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SEMANA 1
Introdução
A origem dos números complexos está relacionada à solução de equações cúbicas, no século XVI. A fór-
mula de Cardano-Tartáglia nos diz que, para uma equação da forma x3 +px+q = 0, uma solução é dada por
s r⇣ ⌘ s r⇣ ⌘
3 q q 2 ⇣ p ⌘3 3 q q 2 ⇣ p ⌘3
x= + + + + .
2 2 3 2 2 3
Vale observar que toda cúbica pode ser (via mudança de variável) colocada na forma x3 + px + q = 0.
A fórmula de Cardano-Tartáglia nem sempre nos leva a um resultado razoável. Vejamos o exemplo
x3 15x 4 = 0. Podemos ver facilmente que x = 4 é uma solução.
p Dividindo
p a cúbica por (x 4),
obtemos x2 + 4x + 1, donde obtemos duas novas raízes, x = 2 3 e x = 2 + 3. No entanto, usando
a fórmula de Cardano-Tartáglia, obtemos:
q q
3 p 3 p
x= 2+ 121 + 2 121.
Assim, a formula não nos dá um resultado aceitável, mesmo quando a equação admite todas as raízes
reais. Foi o matemático italiano Rafael Bombelli quem primeiro desenvolveu o artifício de operar algebri-
camente com raízes de números negativos para extrair as raízes reais destas expressões.
Depois de Bombelli, muitos matemáticos desenvolveram a teoria e expandiram suas aplicações a diversos
campos da Matemática. Dentre eles, podemos destacar De Moivre, Euler, Gauss, Riemann, Cauchy etc.
Hoje a teoria dos números complexos é uma ferramenta amplamente utilizada não apenas na Matemática,
mas também na Física, Química, Engenharia etc.
Existe mais
⇢ de uma maneira de definir formalmente o corpo dos complexos. Por exemplo, podemos
a b
definir C = | a, b 2 R , com a multiplicação e soma usuais de matrizes.
b a
a 0 0 1 a b
Se fizermos a identificação a = e i= , teremos = a + b.i, e vale que
0 a 1 0 b a
0 1 0 1 1 0
i2 = i ⇥ i = . = = 1.
1 0 1 0 0 1
Como veremos mais adiante, esta maneira de pensar em C nos dá uma intuição melhor do que representa
a derivada de funções complexas. No entanto, neste curso vamos introduzir o corpo dos complexos como
pares ordenados de números reais. A vantagem é que ganhamos uma intuição geométrica boa, já que pares
ordenados podem ser representados no plano cartesiano. Além disso, tomamos emprestado toda as noções
topológica de R2 (abertos, fechados, compactos etc).
C = {(x, y) : x 2 R e y 2 R}, e as operações adição (+) e multiplicação (·) são definidas, respectiva-
mente, por
(a, b) + (c, d) = (a + b, c + d)
(a, b).(c, d) = (a.c b.d, b.c + a.d)
Verifica-se que estas operações satisfazem todas as propriedades de corpo. Dados 3 números complexos
z, w e t, valem:
a) z + (w + t) = (z + w) + t (associatividade da adição)
b) z + w = w + z (comutatividade da adição)
c) Existe um (único) elemento 0 tal que 0 + z = z. Neste caso 0 = (0, 0).
d) Existe um elemento denotado por z tal que z + ( z) = 0.
e) z.(w.t) = (z.w).t (associatividade da multiplicação)
f) z.w = w.z (comutatividade da multiplicação)
g) Existe um (único) elemento 1 tal que 1.z = z. Neste caso 1 = (1, 0).
h) se z 6= 0, existe um (único) elemento z 1 tal que z.z 1 = 1.
i) z.(w + t) = z.w + z.t (distributividade)
Prova: Exercício.
OBS:✓Dado z = (a, b), ◆é fácil verificar que ( z) = ( a, b). Além disso, se z 6= 0 temos
1 a b
z = , .
a 2 + b2 a 2 + b2
A seguir definimos algumas operações básicas em C:
(1) subtração: z w = z + ( w)
(2) divisão: wz = z.(w 1 ).
