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2, 2020
ISSN: 2675-5254 – DOI: https://doi.org/10.21711/26755254/rmu202021
R ESUMO . Neste trabalho apresentaremos a Teoria dos Espaços Métricos Gerais, uma
nova estrutura em que estaremos aptos a generalizar tanto espaços métricos quanto or-
dens parciais. Para essas teorias, temos dois teoremas de ponto fixo: o Teorema do Ponto
Fixo de Banach para espaços métricos e o Teorema do Ponto Fixo de Knaster–Tarski
para ordens parciais. Nesse novo contexto provaremos construtivamente ambos os teore-
mas como corolário de um único resultado, cujas hipóteses generalizam espaços métricos
completos e reticulados completos.
1. I NTRODUÇÃO
Durante o trabalho de iniciação científica os autores se perguntaram se existia conexão
entre dois teoremas de ponto fixo bem conhecidos e importantes na matemática: os teo-
remas de Banach para contrações e de Knaster-Tarski para reticulados completos. Será
que eles poderiam ser formulados e derivados em algum contexto comum? Buscando
resultados recentes no tema, os autores encontraram os artigos [5] e [8]. Nesses trabalhos
foram desenvolvidos, com o uso de conceitos da Teoria das Categorias, resultados que
permitiam deduzir os dois teoremas por meio de uma única teoria, a Teoria dos Espaços
Métricos Gerais, cf. [1], abordando completude por meio do Lema de Yoneda. Com o
intuito de apresentar de maneira clara os resultados obtidos, no presente artigo simplifi-
camos a abordagem. Neste caminho, é preciso introduzir os espaços métricos gerais e
completá-los nesse novo contexto. Os vários tipos de completamento nessa teoria permi-
tem a conexão com os completamentos usuais concernentes a espaços métricos usuais,
reticulados completos e dcpo’s com ⊥ (vide seção 1.2, após a Proposição 2), cf. [2] e
[3]. A ferramenta necessária para essa abordagem são os funtores completamento, que,
utilizando em particular os funtores admissíveis, permitem à ordem induzida a partir de
um espaço métrico geral ser uma dcpo. Assim, por meio desse truque, é possível deduzir
um ponto fixo da função f : X → X se tivermos o ponto fixo de uma certa “extensão”
1
Teoremas de ponto fixo de Banach e Knaster-Tarski 2
bottom nem top. Por outro lado, se I ⊆ R é um intervalo fechado, com a ordem herdada
de R este é um reticulado completo. Seja X conjunto, então (P(X); ⊆) é um reticulado
completo, onde o supremo e o ínfimo são calculados simplesmente através de união e
interseção, respectivamente.
A demonstração da próxima proposição é simples.
Proposição
W 2. Uma ordem W (P ; ≤) é um reticulado completo sse para todo A ⊆ P ,
W parcial
existe A. Note que, A = (↓A).
Um conjunto Q ⊆ P não vazio é direcionado se para todo x, y ∈ Q, ∃ h ∈ Q tal que
x ≤ h e y ≤ h. Observe que se Q ⊆ P é direcionado, qualquer subconjunto finito F ⊆f
Q possui barreira superior em Q. É claro que toda cadeia Q ⊆ P é direcionado. Assim,
P é dito dcpo com ⊥ ou ordem parcial direcionada completa com primeiro elemento se:
P possui bottom ⊥;
i) W
ii) D existe, para todo D ⊆ P direcionado.
W F
Denotaremos D = D para fazer menção ao sup de um conjunto direcionado. Ao
omitirmos i), dizemos que P é dcpo. Em [2], temos uma bibliografia acessível sobre a
teoria dos reticulados e das ordens, enquanto em [3], encontramos a teoria dos dcpo’s com
resultados e questões mais avançadas.
Sabemos da Análise que se uma função é contínua, então esta preserva limites. Esta
mesma noção podemos traduzir para dcpo’s, considerando conjuntos direcionados.
F F Assim
se P, S são dcpo’s, uma função f : P → S é dita contínua se f ( D) = f (D),
para todo D ⊆ P direcionado. Observe que qualquer função contínua preserva ordem,
porém
F não é difícil
F de ver que a recíproca não é verdadeira, apenas podemos garantir que
f (D) ≤ f ( D).
