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Anotações — História da Filosofia I e II

1.(O Sócrates não platônico): Aristofanes.


2. Cortes de Apologia de Sócrates, Críton.

17b

2
19e + 20a + 20b

(+)

3
30a

30d + 30e

4
35d

38c

5
39b

D1: Em 39e, ele diz "os 11"


quis 11 são esses?

41d

6
🇮🇹Apologia di Socrate
L'Apologia di Socrate è un testo scritto in giovane età da Platone. Elaborato tra il 399 e
il 388 a.C., è la più credibile fonte di informazioni sul processo a Socrate, oltre a quella in
cui la figura del vecchio filosofo è probabilmente meno rimaneggiata dall'autore. Socrate
infatti non scrisse mai nulla: tutto quel che sappiamo sul suo conto lo dobbiamo
a Senofonte, Platone, al commediografo Aristofane e in parte ad Aristotele, che non lo
conobbe direttamente.
🇪🇸Apología de Sócrates
🇬🇧Apology (Plato)
For the article on Xenophon's work on the same subject, see Apology of Socrates to the
Jury. For other uses, see Apology
The Apology of Socrates (Greek: Ἀπολογία Σωκράτους, Apología
Sokrátous; Latin: Apologia Socratis), written by Plato, is a Socratic dialogue of the speech
of legal self-defence which Socrates spoke at his trial for impiety and corruption in 399 BC

3. Nota: Contra os Lógicos

_____Arcesilau segundo o personagem Cícero:


Luculo, 66: Para Arcesilau, no que, aliás, está de acordo com Zenão, o maior
poder do sábio consiste em precaver-se de ser iludido, em tomar cuidado
para não errar, porquanto nada há mais longe da ideia que fazemos da
dignidade do sábio do que o erro, a superficialidade,
_____Plutarco, Contra Colotes, 26F (trad. adaptada da Gredos): (…)de
Górgona, o argumento da inação, tomado da Estoa, se deram por vencidos;
porque, por mais que tentassem e por mais voltas que lhe dessem, o impulso
não consentiu converter-se em assentimento nem aceitou a sensação como
princípio da inclinação, porém se mostrou como aquilo que conduz por si
mesmo à ação, sem necessidade de aprovação. É que os debates com tais
oponentes se
atêm a uma série de normas, e
conforme fales, assim ouvirás falar de ti[…] Então, qual é a única coisa que
rejeitam? Unicamente aquilo de onde nasce a falsidade e o erro: formar-se
uma opinião e precipitar- se no assentimento, o qual, além de não ter
nenhuma utilidade, significa ceder por debilidade ante as aparências. Com

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efeito, a ação requer duas coisas: representação do próprio e impulso até o
representado como próprio, e nenhuma das duas está em conflito com a
suspensão do juízo, pois sua argumentação rejeita a opinião, não o impulso
nem a representação. Assim pois, uma vez percebido o próprio, não é
necessária nenhuma opinião para nos mover e tender até ele, mas o
impulso chega imediatamente, por ser um movimento e tendência da
alma.

4. Anotações Gerais

Pré socráticos -> limitar os conhecimentos humanos com as aparências


(problema)

Ousia X Genesis

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Cronos

mapa

T1: A Phantasía e o Sábio Estoico.

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A Phantasía pode ser Kataleptike (Apreensiva) ou Akatálepton (Não
apreensiva).

Quando é a apreensiva, eu não duvido, é evidente.

Enargéia = Evidência.

Akatálepton: Ter consciência de que não está acompanhado de evidência.

O sábio é aquele que baseia seus pensamentos apenas na Apreensiva.


Não afirma com base em representações não apreensivas.

O tipo de Fanstasia conhecida como representação falsa, não é chamada de


Phantasía e sim de Phántasma. Conhecida pelo estoico como o sonho por
exemplo, alucinações, “não são as próprias coisas que estão causando
aquela imagem em mim”. Não se chama representação. Se chama fantasma.
Não advém de um existente e sim de uma outra coisa de que ele é imagem.

Uma bagunça na cabeça dos estoicos que já está no Teeteto.


Quem disse que o que está na Kataleptiké não está também na Phántasma?
Já que nos sonhos acreditamos como evidência naquilo que vemos. Como
distinguir? Briga: tentar mostrar que uma coisa é possível de ocorrer na
outra.
(Uma discussão de opiniões opostas sobre estado ideal de percepções )

Estratégia Cética de comparar aparentemente verdadeiros e falsos.

Zenao X Arcesias.

Critério de Verdade, matar critério = nublado.

Cético = Sempre admitir que pode ser falso.

“Não preciso saber da verdade para saber como agir.”

“Escapatória para o problema da ação”

Phantqsía Technke —> Fantasia Tecnica.


Distinção por vasto arcevo. Bagagem de conhecimento. —> Pode haver
diferença de acordo com o nível de sabedoria?
Muitos filósofos negam e dizem que não pode.

Noção de assentimento.
—> Aquilo que distingue o sábio do não sábio —> dar adesão a uma
fantasia.

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Synkáthesis.
Assentimento —> Dizer sim àquela representação.
—> Zenao e estoico acreditam que o sábio se distingue pela capacidade de
saber ao que dar adesão.

Conclusão do Arcésias: Se for por essa lógica o Sábio não vai dar
assentimento à nada. E assim ele caracteriza o que é próprio do Sábio de
Epokhé.
Epokhé é a suspensão do juízo.
Suspensão de todo assentimento.

Metodologia
Existem argumentos que levam a suspensão do juízo
Teses contra teses.

Considero que essa metodologia e seus vários exemplos vão de embate com
o relativismo exatamente pela igual força reativa (isosthénia)
Considero que quando ele trabalha nesses exemplos ele tá errado pois
deveria estar trabalhando na questão de modelo por meio do sistema
complexo para um sistema menos complexo que é o que se faz no modelo
Pv=nrt, no ato de experimentar os remédios em ratos antes de humanos, e
na

Modus dos lugares.

Quem disse que o ar também não é um ambiente que pode deformar a


visão?

Modus do navio.

A questão da física de ver algo parado e estar em movimento e visão relativa


etc movimento o que se move vc no carro ou a paisagem etc.

_________.

Os 4 pontos fundamentais que diz que nada pode ser compreendido.

