum. Assim os elétrons não podiam es-
piralar para núcleos. Eles poderiam ”saltar”de uma órbita externa para a seguinte órbita
interna, mais próxima do núcleo, que difere exatamente de um quantum de energia. Esse
salto quântico é como se a Terra desaparecesse de sua própria órbita e instantaneamente
aparecesse na órbita de Vênus, sem ter cruzado o espaço entre as órbitas. Bohr também
respondeu que deve ter alguma regra da fı́sica quântica que permite apenas um certo número
de elétrons em cada órbita.
O modelo de átomo de Bohr foi bem aceito porque ao espaçar as órbitas dos elétrons da
maneira requerida pela equação de Planck, ele podia explicar o espectro de luz emitido por
um átomo simples. Todos os átomos emitem ou absorvem luz em comprimentos de onda
especı́fico, formando linhas bem definidas no espectro, caracterizando assim uma assinatura
espectral (código de barra da identificação do material).

O debate Einstein-Bohr (Texto da Folha de São Paulo) - Durante as primeiras


três décadas do século XX, a fı́sica foi dominada por duas grandes personalidades Albert
Einstein e Niels Bohr. Einstein conhecido pelas suas teorias da relatividade, a especial e a
geral, teve também um papel fundamental no desenvolvimento de outra grande revolução
conceitual da época, a mecânica quântica, que estuda o comportamento de sistemas atômicos
e subatômicos. Bohr, por outro lado, foi um dos arquitetos da revolução quântica, o primeiro
a sugerir um modelo para os átomos que explicava uma série de descobertas experimentais
que não se encaixavam dentro da descrição clássica da fı́sica. Mas Bohr fez muito mais do que
sugerir a estrutura do átomo com um núcleo pesado cercado de elétrons em órbitas discretas,
como os degraus de uma escada. Ele arquitetou a estrutura conceitual da mecânica quântica,
que difere profundamente da concepção clássica da realidade. Foi essa interpretação que gerou
o longo e frutı́fero conflito entre as duas grandes mentes.
A fı́sica clássica, desenvolvida durante os séculos XVII e XIX, baseava-se em um determinismo
explicito: é possı́vel descrever o comportamento de um sistema individual a partir de algumas
informações básicas, como sua posição e sua velocidade iniciais e as forças que atuam sobre
ele. Se deixarmos uma bola cair de uma certa altura, ela será atraı́da pela força da gravi-
dade e se chocará com o chão após um certo intervalo de tempo. (Na verdade a situação é
mais sutil. Certos sistemas clássicos são caóticos e suas evoluções temporal são extremamente
complexas.) Esse determinismo clássico teve de ser abandonado na formulação da mecânica
quântica. Átomos e partı́culas subatômicas não se comportam como bolas sendo atraı́das
115
por forças, revelando uma realidade intrinsecamente diferente da realidade do mundo á nossa
volta, ou seja a dos fenômenos macroscópico que ocorrem na escala humana.
Um exemplo ilustra o indeterminismo na mecânica quântica. Considere uma mostra de um
número bem grande de átomos radioativos, com o urânio ou plutônio. Átomos radioativos
desintegram-se ”espontaneamente”em átomos menores e em outras partı́culas, após um certo
perı́odo de tempo. Essa afirmação, segundo a mecânica quântica, é probabilı́stica: dada uma
amostra, metade de seus átomos irá decair após um certo tempo, a meia-vida do átomo (para
o plutônio-241 é 2,4 milhões de anos). É impossı́vel prevermos quando um determinado átomo
da amostra irá decair, podemos apenas afirmar que a probabilidade do decaimento de metade
da amostra é dada pela sua meia-vida. O determinismo da mecânica clássica tem de ser
abandonado ao tratarmos de sistemas atômicos e subatômicos.
Bohr, em sua interpretação da mecânica quântica, a fı́sica das possibilidades, argumentou
que esse indeterminismo não é uma ”fraqueza”da teoria, mas uma propriedade intrı́nseca
do mundo microscópico. Einstein concordava que a mecânica quântica era uma teoria bem-
sucedida, mas não que a natureza era intrinsecamente indeterminável. Para ele, uma teoria
completa da mecânica quântica seria perfeitamente determinista, e o decaimento de um átomo
individual poderia ser previsto com grande precisão. A teoria quântica seria apenas uma
aproximação dessa teoria final. Por trás das posições dos dois cientistas podemos discernir
mais do que suas diferenças de opinião sobre a estrutura da mecânica quântica. Einstein
acreditava profundamente na capacidade humana em obter uma descrição ”completa”da na-
tureza, do muito pequeno ao muito grande. Para ele, a atividade cientı́fica era investida de
uma espiritualidade que refletia essa convicção. Não entender a razão de todas as coisas era
uma derrota do intelecto humano que ele não estava disposto a aceitar. Para Bohr, o sucesso
da teoria era o sucesso de nossa razão. Por que forçar a natureza a ter o comportamento que
corresponde aos nossos anseios espirituais? Se a natureza é intrinsecamente incerta, discreta
e probabilı́stica, nos devemos ter orgulho de termos descoberto essa sutileza. O debate não se
encerrou com a morte de Einstein em 1955. Ainda hoje, dentro das posições definidas pelos
dois titãs, o debate continua, por enquanto vence Bohr, mas o futuro é indeterminado.
116
4B ONDAS E MECÂNICA QUÂNTICA
Fı́sica para as Ciências Agrárias - Caderno-4 ONDAS E FÍSICA MODERNA
Professor Cesar Lobo

1. ONDAS:
1.1 Informações.
1.2 Onda-Partı́cula.
1.3 Ondas.
1.4 Cordas vibrantes.
1.5 Ondas acústicas.
1.6 Intensidade e nı́vel de som.

1.1 Informações - O universo fı́sico é extremamente rico em informações que pos-


sibilitam descrever a sua própria evolução no Espaço e no Tempo. Os sentidos naturais de
qualquer ser vivo são capazes de receptar uma certa fração desse espectro de informações.
Mas o homem diferencia-se dos demais seres vivos, na face da Terra, por ser capaz de ex-
pandir continuamente o campo de ação de seus sentidos de modo a dispor de uma quantidade
sempre maior de informações.
Dois dos sentidos especialmente importantes para o ser humano, na observação e no conheci-
mento do mundo exterior, são a audição e a visão. Para esses sentidos os espectros disponı́veis
na natureza são, respectivamente, o espectro acústico (f igura−1) e o espectro eletromagnético
(f igura − 2). Esses dois espectros se caracterizam por envolverem ”informações à distância”,
o que a Fı́sica trata como ondas. As ondas são caracterizadas e descritas pelas grandezas
fı́sicas amplitude A, freqüência f (ou ν) e comprimento de onda λ (f igura − 3).

1.2 Onda-Partı́cula - Na Fı́sica clássica existem dois tipos de objetos que podem
estar associados ao transporte de energia e momento (quantidade de movimento) entre dois
pontos do espaço: as partı́culas e as ondas. As partı́culas são entidades localizadas no espaço,
também estão associadas ao transporte de matéria, e que apresentam uma evolução descrita
por sua posição a cada instante X(t), definindo uma trajetória. As ondas, ao contrário das
partı́culas, estão associadas a fenômenos que ocupam todo o espaço. Sua descrição se faz
pela amplitude Y (X, t) em todo espaço e a todo instante. As ondas estão sempre associadas
a fenômenos de natureza vibratória nos quais há transporte de energia e não de matéria. É
preciso ressaltar que esta distinção é abolida em Mecânica Quântica, onde a toda partı́cula
quântica está associada uma amplitude de probabilidade ψ(X, t) cujo quadrado mede a den-
117
sidade de probabilidade de se observar a presença da partı́cula na posição X do espaço, no
instante t.
As caracterı́sticas dessas ”ondas de probabilidade”(freqüência f ou ν, comprimento de onda λ)
estão associados às grandezas que caracterizam o estado da partı́cula (Energia E, quantidade
de movimento p) pelas relações de Max Planck (1900) ou a de Einstein (1905)

E
ν=
h

e a de Broglie (1924)
h
λ=
p
em que, h = 6, 63 × 10−34 J.s designa uma constante universal, a constante de Planck.
Assim, os aspectos ondulatórios e corpusculares (partı́culas) de um objeto quântico estão
ligados de modo indissociáveis. A luz, por exemplo, pode simultaneamente ser considerada
como um fenômeno ondulatório (dando lugar a efeitos de interferência, difração, etc.) ou,
um fenômeno corpuscular ligado a presença de partı́cula constitutivas: os fótons da radiação
eletromagnética que permite explicar fenômenos como o efeito fotoelétrico e o efeito Compton.

