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CONFRARIA DE ARTES LIBERAIS

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LÓGICA

Santo Tomás de Aquino. Exposição do livro dos Analíticos Posteriores, lib. 1, lect. 1, n. 1-6.

Sicut dicit Aristoteles in principio 1 Como diz Aristóteles no início da Metafísica

metaphysicae, hominum genus arte et
rationibus vivit: in quo videtur
philosophus tangere quoddam hominis
proprium quo a caeteris animalibus differt.
Alia enim animalia quodam naturali
instinctu ad suos actus aguntur; homo
autem rationis iudicio in suis actionibus
dirigitur. Et inde est quod ad actus
humanos faciliter et ordinate perficiendos
diversae artes deserviunt. Nihil enim aliud
ars esse videtur, quam certa ordinatio
rationis quomodo per determinata media
ad debitum finem actus humani
perveniant. Ratio autem non solum
dirigere potest inferiorum partium actus,
sed etiam actus sui directiva est. Hoc enim
est proprium intellectivae partis, ut in
seipsam reflectatur: nam intellectus
intelligit seipsum et similiter ratio de suo
actu ratiocinari potest. Si igitur ex hoc,
quod ratio de actu manus ratiocinatur,
adinventa est ars aedificatoria vel fabrilis,
per quas homo faciliter et ordinate
huiusmodi actus exercere potest; eadem
(980 b 27), o gênero humano vive pela arte e
pelos raciocínios. Nessa afirmação, o
Filósofo parece tratar de uma propriedade do
homem, pela qual difere dos outros animais.
Com efeito, os outros animais são movidos
aos seus atos por um instinto natural, mas o
homem é dirigido em suas ações pelo juízo
da razão. E é daí que diversas artes sirvam
para que os atos humanos se realizem de
modo fácil e ordenado. Com efeito, a arte
não parece ser outra coisa senão certo arranjo
estabelecido pela razão tal que, por meios
determinados, os atos humanos atinjam seu
devido fim. Ora, a razão não somente pode
dirigir os atos das partes inferiores [da alma],
mas também é diretiva de seus próprios atos.
Com efeito, é próprio da parte intelectiva
refletir sobre si mesma, pois o intelecto
intelige a si mesmo, e, de modo similar, a
razão pode raciocinar sobre o seu ato.
Portanto, se, do fato de a razão raciocinar
sobre os atos manuais, é descoberta a arte
edificativa ou fabril, pelas quais o homem
pode exercer tais atos de modo fácil e
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ratione ars quaedam necessaria est, quae
sit directiva ipsius actus rationis, per quam
scilicet homo in ipso actu rationis
ordinate, faciliter et sine errore procedat.
ordenado; pela mesma razão, é necessária
uma arte que seja diretiva do próprio ato da
razão, pela qual, a saber, o homem, no
próprio ato da razão, proceda de modo
ordenado e fácil e sem erro.

Et haec ars est logica, idest rationalis 2 E esta arte é a lógica, isto é, a ciência
scientia. Quae non solum rationalis est ex racional, que não somente é racional pelo
hoc, quod est secundum rationem (quod fato de ser conforme à razão (o que é comum
est omnibus artibus commune); sed etiam a todas as artes); mas também pelo fato de
ex hoc, quod est circa ipsum actum ser acerca do próprio ato da razão como de
rationis sicut circa propriam materiam. sua matéria própria.

Et ideo videtur esse ars artium, quia in 3 E, portanto, [a lógica] parece ser a arte das
actu rationis nos dirigit, a quo omnes artes artes, porque nos dirige no ato da razão, do
procedunt. Oportet igitur logicae partes qual todas as artes procedem. Assim, é
accipere secundum diversitatem actuum necessário tomar as partes da lógica segundo
rationis. a diversidade dos atos da razão.

Sunt autem rationis tres actus: quorum 4 São, pois, três os atos da razão, dos quais os
primi duo sunt rationis, secundum quod
est intellectus quidam. Una enim actio
intellectus est intelligentia indivisibilium
sive incomplexorum, secundum quam
concipit quid est res. Et haec operatio a
quibusdam dicitur informatio intellectus
sive imaginatio per intellectum. Et ad hanc
operationem rationis ordinatur doctrina,
quam tradit Aristoteles in libro
praedicamentorum. Secunda vero operatio
intellectus est compositio vel divisio
dois primeiros são da razão tomada como
intelecto. Com efeito, uma ação do intelecto
é a inteligência dos indivisíveis, ou
incomplexos, segundo a qual [o intelecto]
concebe o que é a coisa. E esta operação é
chamada por alguns informação do intelecto
ou imaginação pelo intelecto. E a essa
operação da razão é ordenada a doutrina que
Aristóteles transmite no livro das Categorias.
A segunda operação do intelecto é a
composição ou divisão do intelecto, em que
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intellectus, in qua est iam verum vel
falsum. Et huic rationis actui deservit
doctrina, quam tradit Aristoteles in libro
perihermeneias. Tertius vero actus rationis
est secundum id quod est proprium
rationis, scilicet discurrere ab uno in aliud,
ut per id quod est notum deveniat in
cognitionem ignoti. Et huic actui
deserviunt reliqui libri logicae.
já há o verdadeiro ou o falso. E desse ato da
razão se ocupa a doutrina que Aristóteles
transmite no livro Sobre a Interpretação. O
terceiro ato da razão diz respeito àquilo que é
próprio da razão, a saber, discorrer de um em
outro, de modo que, por aquilo que é
conhecido, venha ao conhecimento do
desconhecido. E desse ato se ocupam os
restantes livros da lógica.

