Você está na página 1de 282

CIÊNCIA

DA CRUZ
EDITH STEIN

Índice
PREFACIO
INTRODUÇAO: SIGNIFICADO, ORIGEM E BASE DA CIENCIA DA CRUZ
I. A MENSAGEM DA CRUZ
1. Primeiros encontros com a cruz
2. A mensagem da Sagrada Escritura
3. O Sacrifı́cio da Missa
4. Visõ es da Cruz
5. A mensagem da cruz
6. Conteú do da mensagem da Cruz
II. DOUTRINA DA CRUZ
Introduçã o: Sã o Joã o da Cruz como escritor
1. Cruz e noite (noite do signi icado)
Diferença no cará ter do sı́mbolo: simbolismo e sua expressã o
có smica
A Cançã o da Noite Escura
NOITE ESCURA
Noite escura dos sentidos
a) Introduçã o ao signi icado da noite
b) Entrada ativa à noite como seguimento da Cruz
c) A noite passiva como cruci icaçã o
2. Espı́rito e fé . Morte e Ressurreiçã o (Noite do Espı́rito)
1. Introduçã o: Desenvolvimento de Problemas
2. Despossessã o de forças espirituais na noite ativa
a) A noite da fé como caminho de uniã o
b) A nudez das forças espirituais como caminho e morte na
cruz
c) Incapacidade de tudo o que foi criado para servir de meio
de uniã o. Insu iciê ncia de conhecimento natural e
sobrenatural
d) Puri icaçã o de memó ria
e) Puri icaçã o da vontade
Paixõ es
Bens temporá rios
Ativos naturais
Bens sensı́veis
Bens morais
Bens espirituais
3. O Espı́rito e a Fé esclarecendo-se mutuamente
a) Retrospectiva e olhar em perspectiva
b) Atividade natural do espı́rito. A alma, suas partes e seus
poderes.
c) Elevaçã o da alma à ordem sobrenatural. Fé e vida de fé .
d) Comunicaçõ es extraordiná rias de graça e liberaçã o deles
4. Morte e ressurreiçã o
a) Noite passiva do espı́rito. Fé , contemplaçã o sombria, nudez
espiritual
In lamaçã o de amor e transformaçã o
A escala secreta
O vestido tricolor da alma
No escuro e escondido em profunda paz
b) A alma no reino do espı́rito e espı́ritos: Estrutura da
alma. Espı́rito de Deus e espı́ritos criados
Comunicaçã o da alma com Deus e com os espı́ritos criados
O centro mais profundo da alma e os pensamentos do
coraçã o
A alma, o eu e a liberdade
Vá rias espé cies de uniã o com Deus
Fé e contemplaçã o. Morte e ressurreiçã o
3. A gló ria da ressurreiçã o
1. Nas chamas do amor divino
a) No limiar da vida eterna
b) Uniã o com Deus, una e trina
c) Entre as labaredas da gló ria divina
d) Vida oculta de amor
e) Caracterı́sticas da chama, em relaçã o aos livros anteriores
da Santa
2. O câ ntico nupcial da alma
a) O Câ ntico Espiritual e sua relaçã o com os demais escritos
b) A ideia central, segundo a exposiçã o do Santo.
c) A imagem dominante e o seu valor no conteú do do Câ ntico
d) O sı́mbolo da esposa e os detalhes das outras imagens
e) O sı́mbolo da esposa e da cruz
III. O SEGUIMENTO DA CRUZ
CIÊNCIA DA CRUZ
EDITH STEIN
08/03/2012
PREFÁCIO
INTRODUÇÃO: SIGNIFICADO, ORIGEM E BASE DA CIÊNCIA DA CRUZ
I. A MENSAGEM DA CRUZ
1. Primeiros encontros com a cruz
2. A mensagem da Sagrada Escritura
3. O Sacri cio da Missa
4. Visões da Cruz
5. A mensagem da cruz
6. Conteúdo da mensagem da Cruz
II. DOUTRINA DA CRUZ
Introdução: São João da Cruz como escritor
1. Cruz e noite (noite do significado)
Diferença no caráter do símbolo: simbolismo e sua expressão cósmica
A Canção da Noite Escura
NOITE ESCURA
Noite escura dos sen dos
a) Introdução ao significado da noite
b) Entrada a va à noite como seguimento da Cruz
c) A noite passiva como crucificação
2. Espírito e fé. Morte e Ressurreição (Noite do Espírito)
1. Introdução: Desenvolvimento de Problemas
2. Despossessão de forças espirituais na noite a va
a) A noite da fé como caminho de união
b) A nudez das forças espirituais como caminho e morte na cruz
c) Incapacidade de tudo o que foi criado para servir de meio de
união. Insuficiência de conhecimento natural e sobrenatural
d) Purificação de memória
e) Purificação da vontade
Paixões
Bens temporários
A vos naturais
Bens sensíveis
Bens morais
Bens espirituais
3. O Espírito e a Fé esclarecendo-se mutuamente
a) Retrospec va e visão prospec va
b) A vidade natural do espírito. A alma, suas partes e seus poderes.
c) Elevação da alma à ordem sobrenatural. Fé e vida de fé.
d) Comunicações extraordinárias de graça e liberação deles
4. Morte e ressurreição
a) Noite passiva do espírito. Fé, contemplação sombria, nudez espiritual
Inflamação de amor e transformação
A escala secreta
O ves do tricolor da alma
No escuro e escondido em profunda paz
b) A alma no reino do espírito e espíritos: Estrutura da alma. Espírito de Deus e
espíritos criados
Comunicação da alma com Deus e com os espíritos criados
O centro mais profundo da alma e os pensamentos do coração
A alma, o eu e a liberdade
Várias espécies de união com Deus
Fé e contemplação. Morte e ressurreição
3. A glória da ressurreição
1. Nas chamas do amor divino
a) No limiar da vida eterna
b) União com Deus, una e trina
c) Entre as labaredas da glória divina
d) Vida oculta de amor
e) Caracterís cas da chama, em relação aos livros anteriores da Santa
2. O cân co nupcial da alma
a) O Cân co Espiritual e sua relação com os outros escritos
b) A ideia central, segundo a exposição do Santo.
c) A imagem dominante e o seu valor no conteúdo do Cân co
d) O símbolo da esposa e os detalhes das outras imagens
e) O símbolo da esposa e da cruz
III. O SEGUIMENTO DA CRUZ

PREFÁCIO
Procuramos nestas pá ginas tentar compreender Sã o Joã o da Cruz na
unidade do seu ser, tal como se manifesta na sua vida e nos seus
escritos e isto de um ponto de vista que nos permite apreendê -lo
plenamente. Nã o pretendemos oferecer uma biogra ia do Santo, nem
dar uma exposiçã o completa de seus ensinamentos; mas
aproveitaremos os eventos de sua vida e o conteú do de seus escritos
para obter uma compreensã o mais profunda do signi icado dessa
unidade.
Daremos uma profusã o de testemunhos aos quais tentaremos dar uma
interpretaçã o que sirva para con irmar o que a autora, por meio de
esforços que perduram por toda a vida, acredita ter compreendido
sobre as leis do ser e da vida espiritual. Isto deve ser aplicado de modo
particular à s dissertaçõ es sobre o espı́rito, a fé e a contemplaçã o que se
inserem em diversos lugares e, sobretudo, na seçã o que leva o tı́tulo: “A
alma no reino do espı́rito e dos espı́ritos”. O que aı́ se a irma do "eu", da
"liberdade" e da "pessoa" nã o é extraı́do dos escritos do Santo, embora
nã o faltem em suas obras alguns pontos que poderiam servir de
suporte para isso. Uma exposiçã o detalhada desses problemas nã o
entrava em seus cá lculos nem estava de acordo com sua maneira de
pensar. Por outro lado, nã o podemos esquecer que a elaboraçã o de uma
iloso ia da pessoa, como aparece naqueles lugares, só foi realizada
recentemente pelos iló sofos.
Na apresentaçã o de testemunhos, fomos guiados pelos livros de nosso
Padre Bruno de Jesú s Maria Saint Jean de la Croix, Paris 1929 e Vie
d'amour de Saint Jean de la Croix, Paris, 1936, bem como o de Juan
Baruzi "Santo Jean de la Croix et le Problè me de l'Experience Mystique
", Paris 1931. A obra de Baruzi é rica em sugestõ es, mas nã o o
transcrevemos com frequê ncia porque nã o é fá cil con iar em suas
explicaçõ es sem antes ter passado por elas. peneira de uma crı́tica
severa, algo que nã o estava nos nossos planos ao escrever o livro. Para
quem conhece Baruzi, nã o será difı́cil descobrir os vestı́gios de sua
in luê ncia e mesmo os elementos que podem servir de base para uma
crı́tica de suas a irmaçõ es. No entanto, Baruzi tem um mé rito
incontestá vel, o do zelo incansá vel com que examinou e valorizou as
fontes. Mais discutı́vel é sua posiçã o com respeito à s duas redaçõ es do
manuscrito atravé s das quais O Câ ntico Espiritual e a Chama Viva do
Amor chegaram até nó s, a ú ltima das quais (possivelmente no caso da
Chama e com toda a probabilidade no Câ ntico), de acordo com para ele
deve ser considerado apó crifo, assim como sua a irmaçã o, contra o
sentimento unâ nime da tradiçã o, de que temos apenas uma versã o
apó crifa e truncada da Ascensã o e da Noite Negra.
INTRODUÇÃO: SIGNIFICADO, ORIGEM E
BASE DA CIÊNCIA DA CRUZ
No mê s de setembro ou outubro de 1568 o jovem carmelita Juan de
Yepes, até entã o conhecido pelo nome de Juan de Santo Matı́a com
quem havia professado no Carmelo, fez sua entrada na pobre casa da
fazenda de Duruelo, que serviria de fundaçã o e pedra angular da
Reforma Teresiana que entã o começou. Em 28 de novembro, junto com
outros dois companheiros, comprometeu-se com a observâ ncia da
regra primitiva e tomou o apelido da Cruz como tı́tulo de nobreza. Era
um sı́mbolo do que procurava ao deixar o Convento Carmelita de
Medina, afastando-se da mitigada Observâ ncia, que antes havia tentado
fazer vivendo de acordo com a regra primitiva, para a qual havia obtido
uma licença particular . Assim se manifestou a caracterı́stica especial da
Reforma: a vida dos Carmelitas Descalços devia basear-se no
seguimento de Cristo ao Calvá rio e na participaçã o da sua Cruz.
Como acabamos de notar, Juan de la Cruz nã o era novato na ciê ncia da
Cruz. O apelido que ele adotou na Ordem mostra que Deus se uniu à sua
alma para simbolizar um misté rio particular. Juan tenta indicar com sua
mudança de nome que a Cruz será doravante a marca registrada de sua
vida. Quando falamos aqui da ciê ncia da Cruz, nã o tomamos o nome de
ciê ncia em seu sentido comum: nã o é uma questã o de teoria pura, isto
é , de uma soma de sentenças verdadeiras ou reputadas como tais, nem
de uma edifı́cio ideal construı́do com pensamentos coerentes. E uma
verdade conhecida -a teologia da Cruz- mas uma verdade real e
operativa: como uma semente que, depositada no centro da alma,
cresce, imprimindo nela um selo caracterı́stico e determinando assim
os seus atos e omissõ es que por eles é que se manifesta e torna
cognoscı́vel. E neste sentido que se pode falar da ciê ncia dos santos e a
ele nos referimos quando falamos da ciê ncia da Cruz.
Nesta forma e força viva, brotam das profundezas do homem um
conceito de vida e uma visã o de Deus e do mundo, permitindo uma
forma particular de pensar que se presta a ser formulada numa
teoria. Temos essa cristalizaçã o na doutrina de nosso Santo Padre. E é o
que nos propomos buscar em sua vida e em seus escritos. Mas primeiro
devemos nos perguntar de que maneira podemos conceber uma ciê ncia
no sentido indicado acima.
Existem sintomas naturalmente detectá veis que mostram que a
natureza humana, como realmente é , está em um estado de
corrupçã o. Um desses sintomas é a incapacidade de avaliar as
circunstâ ncias dos atos de seu verdadeiro valor e de reagir a eles com
retidã o. Incapacidade que pode advir de um certo embotamento, já
congê nito, ou també m adquirido no decorrer da vida, ou inalmente, de
uma insensibilidade a certos estı́mulos em decorrê ncia da repetiçã o
rotineira. O que se ouve continuamente, o que se sabe de muito tempo
"nos deixa frios". Acrescente a tudo isso que, na maioria das vezes,
somos excessivamente afetados por nossas pró prias conveniê ncias,
embora permaneçamos impenetrá veis à s de nossos vizinhos. Sentimos
essa nossa insensibilidade como algo que nã o condiz com o que deveria
ser a realidade e nos faz sofrer. Mas é inú til pensar que obedece a uma
lei psicoló gica. Por outro lado, icamos felizes em ver por experiê ncia
que somos capazes de alegrias profundas e autê nticas, e mesmo de uma
dor verdadeira e ı́ntima que consideramos uma graça em comparaçã o
com a rigidez fria da insensibilidade. Isso é particularmente doloroso
no campo religioso. Muitos crentes se sentem atormentados, porque os
fatos da Salvaçã o ou nunca os impressionaram, ou eles nã o os
impressionam mais tanto quanto deveriam, e eles nã o mais retê m a
força formativa de outros tempos para suas vidas. Ler a vida dos santos
os faz voltar à realidade e ver que onde a fé é verdadeiramente viva, aı́ a
doutrina da fé e as grandes obras de Deus constituem o nú cleo da
vida; tudo o mais é adiado e só reté m seu valor assim que é informado
por aqueles. E o realismo dos santos, que nasce do sentimento ı́ntimo e
fundamental da alma que se sabe renascer do Espı́rito Santo. Por mais
que essa alma entre, acolhe-a de maneira adequada e na sua
correspondente profundidade, e com ela encontra uma força viva,
motriz e pronta a se deixar moldar, e nã o impedida por qualquer
obstá culo ou estorvo, que se permite seja moldado, dirigido com
facilidade e alegria pelo que você recebeu. Quando uma alma santa
assim aceita as verdades da fé , elas se tornam a Ciê ncia dos Santos. E
quando sua forma ı́ntima é constituı́da pelo misté rio da Cruz, entã o
essa ciê ncia se torna a Ciê ncia da Cruz.
Este realismo sagrado tem uma certa a inidade com o realismo da
criança que recebe suas impressõ es e reage a elas com uma força ainda
nã o enfraquecida e com uma vivacidade e engenhosidade livre de
inibiçõ es. E claro que tal reaçã o nem sempre está naturalmente de
acordo com a razã o. Ele nã o tem maturidade de inteligê ncia. E assim
que a inteligê ncia entra em açã o, ela se depara com fontes internas e
externas de erro e engano que a levam para os caminhos errados. A
in luê ncia relevante do meio ambiente pode atuar preventivamente. A
alma da criança é macia e dú ctil. O que a penetra pode informá -la para
o resto da vida. Quando os fatos da Salvaçã o penetrarem
apropriadamente na terna alma da criança, os alicerces para uma vida
santa podem ter sido lançados. As vezes també m encontramos uma
escolha precoce e extraordiná ria da Graça Divina, neste caso o realismo
infantil coincidindo com o realismo sagrado. Assim se fala de Santa
Brı́gida que, aos dez anos, ouviu pela primeira vez sobre a Paixã o e a
Morte de Jesus. Na noite seguinte, o Salvador apareceu a ele na cruz e a
partir de entã o nã o foi mais possı́vel meditar na Paixã o do Senhor sem
derramar lá grimas.
No caso de Sã o Joã o da Cruz, um terceiro aspecto deve ser levado em
consideraçã o: ele tinha a natureza de um artista. Entre os vá rios ofı́cios
e artes manuais em que se formou quando criança estã o os de escultor
e pintor. Mais tarde, os desenhos de suas mã os ainda sã o preservados
(seu desenho da Subida do Monte Carmelo é universalmente
conhecido). Sendo prior de Granada, traçou o projeto de um convento
para contemplativas. Mas, ao mesmo tempo que desenhista, é poeta. Ele
sentiu a necessidade de expressar em cançõ es o que vivia em sua
alma. Seus escritos mı́sticos nada mais sã o do que explicaçõ es
posteriores de suas expressõ es poé ticas imediatas. Por isso, no caso
dele, devemos atentar para o realismo do pró prio artista. O artista pela
força inabalá vel de sua sensibilidade se relaciona com a criança e o
santo.
Mas - ao contrá rio do que acontece no santo realismo - aqui nos
deparamos com uma impressionabilidade que contempla o mundo à
luz de uma determinada categoria de valores, em fá cil detrimento de
outras, e tem seu pró prio procedimento peculiar. E tı́pico do artista
representar em imagens o que o impressiona internamente e luta para
se manifestar no exterior. Quando falamos de imagens, nã o
pretendemos nos limitar à arte grá ica e representativa: qualquer
criaçã o artı́stica está incluı́da nesta expressã o, sem excluir as poé ticas
ou musicais. E, ao mesmo tempo, uma imagem que representa algo, e
uma criaçã o: algo criado e encerrado em si mesmo, formando seu
pró prio mundinho. Toda obra de arte genuı́na també m é um sı́mbolo,
quer o artista o tenha pretendido ou nã o, quer o artista seja um
naturalista ou um simbolista. Sı́mbolo: isto é , da in inita plenitude de
sentido em que necessariamente se depara todo o conhecimento
humano, ele capta algo e o faz manifestar e o exprimir; e, aliá s, de tal
forma que essa mesma plenitude de sentido, inesgotá vel para o
conhecimento humano, encontre no sı́mbolo uma ressonâ ncia
misteriosa. Assim entendida, toda arte autê ntica é uma revelaçã o e a
criaçã o artı́stica um serviço sagrado. Apesar de tudo, é verdade que em
toda criaçã o artı́stica se esconde um perigo, e isso nã o apenas quando o
artista nã o tem idé ia da santidade de sua missã o. E o perigo de se
contentar com a representaçã o externa da imagem, como se nã o
houvesse outras exigê ncias para ele.
O que a irmamos de maneira geral aparece com mais clareza no caso da
imagem da Cruz. Di icilmente há um artista cristã o que nã o se sinta
compelido a representar Cristo carregando a cruz ou pregado nela. Mas
o Cruci icado pede ao artista algo mais do que sua imagem do que uma
representaçã o. Exige dele, como de qualquer outro homem, a imitaçã o:
que ele mesmo se torne a imagem de Cristo carregando a cruz e
cruci icado e que se deixe modelar segundo ela. A mera representaçã o
externa pode ser um obstá culo à sua con iguraçã o pessoal, mas nã o
deveria ser assim; pode até servi-la, pois a mesma imagem interior,
projetada para o exterior, só a torna mais vividamente re letida e mais
assimilá vel internamente. Por isso, quando nenhum obstá culo cruza
seu caminho, torna-se uma forma interna que impulsiona a açã o, ou
seja, caminhar em sua perseguiçã o. Sim, a mesma imagem externa,
aquela criada por si mesmo, pode servir de incentivo à formaçã o da
pró pria pessoa. Tenemos motivos para a irmar que ası́ sucedió en el
caso de san Juan de la Cruz: el realismo del niñ o, del artista y del santo
se han unido en é l para preparar un terreno adecuado para el mensaje
de la Cruz, para permitirle progresar en la ciencia da Cruz. Já dissemos
que sua natureza artı́stica se manifestou desde a infâ ncia. També m nã o
faltam testemunhos que nos falam sobre a sua vocaçã o inicial à
santidade. Sua mã e mais tarde disse aos Carmelitas Descalços de
Medina que seu ilho durante sua infâ ncia se comportava como um
anjo. Esta piedosa mã e incutiu nela o mais terno amor pela Mã e de
Deus e sabemos de boa fonte que Maria, com a sua intervençã o pessoal,
por duas vezes libertou o ilho do afogamento. Tudo o mais que
sabemos de sua infâ ncia e juventude també m mostra que desde os
primeiros anos ele foi ilho da graça.
I. A MENSAGEM DA CRUZ
1. Primeiros encontros com a cruz
Agora nos perguntamos como a semente da mensagem da Cruz foi
plantada nesta terra fé rtil. Nã o temos nenhum testemunho que nos diga
quando Joã o viu a imagem do Cruci icado pela primeira vez. E prová vel
que sua mã e, uma crente fervorosa, o tenha levado com ela, quando ele
ainda era muito jovem, à igreja paroquial de Fontiveros, sua terra
natal. Ali pô de contemplar o Salvador na cruz, com o rosto des igurado
pela dor, com cabelos naturais que, descendo pelo rosto, chegavam à s
costas cobertos de feridas. E quando a jovem viú va, que teve de
suportar tantas necessidades e sofrimentos, falava ao ilho da Mã e do
cé u, ela o conduzia també m à Mã e Dolorosa aos pé s da cruz. Podemos
conjeturar, com todo o respeito pelos misté rios da graça, que foi Maria
quem doutrinou a sua protegida, desde tenra idade, na ciê ncia da
Cruz. Quem mais instruiu e penetrou na dignidade da cruz do que a
Virgem mais sá bia?
Juan també m encontrou, em todo caso, a imagem do Cruci ixo nas
o icinas onde trabalhou. E possı́vel que mesmo assim ele se divertisse
esculpindo cruzes, um trabalho que ele faria com tanto prazer mais
tarde. Se por todas essas a irmaçõ es devemos nos contentar com
conjecturas, temos bom respaldo para a hipó tese de um encontro
precoce com a Cruz, no fato certo de que muito em breve o amor à
penitê ncia e à morti icaçã o se manifestou nele. Quando ele ainda tinha
9 anos, ele desprezou sua cama e dormiu em uma cama de brotos de
videira. Alguns anos depois, ele nã o se permitiu mais do que algumas
horas de descanso nesta cama dura e passou boa parte da noite
estudando. Ainda estudante, pediu esmolas aos colegas mais pobres do
que ele e, mais tarde, aos pobres do hospital. Depois de vá rias
tentativas infrutı́feras em outras pro issõ es, dedicou-se ao á rduo
trabalho de enfermeiro e nele perseverou com total dedicaçã o; segundo
o depoimento do irmã o Francisco era o "hospital dos bubõ es". També m
foi levantada a hipó tese de que os pacientes atendidos neste hospital
eram si ilı́ticos. Verdade ou nã o, a certeza é que a criança aprendeu a
conhecer entre seus pacientes nã o só as enfermidades do corpo, mas
també m a sentir pena das da alma e da moral, e o iel cumprimento de
seu dever exigia os puros. , coraçã o profundo e terno da criança, muitas
vezes datas de vencimento dolorosas. Quem te deu força para isso? Sem
dú vida o amor do Cruci icado, que ele quis percorrer por um caminho
á rduo, ı́ngreme e estreito. O desejo de conhecê -lo mais de perto e
conformar-se mais perfeitamente com a sua imagem levou Sã o Joã o da
Cruz a frequentar o estudo no colé gio jesuı́ta em preparaçã o para a sua
vocaçã o sacerdotal. Para ouvir melhor a mensagem da Cruz, rejeitou a
lucrativa oferta de um capelã o no hospital onde servia, preferindo a
pobreza da Ordem. Este mesmo desejo o levou a nã o encontrar
descanso na observâ ncia mitigada dos Carmelitas daquela é poca e a se
refugiar na Reforma.
2. A mensagem da Sagrada Escritura
E possı́vel que, como aluno dos Jesuı́tas, Sã o Joã o da Cruz tenha se
iniciado no manejo da Sagrada Escritura. Mais cedo, sem dú vida, teve
oportunidade de ouvir as palavras de Cristo e, entre elas, a mensagem
da Cruz, nos sermõ es e instruçõ es e na Liturgia. De resto, o estudo
diá rio das Sagradas Escrituras é uma coisa comum entre os
Carmelitas. Quando, como jovem carmelita, foi enviado para estudar em
Salamanca, o exame do texto sagrado, sob a direçã o de exegetas
competentes, constituiu a parte essencial de sua obra, e temos a notı́cia
de que, anos depois, viveu completamente imerso. na meditaçã o. da
escrita. A Bı́blia foi um dos poucos livros que ele sempre teve em sua
cela. As palavras da Escritura sã o insepará veis de seus escritos, elas se
tornaram a expressã o natural de sua experiê ncia e luem
espontaneamente de sua pena. Seu secretá rio e con idente nos ú ltimos
anos, Padre Juan Evangelista, testemunha que Sã o Joã o da Cruz
di icilmente precisava consultar a Escritura porque a sabia quase de
cor. De tudo isso podemos concluir que a mensagem da Cruz, contida
nas Cartas Sagradas, deve penetrar cada vez mais intimamente em seu
coraçã o ao longo de sua vida. E-nos impossı́vel examinar
exaustivamente esta primeira fonte da sua ciê ncia da Cruz, porque nã o
podemos esquecer que toda a Sagrada Escritura, tanto o Antigo como o
Novo Testamento, foram o seu pã o de cada dia. As citaçõ es da Sagrada
Escritura sã o tã o numerosas em suas obras que nã o interessa citá -las
todas. De resto, nã o seria razoá vel limitarmo-nos a eles e ingir que
outras expressõ es, que nã o sã o mencionadas por ele, també m nã o
tiveram uma in luê ncia vital em sua alma. Por isso, devemos limitar-nos
a mostrar, com outra sé rie de casos, a sua penetraçã o na mensagem da
Cruz.
O pró prio Salvador, em diferentes ocasiõ es e com diferentes sentidos,
falou da Cruz: quando ele previu sua Paixã o e Morte, ele tinha
literalmente diante de seus olhos a estaca de ignomı́nia em que sua vida
iria terminar. Mas quando ele diz "... quem nã o leva a sua cruz e me
segue nã o é digno de mim" ou "quem quer vir apó s mim, negue-se a si
mesmo, tome a sua cruz e siga-me", a cruz é a sı́mbolo de tudo o que é
difı́cil e pesado, e que é tã o oposto à natureza que, ao assumir esse
fardo, tem a sensaçã o de caminhar para a morte. E este é o fardo que o
discı́pulo de Cristo deve carregar diariamente. O anunciador da morte
colocou diante de seus discı́pulos a imagem do Cruci icado e o faz hoje
em todos os que lê em ou ouvem o Evangelho. Há nisso uma sugestã o
silenciosa de responder de maneira conveniente. O convite a seguir a
Cristo pela Via Cruzada da vida dá -nos a resposta adequada e, ao
mesmo tempo, faz-nos compreender o sentido da morte na Cruz, visto
que estas palavras sã o imediatamente seguidas da advertê ncia: “Quem
quiser Para salvar a vida dele, perca-a, mas quem perder a vida por
minha causa vai salvá -la. " Cristo ofereceu sua vida para abrir aos
homens as portas da vida eterna. Mas, para ganhar essa vida eterna,
você precisa renunciar à vida terrena. Devemos morrer com Cristo e
com ele ressuscitar: morrer com a morte do sofrimento que dura a vida
toda, com a negaçã o diá ria de si mesmo e, se necessá rio, com a morte
sangrenta do martı́rio pelo Evangelho.
As narrativas evangé licas da Paixã o pintam extensa e
circunstancialmente esta imagem do Cristo doente e cruci icado,
aludida nas palavras do Senhor. O coraçã o puro e terno de uma criança
e a fantasia de um artista que Juan de Yepes possuı́a deveriam icar
indelevelmente impressionados por essas imagens. Alé m disso,
devemos ter em mente que a criança compareceria e até atuaria como
acó lita nos serviços da Semana Santa. Todos os anos, no Domingo de
Ramos e durante os dias da Semana Santa, a Igreja, atravé s da Liturgia,
apresenta aos ié is os ú ltimos dias da vida de Cristo, a sua morte e
sepultamento com dramá tica vivacidade e com palavras e melodias tã o
emocionantes que o convidam irresistivelmente para participar
deles. Se mesmo os homens frios e incré dulos que vivem envoltos na
vida mundana nã o pudessem permanecer indiferentes a eles, qual seria
o efeito que eles teriam sobre o jovem santo de quem sabemos que nos
ú ltimos anos de sua vida ele di icilmente poderia falar de coisas
espirituais sem estar em ê xtase e bastava ele ouvir uma mú sica para
entrar em ê xtase?
Estudiando la Sagrada Escritura, ademá s de los datos de los Evangelio,
se encontró con las profecı́as del Antiguo Testamento y, ante todo, con
la descripció n que del siervo de Dios hace Isaı́as y que e joven Carmelita
podı́a haber conocido por las lecciones del breviario en a semana
Santa. Aqui ele pode encontrar nã o apenas a Paixã o retratada com
realismo implacá vel, mas també m o grande pano de fundo histó rico,
sagrado e profano, sobre o qual o drama do Gó lgota se
desenvolveu; Deus Criador, Todo-Poderoso e Senhor do mundo - que
derruba os povos como uma panela de barro e é ao mesmo tempo Pai
que circunda o seu povo com o mais terno cuidado - que, atravé s dos
sé culos, corteja sua esposa Israel, e o tempo e mais uma vez, ele é
desprezado e esquecido, como canta Sã o Joã o da Cruz em seu Câ ntico
do Pastor. Os Profetas e os Evangelhos se esclarecem quando pintam o
retrato do Messias que, obediente a seu Pai, vem resgatar sua esposa e
que, para libertá -la, leva o jugo sobre seus ombros e nã o desiste da
morte para dar. ele vida. Um eco de tudo isso ressoa em seus
Romances. Nos Profetas, as relaçõ es de amor de Israel estendem-se a
toda a humanidade e, portanto, existe uma correspondê ncia entre o
anú ncio do reino de Deus pelos Profetas e pelos Evangelhos.
Há ainda outra coisa que deveria parecer clara para Joã o nos livros
profé ticos: a relaçã o que o pró prio Profeta tinha com Deus: a vocaçã o e
a segregaçã o de um homem sobre quem o Todo-Poderoso havia posto
as mã os. Uma relaçã o que fará deste homem amigo e con idente de
Deus, conhecedor e mensageiro dos decretos divinos, e exige, por outro
lado, dele uma dedicaçã o incansá vel e uma vontade ilimitada de afastá -
lo da comunidade dos homens que pensa da mesma forma, natural e
torna-o um sinal de contradiçã o. Por tudo isso, ele nã o só faz uso
imediato da Sagrada Escritura, mas també m de sua interpretaçã o na
tradiçã o da Ordem. No Carmelo - mesmo sob o regime mitigado - a
memó ria do Profeta Elias "Guia e Pai dos Carmelitas" foi mantida
viva. O Institutio primorum monachorum o apresenta aos jovens
carmelitas como um modelo de vida contemplativa. O Profeta a quem
Deus ordena que se retire para o deserto e se esconda no riacho Karith,
em frente ao Jordã o, e beba a á gua do riacho e se alimente da comida
que Deus lhe enviar, é o modelo de todos aqueles que, retirando-se para
a solidã o, eles se livram do pecado e de todos os gostos sensı́veis (é
assim que ele interpreta a frase "na frente do Jordã o") e se escondem
no amor de Deus (Karith é interpretado como rostinhos): a torrente da
graça dará ele uma bebida deliciosa e a doutrina dos Padres para
oferecer a sua alma alimento só lido: o pã o do arrependimento e da
penitê ncia e a carne da verdadeira humildade. Sã o Joã o da Cruz nã o
encontrou aqui a chave para explicar o que Deus faz em sua pró pria
alma? Os planos salvı́ icos de Deus realizam-se na humanidade e, por
meio dele, no seu povo eleito. Mas dentro dele ele tem que lidar com
cada uma das almas. Cada um deve estar rodeado por ele com solı́cito
afeto e cuidado paternal. Encontra-se na Sagrada Escritura,
especi icamente no Câ ntico dos Câ nticos, um exemplo de como o sentir-
se amado se torna um espinho para a alma que já nã o lhe permite icar
calma. O Câ ntico Espiritual é o eco de tudo isso. Mais tarde,
mostraremos em que medida é o motivo da Cruz que se repete
continuamente nele.
Se o poeta encontra ricas inspiraçõ es nas imagens plá sticas do Antigo
Testamento, o teó logo pode encontrá -las em outras fontes fecundas. A
alma, feita uma com Cristo, vivendo de sua vida - mas somente por
causa de seu abandono no Cruci icado, somente quando ele percorreu
todo o caminho até o Calvá rio com ele -: em nenhum lugar isso é tã o
clara e impressionantemente expresso como no mensagem de Sã o
Paulo que constitui uma ciê ncia da cruz bem desenvolvida, uma
teologia da cruz, vivida na alma.
“Cristo me enviou ... para evangelizar e nã o com palavras arti iciais para
que a Cruz de Cristo nã o seja distorcida. Porque a doutrina da Cruz de
Cristo é loucura para quem está perdido, mas é o poder de Deus para
quem sã o salvos. "; “... os judeus pedem sinais, os gregos buscam
sabedoria, enquanto pregamos Cristo cruci icado, um escâ ndalo para os
judeus, uma loucura para os gentios, mais poder e sabedoria de Deus
para os chamados, sejam judeus ou gregos. Porque a loucura de Deus é
mais sá bia do que a sabedoria dos homens, e a fraqueza de Deus mais
poderosa do que a força dos homens. "
A doutrina da Cruz constitui o "Evangelium Pauli", a mensagem que
deve anunciar aos judeus e gentios. E uma mensagem simples, sem
adornos, sem qualquer pretensã o de persuadir com argumentos
racionais. Ele tira todas as suas forças do testemunho que anuncia e
esta é a Cruz de Cristo, ou seja, a morte de Cristo na Cruz e de si mesmo
Cruci icado. Cristo é a força de Deus e a sabedoria divina, nã o apenas
como enviado por Deus, o Filho de Deus e o pró prio Deus, mas como
cruci icado. E é que a morte de Cruz é o meio de salvaçã o escolhido pela
in inita sabedoria. E para demonstrar que a força e a sabedoria
humanas sã o incapazes de alcançar a Redençã o, a força salvadora foi
dada à quilo que, segundo as medidas humanas, parece fraco e louco:
aquele que nã o quer ser nada por si mesmo, mas se permite ser A força
de Deus opera só nele, aquele que se esvaziou e "se tornou obediente
até a morte e morte na cruz".

A força salvadora, isto é , o poder de ressuscitar aqueles que estavam


mortos para a vida divina por causa do pecado. Esta força salvadora da
Cruz passou na palavra da Cruz e, atravé s desta palavra, é comunicada a
quem a recebe e se abre a ela sem reclamar milagres ou fundamentos
da sabedoria humana: neles se torna aquela força vivi icante. e
educador eles chamam de Ciê ncia da Cruz. O pró prio Sã o Paulo
conseguiu isso com perfeiçã o; “Mas eu, pela mesma lei, morri para a
Lei, para viver para Deus; estou cruci icado com Cristo, e nã o vivo mais,
é Cristo que vive em mim. E embora atualmente eu viva na carne, Vivo
na fé do Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim ”.
Naqueles dias em que a noite caı́a à sua volta e, no entanto, a luz
brilhava dentro dele, o guardiã o da Lei sabia que a Lei era a pedagoga
do caminho que conduz a Cristo. A Lei podia preparar para receber
vida, mas nã o podia dar vida alguma. Cristo tomou sobre si o jugo da
Lei porque a cumpriu perfeitamente e morreu pela Lei e pela Lei. Com
isso, libertou da Lei aqueles que querem receber a vida dele, mas só
podem recebê -la quando eles abandonam seus pró prios. Pois todos os
que foram batizados em Cristo foram batizados em sua morte. Eles se
imergiram em sua vida para serem membros de seu corpo e, como tais,
sofrem e morrem com ele, mas també m sobem com ele para a vida
eterna e divina.
Esta vida virá a nó s totalmente no dia de sua gló ria. Poré m, já agora -
“na carne” - participamos Nele quando cremos: cremos que Cristo
morreu por nó s para nos dar a vida. Essa fé é o que nos permite ser
uma coisa com ele com a unidade que os membros tê m com suas
cabeças e abre para nó s o curso de sua vida. Tal é a fé no -Cruci icado-, a
fé viva que acompanha o abandono amoroso e constitui para nó s a
entrada à vida e o inı́cio da glori icaçã o futura: por isso a Cruz é o nosso
ú nico tı́tulo de gló ria: «Quanto a mim, Deus nã o quer que eu me glorie
senã o na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está
cruci icado por mim e eu pelo mundo ”. Aquele que decidiu por Cristo
está morto para o mundo e o mundo para ele. Ele carrega os estigmas
do Senhor em seu corpo; Ele é fraco e desprezado perante os homens,
mas justo e, por isso mesmo, forte, pois a força de Deus é a sua força na
fraqueza.
Com este conhecimento, o discı́pulo de Cristo nã o só toma sobre si a
cruz que lhe foi imposta, mas se cruci ica. "Aqueles que pertencem a
Cristo Jesus cruci icaram sua carne com suas paixõ es e
concupiscê ncias." Eles tiveram que travar uma guerra implacá vel contra
sua natureza para que a vida de pecado morresse neles e desse lugar à
vida do espı́rito. O ú ltimo é o que importa. A cruz nã o é um im em si
mesma. Ela se levanta e empurra para cima. Por isso, nã o é apenas um
sı́mbolo, mas uma poderosa arma de Cristo, o cajado do pastor, com o
qual o divino Davi sai para lutar com o infernal Golias e com o qual
chama com autoridade à porta do cé u e é aberto para ele. Desde entã o,
torrentes de luz divina luı́ram, envolvendo aqueles que seguem o
Cruci icado.
3. O Sacri ício da Missa
Morrer com Cristo e ressuscitar com ele torna-se possı́vel para todos os
ié is, e particularmente para os sacerdotes, no Santo Sacrifı́cio da
Missa. O Sacrifı́cio da Missa, de acordo com a doutrina cató lica, nada
mais é do que a renovaçã o do sacrifı́cio da Cruz. Para quem o oferece
com fé viva ou dele participa, o que aconteceu no Gó lgota se
repete. Juan, quando criança, ajudava na missa e este mesmo ofı́cio
exercia, sem dú vida, na Ordem antes do sacerdó cio. Sabemos pela
histó ria de sua vida que a mera contemplaçã o do cruci ixo foi capaz de
deixá -lo literalmente em ê xtase. Como essa oferta perfeita deve tê -lo
atraı́do - primeiro como coroinha e, mais tarde, quando foi ele mesmo
quem a ofereceu.
Temos notı́cias de sua primeira missa. Ele festejou no Convento de
Santa Ana de Medina del Campo, em setembro de 1567, talvez na oitava
da Natividade, e na presença de sua mã e, seu irmã o mais velho
Francisco e sua famı́lia. Um santo terror o retirou da dignidade do
sacerdó cio e somente a obediê ncia à s instruçõ es de seus superiores
conseguiu superar seus escrú pulos. Entã o, no inı́cio da Santa Missa, o
sentimento de sua indignidade tornou-se mais vivo nele, ele foi aceso
em um desejo ardente de ser completamente puro para poder tocar o
Santo dos Santos com as mã os limpas, e o pedido que o Senhor cuide
dele para que nunca te ofenda mortalmente. Queria sentir dor por
todas as faltas em que pudesse cair sem ajuda divina, mas sem cometer
a culpa. Na consagraçã o, ele ouviu as palavras "Eu te concedo tudo o
que me pedires" e, desde entã o, foi con irmado na graça e manteve o
coraçã o puro como o de uma criança de dois anos. Sentir-se livre da
culpa e ainda assim sentir dor, nã o é esta uma verdadeira relaçã o com o
Cordeiro imaculado que levou sobre si os pecados do mundo? Isso nã o
é Getsê mani e Gó lgota?

O sentimento de John pela grandeza do sacrifı́cio em massa nunca


diminuiu. Sabemos que um dia, quando estava em Baeza, retirou-se do
altar em ê xtase sem ter terminado a Santa Missa. Um dos presentes
exclamou que os anjos deviam vir para terminar aquela missa porque o
Santo Padre nã o se lembrava de que nã o a tinha terminado. Em
Caravaca ele foi visto em uma ocasiã o durante a missa coberto com o
esplendor que vinha da Hó stia Sagrada. Ele pró prio disse que, por
vezes, durante vá rios dias, teve de passar vá rios dias sem celebrar a
Santa Missa, porque a sua natureza era demasiado dé bil para resistir à
torrente das consolaçõ es divinas. Com particular deleite, ele celebrou a
Missa da Santı́ssima Trindade. Existe uma conexã o ı́ntima entre este
misté rio supremo e o Santo Sacrifı́cio que foi instituı́do de acordo com o
decreto das Trê s Pessoas Divinas, serve para sua gló ria e abre a porta
para a participaçã o da corrente eterna da vida trinitá ria. Nã o podemos
sequer suspeitar da plenitude da iluminaçã o divina que foi comunicada
ao Santo no altar durante o curso de sua vida sacerdotal. Em todo caso,
foi principalmente durante a celebraçã o da Santa Missa que sua ciê ncia
da Cruz se desenvolveu e sua misteriosa e progressiva transformaçã o
no Cruci icado aconteceu.
4. Visões da Cruz
A mensagem da Cruz é ouvida no coraçã o de todos os que vivem no
ambiente cultural do Cristianismo atravé s das palavras, imagens e
festivais da Liturgia, mas encontra uma ressonâ ncia particular no
coraçã o do sacerdote, embora sejam muito poucos. capaz e tã o disposta
a aceitá -lo e respondê -lo como Sã o Joã o da Cruz. Alé m disso, e
independentemente das graças extraordiná rias da Santa Missa, a
mensagem da Cruz o alcançou de outras maneiras extraordiná rias. O
Cruci icado apareceu para ele vá rias vezes, de duas das quais temos
notı́cias especı́ icas. Em sua doutrina, o Santo considera as visõ es,
locuçõ es e revelaçõ es como elementos acidentais da vida mı́stica. Ele
advertiu, antes de tudo e com grande insistê ncia, do perigo do engano
ou, pelo menos, de ser impedido no caminho da uniã o que pode ser
seguido pela valorizaçã o de tais coisas. Alé m disso, ele sempre foi muito
retraı́do para comunicar qualquer coisa que se re ira à sua vida, tanto
externa quanto internamente. Se ele falou dessas visõ es, é porque elas
tinham um signi icado particular para ele. Uma tempestade de
perseguiçã o e sofrimento se seguiu em sua vida, e é evidente que essas
visõ es serviram de advertê ncia.
A primeira apariçã o aconteceu em Avila, no Mosteiro da Encarnaçã o,
onde Santa Teresa o tinha chamado como confessor das
freiras. Encontrando-se um dia imerso na contemplaçã o da Paixã o, o
Cruci icado foi-lhe mostrado, visı́vel aos olhos do corpo, coberto de
feridas e banhado em sangue. A apariçã o era tã o clara que ele poderia
desenhá -la com a caneta assim que recuperasse a consciê ncia. A folha
amarelada, na qual o desenhou, ainda hoje se conserva no Mosteiro da
Encarnaçã o. O desenho dá uma impressã o de modernidade. A Cruz e o
corpo sã o representados em forte escorço, visto de lado: o corpo em
movimento forçado, longe da Cruz, pendurado pelas mã os (as mã os,
perfuradas por cravos fortes, muito salientes, sã o particularmente
impressionantes), A cabeça é inclinada para a frente de tal forma que os
traços do rosto nã o sã o visı́veis e a parte superior das costas nuas ica
exposta com hematomas. O Santo enviou a folhinha à Irmã Marı́a de
Jesú s, a quem con iou o seu segredo. O que é compreensı́vel porque o
pró prio Senhor comunicou à alma deste religioso um dos segredos mais
ı́ntimos do Santo: a graça que recebeu na sua primeira missa. Nã o
sabemos se o Senhor falou com ele quando se curvou tã o
profundamente na cruz. Mas o que podemos dizer é que ocorreu uma
troca sincera. Isso aconteceu pouco antes de se desencadear a
perseguiçã o ao calçado contra a Reforma, cuja principal vı́tima tinha de
ser justamente ele.

A segunda apariçã o aconteceu em Segó via no inal de sua vida. Ele tinha
chamado o irmã o Francisco lá , que é quem nos transmitiu o fato. “Fui
vê -lo e depois de dois ou trê s dias lá , pedi licença para vir. Ele me disse
para icar mais uns dias, porque nã o sabia quando nos verı́amos de
novo . Esta foi a ú ltima vez que o vi. Uma tarde. Depois do jantar ele me
pegou pela mã o e me levou para o jardim e quando está vamos sozinhos
ele me disse: "Eu quero te contar uma coisa que aconteceu comigo com
o nosso Senhor. Tı́nhamos um cruci ixo no convento e um dia, enquanto
estava diante dele, parecia-me que estaria mais decente na Igreja, e com
o desejo de que nã o só os religiosos o reverenciassem, mas també m os
de fora , Fiz o que achei melhor. Depois de tê -lo colocado na Igreja da
maneira mais decente que pude, estando um dia em oraçã o diante dele,
ele me disse: Irmã o Juan, peça-me o que quiser, que lhe concederei por
este serviço que você tem me fez. "Eu disse a ele:" Senhor, o que eu
quero que você me dê sã o trabalhos para fazer por você , e para que eu
seja desprezado e desprezado "
Quando Juan expressou esse desejo, as circunstâ ncias de sua vida eram
tais que poderiam ser facilmente satisfeitas sem intervir mais do que
causas naturais. O senhor foi o superior provincial do Carmelo
reformado, padre Nicolá s Doria, exaltado guardiã o da observâ ncia, que
quis modelar a Reforma de Teresa segundo suas pró prias idé ias. Juan
defendeu decididamente a herança da Santa Madre e das vı́timas do
fanatismo: Padre Graciá n e as Carmelitas. Em 30 de maio de 1591, foi
inaugurado em Madrid o Capı́tulo Geral dos Descalços. Antes de partir
para ele, o Santo dos Descalços de Segó via despediu-se. A Prioresa
Marı́a de la Encarnació n exclamou, vivamente impressionada: «Padre,
quem sabe se nã o retribuir a vossa veneraçã o como Provincial desta
Provı́ncia» e a Santa respondeu: «Se eu soubesse, ilho, quã o diferente
penso o que acontecerá no Capı́tulo ! saber que enquanto em oraçã o
con iava seus acontecimentos a Deus, parecia-me que eles estavam me
pegando e me jogando em um canto ”. E assim realmente aconteceu. Ele
nã o recebeu nenhum cargo e foi enviado para a solidã o de La
Peñ uela. Lá , chegou a notı́cia da humilhaçã o a que as mulheres
Descalças foram submetidas. Foi feito um comunicado para reunir
materiais contra o Santo. Motivos foram procurados para expulsá -lo da
Ordem. Pouco depois, devido a sua doença, foi forçado a deixar La
Peñ uela, onde nã o tinha assistê ncia mé dica. assim ele chegou à ú ltima
estaçã o de sua Via Crucis: Ubeda. Coberto de feridas purulentas, ele
encontrou aqui no Padre Prior, Francisco Crisó stomo, um inimigo feroz
que fez mais do que o su iciente para satisfazer seu desejo de ser
desprezado. Ele havia alcançado o topo do Gó lgota.
5. A mensagem da cruz
Ainda temos um terceiro testemunho que prova que Sã o Joã o da Cruz
recebeu uma in luê ncia incomum da imagem do Cruci icado. E é fá cil
que tenha acontecido com muito mais frequê ncia do que
sabemos. Consideramos todas essas in luê ncias como mensagens que o
encorajam e o preparam para carregar a cruz. Mas també m tudo o que
entendemos simbolicamente sob o nome da Cruz, todos os fardos e
sofrimentos da vida, podem ser considerados como mensagens da Cruz,
pois é precisamente por meio dela que esta ciê ncia pode ser melhor
aprendida. O Santo teve a oportunidade, desde os primeiros anos, de
conhecer a dor e a necessidade. A morte prematura do pai, a luta que a
mã e teve de empreender para ganhar o pã o para os ilhos, os pró prios
esforços, sempre malsucedidos, para ajudar no sustento da famı́lia -
tudo isso deve ter causado uma profunda impressã o em seus tenros
anos-; mas nã o sabemos nada sobre isso. Tampouco sabemos muito
sobre o efeito que as crises dos primeiros anos de sua vida religiosa
tiveram em sua alma.
Mais tarde, preservam-se notı́cias que revelam melhor sua vida
interior. Uma tarde em Avila, depois de ouvir as con issõ es, voltava do
Mosteiro da é poca do Angelus pelo caminho que conduzia à casinha
onde vivia com o seu companheiro, o Padre Germá n. De repente, um
homem correu para ele e o derrubou no chã o e o derrubou. (Era a raiva
de um amante cuja presa foi tomada). Quando Joã o contava essa
aventura, ele costumava acrescentar que nunca experimentou tanto
conforto, porque ele mesmo foi tratado como o Salvador e pô de
saborear a doçura da Cruz.
A prisã o de Toledo també m lhe ofereceu muitas oportunidades para
isso. O Santo havia começado a Reforma em Duruelo e foi transferido
para Mancera à medida que a Comunidade crescia; Posteriormente
trabalhou no noviciado de Pastrana e, inalmente, dirigiu o Colé gio da
Ordem em Alcalá . Em 1572, a Santa Mã e chamou Avila para ajudá -la em
sua difı́cil missã o. Recebera a ordem de retornar como prioresa ao
Mosteiro da Encarnaçã o de onde partira. Deveria, sob a observâ ncia da
regra mitigada, suprimir os abusos que ali haviam sido introduzidos e
conduzir a numerosa Comunidade a uma verdadeira vida
espiritual. Para isso, parecia fundamental ter bons
confessores. Ningué m conseguiu encontrar mais propositalmente do
que Juan, cuja experiê ncia na vida interior ele conhecia muito bem. De
1572 a 1577 ele trabalhou aqui para o grande benefı́cio das
almas. Enquanto ele trabalhava tã o silenciosamente, a Reforma havia
feito um grande progresso. A Santa Mã e viajou de um mosteiro para
outro. També m surgiram novos conventos de frades. Grandes
personalidades entraram na Ordem e assumiram as ré deas de seu
governo. Entre eles os mais importantes foram o padre Geró nimo
Graciá n e Ambrosio Mariano. O calçado, nã o sem culpa, sentiu-se
prejudicado e organizou uma poderosa contraofensiva. Nã o vamos
investigar aqui porque eles dirigiram seus tiros principalmente, e com
particular dureza, contra Padre Juan, cuja atividade era puramente
espiritual. Na noite de 3 a 4 de dezembro de 1577, alguns sapatos com
seus cú mplices entraram na casa onde viviam os dois padres confessos
e os levaram como prisioneiros. Desde entã o, todos os vestı́gios do
Padre Juan desapareceram. A Santa Madre soube que o Padre
Maldonado o levara.
Apenas nove meses depois, apó s sua libertaçã o, soube-se onde ele havia
estado. De olhos vendados foi conduzido, por bairros isolados, ao
Convento de Nossa Senhora de Toledo, o mais famoso dos conventos
que mitigava a observâ ncia sustentada em Castela. Uma declaraçã o foi
tirada dele e, como ele se recusou a abandonar a Reforma, ele foi
tratado como um rebelde. Ele foi servido como uma prisã o por uma sala
estreita, de trê s metros de comprimento por um metro e oitenta de
largura, na qual ele mal cabia no "quã o pequeno ele é ", como Teresa
escreveu mais tarde. Esta sala nã o tinha janela ou outro respiradouro,
mas uma curva aberta na parede. O prisioneiro para rezar seu breviá rio
teve que se sentar em uma cadeira e esperar até que o sol nascesse. A
porta estava trancada com um cadeado. Quando, em março de 1578, a
notı́cia da fuga do padre Germá n foi ouvida, a porta do quarto em frente
à cela foi fechada. No inı́cio todas as tardes e depois trê s vezes por
semana - na ú ltima apenas à s sextas-feiras - o recluso era levado ao
refeitó rio onde, sentado no chã o, levava apenas pã o e á gua para a
alimentaçã o. No mesmo refeitó rio recebeu disciplina. Ele se ajoelhou,
nu da cintura para cima e com a cabeça baixa, e todos os religiosos
passaram diante dele e o espancaram com disciplina. Como ele
carregava tudo com paciê ncia, o chamavam de mosca morta, mate-os
icando em silê ncio. Para mantê -lo longe da Reforma, eles lhe
ofereceram um priorado como isca, mas ele estava imó vel como uma
rocha. Em seguida, ele abriu os lá bios que permaneceram selados e
garantiu que nã o voltaria, mesmo que isso lhe custasse a vida. Os jovens
noviços, testemunhas das injú rias e dos maus tratos, choraram de
compaixã o e, admirados com a sua paciê ncia, disseram: “Ele é um
santo”. Seu manto estava encharcado com o sangue dos cı́lios. Mas ele
nã o podia trocá -lo e teve que usá -lo durante os nove meses que durou
sua prisã o. Você pode imaginar o que ele deve ter suportado assim nos
meses quentes de verã o. A comida que serviram a ele causou-lhe tantos
distú rbios que ele pensou que eles queriam matá -lo. Ele teve que fazer
um ato de amor a cada mordida para resistir à tentaçã o.
Sabemos o quã o intimamente ligado estava com os outros
companheiros da Reforma aos quais se entregou com toda a alma: a
Santa Mã e e os outros que continuaram a se identi icar com ele para
este grande empreendimento e que, como ele, consagraram os seus.
vidas inteiras - em grande parte sob sua direçã o - ao ideal do Carmelo
primitivo. Mais tarde, quando suas obrigaçõ es o mantiveram por muito
tempo na Andaluzia, ele disse à s pessoas que con iava em sua nostalgia
por Castela. "Que depois que aquela baleia me engoliu e me vomitou
neste porto estranho, eu nunca mais mereci ver isso, ou os santos
lá ." Agora ele estava tã o separado de todos eles que nã o podia lhes dar
nenhuma notı́cia durante todos aqueles meses. "As vezes me preocupo
com o pensamento de que possam pensar que voltei ao que comecei e
lamento a dor da Santa Mã e."
Ele ainda teve que suportar privaçõ es mais severas. Em 14 de agosto de
1578, o padre Maldonado, prior, entrou em sua cela com outros dois
frades. O prisioneiro estava tã o fraco que mal conseguia se mover. Ele
nã o o viu e pensou que fosse seu carcereiro. O prior o chutou e
perguntou por que ele nã o tinha se levantado em sua presença. Pedindo
perdã o e assegurando-lhe que nã o sabia quem ele era, o Padre
Maldonado perguntou-lhe: “Bem, no que está s a pensar agora?” Muito
que dizer missa ”. Quanto deve ter sofrido por nã o poder rezar missa
nem uma vez nos nove longos meses de prisã o! No Corpus Christi, dia
em que costumava passar longas horas em oraçã o ajoelhado diante do
Santı́ssimo, tinha que icar sem rezar missa e sem receber a comunhã o.
Sentindo-se desamparado, entregue ao mal dos amargos inimigos,
sofredor de corpo e alma, separado de todo consolo humano e até
mesmo da fonte de energia da vida sacramental da Igreja, poderia haver
uma escola mais dura da Cruz? E, no entanto, esses nã o foram os
sofrimentos mais profundos. Nada disso poderia separá -lo da fonte
trinitá ria de cuja existê ncia ele tinha plena certeza pela fé . Seu espı́rito
nã o estava preso na prisã o, ele poderia subir à quela fonte que sempre
lui e corre e mergulhar em suas profundezas insondá veis, naquela
torrente que enche tudo o que foi criado e até mesmo seu pró prio
coraçã o. Nenhum poder humano poderia separá -lo de Deus. Mas o
pró prio Deus poderia escapar dele. E o prisioneiro experimentou as
noites mais sombrias aqui na prisã o.

"Onde você se escondeu, amada, e me deixou gemendo?"

Este grito de dor da alma ressoou na prisã o de Toledo. Nã o temos


nenhum testemunho para nos dizer quando Joã o experimentou pela
primeira vez a doçura da proximidade divina. Mas tudo parece indicar
que sua vida de oraçã o mı́stica começou muito cedo nele. Para ser mais
livre para o serviço de Deus, ele se separou de seus entes queridos; Por
isso mesmo abandonou os estudos e també m deixou o Convento de
Medina. A sua ocupaçã o em Avila nada mais era do que libertar as
almas para que pudessem servir a Deus e o mesmo se aplicasse a toda a
sua actividade na Ordem. Por este ideal da Reforma, ele suportou as
penas da prisã o. Ele alegremente sofreu enfermidades e
aborrecimentos por amor a seu Senhor. E agora parecia que sua doce
luz em seu coraçã o havia se apagado. Deus o deixou sozinho. Este foi o
sofrimento mais profundo ao qual nenhuma dor terrena pode se
comparar. E, no entanto, foi a prova de um amor pela
predileçã o. Pareceu levá -lo à morte, mas o trouxe à vida.
Nenhum coraçã o humano jamais penetrou em uma noite tã o escura
como o Verbo Encarnado no Getsê mani e no Gó lgota. Nenhum espı́rito
humano será capaz, por mais que investigue, de penetrar no segredo do
divino abandono do Cristo moribundo. Mas Jesus pode dar à s almas
escolhidas um gostinho dessa amargura extrema. Sã o os seus amigos
mais ié is, aos quais exige a prova suprema de amor. Caso eles nã o
tenham medo e voltem atrá s, mas de boa vontade se deixem entrar na
noite escura, ele mesmo passa a ser seu guia.

Oh noite você liderou


Oh noite, mais linda do que o amanhecer!
Oh noite que você montou
amado com amado,
amado no amado transformado!
Esta é a grande experiê ncia de Toledo: o abandono de Deus e no meio
deste abandono a uniã o com o Cruci icado. Assim, talvez, devam ser
explicados os depoimentos referentes ao tempo de sua prisã o que
parecem contraditó rios; quando nos dizem que ele nunca ou muito
raramente encontrou consolo; que sofreu em corpo e alma; e que, por
outro lado, com apenas uma das graças que recebeu na prisã o, muitos
anos de prisã o poderiam ser considerados bem pagos. Mais tarde
iremos demonstrar como a alma, com a experiê ncia de seu nada e seu
desamparo na noite escura, chega ao verdadeiro autoconhecimento e
iluminaçã o sobre a imensa grandeza e santidade de Deus, e como, desta
forma puri icada e adornada com virtudes , ela se prepara para a uniã o
com Deus. Certamente sã o graças preciosas que nunca se pagam muito
caro e por eles podemos entender que Juan, depois de fugir da prisã o,
falou aos Carmelitas de Toledo sobre seus algozes e també m sobre seus
grandes benfeitores. Quando ele garante nesta ocasiã o que nunca
experimentou tanta luz sobrenatural e conforto como na prisã o,
podemos supor que aqui ele alcançou, no mais alto grau, a graça da
Cruz e do sofrimento. També m as estrofes da Noite Escura e do Câ ntico
Espiritual, nascidas na prisã o, testemunham uma uniã o
beati icadora. Cruz e noite sã o caminhos para alcançar a luz celestial:
esta é a mensagem alegre da Cruz.
6. Conteúdo da mensagem da Cruz
Consideramos os caminhos pelos quais a mensagem da Cruz chegou a
Sã o Joã o. Nas pá ginas seguintes pretendemos mostrar até que ponto
esta mensagem in luenciou a vida e a doutrina do Santo. Para isso, é
necessá rio, de uma maneira geral, colocar o conteú do desta mensagem
diante de seus olhos. Nó s o apresentamos aqui como o encontramos no
mesmo professor da ciê ncia da Cruz.
«Como estreita é a porta e apertado o caminho que conduz à vida, e
poucos sã o os que a possuem» (Mt 7,14). Em que autoridade devemos
muito notar aquele exagero e exagero que aquela partı́cula quam
conté m em si mesma. Porque é como dizer: realmente é muito estreito
...; porque este caminho da alta montanha da perfeiçã o, poré m sobe e é
estreito, tais viajantes exigem que nã o carreguem uma carga que os
pesa até o mais baixo, nem nada que os deixe grá vidos até o mais
alto; Que é um negó cio em que só Deus é buscado e obtido, só Deus é
aquele que deve ser buscado e obtido ... De onde, instruindo e
induzindo a Deus desta forma, dita por Sã o Marcos, aquela tã o
admirá vel doutrina , Nã o sei se digo muito menos exercitado dos
espirituais o quanto é mais necessá rio para eles ... Se algué m quiser ser
meu discı́pulo, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois
quem quer salvar a sua alma, já a perdeu; mas quem perder por mim
vai ganhar. "
"Oh! Quem poderia aqui dar para entender e exercitar e saborear o que
este conselho que o Senhor nos dá aqui é ...; aniquilaçã o de toda
suavidade em Deus, na secura, na insipidez, no trabalho, que é a pura
cruz espiritual e a nudez do pobre espı́rito de Cristo ... Porque buscar a
si mesmo em Deus é buscar os dons e as recreaçõ es de Deus, mas
buscar a Deus em si mesmo nã o é só querer faltar aquele e aquele outro
para Deus, mas estar inclinado escolher por meio de Cristo todas as
coisas mais desagradá veis agora de Deus, agora do mundo, e isso é o
amor de Deus ”.
Este abandono segundo a vontade de Deus deve ser uma morte e
aniquilaçã o de tudo o que a vontade aprecia no temporal, natural e
espiritual. Quem carrega a cruz desta forma experimentará que é um
jugo suave e um fardo leve (Mt 2:30).
“Porque, se o homem está determinado a se sujeitar a carregar esta
cruz, que é uma determinaçã o real de querer encontrar e realizar
trabalho em todas as coisas para Deus, em todos eles encontrar grande
alı́vio e suavidade para caminhar assim assim, nua de tudo sem querer
nada ". "E quando se trata de ser resolvido em nada, do que ser a maior
humildade, para ser feita a uniã o espiritual entre a alma e Deus, que é o
estado mais elevado e mais elevado que pode ser alcançado nesta vida.
Nã o consiste, depois, em recreaçõ es e gostos e sentimentos espirituais,
mas antes numa morte sensı́vel e espiritual na Cruz, isto é , interior e
exterior ”.
Isso nã o pode acontecer de outra forma, mas de acordo com o
admirá vel plano de salvaçã o pelo qual a alma deve ser salva e unida a
Deus pelos mesmos meios pelos quais a natureza foi corrompida e
destruı́da. Como, especi icamente no paraı́so, por ter provado o fruto
proibido, a natureza foi corrompida e entregue à corrupçã o, da mesma
forma sob a á rvore da Cruz ela foi salva por Ele e restaurada ao seu
esplendor imaculado. Quem quer participar da sua vida deve, como ele,
caminhar para a morte na cruz, cruci icar a sua pró pria natureza como
ele com uma vida de morti icaçã o e abnegaçã o e oferecer-se para ser
cruci icaçã o na Paixã o e na morte como Deus quer. Quanto mais
perfeita for esta cruci icaçã o ativa ou passiva, mais ı́ntima será a uniã o
com o Cruci icado e mais rica será a participaçã o em sua vida.

Com isso, tocamos os pontos principais da Ciê ncia da Cruz. Voltaremos


a encontrá -los quando ouvirmos os ensinamentos do Santo e seguirmos
os passos da sua vida. Entã o, veremos que eles sã o as forças motrizes
mais profundas que moldaram sua vida e obra.
II. DOUTRINA DA CRUZ

Introdução: São João da Cruz como escritor


Quem procura compreender os ensinamentos de S. Joã o da Cruz a
partir das raı́zes da sua alma, deve ter em conta a particularidade, aliá s,
o cará cter ú nico dos seus escritos, da sua origem e do seu destino.
Uma vez que a Igreja o elevou ao grau de doutor, quem tenta encontrar
uma soluçã o para os problemas da mı́stica dentro do catolicismo, deve
recorrer a ele. E mesmo para quem milita fora da Igreja Cató lica, é certo
que é um dos espı́ritos orientadores e dos guias mais seguros, diante
dos quais ningué m que queira penetrar seriamente5 no Reino da vida
interior pode passar. E, no entanto, Sã o Joã o da Cruz nã o nos oferece
uma exposiçã o sistemá tica do Misticismo. Sua intençã o ao escrever nã o
era teó rica, embora fosse teó rico o su iciente para saber expor as
conexõ es puramente objetivas de sua doutrina partindo do plano pré -
determinado. O que ele queria era "conduzir pela mã o" (como dizia o
Areopagita), completar seu trabalho como Diretor de almas com seus
escritos. Nem tudo que ele escreveu foi preservado; o que foi escrito
antes de sua prisã o foi destruı́do por ele ou por outros. També m a
segunda perseguiçã o (dentro da Reforma) tirou muito de nó s; por
exemplo, as notas valiosas que os carmelitas izeram de seus
ensinamentos orais. Nenhuma de suas cartas é preservada mais do que
um pequeno nú mero e dos grandes tratados que permanecem - Subida
do Monte Carmelo, Noite Escura, Câ ntico Espiritual, Chama Viva do
Amor - a Subida e a Noite chegaram a nó s incompletos. Apesar dessas
lacunas e de algumas questõ es intratá veis que levantam, o que
recebemos como um legado inestimá vel de nosso Pai, conté m idé ias tã o
claras e fundamentais que podemos esperar encontrar nelas a resposta
para nosso problema.
A origem desses escritos deve ser buscada em sua prisã o em
Toledo. Sua fonte é sua experiê ncia ı́ntima; a felicidade e o tormento de
um coraçã o provado e ferido por Deus sã o primeiro expressos em uma
con issã o lı́rica; as primeiras 30 estrofes do Câ ntico Espiritual
nasceram na prisã o e talvez també m as da Noite Negra que servem de
base ao tratado deste nome e do da Ascensã o. Juan os tirou da prisã o
com ele (nã o sabemos se foram preservados apenas na memó ria ou
escritos em um caderno, pois os testemunhos sã o dı́spares a esse
respeito) e os deu a conhecer a algumas almas de con iança. Temos que
agradecer a sú plica de alguns ilhos e ilhas espirituais pelos
respectivos tratados explicativos.
Neles a sua experiê ncia, anteriormente expressa de forma poé tica, é
traduzida para a linguagem de um pensador que conhece teologia e
iloso ia, com um uso só brio de expressõ es escolá sticas e o mais
copioso uso de imagens expressivas. Ele estende notavelmente os
fundamentos de sua experiê ncia: o que ele sabe por si mesmo é
esclarecido pelo que ele vem a saber por sua penetraçã o na vida
interior das outras pessoas, como um professor na direçã o das
almas. Isso o livra de particularismos e falsas generalizaçõ es. Conte
sempre com a grande diversidade de caminhos possı́veis e que a
direçã o da graça sempre se acomode com suavidade e facilidade à s
circunstâ ncias particulares. A Sagrada Escritura torna-se para ele a
fonte incessante de ensinamentos sobre a vida interior. Ele sempre
encontra nela a veri icaçã o segura do que já é conhecido por sua
experiê ncia interior. Por outro lado, sua pró pria experiê ncia abre seus
olhos para o conhecimento mı́stico dos Livros Sagrados. O estilo ousado
dos Salmos, tã o cheio de imagens, as iguras do Senhor, as narrativas
histó ricas do Antigo Testamento, tudo é transparente para ele e
permite-lhe dirigir um olhar cada vez mais rico e profundo para o ú nico
que almeja alcançar: o caminho da alma para Deus e a açã o de Deus na
alma.
Deus criou as almas para Si. Deus quer uni-las a Si e comunicar-lhes a
plenitude incomensurá vel e a felicidade incompreensı́vel da pró pria
vida divina, e esta, já aqui na terra. Esta é a meta para a qual estã o
orientados e para a qual devem se empenhar com todas as suas forças,
mas a maioria ica para trá s e muito poucos conseguem ir alé m dos
primeiros princı́pios, sendo em nú mero insigni icante aqueles que
alcançam a meta. Os perigos da estrada sã o responsá veis por isso -
perigos do mundo, do inimigo maligno e da pró pria natureza, e també m
da ignorâ ncia e da falta de diretores adequados. As almas nã o
entendem o que acontece com elas e muito raramente encontram
algué m que possa abrir seus olhos para entender. O Santo tem
compaixã o de quem assim erra e tem pena da obra de Deus que assim
se perde. Ele quer e pode ajudar, porque conhece todos os caminhos e
passos do misterioso reino da vida interior. Nã o é possı́vel para ele
dizer tudo o que sabe sobre o assunto; você tem que colocar um freio
contı́nuo para nã o exceder o que o assunto exige.
O Santo nã o escreveu suas obras para todos. Nã o é que pretenda excluir
algué m expressamente, mas sabe que isso só pode ser compreendido
por um cı́rculo limitado de pessoas com uma certa experiê ncia de vida
interior. E pense em primeiro lugar nos Carmelitas e Carmelitas cuja
pró pria vocaçã o é a contemplaçã o. Mas ele també m sabe que a graça de
Deus nã o se limita a um há bito religioso ou a uma Ordem
especı́ ica. Precisamente, devemos seu comentá rio à Chama do Amor
Vivo a uma de suas penitentes ou ilhas espirituais "que viveu no
mundo". Ele escreve para as almas contemplativas e as pega pela mã o, a
certa altura do caminho, onde a maioria das almas, sem conselhos, ica
de pé , sem poder seguir em frente. No caminho que a alma percorreu
até entã o, ela esbarra em obstá culos intransponı́veis. Em um novo
caminho que se abre diante dela, ela avança atravé s da escuridã o
impenetrá vel - quem tem coragem de se aventurar por ela? A
encruzilhada em questã o é aquela que separa a meditaçã o da
contemplaçã o. Até o presente, a alma exerceu suas forças nas horas de
meditaçã o, talvez pelo mé todo inaciano - sentidos, imaginaçã o,
memó ria, compreensã o, vontade. Nada disso é ú til para você agora,
todos os seus esforços sã o inú teis. Os exercı́cios espirituais, fonte de um
momento de alegria interior, transformam-se em tormento, aridez e
esterilidade insuportá veis. Mas també m nã o sente qualquer inclinaçã o
para se interessar pelas coisas do mundo. O que a alma gostaria é
manter a calma na quietude de suas forças, sem qualquer agitaçã o. Mas
isso lhe parece ociosidade e perda de tempo. Algo semelhante acontece
na alma quando ela quer trazê -la para a noite escura.
De acordo com a linguagem cristã comum, tal estado pode muito bem
ser chamado de Cruz. Já observamos que Cruz e Noche tê m algo em
comum. A veri icaçã o de um certo parentesco é de pouca utilidade para
nó s. Gostarı́amos de encontrar muitos lugares nos escritos do Santo
Padre onde o signi icado da cruz é falado com tal determinaçã o que
pudé ssemos justi icar plenamente com eles nossa a irmaçã o de explicar
sua vida e sua doutrina atravé s da ciê ncia da cruz. Mas esses lugares
sã o relativamente poucos. O sı́mbolo que domina tanto na sua poesia
como nos seus tratados nã o é o da Cruz, mas o da Noite, que constitui o
centro da Subida; e no Câ ntico e na Chama (que tratam propriamente
do estado da alma depois de passada a noite) ainda ressoa. Por isso, é
necessá rio falar antes de tudo sobre a relaçã o entre a Cruz e a Noite, se
quisermos esclarecer o signi icado da Cruz na doutrina da Santa.
1. Cruz e noite (noite do signi icado)
Diferença no caráter do símbolo: simbolismo e
sua expressão cósmica
Em primeiro lugar, devemos nos perguntar se a Cruz e a noite sã o
sı́mbolos no mesmo sentido. A palavra sı́mbolo é freqü entemente usada
no mesmo sentido. As vezes, é tomado em sentido amplo, pretendendo
signi icar por seu meio qualquer elemento sensı́vel pelo qual se designa
algo espiritual, ou melhor, tudo que, conhecido pela experiê ncia natural,
serve para designar algo que está fora dessa experiê ncia. Nesse sentido
amplo, tanto a noite quanto a Cruz podem ser chamadas de
sı́mbolos. Mas, assim que prestamos atençã o à diferença entre signo e
imagem, ica clara a distâ ncia que existe entre eles.
A imagem - no sentido de representaçã o - mostra o que é representado
por meio de uma semelhança ı́ntima: quem a contempla pensa
imediatamente no modelo que ela representa de novo ou que por seus
meios pode conhecer. Ao contrá rio, entre o signo e o signi icado,
nenhuma correspondê ncia é exigida. Sua relaçã o foi estabelecida de
forma arbitrá ria e quem quiser entender o sinal deve ser instruı́do
sobre o que se pretende dizer com ele. A cruz certamente nã o é uma
imagem no sentido adequado. (Quando é chamado de imagem, nã o
signi ica outra coisa, mas sim um sı́mbolo no sentido amplo a que
aludimos acima: algo visı́vel que estende seu signi icado a outra coisa
invisı́vel). Nã o há semelhança imediata apreciá vel entre a cruz e o
sofrimento, mas també m nã o faz a mediaçã o de uma relaçã o de signos
puramente arbitrá ria entre eles. A Cruz recebeu seu signi icado da
Histó ria. Nã o é um objeto natural, mas um instrumento preparado e
usado pelo homem para um propó sito especı́ ico. Como instrumento,
desempenhou um papel de alcance incompará vel na histó ria. Todos
aqueles que vivem dentro do ambiente cultural cristã o o conhecem
muito bem. Por isso a Cruz, atravé s da sua igura visı́vel, conduz-nos à
plenitude de sentido que nela está encerrada. E també m um signo, um
signo, mas um signo cujo sentido nã o lhe foi aplicado arti icialmente,
mas nasce do fundamento da sua e icá cia e da sua pró pria histó ria. Sua
igura visı́vel signi ica algo dentro da relaçã o sensı́vel em que é
usada. Referimo-nos a ele quando dizemos que a Cruz é um sı́mbolo.
A noite, por outro lado, é algo natural: o oposto da luz que nos rodeia e
de todas as coisas. Nã o é propriamente um objeto no sentido literal da
palavra. Nã o está na nossa frente e nem mesmo se sustenta por conta
pró pria. Tampouco é uma imagem, entendida como igura visı́vel. E
invisı́vel e sem forma. E ainda assim o percebemos verdadeiramente e
ele está mais pró ximo de nó s do que todas as formas e iguras, ele está
mais propriamente unido ao nosso ser. Assim como a luz penetra todas
as coisas com suas propriedades visı́veis, da mesma forma a noite as
engole e ameaça engolir a nó s també m. O que nele se afunda é algo
mais do que nada: continua a existir, mas indeterminado, invisı́vel e
sem forma como a pró pria noite ou como uma sombra, um fantasma e,
portanto, como algo ameaçador. Nele, nosso ser nã o é apenas ameaçado
externamente por perigos ocultos durante a noite, mas també m afetado
internamente pela pró pria noite. Ela nos priva do uso dos sentidos,
impede nossos movimentos, reduz nossas forças e nos joga na solidã o,
nos transformando em sombras e fantasmas. E como um prelú dio para
a morte e tudo isso tem nã o apenas um signi icado vital, mas també m
espiritual. A noite có smica produz em nó s um efeito semelhante ao que
chamamos igurativamente de noite. Ou vice-versa: o que em nó s
produz efeitos semelhantes aos da noite có smica pode ser designado
com o nome de noite em sentido igurado. Antes de tentar entender em
que pode consistir esta noite, devemos deixar claro que a noite có smica
tem um duplo aspecto. Enfrentando a noite escura e assustadora está o
encanto das noites de luar que a penetra com seu brilho suave e
delicado. Nã o engole as coisas, mas deixa-as brilhar com uma aparê ncia
noturna. Tudo o que é duro, espero e penetrante, é moderado e
suavizado e aparecem os traços essenciais das coisas que nã o se veem à
luz do dia. També m se ouvem vozes que o barulho do dia abafa e faz
silê ncio. Mas nã o só a noite iluminada tem seus encantos, mas també m
podemos encontrá -los na noite escura. Isso acaba com a azá fama do dia
e nos traz descanso e paz. Esses mesmos efeitos sã o causados pela
noite, entendidos no sentido psı́quico-espiritual. Há també m uma suave
clareza noturna do espı́rito em que a alma, libertada da escravidã o dos
negó cios diá rios, se sente distraı́da e concentrada em uma profunda
harmonia de seu ser e de sua vida entre o mundo e o outro mundo. E há
na paz da noite um descanso profundo e agradecido.
Devemos pensar em tudo isso se quisermos entender o simbolismo da
noite em San Juan de la Cruz. Pelos testemunhos de sua vida e de sua
pró pria poesia, sabemos que ele foi extraordinariamente sensı́vel à
noite có smica com todas as suas nuances. Passei noites inteiras na
janela, olhando para o amplo panorama ou para o vazio. E encontra
expressõ es para descrever a noite que nenhum poeta igualou. A alma
compara seu amado com:
A noite tranquila
mesmo ao amanhecer,
a musica calma,
a solidã o sonora,
o jantar que se recria e se apaixona.

Quando Juan, o pensador, fala da noite em seus tratados, por trá s de


suas palavras está o que essa expressã o signi ica para o homem e o
poeta. Tentamos re leti-lo amplamente como uma expressã o simbó lica,
sem tentar exaurir seu conteú do. Agora vamos tentar captar o que esse
simbolismo tenta expressar. O Santo falou expressamente disso e
devemos recorrer à sua apresentaçã o. Em primeiro lugar, vamos dar
uma olhada rá pida para entender adequadamente as relaçõ es desse
simbolismo. A noite mı́stica nã o deve ser entendida cosmicamente. Nã o
se origina fora da alma, mas brota de suas pró prias entranhas e afeta
apenas a alma da qual nasceu. Mas os efeitos que opera no interior sã o
semelhantes aos da noite có smica: implica um colapso do mundo
exterior, embora o exterior esteja em plena luz do dia. Estabelece a
alma na solidã o, na aridez e no vazio, liga a atividade de suas forças e
angú stias aos terrores ameaçadores que nela se escondem. Poré m, há
també m uma luz na noite, que descobre um mundo novo nas
profundezas da alma e, de certa forma, ilumina de dentro o mundo
externo que nos retorna completamente transformado.
Tentamos agora esclarecer a relaçã o da noite có smica com o mı́stico,
tanto quanto possı́vel com base nessas primeiras
consideraçõ es. Obviamente, nã o é uma relaçã o de signos, nã o há nada
determinado intencionalmente de fora, nem é uma dependê ncia causal
que se desenvolveu historicamente como no sı́mbolo. Existe uma
analogia ı́ntima entre eles que permite que os mesmos nomes sejam
usados em ambos os casos. Quando falamos da imagem da Noite,
queremos dizer com isso que este nome é apropriado em primeiro
lugar à noite có smica e dela se transfere para a mı́stica, a im de dar a
conhecer, por meio de algo que somos nó s. conhecido, com o qual
estamos familiarizados, algo desconhecido e difı́cil de entender, mas
que se assemelha a isso. No entanto, nã o se pode falar em
correspondê ncia de imagens, uma vez que nenhuma das duas noites foi
modelada na imagem da outra. Antes, é necessá rio pensar na relaçã o de
uma expressã o simbó lica, como aquela que geralmente existe entre o
sensı́vel e o espiritual: da mesma forma que a isionomia e os gestos sã o
uma expressã o da personalidade e da vida psı́quica e, da mesma forma,
tantas vezes o espiritual, e até o pró prio Deus, sã o revelados na
natureza. E uma comunidade de origem e uma analogia objetiva que
torna o sensı́vel adequado para revelar o espiritual. Da correspondê ncia
de imagens nada resta senã o a semelhança, que, aliá s, nã o pode captar
"a semelhança", em ambos os lados, mas apenas atravé s de certos
traços comuns. També m se diferencia da correspondê ncia de imagens,
nã o só por lhe faltar a possibilidade de representaçã o, mas també m
porque nã o se trata de imagens, mas de iguras bem delineadas. Estes
podem ser objeto de expressã o por meio de gestos. Uma certa mudança
de rosto, que o pintor pode desenhar com o lá pis ou com o pincel,
corresponde a um acontecimento mental. A noite, ao contrá rio, ao
mesmo tempo có smica e mı́stica, é algo informe e indescritı́vel que, na
plenitude do seu signi icado, apenas sugere, sem nunca esgotar o seu
conteú do. Isso inclui uma visã o de mundo completa e uma concepçã o
perfeita do ser. Algo indescritı́vel é comum a ambos que, no entanto, é
tã o claro que por meio de um podemos descobrir o outro para o qual
serve de caminho, nã o por uma escolha deliberada e por uma
comparaçã o pensada de antemã o, mas apenas por meio da experiê ncia
simbó lica , que tropeça na dependê ncia primitiva e, portanto, encontra
uma expressã o grá ica necessá ria para manifestar o que nã o pode ser
expresso em abstrato.
Agora estamos em condiçõ es de compreender a diferença entre o
cará ter simbó lico da Cruz e da Noite. A Cruz é um sı́mbolo de tudo o
que causal ou historicamente depende de Cristo. A noite é a expressã o
có smica necessá ria da cosmovisã o mı́stica de Sã o Joã o da Cruz. A nota
predominante do simbolismo da Noite é a prova de que nos escritos do
Santo Doutor nã o é o teó logo, mas o poeta e o mı́stico que fala, embora
o teó logo també m controle conscienciosamente os pensamentos e as
palavras.
A Canção da Noite Escura
Vamos investigar a noite mı́stica para perceber nela o eco da mensagem
da Cruz; Para isso escolheremos como ponto de partida mais adequado
a cançã o da Noite Escura que serve de base para os dois grandes
tratados que tratam da Noite Mı́stica.