1.3 Ondas - Onda é a forma como uma perturbação (oscilação), produzida num ponto
do espaço, é transmitida a um outro ponto. Para a existência de um sinal tem que existir
uma fonte com propriedades de amplitude A e freqüência f ou ν (caracterı́sticas associadas
a uma ou mais variáveis fı́sicas que oscilam). Essas propriedades identificam perfeitamente a
intensidade e origem do sinal (f igura − 4).
Considerando uma função Y = f (X), representando instantaneamente uma perturbação, ao
substituirmos X por (X − D) a função Y = f (X − D) representa a mesma perturbação (não
muda a forma da curva) deslocando-se para a direita de uma quantidade D e de modo análogo
Y = f (X + D) descreve um deslocamento para a esquerda. Tomando que D = vt então,
Y = f (X∓D) descreve uma perturbação caminhante. Quando a perturbação produzida
propaga-se apresentando periodicidade no espaço X (repete-se em espaços de comprimento
∆X = λ) e no tempo t (repete-se em periódicos de tempo ∆t = T ) pode-se descrever essa
perturbação, por exemplo, por uma equação senoidal

Y (X, t) = A sin(kX − ωt + α).

2π 2π
A quantidade ω = T
é a freqüência angular e a quantidade k = λ
, o número de ondas,
118
é definido por analogia da freqüência angular. A equação matemática acima descreve uma
onda progressiva, diz que se nos movermos com a velocidade da onda (v = ωk ) observaremos
sempre a mesma perturbação (a mesma fase).

Existe uma variedade muito grande de ondas; as ondas do mar, as ondas numa corda,
ondas sonoras, as ondas eletromagnéticas. Essas ondas podem diferir em muitos aspectos,
mas todas propagam energia e momento. As ondas mecânicas necessitam de um meio ma-
terial (meio elástico), que sofre a oscilação, para a propagação da perturbação. Nas ondas
eletromagnéticas, propagam-se inclusive no vácuo com velocidade c, as variáveis fı́sicas que
oscilam são os vetores de campo elétrico e magnético. A Teoria da Relatividade Especial de
Einstein que baseia-se em dois postulados, um deles diz: ”A velocidade escalar da luz tem
o mesmo valor (c = 3×108 m/s) em todas as direções e em todos os sistemas de referênciais
inerciais”.
Considerando a direção da perturbação e propagação, as ondas podem ser classificadas em
longitudinais e transversais: Ondas longitudinais, vibram e se propagam na mesma direção.
Ondas transversais, a perturbação está sempre perpendicular à direção de propagação.
As ondas ainda podem ser classificadas como progressivas ou estacionárias. Numa onda
progressiva, todos os pontos do meio vibram com a mesma amplitude, por exemplo o som
transmitido. Já numa onda estacionária (f igura−10) a amplitude é sempre função da posição
do ponto, por exemplo, as vibrações produzidas numa corda presa pelas extremidades, a en-
ergia fica estacionária entre dois pontos de amplitude nula (nó).
∂ 2 Y (X,t) 1 ∂ 2 Y (X,t)
Com as leis de Newton, da Mecânica, mostra-se que a equação ∂X 2
= v2 ∂t2
descreve a
dinâmica da propagação de ondas em meios contı́nuos, tomando por base as ondas mecânicas,
progressivas, transversais, produzidas em cordas tencionadas e ainda as ondas sonoras, com-
pressões e descompressões longitudinais, em um tubo de ar.

1.4 Cordas vibrantes - Uma onda mecânica progressiva e transversal pode ser pro-
duzida numa corda de comprimento L quando submetida a uma tensão. Há dois parâmetros
m
que influem na velocidade (v) de propagação da onda numa corda, a densidade linear (ρ = L
)
e a tensão (T ), como veremos a seguir:
Num pedaço elementar da corda, de massa dm e de comprimento dx, atuam as tensões
T (a, t) e T (b, t) que em princı́pio dependem da posição e do instante (f igura − 5). Con-
119
siderando que os movimentos são perpendiculares ao comprimento da corda


Fy = T (tan θb − tan θa ) = T d(tan θ) = T (tan θ)dX,
∂X


onde a derivada parcial ∂X
é usada porque a tan θ depende da posição X e do tempo t.
∂Y
Mas considerando ainda que o grau de inclinação da curva pode ser escrito como tan θ = ∂X

podemos escrever
∂ ∂Y ∂ 2Y
Fy = T ( )dX = T dX,
∂X ∂X ∂X 2
e a equação do movimento como

∂ 2Y ∂ 2Y
ρdX = T dX,
∂t2 ∂X 2

sendo dm = ρ dX, a massa do elemento de corda. Escrevendo a equação do movimento, na


forma
∂ 2Y 1 ∂ 2Y
= ,
∂X 2 v 2 ∂t2
que é conhecida como a equação diferencial das ondas (descreve a dinâmica das ondas). As
equações:
Y (X, t) = A sin(kX − ωt + α)

e
Y (X, t) = A cos(kX − ωt + β)

ω
e suas combinações lineares, são soluções da equação diferencial em que v (v = k
= Tλ ) tem o
significado de velocidade de propagação da perturbação. Na corda vibrante (corda de violão)
a velocidade de propagação da perturbação é depende da tensão T e da densidade ρ (ou massa
m) da corda s
T
v= .
ρ

O transporte de energia por uma onda senoidal numa corda vibrante pode ser obtido num
segmento de massa dm, com velocidade transversal u. Escrevendo a energia cinética como

1
dK = ρ dXu2 ,
2

dX
essa energia é transferida entre segmentos vizinhos em cada intervalo de tempo dt (dt = v
).
120
Portanto a taxa de transferência da energia cinética é

dK 1
= ρvu2 .
dt 2

Para a onda senoidal transversal, escrevemos

dy
u= = −ωA cos(kX − ωt)
dt

e a taxa de transferência da energia cinética como

dK 1
= ρvω 2 A2 cos2 (kX − ωt).
dt 2

Lembrando que ω = 2πf e tomando que cos2 (kX − ωt) tem valor médio igual a 12 , vemos que
em média a taxa de energia transportada no perı́odo é

dK 1
= ρv4π 2 f 2 A2 .
dt 4

Nessa equação vemos que a onda mecânica propaga uma quantidade de energia por segundo
(potência) proporcional ao quadrado de sua freqüência f e ao quadrado de sua amplitude A.

1.5 Ondas acústicas - O som é uma onda mecânica progressiva e longitudinal. As


ondas sonoras são produzidas por compressões e descompressões em um tubo de ar. Suponha
que inicialmente uma massa dm de ar, com densidade uniforme ρo , ocupa uma região dX
do tubo quando variações na pressão provocadas ao longo do tubo obrigam a massa de ar a
ocupar uma nova região, à região dX + dφ, (f igura − 6). O deslocamento dφ, da massa de
ar, é descrito por uma função φ = φ(X, t) representando uma compressão se dφ < 0 e uma
descompressão se dφ > 0.
A massa local dm não muda, mas há uma variação de volume que conduz a uma alteração
ρo dX
na densidade de ρo para ρ (ρ = (dX+dφ)
). Supondo que dφ << dX pode-se escrever que

∂φ
ρ 'ρo (1 − ).
∂X

∂φ ∂2φ
A porção de massa dm tem velocidade ∂t
e aceleração ∂t2
. Da 2a Lei de Newton escreve-se a
força resultante da diferença de pressão entre os dois lados da porção de massa, por unidade
121
de área transversal, como
∂ 2φ
(ρo dX) = −dP
∂t2
e como a pressão P (descompressão) depende da densidade

dP ∂ρ
−dP = − dX
dρ ∂X

∂ρ 2
∂ φ
igualando essas duas últimas equações e ainda substituindo a derivada ∂X
= −ρo ∂X 2 , chega-se

a equação dinâmica para as ondas acústicas

∂ 2φ 1 ∂ 2φ
= ,
∂X 2 v 2 ∂t2

onde v é a velocidade de propagação do som


s
dP
v= .

