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I, 1

Il
(TEXTO DE ARISTÓTELES: 71al - 71all)

Omnis doctrina et omnis disciplina intellectiua ex preexistenti fit cognitione. Manifestum


est autem hoc speculantibus in omnes.
Mathematice enim scienciarum per hunc modum fiunt et aliarum unaqueque artium.
Similiter autem et circa orationes que per sillogismos et que per inductionem; utreque
enim per prius nota faciunt doctrinam, hee quidem accipientes tanquam a notis, 'ille uero
demonstrantes uniuersale per id quod manifestum est singulare.
Similiter autem et rethorice persuadent; aut enim per exempla, quod est inductio, aut
per entimema, ' quod uere est sillogismus.
Todo ensinamento e todo aprendizado intelectual se dá a partir de conhecimento
preexistente. Ora, isto é manifesto em todos para os que consideram.
Com efeito, dentre as ciências, as matemáticas se dão desse modo assim como qualquer
uma dentre as outras artes.
Semelhantemente também ocorre com os argumentos, tanto os que se dão por silogismo quanto os
que se dão por indução; em ambos, com efeito, se dá um ensinamento pelo que é
conhecido previamente, aqueles assumindo-os como que a partir do que é conhecido,
estes, porém, demonstrando o universal por aquilo que é manifesto no singular.
Semelhantemente, também, persuadem os enunciados retóricos: com efeito, ou o
fazem através de exemplos, o que é indução, ou através de entimemas, que é, na
verdade, silogismo.

