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Tábua de Cebes

Sobre a Verdadeira Educação


Passeávamos casualmente pelo recinto sagrado de Saturno, onde víamos muitas e
diversas oferendas. Entre elas se alçava uma tábua em frente ao santuário na qual
havia uma estranha pintura com curiosas cenas que não éramos capazes de
interpretar o que significassem e nem de quando datavam, já que o pintado não nos
parecia que fosse uma cidade nem um exército, senão que era um recinto que
continha outros dois recintos, um maior e outro menor. Havia também uma porta
no primeiro recinto e junto à porta nos pareceu que havia uma grande multidão em
pé, e dentro do recinto se via uma multidão de mulheres. Junto à entrada da
primeira porta do primer recinto um ancião que estava em pé se dirigiu com ênfase
à multidão que entrava como se lhes estivesse dando alguma ordem. Depois de
estarmos por muito tempo perplexos sobre a interpretação da tábua, se apresentou
um ancião que disse:
ANCIÃO: Não é de estranhar, estrangeiros, que fiqueis perplexos diante desta
tábua, pois nem sequer aqueles que vivem aqui sabem o pode significar esta cena,
e é assim porque não se trata de uma oferenda da cidade, senão que em certa
ocasião, há muito tempo, veio aqui um estrangeiro, varão prudente e
extraordinariamente sábio, seguidor, por palavras e por obras, de um género de
vida pitagórico e parmenideo, o qual consagrou a Crono este recinto sagrado e a
tábua.
ESTRANGEIRO: Viste esse homem e por isso o conheces?
ANCIÃO: E admirei-o por muito tempo sendo ele já ancião e eu ainda adolescente.
Falava com interesse de muitos temas. E eu, muitas vezes, escutava-o também a
explicar esta história.
ESTRANGEIRO: Por Zeus, se não tiveres nenhuma obrigação mais importante,
explica-nos, pois temos grande interesse em ouvir sobre esta história.
ANCIÃO: Com prazer, estrangeiros. Mas, em primeiro lugar, é preciso que saibais
haver certo perigo.
ESTRANGEIRO: Qual?
ANCIÃO: Porque se prestardes atenção e compreenderdes e que se diz, sereis
sensatos e felizes, e se não, tornar-vos-eis insensatos, infelizes, cruéis, ignorantes
e levareis uma vida má. Pois a explicação é semelhante ao enigma que a Esfinge
propunha aos humanos: se alguém o compreendia, se salvava; mas se não o
compreendia, perecia nas mãos da Esfinge. O mesmo sucede com esta explicação:
pois a insensatez é para os homens uma Esfinge. O enigma que nos propõe é o
seguinte: Que é o bem e que é o mal na vida, e que não é nem bem nem mal na
vida. Se alguém não o compreende, perece nas mãos dela, mas não de uma vez,
como o que morria devorado pela Esfinge, senão que vai sendo destruído pouco a
pouco ao longo de toda sua vida, como os submetidos a tortura. Mas se, ao
contrário, alguém o compreende, a insensatez perece e ele se salva e é bem-
aventurado e feliz durante toda sua vida. Por isso, atentai e não vos distraís.
ESTRANGEIRO: Hércules! Quão desejosos fizeste-nos, se assim for!
ANCIÃO: Mas é assim mesmo.
ESTRANGEIRO: Não tardes em explicá-lo; estaremos muito atentos, já que o
castigo é tão grande.
Tomando uma vara e com ela assinalando a pintura,
ANCIÃO: Vedes este recinto?
ESTRANGEIRO: Vemos.
ANCIÃO: Primeiramente, é preciso que saibais que este lugar se chama Vida, e
estes, a grande multidão que está em pé junto à porta, são os que vão entrar na
Vida; e o ancião que está em pé no alto, com um papel em uma mão e como que
assinalando algo com a outra, se chama o Gênio. Ordena aos que vão entrando o
que hão de fazer quando entrem na Vida e mostra-lhes por qual caminho devem
andar se quiserem salvar-se na Vida.
ESTRANGEIRO: E por qual caminho eles devem andar, ou como?
ANCIÃO: Vês, junto à porta pela qual vai entrando a multidão, um trono sobre o
qual está sentada uma mulher de modos circunspectos que está com um copo na
mão e que parece digna de confiança?
ESTRANGEIRO: Vejo, mas quem é ela?
ANCIÃO: Chama-se Falsidade, a que engana a todos os seres humanos.
ESTRANGEIRO: O que faz depois?
ANCIÃO: Dá de beber de sua própria força aos que vão entrando na Vida.
ESTRANGEIRO: Em que consiste a bebida?
ANCIÃO: Erro e Ignorância.
ESTRANGEIRO: E depois, o quê?
ANCIÃO: Depois de terem bebido, entram na Vida.
ESTRANGEIRO: E todos bebem do erro, ou não?
ANCIÃO: Todos bebem, mas uns mais e outros menos. Além disso, não vês do
lado de dentro da porta uma multidão de mulheres dos mais variados aspectos?