As ondas sonoras podem ser escritas como uma onda de deslocamento dos elementos de ar
Y (X, t) = A sin(kX − ωt + α) ou ainda por uma onda de pressão

P (X, t) = P sin(kX − ωt + β),

cuja amplitude P mede a variação de pressão em relação à pressão de equilı́brio (não pertur-
bada).
O som é uma onda mecânica e a velocidade do som depende da elasticidade do meio material
(sólido, lı́quido ou gás). Da definição do módulo de elasticidade volumétrica,

∆P ∆P
β=− = ,
∆V /Vo ∆ρ/ρo

escreve-se a equação da velocidade de propagação do som como:


s
β
v= .
ρo

Os sólidos são pouco sensı́veis a pressões exteriores, os gases são altamente sensı́veis a variações
de pressão e temperatura. Portanto, a velocidade do som depende das condições termodinâmicas:
No ar a 200 C, a velocidade do som é de 344 m/s. O intervalo audı́vel de freqüência está entre
aproximadamente de 20 HZ (λ = 17 m) e 20 kHZ (λ = 1, 7 cm). As compressões e descom-
122
pressões produzidas pelas ondas sonoras, nas porções de ar, acontecem tão rapidamente que
não permitem acontecer as trocas de calor, portanto, como numa transformação adiabática.
Assim escrevendo P ρ−γ = const., trabalhando com a equação da velocidade de propagação,
obtém-se uma equação conhecida para a propagação do som no ar
s
γP
v=
ρo

onde γ vem da relação entre calores especı́ficos, a pressão constante e volume constante, do
ar. Em transformações: adiabática γ = cP /cV e isotérmica γ = 1.

1.6 Intensidade e nı́vel de som - A intensidade (I) de uma onda, é a energia (E)
que atravessa uma área (S) num intervalo de tempo (∆t),

E
I= .
S∆t

A potência média, energia cinética média no perı́odo, nas ondas mecânicas (som), é dada por:

dK 1
= ρv4π 2 f 2 A2 .
dt 4

Portanto, a intensidade I de uma onda mecânica é proporcional ao quadrado da amplitude e


ao quadrado de freqüência,
Iα A2 f 2 ,

enquanto a intensidade da onda eletromagnética (E = nhν, com freqüência ν = c/λ) é


proporcional ao número de fótons,
Iα n.

Para uma fonte puntiforme, a área atravessada é a de uma superfı́cie esférica, tendo a fonte
no centro. A equação para a Intensidade I devido a potência transmitida P a uma certa
distancia r da fonte é
P P
I= = .
S 4πr2
Se a potência transmitida por uma fonte for constante, as intensidades medidas em pontos
distintos caem com o inverso do quadrado da distância. Para duas intensidade medidas, de
123
uma mesma fonte, I1 e I2 distanciadas da fonte, respectivamente, de r1 e r2 vale a relação

I1 r22
= 2,
I2 r1

que é conhecido como a lei do inverso do quadrado da distância.


O nı́vel de som N , em dB (decibéis), é definido para corresponder a sensação de audição
humana
I
N = (10 dB) ,
I0
sendo I0 a intensidade de referência (I0 = 10−12 W/m2 ). A faixa de audição humana (f igura−
7) está entre 0 e 120 dB.
124
2. MECÂNICA QUÂNTICA:
2.1 A Fı́sica no fim do século XIX.
2.2 A quantização da energia.
2.3 A dualidade.
2.4 O mundo quântico.

2.1 A Fı́sica no fim do século XIX. - Desde a antiguidade os filósofos gregos acred-
itavam que a luz era constituı́da de pequenas partı́culas (corpúsculos) e que estas partı́culas se
propagavam em linha reta, em todas direções, com altı́ssima velocidade. Em 1500, Leonardo
da Vinci percebeu a semelhança entre a reflexão da luz e do som (eco) e levantou a hipótese
de a luz, assim como o som, poderia ter natureza ondulatória. Surgiu então no século XVIII
duas correntes do pensamento cientı́fico: A liderada por Isaac Newton, favorável à idéia do
modelo corpuscular da luz e a outra, liderada pelo fı́sico holandês C. Huygens, favorável ao
modelo ondulatório. As duas teorias eram igualmente válidas para explicar alguns fenômenos
da luz, como o da reflexão; a polêmica perpetuou-se até muitos anos após a morte de Huygens
e Newton.
Para diferenciar as duas correntes citamos as principais caracterı́sticas da fı́sica das partı́culas
e das ondas:
Partı́culas:
- Estão localizadas no espaço.
- Transportam matéria e energia.
- Têm energia proporcional ao quadrado de sua velocidade.
Ondas:
- Estão espalhadas no espaço.
- Transportam energia.
- Têm energia proporcional ao quadrado de sua amplitude.

Em 1803 Thomas Young, na famosa experiência da dupla fenda, mostra que a luz viaja
como ondas produzidas em água.
A difração de um feixe luminoso em duas fendas, dá origem a duas novas fontes de ondas de
mesma natureza. A superposição dessas novas ondas produzem, em pontos do espaço, padrões
de interferência construtiva (regiões claras) e padrões de interferência destrutiva (regiões es-
curas), sendo que a diferença entre os dois caminhos seguidos pela luz é que vai caracterizar
se a interferência é construtiva ou destrutiva. Já a distância entre as duas fontes de ondas vai
125
caracterizar a separação entre os máximos de interferência.
A condição para que ocorra o fenômeno da difração é que a distância entre as duas fontes de
ondas seja da ordem do comprimento de onda das ondas utilizadas. A experiência da dupla
fenda, realizada com a luz, sugere uma forte evidência da natureza ondulatória da luz.

2.2 A quantização da energia. - Em 1900 Max Planck, na busca de uma solução


matemática aceitável para o problema do corpo negro, postula a quantização da energia, onde
a energia do elétron oscilante só varia em saltos energéticos do tipo

∆E = hν.

Assim, ele considerou que se a energia do elétron oscilante é quantizada, então, a energia das
ondas eletromagnéticas emitidas pelo corpo negro também é. A equação de Planck obtém
resultados compatı́veis com as curvas experimentais, resultando assim que o valor da constante
de Planck é h = 6, 63×10−34 Js. É importante frisar que a grande sacada de Planck causou
muito desconforto para os fı́sicos (inclusive para o próprio Planck) pois esse postulado violava
as leis indiscutivelmente válidas até então.
O salto quântico de Planck, trouxe solução para o modelo do átomo planetário de Rutherford.
Em 1912 Niels Bohr, jovem fı́sico dinamarquês, produziu o primeiro modelo quântico do
átomo. Para o átomo de hidrogênio, Bohr formulou três hipóteses: 1a . Relativa a força
centrı́peta. 2a . Relativa ao momento angular. 3a . Referente ao salto quântico. Nesse modelo
Bohr determina com boa precisão quais as órbitas, e a energia dessas órbitas estacionárias,
onde o elétron orbita sem emitir radiação (ondas estacionárias). O raio da enésima órbita do
elétron no átomo de hidrogênio é:

h2
rn = n2 = 0, 529×10−10 n2 [metro],
k4π 2 me e2

e a energia Wn do elétron na enésima órbita (nı́vel) é:

k 2 2π 2 me e4 1 1
Wn = − 2 2
= −21, 76×10−19 2 [joules].
h n n

A troca de energia com o meio só ocorre quando o elétron ”salta”de uma dessas órbitas esta-
cionárias para outra.
Em 1905 Albert Einstein propôs uma nova teoria para explicar o efeito fotoelétrico descoberto
por Henrich Hertz em 1887. Para Einstein a energia luminosa apresenta-se concentrada em pa-
126
cotes, denominados fótons, cada pacote tem a energia quantizada por Planck, E = hν. Cada
fóton, quantum de energia da radiação eletromagnética, comporta-se como uma partı́cula,
corpúsculo, que ao colidir com o átomo de metal tem sua energia totalmente absorvida,
quando, então, o fóton deixa de existir. A energia do fóton incidente ”hν” pode, dependendo
de sua freqüência, libertar o elétron de uma superfı́cie metálica. Parte da energia absorvida
W é utilizada para vencer a força de ligação do elétron no átomo e o restante transforma-se
em energia cinética Ec desse elétron emitido. Portanto,

Ec = hν − W.

Assim, passamos a adotar duas teorias para a luz, dualidade, uma teoria eletromagnética,
ondas, para explicar fenômenos como interferência e difração e outra, a teoria quântica, cor-
puscular, para explicar o efeito fotoelétrico, a liberação de elétrons por uma superfı́cie metálica
devido a incidência de luz.

