Você está na página 1de 25

CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE

Aula 1 – O que é “ciência”?

Ponto de Partida

Título da videoaula: O espanto e a opinião

Descrição da videoaula: Os filósofos gregos entendiam que a busca pelo saber é despertada
pelo “espanto” ( thaumadzein). Entretanto, é preciso distinguir os vários tipos de saberes que
o espanto desperta. O primeiro deles é o saber opinativo ( doxa). E é com ele que iniciaremos
o curso.

 thaumazein (Esfera do espanto): O termo thaumazein (do grego θαυμάζειν) significa a


admiração, a perplexidade e o assombro que o mundo causa. É o impulso inicial ao
filosofar. Apresenta-se como um convite para saborear o conhecimento ao qual todos
podem acessar. (Publicação on-line semestral do curso de Filosofia da Universidade
Franciscana, inscrita no ISSN sob número 1982-2103, na versão on-line desde sua
primeira edição. A publicação possui o prefixo DOI 10.37782)
 Doxadzein (Esfera das opiniões): Para a maioria dos gregos, os embates entre opiniões
(doxai) eram comuns nas argumentações das assembleias e tribunais, sendo parte de
duelos discursivos e argumentativos típicos da cultura da época. É na cidade de
Atenas que vemos o gosto pelos debates públicos aos poucos desenvolver artes da
argumentação como a dialética e a retórica, o que talvez seja em parte devido a certa
liberdade de expressão presente na polis ateniense.1 (SILVA, p, 44, 2016).

Texto de Apoio

Ética a Nicômaco (Aristóteles) (Livro VI, seção III (1139b14-35)

Ao ler esta famosa passagem da Ética a Nicômaco, você deverá levar em consideração três
pontos: (1) o caráter universal e necessário da ciência (conhecimento científico); (2) o caráter
particular e contingente das opiniões (suposições); e (3) a possibilidade do ensino da ciência.

Apresentação

 A identificação deste horizonte e o seu isolamento são operações executadas através


de um contraste sistemático com o horizonte teórico. Se a filosofia na sua dimensão
teórica visa à constituição de uma situação que permita contemplar a verdade, na sua
dimensão prática, contudo, a filosofia tende a expressar-se no agir. (p. vii)
 Ora, é precisamente aqui que reside a diferença entre o agir e o produzir. O agir não
admite perícia (p. ix)
 A análise de Aristóteles permite-nos, assim, uma recondução do horizonte concreto da
ação ao seu princípio. Contudo, o princípio da ação não está ao alcance de uma
detecção cognitiva e puramente teórica. Na verdade, há uma distância abissal entre
conhecer o princípio da ação e exprimi-lo no agir. O saber prático é adquirido apenas
quando se converte em ação realizada. Isto é, não importa saber apenas qual é a
possibilidade extrema do Humano, mas saber como ser-se essa possibilidade, existir
nela, de acordo com ela, em vista dela. A possibilidade extrema do Humano é a de ele
se tornar excelente. Saber o que fazer não é suficiente. Tem de se agir. (p. ix)
 Nesta conformidade, o horizonte prático é o espaço onde tem lugar aquilo por que se
passa: as situações em que caímos e as situações que criamos. (p. ix)
 É, assim, no quadro deste horizonte que Aristóteles procurará circunscrever as
diversas possibilidades de nos relacionarmos de modo excelente com o que aí nos
acontece. (p.x)
 O que se procura na análise ética é precisamente uma possibilidade que transcenda
uma tal afecção e seja mais do que um mero movimento reativo ao que de cada vez
acontece. O que se pretende é poder constituir uma disposição, ἔξ&ις,10 que,
enquanto modo de ser adquirido, permita ultrapassar a passividade patológica e
orientar os movimentos de reação dando-lhes um sentido. É através da constituição
permanente destas disposições que se forma o caráter. (p. x)
 O esforço de apropriação desse modo de ser é a atividade específica do Humano
enquanto Humano: a tentativa de transcender a condição que naturalmente tende a
confiná-lo no âmbito da patologia e da mera passividade. (p. x)
 A análise de Aristóteles procura precisamente identificar um sentido que nos possa
servir como orientação prática. O sentido orientador está presente em cada situação
em que de cada vez nos encontramos. É esse o seu campo de ação. Mas a sua
presença pode não manifestar-se. É o que, de resto, acontece o mais das vezes. É
necessário por isso evocá-lo. Um tal plano prático, mesmo que seja interpretado
universalmente, será sempre ativado apenas por alguém que se encontra numa
determinada situação. É para ele que de algum modo apelamos quando não sabemos
o que fazer, quando de algum modo nos encontramos perdidos. É, portanto, a
situação concreta em que cada um de nós se pode encontrar que especifica o tempo e
a maneira de manifestar-se. Compreende-se, desta feita, por que razão as ações
autênticas não são ações em geral, mas o resultado concreto, se assim se pode dizer,
da aplicação do princípio de orientação prática. (p. xi)
 A disposição do meio está numa tensão para o sentido orientador, que evita o excesso
e o defeito patológicos que pervertem a nossa capacidade de ação. (p. xi)
 Assim, o processo de deliberação, a definição do caráter voluntário em contraposição
ao caráter involuntário da ação, a possibilidade de domínio de si em contraposição à
sua falta ou perda, a capacidade de decisão, de fazer escolhas e preterir opções,
definem a autenticidade e o caráter sério da ação humana. (p.xii)
 A análise ética constitui-se como a abertura do horizonte onde o Humano se pode
encontrar verdadeiramente domiciliado. Trata-se, pois, do estudo da condição da
possibilidade de o Humano se abrir ao aí onde se pode cumprir. (p. xii)
 Se «ser feliz» é o projeto fundamental da vida humana, é também uma possibilidade
sua. Jamais poderá esquecer-se de que tem essa possibilidade. Nesse sentido, a
felicidade é o fim, télos. O fim enquanto télos não quer dizer a derradeira coisa a
acontecer. Télos significa o que é perfeito, isto é, aquilo ao qual nada falta para ser. O
Humano existe, assim, por se cumprir enquanto não for feliz. Ser no encaminhamento
da felicidade é ser na tensão para o preenchimento dessa expectativa. (xiii)
 A felicidade resulta assim do esforço da ação humana, da atuação de acordo com o
sentido orientador, oculto na maior parte das situações que se formam concretamente
na vida de cada um.(p. xiii)

Livro VI

Seção I

 Depois de termos já dito, primeiramente, que se deve escolher o meio, e não o


excesso nem o defeito, e que o meio, por sua vez, é tal como indica o sentido
orientador, chegou agora a altura de o analisarmos. (p.117)
 Contudo, quem souber disto, não está na posse de um saber por aí além, acerca do
que quer que seja, pois não saberia, por exemplo, aplicar nenhuma espécie de
tratamento ao corpo humano, só pelo fato de alguém dizer que se deve aplicar toda a
espécie de tratamentos de acordo com o que prescreve a medicina e o que nela é
perito. É por este motivo que também a respeito das disposições da alma humana não
devemos contentar-nos apenas com o fato de este enunciado ser verdadeiro, mas
temos também de obter uma definição do que é ou do que pode ser o sentido
orientador e qual é o horizonte a que ele se aplica. (p. 117)
 Foi, pois, dito primeiramente que há duas dimensões na alma humana: uma é capaz de
razão, a outra é incapacitante157 de razão. Por sua vez, a di- mensão capaz de razão
tem de ser também distinguida, do mesmo modo, em duas partes. Admitamos, por
isso, que a alma enquanto capaz de razão é dupla. Uma é aquela com a qual
consideramos teoricamente todos aqueles entes com princípios que não podem ser de
outra maneira. A outra é aquela com a qual consideramos aqueles entes com
princípios que podem ser de outra maneira.1 (p. 117)