1. As representações vindas dos sentidos podem ser falsas.


2. Elas não constituem um conhecimento.
3. Não é possível diferenciar quais constituem e quais não constituem.
4. Não existe nenhuma representação verdadeira oriunda dos sentidos.
Pra toda representação eu posso admitir que ela é falsa. Não há nenhuma
que eu possa garantir de maneira cabal que ela é verdadeira.

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Tudo isso ter se mantido em todas as discussões sem poder se afirmar nada
no fim e permanecer em discussão faz com que possamos fundamentar a
tese final de que nada pode ser compreendido.

_____.

Última passagem:
⁃ Cita arcesias em cicero— Varrão 44

Descreve a relação de arcesias com Sócrates que diz q ele não tá fazendo
nada “de new”

É só uma nova maneira de pensar e de fazer mas as ideias em si não são


novas

____.

Novas palavras-chave para o tema. 9maggio

• Eúlogon (razão/pensamento/discurso)
• Ataraxía /taraché/ — Impertubabilidade da alma.
• hormé — Impulso.
• Apátheia
• Hegemonikon — Ela não precisa ter deliberação nem sentimento, é
instintivo. O impulso não exige o assentimento.

— A ação requer duas coisas. Preciso tomar aquilo como melhor a buscar e
o impulso. E nenhuma das duas está em conflito com a suspensão do juízo.
— Argumento da inação: denúncia contra o ceticismo (presente no
Aristóteles) “Se todos estão com a verdade então por que não me jogo da
janela?” Claro que tomamos algumas coisas como verdade não é tão relativa
assim. Se você não tem a verdade sobre nada como você consegue agir?
A crítica da inação é sobre esse “agir da escolha” em reação ao nível de
relativismo da verdade.
A resposta: uma coisa é o critério de verdade outra coisa é o critério de ação
pois para ação basta “parecer” não precisa de uma verdade inquestionável.

Basta aparentar, basta X parecer X, basta X parecer Y.

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Os céticos trazem o argumento de:

São critérios diferentes. €€

• Hegemonikon (ainda em hegemonikon)

“The eight parts of the soul are the five senses (sight, hearing, smell, taste,
touch), the reproductive faculty, the speech faculty, and the central
commanding faculty [hêgemonikon]. All of the parts of the soul can be seen
as extensions of pneuma originating in the hêgemonikon. Several analogies
were employed to explain the structure of the soul: the soul is like an
octopus, a tree, a spring of water, and even a spider’s web. The analogies of
the octopus, tree, and spring emphasize the unity of the soul and the idea
that the individual powers or faculties are rooted in or sprout from the
hêgemonikon in the heart. Some stoics believed that the cognitive center is in
the chest and not the head.”

(ARISTÓTELES, 2001) Para o Estoicismo, escola filosófica da qual participa


Sêneca, a felicidade consiste em viver segundo a razão – o Logos. Viver
segundo a natureza, pois o homem é de natureza racional. Portanto,
entendem os estoicos que ser virtuoso é viver segundo a razão.

#VocabularioEstoico
Ps: O usado na escrita cética tem o A união com B (intercessão) com um
modo de retórica cética (dos céticos)

Info
16maggio não tem aula
(COLÓQUIO A REPÚBLICA DE PLATÃO)
Alice divulgou ele na aula, esse mesmo que vi final de semana no tb.

Bibliografia

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Básica:

CÍCERO, Marco Túlio. Textos filosóficos. 2. ed. Tradução do latim,


introdução e notas de J. A. Segurado e Campos. Lisboa: Calouste
Gulbenkian, 2018.

KIRK, G. S.; RAVEN, J. E.; SCHOFIELD, M. Os filósofos pré-socráticos. 4. ed.


Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1994.

LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2. ed.


Tradução do grego, introdução e notas de Mário da Gama Kury. Brasília:
UnB, 1977.

MARCONDES, Danilo (trad.). Hipotiposes pirrônicas, livro I, cap. 1-12. O que


nos faz pensar?, n. 12, p. 115-122, 1997. PLATÃO.

Apologia de Sócrates, Críton. Tradução do grego, introdução e notas de


Manuel de Oliveira Pulquério. Lisboa: Ed. 70, 2006.

______. Timeu-Crítias, O Segundo Alcibíades, Hípias Menor. 3. ed. rev.


Tradução direta do grego de Carlos Alberto Nunes. Belém: UFPA, 2001.

Bibliografia complementar:

AUVRAY-ASSAYAS, Clara. Cícero. Tradução de Jane Pessoa. São Paulo:


Estação Liberdade, 2018.

BOLZANI FILHO, Roberto. Acadêmicos versus pirrônicos. Sképsis, ano 4, n.


7, p. 5- 55, 2011.

BROCHARD, Victor. Os céticos gregos. Tradução de Jaimir Conte. São


Paulo: Odysseus, 2009.

LESSA, Renato. O hexágono cético: a máquina de guerra do pirronismo. In:


______. Veneno pirrônico: ensaios sobre o ceticismo. Rio de Janeiro:
Francisco Alves, 1997.

PORCHAT, Oswaldo. Sobre o que aparece. Sképsis, ano 1, n. 1, p. 7-42,


2007.

SOUZA FILHO, Danilo Marcondes. O Ceticismo Antigo: Pirronismo e Nova


Academia. Revista de Ciências Humanas, v. 11, n. 15, p. 85-95, 1994.

Resumo de Cícero

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◦ com base nas ideias centradas nesse resumo mandar email para a
alice confirmando sua perspectiva e noçao diante do conteudo de seu curso.
e assim se assegurar do 10 no teste. já que saber o que responder deixou de
ser a preocupação na att10maggio.

Aqueles que afirmam ter descoberto a verdade são


os "dogmáticos", assim são chamados
especialmente, Aristóteles, por exemplo, Epicuro, os
estóicos e alguns outros.

• […] fundamentais: 1) Qual a natureza das coisas? Nem os sentidos


nem a razão nos permitem conhecer as coisas tais como são e todas as
tentativas resultam em fracasso.

• 2) Como devemos agir em relação à realidade que nos cerca?


Exatamente porque não podemos conhecer a natureza das coisas, devemos
evitar assumir posições acerca disto.