PROLOGUS

PRÓLOGO
Sicut dicit Aristotiles in principio Methaphisice, hominum genus arte et rationibus
uiuit. In quo uidetur Philosophus tangere quoddam hominis proprium quo a ceteris
animalibus differt: alia enim animalia quodam naturali instinctu ad suos actus
aguntur, homo autem rationis iudicio in suis actionibus dirigitur; et inde est quod
ad actus humanos faciliter et ordinate perficiendos diuerse artes deseruiunt: nichil
enim aliud ars esse uidetur quam certa ordinatio rationis, quomodo per determinata
media ad debitum finem actus humani perueniatur.
Ratio autem non solum dirigere potest inferiorum partium actus, set etiam actus sui
directiua est: hoc enim est proprium intellectiue partis ut in se ipsam reflectatur, nam
intellectus intelligit se ipsum et similiter ratio de suo actu ratiocinari potest.
Si igitur ex hoc quod ratio de actu manus ratiocinatur adinuenta est ars edificatiua uel
fabrilis per quas homo faciliter et ordinate
Como diz Aristóteles no princípio da Metafisica, o gênero dos homens vive pela arte e
pelo raciocínio. Nisso, o Filósofo parece tocar numa propriedade do ser humano
pela qual ele se diferencia dos outros animais: com efeito, os outros animais agem por
certo instinto natural em seus atos, mas o ser humano é dirigido, em suas ações, pelo
juízo da razão, e é a partir disso que foram inventadas as diversas artes, a fim de
que os atos humanos se realizassem de modo fácil e ordenado; a arte nada
mais parece ser do que certo ordenamento da razão, de modo que os atos
humanos atinjam seus devidos fins por meios determinados.
Ora, parece que a razão é capaz de dirigir não somente o ato das partes
inferiores, mas também é diretiva com relação aos seus próprios atos: com efeito, é
próprio da parte intelectiva que reflita sobre si mesma; com efeito, o intelecto intelige
a si mesmo, e, do mesmo modo, a razão pode raciocinar sobre seu ato.
Portanto, se a razão, raciocinando sobre os atos da mão, inventou a arte edificativa ou
fabril, por meio da qual o ser humano pode exercer de modo
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huiusmodi actus exercere potest, eadem ratione ars quedam necessaria est que sit
directiua ipsius actus rationis, per quam scilicet homo in ipso actu rationis ordinate, faciliter et
sine errore procedat; et hec ars est logica, id est rationalis, sciencia. Que non solum
rationalis est ex hoc quod est secundum rationem, quod est omnibus artibus commune,
set ex hoc quod est circa ipsum actum rationis sicut circa propriam materiam; et ideo uidetur
esse ars artium, quia in actu rationis nos dirigit, a quo omnes artes procedunt.
Oportet igitur logice partes accipere secundum diuersitatem actuum rationis. Sunt
autem rationis tres actus. Quorum primi duo sunt rationis secundum quod est intellectus
quidam: una enim actio intellectus est intelligencia indiuisibilium, siue incomplexorum,
secundum quam concipit quid est res, et hec operatio a quibusdam dicitur informatio
intellectus siue ymaginatio per intellectum; et ad hanc operationem rationis ordinatur doctrina
quam tradit Aristotiles in libro Predicamentorum; secunda uero operatio intellectus est
compositio uel diuisio intellectuum, in qua est iam uerum et falsum; et huic rationis actui
deseruit doctrina quam tradit Aristotiles in libro Peryermenias. Tercius uero actus rationis
est secundum id quod est proprium rationis, scilicet discurrere ab uno in aliud, ut per id
quod est notum deueniat in cognitionem ignoti; et huic actui deseruiunt reliqui libri logice.
Attendendum est autem quod actus rationis similes sunt quantum ad aliquid actibus
nature; unde et ars imitatur naturam in quantum potest. In actibus autem nature inuenitur
triplex diuersitas: in quibusdam enim natura ex necessitate agit, ita quod non
potest deficere; in quibusdam uero natura ut frequentius operatur, licet
quandoque et possit deficere a proprio actu, unde in hiis necesse est esse
duplicem actum: unum qui sit ut in pluribus, sicut cum ex semine generatur animal
perfectum, alium uero quando natura deficit ab eo quod est sibi conueniens, sicut
cum ex semine generatur aliquod monstrum, propter corruptionem alicuius principii. Et
hec etiam tria inueniuntur in actibus rationis: est enim aliquis rationis processus
necessitatem inducens, in quo non est possibile esse ueritatis defectum, et per
huiusmodi rationis processum sciencie certitudo acquiritur; est autem alius rationis
processus in quo ut in pluribus uerum concluditur, non tamen necessitatem
habens; tercius uero rationis processus est
fácil e ordenado esse tipo de ato, pelo mesmo motivo é necessário que haja uma arte
que seja diretiva do próprio ato da razão. Essa arte, pela qual o ser humano
procederia de modo fácil, ordenado e sem erro no próprio ato da razão, é a lógica, isto é,
a ciência racional. A lógica não é racional somente pelo fato de ser segundo a razão, pois
isso é comum a todas as artes, mas também pelo fato de ter o próprio ato da razão como
sua matéria própria. Por isso, essa parece ser a arte das artes, porque nos orienta
quanto aos atos da razão, da qual procedem todas as artes.
Portanto, é preciso considerar as partes da lógica de acordo com a diversidade dos
atos da razão. Ora, os atos da razão são três, dos quais os dois primeiros são
atos da razão segundo esta é certo intelecto: de fato, é uma ação do intelecto a
inteligência dos indivisíveis ou incomplexos, segundo a qual se concebe o que é a
coisa, de modo que essa operação é chamada por alguns de informação do intelecto
ou imaginação pelo intelecto; e a essa operação da razão se ordena a doutrina
de que Aristóteles trata no livro das Categorias. A segunda operação do intelecto
é a composição ou divisão do que foi inteligido, na qual já há verdadeiro e falso; e a
esse ato da razão se destina a doutrina de que Aristóteles trata no livro Sobre a
interpretação (Peryermeneias). Ora, o terceiro ato da razão é segundo o que é
próprio da razão, isto é, discorrer de um a outro, de tal modo que, por meio daquilo
que é conhecido, se chegue ao conhecimento do que é ignorado; e a esse ato se destinam
os restantes livros da lógica.
Deve-se notar que os atos da razão são semelhantes quanto a algo aos atos da
natureza, pois a arte também imita a natureza no que é possível. Ora, nos atos
da natureza ocorre uma triplice diversidade: com efeito, em alguns atos, a natureza age
por necessidade, de tal modo que não é possível que falhe; em outros atos, a natureza
opera de acordo com o que é mais frequente, às vezes ocorre que possa haver falha
no próprio ato; daí que, nesses casos, é necessário que o ato seja dúplice: um,
que é o que ocorre no mais das vezes, assim como quando do sêmen se gera o
animal perfeito, acabado, mas há outro, quando há uma falha da natureza naquilo
que lhe é conveniente, como quando do sêmen se gera algum monstro por causa
da corrupção de algum princípio. E essas três diferenças também ocorrem nos atos
da razão: com efeito, há um processo da razão que conduz ao necessário, no qual não
é possível haver falha quanto à verdade, e, por esse tipo de processo da razão, se
adquire a certeza da ciência; porém há outro processo da razão no qual, no mais das
vezes, se conclui o verdadeiro, contudo não há necessidade neste; e há um terceiro
processo da

