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Fundamentos de Álgebra MacQuarrie e Schneider 1

Desvio: Introdução aos números Complexos


Na terceira parte da matéria estudaremos polinômios. Veremos que os polinômios com coeficientes em C
são mais fáceis do que os polinômios com coeficientes em R. Aqui daremos uma introdução/lembrete das
propriedades de C mais importantes pra gente.
O ponto de partido é:

Definição. Seja i o número tal que i2 = −1.


Observe que i ̸∈ R, pois a2 ⩾ 0 para todo a ∈ R.
Definição. O conjunto C dos números complexos é

C = {a + bi | a, b ∈ R}.

Somamos os números complexos assim:

(a + bi) + (c + di) = (a + c) + (b + d)i,

e multiplicamos eles assim:


(a + bi)(c + di) = (ac − bd) + (ad + bc)i.
A expressão de z ∈ C como a + bi é a sua forma cartesiana. A multiplicação faz sentido, lembrando que
i2 = −1, pois:

(a + bi)(c + di) = ac + adi + bci + bdi2 = ac + (ad + bc)i + bd(−1) = (ac − bd) + (ad + bc)i.

Observe que, como em Q ou R (mas diferente de Z, por exemplo), todo número complexo a + bi diferente
a b
de 0 possui inverso multiplicativo, nomeadamente a2 +b 2 − a2 +b2 i (confirme isso!).

Às vezes é útil pensar nos elementos de C no plano:

i
a + bi
b

a 1

O eixo horizontal chama-se o eixo real (pois os números deste eixo têm a forma a + 0i = a ∈ R), enquanto
o eixo vertical chama-se o eixo imaginário.
O desenho sugere outro jeito de expressar um número complexo: podemos especificar z = a + bi pelo
tamanho r do segmento e o ângulo θ que o segmento faz:

i
z = a + bi
b
r

θ
a 1
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Temos
a = r cos(θ) , b = r sen(θ)
e assim
z = a + ib = r cos(θ) + ir sen(θ) = r (cos(θ) + i sen(θ)) .
Essa é a forma polar de z. Somando números complexos na sua forma polar é chata, mas multiplicando eles
é muito fácil: Sejam

z1 = r1 (cos(θ1 ) + i sen(θ1 )) e z2 = r2 (cos(θ2 ) + i sen(θ2 )) .

Então
z1 · z2 = r1 r2 (cos(θ1 + θ2 ) + i sen(θ1 + θ2 )) .
Exercı́cio. Confirme essa fórmula usando a tradução entre as formas cartesianas e polares – precisará de
umas identidades trigonométricas. . .
Em particular, dados z = r (cos(θ) + i sen(θ)) e n ∈ N,
n
z n = (r (cos(θ) + i sen(θ))) = rn (cos(nθ) + i sen(nθ)) .

A norma ∥z∥ de um número complexo z é o comprimento do segmento no plano que representa z. Nas
suas duas formas: p
∥a + bi∥ = a2 + b2 ,
∥r (cos(θ) + i sen(θ)) ∥ = r.
Definição. O conjugado complexo de um número complexo z = a + bi é o número complexo z = a − bi.
Logo, o conjugado complexo z de z é a reflexão de z no eixo real:

Exercı́cio: Dados números complexos y, z, mostre que y + z = y + z e que y · z = yz.


Uma fórmula importante:
z · z = z · z = ∥z∥2
Na sua forma cartesiana z = a + bi, ela segue por uma conta fácil:

z · z = (a + bi)(a − bi) = a2 + −


abi  − b2 i2 = a2 + b2 = ∥z∥2 . ✓
abi

Com a forma polar é fácil também. Se

z = r (cos(θ) + i sen(θ)) então z = r (cos(−θ) + i sen(−θ))

e assim

z · z = r (cos(θ) + i sen(θ)) · r (cos(−θ) + i sen(−θ)) = r2 cos(θ − θ) + i  −θ) = r2 = ∥z∥2 .



sen(θ

Observe também que quando z ̸= 0, esta fórmula implica que


z·z z·z
1= = 2
∥z∥2 a + b2
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e segue que z −1 = z/∥z∥2 = (a − bi)/(a2 + b2 ), como foi afirmado anteriormente.


Uma raiz da unidade é um número z tal que z n = 1 para algum valor n ∈ N. Em R, tem somente duas:
1 e −1. Em C já sabemos que temos pelo menos quatro, pois

i4 = (i2 )2 = (−1)2 = 1

e similarmente (−i)4 = 1. De fato, C tem MUITAS:


Proposição. Para cada n ∈ N, os n números complexos

αk = cos(2kπ/n) + i sen(2kπ/n) , k ∈ {0, . . . , n − 1}

são n-ésima raizes da unidade.


Demonstração.
n
αk n = (cos(2kπ/n) + i sen(2kπ/n)) = cos(2kπ) + i 
sen(2kπ)
 = 1.


Veremos depois que não tem outras! Geometricamente, as n-ésimas raı́zes da unidade formam os vértices
de um polı́gono regular centrado na origem. Por exemplo, as 5-ésima raizes da unidade são:


α1

α2


α0 = 1

α3

α4

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