1.3. Famílias, sequências e redes. Para podermos entender a teoria dos espaços métri-
cos gerais, é preciso trabalhar com redes e sua convergência. Sejam X um conjunto e I
um conjunto de índices. Uma família (xi )i∈I é uma função x : I → X, cuja imagem x(i)
é denotada por xi , para todo i ∈ I. Para I = N, (xn )n∈N é dita uma sequência em X,
e temos as sequências usuais. Se (I, ≤) é ordem parcial direcionado, (xi )i∈I é dita uma
rede em X.
Para X espaço métrico, dizemos que uma rede (xi )i∈I converge para x ∈ X, denotado
por lim xi = x, quando para todo > 0 existe N ∈ I de modo que para todo j ≥ N
tenha-se d(xj , x) < . Uma rede (xi )i∈I é dita de Cauchy caso dado > 0 seja possível
obter N ∈ I de modo que para todo i ≥ j ≥ N tenha-se d(xi , xj ) < .
Como sabemos, a convergência de uma rede de Cauchy nem sempre é garantida em um
espaço métrico qualquer. Conforme a seguinte proposição, considerando-se a completude
de um espaço métrico apenas por sequências de Cauchy, será possível obter convergência
de qualquer rede de Cauchy.
Proposição 3. Seja X espaço métrico. X é completo se, e somente se, toda rede de
Cauchy converge.
1
Demonstração. Seja (xi )i∈I rede de Cauchy. Para cada n = n+1 tome N (n ) de modo
que para todo i ≥ j ≥ N (n ) tenha-se d(xi , xj ) < n . Desta maneira, defina µ : N → I
5 Andreas B. M. Brunner e Paulo R. S. Malta
recursivamente por:
N (0 ) se n = 0
µ(n) =
max{N (n ), µ(n − 1)} para n > 0
Temos que (xµ(n) )n∈N é sequência de Cauchy pois dado > 0, tomando n0 ∈ N de
modo que n0 < , teremos para todo m ≥ n ≥ n0 : µ(m) ≥ µ(n) ≥ µ(n0 ) ≥ N (n0 ).
Assim d(xµ(m) , xµ(n) ) < n0 < . Em virtude da completude de X a sequência (xµ(n) )n∈N
converge, digamos para x ∈ X. Vamos mostrar que (xi )i∈I converge para x. Ora, dado
1
> 0, tome m ∈ N de modo que m+1 < 2 . Como (xµ(n) )n∈N converge a x podemos
obter n0 ∈ N de modo que para todo m ≥ n0 tenha-se d(xµ(m) , x) < 2 . Assim, para todo
i ≥ N (m ) teremos:
0 se x ≤ y
P (x, y) =
∞ caso contrário
Reciprocamente, se X é espaço métrico geral podemos induzir uma ordem parcial (X, ≤X
) por x ≤X y se, e somente se, X(x, y) = 0. Assim as ordens ≤ e ≤P coincidem.
O próprio conjunto [0, ∞] é espaço métrico geral, munido da quase-métrica:
0 se x ≥ y
[0, ∞](x, y) = y −̇x =
y − x se x < y
Como usual, temos x + ∞ = ∞ + x = ∞, para todo x ∈ [0, ∞]. Observe que a ordem
usual de R não coincide com a ordem induzida por [0, ∞](−, −), temos x ≤[0,∞] y se, e
somente se, y ≤ x.
Para X, Y espaços métricos gerais, uma função f : X → Y é dita não-expansiva se
tivermos sempre Y (f (x), f (y)) ≤ X(x, y), ∀x, y ∈ X. Não é difícil de demonstrar que
toda função f que é não-expansiva também preserva ordem com respeito a ≤X . Observe
que a composição de funções não-expansivas é novamente uma função não-expansiva,
como também a identidade é uma função não-expansiva. Com isso obtemos a seguinte
Definição 1. A classe Gms, cujos objetos são dados por espaços métricos gerais e cujos
morfismos são funções não-expansivas, é dita a categoria dos espaços métricos gerais.
Existe uma noção de dualidade na teoria dos espaços métricos gerais que estende a
noção de dualidade presente na teoria das ordens parciais: dado X espaço métrico geral
podemos obter uma quase-métrica dual definida por X op (x, y) = X(y, x), quaisquer que
sejam x, y ∈ X. Dizemos que X op é o espaço métrico geral dual a X. Note que nem todo
espaço métrico geral provém de alguma ordem parcial.