Seção II

 Há três operações na alma que determinam de modo predominante a ação e o


descobrimento da verdade,161 sc. a percepção, o poder de compreensão e a intenção.
Destas três, a percepção nunca é origem de nenhuma ação, o que é evidente pelo fato
de os animais, embora tenham percepção, não tomarem parte na ação. (p.118)
 O pensamento teórico, que não visa a ação nem a produção, é executado de uma
forma correta ou de uma forma incorreta, respectivamente, conforme detecta a
verdade ou se envolve em falsidade. Porque esta é, em geral, a função de todo o
pensamento. Contudo a função do pensamento prático é mais propriamente a de
obter a verdade que corresponde à intenção correta. (p. 118)
 O princípio da ação é a decisão (isto é, enquanto origem da motivação, não enquanto
fim em vista);162 por outro lado, o princípio da decisão é a intenção e um cálculo
dirigido para um objetivo final. Por esta razão, não há decisão sem o poder de
compreensão, nem sem processo compreensivo, nem, finalmente, sem a disposição
do caráter. Na verdade, agir bem e o seu contrário não existem na ação sem o
pensamento teórico nem sem a disposição ética. (p. 118)
 O próprio pensamento só por si não põe nada em movimento: apenas quando se
dirige para um determinado fim numa determinada ação. (p.119)
 Nada do que já aconteceu poderá, contudo, ser ainda objeto de decisão. Ninguém
pode ainda decidir se Tróia terá sido destruída. Assim, ninguém delibera acerca do que
já aconteceu mas sobre o futuro e o que é possível. (p. 119)

Seção III

 Comecemos, então, pelo princípio e analisemos as operações da alma envolvidas na


descoberta da verdade, afirmando ou negando. São cinco em número: a perícia, o
conhecimento científico, a sensatez, a sabedoria, e o poder da compreensão
[intuitiva] (p. 119)
 Aquilo que é objeto de conhecimento científico tem, por isso, uma constituição
constituição absolutamente necessária são eternos, quer dizer, não são gerados e nem
são destrutíveis. (p.119)
 Além do mais, assim como todo conhecimento científico parece ser susceptível de ser
ensinado, também o que é objeto de conhecimento científico é susceptível de ser
aprendido. Todo o ensino se faz a partir daqueles conhecimentos que se adquiriram
previamente, tal como dissemos também nos Analíticos.
 Uma das formas de ensino de que se dispõe constitui-se por indução, a outra, por
raciocínio silogístico (p. 119) [Silogismo é um modelo de raciocínio baseado na ideia
da DEDUÇÃO, composto por duas premissas que geram uma conclusão. O silogismo
seria mediado devido a necessidade de se usar o raciocínio para se chegar à
conclusão real. Seria dedutivo pelo fato de se partir de preposições universais para se
chegar a uma conclusão específica. E, por fim, seria necessário por estabelecer uma
conexão entre todas as premissas. “Todos os homens são mortais. Antônio é homem.
Logo, Antônio é mortal”. De acordo com o pensamento aristotélico, as duas
primeiras premissas deveriam se unir para formar a terceira ideia, que seria a
conclusão: “Todo homem é mortal” (primeira premissa – maior) “Antônio é homem”
(segunda premissa – menor) “Logo, Antônio é mortal” (conclusão).]
 Enquanto a indução é o primeiro princípio do conhecimento, inclusivamente do
conhecimento universal, o raciocínio silogístico procede, por sua vez, a partir de
conhecimentos universais já adquiridos. (p. 119)
 Quando alguém adquire de algum modo uma determinada convicção e os princípios se
lhe tornaram conhecidos, esse alguém adquiriu um conhecimento científico (p. 119)
 Se, porém, não tiver os princípios tão bem conhecidos quanto a conclusão, poderá ter
um conhecimento científico, mas apenas acidentalmente. Foi deste modo definido o
que é o conhecimento científico. (p. 119)

Professor Explica

Descrição da videoaula: Nesta aula, apresentaremos dois pontos importantes sobre a


continuidade e descontinuidade entre os conceitos clássico e moderno de ciência. Veremos
que, no que diz respeito à continuidade, ambos os conceitos pressupõem universalidade e
necessidade. No entanto, quanto à descontinuidade, enquanto o conceito clássico de ciência
pressupõe o “realismo metafísico” (essência), o conceito moderno de ciência pressupõe o
“idealismo epistêmico [ramo da filosofia que estuda como o ser humano ou a própria ciência
adquire e justifica seus conhecimento]” (sujeito).
 Percepção (experiência) + reflexão (condição de ciência) [animal percebe mais não
reflete]
 O suicídio é do Humano; (animal não questiona sua existência)
 O animal não tem consciência de si mesmo (self) o homem tem
 thaumazein (Esfera do espanto) + Doxadzein (Esfera das opiniões) = não produz
ciência
 thaumazein (Esfera do espanto) + Doxadzein (Esfera das opiniões (subjetivismo?)) +
Epistheme (Esfera da ciência (saber seguro) (objetivismo?)) = produz conhecimento
cientifico
 “A ciência não vai se importar com as opiniões” Prof. Jonas Madureira

 Na Antiguidade/Idade Média (Período Realista da filosofia da ciência) como que


ephisteme (ciência) era entendida? MENTE + MUNDO (Realidade (mundo metafísico))
= O mundo tem uma essência e essa essência deve ser aprendida pela mente
(compreender a realidade). (Defensores: Platão; Aristóteles; Thomas de Aquino;
Agostinho) [Logos: Racionalidade que distingue o ser humano dos demais animais,
sendo este capaz de raciocinar, de compreender a realidade; razão. [Filosofia]
Conjunto de leis que, segundo Hieráclito de Éfeso (século V, a.C), fazem o universo
funcionar, compondo um tipo de inteligência cósmica. [Teologia] No Evangelho de
São João, o Verbo eterno encarnado em Jesus Cristo, designado como a segunda
pessoa da santíssima trindade. Etimologia (origem da palavra logos). Do grego
lógos.ou, "linguagem, palavra"]
 Na Modernidade (defensores: (Período Idealista da filosofia da ciência); MENTE +
MUNDO? = Não possui uma essência. Representa o mundo da maneira como recebe
os dados sensoriais. (Defensores: Descartes; Kant)
 Essência a ser conhecida x ausência de essência (preenchida pelo processo da
representação)

Momento com o Professor – Fórum de Discussão

Descrição do fórum: Novos desafios surgem a cada descoberta científica. Esses desafios, às
vezes, acabam por revelar um certo desprezo pelo passado. Ora, quando isso acontece, erros
do passado são ironicamente repetidos. Tendo isso mente, leia o artigo “Sobre a importância
da história das ciências”, do professor Ivã Gurgel, e discuta com seus colegas, a partir da
seguinte pergunta: “Por que conhecer a história das ciências é tão importante?”.

Recursos do fórum: GURGEL, Ivã. Sobre a importância da História das Ciências. Jornal da USP,
São Paulo, nov. 2017. Disponível em: <https://jornal.usp.br/artigos/sobre-a-importancia-da-
historia-das-ciencias/>.

 Em, por que conhecer a história das ciências é tão importante, Ivã Gurgel pontua
dizendo que “principal objetivo de um estudo histórico: a análise crítica das origens e
do desenvolvimento de um “processo” delimitado por condições sociais. (GURGEL,
2017).
 Contudo, quando se coloca algo em uma perspectiva histórica, o que antes era dado
passa a ser construído, fruto de escolhas e embates que fizeram com que alguns
caminhos se realizassem e outros fossem descartados. (GURGEL, 2017)
 Vale destacar que ao longo das últimas décadas a História das Ciências deixou de ser
apenas a história das ideias científicas, mas também passou a considerar as práticas,
os instrumentos, os modos de publicação, as instituições, as políticas e outras
dimensões do fazer científico. Estes elementos nos permitem revelar as dinâmicas
internas da ciência, que demonstram que a mesma é fruto de um microcosmo social.
(GURGEL, 2017)
 Éthos: conjunto dos costumes e hábitos fundamentais, no âmbito do comportamento
(instituições, afazeres etc.) e da cultura (valores, ideias ou crenças), característicos de
uma determinada coletividade, época ou região.
 A priori: Em Filosofia, a locução a priori faz referência ao conhecimento adquirido
sem contar com a experiência, que se adquire mediante a dedução. Ao contrário de
"a priori", a expressão latina "a posteriori", faz referência a um raciocínio em que se
remonta do efeito à causa.
 Trabalhos de enorme potencial foram impedidos por avaliações pautadas em
preconceitos de raça, gênero, religião e possivelmente outros. (GURGEL, 2017)
 Somente uma perspectiva temporal nos permite reconhecer um processo que ocorre
em etapas ou em ciclos que faz com que acontecimentos pontuais possam ser
ponderados, evitando-se fatalismos induzidos pelo momento. (GURGEL, 2017)

Explorando Conceitos

MIRANDA, L. F. S. Introdução histórica à filosofia das ciências.