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in quo ratio a uero deficit, propter alicuius principii defectum quod in ratiocinando erat
obseruandum.
Pars autem logice que primo deseruit processui pars iudicatiua dicitur, co quod iudicium est
cum certitudine sciencie; et, quia iudicium certum de effectibus haberi non potest nisi
resoluendo in prima principia, pars hec analetica uocatur, id est resolutoria. Certitudo
autem iudicii que per resolutionem habetur est uel ex ipsa forma sillogismi tantum, et ad
hoc ordinatur liber Priorum analeticorum, qui est de sillogismo simpliciter, uel etiam cum
hoc ex materia, quia sumuntur propositiones per se et necessarie, et ad hoc ordinatur liber
Posteriorum analeticorum, qui est de sillogismo demonstratiuo.
Secundo autem rationis processui deseruit alia pars logice que dicitur inuentiua: nam inuentio
non semper cum certitudine est, unde de hiis que inuenta sunt iudicium requiritur ad hoc
quod certitudo habeatur. Sicut autem in rebus naturalibus in hiis que ut in pluribus
agunt gradus quidam attenditur, quia, quanto uirtus nature est fortior, tanto rarius
deficit a suo effectu, ita et in processu rationis qui non est cum omnimoda certitudine
gradus aliquis inuenitur, secundum quod magis et minus ad perfectam certitudinem
acceditur. — Per huiusmodi enim processum quandoque quidem, etsi non fiat sciencia,
fit tamen fides uel opinio, propter probabilitatem propositionum ex quibus proceditur, quia ratio
totaliter declinat in unam partem contradictionis, licet cum formidine alterius; et ad hoc
ordinatur topica siue dyaletica, nam sillogismus dyaleticus ex probabilibus est, de quo
agit Aristotiles in libro Topicorum. - Quandoque uero non fit complete fides uel
opinio, ser suspicio quedam, quia non totaliter declinatur ad unam partem contradictionis,
licet magis inclinetur in hanc quam in illam; et ad hoc ordinatur rethorica. – Quandoque
uero sola estimatio declinat in aliquam partem contradictionis propter aliquam
representationem, ad modum quo fit homini abhominatio alicuius cibi si representetur ei sub
similitudine alicuius abhominabilis; et ad hoc ordinatur poetica, nam poete est inducere ad
aliquid uirtuosum per aliquam decentem representationem. - Omnia autem hec ad rationalem
philosophiam pertinent: inducere enim ex uno in aliud rationis est.
Tercio autem processui rationis deseruit pars logice que dicitur sophistica, de qua agit
Aristotiles in libro Elenchorum.
razão no qual a razão falha quanto ao verdadeiro por causa de algum defeito do
princípio que devia ser observado ao raciocinar.
Ora, a parte da lógica que serve ao primeiro processo se chama parte judicativa,
porque o juízo é a ciência com certeza; e, uma vez que o juízo certo sobre os
efeitos não pode ser obtido senão se reduzindo aos primeiros princípios, essa parte é
chamada de analítica, isto é, resolutória. Ora, a certeza do juízo é obtida por
resolução ou pela própria forma do silogismo apenas, e a isso se ordena o livro dos
Primeiros analíticos, que versa sobre o silogismo considerado simplesmente; ou a
certeza, além disso, é obtida também pela consideração da matéria do silogismo, que
são as proposições por si e necessárias, e a isso se ordena o livro dos Segundos
analíticos, que versa sobre o silogismo demonstrativo.
Ora, ao segundo processo da razão, serve outra parte da lógica chamada de
inventiva: com efeito, nem sempre ha certeza na descoberta, donde a respeito
do que foi descoberto se requer o juízo para que haja certeza. Mas, assim como
nas coisas naturais, em que se nota certa graduação no que ocorre na maioria das
vezes, porque, quanto mais forte é a virtude da natureza, tanto mais raramente falha quanto
ao seu efeito, assim também no processo da razão, no qual não há completa
certeza, ocorre uma graduação, segundo mais ou menos a certeza perfeita é
atingida. - Com efeito, por esse tipo de processo, às vezes, realmente, ainda que
não se atinja a ciência, chega-se, contudo, à fé ou
opinião, por causa da probabilidade das proposições das quais procede, pois a
razão se inclina totalmente a uma das partes da contradição, ainda que com receio em
relação à outra parte, e a isso se ordena a Tópica ou Dialética; com efeito, o
silogismo dialético é sobre o que é provável; disso Aristóteles trata no livro dos
Tópicos. - Mas, às vezes, não se chega completamente à fé ou à opinião, e sim
apenas a certa suspeita, pois a razão não se inclina totalmente a uma das partes da
contradição, ainda que se incline mais a esta do que aquela; e a isso se ordena a
Retórica. - Às vezes, ainda, somente uma estimativa inclina a uma.das partes da
contradição por causa de uma representação, assim como se dá a
abominação de alguma comida para o homem se se a representa sob
semelhança de algo abominável; e a isso se ordena a Poética, pois o poeta deve
induzir a algo virtuoso por meio de uma representação decente. - Ora, todas essas
partes pertencem à filosofia racional: com efeito, conduzir de uma a outra é próprio da
razão.
Ora, ao terceiro processo da razão serve a parte da lógica que se diz sofistica, da qual
Aristóteles trata no livro dos Elencos.
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Aliis igitur partibus logice pretermissis, ad presens intendendum est circa partem
iudicatiuam, prout traditur in libro Posteriorum analeticorum.
Qui diuiditur in partes duas: in prima ostendit necessitatem demonstratiui
sillogismi, de quo est iste liber; in secunda de ipso sillogismo demonstratiuo
determinat, ibi: Scire autem opinamur etc.
Deixadas de lado as outras partes da lógica, pretendemos por ora abordar a parte
judicativa, na medida em que é tratada no livro dos Segundos analíticos.
O que se divide em duas partes: na primeira, mostra-se a necessidade do silogismo
demonstrativo, sobre o que é esse livro; na segunda, determina -se sobre o próprio
silogismo demonstrativo, aí em: “Ora, opinamos saber etc.” (71b 9 - I, 4).
****