(3) A potenciação é definida de maneira indutiva: z 0 = 1 , z n = z n 1 .z. Se z 6= 0, z n = (z 1 )n .
i2 = 1,
z + w = (a + c) + (b + d)i, e
Na notação z = x + y.i, dizemos que x é a parte real de z, denotada por Re(z), e y é a parte imaginária
de z, denotada por Im(z). Isto é, z = Re(z) + Im(z).i. Se z é tal que Re(z) = 0, dizemos que z é um
imaginário puro.
Sendo C definido como pares ordenados da forma (x, y), podemos representar cada número complexo
como um ponto (ou um vetor) do plano cartesiano R2 . Assim, a soma e subtração de números complexos se
dá de maneira análoga a soma
p e subtração de vetores em R . A norma do vetor correspondente a z = (x, y)
2
(1) z = z
(2) z ± w = z ± w
1 z
(9) z = .
|z|2
Prova: Exercício.
Representação Polar
Dado z = x + y.i 2 C, representamos este número como o ponto (x, y) no plano complexo (Argand-
Gauss), que é um plano cartesiano cujo eixo horizontal representa a parte real e o eixo vertical a parte
imaginária de um número complexo.
Se z 6= 0, destacamos dois parâmetros em sua representação gráfica, que são o módulo |z| e o ângulo ✓
entre o vetor (x, y) o eixo real, medido no sentido anti-horário.
Note que x = |z|.cos(✓) e y = |z|.sen(✓). Sendo assim, podemos escrever z = |z|(cos(✓) + i.sen(✓)).
Esta equação é a chamada representação polar de z.
Observe que ✓ não é o único valor que satisfaz esta igualdade. De fato, é fácil ver que um ângulo satisfaz
esta equação se, e somente se, ele é da forma ✓ + 2k⇡, k 2 Z. Os elementos desta forma são chamados
argumentos de z e o conjunto de todos os argumentos de z é denotado por arg(z).
p ⇣ ⇣⇡ ⌘ ⇣ ⇡ ⌘⌘
Exemplo: O número 1 + i pode ser representado por 2 cos + i.sen , mas também por
✓ ✓ ◆ ✓ ◆◆ 4 4
p 7⇡ 7⇡
2 cos + i.sen . Temos arg(1 + i) = { ⇡4 + 2k⇡|k 2 Z} e Arg(1 + i) = ⇡4 .
4 4
Note que se Arg(z) 6= ⇡, então Arg(z) = arg(z). Além disso, se z 6= 0, então Arg(z 1) = arg(z). (⇤)
Sejam z e w tais que Arg(z) = ↵ e Arg w = . Vejamos como obter uma representação polar para z.w.
Daí decorre que z 3 = z.z 2 = |z|3 (cos(3✓) + i.sen(3✓). Indutivamente, obtemos a chamada fórmula de De
Moivre:
Radiciação complexa
Teorema: Se w 2 C é não nulo, então a equação z n = w possui exatamente n raízes distintas dadas por
p h ⇣ ⌘ ⇣ ⌘i
zk = n |w| cos Arg(w)+2k⇡
n + i.sen Arg(w)+2k⇡
n , com k 2 {0, 1, ..., n 1}.
Sendo
p assim, temos que ter |z|n = |w|, cos(n✓) = cos( ) e sen(n✓) = sen( ). Logo, devemos ter
|z| = n |w| e n✓ = + 2k⇡, com k 2 Z. Para k = 0, 1, ..., n 1, obtemos distintas raízes. Para k = q.n + r,
com 0 r < n, temos
Exemplos:
p
OBS: Usamosp a notação
p
n
w para designar apenas a raiz z0 (isto é, quando k = 0 no teorema anterior).
Desta forma, 1 = cos(⇡) + i.sen(⇡) = cos( ⇡2 ) + i.sen( ⇡2 ) = i.
p
Note que se a 2 R é positivo, então n
a corresponde à raiz n-ésima real de a tal como a conhecíamos.
Problema com esta notação: Na semi-reta R =p{x 2 R|x < 0}, os valores de raízes inteiras ímpares não
correspondem ao que esperávamos. Por exemplo, 3 1 6= 1.