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CONFRARIA DE ARTES LIBERAIS


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LÓGICA

SOBRE O JUÍZO

Joseph Gredt. Elementos de Filosofia Aristotélico-Tomista, nn. 26-27

§ 1. Sobre o juízo mesmo.

Iudicii notio. – Iudicium definitur: actio 26 Noção de juízo. – O juízo define-se: a ação
intellectus, qua componit vel dividit do intelecto pela qual compõe ou divide
afirmando vel negando. – Explicatur afirmando ou negando. – A definição
definitio: Dupliciter potest intellectus explica-se: o intelecto pode compor e dividir
componere et dividere: a) simpliciter sibi de dois modos: a) simplesmente
repraesentando rerum aggregatum, quin representando a si um agregado de coisas,
quidquam affirmet vel neget – simplex sem que nada afirme ou negue – simples
apprehensio complexa: homo doctus, leo apreensão complexa: homem douto, leão que
rugiens; intellectus hoc modo simpliciter rugiente; o intelecto pode, desse modo,
apprehendere potest integram apreender simplesmente a proposição
propositionem; b) afirmando et negando. inteira; b) afirmando e negando. A essência
In affirmatione vel negatione seu in do juízo consiste na a afirmação ou negação,
sententia, quam fert intellectus ou antes, na sentença, que o intelecto
perspiciendo convenientiam vel concebe percebendo a conveniência ou
discrepantiam duorum conceptuum inter discrepância de dois conceitos entre si.
se, consistit essentia iudicii. Em todo juízo, distinguimos a matéria, ou
In omni iudicio distinguimus materiam antes, aquelas coisas que são compostas ou
seu ea, quae componuntur vel separantur separadas entre si: Sujeito e Predicado, e a
ad invicem: Subiectum et Praedicatum, et forma: composição ou divisão. O sujeito e o
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formam: compositionem vel divisionem. predicado também se dizem extremos do


S et P etiam extrema iudicii dicuntur. S se juízo. O sujeito tem-se materialmente, e o
se habet materialiter, P formaliter. Sicut predicado formalmente. Com efeito, assim
enim materia determinatur per formam, como a matéria é determinada pela forma
quam recipit, ita S determinatur Pº. Quare que recebe, o sujeito é determinado pelo
P dici potest forma partialis iudicii; forma predicado. Portanto, o predicado se pode
vero totalis est unio, compositio vel dizer forma parcial do juízo; mas a forma
divisio. total é a união, composição ou divisão.
Ad iudicium tria praerequiruntur: a) Três coisas são pré-requeridas para o juízo:
apprehensio subiecti et praedicati; b) a) a apreensão do sujeito e do predicado; b)
eorum comparatio; c) simplex sua comparação; c) a simples apreensão
apprehensio conotativa qua, per modum conotativa pela qual, por modo de simples
simplicis repraesentationis, cognoscitur representação, se conhece o predicado
praedicatum ut conveniens vel discrepans enquanto conveniente ou discrepante com o
cum subiecto, quin tamen esse huius sujeito, sem, porém, que essa conveniência
convenientiae vel discrepantiae ou discrepância seja enunciada: apreensão
enuntietur: apprehensio praedicabilitatis. da predicabilidade. A predicação, ou antes, o
Apprehensionem hanc praedicabilitatis juízo, segue imediatamente essa apreensão
immediate sequitur praedicatio seu da predicabilidade (cf. n. 659). A
iudicium (cf. n. 659). Convenientia et conveniência e a discrepância entre o sujeito
discrepantia inter S et P cognoscitur aut e o predicado é conhecida ou imediatamente,
immediate aut mediate ope tertii termini1. ou mediatamente por um terceiro termo. Se é
Si cognoscitur ope tertii termini, iudicium conhecida por um terceiro termo, o juízo que
exinde secutum non est simplex iudicium, se segue daí não é um juízo simples, mas o
sed iudicium conclusum seu conclusio. Si juízo concluso, ou antes, uma conclusão. Se
cognoscitur immediate, aut ex ipsis é conhecido imediatamente, ou é conhecido
terminis cognoscitur, quatenus termini a partir dos termos mesmos, enquanto os
ipsi se conotant ad invicem (sicut se termos mesmos se conotam entre si (como
conotant totum et pars, qua conotatione se conotam o todo e a parte. Percebida essa