NOITE ESCURA
1. Em uma noite escura,
com desejo de amores in lamados,
Boa sorte!
Saı́ sem ser notado,
sendo minha casa já calma.

2. No escuro e seguro
pela escala secreta disfarçada,
Boa sorte!
no escuro e em uma armadilha,
sendo minha casa já calma.
3. Na noite feliz
em segredo, que ninguem me viu,
Eu nem olhei para nada
sem outra luz, ou guia,
mas aquele que ardeu no coraçã o.

4. Que este estava me guiando


mais verdadeiro do que a luz do meio-dia,
onde ele estava esperando por mim
quem eu conhecia bem,
parcialmente onde ningué m parecia.

5. Oh noite, que você liderou,


Oh noite, mais linda do que o amanhecer,
oh noite, o que você montou
amado com amado,
amado no Amado transformado!

6. No meu peito lorido,


aquele todo para ele foi apenas guardado,
lá ele adormeceu,
e eu o dei,
e o vento dos cedros soprou.

7. O ar da ameia
quando seu cabelo já estava espalhado,
com sua mã o serena
no meu pescoço doeu,
e todos os meus sentidos suspensos.

8. Fique e esqueça,
Eu reclinei meu rosto no Amado,
tudo parou e eu me deixei,
deixando meu cuidado
entre os lı́rios esquecidos.

Noite escura dos sentidos


a) Introdução ao signi icado da noite

A imagem poé tica é perfeitamente mantida sem que nenhuma


expressã o doutriná ria seja inserida. Para entendê -lo, temos a chave nos
dois tratados explicativos Ascent e Dark Night.
A alma que canta essa mú sica já cruzou a Noite e chegou ao im
passando pela uniã o com a amada divina. Portanto, é uma cançã o de
louvor à noite que serviu de caminho para sua radiante felicidade. O
grito de alegria: O feliz sorte! Isso serve como um refrã o. Mas ele nã o
esqueceu a escuridã o e a angú stia do passado. E ainda pode, em
retrospectiva, mover-se para a noite.
A casa que a esposa deixou é a parte sensı́vel da alma. ela está calma,
porque todos os seus apetites foram acalmados. A alma foi capaz de
deixá -los porque Deus a entregou anteriormente. Em sua pró pria força,
ele nã o teria tido sucesso. Aqui, com um breve esclarecimento,
tomamos conhecimento da diferença mais caracterı́stica que existe
entre a noite ativa e a noite passiva, que discutiremos expressamente
mais tarde, bem como a relaçã o entre as duas. A alma deve trabalhar,
pondo em tensã o todas as suas forças, para se libertar das amarras da
natureza sensı́vel, mas primeiro Deus deve vir em seu auxı́lio com a sua
açã o divina, que é a que dirige e aperfeiçoa a da alma.
O desapego ou purgaçã o é designado como a noite pela qual a alma
deve passar. E de trê s maneiras, dependendo se é considerada
relacionada ao ponto de partida, ao caminho e à meta a ser alcançada. O
ponto de partida é o sabor das coisas deste mundo, das quais a alma
deve se separar. Este desapego deixa a alma nas trevas e como se nã o
existisse nada. Por isso é chamado de noite. O mundo que apreendemos
pelos sentidos é , do ponto de vista natural, o solo que nos sustenta, a
casa em que nos sentimos no nosso pró prio centro, que nos nutre e nos
dá o que necessitamos e é a fonte de nossas vidas, alegrias e de nossas
alegrias. Se nos for tirado ou se formos obrigados a abandoná -lo, é
realmente algo como o chã o que falta sob nossos pé s e como se a noite
tivesse caı́do ao nosso redor e nó s mesmos tivé ssemos afundado e
desaparecido.
Mas nã o é isso o que acontece, mas de fato estamos assentados em um
caminho mais seguro, embora escuro e envolto pela noite: o caminho da
Fé . E um caminho que leva ao objetivo da uniã o divina. Mas é um
caminho noturno, pois, comparado com a evidê ncia do conhecimento
racional, o da fé é um conhecimento sombrio: nos faz saber algo, mas
nã o podemos vê -lo. Por isso podemos a irmar que també m o termo que
alcançamos pelo caminho da fé é Noite: Deus permanece escondido de
nó s enquanto vivemos na terra, embora alcancemos a feliz uniã o. O
olho do nosso espı́rito nã o é proporcional à intensidade de sua luz e
parece que está na escuridã o da noite. Mas, assim como a noite có smica
nã o é igualmente escura em toda ela, a noite mı́stica també m tem suas
respectivas fases e graus. A puri icaçã o do mundo dos sentidos é como
a irrupçã o da noite em que ainda há algo da claridade do dia. Pelo
contrá rio, a fé é semelhante à meia-noite, na qual nã o apenas a
atividade dos sentidos desapareceu, mas també m o conhecimento
natural da razã o. Mas quando a alma encontra Deus, uma alvorada do
novo dia da eternidade irrompe em sua noite.
Com essas breves consideraçõ es, podemos estabelecer alguma relaçã o
entre a noite e a Cruz, que icará mais clara quando tratarmos de cada
uma das fases da noite em particular.

b) Entrada ativa à noite como seguimento da Cruz

O Santo chama a Noite Negra dos Sentidos de ponto de partida ou


primeira fase da noite. Isso, no sentido em questã o aqui, consiste na
"privaçã o do gosto no apetite de todas as coisas". Certamente nã o pode
ser que já nã o tenhamos de saber com os sentidos, porque sã o as
janelas pelas quais a luz do conhecimento penetra na prisã o escura da
alma que ainda está ligada ao corpo: nã o podemos prescindir deles
enquanto vivemos. Mas, devemos aprender a ver e ouvir de forma
muito diferente de como vemos e ouvimos. A abordagem fundamental
para o mundo dos sentidos deve ser outra completamente
diferente. Esta abordagem nã o é uma postura puramente intelectual
para o homem mé dio em seu estado normal - ele se encontra no
mundo, mais como um ser de quem gosta e como um homem de
açã o. Relaciona-se com ele de mil maneiras, na medida em que lhe
oferece algo que pode acalmar seus desejos, o incita à açã o e constitui a
questã o da açã o. Geralmente, ela se deixa guiar por seus impulsos e
apetites, na comida e na roupa, no trabalho e no descanso, no jogo e na
diversã o, e no trato com os outros. Você se sente feliz e contente
quando nã o está grá vida de nenhum obstá culo especial. Levando em
consideraçã o que uma vida sem obstá culos nã o é possı́vel neste mundo,
idé ia com a qual se familiarizou desde a juventude a tal ponto que se
tornou uma segunda natureza para ele, ele sabe pela educaçã o e
experiê ncia que teve para ela é condená vel dar ré dea solta aos apetites
da natureza e assim se deixar guiar pela razã o justa e tentar limitá -los e
regulá -los. No mesmo sentido, respeito pelas outras in luê ncias; a lei
natural e a moralidade, como uma exigê ncia inabalá vel, sã o impostas na
vida da comunidade. Tudo isso nã o está atento ao direito natural dos
instintos; só é harmonizado com os outros direitos. Pelo contrá rio,
quando a Noite Escura começa, algo completamente novo começa.
Toda aquela familiaridade confortá vel com o mundo, aquele sentir-se
saciado dos prazeres oferecidos pelo apetite desses prazeres, aceitos
naturalmente pela alma - tudo isso que para o homem que vive
seguindo a natureza é claro como a luz do dia - sã o trevas aos olhos de
Deus e incompatı́vel com a luz divina. Eles devem ser arrancados com
todas as suas raı́zes, se quisermos deixar espaço para Deus na
alma. Responder a esta exigê ncia signi ica lutar em toda a linha da
pró pria natureza, tomar a sua cruz e entregar-se à cruci icaçã o. O Santo
Padre cita nesta ocasiã o as palavras do Senhor: «Quem com a sua
vontade nã o renuncia a todas as coisas que possui, nã o pode ser meu
discı́pulo» (Lc 14, 13). Que o senhorio que o apetite exerce sobre a alma
é verdadeiramente trevas o prova em detalhes: os apetites cansam e
atormentam a alma, escurecem e mancham e enfraquecem e tiram o
espı́rito de Deus, do qual ele se afasta abandonando-se ao espı́rito
animal. Engajar-se na luta, isto é , levar a cruz sobre si mesmo, é
penetrar ativamente na Noite Escura. O Santo dá breves e precisas
notas para isso, das quais ele mesmo a irma que "quem realmente
quiser exercê -las nã o precisará de outras, antes que cheguem a
todos". Sã o os seguintes:
“O primeiro traz um apetite ordiná rio de imitar Cristo em todas as suas
coisas, conformando-se com sua vida, que ele deve considerar para
saber como imitá -la e ser em todas as coisas como ele gostaria.
O segundo para poder fazer isso bem, qualquer sabor que seja
oferecido aos sentidos que nã o seja puramente para honra e gló ria de
Deus, renuncie e ique vazio dele pelo amor de Jesus Cristo que nesta
vida nã o teve outro sabor ou queria., do que fazer a vontade de seu Pai,
que Ele chamou de seu alimento e iguaria. Eu dou um exemplo. Se lhe é
oferecido o prazer de ouvir coisas que nã o importam para o serviço e
honra de Deus, ele nã o quer gostar nem querer ouvir ... e em todos os
sentidos, nem mais nem menos na medida em que pode dar uma boa
desculpa; porque, se nã o puder, basta que nã o queira gostar, mesmo
que essas coisas passem por ele.
E assim deve tentar deixar os sentidos morti icados e vazios desse
sabor, como se estivesse no escuro. E com esse cuidado, logo aproveito
muito.
E para morti icar e apaziguar as quatro paixõ es naturais, que sã o
alegria, esperança, medo e dor, de cuja harmonia e paci icaçã o vê m
estes e outros bens, o que se segue é um remé dio total, e de grande
mé rito e causa de grandes virtudes.:
Sempre tente se inclinar:
- nã o para o mais fá cil, mas para o mais difı́cil;
- nã o ao mais saboroso, mas ao mais suave;
- nã o para o que é mais saboroso, mas primeiro para o que é menos
saboroso;
- nã o para o que é descanso, mas para o que é duro;
- nã o para o que é consolo, mas sim para o pesar;
- nã o no má ximo, mas pelo menos;
- nã o para o mais alto e precioso, mas para o mais baixo e desprezado;
- nã o ao que é querer algo, mas ao nã o querer nada;
- nã o procurando o melhor das coisas temporá rias, mas o pior, e
querendo entrar em tudo
Nudez e vazio para Cristo de tudo o que há no mundo.
E essas obras devem ser abraçadas com o coraçã o e tentar suavizar a
vontade nelas ...
O que se diz, bem exercitado, basta para entrar na Noite Sensı́vel ... ”.
Nenhum esclarecimento adicional é necessá rio para provar que
caminhar pela Noite Negra do signi icado é o mesmo que pegar
voluntariamente a Cruz e carregá -la com perseverança; Mas só por
carregar a cruz nã o se morre, e para passar a noite completamente, o
homem tem que morrer para o pecado. Ele pode se entregar para ser
cruci icado, mas nã o cruci icar a si mesmo. Por isso, o que a Noite ativa
começou deve ser completado pela Noite passiva, isto é , o pró prio Deus,
"porque, nã o importa o quanto a alma se ajude, ela nã o pode se
puri icar ativamente de tal maneira que queira no mı́nimo para a alma.
uniã o divina da perfeiçã o do amor, se Deus nã o tomar sua mã o e a
puri icar naquele fogo escuro para ela ”.

c) A noite passiva como cruci icação

Já avisamos antes que a entrada da alma na Noite Escura só é possı́vel
porque a graça divina preveniente a empurrou e apoiou ao longo do
caminho. Mas esta graça preveniente e auxiliar ainda nã o tem o cará ter
de Dark Night em iniciantes. Estes sã o tratados por Deus mais como
crianças por uma mã e amorosa, que os carrega nos braços e os
alimenta com leite doce. Em todos os exercı́cios espirituais - oraçã o,
meditaçã o, morti icaçã o - ele comunica abundantemente alegria e
conforto. Para eles, essa alegria se torna um motivo para se entregar a
exercı́cios espirituais. Eles nã o percebem a imperfeiçã o que isso
implica, nem percebem as muitas faltas que cometem na prá tica das
virtudes.
O Santo demonstra com exemplos vı́vidos que os sete pecados capitais
sã o encontrados nos iniciantes, transferidos para o reino espiritual:
orgulho espiritual, com alguma satisfaçã o das pró prias graças e
virtudes e desprezo pelos outros, preferindo ensinar a ser
ensinado; ganâ ncia espiritual, nã o farto de livros, cruzes, rosá rios,
etc. Para nos livrarmos dessas faltas temos que ser desmamados do
leite de consolaçã o e alimentados com casca só lida "já que se
exercitaram por algum tempo no caminho da virtude, perseverando na
meditaçã o e na oraçã o, nisso com o conhecimento e o sabor que há Eles
descobriram que se tornaram insatisfeitos com as coisas do mundo e
ganharam alguma força espiritual em Deus, com a qual restringiram um
pouco os apetites das criaturas, com as quais serã o capazes de sofrer
por Deus um pouco de peso e secura. sem voltar ao melhor tempo; ao
seu gosto e paladar eles caminham nestes exercı́cios espirituais, e
quando o sol dos favores divinos brilha mais forte, Deus obscurece toda
esta luz e fecha a porta e fonte da doce á gua espiritual que eles estavam
desfrutando em Deus em todos os momentos e em todos os momentos
que quiseram ... e assim os deixa tã o no escuro que nã o sabem para
onde ir com o sentido da imaginaçã o e da palavra ”. Todos os exercı́cios
espirituais agora parecem insı́pidos ou nojentos para a alma.
Por trê s sinais sabe-se que isso nã o é consequê ncia do pecado ou
imperfeiçõ es, mas apenas da pura aridez da Noite Escura:
1. Que a alma nã o encontra gosto nas criaturas.
2. "Que ordinariamente traz a memó ria de Deus com esmerado cuidado
e solicitude, pensando que nã o serve a Deus, mas retrocede, como se vê
com aquele desgosto pelas coisas de Deus."
Ela nã o se importaria se sua secura fosse baseada em calor. Na
puri icaçã o da secura, ao contrá rio, predomina sempre o desejo de
servir a Deus, e o espı́rito se fortalece enquanto a parte sensı́vel
adormece e se sente impotente por falta de paladar, "porque a causa
desta secura é porque Deus muda os bens e força dos sentidos para o
espı́rito, cujo sentido e força natural permanecem jejuando, secos e
vazios, porque a parte sensı́vel nã o tem habilidade para o que é puro
espı́rito, e assim, gostando do espı́rito, a carne se abre e se solta para
agir . Mas o espı́rito que está recebendo a delicadeza, anda forte e mais
alerta e solı́cito do que antes no cuidado de nã o perder Deus ”. Mas, uma
vez que ele nã o está acostumado com a doçura espiritual, a princı́pio
ele nã o experimenta nada alé m de secura e nojo.
3. A secura puri icadora é conhecida por "nã o poder mais meditar ou
desenvolver-se no sentido da imaginaçã o como costumava fazer,
mesmo que faça mais por sua parte. Porque, como aqui Deus começa a
comunicar-se com ele, nã o mais pelo sentido, como fazia antes. por
meio do discurso que compô s e dividiu a notı́cia, mas pelo puro
espı́rito, em que o discurso nã o cai sucessivamente, comunicando-se
com um ato de simples contemplaçã o, que nã o chega os sentidos do
inferior exterior ou interior ". Essa contemplaçã o sombria e seca para
os sentidos é algo oculto e misterioso até mesmo para aqueles que a
possuem. “Normalmente junto com essa aridez e vazio que faz sentido
dá inclinaçã o à alma e quer icar sozinha e em quietude, sem poder
pensar em uma coisa particular ou ter vontade de pensar sobre isso ...”
e se a alma permanece nessa quietude "entã o naquele descuido e
ociosidade ela encontraria delicadamente aquele re lexo interior. Que é
tã o delicado que, ordinariamente, se ela quer sentir ou se preocupa em
senti-lo, ela nã o o sente: porque como eu digo ela trabalha no maior
lazer ou descuido da alma: que é como o ar, que ao querer cerrar o
punho sai ... porque assim Deus põ e a alma neste estado, por um
caminho tã o diferente que ele percorre ela, que se quiser trabalhar com
suas potê ncias antes de atrapalhar a obra que Deus está fazendo nela
”. A paz que Deus quer conceder atravé s da aridez do sentido "... é
espiritual e delicada" e "funciona tranquila e delicada, solidá ria,
satisfató ria e pacı́ ica, e muito alheia a todos esses outros primeiros
sabores que eram muito palpá veis e sensı́vel ".
Assim, entende-se que apenas a morte do homem sensı́vel é percebida
sem traçar o rompimento de uma nova vida que está oculta nessa
morte.
Portanto, nã o há exagero quando chamamos os sofrimentos da alma
neste estado de cruci icaçã o. Eles se encontram presos em sua
incapacidade de usar sua pró pria força. Somando-se à secura está o
tormento do medo de errar. "Pensar que seu bem espiritual acabou e
que Deus os deixou." Eles insistem em agir como antes e nã o fazem
nada alé m de perturbar a paz que Deus está colocando neles. Nessas
circunstâ ncias, a alma nã o deve fazer mais nada a nã o ser "... ser
paciente e perseverar na oraçã o sem fazer nada. Só o que eles tê m que
fazer aqui é deixar a alma livre e livre e descansada de todas as notı́cias
e pensamentos, nã o sendo cuidado com o que pensarã o ou meditarã o,
contentando-se apenas com uma advertê ncia amorosa e serena em
Deus e icando sem cuidado, sem e icá cia e sem desejo de buscá -la ou
senti-la ”.
Quando carecem de um Diretor experiente, em vez disso, cansam-se
incansavelmente, ainda se atormentando com o pensamento de que na
oraçã o estã o apenas perdendo seu tempo e que devem abandoná -lo. Se
tivessem se entregado à contemplaçã o das trevas, logo teriam notado o
que diz o segundo verso da Cançã o da Noite: "a in lamaçã o do
amor". Porque a contemplaçã o nada mais é do que uma infusã o secreta,
pacı́ ica e amorosa de Deus, que, se permitida, in lama a alma em um
espı́rito de amor. ”No inı́cio, essa in lamaçã o do amor é , em geral,
imperceptı́vel para a alma. sente secura e vazio, angú stia dolorosa e
preocupaçã o, e quando algo disso se traça nada mais é do que um
desejo doloroso que o leva a Deus, uma ferida dolorosa de amor. Só
mais tarde compreenderã o que Deus tenta puri icá -lo à noite de o
sentido e de submeter o sentido ao espı́rito. Entã o exclame: O feliz
sorte! e para parecer claro, o ganho que signi icou para ela "sair sem ser
notada": ela se libertou da escravidã o em que os sentidos teve ela, suas
inclinaçõ es foram se afastando progressivamente de tudo o que foi
criado e se apegando aos bens eternos. A Noite do Signi icado foi para
ela a porta estreita (Mt 7,15) que conduz à vida.
Agora, você deve trilhar o caminho estreito da Noite do
espı́rito. Certamente, poucos sã o os que chegam até aqui, mas mesmo
as vantagens que a alma obté m na Noite do Signi icado sã o
extraordiná rias: ela adquire conhecimento de si mesma, consegue
penetrar em sua pró pria misé ria, nã o encontra mais nada de bom em si
e aprende com ela. ... para lidar com Deus com maior temor e
reverê ncia. Sim, agora você percebe a grandeza e sublimidade
divinas. Sentir-se precisamente liberado de obstá culos sensı́veis
permite que ela receba as ilustraçõ es e a torne acessı́vel à verdade. Por
isso diz no salmo «na terra desé rtica, sem á gua, seca e sem vereda,
apareci perante vó s para ver a vossa virtude e gló ria» (62,3). "... O que é
uma coisa admirá vel que Davi nã o implica aqui que os detalhes
espirituais e muitos gostos que ele teve foram uma disposiçã o e um
meio para ele conhecer a gló ria de Deus, mas sim a aridez e o desâ nimo
dos sensı́veis papel." Por "terra sem caminho" o Santo entende a
incapacidade de formar um conceito de Deus com base na palavra ou
com o pensamento auxiliado pela imaginaçã o.
També m na aridez e no vazio a alma humilde se torna. A arrogâ ncia
anterior desaparece, porque ele nã o encontra nada em si mesmo que
possa servir de suporte para desprezar os outros: ao contrá rio, os
outros parecem muito mais perfeitos e, conseqü entemente, o amor e o
apreço por eles nasce em seu coraçã o. Ele tem muito a ver com sua
pró pria misé ria para se preocupar com os outros. Por causa de seu
desamparo, a alma se torna submissa e obediente: ela deseja ser
doutrinada para encontrar o caminho certo. A ganâ ncia espiritual foi
radicalmente curada. A alma tornou-se frugal e moderada, tudo o que
faz é apenas para cumprir a vontade divina, sem buscar nela a pró pria
satisfaçã o. O mesmo acontece com as imperfeiçõ es. Com eles, toda
confusã o e inquietaçã o desaparecem. Em seu lugar é estabelecida uma
paz profunda e uma lembrança permanente de Deus. Sua ú nica
preocupaçã o é saber o que você pode nã o gostar. The Dark Night se
torna uma escola para todas as virtudes; ele exerce resignaçã o e
paciê ncia, pois permanece iel à vida espiritual, apesar de nã o
encontrar conforto ou revigoramento; atinge um alto grau de amor a
Deus, pois só trabalha movido por ele. A perseverança nas contradiçõ es
lhe dá energia e força. A puri icaçã o perfeita de todas as inclinaçõ es e
apetites sensı́veis conduz à liberdade de espı́rito na qual os doze frutos
do Espı́rito Santo amadurecem. Tenha con iança contra os trê s
inimigos, diabo, mundo e carne, que nada podem fazer contra o
espı́rito. També m em relaçã o a eles pode ser aplicado o "Saı́ sem ser
notado". E agora que as paixõ es foram acalmadas e os sentidos
adormecidos, a "casa pacı́ ica" permanece.
A alma escapou e alcançou o caminho do espı́rito, o dos aproveitadores
ou a via iluminativa, na qual o pró prio Deus quer ser seu mestre sem
que a atividade da alma intervenha. Isso agora está em um estado de
trâ nsito. A contemplaçã o traz alegrias puramente espirituais, nas quais
també m participam os sentidos, eles pró prios espiritualizados. Mas à s
vezes ele ainda retorna à meditaçã o, e alegrias se misturam a a liçõ es
dolorosas. Antes que a Noite do Espı́rito entrasse na aridez e no vazio,
provaçõ es mais duras e dolorosas foram acrescentadas, consistindo em
tentaçõ es dolorosas; o espı́rito de impureza e de blasfê mia se fortalece
com a força da imaginaçã o e o espı́rito de vertigem o mergulha em mil
escrú pulos, em desordem e perplexidade. Em meio a essas
tempestades, as almas sã o testadas e fortalecidas. Muitos nã o
conseguem passar por esse perı́odo de transiçã o, mas aqueles que
chegam ao im devem sofrer muito. Quanto mais alto o grau de uniã o
com Deus ao qual Deus deseja elevá -los, mais profunda e duradoura
deve ser a puri icaçã o. Mas os pró prios tomadores ainda retê m muitas
imperfeiçõ es comuns, das quais eles devem ser libertados na Noite
Escura. Junto com o espı́rito, os sentidos devem ser totalmente
puri icados, pois as imperfeiçõ es estã o enraizadas neles.
A exposiçã o dos caminhos da puri icaçã o mostra claramente que a luz
nã o está faltando completamente nesta noite, embora os olhos da alma
ainda nã o estejam acomodados a ela e nã o possam vê -la. Nas
explicaçõ es relativamente breves que a Santa dedica aos sentidos,
destacam-se energeticamente os frutos muito apreciados da Noite. Mas
isso nã o está em con lito com a mensagem da Cruz. Já recordamos
como o Salvador concluiu o anú ncio da sua Paixã o e morte na Cruz com
a alegre mensagem da Ressurreiçã o. A liturgia da Igreja recorda o "per
passionem et cruci ix ad resurrectionis gloriam". Com a morte do
homem animal, o homem espiritual começa a dar seus primeiros
passos. Até agora, mal aludimos a esse renascimento maravilhoso. Juan
se deteve muito pouco na exposiçã o da primeira noite, porque tinha
pressa em chegar à Noite do Espı́rito, que é o objeto fundamental de
seu estudo. Portanto, é melhor lidarmos com as relaçõ es de morte e
ressurreiçã o imediatamente apó s a Noite Negra do Espı́rito.
2. Espírito e fé. Morte e Ressurreição (Noite
do Espírito)
1. Introdução: Desenvolvimento de Problemas
Sã o Joã o da Cruz chama a Noite Escura do Espı́rito de Caminho
Estreito. Anteriormente, ele o chamara de Caminho da Fé e comparara
sua escuridã o com a da meia-noite. A fé , portanto, deve desempenhar
um papel importante na ciê ncia do Espı́rito. Para ver isso com clareza,
devemos entender corretamente o que o Santo entende por espı́rito e
por Fé . Nã o é uma tarefa fá cil. No fundo de tudo o que ele escreve está
uma ontologia do espı́rito. Mas ele nã o nos deixou nenhum tratado com
esse propó sito e é possı́vel que ele mesmo nã o tenha se importado em
transformar em teoria o que nele vivia como conhecimento habitual e
que, circunstancialmente, se expressou no exterior. Para o seu
propó sito, nã o era importante esclarecê -lo. Uma investigaçã o mais
aprofundada desses problemas histó ricos e espirituais nos levaria
muito longe de nosso esforço. Mas nã o devemos esquecer as questõ es
fundamentais - o que o Santo entende por espı́rito e por fé . Essas
questõ es devem ser resolvidas com base no que ele nos contou sobre a
Noite do Espı́rito.
Uma certa di iculdade surge do fato de que ele lidou com a Noite Escura
duas vezes - na Ascensã o e na Noite - e que esses dois tratados foram
deixados incompletos.
2. Despossessão de forças espirituais na noite
ativa

a) A noite da fé como caminho de união


A segunda noite é mais escura que a primeira, na medida em que
corresponde à parte sensı́vel inferior do homem e, portanto, é mais
externa. A Noite do Espı́rito, ao contrá rio, corresponde à parte mais
elevada, a racional, e é portanto mais interna e priva a alma da luz da
razã o ou da cegueira.
"Os teó logos da fé dizem que é um há bito verdadeiro e sombrio da
alma"; escuro porque "faz crer verdades reveladas pelo pró prio Deus
que sã o sobretudo luz natural e excedem sem proporçã o todo o
entendimento humano. Daı́, para a alma esta luz excessiva que se dá
pela fé é trevas trevas, porque tanto mais priva e vence quanto menos.
" "Assim, a luz da fé , por seu grande excesso, oprime e supera a do
entendimento, que só se estende à s ciê ncias naturais."
Conseqü entemente, pode captar o sobrenatural quando Deus deseja
elevá -lo ao seu conhecimento. O entendimento por si só pode adquirir
conhecimento natural por meios naturais; por meio dos sentidos que
representam o objeto: "para o qual ele deve ter os fantasmas e as
iguras dos objetos presentes em si mesmo ou em seus semelhantes." Se
um homem é informado de algo que nunca viu e que nã o sabe de nada
semelhante, isso pode servir de traço, ser capaz de captar o nome, mas
nã o ser capaz de formar uma imagem da coisa; por exemplo, um
homem daltô nico desde o nascimento. A mesma coisa acontece em nó s
com fé ; dá -nos notı́cias de coisas das quais nunca vimos ou ouvimos
nada; nã o sabemos nada parecido. Podemos apenas captar o que nos é
dito, se dispensarmos a luz do nosso conhecimento natural. Só
podemos aceitar o que ouvimos sem que nos tenha chegado atravé s dos
sentidos. E por isso que a fé é uma noite completamente escura para a
alma. Mas isso em si supõ e alguma luz; um conhecimento
absolutamente certo que ultrapassa todas as outras ciê ncias e
conhecimentos, a tal ponto que só na contemplaçã o perfeita podemos
chegar a uma idé ia correta de fé . E por isso que se diz: Si non
credideritis, non intelligetis ("se você nã o acreditar, nã o entenderá ")
(Isaı́as 7,3).
Por im, pelo que foi dito, ica claro nã o só que a fé é uma noite escura,
mas també m um caminho: o caminho para a meta pela qual a alma se
esforça por alcançá -la, ou seja, a uniã o com Deus. Porque só ela nos dá o
conhecimento de Deus. Nem como algué m poderia alcançar a uniã o
com Deus sem conhecê -lo? Mas para ser guiada pela fé até este im, a
alma deve se comportar de maneira conveniente: entrar na Noite por
sua pró pria escolha e com sua pró pria força. Depois de ter se despojado
na Noite do senso de apetite por todas as coisas criadas, ele tem que
morrer agora para chegar a Deus, para morrer para todas as suas forças
naturais, para seus sentidos e para sua pró pria razã o. Pois, para
alcançar a transformaçã o sobrenatural, você tem que deixar para trá s
tudo que é natural. Sim, você deve se desfazer de todos os bens
sobrenaturais que Deus lhe dá . Você deve se livrar de tudo que está sob
o controle de sua luxú ria. “Ele sempre tem que icar tã o nu deles e no
escuro, assim como o cego, aproximando-se da fé negra, tomando-a
como guia e luz e nã o se aproximando de coisas que ele entende, gosta,
sente e imagina. Porque tudo isso sã o as trevas que a farã o errar; e a fé
é antes de tudo compreender e saborear e sentir e imaginar ”.
Em relaçã o a tudo isso, a alma deve ser cega e permanecer nesta
cegueira para alcançar o que a fé ensina. Porque quem nã o é totalmente
cego nã o se deixa guiar pelo menino cego, mas con ia no que ele vê . “E
assim, a alma sem con iar em nenhum conhecimento pró prio ou gosto
ou sentimento de Deus, por mais que seja, mesmo que seja mais, seja
muito pouco ou diferente do que Deus é , por si mesma neste caminho
facilmente erra ou pá ra por nã o querer ser muito cega na fé , que é o seu
verdadeiro guia. ” Para alcançar a uniã o com Deus, a alma "nã o tem que
entender ou se aproximar do gosto, ou dos sentidos, ou da imaginaçã o,
mas crendo em seu ser que nã o cai no sentido, ou no apetite, ou na
imaginaçã o, ou qualquer outro sentido, nem mesmo nesta vida se pode
saber; antes nela, o mais alto que se pode sentir e saborear de Deus é
in initamente longe de Deus e de possuı́-lo puramente ”.
A alma deve se esforçar para ser perfeitamente a mesma coisa durante
a vida com Aquele a quem os outros estã o tã o intimamente unidos na
gló ria, como diz o Apó stolo Sã o Paulo que "nenhum olho jamais viu,
nem ouvido ouviu, nem caiu no pensamento, nem no coraçã o do
homem "(1Cor. 2, 9; Isaı́as 64, 4), portanto, na medida do possı́vel, ele
deve ser insensı́vel a" tudo que pode entrar pelo olho e tudo que pode
ser recebido pelo ouvido e pode ser imaginado com fantasia e entenda
com o coraçã o o que a alma quer dizer aqui ”. Se você ainda conta com
sua pró pria força, você apenas cria di iculdades e impedimentos. Para
chegar ao im, é tã o importante abandonar o pró prio caminho quanto
seguir o verdadeiro. Sim, "neste caminho, entrar no caminho é sair do
seu caminho, ou melhor, é passar ao im, e sair do seu caminho é entrar
no que nã o tem caminho, que é Deus. Porque a alma que chega a este
estado, já nã o tem meios ou meios, e menos ainda pode ser feito ou
apreendido ", a qualquer forma particular de compreender, gostar ou
sentir" embora em si englobe todos os caminhos, no caminho de
algué m que nã o tem nada, quem tem tudo Porque tendo a coragem de
passar de um limite natural interior e exterior, entra num limite
sobrenatural que nã o tem caminho, tendo em substâ ncia todos os
caminhos ”. Deve elevar-se acima de tudo o espiritual que pode ser
conhecido e compreendido de forma natural e també m acima de tudo o
espiritual que nesta vida pode ser saboreado e sentido com os
sentidos. Quanto mais você o aprecia, mais ele se afasta do bem
maior. Se em comparaçã o com isso, ele tem tudo em pouco, "a alma se
aproxima grandemente da uniã o pela fé ".
O Santo dá neste local uma breve explicaçã o do que entende por uniã o
para melhor inteligê ncia de tudo o que vem expondo; Nã o se refere
à quela uniã o substancial de Deus com todas as coisas pelas quais eles
permanecem em seu ser, mas antes a uniã o e transformaçã o da alma
com Deus por amor: "isso nem sempre é realizado, mas somente
quando a alma alcançou a semelhança com o amor ". Essa uniã o é
natural, esta sobrenatural. O sobrenatural se estabelece quando a
vontade da alma e a vontade de Deus se fundem em uma, a ponto de
nã o haver nada em uma que contradiga a outra. Quando a alma retira
totalmente de si o que é repugnante e nã o se conforma com a vontade
divina, ela se transforma em Deus por amor.
Isso se entende nã o só quanto ao que é repugnante à vontade divina
segundo o ato, mas també m segundo o há bito. De modo que nã o só
faltam os atos intencionais de imperfeiçã o, mas també m os há bitos de
todas as imperfeiçõ es que ele deve aniquilar. "E uma vez que toda
criatura e todas as açõ es e habilidades dela nã o somam ou alcançam o
que Deus é , é por isso que a alma de cada criatura e suas açõ es e
habilidades devem ser despidas ... e assim ela é transformada em Deus
". A luz divina habita naturalmente na alma. Mas só quando a alma se
despoja pelo amor de Deus de tudo que nã o é Deus - isto é amar - ela
pode ser iluminada e transformada em Deus "e Deus lhe comunica seu
ser sobrenatural de tal maneira que ele parece ser O pró prio Deus, e
tem o que tem de mesmo Deus ”. E essa uniã o atinge tanto "que todas as
coisas de Deus e da alma sã o uma na transformaçã o participante; e a
alma parece mais com Deus do que com a alma." Ele é Deus por
participaçã o, mas conserva apesar da uniã o "seu ser naturalmente ...
tã o diferente daquele de Deus como antes".

b) A nudez das forças espirituais como caminho e morte na


cruz

A expropriaçã o necessá ria para esta uniã o transformadora deve


ocorrer na compreensã o pela fé , na memó ria pela esperança e na
vontade pelo amor. Da fé já dissemos que por meio dela o entendimento
adquire um conhecimento escuro, mas seguro. A fé mostra Deus como
uma luz inacessı́vel, incompreensı́vel e in inita diante da qual todas as
forças naturais falham e pela mesma razã o faz com que o entendimento
volte ao reconhecimento de seu nada; ele conhece seu desamparo e a
grandeza de Deus. Da mesma forma, a esperança esvazia a memó ria,
porque se preocupa com algo que nã o tem "a esperança que se vê nã o é
esperança; porque se o que se vê a possui, como espera?" (Rom.
8,24). Ela nos ensina a esperar tudo de Deus e nada de nó s mesmos ou
de outras criaturas. Espere dele a felicidade in inita e renuncie a todo
gosto e posse por ela nesta vida. Por im, o amor liberta a vontade de
todas as coisas, na medida em que nos obriga a amar a Deus acima de
todas as coisas. Mas isso só é possı́vel quando o apetite das criaturas foi
suprimido.
Este caminho de desapropriaçã o total foi anteriormente descrito como
o caminho estreito que poucos encontram (Mt 7,14), o caminho que
leva à alta montanha da perfeiçã o e que só pode ser percorrido por
quem nã o tem medo de nenhum fardo. O caminho da Cruz, ao qual
Jesus convida os seus discı́pulos: «Quem quiser ser meu discı́pulo,
negue-se a si mesmo, tome a sua Cruz e siga-me. Pois quem quiser
salvar a sua vida a perderá , mas quem a perderá por meu amor salvá -la
"(Mc 8.34 f.). O que é necessá rio aqui nã o é uma pequena lembrança e
uma certa melhora neste ou outro aspecto; um pequeno prolongamento
da oraçã o ou um pouco de morti icaçã o e neles gozam de consolaçõ es e
sentimentos espirituais. Aqueles que se contentam com isso, "fogem
como da morte em se oferecerem algo deste só lido e perfeito, que é o
aniquilamento de toda suavidade em Deus, na secura, na falta de sabor,
no trabalho, que é uma cruz espiritual pura e nudez de espı́rito. pobre
em Cristo. " O outro nada mais é do que "buscar-se em Deus, o que é
totalmente contrá rio ao amor. Porque buscar-se em Deus é buscar os
dons e as recreaçõ es de Deus. Mas buscar Deus em si mesmo, nã o é só
querer faltar isso e aquele outro para Deus, mas estar inclinado a
escolher para Cristo tudo o que há de mais desagradá vel, agora de Deus,
agora do mundo; e isso é o amor de Deus ”.
Odiar a sua alma -ou tentar- signi ica renunciar por amor de Cristo «a
tudo quanto a sua vontade deseja e prova, escolhendo o que mais se
assemelha à cruz». Beber o copo com o Senhor (Mt. 20:21) signi ica
morrer para a natureza - tanto sensı́vel quanto espiritual. Só assim a
alma pode subir o caminho estreito. “Pois bem, nele nã o há lugar para
mais do que a negaçã o ... e a Cruz, que é bunda para poder pousar nela,
com a qual muito ilumina e facilita. De onde o Senhor disse por Sã o
Mateus: meu o jugo é suave e meu fardo leve, que é a Cruz (Mt. 11:30).
Porque se o homem está decidido a segurar e carregar esta Cruz, que é
uma determinaçã o real de querer encontrar e levar trabalho em todas
as coisas para Deus, em todos eles encontrará grande alı́vio e suavidade
para caminhar por este caminho nu de tudo sem querer nada. Nem
poderá trilhar este caminho estreito. As almas espirituais devem estar
persuadidas de que este caminho de Deus nã o consiste numa
multiplicidade de consideraçõ es, modos, modos ou gostos ..., mas em
uma ú nica coisa necessá ria, que é saber se negar a si mesmo, verá
segundo o interior e o exterior, onde é sofrer por Cristo, e se aniquilar
em tudo . ue exercitando-se nisso, todo aquele outro e mais do que isso
se faz e se encontra aqui. E se faltar esse exercı́cio, que é a totalidade e a
raiz de todas as virtudes, todas essas formas sã o rodeios e nã o
aproveitar, mesmo que tenham consideraçõ es e comunicaçõ es tã o
elevadas como os anjos. ”Cristo. é o nosso jeito, tudo se resume a
entender como devemos caminhar imitando o modelo que é Cristo.
«Quanto ao primeiro, é verdade que morreu, quanto aos
espiritualmente sensı́veis na sua vida, e naturalmente na sua morte.
Pois, como disse, em vida nã o tinha onde reclinar a cabeça (Mt 8, 20) . E
na morte ele tinha menos. Quanto a este ú ltimo, é verdade que na hora
da morte ele també m estava desamparado e como se aniquilado na
alma, deixando-o o Pai sem qualquer consolo ou alı́vio, na secura
ı́ntima, pelo que era necessá rio que ele gritasse na cruz: "Deus meus,
Deus meus, ut quid dereliquisi me? Meu Deus, por que me
desamparaste? ”(Mt 27, 46). Qual foi o maior desamparo sensı́vel que
ele já teve em sua vida. E entã o ele fez a maior obra de toda a sua vida
com milagres e maravilhas que ele tinha feito ...; que era reconciliar e
unir a raça humana pela graça com Deus. E isso foi no momento e ponto
em que este Senhor foi mais aniquilado em tudo; convé m saber: sobre a
fama dos homens, porque como o viram morrer em uma á rvore, antes
de zombarem dele que o estimavam em algo; e sobre a natureza,
porque nela ele se aniquilou pela morte e sobre a proteçã o espiritual e
consolaçã o do Pai, porque naquela é poca ele abandonou-o, porque ele
puramente pagou a dı́vida e iria unir o homem a Deus ... para que o bom
espiritual entenda o misté rio da porta e a maneira de Cristo se unir a
Deus, e saiba que quanto mais ele se aniquila por Deus, segundo a essas
duas partes sensı́veis e espirituais, mais ele une Deus e faz um trabalho
muito maior. E quando ele vem para icar resolvido em nada, a nã o ser
ser a maior humildade, ser feita a uniã o espiritual entre a alma e Deus,
que é o estado mais elevado e mais elevado que pode ser alcançado
nesta vida. Portanto, nã o consiste em recreaçõ es ou gostos ou
sentimentos espirituais, mas em uma morte viva, sensı́vel e espiritual
na Cruz, interior e exterior ”.
c) Incapacidade de tudo o que foi criado para servir de
meio de união. Insu iciência de conhecimento natural e
sobrenatural

E possı́vel perceber aqui como batia o coraçã o do nosso Santo. Ele fala
de grandes verdades que conheceu e em cuja difusã o consiste a sua
missã o; nosso objetivo é a uniã o com Deus, nossa forma de Cristo
cruci icado. O ú nico meio apropriado para isso é a fé . Isso pode ser
provado mostrando que nada real ou imaginá rio fora dela pode nos
servir para essa uniã o. Todo meio deve corresponder ao seu
im; conseqü entemente, somente "aquele mé dium que se une a ele e
tem a maior semelhança com ele pode ser apenas um meio de uniã o
com Deus". Isso nã o pode ser a irmado de nenhuma coisa
criada. Embora todas as coisas tenham uma certa relaçã o com Deus e
contenham um certo traço dele, nã o há nenhum respeito ou
semelhança essencial de Deus com elas; Antes, a distâ ncia entre o seu
ser divino e o deles é in inita, por isso é impossı́vel que o entendimento
possa dar perfeitamente a Deus atravé s das criaturas, ora sã o celestiais,
ora terrenas, pois nã o há proporçã o de semelhança. "Os pró prios anjos
e santos estã o tã o distantes da essê ncia divina que o entendimento nã o
pode ser perfeitamente unido a Deus por meio deles." E o mesmo pode
ser dito de "tudo o que a imaginaçã o pode imaginar e o entendimento
recebe e compreende nesta vida". O mundo natural é conhecido pela
alma por meio de formas e iguras que ela recebe por meio de
signi icados, e estas nã o servem para avançar no caminho que conduz a
Deus. E mesmo o que você pode saber sobre o mundo sobrenatural aqui
na terra nã o é su iciente para ajudá -lo a conhecer a Deus de uma
maneira precisa. O entendimento com sua pró pria capacidade nã o pode
formar um conceito adequado de Deus, nem a imaginaçã o com sua
fantasia criar formas ou imagens que possam representá -lo, nem a
vontade inalmente pode saborear qualquer prazer ou gosto
semelhante à quele que é Deus. Por isso, para chegar a Deus, o homem
«deve primeiro ir sem compreender do que querer compreender; e
antes cegando-se e pondo-se nas trevas, do que abrindo os olhos para
alcançar mais do Raio Divino ...». Por isso o Areopagita clama pela
Teologia da contemplaçã o mı́stica, isto é , sabedoria secreta de Deus e
raio de escuridã o.
Essa escuridã o que conduz a Deus é , como já sabemos, fé . E o ú nico
meio que nos leva à uniã o, porque coloca Deus diante de nossos olhos
tal como ele é : in inito e triuno. A fé é como Deus porque cega o
entendimento e aparece para ele nas trevas. Portanto, a alma está mais
intimamente unida a Deus quanto mais ela está cheia de fé . Sua
escuridã o é representada pela Sagrada Escritura na imagem da Nuvem
sob a qual Deus estava escondido nas revelaçõ es do Antigo Testamento:
antes de Moisé s na Montanha; no templo de Salomã o. Nesta escuridã o,
a luz da verdade se esconde. Para ser descoberto e irradiar assim que a
fé desaparecer no inal da vida. Mas, entretanto, precisamos dela. O que
ela nos dá - a contemplaçã o - é um conhecimento escuro e geral; a fé
nã o está apenas acima da capacidade natural, mas també m alé m das
vá rias maneiras pelas quais o conhecimento sobrenatural pode ser
clara e particularmente comunicado ao entendimento: visõ es
sobrenaturais, revelaçõ es e sentimentos. Figuras de outro mundo, anjos
ou santos, ou um brilho extraordiná rio podem ser mostrados aos olhos
do corpo. Palavras incomuns podem ser ouvidas, cheiros agradá veis
percebidos, sabores sensı́veis sentidos ou grandes sensaçõ es de prazer
ao ser tocado.
Tudo isso tem que ser descartado sem investigar se é bom ou
ruim. Corresponde a Deus mais propriamente comunicar-se com o
espı́rito do que com os sentidos, e nisso a alma encontra maior
segurança e faz maior progresso, ao passo que, aos fenô menos
sensı́veis, geralmente estã o associados grandes perigos. Porque neste
sentido os sentidos procuram julgar as coisas espirituais que sabem tã o
pouco, como um burro das coisas da razã o. Neste campo o diabo
també m pode exercer suas artes, pois exerce in luê ncia sobre o
corpó reo. E embora as iguras venham de Deus, sã o tã o inú teis para o
espı́rito que, quanto mais se baseia nas aparê ncias externas, menos
estı́mulo tem para a oraçã o, e dá a sensaçã o de que tê m mais
importâ ncia para ele e ele se permite ser guiado melhor por eles do que
pela fé , e també m levar a alma a pensar mais alto sobre si mesma. E por
isso que o diabo os usa com tanta complacê ncia para perder almas. Por
todas essas razõ es, é melhor rejeitar essas imagens. Se sã o de Deus, a
alma nã o perde nada nela, pois toda comunicaçã o que vem de Deus ",
neste mesmo ponto que parece ou sente, faz seu primeiro efeito sobre o
espı́rito, sem dar tempo à alma para deliberar. ou nã o querer ". E ao
contrá rio do que acontece com as visõ es do Diabo “que só pode colocar
os primeiros movimentos na vontade e nã o pode movê -la mais se nã o
quiser”. Apesar destes efeitos salutares, a alma nã o deve de forma
alguma desejar tais aparê ncias: 1) "porque causam dano à fé que é
antes de tudo a apreensã o dos sentidos e assim separam a alma do
ú nico meio de uniã o com Deus. 2) Eles param o espı́rito e impedem que
ele suba ao invisı́vel. 3) Eles nã o permitem que a alma alcance o
verdadeiro abandono e nudez do espı́rito. 4) Permanecendo apegado ao
sensı́vel, torna-se menos permeá vel ao espı́rito de piedade . 5) Por
buscar visõ es egoisticamente, ela perde a graça que Deus queria
conceder a ela. 6) Com isso ela dá lugar ao diabo para enganá -la com
tais visõ es. Porque se a alma nã o rejeita e é desfavorá vel a tais
apariçõ es, o demô nio deixa de ver que nã o faz mal; e Deus, ao contrá rio,
está aumentando e excedendo os favores naquela alma humilde e
despossuı́da, constituindo-a e colocando-a sobre o muito, como o servo
iel no pouco ... ( Mt. 25,21) no qual misericó rdia se ele ainda é um Que
o Senhor seja iel e retraı́do, o Senhor nã o se deterá até que a eleve de
grau em grau à uniã o e transformaçã o divina ”.
Da mesma forma que as apreensõ es dos sentidos devem rejeitar
també m as imagens dos sentidos internos, imaginaçã o e fantasia. O
primeiro forja imagens, o outro fantasia sobre o imaginado. Ambos sã o
ú teis para meditaçã o relacionada a tais imagens. (Por exemplo, Cristo
pode ser representado na Cruz, ou na coluna do açoite, ou Deus no
trono da gló ria). Todas essas imagens servem tã o pouco de meio
imediato para a uniã o quanto os objetos dos sentidos externos, "porque
a imaginaçã o nã o pode fabricar ou imaginar coisas diferentes daquelas
que ela experimentou com os sentidos externos ... ou no má ximo
colocando semelhanças de outras coisas vistas, ouvidas ou sentidas
"; porque estes nã o pertencem a uma categoria mais elevada do que os
sensı́veis, "na medida em que todas as coisas criadas ... nã o podem ter
qualquer proporçã o com o ser de Deus", nã o pode servir como meio
seguinte de uniã o com Deus, aquele cuja semelhança nó s pode nos
representar de acordo com nosso capricho. Para os iniciantes, pode ser
necessá rio imaginar Deus como um grande fogo ou brilho ou algo
semelhante para que a alma se acenda ou se mova para o amor atravé s
do sensı́vel. Mas essas imagens servirã o apenas como um meio remoto
... As almas "normalmente tê m que passar por elas para chegar ao im e
permanecer no descanso espiritual". Mas deve ser de tal forma que
“eles passem por eles e nã o estejam neles, porque assim nã o
alcançariam o im ...”.
O momento apropriado para deixar o está gio da meditaçã o terá
chegado quando os trê s sinais que já conhecemos da Noite Escura do
Signi icado se reunirem; que a alma nã o encontra mais prazer, nem
suco na oraçã o sensı́vel; que você també m nã o se sente inclinado a
cuidar de outras coisas; que ele gosta de ser entretido calmamente com
Deus em notı́cias amorosas em geral. Esse conhecimento amoroso é
normalmente fruto de meditaçõ es anteriores obtidas por meio de
penosas consideraçõ es, re lexõ es e notı́cias particulares, que com o
longo exercı́cio se tornaram um há bito. Por mais que à s vezes Deus
produza esse estado na alma sem muito exercı́cio, "entã o, colocando-os
em contemplaçã o e amor". Este conhecimento amoroso geral nã o
permite mais novidades nem particularidades, "para as quais, ao
colocar a alma em oraçã o, e como quem está perto da á gua bebe sem
trabalhar com doçura, sem que seja necessá rio retirá -la. atravé s das
arcadas das consideraçõ es, formas ou iguras passadas. Para que depois
de colocar a alma diante de Deus, ela seja posta em ato de uma notı́cia
confusa, amorosa, pacı́ ica e calma em que a alma está bebendo
sabedoria, amor e sabor ”. Toda inquietaçã o e tormento vê m de nã o
compreender este estado e da determinaçã o de voltar à meditaçã o que
já se tornou infrutı́fera.
Na contemplaçã o, os poderes da alma, da memó ria, do entendimento e
continuarã o a estar unidos. Mas, na meditaçã o e na consideraçã o, o
Santo també m vê uma atividade dos poderes dos sentidos. Quanto mais
puro, simples e perfeito e mais espiritual e interior é o noticiá rio geral, -
e isso acontece quando é derramado em uma alma completamente
pura, livre de todas as outras impressõ es e conhecimentos particulares
- o ser mais livre e delicado e todos os mais em breve poderá escapar da
percepçã o. A alma está em profundo esquecimento e vive como
abstraı́da do tempo. A oraçã o parece muito curta para ele, embora
tenha durado horas. E a oraçã o curta que “penetra nos cé us porque tal
alma está unida na inteligê ncia celestial”. Deixa na alma como efeito
uma elevaçã o da mente à inteligê ncia celestial e alienaçã o e abstraçã o
de todas as coisas, formas e iguras. Ao mesmo tempo, na maioria das
vezes a vontade també m é afetada, submersa no deleite do amor, sem
saber qual é o objeto particular desse amor. A atividade da alma neste
estado consiste simplesmente em receber "o que é dado a ela, como
ocorre nas iluminaçõ es, ilustraçõ es e inspiraçõ es de Deus". E uma luz
lı́mpida e serena que se infunde nela e nada pode ser semelhante a ela,
por isso o recurso a objetos ou consideraçõ es particulares "impediria a
luz geral sutil e simples do espı́rito, colocando aquelas nuvens no
meio". "Esta luz nunca falta na alma; mas pelas formas e vé us das
criaturas com as quais a alma está velada e grá vida ela nã o está
infundida, que se eu remover esses impedimentos e vé us
completamente ... permanecendo na nudez pura e na pobreza do
espı́rito, entã o a alma simples e pura seria transformada na sabedoria
divina simples e pura, que é o ilho de Deus ”. E a alma se infunde de
"divina calma e paz ... com admirá veis ... notı́cias de Deus, envoltas no
amor divino". Nesse alto estado de uniã o de amor, Deus nã o se
comunica mais com a alma "atravé s de algum disfarce de visã o
imaginá ria ou semelhança ou igura ... mas de boca em boca (nº 12, 6 e
segs.); Isto é , em essê ncia puro e Nu de Deus, que é como a boca de
Deus, no amor, com a essê ncia pura e nua da alma, pela vontade, que é a
boca da alma, no amor de Deus ”.
Para chegar aqui é preciso caminhar muito. Deus gradualmente guia a
alma até este pico. Ela acomoda sua natureza e comunica-lhe o
espiritual a princı́pio por meio de coisas compreensı́veis e a leva
instruindo-a "por formas, imagens e caminhos sensı́veis ao seu modo
de compreensã o, ora natural, ora sobrenatural e por discursos a esse
espı́rito supremo de Deus " As visõ es do imaginativo també m tê m seu
lugar neste plano de educaçã o divina. Mas neles a alma nã o deve
atender a nada mais, a nã o ser "o que Deus pretende e quer, que é o
espı́rito de devoçã o, uma vez que ele nã o os dá para outro propó sito
principal; e ele deixa o que Ele deixaria de dar se pudesse. receber em
espı́rito sem ele ..., que é o exercı́cio e a apreensã o do sentido ”.
No Antigo Testamento era permitido, de acordo com a ordenaçã o
divina, desejar visõ es e revelaçõ es e ser guiado por elas, porque assim
Deus descobriu os segredos da fé e manifestou a sua vontade. E é que “o
que ele falou antes em partes aos profetas, ele já falou nele tudo, dando-
nos tudo que é seu Filho”. Antes, Deus falou para nos prometer
Cristo. Agora ele nos deu tudo nele e nos disse: "Ouvi-o" (Mt.
17,5). Desejar agora revelaçõ es implicaria falta de fé , uma vez que "Nele
estã o escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento de
Deus" (Colossenses 2,3). “E assim em tudo falamos em ser guiados pela
doutrina de Cristo Nosso Senhor, homem, e de sua Igreja e de seus
ministros, humana e visivelmente, e assim remediar nossas ignorâ ncias
e fraquezas espirituais. E nã o é para ser acreditou. por meios
sobrenaturais, mas somente o que é o ensinamento de Cristo homem,
como eu disse, e de seus ministros, os homens ... Tudo o mais é nada e
nã o se deve acreditar, exceto de acordo com isso ”. Nem na Lei Antiga
era lı́cito que algué m questionasse a Deus e ele nã o respondia mais do
que aos sacerdotes e profetas. “Porque Deus é tã o amigo que o governo
e tratamento dos homens é també m por outros homens semelhantes a
ele e que por uma razã o natural o homem é governado e governado,
que deseja totalmente que as coisas que ele nos comunica
sobrenaturalmente nã o nos façamos entendam ... nem nos tornam
fortes e seguros até que passem por esta arcaducidade humana da boca
do homem. E entã o sempre que ele diz algo ou revela a alma ... isso
"imprime" um caminho de inclinaçã o colocado no a pró pria alma à qual
diga-se a quem se deve falar. Porque naqueles que se reú nem para
discutir a verdade, ele se reú ne para esclarecê -la e con irmá -la neles
”. Ao que o entendimento entende com a ajuda dos sentidos externos ou
internos, devemos adicionar comunicaçõ es puramente
espirituais; Estes sã o comunicados ao entendimento sem a intervençã o
dos sentidos externos ou internos e sem sua pró pria açã o "sã o
oferecidos ao entendimento de forma clara e distinta por via
passivamente sobrenatural; que é sem colocar a alma algum ato e
trabalho de sua parte, em menos ativamente e como o seu ".
O Santo distingue visõ es espirituais, revelaçõ es, locuçõ es e sentimentos,
e agrupa os quatro sob a denominaçã o geral de visõ es intelectuais,
porque em todos eles há de alguma forma uma visã o da alma. No
sentido mais estrito, reserva esse nome ao que é visto espiritualmente
na forma de visã o corporal. Por sua vez, a revelaçã o pode ser chamada
de "o que a alma recebe ao aprender e compreender coisas novas ..."; e
o que a alma recebe por meio da audiçã o, chamamos de fala e o que ela
recebe por meio dos outros sentidos ... chamamos de sentimentos
espirituais, por obras e meios sobrenaturais.
Embora essas apreensõ es sejam maiores e mais proveitosas do que as
recebidas pelos sentidos ou pela imaginaçã o, nã o se deve esquecer que
també m neste caso pode acontecer que você perca a
compreensã o. “Porque, engravidar e icar ridı́culo com eles, o caminho
da solidã o e da nudez nã o se impede ...”. As visõ es podem representar
diante dos olhos da alma tanto seres corpó reos quanto
desencarnados. A alma pode contemplar sob uma certa luz
sobrenatural todas as coisas corpó reas que estã o no cé u ou na terra. Os
seres incorpó reos (Deus, anjos, alma) só podem ser vistos com a luz da
gló ria, e nem mesmo esta na vida presente. "Porque se Deus quisesse
comunicá -los à alma essencialmente, como sã o, entã o ele sairia da
carne e seria libertado da vida mortal." Essas visõ es só podem ser
concedidas excepcionalmente a algué m, "Deus arranjando e salvando a
condiçã o da vida natural, abstraindo totalmente o espı́rito dela. Como
Sã o Paulo em sua visã o do terceiro cé u, ele foi arrebatado da vida
natural" (2Cor. 12, 2). Essas visõ es ocorrem muito raramente e apenas
em homens como Moisé s, Elias e Paulo, "que sã o fontes do espı́rito da
Igreja e da lei de Deus". “Mas as substâ ncias espirituais nã o podem ser
nuas lei ordiná ria e claramente vistas nesta vida com o entendimento;
podem ser sentidas na substâ ncia da alma, poré m, atravé s de uma
notı́cia amorosa com toques muito suaves e juntos”. Esta “notı́cia escura
e amorosa - que é a fé - serve nesta vida para a uniã o divina, como a luz
da gló ria serve como um meio no outro para uma visã o clara”.
Aqui está algo à nossa frente para discutir em detalhes mais tarde. Vale,
acima de tudo, lançar luz sobre as visõ es espirituais das coisas
corporais. Isso pode ser visto pelo entendimento sob uma luz
sobrenatural, assim como os olhos vê em as coisas sob a luz natural. Mas
a visã o espiritual é mais sutil e clara do que a corporal. E como o clarã o
de um relâ mpago que, na noite escura, de repente e por um instante, faz
com que as coisas vejam com clareza e nitidez. Devido à in luê ncia da
luz espiritual, as coisas estã o tã o profundamente gravadas na alma que,
cada vez, iluminada por Deus, ela as percebe, as vê novamente como
antes. Essas visõ es produzem na alma quietude, iluminaçã o, alegria
celestial, amor puro, humildade e elevaçã o do espı́rito. Por esses efeitos,
eles se distinguem das imitaçõ es diabó licas. Apesar de tudo, a alma
deve rejeitá -los, porque se a alma quisesse preservá -los como um
tesouro, “seria para estar com aquelas formas, imagens e personagens
que residem grá vidas do interior, e nã o passaria por negaçã o de todas
as coisas a Deus. " E verdade que com a memó ria de tais visõ es um
certo grau de amor pode ser alcançado, mas pode ser alcançado ainda
mais alto por meio da fé pura, quando pela nudez, escuridã o e pobreza
de espı́rito está enraizado na alma, é infundido com esperança e amor,
um amor que nã o se manifesta por nenhum sentimento de ternura na
alma, mas se manifesta por um espı́rito maior e por uma força
desconhecida. Deus é incompreensı́vel e é acima de tudo, e por isso
"nos convé m ir a ele negando tudo".
Com o nome de revelaçõ es, Sã o Joã o da Cruz designa dois tipos de
comunicaçõ es espirituais: o conhecimento intelectual, no qual se
descobrem verdades ocultas - podem referir-se a coisas materiais ou
espirituais - e as revelaçõ es em sentido pró prio e estrito, atravé s das
quais sã o revelado. segredos. O conhecimento das verdades puras é
completamente diferente das visõ es corporais das quais falamos
antes. Eles podem ser verdades sobre o Criador e a criatura. Eles sã o
acompanhados por um deleite inigualá vel e inefá vel. “Porque esta
notı́cia acontece diretamente sobre Deus, sentindo-se altı́ssimo de
algum atributo de Deus, ora de sua onipotê ncia, ora de sua força, ora de
sua bondade e doçura, etc., e cada vez que é sentida, atinge a alma que
que se sente. Por ser pura contemplaçã o, a alma vê claramente que nã o
há como dizer algo sobre isso, se nã o fosse para dizer alguns termos
gerais; mas nã o para que neles se possa terminar de compreender o
que a alma ali gostava e senti ". Se for o conhecimento do pró prio Deus,
eles nã o se referem a nada em particular. “Essas altas notı́cias de amor
só podem ser recebidas pela alma que atinge a uniã o de Deus, porque
sã o a mesma uniã o; porque consiste em tê -las em um certo toque que
se faz da alma à divindade”. De algumas "notı́cias e toques destes que
Deus faz na substâ ncia da alma, um deles é su iciente para remover da
alma de uma vez todas as imperfeiçõ es que ela nã o tinha sido capaz de
remover em toda a sua vida, mas a deixa cheia de bens e virtudes E
esses toques sã o tã o saborosos e de tã o ı́ntimo deleite para a alma, que
com um deles ele se considerará bem pago por todos os trabalhos que
sofreu em sua vida, mesmo que fossem inú meros. ” A alma nã o pode
chegar a este alto conhecimento por nenhum esforço pró prio. Só Deus
trabalha nela sem sua colaboraçã o, à s vezes quando ela menos pensa
ou quer. E visto que eles vê m a ele tã o repentinamente e sem sua
cooperaçã o, "a alma nã o tem que fazer neles, querendo ou nã o
querendo, mas antes humilde e resignadamente com eles, que Deus fará
sua obra quando e como ele quiser."
Em relaçã o a estas notı́cias, o Santo nã o pensa que devam ser
descartadas como as anteriores, porque fazem parte da uniã o para a
qual pretende dirigir a alma. Por isso deve separar-se de todos os
outros e sofrer com humildade, resignaçã o e desinteresse em toda
retribuiçã o. Porque essas concessõ es nã o sã o feitas para a alma
proprietá ria, porque sã o feitas com um amor muito particular a Deus,
que ele tem com essa alma, porque a alma també m é muito mal
apropriada para ele. "E assim que Deus se manifesta à alma que se
aproxima dEle e O ama de verdade."

Muito diferentes dessas sã o as outras duas formas de notı́cias sobre


coisas como fatos e casos que acontecem entre os homens. Pertencem
ao espı́rito de profecia e ao que Sã o Paulo chama de "discriçã o dos
espı́ritos" (1Cor 12,10), instalam-se profundamente na alma e
despertam uma convicçã o inabalá vel da sua verdade. Mas, apesar de
tudo, devem ser submetidos ao Diretor Espiritual, porque a fé é o
caminho mais seguro para a uniã o com Deus do que a razã o. Assim,
algumas almas chegam de maneira sobrenatural ao conhecimento da
natureza e de suas forças. As vezes, sã o apenas iluminaçõ es particulares
e fugazes nos muito avançados, mas, em outras ocasiõ es, consistem em
conhecimento geral e duradouro. Existem espirituais que podem, com o
poder da iluminaçã o sobrenatural, ver o que há dentro dos outros por
meio de sinais que nã o aparecem externamente. Eles també m podem
saber as açõ es e o destino dos ausentes. Esse conhecimento é recebido
pela alma sem fazer nada por ele. Pode ser que, sem pensar
absolutamente sobre isso, você adquira um conhecimento do que leu
ou ouviu, muito mais claro do que "a palavra soa". As vezes acontece
que você ouve palavras de uma lı́ngua desconhecida e ainda assim
entende completamente o seu signi icado. Neste campo (ao contrá rio
do que aconteceu no anterior) o diabo pode novamente intervir de
forma notá vel. Portanto, mesmo vistos deste ponto de vista, eles sã o de
pouca utilidade para o propó sito da uniã o divina e contê m muitos
perigos. Portanto, é melhor descartá -los, relatá -los ao Diretor e seguir
seu conselho. Visto que essas coisas só podem ser comunicadas
passivamente à alma, "o efeito que Deus deseja permanece sempre
nelas, sem que a alma se esforce por isso".
As revelaçõ es em sentido estrito referem-se aos misté rios da fé ; à
essê ncia de Deus (Trindade e Unidade), bem como à açã o divina na
criaçã o. A um segundo gê nero pertencem as promessas e ameaças que
Deus faz pela boca dos Profetas, bem como "muitos outros casos
particulares que Deus normalmente revela, bem como sobre o universo
em geral, bem como em particular sobre reinos, provı́ncias , estados,
famı́lias. e de particulares ". Quando o espı́rito descobre as verdades da
fé em sentido estrito, elas nã o sã o revelaçõ es, visto que já foram
reveladas, mas sã o uma manifestaçã o e esclarecimento da verdade
revelada. Como tudo isso é comunicado por meio de palavras ou sinais,
pode ser imitado pelo demô nio. Se algo fosse revelado nisso que se
desviasse da fé , nã o poderia de forma alguma ser aceito. E mesmo que
seja uma nova manifestaçã o de verdades já reveladas, a alma nã o deve
"crer nelas porque entã o sã o reveladas, mas porque já foram
su icientemente reveladas na Igreja". E “é muito conveniente para a
alma nã o querer compreender essas coisas claras sobre a fé , a im de
preservar pura e inteira o cré dito dela també m e vir nesta noite de
compreensã o para a luz divina da uniã o divina”. A alma agirá com
prudê ncia se lhes for afastada "para caminhar pura e sem erro na Noite
para a Uniã o Divina".

O Santo tratou sob o nome de frases de um terceiro grupo de


comunicaçõ es espirituais, que o entendimento recebe sem a
intervençã o dos sentidos. Eles sã o divididos em sucessivos, formais e
substanciais. As primeiras sã o palavras e razõ es que o espı́rito forma
quando é recolhido em si mesmo. Isso acontece com ele "quando o
espı́rito é recolhido e imerso em alguma consideraçã o muito atenta ...,
correndo de um para outro e formando palavras e razõ es muito
propositalmente, com tanta facilidade e distinçã o e tais coisas que nã o
se sabem sobre Ele." Parece-lhe que outra pessoa responde e o
ensina. Na verdade, ele está falando consigo mesmo. Ele propõ e as
perguntas e as responde, mas nisso ele é o instrumento do Espı́rito
Santo sob cuja ajuda ele pensa. “Porque entã o o entendimento se une e
se reú ne com a verdade do que pensa e o Espı́rito Divino també m se
une a Ele nessa verdade, como sempre é com toda a verdade, daı́ é que
comunicar o entendimento desta forma com o Divino O Espı́rito por
meio dessa verdade, juntos formando sucessivamente dentro das
outras verdades que sã o sobre aquele que pensava, abrindo a porta e
deixando o Espı́rito Santo ensinando iluminando ”. Apesar dessa
iluminaçã o, a alma nã o está segura contra o erro, primeiro porque a luz
é tã o sutil e espiritual que o entendimento nã o pode ser facilmente
orientado e, alé m disso, porque o pró prio entendimento pode ser
enganado. "Como ele já começou a pegar o io da verdade no inı́cio, e
entã o coloca a habilidade ou rudeza de seu baixo entendimento por
conta pró pria, é uma coisa fá cil variar de acordo com sua
habilidade." Pode acontecer que um entendimento por natureza viva e
penetrante possa, sem qualquer ajuda sobrenatural, chegar a tais
atividades do espı́rito e pensar que ele é iluminado por Deus. A este
perigo se acrescenta outro, que é pensar que algo grande é comunicado
a ele por essas alegadas frases divinas e se retirar do abismo da
fé . Devem ter cuidado com isso, porque, mesmo quando a iluminaçã o é
devida ao Espı́rito Santo, o entendimento é realmente iluminado pelo
Espı́rito Santo de acordo com o grau de sua recolhimento. Mas nunca
atinge maior recordaçã o do que na fé . "Porque quanto mais pura e
cuidadosa é a alma na perfeiçã o da fé viva, quanto mais tem a caridade
infundida com Deus; e quanto mais caridade tem, mais ela a ilumina e
comunica os dons do Espı́rito Santo."
A luz que ele recebe na fé , comparada com o que lhe é comunicado
atravé s da iluminaçã o das verdades, é o que ouro para metais
desprezı́veis e como o oceano para uma gota d'á gua. "Porque de uma
maneira a sabedoria de uma, duas ou trê s verdades é comunicada a ele
... e na outra toda a sabedoria de Deus é comunicada geralmente, que é
o Filho de Deus que é comunicado à alma na fé ." "Quando algué m
atende a essas comunicaçõ es sobrenaturais, impede essa plenitude. Ao
contrá rio, a alma com um coraçã o puro e simples deve aprender" a
ignorar, mas fundar a vontade na força do amor humilde e agir na
verdade, e sofrer imitando o Filho de Deus, Deus em sua vida e
morti icaçõ es em tudo; que este é o caminho para chegar a todo bem
espiritual, e nã o a muitos discursos internos ", que podem vir nã o só da
atividade da pró pria natureza, mas també m da in luê ncia do demô nio.
Certamente eles deixam efeitos diferentes na alma de acordo com o
causa de onde eles vê m, mas uma grande experiê ncia da vida interior é
necessá ria para distingui-los com certeza. Portanto, é melhor nã o dar-
lhes nenhum valor. Devemos nos contentar "em conhecer os misté rios e
as verdades com a simplicidade e a verdade que a Igreja nos propõ e, o
que basta para in lamar fortemente a nossa vontade ”.

As palavras formais diferem das palavras sucessivas porque o espı́rito


as recebe sem dar nada de sua parte, ou ser recolhido e sem ter
pensado no que recebe. As vezes eles sã o muito formados e outros
consistem em uma forma de conceitos nos quais algo é comunicado. As
vezes, eles consistem em uma ú nica palavra, à s vezes contê m muitas e
à s vezes consistem em longos ensinamentos. Eles nã o deixam uma
impressã o profunda, porque geralmente seu ú nico propó sito é ensinar
ou iluminar a alma sobre um determinado ponto. Normalmente eles
pró prios dispõ em a alma para recebê -los. Mas també m pode acontecer
que a alma mostre relutâ ncia ao efeito que está tentando produzir. E
esse desgosto é permitido por Deus, principalmente quando se trata de
obras muito importantes que devem levar o selo Divino. Nas coisas
humildes e baixas, ele torna as coisas mais fá ceis para eles. O contrá rio
acontece quando sã o do diabo, porque entã o a alma se enche de zelo
pelas obras grandes e extraordiná rias e sente repugnâ ncia pelas
comuns, embora també m aqui seja difı́cil distinguir o que vem do
espı́rito bom ou do mau. Por isso, "destas palavras formais a alma deve
dar tã o pouca atençã o como à s outras palavras sucessivas". Por esta
razã o, você nunca deve seguir o que as palavras exigem, mas sim exigir
que você as comunique a um diretor espiritual experiente e siga seus
conselhos. Se nã o conseguir encontrar ningué m com experiê ncia
su iciente, o melhor é guardar o que contê m com certeza e essencial e
nã o se preocupar com isso ou comunicá -lo a ningué m.

As palavras substanciais tê m em comum com as palavras formais o fato


de estarem claramente impressas na alma, mas diferem delas porque
produzem um efeito vı́vido e substancial; eles causam na alma o que
dizem. Portanto, se o Senhor fala com eles e diz: ame-me, se se trata de
palavras substanciais, eles imediatamente possuem esse amor e podem
veri icá -lo. As palavras "nã o tema" imediatamente em uma alma
angustiada produzem coragem e paz. Essas frases sã o para a alma "vida
e virtude e bem incompará vel; porque talvez uma dessas palavras faça
mais bem a ela do que o quanto a alma fez em sua vida". Você nã o tem
nada para fazer, nada que você queira, nada a temer. E indiferente quem
é favorá vel ou relutante com eles. Nem deve se preocupar em colocá -los
para trabalhar, pois o pró prio Deus é o encarregado de fazê -lo. As frases
sã o comunicadas a ele sem o seu desejo: "torna-te com resignaçã o e
humildade nelas. Nã o tens que descartar, porque o efeito delas é
substanciado na alma e cheio de bem de Deus, a quem, como é recebido
passivamente, sua açã o em menos em tudo ".
Nã o há engano do intelecto ou do diabo a temer aqui, pois nenhum
deles é capaz de tais efeitos substanciais. Somente se uma alma tivesse
feito um pacto livre com o diabo, ela poderia imprimir seus
pensamentos e palavras nela; mas seriam efeitos ruins, que nã o teriam
semelhança com os que Deus opera.
“E assim estas palavras substanciais servem muito para a uniã o da alma
com Deus; e quanto mais interiores, mais substanciais sã o e mais
aproveitam”.

Como a quarta e ú ltima classe de apreensõ es intelectuais, os


sentimentos espirituais sã o contados. Eles podem ser de dois tipos:
sentimentos espirituais enraizados na inclinaçã o da vontade e
sentimentos espirituais que tê m sua sede na substâ ncia da
alma. Mesmo as primeiras, quando sã o de Deus, sã o muito altas, mas as
ú ltimas “sã o muito altas e de grande bem e proveito”. Nem a alma nem
quem a dirige podem saber como e por que Deus comunica tais graças,
porque nã o dependem das consideraçõ es ou das obras da alma. E
verdade que com tais obras e consideraçõ es a alma pode predispor-se a
essas graças, mas Deus as dá "a quem Ele quiser e como Ele quiser e
para o que Ele quiser". Alguns que terã o praticado em muitas obras nã o
comunicarã o esses toques e, por outro lado, a muitos outros que terã o
feito menos, dê -os em alto grau e abundantemente. Muitos desses
toques podem ser sentidos claramente, mas passam
rapidamente; outros sã o mais indeterminados, mas duram mais. De
todos esses sentimentos - tanto os da vontade quanto os que atuam na
essê ncia da alma - deriva para o entendimento um certo conhecimento
e inteligê ncia, que normalmente consiste em um sentimento muito
elevado de Deus e muito saboroso no entendimento, que é nã o pode
nomear tã o bem como o sentimento de que resultam. Tanto a notı́cia
como os sentimentos sã o comunicados passivamente à alma, que
"tampouco tem que fazer nada por ela, mas ter passivamente por ela
sem interferir com sua capacidade natural. Porque ... facilmente com
sua atividade perturbam e desfazem aquelas delicadas notı́cias de que
sã o uma inteligê ncia sobrenatural saborosa que o natural nã o alcança ...
e, portanto, ele nã o deve buscá -las nem ter o desejo de admiti-las,
porque o entendimento nã o forma por si mesmo os outros; nem o diabo
em dessa vez tem uma entrada com outras vá rias e falsas ... ”. A alma
“torna-se resignada, humilde e passivamente” e Deus comunica-lhe
“vendo-a humilde e desviada”.

d) Puri icação de memória

Nas explicaçõ es anteriores, o Santo tratou preferencialmente de


apontar as relaçõ es existentes entre o saber e a fé para o im da uniã o
com Deus. Um novo mundo do espı́rito se abriu diante de nó s. Uma
sé rie muito variada de fenô menos psı́quicos nos foi descoberta, de cuja
existê ncia a experiê ncia comum nem mesmo suspeita, e seu signi icado
e conexã o com os fenô menos espirituais nos foram descritos pela mã o
mestra. Dado o propó sito de nossa sı́ntese, nã o nos é possı́vel sequer
indicar todos os problemas e aspectos que decorrem daqui, para os
quais selecionaremos os mais importantes para nossa tentativa.
Mas, acima de tudo, é necessá rio que continuemos expondo o
pensamento da Santa. Já nas pá ginas anteriores, o Santo a irmou com
vigor que o caminho da fé durante a Noite é uma espé cie de Via
Crucis. Por outro lado, ele nos falou tanto sobre luz e felicidade que, à s
vezes, parecia que o tema da Cruz havia sido abandonado. Mas devemos
alertar que quando nã o era uma exposiçã o do termo a que se destina
em tudo o que trata - algo necessá rio para compreender o caminho -
aquela exibiçã o de riquezas, iluminuras e graças nã o teve outro
propó sito senã o mostrar-nos que nó s deve renunciar a todos
eles. Somente aqueles que possuı́ram essas riquezas podem
convenientemente medir quã o doloroso é seu abandono; como tudo
ica escuro quando você fecha os olhos em plena luz; como é uma
verdadeira cruci icaçã o controlar a vida do espı́rito e privá -lo de tudo o
que pode servir de refrigé rio. Já foi notado que essa desapropriaçã o ou
puri icaçã o deve incluir nã o apenas o entendimento, mas també m os
outros poderes da alma: a memó ria e a vontade. O ú ltimo livro da
Subida é dedicado a prepará -los para a uniã o com Deus.
“Sendo verdade que a alma deve primeiro conhecer a Deus pelo que ele
nã o é , do que pelo que ele é : necessariamente, para ir a ele, ele tem que
ir negando e nã o admitindo até a ú ltima coisa que ele poderia negar
suas apreensõ es, tanto naturais como sobrenaturais. "
Devemos tirar a memó ria dos limites naturais que a estreitam e
levantá -la sobre nó s mesmos, isto é , sobre todas as diferentes notı́cias e
posses sensı́veis à "esperança má xima de Deus
incompreensı́vel". També m deve ser despojado de todos os
conhecimentos e imagens que adquiriu por meio dos sentidos
corporais. Uma vez que Deus nã o tem forma ou imagem que possa ser
entendida de memó ria, ele deve "separar-se de todas as formas que nã o
sã o Deus. Isto é , quando está unido a Deus ... ica sem forma e sem
igura, a imaginaçã o se perde. e a memó ria imersa em um grande bem e
em um grande esquecimento sem acordo de nada ”. Esse vazio perfeito
que ocorre no sindicato nã o é - assim como o pró prio sindicato - fruto
apenas do pró prio desempenho pessoal. "E entã o é uma coisa notá vel
quando isso acontece; porque à s vezes, quando Deus dá esses toques de
uniã o na memó ria, de repente o cé rebro vira de cabeça para baixo, que
é onde ela se senta, tã o sensı́vel, que parece desaparecer tudo a cabeça,
e que todo julgamento e sentido sã o perdidos; e isso à s vezes mais, à s
vezes menos, dependendo de quã o forte é o toque, e entã o ... a memó ria
é esvaziada e purgada ... de todas as notı́cias e permanece alienada e à s
vezes tã o esquecida de si mesma que é preciso muita força para se
lembrar de algo. por muito tempo sem sentir e sem saber o que foi feito
naquele momento. "
Tal suspensã o de poder só pode ocorrer nos princı́pios da uniã o, mas
nã o nos perfeitos. Neles tudo é dirigido pelo Espı́rito Santo: Ele é quem
os avisa no devido tempo do que devem fazer, e assim se livram das
falhas de comportamento externo que sã o caracterı́sticas do estado de
transiçã o.
A puri icaçã o perfeita é dirigida passivamente por Deus. Tudo o que a
alma precisa fazer é se preparar para isso. De tudo o que os sentidos lhe
oferecem, "nã o faça um determinado arquivo nem guarde-os na
memó ria, mas deixe-os depois esquecer, e faça-o com a e iciê ncia, se
necessá rio, que os outros se lembrem; para que nã o ique na sua mente.
a memó ria alguma notı́cia ou igura deles, como se no mundo nã o
existissem, deixando a memó ria livre e desimpedida, nã o a amarrando
a qualquer consideraçã o nem de cima nem de baixo, deixando-a
livremente para ser esquecida como algo que impede ... ".
Em vez disso, uma alma espiritual "que ainda deseja usar as notı́cias e
os discursos naturais de memó ria para ir a Deus" experimentará trê s
tipos de dano. Da parte das coisas do mundo, ele terá que sofrer muita
mesquinhez "bem como falsidades, imperfeiçõ es, apetites, julgamentos,
perda de tempo e assim por diante". Se a memó ria puder se entreter no
que percebeu pelos sentidos, ela encontrará imperfeiçõ es a cada passo,
"nas quais deve persistir alguma predileçã o ora da dor, ora do medo,
ora do ó dio, da vã esperança, vã alegria. ..; todas as coisas que impedem
a pureza perfeita e a uniã o muito simples com Deus ... De todos os
danos, creio, nã o haverá ningué m para ser livre, se nã o for cegando e
obscurecendo a memó ria de todas as coisas ”. Sem dú vida “o que é
puramente de Deus e essa notı́cia confusa, universal, pura e simples
ajudará , que isso nã o ica, mas o que para em imagem, forma, igura ou
semelhança de criatura”. Pelo que é melhor “aprender a pô r as
potestades em silê ncio e calar, para que Deus fale”. Entã o, "eles se
enchem de paz declinando sobre ela ... um rio de paz no qual remover
todas as dú vidas e suspeitas, problemas e trevas que a izeram
acreditar que estava perdida."
Novos danos vê m do diabo, que "pode agregar formas, notı́cias e
discursos, e atravé s deles afetar a alma com orgulho, ganâ ncia, inveja,
raiva, etc., e colocar ó dio injusto, amor vã o e enganar de muitas
maneiras .. . E, por im, todos os mais enganos que o diabo pratica e
males à alma, entram pelas notı́cias e discursos da memó ria. Porta
desse dano do diabo e se livra de todas essas coisas, que é um grande
bem ”.
O terceiro dano é que as apreensõ es naturais da memó ria "podem
impedir o bem moral e privá -lo do espiritual". “O bem moral consiste
no domı́nio das paixõ es e na contençã o dos apetites desordenados”,
para que com ele se torne possı́vel: a paz, a tranquilidade, a
tranquilidade da alma e as virtudes morais que constituem o seu
namoro. Toda turbulê ncia e toda guerra vê m à alma a partir do
conteú do da memó ria. A alma que vive inquieta e nã o tem nenhum
amparo no bem moral “nã o é capaz, como tal, do espiritual, que só está
impresso na alma moderada e que está em paz”.
Se a alma atende ao conteú do da memó ria e se curva a eles "nã o é
possı́vel que seja livre por quã o incompreensı́vel é Deus". Porque para a
alma vir a se unir a Deus, ela deve "trocar o comutá vel e compreensı́vel
pelo imutá vel e incompreensı́vel." Entã o, em vez desses danos, a alma
ganha os benefı́cios opostos: tranquilidade e paz de espı́rito, pureza de
consciê ncia e alma e com ela a melhor disposiçã o para receber "a
sabedoria e as virtudes humanas e divinas". Ele se livra de muitas
sugestõ es, tentaçõ es e ansiedades do inimigo maligno que se aproveita
de tais pensamentos. E a alma está preparada para as inspiraçõ es e
consolaçõ es do Espı́rito Santo ”.
Assim como as apreensõ es dos sentidos, també m as visõ es, revelaçõ es,
locuçõ es e sentimentos sobrenaturais freqü entemente deixam uma
impressã o vı́vida na memó ria e na fantasia. O princı́pio fundamental é
vá lido també m para eles que a alma nã o deve re letir sobre coisas
claras e diferentes para mantê -las na memó ria, porque “quando a alma
está mais aprisionada em alguma apreensã o natural ou sobrenatural
diferente e clara, menor a capacidade e disposiçã o tem em si que entrar
no abismo da fé , onde tudo o mais é absorvido, porque ... nenhuma
forma ou notı́cia ... é de Deus, nem tem proporçã o com Deus, nem pode
ser o pró ximo meio para sua uniã o " De tudo isso a memó ria deve ser
esvaziada “para nos unirmos a Deus na esperança perfeita e
mı́stica”. “Porque toda posse é contra a esperança ...; de onde quanto
mais a memó ria é despojada, mais esperança ela tem, e quanto mais
esperança ela tem, mais ela tem dessa uniã o com Deus. A alma, mais ela
alcança, e entã o espera mais quando, como eu disse, está mais
despojado; e, quando foi perfeitamente despossuı́do, permanece
perfeitamente com a posse de Deus em uniã o divina ”.
A preocupaçã o com esses conhecimentos sobrenaturais causa à alma
cinco tipos de danos: ela a engana muito no julgamento, tomando por
revelaçã o divina, que nã o é mais do que um jogo de fantasia, ou terá as
coisas de Deus por ilusã o do diabo, etc. Por isso, a alma deve "nã o
querer julgar para saber o que ela tem e sente em si ... Bem, tudo o que
elas sã o em si mesmas nã o pode ajudar o amor de Deus tanto quanto o
menor ato de fé viva. E esperança, que se faz no vá cuo e renú ncia a tudo
isso ”.
O segundo dano é o perigo da presunçã o ou vaidade. Ele pensa que é
muito avançado porque recebe comunicaçõ es sobrenaturais e olha com
orgulho e desprezo hipó crita para os outros, que nã o experimentaram
tais manifestaçõ es de graça. A este respeito, a alma deve levar em
consideraçã o duas coisas:
“A primeira, que a virtude nã o está nas apreensõ es e nos sentimentos
de Deus, por mais elevados que estejam, ou em qualquer coisa que
neste tamanho possam sentir em si mesmos, mas ao contrá rio, está no
que nã o sentem em a si mesmos, que é muita humildade e desprezo por
si mesmo e por todas as suas coisas, muito formadas e sensı́veis na
alma, e que gostem que os outros sintam o mesmo, nã o querendo valer
nada no coraçã o dos outros ”.
“Quanto ao segundo, deve-se notar que todas as visõ es, revelaçõ es e
sentimentos do cé u, e por mais que queiram pensar, nã o valem tanto
quanto o menor ato de humildade, que tem os efeitos da caridade, que
nã o avalia suas coisas ou ele as busca, nem pensa o mal exceto de si
mesmo, e ele nã o pensa o bem de si mesmo exceto dos outros ".
O terceiro dano vem do diabo, “porque ele pode nã o só representar na
memó ria e na fantasia muitas notı́cias e formas falsas que parecem
verdadeiras e boas”, mostrando a alma trans igurada em anjo de
luz. Isso ou ele faz usando as comunicaçõ es que realmente vê m de
Deus, levando-a a sentimentos espirituais desordenados e fazendo com
que ela se entregue a eles e caia na gula espiritual. Isso cega a alma para
o sabor e aprecia o gosto sensı́vel mais do que o amor e nã o se
preocupa com o desapego e o amor exigidos pelas virtudes teoló gicas. A
origem desse mal deve ser buscada no fato de que a alma "a princı́pio
nã o negava o sabor dessas coisas sobrenaturais".
Já falamos vá rias vezes sobre a quarta lesã o e nã o há razã o para repeti-
la; e é que toda posse de memó ria constitui um impedimento à uniã o
com Deus pela esperança.
En im, as representaçõ es e imagens da memó ria podem levar a alma a
"julgar o ser e a grandeza de Deus menos digno e elevado do que
convé m à sua incompreensibilidade ..., a nã o estimar e sentir de Deus
tanto quanto a fé ensina, que diz sermos incompará veis e
incompreensı́veis ”. A alma só pode saber clara e distintamente nesta
vida o que se enquadra em gê nero e espé cie. Mas Deus nã o se enquadra
em nada disso e, conseqü entemente, nã o pode ser comparado a
nenhuma criatura terrestre, a nenhuma imagem ou conhecimento que
possa ser aprendido pela alma. "Portanto, aquele que impregna a
memó ria e as outras faculdades da alma com o que podem
compreender, nã o pode estimar a Deus e sentir por ele como deveria."