Capítulo 1 – Filosofia e ciência

1.1 Introdução à filosofia

 Na epistemologia, ramo da filosofia que teoriza o conhecimento, existem duas


correntes que defendem modos conflitantes para o acesso ao conhecimento:
empirismo (acesso ao conhecimento pela experiência) e racionalismo (acesso ao
conhecimento pela razão) (p. 19)
 Mesmo havendo discordância quanto ao acesso ao conhecimento, o
conhecimento em si parece ser matéria da filosofia (p. 19)
 Mas por que o conhecimento parece ser matéria da filosofia e, por exemplo, a
telefonia móvel, não? (p. 19)
 O que nos habilita a dizer que certo conteúdo é filosófico e outro não? (p. 19)
 SUBJETIVISMO: UMA PESSOA TEM UMA PERCEPÇÃO SOBRE DETERMINADO
ELEMENTO, ENQUANTO OUTRO INDIVÍDUO TEM OUTRA PERCEPÇÃO SOBRE ESSE
MESMO ELEMENTO (p. 19)
 Uma maneira de superar essa dificuldade é nos atermos à questão filosófica, pois
a filosofia pode ser entendida por meio de reflexões, e sua história pode nos
ajudar a formar uma unidade das diversas respostas que determinados filósofos
deram a certas questões consideradas filosóficas (p.19)
 Um defensor moderno do Empirismo [doutrina segundo a qual todo
conhecimento provém unicamente da experiência, limitando-se ao que pode ser
captado do mundo externo, pelos sentidos, ou do mundo subjetivo, pela
introspecção] foi John Locke (1632-1704) (interprete do conhecimento por um
viés da filosofia natural) (p. 20)
 Para ele formamos representações e conceitos gerais somente daquilo que
percebemos (o Homem nasce vazio de conteúdo)
 O defensor da forma mais antiga de racionalismo [qualquer doutrina que
privilegia a razão como meio de conhecimento e explicação da realidade] é
Platão (intérprete do conhecimento por um viés matemático/geométrico)
 Doutrina platônica da reminiscência [a reminiscência assenta-se numa concepção
de inatismo do conhecimento que, pré-existente ao encarceramento da alma
num corpo biológico, possibilitaria aos indivíduos, quando bem conduzidos,
recordar, trazer à mente as ideias, conceitos, definições./ Uma teoria que deriva
da teoria das ideias é a teoria platônica da reminiscência. Segundo Platão, o ser
humano é formado de uma parte mortal, a saber, o corpo; e uma parte imortal, a
saber: a alma; antes de habitarmos este mundo, nossa alma habitava o mundo
das ideias.]

 Nesse caso, podemos compreender que empirismo e racionalismo fazem parte de


um todo mais completo; (p. 21)
 A unidade entre essas duas correntes conflitantes ocorre quando encontramos a
questão filosófica á qual ambas pretendem responder; (p. 21)
 Dessa forma, chegamos a um terceiro elemento, que é a atividade filosófica, a
qual se diferencia dos outros dois elementos, a saber, a filosofia e a história desta;
(p. 21)
 A atividade filosófica está voltada à composição de questões filosóficas e a
responde-las considerando o que a história da filosofia nos mostra; (p. 21)
 A filosofia é o resultado da atividade filosófica (p. 21)
 [Sócrates pai da filosofia ocidental]
 A composição de questões filosóficas não depende necessariamente da história
da filosofia, pois Sócrates, pai da filosofia ocidental, dedicou-se a responder, por
exemplo, á questão O que é conhecimento? – conforme nos informa Platão em seu
livro Teeteto – sem que a filosofia tivesse, na época, uma história consolidada (p.
22)
 Mas afinal, como podemos distinguir uma questão qualquer de uma questão
filosófica? Segundo Porta (2007) o critério mínimo para que os identifiquemos é a
possibilidade de formular uma pergunta gramaticalmente completa, como: O que
é conhecimento? (...) fixa o problema enquanto tal; [...] fixa o problema
suficientemente; [...] nem sequer basta prestas atenção à pergunta que um autor
explicitamente se faz em um texto para entender seu problema” (p. 22)
 Para Porta, a tarefa filosófica não é responder ás perguntas filosóficas, mas
dissolvê-las, e as questões “em si” serão destituídas de sentido; (p. 22)
 Aspecto importante no processo de dissolução de problemas é o modo como o
fazemos (p. 22)
 Machado (2010) nos oferece pistas para identifica-las. Primeiramente, as
perguntas filosóficas são de forma “O que é ______ ? [...] (p. 22)
 Segundo ele, As verdadeiras perguntas filosóficas conduzem a paradoxos
[Paradoxo é uma declaração contrária à opinião dominante ou a um princípio
admitido como válido. O termo também significa ausência de nexo ou lógica. Por
exemplo, quando o escritor Oscar Wilde afirma que “A natureza imita a arte”, ele
está anunciando um paradoxo, pois isso vai de encontro à opinião comum de que
é a arte que imita a natureza. No entanto, a afirmação de Wilde também faz
sentido, já que ele quer chamar a atenção para a forma como o nosso olhar
diante da natureza é influenciado pelas obras de arte.]
 Agora, por que a pergunta “O que é celular?” não é filosofia, segundo Machado
(2010)? Porque ela não produz um paradoxo [Para Machado, “um paradoxo, de
modo geral pode ser pensado como um problema que mostra um certo conflito
(real ou aparente) entre nossas intuições] em nossas intuições. (p. 23)
 Com os critério de Machado (2010), temos condições de discriminar questões
filosóficas de questões não filosóficas. Podemos, agora, dar um passo além e fazer
outra pergunta: O que é filosofia?
 Hessen: filosofia é a tentativa do espírito humano de atingir uma visão de mundo,
mediante a autorreflexão sobre suas funções valorativas teóricas e práticas”
(Hessen, 2003, p. 9, grifo do original)
 Porta: A filosofia não é outra coisa que a consumação plena da racionalidade
(Porta, 2007, p. 42), sendo o discurso racional distinto do lógico e a racionalidade é
esclarecimento, intersubjetividade e reflexividade (Porta, 2007)
 Parece-nos que Porta entende filosofia mais por um viés coerentista (Coerentismo.
Teoria sobre a justificação que vê o conhecimento como um conjunto coerente de
crenças que se sustentam mutuamente em estruturas semelhantes a uma rede ou
teia] e universal, enquanto Hessen a considera uma atividade subjetiva
autorreflexiva assintótica e, por isso, constante; ele, diferente de Porta, não
dispensa a função prática da filosofia e não a considera como algo universal (p. 24)

Capítulo 3 – Concepções de ciência na história: idades Antiga e Medieval

Pergunta motivadora: O que é ciência?

3.1 Idade Antiga (aproximadamente 4000 a.C - 476 d.C)

 Para o mundo antigo, ciência significava o conhecimento verdadeiro. Se temos


ciência sobre algo, conhecemos a verdade desse algo. (p. 70)
 Os filósofos da Antiguidade estavam preocupados em discriminar o conhecimento
verdadeiro do não verdadeiro. (p. 70)
 Eles também tratam sobre os limites (o que podemos conhecer) e o acesso (como
vimos a conhecer) do conhecimento; (p. 70)
 Veremos os conceitos desenvolvidos em torno da questão por alguns pré-socráticos
(Parmênides; Demócrito; Protágoras), por Sócrates (por meio de Platão), por Platão e
por Aristóteles. (p. 70)

3.1.1 Pré-socráticos

 Pré-socráticos (antes de Sócrates), com exceção de Demócrito, temporalmente


contemporâneo; logicamente vinculado aos pré-socráticos; (p. 70)

3.1.1.1 Parmênides (515 a.C – 460 a.C) – [VERDADE (CONHECIMENTO) E APARÊNCIA


(CRENÇA)]