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Ou mediatamente a partir da autoridade; e assim a relação entre o sujeito e o predicado não é conhecida, mas é
acreditada.
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percepta formatur iudicium: totum maius conotação, forma-se o juízo: o todo é maior
est sua parte), aut ex experientia). que a sua parte) ou a partir da experiência.
Iudicium potest considerari logice et O juízo pode ser considerado logicamente e
physice. Iudicium logice consideratum (ut fisicamente. O juízo considerado
artefactum logicum) est aliquid complexi, logicamente (enquanto artefato lógico) é
quod tamquam ex materia constat ex Pº et algo complexo que consta de predicado e
Sº, quae uniuntur vel separantur, i. e. sujeito como de matéria, que são unidas ou
relationibus rationis identitatis vel separadas, isto é, se referem por uma relação
discrepantiae ad invicem referuntur, in de razão de identidade ou discrepância, na
quo eius forma consistit. Physice qual consiste sua forma. Mas fisicamente o
veroiudicium est simplex actus, quo mens juízo é um ato simples, pelo qual a mente,
perspiciendo convenientiam vel percebendo a conveniência ou discrepância
discrepantiam inter S et P pronuntiat ea entre o sujeito e o predicado, pronuncia que
convenire vel non convenireinter se. eles convêm ou não convêm entre si. O
Intellectus autem perspiciendo hanc intelecto percebendo essa conveniência ou
convenientiam vel discrepantiam duorum discrepância de dois conceitos, produz um
conceptuum producit novum conceptum novo conceito que representa essa
repraesentativum huius convenientiae vel conveniência ou discrepância. Portanto,
discrepantiae. Quare, sicut in simplici assim como na simples apreensão, também
apprehensione, ita etiam in iudicio no juízo devem ser distinguidos o ato e o
distinguendus est actus et terminus seu termo, ou antes, o conceito por ele
conceptus ab eo productus. produzido.

Nota. – Iudicium, quod componendo et Nota. – O juízo que se faz compondo e


dividendo fit, imperfectionem arguit in dividindo, manifesta uma imperfeição do
intellectu, qui non statim único actu totam intelecto, que não penetra imediatamente por
rem penetrat, sed pluribus actibus indiget. um único ato toda a coisa, mas necessita de
Quare proprium est intellectus imperfecti, vários atos. Portanto, é próprio do intelecto
humani; intellectus vero perfectus, imperfeito humano; mas o intelecto perfeito,
angelicus nimirum et divinus, non iudicat o angélico e, evidentemente, o divino, não
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componendo et dividendo, sed statim julga compondo e dividindo, mas


simplici apprehensione perfecta totam imediatamente, pela simples apreensão
rem cum attributis suis comprehendit. perfeita, compreende toda a coisa com seus
atributos.

Iudicii proprietas. – Proprium est iudicio 27 Propriedade do juízo – É próprio do juízo


