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Aula 5 – 18 de Agosto de 2023

Prof. Antonio Caminha M. Neto


21 de agosto de 2023

Subespaços
Para dar uma descrição mais concreta do subespaço gerado por um subcon-
junto, precisamos de mais uma
Definição 1. Se V é um espaço vetorial sobre K e S é um subconjunto não
vazio de
P V , uma combinação linear de elementos de S é um vetor da
forma ni=1 αi ui , para certos n ∈ N, α1 , . . . , αn ∈ K e u1 , . . . , un ∈ S.
Proposição 2. Se V é um espaço vetorial sobre K e S é um subconjunto
não vazio de V , então hSi coincide com o conjunto das combinações lineares
de elementos de S.
Prova. Seja W o conjunto das combinações lineares de elementosPde S, de
sorte que um elemento tı́pico de W é um vetor u ∈ V da forma u = ni=1 αi ui ,
para certos n ∈ N, α1 , . . . , αn ∈ K e u1 , . . . , un ∈ S. Como hSi é um
subespaço de V e u1 , . . . , un ∈ S, é imediato que u ∈ hSi. Mas, como isso
vale para todo u ∈ W , concluı́mos que W ⊂ hSi.
Reciprocamente, recorde que hSi é definido com a interseção de todos os
subespaços de V que contêm S. Portanto, para concluir que hSi ⊂ W , é
suficiente mostrar que S ⊂ W e W é um subespaço de V . A primeira parte
decorre do fato de que todo elemento u ∈ S é, trivialmente, uma combinação
linear de elementos de S, qual seja, u = 1u; portanto, u ∈ W . Para o
que falta, dados Pnu, v ∈ W e α ∈ PK,m
temos de mostrar que u + v, αu ∈ W .
Mas, se u = i=1 αi ui e v = j=1 βj vj , com u1 , . . . , un , v1 , . . . , vm ∈ S e
α1 , . . . , αn , β1 , . . . , βm ∈ K, então
n
X m
X n
X n
X
u+v = αi ui + βj vj e αu = α αi ui = (ααi )ui ,
i=1 j=1 i=1 i=1
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de sorte que u + v e αu também são combinações lineares de elementos de S.


Logo, u + v, αu ∈ W .
Exemplo 3. Em Rn , sejam e1 , e2 , . . . , en os vetores canônicos. Vimos que
todo u ∈ Rn é uma combinação linear de e1 , e2 , . . . , en . Portanto, se S =
{e1 , e2 , . . . , en }, a proposição anterior garante que hSi = Rn .

Exercı́cios
1. Sejam V um espaço vetorial sobre K e S, T ⊂ V . Prove que:

(a) hhSii = hSi.


(b) S ⊂ T ⇒ hSi ⊂ hT i.

2. Dado S ⊂ Rn , prove que S ⊥ = hSi⊥ .

3. Seja f ∈ K[x] tal que f (x) = an xn + . . . + a1 x + a0 . Se an 6= 0, dizemos


que f é uma função polinomial de grau n. Em particular, observe que
não definimos a noção de grau para a função polinomial identicamente
nula. Para n ∈ N, seja Pn (K) = {f ∈ K[x]; f = 0 ou ∂f ≤ n}.
Prove que Pn (K) é um subespaço vetorial de K[x], gerado por S =
{1, x, x2 , . . . , xn }.

4. Dada uma matriz A = (aij ) em M (m × n; K), definimos sua trans-


posta como a matriz A> = (a0ij ) em M (n × m; K), tal que a0ij = aji ,
para todos 1 ≤ i ≤ n, 1 ≤ j ≤ m. Dizemos que A ∈ M (n; K) é
simétrica (resp. antissimétrica) se A> = A (resp. A> = −A). De-
note por Sym(n; K) (resp. ASym(n; K)) os conjuntos das matrizes qua-
dradas de ordem n sobre K e simétricas (resp. antissimétricas). Prove
que Sym(n; K) e ASym(n; K) são subespaços vetoriais de M (n; K).

5. Se V é um espaço vetorial sobre K e W1 , . . . , Wn são subespaços de V ,


definimos a soma de W1 , W2 , . . . , Wn , denotada W1 + W2 + . . . + Wn ,
por

W1 +W2 +. . .+Wn = {u1 +u2 +. . .+un ; ui ∈ Wi , para 1 ≤ i ≤ n}. (1)

Prove que:
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(a) W1 + W2 + . . . + Wn é um subespaço de V .
(b) W1 + W2 + . . . + Wn = Span ( ni=1 Wi ).
S

6. Sejam V1 , . . . , Vk subespaços de um espaço vetorial V . Dizemos que V


é a soma direta de V1 , . . . , Vk , e denotamos V = V1 ⊕ . . . ⊕ Vk , se as
duas condições a seguir forem satisfeitas:

(a) V = V1 + . . . + Vk .