• 3) Quais as consequências dessa nossa atitude? O distanciamento que


mantemos, leva-nos tranquilidade. ceticismo compartilha com as principais
escolas do Helenismo, o Estoicismo e o Epicurismo, uma preocupação
essencialmente ética, ou prática. E desta forma que devemos entender o
objetivo primordial da filosofia de Pirro como sendo o de atingir a ataraxia
(imperturbabilidade), alcançando deste modo a felicidade (eudaimonia).

Os céticos se centram no problema da verdade enquanto ________________.


, enquanto que os estóicos mantinham a noção de phantasia kataleptiké (termo
dedifícil tradução, podendo talvez ser entendido como "apreensão cognitiva") como base
de sua teoria do conhecimento.

A noção de époche (suspensão do juizo) é tradicionalmente considerada como central a


estratégia argurnentativa cética.
E discutível,no entanto, se a nogdo de époche encontra-se já em Pirro. O mais provável é
que não.
Temos em Pirro as noções de
apraxia (inação), aphasia (ausência de discurso), apathia (ausência de sensações), que
levariam a ataraxia, mas aparentemente não temos ainda a époche propriamente dita.

De fato a nogdo de - époche parece ser de origem estóica, ou pelo menos era usada
correntemente pelos estóicos

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——> parte da doutrina estóica,já encontrada em Zenao, que o sábio autêntico deve
suspender o juizo em relação aquilo que é inapreensivel, evitando assim fazer afirmações
falsas.

Em sua polêmica com os estóicos e, sobretudo, em seu questionamento dos critérios


epistemológicos do estoicismo, Arcesilau mantém que dada a ausência de um critério
decisivo devemos na realidade suspender o juizo a respeito de tudo. Diante de paradoxos
(…) ??
teorias, todas se encontram no mesmo plano, dando-se assim a isosthenia, ou
eqüipolência. Diante da impossibilidade de decidir, o cético suspende o juizo e, ao fazê-lo,
descobre-se livre das inquietações.

Sobrevem assim a tranqüilidade almejada. Temos portanto o seguinte esquema (H.P.1,25-


30), que parece ser um desenvolvimento das respostas de Pirro as três questões
fundamentais da filosofia (ver acima):
zétesis (busca) --> diaphonia (conflito) --> isosthénia (equipolência) —> époche
(suspenção) --> ataraxia (tranquilidade).
Entretanto, o problema prático permanece.
Dada a ausência de critério para a decisão sobre a verdade ou não de
umaproposição, como agir na vida prática? A preocupação moral é fundamental
para a filosofia do Helenismo de modo geral, e o Ceticismo compartilha esta
preocupacão com o Estoicismo e o Epicurismo.

• Contra os Lógicos A 166) chega mesmo a introduzir uma distinção em três niveis ou
graus: o provável, o provável e testado (periodeumenas, i.é. " examinado de modo
7omipleto" ), e o provável, testado e irreversivel ou indubitável (aperispatous) E a
necessidade deadoçãode algum tipo de critério que leva a Nova Academia a esta
formulação; porém, segundo Sexto (id.ib.), isto equivale a uma posição já próxima do
dogmatismo, ou seja, da possibilidade de adoçãode um critério de "quase-certeza".

⁃ REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIC AS ANNAS, J. e BARNES, J.(1985) The Modes of Scepticism, Oxford


Univ. Press. ANNAS, J.(1990) "Platon sceptique", Revue de Métaphysique et de Morale, no. 2. BROCHARD, V
(1969) Les sceptiques grecs. Vrin, Paris. CiCERO, Academica et De natura deorum, Loeb Classics, Harvard
Univ. Press COUISSIN, P (1929) "LOrigine et l'evolution de l'époche", Revue des études ,grecques, no. 42.
DIÓGENES LAERCIO. (1988) Vida e doutrina dos filósofos Ilustres, tract. M. Gama Kury, Ed.UnB, Brasilia.
(sobre Pirro, Timon, Arcesilau, Carnéades) FLINTOFF, E. (1980) "Pyrrho and India", Phronesis, no. 25. FREDE,
D. (1990)"Academic Scepticism and the stringency of logic", texto apresentado no Congresso "Scepticism in
the History of Philosophy", University of California, Riverside. SEDLEY, D. (1980)"The Protagonists" em M.
Schofield, M. F Burnyeat, & J. Barnes (orgs.) Doubt and Dogmatism, Oxford Univ. Press. SEXTO EMPÍRICO.
(1983) Works, 4 vols., trad. G. Bury, Loeb Classics, Harvard Univ. Press

Sobre os 10 modos
Os modos são transmitidos pelos céticos.
Os modos de suspensão do juízo.
Seu número é dez.
São também chamados pelos sinônimos “argumentos” e “padrões”.

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1. modo é o derivado da variação entre os animais.
2. derivado da diferença entre os humanos;
3. derivado das diferenças entre as constituições dos órgãos dos
sentidos;
4. das circunstâncias ao redor;
5. das posições e distâncias e dos lugares
6. das misturas
7. das quantidades e constituições das coisas subjacentes
8. da relação
9. da frequência ou raridade das ocorrências
10. das condutas e costumes, das leis, crenças míticas e noções
dogmáticas