Necessitas autem cuiuslibet rei ordinate ad finem ex suo fine sumitur; finis autem
demonstratiui sillogismi est acquisitio sciencie; unde, si sciencia acquiri non posset
per sillogismum uel argumentum, nulla esset necessitas demonstratiui sillogismi.
Posuit autem Plato quod sciencia in nobis non causatur ex sillogismo, set ex
inpressione formarum ydealium in animas nostras, ex quibus etiam effluere
dicebat formas materiales in rebus naturalibus, quas ponebat esse participationes
quasdam formarum a materia separatarum; ex quo sequebatur quod agencia naturalia
non causabant formas in rebus inferioribus, set solum materiam preparabant ad
participandum formas separatas; et similiter ponebat quod per studium et exercitium
non causatur in nobis sciencia, set tantum remouentur inpedimenta et reducitur
homo quasi in memoriam eorum que naturaliter scit ex inpressione formarum
separatarum. Sentencia autem Aristotilis est contraria quantum ad utrumque:
ponit enim quod forme naturales educuntur in actum a formis que sunt in
materia, scilicet a formis naturalium agentium, et similiter ponit quod sciencia fit
in nobis actu per aliquam scienciam in nobis preexistentem, et hoc est fieri in nobis
scienciam per sillogismum aut argumentum quodcunque: nam ex uno in aliud
arguendo procedimus.
Ora, a necessidade de uma coisa qualquer que seja ordenada a uma finalidade é
assumida de seu fim; ora, a finalidade do silogismo demonstrativo é a aquisição da
ciência, donde, se a ciência não pudesse ser adquirida por meio do silogismo ou de
argumentação, não haveria nenhuma necessidade do silogismo demonstrativo.
Ora, Platão postulou que a ciência que temos em nós não é causada pelo silogismo,
mas pela impressão das formas ideais em nossas almas, das quais ele também dizia
que efluíam as formas materiais nas coisas naturais, as quais, segundo sustentava,
eram certas participações nas formas separadas da matéria; do que se
seguiria que os agentes naturais não causariam as formas nas coisas
inferiores, porém apenas preparariam a matéria para a participação nas formas
separadas; e, do mesmo modo, sustentava que o estudo e o exercício não
causariam a ciência que possuímos, contudo apenas removeriam os seus
impedimentos e o homem estaria assim reduzido quase que só a memória
daquilo que sabe naturalmente a partir da impressão das formas separadas.
Ora, o parecer de Aristóteles é contrário a ambas as postulações: com efeito,
ele sustenta que as formas naturais são conduzidas ao ato a partir das formas
que são na matéria, isto é, pelas formas dos agentes naturais, e, do mesmo modo,
sustenta que a ciência possuída por nós se torna ato a partir de alguma ciência
preexistente, e isso significa que a ciência que temos em nós se faz por meio do
silogismo ou por meio de um argumento qualquer; ou seja, por argumentação
procedemos de um a outro.
***