2.3 A dualidade - A natureza dualı́stica da luz mostra-se completamente indefinida


até a luz encontrar um ”detetor”e então mostra-se ou corpuscular ou ondulatória, dependendo
de como a luz interage com este detetor. A dualidade da luz, proposta por Einstein, surge
como uma hipótese revolucionária para explicar um experimento, o efeito fotoelétrico.
Uma hipótese também revolucionária, foi apresentada pelo francês Louis De Broglie, em 1924,
que sem ter base experimental alguma propôs que a matéria possui propriedades tanto cor-
puscular quanto ondulatória. De acordo com De Broglie qualquer partı́cula de massa m e
velocidade v deve apresentar um comportamento ondulatório caracterizado por um compri-
mento de onda da matéria λ definido por:

h
λ= .
p

Assim, o elétron, como uma bola de futebol, quando em movimento, têm um comprimento
de onda λ associado:
Uma bola, m = 1kg e v = 10m/s, tem por comprimento de onda λ = 6, 6×10−25 AO que
representa uma caracterı́stica ondulatória muitı́ssimo fraca quando comparamos com a luz
visı́vel (entre 4000AO e 7500AO ).
Um elétron, m = 9, 11×10−31 kg e Ec = 50eV , tem λ = 1, 2AO . Este comprimento de onda
material corresponde ao comprimento de onda de uma radiação eletromagnética na região do
Raio X.
127
A natureza ondulatória do elétron foi confirmada experimentalmente por meio dos experi-
mentos como o de Davisson e Germer. Utilizando os mesmos procedimentos conhecidos para
raio X, faz-se um feixe de elétrons incidir em um cristal: Como uma onda o feixe de elétrons
é absorvido pelo cristal, mas atrás do cristal um eletrômetro detecta os elétrons (partı́culas
espalhadas).

2.4 O mundo quântico - O mundo microscópico não pode ser descrito pelos modelos
determinista da fı́sica clássica. Existe a interação entre objetos de natureza distinta como os
fótons, elétrons (partı́culas) e a radiação eletromagnética incidente (onda), ou de outra forma
dizemos que no mundo quântico, no ato de medir, o observador perturba o sistema a ser
medido. As incertezas ocorrem quando buscamos simultaneamente duas informações comple-
mentares como posição e quantidade de movimento (velocidade) de um objeto quântico.
No seu Princı́pio de Incerteza, Heisenberg diz que não podemos medir com precisão simultânea
a posição e a quantidade de movimento de uma partı́cula.
Na Mecânica Quântica, toda a partı́cula quântica tem associado um caráter de onda de prob-
abilidade, a amplitude ψ(X, t), que apresenta-se como uma onda de probabilidade capaz de
descrever a partı́cula no espaço e no tempo. E, sabendo que a onda nunca está localizada mas
sim, espalhada, podemos buscar um valor provável de uma das posições X dessa partı́cula no
espaço (volume), num dado instante t, por meio do quadrado da amplitude, que é a densidade
de probabilidade |ψ(X, t)|2 .

A fı́sica quântica sugere uma nova concepção de mundo, dando ênfase a necessidade
de uma estatı́stica de previsões nas medidas fı́sicas.

Na versão de Niels Bohr em seu Princı́pio da Complementariedade ”Se um experi-


mento quântico busca com precisão o caráter ondulatório da radiação ou da matéria, torna-se
impossı́vel encontrar o caráter corpuscular no mesmo experimento, e vice-versa”.
128
4C FENÔMENOS ONDULATÓRIOS E QUÂNTICOS
Fı́sica para as Ciências Agrárias - Caderno-4 ONDAS E FÍSICA MODERNA
Professor Cesar Lobo

3. SUPERPOSIÇÃO DE ONDAS:
3.1 O princı́pio da superposição das ondas.
3.2 Ondas estacionárias.
3.3 Batimento.
3.4 Difração e interferência.

3.1 O princı́pio da superposição das ondas - Quando duas ou mais ondas, de


mesma natureza, se encontram coincidindo no espaço e no tempo, ocorre um dos fenômenos
ondulatórios mais caracterı́stico e importante, o fenômeno da interferência, que pode ser
matematicamente explicado por superposição de ondas senoidais. Nem sempre a forma da
perturbação é matematicamente tão simples como as ondas senoidais. No entanto, no caso de
uma forma mais complicada pode-se sempre, devido ao princı́pio da superposição e a análise
de Fourier, modelar a complexidade (f igura − 8) por meio de uma soma de ondas senoidais
de diferentes amplitudes e freqüências.
Tomando a identidade trigonométrica

α+β α−β
sinα + sinβ = 2 sin( ) cos( ),
2 2

podemos descrever a sobreposição, ou superposição, no espaço e no tempo, de duas ondas,


como por exemplo, as ondas geradas pela queda simultânea de duas pedras em dois pontos
próximos de um lago. Supondo que a primeira pedra gera uma onda

Y1 (X, t) = A1 sin(k1 X − ω1 t + α),

e a segunda
Y2 (X, t) = A2 sin(k2 X − ω2 t + β).

Escrevemos o resultado da superposição de Y1 (X, t) e Y2 (X, t) como

Y (X, t) = Y1 (X, t) + Y2 (X, t), (5)

vemos que o resultado obtido da superposição é também uma onda, isto se justifica pelo fato
129
da equação de onda ser uma equação linear (não conter potências em Y e nem derivadas em
Y ). A análise de uma onda complexa em componente de Fourier tem muitas aplicações. O
estudo das ondas cerebrais, eletrocardiograma, análises dos espectros de ressonância param-
agnética, processamento de imagens e análise da voz nas investigações policiais.
O teorema de Fourier fornece a base matemática para analisar qualquer forma de onda como
uma superposição das ondas senoidais de comprimentos de onda e amplitudes especı́ficos. Es-
sas ondas senoidais, cada qual caracterizada com sua determinada freqüência e amplitude, são
chamadas componentes de Fourier de uma onda complexa. A (f igura − 8) mostra uma onda
complexa, formada pela soma de três ondas senoidais, constituindo o espectro de freqüências
(f igura − 9), se a onda complexa propaga-se com velocidade de 12 m/s então as ondas com-
ponentes de Fourier também se propagarão à mesma velocidade. A componente de Fourier de
maior comprimento de onda 5cm tem amplitude 1, 5 cm e freqüência, igual a onda complexa,

v
f= = 240Hz
λ

as componentes seguintes têm amplitudes de 0, 5 cm e freqüências de 720 Hz e 1200 Hz. As on-


das complexas periódicas, em cordas fixas pelas extremidades, apresentam sua forma repetida
a cada ∆X = λ que são modeladas por um espectro de freqüências naturais (próprias), as
harmônicas.

3.2 Ondas estacionárias - Considerando um ponto fixo numa corda onde uma onda
incidente Yi sofre uma mudança de fase quando é refletida Yr . O deslocamento de qualquer
ponto da corda é o resultado da interferência ou superposição das duas ondas, isto é,

Yi (X, t) + Yr (X, t) = A sin(kX − ωt) + A sin(kX + ωt),

A onda efetiva, mostra como a amplitude varia ponto a ponto, é dada por

YS (x, t) = 2A cos(ωt) sin(kX).

Esta equação apresenta zeros independentes do tempo, logo, não há uma verdadeira propagação.
Como consequência dessa restrição de posição na amplitude, limita-se as possı́veis freqüências
de vibração, por exemplo, numa corda fixa nas extremidades (f igura − 10) e formando uma
seqüência harmônica de freqüências permitidas que constituirão um timbre.
Quando a corda de um instrumento é tocada, a oscilação resultante vem da superposição de
130
várias harmônicas. A diferença na qualidade do som - o timbre (f igura − 11) produzido por
diversos instrumentos, quando estimulados a tocar a mesma nota, isto é, todos oscilando com
a mesma freqüência fundamental - é causado pelas diferentes contribuições nas amplitudes
das harmônicas.

3.3 Batimento - O fenômeno do Batimento pode ser observado na superposição de


duas fontes sonoras de freqüências muito próximas ocasionando uma onda resultante cuja
amplitude apresenta modulações periódicas.
A equação de onda para descrever o fenômeno do Batimento vem da superposição de duas
ondas senoidais de freqüências f e comprimentos de onda λ muito próximos. Considerando
k1 'k2 'k ainda, ω1 ' ω2 ' ω, pode-se escrever: k1 − k2 = 2∆k e k1 + k2 = 2k e ω1 − ω2 = 2∆ω
e ω1 + ω2 = 2ω. Como resultado da superposição dessas duas ondas, obtém-se a equação

Y1 (X, t) + Y2 (X, t) = 2A cos(∆kX − ∆ωt) sin(kX − ωt).

A velocidade de propagação usual da onda é v ' ω/k, mas esta velocidade está organizada
em grupos, devido a modulação na amplitude, produzida pelo termo cos(∆kX − ∆ωt), sendo
a velocidade de grupo u ' ∆ω/∆k.
A (f igura − 12) mostra o fenômeno do batimento.
Os músicos se utilizam de um diapasão e do batimento que com ele pode ser produzido para
afinar seus instrumentos à cordas (piano, violino, violão, etc.).