Esses danos, no caso de uma puri icaçã o perfeita, sã o trocados pelos
respectivos benefı́cios. A tranquilidade e paz que o despojamento das
apreensõ es naturais já traz consigo, é adicionado que eles estã o livres
da preocupaçã o de se essas comunicaçõ es sobrenaturais serã o boas ou
má s ", e do trabalho e tempo que teve que ser gasto com o mestres
espirituais., querendo que você descubra se eles sã o bons ou maus ...
bem, você nã o deve prestar atençã o a nenhum deles. com Deus, e no
cuidado de buscar a nudez e a pobreza espiritual e sensı́vel ", isto é ,
digamos, que ele se preocupa seriamente em sair de tudo sem prestar
atençã o aos consolos e apreensõ es. Essa negaçã o das comunicaçõ es
divinas nã o signi ica extinguir o espı́rito. A alma com sua pró pria força
é capaz apenas de atividade natural, sem poder fazer nada na ordem
sobrenatural: só Deus a move para isso. Por isso, «se a alma quer agir
por si mesma, pela força ... deve com o seu trabalho ativo impedir o
passivo que Deus lhe comunica, que é o espı́rito, porque se põ e no seu
pró prio trabalho, que é de outra espé cie. e inferior à comunicada por
Deus, porque Deus é passivo e sobrenatural e o da alma é ativo e
natural e isso seria apagar o espı́rito ”.
"Os poderes da alma nã o podem, por si pró prios, fazer re lexã o e
operaçã o exceto em alguma forma ou igura ou imagem, e esta é a
crosta e acidente da substâ ncia e do espı́rito que está sob essa crosta e
acidente. Que substâ ncia e espı́rito nã o se une aos poderes da alma
nesta verdadeira inteligê ncia e amor, mas somente quando a operaçã o
dos poderes cessa. Porque a reivindicaçã o e o propó sito de tal operaçã o
nada mais é do que vir a receber na alma a substâ ncia entendida e
amada . Portanto, a diferença entre operaçã o ativa e passiva, e a
vantagem, é que entre o que está sendo feito e o que já foi feito, ou seja,
entre o que se pretende alcançar e alcançar, e entre o que já foi
alcançado e alcançado " Fazer uso ativo dessas apreensõ es
sobrenaturais da alma "nã o seria menos do que deixar o que foi feito e
fazer de novo". A alma deve colocar todo o seu esforço "em todas as
apreensõ es que vieram de cima ... ignorando a letra e o latido (isto é , o
que signi ica ou representa ou implica) para avisar apenas em ter o
amor de Deus que eles causam ele interiormente em sua alma. E desta
forma ele tem que prestar atençã o aos sentimentos, nã o de gosto,
suavidade ou iguras, mas aos sentimentos de amor que eles lhe
causam. E apenas para este efeito ele pode muito bem se lembrar disso
imagem e apreensã o causadas pelo amor, para colocar o espı́rito em
motivos de amor. Porque embora nã o surta tanto efeito depois quando
é lembrado como da primeira vez que foi comunicado ..., o amor se
renova e há um levantamento do mente em Deus, principalmente
quando se trata da lembrança de algumas imagens, iguras ou
sentimentos sobrenaturais, que geralmente icam selados ou impressos
na alma, de forma que duram muito tempo, e alguns nunca sã o
retirados da alma ”. Tais lembranças “quase todas as vezes que a alma
percebe nelas produzem efeitos divinos de amor, suavidade, luz, etc., à s
vezes mais, à s vezes menos; porque para estas foram impressas e por
isso é uma grande graça a quem Deus o faz. porque signi ica ter uma
sé rie de ativos ". Essas imagens "estã o vividamente assentadas na alma
de acordo com sua memó ria inteligı́vel, que nã o sã o como outras
imagens e formas que sã o preservadas na fantasia". Ela nã o precisa da
alma da fantasia para se lembrar deles, "porque ela vê que os tem em si
mesma como se vê na imagem no espelho". E se neles se lembra de
despertar o amor, deixam de ser um impedimento, "porque nã o o
impedirã o de unir o amor na fé , pois ele nã o quer mergulhar na igura,
mas aproveitar o amor".
Essas imagens formais sã o bastante raras e, para quem nã o tem
experiê ncia, é difı́cil distingui-las daquelas que só vê m da fantasia. "Mas
agora sejam estes, agora aqueles, é bom para a alma nã o querer
entender nada, mas a Deus pela fé na esperança."
A memó ria preserva nã o apenas imagens, mas també m notı́cias
espirituais. “Porque depois de ter caı́do na alma alguns deles, é possı́vel,
quando se quiser lembrar deles”, porque a notı́cia deixa na alma uma
forma, imagem ou conceito espiritual. E, como já advertimos, o
conhecimento de in initas perfeiçõ es ou coisas criadas. Você pode se
lembrar das notı́cias do segundo tipo, para abanar o amor; "Mas se
lembrar delas nã o te causa um bom efeito, nunca mais quero passá -las
pela memó ria. Mais das coisas nã o criadas, eu digo que você tenta se
lembrar quantas vezes puder, porque ... sã o toques e sentimentos de
uniã o em Deus, que é para onde vamos à alma ”. A memó ria nã o é
provocada aqui por meio de formas e iguras, pois nada deve se
assemelhar a elas, mas apenas pelos efeitos: luz, amor, deleite,
renovaçã o espiritual. E cada vez que ele se lembra deles, "algo disso se
renova".
Em suma, a Santa recorda mais uma vez que só assim a memó ria pode
ser levada à uniã o com Deus. Como apenas o que nã o é possuı́do pode
ser esperado, quanto mais perfeita a esperança, menos a alma
possui. "Quanto mais a alma despoja a memó ria de formas memorá veis
e coisas que nã o sã o de Deus, mais ela colocará a memó ria em Deus e
mais vazia terá que esperar que Ele seja preenchido com sua
memó ria." Quantas vezes certos nú meros ou notı́cias sã o oferecidos a
ele, ele deve rejeitá -los para se voltar para Deus. A alma só deve fazer
uso das memó rias tã o logo seja necessá rio para o cumprimento de suas
obrigaçõ es. E mesmo assim, sem estar apegado a eles, para que nã o
levem completamente a alma com eles. "
e) Puri icação da vontade

"Nã o terı́amos feito nada para puri icar o entendimento para fundá -lo
em virtude da fé , e a memó ria da esperança, se nã o tivé ssemos també m
purgado a vontade sobre a terceira virtude, que é a caridade." Tudo o
que se pode dizer sobre a informaçã o deste poder pelo amor de Deus
está perfeitamente expresso nas palavras do Deuteronô mio: "ama o teu
Senhor Deus de todo o teu coraçã o, de toda a tua alma e de todas as
tuas forças" (Dt 6, 5). "A força da alma consiste em seus poderes,
paixõ es e apetites, todos os quais sã o governados pela vontade. Pois
quando essas paixõ es e poderes e apetites endireitam a vontade para
Deus, e os desvia de tudo o que nã o é Deus, entã o guarda as forças da
alma para Deus e assim passa a amar a Deus com todas as suas forças ”.
Paixões

Como obstá culo fundamental, as quatro paixõ es da alma cruzam o


caminho: alegria, esperança, dor e medo. "Quais paixõ es, pondo-as na
obra da razã o a im de Deus, para que a alma nã o goze senã o o que é
puramente a honra e a gló ria de Deus nosso Senhor, nem espera outra
coisa nem faz mal senã o o que vai tocar, nem sujeito, mas a Deus só , é
claro que eles endireitam as forças da alma e sua capacidade para Deus.
Porque quanto mais a alma se alegra em outra coisa, menos fortemente
sua alegria será usada em Deus ".
Ao puri icar a vontade de seus apetites, é possı́vel que "da vontade
humana e humilde se torne vontade divina, feita uma coisa com a
vontade de Deus". Se nã o forem contidas, as paixõ es geram todos os
tipos de imperfeiçõ es na alma; mas se, ao contrá rio, eles sã o ordenados
e subjugados, eles sã o a fonte de todas as virtudes. Os quatro estã o tã o
intimamente ligados que, se um for enviado, os outros també m
serã o. Quando a vontade desfruta de algo, ela traz em si o germe da
esperança, da dor e do medo, em relaçã o ao mesmo objeto. Uma paixã o
arrasta os outros consigo, leva cativa a vontade e toda a alma e nã o a
deixa voar "à liberdade e ao descanso da doce contemplaçã o".
Ao examinar nas pá ginas seguintes a paixã o pela alegria, o Santo
estabelece o princı́pio fundamental que deve reger toda esta questã o e
que "a vontade nã o deve ser desfrutada, mas sim aquilo que é a honra e
a gló ria de Deus e que o maior honra que podemos dar, é servi-lo
segundo a perfeiçã o evangé lica; e o que está fora disso, nã o tem valor e
benefı́cio para o homem ”.
Mais tarde ele dá este esclarecimento luminoso: "Tudo o que pode ser
desfrutado à vontade distintamente é o que é suave e delicioso para ela,
e nada encantador e gentil que ela possa desfrutar e saborear é Deus,
porque como Deus nã o pode cair nas apreensõ es de outros poderes ,
nem pode cair nos apetites e gostos da vontade; porque nesta vida,
assim como a amante nã o pode agradar essencialmente a Deus,
també m toda a suavidade e deleite de que deseja, por mais alto que
seja, nã o pode ser Deus. Porque també m tudo ou que a vontade pode
saborear e desejar de maneira diferente, é na medida em que o conhece
por tal ou tal objeto; pois como a vontade nunca gostou de Deus como
ele é , nem você o conhece sob alguma apreensã o de apetite e,
conseqü entemente, o que Deus é que ele nã o conhece, nem pode saber
qual é o seu gosto, nem pode o seu apetite e gosto vir a saber como
desejar a Deus, visto que está acima de tudo a sua capacidade. E assim é
claro que nada alé m de quantos podem aproveite o volu ntad é Deus.
" Daı́ a necessidade de renunciar ao gosto de qualquer apetite pelas
coisas naturais e sobrenaturais, para alcançar a uniã o com Deus,
porque essa uniã o só se consegue por amor. “Como o deleite e
suavidade e qualquer sabor que pode cair na vontade nã o é amor,
segue-se que nenhum desses saborosos sentimentos pode ser um meio
proporcionado para a vontade de se unir a Deus, mas o funcionamento
da vontade, porque é muito a operaçã o da vontade é diferente do seu
sentimento. Pela operaçã o ele se une a Deus e termina no que é amar,
nã o pelo sentimento e apreensã o do seu apetite que se baseia na alma
como im e im ”. Esses sentimentos "pró prios nã o dirigem a alma a
Deus, antes fazem com que ela se estabeleça; mas a operaçã o da
vontade, que é amar a Deus, apenas coloca a alma Nele, deixando todas
as coisas para trá s, amando-o acima de tudo. todos. onde se algué m se
move para amar a Deus nã o por causa da suavidade que sente, já deixa
essa suavidade para trá s e põ e em Deus amor por quem nã o sente ”. Se
ele colocasse seu amor neste sentimento, "seria colocá -lo em uma
criatura ... e fazer do motivo um im e um im; e, conseqü entemente, a
obra da vontade seria viciosa ..., e assim a alma continua amando a
verdade. e realmente ao gosto da fé ”. Por isso, “seria muito insipiente
se, faltando suavidade e deleite espiritual, pensasse que é por isso que
faltou a Deus, e quando o tivesse, se alegraria, pensando que por essa
razã o tinha Deus; e seria ainda mais se procurasse essa suavidade em
Deus e se regozijasse nela, porque nã o buscaria mais a Deus com sua
vontade fundada na vacuidade da fé , mas no gosto espiritual, que é
criatura ...; e assim ele nã o amaria a Deus puramente acima de todas as
coisas; que é colocar tudo pela força da vontade Nele ..., porque é
impossı́vel que à vontade possa atingir a suavidade e o deleite da uniã o
divina, sem o vazio do apetite em qualquer gosto particular. E o que o
Santo quer: Dilata os tuum et implebo illud (Salmo 80, 11) .O apetite é a
boca da vontade, que se expande quando com a boca cheia de algum
gosto nã o engravida ... Deve ter a boca da vontade sempre aberta com
Deus, vazia de toda a boca cheia de apetite, para que Deus possa enchê -
la com seu amor e doçura ”.
Bens temporários

Isso é demonstrado examinando as vá rias formas de objetos nos quais


o apetite é capaz de encontrar contentamento. Alegria pode se referir a
bens temporais: riqueza, honras, descendê ncia, etc. Embora nã o levem
necessariamente ao pecado, geralmente levam à in idelidade a Deus. A
alma só deve se alegrar com as coisas que a ajudam a servir melhor a
Deus ou a alcançar a vida eterna com mais segurança. Mas, "visto que
nã o pode saber com clareza o que mais serve a Deus, seria inú til gozar
dessas coisas com determinaçã o ...".
O principal dano que o gosto da vontade por essas coisas acarreta é o
afastamento de Deus. Essa separaçã o se completa em quatro graus que
juntos se expressam no texto sagrado: “Enjoou do amado e deu passos
para trá s. Dt 32, 15). Ficar entupido signi ica entorpecer a mente para
as coisas de Deus. Porque pela mesma razã o que "o homem espiritual
coloca sua alegria em algo ..., ele obscurece sobre Deus e obscurece a
simples inteligê ncia do julgamento ... e a santidade ou bom julgamento
que o homem possui nã o é su iciente para ele parar de cair este dano,
se der origem à luxú ria ou alegria nas coisas temporais. " “Ele estava
farto e dilatado” expressa o segundo grau, que consiste em uma
“dilataçã o da vontade com mais liberdade nas coisas temporais”. Por
nã o saber restringir a alegria dos princı́pios, a vontade se afasta cada
vez mais das coisas espirituais e nã o encontra mais prazer nelas. En im,
“tira do homem os exercı́cios contı́nuos que ele fez, e faz com que toda a
sua mente e ganâ ncia já caminhe no secular”. Aqui nã o apenas seu
entendimento e julgamento foram obscurecidos "para conhecer a
verdade e a justiça ..., mais ainda, muita preguiça e indiferença e
descuido em saber e agir de acordo".
O terceiro grau consiste no abandono completo de Deus: "Ele deixou
Deus, seu Criador". Os que chegam até aqui nã o prestam atençã o ao que
a lei de Deus os obriga a fazer. “Tê m grande esquecimento e falta de
jeito sobre a sua salvaçã o, e mais vivacidade e sutileza sobre as coisas
do mundo. Tanto é que no Evangelho Cristo nosso Senhor os chama de
ilhos desta idade: e diz deles que sã o mais prudente nas suas açõ es e
perspicá cia do que os ilhos da luz nas suas ”(Lc 16: 8). Estes sã o os
gananciosos que "nã o parecem fartos, pelo contrá rio, o seu apetite e a
sua sede aumentam tanto, à medida que sã o afastados da fonte que
apenas os poderia satisfazer, que é Deus". "Eles sã o aqueles que caem
em mil caminhos de pecado por amor aos bens materiais e seus males
sã o inú meros."
Assim, chega-se ao quarto grau, no qual a alma se esquece de Deus
como se ele nã o existisse. Esse completo esquecimento de Deus chega a
"colocar o coraçã o, que formalmente teve que colocá -lo em Deus,
formalmente no dinheiro, como se nã o tivesse outro Deus". Essas almas
transformam os bens temporais em seus ı́dolos e sacri icam suas vidas
por eles quando sã o ameaçados de perdê -los. O seu Deus dá -lhes o que
tê m: "desespero e morte; e para aqueles que nã o perseguem nem
mesmo este dano mortal, Ele os faz viver morrendo na dor da solicitude
... Mas para aqueles que causam menos dano, é ter muita pena, entã o ...
faz a alma voltar muito atrá s no caminho de Deus ”. Ao contrá rio, aquele
que se liberta da dependê ncia dos bens temporais alcança a
liberalidade, a liberdade infantil, a clareza da razã o, a tranquilidade
profunda e a con iança pacı́ ica em Deus, juntamente com a verdadeira
adoraçã o e plena submissã o à sua vontade divina. As criaturas també m
ganham alegria com o desapego: uma alegria que os avarentos nunca
podem experimentar, porque em sua inquietaçã o lhes falta liberdade de
espı́rito. Aquele que se libertou aprecia as criaturas em seu verdadeiro
valor natural e sobrenatural. "Porque este gosta deles segundo a sua
verdade, ele é outro segundo a sua mentira; este segundo o melhor, é
outro segundo o pior; este segundo a substâ ncia, é outro, que apreende
o seu signi icado para eles, de acordo com o acidente "." O desapegado
nã o se preocupa com o cuidado, nem na oraçã o nem fora dela; e assim,
sem perder tempo, ele facilmente faz muito trabalho espiritual; mas
tudo o mais geralmente está girando e girando no laço ao qual seu
coraçã o está preso e apropriado ... O espiritual deve, portanto, ao
primeiro movimento, quando a alegria vai para as coisas, reprimi-lo. o
coraçã o é mantido "livre para Deus, que é o principal dispositivo para
todos os favores que Deus tem que fazer ...". Por outro lado, "podemos
temer que cada vez que nos divertimos em vã o, Deus está olhando e
atraindo alguns puniçã o ... como merecida. "
Ativos naturais

Sã o Joã o da Cruz indica um segundo grupo de bens naturais: as vestes


do corpo e da alma; por exemplo, beleza, aparê ncia corporal e bom
entendimento e bom senso. Estas vestes constituem tanto para quem as
possui como para os outros o perigo de se apaixonar por elas e de vã s
alegrias. Para evitar esse perigo, ele deve pensar "que a beleza e todas
as outras partes naturais sã o a terra e que vê m de lá e a terra retorna; e
que graça e graça sã o a fumaça e o ar desta terra ..." e ele tem que
«endireita o seu coraçã o a Deus na alegria e na felicidade de que Deus é
em si mesmo todas aquelas belezas e graças mais eminentemente em
grau in inito sobre todas as criaturas».
Os danos particulares que seguem a alma da alegria nos bens naturais
sã o: "orgulho, presunçã o, arrogâ ncia e despedimento do
pró ximo." Excitaçã o de sensualidade e suavidade; gosto pela bajulaçã o e
elogios vã os de efeitos prejudiciais sobre a pessoa elogiada; maior
embotamento de compreensã o e julgamento do que aquele causado
pela alegria pelos bens temporais; mornidã o e fraqueza de espı́rito que
atinge o ó dio das coisas divinas. O Santo enfatiza particularmente os
perigos da seduçã o do prazer sensı́vel: "eles nã o podem ser
compreendidos com a pena ou signi icados com palavras ... Poucos
serã o encontrados que nã o importa o quã o sagrados eles tenham sido,
eles nã o foram cativados e um tanto perturbados por esta bebida de
alegria e sabor de belezas naturais e graças. " O vinho da alegria dos
sentidos turva o entendimento. E se o veneno nã o for ingerido, "a vida
da alma está em perigo". “Depois que o coraçã o se comove com essa
alegria vã dos bens naturais, lembra-se que é vã o gozar outra coisa que
nã o servir a Deus, e com perigo e pernicioso ..., quanto dano foi para os
anjos se alegrarem e alegrar-se com sua beleza e seus bens naturais,
pois é por isso que caı́ram nos horrı́veis abismos ... ”.
Se a alma se despoja dessas alegrias, "com razã o dá lugar à humildade
para si mesma e à caridade para com o pró ximo". E se ele nã o se apega
a "ningué m por causa dos aparentes bens naturais que sã o enganosos,
sua alma ica livre e clara para amar a todos racional e espiritualmente,
como Deus quer que sejam amados ... Quanto mais esse amor cresce,
quanto mais cresce. de Deus, e quanto mais de Deus, mais do nosso
pró ximo ”.
Essa desapropriaçã o també m produz na alma "grande tranquilidade e
evita divagaçõ es e há recolhimento nos sentidos, principalmente nos
olhos". Se alguma facilidade foi alcançada nisso, é tã o fá cil que as coisas
impuras nã o mais o impressionam. A alma adquire "puri icaçã o da alma
e do corpo, isto é , do espı́rito e dos sentidos e está tendo a conveniê ncia
angelical com Deus, tornando sua alma e corpo dignos como templo do
Espı́rito Santo". assim alcança o lucro ú ltimo, «que é um bem generoso
da alma, tã o necessá rio para servir a Deus, como o é a liberdade do
espı́rito, com a qual as tentaçõ es sã o facilmente vencidas, o trabalho
bem gasto e as virtudes da alma prosperam. "
Bens sensíveis

Por bens sensuais o Santo entende tudo o que pode ser percebido pelos
sentidos externos ou fabricado pelo interior. Visto que Deus nã o pode
ser percebido pelos sentidos, “seria pelo menos vaidade” buscar alegria
em objetos sensı́veis: “porque entã o ele faria a vontade nã o ser usada
em Deus, colocando sua alegria nEle”.
Mas se ele nã o para, mas, assim que experimenta a alegria nessas
coisas, coloca sua alegria em Deus, nã o precisa renunciar a essas
impressõ es, “porque há almas que se movem muito para Deus atravé s
dos objetos sensı́veis. " Em muitos casos, parece que a intençã o é
dirigida a Deus, mas na realidade “o efeito que causam é para recreaçã o
sensı́vel, na medida em que trazem mais fraqueza da imperfeiçã o do
que para avivar a vontade e entregá -la a Deus”. Quem, pelo contrá rio,
assim que sente os primeiros movimentos põ e toda a sua alegria em
Deus, "nã o é pedido por eles e quando lhe sã o oferecidos, entã o passa ...
A vontade deles deixa-os e coloca-se em Deus".
O abandono dos bens sensı́veis, alé m dos danos comuns a toda alegria
nas coisas criadas, causa outros danos particulares. A alegria dos bens
sensı́veis produz "vaidade da mente, distraçã o da mente, ganâ ncia
desordenada, desonestidade, decomposiçã o interna e externa,
impureza de pensamentos e inveja. Da alegria de ouvir coisas inú teis
corretamente nasce a distraçã o da imaginaçã o, conversaçã o e inveja e
julgamentos. incerteza e variedade de pensamentos, e desses outros
muitos e perniciosos danos. Do regozijo em odores suaves, nasce a
repulsa dos pobres, que é contra a doutrina de Cristo, inimizade à
servidã o, pouca atuaçã o do coraçã o nas coisas humildes e
insensibilidade espiritual, pelo menos de acordo com a proporçã o de
seu apetite. Da alegria no sabor das iguarias, gula e embriaguez, raiva,
discó rdia, falta de caridade com os outros e os pobres nascem; daı́ a
falta de temperamento corporal, doenças , maus movimentos nascem,
porque os incentivos da luxú ria crescem. També m dessa alegria,
distraçã o dos outros sentidos e do coraçã o e descontentamento com
tantas coisas., Da alegria do toque, nas coisas suaves nascem muitos
mais danos, e mais perniciosos e que mais cedo transvertem o
signi icado e prejudicam o espı́rito, e extinguir sua força e vigor. Daqui
nasce o vı́cio abominá vel das molicias ... A luxú ria se eleva, torna a
criança afeminada e tı́mida, e o sentido ... pronta para pecar e fazer o
mal. Ele infunde alegria e alegria vã s no coraçã o, e gera tranquilidade
de lı́ngua e liberdade de olhos, e os outros sentidos arrebatadores e
embotados de acordo com o grau de tal apetite. Ele condescende com
seu julgamento, sustentando-o na insipiê ncia e na tolice espiritual, e
moralmente gera covardia e inconstâ ncia; e com escuridã o na alma e
fraqueza de coraçã o, nos faz temer mesmo onde nã o há necessidade de
temer. Crie este espı́rito de alegria de confusã o à s vezes e
insensibilidade, sobre consciê ncia e espı́rito; porque enfraquece
sobremaneira a razã o e faz com que nã o saiba aconselhar nem dar, e a
torna incapaz de bens espirituais e morais, inú til como vaso partido ”.
Todos esses danos causam danos maiores ou menores, de acordo com a
intensidade da alegria e a sensibilidade dos diferentes
sujeitos. “Admirá veis sã o os benefı́cios que a alma tira da renú ncia desta
alegria ...; ela se restaura da distraçã o ..., reunindo-se em Deus; e o
espı́rito e as virtudes que adquiriu podem ser preservados e aumentam
e vá de novo. ganhando ". Entã o ocorre uma alta transformaçã o: “que
podemos verdadeiramente dizer que do sensual ele se torna espiritual,
e do animal ele se torna racional, e do homem ele caminha para a
porçã o angelical; e que do temporal e humano ele se torna divino e
celestial”; Já nesta vida é dada à vontade a recompensa de cem por
aquele que o Salvador prometeu (Mt 19:29). Troque alegrias sensı́veis
pelas espirituais e você já estará unido a Deus. Como nossos primeiros
pais no Paraı́so, as impressõ es dos sentidos servem para aumentar a
contemplaçã o. Finalmente, na vida gloriosa, eles receberã o o prê mio
com o qual Deus os recompensará por tê -los negado aqui; “Os dons
corporais de gló ria, como agilidade e clareza, serã o muito mais
excelentes do que aqueles que nã o recusaram; assim, o aumento da
gló ria essencial da alma que responde ao amor de Deus”.
Bens morais

Ao contrá rio do que acontece com os bens externos naturais e


sensı́veis, os bens morais tê m em si mesmos uma dignidade capaz de
produzir alegria; e podem servir de instrumentos para os bens que o
homem é capaz de criar. As pró prias virtudes merecem apreço e
amor; trazem també m vantagens temporá rias e, pelo mesmo motivo,
"humanamente falando, o homem pode gostar de tê -las em si e de
exercê -las pelo que é em si, pelo que é humano e temporariamente
importante para o homem".
Isso foi feito pelos prı́ncipes e sá bios da antiguidade. Eles apreciaram e
exercitaram as virtudes e Deus recompensou com bê nçã os temporá rias
"aqueles que eram incapazes por causa de sua in idelidade como um
prê mio eterno." Mas o cristã o, embora desta primeira forma possa
desfrutar dos bens morais e das boas obras que realiza no tempo,
porque fazem com que os bens temporais a que aludimos, nã o deve
demorar-se neles ", porque tem uma luz de fé , que espera a vida eterna
e que sem ela tudo aqui e lá nã o valerá nada. E por isso só deve colocar
os olhos e a alegria em servir e honrar a Deus com sua conduta e
virtudes exemplares ”. «Porque sem este aspecto as virtudes nada
valem diante de Deus, como se vê nas dez virgens do Evangelho ...» (Mt
25,1ss.). "O cristã o deve, portanto, alegrar-se, nã o se faz boas obras e
segue os bons costumes, mas se as faz por amor de Deus, sem qualquer
outro respeito."
Da vã alegria nas pró prias obras, a presunçã o hipó crita, a vangló ria e o
desprezo dos outros, o desejo de louvor humano com a perda do
prê mio eterno sã o derivados para a alma. Alegria e complacê ncia nas
obras de algué m incluem a negaçã o de Deus, que é a causa primeira de
todas as boas obras. Essas almas nã o avançam na perfeiçã o. Se já nã o
encontram alegria nas suas obras, porque Deus lhes oferece o pã o dos
fortes, icam desanimados e nã o podem comê -lo: «perdem a
perseverança, porque nã o disseram sabor nas suas obras». As obras e
exercı́cios de que gostam també m costumam ser enganados e julgados
melhor do que aqueles de que nã o gostam. Mas Deus, especialmente no
caso de almas pro icientes, se agrada mais com obras que requerem
maior maturidade pró pria. Finalmente, a alegria vã nas obras de
algué m torna a alma "incapaz de receber conselhos e ensinamentos
razoá veis" sobre as obras em que deve ser exercida. “Estes se afrouxam
muito na caridade para com Deus e o pró ximo. Porque o amor-pró prio
que sentem pelas suas obras os faz resfriar-se na caridade”.
Se a alegria vã é rejeitada, ela ica livre "de cair em muitas tentaçõ es e
enganos do diabo, que se ocultam na alegria de tais boas obras". A
alegria vã já é um engano. Daı́ vem um segundo benefı́cio, que consiste
na alma "fazer as obras de forma mais harmoniosa e plena". Porque a
paixã o da alegria impede a in luê ncia da razã o e torna a alma variá vel
em suas obras e propó sitos. E dirigido por seu gosto variá vel e deixa as
principais questõ es inacabadas, quando o apelo passa. Se a alma
dispensar o contentamento natural, será capaz de perseverar e alcançar
a meta. Desta forma, alcança-se també m a pobreza de espı́rito,
recomendada por nosso Salvador. A alma se torna mansa, humilde e
prudente em todo o seu modo de agir, nada fará com ı́mpeto e pressa, e
nada sabe de sua pró pria avaliaçã o. E assim, ao renunciar à alegria vã
"ele torna Deus e os homens agradá veis e se liberta da ganâ ncia e da
gula e da acidia espiritual e da inveja espiritual e de milhares de outros
vı́cios".
No quinto grupo, Sã o Joã o da Cruz reú ne os bens sobrenaturais, ou seja,
"todos os dons e graças dados por Deus, que excedem a faculdade e
virtude natural, que sã o chamados de dados gratuitos, como sã o, os
dons da sabedoria e a ciê ncia. que deu a Salomã o; e as graças que diz
Sã o Paulo ...; fé , graça das curas, operaçã o dos milagres, profecia,
conhecimento e discriçã o dos espı́ritos, declaraçã o das palavras e
també m o dom de lı́nguas "(1Cor. 12, 9 -10). Sua açã o é dirigida para "o
benefı́cio dos homens e para esse benefı́cio e propó sito que Deus lhes
dá ". (Ao contrá rio, o propó sito dos bens espirituais que será discutido
mais tarde visa estabelecer relaçõ es entre a alma e Deus). Os dons
sobrenaturais tê m como efeito natural a cura de doenças, restituiçã o da
visã o aos cegos, ressurreiçã o dos mortos, etc., e como efeitos
espirituais, o conhecimento e glori icaçã o de Deus por aquilo que Ele
faz ou pelas testemunhas dos milagres. Ningué m deve ter prazer em
obras sobrenaturais para efeitos temporá rios, porque nã o sã o o meio
adequado de uniã o com Deus. E "sem estar na graça e na caridade, eles
podem ser exercidos". Deus pode concedê -los desta forma, como nos
casos de Balaã o e Salomã o; e també m podem ser executados pela
intervençã o de Sataná s ou das forças ocultas da natureza. Sã o Paulo nos
ensinou que todos os presentes gratuitos nada sã o sem amor (1Cor.
13,1-2). E por isso que Cristo responderá a muitos que reivindicarã o
uma recompensa eterna pelas maravilhas que realizaram: "Apartai-vos
de mim, obreiros da iniqü idade" (Mt 7,23). Por isso, a alma deve
alegrar-se apenas pelo benefı́cio espiritual que dela deriva, «servindo a
Deus neles com verdadeira caridade, na qual está o fruto da vida
eterna».
A vã alegria das coisas sobrenaturais pode levar a alma a "enganar e ser
enganada", fazê -la regredir na fé e torná -la vı́tima do orgulho e de
outras vaidades. Os erros vê m do fato de que muita luz divina é
necessá ria para conhecer "essas obras, que sã o falsas e que sã o
verdadeiras, e como e em que horas devem ser exercidas". Esse
conhecimento vai contra a alta estima dessas obras; porque a alegria
embota o julgamento e a paixã o move-se para regozijar-se sem esperar
pelo seu tempo devido. Deus dá a esses dons e graças a iluminaçã o e o
discernimento para saber como e quando usá -los. Mas os homens em
sua imperfeiçã o nã o se importam com a vontade divina e nã o levam em
consideraçã o como e quando o Senhor deseja que as obras sejam
feitas. Desta forma, um uso impró prio e interrompido dos dons de Deus
é possı́vel. Daı́ també m vem a alegria vã pelas maravilhas feitas por
forças que nã o vê m de Deus. "Porque já que o diabo os vê como
amantes dessas coisas, dê -lhes um longo campo e muita maté ria se
intrometendo de muitas maneiras." «Deve, pois, quem tem graça e dom
sobrenatural, remover a ganâ ncia e a alegria de exercê -la ..., porque
Deus, que a dá sobrenaturalmente para o benefı́cio da sua Igreja ou dos
seus membros, també m sobrenaturalmente o move para a sua
exercı́cio, como e quando deve ser exercido ...; quer que o homem
espere que Deus seja o trabalhador, movendo o coraçã o, porque em sua
virtude deve ser trabalhada toda virtude ”.
O prejuı́zo para a fé que essas obras causam diz respeito, antes de mais
nada, ao pró ximo. Quem pretende fazer um prodı́gio sem esperar o
momento e as circunstâ ncias certas, comete um grave pecado, porque
tenta a Deus. Deixar de fazer isso pode enfraquecer a fé no coraçã o e
torná -la inú til. E em qualquer caso, eles pró prios sofrerã o um prejuı́zo
em sua fé , porque “onde houver mais sinais e testemunhos, há menos
mé rito em crer”.
Tudo mostra que Deus nã o é amigo de se manifestar por milagres. Se
ele o faz, é apenas porque "eles sã o necessá rios para crer e para outros
ins de sua gló ria e a dos seus santos". "Aqueles que amam se alegrar
com essas coisas sobrenaturais perdem muito na fé ."
A alma que renuncia a tais alegrias glori ica a Deus e se eleva acima de
si mesma. Deus é exaltado nessa alma, porque “o coraçã o e a alegria da
vontade se afastam de tudo que nã o é Deus ...” e ao mesmo tempo a
alma é exaltada, porque em Deus só con ia. Ele manifesta sua alteza e
grandeza e testemunha o que ele é em si mesmo. “Pois é verdade que
Deus se exalta separando a alegria de todas as coisas, muito mais se
exalta separando-a destas mais maravilhosas ...”. Deus aparece cada vez
mais alto, quanto mais se con ia Nele e é servido sem maravilhas ou
sinais, “porque ele crê em Deus mais do que os sinais e milagres podem
lhe dar a entender”. Por esse meio, uma fé mais pura atinge a
alma. Deus o infunde em plenitude mais rica e aumenta sua esperança e
amor. E, desta forma, ele desfruta "boas notı́cias divinas atravé s do
há bito escuro e nu da fé ; e grande deleite no amor atravé s da caridade,
com a qual a vontade nã o desfruta de outra coisa senã o o Deus vivo; e
na satisfaçã o da vontade atravé s da esperança . Tudo isso é um
benefı́cio admirá vel que essencialmente e corretamente importa para a
uniã o perfeita da alma com Deus. "
Bens espirituais

Mais do que todos os outros bens, os bens espirituais servem para a


uniã o com Deus. Por bens espirituais entendemos "todos aqueles que
se movem e ajudam nas coisas divinas e no trato da alma com Deus e
nas comunicaçõ es de Deus com a alma". Alguns sã o saborosos e outros
dolorosos e podem ser claros e diferentes ou referir-se a coisas
sombrias e confusas. A Santa quer tratar aqui apenas das saborosas e
precisamente das claras e diferentes. (O resto ica para depois). Para
todas as apreensõ es da vontade, aplicam-se as mesmas regras que para
as da compreensã o e da memó ria, porque estas nã o podem ser aceites
ou rejeitadas sem a intervençã o da vontade. Se for para ser puri icado, a
vontade deve ser esvaziada de sua alegria. "
Os bens que podem oferecer gozo claro e diferente à vontade sã o
reduzidos a quatro classes: motivos, provocativos, diretivas e
perfeitos. Imagens e está tuas de santos, orató rios e cerimô nias
pertencem aos motivos. “E quanto à s imagens e retratos dos santos,
pode haver muita vaidade e vã s alegrias”, quando as pessoas “olham
mais para a curiosidade da imagem e o seu valor do que para o que
representam”. Os sentidos sã o os ú nicos que estã o satisfeitos com isso
"e o amor e a alegria permanecem nisso"; e alguns até adornam as
imagens com vestidos condizentes com o espı́rito da é poca, o que era
repugnante para os santos que representam e é . E assim transformam a
devoçã o em "enfeites de boneca" e gostam deles como se fossem
ı́dolos. Há pessoas "que nã o se cansam de somar imagem a imagem, e
que só é de tal ou tal sorte e mã o de obra ..., de modo que deleita o
sentido, e a devoçã o do coraçã o é muito pouca ..." .
Usadas corretamente, as imagens sã o muito "importantes para a
adoraçã o divina e, portanto, necessá rias para mover a vontade de
devoçã o". Para isso e para honra dos santos, a Igreja aprovou seu
uso. "E é por isso que aqueles que sã o mais autocontidos e vivos sã o
atraı́dos e movem a vontade de devoçã o mais, eles tê m que ser
escolhidos." "O devoto no invisı́vel principalmente coloca sua devoçã o e
poucas imagens sã o necessá rias e poucos usos." E acima de tudo, ele
prefere "os que mais se conformam com o divino do que com o humano,
conformando-os, e assim com eles, com os trajes de outro sé culo e sua
condiçã o, e nã o com este". “Nem mesmo nas que usa ele segura o
coraçã o; e assim que as tiram, ele sente muito pouca dor, porque a
imagem viva busca em si mesmo, quem é o Cristo cruci icado, em quem
ele gosta que tudo lhe seja tirado ele e que tudo lhe falta; até os motivos
e meios que alcançam mais a Deus, tirando-os, iquem quietos ... "Entã o
o que o espı́rito tem que levar voando lá para Deus, entã o esquecendo
isso e outro come todo o sentido, sendo engolfado pela alegria dos
instrumentos, que tendo que me servir apenas para ajudar isso, já pela
minha imperfeiçã o me serve de estorvo, talvez nã o menos do que a
apreensã o e posse de qualquer outra coisa ”.
Mais grave que o abuso de imagens é “a imperfeiçã o que costumam ter
nos rosá rios, pois di icilmente encontraremos algué m que nã o tenha
nenhuma fraqueza neles, querendo que seja desta marca mais do que
da outra, ou desta cor ou metal mais do anterior, ou deste ornamento,
ou de outro, nã o aquele que importa mais do que o outro porque Deus
ouve melhor o que se reza por isso do que por aquilo; mas sim aquele
que vai com um coraçã o simples e reto, nã o procure mais. Você tem que
agradar a Deus, nada mais se dando por este rosá rio do que por aquele.
"
“Grande é també m a grosseria das pessoas que con iam mais numa
imagem do que nas outras, entendendo que Deus os ouve mais por
estas do que por aquelas, que representam a mesma coisa ... Porque
Deus só olha para a fé e pureza de o coraçã o de quem reza ". “E se à s
vezes ele agradece mais por uma imagem do que por outra, isso
acontece porque as pessoas despertam sua devoçã o mais por uma do
que pela outra. E se tivessem a mesma devoçã o por uma do que pela
outra (e mesmo sem uma e sem a outra ), eles receberiam os mesmos
favores de Deus. "
As vezes acontece que os milagres realizados diante de uma
determinada imagem despertam a devoçã o dos ié is e eles se movem
para orar ali com mais perseverança - quais sã o as condiçõ es para que
Deus nos ouça e conceda o que lhe é pedido - e do Senhor, Comovido
por essa devoçã o, ele continua a fazer favores e milagres por meio
dessa imagem. Mas “mesmo por experiê ncia vê -se que se Deus faz
algumas misericó rdias e obras milagrosas, normalmente ele as faz por
meio de algumas imagens nã o muito bem talhadas ..., porque os ié is
nã o atribuem nada disso à pintura ou à obra. E muitas vezes Nosso
Senhor costuma operar esses favores por meio daqueles
imagens mais isoladas e solitá rias; Um porque com aquele movimento
de ir até eles o carinho cresce mais ... O outro porque se afastam do
barulho e das pessoas para orar, como o Senhor fazia. Por isso é que ele
faz peregrinaçã o, faz bem em fazê -lo quando outras pessoas nã o vã o ...
Enquanto houver devoçã o e fé , qualquer imagem é su iciente; mas se
nã o houver, nada é su iciente. Que imagem vı́vida era o nosso Salvador
no mundo e, no entanto, aqueles que nã o tiveram fé , embora tenham
andado mais com ele e tenham visto as suas obras maravilhosas, nã o se
aproveitaram ”.
Mas mesmo onde a devoçã o verdadeira é dada, pode haver perigos no
uso de imagens. O demô nio aproveita-se alegremente para colocar sob
seu controle almas incautas, por exemplo, por meio de manifestaçõ es
sobrenaturais que ele imita (as imagens começam a se mover, a assinar
e assim por diante). Para se livrar de todo mal, a alma deve buscar nas
imagens apenas "o motivo, o hobby e a alegria da vontade na vida que
elas representam". Por mais que uma imagem “ora o torna sensı́vel
devoçã o, ora espiritual, ora o torna sinais sobrenaturais”, a alma
“ignorando qualquer um desses acidentes ... fez na imagem o culto que
a Igreja ordena, daı́ levanta-se dali a mente ao que ela representa,
colocando o suco e a alegria da vontade em Deus com a devoçã o e
oraçã o do espı́rito ”.
Colocá -lo em imagens ou em orató rios lindamente decorados talvez
seja ainda mais perigoso do que colocá -lo nas coisas terrenas, e a razã o
pela qual a alma se sente mais segura nelas e nã o tem medo de perder
nada. Há pessoas que gastam todo o tempo no adorno de seus orató rios
“que deviam passar na oraçã o de Deus e no recolhimento interior ... e
vã o retaliar sobre esse apetite e sabor a cada passo, principalmente se
quiserem retirá -lo. "
Os iniciantes devem ter um gosto sensı́vel e conhecimento sobre
imagens, como orató rios e outras coisas devocionais visı́veis. "Isso
serve para tirar o gosto das coisas terrenas. Pelo contrá rio, o espı́rito
puro nã o conhece nada alé m de recolhimento interior e relacionamento
mental com Deus. Apropriado para consagrá -los à oraçã o; no entanto,
para" adorar em espı́rito e em verdade "(Jn 4: 23-24) nã o se deve
escolher um lugar que lisonjeie os sentidos. Pelo contrá rio, "um lugar
solitá rio e até mesmo duro para que o espı́rito se dirija de maneira
só lida e direta a Deus, nã o impedido ou detido nas coisas visı́veis
...; pelos quais nosso Senhor normalmente escolheu lugares solitá rios
para orar, e aqueles que nã o ocupavam muito os sentidos (para nos dar
um exemplo), mas elevavam a alma a Deus, como eram as montanhas
que se erguiam da terra, e normalmente sã o descascadas sem assunto
sensı́vel de recreaçã o ".
Deus usa trê s tipos de lugares para mover a vontade de devoçã o:
paisagens impressionantes que, pela disposiçã o do terreno, suas
á rvores e sua quietude solitá ria, despertam a devoçã o. E destes pode-se
usar, "quando mais tarde a vontade é dirigida a Deus no esquecimento
dos ditos lugares". As vezes, Deus tende a dar favores especı́ icos a
algumas pessoas em certos lugares, estejam elas solitá rias ou nã o. Por
esta razã o, eles se inclinam para eles e à s vezes tê m um grande desejo
de voltar para lá . Nã o se vê nada de bagunçado nisso, desde que isso
seja feito sem apetite por bens. Porque, embora Deus nã o esteja
vinculado a nenhum lugar, parece que ele quer ser elogiado por aquela
pessoa naquele lugar particular, em que lhe deu o favor; ali a alma se
lembra de seu dever de gratidã o, e a memó ria aviva a
devoçã o. Finalmente, existem "lugares particulares que Deus escolhe
para serem invocados e servidos; bem como o Monte Sinai, onde Deus
deu a lei a Moisé s (Ex. 24, 12) ... e també m o Monte Horebe, onde Deus
ordenou que fosse. a Elias se mostrar ali (3Reg. 19,8) ... A razã o pela
qual Deus escolhe estes lugares mais do que outros para serem
louvados, Ele sabe disso. O que devemos saber é que tudo é para nosso
benefı́cio e para ouvir as nossas oraçõ es neles e onde quer que rezemos
com plena fé . Se bem que naqueles que se dedicam ao seu serviço haja
muito mais oportunidade de sermos ouvidos, porque a Igreja os tem
designados e dedicados para isso ”.
Os desvios de que tratamos até agora "por acaso sã o um tanto
tolerá veis, porque os abordamos de maneira um tanto inocente". Mas a
con iança ilimitada que alguns tê m nas "muitas formas de cerimô nias
introduzidas por pessoas pouco iluminadas e carentes da simplicidade
da fé é intolerá vel". Atribuem a certos exercı́cios tamanha e icá cia que
pensam que "se falta um ponto e ultrapassa esses limites, Deus nã o vai
aproveitar nem ouvir, con iando mais nessas formas e meios do que na
vida da oraçã o, nã o sem grande desprezo e ofensa de Deus. Assim,
como se fosse a missa com tantas velas, nem mais nem menos; e que
fosse dita por um padre de tal ou tal sorte; e que seja em tal ou tal uma
hora, e nã o antes ou depois; e que é depois desse dia, e nã o antes ou
depois ... e ... que se algo está faltando ... nada é feito ...; e o que é pior e
intolerá vel, é que alguns queiram sentir algum efeito em si pró prios, ou
cumprir o que pedem, ou saber que se cumpre o im dessas suas
oraçõ es cerimoniais ”.
"Que essas pessoas saibam que quanto mais iduciá rios izerem de suas
cerimô nias, menos con iarã o em Deus, e nã o obterã o de Deus o que
desejam. Há alguns que trabalham mais para seu ingimento do que
para a honra de Deus. .. E melhor transformá -los em coisas de maior
importâ ncia para eles, como puri icar realmente suas consciê ncias, e de
fato compreender as coisas da salvaçã o ..., porque é assim que o Senhor
prometeu pelo evangelista, dizendo: buscam antes de mais nada o
Reino de Deus e a sua justiça e todas as outras coisas serã o
acrescentadas a você (Mt 6,33). Porque esta é a reivindicaçã o e pedido
que é mais do seu agrado; e, para atender aos pedidos que temos no
nosso coraçã o nã o há melhor. E uma forma de colocar a força da nossa
oraçã o naquilo que é mais do agrado de Deus, porque entã o Ele nã o só
nos dará o que pedimos, que é a salvaçã o, mas també m o que Ele vê o
que é bom para nó s e é bom para nó s. O Senhor está perto de quem o
chama: de quem o chama na verdade (Salmo 144, 18). E aqueles que o
chamam na verdade que lhe pedem as coisas que sã o da mais alta
verdade ... Assim, entã o, as forças da vontade e a alegria dela nas
petiçõ es devem ser dirigidas a Deus, nã o curativas de con iar em
invençõ es ... Nã o querem buscar novos caminhos, como se conhecessem
mais do que o Espı́rito Santo e sua Igreja. Que se por causa dessa
simplicidade Deus nã o os ouve, acredite que ele nã o os ouvirá , mesmo
que façam mais invençõ es. "
Obteremos de Deus tudo o que desejamos, “porque Deus é de tal
maneira que, se o aceitarem para o bem e para a sua condiçã o, farã o o
que quiserem com ele; mas se for por juros, nã o devemos falar com
ele”. "Quando seus discı́pulos imploraram para que ele os ensinasse a
orar, ele lhes contaria tudo o que izesse com o caso, para que o Pai
Eterno nos ouvisse ..., e ele apenas lhes ensinou aqueles sete pedidos do
Pater Noster, que incluem todas as nossas necessidades corporais e
espirituais, e ele nã o lhes disse muitas outras maneiras e cerimô nias.
Anteriormente, em outra parte, disse-lhes que quando orassem nã o
deveriam falar muito, porque nosso Pai celestial sabia bem o que era
conveniente para nó s "(Mt . 6, 7 e 8). Ele comissionou tanto, que
perseveramos em oraçã o. Quanto à forma de sua execuçã o exterior, ele
nos deu apenas duas indicaçõ es: que oremos em segredo ao Pai
celestial em nosso retiro e fechemos a porta ou retiremos "para os
desertos solitá rios como Ele fez e no melhor e mais tranquilo tempo do
dia. noite ".
O Santo inalmente fala dos pregadores que nos exortam a servir ao
Senhor. Para bene iciar o povo e nã o se tornar vı́tima de vã s
complacê ncias, "cabe a eles, ao pregar, que este exercı́cio é mais
espiritual do que vocal". Para que a pregaçã o alcance seu efeito, uma
certa receptividade pré via é necessá ria por parte do pregador. Se nã o
for penetrado com o verdadeiro espı́rito, a doutrina mais sublime e o
estilo mais elevado serã o inú teis. Quanto mais exemplar for a sua vida,
mais lucro você terá , mesmo que o estilo seja ruim e o discurso seja
simples. Um belo estilo, uma doutrina profunda e um bom discurso
atraem poderosamente quando o espı́rito de piedade fala atravé s
deles; mas "sem ela, embora dê sabor e sabor ao sentido e ao
entendimento, muito pouco ou nenhum suco ou calor atinge a vontade
..., a voz nã o tendo virtude para ressuscitar os mortos de sua
sepultura". O Santo quer que o estilo seja bom, que tenha eloqü ê ncia, e
ele nã o rejeita as palavras escolhidas "porque antes ele torna o
pregador muito relevante, assim como todos os negó cios; para o bom
termo e estilo até as coisas caı́das e devastadas levantam e reconstró i,
assim como o mau termo ao bom estraga e perde ”.
3. O Espírito e a Fé esclarecendo-se mutuamente
a) Retrospectiva e olhar em perspectiva

Aqui, a subida do Monte Carmelo é interrompida abruptamente. Nã o


sabemos se a obra nã o foi concluı́da ou se, pelo contrá rio, nenhum
manuscrito completo chegou até nó s. O tratado sobre a alegria nã o está
terminado e nada foi exposto sobre as outras paixõ es. As partes
anunciadas sobre puri icaçã o passiva foram expostas na Noite
Escura. De resto, é estranho que a exposiçã o apenas em seus princı́pios
seja uma explicaçã o direta da poesia, e que ela se afaste
progressivamente mais e mais do texto e eu siga a real conexã o das
questõ es levantadas. També m temos um complemento dela na Noite
Escura. Nas ú ltimas partes deste trabalho sã o utilizadas as linhas de
linhas condutoras. Embora a exposiçã o seja interrompida no primeiro
verso da terceira estrofe com a mesma brusquidã o que a Subida no
meio do tratado sobre a alegria.
A maneira e as circunstâ ncias em que esses escritos nasceram podem
explicar seu cará ter fragmentá rio, bem como sua falta de unidade em
muitos aspectos. El Santo nã o escreveu como um artista que quer
formar um todo completo desenvolvido integralmente em todas as suas
partes. Tampouco pretendeu criar um sistema de misticismo como
teó logo, ou nos dar, como iló sofo ou psicó logo, uma elaborada doutrina
sobre a vida afetiva. Ele escreveu como o pai e mé dico de seus ilhos e
ilhas espirituais. Ele concordou com o pedido dela de declarar as
cançõ es espirituais, re letiu em sua pró pria experiê ncia interior o que
havia expressado poeticamente e traduziu suas imagens para a
linguagem do pensamento. Só assim percebeu a necessidade de inserir
aqui e ali explicaçõ es anteriores para se fazer compreender. Assim, ele
teve que lidar com muitas coisas acidentais que estavam alé m de sua
intençã o original; mas ele nunca perdeu de vista seu pensamento
condutor, segurando as ré deas de suas idé ias com mã o irme, evitando
sua aglomeraçã o esmagadora. També m devemos ter em mente que ele
escreveu seus tratados nos anos em que estava mais carregado de
negó cios e preocupaçõ es externas. També m nã o devemos esquecer que,
apó s uma longa interrupçã o, ele nã o retoma o io de onde o deixou,
mas, em vez disso, começa um novo trabalho. Isso deve ser levado em
conta mais de uma vez para compreender corretamente algumas
declaraçõ es preliminares do Santo.
Reproduzimos o que Sã o Joã o da Cruz diz na Subida sobre a entrada da
Noite do Espı́rito para esclarecer o que ele entende por espı́rito e por
fé . Porque a fé é o caminho da Noite em direçã o à meta da uniã o com
Deus e nela se dá o novo nascimento doloroso do espı́rito, sua
transformaçã o do ser natural em sobrenatural. As explicaçõ es sobre o
espı́rito e a fé iluminam-se mutuamente. A fé alcança a negaçã o da
atividade natural do espı́rito. Nesta negaçã o consiste a Noite Ativa da fé ,
o seguimento ativo e pessoal da Cruz. Para explicar essa negaçã o e por
meio dela també m entender em que consiste a fé , devemos examinar a
atividade natural do espı́rito. Por outro lado, a fé , por sua pró pria
natureza, nos prova a possibilidade da existê ncia de um ser e atividade
espiritual alé m do ser e atividade naturais e, portanto, esclarecer em
que consiste a fé nos leva a uma nova visã o do espı́rito. Isso é o que
torna compreensı́vel que em diferentes lugares o espı́rito seja falado de
maneiras diferentes. Diante de um olhar super icial, essa diversidade de
formas de expressã o pode parecer contraditó ria, mas na realidade
obedece a uma necessidade objetiva. Porque o ser espiritual, na medida
em que é vida e movimento, nã o se deixa prender a de iniçõ es rı́gidas,
mas tem um movimento progressivo e deve-se buscar expressõ es
luidas para captá -lo. O mesmo se aplica à fé , que, para ser espiritual,
implica movimento: uma ascensã o a alturas cada vez mais
incompreensı́veis e uma descida a abismos cada vez mais
profundos. Portanto, para tentar torná -los compreensı́veis, assim que
possı́vel, será necessá rio o uso de vá rias expressõ es.

b) Atividade natural do espírito. A alma, suas partes e seus


poderes.

Em primeiro lugar, é necessá rio esclarecer em que consiste a atividade


natural do espı́rito. E deduzido da estrutura do ser espiritual da alma. O
Santo tenta explicá -lo atravé s dos conceitos tradicionais da psicologia
escolar, que lhe eram familiares desde os anos dos seus estudos em
Salamanca.
A alma é um princı́pio de atividade dotado de vá rios poderes: inferior e
superior, sensı́vel e espiritual. Tanto na base quanto na parte superior,
esses poderes sã o divididos em cognitivos e operacionais. (Isso nã o é
dito pelo Santo, mas ele o pressupõ e em sua exposiçã o). Os sentidos sã o
ó rgã os do corpo e, apesar disso, sã o també m janelas para a alma,
atravé s das quais o conhecimento do mundo exterior chega à alma. A
sensibilidade també m é comum ao corpo e à alma, mas o Santo deu
relativamente pouca atençã o à sua parte corporal. A sensibilidade
pertence, alé m das impressõ es que o conhecimento do mundo sensı́vel
proporciona, a alegria e o desejo que se despertam na alma ao receber
as impressõ es que os sentidos lhe comunicam. Como já observamos
acima, a Noite do Sentido refere-se sobretudo à sensibilidade neste
duplo aspecto: a dos apetites e dos desejos segundo o gosto sensı́vel
deve ser libertada, ou seja, puri icada, a alma na primeira noite. Essa
limitaçã o é totalmente justi icada porque o gosto e o desejo já sã o
possı́veis no grau puramente sensı́vel da vida psı́quica (mesmo entre os
animais). Ao contrá rio, o conhecimento, mesmo em sua forma inferior
de apreensã o sensı́vel, nã o é possı́vel sem atividade espiritual. Alé m
disso, o que a alma "percebe" aqui apropriadamente é desejo e alegria.
O conhecimento sensı́vel nã o é possı́vel sem a atividade do
espı́rito; Isso signi ica a correspondê ncia ı́ntima que existe entre a
parte inferior e a superior do ser da alma. Eles nã o sã o dois andares
sobrepostos. A expressã o top and bottom é uma imagem espacial de
algo nã o espacial. O Santo adverte expressamente que "a alma como
espı́rito nã o tem alto nem baixo ..., como os corpos quantitativos ...". A
atividade sensı́vel e espiritual se mesclam no campo da açã o natural. Se
as janelas dos sentidos nã o conduzem a nenhum conhecimento, se o
espı́rito nã o olha atravé s delas, poré m, sã o necessá rias para poder
contemplar o mundo. Em outras palavras: os sentidos fornecem a
maté ria sobre a qual atua. Seguindo Santo Agostinho e partindo de
Santo Tomá s neste, o Santo conta como uma terceira potê ncia
espiritual, junto com a compreensã o e a vontade, a memó ria. Nã o é
necessá rio ver nela uma oposiçã o real profunda, pois nã o se trata
propriamente de uma divisã o efetiva da alma, mas apenas de funçõ es
diferentes e da disposiçã o da mesma força da alma neste ou naquele
sentido. . Caso contrá rio, existem razõ es vá lidas para ambas as
sentenças. Sem o trabalho fundamental da memó ria - a preservaçã o -
nem uma impressã o sensı́vel nem uma operaçã o espiritual seriam
possı́veis. Ambos se estruturam em uma sucessã o temporal e para isso
é necessá rio que as impressõ es de cada momento nã o afundem ou
desapareçam, mas sejam preservadas. Para a atividade estritamente
intelectual (comparaçã o, generalizaçã o, deduçã o, etc.), també m é
evidente que as outras operaçõ es da memó ria sã o necessá rias: a
memó ria e a combinaçã o livre que a fantasia realiza. Mas nã o podemos
parar por aqui. Se aludimos a isso, é porque serve para entender que na
memó ria é possı́vel distinguir entre as operaçõ es dos sentidos e do
espı́rito e que pode ser considerado incluı́do nas outras potê ncias. Por
outro lado, suas operaçõ es nã o pertencem propriamente ao
conhecimento, mas servem apenas como meio. (O mesmo pode ser dito
das relaçõ es entre memó ria e vontade) e isso pode servir para justi icar
considerar a memó ria como um poder especial. Em Santo Agostinho, a
consideraçã o do espı́rito como imagem da Trindade foi um motivo
externo determinante para a divisã o tripartida; em San Juan de la Cruz,
a relaçã o dos trê s poderes da alma com as trê s virtudes teoló gicas. E
com isso chegamos ao ponto decisivo de sua doutrina.
c) Elevação da alma à ordem sobrenatural. Fé e vida de fé.

O espı́rito em sua atividade natural está ligado aos sentidos. Ele aceita o
que lhe oferecem, preserva o que recebeu e quando surge a ocasiã o
volta a re letir sobre isso, compara com outras coisas, modi ica e, ao
comparar, universalizar, deduzir, etc., consegue chegar ao conhecimento
abstrato, julgamento e julgamento, raciocı́nio, atos propriamente
intelectuais. Uma atividade semelhante exerce naturalmente sobre o
que os sentidos lhe apresentam, nela encontra sua alegria, se esforça
para possuı́-la, sente que a está perdendo, aguarda sua posse e teme
sua perda.
Mas o destino do espı́rito nã o era principalmente conhecer as coisas
criadas para desfrutá -las. Isso se deve a uma perturbaçã o de seu ser
primitivo e adequado, que por isso foi perturbado. Desse
constrangimento, ele deve ser liberado e elevado ao seu verdadeiro eu,
para o qual foi criado. Seu olhar deve ser dirigido ao seu Criador e a Ele
deve ser abandonado com todas as forças do seu ser. Isso é conseguido
atravé s de um trabalho gradual e progressivo que compreende duas
partes: educaçã o e purgaçã o. Deus dá o impulso para iniciá -lo e
executá -lo, mas exige a colaboraçã o do homem com a sua pró pria açã o
espiritual. O espı́rito deve se despojar de tudo o que naturalmente o
preocupa, e da mesma forma deve aprender a conhecer a Deus e se
alegrar apenas nele.
Para que isso aconteça, é necessá rio que os poderes naturais sejam
oferecidos algo que os atraia e os satisfaça mais do que aquilo que eles
podem conhecer e gostar naturalmente. A fé mostra ao entendimento o
Criador, cuja onipotê ncia deu existê ncia a todas as coisas e é em si
mesmo maior, mais elevado e mais digno de amor do que todas
elas. Ilustra isso nos atributos divinos e em tudo o que Deus fez pelo
homem e no que ele deve a Deus.
O que estamos tentando expressar com este conjunto de verdades de
fé ? Evidentemente o que nos é proposto acreditar, o conteú do de todas
as verdades reveladas, pregadas pela Igreja: ides quae creditur. Quando
o entendimento aceita o que lhe é proposto, mas nã o pode saber por
sua pró pria visã o, dá o primeiro passo em direçã o à Noite Negra da
fé . Mas isso ainda nã o é mais do que a fé em que se crê , uma atividade
viva do espı́rito e o há bito que lhe corresponde ou virtude da fé ; a
convicçã o de que Deus existe (credere Deum) e a aceitaçã o convicta do
que Deus ensina por meio de sua Igreja (credere Deo). Com esta vida de
fé , o espı́rito se eleva acima de sua atividade natural, sem se separar
dela de forma alguma. Em vez disso, os poderes da alma recebem no
novo mundo que a fé os apresenta com uma nova quantidade de
material sobre o qual agir.
Essa atividade pela qual o espı́rito torna intimamente seu o conteú do
da fé é a meditaçã o. Nele, a imaginaçã o apresenta os acontecimentos da
Histó ria Sagrada diante dos olhos em imagens vı́vidas e tenta captá -los
com todos os sentidos, re lete com a compreensã o sobre o seu
signi icado e as demandas que surgem para a pró pria pessoa; e assim a
vontade se move para o amor e decide transformar sua vida vivendo
pela fé .
O Santo conhece outra forma superior de meditaçã o. Um espı́rito de
natureza viva e dotada pode penetrar profundamente com
compreensã o nas verdades da fé e, dialogando consigo, examiná -las em
todos os seus aspectos, desenvolvendo suas consequê ncias e
descobrindo suas relaçõ es ı́ntimas. Essa atividade é ainda mais fá cil e
frutı́fera quando o Espı́rito Santo lhe dá asas e o impulsiona. Nesse
caso, ele se sente nas mã os de um poder superior e iluminado por ele a
tal ponto que lhe parece que nã o é ele mesmo quem trabalha, mas que é
ensinado pelo pró prio Deus.
O que o espı́rito desta ou daquela maneira elaborou torna-se sua posse
duradoura. E é mais do que um tesouro de verdades armazenadas,
capaz de ser recuperado quando necessá rio. O espı́rito - e tomamos
esta palavra aqui em seu sentido amplo que inclui nã o apenas o
entendimento, mas també m o coraçã o - por meio dessa atençã o
duradoura a Deus se tornou familiar com ele, o conhece e o ama. Esse
conhecimento e amor tornaram-se parte constitutiva de seu ser, algo
como a relaçã o com um homem com quem ela viveu por muito tempo e
com quem se tornou ı́ntima. Essas pessoas nã o precisam se informar ou
conversar para se entender e demonstrar afeto, nem precisam de
palavras entre elas. E verdade que cada nova entrevista faz com que o
amor desperte e cresça novamente e até proporciona o conhecimento
de novos aspectos de cada um, mas isso vem por si só , sem ter que se
preocupar com isso. Algo semelhante passou a ser as relaçõ es da alma
com Deus apó s uma longa prá tica de vida espiritual. Você nã o precisa
mais da alma da meditaçã o para conhecer e amar a Deus. Este caminho
foi deixado para trá s e a alma descansa no termo. Assim que começa a
rezar, já está com Deus e permanece em santo abandono em sua
presença. Seu silê ncio é mais gentil com Deus do que muitas palavras. E
o que hoje se conhece como "contemplaçã o adquirida". (O Santo nã o
usa esta expressã o mas conhece muito bem a coisa).

E fruto da pró pria atividade, posta em movimento e realizada por


variada intervençã o da graça. Já é uma graça que intervé m quando nos
chega a mensagem da fé , a verdade revelada por Deus. E també m a
graça que nos faz admitir esta mensagem e nos tornarmos crentes. Sem
a ajuda da graça, nenhuma oraçã o ou meditaçã o é possı́vel. E, no
entanto, tudo isso també m é o objeto de nossa liberdade e é feito com
nossas pró prias forças. Cabe a nó s entregar-nos à oraçã o e ao tempo e à
maneira que dedicamos à contemplaçã o adquirida. Se examinarmos
esta contemplaçã o, como abandono calmo e amoroso a Deus, podemos
considerá -la como uma forma de fé - ides quea creditu-: nã o como o
credere Deum (embora a fé no ser divino seja pressuposta e incluı́da
nela), nem como credere Deo (por mais que seja o resultado de tudo o
que aceitamos pela fé como verdade revelada por Deus), mas credere in
Deum, crendo em Deus, entregando-nos a Ele pela fé .
Este é o grau má ximo que a vida de fé pode alcançar com a sua pró pria
força, quando, nela e como consequê ncia prá tica, se aperfeiçoa o
abandono da pró pria vontade no divino e a direçã o das açõ es e paixõ es
pró prias. .vontade está de acordo com o divino. També m supõ e uma
maior elevaçã o do espı́rito sobre a condiçã o de seu ser natural. As
verdades da fé nos aproximam de Deus por meio de iguras, imagens e
conceitos retirados das coisas criadas. Mas eles també m nos ensinam
que Deus está acima de toda a criaçã o e de todos os conceitos ou
apreensõ es. Por isso devemos abandonar tudo e todas as forças com
que o apreendemos e compreendemos, para nos elevarmos pela fé a
Deus, o indescritı́vel e incompreensı́vel.
Nem os sentidos nem a compreensã o servem para isso, se pela
compreensã o queremos compreender a faculdade de conceber
pensamentos abstratos ... No incompreensı́vel abandono a Deus que a fé
pressupõ e, somos puro espı́rito, desvinculados de imagens e conceitos
e, portanto , icamos na escuridã o, porque o mundo de nosso
conhecimento comum é construı́do em imagens e conceitos. E també m
desvinculado do mecanismo mú ltiplo dos vá rios poderes, unidos e
simples em uma vida, em que conhecer, lembrar e amar sã o a mesma
coisa. Estamos no limiar da vida mı́stica, na entrada para a
transformaçã o que pode ser alcançada por meio da Noite do
Espı́rito; mas també m alcançamos o que permanece intacto quando os
poderes sã o suspensos. Sempre deve permanecer algo para que,
quando os poderes sã o suspensos, a uniã o e a transformaçã o da alma
em Deus continuem sendo possı́veis. E esse algo alé m dos sentidos e da
compreensã o a eles ligada, é o pró prio espı́rito.
Sã o Joã o da Cruz també m fala da substâ ncia da alma. De acordo com
sua substâ ncia, a alma é espı́rito e em seu â mago é receptiva a tudo que
é espiritual; ele pode perceber Deus, espı́rito puro e tudo o que ele
criou e que por sua natureza interior é espiritual. Mas está imerso no
corpó reo e tem os sentidos corpó reos como ó rgã os captadores para
conhecer o corpó reo. Em estado de queda, esses ó rgã os, destinados a
servir, tornaram-se senhores. Para recuperar o poder de viver e agir
puramente no espiritual e de recuperar o domı́nio sobre os sentidos, o
espı́rito deve se libertar do abraço com que está aprisionado. Temos
seguido até certo ponto a obra da fé neste processo de
libertaçã o. Vimos como o espı́rito se orienta para Deus e, inalmente,
eleva-se a uma comunicaçã o puramente espiritual com Ele. Para esta
comunicaçã o com Deus é necessá rio algo mais: o abandono de tudo o
que nã o é Deus. Este é o trabalho fundamental que acontecerá durante
a Noite Ativa do Espı́rito.

d) Comunicações extraordinárias de graça e liberação


deles

Já dissemos que a fé impulsiona as faculdades da alma, levando-as a se


empregarem em Deus e nas coisas divinas, mas com isso a alma ainda
está muito longe de alcançar o desapego do mundo criado. Mesmo
aqueles que decidem seriamente por uma vida espiritual e
permanecem irmes nela, dedicam apenas uma parte maior ou menor
do dia à oraçã o e à meditaçã o. Caso contrá rio, eles estã o irmemente
enraizados no mundo criado. Eles estã o preocupados em compreendê -
lo e submetê -lo ao seu domı́nio, em obter bens temporais e desfrutá -
los. Ainda sucumbem aos encantos má gicos dos bens temporais e nã o
sã o inacessı́veis ao que satisfaz os sentidos, embora seja possı́vel que,
devido à in luê ncia da vida de oraçã o, tenham colocado barreiras cada
vez mais avançadas a este respeito. Assim, sua mente está ocupada com
as coisas deste mundo e usa suas energias nele; A imaginaçã o també m
está cheia deles, e a vontade é por eles determinada em suas aspiraçõ es
e ligada a eles em suas paixõ es.
Tudo isso se torna um obstá culo à vida de oraçã o, que seria
de initivamente destruı́da se nã o buscá ssemos a ajuda de Deus com um
auxı́lio particular da graça. Isso acontece nã o apenas por meio da
mensagem de fé , mas també m por meio de suas pró prias comunicaçõ es
para superar a atraçã o do mundo e destruir sua in luê ncia. Eles
oferecem aos sentidos e à imaginaçã o imagens que ultrapassam todos
os terrenos. O entendimento é elevado pela iluminaçã o sobrenatural ao
entendimento de coisas que ele nunca teria conhecido por seu pró prio
esforço intelectual. O coraçã o está repleto de uma alegria celestial
pró xima à qual todas as alegrias e sabores do mundo
empalidecem. Desse modo, a alma se prepara para se desprender com
todas as suas forças dos bens terrenos e ascender aos bens celestiais.
Mas com isso apenas metade da tarefa foi realizada. Você nunca
alcançará o objetivo da uniã o com Deus se pretende parar nas
comunicaçõ es sobrenaturais e descansar em seu prazer. E é que as
visõ es, revelaçõ es e sentimentos deleitosos nã o sã o Deus nem
conduzem a Ele, exceto para aqueles toques puramente espirituais
muito elevados em que o pró prio Deus se comunica com a substâ ncia
da alma e com os quais realiza a uniã o. Por isso, a alma deve novamente
se desprender de todo o supra-fundamento dos dons de Deus para
alcançar o doador em vez de seus dons. O que pode fazer a alma decidir
abandonar voluntariamente esses dons? Aı́ vem novamente a obra da fé
que ensina que Deus nada é do que podemos apreender e compreender
e nos convida a trilhar seu caminho tenebroso, que é o ú nico que
conduz ao im. Mas muito pouco seria alcançado simplesmente
abordando o entendimento, ingindo ensiná -lo em palavras. A incrı́vel
realidade do mundo natural e dos dons naturais deve ser suplantada
por uma realidade mais impressionante. Isso acontece na Noite
Passiva. Se ela - a Santa tem o prazer de repetir - ela nunca alcançaria
seu propó sito na Noite Ativa. A mã o do Deus vivo deve intervir para
desatar a alma das amarras de tudo o que foi criado e atraı́-la para
si. Esta intervençã o é a contemplaçã o sombria e mı́stica que está ligada
à desapropriaçã o de tudo o que até agora fornecia luz, apoio e consolo.
4. Morte e ressurreição

a) Noite passiva do espírito. Fé, contemplação sombria,


nudez espiritual

Já sabemos pela Noite do Signi icado que chega um momento em que a
alma perde o gosto por todos os exercı́cios espirituais, bem como por
todas as coisas terrenas. Está em completa escuridã o e vazio. Nã o há
mais nada em que se apegar, exceto a fé . A fé apresenta Cristo diante de
seus olhos: pobre, humilhado, cruci icado e na mesma cruz abandonado
por seu Pai. A alma em sua pobreza e abandono encontra a pobreza e
abandono de Cristo. Aridez, relutâ ncia, cansaço sã o "as cruzes
espirituais puras" que lhe sã o oferecidas. Se ele os aceitar, sentirá que
sã o um jugo suave e um fardo leve. Eles servirã o de cajado para subir
rapidamente a montanha. Quando ela sabe que Cristo em sua maior
humilhaçã o e aniquilaçã o na cruz foi justamente quando realizou sua
maior façanha, a Redençã o e a uniã o do homem com Deus, desperta
nela o pensamento daquele aniquilamento també m para ela, que é “um
viver a morte sensı́vel e espiritual na cruz "a leva à uniã o com Deus. Da
mesma forma que Cristo, no seu abandono na cruz, se entregou nas
mã os do Deus invisı́vel e incompreensı́vel, ela també m deve se
abandonar nas trevas da meia-noite da fé , ú nica via para chegar ao
Deus incompreensı́vel.
Para este im, a contemplaçã o mı́stica é comunicada a ele, o "raio das
trevas", a sabedoria oculta de Deus, a escuridã o e o conhecimento
geral; Isso corresponde apenas à incompreensibilidade divina, que cega
o entendimento e se apresenta a ele como nas trevas. Esta
contemplaçã o penetra na alma como um riacho com tanto maior
pureza quanto mais livre está de outras impressõ es. E algo mais puro,
delicado, espiritual e interior do que todo o conhecimento que vem
naturalmente do espı́rito e se eleva acima de tudo o que é temporal,
constituindo em nó s um verdadeiro inı́cio de vida eterna. Nã o se trata
apenas de aceitar a mensagem de fé percebida pelos ouvidos, nem
mesmo de um simples retorno a Deus que só se conhece por ouvir
dizer, mas de um toque interior de divindade, de perceber Deus com
força su iciente para desligá -la de todas as coisas criaram e a elevaram,
imergindo-a em um amor de natureza desconhecida. Nã o queremos
decidir agora se este conhecimento escuro e amoroso, em que a alma é
intimamente tocada por Deus de "boca em boca", de substâ ncia em
substâ ncia, ainda pode ser considerado como fé . Consiste no abandono
da alma, por sua vontade (que é sua boca) em Deus que amorosamente
a encontra ainda oculta: amor, que nã o é sentimento, mas açã o e
disposiçã o para o sacrifı́cio, conformidade da pró pria vontade com o
divino, para ser dirigido apenas por ele.
A medida que iluminaçõ es, revelaçõ es e consolaçõ es sã o agora
novamente comunicadas à alma - como costuma ser o caso na
geralmente duradoura Noite do Espı́rito - a alma está disposta a nã o se
demorar nelas. Deixe Deus fazer o que pretende por meio dessas
comunicaçõ es sobrenaturais, mas ela permanece nas trevas da fé ,
porque nã o só ela aprendeu, mas també m sabe por experiê ncia, que
nada disso é Deus ou dá a Deus e que na fé ele tem tudo ele precisa: o
pró prio Cristo verdade eterna e, nele, o Deus incompreensı́vel. Quanto
mais pronto para estar para essa desapropriaçã o e para a perseverança
na fé , mais ela se puri ica atravé s da Noite Escura.