Ad ostendendum igitur necessitatem demonstratiui sillogismi, premittit Aristotiles


quod cognitio in nobis acquiritur ex aliqua cognitione preexistenti. Duo igitur
facit: primo namque ostendit propositum; secundo docet modum precognitionis,
ibi: Dupliciter autem etc.
Portanto, para mostrar a necessidade do silogismo demonstrativo, Aristóteles
postula que o conhecimento que temos é adquirido a partir de um
conhecimento preexistente. Para tanto, ele faz os dois seguintes: primeiro,
mostra o seu propósito; em segundo lugar, ensina o modo do conhecimento
prévio, aí em: "Ora, de dois modos etc." (71a 11 - 1,2).
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Circa primum duo facit.
Primo inducit uniuersalem propositionem propositum continentem, scilicet quod
acceptio cognitionis in nobis fit ex aliqua preexistenti cognitione.
Et ideo dicit: Omnis doctrina et omnis disciplina, non autem: « omnis
cognitio », quia non omnis cognitio ex priori cognitione dependet (esset enim in infinitum
abire), omnis autem discipline acceptio ex preexistenti cognitione fit; nomen autem
doctrine et discipline ad cognitionis acquisitionem pertinet: nam doctrina est actio eius
qui aliquid cognoscere facit, disciplina autem est receptio cognitionis ab alio. — Non
autem accipitur hic doctrina et disciplina secundum quod se habent ad
acquisitionem sciencie tantum, set ad acquisitionem cognitionis cuiuscunque; quod
patet, quia manifestat hanc propositionem etiam in disputatiuis et rethoricis
disputationibus, per quas non acquiritur sciencia; propter quod etiam non dicit: ex
preexistenti «sciencia>> uel «intellectu», set uniuersaliter cognitione. — Addit autem:
intellectiua, ad excludendum acceptionem cognitionis sensitiue uel ymaginatiue: nam
procedere ex uno in aliud rationis est solum.
Secundo cum dicit: Mathematice enim scienciarum etc., manifestat propositionem
premissam per inductionem.
Et primo in demonstratiuis, in quibus acquiritur sciencia; in hiis autem principaliores sunt
mathematice sciencie propter certissimum modum demonstrationis, consequenter
autem sunt et omnes alie artes, quia in omnibus est aliquis modus demonstrationis,
alias non essent sciencie.
Secundo cum dicit: Similiter autem etc., manifestat idem in orationibus disputatiuis siue
dyaleticis, que utuntur sillogismo et inductione, in quorum utroque proceditur ex aliquo
precognito: nam in sillogismo accipitur cognitio alicuius uniuersalis conclusi ab aliis
uniuersalibus notis, in inductione autem concluditur uniuersale ex singularibus que sunt
manifesta.
Tercio cum dicit: Similiter autem rethorice etc., manifestat idem in rethoricis, in quibus
persuasio fit per entimema aut per exemplum, non autem per sillogismum uel
inductionem
Sobre o primeiro ponto, ele faz os dois seguintes.
Em primeiro lugar, chega por indução à proposição universal que contém o
propósito, isto é, que a aceitação de um conhecimento em nós se faz a partir de um
conhecimento preexistente. E por isso ele diz: "Todo ensinamento e todo
aprendizado", mas não diz "todo conhecimento", porque nem todo conhecimento
depende de um conhecimento anterior (com efeito, isso seria ir ao infinito); ora, toda
aceitação de um aprendizado se faz em nós a partir de um conhecimento preexistente;
ora, os nomes de "ensino" e "aprendizado” dizem respeito à aquisição de
conhecimento: de fato, o ensino é a ação daquele que faz alguém conhecer algo e
o aprendizado é a recepção do conhecimento por outrem. - Porém não se
considera aqui o ensino e a aprendizagem apenas conforme se relacionam com a
aquisição da ciência, mas também com a aquisição do conhecimento do que quer que
seja; o que fica claro quando ele manifesta essa proposição também nas disputas
dialéticas e retóricas, por meio das quais não se adquire a ciência, pois ele não
disse: a partir de uma ciência ou intelecção "preexistente", mas disse "conhecimento",
de modo geral. – Mas acrescenta "intelectiva", para excluir a acepção de
conhecimento sensitivo ou imaginativo: de fato, proceder de um a outro é próprio da
razão somente.
Em segundo lugar, quando ele diz: "Com efeito, dentre as ciências matemáticas etc.”
(71a 3), esclarece a proposição anterior por indução.
E, em primeiro lugar, quanto ao conhecimento demonstrativo, pelo qual se adquire a
ciência; ora, as principais dentre as ciências demonstrativas são as ciências
matemáticas, por causa do modo certissimo da demonstração, ora, consequentemente
assim também ocorre em todas as outras artes, pois em todas há algum modo de
demonstração, pois de outro modo não seriam ciências.
Em segundo lugar, quando ele diz: “Ora, do mesmo modo etc.” (71a 5), manifesta o
mesmo quanto aos discursos disputativos ou dialéticos, que utilizam o silogismo e a
indução, em ambos dos quais se procede a partir de algo previamente conhecido:
com efeito, no silogismo se conclui pelo conhecimento de algo universal a partir de
outros universais conhecidos, na indução, conclui-se o “universal" a partir de
singulares que se apresentam (aos sentidos).
Em terceiro lugar, quando ele diz: "Ora, do mesmo modo as artes retóricas etc."(71a
9), manifesta o mesmo quanto às artes retóricas, nas quais a persuasão se faz
por entimema ou por meio de exemplo, e não por silogismo ou indução
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completam, propter incertitudinem materie circa quam uersatur, scilicet circa actus
singulares hominum, in quibus uniuersales propositiones non possent
assumi uere; et ideo utitur, loco sillogismi in quo necesse est esse aliquam
uniuersalem, aliquo entimemate, et similiter, loco inductionis in qua uniuersale
concluditur, aliquo exemplo, in quo proceditur a singulari non ad uniuersale set ad
singulare; unde patet quod, sicut entimema est quidam sillogismus decurtatus,
ita exemplum est quedam inductio inperfecta; si ergo in sillogismo et inductione
proceditur ex aliquo precognito, oportet idem intelligi in entimemate et exemplo.
completa, em vista da incerteza a respeito da matéria sobre a qual se versa, que
são os atos singulares dos seres humanos, nos quais as proposições universais não
podem ser consideradas como verdadeiras; e, por isso, é usado um entimema, em vez
do silogismo, no qual necessariamente há alguma proposição universal; e, do mesmo
modo, no lugar da indução, na qual se conclui uma proposição universal, usa-se um
exemplo, no qual se procede a partir de algo singular não para chegar a um
universal, e sim a outro singular; disso fica claro que, assim como o entimema é
certo silogismo truncado, assim também o exemplo é um tipo imperfeito de
indução, portanto, se no silogismo e na indução se procede a partir de algo
conhecido previamente, é preciso entender o mesmo com relação ao entimema e ao
exemplo.