ESTRANGEIRO: Vejo.
ANCIÃO: Pois estas são as Opiniões e os Desejos e os Prazeres. Quando a
multidão entra, elas pulam em cima deles, abraçam-na e levam-na.
ESTRANGEIRO: E aonde conduzem-na?
ANCIÃO: Umas à salvação e outras à perdição por meio da Falsidade.
ESTRANGEIRO: Ó homem admirável, que perigosa é esta bebida que dizes!
ANCIÃO: E todas prometem que os conduzirão ao que há de melhor e a uma vida
feliz e proveitosa. E eles, por culpa da Ignorância e do Erro que beberam da
Falsidade, não descobrem qual é o verdadeiro caminho na Vida, senão que andam
errantes em direção a incerteza como vês que acontece com os primeiros que
entraram e dão voltas sem direção.
ESTRANGEIRO: Vejo. E quem é aquela mulher que parece ser cega e louca e
que está sobre uma pedra redonda?
ANCIÃO: É a Fortuna, que não só é cega e louca como também surda.
ESTRANGEIRO: E esta, que tarefa tem?
ANCIÃO: Vai dando voltas por todas as partes e rouba o que alguns têm para dar
a outros. E em seguida, rouba outra vez a estes mesmos o que lhes deu e dá a
outros, sem critério e sem constância. Por isso, este símbolo mostra bem sua
natureza.
ESTRANGEIRO: A que símbolo te referes?
ANCIÃO: Ao que está de pé sobre a pedra redonda.
ESTRANGEIRO: Que significa?
ANCIÃO: Que seus dons não são seguros nem constantes. Quando alguém se fia
neles, acontecem grandes e terrível desastres.
ESTRANGEIRO: O que quer e quem é esta grande multidão de homens que está
ao redor dela?
ANCIÃO: São os irreflexivos, e todos pedem o que ela vai deixando cair.
ESTRANGEIRO: Por que não têm o mesmo aspecto, senão que uns parecem
contentes enquanto outros estão abatidos e com as mão estendidas?
ANCIÃO: Os que parecem estar contentes e se riem são os que receberam algo
dela. Estes chamam-na Boa Fortuna, enquanto os que parecem chorar e estão com
as mão estendidas são aqueles dos quais ela roubou algo que antes lhes havia dado.
Estes, ao contrário, chamam-na Má Fortuna.
ESTRANGEIRO: Que é que lhes dá que tanto se alegram os que o recebem e
choram os que o perdem?
ANCIÃO: O que a maioria dos homens considera como coisas boas.
ESTRANGEIRO: E quais são estas coisas?
ANCIÃO: Evidentemente, a riqueza, a glória, a nobreza, os filhos, o poder, os
reinos e tudo o que com estes se parece.
ESTRANGEIRO: E por que estas coisas não são boas?
ANCIÃO: Sobre isso poderemos falar mais adiante, mas sigamos agora com a
explicação da narração.
ESTRANGEIRO: Que assim seja.
ANCIÃO: Vês que ao passar-se pela porta há outro recinto mais acima e umas
mulheres em pé vestidas como costumam as prostitutas?
ESTRANGEIRO: Vejo sim.
ANCIÃO: Uma é a Incontinência, outra a Luxúria, outra a Avareza e outra a
Adulação.
ESTRANGEIRO: E por que estão aí?
ANCIÃO: Observam os que receberam algo da Fortuna.
ESTRANGEIRO: E depois?
ANCIÃO: Saltam sobre eles e os abraçam e bajulam e pedem que fiquem com
eles, dizendo-lhes que terão uma vida agradável, sem trabalho e sem sofrimento.
E se alguém é persuadido por eles a ir à Vida Mole, por um certo tempo parece
que tudo passa bem, até que o homem se sente inquieto; depois não é mais assim.
Bem, quando ele recupera a consciência, ele percebe que não comeu, mas foi
comido e maltratado por ela. É por isso que, além disso, quando ele gasta o que
recebeu da Fortuna, ele é forçado a servir essas mulheres e suportar tudo e perder
a compostura e fazer todo tipo de coisas prejudiciais por elas, como fraudar, roubar
templos, xingar, trair, saquear e tudo o mais. E quando eles não têm mais nada,
eles são entregues à Punição.
ESTRANGEIRO: Como é a Punição?
ANCIÃO: Vês um pouco atrás deles, no topo, uma pequena porta e um lugar
estreito e escuro?
ESTRANGEIRO: Vejo bem.
ANCIÃO: E algumas mulheres feias e sujas vestidas em trapos que parecem andar
juntas?
ESTRANGEIRO: Certamente.
ANCIÃO: Destas, a que segura o chicote é a Punição, a que inclina a cabeça sobre
os joelhos, a Tristeza, a que arranca os cabelos, a Dor (Aflição).
ESTRANGEIRO: E este outro que está junto delas, feio, fraco e nu, e esta outra
que está com ele e lhe é semelhante, feia, fraca e nua, quem são?
