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Ponto de Partida
Descrição da videoaula: Os filósofos gregos entendiam que a busca pelo saber é despertada
pelo “espanto” ( thaumadzein). Entretanto, é preciso distinguir os vários tipos de saberes que
o espanto desperta. O primeiro deles é o saber opinativo ( doxa). E é com ele que iniciaremos
o curso.
Texto de Apoio
Ao ler esta famosa passagem da Ética a Nicômaco, você deverá levar em consideração três
pontos: (1) o caráter universal e necessário da ciência (conhecimento científico); (2) o caráter
particular e contingente das opiniões (suposições); e (3) a possibilidade do ensino da ciência.
Apresentação
Livro VI
Seção I
Seção II
Seção III
Professor Explica
Descrição do fórum: Novos desafios surgem a cada descoberta científica. Esses desafios, às
vezes, acabam por revelar um certo desprezo pelo passado. Ora, quando isso acontece, erros
do passado são ironicamente repetidos. Tendo isso mente, leia o artigo “Sobre a importância
da história das ciências”, do professor Ivã Gurgel, e discuta com seus colegas, a partir da
seguinte pergunta: “Por que conhecer a história das ciências é tão importante?”.
Recursos do fórum: GURGEL, Ivã. Sobre a importância da História das Ciências. Jornal da USP,
São Paulo, nov. 2017. Disponível em: <https://jornal.usp.br/artigos/sobre-a-importancia-da-
historia-das-ciencias/>.
Em, por que conhecer a história das ciências é tão importante, Ivã Gurgel pontua
dizendo que “principal objetivo de um estudo histórico: a análise crítica das origens e
do desenvolvimento de um “processo” delimitado por condições sociais. (GURGEL,
2017).
Contudo, quando se coloca algo em uma perspectiva histórica, o que antes era dado
passa a ser construído, fruto de escolhas e embates que fizeram com que alguns
caminhos se realizassem e outros fossem descartados. (GURGEL, 2017)
Vale destacar que ao longo das últimas décadas a História das Ciências deixou de ser
apenas a história das ideias científicas, mas também passou a considerar as práticas,
os instrumentos, os modos de publicação, as instituições, as políticas e outras
dimensões do fazer científico. Estes elementos nos permitem revelar as dinâmicas
internas da ciência, que demonstram que a mesma é fruto de um microcosmo social.
(GURGEL, 2017)
Éthos: conjunto dos costumes e hábitos fundamentais, no âmbito do comportamento
(instituições, afazeres etc.) e da cultura (valores, ideias ou crenças), característicos de
uma determinada coletividade, época ou região.
A priori: Em Filosofia, a locução a priori faz referência ao conhecimento adquirido
sem contar com a experiência, que se adquire mediante a dedução. Ao contrário de
"a priori", a expressão latina "a posteriori", faz referência a um raciocínio em que se
remonta do efeito à causa.
Trabalhos de enorme potencial foram impedidos por avaliações pautadas em
preconceitos de raça, gênero, religião e possivelmente outros. (GURGEL, 2017)
Somente uma perspectiva temporal nos permite reconhecer um processo que ocorre
em etapas ou em ciclos que faz com que acontecimentos pontuais possam ser
ponderados, evitando-se fatalismos induzidos pelo momento. (GURGEL, 2017)
Explorando Conceitos
3.1.1 Pré-socráticos
Poema Da natureza: A deusa revela a ele que “de tudo aprenderá: o coração
inabalável da verdade fidedigna e as crenças dos mortais, em que não há
confiança genuína” (Parmênides, 2002, I.28-30) (p. 71)
Nesse trecho, fica muito clara a divisão de Parmênides entre verdade e
aparência, entre conhecimento e crença.
Apenas podemos dizer ou pensar a respeito de algo que é; (p. 72)
Não deixou registros de próprio punho, contudo sua atividade filosófica foi
conservada sob três óticas: a do comediógrafo Aristófanes, a do militar
Xenófanes e a do filósofo Platão; (p. 76)
[Sócrates] comparava seu ofício ao de uma parteira: enquanto estas ajudam no
nascimento dos bebês, Sócrates ajuda no nascimento de ideias;
Nascimento aqui não tem o mesmo sentido de geração, pois uma criança, quando
nasce, já está, de certa forma, pronta para deixar o útero da mãe. Da mesma
forma as ideias estão, de alguma maneira, formadas na alma (mente) do
interlocutor de Sócrates, que auxilia, por intermédio de questionamentos, a
extrair essas ideais.