continere veritatem vel falsitatem logicam conter a verdade ou falsidade lógica, ou
seu cognitionis. Haec proprietas ex antes, do conhecimento. Essa propriedade é
essentia iudicii immediate derivatur: derivada imediatamente da essência do
Veritas logica eo habetur, quod res ita juízo: a verdade lógica se tem de que a coisa
esse mente enuntiatur sicut revera est; é enunciada pela mente ser assim como é
falsitas eo, quod res esse enuntiatur sicut realmente; a falsidade de que a coisa é
non est, aut viceversa, non esse enuntiatur enunciada ser como não é, ou vice-versa, é
sicut est. Hoc autem in omni iudicio et enunciada não ser como é. Ora, isso se tem
nonnisi in iudicio habetur. Nam in em todo juízo e somente no juízo. Pois na
simplici apprehensione mens est simples apreensão a mente é adequada à
adaequata rei, sed suam adaequationem coisa, mas não conhece a sua adequação, e,
non cognoscit ac proinde neque enuntiat portanto, não enuncia que a coisa é assim
rem esse sicut revera est. Quare simplici como é realmente. Portanto, pela simples
apprehensione nondum habetur veritas lo apreensão ainda não se tem a verdade lógica,
gica, sicut terminis, qui ore proferuntur, assim como os termos, que são proferidos
nondum significatur verum et falsum, si pela boca, ainda não significam o verdadeiro
hi termini in propositione non e o falso se estes termos não são unidos na
coniunguntur. proposição.
Cum sit proprium iudicii continere Como é próprio do juízo conter verdade ou
veritatem aut falsitatem, seu esse verum falsidade, ou antes, ser verdadeiro ou falso, a
aut falsum, ipsa veritas et falsitas verdade e a falsidade mesmas são acidentes
accidentia sunt iudicii. Hoc ex eo patet, do juízo. Isso é patente do fato de que o
quod iudicium est verum aut falsum. juízo é verdadeiro ou falso.
Cum iudicium in signo suo sensili, quod Como o juízo é mais claro para nós em seu
est enuntiatio, melius nobis pateat ac signo sensível, que é a enunciação, e é
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iisdem omnino divisionibus dividatur, dividido pelas mesmas divisões, as divisões


iudicii divisiones recensentur infra, ubi de do juízo são examinadas abaixo, onde se
enuntiationis divisione agitur (n. 40). trata da divisão da enunciação (n. 40).

CAPÍTULO II.

SOBRE A EXISTÊNCIA DA VERDADE NA MENTE HUMANA

QUESTÃO I: Sobre os modos pelos quais a mente pode se achar quanto a uma verdade
a ser possuída.

Quotuplici modo mens humana habere 663 De quantos modos a mente pode se achar
se possit ad veritatem possidendam. – quanto a uma verdade a ser possuída. –
Intellectus noster quoad veritatem O nosso intelecto pode se achar quanto a
aliquam possidendam potest esse aut in uma verdade a ser possuída ou em pura
pura potentia, ita ut veritatem illam potência, de modo que não possua
omnino non possideat neque ullum absolutamente aquela verdade, nem tenha
habeat actum, quod appropinquet veritati nenhum ato que a aproxime da verdade a
possidendae; aut in actu sive imperfecto, ser possuída; ou em ato, seja imperfeito,
quo appropinquat ad veritatem pelo qual se aproxima à verdade a ser
possidendam, sive perfecto, quo possuída, seja perfeito, pelo qual possui a
veritatem perfecte possidet. Status purae verdade perfeitamente. O estado de pura
potentiae, in quo versatur intellectus, potência em que se encontra o intelecto tem
habet aut rationem merae negationis, ou a razão de mera negação, quando o
cum intellectus non est capax veritatis, de intelecto não é capaz de conhecer a verdade
qua agitur, cognoscendae, aut privationis, de que se trata, ou de privação, quando o
cum intellectus capax est veritatis intelecto é capaz de conhecer a verdade.
cognoscendae. Haec privatio est aut Esta privação é ou a ignorância, ou o erro,
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ignorantia aut error, quatenus intellectus enquanto o intelectoo não tem ou tem um
non habet aut habet iudicium, sed falsum juízo, mas falso, ou antes, não adequado à
seu non adaequatum rei. Actus autem realidade. Agora, o ato imperfeito acerca de
imperfectus circa veritatem est aut uma verdade é ou a dúvida, quando o
dubium, cum intellectus versatur circa intelecto se encontra, acerca da verdade,
veritatem sine assensu seu iudicio, quo sem um assenso, ou antes, juízo, pelo qual
unam partem contradictorii, de quo admitiria uma parte do contraditório antes
agitur, admitteret prae alia; aut opinio, da outra; ou é a opinião, quando se
cum versatur circa veritatem cum assenso encontra, acerca da verdade, com um
seu iudicio, quo admittit unam partem, assenso, ou antes, juízo, pelo qual admite
sed infirmo, i. e. cum formidine uma parte, mas sem firmeza, isto é, com
contradictorii. Actus perfectus in virtute temor do contraditório. O ato perfeito em
cuius intellectus veritatem perfecte virtude do qual o intelecto possui uma
possidet, est certitudo. verdade perfeitamente é a certeza.

