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FI426 Eletromagnetismo 1 - 2018.

1 - Notas de Aulas 6 1

C ENTRO DE C IÊNCIAS E XATAS E DA N ATUREZA


D EPARTAMENTO DE F ÍSICA
C URSO DE B ACHARELADO EM F ÍSICA DA UFPE

Aula 6 - 14 de março de 2018

Sumário
Potencial Escalar Eletrostático no vácuo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
Exemplo: Campo e Potencial Elétrico de uma distribuição esférica superficial
de cargas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
Potencial e Campo Elétrico produzidos por uma distribuição de cargas superfi-
cial arbitrária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

Bibliografia:

• David J. Griffiths, Introduction to Electrodynamics, 3rd Edition, Prentice Hall, New


Jersey (1999) §2.3 e 2.4.1
• Jonh Reitz, Frederick J. Milford e Robert W. Christy, Foundation of Electromagnetic
Theory, 4rd Edition, Addison Wesley (1967) §2.4 e 2.8

Potencial Escalar Eletrostático no vácuo


Considerar expressão do campo elétrico de uma distribuição de cargas contínua ρ(~r) delimi-
tada por um volume V :
Z Z  
~ r) = 1 ′ ~r − ~r′ 1 ~ ~r −1
E(~ ρ(~r ) 3
dv ′ = ′
ρ(~r ) ∇ dv ′
4πǫ0 V |~r − ~r |
′ 4πǫ0 V |~r − ~r′ |

onde usamos a identidade vetorial:

 
~ ~r −1 ~r − ~r′
∇ = . (1)
|~r − ~r′ | |~r − ~r′ |3

Transpondo o operador gradiente em ~r para fora de integral que é realizado em r~′ , resulta:
 Z 
~ r ) = −∇
~ 1 1 ~ r)
E(~ ′
ρ(~r ) ′
dv = −∇Φ(~ (2)
4πǫ0 V |~r − ~r′ |
| {z }
Φ(~
r)

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onde identificamos o potencial escalar eletrostático no vácuo:

Z
1 ρ(~r′ )
Φ(~r) = dv ′ Potencial Escalar Eletrostático (3)
4πǫ0 V |~r − ~r′ |

Observações:
~ ×E
• ∇ ~ ≡ 0 desde que ∇
~ × ∇Φ
~ ≡ 0.
~ = −∇Φ
• E ~ em decorrência do caráter central da força eletrostática (vide identidade (1)).

• O potencial escalar pode definido a menos de uma constante.


~ r ).
• É melhor trabalhar com Φ(~r) do que com uma função vetorial E(~
~ ·E
• ∇ ~ = ρ/ǫ0 e ∇~ ×E ~ = 0 são suficientes para especificar completamente E(~
~ r)
i.e. define toda a eletrostática no vácuo!
Expressões para o potencial produzido por distribuições superficiais σ(~r) e lineares λ(~r) de
cargas podem ser escritas de maneira análoga por,

Z Z
1 σ(~r′ )ds′ 1 λ(~r′ )dl′
Φ(~r) = , Φ(~r) =
4πǫ0 V |~r − ~r′ | 4πǫ0 V |~r − ~r′ |

Interpretação Física para o Potencial Escalar


O potencial eletrostático pode ser definido pela integral de linha do negativo do campo ele-
trostático desde um ponto de referência O até o ponto considerado,

Z ~
r
Φ(~r) = − ~ r ′).d~l,
E(~
O

de acordo com a definição do potencial escalar de um campo vetorial, como visto na Aula 3.
Esta definição está relacionada com o trabalho exercido por um agente externo para deslocar
uma carga q entre dois pontos contra as forças do campo!
~ext = −F~E = −q E
Sejam dois pontos A e B , e seja F ~.
Logo:

Z B Z B
bc
W = − F~E · d~l = −q ~ · d~l
E
A A
B
Z B Z B
= q ~
(∇Φ) · d~l = q dΦ =
A A
~
E
= q [ΦB − ΦA ] = UB − UA

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A d~l
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onde

U = qΦ

é, por definição, a energia potencial eletrostática.

Observações:
H
• A integral do campo eletrostático em uma curva fechada é nula ~ · d~l = 0.
E

• O Potencial Φ pode ser obtido diretamente da Lei de Coulomb.