Nesse trabalho busco reduzir meu escopo ao relativismo de Enesidemo enquanto


a diferença entre os humanos do segundo modo, e junto a isso percorrer a
sabedoria cética dos outros modos de forma mais superficial.
A complexidade dos modos de Enesidemo vem dos fatos que os une diante do
ceticismo: o relativismo para a suspensão do juízo. Modelos básicos para nos
explicar e induzir racionalmente o como nas nossas experiências vivendo, no que
observamos e nas nossas práticas, tudo é absurdamente relativo. E, o como isso
nos perturba enquanto pensantes. De início, perpassarei os argumentos, e depois
focarei no segundo: “da diferença entre os humanos”; o qual escolhi para análise.
O primeiro modo diz respeito a variação entre animais. Enquanto origem, enquanto
locus de tal origem, e enquanto modo sexual (incluindo a opção de não ter havido
intercurso sexual) de tal origem, além da estrutura do corpo. O que é bem
interessante de se refletir, já que, na lógica modal, a verdade dos mundos possíveis
pode ser relacionada à suspensão do juízo, da mesma forma que pode ser à
multiplicidade de opcões, característica análoga a de escolhas para se organizar
uma criação em um mundo reprodutivo. Relação construída por Enesidemo. Esse
link foi feito como reflexão sobre o primeiro modo, mas se pode pensar também
perante o relativismo como um todo, então, cobrimos o oitavo modo. Neste
padrão, Enesidemo foca no relativismo entre o que existe externamente e a
percepção de cada animal de acordo com sua característica fisiológica, anatômica,
de enfermo, ou meramente momentânea. O terceiro modo sendo derivado das
diferenças entre as constituições dos órgãos dos sentidos. A partir do terceiro
modo o próprio leitor de Enesidemo começa a perder o tato do relativismo, começa
a própria análise parecer repetitiva, pois tudo é circular, e se trata de alguma forma
do mesmo argumento: ao buscarmos a verdade caimos no multiplo da
incompletude. Em segundo plano, é justo e necessário focarmos “na medida de
todas as coisas” o homem.
O segundo modo da suspensão do juízo é derivado da diferença entre os
humanos, pois ainda que se estivesse de acordo, hipoteticamente, que os homens
são mais confiáveis que os animais irracionais, descobriremos que as nossas
diferenças bastam para sermos levados a mesma suspensão. Enquanto o
relativismo entre os homens, são usados por Enesidemo, exemplos como
características físicas corporais, idiossincrasias, ações, humores, valores. Mas,
nenhuma dessas palavras-chave diz muita coisa. O ponto é: o real e o irreal serem

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relativos. Deste, infere a medida do tempo, que não é a medida do homem. Torna o
tempo, a medida de todas as coisas. E isso, interfere diretamente no relativismo.
Isso, pois o relativismo é algo que se pensa na angustia humana na medida
humana diante do relativismo da verdade, que também é um juízo humano. Mas
nada disso poderia ter sido, em completude, pensado por Enesídemo. Mesmo,
assim, parte disso está nos seus conformes, já que a suspensão do juízo já garante
a confiabilidade naquilo que pode se provar e não nos julgamentos. E, a respeito de
confiabilidade é de extrema importância ressaltar que para se assumir um juízo é
necessária a confiabilidade e não há confiabilidade se não houver um critério de
investigação de prova. Tanto o critério quanto a prova por caírem numa
circularidade não são confiáveis.

2. derivado da diferença entre os humanos;

Passado o primeiro modo da suspensão do juízo, temos o segundo. Pois, ainda


que se estivesse de acordo, hipoteticamente, que os homens são mais confiáveis
que os animais irracionais, descobriremos que as nossas diferenças bastam para
sermos levados a mesma suspensão. O relativismo entre os homens enquanto
características físicas corporais, enquanto idiossincrasias, enquanto ações,
enquanto humores, enquanto valores. O real e o irreal ser relativo. E também muitas
pessoas que tem amantes feias supõem que elas sejam as mais bonitas.
Fantasiamos coisas acordados que não deixamos de fantasiar dormindo. Também
tem coisas que fantasiamos dormindo que também fantasiamos acordados.

Para se assumir um juízo é necessária a confiabilidade e não há confiabilidade se


não houve um critério de investigação de prova. Tanto o critério quanto a prova por
caírem numa circularidade não são confiáveis.

résumé du scepticisme

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20
Research on ceticism <gallery video as guide>

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Qual o argumento dado como resposta para a acusacao feita
de que o ceticismo geraria apraxia diante das decisoes
simples?
>

Como Arcisileau evocava cícero com o objetivo de contornar


tal acusação?
>

Qual a relação entre influencia de socrates no ceticismo da


nova academia e os pre socraticos?
>

Como se deu a disputa entre arcisileau (academico) e zenao


(estóico)?
>

22
O conceito de ceticismo
O conceito de ceticismo não é de simples definição, e tratamos aqui do ceti-
cismo antigo, que é nosso tema de estudo. Para esclarecer esse conceito,
ainda que de maneira superficial, vamos utilizar elementos da descrição de
Sexto Empírico (II d.C) em suas Hipotiposes Pirrônicas, de quem possuímos
uma celebre definição do ceticismo enquanto uma filosofia. Um dos
elementos essenciais do ceticismo é a suspensão do juízo (epokhé) sobre a
verdade ou falsidade das coisas, que é, segundo ele, “um estado mental de
repouso, no qual não afirmamos nem negamos nada” (HP I, 10). O cético é
descrito como aquele que investiga os diversos assuntos, motivado pelo
interesse em encontrar a verdade. Mas, no itinerário de sua investi- gação,
ele chega sempre na equipolência, que se caracteriza como a igual força
per- suasiva entre argumentos opostos. Ou seja, ao investigar algum
assunto, ele encon- tra uma tese persuasiva que se conflita com outra tese,
igualmente persuasiva, que pretende, do mesmo modo, estabelecer a
verdade naquele assunto. A consequência dessa equipolência é uma
impossibilidade de decisão entre essas teses opostas2, que resulta na

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suspensão do juízo, pois não haveria qualquer motivo racional para se
preferir um argumento a outro.

Ceticismo Pirrônico

Como sabemos, Sexto Empírico é a maior fonte sobre o ceticismo


pirrônico e o que conhecemos sobre o ceticismo enquanto filosofia. Apesar
de origem anterior, com Enesidemo, é de Sexto que temos uma grande
quantidade de material e obras muito detalhadas e extensas sobre o
ceticismo antigo. Desse modo, aqueles que buscam informações sobre esse
tema, sejam com a intenção de conhecer com mais profundidade ou aqueles
que simplesmente cruzam com esse tema por outros motivos, certamente
chegam aos textos de Sexto Empírico e suas descrições sobre o ceticismo.
Apesar da notoriedade de Sexto, podemos dizer que há motivos para
problematizar suas descrições, e aqui consideramos particularmente a
apresentação sobre a filosofia da Academia.

• Sexto enquanto Ceticismo

⁃ Sexto quer mostrar como a filosofia cética se caracteriza num sentido


mais geral e, pra isso, quer opô-la a outros tipos de filosofia, também em
sentido geral. Desse modo, ele pretende se valer de descrições que seriam
de filoso- fias com resultados bem característicos e distintos do que seria o
ceticismo, justa- mente pra dizer o que este não é nesse sentido geral. Em
seguida, ele nos diz que vai passar a fazer uma exposição somente sobre a
filosofia cética de uma maneira mais específica e que os outros tipos de
filosofias devem ser explicados por aqueles que as representam. Assim, ele
não tem interesse em expor características, diferenças, nuances ou mesmo
controvérsias que poderiam haver sobre a interpretação dessas outras
filosofias e, afirma que, para entendê-las, “convém ouvir o que os outros
falam” (ibidem).