 Poema Da natureza: A deusa revela a ele que “de tudo aprenderá: o coração
inabalável da verdade fidedigna e as crenças dos mortais, em que não há
confiança genuína” (Parmênides, 2002, I.28-30) (p. 71)
 Nesse trecho, fica muito clara a divisão de Parmênides entre verdade e
aparência, entre conhecimento e crença.
 Apenas podemos dizer ou pensar a respeito de algo que é; (p. 72)

3.1.1.2 Demócrito (460 a.C – 370 a.C) – [CETICISMO]

 Foi fundador, junto com Leucipo de Mileto, do atomismo antigo – um sistema


de mundo materialista fundamentado na existência de átomos e do vazio.
(Átomos infinitamente pequenos e indivisíveis + movimento no vazio (que se
chocam e se encaixam) = corpos compostos; (p. 73)
 Segundo Demócrito, conhecemos algo pelas percepções, ou seja, sentimos
quando somos afetados pelos átomos; (p. 73)
 Átomo + percepção = sentido de cores, odores, texturas, sons, sabores;
propriedades que os átomos não detêm;
 Desde modo, existe um hiato (intervalo; lacuna) entre o que percebemos
(aparências) e como as coisas são; (p. 73)
 [Segundo Demócrito] nosso conhecimento a respeito da verdade, ou seja,
das propriedades dos átomos que não percebemos ocorre por analogia
àquilo que percebemos;
 Isso dá margem a muitos engamos, ou seja, o conhecimento é mediado pelo
intelecto, não pelas percepções;
 Como podemos estar errados a respeito do que sentimos? Encontramos em
Aristóteles, um grande crítico de Demócrito, exemplos que respondem a essa
pergunta, com certo sarcasmo próprio de seu autor:
 “uma coisa pode parecer doce a quem a prova e amarga a outro, de modo que,
se todos os homens estivessem doentes ou loucos, e exceto dois ou três
[estivessem] saudáveis ou sãos, estes pareceriam estar doentes ou loucos, e
não aqueles outros” (Aristotle, 2003, p. 185, 1009b8, traduzido); (p. 73)
 “As percepções sensoriais conduzem apenas à crença, não a verdade” (Kenny,
2009, p. 180)
 Esteja essa proposição verdadeira para um grande grupo de pessoas e falsa
para uma pequena parcela, ou vice-versa, para Demócrito há uma incerteza
em afirmar a verdade ou a falsidade a respeito de nossas percepções.
 Uma percepção não é mais verdadeira que outra. Portanto “diria Demócrito
que não existe verdade ou que não podemos descobri-la” (Aristotle, 2003, p.
185, 1009b9, traduzido)

3.1.1.3 Protágoras (480 a.C – 411 a.C) – [SUBJETIVISMO/RELATIVISMO]

 Foi um célebre sofista [Sofismo ou sofisma significa um pensamento ou


retórica que procura induzir ao erro, apresentada com aparente lógica e
sentido, mas com fundamentos contraditórios e com a intenção de enganar.]
 A posição de Protágoras era contrária a de Demócrito;
 Protágoras apresentava a subjetividade em sua obra, e Demócrito, o ceticismo
[Ceticismo é um estado de quem duvida de tudo, de quem é descrente] (p. 75)
 Enquanto Demócrito afirmava que, sobre nossas impressões, não podemos
enunciar a verdade; Protágoras dizia que cada um de nós enuncia a verdade.
(p. 75)
 Se o vento, para uma pessoa, é frio e, para outra, é quente, as duas dizem a
verdade. (p. 75)
 O que ocorre, assim, é uma verdade relativa, pois o que parece verdadeiro a
alguém então o é para essa pessoa;
 “Todas as crenças são portanto verdadeiras, mas elas possuem apenas uma
verdade relativa” (Kenny, 2009ª, p. 180) (p. 75)
 Demócrito refutou o relativismo de Protágoras numa via lógica, ou seja, sem
recurso à percepção: “se todas as crenças são verdadeiras, haverá então
entre as crenças verdadeiras a crença de que nem toda crença é verdadeira”
(Diels e Kranz, citados por Kenny, 2009a, p. 180) (p. 75)
 [Em diálogo Teeteto, Platão, por meio de Sócrates, propõe analisar a hipótese
de que saber é percepção;
 Sócrates supõe uma possível defesa de Protágoras para o seu subjetivismo;
 Acrescenta a figura do sábio que tem a capacidade de mudar as aparências
para um estado melhor. Um médico, por exemplo, com seus remédios, muda
a percepção de dor do enfermo (p. 75)
 Da mesma forma um sofista é capaz de modificar as percepções de seus
ouvintes para um estado melhor por meio do discurso;
 Mas de qualquer forma, o subjetivismo e relativismo se mantêm (p. 76)

3.1.2 Sócrates (469 a.C – 399 d.C) (por Platão) - [RACIOCÍNIO/RAZÃO]

 Não deixou registros de próprio punho, contudo sua atividade filosófica foi
conservada sob três óticas: a do comediógrafo Aristófanes, a do militar
Xenófanes e a do filósofo Platão; (p. 76)
 [Sócrates] comparava seu ofício ao de uma parteira: enquanto estas ajudam no
nascimento dos bebês, Sócrates ajuda no nascimento de ideias;
 Nascimento aqui não tem o mesmo sentido de geração, pois uma criança, quando
nasce, já está, de certa forma, pronta para deixar o útero da mãe. Da mesma
forma as ideias estão, de alguma maneira, formadas na alma (mente) do
interlocutor de Sócrates, que auxilia, por intermédio de questionamentos, a
extrair essas ideais.
 Sócrates não considerava ele próprio detentor de qualquer sabedoria, mas
exímio em trazer à tona os saberes de outrem (Platão, 2010, p. 200-304, 149b4-
151c12);
 Esse é o método socrático (elechus): extrair ideias de interlocutores por meio de
perguntas (p. 77)
 As respostas ou tentativas de respostas frequentemente levavam, nas mãos do
habilidoso Sócrates, a incoerências ou a dificuldades (aporia);
 Via de regra, o final dos diálogos não apresentava uma resposta definitiva e
acabada à pergunta guia. Isso nos mostra que o mais importante é o
desenvolvimento do diálogo e as tentativas de resposta, seguidas das dificuldades
levantadas por Sócrates. (p. 77)

3.1.2.1 Diálogo Teeteto, de Platão - [RACIOCÍNIO/RAZÃO]

 Teeteto, brilhante matemático, é apresentado a Sócrates, para dialogar sobre


“O que é ciência?”
 Numa primeira tentativa de responder, Teeteto apresenta exemplos de
conhecimento científico, como geometria, astronomia, harmonia, aritmética
etc.;
 Sócrates objeta que exemplos de X não são nem necessários nem suficientes
para definir X;
 Teeto admite sua falha e o seu desconforto em relação à pergunta, explica
Sócrates, comparando-se a uma parteira, é porque ele encontra em trabalho
intelectual (chappell, 2013)
 Teeteo sugere uma definição (chamada por nós de D1), a de que ciência é
percepção (p. 78)
 Sócrates replica dizendo que essa definição corresponde a duas outras teorias
(de Protágoras e de Heráclito), as quais ele expõe e critica;
 Sócrates concentra-se em derrubar D1 e, finalmente, depois de uma longa
passagem argumentativa, eles chegam a concluir que “o saber não está nas
sensações, mas no raciocínio sobre elas, pois, por este caminho, pelo que
parece, é possível alcançar a entidade e a verdade, mas por aquele outro
[pelas sensações], [isso] é impossível; (p. 78)
 Teeteto propõe uma segunda definição (D2), de que ciência é opinião
verdadeira; (p. 79)
 Sócrates rebate com outra pergunta: “Como poderia haver algo como uma
opinião falsa?”
 Sócrates dispensa D2, pois opiniões acidentalmente verdadeiras não podem
ser chamadas de ciência;
 Teeteto propõe uma terceira e ultima definição (D3), ciência é opinião
verdadeira justificada (logos) [pensamento, razão, palavra, fala, conceito,
discurso e conhecimento];
 O dialogo recai em aporia [dificuldade ou dúvida racional decorrente da
impossibilidade objetiva de obter resposta ou conclusão para uma
determinada indagação filosófica.], e por fim, Sócrates deixa Teodoro e
Teeteto para enfrentar seus inimigos no tribunal em seu julgamento
(Chappell, 2013). (p. 80)