ANCIÃO: O nome dele é Lamento e ela é Desconsolo e é irmã dele. Ele é entregue
a eles e vive com eles em estado de choque. E de lá ele é jogado de volta em outra
morada, a da Infelicidade, e lá ele está destruindo o resto de sua vida em total
infelicidade, a menos que a Penitência (Conversão) o encontre propositalmente.
ESTRANGEIRO: E o que acontece a seguir se a Penitência não o encontra?
ANCIÃO: Tira-o dos infortúnios e apresenta-lhe outra Opinião e Desejo que
conduzem à verdadeira Educação, mas também, ao mesmo tempo, à chamada
Pseudo-educação.
ESTRANGEIRO: Que acontece depois?
ANCIÃO: Se aceitar a Opinião que o levará à verdadeira Educação, será salvo,
após ser purificado por ela, e será abençoado e feliz por toda a vida. E, se não, ele
volta a se perder por causa da opinião falsa.
ESTRANGEIRO: Por Hércules! Quão grande é esse outro perigo! E o que é
Pseudo-educação?
ANCIÃO: Não vês aquele outro recinto?
ESTRANGEIRO: Vejo.
ANCIÃO: E do lado de fora da cerca, na entrada, não há uma mulher parada, muito
limpa e muito bem cuidada?
ESTRANGEIRO: Sim, há.
ANCIÃO: Pois isso é chamada de educação por homens vulgares e simples; mas
na verdade é Pseudo-educação. Aqueles que são salvos, quando querem ir para a
verdadeira Educação, eles a encontram primeiro.
ESTRANGEIRO: Não há outro caminho que leve à Verdadeira Educação?
ANCIÃO: Não há.
ESTRANGEIRO: E estes homens que vão e vêm por fora do recinto, quem são?
ANCIÃO: Os amantes da Pseudo-educação enganados e crentes que fruem da
verdadeira Educação.
ESTRANGEIRO: E como se chamam?
ANCIÃO: Chamam-se poetas, oradores, dialéticos, aritméticos, geômetras,
astrólogos, hedonistas, peripatéticos, gramáticos e todos outros que são deste jeito.
ESTRANGEIRO: Mas aquelas mulheres, semelhantes às primeiras, que parecem
correr de um lado a outro, entre as que dizias que estavam a Intemperança e as
outras junto com elas, quem são?
ANCIÃO: São as mesmas de antes.
ESTRANGEIRO: Também entram cá?
ANCIÃO: Sim, por Zeus, mas poucas vezes e não como no primeiro recinto.
ESTRANGEIRO: E as Opiniões também?
ANCIÃO: É porque ainda permanece neles a poção que beberam das mãos da
Falsidade. E permanece neles também a Ignorância, por Zeus! E a Insensatez com
ela, e não se apartarão deles ne a Opinião nem o resto da Maldade até que rechacem
a Pseudo-educação e entrem no caminho verdadeiro e bebam sua força
purificadora. Depois, quando se tenha purificado e expulsado todas as coisas más
que têm, tanto as opiniões como a ignorância e o resto da maldade, salvar-se-ão.
Mas desta maneira, enquanto permaneceram junto à Pseudo-educação, nunca serão
livres, nem lhes faltará desgraça por causa destas doutrinas.
ESTRANGEIRO: Então, qual é o caminho que leva à verdadeira Educação?
ANCIÃO: Vês no topo aquele lugar onde ninguém mora, mas parece deserto?
ESTRANGEIRO: Vejo.
ANCIÃO: Vês também uma portinha e um caminho na frente da porta, que não é
muito lotada, mas poucos passam por ela, que parece uma ladeira acidentada e de
aspecto pedregoso?
ESTRANGEIRO: Certamente.
ANCIÃO: Vês que também parece que há uma montanha alta e uma subida muito
estreita com penhascos profundos dos dois lados?
ESTRANGEIRO: Vejo.
ANCIÃO: Este é o caminho que conduz à verdadeira Educação.
ESTRANGEIRO: À primeira vista, parece difícil.
ANCIÃO: Vês também acima, na montanha, uma rocha grande e alta e íngreme
ao redor?
ESTRANGEIRO: Vejo.
ANCIÃO: Vês também duas mulheres de pé na rocha, de barro e de corpo
vigoroso, estendendo as mãos ansiosamente?
ESTRANGEIRO: Vejo, mas quem são?
ANCIÃO: Uma é a Continência e a outra é a Constância; são irmãs.
ESTRANGEIRO: Por que estendem as mãos tão alegremente?
ANCIÃO: Rogam aos que se aproximam do lugar que tenham valor e não se
acovardem, dizendo-lhes que devem só perseverar um pouco mais, e que em breve
chegarão a um caminho cômodo.
ESTRANGEIRO: E como sobem quando chegam à rocha? Não vejo, pois, nenhum
caminho que conduza até ela.
ANCIÃO: Elas descem desde cima do precipício e os puxam consigo para cima.