2.1. Sequências de Cauchy e limites. Como em espaços métricos gerais vale apenas
uma versão parcial do axioma da simetria, o “nosso mundo"fica maior. Neste caso temos
duas noções de sequências de Cauchy.
Dizemos que uma rede (xi )i∈I em X é Cauchy à direita se:
∀ > 0, ∃ N ∈ I; ∀i ≥ j ≥ N ⇒ X(xj , xi ) <
De modo análogo uma rede (xi )i∈I em X é dita Cauchy à esquerda se:
∀ > 0, ∃ N ∈ N; ∀i ≥ j ≥ N ⇒ X(xi , xj ) <
Claramente sendo X espaço métrico usual, as duas noções de sequências de Cauchy coin-
cidem. Vale observar que se X é ordem parcial decorre da definição que para (xi )i∈I Cau-
chy à direita, levando em consideração a quase-métrica induzida, podemos obter N ∈ I
de modo que para todo i ≥ j ≥ N tenha-se xj ≤ F xi . Assim em um dado momento (xi )i∈I
é cadeia, então fará sentido se perguntar o limite xi .
A seguinte proposição nos permitirá verificar o comportamento de uma rede de Cauchy
quando induzidas à [0, ∞].
Proposição 4. Sejam X espaço métrico geral e (xi )i∈I uma sequência de Cauchy à direita
em X. Então dado x ∈ X:
(1) A rede (X(x, xi ))i∈I é Cauchy à direita em [0, ∞].
Teoremas de ponto fixo de Banach e Knaster-Tarski 8
A fim de introduzir limites de redes de Cauchy para espaços métricos gerais, antes se
faz necessário definir este conceito em [0, ∞].
Para (ri )i∈I Cauchy à direita em [0, ∞], definimos o limite à direita de (ri ) por:
lim ri = sup inf rj
→ i∈I j≥i
Analogamente, se (ri )i∈I é Cauchy à esquerda em [0, ∞] o seu limite à esquerda é definido
por:
lim ri = inf sup rj
← i∈I j≥i
Para a demonstração desta proposição será feito uso do seguinte lema, qual também utili-
zamos na demonstração de um dos teoremas principais (vide 4).
Lema 1. Sejam A, B ⊆ R, −A = {−x; x ∈ A} e A + B = {x + y; x ∈ A e y ∈ B}.
Valem as seguintes afirmativas:
(1) Se A é limitado inferiormente, então sup(−A) = − inf A
(2) Se A é limitado superiormente, então inf(−A) = − sup A
(3) Se A e B são limitados, então sup(A + B) = sup A + sup B e inf(A + B) =
inf A + inf B
9 Andreas B. M. Brunner e Paulo R. S. Malta
Observe que esta definição coincide com os limites definidos em [0, ∞], em virtude de
5 e está bem definido conforme 4. Vale ressaltar que este limite, caso exista, está unica-
mente determinado em virtude da simetria fraca. Sem a simetria fraca apenas poderíamos
concluir que os limites possuem distância 0.
Se X é ordem parcial e (xi )i∈I é cadeia, então
G
lim xn = xn .
→
De fato, seja y tal que xi ≤ y para todo i ∈ I. Logo X(xi , y) = 0, ∀i ∈ I. Por outro F
lado,
X(lim→ xi , y) = lim← X(xi , y) = 0. Assim, lim→ xi ≤ y e, portanto, lim→ xi = xi .
Além disso, essa definição coincide com a usual de espaços métricos. De fato, seja > 0
dado, observe que:
x = lim xi ⇒
→
0 = X(lim xi , x) = lim X(xi , x) = inf sup X(xi , x) <
→ ← i∈I j≥i
2.2. O mergulho de Yoneda. O mergulho de Yoneda pode ser pensado como uma “re-
presentação"da categoria Gms na categoria de funtores com valores em conjuntos e trans-
formações naturais. Por exemplo, o teorema de Cayley da teoria dos Grupos diz que todo
grupo G é imerso no grupo das simetrias, ou seja, qualquer grupo G é isomorfo a um
subgrupo do grupo das simetrias. Então o mergulho de Yoneda neste caso induz o mono-
morfismo de grupo, G → SG , onde SG denota o grupo das permutações de G.