Attendendum est autem quod actus 5 Deve-se notar que os atos da razão são
rationis similes sunt, quantum ad aliquid,
actibus naturae. Unde et ars imitatur
naturam in quantum potest. In actibus
autem naturae invenitur triplex diversitas.
In quibusdam enim natura ex necessitate
agit, ita quod non potest deficere. In
quibusdam vero natura ut frequentius
operatur, licet quandoque possit deficere a
proprio actu. Unde in his necesse est esse
duplicem actum; unum, qui sit ut in
pluribus, sicut cum ex semine generatur
animal perfectum; alium vero quando
natura deficit ab eo quod est sibi
conveniens, sicut cum ex semine generatur
aliquod monstrum propter corruptionem
alicuius principii. Et haec etiam tria
inveniuntur in actibus rationis. Est enim
aliquis rationis processus necessitatem
inducens, in quo non est possibile esse
veritatis defectum; et per huiusmodi
semelhantes, sob certo aspecto, aos atos da
natureza. Por isso, a arte imita, tanto quanto
pode, a natureza. Ora, nos atos da natureza é
encontrada uma tripla diversidade. Com
efeito, em alguns [atos], a natureza age por
necessidade, de modo que não pode falhar.
Mas em outros, [age] de modo a que mais
frequentemente tenha sucesso, embora possa
às vezes falhar em seu ato próprio. Por isso,
nestes, necessariamente há um ato dúplice:
um, que ocorre na maioria dos casos, como
quando do sêmen é gerado o animal perfeito;
outro, porém, quando a natureza falha
naquilo que lhe é conveniente, como quando
do sêmen é gerado algum monstro, por causa
da corrupção de algum princípio. E esta
tríade também é encontrada nos atos da
razão. Com efeito, há um processo da razão
que leva à necessidade, em que não é
possível haver falta de verdade; e, por tal
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rationis processum scientiae certitudo processo da razão, a ciência é adquirida. Mas

acquiritur. Est autem alius rationis há outro processo da razão, em que o
processus, in quo ut in pluribus verum verdadeiro é concluído na maioria das vezes,
concluditur, non tamen necessitatem sem ter, contudo, necessidade. O terceiro
habens. Tertius vero rationis processus est, processo da razão é aquele em que a razão
in quo ratio a vero deficit propter alicuius falha com respeito ao verdadeiro, por causa
principii defectum; quod in ratiocinando da falta de algum princípio que deveria ser
erat observandum. observado ao raciocinar.