Ali, logo ordenam-lhes que descansem. E um pouco depois dão-lhes força e
coragem e mandam-lhes que se apresentem diante da verdadeira Educação e
mostram-lhes o caminho, que é cômodo, plano, fácil de andar e livre de toda
dificuldade, como vês.
ESTRANGEIRO: Vê-se bem, por Zeus!
ANCIÃO: Vês diante daquele bosque um lugar com relva que parece belo e brilha
com muita luz?
ESTRANGEIRO: Certamente vejo.
ANCIÃO: Percebes que no meio da relva há outro recinto e outra porta?
ESTRANGEIRO: Assim é, como se chama este lugar?
ANCIÃO: A morada dos bem-aventurados. Ali passam o tempo todas as Virtudes
e a Felicidade.
ESTRANGEIRO: Ótimo! Que belo é este lugar que descreves!
ANCIÃO: E vês também, junto à porta, uma mulher formosa e de rosto sereno, já
de certa idade, com um vestido simples e sem adornos? Está em pé não sobre uma
pedra redonda, mas sobre uma de forma cúbica que se assenta firmemente. E com
ela estão outras duas que parecem ser suas filhas.
ESTRANGEIRO: Vê-se perfeitamente.
ANCIÃO: Destas, pois, a que está no meio é a Educação, a seus lados estão
Verdade e Persuasão.
ESTRANGEIRO: Mas por que ela está sobre uma pedra cúbica?
ANCIÃO: Porque daí se conclui que o caminho até ela é seguro e firme para os
que chegam e que sus dons são seguros para os que os recebem.
ESTRANGEIRO: E quais são estes dons?
ANCIÃO: Confiança e Coragem de ânimo.
ESTRANGEIRO: E no que consiste isso?
ANCIÃO: O conhecimento pelo qual se entende que nada de muito terrível pode
acontecer na vida.
ESTRANGEIRO: Por Hércules, que belo dom! Mas por que está assim fora do
recinto?
ANCIÃO: Para cuidar dos que chegam e dar-lhes sua força purificadora. E depois,
estando já purificados, são levados para junto das Virtudes.
ESTRANGEIRO: Como? Não entendo.
ANCIÃO: Mas vais entender. É como se alguém tivesse sido fortemente atacado
por uma doença e, ao ir ao médico, primeiro expulse as causas da doença por meio
de expurgos e depois o médico restaura a recuperação e a saúde desta forma; mas
se ele, rejeitando por qualquer razão, não atendesse ao que lhe foi ordenado, ele
morreria por causa da doença.
ESTRANGEIRO: Isto eu entendo.
ANCIÃO: Pois do mesmo modo, quando alguém chega à Educação, ela cuida-o e
dá-lhe de beber de sua própria força para que antes de tudo se purifique e expulse
os males com os quais chegou.
ESTRANGEIRO: Que males são estes?
ANCIÃO: A Ignorância e o Erro que bebeu da Falsidade e a Arrogância e a
Concupiscência e a Intemperança e a Cólera e a Avareza e tudo aquilo de que se
encheu no primeiro recinto.
ESTRANGEIRO: E aonde o enviam depois de estar purificado?
ANCIÃO: Para dentro, para junto da Sabedoria e das Virtudes.
ESTRANGEIRO: Quais?
ANCIÃO: Não vês porta a dentro um coro de mulheres? Não vês que parecem ser
formosas e ordenadas e que usam vestidos simples e sem adornos? E que, além
disso, são, como as outras, naturalmente bem compostas?
ESTRANGEIRO: Vejo-as, mas como se chamam?
ANCIÃO: A primeira se chama sabedoria, e suas outras irmãs Fortaleza, Justiça,
Honestidade, Temperança, Modéstia, Liberdade, Continência, Mansidão.
ESTRANGEIRO: Ó grande homem, quão grande é a esperança em que estamos!
ANCIÃO: Sim, se entenderdes e tomardes posse do que ouvis.
ESTRANGEIRO: Bem, vamos nos aplicar tanto quanto possível.
ANCIÃO: Então salvar-vos-eis.
ESTRANGEIRO: E quando o recebem, para onde o levam?
ANCIÃO: A sua mãe.
ESTRANGEIRO: E quem é sua mãe?
ANCIÃO: A Felicidade.
ESTRANGEIRO: Como ela é?
ANCIÃO: Vês o caminho que leva àquele cume que é a acrópole de todos os
recintos?
ESTRANGEIRO: Vejo.
ANCIÃO: E vês na entrada uma bela mulher serena, sentada em um trono alto,
vestida como uma dama e simples e coroada com um lindo diadema de flores?
ESTRANGEIRO: Vejo-a muito bem.
ANCIÃO: Pois esta é a Felicidade.
ESTRANGEIRO: O que ela faz quando alguém vem até ela?
ANCIÃO: A felicidade e as demais virtudes o coroam com força própria como aos
vencedores das maiores batalhas.
ESTRANGEIRO: E em quais lutas esse alguém teria vencido?