Quid sit nescientia, ignorantia, error, 664 Que são a nesciência, a ignorância, o erro
dubium. – Nescientia est carentia e a dúvida. – A nesciência é a carência de
cognitionis non debitae. Ignorantia est um conhecimento não devido. A ignorância
carentia cognitionis debitae. Haec é a carência de um conhecimento devido.
privatio, illa mera negativo. – Error est Esta é uma privação, aquela, mera negação.
status, quo intellectus approbat falsa pro – O erro é o estado pelo qual o intelecto
veris. – Dubium est status, quo intellectus admite coisas falsas como verdadeiras. – A
fluctuat inter duas partes contradictorii dúvida é o estado pelo qual o intelecto
nec magis quam ad aliam inclinatur. In flutua entre duas partes do contraditório não
dubio intelellectus iudicando unam se inclinando mais a uma que a outra. Na
partem prae alia contradictorii, de quo dúvida, o intelecto, julgando, não admite
agitur, non admittit aut ex defectu uma parte antes da outra, ou por falta
moventium, cum non apparent rationes daquilo que o move, quando não aparecem
neque pro uma neque pro altera parte – razões nem para uma parte, nem para a
dubium negativum; aut ex aequalitate outra – dúvida negativa; ou por sua
eorum, cum rationes apparent aequales igualdade, quando as razões parecem iguais
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pro utraque parte – dubium positivum. para ambas as partes – dúvida positiva.
Etiam dubium negativum est actus Também a dúvida negativa é um ato
imperfectus circa veritatem, quo mens ad imperfeito acerca da verdade, pelo qual a
eius possessionem appropinquat, quia mente se aproxima de sua possessão,
deliberat de re, de qua agitur, porque delibera sobre a coisa de que se
considerando eam secundum diversas trata, considerando-a segundo diversas
partes. partes.

Quid sit opinio – Opinio definitur: 665 Que é a opinião. – A opinião define-se: o
assensus in unam partem contradictorii assenso em uma parte do contraditório por
ob rationem vel motivum probabile cum razão ou motivo provável, com temor da
formidine partis oppositae. Ab opinione parte oposta. Não se distingue
essentialiter non distinguitur suspicio, essencialmente da opinião a suspeita, que é
quae est assensus inclinans in aliquam o assenso que inclina a uma parte pro algum
partem ex aliquo levi signo. Ratio leve signo. A razão formal da opinião, pela
formalis opinionis, qua distinguitur a qual se distingue da certeza, é o assenso
certitudine, est assensus infirmus seu infirme, ou antes, com temor do
cum formidine contradictorii. Assensus contraditório. O assenso é o ato intelecto
est actus intellectus iudicantis seu que julga, ou antes, a sentença, que o
sententia, quam fert intellectus. Hanc intelecto produz. Ora, o intelecto produz
autem sententiam intellectus fert, essa sentença percebendo que a coisa
perspiciendo rem etiam aliter esse posse, também pode ser de outro modo que o que é
quam esse pronuntiatur. Ideo assensus dito. Portanto, o assenso é dito ser com
dicitur esse cum formidine contradictorii. temor do contraditório. O temor (medo) que
Formido (timor), quae proprie non est propriamente não é um ato do intelecto, mas
actus intellectus, sed actus appetitus circa um ato do apetite acerca do mal, se diz do
malum, de intellectu et de assensu eius intelecto e do assenso somente causalmente,
dicitur causaliter tantum, quatenus enquanto aquela percepção em virtude da
perspicientia illa, in virtute cuius qual o intelecto percebe que a coisa pode
intellectus perspicit rem aliter esse posse, ser de outro modo, causa no apetite o medo,
causat in appetitu formidinem seu ou antes, o temor. Assim como a certeza se
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timorem. Sicut certitudo nititur evidentia apóia na evidência objetiva (seja da