• Considerando o teorema de Stokes para o cálculo vetorial:
I Z
~ · d~l =
A ~ × A)
(∇ ~ · n̂da (4)
C S

Aplicando para E~ resulta ∇


~ ×E ~ = 0.
• O ponto de referência para o potencial é arbitrário, porque o que interessa de fato é
obter a diferença de potencial entre dois pontos, ou seja, a integral de linha do campo
entre esses dois pontos por qualquer que seja a trajetória:
Z B  Z A 
∆Φ = ΦB − ΦA = − ~ ~
E(~r).dl − − ~ ~
E(~r).dl =
O O
Z B Z O 
=− ~ r).d~l +
E(~ ~ r).d~l
E(~
O A
Z B
∴ ∆Φ = ΦB − ΦA = − ~ r ).d~l
E(~
A

• Unidades de potencial: No SI a força é medida em Newtons e a carga em Coulombs,


logo:

Newtons Newtons × metro Joule


[E] = → [Φ] = = = Volt
Coulombs Coulombs Coulombs

Exemplo: Campo e Potencial Elétrico de uma distribuição esférica superficial de cargas

Considerar uma distribuição de cargas σ , uniforme, superficial e esférica de raio a, com carga
total Q = 4πσ a2 , como mostra da figura (a) abaixo.
Em face da simetria esférica da distribuição de cargas, a Lei de Gauss é bastante útil e
pode ser usada para calcular o campo dentro e fora da superfície esférica, usando-se uma
superfície gaussiana esférica e concêntrica, mostrada na figura (b):

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(a) (b)
Considerar a expressão da Lei de Gauss para o fluxo total
I Z
FE = ~ · n̂ds = 1
E ρ(~r′ )dv ′
S ǫ0 V

Como o campo elétrico será radial por simetria, a integral do lado esquerdo resulta em:
I I I
~ · n̂ds = E
E r̂ · n̂ds = E ds = E(4πr 2 )
S S S

De maneira análoga, o lado direito da equação pode ser resolvido



 Q
1
Z  r≥a
ρ(~r′ )d~r′3 = ǫ0
ǫ0 V 
0 r<a
resultando por comparação que

~ = 1 Q ~ σ a2
E ǫˆr , ou E= ǫˆr r≥a
4πǫ0 r 2 ǫ0 r 2

~ = 0,
E r<a

Usando-se a definição de potencial podemos calcular a integral de linha desde o infinito (to-
mado como referencial nulo) até o ponto P , exterior à superfície de cargas, através de uma
trajetória radial (para simplificar, óbvio):
Z P Z ∞
Φ(P ) = − ~ r ′ ) · d~ℓ′ =
E(~ ~ r ′ ) · d~ℓ′
E(~
∞ P

Mudando o referencial do infinito para o ponto O , teremos:


Z ∞ Z ∞ Z ∞
~ r ′ ) · d~ℓ′ = 1 Q ~′ Q 1 ′ Q 1
Φ(~r) = E(~ r ′ · dl =
′ 2 ǫ̂~ ′ 2 dr = , r≥a
~
r r 4πǫ0 r | {z } 4πǫ0 r r 4πǫ0 r
1

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onde usamos que ǫ̂~r′ · d~l′ = −dl′ = dr ′ .


Para um ponto P no interior da superfície de cargas,
Z r Z a Z r Z
1 Q 1 Q ′ −Q a 1 Q 1
Φ(~r) = − ǫ̂~r′ ·d~l′ = − ′ 2 dr −

[0] dr = dr = , r≤a
∞ 4πǫ0 r ′ 2 ∞ 4πǫ0 r a 4πǫ0 ∞ r 2 4πǫ0 a
Em resumo,


Q 1
 4πǫ r , r≥a


0
Φ(~r) =

 Q 1
 , r≤a
4πǫ0 a

Observações:

• O potencial é constante no interior de superfície, o que assegura que o campo é nulo!

• O valor (constante) do potencial no interior depende do valor do campo fora da superfí-


cie. Se o campo fora da superfície for mudado pela presença de outras cargas o valor
do potencial dentro da superfície esférica será ainda constante, mas com outro valor.

• O potencial é contínuo na superfície.

Cálculo Alternativo:

O potencial no exterior de superfície esférica pode, também, ser cal-


culado por integração direta, usando o referencial mostrado na figura
ao lado.
O potencial no ponto P definido por ~r, causado pelo elemento de
carga dq = σds localizado pelo vetor ~a é dado por:
ds
z }| {
1 dq 1 σ a2 senθ dθ dφ
dΦ = = √
4πǫ0 |~r − ~a| 4πǫ0 r 2 + a2 − 2 r a cos θ

Integrando em toda superfície, resulta:


Z Z
σa2 2π π senθ dθ dφ
Φ= √ =
4πǫ0 0 0 r + a2 − 2 r a cos θ
2

Z
σa2 π senθ dθ
= √
2ǫ0 0 r 2 + a2 − 2 r a cos θ
| {z }
I

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A integral I pode ser resolvida, por exemplo, fazendo a mudança de


variáveis u = cos θ e v = (r 2 + a2 )/2 a r ,
Z 1
1 du −2 √ 1 −2 √ √
I = √ √
=√ [ v−u ]= √ [ v − 1 − v + 1] =
2ar −1 v−u 2ar −1 2ar
"r r #
−2 r 2 + a2 r 2 + a2
= √ −1− +1 =
2ar 2ar 2ar