⁃ Sexto considera que todas elas partem do mesmo ponto inicial que é a
investigação e o interesse em encontrar a verdade nos diversos assuntos. No
entanto, o que as diferenciariam seriam os resultados que elas obtêm.

<h2.2>Os argumentos da Nova Academia


(Com o passar do tempo, o Ceticismo se dividiu em duas linhas, o filosófico
e o científico. O Ceticismo Filosófico é exatamente esse que começa com a
escola de Pirro e que se expandiu pela chamada “Nova Academia” que
ampliou as perspectivas teóricas, refutando verdades absolutas e mentiras.)

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O que nos leva a considerarmos os filósofos da Nova Academia como dog-
máticos negativos é, principalmente, sua argumentação contra a filosofia
estoica, está última se fundamentava na possibilidade de um conhecimento
infalível, que se baseia nas impressões cognitivas (Kataleptiké Phantasia).
Essas impressões se- riam, segundo os estoicos, uma classe de
representações verdadeiras por sua própria natureza e se mostrariam como
tal através de sua clareza e distinção, servindo de critério de verdade para
julgar as demais representações (Frede, 2015, p.182). As- sim, os estoicos
afirmavam que (P1) as impressões cognitivas são condições para o
conhecimento, e argumentavam para mostrar, contra as objeções
acadêmicas, que (P2) existem impressões cognitivas e, consequentemente,
que (C) há conhecimen- to (as coisas são apreensíveis).

Os acadêmicos, partiam da mesma premissa estoica (P1), de que as


impressões cognitivas são condições para o conhecimento; mas, como
segundo premissa negavam a premissa P2, afirmando que (P3) não existem
impressões cognitivas e, consequentemente, que (C2) não há conhecimento
(as coisas são inapreensíveis).
A premissa acadêmica P3 resulta de uma argumentação anterior que, partin-
do dos próprios pressupostos estoicos, tenta mostrar que não é
possível distinguir as impressões cognitivas das demais
impressões, ou seja, os acadêmicos argumen- tavam que

— se aceitarmos os critérios que definem essas impressões


cognitivas, tais como os estoicos propunham, nós não
seríamos capazes de distinguir essa classe de impressões das
demais impressões que não seriam cognitivas (Acad. II, 83).

Em outros termos, essa descrição estoica não seria efetiva para demonstrar
que existe uma marca especial que distingui essas impressões de
impressões que seriam, sabi- damente, de acordo com os próprios critérios
estoicos, falsas ou não cognitivas. Os Acadêmicos tentam demonstrar a
indistinguibilidade das impressões verdadeiras e falsas argumentando a
partir de casos de sonhos, alucinações, ilusões perceptivas, e semelhança
entre objetos como, por exemplo, grãos de areia, ovos, etc. (Acad. II, 79-85).
Diante desse argumento acadêmico, se aceitarmos a tese de que eles se
carac- terizam como dogmáticos negativos, teremos que considerar que eles
aceitariam positivamente apenas a conclusão desse argumento, a saber, a
de que nada pode ser conhecido. Nesse caso, ficamos com a questão de
saber como eles justificam essa conclusão, visto que ela decorre de
premissas que eles não adeririam. Assim, seria como se eles usassem as
premissas dialéticas, que eles não se comprometem, para chegar a uma
conclusão que eles se comprometem. Eles jogariam fora as premis- sas
depois de atingir a conclusão e isso seria absolutamente contraditório,

25
porque eliminaria a validade do argumento e, assim, da conclusão que eles
pretenderiam aderir.
Além do problema de justificar a adesão na tese da inapreensibilidade, tería-
mos o problema de concilia-la com a suspensão do juízo. Considerando as
caracte- rísticas da epokhé, a inapreensibilidade não poderia ser assumida
como tese positiva para manter a coerência da afirmação de que “deve-se
suspende o juízo sobre todas as coisas” (Acad. II, 59). Aquele que suspende
o juízo não pode sustentar dogma- ticamente a impossibilidade de
apreensão das coisas, pois a suspensão se aplica a própria afirmação de
inapreensibilidade. Do contrário, haveria algo sobre o qual a suspensão não
se aplicaria, a saber, a tesa da inapreensibilidade. Ao mesmo tempo, a
epokhé aparece como consequência da inapreenssibilidade, ou seja, é
porque não há impressões cognitivas que o conhecimento não é possível e
assim, deve-se sus- pender o juízo.
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V.20 N.1 2018 (2021)


A epokhé é um elemento importante da filosofia acadêmica (Acad. I, 45; II,
108) e também aparece como conclusão de um argumento dialético. Nesse
argu- mento, os acadêmicos partem da premissa de que não existem
impressões cogniti- vas (P3) e, assim, (P4) se o homem sábio assentisse a
qualquer impressão ele estaria opinando, pois os estoicos definiam opinião
como assentimento (Synkatathesis)12 a uma impressão não cognitiva e
cognição (ou apreensão) como assentimento a uma impressão cognitiva (M
VII, 151-152)13. Arcesilau, considerando os pressu- postos estoicos de que
o sábio não teria opiniões, conclui que (C3) o sábio seria aquele que
suspende o juízo sobre todas as coisas e Carnéades, considerando, pos-
sivelmente, o pressuposto estoico de que o assentimento é indispensável
para ação, conclui que (C4) o homem sábio é aquele que tem opiniões. Se os
Acadêmicos fossem bem-sucedidos na argumentação a favor da
inapreensiblidade, os estoicos, de acordo com seus próprios pressupostos,
teriam que concordar com uma das conclusões Acadêmicas C3 ou C4,
como relata Cícero:
“Se eu assumir que [1] nada pode ser apreendido e aceito sua admis- são de
que [2] o homem sábio não forma opiniões, o resultado será que o homem
sábio recusará todo assentimento, então você terá que considerar se você
prefere está [a conclusão de que o homem sábio suspende o juízo] ou a
conclusão de que o homem sábio tem opiniões. ‘Nenhuma das duas, você
dirá’. Portanto, vamos acentuar o ponto de que nada pode ser apreendido,
pois é em torno disso que gira toda a controvérsia” (Acad. II, 68 - Tradução
nossa).
O fato de Arcesilau e Carnéades conduzirem a conclusões diferentes nesse
argumento é um elemento que corrobora as problemáticas que
mencionamos an- teriormente. Pode ser indicio de um uso exclusivamente
dialético desse argumen- to, uma tentativa de equilibrar o peso dos
argumentos, visando a epokhé, ou pode