Já apontamos vá rias vezes como a alma, mesmo depois de uma longa
prá tica de vida espiritual, ainda está cheia de imperfeiçõ es e precisa de
uma puri icaçã o mais profunda para se preparar para a uniã o. També m
vimos como essas imperfeiçõ es podem estar intimamente relacionadas
com comunicaçõ es sobrenaturais de todos os tipos, de modo que em
uma alma nã o completamente puri icada, os dons de Deus podem dar
origem a imperfeiçõ es, particularmente orgulho, vaidade e gula
espiritual. Todas essas fraquezas sã o curadas por Deus atravé s da
desapropriaçã o que ele realiza durante a Noite Escura “deixando na
escuridã o o entendimento e a vontade, e esvazia a memó ria e os
passatempos da alma em extrema a liçã o, amargura e angú stia”. Aqui o
espı́rito e os sentidos passam pela ú ltima puri icaçã o juntos depois
daquela na primeira Noite do Sentido, a transformaçã o e o domı́nio dos
apetites e o trato com Deus os fortaleceram a ponto de serem capazes
de suportar o fardo deste penetrante. segunda puri icaçã o. Essa
puri icaçã o també m é obra da contemplaçã o das trevas.
Até agora consideramos a contemplaçã o principalmente a partir do
ganho que a alma proporciona, fazendo-a colocar todas as suas forças
em Deus e desligando-a de todas as coisas criadas.
Esse ganho já parecia claro nas explicaçõ es da Ascensã o da Noite Ativa
do Espı́rito. Mais uma vez o Santo o resume na nova exposiçã o que faz
da primeira estrofe da Noite, no inı́cio do tratado sobre a Noite Escura
do Espı́rito: “Na pobreza, desamparo e desordem de todas as
apreensõ es de minha alma, que é , na escuridã o do meu entendimento e
aperto da minha vontade, na a liçã o e angú stia do memorial deixando-
me em pura fé , que é Noite Negra para os ditos poderes naturais,
apenas a vontade tocada pela dor e a liçõ es e anseio pelo amor de Deus,
Abandonei-me, isto é , meu baixo modo de compreensã o, e minha pobre
sorte de amar, e meu escasso e pobre jeito de gostar de Deus, sem a
sensualidade nem o demô nio me atrapalhando, o que foi uma grande
alegria ... para mim; porque quando os poderes, paixõ es, apetites e
hobbies da alma tinham acabado de ser aniquilados e acalmados, com
os quais eu sentia e gostava de Deus, deixei o tratamento e pouca
operaçã o humana minha para operar e lidar com Deus., meu
entendimento foi fora de si, tornando-se humano e natural em
divino; porque, unindo-se por meio desta purgaçã o a Deus, ele nã o
entende mais pelo seu vigor natural, mas pela Sabedoria divina com a
qual estava unido. E minha vontade saiu de si mesma tornando-se
divina; porque unida ao amor divino, ela nã o ama mais humildemente
com sua força natural, mas com a força e pureza do Espı́rito Santo ..., e
nem mais nem menos a memó ria se transformou em eternas
apreensõ es de gló ria ... Todas as forças e os afetos da alma, nesta noite e
na puri icaçã o do velho, todos se renovam com templos e delı́cias
divinas ”.
A puri icaçã o nã o é apenas noite, mas també m dor e tortura, e isso por
duas razõ es: "a primeira se deve à alteza da Sabedoria Divina, que
ultrapassa o talento da alma e, dessa forma, sã o as trevas. Sua baixeza e
impureza, e desta forma, é doloroso e a litivo para ele, e també m
escuro. " Por meio dessa luz extraordiná ria e sobrenatural, "o ato de sua
inteligê ncia natural a priva e a escurece". Daı́ resulta que "ao derivar
Deus de si mesmo para a alma, que ainda nã o foi transformada, este
raio iluminado de sua sabedoria secreta se torna trevas negras em seu
entendimento". A dor e a tortura da alma vê m do fato de que "esta
divina contemplaçã o infusa tem muitas excelê ncias que sã o
extremamente boas, e a dona que as recebe, por nã o ser purgada, tem
muitas misé rias que també m sã o extremamente ruins; portanto, nã o
sendo capaz de encaixar dois opostos em um assunto, “a alma se sente
em meio a esta luz clara tã o impura e miserá vel que lhe parece que
Deus é contra ela, e que ela é contrá ria a Deus ...; que é de tanto
sentimento e tristeza para a alma, porque lhe parece aqui que Deus o
lançou. ”Ela vive atormentada pelo medo de que nunca será digna de
Deus e de que tenha perdido todos os tesouros da graça. a luz negra
revela claramente sua misé ria e pecados e a alma "vê claramente como
nã o pode ter mais nada pró prio."
Caso contrá rio, a alma sofre por causa de sua fraqueza natural, moral e
espiritual. “Como esta divina contemplaçã o ataca a alma com alguma
força, a im de fortalecê -la e domesticá -la, de tal forma que dó i sua
fraqueza, que ela desmaia um pouco menos; especialmente à s vezes
quando com um pouco mais de força ela ataca; porque o sentido e o
Espı́rito, como se estivesse sob algum fardo imenso e escuro, está
sofrendo e morrendo. " Nessas circunstâ ncias, desejaria a morte como
um alı́vio e um favor. Espanto "que a fraqueza e a impureza da alma
estejam tanto aqui, que sendo a mã o de Deus pró pria tã o macia e suave,
a alma a sente aqui tã o grave e contrá ria, sem cobrar nem acalmar, mas
apenas tocar, e que misericordiosamente ..., para dar favores à alma e
nã o puni-la ".
Quando os dois extremos, divino e humano, se unem, a contemplaçã o
que vem de Deus e da mesma alma, "esmaga e desfaz a substâ ncia
espiritual, absorvendo-a em uma escuridã o profunda e profunda ... Ela
ataca a alma de tal maneira que parece estar se desfazendo e se
derretendo diante do rosto e da vista de suas misé rias, com a morte de
um espı́rito cruel ”. Mas o que é mais doloroso aqui para a alma
perturbada "é parecer claro para ela que Deus o rejeitou, e odiando-o
lançado na escuridã o ... Sombra da morte e gemidos de morte e dores
do inferno a alma se sente muito viva, que consiste em sentir-se sem
Deus, ser punido e atirado ...; e mais, que lhe parece uma apreensã o
terrı́vel, que já dura para sempre ”.
Finalmente, devido a esta grandeza e magnitude da contemplaçã o, a
alma adquire consciê ncia de sua profunda pobreza e extrema
misé ria. Ela sente um profundo vazio e pobreza de bens temporais,
naturais e espirituais e se vê envolvida nos males opostos: "misé rias
das imperfeiçõ es, aridez e vazio das apreensõ es das potestades e
desamparo do espı́rito nas trevas ..., como se a um suspenso ou parado
no ar (que ele nã o respirou). Mas ele també m está purgando a alma,
aniquilando, esvaziando ou consumindo nela (assim como o fogo faz a
ferrugem e a ferrugem do metal), todos os afetos imperfeitos e há bitos
que contraiu Todas as suas vidas. Por estarem profundamente
enraizados na substâ ncia da alma, costumam sofrer grande seriedade,
anulaçã o e tormento interior, mais do que dita pobreza e vazio natural e
espiritual ”.
Para tirar e tirar a ferrugem de suas inclinaçõ es é necessá rio que a alma
"de certa maneira ... se aniquile e se desfaça, pois se conaturaliza nessas
paixõ es e imperfeiçõ es"; e ela "sente esse desfazer na pró pria
substâ ncia da alma com extrema pobreza em que está quase
terminando ... Nisso Deus muito humilha a alma para exaltá -la muito
mais tarde", e se esse estado durasse muito tempo, "abandonaria o
corpo em dias muito breves; mas os tempos em que sua ı́ntima vileza é
sentida sã o interpolados. Que à s vezes parece tã o vivo, que parece à
alma que vê o inferno aberto ... Destes sã o aqueles que realmente
descer ao inferno vivendo, porque aqui eles se puri icam da mesma
maneira que ali ... E entã o a alma que passa por aqui ou nã o entra
naquele lugar, ou para ali muito pouco, porque demora mais tempo aqui
do que muita ali. "
O sofrimento é exacerbado pela lembrança de felicidades passadas, pois
tais almas para "quando entram esta noite, já provaram muitos gostos
de Deus e lhe prestaram muitos serviços", e agora estã o longe desses
bens e sem poder obter nada disso. Alé m disso, a contemplaçã o deixa a
alma em tamanha solidã o e desamparo que ela nã o pode "encontrar
consolo ou apoio em nenhuma doutrina ou mestre espiritual. Porque
embora de muitas maneiras ateste as causas do consolo que possa ter
..., ela parece que como Eles nã o veem o que ela vê e sente, nã o
entendendo, eles dizem que, e em vez de conforto, ela primeiro recebe
uma nova dor, parecendo-lhe que nã o é o remé dio para seu mal, e na
verdade é . Porque até que o Senhor termine de puri icá -la da maneira
que ele ou quer fazer, nenhum meio ou remé dio serve ou tira proveito
da sua dor ”. Isso dura "até que aqui o espı́rito seja abrandado,
humilhado e puri icado, e se torne tã o sutil, simples e sutil, que possa se
tornar um com o espı́rito de Deus na medida em que sua misericó rdia
lhe conceda a uniã o de amor". De acordo com este grau, a puri icaçã o
será forte e longa. Geralmente dura anos, embora com intervalos, “nos
quais pela dispensaçã o de Deus, saindo desta contemplaçã o sombria de
carregar de forma purgativa e iluminadora, ataca com amor e
iluminando, em que a alma, seja como saı́da de tal masmorra e tais
prisõ es, e colocadas em recriaçã o de amplitude e liberdade, sentem e
gostam de grande suavidade de paz e amizade amorosa com Deus com
abundâ ncia fá cil de comunicaçã o espiritual ”. Entã o a alma pensa que
suas obras estã o terminadas para sempre, como pensava antes que
suas dores nunca cessariam. A razã o para isso é , "por causa dessa
qualidade sã o as coisas espirituais no amor, quando sã o mais
puramente espirituais; que quando as obras voltam, parece à alma que
nunca as deixará ..., porque a posse atual de um contrá rio no espı́rito,
por si mesmo remove a posse e o sentimento atual do outro contrá rio; o
que nã o acontece assim na parte sensı́vel da alma, porque sua
apreensã o é fraca. Mas como o espı́rito ainda nã o está aqui bem
purgado e limpo dos passatempos que contraiu da parte inferior,
embora como espı́rito nã o se mova, assim que for afetado por eles
poderá mover-se com dor ”.
Mas nã o é sempre que a alma pensa que as dores acabaram, "porque
até que a purgaçã o espiritual seja concluı́da, muito raramente a
comunicaçã o suave é tã o abundante que esconde a raiz que permanece,
de modo que deixe a alma sentir lá dentro de um eu faço nã o sabe o que
lhe falta ..., que nã o se permite gozar plenamente desse alı́vio, sentindo-
se aı́ dentro como um inimigo seu, que embora esteja tã o calmo e
adormecido, descon ia que voltará a reviver e fazer deles. E assim é , que
quando é mais seguro e menos saboreado, ele volta a engolir e absorver
a alma em outro grau pior e mais difı́cil e mais escuro e mais lamentá vel
do que no passado, que durará mais uma temporada de sorte do que a
primeira . " E novamente a alma acredita que a plenitude dos bens está
acabada para sempre, porque "a presente apreensã o do espı́rito ...
aniquila nele tudo o que é contrá rio a ele." Por isso as almas do
purgató rio duvidam que seus sofrimentos acabarã o. Certamente eles
tê m virtudes teoló gicas e sabem que amam a Deus, mas nã o encontram
consolo nisso, "porque nã o lhes parece que Deus as quer ou que sejam
dignas de tal coisa ...; e assim a alma aqui nesta purgaçã o, embora veja
que ama bem a Deus, e que por Ele daria mil vidas ..., mas isso nã o é um
alı́vio para ela, antes que lhe cause mais dor; porque ela o ama tanto,
porque ela nã o tem mais nada para cuidar dela, Já que ela parece tã o
miserá vel, nã o sendo capaz de acreditar no que Deus quer dela, nem
que ela tem ou terá por quê , mas sim que ela tem que ser odiada nã o só
por Ele, mas por todas as criaturas para sempre, iquei desapontado ao
ver em Sim você causa porque ela merece ser rejeitada de quem ela
tanto deseja e deseja. "
Os poderes també m sã o impedidos neste estado doloroso, porque a
alma nã o pode mais elevar o coraçã o e a mente a Deus como antes. Si
ora es "con tanta sequedad y sin jugo que le parece que no le oye Dios
ni hace caso de ella... A la verdad no es este tiempo de hablar con Dios,
sino de poner... su boca en el polvo. .., sufriendo con paciencia su
purgació n. Dios es el que anda haciendo su obra en el alma; por eso ella
no puede nada..., ni rezar ni asistir con mucha advertencia a las cosas
divinas puede, ni menos a las demá s cosas y tratos temporales. Ni tiene
só lo esto, sino tambié n muchas veces tales enajenamientos, y tan
profundos olvidos en la memoria, que se le pasan muchos ratos sin
saber lo que se hizo ni pensó , ni qué es lo que hace ni qué es lo que vá
fazer".
E isso acontece com ele, porque a memó ria també m deve ser puri icada
de todos os discursos e notı́cias. A alienaçã o e a frieza vê m da
lembrança ı́ntima em que a contemplaçã o absorve a alma com todos os
seus poderes e a abstrai de todo gosto pela criaçã o e de toda
imaginaçã o das criaturas. Isso dura mais ou menos tempo dependendo
da intensidade da contemplaçã o. Quanto mais pura e clara a luz divina
assalta a alma, mais ela escurece, esvazia e aniquila. “E deixando-a
assim vazia e na escuridã o a purga e ilumina o raio divino da
contemplaçã o”, sem que a alma se dê conta de que recebe esta luz
divina. Em vez disso, permanece na escuridã o, como o raio do sol, "que
embora esteja no meio da sala, se for puro e nã o tiver nada para onde
correr, nã o pode ser visto, mas com esta luz espiritual que a alma é
acusado de, quando tem o que reverberar, isto é , quando ele oferece
algo para entender a perfeiçã o espiritual ..., ou julgamento do que é
falso ou verdadeiro, entã o ele vê e entende muito mais claramente do
que antes nestas trevas. menos ele conhece a luz espiritual que possui,
para conhecer facilmente a imperfeiçã o que lhe é oferecida ”.
“Onde, porque esta luz espiritual é tã o simples, pura e geral, nã o
afetada ou particularizada por nenhum particular ..., a partir daqui é
que com grande generalidade e facilidade ela conhece e penetra na
alma qualquer coisa de cima ou de baixo que seja oferecida. O espiritual
penetra todas as coisas, até mesmo as profundezas de Deus (1Cor. 2,
10). E o Sá bio diz que toca em todos os lugares por sua pureza (Seiva. 7,
24): isto é , porque nã o se particulariza a nenhum inteligı́vel particular
ou afeiçã o. E esta é a propriedade do espı́rito purgado e aniquilado
sobre todos os hobbies e inteligê ncias particulares, que por nã o gostar
de nada ou compreender nada em particular, habitando em seu vazio,
escuridã o e escuridã o, abraça tudo com grande disposiçã o ".
Assim, entã o, esta noite feliz nã o tem outro propó sito em escurecer o
espı́rito senã o para "iluminar todas as coisas", e se ela o humilha e o
torna miserá vel, é apenas para exaltá -lo e levantá -lo, embora o
empobrece e oscila de toda posse e afeiçã o natural, é somente para que
possa se estender divinamente para desfrutar e saborear todas as
coisas acima e abaixo, estando com liberdade de espı́rito geral em tudo
”.
Visto que o entendimento natural é incapaz de captar a luz divina, ele
deve ser colocado nas trevas. "Qual escuridã o deve durar o tempo que
for necessá rio para expulsar e aniquilar o há bito que há muito está em
seu caminho de compreensã o." A destruiçã o do entendimento natural é
profunda, horrı́vel e dolorosa, "porque, conforme sã o sentidos na
substâ ncia profunda do espı́rito, parecem trevas substanciais".
A vontade també m deve ser puri icada e aniquilada a im de alcançar
aquele amor divino e espiritual mais elevado e puro por meio da uniã o
do amor que supera todas as inclinaçõ es, sentimentos e desejos da
vontade ", deixando-a seca e em angú stia tanto quanto for apropriado
segundo o há bito que tinha de gostos naturais, tanto pró ximos do
divino como do humano ”.
Para que “exaustos, esguios e excê ntricos no fogo desta negra
contemplaçã o de todo tipo de demô nio ..., tenham uma disposiçã o pura
e simples, e o paladar puri icado e saudá vel para sentir os toques
elevados e peregrinos do amor divino ... Porque para tal uniã o ... a alma
deve ser preenchida e dotada de uma certa magni icê ncia gloriosa na
comunicaçã o com Deus, que conté m em si inú meros bens e delı́cias que
excedem toda a abundâ ncia que a alma pode possuir naturalmente, por
ser tã o fraca e Naturalmente impuro nã o pode recebê -lo ... E
aconselhá vel que a alma seja colocada primeiro no vazio e na pobreza
de espı́rito ..., para que seja esvaziada, pobre de espı́rito e nua do velho
homem, para viver aquele novo e abençoado vida ..., que é o estado de
uniã o com Deus ... A alma tem que vir a ter um sentido divino muito
generoso e saboroso e uma notı́cia de todas as coisas divinas e
humanas ..., porque as olha com indiferença. olhos do que antes, como a
luz e a graça de l Espı́rito Santo de signi icado, e o divino do humano ".
Por esta razã o, també m deve ser liberada a memó ria, que deve
permanecer "com um sentido e temperamento interior de peregrinaçã o
e estranheza de todas as coisas, em que lhe parece que todas sã o
estranhas e de uma forma diferente do que costumavam ser. . " "Porque
nesta noite ele está tirando o espı́rito de seu sentimento comum e
comum das coisas, para trazê -lo ao sentido divino, que é estranho e
estranho em todos os sentidos humanos, tanto que parece à alma que
anda fora de si. Outras vezes pensa se é encantamento que tem ou
encantamento, e maravilha-se com as coisas que vê e ouve, que lhe
parecem muito estranhas e estranhas, sendo as mesmas que costumava
tratar ".
“Todas essas a liçõ es e expurgos do espı́rito para engendrá -lo na vida
espiritual ... a dona sofre, e com essas dores vem o espı́rito da saú de dar
à luz ... Mais disso, porque atravé s dessa Noite Contemplativa é
disponı́vel a alma para chegar à tranquilidade e à paz interior, que é tal
... que ... ultrapassa todos os sentidos (Fil. 4, 7), convé m à alma que toda
a primeira paz saia (que porque foi envolto de imperfeiçõ es nã o era
paz, embora lhe parecesse ... que era paz duas vezes. "
E é que ela adquiriu a paz do conhecimento sensı́vel e espiritual e se viu
no sentido e no espı́rito rodeado pela plenitude desta paz. Mas antes
disso, a alma teve que passar por uma limpeza. Essa paz teve que ser
tirada e destruı́da para experimentar o cumprimento dessa palavra:
"tirada e despedida é a minha alma de paz" (Thren 3, 17). A alma sofre
de muitos medos, lutas e imaginaçõ es. Tem a sensaçã o de estar perdido
para sempre. “A partir daqui é que uma dor e um gemido tã o profundos
entraram no espı́rito que provoca fortes rugidos e foles espirituais,
pronunciando-os à s vezes pela boca, e desmoronando em lá grimas,
quando há força e virtude para poder fazê -lo; embora nas menos vezes
haja esse alı́vio. " Como as avenidas das á guas, «assim este rugido e
sentimento da alma à s vezes crescem tanto, que afogando-o e
penetrando-o a tudo, o preenche de angú stias e dores espirituais todas
as suas profundas afeiçõ es e forças, sobretudo as que podem ser
tornou-se mais caro. Tal é o trabalho que faz desta noite um
encobrimento das esperanças da luz do dia ”.
També m a vontade é perfurada com dor, dú vidas e medos que nã o tê m
im. “Esta guerra e combate sã o profundos, porque a paz que espera
deve ser muito profunda; e a dor espiritual é ı́ntima e tê nue e
apressada, porque o amor que deve possuir també m deve ser muito
ı́ntimo e apressado. Porque quanto mais Intimo e cuidadoso e puro o
trabalho deve ser e permanecer, muito mais ı́ntimo, cuidadoso e puro o
trabalho deve ser ... E nem mais nem menos, porque a alma tem que vir
a possuir e gozar no estado de perfeiçã o, porque por meio de esta noite
purgativa ela caminha, de inú meros bens de dons e virtudes ", primeiro
deve-se ver claro ..." vazia e pobre deles; e parece-lhe que está tã o longe
deles que nã o pode ser persuadida de que ele nunca virá a eles. "
In lamação de amor e transformação

Na angú stia mortal da noite do espı́rito, as imperfeiçõ es da alma se


extinguiram, na maneira em que a madeira se liberta por meio do fogo
de toda umidade e uma vez seca pode ela mesma queimar
resplandecente. O fogo que aquece a alma ao puri icá -la e depois a faz
arder, é o amor. Assim se cumpre o que anunciava a segunda estrofe da
cançã o da noite: “com avidez em amores in lamados”. E um amor
apaixonado, no qual a alma permanece in lamada. More é uma igniçã o
no espı́rito e tã o diferente daquela que é excitada na parte sensı́vel
quanto a parte espiritual o é nos sentidos. E um amor infuso que se
manifesta mais como passivo do que ativo; “e este amor já tem algo de
uniã o com Deus; e assim participa algumas de suas propriedades”, isto
é , que na alma as açõ es “sã o mais açõ es de Deus do que da pró pria
alma, que estã o passivamente sujeitas a ela., embora o que a alma faça
aqui seja consentir, mas ao calor, à força, ao temperamento e à paixã o
do amor, ou à in lamaçã o ... só o amor de Deus que com ela se une se
manté m ".
A alma foi maravilhosamente preparada para a uniã o por meio da
puri icaçã o das trevas. Neste estado, "a alma tem que amar com grande
força todas as suas forças espirituais e sensı́veis e apetites da alma." E
uma forte in lamaçã o do amor, "onde Deus reuniu todas as forças,
poderes e apetites da alma, tanto espirituais como sensı́veis, para que
toda esta harmonia use as suas forças e virtudes neste amor, e assim
verdadeiramente venha a cumprir ele. primeiro preceito "(Deut.
6,5). Quando a alma se sente in lamada e ferida pelo amor de uma
maneira tã o estranha, e ainda está mergulhada nas trevas e na dú vida e
carente da bendita posse do amor, é despertada pelo anseio que com
todos os seus apetites a conduz a Deus. "Em todas as coisas e
pensamentos que ele desperta em si mesmo e em todos os negó cios e
casos que sã o oferecidos a ele, ele ama de muitas maneiras, e deseja e
sofre no desejo també m desta forma de muitas maneiras em todos os
tempos e lugares, nada de acalmar ". “Estreita toda esta alma, nã o cabe
em si mesma, nã o cabe no cé u nem na terra e se enche de dor até nas
trevas ..., que espiritualmente falando e para o nosso propó sito, é uma
dor e um sofrimento sem consolo , e até mesmo de alguma esperança
de algum bem espiritual e luminoso. "
A ansiedade e a dor crescem continuamente, por um lado, por causa da
escuridã o espiritual em que se encontra envolvida e, por outro, por
causa do amor de Deus que a in lama. No entanto, em meio a esse
tormento, ele sente em si mesmo uma força que vai diminuindo à
medida que o peso da escuridã o é retirado. Isso vem do fato de que essa
força da alma "foi ligada e passivamente comunicada do fogo escuro do
amor que carregava nela; portanto, ao deixar de atacá -la, a escuridã o e
a força e o calor do amor na alma cessam . "
A puri icaçã o da alma por meio deste fogo escuro, espiritual e amoroso
corresponde à puri icaçã o das almas na outra vida com o fogo escuro e
material. assim, a puri icaçã o do coraçã o é alcançada, que nada mais é
do que amor e graça divinos. E a Sabedoria Divina que nas trevas a
contemplaçã o puri ica e ilumina as almas. E a mesma Sabedoria que
liberta os anjos da ignorâ ncia. A mesma luz divina que ilumina os anjos,
começando pelas hierarquias mais altas das quais essa luz deriva para
as mais baixas e delas, por im, desce para os homens. Porque a luz
divina que ilumina o anjo, da maneira que corresponde a um espı́rito
puro preparado para esta in luê ncia, ilumina o homem impuro e fraco,
que naturalmente «deve recebê -la à sua maneira, muito limitada e
dolorosa. A luz de Deus que ilumina o anjo, iluminando-o e
amolecendo-o no amor, como um espı́rito puro pronto para tal infusã o,
ilumina naturalmente o homem porque ele é impuro e magro ... olho
doente, que o ilumina com paixã o e a liçã o), até este mesmo o fogo do
amor o espiritualiza e o re ina, puri icando-o, para que receba
suavemente a uniã o ”.
Este anseio de amor nem sempre, nem geralmente, é sentido no inı́cio
da puri icaçã o, mas depois que o fogo divino já o aqueceu por algum
tempo. Enquanto isso a compreensã o é iluminada por "esta teologia
mı́stica e amorosa ... tã o saborosa e divinamente, que ajudou ... a
vontade maravilhosamente, queimando nela, e sem fazer nada, este
fogo divino de amor em chamas vivas., Assim que a alma já parece ser
fogo vivo ... este acender de amor com a uniã o desses dois poderes ... é
uma coisa de grande riqueza e deleite para a alma. a perfeiçã o da uniã o
de amor que o espera ”. Nessas comunicaçõ es de graça pode acontecer
“amar a vontade sem compreender o entendimento; assim como o
entendimento pode compreender sem amar a vontade; porque esta
Noite Negra de contemplaçã o consiste na luz divina e no amor, assim
como o fogo tem luz e amor. calor, nã o é incô modo, que quando essa luz
amorosa é comunicada, à s vezes dó i mais a vontade, in lamando-a de
amor, deixando o entendimento no escuro sem feri-lo de luz; e outras
vezes, iluminando-o com luz, dando inteligê ncia , deixando a vontade
seca ..., e isso é feito pelo Senhor que infunde como quer ". Isso nã o está
sujeito à s leis da psicologia, porque "por via natural é impossı́vel amar
se você nã o entende primeiro o que ama; mas por via sobrenatural
Deus pode muito bem infundir amor e aumentá -lo, sem infundir ou
aumentar inteligê ncias diferentes. .., e essa experienciada é de muitos
espirituais ". E muitos "que nã o tê m um entendimento muito avançado
de Deus, tendem a se sobressair na vontade, e sã o apoiados pela fé
infundida pela ciê ncia do entendimento, por meio da qual Deus os
infunde com a caridade e a aumenta, e o ato dela, que é amar. mais,
mesmo que a notı́cia nã o seja ampliada ”.
O ú ltimo, é claro, nã o deve ser entendido como se a fé normalmente
apenas desperte o amor sem comunicar conhecimento. Ao contrá rio:
por si mesma, ela se dirige antes de tudo ao entendimento e lhe revela a
verdade divina. Mas isso acontece de forma oculta e nã o na forma do
conhecimento natural. Portanto, você nem sempre precisa colocar uma
certa verdade diante de seus olhos. A fé també m pode ser chamada de
ato de entrega à realidade a que se referem todas as verdades da fé , isto
é , a Deus, e de tal forma se pode entregar-se a Ele de forma que nã o se
pense Nele à luz de qualquer verdade de fé particular, mas antes
entrega-se a Ele, o Incompreensı́vel que conté m em si a substâ ncia de
todas as verdades da fé e está acima de todas elas na sua
incompreensã o, escuridã o e indeterminaçã o. Nesta entrega, a alma
sente-se como se fosse sustentada por este Deus escuro e
incompreensı́vel, e por isso esta contemplaçã o sombria, que o pró prio
Deus comunica à alma, é ao mesmo tempo luz e amor; é "confuso e
obscuro ao entendimento ... Que como no entendimento, esta notı́cia
que Deus o infunde é geral e obscura, sem distinçã o de inteligê ncia,
també m a vontade geralmente ama sem qualquer distinçã o de coisa
particular entendida".
"Mas à s vezes nesta comunicaçã o delicada Deus se comunica mais e dó i
mais em uma força do que na outra, porque à s vezes a inteligê ncia é
sentida mais do que o amor, e outras vezes mais o amor do que a
inteligê ncia, e à s vezes també m toda a inteligê ncia, sem nenhum amor,
e à s vezes todo amor sem nenhuma inteligê ncia ..., porque Deus pode
comunicar-se em um poder sem o outro, e assim pode in lamar a
vontade com o toque do calor do seu amor, mesmo que nã o
compreenda o entendimento; uma pessoa pode ser aquecida no fogo,
mesmo que nã o veja o fogo. "
Mas quando esse conhecimento secreto penetra na alma, "em meio a
essas trevas a alma se ilumina e a luz brilha nas trevas (Jo 1, 5) ... com
uma serenidade e simplicidade tã o tê nues e deliciosas ao sentido do
alma, que nã o se pode dar um nome a ela, ora de uma maneira de sentir
de Deus, ora de outra ”. O fato de que, apesar da puri icaçã o do
entendimento e da vontade ao mesmo tempo, é sentido pelo comum
antes neste ú ltimo como amor do que no entendimento, pois a notı́cia
se explica pela oposiçã o do amor como paixã o, e como uma ato livre da
vontade. Que "a in lamaçã o do amor é mais uma paixã o de amor do que
um ato livre da vontade, porque fere na substâ ncia da alma esse calor
do amor, e assim move os afetos de forma passiva. E assim antes se
chama paixã o de amor do que um ato de vontade livre; que na medida
em que é chamado um ato da vontade na medida em que é livre. Mas
porque essas paixõ es e afetos se reduzem à vontade, é por isso que se
diz que se a alma é apaixonada por qualquer afeto, a vontade é
apaixonada, e assim por diante. E a verdade, porque assim a vontade se
cativa e perde a liberdade, de modo que o ı́mpeto e a força da paixã o a
carregam; e é por isso que podemos dizer que essa in lamaçã o do amor
está na vontade, ou seja, in lama o apetite da vontade; e assim se
chamava anteriormente, como dizemos, paixã o de amor que atua livre
da vontade. E porque o receptivo paixã o do entendimento só pode
receber a inteligê ncia nua e passivamente (e isso nã o pode sem ser
purgado), entã o antes de eu ser, sinta a alma menos o toque da
inteligê ncia do que a paixã o do amor. Porque para isso nã o é necessá rio
que a vontade se puri ique tanto das paixõ es, pois até as paixõ es a
ajudam a sentir o amor apaixonado ”.
“Essa in lamaçã o e sede de amor, porque já está aqui do Espı́rito Santo,
é muito diferente da outra que falamos na Noite do Signi icado”. E
sentido no espı́rito, embora o sentido també m participe. Acontece,
assim, que o que a alma sente e o que é privado de causa tanto
tormento, que em comparaçã o toda a dor dos sentidos nada é , embora
també m esta seja muito maior do que na primeira Noite do
Sentido. "porque por dentro ele conhece a falta de um grande bem, que
com nada se pode remediar." Já no inı́cio desta Noite do Espı́rito,
quando “esta in lamaçã o do amor ainda nã o se fez sentir, porque este
fogo do amor nã o funcionou ..., Deus certamente dá à alma tamanha
estima por Deus que, como Nó s terá dito, tudo o que ele sofre e sente no
trabalho desta noite, é a vontade de pensar se ele perdeu Deus e de
pensar se ele icou para trá s ... Se entã o pudesse ser certi icado que nem
tudo está perdido e acabado , mas que o que acontece é para melhor ...,
e que Deus nã o está zangado, ele nã o teria nenhuma de todas essas
dores, antes icaria feliz sabendo que Deus usa isso, porque o amor de
estima que ele tem por Deus ..., que icaria muito feliz em morrer
muitas vezes para satisfazê -lo, mas quando a chama já in lama a alma,
junto com a estima que já tem de Deus, geralmente ganha tanta força e
vigor e tal saudade de Deus, comunicando-lhe o calor. de amor, que com
grande ousadia, sem olhar para nada ..., na força e embriaguez do amor
e desejo ... ele fará coisas estranhas e incomuns ... para poder encontrar
aquele que ama sua alma. "
Com os sofrimentos da Noite do Espı́rito "sua juventude se renova
como a á guia" (Ef 4:24). O entendimento humano, unido ao divino na
iluminaçã o sobrenatural, torna-se divino; e da mesma forma a vontade
em uniã o com a vontade divina, e o amor e memó ria divinos e apetites e
hobbies voltados para Deus sã o divinamente transformados. “E assim
esta alma será já a alma do cé u, celeste e mais divina do que humana”,
razã o pela qual a alma pode, ao olhar para a noite, exclamar: “O boa
sorte!”. Agora ela "saiu sem ser notada, sua casa já estava calma". Sua
casa, isto é , a maneira natural de trabalhar da alma, seus desejos e
afeiçõ es, todos os seus poderes. Estes sã o os servos que devem manter
a calma para nã o serem obstá culos no caminho do amor. Agora ela sabe
que estava "no escuro e com ciú mes".
Todos os erros vê m à alma "por causa de seus apetites ou gostos, ou sua
inteligê ncia ou seus hobbies ... A partir do qual todas essas operaçõ es e
movimentos sã o impedidos, é claro que a alma permanece certa de nã o
cometer erros neles porque nã o está apenas livre de si mesmo, mas
també m do ... do mundo e do diabo, que, uma vez que os hobbies e as
operaçõ es da alma tenham sido extintos, nã o pode fazer guerra contra
ele de outra forma ou de qualquer outra forma. " Agora seus apetites e
poderes nã o estã o mais perdidos em coisas inú teis e perigosas; e ela
sente "quã o certa ela está ... da alegria vã e falsa e de muitas outras
coisas ..."; e "indo no escuro, ela nã o só nã o está perdida, mas també m
muito ganha, porque aqui as virtudes estã o vencendo".
O fato de que esta noite escura tira o gosto da alma pelas coisas boas
vem do fato de que os poderes nã o puri icados da alma, mesmo as
coisas sobrenaturais, nã o podem recebê -los exceto de uma maneira
normal e natural ", porque desmamados e purgados e aniquilados .. .
eles perdem aquela maneira baixa e humana de trabalhar e receber,
sentir e saborear o divino e sobrenatural alto e alto, o que nã o pode ser
se o velho nã o morrer primeiro. Portanto, tudo o que é espiritual, se
nã o vier de cima, é comunicado pelo Pai das Luzes sobre o arbı́trio e
apetite humanos, embora o gosto e as faculdades do homem sejam mais
exercidos com Deus, e nã o importa o quanto pareçam gostar Dele, eles
nã o vã o gostar deles divina e espiritualmente, mas humana e
naturalmente, como gostam de outras coisas, porque os bens nã o vã o
do homem para Deus, mas vê m de Deus para o homem; e por isso há
muitas almas que encontram muito mais prazer em Deus e nas coisas
espirituais, e "pensarã o que isso é sobrenatural e espiritual e, por
acaso, nã o s Eles sã o mais do que atos e apetites naturais e humanos.
" Portanto, a alma deve considerar a aridez e as trevas como sinais
felizes de que Deus está ali para libertá -la de si mesma, tirando a
propriedade de suas mã os. "E verdade que a alma poderia ter
alcançado muito, mas nunca teria feito tal trabalho perfeito, como agora
que Deus pô s a mã o nele, porque o guia como um cego por um caminho
escuro, sem saber onde nem onde, mas é um caminho que, por mais
que a alma tenha andado, é jamais poderia tê -la encontrado ou
percorrido “pelos olhos e pelos pé s”. A alma avança muito, sem nem
mesmo suspeitar, antes de pensar que está perdida.
Porque ainda nã o conhece o novo estado e vê apenas “que se perde no
que sabia e gostava”. Só olhando para trá s ele sabe que está indo "no
escuro e com ciú mes". Era um caminho mais seguro porque era um
modo de sofrimento, "porque o caminho do sofrimento é mais seguro e
ainda mais proveitoso do que o de gozar e fazer ...; porque no
sofrimento Deus se somam forças, e no fazer e gozar a alma exerce suas
fraquezas e imperfeiçõ es. E ... porque no sofrimento as virtudes sã o
exercidas e ganhas e a alma é puri icada, e tornando-a mais sá bia e mais
cautelosa ... Mas, acima de tudo, a causa das trevas consiste na mesma
sabedoria sombria, "porque de tal forma o absorve e embebe em si
mesmo nesta noite escura da contemplaçã o, e o coloca tã o perto de
Deus, que o protege e o liberta de tudo o que nã o é Deus. Porque como
esta alma está sendo curada aqui, para que alcance a sua saú de, que é o
pró prio Deus, Sua Majestade a tem de regime e abstinê ncia de todas as
coisas, faltando o apetite para todas elas. "A alma está " no esconderijo
lugar de seu rosto escondido da confusã o dos homens "(Salmo 30, 30),
isto é , ele está com a contemplaçã o sombria fortalecido" contra todas as
ocasiõ es que da parte dos homens o sobrevê m ".
També m lhe dá segurança "a força que, naturalmente, esta á gua escura,
dolorosa e sombria de Deus põ e na alma. Que no inal, embora seja
escura, é á gua, e por isso nã o deve deixar de re letir e fortalecer a alma.
no que é melhor para ela ... Porque, é claro, a pró pria alma vê uma
verdadeira determinaçã o e e icá cia para nã o fazer o que entende ser
uma ofensa a Deus, nem para parar de fazer o que parece ser um
questã o de seu serviço. o amor sombrio adere-se a ele com um cuidado
muito vigilante e solicitude interior do que ele fará ou nã o por ele para
satisfazê -lo ... Aqui todas as forças e apetites e poderes da alma, à
medida que sã o reunidos de todas as outras coisas, use seu esforço e
força apenas como um presente de seu Deus. " Desse modo, a alma
emerge de si mesma e de todas as coisas criadas e caminha "no escuro e
com ciú me" em direçã o à uniã o doce e deliciosa "pela escala secreta
disfarçada".
A escala secreta

A escada secreta é a contemplaçã o sombria; segredo, enquanto teologia


mı́stica, que de maneira misteriosa se infunde na alma pelo amor. Como
isso acontece, “nã o só ela nã o entende, mas ningué m, nem mesmo o
pró prio demô nio. Porque o professor que a ensina está
substancialmente dentro da alma, onde o demô nio nã o pode alcançar,
nem o sentido natural, nem o entendimento. " E també m esta sabedoria
secreta e oculta por causa de seus efeitos: na escuridã o da situaçã o da
puri icaçã o como na iluminaçã o que se segue. A alma está incapacitada
"para discernir e dar-lhe um nome para dizê -lo, que mais do que
qualquer coisa que a alma quer dizer, nã o há maneira ou maneira, ou
sı́mile que se encaixe, para ser capaz de signi icar tã o alta inteligê ncia e
tã o delicado sentimento espiritual. Assim como aquele que viu uma
coisa nunca vista, cujo semelhante també m nunca viu ...; ele nã o saberia
como nomeá -la ou dizer o que é , mesmo que izesse mais, e isto sendo
algo que o percebeu com os seus sentidos, quanto menos, entã o, será
possı́vel manifestar o que nã o passou por eles? ”. Ali Deus fala na
intimidade da alma em puro espı́rito, anulando toda a capacidade dos
sentidos internos e externos e tornando-os mudos. Os sentidos nã o
entendem essa linguagem, nem conseguem traduzir, nem tê m vontade
de dizê -la.
A ciê ncia mı́stica també m é chamada de segredo, "porque ... tem a
propriedade de esconder a pró pria alma. As vezes, de tal forma absorve
a alma e a mergulha em um abismo secreto, que vê claramente que é
muito remota e muito remoto. de cada criatura; de modo que lhe parece
que a colocam em uma solidã o profunda e ampla, onde nenhuma
criatura humana pode alcançar, como um imenso deserto que em lugar
nenhum tem im, ainda mais delicioso, saboroso e amoroso, o mais
profundo, amplo e só , onde a alma é vista como secreta à medida que se
eleva acima de toda criatura temporá ria e tanto eleva e magni ica entã o
esse abismo da sabedoria para a alma, colocando-a nas veias da ciê ncia
do amor, que a torna saiba nã o apenas que está indo Todas as condiçõ es
da criatura sã o muito baixas sobre este supremo conhecimento e
sentimento divino, mas també m mostra quã o baixos e curtos e, de
alguma forma, impró prios, sã o todos os termos e palavras com os quais
nesta vida nó s Lidar com as coisas de ivinas, e como é impossı́vel à sua
maneira e de maneira natural ... poder conhecê -las e sentir como sã o
". Isso só pode ser ilustrado pela teologia mı́stica. "Como sã o coisas que
nã o se conhecem humanamente, você tem que caminhar até elas
humanamente sem saber e divinamente ignorando. Porque
misticamente falando ..., as coisas e as perfeiçõ es divinas nã o sã o
conhecidas ou entendidas como sã o, quando você as busca e exercita ,
mas sim quando os tiver encontrado e exercitado ". “Que esta
propriedade tenha os passos e passos que Deus está dando nas almas
que Ele quer levar para si, tornando-as grandes na uniã o de sua
sabedoria, que nã o sã o conhecidas”.
Na Cançã o da Noite, a contemplaçã o sombria é chamada de
escala; porque "assim como com a escada os bens e tesouros e coisas
que estã o nas fortalezas sã o escalados e escalados, també m por esta
contemplaçã o secreta, sem saber como, a alma sobe para escalar,
conhecer e possuir os bens e tesouros do cé u" . E mais: «à medida que
sobe os mesmos degraus que tem que subir, tem també m que descer, o
faz esta contemplaçã o secreta, essas mesmas comunicaçõ es que faz à
alma, que a eleva em Deus, humilde isso em si mesmo. Porque
comunicaçõ es de que realmente pertencem a Deus, esta propriedade
eles possuem, que ao mesmo tempo humilham e elevam a alma ”. Nesse
caminho, a alma experimenta muitos altos e baixos. Depois da
prosperidade ", segue-se alguma tempestade e trabalho; tanto que
parece que deram a ele aquela bonança para evitá -la e forçá -la para as
pró ximas adversidades; como també m apó s a misé ria e a tempestade, a
abundâ ncia e a prosperidade seguem. Assim parece à alma que para
torná -lo aquele partido, eles o colocaram em primeiro lugar naquela
vigı́lia. E este é o estilo comum e o exercı́cio do estado de contemplaçã o
..., que nunca permanece em um estado, mas está todo subindo e
descendo. A causa de isto é que, como o estado de perfeiçã o, que
consiste no amor perfeito a Deus e no desprezo por si mesmo, só pode
ser com essas duas partes, que sã o o conhecimento de Deus e de si
mesmo, e necessariamente a alma deve ser exercida primeiro em uma e
na outra, agora dando-lhe a gostar de uma ampliando-a, e fazendo-a
experimentar a outra humilhando-a, até que, tendo adquirido os
há bitos perfeitos, cessa a subida e a descida, já havendo chegado e
unido a Deus , que está no inal desta escala em quem a escada se
aproxima e se levanta ".
Mas a principal razã o por que esta contemplaçã o da escala de chamas é
porque é "ciê ncia do amor, que é infundida notı́cia de amar a Deus, e
que juntos ilumina e encanta a alma, até que ela se eleva de grau em
grau a Deus seu criador. Porque somente o amor é o que une e une a
alma a Deus ”.
Os graus desta escala (com Sã o Bernardo e Sã o Tomá s) serã o
diferenciados por seus efeitos; “porque conhecê -los em si, porque esta
escala do amor é ... tã o secreta, que só Deus é quem a mede e pesa, nã o
é possı́vel por meios naturais”.
“O primeiro grau de amor faz com que a alma ique vantajosa ... mas
esta doença nã o é a morte, mas para a gló ria de Deus, porque nesta
doença a alma desfalece para o pecado e para todas as coisas que nã o
sã o de Deus, por meio do pró prio Deus. .. ".
“O segundo grau faz com que a alma busque incessantemente por Deus
... Aqui neste grau a alma caminha tã o solı́cita, que em todas as coisas
busca o amado; em tudo pensa, entã o pensa no amado; assim que fala ,
em todos os negó cios sã o oferecidos, entã o é para tentar falar sobre a
pessoa amada ... ”.
“O terceiro grau da escala do amor é aquele que faz a alma trabalhar e
lhe dá calor para nã o faltar ... Nesse grau as grandes obras para o amado
sã o pequenas, as muitas para poucos, o longo tempo que serve ele em
suma, por causa do fogo do amor em que já está queimando ... Sua alma
está aqui, por causa do grande amor que ele tem por Deus, grandes
dores e tristezas pelo pouco que ele faz por Deus; e se fosse lı́cito a ele
se livrar mil vezes Ele seria consolado. Por isso se considera inú til em
tudo o que faz, e parece-lhe que vive para nada. E daı́ tem outro efeito
admirá vel, que é aquele ele se considera mais mau para si mesmo do
que todas as outras almas ..., porque o amor lhe ensina o que Deus
merece ... Porque como as obras que ele faz aqui para Deus sã o muitas,
e ele as conhece pelas faltas e imperfeitas, ele atrai confusã o e tristeza
de todos, conhecendo uma maneira tã o baixa de agir a um Senhor tã o
elevado ... ".
“O quarto grau ... causa na alma, em razã o do amado, um sofrimento
comum sem cansaço ... O espı́rito aqui tem tanta força, que está tã o
sujeito à carne e tem tã o pouco quanto a á rvore a um De modo algum
aqui a alma busca seu consolo ou prazer, nem em Deus nem em
qualquer outra coisa, nem anda desejando ou ingindo pedir
misericó rdia a Deus, porque vê claramente que eles já se cansaram
dela, e isso tem todo o cuidado em como você será capaz de agradar a
Deus e servi-lo por aquilo que Ele merece e recebeu Dele, mesmo que
fosse muito à s suas custas ... Este grau de amor é muito elevado; porque
como aqui a alma com tanto amor verdadeiro caminha sempre apó s
Deus com espı́rito de sofrimento por Ele, dá a Sua Majestade muitas
vezes ... para gozar, visitando-a no espı́rito saborosa e deliciosamente,
porque o imenso amor da Palavra de Cristo nã o pode sofrer dor seu
amante sem ir a Ele ... ".
“O quinto grau ... faz a alma ansiar por Deus com impaciê ncia. Neste
grau o amante está tã o ansioso para apreender o amado e se unir a ele,
que qualquer demora, por menor que seja, torna-se muito longa, chata
e pesada e sempre pensa que encontra o ente querido ... Nesse grau o
amante nã o pode deixar de ver o que ama, nem morre ”.
“A sexta sé rie faz a alma correr levemente para Deus e dar muitos
toques nela. E sem desmaiar corre para a esperança; que aqui o amor
que a fortaleceu, a faz voar levemente”. A leveza que aqui se comunica à
alma vem do fato de que ela é longeva na caridade e sua puri icaçã o de
todas as coisas é quase perfeita.
Entã o ele chega à sé tima sé rie mais cedo. Neste amor "faz a alma ousar
com veemê ncia, aqui o amor nã o tira proveito do julgamento para
esperar, nem usa de conselho para se afastar, nem pode se conter com
vergonha ... Eles obtê m de Deus o que de bom grado lhe pedem. . ..
". “Desta ousadia e mã o que Deus dá à alma neste sé timo grau, para
desa iar a Deus com veemê ncia de amor, segue o oitavo, que é torná -la
presa do amado e unir-se a Ele. Encontrei aquele que me ama coraçã o e
mais, tenha-o e nã o o deixarei ir ”(Ct 4, 3). "Nesse grau de uniã o a alma
satisfaz seu desejo, mas nã o continuamente, porque alguns conseguem
botar o pé no chã o e depois tirar de novo; que se ... durassem nesse
grau, teriam um certo caminho de gló ria nesta vida ... ".
O nono grau de amor "é o dos perfeitos, que já queimam suavemente
em Deus. Porque esta queima suave e deliciosa é causada pelo Espı́rito
Santo em razã o da uniã o que eles tê m com Deus ... Dos bens e riquezas
de Nã o se pode falar de Deus que a alma desfruta até este ponto;
porque se muitos livros fossem escritos sobre eles, haveria muito a
dizer ... ”.
"O dé cimo e ú ltimo grau desta escala secreta de amor nã o pertence
mais a esta vida." “Faz a alma assimilar totalmente a Deus, por causa da
visã o clara de Deus que entã o imediatamente possui a alma, que tendo
alcançado o nono grau nesta vida, sai da carne. O amor é extremamente
puri icado, eles nã o entram purgató rio. De onde diz Sã o Mateus: Beati
mundo corde; quoniam ipsi Deum videbunt (cap. 5, 8) ... Esta visã o é a
causa da total semelhança da alma com Deus. Nã o porque a alma se
tornará tã o capaz como Deus, porque isso é impossı́vel, mas porque
tudo o que é se tornará semelhante a Deus; por isso é chamado, e será ,
Deus por participaçã o ...; mas neste ú ltimo grau de visã o clara, que é o
ú ltimo da escala onde Deus repousa, como já dissemos, nã o há mais
nada para a alma oculta ... Mas até hoje, mesmo que a alma suprema vá ,
permanece algo oculto e, portanto, quanto falta para a assimilaçã o total
com a essê ncia divina. Desta forma, atravé s desta teologia mı́stica e
amor secreto o alma saindo de todas as coisas e fora de si mesma, e
subindo para Deus. Porque o amor é semelhante ao fogo, que sempre
sobe para cima, com apetite de engolfar-se no centro de sua esfera. "
O vestido tricolor da alma
A alma, como já foi dito, saiu disfarçada pela balança secreta. Disfarçar
signi ica esconder seu pró prio vestido e sua pró pria igura sob um
diferente e isso é feito "para ganhar a graça e a vontade de quem quer
bem; agora també m se esconder de seus emuli, e assim ser capaz de
fazer melhor o seu E entã o aqueles trajes e libré s que mais representam
e signi icam o amor de seu coraçã o, e com o que ele pode esconder de
seus adversá rios ... A alma, entã o, aqui tocada pelo amor do Esposo
Cristo .. ., sai disfarçado com aquele disfarce que a maioria ao vivo
representa os hobbies do seu espı́rito e com o qual você se afasta com
mais segurança dos seus adversá rios ...; diabo, mundo e carne ".
Por isso tem em sua libré trê s cores fundamentais: branco, verde e
vermelho, sı́mbolo das trê s virtudes teoló gicas. Com eles a alma ganha a
satisfaçã o de sua amada e caminha completamente a salvo de seus trê s
inimigos. "Porque a fé é um manto interior de uma brancura tã o
elevada que desintegra a visã o de todo o entendimento. E assim, à
medida que a alma vai revestida de fé , o diabo nã o vê nem consegue
iniciá -la." Nenhuma vestimenta melhor pode ser dada do que o branco
deslumbrante da fé , o fundamento para as outras virtudes, se a
benevolê ncia do Bem-amado for conquistada e a uniã o alcançada. Este
deslumbrante vestido branco de fé carrega a alma para fora da noite,
enquanto ela caminha entre as trevas e as tensõ es internas da noite
escura. Ela nã o é tranquilizada por nenhum conhecimento natural, nem
por qualquer iluminaçã o sobrenatural, porque o cé u parece fechado
para ela; mas "ele sofreu constantemente e perseverou, passando por
aqueles sem desmaiar e sentindo falta do Amado".
Nesta tú nica branca de fé , a alma usa o corpete verde da esperança. Em
virtude desta virtude "a alma se liberta e se protege do segundo
inimigo, que é o mundo. Porque este vegetal da esperança viva em Deus
dá à alma tanta vivacidade e animosidade e elevaçã o para as coisas da
vida eterna, que em comparaçã o Pelo que ele espera lá , tudo no mundo
lhe parece (como é a verdade) seco e lá cido e morto e sem valor, nada
esperando do que está ou deveria estar nele, vivendo apenas vestido na
esperança da vida eterna. Por esta razã o, tendo seu coraçã o tã o elevado
do mundo, ele nã o só nã o pode tocar e agarrar o coraçã o, mas nã o
alcançá -lo à vista. E assim, com este uniforme verde e disfarce a alma
está muito segura deste segundo inimigo, que é o mundo, e "é o
trabalho comum que dá esperança na alma, levantando os olhos apenas
para olhar para Deus", entã o Quem espera o bem de lugar nenhum.
Neste vestido o Amado se agrada a tal ponto. nto que ele alcança
enquanto ele espera. Sem este uniforme de esperança, nada será
alcançado "porque o que move e vence é a esperança obstinada".
“No branco e no verde, para o acabamento e perfeiçã o desta libré , a
alma traz aqui a terceira cor, que é uma excelente toga vermelha”
sı́mbolo do amor. Por meio dela "nã o só o terceiro inimigo, que é a
carne, é protegido e escondido (porque onde nã o há verdadeiro amor
de Deus, nã o entra o amor de si mesmo ou de suas coisas); mas ainda
torna vá lidas as outras virtudes, dando eles vigor e força, para proteger
a alma, e graça e graça para agradar ao Amado com eles, porque sem a
caridade nenhuma virtude é graciosa diante de Deus ”.
Esta é a vestimenta com a qual a alma, na noite da fé , se eleva a Deus. A
fé , a esperança e o amor fornecem a você a preparaçã o adequada para o
casamento. “Porque a fé esvazia e obscurece a compreensã o de toda a
sua inteligê ncia natural, e com isso ela se dispõ e a uni-la à sabedoria
divina. E a esperança esvazia e remove a memó ria de todas as posses da
criatura ..., e a põ e no que a espera ... A caridade, nem mais nem menos,
esvazia os passatempos e os apetites da vontade de tudo o que nã o é
Deus, e só os coloca nEle ... E assim porque essas virtudes tê m a funçã o
de separar a alma de tudo o que é menos que Deus , conseqü entemente
eles tê m que unir com Deus ". Sem o naipe dessas trê s virtudes “é
impossı́vel alcançar a perfeiçã o do amor com Deus ... E també m
conseguir vestir-se e perseverar com ele até que alcançasse a pretensã o
e um im desejado como era a uniã o do amor, era um boa sorte ".
Agora está claro como foi uma grande sorte para a alma ter realizado
uma obra tã o grande; ele se libertou do diabo, do mundo e de sua
pró pria sensibilidade, e ganhou a preciosa liberdade do espı́rito, mudou
de uma alma terrena para uma alma celestial e tornou sua vida divina.
No escuro e escondido em profunda paz
També m foi uma alegria que a alma pudesse sair "no escuro e com
ciú mes." No escuro ela anda mais segura, livrando-se dos planos e
armadilhas mais astutos do demô nio. Como a contemplaçã o infusa foi
comunicada a ele secretamente e sem sua cooperaçã o, todos os poderes
da parte sensı́vel permanecem nas trevas. O demô nio nã o pode
penetrar ou saber "o que está na asa e o que acontece nela. Portanto,
quando a comunicaçã o é mais espiritual, interior e distante dos
sentidos, menos o demô nio chega para compreendê -la. E assim é ."
Muito o que interessa para a segurança da alma, que o interior trate
com Deus seja de tal forma, que os pró prios sentidos da parte interior
iquem na escuridã o e jejuem por ela e nã o a alcancem ..., porque há um
lugar para a comunicaçã o espiritual seja mais abundante, a fraqueza da
parte sensı́vel nã o impede a liberdade do espı́rito ”. Desta forma, você
estará seguro contra o mau inimigo.
O que acontece na parte superior da alma deve passar despercebido:
"seja só segredo entre o espı́rito e Deus". As vezes o diabo pode deduzir
as comunicaçõ es internas e espirituais que ocorrem na alma "pela
grande pausa e silê ncio que algumas delas causam nos sentidos e
poderes da parte sensı́vel. Por aqui ele vê que existem, e que recebe a
alma algum bem grande. E entã o, ao ver que nã o consegue contradizê -
los no fundo da alma, faz o possı́vel para perturbar e perturbar a parte
sensı́vel, que é onde ela atinge, agora com dores, agora com horrores e
medos, com a intençã o de perturbar e perturbar por este meio a parte
superior e espiritual da alma, sobre aquele bem que entã o recebe e
desfruta. Mas muitas vezes quando a comunicaçã o de tal contemplaçã o
tem seu puro ataque no espı́rito e nele faz força, O diabo se aproveita de
sua diligê ncia, para retaliar, antes que a alma receba novo benefı́cio e
amor e uma paz mais segura, pois em sentir a presença perturbadora
do inimigo, uma coisa admirá vel! sem fazer nada de sua parte, ela se
aprofunda nas profundezas interiores, sentindo-se muito bem que está
se colocando em um certo refú gio, onde se vê mais distante e escondida
do inimigo ... E entã o todo esse medo cai do lá fora, sentindo-o com
clareza e divertindo-se ao ver-se tã o seguramente desfrutando daquela
paz tranquila e do sabor do marido escondido, que nem o mundo nem o
demô nio podem dar ou tirar ”.
“Outras vezes, quando a comunicaçã o espiritual nã o se comunica muito
com o espı́rito, mas participa dos sentidos, o diabo consegue mais
facilmente perturbar o espı́rito e perturbá -lo pelos sentidos com esses
horrores. E aı́ o tormento e a dor sã o grandes. causa no espı́rito, e à s
vezes mais do que se pode dizer; porque como vai de espı́rito em
espı́rito nua, o horror causado pelo mal no bem é intolerá vel, digo na
menina, quando seu alvoroço a atinge ... Outras vezes acontece, quando
é atravé s do anjo bom, que à s vezes o diabo vê alguns favores que Deus
quer fazer à alma, porque aqueles que sã o atravé s do anjo bom,
normalmente Deus permite que o adversá rio os compreenda; um par
para fazer contra eles o que puder, de acordo com a proporçã o da
justiça, e assim o diabo nã o pode reclamar o seu direito, dizendo que
eles nã o lhe dã o espaço para conquistar a alma ...; o que seria se ele nã o
o deixasse Deus colocar você teria A certa paridade nos dois guerreiros,
convé m saber, o anjo bom e o mau, sobre a alma, e assim a vitó ria de
qualquer um é mais estimada e a alma vitoriosa e iel na tentaçã o é
mais recompensada. Esta é a causa porque ... Deus ... dá licença ao diabo
para que da mesma forma ele possa estar com a alma ”.
Se visõ es verdadeiras sã o comunicadas a ele por meio do anjo bom, o
espı́rito maligno també m pode representar falso e tã o semelhante aos
verdadeiros que a alma pode ser facilmente enganada. Ele també m
pode imitar as comunicaçõ es espirituais que sã o transmitidas a ele por
meio do anjo bom. Mas você nã o pode fazer isso com comunicaçõ es
espirituais que nã o tê m forma ou formato. “E assim desa iá -lo, da
mesma forma que a alma é visitada, seu espı́rito medroso a representa,
desa iar e destruir o espiritual com o espiritual. Quando isso acontecer
ao mesmo tempo que o anjo bom vai comunicar a contemplaçã o
espiritual ao alma, a alma a se colocar tã o rapidamente no oculto e
oculto da contemplaçã o, que nã o é percebida pelo demô nio e a avista
com certo horror e perturbaçã o espiritual, à s vezes muito dolorosa para
a alma. E entã o à s vezes a alma pode dispensa rapidamente, sem que
haja lugar para lhe impressionar o dito horror do espı́rito maligno; e ela
se reú ne favorecida por isso da misericó rdia efetiva que o anjo bom
entã o a faz ".
"Outras vezes o diabo prevalece e compreende a confusã o e o horror,
que é para a alma de maior tristeza do que qualquer tormento desta
vida poderia ser, porque como esta horrenda comunicaçã o vai de
espı́rito para espı́rito um tanto nua e claramente de tudo o que é corpo,
dó i sobretudo o sentido ... Tudo isso de que estamos falando aqui
acontece passivamente na alma, sem fazer parte do fazer ou desfazer
”. Os horrores do passado a prepararam grandemente para recebê -lo,
"para puri icá -la e prepará -la com esta vigı́lia espiritual para alguma
grande festa espiritual e misericordiosa ... De acordo com a escura e
horrı́vel purgaçã o que sofreu, ela goza de admirá vel e saborosa
contemplaçã o espiritual, à s vezes tã o alto que nã o há linguagem para
isso ..., porque essas visõ es espirituais sã o mais da outra vida do que
desta, e quando uma se vê , está pronta para outra ”. Isso só se aplica à s
graças que sã o comunicadas por meio de anjos. Mas quando é o pró prio
Deus que visita a alma, ele permanece completamente "nas trevas e
cera", porque "como Sua Majestade habita essencialmente na alma,
onde nem o anjo nem o demô nio podem entender o que está
acontecendo, eles nã o podem conhecer o ı́ntimo e comunicaçõ es
secretas que ali passam entre ela e Deus. Estes ... sã o totalmente divinos
e soberanos, porque todos sã o toques substanciais da uniã o divina
entre a alma e Deus; em um dos quais, como este é o mais alto grau de
oraçã o, existe , recebe bem a alma maior do que em todas as demais ... ”.
Por isso "a alma estima e cobiça um toque desta divindade mais do que
todos os favores que Deus lhe dá ... Quando acontece que esses favores
sã o feitos na alma depilada, que é apenas, como teremos dito, em
espı́rito, em alguns deles a alma tende a ver-se sem saber como é , tã o
remota e distante segundo a parte superior da parte inferior e sensı́vel,
que conhece em si duas partes tã o diferentes uma da outra, que parece
nã o ter nada a ver um com o outro, parecendo-lhe que é muito remoto e
distante de um. E na verdade, de certa forma é ; porque de acordo com a
operaçã o que entã o funciona, que é tudo espiritual, nã o se comunica na
parte sensı́vel. a alma está se tornando tudo espiritual; e nesse
esconderijo da contemplaçã o unitiva, pelos seus termos, acaba
afastando em grande parte as paixõ es e os apetites espirituais ”. E isso
move a alma a cantar referindo-se à sua parte espiritual: “minha casa
icando tranquila”.
Com isso ele quer dizer: "a parte superior de minha alma já també m
como a inferior se acalma de acordo com seus apetites e poderes, eu saı́
na uniã o divina do amor de Deus." Tanto a parte sensı́vel quanto a
espiritual foram atacadas na Noite Escura e ambas devem ser colocadas
em paz e tranquilidade com todos os seus poderes e paixõ es. Portanto,
repita este versı́culo duas vezes. “Esta paz e sossego daquela casa
espiritual chega a atingir a alma, habitualmente e perfeitamente
(conforme esta condiçã o de vida ela sofre), por meio de atos, tã o
substanciais, de uniã o divina”. Por meio deles a alma foi puri icada,
acalmada e fortalecida para alcançar aquela uniã o ", que é o noivado
divino entre a alma e o Filho de Deus. A qual, depois que essas duas
casas da alma apenas se acalmaram e se fortaleceram em uma com
todos seus poderes e apetites domé sticos, colocando-os no sono e no
silê ncio sobre todas as coisas acima e abaixo, imediatamente esta
sabedoria divina se une na alma com um novo nó de posse de amor ...
Ela nã o pode chegar a esta uniã o sem grande pureza ... Aquele que se
recusa a sair à noite já disse para procurar o ente querido, e ser
despojado de sua vontade, e icar morti icado, mas em vez disso o busca
em sua cama e acomodaçã o ... encontre-o ”.
Na noite feliz a alma foi agraciada com a contemplaçã o serena e
sombria que para a parte sensı́vel é tã o estranha e incompreensı́vel que
nenhuma criatura pode entrar em contato com ela e desviá -la do
caminho da uniã o do amor. Atravé s da escuridã o espiritual desta noite,
todos os poderes superiores sã o deixados nas trevas. Desta forma, ele
nã o pode saber nada, nem lhe é oferecido nada fora de Deus que lhe foi
dado alcançar. Está livre de todas as formas, imagens e notı́cias que
podem ser um obstá culo à uniã o com Deus. Nã o pode mais contar com
nenhuma iluminaçã o do entendimento nem com nenhum guia ou
diretor para encontrar conforto e satisfaçã o, "porque só o amor que
arde neste momento, solicitando o coraçã o pelo amado, é aquele que
move e guia a alma entã o , e Ele a faz voar seu Deus pelo caminho da
solidã o, sem ela saber como ou de que maneira. "
Aqui, o tratado da Noite Escura termina abruptamente. Das oito
estrofes da mú sica, apenas duas foram explicadas. Esta explicaçã o tem
um duplo signi icado para nó s: ela nos dá informaçõ es mais extensas
sobre a substâ ncia do espı́rito e nos mostra que a contemplaçã o
sombria é tanto morte quanto ressurreiçã o para uma nova vida. Mas
nem aqui nem na Subida há uma exposiçã o e esclarecimento para
explicar em que consiste esta nova vida.

b) A alma no reino do espírito e espíritos: Estrutura da


alma. Espírito de Deus e espíritos criados

A alma é encontrada, como espı́rito, no reino do espı́rito e dos


espı́ritos. E constituı́do com sua pró pria peculiaridade individual; Nã o é
apenas uma forma viva de um corpo, um elemento interior de algo
externo, mas ela mesma carrega a oposiçã o entre algo interno e
externo. A alma está propriamente em casa quando está em sua parte
mais ı́ntima, na substâ ncia ou nas profundezas de seu ser. Por meio da
atividade de seus poderes, ele sai de si mesmo para encontrar o mundo
exterior, em uma atividade puramente sensı́vel que está abaixo de si
mesmo. Esta em busca de que sai a alma, introduz-a em si mesma e
permanece cativada por ela; determina-a em sua açã o e paixã o e, em
certo sentido, limita sua liberdade. Ele nã o pode penetrar em sua
privacidade, mas pode mantê -la longe dela. Em sua elevaçã o a Deus, a
alma se eleva ou se eleva acima de si mesma, e somente quando isso
acontece é que penetra adequadamente em seu interior. Isso pode
parecer um paradoxo; no entanto, responde à realidade e se baseia na
relaçã o que existe entre o reino do espı́rito e Deus.
Deus é puro espı́rito e o protó tipo de todos os seres espirituais. Por
isso, só a partir de Deus se pode compreender bem o que é um espı́rito,
isto é , que é um misté rio que nos atrai continuamente, porque é o
misté rio do nosso pró prio ser. Temos certo acesso a ele, porque nosso
pró prio ser també m é espiritual. E todos os seres podem nos conduzir a
isso, pois todos possuem algo espiritual, na medida em que podem ser
conhecidos e compreendidos pelo espı́rito. Mas é descoberto mais
profundamente na proporçã o do nosso conhecimento de Deus, sem
nunca ser totalmente desvendado, isto é , sem deixar de ser um
misté rio.
O espı́rito de Deus é perfeitamente compreensı́vel para si mesmo e
pode dispor-se livremente (no in inito que envolve o ser que é ); ele sai
livremente de si mesmo enquanto permanece em si mesmo. Ele tira
todos os seres de si mesmo, os compreende, os penetra e os domina. O
espı́rito criado é apenas uma imagem limitada de Deus em todos os
seus aspectos; como imagem, semelhante a Deus, como limitada,
contrá ria a Ele; tem mais ou menos capacidade para a capacidade
receptiva de Deus, que é a sua forma mais elevada que implica a
possibilidade de uma uniã o com Deus atravé s de uma entrega livre e
mú tua.
Falamos de um reino do espı́rito e dos espı́ritos, porque todos os
espı́ritos tê m pelo menos a possibilidade de se relacionar e fazem parte
de um todo. Chamamos-lhe reino do espı́rito porque o espı́rito abrange
mais do que todos os espı́ritos, ou seja, tudo o que é espiritual, no qual
de certa forma tudo o que existe é compreendido. Acrescentamos
"espı́ritos", porque neste reino os espı́ritos, ou seja, as substâ ncias com
entidade pessoal e espiritual, desempenham um papel muito
importante.
No topo deste reino está Deus que ultrapassa in initamente tudo o que
é espiritual e todos os espı́ritos. Um espı́rito criado nã o pode ascender a
Ele, exceto se elevando acima de si mesmo. Mais porque Deus dá o ser e
o preserva a todos os seres, Deus é o fundamento que sustenta a
todos. Aquele que sobe para Ele, desce ao mesmo tempo para o seu
centro de gravidade mais seguro.
Comunicação da alma com Deus e com os espíritos criados

O Santo chama Deus de centro da alma, usando uma imagem espacial


tirada das ciê ncias naturais, como eram em seu tempo. De acordo com
eles, os corpos sã o atraı́dos com todas as suas forças para o centro da
terra como para o ponto de sua maior atraçã o. Uma pedra estaria de
certo modo no seu centro no interior da terra, mas nã o estaria apenas
no seu centro mais profundo, porque ainda tem a faculdade, a força e a
inclinaçã o para cair mais profundamente enquanto nã o está no centro
da Terra. Terra.
Assim, també m a alma encontra seu ú ltimo e mais profundo centro em
Deus "quando com todas as suas forças compreende, ama e desfruta de
Deus". Isso nunca acontece perfeitamente nesta vida. Por mais que com
a graça divina você já esteja no seu centro, este nã o é o centro mais
profundo, porque você sempre pode ir mais fundo em Deus, pois a força
que o empurra para Deus é o amor e esta sempre pode atingir um grau
maior. nó s vivemos na terra. Quanto mais alto é esse grau, mais
profundamente ele está ancorado na alma e mais intimamente a alma é
agarrada por Deus. A alma sobe a Deus, ou seja, atinge a uniã o com Ele
nos graus da escala do amor. Quanto mais se eleva para Deus, mais
profundamente cai em si mesmo, porque a uniã o com Deus se realiza
no interior da alma, no seu seio mais profundo. Isso pode parecer
paradoxal; Mas, para compreendê -lo, é necessá rio ter em mente que
sã o imagens espaciais, que se esclarecem mutuamente e servem para
expressar algo que está fora do espaço e que nã o pode ser representado
por nada que esteja no â mbito da experiê ncia natural.
Deus mora nas profundezas da alma e nada do que está nela está oculto
dele. Pelo contrá rio, nenhum espı́rito criado pode entrar neste jardim
fechado e nem mesmo penetrá -lo com o olhar. Por espı́ritos criados,
queremos dizer espı́ritos bons e maus (també m chamados de espı́ritos
puros porque nã o tê m corpo) e almas humanas. Pouco é o que
encontramos na doutrina da Santa a respeito da comunicaçã o das
almas entre si. Existe apenas uma relaçã o humana que trata de
qualquer prisã o: a das almas espirituais com seu diretor. Mas nã o tem
interesse em apontar os meios pelos quais essa comunicaçã o se
estabelece. Só uma vez ele adverte que o homem, a quem foi concedida
a graça da discriçã o dos espı́ritos, pode saber por pequenas pistas
externas o que está acontecendo dentro dos outros. Aı́ se indica o
caminho normal que leva ao conhecimento da alma alheia, partindo das
manifestaçõ es sensı́veis de sua vida da alma, penetrando tã o
profundamente quanto lhe permite sua abertura ı́ntima. Porque
quando esses surtos do mais ı́ntimo da alma saem, em gestos,
interjeiçõ es e palavras, bem como em ocasiõ es e atos, eles carregam
consigo algo que começa de dentro, querendo ou nã o, consciente ou
inconscientemente, e que atravé s deles é se manifesta. Portanto, nã o
pode ser nada bem de inido, nada que seja entendido com certeza e
distintamente, e se se manifesta apenas por meios naturais e nã o é
acompanhado pela iluminaçã o divina, permanece bastante secreto e
misterioso. E quando o interior está fechado, nenhum olhar humano
pode penetrá -lo.
A alma nã o é apenas em relaçã o aos seus semelhantes, mas també m aos
espı́ritos puros criados, maus e bons. Sã o Joã o da Cruz a irma, seguindo
o Areopagita, que as iluminaçõ es divinas sã o comunicadas ao homem
por meio dos anjos. E verdade que para ele a descida da graça divina
por todos os graus da Hierarquia Celestial nã o é o ú nico meio de
comunicaçã o. Ele conhece uma uniã o imediata de Deus com a alma e é
justamente para onde quer conduzir as almas. O Santo dá mais
importâ ncia à s artimanhas do diabo do que à açã o dos anjos. Ele
continuamente vê demô nios pairando ao redor das almas para desviá -
las do caminho de Deus. Que possibilidades de comunicaçã o existem
entre almas e espı́ritos puros ou incorpó reos? També m aqui existe uma
forma possı́vel de comunicaçã o por meio de formas corporais e outras
manifestaçõ es sensı́veis. E isso porque os Espı́ritos puros tê m o poder
de se entender com os homens, aparecendo em formas visı́veis ou se
dando a conhecer por meio de palavras perceptı́veis ao ouvido. Mas
este é um caminho perigoso e exposto a muitos enganos e erros. O que
nada mais é do que um engano dos sentidos ou criaçã o de fantasia pode
ser atribuı́do à s aparê ncias dos espı́ritos; o demô nio pode aparecer
vestido com um anjo de luz para enganar mais facilmente. E, ao
contrá rio, a alma també m pode, por medo de tais enganos, rejeitar as
verdadeiras apariçõ es celestes como engano do diabo ou dos sentidos.
Por outro lado, as manifestaçõ es sensı́veis podem servir aos espı́ritos
puros de meios para penetrar no interior da alma. As narrativas nos
livros de Jó e Tobias só podem ser explicadas admitindo-se que o diabo
e o anjo observam e zelam pela conduta externa dos homens. E uma
doutrina da fé que os anjos conhecem o mundo sensı́vel e, portanto,
també m o exterior do homem, visto que isso se pressupõ e no serviço
que, segundo a fé , prestam ao homem.
O fato de os sentidos externos nã o serem necessá rios para isso é prova
de que, alé m desse tipo de conhecimento sensı́vel, existem outras
possibilidades de se conhecer a natureza corporal, de que existe “um
conhecimento do sensı́vel sem os sentidos”. Nã o é nossa intençã o
investigar essas possibilidades aqui. Mas, em todo caso, o exterior nã o é
a ú nica forma de penetrar na vida interior. Palavras e manifestaçõ es
espirituais interiores també m sã o perceptı́veis aos espı́ritos. O anjo da
guarda "ouve" a prece que sem o ruı́do das palavras lui do coraçã o. O
mau inimigo observa certos movimentos da alma, que lhe dã o um
pretexto para suas sugestõ es. E os espı́ritos tê m, por sua vez, a
possibilidade de se tornarem perceptı́veis à s almas por meios
espirituais: por meio de palavras silenciosas que, sem a intervençã o dos
sentidos externos, falam por dentro e se ouvem por dentro, ou por meio
de operaçõ es que se percebem em si, mas como produzidos de fora de
si, por exemplo, mudanças de â nimo, impulsos da vontade que nã o tê m
explicaçã o se os examinarmos do ponto de vista da pró pria experiê ncia
pessoal. O que nã o cai nos sentidos externos nã o está , portanto,
totalmente isento de qualquer perceptibilidade e, portanto, nã o pode
ser considerado, sem mais, como puramente espiritual, no sentido que
Sã o Joã o da Cruz dá a esta expressã o. Certamente ele designa memó ria,
compreensã o e vontade com o nome de poderes espirituais, mas sua
atividade natural está ligada nesta vida aos sentidos e é , portanto, vida
sensı́vel; puramente espiritual é apenas o que se passa nas profundezas
do coraçã o, a vida da alma de Deus e em Deus. Aqui os espı́ritos criados
nã o tê m possibilidade de entrada. Os pensamentos do coraçã o estã o
naturalmente escondidos deles, mas é claro que Deus també m pode
revelá -los a eles.
O centro mais profundo da alma e os pensamentos do
coração
Os pensamentos do coraçã o pertencem à vida fundamental da alma, ao
seu ser mais profundo, a uma profundidade anterior à sua divisã o em
diferentes poderes e atos. A alma vive nessas profundezas como ela é
em si mesma, separada de tudo o que nela foi produzido em contato
com as criaturas. Como esta parte ı́ntima é a morada de Deus e o lugar
onde se realiza a uniã o da alma com Ele, veri ica-se que é aqui que
surge a pró pria vida, antes que comece a vida de uniã o; e isso mesmo
nas almas que nunca chegarã o à uniã o. Cada alma tem uma parte mais
ı́ntima cuja essê ncia é sua vida. Mas esta vida original nã o está apenas
escondida de outros espı́ritos, mas a pró pria alma nã o tem consciê ncia
de sua existê ncia. Há vá rias razõ es para isso. Em primeiro lugar, o fato
de que a vida primá ria nã o tem forma. Os pensamentos do coraçã o nã o
sã o pensamentos no sentido comum, nã o sã o conceitos bem de inidos,
coordenados e inteligı́veis do entendimento pensante. Antes de se
tornarem tais, eles precisam passar por vá rias camadas de
treinamento. Acima de tudo, eles devem brotar do coraçã o. Entã o, eles
alcançam um primeiro limiar onde se tornam perceptı́veis. Essa
percepçã o é uma forma de consciê ncia muito mais primitiva do que o
conhecimento intelectual. També m é anterior à divisã o de poderes e
atos. Carece da clareza do conhecimento intelectual puro e, por outro
lado, é mais rico do que isso. O que surge dessa percepçã o ocorre em
tais condiçõ es que a alma é forçada a decidir se permite seu
desenvolvimento ou evita-o.
Deve-se notar aqui que o que é apresentado à percepçã o desta forma
puramente natural ainda nã o é a pura vida interior da alma, porque nã o
é mais do que a resposta a algo que a pô s em movimento. Mas isso nos
levaria a abordar uma questã o que nã o queremos tratar aqui. Nesse
limiar em que os impulsos nascentes sã o experimentados, começa a
divisã o gené rica das faculdades cognitivas e a formaçã o de conceitos
compreensı́veis; Entre eles estã o os pensamentos elaborados pelo
entendimento com sua divisã o racional (sã o as palavras interiores, à s
quais respondem as palavras exteriores), os movimentos do espı́rito e
as determinaçõ es da vontade, que como poderes operativos fazem
parte da estrutura do alma. Aqui nã o entendemos mais por vida da
alma a primeira vida elemental em sua profundidade, mas algo que
pode ser apreendido na percepçã o interior. E a percepçã o interior é
uma forma de compreender muito diferente da primeira que nã o
passava de um simples traço do que brotava das profundezas da
alma. També m difere do surgimento de um conceito já formado, que foi
preservado na memó ria e que volta à vida.
Na realidade, nã o se percebe tudo o que brota da alma. Muitas vezes ela
se desenvolve e se transforma em palavras, desejos, voliçõ es e atos
internos ou externos, "antes que se possa realizá -lo plenamente". Só
quem vive totalmente recolhido no seu interior pode zelar ielmente
por todos os primeiros movimentos.
Com isso chegamos a uma segunda razã o que explica por que seu
interior está escondido do homem. Já dissemos antes que, quando a
alma está reunida dentro, é quando está propriamente em casa. Mas,
estranhamente, geralmente a alma nã o está em casa. Existem muito
poucas almas que vivem dentro e dentro de você ; e menos ainda sã o
aqueles que vivem assim permanentemente. Naturalmente, isto é , de
acordo com a natureza decaı́da, as almas permanecem nas salas
externas do Castelo de suas almas. Tudo o que chega a eles os empurra
a partir e é necessá rio que Deus os chame e os impele perceptivelmente
a "fazerem em si mesmos o seu lar".
A alma, o eu e a liberdade

E importante extrair a ideia, tã o imaterializada e decantada quanto


possı́vel das espé cies imaginá rias, que essas imagens espaciais
expressam. Sã o imagens que di icilmente podemos prescindir. Mas eles
se prestam a serem tomados em vá rios sentidos e interpretaçõ es
erradas. O que vem de fora à alma pertence ao mundo externo, com o
qual designamos algo que nã o pertence à pró pria alma, e mesmo
geralmente o que nã o pertence ao corpo que ela anima; ya que, tambié n
el cuerpo, aunque se considera como el contorno exterior al alma,
forma con é sta un todo ú nico en la unidad de un mismo ser, y no es algo
tan externo como lo que le es totalmente extrañ o y se y se halla
separado dela. Dentre essas coisas estranhas e separadas podemos
distinguir algumas que possuem um ser simplesmente externo, isto é ,
estendido no espaço, e outras que possuem um ser ı́ntimo, como no
caso da mesma alma.
Por outro lado, na pró pria alma podemos e devemos falar de uma parte
interna e outra externa. Quando ela olha para fora, ela nã o sai de si para
isso; ele nada faz senã o se afastar um pouco mais de seu centro mais
profundo, de seu interior, espiando e se entregando ao mesmo tempo e
na mesma medida ao mundo exterior. As coisas que de fora se
aproximam da alma e podem com direito a interessar e exigir a sua
atençã o, segundo o valor e a signi icaçã o que tem em si e para ela,
corresponde-lhes uma certa profundidade da alma, na qual elas merece
ser admitido. assim pode-se falar de que a alma de certo modo deixa
sua interioridade ao passo das coisas. No entanto, nã o é necessá rio que
ela abandone qualquer ponto mais profundo dentro de si mesma; como
é um ser espiritual e um reino espiritual é seu castelo interno, aqui se
aplicam leis diferentes daquelas do espaço material e externo; quando a
alma está nas profundezas de seu reino ı́ntimo, entã o ela é a dona
absoluta dela e está livre para mover-se de lá para onde quiser, sem
abandonar seu pró prio lugar, seu centro.
A alma tem, por causa de seu ego, de sua autonomia individual, a
faculdade de se mover dentro de si. O eu está na alma aquilo pelo qual
ela se possui e o que nela se move como em seu pró prio campo. Seu
centro mais profundo é també m o centro de sua liberdade: o centro,
onde, por assim dizer, você pode concentrar todo o ser e apontar para
uma determinada orientaçã o. Certas decisõ es menores podem, de certa
forma, ser tomadas de um ponto muito mais externo; mas serã o
decisõ es super iciais; E puro acaso que tal decisã o seja a adequada,
porque só partindo do centro mais profundo há a possibilidade de
medir tudo com a regra exata e suprema; e, a inal, també m nã o pode
ser uma decisã o livre, porque aquele que nã o é o senhor absoluto de si
mesmo nã o pode agir a menos que seja induzido, ele nã o pode dispor
de nada com verdadeira liberdade.
O homem é chamado a viver dentro de si mesmo e a ser tã o senhor de
si como só pode ser a partir daı́; somente a partir daı́ é possı́vel um
acordo verdadeiramente humano, mesmo com o mundo; Somente a
partir daı́ o homem pode encontrar seu lugar de direito no mundo. Mas,
mesmo que seja esse o caso, ele pró prio nunca penetra totalmente
naquele seu interior. E um segredo de Deus cujos vé us só Ele pode
levantar, como quiser. Mas, sim, o homem foi constituı́do o dono
daquele seu reino ı́ntimo; ele pode comandar com total liberdade; mas
també m cabe a ele guardá -lo como um tesouro precioso que foi
con iado a ele. E ainda há espaço para maior gló ria no reino dos
espı́ritos; é a gló ria que os pró prios anjos receberam sua custó dia. Os
espı́ritos malignos també m se esforçam para tomar posse dela. E o
pró prio Deus o escolheu para sua morada. No entanto, nem os bons
nem os maus espı́ritos tê m livre acesso a essa morada interior.
Os bons espı́ritos por si pró prios nã o sã o mais capazes do que os maus
espı́ritos de ler os "pensamentos do coraçã o", mas podem ser
iluminados por Deus quanto ao que precisam saber sobre os segredos
do coraçã o. Alé m disso, certas vias de acesso espiritual sã o dadas nas
almas, para poder estabelecer contato com outros espı́ritos
criados. Uma alma pode formar em si mesma um verbo, uma palavra
interior, e por meio dela dirigir-se a outro espı́rito. E assim que Santo
Tomá s entende a fala dos anjos, a linguagem com que esses espı́ritos se
comunicam: como falar em espı́rito a outro com o propó sito de lhe
comunicar o que ele concebeu em seu interior. E assim que o recurso
silencioso ao sagrado Anjo da Guarda ou a invocaçã o puramente mental
de espı́ritos malignos també m devem ser entendidos. Mas mesmo sem
a nossa intençã o de comunicar nada, os espı́ritos criados ainda tê m
algum acesso ao que está acontecendo dentro de nó s; nã o ao que está
oculto no ı́ntimo do nosso ser, mas ao que entrou nele de forma
perceptı́vel devido à s suas repercussõ es psı́quicas nas profundezas da
alma, que servem de chaves para penetrar e ver o que aı́ passa oculto
das suas. olhar Dos anjos bons, devemos supor que eles guardam o
Santuá rio fechado com reverente modé stia. O que somente eles podem
fazer é induzir e mover a alma a fechar-se dentro de si mesma, a
entregar a posse dela a Deus; por outro lado, as tentativas de Sataná s
tendem a se apropriar do que é o reino e a propriedade de Deus; nã o
está em seu poder alcançá -lo por suas pró prias forças, mas a alma pode
dar-se a ele. Mas nã o há medo disso, desde que a alma permaneça
trancada e escondida por dentro e tenha provado por experiê ncia o que
acontece na uniã o divina. Porque entã o ela está tã o absorta e escondida
em Deus que nenhuma tentaçã o pode afetá -la mais. Mas, como pode ela
se entregar, se ela nã o se possui mais do que estar trancada dentro de si
mesma? Nã o podemos pensar, mas que isso acontece em uma espé cie
de ataque surpresa de fora. A pró pria alma se perde, sem perceber o
que está entregando. Nã o é o mesmo demô nio que poderia quebrar o
selo que foi colocado em suas mã os, mas fechou. No má ximo, pode
estragar o que está oculto e inacessı́vel.
A alma tem o direito de dispor e decidir por si mesma. A misteriosa
grandeza da liberdade pessoal reside no fato de que o pró prio Deus está
diante dela e a respeita. Deus nã o quer exercer seu domı́nio sobre os
espı́ritos criados, exceto como uma concessã o que eles fazem a ele por
amor. Ele conhece os pensamentos do coraçã o, penetra com o olhar nos
seios mais profundos e recondiciona a alma, onde ela pró pria nã o
poderia alcançar, se nã o fosse iluminada com uma luz especial de
propó sito. Mas nã o quer apoderar-se do que é propriedade da alma,
sem o seu pró prio consentimento para isso. No entanto, nã o deixes de
colocar tudo em jogo, para que a alma entregue livremente a sua
vontade à vontade divina como uma doaçã o que ela faz no seu amor,
podendo assim conduzi-la para a uniã o feliz. Esta é a Boa Nova que nos
anuncia Joã o da Cruz e para cuja manifestaçã o se dirigem todos os seus
escritos.