Em posse dos conceitos introduzidos estamos em condições de formular o Lema de
Yoneda, cf. [6] e [4], um resultado importante na Teoria das Categorias. Para nos-
sos fins, nos restringiremos à categoria Gms. Para isto consideremos o conjunto X b =
{f : X op → [0, ∞]; f é não-expansiva}. Munindo-o com a quase métrica X(φ, b ψ) =
supz∈X [0, ∞](φ(z), ψ(z)) temos que X b é um espaço métrico geral. A seguinte proposi-
ção nos permitirá identificar X em X.b Com isso daremos mais um passo ao objetivo de
aproximar os dois teoremas de ponto fixo.
Lema 2 (Yoneda). Seja X um espaço métrico geral. Para cada x ∈ X defina a função
X(−, x) : X op → [0, ∞], y 7→ X(y, x). Esta função é não-expansiva e portanto um
b Além disto, para qualquer elemento φ ∈ X,
elemento de X. b tem-se X(X(−,
b x), φ) =
φ(x).
Teoremas de ponto fixo de Banach e Knaster-Tarski 10
Agora tome φ ∈ X.
b Teremos:
φ(x) = [0, ∞](X(x, x), φ(x))
≤ sup[0, ∞](X(z, x), φ(z)) = X(X(−,
b x), φ)
z∈X
Por outro lado, uma vez que φ é não-expansiva tem-se para qualquer y ∈ X:
[0, ∞](φ(x), φ(y)) ≤ X op (x, y) = X(y, x)
Vamos mostrar que para qualquer y ∈ X tem-se [0, ∞](X(y, x), φ(y)) ≤ φ(x). Para isto
considere os seguintes casos:
i) X(y, x) = ∞
Neste caso [0, ∞](X(y, x), φ(y)) = 0 ≤ φ(x).
ii) X(y, x) < ∞ e φ(x) = ∞
De imediato [0, ∞](X(y, x), φ(y)) ≤ φ(x).
iii) X(y, x) < ∞ e φ(x) < ∞
Como [0, ∞](φ(x), φ(y)) ≤ X(y, x) teremos φ(y) < ∞, assim φ(y) − φ(x) ≤
[0, ∞](φ(x), φ(y)) ≤ X(y, x) e portanto φ(y) − X(y, x) ≤ φ(x). Logo, indepen-
dente da relação da ordenação de φ(y) e X(y, x), segue que [0, ∞](X(y, x), φ(y)) ≤
φ(x).
Portanto em qualquer dos casos vale a desigualdade, uma vez que y ∈ X é arbitrário
segue que:
φ(x) ≥ sup[0, ∞](X(y, x), φ(y)) = X(X(−,
b x), φ)
y∈X
À luz do lema anterior podemos a partir de agora identificar qualquer espaço métrico
geral X em um “maior", X. b Através da seguinte proposição, estaremos em condições de
identificar as funções não-expansivas.
Proposição 6. Sejam X, Y espaços métricos gerais e f : X → Y não-expansiva. Defina
f∗ : X
b → Yb por f ∗ (φ)(y) = inf (φ(x) + Y (y, f (x))). Neste caso, f ∗ é não-expansiva.
x∈X
11 Andreas B. M. Brunner e Paulo R. S. Malta
Demonstração. Sejam φ, ψ ∈ X,
b teremos:
b ψ) + f ∗ (φ)(y)
X(φ,
= sup[0, ∞](φ, ψ) + inf (φ(x) + Y (y, f (x)))
x∈X x∈X
\
= sup [0, ∞](φ(z), yx (z)) = [0, ∞](φ, yx )
z∈[0,∞]
Como x é arbitrário segue que f ∗ (φ)(y) ≥ inf i∈I supj≥i Y (y, f (xj )). Para
mostrar a desigualdade oposta tome > inf i∈I supj≥i Y (y, f (xj )), para este
tome δ1 , δ2 > 0 de modo que δ1 + δ2 < e δ1 > inf i∈I supj≥i Y (y, f (xj )). Como
δ1 não é uma barreira inferior para inf i∈I supj≥i Y (y, f (xj )), podemos obter N1 ∈
I de modo que:
δ1 > sup Y (y, f (xj )) ≥ Y (y, f (xj )), ∀j ≥ N1
j≥N1
Uma vez que (xi ) é Cauchy a direita podemos obter N2 ∈ I tal que para todo
j 0 ≥ j ≥ N2 tenha-se X(xj , xj 0 ) < δ2 . Assim φ(xj ) ≤ δ2 , qualquer que seja
j ≥ N2 . Como I é direcionado, tomando N ≥ N1 e N ≥ N2 segue que para todo
j ≥ N:
> δ1 + δ2 > Y (y, f (xj )) + φ(xj ) ≥ f ∗ (φ)(y)
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Uma vez que foi tomado arbitrário segue que inf i∈I supj≥i Y (y, f (xj )) ≥ f ∗ (φ)(y).