ANCIÃO: Nas maiores batalhas e contra as maiores feras, que primeiro o
devoraram, atormentaram e escravizaram; ele os conquistou a todos e os expulsou
de si mesmo e se fez senhor de si mesmo, de modo que agora eles o servem como
ele costumava servi-los.
ESTRANGEIRO: Eu realmente quero saber: a que feras te referes dizer?
ANCIÃO: Primeiro, a Ignorância e o Erro. Ou achas que elas não são feras?
ESTRANGEIRO: E muito malignas.
ANCIÃO: Então, a Tristeza, o Lamento, a Ganância e a Intemperança e todo o
resto do Mal. Ele domina todos e não é mais dominado como antes.
ESTRANGEIRO: Que ações maravilhosas e que vitória maravilhosa! Mas diga-
me também outra coisa: qual é a força do diadema com que você disse que eles o
coroam?
ANCIÃO: A Força da Felicidade, jovem. Aquele que recebe o diadema com esta
força é feliz e abençoado e não coloca sua esperança de felicidade em outras coisas,
mas em si mesmo.
ESTRANGEIRO: Que bela vitória de que falas! E uma vez que ele é coroado, o
que ele faz, ou para onde ele vai?
ANCIÃO: As Virtudes o acolhem e o conduzem até aquele lugar onde ele estava
no início e ensinam aos que moram lá, o quão mal eles vivem e como vivem
infelizmente e como naufragam na vida e vagam e são apanhados, como
subjugados pelos inimigos, uns pela Intemperança; outros, por Arrogância; outros,
pela Ganância; outros, pela Opinião; outros por outros males; não são capazes de
se livrar dos infortúnios de que estão destinados a se salvar e virem para cá, mas
vivem perturbados por toda a vida. Isso acontece com eles porque não conseguem
encontrar o caminho até aqui, porque não perceberam a ordem do Gênio.
ESTRANGEIRO: Parece-me que estás certo. Mas aqui está uma coisa que não
entendo: por que as Virtudes conduzem-no ao lugar de onde veio no início?
ANCIÃO: Porque ele não sabia exatamente nem havia percebido nada sobre isso,
mas por causa da Ignorância e do Erro que havia bebido, ele considerava que o que
não era bom eram bens e o que não era mau eram males. É por isso que ele levou
uma vida ruim, como os outros que passaram o tempo lá. Mas agora, tendo
recebido o conhecimento do que é conveniente, ele mesmo vive feliz e vê o mal
que eles fazem.
ESTRANGEIRO: Depois de ver tudo, o que faz ou para onde mais vai?
ANCIÃO: Onde ele quiser. Pois em todos os lugares ele encontra segurança como
na gruta da Corícia, e onde quer que vá viverá feliz em tudo e com total segurança.
Bem, todos irão recebê-lo como um paciente recebe um médico.
ESTRANGEIRO: E aquelas mulheres que você disse que eram feras, não tem
mais medo de que elas o machuquem?
ANCIÃO: Nem aflição, nem tristeza, nem intemperança, nem ganância, nem
pobreza, nem qualquer outro mal lhe causarão desconforto, já que domina a todos
eles e está acima de tudo que lhe afligia antes, como aqueles que já foram picados
por uma cobra; pois esses vermes, que sem dúvida infligem danos mortais a todos
os outros, já não os afetam porque contêm o antidoto.
ESTRANGEIRO: Parece-me que estás certo. Mas diz-me mais uma coisa: quem
são aqueles que parecem vir dali, da montanha e que uns, coroados, dão sinais de
alegria, e os outros, sem tiaras, tristeza e perturbação, e parece que suas pernas e
cabeça estão feridas e estão retidos nas mãos das mulheres?
ANCIÃO: Os coronados são os que estão seguros com a Educação e estão felizes
por terem-na encontrado. Daqueles que não usam diadema, alguns, rejeitados pela
Educação, vão e voltam com um estado mental miserável e infeliz; Outros, que
estavam com medo e não subiram para Constância, vão e voltam repetidas vezes e
perambulam por um caminho pouco prático.
ESTRANGEIRO: Quem são as mulheres que os acompanham?
ANCIÃO: Tristezas, aflições, preocupações, má reputação e ignorâncias.
ESTRANGEIRO: Peolo que dizes, todos os males acompanham-lhes.
ANCIÃO: Sim, por Zeus, todos estão com ele. Quando estão na primeira sala com
a Vida Mole e a Intemperança não se culpam a si mesmo, mas imediatamente falam
mal da Educação e de quem lá vai, dizendo que são desafortunados e malfadados
os que abandonaram a companhia dos primeiros, que vivem miseravelmente e não
desfrutam dos bens que estão ao lado deles.
ESTRANGEIRO: A quais bens se referem?
ANCIÃO: Principalmente libertinagem e intemperança, poderíamos dizer. Pois
viver com regaladamente, à maneira dos animais, é considerado a fruição dos
maiores bens.
ESTRANGEIRO: As outras mulheres, as que estão ali alegres e rindo, como se
chamam?