3.1.3 Platão (429? A.C – (-347) a. C) – [TEORIA DAS IDEIAS (MUNDO DAS IDEIAS E MUNDO
DOS SENTIDOS]

 Platão fundou a Academia (associaram a ele outros pensadores com interesses


afins (matemática, metafísica, moral e misticismo) (p. 80)
 O modelo de sua escola seguiu o formato das comunidades pitagóricas;
 Sua obra foi convencionalmente dividia em três parte: a primeira são os diálogos
socráticos (diálogos de Sócrates com especialistas do tema sobre o qual o diálogo
vai se desenrolar) (p. 80)
 Diálogos de maturidade de Platão (diálogos mais longos e mais complexos.
Grande parte se dedica á teoria das ideias) (p. 81)
 Diálogos tardios de Platão (trata do conhecimento científico) (p. 81)

3.1.3.1 Teoria das ideias de Platão

 Aquilo a que se refere Homem, Kenny (1999, p. 67-72) formula muito bem,
podemos chamar de humanidade, mas a designação de Platão mais
conhecida é a ideia (ou forma) de Homem. (p. 81)
 “para qualquer caso em que A, B e C sejam P, Platão tem tendência para
dizer que eles estão relacionados coma Ideia única de P” (Kenny, 1999, p. 68)
(p. 82)
 Talvez o texto mais emblemático de Platão para a sua teoria das Ideias seja a
Sétima epístola aos siracusanos, na qual ele relaciona as Ideias e as condições
necessárias para conhecermos algo:
 “Para cada coisa que existe há três coisas que são necessárias se queremos
conhece-la: primeiro, o nome, segundo, a definição, terceiro, a imagem. O
conhecimento em si mesmo é uma quarta coisa, e existe uma quinta coisa que
podemos postular, que é aquilo que é conhecível e verdadeiramente real”
(Platão, citado por Kenny, 2009ª, p. 76) (p. 82)
 Nome+definição+imagem são as três definições necessárias para se
conhecer algo, porém não são suficientes;
 A quinta condição para o conhecimento é a Ideia; esta é perene, não sofre
alterações como as demais, conhecível e verdadeiramente real. (p. 84)
 O verdadeiro conhecimento de Platão é o conhecimento das Ideias. Por sua
vez, aquilo que é oposto às Ideias (que não-é) é totalmente não conhecível;
 Para Platão, o estado mental de uma pessoa é doxa, que em Teeteto foi
chamado de crença. (p. 84)
 Platão estabelece a diferença entre conhecimento e crença;
 A diferença está entre objetos “entre o que é conhecido e o que é pensado
sobre algo” (Kenny, 2009ª, p. 191)
 Alternativa de Platão para o conhecimento verdadeiro: tenta conciliar dois
sistemas filosóficos (Parmênides (subjetividade) e Heráclito (geração e
corrupção=eterna mudança=não há verdade))
 Platão reparte o mundo em dois: mundo das ideias (perfeito, imutável e
constante) e mundo dos sentidos (imperfeito, corruptível e transitório) (p. 85)

3.1.4 Aristóteles (384 a.C - -332 a.C) – [LÓGICA/ SILOGISMO ARISTOTÉLICO/CONHECER A


CAUSA]

 Foi discípulo de Platão na Academia por 20 anos (p. 85)


 Fundou a escola Liceu, em Atenas;
 A respeito ao conhecimento científico, Aristóteles tem uma abordagem
fundamentada na lógica (à semelhança de Platão), numa espécie de cálculo de
palavras, o silogismo.
 Silogismo (raciocínio dedudito): preposição (premissa maior) + preposição
(premissa menor) = inferência (conclusão)
 [p.ex.: "todos os homens são mortais (A) ; os gregos são homens (B); logo, os
gregos são mortais (C)"]
 A é o termo maior, B é o termo médio; e C é o termo menor.
 Grupo (figura) de silogismos: primeira figura, segunda figura, terceira figura e
quarta figura;

3.1.4.1 Silogismo aristotélico: ciência pela causa

 Para indicar quais conhecimentos eram científicos e quais não eram,


Aristóteles afirmou que, para algo ser considerado conhecimento científico,
era preciso conhecer a CAUSA; [...] “que ela é causa disso, e que não é
possível ser de outro modo” (Aristóteles, 2004, 71b9-12) (p. 87)
 Segundo Aristóteles, o conhecimento científico é obtido por demonstração,
ou seja, com base na transição das premissas até a conclusão por um
silogismo científico. (p. 87)
 Aristóteles faz uma distinção de dois tipos de demonstração ou silogismo:
“que é” (tou hoti) e do tipo “por que é” (tou dioti)
 A primeira é mais adequada para uma demonstração do tipo “por que é”
 Ex: silogismo “que é” (tou hoti) [não científico]: “Os planetas não cintilam; o
que não cintila está próximo da Terra; portanto os planetas estão próximos
da Terra” (não explica a causa)
 Ex: silogismo “por que é” (tou dioti) [científico]: “O que está próximo da Terra
não cintila; Os planetas estão próximos da terra ; Portanto, os planetas não
cintilam”
 Causa e Efeito: causa: estar próximo da terra. Efeito: não cintilar
 Aristóteles afirma que a primeira figura é a mais adequada para o
conhecimento porque, como vimos no exemplo, demonstra o efeito pela
causa (p. 89)

3.2 Idade Medieval (476 – 1453)

 Teoria da iluminação
 Conhecimento intuitivo e abstrativo discutido por Agostinho, Boaventura, Tomás de
Aquino, Duns Scotus e Guilherme de Ockham
 Vamos nos ater aos conteúdos que envolvem nossa questão principal, o conhecimento
verdadeiro ou científico;
 Veremos que nesse período foram fortemente retomados e trabalhados à exaustão os
conceitos de Platão [mundo das Ideias] e Aristóteles [silogismo aristotélico];
 Os escolásticos, de modo geral, uniram esforços para fundir os princípios filosóficos
aos preceitos religiosos do catolicismo cristão. (p. 89)

3.2.1 Agostinho (354 – 430) – [TEORIA DA ILUMINAÇÃO DIVINA]

 Agostinho e Hipona (cidade de uma província romana da Argélia) ou Santo


Agostinho, foi um importante teólogo e filósofo;
 Ordenado bispo de Hipona e condecorado Doctor Gratiae (título de doutor da
igreja conferido a um sacerdote que contribuiu particularmente nos campos da
teologia e da doutrina católica)
 Se converteu ao catolicismo aos 33 anos, antes fora adepto do maniqueísmo
[doutrina cristã sincrética (reunia diferentes linhas religiosas) e dualista (dividia
o mundo entre o Bem e o Mau)]
 Teve influência da filosofia Platônica, em especial do neoplatonismo de Plotino e
de Cícero e do ceticismo da Nova Academia;
 Veremos muitos elementos da epistemologia de Platão envolta, digamos, num
manto cristão;
 Para Agostinho existe verdades lógicas e verdades a respeito de fenômenos
imediatos que são irrefutáveis para os céticos;
 Para Agostinho existe uma diferença entre parecer e fazer um juízo;
 A verdades, segundo Agostinho, que estão entre as lógicas e a respeito de
fenômenos imediatos;
 Agostinho concede às verdades matemáticas um posto privilegiado de regras
interiores da verdade – a conta três mais sete não deve ser dez, simplesmente é
dez (p. 91);
 De onde retiramos o conhecimento matemático e o conhecimento da verdadeira
essência daquilo que nos cerca? Para Agostinho, esses conhecimentos
verdadeiros (matemático e das essências) não podem vir dos sentidos
 Platão defendeu que nosso conhecimento vem de uma existência anterior à nossa
concepção (oq podemos aprender é de fato um relembrar de nossas memórias,
daquilo que já tínhamos conhecimento (teoria da reminiscência)
 Agostinho é contrário a uma preexistência, tal como diz a teoria platônica;
 Agostinho concorda com Platão quanto a existência e à superioridade das
“realidades inteligíveis” e discorda me relação à natureza do acesso a elas;
 Ele acaba por localiza-las na mente divina;
 Assim como Plotino, ou seja, elas existem exclusivamente na mente de Deus;
 Como nós temos acesso às “realidades inteligíveis” presentes na mente de Deus? E
como podemos vê-las sem ver a Deus? Agostinho apresenta uma intrincada teoria
da iluminação divina;
 Metáfora do olho da razão (Deus é a fonte primária de luz e a sua luz permite-nos
enxergar) ;
 Boaventura de Bagnoregio também tem uma “teoria da iluminação”, mas discorda
em alguns pontos de Agostinho. (p. 92)