3.4 Difração e interferência - As várias regiões de uma frente de onda, mesmo as


originadas numa única fonte, são constituı́das de fontes de ondas esféricas que podem, elas
próprias, interferir entre si.
O fenômeno que possibilita a onda contornar um obstáculo, dá-se o nome de difração. A
difração é responsável pela ausência de separação geométrica nı́tida entre luz e sombra. O
fenômeno da difração é importante quando os obstáculos e fendas possuem dimensões com-
paráveis ao comprimento (λ) da onda neles incidentes. O som e a luz apresentam grande
facilidade de contornar obstáculos e assim espalhar-se por todo o espaço.
Da superposição de duas ou mais ondas, de mesma freqüência, que se encontram, coincidindo
no espaço e no tempo, ocorre um dos fenômenos ondulatórios mais caracterı́sticos e im-
portantes, o fenômeno da interferência. A existência da interferência foi demonstrada pela
primeira vez por Thomas Young na famosa experiência da ”fenda dupla”(f igura − 19). Nessa
131
experiência, uma onda monocromática que chegue em duas fendas origina em cada fenda ondas
esféricas (Princı́pio de Huygens). Essas duas ondas, de comprimento de onda λ, ao seguirem
uma direção que leve a um mesmo ponto P de um anteparo (alvo) podem formar no ponto P
uma mancha clara ou escura, dependendo da diferença de caminhos x = r1 − r2 percorridos
pelas duas ondas.
O fenômeno da difração têm que satisfazer a relação entre distâncias: d << D onde, d
(distância entre fendas) e D (distância entre plano das fendas e plano anteparo do alvo).
Mesmo em uma única fenda (ou obstáculo) existe o fenômeno da interferência (f igura − 20).
Tomando raios paralelos emergentes da fenda, agora d representa a largura da fenda, pode-se
escrever:
x = d sinθ.

Quando x corresponder a uma diferença de caminhos percorridos pelas duas ondas, e sendo
igual a múltiplos inteiros de λ a interferência é construtiva, mostra um ponto claro no anteparo
C:
d sinθm = mλ

com a ordem m assumindo valores inteiros: m = 0, ±1, ±2, ....


Quando a interferência é destrutiva, ela mostra um ponto escuro no anteparo C, isso ocorre
λ
com: m = ±1/2, ±3/2, ..., a diferença de caminhos agora corresponde a múltiplos de 2
.
Portanto, o fenômeno da interferência mostra num anteparo uma sucessão de manchas claras
e escuras (f igura − 21). Este fenômeno também pode ser visto com qualquer número N
de fendas. A medida que vai aumentando o número de fendas, temos um rede de difração,
onde a interferência mostra suas manchas mais estreitas (f igura − 22), tanto que, quando
N →∞ as manchas se tornam riscas constituindo um espectro de raias. Quando uma onda
policromática que contém duas freqüências (por exemplo), encontra um número muito grande
de fendas, as duas cores poderão ser separadas. Pelo ”Critério de Rayleigh”, as duas cores são
separáveis se o máximo de uma raia fica a uma distância angular que corresponde ao mı́nimo
da outra raia. O poder de resolução

∆λ 1
= ,
λ Nm

de uma rede de difração com N linhas, pode ser capaz ou não de separar os máximos dessas
duas cores numa certa ordem m.
132
4. FENÔMENOS ONDULATÓRIOS E QUÂNTICOS:
4.1 Reflexão e Refração.
4.2 Dispersão.
4.3 Efeito Doppler .
4.4 Polarização.
4.5 Interação da radiação com a matéria.
4.6 Efeito Fotoelétrico.
4.7 Efeito Compton.
4.8 Raios X.

4.1 Reflexão e Refração - A propagação de uma onda, a partir de uma determinada


fonte, pode ocorrer em duas dimensões (ondas planas) ou três dimensões (ondas esféricas).
Num dado instante haverá regiões da onda num mesmo estado de perturbação, ou amplitude
Y (X, t), diz-se que estas regiões estão em fase. Os lugares geométricos dos pontos em que,
num mesmo tempo t, a amplitude de perturbação é a mesma, chama-se de superfı́cies de
onda. Cada ponto na superfı́cie de onda é um centro emissor de novas ondas. As linhas
perpendiculares às superfı́cies de onda são os raios, que dá a direção de propagação da onda.
A ótica geométrica define os raios luminosos para descrever o caminho seguido pela luz. Um
raio é uma linha na direção de propagação de uma onda luminosa. Quando a luz encontra
o limite de separação entre dois meios alguns raios luminosos retornam ao meio de origem,
reflexão, outros são transmitidos, mudam de meio, refração. A direção de propagação muda
quando a luz é refletida ou quando a luz entra em uma região onde a sua velocidade de
propagação é diferente (refração). A (f igura − 17) mostra um raio incidente na interface,
fazendo um ângulo θ1 com a normal. O raio refletido forma um ângulo θ10 com a normal
e o raio refratado (transmitido) forma um ângulo θ2 com a normal. Os raios refletidos e
refratados pertencem ao mesmo plano definido pelo raio incidente e a normal. As leis de
reflexão são θ1 = θ10 e a lei de refração é n1 sinθ1 = n2 sinθ2 onde n1 e n2 são ı́ndices definidos
para quantificar refração dos respectivos meios 1 e 2 (f igura − 18). O ı́ndice de refração
n de um meio-X é um número obtido da razão entre a velocidade da radiação no vácuo
(c = 3×108 m/s) e a velocidade da radiação no meio X (vX ).

c
nX = .
vX

O ı́ndice de refração dos materiais opticamente transparentes aumenta a medida que diminui
133
o comprimento de onda da radiação. Na decomposição espectral da luz solar, uma radiação
branca (composta por um grande número de diferentes freqüências ou comprimentos de onda)
incide com um dado ângulo i num meio dispersivo produzindo diferentes ângulos de refração
para os diferentes comprimentos de onda dessa radiação policromática.
Quando uma onda passa de um meio para outro ocorre portanto em geral, dois fenômenos:
a reflexão e a refração. Na condição de passagem da luz de um meio mais refringente (maior
ı́ndice de refração) para um meio menos refringente (menor ı́ndice de refração) pode ser que
aconteça só reflexão: a reflexão total interna. No caso da passagem da luz da água para o ar,
a partir de um certo ângulo crı́tico de incidência ic , escreve-se

nar
sin ic = .
nágua

Portanto, qualquer que seja o ângulo de incidência i se n1 > n2 e i > ic , ocorrerá somente a
reflexão (reflexão total e interna).

4.2 Dispersão - A velocidade de propagação de uma onda num determinado meio


pode depender do comprimento de onda. Isto é

dv
6=0.

Nesse caso diz-se que o meio é disperssivo.


No caso do fenômeno do batimento, em meio dispersivo, no limite ∆ω→dω = d(vk) chega-se
que
dω dv
u= =v−λ .
dk dλ
Considerando as ondas eletromagnéticas em meios dispersivos, a velocidade de propagação
pode depender da freqüência da radiação. O fenômeno da dispersão é responsável pela ob-
servação do espectro de luz visivel, isto é, possibilidade de decompor a luz (de uma estrela
como o Sol, de um gás como o Hélio) nas suas componentes. Ao atravessar um meio dis-
persivo (geralmente um prisma transparente), as diferentes radiações luminosas de diferentes
freqüências movem-se com velocidades diferentes e seguem trajetórias diferentes, isto é, dis-
persam (f igura − 14).
134
4.3 Efeito Doppler - O Efeito Doppler é um fenômeno que explica a variação da
freqüência, percebida por um observador, das ondas sonoras ou luminosas emitidas por uma
fonte em movimento relativo ao observador (f igura − 13). Um exemplo (acústico) bas-
tante comum são as aparentes alterações na freqüência de ruı́dos, produzidos pelos veı́culos
automotores, durante as suas ultrapassagens. Estas alterações, podem ser explicadas da
seguinte maneira: Considere que o som produzido por uma fonte em repouso tem freqüência
(f = vS /λ). Se a fonte viaja com velocidade vF de aproximação relativa a um observador, o
som chega no observador com uma freqüência aparente f 0 , dada por

vS + vF vF
f0 = = f (1 + ),
λ vS

que é maior que f , a freqüência real. Se o movimento é de afastamento relativo, o observador


mede uma freqüência aparente f 0 menor que a freqüência real.
O efeito Doppler também ocorre com ondas luminosas e suas conseqüências são importantes
em Astronomia, na observação espectroscópica dos deslocamentos das freqüências de emissão
caracterı́sticas, em relação às mesmas emissões na terra, dá informações sobre o movimento dos
astros. Os radares da Policia Rodoviária, utilizam uma fonte microondas (UHF), funcionam
medindo a mudança de freqüência da ondas refletida por um automóvel para determinar sua
velocidade.

