Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Escola Tomista
Professor Carlos Nougué
Aula 13
Bem-Vindos à aula 13 da Escola Tomista. Introdução à Lógica III. Não nos
percamos. Relembre-se, com o documento da aula passada em mãos, que
estamos ainda no Sed Contra (Mas contrariamente) de nossa longa questão
disputada para saber se a Lógica é uma disciplina à parte. Pois bem, esta é a
segunda e última parte deste Sed Contra.
Isto, no entanto, não deixou de ter suas marcas negativas no âmbito desta
mesma doutrina cristã inicial, cujo marco foi Santo Agostinho. Como quer que
seja, as invasões bárbaras durante o século V e VI derruíram o Império
Romano, que lhes parecia a todos A Civilização. Civilização igual a Império
Romano. E esta mesma civilização fora a que lhes permitira aos nossos
Doutores cristãos o uso da filosofia, o uso da doutrina de mestres gregos e
romanos. É bem verdade que o grande Boécio, neoplatônico cristão, pôde
traduzir e comentar grande parte da obra de Aristóteles. Mas, boa parte de sua
obra também se perderá. Pois bem, com a queda do Império Romano e as
Escola Tomista – Apenas para uso dos alunos Página | 2
Pois bem, a luta entre dialéticos e não dialéticos foi acirrada. Entre os
dialéticos, não raro, se incorria em heresias. Mas, do lado dos não dialéticos,
que não o eram completamente, estavam São Pedro Damião ou um São
Bernardo de Clairvaux. Não é que eles fossem contra o uso da filosofia a
serviço da teologia, mas, especialmente em São Pedro Damião, não deixou de
haver exageros opostos aos exageros dos dialéticos (com uma diferença: os
dialéticos incorriam em heresias, e foram condenados em concílios). Vê-se que
não foi simples a história do desenvolvimento do pensamento cristão. Uma
coisa que há que registrar é que os pensadores cristãos de então nunca
pretenderam ser uma novidade absoluta; eram duplamente humildes, porque
reconheciam, por um lado, que a filosofia clássica era grande e que eles
deviam preservá-la de algum modo, e porque tentavam sempre submeter-se à
Revelação.
Pois bem, tudo isso decorreu de uma história complexíssima. Foi preciso
surgir, no século XII, a Escola de Tradutores de Toledo, cujo responsável era
Gundisalvo, e que teve o mérito não só de traduzir algumas obras lógicas do
árabe para o latim, mas também de traduzir as obras não lógicas de
Aristóteles. Isso contribuirá para que o esquema frágil das sete artes liberais
perdesse solidez. Isso se vai refletir nas universidades. Assim, havia, por
exemplo, quatro faculdades na Universidade de Paris: a faculdade das artes, a
faculdade de teologia, a de direito canônico e a de medicina. Pois bem, isso se
refletirá na faculdade das artes, que é prévia às demais Então, esta faculdade
das artes, que começa por ensinar o Trivium e o Quadrivium, acaba por
transformar-se, sem deixar de ensinar o Trivium, numa faculdade de filosofia.
Mas, deixemos como estão estas informações, e voltemos a Santo Anselmo.
Santo Anselmo fica antes com Platão contra aquele nominalismo que se dava
em Roscelino e em Abelardo. Para esses homens, cuja doutrina foi condenada
pela Igreja, os universais se resumiam, de algum modo, a palavras. Não será
muito diferente o que dirá Guilherme de Ockham posteriormente a Santo
Tomás e Duns Scot. Para Santo Anselmo existem realmente os universais, por
isso era Santo Anselmo um realista. Claro, o neoplatonismo já havia sido
corrigido. Não é que as idéias existam à parte, é que elas existem na mente de
Deus desde toda eternidade; existem em Deus, em vez de existirem, como no
mito do Timeu de Platão, independentemente e superiores ao próprio
Demiurgo. Esse deslocamento das idéias platônicas para a mente de Deus
salva, de toda e qualquer resto de heresia, a doutrina dos nossos Padres e
Doutores.
Dizia Boécio, indo além dessa querela apresentada por Porfírio, que os
universais ou são coisas ou palavras. Que sejam palavras foi o adotado pelos
Escola Tomista – Apenas para uso dos alunos Página | 5
Com todo esse trabalho, Cardeal Caetano faz que o tomismo tenha grande
peso na segunda escolástica. O que é a segunda escolástica? É a pós-
tridentina. É enorme o peso do tomismo nessa segunda escolástica. Entre os
tomistas mais importantes dessa segunda escolástica está João de Santo
Tomás, que é, entre os tomistas pós Santo Tomás, aquele que mais
aprofundou a Lógica. Sucede, porém, que ele opera algumas deformações na
doutrina lógica de Santo Tomás. João de Santo Tomás, a par de seus desvios,
tampouco resolve bem a questão de se a Lógica é arte ou ciência. Pois bem,
estamos com a figura imensa de João de Santo Tomás, com todos seus
defeitos, a par do fim da Lógica propriamente dita no âmbito das doutrinas
filosóficas modernas; aí a Lógica, no máximo, será uma casca oca, em grande
parte por Kant, que deforma as Categorias de Aristóteles a tal ponto que as
torna irreconhecíveis.