O que acabamos de dizer sobre a estrutura da alma e, em particular,


sobre as relaçõ es entre sua profundidade interior e sua liberdade, nã o é
exatamente o que o Santo nos diz; portanto, vamos examinar e ver se
pelo menos está de acordo com seus ensinamentos e se també m pode
ajudar a esclarecê -los. Apenas no caso a irmativo é justi icado que
trouxemos essas noçõ es para o nosso propó sito. A primeira vista, muito
do que dissemos aqui pode parecer nã o se adequar a certas idé ias
expressas pelo Santo.
Todo homem é livre e a cada dia e a todo momento está condenado a
decisõ es inevitá veis. Quanto ao centro profundo da alma, é o lugar onde
só Deus habita, na medida em que a uniã o do amor nã o se realiza em
toda a sua plenitude, que a Santa Madre Teresa chama de sé tima
morada, à qual a alma nã o tem acesso mas com casamento
espiritual. Bem, é possı́vel que apenas a alma que atingiu o ú ltimo grau
de perfeiçã o seja capaz de uma decisã o perfeitamente livre? Deve-se
també m ter em mente que a açã o livre da alma é aparentemente tanto
mais diminuı́da quanto mais ela se aproxima de seu centro mais
profundo. E quando ela chega lá , é Deus quem faz tudo nela, e ela nã o
tem nada a fazer senã o receber em atitude passiva ou receptiva. Poré m,
é nesta atitude receptiva que se manifesta plenamente a participaçã o
da sua liberdade, participaçã o que se torna muito mais decisiva, pois, se
Deus faz tudo aqui, é porque primeiro a alma se doou de forma mais
completa. E essa entrega constitui o exercı́cio supremo de sua
liberdade. El Santo mismo describe el matrimonio espiritual como una
entrega libé rrima de Dios al alma y del alma a Dios, y atribuye tal poder
al alma que se encuentra en este grado de perfecció n, que no só lo es
dueñ a de sı́ misma, sino que lo es tambié n de Deus. Há , portanto, para
este grau mais elevado da vida da alma uma consonâ ncia absoluta entre
os ensinamentos mı́sticos de nossos santos reformadores e a
concepçã o, segundo a qual, o centro mais profundo da alma é també m o
centro da liberdade mais perfeita.
Mas o que acontece na grande massa de homens, que nã o atingem essa
profundidade do casamento mı́stico? Poderã o també m entrar no mais
ı́ntimo de si pró prios e a partir daı́ ser capazes de decisõ es autê nticas,
ou só serã o capazes de decisõ es mais ou menos super iciais? Nã o é
possı́vel dar uma resposta categó rica a isso, nem em sentido a irmativo
nem negativo.
A estrutura da alma - sua maior ou menor profundidade, seu pró prio
centro mais profundo - é algo da primeira coisa que concebemos como
constituindo-a, e nela por sua vez, como em sua base natural, a
possibilidade de movimentos do eu é com base, como uma capacidade
de determinar ou modi icar o seu ser. O ego já assume esta e a outra
posiçã o, de acordo com as razõ es que sã o oferecidas e o afetam. Mas
seus movimentos começam de um ponto em que ele prefere
empoleirar-se, de acordo com os vá rios tipos humanos.
O homem sensual, amigo do prazer, ica na maior parte do tempo
imerso no deleite dos sentidos, ou se ocupa em busca de qualquer outro
prazer; está situado em um ponto muito distante do interior de sua
alma. Quem segue a verdade vive preferencialmente naquele centro
interior onde se realiza a atividade encantadora do entendimento; Se
ele tenta seriamente buscar a verdade (e nã o acumular mero
conhecimento isolado), talvez esteja mais perto de Deus do que se
imagina, mais perto daquele Deus, que é a mesma verdade e, portanto,
ele mesmo, mais perto també m do pró prio centro. A esses dois tipos de
casos, queremos acrescentar outro terceiro, que parece ter uma
importâ ncia especial: é o do homem individualista, que sempre gira em
torno de si mesmo. Olhando super icialmente, pode parecer que ele
vive bem dentro de você , mas talvez nenhum outro tipo tenha um
caminho mais fechado do que as profundezas que ele leva. (Todo
homem está um tanto nessa situaçã o, desde que nã o tenha passado
pelos ú ltimos expurgos da Noite Escura). Vamos ver para examinar e
ver as possibilidades que todos esses tipos tê m de mover, de decidir por
si mesmos e de atingir suas pró prias profundezas.
Quando um homem sensual, escravo de um certo apetite, tem a
oportunidade de se entregar a um prazer intenso, é quase certo que
sem pensar mais, sem re lexã o pré via ou escolha, ele passará do
estı́mulo do apetite ao trabalho . Houve um movimento, mas nã o uma
decisã o livre propriamente, nem uma internalizaçã o, um passo em
direçã o a uma maior profundidade, se as causas excitantes do apetite
estiverem no mesmo plano sensual.
Poré m, també m o homem sensual pode sentir as solicitaçõ es de algo
pertencente a uma ordem de valores muito diferente: Nã o há nenhum
tipo ixado exclusivamente em um ú nico campo, em cada caso é mais
uma questã o de tipos com predominâ ncia de algumas caracterı́sticas
sobre outras. . Um homem sensual pode se sentir compelido a desistir
de certo prazer para ajudar outro homem. Nesse caso, é difı́cil alcançar
o objeto desejado sem uma decisã o livre. Em todo caso, o homem
sensual nã o chega a uma renú ncia natural e espontâ nea, mas fazendo
um verdadeiro esforço; Se você se recusa a renunciar apó s alguma
re lexã o ou com um “por quê ?” Espontâ neo e rá pido, també m estamos
diante de uma decisã o voluntá ria.
També m pode haver o caso extremo de icar com prazer sem se recusar
a desistir; E quando o espı́rito está tã o imerso na vida dos sentidos que
o chamado ou a sugestã o di icilmente o alcança; ele ouviu as palavras,
talvez tenha entendido seu signi icado material, mas o centro receptor
interno está desconectado e impedido de compreender seu signi icado
exato. Nesse caso extremo, nã o apenas nã o temos uma decisã o livre,
mas a pró pria liberdade já foi vendida. Ao recusar o convite, seu
signi icado foi perfeitamente compreendido, embora seu alcance total
provavelmente nã o tenha sido considerado. Nesse nã o pesar todo o
escopo do convite está a super icialidade da decisã o tomada, bem como
a diminuiçã o da liberdade no caso. Eles nã o querem olhar de perto e
examinar certos motivos em seu peso total, e há uma relutâ ncia em
entrar nas profundezas onde os motivos podem fazer uma marca. Isso
deixa a ú nica á rea em que uma verdadeira decisã o pode ser feita; nã o se
possui mais a si mesmo ou, pelo menos, as camadas mais profundas do
pró prio ser, e ica sem a possibilidade de assumir uma atitude
verdadeiramente racional e verdadeiramente livre, a ú nica baseada na
realidade autê ntica. Junto com essa recusa super icial, certamente é
possı́vel imaginar outra, mais natural e explicá vel; uma recusa que pode
ocorrer, quando o chamado a um ato de caridade e abnegaçã o foi
ouvido com toda a sua força e peso na alma e é muito claro, e ainda,
depois de pesar todos os motivos e contra-motivos, um é Ele tende a
rejeitá -lo, por considerá -lo injusti icado e pouco convincente. A rejeiçã o
deste convite será da mesma ordem que a sua aceitaçã o, apó s uma
consideraçã o serena dos motivos e contra-motivos que o aconselham
ou desencorajam. Ambos os atos só sã o possı́veis quando o homem
sensual deixa sua atitude como tal e adota uma postura é tica, ou seja, a
posiçã o de quem está pronto para aceitar e fazer o que é moralmente
correto. Mas, para isso, ele tem que se colocar dentro de si mesmo, tã o
fundo, que chegar a tal profundidade equivale a uma conversã o
autê ntica que talvez nã o seja possı́vel naturalmente, mas apenas em
virtude de um choque, um choque extraordiná rio. Sim, podemos
a irmar sem hesitaçã o: uma decisã o real e autê ntica nã o é possı́vel, em
ú ltima instâ ncia, mas do fundo da alma. Porque ningué m está em
condiçõ es de abarcar com o olhar todos os motivos e contra-motivos
que fazem sua voz ser ouvida em uma decisã o. Cada um só é capaz de
decidir o melhor que pode, de acordo com seu conhecimento e
consciê ncia, dentro do que é realizado.

Mas o crente també m sabe que existe Um, cujo olhar nã o se limita a
nenhum horizonte, mas na verdade tudo envolve e tudo penetra.
Quem vive com a certeza dessa crença nã o pode mais descansar na
consciê ncia do pró prio conhecimento. Portanto, você deve se esforçar
para saber o que é justo e verdadeiro aos olhos de Deus. (Esta é a razã o
pela qual a atitude religiosa é a ú nica verdadeiramente é tica. Claro, há
um desejo e impulsos naturais de buscar o bem e a justiça, e ainda é
possı́vel que algué m tenha a felicidade de encontrá -los, mas somente
quando um busca. A vontade de Deus é quando esse desejo e essas
tentativas se encontram e encontram satisfaçã o). Aquele a quem o
pró prio Deus deu a graça de o introduzir no seu pró prio interior e a Ele
se doou inteiramente na uniã o do amor, este resolveu o problema de
uma vez por todas; Ele nã o tem mais que deixar-se guiar e ser levado
pelo espı́rito de Deus que o empurra sensivelmente, e ele tem em todo
lugar e momento a consciê ncia de fazer o que deve. Na grande decisã o
que ele tomou em um ato de liberdade suprema, estã o incluı́das todas
as decisõ es subseqü entes, que serã o produzidas em cada caso por seus
passos naturais. Mas, desde simplesmente buscar uma decisã o justa em
um determinado caso até chegar a esse ponto, há um longo caminho a
percorrer, se é que existe algum caminho que leve a eles.
Aquele que nã o busca a justiça senã o esporadicamente e isoladamente
e decide o seu caso concreto como pensa que o conhece melhor a cada
vez, també m este homem está a caminho do encontro com Deus e
consigo mesmo, mesmo que o ignore. Mas ele ainda nã o se tornou tã o
senhor de si mesmo como somente aquele que domina as ú ltimas
camadas internas de sua pró pria alma o faz; portanto, nã o pode dispor-
se totalmente de si mesmo, nem possui liberdade total e perfeita em
face das coisas. Aquele que busca seriamente o bem, isto é , aquele que
está pronto para fazê -lo em todos os momentos, já se posicionou a seu
lado e colocou sua vontade na vontade divina, mesmo quando nã o tem
consciê ncia clara de que o bem se identi ica com o que Deus quer. Mas,
sem essa clareza, ele ainda nã o tem os meios seguros de acertar o
bem; e ele se dispõ e a si mesmo como se já o possuı́sse, embora as
ú ltimas profundezas de seu pró prio interior ainda nã o lhe tenham sido
abertas.
A ú ltima decisã o livre nã o será possı́vel, exceto no encontro face a face
com Deus. Mas se algué m avançou tanto na vida de fé que já tomou
plena e decididamente o partido de Deus e nã o deseja nada alé m do que
Deus deseja, será que ainda nã o atingiu o seu mais ı́ntimo e falta algo
para alcançar o mais alto grau de uniã o de amor? E muito difı́cil traçar
aqui uma linha divisó ria clara, ainda mais difı́cil reconhecer aquela que
nos foi traçada por nosso pai Sã o Joã o da Cruz; E, apesar de tudo,
parece-me necessá rio, tendo cuidado da realidade e da pró pria mente
do Santo, reconhecer a existê ncia de uma linha divisó ria e destacá -
la. Aquele que realmente deseja apenas o que Deus deseja, portanto,
com uma fé cega e absoluta, conquistou o cume mais alto que o homem
pode alcançar com a graça divina; sua vontade é inteiramente
puri icada e livre de todos os laços com os estı́mulos terrenos; é , em
razã o de sua entrega gratuita, unida à vontade de Deus. E, no entanto,
algo mais decisivo está faltando para o mais alto grau de uniã o de amor,
que é o Casamento Espiritual.
Várias espécies de união com Deus

Devemos lembrar aqui que Sã o Joã o da Cruz distingue trê s formas de
uniã o com Deus: pela primeira, Deus se faz essencialmente presente em
todas as coisas e as manté m no ser; pelo segundo é entendida a
presença de Deus na alma pela graça, e pelo terceiro, a uniã o
transformadora e divinizadora, pelo amor perfeito. Sã o Joã o da Cruz
parece estabelecer na passagem citada apenas uma diferença de grau
entre a segunda e a terceira forma de uniã o. Mas se formos a outros
textos e examiná -los cuidadosamente, parece que temos uma diferença
especı́ ica e dentro de cada espé cie uma sé rie de graus. No Câ ntico
Espiritual, por exemplo, o Santo alude a esta divisã o tripartida, sem
mencionar a dita simples diferença de grau entre a presença da graça e
a presença ou uniã o do amor, antes enfatizando o sentimento da
presença do Bem Superior em. a uniã o do amor e seu efeito: o desejo
ardente de ver Deus face a face e, assim, consumar sua felicidade.
Santa Madre Teresa de Jesus també m aborda esta questã o mais de uma
vez. Ela diz nas Moradas que a oraçã o de uniã o foi o que a levou ao
conhecimento da presença divina em todas as coisas por essê ncia,
presença e potê ncia. Anteriormente, ele só conhecia a presença de Deus
na alma pela graça. Mais tarde, para buscar clareza sobre o que havia
descoberto, ele consultou vá rios teó logos. Um "mé dium letrado"
també m falhou em dar-lhe outra razã o alé m da habitaçã o ou presença
de Deus na alma pela graça. Mas outros a tranquilizaram, garantindo
como artigo de fé o que ela deduzira de suas pró prias experiê ncias na
oraçã o de uniã o. Talvez um esforço para harmonizar as duas descriçõ es
aparentemente divergentes dos dois Padres da reforma carmelita ajude
a lançar mais luz sobre o assunto.
Ambas as descriçõ es estã o de acordo quanto a uma verdade de fé que
para Sã o Joã o da Cruz, como teó logo, era familiar, enquanto o Santo
devia primeiro descobri-la: Deus criador está presente em todas as
coisas e as preserva no seu ser; ele tinha cada um deles em mente antes
de criá -los e os conhece perfeitamente com todas as mudanças e
destinos que podem executar. Ele pode, em virtude de sua onipotê ncia,
fazer o que quiser com cada ser em todos os momentos. Você pode
deixar as coisas à mercê de suas pró prias leis, permitindo que sigam o
curso normal dos eventos. També m pode atuar com intervençõ es
extraordiná rias. E assim que Deus habita e també m assiste em cada
alma, conhece cada uma desde toda a eternidade, com todos os
segredos da sua existê ncia e todos os ritmos da sua vida. Cada alma
depende Dele; Ele é livre para abandoná -los a si mesmos e deixá -los
seguir seu pró prio curso, ou intervir com uma mã o poderosa em seu
destino. Um desses milagres de sua onipotê ncia é o novo nascimento de
uma alma, quando ela é vivi icada pela graça santi icadora.
Mais uma vez Juan e Teresa estã o em perfeita concordâ ncia ao a irmar
que a habitaçã o divina pela graça nas almas é algo diferente da
presença divina, comum a todos os seres, pela qual Deus os preserva
em seu ser. Deus pode habitar na alma “por essê ncia, presença e
potê ncia”, sem que ela o saiba ou o queira, mesmo quando, endurecida
no pecado, vive na maior distâ ncia de Deus: é possı́vel que ela nã o
tenha a menor suspeita. da presença divina dentro. A habitaçã o pela
graça só é possı́vel em seres pessoais e espirituais, pois supõ e a livre
aceitaçã o da graça santi icadora em quem a recebe. (No baptismo de
crianças, esta livre aceitaçã o dá -se atravé s da mediaçã o de um adulto
que assume a representaçã o da criança, aceitaçã o que mais tarde será
rati icada pelo baptizado, tá cita com a sua vida de fé e expressamente
pela renovaçã o do promessas de batismo.). Isso implica que Deus nã o
pode habitar desta forma em nenhuma alma pecadora que vive de
costas para Deus. A graça santi icadora també m é chamada, porque
apaga o pecado.
Que Deus nã o pode habitar pela graça em seres impessoais e
subumanos, é algo que se deduz da pró pria natureza nesta forma de
presença divina. Implica uma in luê ncia permanente, um
derramamento contı́nuo de vida e ser divino na alma graciosa. Bem,
este ser de Deus é vida pessoal e só pode extravasar onde é dado acesso
por um ato pessoal. Esta é a razã o pela qual a recepçã o da graça é
impossı́vel se nã o for aceita pessoalmente. O resultado é uma fusã o de
duas vidas e dois seres, o que nã o é possı́vel exceto onde há um ser que
tem uma vida espiritual interior. Só um ser que vive pelo espı́rito pode
receber em si uma vida espiritual.
A alma, na qual Deus habita pela graça, nã o é simplesmente uma tela
impessoal na qual a vida divina se re lete, mas ela mesma está dentro
dessa vida. A vida divina é uma vida trinitá ria e tripessoal: é o amor
transbordante com o qual o Pai gera o Filho e lhe dá o seu ser, e com o
qual o Filho recebe esse ser e o devolve ao Pai, o amor no qual o Pai e o
Filho é a mesma coisa e ambos exalam como seu Espı́rito comum. Por
meio da graça, esse espı́rito, por sua vez, é derramado sobre as
almas. Resulta assim que a alma vive a sua vida de graça por meio do
Espı́rito Santo, ama Nele o Pai com o amor do Filho e o Filho com o
amor do Pai.
Esta participaçã o na vida trinitá ria pode ser realizada sem que a alma
experimente em si a presença das pessoas divinas. Na verdade, apenas
um pequeno nú mero de eleitos sã o aqueles que vê m à percepçã o
experimental do Deus triú no nas profundezas ı́ntimas de suas
almas. Mais numerosas sã o as almas que, guiadas por uma fé iluminada,
chegam a um conhecimento vivo e caloroso daquela presença e a uma
relaçã o de amor com as trê s pessoas divinas. Quem nã o atingiu este
grau elevado pode, no entanto, unir-se a Deus pela fé , esperança e amor,
mesmo quando nã o estã o cientes de que Deus vive dentro deles e que
podem encontrá -lo ali, que toda a sua vida de graça e o exercı́cio das
virtudes é o efeito desta vida divina que ele entesoura em si mesmo e
da qual ele mesmo participa.
A vida de fé pressupõ e uma irme convicçã o de que Deus existe, é
acreditar em tudo o que Deus revelou e, por amor, estar preparada para
deixar-se governar pela vontade divina. Como conhecimento
sobrenatural e inspirado por Deus das coisas divinas, é um "começo da
vida divina em nó s", mas apenas um começo. Foi depositado em nó s
junto com a graça santi icante, como a semente que é depositada no
campo; toque-nos com o nosso cuidado para que brote e se desenvolva
até formar uma grande á rvore com abundâ ncia de frutos. Este é o
caminho que nos levará , já nesta vida, à uniã o com Deus, embora a
ú ltima consumaçã o desta uniã o esteja reservada para a outra vida. E
agora temos a tarefa de esclarecer como a uniã o do amor e a presença
de Deus na alma pela graça diferem uma da outra. E um ponto onde o
Santo Padre e a Santa Mã e se explicam de maneira diferente.
O Santo parece ter querido ver na oraçã o de uniã o uma primeira forma
de presença diferente da presença da graça, enquanto, de acordo com a
Ascensã o, a uniã o do amor deve ser considerada como um grau
superior de uniã o pela graça. De resto, o Santo conhece també m uma
uniã o com Deus, que deve ser alcançada simplesmente atravé s da
cooperaçã o constante e assı́dua com a graça, a morti icaçã o dos apetites
naturais e o exercı́cio perfeito do amor a Deus e ao pró ximo. Ele coloca
grande ê nfase nisso para o consolo daqueles que nã o alcançam a
chamada oraçã o de uniã o. Mas, antes disso, ele a irmou com a má xima
clareza desejá vel e com nã o menos ê nfase que nã o é de forma alguma
possı́vel realizar a oraçã o da uniã o pela pró pria diligê ncia.
Esta oraçã o é como Deus arrancando a alma de si mesma, tornando-a
insensı́vel à s coisas do mundo, enquanto a deixa completamente
desperta para Deus. “Porque na verdade continua tã o sem sentido ...
que nã o há nem poder pensar, mesmo que queira ... Mesmo amando, se
quiser, nã o entende como, ou o que é que ama ou o que iria querer ...
Tudo o que o seu entendimento serviria para compreender algo do que
sente ... para que, se nã o estiver completamente perdido, nã o abane o
pé nem a mã o ". Deus trabalha nela, “sem ser impedido por ningué m,
nem mesmo por nó s”. E o que Deus opera nela "é sobre todas as alegrias
da terra e sobre todas as delı́cias e sobre todo o conteú do". Essa uniã o
dura pouco tempo, pouco mais de meia hora. Mas o modo como Deus
permanece durante ela na alma é de tal natureza "que, quando ela
retorna a si mesma, em nada pode duvidar que estava com Deus e Deus
nela. Esta verdade permanece tã o irme que, mesmo se anos se passam
sem que Deus volte para fazer aquela misericó rdia, nem é esquecido,
nem pode duvidar que esteve lá .
Enquanto o misterioso fenô meno durou, ela nã o o percebeu. Mais tarde,
poré m, ele experimenta e reconhece bem sua realidade. Ele nã o viu isso
com clareza, mas "uma certeza permanece na alma que só Deus pode
colocar". Nã o se trata de uma presença sentida "em forma corporal,
como o Corpo de nosso Senhor Jesus Cristo está no Santı́ssimo
Sacramento ..., mas da divindade somente. Bem, como é que o que nã o
vimos permanece com isso certeza? Eu sei disso, sã o as suas obras; mas
eu sei que digo a verdade ... Basta ver que quem o faz é todo-poderoso;
e porque nã o estamos em lugar nenhum com diligê ncia, fazemos para o
conseguir , mas é Deus quem o faz, nã o nó s queremos ser para
compreendê -lo. "
Sem sua proposta, no entanto, a Santa Mã e fez algumas tentativas de
explicaçã o. Ela já nos deu alguns, quando concebeu a presença divina,
que sentiu com certeza irrefutá vel, como a presença comum a todos os
seres criados. També m temos uma explicaçã o nesta a irmaçã o: “Quem
nã o ica com esta certeza, eu nã o diria que é a uniã o de toda a alma com
Deus, mas de alguma força, e muitas outras formas de favores que Deus
dá aos alma." Na verdadeira uniã o, Deus está unido à substâ ncia da
alma.
O que é de extraordiná rio valor para nó s é que Santa Teresa nos
descreve com toda a simplicidade e ingenuidade o que ela viveu, sem se
preocupar com uma possı́vel explicaçã o teó rica de sua experiê ncia, sem
se preocupar com o julgamento ou censura que sua explicaçã o possa
merecer. Sua descriçã o simples e iel pode nos ajudar a descobrir que
tipo de presença e habitaçã o se dá aqui, e ao mesmo tempo nos
fornecer um juı́zo sobre a mesma tentativa de explicaçã o que ela faz. A
alma tem a certeza de que estava em Deus e de Deus nela, certeza que
icou da experiê ncia de sua uniã o com Deus. Ao reconstruı́-lo e
descrevê -lo, chega a colocar essa experiê ncia como um elemento
essencial dela, embora só depois que o fenô meno tenha passado é que
se dá conta dele. A consciê ncia da uniã o nã o é algo externo
superadicionado à pró pria uniã o, mas pertence a ela. Onde tal
consciê ncia e subsequente certeza sã o impossı́veis, como em pedras ou
plantas, essa forma de uniã o també m nã o pode ocorrer.
E, portanto, de fato, uma uniã o ou presença diferente daquela comum a
todos os seres criados que Teresa experimentou na oraçã o de uniã o. E
essa nova forma de presença nem sempre existe de fato, nem mesmo
onde poderia ocorrer em princı́pio. A pró pria Santa o insinua
claramente quando assegura que a alma tem a certeza de que esteve
com Deus e Deus com ela. E uma situaçã o passageira e
passageira; enquanto a presença divina "por essê ncia, presença e
potê ncia" nã o é interrompida em nenhum momento, enquanto um ser
subsiste. A cessaçã o dessa presença seria o seu afundamento no nada
para o ser criado.
Assim, podemos assegurar com Sã o Joã o da Cruz que a presença que
ocorre na uniã o do amor é diferente daquela que preserva todas as
coisas em seu ser.
Por outro lado, resulta das explicaçõ es da Santa Mã e que se trata de
uma presença e de uma habitaçã o diferente da presença da graça, nã o
só em grau, mas em espé cie. Ela exorta suas ilhas com muito fervor e
insistê ncia a tender com todas as suas forças para os mais altos nı́veis
de perfeiçã o alcançá veis com a cooperaçã o iel com a graça, para a
uniã o total da vontade humana com a divina atravé s da prá tica mais
perfeita do amor de Deus. vizinho. Mas com igual urgê ncia e insistê ncia,
é considerado tolice lutar para alcançar aquela outra uniã o que só Deus
pode dar. Ningué m jamais se esforçará , nem mesmo amparado pela
graça, para experimentar como realidade viva a presença divina dentro
de si e o sentimento de uniã o com Deus. Jamais o esforço da vontade,
nem com a ajuda da graça, alcançam os efeitos maravilhosos que
ocorrem nos momentos fugazes de uma uniã o: transformar a alma de
tal maneira que ela nã o se reconheça mais, faça a lagarta, esse verme
feio, uma linda borboleta. O esforço pró prio levaria muitos anos de
á rdua luta para conseguir algo assim.
A oraçã o de uniã o ainda nã o é a uniã o que Sã o Joã o da Cruz sempre
aponta como objetivo da Noite Escura. E um pré -anú ncio e um primeiro
passo para isso. Serve como disposiçã o da alma para a entrega perfeita
a Deus e como despertar das ansiedades impacientes porque se repete
a misericó rdia da uniã o e porque a sua posse é permanente. Isso é visto
claramente nas Moradias V e VI do Castelo Interior, onde a preparaçã o e
consumaçã o do noivado espiritual sã o descritas. Uma descriçã o
semelhante é encontrada no Câ ntico Espiritual na declaraçã o dos
câ nticos XIII e XIV. Nesses lugares, Sã o Joã o da Cruz e Santa Teresa
declaram conjuntamente que o casamento se realiza em meio a um
arrebatamento. Deus puxa a alma para si com força, de modo que a
natureza quase sucumbe sob o peso da açã o de Deus. A Santa ressalta
que é preciso muito cuidado para aceitar este Noivado. E no Câ ntico
Espiritual os lá bios da esposa tı́mida e assustada pedem
suplicantemente ao Amado que retire os olhos, assim que de repente
ele lhe concedeu a graça do olhar tã o esperado e solicitado.
O que lemos em outra passagem de San Juan nã o está em perfeita
concordâ ncia com isso, segundo o qual a posse pela graça e a posse pela
uniã o estã o relacionadas entre si como noivado e casamento. O um
signi icaria algo que o homem poderia alcançar com sua vontade e o
auxı́lio da graça, isto é , a total conformidade da vontade humana com a
divina por meio da perfeita puri icaçã o da alma; o outro suporia a
rendiçã o mú tua e a uniã o total. Essa aparente contradiçã o admite em
parte uma explicaçã o simplesmente terminoló gica: a palavra noivado
nã o é usada em ambas as passagens no mesmo sentido. Mas, alé m
disso, há uma diferença real em ambas as passagens: o propriamente
mı́stico parece aderir aos mais altos graus em uma, enquanto na outra
começa mais cedo.
Mas no problema que procuramos elucidar com todas estas
consideraçõ es, o decisivo é que, em todo o caso, Sã o Joã o da Cruz já
estabelece nos ú ltimos graus uma diferença fundamental entre o
má ximo que pode ser alcançado com a ajuda do só vontade, graça e
casamento espiritual. Assim, aquela a irmaçã o da Ascensã o que queria
ver apenas uma diferença de grau entre a uniã o pela graça e a uniã o
mı́stica é evidentemente superada. Alé m disso, em todos os livros do
Santo há passagens que mostram claramente que o inı́cio do
propriamente mı́stico deve ser colocado em graus muito mais
interiores. Precisamos apenas nos lembrar daqueles toques na
substâ ncia da alma, dos quais se fala na subida. A irma-se que quando
sã o dados, o entendimento entende de forma mais eminente e
saborosa, que nã o dependem do que a alma faz, que a ú nica coisa que
ela pode fazer é dispor-se a recebê -los, mas nã o a faça com que eles nã o
recebam senã o passivamente, e que sejam ordenados a se unir a
Deus. Tudo isso indica algo que está fora do caminho normal da graça:
uma uniã o atual e transitó ria, que é uma antecipaçã o do usual e
permanente.
Como é possı́vel que Juan de la Cruz nã o se tenha de inido clara e
inequivocamente sobre esta importante questã o? Para dar uma
resposta decisiva a esta pergunta, seria necessá rio conhecermos da
vida ı́ntima deste santo silencioso algo mais do que ele nos faz
adivinhar por meio de seus escritos e do que seus contemporâ neos nos
transmitiram. Só hipoteticamente diremos algo sobre o que sugere a
histó ria de seu tempo e as novas pesquisas sobre o texto de seus
escritos. As grandes lutas religiosas de seu tempo, as heresias sempre
crescentes, os perigos de um misticismo mó rbido deram origem a uma
severa vigilâ ncia sobre os escritos de natureza religiosa.
Qualquer pessoa que escrevesse sobre questõ es da vida interior
precisava contar com a Inquisiçã o para colocar as mã os sobre ele e seus
escritos. Nã o seria temerá rio pensar que, diante disso, Sã o Joã o da Cruz
també m tomaria cuidado para nã o confundir seus ensinamentos com
os dos Illuminati (o que ele evidentemente faz em muitos lugares) e
tentaria abrir o caminho mı́stico por uma linha o mais pró ximo possı́vel
do caminho normal da graça.
Que tal propó sito presidiu, com efeito, a publicaçã o de seus escritos, foi
demonstrado pelo exame de suas primeiras ediçõ es e a comparaçã o de
alguns manuscritos com outros. A Chama Viva do Amor e o Câ ntico
Espiritual chegaram até nó s em dois ensaios escritos à mã o. As
modi icaçõ es introduzidas posteriores evidenciam, pela atenuaçã o de
expressõ es mais ousadas e os esclarecimentos acrescentados, o esforço
para evitar falsas interpretaçõ es. Essas modi icaçõ es sã o devidas ao
pró prio Santo, ou sã o obra da mã o de outrem? The Rise and the Night
foram transmitidos para nó s em uma ú nica redaçã o. Mas as diferenças
entre esses manuscritos e as ediçõ es anteriores até a ediçã o crı́tica do
Padre Gerardo (bem como as diferenças entre as primeiras ediçõ es do
Llama e sua primeira redaçã o manuscrita, na qual se baseiam) sã o tã o
notá veis que aqui E evidente e inegá vel a intervençã o de alguma mã o
estrangeira. A Ascensã o e a Noite, da forma como chegaram até nó s, sã o
partes que faltam. Em ambos os casos faltam as partes em que deveria
ter havido atentado ao sindicato, e em que as questõ es que aqui nos
interessam teriam encontrado esclarecimento.
Será que essas partes nunca foram escritas ou foram suprimidas nas
có pias? (Das quatro obras temos apenas có pias, e de nenhuma delas o
original; apenas uma das có pias do Câ ntico tem correcçõ es da Santa). E
tal supressã o, se houve, obedeceu à indicaçã o do Autor ou foi imposta
por testamento estrangeiro? Essas sã o perguntas para as quais nã o
encontramos uma resposta.
Com o desejo de iluminar, recorremos à s descriçõ es naturais e ingê nuas
de nossa santa Mã e. Eles vê m para nos dar segurança, onde as vá rias
formulaçõ es que encontramos em S. Joã o da Cruz suscitam
dú vidas. Eles, como dados autê nticos de valor incalculá vel, nã o nos
fornecem apenas uma base para uma formulaçã o teó rica. També m
temos o direito de supor que os dois santos, apesar da diferença de
cará ter e mesmo do tipo de santidade e da diferente valorizaçã o das
graças mı́sticas nã o essenciais, sã o da mesma opiniã o quanto à
concepçã o fundamental da vida interior.
O Castelo Interior, assim como os escritos do Santo, foram compostos
apó s ambos terem vivido alguns anos em Avila numa troca ı́ntima de
ideias. Desde entã o, a Santa Madre chamava seu jovem colaborador de
"Pai de sua Alma", e Juan ocasionalmente fazia alusã o aos escritos da
Santa, para evitar maiores explicaçõ es, que poderiam ser encontradas
neles. Se, entã o, nas explicaçõ es que o Santo dá sobre os diferentes
graus da uniã o mı́stica encontrarmos algo que claramente tem que ser
especi icamente diferente da uniã o pela graça, podemos estar
convencidos de que estamos na presença de algo que tem a aprovaçã o
de Sã o Joã o da Cruz. Coordenando, entã o, os ensinamentos de ambos os
reformadores carmelitas, chegamos a nos con irmar na opiniã o de que
as trê s formas mencionadas de presença e habitaçã o de Deus na alma
nã o apenas supõ em diferenças de grau, mas sã o especi icamente
diferentes. Vamos ver para esclarecer melhor essas diferenças reais.
E o mesmo Deus, uma em cada trê s pessoas, que se faz presente em
cada uma dessas formas de presença, e sua essê ncia imutá vel é a
mesma em todas elas. E, no entanto, sua presença é diversa, porque o
ser no qual essa divindade ú nica e imutá vel vem habitar é em cada caso
modi icado em seu ser, e isso modi ica a dita presença.
A primeira forma de presença nada mais faz do que deixar aquele em
quem Deus se faz presente, sujeito à sabedoria e poder divinos e
dependente da existê ncia de Deus. Tudo isso é comum a todos os seres
criados. O ser de Deus e o da criatura permanecem nesta forma de
presença totalmente separados; Entre eles nã o há senã o uma relaçã o,
por uma das partes, de dependê ncia da outra no seu ser e existê ncia, o
que nã o implica qualquer entendimento mú tuo nem, portanto, uma
uniã o propriamente dita. Porque para que haja habitaçã o ou uniã o,
ambas as partes precisam de uma natureza dotada de interioridade, ou
seja, um ser que se volte a si e se compreenda e seja capaz de receber
em si outro, para que surja uma unidade que nã o anule o autonomia de
quem é recebido ou de quem recebe.
Isso nã o se encaixa, mas entre seres espirituais; apenas um ser
espiritual está dentro de si e pode receber dentro dele outro, que por
sua vez é espı́rito. Só assim existe uma verdadeira uniã o. A uniã o pela
graça já é algo dessa natureza. Aquele que se submete ao ser, à
sabedoria e vontade ou poder divinos, para que tal dê lugar a Deus em
si mesmo, e seu ser seja penetrado pelo ser de Deus. Mas essa
penetraçã o nã o é total e completa. Nã o vai tã o longe quanto a
capacidade de recebimento do contê iner permite. Para ser totalmente
penetrada pelo ser divino (esta é a uniã o perfeita do amor), a alma deve
libertar-se de todos os outros seres: esvaziar-se de todas as criaturas e
de si mesma, como o fez Sã o Joã o da Cruz tã o insistentemente e feito
insistentemente. declarado e testado. Amar em sua mais alta realizaçã o
é tornar-se um amante com o amado em uma entrega mú tua livre: essa
é a vida divina no seio da Trindade. Para esta realizaçã o plena, aspiram
o amor ansioso e obstinado da criatura (amor, eros) e o amor
misericordioso de Deus que desce até ela (caritas, agape). Onde quer
que esses dois amores se encontrem, aı́ a uniã o vai se realizando
progressivamente à custa de tudo que se opõ e ao seu caminho e na
medida em que tudo isso é aniquilado. Isso é feito, como já sabemos, ao
longo da Noite Escura de forma ativa e passiva. Mediante a puri icaçã o
ativa, a vontade humana torna-se cada vez mais unida à divina, mas de
forma que a vontade divina nã o seja percebida como uma realidade
presente, mas seja acolhida nas trevas da fé . Aqui, na realidade, há
apenas uma diferença de grau entre a presença da graça e a uniã o do
amor. Ao contrá rio, na puri icaçã o passiva causada pelo fogo
consumidor do amor divino, a vontade divina penetra
progressivamente até ser sentida como uma realidade presente.
E aqui já estamos na minha opiniã o, diante de uma nova presença com
diferença mais do que grau da presença geral de Deus pela graça. Esta
diferença torna-se mais evidente, se a olharmos à luz da interpretaçã o
que Santo Agostinho dá das palavras do Evangelho de Sã o Joã o: «Muitos
acreditaram no seu nome ..., mas Jesus nã o se entregou a eles."
Santo Agostinho aplica estas palavras aos catecú menos: eles acreditam
e se declaram ié is a Cristo, mas Cristo ainda nã o se entregou a eles no
Santı́ssimo Sacramento. Podemos aplicá -los à s duas formas de presença
cuja diferença procuramos esclarecer, bem como à diferença entre fé e
contemplaçã o. A presença pela graça nos é dada em virtude da fé , isto é ,
aquela faculdade de aceitar como real o que nã o vemos presente e de
tomar como verdadeiro e verdadeiro o que nã o é rigorosamente
demonstrá vel com argumentos da razã o. E como se houvesse um
homem de quem já tivé ssemos ouvido coisas boas e maravilhosas; Ele
até nos fez favores e recebemos grandes presentes dele; Por tudo isso
nos sentimos possuı́dos de gratidã o e amor por ele, e dentro de nó s
nasce um desejo, que vai ganhando proporçõ es crescentes, de conhecê -
lo pessoalmente. Mas ele ainda nã o se con ia ao seu protegido; nã o lhe
concede nem a mı́nima satisfaçã o de uma entrevista pessoal, e muito
menos lhe abriu seu interior e lhe deu seu coraçã o.
Pois bem, todos esses favores que Deus faz ao homem em graus
sucessivos por meio da terceira via de sua presença, a da escolha
mı́stica: Deus lhe concede uma entrevista pessoal por meio de um
contato ou toque no centro ou substâ ncia da alma; abre seu pró prio
interior para ele, concedendo-lhe ilustraçõ es especiais sobre a natureza
de Deus e seus julgamentos secretos e misté rios; Ele dá a ela o presente
de seu pró prio Coraçã o, primeiro por meio de uma entrevista pessoal
que acontecerá em um arrebatamento momentâ neo (na oraçã o de
uniã o), depois na posse duradoura e permanente, no noivado mı́stico e
no casamento espiritual. Tudo isso nã o é , entretanto, a visã o face a
face; aqui, a comparaçã o ou sı́mile da aproximaçã o progressiva entre os
homens falha. Mas é um encontro pessoa a pessoa e, portanto, um
conhecimento experimental já desde os primeiros graus ı́ntimos da
uniã o. Deus toca com a sua pró pria divindade nas profundezas da alma
(designada també m pelo Santo como a substâ ncia da alma). A
Divindade nada mais é do que a mesma essê ncia Divina, é o mesmo
Deus em pessoa; seu ser em um ser pessoal; e a profundidade ou centro
da alma é , por sua vez, o centro e o princı́pio de sua atividade pessoal,
bem como seu ponto de contato com outra vida pessoal. Um contato
pessoal só é possı́vel nas profundezas; com tal contato é como uma
pessoa faz outra sentir sua pró pria presença. Quando, portanto, algué m
se sente tocado dessa forma em seu ser mais ı́ntimo, ele estabeleceu um
contato vivo com outra pessoa. Este ainda nã o é o sindicato, mas um
ponto de contato para estabelecê -lo.
Quanto à uniã o pela graça, já é como uma lacuna que se abre para algo
novo; é uma participaçã o da natureza divina, mas o fundo, como se diz,
pessoal de Deus ainda nã o está aberto à alma, como se nã o entrasse
naquela comunicaçã o da natureza. Aqui, nesta outra uniã o, o pró prio
princı́pio da vida divina (se assim se pode falar) é aquele que entra em
contato substancial com a profundidade ı́ntima ou substâ ncia da alma,
e se faz sentir presente, embora em um caminho escuro e
velado. Atravé s das ilustraçõ es sobre os misté rios divinos que o interior
fechado de Deus está se abrindo. Se a alma, quando lhe é comunicada a
graça, recebe uma corrente de vida divina e assim se eleva acima de seu
ser, aqui, na uniã o mı́stica, é ela quem se introduz na pró pria vida e ser
de Deus. Nessa uniã o, em seus diversos graus, se faz um entendimento
mú tuo com um movimento que parte do inı́cio de ambas as vidas
pessoais, e termina em uma entrega mú tua de pessoa a pessoa.
Ainda temos que fazer vá rias observaçõ es aqui: o ú nico contato de Deus
na substâ ncia da alma nã o pressupõ e necessariamente a presença
divina pela graça. Pode ser concedido a almas totalmente in ié is como
meio de excitar a fé e como preparaçã o para receber a graça
santi icadora. També m pode ser um meio de treinar um incré dulo para
ser um instrumento adequado para certos propó sitos. O mesmo pode
ser dito de certas ilustraçõ es particulares. A uniã o, ao contrá rio, como
entrega mú tua que é , nã o pode ocorrer sem fé e sem amor, isto é , sem
graça santi icadora. Para estabelecê -lo em uma alma que nã o estava na
graça, ele teria que ser concedido, junto com um princı́pio dele, a graça
santi icadora e, como sua pré -condiçã o, a contriçã o perfeita. Essas
vá rias possibilidades sã o uma con irmaçã o da distinçã o radical entre a
uniã o pela graça e a uniã o mı́stica e entre as formas correspondentes da
presença divina na alma. Estas sã o duas faixas diferentes
escalonadas. Isso nã o signi ica negar que a vida comum da graça
prepara o caminho para a uniã o mı́stica.
Se o centro ou a substâ ncia da alma é , em princı́pio, o ponto onde se dá
a uniã o e o contato de pessoa a pessoa, entende-se, na medida em que
se possa dizer o entendimento ao falar dos misté rios da divindade, que
Deus escolheu esse centro. como o lugar de sua habitaçã o. Se a uniã o é
o im para o qual as almas foram criadas e destinadas, pelo mesmo fato
devem existir as circunstâ ncias e condiçõ es que tornam essa uniã o
possı́vel.
Entende-se també m que este centro mais profundo da alma está ao seu
alcance e livre disposiçã o, uma vez que a entrega do amor só é possı́vel
entre seres livres. E esta entrega de amor, que se realiza no casamento
mı́stico, també m por parte da alma, algo diferente da entrega
incondicional que faz de sua vontade à vontade divina? Obviamente
sim.
E algo diferente pelo conhecimento que atua sobre ele; Quando Deus se
entrega à alma no casamento espiritual, ele passa a conhecer a Deus de
uma forma que nã o o conhecia antes, com um conhecimento que de
outra forma nã o poderia adquirir; antes ele nem mesmo conhecia sua
pró pria profundidade. Conseqü entemente, ela nã o sabia antes, como
sabe agora, a quem estava dando sua vontade, ou o que estava dando,
ou que tipo de entrega a vontade divina exigia dela. E diferente por
parte da vontade: é diferente por causa de seu objeto, pois a entrega da
vontade visa a uniã o da pró pria vontade com o divino, e nã o a uniã o
com o pró prio coraçã o de Deus, nem com o pessoas divinas; E por causa
de seu ponto de partida, já que só agora atua a substâ ncia ou o centro
interior da alma, só agora a vontade engloba tudo em si,
compreendendo a pessoa inteira a partir do centro de sua pró pria
personalidade; E por causa de seu prazo: já que na entrega matrimonial
a alma nã o só endireita e subordina sua pró pria vontade à divina, mas
també m recebe Deus que se entrega a ele; portanto, esta dedicaçã o da
pró pria pessoa é ao mesmo tempo a mais audaciosa conquista e ganho
acima de qualquer consideraçã o humana. Sã o Joã o da Cruz o expressa
muito claramente quando diz que a alma pode dar a Deus mais do que
possui e é em si mesma; que Deus dá o mesmo Deus em Deus. Estamos,
portanto, aqui na presença de algo que difere fundamentalmente da
uniã o pela graça; porque estamos diante da mais profunda imersã o da
alma na essê ncia divina, que a deixa divinizada; uma uniã o e
identi icaçã o de duas pessoas que nã o anula a sua independê ncia, mas
justamente a supõ e; uma relaçã o só superada e intensi icada pela
circuncisã o das pessoas divinas, que é o seu protó tipo. Esta é a uniã o
que Sã o Joã o da Cruz sempre teve em mente como a meta inal a que
deseja conduzir em seus livros, embora muitas vezes tenha usado o
termo em outro sentido e nã o tenha especi icado teoricamente suas
caracterı́sticas em relaçã o a os outros, maneiras de aderir tã o
claramente como foi tentado fazer aqui.
Já dissemos: o casamento mı́stico é a uniã o com as trê s pessoas
divinas. Enquanto Deus nã o toca a alma exceto no meio da escuridã o e
como se estivesse se escondendo, ela nã o pode sentir o contato pessoal
divino exceto confusamente, sem perceber se é uma Pessoa que a toca
ou se há vá rias. Mas quando, na perfeita uniã o do amor, a alma é
introduzida na corrente da vida divina, nã o se pode mais esconder que
esta vida é uma vida tripessoal e que entra em contato experimental
com todas as trê s Pessoas divinas.
Fé e contemplação. Morte e ressurreição

Acreditamos que a dupla habitaçã o de Deus na alma pela graça e pelo


amor mı́stico fornece uma boa base para uma distinçã o clara entre fé e
contemplaçã o. Sã o Joã o da Cruz fala frequentemente de ambos, mas
sem os comparar, sem especi icar claramente as suas relaçõ es
mú tuas. Suas explicaçõ es freqü entemente deixam a impressã o de que
nã o há uma linha divisó ria clara entre eles; ambos passam a ser um
meio de uniã o, ambos parecem de inidos e descritos como um
conhecimento sombrio e amoroso. A Subida fala em particular das
trevas da fé , onde é comparada com as trevas da meia-noite, que é
totalmente escura, porque para fazer surgir a luz da fé temos que
renunciar totalmente à luz do conhecimento natural. A contemplaçã o é
freqü entemente designada pelas expressõ es Areopagitas: teologia
mı́stica (sabedoria secreta de Deus) e raio de escuridã o. Os dois
parecem intimamente relacionados e pró ximos quando nos é dito que
Deus, ao se comunicar com a alma, se esconde nas trevas da fé .
De resto, ica claro a partir dessas mesmas explicaçõ es da Ascensã o que
fé e contemplaçã o nã o podem ser tomadas pura e simplesmente como
sinô nimos, pois nos é dito que a noite da fé é um guia que nos leva aos
prazeres da vida. Contemplaçã o e Uniã o. Uma certa diferença se
pressupõ e també m quando, no pró logo do câ ntico, nos é dito que a
sabedoria mı́stica nã o precisa ser entendida de outra forma e que se
assemelha à fé , com a qual amamos a Deus sem compreendê -lo. Se
ambos fossem identi icados, nã o seria mais possı́vel falar em
semelhanças. Talvez, onde a diferença e ao mesmo tempo a estreita
relaçã o entre eles se exprima de forma mais clara, seja nessa passagem,
em que a contemplaçã o se opõ e, como escuro e conhecimento geral, ao
sobrenatural, diferente e particular notı́cia: "Dark intelligence e geral
está em um, que é a contemplaçã o que se dá na fé "
Para entender este texto e a relaçã o entre fé e contemplaçã o, lembre-se
do que foi dito acima sobre os diversos signi icados que a palavra fé
necessariamente inclui, assim como a palavra contemplaçã o. A fé se
torna o conteú do da Revelaçã o divina e a aceitaçã o de tal conteú do; e
també m, inalmente, a dedicaçã o amorosa a Deus, de quem a Revelaçã o
nos fala e a quem a devemos. O conteú do da fé nos fornece o material
para meditar, para aquele exercı́cio das potê ncias da alma sobre as
coisas que a fé nos propõ e, lembrando-as, tornando-as presentes à
imaginaçã o, pensando e raciocinando sobre elas, baseando-se nas
mesmas. objetivos e orientaçõ es para a vontade. Como resultado da
meditaçã o, o há bito de amar a inteligê ncia é alcançado. A alma
permanece em atitude de serena, pacı́ ica e amorosa atençã o e presença
de Deus, a quem veio a conhecer pela fé , sem se deter na consideraçã o
de nenhuma verdade concreta. Como fruto da meditaçã o, adquirimos
aqui a contemplaçã o. Em ú ltima aná lise, nã o se distingue da fé no seu
terceiro sentido, de "credere in Deum", daquela adesã o a Deus pela fé e
pelo amor.
Mas na maioria das vezes, quando Juan de la Cruz fala de contemplaçã o,
ele tem outra coisa em mente. Deus pode comunicar à alma um
conhecimento sombrio e amoroso de Si mesmo, mesmo sem o exercı́cio
pré vio de meditaçã o. Pode subitamente colocá -la em um estado de
contemplaçã o e amor, infundi-la com contemplaçã o. Isso nã o
acontecerá sem levar em conta a fé . Normalmente, é uma graça
concedida à alma, já preparada para recebê -la por meio do exercı́cio de
uma fé viva, com uma vida praticamente ajustada a essa fé . Se esta
graça for comunicada a um in iel, descrente, o conhecimento oportuno
dos artigos de fé , nos quais ele anteriormente nã o acreditava, será de
grande ajuda para um melhor conhecimento do que foi comunicado a
ele. E a mesma alma, iel ao amor, nã o cessa de abraçar, saindo das
trevas da contemplaçã o, à maior clareza dos artigos de fé para
compreender o que se oferece à sua contemplaçã o. E o que se oferece à
sua contemplaçã o é , apesar de todas as semelhanças e coincidê ncias,
algo fundamentalmente diferente da contemplaçã o adquirida. O novo
elemento é que a alma é possuı́da por Deus, experimentalmente
presente, també m nos casos da Noite Escura, em que a alma é privada
daquela presença sensı́vel - é a ferida sangrenta do amor e os desejos
veementes que permanecem, quando Deus se retira da alma. Ambas as
experiê ncias sã o experiê ncias mı́sticas, baseadas naquela forma de
presença que constitui um contato pessoa a pessoa nas profundezas da
alma. Em vez disso, a fé , e tudo o que pertence à vida de fé , repousa na
presença de Deus na alma pela graça.
O contraste entre a presença sensı́vel e o abandono sensı́vel de Deus na
contemplaçã o mı́stica nos coloca diante de outro elemento ú til para
distingui-la da fé . A fé é , antes de tudo, o objeto de compreensã o. A
vontade participa claramente da adesã o à fé , mas isso é , antes de tudo, a
aceitaçã o de algum conceito. Uma de suas propriedades é a escuridã o
da fé . A contemplaçã o é uma questã o do coraçã o, isto é , da alma mais
ı́ntima e, portanto, de todas as suas forças mais ı́ntimas. E no coraçã o
que se faz sentir a presença e a aparente ausê ncia de Deus, seja para
alegrar a alma, seja para deixá -la desfalecer em saudades
dolorosas. Pois bem, aqui no ı́ntimo dela, onde parece concentrar todo
o seu ser, é onde a alma se sente e vê toda a sua constituiçã o interior; e
na medida em que nã o é totalmente puri icado, esta visã o e percepçã o é
um martı́rio insuportá vel para ele, vendo-se formando tal contraste
com a santidade de Deus, presente nele. O que caracteriza, entã o, a
noite da contemplaçã o, nã o é apenas a escuridã o do conhecimento, mas
també m a escuridã o das impurezas da alma e a dor puri icadora.
A fé e a contemplaçã o sã o os meios pelos quais Deus se apodera da
alma. A aceitaçã o da verdade revelada nã o ocorre por uma simples
decisã o da vontade. A mensagem de fé atinge muitos que nã o a
aceitam. Isso pode ser devido a motivos ou motivos naturais; mas
també m há casos em que, no fundo, existe uma misteriosa
impossibilidade; é que a hora da graça ainda nã o chegou. A presença da
graça ainda está faltando. Por outro lado, na contemplaçã o, o pró prio
Deus encontra a alma e dela toma posse.
E visto que Deus é amor, é por isso que Deus apoderar-se da alma é
para in lamar no amor segundo a disposiçã o do espı́rito. O amor eterno
é um fogo devorador que consome tudo o que é terreno e perecı́vel,
assim como os movimentos que as criaturas despertam na alma. Na
medida em que a alma busca as criaturas, está evitando o amor de
Deus, mas nã o pode fugir dEle; entã o, mesmo o amor por si mesma se
torna um fogo consumidor para ela.
O espı́rito humano, como espı́rito, é feito de acordo com o modelo de
um ser imperecı́vel e imutá vel. Isso se manifesta na imutabilidade que
ele atribui a seus pró prios estados de espı́rito; ele acredita que sempre
permanecerá no estado em que se encontra no momento. E uma ilusã o,
pois o espı́rito em sua existê ncia temporal está sujeito a mudanças. Mas
essa sua convicçã o també m revela que sua existê ncia nã o se limita ao
temporal, mas tem raı́zes na eternidade. Por sua natureza, nã o pode se
desintegrar ou decompor como seres compostos de maté ria. Mas se ele
abraça e agarra livremente o temporal, entã o ele sentirá a mã o do Deus
vivo, que com sua onipotê ncia pode reduzi-lo a nada, consumi-lo no
fogo vingador do amor divino rejeitado, ou mantê -lo em um eterno
consumindo como os anjos caı́dos. Esta segunda morte, a morte mais
verdadeira, seria o nosso destino, se Cristo nã o tivesse mediado com a
sua Paixã o e morte entre nó s e a justiça divina, dando lugar à
misericó rdia.
Nem por natureza nem por livre escolha havia algo em Cristo que
resistisse ao amor. Em todos os momentos de sua existê ncia, ele viveu
totalmente rendido ao amor divino. Mas, ao se tornar homem, tomou
sobre si todo o peso dos pecados humanos, abraçou-os em seu amor
misericordioso, escondendo-os em sua pró pria alma, com aquele Ecce
veio, com o qual inaugurou sua vida terrena, expressamente repetido
em seu batismo., e com o Fiat do Getsê mani. Assim o seu sacrifı́cio de
expiaçã o foi consumado, primeiro, no seu interior, e depois nas dores
ao longo de toda a sua existê ncia, mas de uma forma mais assustadora
no Horto das Oliveiras e na Cruz, porque aqui chegou a cessar. Por
enquanto. a alegria que sua alma redunda na uniã o hipostá tica, para
que ique mais totalmente à mercê da dor, até que se prove o mais total
abandono de Deus. O Consumatum marca o im desse holocausto
expiató rio e o Pater, in manus tuas commendo spiritum meumas, o
regresso de initivo à uniã o eterna e inalterá vel do amor.
Nossos pecados foram destruı́dos pelo fogo na Paixã o e morte de
Cristo. Quando acreditamos nisso e nos unimos ao Cristo total, guiados
pela fé , o que signi ica que també m entramos no caminho do
seguimento de Cristo determinado, e entã o, Cristo nos conduz "atravé s
da sua Paixã o e da sua Cruz, para a gló ria do Ressurreiçã o. " Isso,
exatamente, é o que a alma experimenta na contemplaçã o: a passagem,
atravé s do fogo expiató rio, para a bem-aventurança da uniã o do amor. E
o que explica seu duplo cará ter. E morte e ressurreiçã o. Apó s a noite
escura, o brilho da chama viva do amor brilha.
3. A glória da ressurreição
1. Nas chamas do amor divino
Chama Viva do Amor
eu
Oh chama de amor viva,
quã o ternamente você machuca
da minha alma no centro mais profundo!
Bem, você nã o é mais indescritı́vel,
Termine agora se quiser
Rompa a trama desse doce encontro!

II
Oh, gentil cauté rio!
Oh ferida talentosa!
Oh mã o macia! Oh toque delicado
que gosto de vida eterna
e todas as dı́vidas pagam!
Matando, morte em vida você mudou.

III
Oh lâ mpadas de fogo,
em cujos brilhos
as cavernas profundas dos sentidos,
que estava escuro e cego,
com belezas estranhas
dê calor e luz ao seu ente querido!

4
Que manso e amoroso
eles lembram no meu seio
onde você só mora secretamente:
e no seu há lito saboroso,
de boa e plena gló ria,
com que delicadeza me fazes apaixonar!

a) No limiar da vida eterna

A alma saiu da noite. O que o espera agora excede qualquer coisa que
possa ser expressa em palavras. As exclamaçõ es oh! e como! eles
tentam expressar o que sentem. Por isso o Santo acatou o pedido de sua
ilha espiritual Ana de Peñ alosa para que declarasse estes quatro
cantos. Ele sentiu a iné pcia da linguagem para declarar tais coisas
espirituais e cativantes. Mas depois de algum tempo pareceu-lhe "que o
Senhor abriu um pouco a notı́cia e deu um pouco de carinho", e ele
decidiu levar a cabo este empreendimento.
"! Um pouco de calor! "De fato, dá a impressã o de que nã o apenas as
quatro estrofes da cançã o, mas todo o comentá rio nada mais é do que
uma incessante chama da" Chama Viva do Amor ". Por isso, somente
com um respeito sagrado. ousamos nos aproximar desses segredos
divinos que acontecem nas profundezas de uma alma escolhida. Mas
uma vez que o vé u foi levantado, o silê ncio nã o é permitido. Temos
diante de nó s o que o Ascensã o e a Noite nos prometeram: a alma que
Apó s o longo caminho para o Calvá rio, ele atingiu o im da uniã o
desejada.
Já avisamos antes, que també m os primeiros escritos mostram ter sido
compostos por algué m que já atingiu a meta. Caso contrá rio, A Cançã o
da Noite Escura di icilmente seria compreensı́vel. Mas, ao declarar as
estrofes, ele voltou ao tempo em que a Noite ainda estava passando e a
descreveu como se ainda estivesse aprisionado nela. Olhando para o
futuro, você nos disse algo sobre o seu mandato. Mas agora ele está
imerso na luz radiante da manhã da Ressurreiçã o. Se ele ainda fala da
cruz e à noite é como uma memó ria. E verdade que este olhar
retrospectivo dá maior signi icado a esta obra como um todo: a vida
nova nasceu da morte, a gló ria da Ressurreiçã o é a recompensa de ter
suportado ielmente a Noite e a Cruz. E assim que "todas as dı́vidas sã o
pagas".
A alma "sente como rios de á gua viva luem de seu seio", e lhe parece,
"que porque com tanta força se transforma em Deus, e tã o possuı́da por
ele, e com tã o ricas riquezas de dons e virtudes inundadas, que está tã o
perto da bem-aventurança que é dividido apenas por um pano leve e
delicado. " Cada vez que esta delicada chama de amor a ataca, que arde
nela "é como a glori icá -la com uma gló ria suave e forte" e parece-lhe
que vai rasgar o tecido da sua vida e que ela pouco tem a obter a posse
da felicidade e da vida eterna. Assim, ela está cheia de grandes desejos e
implora para ser libertada do invó lucro mortal.
A Chama viva do amor é o Espı́rito Santo, "que a alma já sente em si
mesma, como fogo que a consumiu e transformou em amor suave", e
també m "como fogo, que nela arde e queima a chama ..., e essa chama,
cada vez que arde, banha a alma de gló ria e a refresca no templo da vida
divina ”. O Espı́rito Santo causa na alma in lamaçõ es de amor, nas quais
a alma faz o mesmo amor com a chama divina. A transformaçã o em
amor é o há bito, um estado duradouro, para o qual a alma é
transportada, o fogo que nela arde permanentemente. Seus atos “sã o a
chama que nasce do fogo do amor, que sai tã o veementemente quanto
mais intenso é o fogo da uniã o”. Nesse estado, a alma nã o é capaz de
agir por si mesma. Todos os atos sã o dados e realizados pelo Espı́rito
Santo e, por isso, sã o todos divinos. Por isso, cada vez que esta chama
acende, a alma tem a impressã o de que a vida eterna lhe está sendo
dada: "porque a eleva para a operaçã o de Deus em Deus". Nesta
transformaçã o em chama de amor, o Pai, o Filho e o Espı́rito Santo sã o
comunicados a ele, e ele se aproxima de Deus tanto que percebe um
vislumbre da vida eterna e tem a impressã o de tê -la alcançado.
A chama do amor divino toca a alma com a ternura da vida divina e
fere-a tã o fortemente nas suas entranhas mais profundas que se
desmancha com o amor. Mas como falar de feridas aqui? De facto, estas
feridas sã o "como labaredas muito ternas de amor delicado", fogos de
Sabedoria eterna, "labaredas de toques ternos que à s vezes tocam a
alma, desde o fogo do amor que nã o está ocioso ...".
Isso acontece no centro mais profundo da alma, onde nem os sentidos
nem o demô nio podem penetrar e, conseqü entemente, em completa
segurança, substancial e deliciosamente "Quanto mais agradá vel e
interior, mais puro: e quanto mais pureza, tanto Deus se comunica com
mais abundâ ncia, frequê ncia e generosidade, e com isso o deleite e o
gozo da alma cada vez mais ..., porque Deus é o operador de tudo, sem
que a alma faça nada de seu ”. A alma nã o pode fazer nada por si mesma
se nã o for com a ajuda dos sentidos corporais, dos quais neste estado
está completamente separada, e assim "seu negó cio é apenas receber
de Deus, que pode apenas no fundo da alma ..., sem a ajuda dos
sentidos, trabalhe e mova a alma nele ”. Assim, todos os movimentos da
alma sã o divinos, atos de Deus, mas també m atos da mesma
alma. "Porque Deus os faz nela com ela, que dá a sua vontade e
consente."
Quando a alma a irma que o Espı́rito Santo a feriu em seu centro mais
profundo, isso signi ica que há outros pontos menos profundos nela,
que correspondem aos graus do amor divino: mas agora é tocado e
atingido em sua substâ ncia, em seu operaçã o e em sua força. Ele nã o
quer dizer com isso "que isso é tã o substancial e inteiramente quanto a
visã o beatı́ ica de Deus na vida apó s a morte ..."; diga-lhe apenas "para
implicar a abundâ ncia e abundâ ncia de deleite e gló ria que nesta forma
de comunicaçã o o Espı́rito Santo sente: cujo deleite é maior e mais
terno, mais forte e substancialmente a alma é transformada e
concentrada em Deus...
Mas isso nã o acontece tã o perfeitamente como na vida eterna. “Embora
por acaso o há bito da caridade possa ter a alma nesta vida tã o perfeita
como na outra: mas nã o a operaçã o e o fruto ...”. Mas o seu estado é tã o
semelhante ao da vida futura, aquele sentimento da alma de ser assim,
ousa a irmar: da minha alma no centro mais profundo. Aqueles que nã o
tê m experiê ncia irã o julgá -lo exagerado. Mas nã o é "incrı́vel que o pai
das luzes, cuja mã o nã o é abreviada e com abundâ ncia se difunda ... a
uma alma já dirigida e provada e puri icada no fogo das tribulaçõ es ..., e
achada iel no amor, Este alma iel deixa de se cumprir nesta vida o que
o Filho de Deus prometeu, convé m saber: que se algué m o amasse, a
Santı́ssima Trindade viria nele e nele habitariam (Jn, XIV, 23), o que
está ilustrando seu entendimento divinamente na sabedoria do Filho, e
sua vontade se deleitando no Espı́rito Santo, e o Pai absorvendo-o
poderosa e fortemente no abismo de sua doçura. " Mas na alma em que
arde a chama viva, o Espı́rito Santo faz muito mais do que comunicar e
transformar o amor. "Porque um é como uma brasa ardente: o outro,
como uma brasa em que o fogo é tã o forte, que nã o só se acende, mas
també m apaga uma chama viva."
A uniã o simples é comparada ao “fogo de Deus que está em Siã o” (Is
31,9), isto é na Igreja militante, onde o fogo do amor nã o é
extremamente aceso e a uniã o do amor com a in lamaçã o do amor , "na
fornalha de Deus, que está em Jerusalé m", uma visã o de paz na igreja
triunfante, na qual este fogo como em uma fornalha é aceso na
perfeiçã o do amor. A alma ainda nã o atingiu a perfeiçã o do cé u, mas
arde como uma fornalha de fogo em contemplaçã o pacı́ ica, gloriosa e
radiante de amor. Ele experimenta como "esta chama viva de amor
comunica vividamente todos os bens a ele". E por isso que ele exclama:
"Oh, chama viva de amor, que você feriu ternamente." Como se dissesse:
"O amor ardente, que com tais movimentos amorosos você está me
glori icando, de acordo com a maior capacidade e força de minha alma!
Isto é , dando-me inteligê ncia divina, de acordo com toda a capacidade e
capacidade de meu entendimento, e comunicando-me o amor, de
acordo com a maior força de minha vontade, e deliciando-se na
substâ ncia da alma com a torrente de seu deleite em seu contato divino
e uniã o substancial, de acordo com a maior força de minha substâ ncia e
capacidade e amplitude da minha memó ria ".
Quando a puri icaçã o de todas as potê ncias foi completada, "a
Sabedoria Divina ... profunda e sutilmente e sutilmente com sua chama
divina a absorve em si mesma, e nessa absorçã o da alma em sabedoria,
o Espı́rito Santo exerce as gloriosas vibraçõ es de seu chama ". E o
mesmo fogo que na puri icaçã o era escuro e doloroso para a alma e que
agora a ilumina com amor e beati icaçã o. E por isso que a alma diz:
"Bem, você nã o é mais esquivo!" Anteriormente, a luz divina permitia
que ele nã o visse nada alé m de sua pró pria escuridã o. Agora, como já
está iluminado e transformado, contempla a luz em si. Antes era a
chama terrı́vel para a vontade, porque o fazia sentir dolorosamente sua
dureza e secura, e ele nã o podia rastrear a ternura e delicadeza da
chama ou saborear sua doçura, porque seu gosto por inclinaçõ es
bastardas era extraı́do. A alma nã o podia apreciar as imensas riquezas
ou o deleite da chama do amor e sentia sob sua in luê ncia apenas sua
pró pria pobreza e misé ria. Ele pensa em tudo isso como algo do
passado e com essas breves palavras ele quer dizer: "Você nã o só nã o é
escuro para mim como antes, mas você é a luz divina do meu
entendimento, com a qual posso olhar para você : e nã o só nã o desmaias
a minha fraqueza, mas diante de ti está a força da minha vontade com a
qual posso amá -lo e desfrutá -lo, estando tudo convertido em amor
divino; e você nã o é mais um fardo e um fardo para a substâ ncia da
minha alma , mas antes de você estã o a gló ria, o deleite e a amplitude
dele ". E como já está tã o perto da meta, pede inalmente: "Termine
agora, se quiser."
E pedir um casamento espiritual perfeito na visã o beatı́ ica. Como a
alma neste estado elevado está completamente abandonada em Deus e
sem seu pró prio desejo, ela nã o pode pedir mais nada. Mas como ainda
vive na esperança e nã o tem a plena iliaçã o divina, anseia pela
consumaçã o, e tanto mais porque experimentou a gravidez e o gozo
dela, na medida do possı́vel na terra. Esse grau é tã o alto que ele passa a
acreditar que sua natureza se dissolve, porque a parte inferior é
incapaz de suportar um fogo tã o alto e poderoso. E assim realmente
aconteceria se Deus nã o viesse em auxı́lio da fraqueza de sua natureza
e a sustentasse com sua mã o direita.
De resto, esses breves lampejos de contemplaçã o sã o de tal sorte, "que
antes seria pouco amor nã o pedir a entrada nessa perfeiçã o e
realizaçã o do amor". A alma vê aı́ que o pró prio Espı́rito Santo a
convida a essa gló ria imensa e que, como o Noivo no Câ ntico dos
Câ nticos, a chama: "Levanta-te, minha amiga, minha graciosa, e minha
pomba e, vem ... "(Qtde 2, 10 e segs.). "Termine agora se quiser"; com
isso a alma pede aqueles dois pedidos que ele nos ensinou no
Evangelho, a saber: "Adveniat Regnun tuum; iat voluntas tua". Para que
a uniã o perfeita aconteça, todos os panos que separam a alma de Deus
devem ser removidos. Pode haver trê s desses tecidos: "temporal, em
que se entendem todas as criaturas; natural, em que se entendem as
operaçõ es e inclinaçõ es puramente naturais ...; sensı́vel, em que se
entende apenas a uniã o da alma com o corpo, que é sensı́vel e a vida
animal ... ”. A primeira e a segunda tiveram que ser quebradas para se
chegar à uniã o na qual a alma já se encontra. Isso foi feito "pelos
encontros evasivos dessa chama, quando ela era evasiva". Agora apenas
o terceiro tecido da vida sensı́vel permanece, e este com esta uniã o com
Deus é tã o sutil e ino quanto um vé u. E quando se rompe, a alma pode
falar de um doce encontro. Porque a morte natural desta alma é muito
diferente da de outras, mesmo que as circunstâ ncias da morte sejam
semelhantes. “Porque mesmo que morram na doença ou em plena
idade, a alma nã o os arranca mas sim algum ı́mpeto e encontro de amor
muito superior ao passado e mais poderoso e corajoso, pois poderia
rasgar o tecido e tirar a joia do alma. E assim A morte de tais almas é
muito suave e muito doce, mais do que sua vida espiritual foi toda a sua
vida, pois morrem com maior ı́mpeto e eu os acho saborosos de amor,
sendo eles como o cisne, que canta mais suavemente quando morre.
Por isso Davi disse que a morte do justo era preciosa na obediê ncia de
Deus (Salmo 115,15), porque aqui todas as riquezas da alma vê m em
uma, e eles encontrarã o os rios do amor da alma no mar, que já estã o lá
tã o largos e represados que já parecem mar ”.
A alma é vista na soleira da entrada para a felicidade eterna e "entã o a
ponto de sair para possuir seu reino acabado e perfeitamente ...; ela se
conhece rica e pura e cheia de virtudes e pronta para isso, porque em
neste estado Deus deixa a alma ver sua beleza ...; porque tudo se
transforma em amor e louvor, sem um toque de presunçã o ou vaidade,
nã o há mais fermento de imperfeiçã o ...; e como a alma vê que só
precisa quebrar esse tecido magro da vida natural ..., querendo se ver
desamarrada e ver Cristo, fazendo-a sentir pena que uma vida tã o baixa
e magra a impeça de outra tã o alta e forte, ela pede que seja rompida
dizendo: “Quebre o tecido deste doce encontro ".
Como agora, “a alma sente a força da outra vida, vê a fraqueza do
estotra, e parece uma teia muito ina e até uma teia de aranha (Salmo
89,9) e é muito menos ainda”. Porque agora ele conhece as coisas como
Deus; "Todas as coisas nã o sã o nada para ela, e ela nã o é nada aos olhos
dele. Só o seu Deus é tudo para ela."
A alma pede que se rompam o pano, nã o que o tribunal: primeiro,
porque o rompimento é mais tı́pico do encontro; alé m disso, “porque o
amor é amigo da força do amor e de um toque forte e impetuoso
...”. Terceiro, porque o amor deseja que o ato seja muito breve. “Porque
tem muito mais força e valor quando é mais rá pido e espiritual, porque
a virtude unida mais forte é aquela dispersa”. Os atos que sã o feitos em
um instante na alma sã o antes desejos arti iciais e nunca se tornam atos
perfeitos de amor, mas quando, como dissemos, à s vezes "Deus os
forma e os aperfeiçoa com grande gravidade no espı́rito".
“O ato de amor à s vezes entra na alma querendo, porque a faı́sca a cada
toque apanha o pavio, e assim a alma apaixonada mais deseja a
brevidade do rompimento”. Ele nã o admite procrastinaçã o nem espera
que a vida termine naturalmente. "Porque a força do amor e a
disposiçã o que ela vê em si mesma a fazem querer e pedir que sua vida
seja quebrada mais tarde por algum encontro ou impulso sobrenatural
de amor." A alma sabe "que é condiçã o de Deus trazer consigo antes do
tempo as almas que ele tanto ama", consumindo-as brevemente com
este amor.
"Por isso é grande negó cio para a alma exercer atos de amor nesta vida,
porque, consumindo-se em pouco tempo, nã o se demore aqui ou ali
sem ver Deus."
A alma chama de encontro este impetuoso ataque interior do Espı́rito
Santo. Deus o empreende com esse ı́mpeto sobrenatural, para elevá -lo
acima da carne e conduzi-lo à desejada perfeiçã o. Sã o encontros
verdadeiros: o Espı́rito Santo penetra no ser da alma, clari ica-a e
diviniza-a, «no qual absorve a alma sobretudo sendo o ser de Deus». A
alma gosta muito de Deus aqui, e chama esse encontro de doce acima
de todos os outros toques e encontros, porque ultrapassa todos os
outros. Assim, Deus prepara a alma para a glori icaçã o perfeita e
concede-lhe o pedido de romper o vé u, para que doravante possa amar
a Deus sem barreiras, sem im na plenitude e saciedade que tanto
ansiava.

b) União com Deus, una e trina

Oh, gentil cauté rio.


Oh ferida talentosa!
Oh mã o macia! Oh toque delicado
que gosto de vida eterna
e todas as dı́vidas pagam!
Matando, morte em vida você mudou.