obiectiva (sive veritatis, sive verdade, seja da credibilidade), a opinião se
credibilitatis), ita opinio nititur apóia na probabilidade, que é uma
probabilitate, quae est quaedam evidentia evidência imperfeita, ou antes, parcial da
imperfecta seu partialis rei, quatenus res coisa, enquanto a coisa é manifestada ao
manifestatur intellectui secundum aliquid intelecto segundo algo sue, mas não
sui, sed non totaliter. Exemplo sit saccus, totalmente. Exemplo é o saco que contém
continens nonaginta novem globos albos noventa e nove bolas brancas e uma bola
et unum nigrum: probabilissimum est negra: é probabilíssimo que a bola tirada
eum, qui caece extrahit globum aliquem, por alguém às cegas não seja negra, mas
non nigrum, sed album extracturum esse, branca, porque a extração da bola depende
quia extractio globi maxime ab hoc maximamente desse número, o que é
numero dependet, qui est evidens; at evidente; mas depende também da posição
dependet etiam a positione globi in do globo no saco, o que nos escapa. Assim
sacco, quae latet. Sicut est evidentia como há a evidência da verdade e da
veritatis et credibilitatis (cf. infra n. 667), credibilidade (cf. abaixo o n. 667), há a
ita est probabilitas interna, quae est probabilidade interna, que é a evidência
evidentia partialis ipsius rei, et externa, parcial da coisa mesma, e a externa, que é o
quae est testimonium auctoritatis testemunho da autoridade provavelmente
probabiliter credibilis (si esset evidenter confiável (se fosse evidentemente confiável,
credibilis, haberetur certituto — certitudo haveria a certeza – a certeza da fé). A
fidei). Probabilitas, sive interna sive probabilidade, interna ou externa, pode ser
externa, potest esse maior vel minor, ut maior ou menor como é patente por si.
per se patet. Ideo distinguitur opinio Portanto, distinguem-se a opinião provável,
probabilis, probabilior, probabilissima. mais provável e probabilíssima. A maior
Maior probabilitas unius opinionis non probabilidade de uma opinião não tira a
tollit probabilitatem alterius, immo neque probabilidade de outra, ao contrário, nem
semper et necessario probabilitas unius sempre e necessariamente a probabilidade
sententiae ex probabilitate alterius de uma sentença é diminuída pela
oppositae minuitur, quia pro utraque probabilidade de outro, porque para ambas
sententia opposita possunt adesse motiva as sentenças opostas podem haver motivos
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disparata seu rationes ex diversis fontibus disparatados ou razões tomadas de diversas


desumptae, quae non destruunt inter se. fontes, que não se destroem entre si. Mas se
Si verorationes sunt ex eodem fonte, as razões são de uma mesma fonte, uma
altera minuit alteram, ut per se patet. diminui a outra, como é patente por si.

QUESTÃO II: Sobre a certeza.

ARTIGO I.

QUE É E DE QUANTAS SORTES É A CERTEZA.

Quid sit certitudo. – Certitudo in genere 666 Que é a certeza. – A certeza em gênero, ou
seu late sumpta est status mentis, firmiter antes, tomada em sentido amplo, é o estado
et sine ulla formidine contradictorii da mente que adere firmemente e sem
adhaerentis uni parti contradictionis. nenhum medo do contraditório a uma parte
Certitudo igitur ita late sumpta nihil aliud da contradição. Portanto, a certeza tomada
dicit nisi iudicium firmum propter em sentido amplo não diz outra coisa que o
remotionem formidinis contradictorii. juízo firme por causa da remoção do medo
Certitudo primarie est aliquid subiectivi, do contraditório. A certeza é primariamente
i. e. status mentis, firmiter adhaerentis algo subjetivo, isto é, um estado da mente
uni parti contradictionis — certitudo que adere firmemente a uma parte da
subiectiva; sed secundarie per analogiam contradição – a certeza subjetiva; mas
attributionis certitudinis nomen secundariamente, por analogia de
transfertur ad significandum etiam atribuição, o nome de certeza é transferido
obiectum, quod fundat hunc statum para significar também o objeto que funda
mentis — certitudo obiectiva seu esse estado da mente – a certeza objetiva,
fundamentalis. Certitudo subiectiva ou antes, fundamental. A certeza subjetiva
dicitur mere subiectiva, si non fundatur se diz meramente subjetiva, se não se funda
incertitudine obiectiva. Certitudo vero na certeza objetiva. Mas a certeza subjetiva
subiectiva, fundata in obiectiva, est fundada na objetiva é a certeza formal.
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certitudo formalis.