(b) Vi ∩ V1 + . . . + Vbi + . . . + Vk = {0}, para1 1 ≤ i ≤ k.

Se V = V1 ⊕ . . . ⊕ Vk , prove que todo elemento de V pode ser escrito,


de maneira única, como soma de elementos de V1 , . . . , Vk .

Bases e dimensão
A definição a seguir é central para tudo o que segue.

Definição 4. Seja V um espaço vetorial sobre K. Um subconjunto S de V é


linearmente independente (abrevia-se LI) sobre K se, para todos n ∈ N,
u1 , . . . , un ∈ S dois a dois distintos e α1 , . . . , αn ∈ K, tivermos que
n
X
αi ui = 0 ⇒ αi = 0, ∀ 1 ≤ i ≤ n.
i=1

Caso contrário, S é linearmente dependente (abreviamos LD) sobre K.

Nas notações da definição anterior, se S ⊂ V é LD sobre K, então existem


certos n ∈ N, uP 1 , . . . , un ∈ S dois a dois distintos e α1 , . . . , αn ∈ K não todos
nulos tais que ni=1 αi ui = 0.
Ainda em relação à definição anterior, se S = {u1 , . . . , un } for LI (resp.
LD) sobre K, por vezes (e sempre que K estiver subentendido) diremos
simplesmente que os vetores u1 , . . . , un são LI (resp. LD).
Temos, também, as seguintes propriedades simples de conjuntos LI e LD:

(1) Se 0 ∈ S, então S é LD: realmente, o axioma (f) da definição de espaço


vetorial garante que α1 · 0 = 0, com α1 = 1.
1
Aqui, o b acima de Vi significa que, na soma V1 + . . . + Vbi + . . . + Vk , todas as parcelas
estão presentes, exceto Vi .
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PnS é LD e S ⊂ T , com T ⊂ V , então T também é LD: de fato, se


(2) Se
i=1 αi ui = 0, com α1 , . . . , αn ∈ K, u1 , . . . , un ∈ S dois a dois distintos
e nem todos os αi iguais a 0, então S ⊂ T ⇒ u1 , . . . , un ∈ T , e a mesma
combinação linear garante que T é LD.
(3) Se T ⊂ V é LI e S ⊂ T , então S também é LI: basta ver que essa
afirmação é a contraposição da afirmação do item (2), a qual já sabemos
ser verdadeira.
No que segue, veremos alguns exemplos de conjuntos LI e LD.
Exemplo 5. Em R4 , afirmamos que os vetores u1 = (1, 0, 2, −1), u2 =
(0, 1, −3, 1) e u3 = (2, 3, −5, 1) são LD. Para tanto, é suficiente encontrar
reais α1 , α2 , α3 , não todos nulos e tais que α1 u1 + α2 u2 + α3 u3 = 0. Como
α1 u1 + α2 u2 + α3 u3 = (α1 + 2α3 , α2 + 3α3 , 2α1 − 3α2 − 5α3 , −α1 + α2 + α3 ),
concluı́mos que encontrar α1 , α2 , α3 ∈ R, não todos nulos e tais que α1 u1 +
α2 u2 + α3 u3 = 0, equivale ao problema de encontrar uma solução não iden-
ticamente nula para o sistema linear homogêneo


 α1 + 2α3 = 0
α2 + 3α3 = 0

.

 2α1 − 3α2 − 5α3 = 0
−α1 + α2 + α3 = 0

Posteriormente, desenvolveremos um algoritmo geral para resolver sistemas


lineares homogêneos de maneira eficiente. Por ora, observe que as duas pri-
meiras equações fornecem α1 = −2α3 e α2 = −3α3 e, com tais valores, as
duas últimas equações são automaticamente satisfeitas. Portanto, fazendo
α3 = 1, por exemplo, obtemos α1 = −2 e α2 = −3 como uma solução não
identicamente nula do sistema.
No que segue, utilizaremos a notação delta de Kronecker, δij , definida
por 
1, se i = j
δij = .
0, se i 6= j
Conforme comprovaremos várias vezes ao longo destas notas, a vantagem
operacional dessa notação reside no fato de que, dados n ∈ N e números reais
α1 , . . . , αn , temos
Xn
δij αi = αj .
i=1
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Por vezes, também utilizaremos o delta de Kronecker para vetores u1 , u2 ,