26
12 Rackhan, H. tradutor do Academicas para o Inglês, explica assentimento
nos seguintes termos: “é a aceitação pela mente de uma impressão como
representando de modo verdadeiro o objeto” (Cícero, 1933, introdução)
13 Sexto Empíricus, Against the Logician 2005.
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indicar uma mudança na postura de Carnéades com relação a seu
antecessor. O fato é que, apesar de uma conclusão diferente de Arcesilau
com relação à suspensão do juízo e de não promover a epokhé de maneira
tão explicita como Arcesilau, Cli- tômaco nos diz que Carnéades se dedicou
a “livrar nossas mentes do assentimento”, que é descrito como uma forma
de imprudência (Acad. II. 108), e suspensão do juí- zo é, precisamente,
retenção de assentimento (Bett, 1990, p. 3). Assim, há indícios de que a
suspensão do juízo era elemento importante na filosofia de Carnéades.
Os estoicos, confrontados com esses argumentos, alegavam que a
consequên- cia das afirmações acadêmicas seria a inação (apraxia).
Segundo eles, os acadêmicos não apenas eliminariam a possibilidade de
uma vida racional e coerente, visto que essa vida dependeria do critério de
verdade, mas impossibilitariam a ação em geral, visto que ela dependeria do
assentimento, elemento fundamental da teoria da ação estoica (Acad. II, 31.
FREDE, 2005, p. 187). Arcesilau e Carnéades se dedicaram a responder essa
acusação, visto que a coerência da filosofia acadêmica e o sucesso da
refutação das teses dogmáticas dependiam da efetividade dessa resposta.
Com o objetivo de explicar como seria possível a vida sem o critério de ver-
dade, os Acadêmicos apresentam o que chamamos de critério prático. Um
critério que serviria de guia para ação, sem a necessidade de assentimento.
Esses filósofos recusam a necessidade de um julgamento a respeito da
verdade e falsidade das im- pressões e propõe certa adesão, que não
implicaria o mesmo comprometimento, seja através do razoável de Arcesilau
(eulogon), no qual nós poderíamos agir ba- seados naquilo que tivesse uma
justificação razoável; ou do critério de Carnéades, o provável (pithanon), que
seria aquilo que se mostraria como mais convincente, que poderia ser
submetido a testes, a exames detalhados e que permanecesse como aquilo
que se apresentasse com mais persuasão.
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É importante considerar que os critérios práticos desses escolarcas possuem
elementos diversos e podem ser compreendidos de modos distintos14.
Essas dife- rentes interpretações estão relacionadas com os elementos que
apontamos ante- riormente, ou seja, se entendemos que há uma mudança
de posicionamento entre Arcesilau e Carnéades, no sentido de um
enfraquecimento da epokhé, ou ainda sobre como entendemos o uso da
estratégia dialética em cada um deles. Sem desen- volvermos o debate a
respeito das características e do espoco dos critérios práticos, podemos

27
fazer algumas observações gerais a fim entendermos as consequências
desses critérios para a filosofia da Nova Academia e assim, para nosso
problema inicial.
Em primeiro lugar, podemos nos perguntar sobre o conteúdo da teoria da
ação desses autores independentemente de seu status metateórico. Assim,
seja qual for o comprometimento desses escolarcas com essas teorias, elas
precisam ser efeti- vas na tarefa que se propõem, a saber, responder à
acusação de apraxia, mostrando como efetivamente se daria uma vida cética
e que essa vida seria, não só possível, mas satisfatória. Se pensarmos,
então, que esses critérios são efetivos em explicar uma adesão às
representações que não se configurariam como um assentimento dogmático,
poderíamos entender como se daria uma adesão compatível com a sus-
pensão do juízo, o que permitiria entender como Arcesilau ou Carnéades
aderi- riam não só aos próprios critérios práticos, mas às outras proposições
e elementos de suas filosofias, como a própria inapreensibilidade.
A possibilidade de uma adesão que não implicaria assentimento, ou seja,
não implicaria uma crença na verdade e falsidade de algo é um tema em
debate sobre a filosofia da nova Academia. As interpretações dos critérios
práticos, em especial sobre o pithanon de Carnéades, que é mais debatida e
da qual possuímos mais ele- mentos interpretativos, tendem a ir por dois
caminhos. Um grupo, que Suzanna Obdrzalek chamou de interpretação fraca
(2002, p.2), argumenta que assentimen-
14 Para uma descrição sobre os critérios práticos ver Long; Sedley, The
Hellenistic philosopher 1987, cap. 69.
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to ao pithanon não envolve comprometimento com a verdade da impressão,
mas equivale a concordar com o que é mais convincente. Já a interpretação
forte, segun- do ela, afirma que aqueles que assentem a pithane phantasia
consideram a impres- são como sendo provavelmente verdadeira (ibidem).15
Segundo essa interpretação forte, estaríamos justificados a acreditar que
certas percepções são verdadeiras (e nesse sentido assentir a elas), embora
não seja possível possuirmos certeza se essas impressões são
verdadeiras16 (Stough, 1969, p. 61). Em ambas as interpretações, fraca ou
forte, há a negação da existência das impressões cognitivas, mas não há a
recusa da definição estoica de conhecimento, ou seja, Carnéades, concorda
que há impressões verdadeiras, mas não que nós podemos julgar de
maneira infalível sobre a verdade e falsidade dessas impressões.
Considerando esses critérios práticos, podemos voltar ao argumento da ina-
preensibilidade e verificar como essa adesão se daria. Não haveria problema
em pensarmos que eles consideram razoável ou provável a necessidade de
impressões cognitivas para o conhecimento (P1), ou seja, para que haja
conhecimento seria necessário que pudéssemos distinguir com precisão
entre as impressões falsas e verdadeiras e, para isso, seria necessário um
critério. Do mesmo modo, com a P2, seria razoável ou provável admitir que