Sócrates não considerava ele próprio detentor de qualquer sabedoria, mas
exímio em trazer à tona os saberes de outrem (Platão, 2010, p. 200-304, 149b4-
151c12);
Esse é o método socrático (elechus): extrair ideias de interlocutores por meio de
perguntas (p. 77)
As respostas ou tentativas de respostas frequentemente levavam, nas mãos do
habilidoso Sócrates, a incoerências ou a dificuldades (aporia);
Via de regra, o final dos diálogos não apresentava uma resposta definitiva e
acabada à pergunta guia. Isso nos mostra que o mais importante é o
desenvolvimento do diálogo e as tentativas de resposta, seguidas das dificuldades
levantadas por Sócrates. (p. 77)
3.1.3 Platão (429? A.C – (-347) a. C) – [TEORIA DAS IDEIAS (MUNDO DAS IDEIAS E MUNDO
DOS SENTIDOS]
Aquilo a que se refere Homem, Kenny (1999, p. 67-72) formula muito bem,
podemos chamar de humanidade, mas a designação de Platão mais
conhecida é a ideia (ou forma) de Homem. (p. 81)
“para qualquer caso em que A, B e C sejam P, Platão tem tendência para
dizer que eles estão relacionados coma Ideia única de P” (Kenny, 1999, p. 68)
(p. 82)
Talvez o texto mais emblemático de Platão para a sua teoria das Ideias seja a
Sétima epístola aos siracusanos, na qual ele relaciona as Ideias e as condições
necessárias para conhecermos algo:
“Para cada coisa que existe há três coisas que são necessárias se queremos
conhece-la: primeiro, o nome, segundo, a definição, terceiro, a imagem. O
conhecimento em si mesmo é uma quarta coisa, e existe uma quinta coisa que
podemos postular, que é aquilo que é conhecível e verdadeiramente real”
(Platão, citado por Kenny, 2009ª, p. 76) (p. 82)
Nome+definição+imagem são as três definições necessárias para se
conhecer algo, porém não são suficientes;
A quinta condição para o conhecimento é a Ideia; esta é perene, não sofre
alterações como as demais, conhecível e verdadeiramente real. (p. 84)
O verdadeiro conhecimento de Platão é o conhecimento das Ideias. Por sua
vez, aquilo que é oposto às Ideias (que não-é) é totalmente não conhecível;
Para Platão, o estado mental de uma pessoa é doxa, que em Teeteto foi
chamado de crença. (p. 84)
Platão estabelece a diferença entre conhecimento e crença;
A diferença está entre objetos “entre o que é conhecido e o que é pensado
sobre algo” (Kenny, 2009ª, p. 191)
Alternativa de Platão para o conhecimento verdadeiro: tenta conciliar dois
sistemas filosóficos (Parmênides (subjetividade) e Heráclito (geração e
corrupção=eterna mudança=não há verdade))
Platão reparte o mundo em dois: mundo das ideias (perfeito, imutável e
constante) e mundo dos sentidos (imperfeito, corruptível e transitório) (p. 85)
Teoria da iluminação
Conhecimento intuitivo e abstrativo discutido por Agostinho, Boaventura, Tomás de
Aquino, Duns Scotus e Guilherme de Ockham
Vamos nos ater aos conteúdos que envolvem nossa questão principal, o conhecimento
verdadeiro ou científico;
Veremos que nesse período foram fortemente retomados e trabalhados à exaustão os
conceitos de Platão [mundo das Ideias] e Aristóteles [silogismo aristotélico];
Os escolásticos, de modo geral, uniram esforços para fundir os princípios filosóficos
aos preceitos religiosos do catolicismo cristão. (p. 89)
Frade (individuo que pertence a uma ordem religiosa; monge) da Ordem de São
Francisco;
Desenvolveu trabalhos em lógica, metafísica, filosofia natural, teoria do
conhecimento, ética, filosofia política e teologia escolástica;
Um dos maiores representantes do nominalismo [Doutrina filosófica segundo a
qual o conceito é apenas um nome acompanhado de uma imagem individual,
sendo os universais (espécies, gêneros, entidades) puras abstrações, sem
realidade (opõe-se a realismo). (Na Idade Média, quando da controvérsia dos
universais, o nominalismo foi defendido por Roscelin de Compiègne.] e criador
do princípio metodológico que ficou conhecido por navalha de Ockham
Entretanto, veremos aqui a contribuição dele a respeito do conhecimento
intuitivo e abstrativo; (p. 101)
Define objetos da apreensão como termos e proposições simples de qualquer
tipo; sobre a possibilidade do juízo, segundo ele, podemos ter um pensamento
complexo sem fazer juízo dele, mas “não podemos efetuar um juízo sem
apreendermos o conteúdo do juízo”
Portanto o “conhecimento envolve tanto apreensão quanto juízo”