ANCIÃO: As Opiniões, que vão e voltam, levando junto com a Educação aqueles
que já alcançaram as Virtudes, para que tragam os outros e informem que aqueles
que trouxeram antes já são felizes.
ESTRANGEIRO: Então elas não entram junto com as Virtudes?
ANCIÃO: Não. Pois as Opiniões não podem chegar ao Conhecimento, mas são
entregues à Educação. E então, quando a Educação as recebe, elas vêm e vão
novamente para trazer outros, como os navios, que, uma vez desembarcada a
mercadoria, partem novamente e se enchem de outras cargas.
ESTRANGEIRO: Eu acredito, de fato, que você explicou isso bem, mas você
ainda não nos disse o que o Gênio ordena que aqueles que entram na Vida façam.
ANCIÃO: Tende confiança. Explicar-vos-ei tudo sem deixar nada em aberto.
ESTRANGEIRO: Falas bem.
E estendendo a mão novamente, ele disse:
ANCIÃO: Vedes aquela mulher que parece cega e está de pé sobre uma pedra
redonda, que te disse há pouco ser Fortuna?
ESTRANGEIRO: Vemos.
ANCIÃO: Ordena que não confiem nela e não tenham certeza de nada do que dela
recebem e que não considerem nada como próprio, porque nada a impede de afogá-
lo novamente e entregá-lo a outro; ela está acostumada a fazê-lo muitas vezes; e
por isso ordena que permaneçam equânimes diante de seus dons e não se regozijem
quando ela os dá ou se desanimem quando lhes são tirados, e não a censurem ou
elogiem. Bem, ela não faz isso de caso pensado, mas tudo ao completo acaso, como
eu disse antes. É por isso que o Gênio lhes diz que não se espantem com o que ela
faz e não sejam como maus banqueiros: porque também estes, quando recebem
dinheiro das pessoas, ficam felizes e o pegam para si; e quando são questionados,
ficam zangados e pensam que algo terrível lhes aconteceu, sem se lembrar que
receberam os depósitos com aquela condição: que nada os impede de retirarem o
depósito novamente. Da mesma forma, o Gênio ordena-lhes que fiquem nesse
estado de espírito diante de seus dons e lembrem que a Fortuna tem uma natureza
tal que tira o que deu e imediatamente o devolve novamente multiplicado, e de
novo tira não apenas o que ele deu, mas também o que ele tinha antes. Ou seja, que
mande aceitar dela o que ela dá e afastar-se dela rapidamente em busca de um dom
firme e seguro.
ESTRANGEIRO: E qual é este dom?
ANCIÃO: O que eles vão receber da Educação, se lá chegarem em segurança.
ESTRANGEIRO: E que dom é esse?
ANCIÃO: O verdadeiro conhecimento do que é conveniente, um dom firme e
seguro do qual não se arrepende. Ele ordena que eles fujam rapidamente em busca
desse dom; e quando as mulheres que eu disse antes que se chamavam
Intemperança e Vida Mole, ele também ordenou que se afastassem rapidamente e
não confiassem nelas até que alcançassem a Pseudo-educação. E aí ele manda que
passem algum tempo e aceitem dela o que querem como viático, e que logo depois
vão para a verdadeira Educação. Isso é o que o Gênio ordena. E, claro, quem age
fora dessas recomendações ou as ignora, perece mal porque é mau.
Esta é, estrangeiros, a história que nos é oferecida na pintura. Se precisar perguntar
algo mais sobre isso, não há impedimento; eu responderei.
ESTRANGEIRO: Falas bem. Mas o que o Gênio diz a eles para aceitarem da
Pseudo-educação?
ANCIÃO: O que parecer útil.
ESTRANGEIRO: E no que consiste isso?
ANCIÃO: Nas letras e nas outras artes, que Platão diz que exercem sobre os jovens
uma força semelhante à de um freio, para que não se distraiam com outras coisas.
ESTRANGEIRO: É necessário carregar isso com você se você deseja chegar à
Verdadeira Educação ou não?
ANCIÃO: Não, não é de forma alguma necessário, mas é útil para chegar em
menos tempo. Isso não está em conflito com melhorar.
ESTRANGEIRO: Então dizes que essas coisas não são úteis para os homens se
tornarem melhores?
ANCIÃO: Também é possível tornar-se melhor sem eles, mas em todo o caso não
são inúteis, porque da mesma forma que às vezes interpretamos o que se diz através
de um intérprete, mas de qualquer forma não seria inútil conhecermos nós próprios
a língua, bem, nós o entenderíamos com mais precisão, então também nada nos
impede de nos tornarmos melhores sem este conhecimento.
ESTRANGEIRO: Então, os conhecedores dessas artes não têm vantagem de serem
melhores que os outros homens?
ANCIÃO: Como eles vão ter vantagens, quando estão manifestamente enganados
sobre o bem e o mal, assim como os outros, e também dominados por todos os
tipos de mal? Pois bem, nada impede de conhecer letras e ter todo tipo de
conhecimento e ser bêbado, intemperante, ganancioso, injusto, traidor e tolo ao
máximo.