Na primeira estrofe, a uniã o foi considerada principalmente como uma


obra do Espı́rito Santo. Observamos apenas brevemente que as trê s
pessoas divinas estabelecem sua morada na alma. Agora tentaremos
expor o papel que cada pessoa tem na “obra divina da uniã o”. Cauté rio,
mã o e toque sã o substancialmente a mesma coisa; os nomes foram
impostos em relaçã o aos efeitos. "O cauté rio é o Espı́rito Santo; a mã o é
o Pai e o toque o Filho." Cada um traz para você um presente
especial; ao Espı́rito Santo, ao gentil cauté rio, ele deve a chama
dotada. O Filho, atravé s do toque delicado, dá -lhe o sabor da vida
eterna. O Pai com mã o macia a transforma em Deus. E, no entanto, ela
fala com apenas um, "porque todos trabalham em um e, portanto, ela
atribui tudo a um e tudo a todos."
Sabemos que o Espı́rito Santo é um Fogo consumidor (Dt 4, 24), "fogo
do amor, que, embora força in inita, pode inestimavelmente consumir e
transformar em si a alma que toca ... E por causa deste fogo divino,
Neste caso, a pró pria alma se transforma, nã o só sente cauté rio, mas
tudo se torna cauté rio de fogo veemente. E é uma casa admirá vel ...
consumiria mil mundos que o fogo aqui, um a sucata de linho, nã o
consome e esgota a alma em que arde ..., antes a diviniza e deleita ". "A
alma bendita que com muita sorte chega a este cauté rio, sabe tudo,
gosta de tudo, faz tudo o que quer e prospera, e ningué m prevalece
diante dela, nem ela toca." Para ela, valem as palavras do Apó stolo: "O
espiritual tudo julga e nã o é julgado por ningué m" (1Cor. 2, 15) e ainda:
"O Espı́rito tudo esquadrinha, até as profundezas de Deus" (1Cor. 2,
10). Porque esta é a propriedade do amor: "examine todos os bens do
amado".
O gentil cauté rio causa uma ferida nos dentes; "Porque sendo o cauté rio
do amor gentil, será uma ferida do amor gentil e, portanto, ser
gentilmente dotado. E sugerir como ser essa ferida com quem ela fala
aqui, é saber que o cauté rio do fogo material no segunda parte Sempre
faz uma ferida, e tem esta propriedade: que se pousa em uma ferida que
nã o era fogo, faz fogo. E isso tem esse cauté rio de amor, que na alma
toca, agora está dolorido com outras feridas de misé rias e pecados,
agora ica sã , depois deixa-a ferida de amor ”. E mesmo as pró prias
feridas que o amor causa nã o podem ser curadas exceto pelo amor e
nisso difere do fogo material. Mas se isso os cura, é para produzir
novos. "Porque cada vez que o cauté rio do amor toca a ferida do amor,
faz uma ferida maior do amor, e assim cura e cura mais por quanto mais
ferida ..., até que a ferida seja tã o grande que toda a alma venha a ser
resolvida em uma ferida de amor. E desta forma ..., feita uma ferida de
amor, é tudo sã no amor, porque se transforma em amor. ” Apesar disso,
o cauté rio nã o para de fazer sua operaçã o, mas como um bom mé dico
acaricia com amor a ferida já curada.
Este alto grau de ferida de amor é produzido por “um ú nico toque da
Divindade na alma, sem qualquer forma ou igura de qualquer
intelectual ou imaginá rio”. Mas ainda existem outras formas muito
elevadas de cauté rio com uma forma intelectual. O Santo nos dá aqui
uma descriçã o detalhada de como a alma pode ser ferida por um
Sera im com uma lecha acesa ou dardo. Só pode se referir à
Transverberaçã o de nossa mã e Santa Teresa. No entanto, a descriçã o
conté m detalhes importantes que Santa Teresa nã o havia notado em
seu pró prio relato. O que nã o é de estranhar, considerando que a Santa
abriu completamente a sua alma a S. Joã o da Cruz e, em todo o caso,
exprimiu-se sem reservas, o que nã o pô de fazer na sua exposiçã o
literá ria. A alma diz o Santo - "sente a ferida ina e a erva com que o
ferro foi intensamente temperado, como um ponto vivo na substâ ncia
do espı́rito, como no coraçã o da alma trespassada".
“E neste ponto ı́ntimo da ferida que parece atingir o meio do coraçã o do
espı́rito, que é onde se sente a delicadeza do deleite, quem pode falar
como deve? Porque a alma ali se sente como um grã o mı́nimo de
mostarda, muito viva e ı́gnea, que envia em sua circunferê ncia um fogo
vivo e ardente de amor; esse fogo, nascido da substâ ncia e virtude
daquele ponto vivo onde está a substâ ncia e virtude da erva, se difunde
sutilmente em todas as veias espirituais e substanciais da alma ... "Com
isso a alma vê que cresce mais em alto grau que o do amor. E, nesse
ardor, o amor se re ina tanto que lhe parece como se nele houvesse
mares de fogo amoroso que alcançam alto e baixo, inundando de amor
as partes superior e inferior da alma. Neste fogo, o mundo inteiro
parece-lhe um mar de amor, no qual ela está envolvida, sentindo em si
mesma o ponto vivo e o centro do amor.
“E o que a alma desfruta aqui nã o há mais nada a dizer senã o que ali ela
sente quã o bem o reino dos cé us é comparado no Evangelho ao grã o de
mostarda que, devido ao seu grande calor, embora tã o pequeno, se
torna uma grande á rvore (Mt 13,31), visto que a alma é vista como um
imenso fogo de amor que nasce daquele ponto aceso do coraçã o do
espı́rito.
“Poucas almas alcançam tanto. Mas algumas chegaram, principalmente
aquelas cuja virtude e espı́rito tiveram que se espalhar na sucessã o de
seus ilhos, Deus dando riqueza e valor à s cabeças nas primı́cias do
espı́rito segundo o maior ou menor sucessã o que deviam ter na sua
doutrina e no seu espı́rito ”(Esta observaçã o també m aponta para a
Santa Mã e).
As vezes, essa ferida interna é visı́vel externamente no corpo. O Santo
vai explicá -lo à s feridas de Sã o Francisco, a quem, quando o Sera im
feriu com as cinco feridas, «saiu també m o efeito delas no corpo ...
impresso na sua alma, ferindo-a de amor; porque Normalmente Deus
nã o tem misericó rdia do corpo que antes de mais nada o faz à alma ". E
quanto maior o deleite e a força do amor como consequê ncia da ferida
interior, “quanto maior é o exterior na ferida do corpo e crescendo um
cresce o outro”, porque “sendo estas almas puri icadas e colocadas em
Deus, o que causa dor e tormento à sua carne corruptı́vel ... no espı́rito
forte e saudá vel é doce e saboroso. Mas quando a ferida está apenas na
alma, sem ser comunicada do lado de fora, pode ser o deleite mais
intenso. e superior; porque como a carne adoeceu o espı́rito, quando os
seus bens espirituais també m lhe sã o comunicados, ela lança a ré dea e
encara a boca deste cavalo ligeiro do espı́rito e extingue o seu grande
espı́rito, porque se ele usar a força tem que ser a ré dea partido ... ".
A breve alusã o à variedade das feridas do amor é digna de ser levada
em consideraçã o, na medida em que mostra o cuidado que o Santo teve
em esclarecer a pró pria experiê ncia com o que aconteceu a outras
almas; Ela també m vê com que clareza ele estabeleceu sua distinçã o e
com que certeza a irma o que é para ele um postulado fundamental:
por mais altas que sejam as feridas do amor na experiê ncia visioná ria,
nã o podem ser equiparadas ao que é puramente espiritual. acontece na
essê ncia da alma. Isso está de acordo com a teoria das relaçõ es entre o
corpo e a alma que Sã o Joã o da Cruz delineia nesta passagem; A alma
como espı́rito é essencialmente aquela que exerce domı́nio, mas por
estar no estado de natureza decaı́da, mesmo nos graus mais elevados
do processo mı́stico, ela tem que suportar o peso do corpo e se sente
oprimida pelo envoltó rio terreno. ; a ordem da graça se acomoda a essa
ordem primordial da natureza e, portanto, seus dons sã o concedidos
em primeiro lugar à alma, e só eventualmente, por meio da alma,
redundam no corpo.
A mã o que causa a ferida é o Pai piedoso e onipotente: uma mã o «que,
portanto, é tã o generosa e generosa como poderosa e rica, os
mergulhos ricos e poderosos dã o à alma quando se abre para lhe fazer
misericó rdia». A alma sente como sobre ela repousa amorosamente e
como a toca com ainda mais delicadeza, pois esta mesma mã o poderia
mergulhar o mundo no abismo, se o aplicasse com maior força. Ela
mata e dá vida e ningué m pode escapar de seu poder. "Mas você Oh vida
divina! Você nunca mata, mas para dar vida ...; quando você pune
levianamente, você toca, e isso é o su iciente para consumir o mundo;
mas quando você dá de propó sito, você concorda, e assim o presente de
sua doçura nã o há nú mero. Chama-me para me curar ó divina mã o! E tu
mataste em mim o que me fazia morrer sem a vida de Deus em que
agora me vejo a viver e isso tu izeste com a liberalidade da tua
generosa graça que usaste com me com o toque com que você me tocou
do esplendor de sua gló ria e igura de sua substâ ncia (Hebr. 1, 3), que é
o seu Filho Unigê nito, em quem, sendo sua Sabedoria, você toca
fortemente de uma ponta a outra im (Seiva. 8,1); e este teu Filho
Unigê nito, ó mã o misericordiosa do Pai! E o toque delicado com que me
tocaste com a força do teu cauté rio e me feriste. substâ ncia da alma e
comovente tudo delicadamente em você mesmo, você absorve tudo em
modos divinos de deleite se suavidades nunca ouvidas na terra de
Canaã , nem vistas em Temn! (Baruque 3:22). Oh, entã o, muito, e de uma
maneira excelente, muito delicado toque da Palavra, para mim ainda
mais, desde que eu virei as montanhas e quebrou as pedras no Monte
Oreb com a sombra do seu poder e força que veio antes de você , você se
entregou com mais delicadeza e força para sentir o profeta no delicado
apito de ar! ) 3 Reis 19, 11-12). Oh, ar! Como você é ar ino e delicado,
diga: como você toca ino e delicado, Verba, Filho de Deus, sendo tã o
terrı́vel e poderoso? Oh, abençoada, e muito abençoada é a alma que
você toca ina e delicadamente, sendo tã o terrı́vel e poderosa! Diga isso
ao mundo, mas nã o quero dizer ao mundo, porque ele nã o conhece o ar
e nã o te sente, porque eles nã o podem te ver e nem te receber, mas
aqueles, meu Deus e minha vida, te verã o e sentir o seu toque ino, que
se alienando do mundo eles se tornam magros, concordando magros
com magros, e assim podem sentir você e desfrutar de você ... Ah, bom,
de novo e muitas vezes toque delicado, muito mais forte e mais
poderoso, o mais delicado; porque com a força de sua delicadeza você
desfaz e separa a alma de todos os outros toques das coisas criadas e a
concede e une apenas para você : e o efeito tê nue e deixa nele, que
qualquer outro toque de todas as coisas altas e baixas parece rude e
bastardo para ele e ofende até olhar para ele e é dor e tormento grave
tratá -lo e tocá -lo ".
Quanto mais ino ele é , mais sua capacidade aumenta e quanto mais
sutil e delicado ele se torna, mais comunicativo se torna. O Verba é
in initamente sutil e delicado, e a alma por sua puri icaçã o tornou-se
um vaso amplo e capaz. E quanto mais ino o toque, mais prazer ele
proporciona. Este toque divino nã o tem forma nem igura, porque a
Palavra que o faz nã o pode cair em nenhum sentido ou maneira. E um
toque substancial, ou seja, atua na alma por meio da substâ ncia divina
que é muito simples e, portanto, inefá vel. E como é in inito, é
in initamente delicado.
Desta forma, você pode dizer "que a vida eterna sabe". Isso nã o é
impossı́vel, porque toca a substâ ncia de Deus na substâ ncia da alma. O
prazer que você experimenta é inefá vel. "Nem eu gostaria de falar sobre
isso, porque nã o está entendido que isso nã o é mais do que o que é dito,
que nã o há palavras para declarar." As almas tê m uma linguagem
pró pria para declarar as coisas tã o elevadas de Deus, e só aqueles a
quem foram comunicadas podem entendê -la: icam felizes por tê -las
recebido e por mantê -las em segredo.
Acontece aqui como com a pedra branca de que fala Sã o Joã o (Ap 2,17)
que ningué m a conhece, senã o aquele que a recebe. Este toque divino
conté m em si mesmo um antegozo da vida eterna, embora nã o seja tã o
perfeitamente desfrutado como na gló ria. A alma “gosta aqui de todas
as coisas de Deus, comunicando força, sabedoria, amor, beleza, graça,
bondade, etc. aos seus poderes e à s suas substâ ncias goza. E deste bem
da alma à s vezes a unçã o do Espı́rito Santo redunda no corpo e goza de
toda a substâ ncia sensı́vel e de todos os membros e ossos e medula ...,
com um sentimento de grande deleite e gló ria, que se faz sentir até nos
ú ltimos pedaços de pé s e mã os ”. Nesta premoniçã o de vida eterna, a
alma sente-se ricamente e acima de tudo merecimento pago por todas
as obras passadas, tribulaçõ es, tentaçõ es e penitê ncias. E assim o
versı́culo "e toda a dı́vida paga" é cumprido.
Se sã o muito poucos os que atingem "tã o alto estado de perfeiçã o de
uniã o com Deus", nã o se deve buscar a causa em Deus que deseja que
todos sejam perfeitos, mas poucos vasos que "sofrem uma obra tã o
elevada e elevada". A maioria "nã o querendo se submeter ao mı́nimo
sofrimento e morti icaçã o, (Deus) nã o prossegue em puri icá -los e
erguê -los do pó da terra com a obra de morti icaçã o ...".
“O almas que querem caminhar com segurança e consoladas nas coisas
do espı́rito! Se soubesses o quanto convé m sofrer sofrimentos para
chegar a essa segurança e consolo ..., levas a cruz, e, colocada sobre ela,
você gostaria de beber o fel e vinagre puro e você o teria com grande
felicidade, visto que morrendo assim para o mundo e para si mesmo
você viveria em Deus nas delı́cias do espı́rito, e assim, sofrendo com
paciê ncia e idelidade o pequeno exterior, merecerias que Deus pusesse
os olhos em ti para te puri icar e puri icar para mais algumas obras
espirituais, para te dar mais bens desde dentro ». Daı́ vem o fato de que
“sã o muito poucos os que merecem ser consumidos pelas paixõ es,
sofrendo para chegar a tal estado”.
Olhando para trá s, a alma sabe que tudo serviu para sua salvaçã o e que
a luz brota das trevas. Nã o apenas todas as suas dı́vidas foram pagas,
mas todos os apetites imperfeitos que desejariam tirar sua vida
espiritual foram deixados mortos. E entã o Deus matando, a morte em
vida mudou isso.
A vida de que ele fala aqui pode ser entendida de duas maneiras: a
visã o beatı́ ica, que só pode ser alcançada pela morte natural, e a vida
espiritual perfeita, que é possessã o de Deus por amor: a ela conduz a
morti icaçã o de todos os vı́cios e vı́cios, apetites. O que a alma chama de
morte aqui, "é todo o velho, que é o uso de poderes, memó ria,
compreensã o e vontade, ocupado e empregado nas coisas do sé culo e
nos apetites e gostos das criaturas". Em tudo isso consiste a velha vida,
e é identi icada com a morte da nova vida espiritual.
Nesta nova vida de uniã o, todos os apetites, poderes, inclinaçõ es e
operaçõ es devem ser transformados em divinos. "Ele vive a vida de
Deus e, portanto, sua morte foi trocada pela vida, que é a vida animal
pela vida espiritual." Seu entendimento foi transformado em
entendimento divino, sua vontade, sua memó ria e todos os seus
apetites sã o dei icados. "E a substâ ncia desta alma, embora nã o seja a
substâ ncia de Deus, porque nã o pode se tornar substancialmente nele,
mas estando unida como aqui está com ela e absorvida nela, é Deus
pela participaçã o de Deus." E por isso a alma pode dizer com razã o:
«Vivo, mas já nã o sou eu que vivo, mas Cristo vive em mim» (Gl 2,
20). Por isso, sempre "a alma caminha para dentro e para fora como se
estivesse em uma festa e com grande freqü ê ncia traz ao paladar de seu
espı́rito uma grande alegria de Deus, como uma nova cançã o, envolvida
em alegria e amor no conhecimento de seu estado de felicidade". Deus,
que torna tudo novo, també m renova a alma permanentemente. Ele nã o
a deixa, como antes, voltar, mas aumenta seus mé ritos; "Alé m do
conhecimento que tem das concessõ es recebidas, ele sente Deus aqui
tã o solı́cito em dar-lhe palavras tã o preciosas, delicadas e preciosas, e
em engrandecê -la com alguns e outros favores, que parece à alma que
ele nã o tem outra no mundo a quem dar, ou qualquer outra coisa para
usar, mas tudo é só para ela; e, sentindo-se assim, ela o confessa como a
esposa das cançõ es: Meu amado é por mim e eu sou pelo meu amado "(
Cant. 2,16).
c) Entre as labaredas da glória divina

Oh lâ mpadas de fogo,


em cujos brilhos
as cavernas profundas dos sentidos,
que estava escuro e cego,
com belezas estranhas
dê calor e luz ao seu ente querido!

A alma transborda de gratidã o pelas graças que vê m da uniã o. Seus


poderes e sentidos, antes cegos e na escuridã o, agora sã o transparentes
com a luz e iluminados pelas notı́cias que ela recebe e que a in lama
com o fogo do amor.
E assim que você pode devolver luz e amor ao Amado, o que preenche a
sua felicidade.
Em sua uniã o substancial com Deus, a alma recebe notı́cias das
excelê ncias e propriedades de todos os atributos divinos, encerrados na
unidade da essê ncia divina: sua onipotê ncia, sabedoria, bondade,
misericó rdia, etc .; e "como cada uma dessas coisas é o mesmo ser de
Deus em uma ú nica suposiçã o sua, que é o Pai ou o Filho ou o Espı́rito
Santo, cada atributo desses sendo o mesmo Deus, e Deus sendo luz
in inita e fogo divino in inito ..., daqui é que em cada um destes
atributos, que sã o inú meros, se parece e aquece como Deus, e por isso
cada um destes atributos é como uma lâ mpada que ilumina a alma e
aquece o amor ” . Em um ú nico ato de uniã o, a alma recebe notı́cias dos
vá rios atributos divinos, e assim "juntos o pró prio Deus sã o muitas
lâ mpadas, que brilham de maneira diferente em sabedoria e aquecem".
Assim, essas lâ mpadas, todas juntas e cada uma em particular, acendem
a alma. "Porque todos esses atributos sã o um ser ...; e, portanto, todas
essas lâ mpadas sã o uma lâ mpada que, de acordo com suas virtudes e
atributos, brilha e arde como muitas lâ mpadas ...". Porque o esplendor
que esta lâ mpada do ser de Deus lhe dá , na medida em que é
onipotente, dá -lhe a luz e o calor do amor de Deus, na medida em que é
onipotente. ”Mas ao mesmo tempo a enche do brilho de Deus, na
medida em que é sabedoria onisciente. E por isso já é uma lâ mpada de
sabedoria. E nem mais nem menos acontece aos outros atributos
divinos que aqui juntos a alma sã o representados em Deus. Admirá vel é
o deleite que a alma recebe do calor e da luz de essas lâ mpadas,
admirá veis e imensas, “porque tã o copiosas quanto tantas lâ mpadas,
que cada uma arde no amor, e també m ajudando o calor de uma ao
calor da outra, e a chama de uma à chama da outra, bem como a luz de
um na luz do outro, porque por qualquer atributo o outro é
conhecido; e assim todos eles sã o feitos uma luz e um fogo, e cada um
uma luz e um fogo ”.
A alma se sente profundamente submersa e engolfada por chamas
delicadas e sutilmente ferida de amor por cada uma delas e ainda mais
ferida por todos eles juntos no amor da vida de Deus ", tornando-se
muito bom ver que esse amor é eterno vida, que é a uniã o de todos os
bens. " Deus comunica seu amor e favores à alma de acordo com todos
os seus atributos; porque ele a favorece e ama com sua onipotê ncia e
sua sabedoria, com sua bondade e santidade, com sua justiça e
misericó rdia, com sua pureza e limpeza, etc. E ele a ama com grande
estima e quer combiná -la consigo mesmo e se mostra em meio a essas
notı́cias da uniã o com uma cara alegre e divertida. E ele derrama sobre
seus impetuosos rios de amor, e a deixa "maravilhosamente leti icada,
de acordo com toda a harmonia de sua alma e até mesmo de seu corpo,
feita todo um paraı́so de irrigaçã o divina". E tã o suave é o imenso fogo
que o consome, que é como as á guas da vida que saciam a sede do
espı́rito com o espı́rito desejado. E esse fogo igurado no fato
maravilhoso a que se refere o Livro dos Macabeus: o fogo sagrado, que
havia sido escondido por Jeremias em uma cisterna, dentro dele havia
se transformado em á gua; mas levado ao altar do sacrifı́cio, foi
novamente transformado em fogo. Que á gua doce e deliciosa é o
espı́rito divino, quando se esconde nas veias da alma, mas quando sai à
luz do dia para ser queimado no altar do amor divino, já sã o chamas de
fogo vivas. Mas visto que aqui a alma é in lamada e colocada no
exercı́cio do amor, ele as chama de lâ mpadas em vez de á gua.
Tudo isso nã o passa de uma tentativa, que é insu iciente, de expressar o
que realmente acontece no fundo de tudo, "porque a transformaçã o da
alma em Deus é indizı́vel".
Pelo esplendor de que se fala e com que brilha a alma, entendemos a
notı́cia, envolta em amor, de que os atributos e perfeiçõ es de Deus se
doam à alma. Envolvida nesses atributos e perfeiçõ es, ela mesma brilha
como eles, feita resplandecer de amor. Mas a luz dessas radiaçõ es
divinas nã o é como a luz das lâ mpadas materiais. Eles iluminam com
seus fogos os objetos que estã o ao redor e fora deles; estas, por outro
lado, iluminam e mostram o que está dentro das mesmas chamas. E a
alma, que está precisamente embutida naquele fogo de luz, é
transformada e brilha; é como o ar que está na chama, in lamado e
transformado em chama.
Os movimentos desta chama divina, suas vibraçõ es e chamas, nã o sã o
mais apenas obra da alma, mas dela e do Espı́rito Santo juntos; e "eles
nã o sã o apenas esplendores, mas glori icaçõ es na alma ..., os jogos e
festas felizes que no segundo verso da primeira cançã o declaramos que
o Espı́rito Santo estava fazendo na alma." Parece que neles Deus quis
dar-lhe a vida eterna e terminar de transferi-la para a gló ria, que este
im carrega todas as primeiras e ú ltimas graças que Deus o faz. Mas,
embora esses movimentos do Espı́rito Santo sejam tã o e icazes, eles
nã o absorvem totalmente a alma na plenitude da gló ria "até que chegue
o momento em que ela sai ... desta vida da carne, e pode entrar no
centro do espı́rito. , da vida perfeita em Cristo ".
Mas esses movimentos da chama, de que se fala, nã o serã o atribuı́dos
propriamente a Deus, mas à alma. Porque Deus é imutá vel; embora
pareça que se move na alma, em si mesma nã o se move.
Essas luzes podem ser chamadas por outro nome de obumbraciones,
como o anjo fez na Anunciaçã o (Lc. 1:35). Porque iluminar ou sombrear
"signi ica tanto quanto proteger, favorecer e dar misericó rdias". Porque
cobrir uma pessoa para outra com sua sombra equivale a estar perto
para protegê -la e ajudá -la. Agora, cada coisa faz de acordo com sua
pró pria natureza. "Se a coisa é opaca e escura, ela forma uma sombra
escura; e se a coisa é clara e sutil, torna a sombra clara e sutil." assim
sã o as sombras feitas pelas lâ mpadas iluminadas e resplandecentes dos
atributos divinos. "A sombra que faz da alma a lâ mpada da beleza de
Deus ser outra beleza do tamanho e propriedade daquela beleza de
Deus, e a sombra que torna a sabedoria de Deus, ser outra sabedoria de
Deus do tamanho de Deus; e a sombra isso faz com que a fortaleza seja
outra fortaleza nas alturas de Deus ..., ou melhor, seja a mesma beleza e
a mesma sabedoria e a mesma fortaleza envolta em sombras, porque a
alma aqui nã o pode compreender perfeitamente ”.
Mas, uma vez que essa sombra de Deus está no auge do ser e da
propriedade de Deus, a alma conhece perfeitamente a excelê ncia e
grandeza divina na sombra. assim, a divina onipotê ncia e sabedoria
como sua in inita bondade e gló ria, todas des ilam "nas sombras claras
e iluminadas daquelas lâ mpadas claras e iluminadas", e todas sã o
conhecidas e buscadas pela alma. Assim ele vê , conhece e prova todas
as riquezas reunidas e encerradas na in inita unidade e simplicidade da
essê ncia divina. E o conhecimento de um nã o impede o conhecimento e
o sabor perfeito do outro; antes de cada graça e virtude está a luz que
ilumina qualquer outra grandeza divina. A pureza da sabedoria divina
signi ica que, vendo uma, muitas outras coisas sã o vistas nela.
Toda essa gló ria é o que vem para inundar "as cavernas profundas do
signi icado". Por estes entendemos as potê ncias da alma: memó ria,
compreensã o e vontade, que sã o "tã o profundas quanto capazes de
grandes bens, visto que nã o estã o repletas de menos do que o in inito",
e tanto mais sofreram quando ainda estavam vazias , mais eles eram,
eles desfrutam e se deleitam agora que estã o cheios de seu Deus. Eles
nã o sentiam diante do grande vazio de sua capacidade profunda,
enquanto nã o estivessem vazios, purgados e limpos de todos os
interesses da criatura. O mais ı́n imo que os adere é su iciente para os
tornar tã o insensı́veis ao seu mal ", que nã o sintam os seus danos, nem
sintam saudades dos seus imensos bens, nem conheçam a sua
capacidade ... Sendo capazes de bens in initos, o menor deles é o
su iciente para impregná -los de tal forma que eles nã o podem recebê -
los até que estejam completamente esvaziados ... Mas quando eles estã o
vazios e limpos, a sede e a fome e o desejo do sentido espiritual sã o
intolerá veis, porque como os estô magos dessas cavernas sã o profundas,
sofrem profundamente, porque a delicadeza que sentem falta també m é
profunda, que ... é Deus. E esse grande sentimento comumente ocorre
para ins de iluminaçã o e puri icaçã o da alma ”. E é que, quando o
apetite espiritual é purgado de toda criatura e de suas afeiçõ es, ele
perdeu seu temperamento natural e tomou o de Deus e já fez o vazio. “E
como o divino ainda nã o foi comunicado a ele em uniã o com Deus, ele
se entristece por esse vazio e sede mais do que morrer, especialmente
quando por meio de alguns indı́cios e lacunas algum raio divino
aparece, e Deus nã o é comunicado a ele. sã o aqueles que sofrem com o
amor impaciente, que nã o podem icar muito tempo sem receber ou
morrer. "
A primeira caverna é a compreensã o: seu vazio é a sede de Deus e o
anseio pela sabedoria divina. A segunda caverna é a vontade, que tem
fome de Deus e anseia pelo amor perfeito. A terceira caverna é a
memó ria, que é desfeita e derretida pela posse de Deus. O que pode
caber nessas cavernas é o pró prio Deus. E como Deus é profundo e
in inito, assim també m sua capacidade de certa forma de ser in inita,
in inita e profunda, també m sua fome e sede, seu in indá vel desgosto e
pena de morte. E embora essas dores nã o sejam tã o intensas como as
da outra vida, podem servir para dar uma ideia do que aqui se sofre,
visto que a alma já se encontra com a disposiçã o necessá ria para
receber em si a plenitude da vida eterna. Mas, uma vez que essa tristeza
tem seu lugar no amor, nã o há alı́vio para ela. “Porque quanto maior é o
amor, mais impaciente é pela posse do seu Deus, a quem aguarda para
momentos de intensa cobiça”.
Mas se a alma anseia por Deus com tantas verdades, já possui aquele
que ama e, portanto, nã o parece que nã o pode mais sofrer? "Porque no
desejo ... que os anjos tenham de ver o Filho de Deus, nã o há dor nem
ansiedade, porque eles já o possuem." E como a posse de Deus dá
deleite e preenchimento, “a alma icou tanto mais satisfeita e encantada
em sentir aqui neste desejo, quanto maior o desejo, pois mais tem Deus,
e nã o de dor e tristeza”.
Esteja aqui para notar que existem duas maneiras de possuir Deus:
somente pela graça e pela uniã o. A mesma relaçã o existe entre eles
como entre o noivado e o casamento. No noivado há uma ú nica vontade
de ambos os lados, visitas freqü entes do marido para a esposa e trocas
de presentes; mas nã o há comunicaçã o recı́proca ou uniã o de pessoas,
como há no casamento. Do mesmo modo, a vontade de Deus e a da
alma, mediante a sua puri icaçã o total, alcançaram uma conformidade
total e livre; a alma já entã o veio a ter "tudo o que pode por meio de
vontade e graça, e isso é ter Deus dado nela sim o seu verdadeiro sim e
toda a sua graça. E este é um alto estado de casamento espiritual da
alma .alma com a Palavra de Deus, na qual o Esposo lhe faz grandes
favores e muitas vezes a visita onerosamente ”.
Mas todos esses favores elevados que a alma recebe aqui nã o admitem
comparaçã o com aqueles do casamento espiritual; eles sã o apenas uma
preparaçã o para isso. Porque, para isso, ela nã o só precisa ser
puri icada de todo afeto das criaturas, mas precisa de outras
disposiçõ es positivas de visitas e dons de Deus, com as quais seja mais
puri icadora, embelezadora e adelgaçante para estar decentemente
disposta a uma uniã o tã o elevada. Isso leva algum tempo, em alguns
mais, em outros menos. A preparaçã o é feita pela unçã o do Espı́rito
Santo. Quando essas uniõ es sã o mais elevadas, “os anseios das cavernas
da alma costumam ser extremos e delicados. Porque como esses
unguentos já sã o dispositivos mais pró ximos de uniã o com Deus,
porque estã o mais pró ximos de Deus, e por isso saborearam a alma e
eles a engolem mais delicadamente de Deus, é o desejo mais delicado e
profundo, porque o desejo de Deus é uma vontade de se unir a Deus ”.
As ditas ungü entos do Espı́rito Santo "já sã o tã o sutis e de unçã o tã o
delicada que, penetrando na substâ ncia ı́ntima das profundezas da
alma, se desfazem dela e a saboreiam de tal maneira que sofrendo e
desmaios de desejo com o imenso vazio dessas cavernas é imenso.
". Mas quanto mais elevada e delicada a disposiçã o, mais perfeita será a
plenitude e a fruiçã o do que sentir o sentido da alma, uma vez que a
uniã o é feita. "Pelo signi icado da alma aqui se entende a virtude e força
que a substâ ncia da alma tem para sentir e desfrutar dos objetos e
poderes espirituais, com os quais gosta da sabedoria, do amor e da
comunicaçã o de Deus."
A alma chama seus poderes de "cavernas profundas de signi icado"
porque, por meio deles, sente e saboreia a grandeza da sabedoria e
excelê ncia divinas. E "como ele sente que as inteligê ncias profundas e o
brilho das lâ mpadas de fogo se encaixam nelas, ele sabe que tem tanta
capacidade e seios, quantas coisas diferentes recebe de inteligê ncias,
sabores, alegrias, deleites, etc., de Deus " Da mesma forma que o senso
comum da fantasia é o receptá culo e o arquivo no qual as formas e
imagens dos sentidos sã o recebidas, assim "este senso comum da alma,
que se torna o receptá culo e o arquivo da grandeza de Deus, é assim
ilustrado e tã o rico quanto alcança desta posse elevada e iluminada ”.
Em outra é poca ele estava "escuro e cego", isto é , antes que Deus o
esclarecesse e lhe desse luz. Os olhos do corpo nã o podem ver o que
está no escuro ou quando está cego. Assim, a alma, embora tenha uma
visã o muito forte e saudá vel, nada pode ver quando Deus, que é sua luz,
nã o a ilumina. E, inversamente, se o seu olho espiritual está cego pelo
pecado ou pelo apetite pelas coisas criadas, ele está inutilmente
carregado pela luz divina. Ele nã o reconhece sua pró pria escuridã o, isto
é , sua ignorâ ncia. Uma distinçã o deve ser feita entre a escuridã o do
pecado e a mera escuridã o ou ignorâ ncia inocente, tanto sobre o
natural quanto sobre o sobrenatural. De acordo com isso, o sentido da
alma antes da puri icaçã o da alma era cego de duas maneiras. "Porque
até que o Senhor disse: Haja luz, as trevas estavam no raio do sentido
da alma, que quanto mais abismais e profundas cavernas, mais abissais
e profundas cavernas e mais profunda escuridã o há nela. Do
sobrenatural , quanto Deus, que é a sua luz, nã o o ilumina; e é
impossı́vel levantar os olhos para a luz divina ou cair no seu
pensamento, porque nã o sabe o que é , nã o o tendo visto, e por isso nã o
poderá imaginá -lo: antes, almeja as trevas, porque sabe como sã o, e vai
de uma escuridã o a outra, guiado por essa escuridã o ”. Mas quando
Deus comunicou a luz da graça à alma, entã o o olho de seu espı́rito é
iluminado, abrindo-se para a luz divina. E se antes um abismo de trevas
chamado outro abismo de trevas (Salmo 18, 3) agora um abismo de
graça chama outro abismo de graça, que é esta transformaçã o da alma
em Deus, para que possamos dizer que a luz de Deus e a da alma é uma
só , unida a luz natural da alma com a luz sobrenatural de Deus e
brilhando somente com a luz sobrenatural.
O sentido da alma també m era cego, porque gostava de algo diferente
de Deus. E que o apetite foi cruzado como uma catarata ou como uma
nuvem diante do olho da razã o; assim, ele estava cego para a grande
beleza e imensas riquezas de Deus. Se um objeto for colocado diante
dos olhos, por menor que seja, é o su iciente para impedir a visã o de
outros objetos localizados mais distantes, por maior que seja. Assim,
um pequeno apetite que a alma possa ter é su iciente para impedi-la de
ver todas as grandes coisas de Deus. Nessas condiçõ es, o "olho do
julgamento" vê apenas aquela catarata ou nuvem, de uma cor ou de
outra; e pensa que é Deus essa catarata que se situa no sentido, sendo
assim que Deus nã o cai no â mbito do sentido. Portanto, aqueles que
ainda nã o foram puri icados e livres de apetites e gostos, devem estar
desiludidos e convencidos de que estã o errados em seus
julgamentos. Terã o por grande as coisas mais vis e baixas pelo espı́rito
e que mais lisonjeiam os sentidos, e as que sã o de mais valor e mais alta
pelo espı́rito, eles nã o estimarã o e terã o pouco. Para o homem animal,
isto é , para aquele que vive de acordo com os apetites e gostos naturais,
até os apetites que estã o enraizados no espı́rito tornam-se
completamente naturais. Nem mesmo quando a alma anseia por Deus,
ela sempre anseia sobrenaturalmente, mas somente quando esse
apetite é infundido por Deus, dando-lhe a força de tal apetite.
Este sentido, entã o, da alma, era obscuro e cegado por seus apetites e
inclinaçõ es desordenadas. Mas agora ele foi iluminado como resultado
dessa uniã o muito elevada e sobrenatural com Deus; na verdade, ele
mesmo se tornou uma luz resplandecente, e já pode
"com estranhas belezas,
dê calor e luz ao seu ente querido ".
As cavernas sã o totalmente inundadas pela luz das lâ mpadas divinas; e
eles pró prios estã o a arder e, com gló ria amorosa inclinada para Deus,
estã o a enviar a Deus em Deus as mesmas radiaçõ es que deles
receberam, como o vidro faz com a luz que o sol o envia, e mesmo de
uma forma mais elevada. , por intervir aqui a pró pria vontade.
E isso se veri ica com tanta perfeiçã o e tã o estranhas iguarias que
ultrapassam todo o pensamento comum e nã o podem ser pesadas com
palavras humanas. Porque segundo a perfeiçã o e as delı́cias com que o
entendimento, feito um com o de Deus, recebe a sabedoria divina, é
assim que emite luz e calor da mesma sabedoria para com Deus. E
segundo a perfeiçã o com que a vontade se une à bondade divina, é a
perfeiçã o e delicadeza com que dá a Deus em Deus a mesma
bondade. Porque a alma nã o recebe, exceto para ter algo para dar; e
assim ele está retornando ao seu Amado em seu Amado toda a luz e
todo o calor que ele recebe de seu Amado. Sendo feita uma coisa com
Ele por meio dessa transformaçã o substancial, ela é como uma sombra
de Deus, e assim "ela faz em Deus para Deus o que Ele faz por si mesmo,
assim como ele ...". E assim, “assim como Deus se comunica com ela com
uma vontade livre e graciosa, també m ela, tendo a vontade que é tanto
mais livre e generosa quanto mais unida em Deus, está dando a Deus o
mesmo Deus em Deus ... a alma vê que verdadeiramente Deus é dela, e
que ela o possui em posse hereditá ria, com propriedade de direito
como ilho adotivo de Deus ...; e como coisa dela, ela pode dar e
comunicar a quem ela quiser. . E entã o ela o dá ao seu Amado, que é o
mesmo Deus que deu a ela. " De onde se desdobra para a alma «como
deleite e fruiçã o inestimá veis, porque vê que dá a Deus algo que lhe é
pró prio que se adapta a Deus segundo o seu ser in inito ... E Deus se
paga com aquela diva da alma, que com menos nã o seria pago, e Deus a
recebe com gratidã o como algo que a alma lhe dá ”, e assim ele a ama e
novamente se doa livremente à alma. E assim entre Deus e a alma se
forma atualmente um amor recı́proco em conformidade com a uniã o e
dedicaçã o matrimonial, na qual os bens de ambos, que sã o a essê ncia
divina, cada um possuindo-os livremente em razã o da entrega
voluntá ria de um ao outro. , Eles possuem os dois juntos ... "." Esta é a
grande satisfaçã o e contentamento da alma, ver que dá a Deus mais do
que em si mesma e vale, dando a Deus mesmo como seu ...; que na outra
vida é pela luz da gló ria, e nesta vida pela fé mais iluminada. Desta
forma, as cavernas profundas dos sentidos com estranhas iguarias
doam calor e luz junto com seu Amado. "Juntos, ela diz, porque juntos o
Pai e o Filho e o Espı́rito Santo se comunicam na alma. E eles sã o luz e
fogo para ela .
Quilates estranhos e altı́ssimos, aliá s, aqui atinge o amor da alma por
Deus, bem como a alegria que daı́ resulta para a alma, e o louvor e a
gratidã o que dá a Deus. Em primeiro lugar, a alma ama a Deus aqui, nã o
por si mesma, mas por si mesma, "porque ama pelo Espı́rito Santo,
como o Pai ama o Filho". Em segundo lugar, a alma ama a Deus em
Deus; «porque nesta uniã o apaixonada a alma se absorve no amor de
Deus, e Deus com grande veemê ncia o entrega à alma». E, inalmente, a
alma aqui ama a Deus por quem Ele é . "Porque ele nã o o ama apenas
porque é longo, bom e glorioso, etc ..., mas muito mais fortemente,
porque em si mesmo ele é essencialmente tudo isso."
Conseqü entemente, a fruiçã o també m é tã o soberana, visto que é uma
alegria de Deus por meio do pró prio Deus. Porque como a alma tem o
entendimento unido à divina onipotê ncia, sabedoria e bondade, embora
nã o com tanta clareza como será na vida apó s a morte, ela se deleita em
todas essas coisas claramente e distintamente compreendidas. Alé m
disso, ela já encontra apenas alegria e deleite em Deus, sem ser tentada
por nenhuma outra criatura. E ele desfruta de Deus apenas por quem
Ele é , sem nenhuma mistura de seu pró prio gosto.
Quanto ao louvor que a alma dá a Deus neste momento, caracteriza-se
por já pagá -lo ex of icio, pois vê que Deus a criou para o seu louvor. Ele
o elogia, em segundo lugar, pelos bens que recebe e pelo prazer que tem
em elogiá -lo. O terceiro, o louva "pelo que Deus é em si mesmo; porque,
mesmo que a alma nã o receba deleite, ela o louva por quem Ele é ".

d) Vida oculta de amor

Que manso e amoroso


você se lembra no meu seio,
onde você secretamente apenas mora;
e no seu há lito saboroso,
de boa e plena gló ria,
com que delicadeza me fazes apaixonar!

A alma fala de uma operaçã o maravilhosa de Deus que ela experimenta


de vez em quando. E a imagem de algué m que acordou de um sonho e
respirou vem à mente; ela tem a impressã o de que algo semelhante está
acontecendo com ela.
“Muitos caminhos de memó rias que Deus faz à alma, tantos que, se
tivé ssemos que contá -los, nunca acabarı́amos. Mas essa memó ria que
aqui quer implicar na alma, que o Filho de Deus a faz, está , na minha
opiniã o, uma das mais elevadas e que bem maior faz a alma, porque
esta memó ria é um movimento que a Palavra faz na substâ ncia da alma,
de tal grandeza e senhorio e gló ria e de tal suavidade, que parece à
alma que todos os bá lsamos e espé cies odorı́feras e lores do mundo se
dobram e se mexem, agitando-se para dar sua suavidade; e que todos os
reinos e senhorios do mundo e todos os poderes e virtudes do cé u se
movem. E que nã o só isso, mas també m todas as criaturas, virtudes e
substâ ncias e perfeiçõ es e graças de todas as coisas brilham e fazem o
movimento, tudo em um e em um ... Daı́ é que, movendo este grande
Imperador na alma, cujo principado, como diz Isaı́as, traz em seu
homem, que eles sã o as trê s má quinas celestiais, terrestres e infernais,
e as s coisas que estã o nelas, sustentando-as a todas (como diz Sã o
Paulo) com o verbo de sua virtude, todas parecem mover-se juntas, da
mesma forma que o movimento da terra move todas as coisas naturais
que nela estã o, como senã o nã o eram nada ... embora esta comparaçã o
seja bastante impró pria, porque aqui nã o só parecem mover-se, mas
també m todos descobrem as belezas do seu ser, virtude, beleza e graça,
raiz da sua duraçã o e da sua vida. Porque ali a alma vê como todas as
criaturas de cima e de baixo tê m sua vida e força e duraçã o Nele ":
embora o ser de Deus saiba estar" com in inita eminê ncia "sobre essas
coisas, tanto que as conhece melhor em o ser de Deus do que nas
mesmas coisas.
“E esse é o grande deleite dessa memó ria, conhecer as criaturas por
Deus e nã o pelas criaturas para Deus ... E como é esse movimento, por
mais que Deus seja imó vel, sã o coisas maravilhosas, porque mesmo
assim Deus nã o se move realmente, a alma parece-lhe que realmente se
move: porque como ela é aquela inovada e movida por Deus ao ver esta
visã o sobrenatural, e aquela vida divina e ser e harmonia de todas as
coisas e criaturas nela, com seus movimentos em Deus, parece ser Deus
que move e que toma à causa o nome do efeito de fazer ”. Assim se
comove a alma e aquela que desperta do sono da visã o natural para a
visã o sobrenatural.
“O que eu entendo, como essa memó ria e visã o da alma é feita, é que, a
alma estando substancialmente em Deus, como toda criatura está ,
remova alguns dos muitos vé us e cortinas que ela tem na frente, a im
de vê -lo. como ele é . E entã o deixa-te ver e ver algo sombrio, porque
nã o tiram todos os vé us, aquele rosto cheio de graças, que como todas
as coisas se move com a sua virtude, parece junto com ele o que ele está
fazendo, e parece que ele se move neles e eles nele com movimento
contı́nuo. E é por isso que parece à alma que Ele se moveu e se lembrou,
sendo ela quem se moveu e se lembrou. " E assim que os homens
atribuem a Deus o que neles se encontra: que estando adormecidos e
caı́dos, dizem a Deus que Ele é aquele que se levanta e desperta. “Mas,
na verdade, como todo o bem do homem vem de Deus e o homem do
seu, nada pode ser bom, diz-se verdadeiramente que a nossa memó ria é
a memó ria de Deus e o nosso ressurgir é o ressurgir de Deus ... Por isso,
porque a alma estava adormecida em um sonho que ela nunca poderia
lembrar por si mesma, e só Deus é aquele que poderia abrir seus olhos
e fazer essa memó ria, muito apropriadamente chama isso de memó ria
de Deus ”.
"O que a alma conhece e sente nesta memó ria da excelê ncia de Deus é
totalmente indizı́vel." E é que a excelê ncia divina se comunica a ele na
substâ ncia da alma, que ele chama de ú tero, e se manifesta com imensa
força, fazendo-se ouvir nela como um poderoso coro de vozes ", de uma
multidã o de excelê ncias de milhares de milhares de virtudes. nunca
contá veis de Deus ", no meio das quais está a alma" terrı́vel e
solidamente ordenada como feixes de exé rcitos e amolecida e agraciada
com toda a suavidade e graças das criaturas. "
O fato de que a alma, apesar da fraqueza da carne, pode suportar uma
comunicaçã o tã o forte sem desmaiar ou se intimidar, só é explicado em
primeiro lugar, porque já está em um estado de perfeiçã o. A parte
inferior já está muito puri icada e conformada ao espı́rito, para que nã o
sinta o prejuı́zo e as penalidades que nas comunicaçõ es anteriores. E é
que, alé m disso, e esta é a segunda causa e explicaçã o, Deus se mostra
aqui “manso e amoroso”. E Ele quem cuida para que a alma nã o receba
nenhum prejuı́zo e quem ampara o natural no momento de comunicar
sua grandeza ao espı́rito. "E assim, tanta mansidã o e amor a alma sente
Nele, quanto poder, senhorio e grandeza." E se o deleite é forte, tã o forte
é a proteçã o divina na mansidã o e no amor, para torná -la capaz de
suportar um transporte tã o forte. E assim a alma permanece forte e
irme ao invé s de fraca.
O rei do cé u aqui trata com ela amigavelmente como com seu igual e
irmã o. Ele desce de seu trono para se inclinar em sua direçã o e abraçá -
la. E lá ele a vestiu com as vestes reais, que sã o as virtudes de
Deus; envolve-a no brilho do ouro, que é caridade; e faz com que as
pedras preciosas das notı́cias das substâ ncias superiores e inferiores
brilhem nela. Tudo isso acontece na substâ ncia ı́ntima da alma, onde
Ele "apenas habita secretamente". E verdade que Deus em todas as
almas habita em segredo e oculto, que de outra forma nã o poderiam
subsistir. Mas "em alguns ele mora sozinho, em outros ele nã o mora
sozinho; em alguns ele mora satisfeito e em outros ele mora
descontente; em alguns ele mora como em sua casa, comandando e
governando tudo, e em outros ele mora como um estranho na casa de
outra pessoa, onde nã o o deixam comandar, nem fazem nada. A alma
em que habita o menor apetite e gostos, é onde habita o mais solitá rio e
satisfeito e mais como em casa, governando e governando, e muito mais
O segredo mora cada vez mais sozinho. E assim, nesta alma, na qual e
nenhum apetite ou outras imagens ou formas ou afeiçõ es de qualquer
coisa criada, a Amada mora secretamente, com muito mais ı́ntimo e
interior e abraço ı́ntimo como ela ... é mais puro e só de algo diferente
de Deus. "
Nem o diabo nem a compreensã o do homem podem saber ou suspeitar
o que acontece ali. Mas para a pró pria alma nã o é tã o secreto, porque
"ela sempre sente esse abraço dentro de si". Mas ainda há aqui aquela
diferença que existe entre o momento de dormir e aquele de acordar ou
despertar. Acontece muitas vezes como se o Amado estivesse dormindo
no seio da alma, de forma que nã o há comunicaçã o de novidades ou
amor entre os dois, até entã o ele parece acordar. Bem-aventurada a
alma que sempre sente que Deus está descansando nela e descansando
em seu seio! Quanto é conveniente para você se afastar das coisas, fugir
dos negó cios e viver com imensa tranquilidade, porque nem com a
menor agitaçã o ou alvoroço isso perturba ou agita o seio do Bem-
Amado! Pois se eu estivesse sempre nela lembrando, comunicando
novidades e amor a ela, seria para estar na gló ria.
Em outras almas que nã o alcançaram esta uniã o de amor, na maioria
das vezes um segredo habita para elas, porque nã o o sente
normalmente, mas quando Ele lhes faz algumas lembranças saborosas,
que nã o sã o do gê nero e metal de que ele é . Eles estã o em um estado de
perfeita uniã o de amor, nem sã o tã o secretos para o diabo ou para a
compreensã o do homem quanto os outros, porque eles nã o sã o
inteiramente espirituais; há també m alguns movimentos dos sentidos
ainda.
Má s en aquel recuerdo que el esposo despierta en el alma perfecta todo
es perfecto, porque todo lo hace El. Entonces aquel aspirar y recordar
es al modo de cuando uno despierta y respira, sintiendo el alma un
extrañ o y singular deleite al percibir el aspirar del Espirito Santo. E por
isso que ele acrescenta:

"E na sua saborosa inalaçã o,


de boa e plena gló ria,
Com que delicadeza você me faz apaixonar! "

“Em cuja aspiraçã o, cheia de bem e de gló ria e delicado amor de Deus
pela alma, eu nã o gostaria de falar, nem de falar, porque vejo claramente
que nã o sei dizer, e pareceria menos, se eu dissesse ... aspiraçã o que
Deus faz à alma, na qual o Espı́rito Santo a aspira com a mesma
proporçã o que era a inteligê ncia e a notı́cia de Deus, na qual está
profundamente absorvida no Espı́rito Santo por aquela memó ria do
alto conhecimento da divindade, apaixonando-se pelo amor e pelo
amor. delicadeza divina, segundo o que viu em Deus. Porque a aspiraçã o
sendo cheia de bem e de gló ria, nela o Espı́rito Santo encheu a alma
com o bem e a gló ria, na qual ele caiu apaixonado por ele sobre cada
linguagem e sentido nas profundezas de Deus; isso, aqui o deixo. "

e) Características da chama, em relação aos livros


anteriores da Santa

Se o sentimento de incapacidade de exprimir o inefá vel impõ e silê ncio


ao Santo, como podemos ousar acrescentar algo de positivo à s suas
palavras? Só podemos agradecer por nos permitir olhar para esse
mundo de maravilhas, esse paraı́so terrestre já localizado à beira do
paraı́so celestial. No entanto, vamos fazer uma tentativa de relacionar o
que ele acaba de revelar aqui com o que já sabemos dele
anteriormente. O amor das almas abriu seus lá bios e moveu sua
pena; ele queria encorajá -los a escalar o duro Calvá rio, o caminho
estreito e ı́ngreme que termina em picos tã o alegres e luminosos.
Com isso apontamos em poucas palavras a ı́ntima conexã o que existe
entre a Chama e os dois tratados anteriores, cujo objeto pró prio era o
caminho da Cruz: a Subida e a Noite. Um confronto rigoroso de seu
conteú do ideoló gico só seria possı́vel se tivé ssemos à disposiçã o as
partes talvez perdidas ou talvez nunca escritas dessas duas primeiras
obras. De qualquer forma, uma coisa pode ser dita, e é que, diante do
que esses primeiros escritos antecipam sobre a uniã o, temos a
impressã o de nos encontrarmos diante de novos elementos de
experiê ncia. A posiçã o fundamental permanece a mesma: nã o há outra
forma de chegar à uniã o senã o a da cruz e a das noites, a morte do
velho.
Tampouco devemos suprimir nada do que já enfatizamos vá rias vezes:
que o poeta e cantor da noite já havia chegado ao sindicato. Mas parece
que a uniã o está se aperfeiçoando à noite, ou seja, na Cruz. O Santo nã o
parece ter descoberto e experimentado senã o mais tarde, com imensa
satisfaçã o de quem, toda a amplitude que já desta vida o cé u pode ser
aberto a uma alma.
O destino externo de sua ú ltima escrita també m foi mais feliz do que o
da primeira. Nã o queremos dizer com isso apenas que esta obra foi
concluı́da e foi preservada em sua totalidade. Se as outras obras foram
de fato incompletas (sempre deixamos esta questã o em aberto e
pendente), talvez seja porque a a irmaçã o foi escrita depois do poema, e
à distâ ncia dele, nã o só cronoló gica, mas també m psicologicamente. A
Ascensã o e a Noite tê m um tom muito mais didá tico do que a Chama. O
pensador está antes do poema, a expressã o de sua primeira
experiê ncia, quase como se estivesse diante de algo estranho; em todo
caso, como antes uma realidade passada e considerada de forma
impessoal e objetiva. E a â nsia de especi icar claramente seu
pensamento sobre os conceitos nele contidos e de explicar as imagens
que servem de io condutor, o leva tã o longe que logo abandona seu
propó sito inicial de explicar a cançã o, estrofe por estrofe e verso por
verso, e nã o retomar até tarde da noite.
Em contraste, no Flame, a cançã o e sua declaraçã o formam uma
unidade. Nã o faz mal a esta unidade que tenha decorrido algum tempo
entre a composiçã o da primeira e a escrita da outra. O oposto; Juan
atrasou o comentá rio por algum tempo, porque parecia uma tarefa
impossı́vel de realizar para o entendimento humano. Ele decidiu
empreendê -lo no momento em que sentiu o fogo do amor acender em
sua alma novamente, inundando-o com luzes divinas. E entã o se abriu
como por encantamento e iluminou com luzes mais profundas o que ele
havia escrito anteriormente. portanto, é natural e de forma alguma
forçado aquela linha de pensamento estreita e ló gica entre as quatro
estrofes. A unidade do todo é interrompida apenas pelo raciocı́nio
ené rgico dirigido a alguns diretores de alma ignorantes e
rudes. Desconsiderando essa interrupçã o, a obra está ı́ntegra, animada
do inı́cio ao im por um alto vô o poé tico e mı́stico. A superabundâ ncia
de luz resulta em outra das propriedades de seu estilo. O Santo sempre
viveu e respirou as Sagradas Escrituras.
Sem nenhum esforço, imagens e comparaçõ es dos livros sagrados se
aglomeram nas pontas de sua caneta o tempo todo, e ele gosta de usá -
las para endossar e con irmar com palavras da Escritura o que
aprendeu com sua pró pria experiê ncia. Mas a consonâ ncia da pró pria
experiê ncia com a palavra revelada e os fatos da Histó ria Sagrada é
particularmente impressionante aqui. Vê -se como para o Santo cai todo
o vé u e tudo se torna transparente para ele, a im de iluminar as
comunicaçõ es secretas entre Deus e a alma. O que para a vista nã o
ilustrada nada mais é que um acontecimento material, torna-se para o
Santo, como a coisa mais natural, expressã o e sı́mbolo de um fenô meno
mı́stico. Basta um exemplo: Mordecai, que salva a vida do Rei Assuero, é
para Juan de la Cruz uma igura da alma que serve ielmente ao Senhor
sem receber nenhum prê mio em troca. Mas chegará o dia em que todas
as obras e serviços serã o pagos aqui, "fazendo-o nã o apenas entrar no
palá cio e se apresentar diante do Rei vestido com mantos reais, mas
també m colocar a coroa e o cetro real e a cadeira sobre ele, com a posse
do anel real, para que tudo o que ele queira fazer e o que nã o queira nã o
faça no Reino de sua esposa ”.
2. O cântico nupcial da alma
a) O Cântico Espiritual e sua relação com os demais
escritos

Quando Joã o fala da uniã o da alma com Deus em qualquer um de seus


escritos, as palavras do Câ ntico dos Câ nticos gostam de a luir aos seus
lá bios. Mas nos dias em que sua alma era abalada com particular
violê ncia por todas as dores e todas as alegrias do amor, nos meses de
prisã o em Toledo, o antigo poema nupcial brotava de seu coraçã o com
novas ressonâ ncias. Este poema nos foi transmitido em duas redaçõ es,
cujas diferenças sã o importantes para nó s.
Cançõ es entre a alma e o noivo
Esposa
1
Onde você se escondeu
Amado, e me deixou gemendo?
Como o cervo que você fugiu,
tendo me machucado;
Eu saı́ depois de você chorando, e você se foi.
2
Pastores, sejam você s quem forem
lá pelos currais para o monte,
se por acaso você ver
o que eu mais amo,
diga a ele que eu sofro, dor e parede.
3
Procurando pelos meus amores,
Vou passar por aquelas montanhas e bancos,
nem vou colher as lores,
nem terei medo das bestas,
e eu vou passar os fortes e fronteiras.
Pergunte à s criaturas
4
Oh lorestas e matagais,
plantado pela mã o do Amado!
Oh prado vegetal,
de lores esmaltadas,
diga se já aconteceu com você !
5
Obrigado derramando,
passou por esses bosques com pressa,
e deixando-os olhando,
com apenas a igura dela
os vestidos os deixavam lindos.
Esposa
6
Oh, quem pode me curar!
Ele acabou de te dar real,
nã o quer me enviar
hoje mais ja mensageiro,
que nã o sabem me dizer o que eu quero.
7
E todos que vagam
Muito obrigado por sua referê ncia.
E todo mundo me machuca,
e me deixa morrendo
e eu nã o sei o que eles estã o gaguejando.
8
Mas como você persevera
oh vida, nã o morando onde você mora,
e fazendo você morrer
as lechas que você recebe
o que você concebe do Amado em você ?
9
Por que entã o você veio
este coraçã o, você nã o o curou?
E bem, você me roubou,
Por que você o deixou assim,
E você nã o pega o roubo que você roubou
10
Desligue minha raiva
porque nada é su iciente para desfazê -los,
e veja meus olhos,
porque você é um fogo para eles,
e só para você eu quero tê -los.
onze
Descubra a sua presença,
e me mate sua visã o e beleza;
olha a doença
de amor, que nã o pode ser curado
mas com a presença e a igura.
12
Oh fonte cristalina,
se naqueles seus semblantes prateados,
forma de repente
os olhos desejados
que retirei minhas entranhas!

II
(13)
Deixe-os de lado, amado,
Estou indo em um vô o
Esposo
Vire-se, mergulhe,
que o cervo violou
atravé s da colina parece,
para o ar de seu vô o, e fresco.
Esposa
(14)
Meu amado as montanhas,
os vales nó rdicos solitá rios,
as ilhas estranhas,
os rios sonoros,
o assobio de ares amorosos.
(quinze)
A noite tranquila
mesmo ao amanhecer,
a musica calma,
a solidã o sonora,
jantar, que se recria e se apaixona.
(16)
Nosso canteiro lorido. Caça-nos as raposas,
de cavernas de leõ es atadas, que nosso vinhedo já está lorido,
esticado em roxo, enquanto em rosas
de paz construı́da, fazemos um abacaxi,
de mil escudos de ouro coroados. e nã o se pareça com ningué m na
montanha.
(17)
Atrá s de sua pegada, pare, vento mortal,
As moças correm para a estrada, vem, austro, que te lembres dos
amores,
com o toque do brilho, respire meu jardim,
ao vinho marinado, e seus cheiros correm,
emissõ es de bá lsamo divino. e o Amado pasta entre as lores.
(18)
Dentro da adega Oh ninfas da Judé ia,
Eu bebi do meu amado e quando saı́ enquanto nas lores e roseiras
em todo este vale, perfumes de â mbar,
Eu nã o sabia de nada, eu morri no subú rbio,
e o gado que perdi antes seguiu. e nã o quero tocar nossos limites.
(19)
Lá ele me deu seu seio, Hide Carillo,
Lá ele me ensinou ciê ncia muito saborosa, e olha com sua viga para as
montanhas,
e eu dei de fato e você nã o quer dizer;
pra mim, sem sair de nada, mas olha as empresas
lá eu prometi ser sua esposa. dos quais passam por ilhas estranhas.
Esposo
(vinte)
Minha alma foi empregada, Para iluminar pá ssaros,
e toda a minha riqueza em seus leõ es de serviço, veados, veados
saltadores,
Eu nã o tenho mais gado, montanhas, vales, bancos,
nem tenho outro emprego, á guas, ares, ardor
que só amar é meu exercı́cio. e medos das noites vigilantes:
(vinte e um)
Bem, se na é gide das liras agradá veis,
de hoje mais nã o será visto ou encontrado, e eu canto de serenidade, eu
te conjuro,
Você dirá que eu me perdi; deixe sua raiva cessar,
que andar apaixonado, e nã o tocar na parede,
Eu me perdi e fui vencido. Porque a Esposa dorme mais segura.
III
(22)
De lores e esmeraldas, a Esposa entrou
Nas manhã s frescas escolhidas, no agradá vel pomar desejado,
faremos as guirlandas e seu sabor descansa,
no teu amor loresceu, o pescoço reclinou
e em um cabelo meu entrelaçado. nos doces braços do Amado.
(2,3)
Em apenas aquele cabelo sob a macieira,
que você considerou voar no meu pescoço, aı́ você se casou comigo,
você olhou para o meu pescoço, aı́ eu apertei sua mã o,
e nele permaneceste prisioneiro e foste reparado
e em um dos meus olhos você estava dolorido. Onde sua mã e foi
estuprada
Esposa
(24)
Quando você olhou para mim, nosso canteiro lorido
sua graça em mim seus olhos impressionados; de cavernas de leõ es
ligados
é por isso que você me adamadas, roxo esticado
e nisso eles mereciam a paz construı́da
os meus adoram o que viram em você . de mil escudos de ouro coroados.
(25)
Nã o quero me desprezar, por trá s de sua pegada
que, se você encontrar uma cor marrom em mim, as jovens correm para
a estrada
você pode olhar para mim com o toque de um raio
depois que você olhou para mim, a marinada veio;
que graça e beleza você deixou em mim. emissõ es de bá lsamo divino.
(26)
Nos pegue as raposas, Dentro do porã o
que nossa vinha já está em lor, bebi do meu amado, e quando
enquanto rosas por todo este vale
a gente faz um abacaxi nao sabia de uma coisa
e nã o se pareça com ningué m na montanha. E o gado que eu perdi antes
seguiu.
(27)
Pare, vento morto; Lá ele me deu o peito
Venha, austro, você lembra dos amores, aı́ ele me ensinou ciê ncia bem
gostosa
ele aspira pelo meu jardim e eu dei a ele de fato
e passe seus cheiros para mim, nã o deixando nada para trá s;
e o Amado pasta entre as lores. Lá eu prometi ser sua esposa.
Esposo
(28)
A esposa entrou Minha alma foi empregada
no agradá vel pomar desejado e toda minha riqueza a seu serviço;
o sabor dele descansa, eu nã o tenho mais gado
o pescoço reclinado nem tenho outro emprego,
nos doces braços do Amado. Que só amar é meu exercı́cio.
(29)
Debaixo da macieira Bem, sim, no ejido
lá você estava prometido a mim; hoje mais nao sera visto ou achado,
aı́ eu apertei sua mã o, você vai dizer que eu me perdi;
e você foi consertado isso, andando em amor,
onde sua mã e foi estuprada. Eu me perdi e fui vencido.
(30)
Para iluminar pá ssaros, De lores e esmeraldas
leõ es, veados, gamos, saltadores, nas manhã s frescas escolhidas
montanhas, vales, bancos, faremos as guirlandas
á guas, ares, ardor, em seu amor lorido
e temores das noites vigilantes: e em um cabelo meu entrelaçado.
(31)
para as liras agradá veis Em apenas aquele cabelo
e cançã o de serena eu te conjuro a considerar voar no meu pescoço
deixe sua raiva cessar, pegue-o no meu pescoço
e nã o toque na parede e nela você permaneceu um prisioneiro
porque a esposa dorme mais segura. e em um dos meus olhos você
estava dolorido.
Esposa
(32)
O ninfas da Judé ia! Quando você olhou para mim
enquanto seus olhos impressionaram nas lores e roseiras sua graça em
mim;
Perfumes de â mbar, é por isso que você costumava me amar
morrer no subú rbio e nisso eles mereciam
e nã o quero tocar nossos limites. Os meus adoram o que viram em você .
(33)
Esconda-se, Carillo, nã o queira me desprezar,
e olhe com seu feixe para as montanhas que se você encontrasse uma
cor marrom em mim,
e nao quer decillo, voce pode olhar pra mim
mas olhe para as empresas depois que você olhou para mim,
dos quais passam por ilhas estranhas. que graça e beleza você deixou
em mim.

Esposo
(3. 4)
A pomba branca
para a arca com o galho que virou,
e já a tortolica,
para o parceiro desejado
nas margens verdes que ele encontrou.
(35)
Eu morava sozinho
e na solidã o ele já colocou seu ninho,
e sozinho o guia
sozinho seu querido,
també m na solidã o do amor ferido.

Esposa
(36)
Regozijemo-nos, amado,
e vamos ver sua beleza
para a montanha e para a colina
luxos de á gua pura;
vamos nos aprofundar no matagal.

(37)
E entã o para as subidas
cavernas de pedra iremos,
que estã o bem escondidos,
e lá vamos entrar,
e vamos provar o mosto das romã s.
(38)
Lá você me mostraria
o que minha alma queria,
e entã o você me daria
ai voce, minha vida,
o que você me deu outro dia.
(39)
Sugando o ar,
a cançã o da doce Filomena,
o soto e sua graça,
na noite serena
com uma chama que consome e nã o dá dor.
(40)
Que ningué m estava olhando para ele,
Aminadab també m nã o parecia,
e a cerca se acalmou,
e a cavalaria
à vista das á guas desceu.
Este poema, composto na prisã o, é de uma riqueza incompará vel de
imagens e conceitos. E é isso que o distingue notavelmente das estrofes
da Noite Escura e da Chama. Nestes, temos em cada caso uma ú nica
imagem que domina o todo: a noite fora, o fogo que arde com sua pluma
de chamas. E verdade que també m no Câ ntico há um io condutor que
dá unidade ao todo; vamos voltar a eles; mas embutidas nela estã o uma
in inidade de imagens que se sucedem e mudam constantemente. Lá
vemos simplicidade e descanso; aqui a alma e toda a criaçã o em
movimento variado. Nã o se trata de simples diversidade de estilo
poé tico; a diferença de estilo é consequê ncia de outra diferença mais
profunda de experiê ncias que lhe servem de fundamento.
A Noite e a Chama dã o, por assim dizer, um per il da vida mı́stica num
determinado momento do seu processo, numa altura em que a alma,
deixando para trá s todas as coisas criadas, só se preocupa com
Deus. Apenas em retrospecto é que sua relaçã o com as coisas do mundo
é mencionada. O Câ ntico Espiritual reproduz, nã o só na explicaçã o, mas
nas pró prias estrofes, todo o processo mı́stico e foi escrito por uma
alma profundamente afetada e presa de todos os encantos da criaçã o
visı́vel. Sobre aquele prisioneiro de uma cela escura, que é o nosso
poeta e artista, tã o sensı́vel ao encanto da mú sica, o mundo exterior do
qual está separado parece precipitar-se com todas as suas imagens
maravilhosas e as suas harmonias encantadoras. Claro, ele nã o ica nas
imagens nem nas harmonias. Para ele, sã o como uma chave
criptografada com a qual pode percorrer e ser capaz de se fazer
entender sobre o que está acontecendo secretamente em sua alma.
E, de fato, uma chave misteriosa tã o rica em signi icado que o pró prio
Santo acha impossı́vel encontrar palavras adequadas para declarar
tudo o que o Espı́rito Santo com gemidos indizı́veis fez sua alma
ouvir. Porque é ao Espı́rito Santo a quem essas estrofes sã o
devidas. eles sã o compostos "por amor à abundante inteligê ncia
mı́stica". O Espı́rito de Deus inspirou-os à alma em que habitou, e nem
mesmo o pró prio gracioso poderia fazê -los compreender ou declará -los
aos justos. O poeta, pelo mesmo motivo, renuncia antecipadamente a
declarar tudo. Sua intençã o é "apenas dar uma luz geral" e, alé m disso,
deixar esses ditos de amor "em toda a sua amplitude para que um deles
possa aproveitá -la de acordo com seu caminho e luxo de espı́rito". O
Santo avalia que a sabedoria mı́stica "nã o precisa ser entendida
distintamente para ter um efeito de amor e carinho na alma".
E assim que o Espı́rito Santo, que infundiu esta alma com o seu amor,
facilita outras almas amorosas na forma misteriosa de expressar este
amor. Por isso, ele alerta que nã o há necessidade de se vincular a si
mesmo ou à sua pró pria interpretaçã o. Depois de ler seus comentá rios,
agradecemos sinceramente por este aviso; porque o contraste entre o
vô o poé tico-mı́stico e o entusiasmo do poema e o estilo muito diferente
de sua declaraçã o é aqui muito mais profundo e notá vel do que no
Subida y en la Noche. Temos aqui o pó lo oposto da Chama, embora
ambos os escritos cronoló gica e ideologicamente sejam muito
pró ximos. Nã o só acontece aqui o que nos outros tratados anteriores,
isto é , que o pensador e o professor se encontrem diante do poema
como diante de uma realidade passada e quase alheia. (Para isso
contribuiu a distâ ncia do tempo em cada caso: a maioria das cançõ es
data de 1578 em Toledo, a primeira versã o das declaraçõ es foi redigida
em Granada em 1584). E que, alé m disso, tem-se a impressã o de que,
alé m da tentativa principal de decifrar e explicar o simbolismo do
poema para ins doutriná rios, alguma outra consideraçã o estava em
operaçã o no autor. Parece que atrá s de seus ilhos e ilhas espirituais,
para os quais escreve em primeiro plano, o Santo tinha em mente outro
pú blico menos disposto e menos dó cil.
Já quando está vamos tentando entender e explicar a Ascensã o e a Noite
Escura, surgiu a suspeita de que talvez, na importante questã o dos
limites entre a vida estritamente mı́stica e a da graça ordiná ria, a
explicaçã o nã o seja inteiramente franca, mas parece in luenciado pela
preocupaçã o do olhar atento da Inquisiçã o e pela descon iança do
Iluminismo, a que tudo o que era mı́stico foi exposto de antemã o. O
Câ ntico Espiritual parece ainda mais in luenciado por essa
consideraçã o e preocupaçã o. As modi icaçõ es da segunda redaçã o
parecem ser basicamente impostas por eles. E mesmo essas
modi icaçõ es nã o se limitam a a irmaçõ es, mas tê m um impacto
profundo no pró prio poema.
Deixe-nos aqui primeiro apontar quatro fatos que parecem estar
intimamente relacionados:
1 ° A segunda composiçã o conté m um verso ou mú sica que faltava no
inı́cio. (E verdade que esta estrofe já apareceu em algumas ediçõ es
impressas, que nas demais saı́ram de acordo com a primeira versã o,
mas provavelmente foi retirada de um manuscrito da segunda).
2 ° A segunda redaçã o divide o Câ ntico em trê s partes: I, II, III.
3 ° Introduz uma alteraçã o na ordem das estrofes, alterando a estrutura
inicial do poema.
4 ° Inserir apó s o poema, antes de iniciar o enunciado da primeira
cançã o, um argumento, um breve resumo da ideia geral. De acordo com
esse resumo, as cançõ es tratam do caminho que uma alma segue desde
o momento em que começa a se entregar a Deus até atingir o mais alto
grau de perfeiçã o no casamento espiritual; Assim, sã o mencionados os
trê s estados ou caminhos que levam a esses picos: o caminho purgativo,
iluminativo e unitivo, ou os estados de iniciante, lucrativo (em que se
realiza o casamento espiritual) e perfeito (onde se celebra o
casamento). As ú ltimas cançõ es, por sua vez, tratam do estado beatı́ ico,
a que já aspiram os perfeitos.
A este argumento, aqui acrescentado e que recorda a actual divisã o das
trê s vias, corresponde a consequente divisã o do Câ ntico em trê s
partes. (De acordo com isso, ao fazer um resumo retrospectivo do
caminho percorrido no decorrer da obra, haverá uma alusã o aos trê s
caminhos).
O canto 11, que foi acrescentado, expressa o anseio da alma pela visã o
clara e direta de Deus na vida eterna e provoca a nova explicaçã o dos
cantos 36-39 (35-38): cantos, que na primeira redaçã o evidentemente
referem-se ao estado de casamento espiritual, mas à queles que, no
segundo, por algumas variaçõ es e acré scimos feitos à declaraçã o,
receberam o cará ter de uma descriçã o antecipada da vida eterna.
Todo esto acusa la existencia de un propó sito unitario en la segunda
redacció n: el de presentar el proceso mı́stico en una forma la má s
tradicional y menos sospechosa posible y de limitar el matrimonio
espiritual al perı́odo má s pró xima a la ú ltima perfecció n y consumació n
del alma en la vida eterna. Em breve teremos que examinar se a
alteraçã o na ordem das cançõ es també m serviu ao mesmo propó sito.
Se o retrabalho dos primeiros enunciados se deve a uma tentativa de
esclarecer e especi icar tudo o que pode suscitar suspeitas e ser mal
interpretados, parece que este cuidado també m nã o esteve ausente da
primeira redaçã o.
Já nos pró logos da Ascensã o e da Chama, o Santo fez a sua habitual
declaraçã o de que em tudo se submeteu ao julgamento da Santa Madre
Igreja, referindo-se també m à doutrina das Sagradas Escrituras. Mas
aqui ele faz a mesma coisa com uma insistê ncia ainda mais
esmagadora. Ele garante no inal do pró logo que nã o a irma algo de sua
autoria ou con ia em sua pró pria experiê ncia ou no que conheceu em
outras almas, ao contrá rio, deseja que tudo seja con irmado e declarado
com autoridades da Escritura, pelo menos no que parece mais difı́cil de
entender. Mas no Câ ntico as citaçõ es das escrituras nem sempre
aparecem tã o naturalmente como na Chama, em particular os textos
paralelos do Câ ntico dos Câ nticos. Muitas vezes dã o a impressã o de um
esforço estudado para provar que certas expressõ es ousadas se fundam
na maneira de falar dos Livros Sagrados e sã o utilizadas no mesmo
sentido que neles. Em ú ltima aná lise, este propó sito pode també m
explicar a inegá vel distâ ncia no tempo entre a composiçã o do Câ ntico e
o seu enunciado, embora outras circunstâ ncias certamente tenham
contribuı́do para isso.
Já vimos que este poema se distingue dos outros que o Santo comentou
em seus escritos, pela abundâ ncia e variedade de imagens. Os
comentá rios aqui quase se revelam uma chave de dicioná rio para
decifrar essas imagens, cuja interpretaçã o é em parte sugerida pela
propriedade delas, que, no entanto, nã o tê m uma relaçã o de unidade
natural com o que representam, como sı́mbolos no sentido estrito e
pró prio: por exemplo, os sı́mbolos da Noite e da Chama. E verdade que
há certa semelhança entre a imagem e o que ela representa e, portanto,
certa base objetiva para a representaçã o simbó lica ou signi icativa. Mas
essa base nã o é su iciente para entender o signi icado das imagens sem
mais delongas. E necessá rio aprender sua linguagem, que é , aliá s, muito
mais arbitrá ria na escolha de suas expressõ es do que a linguagem
natural das palavras, embora nã o tã o arbitrá ria como uma linguagem
arti icial, nem como um sistema de signos escolhido por capricho. Essa
liberdade de escolha e a relaçã o mú tua pouco ou fracamente objetiva
trazem como consequê ncia que as imagens nã o sã o unı́vocas, mas
causadas a vá rias interpretaçõ es; inversamente, o que signi icam
també m admite outra expressã o, na medida em que nã o signi icam
necessariamente uma ú nica coisa.
Todas essas notas descrevem o que é chamado de alegoria. Isso, ao
gosto da é poca, era uma caracterı́stica da poesia barroca. Juan conhecia
perfeitamente os procedimentos poé ticos de sua é poca e se deixou
formar por eles. Assim, o uso de tais procedimentos artı́sticos veio
naturalmente para ele e ele os manipulou com maestria em sua obra
poé tica. Mas quando em seus comentá rios ele en ia glosa apó s glosa,
dando vá rias explicaçõ es diferentes para a mesma igura muitas vezes,
(por exemplo, em Song II os pastores já signi icam os desejos e afeiçõ es
da alma, e os anjos), entã o já é do que a alegoria como tal exige, e isso
resulta em detrimento do efeito poé tico, por destruir a unidade antes
da multiplicaçã o dos detalhes e por insistir nas raras e caprichosas
sugestõ es das imagens. Por trá s desse acú mulo de explicaçõ es e
signi icados, haverá també m alguma tentativa de proteçã o contra
interpretaçõ es duvidosas ou perigosas? Nesse caso, o coraçã o do poeta
mais de uma vez teve que protestar contra os procedimentos do
comentarista. Em qualquer caso, sua a irmaçã o de que, com sua pró pria
interpretaçã o, ele nã o pretendia limitar a respiraçã o do espı́rito na
alma abreviando as palavras de amor a um signi icado, pode ser
tomada como um requisito ou convite para nos atermos primeiro ao
poema.

b) A ideia central, segundo a exposição do Santo.