Conhecimento abstrativo (abstraímos independentemente da existência)
Conhecimento intuitivo (“se uma coisa existe ou não, de modo que se a coisa
realmente existe o intelecto imediatamente julga que ela existe”)
Para Ockham existe dois tipos de conhecimento intuitivo (sensorial e intelectual)
Conhecimento intuitivo sensorial: Empírico [doutrina segundo a qual todo
conhecimento provém unicamente da experiência]
Conhecimento intuitivo intelectual: há muitas verdades contingentes em nossa
mente (pensamentos/emoções/prazeres/dores) que não são perceptíveis pelos
sentidos, e não obstante conhecemos essas verdades
Ockham aceita que tenhamos a consciência sensorial e intelectual da existência
de um objeto, produzida pela ausência desse mesmo objeto;
A condição para isso está em Deus, pois somente Ele pode, por causa secundárias
e pelo seu próprio poder, fazer isso;
Entretanto, salienta Ockham, esse conhecimento não seria evidente, ou seja,
temos consciência da ausência da coisa;
Para ele podemos conhecer verdadeira ou falsamente, contudo, somente o
conhecimento verdadeiro é evidente
A evidência no conhecimento é que determina que esse conhecimento seja
intuitivo, caso contrário, isto é, se Deus nos faz julgar uma coisa como presente
mesmo quando ausente, trata-se de um conhecimento abstrativo.
Filósofo francês;
Seguiu algumas correntes filosóficas, como o ceticismo [oposto de dogmatismo] e
o humanismo [O humanismo foi um movimento intelectual iniciado na Itália no
século XV com o Renascimento e difundido pela Europa, rompendo com a forte
influência da Igreja e do pensamento religioso da Idade Média. O teocentrismo
(Deus como centro de tudo) cede lugar ao antropocentrismo, passando o homem
a ser o centro de interesse. Em um sentido amplo, humanismo significa valorizar
o ser humano e a condição humana acima de tudo. Está relacionado com
generosidade, compaixão e preocupação em valorizar os atributos e realizações
humanas.];
Publicou seus estudos na forma de ensaios [Nos estudos literários, Ensaio é o
texto livre de convenções e de protocolos que se posiciona entre a linguagem
poética e a instrutiva. ... Fundamentalmente, o Ensaio é um texto de opinião em
que se expõem ideias e impressões pessoais do autor sobre determinado tema.];
Sua atitude cética extremada, de inspiração pirrônica, buscava “denunciar a
falibilidade dos sentidos e do intelecto”
Suas citações clássica são do poema De rerum natura, de Lucrécio (poeta latino),
obra também redescoberta durante o Renascimento (início do período
moderno);
Montaigne se dedicou a provar que não existe conhecimento real;
Para isso, usou os argumentos de Sexto Empírico sobre duas escolas da
Antiguidade: epicurismo [Epicurismo é uma corrente filosófica baseada na busca
pela felicidade. A felicidade para os epicuristas consiste em uma vida pautada
pelo autoconhecimento, pela amizade e pela prudência.] e estoicismo
[Estoicismo é uma escola e doutrina filosófica surgida na Grécia Antiga, que
preza a fidelidade ao conhecimento e o foco em tudo aquilo que pode ser
controlado somente pela própria pessoa. Despreza todos os tipos de sentimentos
externos, como a paixão e os desejos extremos.];
A primeira escola [epicurismo] afirma, segundo Montaigne, que, “se os sentidos
não são confiáveis, então não existe algo como conhecimento”;
A outra escola [estoicismo] diz que “se existe algo como o conhecimento ele não
pode provir dos sentidos, porque estes são totalmente não confiáveis”; (p. 115)
Filósofo Francês;
contribuiu imensamente com seus trabalhos para a matemática, a metafísica e a
física;
Desenvolveu a geometria analítica,
na matemática, o método para se alcançar o conhecimento,
na epistemologia, a lei da inércia (que mais tarde veio a se somar às duas leis do
movimento newtonianas), na física;
materialismo minimalista (cujas propriedades da matéria são apenas extensão e
movimento), na metafísica;
Frase mais conhecida: “Penso, logo existo” (cogito ergo sum); [O filósofo francês
queria chegar ao conhecimento absoluto e, para tal, era preciso duvidar de tudo
o que já estava posto. A única coisa que ele não podia duvidar era da própria
dúvida e, consequentemente, do seu pensamento. Assim surgiu a máxima do
Penso, logo existo. Se eu duvido de tudo, o meu pensamento existe e, se ele
existe, eu também existo.]