Portanto f ∗ (φ)(y) = inf i∈I supj≥i Y (y, f (xj )).
Demonstração. Como X é espaço métrico, podemos fazer uso da simetria quando conve-
niente. Suponha X completo, tome φ = inf i∈I supj≥i X(−, xj ). Fazendo uso da propo-
sição 3 temos que (xi )i∈I converge, digamos para x. Em virtude da equação (1) teremos
para todo y ∈ X:
Reciprocamente, seja (xn )n∈N sequência de Cauchy. Tome φ = inf n∈N supk≥n X(−, xn ).
Como X é A-completo existe o supremo S(φ). Assim para todo z ∈ X:
X(S(φ), z) = X(z, S(φ))
= X(y
|{z}
b z , φ)
(4)
= lim X(y
b z , y xn )
←
= lim X(z, xn ) = lim X(xn , z) .
← ←
Se a ∈ ↓A, pela escolha de z temos X(a, z) = 0, assim [0, ∞](φ(a), X(a, z)) = 0.
Por outro lado, se a ∈
/ ↓A teremos que φ(a) = ∞ e portanto [0, ∞](φ(a), X(a, z)) = 0.
Desta maneira, qualquer que seja a ∈ X temos [0, ∞](φ(a), X(a, z)) = 0, logo X(S(φ), z) =
0 e assim S(φ) ≤ z. W
Portanto concluímos que existe ↓A, uma vez que A ⊆ X foi tomado arbitrário segue
da proposição 2 que X é reticulado completo.
Reciprocamente, suponha X reticulado completo. Para φ ∈ X, b tome A = φ−1 (∞).
Observe que A = ↑A, pois se z ∈ ↑A podemos obter h ∈ A tal que h ≤ z, como φ é
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W
não-expansiva φ(h) ≤ φ(z) e assim φ(z) = ∞. Desta maneira defina S(φ) = X\ ↑A,
vamos mostrar que S é supremo.
Ora, para cada x ∈ X teremos:
_
0 = X(S(φ), x) = X( X\ ↑A, x)
⇔ X\ ↑A ⊆ ↓{x}
⇔ X\ ↓{x} ⊆ ↑A
Se a ∈ ↓{x} temos X(a, x) = 0, caso contrário teremos a ∈ ↑A e assim φ(a) = ∞, logo
em qualquer caso teremos [0, ∞](φ(a), X(a, x)) = 0. Por outro lado, se [0, ∞](φ(a), X(a, x)) =
0, ∀ a ∈ X, isto significa que sempre X(a, x) ≤ φ(a), em particular para a ∈↓{x}
/ valerá
X(a, x) = ∞ e assim φ(a) = ∞. Desta maneira, teremos:
X\ ↓{x} ⊆ ↑A ⇔ [0, ∞](φ(a), X(a, x)) = 0, ∀ a ∈ X
⇔ X(φ,
b yx ) = 0 .
= lim X(y
b x , yu )
i
→
= lim sup[0, ∞](yxi (a), yu )(a)
→ a∈X
= X(φ,
b yu )
= X(S(φ), u)
Portanto S(φ) ≤X u.