−1 hp p i
= (r − a)2 − (r + a)2
ar
IMPORTANTE:
Neste ponto, é preciso separar as regiões onde r > a (fora) e r < a (dentro) da casca esférica
para considerar as raízes positivas no cálculo de I , evitando ambiguidades.
p p
Assim, para r > a (fora) deveremos ter (r − a)2 = (r − a) e para r < a, (r − a)2 = a − r .
Desta maneira,

  2
2  σa


 r > a, 

ǫ r r > a, (fora)
r 0
I= =⇒ Φ=
2 σa

 

r < a. 
 r < a, (dentro)
a ǫ0

Finalmente, fazendo Q = 4πσ a2 o resultado acima é recuperado.


Observe que para fora o resultado independe de a.
Na figura abaixo, mostramos o gráfico desse potencial, onde Φ(a) = σa/ǫ0 :

(r)

( )

=!
r

Exemplo 02: Potencial de um dipolo elétrico

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O potencial de um dipolo com cargas ±q distantes


P
d, e orientado na direção z é dado em coordenadas ǫ̂z b

esféricas por
 
q 1 1
Φ(r, θ, φ) = −
4πǫ0 r1 r2 q1 bc ~r
onde as distâncias r1 e r2 podem ser expressas por: d θ
p
r1 = r 2 + (d/2)2 − r d cos θ, O b

p
r2 = r 2 + (d/2)2 − r d cos(π − θ),
q2 bc
Obs:

• Φ não depende de φ (simetria azimutal), po-


rém depende de θ.
• No plano equatorial θ = π/2, temos Φ = 0.

A grandes distâncias do dipolo r ≫ d temos:


"  2 #−1/2  
1 d d 1 d 2
r1−1 = 1+ − cos θ ≃ 1+ cos θ + O(d/r)
r 2r r r 2r
"  2 #−1/2  
1 d d 1 d 2
r2−1 = 1+ + cos θ ≃ 1− cos θ + O(d/r)
r 2r r r 2r
Logo
p
z}|{
q  −1 −1
 q d 3 q d cos θ
Φ(r, θ, φ) = r1 − r2 = cos θ + O(d/r) ≃
4πǫ0 4πǫ0 r 2 4πǫ0 r 2
onde, p = q d é o módulo do momento dipolo elétrico p
~:

p~ = q d~

onde, neste caso, d~ é o vetor de posição que vai da carga negativa para a carga positiva.
Assim o potencial pode ser escrito como:

1 ~p · r̂
Φ(r, θ, φ) =
4πǫ0 r 2

As superfícies equipotenciais do dipolo, Φ(r, θ, φ) = Φ0 , estão mostradas na figura a seguir.

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O campo pode ser calculado a par-


tir do gradiente do potencial: 4

∂Φ 1 2p
Er = − = cos θ, 2
∂r 4πǫ0 r 3 2

0 1
1 ∂Φ 1 p
Eθ = = senθ,
r ∂θ 4πǫ0 r 3 -

0
-2

1 ∂Φ
Eφ = = 0. -1
rsenθ ∂φ -4

-4 -2 0 2 4 -2
Na figura ao lado exibimos o po- Equipotenciais do Dipolo Elétrico
tencial do dipolo elétrico em um
gráfico de linhas equipotenciais.
As cores indicam o valor do potencial de acordo com a escala de gradiente ao lado.

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Potencial e Campo Elétrico produzidos por uma distribuição de cargas superficial arbi-
trária σ(~r)

Usar a Lei de Gauss e considerar uma superfície Gaussiana cilíndrica de base S e altura
infinitesimal ǫ,

Z Z Z
~ 1 1
Φ= E·n̂da = ρdv = σda
S ǫ0 V ǫ0 S
(5)

Considerando o limite quando ǫ → 0 o


lado esquerdo de (5) fica:
Z Z Z
~ 1 ·n̂da− E
E ~ 2 ·n̂da = 1 σda (6)
S S ǫ0 S
Logo

(E ~ 1 ) · n̂ = σ
~2 − E (7)
ǫ0

ou seja,

Ocorre uma descontinuidade na componente nor-


mal do campo elétrico, cujo valor é σ/ǫ0 .

Obs: Para algumas distribuições com propriedades de simetria é possível obter o campo elé-
~ diretamente da Lei de Gauss. Ex: placa infinita com distribuição de cargas uniforme.
trico E
H
Usar a condição ~ · d~l = 0 sobre uma trajetória retangular paralela à superfície e com altura
E
infinitesimal ǫ0 .
I Z Z
lim ~ · d~l1 =
E ~ 1 · d~l +
E ~ 2 · d~l2
E → (E2t − E1t ) = 0 ∴ E2t = E1t (8)
ǫ→0 1 2

A componente tangencial do campo elétrico


é contínua na superfície.

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