Seus trabalhos foram sobremaneira importantes a filosofia e, de certa forma,
guiaram os estudos de alguns de seus sucessores, como Newton (no caso, seu
maior crítico no que diz respeito à física)
Descarte leva a cabo o empreendimento do ceticismo metódico de modo
hiperbólico (exagerado), para revelar o que resta de nosso conhecimento;
Na primeira das Meditações, Descartes faz uma sondagem em suas próprias
ideias, por sugestão de Montaigne, e descobre que “o decisivo campo de batalha
entre a certeza e a incerteza é o próprio eu” (Pessanha, 1998, p. XIV)
Combate o ceticismo com suas próprias armas;
ele percebe que as ideias que se referem a objetos físicos são obscuros, instáveis
e incertas, mas há outras ideias que se apresentam ao espírito com nitidez,
estabilidade e certeza, como as ideias da matemática (por exemplo, figura e
número)
São tais ideias claras e distintas e todos as concebem da mesma maneira;
Essas ideias parecem, dessa forma, independentes da experiência dos sentidos,
ou seja, inatas;
Elas “satisfazem plenamente o ideal de construir uma “matemática universal”
(Pessanha, 1988, p. XIV), e passa a ser o objetivo de Descartes;
Somente com essas ideias seria possível construir uma cadeia de razões;
O seus elos seriam intuídos “com a clareza das evidências matemáticas” e
“conectados com a coerência perfeita das demonstrações” (Pessanha, 1988, p.
XIV), das quais a matemática oferece exemplo;
Mas, o que garante que as ideias claras e distintas correspondem a algo real?
É preciso duvidar inclusive das ideias claras e distintas;
O artifício de Descartes é lançar a hipótese de gênio maligno (malin génie);
((...)”fazer com que o homem estivesse errando toda a vez que tivesse a mais
forte impressão de estar certo?)
Com a hipótese do gênio maligno, Descartes insere sobre o universo científico a
ameaça de ele ser tão somente uma ficção, uma criação do sujeito, um sonho,
mesmo que seja reincidente e extremamente coerente;
A única certeza contida no COGITO é a da existência do eu enquanto ser
pensante;
Antes mesmo de tentar demonstrar racionalmente a existência do mundo físico –
onde se situa seu próprio corpo -, Descarte procura provar a existência de Deus,
garantia última de qualquer substância e, portanto, fundamento absoluto da
objetividade”
Uma de suas obras mais relevantes nesse assunto [sobre o conhecimento] foi o
Ensaio sobre o entendimento humano (1690);
contemporâneo de Locke;
o sentido de ideia inata de Leibniz tem como recurso seu conceito de mônada e
de percepção inconsciente;
“Creio que todos os pensamentos e [todas] as ações de nossa alma venham de
seu íntimo, sem que possam ser dados a ela pelos sentidos […] embora os
sentidos nos deem ocasião de tomar consciência delas” (Leibniz, citado por
Rovighi, 1999, p. 412-413)
os objetos externos sensíveis, por não poderem agir na alma imediatamente, são
apenas objetos mediatos [Que não tem relação direta; indireto.Que não se liga a
determinada coisa senão por intermédio de outra.Causa cujo efeito é produzido
somente com a ajuda de outra: causa mediata]. Deus somente é objeto externo
imediato. (p. 124)
matemático;
nasceu numa região rural da Iglaterra chamada Woolsthorpe, em Lincolnshire;
Estudou em Trinity College Cambridge;
Trataremos aqui sobre sua influência na concepção de um método para o
conhecimento científico;
Newtom, assim como Galileu e Descartes, aplicou a matemática para conhecer os
processos físicos do mundo; (como se fosse uma máquina regulada por leis
exprimíveis mecanicamente, ou seja, o mundo não tem lugar para imprevistos
causados por alma ou forças vitais)
Acabamos de ver que a concepção de ciência ao longo da história, desde os gregos até
o período moderno, por vezes, ou se apoiava numa abordagem empirista, ou se
apoiava numa visão racionalista;
Kant vislumbrou uma terceira via, o apriorismo, que, salvo engano, trata-se de um
amálgama [processo morfológico de formação de novas palavras (neologismo)] dos
outros dias