Nas próximas seções vamos mostrar que ambos teoremas poderão ser deduzidos da
teoria sobre espaços métricos gerais introduzida até então por meio das proposições 4 e
13 exibidas a seguir. Mais precisamente, vamos verificar que ambos são consequências
do teorema sobre a existência de pontos fixos para dcpo’s, cf. 3. Para funtores completa-
mento admissíveis podemos demonstrar que a função f : X → X possui pontos fixos se
a função extensão f ∗ : Xb →X b tem pontos fixos, cf. 4. Através do teorema 13 demons-
traremos que a condição suficiente para f ∗ ter de fato um ponto fixo é que para algum
x0 ∈ X a sequência (f n (x0 ))n∈N seja de Cauchy à direita. Em posse destes resultados
será possível concluir os teoremas de Banach e Knaster-Tarski sem maiores dificuldades.
Teorema 3. Seja (X, ≤) dcpo com ⊥ e suponha que f : X → X preserva ordem. Então
f tem menor ponto fixo.
Demonstração. Seja φ ∈ J X tal que f ∗ (φ) = φ, uma vez que X é J -completo, existe
S(φ). Desta maneira temos que:
X(S(f ∗ (φ)), f (S(φ))) = X(f
b ∗ (φ), yf (S(φ)) )
= sup[yf (S(φ)) (a)−̇f ∗ (φ(a))]
a∈X
= sup[X(b, S(φ))−̇X(y
b b , φ)][Lema de Yoneda]
b∈X
= f ∗ (φ)(z) .
19 Andreas B. M. Brunner e Paulo R. S. Malta
Uma vez que > 0 foi tomado arbitrário, teremos f ∗ (φ)(z) ≤ supk≥n X(z, f k (x0 )).
Como n ∈ N foi tomado arbitrário obtemos f ∗ (φ)(z) ≤ inf n∈N supk≥n X(z, f k (x0 )) =
φ(z). Logo f ∗ (φ)(z) − φ(z) ≤ 0, uma vez que a escolha de z ∈ X foi arbitrária segue
que supz∈X [f ∗ (φ)(z) − φ(z)] ≤ 0 e assim X(φ,
b f ∗ (φ)) = 0. Portanto φ ≤ b f ∗ (φ).
X
Para mostrar a desigualdade oposta, sejam y, z ∈ X e n ∈ N fixados. Tome k ≥ n,
uma vez que f é não-expansiva teremos:
Assim,
e, assim, X(y, f (z)) + φ(z) ≥ φ(y). Uma vez que z foi tomado arbitrário, teremos
inf z∈X [X(y, f (z) + φ(z))] ≥ φ(y) e, assim, f ∗ (φ)(y) ≥ φ(y). Como y foi tomado
arbitrário segue que f ∗ (φ) ≤Xb φ.
Demonstração. Seja x0 ∈ X, vamos mostrar que f n (x0 ) é Cauchy à direita. Ora, para
cada p ∈ N teremos
p−1
X
n n+p
X(f (x0 ), f (x0 )) ≤ X(f n+i (x0 ), f n+i+1 (x0 ))
i=0
p−1
X
≤ λn+i X(x0 , f (x0 ))
i=0
p−1
X
= λn X(x0 , f (x0 )) λi
i=0
∞
X
< λn .X(x0 , f (x0 )) λi
i=0
λn
= X(x0 , f (x0 )) .
1−λ
λ n
Uma vez que 0 < λ < 1 temos que 1−λ X(x0 , f (x0 )) → 0, assim dado > 0 podemos
tomar n0 ∈ N de modo que para todo n ≥ n0 tenha-se X(f n (x0 ), f n+p (x0 )) < . Como
p ∈ N foi tomado arbitrário segue que X(f n (x0 ), f m (x0 )) < , para todo m ≥ n ≥ n0 .
Portanto f n (x0 ) é Cauchy à direita.
Desta maneira, pela proposição 13 φ = inf n∈N supk≥n X(−, f k (x0 )) é um ponto fixo
para f ∗ , qual pertence a AX. Pela proposição 11 temos que o funtor A é admissível, uma
vez que X é A-completo segue pelo teorema 4 que f possui ponto fixo.
Se a, b ∈ X são pontos fixos para f , teremos X(a, b) = X(f (a), f (b)) ≤ λX(a, b) e
assim (1 − λ)X(a, b) ≤ 0. Como (1 − λ) > 0 segue que X(a, b) = 0. De modo análogo
X(b, a) = 0 e assim em virtude da simetria fraca a = b.
Portanto f possui um único ponto fixo.