3.2.2 Boaventura de Bagnoregio (1221-1274) – [TEORIA DA ILUMINAÇÃO + CAUSAS


CRIADAS]

 Filósofo, Teólogo, sétimo ministro-geral da Ordem dos Frades Menores (OFM)


 Cardeal-bispo de Albano – região ao sul de Roma – condecorado com o título de
Doctor Seraphicos - doutor da igreja conferido a um sacerdote da igreja que tenha
contribuído significativamente nos campos da teologia e da doutrina católica;
 Assim como Agostinho, tentou reunir razão e fé;
 Numa abordagem plantonista-agostiniana da epistemologia da verdade divina,
tentou provar a existência de Deus por intermédio da teoria da iluminação
ligeiramente modificada;
 Ele afirmou, já de início, em seu argumento, que é “verdade” que Deus existe;
 Essa inspiração advém da descrição de Agostinho de sua caminhada introspectiva
em direção a Deus;
 Boaventura retira o núcleo lógico do argumento da iluminação de Agostinho,
reduzindo-o a um silogismo da seguinte forma:
 A versão da teoria da iluminação de Boaventura evita a seguinte problemática:
conhecermos as coisas do mundo implica conhecermos a Deus;
 Para explicar a contribuição das verdades “criadas” para o conhecimento, ele nota
que o conteúdo do conhecimento humano advém de quatro tipos de causas
criadas:
 Causa material; Causa eficiente; Causa formal; Causa final
 Essas quatro causas criadas são semelhantes à teoria das causas de Aristóteles
 Acima e além dessas quatro “causas criadas”, o conhecimento também precisa de
uma causa eterna;
 A infinita extensão do conhecimento de Deus é o que faz do entendimento divino
certo, e essa certeza na mente divina é “emprestada” para a mente humana;
 Por fim, para Boaventura, existem dois lados da certeza, pois ela, e somente ela, é
encontrada no conhecimento humano e requer iluminação divina; qualquer
outro conhecimento humano (abstração, universalidade e correspondência)
advém de causas criadas;
 A teoria da iluminação de Agostinho formou uma espécie de temática para o
estudo epistemológico medieval;
 Tomás de Aquino segue essa mesma linha, mas se empenha em manter uma
versão dessa teoria como uma iluminação inata aristotélica; (p. 95)

3.2.3 Tomás de Aquino (1225-1274) – [ILUMINAÇÃO DIVINA + INTELECTO AGENTE]

 Filosofo, teólogo italiano;


 Ordenado frade da Ordem dos Pregadores (Ordem dos dominicanos)
 Foi reconhecido por seu trabalho na tradição escolástica com os seguintes títulos
de doutor da igreja: Doctor Angelicus, Doctor Communis e Doctor Universalis;
 Principal obra: Suma theologiae (Suma teológica)
 Grande responsável pela divulgação do aristotelismo, mas numa versão cristã
mais complexa de seu antecessor estagirita.
 Segundo Kenny, Tomás de Aquino foi também adepto da teoria da iluminação
para explicar o funcionamento do intelecto humano
 Contudo, para Tomás de Aquino, o intelecto agente é uma faculdade individual
natural humana, diferentemente do que é para Boaventura e Agostinho, que
insistem em uma agência externa de uma entidade supranatural sobre a mente
humana;
 Tomás de Aquino está longe de negar a existência de um intelecto superior ao
humano, mas o agente é algo na alma humana;
 Para ele, Deus ilumina todo homem que vem ao mundo e confere à alma
humana, com causa universal, poderes característicos;
 Ao considerar a afirmação de Agostinho de que a pura verdade não poderia vir
dos sentidos do corpo, Tomás de Aquino, em resposta, retoma o conceito
aristotélico de intelecto agente;
 Retoma o conceito aristotélico de intelecto agente por não concordar com uma
agência externa supranatural da teoria da iluminação de Agostinho; contudo
rejeita certos conceitos dela
 Ele também nega que a iluminação divina seja ela própria suficiente sem os
sentidos;
 Tomás de Aquino rejeita especialmente a reivindicação
 o agostiniana da influência divina constante nas operações do intelecto humano
(livre arbítrio?);
 Defende que nós humanos, temos capacidade suficiente de pensarmos por nós
mesmos sem qualquer nova iluminação adjunta à nossa iluminação natural;
 O intelecto, como todas as coisas da natureza, precisa de Deus como primeiro
motor (iluminação divina);
 Ele considera o intelecto agente de nossa capacidade de alcançar verdades
autoevidentes, como é o caso do princípio da não contradição;
 O que é inata é a nossa capacidade de reconhecer as verdades quando nos
confrontamos com elas;
 Essas concepções naturais primeiras são para ele sementes de todas as coisas que
reconhecemos depois. Nesse sentido, Tomás de Aquino afirma que a alma tem
um conhecimento primeiro que reconhece; (p. 97)
 Pois como tudo que conhecemos remete a esses princípios fundamentais, há um
sentido de que, tudo que aprendemos, nós já sabíamos.

3.2.4 Scotus (1266-1308) – [CONHECIMENTO INTUITIVO E ABSTRATIVO]

 Condecorado pela igreja com o título de Doctor Subtil;


 Importante filosofo e teólogo da tradição escolástica;
 Assim como Agostinho, foi membro da Ordem dos Frades Menores (OFM)
 Tinha tendência platônica
 Foi grande crítico de Tomas de Aquino, principalmente aos objetos do
conhecimento e as formas do conhecer
 Stocus defente que nosso “conhecimento envolve a presença na mente de uma
representação do objeto” (Kenny, 2009b, p. 200)
 Nisso concorda com Tomás de Aquino, pois Scotus descreve “o conhecimento em
termos da presença de uma espécie ou ideia no sujeito cognoscente” (Kenny,
2009b, p. 200) (p. 99)
 A diferença principal é a espécie ou a ideia: enquanto Tomás de Aquino ela está
na capacidade do intelecto agente, para Scotus a ideia é objeto imediato do
conhecimento. [...] A espécie é de tal natureza que o objeto a ser conhecido está
presente nela não efetiva ou realmente, mas pelo modo de ser exibido.
 Ex; Parede branca>cor da parede exerce efeito na visão e mente mas ela mesma
não pode estar presente no olho ou na mente, somente alguma representação
dela;
 Acerca da cognição intuitiva e abstrativa, Scotus estabeleceu uma distinção
 Ele difere cognição intuitiva e abstrativa de sentido e intelecto;
 Para o filósofo, é possível ter tanto conhecimento intelectual quando
conhecimento sensorial. Além da imaginação (faculdade sensorial), podemos ter
conhecimento abstrativo;
 Conhecimento intuitivo perfeito (de um objeto existente presente)
 Conhecimento intuitivo imperfeito (objeto existe como futuro ou passado)
 Conhecimento abstrativo (essências individuais/conhecimento da essência de um
objeto que deixa em suspenso a questão de se o objeto existe ou não)

3.2.5 Guilherme de Ockham (1288 – 1347) – [CONHECIMENTO INTUITIVO SENSORIAL E


INTELECTUAL]