28
não existam impressões cognitivas, porque os estoicos não oferecem
justificativa razoável para demonstrar quais seriam essas impressões, ou
ainda porque é uma afirmação que não se mantém quando é testada e
examinada detalhadamente. Por fim, a conclusão que se segue é de que a
ina- preensibilidade seria, como consequência das premissas, uma
afirmação também razoável ou provável.
15 Como representantes da interpretação fraca teríamos Bett, Frede e
Burnyeat, cada um deles com diferenças em suas interpretações. Burnyeat
argumenta que a teoria de Carnéades se configura como uma estratégia
dialética contra os estoicos (Unpublished Manuscript, p. 32), enquanto Frede
(2015, p. 196) e Bett (1990, p. 16) afirmam que Carnéades poderia e talvez
tenha endossado sua própria teoria. Defendendo a visão forte teríamos
Stough e a própria Suzanne.
16 O critério prático de Arcesilau é comumento interpretado como tendo sido
menos liberal nesse aspecto do que Carnéades. Desse modo, ele negaria
que assentimento pudesse alguma vez estar justificado. (Acad. II 59, 66-67;
M, VII, 157; HP I. 232; Pr. Ev. XIV, 4, 726d; Stough, p. 59)
92

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Considerando isso, poderíamos afirmar que os acadêmicos defendem a tese
da inapreensibilidade e, ao mesmo tempo, que essa defesa se caracterizaria
como algo contrário a um dogmatismo negativo, visto que a adesão a essa
tese não corres- ponde a um dogmatismo. Além disso, essa adesão também
se aplicaria à suspensão do juízo, o que seria compatível com uma posição
cética. Desse modo, se enten- dermos que a suspensão se aplica aos juízos
a respeito da verdade e da falsidade das coisas e não a essa adesão que se
pretenderia não dogmática, poderíamos entender que há efetivamente um
ceticismo na atitude acadêmica, embora suas característi- cas e efetividades
sejam temas de debate entre os interpretes.
Para além dos argumentos acadêmicos que eu apresentei, há descrições
dessa filosofia que não estariam sendo apresentadas no interior de uma
argumentação contra o estoicismo, mas aparecem como descrições da
própria filosofia desses es- colarcas, como é o caso de uma importante
descrição de Cícero, sobre a filosofia de Arcesilau.
“Eis como eu [Cícero] entendo isso. Não foi um espírito de intransi- gência ou
rivalidade (na minha visão, ao menos) que motivou Arcesilau à ampla
rivalidade com Zenão, mas sim a obscuridade das coisas que previa- mente
levara Sócrates à sua confissão de ignorância - como, mesmo antes dele,
levaram Demócrito, Anaxagora, Empedocles, e virtualmente todos os
primeiros filósofos a dizer que nada poderia ser conhecido, apreendido ou
sabido, e que os sentidos são limitados, nossas mentes fracas, nossas vidas
breves, enquanto a verdade estaria submersa em um abismo (como disse
De- mócrito), tudo seria ocupado por opiniões e costumes, nenhum lugar
teria sido deixado para a verdade; enfim, que tudo estava oculto pelas
trevas. Eis por que Arcesilau costumava negar que algo pudesse ser

29
conhecido, e nem mesmo a afirmação que restara a Sócrates, a saber, o
conhecimento de que ele não conhecia nada. Ele pensou que tudo estava
tão profundamente oculto que nada podia ser conhecido ou entendido. Por
essas razões, ele pensou que nós não deveríamos professar ou afirmar nada,
nem aprovar com assen-
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timento: deveríamos sempre conter nossa precipitação e resguardar-nos de
todo erro. Mas ele considerou particularmente precipitado dar assentimento
a algo falso e desconhecido, posto que nada seria mais vergonhoso do que
assentimento e aprovação precederem conhecimento e apreensão. Sua prá-
tica [de Arcesilau] foi consistente com sua teoria: argumentando contra a
opinião de todos, conduzia muitos a seu raciocínio, de modo que, quando
razões de igual peso eram encontradas em lados opostos a respeito da
mesma questão, tornava-se mais fácil suspender o assentimento de ambos
os lados. (Acad. I 44-46, tradução nossa)
Aqui temos uma visão da inapreensibilidade não como conclusão de um ar-
gumento dialético, mas como aquilo que vem sendo constatado ao logo do
tempo e por vários filósofos. Havia, segundo Arcesilau, uma dificuldade e,
até aquele mo- mento, uma impossibilidade de estabelecer algo como
verdadeiro, tendo em vista nossas limitações, a brevidade da vida, a
predominância das opiniões e dos costu- mes, etc. Essa afirmação seria algo
que poderia nos levar a identificar a defesa da tese da inapreensibilidade
como uma afirmação em sentido dogmático, se conside- rarmos essa
afirmação isoladamente. Mas, podemos pensar que isso é o que se mos-
trou como razoável para Arcesilau, se considerarmos o que ele diz logo em
seguida. Arcesilau negava que, assim como Sócrates, algo pudesse ser
conhecido, mas, se- gundo ele, nem mesmo esse saber que teria restado a
Sócrates poderia ser afirmado. Ou seja, há o reconhecimento de que a
afirmação de que as coisas são inapreessivas teria como consequência a
impossibilidade de afirmar a própria inapreensibilida- de. Isso também é
reforçado por algo que vem logo em seguida, quando Cícero diz que
Arcesilau era coerente com esses pressupostos e suspendia o juízo, então,
se ele suspendia o juízo, essa inapreensibilidade precisaria ser compatível
com essa suspensão do juízo, ou seja, não pode ser afirmada
dogmaticamente.
Além disso, nesse relato também podemos perceber uma conexão entre ina-
preensibilidade e suspensão do juízo. O que leva Arcesialau a essa atitude
suspen- siva é ser coerente com aquela constatação de que as coisas são
inapreensíveis. Ou
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seja, perceber que as coisas podem não vir a ser conhecidas, que até agora
nenhum filósofo foi capaz de conhecer, que nós temos limitações, etc., leva