Quid et quotuplex sit certitudo 667 Que é e de quantas sortes é a certeza


obiectiva. – Certitudo obiectiva in objetiva – A certeza objetiva em gênero é
genere est illud obiectivum, quod est aquilo de objetivo que é fundamento
sufficiens fundamentum certitudinis suficiente para a certeza (subjetiva) formal,
(subiectivae) formalis seu iudicii firmi ex ou antes, para o juízo firme a partir da
remotione omnis formidinis remoção de todo temor do contraditório.
contradictorii. Hoc autem fundamentum Ora, esse fundamento é ou a evidência
est aut evidentia obiectiva, aut auctoritas objetiva, ou a autoridade da testemunha,
testantis manifesta per evidentiam manifesta pela evidência da credibilidade. A
credibilitatis. Evidentia obiectiva est evidência objetiva aé a verdade ontológica
veritas ontologica causalis, actu causans causal, o ato que causa na mente a verdade
in mente veritatem logicam seu iudicium lógica, ou antes, o juízo verdadeiro. É,
verum. Est igitur ipsa rei entitas, seu portanto, a entidade mesma da coisa, ou
intelligibilitas, prout se manifestat menti. antes, a inteligibilidade, enquanto se
Evidentia est dupex: veritatis (evidentia manifesta à mente. A evidência é dupla: a
obiectiva stricte) et credibilitatis. da verdade (evidência objetiva em sentido
Habetur evidentia veritatis, cum ipsum estrito) e a da credibilidade. Tem-se a
obiectum seu veritas est evidens evidência da verdade quando o objeto
intellectui. Habetur vero evidentia mesmo, ou antes, a verdade é evidente ao
credibilitatis, cum obiectum seu veritas intelecto. Tem-se, porém, a evidência da
non est evidens intellectui, est tamen credibilidade, quando o objeto, ou antes,a
evidens eius credibilitas (cf. n. 668), verdade, não é evidente ao intelecto, mas é
quatenus evidens et testimonium et evidente a sua credibilidade (cf. n. 668),
auctoritas testis, i. e. scientia et veracitas enquanto é evidente o testemunho e a
(veritas logica et veritas moralis) testis autoridade da testemunha, isto é, a ciência e
testificantis hanc veritatem. a veracidade (a verdade lógica e a verdade
Evidentiam esse sufficiens fundamentum moral) da testemunha que testifica essa
certitudinis ex eius infallibilitate verdade.
probatur. Infallibilitas autem evidentiae Que a evidência é fundamento suficiente
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ex uma parte ex inseparabilitate veritatis para a certeza se prova a partir de sua


ontologicae a rebus (cf. n. 637, 2), ex infalibilidade. Ora, a infalibilidade da
altera ex veracitate intellectus derivatur. evidência deriva em parte da
Ideo obiectum non potest se manifestare inseparabilidade da verdade ontológica das
intellectui, nisi sicut est. – Auctoritatem coisas (cf. n. 637, 2), em parte da
autem testantis esse sufficiens veracidade do intelecto. Portanto, o objeto
fundamentum certitudinis, per se patet. não pode se manifestar ao intelecto a não
Scientia enim et veracitas testis sufficiens ser como é. – Ora, que a autoridade da
fundamentum est pro admittenda veritate, testemunha é fundamento suficiente da
quam testatur testis. certeza é patente por si. Com efeito, a
ciência e a veracidade da testemunha é
fundamento suficiente para admitir a
verdade que é testemunhada pela
testemunha.
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QUESTIONÁRIO

1. Que é o juízo?
2. Qual a diferença entre a verdade do juízo e a da simples apreensão?
3. Qual a diferença entre o erro, a ignorância e a nesciência?
4. Qual a diferença entre a dúvida positiva e a negativa?
5. Qual a diferença entre a certeza, a opinião e a suspeita?
6. A probabilidade de uma opinião diminui necessariamente a de sua contraditória?
7. De que modo se distinguem a certeza formal, a meramente subjetiva e a objetiva?
8. Qual a diferença entre a evidência da verdade e a da credibilidade?

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