ESTRANGEIRO: Realmente é possível ver muita gente assim.
ANCIÃO: Então, como é possível que eles tenham a vantagem de se tornarem
melhores por meio desse conhecimento?
ESTRANGEIRO: Parece que de forma alguma, de acordo com esse raciocínio.
Mas por que eles ficam no segundo recinto, como se estivessem se aproximando
da Educação Verdadeira?
ANCIÃO: E isso, de que serve para eles quando muitas vezes podem ser vistos
que desde o primeiro recinto, da Intemperança e do resto do Mal, alguns que são
diferentes daqueles homens sábios chegam à Verdadeira Educação? Então, como
eles podem ser superiores, se são mais preguiçosos ou desajeitados?
ESTRANGEIRO: Como isso é possível?
ANCIÃO: Porque os que estão no segundo recinto pecam por uma única coisa,
não sabem o que aparentam saber. E enquanto eles tiverem essa opinião, pela força
eles terão que se mover com dificuldade para abordar a verdadeira Educação. E
também, não vês aquele outro, que as Opiniões também vão para eles desde o
primeiro recinto? De modo que estes últimos não são em nada melhores do que os
primeiros se não forem acompanhados do Arrependimento e estiverem
convencidos de que não possuem Educação, mas sim Pseudo-educação, razão pela
qual vivem enganados, e que nesse estado nunca poderiam ser salvo. E portanto,
estrangeiros, agi assim e cuidai do que temos falado até chegardes a esse estado.
Mas é preciso meditar sobre isso muitas vezes e não deixar passar e considerar o
resto como um acessório. Do contrário, o que está ouvis agora não terá utilidade
para vós.
ESTRANGEIRO: Assim faremos. Mas explica-nos: por que as coisas que os
homens recebem da Fortuna não são bens, como viver, gozar de boa saúde, ser
rico, gozar de boa fama, ter filhos, vencer e assim por diante? E, ao mesmo tempo,
como é que seus opostos não são maus? Bem, essa afirmação é paradoxal e não
muito crível.
ANCIÃO: Vamos, tente responder o que você pensa ao que eu pergunto.
ESTRANGEIRO: Assim farei!
ANCIÃO: Acaso a vida é um bem para alguém que leva uma vida ruim?
ESTRANGEIRO: Parece-me que não, senão um mal.
ANCIÃO: Então, como a vida será um bem, se é ruim para ele?
ESTRANGEIRO: Porque para aqueles que levam uma vida ruim é um mal, me
parece, e para aqueles que levam uma vida honesta é um bem.
ANCIÃO: Então, quem diz que a vida é tanto um bem quanto um mal?
ESTRANGEIRO: Eu mesmo.
ANCIÃO: Não diga inconsistências! Não é possível que a mesma coisa seja boa e
má. Pois isso seria benéfico e prejudicial e a mesma coisa seria, ao mesmo tempo,
desejável e rejeitável.
ESTRANGEIRO: É verdade; é incongruente. Mas como levar uma vida ruim, para
aqueles que a levam, pode não ser uma coisa ruim? Portanto, se um mal está
acontecendo com ele, a própria vida é um mal.
ANCIÃO: Mas viver não é o mesmo que viver mal. Não achas?
ESTRANGEIRO: Com certeza. Também não me parece o mesmo.
ANCIÃO: Sendo assim, a vida má é um mal, a vida não é um mal; pois, se fosse
um mal, aos que levam uma vida honesta estar-lhes-ia acontecendo um mal, post
que lhes acontece a vida que é um mal.
ESTRANGEIRO: Parece-me que dizes a verdade.
ANCIÃO: Já que ambos vivem - tanto os que vivem honestamente quanto os que
vivem mal –, viver não seria nem um bem nem um mal. Do mesmo modo que
amputar e cauterizar não es insano nem saldável para os que estejam doentes, senão
que depende de como se ampute, assim também no caso da vida: não é a própria
vida um mal, senão a vida má.
ESTRANGEIRO: É assim.
ANCIÃO: Sendo assim, considera se queres viver mal e morrer generosa e
honestamente.
ESTRANGEIRO: Morrer honestamente.
ANCIÃO: Sendo assim, a morte nem é um mal em si, já que muitas vezes é
preferível morrer do que viver.
ESTRANGEIRO: Assim é.
ANCIÃO: Sendo assim, o mesmo raciocínio pode ser aplicado à saúde e a doença.
Pois muitas vezes não convém a saúde, senão o contrário, se algo assim acontece.
ESTRANGEIRO: Dizes a verdade.
ANCIÃO: Vem cá, pois, e examinemos também deste modo a riqueza; Podemos
ver - como muitas vezes vemos – alguém rico mas que leva uma vida má e sofrida.
ESTRANGEIRO: Muitos, por Zeus.
ANCIÃO: Sendo assim, a riqueza não ajuda-lhes em nada a serem honestos?
ESTRANGEIRO: Parece que não, pois estes são maus.