 Frade (individuo que pertence a uma ordem religiosa; monge) da Ordem de São
Francisco;
 Desenvolveu trabalhos em lógica, metafísica, filosofia natural, teoria do
conhecimento, ética, filosofia política e teologia escolástica;
 Um dos maiores representantes do nominalismo [Doutrina filosófica segundo a
qual o conceito é apenas um nome acompanhado de uma imagem individual,
sendo os universais (espécies, gêneros, entidades) puras abstrações, sem
realidade (opõe-se a realismo). (Na Idade Média, quando da controvérsia dos
universais, o nominalismo foi defendido por Roscelin de Compiègne.] e criador
do princípio metodológico que ficou conhecido por navalha de Ockham
 Entretanto, veremos aqui a contribuição dele a respeito do conhecimento
intuitivo e abstrativo; (p. 101)
 Define objetos da apreensão como termos e proposições simples de qualquer
tipo; sobre a possibilidade do juízo, segundo ele, podemos ter um pensamento
complexo sem fazer juízo dele, mas “não podemos efetuar um juízo sem
apreendermos o conteúdo do juízo”
 Portanto o “conhecimento envolve tanto apreensão quanto juízo”
 Conhecimento abstrativo (abstraímos independentemente da existência)
 Conhecimento intuitivo (“se uma coisa existe ou não, de modo que se a coisa
realmente existe o intelecto imediatamente julga que ela existe”)
 Para Ockham existe dois tipos de conhecimento intuitivo (sensorial e intelectual)
 Conhecimento intuitivo sensorial: Empírico [doutrina segundo a qual todo
conhecimento provém unicamente da experiência]
 Conhecimento intuitivo intelectual: há muitas verdades contingentes em nossa
mente (pensamentos/emoções/prazeres/dores) que não são perceptíveis pelos
sentidos, e não obstante conhecemos essas verdades
 Ockham aceita que tenhamos a consciência sensorial e intelectual da existência
de um objeto, produzida pela ausência desse mesmo objeto;
 A condição para isso está em Deus, pois somente Ele pode, por causa secundárias
e pelo seu próprio poder, fazer isso;
 Entretanto, salienta Ockham, esse conhecimento não seria evidente, ou seja,
temos consciência da ausência da coisa;
 Para ele podemos conhecer verdadeira ou falsamente, contudo, somente o
conhecimento verdadeiro é evidente
 A evidência no conhecimento é que determina que esse conhecimento seja
intuitivo, caso contrário, isto é, se Deus nos faz julgar uma coisa como presente
mesmo quando ausente, trata-se de um conhecimento abstrativo.

Capítulo 4 – Concepções de ciência na história: idades Moderna e Contemporânea

Pergunta guia: O que é ciência?

 Ceticismo, com Montaigne;


 Resposta ao Ceticismo dada por Descartes;
 Hobbes;
 Locke;
 Kant
 Discussão sobre empirismo e racionalismo
 Via do apriorismo kantiano;
 Filosofia natural
 Galileu;
 Bacon;
 Descartes (novamente)
 Newton

4.1 Idade Moderna (1453 – 1789)

 Na Idade Média, Igreja católica , ápice em poder político, econômico, religioso e


intelectual;
 Devido a estrutura que havia atingido, muitos estudos filosóficos e religiosos foram
conduzidos;
 Um tema recorrente foi a natureza do conhecimento e o acesso a ele, muitas vezes
conduzido por um agente superior: Deus;
 Foi assim com os grandes pensadores desse período, Agostinho e Tomás de Aquino,
os quais propuseram versões cristãs do platonismo e aristotelismo, respectivamente;
 Mas, todo esse poder católico, ocasionado pela disseminação da sua religião e por
alianças políticas com os grandes reinos, constituiu tanto sua fortaleza quanto sua
ruína;
 Cisma do Oriente (1054); não reconhecimento papal; controvérsia da cláusula
filioque; Concílio de Constança (1414 – 1418); Reforma Protestante (1517), o poder
da igreja católica foi aos poucos enfraquecendo;
 O declínio da igreja católica também marcou o declínio de parte de seus saberes,
principalmente de sua versão do aristotelismo;
 Ockham já apontava as deficiências no tomismo científico [relativo a Tomás de
Aquino (à sua obra ou à sua doutrina religiosa ou filosófica)];
 Esse é o cenário que caracterizou o fim do período medieval e o início do período
moderno,
 Envolto pela discussão sobre o conhecimento das escrituras sagradas, foi marcado
pela redescoberta dos textos gregos do período antigo, das escolas pirrônica
[Indivíduo adepto do pirronismo, doutrina do grego Pirro de Élida, definida pelo
cultivo de uma condição definitiva de dúvida] e estoica [Estoicismo é uma escola e
doutrina filosófica surgida na Grécia Antiga, que preza a fidelidade ao conhecimento
e o foco em tudo aquilo que pode ser controlado somente pela própria pessoa.
Despreza todos os tipos de sentimentos externos, como a paixão e os desejos
extremos.];

4.1.1 Montaigne (1533 – 1592) – [CETICISMO (EPICUREUS/ESTOICOS)/HUMANISMO]

 Filósofo francês;
 Seguiu algumas correntes filosóficas, como o ceticismo [oposto de dogmatismo] e
o humanismo [O humanismo foi um movimento intelectual iniciado na Itália no
século XV com o Renascimento e difundido pela Europa, rompendo com a forte
influência da Igreja e do pensamento religioso da Idade Média. O teocentrismo
(Deus como centro de tudo) cede lugar ao antropocentrismo, passando o homem
a ser o centro de interesse. Em um sentido amplo, humanismo significa valorizar
o ser humano e a condição humana acima de tudo. Está relacionado com
generosidade, compaixão e preocupação em valorizar os atributos e realizações
humanas.];
 Publicou seus estudos na forma de ensaios [Nos estudos literários, Ensaio é o
texto livre de convenções e de protocolos que se posiciona entre a linguagem
poética e a instrutiva. ... Fundamentalmente, o Ensaio é um texto de opinião em
que se expõem ideias e impressões pessoais do autor sobre determinado tema.];
 Sua atitude cética extremada, de inspiração pirrônica, buscava “denunciar a
falibilidade dos sentidos e do intelecto”
 Suas citações clássica são do poema De rerum natura, de Lucrécio (poeta latino),
obra também redescoberta durante o Renascimento (início do período
moderno);
 Montaigne se dedicou a provar que não existe conhecimento real;
 Para isso, usou os argumentos de Sexto Empírico sobre duas escolas da
Antiguidade: epicurismo [Epicurismo é uma corrente filosófica baseada na busca
pela felicidade. A felicidade para os epicuristas consiste em uma vida pautada
pelo autoconhecimento, pela amizade e pela prudência.] e estoicismo
[Estoicismo é uma escola e doutrina filosófica surgida na Grécia Antiga, que
preza a fidelidade ao conhecimento e o foco em tudo aquilo que pode ser
controlado somente pela própria pessoa. Despreza todos os tipos de sentimentos
externos, como a paixão e os desejos extremos.];
 A primeira escola [epicurismo] afirma, segundo Montaigne, que, “se os sentidos
não são confiáveis, então não existe algo como conhecimento”;
 A outra escola [estoicismo] diz que “se existe algo como o conhecimento ele não
pode provir dos sentidos, porque estes são totalmente não confiáveis”; (p. 115)