A primeira impressã o que o Câ ntico em sua primeira redaçã o nos


causa, quando o lemos, livre de ideias preconcebidas, é que ele é uma
descriçã o iel de todo o caminho mı́stico. Sublinhamos a palavra
"mı́stica": porque o pró prio Santo nos diz no já referido olhar
retrospectivo que faz na declaraçã o do canto 27 ou 226 que os
primeiros cinco cantos tratam dos primó rdios da vida espiritual, que é
no momento em que o a alma se exercita em meditaçã o e
morti icaçã o; já com a mú sica 6, acrescenta a segunda frase, você entra
no caminho contemplativo. Poré m, do grito de saudade com que
começa a mú sica: onde você se escondeu? Ouvimos o gemido de uma
alma ferida pelo amor divino nas profundezas do seu coraçã o.
Essa alma nã o apenas conhece o Senhor de ouvir dizer, mas já teve um
encontro ı́ntimo e pessoal com Ele e sentiu seu contato nas pró prias
entranhas. A sua dor é a dor do amante que acredita ter o direito de
desfrutar da presença que a faria feliz, do seu amado, presença da qual
ainda nã o foi privada.
Isso deixou a alma abandonada e chorando; porque a "ausê ncia do
amado provoca gemidos contı́nuos no amante", especialmente quando
a alma, tendo saboreado alguma doce e saborosa comunicaçã o do
Esposo, quando este estava ausente, icava sozinha e de repente seca.
"Como nã o pensar nisso altı́ssimas graças mı́sticas Quando nos dizem
"toques de amor que, como lechas de fogo, ferem e perfuram a alma e a
deixam queimada com o fogo do amor?" chamas de amor, tanto que "o
fazem ir embora de sua mente e renovar tudo e passar a uma nova
forma de ser, assim como a fê nix, que arde e renasce novamente. ”Nã o
podemos deixar de reconhecer nesta descriçã o a uniã o de Um amor
que, segundo a doutrina do Santa Mã e e do pró prio Santo Padre, é a
preparaçã o para o noivado mı́stico e o matrimô nio, torna-se um novo
estado para a alma que ela nã o entende. A consideraçã o das criaturas,
mas sem encontrar nelas cons Nada ou satisfaçã o. Isso torna esta alma
distintamente diferente daqueles iniciantes na vida espiritual, que
encontram tanto prazer nos exercı́cios comuns de piedade, porque
ainda nã o entraram na Noite da Contemplaçã o. A alma, tocada por Deus
em suas pró prias entranhas, nã o pode mais encontrar satisfaçã o em
outra coisa senã o em Deus: "nas chagas do amor nã o pode haver
remé dio senã o por parte de quem feriu". E por isso que ele corre aqui,
clamando por seu Amado. Este ir atrá s de Deus ocorre "saindo de todas
as coisas", e "saindo de si mesmo por esquecimento de si mesmo, o que
é feito por amor de Deus".
A alma nestas condiçõ es nada pode fazer senã o amar a Deus e
consumir-se no desejo de vê -lo e contemplá -lo. E Deus nã o pode resistir
por muito tempo a tais desejos. O amor, que Ele mesmo acendeu, leva
você a novos e sem precedentes sinais de amor. E de repente ele faz
uma apariçã o repentina, levantando a alma em um vô o impetuoso em
direçã o a si mesma.
Esta descriçã o do Noivado Espiritual, com seus sequestros tã o
assustadores para a alma e que a tiram de seus modos naturais de ser,
está em tudo de acordo com o que descrevemos pela Santa Mã e na
sexta Morada de seu Castelo Interior. A fraqueza natural tem medo de
sucumbir e irrompe em um grito de sú plica: "Afasta-os, amada", isto é ,
afasta aqueles olhos tã o esperados. Mas esse apelo nã o é sé rio. Em vez
disso, a alma deseja ser libertada das correntes que a prendem a esta
vida, a im de poder entrar e desfrutar com seu Bem-amado. Mas ainda
nã o chegou a hora. O "retorno, pomba" é um convite feito pelo Amado
para retornar à sua existê ncia terrena. No momento, ele tem que se
contentar com o que lhe é dado aqui. E ser, aliá s, algo que a tornará
imensamente rica.
Agora, os jogos de amor entre o Amante divino e a alma amada
começam. Ele nã o precisa mais disso de criaturas como intermediá rios
para ir ao seu Amado. Este é aquele que agora a visita continuamente e
está descobrindo cada vez mais sua beleza divina. Todas as graças das
criaturas nã o a servirã o de agora em diante, mas para cantar louvores à
beleza de seu Amado. Em uniã o com o seu Esposo divino, ela també m
se enriquece e se enche de dons, adornados com uma graça e uma força
maravilhosas, todos imersos no amor e na paz. Ao participar da vida de
Deus, ele també m se alegra e se alegra no fogo do amor que acendeu em
outras almas.
Agora ele a apresenta "dentro do porã o", o mais ı́ntimo santuá rio do
amor, onde o pró prio Deus se comunica com ela e a transforma em Si.
Toda transbordando da imensa e inebriante felicidade de que goza
nesta nova vida, ela esquece todas as coisas de o mundo., todo o apetite
por eles desaparece. E como o Amado a envolve com uma ternura
incompará vel, ela por sua vez se entrega sem reservas e
completamente, só vive para o Amado e está morta para o
mundo. Nesta uniã o de amor todas as virtudes lorescem. A alma vê e
reconhece com imensa satisfaçã o a beleza divina e celestial com a qual
agora está adornada. Mas ele sabe que todas essas riquezas se devem
unicamente ao olhar gracioso com que Deus o envolveu e nã o quer usá -
las senã o para agradar e agradar ao Doador com elas.
Tudo o que impede esta vida santa e feliz de amor deve ser removido. O
pró prio Senhor se encarregará de fazer desaparecer tudo o que seja
obstá culo à permanê ncia e estabilidade da uniã o. A introduçã o da alma
“no agradá vel pomar desejado”, onde pode permanecer com o seu
Amado e descansar ao seu gosto sem o menor obstá culo que a
perturbe. Colocada na solidã o mais completa e pacı́ ica, Ela estará
instruindo nos misté rios secretos de sua sabedoria, queimando-a no
fogo de seu amor. Nã o há criatura capaz de sequer suspeitar do que
Deus reserva para a alma, que ele acolheu e escondeu em seu pró prio
seio para sempre.
Assim, em visã o sumá ria, acreditamos poder resumir o plano primitivo
do Câ ntico: como uma subida de grau em grau na escala da uniã o do
amor, ou como um aprofundamento cada vez mais profundo nos graus
dessa uniã o. Primeiro, temos uma reuniã o ou entrevista
passageira; depois, de acordo com as angú stias e tormentos sofridos na
busca do Bem-Amado, surgem os arrebatamentos, que tiram a alma de
si mesma e a elevam a uma uniã o mais ı́ntima, que se torna um perı́odo
de preparaçã o para passar a uma uniã o habitual e permanente ; e,
inalmente, a paz serena e imperturbá vel do casamento
espiritual. Quase nã o há lugar aqui para qualquer coisa que se re ira a
essa divisã o dos trê s caminhos ou estados de purgaçã o, iluminaçã o e
uniã o. Pelo contrá rio, sã o trê s efeitos que se confundem em toda a vida
espiritual e especialmente na jornada do caminho mı́stico, embora nos
vá rios graus ou etapas haja um ou outro em cada caso. Na explicaçã o do
Câ ntico, a uniã o está no inı́cio e no im e domina o todo. A purgaçã o é
falada com mais frequê ncia na passagem do noivado para o
casamento. A iluminaçã o anda de mã os dadas com o sindicato.
Na distribuiçã o ou ordem das cançõ es da primeira escrita, nota-se que
a passagem do noivado para o casamento é vagamente marcada e
começa muito cedo. Na cançã o 15 (14), a profundidade total da uniã o já
foi alcançada. Como dado para distingui-la do casamento, resta apenas
o fato de que ainda sã o possı́veis alguns impedimentos ou
impedimentos que devem desaparecer para que a uniã o se torne
permanente. Ao alterar a ordem das cançõ es na segunda redaçã o, a
linha divisó ria é traçada com mais clareza.
Apó s a eliminaçã o de todos os obstá culos ou impedimentos, segue-se a
descriçã o da uniã o plena, que se inicia com a entrada no "agradá vel
jardim desejado" (cançã o 22). Esta é uma vantagem da segunda
redaçã o que compensa o efeito algo desagradá vel de nos oferecer, logo
apó s a bela estrofe 15 com os encantos má gicos de sua noite, a alusã o
à s "raposas" no vinhedo. E muito natural e compreensı́vel que no
primeiro rascunho a ordem das estrofes nã o fosse exatamente a mais
objetivamente apropriada. As estrofes nã o nasceram todas de uma
vez; Mesmo aqueles que datam do perı́odo da permanê ncia do Santo na
prisã o foram, em todo o caso, sucessivamente unidos e agrupados de
acordo com as experiê ncias ı́ntimas vividas. Já foi lembrado que há
depoimentos de testemunhas que discordam se as cançõ es foram
transferidas para o papel na mesma prisã o ou apenas apó s a fuga. A
primeira é plausı́vel, mas nã o exclui que o prisioneiro foi forçado a
manter seus versos na memó ria por muito tempo, até que tivesse o
necessá rio para escrevê -los. Talvez ele já tenha cantado essa ou outra
mú sica de acordo com seu humor em todos os momentos, e é possı́vel
que as tenha transferido imediatamente para o papel, sem prestar
muita atençã o na melhor ordem delas, como mais tarde o colocaria em
sua ú ltima elaboraçã o. . Essas consideraçõ es nos fazem ver que é
correto seguir agora, antes de um exame cuidadoso do conteú do
ideoló gico e da forma artı́stica, a ordem da segunda redaçã o. Nã o
devemos perder de vista, poré m, o que já dissemos sobre o principal
motivo que poderia ter levado à segunda escrita, dando assim todo o
seu valor à primeira interpretaçã o das cançõ es.

c) A imagem dominante e o seu valor no conteúdo do


Cântico

Esta visã o rá pida e sumá ria nã o teve outro objetivo senã o tentar
descobrir o signi icado do todo e nela quase nã o houve lugar a nã o ser
fazer alguma alusã o à abundâ ncia e variedade dos detalhes. Quem
quiser estudá -los, deve esforçar-se por decifrar a linguagem igurativa
do poema. Nessa empreitada, o guia mais indicado será o dicioná rio do
pró prio Santo, embora seja necessá rio nã o segui-lo com demasiada
servidã o.
A nota dominante do Câ ntico é a de uma forte tensã o a que a alma está
sujeita entre o tormento de uma busca ansiosa e a satisfaçã o e
felicidade do encontro. Esta nota dominante encontrou a sua expressã o
na imagem, que ao mesmo tempo domina o conjunto acima da multidã o
de vá rias imagens, que se agrupam em torno dela: é a imagem da
esposa, que suspira pelo Amado, que se desfaz olhando para ele, e que
inalmente o encontra para sua imensa satisfaçã o.
Isso nã o é novidade para nó s. Já à noite vimos a esposa sair de casa
para se lançar em busca do Amado; da mesma forma, na Chama, a
vemos marchando atrá s do Noivo. Mas aı́ o relacionamento com a
esposa nã o é central, ao contrá rio, permanece em segundo plano como
algo compreendido. Tudo gira em torno de você aqui. Esta imagem nã o
é puramente alegó rica. Quando chamamos a alma de noiva de Deus, nã o
estamos apenas diante de uma relaçã o de semelhança entre dois
objetos, o que nos permite caracterizar um pelo outro. Em vez disso,
existe entre a imagem e o imaginado uma unidade tã o ı́ntima que
di icilmente há espaço para falar de dualidade. Essa é a caracterı́stica da
relaçã o simbó lica em sentido estrito e pró prio.
O relacionamento da alma com Deus, como Deus previu desde a
eternidade, di icilmente pode ser caracterizado melhor e com mais
precisã o do que um relacionamento matrimonial, de marido para
mulher. Por sua vez, a ideia de casamento em nenhum lugar é cumprida
de forma tã o adequada e perfeita como na uniã o amorosa de Deus com
a alma. Uma vez compreendido isso, há uma troca exata de papé is entre
a imagem e seu objeto: entende-se que Deus é o pró prio marido natural
de cada um, e todas as relaçõ es conjugais humanas sã o vistas como
reproduçõ es imperfeitas daquele primeiro e original tipo. maneira que
a paternidade de Deus é o protó tipo de toda paternidade terrena. Por
causa da relaçã o que a có pia tem com seu original, as relaçõ es humanas
entre esposa e marido podem servir para expressar simbolicamente as
relaçõ es de Deus com a alma de sua esposa; e por causa dessa funçã o, o
que na vida real é considerado uma relaçã o puramente humana é
relegado a segundo plano. Esta relaçã o humana tem sua razã o de ser e
seu signi icado mais elevado em sua capacidade de ser a expressã o de
um misté rio divino.

d) O símbolo da esposa e os detalhes das outras imagens

Como esta imagem predominante da esposa se relaciona com a


variedade heterogê nea das outras imagens alegó ricas do Câ ntico? Para
responder a essa pergunta, devemos responder a outra, já formulada
acima: consideraremos essas imagens como icçõ es arbitrá rias do poeta
ou como inspiraçõ es do Espı́rito Santo?
Esta é a pergunta que foi feita ao pró prio autor pela Irmã Magdalena
del Espı́ritu Santo. Ela diz, testemunhando que Padre Juan deixou seu
caderno de poesia composto na prisã o no Convento de Beas, e que ela
foi enviada para fazer algumas có pias. Maravilhada com a veemê ncia e
o calor das palavras, com a beleza e delicada precisã o da expressã o, ela
perguntou um dia ao Pai se aquelas palavras, tã o belas e tã o cheias de
signi icado, tinham sido inspiradas por Deus. O Pai respondeu: "Filha,
à s vezes Deus me dava, outras vezes eu procurava". Conclusã o
semelhante sugere a leitura da pró pria obra. Já em seu pró logo ele nos
alerta que as cançõ es foram escritas com certo fervor do amor de Deus
e que é impossı́vel encontrar as palavras certas para explicá -las. E claro
que isso se refere sobretudo à di iculdade de comentá -los muito depois
de escritos. A expressã o poé tica parece ter sido recebida do Espı́rito
Santo, assim como seu conteú do. Logo somos levados a saber, poré m,
que nem mesmo a expressã o imediata é capaz de traduzir o que o
espı́rito divino faz a alma sentir e compreender internamente. Por isso,
ao tentar se explicar, recorre a imagens e semelhanças para transmitir
algo dela.
Conseqü entemente, há na experiê ncia do mı́stico um certo elemento
espiritual e ı́ntimo que deve ser distinguido de sua expressã o verbal. E
é que a plenitude divina, desprovida de modos e formas, nunca se
deixará encerrar completamente nas palavras humanas. O uso de
imagens e comparaçõ es pode ser explicado como uma tentativa de
encontrar a expressã o certa. Mas també m pode ser uma apreensã o de
algo que o Espı́rito de Deus apresenta à alma. Quando Sã o Joã o da Cruz
faz uso de imagens tiradas das Sagradas Escrituras, que muitas vezes
produzem uma impressã o tã o estranha e podem ser mal interpretadas,
podemos pensar em uma assistê ncia sobrenatural que o ajudou a dar
forma verbal ao seu pensamento. A inspiraçã o certamente nã o deve ser
concebida de tal forma que nã o apenas tudo o que os escritores
sagrados dizem, mas mesmo as imagens e palavras que todos eles
empregam devam ser tomadas como sugeridas e faladas por
Deus; ainda assim, em muitas passagens, é evidente que mesmo a
expressã o externa deve ser entendida literalmente como a palavra de
Deus. E algo que, segundo ele mesmo, també m aconteceu a San Juan de
la Cruz em muitos casos. Mas mesmo nos casos em que o Espı́rito Santo
buscou expressã o, a ajuda do Espı́rito Santo nã o está excluı́da. A
vivacidade de sua imaginaçã o como artista, aguçada por sua situaçã o
violenta e anormal de isolamento e total afastamento do que agradava
aos sentidos externos, foi capaz de trazer à sua alma, como num passe
de má gica, uma profusã o de imagens das cores mais coloridas. . E se
essas imagens estã o de acordo com o que o poeta experimenta em seu
interior, isso nã o pode ser atribuı́do à mera força criadora de sua
imaginaçã o, nem ao capricho da interpretaçã o; é que o poeta encontrou
nessas imagens a expressã o que procurava para dizer o indizı́vel, é que
o Espı́rito Santo revelou o sentido espiritual desse mundo
multicolorido que entra pelos sentidos e o orienta na sua
escolha. Assim, a harmonia do todo é compreendida e, portanto, a
eloqü ê ncia ı́ntima dessas imagens. Certamente isso nã o pode ser dito
de todos eles. Mais de um foi escolhido naturalmente e eu estava até
pesquisando no sentido laborioso desta palavra. E mais do que as
pró prias imagens, isso se aplica aos comentá rios que as acompanham.
O mundo ao qual o Câ ntico nos introduz é o mundo representado por
uma alma ansiosa e intoxicada de amor. Se ela sai, é apenas para buscar
o Amado. Aonde quer que vá , ele tenta descobrir algum traço de seu
Amado; todas as coisas lhe dã o notı́cias Dele, e nada tem signi icado
para ela, exceto na medida em que lhe trazem notı́cias das deles, ou na
medida em que podem servir como muralhas para enviar suas
mensagens ao Bem-Amado.
Como um veado fugitivo que sai rapidamente de uma loresta e
desaparece assim que é avistado pelo olhar do caçador, assim o Senhor
se comportou nos primeiros encontros: ele se mostrou à alma, mas
desapareceu antes que ela pudesse alcançá -lo. com ele.
Fonte cristalina que oferece refrigé rio ao viajante errante, a fé se torna
para ela: a verdade que a fé oferece é pura e livre de toda mancha e
nebulosidade do erro, e dela lui a á gua da vida para a alma. Vida eterna
(Jo 4: 14). A alma ansiosa e sedenta recostar-se-á sobre essa fonte: nã o
terá ela a felicidade de ver os olhos do seu Bem-amado re letidos no
espelho lı́mpido das suas á guas? Esses olhos nada mais sã o que os raios
das verdades divinas que atingem a alma nas profundezas do seu ser,
iluminam-na e in lamam-na. A alma sempre sente sob o olhar daqueles
olhos e, portanto, os carrega como atraı́dos em suas pró prias
entranhas.
Tudo isso é fá cil de entender como uma expressã o grá ica da situaçã o
geral. Mas quando, alé m disso, o comentá rio nos assegura que os
semblantes sã o artigos de fé , que re letem para nó s as verdades divinas
oculta e imperfeitamente, e que esses "semblantes" sã o ditos de prata,
porque em tais artigos o ouro puro de Na verdade, parece-nos coberto
por uma camada de prata, perderemos de vista a imagem grá ica e nã o
poderemos descobrir qualquer relaçã o com o sı́mbolo que nos
guiou. Estamos perante uma interpretaçã o puramente racional e
artı́stica, que, face à autoridade do poeta e inté rprete, podemos aceitar
ou també m nã o aceitar - porque ele mesmo nos deixou em liberdade
para o fazer.
En im, acontece o que há muito se almejava e se pedia. De repente e
inesperadamente, a alma, tenaz em sua busca, encontrou o olhar dos
olhos divinos. Seu desejo ardente moveu o Amado "a visitar sua esposa
casta, delicada e amorosa". També m desta vez apareceu como o cervo:
junto ao outeiro, isto é , no alto ponto de contemplaçã o. Ele nada mais
faz do que inclinar-se para fora, “porque por mais altas que sejam as
notı́cias de que Deus é dado à alma nesta vida, todos sã o como espiõ es
muito desviantes”.
E o Amado por sua vez també m está ferido. "Porque nos amantes a
ferida de um está entre os dois, e o mesmo sentimento tem os dois." E
ele se compraz e se alivia com os ares do vô o da esposa, a quem chama
de pomba, porque voa alto e leve nas asas da contemplaçã o e porque
tem um coraçã o sincero e amoroso. O ar de sua fuga é o espı́rito de
amor que ela aspira nesta alta contemplaçã o com o conhecimento das
altas notı́cias divinas, como o Pai e o Filho aspiram ao Espı́rito
Santo. Por vô o entende-se o conhecimento infundido de Deus, e pelo ar
de vô o, o amor que brota desse conhecimento. E é o amor que atrai o
Noivo e lhe dá frescura e refrigé rio, como as á guas frescas fazem com
que nelas os cervos sedentos e feridos venham a se refrescar. “Assim
como o ar dá frescor e refrigé rio a quem tem sede e cansaço do calor,
assim esse ar dá amor, refresca e recria quem arde com o fogo do amor.
Porque esse fogo do amor tem tal propriedade que o ar com qual
bebida fresca e refrescante é mais fogo do amor. Porque no amante o
amor é uma chama que arde com vontade de arder mais ”; e visto que
essa chama é o que acende o amor da esposa, esse amor se torna um ar
refrescante para o marido.
Ao desfrutar da presença do Amado, a alma cessa seus chamados
angustiados, e passa a cantar e louvar o Amado pela grandeza que sente
e desfruta em sua uniã o com Ele. Porque, como vimos, naquele vô o do
Espı́rito é onde acontece o Noivado com o Verbo Filho de Deus. E aqui
que "Deus comunica coisas de si mesmo à alma, embelezando-a com
grandeza e majestade, e convidando-a com dons e virtudes e
revestindo-a com o conhecimento e a honra de Deus, alé m de estar
casado no dia de seu noivado". Ela já entra em "um estado de paz e
deleite e suavidade de amor", e ela nã o sabe fazer "outra coisa senã o
contar e cantar a grandeza de seu Amado". E em seus transportes
experimenta a verdade do que costumava dizer Sã o Francisco de Assis:
"Meu Deus, e todas as coisas".
Deus é de fato tudo para ela, todo o bem derramado e espalhado em
todos os seres; e assim ele encontra nas criaturas uma transcriçã o e
re lexo das perfeiçõ es divinas. Cada uma dessas perfeiçõ es é Deus e
todos juntos sã o Deus. “Visto que neste caso a alma está unida a Deus,
ela se sente todas as coisas Deus, como Sã o Joã o sentiu quando disse:“
O que foi feito foi a vida nele. ”Isso nã o signi ica que a alma vê as
criaturas em Deus ", que é como ver as coisas na luz ou as criaturas em
Deus; mas nessa posse ele sente ser todas as coisas Deus. "Nem isso é
ver Deus clara e essencialmente. E, sim," uma comunicaçã o forte e
abundante ", mas que nã o dá senã o um" vislumbre do que Ele é em si
mesmo . "E é atravé s desse vislumbre que as perfeiçõ es das criaturas
sã o descobertas.
A montanha com seus altos picos e a graça e charme de suas muitas
lores perfumadas tem algo da grandeza e beleza do Bem-Amado. A
alma em meio à sua solidã o repousa como numa loresta fresca e
solitá ria, exuberante de vegetaçã o. No conhecimento de Deus, ele
descobre um mundo novo e maravilhoso, como um navegador que
descobre ilhas estranhas. Como um rio transbordante que tudo inunda
e com seu ruı́do silencia e domina todos os outros ruı́dos, assim a alma
é contemplada, carregada pela torrente do espı́rito de Deus, que com
tanta força se apodera dela, "que lhe parece que eles estã o vindo sobre
ele. todos os rios do mundo. " Mas este dilú vio nã o lhe causa nenhum
tormento, porque se trata de "rios de paz" e de sua investida "todas as
ondas de paz e gló ria", e essa á gua divina preenche o fundo de sua
humildade e o vazio de seus apetites; e no ruı́do de sua corrente ele
percebe "um ruı́do espiritual e voz que está acima de todo som e voz,
cuja voz priva todas as outras vozes e seu som excede todos os sons do
mundo." “E como uma imensa voz e som interior que reveste a alma de
poder e força”, como a voz e o som que os apó stolos perceberam em seu
espı́rito quando o Espı́rito Santo desceu sobre eles. O poderoso rugido
que os habitantes de Jerusalé m ouviram naquela ocasiã o denotou o que
os apó stolos perceberam dentro deles. Esta voz espiritual, sendo tã o
grande e poderosa, é suave e doce de se ouvir. Sã o Joã o a ouvia e
parecia-lhe "a voz de muitas á guas e a voz de um grande trovã o", mas
ao mesmo tempo "a voz dos citaristas que tocavam a sua cı́tara"
(Apoc.14,2).
Assim como o ar suave com seu sibilo doce e toque delicado parece
acariciar suavemente nossas bochechas, tal é a maneira suave e gentil
com que as virtudes e graças do Bem-amado sã o comunicadas e
infundidas na alma. E o silvo desses ares é “uma notı́cia altı́ssima e
deliciosa de Deus e de suas virtudes, que resulta na compreensã o do
toque que essas virtudes fazem na substâ ncia da alma”.
E como o toque do ar é percebido pelo sentido do tato e seu assobio
pelo ouvido, també m o toque das virtudes do Bem-amado é sentido e
apreciado no toque dessa alma, isto é , em sua substâ ncia; e a
inteligê ncia de tais virtudes é sentida no ouvido da alma, que é o
entendimento. E assim como o assobio do ar penetra agudamente no
ó rgã o do ouvido, també m esta inteligê ncia tã o sutil e delicada entra
com gosto admirá vel e deleite na intimidade da substâ ncia da alma, que
é um deleite muito maior do que todas as outras, porque é que lhe dá
substâ ncia compreendida e isenta de acidentes e fantasmas. "Este apito
divino, que entra pelo ouvido da alma, nã o é apenas substâ ncia, como já
disse, compreendido, mas també m a descoberta das verdades da
divindade e revelaçõ es de seus segredos ocultos."
Normalmente, toda vez que as Escrituras falam de alguma comunicaçã o
de Deus, que se diz entrar pelo ouvido, é sobre manifestaçõ es dessas
verdades nuas no entendimento, de revelaçõ es ou visõ es puramente
espirituais, que só sã o dadas à alma sem serviço, nem ajuda dos
sentidos. Por esta razã o, essas comunicaçõ es que dizem ser feitas no
ouvido sã o muito altas e seguras. é assim que se crê que nosso Pai Santo
Elias viu Deus, quando o sentiu naquele "apito do ar" (3 Reis, 19, 12), e
o mesmo Sã o Paulo, quando ouviu as palavras secretas que o homem é .
nã o tem permissã o para falar (2Cor. 12.4). Porque "ouvir com os
ouvidos da alma é ver com os olhos do entendimento passivo". Nã o se
trata naturalmente de uma visã o perfeita e clara como na Gló ria, mas de
uma contemplaçã o ainda escura, num "raio de escuridã o", como dizia
Sã o Dioniso.
E uma vez que a alma recebe essa inteligê ncia divina sombria e abismal
e goza, deitada no peito do amado, inefá vel calma e paz, ela a compara à
noite tranquila, mas noite que está sendo iluminada pelas claridades da
madrugada, pois “E é calma e quietude na luz divina, no conhecimento
do novo Deus, no qual o espı́rito está mais suavemente quieto, elevado
à luz divina. " E esse espı́rito, já calmo e tranquilo em Deus, é elevado
das trevas do conhecimento natural à luz da manhã do conhecimento
sobrenatural de Deus. Es la noche en par de los levantes de la aurora, en
que ni del todo es dı́a ni del todo es noche, sino como entre dos luces,
de modo que el alma ni del todo es informada por la luz divina ni deja
de participar algo dela.
Na calma e no silê ncio desta noite a alma vê “uma admirá vel
comodidade e disposiçã o da sabedoria de Deus nas diferenças de todas
as suas criaturas e obras: todas elas e cada uma delas dotada de uma
certa dependê ncia de Deus, na que cada uma à sua maneira dê voz ao
que Deus é nela, de maneira que lhe pareça uma harmonia musical
muito elevada, que ultrapassa todos os saraos e melodias do mundo
”. Mas é uma mú sica tranquila, porque essa inteligê ncia calma e
silenciosa se comunica sem o ruı́do das vozes, e "assim a suavidade da
mú sica e a quietude do silê ncio sã o apreciadas nela", e essa mú sica de
tã o doces harmonias só é percebida " na solidã o e alienaçã o de todas as
coisas externas ", razã o pela qual é descrito como quieto, e a solidã o
como" sonora ".
Se a visã o divina é o jantar ou a refeiçã o dos anjos e bem-aventurados, a
alma també m tem um jantar que a alimenta e a recria: é a notı́cia divina
que lhe é comunicada em meio à serenidade da sua noite. Ela gosta dele
com a impressã o alegre de que todas as labutas e males do dia
passaram. O pró prio Amado "janta com ela" (Ap 3,20) e dá -lhe uma
parte em todas as suas posses e faz com que ela se apaixone mais,
comunicando-se com ela com mais graça e longamente.
Com o arreio das virtudes, que a esplê ndida misericó rdia divina tã o
profusamente lhe comunica, a esposa contempla o seu pró prio interior
como um jardim cheio de lores perfumadas ou como uma videira em
lor. Ela sente em seu coraçã o a presença de seu Amado, como se
repousasse nele como em sua pró pria cama. Ela gostaria de se entregar
ao seu Divino Esposo com todas as riquezas e profusã o de lores com
que se enfeita, para prestar-lhe as melhores homenagens e agradá -lo, e
para eliminar qualquer impedimento que inter ira na comunicaçã o
mú tua.
Mas o apetite e o movimento que há muito haviam sido acalmados,
como as raposas que ingem estar adormecidas, despertadas e
estimuladas por espı́ritos malignos, repentinamente invadiram o
vinhedo da alma em um plano para travar uma guerra contra seu reino
lorido e pacı́ ico . Porque o demô nio mais precioso "para impedir
aquela alma de um quilate desta riqueza e deleite glorioso do que fazer
muitos outros caı́rem em muitos outros e gravı́ssimos pecados, porque
os outros tê m pouco ou nada a perder e este muito, porque tem muito
gado e muito bonito ”. Conseqü entemente, os espı́ritos malignos incitam
e aumentam os apetites com veemê ncia para perturbar a alma; e se
assim nã o puderem, precipitam-se nele com tormentos e ruı́dos
corporais. O pior é quando ela é atacada com horrores
espirituais; entã o o tormento pode se tornar insuportá vel e
horripilante. "O que, neste momento, se eles tiverem permissã o, eles
podem muito bem fazer; porque como a alma se coloca em um espı́rito
muito nu para este exercı́cio espiritual, ela pode facilmente se
apresentar a ela, já que ela també m é espı́rito. Outros As vezes ele faz
outras investidas de horrores ..., enquanto Deus começa algo para tirá -
la da casa de seus sentidos para que ela possa entrar ... no jardim de sua
Esposa; porque ele sabe disso, se uma vez entrar naquela reclusã o , Ele
está tã o protegido que nã o importa o quanto faça, ele nã o pode
prejudicá -lo. E muitas vezes, quando aqui o diabo sai para dar o seu
passo, a alma tende com grande entusiasmo a se recolher no profundo
esconderijo interior, onde encontra grande deleite e abrigo. e entã o ele
sofre aqueles terrores tã o distantes do lado de fora, que nã o só nã o o
fazem temer, mas lhe causam alegria e alegria ”. Mas ao sentir algum
constrangimento, ele invoca os anjos, pedindo-lhes que "caçam as
raposas"; porque é seu trabalho favorecer a alma neste momento,
assustando e afastando os demô nios.
Uma vez que todos os vermes nocivos sã o removidos, a alma pode
desfrutar em uniã o com seu Bem-amado todas as lores das virtudes
que abrem e espalham seus aromas sob a in luê ncia do olhar do
Um. Juntando todos, ele faz um buquê com eles, “e assim juntos ele os
oferece ao Amado com grande ternura de amor e suavidade”. Mas ele
precisa de sua ajuda para isso; "Sem o seu favor e ajuda, ela nã o poderia
fazer este encontro e oferta." E ele os junta e os apanha, aliá s, com força,
de modo que se formem como um abacaxi que conté m muitos pedaços
fortes e fortemente abraçados. assim é a perfeiçã o da alma como uma
peça ú nica, que conté m dentro de si irme e bem abraçada muitas
perfeiçõ es e virtudes fortes e dons muito ricos. Enquanto a alma vai
formando este buquê pelo exercı́cio das virtudes, nada deve perturbar a
paz da montanha onde isso é feito, ou seja, nenhuma notı́cia, afeto ou
advertê ncia particular deve ser apresentada nas forças da alma, a im
de permitir nada o impede de sua "assistê ncia amorosa a Deus".
Mas há ainda outra coisa que perturba sua felicidade. No momento do
noivado, o Amado ainda nã o está permanentemente unido a ela. E
porque Seu amor é tã o grande e tã o ı́ntimo, isso lhe causa grande
tormento toda vez que Ele se afasta. Por isso temo a secura como um
vento frio que mata todas as lores. Daı́ també m que ele recorre à
oraçã o e exercı́cios espirituais para enfrentar este perigo. Mas, neste
elevado estado de vida interior que já alcançou, as coisas que Deus
comunica à alma sã o tã o interiores que, sem nenhum exercı́cio de suas
faculdades, ele pode alcançá -las ou saboreá -las. Por isso chama de
austro, aquele outro ar ú mido e pacı́ ico, com o qual as lores se abrem
e exalam sua fragrâ ncia: é o Espı́rito Santo que desperta ou “lembra dos
amores”. “Porque quando este ar divino penetra na alma, in lama-a a
tudo e dá -lhe vida e vivi ica-a, e desperta a vontade e aumenta os
apetites, que antes estavam adormecidos, para o amor de Deus”.
E o que a alma pede a este Espı́rito é que respire ou respire, nã o no
jardim, mas atravé s de seu jardim. "Porque há uma grande diferença
entre aspirar a Deus na alma e aspirar pela alma. Porque aspirar à alma
é infundir-lhe graça, dons e virtudes. E aspirar pela alma é fazer Deus
tocar e mover nas virtudes e perfeiçõ es que já lhe sã o dadas,
renovando-as e comovendo-as de tal forma que dê em a si uma
fragrâ ncia e suavidade admirá veis à alma. Assim como quando as
espé cies aromá ticas abanam, que, ao fazerem aquele movimento,
derramam o abundâ ncia de seu perfume, que antes nã o era nem
sentido a tal ponto ". Assim, a alma nem sempre está sentindo e
desfrutando de suas virtudes. Em vez disso, eles estã o nela nesta vida,
como botõ es fechados ou como espé cies aromá ticas cobertas. Sin
embargo algunas veces sopla el Espı́ritu Divino por el huerto del alma, y
entonces "abre El todos estos cogollos de virtudes y descubre estas
especies aromá ticas de dones y perfecciones y riquezas del alma, y
manifestando el tesoro y caudal interior, descubre toda la hermosura
dela".
Esta fragrâ ncia das lores das virtudes "à s vezes é em tal abundâ ncia
que parece à alma estar revestida de delı́cias e banhada em gló ria
inestimá vel; tanto que ela nã o só a sente por dentro, mas muitas vezes
ainda redunda tanto muito de fora que sabem disso. Quem sabe avisar e
que tal alma parece um jardim delicioso, cheio das delı́cias e das
riquezas de Deus ... E nã o só quando estas lores estã o abertas é que
isso se vê em essas almas sagradas, mas normalmente elas trazem em si
mesmas um nã o sei o que é de grandeza e dignidade, que causa cuidado
e respeito pelos outros. "
Nesta aspiraçã o do Espı́rito Santo de forma elevada, o esposo, Filho de
Deus, é comunicado també m à alma. E Ele quem, antes de tudo, sente
um prazer especial em contemplar aquele rebanho de lores tã o
esplê ndidas e cheirosas na alma, que por sua vez nã o gosta mais do que
agradar e deleitar o Bem-Amado. Este por sua vez vem deliciá -lo e
pastá -lo e transformá -lo em si mesmo, de modo que já esteja "guisado,
salgado e temperado com as ditas lores de virtudes e dons e
perfeiçõ es", cujo sabor e suavidade desfrutam ambos os
amantes. "Porque esta é a condiçã o do Esposo: unir-se à alma entre a
fragrâ ncia dessas lores."
Em meio a toda essa felicidade, uma dor permanece para a alma e é a de
nã o ser inteiramente dona das forças de sua parte inferior, que ainda
continuam a promover rebeliõ es na parte sensı́vel e atrapalhar a vida
do espı́rito. A alma, entã o, agora se volta para esses movimentos
desordenados e os conspira para que nã o ultrapassem suas pró prias
fronteiras ou limites. Ele as chama de "ninfas" porque tentam atrair
com lisonja e persistê ncia. E ele chama a parte inferior da alma de
"Judé ia", "porque é magra e carnal e cega por si mesma, como o povo
judeu". Enquanto as roseiras dos poderes superiores da alma geram e
criam lores de virtudes e emitem perfumes â mbar do Espı́rito Santo,
essas outras ninfas devem permanecer do lado de fora, na cerca externa
ou subú rbios do sentido interno, e nã o tocar os limites, que ou seja, os
primeiros movimentos da parte superior. (Nesta estrofe nã o apenas o
comentá rio, mas a pró pria estrofe parece rebuscada e, alé m disso,
in luenciada pelo gosto da é poca. A pró xima, ao contrá rio, se encaixa
perfeitamente na imagem do conjunto simbó lico).
A alma suspira ansiosamente por nada menos do que a visã o de Deus
face a face. Ela já o encontrou na parte mais recô ndita de si mesma e
gostaria de permanecer oculta nele. Quando Deus se digna a revelar a
ela a gló ria e a excelê ncia de sua divindade, nada disso deve
transcender os sentidos externos, para que nã o saia daı́ daı́ perturbaçã o
ou acidente. A alma sabe que a fraqueza de sua natureza sucumbiria
sob o peso da grandeza do que acontece na montanha, e isso di icultaria
a contemplaçã o facial de Deus pelo espı́rito. Assim, ela gostaria de
sentir o contato com a essê ncia divina na pró pria substâ ncia da alma,
sem a companhia e a incô moda participaçã o do corpo, e desfrutar da
contemplaçã o das maravilhosas joias com que o pró prio Deus a
arrebanhou e com o notı́cias de Deus, alheias a todos os sentidos e
muito acima de todas as formas comuns de saber.
O Marido, por sua vez, també m deseja o casamento e se prepara para
agraciar sua esposa com pureza excepcional, grande força e amor
elevado, para que ela seja digna do forte e estreito abraço de Deus, e
desta forma venha a estabelecer em sua alma um harmonia
perfeita. Todas as divagaçõ es inconstantes da fantasia cessam nela, toda
onda de raiva e toda fraqueza e covardia. Todas as montanhas, vales e
margens sã o niveladas e equalizadas; isto é , todos os atos que excedem
o justo desaparecem. As á guas da dor devem ser retiradas, os ventos da
esperança devem ser silenciados e os ardores da paixã o da alegria
devem ser apagados; Todos os medos com os quais o inimigo tenta
colocar as trevas e obscurecer a luz divina da alma devem ser banidos.
Assim a esposa poderá repousar completamente sossegada nos braços
do Bem-Amado, e terá alcançado tal grandeza e irmeza em sua alma
que nada poderá fazê -la cambalear ou vacilar. E mesmo quando ele
manté m um sentimento muito vivo por seus pró prios defeitos e dos
outros, eles nã o lhe causam dor ou tormento. Porque neste estado "a
alma carece do que era fraco nas virtudes e permanece forte, constante
e perfeita delas. Porque, como os anjos que avaliam perfeitamente as
coisas que sã o dolorosas sem sentir dor e exercem obras de
misericó rdia sem sentimento de compaixã o, acontece para a alma nesta
transformaçã o do amor. " Se Deus ainda lhe dá para sentir e sofrer em
algumas coisas, é para que você mereça mais e se apegue ao amor, mas
o estado do casamento nã o traz mais nada disso consigo.
Pois també m a esperança da alma que alcançou esta uniã o com Deus foi
apaziguada e satisfeita no que diz respeito a esta vida, e nã o tem nada a
esperar ou desejar neste mundo. Quanto aos afetos da alegria, "é tanto
que ele normalmente desfruta que, como o mar, nem diminui com os
rios que dele luem, nem aumenta com o que nele entra." E verdade que
nã o lhe faltam alegrias acidentais, e mesmo ordinariamente as tem
incontá veis, mas "nã o por isso no que é comunicaçã o substancial do
espı́rito nada se aumenta, porque tudo o que pode voltar a ela ela já
teve". Nisso ele tem de alguma forma "a propriedade de Deus, que,
embora se deleite em todas as coisas, nã o se deleita nelas como em si
mesmo, porque em si mesmo tem o bem eminente sobre todas elas".
Assim, todas as novidades em alegrias e gostos só servem à alma para
relembrar e reacender o deleite da uniã o. Se alguma vez coisas de
alegria e felicidade sã o oferecidas a ele, entã o ele se lembra daquele
outro bem imensamente maior que ele tem em si mesmo e passa a
desfrutá -lo. E tudo que essas novidades lhe devolvem frente à
substancialidade que ela já tem em si "é tã o pouco ... que podemos
dizer-lhe tudo ...; mas é uma coisa admirá vel ver isso por nã o receber
essa alma novidades de delı́cias, parece-lhe sempre que as recebe de
novo e també m que sempre as teve ”.
“Mas se quisé ssemos falar da iluminaçã o de gló ria que neste abraço
ordiná rio que deu à alma à s vezes ele faz nela, que é uma certa
conversã o espiritual para ela, na qual ele a faz ver e gozar juntos deste
abismo das delı́cias e riquezas que nele depositou, nada se poderia
dizer que o declarasse, porque, como o sol quando o mar bate no mar,
ilumina até os seios da face e cavernas profundas e parecem pé rolas e
ricas veias de ouro e outros minerais preciosos, etc. Assim, este divino
Sol do Noivo, voltando-se para a noiva, traz ... à luz as riquezas da alma
... Em cuja iluminaçã o, embora seja de tal excelê ncia, nada se aumenta
para tal. uma alma, mas só dar à luz para gozar o que eu tinha antes ”.
Assim iluminados, esclarecidos e fortemente a irmados e assentados
em Deus, eles nã o perturbam nem assustam os demô nios da alma com
seus terrores. "Nada pode machucá -la ou perturbá -la." Já centrada em
Deus, ela desfruta da paz perfeita que ultrapassa todos os sentidos e
nã o pode ser expressa em palavras humanas.
“Entrou a esposa no agradá vel pomar desejado”. O mundo todo já nos
apoiou, a preparaçã o está inalizada. No perı́odo de noivado que
precedeu esta esposa manteve-se iel, saindo da prova com louvor. E
Ele, o tã o esperado, em quem ela agora se transforma. Porque "há tal
encontro das duas naturezas e tal comunicaçã o do divino ao humano,
que, sem nenhum deles mudando o seu ser, cada um parece ser Deus.
Embora nesta vida nã o possa ser perfeitamente, embora seja acima de
tudo o que você pode dizer e pensar. " Porque, inalmente, a alma
"encontra neste estado muito mais abundâ ncia e plenitude de Deus, e
uma paz mais segura e está vel e uma suavidade mais perfeita sem
comparaçã o do que no casamento espiritual". Ver-se acolhido e envolto
nos braços divinos com um verdadeiro e estreito abraço espiritual,
vivendo a vida de Deus e deixando o pescoço descansar nos braços do
Amado, que comunica a sua pró pria força, transformando a sua
fraqueza na pró pria força de Deus.
O lugar onde ela entrou é um novo paraı́so. O casamento é consumado
sob a macieira. E aı́ onde a esposa iel é instruı́da nos mais profundos e
maravilhosos misté rios de Deus, especialmente nos mais doces
misté rios da Encarnaçã o e da Redençã o.
Assim como no Paraı́so, comendo o fruto proibido da á rvore, a natureza
humana foi devastada e perdida, assim na á rvore da Cruz ela foi
redimida e reparada, e lá no topo da Cruz é onde o Esposo divino
estendeu a alma sua esposa a mã o de sua graça e misericó rdia e atravé s
de sua Paixã o e Morte fez cessar a inimizade que existia entre o homem
e Deus devido ao pecado original. Sob a á rvore do Paraı́so terrestre, a
mã e (a natureza humana) foi violada pelo pecado na pessoa dos
primeiros pais. Sob a á rvore da Cruz, a vida é trazida de volta à alma. O
noivado que foi feito na Cruz nã o é , é claro, exatamente o mesmo que o
mı́stico em questã o aqui: que se consuma no batismo e uma vez por
cada alma, enquanto este outro noivado mı́stico está ligado a uma obra
de aperfeiçoamento pessoal e isso é feito aos poucos, dependendo da
generosidade da alma. Mas, no fundo, eles sã o a mesma uniã o.
e) O símbolo da esposa e da cruz

(Casamento mı́stico. Criaçã o, Encarnaçã o e Redençã o)


Já chegamos aqui a um ponto muito capital e devemos tentar avançar
um pouco alé m do que nos conduzem os comentá rios explı́citos do
Santo.
Para nó s, a Cruz é o sı́mbolo da Paixã o e Morte de Cristo e de tudo o que
a elas se relaciona como causa e chave de explicaçã o. A Cruz nos
lembra, por um lado, o fruto da morte de Cristo: a Redençã o. Mas nã o
esqueçamos que intimamente relacionado com a Redençã o temos a
Encarnaçã o como condiçã o pré via para a Paixã o e a Morte redentora, e
o pecado como causa ou motivo de ambas.
Já avançamos diante da ideia de que os sofrimentos da noite escura sã o
uma participaçã o na Paixã o de Cristo e, principalmente, em seu
principal tormento: o abandono de Deus. Esta ideia é expressamente
con irmada no Câ ntico Espiritual, onde o desejo de ver o Deus oculto
constitui o martı́rio que domina todo o caminho mı́stico. Martı́rio que
nã o cessa nem em meio à felicidade da uniã o matrimonial: antes, à
medida que cresce o conhecimento e o amor de Deus, de certa forma
també m aumenta, pois entã o sente mais claramente qual é a visã o clara
e imediata de Deus reservou para a alma (isto é mais enfatizado na
segunda redaçã o).
Mas que angú stia humana, por mais dolorosa que seja, pode ser medida
com a da Paixã o de Cristo, que durante toda a sua vida gozou da visã o
beatı́ ica, até que por sua livre escolha se privou dessa alegria na noite
do Getsê mani? Nã o há espı́rito ou coraçã o humano que seja capaz de
penetrar no misté rio insondá vel daquela privaçã o, como nã o sã o
capazes nem mesmo de imaginar ou sentir o que pode ser a visã o
beatı́ ica. Só Ele, o ú nico que o sofreu, pode dar um pouco a quem está
destinado a provar essa graça, na intimidade da uniã o que se realiza no
casamento espiritual. A ú nica coisa que lhe estava reservada era sentir
o abandono divino em toda a sua profundidade e só Ele poderia sofrer,
porque era Deus e homem ao mesmo tempo. Como Deus, ele era
incapaz de sofrer; como um homem puro, ele nã o poderia ter conhecido
o bem de que foi privado. Assim, a Encarnaçã o tornou-se a condiçã o
pré via para este tormento da Paixã o, e a natureza humana, sendo capaz
de sofrer e sofrer de fato, tornou-se um instrumento de redençã o. A
causa motivadora da Paixã o redentora e, portanto, da Redençã o, foi a
natureza humana, na medida em que é capaz de cair e cair de fato. Por
meio do primeiro pecado, a natureza humana perdeu, na pessoa do
primeiro homem, sua dignidade, sua perfeiçã o original e sua elevaçã o à
ordem da graça. Mas é novamente elevado em cada alma, que atravé s
do batismo renasceu e foi elevada à dignidade de ilha de Deus; e é ,
inalmente, como coroado nas almas eleitas que chegam à uniã o
matrimonial com o Redentor. Tudo isso à sombra da á rvore da Cruz,
como fruto maduro da morte do Senhor e como participaçã o nessa
morte redentora.
Mas como podemos entender que o lugar de elevaçã o ou reparo é o
mesmo que o da queda, que a á rvore da Cruz e a do Paraı́so terrestre
sã o a mesma? A soluçã o me parece estar no misté rio do pecado. A
á rvore do Paraı́so, cujo fruto foi proibido ao homem, era precisamente a
á rvore do conhecimento do bem e do mal. Um verdadeiro
conhecimento experimental do mal e sua oposiçã o radical ao bem só
poderiam ser adquiridos pelos homens, fazendo o mal, fazendo-
o. assim, podemos considerar a á rvore do Paraı́so como o sı́mbolo da
natureza humana em sua pecabilidade, e o pecado real, o mesmo o
primeiro como os subsequentes, com todas as suas consequê ncias,
como seu fruto.
Mas a conseqü ê ncia mais terrı́vel do pecado e, portanto, o ı́ndice e a
revelaçã o de sua terribilidade, é a Paixã o e a Morte de Cristo. Desta
forma, a Redençã o passa a ser o fruto da á rvore do Paraı́so em vá rios
sentidos: porque foi o pecado que moveu Cristo a suportar a sua paixã o
e morte, porque foi o pecado em todas as suas formas e manifestaçõ es
que cruci icou Cristo, e porque para todos isso ele se tornou um
instrumento de redençã o. Pois bem, a alma unida a Cristo passa pela
participaçã o na Paixã o do Cruci icado (isto é , na noite escura da
contemplaçã o), ao “conhecimento do bem e do mal”, ganhando
experiê ncia do seu poder redentor. De fato, sempre se insiste, de uma
forma ou de outra, que a alma se puri ica precisamente por meio desse
sofrimento mais agudo e vivo, causado pelo pró prio conhecimento
(como reconhecimento da pró pria condiçã o pecaminosa ı́ntima).
Temos que fazer outra advertê ncia aqui, que é que a uniã o mı́stica
també m deve ser concebida como uma participaçã o na Encarnaçã o. Na
verdade, existe uma relaçã o estreita entre os dois misté rios. Isso
també m ica claro pelas voltas e expressõ es que o Santo usa quando
fala do casamento espiritual. Quando ele fala de "tal encontro das duas
naturezas e tal comunicaçã o do divino para o humano", que a alma
unida no casamento espiritual com Deus parece ser Deus, a uniã o das
duas naturezas de Cristo na uniã o hipostá tica. Os teó logos gostam
plenamente de quali icar a assunçã o da natureza humana pela Palavra
de Deus como um casamento com a humanidade.
Por meio do Deus Encarnado o homem abriu uma via de comunicaçã o
com cada alma e de certa forma ele reencarna e se torna homem cada
vez que uma alma se entrega a ele tã o sem reservas que pode ser
elevada ao casamento mı́stico. E verdade que existe uma diferença
essencial, porque em Cristo Jesus as duas naturezas estã o unidas em
uma pessoa. Durante o casamento mı́stico, duas pessoas entram em
contato e se unem, mantendo sua dualidade. Mas també m pela entrega
mú tua surge uma uniã o que se assemelha e se aproxima da
hipostá tica. Ela abre as almas à infusã o da graça divina e, pela
submissã o absoluta e total da pró pria vontade à divina, o Senhor ica
com as mã os livres para dispor dessas almas como se fossem membros
do seu pró prio corpo. Já nã o vivem a sua pró pria vida senã o a de Cristo,
já nã o sofrem a sua pró pria paixã o mas a Paixã o de Cristo. Alegram-se,
pelo mesmo motivo, na vida e nas graças mı́sticas que o Senhor
comunica à s outras almas, quando a fagulha do amor divino os toca e o
vinho desse amor os põ e em santa embriaguez.
A alma que alcançou o casamento espiritual está presa "na adega
interior", ou seja, no mais alto grau de amor. O Santo enumera e
distingue aqui sete graus de amor, correspondentes aos sete dons do
Espı́rito Santo, considerando o do medo como o ú ltimo e mais perfeito
desses dons. “Quando a alma atinge a perfeiçã o no espı́rito de medo, ela
já tem na perfeiçã o o espı́rito de amor, porque aquele medo, que é o
ú ltimo dos sete dons, é ilial, e o medo perfeito de uma criança surge do
amor perfeito . do pai ".
Nesta uniã o ı́ntima, a alma vem beber do pró prio Amado. “Assim como
a bebida se espalha e se derrama por todos os membros e veias do
corpo, també m essa comunicaçã o de Deus se espalha substancialmente
por toda a alma, ou melhor, que a alma se transforma em Deus ...,
dependendo da substâ ncia dela e de acordo com seus poderes
espirituais. Porque de acordo com o entendimento bebe sabedoria e
ciê ncia, de acordo com a vontade bebe o amor mais suave e de acordo
com a memó ria bebe recreaçã o e deleite na lembrança e sentimento de
gló ria ”.
Ao emergir de seu encaixe profundo (isso nã o é de forma alguma uma
interrupçã o da uniã o substancial, mas apenas uma cessaçã o de sua
redundâ ncia nos poderes), a alma nã o "sabe nada"; “Porque aquela
bebida da mais alta sabedoria de Deus que ela bebeu ali a faz esquecer
todas as coisas do mundo, e parece à alma que o que ela sabia antes e
mesmo o que todos sabem, comparado a esse conhecimento, é pura
ignorâ ncia. .. Mais do que isso, aquela divinizaçã o e elevaçã o da mente
em Deus ... nã o a deixa avisar nada no mundo: porque nã o só de todas
as coisas, mas até de si mesma permanece alienada e aniquilada,
conforme resumido e resolvido em amor ... a alma está nesta posiçã o de
certa forma como Adã o na inocê ncia, que nã o sabia o que estava
errado; porque ele é tã o inocente que nã o entende o mal nem julga o
mal; e ouve coisas muito ruins e as vê com os olhos, e ele nã o será capaz
de entender o que eles sã o. " (Isso nã o se opõ e ao que foi dito pouco
antes, ou seja, que a contemplaçã o instila o conhecimento do bem e do
mal. Esse conhecimento é pró prio dos primó rdios da vida mı́stica, e nã o
conhecer o mal, pró prio a esta outra inocê ncia restaurada pertence ao
alturas de perfeiçã o).
De resto, este “nada saber” da alma neste grau nã o deve ser entendido
como “perder aı́ os há bitos das ciê ncias adquiridas que possuı́a, que
antes se aperfeiçoam com o há bito mais perfeito, que é o da ciê ncia.
Sobrenatural que foi infundido nele. Embora esses há bitos nã o reinem
mais na alma de tal maneira que ela precise conhecê -los, embora nã o a
impeça de à s vezes ser. Porque nesta uniã o da sabedoria divina esses
há bitos se unem a a sabedoria superior das demais ciê ncias, alé m de
unir uma pequena luz a uma grande, a grande é aquela que priva e
brilha e a pequena nã o se perde, antes de se aperfeiçoar, embora nã o
seja aquela que principalmente brilha ... Mas as notı́cias e formas
particulares de coisas e atos imaginá rios e qualquer outra apreensã o
que tenha forma e forma, ele perde tudo e o ignora naquela absorçã o de
amor. E isso por duas razõ es; a primeira, porque como atualmente a
alma é absorvida e embebida naquela bebida de amor, nã o pu Deve ser
em outra coisa hoje ... A segunda, e principal, porque essa
transformaçã o em Deus a conforma de tal forma à simplicidade e
pureza de Deus (na qual nenhuma forma imaginá ria ou igura cai), que
a deixa limpa e puro. e vazio de todas as formas e formas que
costumava ter. " No entanto, esse nã o saber dura apenas enquanto
durar o efeito desse amor.
Pois esse beber na adega també m tem outro efeito: faz com que um
homem totalmente novo substitua o velho. Antes que a alma entre
neste estado de perfeiçã o, "mesmo que seja mais espiritual, sempre tem
algum pequeno grupo de apetites e sabores e outras imperfeiçõ es
pró prias, ora espiritual, ora natural, apó s o que tenta alimentá -los no
seguimento e cumprindo-os ". O entendimento geralmente tem algo de
seu antigo desejo de saber, a vontade é levada por alguns gostos e
apetites pró prios. Ele ainda quer ter algumas coisinhas, manté m o
controle e as preferê ncias, busca a estima dos outros e eles tê m pontos
de honra, em relaçã o à comida e à bebida ele gosta mais disso do que
daquilo, é presa de cuidados impertinentes, dos mais diversos de
alegrias, dores, esperanças e medos. Tal é o gado atrá s do qual essas
almas caminham "até que, entrando para beber nesta adega interior,
perdem tudo, icando ... todos feitos de amor".
No casamento espiritual, Deus faz da alma objeto de um amor que nã o
existe amor de mã e que se possa comparar a ela. Lá ele "lhe dá o peito",
ou seja, descobre seus segredos de amigo e lhe comunica a saborosa
ciê ncia da Teologia Mı́stica, a ciê ncia secreta de Deus. Ela, por sua vez,
se entrega a Deus em total entrega, "sem deixar nada". Ela quer ser toda
dela e nã o ter mais nada alé m de Ele. E como Deus tirou dela tudo o que
poderia amarrar o seu coraçã o, ela pode se dar nã o apenas segundo a
vontade, mas de fato absolutamente sem reservar nada. Nem mesmo
nos primeiros movimentos ele se sente se levantando contra a vontade
de Deus. Ele nã o conhece outra coisa senã o amar e caminhar sempre
nas delı́cias do amor com o Noivo. Ele já atingiu esse estado, "cuja
forma e ser é amor". Ela "tudo é amor, se assim se pode dizer, e todas as
suas açõ es sã o amor, e todos os seus poderes e riqueza de sua alma usa
para amar ... Como a alma vê que seu Amado nã o valoriza nada ou nã o
usa nada fora de isso. amor, a partir daqui é que, querendo atendê -lo
perfeitamente, ela usa tudo em puro amor a Deus ... assim como a
abelha tira o mel que está ali de todas as ervas, e só usa para isso, entã o
també m de todas as coisas que passam pela alma, com grande
facilidade ela tira a doçura do amor que existe ”.
E a razã o pela qual Deus só se agrada do amor e de suas manifestaçõ es
é porque todas as nossas obras e todas as nossas obras nã o sã o nada
aos olhos de Deus. Nã o podemos dar nada a ele neles, nem ele precisa
ou quer nada disso. "Se algo é usado, é que a alma se torna grande; e
como nã o há nada mais em que ela possa ser ampliada mais do que
igualá -la a si mesma, é por isso que ela só é usada por amá -la, porque a
propriedade do amor é igualar a alma que ama com a coisa amada.
Portanto, porque a alma aqui tem amor perfeito, é por isso que é
chamada de esposa do Filho de Deus, que signi ica igualdade com Ele,
em que igualdade de amizade todas as coisas dos dois sã o comuns a
ambos. ".
Assim, a alma, com tudo o que é e tem, está empenhada no serviço de
Deus. E tã o natural que ela trabalhe por ele e pela sua honra, que
muitas vezes o faz sem pensar e sem perceber que está trabalhando
para Deus. Antes, ele se entregava a muitas e vá rias ocupaçõ es ou
negó cios "nã o lucrativos". Porque todos os muitos há bitos de
imperfeiçõ es que tinha, tantos ofı́cios que podemos dizer que exerceu:
o há bito de falar coisas ú teis e pensar e fazê -las, sem olhar para a maior
perfeiçã o da alma, realizaçã o, tentar parecer bem etc. Todos esses
ofı́cios ou ocupaçõ es ele já deixou: "porque todas as suas palavras,
pensamentos e obras sã o de Deus e dirigidos a Deus". Ele nã o tem mais
nenhum outro exercı́cio ou trabalho alé m de amar. Todas as suas
faculdades já sã o movidas pelo amor e pelo amor.
E isso pode ser a irmado tanto para o exercı́cio da oraçã o quanto para
outros empregos ou ocupaçõ es em coisas temporá rias. Antes que a
uniã o perfeita de amor fosse realizada, era conveniente para a alma
exercer o amor tanto na vida ativa quanto na contemplativa. Mas neste
estado “nã o é conveniente para ele ocupar-se em outras obras e
exercı́cios externos que possam impedir um ponto dessa assistê ncia de
amor a Deus”. E isso, embora se trate de obras que parecem redundar
em honra e serviço a Deus. Porque diante de Deus há mais valor “um
pouco deste amor puro e mais benefı́cio traz à Igreja, mesmo que
pareça que nã o faz nada, do que todas as outras obras juntas”.
Se o mundo desiste de uma alma que nã o quer saber nada sobre suas
coisas e hobbies, ela aceita de bom grado tal imputaçã o ou fofoca. Ele
confessa espontâ nea e decididamente: sim, me perdi, mas fui
vencido. Estar perdido equivale a ganhar para ela. O amante "nã o
pretende ganhar nem recompensar, mas apenas perder tudo e a si
mesmo em sua vontade para Deus", o que, traduzido em linguagem
espiritual, signi ica que em seu trato com Deus a alma deixou todos os
caminhos e caminhos naturais e que ele só lida com Ele com fé e
amor. Desta forma, ela é ganha para Deus, “porque na verdade tudo o
que nã o é Deus se perdeu”.
Agora tudo se ganha para a alma, adornada que está com as lores e
esmeraldas das virtudes escolhidas, que juntas e entrelaçadas em
forma de guirlandas formam um adorno acabado e precioso para as
vestes nupciais. E mesmo as almas sagradas todas formam cada uma
delas juntas uma guirlanda para a cabeça do Noivo Cristo.
Todas as lores com que a alma é adornada sã o um presente do
Amado. O cabelo, que amarra e segura as lores na guirlanda, é a
vontade, e seu amor é o vı́nculo e a escravidã o da perfeiçã o
(Colossenses 3:14). Sem esse laço ou vı́nculo, as virtudes seriam
desencadeadas e destruı́das. O amor deve ser forte para conter a
grinalda das virtudes. Se for assim e permanecer sincero e ı́ntegro na fé ,
Deus olhará para a alma com prazer e amor, e icará cativado por
isso. “Grande é o poder e a teimosia do amor. Pois o pró prio Deus
protege e liga”. E Deus "tem tal condiçã o, que se eles O aceitarem por
amor e para o bem, eles O farã o fazer o que quiserem; do contrá rio, nã o
há necessidade de falar ou poder com Ele, mesmo que eles vã o a
extremos. " A alma provou experimentalmente esta verdade e
reconhece que, sem mé rito de sua parte, Deus lhe concedeu grandes
favores e atribui tudo, nã o a si mesma, mas a Deus. Se ela encontrou
graça nos olhos do Esposo divino, tudo foi efeito do seu olhar amoroso,
que com a sua graça a tornou tã o bela que ela mereceu ser amada da
maneira mais terna por ele.
Deus nã o pode amar nada fora de si mesmo. Por isso "amar a Deus a
alma é colocá -la de uma certa maneira em si mesmo, igualando-a a si
mesma, e assim ama a alma em si mesmo com o mesmo amor com que
se ama e, portanto, em cada obra, porque ele o faz em Deus, A alma
merece o amor de Deus, porque, colocada na graça e na grandeza, em
cada obra merece o pró prio Deus ”. Agir com graça signi ica para a alma
o mesmo que olhar para Deus. Iluminado e elevado pela graça, os olhos
do seu espı́rito podem ver o que antes era invisı́vel à sua cegueira:
“grandeza das virtudes, abundâ ncia de suavidade, imensa bondade,
amor e misericó rdia em Deus, inú meros benefı́cios que dele
recebeu”. Nada disso foi capaz de ver ou adorar antes. "Porque a
grosseria e a cegueira da alma que está sem a sua graça sã o grandes." A
alma que nã o é iluminada pelo amor de Deus nã o se lembra do dever de
reconhecer e agradecer as graças divinas, nem o realiza. "Que até aqui
vem a misé ria de quem vive, ou, melhor dizendo, está morto no
pecado."
Uma vez que Deus libertou a alma de seus pecados e feiú ra, “ele nunca
mais os confrontará com eles, nem deixará de fazer qualquer
favor”. Mas a alma nã o quer esquecer seus primeiros pecados. Assim,
você nã o se tornará presunçoso, sempre terá algo pelo que agradecer e
poderá con iar cada vez mais, para receber mais. A lembrança de seu
primeiro estado feio e vergonhoso a ajuda a desfrutar ainda mais da
companhia de seu divino Esposo. Porque se ela estava escura e
enegrecida pelo pecado, agora ela vê que o olhar de Deus a deixou
vestida de bela e digna de receber novas e maiores graças. E, com efeito,
ele recebe "graça sobre graça" (Joã o 1:16).
“Porque quando Deus vê a alma graciosa em seus olhos, muito se move
para torná -la mais graciosa, na medida em que nela vive bem satisfeito
... De modo que, se antes era em sua graça, só ele a amava, agora que Ele
já está na sua graça, nã o só a ama por si, mas també m por ela; e assim,
apaixonado pela sua beleza ... vê -a sempre a comunicar mais amor e
graça, e à medida que a honra e engrandece mais, ele sempre vai
embora mais capturando e se apaixonando por ela ... Quem pode dizer o
quã o longe Deus vai para engrandecer uma alma quando lhe agrada? ”.
Por amor do Bem-Amado, a alma optou por viver na solidã o, isto é , se
privou e se abstraiu de tudo o que é terreno. Poré m, na mesma solidã o
que vivia entre o cuidado e o trabalho. Mas agora Deus a conduziu a
uma solidã o nova e mais perfeita, onde ela encontra descanso e
satisfaçã o. “Nesta solidã o que a alma tem de todas as coisas, na qual
está só com Deus, Ele a guia e move e eleva as coisas divinas”. E "Ele
mesmo é aquele que trabalha nela sem quaisquer outros meios. Porque
esta é propriedade desta uniã o da alma com Deus no casamento
espiritual, fazer Deus nela e comunicar-se com ela só por Ele, nã o por
meio de anjos ou por meio da habilidade natural, porque os sentidos
externos e internos e todas as criaturas, e mesmo a pró pria alma, fazem
muito pouco para fazer parte do recebimento daqueles grandes dons
sobrenaturais que Deus faz neste estado ... Ele nã o quer dar ela outra
empresa, aproveitando-se dela e con iando em outra que nã o em si
mesma ”.
Dos altos picos desta perfeiçã o, agora sobe com veemê ncia a â nsia
desta alma de gozar a visã o beatı́ ica: subir ao monte do conhecimento
essencial de Deus na Palavra, e ao monte daquela outra sabedoria
menor ", que é a sabedoria de Deus. em suas criaturas e obras e
arranjos admirá veis ”. Esta sabedoria divina, como á gua pura, irá limpar
você de todas as manchas de ignorâ ncia.
A medida que o amor cresce, o desejo de compreender as verdades
divinas de maneira clara e nua e de mergulhar cada vez mais fundo nas
profundezas dos incompreensı́veis julgamentos e misté rios divinos
torna-se mais forte e mais intenso. “E em troca disso, seria um grande
consolo e alegria para ele entrar em todos os problemas e obras do
mundo, e por tudo que possa ser um meio para isso, nã o importa o
quã o difı́cil e doloroso seja. . De onde també m por este matagal, em que
aqui a alma deseja entrar, entende-se bem o matagal e a multidã o de
labutas e tribulaçõ es em que esta alma deseja entrar, porque é muito
saboroso e muito proveitoso sofrer; porque o sofrimento é um meio
para entrar mais fundo no matagal da deliciosa sabedoria de Deus,
porque o mais puro sofrimento traz uma compreensã o mais ı́ntima e
pura e, conseqü entemente, mais puro e elevado para desfrutar, porque
é do ı́ntimo para saber. Por isso, nã o se contentando com nenhum tipo
de sofrimento, diz: vamos mais fundo no matagal, isto é , até as
angú stias da morte, para ver Deus ... ”.
“Ah, se apenas fosse compreendido como nã o é possı́vel chegar à
profundidade e sabedoria das riquezas de Deus, que sã o de muitas
maneiras, se nã o fosse entrando nas profundezas do sofrimento de
muitas maneiras, colocando-se nisso a alma o seu consolo e eu desejo!
E como a alma que verdadeiramente deseja a sabedoria divina deseja
primeiro sofrer para entrar nela, no matagal da Cruz! ... Porque para
entrar nestas riquezas da sua sabedoria, a porta está a Cruz, que é
estreita ".
A Cruz é aquela que conduz e conduz à s cavernas, isto é , aos "altos,
altos e profundos misté rios da sabedoria de Deus que existem em
Cristo na uniã o hipostá tica da natureza humana com o Verbo divino ...
Cada misté rio de quem está em Cristo é muito profundo na sabedoria e
tem muitos seios de seus julgamentos muito ocultos de predestinaçã o e
presciê ncia nos ilhos dos homens ... Tanto é que, por mais misté rios e
maravilhas que Santos e mé dicos descobriram e compreenderam as
Almas Santas neste estado de vida, eles tinham muito a dizer e até a
compreender, e por isso há muito que mergulhar em Cristo ”, em quem
habitam todos os tesouros e sabedoria escondidos (Cl. 2,3). Tesouros
aos quais a alma nã o tem acesso se "nã o passar primeiro pela estreiteza
do sofrimento interior e exterior da sabedoria divina. Porque mesmo o
que nesta vida pode ser alcançado a partir desses misté rios de Cristo,
nã o pode ser alcançado sem ter sofrido muito e recebeu muitos dons
intelectuais e sensı́veis de Deus e tendo precedido muito exercı́cio
espiritual, porque todos esses dons sã o inferiores à sabedoria dos
misté rios de Cristo, porque todos eles sã o disposiçõ es para vir a ele ”. O
desfrute desses misté rios é a obrigaçã o, que ambos os amantes gostam
em comum.
Mas o que a alma busca acima de tudo "é a igualdade de amor com
Deus, que ela sempre deseja natural e sobrenaturalmente, porque o
amante nã o pode icar satisfeito se nã o sentir que ama o quanto é
amado. E como a alma o vê com a transformaçã o que eles tê m em Deus
nesta vida, embora seu amor seja imenso, nã o pode corresponder à
perfeiçã o de amor com que sã o amados por Deus, eles desejam a clara
transformaçã o de gló ria com a qual eles vê m a corresponder aquele
amor ". Entã o a alma para amar a Deus "com a vontade e a força do
pró prio Deus, unida à força do amor com a qual é amada por Deus; cuja
força é o Espı́rito Santo, no qual a alma aı́ é transformada: aquele ser a
quem Ele deu a alma pela força deste amor, supõ e e supre nela, em
razã o de tal transformaçã o da gló ria, o que falta nela ”.
Junto com a perfeiçã o do amor, a alma espera a gló ria eterna, ou seja, a
visã o da essê ncia divina, à qual Deus a predestinou desde a
eternidade. Ele nã o nomeia este, gló ria eterna, exceto em segundo lugar,
porque o amor tem sua sede na vontade e é a primeira coisa que agora
lhe é colocada; alé m disso, porque a caracterı́stica do amor é dar e nã o
exatamente receber, e a caracterı́stica do entendimento, que é o sujeito
da gló ria, é receber e nã o dar. Por isso, «embriagada de amor, nã o põ e a
gló ria que Deus tem para lhe dar, mas dá -se a Ele, em entrega de amor
verdadeiro, sem respeito pelo lucro». Quanto ao resto, "a primeira
a irmaçã o inclui a segunda ..., porque é impossı́vel chegar ao amor
perfeito de Deus sem uma visã o perfeita de Deus." Para esta visã o
divina, Deus predestinou a alma desde a eternidade. Mas é algo que
nenhum olho viu, nenhum ouvido ouviu, nem caiu no coraçã o do
homem (1Cr 2, 9; Isaı́as 64, 4). Mas o que a alma passa a sentir sobre
ela é algo tã o grande que nã o há outra palavra para expressar isso (que
você me deu outro dia).
Nã o é possı́vel dar uma explicaçã o desse misterioso isso. O Senhor se
referiu a ele por meio de sete expressõ es e comparaçõ es diferentes. “Ao
que vencer, darei a comer da á rvore da vida que está no paraı́so do meu
Deus” (Ap.2,7). “Sê iel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida” (Ibid. 2,
10). “Ao que vencer, darei a mã o escondida e porei uma pedra branca e
um novo nome escrito na pedra, que ningué m conhece, exceto aquele
que a recebe” (Ibid. 2,17). "Aquele que vencer e cumprir minhas obras
até o im, darei autoridade sobre as naçõ es, e ele as governará com vara
de ferro e se desintegrará como um vaso de barro, assim como eu
també m o recebi de meu Pai e eu lhe dará a estrela da manhã "(Ibid. 2,
26-27). “O que vencer será vestido de vestes brancas, e nã o vou apagar
o seu nome do livro da vida e confessar o seu nome diante de meu Pai”
(ibid. 3, 5). "Para aquele que vencer, farei uma coluna do templo do meu
Deus, e ele nunca mais sairá , e eu escreverei sobre ele o nome do meu
Deus e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalé m, aquele que
desce de mim do cé u. Deus, e també m o meu novo nome "(Ibid. 3,
12). “Aquele que vencer, o farei sentar comigo no meu trono, assim
como eu venci e me sentei com meu Pai no seu trono” (Ibid. 3, 2). Até
agora, sã o palavras do Filho de Deus para sugerir isso. E é que o
inefá vel nã o se deixa encerrar em palavras humanas.
Na aspiraçã o da alma, a alma sente dentro de si a doce voz de seu
amado, à qual ela se junta em um saboroso retiro. assim como os
ilomenos ou rouxinó is costumam cantar na primavera, depois do frio,
das chuvas e das mudanças de clima no inverno, é assim que a cançã o
do amor també m se ouve nesta nova primavera da alma, quando ela,
depois de todas as tempestades e vá rios casos de vida, e "nua e
puri icada de imperfeiçõ es, adversidades e brumas, tanto dos sentidos
como do espı́rito, ela sente uma nova primavera na liberdade e na
amplitude e na alegria do espı́rito, na qual sente a doce voz do Noivo ...;
em cujo refrigé rio, abrigo e saboroso sentimento ela també m, como
doce ilomena, dá a sua voz com um novo canto de retiro a Deus, junto
com Deus que a move a ela. Por isso Ele dá a sua voz a ela, para que ela
em um o dê junto com Ele a Deus; porque esta é sua reivindicaçã o e
desejo, que a alma entoe sua voz espiritual em retiro a Deus ”.
Para que essa voz seja perfeita, ela deve brotar do conhecimento e da
assimilaçã o dos misté rios da Encarnaçã o. E visto que todas as obras
que a alma faz nesta uniã o sã o perfeitas, é por isso que esta voz do
retiro é perfeita e doce para Deus, e doce també m para a alma, embora
ainda nã o seja tã o perfeita quanto o novo câ ntico da vida. .
Deus també m é revelado à alma aqui como o criador e conservador de
todas as coisas (como o soto com sua multidã o e variedade de animais e
plantas), e dá a conhecer a graça, sabedoria e beleza que Deus tem
semeado em cada criatura, como bem como em seus relacionamentos
mú tuos e no arranjo harmonioso um do outro. E tudo isso acontece
com a alma "na noite escura" da contemplaçã o, recebendo todas essas
notı́cias passivamente, sem poder dar conta delas. Mais tarde, veja-os
"na noite calma" da visã o clara de Deus.
Por im, a chama do amor divino acaba de se transformar em amor
consumado e perfeito que nã o causa dor nem dor na alma. “Que só
pode estar no estado beatı́ ico, onde esta chama já é amor suave ...
Portanto, nã o dá dor de variedade em mais ou menos, como fazia antes
que a alma atingisse a capacidade deste amor perfeito”.
Nesta vida a transformaçã o nunca é sem dor, nem mesmo nos mais
elevados graus de amor, e o natural sempre sofre alguma forma de dor e
detrimento ... "aquele, pela transformaçã o beatı́ ica, que sempre falta no
espı́rito; o outro, por causa do prejuı́zo sofrido pelo sentido magro e
corruptı́vel com a força e alteza de tanto amor, porque qualquer coisa
excelente é prejuı́zo e dor para fraqueza natural ... Mas naquela vida
beatı́ ica nenhum prejuı́zo ou dor para sentir, embora Seu a
compreensã o é muito profunda e o seu amor é imenso, porque para um
Deus lhe dará capacidade e para o outro a força, Deus consuma o seu
entendimento com a sua sabedoria e a sua vontade com o seu amor ”.
A alma espera esta consumaçã o beatı́ ica com a paz profunda que a
infunde com a certeza de que está pronta e pronta para recebê -la e que
nã o há perigo a temer em parte alguma. O diabo, declarado inimigo da
alma, está tã o derrotado e tã o retraı́do que nã o ousa mais
aparecer. Nenhuma criatura suspeita de nada que ela goste no interior
oculto de sua lembrança em Deus. As paixõ es e apetites que ameaçavam
sua calma e tranquilidade nã o a perseguem mais. A parte sensı́vel da
alma com suas faculdades é tã o puri icada e espiritualizada que pode
participar dos bens e delı́cias espirituais que goza dentro de si com
Deus.
O que esses poderes nã o podem fazer, aliá s, é gozar das mesmas á guas
dos ditos bens espirituais, a menos que nã o esteja a uma certa
distâ ncia, em vista deles. “Porque esta parte sensı́vel com as suas
faculdades nã o tem a capacidade de saborear essencialmente e
propriamente os bens espirituais, nã o só nesta vida, mas nem mesmo
na pró xima; mas devido a uma certa redundâ ncia do espı́rito, recebem
com sensibilidade a recreaçã o e o deleite deles, por meio dos quais se
deleitam, esses sentidos e potê ncias corporais sã o atraı́dos para o
recolhimento interior, onde a alma está bebendo as á guas dos bens
espirituais ”. Eles, os poderes corporais, as paixõ es da parte sensı́vel,
agora descem, como cavaleiros, de sua montaria, porque "eles descem
de suas operaçõ es naturais, cessando delas, para o recolhimento
espiritual".
Neste des ile de imagens variadas e coloridas, toda a jornada espiritual
da alma foi exposta diante de nossos olhos. Desta forma, pudemos
surpreender ao mesmo tempo um pouco dos desı́gnios secretos de
Deus, que nos deixou traçados de antemã o aquele itinerá rio desde a
manhã da criaçã o. E vemos como o caminho oculto e misterioso da
alma está intimamente relacionado e unido aos misté rios da fé .
Desde a eternidade a alma está destinada a participar, como esposa do
Filho de Deus, na vida trinitá ria divina. Para casar com ela, o Verbo
Eterno se reveste da natureza humana. Deus e a alma serã o dois em
uma só carne. Mas visto que a carne do homem pecador está em
rebeliã o contra o espı́rito, portanto, toda a vida na carne é luta e dor:
luta e dor pelo Filho do Homem ainda mais do que pelos outros
homens; e para estes, quanto mais, mais intimamente eles estã o unidos
ao Um. Cristo Jesus começa sua obra de conquista de almas, expondo
sua pró pria vida por suas vidas, na batalha contra seus pró prios
inimigos e os das almas. Ele expulsa Sataná s e outros espı́ritos
malignos, onde quer que tenha um encontro pessoal com eles. Rasgue
as almas de sua tirania. Ele desmascara implacavelmente a malı́cia
humana, onde quer que ela seja confrontada, seja cega, abafada ou
inveterada. Ele estende a mã o a todos aqueles que reconhecem sua
condiçã o pecaminosa, confessam em arrependimento e desejam se
livrar dela. Mas ele exige deles que o sigam incondicionalmente e
renunciem a tudo em suas almas que se oponha ao seu espı́rito, o
espı́rito de Deus. Por tudo isso a fú ria do inferno e o ó dio da maldade e
fraqueza humanas sã o atraı́dos, até que a raiva e o ó dio explodam e eles
estã o prontos para colocá -lo à morte na Cruz.
Aqui, na Cruz, é onde, em meio aos maiores martı́rios de corpo e alma,
particularmente o da noite do abandono divino, paga à justiça divina o
preço do resgate por todas as faltas e pecados de todos os tempos e
abre as fechaduras da misericó rdia do Pai em favor de todos os que nã o
hesitam em abraçar a Cruz e o Cruci icado. Sobre essas almas, derrame
sua luz e vida divinas; mas visto que esta luz e esta vida aniquilam
irresistivelmente tudo o que as contradiz ou se opõ e, as almas as
experimentam, antes de tudo, na forma de noite e morte. E a noite
escura da contemplaçã o, a cruci icaçã o do velho.
A noite será tanto mais escura e a morte tanto mais atroz, quanto mais
o cerco do amor divino se torna mais premente e insistente na alma, e
quanto mais sem reservas a alma se entrega a ele. A aniquilaçã o
progressiva da natureza dá cada vez mais espaço para a luz do alto e
para a vida divina. Isso agarra as forças naturais e as transforma,
espiritualizando e divinizando-as. Desta forma, uma nova encarnaçã o
de Cristo acontece nos cristã os, equivalente a uma ressurreiçã o apó s a
morte na cruz. O novo homem mostrará os sinais das feridas de Cristo
em seu corpo, como uma lembrança do estado miserá vel de pecado,
daquele que foi ressuscitado para uma nova vida de santidade, e do
preço que foi pelo seu resgate necessá rio pagar. E mesmo depois que a
cruz permanece, o martı́rio de seu desejo de desfrutar a vida plena, até
o dia em que, tendo passado a porta da morte corporal, ele possa entrar
na luz sem sombras da gló ria.
Assim será a uniã o matrimonial da alma com Deus, para a qual foi
criada, por meio da Cruz redimida e na cruz consumada e santi icada,
para ser marcada com o selo da Cruz por toda a eternidade.
III. O SEGUIMENTO DA CRUZ
(Fragmento)
A doutrina da cruz que Sã o Joã o da Cruz nos ensina nã o poderia ser
considerada como a ciê ncia da Cruz no sentido que damos a esta
expressã o, se fosse baseada apenas no entendimento. Mas traz a marca
autê ntica da Cruz. E um imenso galho de á rvore cujas raı́zes
penetraram nas profundezas da alma e se alimentam do pró prio sangue
do coraçã o. Poderemos contemplar seus frutos na vida da Santa.
Temos a prova concreta de que carregava no coraçã o o amor do
Cruci icado no amor pela representaçã o da Cruz. As cruzes deram a sua
marca caracterı́stica à casinha de Duruelo. Conhecida é a impressã o que
produziu em Santa Teresa:
“Quando entrei na Igreja, iquei chocado ao ver o espı́rito que o Senhor
havia colocado lá . E nã o era só eu; que dois mercadores que tinham
vindo de Medina para lá comigo, que eram meus amigos, nã o izeram
nada alé m de chorar .Tinha tantas cruzes, tantos crâ nios! Nunca me
esqueço de uma pequena cruz de madeira que tinha para á gua benta,
que tinha uma imagem de papel com um Cristo colado nela, que parecia
colocar mais devoçã o do que se fosse muito bem entalhada "
Supõ e-se que o primeiro carmelita descalço, ex-aprendiz de escultura e
pintura, tenha feito aquelas cruzes para enfeitar seu pequeno
convento. Essas cruzes estã o em conformidade com as ideias que
posteriormente desenvolveu a respeito da veneraçã o das imagens: o
material precioso e o trabalho artı́stico podem representar um perigo,
porque por isso se pode facilmente desviar do essencial o espı́rito de
oraçã o e o caminho para a uniã o com Deus. . Era para essa uniã o que ele
pretendia ir e guiar outros atravé s dessas cruzes e todos os outros
meios que ele usou. E isso explica por que mais tarde ele gostaria de
esculpir cruzes e doá -las. Para recompensar os bons serviços de seu
afá vel carcereiro, Pe. Juan de Santa Marı́a, nada melhor do que dar-lhe
uma cruz. Esta cruz teve um valor humano particular tanto para quem a
deu como para quem a recebeu, pelo facto de S. Joã o da Cruz a ter
recebido em Duruelo das mã os da Santa Madre. O que provavelmente
era um motivo para ele se separar dela.
As visõ es do Cruci icado de que falamos antes sã o a prova de que o
Senhor gostou desse amor pelas cruzes e do Cruci icado e da vontade
de cuidar de sua veneraçã o. Em todo caso, ajudaram a imprimir o sinal
da cruz mais profundamente em seu coraçã o. Durante a ú ltima noite de
sua vida, ele segurou a cruz nas mã os. Pouco antes da meia-noite e
quando chegou o momento de sua morte por ele profetizado, Juan
entregou a Cruz a um dos presentes, para poder compor seu corpo com
as duas mã os. Entã o ele tomou o Santo Cristo novamente, dizendo
palavras ternas e beijando-o pela ú ltima vez antes de exalar
imperceptivelmente o ú ltimo suspiro.
E bom venerar o Cruci icado em imagem e fazer cruci ixos para
estimular a sua veneraçã o. Mas melhores do que as imagens de madeira
e pedra sã o imagens vivas. Formar almas à imagem de Cristo, plantar a
Cruz em seus coraçõ es, esse era o ideal da vida do reformador do
Carmelo e guia das almas. Todos os seus escritos foram direcionados a
isso e suas cartas e declaraçõ es de testemunhas sobre sua vida dã o um
testemunho mais pessoal.
No Carmelo de Granada deu o há bito sagrado a sua ilha espiritual
Marı́a Machuca, impondo-lhe o nome de Marı́a de la Cruz. Quando mais
tarde o levaram ao salã o, avisaram-no de que a amaria principalmente
porque seu sobrenome era "de la Cruz", mas o santo respondeu que
certamente a amaria muito mais se ela se mostrasse amante de a Cruz.
As pessoas com as quais mantinha relaçõ es, ele "exortava ... a gostar
muito de sofrer por Cristo, só e sem o conforto da terra". Muitas vezes
ele dizia: "Filha, nã o quero outra coisa senã o uma cruz seca, que é uma
coisa linda."
Ao seu penitente Juan de Pedraza, que vivia em Granada, escreveu
respondendo à s suas queixas por causa dos seus sofrimentos: “Tudo se
bate na alma para amar mais, o que causa mais oraçã o e suspiros
espirituais a Deus, para que possa cumprir o que Maio a alma pede por
ele ... O grande Deus de amor e Senhor! E que riqueza de ti põ e naquele
que nã o ama nem gosta mas de ti, porque te doas e fazes algo por amor.
dá s a ele que goste e ame o que a alma mais deseja em Ti e aproveite.
Mas porque é conveniente que nã o nos falte uma cruz, como o nosso
Amado até a morte do amor, Ele ordena as nossas paixõ es no amor de o
que mais queremos, para que façamos maiores sacrifı́cios e valamos
mais. Mas tudo é breve, tudo é até que a faca seja levantada e entã o
Isaque ique vivo, com a promessa de um ilho multiplicado ”.
Ele tinha uma intimidade particular com os Carmelitas de Beas. Quando
era superior de Calvá rio (logo apó s sua fuga da prisã o) alé m de reitor
do colé gio Baeza, vivia perto deles e podia visitar com freqü ê ncia o seu
convento, in luenciando-os com suas palestras, conversas espirituais e
exortaçõ es no confessioná rio. Mais tarde, també m, ele foi
freqü entemente seu convidado. A correspondê ncia completou a
instruçã o oral. Numa carta de 18 de novembro de 1586, diz-lhes: «Para
que quem procura prazer em alguma coisa, nã o se esvazie mais para
que Deus o encha do seu inefá vel deleite; e assim como se dirige a Deus,
assim vem fora, porque suas mã os estã o grá vidas e ela nã o pode tomar
o que Deus lhe deu. Deus nos salve de tais gestaçõ es ruins, de tais doces
liberdades entravam. Sirvam a Deus, minhas amadas ilhas em Cristo,
seguindo seus passos de morti icaçã o com toda paciê ncia, em todo o
silê ncio e em todo desejo de sofrer, feitos algozes de felizes,
morti icando-se se por acaso sobrar algo para morrer que impeça a
ressurreiçã o interior do espı́rito ”.
A Madre Leonor Bautista, Prioresa de Beas, a Santa escreveu no dia 8 de
fevereiro de 1588: “... Lembrando-me que assim como Deus a chamou a
levar uma vida apostó lica, que é uma vida de desprezo, ele a conduz
pelo caminho do Ela me consola, en im, o religioso de tal maneira que
Deus quer que ele seja religioso, que tudo acabe e tudo acabe para ele,
porque ele mesmo é aquele que quer ser sua riqueza, consolo e deleite.
gló ria. Deus concedeu a vossa Reverê ncia, porque agora, bem esquecida
de todas as coisas, ela poderá desfrutar bem de Deus por si mesma,
nada é dado a ela que fará dela o que eles querem por amor de Deus,
porque ela nã o é seu, mas de Deus. "
Ela deu o seguinte conselho a uma postulante: “Quanto à paixã o do
Senhor, busque o rigor do seu corpo com discriçã o, auto-aversã o e
morti icaçã o e nã o querendo fazer sua vontade e prazer em nada, pois
ela foi a causa de sua morte e paixã o ".
Ela escreve à superiora do mosteiro recé m-fundado de Có rdoba: “E que
tenham entrado em casas tã o pobres e com tanto calor foi a ordenaçã o
de Deus, porque fazem alguma edi icaçã o e dã o a entender o que
professam, que é Cristo nu, para que os que se movem saibam com que
â nimo devem vir ... E vejam que preservem o espı́rito de pobreza e
desprezo de tudo ... querendo se contentar só com Deus. E saibam que
nã o terã o ou sentirã o mais necessidades do que aquelas que querem
submeter ao coraçã o, porque o pobre de espı́rito é mais constante e
alegre na estagnaçã o, porque colocou tudo no nada e no nada e assim
encontra em toda a largura do coraçã o. segurar tudo para si e perder o
cuidado por poder queimar mais no amor ”. Aconselha as irmã s “a
aproveitarem este primeiro espı́rito que Deus dá nestes princı́pios para
retomar o caminho da perfeiçã o com toda a humildade e
desprendimento de dentro e de fora, nã o com cuidado infantil, mas com
uma vontade robusta: seguir a morti icaçã o e penitê ncia, querendo que
este Cristo lhes custe alguma coisa, e nã o sendo como aqueles que
procuram a sua acomodaçã o e consolaçã o, seja em Deus ou fora dele,
mas no sofrimento em Deus, e fora dele para o silê ncio e a esperança e a
memó ria amorosa ”.
O caminho mais escuro é o mais seguro. No guia das almas ela insiste
nesta doutrina da Noite Escura: “Enquanto ela caminha nessas trevas e
vazios de pobreza espiritual, ela pensa que todos estã o faltando e tudo.
Mas nã o é uma maravilha, porque nisso ela també m parece a falta de
Deus. Quem nã o quer nada alé m de Deus, nã o anda nas trevas, mesmo
que pareçam mais sombrias e mais pobres; e que nã o anda em
presunçõ es ou gostos pró prios, nem de Deus nem das criaturas, nem
faz sua pró pria vontade nisso ou Em outra, ele nã o tem nada em que
tropeçar ou com que lidar ... Ele nunca foi melhor do que agora, porque
ele nunca foi tã o humilde ou tã o sujeito, ou se segurando em tã o pouco,
ou todas as coisas no mundo. nem Deus por ser tã o bom, nem serviu a
Deus tã o pura e desinteressadamente como agora ... O que você quer? ...
O que você acha que é servir a Deus, senã o fazer o mal, guardar os seus
mandamentos, e suas coisas como poderı́amos? Como há isso, que
necessidade há de outras apreensõ es, sem outras luzes ou sucos daqui
ou dali, em que Normalmente, nunca faltam obstá culos e perigos para a
alma, que com sua compreensã o e apetites é enganada e encantada, e
seus pró prios poderes a fazem errar? E assim é a grande misericó rdia
de Deus quando os escurece e empobrece a alma para que nã o errem
com eles ..., vivendo aqui como peregrinos, pobres, exilados, ó rfã os,
secos, sem caminhos e sem nada, esperando por tudo lá ".
O Santo escreve à s suas ilhas espirituais, mas com um amor que nada
mais é do que o desejo ardente da sua salvaçã o eterna: «Agora, como
Deus nos dá (o bem) no cé u, divirta-se exercitando as virtudes da
morti icaçã o e da paciê ncia, querendo torna-se no sofrimento algo
semelhante a este grande Deus nosso humilhado e cruci icado ”.
Por isso, ele nã o podia acreditar na autenticidade de certas graças
mı́sticas quando se tratava de almas que careciam de
humildade. Quando foi encarregado pelo Vigá rio Geral das Carmelitas
Descalças, Pe. Nicolá s Doria, de examinar o espı́rito de uma freira que
por acaso recebeu graças extraordiná rias, apresentou sua convicçã o no
julgamento seguinte, em que apontou os defeitos de julgue-o pelo
verdadeiro espı́rito encontrado.
“O principal, que desta maneira que ela se veste nã o parecem efeitos de
humildade, que, quando os favores sã o, como ela diz aqui, verdadeiros,
nunca se comunicam ordinariamente à alma sem desfazê -la e primeiro
aniquilá -la em abatimento interior de humildade. " Porque embora os
efeitos da humildade “... nem em todas as apreensõ es de Deus se tornem
tã o notá veis; mas estas, que ela aqui chama de uniã o, nunca vã o sem
eles ... Experimente no exercı́cio das virtudes para secar, especialmente
no desprezo, humildade e obediê ncia, e ao som do toque sairá a
suavidade da alma, na qual tantos favores tê m causado; e as provas
devem ser boas, porque nã o há demô nio que por sua honra nã o sofra
algo ".
O mesmo espı́rito é observado nas regras de conduta (precauçõ es) para
os religiosos que o Santo escreveu em vá rias ocasiõ es. Entre os
cuidados, provavelmente dirigidos aos Carmelitas de Beas, estã o os trê s
seguintes contra a carne:
1. “O primeiro cuidado, que você compreenda que nã o veio ao convento,
mas para que todos o cultivem e exercitem. E assim, para se livrar das
imperfeiçõ es e tribulaçõ es que podem ser oferecidas sobre as
condiçõ es e tratamentos dos religiosos e aproveite cada acontecimento,
convé m que penses que todos os que estã o no convento para te exercer
sã o o iciais, como realmente sã o: que uns te tê m de trabalhar por
palavra e outros por açã o, outros por pensamento contra ti e que em
tudo Você tem que estar sujeito, pois a imagem é para quem a esculpe, e
para quem a pinta e para quem a doura. E se você nã o guardar isso,
você nã o saberá como para superar a sua sensualidade e sentimento,
nem saberá fazer bem no convento com os religiosos, nem alcançará a
paz sagrada, nem estará livre de muitos obstá culos e males. "
2. “Que nunca deixes de fazer as obras por falta de sabor ou sabor que
nelas encontra, se é conveniente para o serviço de Nosso Senhor que
sejam feitas; ou faça-as apenas pelo sabor ou gosto que elas dar-te, mas
convé m fazê -los tanto quanto os insı́pidos, porque sem isso nã o te é
possı́vel ganhar constâ ncia e vencer a tua fraqueza ”.
3. “... Nunca nos exercı́cios o homem espiritual tem que ixar os olhos no
que há de saboroso neles para se agarrar a eles e só por isso fazer tais
exercı́cios, nem deve fugir deles o amargo, antes que tenha procurar o
que é trabalhoso e insı́pido. Com o que freia a sensualidade, porque
senã o você nã o perderá o seu amor-pró prio, nem ganhará o amor de
Deus ”.
Deus chama as almas ao claustro «para que sejam provadas e
puri icadas como o ouro com fogo e martelo: convé m que nã o faltem
provas e tentaçõ es de homens e demô nios, fogo da angú stia e da dor.
Religiosas, sempre procurando fazê -lo carregue-os com paciê ncia e
conformidade com a vontade de Deus, e nã o os leve de tal maneira que
em vez de aprovar a Deus na provaçã o, ele venha a repreendê -lo por
nã o ter querido carregar a Cruz de Cristo com paciê ncia ... ” . E nã o
precisam “sair por aı́ escolhendo o que é menos cruzado, pois é um
fardo leve; e quanto mais fardo, mais leve é , carregado por Deus”.
“Quando você está carregado você está ao lado de Deus, que é a sua
força, que está com os a litos: quando você está aliviado, você está ao
seu lado, que é você mesmo fraqueza; porque a virtude e a força da
alma nas obras de a paciê ncia cresce e se con irma ". "Deus considera
você mais inclinado à secura e a sofrer por seu amor do que todos os
consolos, visõ es e meditaçõ es espirituais que você pode ter."
“Aquele que nã o busca contentar-se com nada, nã o poderá atingir a
perfeiçã o, de modo que a concupiscê ncia natural e espiritual se
contenta com o vazio; que para alcançar a má xima tranquilidade e paz
de espı́rito é necessá rio; e assim o amor de Deus na alma pura e simples
está quase freqü entemente em açã o. "
Todo um conjunto de frases tem como tema a imitaçã o de Cristo: “Só se
obté m lucro imitando Cristo, que é o caminho, a verdade e a vida e a
porta pela qual deve entrar quem quer ser salvo”.
«O primeiro cuidado que está em ti, procura ser um desejo ardente de
imitar a Cristo em todas as tuas obras, estudando para te ter em cada
uma delas como o pró prio Senhor teria». “Qualquer sabor que se
ofereça aos sentidos, a menos que seja puramente para honra e gló ria
de Deus, renuncie e ique vazio dele por amor de Jesus Cristo, que nesta
vida nã o teve outro sabor, nem o quis , do que fazer a vontade de seu
Pai, que ele chamou de seu alimento e iguaria. "
“Cruci icado interna e externamente com Cristo, para viver nesta vida
com plenitude e satisfaçã o de alma, possuindo-a na tua paciê ncia”.
"Cristo cruci icado é su iciente para ele, e com ele tristeza e descanso, e
sem ele nem tristeza nem descanso: e, portanto, aniquilar-se em todas
as coisas exteriores e propriedades interiores."
"Se você quer vir para possuir Cristo, nunca o procure sem a cruz."
"Quem nã o busca a cruz de Cristo, nã o busca a gló ria de Cristo."
“O que sabe aquele que por Cristo nã o sabe sofrer? No que se refere ao
trabalho, quanto maiores e mais sé rios forem, melhor será a sorte de
quem os sofre”.
«Normalmente alegrai-vos em Deus que é a vossa saú de e vede que é
bom sofrer de qualquer maneira que seja para quem é verdadeiramente
bom».
“Se você quer ser perfeito, venda sua vontade e dê -a aos pobres de
espı́rito e venha a Cristo com mansidã o e humildade, e siga-o até o
Calvá rio e a sepultura”.
“Que as obras ou dores abraçadas por Deus eram como pé rolas
preciosas, que quanto maiores sã o, mais preciosas e maior é o amor
que causam naquele que as recebe por aquele que as dá ; daı́ as dores
dadas e recebidas da criatura de Deus, quanto maior, eles eram
melhores, e causaram maior amor por ele; e que por um momento que
eles suportam com tristezas por Deus no chã o, eles recebem de Sua
Majestade no cé u coisas imensas e eternas boas, que é para si mesmo,
sua beleza ... ".
Um dia, uma irmã falava na presença da Santa em tom de desprezo
sobre um leigo que havia manifestado hostilidade contra o
convento. Ela recebeu o seguinte aviso: “Que entã o ela e os outros
deviam fazer mais bem a ela: que isto seja ser discı́pulos de Cristo;
acrescentando que é mais fá cil abraçar nessas ocasiõ es aquele pouco de
amargura que eles trazem , con iando-os a Deus, do que nã o a amargura
duplicada, para que continuemos a cumprir a nossa vontade com tais
sentimentos contra o nosso pró ximo ”.
Falando com um religioso, disse-lhe com palavras veementes: "... Se em
algum momento algué m, mesmo um prelado, o persuadir com alguma
doutrina da amplitude, por mais que a con irme com milagres, nã o
acredita, nem o admitir, mas abraçar, penitê ncia e desprendimento de
todas as coisas, e nunca procurar Cristo fora da cruz: quem para segui-
lo com a negaçã o de tudo e de nó s mesmos, nos chamou para os pé s
descalços da Virgem, e nã o para buscar nosso conforto e suavidade. E
cuide para que você nã o se esqueça de pregar onde é oferecido como
algo que importa tanto. "
Atravé s desta advertê ncia, fala o amor de Cristo que leva o discı́pulo da
Cruz a ensinar aos outros o caminho que ele mesmo encontrou: "Nã o
sabias que eu deveria usar-me nas coisas de meu Pai?" (Lc 2, 49). Estas
palavras do nosso Divino Salvador, as primeiras que nos foram
transmitidas, sã o aplicadas pelo Santo à grande obra da vida de Cristo a
favor de nó s, seus ié is: «Que o que é do Pai Eterno aqui nã o seja
entendido de outra forma. ao invé s da redençã o do mundo, o bem das
almas, Cristo Nosso Senhor colocando os meios predeterminados do Pai
Eterno. E aquele Sã o Dionı́sio Areopagita, em con irmaçã o desta
verdade, havia escrito aquela frase maravilhosa que diz: Omnium
Divinorum divinissimumestá cooperari Deo in Salutem animarum, ou
seja, a suprema perfeiçã o de qualquer sujeito na sua hierarquia e no seu
grau é ascender e crescer, segundo o seu talento e riqueza, à imitaçã o
de Deus, e ao que há de mais admirá vel e divino , para ser seu
cooperador. na conversã o e reduçã o das almas. Porque nisto brilham as
obras pró prias de Deus, nas quais é grande gló ria imitá -lo. E por isso
Cristo Nosso Senhor o chamou de obras de seu Pai, cuidados de seu Pai.
E isso é evidente v E verdade que a compaixã o pelos outros cresce
quanto mais a alma se une a Deus por amor. Porque quanto mais você
ama, mais deseja que o mesmo Deus seja amado e honrado por todos. E
quanto mais ele quer, mais ele trabalha por isso, tanto na oraçã o como
em todos os outros exercı́cios que sã o necessá rios e possı́veis para ele. "
"E o favor e a força de sua caridade sã o tã o grandes que tais
possuidores de Deus nã o podem ser restringidos ou contentes com seu
pró prio ganho; antes, vendo como pouco ir para o cé u sozinhos, eles
buscam com avidez e afeiçõ es celestiais e primorosas diligê ncias para
assumir muitos para o cé u. que nasce do grande amor que eles tê m por
seu Deus, e este é o fruto e a afeiçã o da oraçã o e da contemplaçã o
perfeitas ”.
Aqui vemos como o zelo das almas é fruto da uniã o; mas també m, por
outro lado, o Santo considera o amor ao pró ximo como um meio muito
importante para o conseguir: «Duas coisas servem à alma das asas para
se elevar à uniã o com Deus, que sã o a compaixã o efetiva da morte de
Cristo, e a dos vizinhos, e que, quando a alma se deté m na compaixã o da
cruz e na Paixã o do Senhor, ela se lembrará de que a nossa redençã o só
trabalhou nela ”. Quer dizer: quem se aprofunda com amor neste
sentimento do Salvador na Cruz, que supõ e o amor até ao sacrifı́cio e
doaçã o, se une à vontade divina, que consiste na vontade do Pai que se
realiza no amor redentor. e o sacrifı́cio de Jesus; e depois ser a mesma
coisa com o ser divino, que é , por sua vez, amor que se doa: tanto na
doaçã o recı́proca das Trê s Pessoas Divinas na vida trinitá ria ı́ntima,
como nas obras "ad extra" da Criaçã o.
Desta forma, a pró pria perfeiçã o, a uniã o com Deus, trabalha para que
os outros alcancem a uniã o com Deus, e a pró pria perfeiçã o estã o
inextricavelmente ligadas. E o caminho para tudo isso, a Cruz. E a
pregaçã o da Cruz seria fú til se nã o fosse a expressã o de uma vida unida
a Cristo Cruci icado. "Minha amada, tudo para você e nada para mim:
nada para você e tudo para mim. Tudo o que é duro e trabalhoso eu
quero para mim e nada para você ."
"Oh, quã o doce é a sua presença para mim, que você nã o é nada alé m de
bom. Eu cheguei perto de você em silê ncio, e te descobri com meus pé s,
porque você tem o bem de se juntar a mim com você no casamento; e
eu nã o vou ica ocioso, até que me alegre em teus braços, e agora te
imploro, Senhor, que nã o me abandones em momento algum, porque
sou um desperdı́cio de minha alma ”.