ANCIÃO: Sendo assim, não é a riqueza que os faz serem bons, mas sim a
educação.
ESTRANGEIRO: É o que parece ser comprovado aqui.
ANCIÃO: Daqui se infere que a riqueza tampouco é um bem se ela não ajudar a
quem a possui a ser melhor.
ESTRANGEIRO: É o que parece.
ANCIÃO: Logo, não convém que pessoas que não sabem usar a riqueza sejam
ricas.
ESTRANGEIRO: Assim é que penso.
ANCIÃO: Poderia alguém, então, considerar ser um bem a algo que muitas vezes
convém não ter?
ESTRANGEIRO: De forma alguma.
ANCIÃO: Consequentemente, se alguém sabe usar bem e prudentemente a
riqueza, levará uma vida honesta e, se não, má.
ESTRANGEIRO: Parece-me que o que dizes é totalmente verdadeiro.
ANCIÃO: Resumindo, considerar estas coisas como sendo boas ou depreciá-las
como más é o que perturba os homens e os prejudica, porque se as apreciam e
creem que são os únicos meios para obter a felicidade, estão dispostos, para
alcança-las, estão dispostos a levar a cabo qualquer coisa e não recusam a fazer o
que é ímpio e vergonhoso. Mas isso acontece-lhes por ignorância do bem, porque
ignoram que o mal não nasce do bem. Pode-se ver muitos que alcançam a riqueza
por meio de ações más e vergonhosas como a traição, o roubo, o crime, a calúnia,
a fraude e outras muitas maldades.
ESTRANGEIRO: É assim.
ANCIÃO: Se, então, do mal não provem nenhum bem, como parece natural, mas
a riqueza provem de obras más, é preciso dizer que a riqueza não é um bem.
ESTRANGEIRO: Assim se deduz deste argumento.
ANCIÃO: Além disso, nem a Sabedoria e nem a Justiça podem ser conseguidas
por meio de ações más; bem como nem a Injustiça e nem a Insensatez podem ser
conseguidas por meio de ações boas, e nem podem existir ao mesmo tempo e no
mesmo indivíduo. Mas nada impede que em alguém exista a Riqueza, a Fama, o
Sucesso e outras coisas semelhantes junto com a maldade. De maneira que estas
coisas não são nem boas nem más. Só a Sabedoria é boa e só a Insensatez é má.
ESTRANGEIRO: Parece-me que explicaste suficientemente.
(Fim do Texto Grego)
ANCIÃO: E assim, com isso, acontece a mesma coisa com o que dissemos antes:
que tais coisas não são nem boas nem más. E mais: se procedessem apenas de más
ações, seriam apenas más. Mas todos eles vêm de boas e más ações, e é por isso
que dizemos que eles não são nem bons nem maus em si mesmos, assim como o
sono e a vigília não são nem bons nem maus. E, na minha opinião, acontece de
maneira semelhante com andar e sentar e coisas assim, que acontecem com
qualquer pessoa, tanto o instruído quanto o ignorante. Mas aqueles que são
próprios de um ou outro tipo de vida, um é bom e o outro é mau, como a tirania e
a justiça, que acontecem a um ou a outro; porque a justiça sempre acompanha os
dotados de bom senso, e a tirania só acompanha os ignorantes. E o que dissemos
antes também não pode acontecer: que duas coisas pertencentes a este gênero
aconteçam ao mesmo indivíduo no mesmo momento, pois não é possível uma
pessoa estar dormindo e olhando ao mesmo tempo ou ser sábia e ignorante ao
mesmo tempo. ao mesmo tempo ou quaisquer outras coisas com as quais eles
tenham a mesma relação.
ESTRANGEIRO: Acho que com esse raciocínio você explicou o assunto
completamente.
ANCIÃO: Por outro lado, digo que todas essas coisas procedem desse princípio
realmente divino.
ESTRANGEIRO: Mas a que princípio te referes?
ANCIÃO: Vida e morte, saúde e doença, riqueza e pobreza, e todas as outras coisas
que chamamos de boas e más acontecem aos homens na maioria das vezes sem
proceder do mal.
ESTRANGEIRO: Vimos claramente, e segue-se pela força desse raciocínio, que
tais coisas não eram nem boas nem más; mas de qualquer maneira minha opinião
sobre isso não é firme.
ANCIÃO: Isso acontece contigo porque há muito tempo não tens o hábito de
admitir essa ideia em tua mente. Assim, prossegui no uso das coisas que vos
indiquei há pouco ao longo de todas as vossas vidas, para que o que vos disse fique
gravado em vossas almas e assim adquiris o hábito. Por outro lado, se vós tiverdes
dúvidas sobre algo, voltai para mim para que possa vos explicar e assim a dúvida
seja retirada de vós. Mas enquanto não conseguirdes, caros jovens, tentai com
todas vossas forças com este ânimo e intenção não ter nunca nada por mais
proveitoso que a virtude, nem por mais excelente, nem por mais digno do homem
livre, nem, em suma, por mais feliz. Que vivais bem!

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