Pars autem logicae, quae primo deservit 6 Ora, a parte da lógica que serve ao primeiro
processui, pars iudicativa dicitur, eo quod
iudicium est cum certitudine scientiae. Et
quia iudicium certum de effectibus haberi
non potest nisi resolvendo in prima
principia, ideo pars haec analytica vocatur,
idest resolutoria. Certitudo autem iudicii,
quae per resolutionem habetur, est, vel ex
ipsa forma syllogismi tantum, et ad hoc
ordinatur liber priorum analyticorum, qui
est de syllogismo simpliciter; vel etiam
cum hoc ex materia, quia sumuntur
propositiones per se et necessariae, et ad
hoc ordinatur liber posteriorum
analyticorum, qui est de syllogismo
demonstrativo. Secundo autem rationis
processui deservit alia pars logicae, quae
dicitur inventiva. Nam inventio non
semper est cum certitudine. Unde de his,
quae inventa sunt, iudicium requiritur, ad
hoc quod certitudo habeatur. Sicut autem
in rebus naturalibus, in his quae ut in
processo é chamada de parte judicativa,
porque leva ao juízo [possuído] com a
certeza da ciência. E, como o juízo certo
sobre os efeitos não pode ser obtido senão
resolvendo-os em seus primeiros princípios,
esta parte da lógica é chamada de analítica,
isto é, resolutória. Ora, a certeza do juízo que
é obtida pela resolução é ou derivada
somente da forma do silogismo, e a isso é
ordenado o livro dos Analíticos Anteriores,
que é sobre silogismo puro e simples; ou
também da matéria, porque são tomadas as
proposições per se [notae] e necessárias, e a
isso é ordenado o livro dos Analíticos
Posteriores, que é sobre o silogismo
demonstrativo. Serve ao segundo processo da
razão outra parte da lógica, que é chamada de
inventiva. Com efeito, a descoberta nem
sempre é acompanhada pela certeza. Por isso,
é requerido um juízo sobre aquilo que é
descoberto, para que se obtenha a certeza.
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pluribus agunt, gradus quidam attenditur
(quia quanto virtus naturae est fortior,
tanto rarius deficit a suo effectu), ita et in
processu rationis, qui non est cum
omnimoda certitudine, gradus aliquis
invenitur, secundum quod magis et minus
ad perfectam certitudinem acceditur. Per
huiusmodi enim processum, quandoque
quidem, etsi non fiat scientia, fit tamen
fides vel opinio propter probabilitatem
propositionum, ex quibus proceditur: quia
ratio totaliter declinat in unam partem
contradictionis, licet cum formidine
alterius, et ad hoc ordinatur topica sive
dialectica. Nam syllogismus dialecticus ex
probabilibus est, de quo agit Aristoteles in
libro topicorum. Quandoque vero, non fit
complete fides vel opinio, sed suspicio
quaedam, quia non totaliter declinatur ad
unam partem contradictionis, licet magis
inclinetur in hanc quam in illam. Et ad hoc
ordinatur rhetorica. Quandoque vero sola
existimatio declinat in aliquam partem
contradictionis propter aliquam
repraesentationem, ad modum quo fit
homini abominatio alicuius cibi, si
repraesentetur ei sub similitudine alicuius
abominabilis. Et ad hoc ordinatur poetica;
nam poetae est inducere ad aliquod
Mas, assim como nas coisas naturais que têm
sucesso na maioria das vezes notam-se certos
graus (porque, quanto mais forte é a potência
da natureza, tanto mais raramente falha
quanto ao seu efeito), assim também, no
processo da razão que não é acompanhado de
total certeza, são encontrados graus,
conforme se aproxime mais ou menos da
certeza perfeita. Com efeito, por tal processo,
às vezes, embora não seja produzida a
ciência, é produzida, contudo, a fé, ou
opinião, por causa da probabilidade das
proposições a partir das quais se procede,
porque a razão se inclina totalmente a uma
parte da contradição, embora com temor da
outra, e a isso é ordenado a tópica, ou
dialética. Com efeito, o silogismo dialético,
do qual trata Aristóteles no livro dos
Tópicos, é o que parte de premissas
prováveis. Às vezes, porém, não é produzida
completamente a fé, ou opinião, mas certa
suspeita, porque [a razão] não se inclina
totalmente a uma parte da contradição,
embora se incline mais a essa que àquela. E a
isso é ordenada a retórica. Às vezes, porém, a
mera estimativa1 inclina a razão a uma parte
da contradição por causa de uma
representação, assim como se produz no
homem a abominação de algum alimento, se

1
A sola existimatio, que traduzi como mera estimativa, é o mesmo que o assentimento imaginativo de que trata
Avicena em seu comentário à Poética de Aristóteles. É a adequação de atos intencionais da alma, que não o
juízo, ao que é dito. Assim, aquilo que é dito é de certo modo estimado, apreciado, mas não aceito.
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virtuosum per aliquam decentem for representado sob a semelhança de algo

repraesentationem. Omnia autem haec ad
rationalem philosophiam pertinent:
inducere enim ex uno in aliud rationis est.
Tertio autem processui rationis deservit
pars logicae, quae dicitur sophistica, de
qua agit Aristoteles in libro elenchorum.
abominável. E a isso é ordenada a Poética;
pois ao poeta cabe levar a algo virtuoso por
alguma representação conveniente. Ora, tudo
isso pertence à filosofia racional, pois levar
de um em outro pertence à razão. Serve ao
terceiro processo da razão, a parte da lógica
que é chamada de sofística, de que trata
Aristóteles no livro das Refutações.

A DIVISÃO DA LÓGICA SEGUNDO SANTO TOMÁS

Material
Judicativa ou (Analíticos posteriores)
analítica Formal
(Analíticos anteriores)
Dialética
(Tópicos)
Retórica
Da terceira operação do intelecto Inventiva
(Arte retórica)
Poética
Da segunda operação do intelecto (Sobre a poética)
Lógica (Sobre a interpretação)
Sofística
Da primeira operação do intelecto (Refutações sofísticas)
(Categorias)