4.4 Polarização - Em uma onda longitudinal a direção em que a perturbação ocorre


é bem definida, pois, é a própria direção de propagação. Nas ondas transversais a direção
de perturbação é sempre perpendicular a direção de propagação mas não mantém-se numa
única direção particular. Quando a perturbação numa onda plana transversal é segundo
uma direção bem definida a onda diz-se polarizada. No caso das ondas eletromagnéticas,
ondas transversais, a direção de vibração vai variando de forma aleatória. Mas a luz pode ser
polarizada (f igura − 15), por absorção e reflexão.
Uma corda vibrante (transversal) numa simples fenda permite entender a polarização da onda.
A amplitude polarizada (Ap ) guarda a seguinte relação com a amplitude incidente (Ai ):

Ap = Ai cosθ

onde, θ é a direção de polarização.


As ondas longitudinais, como o som no ar, não podem serem polarizadas.
135
4.5 Interação da radiação com a matéria - No fim do século XIX, surgiram
algumas revoluções importantes na Fı́sica Clássica. Uma dessas revoluções, a Teoria da Rel-
atividade de Einstein, mostrou que as concepções usuais de espaço e tempo tinham de ser
radicalmente modificadas. A outra grande revolução, a Mecânica Quântica (de Planck, De
Broglie, Bohr e outros) põem em dúvida o conceito de determinismo e dá importância a um
princı́pio chamado de Princı́pio da Incerteza de Heisenberg.
Como uma teoria corpuscular a Mecânica Quântica diz que a natureza faz ”saltos”quânticos,
nas propriedades da matéria, quando interage com a radiação, ou seja E = hν.
Uma das dificuldade da Fı́sica Clássica era relacionar a radiação eletromagnética irradiada
por um corpo com a sua temperatura. Esta questão foi brilhantemente resolvida por Planck
ao introduzir os ”quanta”de energia: a radiação eletromagnética de dada freqüência apresenta
nı́veis discreto de energia separados por hν.
Outra grande dificuldade da Fı́sica Clássica era explicar a interação da radiação eletro-
magnética com a matéria. As radiações eletromagnéticas são constituı́das de fótons, com
diferentes origens, que diretamente não ionizam a matéria. Mas as radiações eletromagnéticas
de altas freqüências (ou energias), raios ultravioletas, raios X e raios γ podem promover ion-
izações indiretas, devido a ocorrência de fenômenos tipo o Efeito Fotoelétrico e o Efeito
Compton, se as energias desses fótons forem superiores a 33 eV , (1eV = 1, 6×10−19 J).

4.6 O Efeito fotoelétrico - O Efeito fotoelétrico foi observado primeiramente por


Hertz com o auxı́lio do circuito da (f igura − 23). Ao iluminar um bloco de zinco com luz
ultraviolta, o bloco fica eletrizado e um amperı́metro acusa uma corrente elétrica entre as duas
faces do bloco. A Fı́sica Clássica dizia que se aumentasse a intensidade da luz (aumentando
o número de fótons) deveria consequentemente aumentar a corrente elétrica (energia cinética
Ec dos elétrons), mas o experimento diz que não. Einstein mostrou por meio da equação

Ec = hν − W

que a energia mı́nima (W ) para libertar o elétron depende da freqüência da luz e não da sua
intensidade.

4.7 O Efeito Compton - O Efeito Compton foi observado no estudo da interação de


”raios X”com a matéria, Compton notou que um feixe de raios X incidente de freqüência ν,
no meio material, era desviado e que a freqüência ν 0 da luz difundida (dispersada) dependia
136
do ângulo de espalhamento do elétron (f igura − 24). A diferença de energia (hν − hν 0 ), que
resulta dessa colisão elástica entre o fóton e o elétron, é igual a energia cinética do elétron
espalhado.
O que é interessante no Efeito Fotoelétrico e no Efeito Compton é que o fóton, a onda eletro-
magnética, se comporta como uma partı́cula dualı́stica de momento linear p (p = mv), e
comprimento de onda λ relacionados pela equação quântica de De Broglie (λ = hp ).

4.8 Raios X - Os raios X são produzidos em tubos de vácuo, nos quais um feixe
de elétrons é submetido a uma rápida desaceleração ao colidir contra um alvo metálico. Os
raios X comportam-se não só como ondas eletromagnéticas mas também como partı́culas e
portanto pode interagir com a matéria por efeitos quânticos tipo efeito fotoelétrico ou mesmo
efeito Compton.
Os raios X, descobertos por Roentgen em 1895, são muito penetrantes; eles são absorvi-
dos pelas camadas profundas dos átomos (camadas K ou L) e esta propriedade permite a
aplicação dessa radiação em análise radiocristalográfica (determinação da estrutura molec-
ular de cristais), na espectrografia X (consiste em bombardear uma amostra com raio X e
analisar as raias caracterı́sticas da fluorescência emitida) e na aplicação mais antiga, a radio-
grafia usada em medicina e mesmo na indústria mecânica para controle de precisão em soldas.
Para que se possa ver um objeto precisamos de luz com comprimentos de onda da ordem desse
objeto. No estudo das moléculas, para entender seus arranjos atômicos, é necessário que a
radiação entre dentro de espaços interatômicos que são da ordem do nanometro. Como a
luz visı́vel tem comprimento entre 400nm e 700nm necessitamos de radiação eletromagnética
com comprimentos de ondas menores (freqüências maiores), como por exemplo os ”raios X”.
Os raios X, como uma luz, ao incidir sobre uma rede cristalina (material), origina inter-
ferência entre os raios refletidos por diferentes planos (f igura − 25). Quando a interferência
dos raios refletidos é construtiva (uma grande intensidade de raios X é mostrada), a ”Lei de
Bragg” (2d sinθ = mλ), determina que para as ordem m = 1, 2, ... haverá um ponto brilhante
na chapa fotográfica (f igura − 26).
Num cristal há vários planos que satisfazem a lei de Bragg então, usando raios X monocromáticos
e variando o ângulo de incidência (rodando o cristal), de modo a produzir impressões numa
chapa de raios X, temos as imagens que vão compor a estrutura da rede cristalina, permitindo
assim uma perfeita identificação do material.
137
4D RADIAÇÕES
Fı́sica para as Ciências Agrárias - Caderno-4 ONDAS E FÍSICA MODERNA
Professor Cesar Lobo

5. RADIAÇÃO TÉRMICA:
5.1 Transferência de calor.
5.2 Radiação Térmica.
5.3 O sistema Sol-Terra.
5.4 O efeito estufa.
5.5 Fotometria.

5.1 Transferência de calor - Existem três mecanismo que explicam a forma de


transferência de calor entre um corpo e sua vizinhaça: convecção, condução e radiação. En-
quanto a convecção e a condução exigem a presença de um meio material, a radiação, como
já sabemos, se propaga também no vácuo.

Convecção: Na convecção há deslocamento de um meio material (o ar ou um lı́quido)


devido a diferença de temperatura. O calor é assim transferido de um sı́tio para outro junta-
mente com o meio material.
Numa casa (f igura − 1), a lareira ao nı́vel do chão (fonte quente) e as janelas (fonte fria)
mais ao alto criam correntes de ar de conveção uma vez que o ar aquecido (menos denso), por
impulsão do ar mais frio (mais denso), tende a subir.
Um tratamento quantitativo da convecção é demasiado complexo por estar ligado ao estudo
de turbulência em fluı́dos.