4.1.2 Descartes (1596 – 1650) - [RACIONALISMO CARTESIANO]

 Filósofo Francês;
 contribuiu imensamente com seus trabalhos para a matemática, a metafísica e a
física;
 Desenvolveu a geometria analítica,
 na matemática, o método para se alcançar o conhecimento,
 na epistemologia, a lei da inércia (que mais tarde veio a se somar às duas leis do
movimento newtonianas), na física;
 materialismo minimalista (cujas propriedades da matéria são apenas extensão e
movimento), na metafísica;
 Frase mais conhecida: “Penso, logo existo” (cogito ergo sum); [O filósofo francês
queria chegar ao conhecimento absoluto e, para tal, era preciso duvidar de tudo
o que já estava posto. A única coisa que ele não podia duvidar era da própria
dúvida e, consequentemente, do seu pensamento. Assim surgiu a máxima do
Penso, logo existo. Se eu duvido de tudo, o meu pensamento existe e, se ele
existe, eu também existo.]
 Seus trabalhos foram sobremaneira importantes a filosofia e, de certa forma,
guiaram os estudos de alguns de seus sucessores, como Newton (no caso, seu
maior crítico no que diz respeito à física)
 Descarte leva a cabo o empreendimento do ceticismo metódico de modo
hiperbólico (exagerado), para revelar o que resta de nosso conhecimento;
 Na primeira das Meditações, Descartes faz uma sondagem em suas próprias
ideias, por sugestão de Montaigne, e descobre que “o decisivo campo de batalha
entre a certeza e a incerteza é o próprio eu” (Pessanha, 1998, p. XIV)
 Combate o ceticismo com suas próprias armas;
 ele percebe que as ideias que se referem a objetos físicos são obscuros, instáveis
e incertas, mas há outras ideias que se apresentam ao espírito com nitidez,
estabilidade e certeza, como as ideias da matemática (por exemplo, figura e
número)
 São tais ideias claras e distintas e todos as concebem da mesma maneira;
 Essas ideias parecem, dessa forma, independentes da experiência dos sentidos,
ou seja, inatas;
 Elas “satisfazem plenamente o ideal de construir uma “matemática universal”
(Pessanha, 1988, p. XIV), e passa a ser o objetivo de Descartes;
 Somente com essas ideias seria possível construir uma cadeia de razões;
 O seus elos seriam intuídos “com a clareza das evidências matemáticas” e
“conectados com a coerência perfeita das demonstrações” (Pessanha, 1988, p.
XIV), das quais a matemática oferece exemplo;
 Mas, o que garante que as ideias claras e distintas correspondem a algo real?
 É preciso duvidar inclusive das ideias claras e distintas;
 O artifício de Descartes é lançar a hipótese de gênio maligno (malin génie);
((...)”fazer com que o homem estivesse errando toda a vez que tivesse a mais
forte impressão de estar certo?)
 Com a hipótese do gênio maligno, Descartes insere sobre o universo científico a
ameaça de ele ser tão somente uma ficção, uma criação do sujeito, um sonho,
mesmo que seja reincidente e extremamente coerente;
 A única certeza contida no COGITO é a da existência do eu enquanto ser
pensante;
 Antes mesmo de tentar demonstrar racionalmente a existência do mundo físico –
onde se situa seu próprio corpo -, Descarte procura provar a existência de Deus,
garantia última de qualquer substância e, portanto, fundamento absoluto da
objetividade”

4.1.3 Locke (1632 – 1704) - [EMPIRISMO]

 Representante do empirismo e médico inglês;

 Uma de suas obras mais relevantes nesse assunto [sobre o conhecimento] foi o
Ensaio sobre o entendimento humano (1690);

 Conhecimento sensível: conhecimento dos “efeitos cotidianos com observações


de nossos sentidos”, sem o entendimento de suas causas , e “devemos nos
contentar em sermos ignorantes [delas]”

 Em vez de querermos saber sobre as essências, causas básicas das propriedades


que percebemos, conhecemos apenas nas propriedades percebidas das quais
construímos essências nominais;

 somos forçados a depender do julgamento de observações e da indução;

 Contraria as ideias inatas de Descartes.

4.1.4 Leibniz (1646 – 1716) - [INATISMO]

 contemporâneo de Locke;

 Filósofo e matemático alemão;

 Famoso por ter inventado, de maneira independente de Newton, o que hoje


chamamos de cálculo diferencial e integral;

 Se opõe à tese lockeana de que todo conhecimento deriva da experiência;

 “Há em nós ser, unidade, substância, duração, e podemos apreender em nós


mesmos essas realidades e formar ideias sobre elas” (Rovighi, 1999, p. 412 - 413) -
ideias inatas;

 o sentido de ideia inata de Leibniz tem como recurso seu conceito de mônada e
de percepção inconsciente;
 “Creio que todos os pensamentos e [todas] as ações de nossa alma venham de
seu íntimo, sem que possam ser dados a ela pelos sentidos […] embora os
sentidos nos deem ocasião de tomar consciência delas” (Leibniz, citado por
Rovighi, 1999, p. 412-413)

 os objetos externos sensíveis, por não poderem agir na alma imediatamente, são
apenas objetos mediatos [Que não tem relação direta; indireto.Que não se liga a
determinada coisa senão por intermédio de outra.Causa cujo efeito é produzido
somente com a ajuda de outra: causa mediata]. Deus somente é objeto externo
imediato. (p. 124)

4.1.5 Kant (1724-1804) – [RACIONALISMO CRÍTICA/CRITICISMO]

 Nasceu em Konisberg (atual Kaliningrad, parte da Rússia)


 Estudou física, matemática e filosofia;
 Distinguiu dois tipos de conhecimento, a posteriori (derivado da experiência) e a
priori (independentemente de qualquer experiência)
 Julgamento analítico [são juízos em que o predicado (B) pode estar contido no
sujeito (A) e, por isso, ser extraído por pura análise. Isto significa que o
predicado nada mais faz do que explicar ou explicitar o sujeito. Ex.: “Todo
triângulo tem três lados”;]
 Julgamento sintético a priori: [Aquele que é formado independentemente de
qualquer experiência e por uma espécie de intuição intelectual obrigatória.]
 Julgamento sintético a posteriori: [Aquele juízo que resume uma experiência
científica ou empírica.]

 Os juízos a priori são denominados princípios, e os conceitos a priori, categorias;

4.1.6 Filosofia Natural (Século XVI e XVII)

 Entramos finalmente no que é reconhecidamente o mais próximo ao que amplamente


entendemos hoje por ciência;
 O conteúdo desse domínio do conhecimento foram divididos em duas vertentes:
filosofia da ciência natural [busca um entendimento dos conceitos empregados na
descrição e no relato dos fenômenos naturais “espaço”, “tempo”, “movimento” e
“mudança”] e ciência da física [estabelecer e explicar os fenômenos em si, não por
um raciocínio a priori ou por análise conceitual, mas por observação, experimento e
hipótese]

Galileu Galilei (1564-1642)


o Nasceu em Pisa, na Itália;
o Foi um experimentador meticuloso e um grande estudiosos da mecânica, da
astronomia e da termologia;
o Teve inestimável valor à filosofia natural;
o Galileu atribuiu a ciência a observação rigorosa e experimentação metódica, e
na matemática encontrou uma aliada na interpretação da linguagem da
natureza;

4.1.7 Francis Bacon (1561-1626) – [EMPIRISMO]

 Ele, assim como Galileu e Descartes, viveu o período de declínio do aristotelismo


escolástico, que ocorreu muito em função da incapacidade da ciência de Aristóteles
em se corresponder com os fenômenos da experiência;

4.1.9 Descartes (parte 2) – [RACIONALISMO CARTESIANO]

 “a certeza provem somente do entendimento quando este tem percepções evidentes”


(Descartes, 1997, p. 18)

4.1.10 Issac Newtom (1642-1727)

 matemático;
 nasceu numa região rural da Iglaterra chamada Woolsthorpe, em Lincolnshire;
 Estudou em Trinity College Cambridge;
 Trataremos aqui sobre sua influência na concepção de um método para o
conhecimento científico;
 Newtom, assim como Galileu e Descartes, aplicou a matemática para conhecer os
processos físicos do mundo; (como se fosse uma máquina regulada por leis
exprimíveis mecanicamente, ou seja, o mundo não tem lugar para imprevistos
causados por alma ou forças vitais)

4.2 Idade Contemporânea (1789-dias atuais)

 Acabamos de ver que a concepção de ciência ao longo da história, desde os gregos até
o período moderno, por vezes, ou se apoiava numa abordagem empirista, ou se
apoiava numa visão racionalista;

 Kant vislumbrou uma terceira via, o apriorismo, que, salvo engano, trata-se de um
amálgama [processo morfológico de formação de novas palavras (neologismo)] dos
outros dias

 Independente do acesso ao conhecimento, seja pela experiência, seja pela razão,


encontramos no período moderno ao menos uma preocupação comum: alcançar
axiomas [premissa considerada necessariamente evidente e verdadeira, fundamento
de uma demonstração, porém ela mesma indemonstrável, originada, segundo a
tradição racionalista, de princípios inatos da consciência ou, segundo os empiristas,
de generalizações da observação empírica [O princípio aristotélico da contradição
("nada pode ser e não ser simultaneamente") foi considerado desde a Antiguidade
um axioma fundamental da filosofia.], princípios ou leis que pudessem descrever,
justificar e prever com rigor e certeza um fenômeno;

 [Na Modernidade] tinhamos, em linhas gerais, duas concepções de ciência: a


hipótetico-dedutiva, do racionalismo, e a hipotético-indutiva, do empirismo;

 A questão é que, no período cotentemporâneo, principalmente entre os séculos XVIII e


XIX, surgiu outra concepção de ciência: o construtivismo;

Você também pode gostar