30
Arcesilau a re- conhecer que não podemos afirmar que conhecemos algo e
isso inclui, até mesmo, dizer que conhecemos que as coisas não podem ser
conhecidas. E, para ser coeren- te com isso, a atitude dele precisa ser a
suspensão do juízo, que seria justamente a atitude que permitiria não julgar
sobre a verdade e a falsidade.
No entanto, o fato de Arcesilau não declarar que as coisas são
inapreensíveis, não elimina o fato de que essas coisas se mostram desse
modo e que, até agora, não podemos dizer que haja conhecimento. Então,
para Arcesilau, a inapreenssibili- dade se mostram como razoável, pois ela
se justifica através dessas constatações e das premissas que vimos
anteriormente. Desse modo, deve-se, segundo Arcesilau, suspender o juízo
sobre a possibilidade de conhecer as coisas, ao mesmo tempo em que essa
constatação da impossibilidade de conhecimento é o que justifica a
suspensão do juízo.
_____________________________________________________________________
___________________

<h1> Inapreensibilidade enquanto estratégia refutativa

Antes de analisarmos propriamente o conteúdo da filosofia da Nova Aca-


demia, devemos considerar um elemento importante que tem influência em
sua interpretação, a saber, a estratégia argumentativa refutativa que esses
escolarcas uti- lizavam no debate com seus oponentes. Uma estratégia
derivada do procedimento socrático e aperfeiçoada por esses escolarcas,
conhecida como estratégia dialética9.
7 Como nota Hankinson, Numênio era uma fonte hostil à Academia
(Epistemologia estoica 2006). Apud Eus. PE XIV 8, 4, ver XIV 7,15.
8 Ver HP I 226-31.
9 Ver Frede, 2005, p. 196. Couissin, 1983, p. 32.
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Em resumo, ao utilizarem essa estratégia na argumentação contra as teses
dogmáticas de seus interlocutores, esses escolarcas se valiam dos
pressupostos, con- ceitos, teses e elementos fornecidos por esses mesmo
interlocutores com a única finalidade de refutá-los. Desse modo, toda
argumentação se ajustava a esses pressu- postos e não expressava nenhum
compromisso desses filósofos com suas próprias asserções (Bicca, 2016, p.
100). Além disso, os acadêmicos derivavam consequên- cia ou acrescentam
premissas que esses interlocutores precisavam aceitar como consequência
de outras crenças que eles possuíam. Como resultado, eles refutavam seus
oponentes não apenas produzindo conclusões que fossem contrárias àque-
las expressas por eles, mas levando-os a conclusões que estavam em
conflito com outras crenças e teses desses oponentes10. Desse modo,

31
diante da argumentação acadêmica, seus oponentes precisavam revisar
seus argumentos com o intuito de resolver os problemas indicados ou
abandonar suas teses e crenças. Em ambos os casos, haveria um
reconhecimento de que esses dogmáticos não estavam em posse da
verdade tal como eles pretendiam.
O uso dessa estratégia por parte dos acadêmicos leva à dificuldade de
deter- minar quais opiniões, enunciados e elementos dessa filosofia seriam
posições efeti- vas que esses filósofos teriam algum tipo de compromisso,
visto que essa estratégia permitia que eles permanecessem
descomprometidos com suas próprias asserções. Inicialmente, a estratégia
dialética parece perfeitamente compatível com o ceticis- mo, uma vez que os
céticos seriam aqueles que pretenderiam não afirmar nada, no sentido não
defender nenhuma tese positivamente; de fato, essa é uma estratégia
condizente com o ceticismo, inclusive ela é também utilizada no ceticismo
pirrô- nico. No entanto, na filosofia da Nova Academia, o uso dessa
estratégia traz uma consequência que não encontramos na filosofia pirrônica,
que é o de considerar que essa filosofia possa se resumir e se constituir
unicamente dessa estratégia11, ou
10 Ver Vlastos, Gregory, 1994.
11 Essa interpretação ficou conhecida a partir de um importante artigo de
Pierre Couissin intitulado O estoicismo da Nova Academia de 1929.
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seja, todas as asserções, aquilo que esses filósofos apresentam como
características e ideias dessa filosofia estão sempre sendo apresentadas
como parte dessa estratégia e não dizem nada sobre essa filosofia
propriamente (Couissin, 1983, p. 32).
Sem adentramos no debate a respeito da interpretação dialética, podemos
ob- servar quais consequências ela traria para nossa questão inicial.
Aparentemente, uma interpretação nesse sentido não caracterizaria a
filosofia como um dogmatis- mo negativo, visto que sua atividade se
resumiria à refutação de seus oponentes e eles não se comprometiam com a
tese da inapreensibilidade; tampouco a caracteri- zaria como um ceticismo,
pois, do mesmo modo, eles não se comprometeriam com a tese da
suspensão do juízo. Nenhum desses elementos seriam posições substanti-
vas que eles expressariam como características dessa filosofia, mas estariam
inseri- dos na argumentação unicamente com o objetivo da refutação. Desse
modo, o que notamos é que essa interpretação traz certo esvaziamento da
filosofia acadêmica. Nem mesmo as afirmações que diziam respeitos às
motivações e à finalidade da atividade filosófica poderiam ser interpretadas
como posições substantivas desses filósofos. Para Couissin, precursor
dessa interpretação, a recusa de preocupações éticas e práticas aparecem
como algo possível (Couissin, 1983, p. 40). Ele nos diz que esses filósofos
não teriam feito isso abertamente, pois acabaria por desqualifi- car sua
filosofia e fazer com que ela se tornasse inviável e desinteressante aos olhos

32
dos espectadores. Esses filósofos teriam sido bastante “diplomatas” ao não
recusar essas noções e preocupações, não arriscando perder seguidores.
Mesmo esboçando essa leitura, Couissin reconhece que esse ponto traz
uma grande dificuldade de ex- plicar a própria coerência interna da filosofia
Acadêmica. Assim, na interpretação de Couissin, parece que a própria
natureza filosófica dessa posição é indeterminada e ele permanece neutro
sobre o que seria ou não a filosofia própria dos acadêmicos (Ibidem).
Independente do modo como esses filósofos se comprometeram com os
ele- mentos de sua própria teoria, eles apresentaram essa filosofia de forma
muito coe-
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rente e completa, fornecendo elementos não só para explicar esse sistema
filosófico e justificá-lo, mas também para responder todas as objeções
apontadas por seus interlocutores. O que leva, inevitavelmente, a
necessidade de investigá-la e com- preendê-la independentemente de
podermos determinar seu status metateórico.

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