Condução: Na condução há a transferência de calor, sem transporte de materia, entre


objetos em contato material a temperaturas diferentes. Há uma transferência local de energia
por colisões a nı́vel microscópico.
Consideremos, como exemplo (f igura − 2), a condução de calor ao longo de uma barra iso-
lada lateralmente com as extremidades ligadas a duas fontes; quente na temperatura TQ e
fria na temperatura TF (TF < TQ ). O calor flui da fonte quente para a fonte fria no sentido
do nivelamento das temperaturas.
O fluxo de calor (calor que flui por unidade de tempo) vai depender da diferença de temper-
atura, TQ − TF , da área A da secção da barra, da distância l entre as fontes. Se o fluxo de
calor H que sai da fonte quente e chega na fonte fria pode ser tomado, em regime estacionário,
138
como iguais então vale a equação para a condução térmica:

TQ − TF
H(= Q/t) = kT A .
l

O fluxo de calor é diretamente proporcional à área da barra e à diferença de temperatura e


inversamente proporcional à distância. A constante de proporcionalidade kT é a condutividade
térmica do material. Alguns exemplos de condutividade térmica (aço inoxidável é um bom
condutor) são mostrado na tabela (f igura − 3).
Se tivermos preocupados em isolar objetos (casas, latas de cervejas, etc.) do calor, estamos
interessados então nos maus condutores (ar seco bom isolante) de calor. Assim a engenharia
introduziu o conceito de Resistência Térmica R. O valor de R de uma barra de comprimento
l é definido como
l
R= .
kT
A resistência térmica dos materiais (f igura − 3), como a madeira, espuma e lã está muito
relacionada com a eficiência desses materiais em aprisionar o ar em bolsas isoladas.
Num caso mais geral de condução, o regime não é estacionário, o fluxo de calor e a temperatura
são funções da posição x e do instante t. Nessas condições uma discussão teórica levaria a
uma equação diferencial, que relaciona variações de temperatura no tempo com variações de
temperatura de um local para outro

∂T ∂ 2T
=κ 2
∂t ∂x

k
sendo κ = cρ
, a difusibilidade térmica (kappa) que é dependente do calor especı́fico c, densi-
dade ρ do material e da constante de Boltzmann k = 1, 38×10−23 J/K.

Radiação: Esta forma de transmissão de calor não é mais do que a propagação de


ondas eletromagnéticas. A emissão de ondas, devido às oscilações de cargas elétricas num
dado corpo, vai depender naturalmente da temperatura desse corpo. Todo o corpo emissor é
também um absorsor de radiação.
O sol assim como todos os objetos emitem radiações eletromagnética devido a sua temper-
atura. A energia transmitida pelo Sol percorre o vácuo quase completo do espaço. A radiação
emitida pelo Sol é dominantemente na faixa visı́vel do espectro eletromagnético, (coincidência?
ou será que é um caso de adaptação biológica a maior oferta de radiação disponı́vel?) ou seja
λmax = 5×10−7 m.
139

5.2 Radiação Térmica - Um objeto muito importante no estudo das radiações


térmicas é o ”corpo negro”. Um corpo negro é definido como um objeto que absorve toda a
radiação eletromagnética que incide sobre ele, sem refletir nada da radiação. Um corpo com
essa propriedade (não existe na natureza, mas pode ser idealizado), em princı́pio não pode ser
visto e, portanto, é negro. Para tal corpo estar em equilı́brio termodinâmico, ele deve irradiar
energia na mesma taxa em que absorve, do contrário ele esquentaria ou esfriaria, e sua tem-
peratura variaria. Portanto, um corpo negro, além de ser um absorsor perfeito, é também um
emissor perfeito. A lei de Planck, que rege a emissão do corpo negro, é uma lei geral, vale para
qualquer material. Planck descobriu que a radiação de um corpo incandescente poderia ser
explicada se a luz (radiação) só pudesse ser emitida ou absorvida em um número inteiro (n)
de pacotes denominados quanta (ou fótons) todos caracterizados por uma mesma frequência
(ν), que é frequência da luz emitida ou absorvida. A energia de cada pacote, quantum, é

E = hν,

onde h = 6, 63×10−34 Js é a constante de Planck.


As propriedades gerais relacionadas com a energia térmica emitida (ou absorvida) por um
corpo são:

1) O espectro da energia radiada por unidade de tempo (potência emitida) é contı́nuo


(f igura − 4), depende da temperatura T do corpo e do comprimento de onda λ da radiação
emitida.
Esse espectro apresenta um máximo de potência irradiada em λ = λmax que depende da
temperatura (e consequentemente da cor) do corpo emissor.

2) O comprimento de onda que corresponde a intensidade máxima varia inversamente


com a temperatura do corpo (Lei de Wien):

λimax T i = 2, 898×10−3 mK.

Exercı́cio. Avalie a temperatura da superfı́cie do Sol?

3) A energia radiada (ou emitida) por unidade de tempo pela superfı́cie A de um corpo
140
cresce com a quarta potência da temperatura (Lei de Stefan-Boltzmann):

Wrad = eσAT 4

com σ = 5, 67×10−8 W m−2 K −4 . O parâmetro e, a emissividade,

0≤e≤1

traduz que, para uma superfı́cie completamente refletora e = 0 e para um ”corpo negro”e = 1.
Um ”corpo negro”ideal é negro não só na zona do visı́vel, mas também para todo o espectro:
não reflete nenhum comprimento de onda.
Dois corpos semelhantes, à mesma temperatura, estão em equilı́brio térmico de radiação
quando a energia emitida é exatamente igual a energia absorvida, portanto, a energia ab-
sorvida apresenta a mesma expressão da energia emitida

Wabs = eσAT 4

sendo T a temperatura da fonte que a emitiu.

5.3 O sistema Sol-Terra - A Terra (f igura − 5) absorve a energia emitida pelo


Sol, cuja superfı́cie está a uma temperatura de TS = 5800K, e emite radiação cujo espectro é
determinado pela temperatura à superfı́cie (em média da ordem de TT = 300K), Numa aprox-
imação pode-se dizer que a Terra se comporta como um corpo negro. Em regime estacionário,
há um balanço entre a energia absorvida e a energia emitida, caso contrário a temperatura
média da Terra, estaria a aumentar ou diminuir.
Exercı́cio. Considere os valores, raio do Sol RS = 6, 96×108 m, distância Terra-Sol d =
1, 49×1011 m e Temperatura da superfı́cie do Sol TS = 5800K. Determine a temperatura
média da superfı́cie da Terra TT e que faixa do espectro eletromagnético que pertence a ra-
diação emitida pela Terra.

5.4 O efeito estufa - Como já sabemos, a radiação emitida pelo Sol corresponde
aproximadamente à de um corpo negro de TS = 6000K. Os comprimentos de onda que
transportam mais energia nesta radiação passam perfeitamente através do vidro e plásticos
das estufas, (f igura − 6). No interior, a radiação dominante corresponderá à temperatura
média da superfı́cie terrestre: cerca de TT = 300K. A esta temperatura, o comprimento de
141
onda máximo (da Lei de Wien) corresponde aos infravermelhos, radiação para qual o vidro
ou plástico é quase opaco. Isto pode ser assim explicado: A radiação da estufa correspon-
derá aproximadamente ao espectro dos 300K menos a ”fatia”correspondente aos infravermel-
hos que ficam bloqueados na estufa, fazendo aumentar a temperatura ”efeito estufa”. Este
efeito, também existe naturalmente na atmosfera. É importante pois torna a Terra habitável,
impedindo-a de arrefecer excessivamente durante a noite. Mas, o aumento da poluição tem
acarretado, na atmosfera, um acúmulo de gases (por exemplo CO2 , CF C e CO) todos muito
eficientes em absorver e reemitir os infravermelhos.
Um aumento de intensidade do efeito estufa constitui uma ameaça para o balanço térmico da
atmosfera. Se esse equilı́brio entre a energia absorvida e a energia radiada (emitida) não for
mantido, dar-se-á um aquecimento gradual da superfı́cie terrestre, as calotas polares de gelo
começaram a fundir, o clima alterar-se-á e, ...

5.5 Fotometria - A intensidade I(ν) de uma radiação, de uma certa frequência ν, é


a energia E(ν) que atravessa uma superfı́cie de área A num intervalo de tempo ∆t,

E(ν)
I(ν) = .
A∆t

Quando uma radiação IX (ν) incide, numa área A, formando um ângulo Z com a normal a
esta superfı́cie, a irradiança sobre a superfı́cie é:

IA (ν) = IX (ν).cos(Z).

A densidade de fluxo solar (energia/área) ou radiação solar absorvida pela superfı́cie é pro-
porcional ao produto entre os fatores: densidade de fluxo solar incidente K, a absorvidade
da superfı́cie A (especı́fico do tipo de superfı́cie) e o cosseno do ângulo zenital Z, (Lei de
Lambert).
142
6. RADIOATIVIDADE:
6.1 Radioatividade.
6.2 Radioatividade alfa (α).
6.3 Radioatividade beta (β).
6.4 Radioatividade gama (γ).
6.5 Unidades da radioatividade.
6.6 Datação por carbono-14.
6.7 Aplicações de radioisótopos.