. . . , un de um espaço vetorial V , quando
n
X
δij ui = uj .
i=1

Exemplo 6. Se u1 , u2 , . . . , uk ∈ Rn \ {0} são vetores dois a dois ortogo-


nais, então u1 , u2 , . . . , uk são LI sobre R. Para verificar esse fato, observe
inicialmente que, para 1 ≤ i, j ≤ k, temos ui · uj = δij ||ui ||2 . Portanto, se
α1 , . . . , αk ∈ R forem tais que ki=1 αi ui = 0, então, fixado 1 ≤ j ≤ k, as
P
propriedades do produto escalar em Rn fornecem
k
! k k
X X X
0= αi ui · uj = αi ui · uj = αi δij ||ui ||2 = αj ||uj ||2 .
i=1 i=1 i=1

Como ||uj ||2 > 0 (pois uj 6= 0), devemos ter αj = 0. Por fim, como o
argumento acima é válido para todo 1 ≤ j ≤ k, segue que α1 = . . . = αk = 0,
e os vetores u1 , . . . , uk são LI.
Exemplo 7. Como caso particular do exemplo anterior, se e1 , . . . , en de-
notam os vetores canônicos de Rn , então os vetores e1 , . . . , en são LI sobre
R.
O próximo exemplo mostra que um conjunto LI pode ser infinito.
Exemplo 8. Seja K um corpo infinito. No espaço vetorial K[x] das funções
polinomiais f : K → K, o conjunto S = {1, x, x2 , x3 , . . .} é LI sobre K. Para
verificar a validade dessa afirmação, tome n ∈ N e a0 , a1 , . . . , an ∈ K tais
que
an xn + an−1 xn−1 + . . . + a1 x + a0 = 0,
onde 0, no segundo membro, denota a função identicamente nula de K em
si mesmo. Se um dos ai for não nulo e m = max{0 ≤ i ≤ n; ai 6= 0}, é
bem sabido que existem no máximo m valores x ∈ K que anulam a função
polinomial do primeiro membro. Como isso contradiz o fato de que K é
infinito, concluı́mos que todos os ai são iguais a 0.
Lema 9. Se V é um espaço vetorial sobre K e S ⊂ V , então S é LI se,
e só se, a seguinte condição for satisfeita: todo u ∈ hSi pode ser escrito
como uma combinação linear de elementos de S de uma única maneira.
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Em sı́mbolos, prove que S é LI se, e só se, para todos u1 , . . . , uk ∈ S e


α1 , . . . , αk , β1 , . . . , βk ∈ K, temos que
k
X k
X
αi ui = βi ui ⇒ αi = βi , ∀ 1 ≤ i ≤ k.
i=1 i=1

Prova. Suponha que S é LI sobre K, e tome u ∈ hSi. Se u = ki=1 αi ui =


P
Pk
i=1 βi ui , com u1 , . . . , uk ∈ S e α1 , . . . , αk , β1 , . . . , βk ∈ K, então

k
X k
X k
X
(αi − βi )ui = αi ui − βi ui = u − u = 0.
i=1 i=1 i=1

Portanto, a independência linear de S sobre K garante que αi − βi = 0, para


1 ≤ i ≤ k. Assim, αi = βi para 1 ≤ i ≤ k, o que é o mesmo que dizer que
a maneira de escrever u como uma combinação linear de elementos de S é
única.
Reciprocamente, suponha que a condição do enunciado é satisfeita. Para
mostrar que S é LI, tome u1 , . . . , uk ∈ S e α1 , . . . , αk ∈ K tais que ki=1 αi ui =
P
Pk Pk
0. Então, i=1 αi ui = i=1 0ui , e a condição do enunciado garante que
αi = 0, para 1 ≤ i ≤ k. Logo, S é LI.
De posse dos conceitos de conjunto de geradores e conjunto LI, podemos
enunciar a seguinte
Definição 10. Seja V um espaço vetorial sobre K. Um subconjunto B de V
é uma base de V sobre K se B for LI sobre K e gerar sobre K.
Exemplo 11. Se e1 , . . . , en denotam os vetores canônicos de Rn , já vimos
que E = {e1 , . . . , en } é LI sobre R e gera Rn . Logo, E é uma base para Rn . É
um exercı́cio simples mostrar que B também é uma base para Cn , visto como
espaço vetorial complexo. Em ambos esses casos, dizemos que E é a base
canônica. Observamos ainda que, conforme será visto mais adiante, E não
é base de Cn , visto como espaço vetorial real.
Exemplo 12. O conjunto Pn (K) das funções polinomiais f ∈ K[x] tais que
f = 0 ou ∂f ≤ n é um subespaço vetorial de K[x], gerado por {1, x, x2 , . . . , xn }.
Por outro lado, mostramos, no exemplo 8, que tal conjunto é LI sobre K.
Portanto, de acordo com a definição anterior, temos que {1, x, x2 , . . . , xn } é
uma base de Pn (K).

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