Nestes suspiros do coraçã o apaixonado se re lete o caminho percorrido


por Sã o Joã o da Cruz. Ele seguiu os passos de seu amado Mestre no
caminho para o Calvá rio. Por isso, desde criança, optou por um leito
duro e, desde menino, com incansá vel abnegaçã o entregou-se ao
cuidado dos enfermos, imagem viva do Salvador, que nã o conheceu o
descanso, quando era. esmagado por aqueles que sofreram e buscaram
alı́vio nele. Esse amor pelos enfermos e sofredores membros do Corpo
Mı́stico de Cristo o preservou por toda a vida. Mais tarde, ao ser
Visitador ou Superior, chegava a um convento, apó s as primeiras
saudaçõ es, o seu primeiro cuidado consistia em visitar os enfermos. Ele
pró prio preparava a comida, limpava os copos e nã o tolerava que por
falta de dinheiro fossem levados ao hospital, corrigindo severamente
qualquer negligê ncia.
Seu amor pela Cruz o fez viver tã o penitencialmente, sendo religioso no
convento de Medina del Campo e no Colé gio de San André s de
Salamanca, que a Santa Madre no inı́cio da Reforma falou dele (em
contraste com sua companheira mais velha Padre Antonio de Heredia):
“nenhuma prova foi necessá ria, porque embora estivesse entre os Pañ o
Calzados, sempre viveu muito da perfeiçã o e da religiã o”. Em
Salamanca, todas as noites ele se açoitava até o sangue derramar,
grande parte da noite era passada em oraçã o e para o breve descanso
ele usava uma espé cie de cocho. A pobre casinha de Duruelo de que a
companheira de Santa Teresa, depois da sua visita, dizia: "Nã o há
espı́rito, por melhor que seja, que o possa sofrer" era um paraı́so para
os dois Padres. Já narramos anteriormente como era adornado com
cruzes e caveiras. “O coro era o só tã o, que tinha meia altura, podiam
dizer as Horas; mas sabiam descer muito para entrar e ouvir missa.
Tinham duas ermidas em ambos os cantos, voltado para a igreja, onde
só podiam estar deitado ou sentado, cheio de feno (porque o lugar
estava frio, e o telhado quase dava para as suas cabeças), com duas
janelas voltadas para o altar, e duas pedras para cabeceira. para ir, mas
lá eles icaram em oraçã o; eles tinham é tã o bom que eles tenham ido
com muita neve em seus há bitos, quando eles foram para Prima, e nã o
sentiram isso. "
Para instruir os pobres e ignorantes das redondezas, “pregavam
descalços ... e com bastante neve e frio ... e depois de pregarem e
confessarem, voltavam para casa muito tarde para comer. . " Enquanto a
mã e e o irmã o Francisco permaneciam em Duruelo, este era por vezes o
seu companheiro nas excursõ es apostó licas. Depois da pregaçã o,
voltaram rapidamente para o convento e nã o aceitaram nenhum
convite para icar e comer, comendo em alguma sarjeta o pã o e o queijo
que Catalina, sua mã e, preparava para eles. Assim viveu o Santo, iel ao
conselho que mais tarde escreveria aos outros: «Desejando entrar na
nudez, no vazio e na pobreza de tudo no mundo, por amor a Jesus
Cristo». "O pobre de espı́rito na minguada é mais contente e alegre; e
aquele que colocou seu coraçã o em nada em tudo encontra largura."
A severidade da penitê ncia dos dois primeiros Carmelitas Descalços foi
tã o grande que a Santa Mã e teve que implorar que moderassem um
pouco. Tinha custado a ele "tantas oraçõ es e lá grimas" encontrar
religiosos adequados para o inı́cio da Reforma, e agora ele temia que o
diabo empurrasse os dois a um zelo indiscreto, de modo que icassem
exaustos antes do tempo e, assim, destruı́ssem o trabalhar em seus
começos. Mas os Padres deram pouca atençã o à s suas palavras e
continuaram com a mesma austeridade de vida.
“Pouco tempo depois, quando uma pequena comunidade já se reunia
em torno dos dois padres, o Pe. Juan sentiu-se tã o debilitado pelo
cansaço que pediu ao Pe. Antonio, seu prior, permissã o para fazer a
colaçã o mais cedo do que antes. Mas assim que tinha tomado a pequena
refeiçã o que sentiu tomado de amargo remorso. Apressou-se a
apresentar-se ao P. Antó nio e pediu licença para se acusar perante a
Comunidade. Depois levou para o refeitó rio pedras e cacos de vidro,
ajoelhou-se sobre eles durante o cotejo e chicoteou suas costas nuas até
que o sangue foi derramado. Ele interrompeu a disciplina apenas para
se acusar em voz alta e com palavras emocionantes. Depois, continuou
a se açoitar cruelmente até desmaiar. Os religiosos assistiram ao
espetá culo cheios de terror e admiraçã o. Finalmente o P. Antô nio
ordenou-lhe que se retirasse e orasse a Deus para que perdoasse todas
as suas misé rias "
Nem mais tarde o Santo teve pena de si mesmo. Sua cela, embora
superior, era a mais pobre da casa. Fraco e doente, a mando de seu
provincial percorreu a Espanha sob um sol escaldante no verã o de
1586, percorrendo 400 milhas de estrada, vestido com há bito pesado e
tú nica de lã , que usava indistintamente no verã o e no inverno. Sendo
Prior de Segó via, iniciou-se a construçã o de um novo convento. Mas ele
nã o apenas dirigiu as obras, mas també m trabalhou com as pró prias
mã os carregando pedras das rochas. Ao longo do ano ele usou
alpargatas.
No grave con lito que eclodiu na Ordem entre os dois frades
antagô nicos, Nicolá s Doria e Jeró nimo Graciá n, ele viu as forças e as
fraquezas de ambas as partes e tentou agir como mediador, mas suas
palavras foram inú teis. Entã o ele usou a disciplina novamente. O irmã o
Martı́n, seu companheiro de viagem, nã o podendo mais suportar o
terrı́vel golpe das pestanas, aproximou-se com uma vela acesa onde o
Santo estava. Ele respondeu que tinha idade su iciente para cuidar de si
mesmo sem a ajuda de ningué m. O pró prio irmã o Martı́n cuidou dele
durante uma doença grave e removeu uma corrente que ele usava ao
redor do corpo por sete anos. Quando ele o tirou, o sangue jorrou. Pelo
contrá rio, o P. Juan Evangelista, viajando com ele, rogou-lhe em vã o que
lhe entregasse uma camisa de cabelo que vestia. Ele descobriu que o
Santo tinha escondido sob seu há bito uma espé cie de presilhas feitas
com muitos nó s, e disse-lhe que isso era crueldade, estando doente
como ele estava. "Rua, ilho, que dá diva é andar a cavalo. Nã o deveria
ser só descanso."
Durante a sua ú ltima doença, ocorreu ao bom Irmã o Pedro de San José
aliviar um pouco as suas dores terrı́veis, recriando-o com mú sica e para
isso contratou os trê s melhores mú sicos de Ubeda. O seu bió grafo
Jeró nimo de San José conta que em poucos instantes o Santo quis
dispensá -los gentilmente, por considerar nã o ser conveniente misturar
alegrias terrenas com celestiais. Mas para nã o entristecer o irmã o, ele
deixou os mú sicos continuarem. Mas quando questionado sobre sua
opiniã o, ele respondeu: "Eu nã o ouvi a mú sica, outras mú sicas mil vezes
mais bonitas me mantiveram em suspense o tempo todo." Apesar deste
testemunho cremos que devemos dar mais fé ao testemunho que faz o
Santo dizer à sua ama: "Irmã o, dá -os e despede-os, que quero sofrer
estes dons e favores que Deus me dá sem qualquer alı́vio, para merecer
mais com eles ". Isso está mais de acordo com o espı́rito de Nosso
Santo, que quis levar a sua cruz até o im sem nenhum alı́vio. Mas, por
outro lado, a segunda metade da histó ria tem a seu favor o fato de nela
aparecer sua atençã o ao Irmã o, algo que combina tã o bem com as
delı́cias do Santo. Nem é possı́vel rejeitar a mú sica celestial, visto que
ao longo de sua vida a liberalidade de Deus para com ele se manifestou
com todos os tipos de consolaçõ es. Ele podia muito bem saborear tal
doçura, por apenas amargura que ele havia procurado durante sua vida.
Por mais que praticasse a morti icaçã o corporal, ele nunca a considerou
um im em si mesmo, para ele era apenas um meio indispensá vel. Em
primeiro lugar, para dominar plenamente o seu corpo e a sua
sensualidade, e desta forma nã o ser estorvado no mais importante que
é a morti icaçã o interior; depois, unir-se por meio dos sofrimentos
corporais ao paciente Redentor. Uma prova de que deu mais
importâ ncia à morti icaçã o interior encontra-se no fato de que em seus
escritos e pensamentos ele ocupa mais lugar, enquanto o corporal é
relegado a segundo plano em relaçã o ao espiritual. As vezes fala da
in luê ncia mú tua entre os dois, mas, em geral, o homem é para o Santo
acima de tudo, alma. Note-se que raramente usa a expressã o homem,
mais vezes a de pessoa e, sobretudo, fala de almas.
Ele pró prio disse claramente o que pensa das relaçõ es entre a
morti icaçã o exterior e a morti icaçã o interior. "Sujeiçã o e obediê ncia é
uma penitê ncia da razã o e discriçã o, e é por isso que é para Deus um
sacrifı́cio mais aceitá vel e voluntá rio do que todos os outros de
penitê ncia corporal." “A penitê ncia corporal sem obediê ncia é mais
imperfeita porque os iniciantes só se movem por causa do apetite e do
gosto que ali encontram; na qual, fazendo sua vontade, crescem em
vı́cios e nã o em virtudes”. E ainda condenou os Superiores a acusarem
seus sú ditos de excessivas penitê ncias. Nisto ele mesmo mostrou
contençã o prudente e à s vezes teve que consertar o que outra pessoa,
por fervor indiscreto, havia destruı́do. Foi o que aconteceu em 1572
quando, a pedido de Santa Teresa, foi enviado ao Noviciado de Pastrana,
para acabar com os excessos do Mestre de Noviços P. Angelo. Da mesma
forma, quando no ano de 1578, poucos meses depois de ter fugido da
prisã o, foi enviado como Superior ao Convento do Calvá rio, encontrou
ali um ascetismo irracional e exagerado e teve o cuidado de moderá -
lo. Seu olhar penetrante imediatamente percebeu que por trá s desses
rigores uma insegurança interior estava escondida. Antes da viagem a
Roma, Pedro de los Angeles, a quem todo rigor parecia pouco, anunciou
que iria para lá Descalço e o Calçado voltaria. E, de fato, o asceta
ciumento nã o pô de se manter irme na suavidade da corte de Ná poles,
enquanto o Santo nunca hesitou.
O mais importante, neste aspecto das relaçõ es entre morti icaçã o
interior e exterior, nã o é a doutrina, mas a pró pria vida. Quando
consideramos as penitê ncias que o Santo praticou ao longo de sua vida,
pode parecer que di icilmente foram superadas por cruzes
espirituais. Nesse caso, uma comparaçã o nã o pode ser feita
corretamente. Para a morti icaçã o interior, como no resto para tudo
puramente espiritual, nã o existem medidas ixas que se traduzam em
nú meros, muito menos uma medida comum com obras externas. Em
todo caso, quando recordamos as frases de Sã o Joã o da Cruz, como as
explicava na Subida: nã o gozar, nã o saber, nã o possuir, ser nada,
devemos certamente a irmar: este é o non plus ultra da nudez e nem
mesmo a medida mais elevada das almas exteriores foi capaz de
alcançar esta perfeiçã o. E é que as obras externas aumentam a
autocon iança e nunca conduzem ao Nada, à morte do pró prio ser.
Mas como podemos mostrar que Joã o realmente alcançou a nudez
espiritual perfeita que ele exige? Nã o é o interior deste santo tã o
silencioso e fechado para nó s? E verdade que nã o podemos ler em seus
coraçõ es como o da Santa Mã e e de tantos outros santos que foram
obrigados a escrever a histó ria de suas almas. No entanto, o interior do
Santo é revelado, sem que ele o pretendesse, nos seus escritos e, em
particular, na sua poesia. Alé m disso, temos um grande nú mero de
testemunhos de seus contemporâ neos, que nos dã o uma imagem forte e
precisa de sua personalidade. Alguns deles contam com con idê ncias do
pró prio Santo. Sã o personalidades que estiveram tã o unidas a ele em
Deus que descobriu um pouco dos segredos de si: em particular o
irmã o Francisco e alguns carmelitas.
Mas é na sua poesia que podemos encontrar as manifestaçõ es mais
puras e transparentes. Seu pró prio coraçã o fala neles. E em alguns deles
com um som tã o limpo, que parece que nada terrestre o deté m. Em
alguns, nã o em todos. A cançã o da Noite Escura está imbuı́da da mais
profunda paz. Na abençoada quietude e silê ncio desta noite, nenhum
barulho e correria do dia pode ser percebido. Na Chama Viva do Amor,
seu coraçã o é queimado nos fogos mais puros e celestiais. O mundo
desapareceu completamente. A alma abraça a Deus sozinho com todas
as suas forças. Apenas a ferida ainda nos lembra a divisã o entre o cé u e
a terra.
A paz total da alma, da qual brotam essas cançõ es, se manifesta nã o
apenas no conteú do do pensamento, mas també m na forma poé tica. A
sua calma e a sua simplicidade sã o o batimento natural do seu coraçã o
que neles se abre sem esforço, com toda a naturalidade, como canta o
rouxinol, ou se abre o botã o de uma rosa. Sã o obras-primas, porque
nelas nada se percebe de Arte.
O mesmo pode ser dito de dois outros poemas: o Canció n del Pastorcico
e o Canció n de la Fonte. Estes diferem, no entanto, em conteú do e forma
dos dois anteriores e sã o, por sua vez, muito diferentes um do outro. No
Câ ntico do Pastor, os sentimentos da alma nã o sã o expressos
imediatamente. O poeta captou uma imagem e a expressou
artisticamente. “Vá a Cristo Cruci icado e ouça a reclamaçã o que ele
dirige à s almas e como ele chora por pensar que está esquecido”. Com
este tema compõ e uma é cloga pastoral tã o popular em sua é poca, e no
maior estilo que já fez no Câ ntico. Se para este se inspirou no Câ ntico
dos Câ nticos, para o primeiro pensou no Bom Pastor que dá a vida
pelas suas ovelhas (Jo 10). E nã o é a reclamaçã o do pastor ao seu pastor
indescritı́vel um eco do chamado lamentá vel de Cristo, quando ele
chorou sobre Jerusalé m? (Mt. 23-37). O refrã o, "O seio do amor doeu
muito", é a chave para o estado de sua alma. Seus versı́culos vê m de um
coraçã o que se esqueceu de si mesmo e entrou no coraçã o do
Salvador. Neles fala o puro sofrimento de uma alma liberta de si mesma
e unida ao Cruci icado.
O que se diz na sua vida está de acordo com isto, que vivendo em
Segó via uma Semana Santa, icou tã o impressionado com a meditaçã o
da Paixã o que nã o pô de sair do Convento.
No Canció n de la Fonte, a alma volta a cantar algo que a comove nas
profundezas do seu ser, como na Chama Viva do Amor e na Noite
Escura. Mas o que o move a cantar aqui nã o é o destino de sua alma,
mas a vida ı́ntima do Divino, como a fé nos apresenta: a fonte que
sempre lui, origem de todos os seres, que dá luz a todos eles. E
vida; que faz com que um rio igual nasça de si mesmo, do qual, em
uniã o com o primeiro, procede uma terceira corrente de plenitude
idê ntica. A mú sica que canta essas verdades nã o é poesia
conceitual. Cante a realidade, com os sons mais puros e musicais. A
doutrina da fé tornou-se vida que lui e o mar eterno com ondas calmas
envolve a alma que nele submersa canta o seu canto. E cada vez que um
eco misterioso atinge a costa, ele responde: "mesmo que seja noite." A
alma é limitada e nã o pode abraçar o mar in inito. Seu olhar espiritual
nã o se adapta à luz celestial, que lhe parece escura. E assim ele vive no
meio da uniã o com a Trindade, e apesar de gozar o pã o da vida na
Eucaristia, uma vida de saudade: Porque é noite. Nestes versos, a
essê ncia da contemplaçã o sombria é expressa.
O mesmo pensamento está contido no coro da poesia "Vivo sem viver
em mim". Que eu morro porque nã o morro. O refrã o nã o é aqui como o
de La Fonte e do Pastorcico, uma melodia que brota contı́nua e
involuntariamente do fundo do coraçã o. E um tema que se repete com
variaçõ es. Quem quer que tenha talhado essas estrofes está ciente de
sua arte. Ele brinca com seu tema: a dor de morrer, de perder essa vida,
que nã o é a vida verdadeira, nã o é a dor viva que se expressa na cançã o:
ela aparece apenas como um re lexo, em consideraçã o retrospectiva,
que o poeta coleta. Seus poderes ainda estã o em açã o. E como sua alma
nã o se rendeu total e sem reservas, ele ainda teme perder a Deus; Por
isso lamenta seus pecados e os sente como fortes laços que a prendem
à terra.
També m outros de seus poemas apresentam esta mesma forma, com
um "leitmotiv" que encerra o tema fundamental e que se repete como
refrã o. Nã o é possı́vel reproduzirmos todos eles. Queremos apenas
voltar, deste ponto de vista, ao Câ ntico Espiritual. O P. Silvé rio considera
este o primeiro e o mais belo dos seus poemas e, de facto, muitas das
suas estrofes tê m um encanto inimitá vel. E claro para nó s que a riqueza
de suas imagens encontra perfeita unidade no simbolismo do
noivado. Mas nã o se pode dizer que todas aquelas imagens
maravilhosas brotaram do fundo da alma sem que houvesse a
preocupaçã o de moldá -las. Algumas foram pessoais e artisticamente
formadas, outras podemos dizer que parecem trazidas pelos cabelos. E
essa variada multidã o de imagens e pensamentos está em consonâ ncia
com seu conteú do: a inquietaçã o de um processo movido de
desenvolvimento interior da alma. Se compararmos este canto, segundo
o seu conteú do e a sua forma, com os outros quatro dos quais falamos,
todos juntos nos dã o uma resposta ao problema de como o Santo
praticou a morti icaçã o interior; a alma atingiu um desapego completo
de si mesma e simplicidade e calma em uniã o com Deus. Mas foi fruto
da puri icaçã o interior, na qual uma natureza ricamente dotada tomou a
cruz e se colocou nas mã os de Deus para ser cruci icada; um espı́rito de
incrı́vel energia e vitalidade é aceso e um coraçã o ardente e apaixonado
alcançou a paz por meio da renú ncia radical. Depoimentos con irmam
este resultado.
Padre Eliseo de los Má rtires escreve que o Santo fez tudo "com
admirá vel severidade e gravidade". “Seu tratamento e conversa gentil,
muito espiritual e proveitosa para quem o ouviu e comunicou. E nisso
ele foi tã o ú nico e encorajador que quem o tratou, homens e mulheres,
saiu espiritualizado, devoto e apaixonado pela virtude. Teve grande
apreço pela oraçã o e trato com Deus, e a todas as dú vidas que lhe foram
propostas sobre estes pontos, respondeu com alteza de sabedoria,
deixando aqueles que o consultavam muito satisfeitos e proveitosos.
Era um amigo do recolhimento e do falando pouco; e muito composto
". "Ele tinha constante perseverança na oraçã o e na presença de Deus e
nos atos anagó gicos e movimentos e oraçõ es ejaculató rias." Ele nunca
ergueu a voz ou sabia de piadas prá ticas ou inapropriadas, nunca usou
apelidos para designar ningué m. Ele tratou a todos com igual
respeito. Na sua presença ningué m podia falar mal do outro. Mesmo na
recreaçã o, ele falava apenas de coisas espirituais e, quando falava,
ningué m o interrompia. Se ao inal da refeiçã o ele iniciasse uma
conversa espiritual, todos icariam como pregados, ouvindo-o com
atençã o.
Sua in luê ncia sobre os outros foi incrı́vel. O calçado e entre a sua
presença foi um convite ao silê ncio. Com uma frase curta
de initivamente ele acalmou as ansiedades e tentaçõ es. Foi també m
grande no discernimento dos espı́ritos: os candidatos que exigiam
admissã o à Ordem, fosse por ele rejeitada, embora outros parecia caber
completamente, ou foram por ele aprovado, mesmo que outros nã o
parecem propó sito para a Ordem. Uma Carmelita lembrou-o em
con issã o de uma falta grave há muito esquecida e que nã o tinha
reparado. Podemos també m acrescentar a este im, o episó dio
conhecido da Santa Mã e, ao distribuir a Comunhã o à s freiras no
Mosteiro da Eucaristia, o Santo deu acolhimento mı́dia, a morti icar
abertamente, porque ele sabia que sua predileçã o para os grandes
an itriõ es. Ele se mostrou ainda mais rigoroso com Madre Catarina de
San Alberto in Beas. Ele havia declarado que ela tinha certeza de
comungar num determinado dia, que, aliá s, era um dia de
confraternizaçã o, ele passou muito tempo, sem dar o hospedeiro e isso
apesar de voltar duas ou trê s vezes. Perguntado por que ele fez isso, ele
respondeu, "isso porque a irmã tinha certeza que ele iria comuna tinha
feito isso para mostrar que nó s nunca deve ter certeza do que
pensamos." Em ambos os casos, as açõ es do Santo sã o baseadas no
conhecimento do que as almas precisam para estar livres de
imperfeiçõ es. Essa força de penetraçã o sobrenaturalmente elevada
paralela com a energia indomá vel, tã o pouco pode ser considerado
puramente natural. Sabendo do respeito e do amor que Nossa Senhora
professava, como ousavam os jovens e humildes religiosos, para se
comportar assim com Santa Teresa, a fundadora madura, se a virtude
do Espı́rito Santo lhe tivesse dado força para isso? Como poderia o
pró prio bom e manso Joã o da Cruz ensinar um modo tã o sensı́vel e
humilde como no caso de Beas? Certamente, sua bondade e gentileza
nã o podem ser consideradas dons puramente naturais. Para
observaçõ es agudas feitas a respeito dos diretores inexperientes e
violenta, tanto na Chama viva de amor, como em outros lugares em suas
obras, sabemos que o Santo longe de ser por natureza uma pomba sem
fel. A descriçã o dada nos ú ltimos capı́tulos do aumento de certos tipos
de piedade sã o uma ironia que o tratamento pessoal poderia ser muito
prejudicial. Que nem como Superior relaçã o a seus sú ditos, nem como
mera religiosa nas horas de recreaçã o izeram uso dele, mostra que
tinham conseguido dominar completamente sua natureza. Ele viveu iel
aos seus ensinamentos. Quando comparamos suas a irmaçõ es sobre as
virtudes e dons com depoimentos sobre seu comportamento, vemos
que há uma concordâ ncia perfeita.
Requer uma fé baseada puramente na doutrina de Cristo e sua Igreja e
nã o em revelaçõ es extraordiná rias. Durante o Capı́tulo de Lisboa houve
muitos, mesmo entre os padres graves, para visitar uma freira, que
havia atraı́do poderosamente a atençã o para seus estigmas e guardava
pedaços de pano ensopados de sangue como relı́quias que ela disse ter
saı́do de suas feridas. Quando mais tarde, de volta a Granada, o religioso
lhe perguntou se ele tinha visto a mulher estigmatizada, ele respondeu:
"Eu nã o a vi nem queria vê -la, porque reclamaria muito da minha fé , se
eu entendesse. teve que crescer um ponto para ver coisas semelhantes
... ". E acrescentou: "ele estimava mais permanecer na fé nas feridas de
Cristo do que todas as coisas criadas, e que para isso nã o precisava ver
as feridas em ningué m".
Queria uma esperança em Deus «com a qual a alma o olhava sempre,
sem pô r os olhos em mais nada ...», e estava convicto de que a alma
«alcança tanto quanto espera».
Padre Juan Evangelista testemunha que nos oito ou nove anos que viveu
com a Santa, sempre observou “que ele vivia nela e que ela o
sustentava”. E conta em particular que, sendo o dito Padre Juan
Evangelista Procurador do Convento de Granada e Santo Prior da
Comunidade, um dia lhe faltou o que era necessá rio e pediu licença
para sair a procurá -lo. O Santo o advertiu para con iar em Deus e nã o
faltaria nada. Passado algum tempo, o procurador respondeu com o
pretexto de que já era tarde e que havia doentes necessitados. O Santo
ordenou-lhe que voltasse à sua cela e pedisse a Deus o que fosse
necessá rio. Ele obedeceu, mas a partir daı́, pela terceira vez, voltou ao
Prior e disse: "Pai, isso é uma tentaçã o de Deus, dê -me permissã o de RV
e irei fazer recados, que é tarde demais." Desta vez, a permissã o foi
concedida, mas o Santo acrescentou: "Vá e veja como Deus te confunde
com essa pouca fé e esperança que você tem." E, de fato, quando ele
estava para partir, eles trouxeram o que precisavam para o convento. A
mesma coisa aconteceu em outras ocasiõ es.
E quase desnecessá rio amor mençã o, porque toda a doutrina do Santo é
uma liçã o do que você tem que fazer a alma, para se transformar em
Deus, que é amor. Tudo depende do amor, porque o im será
"examinada no amor". E toda a sua vida foi uma vida de amor: uniã o
ı́ntima com parentes no amor de Deus; auto-esquecimento e oferece
generoso serviço aos doentes; bondade paterna para seus
sú ditos; paciê ncia incansá vel com os penitentes de todos os
tipos; respeitar pelas almas; ardente desejo de libertar a
Deus; discernimento dos espı́ritos, à s almas ensinar a vá rios caminhos
de Deus e, portanto, a delicada adaptaçã o mais a diferentes espı́ritos. A
Noviços-los para o exterior, e nã o os manteve sob inspiraçã o divina
escogiesen um lugar para chorar, cantar ou orar. Mesmo que seus
inimigos tem uma palavra dura. Os danos que fazer o trabalho e
vontade divina considerado. Nã o deveria nem falar. Todas estas
diversas manifestaçõ es de amor ao pró ximo enraizado no amor de Deus
e do Cruci icado. Como vimos repetidamente, o amor é "ter grande
nudez e sofrer pelo amado", que ele praticou durante a sua vida, como
já tentou de vá rias maneiras e parece ainda mais claro o que temos a
dizer.
Resta-nos demonstrar essa conformidade de sua doutrina e de sua vida
em um ponto importante. O Santo tem insistido em seus escritos que a
alma nã o deve apenas renunciar ao conhecimento natural e à s alegrias,
mas també m a todos os fenô menos sobrenaturais, -visõ es, revelaçõ es,
consolaçõ es e a ins- para, transcendendo o compreensı́vel, sair ao
encontro do incompreensı́vel atravé s do escuridã o da fé . Os
testemunhos das vá rias fases da sua vida mostram-nos que Sã o Joã o da
Cruz foi abundantemente inundado de graças extraordiná rias e, ao
mesmo tempo, fazem-nos compreender que com todas as suas forças
tentou rejeitá -las. Quando, morando em Segó via, caminhava pelos
claustros do convento e, à s vezes, mesmo durante uma conversa, batia
furtivamente na parede com o punho, para se defender do ê xtase e nã o
perder o io da conversa.
Certa ocasiã o, con idenciou à madre Ana de San Alberto: "Eu, ilha,
sempre trago a minha alma à Santı́ssima Trindade, e aı́ o meu Senhor
quer que a traga". Mas recebe um consolo tã o extremo que sua natureza
dé bil nã o o suporta e por isso nã o se atreve a abandonar-se ao
recolhimento total. També m foi dito que à s vezes ele era forçado a
privar-se da Santa Missa por vá rios dias seguidos por medo de que algo
extraordiná rio lhe acontecesse. Ele lamenta repetidamente a "natureza
fraca", fraca demais para suportar o excesso de graças, mas forte o
su iciente para buscar e desejar a cruz em qualquer forma que ela se
apresentar. E o Senhor també m nã o os recusou.
Mais e icaz do que a morti icaçã o que vem da pró pria escolha, é a cruz
que Deus impõ e a cada um, externa e internamente. Como o caminho
do Salvador, foi també m o do seu servo iel, do princı́pio ao im, uma
verdadeira Via Sacra: pobreza e misé ria prementes nos primeiros anos
de sua infâ ncia, esforços vã os para ajudar a sua mã e nas duras. luta pela
existê ncia, entã o um trabalho pro issional que exigia dele o uso de
todas as suas forças corporais e espirituais e uma autoexpiraçã o
contı́nua; estes foram os primó rdios de sua escola da Cruz. Depois
vieram os seus desapontamentos com o espı́rito da Ordem, para o qual
foi atraı́do pelo chamado divino, as dú vidas e lutas interiores que
precederam, com toda a probabilidade, a sua decisã o de se mudar para
a Cartuxa, e apó s o feliz inı́cio da Reforma em Duruelo, uma cadeia de
provas e sofrimentos na luta pelo seu ideal.
Na vida de Cristo, as horas mais felizes foram, sem dú vida, aquelas que
na noite tranquila ele passou em diá logo solitá rio com o Pai. Mas
també m eram apenas uma tré gua da atividade, que o colocava no meio
da multidã o e o oferecia dia a dia e hora a hora, como um gole de fel e
vinagre, um misto de fraqueza, vulgaridade e maldade da parte dos
homens. Sã o Joã o da Cruz també m conheceu a alegria das horas calmas
da noite e as conversas com Deus sob o teto. Como Reitor do Colé gio de
Baeza, adquiriu um terreno junto ao rio. Lá ele passava dias inteiros na
companhia de Juan de Santa Ana. A noite passava sozinho em oraçã o,
mas à s vezes ele levava seu companheiro, descia até o rio com ele e
falava sobre a beleza do cé u, da lua e do estrelas. També m na é poca em
que era prior de Segó via, gozava de um oá sis semelhante: uma ermida
no topo de onde dominava um amplo panorama. Lá ele costumava se
aposentar, sempre que os negó cios permitiam.
Viver sozinho e em silê ncio a sua vida de oraçã o foi sempre o seu desejo
desde os primeiros anos até à sua morte. Mas a maior parte de sua vida
foi sobrecarregada com as obrigaçõ es dos cargos que ocupou. E assim
como seguiu a Cristo no cuidado amoroso dos enfermos (mesmo com o
carisma das curas prodigiosas), da mesma forma o imitou, sacri icando-
se no apostolado por amor das almas. Enquanto era Reitor de Baeza, o
religioso, a seu exemplo, compareceu ao confessioná rio durante todo o
dia. Ele estava disponı́vel para todos. Um dia implorou ao porteiro, que
era o irmã o Martı́n, que lhe procurasse um gentil confessor para um
paciente de cascos leves. Ele mesmo foi confessar-se a ela e
transformou aquele homem mundano tã o completamente que mais
tarde foi "dia e noite" ao convento para participar nos exercı́cios
espirituais. Ele tinha in inita paciê ncia para os escrupulosos, a quem
ningué m mais queria atender.
A maior dor para seu coraçã o afetuoso era ver como as almas eram
conduzidas por caminhos errados e tiranizadas por diretores
ignorantes e autoritá rios. O gentil Santo encontra para eles palavras tã o
duras e esperanças como o Salvador para os fariseus. Na Chama do
Amor a Vida interrompe a descriçã o das unçõ es do Espı́rito, que servem
de preparaçã o ı́ntima para a uniã o, para dar lugar a uma longa
digressã o sobre os dirigentes espirituais: “... Mas há tanta mancha e
pena que cai Em meu coraçã o ver as almas retrocederem, nã o só nã o
me deixo ungir para que a unçã o passe, nã o tenho que deixar de
aconselhá -las aqui ... ”. O Diretor espiritual “alé m de ser sá bio e discreto,
é necessá rio que ele seja experimentado, porque ... se nã o houvesse
experiê ncia do que é puro e verdadeiro espı́rito, ele nã o conseguiria
examinar a alma nele, quando Deus o dá a ele, nem eu ainda entendo.
Desta forma muitos mestres espirituais fazem muitos danos a muitas
almas ... Eles só sã o ú teis para iniciantes, que nã o sabem mais do que
para estes, e mesmo que cheguem a Deus, eles nã o quero deixar as
almas passarem (embora Deus queira conduzi-las) a mais desses
princı́pios discursivos e imaginá rios ... ”.
“Assim como se em um rosto de pintura extrema e delicada tocasse uma
mã o á spera com cores baixas e á speras, seria o dano maior e mais
notá vel e mais doloroso do que se apagassem muitas faces de tinta
comum, porque muito delicada mã o que era o Espı́rito Santo, que
aquela mã o á spera estava perturbada, quem pode conseguir colocá -la?
... Quantas vezes Deus está ungindo a alma contemplativa com alguma
unçã o muito tê nue de notı́cias amorosas, serenas, pacı́ icas, solitá rias,
muito estranhas ao signi icado e o que ele pode pensar ...; e virá um
mestre espiritual que só sabe martelar e macerar com os poderes como
um ferreiro, e dirá : Vá em frente, pare com essas objeçõ es, que é
ociosidade e desperdiçando tempo ... ". E como esses diretores nã o tê m
ciê ncia adequada, nã o devem interferir com sua mã o rude em algo que
nã o entendem, nã o deixando para quem entende; que nã o é questã o de
pouco peso e culpa fazer uma alma perder bens inestimá veis e à s vezes
deixá -la muito devastada por seus conselhos imprudentes. "E assim
aquele que erra imprudentemente. Nã o icar impune, de acordo com o
dano que ele fez; porque os negó cios de Deus com muito cuidado e
olhos abertos tê m que ser tratados, principalmente coisas de tal
importâ ncia e em negó cios tã o elevados como sã o. Que dessas almas,
onde há uma aventura de ganho quase in inito em acertar, e perda
quase in inita em errar ”.
Absolutamente indesculpá vel é o realizador “que, tratando uma alma,
nunca a deixa fora de seu poder por motivos e tentativas que conhece”,
ainda que requeira um ensino superior ao seu. “Nem todo mundo que
sabe lixar a madeira sabe esculpir a imagem, nem quem sabe esculpir
sabe lapidar e polir; e nem todo mundo que sabe polir, saberá dar o
ú ltimo casaco e perfeiçã o ... Bem, vamos ver se você , sendo nada mais
do que um moedor, que é colocar a alma no desprezo do mundo e
morti icaçã o de suas paixõ es e apetites, ou no má ximo entalhar, ser
colocar em santas meditaçõ es, e nã o sabes mais como levar essa alma à
perfeiçã o inal ..., que ... consiste na obra que Deus tem que continuar a
fazer nela? ... Porque quem está aı́ como Sã o Paulo, que tem que fazer
tudo por todos, para ganhá -los a todos? (1Ch 9,22). E você tiraniza as
almas de tal maneira que ... tira a liberdade deles ... ”.
O pró prio Santo, sendo Superior, conquistou coraçõ es pela sua bondade
e espı́rito de sacrifı́cio e que, quando teve que repreender, o fez
paternalmente, com bondade e mansidã o, enfrentou decididamente o
regime brutal na direçã o da Ordem. Conta uma testemunha: «Disse-me
certa ocasiã o que quando vimos Urbanidade na Ordem perdida, parte
da Polı́cia Cristã e Moná stica, e que em vez dela entraram agressividade
e ferocidade nos Superiores (que é o vı́cio dos bá rbaros), Vamos chorar
por sua perda. "
E a preocupaçã o das almas que o faz dizer palavras tã o duras. Cristo
comprou as almas com a sua paixã o e morte e cada uma delas é para ele
e para os seus discı́pulos um valor in inito. O propó sito da Reforma nã o
é outro senã o fornecer à s almas escolhidas condiçõ es de vida que
permitiriam à mã o de Deus realizar sua obra nelas sem qualquer
obstá culo. Já sabemos que sofrimentos Sã o Joã o da Cruz felizmente
aceitou quando esta obra divina foi ameaçada de fora; mas é possı́vel
que ele tenha sofrido ainda mais quando viu como dentro da Reforma
veio a se impor um espı́rito que ameaçava a obra de Deus nas almas. O
perigo vinha de dois lados opostos: Padre Graciá n promoveu o trabalho
externo das Missõ es. Certamente nã o faltou ao Santo sentido apostó lico
missioná rio. Doeu-lhe a alma que "nosso verdadeiro Deus e Senhor"
ainda fosse desconhecido na maior parte do mundo e conhecido em tã o
pouca parte. Mas ele nã o queria nenhuma atividade externa à s custas
das lembranças. Nicolá s Doria defendeu o extremo oposto; Queria a
solidã o e o rigor da penitê ncia, mas queria impor este ideal com toda a
rigidez, e com isso ia contra o espı́rito de Santa Teresa e seus
companheiros da Reforma, e o pró prio espı́rito de Deus, que sopra onde
quer.
Santa Teresa sofreu muito com a incompreensã o de confessores
inexperientes; Por isso, em suas constituiçõ es, deixaram a salvo para
suas ilhas a liberdade de lidar com os homens espirituais, em quem
podiam con iar. O padre Doria queria tirar essa liberdade. Provincial de
1585, com amplos poderes de Roma, ele introduziu uma constituiçã o
centralista: um conselho geral, que nomeou priores, pregadores e
confessores. Juan de la Cruz lutou pela defesa do patrimô nio da Santa,
apoiado pelas duas bisnetas de Teresa, Marı́a de San José e Ana de
Jesú s, e pelo iel amigo da Reforma, Domingo Bañ es. E també m era
sobre a vida interior de suas ilhas. Em Avila, Beas, Caravaca, Granada e
Segó via, sob o seu cuidado solı́cito e por sua mã o ao mesmo tempo
delicada e irme, brotaram tantas lores maravilhosas como as que
descreve no seu Câ ntico Espiritual. Nã o era normal que o trabalho de
sua vida parecesse desperdiçado, se agora a saraivada da perseguiçã o
caı́sse sobre esses jardins do Paraı́so?
No Capı́tulo de Madri, ele se opô s modestamente ao Provincial, iel ao
seu princı́pio: “... Se nã o ousar, disse ele, o que é conveniente por
fraqueza ou fraqueza, ou por medo de nã o irritar o Superior ..., tem a
Ordem de perda ". Por isso, retiraram todos os encargos e, por
consequê ncia, toda a possibilidade de ajudar externamente. Até
tentaram atacá -lo em sua homenagem, a pretexto de expulsá -lo da
Ordem; mas ele preservou perfeitamente a paz de seu espı́rito. Nesta
ocasiã o, ele mostrou quã o sincero havia sido seu pedido de "sofrer e ser
desprezado" pelo Senhor, e que nã o foram palavras vazias quando
escreveu que Cristo nunca havia trabalhado tanto quanto na
Cruz. Segundo o testemunho do Padre Eliseo de los Má rtires, um dia ao
expor as palavras de Sã o Paulo: "Vistes os sinais do seu apostolado no
meio de vó s: paciê ncia, sinais, milagres e maravilhas" (2Cr 12,12), nota
que o Santo coloca a paciê ncia antes dos milagres. «Portanto, a
paciê ncia é um sinal mais certo do apostó lico do que a ressurreiçã o dos
mortos. Nisso, observo, certi ico que o P. Juan de la Cruz foi um homem
apostó lico, por ter sofrido com inigualá vel paciê ncia e tolerâ ncia os
trabalhos que se ofereceram , que eles eram muito sensı́veis, e que
derrubaram os cedros do Monte Lı́bano.
As cartas que escreveu do Capı́tulo de Madrid, depois de retiradas todas
as acusaçõ es, dã o uma ideia clara do seu estado de espı́rito. Ela
escreveu a Madre Ana de Jesú s em 6 de julho de 1591: “Se as coisas nã o
tivessem acontecido como ela desejava, ela deveria primeiro se
consolar e agradecer muito a Deus; já que Sua Majestade assim
ordenou, é o que para tudo mais. E-nos conveniente, só nos resta
aplicar a vontade, para que nos pareça verdade, porque as coisas que
nã o dã o prazer, por boas e convenientes que sejam, parecem má s e
adversas; e isto tu vê s bem que nã o é , nem para mim, nem para
ningué m, porque quanto a mim, é muito pró spero, porque com a
liberdade e libertaçã o das almas, posso se eu quiser (pelo favor divino)
gozar da paz , a solidã o e o delicioso fruto do esquecimento de si e de
todas as coisas. E també m aos outros ..., porque assim icarã o livres das
faltas que tiveram que cometer por minha misé ria ... ”.
Ao mesmo tempo, dirigiu-se a Marı́a de la Encarnació n, ilha de Madre
Ana, entã o Priora em Segó via. “Quanto a mim, ilha, nã o sinta pena de
nenhum de mim. O que eu tenho muito grande é que a culpa é colocada
em quem nã o tem; porque essas coisas nã o sã o feitas por homens, mas
Deus, que sabe o que é melhor para nó s, e as ordena para o nosso bem.
Nã o pense em nada alé m de que Deus ordena tudo. E onde nã o há amor,
coloque amor e obtenha amor. " Quem falava assim transformava-se
intimamente no Cruci icado. Chegara a hora em que deveria, ainda que
externamente, morrer com a morte de Cruz del amor. Agora seus
ú ltimos desejos serã o realizados.

“Eu só desejo que a morte me encontre em um lugar isolado, longe de


todos os tratos com os homens, sem irmã os por há bito para liderar;
sem alegrias para me consolar e atormentado por todos os tipos de
dores e sofrimentos. Eu queria que Deus tentasse como um servo,
depois de ter provado no trabalho a tenacidade de meu cará ter; queria
que ele me visitasse na doença, pois ele me tentou na saú de e nas
forças; queria que ele me tentasse com reprovaçã o, como fez com o
bom nome que tive diante dos meus inimigos. Digna-te, Senhor, de
coroar de martı́rio a cabeça do teu indigno servo ".
No Capı́tulo de Madri, o deserto de La Peñ uela foi designado como sua
residê ncia. Isso nã o foi um castigo para ele. Nele ela poderia encontrar
a solidã o que ansiava. No entanto, nã o se pode pensar que as discussõ es
e resoluçõ es de Madrid nã o o afetaram ou prejudicaram por dentro. Em
sua viagem de Madrid a La Peñ uela chegou ao convento de Toledo um
dia, à s quatro da manhã , com seu companheiro padre Elı́as de San
Martı́n. Os dois celebraram a missa e se trancaram para conversar e
consolar um ao outro. Sem levar nada eles permaneceram até a noite, e
ao partirem o Santo declarou que estava muito consolado e que com a
graça que Deus havia lhe dado naquele dia, ele estava pronto para
sofrer qualquer coisa por Ele. Nã o era esta uma noite de Getsê mani em
o que Deus enviou um anjo para confortá -lo? As duras penitê ncias da
sua vida, as perseguiçõ es, a pró pria prisã o de Toledo e os maus tratos
ao Prior de Ubeda, na opiniã o do P. Silvé rio, nã o passam de sombras em
relaçã o ao que teve de sofrer por causa da instituiçã o do consulta
famosa. Do ponto de vista humano, quando foi a La Peñ uela, deixou
para trá s toda a obra de sua vida, como o Salvador quando foi
conduzido algemado do Monte das Oliveiras a Jerusalé m.
A solidã o montanhosa de La Peñ uela era apenas uma pausa, um sopro
antes da subida de Calvario. Eles nã o o deixam viver para si mesmo. Os
religiosos estã o felizes por ter o Pai da Reforma entre eles. O prior
implorou-lhe que assumisse a liderança espiritual da
comunidade. Auxilia na recreaçã o, mas mostra que até agora tem
permanecido em profunda oraçã o. Antes do amanhecer, ele vai ao
jardim e ali se ajoelha ao lado dos salgueiros nas margens do riacho, até
que o calor do sol o avisa que é hora de celebrar a Santa Missa. Depois
de celebrar, retira-se para sua cela e ali todo o tempo dedicado à oraçã o,
quando permitido pelas obrigaçõ es da vida cotidiana.
As vezes ele vai para o eremité rio e lá permanece em ê xtase em
Deus. Uma testemunha a irma que durante esse tempo també m se
ocupou em escrever livros espirituais. (Nã o sabemos a quais livros ele
pode se referir, já que seus grandes tratados já haviam sido
concluı́dos). As pedras eram uma companhia agradá vel para ele. E
dizia: “entre pedras sou melhor do que entre homens” e tenho menos a
confessar.
As notı́cias que lhe chegaram de fora eram adequadas para destruir a
tranquilidade e o isolamento. O Padre Juan Evangelista escreveu-lhe
contando sobre os abusos que o Padre Diego Evangelista se permitira
nos mosteiros das Carmelitas da Andaluzia, para extrair dos religiosos
acusaçõ es contra o Santo. (Naquela é poca, Irmã Agustina de San José ,
para evitar que caı́sse nas mã os do Padre Diego, foi obrigada a queimar
um grande maço de cartas do Santo, que ela apreciava "como as
Epı́stolas de Sã o Paulo", bem como um caderno com anotaçõ es de suas
palestras e conversas). O P. Nicolá s Doria, perante as queixas que lhe
chegaram sobre a forma de proceder do P. Diego, declarou que nã o lhe
tinha incumbido de fazê -lo, mas nã o punia os culpados. Ele era e
continuou a ser seu amigo iel. Sã o Joã o da Cruz havia repreendido
duramente este Padre, porque na ocasiã o da pregaçã o ele passava
meses inteiros fora do convento. Agora ele queria aproveitar a
oportunidade para se vingar. Alguns meses depois, o Santo já morto,
declarou que pela morte teria tirado o há bito e sido expulso da Ordem.
Temendo isso, um dos ilhos mais ié is do Pai da Reforma, o Padre Juan
de Santa Ana, o advertiu sobre isso e recebeu a seguinte resposta do
Santo: “Filho, nã o se desculpe por isso, porque o há bito eles nã o podem
tirar senã o porque sã o incorrigı́veis ou desobedientes, e eu estou muito
pronto para reparar tudo o que eu errei e obedecer a qualquer
penitê ncia que eles me derem. "
“Escreveu ao P. Juan Evangelista que estava longe de sofrer com todas
estas coisas, mas que serviam de ensinamento pelo amor de Deus e do
pró ximo ...”. Nesta "sagrada solidã o" gozava imperturbá vel da paz
interior e quando a febre o obrigava a abandoná -la, o fez "com a
intençã o de voltar aqui mais tarde, para que nesta sagrada solidã o me
encontre muito bem".
Assim como nã o escolheu sua residê ncia em La Peñ uela, mas se deixou
nas mã os da santa obediê ncia, agora nã o quer pedir um lugar especı́ ico
para curar. Eles permitem que você escolha entre Baeza e Ubeda. Baeza
era o colé gio por ele fundado e no qual o aguardava de braços abertos o
prior, seu iel ilho, o padre Angel de la Presentation. Em vez disso,
como Superior de Ubeda estava o P. Francisco Crisó stomo, que, pelas
mesmas razõ es do P. Diego, se tornara seu inimigo. Sendo assim, a
escolha nã o foi duvidosa: escolheu Ubeda. Como o convento era de
fundaçã o recente e pobre e també m ali totalmente desconhecido,
esperava "com mais conforto e mé rito sofrer o trabalho da doença".
Em 22 de setembro de 1591, montou uma torneira que um amigo
colocou à sua disposiçã o e empreendeu a ú ltima viagem de sua vida. Foi
uma verdadeira provaçã o. Por vá rios dias ele nã o foi capaz de comer
nada ú til e mal conseguia se manter na cadeira por causa de sua
fraqueza. Sua perna doente doı́a como se tivesse sido cortada; ela era a
causa da doença. Primeiro ela havia inchado, e depois cinco feridas
purulentas se abriram, dando ao Santo a oportunidade de dirigir esta
oraçã o a Deus: "Muito obrigado, meu Senhor Jesus Cristo, que as cinco
feridas que Vossa Majestade teve nos pé s, mã os e Vossa Majestade quis
dar-me com este só pé ; onde é que eu merecia tanta misericó rdia? E,
apesar das grandes dores, ela nã o se queixava, mas carregava tudo com
muita paciê ncia.
Sob essas condiçõ es, deve percorrer trilhas de montanha de sete
milhas. Ele é forçado a se mover lentamente. Deus fala com o irmã o que
o acompanha. Quando ele tinha andado trê s lé guas, propõ e
companheiros altas margens do Guadalimar: "A sombra desta ponte
pode descansar um pouco sua paternidade, a alegria de ver a á gua vai
aguçar o apetite e pode comer qualquer coisa", disse ele parceiro. "Um
descanso gosto respondeu o santo, porque eu precisar dele, mas como
para comer tudo o que Deus tem levantado só come aspargos se
houver". O irmã o a ajudou a se sentar no chã o. E entã o ele percebeu que
em uma pedra havia um bando de espargos, amarrado com uma corda,
para trazê -los para o mercado. O irmã o achou que era um milagre, mas
o Santo nã o quis ouvir sobre isso. Mandou chamar o dono, e ningué m
apareceu, deixou um quarto sobre a pedra como compensaçã o.
Ao cabo de duas horas chegue a Ubeda. Prior recebe o doente e aponta
a cela menor e mais pobre. O mé dico, advogado Ambrosio de Villarreal,
examinou as feridas. Erisipela diagnosticada com focos purulentos. uma
intervençã o dolorosa é necessá ria. O cirurgiã o quer dar a origem exata
do mal e a perna se abre, revelando os ossos do calcanhar ao meio da
panturrilha. Tomado por uma dor terrı́vel, o paciente pergunta: "O que
você fez, senhor Licenciado?" Contempla a ferida e exclama: "Jesus, que
fez" Mais tarde, o mé dico disse ao Padre Juan Evangelista que Santo
havia sofrido as maiores dores que pode sofrer com paciê ncia
inimitá vel. També m na frente dos outros, ele expressou admiraçã o que
o paciente sofreu tanta calma e alegria, e a irmou que "Fray Juan de la
Cruz foi grande santo, porque ele sentia tanta dor e de modo contı́nuo e
com tanta paciê ncia nã o era possı́vel a sofrer-los e sofrer-los sem
reclamar, se nã o fosse santa e nã o tem um monte de amor a Deus e
ajuda dos cé us. " Esta mesma impressã o esteve presente.
Os religiosos consideravam uma graça especial de Deus ter tal exemplo
entre eles. Apenas o prior permaneceu implacá vel. Quando o visitou, foi
apenas para censurá -lo pelo tratamento que lhe dispensara quando Sã o
Joã o da Cruz era Vigá rio Provincial da Andaluzia. Ele nã o podia ver
religiosos e estranhos competindo para aliviar a tortura do paciente. (A
esta altura era inú til a preocupaçã o do Santo de escolher um lugar onde
era desconhecido: a santidade nã o pode esconder-se a ponto de nã o
encontrar admiradores).
Dom Fernando Dı́az de Ubeda o tinha ouvido um dia, quando a
fundaçã o de La Mancha pregava o Evangelho, e desde entã o depositou
nele toda a sua con iança. Assim que soube da chegada do paciente,
visitou-o e desde entã o passou a vê -lo todos os dias, e até trê s a quatro
vezes ao dia. Um dia o prior o encontrou, quando queria tirar os
curativos do santo para lavá -los. Algumas mulheres piedosas icaram
felizes por poder prestar este serviço. Eles foram recompensados com
um perfume maravilhoso que luiu das telas impregnadas de pus.
O prior proibiu D. Fernando de se preocupar com isso, porque ele
pró prio se encarregaria deste serviço. Ouviu-se queixar-se
frequentemente dos gastos incorridos com o cuidado dos enfermos e
do uso de medicamentos. O padre Diego de la Concepció n, prior de La
Peñ uela, enviou a Ubeda seis alqueires de trigo para a comunidade e
seis galinhas para os enfermos. O padre Bernardo de la Virgen, seu
enfermeiro, pô de coletar diariamente evidê ncias da hostilidade do
prior para com o santo. Mandou que ningué m o visitasse sem a sua
autorizaçã o e, por im, proibiu o Padre Bernardo de cuidar dele, por
considerar que estava cuidando demais dele.
A enfermeira mandava notı́cias de tudo ao Provincial de Andaluzia, que
era o velho Antonio de Jesú s, ex-companheiro do Santo nos dias de
Duruelo. Apressou-se em ir a Ubeda remediar, icando lá seis ou sete
dias. Ele repreendeu o prior duramente e ordenou aos outros que
visitassem e ajudassem os enfermos tanto quanto possı́vel. Padre
Bernardo foi substituı́do no cargo de enfermeiro com a ordem de cuidar
dele com o maior amor, e se o Prior lhe negasse o que fosse necessá rio,
era obrigado a avisar o Provincial e, entretanto, teve que pedir
emprestado o dinheiro. Em todas essas circunstâ ncias, nem uma ú nica
reclamaçã o da inimizade do Prior foi ouvida do Santo, e ele suportou
tudo "com a paciê ncia de um santo".
Padre Antonio esteve presente na primeira operaçã o. Quando quis
consolar os enfermos, o Santo se desculpou: "Pai, perdoa-me que nã o
posso te responder, que estou me consumindo de dor". E, no entanto,
suas dores corporais nã o atingiram o grau mais alto. Novos abscessos
se formaram em suas costas e quadris. O mé dico desculpou-se antes de
uma nova intervençã o: "Nada importa, se necessá rio", disse este novo
Job. E isso o encorajou a continuar. Toda dor e sofrimento ele
considerou como graças divinas. Nas cartas que escreveu de seu leito
elas nã o chegaram até nó s, mas sabemos delas pelo depoimento das
testemunhas - ele fala da alegria de sofrer pelo Senhor. As dores no
corpo nã o o impediram de mergulhar na oraçã o.
As vezes implorava ao jovem enfermeiro Frei Lucas del Espı́ritu Santo
que o deixasse sozinho, nã o para dormir, acrescenta aquele que nos dá
a notı́cia, mas para se envolver com maior ardor na contemplaçã o das
coisas divinas. Quando a enfermeira percebeu isso, ele nã o apenas saiu,
mas à s vezes dispensou os visitantes. O mé dico també m foi
compreensivo a este respeito: “Que o Santo reze”; Ele disse: “Quando
ele acordar, nó s o curaremos”.
Este mé dico foi completamente transformado ao lado do paciente. O
Santo enviou-lhe um exemplar da Chama escrita com sua pró pria
caligra ia, na qual ele mais tarde leu para consolo. A cada dia, o vé u que
ocultava a gló ria do cé u de sua alma tornava-se mais transparente e
mais esplendores o atravessavam. O mé dico anuncia ao paciente sua
morte iminente. Sua resposta é um grito de alegria que Laetatus soma
em seu quae dicta sunt mihi: in domum Domini ibimus (Sl 122,1). Os
religiosos indicam-lhe a conveniê ncia de administrar o viá tico; mas ele
responde que os avisará quando chegar a hora. Desde a vé spera da
Conceiçã o, ele sabia o dia e a hora de sua morte. Ele descobriu isso
dizendo: "Louvado seja a Senhora, que quer que eu saia da vida no
sá bado." E quando chegou o dia de sua morte, ele anunciou: "Gló ria a
Deus que esta noite eu tenho que ir rezar matinas ao cé u."
Dois dias antes de sua morte, ele queimou todas as suas cartas em uma
grande quantidade em uma vela - porque ele disse que era um pecado
ser seu amigo. Na tarde de quinta-feira, ele recebeu o santo Viá tico. A
quem pedisse uma lembrança, referia-se ao Superior, porque era pobre
e nã o possuı́a nada. Chamou o Prior, P. Francisco Crisó stomo, e pediu-
lhe perdã o por todos os seus pecados e rogou-lhe: “Pai nosso, é o há bito
da Virgem que iz usar; sou pobre e nã o tenho nada para enterrar eu
mesmo, com o amor de Deus, peço a Vossa Reverê ncia que me dê isso
como esmola ”. “O Prior o abençoou e saiu da cela. Parece que neste
momento a resistê ncia interior de sua alma ainda nã o havia sido
quebrada. Mas, inalmente, como o ladrã o arrependido, ele caiu
chorando aos pé s do moribundo e pediu por perdã o, porque o seu
“Pobre convento” nã o tinha podido oferecer-lhe mais alı́vio durante a
sua doença. ”Padre Prior, o enfermo responde, sou feliz e tenho mais do
que mereço ... tenha con iança em nosso Senhor, o que chegará a hora
em que esta casa terá o que for preciso ".
Na manhã do dia 13 de dezembro, ele perguntou que dia era e como
eles responderam aquela sexta-feira, vá rias vezes durante o dia, ele se
interessou pelo horá rio: esperava ir cantar as matinas no cé u. Neste
ú ltimo dia de sua vida, ele estava mais silencioso e controlado do que
de costume. Na maior parte do tempo, ele mantinha os olhos
fechados. Ao abri-los, ixou-os amorosamente em um cruci ixo de
cobre. Por volta das trê s horas, implorou que, antes de morrer, o
levassem ao P. Sebastiá n de San Hilario. Tratava-se de um jovem padre a
quem dera o há bito em Baeza, e que entã o adoecia com febre numa cela
pró xima à do Santo. Foi levado ao de Sã o Joã o da Cruz e aı́ permaneceu
cerca de meia hora.
O Santo tinha algo muito importante para lhe comunicar: «Pe.
Sebastiá n, Vossa Reverê ncia para ser eleito Superior da Ordem. Ouve
com atençã o o que te vou dizer e comunica aos Superiores, avisando-os
de que foi revelado a você antes de morrer. " Foi algo de particular
interesse para o desenvolvimento da Provı́ncia. As cinco horas ele deu
um grito de alegria exclamando: "Estou feliz porque, sem merecer,
estarei no cé u esta noite." Ele pediu a Extrema Unçã o, que recebeu com
grande devoçã o; e durante isso ele respondeu à s oraçõ es do
padre. Antes de sua sú plica insistente, o Santı́ssimo Sacramento foi
trazido a ele novamente para adorá -lo. "Ele disse ... muitas coisas de
ternura e devoçã o e, dizendo adeus, disse: Sim, Senhor, eu nã o tenho
que te ver novamente com olhos mortais."
O padre Antonio de Jesú s e alguns dos mais velhos queriam zelar por
ele, mas ele nã o permitiu. Eu ligaria para eles quando chegasse a
hora. Quando deram a notı́cia, disse com ansiedade: "Ainda tenho trê s
horas: incolatus meus prolongatus est" (Sl 119,5). Padre Sebastiá n
ainda o ouvia dizer que havia obtido trê s graças do Senhor: nã o morrer
Superior; morrendo em um lugar onde era desconhecido e depois de
ter sofrido muito. Entã o ele estava imerso em pensamentos e tã o
quieto, que pensaram que ele estava morto. Mais logo voltou a si e
beijou os pé s de seu Cristo. As dez horas ele ouviu os sinos das freiras
tocando. Ele perguntou o que eles estavam chamando. Eles
responderam que eram as freiras que iam cantar as matinas. "E eu
respondi - pela misericó rdia de Deus irei cantá -los com Nossa Senhora,
no cé u." Por volta das onze e meia, ele mandou chamar os
Padres. Participaram cerca de 14 ou 15 religiosas que se preparavam
para as matinas e penduraram suas lâ mpadas nas paredes da cela.
Questionado sobre como estava, agarrou a corda que pendia do teto e
que servia para facilitar os movimentos do paciente, levantou-se e
disse: "Quer que a gente diga o salmo De Profundis, que sou muito
valente?" O Santo começou e os outros responderam. Assim
continuou. “E ele estava neste momento ... com um rosto muito sereno,
bonito e alegre”, diz o Padre Fernando de la Madre de Dios, que era
Superior. Dessa forma, eles oraram "Nã o sei quantos salmos"; diz
Francisco Garcı́a. Eles eram os salmos penitenciais, que precedem a
recomendaçã o da alma. Quanto a saber se esses salmos terminaram e
onde o Santo interrompeu sua oraçã o, os testemunhos nã o estã o de
acordo. Ele se sentiu cansado e deitou-se novamente. Ele ainda tinha
um ú ltimo desejo; peça a algué m que leia para ele algo do Câ ntico dos
Câ nticos; o prior decidiu agradá -lo. "Que pedras preciosas!" exclamou o
moribundo. Foi a cançã o de amor que o acompanhou ao longo de sua
vida.
Ele perguntou novamente pelo tempo. Tinha batido meia-
noite. "Naquela hora estarei diante de Deus para orar as
matinas." Padre Antonio lhe diz para consolá -lo: “Lembra-te das obras
que izemos e das obras que sofremos nos princı́pios da Religiã o”. O
Santo respondeu: "Deus sabe o que aconteceu!" Mas nã o quer con iar
nos seus mé ritos: "Pai nosso, nã o é hora para isso; pelos mé ritos de
Cristo nosso Senhor espero salvar-me".
Os religiosos pedem a bê nçã o e por ordem do Padre Provincial a
concede. Ele os exorta a serem verdadeiramente obedientes e religiosos
perfeitos.
Pouco antes da meia-noite ele entrega seu santo Cristo a um dos
espectadores, provavelmente a Francisco Dı́az. Ele queria suas mã os
livres para matar seu corpo bem composto. Logo ele o pegou
novamente e disse adeus com palavras ternas ao Cruci icado, como
antes do Santı́ssimo Sacramento.
Doze sinos soaram na torre. O moribundo disse: "Irmã o Diego, dê o
sinal para ligar para as matinas, agora é a hora." Francisco Garcı́a, que
era jogador naquela semana, saiu. Juan ouviu o barulho e disse,
segurando a cruz nas mã os: "in manus tuas, Domine, commendo
spiritum meum." Um olhar de despedida, um ú ltimo beijo ao Cruci ixo,
e ele apareceu diante do trono do Senhor para cantar matinas com os
coros angelicais.

Esta morte nã o tem alguma semelhança com a liberdade divina com a
qual Cristo curvou sua cabeça na cruz? E assim como naquela primeira
Sexta-feira Santa os pressá gios e milagres anunciaram que era
realmente o Filho de Deus que havia morrido na cruz, també m nesta
ocasiã o o cé u deu testemunho de que um servo bom e iel havia entrado
na gló ria de seu Senhor.
Entre nove e dez da noite, enquanto a maior parte dos religiosos,
segundo a vontade do santo, se retirava para descansar, Francisco
Garcı́a aproximou-se da cabeceira da cama, ajoelhando-se entre ela e a
parede para rezar o seu terço. Entã o lhe ocorreu que talvez tivesse a
felicidade de ver algo do que o Santo estava contemplando. Enquanto os
padres recitavam os salmos, ele de repente viu um globo de luz entre o
teto da cela e os pé s da cama. Ela brilhou com tal brilho que obscureceu
as quatorze ou quinze lâ mpadas religiosas e as velas do altar. Quando o
Santo expirou, o irmã o Diego o segurou nos braços e viu uma luz que
envolvia a cama. "Brilhava como o sol e a lua e as luzes do altar e as
duas velas pareciam estar envoltas em uma nuvem e nã o brilharem." Só
entã o o irmã o Diego percebeu que o santo estava sem vida em seus
braços. “O nosso Pai subiu ao cé u com esta luz”, disse aos que o
cercavam, e quando mais tarde, junto com o Padre Francisco e o irmã o
Mateo, izeram o corpo do Santo, perceberam que saı́a um suave
perfume. .

Você também pode gostar