6.1 Radioatividade - Chama-se radioatividade toda transformação dos núcleos de


átomos acompanhadas de emissão de partı́culas. A radioatividade é portanto uma trans-
formação nuclear, as reações quı́micas no qual os átomos de uma molécula participam não
são afetadas pela radioatividade. A partir dos trabalhos de Thomson e Rutherford, a ra-
dioatividade foi descoberta por Henri Becquerel em 1896. Contribuições importantes sobre a
radioatividade são igualmente atribuı́das a Pierre e Marie Curie.
Encontram-se na natureza substâncias que são radioativas como, por exemplo, o urânio,
o tório. Neste caso fala-se de radioatividade natural. Pode-se também criar artificialmente
núcleos radioativos (radioatividade artificial) bombardeando os núcleos naturalmente estáveis
com nêutrons, prótons, fótons, etc. A produção de plutônio, bombardeando o urânio 238 com
nêutrons, é um desses exemplo.
Distingue-se pelo menos três tipos de radioatividade, tanto artificial como natural, segundo a
natureza das partı́culas emitidas pelo núcleo: a radioatividade alfa (α) beta (β) e gama (γ).

6.2 Radioatividade alfa - Na radioatividade alfa, uma partı́cula, composta de dois


prótons e dois nêutrons, é expulsa do núcleo atômico. O núcleo torna-se assim o de um outro
elemento quı́mico. Exemplo: rádio 228 (88 prótons e 140 nêutrons) torna-se radônio 224 (86
prótons e 138 nêutrons) mais uma partı́cula α. Este tipo de radioatividade é muito freqüente
entre os elementos pesados, tendo um grande número de prótons e nêutrons em seus núcleos.
As partı́culas α só penetram a matéria superficialmente e para os frear é suficiente uma folha
de papel ou uma camada de ar de alguns centı́metros.
143
6.3 Radioatividade beta - Na radioatividade beta (mais exatamente β − ), um
nêutron contido no núcleo atômico se transforma num próton e emite um elétron mais um an-
tineutrino. O número de prótons do núcleo fica assim aumentado de uma unidade, o número
total de prótons mais nêutrons permanece constante. Exemplo: Neptunio 238 (93 prótons e
145 nêutrons) dá plutônio 238 (94 prótons e 144 nêutrons) mais um elétron e um antineu-
trino. Os elétrons emitidos constituem os raios beta. As partı́culas β penetram a matéria
mais facilmente que as partı́culas α; no entanto, para detê-las, é suficiente um anteparo de
plástico de uma espessura de 1 a 2 cm. Existe o caso mais raro onde no interior de um núcleo
um próton se torna um nêutron emitindo um pósitron (partı́cula β + ) e um neutrino.

6.4 Radioatividade gama - A radioatividade gama em geral se manifesta acompan-


hada das atividades alfa e beta. Fala-se de radioatividade γ quando um núcleo não muda sua
natureza (permanece com o mesmo número de prótons e de nêutrons), mas diminui ligeira-
mente sua energia emitindo um fóton de alta energia. Os fótons ou raios γ são emitidos desde
que os núcleos passem de um nı́vel de energia excitado para um nı́vel mais baixo (desexci-
tado). Trata-se exatamente do mesmo fenômeno da emissão de luz visı́vel por um átomo, mas
as energias envolvidas no núcleo, e portanto nos raios γ, são em geral um milhão de vezes
superiores. Os raios X são igualmente fótons mas de uma energia intermediária entre a da
luz visı́vel e a dos raios gama. Pode-se dizer portanto que os raios gama também como os
raios X e a radiação visı́vel constituem o que costumamos chamar genericamente de radiações
eletromagnéticas. Portanto os raios gama só define a origem da radiação eletromagnética, que
é o núcleo. É necessário um anteparo de chumbo, cuja a espessura pode ir até 15 cm, para
deter a radiação gama.
A radiatividade γ, é menos perigosa que as radioatividades α e β por ser menos ionizante.

6.5 Unidades da radioatividade - A atividade de uma fonte radioativa se mede em


curie (Ci) ou becquerel (Bq). A radiação diminui com o quadrado da distância da fonte e
aumenta com o tempo de duração de uma exposição radioativa. A Intensidade se mede em
röntgen (R) (conta as ionizações). A energia transferida para a matéria no SI é dada em gray
(Gy) (Joules por kg de substância). O efeito das radiações sobre os seres vivos expressando
os danos nos tecidos biológicos (moléculas) é expressa em rem ou modernamente em Sivert
(Sv). Um Sv mede o efeito biológico produzido por um Gy.
144
A radiação de origem nuclear, por ser ionizante, é perigoso para o organismo dos seres
vivos a partir de certos limites de dose . O dano ao ser vivo é produzido a nı́vel molecu-
lar (excitação e ionização dos átomos) provocando desestruturação celular e inclusive efeitos
genéticos. Os efeitos de uma exposição radioativa são dependentes da energia , mas não
diretamente, os raios X e as partı́culas beta são muito mais danosos aos tecidos que as ra-
diações gama por terem um maior valor do LET (Transferencia Linear de Energia para a
matéria). Assim, para um homem, uma irradiação de 100 rem ou 1Sv no aparelho genital
pode conduzir à esterilidade e uma irradiação de aproximadamente 300 rem ou 3Sv no corpo
inteiro, conduz à morte num perı́odo entre duas e seis semanas em 20 % dos casos. A ra-
dioatividade natural, é de intensidade muito variável dependendo da composição dos solos ,
das rochas, da existência de águas subterrânea e também de minerais radioativos. A origem
da radioatividade natural está ligada a existência local de urânio, tório (areias monasistica),
potássio 40 (fosfato), radônio (águas profunda). Estudos bem recentes tem demonstrado que
a radioatividade natural de pequena intensidade teve efeitos benéficos (Hormésis) nos seres
vivos por ter sido responsável por uma maior diversidade genética.

6.6 Datação por carbono-14 - Trabalhando com tório, Rutherford descobriu que
a radiação decrescia com o tempo em progressão geométrica. No caso do tório, a radioativi-
dade desaparece com a metade de seus núcleos num perı́odo de um minuto (meia vida). O
procedimento da datação por carbono incorpora o fenômeno da meia vida de uma maneira
muito proveitosa. A meia vida do carbono-14 é 5.570 anos, quando a metade dos átomos do
carbono-14 de uma dada amostra terá se transmutado em nitrogênio-14.
No ar existe uma pequenı́ssima fração de carbono-14 que é produzido, nas camadas mais
externas da atmosfera, por colisões de raios cósmicos com o nitrogênio do ar.
Todos os seres vivos absorvem o carbono-14 do ar diretamente, pela fotossı́ntese, ou indireta-
mente, por ingestão de plantas e animais. Organismos como caules e folhas, tecidos humanos e
ossos, etc., quando vivos, na Terra, mantém a mesma fração de carbono-12 para o carbono-14.
Quando um organismo morre ele mantém a quantidade de carbono-12, mas como é cessada
a ingestão de carbono-14, a quantidade deste vai diminuindo com o tempo (por decaimento
radioativo) por conseqüência há uma constante alteração na fração de carbono-12 para o
carbono-14. A comparação da fração atual com a que existia antes da morte do organismo
permitirá avaliar a idade da amostra. Outros tipos de datação permitem avaliar a idade de
peças arqueológicas, de fósseis e até mesmo de rochas.
145
6.7 Aplicações de radioisótopos - Os radioisótopos são os isótopos instáveis dos
elementos quı́micos, eles têm aplicações em diferentes ramos da Ciência, principalmente na
Medicina, na Indústria e na Agricultura:
Na medicina, os radioisótopos podem ser usados como traçadores na diagnose, por apre-
sentarem uma emissão espontânea da radiação, indicando sua posição;
Como fontes de energia, são importantes para destruir os tecidos cancerosos, produzem reações
quı́micas como a quebra de moléculas que destroem os tecidos biológicos.
Na indústria, as técnicas de radiografia e gamagrafia permitem ensaios não destrutivos para
examinar o interior de materias e conjuntos lacrados, esses métodos permitem lidar com
objetos perigosos de manusear como materiais corrosivos ou tóxicos. As radiografias e gam-
agrafias são particularmente de grande importância na inspeção da qualidade de soldas em
aviões, navios e tubulações de gás.
Por irradiação pode-se intensificar a cor de um cristal;
A radiação pode ser usada na esterilização , destruição de fungos e bactérias, de ferramentas
ou materiais de embalagem e esse uso é de importância fundamental na medicina e produção
de alimentos.
Na agricultura, além da produção de alimentos irradiados, menos peressı́veis, como galinha,
mamão, batata, morango, trigo e outros, os radioisótopos podem ser usados na criação de
novas variedades de plantas, irradiação de sementes, com caracterı́sticas melhoradas podendo
assim aumentar e melhorar a produção de alimentos. A radiação pode ser usada também no
combate a insetos, eliminação ou controle.

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