Tomás de Aquino

COMENTÁRIO AOS SEGUNDOS


ANALÍTICOS Expositio libri Posteriorum

UNICAMP

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Edição em latim e português


Reitor MARCELO KNOBEL

Coordenadora Geral da Universidade


TERESA DIB ZAMBON AT VARS

EDITORA UNICAMP

Tradução e Nota prévia Anselmo Tadeu Ferreira


Conselho Editorial
Presidente
MÁRCIA ABREU ANA CAROLINA DE MOURA DELFIM MACIEL - EUCLIDES DE MESQUITA NETO
MÁRCIO BARRETO - Marcos STEFANI MARIA INÊS PETRUCCI ROSA - OSVALDO NOVAIS DE OLIVEIRA
JR. RODRIGO LANNA FRANCO DA SILVEIRA - VERA NISAKA SOLFERINI
Tradução do texto de Aristóteles

Anselmo Tadeu Ferreira Carlos Arthur Ribeiro do Nascimento

Coleção Fausto Castilho de Filosofia


Série Multilingues

Comissão Editorial
Coordenadores ALEXANDRE GUIMARÃES TADEU DE SOARA - OSWALDO GIACOIA JUNIOR
DANIRI GALBER - FRANKLIN LEOPOLDO SILVA
GIULIA BELGIOIOSO - MARCOS STRANI

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